uma causa psicolÓgica a “marcha” para o...

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LEITURAS 17 Domingo 27 de Setembro de 2020 Agostinho Neto /* É voz corrente dos observadores que os elementos constitutivos da classe nativa têm a tendência para se isolarem uns dos outros, ou por meio de grossa camada de indife- rença ou por espinhoso egoísmo, quando se trata de defender os in- teresses daquela. O desamor à causa é principal- mente notado em aqueles, com uma certa cultura ou uma boa dose de inteligência geralmente reconhecida, são capazes de ajudar os empreen- dimentos sociais, mas raramente se congregam aos restantes e dão apoio às suas iniciativas. Para a classe nativa são inúteis, fúteis e só aparentemente, por questão de complacência ou patriotismo men- tiroso, dão o seu fugidio auxílio às coisas nativas. Tal indiferença de uns para ou- tros indivíduos com interesses co- muns, não é muito compreensível, uma vez que estes são os únicos motivos de aliança entre indiví- duos, classes ou nações. É paradoxal a desunião entre nós, nativos, que, para não citar outros aspectos do interesse comum, têm que lutar coesos pela sua economia e pelo aumento do seu nível cultural. A fraca compreensão da neces- sidade de trabalho em comum tem sido também atribuída a “esta” geração e atirado às costas da mu- lher africana. A geração moderna, porém, abra- çou apenas um movimento geral da humanidade para o “diferente”. O mundo está sofrendo intensamente as consequências duma evolução social. São a velocidade fatigante, a técnica que atrai os riscos procu- rando prolongar a vida, que dão uma ânsia de viver extenuante e transformam a vida em despreo- cupação, ou melhor: inquietação geral lançada sobre os ombros, por desventura bastante estreitos, do rapaz de bigode, cabeleira abundante e casaco descendente, dizendo-se que ele prejudica a classe. Porém, em todo o mundo, os homens andam preocupados com esta geração – standard que se está afastando do viver clássico e cuja plástica de linha recta pretende fazer palpitar os corações em todas as latitudes. Olha-se com certa pena para esse produto ersatz a quem as metafísicas amedrontam e as causas ocultas atemorizam. Não é só aqui que esta geração é inobjectiva, aérea, é-o em todas as partes do mundo. E a desunião entre os nativos não é posterior à fabricação em série do rapaz moderno. A mulher africana moderna as- similando a inobjectividade da vida, dissemelhando-se da avo- zinha pacatamente crocheteante, adoptando a despreocupação, o bâton, a sola de cortiça e a saia as- cendente; deixou-se apenas ar- rastar pelo movimento geral que transformou o homem, que (di- gamo-lo de passagem) é difícil ser-se rebelde! A maior parte das acusações que se fazem à mulher africana são um reflexo de uma psicologia distorcida de que adiante falaremos. -------- Os nativos são educados como se tivessem nascido e residissem na Europa. Antes de atingirem a idade em que são capazes de pensar sem esteio, não conhecem Angola. Olham a sua terra de fora para dentro e não ao invés, como seria óbvio. Estudam na escola, minuciosamente a História e Geografia de Portugal, enquanto que as da Colónia apenas as folheiam em sinopses ou estudam muito le- vemente. Ingenuamente, suspiram pelas regiões temperadas do norte, por onde lhes arda o coração. Não compreendem esta gente que aqui habita, os seus costumes e idios- sincrasia. Não têm tradições. Não têm orgulho da sua terra porque nela nada encontram de que se orgulhar; porque não a conhecem. Não têm literatura, têm a alheia. Não têm arte sua. Não têm espírito. Não adoptam uma cultura; adap- tam-se a uma cultura. Os indivíduos assim formados têm a cabeça sobre vértebras na- tivas, mas o seu conteúdo escora- se em vértebras estranhas, de modo que as ideias, as expirações do es- pírito são estranhas à terra. Daí o olhar-se esta, a sua gente e hábitos, o mundo que os rodeia, como es- tranhos a si – de fora. É como se um habitante da Terra teimasse em imaginar-se alcando- rado na Lua e julgasse que via os seus semelhantes de tal distância. Produz-se no nativo uma distorção na sua personalidade que se reflecte na vida social, desequilibrando-a. Lá fora há o hábito de depreciar quanto é nativo; e os moços nativos cujos espíritos derivaram para o ex- terior e em quem está atinente um quantum de vaidade (como em qual- quer ser humano) têm vergonha em considerar-se incluídos naquela esfera depreciada e não somente não a auxiliam como procuram des- prezar as iniciativas de carácter pu- ramente nativo porquanto o seu cérebro afina por diapasão estranho; porque foi psicologicamente dis- torcido pelo eurotopismo. Cada um, é claro, tem cons- ciência do prejuízo que causa fur- tando-se à luta comum, mas procura convencer-se de que a identificação com o longínquo é um mal… necessário! ------ A minha pouca experiência impediria que a voz chegasse ao céu se eu desse conselhos. Acho porém, que a mè- zinha apropriada para anular os efeitos perniciosos bastante do eu- rotropismo, seria começar por “des- cobrir” Angola aos novos, mostrá-la por meio de uma propaganda bem dirigida, para que eles, conhecendo a sua terra, os homens que a habitam, as suas possibilidades e necessidades, saibam o que é necessário fazer-se, para depois querer. *In O Farolim, 1946. Agostinho Neto tinha então 24 anos UMA CAUSA PSICOLÓGICA A “marcha” para o exterior DR “Os nativos são educados como se tivessem nascido e residissem na Europa. Antes de atingirem a idade em que são capazes de pensar sem esteio, não conhecem Angola. Olham a sua terra de fora para dentro e não ao invés, como seria óbvio. Estudam na escola, minuciosamente a História e Geografia de Portugal, enquanto que as da Colónia apenas as folheiam em sinopses ou estudam muito levemente. Ingenuamente, suspiram pelas regiões temperadas do norte, por onde lhes arda o coração

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  • LEITURAS 17Domingo27 de Setembro de 2020

    Agostinho Neto /*

    É voz corrente dos observadoresque os elementos constitutivos daclasse nativa têm a tendência parase isolarem uns dos outros, ou pormeio de grossa camada de indife-rença ou por espinhoso egoísmo,quando se trata de defender os in-teresses daquela.

    O desamor à causa é principal-mente notado em aqueles, com umacerta cultura ou uma boa dose deinteligência geralmente reconhecida,são capazes de ajudar os empreen-dimentos sociais, mas raramentese congregam aos restantes e dãoapoio às suas iniciativas. Para aclasse nativa são inúteis, fúteis esó aparentemente, por questão decomplacência ou patriotismo men-tiroso, dão o seu fugidio auxílio àscoisas nativas.

    Tal indiferença de uns para ou-tros indivíduos com interesses co-muns, não é muito compreensível,uma vez que estes são os únicosmotivos de aliança entre indiví-duos, classes ou nações. É paradoxala desunião entre nós, nativos, que,para não citar outros aspectos dointeresse comum, têm que lutarcoesos pela sua economia e peloaumento do seu nível cultural.

    A fraca compreensão da neces-sidade de trabalho em comum temsido também atribuída a “esta”geração e atirado às costas da mu-lher africana.

    A geração moderna, porém, abra-çou apenas um movimento geral da

    humanidade para o “diferente”. Omundo está sofrendo intensamenteas consequências duma evoluçãosocial. São a velocidade fatigante,a técnica que atrai os riscos procu-rando prolongar a vida, que dãouma ânsia de viver extenuante etransformam a vida em despreo-cupação, ou melhor: inquietaçãogeral lançada sobre os ombros, pordesventura bastante estreitos, dorapaz de bigode, cabeleira abundantee casaco descendente, dizendo-seque ele prejudica a classe.

    Porém, em todo o mundo, oshomens andam preocupados comesta geração – standard que se estáafastando do viver clássico e cujaplástica de linha recta pretendefazer palpitar os corações em todasas latitudes. Olha-se com certapena para esse produto ersatz aquem as metafísicas amedrontame as causas ocultas atemorizam.

    Não é só aqui que esta geração éinobjectiva, aérea, é-o em todas aspartes do mundo. E a desunião entreos nativos não é posterior à fabricaçãoem série do rapaz moderno.

    A mulher africana moderna as-similando a inobjectividade davida, dissemelhando-se da avo-zinha pacatamente crocheteante,adoptando a despreocupação, obâton, a sola de cortiça e a saia as-cendente; deixou-se apenas ar-rastar pelo movimento geral quetransformou o homem, que (di-gamo-lo de passagem) é difícilser-se rebelde!

    A maior parte das acusações quese fazem à mulher africana são um

    reflexo de uma psicologia distorcidade que adiante falaremos.

    --------

    Os nativos são educados como setivessem nascido e residissem naEuropa. Antes de atingirem a idadeem que são capazes de pensar semesteio, não conhecem Angola. Olhama sua terra de fora para dentro e nãoao invés, como seria óbvio. Estudamna escola, minuciosamente a Históriae Geografia de Portugal, enquantoque as da Colónia apenas as folheiamem sinopses ou estudam muito le-vemente. Ingenuamente, suspirampelas regiões temperadas do norte,por onde lhes arda o coração. Nãocompreendem esta gente que aquihabita, os seus costumes e idios-sincrasia. Não têm tradições. Nãotêm orgulho da sua terra porque nelanada encontram de que se orgulhar;porque não a conhecem. Não têmliteratura, têm a alheia. Não têm artesua. Não têm espírito.

    Não adoptam uma cultura; adap-tam-se a uma cultura.

    Os indivíduos assim formadostêm a cabeça sobre vértebras na-tivas, mas o seu conteúdo escora-se em vértebras estranhas, de modoque as ideias, as expirações do es-pírito são estranhas à terra. Daí oolhar-se esta, a sua gente e hábitos,o mundo que os rodeia, como es-tranhos a si – de fora.

    É como se um habitante da Terrateimasse em imaginar-se alcando-rado na Lua e julgasse que via osseus semelhantes de tal distância.

    Produz-se no nativo uma distorçãona sua personalidade que se reflectena vida social, desequilibrando-a.

    Lá fora há o hábito de depreciarquanto é nativo; e os moços nativoscujos espíritos derivaram para o ex-terior e em quem está atinente umquantum de vaidade (como em qual-quer ser humano) têm vergonhaem considerar-se incluídos naquelaesfera depreciada e não somentenão a auxiliam como procuram des-prezar as iniciativas de carácter pu-ramente nativo porquanto o seucérebro afina por diapasão estranho;porque foi psicologicamente dis-torcido pelo eurotopismo.

    Cada um, é claro, tem cons-ciência do prejuízo que causa fur-tando-se à luta comum, masprocura convencer-se de que aidentificação com o longínquo éum mal… necessário!

    ------

    A minha pouca experiência impediriaque a voz chegasse ao céu se eu desseconselhos. Acho porém, que a mè-zinha apropriada para anular osefeitos perniciosos bastante do eu-rotropismo, seria começar por “des-cobrir” Angola aos novos, mostrá-lapor meio de uma propaganda bemdirigida, para que eles, conhecendoa sua terra, os homens que a habitam,as suas possibilidades e necessidades,saibam o que é necessário fazer-se,para depois querer.

    *In O Farolim, 1946. Agostinho Netotinha então 24 anos

    UMA CAUSA PSICOLÓGICA

    A “marcha” para o exteriorDR

    “Os nativos sãoeducados como

    se tivessem nascidoe residissem naEuropa. Antes deatingirem a idadeem que são capazesde pensar sem esteio,

    não conhecemAngola. Olham

    a sua terra de forapara dentro e não

    ao invés, como seriaóbvio. Estudam

    na escola,minuciosamente

    a História eGeografia de

    Portugal, enquantoque as da Colóniaapenas as folheiamem sinopses ouestudam muito

    levemente.Ingenuamente,suspiram pelas

    regiões temperadasdo norte, por ondelhes arda o coração

  • ESTRADAS18 Domingo27 de Setembro de 2020DR

    O mau estado da picada que liga a Estrada Nacional 100 à comuna do Gungo, província do Cuanza-Sul, pode comprometera intenção do clube Toyota Land Cruiser de Angola (TLC) de levar ajuda humanitária ao Grupo Missionário Ondjoyetu e

    melhorar as condições sociais dos mais de 33 mil habitantes daquela localidade

    Armindo Pereira

    No dia 16 do correntemês,depois de serem submetidosao teste de detecção da Co-vid-19 por RT-PCR, umgrupo de avanço dos TLC,composto por quatro pes-soas, dirigiu-se à sede damissão para fazer o levan-tamento das necessidades,numa parceria com os aven-tureiros do Volta a África. Semanas antes haviam

    recebido garantias que opercurso “muito acidenta-do” seria melhorado, demodo a facilitar a circula-ção. No entanto, só foi pos-sível fazer 18 dos cerca de50 quilómetros. De acordo com Paulo

    Diogo “Passarinho”, a in-tenção é fazer um passeioturístico sob o lema “VamosAbraçar esta Causa”, deLuanda até o Gungo, de 31de Outubro a 2 de Novem-bro, com um total de 100viaturas e levar bens de pri-meira necessidade até àmissão católica de Leiria(Portugal), dirigida pelopadre David Ferreira. “Infelizmente, nos de-

    paramos com muitas difi-cu ldades , ao l ongo dopercurso, o estado da picadanão vai permitir. Um carro4x4 comum não tem pos-sibilidades de fazer aquelepercurso, aquilo é para veí-culos extremamente pre-pa rado s , c om p i l o t o sexperientes. Tivemos a sortede ter apenas um pneu fu-rado, mas nem toda a gente

    tem um carro com as mes-mas condições que o meu”,acautelou Paulo Diogo. Comparado àquela pi-

    cada, segundo Diogo, só ospercursos de desafios ex-tremos em “Trial 4x4”, ondecarros comuns com tracçãoàs quatro rodas não são ca-pazes de participar. Paira no ar a incerteza,

    pois o estado acidentadoda picada vai condicionara materialização do objec-tivo. Paulo Diogo diz queserá necessário uma má-quina niveladora para puxara terra de ambos os lados,tapar os buracos maiores,encher as trilhas e com-pactar com um cilindro demodo a colmatar as inú-meras “crateras e pedrasenormes”, ao longo de maisde 30 quilómetros. “É o que precisamos para

    chegar até à missão. Nãoqueremos uma pista comoaqueles 18 quilómetros,mas de uma picada normal,como tantas outras queexistem pelo país. O passeiotodo-o-terreno tem desafiosem que os carros são postosà prova e isso faz parte daaventura”, sublinhou. De modo a facilitar o es-

    coamento dos produtos docampo para a cidade, a mis-são tem à disposição da co-munidade, desde 2010, umcamião Mercedes-BenzUnimog. O mesmo é tidocomo um meio de impor-tância vital para as activi-dades pastorais e sociaisda igreja. Para o efeito, os morado-

    res, sempre que necessário,têm partido pedras à marretapara pavimentá-las, a fimde facilitar a circulação. Ape-sar dos resultados já alcan-çados pela missão católica,o isolamento do local é aindaum dos principais entravespara resolução dos seus pro-blemas básicos.Paulo Diogo acredita que

    pode ter o apoio das enti-dades competentes para ocumprimento da nobremissão à comuna do Gun-go, localidade que distamais de 110 quilómetrosdo município do Sumbe:“estamos a mover muitosapoios e não pretendemosbaixar os braços”.

    Apelos reiteradosNos últimos dias os inte-grantes do TLC multiplica-ram os apelos nas redessociais em busca de pessoasque possam abraçar a causa.Com a ajuda a ser recolhida,caso não os consigam poroferta, os mentores do pro-jecto pretendem adquirir,aos melhores preços, os se-

    guintes bens: um tractore respectivas alfaias, me-dicamentos, motor para obritador, mala de ferra-mentas para o Land Cruiserdo sacerdote, duas bateriasde gel, de 100 amperes ca-da, para o sistema de ener-gia e telefone satélite, poisna localidade ainda nãoexiste cobertura de tele-fonia móvel.Constam igualmente das

    prioridades 11 balanças ana-lógicas para o posto de saú-de , mater i a l e s co la r ealimentos não perecíveis:arroz, massa, feijão, sal,açúcar, bem como leite pararecém-nascidos e produtosde higiene (sabão, lixívia,sacos de plástico...). O pedido de ferramentas

    para o carro do padre podeparecer inusitado, mas Pau-lo Diogo avançou as razões:“A viatura que o padre con-duz, muitas vezes, faz deambulância para percorreraté 32 quilómetros em qua-tro horas”. O estado da principal

    via de acesso representaum bloqueio ao desenvol-vimento da vida dos maisde 33 mil habitantes doGungo, segundo o padreFerreira. Muito recente-mente, o sacerdote ajudouna transferência de umamulher que havia entradoem trabalho de parto hámais de 24 horas. O trans-porte da parturiente foi fei-to da sede da missão até àmaternidade: “Isso, às ve-zes, faz a diferença entrea vida e a morte”.

    “A viatura que o padre

    conduz, muitasvezes, faz

    de ambulânciapara percorrer

    até 32quilómetros

    em quatro horas”

    CUANZA-SUL

    Picada em mau estado dificultaajuda aos missionários no Gungo

    Apesar de ser o rosto daMissão do São José do Gun-go, David Ferreira diz queos resultados até aqui al-cançados foram possíveisgraças aos esforços de todos,quer portugueses quer an-golanos, que trabalhandoem conjunto têm transfor-mado aquela parcela do ter-ritório nacional num pólode desenvolvimento.

    “O trabalho base é o de-senvolvimento. A nossa mo-tivação é religiosa, enquantocatólicos e vindos para Angolapor questões de fé. Depoistransformamos essa nossavontade de fazer o bem emprojectos sociais e, nesta con-formidade, fomos identifi-cando os problemas paratentar resolvê-los”.

    A saúde precária na co-muna é a principal preocu-pação do missionário, umavez que o hospital mais pró-ximo fica a mais de cem qui-lómetros, isto é, na sedemunicipal e a principal viade acesso dificulta a evacua-ção dos doentes para a cidade.

    Os postos de saúde do Es-tado, nos arredores, nemsempre estão providos dosmeios de assistência que pos-sam assistir conveniente-mente os habitantes, e,sempre que possível, a missãoprocura cobrir essas lacunas,quer por meio de assistênciamédica e medicamentosa,quer na formação dos agentes

    de saúde locais. “Sempre que recebemos

    missionários vindos de Por-tugal, estudantes de Medi-cina, médicos, enfermeirose fisioterapeutas, fazemosquestão deproporcionar mo-mentos de formação para to-dos os técnicos, incluindo asparteiras tradicionais”, ex-plicou David Ferreira.

    Há também duas moa-gens comunitárias a funcio-nar. As duas trituradoras,segundo o clérigo, contri-buem significativamente notrabalho das mulheres detransformar o milho ou obombó em fuba. Um camiãotodo-o-terreno Mercedes-Benz Unimog auxilia no es-coamento dos produtos docampo para a sede municipal.

    As principais culturas sãoo milho, feijão, ginguba, ba-tata-doce e banana. A baseda alimentação é o funge demilho, faltando, principal-mente às crianças, algunsnutrientes indispensáveispara o seu crescimento.

    A agricultura, feita commeios rudimentares, semqualquer meio mecânico, éo principal garante para aauto-sustentabilidade dascomunidades locais. Aospoucos, segundo ainda o pa-dre David Ferreira, as pessoaspassam a ter noção da im-portância do trabalho porelas desenvolvido para obem comum.

    Trabalho desenvolvido

  • TURISMO 19Domingo27 de Setembro de 2020EDIÇÕES NOVEMBRO

    O plano de ordenamento territorial do município de Moçâmedes – importante instrumento de gestão pública- está a ser elaborado sob a responsabilidade do Ministério das Obras Públicas e do Ordenamento do Território

    João Luhaco | Moçâmedes

    A vice-governadora da pro-víncia do Namibe para o Sec-tor Técnico e Infra-estruturas,Ema Guimarães, explicou aoJornal de Angolaque o planode desenvolvimento do ter-ritório de Moçâmedes objec-tiva a melhoria da qualidadede vida dos munícipes, a co-bertura das redes de trans-porte e dos serviços deutilidade pública, bem comoa protecção das reservas na-turais, a geração de empregos,o fortalecimento das ligaçõesregionais e o aperfeiçoamentoda capacidade institucional.Disse que está-se agora a

    trabalhar para a conclusãodo plano, de modo a atenderàs reais necessidades da po-pulação. Esclareceu que uminstrumento de gestão ter-ritorial tem grande vantageme auxilia na tomada de de-cisões no que concerne aodesenvolvimento da provín-cia. “Ele orienta-nos para omodo como poderemos de-senvolver os territórios emvárias vertentes, articulando,em primeiro lugar, a neces-sidade de garantir o fluxo depessoas e de bens”, disse.Ema Guimarães assegu-

    rou que o plano de gestãodo território de Moçâmedesserve, também, para ga-rantir que as actividadeseconómicas sejam desen-volvidas em função da den-

    sidade demográfica e que,no processo de tomada dedecisões, sejam acautela-dos os valores naturais pa-trimoniais, os recursos ea capacidade produtiva ehumana da província.Considerou que a popu-

    lação é o elemento chave emtodo este processo. “Os ins-trumentos são feitos para odesenvolvimento das cidades,mas o principal elementosão as pessoas. É para elasque estamos a trabalhar. Nes-te caso, as pessoas são os ele-mentos que vão participarcom acções cívicas. Tomandoconhecimento de como esteplano está a ser estruturado,têm de vigiar as acções quenos propomos realizar e seros principais intervenientesquer nas questões, por exem-plo, do saneamento básico,quer no cumprimento dasregras impostas pela lei epela postura do municípioquanto à ocupação do terri-tório”, defendeu. A vice-governadora aler-

    tou que o cidadão tem decumprir com os pressupostosda lei para a ocupação do ter-ritório e procurar os serviçoscompetentes, para que assuas acções de coberturasejam legais e façam partedo desenvolvimento que sepretende para a província.“Tem que ser o cidadão, emprimeiro lugar, a alertar, con-tribuir e fazer parte de todo

    esse processo de forma ac-tiva”, disse.Informou que tão logo ter-

    mine a sua elaboração, a terceirafase do plano de desenvolvi-mento territorial de Moçâmedesserá apresentada publicamente.“Houve alguns constrangi-mentos no que concerne à suaelaboração, a cerca sanitáriaimposta à província de Luandaimpediu que houvesse um tra-balho mais próximo das au-toridades do município deMoçâmedes. Com este factor,fomos obrigados a fazer umreajuste do cronograma de exe-cução. Mas contamos que nofinal do ano, poderemos ter oplano pronto para ser apre-sentado”, garantiu.Explicou que a intenção

    do Governo da província éque todos os municípios te-nham os seus planos de ges-tão territorial.

    Município estratégicoMoçâmedes, a capital da pro-víncia do Namibe, é a terceiramaior região costeira de Angola.A urbe foi fundada no séculoXIX. Em 1851, subiu à categoriade vila e em 1907 à categoriade cidade. O município domesmo nome, segundo as pro-jecções demográficas de 2018elaboradas pelo Instituto Na-cional de Estatística, contacom um universo de 282.056habitantes e uma extensãoterritorial de 8.916 km2. Apesca artesanal, maioritaria-

    mente marítima, é um dosprincipais meios de sustentodo povo de Moçâmedes.O Caminho-de-Ferro de

    Moçâmedes é uma via detransporte muito segura quetransporta passageiros e car-gas no trajecto Moçâmedes/Cuando - Cubango, tendocomo saída o porto de Mo-çâmedes, a facilidade logísticaformadora da província. Ou-tro porto que existe, emboramenor, é o do Saco Mar, es-sencialmente mineiro. Mes-mo com condições climáticasextremas, o município deMoçâmedes produz, parasubsistência e excedentes,em lavoura temporária, omilho, a massambala, o mas-sango, o feijão, a batata rena,o repolho, a cebola, o tomatee a cenoura. Já nas lavouraspermanentes encontra-se oregisto de citrinos, oliveiras,videiras e goiabas.O município dispõe de in-

    fra-estruturas de transporteque o ligam ao restante dopaís, sendo que as mais uti-lizadas são as rodovias, quese concentram em dois tron-cos principais: a EN-100, desentido Norte-Sul, ligandoas províncias do Namibe,Benguela e Cunene até à Re-pública da Namíbia, e a EN-280, de sentido Oeste-Leste,que o liga à Huíla. Existemainda as estradas que vão aomunicípio do Tômbwa, a EN-104, à Bibala, a EN-105, e ao

    Virei, a EN-292. Esta últimainterliga também à Huíla.Congregando o porto, a fer-rovia, o aeroporto e as ro-dovias estruturantes doterritório, onde ocorre umdestacável fluxo de trans-portes, Moçâmedes é o maiorCentro Logístico do Sul deAngola.Essas valências todas de

    “invejar”, em termos eco-nómicos, poderiam levar apensar que este territóriodispõe de uma sociedadepromissora, mas a realidadevigente constrange algunsmunícipes, como é o casodo mais-velho DomingosErnesto, mais conhecidopor “Cota Mundobinho”,65 anos, morador há déca-das no lendário bairro ForteSanta Rita, nos arredoresda cidade. Muito agastadocom o lento desenvolvi-mento da cidade, ele disseà reportagem do Jornal deAngola que, na sua opinião,está a faltar um programade desenvolvimento local.“Mudam-se os dirigentes,

    tira-se um administrador,coloca-se outro no lugar eo quadro é sempre o mesmo.É só arranjar jardins? Não!Nós que vivemos aqui há dé-cadas queremos que nosapresentem um cenário mo-derno do município. Tenho65 anos de idade e não vejonenhum desenvolvimentono município de Moçâmedes.

    Isto é muito mau. A cidadeestá mal. Afinal qual é o pro-grama dos nossos governan-tes?”, questionou. Disse que Moçâmedes é

    a cidade mãe do Cunene edo Lubango, mas, no seuentender, “o que vemos éque isto aqui está atrasado”.Comparou o cenário deMoçâmedes com o da vi-zinha cidade do Lubango,onde, segundo frisou, “ve-mos a olho nu que as coisasestão a acontecer e aténos faz inveja”. “Só queremos que façam

    alguma coisa palpável. Da-qui a pouco vamos morrer,mas antes queremos verqualquer coisa feita de ma-neira diferente na nossa ci-dade, para o futuro dosnossos netos. Precisamosque arranjem os passeiosdesta cidade velha. Se nãoasfaltarem, pelo menos ta-pem só os buracos. Ponhamprimeiro a cidade limpa esó depois é que vão pegaros jardins. Será que vamosestar com flores no lixo?Isto é verdade? Não dá!”,desabafou Mangobinho. Não se ficando apenas pe-

    las críticas, avançou com aproposta de requalificarem,urgentemente, o bairro dosEucaliptos, “porque, Deusque seja surdo, se um dia estapandemia da Covid-19 entrarnaquele bairro, teremos umacatástrofe humana”.

    CAPITAL DA PROVÍNCIA DO NAMIBE

    Moçâmedes vai contar com plano de desenvolvimento do território

  • LITERATURA20 Domingo27 de Setembro de 2020

    Luís Kandjimbo |*

    Em Fevereiro de 1976, rea-lizou-se na cidade de Luandaa conferência extraordináriada Organização de Solida-riedade dos Povos Afro-Asiá-ticos (OSPAA) que mantinhauma relação orgânica coma Associação de EscritoresAfro-Asiáticos.

    A Associação de EscritoresAfro-Asiáticos era uma or-ganização transnacional deescritores que assumiu for-malmente tal denominaçãoem 1967, na cidade de Beirute.Nessa altura, o seu BureauPermanente, com sede nacapital do Líbano, era inte-grado por escritores africanosde alguns países já indepen-dentes e outros cujos paísesainda não tinham alcançadoa independência. É o casode Mário Pinto de Andradeque representava os escritoresdas colónias portuguesas.

    Três anos após a sua cons-tituição, a União dos EscritoresAngolanos organizou a VIConferência dos EscritoresAfro-Asiáticos que teve lugarna cidade de Luanda, de 27de Junho a 1 de Julho de 1979.O poeta angolano AgostinhoNeto, laureado com o PrémioLótus em 1970, era o Presi-dente da Assembleia Geralda União dos Escritores An-golanos, Presidente da re-centemente proclamadaRepública Popular de Angola,independente desde 1975 ePresidente do MPLA-Partidodo Trabalho, transformadoem partido único marxista-leninista, no congresso ex-tradordinário realizado emDezembro de 1977.

    Quando na sua qualidadede anfitrião, Agostinho Netoproferiu o discurso de en-cerramento da VI Conferênciados Escritores Afro-Asiáticos,evidenciava uma nova pers-pectiva relativamente a al-gumas questões culturais,literárias e políticas.

    Em Janeiro de 1979, natomada de posse dos corposgerentes da União dos Es-

    critores Angolanos, o políticoe poeta Agostinho Neto de-fendia a cultura do debatede ideias. E sustentava-o nosseguintes termos: “Pensoque é necessário o mais alar-gado possível debate deideias, o mais amplo possívelmovimento de investigação,dinamização e apresentaçãopública de todas as formasculturais existentes no País,sem quaisquer preconceitosde carácter artístico ou lin-guístico”. Por outro lado,nesse discurso de tomadade posse proferido seis mesesantes da realização da VIConferência dos EscritoresAfro-Asiáticos, afirmava:“Se os estimados camaradase colegas me permitem, direique não podemos cair emesquemas ou estereótiposcomo os teóricos do realismosocialista. A par da nossa ca-pacidade nacionalista, te-remos de intervir de modoa inscrever-nos no mundo,à medida que formos assu-mindo a realidade nacional.”

    Em Julho de 1979, Agos-tinho Neto retoma o pensa-mento sobre o mais alargadopossível debate de ideias,quando falava aos escritoresafro-asiáticos reunidos emLuanda: “Persistir na ideiado debate é sempre acertado,porquanto os homens têmnecessidade de se exprimir,para não assumir a menta-lidade burocrática que ra-pidamente se torna caducae não é capaz de acompanharo desenvolvimento da so-ciedade humana.”

    Portanto, Agostinho Netomanifestava a necessidadede romper com os dogmasdo realismo socialista e,ao mesmo tempo, subli-nhava a importância do de-bate argumentativo, deideias e de opiniões.

    Pode dizer-se que Agos-tinho Neto, atento aos acon-tecimentos e à realidade deAngola, avaliava os efeitosdeletérios das influênciasexternas. Por conseguinte,distanciava-se das querelasteóricas e ideológicas que

    opunham a China e a UniãoSoviética. Tal posição nãoera casual. Parece traduziruma recusa intencional deseguir as doutrinas ideoló-gicas, teorias estéticas e li-terárias soviéticas e chinesas.É que, na sua qualidade delíder do MPLA, AgostinhoNeto gozava de prestígio nosmais altos círculos do PartidoComunista da União Soviética.Nas décadas de 60 e 70 doséculo XX, com frequênciavisitava Moscovo como con-vidado oficial das autoridadessoviéticas em diversas oca-siões: em 1964, para obtençãode apoio militar; em 1966,participando do XXIII Con-gresso do Partido Comunistada União Soviética; em 1967,nas celebrações do quinqua-gésimo aniversário da Revo-lução Bolchevique; em 1970,nas comemorações do cen-tenário de Lénine; em 1971,no XXIV Congresso do PartidoComunista da União Soviética.Além disso, era membro dapresidência do ConselhoMundial da Paz, organizaçãointernacional que se encon-trava na esfera de influênciada União Soviética.

    A apologia do debate, –“o mais alargado possíveldebate de ideias” – é umaeloquente expressão do modocomo Agostinho Neto inte-riorizava as tarefas do inte-lectual, num país que acabavade alcançar a independênciapolítica. À formulação dessepensamento subjaz um de-sígnio que não pode ser ne-gligenciado, no contexto daépoca. Além disso, ele en-tendia que “o escritor se devesituar na sua época e exercera sua função de formador deconsciência, que seja agenteactivo de um aperfeiçoa-mento da humanidade”.

    Ao reconhecer a neces-sidade vital do debate deideias, Agostinho Neto estavaem certa medida a assumirtambém uma perspectivacrítica perante a violênciapolítica que tinha abalado eainda abalava o país, nessesprimeiros anos de indepen-

    dência, numa vaga de prisõese mortes causadas por in-tolerância ideológica, à se-melhança do que acontecerana União Soviética, na Chinae em outros países do cha-mado bloco socialista.

    Ora, em 1979, a União dosEscritores Angolanos organi-zava a VI Conferência dos Es-critores Afro-Asiáticos devidoà sua filiação na Associaçãode Escritores Afro-Asiáticos.Mas a relação que os escritoresangolanos mantinham comesta organização de escritores,formada à luz do espírito deBandung, remontava ao anoseminal de 1958, quando Má-rio Pinto de Andrade e Viriatoda Cruz participaram na Con-ferência de Escritores Afro-Asiáticos, realizada na cidadede Tashkent.

    Após a VI Conferência dosEscritores Afro-Asiáticos deJulho de 1979, descortinava-se um horizonte de incertezasacerca do que poderia ter sidoa concretização desse idealdefendido por Agostinho Ne-to, a escassos meses da morteque o colheria em Setembrodesse ano.

    Numa perspectiva de pe-riodização, surgia a décadade 80 do século XX e desen-volvia-se uma geração lite-rária e movimentos literáriosque assinalam a época. Foisob a batuta desse “motto”– “é necessário o mais alar-gado possível debate deideias, o mais amplo possívelmovimento de investigação,dinamização e apresentaçãopública de todas as formasculturais existentes no País,sem quaisquer preconceitosde carácter artístico ou lin-guístico” – que a Brigada Jo-vem de Literatura de Luandafoi constituída (Junho, 1980),seguindo-se-lhe a BrigadaJovem de Literatura da Huíla(Setembro, 1980), de que oautor destas linhas foi co-fundador, e a Brigada Jovemde Literatura do Huambo(Novembro, 1983).

    *Ensaísta e professoruniversitário

    ESCRITORES AFRO-ASIÁTICOS, DEBATE DE IDEIAS E PRÉMIO “LÓTUS”

    Agostinho Neto, escritor e intelectual orgânico

    DR

    A Associação dos Escri-tores Afro-Asiáticos pu-blicava, desde 1968, umarevista literária trimestraltrilingue “The Call” (OApelo). Até ao fim da dé-cada de 70, a edição emárabe era impressa no Cai-ro. Já as edições em inglêse francês eram impressasna República DemocráticaAlemã. Após a cisão re-gistada na Associação dosEscritores Afro-Asiáticos,por força do chamado di-ferendo sino-soviéticode 1966 de que resultaramdois secretariados da As-sociação dos EscritoresAfro-Asiáticos, um emPequim e outro no Cairo,a revista editada no Cairopassou a designar-se “Ló-tus: Afro-Asian Writings”,(Lótus: Textos Afro-asiá-ticos). Na China, era im-presso e publicado o jornal“The Call”, tal como tinhasido decidido na ReuniãoExtraordinário de Pequimem 1966.

    A revista “Lótus” teveuma vida útil de duas dé-cadas, até 1991. O escritorpaquistanês Faiz AhmadFaiz foi o seu editor-chefedurante dez anos. A re-dacção funcionou ini-cialmente em Beirute edepois no Cairo. Com ofim da guerra israelo-ára-be e dos acordos de CampDavid a revista teve assuas redacções em Tunise em Moscovo. Deixoude ser impressa após aPerestroika na antigaUnião Soviética.

    A revista “Lótus”, quecontou com a colabora-ção de Agostinho Neto,era distribuída pelas as-sociações de escritorese circulava nos Estados-membros da OSPAA.Proporcionava um co-nhecimento da diversi-dade das literaturas nosdois continentes, atravésda obra de autores quepoderiam constituir o câ-none literário afro-asiá-tico. Em Angola, a revista“Lótus” era vendida emdiversas livrarias.

    Prémio O Prémio “Lótus”, co-nhecido como “PrémioLótus Internacional deLiteratura” ou “PrémioLótus de Literatura Afro-Asiática”, foi aprovadona quarta sessão do Bu-reau Permanente da As-sociação de EscritoresAfro-Asiáticos, realizadano Cairo, em 1968, tendosido atribuído pela pri-meira vez no ano seguintea Alex La Guma (Áfricado Sul), Mahmoud Dar-wish (Palestina) e To Hoai(Vietnam). Distinguia osescritores Afro-Asiáticosem três géneros literários,poesia, teatro e prosa nar-rativa, de acordo com osseguintes critérios: a) altovalor literário e artístico;b) representação das rea-lidades objectivas da suaépoca; c) atitude militantecontra qualquer forma dediscriminação nacional

    ou racial e contra a desi-gualdade social; d) de-n ú n c i a d e q u a l q u e ragressão ou infiltraçãoimperialista; e) expressãodas aspirações do povopor uma vida melhor.Portanto, as literaturasafro-asiáticas adquiriamassim dois instrumentosde legitimação, na sendado espírito da Conferênciade Bandung de 1955.

    Laureados 1969: Alex La Guma (Áfri-ca do Sul), Mahmoud Dar-wish (Palestina), To Hoai(Vietnam)

    1970: Agostinho Neto(Angola), Zulfia (Uzbe-kistão), Harivansh RaiBachchan (Índia)

    1971: Sonomyn Udval(Mongólia), SembéneOusmane (Senegal), TahaHussein (Egipto)

    1972: Hiroshi Noma(Japão), Mikhail Naimy(Líbano), Marcelino dosSantos (Moçambique)

    1973: Kateb Yacine(Argel), Ngũgĩ wa Thion-g’o (Quénia), Thu Bon(Vietnam)

    1974: Aziz Nesin (Tur-quia), Yusuf al-Sibai(Egipto), Anatoly Sofronov(Rússia), Kamal Nasser(Palestina), Ghassan Ka-nafani (Palestina)

    1975: Chinua Achebe(Nigéria), Faiz AhmadFaiz (Paquistão), Muham-mad Mahdi al-Jawahiri(Iraque), Kim Chi-ha (Co-reia do Sul)

    1976: Subhas Mukher-jee (Índia), Tawfiq al-Ha-kim (Egipto), MikhailSholokhov (Rússia)

    1977–78: Meja Mwangi(Quénia), Nguyen Ngoc(Vietnam), Yoshie Hotta(Japão)

    Kamil Yashen (Uzbe-kistão), Abu Salma (Pa-lestina), Sami al-Droubi(Síria)

    1979–80: Muin Bseisu(Palestina), António Ja-cinto (Angola), BhishamSahni (Índia)

    Husayn Muruwwa (Lí-bano), Gunasena Vithana(Shri Lanka), AtukweiOkai (Ghana), ChoizhilynChimid (Mongólia)

    1 9 8 1 – 8 2 : G e o r g i iMarkov (Rússia), AssefaGebremiriam (Etiópia),Sulaiman al-Issa (Síria),Ataol Behramoğlu (Tur-quia)

    1983: Sarvar Azimov(Uzbek SSR), NguyenDinh Thi (Vietnam), JoséCraveirinha (Moçambi-que), Kaifi Azmi (Índia),Mustapha Fersi (Tunis)

    1984: Sulaiman Layeq(Afeganistão), Jeane-Fer-nand Brierre (Haiti-Se-n e g a l ) , O m a r A z r a j(Argel), H. Karunatilake(Sri Lanka)

    1985: Abdulaziz al-Ma-qaleh (Iêmen), Rasul Gam-zatov (Rússia), Chon SeBong (Coreia do Norte)

    1986: Tahsin Saraç (Tur-quia)

    1987: Makoto Oda (Japão)1988: Chinghiz Aitma-

    tov (Kirgiz SSR)

    Revista “Lótus”

  • LITERATURA 21Domingo27 de Setembro de 2020

    A formação intelectual de Agostinho Neto

    Luís Kandjimbo |*

    O momento genealógicoinicial situa-se na década de40 do século XX. Pode ser ob-servado em dois textos deopinião, publicados em “OEstandarte”, jornal da IgrejaMetodista, nomeadamente“A Nova Ordem Começa emNossa Casa” e “A Paz queQueremos”, entre 1944 e 1945.Mas é com “Instrução ao Na-tivo”, publicado igualmenteem “O Estandarte” em 1945e com “Uma causa psicológica:A ‘Marcha’ para o Exterior” e“Uma Necessidade”, publi-cados no jornal “O Farolim”,em 1946, que o discurso na-cionalista revela as marcasdo nativismo angolano dasprimeiras décadas do séculoXX. Justifica-se, por issso, odesenvolvimento de umaabordagem que privilegie oquadro mais amplo da históriaintelectual de Angola.

    Agostinho Neto nasceuàs cinco horas do dia 17 deSetembro de 1922 em Kaxi-cane, localidade da circuns-crição civil de Icolo e Bengocuja sede se encontrava si-tuada em Catete. Nessa data,o pai, Agostinho Pedro Neto,era pastor da chamada “Mis-são Americana de Luanda”,tendo sido ordenado pres-bítero em 1925. Em 1930 afamília fixa residência noBairro Operário, em Luanda,onde seu pai assumiria a res-ponsabilidade de chefiar ocolectivo local de pastoresda Igreja Metodista.

    Os estudos primários e li-ceais decorrem entre 1931 e1944. A década de 30 chegavaao fim, quando em Fevereirode 1939 se anuncia a reali-zação com sucesso do examedo 1º ciclo (3º ano) do Liceudo menino António AgostinhoNeto com a classificação de13 valores.

    Conclui com 15 valores oCurso de Ciências do 7º anodo Liceu, nos exames reali-zados em 1944, anuncia comorgulho “O Estandarte” deFevereiro de 1944, nº 95: “Nosexames do 3º ciclo realizadosem Janeiro do corrente ano,concluiu o 7º ano de Ciênciascom 15 valores, o nosso pre-zado irmão na fé, sr. AntónioAgostinho Neto (…)”.

    Do funcionalismo públicoà actividade tribuníciaEm 1944, “O Estandarte”, nasua edição de Novembro/De-zembro, 1944, nº105, anun-ciava que Agostinho Neto iriaocupar o seu cargo no fun-cionalismo púbico para oqual tinha sido nomeado. Portanto, Agostinho Neto,pertencendo à primeira ge-ração pós-nativista angolana,inscreve-se por direito própriona lista de legatários da tra-dição nativista em que per-filam ilustres tribunos e

    publicistas angolanos. Con-tava então 23 anos de idade,quando escreveu o seu pri-meiro texto de pendor pós-nativista. Nas décadas de 30e 40, frequenta os meios so-cializadores protestantesexistentes em Luanda, de-signadamente, a escola daIgreja Metodista e o jornal“O Estandarte”. Na primeirametade da década de 40,Agostinho Neto publica al-guns poemas e artigos deinspiração religiosa no jornal“O Estandarte”. Neste mesmojornal pontificava seu pai,publicando textos como “OSegredo da Paz” em 1936 e“É preciso divertir a JuventudeEvangélica” em 1944. Em 1940, publica “O Segredode Viver” e em 1943 publica“As multidões Esperam” em“O Estandarte”. De 1944 a1959, escreve e publica artigosmarcantes no âmbito da his-tória intelectual angolana,a saber:A Nova Ordem Começa EmCasa (1944);A Paz que Esperamos (1945); Instrução ao Nativo (O Es-tandarte, 1945); Uma Causa Psicológica: a“Marcha” para o Exterior(1946); Uma Necessidade (1946);Da Vida Espiritual em Angola(1949, Meridiano)O Rumo da Literatura Negra(Centro de Estudos Africanos,1951); A propósito de Keita Fodeba(Angola, Revista da Liga Afri-cana, 1953);Introdução ao Colóquio sobrePoesia Angolana (1959).

    O lugar de Malanje naconsolidação dos ideaisDas gerações de nativistas járeferidas, Agostinho Neto re-cebe o testemunho pela mãode vários dos seus protago-nistas, entre os quais merecereferência José Manuel daSilva Lameira. Foi em Malanjeque o jovem intelectual travouconhecimento com essa len-dária figura do movimentonativista angolano, sucessi-vamente preso e desterradopara a Guiné-Bissau, Moçam-bique, Macau e Timor-leste,durante mais de uma década,de 1917 a 1938.

    No seu livro de memórias,“Recordações Minhas”, JoséDiogo Ventura conta que o“velho Lameira recebia nasua residência da ‘Kapopa’,junto à Rua 15 de Agosto,muitas pessoas importantesque gostavam de o ouvir

    […] Lembro-me tambémde uma outra pessoa porque,mais tarde, veio a ser o pri-meiro Presidente da Repú-blica Popular de Angola.Trata-se do Dr. António Agos-tinho Neto, na sua passagempor Malanje, ainda como as-pirante dos Serviços de Saúdee Higiene”. Os textos escritos

    provavelmente em Malanjee enviados para publicaçãoem 1946 no jornal O Farolimecoam ideais tributárias deconversas com José Manuelda Silva Lameira. É significativoo testemunho de DomingosVan-Dunem, então secretáriode redacção desse jornal, arespeito das circunstânciasem que recebe a visita de Agos-tinho Neto. Tal gesto exprimiauma reacção ao comentáriosarcástico relativamente àsatitudes preconceituosas dosfuncionários públicos formadosno Liceu. Agostinho Neto quefalava igualmente em nomede um amigo seu, Joffre Van-Dúnem, pretendia “pedir ex-plicações ao atrevido escriba”.

    Numa entrevista que con-cedeu a Augusta Conchiglia,Agostinho Neto observa:“Também em Malanje viviuma experiência magnífica.Fiz amizade com um grupode pessoas que, em minhaopinião, não se interessavamnada por política, enquantopara mim a situação de Angolaimpunha essa preocupação.Mas entrei em contacto comos trabalhadores, com os con-tratados, e foi lá que eu sentiverdadeiramente e com forçaa violência dos reaccionáriosportugueses. Os anos que viviem Malanje com toda a certezainfluíram muito na minha for-mação política”.

    Actividade reflexiva eideias recorrentesAgostinho Neto contava en-tão com 23 anos de idade,quando escreveu o seu pri-meiro texto de pendor na-tivista. Mas o tom, a atitudee o tema vêm inscrevê-lo na-quilo a que chamo tradiçãoensaística angolana. Marcado

    pela formação cristã e evan-gélica, Agostinho Neto ma-nifesta claramente os seusideais, nos dois primeirostextos publicados em O Es-tandarte, nomeadamente ANova Ordem Começa Em Nos-sa Casa e A Paz Que Quere-mos, entre 1944 e 1945. Lançaaí o seu programa intelectuale define os contornos da suapersonalidade.É com Instrução ao Nativo,um outro artigo publicadoem O Estandarte tambémem 1945, Uma causa psico-lógica: A “Marcha” para o Ex-terior e Uma Necessidade,estes publicados no jornalO Farolim, em 1946, que onativismo da fase inicial serevela no pensamento desteautor. Se confrontarmos asideias recorrentes dos doistextos anteriores, observa-se uma coerência no planoda articulação.Uma Causa Psicológica: A“Marcha” para o Exterior mar-ca a sua colaboração numjornal que, na década de 40,seguia ainda as tradições doséculo XIX. Trata-se de umartigo publicado no jornal OFarolim em 1946. Lido e si-tuado no seu contexto, é umtexto revelador de elevadamaturidade. Com ele Agos-tinho Neto dá consistênciaa ideias anteriores. Mas evolui,na medida em que diagnos-tica a falta de unidade entre“os elementos da classe na-tiva” que têm tendência parase isolarem uns dos outros.Palpitando em si um certotipo de ideal, Agostinho Netoconstata o perigo que esprei-ta: “É paradoxal a desuniãoentre nós, nativos, que, paranão citar outros aspectos dointeresse comum têm que

    lutar coesos pela sua econo-mia e pelo aumento do seunível cultural.”Do seu ponto de vista, a fra-queza da classe nativa residena “psicologia distorcida”que se manifesta no cego se-guidismo das modas entreos jovens. Mas tal facto nãoé fortuito, pois “a desuniãoentre os nativos não é pos-terior à fabricação em sériedo rapaz moderno”. Por con-seguinte, a desunião é simul-tânea. Ao mesmo tempo que“a mulher africana modernaassimilando a inobjectividadeda vida, dissemelhando-seda avózinha pacatamentecrocheteante, adoptando adespreocupação, o bâton, asola de cortiça e a saia as-cendente; deixou-se apenasarrastar pelo movimento geralque transformou o homem,que (digamo-lo de passagem)é difícil ser-se rebelde!”.A distorção da psicologia co-lectiva e a desunião não ocor-rem por acaso. Tem a suacausa fundamental na orga-nização estrutural do ensinoministrado. “Os nativos são educados co-mo se tivessem nascido e re-sidissem na Europa. Antes deatingirem a idade em que sãocapazes de pensar sem esteio,não conhecem Angola. Olhama sua terra de fora para dentroe não ao invés, como seriaóbvio. Estudam na escola,minuciosamente, a Históriae Geografia de Portugal, en-quanto que, da Colónia, ape-nas folheiam em sinopses ouestudam levemente”.

    E qual é a consequênciadisso?Agostinho Neto responde:“Os indivíduos assim formados

    têm a cabeça sobre vértebrasnativas, mas o seu conteúdoescora-se em vértebras es-tranhas, de modo que asideias, as expirações do es-pírito são estranhas à terra.Daí o olhar-se esta, a suagente e hábitos, o mundo queos rodeia, como estranhos asi – de fora (…)”. “Produz-se no nativo uma dis-torção na sua personalidadeque se reflecte na vida social,desequilibrando-a”.Semelhante atitude acabapor estar em consonânciacom o reducionismo ociden-tal e eurocêntrico:“Lá fora há o hábito de de-preciar quanto é nativo; e osmoços nativos cujos espíritosderivaram para o exterior eem quem está atinente umquantum de vaidade (comoem qualquer ser humano)têm vergonha em conside-rar-se incluídos naquela es-f e ra d ep r e c i ada e n ãosomente não a auxiliam comoprocuram desprezar as ini-ciativas de carácter pura-mente nativo (…)”É de igual modo em Uma cau-sa psicológica: a “Marcha”para o Exterior que lemos oseguinte trecho: “A minha pouca experiênciaimpediria que a voz chegasseao céu se eu desse conselhos.Acho, porém, que a mezinhaapropriada para anular osefeitos perniciosos bastantesdo eurotropismo seria come-çar por ‘descobrir ’ Angolaaos novos, mostrá-la por meiode uma propaganda bem di-rigida, para que eles, conhe-cendo a sua terra, os homensque a habitam, as suas pos-sibilidades e necessidades,saibam o que é necessáriofazer-se, para depois querer”.

    Textos ensaísticos de 50Com estas breves notas, gostariade chamar a atenção dos leitorespara o carácter seminal dostextos ensaísticos escritos porAgostinho Neto, durante a se-gunda metade da década de50, tais como Rumo da LiteraturaNegra e Introdução ao Colóquiosobre Poesia Angolana. Elesrepresentam o registo de umpensamento maduro que, su-perando o discurso tipicamentenativista, contudo não podemser classificados como “negri-tudinistas” , como parece ser oentendimento generalista doscríticos literários que identificamuma “negritude africana delíngua portuguesa”. Em Intro-dução ao Colóquio sobre PoesiaAngolana, referindo-se ao con-ceito de negritude nos termosformulados por Leopold Senghore depois por Jean-Paul Sartre,Agostinho Neto escreve: “Entrenós, digo, em Angola e na Me-trópole, defendeu-se e com-bateu-se este conceito”.

    * Ensaísta e professoruniversitário

    O processo de formação intelectual de Agostinho Neto tem uma dimensão ética que se analisaem virtudes constitutivas da sua condição de intelectual orgânico. A avaliação de tais

    qualidades exige um conhecimento da genealogia do seu pensamento cultural DR

    BREVES NOTAS

  • LITERATURA22 Domingo27 de Setembro de 2020

    David Capelenguela |*

    Agostinho Neto categoriza,por meio de uma voz lírica,o testemunho de um espaço,nesse caso a geografia an-golana, fazendo recurso auma estratégia discursiva epoética em que a rememo-ração do passado e a relaçãodirecta com o presente sin-tetizam a literatura de tes-temunho, ao passo que o serafricano, ora em um íntimo“eu”, ora em diversos per-sonagens afectivos e simbo-licamente “colectivos”,mantêm relações intrínsecascom as representações sim-bólicas de uma literatura quese impunha coerciva, mar-cada sobremaneira para com-por out ras rea l idades .Provavelmente o livro maisconhecido dele, “SagradaEsperança” oferece-nos cin-quenta e um poemas escritosentre 1945 e 1960 nos quaisNeto conta a história do seupovo e do povo africano. Ne-les, expondo os horrendoscrimes dos colonizadores aomundo, Neto luta para con-seguir um futuro melhor parao seu povo e para todos ospovos do mundo que sofre-ram o mesmo destino: umfuturo de liberdade e igual-

    dade para todos. Nestes poe-mas Neto apela à luta, cons-ciente de que isto é o únicomodo de conseguir a desejadalibertação e a independênciade Angola. Escritos numa linguagemsimples, com o ritmo tradi-cional da sociedade angolana,estes poemas encontraramo seu lugar na literatura an-golana, continuando na linhada literatura oral tradicional.Agostinho Neto categoriza,por meio de uma voz lírica,o testemunho de um espaço,nesse caso a geografia an-golana. Ao fazer recurso auma estratégia discursiva epoética em que a rememo-ração do passado e a relaçãodirecta com o presente sin-tetizam a persistência e de-monstração do acto de escritaque o inscreve na dupla ac-tuação, quer como poeta ins-pirado quer como poetaartesão, o ser africano, oranum íntimo “eu”, ora em di-versos personagens afectivose simbolicamente “colecti-vos”, mantém relações in-t r í n s e ca s c om a srepresentações simbólicasde uma literatura marcada-mente testemunhal, onde opoeta conjuga a realidade ea ficção, buscando trazer a

    lume dois aspectos enfati-zados por Gagnebin (2006),que são: o sofrimento, ou ohorror, e a história dos sem-nome, ou seja, dos anónimos.Trata-se de uma maneira derefazer os caminhos histó-ricos por meio do simbólico,da ficção.Numa confrontação directacom a expressão poética deAgostinho Neto, aqui partindode uma leitura analítica cen-trada na sua obra, é notórioressaltar que a literatura seencontra dotada, conformefrisado, por uma ética e umaestética e um papel compro-metido histórica e politica-mente, visto que a voz líricapresente nos poemas ultra-passa os limites de uma rea-lidade para se tornar outrarealidade, a qual é, simul-taneamente, uma instânciacriativa.A memória, demarcando opassado e o trabalho estéticocom a linguagem, demar-cando a territorialidade e astemporalidades históricas –passado, presente e futuro –são, juntos, os procedimentospossíveis na literatura de tes-temunho. Assim, a justapo-sição ética e estética resultanuma das principais carac-terísticas da instauração de

    outras realidades, fora e den-tro de um real histórico, deuma literatura que não é pu-ramente “uma imitação domundo” (Seligmann-Silva,2003, p. 372). Mas é, paraalém disso, uma imitaçãoficcional de uma realidadehistórica, política, cultural,social e discursiva. Dessaforma, a actuação poética deAgostinho Neto reorganizamaneiras de estar no seumundo para resultar em ou-tros mundos históricos pos-s íve i s , c on j ugandoprincipalmente a memóriae a escrita.O poeta, através da lingua-gem, revela-se como cons-trutor de sentidos e emoções.Nenhum poeta é proprietárioda poesia, mas o verdadeiropoeta é capaz de apreendera carga de poesia latente emtodas as coisas e fixá-la, deforma artística, no seu poema.Na língua portuguesa, Agos-tinho Neto encontrou o temado desenvolvimento da cons-ciência em duas formas di-ferentes. Na sua primeiraforma, a que denominareide clássica, o poeta representaa inibição da consciência eo seu progresso, de um estágioinicial de ignorância para umestágio terminal de conhe-

    cimento, cognição. Na suasegunda forma, a que deno-minarei romântica ou subli-me, a consciência é marcadacomo uma doença do espírito.Dessa maneira, o poeta pro-cura representar o desen-volvimento da consciênciadesde o seu nascimento atéa sua dissolução. A poesia revela-se assim co-mo algo inefável, vago e eté-reo, mas passível de sercorporificada e materializadapelo trabalho transformadordo poeta, já que o modo detrabalho varia de poeta parapoeta, pois há aqueles maisartesanais que outros, e aque-les mais inspirados e aindaaqueles que mesclam as duasvertentes. No entanto, se per-corrermos a obra de cada umdesses poetas, veremos quenos seus poemas é patenteo poético e a pura poesia. Anossa comunhão com o uni-verso do poeta, a nossa acei-tação dos seus processos eda sua cosmovisão, é, con-forme lembra Manuel Ban-deira, fruto da sensibilidade,do conhecimento, das vi-vências e das preferênciasde cada um de nós. Aqui está,no meu ponto de vista, a es-sência e substância do sig-nificado da poesia. Ela,

    evidentemente, não se pren-de apenas ao espaço delimi-tado do seu fazedor e doinstante. Para um labor ofi-cinal acabado da palavra poé-tica, o seu cultor deve serdono de uma linguagem hú-mida e encoberta, mas secae descarnada, onde a palavra,crucial e bastante, se valorizapela subtileza e mestria. Masdigamos que uma das carac-terísticas de um grande poetaé a sua capacidade e carac-terística de ser muito local esimultaneamente universal,ou seja, não perder a sua di-mensão local, mas ter essacomponente de universali-dade. Embora essa elastici-dade seja um exercíciobastante difícil, é essa di-mensão de labor estético quedita uma obra, conscientede que não é pelo facto de seter publicado várias obrasque se distingue um poeta,mas sim pelo percurso quese vai fazendo ao longo davida e na qual, de certa ma-neira, se vai descobrindo umatalho próprio, sendo este,eventualmente, aquilo a quepoderemos chamar estilo deum dado poeta, que o dis-tingue dos outros, sendo eleum poeta inspirado ou um-poeta artesão.

    AGOSTINHO NETO

    A voz doutrinal no sacerdócio estético Tenho-me servido de uma passagem de Novalis, que diz que “poesia é poesia”, como ponte para franquear a ciênciae, sempre que posso, negar abordar analiticamente a poesia, a literatura ou até mesmo tudo quanto seja do foro dacriatividade artística. Enquanto poeta, não tenho nada para analisar, só tenho para viver, experimentar e arriscar.

    Assim, no âmbito do tema que me propus a falar, ocorreu-me então partilhar aqui a aversão à versão que muitos dosescritores angolanos ou fazedores de opinião têm sobre as dinâmicas do contexto estético-literário de Agostinho Neto

    DR

  • LITERATURA 23Domingo27 de Setembro de 2020

    Em “Sagrada Esperança”,Agostinho Neto adopta, nasua essência, o modo mi-mético, regressando à li-nhagem conceitual iniciadapor Cesário Verde. Do modoromântico, entretanto, opoeta militante conserva ametáfora da consciênciacomo doença, esforçando-se por lhe atribuir um sig-nificado diferente.O seu esforço consiste

    em fazer uma análise dostermos da falsificação daconsciência de modo a criaras condições da sua subs-tituição pelos termos da ver-dade. Essa concepção éexpressa por ele na imagemdo “sintoma” no poema “Ochoro de África”. AgostinhoNeto promove uma figuraçãoonde a natureza africana éuma das partes da simbiosedas dores sofridas pelos afri-canos no processo de colo-nização. Nesse mesmopoema, é como se esse so-frimento, da natureza e doser humano africano, fossecrescendo dentro de um ho-rizonte em fogo. “No ar ocheiro do verde das palmei-ras queimadas” é o paradoxoda dor e da não-dor; do an-tes e do depois. O ritmo im-posto pelo poeta é de umador que cresce perante umcéu que reflecte toda essaimensidão dolorida. A ima-gem final contém um fogo,simbolizando o poder doscolonizadores que vai con-sumir, gradativamente, osseres e a África: “a terraquente dos horizontes emfogo: “Lá no horizonte / ofogo / e as silhuetas escurasdos imbondeiros / de braçoserguidos”. A inquirição em torno da

    angústia é a expressão poé-tica que Agostinho Neto en-controu, nesse poema, queproblematiza todo um tes-temunho histórico que vi-venciou em Angola e depoisna condição de sujeito co-lonial, dentro de Portugal,quando estudava Medicina.Esse verso traz à tona a re-lação dos olhares do outroe de si mesmo, dos olharesde dentro e de fora da es-pacialidade africana. É oque Seligmann-Silva (2003)caracteriza no que tange àliteratura de testemunho,como a ferida que não fecha.Assim, o poeta inspirado éaquele cuja descendênciavem do romantismo. É opoeta que se senta à janelaa observar a lua, ou caminhasolitário entre as árvores aouvir os rumores da natu-reza, aquele que se encantacom a paisagem interior eexterior numa comunhãomais ou menos absoluta eestática. É aquele que dizque ouve vozes. É o poetainspirado, portanto tem umarelação de escrita mais oumenos transcedental. Temuma poesia decantada, comformas completamente har-mónicas, em que o poemase lê como uma peça com-pleta, de escultura, em quenada falta e nada está a mais. Um poeta inspirado é

    aquele que, ao fim de umexercício de escrita, o seu

    produto sai praticamenteinteiro. É como que ele (opoeta) não tivesse cons-ciência de sua autoria, comose o resultado da sua ela-boração estética lhe viessecomo dádiva. Ou seja, comose lhe fosse soprada a suacapacidade de criação, ouse lhe viesse como resultantedo resultado divino.O poema “Mussunda

    Amigo”, que não deixa deser um dos mais emblemá-ticos escritos poéticos deAgostinho Neto, traz em sialguns aspectos importantespara compreendermos umpoeta verdadeiramente ins-pirado. Entre eles, há a marcapreponderante da junçãocolectiva de um “eu” e deum outro, figurado atravésdo personagem Mussunda,para resultar, no final dopoema, em um “nós”. Esteé reforçado pelo “somos”,que, por sua vez, é marcadopor várias implicações, entreelas: a reelaboração da for-mação de uma consciênciahistórica; o mesclar de umhibridismo linguístico,quando o poeta, como é pró-prio de sua prática, circuns-creve cantos da culturaangolana no corpo do poe-ma; a presença marcantede interrogações que cor-roboram a problematizaçãodo passado histórico; a re-memoração e o ritmo finalpermeado por uma espe-rança. Além do mais, o poe-ta re invoca o passadohistórico: “Lembras-te? /Da tristeza daqueles tempos/ em que íamos / comprarmangas / e lastimar o des-tino /das mulheres da Fun-da, / dos nossos cantos delamentos / dos nossos de-sesperos / e das nuvens dosnossos olhos / Lembras-te?” (Neto, 2016, p. 64).

    Estado de almaemprestadoUm poeta inspirado, em suavoz lírica, não desiste doscaminhos, mesmo que comos horizontes fechados e asluzes escondidas, ou quecansados estejam – se lhesresta, assim como a todosos africanos e povos opri-midos, a marcha para alémdo cansaço, ou o perambularsem rumo, isso se torna ummodo de resistência e, aomesmo tempo, testemunhal.É nesse sentido que o poema“Aspiração”, de AgostinhoNeto, pluraliza uma dor queé aparentemente só dele ea aponta para outras geo-grafias, buscando especial-mente convergir os povosque perpassaram pelo pro-cesso de colonização e elemesmo, para que sejam alu-didos como heróis anôni-mo s , h i s t o r i c amen tesilenciados, colonizados,mas que continuam “maishumilde e menos triunfante”(Gagnebin, 2006, p. 53). Ainda sobre a referência

    de que o poeta inspirado,nalguns casos, vagueia entreo estado de alma emprestadoao inspirador nato e a suaprópria condição de poeta,o emprego de cores e som-bras em muitos poemas de

    Agostinho Neto demonstrao estágio da inconsciência.No poema “Partida para ocontrato”, a imediata ur-gência do impacto da cor éassegurada não só pelo mi-nimalismo de meios métri-cos utilizados, como tambémpelo facto de os verbos seremconjugados no presente. Amulher, no porto, vê o navioque transporta o seu amorpara São Tomé afastar-sedo cais. O sol, o barco, o martornam-se escuros. O céufica sem estrelas e a terrasem luz:“O céu escurecendoa terra / E a alma da mulher”(2016, p. 27). Já no poema“A noite”, a cor é usada paraexprimir a cegueira espiri-tual. O sujeito do poema édescrito como encostadoaos seus sonhos sem forma,de braço dado com fantas-mas, na procura inconscienteda sua identidade: “Pelasruas sem luz /Desconhecidas/Pejadas de mística e terror”.(2016, p. 27).Além dessa proximidade

    com o universo cultural an-golano, tal interacção reforçao caráter colectivo dos mo-mentos de enunciação li-terariamente construídospor Neto. Tamanha foi a re-lação entre as lutas de li-bertação – história, portanto– e a escrita de textos lite-rários (e vice-versa) quepoemas como “Havemos devoltar”, por exemplo, foramamplamente divulgados ecantados como hinos deguerra, arma a impulsionaro povo angolano rumo à li-berdade: “À bela pátria an-golana / nossa terra, nossamãe / havemos de voltar //Havemos de voltar / À An-gola libertada /Angola in-dependente”.

    Em jeito de conclusãoEm Angola, assiste-se hojee cada vez mais ao surgi-mento dos chamados mo-vimentos l i terários oumovimentos de estudos li-terários, em que jovens uni-ve rs i t á r i o s ou não ,organizam-se e procuram aseu jeito estudar teorias daliteratura e dar voz ao seumodo de pensar e encarar oactual contexto da literaturaangolana. É um momentode fascinantes desafios à teo-ria da literatura. A realidade literária an-

    golana e talvez sobre esseponto de vista não seja sóangolana, nesse ponto devista, o mundo, está a exigiruma revisão de alguns deseus até hoje mais sólidospilares conceituais. É inte-ressante notar que tal rea-lidade da produção literáriae da dinâmica cultural colocahoje como problema a pró-pria realidade: o real en-quanto tal, as relações entrecriação e realidade, entreficção e realidade. Já não setrata de um momento decrise. Estamos a viver o pós-crise, em que se configuranecessário construir cate-gorias positivas num con-texto intelectual marcadopela complexidade. Tal con-texto afecta a vida da lin-guagem, a vida do conceito,

    no sentido de que os meta-vocabulários precisam exis-tir dentro da ambivalênciae abertos à flexibilidade. E Agostinho Neto parece

    que já previa tudo isso. Pois,a equivalência do “eu”, nosseus poemas, evidencia parao leitor o carácter colectivodessa enunciação. Tendo essacolectividade múltiplas vozes,é natural que a palavra, aindaque no seu uso ordinário ouem português padrão, estejacarregada de várias signifi-cações. Assim, a palavra étornada tensa, uma vez quea enunciação poética – nasua pluralidade – actua po-derosamente sobre o enun-ciado da força opressora. É assim que o narrador

    se torna herói. Quando omundo dos outros, nos seusvalores, tem autoridade sobremim, assimila-me enquantooutro (claro, nos momentosem que ele pode, precisa-mente, ter autoridade).(Bakhtin, 1997, p. 168)Um dos mais importantes

    escritores da literatura an-golana, na literatura mundial,Agostinho Neto ficou muitolembrado pelos seus poemasnos quais contava a verdadesobre a exploração do ho-mem pelo homem vividossob o sistema colonial e nosquais ofereceu a visão dumfuturo melhor ao seu povo. Há, no texto de Agostinho

    Neto, uma tenaz e ousadafala capaz de produzir acon-

    tecimentos, de estabeleceralgo, de instaurar uma or-dem, diferenciando-se ra-dicalmente da fala ordinária,quotidiana, pronunciadaem meio a conversas e re-soluções casuais. Trata-se,portanto, de um tipo de fala,costurada com mestria earte à qual é atribuído valor.Fala radicalmente diferente.A da palavra daquele quearroga pra si um acesso pri-vilegiado à divindade e queé visto como agente poten-cialmente capaz de vislum-brar os desígnios dos deusese trazê-los ao conhecimentodo homem oprimido.

    *Poeta

    Poeta inspirado

  • RFLEXÕES24 Domingo27 de Setembro de 2020

    DR

    Víctor Kajibanga |*

    Duas frases mágicas (ou doisslogans políticos, duas «pa-lavras de ordem» ou, enfim,duas fórmulas políticas la-pidares) reveladoras do seupensamento, proferidas, cu-riosamente, no mesmo lugar.Este era inicialmente conhe-cido por Largo 1.º de Maio,pois aí terão sido realizadosos principais comícios e des-files em prol do Dia Inter-nacional dos Trabalhadorese, posteriormente, rebapti-zado Praça da Independên-cia, justificado em virtudeda ocorrência óbvia: nesselugar, foi proclamada a in-dependência da RepúblicaPopular de Angola, no dia11 de Novembro de 1975. Asduas máximas aí proferidaspelo Presidente/Poeta, con-formam o que chamo de tes-tamento político do primeiroPresidente da República Po-pular de Angola (1975-1979). A primeira máxima, que

    constitui a síntese de um au-têntico programa, conhecidapor “A agricultura é a base,a indústria o factor decisivo”,entrou no léxico político epartidário como um sinal deruptura e mudança e desdeo primeiro momento se tor-nou o indicativo do programado seu governo. Para se per-

    ceber a sua pertinência, gran-deza e valor estratégico, en-tendo que é necessáriocontextualizá-la. A mesmafoi proferida no dia da pro-clamação da independêncianacional, a zero horas... dodia 11 de Novembro de 1975.Justamente no primeiro diada soberania angolana, An-tónio Agostinho Neto assumiae assim deixava reconhecerque a diversificação da eco-nomia, a começar pela va-lorização da agriculturafamiliar, constituía um ca-minho viável para o desen-volvimento e o progresso donovíssimo Estado soberano.Na sua esclarecida eloquênciapolítica, Neto dizia a estepropósito: “(…) o facto deAngola ser um país em quea maioria da população écamponesa, o MPLA decideconsiderar a agricultura comoa base e a indústria comofactor decisivo do nosso pro-gresso”. Para além do carácterpolítico, esta «palavra de or-dem» ou máxima do seupensamento político, faziaapelo à consciência de classe(em si e para si) dos cam-poneses e da emergente clas-se operária, passando aconsiderar como uma acçãoestratégica fundamental doEstado e uma fórmula loco-motora do seu progresso.Na minha modesta opi-

    Sobre o testamento político de António Agostinho Neto

    nião, este legado testamen-tário lançou as premissaspara aquilo que terá cons-tituído a semente e o dese-nho das políticas públicascom vista a diversificaçãoe o desenvolvimento da eco-nomia do país. Malgrado ofacto das mesmas não teremsido inteiramente materia-lizadas por inúmeros pro-blemas e contingências,sobretudo durante o períodopós-conflito armado. Daquise depreende que a ideiasobre a diversificação daeconomia não é nova. Elaconstitui um dos avataresfundadores do novel EstadoAngolano, que estrutura oprograma político de AntónioAgostinho Neto, desde o seudiscurso inaugural do paísindependente.A segunda máxima, “O

    mais importante é resolveros problemas do Povo”, foiproferida no dia 10 de De-zembro de 1978, por ocasiãodo 22.º aniversário da fun-dação do Movimento Po-pular de Libertação deAngola (MPLA) e do 1.º ani-versário da transformaçãodo movimento em MPLA -Partido do Trabalho, repre-senta um legado testamen-tá r i o q u e d e safia o sservidores públicos a colo-carem nas suas agendas, emprimeiro lugar e acima de

    tudo, o interesse público,os problemas quotidianosdo cidadão, das famílias,das comunidades, das co-lectividades e do País. Aquiestava em pauta e continuamactuais os problemas sociaisde toda ordem e índole, mascom alguma prioridade paraos cuidados primários desaúde e para a implantaçãoalargada da educação.Estamos, assim, em pre-

    sença de um testamento po-lítico genuíno que interpelatodas as consciências lúcidasda nação. Afinal, o Presi-dente Neto deixou um tes-tamento de que devemostodos nos orgulhar. A ma-terialização desse legado é,a meu ver, a varinha mágicapara se corrigir o que estámal e melhorar o que estábem, identificando com cla-reza, lucidez e sabedoria, oque afinal está mal para sercorrigido e o que está bempara ser melhorado! Durante o curto consu-

    lado presidencial de quasequatro anos, António Agos-tinho Neto definiu as prio-ridades estratégicas paracada ano civil e político.Nesta perspectiva, os anoseram crismados em funçãodessas prioridades. Temos,assim:1976, “Ano da Resistência

    Popular Generalizada”;

    1977, “Ano do 1.º Con-gresso do MPLA, da Criaçãodo Partido e da Produçãopara o Socialismo”;1978, “Ano da Agricul-

    tura”;1979, “Ano da Formação

    de Quadros”.

    Reeditar os textosde juventudeO poeta da Sagrada Esperançae d’A Renúncia Impossível,o Manguxi, o nosso Kilamba,nasceu a 17 de Setembro de1922, num ajuntamento re-sidencial conhecido por Ka-xikane, na antiga circunscriçãode Icolo e Bengo, actual mu-nicípio de Icolo e Bengo (emrigor, Ikolo ni Mbengu). Fa-leceu a 10 de Setembro de1979, em Moscovo (Rússia),na então União das RepúblicasSocialistas Soviéticas (URSS). Hoje, 41 anos após a sua

    morte, urge compilar e editaros seus vigorosos textos en-saísticos de juventude, vol-tados para a juventude,publicados em alguns órgãosde imprensa (O Estandarte,O Farolim, Cultura, entreoutros) na década de 1940e, sobretudo, reeditar osseus discursos políticos(Agostinho Neto, Textos po-líticos escolhidos, Luanda,DIP - Departamento de In-formação e Propaganda,1986; António Agostinho Ne-

    to, Tudo pelo povo, tudo pelaindependência, tudo pelosocialismo. Selecção de dis-cursos, 1962-1978. Luanda,Edições MINDEF, 1979). Su-giro, vivamente, o estudo doseu pensamento político apartir destes livros.Quatro obras são, igual-

    mente, úteis para a com-preensão da envergadurado pensamento social e po-lítico do Primeiro Presidentede Angola: 1) Roberto de Al-meida, Vida e obra de Agos-tinho Neto, conferênciapronunciada na Universi-dade de São Paulo, em No-vembro de 1987; 2) LeonelCosme, Agostinho Neto e oseu tempo. Porto, Campodas Letras, 2004; 3) JofreRocha, Dartanhã Fragoso,António Panguila e LuísKandjimbo, Agostinho Neto:Libertador e Homem de Cul-tura. Luanda, DelegaçãoProvincial da Cultura, 2003;4) Vários, Personalidadesfalam de Agostinho Neto.Roma, Revista AngoItália;2.ª edição, Ano 3, Luanda,Memorial Dr. António Agos-tinho Neto, 2019).Honra e Glória aos Heróis

    da Pátria Angolana!António Agostinho Neto,

    Presente!

    *Sociólogo e ProfessorUniversitário

    MÁXIMAS E PRIORIDADES ESTRATÉGICAS

    Político visionário, temperado nas melhores tradições do moderno nacionalismo angolano, AntónioAgostinho Neto deixou um importante legado político que, nos dias de hoje, tanto quanto como nos de

    ontem, deve ser assumido como capital político e património de todas as forças progressistas do nosso país

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