uma revisão sistemática da literatura sobre o impacto dos...
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Uma Revisão Sistemática da Literatura sobre o Impacto
dos Fatores Humanos em Projetos Ágeis
Aline Chagas Rodrigues Marques¹, Alexandre Marcos Lins de Vasconcelos1, Célio
Andrade de Santana Júnior¹, Melquizedequi Cabral dos Santos1, Joelson Isidro da
Silva Araújo1
¹Centro de Informática (CIn) - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
CEP: 50670-901- Pernambuco - PE – Brasil.
{acrm2, amlv, casj, mcs6, jisa}@cin.ufpe.br
Abstract. Because of the software development nature is a process centered on people
and their interactions, it is considered that human factors have a great importance in
software development is the traditional or agile development line. Researches
considering these factors on its developing are still rare. Therefore this research
intends to conduct a study to perform a secondary study on the impact of human factors
in software projects supported by some agile approach. For that, it was conducted a
systematic literature review (SLR) which has as main objective to investigate how
human factors impact these projects.
Resumo. Devido à natureza do desenvolvimento de software ser um processo centrado
nas pessoas e suas interações, considera-se que os fatores humanos possuem uma grande
relevância no desenvolvimento de software seja na linha tradicional ou ágil de
desenvolvimento. Pesquisas considerando estes fatores no desenvolvimento de software
ainda são escassas. Sendo assim, esta pesquisa visa realizar um estudo realizar um
estudo secundário sobre o impacto dos fatores humanos em projetos de software
apoiados por alguma abordagem ágil. Para tanto, foi conduzida uma revisão sistemática
da literatura (RSL) que tem como objetivo geral investigar de que forma os fatores
humanos impactam nestes projetos.
Palavras - Chaves: Fatores Humanos, Métodos Ágeis.
1. Introdução
Devido à natureza do desenvolvimento de software ser um processo centrado nas
pessoas e em suas interações, considera-se que os fatores humanos possuem uma grande
relevância no desenvolvimento de software. Isso significa que as atividades
desempenhadas pelos interessados, dependendo da forma que forem executadas, podem
afetar de formas variadas o produto final (PIRZADEH, 2010).
Pirzadeh (2010) define que um fator humano indica diferentes aspectos do ser
humano, os quais estão envolvidos e impactam no desenvolvimento de software. Tais
fatores podem ser abordados dentro de três categorias: 1) Individual: Abrange questões
humanas individuais relacionadas à engenharia ou desenvolvimento de software, como
características individuais, personalidade, cultura entre outros. 2) Interpessoal: É
relacionada a fatores humanos entre os indivíduos que afetam ou são afetados pela
Engenharia ou processo de desenvolvimento de software, como cooperação,
aprendizado em grupo, trabalho dos times, dentre outros. 3) Organizacional: Inclui
fatores humanos relacionados às organizações e ambientes de trabalho, como tomada de
decisão nas organizações, consultores, ambiente organizacional e outros.
Quando consideramos o desenvolvimento ágil de software, podemos perceber
uma grande valorização da interação entre as pessoas no processo de desenvolvimento.
O próprio manifesto ágil sugere como um de seus valores a afirmação "Indivíduos e
interação mais do que Processos e Ferramentas" e "Colaboração com o Cliente mais do
que Negociação de Contratos". O destaque concedido aos fatores humanos também
pode ser observado nos princípios citados no mesmo manifesto, ao descrever que o
método mais eficiente para transmissão de informações entre o time, é a conversa “face-
to-face”, valorizando assim a comunicação entre a equipe de desenvolvimento
(MANIFESTO ÁGIL, 2014).
Considerando a visão ágil, Cockburn (2002) aponta que fatores humanos podem
ser descritos como alguma questão humana causada por um time de pessoas trabalhando
juntas. Desta forma, este conceito pode ser repassado para o desenvolvimento ágil de
software quando considera qualquer aspecto humano que esteja envolvido na formação
de times para a construção de software, uma vez que este tipo de desenvolvimento tem o
foco na interação das pessoas e nos indivíduos. Em Cockburn e Highsmith (2001) são
enfatizados alguns fatores humanos para métodos ágeis de desenvolvimento tais como:
cordialidade, talento, habilidades e comunicação. Esses fatores podem emergir quando
um grupo de indivíduos está trabalhando junto como um time.
Pirzadeh (2010) afirma que pesquisas considerando os fatores humanos no
processo de desenvolvimento de software ainda são escassas. Assim, se faz necessário
avaliar o impacto dos fatores humanos no processo de desenvolvimento de software em
geral, e consequentemente em ambientes ágeis, uma vez que os trabalhos encontrados
em Pirzadeh (2010), Sharp (2005) e Dyba (2008) relatam que fatores humanos e/ou
sociais, sobre diferentes perspectivas na engenharia de software, são observados no
desenvolvimento tradicional de software e na programação extrema (XP).
Desta forma, este trabalho tem como objetivo realizar um estudo secundário
sobre o impacto dos fatores humanos em projetos de software apoiados por alguma
abordagem ágil. Para tanto, foi conduzida uma revisão sistemática da literatura (RSL)
que tem como objetivo geral investigar de que forma os fatores humanos impactam
nestes projetos.
Além desta Seção introdutória, este artigo é composto por mais quatro outras
Seções: Na seção 2 têm-se os trabalhos relacionados com esta pesquisa. Na Seção 3 é
apresentado o método utilizado para busca dos trabalhos, extração dos resultados e
questões de pesquisa. Na Seção 4 descreve-se a análise e discussão dos resultados. E por
fim, na Seção 5 são descritas as conclusões deste trabalho.
2. Trabalhos relacionados
Pirzadeh (2010) conduziu uma revisão sistemática para identificar e caracterizar fatores
humanos que influenciam o processo de desenvolvimento de software. Este estudo
considerou projetos de software em geral e observou o ciclo de desenvolvimento e a
gestão de projetos de software. Foram criadas categorias para os fatores humanos em
níveis organizacionais, interpessoais e individuais, onde a última, segundo a autora, se
destacou como a mais importante. Neste trabalho também foram investigadas quais
etapas do desenvolvimento de software eram as mais investigadas quando se
consideravam os fatores humanos e foi apontado que a fase de Engenharia de requisitos
era a de maior frequência dentre os estudos selecionados.
Livermore (2007) aplicou uma entrevista de opinião (survey) online que
procurava investigar quais fatores, em geral, estavam relacionados à implementação
bem sucedida de métodos ágeis em organizações. O autor listou fatores como: (i)
treinamento, (ii) envolvimento da gerência, (iii) acesso a recursos externos e (iv)
tamanho da corporação. Tais resultados somente consideraram o aspecto técnico e
organizacional e não abordaram a relevância de fatores humanos nesse contexto.
Em um relato de experiência, Law e Charron (2005) estavam interessados em
pesquisar os efeitos das práticas ágeis em fatores sociais. Os autores não descreveram de
que forma selecionaram os seguintes fatores: (i) compartilhamento do conhecimento,
(ii) motivação e (iii) colaboração do cliente. Foram utilizados dois projetos industriais
de software, que segundo os autores, obtiveram sucesso ao se identificar os fatores
sociais elencados.
Gandomani e colegas (2014) realizaram uma pesquisa qualitativa com o objetivo
de investigar como fatores humanos impactam na adoção e transição para
desenvolvimento ágil de software. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e para
análise dos dados utilizou-se a Teoria Fundamentada em Dados (TFD).
Como resultado, construiu-se uma teoria em que há fatores que facilitam e
outros que impedem uma mudança de abordagens tradicionais para as ágeis. Os fatores
facilitadores são: Envolvimento do Time, Comprometimento da Gestão, Líderes
Técnicos Competentes e Trabalho em Equipe. Os fatores que dificultam são: Resistência
a Mudança, Diferenças Culturais, Falta de Colaboração e Comportamento não Ágil.
Além disso, os autores encontraram algumas percepções sobre como as mudanças
afetam as pessoas envolvidas em projetos ágeis: Entusiasmo pela Mudança,
Preocupação com a Mudança, Indiferente a Mudança, Sentimento de Necessidade de
Mudança e Expectativas Irreais sobre a Adoção de Métodos Ágeis. E por fim,
acrescentaram que fornecer incentivos e motivação, foram listados como facilitadores
para esta transição.
Outro trabalho relacionado foi proposto por Melo, Santana e Kon (2012) em que
apresentam um estudo parte primário, parte secundário que expõe fatores que motivam
ou desmotivam os integrantes de um time ágil em projetos de software. Os autores
concluem que os principais motivadores são: (i) Autonomia, (ii) Aprendizado, (iii)
Feedback, (iv) o Trabalho e Equipe. Os principais desmotivadores foram: (i) Mudanças,
(ii) Excesso de Horas Extras, (iii) Não identificação com o trabalho.
Os trabalhos relacionados encontrados podem ser separados em quatro tipos: (i)
investigam a influência dos fatores humanos no desenvolvimento de software, seja em
ambientes tradicionais, seja em ágeis; (ii) fatores em geral que contribuem com o
sucesso de adoção de métodos ágeis, (iii) estudos primários que sugerem fatores
humanos que estão relacionados ao desenvolvimento ágil e por fim (iv) um estudo
primário e secundário que apontam aspectos motivadores e desmotivadores de membros
de times ágeis, entretanto, a pesquisa (MELO, SANTANA e KON, 2012) não se propõe
a identificar o impacto destes motivadores nos projetos. Sendo assim, a pesquisa
proposta neste artigo difere-se das demais por realizar um estudo secundário buscando
artigos que apresentem pesquisas que foram realizadas considerando alguma abordagem
ágil, com a finalidade de entender o estado da arte durante 11 anos de pesquisas em
métodos ágeis.
3. Método de pesquisa
Esta pesquisa é baseada em trabalhos previamente publicados e para formalizar o
processo da pesquisa bibliográfica foi conduzida uma revisão sistemática da literatura.
Uma RSL é uma abordagem para identificar, avaliar e interpretar toda a informação
relevante de uma pergunta de pesquisa em particular ou área de interesse, ou seja, a RSL
permite elencar quais estudos estão sendo abordados pelos pesquisadores relativos
àquele problema de pesquisa (KITCHENHAM et al., 2007). Nesse contexto, uma RSL
pode ser uma alternativa para ajudar a resolver problemas relativos à busca de
evidências e, neste caso, concentrar uma grande quantidade de informação sobre o que
se conhece acerca do impacto dos fatores humanos em projetos de software apoiados
por métodos ágeis.
Este estudo adotou o protocolo estabelecido por Kitchenham et al. (2007), por
ser uma das referências mais adotadas em RSL. A pesquisa utilizou para a busca
automática os principais engenhos estabelecidos pela autora e para a busca manual
concentrou-se nas duas principais conferências em métodos ágeis que são a XP
Conference e a Agile Development Conference considerando as seguintes palavras-
chaves: Desenvolvimento de Software, Métodos Ágeis e Fatores Humanos. A partir
destas palavras chaves foram identificados os termos de busca que são apresentados na
Tabela 1. O período delimitado para esta pesquisa foram 11 anos, desde o surgimento do
manifesto ágil, compreendendo os anos entre 2001 e 2012.
Tabela 1. Termos de busca e equivalência para o inglês
Palavras Chave Termos de busca
Desenvolvimento de
Software
Software, development, project, software development, software
project, system development, development application, software
engineering, information system development, information
system engineering, software production
Métodos Ágeis Agile, Scrum, XP, Extreme Programming
Fatores Humanos Human Factor, Personal Factor, People Factor
3.1 Questões de pesquisa
Com o objetivo de entender o estado da arte atual sobre o que se sabe em relação ao
impacto dos fatores humanos em métodos ágeis, este estudo busca responder as
seguintes questões de pesquisa:
RQ1: Quais fatores humanos interferem na utilização de métodos ágeis?
RQ2: Qual o impacto dos fatores humanos em projetos apoiados por métodos ágeis?
3.2 Estratégia de busca
Uma vez definidas as questões de pesquisa, se faz necessário, antes de iniciar a RSL,
verificar se já existe algum estudo secundário que respondam as questões de pesquisa
elaboradas. Então, foi realizada uma pesquisa ad-hoc nas seguintes bases de dados:
Compendex1, Science Direct
2, Scopus
3, IEEE Xplore
4 e os anais das conferências XP
(2001 até 2012) e Agile (2006 até 2012). Não foram encontrados estudos secundários
que respondam as questões de pesquisas desta RSL.
Em seguida, foram realizadas as buscas automáticas e em cada um dos engenhos
de busca descritos acima, foi executada a String de busca genérica: ("software" OR
"development" OR "project" OR "software development" OR "software project" OR
"system development" OR "development application" OR "software engineering" OR
"information system development" OR "information system engineering" OR "software
production") AND ("agile" OR "scrum" OR "extreme programming" OR "XP") AND
("Human Factor" OR "Personal Factor" OR "People Factor"). Esta string é chamada
de genérica porque cada engenho de busca possui a sua sintaxe específica, e esta String
Genérica deve ser adaptada em cada um deles.
3.3 Critérios de inclusão e exclusão
Os critérios de Inclusão e Exclusão estabelecidos nesta pesquisa foram baseados no
trabalho de Kitchenham (2007) e ajustadas de acordo com as questões de pesquisa desta
RSL. A Tabela 2 a seguir apresenta os critérios adotados:
Tabela 2. Critérios de Inclusão e Exclusão
ID Critérios de Inclusão ID Critérios de Exclusão
CI-01 O Estudo se trata de um
estudo primário CE-01 Trabalhos não relacionados aos métodos ágeis
CI-02 Estudos apresentam dados
empíricos CE-02 Não apresentam dados empíricos
CI-03 Relacionado a Métodos
Ágeis CE-03 Artigos Focados em Técnicas e/ou práticas
1 http://www.engineeringvillage.com/
2 http://www.sciencedirect.com/
3 http://www.scopus.com/
4 http://ieeexplore.ieee.org/
CI-04 Relacionado a Fatores
Humanos CE-04 Artigos contendo apenas lições aprendidas e relatos de
experiência
CI-05 Dados publicados em
formatos científicos CE-05 Artigos baseados em opiniões de especialistas
CI-06 Estudos publicados em
Inglês CE-06
Estudos que se apresentem no formato de editoriais,
prefácios, resumos de artigos, livros, capítulo de livro,
entrevistas, notícias, opiniões, correspondência, debates,
comentários, cartas do leitor e resumos de cursos,
oficinas, resumo de aula, painéis e sessões de pôsteres,
incompletos, workshop, tutoriais, guias, apresentação de
ferramentas, estudos não revisados por pares, estudos não
acessíveis, estudo que não apresentam dados em formato
científico, artigo não disponível, artigo não escrito em
inglês, estudos secundários e terciários;
CI-07 Publicados entre 2001 e
2012 CE-07 Estudos cujo objetivo é apenas ensinar métodos ágeis
CI-08 Trabalhos Revisados por
Pares CE-08 Estudos que não respondem as questões de pesquisa
CE-09 Estudos Duplicados
3.4 Processo de seleção dos estudos primários
Nesta fase o processo foi dividido em três etapas: Na primeira etapa selecionaram-se os
estudos após a realização das buscas automáticas e manuais. Participaram dessa, assim
como das demais fases, três pesquisadores. Ao todo foram encontrados 2501 artigos não
duplicados nesta etapa.
Na segunda etapa, foram observados título e resumo dos artigos resultantes da
primeira etapa considerando os critérios de inclusão e exclusão. Aqui os autores se
dividiram em três duplas que decidiam sobre a exclusão ou inclusão de um artigo. Nos
casos de conflitos (quando um autor inclui ou outro exclui) o outro membro servia como
árbitro para realizar o desempate. Ao término dessa etapa foram selecionados 518
trabalhos que foram para a próxima fase.
Na terceira etapa, os 518 artigos foram avaliados de acordo com o mesmo
processo da etapa anterior sendo que agora eram lidos além do título e resumo, a
introdução, metodologia e conclusão. Ao término dessa atividade foram selecionados 48
artigos que podem ser vistos no Apêndice I deste artigo.
4. Análise dos resultados
Esta seção apresenta a síntese dos resultados obtidos ao final da revisão sistemática da
literatura, objetivando responder as perguntas de pesquisa a que se propõe esta RSL.
4.1. Questão de pesquisa 1
RQ1: Quais fatores humanos interferem na utilização de métodos ágeis?
Para responder a esta pergunta, foi necessário definir o constructo Fator humano. Sharp
(2005) afirma que fator humano são alguns tipos de fatores sociais que surgem a partir
de diversas interações e que precisam ocorrer para que o processo de desenvolvimento
de software possa fluir. Para Cockburn (2002) pode ser descrito como alguma
questão humana causada por um time de pessoas trabalhando juntas. Sendo assim, nesta
RSL, abordou-se toda interação ou capacidade humana ocorrida durante o processo de
desenvolvimento ágil de software e englobou aspectos sociais, cognitivos, humanos,
pessoais e sociológicos. Dentre os 48 estudos selecionados ao final desta revisão,
concluiu-se que existem 12 fatores humanos (ver Tabela 3) considerados relevantes em
métodos ágeis segundo as evidências retiradas destes artigos. Tais fatores são:
Tabela 3. Fatores humanos
Fator humano Estudos
Comunicação
[S0027];[S0042];[S0203];[S0205];[S0207];[S0229];[S0231];[S0263];[S0290];[S0307];
[S0318];[S0392];
[S0401];[S0416];[S0520];[S0596];[S0608];[S0738];[S0906];[S3191];[S4147];[S4477];
[S5726]
Confiança [S0203];[S0205];[S0229];[S1052];[S1107];[S4845];[S5207];[S7732]
Colaboração [S0203];[S0263];[S0401];[S0521];[S1549];[S2224]
Conhecimento [S0520];[S0521];[S3192];[S4845];[S5124]
Motivação [S0042];[S0229];[S5726]
Liderança [S0042];[S0203];[S4342]
Aspectos Culturais [S0027];[S1548]
Autonomia [S0203];[S1462]
Aprendizado [S1107];[S1548]
Envolvimento do
cliente [S3521];[S4011]
Bem estar [S0065]
Experiência [S0521]
Dentre os fatores encontrados, vale ressaltar que somente dois fatores tiveram
um estudo para análise de evidências. Destacando que o fator humano Bem-estar é
formado por quatro constructos: ansiedade, contentamento, depressão e entusiasmo,
conforme pode ser observado neste trecho do artigo S0065: “Since the work-related
wellbeing was measured using a scale, which consisted of four constructs, that are
anxiety-contentment and depression-enthusiasm...”. E o fator Experiência relacionado
aos conhecimentos que o time possui, em seu mais alto nível agregado a outros fatores
contribui para o sucesso das práticas ágeis conforme evidência retirada do artigo S0521:
“The team’s high levels of experience, technical knowledge and competence, and
working in a collaborative, autonomous and self-organizing team style affected the
successful usage of agile practices”.
Adicionalmente, neste fragmento do artigo S4022: “It is shown that autonomy
together with communication and collaboration are the major components for building
self-organizing software development teams. “, são ressaltados três fatores humanos
encontrados nesta RSL como Autonomia, Comunicação e Colaboração para construção
de uma característica marcante em métodos ágeis como a auto-organização dos times,
preconizado pelos princípios ágeis em Agile Alliance (2014).
Por fim, pode-se perceber na Tabela 3 que os fatores mais evidentes são
Comunicação, Colaboração e Confiança, corroborando para um dos princípios do
manifesto ágil em que valoriza a comunicação “face-to-face” e as interações entre os
indivíduos durante o desenvolvimento ágil de software.
4.2. Questão de pesquisa 2
RQ2: Qual o impacto dos fatores humanos em projetos apoiados por métodos ágeis?
De posse dos resultados da RQ1, procurou-se analisar qual o impacto destes fatores
humanos em projetos ágeis. Retirou-se dos artigos evidências que retratassem de que
forma eles influenciavam. A ausência ou presença do fator humano foi inserida em uma
categoria chamada Status e o Impacto podia ser positivo (+) ou negativo (-).
Todas as categorias foram criadas com base na interpretação das evidências dos
estudos e com a finalidade de agrupar o impacto destes fatores humanos, podendo ser
melhor visualizado na Tabela 4 abaixo:
Tabela 4. Impacto dos fatores humanos.
Categoria Fator humano Status Impacto Estudos
Time
Colaboração Presente + [s0263]; [s0401]; [s5124]
Aspectos
culturais
Ausente - [s5207]
Envolvimento
do cliente
Ausente - [s0195]
Presente + [s7537]
Liderança Presente + [s4022]; [s0392]; [s4342]
Confiança Ausente - [s0392]; [s5207]; [s0596]
Presente + [s5207];[s7732];[s0392];[s1052]
Motivação Ausente - [s1462]
Conhecimento Ausente - [s0520]
Presente + [s3192]; [s4845]; [s5124]
Autonomia
Presente - [s1462]; [s0203]
Ausente - [s0520];[s0203]
Presente + [s4022]; [s0203]
Comunicação
Ausente - [s0027]; [s0196]; [s0231]; [s0290];
[s1462]; [s4772]; [s5207]
Presente + [s0027]; [s0065]; [s0205]; [s0229];
[s0231]; [s0401]; [s0512]; [s0596];
[s0738]; [s1052]; [s1462]; [s2224];
[s2271]; [s4277]
Sucesso dos
projetos
Aspectos
culturais
Presente + [s5207]
Ausente + [s5207]
Envolvimento
do cliente
Ausente - [s0195]
Presente + [s7537]
Comunicação Presente + [s0738]; [s1548]; [s2224]
Desenvolvimento
Envolvimento
do cliente
Presente + [s3191]
Liderança Ausente - [s0042]
Conhecimento Presente + [s0196]
Comunicação Presente + [s0318];[s0401];[s0906];[s2224];
[s4277];[s4581]
Ausente - [s0520];[s4022];[s5726]
Presente - [s0906]
Requisitos
Envolvimento
do cliente
Presente - [s4011]
Ausente - [s4011]
Presente + [s7732]
Conhecimento Ausente - [s0205]
Comunicação Presente + [s4277]
Práticas ágeis
Envolvimento
do cliente
Presente + [s0608]
Conhecimento Presente + [s5124]
Comunicação Presente + [s0196];[s0229];[s0290];[s0318]
Ausente - [s0229];[s0290]
Tomada de
decisão
Liderança Presente + [s0042]
Aprendizado Ausente - [s1107]
Presente + [s4022]
Autonomia Presente - [s1462]
Comunicação Presente + [s0596];[s1548]
Cliente Colaboração Presente + [s4342]
Comunicação Presente + [s0608];[s3521];[s4277]
Diante dos dados expostos na Tabela 4, pode-se inferir que quando um fator
estava presente, o impacto seria positivo e quando ausente o impacto seria negativo.
Entretanto, em alguns fatores isto não acontece como: quando há presença exacerbada
da autonomia do time ou a autonomia individual é alta (status presente), isso faz com
que a equipe forme silos, prejudicando a interação entre os times (impacto negativo); se
a equipe utilizar canais informais para promover a comunicação (status presente) entre
eles, pode resultar em altas taxas de defeito no desenvolvimento (impacto negativo) e
por fim, se há o envolvimento do cliente (status presente) junto à equipe para
esclarecimento dos requisitos, isso pode ser prejudicial devido a sua indisponibilidade
(impacto negativo).
Além desses impactos, outro aspecto interessante foi um fator humano impactar
em outro como: Presença da Confiança impacta de forma positiva em Conhecimento
[s4845]; Comunicação influencia positivamente Motivação [s0229] e Conhecimento
[s0231] e finalmente, Conhecimento tem impacto positivo em Comunicação [s3192].
5. Conclusão
Este artigo apresentou uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de responder
as seguintes perguntas de pesquisa: RQ1: Quais fatores humanos interferem na
utilização de métodos ágeis? e RQ2: Qual o impacto dos fatores humanos em projetos
apoiados por métodos ágeis?. Para a execução desta RSL, utilizou-se o protocolo
estabelecido por Kitchenham et al. (2007) e delimitou-se o ano desta RSL de 2001 a
2012, aglomerando 11 anos de desenvolvimento ágil. Ao final, 48 artigos foram
selecionados como estudos primários gerando os resultados apresentados neste estudo.
Pretende-se com este estudo, contribuir para fornecer uma visão geral sobre fatores
humanos em projetos ágeis. É possível visualizar na Tabela 4 a importância desses
fatores humanos impactando em áreas importantes como desenvolvimento, sucesso dos
projetos, time, entre outros. Como trabalhos futuros, pretende-se realizar uma pesquisa
qualitativa apoiada pela aplicação de entrevistas, de forma a complementar este trabalho
com resultados visualizados na indústria. Sendo assim, com os resultados desta RSL e o
da pesquisa qualitativa, pretende-se desenvolver um profundo conhecimento sobre a
influência dos fatores humanos em métodos ágeis.
Referências AGILLE ALIANCE - Disponível em: < http://www.agilealliance.org/>. Acesso em 23 de
agosto de 2014.
COCKBURN, A. (2002) “Agile Software Development”. Boston: Addison Wesley. COCKBURN, A. HIGHSMITH, J. (2001) “Agile Software Development: The People
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Newton, MA, USA, v. 50, n. 9, p. 833-859. FLICK, U. (2009) “Introdução à pesquisa qualitativa”. Tradução de Joice Elias Costa. Porto
Alegre: Artmed. GANDOMANI, T.J; ZULZALIL, H; GHANI, A.A.A; SULTAN, A.B.M; SHARIF, K.Y.
(2014) “How Human Aspects Impress Agile Software Development Transition and
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APÊNDICE I Tabela 3. Estudos primários da revisão sistemática da literatura.
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