uma pergunta rara 2 2011

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UMA PERGUNTA RARA NO FESTIVAL EDUCAÇÃO, ESTUDANTES CONTRIBUEM PARA UMA ESCOLA MAIS PARTICIPATIVA Essa é uma pergunta rara. Ainda que simples e direta, ela abriu um mun- do de possibilidades para um grupo de estudantes que, cheios de iniciati- va e ideias na cabeça, se perceberam agentes transformadores de sua rea- lidade escolar. E a palavra de ordem para tamanha ousadia foi cocriar, assumir o compromisso de “criar juntos” propostas e soluções para me- lhorar esse ambiente fundamental de convivência e aprendizado. É essa efervescência criativa que move o Festival Educação, um projeto inovador que conseguiu estabelecer um novo canal de expressão por meio do qual os alunos, protagonistas da escola, repensam, opinam e in- tervêm no espaço e nos processos de ensino, e acabam levando essa ex- periência para além dos limites institucionais. Uma Pergunta Rara é o relato de uma experiência generosa e bem-sucedi- da, que foi sistematizada e deu origem a uma metodologia simples, aberta, replicável e de resultados incrivelmente eficazes. Portanto, este livro tam- bém é um convite à ação. Em tempos em que a inovação passa longe da escola, propõe-se aqui um caminho original e promissor para ser trilhado. O QUE VOCÊ GOSTARIA DE MELHORAR NA SUA ESCOLA?

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Resultado de diálogos para uma educação significativa.

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UMA PERGUNTA RARA

NO FESTIVAL EDUCAÇÃO, ESTUDANTES CONTRIBUEM PARA UMA ESCOLA MAIS PARTICIPATIVA

Essa é uma pergunta rara. Ainda que simples e direta, ela abriu um mun-do de possibilidades para um grupo de estudantes que, cheios de iniciati-va e ideias na cabeça, se perceberam agentes transformadores de sua rea-lidade escolar. E a palavra de ordem para tamanha ousadia foi cocriar, assumir o compromisso de “criar juntos” propostas e soluções para me-lhorar esse ambiente fundamental de convivência e aprendizado.

É essa efervescência criativa que move o Festival Educação, um projeto inovador que conseguiu estabelecer um novo canal de expressão por meio do qual os alunos, protagonistas da escola, repensam, opinam e in-tervêm no espaço e nos processos de ensino, e acabam levando essa ex-periência para além dos limites institucionais.

Uma Pergunta Rara é o relato de uma experiência generosa e bem-sucedi-da, que foi sistematizada e deu origem a uma metodologia simples, aberta, replicável e de resultados incrivelmente eficazes. Portanto, este livro tam-bém é um convite à ação. Em tempos em que a inovação passa longe da escola, propõe-se aqui um caminho original e promissor para ser trilhado.

O QUE VOCÊ GOSTARIA DE MELHORAR NA SUA ESCOLA?

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UMAPERGUNTA

RARA

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NO FESTIVAL EDUCAÇÃO, ESTUDANTES CONTRIBUEM

PARA UMA ESCOLA MAIS PARTICIPATIVA

Coordenação Editorial

Parceiros Institucionais do Centro Ruth Cardoso

ALEPH

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Como nasceu o Festival Educação no Centro Ruth Cardoso 9

O estudante deve ser sempre o protagonista na educação 13

1. O QUE É O FESTIVAL EDUCAÇÃO 22Cocriação é sobre pessoas, valorização do indivíduo, criatividade e mudanças 30

Os encontros 32Descobertas 34

O trabalho voluntário 36Os desafios da curadoria 38

A premiação 40Varal da mudança 42

A mentoria 44

2. HISTÓRIAS TRANSFORMADORAS: ALUNOS, PROFESSORES, DIRETORES 51

Minha contribuição pessoal 54Uma experiência inspiradora 56

Corrente de mudanças 58Uma nova postura 60

Por mais Festivais Educação 62

3. AS IDEIAS 69As ideias vencedoras 75

Ideias que viraram projetos 81As ideias-grito 84

4. METODOLOGIA: COMO REALIZAR UM FESTIVAL EDUCAÇÃO NA MINHA ESCOLA? 93

Festival Educação é ferramenta educacional importante 100

Fichas técnicas e agradecimentos 107

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Fomentar a mobilização, a interação e o empreendedorismo. Foi em busca desse objetivo que nós, do Centro Ruth Cardo-so, criamos, em 2011, o Festival de Ideias (FdI). Nosso maior desejo era, por meio desse projeto, estimular as pessoas a co-criar soluções criativas para os diferentes problemas sociais

existentes em nosso país.

Regina Célia Esteves de Siqueira é diretora-presidente do Centro Ruth Cardoso; Gilda Figueiredo Portugal Gouveia é vice-presidente

do Conselho Consultivo do Centro Ruth Cardoso.

COMO NASCEU O FESTIVAL

EDUCAÇÃO NO CENTRO RUTH CARDOSO

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mação dos estudantes das escolas públicas e das escolas privadas; su-gestões para tornar a escola mais bonita e mais alegre. Essas foram ape-nas algumas das inúmeras ideias que surgiram no Festival.

A resposta do projeto-piloto não poderia ter sido mais estimulante para o Centro Ruth Cardoso e para todos os parceiros envolvidos na ação. Foram mais de 150 jovens que participaram de 27 encontros presenciais de cocriação. Munidos de post-its e canetinhas, eles es-creveram, desenharam e, sobretudo, falaram e foram ouvidos.

O aluno como protagonista da escola que gostaria de ter. Esse foi um dos principais legados dessa primeira edição do Festival Educação.

Já dizia Ruth Cardoso sobre a missão do terceiro setor: “Construir um espaço de participação e experimentação de novos modos de pensar e agir sobre a realidade social”.

O Centro Ruth Cardoso foi criado com a missão de preservar a memó-ria e a obra acadêmica e social de sua titular, assim como disseminar conhecimento nas áreas ligadas às políticas sociais e às ciências hu-manas, para tornar-se armazém, produtor e difusor de novas ideias.

QUEM FAZ

O Festival Educação é um Programa do Centro Ruth Cardoso em par-ceria com a Fundação Lemann, Fundação Telefônica Vivo, IBM, Ibep, Agência de Cocriação, Mandalah e o Media Education Lab (MEL), Cenpec, Prefeitura Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Social Good Brasil, Secretaria de Estado da Cultura (SP) e Catavento Cultural.

E conseguimos. As três edições do FdI reuniram milhares de pessoas dos mais variados cantos do Brasil. Juntas, elas cocria-ram, virtual e presencialmente, inúmeras ideias para solucio-nar problemas críticos da sociedade nas áreas de mobilidade urbana, catástrofes naturais, violência e voluntariado, entre outras. Promovemos o debate e o intercâmbio de temas e ten-dências, e estimulamos as cadeias de trabalho colaborativo, transformando o Centro Ruth Cardoso em uma grande incu-badora de projetos em inovação tecnológica.

Aprendemos – e muito –, mas não perdemos de vista os debates con-ceituais e as práticas sociais relacionadas ao trabalho das organiza-ções criadas por Ruth Cardoso. Por que, então, não cocriar soluções inovadoras para o sistema educacional brasileiro?

Nosso objetivo, no entanto, ia além: dar voz aos estudantes, ouvir suas críticas e novas ideias, além de facilitar a integração entre os vários segmentos da comunidade escolar. Afinal de contas, em que momento da história os estudantes foram questionados sobre que modelo de escola desejavam?

Nascia ali outro festival, o Festival Educação. Reunimos estudantes de escolas públicas, escolas privadas e ONGs de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Florianópolis em torno de uma única pergunta: o que você gostaria de melhorar na sua escola?

Recursos para tornar as aulas mais dinâmicas; propostas para promo-ver a integração entre alunos, professores, funcionários administrativos, pessoal da limpeza e da manutenção; maneiras de incentivar a aproxi-

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12 13

O ESTUDANTE DEVE SER SEMPRE O PROTAGONISTA

NA EDUCAÇÃO

Mauro de Salles Aguiar é diretor-presidente do Colégio Bandeirantes, membro do Conselho Estadual de Educação – SP (CEE), do Conselho da Universidade de Harvard no Brasil e do Conselho Empresarial da

América Latina (Ceal).

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Vou decepcionar muito os pessimistas e também os menos informados: a educação pública brasileira melhorou bastante nos últimos vinte anos. É o que tenho percebido, e essa sempre foi a razão do meu trabalho no Conselho Estadual de Educação de São Paulo (CEE).

Hoje, o Brasil tem escolas para a maioria das crianças e dos jovens, métricas e indicadores para comparar o desempe-nho de instituições e também de municípios, além de méto-dos transparentes e fundos institucionais para o repasse de verbas federais.

Por outro lado, é evidente que estamos longe do cenário ideal de países como Coreia e Canadá, de algumas partes dos Estados Uni-dos e também da Europa, que realizaram investimento e gestão cer-teiros em momentos estratégicos. Entretanto, em recente viagem à Índia para discutir educação e desenvolvimento, notei que dentro dos Brics o Brasil tem uma vantagem histórica por ter investido tem-po e dinheiro na universalização do ensino básico.

Entre as nossas principais mazelas, hoje, estão a fraca formação dos professores – isso inclui a própria natureza do currículo das faculda-des de Educação, que não formam profissionais para o trabalho den-tro da sala de aula – e também a sistêmica falta de atenção ao princi-pal beneficiário da educação: o aluno.

Foi em prol desse último e fundamental tópico, o estudante, que o Festival Educação trabalhou. Não há pesquisa ou tendência mun-dial, atualmente, que não coloque o estudante como ator principal de seu aprendizado. É ele quem mais conhece a instituição onde está; e é para o seu melhor desempenho que a escola deve se prepa-rar, criar condições e ambiência e formar profissionais. A tão falada e almejada tecnologia deve servi-lo como meio para aprimorar o aprendizado e para que ele protagonize o processo educativo.

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Nesse sentido, é com muito orgulho que o Colégio Bandeirantes, bem em época de comemoração de seus 70 anos, apoiou e partici-pou ativamente do Festival Educação.

Escutar o estudante, criando canais de expressão, é obrigação das instituições de ensino, sejam elas públicas ou privadas. Não consigo imaginar uma avaliação de processos educativos e de gestão que se coloque como 360 graus sem escutá-los.

O que eles pensam das aulas, dos docentes, da estrutura ou das ati-vidades da escola? Esse é, sim, o melhor termômetro para a melhora da instituição e a maneira mais verdadeira de criar senso de perten-cimento, ou seja, um elo forte entre aluno e escola. Foi justamente para essa construção que o Festival Educação trabalhou, criando uma metodologia, simples e quase sem custo, de escuta constante do aluno.

Em nosso cotidiano, essa ação existe há muitos anos. Os alunos do Bandeirantes, por exemplo, avaliam anualmente (e anonimamente) o Colégio como um todo; esses resultados auxiliam no planejamen-to da diretoria.

Outro ponto que aparece com constância nos resultados do Festival, o da implementação de uma rádio escolar e de um grêmio, também é uma realidade para nós e conta com genuíno apoio institucional para suas ações, muitas delas em conjunto com a escola.

O DNA da democracia no Brasil deve estar também no lócus da es-cola. Por ser um colégio criado e sempre frequentado por imigran-

tes, o Bandeirantes sentiu orgulho de ter alunos seus, junto com alu-nos da Escola Estadual João Silva, vencendo o prêmio principal do Festival Educação. Ainda mais quando o projeto vitorioso visou que-brar barreiras invisíveis impostas pela aspereza social de São Paulo: conhecer realidades diferentes, de jovens tão parecidos nos seus questionamentos.

Para que um artigo ainda mais otimista nasça para as próximas edi-ções do Festival Educação, as políticas públicas têm de se voltar para o ator mais desprotegido da escola, que não possui sindicato nem outro grupo que o defenda: o aluno. E as formações de professores devem sempre estar atentas a como prepará-lo para que ele apren-da, supere barreiras, protagonize os processos e brilhe na vida.

Acredito que o Festival Educação, ainda que em um ano-piloto, te-nha dado um passo importante ao evidenciar isso para a sociedade.

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O QUE ÉO FESTIVALEDUCAÇÃO

O Festival Educação (FE) é um conjunto de encontros dos quais participam estudantes interessados em buscar, juntos, uma resposta para a seguinte pergunta norteadora: “O que você gostaria de melhorar na sua escola?”. Essa é uma pergunta rara de ser feita para estudantes, geralmente pouco ouvidos nos ambientes mais tradicionais de ensino.

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Cocriação é sinônimo de valorização do indivíduo, criatividade e mudança.

* P. 30

A prática-piloto do FE, realizada em 2013, foi sistematizada e deu ori-gem a uma metodologia simples, aberta e replicável. Como catalisa-dora e provocadora dos encontros, a cocriação foi a ferramenta bási-ca utilizada, que permitiu que ideias nascessem e amadurecessem de forma coletiva e colaborativa.*

A participação da comunidade (estudantes, pais, professores e fun-cionários) nas questões da escola tem sido um elemento funda-mental para a construção de uma educação pública de qualidade. Pesquisas como o Aprova Brasil, realizada pelo MEC (Ministério da Educação) e pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infân-cia), comprovaram uma lógica direta entre o “senso de pertenci-mento” da comunidade ao ambiente escolar e a melhora de de-sempenho dos estudantes nas avaliações públicas. A pergunta rara, portanto, tem um poder transformador nas distintas realida-des em que foi aplicada.

O Centro Ruth Cardoso convidou diferentes parceiros para que indi-cassem instituições de ensino que tivessem interesse em participar do projeto-piloto. A intenção era analisar as sugestões de cada um para compor um grupo diverso. Seguindo essa lógica, nasceu o con-junto de nove entidades composto por escolas públicas, escolas priva-das e organizações do terceiro setor, havendo entre elas instituições

das redes municipal, estadual e federal. Também foram contempladas escolas de outras duas cidades além de São Paulo: uma de Florianópo-lis e uma do Rio de Janeiro. Segue a relação das participantes.

E. E. PROFESSOR JOÃO SILVA (SÃO PAULO)

E.M.E.F. PROFESSOR LORENÇO MANOEL SPARAPAN (SÃO PAULO)

INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA (FLORIANÓPOLIS)

GINÁSIO EXPERIMENTAL CARIOCA ANÍSIO TEIXEIRA

(RIO DE JANEIRO)

CASA DO ZEZINHO (SÃO PAULO)

ASSOCIAÇÃO EVANGÉLICA BENEFICENTE (SÃO PAULO)

COLÉGIO BANDEIRANTES (SÃO PAULO)

ESCOLA LOURENÇO CASTANHO (SÃO PAULO)

FECAP – FUNDAÇÃO ESCOLA DE COMÉRCIO ÁLVARES PENTEADO

(SÃO PAULO)

Em cada instituição, depois de uma conversa com a direção, foram agendados três encontros de cocriação entre alunos e professores interessados, além de um facilitador indicado pelo Centro Ruth Car-doso. (Os facilitadores eram representantes de organizações parcei-

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O FE sob o olhar do curador: Nos encantamos pela ideia!

* P. 38

ras do Centro Ruth Cardoso, capacitados para exercer tal papel nas sessões de cocriação.) Os meses de agosto, setembro e outubro de 2013 foram animados nesses espaços. Estudantes cursando desde o 8o ano se encontravam com colegas da mesma escola nas datas com-binadas para responder à pergunta inicial. *

Além dos facilitadores, voluntários acompanharam os encontros. Seu papel foi essencial para o piloto: registrar o que acontecia nas sessões de cocriação. Como o Festival Educação já nasceu com o in-tuito de ser replicado, a sistematização era elemento crucial para garantir sua futura multiplicação.**

Para que os encontros não se tornassem estanques entre si, e as ideias de uma instituição pudessem receber a contribuição das ou-tras participantes, o grupo foi conectado por meio das redes sociais, mais precisamente no Facebook. E no espaço físico de cada entida-de participante aconteceram três sessões de cocriação. Assim, o Fes-tival Educação teve sua versão off-line mas também aconteceu ativa-mente no ciberespaço, no intervalo entre os encontros presenciais.

Os diversos facilitadores colheram pouco a pouco as ideias criadas por cerca de 150 estudantes. Desses, 61% eram alunos de escolas pú-blicas e 39% de escolas privadas. A média de idade dos estudantes era de 15,9 anos, sendo 74% deles pertencentes ao ensino médio e 26% ao ensino fundamental.

Ao final das 27 cocriações, quase 400 ideias haviam nascido. Um time curador previamente montado, composto por representantes de di-versas organizações referenciais na área de educação, viu-se diante do desafio de selecionar o grupo de finalistas. Formado por representan-tes de organizações respeitadas na área da educação, seus membros mergulharam nas ideias individualmente e, em seguida, se encontra-ram em uma reunião para definir os finalistas em conjunto.*

Tomada a decisão, os organizadores do FE convidaram os autores das ideias finalistas para o tão sonhado evento de premiação – mo-mento-chave do FE –, que aconteceu em novembro. Pela primeira vez, alunos de todas as organizações se encontraram presencial-mente em um espaço inspirador, o Catavento Cultural, em São Pau-lo, para, além de assistir a palestras instigadoras e conhecer os pre-miados, cocriar novas ideias e aperfeiçoar as antigas.

Os encontros de cocriação na óptica das entidades participantes

Voluntariado: o FE é um convite para sonharmos juntos.

*

**

P. 32 e 34

P. 36

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28 29

Localizado no centro da cidade de São Paulo, o

Catavento é um espaço cultural que apresenta ao

público, especialmente ao jovem, a ciência e os

problemas sociais de um modo interativo.

Apesar do trabalho on-line ao longo do processo, estar cara a cara com alunos de outras cidades e outras escolas surtiu efeitos inédi-tos no intercâmbio de percepções. Do choque de realidades, de propostas e de origens pudemos ver a inovação nascer em ideias que foram geradas ao longo do dia.

Foi justamente dessa maneira que a ideia vencedora da primeira edição do Festival Educação surgiu, o Integra-Escola. Ao conversar sobre as suas escolas e rotinas, estudantes do Colégio Bandeirantes e da E. E. Professor João Silva tiveram suas curiosidades aguçadas em relação ao cotidiano do outro. Perceberam as diferenças e semelhanças e decidiram propor um encontro para visitar as escolas que apenas conheciam pelo relato dos colegas. Com simplicidade, conseguiram captar todo o espírito do Festival Educação e acabaram criando uma ideia cuja autoria foi de mais de uma instituição de ensino. Tudo em um único dia, o da premiação.*

O evento de premiação mais parecia um grande encontro de velhos amigos. Grupos se reuniam aqui e ali no espaço do Catavento Cultural. O curioso é que, além dos estudantes, os educadores que estavam acompanhando as turmas também aproveitaram a oportunidade para cocriar soluções para suas escolas. Eles e outros participantes do encontro puderam ainda circular ao longo de um grande varal que expunha todas as 400 ideias inscritas.

No fim da tarde, 14 ideias foram premiadas. Os três primeiros coloca-dos ganharam tablets, e todos os vencedores receberam uma men-toria feita por profissionais de ponta de diversas áreas.*

Mas o Festival ainda não havia acabado para o Centro Ruth Cardoso. Nos meses seguintes, os estudantes conheceram seus mentores, que passaram a acompanhar a implementação das propostas. Além de transformar ideias em projetos e soluções, a organização do FE se preo-cupou com o desdobramento das ideias que mais se repetiram ao longo do processo e que não foram premiadas, nomeadas de “ideias-grito”.

Para elas, um novo evento de cocriação foi exclusivamente progra-mado. Especialistas nos diversos temas que inspiraram essas ideias se encontraram com os estudantes para cocriar caminhos simples e viáveis de implementá-las. As “ideias-grito” serão apresentadas no Capítulo 3 deste livro.

Uma oportunidade para quebrar “pré-conceitos”... Os grupos tinham o que ensinar e o que aprender. Experiência e aprendizado na visão das alunas premiadas.

* P. 40 e 42 Foi paixão à primeira vista. A proposta do FE nos pareceu muito arrojada.

* P. 44

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COCRIAÇÃO É SOBRE PESSOAS, VALORIZAÇÃO DO INDIVÍDUO, CRIATIVIDADE E MUDANÇAS

Francisco Albuquerque é sócio-fundador da Agência de Cocriação, especialista em design estratégico e inovação;

Wagner Lúcio é sócio-fundador da Agência de Cocriação, especialista em design de serviço.

“O espaço entre as pessoas que trabalham juntas é pre-enchido com conflito, atrito, discussão, alegria, encanto

e um vasto potencial criativo”.

BRUCE MAU

O Festival Educação proporcionou um resultado que não poderíamos imaginar ou medir. Não só pelos resultados criativos a que chegamos, mas também pela interação entre alunos e educadores das escolas parti-cipantes. E isso só foi possível porque toda essa iniciativa foi cocriada, des-de a sua concepção à forma como conduzimos as atividades nas escolas.

Unimos diversidade à multidisciplinaridade, permitindo o uso da capa-cidade criativa dos participantes na busca de novas respostas para os desafios da educação. Esse processo permitiu que os alunos e educado-res tomassem para si um papel importante como agentes de mudança em seu contexto, questionando os modelos em que eles mesmos esta-vam inseridos.

Foi muito revigorante para nós, como equipe de trabalho, ver as salas de aula cheias a cada atividade, com alunos buscando soluções para problemas que estavam ali, batendo à porta deles diariamente. O com-prometimento e o engajamento para “criar juntos” nos mostrou que é possível ir além e buscar não só uma, mas diversas respostas para a educação em nosso país.

Em cada escola reunimos cerca de 20 jovens em três oficinas de cocria-ção, oportunidade em que levantamos os seus desafios, geramos ideias e desenvolvemos propostas que estavam alinhadas aos critérios de seleção do Festival Educação para serem apresentadas no evento final.

Aplicamos uma nova forma de realizar mudanças e geramos resulta-dos muito enriquecedores, percebendo que é possível dar voz aos alu-nos fazendo uso da criatividade, da empatia e da colaboração para bus-car resultados surpreendentes.

Este texto é um convite a diretores, professores e alunos para que se ins-pirem nesse projeto e iniciem ações cocriativas em suas vidas!

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Desde que entrei na ONG Casa do Zezinho, em fevereiro de 2011, consegui logo de início perceber que a era um lugar único e diferenciado dos demais, parecia que lá tudo era possível. Eu via centenas de projetos e ideias saindo do papel com grupos inspirados e dispostos a trabalhar arduamente, o que me deixou bastante surpreso.

Quando apareceu a oportunidade do Centro Ruth Cardoso, o Festival Educa-ção (FE), eu e mais alguns amigos abraçamos a ideia e participamos das boas atividades que os representantes dessa entidade trouxeram. Assim surgiu o Bike Street.

A intenção do projeto é criar bicicletários em escolas públicas e instituições da região, para incentivar o uso da bicicleta no cotidiano dos alunos. Nossa ideia foi mais que aceita pelo Ruth Cardoso, e ficamos em quinto lugar entre os 400 projetos produzidos no FE, o que me deixou bastante feliz. Estamos trabalhando junto a uma tutora para colocar o projeto em prática, e somos muito gratos por tudo o que ganhamos e desenvolvemos no FE.

OS ENCONTROS

Paulo Cesar Ferreira Almeida é estudante e participante da ONG Casa do Zezinho.

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A participação no Festival Educação do ano de 2013 foi uma oportunidade de expor algumas angústias que nós, alunos, sentimos na escola e, consequen-temente, de propor uma solução para essas angústias.

Durante os três encontros que tivemos dentro das dependências da esco-la, pudemos debater esses problemas com outros amigos, chegar a várias ideias juntos e, assim, propor mudanças que nos favorecessem, além de favorecer a escola.

Entre diversas atividades, tivemos de analisar pontos fortes e fracos da edu-cação, principalmente dentro da escola, mas também pudemos vivenciar e perceber coisas que nossa escola tem e que outras não possuem; desse modo, acabamos vendo quais as vantagens que temos e, com isso, passamos a dar mais valor a essas oportunidades.

Portanto, as atividades exercidas durante os três encontros puderam, com certeza, mostrar-nos as vantagens e as desvantagens de nossa escola, em que podemos melhorá-la e em que não devemos mexer. Dessa maneira, tiramos experiências novas e motivadoras para melhorar cada vez mais o ensino no Brasil.

DESCOBERTAS

Gustavo Geromel Cataldo é estudante do ensino médio da Fundação Escola de Comércio

Álvares Penteado (Fecap).

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Conheci o Festival Educação por meio de minha orientadora Rosa Maria Fis-cher, conselheira do Centro Ruth Cardoso junto com Gilda Gouvea. Durante uma conversa inspiradora, Gilda me convidou para fazer o registro dos en-contros com os alunos, que serviriam como memorial e instrumento de com-partilhamento e avaliação. Foi uma grande experiência!

O Festival Educação é um convite para sonharmos juntos. É a oportunidade de percebermos o poder do sonho e a força de mudança que ele traz. Sonhar junto nos encoraja e aprimora nossos sonhos e a nós mesmos.

Só reinventaremos a educação quando nos permitirmos sonhar com os olhos abertos e atentos, junto com estudantes, professores, funcionários, pais e toda a comunidade. Alimentar nossos sonhos garante o engajamento de que precisamos para revolucionar a educação.

Sonhar é deixar a imaginação voar, sem amarras ou censuras. É libertar-se do “mas”, do “nunca”, do “não”. É abandonar certezas e tradições e questionar modelos e hábitos. É desprender-se do que “é” e do que “deve ser”. É conectar--se com o coração e acreditar nos desejos e em tudo o que nos faz feliz.

Precisamos de escolas que encorajem os sonhadores, espaços de diálogo e de construção coletiva que estejam abertos ao constante reinventar.

Obrigada, Festival Educação, por nos fazer acreditar em nossos sonhos.

O TRABALHO VOLUNTÁRIO

Angélica Gonçalves Garcia é empreende-dora social e colaboradora do movimento

Design for Change no Brasil.

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Por meio da aplicação de metodologias inovadoras, ideias foram cocriadas em um ambiente diversificado, promovendo a integração de pessoas de nove di-ferentes escolas e ONGs de São Paulo, de Santa Catarina e do Rio de Janeiro, públicas e particulares.

O intercâmbio promovido incentiva a mudança na forma como as pessoas se relacionam no ambiente escolar, em dimensões que envolvem espaço, recur-sos e pessoas. Alunos e diretores de diferentes escolas buscaram em conjunto soluções para o seu contexto a partir de diferentes olhares, contando com a mentoria de parceiros ali presentes que, através do apoio na elaboração de planos de ação, impulsionaram a implantação dos projetos que ali nasceram.

É animador presenciar a abertura das escolas para esse movimento, empode-rando seus alunos, estimulando-os a ter ideias e fornecendo ferramentas para que eles participem da integração do ambiente escolar.

Por meio do apoio ao Festival, a Fundação Telefônica Vivo reitera seu compro-misso em promover iniciativas que permitam que alunos desenvolvam com-petências do século 21 como criatividade, empreendedorismo, protagonismo e visão crítica, tão relevantes no desenvolvimento dos jovens no mundo con-temporâneo.

A Fundação Telefônica Vivo tem orgulho de ser apoiadora do Centro Ruth Cardoso desde 2011, inicialmente com a participação no Festival de Ideias. Nesse contexto, surge a iniciativa do Festival Educação, com o propósito de desenvolver o protagonismo do aluno no espaço escolar. Imediatamente nos encantamos pela ideia.

O Festival promove o diálogo no ambiente educacional, envolvendo diferen-tes atores como professores, diretores e alunos, buscando implementar ideias simples que solucionem problemas que eles mesmos apontaram no ambiente escolar.

OS DESAFIOS DA CURADORIA

Luis Fernando Guggenberger é gerente de inovação social e voluntariado na Fundação

Telefônica Vivo.

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A PREMIAÇÃO

Alice Sandra Lima, Joice Trindade Oliveira Santos, Julyanna Oliveira Souza e Paloma Jurgenfeld Bispo

da Silva concluíram o ensino médio em 2013 na E. E. Professor João Silva.

“Quando fiquei sabendo que uma das minhas sugestões tinha sido escolhida, fiquei muito feliz e nervosa, mas com o incentivo e as orientações da nossa professora nós conseguimos; acredito que nenhuma de nós imaginava con-quistar o primeiro lugar no Festival, mas conquistamos e foi muito gratifi-cante” (Joice Santos).

No momento em que chegamos ao Catavento (espaço em que foi realizado o encontro do Festival), fomos muito bem recebidas por todos. Nós nos reu-nimos em um ambiente muito agradável, onde todas as ideias criadas ante-riormente estavam expostas. No decorrer do evento, encontramo-nos com duas alunas do Colégio Bandeirantes, Juliana Reimberg e Leila Maciel, e então demos início à ideia. Momentos antes da apresentação dos projetos dos alunos de outras escolas que ali estavam, conhecemos alguns empre-sários que contaram um pouco de suas histórias e sobre outros projetos do Centro Ruth Cardoso.

Uma oportunidade para quebrar “pré-conceitos”, ampliar a visão e sobretudo a mente, e para ver que o lugar de onde a pessoa vem não quer dizer nada, que o que conta mesmo é o potencial de cada um. E nós conseguimos realizar esse avanço, estudantes de uma escola estadual de periferia e de uma escola particular. Conseguimos juntar ideias e criar a ideia campeã, que consiste em misturar as duas realidades, a da classe baixa com a da classe média alta. Alu-nos de posições sociais tão distintas empenhados em conhecer a realidade do outro para aprender a dar valor ao que têm e querer melhorar o ambiente escolar. Nós devemos todo esse empenho e toda essa ideia à professora Carla, de Biologia, que nos incentivou desde o início e deu ótimas sugestões. A ela, o máximo agradecimento pela oportunidade e pelo incentivo.

Quando recebemos a proposta de criar uma ideia para melhorar a escola, percebemos que nós podíamos fazer isso e deixamos a vergonha de lado para participar desse projeto. As reuniões eram excelentes, e sempre que nos en-contrávamos crescia cada vez mais o desejo de mudar a nossa realidade.

Foi incrível participar do Festival Educação, desde os primeiros encontros na escola até o grande dia no Catavento. Acordar nos sábados de manhã para nos reunir e sugerir ideias para a melhoria da escola foi realmente muito satisfatório.

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Lá estávamos nós no espaço cultural Catavento: diversos alunos, ideias brilhan-tes, mentes com sede de mudança e um varal de ideias que reunia tudo isso. Quem diria que aquele singelo aglomerado de papéis nos transformaria tanto?

Nos encontros na nossa escola – Colégio Bandeirantes – surgiram ideias de plataformas globais de ensino, grades de horário flexíveis, projetos de artes e, enquanto isso, havia quem pedisse por um pacote Office no computador e um ventilador na sala de aula.

Para quem está acostumado a ter laboratórios multimídia e brigas pela tempera-tura do ar-condicionado, foi chocante. De repente, a nossa ideia de integração entre alunos e funcionários perdeu um pouco o sentido e nos sentimos desloca-das. Para nos integrar, decidimos circular pelo local da premiação e logo fomos apresentadas aos alunos da João Silva. Abrimo-nos em conversas e, ao notar as diferenças, resolvemos tirar proveito delas. Descobrimos que ambos os grupos tinham o que ensinar e o que aprender. No quesito infraestrutura, nós éramos as privilegiadas. Em contrapartida, eles tinham a integração que a gente tanto bus-cava. Foi assim que nasceu a nossa ideia: uma troca, o Integra-Escola. Uma forma de ver a realidade sob outro ponto de vista, sem deixar de lado a nossa maior semelhança: somos jovens que buscam por mudanças.

VARAL DA MUDANÇA

Juliana Reimberg e Leila Maciel Valença são estudantes do ensino médio do Colégio

Bandeirantes.

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A MENTORIA

Carolina de Andrade é diretora executiva do Social Good Brasil.

Sabemos que já existem experiências de ouvir e dar voz aos alunos, mas per-cebemos que essa iniciativa era diferente por algumas razões, entre as quais o tempo presente. Nunca vivemos um momento em que os alunos acessas-sem tanta informação disponível na internet como hoje, e isso está transfor-mando as relações dentro da escola, pois acesso à informação ilimitada é acesso ao poder. Daí surge o convite para pensarmos como podemos ofere-cer um espaço para que esse poder de mudança seja canalizado para ações concretas e positivas, valorizando o papel do professor como um ator que traz conhecimento e valores humanos, e não somente informação, pois esta já está disponível on-line.

Lembramos juntos da experiência da Isadora Faber, uma aluna que com ape-nas 12 anos deflagrou on-line os problemas de sua escola em Florianópolis, e que aos poucos se fez ouvir e mostrou a capacidade crítica que nossos alunos podem ter. Entusiasmados, participamos de algumas cocriações do Festival Educação em São Paulo, no encontro final, e por último na mentoria.

Hoje estou acompanhando o Gustavo, aluno do Instituto Federal de Santa Catarina, escola técnica, que propôs a ideia de criar um “laboratório de ideias” dentro da sua escola para que os alunos pudessem criar projetos próprios com a comunidade e com alunos de outras turmas.

Acredito no poder de transformação desse projeto na instituição e no poder de formação de alunos mais empreendedores. E o que mais me alegra é que, com outras palavras e linguagens, estamos usando na mentoria a mesma me-todologia do Social Good Brasil, de desenho e teste de inovações sociais, e tudo está caminhando muito bem. Só tenho a agradecer pela oportunidade de poder contribuir e aprender tanto com a mentoria.

Acompanhei o nascimento do Festival Educação quando Regina Esteves e Juliana Opipari, do Centro Ruth Cardoso, convidaram a mim e a Fernanda Bornhausen, do Social Good Brasil, para conversar sobre a ideia. Foi paixão à primeira vista. A proposta que o CRC tinha a oferecer, de promover um am-biente em que os alunos fossem protagonistas das mudanças que eles gosta-riam de ver na escola, trazendo a metodologia já consagrada do Festival de Ideias, nos pareceu muito arrojada.

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HISTÓRIAS TRANSFORMADORAS:

ALUNOS, PROFESSORES, DIRETORES

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O Festival Educação funcionou como um caleidoscópio. Tal como esse objeto, apenas com um movimento foi possível fazer com que as peças que já estavam ali se rearranjassem e gerassem uma combinação completamente diferente da inicial.

Foi constatado que os estudantes estão constantemente pensando o ambiente em que vivem e procurando aprimorá-lo. A realidade escolar, os seus atores e potencialidades existiam quando o FE chegou. Com mais liberdade de expressão em alguns ambientes, com menos em outros.

Mas foram os encontros de cocriação que atuaram como movimento catalisador capaz de recombinar o preexistente com novas ideias. Ao participar das sessões, os estudantes foram estimulados a perceber o entorno com atenção, exercitando um olhar apreciativo, rearranjando o que já estava dado e exercendo a criatividade.

Os depoimentos que se seguem, de alunos e de educadores que fizeram parte do FE, apresentam os novos prismas sob os quais eles começaram a enxergar a escola. Mais do que isso, seus autores revelam como essa experiência mudou sua maneira de lidar com os desafios da rotina escolar.

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Certo dia fui convidado pelo coordenador de extensão do meu colégio, o IFSC, para participar de um projeto que, até então, era desconhecido. Confes-so que no primeiro encontro fiquei um tanto perdido quanto ao seu objetivo. Mas ao longo das discussões e dinâmicas pude perceber a importância dessa iniciativa do Centro Ruth Cardoso, o Festival Educação.

Sempre tive interesse pelos assuntos do instituto, do grêmio estudantil aos conselhos de classe, mas depois de minha participação no projeto Festival Educação percebi que mesmo sendo estudante posso colaborar mais com a instituição em que estudo. Quando notei que minha ideia – Laboratório de Ideias –, surgida de uma necessidade, tinha sido vista como necessidade de muitos também, decidi aproveitar os recursos de criação e desenvolvimento de projetos da área de extensão do IFSC.

Dessa forma, motivado pelo FE, segui tendo ideias para a minha escola, mes-mo depois de terminados os encontros de cocriação. No início de 2014 foi aprovado o projeto Teatro Para Todos, uma ação que idealizei no final do ano passado visando oferecer oficinas de teatro para alunos e comunidade, a fim de criar uma peça e representá-la na própria região.

Participar do FE só ajudou a aguçar meu interesse em deixar algo na institui-ção à qual pertenço, e não apenas usufruir do que já existe.

MINHA CONTRIBUIÇÃO PESSOAL

Gustavo Ribeiro Gonçalves é estudante do curso técnico integrado em telecomunicação do Insti-

tuto Federal de Santa Catarina (IFSC).

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A Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof. Lorenço Manoel Spara-pan, localizada na periferia da zona sul de São Paulo, tem como uma de suas características ser uma escola jovem e alegre, com abertura para no-vas experiências. Desde a sua inauguração, passaram por aqui inúmeros parceiros com os mais variados projetos. Alguns foram incorporados ao Projeto Político-Pedagógico da escola por seu valor formativo para a equi-pe, professores e alunos, ou por provocar mudanças estruturais no espa-ço e na metodologia.

A participação da escola no Festival Educação em 2013 foi resultado de uma dessas parcerias. Foram seis meses de mobilização e trabalho e, ao final, nossos alunos apresentaram ideias que refletiam suas vontades e necessidades, ideias essas que foram aprimoradas no evento de encerra-mento do Festival. Nesse processo, nossa escola conheceu o trabalho do Ginásio Experimental Anísio Teixeira, do Rio de Janeiro. Causou-nos en-cantamento uma escola pública que possuía um núcleo de aprendizagem de línguas estrangeiras! Gostamos tanto da ideia que não a deixamos morrer, e no início de 2014 implantamos um núcleo de línguas para 130 alunos, com aulas de alemão, francês, espanhol e inglês! Esperamos que essa experiência floresça e contribua para manter nossa escola sempre inovando na busca de um ensino público de qualidade.

UMA EXPERIÊNCIA INSPIRADORA

Sonia Regina da Silva é diretora da E.M.E.F. Prof. Lorenço Manoel Sparapan e professora da

Universidade de Santo Amaro (Unisa).

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CORRENTE DE MUDANÇAS

Bárbara Bim é estudante do ensino médio da Escola Lourenço Castanho.

Sou uma aluna do ensino médio de uma escola particular que acredita que a mudança no espaço escolar pode ajudar a eliminar definitivamente esse sen-timento, herança das escolas do passado. Nesse sentido, o Festival Educação teve um papel decisivo. Ele uniu ideias e experiências de alunos que trouxe-ram diferentes perspectivas e contribuições, todas significativas para a edu-cação em nosso país. As propostas surgidas dos encontros envolveram desde alunos e professores até funcionários.

É a construção de uma grande corrente que marca o início de significativas mudanças e que fará com que a escola seja o melhor ambiente não apenas para se estar, mas também para se construir aquilo a que chamamos de futu-ro, a nossa base. O motivo pelo qual aceitei participar do FE foi a oportunida-de de colocar em debate as minhas ideias, de contribuir com a melhoria de nossa educação. A escola em que estudo apoia fortemente essas mudanças, o que me deu ainda mais motivação para seguir em frente com meu projeto e mostrar, com dados reais, que realmente existe uma resposta positiva vinda de toda a comunidade escolar, especialmente dos alunos.

É visível a mudança física e emocional que a ideia Sinal Musical proporcionou à minha escola, e, tal como as demais ideias cocriadas no Festival, acredito que ela poderá contribuir para a transformação de outras instituições em todo o Brasil. Fico honrada em saber que pude contribuir com essas mudan-ças e feliz por constatar que, assim como eu, existem vários outros jovens que também se preocupam com o futuro de nossas escolas e da nossa educação.

“A escola é um local desagradável, que tem no castigo físico uma prática corri-queira que desperta nos alunos o desejo de estar o mais distante possível dela!”

Se perguntássemos a um aluno, no início do século passado, qual a opinião dele sobre a escola em que estuda, possivelmente essa seria a resposta. Casti-gos físicos e professores que não consideravam as ideias heterogêneas dos estudantes fizeram da escola o último lugar em que um jovem desejaria estar.

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Ouvi de uma aluna que minhas aulas estavam cada vez melhores. Tremendo elogio. Ela justificou: eu passei a elaborar um maior número de atividades em que o foco das atenções é o aluno. Explico: a experiência do Festival Educa-ção reforçou um princípio que orienta minha prática pedagógica, o da cen-tralidade da atuação do aluno no processo de ensino-aprendizagem. Em vez de ouvirem longas aulas expositivas, os estudantes precisam participar. Fa-lar, fazer, criar e viver experiências significativas em sala de aula para que construam o conhecimento.

Nesse sentido, penso que um dos maiores êxitos do FE tenha sido o seu for-mato. Os estudantes que participaram das cocriações foram convidados à reflexão sobre problemas e novas soluções para a educação em seus mais variados níveis, desde uma simples mudança no cotidiano de sua escola até aspectos amplos, que envolvem questões nacionais e mundiais. Ao terem de propor e sustentar ideias, assumiram uma postura criativa e crítica, que não se tornou uma reclamação vazia, mais um resmungo acerca dos contratem-pos e infortúnios do cotidiano. Criaram planos e pensaram projetos para realizar mudanças concretas no mundo em que vivem.

UMA NOVA POSTURA

Diego Knack é professor de História no Ginásio Experimental Carioca Anísio Teixeira, da rede

municipal da cidade do Rio de Janeiro, e mestre em História Social pela UFRJ.

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POR MAIS FESTIVAIS EDUCAÇÃO

Flaubert Nicolau Reis concluiu o ensino médio e participa da ONG AEB.

Todos os alunos poderiam ter participado, mas apenas alguns manifestaram interesse por tal acontecimento. Mesmo com uma quantidade pequena de participantes, com o passar dos encontros tivemos resultados muitos satisfa-tórios e que poderiam, de fato, ser implantados nas escolas.

Foram muitos encontros e a cada um deles surgiam ideias novas, desde a me-lhoria do lanche até a implementação de laboratórios, de bibliotecas, de salas de jogos e também de novas salas de informática. Todas as propostas eram geniais, porém nem todas poderiam seguir para a próxima etapa, quando seriam escolhidas as melhores ideias para disputar com as de outras institui-ções daqui de São Paulo e de outras cidades.

Essa etapa seguinte foi algo fascinante, pois eu, junto com meu grupo, tive a oportunidade de falar sobre as ideias que desenvolvemos ao passar do tem-po, além de ouvir as sugestões dos outros candidatos. Também haveria uma premiação para aqueles que tivessem as ideias mais cabíveis; todavia, para mim o maior prêmio foi estar ali presente, vendo do que somos capazes des-de que trabalhemos em equipe com o mesmo objetivo: melhorar a nossa se-gunda casa, que é a escola, onde passamos grande parte da nossa vida.

Enfim, esse FE é algo que deveria acontecer o maior número de vezes possí-vel, pois com ele podemos ver que nossos jovens são muito mais do que sim-ples alunos, são seres humanos que têm suas opiniões diversificadas e que, se realmente se dedicarem, podem, sim, mudar para melhor muitas coisas, não só a escola.

O Festival Educação foi muito proveitoso. Aprendi bastante e ampliei meus conhecimentos em diversas áreas.

Desde o início, ou seja, dos rumores sobre um evento que haveria na AEB a respeito de ideias que poderiam melhorar a escola em diversos aspec-tos, a proposta já chamava muita atenção, pois era uma chance para co-nhecer pessoas novas, de nossos vizinhos de bairro a até mesmo pessoas de outros Estados.

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AS IDEIAS

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O Festival Educação se propôs

a ser um festival de ideias, em

sua primeira edição. Em vez

de estimular o nascimento de

projetos implementáveis, optou

por abrir a escuta para tudo o

que os alunos quisessem falar e

sugerir, independentemente de

sua viabilidade. Essa foi a fórmula

encontrada para que o Festival, em

sua versão-piloto, funcionasse como

um canal para diagnosticar o que

pensavam os alunos, sem podar as

ideias que se afastavam da realidade.

Talvez tenha sido por conta dessa abertura que, após 27 cocriações, 370 ideias nasceram. Algumas tinham apenas um autor; outras foram concebidas por um grupo de alunos. Cada estudante tinha a liberdade de inscrever quantas ideias quisesse. Para isso, bastava apresentá-la em uma ficha de papel, distribuída ao longo dos encontros. Nela, os estudantes puderam optar por se expressar por meio de um texto curto, de um desenho ou de ambas as formas. A intenção era garantir que cada um se expressasse da maneira que achasse mais simples.

Ficha de Ideias

Descreva a Ideia:

Desenhe a Ideia:

Título da Ideia:

Colaboração: Agência de Cocriação

Para facilitar a seleção das ideias inscritas, elas foram organizadas em categorias. Essa segmentação permitiu um olhar mais analítico sobre as propostas criadas pelos alunos e facilitou o trabalho de curadoria. A seguir, conheça as sete categorias aplicadas.

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INFRAESTRUTURA: ideias relacionadas à transformação física da escola.

OFICINAS EXTRACURRICULARES: inclusão ou criação de ati-vidades que não estejam diretamente vinculadas ao conteúdo do currículo e que possam ser vivenciadas no contraturno.

TECNOLOGIA: uso de aplicativos, games e outros dispositivos tecnológicos dentro ou fora da sala de aula.

INTEGRAÇÃO: atividades que estimulem a interação entre alunos, professores, funcionários e, inclusive, entre diferen-tes escolas.

DINÂMICA DAS AULAS: novidades na forma de condução da aula.

COMUNICAÇÃO/EXPRESSÃO: atividades que valorizem a comu-nicação e que criem novos canais de expressão para os alunos.

PROCESSOS: mudança em um processo dentro da escola.

Certamente, seria impossível encaixar muitas das ideias em apenas uma categoria. Várias mesclavam duas ou até três delas. De qualquer forma, o uso da segmentação permitiu identificar os temas mais ca-ros aos alunos participantes. Ainda que algumas das categorias te-nham reunido mais ideias – caso das de comunicação, de oficinas e de dinâmica das aulas –, todas estiveram significativamente repre-sentadas. Podemos dizer que tratam de temas em relação aos quais os alunos gostariam de ver mudanças.

É interessante perceber que não são assuntos inesperados ou até surpreendentes. São temas que poderiam aparecer em conversas cotidianas dentro e fora de escolas. Porém, quando colocados pelos próprios estudantes, sua relevância ganha um peso diferente, são legitimados. O objetivo do Festival Educação é, sim, encontrar novas ideias; no entanto, mais do que buscar inovação, sua intenção é ou-vir o eco de “gritos” guardados no peito dos jovens.

Então, classificadas as ideias, o passo seguinte foi aplicar os critérios combinados com os estudantes para a seleção das propostas finalis-tas. No caso da primeira edição do Festival Educação, os parâmetros usados foram:

ORIGINALIDADE: novidade, singularidade da ideia;

CRIATIVIDADE: inovação, inventividade da ideia;

PROTAGONISMO DO JOVEM: dispensar ao estudante um papel importante na realização da ideia;

POSSIBILIDADE DE FAZER MAIS COM MENOS: usar elemen-tos que fazem parte da realidade em ativos que possam trans-formá-la por meio da ideia;

REPLICABILIDADE: valorizar ideias que possam ser adapta-das e fazer sentido em outras realidades.

Esses critérios devem servir apenas como inspiração no momento da replicação do Festival Educação. Em cada caso, podem ser cria-dos outros que contemplem aspectos específicos da realidade onde

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As ideias-grito mostraram-se chave para uma interlocução sem segregação.

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AS IDEIAS VENCEDORAS

os encontros acontecem. Alguns aprendizados importantes sobre os critérios serão apresentados no tópico “As ideias-grito”, que fecha este capítulo.*

Após reunião do time curador para debater as ideias sob a ótica dos critérios, foi possível conhecer as 23 ideias finalistas. Cada uma das instituições participantes teve pelo menos uma proposta contem-plada, cujos autores foram convidados a participar do evento de pre-miação, que aconteceu em 9 de novembro de 2013. Nesse dia, as 14 ideias vencedoras foram anunciadas. Confira!

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INTEGR A-ESCOLAColégio Bandeirantes e E. E. Professor João Silva

Alunos das duas instituições identificaram que as realidades de seus colégios são bem distintas. Por isso, querem organizar visitas à esco-la do outro grupo para conhecer um espaço diferente daquele que frequentam diariamente.

APP ALUNO NOVOColégio Bandeirantes

Criação de um aplicativo que disponibilize informações relevantes para os alunos recém-chegados na escola, tais como métodos de avaliação, cursos extracurriculares e manual do aluno, entre outras.

BIKE STREETCasa do Zezinho

Criação de um espaço na escola para guardar as bicicletas daqueles que as utilizam como meio de transporte. Funcionaria também como mais um estímulo ao uso da bicicleta.

CANAL DE COMUNICAÇÃO VIRTUAL MUNDIAL

Colégio Bandeirantes

Utilizar ferramentas como Facebook, Skype, Twitter e e-mail com a finalidade de aproximar alunos de diferentes países em torno de dis-cussões sobre determinados conteúdos abordados na escola, para que os participantes possam trocar percepções e conhecimentos.

BANDIESColégio Bandeirantes

Capacitação de alunos veteranos da escola para que possam receber os alunos novos. A ideia é inspirada na proposta “Buddies”, comum em universidades norte-americanas, e tem como objetivo facilitar a ambientação dos novos alunos à escola, apresentando-lhes as insta-lações, os cursos extracurriculares, os esportes oferecidos e os prin-cipais ativos do bairro, além de favorecer a interação entre estudan-tes de diferentes séries.

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LABOR ATÓRIO DE IDEIASInstituto Federal de Santa Catarina

Criação de um espaço na escola onde alunos e professores possam desenvolver projetos e compartilhar ideias, um local que estimule a troca de experiências entre seus frequentadores.

SAR AU SEM GARDENALGinásio Experimental Carioca Anísio Teixeira

Periodicamente, organizar saraus nos quais os alunos possam com-partilhar produções próprias, como poesias, músicas e desenhos, entre outras.

UM DIA DE GARIGinásio Experimental Carioca Anísio Teixeira

Os alunos assumiriam o papel dos funcionários de limpeza da escola e, por um dia, ficariam responsáveis por limpar as salas e as áreas co-muns em forma de mutirão. Além de um importante exercício de em-patia, é uma forma de estimular o cuidado com o espaço da escola.

CURTA O FESTIVAL EDUCAÇÃOGinásio Experimental Carioca Anísio Teixeira

A fim de multiplicar a experiência que tiveram ao longo do Festival Educação, a turma pretende produzir um documentário sobre todo o processo.

CONJUNTO DE IDEIASE.M.E.F. Professor Lorenço Manoel Sparapan

Reunir os colegas de escola para discutir assuntos com os quais têm dificuldades, estimulando a troca entre os estudantes.

SINAL MUSICALEscola Lourenço Castanho

Substituição do sinal convencional da escola – geralmente uma sirene – por canções escolhidas pelos estudantes. Objetivo alcançado, os alu-nos querem, agora, compartilhar os caminhos percorridos até a im-plementação da ideia, com o intuito de espalhá-la por outros espaços.

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IDEIAS QUE VIRARAM

PROJETOS

HORIZONTALIDADEEscola Lourenço Castanho

A disposição das carteiras em sala de aula não favorece a comunica-ção e a troca entre os alunos. Por isso, essa ideia busca substituir o padrão tradicional por outras formas de organização que facilitem a interação.

ENSINO DINÂMICOFecap

Apostar em novas formas de transmissão de conteúdo para os alu-nos, que vão além da aula expositiva.

AULAS VAGASAssociação Evangélica Beneficente

Criar alguns momentos livres entre as aulas para que os alunos pos-sam aproveitá-los de forma interativa e criativa, conforme as ideias que tiverem.

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Poucos meses depois da premiação, ocorrida em novembro de 2013, as primeiras ideias que se destacaram no evento começa-ram a sair do papel. Sinal de que a empolgação dos alunos nas sessões de cocriação seguia pulsando, e de que as mentorias tinham surtido efeito.

É verdade que a viabilidade não foi um critério usado para selecio-nar as ideias vencedoras. Mas é verdade também que, desde o pri-meiro encontro, os estudantes se mostravam animados para ver suas ideias acontecendo na escola. Não era incomum notar grupos debatendo sobre como fariam para executar a sua proposta. Ou en-tão, escutar participantes dizendo que gostariam de compartilhar a sua ideia com a direção para dar andamento a ela. Este foi um movi-mento espontâneo que se configurou como mais uma das surpresas que o Festival reservava para a sua edição-piloto.

O que era vontade durante os encontros de cocriação passou a ser realidade no dia 16 de maio de 2014, no Ginásio Experimental Cario-ca Anísio Teixeira. Foi nessa tarde que cerca de cem alunos se reuni-ram em um animado sarau. Era a ideia vencedora “Sarau sem Garde-nal” deixando de ser apenas uma aspiração.

Os preparativos começaram ainda em abril, sob a mentoria ofereci-da pelo Centro Ruth Cardoso. Uma equipe composta por alunos cui-dou de todo o planejamento. O grupo propôs um concurso entre estudantes talentosos no desenho para criar o logo que seria usado na divulgação do evento. Os cartazes e os recados dados em sala de aula e nas redes sociais fizeram com que o sarau recebesse um gran-

de número de inscrições. O resultado foi uma tarde repleta de diver-sidade: os espectadores assistiram a uma sequência de apresenta-ções de poetas, leitores, cantores e dançarinos, e até mesmo a um experimento científico. Tamanho envolvimento resultou na decisão de que o sarau se tornaria um evento mensal da escola.

Os autores da ideia “App Aluno Novo”, alunos do Colégio Bandeiran-tes, experimentaram uma sensação parecida ao ver o seu aplicativo no aparelho dos colegas que acabavam de chegar à escola. A sua ideia era desenvolver um app que reunisse informações relevantes para alunos novos, desde lugares para almoçar até oportunidades de cur-sos extracurriculares. Após pesquisar e reunir todo o conteúdo neces-sário para isso, os estudantes executaram o projeto com o apoio dos mentores da Fábrica de Aplicativos. No primeiro dia de aula de 2014, os novatos encontraram o QR Code que levava para o aplicativo espa-lhado pela escola. Muitos sacaram seus celulares e já saíram usando as informações selecionadas por seus colegas. Uma maneira inusitada de usar a tecnologia para acolher os novos estudantes.

Essas são apenas duas das ideias que já viraram realidade. Há muitas outras espalhadas por aí seguindo o mesmo caminho. Esse é um ótimo indicador, afinal demonstra que o legado do Festival Educa-ção ficou nas escolas, mesmo depois da saída dos facilitadores.

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AS IDEIAS-GRITO

Camila Piza é mediadora e consultora de estratégia de inovação da empresa de consultoria Mandalah, além de cofundadora do

Coletivo Educ-Ação; Mariana Costa é netweaver e consultora de estratégia de inovação da Mandalah.

As ideias-grito nasceram durante a fase de curadoria do Festival Educação, e mesmo mostrando-se criativas e interessantes, foram excluídas do processo de seleção por não se adequarem ao critério de originalidade. Esse critério, replicado do Festival de Ideias, foi considerado preponderante para que a ideia chegasse ao posto de finalista.

No entanto, durante uma reunião acalorada, a equipe construiu a percepção de que dispensar as ideias recorrentes significava reduzir o diálogo com os jovens e impedir a participação deles no Festival.

“O que seria do Festival Educação sem a participação desses jovens?”

“Que graça teria aprovar ideias irreverentes e inéditas se elas não conversassem com a grande

maioria do público das escolas?”

Foi o olhar cuidadoso da equipe que entendeu a repetição das ideias como uma manifestação ativa e representativa da união de vozes dos jovens, com seus desejos e vontades, em relação ao atual modelo educacional. Um grito!

As ideias de criar uma rádio para a escola, de ampliar a biblioteca ou de dar mais incentivo aos esportes não eram inovadoras, mas eram significativas a ponto de serem comuns a todos os jovens, independentemente de suas escolas.

As ideias-grito mostraram-se chave para proporcionar uma interlocução sem qualquer segregação por instituição ou autoria, e uma construção colaborati-va, multilateral e homogênea entre todos os participantes do Festival.

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As ideias-grito foram divididas em nove temas, enumerados a seguir.

1.

LEITURA:Ampliação das bibliotecas e troca de livros entre alunos.

2.

AULAS EXTERNAS:Passeios, estudos do meio e aulas em outros espaços além do da escola.

3.

CUSTOMIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR:Pintura, colagens, grafites e outras formas de expressão nos muros e paredes.

4.

USO DE EXPRESSÕES ARTÍSTICAS:Música, teatro e dança para mudar a dinâmica de aula.

5.

FEIRA DE PROFISSÕES:Possibilidade de conhecer diferentes profissões.

6.

RÁDIO:Novas maneiras de se comunicar na escola.

7.

ESPORTES:Mais incentivo, mais tempo e espaços mais adequados para a sua prática.

8.

LABORATÓRIO E FEIRA DE CIÊNCIAS:A tecnologia presente na escola.

9.

CUSTOMIZAÇÃO DO CURRÍCULO:Mais liberdade de escolha em relação às aulas e aos cursos.

APRENDIZAGENS

Acreditamos que a partir das ideias-grito uma rede virtual entre os partici-pantes possa ser constituída, de maneira orgânica, nesse projeto. Vimos que, para a criação efetiva de uma rede, é necessário um objetivo comum aos par-ticipantes e uma relação que transcenda a plataforma virtual. Promover en-contros presenciais e criar pontos de convergência entre os jovens são etapas importantes, que devem ser consideradas na construção e na manutenção de uma plataforma virtual.

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METODOLOGIA: COMO REALIZAR UM FESTIVAL EDUCAÇÃONA MINHA ESCOLA?

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Depois de conhecer diversos episódios e personagens que estiveram envolvidos com a primeira edição do Festival Educação, você pode estar se perguntando como levar essa experiência para a sua cidade ou escola.Desde a sua concepção, o Festival Educação foi cocriado de maneira a permitir sua fácil replicação.

Com a intenção de impactar o maior número de localidades no País, foi preciso criar estratégias que possibilitassem sua difusão de maneira fluida por novas cidades. Dessa forma, em vez de basear seus conceitos em uma metodologia rígida, apostou-se em princípios norteadores flexíveis. Conheça-os a seguir.

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APOIO DA DIREÇÃO DA INSTITUIÇÃO

É importante que a direção da instituição participante esteja ciente e de acordo em receber o Festival Educação. Negociações sobre data e local de cada uma das três cocriações devem ser feitas com este par-ceiro. O objetivo do Festival Educação é ajudar a gestão da instituição a enxergar o próprio ambiente educativo; reforçar essa premissa é im-portante para que todos ganhem com a realização dos encontros.

PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS POR ADESÃO

Cartazes são uma ótima forma de mobilizar alunos. Os estudantes devem se inscrever espontaneamente, por adesão, jamais por obri-gação. Por conta disso, as sessões de cocriação são organizadas de maneira independente. Não há problema caso algum estudante opte por não participar dos três encontros. O mesmo vale para aque-les que aderirem depois do primeiro. O acolhimento de todos os alu-nos é necessário para que eles se envolvam no processo a partir do momento em que chegarem.

Quanto ao tamanho do grupo, a sugestão é que haja até 20 alunos por turma. Essa é uma forma de garantir que o facilitador consiga estimular uma interação de qualidade entre os presentes.

ESCLARECIMENTO DAS “REGRAS DO JOGO”

Todas as informações sobre o processo devem ser apresentadas des-de o primeiro encontro. Entre elas estão as datas das três cocriações, os critérios de seleção das ideias vencedoras, data e local do encon-tro de premiação, além dos prêmios que serão oferecidos. Reforçar essas informações nas duas cocriações seguintes é recomendado.

USO DE PERGUNTA NORTEADORA

Os facilitadores devem definir uma pergunta norteadora que será usa-da como guia em todas as instituições participantes. Um ótimo exem-plo é “O que você gostaria de melhorar em sua escola?”. Essa pergunta deve estimular os alunos a pensar em soluções, e não somente em problemas. Ela deve ser relembrada a cada encontro. É necessário que os estudantes saibam em que direção estão evoluindo.

ESTÍMULOS À CRIATIVIDADE

O começo de cada encontro de cocriação deve contar com algum material que estimule a criatividade da turma. De vídeos a dinâmi-cas, a proposta é “quebrar o gelo”. Sabemos que as ideias não nos ocorrem quando queremos, por isso provocar o grupo é essencial. Além disso, disponibilizar materiais como canetas coloridas, papéis e post-its pode ser um ótimo convite à criatividade.

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PROTAGONISMO DOS ESTUDANTES

A participação de outros atores da comunidade escolar nos encon-tros é muito bem-vinda. A presença de um professor ou de um coor-denador é uma maneira de estimular a escola a se apropriar do pro-cesso de cocriação. Esses atores podem adquirir papel de multiplicadores ao identificar a gama de possibilidades de aplicação da cocriação no cotidiano da escola. No entanto, é importante garan-tir que os alunos estejam à vontade para propor suas ideias e atuar como protagonistas no processo.

COLABORAÇÃO

As ideias podem ser criadas individualmente ou em grupo. De qual-quer forma, o facilitador deve estimular os alunos a interagir e a tro-car ideias para que elas se fortaleçam com a multiplicidade de olha-res. Esse trabalho é essencial para garantir que os estudantes entendam que quanto mais cabeças pensarem sobre a sua proposta, mais força ela vai ganhar, fazendo-os então perceber que querer ser o “dono” de uma ideia não é algo vantajoso na lógica da cocriação.

FORTALECIMENTO DA REDE

Em pesquisa realizada ao longo do Festival, identificou-se que 97% dos alunos participantes possuía um perfil no Facebook. Por outro lado, a maioria deles não usava essa ferramenta para gerar conteúdo ou interagir com pessoas de fora de seu círculo principal de amiza-des. Sendo assim, o Festival se propôs a ser um caminho para esti-mular os participantes a estar “em” rede, e não apenas “na” rede. Para isso, criou uma página no Facebook reunindo todos os estu-dantes e estimulou-os, por meio de postagens de ideias, a conversar entre si. Além disso, a organização optou por oferecer como prêmio para as ideias vencedoras uma mentoria com profissionais de orga-nizações inovadoras, como Catraca Livre e a plataforma de financia-mento coletivo Catarse. Além de garantir autonomia para os proje-tos saírem do papel, o acesso a tais profissionais também foi uma forma de fortalecer a rede de contatos dos estudantes.

COCRIAÇÃO COMO LEGADO

O maior legado do Festival Educação é o fortalecimento de uma cul-tura de escuta e de cocriação dentro da instituição. A proposta é que a escola possa seguir usando o formato depois da saída dos facilita-dores. Afinal, com criatividade é possível identificar muitas outras oportunidades de aplicação do processo. Ele não deve ficar restrito apenas ao Festival e pode potencializar o engajamento de outros atores da comunidade escolar, além dos próprios estudantes.

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O Festival Educação veio mostrar que a escola não pode desperdiçar tempo, especialmente em uma época em que todos nós, conectados em rede, faze-mos desse elemento um dos mais valiosos bens do cotidiano. Trata-se de um projeto enxuto, de fácil replicação e grande eficiência em resultados.

É possível traçar uma relação direta entre os resultados do FE e uma recente e importante pesquisa da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvol-vimento Econômico).

Em primeiro lugar, a pesquisa revela que o professor brasileiro gasta muito do tempo de aula com tarefas administrativas e questões ligadas à “indisciplina”. Na história da educação pública brasileira, aliás, desperdício é um elemento que tem estado sempre presente. Sem mencionar a obviedade dos gastos pú-blicos indevidos, a falta de gestão em um ambiente escolar representa um enorme desperdício de recursos, de tempo e de talento.

FESTIVAL EDUCAÇÃO É FERRAMENTA EDUCACIONAL

IMPORTANTE

Alexandre Le Voci Sayad e Bruna Domingues Waitman são diretores do MEL (Media Education Lab).

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Há outros resultados da pesquisa que também chamam a atenção, como apontar para a falta de formação específica de professores e diretores, que muitas vezes não possuem noções básicas de gestão.

A melhora do ambiente escolar, um assunto ligado à gestão de pessoas, de espaços e de processos, foi o ponto central e o mais contemplado durante o FE. Afinal, o projeto mobilizou direção, professorado e alunos para o objetivo de uma escola melhor; e uma escola em que todos participam da criação gera melhores resultados – a máxima é unanimidade em inúmeros estudos.

Entretanto, há alguns conceitos “incômodos” na pesquisa da OCDE que tam-bém nos parecem ligados a ações nas quais o FE atuou. Preferimos olhar mais criticamente para a palavra “indisciplina”, quando associada aos alu-nos, na pesquisa. Será que o professor, de fato, gasta tempo com a “indiscipli-na” alheia? Ou educador e educando estão apartados por questões geracio-nais e pouco se entendem quanto ao que é correto ou não na “torre de Babel” da sala de aula?

Diminuir esse abismo cultural entre aluno e professor é tarefa complexa, por-que envolve questões históricas e o conceito de “geração”, cujo intervalo se apresenta cada vez mais curto. Mas o simples ato de escutar os alunos – e com o tempo, de criar vias de expressão para eles – vem se revelando uma prática importante, uma estratégia eficaz de superação da tal “indisciplina”. O FE vem responder a uma questão contemporânea quando trata de estabelecer um novo canal para que os estudantes se expressem sobre a escola que desejam. A Rádio Escolar, não por acaso, foi uma das “ideias-grito”.

Portanto, o FE é uma poderosa ferramenta educativa em dois aspectos: na gestão de interesses da escola e na aproximação da comunidade como resul-tado das melhorias e das inovações que o universo escolar deve protagonizar.

A multiplicação dessa experiência é possível e desejável. Em tempos em que a inovação passa longe da escola, o projeto apresenta um caminho importan-te e claro para ser trilhado.

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FICHAS TÉCNICAS E AGRADECIMENTOS

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O CENTRO RUTH CARDOSO AGR ADECE :

Às escolas e organizações:

Associação Evangélica Beneficente (AEB)

Casa do Zezinho

Colégio Bandeirantes

E. E. Professor João Silva

E.M.E.F. Professor Lorenço Manoel Sparapan

Escola Lourenço Castanho

Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap)

Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC)

Ginásio Experimental Carioca Anísio Teixeira

E aos parceiros:

Agência de Cocriação

Alexandre Le Voci Sayad – Media Education Lab (MEL)

Bruna Domingues Waitman – Media Education Lab (MEL)

Camila Piza – Mandalah

Camila Santos – Escola de Inovação em Serviços (Eise)

Carolina Andrade – Social Good Brasil

Catavento Cultural e Educacional

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária

(Cenpec)

Emerson Bento Pereira

Francisco Albuquerque – Agência de Cocriação

Ibep Gráfica

IBM

Fundação Lemann

Fundação Telefônica Vivo

Germano Guimarães – Instituto Tellus

Gregório Marin – Fábrica de Aplicativos

Lia Roitburd – Catraca Livre

Mandalah – Inovação Consciente

Mariana Costa – Mandalah

Maristela Miranda Barbara – Centro Ruth Cardoso

Mauro de Salles Aguiar

Media Education Lab (MEL)

Ricardo Aguirre

Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo

Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro

Social Good Brasil

Vanessa Crepaldi

Wagner Lucio – Agência de Cocriação

CENTRO RUTH CARDOSO

Diretora-Presidente: Regina Célia Esteves de Siqueira

Coordenação: Sueli Galhardo

Equipe Técnica:

Ana Luisa Andrez Caldeca

Arlete Lima Neris

Cláudio Jarmendia

Daniel Dantas

Daniel Troise

Daniella Cristina Diez de Jesus

Débora Regina Domingues de Faria

Denis de Freitas Matsuda

Jeam Camilo

Juliana Opipari Paes Barreto

Maristela Miranda Barbara

Priscila Costa Pires

Rennan Carvalho Dias Bontempo

Tainah Fukugava de Oliveira Lima Shiratsu

Vivian Ortiz

Viviane Silva de Medeiros

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O COLÉGIO BANDEIR ANTES AGR ADECE AOS

QUERIDOS ALUNOS QUE PARTICIPAR AM DO

FESTIVAL EDUCAÇÃO :

Alessandra Giner

Amanda Sadalla

Arthur C. T. de Carvalho

Beatriz Bechelli

Beatriz Simões

Bruno Bologna

Bruno Gianni de Almeida Siciliano

Caio Duarte

Caio Meneses Stabel

Davi Wu

Eduardo Finci Kreimer

Fernando Ferri

Flávia Odenheimer Trevisan

Gabriel Augusto Martins Marques

Gabriel Cherubin de Almeida

Gabriel Neistein

Gabriel Nunes de Souza

Gabriela Andraus Bottini

Giovanna Fabbri

Isadora Stelmach

Joyce Pan

Juliana Reimberg

Leila Maciel Valença

Lucas Jun Koba Sato

Lucas Koji Uchiyama

Luiza Izumi Frasseto

Marcos Elias Schwartz

Mariana Sóler

Pedro Villas Boas Dias

Rafael Canettieri

Rafael Lipener

Renato Traiman

Roberta S. S. B. Gomes

Vinicius Yukio Sato

Vitor Batista de Melo

Vitória Lessa

COLÉGIO BANDEIR ANTES

Diretor-Presidente: Mauro de Salles Aguiar

Diretor Vice-Presidente: Hubert Alquéres

Diretor de Operações: Eduardo Tambor Jr.

Diretor Pedagógico: Pedro Fregoneze

Diretor de Tecnologia Educacional: Emerson Bento Pereira

Diretor de Infraestrutura: Sérgio Américo Boggio

Coordenador de Relações Institucionais, Marketing e Cultural: Ricardo Pravadelli Aguirre

Gerente de Planejamento Estratégico: Helena Stefânia de Salles Aguiar

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PRODUÇÃO EDITORIAL Opus Editorial

COORDENAÇÃO EDITORIAL Adriano Fromer Piazzi

MEL (Media Education Lab)

PROJETO GRÁFICO Editora Aleph

EDITORAÇÃO Desenho Editorial

ILUSTRAÇÕES Catarina Bessell

PREPARAÇÃO DE TEXTO Opus Editorial

REVISÃO Hebe Ester LucasIsabela Talarico

IMPRESSÃO Mark Press

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