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UMA DISCUSSÃO SOBRE TÉCNICAS BASEADAS EM IMAGENS PARA LEVANTAMENTO DE EDIFICAÇÕES
Andrea Verri Bastian
PPG-AU – Faculdade de Arquitetura – UFBA, Mestranda [email protected]
Resumo
A restituição de uma edificação é uma forma de tornar disponíveis as características da arquitetura presente nesta, permitindo sua visualização. Essa documentação gráfica é obtida por processos de levantamento do objeto real. Para tanto, várias são as técnicas possíveis de serem utilizadas além dos métodos tradicionais de levantamento, como fotogramétricas e de varredura. Nesse trabalho, são discutidas as aplicações mais recentes, onde as imagens são obtidas próximas à superfície da Terra e do objeto de interesse, sendo elas a Fotogrametria Digital Arquitetônica, dividida aqui em Estereoscopia (utilização de um par de imagens), baseada em fotos convergentes e uma nova técnica, desenvolvida na Itália, denominada Fotogrametria Esférica (utilização de panoramas), como também 3D Laser Scanning e Photo-based Scanning
onde são apresentados os princípios e características de cada uma delas. Para concluir, são discutidas as vantagens e desvantagens na utilização dessas técnicas. Palavras-chave: Fotogrametria, Fotogrametria Esférica, 3D Laser Scanning, Photo-based Scanning.
Abstract
The reconstruction of a building is a way to make these available features of this architecture, enabling its graphical visualization. This graphic documentation is obtained by appropriate lifting of the real object. Therefore, there are several techniques that may be used in addition to traditional survey methods such as photogrammetry and scanning. In this paper, we discuss the latest architectural applications land, where images are obtained near the surface of the Earth and the object of interest, and they Architectural Digital Photogrammetry divide here in stereoscopy (using a pair of images), Based on convergent images and a new technique developed in Italy called Spherical Photogrammetry (use panoramas) as well as 3D Laser Scanning Photo-based scanning and which presents the principles and characteristics of each. To conclude, we discuss the advantages and disadvantages in the use of these techniques.
Palavras-chave: Photogrammetry, Spherical Photogrammetry, 3D Laser
Scanning, Photo-based Scanning.
1 Introdução A restituição de uma edificação é uma maneira de tornar disponível características da
arquitetura presentes nesta, permitindo sua visualização por meio de representação
gráfica (MOREIRA, 2000). Segundo Mateus (2012), a representação gráfica é aquela
que faz uso da informação visual constituída por linhas, figuras geométricas, cores,
isto é, desenhos, que permitem à interpretação de quem as utilizam. Essa
documentação gráfica é obtida por qualquer processo de levantamento do objeto real,
permitindo o entendimento dos vários momentos da vida do objeto, alterações
sofridas, tecnologias e materiais utilizados, anomalias existentes, e etc..., sendo um
instrumento indispensável para análise e planejamento de ações de intervenção física
sobre o objeto construído e, nas suas diversas formas. Portanto, quanto mais preciso,
mais fácil será o trabalho subsequente.
Várias são as técnicas possíveis de serem utilizadas no processo de levantamento,
sendo sua escolha feita de acordo com a complexidade do mesmo e das
características da edificação. Métodos tradicionais de levantamento, utilizados em
grande parte dos trabalhos realizados no Brasil, são baseados em medição direta e
uso de esboços cotados, possíveis de serem utilizados para edificações com formas
mais simples, com poucos ornamentos e pequenas dimensões. Para formas
complexas, outros métodos como o topográfico, feitos com o uso de teodolitos ou
estações totais, permitem medições indiretas e o alcance da precisão requerida
(AMORIM, 2012).
Além dos métodos citados, outras técnicas fotogramétricas, como os métodos
fotogramétricos baseados em Estereoscopia, em fotos convergentes, em varredura
laser, ou em Photo-based Scanning, podem ser utilizados na documentação métrica
de edificações (BÖHLER; HEINZ, 1999; SCHERER, 2002). A Fotogrametria tem sido
bastante utilizada como ferramenta para levantamentos arquitetônicos, embora pouco
empregada no Brasil, passando na sua evolução por várias fases, desde a gráfica,
analógica, e analítica até a digital, o que permitiu a simplificação dos processos e
redução de custos dos recursos empregados.
Atualmente, a International Society of Photogrammetry and Remote Sensing
(ISPRS) define a Fotogrametria como a arte, ciência e tecnologia de se obter
informação confiável de imagens a partir de sensores imageadores e outros, sobre a
Terra e seu meio ambiente, e de outros objetos físicos e processos através da
gravação, medição, análise e representação. Ainda segundo a American Society for
Photogrammetry and Remote Sensing (ASPRS) a Fotogrametria é definida como a
arte, ciência e tecnologia de se obter informação confiável sobre objetos físicos e meio
ambiente, através de processos de gravação, medição e interpretação de imagens e
padrões de energia eletromagnética radiante, e outros fenômenos.
Mateus (2012), estabelece que a Fotogrametria pode ser classificada de acordo
com vários critérios como: a relação de distância entre câmara e objeto, número de
imagens utilizadas, princípio, tempo para obtenção dos resultados e área de aplicação.
Nesse trabalho, serão discutidas apenas as tecnologias mais recentes para aplicações
arquitetônicas terrestres, onde as imagens são obtidas sobre a superfície1 da Terra e
próximas ao objeto de interesse como a Fotogrametria Digital, 3D Laser Scanning e
Photo-based Scanning.
2 Técnicas de levantamentos arquitetônicos baseados em imagens
A documentação gráfica tradicionalmente é executada com técnicas de
levantamento em loco, baseando-se em medições diretas o que torna o trabalho
moroso, além disso, em edificações em adiantado estado de deterioração, o uso de
métodos diretos, onde o levantador tem contato físico com o imóvel, constitui um sério
risco de acidentes. Nesse contexto, a fotogrametria é uma ferramenta crucial, uma vez
que permite a restituição métrica e morfológica do objeto em estudo, sem a
necessidade de contato direto com objeto.
2.1 Fotogrametria digital arquitetônica
A Fotogrametria Digital visa à obtenção das dimensões e formas de um objeto a
partir da captura e processamento de imagens, de acordo com Groetelaars (2004),
quando utilizada de forma adequada, permite a criação de modelos tridimensionais
precisos, foto realísticos, gerando um volume de dados possível de ser utilizado por
ferramentas modernas de planejamento, como banco de dados e SIG (Sistemas de
Informações Geográficas), além de programas de animação, simulação, realidade
virtual e realidade aumentada.
Segundo Mateus (2012), os métodos fotogramétricos utilizam sempre duas ou
mais imagens de um objeto, obtidas de pontos de vista diferentes e com sobreposição,
podendo-se assim, classificá-los em estereoscópicos, baseados em imagens
convergentes e baseados em panoramas.
1 - Considera-se que as fotos capturadas com Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT), se
enquadram nessa categoria.
2.1.1 Estereoscopia
De acordo com Hansen e Grussenmeyer (2002), os princípios da Estereoscopia
permitem que um par de imagens, conforme visto nas Figuras 1 e 2, de um mesmo
objeto (estereopar) seja utilizado para restituição tridimensional de fachadas desde
que a área de interesse esteja presente nas duas imagens. Para que isto seja
possível, os eixos óticos das câmaras devem ser paralelos entre si e, a relação da
distância entre as câmeras e a distância entre câmera e objeto deve estar entre 1:15 e
1:50.
Figura 1 - Levantamento fotográfico baseado em Estereoscopia
Fonte: HANSEN; GRUSSENMEYER, 2002
Figura 2 - Estereopar – (a) imagem esquerda (b) imagem direita
Fonte: HANSEN; GRUSSENMEYER, 2002
Nesse processo, cada ponto do objeto é determinado a partir da identificação de seus
pontos homólogos presentes nas partes superpostas das duas imagens. Para que isso
seja possível é necessário conhecer os parâmetros de translação e rotação da
câmera, obtidos diretamente no momento da tomada fotográfica ou indiretamente com
a utilização de pontos de controle (coordenadas obtidas através de Topografia),
apresentando maior precisão (GROETELAARS, 2004). Através desse processo,
podem ser obtidos desenhos de fachadas (Figura 3), modelos wireframe, modelos de
superfície, além de levantamento de coordenadas.
Figura 3 – Desenho de fachada obtido através de estereorestituição
Fonte: HANSEN; GRUSSENMEYER, 2002 2.1.2 Baseada em fotos convergentes
Hoje, a situação mais comum em levantamentos arquitetônicos é a utilização de várias
imagens convergentes, que, após a orientação, permitem a restituição de modelos
geométricos (3D) e a representação gráfica dos objetos registrados, possibilitando a
extração de dimensões lineares, áreas e volumes. Os produtos gráficos podem ser
empregados em usos tradicionais, para visualização em meio digital, ou como
elementos de preservação, integrantes de base de dados digitais multimídia
(MATEUS, 2012).
De acordo com Koch e Kaehler (2009), a Fotogrametria baseada em fotos
convergentes utiliza o princípio da triangulação, onde matematicamente a intersecção
de linhas convergentes no espaço determina com precisão um ponto. Conforme Figura
4, a base para determinação de um ponto no espaço é orientar as imagens para um
sistema de coordenadas, o que significa que as posições (x, y, z) e os ângulos rotação
(ω, φ, κ) das imagens devem ser determinados antes da triangulação. Para tanto, as
coordenadas do ponto na imagem (x', y'), no momento da tomada fotográfica devem
ser conhecidas em pelo menos duas imagens, sendo o ideal três ou mais.
A restituição das coordenadas dos pontos do objeto no espaço tridimensional, serão
determinadas pela intersecção dos raios que partem da representação do ponto na
imagem, passam pelo centro de projeção e atingem o objeto. Nesse sentido, a
restituição fotogramétrica pode ser entendida como o processo inverso ao da captura
fotográfica, ou seja, a devolução do objeto do espaço 2D para o espaço 3D. A
precisão do processo e a orientação das imagens dependerão do tamanho do pixel da
imagem, escala da foto e distância entre as posições da câmera.
Figura 4 – Princípio da Fotogrametria a curta distância Fonte: KOCH; KAEHLER, 2009
Segundo Mateus (2012), o processamento das imagens pode ser manual, onde a
calibração da câmera2 e identificação dos pontos homólogos nas várias imagens para
orientação é feita pelo operador; somente após esse procedimento pode-se gerar o
modelo geométrico do objeto. Esse é o procedimento utilizado pelo PhotoModeler3 e
outros programas. O procedimento semiautomático pode ser feito por reconhecimento
de padrões de geometria pré-definidos, como também por reconhecimento de alvos
codificados sendo esse, o tipo de procedimento utilizado no PhotoModeler para a
calibração da câmera. Na versão Scanner e, nas ferramentas Zscan e Image Master,
as imagens são correlacionadas para facilitar a marcação de pontos ou realizar a
reconstrução automática de superfícies.
Como produtos da Fotogrametria, a partir do modelo restituído, podem ser gerados
desenhos, modelos geométricos aramados, de superfície, com texturas, fotos
retificadas, ortofotos, mosaicos de ortofotos. As Figuras 5 e 6 mostram alguns desses
produtos.
(a) (b) (c)
Figura 5 – (a) Ortofoto (b) Foto retificada (c) Desenho de restituição Fonte: BASTIAN, 2012
2 Calibração da câmera é o processo que permite ao software, utilizado na restituição, a determinação das deformações decorrentes da geometria da câmera e distorções do sistema óptico, dando condições para a determinação dos pontos homólogos no espaço (AMORIM, 2012). 3 Software da empresa canadense EOS Systems, comercializado em duas versões. Maiores informações em: <http://www.photomodeler.com>.
Figura 6 – (a) Mosaico de ortofotos (b) Desenho de restituição fotogramétrica Fonte: GROETELAARS, 2004
2.1.3 Panoramas e Fotogrametria Esférica
2.1.3.1 Panoramas
A construção de grandes imagens com alta resolução é uma área de pesquisa nos
campos da Fotogrametria, visão computacional, processamento de imagens entre
outras. A técnica de construção de um mosaico fotográfico utilizando de uma
sequencia de imagens, feitas a partir de um giro de até 360° em torno de um ponto de
vista, é chamada de Panorama (SHUM; SZELISKI, 1997).
O panorama foi desenvolvido na Inglaterra, em 1785, pelo desenhista e pintor escocês
Robert Barker, e era construído sobre uma estrutura circular, onde grandes telas eram
mostradas por meio de efeitos teatrais (POQUET, 2009).
De acordo com Souza (2010) a técnica se popularizou como um dos principais
espetáculos nas cidades europeias, chegando a ter cerca de quatrocentos panoramas
na metade do séc. XIX entrando em desuso, no final do mesmo século, com o
surgimento do cinema. Com a evolução das tecnologias digitais e aperfeiçoamento da
fotografia, as tradicionais feitas em papel, passaram a ser digitais, facilitando assim a
geração e exibição de panoramas (SILVA, 2007).
De acordo com Wahbeh (2011), para se produzir um panorama é fundamental que se
entenda como as imagens podem ser projetadas em uma superfície. A representação
de uma superfície esférica em forma de mapa é um problema bastante estudado,
principalmente, para representação do planisfério. Existem vários tipos de projeções,
sendo as citadas nesse trabalho as mais utilizadas e suportadas pelos principais
programas, como Autostitch, Hugin, Ptgui, Panorama Tools, Microsoft Research Image
Composite Editor, CleVR Stitcher e Photoshop (Photomerge e Auto-Blend).
Projeção Plana – onde as linhas retas do mundo real são exibidas sem
distorções no panorama, sendo feita a projeção em um plano;
Projeção Cilíndrica – A projeção é feita em uma superfície cilíndrica sendo que
a escala vertical aumenta rapidamente quando se afasta da linha central do
mapa;
Projeção de Mercator – Semelhante à projeção cilíndrica, mas com
alongamento menor na parte inferior e superior, sendo muito utilizada em
mapas de navegação;
Projeção Equiretangular – Foi inventada por Marinus de Tiro, cerca de 100 d.
C., sendo talvez, a mais simples das projeções. Conforme mostra a Figura 7, a
projeção é feita em uma superfície esférica, utilizando latitude e longitude onde
os polos da esfera são representados por dois segmentos de comprimento
igual à circunferência da esfera de projeção, consequentemente o equador e
os dois polos tem o mesmo comprimento.
Figura 7 – Projeção Equiretangular
Fonte: WAHBEH, 2011
Projeção Cúbica – A projeção é feita nas faces de um cubo, tornando-se útil
uma vez que abrange 360° e em cada uma das faces a projeção de linhas
retas é feita sem distorções, uma vez que se trata de uma projeção plana.
2.1.3.2 Fotogrametria Esférica
Segundo D’Aniballe et al. (2011), é uma técnica desenvolvida na Università Politecnica
delle Marche, Ancona, Itália, por Gabrile Fangi, e se baseia em um tipo de projeção
cartográfica, não fazendo uso das imagens originais sobrepostas, mas sim, de suas
projeções em uma esfera virtual, capturadas a partir de um único ponto de modo a
cobrir total ou parcialmente 360° ao seu redor. As imagens são então “costuradas”
em um software comercial e projetadas em uma esfera virtual de raio R arbitrário, e
igual a distancia focal da câmera utilizada (Fangi, 2010), sendo que o centro de
projeções e a distância focal devem permanecer o mesmo durante toda a fase de
tomadas fotográficas. A esfera virtual é então mapeada utilizando projeção
equiretangular; as coordenadas x e y na imagem de um ponto P arbitrário podem ser
obtidas das direções horizontais e verticais θ e φ corrigidas, devido a não verticalidade
do eixo da esfera, por dois ângulos αx e αy. (x = θ.R e y = φ.R). A Equação 1, de
colinearidade, mostra a correspondência entre um ponto P’ (x, y) da imagem e um
ponto P (X, Y, Z) do objeto (FANGI, 2010). A Figura 8 mostra um modelo 3D obtido
através dessa técnica.
Equação 1 – Equação de colinearidade
Fonte: FANGI, 2010
Figura 8 – Modelo wireframe
Fonte: FANGI, 2010
2.2 Sistemas de Varredura a Laser
No final do século XX, surgiram, inicialmente, os sistemas de varredura a laser
aerotransportados para levantamento de grandes áreas, e em seguida os sistemas
terrestres, que se tornaram recursos essenciais para Engenharia Civil, Naval,
Mecânica, Mineração, Arquitetura, Arqueologia, Geografia, Geologia e, como era de se
esperar, também vêm sendo aplicado em levantamentos de edificações (MEDINA,
2012).
Ainda de acordo com Mateus (2012), a base da tecnologia de varredura a laser vem
do LIDAR (Light Detection and Ranging) quando foi demonstrada a possibilidade de
medição de distância entre um avião e o solo com precisão de um metro, porém só a
partir do aperfeiçoamento do GPS (Sistemas de Posicionamento Global), no final dos
anos 80 é que se tornou viável a utilização da tecnologia LIDAR em levantamentos
aéreos. Conforme mostrado de forma esquemática na Figura 9, um dispositivo de
varredura a laser é composto por uma unidade ótica que emite o feixe laser, um
dispositivo óptico-mecânico que reflete o feixe de laser e um sensor que captura e
registra o raio refletido pelo ambiente.
Figura 9 – Representação esquemática de um dispositivo de varredura a laser Fonte: MATEUS, 2012
Para cada feixe emitido são conhecidos seu ângulo horizontal e vertical e, sabendo-se
que esse viaja a velocidade da luz, medindo-se o tempo de retorno do raio após atingir
o alvo é possível determinar a distância do ponto de reflexão ao centro de emissão,
origem do sistema de coordenadas esféricas (ρ, θ, Ϫ). Assim ficam determinadas as
posições desses pontos no espaço e em seguida esses dados são convertidos ao
sistema de coordenadas cartesianas (x, y, z) (AMORIM, 2012).
O resultado da aquisição de dados por varredura a laser é o que se conhece como
“nuvem de pontos” (pointcloud), que pode ter desde milhares até milhões de pontos e
está posicionada segundo um referencial que, em princípio, a origem corresponde a
uma posição no equipamento laser. Em geral, como a determinação das coordenadas
é baseada em emissão e recepção de radiação eletromagnética, os pontos da nuvem
possuem associados um valor corresponde de intensidade (I), normalmente expresso
numa escala de 8 bits (0 a 255). Dessa forma, um ponto P da nuvem é expresso por
um vetor com quatro componentes (X, Y, Z, I), podendo ser adicionadas a esse vetor
componentes radiométricas (R, G, B) decorrentes de imagens fotográficas digitais
associadas à nuvem (MATEUS, 2012).
Ainda, conforme Mateus (2012), as tecnologias de varredura a laser podem ser dividas
em três grupos correspondentes ao método de medição das distâncias e a resolução
típica. De qualquer forma, trata-se de uma tecnologia em que há emissão de luz laser
e que opera de acordo com os princípios da detecção remota. São eles:
Sistemas de tempo de voo (Time of Flight – TOF): baseiam-se no cálculo do
tempo de ida e retorno dos impulsos de luz. Quanto à precisão de medição,
pode ser considerar na ordem de ± 0,5 cm a ± 1,0 cm, aumentando para
grandes distâncias;
Sistemas de diferença de fase (Phase Shift – PS): a medição das distâncias é
feita através das diferenças de fase entre os sinais emitidos e recebidos. A
precisão desse sistema é da ordem de 1% do comprimento da onda da
modulação. Sendo esse um processo contínuo, consegue ser mais rápido que
os sistemas de tempo de voo, apresentando maiores taxas de captura de
dados.
Sistemas de triangulação óptica: baseiam-se na medição de distâncias na
triangulação da posição em que o laser é refletido. O sistema emite um feixe de
laser e, a linha de intersecção desse com o objeto é capturada por um sensor
tipo CCD (Charge-Couple Device) ou CMOS (Complementary Metal-Oxide-
Semiconductor) integrado a uma câmera fotográfica. Conforme o esquema da
Figura 10, as coordenadas de qualquer ponto do objeto são calculadas em
função das coordenadas do ponto imagem (xN, yN) correspondentes, da
inclinação do feixe de laser (α), da distância principal (dp) e da distância de
base (distância entre os dispositivos de emissão e recepção do laser - B).
Figura 10 – Representação esquemática de sistemas de triangulação Fonte: MATEUS, 2012
O Quadro 1, a seguir, apresenta a comparação dos três sistemas de laser scanner
terrestre.
Sistema Precisão (m)
Alcance (m)
Taxa de captura (pontos/s)
Emprego
Triangulação 0,001 a 1,0 1 a 50 100 a 500 Pequenas peças
Tempo de voo 0,007 a 50 0,01 a 100
1 a 1200 100 a 7.000 Levantamentos a grandes distâncias
Diferença de fase
0,006 a 50 0,001 a 100
1 a 80 100.000 a 500.000 Levantamentos a pequenas distâncias
Quadro 1 – Comparação de Sistemas de laser scanner terrestre Fonte: MEDINA, 2012
2.3 Photo-Based Scaning
Essa nova vertente da Fotogrametria, chamada Photo-Based Scaning, também utiliza
raios de luz, através de sensores passivos, onde a luz ambiente refletida pelo objeto é
captada por uma câmera fotográfica, a partir de pelo menos de duas posições. As
primeiras utilizações foram feitas em modelos digitais de elevação para cartografia,
criados manualmente, ponto por ponto, a partir de 1980 esse processo passa a se
tornar mais automatizado. Em visão computacional, seu uso começou por volta de
1970, com a pesquisa de Marr e Poggio baseada na visão estereoscópica humana,
onde um sistema similar foi desenvolvido para aplicações em computador (WALFORD,
2009).
Segundo Amorim (2012), o desenvolvimento dessas técnicas tem sido utilizado na
geração de nuvens de pontos, por processamento digital, a partir de imagens
fotográficas de um objeto. Essa tecnologia também é conhecida como Structure from
Montion (SfM), Dense Surface Modeling (DSM), Dense Stereo Matching (DSM), entre
outras denominações.
Nesse tipo de técnica, todo o processamento é automatizado dividindo-se em duas
fases, primeiramente as imagens são orientadas; para tanto, são extraídos e
correlacionados os pontos homólogos, através de algoritmos de reconhecimento de
padrões entre as várias imagens onde a identificação é feita pelos valores das
intensidades radiométrica dos pixels. Após essa operação é gerada uma nuvem de
pontos esparsa e a partir desta, uma segunda nuvem de pontos bem mais densa,
onde os pontos possuem a informação radiométrica das imagens fotográficas
(textura). Nesse processamento podem ser utilizadas ferramentas para aplicações
comerciais como o PhotoModeler Scanner, Samantha, Orthoware, e o EyeDea e,
ferramentas on-line como ARC3D, Bundler, Photofly, Photosynth e o VSFM onde os
modelos gerados podem ser visualizados na internet ou descarregados no computador
do usuário (MATEUS, 2012).
Ainda, segundo Mateus (2012), a metodologia SfM, para aplicação em modelagem,
através da captura de uma sequencia de vídeos, onde esses são analisados de modo
a se obter os parâmetros de orientação dos vários quadros seguindo a geração do
modelo geométrico (3D) da cena registrada, com a textura associada. Nesse caso, os
modelos gerados apresentam apenas qualidade para efeitos de visualização. Para
essa aplicação estão disponíveis, ferramentas como o VideoTrace, ou ainda on-line, a
ProFORMA.
3 Discussão e Conclusão
As técnicas apresentadas nesse trabalho mostram-se eficazes, sendo que a escolha
do método utilizado no levantamento está associado à finalidade dos dados obtidos,
prazo de execução, disponibilidade de recursos financeiros e técnicos, condições do
local da edificação e precisão requerida. A impossibilidade na obtenção de medidas
diretas em campo, a dificuldade em fotografar a parte superior das edificações, a
interferência das condições atmosféricas e de iluminação na qualidade dos resultados
e, ainda, a exigência de processamento especializado e o tempo necessário para
obtenção dos produtos são algumas desvantagens.
A “estereoscopia” está em desuso em aplicações para levantamentos de edificações,
sendo substituída pela Fotogrametria baseada em imagens convergentes. Essa
técnica mostra-se mais útil no caso de fachadas planas ou com curvas bem definidas,
para fachadas com formas mais complexas e grande quantidade de detalhes Dense
Surface Modeling (DSM) ou o sistema de varredura a laser são métodos mais
vantajosos.
No que se refere à Dense Surface Modeling (DSM), a produção de modelos
geométricos a partir de nuvem de pontos ainda requer processamento não trivial e
grande interação do usuário. Ferramentas computacionais mais recentes, com
aumento do processamento automatizado fornecem subsídios para que essa
tecnologia venha a ser mais utilizada na documentação arquitetônica nos próximos
anos, uma vez que captura também a cor do objeto, permitindo a geração de modelos
realísticos e ortofotos com a textura, sendo uma vantagem em relação à varredura a
laser.
Por outro lado, na varredura a laser, a velocidade de aquisição dos dados é muito
maior e com precisão equivalente, além de não sofrer interferência das condições de
iluminação. O principal problema dessa tecnologia é o custo elevado do equipamento
e programas, que aliados à rápida obsolescência da tecnologia, tornam a tecnologia
pouco empregada no Brasil para aplicações em Arquitetura. Outro aspecto a ser
observado, é a grande quantidade de dados a serem processados e os problemas da
reflexão do laser em certos tipos de materiais.
De acordo com Fangi (2013), a Fotogrametria Esférica é uma solução quando não se
pode utilizar o laser scanner, sendo de baixo custo por empregar "recursos mais
simples". O fator complicador no uso dessa tecnologia são os processos de orientação
e restituição, feitos manualmente, demandando um tempo longo no processamento
dos dados.
Existe uma ampla gama de tecnologias que apresentam aspectos positivos e
negativos, além da grande variação de custo, sendo a escolha dependente do
contexto da aplicação. Deve-se, também, levar em consideração a
possibilidade de integração entre elas, visto que em determinadas situações
sempre existirão limitações.
4 Referências
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