uma bruxa na cidade - trilogia - ruth warburton

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    DADOS DE COPYRIGHT

    obre a obra:

    presente obra disponibilizada pela equipeLe Livrose seus diversos parceiros, com o objetie oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem como o simpleste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.

    expressam ente proibida e totalmente repudavel a venda, a luguel, ou quaisquer uso comerciao presente contedo

    obre ns:

    Le Livrose seus parceiros disponibilizam contedo de dominio publico e propriedade

    ntelectual de form a totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educao devemer acessveis e livres a toda e qualquer pessoa. Voc pode encontrar mais obras em nosso site:eLivros.usou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.

    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando por dinheiro e

    poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

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    Ficha Tcnica

    Copyright 2012 Ruth WarburtonTodos os direitos reservados.

    Traduo para a lngua portuguesa Texto Editores Ltda., 2013Ttulo original: A Witch in Winter

    Diretor editorial: Pascoal SotoEditora executiva: Tain Bispo

    Editora assistente: Ana Carolina GasonatoProdutoras editoriais: Fernanda S. Ohosaku, Renata Alves e Mait Zickuhr

    Traduo: Marcia Blasques

    Preparao de texto: Bris FatigatiReviso: Iraci Miyuki Kishi

    Diagramao e adaptao de capa: Vivian OliveiraDiretor de produo grfica: Marcos RochaGerente de produo grfica: Fbio Menezes

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Anglica Ilacqua CRB-8/7057Warburton, Ruth

    Uma bruxa na cidade / Ruth Warburton; traduo de Marcia Blasques. So Paulo: LeYa, 201344 p.

    ISBN 978-85-8044-856-6

    Ttulo original: A Witch in Winter

    1. Literatura infantojuvenil 2. Fico 3. Fantasia I. Ttulo II. Blasques, Marcia13-0594 CDD823

    ndices para catlogo sistemtico:1. Literatura infantojuvenil

    2013

    Texto Editores Ltda.[Uma editora do Grupo LeYa]

    Rua Desembargador Paulo Passalqua, 8601248-010 Pacaembu So Paulo - SP

    www.leya.com.br

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    Para minha me, Alison. Com amor.

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    A

    CAPTULO UM

    primeira coisa que me atingiu foi o cheiro mido e pungente. Era o cheiro de um lugar uito fechado, de ratos, dej etos de pssaros e podrido.

    Bem-vinda Casa Wicker m eu pai disse, e apertou o interruptor da luz. Nada acontecele gemeu. Provavelmente est desconectado. Vou investigar. Aqui, fique com isso em purrou um

    mparina na minha mo. Vou pegar outra no carro.Enrolei os braos ao redor do corpo, tremendo enquanto balanava o feixe de luz fino

    mparina na direo das vigas sombrias e cobertas de teias de aranha. O ar na casa era ainais frio do que o da noite l fora.

    V meu pai falou do carro. No espere por mim; v e explore. Por que no d umhada no seu quarto? Achei que gostaria do que est no alto da escada. Tem uma visaravilhosa.

    Eu no queria explorar. Queria ir para casa s que onde era minha casa? No eondres. No mais.

    Partculas de poeira rodopiavam, prateadas sob a luz da lamparina, enquanto eu abriaorta minha direita e espreitava a escurido do outro lado. O estreito crculo do feixe de luzmparina brilhou de volta para mim, vindo de uma j anela quebrada, e ento seguiu lentamentesso manchado pela umidade. Imaginei que isso tivesse sido uma sala de convivncia um dmbora parecesse estranho usar a palavra convivncia para um lugar to morto e poucolhedor.

    Algo se moveu no espao escuro da lareira. Imagens de camundongos, ratos e aranh

    mensas atravessaram minha mente mas quando reuni coragem para iluminar commparina, vi apenas o farfalhar das cinzas, como se, o que quer que fosse aquilo, tivesse fugior entre as sombras. Eu me lembrei da minha melhor amiga, Lauren, que ficava plida s ensar em um rato. Ela estaria sobre uma cadeira agora, provavelmente gritando. A ideia ao de Lauren quele lugar me fez sentir melhor, e peguei o celular no bolso e comecegitar uma mensagem.

    Oi, Lauren. Chegamos a Winter. A festa de boas-vindas consiste em meia dzia de ratos e...Parei. No havia sinal. Bem, eu sabia que aquele lugar seria isolado; meu pai cham ava i

    e uma parte do charme. Mesmo assim... Talvez eu conseguisse sinal no andar de cima.

    As escadas rangeram e protestaram a cada passo, at que cheguei a um patamar com uorredor que avanava pela escurido, no qual havia portas dos dois lados. A porta mais prximstava entreaberta e coloquei a mo nela e a empurrei.

    Por um instante, fiquei deslumbrada com o luar que se derramava para dentro do aposennto, conforme meus olhos se ajustaram, vi o alto teto abobadado, o assento junto janela edra, e senti o leve cheiro do mar entrando pela janela aberta.

    Pela janela, eu podia ver a floresta que se estendia l fora, quilmetro aps quilmetro,m dela, uma lua em miniatura lanando um caminho oscilante de prata pelo mar negro comnoite. Era uma paisagem de tirar o flego, e, naquele instante, tive um vislumbre do que levaeu pai at aquele lugar.

    Fiquei parada, completamente imvel, ouvindo o som distante das ondas. Ento, um gr

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    spero, no humano, atravessou o quarto, e uma forma escura se destacou das sombras. Eu mnclinei, uma fria de asas negras agitando o ar sobre minha cabea, e vi de relance um bico bsidiana e olhos frios e negros, enquanto a criatura se debruava por um segundo no peitornto abriu as asas e se foi noite afora.

    Meu corao batia absurdamente e, de repente, eu no queria mais explorar a casa sozina escurido. Queria meu pai, calor e luz. Quase como se fosse um sinal, houve um estalo, uaro ofuscante, e a lmpada no corredor se acendeu. Esfreguei os olhos, ofuscados pelo bri

    spero depois do esforo na escurido.

    Ei, ei! o grito do meu pai ecoou pela escada. A eletricidade no estava desligada... e um fusvel. Desa at aqui e vou fazer um grande tourcom voc.Ele estava esperando na sala, o rosto brilhando de animao. Tentei reorganizar min

    xpresso em algo que se aproximasse da dele, mas claramente no funcionou, porque eolocou um brao em volta de m im.

    Desculpe se isso meio um pesadelo, querida. O lugar no era ocupado h anos, e evia ter percebido que tinham desligado tudo. No a melhor chegada ao lar, devo admitir.

    Chegada ao lar. A expresso era horrivelmente vazia. Sim, esse lugar era o lar agora. Eelhor eu me acostumar.

    Vamos meu pai me deu um aperto. Me deixe mostrar o lugar.Enquanto meu pai me mostrava a casa, eu tentava encontrar coisas positivas para dizer. Eem difcil. Tudo estava caindo aos pedaos at os soquetes e os interruptores eram aquelite antiga, e parecia que iam explodir se tocasse neles.

    Olhe para essas vigas ele exclamou, na sala de estar. Deixam nossa antiga casa estilo georgiano no chinelo, no ? V essas marcas? Apontou sobre nossas cabeas parranhes fundos na madeira escura nodosa. Pareciam talhos: cortes profundos, quase selvageue formavam uma srie de Vs e Ws. Marcas de bruxas, segundo o meu livro. Feitos paroteger a casa dos espritos malignos e coisas do gnero. Mas no tive tempo de olhdequadamente para a madeira arranhada, porque meu pai j estava me arrastando pararxima a trao.

    E essa lareira? D para assar um boi aqui! um antigo forno de po, acho deu upinha na pequena porta de madeira na lateral da pea, enegrecida e deformada pelo calorenho que tentar abrir isso um dia desses. Mas, de qualquer modo, chega de me exibir. O qcha? No o mximo?

    Quando no respondi, ele colocou a mo em meu ombro e me virou para olh-lo de frenmplorando-me com os olhos para que eu gostasse, ficasse feliz, compartilhasse de sntusiasmo.

    Gosto de todas as lare iras eu disse, evasiva.

    Bem, vai gostar ainda mais quando o inverno chegar, a menos que eu consiga arrumaquecimento central em bem pouco tempo. Mas tudo o que tem a dizer?

    muito trabalho, pai. Como vam os pagar isso?Mesmo enquanto falava, repentinamente percebi que jamais dissera aquelas palavras ant

    unca tivera de fazer isso. No ramos ricos, mas meu pai sempre ganhara o bastante paossas necessidades.

    Meu pai deu de ombros. Conseguimos um lugar bem barato, considerando tudo. E eu mesmo farei a maior pa

    o trabalho, o que vai reduzir os custos.

    Ah, Deus! eu disse, involuntariamente, com uma voz horrorizada. Ento vi o olhar eu pai e comecei a rir. Meu pai mal conseguia trocar uma lmpada, muito menos faz

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    randes reformas na casa. Ele pareceu ofendido por um instante, mas ento comeou a mbm.

    Vou conseguir algum para consertar, pelo menos, o sistema de gs e a eletricidadrometo colocou o brao ao redor dos meus ombros. Tenho um bom pressentimentospeito deste lugar, Anna. Sei que tem sido um choque para voc, realmente sei, mnceramente acho que podemos dar um jeito nas nossas vidas aqui. Posso escrever um poucantar alguns vegetais... talvez at pudesse montar uma pequena pousada se o dinheiro fic

    pertado. Este lugar s precisa de um pouco de cuidado para ficar fantstico.

    Um poucode cuidado? Pensei na imundcie e nos ratos, e em todo o trabalho que teramara tornar o lugar habitvel, sem contar agradvel. Ento olhei para meu pai, e lembrei dele eondres, sentado noite aps noite, o rosto sombrio de preocupao enquanto fazia contntando encontrar uma soluo para ns dois.

    Acho... com ecei a falar e parei. Sim? Acho... que se algum pode fazer isso, voc, pai coloquei a lamparina na cornija

    reira e o abracei com fora. Ento percebi algo. Ei tossi para limpar a garganta. Olhe.

    Passei a mo para limpar a poeira que cobria a lareira e aproximei a lamparina. Sobujeira, havia cips e folhas entrelaados, mas no era isso o que me chamara a ateno. Neio, havia um escudo de pedra entalhado, com um W ornamentado.

    W, de Winterson. Olhe s! meu pai disse, deliciado. Embora deva ser W de Winter, ou o mais provve

    ue seja pela Casa Wicker. Mas um bom pressgio. Agora, venha deu um beijo no alto inha cabea. Vamos ver se damos um jeito naquele gs encanado e conseguimos prepar

    m ch.

    Segunda-feira era o primeiro dia do vero, mas ningum diria isso ao olhar o cu cinzenue aparecia sob as cortinas. Eu estava deitada na cama, com as cobertas at o queixo, ouvindento entre as rvores. Meu corpo estava estranho; cada msculo parecia tenso de nervosoinhas veias pareciam cheias de algum estranho lquido formigante, como se meu sangvesse sido drenado e substitudo por gua com gs. Era aterrorizante comear em uma noscola, depois de dez anos no mesmo ambiente reconfortante. Havia apenas quarenta garotas

    nsino mdio da minha antiga escola em comparao, o Colgio Winter era imenso.ssustador. E m isto.S para aumentar o estresse, no havia uniforme no ensino mdio. O que significava q

    ela primeira vez na vida, eu tinha de pensar no que vestir para ir escola.Arrastando-me para fora da cama, abri a porta do guarda-roupa, que parecia estranho

    ora de lugar naquele quarto imenso com teto abobadado. Ao me ver no espelho, gemi. Nunerdoei meu pai por me deixar este cabelo como legado: selvagem , escuro e indisciplinaronto para se rebelar na primeira oportunidade. Im agino que o resto, a pele clara e os olhzul-esverdeados, deve ter vindo da minha me. No sei, mas certamente no era o DNA eu pai que m e olhava do espelho.

    Peguei um pente e comecei a tentar domar os cachos de modo a deix-los de algum je

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    ue no fizesse as pessoas apontarem para mim e gargalharem no primeiro dia. Minha melhsperana para o Colgio Winter era no ser notada. No estava planejando fazer amigos parada; s queria passar pelos prximos dois anos, conseguir minhas notas mximas e ir emboraso seria o bastante. Mas me am bientar seria bom, e o cabelo de doida no ia ajudar nisso.

    Eu estava apenas na metade da operao quando meu pai gritou na escada: Caf da m anh! Estou indo! gritei de volta.Um n se formou em meu estmago.

    Eram pouco mais do que trs quilmetros at a cidade, e meu pai insistiu em me levararro estava estacionado no meio de uma clareira na frente da casa, embaixo de uma grandmpla faia, e fizemos nosso caminho pela grama alta, o orvalho molhando a barra dos means. Muito alm da floresta, era possvel ver a silhueta de alguma runa caindo aos pedaos, to das falsias sobre o mar.

    Aquele o Castelo de Winter meu pai disse, seguindo meu olhar. Est em rungora, claro, mas ainda d para ver as torres eram austeras e negras contra o azul do maraquela estrada vai ser o seu caminho para a escola apontou para uma fenda na f loresta denpara uma estrada de asfalto negro que serpenteava ao longe sobre as falsias.

    Ainda no acredito que podemos ver o mar eu disse. Em linha reta, no estamos longe meu pai comentou. S parece mais distante seguin

    ravs da m ata. De qualquer modo, melhor irmos. No quero que se atrase no primeiro dia.vermos tempo, eu a levarei alm do porto de pesca... voc vai gostar da aldeia de Wintem pre achei um lugarzinho lindo.

    Ele virou a chave na ignio, e um bando de gralhas saiu da faia, assustado com o barulhs aves voaram em crculos, alarmadas, enquanto meu pai manobrava at a estrada, e ento neguiram pelas sombras verdes da floresta, acompanhando-nos ao longo do sinuoso tnel olhas, at que samos sob o sol forte da estrada das falsias.

    Meu pai dirigiu de forma constante, passando pelo castelo e pelos arredores de Wintereguimos o fluxo de garotos que se estendia pela rua estreita, at que chegamos a um vadifcio que parecia mais uma priso vitoriana que uma escola.

    Colgio Winter. Era imenso. Winter era uma cidade pequena, mas a escola recebia todosarotos dos vilarejos dos arredores; havia cinco grupos de tutoria apenas no ensino mdio. Eng

    m seco e ento percebi que meu pai estava esperando a resposta de algum comentrio qnha feito. Desculpe, pai, o que disse? Perguntei se h algo especial que gostaria para o jantar, para celebrar no

    obrevivncia.Neguei com a cabea. Comida era a ltima coisa que eu tinha em mente. Qualquer coisa est bom. Bem, Ok. melhor...Ele assentiu e me deu um beijo no rosto, e eu sa do carro com o corao na gargan

    uando parei, passando os dedos pela ala da mochila, meu celular tocou. Era uma mensagea Lauren.

    Oi, querida. no se preocupe, vo te amar. se no, diga que h uma turma de colegas scola de Notting Hill que vai tornar a vida deles um inferno. Boa sorte, sinto sua falta. L. xxx

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    A lembrana de casa e de todos os meus amigos trouxe uma pontada sbita no fundo deus olhos, mas pestanejei furiosamente. Comear na nova escola com lgrimas nos olhos n

    ra um bom j eito de ir em frente.Esfreguei as bochechas, endireitei as costas e caminhei pela porta entalhada da frente.

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    M

    CAPTULO DOIS

    eus passos ecoaram quando entrei no corredor. Eu estava olhando para uma placa de mogom a inscrio Em honra aos antigos alunos do Colgio Secundrio Winter, que deram su

    das na Grande Guerra 1914-18, quando uma voz rabugenta soou. Ei, voc!Enrijeci o corpo e olhei ao redor. Um homem de rosto vermelho, de macaco, acena

    om um esfrego para mim. Apontei para mim mesma e ele assentiu. Sim, voc, senhorita. Nenhum aluno na porta principal! Sinto muito disse, aborrecida em descobrir que minha voz tremia um pouco. Eu n

    abia... sou nova. Bem, saber da prxima vez, mocinha ele disse, em triunfo sombrio. Eu assumo a partir daqui, Sr. Wilkes disse uma voz.Sobressaltei-me e virei.Atrs de mim estava um homem pequeno e idoso, usando um casaco de tweed co

    otoveleiras de couro e uns culos elegantes com aro dourado. Me estendeu a m o. Anna Winterson, presumo. O que um nome muito apropriado. Sim, prazer em conhec-lo, senhor... parei, confusa. Brereton ele completou. Serei seu professor de Histria. Normalmente, o dire

    cepciona os novos alunos, mas infelizmente ele est doente hoje. Ele me pediu que atuasomo seu substituto e a recebesse em Winter, minha querida Anna. Tenho certeza de que voer um grande complemento aos nossos quadros. O meio do ensino mdio no o melhomento para m udar de escola, imagino, mas acho que se sentir em casa em Winter muito e

    reve. Obrigada murm urei. Aqui um lugar amigvel, de modo geral, embora um pouco fora de moda, devo adm i

    Mas nos orgulhamos de manter algumas das antigas tradies. E voc poder descobrir qossos interesses coincidem com os seus mais do que imagina.

    Ele me deu um olhar de lado que parecia indicar que havia mais em suas palavras do qualor aparente. Tive uma sbita e horrvel premonio de que ia tentar me persuadir a participe alguma atividade extracurricular sinistra vestir-me de Tudor, talvez, com duvidosos trajes ilon, e reencenar batalhas com espadas de folhas de estanho.

    Hummm, estou bem ocupada respondi, cautelosa. No tenho certeza se terei mumpo para coisas extracurriculares de incio, pelo menos at me adaptar.Ele sorriu, como se eu no tivesse entendido uma piada, m as respondeu apenas:

    claro. Agora, temos dez minutos antes da sua primeira aula, ento farei uma rpsita guiada pela escola para orient-la. O Sr. Henderson muito exigente com pontualidaas acho que temos tem po suficiente.

    Est atrasada disse o Sr. Henderson, sem levantar o olhar quando me esgueirei pa

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    entro da classe cheia de olhos arregalados. Sinto muito disse, ligeiramente sem ar. O ritmo acelerado do Sr. Brereton havia fe

    om que eu me perguntasse se tinha lembrado de passar desodorante naquela manh. No germ incio brilhante para minha nova carreira escolar. Sou nova. O Sr. Brereton estava mostrando os arredores agora h pouco.

    Ah ele levantou a cabea e me avaliou. Anna Winterson? Sim. Bem, sente-se. Sentam os em ordem alfabtica na m inha aula.

    Tentei no demonstrar surpresa. Parecia que o Sr. Brereton no havia exagerado quansse que o Colgio Winter era fora de moda. Minha escola antiga era bastante tradicional, m

    rdem alfabtica? Tnhamos dez anos de idade? Madeleine, m ude de lugar, por favor. Anna, fique no lugar de Madeleine.Uma garota alta e magra no fundo da classe pareceu repentinamente furiosa.

    Ah, mas Sr. Henderson, acabo de colocar todas as minhas... Winterson vem antes de Woburn ou no, Madeleine? A menos que queira mudar

    ome, sugiro que mude de lugar. Sim, Sr. Henderson ela se levantou, amontoando os livros com fora desnecessria

    assou para a mesa seguinte, deixando um espao livre. Eu me sentei, sentindo o rosto pegogo, desejando que o cho pudesse me engolir. A fora do olhar dela, do meu lado esquerdra como um alto-forno.

    Todo mundo abra na pgina oitenta do livro azul, por favor.Houve um farfalhar generalizado, e eu suspirei para dentro, levantando a mo. O

    enderson estava escrevendo no quadro e no se virou. Vou arrumar um livro para voc na prxima aula, Anna. Enquanto isso, por favor, parti

    om Seth.O garoto sentado perto de m im empurrou o livro e sorriu.

    Oi. Seth Waters ele sussurrou sob o som do giz do Sr. Henderson. Sou Anna sussurrei de volta.Ele me estendeu a mo e eu a balancei em silncio. Era seca, forte e muito quente, e

    stava terrivelmente consciente da minha mo grudenta e suada de correr atrs do Sr. Breretoavia calos na palma e nos dedos dele. E graxa profundamente sedimentada ao redor das unh

    urtas e quadradas. Eu me perguntei o que ele fazia que deixava as mos to speras. Espero que voc sej a boa em diferenciao, Anna. Porque estou comeando a pensar q

    u devia ter escolhido Matemtica Aplicada e Estatstica no fim das contas.Na verdade, eu eraboa em diferenciao, e tambm j tinha estudado o tipo de equa

    ue o Sr. Henderson estava esboando no quadro. O que era uma coisa boa, j que esta

    ompletamente incapaz de me concentrar.Seth Waters era provavelmente o garoto mais bonito que eu j tinha visto. Dizer que tin

    abelo escuro encaracolado, olhos escuros e pele bronzeada era verdade, mas mesmo assim nra s isso ele tinha alguma coisa indefinvel que me deixava totalmente incapaz de afastahar. No podia parar de olhar de relance para ele, fingindo ler a pgina oitenta, mas,

    erdade, observando os msculos de seus antebraos se movendo sob a pele bronzeada enquane escrevia, o cordo de contas em volta do pescoo, o movimento do pomo de ado quando

    ngolia.Quando abaixei os olhos para o livro, vi que meu brao estava realmente arrepiado e mo

    lbio com fora, para me trazer de volta realidade. Aquilo era pattico! Primeira aula, e estava tendo ondas de calor e palpitaes. O que viria na sequncia? Ia desmaiar na aula

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    ngls ou coisa assim? No era como se eu nunca tivesse visto um garoto antes, pelo amor eus. Ok, eu no costumava ter aula com eles diariamente, mas conhecia muitos garotondres no tinha exatamente uma carncia de pessoas do sexo masculino. Mas, eu precisadmitir, nunca tinha conhecido algum como Seth Waters. Com certeza, no entanto, no podeaver muitos mais como ele na escola. Se houvesse, eu teria srios problemas com minhrovas, disso tinha certeza.

    Parecia que eu no seria a nica. Talvez Seth estivesse certo, e devesse ter escolhiMatemtica Aplicada e Estatstica, porque ele certamente no parecia muito interessado e

    Matem tica pura. Dormiu de olhos abertos a maior parte da aula, olhando pela janela para o mrilhando ao longe. No fim da aula, recolheu os livros e me deu um sorriso devastador que obrinhas na pele bronzeada de suas bochechas.

    Prazer em conhec-la, Hannah.Hannah. Que bom. Eu claramente causei uma forte impresso.

    A aula seguinte era Estudos Clssicos, e ramos livres para escolher nossos lugares. Chegedo desta vez, mas, mesmo assim, fiquei parada na porta, nervosa, sem querer repetirostilidade com Madeleine se, de a lgum m odo, escolhesse o lugar errado. No fim, uma garotaochechas rosadas em um vestido verm elho-vivo ficou com pena de m im.

    Ei, voc a Anna, no ? Vi voc na aula de Matemtica . Venha se sentar com a Lizomigo.

    Eu adoraria, obrigada sentei, grata, mesa com elas e disse: Me desculpe, eu vi vombm, mas no sei seu nome.

    Sou a June. E essa minha am iga, a Liz cumprimentei Liz com a cabea, e ela sor

    midamente, escondendo o rosto atrs de uma cortina de cabelos loiros. Obrigada por me deixarem ficar na mesa de vocs, eu estava preocupada em escolhe

    ugar errado. Ah, imagina... depois daquilo com a Madeleine? June riu enquanto pegava seus livr

    ra mais esperta do que parecia. No se preocupe com isso, Anna. Madeleine s um dos mum membros do f-clube de Seth Waters. Um tdio.

    Ah, tambm acho Liz concordou. to chato. com o se ele e a Caroline fossem o a rainha da escola.

    A Caroline a nam orada dele June explicou. Graas a Deus no temos baile

    ormatura aqui, ou teramos que aguentar eles sendo coroados e toda aquela besteira. Mas no e o Sr. Harkaway permitiria isso. Seth no exatamente a bola da vez com as autoridades... Como assim? perguntei. June revirou os olhos. Ah, voc sabe, o normal. Bebida, cigarro, fazer uma tatuagem mesmo contra as regr

    le foi suspenso um ou dois anos atrs por entrar em uma briga e bater a cabea de um cara arede, mas acho que no adiantou de nada. Vem de um lar desfeito, no sei. De qualquorma, a reputao dele no parece afetar nenhuma das cabeas de vento. Imagino que toscola tenha seu arrasa-coraes. Era assim na sua ltima escola, Anna?

    No exatamente. Minha ltima escola era s de meninas. Ah, que terrvel! Liz parecia com icamente horrorizada. Coitada de voc! ent

    orou, como se estivesse sentindo que havia sido muito crtica. Embora possa ser bo

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    mbm. Provavelmente torna a vida muito mais simples. Sim, h muito menos galinhagem ao redor quando no h gente como Seth Ju

    crescentou. Ele pareceu Ok quando eu sentei perto dele eu disse. Irritantem ente incapaz de

    mbrar do nome de uma pessoa, certo, mas no mal-intencionado, eu tinha de dizer. No ele June disse. o efeito que ele tem na metade feminina da populao. Al

    sso, a Caroline uma completa vadia. Desculpe, eu realmente odeio essa palavra, mas elaempre foi um p no saco e, desde o ano passado, quando comeou a sair com Seth, ela an

    suportvel. Voc pensaria que ele lhe confere poderes divinos. Se ela no est fazenomentrios maliciosos sobre virgens, est reclamando sobre quem est tentando roub-lo delae no isso, como ele maravilhoooooooso na cama.

    Ela se abanou com a lio de casa de Estudos Clssicos, sem esperar resposta, e eu fiquontente. No havia muita coisa que eu pudesse dizer a esse respeito.

    No fim da manh, eu estava totalmente exausta, mas tambm um pouco aliviada. Tinha em nas aulas, ou pelo menos era o que parecia, ento imaginei que as gordas mensalidadscolares que meu pai havia pago no tinham sido um completo desperdcio. Eu tinonseguido, at ento, no me desgraar academicamente ou, descontando o entrevero co

    Madeleine, socialmente.Eu hesitava na porta da cantina, tentando decidir se comprava um sanduche na cidade e m

    oupava da m ortificao de sentar sozinha por um a hora, quando ouvi a voz de Liz atrs de mim Ei, Anna, gostaria de sentar com a gente?Assenti, grata. Ela e June me arrastaram at a m esa delas na cafeteria e me apresentara

    ara seus amigos, todos aparentemente gentis. Respondi a vrias questes sobre Londres, comNo , em grande parte, tipo, perigosa? e No h um imenso problema de drogas?. Todareceram bem desapontados em descobrir que eu nunca tinha sido assaltada, que no ianferninhos no centro da cidade e que anorexia era um problema mais srio na minha escola ue drogas.

    Apenas uma gafe estragou o intervalo, j perto do fim do almoo. Liz perguntou se ostava de cavalos. Respondi um enftico no, e ento percebi um exemplar de Cavalos e Ce caaenfiado em uma das mochilas dos amigos dela. Ops. Questionamentos mais prximvelaram que eram todos ex-membros do Clube do Pnei e que pelo menos trs deles tinha

    avalos. Uma delas, uma garota de ossos grandes e slidos, chamada Prue, tinha um estbuerto da nossa casa. Uau, voc vive na Casa da Bruxa? Prue perguntou quando mencionei onde morava

    ostumvamos ficar, tipo, toassustados com aquele lugar quando ramos pequenos! Eu nuneixava minha me me levar pela estrada principal para os estbulos depois que escurecia; eempre tinha de ir pela pista para que eu no tivesse de passar pelo porto.

    A Casa da Bruxa, assim que voc a cham a? perguntei. Sei que na verdade se cham a Casa Wicker, mas ningum jamais a cham a assim. Semp

    oi conhecida como Casa da Bruxa, assim como a floresta sempre foi conhecida como Flore

    a Bruxa. Minha me diz que Casa da Bruxa de qualquer maneira Liz comentou. Ela diz q

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    Wicker uma corruptela de wicce, que a palavra anglo-sax para bruxa. Eu disse isso para o meu pai quando ele me perguntou por que eu no voltava sozinha pa

    asa pela floresta June contou, com a boca cheia de sanduche. Ele diz que bobagem. D

    ue chamada de Floresta Wicker por causa dos juncos1ao longo do rio. Que sej a Prue fez um sinal de desdm com a mo. bem assustador depois q

    scurece, tudo o que eu tenho a dizer. No invejo sua volta para casa, Anna. Ah, no se preocupe eu disse. No sou supersticiosa.

    Histria, depois do almoo, foi bem, mas me atrasei novamente para a quarta aula, ngls. A sala ficava escondida em cima do laboratrio de Qumica e era difcil de encontrheguei quando a aula estava prestes a comear e procurei desesperadamente por um assenago. Havia apenas um, perto de uma garota de aparncia sria, com longos cabelos escurosculos angulosos, inclinada sobre uma cpia de Macbeth.

    Com licena eu disse. Se incomoda se eu sentar aqui? Se for preciso... ela respondeu, com uma voz que claram ente queria dizer Por favo.

    Olhei ao redor, mas a sala estava to cheia que fui obrigada a me sentar mesmo assieguei os livros da mochila, olhando para ela de canto de olho. Ela usava um cardig cinpertado, com mangas gastas, e, enquanto lia, seus dedos pegavam sem descanso os fios soltos usa.

    O que eu poderia dizer? Algo sobreMacbeth? Ou seria muito pedante? Hum... tentei, mas ela ignorou meu olhar, e eu ainda estava tentando pensar em um

    orma de iniciar a conversa quando a aula comeou.

    Finalmente, o sino tocou indicando o final do dia, e eu reuni meus livros com uma sensae profundo alvio por ter sobrevivido ao primeiro dia. A garota comeou a guardar suas coia mochila, o longo cabelo negro escondendo o rosto.

    Foi bom te conhecer eu disse, sem convico. Qual o seu nome? A propsito, o m

    Anna. Eu sei ela disse, e enfiou a cpia deMacbethbruscamente na mochila, saindo da sem olhar para trs.

    1. Wicker, em ingls, significa vime, da a relao estabelecida com o junco. (N. do T.)

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    CAPTULO TRS

    u estava deitada na banheira de ferro fundido, no odioso alpendre, tentando ignorar o vento qoprava pelos vos do telhado enrugado. A gua estivera fumegante quando entrei, mas j esta

    cando fria. Muito fria. Empurrei a torneira de gua quente com o dedo do p e saiu um fileranja de ferrugem, e se misturou gua de banho escura. Estrem eci.No me sentia bem desde que chegamos a Winter; eu estava sempre tensa, pronta pa

    guma coisa no tinha certeza do qu. Parecia passar o tempo todo me contendo; cheia edos perto do meu pai, tentando no ofender ningum na escola, tentando atuar sob as regessa nova comunidade estranha. Meu pescoo e ombros doam com o esforo de guardar tuso o que quer que issofosse.

    Mesmo assim, pelo menos era sexta-feira. S mais um dia para aguentar na escola. Pensso me fez olhar o relgio colocado sobre o vaso sanitrio: era hora de me aprontar. Chegarasada nesse ritmo.

    Quando comecei a me preparar para enfrentar o incio de um congelamento, houve uoderoso estrondo na sala de estar, seguido por um silncio sinistro.

    Pai? gritei. Quando ele no respondeu, gritei mais assustada: Pai!Ento sa da banheira em um salto e corri.

    Pai? girei a maaneta da porta da sala de estar com a m o molhada.Ele estava parado, com o macaco manchado de tinta, um p de cabra em uma mo e umontoado de papel e um pedao enegrecido de carvalho de cerca de quinze centmetros spessura na outra.

    Que inferno! o alvio me deixou irritada . Por que no respondeu quando eu gritei?or que raios voc est brincando de faa voc mesmo s oito da manh?

    Sinto muito, querida ele disse suavemente. No ouvi voc apontou para o mao apis com um aceno de cabea. Consegui abrir aquele forno de po... mas, que diabos, ma luta. Olhe como a porta era grossa! Eu estava certo, era um forno, e encontrei isscondido l dentro; parece algum tipo de livro. Pode deix-lo na cozinha at que eu me limpe?

    Claro peguei cuidadosam ente por uma ponta. Estava trs quartos queimado, cobertoias de aranha e levemente manchado de tinta onde meu pai o tocara. Parte da capa estasvel e pude ler as palavras:

    e Hroc

    Grimoire

    Que raios era um Grimoire? Ou um Hroc? Parecia um velho livro de receitas, mas eu n

    comear a folhe-lo meu pai era o nico interessado naquele lugar. Ele que ficasse com os sujas. Deixei o livro no peitoril da janela e comecei a preparar uma xcara de caf pa

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    im. A tomada soltou fascas quando liguei a cafeteira, e dei um salto. Cus, eu odiava aquugar. No era possvel nem fazer uma xcara de caf sem arriscar a prpria vida. Quanto an

    eu pai conseguisse refazer as instalaes eltricas, melhor.Meu pai chegou assim que terminei de passar o caf.

    Ah, bom, tem o bastante para mim?Eu lhe servi uma xcara e, enquanto bebia, ele disse:

    Eu te falei que preciso ir para Londres am anh?Uma viagem para Notting Hill! Lauren, Suzie, todos os meus velhos amigos... quase fiqu

    em ar, mas consegui balbuciar: N-no, por qu? Preciso refazer a coroa do dente e no temos registro com nenhum dentista aqui ain

    ensei em ficar com James e Lorna enquanto estiver por l.Ah. James e Lorna eram amigos do meu pai de muito tempo; tinham umflatde um qua

    m Bloomsbury . Meu pai teria de dormir no sof, e no havia quarto para m im. Vai ficar bem enquanto eu estiver fora? Claro respondi, tentando esconder o desapontam ento. De verdade? Porque este lugar pode ser bem assustador noite, eu sei. Estava m

    erguntando se no gostaria de convidar algumas das suas novas amigas para ficarem aqui eazerem companhia.Suprimi a vontade de responder que no tinha nenhuma nova amiga e tentei manter u

    orriso convincente no rosto. Vou ficar bem , de verdade. No se preocupe, pai. Aproveite ento olhei para o m

    lgio. Ah, inferno. Eu tenho de correr.

    8h44. Eu mal tinha percorrido um tero do caminho at a escola. Estava comeandohover ah, e havia uma pedra no meu sapato. Seria possvel que aquela manh ficasse ainelhor?

    Ajoelhei-me ao lado da estrada e tirei o sapato, escarafunchando dentro dele para tenncontrar a maldita pedra. distncia, veio o rudo de um motor, leve sobre o barulho das ondstava ocupada demais amarrando o sapato para levantar a cabea, at que uma caminhoneurrada passou rapidamente, rpido demais, suas rodas agarrando minha mochila da escolarremessando-a longe. Os livros voaram no ar, e papis e canetas choveram do cu com

    estroos de uma bomba. Seu imbecil! gritei para o motorista. Voc est dirigindo com o um manaco!Presumi que ele no ouviria por causa do barulho do motor, mas houve um guinchar

    eios e a caminhonete se deteve. A porta do motorista se abriu, e engoli em seco preparande para um ataque de raiva na estrada.

    Era Seth Waters. Ele saiu correndo, o rosto plido. Anna, eu sinto muito, muito mesmo.Hum. Bem, pelo menos ele acertou meu nome desta vez. Resisti vontade de dizer E

    do bem, de verdade, Sam, e me concentrei em recolher meus pertences. Eu realmente sinto muito ele repetiu, aj oelhando-se ao meu lado na terra para reu

    anetas e folhas de papel A4.

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    No vi voc na grama alta. No esperava encontrar algum por aqui... ningum faz eaminho nesse horrio do dia. No que isso seja desculpa.

    Acabam os de nos mudar para a Casa da Bruxa. Quero dizer, para a Casa Wickerspondi, de mau humor. Ento vou fazer esse caminho regularmente a partir de agora. Se

    om se tentasse no me a tropelar no futuro. Me deixe dar um a carona para voc pelo resto do caminho. No, obrigada eu ainda tremia do quase acidente e estava irritada dem ais para conf

    m mim mesma para ser educada durante o trajeto.

    Ei ele segurou meu ombro e me virou para que eu olhasse para ele. O rosto dele estaheio de remorso. Eu realmente sinto muito, muito mesmo. Por favor, no vai me deixar dma carona, pelo menos para poupar a cam inhada?

    Os olhos dele imploravam; eu me senti am olecer. A parte de m im que ainda estava zangaueria retrucar O qu? E arriscar minha vida novamente?. Mas, em vez disso, simplesmenei de ombros. O semblante gelado de Caroline apareceu em minha mente.

    Por favor? Seth segurou minha mochila e o mao amassado de folhas de lio de casarometo que no vou ultrapassar o limite de velocidade. O calor de seu sorriso e o tom de versuasivo eram impossveis de resistir. Relutantemente, devolvi o sorriso. Vamos, voc sa

    ue quer ir. De qualquer forma, voc est atrasada. Se tem certeza... eu ia dizer se tem certeza de que sua nam orada no vai se importaas de repente pareceu estranho, presunoso. Detive-me.

    claro que tenho certeza! o mnimo que posso fazer depois de atropelar sua mocham os, suba.

    Assenti e subi na caminhonete, e Seth ligou o motor novamente com um rugido. Desculpe ele falou sobre o rudo do motor. Faz um pouco de barulho, eu sei. Eu

    erdei do meu pai; ele era encanador. O que ele faz agora? gritei de volta.Seth deu um sorrisinho sem graa de desculpas e encolheu os ombros.

    Ah, bem, ele morreu. Cncer de pncreas. Ah! fiquei vermelha de vergonha. Sinto muito. Eu no sabia. Foi recente? Quatro anos neste vero. No se preocupe, no tinha com o saber. De qualquer modo

    om falar sobre ele. Ningum mais faz isso. Como ele era? timo. Realmente sinto falta dele.Seguimos em silncio por um tempo, ento Seth perguntou:

    O que o seu pai faz? Ah, ele era corretor de aes. Mas perdeu o emprego. Por isso tivemos que mudar m

    osto pareceu rgido, com o esforo de tentar dizer as palavras casualmente. As lembranpocaram de modo espontneo em minha mente: meu pai chegando em casa trpego abalho, o rosto plido e contrado; as pilhas de contas atrasadas na mesa da sala; o som artelar enquanto pregavam a placa vendido do lado de fora da nossa casa.

    Ah, sinto muito. Ele olhou para mim com seus intensos olhos escuros. Pareciam chee preocupao, embora eu no pudesse imaginar por que ele daria a mnima para o trabalho eu pai. O que aconteceu?

    Ele foi despedido e... bem... teve uma espcie de colapso respondi, relutante. Entsse um tipo de novo comeo para ele. Para ns dois.

    O que ele est fazendo agora? Nada. Est s consertando nossa casa. Bom, ele tem algumas ideias de escrever um liv

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    obre a histria da pesca na costa sul, mas no vejo isso acontecendo to cedo tentei rir. Parece interessante Seth comentou. Olhei para ele bruscamente, para ver se esta

    endo sarcstico, mas ele parecia srio. O que a sua me faz? Minha m e... odiava esse momento. Bem, morta tambm , eu acho. Agora eu sinto muito de novo. Especialmente porque parece que meti os ps pelas m

    uas vezes, com o trabalho de seu pai e tudo o mais. No, tudo Ok, de verdade tentei explicar, sem querer parecer falsa. No como o s

    ai. Eu nunca a conheci. Ela... ah, Deus, tudo to difcil de explicar.

    Como assim? Bem... em geral eu me livrava dessa conversa com algumas respostas-padro e essoas recuavam para no se intrometer na minha dor, mas senti que no podia fazer isso diaa honestidade de Seth sobre seu pai. Ela desapareceu quando eu era um beb... lem bro que eclarada legalmente m orta quando eu tinha uns sete anos, mas tudo o que sei. Na verdade, nnho direito de sentir falta dela ou coisa do gnero. Nunca a conheci.

    Claro que tem direito de sentir falta dela Seth disse em voz baixa. Ele m udou de marcbrao roando no meu. Minhas bochechas arderam. Isso estava ficando fora de controle; Ok

    ara tinha realmente uma boa aparncia e, apesar do que June dissera sobre sua reputao,

    arecia bem gentil tambm, mas estava seriamente com prometido. No ia comear minha vm Winter roubando o namorado de algum; mesmo na hiptese improvvel de ele tambm muerer.

    A atmosfera na caminhonete parecia carregada demais para ficar confortvel, ento tenar uma risada, que saiu mais vacilante do que eu teria gostado.

    Desculpe, isso um pouco pesado para uma manh de sexta-feira, no ? Devamos esonversando sobre o que vamos fazer no fim de semana ou algo assim.

    Ei, est tudo bem Seth parou a caminhonete e, repentinam ente, percebi que estvamo estacionamento da escola. Ele se virou para me encarar e me deu um semiabrao meesajeitado pelo assento. bom ele disse, em meu cabelo. Eu no falava sobre o meu

    muito tempo. bom conversar com algum que sabe como .Para m eu espanto, senti um soluo comear a vir de dentro de mim. No era minha m

    o podia ser. Nunca a conheci o bastante para lamentar por ela. Era tudo a tenso de comem uma nova escola, perder todos os meus amigos, estar o tempo todo sozinha. Mrincipalmente, era o quo gentil Seth estava sendo. Ele deve ter sentido o tremor em meu peorque me abraou com mais fora , e senti um turbilho de emoes com plicadas em mstmago. Estava desconfortavelmente ciente de seus braos quentes ao meu redor, e de sochecha spera com a barba por fazer contra meu rosto. Do lado de fora houve um estrondo ovo, e eu pulei.

    Seth, sinto muito afastei-me em um salto e sequei meus olhos no espelho retrovisorealmente no sei o que h de errado comigo... deve ser TPM ou coisa assim ecMentalmente, dei um tapa na testa: o que eu estava fazendo? Falar sobre TPM com um suje

    raente? Tinha certeza de que isso no estava em As regras2. Por sorte, ele sorriu. Bem, est tudo certo com voc, ento. Do que eu precisava me desculpar m esm o?Dei uma risada e sa da caminhonete desajeitadamente. O veculo era mais alto do que

    stava acostumada, e derrubei a mochila, espalhando os papis para todo lado novamenuando terminei de recolh-los, Seth j havia sido levado pelo seu f-clube, todos gritanargalhando e fazendo planos para o fim de semana.

    S uma pessoa ficou. A namorada de Seth, Caroline, estava parada no estacionamento, raos cruzados, olhando para mim com os olhos azuis apertados. Enquanto eu me endireita

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    a esmagou o cigarro com o calcanhar, encarando-me o tempo todo. Ento, ela se virouogando os longos cabelos sedosos, desapareceu para dentro do prdio, acompanhando semigos.

    O que voc vai fazer neste fim de sem ana, Liz? June perguntou enquanto pegvamossos livros para a aula de Estudos Clssicos. Ah, vou tentar terminar meu ensaio sobre os vasos gregos, eu espero. E quanto a voc? Vou dar um a boa limpada nos estbulos. E voc, Anna? No tenho certeza respondi. Meu pai vai para Londres, mas no h espao para mi

    No quis que soasse to desesperado quanto saiu. Ah, meu Deus, voc vai ficar sozinha naquela casa assustadora? June gritou. A S

    inch lhe deu um olhar significativo, e ela abaixou a voz. No vai ficar com medo?Dei de ombros pela metade.

    Meu pai sugeriu que eu convidasse algumas pessoas para ficar com igo, mas... calei-m

    nto algo no rosto amigvel e aberto dela me fez perguntar. No suponho... vocs duostariam de...? Quero dizer, no se preocupem se estiverem ocupadas, mas...

    No estou ocupada! June disse imediatamente. De fato, seria timo. Posso ir dirara os estbulos no domingo e vai m e poupar uma cam inhada. Posso convidar Prue tambmnto ns duas poderamos comear cedo.

    Claro! garanti, encantada com o entusiasmo dela. E quanto a voc, Liz? Uaaau, por que no? Sem pre quis passar a noite em uma casa assombrada.

    Tem certeza de que vai ficar bem? meu pai perguntou pela milionsima vez, parado orta, a m ochila no ombro. Sei que vai ficar bem, mas eu realmente no gosto de te deixar aem nenhum acesso ao telefone.

    Eu vou ficar bem respondi com firmeza. Eu falei para voc: trs amigas vo vir pa e ns vamos ter um timo fim de semana.

    Fiquei parada porta, acenando para ele enquanto o carro sacudia pela estrada esburacam pouco tempo, eu j no era mais capaz de v-lo, apenas ouvia os estalos e rangidos d

    amos na estrada. Ento o som do motor cada vez mais fraco, enquanto meu pai desaparecia strada principal. Ento... nada. Eu estava sozinha. Sozinha na Casa Wicker.

    A pesada porta da frente se fechou e, de repente, a casa estava cheia de pequenos ruduase como se estivesse despertando, espreguiando-se, bocejando. Um relgio tocou; os cane expandiram, soando e retinindo; as tbuas do assoalho rangeram; o vento soprou e gemeu birinto de chamins cavernosas. A casa estava ganhando vida.

    Ok eu disse em voz alta, e minha voz soou pequena e solitria aos meus prprios ouvidMelhor comear.

    Eu as avisara a respeito do estado do banheiro, ento esperava que todas se lem brassem

    mar banho antes de vir, mas tentei esfregar a maior parte do limo verde da banheira. Ento ma forma imensa de brownies, troquei os lenis da cama do meu pai, para que pudessem

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    nde dormir, e desenrolei o futon no cho do meu quarto.Estava colocando mais lenha na lareira da sala de estar quando ouvi o rudo de pneus

    strada l fora. Olhando pela janela, vi que o crepsculo tinha cado e que Prue, Jane e Lstavam saltando do maltratado Land Rover de Liz, acenando para mim quando me viraiguei o interruptor da lmpada de fora, estremecendo quando ele fez um barulho e faiscou soinha mo.

    Ah, m eu Deus! June disse enquanto entravam no hall, respirando congelada o ar frioste lugar incrvel.

    Ela espiou a sala de estar. Seu pai deve ter feito milagres. Est to bonito, como algo sado da capa da Caogue!

    Meu pai tinha avanado muito em sua semana de decorao. Ele tinha pintado as parede uma espcie de creme-escuro, e o cho havia sido encerado e polido. Agora brilhava sob a a lareira, refletindo pequenos clares de luz dos painis irregulares da grade de chumbo danelas. A lareira esculpida havia sido limpa, e agora era possvel ver os estranhos animaisantas que se entrelaavam e se enrolavam nas pedras.

    Ainda no chegava aos ps da nossa adorvel casa em Londres, mas, vendo pelos olhos d

    inhas amigas, percebi o quo duro meu pai tinha trabalhado para tentar criar um lar para nMesmo assim, eu apenas respondi: Bem, no fale to cedo. Espere at ver as partes da casa que ele nodecorou.Liz e June queriam circular pela casa imediatamente, mas Prue disse:

    Compramos pizzas... elas vo ficar frias. No devamos comer primeiro?Ento nos sentamos ao redor da mesa da cozinha e comemos fatia aps fatia da piz

    ofocando sobre Winter e todos os seus habitantes. o tipo de lugar que, a menos que seus avs tenham nascido sombra do Castelo

    Winter, ainda vo se referir a voc como recm-chegado Prue explicou, entre mordidas

    odo mundo praticamente conhece todo mundo, e a maior parte das pessoas tem razes dstria da pesca, se olhar seus antepassados. Quo antiga Winter, ento? perguntei.

    Ah, da poca do livro de Domesday3, se no antes Liz disse. Ela era muito interessam Histria, eu tinha descoberto, e sua timidez desapareceu quando comeou a falar. Havm assentamento nas falsias, nos tempos romanos. Mas no chegaram regio do porto atdade Mdia; imagino que por causa do risco de ataque pelo mar, ou talvez por causa dundaes.

    H inundaes hoje em dia? perguntei.

    No mais. H defesas no porto. Houve uma inundao terrvel no sculo dezessete Prue disse com prazer. Muiessoas morreram. Supostam ente foi causada por uma bruxa, e os aldees a queimaram por is

    Eles no a queimaram Liz corrigiu. Eles a apedrejaram e a mandaram em bora, e oi pega pela inundao e se afogou.

    Vamos encarar , tudo bobagem de qualquer maneira June comeou a dobrar as caixe pizza para a reciclagem. Ela no era uma bruxa, era? Provavelmente era s uma velhoom vizinhos desconfiados e desagradveis.

    Era tudo culpa das drogas, segundo o livro que eu li Liz comeou a limpar as m igalha mesa. Elas esfregavam alguma coisa em suas vassouras, beladona ou algo do gnero, e i

    es dava a iluso de poder voar. O que mostra que no h nada de novo sob o sol June comentou. Todas as predi

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    pocalpticas do Sr. Harkaway sobre a juventude da cidade desperdiar com drogas a educaue lhes dada, e acontece que era a mesma coisa no sculo dezessete.

    Sim, voc ainda no participou de uma das assembleias do Sr. Harkaway sobre a Maldaa Bebida, j? Prue perguntou.

    Ah! Falando nisso eu repentinamente lembrei. Meu pai disse que podamos beber umas garrafas da geladeira. Querem?

    No fim, bebemos todas as trs, duas de espumante e uma de vinho ros. Comemraticam ente toda a forma de brownies, alm de um pote de sorvete. Em seguida, trocamadas grosseiras e condodas sobre as vidas amorosas umas das outras. Liz e June iam particip

    o Baile de Maio dos Jovens Fazendeiros, em algumas semanas, e ambas estavam muessimistas sobre as possibilidades de encontrar um parceiro.

    Fui com Mark Pargiter ano passado Liz contou , e foi horrvel. Ele simplesmente mnorou a noite toda e passou o tempo inteiro conversando com meu irmo e comendo canapnto, no fim, ele disse: Vai me dar um beijo de lngua ou no?. Honestamente. Que estpido

    Por que voc apenas no vai? perguntei.Prue revirou os olhos.

    uma boa pergunta. Olhe, no to simples June lamentou. Meus pais so do comit, ento eu no po

    mplesmente no comparecer. E sempre h a leve, leve esperana de que Philip Granger posair em si e m e convidar.

    Por que voc no convida ele, mulher? Prue disse, as palavras levemente enroladas. aroto to teimoso que quase um caso mdico. Nunca vai se curvar o bastante para

    onvidar... voc tem que convid-lo. No tem que refletir, ele s const... ela soluou. Const... preocup...

    Liz no se sai melhor com Jam es June disparou, irritada. Liz ficou roxa de vergonhegou violentamente com a cabea.

    totalmente diferente, June, e voc sabe disso. Sei que ele est saindo com algum, mas, pessoalmente, acho que voc escolhe es

    pinhos inalcanveis para que realmente no tenhaque convidar ningum. Acho que estou enjoada Prue disse de repente, no momento em que as luzes

    pagaram.

    Ah, inferno, deve ser um corte de luz a voz de June de repente estava muito sbria scurido. Esperem a, acho que h uma tocha no parapeito da janela fui at a janela da cozinh

    teei ao longo dela. Era tudo estranho na escurido; protuberncias e inchaos estranhos, poeob minhas unhas. Nenhuma tocha. S a intensa escurido do campo me pressionando, to grosue era quase palpvel. O ar era to escuro que, de alguma forma, era difcil respirar.

    Ento meus dedos tocaram em um pedao de papel, spero e grosso, como um pedaasgado de papel de parede. Tateei meu caminho pelo balco at o fogo e acendi a ponta apel no fogo. Ele brilhou, vivo, iluminando o aposento s o bastante para que eu conseguisse v

    tocha, bem onde pensei que estivesse. Peguei-a, bem quando o papel chamuscou meus dedou o derrubei. Assim que tive a tocha acesa em segurana, me abaixei e o peguei.

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    Espero que no sej a nada importante espiei sob a luz da tocha.Prue olhou sobre meu ombro.

    uma carta ou algo assim? No tenho ideia. Ah, no! de repente, percebi o que era. um pedao do livro

    ceitas do meu pai. Um livro de receitas? Liz olhou para o papel, a luz da tocha refletindo em seus culos

    o parece um livro de receitas. O que diz? O restante dele est aqui mostrei o mao de folhas carbonizadas. Meu pai encontr

    nquanto estava redecorando. Pensou que pudesse ser um antigo livro de receitas, mas est mueimado. No acho que sej am receitas Liz disse lentam ente, folheando as pginas. Para mi

    arece m ais um livro de feitios.Prue bufou.

    Voc tomou espumante dem ais, minha querida. Depois de toda aquela conversa sobueimar bruxas.

    Ah, cale a boca Liz respondeu brandam ente. Olhe para isso se no acredita em mim No consigo ver nada sob a luz da tocha Prue confessou. Vamos para a sala de est

    ai estar m ais claro com a lareira.O fogo estava apagado, restando apenas brasas, mas ainda havia luz suficiente panxergar. Todas nos ajoelhamos ao redor da lareira, tentando entender a escrita rebuscadatrincada. Estava intitulado Danos contra o Domnio Fayling e parecia ser uma lista

    ngredientes, a maior parte deles ilegvel ou queimada, seguida por um feitio que parecia esm ingls antigo.

    Uau! at Prue estava impressionada. Realmente um livro de feitios. Vam os dma olhada no resto, Liz. No posso dizer que eu particularmente me importe com os Domninto talvez haja algo mais til. Ei, Anna, seu pai tem mais espumante?

    Peguei a tocha e fui dar uma olhada. No havia mais espumante e eu no estava dispost

    e aventurar pelo poro no escuro, mas havia uma garrafa de usque no armrio da cozinha.ento uivava pela chamin de um jeito que fez um calafrio percorrer minha espinha, e a tocriava uma caverna sombria no teto alto da cozinha. Algo se moveu furtivamente entre as vigau estremeci, ansiando para voltar para a companhia das outras. Peguei o usque, tentando norrer enquanto fazia o caminho de volta.

    Sinto muito, s tem isso. Eca! Prue exclamou. Deu um arroto elegante. Bem, melhor do que nada, supon

    irva a. O livro parece um pouco queimado dem ais para ser til Liz comentou , mas, enquan

    oc estava ocupada, ns conseguimos encontrar algo um pouco alm do ponto que fala domnios. Olhe isso!Segurou a pgina um pouco menos queimada do que as outras, e eu vi o cabealh

    Encanto para manter marido: para manter um marido fiel tanto no juramento quanto orao, a esposa deve pegar um pouco de seu sangue e misturar secretamente no vinho dele jamais a deixar.

    Que bom eu disse. Quando me casar, vou me assegurar de fazer isso. Sem dvieu marido vai ficar encantado.

    E olhe o que Prue encontrou... um encantamento para prender um objeto de desejo! Vo

    evia tentar com o Philip, June.Todas nos esticamos para olhar para a pgina. Prue olhou para cima, o rosto largo brilhan

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    aliciosam ente sob a luz da lareira. Vam os! Vamos experimentar! Escutem comeou a ler pausadam ente, tropeando n

    alavras rabiscadas e desconhecidas do feitio. Para prender um objeto de desej o, rximo quanto carne do osso, quanto o peixe do mar, quanto a cham a do fogo. Quando a rescer, deixe a bruxa segurar em seu corao a pessoa amada, enquanto fala em voz altaalavras de poder.

    Ela segurou o livro e abaixamos as cabeas, lendo em silncio a frase curta. As palavstranhas me faziam lembrar de quando liBeowulfna escola. Amorrealeu reconhecia am

    nto talvez amorreal fosse amor verdadeiro. Fei eu no reconhecia pensava que talvudesse ser f ou algo do tipo. Anima parecia algo como alma. No pude evitar um calafrioue estvamos pedindo ou prometendo com aquelas palavras?

    Vamos! Vamos tentar! Prue incentivou. Seu rosto estava brilhante e vermelho do vinhu me perguntava se ela tinha algum especial em mente. Vamos fazer todas juntas.

    Oooh... vam os, ento! Liz tomou outro gole de usque. Vou fazer para que Philip me convide para o baile! June deu uma risadinha e,

    equncia, um arroto poderoso. Anna?

    Eu no queria fazer aquilo. De verdade, no queria. Havia algo sinistro naquele livueimado com sua escrita rabiscada e intrincada. Ficava me perguntando quem havia sidotimo a ter o livro e por que estava trancado no forno de po. Estavam tentando escond-lo

    estru-lo? De qualquer forma, algum tivera muito trabalho para mant-lo longe de olhuriosos. E agora ns o havamos desenterrado, aberto suas pginas enegrecidas e lido alavras ocultas e silenciosas por tanto tempo. Tinha a forte sensao de que estvamos netendo onde no devam os.

    No sei eu disse. O fogo se avivou, lanando altas sombras ondulantes nas paredes e to, e as chamas refletidas nos painis das j anelas e na superfcie polida dos mveis, at parec

    ue a prpria Casa Wicker estava queimando. Ah, vamos l June implorou, em um tom exagerado de splica. Pensei qoc tinha dito que no era supersticiosa.

    Eu tinha dito. E realmente parecia estpido ter medo de umas poucas palavras em uedao de papel queimado. No era como se estivessem me convidando para beber olho alamandra. Olhei para os rostos em crculo, os olhos brilhantes delas me incentivando, estranha e tensa sensao brotando dentro de mim novamente. Era como se alguma criatuentro de m im tentasse sair, tentasse escapar.

    Assustada? Prue perguntou, e sua voz era sarcstica. Eu no queria fazer aquilo, mas nueria ser o beb choro certinho de Londres tam pouco. A coisa presa se ergueu dentro de mi

    me sufocava. No havia como escapar. Ah... Ok respondi. Minha voz soou estranha e dura em meus ouvidos, e meu rosto esta

    uente. Eba! June com emorou. Acho que devem os dar as mos; crculo de poder e es

    oisas, vocs sabem.Ajoelhamo-nos diante da lareira e demos as mos sob a luz tremulante do fogo. Eu esta

    e frente para Prue, o cabelo espetado e despenteado em volta do rosto. Sob a luz fracanconstante, ela parecia completamente uma bruxa, e eu no teria ficado surpresa em ouvistouro de um trovo ou o grito de uma coruja quebrando o silncio da noite.

    Ok, todo mundo consegue ver a pgina? June perguntou. Todas assentiram . Ns vam os mentalizar a imagem de nossos am ados e dizer o encantamento. Prontas?

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    Eu no pretendia pensar em ningum em particular. Mas, enquanto as estranhas palavaam da minha boca, uma imagem veio de maneira involuntria minha mente. Era o rosto eth Waters.

    Depois de term inarmos de falar, houve um profundo silncio, quebrado apenas pelo gemo vento do lado de fora da janela e pelo crepitar da lenha na lareira. Soltamos as mos, e Jue abaixou e pegou o livro.

    Bem, isso ela disse, e o fechou de um golpe. Algo no formato de uma folha voou paora e todas nos abaixamos ao mesmo tempo para pegar.

    No era uma folha. Era uma mo a pele da palma e dos dedos, seca e achatada entreginas do livro como uma flor cruel e disform e.

    Ah, eca, eca! June gritou e chutou violentam ente a coisa na direo do fogo, em pnnojado. Pegou uma tora de lenha com a ponta da bota, e toda a massa se moveu e caiu entro da lareira, com uma chuva de fascas que se espalhou pelo aposento. Ns as apagam

    om as mos e os ps e, quando as cham as diminuram, a coisa, o que quer que fosse, tinha mbora.

    Fizemos silncio por um segundo, ento Prue vomitou ruidosamente no balde de carvos luzes voltaram com rapidez chocante.

    Fiquei muito feliz em no dormir sozinha naquela noite. A casa rangia e gemia como sento estivesse forte l fora, embora a noite estivesse tranquila. Ouvi o ritmo lento da respirae Prue e tentei no escutar os rudos agudos da madeira ou o arranhar ritmado das coisas qspreitavam o sto.

    Em vez disso, fiquei deitada na escurido e tentei pensar em coisas agradveis, comeu pai me dizia para fazer quando eu era pequena e tinha um pesadelo. Pensei em meu pai, e

    uzie, Lauren. Pensei em ver todos os meus amigos, em receber a visita deles. Vero no granardim... nadar no mar...

    Minha respirao ficou mais lenta. Estava quase dormindo quando meu ouvido captou ou

    om, algo flutuando contra a janela. O barulho era furtivo, suave, persistente. Fechei os olhom fora e puxei os lenis at o queixo, afastando a viso de uma m o seca e m orta, prensaomo papel fino, arranhando a janela, tentando entrar.

    2. Referncia ao livroAs 35 regras para conquistar o homem perfeito, de Ellen Fein e ScherrieSchneider. (N. do E.)

    3. Domesday um grande levantamento feito por William I, o Conquistador, na Inglaterra do

    sculo XI. Finalizado em 1068, o livro trazia registros sobre os sditos do rei e suaspropriedades. (N. do T.)

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    N

    CAPTULO QUATRO

    a segunda de manh, corri at Liz e Prue no estacionamento da escola. As duas pareciam uouco envergonhadas. Prue estava corando.

    Desculpe o vmito, Anna. Eu realmente pre tendia limpar, mas... Est tudo bem , de verdade. Eu no estava to mal quanto o resto de vocs, acho. ualquer forma, no posso imaginar como limpar o estrume do estbulo de ressaca possa ais divertido.

    No foi Prue fez uma careta. Bem , desculpe qualquer coisa. Ah... e surpresa, surpremos Philip Granger no caminho de volta dos estbulos e ele ignorou June como sempre. No alhos no am or, imagino. Ah, olhe, ela est aqui. Ei, June!

    June estava correndo pelo estacionamento. Seu rosto estava vermelho com o esforo, e enha uma expresso muito estranha; uma mistura de alerta e emoo animada.

    Ei, garotas ela engasgou. Anna, vim avisar voc, fique com a j aqueta. O qu? eu disse, intrigada.O peito de June estava ofegante, mas ela conseguiu dizer:

    Ouvi do passarinho verde... parou de falar, os olhos fixos em algo sobre meus ombrosarde demais.

    Caroline estava atravessando o estacionamento na nossa direo. O rosto dela estava mplacvel que olhei involuntariamente para trs para ver se algum mais podia ser objeto ua fria, mas no havia ningum. Havia, no entanto, uma grande multido diante de mimais pessoas se juntavam a cada instante. Havia um zunzunzum eltrico no ar.

    Quando chegou at ns, Caroline parou. Seus olhos azuis eram frios como gelo, e ela

    clinou to perto de mim que eu podia sentir os perdigotos enquanto sussurrava em meu rosto. Oua, sua vadia ladra de nam orados, aposto que est satisfeita consigo mesma ne

    omento, mas vou me assegurar de que no tenha um nico amigo em Winter at o fim do de hoje. Ah... ela se deteve, em confuso fingida, e colocou um dedo sobre os lbios. squeci. Voc no tem nenhum que valha a pena. Se acha que qualquer lixo feio pode vir ondres e comear a roubar os namorados das pessoas que vivem aqui a vida toda, melhudar de ideia. Estvamos saindo a mais de um ano, pelo amor de Deus.

    Vi, atnita, que havia lgrimas nos olhos dela. Uma de suas amigas deu um passo paraente e disse, timidamente:

    Caroline, deixe pra l. Cale a boca! Caroline gritou. Ento se voltou para mim. Vai lamentar isso o resto ua vida, vadia. Enquanto isso, tem uma coisa com a qual voc pode lidar.

    Ela levantou a mo e m e esbofeteou com fora.Doeu. Muito. Cambaleei com a fora do golpe, meus ouvidos zumbiram e vi estrelas

    xatamente como nos filmes. Quando a tontura diminuiu, pude sentir meu rosto comeandorder com uma dor aguda. Ento ela cuspiu nos meus ps e se virou para ir em bora.

    Pare, Caroline! algum gritou, e eu procurei e vi Seth atravessando a quadra. O roele estava lvido e, pela primeira vez, pude ver de onde sua reputao vinha: eu tive dificuldadm acreditar na fofoca que June me contara, mas, agora, vendo seu rosto sombrio de fria, sculos dos ombros retesados e duros, podia imagin-lo batendo em algum. Talvez a

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    atendo com fora o bastante para causar danos considerveis. Pare com isso a voz dele era baixa, mas m ortalmente irada. Eu te disse, no cu

    ela. claro que culpa dela Caroline replicou. Ns ramos com pletam ente felizes at q

    la apareceu. Ela uma completa bruxa e eu a odeio tentou ir embora novamente, e Seegurou-a pelo ombro com tanta fora que me senti at complacente, apesar do cuspe e da drdida em minha bochecha.

    Pelo amor de Deus Seth sibilou entre os dentes , apenas cale a boca, voc s est

    nvergonhando. Sugiro que se desculpe agorapor ter batido nela, ou vocser a que vai lamendo isso.

    Me solte, Seth, est me machucando! ela se contorceu para se libertar do nam oradoe tirou a mo, mas negou com a cabea.

    Voc machucou Anna primeiro. Que bom.Caroline passou por e le sem dizer nenhuma outra palavra e se foi.Seth se virou para mim e segurou meu rosto carinhosamente com as duas mos, viran

    inha bochecha vermelha para a luz.

    Ah, Anna, eu sinto tanto tocou com gentileza o hematoma inchado. Estremeci, e o roele refletia minha dor como um espelho. Eu devia ter avisado voc. Sabia que ela estava eodo de guerra, mas nunca imaginei que iria se dignar a isso... Ah, Cristo tocou meu lbiost sangrando.

    O que est acontecendo? perguntei grosseiramente. Era difcil falar, e o lado da minoca parecia inchado. Seth parecia estranho; havia olheiras escuras sob seus olhos como se nvesse dormido, e suas roupas estavam ainda mais mal-arranjadas e desalinhadas do que ostume. Voc est bem? perguntei, atravs do sangue, m as ele ignorou minha pergunta.

    melhor irmos para a enferm aria.Ele colocou um brao ao redor dos meus ombros, levando-me pelo estacionamento, entr

    ultido de espectadores boquiabertos que sussurravam e que se abria como o Mar Vermelara nos deixar passar. Seus rostos estavam cheios de surpresa e, em mais de um caso, invemaginei que muitas teriam trocado de lugar comigo, rostos ardendo e tudo o mais, a fim de eso lado de Seth. Eu preferia estar em qualquer outro lugar.

    Mas que diabos! a Sra. Carlisle exclamou enquanto destrancava o arm rio de primeiocorros. Quem fez isso?Seth abriu a boca para falar, mas eu falei primeiro:

    Ningum, bati num poste.A Sra. Carlisle se virou e ergueu uma sobrancelha, sarcstica.

    Srio? Sim s que saiu algo muito mais parecido com xim. Um poste em formato de mo?Dei de ombros, e ela revirou os olhos.

    Bem, no posso obrig-la a me contar, mas h uma poltica antibullying rigorosa nescola, e, se eu te encontrar aqui novamente, vou ter que fazer algumas perguntas; e no v

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    erguntar para voc, mocinha.Dei de ombros novamente e fiz uma careta quando ela passou um pouco de antissptico

    eu lbio cortado. Seth ficou parado perto de mim, segurando minha mo, a cabea baiarecia a figura da culpa, e tive a impresso de que a Sra. Carlisle pensava que provavelmene era o responsvel por aquilo. Teria ajudado se eu tivesse ideia do que estava acontecendesde o incio, mas no tinha inteno de dedurar Caroline. Havia algum grande mal-entendidou realmente no queria transformar em inferno minha segunda semana no Colgio Winter.

    Quando a Sra. Carlisle terminou de fazer o curativo, ela me deu uma bolsa de gelo pa

    olocar no rosto e disse: Vou lev-la para sua primeira aula, Anna. Qual ? Clxicos balbuciei. Certo. Seth, onde supostamente voc deveria estar? Qumica, mas, Sra. Carlisle, eu poderia, por favor, conversar com a Anna...No a Sra. Carlisle respondeu com tanta fora que at mesmo a bvia determinao

    eth estremeceu um pouco. Quero conversar com a Anna. Sozinha.

    Enquanto atravessvamos o edifcio, ela tentou conseguir mais informaes de mim peio de um bate-papo casual, claramente insatisfeita com a histria que tinha at ento. Mas

    o ia falar primeiro, porque doa muito , e minhas respostas sim-ou-no monossilbicas novaram a lugar algum. Depois de um tempo, ela me deixou com minha histria do poste e coafirmao definitiva de que Seth no estava envolvido de nenhuma m aneira. Ela m e deixouorta da classe, onde June e Liz estavam de olhos arregalados para m im, esperando pela histr

    Houve um zunzunzum audvel enquanto eu sentava no meu lugar, e meu rosto comeou

    ueimar novamente, no s pelo tapa da Caroline. Todas as cabeas se voltaram para me olh que o Sr. Finch vociferou:

    De volta para o quadro, por favor.Era uma discusso de classe sobre o ensaio que havamos feito como dever de casa, ent

    o tivemos tempo de conversar, mas, no fim da aula, June m e puxou de lado. O que Seth disse? Nada respondi com dificuldade, tentando mexer a boca o mnimo possvel. Meu l

    nha comeado a coagular, e cada palavra rachava a ferida dolorosamente. O que voc quzer?

    Quer dizer que e le no a convidou para sair? No! Que diabos voc quer dizer? eu estava to surpresa que esqueci de falar couidado e estrem eci quando sangue fresco veio at minha boca.

    A histria que est circulando, e bem convincente, que Seth term inou com Caroline omingo. Por sua causa.

    O qu? Ento voc no sabe? No vai sair com ele? No! c laro que no meu rosto ardia. uma com pleta bobagem ; estou te dizendo. Bem, bobagem ou no, ele realmente terminou com Caroline, e ela obviamente pensa q

    oc tem algo a ver com isso. No tenho. Deve ser algum m al-entendido.

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    Anna June estreitou os olhos. Em quem exatamente voc pensou quando fizemquele feitio?

    O medo dobrou meu estmago, e senti que meu rosto endurecia. No pensei em ningum. De qualquer m odo, o que fizem os no sbado no tem nadaa v

    om nada. Era s uma brincadeira estpida de adolescentes. Humm. Bem, odeio te dizer isso, mas o seu lbio est sangrando na sua camiseta. Ah, droga olhei para baixo e realmente m inha camiseta estava manchada com gotas

    angue.

    Fui at o banheiro, ignorando os olhares das pessoas no corredor. Parecia que, depois de sngum no Colgio Winter, eu repentinamente era algum, em grande estilo de fato

    apidamente decidi que preferia muito mais ser ningum. Tranquei-me em um cubculo com uunhado de papel higinico molhado e tentei tirar o pior do sangue, mas s acabei com umamiseta mida e manchada.

    Eu me escondi no banheiro o mximo que pude, at que o terceiro sinal tocou, e sabia qnha de ir para a aula de Matemtica. Os corredores estavam quase vazios, e deslizei at mssento no fundo da sala, ao lado de Seth, despercebida pelo resto da classe.

    Exceto, claro, por Seth. Com minha chegada, o rosto dele se iluminou com uma mistu

    e fria e alvio. Seu rosto ele disse quando me sentei. A expresso dele era abatida, e ele estendeu a mara me tocar. Meu corao comeou a bater forte, mesmo quando me afastei. Desculesculpe, est muito dolorido?

    Sim, bastante. Anna, eu sinto tanto, tanto. Se eu soubesse... Todo m undo em silncio o Sr. Henderson falou. Agora, algum problema com a li

    e casa? Soubesse o qu? sussurrei sob o rudo dos papis farfalhando. No sua culpa, Seth. Mas ele com eou. Silncio o Sr. Henderson rugiu. A menos que tenha algum comentrio sobre a lio

    asa, no quero ouvi-lo.Seth esperou at que o Sr. Henderson estivesse ocupado respondendo a uma pergunta, ent

    rosseguiu, murmurando: Eu queria falar com voc antes que encontrasse Caroline; no tive a chance de explic

    eja... Seth Waters. Ns dois pulam os. O Sr. Henderson estava parado a dois centmetros d

    ossas carteiras, batendo ameaadoramente com a rgua na palma da mo. Vocs tm ou nm problemas com a lio de casa?

    No, Sr. Henderson. Ento, se eu te ouvir mais uma vez, voc passar o resto desta aula na diretoria. M

    ntendeu? Sim, Sr. Henderson.Ele se virou, e Seth escreveu em um pedao de papel: Me encontra no porto na hora

    lmoo?Assenti, relutante. Realmente no queria acrescentar combustvel a qualquer fo

    maginrio que Caroline pudesse inventar por me ver escapulir com Seth, mas queria muito sabque estava acontecendo.

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    Quando cheguei ao porto, Seth j estava l, sentado em um pequeno barco vela amarrao cais. Estava olhando para algo no colo, e eu o observei enquanto me aproximava.

    O perfil dele era forte contra o cinza da gua, com seu cabelo escuro encaracolaesgrenhado pelo vento que soprava do outro lado da baa. De algum modo, parecia diferentearoto que se sentava ao meu lado na aula de Matemtica mais velho, mais srio, mais cap

    omo se fizesse parte de um grupo de pescadores, puxando potes de ostras em algum porto greu limpando sardinhas em um cais portugus. Muitas coisas sobre ele a pele profundamenorena, as mos cheias de calos e a fora magra de seus braos e ombros repentinamenzeram sentido.

    Ento tropecei em um rolo de corda e ele levantou a cabea, sua expresso mudando paompleta alegria.

    Anna! Voc veio. claro.Ele dobrou a carta que estava lendo e saltou com facilidade para fora do barco.

    J almoou? Eu devia ter avisado voc de que no h cafs abertos ainda, eles abrem uouco m ais tarde na temporada.

    Neguei com a cabea. Eu no estou com muita fom e, e realmente no acho que eu quero com er muito com

    oca assim. claro ele pareceu abatido. Aqui ele j ogou um pacote de velas enroladas. Sente

    qui. um pouco mais limpo do que o cais. Seth, o que est acontecendo?Seth mordeu o lbio e olhou para o mar. Pela primeira vez, notei que seus olhos no era

    astanhos, como eu tinha pensado, mas de um cinza bem escuro, como o leito de calcrio do m

    m um dia de tem pestade. Houve silncio por um momento, ento ele suspirou. Bem, sabe que term inei com Caroline. Ouvi falar. Realmente sinto muito. Eu no. Mas sinto ter dito algo estpido para ela esperei e ele prosseguiu lentamente

    isse que era por sua causa. Entendo eu disse. Minha garganta repentinam ente fechou e achei impossvel fa

    ualquer outra coisa. Queria dizer No seja estpido, no importa se me usou como desculo tem que se desculpar por nada, s acertar as coisas. Mas no podia fazer as palavarem.

    E Caroline entendeu tudo errado ele prosseguiu, com dificuldade. Pensou que estacontecendo alguma coisa entre ns. O que no est, bvio eu disse, dolorosamente. Meu lbio tinha rachado novament

    u sentia gosto de sangue.Seth negou com a cabea.

    No ento pegou minhas mos entre as dele. Senti o calor surpreendente de sua pele spereza de seus dedos e das palmas de suas mos. Havia um vergo profundo, comoueimadura de uma corda, na parte inferior de seu pulso, e tive de lutar contra o impulso assar o dedo pela cicatriz. O rosto dele estava plido, apesar do moreno profundo, e havombras sob seus olhos. Ele parecia cansado, at mesmo exausto, e havia uma intensidassustadora em sua expresso que eu no conseguia entender. Ento ele respirou fundo. Mas

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    ostaria que houvesse. O qu? estava to surpresa que fiquei em p, puxando minhas mos. Ele tambm

    vantou, as palavras tropeando umas nas outras. Eu sei, eu sei que isso repentino, e que acabamos de nos conhecer, e no queria

    ssustar... mas, Anna, nunca conheci algum como voc. Voc maravilhosa, e surpreendenesperta, e espirituosa e bonita. Acordei no domingo e, no posso explicar... de repente perc

    ue era voc que estava faltando na minha vida. No sei como demorei tanto tempo. Tanto tem po! engasguei. S nos conhecem os h uma semana!

    Sinto como se te conhecesse por toda a minha vida... estou com pletam ente obcecado poc... com o jeito que olha, o jeito que se move, o cheiro da sua pele, o jeito que o sol traz luzermelhas para os seus cabelos. No penso em mais nada desde ento eu estava to surpreue no podia falar, e ele prosseguiu. Sei que provavelmente isso demais, muito depresas eu no podia continuar com Caroline me sentindo desse jeito com voc. Por favor, n

    spero nada em troca, mas eu tinha que dizer algo. Nunca me senti assim antes. As garotas eWinter... so to, to normais, e voc chegou e era como... como se nada mais importasse

    arou, tocou meu lbio com o dedo quente e caloso, e engoliu em seco. Anna, sei que pareucura, mas... eu amo voc.

    Por um minuto, fiquei fascinada por tudo o som do mar batendo no cais, a sensao de sque, a intensidade de seus olhos cinza-ardsia. Ento a sanidade voltou e afastei a mo dom violncia.

    Seth, pare com isso! Isso ridculo minha voz estava tremendo. Eu sei ele parecia desnorteado. Sei que , e no espero que se sinta do mesmo je

    ue eu. No espero nada de voc. S quero... no sei. Queria que soubesse que amo vocempre amarei.

    Pare com isso! gritei, colocando as mos sobre o ouvido e fechando os olhos. Aquilo errvel; to certo e, mesmo assim, to, to errado.

    Sinto muito Seth disse. A voz dele estava em bargada. Sei que ridiculam epentino. No vou dizer mais nada se isso te aborrece.

    Um pensamento horrvel me ocorreu de repente, e abri os olhos. Isso um a pegadinha? June pediu para voc fazer isso? O qu? ele pareceu horrorizado. No! O que June tem a ver com isso? Como pode

    ensar que eu brincaria com algo assim?Por um instante, considerei a ideia de contar para ele sobre o sbado noite e o feitio

    da aquela infantilidade ridcula ento a sanidade retornou. Eu no podia. No poderossivelmente. E no podia ser verdade, de qualquer jeito. Devia haver outra explicao umpeto de hormnios ou algum m al-entendido monumentalmente terrvel.

    Sinto muito eu disse, por fim. Minha voz tremeu. No posso fazer isso. Por favor... pavor, vamos esquecer isso. Amanh voc vai pensar melhor sobre tudo isso e vai ficalmente envergonhado, e eu tambm. Vamos simplesmente fingir que voc nunca falou nasso... vai ser melhor para ns dois.

    Ok. Mas isso no muda o que sinto. Eu am o voc. Vou sentir o mesmo amanh, e no deguinte, e no dia depois desse. Mas no quero machucar voc, Anna. No vou mencionar isovamente se te faz infeliz.

    Faz respondi, e senti as lgrimas rolando pelo meu rosto, apesar de tudo o que eu tinito para evitar. Ento eu estava nos braos dele, e ele acariciava meu cabelo.

    Por favor, por favor, Anna, no chore. Ah, meu am or, por favor, no chore.Eu podia sentir a batida de seu corao e o calor de sua pele pela camiseta fina. Por u

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    nstante, pensei em ficar ali, descansando meu queixo contra o peito dele, envolta em seu caleria to fcil, to tentador, to certo...

    Eu me detive. Isso era errado. O que quer que eu sentisse por ele, os sentimentos dele pim no eram nada alm de algum engano inexplicvel, uma iluso passageira. Eu estava m

    azendo de boba e, mesmo sem perceber, Seth fazia o mesmo. Por favor, pare com isso eu disse to friamente quanto consegui, tentando escapar d

    raos dele. Voc no me ama, e eu no quero ouvir mais nada a esse respeito. S m e deim paz, e am bos serem os mais felizes.

    No acredito em voc ele disse. Seus braos me aprisionavam sem esforo, m as eraeus intensos olhos escuros que me fizeram parar de lutar. No acredito em voc. Me diga qo sente nada por mim.

    Mas eu no pude. No consegui falar. S fiquei parada, tremendo, meu corao batenolorosamente, enquanto ele se inclinava na minha direo. Ento ele me beijou.

    Por um longo, longo instante, no fiz nada, s me derreti naquele beijo, minha cabeodopiando de desejo, meus braos entrelaando seus ombros, sentindo seus msculos tremerese flexionarem sob o material fino da camiseta quando ele me abraou mais apertado. Os soodores do porto ficaram distantes. O rugido do mar foi afogado pelo rugido do sangue e

    inha cabea, pelo som do corao de Seth, e nossas respiraes ofegantes, arquejantnquanto nos abravamos mais e mais.Mesmo quando comecei a retribuir o beijo, no fundo da minha mente uma vozinha ain

    sistia:Isto est errado. No! eu me afastei e, sem confiar mais em mim mesma, sa correndo. Corri pelo ca

    respirao ofegante e cega pelas lgrimas, e, depois, pela estrada principal, onde meio andeio cambaleei at em casa, chorando o tempo todo.

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    CAPTULO CINCO

    negcio todo tinha sido obviamente uma brincadeira ou algum tipo de alucinao em massepois de uma boa noite de sono, isso era lgico. Caminhei at a escola na tera, certa de q

    eth teria percebido o quo idiota havia sido ou isso ou haveria uma imensa placa nos porta escola dizendo: ANNA WINTERSON VOC CAIU EM UMA PEGADINHA!Que fosse, ningum levaria isso adiante por dois dias seguidos. De um jeito ou de outro, tu

    staria de volta ao normal no estaria?Minha esperana foi frustrada assim que entrei no ptio da escola. Aproximadamente t

    ilhes de olhos se viraram para me encarar ou pelo menos era o que parecia.Caminhei lentamente pelo ptio, tentando manter o olhar baixo, longe dos rostos curios

    que um grande grupo de garotas barrou meu caminho. Dei um passo para a esquerda, e embm. Dei um passo para a direita, e e las tambm.

    Com licena eu disse. A do meio, que reconheci como am iga de Caroline, cruzouraos e inclinou a cabea de lado, os brincos compridos tilintando com a brisa.

    Parece que no h espao suficiente neste cam inho para todo mundo, no ? Sugiro q a volta.

    Suspirei. Dar a volta representava uma caminhada de dez minutos. Isso no um pouco infantil? Encare como quiser. Mas este cam inho pequeno demais para todas ns. E, francamen

    ste colgio tambm. No sei como em Londres a voz dela pingava sarcasmo , mas eWinter no damos muita folga para vadias ladras de namorados.

    Suspirei mais uma vez e dei meia-volta, e ouvi um risinho satisfeito atrs de mim. Um

    elas gritou uma palavra que eu nunca tinha ouvido ser usada em um ambiente escolar antem mesmo em Londres. Meus olhos marejaram, mas continuei andando, embora mal visseaminho. No ia, noia deix-las me verem chorar.

    De repente, senti algum segurar meu brao. Oua a voz de Seth sussurrou em meu ouvido , vire-se, Anna. Aquelas ele engasg

    o bravo que mal conseguia falar , aquelas estpidasgarotinhas vo implorar seu perdo eeixar passar antes que eu acabe.

    Seth, por favor, no. Por favor, deixe pra l. No. Voc no pode dar as costas; sua vida vai ser miservel em Winter se desistir ago

    em que m e deixar ajudar voc.Ele estava certo; eu sabia disso. Eu me virei, de modo miservel, e Seth falou friamen

    om a lder do grupo. Oi, Jess. Oi, Seth a voz dela estava na defensiva, como se no tivesse certeza de como agir. Anna gostaria de passar. Sugiro que saia do caminho dela.Indeciso misturada com fria passou pelo rosto de Jess e, depois de um tempo, ela ficou

    do. Mas Seth no se moveu. E talvez voc gostaria de se desculpar por bloquear o caminho dela to rudem ente.

    Eu me encolhi por dentro, mas Seth segurava meu brao com firmeza. Eu mal consegue mexer, m uito menos escapulir.

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    Talvez. Mas eu realmente no quero. Estou esperando. Olhe, Seth, no tenho problem as com voc ela disse em voz baixa. Se tem um problema com Anna, tem um problema com igo a voz dele era igualme

    aixa, e cheia de ameaa. Pea... perdo... para ela. Seth... Jess olhava sobre o ombro dele para a grande multido que havia se reunido co

    possibilidade de um espetculo. Vi Caroline sobre as cabeas da multido, seu rosto sombrio ria.

    Senti Seth tomar uma deciso ao meu lado. Colocou o brao ao redor dos meus ombros erou para a m ultido, levantando a voz. Ok, vam os acertar as coisas. O que quer que tenha acontecido entre Caroline e eu, An

    o tem nada a ver com isso. Mas ela uma boa amiga e, para qualquer um que queira ficuma boa comigo, melhor perceber isso. Se vocs querem arrumar encrenca com encrenquem comigo primeiro. Est claro?

    Nunca me senti to humilhada em toda minha vida. Houve um murm rio na multidoeth se voltou para Jess.

    Jess? No tenho o dia todo.

    Ela jogou o cabelo para trs e murmurou alguma coisa baixinho. Seth se inclinou paraente. No entendi. Desculpe! Jess praticamente gritou. Tudo bem?Ela se virou e foi embora. Conforme partia, vi dar de ombros para Caroline.Encolhi os ombros ingratamente para escapar do brao de Seth, tentando fazer o melh

    ossvel para ignorar a mirade de alunos me encarando. As expresses deles iam vertimento (a maior parte dos garotos) aos olhos verdes de inveja (pelo menos metade d

    arotas a metade mais estpida, na minha opinio). Meu rosto queimava enquanto eu msgueirava o mais discretamente possvel para o Edifcio Sul. Tanto esforo para que as cois

    oltassem ao normal.

    Entrei furtivamente na aula de Ingls e me sentei ao lado de Emmaline, com o rosto ainermelho. Para minha surpresa, ela estava guardando os livros na m ochila.

    No vai ficar? perguntei.

    Voc tem coragem ela sussurrou. Com que raios voc acha que est brincando? O qu? No banque a inocente comigo. O que quer que tenha feito nosbado, sabe o que fez co

    quele pobre garoto e devia ter vergonha de voc mesma. nojento. cruel, falso e nojen, se tivesse qualquer vergonha na cara, voc desfaria isso. No quero dividir uma cidade cooc, muito menos uma carteira.

    E ela saiu da sala, trombando com a Sra. Wright, que estava entrando naquele momento. No vai ficar, Em maline? a professora perguntou, surpresa. Sinto muito, Sra. Wright. Vou para casa. Algo me deixou horrivelmente enjoada. E, co

    quilo, Emm aline me deu um olhar de puro dio e se foi.

  • 7/23/2019 Uma Bruxa Na Cidade - Trilogia - Ruth Warburton

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    No intervalo, encurralei June. Voc falou para a lgum sobre o que ns fizemos no sbado? No, c laro que no, por qu? Porque eu tive um encontro m uito estranho com a Emmaline Peller e certamenteparec

    ue ela sabia o que aconteceu.

    O qu? Aquela vaca arrogante? A Emmaline Peller no me diria as horas, Anrancamente, ela a ltima pessoa com quem eu teria uma conversa sobre palhaadas badas. De qualquer m odo, por que se importa?

    Ignorei a pergunta e insisti. Ento voc no contou para ningum? Pela ltima vez, no! Por que est to incom odada com isso? Porque... respondi sem convico. Porque... s um pouco embarao

    specialmente agora que Seth terminou com Caroline.June me deu um olhar astuto.

    Achei que tivesse dito que no pensou em Seth no sbado, e que toda essa histria no teada a ver com voc.Notem sublinhei minha afirmao enftica corando furiosamente. No pensei. Ma

    s pessoas podem ter uma ideia errada. Bem, sej a com o for. Eu certamente no contei para ningum. Mas no posso falar p

    rue ou Liz.Mas, quando as questionei, tanto Prue quanto Liz tambm negaram. No tinha certeza

    ue fazer a esse respeito. A maior parte das palavras de Emmaline havia sido bastante ambguMas aquela acusao sobre o que quer que tenha feito nosbado era bem especfica. S pode referir a uma coisa...

    Fiquei preocupada com a questo durante todo o caminho para casa, mal notando a subinquanto me arrastava pela estrada das falsias at a floresta. Meus sentimentos iam de um laara o outro, como um pndulo, entre a incredulidade zombeteira e um medo cido que reviraestmago de que realmente tivssemosfeito algo com o livro de feitios.

    Certamente, certamente isso era ridculo. Este era o sculo XXI, no a Inglateromwelliana. Pessoas queimadas, encantamentos e feitios de amor eram coisas de um passastante.

    Mesmo assim. No era um pouco de coincidncia demais? De onde tinha vindo a violenaixo obsessiva de Seth, seno do livro de feitios? Eu no era arrogante o suficiente para penue ele tinha ficado louco por mim por vontade prpria. Caras como Seth no se apaixonavaor garotas como eu no m undo real. Por mais que eu quisesse acreditar.

    As palavras zangadas de Emmaline ficavam reverberando em minha cabea: E, se tivesualquer vergonha na cara, voc desfaria isso. A compreenso veio com uma incmo

    istura de alvio e temor. Se havia um feitio no livro para prender algum, poderia haver uitio para desprender...?

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    Meu estmago estava enjoado e revolto enquanto eu subia as escadas rangentes para o muarto. No soube por qu, mas a primeira coisa que fiz foi ir at a janela e fechar as cortinfastando a claridade do dia. A ltima coisa que vi enquanto puxava a cortina foi a praia ampais incrustada do que nunca, com sombras curvadas, silenciosa e vigilante.

    O livro estava escondido sob a minha cama, enrolado em jornal. Agora eu desfazia o pac

    om a sensao de abrir a caixa de Pandora mas a nica coisa que escapou foi o cheiro apel queimado quando folheei as pginas frgeis. Cada pgina parecia uma arm adiscondida, ocultando outra mo amassada ou algo pior, mas segui em frente, guiada pembrana do desespero selvagem de Seth e dos olhos acusadores de Emmaline.

    Muitos dos feitios estavam completamente queimados ou ilegveis, e alguns pediangredientes que eu no reconhecia ou que no poderia encontrar, como lngua de um peixe-bu um punhado de mandrgora em p, o que quer que isso fosse. Outros eram muito simplma instruo para colocar uma vassoura atrs da porta, para que ningum mal-intencionaossa entrar e causar danos. Provavelmente porque viajavam em vassouras, uma voz ctombou em minha m ente.

    Finalmente, parei em uma pgina bastante carbonizada. Pedaos de cinzas se desfaziantre meus dedos, mas as palavras eram mais ou menos legveis: Um feitio para libergum enfeitiado com um encanto. Engoli em seco e li, tentando decifrar as letras intrincad

    Instrua o leitor a acender uma lareira. Ento, pegar um punhado de sal e sussurrar o nomo encantado nele. Da, era s jogar o sal no fogo e dizer um pequeno encantamento enquans chamas brilhavam forte. Aquilo parecia Ok; eu tinha sal, sabia o nome do encantadoodia acender uma lareira.

    Sentindo-me um tanto tola, acendi o fogo na lareira do meu quarto e esperei que