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Curitiba, Vol. 5, nº 8, jan.-jun. 2017 ISSN: 2318-1028 REVISTA VERSALETE QUELUZ, R.P. Uma Paródia Musical... 237 UMA PARÓDIA MUSICAL: THE SOUND OF HAMLET, de MYA GOSLING A MUSICAL PARODY: THE SOUND OF HAMLET, BY MYA GOSLING Rebeca Pinheiro Queluz 1 RESUMO: Este artigo pretende analisar The Sound of Hamlet, uma paródia em quadrinhos elaborada por Mya Gosling a partir da tragédia shakespeariana Hamlet e do filme The Sound of Music, dirigido por Robert Wise. Nessa perspectiva, usaremos como base a reflexão de Linda Hutcheon sobre paródia. Observaremos como, de forma humorada e irônica, a cartunista insere as canções de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II em pontos-chave da narrativa, acrescentando a sua interpretação sobre as obras e atualizando os dois textos. Palavras-chave: paródia shakespeariana; quadrinhos; The Sound of Music. ABSTRACT: This article aims to analyze The Sound of Hamlet, a comic strip parody written by Mya Gosling of Shakespeare’s tragedy Hamlet and Robert Wise’s film The Sound of Music. From this perspective we will use Linda Hutcheon’s reflection on parody as a theoretical ground. We will observe how the cartoonist inserts, in a humorous way, the songs of Richard Rodgers and Oscar Hammerstein II into key points of the narrative, adding her interpretation about the works and updating the two texts. Keywords: Shakespearean parody; comics; The Sound of Music. INTRODUÇÃO Este texto tem por objetivo apresentar e discutir uma história em quadrinhos criada por Mya Gosling, uma jovem cartunista que até pouco tempo trabalhava como bibliotecária na University of Michigan Graduate Library. Hoje, ela ___________________________ 1 Doutoranda em Letras, UFPR.

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UMAPARÓDIAMUSICAL:THESOUNDOFHAMLET,deMYA

GOSLING

AMUSICALPARODY:THESOUNDOFHAMLET,BYMYAGOSLING

RebecaPinheiroQueluz1

RESUMO: Este artigo pretende analisar The Sound of Hamlet, uma paródia em quadrinhoselaboradaporMyaGoslingapartirdatragédiashakespearianaHamletedofilmeTheSoundofMusic, dirigido por RobertWise. Nessa perspectiva, usaremos como base a reflexão de LindaHutcheonsobreparódia.Observaremoscomo,deformahumoradaeirônica,acartunistainsereas canções de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II em pontos-chave da narrativa,acrescentandoasuainterpretaçãosobreasobraseatualizandoosdoistextos.Palavras-chave:paródiashakespeariana;quadrinhos;TheSoundofMusic.ABSTRACT:ThisarticleaimstoanalyzeTheSoundofHamlet,acomicstripparodywrittenbyMyaGoslingofShakespeare’stragedyHamletandRobertWise’sfilmTheSoundofMusic.FromthisperspectivewewilluseLindaHutcheon’sreflectiononparodyasatheoreticalground.Wewillobservehowthecartoonistinserts, inahumorousway,thesongsofRichardRodgersandOscar Hammerstein II into key points of the narrative, adding her interpretation about theworksandupdatingthetwotexts.Keywords:Shakespeareanparody;comics;TheSoundofMusic.

INTRODUÇÃO

Este texto tem por objetivo apresentar e discutir uma história em

quadrinhos criada porMyaGosling, uma jovem cartunista que até pouco tempo

trabalhavacomobibliotecárianaUniversityofMichiganGraduateLibrary.Hoje,ela

___________________________1DoutorandaemLetras,UFPR.

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sededicaintegralmenteaosseus“stickfigureShakespearecomics”2,graçasaum

sistemadepatronagem—emqueGoslingseapresentaparaopúblicoesolicitao

patrocíniomensalparaoseutrabalho—edavendadeprodutos(comopôsteres,

camisetas,quadrinhoseadesivos)relacionadosaosseuscomics.

Inicialmente,GoslingpublicouseutrabalhonoFacebookpara,depois,criar

um blog específico para seus webcomics, denominado Good Tickle Brain. Esse

título,comonosinformaaprópriaautora,éuminsultoshakespearianopresente

nafaladeFalstaff(HenriqueV,ato2,cena4):“—Peace,goodpint-pot.Peace,good

tickle-brain!”.Noblog,predominamquadrinhosquetematizamaspeçasdobardo

inglês, mas também há espaço para miscelânea. As atualizações, nessas e em

outrasredessociais(comoInstagrameTwitter),ocorrempelomenosduasvezes

nasemana,àsterças-feiraseàsquintas-feiras.

AseçãointituladaThree-panelplayséamaisdifundidapelainternetefoio

trabalho que gerou o reconhecimento de Mya Gosling. Brincando com o

pressupostodequeaspessoasnãotêmtempo3paraleraspeçasdeShakespeare,a

cartunistaresolveuresumi-lasemtirasdetrêsquadros,comosepodeobservarna

figura1.

Figura1:Hamletem3quadros.Fonte: <http://goodticklebrain.com/shakespeare-index/#/three-panel-plays/>. Acesso

em:03/03/2017.___________________________2Disponívelem:<http://goodticklebrain.com/about/>.Acessoem:02/03/2017.3NaspalavrasdeMyaGosling,“notimetoreadallofShakespeare’splays,butstillwanttoknowwhathappensinthem?I’vegotyoucovered”.

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Ao condensarHamlet, a autora destaca o tema da vingança proposto pelo

fantasmadopaideHamlete,também,aindecisãoeainaçãodoprotagonistaque

revela primeiro, pormeio de seus solilóquios, a sua intensa inclinação reflexiva

(alternandoentrea introspecçãoeofuror)e, finalmente,realizaatarefadaqual

foiincumbido.

SegundoBarbaraHeliodora,Hamleté

[...]definitivamente uma tragédia de vingança, gênero de característicasaltamente específicas, de modo senecano. O gênero tem, na dramaturgiaelisabetana, um grande número de exemplos, porém só em A TragédiaEspanhola,deThomasKyd,enopróprioHamletestarãopresentestodososseus aspectos, ou seja, o aparecimento de um fantasma pedindo vingança,umvingadorqueprotelacomhesitaçãoocumprimentodatarefaquelhefoiimposta,loucurafingidae/oureal,planejamentoprolongadoe,finalmente,aexecuçãodavingança.(HELIODORA,2004,p.137).

Apesar de não mencionar personagens como Laertes e Gertrudes, por

exemplo, no terceiro quadro, ao lado da cena em queHamlet assassina seu tio,

percebemosapresençadeseuscorposinerteseensanguentados.Serecordarmos

a segunda cena do quinto ato, emque ocorre umduelo entreHamlet e Laertes,

observaremos que o último, por sugestão de Cláudio, trapaceou ao utilizar uma

espadacompontaenvenenadadurantealuta.Hamletéferido,mastambémfereo

oponente, e ambosmorrem em decorrência do veneno. Gertrudes, por sua vez,

bebe, em honra a seu filho, de uma taça envenenada por Cláudio— que queria

garantiramortedeseusobrinho.

Pode-se deduzir, então, um comentário da cartunista sobre a violência

presente nessa tragédia sangrenta, na qual morreram, além dos personagens

acima citados,Hamlet pai (assassinado),Ofélia (suicídio), Polônio (assassinado),

Rosencrantz e Guildenstern (assassinados). Ainda, é importante notar como se

destacam as expressões faciais e corporais dos personagens, principalmente de

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Hamletque,alémdeapresentarexpressõessignificativas,utilizaumtrajenegro,

evidenciandoseulutoeasuamelancolia.Esseclimaemocionaldedepressãoem

queopríncipeseencontraénotadodesdeamortedoseupai,comoficaevidente

noprimeiromonólogoqueeleenuncia(ato1,cena2).

Asíntesedatragédiadinamarquesaétambémumcomentáriocríticoquea

cartunistafazsobreaobra.Afinal,considerandooconceitodeadaptaçãoproposto

porLindaHutcheon (2011),pode-seafirmarqueGosling realizaumato criativo

queoperaumprocessoespecíficodeleitura,interpretaçãoerecriaçãoapartirde

um trabalho anterior. É uma repetição com diferença, não uma réplica, um

compromisso intertextual como trabalhoadaptado.E,nessaobrapalimpséstica,

quantomaior a familiaridade do leitor com Shakespeare,maior será o proveito

dosquadrinhosdeGoodTickleBrain, presentes tantonessa seçãodas tiras com

trêsquadros,quantonasdemaisseções4.

Neste artigo, abordaremos sob a perspectiva da paródia uma história em

quadrinhosintituladaTheSoundofHamlet(algocomoOprínciperebeldeouOsom

___________________________4 EmGeneral Shakespeare, Gosling apresenta criações que têmalguma relação coma obra dobardo. Podemos citar as Selfies Shakespearianas(http://goodticklebrain.com/home/2013/11/11/shakespearean-selfies) e as AutocorreçõesShakespearianas (http://goodticklebrain.com/home/2014/9/21/shakespearean-autocorrects-part-1),ambasdivididasemseispartes.Naprimeiraseção,Goslingimaginaquetipodefotosospersonagensshakespearianospostariamnasredessociais,propondoatémesmohashtagsparaassituaçõeseapelidosparaospersonagens.Hamlet,porexemplo,vira“princeofden”eemsuaselfie aparece com a caveira de Yorick: “Pic of me and my old jester @DeadYorick#graveyardselfie #depressing #tagforlikes”. Já na segunda, a cartunista imagina as confusõesquetransparecemnasfalastrocadaspelospersonagensviaWhatsappapartirdoautocorretordo aplicativo. Usando o príncipe da Dinamarca mais uma vez como exemplo(http://goodticklebrain.com/home/2015/6/24/shakespearean-autocorrects-part-4), GoslingconcebeumacenaemqueHamletrecebeumamensagemdofantasmadopaiviaWhatsapp,naqual ele se identifica como “thy father’s sprout”. Em seguida, escreve: “SPIRIT. Thy father’sspirit”. Numa terceira mensagem, se justifica afirmando que “Sorry, it’s hard to type whileincorporeal”.Hamletperguntaoquesepassaeopairespondequequerqueofilhovingue“hisfoul and most unnatural burger”, ao que Hamlet indaga “burger?”. O pai, sem se dar conta,repete: “burgermost foul”e,depois, sinalizandoqueentendeuqueamensagemestavaerradaescreveemcaixaaltaapalavra“MURDER”eterminaxingandooautocorretor.

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de Hamlet— tradução da autora). Para tanto, dialogaremos com a perspectiva

teóricadapesquisadoracanadenseLindaHutcheonsobreparódia,apresentando

brevementeesseconceito.

1. PARÓDIA:UMAPERSPECTIVATEÓRICA

EmumaobrachamadaUmateoriadaparódia:ensinamentosdas formasde

arte do século XX, LindaHutcheon teoriza sobre esse gênero que foi descrito ao

mesmotempocomosintomaecomoferramentacríticadoepistemamodernista.

Ela defende que a paródia não é simplesmente parasitária e derivativa, uma

imitação ridicularizadora,mas umprocessode transferência e de reorganização

do passado que tende a desmistificar o “nome sacrossanto do autor” e a

dessacralizar a origem do texto (HUTCHEON, 1985, p. 16). É, a seu ver, um ato

críticodereavaliaçãoeacomodaçãoquecombinaelogioecensuraequeapresenta

umcaráterautorreflexivoeintertextual.

SegundoHutcheon(1985,p.17), “oqueénotávelnaparódiamodernaéo

seu âmbito intencional do irônico e jocoso ao desdenhoso ridicularizador. A

paródia é, pois, uma forma de imitação caracterizada por uma inversão irônica,

nem sempre às custas do texto parodiado”. Ela é uma repetição com

distanciamento e consciência crítica, que sinaliza a diferença ao invés da

semelhança. É uma abordagem criativa e concomitantemente um produto da

tradição. Sendo assim, “não se trata de uma questão de imitação nostálgica de

modelospassados:éumaconfrontaçãoestilística,umarecodificaçãomodernaque

estabeleceadiferençanocoraçãodasemelhança” (p.19).Aparódiaseapropria

dasconvençõesdeumperíodoanteriorelhesconferenovossentidos.

Ainda,ateóricacanadenseseservedeumacitaçãodeThomasGreene(1982

apudHUTCHEON,1985,p.20)paradestacarque“todaaimitaçãocriativamistura

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a rejeição filial com o respeito, tal como toda a paródia presta a sua própria

homenagem oblíqua”. Entre os inúmeros exemplos que ela cita em seu texto,

encontram-sealgumasmençõesaparódiasshakespearianas.Aprimeiradelaséa

tragicomédia deTomStoppard,Rosencrantz e Guildenstern estãomortos (1966),

que explora o destino de duas personagens secundárias deHamlet a partir de

fragmentosdecenasdooriginal.Nassuaspalavras,nessapeçaexisteumatensão

entreotexto“queconhecemos(Hamlet)eoqueStoppardlhefaz.Semprequeum

acontecimentoédirectamentetiradodomodeloshakespeareano,Stoppardserve-

sedaspalavrasoriginais.Mas“transcontextualiza-as”atravésdaadiçãodecenas

queoBardonuncaconcebeu”(p.25).Paracontraporesseexemplo,fazmençãoa

Macbett de Eugène Ionesco em que, conforme Hutcheon, ocorre uma inversão

totaldadicçãoedovalormoraldaspersonagens.

SegundoMarinaBentoVeshagem,

Macbett é de 1972 e propõe o que parece, a princípio, uma paródia deMacbeth, peça deWilliam Shakespeare, de 1606. O dramaturgo adapta osnomesdospersonagenseconservaaestruturanarrativabásicadeMacbeth,masapresentaapeçaemumtomporvezessatírico.Achavedeleituraqueescolho, capaz de ver a diferença, de enxergar outras possibilidades alémdaquela do consenso, é a interpretação ‘Patafísica do texto’. (VESHAGEM,2016,p.664).

Hutcheon também cita a obra de Peter Blake, On the Balcony5 (1955), e

assinalaque:

[...] as quatro crianças sentadas seguram um postal ou reprodução de LeBalcon,deManet,umagravuradeRomeueJulieta,sugerindoafamosacenada varanda (também há uma flâmula de Verona noutra parte) e duasfotografiasdafamíliareal.Oclichédosamantesnavarandareecoanasduaspombas fora do pombal. Este tipo de complexidade faz da paródia umavariaçãosobreaquiloqueGarySaulMorson(1981,48-9)designaporuma“obralimite”outextoduplamentedecodificável,emboraestasobraspossam

___________________________5 Essa obra está no museu de arte moderna do Reino Unido, Tate: <http://www.tate.org.uk/art/artworks/blake-on-the-balcony-t00566>.Acessoem:17/03/2017.

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sermelhordescritascomosendopossuidorasdeumacodificaçãomúltipla,especialmente por que as convenções, bem como textos particulares, seencontramenvolvidoscomfrequência(HUTCHEON,1985,p.25).

Nessesentido,aparódiaservepararessacralizaroudessacralizarumaobra

ou um autor, ou seja, ressalta uma mudança, mas não uma submissão. Há,

portanto,nesseprocesso,umarelaçãoestruturale funcionalderevisãocrítica.A

paródia,navisãodeHutcheon, “podeserumacríticaséria,nãonecessariamente

aotextoparodiado;podeserumaalegreegenialzombariadeformascodificáveis.

O seu âmbito intencional vai da admiração respeitosa ao ridículo mordaz”

(HUTCHEON, 1985, p. 28). Seria, então, uma mescla de imitação, admiração e

escárnio. Ainda, a autora acentua o poder transformador da paródia por criar

novassínteseseapontaquesetratadeumaformadedialogiatextualnostermos

deBakhtin.NostermosdeGenette,Hutcheonpercebeaparódiacomoumarelação

estruturalou formalentre textosquese inter-relacionam,masmaisdoque isso,

buscam “parodiar outra obra (ou conjunto de convenções) e tanto um

reconhecimento dessa intenção como capacidade de encontrar e interpretar o

textodefundonasuarelaçãocomaparódia”(p.34).

Por fim, a teórica reitera a importância do leitor no processo de

reconhecimento do texto com o qual a paródia dialoga. Dito de outromodo: “o

processodecomunicaçãoécentralparaacompreensãodaparódia”,sendoassim,

“os textos só podem ser entendidos quando situados contra os cenários das

convenções de onde emergem e (...) os mesmos textos contribuem,

paradoxalmente,paraoscenáriosquedeterminamosseussentidos”(HUTCHEON,

1985,p.36).Nesteartigo,veremosaindacomootextodeMyaGoslingparodiaa

tragédia dinamarquesaHamlet e omusical Sound of Music criando uma síntese

dessasobrasapartirdoseupontodedistanciamentocrítico.

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2. LITERATURA,CINEMAEQUADRINHOS:THESOUNDOFHAMLET

TheSoundofHamletfoiumtrabalhodesenvolvidoporGosling,entre31de

março de 2015 e 14 demaio domesmo ano, para celebrar o aniversário de 50

anos da produção cinematográfica de The Sound of Music (A noviça rebelde, no

Brasil)dirigidaporRobertWise.OmusicalcontoucomJulieAndrewsnopapelda

noviça Maria e com o ator shakespeariano, Christopher Plummer, no papel do

capitãovonTrapp.

É válido lembrar que o consagradomusical norte-americanoThe Sound of

Music baseou-se no livro de memórias The Story of the Trapp Family Singers6

escritoporMariavonTrappeéumaadaptaçãodomusicalhomônimoqueestreou

na Broadway em 1959. Com o roteiro adaptado a partir do libreto do musical

escrito por Howard Lindsay e Russel Crouse, o filme vale-se das canções de

Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II. Nele, é apresentada a história da

aspiranteafreiraquesetornagovernantanacasadeumex-capitãodamarinha,

viúvo e com7 filhos. Sua chegada na casa dos von Trappmuda completamente

aquele lugar sem vida, sem carinho, sem amor, sem atenção e semmúsica. De

início, desafiado por Maria, o capitão se rende aos seus encantos e os dois se

apaixonamesecasamapósmuitasconfusões.

EssahistóriasedesenvolvenaÁustrianoiníciodaSegundaGuerraMundial

eculminanafugadafamíliavonTrappparaaSuíça,depoisdaanexaçãodopaís

pela Alemanha nazista (chamada de Anchluss, ocorrida em 1938), devido à

___________________________6 Segundo Roger Lerina, “A Noviça Rebelde é baseado no livroThe Story of the Trapp FamilySingers,emqueMariavonTrapp(1905—1987)contaahistóriadesuafamília,obrigadaafugirdaÁustriadepoisdaanexaçãodopaíspelaAlemanha,em1938,devidoàposturaantinazistadopatriarcaGeorgLudwigvonTrapp(1880—1947).Porcontadasdificuldadesfinanceirascomadepressãomundialde1930,osVonTrappcomeçaramacantarempúblicoparaganhardinheiro—oque lhes trouxe tambémfama,aindaqueoorgulhosooficialdamarinhaaustríaca ficasseconstrangidocomasituação”.Disponívelem:<https://goo.gl/JsBDKj>.Acessoem:03/03/2017.

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convocaçãodocapitãopelamarinhaalemã.Ao longodanarrativa,amúsica tem

um poder humanizador que confronta esse ambiente sombrio e militarista do

filme e é tida como o agente transformador do mundo em que vivem os

personagens. Canções como Do-Re-Mi, My Favorite Things, So Long, Farewell,

Maria,ClimbEveryMountaineSixteenGoingonSeventeensãolembradasatéhoje

porseudestaquenessapelícula.

Postoisso,naquadrinizaçãodeMyaGosling,atragédiadeHamletédividida

em 23 partes em que se distribuem as músicas do filme e os episódios que

ocorrem nos cinco atos da peça shakespeariana. Os temas abordados são os

mesmos da tragédia: assassinato, usurpação, vingança, loucura, inação, morte,

desejo. A linguagem utilizada pela cartunista é coloquial7, ainda que recupere

algumasdas falasmaisconhecidasdos leitores(como“Tobeornot tobe” [parte

10],“Gettheetoanunnery”[parte11],“Arat!Dead,foraducat”[parte13])eque

acrescentepronomesutilizadosnaspeçasdobardo(como thee, thou e thy). Isso

fazcomquehajaumaaproximaçãoentreopúblicoeaobraapresentada.

Alémdisso,Goslingrevisitaasduasobrascomumolharcontemporâneoe

insere o seu olhar crítico, por exemplo, em relação ao papel dasmulheres8 nas

sociedadespatriarcaiseconservadorasemqueviviam,aomesmotempoemque

___________________________7Na1ªparte,porexemplo,Hamlet,enojadocomoqueestáacontecendoaoseuredorexclama:“Yuck!”.Na2ªparte,Gertrudessedirigeaofilho:“Comeon,Hamlet,cheerup!”.Ofélia,naparte4,ironiza: “Thanks, dad. Thanks, Laertes. That was super helpful”. Disponível em: <http://goodticklebrain.com/home/2015/3/30/the-sound-of-hamlet-part-1>. Acesso em:06/03/2017.8Existeminúmerostrabalhosquepontuamopapeldasmulheres,sobretudodeOfélia,naspeçasdeShakespeare,taiscomo:“AmulherOfélia—umcontrasteentreonaturaleosocial”,deMeireLisboa Santos Gonçalves (http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/vertentes/v.%2019%20n.%202/Meire_Lisboa.pdf), “A imagem damulher emHamlet”, de Ana Maria da Silva Nunes e Algemira de Macedo Lima(http://www.sbpcnet.org.br/livro/62ra/resumos/resumos/2808.htm), “A condição da mulhernastragédiasshakesperianas:HamleteRomeueJulieta”(http://www.humanas.ufpr.br/portal/letrasgraduacao/files/2015/02/cASSIANA-CANASHIRO.pdf).

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propõeumasubversãodessesvaloresatravésdafaladepersonagenscomoOfélia

(figura2).

Figura2:TheSoundofHamlet,parte5.Fonte: <http://goodticklebrain.com/home/2015/4/1/the-sound-of-hamlet-part-2>.

Acessoem:18/03/2017.

Nesse episódio, que remete à terceira cena do primeiro ato deHamlet, a

Ofélia de Gosling se revolta porque já tem idade suficiente para tomar suas

própriasdecisões,semprecisardaopiniãodeseupaiedeseuirmão.Elasequeixa

de que está presa numa sociedade patriarcal emasculina e se pergunta se para

Hamlet ela é apenas uma mercadoria (commodity), ou se ele, de fato, a ama.

Tambémobjetaofatodeterquepermanecervirgem,ou,casonãopermaneça,ser

considerada apenas uma mercadoria danificada (damaged goods), e antecipa a

loucuraquetomarácontadelaantesdoseusuicídio(“Thismightdrivememad”).

Sua canção subvertea letraoriginal, “SixteenGoingonSeventeen”9, cantadapor

___________________________9 A letra dessa música está disponível em:<https://www.stlyrics.com/lyrics/thesoundofmusic/sixteengoingonseventeen.htm >. Acessoem28/03/2017.

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Rolf e Liesl, que afirmava que a filha mais velha do Capitão von Trapp,

despreparada,estavacomeçandoasetornarumamulherequepoderiaconfiarem

Rolfparaguiá-la,porserelehomemeumanomaisvelho.Jánomusical,sedetecta

certaironiaemrelaçãoàmúsica,dadoqueamaturidadedaspersonagensseopõe

àssuasfalas10.OsquadrinhosdeGoslingintensificamessaironiaereveemtantoo

papel deOfélia comoo de Liesl (comomulheres submissas, obedientes, doces e

ingênuas)apartirdaperspectivafeminista.

Outromomentomarcantedahistóriaemquadrinhosocorrequandoaparece

océlebremonólogoproferidoporHamlet:“Serounãoser”(ato3,cena1).Gosling

combinouosmomentosmaisesperadostantodomusicalcomodapeçaatravésda

canção“Do,Re,Mi”.Nomusical,MariaensinaàscriançasvonTrappasnotasda

escala maior e, por consequência, ensina-as a cantar. Nos quadrinhos, Hamlet

encontra crianças dinamarquesas que não foram previstas por Shakespeare e

“despeja”nelassuasangústiaseseusanseios(figura3).

___________________________10Apesarde afirmar ser ingênua, tímidae assustadadianteda atitudedoshomens, Liesl estámuitomaispreparadaparalidarcomasituaçãodecortejodoqueRolf.

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Figura3:TheSoundofHamlet,parte10.Fonte: <http://goodticklebrain.com/home/2015/4/13/the-sound-of-hamlet-part-6>.

Acessoem:18/03/2017.

Esseéuminstantefulcralnanarrativa,poisHamletestárefletindosobrea

legitimidademoraldosuicídioemummundoinsuportavelmentedoloroso.“Serou

não ser” é interpretado como “viver ou não viver”. Em seguida, pensa sobre as

consequênciasdasduasaçõesechegaacompararosonoàmorteeaosonho.O

problemaadvémdoqueocorredepoisdamorte,queé incerto.Taldiscursoune

muitosdos temasquepercorremapeça, comoa ideiado suicídio edamorte, a

dificuldade de conhecer a verdade num universo espiritualmente ambíguo e a

ligação entre pensamento e ação. Ao selecionar palavras para substituírem as

notas musicais Gosling resume os pontos-chave do monólogo: ser, vida, dor,

morte, dormir, sonhar, temer. Aomesmo tempo emque ela ameniza o discurso

(poisHamletseencontradiantedecrianças),abordaumtemasérioepesado.As

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expressõesfaciaisecorporaisdapersonagemreforçamatribulaçãoporquepassa

oprotagonista.

Além das características já citadas, podemos perceber outras

particularidades.Emdeterminadospontosdahistória,porexemplo,Goslingexpõe

Hamletcomoumadolescentemimadoereclamão(comonaparte3,queserefere

aoato1,cena2dooriginal).Emoutros,maisreflexivoesensato(comonaparte9,

em que fala sobre sua inação). Há, ainda, situações engraçadas nos quadrinhos,

como na primeira parte, em que os guardas estão com medo da aparição do

fantasmadeHamletpai,ounasegunda,emqueClaudiuscantaapartirdamelodia

de “Ordinary Couple” (num tom ameaçador) e revela seus planos políticos

enquantoHamlet faz caretas ao lado. Há tambémpersonagens cômicas, como o

caricatoPolônioeoscolegasdafaculdadedeHamlet,RosencrantzeGuildenstern.

Gosling também parece se referir a filmes como Todo mundo em pânico

(2000),deKeenenIvoryWayans,quedebochamdefilmesdeterror.Issoaparece

nosquadrinhos,porexemplo,quandoHorácio fala: “There’snosuch thingas...[a

ghost]” e “...I probably shouldn’t turn around, should I?” e o fantasma está logo

atrásdele.E,emseguida,elescantam“TheSoundofMusic”,queiniciaomusicale

quenãotemnadadotomdetensãodoiníciodeHamlet.

Além disso, é interessante a solução criada por Gosling ao desenhar o

fantasma com pontilhados, dando a impressão de que ele é transparente. A

quadrinistatambémfoi felizaosinalizaro inícioeofinaldascançõesatravésde

notasmusicais.Ainda,chamaaatençãoo fatodequeGoslingpressupõequeseu

leitor está familiarizado coma tragédiahamletiana, por exemplo,naparte9 em

que Hamlet assiste a um ator que entoa uma fala sobre Hécuba e o texto que

aparece no balão de fala é: “blah, blah, blah,Mobled Queen, blah, blah, Hecuba,

blah, blah”. Finalmente, destaca-se a última parte que através da música “My

favorite things” apresenta um resumo da peça. Uma a uma, cada personagem

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lembradasuaprópriamorteatéquenofimtodassejuntamnumcoroecantam:

“whenthedogbites,whenyour friends fuss,whenyou’re feelingsad,remember

thatyoucouldbedead,justlikeus,andthenyouwon’tfeelsobad”.Essaéatônica

geraldanarrativaconstruídaporGosling:ohumor,aironia,asubversãoeoriso

estãosemprepresentesenosfazemrepensarasobras.

3. CONSIDERAÇÕESFINAIS

Aobuscarumcontextonovoparaomusical,Goslingaproveitaasmelodias

que são asmesmas, todavia, altera as letras, introduzindo o enredo hamletiano.

Ela faz uma abordagem criativa/produtiva da tradição. Podemos recuperar as

palavrasdeStockhausenmencionadasporHutcheonparaexplicaraconcepçãode

Gosling, que parece querer “ouvirmaterialmusical familiar, antigo, performado

comnovosouvidos,penetrá-loetransformá-locomumaconsciênciamusicaldos

nossosdias”(STOCKHAUSEN,1980apudHUTCHEON,1985,p.19).

Nesse trabalho,elautilizacomo ferramentasohumorea ironiaparacriar

sua narrativa. Nota-se nesses quadrinhos um confronto entre o texto

shakespearianoeomusical,aomesmotempoemquesepercebenitidamenteum

distanciamento crítico entre os textos parodiados e a nova obra. Não há uma

intençãodedepreciarnenhumdostextoscomosquaisGoslingdialoga,esim,de

fazer uma crítica construtiva, uma interpretação, de apresentar um olhar da

artista sobre esses dois trabalhos. E o prazer obtido na leitura dessa paródia

advémdograudeempenhamentodoleitorno“vaievem”(bouncing)intertextual

entrecumplicidadeedistanciação”(HUTCHEON,1985,p.48).

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REFERÊNCIAS

GOSLING, Mya. Peace, Good Tickle Brain: an eclectic collection of mostly Shakespeare-relatedcomics and other miscellany. Disponível em: <http://goodticklebrain.com/>. Acesso em:02/03/2017._____.TheSoundofHamlet.Disponívelem:<http://goodticklebrain.com/home/2015/3/30/the-sound-of-hamlet-part-1>.Acessoem:06/03/2017.HELIODORA,Barbara.ReflexõesShakespearianas.ComilustraçõesdeHelenPotter;organizaçãodeCéliaArnsdeMirandaeLianadeCamargoLeão.RiodeJaneiro:Lacerda,2004.HUTCHEON, Linda.Uma teoria da adaptação. Trad. André Cechinel. Florianópolis: Editora daUFSC,2011._____.Umateoriadaparódia:ensinamentosdasformasdeartedoséculoXX.Trad.TeresaLouroPérez.Lisboa:Edições70,1985.THE SOUND OF MUSIC. Direção e Produção: Robert Wise. Intérpretes: Julie Andrews,Christopher Plummer, Richard Haydn, PeggyWood, Eleanor Parker. Roteiro: Ernest Lehman.Música:RichardRodgers eOscarHammerstein II. EstadosUnidos: 20thCentury Fox, 1965. 1DVD(174MIN),Color.VESHAGEM, Marina Bento. O absurdo em Eugène Ionesco: uma releitura a partir de suadramaturgia. Texto completo de trabalho apresentado na Sessão Estudos de LiteraturaComparadaIIIdoEixoTemáticoEstudosdeLiteraturaComparadado4ºEncontrodaRedeSulLetras,promovidopeloProgramadePós-GraduaçãoemCiênciasdaLinguagemnoCampusdaGrandeFlorianópolisdaUniversidadedoSuldeSantaCatarina(UNISUL)emPalhoça(SC).2016.Disponível em:<http://linguagem.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/eventos/sulletras/PDF/Marina-Veshagem.pdf>.Acessoem:17/03/2017.Recebidoem:20/03/2017Aceitoem:04/04/2017