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RICARDO HUMBERTO DE OLIVEIRA FILHO
UMA METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO VIRTUAL
DA DOSE DE EXPOSIÇÃO AO RUÍDO NO AMBIENTE
DE TRABALHO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
2011
RICARDO HUMBERTO DE OLIVEIRA FILHO
UMA METODOLOGIA PARA A AVALIAÇÃO VIRTUAL DA DOSE DE
EXPOSIÇÃO AO RUÍDO NO AMBIENTE DE TRABALHO
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade
Federal de Uberlândia, como parte dos requisitos para
obtenção do título de DOUTOR EM ENGENHARIA
MECÂNICA.
Área de Concentração: Mecânica dos Sólidos e
Vibrações.
Orientador: Prof. Dr. Marcus Antônio Viana Duarte
UBERLÂNDIA - MG
2011
Aos meus pais, Ricardo e Marilene,
à minha irmã, Karine
e à minha namorada Débora.
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AGRADECIMENTOS
À Deus, pela disposição e força de vontade concedidas.
À Universidade Federal de Uberlândia, à Faculdade de Engenharia Mecânica e ao
Programa de Pós-Graduação pela oportunidade de participar deste curso e pela estrutura
fornecida para realização deste trabalho.
Aos órgãos CAPES e FAPEMIG pelo apoio financeiro e incentivo à pesquisa.
Ao meu amigo e orientador, Prof. Dr. Marcus Antônio Viana Duarte, pelas
contribuições valiosas ao longo dos anos de ensino, e ainda pelo interesse e apoio a esta linha
de pesquisa.
Aos meus pais, Ricardo e Marilene, pela presença constante em minha vida e por
acreditarem em minha capacidade e me incentivarem a correr atrás de meus sonhos.
À minha irmã, Karine, pelo incentivo e por ser fonte de inspiração para seguir na
vida acadêmica.
À minha namorada Débora, por sempre me motivar a acreditar em meu potencial,
por ser mais do que minha companheira e pelo afeto nas horas mais difíceis.
Aos meus familiares pelo apoio e incentivo.
Aos amigos do Laboratório de Acústica e Vibrações Pedro, Paulo, Marlipe, Vinicius,
Júlia, Henrique, Ana Paula, Marcela, Eider e Ricardo e às amigas que já saíram do laboratório
Tatiana e Maria Alzira pelo apoio no desenvolvimento dos trabalhos e principalmente pela
amizade.
Ao Prof. Elias Bitencourt Teodoro, PhD., pela amizade, contribuições na linha de
pesquisa e apoio no desenvolvimento de trabalhos.
Aos amigos, alunos, professores e técnicos da FEMEC, que me ajudaram nesta
jornada.
A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.
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xi
OLIVEIRA FILHO, R. H. Uma Metodologia para a Avaliação Virtual da Dose de Exposição
ao Ruído no Ambiente de Trabalho. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia - MG, 2011.
Resumo
A permanência de pessoas em ambientes com níveis de ruído elevados pode causar
comprometimentos orgânicos diversos, como hipertensão arterial, estresse, aumento da tensão
muscular, incapacidade de concentração além de distúrbios auditivos temporários e permanentes.
A perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional (PAIRO) é a única patologia causada pelo ruído
reconhecida pela legislação brasileira. Para avaliação da insalubridade por ruído em locais de
trabalho, a Consolidação das Leis do Trabalho no Brasil, na Portaria 3.214, NR-15, estabelece os
limites de exposição ao ruído para trabalhadores brasileiros, visando protegê-los de danos
auditivos. Esta Portaria, através da NR-7, estabelece a obrigatoriedade dos exames audiométricos
admissionais, periódicos e demissionais, além de estabelecer limites de exposição e diferenciar
ruídos contínuos e impulsivos. A Norma de Higiene Ocupacional NHO 01 de 2001 da
FUNDACENTRO estabelece critérios e procedimentos para a avaliação da exposição ocupacional
ao ruído, que implique risco potencial de surdez ocupacional. Ainda introduz o conceito de nível
de exposição como um dos critérios para a quantificação e caracterização da exposição
ocupacional (dose) ao ruído contínuo ou intermitente, além de considerar a possibilidade de
utilização de medidores integradores e de leituras instantâneas. Apesar de propiciar uma avaliação
segura e posterior melhoria nas condições de trabalho dos colaboradores, fica evidente que é
necessária a exposição para que seja realizado o procedimento. Visando evitar tal exposição, foi
levantada a hipótese de se criar um sistema de predição da dose de exposição antes mesmo da
execução da tarefa. Para tanto, foi proposto neste trabalho o desenvolvimento de uma metodologia
que utiliza um prévio mapeamento e identificação das fontes de ruído no ambiente de trabalho
além da rotina de trabalho do funcionário, para prever a dose de exposição ao ruído ocupacional
de um dado grupo homogêneo. Utilizaram-se dois algoritmos para prever a probabilidade de o
funcionário estar em qualquer local da planta, o primeiro levando em consideração a distância do
funcionário ao ponto avaliado e a segunda através de uma rede neural probabilística. Foi possível,
através das metodologias criadas, prever uma faixa de avaliação, utilizando o valor médio e a
variância resultantes da repetibilidade das simulações, para predição da dose de exposição ao
ruído ocupacional.
_________________________________________________________________________
Palavras chave: Higiene Ocupacional, Acústica, Dosimetria, PAIRO.
xii
xiii
OLIVEIRA FILHO, R. H. A Methodology for Virtual Evaluating Noise Dose Exposure in the
Workplace. Doctor’s Thesis, Federal University of Uberlandia, Uberlandia - MG, 2011.
Abstract
The permanence of people in environments with high noise levels can cause various organic
commitments, such as hypertension, stress, increased muscle tension, impaired concentration, and
temporary or permanent hearing disorders. The occupational noise induced hearing loss (ONIHL)
is the only disease caused by noise recognized by Brazilian law. To evaluate the noise
unsoundness in the workplace, the Labor Laws Consolidation in Brazil, in Ordinance 3214, NR-
15, establishes the limits of noise exposure for workers in Brazil, aiming to protect them from
hearing damage. This Ordinance by NR-7, establishes the obligation of entrance, periodic and
resignation audiometric exams and to establish exposure limits and differentiate impulsive and
continuous noise. The Standard Occupational Hygiene NHO 01, 2001 from FUNDACENTRO
establishes criteria and procedures for the evaluation of occupational noise exposure, which
involves potential risk of occupational deafness. Also introduces the concept of exposure level as
a criterion to quantification and characterization of occupational exposure to continuous or
intermittent noise, and consider the use of integrators and instantaneous readings. Although it
provides a secure evaluation and improve on the working condition of employees, it is evident
that the exposure is required to be performed the procedure. Seeking to avoid such exposure, it
has been hypothesized to create a system to predict the dose of exposure even before the task
execution. It was thus proposed in this work to develop a methodology that utilizes a prior
mapping and identification of sources of noise in the workplace beyond the routine work of the
employee, to predict the dose of exposure to occupational noise of a given homogeneous
group. They were used two algorithms to predict the likelihood that the employee be anywhere in
the plant, the first taking into consideration the distance of the official point evaluated and the
second by a probabilistic neural network. It was possible using the methodologies created to
provide a full assessment, using the mean and the variance resulting from the repeatability of
simulations to predict the dose of exposure to occupational noise.
_________________________________________________________________________
Key words: Occupational Hygiene, Acoustics, Dosimetry, ONIHL.
xiv
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LISTA DE SÍMBOLOS
Letras Latinas
Adiv Atenuação devido à divergência geométrica [dB]
Aatm Atenuação devido à absorção atmosférica [dB]
Abar Atenuação devido a barreiras [dB]
Amisc Atenuação devido a outros efeitos [dB]
ATt(f) Atenuação devido à transmissão da barreira [dB]
ATd(f) Atenuação devido à difração da barreira [dB]
ATLE Perda por difração no lado esquerdo da barreira [dB]
ATLD Perda por difração no lado direito da barreira [dB]
ATSU Perda por difração no lado superior da barreira [dB]
b Distância entre os equipamentos ou menor dimensão do equipamento [m]
c Maior dimensão do equipamento [m]
C Velocidade do som [m/s]
ck Custo associado com um erro de classificação cometido
Cn Tempo de exposição a um nível de ruído [min]
d Distância [m]
d0 Distância de referência [m]
fs Frequência de Schroeder [Hz]
DI(θ) Índice de diretividade
fk(X) Concentração (densidade) de membros da classe k ao redor da amostra
desconhecida
hk Probabilidade da classe k
I Intensidade Sonora [Watt/m2]
Io Intensidade Sonora de referência [Watt/m2]
NIS Nível de Intensidade Sonora [dB]
NPS Nível de Pressão Sonora [dB]
NWS Nível de Potência Sonora [dB]
n Número de entradas do neurônio
nk Números de amostras da k-ésima classe
xvi
P Pressão Sonora [Pa]
Po Pressão Sonora de referência [Pa]
Os Pressão Estática [mmca]
Q Fator de diretividade da superfície
Qf Velocidade de fluxo de volume (m3/h)
r Distância da fonte de ruído ao ponto de medição [m]
Rb Fator de correção
T Limiar do Neurônio
Tn Exposição diária permitida para aquele nível
Tr Tempo de reverberação [s]
Tsig Parâmetro que determina a suavidade da curva Sigmoidal
V Volume da sala [m3]
W(d) Função de ponderação conhecida
wij i-ésimo peso de ponderação associado a um neurônio artificial
X Amostra desconhecida
x Parâmetro de entrada da rede neural
xi i-ésimo parâmetro de entrada de uma rede neural
y Parâmetro de saída da rede neural
Letras Gregas
Coeficiente de inclinação da reta
λ Comprimento da onda sonora [m]
Valor de ativação de um neurônio
+ Valor máximo da saída da rede neural
- Valor mínimo da saída da rede neural
Desvio padrão
s Parâmetro de escala que define a largura da curva sino centrada em cada
membro da coleção de dados
Infinito
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Abreviaturas
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ANAMT Associação Nacional de Medicinado Trabalho
BERA Audiometria de Resposta Elétrica do Tronco Encefálico
CAT Comunicação de Acidente do Trabalho
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CRM Conselho Regional de Medicina
EOA Emissões Otoacústicas Evocadas
EOAE Emissões Otoacústicas Evocadas Espontâneas
EOAPD Emissões Otoacústicas Evocadas por Produto de Distorção
EOAT Emissões Otoacústicas Evocadas Transitórias ou Transientes
fdp Função densidade de probabilidade para toda a coleção de amostras
IRF Índice de Reconhecimento de Fala
ISO International Standard Organization
LAV Laboratório de Acústica e Vibrações
LRF Limiar de Recepção da Fala
MCP Modelo de McCulloch-Pitts
MSR Método de Superfície de Resposta
NBR Norma Brasileira Regulamentadora
NC Noise Criterion
NR Norma Regulamentadora
OMS Organização Mundial da Saúde
PAIR Perda de Audição Induzida Pelo Ruído
PAIRO Perda de Audição Induzida Pelo Ruído Ocupacional
PCA Progama de Conservação Auditiva
PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
RNA Rede Neural Artificial
RNP Rede Neural Probabilística
SR Superfície de Resposta
UFU Universidade Federal de Uberlândia
xviii
SUMÁRIO
Capítulo I - Introdução e Motivações para o Trabalho ................................................ 1
1.1 Introdução ............................................................................................................. 1
1.2 Objetivos do Trabalho ......................................................................................... 9
1.4 Estrutura do Trabalho ......................................................................................... 10
Capítulo II - Morfologia e Fisiologia do Sistema Auditivo Humano ........................... 11
2.1 Introdução ............................................................................................................. 11
2.2 Orelha Externa ..................................................................................................... 12
2.3 Orelha Média ........................................................................................................ 14
2.3.1 Fisiopatologia da Transmissão Sonora ............................................................ 16
2.4 Orelha Interna ...................................................................................................... 17
2.5 Etapas da Fisiologia Auditiva .............................................................................. 19
2.5.1 Etapas da Fisiologia Coclear ........................................................................... 19
2.6 Fisiopatologia Decorrente do Ruído ................................................................... 20
2.6.1 Alterações Cocleares ........................................................................................ 20
Capítulo III - Ruído: Caracterização e Efeitos sobre o Homem .................................. 21
3.1 Definição ................................................................................................................ 21
3.2 Efeitos do Ruído na Audição ............................................................................... 22
3.2.1 Efeitos Auditivos ............................................................................................... 23
3.2.1.1 Perda Auditiva ...................................................................................... 23
3.2.1.2 Zumbido ................................................................................................ 24
3.2.1.3 Recrutamento ........................................................................................ 24
3.2.1.4 Deterioração da Discriminação da Fala ............................................. 24
3.2.1.5 Otalgia .................................................................................................. 25
3.2.2 Efeitos Extra-Auditivos ..................................................................................... 25
3.3 Avaliação dos Efeitos do Ruído sobre o Homem ............................................... 26
3.3.1 Mecanismo da Perda Auditiva ......................................................................... 26
xix
3.3.2 Níveis de Ruído Confortáveis e Perigosos ....................................................... 27
3.4 Controle do Ruído ................................................................................................ 29
3.4.1 Noções de Isolamento Acústico e Absorção Sonora ........................................ 30
3.4.2 Controle do Ruído na Fonte ............................................................................. 32
3.4.3 Controle do Ruído no Meio de Propagação ..................................................... 33
3.4.3.1 Redução da Propagação do Som pelo Ar ............................................. 34
3.4.3.2 Redução da Propagação do Ruído pela Estrutura ............................... 35
3.4.4 Controle do Ruído no Receptor ........................................................................ 35
3.4.4.1 Os Protetores Individuais .............................................................................. 36
Capítulo IV - Identificação e Avaliação da Exposição ao Ruído Ocupacional ........... 39
4.1 Avaliação Audiológica .......................................................................................... 40
4.1.1 As Características de uma Boa Avaliação Audiológica ................................... 40
4.1.2 Audiometria Tonal Liminar............................................................................... 41
4.1.3 Audiometria Vocal............................................................................................. 42
4.1.4 Simulação e Dissimulação ............................................................................... 42
4.1.5 Audiometria de Respostas Elétricas do Tronco Encefálico (BERA) ................ 44
4.1.6 Emissões Otoacústicas Aplicadas à PAIRO ..................................................... 46
4.2 Avaliação Ocupacional ......................................................................................... 47
4.2.1 Conceito de Lesão e Incapacidade ................................................................... 49
4.2.2 Critérios das Entidades em Nível Nacional ..................................................... 49
4.3 Avaliação da Exposição ao Ruído ....................................................................... 52
4.3.1 Monitoramento Ambiental de Ruído ................................................................ 52
4.3.2 Monitoramento Pessoal de Ruído .................................................................... 53
4.3.3 Definição de Grupos Homogêneos de Exposição(GHE) ................................. 54
4.3.4 Caracterização e Determinação do Exposto de Maior Risco (EMR) .............. 57
4.3.5 Conceito e uso do Nível de Ação (NA) ............................................................. 58
4.3.6 Tipos de Amostras de Agentes Ambientais ....................................................... 59
4.3.7 Formas Amostrais em Saúde Ocupacional e sua Utilização Segundo o Tipo
de Limite de Exposição.....................................................................................
60
4.3.8 Limites de Exposição Tipo Valor Máximo, Valor Teto..................................... 61
xx
4.3.9 Nota Sobre Avaliações (amostragens) de Situações de “Pior Caso”.............. 62
4.3.10 Análise Estatística Para Limites de Exposição Tipo Média Ponderada ....... 62
4.3.11 Análise Estatística de uma Jornada ............................................................... 63
4.3.12 Verificação de Limites de Exposição Tipo Valor Máximo, Valor Teto ou
TLV-C (ACGIH) Aspectos Gerais e Análise Estatística ..................................
63
4.3.13 Abordagem para o Ruído em Termos de Análise Estatística de Dados
Ambientais .......................................................................................................
64
4.3.14 Tipos de Limites de Exposição Aplicáveis em Saúde Ocupacional ............... 64
4.3.15Monitoramento de Grupos Expostos a Ruído de Impacto .............................. 66
Capítulo V - Fundamentos Teóricos ............................................................................... 67
5.1 Redes Neurais Artificiais ..................................................................................... 67
5.1.1 Redes Biológicas .............................................................................................. 68
5.1.1.1 Neurônios Biológicos ........................................................................... 68
5.1.2 Neurônios Artificiais ........................................................................................ 69
5.1.3 Funções de Ativação ......................................................................................... 70
5.1.4 Arquitetura das Redes Neurais ......................................................................... 72
5.1.4.1 Nodos de Conexão Tipo Feedforward ................................................. 72
5.1.4.2. Nodos de Conexão Tipo Feedback ...................................................... 73
5.1.5 Aprendizado das Redes Neurais Artificiais ...................................................... 74
5.1.5.1 Aprendizado Supervisionado ................................................................ 74
5.1.5.2 Aprendizado Não Supervisionado ........................................................ 75
5.1.5.3 Aprendizado por Reforço ..................................................................... 75
5.1.6 Rede Neural Probabilística (PNN) ................................................................... 76
5.1.7. Método de Classificação de Bayes .................................................................. 77
5.1.8. Método de Estimativa da fdp ........................................................................... 78
5.1.7 Arquitetura e Funcionalidade da Rede Neural Probabilística ........................ 79
5.2 Método de Monte Carlo ....................................................................................... 80
Capitulo VI - Metodologia ............................................................................................... 85
6.1 Definição da Unidade Industrial ......................................................................... 86
6.2 Métodos Analíticos para Identificação dos NWS de Equipamentos ................ 89
xxi
6.2.1 Bombas Hidráulicas ......................................................................................... 89
6.2.2 Motores Elétricos ............................................................................................. 90
6.2.3 Compressores de Ar ......................................................................................... 91
6.2.4 Ventiladores ...................................................................................................... 92
6.3 Métodos Tradicionais para Identificação dos NWS de Equipamentos ........... 93
6.4 Desenvolvimento de Métodos para Identificação dos NWS de Equipamentos 98
6.4.1 Identificação dos NWS Utilizando uma Rotina de Otimização dos NPS
Mapeados ao Redor do Equipamento .............................................................
99
6.4.2 Metodologia de Identificação de NWS de Motores Elétricos .......................... 101
6.5 Avaliação do Programa de Simulação ................................................................ 104
6.5.1 Apresentação da Forma de Simulação.............................................................. 104
6.5.2 Avaliação da Confiabilidade dos Resultados do Programa e
Simulação.........................................................................................................
110
6.5.2.1 Cálculo de Refração em Borda de Barreiras ....................................... 110
6.5.2.2 Avaliação do Módulo de Tratamentos Acústicos ................................. 111
6.6 Metodologias para Estimativa da Rota .............................................................. 114
6.7 Metodologias para Estimativa da Dose .............................................................. 118
6.7.1 Apresentação do Programa de Estimativa de Dose ......................................... 120
Capítulo VII - Resultados e Análises .............................................................................. 123
7.1 Resultados Obtidos com as Ferramentas Computacionais Desenvolvidos na
Coleta de Dados.................................................................................................................
123
7.1.1 Resultado para a Identificação dos NWS Utilizando uma Rotina de
Otimização .......................................................................................................
123
7.1.2 Resultado da Metodologia de Identificação de NWS de Motores Elétricos .... 124
7.2 Resultados da Avaliação da Confiabilidade dos Resultados do Programa e
Simulação ..........................................................................................................................
126
7.2.1 Resultado do Cálculo de Refração em Borda de Barreiras ............................. 126
7.2.2 Resultados para a Avaliação do Módulo de Tratamentos Acústicos do
Programa .........................................................................................................
127
7.3 Análises Preliminares ................................................................................................. 129
xxii
7.4 Aplicação das Metodologias na Planta Industrial ................................................... 131
7.4.1 Níveis de Pressão Sonora na Planta ................................................................ 131
7.4.2 Aplicação das Metodologias na Planta Industrial .......................................... 136
7.4.3 Aplicação da Metodologia na Planta Industrial Levando em Consideração a
Variação dos NPS e da Rota no Método Analítico .........................................
139
7.4.3.1 Estudo de Caso 01: Verificar possível Falha em 2 Queimadores da
Caldeira, no 2º e 3º Piso ......................................................................
140
7.4.3.2 Estudo de Caso 02: Verificar Possível Vazamento no Desaerador .... 141
7.4.3.3 Estudo de Caso 03: Verificar Possíveis Falhas nas Turbinas dos
Equipamentos no Prédio das Turbo Máquinas ...................................
141
7.4.3.4 Estudo de Caso 04: Verificar Possíveis Falhas em 1 dos
Compressores na Área dos Compressores, 1 Bomba na Torre de
Refrigeração e na Turbina de Acionamento do Ventilador da
Caldeira ...............................................................................................
142
Capítulo VIII - Conclusões .............................................................................................. 145
8.1 Proposta para Trabalhos Futuros ....................................................................... 146
Capítulo IX - Referências Bibliográficas ........................................................................ 149
Anexo 01 - Fundamentos e Acústica ............................................................................... 159
A1.1 Acústica Básica ........................................................................................................ 159
A1.2 Propagação do Som no Ar Livre ............................................................................ 163
CAPÍTULO I
Introdução e Motivações para o Trabalho
1.1 Introdução
A poluição sonora, seja ela ambiental ou ocupacional, é uma forma de poluição
bastante disseminada nas sociedades industrializadas, sendo uma das causas de perdas
auditivas em adultos e crianças. Acarreta também comprometimentos não auditivos que
afetam a saúde física geral e emocional dos indivíduos.(Santos, l994 apud Almeida, 1999).
O ruído já faz parte do nosso dia-a-dia. E isso se inicia cada vez mais cedo, pois é
possível observar em gestantes que trabalham expostas a níveis elevados de ruído,
principalmente quando o trabalho é realizado em turnos, desde lesões auditivas irreversíveis
no feto (Lalande; Hetú; Lambert, 1986 apud Brasil, 2006) até problemas na gestação, como
hipertensão, hiperemese gravídica, parto prematuro e bebês de baixo peso (Nurminen; Kurpa,
1989, Nurminen, 1995, Hartikainen et al., 1994 apud Brasil, 2006).
Caso necessite de incubadora, o bebê ficará exposto a níveis de pressão sonora de
aproximadamente 61 dB(A), que podem atingir até 130 ou 140 dB(A), de acordo com as
manobras realizadas (Bess; Finlayson; Chapman, 1979 apud Brasil, 2006). Quando for para
casa, o bebê, e depois a criança, terá ao seu redor brinquedos que podem atingir 100 dB(A)
(Celani, 1991 apud Brasil, 2006) e eletrodomésticos que produzem ruídos de semelhante
intensidade. Na escola, onde permanece em média quatro horas por dia, o ruído pode atingir
até 94 dB(A), com a média de 70 dB(A) (Celani; Bevilácqua; Ramos, 1994, França, 2000,
apud Brasil 2006 e Oliveira Filho et al., 2010). Quando se tornar um adolescente, serão
agregados a essa exposição seus hábitos de lazer (motocicleta, discoteca, walkman) e o ruído
urbano (Brasil, 2006). Ao entrar na fase adulta, esse indivíduo poderá passar de 8 a 12 horas
2
por dia, em média, exposto a elevados níveis de pressão sonora em seu ambiente de trabalho
(Brasil, 2006).
Segundo Brasil (2006) a Conferência da Terra (ECO 92), realizada no Rio de
Janeiro, em 1992, endossou a Agenda 21, um programa de ação mundial para a promoção do
desenvolvimento sustentável, que envolve modificação de conceitos e práticas referentes ao
desenvolvimento econômico e social. Neste contexto, o ruído foi considerado a terceira maior
causa de poluição ambiental, atrás da poluição da água e do ar. O ruído pode ser visto como o
risco de agravo à saúde que atinge maior número de trabalhadores. Estudos apresentados na
ECO 92 indicam que 16% da população dos países ligados à Cooperação de Desenvolvimento
Econômico (ODCE), algo em torno de 110 milhões de pessoas, está exposta a níveis de ruído
que provocam doenças no ser humano. Esse estilo de vida, nem sempre opcional, leva à
incorporação do ruído às nossas vidas, como se fosse algo natural e, portanto, inofensivo.
Esse comportamento, bastante nocivo à saúde, torna-se mais perigoso quando se trata de ruído
no ambiente de trabalho, pela sua intensidade, tempo de exposição e efeitos combinados com
outros fatores de risco, como produtos químicos ou vibração (Silva, 2002 apud Brasil 2006).
Segundo Fernandes (2002), a permanência de pessoas em níveis de ruído elevados
pode causar comprometimentos orgânicos diversos, como hipertensão arterial, estresse,
aumento de tensão muscular e incapacidade de concentração. Também é responsável por
distúrbios auditivos temporários e permanentes. A perda de audição induzida por ruído
ocupacional (PAIRO) é a única patologia causada pelo ruído reconhecida pela legislação
brasileira.
Quando se estuda a perda auditiva de origem ocupacional deve-se levar em
consideração que existem outros agentes insalubres que podem potencializar os efeitos da
exposição ao ruído. Podem ser citados a exposição a certos produtos químicos, as vibrações e
o uso de alguns medicamentos (Brasil, 2006).
Morata e Lemasters (1995) apud Brasil (2006), propuseram a utilização do termo
“perda auditiva ocupacional”, por ser mais abrangente, considerando o ruído, sem dúvida,
como o agente mais comum, mas sem ignorar a existência de outros, com todas as
implicações que estes pudessem originar em termos de diagnóstico, medidas preventivas,
limites de segurança, legislação, dentre outros.
Em relação à psicoacústica, enquanto o som é utilizado para descrever sensações
prazerosas, o ruído é usado para descrever sons indesejáveis ou desagradáveis, o que traz um
aspecto de subjetividade à sua definição. Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é
3
continuada, em média 85 dB(A) durante oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais na
orelha interna, que determinam a ocorrência da Perda Auditiva Induzida pelo Ruído
Ocupacional (PAIRO) (CID 10 – H83.3). A PAIRO é o agravo mais frequente à saúde dos
trabalhadores, estando presente em diversos ramos de atividade, principalmente siderurgia,
metalurgia, gráfica, têxteis, papel e papelão, vidraria, entre outros (Brasil, 2006).
Em 1996, o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) publicou
o Guia Prático para Prevenção de Perda Auditiva Ocupacional, utilizando o termo “perda
auditiva ocupacional”, que incorpora não só a perda auditiva induzida por ruído, mas também
aquelas provocadas por exposições a solventes aromáticos, metais e alguns asfixiantes, além
de vibração, incentivando a pesquisa desses e de outros fatores potencialmente geradores de
perda auditiva (Fiorini; Nascimento, 2001 apud Brasil, 2006).
Agentes químicos ou ambientais podem, em alguns casos, causar perdas auditivas
com as mesmas características audiométricas das perdas por ruído (Morata; Lemasters, 1995
apud Brasil 2006), havendo alta variabilidade entre os casos, a qual pode ser atribuída aos
seguintes fatores: multiplicidade de produtos químicos existentes (com diferentes estruturas
moleculares), diferenças entre ambientes de trabalho, infinitas combinações de produtos
químicos e variações na intensidade e nos parâmetros de exposição – aguda, intermitente ou
crônica (Brasil, 2006).
As investigações publicadas até o momento indicam que os efeitos dos solventes
podem ser detectados a partir de dois ou três anos de exposição, mais precocemente do que os
efeitos do ruído (Morata, 1993; Nudelmann, 1997 apud Brasil 2006). Outro estudo,
entretanto, somente detectou efeito significante dos solventes a partir de cinco anos de
exposição (Jacobsen, 1993 apud Brasil, 2006). A questão da latência depende, certamente, do
produto em consideração e das características da exposição, e necessita ser explorada mais
extensivamente.
As propriedades ototóxicas de produtos químicos industriais e a interação destes com
o ruído somente foram investigadas para um número reduzido de substâncias. Neste cenário,
devem ser obtidas informações sobre a toxicidade e neurotoxicidade das exposições químicas
e das queixas apresentadas pelas populações expostas. Estas servirão para uma avaliação
preliminar de risco potencial à audição, para que então seja possível a tomada de decisões
quanto às medidas de avaliação e prevenção a serem adotadas (Brasil, 2006).
Além dos sintomas auditivos frequentes (perda auditiva, dificuldade de compreensão
de fala, zumbido e intolerância a sons intensos), o trabalhador portador de PAIRO também
4
apresenta queixas, como cefaléia, tontura, irritabilidade e problemas digestivos, entre outros.
Morata e Lemasters (2001) apud Brasil (2006), observaram a importância de estudos sobre a
PAIRO, utilizando o método epidemiológico, o que traz confiabilidade aos resultados obtidos
e permite a reprodução desses mesmos estudos.
Os dados epidemiológicos sobre perda auditiva no Brasil são escassos e referem-se a
determinados ramos de atividades e, portanto, não há registros epidemiológicos que
caracterizem a real situação (Brasil, 2006).
Em um estudo realizado por Corrêa Filho et al. (2002), foi estimada a prevalência de
perda auditiva induzida por ruído e hipertensão arterial em condutores de ônibus urbanos. A
prevalência de perda auditiva induzida por ruído foi de 32,7% do total examinado. Segundo a
classificação de Merluzzi, nos 31 casos classificados em primeiro e segundo graus, observou-
se que a frequência audiométrica com perda auditiva mais acentuada foi a de 6 kHz (61,3%),
seguida pela de 4 kHz (38,7%), sem diferenças significantes quanto à lateralidade. A
prevalência de hipertensão arterial diastólica (PAD≥90 mmHG; PAS≥140 mmHG) foi de
13,2% dos examinados. O risco de disacusia induzida por ruído foi maior para os motoristas
com mais de seis anos de trabalho, após ajuste para a perda relacionada com a idade, com um
odds ratio (OR) de 19,25 (1,59<OR<386,75; p<0,01) para aqueles com mais de 45 anos.
Em outro estudo, realizado por Harger e Barbosa-Branco (2004), foram avaliados
152 trabalhadores de marmoraria com mediana e moda de 30 anos e média de tempo de
exposição ocupacional ao ruído de 8,3 anos ± 6,8. Das audiometrias avaliadas, 48%
apresentaram algum tipo de perda auditiva. Dentre os alterados, 50% apresentaram
audiogramas compatíveis com perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional (PAIRO) e
41% com início de PAIRO. Entre os trabalhadores com PAIRO, 57,1% apresentaram
alteração bilateral, 17,1% em orelha direita e 25,7% em orelha esquerda. Entre aqueles com
início de PAIRO, 13,9% foram bilaterais, 19,4% em orelha direita e 66,7% em orelha
esquerda.
Caldart et al. (2006) realizou um estudo transversal em amostra causualizada de 184
trabalhadores do setor têxtil, divididos proporcionalmente em cada setor, avaliados através de
entrevista, exame otoscópico e audiometria ocupacional. A prevalência de PAIRO foi 28,3%,
com predomínio de perdas auditivas de grau l (46,2%), segundo a classificação de Merluzzi.
Os sintomas mais freqüentes foram hipoacusia (30,8%), dificuldade de compreensão da fala
(25%), zumbido (9,6%), plenitude auricular (5,8%), tontura (3,8%) e otalgia (3,8%). O setor
com maior índice de PAIRO foi engenharia industrial com 44,4%, seguidos da fiação com
5
38,9% e tecelagem com 38,8%, BET (beneficiamento, estamparia e tinturaria) com 23,8% e
administração com 3,8%. A faixa etária mais acometida foi de 50 a 64 anos. Os trabalhadores
com mais de 20 anos de empresa foram os mais afetados (42,9%). A ocorrência de PAIRO
foi significativa no grau l, associada à hipoacusia. Os setores de maior risco na indústria são a
engenharia, fiação e tecelagem. Houve um aumento dos casos com a idade e tempo de
exposição.
Nota-se que os dados disponíveis sobre as ocorrências dão uma idéia parcial da
situação de risco relacionada à perda auditiva (Brasil, 2006).
Estima-se que 25% da população trabalhadora exposta (Bergström; Nyström, 1986;
Carnicelli, 1988; Morata, 1990; Próspero, 1999 apud Brasil, 2006) seja portadora de PAIRO
em algum grau. Apesar de ser o agravo mais frequente à saúde dos trabalhadores, ainda são
pouco conhecidos seus dados de prevalência no Brasil. Isso reforça a importância da
notificação, que torna possível o conhecimento da realidade e o dimensionamento das ações
de prevenção e assistência necessárias (Brasil, 2006).
Alguns trabalhos foram publicados com o objetivo de se estudar a possibilidade de
desenvolvimento de medicamentos capazes de limitar os danos do aparelho auditivo
provocados pela exposição ao ruído (Abdulla, 1998; Scheibe et al., 2001; Campbell et al.,
2002). Trata-se de explorar novos caminhos na manipulação dos mecanismos de proteção
endógenos da cóclea, de forma a salvaguardá-la de uma espécie de excitotoxicidade (Kopke et
al., 2000). Este desenvolvimento vai mais longe, surgindo trabalhos com o objetivo de
restaurar as células ciliadas por intermédio da manipulação genética. Segundo notícias
publicadas na imprensa (Diário Digital, 2000), foram realizados testes com ratos em que, por
manipulação genética, foi possível reconstituir ou regenerar algumas das células ciliadas
destes.
Em termos de investigação neste campo, o desenvolvimento tem sido exponencial,
sendo já identificados cerca de 40 genes relacionados com a perda auditiva hereditária, dos
quais 10 durante os anos de 98 e 99 (Hallworth, 2000). Assim, estimam-se desenvolvimentos
acerca da compreensão dos mecanismos biológicos subjacentes à grande variabilidade inter-
individual na susceptibilidade aos efeitos do ruído, referindo-se exemplos como a utilização
de marcadores genéticos para previsão da susceptibilidade individual (Quarantana et al.,
2000).
Mas os avanços referidos não podem levar a pensar que o problema da exposição a
ruído ocupacional está resolvido. Se, por um lado, são inúmeras as soluções técnicas de
6
combate ao ruído, o mesmo não se passa com a formação dos trabalhadores e a sensibilização
para a adoção de comportamentos preventivos (Berger, 2001). Deve-se levar em consideração
que um projeto ou procedimento para o controle dos níveis de ruído deve ser iniciado na
própria fonte geradora e não no funcionário.
As técnicas de controle de ruído vêm sendo desenvolvidas ao longo dos anos,
embora ainda sejam, em sua grande maioria, específicas de cada caso. Isso devido às
particularidades de diversas características como as instalações industriais, a localização e o
tipo de máquinas ruidosas e as condições sócio-econômicas e do meio ambiente (Mello,
1999).
Em parte por essa especificidade, mas também pelo descaso com as questões da
saúde dos trabalhadores, atingiu-se uma situação crítica, a qual tem provocado manifestações
e ações de cientistas e instituições. Roth (1999) afirma que este é o momento para agir no
controle de ruído industrial. A própria Organização Mundial da Saúde publicou um livro
sobre o assunto contando com a participação de alguns dos mais importantes pesquisadores da
área (Goelzer et al., 2000).
Segundo Araújo Filho (2005), adquirir máquinas e elaborar processos silenciosos,
tanto em novas fábricas como na substituição ou ampliação de instalações existentes, garante
um ambiente industrial com nível de ruído adequado. Contudo na prática, nem sempre isso é
possível, pois existe uma grande dificuldade em se adquirir equipamentos que geram baixo
nível de ruído. Além disso, o ruído gerado pelas máquinas industriais depende, muitas vezes,
das suas condições específicas de instalação e de operação. O comprador pode também ter
dificuldades para analisar o produto entregue pelo fabricante, devido à falta de equipamento
ou de conhecimento para a avaliação em uma situação não tão simples, como por exemplo, na
presença de outras máquinas ruidosas. Assim, quando o controle não é feito no projeto, é
necessário partir para a adoção de medidas corretivas de redução do ruído.
Junto com a geração do ruído, começa-se a registrar no ser humano as primeiras
consequências decorrentes da sua exposição. Desenvolveram-se então as técnicas para
proteger a audição humana, e muitos tipos e formas de protetores auditivos foram
disponibilizados no mercado para uso, de forma a satisfazer as mais diferentes situações.
Protetores auditivos de uso individual apresentam-se como um dos dispositivos mais comuns,
econômicos e práticos para reduzir a dose de ruído, até que ações técnicas de controle do
ruído sejam tomadas para reduzi-lo aos limites recomendados por norma (Riffel, 2001).
7
Mesmo com a diversificação dos tipos de protetores, as queixas mais comuns com
relação ao uso dos mesmos são o desconforto, a dor além da dificuldade para ouvir os outros e
o ruído das máquinas ou sinais de alerta (Casali, 1998 apud Riffel 2001). Do ponto de vista
tecnológico, durante os últimos 40 anos, observamos que a tecnologia nesta área apresentou
poucas alterações. Naturalmente houve algumas exceções como o surgimento de novos e
resistentes polímeros como a espuma e os plásticos moldáveis na década de 70 e o
desenvolvimento dos protetores auditivos do tipo ativo com componentes eletrônicos e os
com atenuação plana, na década de 80 (Berger, 1991 apud Riffel 2001). Após este avanço os
estudos foram direcionados à proteção real oferecida, ao conforto, à conscientização e ao
treinamento dos usuários de protetores auditivos (Riffel, 2001).
Segundo Fernandes (2002), a Norma NBR-10.152 “Níveis de Ruído para Conforto
Acústico” fixa limites de ruído visando o conforto ambiental. Para avaliação da insalubridade
por ruído em locais de trabalho, a Consolidação das Leis do Trabalho, na Portaria 3.214, NR-
15, estabelece os limites de exposição ao ruído para trabalhadores brasileiros, visando
protegê-los de danos auditivos. Tal Portaria ainda constitui um enorme avanço para a
prevenção das doenças ocupacionais, incluindo as disacusias sensórioneurais ocupacionais
por ruído. Esta Portaria, através da NR-7, estabelece a obrigatoriedade dos exames
audiométricos admissionais, periódicos e demissionais sempre que o ambiente de trabalho
apresentar níveis de pressão sonora superiores a 85 dB(A) em 8 horas contínuas de exposição.
Estabelece limites de exposição e diferencia ruídos contínuos e impulsivos.
A Norma ISO 1999 (1990) atribui uma forma de cálculo para a previsão de risco de
perda auditiva à população exposta, de acordo com a faixa etária e exposição, segundo o nível
de pressão sonora equivalente contínuo - Leq de 8 horas diárias de exposição. Além da
atribuição do risco, determina a perda auditiva de uma população otologicamente normal não-
exposta ao ambiente ruidoso (Almeida, 2000).
A Norma de Higiene Ocupacional NHO 01 de 2001 redigida pela FUNDACENTRO
estabelece critérios e procedimentos para a avaliação da exposição ocupacional ao ruído, que
implique risco potencial de surdez ocupacional. Ainda introduz o conceito de nível de
exposição como um dos critérios para a quantificação e caracterização da exposição
ocupacional (dose) ao ruído contínuo ou intermitente, além de considerar a possibilidade de
utilização de medidores integradores (dosímetros) ou ainda medidores de leituras instantâneas
(decibelímetros) com o auxílio e um cronômetro.
8
Apesar de propiciar uma avaliação segura e posterior melhoria nas condições de
trabalho dos colaboradores, fica evidente que é necessário a exposição ao ruído do
colaborador em sua rotina de trabalho para que seja realizado o procedimento.
Foram realizados trabalhos de campo em diversas indústrias pelo Laboratório de
Acústica e Vibrações (LAV) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), sendo verificado
que, definindo postos de trabalho fixos ou delimitados por pequenas áreas, torna-se mais fácil
a hierarquização das principais fontes de ruído responsáveis pelo aumento da dose de
exposição ao ruído, facilitando então a escolha de tratamentos acústicos adequados. Contudo,
quando a rotina de trabalho do funcionário é defina para uma unidade ou parte dela, sendo
necessários deslocamentos significativos, a identificação das principais fontes de ruído se
torna mais difícil. Ainda pôde-se contatar que, para estas grandes áreas, a rota do funcionário
não era pré-definida, sendo passível de uma otimização para reduzir a dose exposição ao
ruído.
Também foram realizados trabalhos de previsão de impacto ambiental, quanto ao
ruído gerado, para novas unidades de processo. Nestes trabalhos foi verificada a necessidade
de troca de determinados equipamentos por outros que emitissem menor nível de ruído, além
de ser possível organizar a rotina de trabalho do funcionário juntamente com modificações na
disposição dos equipamentos visando uma menor dose de exposição ao ruído.
Visando evitar tal exposição, foi levantada a hipótese de se criar um sistema de
previsão da dose antes mesmo da execução da tarefa, sendo constatada a não existência de
nenhuma linha de pesquisa sobre tal assunto.
Sabe-se que, para o cálculo da dose de exposição ao ruído ocupacional, é necessário
o conhecimento de pelo menos três dados:
1. Os níveis de pressão sonora no ambiente de trabalho do colaborador ou grupo
homogêneo analisado;
2. A rota traçada pelo colaborador durante sua rotina de trabalho;
3. O tempo gasto pelo colaborador em cada uma das atividades realizadas durante
sua jornada de trabalho.
O cálculo da dose é realizado para um grupo homogêneo específico, formado por
colaboradores lotados em um mesmo nicho, com as mesmas funções e tarefas.
Quando se analisa um grupo homogêneo, deve ser levado em consideração que
existem pessoas de diferentes perfis, sendo algumas mais rápidas e outras mais lentas na
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execução de tarefas, contudo a dosimetria de um único componente desse grupo é
representativa de todos os outros membros do mesmo grupo.
Uma observação que deve ser feita sobre o método é que não é levada em
consideração a possibilidade de intervenções fora da rotina de trabalho do colaborador, por
exemplo, algum problema ocorrido no funcionamento da planta, liberação de área ou de
serviço, dentre outros.
O que se pretendeu com o desenvolvimento deste trabalho foi prever um intervalo de
confiança para dose de exposição ao ruído para o colaborador ou grupo homogêneo,
utilizando para tanto somente os três dados já listados, mas cujo resultado consiga englobar
qualquer interferência na rotina de trabalho, não sendo então tendencioso à rotina
propriamente dita.
A metodologia utilizou uma rede neural probabilística e a relação entre a distância de
cada ponto da rota a cada um dos pontos que formam a planta analisada para a previsão da
probabilidade de o colaborador estar em cada um destes pontos durante a jornada de trabalho.
Foi verificada a necessidade de se realizar variações de até 6 dB(A) nos níveis de
ruído do ambiente de trabalho, uma vez que tal variação foi constatada em plantas industriais
de acordo com a carga de operação e demanda de produção em um intervalo de 15 dias de
acompanhamento.
Através do Método de Simulação de Monte Carlo, consegue-se analisar as
características estatísticas da distribuição, pela aproximação desta com uma distribuição
Normal, sendo então possível estimar o intervalo com o nível de confiança desejado.
1.2 Objetivos do Trabalho
Propõe-se neste trabalho o desenvolvimento de uma metodologia estatística que
possibilite, através do mapeamento e ou identificação das fontes de ruído no ambiente de
trabalho, além do conhecimento prévio da rotina de trabalho do colaborador, estimar um
intervalo de confiança para a dose virtual de exposição ao ruído ocupacional.
10
1.4 Estrutura do Trabalho
• No primeiro capítulo é apresentada uma introdução contendo os principais
estudos realizados acerca do tema em questão, obstáculos encontrados na área
e identificação de possíveis falhas, além dos objetivos, justificativas e
motivações para o desenvolvimento do trabalho.
• No segundo capítulo é apresentado um resumo acerca da morfologia e
fisiologia do sistema auditivo humano.
• O terceiro capítulo conceitua o ruído, seus efeitos no homem, os limites
aceitáveis e algumas formas de controle.
• O quarto capítulo apresenta uma breve abordagem sobre identificação e
avaliação da Perda Auditiva Induzida pelo Ruído Ocupacional (PAIRO), sobre
os principais exames audiométricos e como definir grupos homogêneos de
avaliação e exposição.
• O quinto capítulo apresenta uma breve abordagem sobre Redes Neurais
Artificiais e o Método de Simulação de Monte Carlo, seus conceitos e
principais formulações.
• No sexto capítulo são apresentados a metodologia e procedimentos utilizados
durante a coleta de dados, montagem e escolha do banco de dados, trabalhos
desenvolvidos durante a elaboração da Tese bem como a caracterização da
planta industrial utilizada no desenvolvimento do trabalho.
• No sétimo capítulo é apresentada a metodologia desenvolvida e a aplicação em
uma planta industrial fictícia, bem como as análises e discussões dos
resultados.
• No oitavo capítulo são apresentadas as conclusões obtidas no trabalho.
• O trabalho se encerra no nono capítulo, que traz as referências bibliográficas
utilizadas no estudo.
CAPÍTULO II
Morfologia e Fisiologia do Sistema Auditivo Humano
Este capítulo foi elaborado tomando como referência os livros “Tratado de Fisiologia
Médica” (Guyton e Hall, 2006), “The Noise Manual” (AIHA, 2003), “PAIR - Perda Auditiva
Induzida pelo Ruído” (Nudelmann et. Al, 1997), “Engineering Noise Control” (Bies e
Hansen, 2003), o protocolo “Perda Auditiva Induzida por Ruído” (PAIR) (Brasil, 2006) e o
Manual de Consenso “O Estudo do Ruído” elaborado pelo Grupo de Especialistas em Saúde
Ocupacional de Jundiaí. Preferiu-se citar as referências no início do capítulo para evitar
possíveis cruzamentos ou omissões destas no desenvolvimento do texto.
2.1 Introdução
O sistema auditivo humano, Fig. 2.1 (retirada de http://ouveosilencio.wordpress.com/
surdez/ morfologia-do-ouvido/ acessado em 15/03/2011), está contido no osso temporal e tem
como funções principais o equilíbrio e a audição. Para efeitos didáticos é dividido em três
partes: orelha externa, orelha média e orelha interna.
12
Figura 2.1 – Sistema Auditivo Humano.
2.2 Orelha Externa
A orelha externa, Fig. 2.2 (retirada de http://www.maxisocial.com/forum/pediatria/
audicao-t554.html acessado em 15/03/2011), é constituída de:
13
Figura 2.2 – Orelha externa.
• Pavilhão: apêndice flexível de fina cartilagem elástica recoberta de pele. Em sua
porção anterior, a pele adere firmemente, enquanto posteriormente, entre ela e a
cartilagem, interpõe-se uma camada de tecido conjuntivo subcutâneo.
Sua função é coletar e encaminhar as ondas sonoras até a orelha média. O papel
do pavilhão como captador de ondas sonoras tem valor relativo, pois a ausência
do pavilhão não é incompatível com boa acuidade auditiva. Sua forma,
dependendo da posição do ouvinte em relação à fonte sonora pode ser responsável
por um acréscimo de 7 a 10 dB(A) na faixa de frequência de 2 a 5 kHz.
Ainda contribui para a localização da fonte sonora (frente/atrás e direita/esquerda)
e para discriminar mudanças na elevação da fonte sonora (acima/abaixo).
• Meato acústico externo (canal auditivo): canal que se estende desde a concha
(lateralmente) até a membrana do tímpano (medialmente). Apresenta trajeto
sinuoso, possui uma porção cartilaginosa e uma óssea, é recoberto por pele, possui
pêlos e glândulas produtoras de cera.
Seu trajeto sinuoso determina a reflexão das ondas sonoras em suas paredes, o que
contribui para proteger o aparelho auditivo contra o traumatismo dos sons de alta
intensidade. A principal função do meato acústico externo, no entanto, é a de
proteger a membrana do tímpano na profundidade e manter certo equilíbrio de
temperatura e umidade necessário à preservação da mesma. Atua como um
ressoador, aumentando, quando necessário, a intensidade sonora sobre a
14
membrana do tímpano, principalmente para os sons de frequência entre 2 e 5,5
kHz.
2.3 Orelha Média
Desempenha a função primordial de transmissão da onda sonora.
A orelha média, Fig. 2.3 (retirada de http://www.maxisocial.com/forum/pediatria/
audicao-t554.html acessado em 15/03/2011), é constituída de:
Figura 2.3 – Orelha média.
• Cavidade timpânica: é descrita como sendo um espaço irregular entre a orelha
externa e a orelha interna. Esta cavidade é revestida por uma mucosa que envolve
um espaço arejado, onde se encontra a cadeia ossicular.
• Membrana Timpânica: representa uma parede comum ao meato acústico externo
e cavidade. É como um disco semitransparente de forma elíptica. Tem duas partes,
a parte tensa e a parte flácida sendo que a maior delas é a tensa.
A tensão da membrana do tímpano, que é assegurada pela sua camada média de
fibras, proporciona ótimas condições vibratórias. Sob o efeito do impacto de
ondas sonoras sucessivas, a membrana do tímpano vibra no seu todo. Além da
função vibratória desempenha o papel de anteparo protetor da janela redonda, de
15
modo que as ondas sonoras atingem a membrana da referida janela com a pressão
acústica reduzida ao mínimo e em oposição de fase em relação às ondas sonoras
que chegam à janela oval.
• Ossículos da orelha média: são três ossículos móveis. Eles se estendem desde a
membrana do tímpano até a janela oval, colocando as duas estruturas em contato,
a fim de transmitir as vibrações da membrana.
Um dos ossículos, o martelo, tem uma de suas extremidades ligada à porção mais
central da membrana timpânica e a outra se encontra ligada a outro ossículo
chamado bigorna e, este por sua vez articula-se com o terceiro ossículo da cadeia,
chamado estribo, cuja base está inserida na janela oval.
A cadeia ossicular encontra-se suspensa por uma série de ligamentos. Estes
ligamentos, e o formato dos ossículos, lhes permitem um padrão característico de
movimentação.
A orelha média serve para corrigir a referida perda que se verifica no trânsito das
ondas sonoras do meio aéreo para o líquido labiríntico.
Como a transmissão do som de um meio aéreo (orelha média) para um meio
líquido (orelha interna) é ineficiente (há uma perda de energia correspondente a
30 dB(A)) devido a grande diferença de mobilidade entre os dois meios, a cadeia
ossicular atua como um transformador mecânico que equaliza as impedâncias.
A diferença de área da estrutura que recebe as ondas de pressão sonora (a
membrana timpânica tem 55 mm2) e a estrutura que transmite essas ondas à orelha
interna (base do estribo na janela oval com 3,2 mm2) requer uma movimentação
como de alavanca, que é realizada pela cadeia ossicular.
O sistema ossicular de alavanca aumenta a força de transmissão da membrana
timpânica em 1,3 vezes. Esta relação, multiplicada pela diferença de área entre a
membrana timpânica e a placa do estribo, que é de aproximadamente 17 vezes, faz
com que a pressão sobre o líquido da cóclea seja aproximadamente 22 vezes
maior que a exercida pela onda sonora na membrana timpânica.
• Músculos da orelha média:
- Tensor do tímpano (martelo): “empurra” o estribo para o interior do vestíbulo
aumentado a tensão perilinfática. Provoca maior rigidez no sistema e reduz a
transmissão de sons principalmente de baixas frequências, menor que 1 kHz.
16
- Músculo estapédio (estribo): mascara os sons de baixa frequência, em ambientes
ruidosos, permitindo melhor desempenho auditivo nas frequências da fala; atenua
nossa própria voz quando chega à orelha e protege contra os sons de grande
intensidade. A atenuação oferecida varia de 15 a 33 dB(A).
• Antro mastóideo (e espaços anexos): uma pequena abertura denominada ádito do
antro na parte superior da parede posterior do recesso epitimpânico, comunica-se
com uma câmara conhecida como antro mastoídeo. Seu tamanho pode ser
comparado ao de um feijão, mas varia muito em função da pneumatização da
mastóide. Situa-se atrás e um pouco acima da cavidade timpânica e é revestido
por um mucoperiósteo semelhante ao da cavidade e nele abrem-se numerosas
células.
• Tuba auditiva (ou trompa de Eustáquio): sua função é a de manter o arejamento
das cavidades da orelha média, o que é assegurado graças à abertura intermitente
da tuba no ato de deglutir, bocejar ou espirrar. Permite a orelha média igualar a
pressão ao meio atmosférico (orelha externa). Quando a pressão da orelha externa
é igual da orelha média, a vibração da unidade tímpano-ossicular ocorre em toda
sua amplitude, transmitindo para a orelha interna o máximo de ganho auditivo.
2.3.1 Fisiopatologia da Transmissão Sonora
As diversas lesões anatomopatológicas da orelha média podem trazer repercussões
negativas sobre a capacidade auditiva.
• Perfurações da membrana do tímpano: A perda de substância decorrente da
perfuração vai reduzir a área vibratória normal da membrana e, portanto, a relação
de superfície com a platina do estribo, determinando perdas auditivas que
dependem do diâmetro da perfuração.
• Lesões osteísticas da cadeia ossicular: tais lesões podem levar a destruição total
dos ossículos. O ramo longo da bigorna, devido sua deficiente vascularização é o
mais vulnerável aos processos osteísticos. Sua destruição isolada pode acarretar
uma perda auditiva em torno de 60 dB(A).
• Fixação da cadeia ossicular: A cadeia ossicular pode estar íntegra do ponto de
vista anatômico, mas estar bloqueada em seus movimentos total ou parcialmente,
trazendo distúrbios mais ou menos intensos de transmissão sonora, dependendo de
vários fatores lesivos.
17
• Obstrução da janela redonda: Trará perda auditiva somente nos casos de
bloqueio total por invasão de tecido ósseo ou fibroso cicatricial
• Obstruções tubárias: As obstruções da tuba auditiva, parciais ou totais, reduzindo
ou anulando a entrada de ar na cavidade do tímpano, vão diminuir em grau
variável, a capacidade vibratória dos elementos integrantes do sistema tímpano-
ossicular, acarretando perdas auditivas de graus variáveis.
• Secção do músculo estapédio: ocorre nas cirurgias de otosclerose, como
consequência podem surgir hiperacusias dolorosas que, não chegam a ter grande
significado clínico pois o organismo estabelece recursos de adaptação e hábito ao
fim de poucas semanas.
2.4 Orelha Interna
A orelha interna, Fig. 2.4 (retirada de http://www.maxisocial.com/forum/pediatria/
audicao-t554.html acessado em 15/03/2011), localiza-se na porção petrosa do osso temporal e
engloba os órgãos da audição e do equilíbrio.
Figura 2.4 – Orelha interna.
Consiste em:
18
• Labirinto endolinfático (membranoso): sistema de canais e tubos epiteliais,
repleto de endolinfa. É quase totalmente envolvido pelo labirinto perilinfático e
seu tecido de sustentação. Suas partes principais são: utrículo, sáculo, ducto e saco
endolinfático, ductos semicirculares e suas ampolas e ducto coclear.
No assoalho do ducto coclear encontra-se o órgão de Corti que contém células
altamente especializadas, as células ciliadas, que são elementos sensoriais. Os
grandes aperfeiçoamentos do sistema auditivo humano foram no sentido de
proporcionar melhor discriminação, ou seja, a capacidade de distinguir pequenas
alterações de intensidade, frequência e tempo, o que permitiu o advento da
comunicação humana.
• Labirinto perilinfático (ósseo): é um arcabouço separado do osso petroso e é a
cápsula ótica original. Divide-se em: vestíbulo, canais semicirculares e cóclea.
- Vestíbulo: é uma câmara ovóide que está em contato com a cóclea e recebe as
terminações dos canais semicirculares. Nele encontram-se várias aberturas: para o
nervo, para o aqueduto do vestíbulo, para os canais semicirculares, cóclea e janela
oval.
- Canais semicirculares: são três canais ósseos, cada um desenha dois terços de um
círculo e situa-se em ângulo reto um do outro, como os cantos de um cubo.
- Cóclea: possui duas e meia espiras enroladas ao redor de uma área central, o
modíolo, onde se encontram as fibras do nervo coclear e as células do gânglio de
Corti. Os cortes da cóclea através do modíolo mostram a sua divisão em três
partes ou escalas: a escala vestibular, ligada ao estribo, a escala timpânica,
relacionada à janela redonda e a escala média ou ducto coclear, onde se encontra o
órgão de Corti.
• Cápsula ótica: envolve o labirinto e é uma categoria óssea essencial pois se
ossifica de numerosos centros, os centros unem-se sem formar suturas, deriva-se
de cartilagem e tem seu máximo desenvolvimento no quinto mês de gestação.
É o segmento do aparelho auditivo, que realiza a transdução das vibrações
sonoras, que se transformam em estímulos nervosos específicos para o nervo
acústico, que leva os impulsos aos centros corticais da audição, onde se dá o
fenômeno consciente da sensação sonora.
19
2.5 Etapas da fisiologia auditiva
As ondas sonoras atingem a orelha externa, o som é conduzido pelo conduto auditivo
externo até a membrana timpânica resultando em movimentação da membrana timpânica e da
cadeia ossicular que geram um deslocamento da platina do estribo na janela oval e um
deslocamento em sentido oposto da membrana da janela redonda. Os líquidos labirínticos
também são movimentados.
A movimentação da perilinfa gera as ondas de propagação perilinfática. Cada
frequência sonora transmitida pela perilinfa provoca excitação máxima em determinada área
da membrana basilar. Os sons agudos têm seu ponto máximo de amplitude próximo à base, os
sons médios no ponto médio e os sons graves próximo ao ápice.
A cóclea ativa: nos últimos dez anos os conceitos sobre a fisiologia coclear se
modificaram fundamentalmente. No órgão de Corti existem dois sistemas de células ciliadas:
o das células ciliadas externas e o das células ciliadas internas. Existem diferenças anatômicas
entre elas que têm implicações na fisiologia coclear.
As células ciliadas externas têm uma função ativa e capacidade de contração. A
energia mecânica liberada na contração destas células é responsável pelas otoemissões
acústicas. Elas funcionam como um amplificador coclear e seriam capaz de acurada
seletividade frequencial. Tornam a cóclea um verdadeiro amplificador mecânico permitindo
um aumento de até 50 dB na intensidade de um estímulo.
As células ciliadas internas são transdutores sensoriais, os verdadeiros receptores da
mensagem sonora, produzindo codificação em mensagem elétrica que seria enviada pelas vias
nervosas aos centros auditivos do lobo temporal. Apresentam uma seletividade de frequência
fina muito maior que as células ciliadas externas
2.5.1 Etapas da Fisiologia Coclear
- Primeira etapa – transdução mecanoelétrica nas células ciliadas externas:
As vibrações mecânicas da membrana basilar e órgão de Corti provocadas pelas
vibrações da perilinfa determinariam deslocamentos das células ciliadas externas
acopladas à membrana tectória, desencadeando a sua despolarização e
hiperpolarização. Neste mecanismo de vibração há uma seletividade de frequências
imprecisas. Há aparecimento de potenciais elétricos receptores, como os potenciais
microfônicos cocleares.
20
- Segunda etapa – transdução eletromecânica (ativa) nas células ciliadas externas:
Os potenciais elétricos formados provocariam contrações mecânicas rápidas das
células ciliadas externas. Estas contrações constituem a base da eletromotilidade e
ocorrem em fase com a frequência sonora estimulante. A membrana tectória que
está presa aos cílios das células ciliadas externas também se contrai. Este
mecanismo constitui a base do funcionamento do amplificador coclear ativo.
- Terceira etapa – transdução eletromecânica nas células ciliadas internas:
O mecanismo ativo das células ciliadas externas provoca o contato dos cílios mais
longos das células ciliadas internas com a membrana tectória e a consequente
inclinação dos mesmos. Esta inclinação determina a despolarização das células
ciliadas internas, sendo liberados neurotransmissores e ocorrendo a formação de
uma mensagem sonora codificada em impulsos elétricos, que é transmitida ao
sistema nervoso central pelo nervo acústico.
2.6 Fisiopatologia decorrente do ruído
2.6.1 Alterações Cocleares
• Temporárias: Durante os desvios temporários dos limiares auditivos há alterações
discretas nas células ciliadas, edemas nas terminações nervosas auditivas,
alterações vasculares, exaustão metabólica, modificações químicas intracelulares,
diminuição da rigidez dos estereocílios, alterações do acoplamento entre cílios e
membrana tectorial. Na maior parte das vezes, as alterações são reversíveis,
havendo recuperação do limiar mesmo com presença de células lesadas.
• Permanentes: Durante os desvios permanentes dos limiares auditivos ocorrem
alterações no fluxo coclear, alterações nos estereocílios (amolecimento, colapso,
fusão, alongamento), aumento do número de células ciliadas lesadas ao longo da
exposição, com redução dos processos ativos das células ciliadas externas, como a
capacidade de contração rápida destas células, ocorrendo a degeneração de fibra
nervosa do órgão de Corti. Quando estas alterações histológicas ocorrem, não há
possibilidade de recuperação dos limiares auditivos.
CAPÍTULO III
Ruído: Caracterização e Efeitos sobre o Homem
3.1 Definição
Segundo Mello (1999), o termo “som” é utilizado para as sensações prazerosas,
como música ou fala; mas, para ser percebido, é necessário que esteja dentro de uma faixa de
frequência captável pelo mecanismo de audição. Esta faixa de audição compreende a área de
frequências de 20 a 20000 Hz. Ele é definido como variação de pressão atmosférica dentro
dos limites de amplitude e banda de frequências aos quais a orelha humana responde. É uma
variação de pressão que ocorre em meios elásticos, propagando-se em forma de ondas ou
oscilações mecânicas longitudinais e tridimensionais, que produz uma sensação auditiva
(Mello, 1999).
Um ruído é apenas um tipo de som, mas um som não é necessariamente um ruído.
Almeida et al. (1995) relata que, em 1978, a ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas) definiu ruído como sendo um fenômeno acústico dissonante ou anárquico,
aperiódico e indesejável; mistura de sons cujas frequências diferem entre si por valor inferior
à discriminação em frequências da orelha. O ruído é uma onda sonora aperiódica e, sendo
assim, é muito difícil ou quase impossível prever a forma da onda em um intervalo de tempo,
a partir do conhecimento de suas características, durante outro intervalo de tempo de igual
duração. O movimento vibratório de uma onda aperiódica como o ruído ocorre ao acaso, é
aleatório e, por esta razão, imprevisível (Mello, 1999).
Russo (1993) conceituou o ruído, segundo diferentes critérios de classificação:
• Subjetivamente, o ruído é um som desagradável e indesejável.
22
• Objetivamente, o ruído é um “Sinal acústico aperiódico, originado da
superposição de vários movimentos de vibração com diferentes frequências, as
quais não apresentam relação entre si” (Feldman; Grimes, 1985 apud Russo,
1993).
• Quantitativamente, o ruído é definido pelos atributos físicos indispensáveis para o
processo de determinação da sua nocividade – sua duração em tempo, espectro de
frequência e intensidade.
• Qualitativamente, de acordo com a Norma ISO 2204/1973 (International Standard
Organization), os ruídos podem ser classificados segundo a variação de seu nível
de intensidade com o tempo em:
- Contínuos: ruído com variações de níveis desprezíveis durante o período
de observação;
- Intermitentes: ruído cujo nível varia continuamente de um valor apreciável
durante o período de observação;
- De impacto: ruído que se apresenta em picos de energia acústica de
duração inferior a um segundo. O ruído de impacto é um fenômeno
acústico associado a explosões e é considerado um dos tipos de ruídos
mais nocivos à audição, com intensidades, que variam de 100 dB para o
ruído de impacto e acima de 140 dB para o ruído impulsivo (Feldman e
Grimes, 1985, apud Russo, 1993).
3.2 Efeitos do Ruído na Audição
O ruído não prejudica somente a audição, apesar de seus efeitos serem percebidos e
bem caracterizados nesse sentido; seus efeitos dependem da intensidade e da duração da
exposição (Mello, 1999).
Okamoto e Santos (1996) afirmam que o estímulo auditivo, antes de chegar ao córtex
cerebral, passa por inúmeras estações subcorticais, principalmente pelas funções vegetativas,
que explicam os efeitos não-auditivos induzidos pelo ruído.
23
3.2.1 Efeitos Auditivos
3.2.1.1 Perda Auditiva
Segundo Mello (1999), a ação do ruído sobre a audição pode ocasionar uma perda
auditiva por dois mecanismos:
a) por exposição aguda – conhecida como trauma acústico;
b) por exposição crônica – trata-se da perda auditiva induzida pelo ruído.
Os indivíduos afetados começam a ter dificuldades para perceber os sons agudos, tais
como os de telefones, apitos, tique taque do relógio, campainhas, dentre outros. E logo a
deficiência se faz extensiva até a área média do campo audiométrico, comprometendo
frequências da chamada zona de conversação, e consequentemente afetando o reconhecimento
da fala (Werneer et al. 1990 apud Nudelmann et al., 1997).
A perda auditiva induzida pelo ruído pode ser classificada em três tipos: trauma
acústico, perda auditiva temporária e perda auditiva permanente.
• Trauma Acústico (Saliba, 2008): O trauma acústico consiste numa perda auditiva de
instalação súbita, provocada por ruído repentino e de grande intensidade, como uma
explosão ou uma detonação. Em alguns casos, a audição pode ser recuperada total ou
parcialmente com tratamento (antiinflamatórios expansores do plasma e ativadores da
micro circulação). Eventualmente, o trauma acústico pode acompanhar-se de ruptura
da membrana timpânica e/ou desarticulação da cadeia ossicular, o que pode exigir
tratamento cirúrgico.
• Perda Auditiva Temporária (Saliba, 2008): A perda auditiva temporária, conhecida
também como mudança temporária do limiar de audição, ocorre após a exposição a
ruído intenso, por um curto período de tempo. Um ruído capaz de provocar uma perda
temporária será capaz de provocar uma perda permanente, após longa exposição.
Entretanto, os mecanismos de perda são distintos nas duas situações, e as alterações
observadas no órgão de Corti são de natureza diferente.
• Perda Auditiva Permanente (Saliba, 2008): A exposição repetida ao ruído excessivo
pode levar, ao cabo de alguns anos, a uma perda auditiva irreversível – permanente.
Como sua instalação é lenta e progressiva, a pessoa só se dá conta da deficiência
quando as lesões já estão avançadas. A audiometria exibe um traçado bem
característico, com um entalhe inicial em torno de 4000 e 6000 Hz. Com a
continuação da exposição sem proteção, o entalhe tende a se aprofundar e a se alargar
24
na direção das frequências vizinhas. Na maioria das vezes, a perda é bilateral e mais
ou menos simétrica, mas isso pode não ocorrer em todos os casos.
3.2.1.2 Zumbido
Segundo Mello (1999), os zumbidos ou acufenos ou tinnitus são um sintoma e não
uma doença. Essa sua característica subjetiva leva à incapacidade de mensurá-los
objetivamente. Constituem-se queixa constante em trabalhadores com lesões auditivas
induzidas pelo ruído. Sanchez et al. (1997) apud Mello (1999) afirma que o zumbido tem sido
associado predominantemente com problemas da cóclea ou do nervo auditivo, apesar de não
ter sido ainda esclarecido qual seria o seu substrato anatomofisiológico. Os zumbidos não têm
tratamento específico, mas podem desaparecer espontaneamente. As pessoas que associam o
zumbido a uma situação desagradável ou indício de perigo não são capazes de se habituar ao
seu som, enquanto outras são capazes de ignorá-lo totalmente. Depois de ter certeza de que
não existe nenhum problema clínico a ser tratado, o processo de habituação pode iniciar-se
esclarecendo ao paciente as características do zumbido e convencendo-o de que ele não
representa nenhuma ameaça a sua saúde (Mello, 1999).
3.2.1.3 Recrutamento
Entende-se por recrutamento a sensação de incômodo para sons de alta intensidade
(Mello, 1999). No recrutamento, a percepção de “altura” do som cresce de modo
anormalmente rápido à medida que a intensidade aumenta. É próprio das patologias cocleares
desenvolverem o recrutamento, independentemente da perda auditiva. A orelha normal opera
numa faixa de audição que se estende desde um limiar mínimo (de audibilidade) até um limiar
máximo (de desconforto). Esta faixa chama-se campo dinâmico. Os recrutantes têm o limiar
de desconforto menor e, muitas vezes, o limiar auditivo maior, o que reduz sensivelmente seu
campo dinâmico de audição (Mello, 1999).
3.2.1.4 Deterioração da Discriminação da Fala
Costa e Kitamura (1995) apud Mello (1999) relatam que os portadores de PAIRO
(perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional) podem ter reduzida a capacidade de
distinguir detalhes dos sons da fala em condições ambientais desfavoráveis, principalmente
nos momentos de conversação em grupo ou para acompanhar um programa de televisão em
25
meio ao ruído doméstico, pois apresentam a cóclea lesada, o que acarreta a incapacidade de
distinguir frequências superpostas ou subsequentes, assim como os micro intervalos de tempo.
3.2.1.5 Otalgia
Sons excessivamente intensos, acima do limiar de desconforto, podem provocar
otalgias, às vezes acompanhadas de distúrbios neurovegetativos e eventualmente até mesmo
de rupturas timpânicas, afirma Costa e Kitamura (1995) apud Mello (1999).
3.2.2 Efeitos Extra-Auditivos
Os efeitos extra-auditivos podem ser mais prejudiciais e complexos do que os efeitos
provocados por outra estimulação sensorial (Russo; Santos, 1993).
Okamoto e Santos (1996) apud Mello (1999) relatam pesquisas cujo resultado
evidenciou que a exposição a ruído contínuo diminui a habilidade e o rendimento do
indivíduo, acarretando um provável aumento de acidentes de trabalho.
O ruído age diretamente sobre o calibre vascular, podendo desencadear hipertensão
arterial leve a moderada, taquicardia, aumento da viscosidade sanguínea, influenciando assim
a oxigenação das células e levando a possíveis alterações teciduais (Seligman, 1993 apud
Andrade et al., 1998 apud Mello, 1999) A reação visual à exposição a ruído é a dilatação da
pupila. Okamoto e Santos (1996) apud Mello (1999) acreditam que, na prática, estes efeitos,
em trabalhos de precisão, (que exigem controle visual intenso) poderiam ter vital importância
uma vez que o trabalhador teria de reajustar continuamente a distância do foco, o que
aumentaria sua fadiga e probabilidade de erros.
Verifica-se que ruídos de baixas frequências são captados por barorreceptores de
órgãos ocos (vasos de grosso calibre, estômago e intestino) desencadeando a estimulação
neuroquímica com indução de vasoconstricção e, consequentemente, estimulação do sistema
nervoso central com ocorrência de hipermotilidade e hipersecreção gastroduodenal (Okamoto;
Santos, 1996 apud Mello, 1999), ocasionando gastrite, úlcera gastroduenal, diarréia e prisão
de ventre. As alterações neuropsíquicas mais frequentes que podem decorrer da exposição a
ruído são: ansiedade, inquietude, desconfiança, insegurança, pessimismo, depressão, alteração
de sono/vigília, irritabilidade e agitação, falta de memória e atenção. As pessoas expostas num
período maior de tempo são as mais afetadas. Tal exposição também pode ser responsável por
altas taxas de absenteísmo, cefaléia e acidentes de trabalho e em condução de veículos.
26
A maioria das glândulas endócrinas é regulada por hormônios produzidos no
hipotálamo. Com isto, é fácil compreender que, se o ruído causa alterações cerebrais, essas
irão repercutir também nas glândulas endócrinas. Costa, (1994) apud Andrade et al. (1998),
afirma que mesmo as glândulas que não são diretamente reguladas por hormônios
hipotalâmicos, como o pâncreas, vão sofrer ação prejudicial do ruído através da ação
neurológica ou de outros hormônios alterados.
O sistema imunológico permite que o organismo se defenda das agressões
representadas por elementos estranhos a ele, tais como bactérias, vírus e células cancerosas. Já
foi demonstrado que o ruído excessivo altera elementos que atuam na defesa imunológica
(Segala, 1993 apud Andrade et al., 1998).
3.3 Avaliação dos Efeitos do Ruído sobre o Homem
3.3.1 Mecanismo da Perda Auditiva
Segundo Fernandes (2002), as perdas de audição causadas por exposição ao ruído
ocupacional se caracterizam por iniciarem na faixa de 3000 a 5000 Hz, sendo mais aguda em
4000 Hz.
A perda auditiva de um indivíduo pode ser causada, isoladamente ou em
combinação, por quatros fatores (Mello, 1999):
• Presbiacusia – é a inevitável perda auditiva relacionada com a idade;
• Nosoacusia – patologia otológica ou condição médica que afeta a audição;
• Socioacusia – perda que não se limita à provocada pelo trabalho, mas que é
induzida pelo ruído não ocupacional (serviço militar, lazer e esporte);
• Perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional – relacionada ao trabalho, é uma
diminuição gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposição contínua a
níveis elevados de pressão sonora.
De acordo com sua etiologia, as perdas auditivas podem ser (Mello, 1999):
• Perdas auditivas condutivas: aquelas que resultam de patologias que atingem a
orelha externa e/ou média, reduzindo, dessa forma, a quantidade de energia sonora
a ser transmitida para a orelha interna.
27
• Perdas auditivas neurossensoriais: aquelas que resultam de distúrbios que
comprometem a cóclea ou o nervo coclear.
• Perdas auditivas mistas: aquelas onde aparecem componentes condutivos e
neurossensoriais em uma mesma orelha.
Levando em consideração o grau (Davis e Silvermann, 1978, Apud Mello, 1999):
0 – 25 dB(A): audição normal;
26 – 40 dB(A): perda auditiva leve;
41 – 70 dB(A): perda auditiva moderada;
71 – 90 dB(A): perda auditiva severa;
Maior que 90 dB(A): perda auditiva profunda.
São quatro os fatores que contribuem para a perda auditiva (Brasil, 2006):
1. A intensidade;
2. O tempo de exposição;
3. A frequência do ruído;
4. A suscetibilidade individual.
Os três primeiros itens são conhecidos e fáceis de medir. O quarto item
(suscetibilidade individual) é bastante interessante, pois indivíduos que se encontram num
mesmo local ruidoso podem reagir de maneiras diferentes: alguns são extremamente sensíveis
ao ruído, enquanto outros parecem não ser atingidos pelo mesmo (Fernandes, 2002).
3.3.2 Níveis de Ruído Confortáveis e Perigosos
Os efeitos do ruído podem ser tratados de duas formas: do ponto de vista do
conforto, e do ponto de vista da perda da audição (Fernandes, 2002).
Sobre conforto, os níveis recomendados estão na Norma Brasileira NBR 10152 (ou
ABNT NB-95), e podem avaliados através das curvas NC (Noise Criterion), ou pela medição
do ruído em dB(A) (Fernandes 2002).
Fernandes (2002) relata que, quanto aos problemas de saúde causados pelo ruído,
não existe um valor exato de nível sonoro que, a partir do qual existe perda de audição. Como
visto, existem pessoas mais sensíveis ao ruído, enquanto outras não acusam tal problema.
28
A NBR 7731 cita que os critérios para avaliação do risco auditivo são encontrados
nas normas internacionais ISO R 1999, ISO R 1996 e ISO R 532. Essa norma, porém, não
tem aplicação prática na área de Engenharia de Segurança do Trabalho no Brasil.
A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) é bem mais objetiva que as Normas
Regulamentadoras Brasileiras. Na Portaria Nº 3214, de 08/06/78, na Norma Regulamentadora
nº 15, Anexo Nº 1, são estabelecidas todas as condições de insalubridade por ruído.
É importante lembrar que a Portaria Nº 3214 pertence ao Capítulo V, Título II da
Consolidação das Leis do Trabalho. Portanto, essa Portaria tem força de lei, sendo obrigatório
o seu cumprimento em todo o território nacional, sendo que mesmo não acontece com as
Normas Regulamentadoras Brasileiras.
Para ruídos contínuos ou flutuantes a NR 15 apresenta uma tabela com a máxima
exposição diária permissível, como reproduzida na Tab. 3.1.
Deve-se notar que a Portaria Nº 3214 é rigorosa ao atuar sobre níveis de ruído acima
de 85 dB(A) (e não 90 dB(A) como outras normas), mas se torna menos exigente ao usar
como taxa de divisão 5 dB(A).
Existe uma tendência mundial em se adotar como início da prevenção o nível de 80
dB(A), e uma taxa de divisão de 3 dB(A). A legislação da Comunidade Européia para
Segurança do Trabalho já estipulou esses dados, assim como a NIOSH (USA) estuda
modificações em suas normas.
Para períodos de exposição a níveis diferentes deve ser considerada a dose de ruído e
efetuada a soma das frações demonstradas na Eq. 3.1.
1...3
3
2
2
1
1 ≤++++n
n
TC
TC
TC
TC
(3.1)
onde :
Cn = tempo de exposição a um determinado nível de ruído;
Tn = exposição diária permitida para determinado nível de ruído.
Se a soma das frações ultrapassar a unidade, a exposição estará acima do limite de
tolerância.
Para ruído de impacto, os níveis superiores a 140 dB (linear) medidos na resposta de
impacto, ou superiores a 130 dB(C) medidos na resposta rápida (fast), oferecerão risco grave
e iminente.
29
Tabela 3.1. - Limites de Tolerância para ruído contínuo ou flutuante (Brasil, 2006).
Nível de Ruído [dB(A)] Máxima Exposição Diária Permissível
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
98
100
102
104
105
106
108
110
112
114
115
8 horas
7 horas
6 horas
5 horas
4 horas e 30 minutos
4 horas
3 horas e 30 minutos
3 horas
2 horas e 40 minutos
2 horas e 15 minutos
2 horas
1 hora e 45 minutos
1 hora e 15 minutos
1 hora
45 minutos
35 minutos
30 minutos
25 minutos
20 minutos
15 minutos
10 minutos
08 minutos
07 minutos
3.4 Controle do Ruído
Controle de ruído são medidas que devem ser tomadas, no sentido de atenuar o efeito
do ruído sobre as pessoas. Controle não significa supressão da causa, mas sim, uma
manipulação do efeito. É importante lembrar que não existem soluções mágicas que indiquem
30
quais as medidas que irão solucionar um problema de excesso de ruído. Devem ser utilizados
os conhecimentos sobre acústica, além de um conhecimento detalhado do processo industrial
(Fernandes, 2002).
Antes de uma análise mais detalhada do problema, é preciso observar alguns dados
de ordem geral, para se ter uma idéia mais precisa sobre a dimensão do problema e, ao mesmo
tempo, provocar reflexões quanto a soluções.
Alguns fatores que devem ser observados (Fernandes, 2002):
- Avaliação da exposição individual;
- Características do campo acústico;
- Condições de comunicação oral;
- Tipo de ruído;
- Tipo de exposição;
- Número de empregados expostos;
- Características do local;
- Ruído de fundo.
De um modo geral, o controle do ruído pode ser executado tomando-se as seguintes
medidas, preferencialmente nesta ordem (Fernandes, 2002):
- Controle do ruído na fonte;
- Controle do ruído no meio de propagação;
- Controle do ruído no receptor.
A fonte é a própria causa do ruído. O meio é o elemento transmissor do ruído, que
pode ser o ar, o solo ou a estrutura do prédio. O receptor é o operário. É importante esclarecer
a hierarquização dos três elementos envolvidos no fenômeno: em primeiro lugar o controle na
fonte, depois o controle no meio e por último o controle no operário.
3.4.1 Noções de Isolamento Acústico e Absorção Sonora
O isolamento acústico refere-se à capacidade de certos materiais formarem uma
barreira, impedindo que a onda sonora (ou ruído) passe de um recinto a outro. Nestes casos se
deseja impedir que o ruído alcance o homem. Normalmente são utilizados materiais densos
(pesados) como por ex: concreto, vidro, chumbo, dentre outros (Egan, 1988 apud Bolognesi,
2008).
A absorção acústica trata do fenômeno que minimiza a reflexão das ondas sonoras
num mesmo ambiente, ou seja, diminui ou elimina o nível de reverberação (que é uma
31
variação do eco) num mesmo ambiente. Nestes casos se deseja, além de diminuir os níveis de
pressão sonora do recinto, melhorar o nível de inteligibilidade. Contrariamente aos materiais
de isolamento, os materiais de absorção são leves (baixa densidade), fibrosos ou de poros
abertos, como por exemplo, espumas poliéster de células abertas, fibras cerâmicas e de vidro,
tecidos, carpetes, dentre outros (Bolognesi, 2008).
Praticamente todos os materiais acústicos existentes no mercado ou isolam ou
absorvem ondas sonoras, embora com diferente eficácia. Aquele material que tem grande
poder de isolamento acústico quase não tem poder de absorção acústica, e vice-versa. Alguns
outros materiais têm baixo poder de isolamento acústico e também baixo poder de absorção
acústica (como plásticos leves e impermeáveis), pois são de baixa densidade e não possuem
poros abertos. Espumas de poliestireno (expandido ou extrudado) têm excelentes
características de isolamento térmico, porém não são recomendados em acústica. A cortiça
(muito utilizada no passado) já não apresenta os resultados acústicos desejados pelo
consumidor da atualidade, e também apresenta problemas de higiene e deterioração (trata-se
de um produto orgânico que se deteriora facilmente).
A indústria tem desenvolvido novos materiais com coeficientes de isolamento
acústico e/ou de absorção muito mais eficientes que os materiais até então considerados
"acústicos". Desta maneira tem sido possível se obter, mediante variações de sua
composição, resultados acústicos satisfatórios que atendam as necessidades do usuário.
Cada recinto, conforme sua utilização requer critérios bem definidos de Níveis de
Pressão Sonora e de reverberação para permitir o conforto acústico e/ou eliminar as condições
nocivas a saúde. Níveis de Pressão Sonora muito baixos podem tornar o recinto monótono e
cansativo, induzindo as pessoas às condições de inatividade e sonolência.
Normalmente um bom projeto acústico prevê o isolamento e a absorção acústica
utilizadas com critérios bem definidos, objetivando a melhor eficácia no resultado final. Para
isto, deve-se levar em consideração o desempenho acústico dos materiais que serão aplicados,
sua fixação, posição relativa à fonte de ruído e facilidade de manutenção, sem restringir a
funcionalidade do recinto.
A aplicação de um material acústico, fornecido ou utilizado sem critérios rígidos de
projeto, não significa a solução do problema.
A princípio, todos os materiais têm características acústicas que podem ser desejadas,
ou não, para a questão que se busca. Por exemplo:
32
- O ar é acústico, pois é ele quem "transmite" os sons para o sistema auditivo
humano;
- O vácuo absoluto é acústico, pois por ele não são transmitidos sons (é o isolante
acústico perfeito);
- Uma parede de concreto, maciça, é acústica, pois apresenta um índice de redução
sonora elevado, mas também apresenta elevados níveis de reflexão sonora;
- As fibras (lã de rocha, lã de vidro, lã cerâmica), espumas de poros abertos, tecidos,
carpetes, e outros materiais deste tipo têm razoável poder de evitar a reflexão
sonora, mas não isolam o som.
Quando o problema é vazamento de sons de um ambiente para outro, a solução deve
ser direcionada para o uso de materiais densos, como o concreto, o vidro, o aço, dentre
outros. Nestes casos não se deve utilizar materiais do tipo fibras, tecidos, carpetes e similares,
pois não significará a solução definitiva.
Caso o problema seja falta de inteligibilidade da palavra falada dentro de um mesmo
ambiente, a solução deve ser direcionada para o uso de fibras e/ou espumas de poros abertos.
Não se deve utilizar materiais densos ou que sejam impermeáveis ao ar.
A melhor solução final, normalmente, requer o uso dos dois tipos (isolantes e
absorvedores) de forma muito criteriosa.
Não existem materiais melhores ou piores para soluções acústicas. O que existe é a
adequação (ou não) de determinado material para a finalidade que se deseja. Muito cuidado
deve ser dado à utilização de um determinado material devido à sua eficiência em outro local
ou outra aplicação. Existem muitos exemplos reais nos quais um determinado material é
eficiente para uma aplicação e ineficiente em outra.
Existem materiais cujas características acústicas são tão baixas que sua utilização é
inviável. Estes materiais são, normalmente, muito baratos, o que motiva sua utilização.
A aplicação de um material acústico, fornecido ou utilizado sem critérios rígidos de
projeto, não significa a solução do problema.
3.4.2 Controle do Ruído na Fonte
O ruído na fonte pode ser causado por fatores, dentre eles pode-se citar (Fernandes
(2002):
- Mecânicos;
- Pneumáticos;
33
- Explosões e implosões;
- Hidráulicos;
- Magnéticos;
- Manutenção.
As causas mecânicas dos ruídos são devido a choques, atritos ou vibrações. Portanto,
deve-se observar nas fontes causadoras de ruído, a possível substituição do elemento nessas
condições, ou então, a diminuição da intensidade desses choques, atritos ou vibrações.
Os ruídos pneumáticos ocorrem pela turbulência do ar dentro do duto, e por
vibrações da tubulação. Geralmente esses ruídos são causados por variações da secção do
duto ou por sua rugosidade superficial interna. O maior ruído causado por fontes pneumáticas
reside no escape do gás sob pressão.
As causas hidráulicas são semelhantes às pneumáticas. Deve-se lembrar que, em
tubulações hidráulicas, podem ocorrer bolhas e o fenômeno da cavitação, que são grandes
causadores de ruído. A solução para o ruído em sistemas hidráulicos é a eliminação de
grandes variações de pressão.
As explosões e implosões se referem à mudança súbita de pressão do gás contido
numa câmara. Para máquinas que trabalham a explosão, dada a própria natureza da máquina,
controlar a explosão significa mudar a essência da máquina. Nesses casos procura-se controlar
o ruído na trajetória.
As causas magnéticas são devidas à vibração das bobinas elétricas. Deve-se sempre
ter em mente que os choques, atritos e vibrações são causas de ruídos em máquinas.
Quando se realiza a manutenção em máquinas e sistemas, normalmente são
necessários manobras e procedimentos que geram níveis de ruído, algumas vezes, mais altos
que os da própria operação da máquina.
3.4.3 Controle do Ruído no Meio de Propagação
Quando não é possível o controle do ruído na fonte, ou a redução obtida foi
insuficiente, é necessário considerar medidas que visem controlar o ruído na sua trajetória de
propagação. Isso é alcançado de duas maneiras (Fernandes, 2002):
- Evitando que o som se propague a partir da fonte;
- Evitando que o som chegue ao receptor.
Isolar a fonte significa construir barreiras que separem a máquina do meio que a
rodeia, evitando que o som se propague. Isolar o receptor significa construir barreiras entre o
34
meio e o operário. Em qualquer uma das opções existem vantagens e desvantagens: no
isolamento da fonte existe a dificuldade de evitar a propagação do som, pois a energia
acústica é maior em torno da fonte; enquanto tem-se a vantagem do ruído não se propagar por
todo o ambiente, mantendo o local salubre. O isolamento do receptor tem a facilidade de
isolar o som, pois ao chegar ao receptor sua intensidade será pequena, mas terá a desvantagem
da propagação do som por todo o ambiente (Fernandes, 2002).
O som, normalmente, se propaga por duas vias:
1. Aérea;
2. Estrutural.
3.4.3.1 Redução da Propagação do Som pelo Ar
Segundo Fernandes (2002), só é possível o controle da transmissão do som pelo ar
através da instalação de obstáculos à sua propagação.
Antes, porém, cabe lembrar que os sons de baixa frequência se transmitem mais
facilmente pelo ar que os sons de alta frequência. Assim, quando possível, deve-se
transformar os ruídos para a faixa mais aguda do espectro, fazendo com que percam sua
intensidade numa distância menor.
O isolamento do som na fonte ou no receptor pode ser feito por paredes.
• Isolamento da fonte
Existem três maneiras de isolar a fonte de ruído:
1. Executar a operação ruidosa à distância, e fazer a proteção individual apenas se
necessário;
2. Executar a operação ruidosa fora do turno de trabalho, protegendo os operários
envolvidos;
3. Isolar acusticamente a máquina.
A terceira hipótese é a mais usada e pode ser muito eficiente se bem projetada. No
enclausuramento da fonte, como é conhecida, deve-se usar uma caixa que cobre a
máquina, isolando-a acusticamente do meio externo. A construção do
enclausuramento deve ser de material isolante e, se possível, internamente com
material absorvente.
• Mudança das Condições Acústicas do Local
35
Alterando as condições de propagação do som, pode-se diminuir o ruído de um local.
Para tal precisa-se estudar a situação em que se encontra a fonte de ruído e as
condições de reflexão, absorção ou difração do som no local.
• Isolamento do Receptor
Caso a opção seja o isolamento do receptor, isso pode ser feito através de painéis ou
paredes. O isolamento do receptor só é possível para os operários que não trabalhem
diretamente na máquina. É bastante usado para separar o pessoal da administração,
escritórios, controle de qualidade, almoxarifado, dentre outros.
Quando se isola o pessoal em salas e escritórios, não se deve esquecer das portas e
janelas, que geralmente são os pontos mais vulneráveis do isolamento. A vedação das
janelas se faz com dois vidros, de espessuras diferentes e, separados por alguns
centímetros. Quanto às portas, há a necessidade de se projetar portas e batentes
especiais com vedação acústica.
3.4.3.2 Redução da Propagação do Ruído pela Estrutura
O som pode se propagar não só pelo ar, mas também pela estrutura do prédio,
alcançando grandes distâncias. Isso ocorre quando a máquina em funcionamento gera uma
vibração no solo, que se propaga, fazendo toda a estrutura vibrar e, gerando o ruído. Mesmo
existindo a atenuação do ruído aéreo, o som alcançará o ambiente via estrutura (Fernandes,
2002).
3.4.4 Controle do Ruído no Receptor
Quando todas as medidas de controle de ruído falharem, ou quando não for possível
executá-las, deve-se considerar a proteção individual. Deve-se sempre lembrar que somente se
recorre ao controle individual em casos extremos e nunca como primeira ou única medida.
Antes da aplicação de aparelhos de proteção individual, existem algumas medidas
que podem diminuir os efeitos do ruído sobre os operários (Fernandes, 2002):
- Rotação de turnos: a diminuição do tempo de exposição diminui o risco de perda
auditiva. Essa rotação é de difícil aplicação na prática e cria sérios problemas à
produtividade.
- Cabines de repouso: são cabines a prova de som, onde o trabalhador exposto a altos
níveis de ruído pode descansar por alguns minutos. Na Europa, muitas empresas têm
36
implantado essas cabines. Normalmente o tempo de repouso é de 5 minutos para
cada 55 minutos de trabalho.
Segundo Fernandes (2002), o pesquisador de doenças do trabalho Dr. W. Dixon
Ward descobriu que o problema de expor uma pessoa ao ruído intenso e depois deixá-la
repousar, faz com que o tempo de recuperação da sensibilidade auditiva seja cada vez maior.
Assim, fica em dúvida a eficiência das cabines de repouso ou os ciclos de exposição/repouso,
bem como a rotação de turnos.
3.4.4.1 Os Protetores Individuais
O último dos recursos a ser considerado num problema de redução dos efeitos do
ruído são os protetores individuais. Podem ser de três tipos:
1. Inserção (tampões);
2. Circum-auriculares (conchas);
3. Elmos (capacetes).
Os protetores de inserção são dispositivos colocados dentro do canal auditivo,
podendo ser descartáveis ou não-descartáveis. Os descartáveis podem ser de material fibroso,
de cera, ou de espuma. Os não-descartáveis, de borracha, devem ser esterilizados todos os
dias. Os de espuma (moldável) são descartáveis, perdendo sua eficiência na primeira lavagem
(Fernandes, 2002).
Os protetores circum-auriculares, também conhecidos como conchas, são
semelhantes aos fones de ouvido, recobrem totalmente o pavilhão auditivo, assentando-se no
osso temporal. Fornecem uma boa proteção ao ruído, ao mesmo tempo permitindo uma boa
movimentação do operário e reduzindo as precauções higiênicas ao mínimo (Fernandes,
2002).
Os protetores de elmo (capacetes) são pouco usados. Eles cobrem hermeticamente a
cabeça, se constituindo numa tentativa de solucionar os problemas de ruído, proteção dos
olhos, respirador e capacete. Tiram a liberdade de movimentação do operário, além de causar
ressonâncias internas que podem aumentar os problemas de ruído (Fernandes, 2002).
Atualmente, os protetores mais usados são os de inserção (plugs ou tampões) e os
circum auriculares (conchas).
Segundo Fernandes (2002), é importante lembrar que:
- Os protetores tipo concha são mais eficientes que os tampões;
37
- Ambos os tipos são mais eficientes nas altas frequências, sendo praticamente nula a
sua proteção para sons graves;
- A utilização de protetores auriculares em uma empresa deve ser precedida de um
programa de treinamento e conscientização dos funcionários;
- Os protetores de inserção (tampões) são de difícil adaptação, podendo gerar
infecções e irritações no canal auditivo;
- A atenuação citada pelas indústrias de protetores, se refere à ensaios realizados em
laboratório, dificilmente alcançada no ambiente industrial.
Deve-se sempre lembrar que os protetores individuais diminuem o contato do
trabalhador com o meio ambiente. Isso tem sérios desdobramentos, como:
- Aumento dos acidentes de trabalho;
- Não comunicação com os outros funcionários;
- Aumento da tensão e irritação;
- Queda da produtividade.
Portanto os protetores individuais devem ser considerados apenas como última
solução, ou numa situação de emergência.
38
CAPÍTULO IV
Identificação e Avaliação da Exposição ao Ruído Ocupacional
Para a elaboração deste capítulo foram utilizadas as seguintes referências
bibliográficas:
1. Occupational Exposure Sampling Strategy Manual (NIOSH, 1977): apesar
de ser um referência mais antiga, trata muito bem a parte escolha de grupos
homogêneos, avaliação ocupacional e levantamento de dados em campo;
2. Preventing Occupational Hearing Loss - A Pratical Guide (NIOSH, 1996) e
The Noise Manual (AIHA, 2003): abordam todo o assunto de uma forma
mais direta, além de serem fontes de consulta mais recentes;
3. NHO 01 da FUNDACENTRO e NR 15 do Ministério do Trabalho e
Emprego: descrevem a metodologia adota no Brasil para o cálculo da dose de
exposição ao ruído ocupacional.
4. Manual de Consenso “O Estudo do Ruído” elaborado pelo Grupo de
Especialistas em Saúde Ocupacional de Jundiaí: foi utilizado para
desenvolver a parte de avaliação da saúde do colaborador, possui uma
revisão a cerca dos principais exames realizados na identificação, triagem e
avaliação da doença ocupacional.
Foi preferida a citação no início do capítulo para evitar possíveis cruzamentos ou
omissões de referência no desenvolvimento do texto.
40
4.1 Avaliação Audiológica
4.1.1 As Características de uma Boa Avaliação Audiológica
A Audiologia refere-se à ciência da audição e ao estudo do processo auditivo e tem
sua base científica na Psicoacústica, inter-relacionando-se com outras ciências. A
Psicoacústica lida com os atributos de sensação do indivíduo para a frequência, intensidade e,
ainda, em relação a ruídos, sons musicais e vozes humanas.
A avaliação da função auditiva é realizada por meio de inúmeros testes subjetivos
que necessitam da colaboração do indivíduo para fornecer a resposta do exame, além de testes
objetivos, que avaliam a audição do indivíduo sem que ele tenha que fornecer qualquer
resposta ao teste. Estes exames buscam informações acerca da audição humana.
O conhecimento da anatomia, fisiologia e fisiopatologia da audição e dos elementos
da Acústica e Psicoacústica são pré-requisitos essenciais ao Audiologista. O sucesso do
diagnóstico dependerá de testes bem elaborados, realizados com critérios científicos e
analisados corretamente.
Apesar da relativa facilidade na sua aplicação, a audiometria exige certas decisões a
serem tomadas durante sua execução, sendo a pessoa mais qualificada, aquela que teve
formação teórico-prática apropriada para a tarefa.
Dos cursos de nível superior no Brasil, o de Fonoaudiologia é o que tem dedicado
maior carga horária ao assunto. Além disso, os Conselhos Federais de Medicina e de
Fonoaudiologia são unânimes em apontar os Médicos (qualquer médico pode realizar a
audiometria, no entanto, se for o caso, esse médico responderá penalmente por imperícia) e os
Fonoaudiólogos como os únicos profissionais habilitados a executarem exames audiológicos,
dentre estes, a audiometria.
Atualmente, a avaliação auditiva ocupacional tem grande importância sanitária,
ética, social e legal no monitoramento das perdas auditivas nas indústrias, de acordo com a
legislação vigente, pois há a necessidade de um controle mais rigoroso com o objetivo
principal de preservar a saúde auditiva do trabalhador.
A audiometria é de grande importância para a detecção da PAIRO (Perda Auditiva
Induzida por Ruído Ocupacional), mas não deve ser usada como o único instrumento para o
diagnóstico. As alterações nos limiares auditivos detectados na audiometria tonal podem
indicar um diagnóstico preliminar, compatível ou sugestivo de PAIRO. A confirmação só
pode ser realizada dentro de um contexto amplo, com uma análise mais completa de dados.
41
Na avaliação audiológica ocupacional deve constar a anamnese e a avaliação
auditiva propriamente dita.
Na anamnese devem-se investigar dados de:
• História laborativa: existência de exposição ao ruído ou às substâncias
ototóxicas (atual e pregressa) e qual o ambiente de trabalho e a função (atual
e pregressa);
• Antecedentes pessoais: se fez uso de medicação ototóxica, a existência de
doenças anteriores que possam alterar a audição, a história familiar e a
exposição ao ruído fora do ambiente de trabalho;
• História clínica: pesquisar se o indivíduo apresenta zumbidos, hipoacusia ou
intolerância a determinados sons.
Com relação à avaliação audiológica, deve-se realizar a Otoscopia ou a
Meatoscopia. Tem como objetivo detectar a presença de fatores que podem influenciar
temporariamente o resultado do exame, como rolha de cera ou corpo estranho e fatores que
não são reversíveis em curto prazo como, por exemplo, perfuração ou retração da membrana
timpânica ou secreção no conduto auditivo externo.
4.1.2 Audiometria Tonal Liminar
É a determinação da menor intensidade necessária para provocar a sensação auditiva
em cada frequência testada. Os limiares auditivos podem ser determinados por:
• Via Aérea, testada com fones pela passagem da onda sonora através da orelha
externa e média chegando à cóclea;
• Via Óssea, testada com vibrador ósseo colocado na mastóide, sendo que as
vibrações aplicadas são transmitidas diretamente para a cóclea.
Na pesquisa dos limiares auditivos, devem ser testadas as frequências de 0,25 a 8
kHz por Via Aérea e de 0,5 a 4 kHz por Via Óssea.
O teste por Via Óssea só pode ser dispensado quando o audiograma por Via Aérea
estiver com os limiares de audibilidade dentro dos padrões de normalidade (até 25 dB(A)).
Para a realização da audiometria, o repouso auditivo é fundamental e deve ser de 14
horas, no mínimo, segundo a Portaria 19 do Ministério do Trabalho. Além disso, necessita-se
de um ambiente adequado e de um aparelho específico.
O exame audiométrico deve ser realizado em cabine acústica, isto é, ambiente
acusticamente tratado de modo que os níveis de pressão sonora em seu interior não
42
ultrapassem as recomendações internacionais (ANSI 3.1, 1991 ou parâmetro OSHA 81,
apêndice D). Esta cabine deve estar acomodada em local silencioso, distante de fontes de
vibração e isento de interferências que venham trazer prejuízo na execução do teste ou na
atenção do paciente, uma vez que a garantia da qualidade e fidedignidade do exame depende
diretamente da resposta do paciente.
O aparelho utilizado é o audiômetro que consiste, essencialmente, em um gerador de
correntes alternadas de varias frequências, dotado de dispositivos eletrônicos para produção
de tons puros, de um potenciômetro para graduar as intensidades destes tons e de fones
receptores para convertê-los em som.
A calibração deste instrumento se faz necessária para a padronização da frequência e
da intensidade, já que é o equipamento utilizado no processo de determinação dos limiares
tonais dos indivíduos. O audiômetro deve ser submetido à aferição anual e calibração
acústica, se necessário, e a cada cinco anos a calibração eletroacústica deverá ser realizada.
4.1.3 Audiometria Vocal
Esta etapa do exame complementa e confirma os resultados obtidos na Audiometria
Tonal. Os testes básicos são:
• Limiar de recepção de fala ou LRF, definido como a menor intensidade na
qual o indivíduo consegue identificar 50% das palavras que lhe são
apresentadas;
• Índice de Reconhecimento de Fala ou IRF, um teste supra liminar, que avalia
a maneira pela qual o indivíduo reconhece os sons da fala.
Na interpretação dos testes básicos da avaliação auditiva, existe a necessidade da
análise conjunta dos dados obtidos para determinar o grau e o tipo da deficiência auditiva.
As perdas auditivas podem ser classificadas quanto ao tipo e ao grau, de acordo com
o descrito no item 3.3.2.1.
4.1.4 Simulação e Dissimulação
Na prática da Audiologia Ocupacional, são encontrados, frequentemente,
trabalhadores que simulam ou dissimulam uma perda auditiva.
A dissimulação ocorre, quando um indivíduo que tem uma patologia auditiva,
simula não tê-la, com a finalidade principal de obter um emprego, aprovação em concurso ou
43
ascensão profissional. Portanto, esses casos são mais frequentemente encontrados nos exames
pré admissionais.
Na suspeita de um caso de dissimulação, algumas dicas podem ajudar, como:
colocar o indivíduo de costas para o examinador, de forma que não veja os seus movimentos
em relação ao audiômetro; utilizar sons de ritmo e formas de apresentação variadas, com
intervalos irregulares; mascarar a orelha contra lateral; realizar os testes de Logoaudiometria
(LRF e IRF).
Métodos mais sofisticados de pesquisa não são necessários para o diagnóstico de
dissimulação.
No caso da simulação propriamente dita, o indivíduo simula apresentar uma perda
auditiva inexistente, com o objetivo de obter vantagens, como indenizações ou outros
benefícios. Esse tipo de simulação geralmente ocorre nos exames periódicos ou demissionais.
Suspeita-se de simulação quando:
• Houver incoerência entre as respostas da audiometria tonal e a sua habilidade
comunicativa fora do teste; exagero na dificuldade de captar as informações
pela pista visual; evitar contato visual;
• Pedir para escrever as instruções; houver incoerência entre a qualidade e
intensidade vocal e o grau da perda auditiva, não apresentando alterações
articulatórias mesmo em perdas profundas;
• Parecerem nervosos;
• Houver perdas auditivas severas, de característica sensorioneural, com
percentuais de discriminação elevados;
• O sujeito portador de perda auditiva unilateral agir como se apresentasse
problema em ambas as orelhas e não responder (lado da suposta deficiência
auditiva) às mais elevadas intensidades (via aérea/via óssea) sem
mascaramento contra lateral.
Com relação a esses casos de simulação, a conduta básica é a mesma da avaliação
dos casos de dissimulação, entretanto, existem diversas provas específicas e fáceis de serem
aplicadas, como audiometrias repetidas e testes de Logoaudiometria.
Além dos testes já referidos que necessitam da colaboração do indivíduo, existem os
métodos objetivos, dentre os quais pode-se citar:
• Medida da Imitância Acústica (medida do nível mínimo de resposta do
reflexo acústico do músculo estapédio);
44
• Audiometria de tronco cerebral (BERA);
• Emissões Otoacústicas Evocadas.
Quando um Fonoaudiólogo lida com um indivíduo suspeito de apresentar perda
auditiva funcional, é preciso selecionar procedimentos com validade perante os juízes nos
possíveis processos de indenização para compensação da invalidez.
É necessário tornar claro que uma avaliação correta, ao contrário de prejudicar,
poderá beneficiar o trabalhador, evitando o agravamento de uma deficiência auditiva e
propiciando seu aproveitamento em áreas onde possa produzir melhor, sem os inconvenientes,
para si e para a empresa, que esse agravamento poderia acarretar.
4.1.5 Audiometria de Resposta Elétrica do Tronco Encefálico (Brainstem Electric Response
Audiometry
Segundo o grupo de especialistas em saúde ocupacional de Jundiaí, a Audiometria
de Resposta Elétrica do Tronco Encefálico, também chamada BERA, é um exame que
detecta, capta e registra as atividades elétricas dos neurônios das vias acústicas no nervo
auditivo e na via auditiva central, áreas ditas retro cocleares. Não é um teste tonal liminar de
audição, mas uma medida do conjunto, desde a condução auditiva na orelha média, a
transformação da energia mecânica da onda sonora em energia elétrica na cóclea, até os
impulsos elétricos que percorrem o complexo neural, não incluindo o processamento cortical,
isto é, a percepção real do som. Analisa os potenciais precoces ou de curta latência, de 1 a 10
milissegundos (ms). Direciona os exames de imagem, não é invasivo, pois utiliza eletrodos de
superfície, não utiliza contraste, seu custo-benefício é baixo, é altamente sensível, fornecendo
alto nível de informação.
A integridade periférica e central do sistema auditivo é essencial para a aquisição da
linguagem verbal e para o seu desenvolvimento, bem como durante toda a vida do indivíduo,
sendo fundamental salientar-se a importância das avaliações objetivas da audição no auxílio
diagnóstico, tratamento mais precoce possível e consequentes benefícios no desenvolvimento
global da criança. Em muitos casos indica-se a adaptação de aparelhos de amplificação sonora
individual ou próteses auditivas para crianças nascidas com perdas auditivas congênitas
diagnosticadas no berçário. Trata-se de uma avaliação auditiva neurofisiológica objetiva
muito útil, de alta sensibilidade e tem grande importância topodiagnóstica, isto é, localiza o
sítio da doença.
45
O estímulo usado para a realização do BERA é o clique, que é um som agudo e de
curta duração que avalia a audição numa faixa de frequências de 2000 a 4000 Hz.
O BERA apresenta similaridade temporal e duplicabilidade em indivíduos normais.
Em alta intensidade, cinco ou seis ondas maiores principiam em 1,5 a 2 ms e apresentam-se
em intervalos de aproximadamente 1 ms, podendo ser detectadas nos primeiros 10 ms após a
estimulação. Em casos patológicos, uma variedade de sinais mostra anormalidades quanto ao
tempo de latência, morfologia das ondas ou ambos.
As principais indicações do BERA, segundo o grupo de especialistas em saúde ocupacional
de Jundiaí, são:
Determinação do nível mínimo de resposta:
• Neonatos normais e lactentes de alto risco para deficiência auditiva (DA), em
condições vitais estáveis, sem patologias das orelhas média e externa: 2 a
10% destes serão surdos, 1:2000 nascimentos em nosso meio. As aplicações
do BERA em neonatos de alto risco são:
- neuro-otológica: pesquisa do grau de maturidade das vias auditivas
centrais em prematuros e lactentes;
- audiológica: detecção precoce de deficiência auditiva, mas também
pesquisa da função auditiva em crianças maiores, estabelecendo se o
retardo de linguagem é de causa auditiva.
• Crianças e adultos em que não é possível realizar uma audiometria
convencional, por exemplo: psicóticos, autistas, deficientes mentais e outros;
• Pesquisa de indivíduos simuladores da perda auditiva.
Hipoacusia neurossensorial e/ou zumbidos unilaterais ou assimétricos, pois
sugere problema loco regional, incluindo o neurinoma do acústico;
Caracterização do tipo de perda auditiva da orelha interna, coclear ou retro
coclear;
Diagnóstico da hidropsia endolinfática, que é o aumento da pressão dos
líquidos na orelha interna, embora o melhor exame seja a Eletrococleografia;
Topodiagnóstico de doenças neurológicas que afetam o 8º par de nervos
cranianos e o tronco cerebral, como a esclerose múltipla ou em placas, doenças
desmielinizantes, tumores retro cocleares e outras;
Incapacidade de aprendizagem em crianças com má discriminação vocal,
geralmente com distúrbio articulatório e comportamento inconsistente;
46
Estabelecimento do grau de coma;
Audiometria tonal normal com ausência de reflexos estapedianos
contralaterais, com ipsilaterais presentes;
Surdez súbita.
As vantagens de se utilizar o BERA em casos de suspeita de PAIRO são:
• Auxilia na detecção de simuladores;
• Enfatiza as frequências entre 2000 e 4000 Hz;
• Não encontra aplicabilidade se a perda auditiva for severa ou profunda.
4.1.6 Emissões Otoacústicas Aplicadas a PAIRO
Na atualidade, a prática da Audiologia clínica nas diversas áreas de atuação tem
contado com a realização de exames complementares e objetivos que fornecem dados
relevantes para um diagnóstico preciso.
Os achados das Emissões Otoacústicas Evocadas (EOA) e da Audiometria
Eletrofisiológica (BERA e ECOCHG) complementam, em alguns casos, a avaliação
audiológica, para o topodiagnóstico da alteração auditiva, localizando a perda auditiva como
de origem coclear ou retro coclear. Além disso, por serem testes objetivos, que não dependem
da resposta do indivíduo, fornecem dados sobre perdas auditivas funcionais quando
analisados com os resultados da imitanciometria e com as respostas para o exame
audiométrico.
Os tipos de EOA estudados e mais usados clinicamente são:
• EOA espontâneas (EOAE) que podem ser captadas na ausência de
estimulação sonora e que atualmente, não têm aplicação clínica;
• EOA transitórias ou transientes (EOAT) que necessitam de estímulo acústico
para serem desencadeadas e são captadas em quase todas as orelhas com
limiares auditivos até 25 dB(A);
• EOA por produto de distorção (EOAPD): são evocadas por dois tons puros
(f1 e f2), apresentados simultaneamente e com frequências sonoras
diferentes. Surgem da incapacidade da cóclea de amplificar sob forma linear
dois estímulos diferentes, ocorrendo uma intermodulação (2 f1 e f2). Podem
estar presentes em perdas auditivas de até 50 dB(A).
47
Como aplicações clínicas, pode-se citar a triagem auditiva neonatal, o
monitoramento auditivo em casos cirúrgicos de hidropsia endolinfática e no uso de drogas
potencialmente ototóxicas.
Pode-se evidenciar também a utilização das EOA para monitoramento e prevenção
das perdas auditivas induzidas por ruído. Pesquisas na área ocupacional têm sido
desenvolvidas para contribuir com o Programa de Conservação Auditiva nas empresas. O
objetivo principal é associar às audiometrias referenciais e sequenciais o exame objetivo para
avaliar a sensibilidade das células ciliadas externas à exposição ao ruído.
Também se pode utilizar EOA para pacientes com dificuldades na realização do
exame audiométrico ou aqueles simuladores da perda auditiva.
Portanto, deve-se ressaltar que a associação de exames objetivos à avaliação
audiológica é útil em alguns casos, permitindo maior especificidade no topodiagnóstico das
deficiências auditivas sensorioneurais fornecendo, assim, ao médico melhores condições para
determinar sua conduta e o processo de reabilitação do indivíduo.
4.2 Avaliação Ocupacional
Embora a evolução dos sistemas sanitarista, de higiene e saúde do trabalhador no
Brasil tenha tido nomes de extrema expressão em nível Nacional e Internacional antes da
recomendação da OIT de 1953, foi após esse evento que, anos mais tarde, e devido aos altos
índices de acidentes de trabalho no País, o Governo se viu obrigado a normatizar a inserção de
profissionais na área de Saúde e Segurança nas empresas.
A FUNDACENTRO organizou, a partir de 1973, cursos de capacitação para
médicos, engenheiros ou arquitetos, enfermeiros e técnicos, visando atender rapidamente a
oferta na área de saúde e segurança no trabalho.
Muitos desses profissionais, principalmente médicos fizeram, dessa 2°
especialidade, uma fonte para complementação salarial sem se preocuparem com a verdadeira
missão que a especialidade exigia. Esse pensamento, infelizmente, ainda persiste embora em
menor número.
Porém as exigências legais que normatizam as relações Saúde/Trabalho têm levado
os Médicos do Trabalho a, cada vez mais, abraçar a Saúde Ocupacional como sua atividade
48
principal. Quando não são seguidas tornam vulneráveis, do ponto de vista legal, médicos e
empresas.
Uma delas, devido à falta de critério único, é a definição da aptidão de trabalhador
portador de PAIRO, ao se candidatar a emprego em uma empresa com demanda de ruído
acima de 80 - 85 dB(A).
Os avanços obtidos nas demais áreas da saúde não tiveram o acompanhamento da
saúde do trabalhador. Como pode ser visto, em muitas empresas ainda impera o modelo da
história natural da doença. Existem serviços bem estruturados e verifica-se que as empresas
vêm trabalhando bem essas questões, no entanto, muitos ainda encaram, por exemplo, a
SIPAT como um evento a mais, de caráter obrigatório, normalmente cumprido através de
palestras.
O modelo da história natural da doença, proposto por Leavell e Clark (1965) (Fig.
4.1), ilustra o equilíbrio das relações entre o agente causador da patologia, o meio ambiente e
o hospedeiro (trabalhador).
Figura 4.1 – Triangulo epidemiológico (Leavell e Clark, 1965).
O desequilíbrio do triângulo epidemiológico é o responsável pelo início das doenças,
que passam despercebidas por certo período de tempo, chamado pré-patogênico. No caso da
PAIRO, este período pode ser longo até o surgimento dos primeiros sinais de alteração no
audiograma de rotina. As ações primárias de saúde devem ser realizadas nesse período com a
finalidade de evitar o desequilíbrio e consequentemente o aparecimento da doença. São elas
basicamente, no caso de surdez ocupacional, as palestras educativas, medidas de proteção
coletiva e individual, etc.
No período patogênico, quando as defesas do indivíduo foram vencidas e a patologia
emerge, as ações secundárias de saúde trabalham no sentido de tratar e evitar que o agente
causador do desequilíbrio agrave ainda mais a lesão estabelecida.
49
No caso do candidato portador de PAIRO, ele já se encontra no período patogênico,
comumente assintomático. Apesar da iniciativa, de estar pronto para o trabalho, as leis pedem
para não haver discriminação, mas do ponto de vista ético e epidemiológico o médico do
trabalho fica em uma situação delicada.
4.2.1 Conceito de Lesão e Incapacidade
O entalhe no audiograma em 3, 4 e 6 kHz, por si só, não deve ser interpretado como
lesão da orelha interna que apresente incapacidade auditiva. Este conceito é muito mais amplo
e necessita de outros testes para ser afirmado. É comum trabalhadores com perdas moderadas
e até severas, na faixa de alta frequência, não se queixarem de dificuldade auditiva, e outros
com perdas menores nessas frequências, associadas ou não a zumbido, apresentarem
dificuldade de comunicação oral dentro ou fora do ambiente ruidoso.
Por todos esses motivos a incapacidade para o trabalho não deve ser analisada
somente pela audiometria tonal. A logoaudiometria, a demanda auditiva do posto de trabalho,
o tipo de profissão, e o PCA da empresa são elementos importantes para o médico do trabalho
tomar sua decisão.
A OMS, em 1980, conceituou as deficiências da seguinte maneira.
1) impairment: distúrbio em nível de órgão - anormalidade na função ou estrutura;
2) disability: distúrbio em nível da pessoa - consequência da anormalidade na
atividade e no desempenho da função;
3) handicap: desvantagem na integração com o ambiente (social e profissional).
4.2.2 Critérios das Entidades em Nível Nacional
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego:
• NR- 7 - Portaria n.° 19, de 9 de Abril de 1998 - Instrui sobre os parâmetros
de monitoramento da exposição ocupacional ao risco de exposição a pressão
sonora elevada;
• Critério de aptidão é do médico coordenador do PCMSO e não deve ter
caráter discriminatório;
• Além do audiograma, levar em consideração a anamnese, idade, exame
otoscópico, a demanda auditiva na função, exposição não ocupacional,
capacitação profissional e o PCA da empresa;
• Enquadrar o funcionário no relatório anual do PCMSO.
50
Segundo o Instituto Nacional de Segurança Social:
• Ordem de Serviço n.° 608 5/O8/98 - Norma técnica de avaliação de
incapacidade para fins de Beneficio - Surdez Ocupacional. SEÇÃO II
(Resumo):
- A perda neurossensorial, por si só, não incapacita o indivíduo para o
trabalho, na maioria das vezes;
- Avaliar repercussão da doença na capacidade de trabalho;
- O bem jurídico não se centra na lesão ou integridade física e sim na
capacidade do segurado exercer a profissão;
- Redução na capacidade auditiva só gera beneficio para profissões que
necessitam 100% de acuidade da audição.
Nos casos de nexo técnico confirmado, e na remissão dos sinais e sintomas que
fundamentaram a existência da incapacidade laborativa, cessa o auxílio-doença, que pode
ocorrer no exame inicial, e o retorno deverá dar-se em ambiente e função adequados sem o
risco de exposição (CRM adicionado de carta de recomendação para a empresa).
Segundo o Conselho Federal de Medicina:
• Resolução n.° 1488/98 - Aos médicos que prestam assistência aos
Trabalhadores. Cabe aos Médicos (Resumo):
- Estudo do local do trabalho;
- Identificação dos riscos;
- Avaliar as condições de Saúde do Trabalhador para determinadas funções
e / ou ambientes, indicando sua locação para trabalhos compatíveis com
sua condição de saúde;
- Caso promova o acesso ao trabalho a portadores com afecções, a
atividade não as agrave ou ponha em risco uma vida;
- Serão responsabilizados por atos que concorram para agravos à saúde.
Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho – ANAMT:
• Procedimentos médico-administrativos:
- Candidatos portadores de audiogramas compatíveis com PAIRO com
perdas leves poderão ser admitidos nas empresas com um adequado
PCA;
51
- Considerar de baixo risco: limiares auditivos estabilizados (3
audiometrias semestrais semelhantes) que irá ser exposto em ambiente de
ruído semelhante ou menor que o que desenvolveu a PAIRO;
- Considerar de alto risco: jovens com PAIRO em ambientes com ruído
acima de 90 dB(A), trabalhador com anacusia (falta de audição,
incapacidade de se ouvir qualquer som) em ambiente com ruído maior
que 80 dB(A), trabalhador com perda neurossensorial de outra causa nas
baixas frequências sendo portador de otite crônica.
De forma geral, analisando todos os critérios expostos, nenhuma norma, lei, parecer
ou sugestão define o que é a aptidão no termo exato. O parecer está sempre a critério do
médico responsável pelo exame. Se de um lado não pode haver discriminação, do outro, expor
um indivíduo, mesmo assintomático ao mesmo risco que o levou a adquirir aquela lesão,
parece não ser muito ético.
Não se pode esquecer que o candidato portador de lesão coclear com perda ou não
da capacidade auditiva já se encontra no período patogênico da história natural da doença e,
portanto com desequilíbrio no triângulo epidemiológico onde as ações secundárias da saúde já
se fazem necessária e uma delas é o afastamento do ambiente insalubre.
O médico deve esclarecer ao empregador sobre a condição ideal para locar um
candidato em um determinado posto de trabalho, principalmente quanto à necessidade de
implementar um PCA eficaz, e alertar para as possíveis sansões judiciais caso a doença pré-
existente se agrave.
Cabe ao médico, quando aprovar um candidato com PAIRO, emitir o atestado como
apto com restrição a ambientes ruidosos acima de 85 dB(A), ou 80 dB(A) em casos mais
graves, sendo de responsabilidade da empresa o contrato administrativo.
A ANAMT sugere em caso de admissão:
a) Esclarecer a condição auditiva para o candidato;
b) Colher sua assinatura no exame audiométrico;
c) Oficializar com a área o plano de conservação auditiva específico para aquele
trabalhador, colhendo assinatura da chefia que optou pela admissão e do próprio trabalhador;
d) Discutir com o trabalhador e a empresa a conveniência de se obter a CAT da
empresa anterior (ou pelo próprio candidato), registrando-a na Previdência Social, junto com
a audiometria alterada.
52
4.3 Avaliação da Exposição ao Ruído
Existem duas principais correntes para a avaliação da exposição ocupacional a ruído.
A primeira é adotada principalmente na Europa, denominada “hipótese de mesma energia”, e
o nível de exposição é codificado por LEX . A segunda é adotada no Brasil, Estados Unidos e
em outros poucos países, conhecida pela “regra dos 5 dB” ou “regra da OSHA”, e o nível de
exposição é codificado atualmente por LOSHA – da Occupational Safety and Health
Administration do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos.
O nível de exposição ao ruído (dose) é determinado a partir de medições acústicas
envolvendo pressão sonora e tempo. É um parâmetro diferente da avaliação apenas do ruído
existente nas áreas operacionais das indústrias, que é independente do indivíduo. Nos
Programas de Conservação Auditiva (PCA’s) as medições têm por objetivo principal
identificar os grupos ocupacionalmente expostos e os equipamentos que controlam ou
contribuem para a exposição. Constituem levantamentos diferentes, conduzidos sob
procedimentos diferentes, mas com resultados que se complementam.
Os monitoramentos acústicos são ferramentas indispensáveis para o estabelecimento
e avaliação dos PCA’s. Seus resultados subsidiam decisões em âmbitos diferentes da empresa,
como segurança e saúde ocupacional, medicina do trabalho, engenharia e até mesmo decisões
de ordem jurídica.
No Brasil a metodologia oficial para o levantamento acústico em áreas industriais
está descrita nos Anexos I e II da NR-15 da Portaria 3.214. Segundo descrito em Nudelmann
(1997), tanto a metodologia de medições quanto o conteúdo dos dois anexos são resumidos,
superficiais e em descompasso com o conhecimento científico acumulado sobre conservação
auditiva nas últimas décadas.
4.3.1 Monitoramento Ambiental de Ruído
Quando se faz um monitoramento ambiental objetiva-se:
• Levantar dados para a classificação acústica de unidades operacionais. Utiliza-
se a denominação Área Acusticamente Classificada para todas as áreas com nível
de ruído acima de 85 dB(A). Para ingresso de qualquer indivíduo em uma área
classificada, que deve ser sinalizada ostensiva e padronizadamente, será obrigatório
o uso de protetores auditivos individuais;
53
• Localizar as regiões ou equipamentos mais ruidosos dentro de uma unidade
operacional;
• Identificar e caracterizar a influência de eventos intermitentes no campo sonoro
da área, como a presença de vazamentos de vapor, intervenções de manutenção ou
manobras operacionais específicas;
• Coletar dados básicos para a seleção de protetores auditivos individuais.
Para a realização do monitoramento, é recomendável que as medições de ruído
cubram toda a unidade operacional sob investigação, sem preocupação específica em
monitorar apenas os postos de trabalho. Para tanto, é conveniente o estabelecimento de uma
malha imaginária de pontos cobrindo a área, em cujos encontros são determinadas diversas
posições de monitoramento. As dimensões da malha são escolhidas pela precisão a ser
alcançada, tipo de arranjo físico e como as curvas de ruído obtidas pelo monitoramento serão
montadas. Em arranjos físicos muito congestionados, opta-se por uma malha refinada,
aproximadamente 1,5 metros. Para arranjos bem distribuídos, onde se torna fácil identificar
cada fonte de ruído, pode-se utilizar malhas de 3,0 metros. No caso de locais pouco ocupados,
poucos pontos de medição são suficientes para modelar a área. A malha deve ser feita sobre
uma planta de arranjo físico do local, sendo este levado a campo para lançamento dos valores
medidos em cada ponto.
Com tal dado em mãos, interpolam-se os valores de nível de pressão sonora
medidos e cria-se uma curva de isopressão sonora do local.
4.3.2 Monitoramento Pessoal de Ruído
Quando se faz um monitoramento pessoal objetiva-se:
• Quantificar o nível de pressão sonora que os indivíduos recebem ao longo da
jornada de trabalho;
• Coletar dados para a seleção de protetores auditivos individuais;
• Identificar os grupos expostos a risco auditivo;
• Auxiliar no controle e análise de audiometrias alteradas.
Devido à abrangência de aplicação das informações obtidas, o monitoramento
pessoal é considerado a medição mais importante no âmbito da saúde ocupacional dos PCAs.
Para a avaliação, é utilizada a “Dose”, sendo este um parâmetro para a
caracterização da exposição ocupacional ao ruído, expresso em porcentagem de energia
sonora, tendo por referência o valor máximo da energia sonora diária admitida, definida com
54
base em parâmetros preestabelecidos, como o Critério de Referência (CR), Nível Limiar de
Integração (NLI), e o Incremento de Duplicação de Dose (q):
- CR: expressa o nível para o qual a exposição, por um período de 8 horas,
corresponderá a uma dose de 100%.
- NLI: expressa o nível a partir do qual os valores devem ser computados na
integração para fins de determinação de nível médio ou da dose de exposição.
- q: indica o valor para o qual o aumento do nível de pressão sonora ambiente
equivale à duplicação da dose de exposição.
Para a realização do monitoramento pessoal de ruído é necessário identificar o nível
de ruído e o tempo de exposição. Para tanto, podem ser utilizados um medidor sonoro com
um cronômetro ou um dosímetro.
As medições devem ser feitas em condições operacionais normais ou habituais. Cada
condição anormal deve ser avaliada e registrada em relatório específico. O monitoramento
durante as paradas de manutenção é altamente recomendado, pois nesta situação podem ser
encontrados níveis de ruído bastante elevados e, por vezes, não usuais nas condições normais.
4.3.3 Definição de Grupos Homogêneos de Exposição (GHE)
A demanda por uma adequada estratégia de amostragem evoluiu e se consolidou
quando se verificou, de forma crescente, que o simples ato de medir, intuitivamente, não
assegurava certeza da situação de exposição. O ato de avaliar representa que se vai obter uma
determinação de um dado ambiental, um valor isolado. Estratégia de Amostragem é mais que
isso, mais que uma simples medição.
O processo do conhecimento gradativo e adequado da exposição de trabalhadores
envolve uma série de considerações, abordagens e planificação de um trabalho, que em seu
conjunto, pode ser chamado de estratégia de amostragem. A estratégia de amostragem começa
quando se estuda uma população exposta, ou seja, quando se determina quais os expostos, a
quais agentes, em quais tarefas ou funções, em quais locais (edificações ou sites
operacionais).
A Estratégia de Amostragem é um processo de conhecimento da exposição de
trabalhadores, que se inicia com uma adequada abordagem do ambiente (processo, pessoas,
tarefas, agentes) e termina com afirmações estatisticamente fundamentadas sobre essa
exposição, para que o ciclo da saúde ocupacional possa prosseguir, até o controle dos riscos.
55
A caracterização básica é um conceito presente em uma publicação da AIHA
(American Industrial Hygiene Association). Representa um processo inicial de conhecimento,
em saúde ocupacional, que permite a obtenção dos GHE, assim como a estruturação de
amostragens representativas dos trabalhadores da empresa. Trata-se de conhecer as 3
dimensões da questão: os ambientes de trabalho, os expostos e os agentes ambientais.
Conhecer o ambiente significa conhecer os processos principais, secundários e
complementares, como o de manutenção, com detalhe suficiente para a inferência dos agentes
ambientais que podem produzir. Também significa conhecer todos os materiais utilizados nos
mesmos, sejam como matéria prima, subprodutos, produtos acabados e rejeitos.
Conhecer os expostos significa apreender todas as funções desempenhadas, as
atividades e tarefas realizadas, relacionando-as em termos de exposições ocupacionais aos
processos e aos agentes identificados.
Conhecer os agentes significa correlacioná-los às tarefas, processos e expostos, pois
é centrado nos agentes que deve ter início o estudo. Também significa conhecer bem os
efeitos que podem ser causados, os limites de exposição aplicáveis e as características físico-
químicas relevantes.
Deste estudo integrado deve-se definir a unidade de trabalho, que é o GHE, conceito
este dado pelo NIOSH (National Institute of Occupational Safety and Health). A AIHA usa o
termo "grupos de exposição similar", que é considerado equivalente. Os GHE deverão ser
identificados a partir da caracterização básica. Eles são definidos por agente ambiental e por
local de trabalho ou sítio operacional (em plantas de processo, por exemplo).
Por definição, o GHE corresponde a um grupo de trabalhadores que experimentam
exposição semelhante de forma que o resultado fornecido pela avaliação da exposição de
qualquer trabalhador do grupo seja representativo da exposição do restante dos trabalhadores
do mesmo grupo.
Os GHE são obtidos a partir da caracterização básica, que é dada pela observação e
conhecimento do processo, das atividades e dos agentes, ou seja, das exposições que ocorrem
nos ambientes de trabalho. Observando e conhecendo as exposições, pode-se reunir os
trabalhadores em grupos que possuem as mesmas características (perfil) de exposição a um
dado agente.
Essa “homogeneidade” provém da execução de mesmas rotinas e tarefas pelos seus
componentes e, portanto com um mesmo perfil de exposição ambiental, confirmando-se
estatisticamente por permitir que o grupo seja representado por uma determinada distribuição
56
de probabilidades. A definição inicial do GHE é assegurada pela observação e julgamento do
profissional de saúde ocupacional em relação ao perfil de exposição ambiental que
apresentam seus componentes.
• Pontos básicos para a determinação dos GHE:
- Inicia-se pela função, pois numa mesma função é de se esperar que as atividades sejam
essencialmente iguais e, portanto sejam iguais as chances de exposição associada;
- É necessário atenção aos desvios de função, não se fixando no nome do cargo, mas sim no
que realmente é feito, do ponto de vista operacional;
- Realizar uma boa entrevista com os trabalhadores e complementá-la com a supervisão,
visando conhecer o que se faz e quem faz;
- Ter atenção às nuances que a função tem, se há subgrupos com atividades diferenciadas
(serão outros GHE);
- Ter atenção quanto às variantes entre turnos (ambiente, operações e equipamentos podem
variar);
Os GHE só fazem sentido numa mesma edificação ou sítio operacional (em áreas de
processamento aberto, por exemplo). Não se podem agrupar trabalhadores que estejam
lotados em locais diferentes. O GHE se inicia pelo ambiente (edificação ou sítio), e pelo
agente. Dentro dessas premissas, buscam-se as funções ou subgrupos cujas atividades tornam
a exposição similar.
Um grupo é homogêneo no sentido estatístico, e isso permite que um número
relativamente pequeno de amostras possa definir as tendências de exposição de todo o grupo.
A exposição dos trabalhadores não será idêntica, pois quem é homogêneo é o caráter
estatístico do grupo, e as variabilidades serão normais dentro dele.
Os GHE são uma expectativa formulada pelo profissional que atua em saúde
ocupacional, baseada no seu conhecimento e experiência, dentro de seu julgamento
profissional. Mais tarde, no processo de avaliação da exposição dos grupos, isso será validado
ou reformulado.
Indivíduos expostos a ruído podem ser monitorados em sua totalidade e analisados
como indivíduos ou como parte de um grupo.
O monitoramento de todos os empregados pode ser demorado e oneroso, embora
forneça alto padrão de confiabilidade. A análise considerando “indivíduos” perde significado
no contexto do PCA, como em outras atividades na área da saúde ocupacional. Já o
monitoramento em grupos facilita decisões e análise global do problema, permitindo
57
abordagens dirigidas para um universo, com a vantagem de diminuir o número de medições
necessárias.
Se os empregados forem organizados em grupos homogêneos de exposição, os
resultados do monitoramento para um indivíduo dentro do grupo devem representar uma
informação confiável para os demais indivíduos do mesmo grupo.
Na caracterização de grupos homogêneos de exposição deve-se considerar:
• A caracterização e definição de grupos utilizados nos demais trabalhos de
saúde ocupacional;
• A definição de “empregado exposto a ruído”, conforme descrito nas Diretrizes
de Conservação Auditiva da companhia;
• A caracterização do local de trabalho, da força de trabalho, do agente e a
definição do grupo.
Em Nudelmann (1997) foi publicada uma recomendação (Tabela 4.1) para
estabelecer o tamanho das amostras de monitoramento, com 95% de nível de confiabilidade e
topo de 20% de distribuição, considerando N o tamanho do grupo e n o número de amostras
necessárias.
Tabela 4.1 – Tamanho das Amostras (n) de acordo com o tamanho do grupo analisado (N).
N ≤6 7 - 8 9 – 11 12 - 14 15 - 18 19 - 26 27 - 43 44 - 50 ≥51
n N=n 6 7 8 9 10 11 12 14
4.3.4 Caracterização e Determinação do Exposto de Maior Risco (EMR)
O conceito de Exposto de Maior Risco (EMR) é importante para a otimização de
ações de Estratégia de Amostragem. Grupos Homogêneos inteiros podem ser caracterizados a
partir da avaliação da exposição do EMR, sob circunstâncias adequadas.
• Definição:Exposto de Maior Risco, ou EMR, é o trabalhador de um grupo
homogêneo de exposição (GHE) que é julgado como possuidor da maior exposição
relativa em seu grupo. O entendimento de “mais exposto” do grupo é dado no sentido
qualitativo.
• Caracterização e Determinação:
- Por julgamento profissional: O EMR será determinado por possuir uma ou mais das
seguintes características, que lhe conferem o maior potencial de exposição: exercer
58
suas atividades mais próximas da fonte do agente; exercer suas atividades em
região do ambiente onde ocorre maior concentração ou intensidade aparente do
agente; exercer suas atividades de maneira a se expor por mais tempo ao agente;
exercer as rotinas operacionais (modus operandi) de forma a se expor mais ao
agente. A determinação será feita por observação de campo, sendo importante o
conhecimento acurado das operações e atividades, assim como a experiência e o
conhecimento do profissional relativamente ao agente e à forma de exposição.
- Por ferramenta estatística: Seguir o método descrito no Manual de Estratégia de
Amostragem do NIOSH.
4.3.5 Conceito e uso do Nível de Ação (NA)
Este conceito é definido na NR-9. O nível de ação de um agente ambiental, segundo
a NR-9, é um valor de 50% do seu limite de exposição por jornada de trabalho.
O nível de ação é um valor referencial, a partir do qual certas ações devem ser
tomadas, num programa de saúde ocupacional, por essa razão há ações específicas previstas
na norma regulamentadora, ao ser excedido o valor do NA.
No Manual de Estratégia de Amostragem do NIOSH, o conceito original resultou da
seguinte questão: como fazer afirmações sobre as exposições experimentadas ao longo dos
dias por um GHE, a partir de uma dada determinação da exposição de um integrante do
grupo, em um dia típico?
Para responder isso, os estatísticos assumiram certas premissas para a distribuição
estatística que se ajusta às exposições inter-dias (ao longo dos dias) de um grupo homogêneo,
considerada como uma distribuição lognormal, e sua variabilidade, expressa pelo desvio
padrão geométrico da mesma, o qual foi fixado em 1,22.
Também foi pré-definido o coeficiente de variação dos métodos de medição da
exposição, que exprime sua precisão (variabilidade dos procedimentos e instrumentos), em
0,1 (10%). A partir daí, resultou um nível de ação de 0,5 com um significado bem específico,
ou seja:
“Se o nível de ação for excedido em um dia típico, existe uma probabilidade maior
que 5% de que o limite de exposição será excedido em outros dias de trabalho”.
Colocando o conceito de outra forma, pode-se dizer:
“Se o nível de ação for respeitado em um dia típico, existe uma probabilidade maior
que 95% de que o limite de exposição será respeitado, em outros dias de trabalho”.
59
O teste estatístico em si tem um nível de confiança de 95%.
GHE com NA excedido devem ser estudados até um conhecimento, com adequado
detalhe, de sua exposição.
GHE com NA respeitado, podem ser considerados como de exposição
preliminarmente tolerável, pois não implicam em excedência do limite de exposição segundo
as premissas do teste e dos critérios estatísticos habituais (95% de probabilidade de
atendimento da premissa, com 95% de confiança). É a forma estatística de se dizer que o
limite de exposição está sendo respeitado.
Se os condicionantes do teste forem todos atendidos (avaliação de um dia típico de
trabalho, desvio padrão geométrico e coeficiente e variação dentro dos valores citados), então
esse GHE não é preliminarmente relevante para as prioridades da saúde ocupacional, podendo
sua exposição ser revisada periodicamente a intervalos de até 3 anos ou antes, ou ainda, se
houver mudanças no processo, procedimentos ou produtos em uso, índices biológicos de
exposição excedidos ou outras evidências de sobre-exposição.
Se um particular GHE for representado por uma distribuição lognormal com desvio
padrão geométrico maior que 1,22 deve-se corrigir o valor do NA conforme a Tabela 4.2.
Tabela 4.2 - Tabela de ajuste do Nível de Ação segundo o Desvio Padrão Geométrico da
distribuição de probabilidades de exposição.
Desvio Padrão Geométrico Nível de Ação
1,22 0,5
1,45 0,3
2,00 0,1
4.3.6 Tipos de Amostras de Agentes Ambientais
• Amostras pessoais ou individuais: São amostras tomadas de maneira que o
amostrador é portado pelo indivíduo amostrado, e situado na zona corporal de
interesse (por exemplo, zona auditiva ou zona respiratória).
- Aplicabilidade: tipo preferível para amostragem de exposição ocupacional, por sua
adequada representatividade da exposição experimentada pelo indivíduo ao longo
do intervalo amostrado.
- Limitações: apenas estritas aos aspectos de recursos instrumentais disponíveis e
econômicos da amostragem.
60
• Amostras de Zona Corporal de Interesse: são amostras tomadas por um terceiro, que
mantém o amostrador na zona corporal de interesse (por exemplo, auditiva,
respiratória).
- Aplicabilidade: tipo aceitável para amostragem de exposição ocupacional, podendo
representar adequadamente a exposição experimentada pelo indivíduo, respeitadas
as limitações amostrais e a análise estatística aplicável.
- Limitações: são amostras limitadas a funções ou tarefas de pouca movimentação
em área fisicamente restrita, durante a tomada de cada amostra. Considerar seu uso
nos casos de dificuldade de aplicação de amostras pessoais.
• Amostras de Área: São amostras tomadas em pontos fixos da área de trabalho, não
vinculadas ao trabalhador.
- Aplicabilidade: tipo não aceitável para amostragem de exposição ocupacional.
Amostras de área não guardam relação específica com a exposição dos
trabalhadores; não é permitida nenhuma inferência sobre a exposição de pessoas a
partir de amostras de área. A aplicabilidade está restrita ao controle da emissão de
processos, situações de emergência.
- Limitações: absoluta inadequação para exposições de pessoas.
- Observação: As considerações deste item não se aplicam ao Anexo 13A da NR-15.
4.3.7 Formas Amostrais em Saúde Ocupacional e sua Utilização Segundo o Tipo de Limite de
Exposição
Estas formas amostrais se referem a determinações (amostras) feitas ao longo de
uma jornada, e o seu tratamento de cálculo fornecerá “uma amostra” da exposição diária do
trabalhador.
Amostra única de período completo: Esta amostra é tomada sobre toda a base de
tempo do limite de exposição. A base de tempo do limite de exposição é dependente do tipo
de limite. Esta forma amostral é a segunda melhor forma do ponto de vista estatístico, para
decisões sobre a exposição de uma jornada.
Amostras Consecutivas de Período Completo: Esta forma amostral utiliza várias
amostras, sendo que o tempo total das mesmas equivale à base de tempo do limite. As
amostras não se superpõem no tempo, nem há qualquer período da base de tempo que não seja
amostrado, ou seja, as amostras são consecutivas e justapostas. As amostras não necessitam
61
ter a mesma duração. Esta forma amostral é a de melhor benefício do ponto de vista
estatístico, para decisão sobre a exposição de uma jornada.
Amostras de Período Parcial: Consistem em uma ou mais amostras que não cobrem
integralmente a base de tempo do limite. Esta forma amostral é muito limitada do ponto de
vista estatístico, não sendo recomendada, a menos que o profissional de saúde possa
assegurar, pelo conhecimento das atividades e do processo e pelo acompanhamento feito
durante a amostragem, que o período não amostrado é essencialmente igual ao amostrado do
ponto de vista da exposição ao agente. Neste caso, o valor médio ponderado no tempo do
período amostrado pode ser considerado o valor médio ponderado para a jornada, e a amostra
passa a ser, do ponto de vista estatístico, como uma amostra de período completo. No caso do
ruído, a dose pode ser extrapolada através de regra de três simples, ou por recurso do próprio
instrumento, para o período completo; o profissional de saúde possa assegurar, pelas mesmas
razões supracitadas, que a exposição ocupacional no período não amostrado, foi nula
(exposição zero). Nesse caso, o valor médio ponderado no tempo para a jornada deve ser
calculado considerando-se o tempo não amostrado como de exposição zero. No caso do ruído,
a dose da jornada será representada pela dose da amostra. Se as condições não forem
atendidas, não há tratamento estatístico adequado para a decisão sobre a exposição da jornada,
sendo recomendável outra forma amostral.
Amostras pontuais de curta duração – grab samples: Esta forma amostral consiste de
várias amostras, de duração breve (de alguns segundos a vários minutos), aleatórias quanto ao
momento da realização de cada amostra, distribuídas pela jornada de trabalho. Cada amostra
é considerada uma determinação. A duração da amostra não interfere na precisão da decisão
estatística, bastando que haja amostra suficiente para o processamento analítico. Medidores de
leitura direta podem ser utilizados, sendo cada leitura uma amostra. Esta forma amostral é a
de menor poder de decisão estatístico. Para se obter benefício estatístico desta forma amostral,
recomenda-se tomar pelo menos 9 a 11 amostras durante a jornada, até um máximo sugerido
de 25. A partir das mesmas, obter-se-á a exposição média dessa jornada de trabalho.
4.3.8 Limites de Exposição Tipo Valor Máximo, Valor Teto
As amostras deverão ser tão curtas quanto exequível do ponto de vista analítico, ou
tomadas por instrumentos de leitura direta. Devem ainda ser tomadas nos momentos de
máxima exposição esperada.
62
Se for necessário cobrir um intervalo de tempo onde se espera uma máxima
exposição, devem ser tomadas tantas amostras quantas necessárias, com a menor duração
exequível, cobrindo tal intervalo. O procedimento pode ser descontinuado quando qualquer
amostra exceder o LE. (valor máximo ou valor teto).
A amostra de maior valor obtido é que deve ser comparada com o LE. Não são
calculadas médias das amostras obtidas.
Se todos os momentos com máximos esperados foram amostrados, e nenhuma
amostra excedeu o LE, realizar análise estatística sobre o maior valor. Se não foram
amostrados todos os momentos de máximos esperados, também é possível uma análise
estatística. Para a verificação de conformidade ou excedência com o Limite de Exposição,
deve ser feita uma análise estatística dos dados.
4.3.9 Nota Sobre Avaliações (Amostragens) de Situações de “Pior Caso”
Deve ser respeitada a seguinte orientação, tendo-se em vista avaliações de situações
de pior caso:
• O uso de exposições de pior caso é a base para a avaliação do EMR (exposto de
maior risco), como primeira informação a respeito de um GHE;
• O uso de exposições de pior caso também é a forma de abordar a verificação de
limites do tipo “que não pode ser excedido em nenhum momento da jornada”;
• Não devem ser realizadas amostras de pior caso como forma de verificação de
limites tipo média ponderada no tempo, pois, neste caso, ou as amostras (uma ou
mais) cobrem toda a jornada, ou são do tipo parcial, que podem eventualmente ser
estendidas para toda a jornada, ou são do tipo “amostras pontuais de curta duração”,
as quais deverão ser, necessariamente, aleatórias.
4.3.10 Análise Estatística Para Limites de Exposição Tipo Média Ponderada
Exposição do EMR: Como se trata de um dia típico, é uma análise sobre uma
jornada.
Dados do GHE (diferentes jornadas): A análise estatística deve ser realizada com o
ajuste de uma distribuição estatística que melhor se conforme aos dados.
Devem ser obtidos os seguintes parâmetros da distribuição, para uso nos processos
de decisão:
- Média geométrica;
63
- Desvio Padrão Geométrico;
- Probabilidade de Atendimento ao Limite de Exposição.
A obtenção dos dados pode ser feita através de cálculos ou de papéis probabilísticos,
ou ainda através de softwares dedicados para saúde ocupacional. Recomenda-se o uso de
papéis probabilísticos ou planilhas gráficas, de forma a se verificar anomalias na distribuição,
que possam sugerir:
- Se há dados que não se referem a dias típicos;
- Se há dados que não se referem aos componentes do GHE;
- Se os dados sugerem que não se trata de um GHE, devendo ser o mesmo fracionado
(revisão do reconhecimento de campo).
O ajuste da distribuição também pode ser validado por testes estatísticos como o W –
test da planilha eletrônica da AIHA (parte da publicação da AIHA sobre estratégia de
amostragem).
4.3.11 Análise Estatística de uma Jornada
Este item se refere à obtenção da exposição média da jornada, para fins da
verificação do EMR (exposto de maior risco), basta o cálculo da média amostral.
Para uma análise de conformidade de uma particular jornada, para outros fins de
verificação (apoio legal, auditoria), recomenda-se usar limites de confiança definidos segundo
a forma amostral. Referir-se ao Manual do NIOSH.
4.3.12 Verificação de Limites de Exposição Tipo Valor Máximo, Valor Teto ou TLV-C
(ACGIH) Aspectos Gerais e Análise Estatística
As amostras deverão ser tão curtas quanto exequível do ponto de vista analítico, ou
tomadas por instrumentos de leitura direta, podendo incluir monitoramento contínuo no
período de avaliação. As amostras devem ser tomadas nos momentos de máxima exposição
esperada.
Da mesma forma como exposto no item 4.3.8, se for necessário cobrir um intervalo
de tempo onde se espera uma máxima exposição, devem ser tomadas tantas amostras quantas
necessárias, com a menor duração exequível, cobrindo tal intervalo.
O procedimento pode ser finalizado quando qualquer amostra exceder o LE. A
amostra de maior valor obtido é a que deve ser comparada com o LE. Se todos os momentos
64
com máximos esperados foram amostrados, e nenhuma amostra excedeu o LE, realizar
análise estatística sobre o maior valor. Ver item a seguir.
Se não foram amostrados todos os momentos de máximos esperados, também é
possível uma análise estatística, levando em conta os momentos amostrados e não
amostrados.
4.3.13 Abordagem para o Ruído em Termos de Análise Estatística de Dados Ambientais
O ruído é um agente ambiental como qualquer outro, mas possui uma diferença
importante: a grandeza básica, a pressão sonora, está expressa em dB, que é uma
transformação logarítmica. Dessa forma, o uso do dB como parâmetro para uma análise
estatística pode ficar complicado por essa transformação. Essa limitação é superada pela
consideração de que a verdadeira expressão do limite de exposição ao ruído é dada pela dose
recebida.
Quando se trabalha com amostras pontuais de curta duração (grab-samples), estas
serão efetivamente níveis de pressão sonora, mas nesse caso usa-se um artifício: calcula-se a
dose diária provocada pelo nível (se a exposição ao mesmo durasse 8 horas). Feita essa
transformação, as aplicações podem ser feitas sem dificuldades. Deve-se rejeitar amostras
com níveis inferiores a 80 dBA, que seria o limiar de integração da dose, se esta fosse
realizada instrumentalmente.
4.3.14 Tipos de Limites de Exposição Aplicáveis em Saúde Ocupacional
Base de Tempo do Limite de Exposição (LE): período sobre o qual um LE Tipo
Média Ponderada é verificado. A base de tempo de verificação depende do agente ambiental e
do tipo de LE.
Limite de Exposição Tipo Média Ponderada no Tempo (LE-MP): para verificação
deste LE, são permissíveis valores de exposição variáveis ao longo da base de tempo, tanto
acima quanto abaixo do valor fixado. A exposição média ponderada no tempo deve respeitar
o LE-MP.
Um agente com LE-MP só pode ser considerado respeitado, quando o seu Valor
Máximo associado (VM) também for respeitado, no caso da Legislação Brasileira, assim
como o seu limite suplementar associado STEL, no caso da ACGIH.
Os LE na Legislação Brasileira são denominados Limites de Tolerância, e o LE-MP
é baseado em semanas de 48 horas.
65
- Limite de Exposição Tipo TWA (time weighted average): a concentração média
ponderada pelo tempo para uma jornada normal de 8 horas diárias e 40 horas semanais,
à qual a maioria dos trabalhadores pode estar repetidamente exposta, dia após dia, sem
sofrer efeitos adversos à saúde.
- Limite de Exposição Tipo Valor Teto (LE-TETO): para este LE não são permissíveis
exposições acima do valor fixado em nenhum momento da jornada de trabalho. Na
ACGIH, o conceito correspondente é o do limite de exposição valor teto, sendo este a
concentração que não pode ser excedida durante nenhum momento da exposição do
trabalhador.
- Valor Máximo (VM) de um LE-MP (apenas no Brasil): valor associado a um LE-MP,
conforme definido no Anexo 11 da NR 15, o qual não pode ser excedido em nenhum
momento da jornada de trabalho. O VM só existe associado ao respectivo LE-MP.
- Limite de Exposição tipo STEL (Short Term Exposure Level - ACGIH): Limite de
exposição suplementar, tipo média ponderada no tempo, associado a um LE-MP tipo
TWA (ACGIH) com as características que seguem: A base de tempo do STEL é de 15
minutos; concentração a que os trabalhadores podem estar expostos, de forma cotidiana,
por um período curto de tempo, mas cuidando-se para que o limite de exposição - média
ponderada (TLV - TWA) não seja ultrapassado, de modo que o trabalhador não venha a
sofrer irritação, lesão tissular crônica ou irreversível, narcose em grau suficiente para
aumentar a predisposição a acidentes, impedir auto-salvamento ou reduzir
significativamente a eficiência no trabalho.
O STEL não é um limite de exposição independente, mas sim um limite suplementar
ao limite de exposição média ponderada, nos casos em que são reconhecidos efeitos tóxicos
agudos para substâncias cujos efeitos tóxicos são primordialmente de natureza crônica. Os
STEL’s são recomendados apenas nos casos em que já foram relatados efeitos tóxicos em
seres humanos ou animais como resultado de exposições elevadas em curtos períodos
Um STEL é definido como uma exposição média ponderada pelo tempo durante 15
minutos, que não pode ser excedida em nenhum momento da jornada de trabalho, mesmo que
a concentração média ponderada para 8 horas esteja dentro dos limites de exposição - média
ponderada. Exposições acima do TLV-TWA, mas abaixo do STEL, não podem ter duração
superior a 15 minutos, nem se repetir mais de 4 vezes ao dia. Deve existir um intervalo
mínimo de 60 minutos entre as exposições sucessivas nesta faixa. Pode-se recomendar um
66
período médio, diferente dos 15 minutos, desde que garantido por observação dos efeitos
biológicos.
4.3.15 Monitoramento de Grupos Expostos a Ruído de Impacto
De acordo com a NR-15, ruído de impacto é aquele que apresenta picos de energia
acústica de duração inferior a 1 segundo, a intervalos superiores a 1 segundo. Para avaliação
do campo acústico nesta condição, a NR estabelece que os níveis de ruído de impacto deverão
ser avaliados em dB, com o medidor operando no circuito linear e circuito de resposta para
impacto, nos intervalos entre os picos o ruído deverá ser avaliado como ruído contínuo. Em
caso de não se dispor de medidor de nível de pressão sonora com circuito de resposta para
impacto, será válida a leitura no circuito de resposta rápida e circuito de compensação C.
A orientação da diretriz da Comunidade Européia para ruído ocupacional estabelece
que a exposição deva ser limitada em LEX 85 dB(A) e 200 Pa, ou 140 dB Pico. Recomenda-se
a utilização deste padrão para as análises no âmbito da saúde ocupacional do PCA. Para as
questões de ordem legal, seguir o estipulado pela NR.
No monitoramento de ruído de grupos expostos a ruído de impacto impulsivo,
verificar a adequabilidade da instrumentação para esta finalidade.
CAPÍTULO V
Fundamentos Teóricos 5.1 Redes Neurais Artificiais
As Redes Neurais Artificiais (RNA’s) foram desenvolvidas na década de 40, pelo
neurologista McCulloch e pelo matemático Walter Pitts (1943), os quais fizeram uma
analogia entre os neurônios do cérebro e o processo eletrônico (Fig 5.1).
Figura 5.1. Esquema de uma rede neural artificial (Tafner, 1998).
O final da década de 80 marcou o ressurgimento da área das RNA’s, também
conhecida como conexionismo ou sistemas de processamento paralelo e distribuído. Esta
forma de computação não algorítmica é caracterizada por sistemas que, em algum nível,
relembram a estrutura do cérebro humano (Braga; Carvalho; Ludermir, 1998).
As RNA’s são sistemas paralelos distribuídos compostos por unidades de
processamento simples (nodos) que computam determinadas funções matemáticas
(normalmente não-lineares). Tais unidades são dispostas em uma ou mais camadas e
68
interligadas por um grande número de conexões, geralmente unidirecionais. Na maioria dos
modelos estas conexões estão associadas a pesos, os quais armazenam o conhecimento
representado no modelo e servem para ponderar a entrada recebida por cada neurônio da rede.
O funcionamento dessas redes é baseado em uma estrutura física concebida pela natureza: o
cérebro humano (Braga; Carvalho; Ludermir, 1998).
Em RNA’s, o procedimento usual na solução de problemas passa inicialmente por
uma fase de aprendizagem, onde um conjunto de exemplos é apresentado para a rede, a qual
extrai automaticamente as características necessárias para representar a informação fornecida.
Essas características são utilizadas posteriormente para gerar respostas para o problema
(Braga; Carvalho; Ludermir, 1998).
Segundo Braga, Carvalho e Ludermir (1998), a capacidade de aprender através de
exemplos e de generalizar a informação aprendida são, sem dúvida, os atrativos principais da
solução de problemas através das RNA’s. Não obstante, estas são capazes de atuar como
mapeadores universais de funções multi variáveis, com custo computacional que cresce
apenas linearmente com o número de variáveis. Outras características importantes são a
capacidade de auto-organização e de processamento temporal que fazem das redes neurais
uma ferramenta computacional extremamente poderosa e atrativa para a solução de problemas
complexos.
5.1.1 Redes Biológicas
O cérebro humano é responsável pelo que se chama de emoção, pensamento,
percepção e cognição, assim como pela execução de funções senso motoras e autônomas.
Além disso, sua rede de nodos tem a capacidade de reconhecer padrões e relacioná-los, usar e
armazenar conhecimento por experiência, além de interpretar observações. Apesar do estudo
contínuo, não se sabe ao certo a forma como as funções cerebrais são realizadas, utilizando-se
até o momento, apenas modelos. No entanto, a estrutura fisiológica básica destas redes de
nodos naturais é conhecida e é exatamente nesta estrutura fisiológica que se baseiam as
RNA’s. Essas tentam reproduzir as funções das redes biológicas, buscando implementar seu
comportamento básico e sua dinâmica (Braga; Carvalho; Ludermir, 1998).
5.1.1.1 Neurônios Biológicos
O neurônio biológico é a unidade celular fundamental do sistema nervoso do cérebro
humano. Os nodos são divididos em três seções: o corpo da célula, os dendritos e o axônio,
69
cada um com funções específicas, porém complementares. Os dendritos têm por função
receber as informações, impulsos nervosos, oriundas de outros nodos e conduzi-las até o
corpo celular. Ali, a informação é processada e novos impulsos são gerados. Estes impulsos
são transmitidos a outros nodos, passando através do axônio até os dendritos dos nodos
seguintes (Braga; Carvalho; Ludermir, 1998).
Uma vez captado o estímulo nas terminações nervosas, ele é transmitido em um
impulso elétrico. Esse potencial em ação (impulso) percorre o axônio e atinge outras células.
Os neurônios proporcionam um fluxo preciso das informações. Um forte (fraco) potencial em
ação entre os contatos sinápticos, que ocorrem no núcleo ou soma de um neurônio, estimula
um fluido neurotransmissor a produzir uma carga elétrica que acelera (retarda) o fluxo das
informações a outros dendritos de milhares de neurônios. Quando existem fortes combinações
sinápticas, diz-se que as condutâncias ou impedâncias das cargas elétricas estão ajustadas, o
que permite ao cérebro aprender e armazenar as informações processadas (Braga; Carvalho;
Ludermir, 1998).
5.1.2 Neurônios Artificiais
McCulloch e Pitts (1943) desenvolveram um modelo matemático análogo ao
neurônio biológico, denominado neurônio artificial McCulloch-Pitts (modelo MCP), que
possui múltiplas entradas (x1, x2, ..., xn) e uma única saída (y), onde cada uma das entradas
possui um peso associado (w1,w2,..., wn).
O neurônio artificial possui duas fases de processamento. Na primeira fase, calcula-
se o somatório do produto das entradas pelos pesos associados. Na segunda fase, é atribuída
uma função não linear, chamada de função de ativação, a qual é aplicada ao somatório
resultante da primeira fase. A Fig. 5.2 mostra o neurônio de McCulloch e Pitts.
Figura 5.2. Neurônio artifical (Tafner, 1998).
70
Na descrição original do modelo MCP, a função de ativação é dada pela função de
limiar descrita na Eq. (5.1). O nodo MCP terá então sua saída ativa quando:
1
n
i j ii
x w T=
≥∑ (5.1)
onde:
• n é o número de entradas do neurônio;
• xi são as entradas do neurônio;
• wji é o peso associado à entrada;
• T é o limiar do neurônio.
5.1.3 Funções de Ativação
A partir do modelo proposto por McCulloch e Pitts foram derivados vários outros
modelos que permitem a produção de uma saída qualquer, não necessariamente zero ou um, e
com diferentes funções de ativação processadas (Braga; Carvalho; Ludermir, 1998). Em nível
de exemplo, a Fig. 5.3 representa graficamente quatro funções de ativação diferentes, sendo
elas: função linear, função rampa, função degrau (step) e função sigmoidal.
Figura 5.3. Algumas Funções de Ativação utilizadas em redes neurais artificiais (Braga;
Carvalho; Ludermir (1998), apud Meola (2005)).
71
A função de ativação linear na Fig. 5.3a é definida pela Eq. (5.2).
y = α x (5.2)
onde:
• α é um número real que define a saída linear para os valores de entrada;
• y é a saída;
• x é a entrada.
A função linear pode ser restringida para produzir valores constantes em uma faixa [
-γ, +γ ].
Neste caso a função passa a ser a função rampa como mostrada graficamente na Fig.
5.3b e definida pela Eq. (5.3).
⎪⎩
⎪⎨
⎧
γ−≤γ−γ+<γ+≥γ+
=xsexsexxse
y
(5.3)
Os valores máximo e mínimo da saída são +γ e -γ, respectivamente. A função rampa
é geralmente usada como uma função não linear simplificada.
A função degrau, apresentada na Fig. 5.3c produz a saída +γ para os valores de x
maiores que zero, caso contrário a função produz o valor -γ. A função degrau é definida pela
Eq. (5.4).
⎪⎩
⎪⎨
⎧
≤γ−
>γ+=
0xse
0xsey
(5.4)
A função sigmoidal, conhecida também como S-shape, mostrada na Fig. 5.3d, é uma
função semilinear, limitada e monotônica. É possível definir várias funções sigmoidais. Uma
das mais importantes delas é a função logística representada pela Eq. (5.5).
72
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ −+
=
sigTx
y
exp1
1 (5.5)
onde o parâmetro Tsig determina a suavidade da curva.
5.1.4 Arquitetura das Redes Neurais
Segundo Teixeira (2001), uma rede neural consiste em um sistema de processamento
de dados, com muitos neurônios artificiais interconectados e organizados em sequências de
camadas. Este arranjo entre camadas de neurônios configura a arquitetura de uma rede neural
artificial, inspirado na estrutura cerebral do córtex. As camadas de uma rede são
interconectadas através de parâmetros internos denominados pesos (w). A camada de entrada
somente apresenta os dados à rede neural, não tendo neurônios de processamentos e a camada
de saída resulta nos valores de saída da rede. As outras camadas são chamadas de
intermediárias ou ocultas. A Fig. 5.4 representa uma rede cuja arquitetura é composta por uma
camada de entrada com dois neurônios, uma de saída com um neurônio e uma oculta com
quatro neurônios.
Figura 5.4. Arquitetura típica de redes neurais artificiais (Braga; Carvalho; Ludermir (1998),
apud Meola (2005)).
5.1.4.1 Nodos de Conexão Tipo Feedforward
Quando a rede neural não apresenta em sua arquitetura interconexões entre os
neurônios de uma mesma camada ou interconexão de realimentação com neurônios de
camadas anteriores, e é caracterizada por um fluxo unidirecional, recebe o nome de rede
73
neural feedforward. Neste caso, o vetor de entradas é aplicado à camada de entrada e as
funções de ativação são rapidamente calculadas, com o processo fluindo, posteriormente, da
camada de entrada para a oculta e desta para a camada de saída. Tal arquitetura pode ser
verificada na Fig. 5.5.
Figura 5.5. Exemplo de arquitetura da rede neural feedforward (Braga; Carvalho; Ludermir
(1998), apud Meola (2005)).
5.1.4.2. Nodos de Conexão Tipo Feedback
Quando a rede neural apresenta arquitetura com conexões de realimentações, tanto
entre neurônios de uma mesma camada como entre neurônios de camadas anteriores, recebe o
nome de feedback. O processo de obtenção das operações matemáticas para saídas é mais
complexo, porém após o treinamento as saídas são calculadas instantaneamente. Uma rede
realimentada é chamada de recorrente, cujo exemplo está ilustrado na Fig. 5.6. São exemplos
de redes recorrentes as redes de Hopfield (1982) e Kohonen (1984), as quais apresentam uma
realimentação após a propagação, o que favorece o treinamento. Deste modo, a rede é treinada
com propagações e realimentações, até que haja um equilíbrio entre as entradas, os pesos e as
saídas ou algum critério de convergência seja atingido.
Figura 5.6. Exemplo de arquitetura da rede neural feedback (Braga; Carvalho; Ludermir
(1998), apud Meola (2005)).
74
5.1.5 Aprendizado das Redes Neurais Artificiais
As redes neurais artificiais possuem a capacidade de aprender por exemplos e fazer
interpolações e extrapolações do que aprendem. Um conjunto de procedimentos bem
definidos para adaptar os parâmetros de uma RNA para que a mesma possa aprender uma
determinada função é chamado de algoritmo de aprendizado. O que se tem é um conjunto de
ferramentas representadas por diversos algoritmos, cada qual com suas vantagens e
desvantagens. Esses algoritmos basicamente diferem pela maneira através da qual o ajuste dos
pesos é feito (Braga; Carvalho; Ludemir, 2000).
A etapa de aprendizagem consiste em um processo iterativo de ajuste de parâmetros
da rede, também conhecidos como os pesos das conexões entre as unidades de processamento
que guardam, ao final do processo, o conhecimento que a rede adquiriu do ambiente em que
está operando (Braga; Carvalho; Ludemir, 2000).
Diversos métodos para treinamento de redes foram desenvolvidos, podendo estes ser
agrupados em dois paradigmas principais: Aprendizado Supervisionado e Aprendizado Não
Supervisionado. Outros dois paradigmas bastante conhecidos são os de Aprendizado por
Reforço e Aprendizado por Competição (Braga; Carvalho; Ludemir, 2000).
5.1.5.1 Aprendizado Supervisionado
Segundo Braga, Carvalho e Ludermir (2000), este método de aprendizado é
supervisionado porque a entrada e saída desejadas para a rede são fornecidas por um
supervisor (professor) externo. O objetivo é ajustar os parâmetros da rede, de forma a
encontrar uma ligação entre os pares de entrada e saída fornecidos. O professor indica
explicitamente um comportamento bom ou ruim para a rede, visando direcionar o processo de
treinamento. A rede tem uma saída corrente (calculada) comparada com a saída desejada,
recebendo informações do supervisor sobre o erro da resposta atual. A cada padrão de entrada
submetido à rede, compara-se a resposta desejada com a resposta calculada, e ajustando-se os
pesos das conexões para minimizar o erro. A minimização da diferença é incremental, já que
pequenos ajustes são feitos nos pesos à cada etapa de treinamento, de tal forma que estes
caminhem, se possível, para uma solução. A soma dos erros médios quadráticos de todas as
saídas é normalmente utilizada com medida de desempenho da rede e também como função
de custo a ser minimizada pelo algoritmo de treinamento.
A desvantagem do aprendizado supervisionado é que, na ausência do professor, a
rede não conseguirá aprender novas estratégias para situações não cobertas pelos exemplos do
75
treinamento da rede. Os exemplos mais conhecidos de algoritmos para aprendizado
supervisionado são a regra delta e a sua generalização para redes de múltiplas camadas, o
algoritmo backpropagation (Braga; Carvalho; Ludermir, 1998).
Segundo Miranda (2002), esse aprendizado pode ser implementado basicamente de
duas formas: off-line e on-line. Para aquele, os dados do conjunto de treinamento não mudam,
sendo que uma vez obtida uma solução para a rede, esta deve permanecer fixa. Caso novos
dados sejam adicionados ao conjunto de treinamento, novo treinamento, envolvendo também
os dados anteriores, deve ser realizado para se evitar inferência no treinamento anterior. Por
sua vez, no aprendizado on-line, o conjunto de dados muda continuamente, sendo que a rede
deve estar em contínuo processo de adaptação.
5.1.5.2 Aprendizado Não Supervisionado
Neste aprendizado, como o próprio nome sugere, não há um professor ou supervisor
para acompanhar o processo de aprendizado. Para esses algoritmos, somente os padrões de
entrada estão disponíveis para a rede, ao contrário do supervisionado, cujo conjunto de
treinamento possui pares de entrada e saída. A partir do momento em que a rede estabelece
uma harmonia com as regularidades estatísticas da entrada de dados, desenvolve-se nela uma
habilidade de formar representações internas para codificar características da entrada e criar
novas classes ou grupos automaticamente. Este tipo de aprendizado só é possível se houver
redundância nos dados de entrada, pois, caso contrário, seria impossível encontrar quaisquer
padrões ou características dos dados de entrada (Braga; Carvalho; Ludermir, 2000).
O Aprendizado Hebbiano, o Modelo de Linsker, a Regra de Oja e a Regra de Yuille
são exemplos de aprendizado não supervisionado, os quais não serão detalhados neste
trabalho, uma vez que não foram utilizados como ferramentas de análise (Braga; Carvalho;
Ludermir, 1998).
5.1.5.3 Aprendizado por Reforço
No aprendizado por reforço, o qual é um caso particular de aprendizado
supervisionado, a única informação de realimentação fornecida à rede é se uma determinada
saída está correta ou não, isto é, não é fornecida à rede a resposta correta para o padrão de
entrada (Braga; Carvalho; Ludermir, 2000).
76
Este aprendizado é uma forma de aprendizado on-line obtido por um mapeamento de
entrada-saída através de um processo de triagem e erro desenvolvido para maximizar o índice
de desempenho escalar chamado de sinal de reforço.
Segundo Braga, Carvalho e Ludermir (2000), o paradigma de aprendizagem por
reforço pode ter:
- Aprendizagem Associativa: o meio fornece outras informações além do reforço e um
mapeamento, na forma estímulo-ação, deve ser aprendido.
- Aprendizagem Não Associativa: o sinal de reforço é a única entrada que o sistema
recebe do meio. O sistema seleciona uma única ação ótima, ao invés de associar
diferentes ações com diferentes estímulos.
5.1.6 Rede Neural Probabilística (RNP)
Apesar dos vários modelos de redes neurais artificiais existentes, neste trabalho será
apresentada apenas a Rede Neural Probabilística, pois foi esta a ferramenta utilizada para o
desenvolvimento do procedimento de estimativa de tempo de permanência do operador na
planta. A escolha da RNP é explicada pela necessidade de se obter a probabilidade de uma
pessoa estar em determinado local de uma área pré-definida tendo como dados de entrada
para o treinamento da rede uma matriz contendo as coordenadas de todos os pontos
pertencentes à área estudada e uma matriz da trajetória dentro da planta, contendo as
coordenadas da rota e o tempo de permanência em cada ponto (Meola, 2005).
O algoritmo padrão para as Redes RNP foi baseado na teoria dos Classificadores
Bayesianos (desenvolvido nos anos 50) e descrito por Meisel (1972). Este algoritmo leva em
consideração a probabilidade relativa dos eventos ocorridos e usa esta informação para
predição. As RNP também utilizam os conceitos de Estimadores Parzen, que foram
desenvolvidos para construir as funções densidade de probabilidade requeridas pela teoria
Bayesiana (Masters, 1995).
Apesar de ser uma ferramenta extremamente poderosa, o algoritmo permaneceu no
esquecimento em função das exigências de elevado processamento computacional. Entretanto,
Specht (1990) mostrou que o algoritmo poderia ser implementado na forma de rede neural,
bastando para isso, que fosse dividido em vários componentes individuais (neurônios ou
processadores) para operação em paralelo. É esta capacidade de operação em paralelo que
permite a associação do algoritmo de Meisel (1972) à uma rede neural, pois a grosso modo, as
RNP operam segundo conceitos consolidados da estatística tradicional (Masters, 1995).
77
A RNP é intrinsecamente um algoritmo projetado para executar tarefas de
classificação, sendo treinada para avaliar amostras desconhecidas e associá-las com uma
determinada classe do conjunto de treinamento (Meola, 2005).
As redes neurais diretas com múltiplas camadas também são excelentes
classificadoras. De qualquer forma apresentam dois problemas: o primeiro é o
desconhecimento da forma de operação e o comportamento esperado do mesmo. O segundo e
mais sério, é a velocidade de treinamento da rede, a qual pode ser extremamente baixa. Por
outro lado, as RNP têm um modelamento matemático consolidado, são treinadas rapidamente
e classificam significativamente bem, comparadas com as redes diretas de múltiplas camadas
(Masters 1995).
As principais desvantagens das redes probabilísticas são a relativa lentidão para
classificar e a exigência de grande quantidade de memória computacional. No entanto, uma
RNP pode ser implementada através de vários processadores, facilitando o processamento
pela máquina (Meola, 2005).
5.1.7. Método de Classificação de Bayes
A rede neural probabilística tem como base o método estatístico de Bayes, o qual
será detalhado a seguir (Masters, 1995 apud Miranda, 2002).
Considerando-se uma coleção de amostras aleatórias de K populações, onde cada
amostra, indexada de k = 1, 2, ..., K, é um vetor x = [ x1, x2, ...,xm ]. Num caso geral, admite-se
que tais amostras tenham diferentes probabilidades, denominadas hk. Quando um erro de
classificação é cometido com um caso que certamente pertence à população k, o custo
associado com este erro é ck, entretanto, em muitos casos, segundo (Masters, 1995), as
probabilidades hk são admitidas iguais para todas as amostras, e o mesmo é feito para o custo
ck.
A coleção completa é chamada de conjunto de treinamento, contendo n1 amostras da
classe 1, n2 da classe 2 e nk da classe k. Um algoritmo apto a associar corretamente uma
amostra desconhecida à uma das classes do conjunto de treinamento, deve ser gerado a partir
desse procedimento. O algoritmo taxado como um Bayes ótimo ocorre para o caso em que o
mesmo tenha um custo de erro de classificação maior do que qualquer outro.
Prova-se que haverá uma regra de decisão de Bayes ótima caso seja fornecida a
verdadeira função densidade de probabilidade (fdp) para toda a coleção de amostras. Faz-se a
classificação de uma amostra desconhecida X como pertencente à uma classe i se:
78
)X(fch)X(fch jjjiii > para toda amostra j ≠ i (5.6)
onde fk(X) é a concentração (densidade) de membros da classe k ao redor da amostra
desconhecida.
De acordo com a regra de Bayes, deve-se favorecer a classe que possui maior
densidade de membros na vizinhança da amostra desconhecida. Há, no entanto, um problema
da regra de Bayes, em que não se conhece a verdadeira fdp fk(X). Neste caso, deve-se utilizar
uma estimativa para a fdp. (Parzen, 1962) apresenta um excelente estimador para a fdp
unidimensional que converge para a verdadeira fdp quando o número de amostras cresce.
5.1.8. Método de Estimativa da fdp
O estimador da fdp de Parzen utiliza uma função de ponderação W(d), conhecida
como função Kernel, a qual possui os maiores valores para d=0 e, decresce rapidamente com
o valor absoluto de d. Um Kernel é centrado em cada ponto da amostra, com o valor de cada
uma dessas funções, em uma coordenada x, determinado pela distância d entre x e o ponto da
amostra. O estimador da função densidade de probabilidade da amostra é a soma escalonada
destas funções para todos os casos da amostra (Masters, 1995 apud Miranda, 2002).
Dada uma amostra de uma variável aleatória unidimensional de tamanho (n), a sua
fdp pode ser estimada por:
∑=
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ −=
n
i s
xixWn
xg1
1)(σσ
(5.7)
onde σs é o parâmetro de escala que define a largura da curva sino centrada em cada membro
da coleção de dados.
Para um valor muito pequeno de σ, o estimador tende a valorizar os pontos amostrais
demasiadamente, e para valores muito grandes, o estimador despreza quase que
completamente a influência dos pontos amostrais vizinhos.
As propriedades impostas para as funções candidatas à janela Kernel foram
estabelecidas por Parzen (1962) e Specht (1990), como segue:
A função deve ser limitada
79
∞<)x(Wmax x (5.8)
A magnitude de função de ponderação deve tender a zero à medida que o módulo do seu
argumento aumenta. Tal restrição é representada pelas Eqs. (5.9) e (5.10).
∫∞
∞−
∞<dx)x(W
(5.9)
0dx)x(Wlim
x=
∞→ (5.10)
A função de ponderação deve ser apropriadamente normalizada, atendendo à Eq. (5.11).
∫∞
∞−
= 1dx)x(W
(5.11)
A função de ponderação deve estreitar-se com o aumento do tamanho amostral, com
intuito de se obter um comportamento assintótico. As Eqs. (5.12) e (5.13) representam
ambas as condições que devem ser satisfeitas para o parâmetro de escala em função de n.
0lim =∞→ nnσ (5.12)
∞=∞→ nn
nσlim (5.13)
5.1.9 Arquitetura e Funcionalidade da Rede Neural Probabilística
Numa rede treinada para executar tarefas de classificação, o número de entradas é
exatamente igual ao número de parâmetros necessários para identificar uma determinada
classe. A camada de entrada é fictícia, uma vez que seus neurônios não executam nenhuma
operação. A camada de classificação é constituída de um neurônio para cada caso do conjunto
de treinamento. O processo de classificação inicia com a apresentação da amostra
desconhecida para todos os neurônios da camada de classificação. Cada neurônio de
classificação calcula a distância medida entre a amostra de entrada e o caso do conjunto de
treinamento ao qual ele está associado. Esta distância será o argumento da função de ativação
80
do neurônio, que é necessariamente uma janela Parzen. Cada neurônio da camada de
somatório simplesmente soma a saída dos neurônios da camada de classificação
correspondente à sua classe. O nível de ativação do neurônio somador k é o valor da fdp
estimada da população k. O neurônio da camada de saída é um classificador simples, que
decide qual das entradas provenientes da camada de somatório possui o valor máximo
(Masters, 1995 apud Miranda, 2002).
5.2 Método de Monte Carlo
O Método de Monte Carlo é um procedimento que investiga as distribuições
aleatórias de várias estatísticas e determina os efeitos de violar suposições subjacentes sobre
as distribuições. No livro de Hammersley (1964), a definição do Método de Monte Carlo é
dada como sendo “a parte da matemática experimental que está preocupada em experiências
com números aleatórios”. Esta é uma definição bem geral, mas é uma das definições que
cercam as muitas aplicações que foram utilizadas durante anos.
O termo “Método de Monte Carlo” foi dado na segunda guerra mundial, devido à
similaridade entre os processos estatísticos e os “jogos de azar”. Originou-se do nome da
cidade de Mônaco no mediterrâneo conhecida pelos seus cassinos.
Os métodos de Monte Carlo são simulações estatísticas que utilizam sequências de
números aleatórios. Esta técnica foi aplicada inicialmente pelo matemático, John Von
Neumann, quando ele e seus colegas usaram este método para estudar a difusão de nêutrons
durante o desenvolvimento da bomba Atômica em Los Alamos (McCracken, 1955).
Podemos localizar as origens da simulação estocástica até uma experiência realizada
no século XVIII por Georges Louis Leclerc, Conde de Buffon. Foi utilizada durante a guerra
civil americana para aliviar a monotonia das tropas, onde o método foi aplicado para estudar o
problema da agulha de Buffon, um problema de interesse para matemáticos da época. Neste
problema, foi mostrado que quando lançado uma agulha aleatoriamente com comprimento k
em direção a linhas paralelas separadas por uma distância 2k, a razão entre o número de
lançamentos pelo número de acertos (número de vezes em que a agulha cruza uma linha)
resultaria aproximadamente no valor de π (3,1416). Com o aumento dos lançamentos, o valor
desta razão chega mais próximo do valor de π.
81
“Se a pessoa não tem nada para fazer, talvez existam coisas menos excitantes do que
lançar agulhas!” (McCracken, 1955) podem-se encontrar relatórios onde McCracken executou
a experiência com a agulha, mas depois de aproximadamente cem tentativas, ele pensou que
poderia ser mais agradável escrever um programa computacional para simular estes
lançamentos. Seu artigo descreve a discussão sobre o problema da agulha de Buffon, e os
parâmetros que envolveram este experimento. Ele discute, também, como computadores
podem ser utilizados para executar o Método de Monte Carlo, discute o problema da difusão
de nêutrons, e outros problemas mais. Ele fornece uma descrição útil das vantagens e
desvantagens destes tipos de procedimentos.
William Sealy Gossett, que trabalhou com o pseudônimo de "Student" (e foi quem
propôs a distribuição hoje conhecida como “distribuição t de Student”), realizou experimentos
de amostragem em Matemática Estatística. Gossett trabalhou com números aleatórios em seus
experimentos e, para gerar os números, utilizou o método Top-Hat (rotação de discos). A
partir dessa época a quantidade de números aleatórios necessários nos experimentos era cada
vez maior. Passou-se a estocar os números em tabelas que eram publicadas para uso dos que
delas precisavam.
Essa foi uma idéia de L. H. C. Tippet que, em 1927, publicou uma tabela com 40000
dígitos extraídos aleatoriamente de dados do censo americano. Ela foi publicada em "Random
Sampling Numbers", Tracts for Computers, nº 15, Cambridge University Press, New York,
1927.
Em 1908, W. S. Gosset usou procedimentos aleatórios (obviamente sem a ajuda de
um computador) para lhe ajudar a entender a distribuição aleatória do coeficiente de
correlação, como também o da estatística t que ele desenvolveu (Hammersley; Handscomb
1964). Desde então, houve pesquisas consideráveis para o uso do Método de Monte Carlo.
Pode-se citar vários artigos sobre a investigação do Método de Monte Carlo envolvendo, por
exemplo, análise de variância (Lindquist, 1953; Glass et al., 1972); o teste t (Boneau, 1960);
testes de médias hoc post para análise de variância (Petrinovich; Hardick, 1969); análise de
variância multivariada (Hummel; Sligo, 1971); coeficiente de correlação (Havlicek e
Peterson, 1977); modelos causais (Tanaka, 1987); entre outros.
Há duas aplicações básicas do Método de Monte Carlo. Uma das aplicações é para
avaliar a distribuição aleatória empírica de uma estatística. Em alguns casos, a distribuição
teórica de uma estatística pode ser conhecida, assim esta aplicação é planejada para
demonstrar empiricamente um fenômeno matemático simples. Esta é uma aplicação muito
82
informativa, e parece ser muito útil para propósitos pedagógicos. Um livro de ensino
estatístico (Walker; Lev, 1953 apud Barros, 2005) apresenta um exercício laboratorial no qual
a classe executou o Método de Monte Carlo para estudar as distribuições Normal, t-Student, F
e χ2. Este método consumia muito tempo, mas com os computadores atuais, prontamente
disponíveis, talvez hoje seu tempo de desenvolvimento diminua.
Uma segunda aplicação, e talvez até mesmo mais comum, é o uso do Método de
Monte Carlo para estudar os efeitos de violar suposições que estão por trás de algumas
estatísticas (Barros, 2005).
Por exemplo, sabe-se que para o uso do teste-t, quando se testa diferenças entre duas
médias, deve-se assumir que as duas amostras aleatórias são retiradas de populações Normais.
O teste-t é robusto com respeito a violações da suposição de normalidade, e utilizando-se o
Método de Monte Carlo, pode-se mostrar esta robustez (Barros, 2005).
Para executar o Método de Monte Carlo, há três passos básicos que devem ser
seguidos (Barros, 2005):
• O primeiro passo envolve o estabelecimento da(s) população(ões) de interesse. Estas
populações devem ter certos parâmetros (por exemplo, média, desvio padrão, moda,
dentre outros.) e podem apresentar vários comportamentos (por exemplo, Normal,
Exponencial, Uniforme, dentre outros.);
• O segundo passo para executar o Método de Monte Carlo é obter amostras aleatórias
da(s) população(ões), e calcular a(s) estatística(s) de interesse. Para obter amostras
aleatórias, é preciso obter uma sequência de números aleatórios. Computacionalmente,
esta sequência é facilmente obtida, utilizando um gerador de números aleatórios.
Geradores de números aleatórios geralmente produzem uma distribuição uniforme de
valores R no intervalo 0,0000... até 0,9999... . Porém, pode-se obter números
aleatórios fazendo uma transformação para definir um número inteiro L variando de 1
a K, utilizando a Eq. (5.14).
L = Inteiro [(R * K) + 1] (5.14)
Os números gerados por está técnica são pseudo-aleatórios, porém, eles geralmente
são suficientes para obter aproximações razoáveis de números aleatórios inteiros, e
podem ser usados para obter amostras aleatórias de alguma população de interesse.
83
• O terceiro passo para executar o Método de Monte Carlo é criar a distribuição de
frequência da estatística de interesse. Esta distribuição de frequência é normalmente
chamada de distribuição aleatória empírica, e pode ser comparada com a distribuição
aleatória teórica apropriada.
Para fazer isto, deve-se comparar o comportamento da distribuição aleatória empírica
com a distribuição aleatória teórica da estatística. A distribuição empírica, às vezes, pode
ser comparada com outra distribuição empírica, ou seja, o pesquisador pode executar dois
Métodos de Monte Carlo, por exemplo, um no qual nenhuma das suposições foram
violadas, e uma no qual alguma suposição foi violada. Então, pode-se fazer comparações
entre as duas distribuições aleatórias empíricas.
John Von Neumann propôs, em 1946, o primeiro algoritmo gerador de números
pseudo-aleatórios, tendo-o chamado de “método do meio dos quadrados”. O seguinte exemplo
será ilustrativo deste algoritmo (Blum et al., 1986).
• Considere um valor inicial qualquer, um número com quatro casas decimais dado,
como o número xo = 0,9876;
• Eleva-se xo ao quadrado, obtendo-se xo2 = 0,97535376;
• Forma-se, a seguir, o número x1 com as quatro casas decimais do meio: x1 = 0,5353;
• Repete-se em seguida o procedimento, obtendo-se: x12 = 0,28654609 e x2 = 0,6546, x3
= 0,8501, x4 = 0,2670, x5 = 0,1289, e assim por diante.
Constatou-se, porém, uma preponderância de pequenos valores entre os números
gerados por este método, levando à elaboração de diversos outros algoritmos. Vários deles
estão descritos no livro “Numerical Recipes” (PRESS, 1986) e em vários artigos espalhados
pela literatura especializada (Eichenauer-Herrmann, 1993, 1995; L'ecuyer, 1990, 1994;
Tezuka, 1995).
O método de solução numérica de problemas que se baseia na simulação usando
variáveis aleatórias é conhecido como Método de Monte Carlo. Sua origem data de 1949, com
a publicação do artigo “The Monte Carlo Method” (Metropolis; Ulan, 1949). O princípio do
Método de Monte Carlo já era conhecido antes da publicação do artigo de Metropolis e Ulan
(1949): era utilizado, por exemplo, no tratamento de dados de amostras aleatórias em
estatística. Mas a sua ampla aplicação não era viável antes do aparecimento dos computadores
eletrônicos (Fishman, 1996).
84
Com o avanço da informática, os cientistas começaram a utilizar o computador para
gerar e armazenar números aleatórios, baseados em métodos deterministas como o de Lemer,
e as tabelas perderam a sua utilidade.
CAPÍTULO VI
Metodologia
Sabe-se que, para se calcular a dose de exposição ao ruído ocupacional é necessário
conhecer pelo menos duas variáveis: o nível de ruído ambiente e o tempo de exposição. Os
métodos de cálculo de dose dados pelo anexo 1 da NR 15 do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) e pela NHO-01 da FUNDACENTRO utilizam os tempos de exposição aos
níveis de ruído e o tempo de exposição máximo a determinado nível. O colaborador utiliza
um dispositivo integrador instantâneo (dosímetro) durante a sua jornada de trabalho e, ao final
desta, o resultado encontrado para uma única pessoa deve ser representativo para o restante do
grupo homogêneo.
A metodologia almejada deve ser capaz de estimar um intervalo e confiança para a
dose de exposição ao ruído ocupacional para um determinado grupo homogêneo, levando em
consideração não somente a rotina de trabalho, mas também os possíveis desvios desta, como
atendimento a paradas, liberação de área e de serviço, alterações na rota devido a reformas ou
manutenções, diferenças no ritmo de trabalho de cada colaborador pertencente ao grupo
analisado, dentre outras possíveis variáveis.
Uma vez que se torna inviável a utilização de uma unidade industrial real para fins de
estudo, devido a aspectos legais, optou-se neste trabalho por criar uma unidade fictícia a partir
da experiência adquirida no Laboratório de Acústica e Vibrações (LAV) da Universidade
Federal de Uberlândia (UFU) de vários trabalhos de medições dos níveis de pressão sonora
em unidades de processo, identificação dos níveis de potência sonora das principais fontes de
ruído e, propostas de medidas de controle para as fontes de ruído críticas, realizados em
grandes empresas.
86
Alguns destes trabalhos também se estenderam às obras de ampliação e projeto de
novas unidades de processo onde, através de metodologias analíticas (equações e tabelas de
previsão de níveis de ruído de máquinas dados por diversos autores), foram realizadas
análises de previsão do impacto, ou seja, aumento do nível de ruído causado pela implantação
de tais unidades e novos equipamentos.
Contudo, como dito anteriormente, para o cálculo da dose de exposição ao ruído
ocupacional é necessário conhecer os níveis de ruído no ambiente. Para a estimativa dos
níveis de pressão sonora na planta, foi utilizado o programa de simulação de campo acústico
do laboratório, sendo permitido exportar tais valores em uma malha pré-definida de
espaçamento de um metro. O programa de simulação de campo acústico utiliza com dados de
entrada as propriedades acústicas (perda de transmissão sonora, coeficiente de absorção
sonora, coeficiente de reflexão sonora) de cada um dos materiais que constituem a estrutura
da planta analisada, o nível de potência sonora de cada fonte de ruído bem como sua
diretividade e tempo de funcionamento durante a jornada de trabalho, a existência de locais
fechados (casas de máquinas, biombos de operação, enclausuramento, dentre outros) além do
plano receptor do ruído (a que altura em elação ao solo se encontra a orelha do colaborador
analisado, podendo ser analisadas várias alturas diferentes).
Para a previsão de dose foi necessário desenvolver métodos de previsão estatística da
probabilidade do funcionário estar presente em um determinado local da unidade tomando
como base para isso o a sua rotina de trabalho. Para a elaboração das rotinas de trabalho
foram utilizados dados coletados nos trabalhos de acompanhamento de funcionários em
indústrias.
Apresenta-se no próximo tópico a planta industrial utilizada no trabalho.
6.1 Definição da Unidade Industrial
Foi escolhida uma unidade de geração e distribuição de vapor, sendo esta
normalmente utilizada para geração de energia, acionando turbo geradores ou mesmo para a
alimentação de turbo bombas e turbo compressores, pré-aquecimento de produtos além de
outras finalidades.
Esta escolha decorre do fato de que, nos trabalhos realizados, observou-se que tais
unidades possuem composição e níveis de ruído semelhantes, sendo utilizado um banco de
87
dados com os níveis de potência sonora identificados para as principais fontes de ruído do
tipo de unidade industrial escolhida.
Desta forma, optou-se por criar uma planta que simulasse o funcionamento de uma
central de geração e distribuição de vapor para o desfecho do trabalho.
A unidade desenvolvida consiste de:
• Uma caldeira de grande porte com três plataformas de acesso onde serão
considerados como fontes de ruído:
- seis queimadores;
- dois pirômetros;
- um turbo ventilador de tiragem forçada para admissão de ar que
também pode ser acionado por um motor elétrico;
- três compressores utilizados no funcionamento da caldeira;
- corpo da caldeira;
• Um desaerador com duas descargas para atmosfera (vents);
• Uma torre de resfriamento de água com duas quedas de água e cinco moto
bombas;
• Uma edificação de três pavimentos, onde será alocado um turbo gerador, um
turbo expansor, duas moto bombas de condensado, um exaustor para o tanque
de óleo, dois exautores de vapor de selagem, além das tubulações;
• Um parque constituído de três turbo bombas e duas moto bombas;
• Uma área coberta onde estão alocados três moto compressores, sendo dois
destes com descarga para a atmosfera;
• Uma edificação de dois pavimentos onde estarão localizados os painéis
elétricos e a sala de operações.
A Fig. 6.1 ilustra o modelo acústico simplificado para a unidade industria em questão.
As cruzes em vermelho indicam a posição das fontes de ruído descritas acima.
88
Figura 6.1 - Modelo acústico simplificado da área industrial.
Definida a unidade industrial, os próximos passos consistem em:
• Obtenção de isocurvas de pressão sonora para as áreas estudadas;
• Definição da rota do colaborador para a execução de suas tarefas;
• Definição do procedimento de estimativa e avaliação da dose de exposição ao
ruído.
Em função do envolvimento do autor, serão apresentados nos itens 6.2, 6.3 e 6.4 os
fundamentos teóricos, procedimentos e técnicas utilizadas para medição de níveis de ruído,
identificação, estimativa e cálculo de níveis de potência sonora (NWS) de alguns
equipamentos constituintes de plantas industriais.
89
6.2 Métodos Analíticos para Identificação dos NWS de Equipamentos
6.2.1 Bombas Hidráulicas
Bombas hidráulicas não são, em geral, fontes de ruído significativas quando estas
estão operando na faixa de velocidade de rotação aceitável e na capacidade especificada pelo
fabricante. O ruído de bombas envolve tanto fontes hidráulicas quanto mecânicas (Gerges,
2000).
O ruído gerado por bombas pode ser assim caracterizado: bombas de médio porte em
geral produzem ruído de banda larga sem componentes tonais, já as bombas de grande porte,
comumente geram tanto ruído de banda larga quanto componentes tonais significativos nas
médias frequências (Beranek; Vér, 1992).
Estas fontes se caracterizam por serem omnidirecionais e a principal fonte de ruído
presentes nas bombas é o fenômeno da cavitação, além de flutuações de pressões do fluido,
impacto de partículas sólidas, desbalanceamento do rotor, entre outros.
O ruído pode ser radiado de uma bomba através do ar circunvizinho ou da tubulação
e estrutura da mesma.
Segundo Bies e Hansen (2003), para estimativa dos níveis de pressão sonora total a
um metro da fonte de ruído (bomba hidráulica), utiliza-se a Tab. 6.1, a qual usa a potência e a
rotação do equipamento como parâmetros de entrada.
Tabela 6.1 – Níveis de Pressão sonora total do ruído da bomba a um metro.
Faixa de Rotação (rpm) Nível de Pressão Sonora Total (dB) Potência do motor de acionamento
Abaixo de 75 kW Acima de 75 kW 3000 – 3600 10.log (kW) + 72 dB 3.log (kW) + 86 dB 1600 – 1800 10.log (kW) + 75 dB 3.log (kW) + 89 dB 1000 – 1500 10.log (kW) + 70 dB 3.log (kW) + 84 dB
450 - 900 10.log (kW) + 68 dB 3.log (kW) + 82 dB
Os níveis de pressão sonora em bandas de 1/1 oitava poderão ser estimados
aplicando-se ao nível de pressão sonora total as correções listadas na Tab. 6.2.
90
Tabela 6.2 – Correções do nível de pressão sonora da bomba em bandas de 1/1 oitava.
Fatores de Correção por bandas de oitava Frequências [Hz] 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000
Correção [dB] -12 -11 -9 -9 -6 -9 -13 -19
Para o cálculo dos níveis de potência sonora, é utilizada a Eq. (6.1):
NWS = NPS + 20 log (d)+11dB - 10 log (Q) (6.1)
onde:
• NWS é o nível de potência sonora;
• NPS é o nível de pressão sonora, calculada pela Tab. 6.1;
• d é a distância da fonte ao receptor (pela Tab. 6.1, d equivale a 1 metro);
• Q é o fator de diretividade da superfície, sendo escolhido de acordo com a localização
da fonte, segundo a Fig. A1.3 do Anexo 1.
6.2.2 Motores Elétricos
Segundo Bies e Hansen (2003), o nível de pressão sonora total a 1 metro de pequenos
motores elétricos pode ser estimado, para motores totalmente enclausurados ou para motores
com ventoinhas, através das Eqs. (6.2) para motores de até 40 kW e (6.3) para motores acima
de 40 kW.
NPS = 17 log (kW)+15log (rpm)+17 dB (6.2)
NPS = 10 log (kW)+15log (rpm)+ 28 dB
(6.3)
Motores à prova de respingos geram níveis de pressão sonora 5 dB abaixo dos níveis
de pressão sonora de motores de ventoinha.
Os níveis de pressão sonora em bandas de oitava poderão ser obtidos aplicando-se, ao
nível de pressão sonora total estimado pelas Eqs. (6.2) e (6.3), as correções listadas na Tab.
6.3.
91
Tabela 6.3 – Correções (em dB) dos níveis de pressão sonora total, para obtenção do nível
máximo de pressão sonora em bandas de oitava do ruído de motores elétricos pequenos.
Tipo de Motor Frequências centrais das bandas de oitava [Hz]
63 125 250 500 1000 2000 4000 8000 À prova de respingos
correções em dB -9 -7 -7 -6 -9 -12 -18 -27
Enclausurado e com ventoinha correções em dB -14 -11 -9 -6 -6 -7 -12 -20
Para o cálculo dos níveis de potência sonora, é utilizada a Eq. (6.1).
6.2.3 Compressores de Ar
Compressores de ar são fontes comuns de ruído. No caso de compressores pequenos e
médios, e conforme sua faixa de potência, os dados apresentados na Tab. 6.4 poderão ser
utilizados na estimativa do nível de pressão sonora a 1 metro de distância. Na maioria das
situações, os valores obtidos a partir da Tab. 6.4 são conservativos, isto é, ligeiramente
superestimados.
Contudo, os compressores que serão instalados são de grande porte, com potência
nominal acima de 400 kW, sendo então utilizada a metodologia proposta por Bies e Hansen
(2003), que estimam os níveis de potência sonora, externos aos compressores (neste caso,
para compressores centrífugos), pela Eq. (6.4):
NWS =79 dB+10log(kW) (6.4)
Os níveis de potência sonora em bandas de oitava poderão ser obtidos aplicando-se, ao
nível de potência sonora total estimada pela Eq. (6.4), as correções listadas na Tab. 6.5.
92
Tabela 6.4 - Níveis de pressão sonora em bandas de oitava (dB), a um metro, em função da
potência de compressores de ar.
Frequência Central da Banda de Oitava (Hz)
Nível de Pressão Sonora a um metro (dB)Potência do compressor (kW)
Até 1,5 2 a 6 7 a 75 31,5 82 87 92 63 81 84 87 125 81 84 87 250 80 83 86 500 83 86 89 1000 86 89 92 2000 86 89 92 4000 84 87 90 8000 81 84 87
Tabela 6.5 – Correções (em dB) dos níveis de potência sonora total, para obtenção do nível
máximo de potência sonora em bandas de oitava do ruído gerado por grandes compressores
centrífugos.
Frequências centrais das bandas de oitava [Hz]
63 125 250 500 1000 2000 4000 8000 Correção em dB -10 -11 -13 -13 -11 -7 -8 -12
Foi verificado que, para o acionamento de tais equipamentos, são utilizados motores
de indução acoplados a caixas de engrenagens (amplificadores ou redutores de rotação). Para
estimar os NWS dos motores elétricos, utiliza-se a metodologia mostrada no item 6.2.2.
Para estimar os níveis de pressão sonora a 1 metro de distância dos amplificadores, é
utilizada a Eq. (6.5) (Bies; Hansen, 2003).
Para o cálculo dos níveis de potência sonora, é utilizada a Eq. (6.1).
6.2.4 Ventiladores
Segundo Gerges (2000) existem vários métodos para a predição da potência sonora de
rotores (ventiladores ou exaustores). Um dos trabalhos mais antigos sobre este tópico foi
desenvolvido por Beranek, Kamperman e Allen em 1995. Neste método o nível de potência
( ) ( )78 4log 3logNPS dB kW rpm= + + (6.5)
93
sonora em cada banda de frequência de 1/1 oitava pode ser estimado pelas Eqs. (6.6), (6.7) ou
(6.8).
NWS = Rb + 77 + 10 log (kW) + log (Ps)
(6.6)
NWS = Rb + 25 + 10 log (Qf) + 20 log (Ps)
(6.7)
NWS = Rb + 130 + 10 log (kW) – 10 log (Qf) (6.8)
onde:
• Rb é o fator de correção para cada banda de oitava, dado na Tab. 6.6;
• Ps é a pressão estática (mmca);
• kW é a potência do motor (quilowatts);
• Qf é a velocidade de fluxo de volume (m3/h).
Tabela 6.6 – Valores do fator Rb, em dB(A), usado nas equações 6.6, 6.7 e 6.8.
Frequências (Hz) 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000Centrífugo: pás curvadas para trás -4 -6 -9 -11 -13 -16 -19 -22 Centrífugo: pás curvadas para frente -2 -6 -13 -18 -19 -22 -25 -30 Centrífugo: pás radiais -3 -5 -11 -12 -15 -20 -23 -26 Axial -7 -9 -7 -7 -8 -11 -16 -18 Fluxo Misto 0 -3 -6 -6 -10 -15 -21 -27
Qualquer uma das três equações (6.6, 6.7 e 6.8) pode ser usada. Neste método não é
envolvida a contribuição do componente discreto na frequência de passagem das pás.
6.3 Métodos Tradicionais para Identificação dos NWS de Equipamentos
A potência sonora irradiada por uma fonte de ruído é igual, em valor, à integral do
produto escalar do vetor intensidade sonora e o vetor área elementar associada sobre qualquer
superfície que cubra toda a fonte. As Normas ISO 3740 a 3747, sem exceção, especificam o
nível de pressão sonora como a principal variável acústica a medir.
A relação entre o nível de intensidade sonora e o nível de pressão sonora em qualquer
94
ponto depende das características da fonte, do ambiente de medição, e da posições de medição
em relação à fonte. Desta forma, as Normas ISO 3740 a ISO 3747 necessariamente
especificam a característica da fonte, o ambiente de teste, características e procedimentos de
qualificação, juntamente com os métodos de medição que se espera para restringir a incerteza
da determinação do nível de potência sonora dentro de limites aceitáveis.
Os procedimentos especificados nas Normas ISO 3740 a ISO 3747 não são sempre
adequados, pelas seguintes razões:
a) Instalações dispendiosas são necessárias se alta precisão é necessária e
frequentemente não é possível instalar e operar grandes equipamentos em tais
instalações.
b) Não podem ser utilizados na presença de níveis elevados de ruídos gerados por
outras fontes senão aquela sob investigação.
Para a identificação de fontes de ruído em ambientes abertos, utilizam-se os conceitos
estabelecidos nas normas ISO 9614, ISO 3745 e ISO 3746.
O objetivo da ISO 9614 é especificar métodos pelos quais os níveis de potência sonora
das fontes pode ser determinada, dentro dos limites específicos de incerteza, sob condições de
teste que são menos restritas do que as exigidas pela ISO série 3740 a 3747. A potência
sonora é a potência sonora in situ, conforme determinado pelo procedimento desta parte da
ISO 9614, é fisicamente uma função do ambiente, podendo em alguns casos, diferir a partir
da potência sonora da mesma fonte sob outras condições.
A ISO 9614 ainda complementa a série ISO 3740 a IS0 3747 que especificam diversos
métodos para determinação dos níveis de potência sonora de máquinas e equipamentos. Ela se
difere destas normas internacionais, principalmente em três aspectos:
a) São realizadas medições de intensidade sonora e de pressão sonora;
b) A incerteza do nível de potência sonora determinado pelo método especificado
nesta parte do ISO 9614 é classificada de acordo com os resultados de
determinados testes auxiliares e cálculos efetuados em colaboração com as
medições do teste;
c) Limitações atuais dos equipamentos de medição de intensidade restringem o
intervalo de um terço de oitava de 50 Hz a 6,3 kHz. Valores de limite de banda são
95
determinados a partir do componente de banda uma oitava ou de um terço de oitava
e não por medidas diretas.
A ISO 9614 também fornece um método para determinar o nível de potência sonora de
uma fonte de ruído estacionário a partir de medições da intensidade do som em uma superfície
ao redor da fonte. Em princípio, a integral, sobre qualquer superfície que cubra totalmente a
fonte, do produto escalar do vetor intensidade sonora e o vetor associado à área elementar,
fornece uma medida da potência sonora irradiada diretamente para a atmosfera por todas as
fontes localizadas no interior da superfície, e exclui o som emitido por fontes situadas fora
desta superfície. Na presença de fontes sonoras que operem fora da superfície de medição,
qualquer sistema dentro da superfície pode absorver uma parte da energia incidente sobre
ele. A potência sonora total absorvida na superfície de medição, aparecerá como um
contributo negativo para o fonte de energia, e pode produzir um erro na determinação de
potência sonora, a fim de minimizar o erro associado, é necessário remover qualquer material
de absorção de som na superfície de medição que não está normalmente presente durante a
operação da fonte em teste.
A ISO 9614 é baseada em amostragem ponto-discreta do campo de intensidade normal
para a superfície de medição. O erro de amostragem resultante é uma função da variação
espacial da componente intensidade normal sobre a superfície de medição, que depende da
direcionalidade da fonte, da superfície de amostragem escolhida, da distribuição das posições
da amostra, e da proximidade de fontes estranhas fora da superfície medida.
A precisão da medição do componente normal de intensidade sonora em uma posição
é sensível à diferença entre o nível local de pressão sonora e o nível de intensidade sonora
normal local. A grande diferença pode ocorrer quando o vetor intensidade em uma posição de
medição é direcionado em um ângulo grande (aproximando-se 90°) para o local normal à
superfície de medição. Alternativamente, o nível de pressão sonora local pode conter
contribuições fortes de fontes externas à superfície de medição, mas pode ser associado com
pouco fluxo de energia sonora, como em um campo reverberante em um enclausuramento, ou
o campo pode ser fortemente reativo, devido à presença do campo próximo e ondas
estacionárias.
A Norma ISO 9614 utiliza como superfícies preferenciais para medição as
apresentadas na Fig. 6.2.
96
Figura 6.2 - Superfícies preferenciais para medição para identificação de NWS pela Norma
ISO 9614.
A Norma ISO 3745 especifica os métodos para medir os níveis de pressão sonora
numa superfície de medição que envolve uma fonte de ruído em câmaras anecóicas e semi
anecóicas, sendo tais locais representativos de grandes ambientes abertos, para determinar o
nível de potência sonora ou nível de energia do som produzido pela fonte de ruído. Ainda
dispõe requisitos para o ambiente de teste e instrumentação, assim como técnicas para a
obtenção do nível de pressão sonora superficial a partir do qual o nível de potência sonora ou
nível de energia do som é calculado.
Os métodos especificados na norma são adequados para as medições de todos os tipos
de ruído. A fonte de ruído pode ser um dispositivo, máquina, componente ou sub
montagem. O tamanho máximo da fonte sob teste depende da dimensão da superfície
hipotética criada, utilizada como superfície de medição.
A Norma ISO 3746 especifica um método para medir os níveis de pressão sonora
numa superfície de medição que envolve a fonte sonora, a fim de calcular o seu nível de
potência sonora. Fornece ainda requisitos para o ambiente de teste e instrumentação, bem
como técnicas para a obtenção do nível de pressão sonora superficial, a partir do qual o nível
de potência sonora da fonte é calculado.
É importante que os códigos de teste de ruído específicos para vários tipos de
equipamento sejam estabelecidos e utilizados em conformidade com tal Norma. Para cada
tipo de equipamento, os códigos de tal teste de ruído darão exigências detalhadas sobre a
montagem, carga e condições de funcionamento do equipamento sob teste, assim como uma
seleção da superfície de medição e do microfone.
As Figs. 6.3 e 6.4 ilustram um hemisfério e um paralelepípedo hipotéticos,
normalmente utilizado para posicionamento dos microfones nos métodos de identificação dos
NWS propostos pelas Normas.
97
Figura 6.3 - Hemisfério hipotético utilizado como superfície de medição para identificação de
NWS pelas Normas ISO 3745 e ISSO 3746.
98
Figura 6.4 - Paralelepípedo hipotético utilizado como superfície de medição para identificação
de NWS pela Norma ISO 3746.
6.4 Desenvolvimento de Métodos para Identificação dos NWS de Equipamentos
Muitas vezes é muito difícil a identificação de fontes sonoras devido às suas
dimensões, elevados níveis de ruído e interferências externas.Uma tentativa de contornar tal
99
problema é através da técnica de intensiometria, que por sua vez é dispendiosa de tempo. Para
tanto, desenvolveu-se um método numérico utilizando um procedimento de otimização via
algoritmos genéticos (Nishida et. al, 2008).
Quando as fontes de ruídos emitem baixos níveis de ruído, se comparados aos demais
equipamentos ao seu redor, torna-se muito difícil a sua identificação. Um exemplo que pode
ser citado é a identificação dos NWS de motores elétricos. Apesar de possuírem baixos NWS,
são encontrados em grande quantidade na maioria das empresas, exercendo então influência
significativa no aumento dos NPS na área. Foram realizadas várias análises dentre os métodos
analíticos existentes em Mateus et. al (2008) e desenvolvida uma nova técnica para prever os
NWS de motores elétricos em Fagundes Neto et. al (2009).
6.4.1 Identificação dos NWS Utilizando uma Rotina de Otimização dos NPS Mapeados ao
Redor do Equipamento
Para a utilização da rotina de otimização é necessário conhecer os níveis de pressão
sonora (NPS) emitidos pelos equipamentos a distâncias pré-estabelecidas. Para isto, os NPS
foram medidos a distâncias constantes de um metro das fontes de ruído que se deseja
identificar e a 1 metro entre pontos medidos. Para exemplificar, a Fig. 6.5 ilustra um conjunto
compressor, esquematicamente têm-se os equipamentos e pontos de medição.
Figura 6.5 - Representação esquemática das posições de medição.
Nishida et al. (2008), assim como em Nunes e Duarte (2005), utilizou para a
realização da identificação dos níveis de potência sonora das fontes, um método de
otimização via algoritmos genéticos. A função objetivo, erro quadrático, da qual se deseja
obter o valor mínimo, é dada pela Eq. (6.9).
100
( )2
1i i
n
medido teoricoi
Obj NPS NPS=
= −∑ (6.9)
onde:
10 10 1010log 10 10 10i i iNPSm NPSa NPSc
iNPSteorico⎛ ⎞
= + +⎜ ⎟⎝ ⎠
(6.10)
em que:
21
10log4
ii
i
QNPSm NWSmotorrπ
⎛ ⎞= + ⎜ ⎟
⎝ ⎠
(6.11)
22
10log4
ii
i
QNPSa NWSamplificadorrπ
⎛ ⎞= + ⎜ ⎟
⎝ ⎠ (6.12)
23
10log4
ii
i
QNPSc NWScompressorrπ
⎛ ⎞= + ⎜ ⎟
⎝ ⎠(6.13)
onde:
r1i : distância do ponto de medição ao motor em metros;
r2 i: distância do ponto de medição ao amplificador de rotação em metros;
r3 i: distância do ponto de medição ao compressor em metros;
Qi: índice de diretividade da fonte de ruído.
Foi necessário ainda o desenvolvimento de uma função cujos valores de entrada são
dados pelos níveis de potência sonora (NWS), e cujo valor de saída é o valor minimizado do
erro, dado pela Eq. (6.9). Observa-se que tanto os valores de NWS quanto o valor do erro
médio, são incógnitas da função utilizada no algoritmo genético. A solução numérica se dá a
partir de um intervalo inicial dado para os valores de NWS, e em seguida a convergência do
método busca o menor valor possível da função erro.
Realizou-se esse procedimento, para as bandas de 1/1 oitava de 63 Hz a 8000 Hz,
obtendo-se os valores estimados dos NWS e do erro médio.
101
Para a validação da metodologia, foram realizadas comparações entre os resultados da
otimização com os estimados teoricamente pelos métodos descritos 6.3.2 e 6.3.3, e com o
mapeamento da área industrial. Os resultados serão apresentados no capítulo correspondente.
6.4.2 Metodologia de Identificação de NWS de Motores Elétricos
Inicialmente foram utilizados métodos analíticos para prever os níveis de potência
sonora de motores elétricos, sendo que, em Mateus et. al (2008), uma análise entre as
metodologias de vários autores foi realizada para averiguar qual dentre eles era o mais eficaz,
concluindo que a proposta por Bies e Hansen (2003) se destacou dentre as demais. Contudo,
apesar de apresentar o menor erro quando comparado aos outros métodos analíticos, o método
de Bies e Hansen apresentava um erro significativo quando comparado à identificação real da
fonte de ruído utilizando os NPS medidos ao redor desta.
Visando contornar tal problema, foram desenvolvidos dois novos métodos analíticos
de previsão de NWS utilizando somente os dados de potência e rotação do motor elétrico:
• Treinar uma Rede Neural Artificial;
• Criar uma Superfície de Resposta.
Foi utilizado um banco de dados com a identificação de 141 motores elétricos
previamente identificados em trabalhos de campo. Destes, 80% foram usados para o ajuste da
superfície de resposta e para o treinamento da rede neural, 10% foram utilizados para a
validação dos métodos e 10% para a comparação entre métodos.
O MSR foi criado por George Edward Pelham Box na década de 50 e consiste em
analisar a influência de um grupo de variáveis, em algumas variáveis de resposta, e desde
então tem sido usado com grande sucesso na modelagem de processos industriais diversos
(Barros Neto et. al, 2001). Consiste de planejamento e análise de experimentos, que procura
relacionar os níveis de respostas com os fatores quantitativos que afetam tais respostas (Box e
Draper, 1987).
Na primeira, Box sugeriu o MSR aplicado a uma equação de segundo grau, com o
intuito de otimizar os parâmetros de segmentação de uma resposta desejada. Para determinar
um modelo polinomial de primeiro grau, a abordagem comum consiste em utilizar um
experimento fatorial projetado, tais como planejamento fatorial 2² ou 2³. O projeto 2² (ou 2x2,
onde cada elemento tem dois níveis em torno, em um tetraedro, um ponto central da parte
analisada) mostrado na Fig. 6.6 foi o projeto fatorial escolhido para estimar a superfície de
resposta.
102
Figura 6.6 - Um exemplo de experimento fatorial 2² com superfície de resposta equivalente.
As aplicações mais extensas do MSR estão no mundo industrial, particularmente em
situações em que muitas variáveis de entrada influenciam potencialmente alguma medida de
desempenho ou característica de qualidade do produto ou do processo (Myers; Montgomery,
2002). O caso abordado consiste em dois parâmetros (potência e rotação), cuja contribuição
para a função (nível de potência sonora) será determinado pela SR, trabalhando com uma
regressão linear múltipla.
Uma vez que os níveis de potência sonora usam uma escala logarítmica (dB) as
variáveis da equação devem estar na mesma escala, desta forma, a equação que a SR irá
ajustar é apresentada na Eq. (6.14).
NWS = A log (CV) + B log (RPM) + C [dB] (6.14)
onde:
• NWS é o nível de potência sonora do motor elétrico (em dB);
• CV é a potência do motor (em cv);
• RPM é a rotação de seu eixo (em rpm);
• A, B e C são constantes.
A e B representam a contribuição da potência do motor e a contribuição da rotação
para o seu nível de potência sonora gerado, respectivamente, e C é um o valor médio.
A metodologia de SR foi utilizada para localizar os valores constantes: A, B e C.
103
As Redes Neurais Artificiais, que são referidas como redes neurais, conexões, redes de
adaptação, neuro computadores e transformadores de distribuição paralela, são redes paralelas
interconectadas de elementos simples e têm sido usadas para resolver uma variedade de
problemas de ciência e engenharia que envolve extração de informações úteis de dados
complexos e incertos (Jalel et. al, 1991).
As redes neurais são definidas por três características: a arquitetura, o algoritmo de
treinamento e a função de ativação. O nome vem de sua semelhança com o sistema neural
presente em biologia neural. A função de ativação é a relação entre entrada e saída dos
neurônios (A1, A2, A3 e B na Fig. 6.7), a arquitetura é definida pelas ligações entre esses
neurônios (f1, f2 e f3 na Fig. 6.7) e o algoritmo de treinamento é usado para determinar a
arquitetura.
Basicamente, o algoritmo de treinamento buscará as melhores funções (ligações) entre
os nós (ou neurônios), utilizando dados já existentes (dados experimentais), a fim de treinar a
rede neural para retornar uma certa saída, de acordo com valores aleatórios de entrada.
Figura 6.7 - Representação esquemática de uma rede neural básica.
Cada neurônio ou nó, depois de apresentar a sua entrada para a função de ativação,
pode enviá-la para vários outros neurônios, mas este valor é o mesmo para todas essas
sinapses. O que vai definir a diferença sobre os sinais do neurônio irradiados são as conexões
(as funções determinadas pela arquitetura) entre o neurônio e os outros que levam o sinal
como entrada.
A rede neural utilizada foi uma RNA (Rede Neural Artificial) já existente, cujo
esquema não é conhecido, treinada pelo algoritmo de Levenberg-Marquardt. Uma vez que
esta etapa do trabalho não visa um estudo profundo de redes neurais, mas apenas a sua
eficácia para o caso abordado, a rede neural é usada como uma ferramenta computacional e
104
nenhuma informação sobre ela foi necessária. Os resultados serão apresentados no capítulo
correspondente.
6.5 Avaliação do Programa de Simulação
Com as fontes de ruído já identificadas, e as propriedades dos materiais retirados de
livros, catálogos e sites de fabricantes, passou-se à fase de simulação, para a estimativa dos
NPS locais. Para tanto foi utilizado o programa de simulação de campo acústico desenvolvido
para o laboratório.
6.5.1 Apresentação da Forma de Simulação
A Acústica Previsional é um conjunto de técnicas utilizado para prognosticar o nível
de ruído em um ambiente determinado, destacando-se as técnicas clássicas, teoria dos raios
acústicos e técnicas de elementos finitos.
Nas técnicas clássicas, as fontes de ruído são discretizadas em fontes acústicas do tipo
monopolo e o campo de pressão sonora é obtido a partir de expressões empíricas para a
difusão do som. Uma excelente revisão bibliográfica sobre as técnicas clássicas pode ser
encontrada em Kortchmar e Slama (1996).
A teoria dos raios acústicos é baseada na hipótese da superposição do efeito de fontes
monopolares, gerando raios acústicos divergentes que são refletidos nas paredes (método das
imagens), perdendo energia até atingir o observador.
Nas técnicas de elementos finitos, a região a ser analisada é discretizada em volumes
elementares. A pressão sonora nestes elementos é representada por uma função de
interpolação, e os parâmetros que definem tal função são numericamente obtidos a partir de
um princípio variacional.
Apesar de apresentar excelentes resultados para ambientes fechados, a técnica de
elementos finitos tem como principal problema a exigência de que as dimensões básicas do
volume elementar sejam menores do que um décimo do comprimento da onda acústica
analisada, o que a limita para regiões pequenas e ruído de baixa frequência.
Do exposto, e considerando as dimensões e afastamentos envolvidos, optou-se por
utilizar neste programa, uma técnica clássica de análise previsional, baseada na equação de
105
difusão de Thompson (Korthmar; Slama, 1996), sendo a técnica dos elementos finitos,
utilizada para modelar a eficiência de soluções acústicas específicas.
O modelo adotado para ambientes fechados só pode ser utilizado para fins de previsão
e controle de níveis de ruído industriais, ou seja, não existe possibilidade de cálculos
envolvendo a qualidade acústica do ambiente, os quais são necessários para projetos de
acústica arquitetônica. O modelo foi escolhido de forma a permitir que as simulações em
ambientes internos sejam realizadas com o menor custo computacional possível de forma a
viabilizar o projeto.
O modelo utilizado é a teoria de raios acústicos, cujos resultados são válidos a partir
da frequência de Schroeder dada pela Eq. (6.15), onde Tr é o tempo de reverberação em
segundos e V é o volume da sala em metros cúbicos.
2000 rs
Tf =V
[Hz] (6.15)
Exemplificando, a frequência de Schroeder para uma sala de 10 m x 5 m x 2,8 m com
um coeficiente de absorção médio de 10% é de aproximadamente 190 Hz. Isto indica que na
banda de 1/1 oitava, na faixa de 250 a 8000 Hz não haverá problemas na utilização da teoria
em ambientes industriais os quais são caracterizados por grandes dimensões.
Dois problemas surgem quando da utilização da teoria de ray-tracing em grandes
ambientes fechados:
• Proximidade de teto e piso e respectivos baixos coeficientes de absorção
acústica;
• Número excessivo de barreiras acústicas representadas por máquinas, salas e
regiões de estoque temporário de produtos.
O primeiro problema implica num grande número de reflexões de raios acústicos, o
que penaliza sobremaneira a eficiência do procedimento computacional.
O problema das barreiras ainda é pior, visto que para cada raio acústico necessita-se de
uma infinidade de cálculos envolvendo existência ou não de barreiras e se houver, as perdas
de transmissão equivalentes das mesmas.
As hipóteses básicas, assumidas para a propagação do som em ambientes internos
foram:
• As leis da acústica geométrica são válidas;
106
• Não são considerados os fenômenos de onda;
• As superfícies são planas e refletem um espectro de energia sonora similar a
um plano infinito;
• Qualquer superfície absorve a energia sonora de acordo com seus coeficientes
de absorção;
• Ruído é tratado em função da energia e não em função da pressão;
• As energias podem ser diretamente somadas e não há efeitos de fase.
Estimados os valores das componentes ominidirecionais (Wa) e direcionais (Wb) do
Nível de Potência Sonora [dB(A)] das fontes monopolos, em bandas de 1/1 oitava (63 a 8000
Hz), calculam-se os Níveis de Pressão Sonora nas áreas estudadas utilizando-se a equação de
difusão (Eq. (6.16)).
Lft(DW)=NWS +DI – A (6.16)
onde:
- A é a atenuação da banda de oitava [dB] que ocorre durante a propagação da fonte pontual, e
pode ser calculada pela Eq. (6.17).
A= Adiv + Aatm + Abar + Amisc (6.17)
onde:
- Adiv é a atenuação devido à divergência geométrica;
- Aatm é a atenuação devido à absorção atmosférica;
- Abar é a atenuação devido a barreiras;
- Amisc é a atenuação devido a outros efeitos.
A divergência geométrica devido à expansão esférica em campo aberto para uma fonte
pontual (Fig. 6.8) é calculada pela Eq. (6.18), onde d é a distância da fonte ao receptor [m] e
d0 é a distância de referência (1 m) (Gerges, 2000).
0
20 log 11divdA = +d
⎡ ⎤⎛ ⎞⎢ ⎥⎜ ⎟
⎝ ⎠⎣ ⎦ (6.18)
107
Figura 6.8 - Divergência geométrica para fontes pontuais em campo aberto.
Para fontes lineares (Fig. 6.9), duas equações são utilizadas para calcular a divergência
geométrica (Gerges, 2000):
- A Eq. (6.18) para distâncias perpendiculares à fonte maiores do que c/π, onde c é o
comprimento da fonte conforme pode ser observado na Fig. 6.9. Neste caso d é
calculado em relação ao centro de gravidade da fonte linear.
- A Eq. (6.19) para distâncias menores do que c/ π.
Figura 6.9 - Divergência geométrica para fontes lineares em campo aberto.
0
10 log 11divdA = +d
⎡ ⎤⎛ ⎞⎢ ⎥⎜ ⎟
⎝ ⎠⎣ ⎦ (6.19)
108
Para superfícies planas, três equações são utilizadas para calcular a divergência
geométrica (Gerges, 2000):
- A Eq. (6.18) para distâncias perpendiculares à fonte maiores do que c/π, onde c é o
comprimento da fonte conforme pode ser observado na Fig. 6.17. Neste caso d é
calculado em relação ao centro de gravidade da fonte plana.
- A Eq. (6.19) para distâncias perpendiculares à fonte entre b/π e c/π, onde b e c são o
lado menor e maior, respectivamente, da fonte plana, conforme pode ser observado
na Fig. 6.10.
- A Eq. (6.20) para distâncias menores do que b/π.
Figura 6.10 - Divergência geométrica para fontes planas em campo aberto.
0=Adiv (6.20)
A atenuação do som devido ao fato do ar não ser perfeitamente elástico é calculada em
função da distância d, umidade relativa e temperatura, utilizando fórmulas específicas
baseadas na ISO 9318-1.
Para calcular a atenuação devido ao efeito sombra das barreiras ATtot(f) foi utilizada a
Eq. (6.21), apresentada por Gerges (1992) para a avaliação da redução dos níveis de ruído,
devido à presença de barreiras próximas das fontes ou do receptor.
( ) ( )( ) ( )[ ]
⎪⎭
⎪⎬
⎫
⎪⎩
⎪⎨
⎧ −
− 10101log10
fATfAT
+fAT=fATtd
dtot (6.21)
109
onde:
- ATt(f) é a atenuação devido à transmissão da barreira [dB];
- ATd(f) é a atenuação devido à difração da barreira [dB] dado pela Eq. (6.22):
( )⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
− 10101010101010logSULDLE
d
AT
+
AT
+
AT
=fAT (6.22)
onde:
- ATLE é a perda por difração no lado esquerdo da barreira [dB];
- ATLD é a perda por difração no lado direito da barreira [dB];
- ATSU é a perda por difração no lado superior da barreira [dB];
ATLE , ATLD e ATSU são calculados pela fórmula de Maekawa [dB] (Eq. (6.23)).
2 N20 log 5 0, 2tgh(2 N)
AT(f)0 0, 2
para N
para N
ππ
⎧ ⎡ ⎤+ ≥ −⎪ ⎢ ⎥
⎪ ⎣ ⎦⎪= ⎨⎪ ≤ −⎪⎪⎩
(6.23)
onde N é o número de Fresnel, dado pela Eq. (6.24).
2/λCB+A
=N−
(6.24)
onde:
- A é a distância entre a fonte até a ponta da barreira [m];
- B é a distância entre o receptor até a ponta da barreira [m];
- C é a distância entre a fonte e o receptor [m];
- λ é o comprimento da onda sonora [m].
O efeito das múltiplas reflexões (reverberação) é calculado pela teoria dos raios
acústicos como esquematizado na Fig. 6.11.
110
Figura 6.11 - Caminho direto (--|-|--), reflexão simples (--|-|-|--) e reflexão dupla (--|--) na
propagação de um raio acústico.
6.5.2 Avaliação da Confiabilidade dos Resultados do Programa e Simulação
Antes de ser utilizado, o programa de simulação passou por uma série de testes,
visando sua validação.
6.5.2.1 Cálculo de Refração em Borda de Barreiras
Em Duarte e Duarte (2008), foi feita a avaliação dos cálculos de refração em bordas de
barreiras. Utilizou-se um galpão da Universidade Federal de Uberlândia com um ventilador
industrial, cujo NWS já era conhecido, para simbolizar uma área industrial. A Fig. 6.12 ilustra
o modelo acústico utilizado no trabalho.
Figura 6.12 - Modelo acústico do galpão utilizado para a avaliação da refração em bordas de
barreiras.
111
Inicialmente foi realizado o mapeamento dos níveis de ruído no local, obedecendo a
uma malha de medição com espaçamento entre pontos de três metros.
Foram comparados três metodologias para cálculo de refração em borda de barreiras, a
primeira seguindo o método de Maekawa, e a segunda e terceira de acordo com a Norma ISO
9613, sendo diferenciados pelo método do cálculo de reflexões no solo. Os resultados serão
apresentados no capítulo correspondente.
6.5.2.2 Avaliação do Módulo de Tratamentos Acústicos
O programa de simulação conta ainda com um módulo específico para avaliar
tratamentos acústicos. Em um estudo mais recente realizado, foi a eficiência de tal módulo.
Foi utilizado o mesmo galpão da UFU com as seguintes fontes de ruído:
• Uma caixa de som com potência sonora regulável emitindo um ruído rosa a fim
de representar um equipamento industrial em funcionamento;
• Um tubo de PVC alimentado com ar comprimido dotado de um furo para a
saída do ar;
• Um ventilador industrial.
A caixa de som e o tubo foram instalados no interior do galpão, e o ventilador
industrial na parte externa em frente ao galpão. A Fig.6.13 ilustra os equipamentos utilizados
para os ensaios.
Figura 6.13 - Equipamentos utilizados para os ensaios (da esquerda para direita: caixa de som,
tubo de PVC com 1 furo e ventilador industrial)
Na Fig. 6.14, é apresentando a planta do local, indicando o posicionamento dos
equipamentos.
112
Figura 6.14 - Planta da área em estudo indicando a posição dos equipamentos.
Com as fontes sonoras em funcionamento, foi realizado o mapeamento dos NPS no
ambiente, obedecendo a uma malha de 3 metros de espaçamento entre pontos.
Para identificação dos NWS dos equipamentos, foram utilizadas as técnicas já
descritas. Após validado o modelo de simulação, iniciou-se a execução dos tratamentos
acústicos. As soluções acústicas propostas foram a instalação de um enclausuramento na caixa
de som e a troca do tubo de PVC. O enclausuramento utilizado foi construído com madeira
compensada e revestido internamente com espuma na parte frontal, local de incidência direta
do som. O tubo de PVC com um furo foi trocado por outro tubo com quatro furos, cuja soma
das áreas resulta na área do furo do primeiro tubo, a fim de manter a vazão da saída de ar. Na
Fig 6.15 pode-se visualizar o enclausuramento utilizado e o tubo de PVC com quatro furos.
Figura 6.15 - Sistemas utilizados para os tratamentos propostos (da esquerda pra direita:
enclausuramento e tubo de PVC com quatro furos).
113
Para simular os tratamentos propostos, tornou-se necessário, além dos valores de NWS
dos equipamentos, a obtenção dos valores de perda de transmissão, coeficiente de absorção
acústica dos materiais do enclausuramento (madeira compensada e espuma) e também os
valores de atenuação obtidos com a troca dos tubos. Tais dados do enclausuramento foram
obtidos a partir de tabelas em livros texto e experimentos realizados pelo laboratório através
de um tubo de impedância (Masini et al., 2009) e estão listados na Tab. 6.7, enquanto os
valores de atenuação dos tubos foram calculados a partir da comparação entre os NWS
identificado para cada tubo, sendo obtida uma atenuação de até 14 dB(A).
Tabela 6.7 - Valores de coeficiente de absorção e perda de transmissão (PT) dos materiais do
enclausuramento por banda de 1/1 oitava.
Material Propriedade Frequências Centrais (Hz)
63 125 250 500 1000 2000 4000 8000
Madeira Absorção (%) 11,7 11,7 11,7 12,9 12,9 10,6 10,6 10,6
PT (dB) 15 19 23 25 30 37 42 46
Espuma Absorção (%) 19 19 88 91 86 86 86 86
PT (dB) 6 6 6 11 16 22 27 32
Para tornar a validação da metodologia mais consistente, a simulação dos tratamentos
foi realizada de duas formas:
• Situação 01: Desenhando-se o enclausuramento no modelo acústico tridimensional,
conforme a Fig. 6.16, realizando outra simulação e modificando os NWS do tubo de
PVC para o valor identificado para o tubo com 4 furos;
Figura 6.16 - Enclausuramento construído no modelo de simulação.
114
• Situação 02: Utilizando as ferramentas de tratamentos acústicos do programa
(projeto do enclausuramento e subtração da atenuação na tubulação).
Os resultados obtidos no trabalho serão apresentados no capítulo correspondente.
6.6 Metodologias para Estimativa da Rota
Para o cálculo da dose de exposição ao ruído, é necessário conhecer o tempo gasto
em cada ponto da rota além do tempo gasto em cada vistoria e manobra nos equipamentos.
Para tanto, foi utilizada uma matriz, denominada a partir daqui como Matriz de Rota, onde a
primeira e segunda colunas listam as coordenadas (x,y) da rota e a terceira coluna o tempo
gasto em cada ponto.
Para se estimar o tempo gasto em cada ponto, foi considerada durante o trajeto
(deslocamento entre equipamentos) uma velocidade média de 0,8 m/s, sendo que tal valor
pode ser mudado pelo funcionário, resultando em um tempo médio de exposição ao ruído de
1,25 segundos por ponto analisado em cada rotina de vistoria.
Para o cômputo do tempo gasto em manobras e vistoria de cada equipamento, foi
inserido, manualmente, o tempo médio estimado para cada operação. Tais dados foram
conseguidos nos trabalhos realizados pelo laboratório em várias indústrias.
Tendo posse dos NPS da área e da rotina de trabalho a ser avaliada, iniciou-se o
desenvolvimento do método de estimativa de dose. Foram criados inicialmente 2 métodos.
O Método 1 utiliza como dados de entrada uma matriz de duas colunas contendo
todos os pontos que definem a área estudada (coordenadas (x,y) de todos os pontos em um
malha de espaçamento de um metro) denominada a partir daqui como Matriz de Coordenadas
e a Matriz de Rota.
Para cada ponto da rota, são avaliados todos os pontos da planta e estimada a
probabilidade de o funcionário estar em cada um destes pontos, sendo tal probabilidade
inversamente proporcional à distância entre os pontos da rota e o avaliado. Através de vários
testes e simulações realizadas, os melhores resultados obtidos foram através das relações
dadas pelas Eqs. (6.25) e (6.27).
12
1 2
( )( )1 ( , )
P pP pd p p
=+
(6.25)
115
onde:
• p1 é um ponto pertencente à rota definia pelo colaborador;
• P(p1) é a probabilidade de o colaborador estar no ponto p1 calculada pelo tempo de
permanência em tal ponto e pelo tempo total da jornada de trabalho;
• p2 é um ponto qualquer da planta que se deseja avaliar;
• P(p2) é a probabilidade de o funcionário estar no ponto p2;
• 1 2( , )d p p é a distância entre os pontos p1 e p2.
O Método 2 utiliza um procedimento de estimativa de tempo de permanência em
cada ponto de toda a área através do treinamento de uma rede neural probabilística (RNP).
A RNP em questão não foi desenvolvida, utilizou-se um algoritmo já testado e
utilizado por vários pesquisadores, sendo retirada do livro de Thimothy Masters (Masters,
1995).
Para o treinamento da RNP foram utilizados como dados de entrada, assim como no
Método 1, as Matrizes de Coordenadas e de Rota.
A saída da rede neural é a uma matriz de três colunas, onde as duas primeiras
identificam os pontos da planta pelas coordenadas (x,y) e a terceira coluna é a probabilidade
de o colaborador estar em nestes pontos.
Para a primeira análise e evolução da metodologia, foi considerada uma área
industrial menor, composta de biombo de operação (garante 60 dB(A) de exposição máxima
ao ruído), 6 moto bombas (que emitem 90 dB(A) a 1 metro de distância), 3 moto
compressores (que emitem 95 dB(A) a 1 metro de distância) e 1 turbo expansor (que emite
110 dB(A) a 1 metro de distância). A Fig. 6.17 ilustra o layout de tal área, onde os círculos ao
redor das fontes demarcam o campo de ação utilizado pelo operador durante a vistoria e
manobras nos equipamentos. As linhas vermelhas representam o caminho normalmente
traçado durante a vistoria e manobras (passando por todos os equipamentos), e a linha azul
(cruzando a planta) o caminho de retorno ao biombo de operação. A malha ilustrada na figura
tem espaçamento de 1x1 metro quadrado, e será utilizada para analisar a trajetória do
operador.
116
Figura 6.17 – Modelo simplificado utilizado para validar a metodologia.
No programa de simulação, exportaram-se os dados referentes aos níveis de pressão
(matriz que define as coordenadas X, Y e Z e o NPS de cada ponto simulado). Com tal
informação, foi traçada a rota do funcionário, obedecendo à trajetória definida na Fig. 6.19.
No caso analisado, o tempo gasto em cada equipamento por jornada de trabalho foi
assim considerado:
• Moto bombas: 7 minutos em cada uma;
• Moto compressores: 11 minutos em cada um;
• Turbo Expansor: 21 minutos;
• Sala de Operação: 373 minutos;
• Deslocamento: 11 minutos.
Foi calculada analiticamente a dose de exposição para a rota considerada pelo
método proposto na NR 15 do Ministério do Trabalho e Emprego (Eq. 3.1), sendo este
comparado com a dose estimada pelos Métodos e calculado o erro porcentual dado pela Eq.
(6.26).
%Dose Analitica Dose Metodo
ErroDose Analitica
⎛ ⎞−=⎜ ⎟⎝ ⎠
(6.26)
onde:
117
- Dose Analitica é o valor da dose calculado analiticamente pela Eq. 3.1;
- Dose Metodo é o valor da dose estimado pelo Método avaliado.
Após vários testes e análises, foi verificado que, para a melhora da metodologia seria
necessário algumas mudanças nos métodos desenvolvidos.
Criou-se então o Método 1.1, sendo este o Método 1 considerando que a variação da
proporcionalidade se dê de acordo com a Eq. (6.27).
( )1
2 31 2
( )( )4 ( , )
P pP pd p p
=+
(6.27)
Criou-se também o Método 2.1, sendo este o Método 2 impondo que pelo menos
20% da planta, deverão ter algum tempo de permanência. Para não tornar o método
tendencioso, os pontos excedentes à rota terão probabilidade de o funcionário estar 0,5
segundos, sendo tal valor irrelevante para o cálculo de dose.
Já para a aplicação da metodologia na unidade industrial desenvolvida para o
trabalho, era necessário impor uma rotina para a jornada de trabalho a ser analisada. Para se
estimar o tempo gasto, foi considerada durante o trajeto (deslocamento entre equipamentos)
uma velocidade média de 0,8m/s, resultando em um tempo médio de exposição ao ruído de
1,25 segundos por ponto analisado em cada rotina de vistoria. Para o cômputo do tempo gasto
em manobras e vistoria de cada equipamento, foi inserido, manualmente, o tempo médio
estimado para cada operação. No caso analisado, o tempo gasto em cada equipamento por
jornada de trabalho foi assim considerado:
• Sala de Operações: 256,18 minutos no posto de trabalho, 5 deslocamentos até a copa, 3
deslocamentos até o sanitário, 5 deslocamentos até a porta de acesso da sala (entrada e
saída do expediente, 2 rotinas de vistorias e 2 liberações de área), 30 minutos de
permanência na copa, 30 minutos de permanência no sanitário e 5 minutos nas escadas;
• Área dos compressores: 2,5 minutos para cada compressor;
• Torre de refrigeração: 1 minuto para verificação da torre de resfriamento e 1 minuto para
cada uma de suas moto bombas;
• Caldeira: 2 minutos em cada queimador e pirômetros, 0,5 minutos em cada escada e
transposição de plataforma, 3 minutos para o motor de acionamento do ventilador, 6
minutos para a turbina de acionamento do ventilador, 1 minuto para cada compressor no
térreo;
118
• Desaerador: 1 minuto para verificação dos vent’s e 0,5 minutos para transposição de
plataforma;
• Prédio nas Turbo Máquinas: 3 minutos em cada ponto de avaliação das turbo máquinas
nos 1º e 2º pisos e 1 minuto para cada ponto de avaliação no térreo;
• Parque de bombas: 2,5 minutos para cada moto bomba.
6.7 Metodologias para Estimativa da Dose
Para o cálculo da dose de exposição ao ruído, foram feitas algumas considerações:
• Conforme visto em trabalhos de campo, normalmente uma área industrial não possui os
mesmos NPS durante toda a jornada de trabalho nem mesmo esta se repete de forma
idêntica todos os dias. Variações de até 6 dB(A) já foram observadas durante coleta de
dados em uma mesma unidade no período de uma semana. Desta forma, ao considerar o
NPS de cada ponto, serão realizadas 30 variações aleatória de até 6 dB(A) do NPS
simulado em cada ponto da planta, tentando assim reproduzir de forma o mais correta
possível a realidade de uma planta industrial;
• Foram utilizados os limites de exposição permissíveis da NR 15 do Ministério do
Trabalho, com fator de troca igual a 5.
Com tais dados, foram realizadas 12 repetições dos Métodos 1 e 2. Para verificar a
eficiência de cada metodologia, foi calculada analiticamente a dose de exposição ao ruído
para cada área. O cálculo analítico foi feito levando em consideração somente os pontos que
descrevem o trajeto e o tempo de permanência nos equipamentos, descartando a hipótese de
permanência de pontos aleatórios da planta.
Foi necessário ainda criar o Método 3, que agrupava os Métodos 1, 2 e 2.1 sendo a
cada um deles aplicados a um determinado local, dependendo do tamanho e nível de pressão
sonora local:
1. Para áreas de até 50 m² e com NPS máximo superior a 95 dB(A), ou áreas de
50 m² a 1000 m² e NPS máximo superior a 104 dB(A): será utilizado o Método 1
considerando somente um raio de 1 metro ao redor de cada ponto do trajeto para a
estimativa da possibilidade do funcionário estar presente durante a jornada de
trabalho;
119
2. Para áreas de até 50 m² e NPS máximo inferior a 95 dB(A) ou de 50 m² a 1000
m² e NPS máximo inferior a 104 dB(A), será utilizado o Método 2;
3. Para áreas maiores que 1000 m², independente dos NPS, será utilizado o
Método 2.1.
Para ampliar as possibilidades de abordagem da metodologia de estimativa de dose
de exposição o ruído ocupacional, desenvolveu-se uma nova forma de avaliação do tempo de
permanência do funcionário nos pontos da planta. A nova metodologia se baseia no Método
de Simulação de Monte Carlo, consiste em estimar a probabilidade de o funcionário estar em
qualquer ponto da planta através do Método 3, dividir a jornada de trabalho em intervalos de
tempo iguais a 10 minutos (a escolha do intervalo e tempo fica por conta de quem estiver
realizando a análise), escolher aleatoriamente pontos da planta e avaliar qual a probabilidade
de o funcionário estar nestes pontos no intervalo de tempo pré definido. Acumulam-se as
probabilidades estimadas para cada período de tempo em cada ponto. Após os cálculos e
estimativas levando em consideração as variações de 0 a 6 dB(A) para os NPS simulados para
a planta e por fim calcula-se a dose de exposição ao ruído.
A utilização de tal metodologia se justifica pela necessidade de se obter uma faixa de
aceitação para a estimativa de dose. O Método de Simulação de Monte Carlo torna possível o
cálculo dos parâmetros estatísticos (média, desvio padrão e variância) de uma população com
distribuição desconhecida, através da distribuição Normal, t de Student ou Qui-quadrado.
O Método 4, utiliza como base o Método 3, e após a estimativa da probabilidade de o
funcionário estar em qualquer local da planta, é utilizado o princípio do Método de Simulação
de Monte Carlo para previsão da dose.
Por fim, foi necessário encontrar uma faixa de aceitação, definida pelo intervalo de
confiança de 95% das 30 repetições do experimento. Para tanto, foram consideradas as 30
variações aleatórias dos NPS de até 6 dB(A) de modo a representar um (1) mês de coleta de
dados, além de incluir nas rotinas de vistoria os translados à planta para verificação de
equipamentos com possíveis falhas. Para a avaliação dos resultados foram utilizados os
valores médios estimados nas simulações que seguem, sendo estes comparados com o valor
de dose obtido no Método 6 com um intervalo de confiança definido pelas 30 repetições.
Foi calculado um intervalo de 95% de confiança através da Eq. (6.28) considerando
que a população siga uma distribuição Normal.
120
1,96 , 1,96x xn nσ σ⎛ ⎞
− +⎜ ⎟⎝ ⎠
(6.28)
onde:
• x é o valor médio para a Dose estimado pelas 30 repetições do método 6;
• σ é o desvio padrão para a Dose estimado pelas 30 repetições do método 6;
• n é a quantidade de indivíduos na população (30).
Para a validação da metodologia foram realizados quatro estudos de casos onde o
colaborador necessitasse executar tarefas fora de rua rotina de trabalho, sendo o incremento
da dose devido a estes tipos de situações nem sempre computado para o grupo homogêneo,
por se tratarem de situações não cotidianas. A faixa de avaliação definida ao término da
metodologia deve ser passível de abordar tais imprevistos.
6.7.1 Apresentação do Programa de Estimativa de Dose
Antes de aplicar os métodos, foi necessário desenvolver um sistema de fácil
manuseio e objetivo, que possibilite ao funcionário traçar a sua rota durante toda a jornada de
trabalho, além da vistoria inserindo ainda o trajeto feito para se ir ao sanitário ou à copa,
sendo possível ainda inserir o tempo gasto em cada operação. A Fig. 6.18 ilustra a interface
desenvolvida.
121
Figura 6.18 - Interface desenvolvida para aplicação industrial.
A interface foi elaborada de forma a garantir simplicidade em sua operação:
1. O primeiro passo é escolher qual local a ser avaliado clicando-se sobre o botão
que o identifica;
2. Em seguida, clica-se no botão “Traça a Rota!” e é aberta uma janela com a figura
do local analisado (Fig. 6.19);
3. Para traçar a rota clica-se nos pontos que a identificam e uma linha azul vai se
formando, como exemplo, na Fig. 619, demonstrando a rota do funcionário na
planta;
4. Após traçada a rota, é aberta outra janela semelhante à anterior, mas desta vez
clica-se em cada equipamento que será vistoriado, bem como em postos de
liberação de serviço e escadas, sendo criadas marcações para definir tais pontos,
como por exemplo, as cruzes vermelhas da Fig. 6.19. Assim que cada ponto é
escolhido, é necessário inserir o tempo gasto, em minutos, para cada operação ou
transposição;
5. Inseridos os pontos, escolhe-se o incremento de duplicação de dose a ser utilizado,
podendo este ser 3 (princípio de equivalência de energia, adotado pela OSHA) ou
5 (adotado pela ISO 1.999 e NR 15);
122
6. Escolhido o incremento de duplicação de dose, clica-se no botão “Calcula a
Dose!”. Ao acionar tal opção, são feitas as 30 variações aleatórias de até 6 dB(A)
nos NPS simulados para a área em estudo. O programa escolhe qual dentre os
Métodos será utilizado, levando em consideração a dimensão e NPS na área, para
estimar a probabilidade de o funcionário estar em qualquer local da planta.
Após o calculo da dose para cada área, realiza-se a simples soma aritmética dos
valores encontrados, sendo obtida a dose total de exposição ao ruído resultante da jornada de
trabalho.
É indicado que o procedimento seja realizado com uma devida repetibilidade, sendo
avaliados os possíveis desvios de rota impostos pelo funcionário.
Figura 6.19 – Janela com a planta do local analisado, neste caso, o térreo da unidade.
CAPÍTULO VII
Resultados e Análises
Uma vez definido o escopo da unidade industrial a ser utilizada para a aplicação da
metodologia proposta no trabalho, foi necessário atribuir os níveis de potência sonora de cada
uma das fontes de ruído constituintes da planta. Foram utilizados valores já identificados em
trabalhos de campo realizados pelo laboratório em diversas empresas. Além das técnicas
tradicionais de identificação existentes, foi necessário o desenvolvimento algumas
ferramentas computacionais para auxiliar nos trabalhos.
7.1 Resultados Obtidos com as Ferramentas Computacionais Desenvolvidos na Coleta
de Dados
7.1.1 Resultado para a Identificação dos NWS Utilizando uma Rotina de Otimização
Através do procedimento mostrado no item 6.4.1, utilizando um algoritmo genético
para estimar a contribuição de cada componente do conjunto (motor, amplificador de rotação
e compressor) no nível de ruído medido no ponto avaliado, calculando o NWS de cada
equipamento a partir dos NPS medidos, tendo como base para o espectro de frequências uma
estimativa teórica do NWS dada pelas características operacionais de cada equipamento,
pode-se verificar que os menores erros entre os valores otimizados e calculados, foram
observados para as médias e altas frequências. Os maiores níveis de potência sonora foram
encontrados para os valores calculados, uma vez que os métodos analíticos tendem a ser
conservativos.
124
As maiores diferenças, na análise dos resultados, foram observadas para o
amplificador de rotação. Tais diferenças podem ser explicadas devido à influência do motor e
do compressor no procedimento de identificação da fonte, uma vez que o amplificador se
localiza entre o motor e o compressor, e não é possível o desligamento de fontes no
procedimento de identificação.
Para se verificar a eficiência do método, foram feitas simulações de campo acústico
com os valores otimizados dos NWS de fontes de ruído de uma unidade de processo (Fig.
7.1a) os quais foram comparados com o mapeamento dos NPS em campo realizados na
mesma unidade (Fig. 7.1b). Observou-se uma variação máxima entre os valores dos níveis de
pressão sonora em pontos específicos da área foi de 3 dB(A). Deve-se ressaltar que tais
variações são aceitáveis para medições acústicas em ambientes abertos.
Figura 7.1 - a) Isocurvas obtidas através da simulação com os valores de NWS otimizados. b)
Isocurvas obtidas através da interpolação dos valores de NPS medidos in situ.
A escolha de um método numérico, especificamente um algoritmo genético, simplifica
significativamente a solução de um problema inicialmente complexo de identificação de
fontes, com boa convergência e baixo custo computacional, além de fornecer resultados
confiáveis, possíveis de serem utilizados nas simulações da metodologia de mitigação de
ruídos do LAV.
7.1.2 Resultado da Metodologia de Identificação de NWS de Motores Elétricos
Foi verificado que os métodos analíticos (teóricos) para estimativa de NWS de
equipamentos não apresentam grande confiabilidade. Foi proposto o desenvolvimento de uma
superfície de resposta e uma rede neural artificial visando uma melhor previsão de tais dados.
125
Foi utilizado um banco de dados com a identificação de 141 motores elétricos. Destes,
80% foram usados para o ajuste da superfície de resposta e para o treinamento da rede neural,
10% foram utilizados para a validação dos métodos e 10% para a comparação entre métodos.
O MSR foi utilizado para localizar os valores constantes: A, B e C da Eq. 6.14.
Seguindo o senso comum entre os autores dos livros de acústica adotados pelo LAV
(Beranek e Vér (1992), Gerges (2000), Bies e Hansen (2003), Barron (2003), Bistafa (2006)),
os motores elétricos foram classificados em 3 faixas de potência e obtidas a Eqs. 7.1 (para
motores cuja potência esteja na faixa de 1 a 49 cv), 7.2 (de 50 a 149 cv) e 7.3 (acima de 150
cv) pelo MSR.
NWS = 6,17 log (CV) + 7,94 log (RPM) + 63,46 + X1 (7.1)
NWS = 1,5 log (CV) + 10 log (RPM) + 64,55 + X2 (7.2)
NWS = 4,4 log (CV) + 367,4 log (RPM) – 1213,4 + X3 (7.3)
onde X1, X2 e X3, representam os coeficientes de ajuste para bandas de oitava (Tab. 7.1).
Tabela 7.1. Valores de X1, X2 e X3 para ajustar os NWS encontrados nas Eqs. 7.1, 7.2 e 7.35
para bandas de oitava potência.
Frequências centrais das bandas de oitava [Hz] 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000
X1 em dB(A) -38,23 -26,19 -15,78 -6,85 -4,77 -5,98 -10,11 -16,89 X2 em dB(A) -36,70 -23,53 -12,88 -6,14 -4,62 -6,59 -11,69 -18,03 X3 em dB(A) -36,90 -24,91 -14,94 -8,53 -8,53 -7,31 -11,06 -17,18
Foi utilizada uma RNA (Rede Neural Artificial) já existente, treinada pelo algoritmo
de Levenberg-Marquardt.
A metodologia utilizando redes neurais resultou em um erro médio no NWS estimado
para equipamentos de 1,2% em relação à identificação utilizando os NPS medidos in situ
contra 1,1% resultante da estimativa de NWS utilizando-se a superfície de resposta com três
equações.
126
7.2 Resultados da Avaliação da Confiabilidade dos Resultados do Programa e Simulação
Antes de se aplicar a planta industrial criada para o trabalho no simulador, viu-se a
necessidade de avaliar a sua precisão.
7.2.1 Resultado do Cálculo de Refração em Borda de Barreiras
Foi realizado o mapeamento dos NPS na área analisada. A Figura 7.2 ilustra a
interpolação resultante destas medições.
Figura 7.2 - Isocurvas de pressão sonora interpoladas para os NPS na área analisada.
Foram comparados três metodologias para cálculo de refração em borda de barreiras, a
primeira seguindo o método de Maekawa, e a segunda e terceira de acordo com a Norma ISO
9613, sendo diferenciados pelo método do cálculo de reflexões no solo ( para c2=20 está
incluso as reflexões do solo e para c2=40 as reflexões do solo são calculadas separadamente).
As Figs. 7.3a, 7.3b e 7.3c ilustram os resultados das simulações para cada um dos métodos
respectivamente.
127
Figura 7.3 - a) Simulação utilizando o método de Maekawa. b) Simulação utilizando a Norma
ISO 9613 com c2=20. c) Simulação utilizando a Norma ISO 9613 com c2=40.
Para a avaliação das metodologias é realizada a comparação entre os NPS medidos e
simulados em pontos pré-definidos. Utilizando o método de Maekawa, observou-se uma boa
concordância entre os valores experimentais e os obtidos através de simulação para a região
de refração primária, já para a região de refração secundária os valores foram inferiores aos
medidos.
Utilizando a norma ISO 9613, observou-se boa concordância com os valores
experimentais para qualquer valor de c2. Isto ocorreu visto que o solo é composto de asfalto
crespo, gerando uma influência reflexiva baixa.
7.2.2 Resultados para a Avaliação do Módulo de Tratamentos Acústicos do Programa
Inicialmente foi necessário realizar a validação do modelo de simulação acústica para
o experimento. Comparando-se os NPS em pontos de controle da situação real (Fig. 7.4a)
com a simulação para a mesma situação (Fig. 7.4b), verifica-se um bom ajuste do modelo.
Apesar de existirem locais próximos às fontes, onde os valores simulados se apresentam mais
elevados que os medidos, verifica-se que as diferenças máximas encontradas nos NPS são de
3 dB(A).
128
Figura 7.4 - a) Isocurvas de pressão sonora interpoladas para o mapeamento de ruído
realizado. b) Simulação dos níveis de ruído no local.
Na Fig. 7.4a, as áreas em cinza representam locais onde não foram realizadas
medições, não sendo possível a interpolação de NPS. Na Fig. 7.4b, os locais em preto
representam NPS maiores que 100 dB(A).
Comparando-se os NPS em pontos de controle da situação real (Fig. 7.4a) com a
simulação para a mesma situação (Fig. 7.4b), verifica-se um bom ajuste do modelo. Apesar de
existirem locais próximos às fontes, onde os valores simulados se apresentam mais elevados
que os medidos, verifica-se que as diferenças máximas encontradas nos NPS são de 3 dB(A).
Com as todas as soluções implantadas (aumento da quantidade de furos na descarga de
ar comprimido e enclausuramento da caixa de som), outras medições de NPS foram realizadas
na área para a obtenção das isocurvas de pressão sonora resultantes do tratamento (Fig. 7.5a).
Nas Figs. 7.5b e 7.5c têm-se, respectivamente, o resultado obtido na Situação 1 (modificação
dos NWS da tubulação de descarga de ar comprimido e projeto do enclausuramento no
modelo acústico) e na Situação 2 (subtração dos NWS referentes à troca da tubulação no
programa e utilização do módulo de tratamento acústico do programa para simular o
enclausuramento).
129
Figura 7.5 - a) Isocurvas de Pressão Sonora medidas após a execução das soluções acústicas
propostas. b) Isocurvas de Pressão Sonora obtidas da simulação da Situação 01. c) Isocurvas
de Pressão obtidas da simulação da Situação 02.
Comparando-se os resultados das simulações com as isocurvas medidas após a
execução dos tratamentos, notou-se uma boa concordância nos NPS locais, sendo a diferença
máxima encontrada de 3 dB(A). Constatou-se ainda que a ferramenta de tratamentos acústicos
do programa se mostrou mais eficiente do que inserindo o tratamento acústico diretamente no
modelo acústico tridimensional.
Concluiu-se, embasado no exposto do item 7.2, que o programa é confiável e preciso
para aplicações em tratamentos e projetos acústicos de caráter industrial e ambiental. Desta
forma, serão utilizados os NPS obtidos da simulação da planta industrial proposta para o
desenvolvimento da Tese.
7.3 Análises Preliminares
No item 6.6 foram descritos os Métodos 1 e 2, inicialmente desenvolvidos para a
estimativa da probabilidade de o funcionário estar em qualquer local da planta.
Para se testar a metodologia proposta, optou-se por utilizar uma área industrial
menos complexa, para simplificar os cálculos e diminuir o custo computacional. Depois de
validada a metodologia, esta foi aplicada na área industrial fictícia criada para o
desenvolvimento da Tese.
A planta desenvolvida para a análise preliminar, conforme descrita no item 6.6, está
ilustrada na Fig. 7.6.
130
Figura 7.6 – Modelo simplificado utilizado para validar a metodologia.
A Fig. 7.7 ilustra as isocurvas de pressão sonora simuladas para tal área a 1,6 metros
de altura do solo.
Figura 7.7 – Isocurvas de pressão sonora simuladas para a área.
Após 12 repetições dos Métodos 1 e 2 foram obtidos os seguintes resultados:
• Método 1: valores de dose variaram de 2,55 a 2,72, dose média: 2,61.
• Método 2: valores de dose variaram de 2,27 a 2,49, dose média: 2,35.
131
Para verificar a eficácia da metodologia, foi calculada analiticamente a dose de
exposição para a rota considerada pelo método proposto na NR 15 do Ministério do Trabalho,
resultando em uma dose de 1,5.
As metodologias não se mostraram eficientes, com desvios de aproximadamente 74 e
56%.
Após vários testes e análises, foi verificado que, para a melhora das metodologias,
seriam necessárias algumas mudanças, sendo criados os Métodos 1.1 e 2.1.
Novamente foram realizadas 12 repetições de cada ensaio e obtidos os seguintes
resultados:
• Método 1.1: valores de dose que variaram de 1,51 a 1,58, dose média: 1,55;
• Método 2.1: valores de dose que variaram de 1,64 a 1,72, com uma dose média: 1,68.
Desta vez, as metodologias se mostraram bem mais eficientes, com desvios de
aproximadamente 3,3 e 12% quando comparadas ao valor analítico de dose.
Apesar do desvio do Método 2.1 aparentar ser de grande magnitude, variações da
ordem de 10% já eram esperadas, uma vez que foi imposta uma faixa de variação de 6 dB(A)
aos NPS da planta.
7.4 Aplicação da Metodologia na Planta Industrial
7.4.1 Níveis de Pressão Sonora na Planta
Como os resultados obtidos na análise preliminar se mostraram bem fundamentados
e dentro de uma faixa já esperada, optou-se por aplicar ambos os métodos na planta industrial
criada para o trabalho (Fig. 6.1).
Como os principais dados de entrada são os valores de NPS simulados para a planta,
e devido ao programa de simulação realizar a análise em uma determinada altura em relação
ao solo de cada vez, foi criado um projeto para cada nível (ou andar) existente na planta,
sendo assim classificados:
• Térreo: aborda todo o térreo da planta, sendo o plano receptor a 1,6 metros de altura
em relação ao solo (Fig. 7.8);
132
Figura 7.8 - Isocurvas de Pressão sonora simuladas para o Térreo.
• Sala de Operações: aborda o segundo andar do prédio de operações, onde o
funcionário passa a maior parte de sua jornada de trabalho, sendo o plano receptor a 6,6
metros de altura em relação ao solo (Fig. 7.9);
Figura 7.9 - Isocurvas de Pressão sonora simuladas para a Sala de Operações.
• 1º Piso da Caldeira: aborda a primeira plataforma elevada na caldeira, sendo o plano
receptor a 6,1 metros de altura em relação ao solo (Fig. 7.10);
133
Figura 7.10 - Isocurvas de Pressão sonora simuladas para o 1º Piso da Caldeira.
• 2º Piso da Caldeira: aborda a segunda plataforma elevada na caldeira, sendo o plano
receptor a 8,7 metros de altura em relação ao solo (Fig. 7.11);
Figura 7.11 - Isocurvas de Pressão sonora simuladas para o 2º Piso da Caldeira.
134
• 3º Piso da Caldeira: aborda a terceira plataforma elevada na caldeira, sendo o plano
receptor a 11,1 metros de altura em relação ao solo (Fig. 7.12);
Figura 7.12 - Isocurvas de Pressão sonora simuladas para o 3º Piso da Caldeira.
• Desaerador: aborda a plataforma elevada ao lado da caldeira, onde se tem acesso ao
desaerador, sendo o plano receptor a 11,6 metros de altura em relação ao solo (Fig. 7.13);
135
Figura 7.13 - Isocurvas de Pressão sonora simuladas para o Desaerador.
• 1º Piso da Edificação das Turbo Máquinas: aborda o primeiro andar da edificação
onde se localizam o turbo expansor e o turbo gerador, sendo o plano receptor a 6,6 metros de
altura em relação ao solo (Fig. 7.14);
Figura 7.14 - Isocurvas de Pressão sonora simuladas para o 1º Piso da Edificação das Turbo
Máquinas.
136
• 2º Piso da Edificação das Turbo Máquinas: aborda o primeiro andar da edificação
onde se localizam o turbo expansor e o turbo gerador, sendo o plano receptor a 11,6 metros de
altura em relação ao solo (Fig. 7.15).
Figura 7.15 - Isocurvas de Pressão sonora simuladas para o 2º Piso da Edificação das Turbo
Máquinas.
Cada uma destas áreas será analisada separadamente, uma vez que nem sempre é
necessário que o funcionário percorra toda a unidade para a realização de sua rotina de
trabalho.
7.4.2 Aplicação da Metodologia na Planta Industrial
A partir dos dados estipulados para a rotina de trabalho do colaborador, foram
realizadas 12 repetições dos Métodos 1 e 2. Para verificar a eficiência de cada metodologia,
foi calculada analiticamente a dose de exposição ao ruído para cada área. O cálculo analítico
foi feito levando em consideração somente os pontos que descrevem o trajeto e o tempo de
permanência nos equipamentos, descartando a hipótese de permanência de pontos aleatórios
da planta. Na Tab. 7.1 tem-se o comparativo dos resultados.
137
Tabela 7.2 - Comparativo dos resultados obtidos para a previsão da dose com as duas
metodologias com o valor de dose calculado analiticamente.
Área Analisada Método 1 Método 2 Analítico Sala de Operações 0,14 0,17 0,14 1º Piso da Caldeira 0,09 0,09 0,09 2º Piso da Caldeira 0,11 0,11 0,11 3º Piso da Caldeira 0,08 0,07 0,04 Desaerador 0,22 0,21 0,17 1º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,23 0,21 0,10 2º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,23 0,23 0,15 Térreo 0,35 0,35 0,55 Dose de Exposição Total 1,45 1,44 1,34 Erro % 8,25 7,26
Analisando a Tab. 7.2 verifica-se que ambos os métodos superestimam a dose de
exposição ao ruído. Analisando a dose estimada por área, constata-se que ambas as
metodologias superestimam áreas pequenas com altos NPS, como o 3º Piso da Caldeira,
Desaerador, 1º e 2º Pisos do Prédio das Turbo Máquinas e subestimam o Térreo.
Optou-se então por testar as metodologias com as mudanças impostas na avaliação
preliminar (Métodos 1.1 e 2.1).
Na Tab. 7.3 tem-se o comparativo dos resultados obtidos pelas duas metodologias
em com o cálculo analítico da dose.
Tabela 7.3 - Comparativo dos resultados obtidos para a previsão da dose com os Métodos 1.1
e 2.1 com o valor de dose calculado analiticamente.
Área Analisada Método 1.1 Método 2.1 Analítico Sala de Operações 0,16 0,17 0,14 1º Piso da Caldeira 0,10 0,09 0,09 2º Piso da Caldeira 0,15 0,11 0,11 3º Piso da Caldeira 0,08 0,07 0,04 Desaerador 0,22 0,21 0,17 1º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,20 0,22 0,10 2º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,21 0,24 0,15 Térreo 0,39 0,54 0,55 Dose de Exposição Total 1,51 1,66 1,34 Erro % 12,21 23,41
138
Comparando os resultados obtidos nas Tabs. 7.2 e 7.3 verifica-se que os Métodos 1.1
e 2.1 obtiveram resultados piores, aumentando o erro em relação ao calculado analiticamente
quando comparados com os Métodos 1 e 2.
Avaliando a Tab. 7.2, é verificado que os Métodos 1 e 2 são bons estimadores de
dose para áreas pequenas com níveis baixos e médios de ruído como a Sala de Operações, 1º e
2º Pisos da Caldeira. Já na Tab. 7.3, observa-se que o Método 2.1 é o melhor estimador de
dose para o Térreo, ou seja, para grandes áreas.
Outra conclusão tirada da análise é que, para locais pequenos e expostos a altos NPS,
como o Desaerador, 3º Piso da Caldeira, 1º e 2º Pisos do Prédio da Turbo Máquinas, todas as
metodologias superestimam, acima do desejado a dose de exposição ao ruído, isso porque,
apesar do trajeto imposto, ambas calculam a probabilidade de o funcionário estar em todos os
pontos da área analisada. Para tentar contornar tal problema, foi elaborado o Método 3.
Na Tab. 7.4 tem-se o comparativo dos resultados obtidos com o Método 3 com o
cálculo analítico da dose.
Tabela 7.4 - Comparativo dos resultados obtidos para a previsão da dose com a nova
metodologia com o valor de dose calculado analiticamente.
Área Analisada Método 3 Analítico Sala de Operações 0,18 0,14 1º Piso da Caldeira 0,09 0,09 2º Piso da Caldeira 0,11 0,11 3º Piso da Caldeira 0,05 0,04 Desaerador 0,18 0,17 1º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,13 0,10 2º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,17 0,15 Térreo 0,51 0,55 Dose de Exposição Total 1,42 1,34 Erro % 5,75
Pela análise da Tab. 7.4 conclui-se que o Método 3 é um bom estimador da dose de
exposição ao ruído ocupacional, com um erro de 5,75%, valor dentro do limite esperado,
devido à variação de até 6 dB(A) imposta nos NPS da área.
Para ampliar as possibilidades de abordagem da metodologia de estimativa de dose
de exposição o ruído ocupacional, foi desenvolvido o Método 4, que tem como base para o
cálculo de permanência em qualquer local da planta o Método 3. Diferencia-se por utilizar o
139
Método de Simulação de Monte Carlo para possibilitar o cálculo dos parâmetros estatísticos
(média, desvio padrão e variância). Na Tab. 7.5 tem-se o comparativo dos resultados obtidos
com o Método 4 e com o cálculo analítico da dose.
Tabela 7.5 - Comparativo dos resultados obtidos para a previsão da dose com o Método 4
com o valor de dose calculado analiticamente.
Área Analisada Método 4 Analítico Sala de Operações 0,19 0,14 1º Piso da Caldeira 0,09 0,09 2º Piso da Caldeira 0,12 0,11 3º Piso da Caldeira 0,08 0,04 Desaerador 0,24 0,17 1º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,14 0,10 2º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,18 0,15 Térreo 0,54 0,55 Dose de Exposição Total 1,57 1,34 Erro % 17,10
Pela análise da Tab. 7.5 conclui-se que o Método 4 possa ser suficiente para estimar
a dose de exposição ao ruído ocupacional. Apesar do valor de erro de 17,1% ser mais alto que
no Método 3 (5,75%), tal método será o adotado para estimar a dose, pois foi o que mais
aproximou o valor estimado para áreas grandes.
Ainda pode-se dizer que o Método 4 é melhor que o Método 3 por possuir um
algoritmo de estimativa da probabilidade de permanência em pontos da planta não
tendencioso, possibilitando o funcionário estar em qualquer ponto da área e enfatizando os
locais de maior permanência de maneira estatística, sem ficar preso à rota.
7.4.3 Aplicação da Metodologia na Planta Industrial Levando em Consideração a Variação
dos NPS e da Rota no Método Analítico
Escolhida a metodologia, viu-se a necessidade de realizarem-se estudos de caso,
aproximando o máximo possível da realidade de uma planta industrial.
Foi calculado um intervalo de 95% de confiança através da Eq. (6.27) considerando
que a população siga uma distribuição Normal.
O intervalo de confiança encontrado foi de 1,413 a 1,734, com valor médio de 1,574.
140
Tais intervenções na área foram escolhidas para as simulações devido a sua constante
ocorrência, estas presenciadas durante os trabalhos de campo realizados. Como constatado no
Manual de Estratégias de Amostragem para Exposição Ocupacional do NIOSH de 1977, é
indicada a adição de 1 a 3σ para a estimativa da dose de exposição ao ruído. Nos estudos de
caso, como o intuito é testar a eficiência da metodologia desenvolvida, foi considerado o caso
crítico, somando-se 3σ ao valor estimado da dose de exposição ao ruído ocupacional.
7.4.3.1 Estudo de Caso 01: Verificar possível Falha em 2 Queimadores da Caldeira, no 2º e
3º Piso
Para tal caso, foi inserido na rota do funcionário 2 translados até a caldeira, além de
aumentar a permanência nos queimadores a avaliar em mais 2 minutos cada.
A Tab. 7.6 ilustra o comparativo dos resultados obtidos no Estudo de Caso 01 e na
aplicação do Método 4 na planta.
Tabela 7.6 - Comparativo dos resultados obtidos para a previsão da dose com o Método 4
com o valor de dose estimado no Estudo de Caso 01.
Estudo de Caso 01 Área Analisada Método 4 Valor Médio
Sala de Operações 0,190 0,142 1º Piso da Caldeira 0,092 0,128 2º Piso da Caldeira 0,118 0,142 3º Piso da Caldeira 0,077 0,065 Desaerador 0,239 0,208 1º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,135 0,101 2º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,182 0,177 Térreo 0,541 0,631 Dose de Exposição Total 1,574 1,594 Intervalo de Confiança 1,413 1,734
Pela análise da Tab. 7.6, verificou-se que o Método 4 subestimou a dose simulada,
quando comparadas as doses médias, em 1,27%. Já para a faixa de avaliação que leva em
consideração a variância obtida nas 30 repetições variando o NPS o resultado se mostra
satisfatório, pois a dose estimada no Estudo de Caso 01 está dentro do intervalo de confiança
estimado.
141
7.4.3.2 Estudo de Caso 02: Verificar Possível Vazamento no Desaerador
Nesta simulação, foi inserido na rota do funcionário 1 translado até a caldeira e
aumento da permanência no ponto de verificação dos Vent’s em 1 minuto.
A Tab. 7.7 ilustra o comparativo dos resultados obtidos no Estudo de Caso 02 e na
aplicação do Método 4 na planta.
Tabela 7.7 - Comparativo dos resultados obtidos para a previsão da dose com o Método 4
com o valor de dose estimado no Estudo de Caso 02.
Estudo de Caso 02 Área Analisada Método 4 Valor Médio
Sala de Operações 0,190 0,125 1º Piso da Caldeira 0,092 0,106 2º Piso da Caldeira 0,118 0,125 3º Piso da Caldeira 0,077 0,063 Desaerador 0,239 0,336 1º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,135 0,101 2º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,182 0,177 Térreo 0,541 0,549 Dose de Exposição Total 1,574 1,582 Intervalo de Confiança 1,413 1,734
Pela análise da Tab. 7.7, verificou-se que o Método 4 subestimou a dose simulada,
quando comparadas as doses médias, em 0,51%. Já para a faixa de avaliação o resultado se
mostra satisfatório, pois a dose estimada no Estudo de Caso 02 está dentro dos valores
esperados.
7.4.3.3 Estudo de Caso 03: Verificar Possíveis Falhas nas Turbinas dos Equipamentos no
Prédio das Turbo Máquinas
Para tanto, foi inserido na rota do funcionário 2 translados até o prédio das turbo
máquinas, além de aumentar a permanência no ponto de verificação de cada turbina em 3
minutos para cada piso.
A Tab. 7.8 ilustra o comparativo dos resultados obtidos no Estudo de Caso 03 e na
aplicação do Método 4 na planta.
142
Tabela 7.8 - Comparativo dos resultados obtidos com o Método 4 com o valor de dose
estimado no Estudo de Caso 03.
Estudo de Caso 03 Área Analisada Método 4 Valor Médio
Sala de Operações 0,190 0,132 1º Piso da Caldeira 0,092 0,092 2º Piso da Caldeira 0,118 0,118 3º Piso da Caldeira 0,077 0,065 Desaerador 0,239 0,208 1º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,135 0,127 2º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,182 0,287 Térreo 0,541 0,580 Dose de Exposição Total 1,574 1,608 Intervalo de Confiança 1,413 1,734
Pela análise da Tab. 7.8, verificou-se que o Método 4 subestimou a dose simulada,
quando comparadas as doses médias, em 2,16%. Já para a faixa de avaliação o resultado se
mostra satisfatório, pois a dose estimada no Estudo de Caso 03 está dentro dos valores
esperados.
7.4.3.4 Estudo de Caso 04: Verificar Possíveis Falhas em 1 dos Compressores na Área dos
Compressores, 1 Bomba na Torre de Refrigeração e na Turbina de Acionamento do
Ventilador da Caldeira
Para esta simulação, foi inserido na rota do funcionário 1 translado até a área dos
compressores e permanência de 5 minutos no compressor a avaliar, 1 translado até a torre de
refrigeração e permanência de 5 minutos a bomba a avaliar, 1 translado até o pátio de bombas
e permanência de 5 minutos na bomba a avaliar e 1 translado até a Caldeira com permanência
de 15 minutos na turbina de acionamento do ventilador.
A Tab. 7.9 ilustra o comparativo dos resultados obtidos no Estudo de Caso 04 e na
aplicação do Método 4 na planta.
143
Tabela 7.9 - Comparativo dos resultados obtidos com o Método 4 com o valor de dose
estimado no Estudo de Caso 04.
Estudo de Caso 04 Área Analisada Método 4 Valor Médio
Sala de Operações 0,190 0,130 1º Piso da Caldeira 0,092 0,092 2º Piso da Caldeira 0,118 0,118 3º Piso da Caldeira 0,077 0,065 Desaerador 0,239 0,208 1º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,135 0,101 2º Piso do Prédio das Turbo Máquinas 0,182 0,177 Térreo 0,541 0,835 Dose de Exposição Total 1,574 1,726 Intervalo de Confiança 1,413 1,734
Pela análise da Tab. 7.9, verificou-se que o Método 4 subestimou a dose simulada,
quando comparadas as doses médias, em, 9,65%. Já para a faixa de avaliação o resultado se
mostra satisfatório, pois a dose estimada no Estudo de Caso 04 está dentro dos valores
esperados.
Sintetizando, a metodologia desenvolvida consistiu em:
1. Avaliar os níveis de ruído da unidade industrial em estudo, dividindo-a segundo
os níveis de ruído e área de predominância de tais níveis para a escolha do método
aplicado:
• Para áreas de até 50 m² e com NPS máximo superior a 95 dB(A) ou áreas de 50
m² a 1000 m² e NPS máximo superior a 104 dB(A): serão avaliados todos os
pontos da planta e estimada a probabilidade de o funcionário estar em cada um
destes pontos, sendo tal probabilidade inversamente proporcional à distância entre
os pontos da rota e o avaliado conforme a Eq. (6.25) (Método 1). Será
considerando somente um raio de 1 metro ao redor de cada ponto do trajeto para a
estimativa da possibilidade do funcionário estar presente durante a jornada de
trabalho;
• Para áreas de até 50 m² e NPS máximo inferior a 95 dB(A) ou de 50 m² a 1000
m² e NPS máximo inferior a 104 dB(A): será utilizado um procedimento de
estimativa de tempo de permanência em cada ponto de toda a área através do
treinamento de uma rede neural probabilística (RNP) (Método 2) sem imposição
de quantidade de pontos além da rota;
144
• Para áreas maiores que 1000 m², independente dos NPS: Será utilizada a RNP
do Método 2.1, que considera que 20% dos pontos da planta deverão ter pelo
menos 0,5 segundos de permanência (Método 2.1).
2. Após classificar as áreas de acordo com a dimensão e os níveis de ruído, dividir a
jornada de trabalho em intervalos de tempo iguais, escolher aleatoriamente pontos da
planta e avaliar qual a probabilidade de o funcionário estar em tais pontos nos
intervalos pré-definidos. Acumulam-se as probabilidades estimadas para cada
período de tempo em cada ponto;
3. Realizar repetições levando em consideração variações de 0 a 6 dB(A) para os NPS
simulados para a planta, sendo tal faixa de variação foi observada durante coleta de
dados em uma mesma unidade industrial no período de uma semana;
4. Calcular a dose de exposição ao ruído;
5. Calcular uma faixa de aceitação com 95% de confiança utilizando as repetições com
variações de 0 a 6 dB(A) nos NPS da área estudada.
CAPÍTULO VIII
Conclusões
As principais conclusões deste trabalho foram:
1. A metodologia de identificação de NWS de fontes de ruído via otimização dos NPS
mapeados ao redor do equipamento foi validada, sendo que a comparação dos NPS
simulados com os valores medidos em campo resultou em erros inferiores a 3 dB(A).
2. Para a identificação de NWS de motores elétricos, o Método da Superfície de Resposta
(MSR) se mostrou melhor que a Rede Neural Artificial (RNA). Comparando os
resultados dos NWS estimados com as identificações in situ, os erros resultantes foram de
1,1% para o MSR contra 1,2% da RNA.
3. A avaliação da eficiência do programa de simulação de campo acústico do LAV
apresentou bons resultados. Os níveis de ruído simulados se aproximaram
satisfatoriamente dos valores medidos in situ, sendo ainda validados os cálculos de
refração em bordas de barreiras e o módulo de tratamento acústico do programa através
de comparação com situações reais, resultando em erros inferiores a 3 dB(A) em todas as
avaliações.
4. Dentre os quatro métodos testados para estimar a probabilidade de o funcionário estar em
qualquer ponto da planta durante a jornada de trabalho (Métodos 1, 2, 1.1 e 2.1), somente
três deles (Métodos 1, 2 e 2.1) tiveram algum tipo de aplicação:
• Para áreas de até 50 m² e com NPS máximo superior a 95 dB(A), ou áreas de 50 m² a
1000 m² e NPS máximo superior a 104 dB(A), foi utilizado o Método 1 considerando
somente um raio de 1 metro ao redor de cada ponto do trajeto para a estimativa da
possibilidade do funcionário estar presente durante a jornada de trabalho;
146
• Para áreas de até 50 m² e NPS máximo inferior a 95 dB(A) ou de 50 m² a 1000 m² e
NPS máximo inferior a 104 dB(A), foi utilizado o Método 2;
• Para áreas maiores que 1000 m², independente dos NPS, foi utilizado o Método 2.1.
5. O Método 3, resultante de um arranjo dos Métodos 1, 2 e 2.1, se mostrou um bom
estimador da dose de exposição ao ruído ocupacional, com um erro inferior a 6% quando
comparado ao valor analítico da dose.
6. O Método 4, resultante do Método 3 e da utilização do Método de Simulação de Monte
Carlo, apresentou um erro para a estimativa do valor da dose de 17,1% quando
comparado ao valor analítico de dose. Apesar do valor significativo de erro, tal método
foi adotado, pois foi o que mais aproximou o valor estimado analisando áreas grandes.
Ainda pode-se dizer que o Método possui um algoritmo de estimativa da probabilidade de
permanência em pontos da planta imparcial e não tendencioso, possibilitando o
funcionário estar em qualquer ponto da área e enfatizando os locais de maior
permanência de maneira estatística.
7. Para os 4 estudos de caso realizados, houve variação significativa nos valores de dose
estimados, os quais evidenciaram e comprovaram o aumento substancial na dose devido
ao aumento do tempo de permanência e também ao aumento dos NPS locais. Mesmo
com todas as intervenções adicionais, o intervalo de confiança de 95% utilizado foi
suficiente para abranger todas as situações avaliadas.
Desta forma, como conclusão geral do trabalho, foi possível desenvolver uma
metodologia que estime a dose de exposição ao ruído ocupacional, o que, avaliado no aspecto
de um programa de conservação auditiva, é de grande significância, uma vez que será
possível intervir na rotina do funcionário ou ainda na fonte de ruído antes que ocorra a
exposição a valores de dose que prejudiquem sua audição.
8.1 Propostas para Trabalhos Futuros
Para a continuação desta linha de pesquisa, indica-se:
1. Desenvolver um sistema de otimização das rotas do funcionário, diminuindo o
tempo de exposição na área propriamente dita ou em pontos de vistoria com
elevados níveis de ruído, além de alteração de trajetos, dando preferência à locais
147
com menor concentração de máquinas ou com fontes de ruído menos significativas,
visando a diminuição da dose;
2. Implementar um sistema de hierarquização de fontes de ruído que contribuem para
o aumento dos níveis de ruído no ponto analisado, possibilitando a visualização do
espectro de frequências, oque facilitaria a escolha da solução adequada para a
situação, seja ela a manutenção do sistema ou a adequação acústica.
148
CAPÍTULO IX
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ANEXO 1
Fundamentos de Acústica
A1.1 Acústica Básica
Uma onda sonora se caracteriza por uma perturbação a qual se propaga em um meio
elástico, ou compressível, o qual pode ser um gás, um líquido ou um sólido (Beranek e Vér,
1992). No entanto, estas perturbações causam flutuações de pressão no meio, as quais
produzem a sensação de audição quando atingem o sistema auditivo humano. A sensação de
som só ocorrerá quando a amplitude destas flutuações (20 µPa a 2000000 µPa) e a frequência
com que elas se repetem estiverem dentro de determinada faixa de valores (20 a 20000 Hz).
Ressalta-se que na faixa de frequência auditiva a orelha não igualmente sensível, ou seja, nas
baixas frequências há uma maior atenuação do som do que nas altas frequências, sendo que na
frequência de 1000 Hz nenhuma atenuação ocorre (Nunes, 2006).
O som é parte da vida diária e apresenta-se, por exemplo, como: música, canto dos
pássaros, uma batida na porta, as ondas do mar, entre outros. Entretanto, na sociedade
moderna, muitos sons são desagradáveis e alguns indesejados, e esses são definidos como
ruído (Nunes, 2006).
Na prática, a geração do ruído é causada pela variação da pressão ou da velocidade
das moléculas do meio. Desta maneira, o som é uma forma de energia que é transmitida pela
oscilação das moléculas do meio de propagação. Portanto, o som pode ser representado por
uma série de compressões e rarefações do meio em que se propaga, a partir da fonte sonora
(Fig. A1.1). Ressalta-se que não há deslocamento de moléculas, ou seja, não há transferência
de matéria, apenas de energia (com exceção, por exemplo, nas proximidades de grandes
explosões ou muito próximos das fontes sonoras) (Nunes, 2006).
160
Figura A1.1 – Modelo de propagação do som pela variação de pressão no ar (Nunes, 2006).
Na faixa de frequência de 20 a 20000 Hz as ondas de pressão no meio são audíveis.
Sendo a sensibilidade da orelha tal que, uma pressão de 20 µPa pode ser detectada, caso a
frequência esteja na faixa mais sensível de audição, que é aproximadamente 1000 a 4000 Hz.
Na Fig. A1.2 está mostrada a curva de audibilidade humana (Nunes, 2006).
161
Figura A1.2 – Contornos padrão de audibilidade para tons puros (Nunes, 2006).
A velocidade com que a variação de pressão se propaga no meio é dependente da elasticidade
e da densidade do meio de propagação (Beranek e Vér, 1992). No entanto, há outros fatores
aos quais a velocidade de propagação do som é dependente, tais como a frequência de
propagação e a umidade do meio, bem como a altitude e temperatura (Bies e Hansen, 2003).
Segundo Beranek e Vér (1992), assumindo um modelo simplificado, o som se
propaga a uma velocidade que depende apenas da temperatura do meio. Por exemplo, para o
ar a 25 oC, a velocidade do som C é de 346,4 m/s. Uma fórmula aproximada para
determinação da velocidade do som no fluidos, C em m/s, é dada pela Eq.(A1.1) (Gerges,
2000):
PC (A1.1)
onde:
é ao índice adiabático do meio;
P é a pressão [Pa];
é a densidade do meio [Kg/m3].
O sistema auditivo humano responde a uma larga faixa de pressão sonora, desde o
limiar de audição até o limiar da dor, como mostrado na Fig. A1.1. Por exemplo, a 1000 Hz, a
162
intensidade acústica capaz de causar a sensação de dor é 1012
vezes a intensidade acústica
capaz de causar a sensação de audição.
É visível a dificuldade de se expressar números de ordem de grandeza tão diferentes
numa mesma escala linear, portanto usa-se a escala logarítmica.
Portanto, um decibel corresponde a 101
10 = 1,26, ou seja, é igual a variação na
intensidade de 1,26 vezes. Então, uma mudança de 3 dB corresponde a 103
10 = 2, ou seja,
dobrando-se a intensidade sonora resulta em um acréscimo de 3 dB.
O Nível de intensidade sonora (NIS) é dado pela Eq. (A1.2):
oI
INIS log10 [dB] (A1.2)
onde I é a intensidade acústica em Watt/m2 e Io é a intensidade sonora de referência, igual a
10-12
Watt/m2.
Num campo livre, o nível de pressão sonora é dado pela Eq. (A1.3):
oo P
P
P
PNPS log20log10
2
2
[dB] (A1.3)
onde Po é a pressão de referência (20 µPa) e corresponde ao limiar da audição em 1000 Hz.
Outro aspecto importante da escala dB é que ela apresenta uma correlação com a
audibilidade humana muito melhor do que a escala absoluta (N/m2). Sendo que um (1) dB é a
menor variação que o sistema audtivo humano pode perceber.
Uma importante propriedade de qualquer fonte é a potência sonora W ou energia
acústica total emitida pela mesma na unidade de tempo. A potência sonora é apenas
dependente da própria fonte e independe do meio onde a fonte se encontra.
É, portanto, importante a medição da potência sonora emitida por qualquer máquina.
A partir dos dados obtidos é possível calcular a pressão acústica em qualquer ambiente de
tamanho, forma e absorção das paredes conhecidas.
Em campo livre, o nível de potência sonora, NWS, para fonte omnidirecional é dado
pela Eq. (A1.4).
163
11)log(20 dNPSNWS [dB] (A1.4)
onde NPS é o nível de pressão sonora em dB, medido em pontos específicos próximo à fonte,
e d é a distância entre a fonte e o microfone utilizado em metros.
A potência sonora pode ser determinada em câmaras anecóicas, câmara reverberante
ou usando o medidor de intensidade sonora (técnica de dois microfones). A potência sonora
pode também ser determinada em campo através do método de comparação usando uma fonte
calibrada.
A1.2 Propagação do Som no Ar Livre
Segundo Gerges (2000), a energia gerada por fontes sonoras sofre atenuação ao se
propagar em ar livre. Os fatores causadores de atenuação são: distância percorrida, barreiras,
absorção atmosférica, vegetação, variação de temperatura e efeito do vento. Na análise do
campo acústico e comunidade é importante desenvolver relações entre a potência sonora das
fontes, os níveis de pressão sonora no receptor e a influência dos vários caminhos de
propagação.
A predição de níveis de pressão sonora em áreas externas adjacentes a fontes de
ruído requer a análise da propagação de som no ar livre. Esta propagação é afetada pela
atenuação ao longo do caminho de transmissão e é estimada através de correções aditivas para
divergência esférica, absorção no ar, reflexões, efeito da vegetação, efeito da topografia do
solo, efeito de barreiras e espalhamento nas próprias instalações.
A propagação externa também é afetada por variações nas condições atmosféricas,
como unidade relativa do ar e temperatura.
A atenuação do nível de pressão sonora com a distância depende da distribuição das
fontes de ruído. Vários tipos de distribuição podem ser considerados:
Fonte Pontual Simples: O nível de pressão sonora pode ser calculado pela Eq. (A1.5).
11)log(20)()( rDINWSNPS
(A1.5)
164
onde: DI é o índice de diretividade = 10log(Q) e Q é o fator de diretividade de superfície.
A Fig. A1.3 ilustra o efeito da presença da superfície na escolha do fator de
diretividade.
Figura A1.3 – Efeito da presença de superfície na diretividade (Gerges, 2000).
Fonte Linear: um duto longo carregando um fluxo de fluído turbulento ruidoso pode
ser considerado como fonte sonora em linha de comprimento l. O nível de pressão
sonora neste caso é calculado pela Eq. (A1.6).
8)log(20)()( rDINWSNPS
(A1.6)
Fontes Pontuais em Linha: uma linha de máquinas idênticas pode ser considerada
uma linha de fontes, conforme ilustrado na Fig. A1.4.
165
Figura A1.4 – Fontes em linha (Gerges, 2000).
Para fontes incoerentes, ao longo da distância radial r<b/π, onde b é a distância entre
as fontes, a propagação do som é similar ao de fonte pontual simples com atenuação de 6 dB
para cada duplicação da distância (a contribuição da fonte afastada é pequena). Entretanto,
para r>b/π, a propagação é similar ao caso da fonte linha, com atenuação de 3 dB para cada
duplicação da distância (a contribuição de todas as fontes é significante). Tais características
são ilustradas na Fig. A1.5.
Figura A1.5 – Atenuação com a distância para vários tipos de fontes (Gerges, 2000).
166
Fonte Plana: A transmissão de ruído através de uma porta, janela ou parede de uma
casa de máquinas, pode ser considerada como fonte plana finita. Para r < b/π não
existe atenuação e para b/π < r < c/π tem-se uma atenuação de 3 dB por duplicação da
distância (fonte linear), e para r >c/π tem-se uma atenuação de 6 dB por duplicação da
distância (fonte pontual).