unidade entre líderes da igreja da cidade

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TCC do curso Bacharel em Teologia de Cléber Mateus Ribas

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1 Unidade entre líderes da igreja da cidade

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2 Cléber Mateus de Moraes Ribas

Não podemos limitar a unidade a um princípio abstrato, a um vínculo esotérico entre todos os cristãos, ou até mesmo a palavras bonitas entre os fiéis. Assim

como a unidade entre o Pai e o Filho determina como eles se comportam, assim também acontece com nossa unidade dentro do corpo de Cristo.

Tim Riter

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3 Unidade entre líderes da igreja da cidade

Dedico esta obra à minha esposa Vanessa, pois muita foi a sua

ajuda, carinho, compreensão, companheirismo e amor sem medida desde o dia em que iniciamos nosso namoro. A Deus toda a glória, honra e louvor por sua imensurável graça demonstrada em Cristo Jesus, nosso Salvador.

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4 Cléber Mateus de Moraes Ribas

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................... 6

CAPÍTULO 1: CONCEITOS .................................................................... 9

Conceito de igreja .............................................................................................. 9

Conceito de cidade ........................................................................................... 17

Conceito de unidade cristã............................................................................. 23

CAPÍTULO 2: ABSOLUTOS DA FÉ CRISTÃ ............................................ 29

O único Deus .................................................................................................... 29

Deus Pai ............................................................................................................. 30

Deus Filho ......................................................................................................... 32

Deus Espírito Santo ....................................................................................... 34

O homem ........................................................................................................... 36

Homem criado ................................................................................................ 37

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5 Unidade entre líderes da igreja da cidade Homem pecador ............................................................................................. 38

Homem que precisa de salvação.............................................................. 40

A vida com Deus ............................................................................................... 42

Palavra de Deus .............................................................................................. 42

Vida cristã ......................................................................................................... 44

Vida eterna ....................................................................................................... 46

CAPÍTULO 3: AS PRERROGATIVAS DA UNIDADE CRISTÃ ..................... 49

É uma orientação bíblica ................................................................................ 49

É um desejo de Cristo ...................................................................................... 55

É uma forma de torná-Lo conhecido ........................................................... 59

CAPÍTULO 4: O CAMINHO DA UNIDADE ........................................... 64

O amor a Deus .................................................................................................. 64

O amor ao próximo ......................................................................................... 69

Exemplos de atitudes de amor que preservam a unidade ...................... 74

CONCLUSÃO ..................................................................................... 83

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 87

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6 Cléber Mateus de Moraes Ribas

INTRODUÇÃO

É bastante comum para o cristão da atualidade ser questionado da seguinte forma: “Aquela igreja é igual à sua?” ou “Por que existem tantas igrejas se Jesus é um só?”. Entre os considerados cristãos há incontáveis denominações no Brasil. Católicos, batistas, presbiterianos, pentecostais, neopentecostais, metodistas e luteranos são apenas alguns destes grupos. Algumas pessoas afirmam que, em algumas cidades, é possível encontrar uma igreja diferente em cada esquina. Mesmo com tantas igrejas, a maioria dos cristãos não pode afirmar que esta ou aquela são iguais ou ao menos que há uma pequena semelhança com a sua. Isto porque a maioria das igrejas vive “ilhada”, ou seja, afastada de todas as outras que não são do mesmo grupo que o seu.

No entanto, quando se percebe que alguns membros não têm problemas em visitar com certa frequência outras igrejas – inclusive de denominações diferentes – parece que o problema não está neles e sim em seus líderes. Isto faz sentido quando se entende que as ovelhas normalmente seguirão o caminho em que seu pastor as conduzir. Assim, quando um líder conduz os cristãos de sua congregação a uma

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divisão ou a um distanciamento para com outras igrejas, é provável que elas ajam de forma coerente com este ensino. Essa, porém, não é a vontade de Cristo. Pouco antes de ter sido preso pelos soldados e guardas enviados pelos chefes dos sacerdotes e fariseus, Jesus orou pela unidade dos seus - com certeza, um grande desejo do Senhor.

A unidade cristã é um tema bastante presente em muitos livros e trabalhos acadêmicos, principalmente quando se refere à igreja conhecida como local. Apesar disso, a unidade entre todas as igrejas verdadeiramente cristãs de uma cidade, em especial com relação aos seus líderes, não é um assunto muito explorado. No entanto, tendo em vista a necessidade de haver uma unidade entre estas igrejas, é de suma importância que se busque um caminho para que isto seja possível. Tal caminho será buscado na presente monografia, tendo em vista o que não pode ser ignorado nesta busca e os privilégios que a mesma apresenta. Para isto, a pesquisa será realizada em fontes bibliográficas e em meio eletrônico, nas áreas de Teologia Sistemática, Geografia, comentários bíblicos e outros de acordo com as necessidades que surgirem.

No primeiro capítulo serão apresentados conceitos referentes à unidade da igreja da cidade. Primeiramente, será analisado o conceito de igreja, sua abrangência e a sua liderança. A seguir, será abordado o conceito de cidade. Para isso será brevemente analisado o surgimento da pólis grega e as definições contemporâneas de cidade. Então será apresentado o conceito de unidade, se ela já existe ou se pode ser criada, quem a criou ou pode criá-la, bem como até onde a busca por ela pode ir, ou seja, do que não se pode abrir mão para alcançá-la.

No capítulo seguinte, serão apontados os absolutos da fé cristã, ou seja, as questões essenciais do cristianismo que não podem ser

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8 Cléber Mateus de Moraes Ribas questionadas ou abandonadas em prol da unidade. Assim, serão abordados os seguintes temas: o Deus único e trino (Pai, Filho e Espírito Santo); o homem (criado por Deus e a sua condição de pecador que precisa de salvação) e a vida com Deus (a importância da Bíblia para o cristão, como deve ser a vida cristã e o fim dos cristãos – a vida eterna).

A seguir, serão apresentadas as prerrogativas da unidade cristã. Para isto, a unidade será analisada por meio do que a Bíblia orienta sobre este assunto, principalmente com base em alguns escritos de Paulo. Também será analisada a oração de Jesus pela unidade de seus discípulos. Por fim, será abordada a unidade como uma forma de torná-lo conhecido, manifesta nesta sua oração.

No último capítulo, será tratado o caminho para a unidade cristã. Para isto, será abordado o amor a Deus de forma prática e o amor ao próximo, além de exemplos de atitudes de amor que preservam esta unidade.

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CAPÍTULO 1: CONCEITOS

Antes de se tentar compreender e buscar a unidade entre líderes eclesiásticos da cidade é necessário conceituar alguns dos termos principais acerca deste tema. Por isso, serão aqui analisados os termos igreja, cidade e unidade. Embora estas sejam palavras frequentemente usadas nos contextos eclesiástico, social ou político, poucas pessoas saberiam conceituar estes termos de uma forma precisa e objetiva. Quanto à liderança eclesiástica, a mesma será analisada dentro do conceito de igreja. Sendo assim, será apresentada uma tentativa de definição dos termos, a fim de que haja uma melhor compreensão do assunto abordado na presente pesquisa. Primeiramente, será analisado o conceito de igreja. Conceito de igreja

A igreja foi instituída por Deus no dia de Pentecostes. Conforme o Dicionário Ilustrado da Bíblia, isto pode ser demonstrado de várias formas:

(1) o próprio Cristo declarou a existência da igreja como algo no futuro (Mt 16.18); (2) ela foi fundada sobre a morte, a ressurreição e a

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ascensão de Cristo, e o cumprimento de tal fato não seria possível antes do Pentecostes (Ef 1.15-23); (3) não poderia haver igreja até que ela fosse totalmente comprada com o sangue de Cristo (Ef 2.13).1

Sendo ela uma instituição divina, seu estudo deve remeter à Palavra daquele que a instituiu. Os principais ensinamentos sobre a igreja, portanto, podem e devem ser tirados da Bíblia (Palavra de Deus), pois é ela quem relata o seu surgimento e início.

O termo igreja aparece pela primeira vez em Mt 16.18, portanto, no Novo Testamento. Ela traduz o termo grego e)kklhsi/a (ekklesía).2 Este termo, na maioria das vezes, indica a igreja existente no período do Novo Testamento, embora também denote uma assembleia civil em alguns poucos textos bíblicos.3 De acordo com o pastor e professor batista, João Falcão Sobrinho, em seu livro A túnica inconsútil, a palavra Ekklesia é composta de uma preposição (ek) e um verbo (kaleo) – a preposição tem a ideia de “saída, emissão para fora, separação de” e o verbo “chamar, convocar em alta voz”. Ainda, segundo ele, no grego clássico o termo designava uma “reunião formal de cidadãos da polis (cidade), convocados de seus lares para uma assembleia pública”.4

Comumente, no Novo Testamento, o termo designava o conjunto de cristãos em uma localidade definida, independente do fato de estes estarem reunidos para culto ou não.5 Sobre as vezes em que o termo aparece e o seu sentido, Falcão Sobrinho afirma que

1 YOUNGBLOOD, R. F. (Ed.). Dicionário ilustrado da Bíblia, p. 681. 2 BARCKLAY, W. Palavras chaves do Novo Testamento, p. 44. 3 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 354. 4 FALCÃO SOBRINHO, J. A túnica inconsútil, p. 15. 5 BERKHOFF, L., Teologia sistemática, p. 560.

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A palavra ekklesia figura 114 vezes no Novo Testamento, tanto no singular como no plural. 3 vezes tem o sentido secular de multidão (Atos 19.32,39,41); 2 vezes refere-se a Israel, traduzida por ‘congregação’ (At 7.38 e Hb 2.12); 85 vezes (74% do total) refere-se à Igreja como uma comunidade local e as demais vezes tem um significado apenas conceitual, podendo referir-se a qualquer Igreja local em particular, jamais com o sentido de uma estrutura nacional ou mundial.6

Desta forma, a igreja não pode ser vista como uma única instituição eclesiástica mundial, pois não há na Bíblia uma alusão a isto. Sendo assim, qualquer grupo que se intitule a verdadeira e exclusiva igreja está sendo contrário ao ensinamento bíblico acerca da igreja.

Falcão Sobrinho afirma que há várias tentativas de definição de igreja, sendo que nenhuma é completa, por se tratar de “um organismo vivo, regido por princípios imutáveis mas em constante movimento através da história”.7 No entanto, faz-se necessária uma tentativa de definição, ainda que não exata. Não fosse assim, poderia ela ser conceituada como instituição ou clube social, prédio de reuniões ou até mesmo uma tribo urbana.

O teólogo Wayne Grudem, Ph.D. pela Universidade de Cambridge, afirma que

Se uma assembleia de pessoas, apesar de levar o nome de ‘cristã’, ensina sistematicamente que não se pode acreditar na Bíblia, isto é, uma igreja no qual o pastor e a congregação raramente leem a Bíblia ou oram de modo expressivo, e não creem ou talvez nem entendam o

6 FALCÃO SOBRINHO, J. A túnica inconsútil, p. 16. 7 Ibidim, p. 19.

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evangelho da salvação pela fé somente em Cristo, como podemos então dizer que essa é uma igreja verdadeira?8

Sendo assim, algo que pode ajudar na busca pelo conceito de igreja é a definição do que não é uma igreja verdadeira, ou seja, do que é uma seita. Segundo Jaziel Guerreiro Martins, doutor em Ciências da Religião e diretor da Faculdade Teológica Batista do Paraná, seita pode ser definida como um grupo religioso que sustenta doutrinas e opiniões contrárias à Bíblia, em matéria de salvação e fé. Em outras palavras, um grupo que prega heresias, isto é, decide abandonar a verdade bíblica e “adotar ou divulgar suas próprias ideias em matéria de religião”.9

O Almanaque Abril apresenta um conceito semelhante de seita, referindo-se a grupos de fronteira. Além disso, acrescenta à ideia anterior o fato de estes terem origem em ramos cristãos (frequentemente protestantes), sendo os principais os Adventistas, Mórmons e Testemunhas de Jeová.10

Segundo Martins, é possível identificar uma seita por meio de alguns de seus ensinos. Um grupo religioso que se considera “a única igreja correta”, cujo centro das atenções não é Jesus e sim o fundador do grupo, que não tem a Bíblia como única fonte de doutrina, que ensina aos seus adeptos que estes podem desenvolver sua própria salvação, que usa de falsas interpretações bíblicas e unilateralidade doutrinária, escolhendo para si uma única doutrina em detrimento a

8 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 726. 9 MARTINS, J. G. Uma nova criatura em Cristo, p. 7. 10 SAVOY, I.; FERREIRA, M.; CARREPA, B.; MENDONÇA, I. P. (Ed.). Almanaque abril 2003, p. 79.

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todas as outras verdades ou possui um início suspeito, pode ser identificado como seita.11

Sendo assim, uma igreja não é um grupo cujo centro não é Jesus, cujo único meio de salvação não é a graça de Deus e cuja base de ensinamento e doutrina não seja a Bíblia. Assim, tendo sido analisado o que não é uma igreja, é possível buscar uma definição bíblica de igreja.

Laércio Rogge, bacharel em Teologia, em seu trabalho de conclusão de curso, resume a definição de igreja como sendo esta “um grupo de pessoas transformadas por sua fé em Cristo, que vivem para servi-lo e proclamar que Ele é o Salvador e Senhor absoluto”.12 De acordo com esta afirmação, é possível entender a igreja como um conjunto de verdadeiros cristãos que se reúnem com certa frequência para servir a Deus e proclamar sua mensagem. Falcão Sobrinho acrescenta a isto o fato de serem pessoas batizadas que visam amar a Deus e uns aos outros.13 Mas isso pode suscitar uma dúvida: aqueles que não foram batizados, mas já confessaram que Jesus Cristo é seu Senhor e Salvador, não pertencem à igreja? De acordo com Grudem, pertencem, pois segundo ele “a igreja é a comunidade de todos os cristãos de todos os tempos. Essa definição compreende que a igreja é feita de todos os verdadeiramente salvos”.14

No entanto, esta afirmação discorda da ideia de um grupo local de cristãos, uma vez que se trata de todos os verdadeiramente salvos. Sendo assim, a igreja é um conjunto dos seguidores de Cristo de uma

11 MARTINS, J. G. Uma nova criatura em Cristo, p. 8-10. 12 ROGGE, L. A unidade da igreja, p. 61. 13 FALCÃO SOBRINHO, J. A túnica inconsútil, p. 24. 14 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 715.

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14 Cléber Mateus de Moraes Ribas localidade ou o total destes de todo o mundo? Conforme Grudem, as duas afirmações são corretas e ainda mais. Segundo ele,

No Novo Testamento a palavra ‘igreja’ pode ser aplicada a um grupo de cristãos de qualquer tamanho, desde um pequeno grupo que se reúne sempre em uma residência até o grupo de todos os cristãos na igreja universal. A igreja numa casa é chamada ‘igreja’ em Romanos 16.5 (‘saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles’) e 1 Coríntios 16.19 (‘No Senhor, muito vos saúdam Áquila e Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles’.) A igreja de uma cidade inteira é também chamada ‘igreja’ (1Co 1.2; 2Co 1.1 e 1Ts 1.1). A igreja de determinada região é chamada ‘igreja’ em Atos 9.31: ‘A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria’. Finalmente, a igreja do mundo inteiro pode ser chamada ‘a igreja’. Paulo afirma: ‘Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela’ (Ef 5.25), e diz: ‘A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres...’ (1Co 12.28).15

Desta forma, é possível concluir que igreja pode abranger desde uma congregação em uma casa até todos os discípulos de Jesus ao redor do mundo. Em outras palavras, “a comunidade do povo de Deus vista em qualquer nível pode ser corretamente chamada igreja”.16

Há também uma distinção feita por parte da maioria dos teólogos entre igreja universal e local. Isto ocorre porque, segundo grande parte dos autores, o Novo Testamento apresenta o termo ekklesía nestes dois sentidos. Conforme o pastor Zacarias de Aguiar Severa, mestre em Teologia e professor de Teologia Sistemática, “no aspecto universal, igreja significa a totalidade daqueles que em todas as épocas e lugares confessam a Cristo como Senhor e Salvador de suas

15 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 718. 16 Ibidim, p. 718.

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vidas”.17 Assim sendo, ela não estará completa até o fim do julgamento feito por Deus, no final dos tempos.18

Grudem discorda de Severa com relação aos membros da igreja universal, pois segundo ele, estão incluídos nesta lista tanto os salvos do Novo quanto do Antigo Testamento e não somente os que confessaram a Cristo como Senhor e Salvador.19 No entanto, neste trabalho não serão estabelecidos conceitos de igreja universal, uma vez que o interesse maior está na igreja de uma determinada cidade.

Com relação à igreja local, Severa afirma que esta se refere, no Novo Testamento, a um grupo de cristãos em uma determinada localidade geográfica.20 No entanto, segundo ele, hoje o termo se refere a um grupo de cristãos batizados e organizados com a finalidade de adorar a Deus, edificar uns aos outros, evangelizar e servir.21

Assim, é perceptível que não há um consenso entre a maioria dos autores sobre o conceito de igreja local. Segundo o doutor Henry Clarence Thiessen,

No sentido local, a palavra ‘igreja’ é usada para se referir ao grupo dos que professam ser crentes em qualquer lugar. Assim, lemos acerca da Igreja em Jerusalém (Atos 8:1; 11:22), a Igreja em Antioquia (Atos 13:1), a Igreja em Éfeso (Atos 20:170, a Igreja em Cencreia (Rm. 16:1), a Igreja em Corinto (I Co. 1:2; II Co. 1:1), as Igrejas da Galácia (Gl. 1:2), a Igreja dos Laodicenses (Cl. 4:16), a Igreja dos Tessalonicenses (I Ts. 1;1,2; II Ts. 1:1), as Igrejas da Judeia (I Ts. 2:14), e das Igrejas da Ásia (Ap. 1:4). As igrejas locais em conjunto deveriam ser uma réplica fiel

17 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 355. 18 YOUNGBLOOD, R. F. (Ed.). Dicionário ilustrado da Bíblia, p. 681. 19 GRUDEM, W. A. A. Teologia sistemática, p. 715. 20 SEVERA, Z. A.Op. Cit., p. 355. 21 Ibidim, p. 360.

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da igreja verdadeira, a Igreja universal; a maioria delas falha neste aspecto de maneira bem triste.22

Millard Erickson, Ph.D. pela Northwestern University (Estados Unidos) e professor de Teologia Sistemática, concorda com Thiessen, pois, segundo ele, a Bíblia se refere com maior frequência a um grupo de cristãos em uma determinada localidade geográfica, como, por exemplo, em 1 Co 1.2 e 1 Ts 1.1.23

Já o Dicionário ilustrado da Bíblia apresenta a igreja local como sendo o conjunto de cristãos de várias idades presentes em uma única congregação. Ainda segundo ele, a maioria das vezes em que a Bíblia se refere à igreja local é neste sentido.24

Depois da análise do conceito de igreja, surge a questão: como deve ser chamado seu líder? Presbítero, bispo ou pastor? Conforme Severa, “o Novo Testamento chama os líderes principais da igreja de presbíteros (gr. Presbyteros), normalmente traduzido por ‘anciãos’, e bispos (gr. Episkopos). Eles têm a função de apascentar o rebanho (pastor)”.25 Já o termo pastor não aparece designando diretamente o líder eclesiástico no Novo Testamento.26

A predileção por parte da maioria dos evangélicos pelo termo pastor se dá no “fato de a igreja ser chamada de rebanho”,27 pelo papel dos líderes de apascentar este rebanho, pelo fato de Cristo ser chamado

22 THIESSEN, H. C. Palestras em teologia sistemática, p. 292. 23 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 438. 24 YOUNGBLOOD, R. F. (Ed.) Dicionário ilustrado da Bíblia, p. 681. 25 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 376. 26 Ibidim, p. 376. 27 Ibidim, p. 377.

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de pastor e pela ideia de os líderes do povo de Israel serem pastores.28 Severa afirma ainda que

Na verdade, a igreja tem, na mesma pessoa do seu líder, um presbítero, um bispo e um pastor. Presbítero é aquele que preside, governa; bispo quer dizer supervisor de obras; pastor é aquele que apascenta. (...) Como a predileção é pelo nome de ovelhas e rebanhos aplicados aos crentes, o nome pastor tem merecido preferência para designar o seu líder.29

Desta forma, quanto à liderança eclesiástica não há muita divergência. No entanto, ainda há entre o conceito de igreja local. Estas divergências dificultam a busca por uma definição de igreja em âmbito da cidade, uma vez que a igreja local pode ser a da cidade. Ou não necessariamente? Afinal, o que é uma cidade? Este será o conceito apresentado a seguir. Conceito de cidade

Para muitos, esta definição não é muito difícil em um primeiro momento. No entanto, o assunto é um pouco mais complexo do que parece. O geógrafo Paulo Cesar da Costa Gomes, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, cita em sua obra A condição urbana, os antropólogos François Paul-Levy e Marion Segaud para ilustrar o quanto isto é complicado:

Mudar o lugar de uma praça é mudar na cidade ou mudar de cidade? E o que é uma cidade? Lugar de uma coisa, lugares de coisas em um conjunto que as contém, lugar de um conjunto, lugares destes conjuntos; relações entre as coisas, entre lugares das coisas, entre os conjuntos que os contêm; lugares de pessoas, relações de pessoas com as coisas, com os lugares das coisas, entre elas, entre seus lugares, com

28 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 377. 29 Ibidim, p. 377.

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os conjuntos que os contêm, representações destes lugares, destes conjuntos e de suas relações etc.30

Por esta complexidade a que se refere o termo, serão buscados apenas conceitos referentes à cidade no contexto ocidental, uma vez que é nele que está inserido o Brasil. Esta sociedade ocidental tem sua origem na cidade grega – a pólis (po/lij). Ela iniciou um vínculo social, e não apenas familiar, monárquico ou religioso e integrou os indivíduos como “sujeitos de direito, de uma nova associação, fundada na coparticipação de uma soberania política”.31 Conforme o mestre em História Rainer Souza, em seu artigo A formação da pólis grega, “em sua compreensão mais simples, a pólis corresponde às diversas Cidades-Estado que se formaram no território grego entre o final do Período Homérico e o desenvolvimento do Período Arcaico”.32

Anteriormente ao surgimento da pólis, ainda no período homérico, havia a divisão da sociedade grega em genos – clãs familiares com um antepassado em comum, e com um “deus protetor” comumente cultuado. Estes eram chefiados pelos membros mais velhos dos grupos (patriarcas), que concentravam em si “o poder militar, político, religioso e jurídico”.33Os genos eram comunidades economicamente agrícolas e pastoris, sendo a terra explorada coletivamente por todos.34 Quando esse tipo de sociedade

30 PAUL-LEVY, F.; SEGAUD, M. Apud: GOMES, P. C. C. A condição urbana, p. 27. 31 GOMES, P. C. C. A condição urbana, p. 40. 32 SOUZA, R. A formação da pólis grega. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiag/a-formacao-polis-grega.htm>. Acesso em: 22 fev. 2011. 33 A GRÉCIA antiga. Disponível em: <http://www.historiamais.com/grecia.htm>. Acesso em: 22 fev. 2011. 34 Ibidim.

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desfragmentou-se, as cidades-estados começaram a surgir nos lugares mais altos da região. No centro da pólis havia a Acrópole como refúgio e santuário.35

A pólis era economicamente autossuficiente e governada por um rei. Este era “auxiliado por um conselho formado por representantes da aristocracia e uma assembleia popular composta pelos cidadãos, aqueles que tinham direitos políticos”.36 Atenas, Esparta, Tebas, Corinto, Argos, Olímpia, Mégara e Mileto foram as principais cidades-estado gregas.37 A pólis perdeu importância ao longo do domínio romano, mas pelas suas características pode ser considerada sinônimo de cidade.38Aliás, o termo cidade tem origem no radical latino civitas, que é “o lugar em que os homens vivem (...) tendo certos direitos e deveres mutuamente respeitados”.39 É interessante que o termo cidade é derivado do termo latino para designar a pólis.

Sendo assim, de maneira resumida, a pólis grega é a Cidade, entendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos (no grego “politikos”), isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e "iguais" (vale lembrar que nenhum indivíduo da pólis é exatamente ‘igual’ ao outro, porque eles têm diferentes aspirações tanto para si quanto para a cidade, o que muitas vezes levaram a conflitos separatistas ou mesmo emigração para fundação de novas cidades-estados fora dos limites das anteriores).40

35 A GRÉCIA antiga. Disponível em: <http://www.historiamais.com/grecia.htm>. Acesso em: 22 fev. 2011. 36 Ibidim. 37 Ibidim. 38 PÓLIS. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3lis>. Acesso em: 22 fev. 2011. 39 LUCCI, E. A.; BRANCO, A. L. M.; MENDONÇA, C. Geografia geral e do Brasil, p. 254. 40 PÓLIS. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3lis>. Acesso em: 22 fev. 2011.

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A pólis grega era mais que um aglomerado de pessoas em um determinado espaço geográfico. Era também um local onde todos os cidadãos tinham direitos e deveres, além de “voz ativa” nas decisões governamentais.

Atualmente, não há um consenso quanto à definição de cidade. Gomes afirma que ela é um fenômeno de origem político-espacial revelado “em sua dinâmica territorial”.41 Conforme Lúcio Costa, arquiteto responsável pelo Plano Piloto de Brasília, citado pelos geógrafos Lucci, Branco e Mendonça em sua obra conjunta Geografia geral e do Brasil, “a cidade é a ‘expressão palpável da necessidade humana de contato, comunicação, organização e troca – numa determinada circunstância físico-social e num contexto histórico’”.42 Já o sociólogo alemão Louis Wirth afirma que, “para fins sociológicos, uma cidade pode ser definida como um núcleo relativamente grande, denso e permanente, de indivíduos heterogêneos”.43

No entanto, pode ser definida também como uma área urbanizada44 com uma população considerável e atividades mercantis, industriais e culturais.45 Este conceito varia de acordo com o país,46 uma vez que “não existe (...) uma definição internacional única para

41 GOMES, P. C. C. A condição urbana, p. 15. 42 LUCCI, E. A.; BRANCO, A. L. M.; MENDONÇA, C. Geografia geral e do Brasil, p. 254. 43 WIRTH, L. O urbanismo como modo de vida. In: VELHO, O. G. (Org.). O fenômeno urbano, p. 96. 44 SAVOY, I.; FERREIRA, M.; CARREPA, B. MENDONÇA, I. P. (Ed.). Almanaque abril 2003, p. 60. 45 FERREIRA, A. B. H. Minidicionário Aurélio, p. 114. 46 QUE problemas o crescimento das cidades provoca?Disponível em: <http://www.klickeducacao.com.br/2006/materia/16/display/0,5912,POR-16-47-641-,00.html>. Acesso em: 25 jan. 2011.

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zona urbana”.47 A maioria dos países adota o critério populacional, sendo que só é considerada cidade a localidade com um número determinado de habitantes. Isto acontece no Canadá e na Escócia, onde o número é de cem habitantes, e na Holanda, onde é preciso cinco mil habitantes para que a localidade seja considerada uma cidade.48 Já no Brasil, as cidades geralmente são sedes de municípios, podendo surgir de maneira natural (cidade espontânea), ser resultado do pioneirismo (cidades pioneiras) ou podem ter um prévio planejamento ou finalidade (cidades criadas).49 A ideia de a cidade ser a sede municipal também é apresentada por José Roberto Ferreira, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em sua obra O município em debate,50 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística51 e pelo Almanaque Abril.52

Muitas pessoas confundem a cidade com o município. No entanto, como anteriormente apresentado, estes são diferentes. O município é composto por uma zona urbana e uma rural.53 A zona urbana é composta pela cidade e pelas vilas,54 que são sedes

47 SAVOY, I.; FERREIRA, M.; CARREPA, B. MENDONÇA, I. P. (ed.). Almanaque abril 2003, p. 59. 48 QUE problemas o crescimento das cidades provoca? Disponível em: <http://www.klickeducacao.com.br/2006/materia/16/display/0,5912,POR-16-47-641-,00.html>. Acesso em: 25 jan. 2011. 49 PENNA, L. A. (Coord.). Enciclopédia PEON, p. 104-105. 50 FERREIRA, J. R. M. O município em debate, p. 15. 51 MAPA do mercado de trabalho no Brasil 1992-1997. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mapa_mercado_trabalho/notastecnicas.shtm>. Acesso em: 25 jan. 11. 52 SAVOY, I.; FERREIRA, M.; CARREPA, B. MENDONÇA, I. P. (Ed.). Op. Cit., p. 59. 53 FERREIRA, J. R. M. Op. Cit., p. 15. 54 Ibidim, p. 15.

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22 Cléber Mateus de Moraes Ribas distritais.55 Há ainda os chamados espaços periurbanos, que são áreas rurais com características urbanas.56 Segundo Ferreira, “no Brasil, a população urbana é maior que a rural”.57

O município é a menor unidade hierárquica na “organização político-administrativa do país”,58 sendo assim, “uma divisão administrativa do estado, com território, governo, leis e recursos próprios”.59 No Brasil, há conjuntos de municípios que formam as metrópoles (uma cidade central que polariza política, econômica e culturalmente uma região cercada de outras cidades) e as megalópoles (conjunto de duas ou mais metrópoles).60 Há ainda as chamadas cidades globais, que funcionam como centros de decisões com influência internacional.61

Assim, é possível entender a cidade, no Brasil, como sendo um espaço de características puramente urbanas e que sedia política e administrativamente um município. Mas, será que ela pode ser entendida tão somente desta forma? Será que ela não é algo mais complexo que isto? Robert Ezra Park, sociólogo norte americano, acredita que sim. Segundo ele,

a cidade é algo mais do que um amontoado de homens individuais e de conveniências sociais, ruas, edifícios, luz elétrica, linhas de bonde, telefones, etc.; algo mais também do que uma mera constelação de

55MAPA do mercado de trabalho no Brasil 1992-1997. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mapa_mercado_trabalho/notastecnicas.shtm>. Acesso em: 25 jan. 11. 56 SAVOY, I.; FERREIRA, M.; CARREPA, B. MENDONÇA, I. P. (Ed.). Almanaque abril 2003, p. 60. 57 FERREIRA, J. R. M. O município em debate, p. 17. 58 SAVOY, I.; FERREIRA, M.; CARREPA, B. MENDONÇA, I. P. (Ed.). Op. Cit., p. 60. 59 FERREIRA, J. R. M. Op. Cit., p. 11. 60 SAVOY, I.; FERREIRA, M.; CARREPA, B. MENDONÇA, I. P. (Ed.). Op. Cit., p. 60. 61 Ibidim, p. 60.

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instituições e dispositivos administrativos – tribunais, hospitais, escolas, polícia e funcionários civis de vários tipos. Antes, a cidade é um estado de espírito, um corpo de costumes e tradições e dos sentimentos e atitudes organizados, inerentes a esses costumes e transmitidos por essa tradição. Em outras palavras, a cidade não é meramente um mecanismo físico e uma construção artificial. Está envolvida nos processos vitais das pessoas que a compõem; é um produto da natureza, e particularmente da natureza humana.62

Sendo assim, a cidade deve ser entendida como a sede de um município, mas não somente isto. Ela é composta por pessoas com costumes, tradições e sentimentos próprios. Um espaço social cujo centro não são os prédios, empresas ou indústrias, mas a população que nela reside. Neste contexto estão as igrejas da cidade, que a partir destes conceitos podem ser chamadas igrejas urbanas, uma vez que a cidade é um fenômeno puramente urbano. É preciso ressaltar que neste trabalho será estudada a unidade entre líderes destas igrejas. Mas, para que esta unidade seja alcançada, primeiro ela precisa ser devidamente entendida, e por isso este será o conceito analisado a seguir. Conceito de unidade cristã

Conforme o Dicionário ilustrado da Bíblia, singularidade, harmonia e acordo são sinônimos de unidade.63 Embora a unidade cristã seja um fato, estes sinônimos não condizem com a situação demonstrada pela igreja contemporânea, inclusive na igreja urbana, uma vez que há tantas denominações, divisões e diferenças doutrinárias. No entanto, ainda segundo o dicionário, “a igreja é uma

62 PARK, R. E. A cidade. In: VELHO, O. G. (Org.). O fenômeno urbano, p. 26. 63 YOUNGBLOOD, R. F. (Ed.). Dicionário ilustrado da Bíblia, p. 1434.

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24 Cléber Mateus de Moraes Ribas unidade de fé, esperança e amor que une os crentes (Ef 4.3, 13)”.64 A unidade cristã não é uma utopia teológica, mas uma realidade difícil de compreender.

O pastor Ray Stedman explica que em 1 Co 3, Paulo não manda os cristãos produzirem uma unidade, mas orienta-os a se esforçarem em conservar a unidade já existente.65 Ela existe “por força da pura e simples existência da igreja. Não há necessidade de criá-la,”66 pois homem nenhum pode fazê-lo, visto que é produzida pelo próprio Espírito Santo.67 Ao homem cabe apenas preservá-la.68 Segundo o doutor Bruce Milne, professor de Teologia Bíblica e Histórica no Spurgeon’s College (Inglaterra), todos os verdadeiramente cristãos são um único povo.69 Esta unidade no Espírito de homens e mulheres regenerados por Deus é um fato que independe da aparente desunião entre as muitas denominações.70

Assim sendo, há uma unidade entre os verdadeiros cristãos de todo mundo, independente da denominação a que pertencem. Sobre isto, Stedman afirma que

não podemos classificar os cristãos segundo organizações. Não podemos dizer que todos os católicos são cristãos ou que todos os batistas o sejam. (...) o Espírito de Deus sempre ultrapassará divisões humanas. A unidade do Espírito será encontrada em pessoas de muitos grupos diferentes, e nós temos que aceitar esse fato. Encontraremos verdadeiros cristãos por toda parte, e é nossa responsabilidade manter

64 YOUNGBLOOD, R. F. (Ed.). Dicionário ilustrado da Bíblia, p. 1434. 65 STEDMAN, R. G. A igreja, p. 29. 66 Ibidim, p. 29. 67 Ibidim, p. 29. 68 Ibidim, p. 29. 69 MILNE, B. Estudando as doutrinas da Bíblia, p. 222. 70 Ibidim, p. 223.

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a unidade do Espírito com eles no vínculo da paz, onde quer que estejam.71

Qualquer cristão que entra em contato com outros em lugares distantes no mundo reconhece esta unidade. Apesar das diferentes posições teológicas e denominacionais, a unidade em Cristo sempre fica aparente, existindo entre os cristãos um sentimento de pertencimento mútuo. A unidade cristã é perceptível nestes casos, até mesmo quando há uma negação de sua existência.72

Porém, negá-la é um erro! Da mesma forma, é um equívoco basear-se na sua existência independente dos cristãos, para concordar com a aparente desunião entre eles.73 Para Falcão Sobrinho, “unir-se a outras igrejas em amor, refletindo o amor de Deus, é da natureza da Igreja. Isolamento é enfermidade e morte, tanto para o crente individualmente, quanto para a Igreja, pois é a negação de sua própria natureza”.74 Grudem afirma que esta unidade é frequentemente perceptível através da cooperação entre grupos cristãos e de organizações interdenominacionais.75

No entanto, esta unidade, por ser obra de Deus, não pode ser contrária à Sua Palavra. O reconhecimento e a comunhão entre denominações são importantes, mas o cristão e a congregação devem zelar por suas convicções acerca das Escrituras e com relação ao cumprimento da missão dada a eles por Deus.76 Em Filipenses, Paulo recomenda aos cristãos desta cidade que busquem uma unidade, mas 71 STEDMAN, R. G. A igreja, p. 39. 72 Ibidim, p. 31. 73 STOTT, J. R. W. A mensagem de Efésios, p. 109. 74 FALCÃO SOBRINHO, J. A túnica inconsútil, p. 115. 75 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 737. 76 ROGGE, L. A unidade da igreja, p. 36.

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26 Cléber Mateus de Moraes Ribas não os orienta a buscarem a qualquer preço a ponto de comprometer verdades inegociáveis do cristianismo, nem tampouco afastar-se daqueles que discordam em pontos não tão claros da Palavra. Eles devem buscar manter, porém, uma unidade “nas coisas essenciais do evangelho, ‘firmes... lutando juntos pela fé evangélica’ ([capítulo 1] versículo 27, ARA)”.77

Esta unidade da igreja, criada por Deus, também não pode ser confundida com uma uniformidade. Conforme Severa, “a igreja, em essência é uma só (...). Ser um em essência não significa ser uniforme. No Novo Testamento as igrejas locais não eram assim. Havia, entre elas, aspectos diferentes no culto, no governo, na doutrina”.78 Para Milne, entre os cristãos do Novo Testamento “embora houvesse uniformidade nas convicções teológicas básicas (1 Co15:11, BLH; Jd 3), a fé comum recebia ênfases diversas, segundo as diferentes necessidades percebidas pelos apóstolos”.79 Grudem afirma que

Os autores do Novo Testamento provavelmente também considerariam trágico o fato de que a maioria das divisões entre os protestantes ocorreram ou são mantidas hoje por causa de diferenças sobre as doutrinas menos enfatizadas e pouco claras do Novo Testamento, tais como a forma de governo da igreja, a natureza exata da presença de Cristo na ceia do Senhor e os detalhes do fim dos tempos.80

A igreja não é essencialmente um grupo de cristãos concordantes em construir um corpo. Pelo contrário, são pessoas diferentes que demonstram esta diversificação, mas que estão unidas por meio de

77 STOTT, J. R. W. A verdade do evangelho, p. 131. 78 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 362. 79 MILNE, B. Estudando as doutrinas da Bíblia, p. 222. 80 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 743.

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Cristo, e apenas por meio dele.81 No entanto, muitos que se denominam cristãos, assim como muitos grupos chamados de “igreja”, de fato não o são. Desta forma, não se deve buscar “uma unidade organizacional ou funcional que inclua todas essas pessoas nem trabalhar por isso; nunca haverá unidade de todas as igrejas que se denominam ‘cristãs’”.82 Não se deve confundir unidade cristã com ecumenismo, pois estes são essencialmente diferentes. Enquanto que a unidade foi criada e é sustentada única e exclusivamente por Deus, o outro é uma organização fundada e sustentada por homens.83 Conforme Stedman, os ecumênicos desejam conseguir uma igreja universal, apagando quaisquer diferenças entre as denominações.84

Os cristãos podem trabalhar e agir em conjunto com os incrédulos e falsos cristãos em algumas áreas. Eles não devem se afastar das outras pessoas por estas não participarem da mesma fé em Cristo. Mas, na área da evangelização isto não é possível, uma vez que muitos chamados cristãos não compreendem a mensagem de salvação da mesma maneira. Isto seria incompatível.85 Da mesma forma, é possível entender isto com relação a outras questões de extrema importância, como, por exemplo, o culto, uma vez que nem todos os grupos que se dizem cristãos adoram o mesmo Deus.86

Sendo assim, a unidade cristã pode ser definida como um vínculo invisível e às vezes visível entre verdadeiros cristãos, que professam as

81 SHELLEY, B. L. A igreja, p. 38. 82 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 734. 83 SEVERA. Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 62. 84 STEDMAN, R. G. A igreja, p. 27. 85 Ibidim, p. 39. 86 Veja a definição de seita na página 12.

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28 Cléber Mateus de Moraes Ribas mesmas verdades bíblicas absolutas, mas que podem divergir em alguns pontos doutrinários não tão claros na Bíblia. Este vínculo não foi criado por homens e tampouco é mantido pelos mesmos. Pelo contrário, é uma obra divina, que é mantida por Ele. Uma unidade em amor, no Espírito.

Semelhantemente, a unidade entre lideranças da igreja urbana deve ser uma unidade em amor, no Espírito. Uma entidade ecumênica entre líderes não é algo a se buscar, mas a verdadeira unidade deve ser prezada. Qualquer tentativa de unidade entre estes deve ser baseada na certeza de que eles lideram uma igreja verdadeira. Por isso, a base para a busca de uma unidade entre a liderança da igreja urbana deve ser a Palavra de Deus. Deve haver diversidade no que não é um absoluto, mas um mesmo credo no que é claro e inegociável nas Sagradas Escrituras. Se não houver consenso no que é indiscutível, não haverá unidade. Desta forma, no próximo capítulo serão apresentados alguns absolutos da fé cristã, ou seja, questões teológicas indiscutíveis e inegociáveis para qualquer pessoa que se chame pelo nome de cristão.

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29 Unidade entre líderes da igreja da cidade

CAPÍTULO 2: ABSOLUTOS DA FÉ CRISTÃ

Para que se busque a preservação da unidade cristã entre líderes na igreja urbana, é necessário que se tenha um consenso entre as questões do cristianismo que são inegociáveis. O renomado teólogo inglês John Stott, autor de inúmeros livros, afirma que todos os cristãos devem buscar uma expressão visível da unidade cristã já existente, sem, no entanto, sacrificar as verdades fundamentais do cristianismo para isto.87 É possível denominar estas verdades como absolutos da fé cristã, os quais serão citados a seguir. O único Deus

A primeira grande verdade do cristianismo que o líder cristão não pode abrir mão é que o Deus da Bíblia é o único e verdadeiro Deus. Segundo Severa, “o caráter da nossa religião e a firmeza da nossa teologia dependem da compreensão que temos de Deus”.88

87 STOTT, J. R. W. A mensagem de Efésios, p. 110. 88 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 45.

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30 Cléber Mateus de Moraes Ribas

A Bíblia afirma que Deus não é somente um, mas o único, sendo que não pode haver mais de um ser infinito e perfeito.89 Deus é um ser único em essência, mas existente em três pessoas “distintas e coiguais, manifestas no Pai, no Filho e no Espírito Santo”.90 Segundo Stott,

A unidade cristã tem a sua origem em possuirmos um só Pai, um só Salvador, e um só Espírito que habita em nós. Não podemos, portanto, de modo algum, acalentar uma unidade agradável a Deus se negarmos a doutrina da Trindade ou se não tivermos chegado a conhecer Deus Pai através da obra reconciliadora do seu Filho Jesus Cristo e pelo poder do Espírito Santo.91

Sendo assim, a Trindade é manifesta aos homens nas pessoas do Pai, do Filho (Jesus Cristo), e do Espírito Santo.

Deus Pai A primeira pessoa da trindade é o Pai, cuja deidade pouco se

discute.92 Segundo Severa, no Antigo Testamento, a referência a Deus como Pai era bastante incomum, uma vez que havia o risco de os israelitas confundirem Iavé com os deuses tidos como pais pelos pagãos. Já no Novo Testamento o termo, com referência a Deus, é muito usado, como quando é chamado de Pai da glória (Ef 1.17), das luzes (Tg 1.17) e de todos (Ef 4.6). Além disso, Jesus utilizou esta expressão com referência a Deus cerca de 170 vezes.93 Stott afirma que “quando Jesus veio esse título se tornou mais pessoal e mais íntimo.

89 THIESSEN, H. C. Palestras em teologia sistemática, p. 86. 90 SEVERA, Z. A. SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 85. 91 STOTT, J. R. W. A mensagem de Efésios, p. 110. 92 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 129. 93 SEVERA, Z. A. Op. Cit., p. 92.

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31 Unidade entre líderes da igreja da cidade

(...) Ele não só usou esse nome para Deus como nos deu permissão para que fizéssemos o mesmo”.94

No entanto, Deus não é o Pai de toda a humanidade indiscriminadamente.95 Este título é peculiar ao cristianismo, como referência a Deus.96 Ele é, com certeza, o Criador de todas as pessoas, mas em seus escritos Paulo e João deixam claro que uma pessoa só pode se tornar filha de Deus mediante a fé no Filho unigênito, Jesus Cristo.97

O título Pai “indica que Ele é a fonte de procedência de todas as coisas, e por isso ocupa o primeiro lugar na Trindade”.98 Ou seja, o Pai, apesar de ser igual às outras pessoas da trindade em seus atributos99, difere-se delas na sua relação com a criação e a redenção, nas quais Ele teve o papel de “planejar, dirigir e enviar o Filho e o Espírito Santo”.100

Quanto à sua existência, Leon Morris, um dos mais respeitados especialistas evangélicos em Novo Testamento, afirma que “o Pai ‘tem vida em si mesmo’ ([Jo] 5.26)”.101 Isto não significa que Ele simplesmente está vivo. Ao contrário dos seres humanos, cuja

94 STOTT, J. R. W. Firmados na fé, p. 98. 95 Ibidim, p. 98. 96 Ibidim, p. 98. 97 Ibidim, p. 98. 98 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 92. 99 Os atributos são as qualidades ou características de Deus permanentes, inseparáveis e que não podem ser contraditórias entre si. Eles permitem aos homens que conheçam, dentro de suas limitações e do que lhes é revelado, o Ser de Deus. Por sua vez, a soma destes não constitui o Ser de Deus. 100 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 184. 101 MORRIS, L. Teologia do Novo Testamento, p. 303-304.

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32 Cléber Mateus de Moraes Ribas existência do mundo não depende de suas vidas, a vida do Pai é essencial ao seu Ser, isto é, a única vida realmente necessária.102

Deus Filho Deus é, portanto, Pai. Mas, é também Filho. Jesus é o Filho de

Deus, ou seja, a segunda pessoa da trindade. Conforme Severa, em Cristo estão unidas tanto a natureza divina, quanto a humana e, apesar de não ser possível explicar com exatidão como isto acontece, os cristãos devem crer que isto é uma verdade, uma vez que é o testemunho bíblico acerca de Jesus.103

Conforme Henry Thiessen, a Escritura afirma que Jesus nasceu e desenvolveu-se (da infância à idade adulta) como todos os homens. Em sua encarnação, possuía claramente uma concepção humana, com corpo, alma e espírito. Ele teve nome humano e foi chamado várias vezes de homem. Teve fraquezas humanas como cansaço, fome e tentação, ainda que em momento algum tenha pecado.104 Severa afirma que, “embora fosse humano, ele estava livre da depravação moral provocada pela queda (Hb 4.15; 7.26; 2 Co 5.21) e de qualquer transgressão pessoal”.105

Isso porque, além de homem, ele também é Deus. Ainda segundo Thiessen, a Bíblia afirma que Cristo possui atributos exclusivamente divinos. Ele teve cargos e privilégios divinos, foi adorado ainda em vida e aceitou a adoração, consciente de ser a encarnação de Deus, tendo inclusive se apresentado desta forma. Além disso, algumas atribuições exclusivas a Deus no Antigo Testamento lhe foram feitas no Novo

102 MORRIS, L. Teologia do Novo Testamento, p. 303-304. 103 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 235-236. 104 THIESSEN, H. C. Palestras em teologia sistemática, p. 213-216. 105 SEVERA, Z. A. Op. Cit., p. 230.

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33 Unidade entre líderes da igreja da cidade

Testamento e alguns nomes divinos lhe foram dados.106Assim sendo, pode-se afirmar “que as duas naturezas estão presentes e unidas em Jesus, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação, conservando, cada qual a sua própria especificidade”.107 É graças a esta união que Jesus pode ser o único mediador entre Deus e os homens.108

Como Deus, Jesus sempre existiu. Como homem, Ele nasceu da mesma forma que os outros homens. No entanto, sua concepção não se deu da mesma forma. A Bíblia afirma que “Jesus foi concebido no ventre de sua mãe, Maria, por obra miraculosa do Espírito Santo e sem um pai humano”.109 Esta certeza é extremamente necessária a quem afirma ser cristão, uma vez que se alguém confessa algo contrário, está apenas testemunhando acerca de sua “própria incredulidade no Deus da Bíblia”.110

Mas, o maior milagre realizado na pessoa de Jesus foi sua morte e ressurreição. Cleison Mlanarczyki, pastor batista e mestre em Teologia, afirma que “a morte de Jesus é o caminho para o maior dentre todos os milagres: o poder de morrer. Se a morte humana é sinal de fraqueza, a morte de Jesus é sinal de obediência”.111 Sua morte é fundamental na crença cristã112 e, portanto, esta não pode ser desvinculada daquela. Isto faria com que o cristianismo fosse reduzido

106 THIESSEN, H. C. Palestras em teologia sistemática, p. 216. 107 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 235-236. 108 Ibidim, p. 236. 109 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 435. 110 Ibidim, p. 437. 111MLANARCZYKI, C. Atributos de Deus, slide 36. 112 THIESSEN, H. C. Op. Cit., p. 225.

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34 Cléber Mateus de Moraes Ribas a uma religião étnica, com padrões éticos elevados, mas ainda assim sem mais formas de salvação do que estas religiões.113 Segundo Severa,

Jesus sofreu a pena da lei imposta sobre o pecado do homem, que é a morte (Ez 18. 4,20; Rm 3.23; 6.23). Ele foi um substituto nosso na morte (2 Co 5.14,15; Gl 4.4,5), e, por ele somos justificados da condenação da lei (Rm 6.14; 7.4-6).114

No entanto, ele não permaneceu morto. Ele ressuscitou ao terceiro dia após sua morte. Crer nesta verdade é também algo fundamental para a fé cristã e para a salvação (Rm 10.9-10).115 Cristo, após ter ressuscitado, esteve com seus discípulos até que foi assunto aos céus. Isto significa que Jesus voltou ao céu em Seu corpo ressurreto, e foi exaltado pelo Pai, que lhe deu posição de honra e poder à Sua direita.116 Ou seja, de acordo com Severa,

depois de provar e vencer a morte, Cristo foi glorificado, retornando ao seu estado de glória eterna (Jo 17.5), e assentado sobre o trono do universo junto com o Pai, deixando preparado o caminho para a glorificação dos que o seguem. Ele é, para sempre, Deus homem (glorificado) (Hb 7.24-28).117

Sendo assim, “a lógica nos impele a concluir que ou Ele é o que sabia ser o que dizia ser, ou então não é digno de qualquer tipo de reconhecimento”.118

Deus Espírito Santo Jesus não somente fez afirmações verdadeiras como era e é a

própria verdade (Jo 14.6). Ele ensinou a seus discípulos sobre o Pai, 113 THIESSEN, H. C. Palestras em teologia sistemática, p. 225. 114 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 248. 115 THIESSEN, H. C. Op. Cit., p. 238. 116 Ibidim, p. 243. 117 SEVERA, Z. A. Op. Cit., p. 236. 118 THIESSEN, H. C. Op. Cit., p. 93.

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sobre si mesmo e também sobre a terceira pessoa da trindade, o Espírito Santo (Jo 14.16-17; 15.26; 16.13). No entanto, as afirmações da divindade do Espírito não ficam restritas às declarações de Jesus. A Bíblia toda testemunha acerca Dele como um membro da trindade, com a mesma natureza das outras pessoas, sendo da mesma forma digno da adoração, do amor e do louvor dos cristãos.119 Conforme Grudem,

Uma vez que entendamos que Deus Pai e Deus filho são plenamente Deus, então as expressões trinitárias em versículos como Mateus 28.19 (‘batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo’) se revestem de relevância para a doutrina do Espírito Santo, pois mostram que o Espírito Santo está classificado no mesmo nível do Pai e do Filho. Isso se verifica quando percebemos quão impensável seria que Jesus dissesse algo como ‘batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do arcanjo Miguel’, dando a um ser criado uma posição totalmente descabida, mesmo para um arcanjo.120

Cristo ensinou que o Espírito age na vida do cristão, tanto em sua conversão, quanto em sua regeneração.121 Ele passa a habitar nos convertidos, levando-os a “toda verdade, como Jesus prometeu (Jo 16.13,14)”.122 Desta forma, é possível entender o Espírito como a manifestação da trindade mais pessoal para os cristãos desta época. Segundo Erickson,

O Espírito Santo é o ponto em que a Trindade torna-se pessoal para o que crê. Em geral, pensamos no Pai como alguém transcendente e bem longe, no céu; de forma semelhante, o Filho parece muito distante na história e, portanto, relativamente incognoscível. Mas o Espírito Santo é

119 MILNE, B. Estudando as doutrinas da Bíblia, p. 183. 120 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 173. 121 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 355. 122 Ibidim, p. 356.

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36 Cléber Mateus de Moraes Ribas

ativo dentro de nós. O Espírito Santo é a pessoa específica da Trindade por meio de quem toda a Divindade Triúna atua em nós.123

É Ele quem “aplica na vida do indivíduo a salvação e conduz o crente até alcançar a estatura completa de Cristo”.124Além disso, concede “certos dons especiais aos crentes dentro do corpo de Cristo”.125

Assim, é possível resumir a obra do Espírito Santo no cristão com a

seguinte afirmação de Severa:

O Espírito Santo trabalha no indivíduo regenerado no sentido de torná-lo mais e mais semelhante a Cristo, alvo e padrão de todos os salvos. Ele fortalece a nova vida íntima do crente (Ef 3.16), para combater contra as paixões da carne (Rm 8.6-9, 11, 13; Gl 5.16-26), vencer as tentações e desenvolver a sua vida cristã. Enfim, Ele promove a santificação progressiva no crente (2 Co 3.18), e desenvolve nele o caráter cristão perfeito, refletido no ‘fruto do Espírito’ (Gl 5.22,23).126

Deus é, portanto, um Ser único, existente nas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Estas pessoas são iguais, mas suas manifestações com relação à humanidade são diferentes. O Pai enviou seu Filho para que este morresse no lugar de homens pecadores e, quando estes creem em Seu sacrifício, o Espírito Santo passa a habitar neles. O homem

O Deus trino não precisava de ninguém além de si mesmo. Não precisava de homem algum, nem tampouco criar, se manifestar ou

123 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 344. 124 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 331. 125 ERICKSON, M. J. Op. Cit., p. 357. 126 SEVERA, Z. A. Op. Cit., p. 333.

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37 Unidade entre líderes da igreja da cidade

morrer por ele. Mas, ele criou a humanidade, se revelou a ela em sua linguagem limitada e, por fim, o Filho morreu por ela. Qualquer pessoa que se apresente como cristão deve estar ciente de que os homens são obras de Deus, são pecadores e precisam de salvação. Isto também é inegociável na fé cristã.

Homem criado As Escrituras afirmam que Deus criou o homem, formando-o do

pó da terra. Seu corpo físico foi criado desta forma, mas seu espírito foi feito pelo sopro de Deus.127 Severa afirma que ele não é apenas uma simples criação de Deus, mas uma criação especial. Ele pertence ao mundo físico, mas também ao espiritual.128 Segundo Thiessen, o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, porém, não no sentido físico, e sim no sentido mental, moral e social. Deus não possui partes de corpo físico e por isso o homem não pode ter a imagem física Dele. O homem pode conhecer e pensar, assim como Deus, portanto é semelhantemente mental. Ele é um ser moral, pois foi criado reto e bom, e Deus é quem tem estas qualidades de forma perfeita. É também um ser social que procura viver em comunidade, assim como Deus, que é três pessoas vivendo em plena harmonia e unidade.129

Toda a humanidade descende de um único homem, a saber, Adão.130 Conforme Erickson, este representou, antes da queda, o verdadeiro homem, que surgiu diretamente das mãos de Deus e que não havia sido maculado pelo pecado. Assim sendo, é possível afirmar que “os únicos seres humanos verdadeiros foram Adão e Eva antes da

127 THIESSEN, H. C. Palestras em teologia sistemática, p. 150. 128 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 187. 129 THIESSEN, H. C. Op. Cit., p. 150-152. 130 SEVERA, Z. A. Op. Cit., p. 170.

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38 Cléber Mateus de Moraes Ribas queda, e Jesus. Todos os outros são exemplares deformados, distorcidos, corrompidos da humanidade”.131 No entanto, mesmo sendo o ponto alto da criação e superiores às outras criaturas, eles desejaram ser como Deus e assim, buscando serem superiores e insubordinados a Deus, “caíram a uma posição inferior e descobriram que todos os seus relacionamentos se deterioraram”.132

Portanto, todos os homens são criaturas de Deus, descendentes de Adão e Eva. C. S. Lewis, escritor cristão, em sua famosa obra As crônicas de Nárnia, afirma que esta descendência

É honra suficientemente grande para que o mendigo mais miserável possa andar de cabeça erguida, e também vergonha suficientemente grande para fazer vergar os ombros do maior imperador da Terra.133

Homem pecador Milne, em sua obra Estudando as doutrinas da Bíblia, afirma que

A Escritura ensina duas coisas fundamentais sobre a humanidade. Primeiro, somos criaturas de Deus, feitas à sua imagem; não somos um acidente cósmico, nem uma cifra burocrática. (...) Segundo, somos pecadores, afastados de Deus e de seu desígnio para nós, vivendo em rebelião implícita e explícita contra ele.134

As Escrituras afirmam que toda a humanidade possui uma natureza corrompida, sendo que todos os homens são culpados perante Deus devido ao pecado de Adão.135 No entanto, todos serão julgados segundo suas próprias obras pecaminosas, e não segundo o pecado dele.136 Conforme Erickson, o homem torna-se culpado pelo 131 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 215. 132 MANUAL Bíblico SBB, p. 109. 133 LEWIS, C. S. As crônicas de Nárnia, p. 394. 134 MILNE, B. Estudando as doutrinas da Bíblia, p. 118. 135 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 270. 136 MILNE, B. Op. Cit., p. 109.

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pecado ao aceitar ou aprovar a sua natureza corrompida.137 O pecado é algo universal aos seres humanos (Rm 3.10), sendo que, como apresentado anteriormente, Jesus foi o único que nunca teve pecado (Hb 4.15).138

Mas, o que é o pecado? De acordo com Erickson, Pecado é uma inclinação interior. Pecado não é simplesmente atos errados, mas também pecaminosidade. É uma disposição interior inerente que nos inclina para atos errados. (...) Não é simplesmente que somos pecadores porque pecamos; pecamos porque somos pecadores.139

Ainda segundo ele, o pecado ocorre não apenas pelo desejo e pela tentação natural, mas necessita de uma ocasião para que aconteça. Adão, por exemplo, jamais seria tentado a adulterar enquanto apenas ele e Eva existissem. Ela, por sua vez, não sentiria ciúmes de Adão. Para os que vivem após a queda há ainda outra grande influência sobre suas ações, o que a Bíblia chama de “carne”.140 Assim, o pecado afeta os relacionamentos do pecador com Deus e com o restante da humanidade, bem como a si próprio. As consequências podem ser automáticas (causa e efeito) e até mesmo “especificamente ordenadas ou dirigidas por Deus, como penalidade pelo pecado”.141

A principal penalidade divina pelo pecado é a morte eterna. A pessoa que chegou à morte física ainda espiritualmente morta, ou seja, sem ter sido regenerada por Deus, permanecerá neste estado

137 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 270. 138 MILNE, B. Estudando as doutrinas da Bíblia, p. 107. 139 ERICKSON, M. J. Op. Cit., p. 238. 140 Ibidim, p. 243. 141 Ibidim, p. 246.

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40 Cléber Mateus de Moraes Ribas eternamente.142Assim, ela é a separação completa da pessoa em relação a Deus, sendo que, como Ele é santo, não pode conviver em harmonia com o pecado.143 Por isso, as pessoas condenadas a esta morte passarão a eternidade no inferno144. Conforme Severa,

O inferno é a negação de todo o bem que as pessoas almejam e necessitam. É a negação completa do gozo e da felicidade. (...) Aqui na terra os ímpios recebem as bênçãos da graça comum junto com os salvos. Mas no inferno, nada bom existe, porque é o lugar da ausência de Deus.145

Portanto, todos os homens são indesculpáveis e estão condenados ao inferno por sua natureza corrompida e por seus próprios atos pecaminosos. Como é possível, então, que alguém não seja punido? Há uma cura para o pecado e seus efeitos? Segundo Erickson

A cura precisa vir por meio de uma mudança produzida sobrenaturalmente na natureza humana e também por meio da ajuda divina para fazer frente à força da tentação. É a conversão e a regeneração individual, que modificarão a pessoa, levando-a a um relacionamento com Deus, tornando possível uma vida cristã bem-sucedida.146

Homem que precisa de salvação O homem precisa ser resgatado de sua condição pecaminosa.

Esta salvação provém de Deus (Ef 2.8). Severa afirma que O homem é incapaz de operar a sua própria salvação, embora ele tenha de participar pessoalmente, movido por Deus, reagindo favoravelmente à ação redentora de Deus. Portanto, antes que o

142 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 253. 143 Ibidim, p. 253. 144 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 473. 145 Ibidim, p. 474. 146 ERICKSON, M. J. Op. Cit, p. 244.

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pecador possa responder ao chamado para a salvação, Deus já tomou a iniciativa de salvá-lo.147

Por estar espiritualmente morto, o ser humano não pode salvar a si mesmo.148 É impossível a algo morto dar vida a si mesmo por conta própria, por isso a “salvação é a vida espiritual que vem de fora para o homem”.149 Ela ocorre por intermédio da graça de Deus,150 “manifestada em Cristo Jesus”.151 Fora Dele ela é insuficiente para a salvação, uma vez que “ficaria desprovida do fundamento de justiça (Rm 3.25,26)”.152

Um grande empecilho para a salvação do homem é seu próprio orgulho. Para crer na mensagem da cruz é necessário que ele reconheça que precisa de um salvador. Stott afirma que “nada nos distancia mais do reino de Deus do que o nosso orgulho e a nossa autossuficiência”.153 Ainda segundo ele,

assim como não vamos ao médico a não ser que estejamos doentes e admitamos isso, também não iremos a Cristo a não ser que sejamos pecadores e admitamos essa realidade. A recusa orgulhosa de reconhecer isso já manteve mais gente fora do Reino de Deus do que qualquer outra coisa. Nós temos de humilhar-nos e admitir que salvar a nós mesmos é algo impossível.154

Sendo assim, a salvação é obra de Deus em um coração humilde, ciente de sua situação perdida e que admite esta realidade. Este é o

147 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 258. 148 Ibidim, p. 262. 149 Ibidim, p. 262. 150 Ibidim, p. 256. 151 Ibidim, p. 257. 152 Ibidim, p. 257. 153 STOTT, J. R. W. Por que sou cristão, p. 135. 154 Idem. Firmados na fé, p. 35.

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42 Cléber Mateus de Moraes Ribas primeiro passo do homem para obter a salvação. Mas, a salvação não é um evento isolado na vida do indivíduo. Segundo Severa,“a salvação pode ser considerada como um ato, um processo em andamento, e uma consumação. Desta forma, o cristão é alguém que está salvo, vai sendo salvo e será salvo no futuro”.155 Após o ato, segue-se o processo de salvação, ou seja, a vida com Deus. A vida com Deus

Por meio da salvação em Cristo uma nova vida inicia. Ela deve estar centrada na Bíblia e em uma constante busca por uma conduta condizente com o nome “cristão”. Ela também é o princípio da vida eterna do cristão, que será consumada futuramente.

Palavra de Deus A Bíblia deve ser a base para a conduta do cristão. Ele deve ser

obediente e fiel à Escritura, pois não fazê-lo é ser desleal com o Senhor a que afirma servir.156 No entanto, esta obediência e fidelidade não devem ocorrer apenas em relação a uma parte da Palavra. Ela deve ser crida e obedecida em sua totalidade, pois é instrução, ordem e promessa vinda da parte de Deus.157 Ela é a revelação dada por Deus aos homens, expressa na sua própria linguagem.158 Ele testemunha sobre si mesmo, através dela.159 Quando interpretada da forma devida, a Bíblia “é plenamente confiável em todos os seus ensinos. Ela é uma

155 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 272. 156 GEISLER, N. (Org.). A inerrância da Bíblia, p. 543. 157 Ibidim, p. 544-545. 158 STOTT, J. R. W. A verdade do evangelho, p. 49. 159 GEISLER, N. (Org.). Op. Cit., p. 544.

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autoridade certa, fidedigna e veraz”.160 Sua autoridade é divina e, por isso, ela é infalível.161

A Bíblia foi escrita na linguagem humana por homens inspirados por Deus. Conforme Erickson,

Por inspiração das Escrituras entendemos a influência sobrenatural do Espírito Santo sobre os autores das Escrituras, que converteu seus escritos em um registro preciso da revelação, o que faz com que seus escritos sejam realmente a Palavra de Deus.162

Para ele, esta inspiração se refere tanto ao escritor quanto ao escrito, uma vez que o autor foi inspirado e, ao redigir o texto, este também passou a sê-lo.163 No entanto, conforme Claiton André Kunz, Doutor e professor de Teologia Sistemática, os escritores são movidos, mas não são inspirados, uma vez que se o fossem, tudo o que falassem ou fizessem também seria inspirado.164 De qualquer forma, a inspiração da Bíblia não deve ser discutida. Desta forma, “as afirmações da Bíblia são plenamente verdadeiras quando julgadas de acordo com o propósito para o qual foram escritas”.165

Infelizmente, muitas pessoas contestam o cânon evangélico da Bíblia como está, ou seja, que os livros que a compõem são os únicos inspirados por Deus. Sobre esta dificuldade, Grudem afirma que

Em toda literatura conhecida não há candidatos que ao menos se aproximem das Escrituras quando se consideram sua coerência doutrinária com as Escrituras e o tipo de autoridade que reclamam para si (bem como a maneira pela qual essas alegações foram recebidas

160 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 88. 161 GEISLER, N. (Org.). A inerrância da Bíblia, p. 544-545. 162 ERICKSON, M. J. Op. Cit., p. 67. 163 Ibidim, p. 76. 164 KUNZ, C. Aula proferida em 25 abr. 2011. 165 ERICKSON, M. J. Op. Cit., p. 85.

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por outros fiéis). (...) O cânon das Escrituras é exatamente o que Deus queria que fosse e assim permanecerá até a volta de Cristo.166

Portanto, a Bíblia é a Palavra de Deus aos homens, escrita por pessoas inspiradas por Ele. Ela é perfeita, completa, totalmente confiável e infalível. Para o cristão ela é o único meio normativo quanto ao seu padrão de conduta. Ela não deve se ajustar às pessoas; ao contrário, “devemos aceitar por completo a Bíblia e a sua mensagem. De outra forma, estaremos ‘recriando’ o papel do Senhor Jesus, na tentativa de fazer com que Ele se adapte aos nossos preconceitos pessoais”.167

Vida cristã O principal ensinamento bíblico quanto à conduta do cristão é o

de seguir o exemplo de Jesus, como no sofrimento (1 Pe 2.21) e no serviço aos outros (Jo 13.15), intrínsecos à vida cristã, uma vez que ao decidir servir a Cristo a pessoa aceita o sofrimento que certamente virá.168 Paulo pediu aos cristãos de Corinto que fossem seus imitadores, pois ele o era de Cristo (1 Co 11.1). Segundo Stott, “seguir a Cristo é renunciar a todas as outras lealdades”169 e dar a Ele todos os direitos sobre a própria vida.170 É impossível a alguém que tenha verdadeiramente encontrado a Jesus continuar sendo a mesmo pessoa, com a mesma forma de viver.171 Ao contrário, quando a pessoa tem Jesus como seu Senhor, este dirige a vida do indivíduo, que obedece

166 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 40. 167 COLSON, C. Respostas às dúvidas de seus adolescentes, p. 76. 168 SWINDOLL, C. Eu, um servo?, p. 195. 169 STOTT, J. R. W. Cristianismo básico, p. 130. 170 Ibidim, p. 132. 171 YANCEY, P. O Jesus que eu nunca conheci, p. 24.

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alegremente, submetendo toda sua vida a Ele, desde sua família, sexualidade e emprego, até suas posses e ambições.172

Assim, o cristão deve ter uma vida de acordo com o nome que professa servir, de forma que seja testemunha de seu Senhor em sua casa, seu trabalho e entre seus amigos e vizinhos.173 Cristo não está mais habitando corporalmente entre os homens há séculos, mas por meio de seu exemplo, seguido pelos que se dizem seus, ele é conhecido da forma como verdadeiramente é. Quando o testemunho verbal do cristão é contradito por seu exemplo de vida, ele não tem efeito nenhum, ao mesmo tempo nada falará tanto acerca de Jesus quanto o exemplo de uma vida transformada por Ele.174

Cristo usou as metáforas do sal e da luz (Mt 5.13-16) para ensinar aos seus discípulos sobre esta necessidade de testemunho através do exemplo de vida. Segundo Stott, estas

indicam que os cristãos devem permear a sociedade não cristã assim como o sal penetra na carne e a luz brilha em meio à escuridão. Os dois implicam que ele espera que nós influenciemos e mudemos a sociedade, da mesma maneira que o sal inibe a decomposição bacteriana e a luz reduz e até mesmo bane a escuridão. Juntos eles ilustram a missão da igreja. Devemos deixar que nossa luz (que é a luz de Cristo e seu evangelho) brilhar de tal modo que através de nossas palavras e obras as pessoas venham a acreditar nele. E, como [sal], devemos impregnar firmemente a sociedade com os valores e padrões do reino de Deus e assim ajudar a impedir sua deterioração.175

Portanto, a vida cristã deve ser baseada no exemplo de Jesus. O cristão deve ter sua vida transformada e em constante transformação, 172 STOTT, J. R. W. Firmados na fé, p. 33. 173 Ibidim, p. 136. 174 Idem. Cristianismo básico, p. 171. 175 Idem. Firmados na fé, p. 223.

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46 Cléber Mateus de Moraes Ribas para ser cada vez mais parecido com o seu Senhor. Como conseguir uma vida assim? Stott apresenta algumas soluções de acordo com as Escrituras:

Cuide da disciplina de sua vida cristã. Seja diligente na oração diária e na leitura da Bíblia, em ir à igreja e participar com frequência da Ceia do Senhor. Faça bom uso de seus domingos. Leia livros úteis. Procure amigos cristãos. Empenhe-se em servir. Nunca deixe de confessar seus pecados, nem acumule pecados não perdoados. Nunca abrigue em seu coração raízes de resistência e amargura. Acima de tudo, renda-se sem reservas diariamente ao poder do Espírito Santo que está dentro de você. Então, passo a passo, você avançará pelo caminho da santidade e crescerá rumo a uma maturidade espiritual completa.176

Vida eterna É possível e extremamente necessário ao cristão buscar a

santidade e o amadurecimento espiritual. Esta busca só cessará no fim da vida. Mas, é neste fim que se encontram a maior esperança e alegria dos cristãos – a vida eterna. Ela não se trata apenas de uma vida sem fim, mas uma vida verdadeiramente plena, sem as imperfeições e os problemas cotidianos, cuja essência se encontra na comunhão com Deus, através de um relacionamento direto com Cristo.177 Esta vida é dom de Deus, recebido por meio do sacrifício de Cristo.178

É claro o ensino bíblico de uma vida consciente após a morte.179 Como apresentado anteriormente, os que não creem no sacrifício de Cristo permanecem condenados a uma vida consciente no inferno, a saber, a morte eterna. Os que creem também vivem conscientemente

176 STOTT, J. R. W. Firmados na fé, p. 73. 177 BERKHOF, L. Teologia sistemática, p. 733. 178 MORRIS, L. Teologia do Novo Testamento, p. 324. 179 BERKHOF, L. Op. Cit., p. 670.

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pela eternidade. Seu destino é a vida eterna no céu.180 Conforme Erickson, este “será o encerramento da peregrinação do cristão, o fim da luta contra a carne, o mundo e o diabo. Haverá trabalho a fazer, mas isso não implicará luta para superar forças contrárias”.181 Todas as promessas de Deus aos cristãos serão cumpridas no céu, “onde a santidade e a felicidade serão plenas na presença de Deus e de Jesus Cristo”.182 Conforme Milne,

Ver e conhecer a Deus é a essência da vida celestial, a fonte e a origem de toda a sua felicidade (...). Podemos confiar em que a maravilha maior de nossa experiência, no reino celestial, será a descoberta infinda daquela beleza, majestade, amor, santidade, poder, alegria e graça indescritíveis que são o próprio Deus.183

Mas esta vida só pode ser desfrutada pelo cristão após a morte? De acordo com Morris, não. Segundo ele, nos escritos de João é perceptível que “a vida eterna é uma posse presente dos que se chegam a Cristo”.184 Mas, é claro que a plenitude desta vida eterna não pode ser vivida ainda na terra, uma vez que o relacionamento com Deus ainda se dá somente pela habitação do Espírito Santo no cristão e o pecado e suas consequências ainda afetam o homem.

Portanto, a vida eterna é o maior anseio e esperança do cristão. Nela, ele desfrutará da presença constante de Cristo e de todas as bênçãos dadas por Deus, sem mais pecado e sofrimento. Para desfrutar desta vida, é necessário reconhecer a sua situação pecaminosa e perdida, ser salvo pela graça de Deus em Cristo Jesus, buscando

180 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 481. 181 ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 529-530. 182 SEVERA, Z. A. Op. Cit., p. 483 . 183 MILNE, B. Estudando as doutrinas da Bíblia, p. 287. 184 MORRIS, L. Teologia do Novo Testamento, p. 323.

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48 Cléber Mateus de Moraes Ribas confirmar esta salvação (2 Pe 1.10) por meio de uma vida condizente com Deus através do Espírito Santo, tendo como guia de conduta a Palavra de Deus. Não há discussão sobre estas verdades. Tê-las em comum é necessário a qualquer um que deseje manter a unidade entre líderes da igreja urbana, uma vez que são absolutos inegociáveis à fé cristã. Philip Yancey, autor cristão de vários livros, afirma que “o que temos em comum vêm primeiro, as questões que nos dividem, vêm depois”.185

Desta forma, tendo em vista estes absolutos, é possível trabalhar para manter esta unidade. Mas, se já há uma unidade entre os líderes eclesiásticos verdadeiramente cristãos e que professam estes mesmos absolutos, por que buscar esta unidade? Não seria possível apenas aceitar esta unidade invisível e “seguir a vida”? Com certeza não! Mais do que uma necessidade, buscar esta unidade visível é um grande privilégio. Assim sendo, no próximo capítulo serão apresentadas estas prerrogativas da unidade cristã.

185 YANCEY, P. Igreja, p. 30.

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CAPÍTULO 3: AS PRERROGATIVAS DA UNIDADE CRISTÃ

Buscar uma unidade visível da igreja é uma obrigação para os cristãos. No entanto, mais que isso, é um grande privilégio. Isto porque a unidade só é possível àqueles que pertencem a Cristo.186 Como visto anteriormente, é possível buscar reconhecê-los através de uma mesma profissão dos absolutos da fé cristã, como, por exemplo, a crença na Bíblia como fonte máxima de doutrina e regra de vida. Esta, aliás, orienta os crentes em Cristo a buscarem preservar essa unidade cristã, ainda que haja divisão quando “a essência do cristianismo apostólico estiver em risco. Esta foi a razão da discórdia entre Paulo e os judaizantes (Gl 1:6-12), e entre Jesus e os fariseus (Mc 7:1-13)”.187 Assim, lutar para preservar a unidade cristã é uma orientação retirada da Palavra de Deus. É uma orientação bíblica

A unidade cristã é uma prerrogativa dos crentes em Cristo, primeiramente, porque sua defesa é claramente vista nas Escrituras. 186 JONES, M. J. A base da unidade cristã, p. 15. 187 MILNE, B. Estudando as doutrinas da Bíblia, p. 223.

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50 Cléber Mateus de Moraes Ribas Em especial, o Novo Testamento, “fala com frequência sobre a necessidade de lutar pela unidade da igreja visível”.188 A busca por esta unidade é um mandamento, uma exortação dos apóstolos, que tem sido negligenciada por muitos cristãos evangélicos.189 Mas ela é um direito que só cabe aos que pertencem a Cristo. Isto é perceptível no capítulo quatro da carta aos Efésios, quando analisado o contexto geral da carta, em especial os capítulos anteriores da mesma.190 Conforme Martin Lloyd Jones, teólogo galês,

A unidade já existe; é a unidade de todos os que creram na mensagem exposta nos capítulos 1-3. Como o Senhor profetizou em Sua oração relatada em João 17, haveria pessoas que iriam crer na mensagem dos apóstolos que enviara ao mundo. E aqui está um dos apóstolos escrevendo aos efésios que creram, que ‘receberam’ a mensagem. E, devido a isso, pertencem ao corpo, são um com todos os que creem na mesma mensagem. E a exortação é para que ‘preservem’, mantenham essa unidade.191

Esta unidade, que não pode ser criada por homens, mas é obra divina, é uma unidade no Espírito. Ela é dada “porque o Espírito Santo é um só (Ef 4.3). Não obstante, cabe ‘segurar’ essa unidade, ou ‘chegar’ a ela. A força motriz de todos os esforços nessa direção não é a utopia de uma igreja unificada, mas a realidade do único corpo de Cristo”.192 Esta é a grande mensagem acerca da unidade em Efésios, presente no versículo 3 – os cristãos devem esforçar-se para mantê-la. De acordo com Stott, “o verbo grego para ‘esforçar-se’ (spoudazontes) é

188 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 734. 189 STOTT, J. A mensagem de Efésios, p. 109. 190 JONES, M. J. A base da unidade cristã, p. 27-30. 191 Ibidim, p. 32-33. 192 BOOR, W.; HAHN, E. Carta aos Efésios, Filipenses e Colossenses, p. 88.

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enfático”193 e indica que os crentes em Cristo não devem poupar esforços para tal.194 Tim Riter, conferencista e professor, em seu livro 12 mentiras que você ouve na igreja vai além, afirmando que

Na língua original, a frase ‘façam todo o esforço’ é ativa, no tempo presente, e imperativo. Ativa significa que temos que fazer alguma coisa; não devemos ficar ociosos e passivos. O tempo verbal presente significa que temos que fazer alguma coisa agora, e que devemos continuar a fazê-la. Não fazemos apenas uma ou duas alternativas, para depois desistirmos porque encontramos dificuldades. O imperativo corresponde a um comando. Não se trata de uma sugestão, e portanto, nessa questão não temos justificativas para opiniões divergentes.195

Assim, esta atitude de não poupar esforços para preservar a unidade não é baseada em uma total concordância em tudo. Pelo contrário, ela consiste em focar as questões essenciais em busca da unidade e, nas questões secundárias, conservá-la no vínculo da paz,196 ou seja, buscando em todas as ações e palavras promover e manter a paz.

É importante lembrar que esta unidade a que Paulo se refere não é apenas entre as pessoas de uma mesma igreja. Conforme Stott,

Efésios (...) pode ter sido uma carta circular dirigida a várias igrejas. Talvez até mesmo na própria cidade de Éfeso muitos cristãos se reuniam em vários diferentes lares-igrejas. (...) Então Paulo pode ter tido em mente a unidade entre as igrejas bem como dentro delas. Sendo assim, a sua preocupação se aplicaria aos relacionamentos intereclesiásticos de hoje.197

193 STOTT, J. A mensagem de Efésios, p. 109. 194 Ibidim, p. 109. 195 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 209. 196 Ibidim, p. 209. 197 STOTT, J. Op. Cit., p. 110.

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Assim sendo, a unidade requer dos cristãos que ajam de forma abençoadora em relação às outras igrejas da cidade em que estão. Inclui-se nisto o falar sobre elas. Em Ef 4.29, há uma ordem que, segundo Riter, se aplica não só aos indivíduos, mas também às igrejas. No versículo em questão, o apóstolo Paulo exorta os cristãos para que não pronunciassem nenhuma palavra que causasse destruição. Pelo contrário, que falassem apenas o que trouxesse edificação aos outros e que transmitisse graça aos que ouvissem. Assim sendo, este texto exorta os crentes em Cristo a falarem bem de outros grupos cristãos.198 Infelizmente, este é um dos sintomas mais comumente perceptíveis da visível desunião que ocorre entre as igrejas em muitas cidades. Porém, não é necessário nem proveitoso lamentar-se pela situação atual de muitas igrejas urbanas. Pelo contrário, é possível batalhar para que esta situação seja revertida, para a honra e glória do Senhor Jesus; afinal, esta situação não é exclusiva dos tempos atuais. O apóstolo Paulo estava ciente de que, em seu tempo, havia problemas em relação à unidade da igreja. No entanto, ele buscou exortar e encorajar os cristãos de Éfeso para que se empenhassem em busca da preservação desta unidade. Este, inclusive, é “um dos principais temas abordados por Paulo na Carta aos Filipenses”.199

Também na igreja em Corinto havia este problema. Paulo fora informado por “alguns da casa de Cloe” de que havia divisões entre eles (1 Co 1.11). A igreja estava assim por causa de divergências sobre assuntos que não eram de suma importância. Pelo contrário, eles estavam preocupados em ser deste ou daquele apóstolo (1 Co 3) e ter

198 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 217. 199 STOTT, J. A verdade do evangelho, p. 130.

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este ou aquele dom (1 Co 12). Eles haviam se desviado do “foco” e se apegado a vãs discussões e agora precisavam corrigir esta situação. De acordo com Morris,

Divisões, schismata, não significa ‘cismas’, mas ‘dissensões’. As divisões eram internas. Paulo pede que corrijam a situação e que sejam inteiramente unidos. Esta é a tradução de um verbo grego que tem que ver com a restauração de algo à sua condição correta. (...) A condição da igreja coríntia estava longe daquilo que devia ser. Exigia-se uma ação restauradora.200

Werner de Boor, doutor em Teologia e autor de vários comentários bíblicos, afirma que Paulo, ao comparar a igreja com um corpo, está preocupado com a unidade do mesmo. Por isso, o apóstolo não procura responder como alguém se torna parte deste corpo, mas enfatiza a unidade do mesmo “acima de toda a multiplicidade dos seres humanos dos quais a igreja é constituída”.201 Ainda segundo ele,

Naquele tempo a separação entre ‘judeu’ e ‘grego’ e ‘escravo’ e ‘livre’ era um obstáculo intransponível. Porém essas diferenças, que até então determinavam a tudo, perderam seu poder de separação quando judeus, gregos, escravos e livres agora estão mais próximos do que as pessoas jamais podem estar ligadas por quaisquer laços de raça, nação, de parentesco de sangue, de cultura ou de amizade pessoal.202

Isto ocorre quando o corpo está saudável. Mas, apesar de o corpo não poder ser dividido em essência, assim como Cristo não pode (1 Co 1.13), este pode ser “deslocado de sua posição central por um grupo de cristãos de critérios particulares (cf. 1Co.12)”.203 Com isto ocorre a

200 MORRIS, L. I Coríntios, p. 31. 201 BOOR, W. Cartas aos coríntios, p. 195. 202 Ibidim, p. 195. 203 BOOR, W.; HAHN, E. Carta aos Efésios, Filipenses e Colossenses, p. 79.

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54 Cléber Mateus de Moraes Ribas divisão interna do corpo.204 Porém, “apesar disso deve-se ‘segurar’ a ‘unidade do Espírito’ pela circunstância de todos se deixarem chamar de volta (pela exortação!) à unidade de sua origem na vocação pelo Deus triúno”.205

De acordo com o Manual bíblico SBB,

A unidade cristã é um fato. Os cristãos estão ligados por uma fé comum, um mesmo compromisso e um só propósito de vida. Eles estão a serviço do mesmo Mestre. Cristo é a cabeça, e os cristãos são os membros de um único corpo (4-5; veja também 1 Co 12-13). Mas nem todos têm o mesmo temperamento, a mesma personalidade ou os mesmo dons (11-12). O vínculo deve ser constantemente fortalecido por uma atitude amorosa e paciente de uns para com os outros, e pelo uso dos diferentes dons para o bem comum. Devemos crescer juntos até sermos tudo que Cristo quer que sejamos (14-16).206

Sendo assim, a unidade cristã é claramente defendida nas Escrituras, principalmente nas cartas paulinas. Mais que uma obrigação dos cristãos, ela é um grande privilégio. Primeiramente, porque somente aqueles que estão unidos com Cristo podem buscar a preservação desta unidade já existente e, por isso, não é necessário lutar para criá-la entre os homens. Além disso, somente pertencendo ao corpo de Cristo é possível ter uma mesma atitude de amor para com outras pessoas totalmente diferentes em cultura, temperamento e dons. A maior parte das pessoas do mundo não podem fazê-lo. Que grande privilégio é este de ser um com Cristo e com os que creem Nele, fazendo parte de um corpo! Enquanto muitos reclamam de ser um pé

204 BOOR, W.; HAHN, E. Carta aos Efésios, Filipenses e Colossenses, p. 79. 205 Ibidim, p. 79. 206 MANUAL bíblico SBB, p. 718.

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55 Unidade entre líderes da igreja da cidade

neste corpo, muitos sofrem por não ter sido sequer uma unha, enquanto viviam neste mundo. É um desejo de Cristo

Ser uma orientação bíblica já seria suficiente para que os cristãos buscassem manter esta unidade. Mas, preservá-la também é um desejo de Cristo, expresso em sua oração relatada no capítulo dezessete do evangelho de João.

Nesta oração que “em alguns aspectos, (...) é um resumo de todo o quarto evangelho até esse momento”,207 Jesus tem a unidade como algo tão crucial que está totalmente ligada a ela.208 Ele, conhecendo a dificuldade humana em manter um relacionamento real presente inclusive entre os cristãos, intercede por eles em relação à sua unidade.209 Cristo pede também que eles estejam nele e no Pai, “tão identificados com Deus e dependentes dele para a vida e produção de frutos, que eles próprios se tornam o locus da vida e da obra neles (cf. 14.12; 15.7)”.210

É preciso frisar que Cristo não ora para que eles criassem uma unidade, mas ora ao Pai pela conservação da unidade constituída e preservada por Ele enquanto esteve junto de seus discípulos.211 Conforme Jones, “o conteúdo da afirmação de nosso Senhor em João 17 não é uma exortação para fazermos alguma coisa, mas uma oração ao Pai, pedindo-Lhe para preservar a unidade que já existe”.212 Ele

207 CARSON, D. A. O comentário de João, p. 552. 208 BOOR, W. Evangelho de João II, p. 140. 209 Ibidim, p. 139. 210 CARSON, D. A. Op. Cit., p. 569. 211 JONES, M. J. A base da unidade cristã, p. 20. 212 Ibidim, p. 21.

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56 Cléber Mateus de Moraes Ribas pede em favor de todos os futuros crentes para que fossem um (Jo 17.21), assim como pediu em relação aos seus primeiros discípulos.213 É importante ressaltar que este “ser um” presente na oração de Cristo não se refere a uma uniformidade do discípulos.214 Ele não pede que todos tenham uma mesma opinião ou um único pensamento sobre todas as coisas. Acerca de como é a unidade a que Jesus se refere, a qual Ele deseja, Riter afirma que

Jesus quer que sejamos unidos do mesmo modo que ele e o Pai são. A frase seguinte define isso como unidade plena, ou completa. (...) Nunca tinha visto ou desejado esse tipo de unidade com outros seguidores de Jesus. Cooperar, sim. Amar aos outros, lógico. Mas manter um nível divino de unidade infringe em muito a minha individualidade e escolha. Acho que não gosto disso. Mas Jesus gosta, e ele é o Senhor. Devemos todos considerar cuidadosamente esse mandamento claro e a descrição de unidade que Jesus deseja para nós. Se nós a adotarmos, essa unidade irá mudar a nossa vida, de dentro para fora.215

Cristo refere-se, em sua oração ao Pai, a uma unidade entre todos aqueles que invocam seu nome,216 provavelmente desejando que esta unidade seja visível e intensa entre os cristãos.217 Ele deseja e ora por uma unidade de amor.218 Riter afirma que:

Nós, no entanto, preferimos nos reunir em nosso santo clube, em nosso grupo ‘certo’, criticar outros cristãos, viver longe deles, e nos perguntar por que as pessoas não vêm a Cristo. Ora, a resposta é óbvia.219

213 CARSON, D. A. O comentário de João, p. 569. 214 KUNZ, C. A. Unidade na diversidade. Palestra proferida em 11 fev. 2007. 215 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 210. 216 BRUCE, F. F. João, 285 p. 217 RITER, T. Op. Cit., p. 211. 218 BRUCE, F. F. Op. Cit., 285 p. 219 RITER, T. Op. Cit., p. 211.

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57 Unidade entre líderes da igreja da cidade Mas, esta realidade pode e deve ser revertida. Este era o desejo do

Senhor Jesus. Ele orou por cada cristão para que conseguisse buscar esta unidade visível. Segundo Boor,

Jesus não considera a unidade organizacional, que pode ser mantida com instrumentos de poder. Mas tampouco se trata apenas de uma unidade de ideias afins ou uma coligação com base em sentimentos convergentes. Não, a unidade que Jesus pede para a igreja tem como paradigma e origem a unidade do Pai e do Filho no Espírito Santo (...) Jesus pode afirmar: ‘Eu e o Pai somos um’ (Jo 10.30). Ainda assim o Filho continua sendo integralmente aquele que espera, roga e obedece, ao passo que o Pai é totalmente aquele que envia, ordena, atende e concede. Porém justamente nessa distinção vive o amor que une o Pai e o Filho. É assim que Jesus deseja a unidade de sua igreja. Ele vê diante de si a grande multidão dos que creem, em plena multiformidade.220

Cristo não orou pela unidade da instituição “igreja”. Ele também não orou pedindo que as igrejas fossem unidas, como uma cooperativa. Ele pediu ao Pai que cada pessoa, por mais diferente que fosse, pudesse experimentar a maravilhosa bênção de se sentir uma com outras pessoas tão diferentes, mas unidas em Jesus. Ele orou para que cada cristão fosse parte de seu rebanho e não apenas uma ovelha desgarrada ou um pequeno grupo de ovelhas fora do curral. De acordo com Grudem,

O alvo de Jesus é que haja ‘um rebanho e um pastor’ (Jo 10.16), e ele ora por todos os futuros cristãos ‘a fim de que todos sejam um’ (Jo 17.21). Essa unidade será um testemunho para os descrentes, pois Jesus ora ‘a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim’ (Jo 17.23).221

220 BOOR, W. Evangelho de João II, p. 139-140. 221 GRUDEM, W. A. Teologia sistemática, p. 736.

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58 Cléber Mateus de Moraes Ribas

A oração de Jesus não é apenas para a preservação de uma unidade existente, mas ele pede que os crentes cheguem à plena unidade.222 Uma unidade de propósito e amor, assim como a do Pai e do Filho.223 E esta unidade seria importante para que o mundo soubesse que Cristo foi enviado pelo Pai e que Ele amou os cristãos como amou a Cristo.224 Riter afirma que

Se Jesus se importa tanto com nossa unidade, não deveríamos nos importar também? Não está na hora de preparar com cuidado uma estratégia para melhor expressar nossa unidade? Como devemos mudar pra manifestá-la de uma forma ainda melhor? Não seria o desejo de Jesus para nossa unidade mais importante do que nossa preferência por permanecermos isolados uns dos outros?225

A unidade entre os cristãos é, portanto, um desejo de Jesus expresso em sua oração ao Pai, apresentada no capítulo dezessete de João. A unidade a que ele se refere não é outra senão uma plena unidade. Por se tratar de uma oração dirigida a Deus Pai, esta oração não se trata de uma exortação aos cristãos para que sejam um. Mais que isto, ela é um clamor do Senhor Jesus em favor de cada crente, a fim de que possam preservar e chegar à plenitude da unidade que já possuem com os seus irmãos. Que grande privilégio! Poucas pessoas percebem o quanto isto é especial. Muitos cristãos, quando enfermos, cansados ou sobrecarregados, pedem a outros crentes que orem por eles e ficam muito felizes por serem lembrados nas orações dos irmãos. No entanto, quanto mais é possível alegrar-se em saber que o próprio Deus encarnado, Jesus, intercedeu por eles!

222 CARSON, D. A. O comentário de João, p. 570. 223 Ibidim, p. 570. 224 Ibidim, p. 570. 225 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 219.

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59 Unidade entre líderes da igreja da cidade

É uma forma de torná-Lo conhecido A oração de Jesus é motivo de alegria, também, porque ele orou

pela unidade dos cristãos como forma de proclamação de sua mensagem. Visto que os homens só podem falar do que conhecem, somente os cristãos podem anunciar a salvação em Cristo. Além disso, ele pediu pelos que seriam alcançados por meio do testemunho de seus seguidores. Assim, a plena unidade pela qual Cristo orou não é importante apenas para os cristãos, mas também para aqueles que não o conhecem. De acordo com Boor,

ela se torna testemunho eficaz: para que o mundo creia que tu me enviaste. Quanta responsabilidade repousa, portanto, sobre a igreja de Jesus! O mundo anseia consciente e inconscientemente por unidade genuína, por comunhão real. Quando ele constata nos discípulos de Jesus que a unidade e a comunhão livre e plena estão sendo vividas com amor abnegado, a fé de que o Criador desse tipo de irmandade de fato é enviado por Deus pode irromper livremente no mundo. Inversamente, porém, toda a desunião dos discípulos dificulta a fé em Jesus.226

Esta dificuldade ocorre para aqueles que não são cristãos porque estes, muitas vezes, não conseguem entender como pessoas que afirmam servir ao mesmo Deus, amar o mesmo Senhor, ter o mesmo destino eterno e crer na mesma Bíblia, vivem tão distantes e tão divididos.227 Por isso, “é compreensível que as pessoas rejeitem a Cristo quando os seguidores dele não conseguem nem mesmo se entender”.228 Conforme Warren W. Wiersbe, pastor, teólogo e conferencista americano, Jesus afirmou que pelo testemunho dos

226 BOOR, W. Evangelho de João II, p. 140. 227 SAYÃO, L. Comentário rota 66, programa 487. 228 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 211.

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60 Cléber Mateus de Moraes Ribas cristãos muitos creriam. No entanto, este testemunho deveria ser em verdade e amor. Infelizmente, “em lugar de serem testemunhas fiéis, alguns cristãos são advogados de acusação e juízes e, com isso, afastam os pecadores do Salvador”. 229

Mas, o cristão que ama a Deus e deseja torná-lo conhecido não deve acomodar-se pensando que esta situação é difícil de ser mudada e que a unidade invisível é suficiente. Pelo contrário, o fato desta unidade invisível da igreja já ser uma realidade deve levar os cristãos a um esforço cada vez maior em buscar torná-la visível ao mundo.230 Somente o crente em Cristo pode buscar uma unidade viva para com seus irmãos, a fim de tornar Cristo conhecido ao mundo.231 Segundo Stott, “devemos demonstrar ao mundo que a unidade que dizemos existir de modo indestrutível não é a piada um pouco triste que parece ser, mas, sim, uma realidade verdadeira e gloriosa”.232

Boor afirma que Quando a igreja não vive ela mesma como um povo de irmãos, no qual de fato as pessoas se amam, se suportam, se perdoam, se auxiliam e se corrigem, no qual as coisas acontecem de forma totalmente diferente do que no ‘mundo’, então sua palavra evangelística fica sem força, sendo permanentemente refutada pela realidade deplorável da igreja. Inversamente, porém, a vida de uma comunhão humana em amor, alegria, paciência, amabilidade, bondade e brandura representa por si mesma uma poderosa evangelização, um testemunho eficaz para dentro do mundo, que em suas aflições anseia por comunhão autêntica. Numa igreja dessas torna-se visível que Jesus é

229 WIERSBE, W. W. Comentário bíblico expositivo, p. 479. 230 SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 363. 231 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 219. 232 STOTT, J. A mensagem de Efésios, p. 109.

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verdadeiramente um libertador e o que ele é capaz de realizar como Libertador.233

É esta igreja que deve prevalecer nas cidades. A igreja urbana deve tornar Cristo conhecido a todo o mundo em que está presente. Muitas igrejas buscam vários métodos diferentes para evangelizar as pessoas da cidade em que estão. Cada uma age a seu modo e a igreja urbana continua dividida. Porém, segundo Luiz Sayão, pastor batista, hebraísta e coordenador da tradução da Nova versão internacional da Bíblia, fica claro na oração de Jesus que o impacto do cristianismo no mundo não depende de estratégias, de profundidade teológica ou do nível de consagração dos cristãos, mas da unidade que eles demonstram ter. É esta “a grande mensagem que o mundo precisa ouvir para que, de fato, eles vejam que Cristo é aquilo que a Bíblia diz que Cristo é”.234 Ainda conforme Sayão,

É verdade que a igreja de hoje cresce e evangeliza e anuncia o evangelho e tenta fazer diferença no meio de uma sociedade secularizada e com tantas crises e muitas são as tentativas e as possibilidades de caminhar nessa direção. Mas, (...) devemos entender a grande realidade que, no meio de tudo isso, o mais importante, o mais desafiante, é a nossa união. Num mundo religioso de tantas divisões e tanta diversidade deve ficar bem claro que o mundo só sentirá o impacto do evangelho quando tivermos verdadeira unidade.235

É, portanto, esta unidade visível que chama a atenção do mundo em direção à mensagem da cruz. Sobre isto, Wiersbe afirma que

Uma das coisas que mais impressionam o mundo é a maneira como os cristãos amam uns aos outros e vivem em harmonia. É esse testemunho que Jesus deseja no mundo: ‘para que o mundo creia que tu me

233 BOOR, W. Evangelho de João II, p. 78. 234 SAYÃO, L. Comentário rota 66, programa 487. 235 Ibidim.

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enviaste’ (Jo 17:21). O mundo perdido não é capaz de ver a Deus, mas pode ver os cristãos. Aquilo que o mundo enxergar em nós servirá de base para suas convicções acerca de Deus. Se enxergar amor e harmonia, crerá que Deus é amor. Se enxergar ódio e divisão, rejeitará a mensagem do evangelho.236

Jesus orou pela unidade dos cristãos para que o mundo o conhecesse. Ele também orou pela unidade para que assim todos soubessem que o Pai ama os cristãos como ama a Cristo. Esta unidade real e visível entre os cristãos testemunha poderosamente que Deus é amor. Afinal, como o mundo pode conhecer um Deus amoroso onde habita o ódio, brigas e divisão? Conforme F. F. Bruce, teólogo escocês e autor de diversos livros,

‘Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos’, Jesus tinha dito aos onze, ‘se tiverdes amor uns aos outros’ ([Jo]13.35). A sua unidade em amor manifesta daria confirmação pública do relacionamento deles com Jesus e deste com o Pai. O mundo, que até então não lhe tinha dado crédito, aprenderá com o testemunho do amor dos discípulos que de fato, ele é o enviado de Deus; o mundo aceitará o seu testemunho de que ‘o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo’ (1 Jo 4.14).237

Buscar a preservação da unidade cristã é, portanto, um grande privilégio dos crentes em Cristo. Somente eles podem fazê-lo, visto que apenas os que estão unidos com Jesus podem unir-se a outros em mesma situação. Além disso, o Senhor não intercedeu pela unidade de todos os seres humanos, mas dos que creriam em sua mensagem. Por fim, somente os cristãos podem anunciar a salvação ao mundo, visto que só eles foram alcançados por ela; é por meio de sua unidade que o mundo poderá conhecer a Cristo. Esta unidade é vista, principalmente,

236 WIERSBE, W. W. Comentário bíblico expositivo, p. 479. 237 BRUCE, F. F. João, p. 285.

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através do amor dos crentes, uns pelos outros. Porém, aqui surge uma importante questão: Qual o tipo de amor que leva à unidade visível do corpo de Cristo? Uma vez que já existem muitos estudos teóricos sobre o que é o amor, no capítulo seguinte serão analisadas formas práticas de amar, ou seja, quais atitudes devem ser tomadas por quem deseja amar seus irmãos.

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CAPÍTULO 4: O CAMINHO DA UNIDADE

A preservação da unidade entre os líderes da igreja urbana é uma necessidade e um grande privilégio que deve ser buscado. A unidade invisível já existe, mas uma demonstração visível é extremamente necessária. E como alcançá-la? Através do amor. Isto porque todas as atitudes do cristão devem ser permeadas pelo amor a Deus e ao próximo, pois Cristo resumiu os mandamentos de Deus neste amor duplamente direcionado (Mt 22.37-40). Por isso, neste capítulo serão analisadas estas duas formas de amor. Também serão apresentados exemplos de atitudes de amor, uma vez que qualquer unidade visível não acontecerá apenas baseada em belas palavras, mas em ações. O amor a Deus

Amar a Deus é o maior mandamento para os cristãos. Este amor deve ser a motivação primeira para todo e qualquer anseio na igreja. Tudo deve partir dele, passar por ele, e culminar nele. Com a unidade não pode ser diferente. Qualquer tentativa de unidade visível que não esteja centrada no amor a Deus pode até ser unidade, mas não é aquela

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pela qual Jesus orou. É apenas um grupo de pessoas com um mesmo objetivo.

Este amor a Deus é uma particularidade dos cristãos. Ninguém, além deles, pode amá-lo. Isto porque ele os amou primeiro.238 O amor do crente é tão somente “uma resposta ao amor de Deus”. 239 Este amor, por ser gerado por Deus, é diferente do que é visto na sociedade secular. O amor a Deus não é demonstrado somente em palavras e tampouco é apenas um sentimento. Pelo contrário, é manifesto na obediência aos mandamentos de Deus.240 É interessante que as cartas de João, que enfatizam bastante o amor, têm “mais referências aos mandamentos de Deus do que qualquer outro livro do Novo Testamento”.241

Sayão afirma que “sem obediência não há amor”. 242 Segundo ele, Uma pessoa que canta muito no louvor da igreja, uma pessoa que chora emocionada durante uma pregação, uma pessoa que tem um grande sentimento pelo evangelho, não significa que ele (sic) ama a Deus. Você vai realmente saber se a pessoa ama a Deus quando ela está disposta a deixar o erro, a ouvir a Palavra e a fazer a vontade de Deus. Sem obediência, não há amor nenhum.243

O amor precisa ser demonstrado, não somente em manifestações emocionais com relação a Deus, mas principalmente na obediência a Ele e na prática de sua vontade.244 Deus deseja que o cristão relacione-se obedientemente com Ele. Este relacionamento desejado por Deus 238 CHAN, F.; YANKOSKI, D. Louco amor, p. 59. 239 MORRIS, L. Teologia do Novo Testamento, p. 303-304. 240 Ibidim, p. 303-304. 241 Ibidim, p. 303-304. 242 SAYÃO, L. Rota 66, programa 125. 243 Ibidim, programa 125. 244 Ibidim, programa 125.

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66 Cléber Mateus de Moraes Ribas não pode ocorrer em partes. Ao contrário, Deus deseja que o crente o ame de forma integral, ou seja, com toda a sua capacidade mental, psicológica, espiritual e física, com toda sua intenção e com toda sua vontade.245

Por isso, este relacionamento de amor para com Deus deve ser sincero. Não adianta fingir amar a Deus, pois Ele não pode ser enganado.246 Também não pode ser apenas uma obrigação. Tem de ser um desejo intenso do cristão como um todo. Deus deseja um amor verdadeiro expresso na vida do crente e não apenas “como um ‘período de silêncio’ superficial contaminado pela culpa”.247 Não adianta buscar um relacionamento religioso com Deus – horas de oração e leitura da Palavra para cumprir um ritual. A obediência é melhor que o sacrifício (1 Sm 15.22). Deus não quer religião, Ele quer ser amado. Francis Chan, pastor nos Estados Unidos, em seu livro Louco amor (coautoria de Danae Yankoski), afirma que:

quando amamos Deus, nós o buscamos natural, frequente e zelosamente. Jesus não ordenou que passássemos um período diário com ele. Em vez disso, nos orientou: ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Ele classifica essa ordem como ‘o primeiro e maior mandamento’ (Mt 22:37-38). Os resultados são a oração e o estudo de sua Palavra. Nossa motivação muda, passando da culpa para o amor.248

Isto não significa que seja errado o cristão ter um período diário de oração e leitura bíblica. No entanto, este ritual de nada valerá se não for para manter um relacionamento verdadeiro com Deus e sim

245 Ibidim, programa 125. 246 CHAN, F.; YANKOSKI, D. Louco amor, p. 108-109. 247 Ibidim, p. 53. 248 Ibidim, p. 52-53.

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para não se sentir “menos espiritual” que os outros. Da mesma forma acontece com a unidade. Com certeza, Deus se agrada muito mais de um pastor que visite outros líderes da igreja urbana sem tanta frequência para, com sinceridade, orar e buscar comunhão com eles, do que alguém que frequenta reuniões semanais de pastores apenas para ficar em paz com sua própria consciência, achando que assim está promovendo algum tipo de unidade. Chan afirma que:

Viver de uma maneira morna e usar o nome de Cristo ao mesmo tempo é absolutamente odioso para Deus. (...) Entretanto, a solução não é forçar a barra, errar e, em seguida, fazer promessas ainda maiores que serão quebradas novamente. Não faz bem algum tentar acumular amor por Deus, ou seja, se condicionar a amá-lo mais. Quando esse amor pelo Senhor se torna uma obrigação – uma das tantas coisas que temos de fazer - acabamos nos concentrando ainda mais em nós mesmos.249

Toda e qualquer ação em busca da unidade deve ser, antes de qualquer outra, uma atitude de amor sincero a Deus. Buscar se relacionar com outros crentes por medo das consequências da desobediência não é o correto. A unidade visível com os outros líderes da igreja urbana pode e deve ser buscada pelo amor a Deus. Quando a pessoa busca de forma intensa amar a Deus, não fica se perguntando se está fazendo da forma correta ou se serviu a Ele suficientemente durante a semana.250 Pelo contrário, quando está “correndo” em direção a Cristo, o crente está a salvo, livre “para servir, amar e dar graças sem culpa, preocupação ou medo”.251

Assim, o amor a Deus é expresso, principalmente, na obediência a ele, não por medo ou culpa, mas com todas as forças e todo o 249 CHAN, F.; YANKOSKI, D. Louco amor, p. 101. 250 Ibidim, p. 102. 251 Ibidim, p. 102.

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68 Cléber Mateus de Moraes Ribas entendimento, buscando agradar a Deus. Um amor sincero, grato, porque Ele amou primeiro. Infelizmente, muitas pessoas pensam amar a Deus, quando na verdade amam o que Ele lhes dá.252 Se lhes perguntassem qual o maior bem da terra, talvez respondessem que é ter segurança na área financeira ou gozar de plena saúde.253 No entanto, “o maior bem da terra é Deus. E ponto final. O objetivo de Deus para nossa vida é ele mesmo”.254 Conforme Chan,

Imagine que coisa terrível seria ouvir de seu filho: ‘Eu não amo você de verdade nem quero o seu amor, mas não dispenso minha mesada, faça o favor’. No sentido inverso, que lindo presente é quando uma pessoa que amamos nos olha nos olhos e diz: ‘Eu amo você. Não a sua beleza, o seu dinheiro, a sua família ou o seu carro. Só você. (...) [você] Pode dizer isso a Deus?255

Para o cristão sincero, viver total e completamente para Deus, de forma obediente pelo simples desejo de agradá-lo, é mais que o principal objetivo de sua vida – é o único. John Piper, pastor, conferencista e escritor norte-americano, citado por Chan, afirma que

A pergunta crucial para nossa geração – e para todas as demais – é esta: se você pudesse ter o paraíso, sem doenças e com todos os amigos que já teve na terra, e todas as comidas das quais gosta, e todas as atividades de lazer que aprecia, e todas as belezas naturais que contemplou, e todos os prazeres físicos que experimentou, e nenhum conflito humano ou desastre natural, se satisfaria com tudo isso, caso Cristo não estivesse nesse paraíso?256

252 CHAN, F.; YANKOSKI, D. Louco amor, p. 58. 253 Ibidim, p. 58. 254 Ibidim, p. 58. 255 Ibidim, p. 58. 256 PIPER, J. Apud: CHAN, F.; YANKOSKI, D. Louco amor, p. 98.

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69 Unidade entre líderes da igreja da cidade Para o cristão sincero certamente este não seria o céu, mas o

inferno. Porém, se o cristão não está vivendo desta forma, há tempo para corrigir este erro. Segundo Chan:

Diga que ele não é a coisa mais importante em sua vida, e que você lamenta. (...) Declare que você quer ser transformado por Deus, que anseia por ter prazer genuíno no Senhor. Conte como deseja sentir a verdadeira satisfação e alegria em seu relacionamento com ele. Diga ao Senhor que você quer amá-lo mais que qualquer outra coisa neste mundo, e que valoriza de tal forma o reino dos céus que seria capaz de vender tudo sem hesitar para alcançá-lo. Revele as coisas que você gosta em Deus, o que mais aprecia e proporciona alegria.257

Assim, amar a Deus deve ser o único objetivo do crente. Este amor é manifesto na obediência a Ele como forma de louvor e gratidão sinceros. No entanto, o cristão não pode dizer amar a Deus e viver em uma “redoma de vidro”. É impossível ao cristão ter um relacionamento de intimidade e obediência com Deus e viver em desarmonia com seus irmãos. Em sua primeira carta, o apóstolo João afirma que não se pode amar a Deus e odiar os outros cristãos, pois se alguém “não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4.20). Assim, o cristão que ama a Deus deve também amar os seus irmãos. O amor ao próximo

Assim como o amor a Deus, o amor ao próximo tem de ser manifestado em ações. Se alguém pensa que ele depende unicamente “de sentimentos afetivos está enganado, e esse engano tem sido uma das maiores dificuldades de relacionamento entre os cristãos (...) a iniciativa de amar não deve depender inteiramente da emotividade. É uma questão volitiva”.258 Amar aos irmãos é, portanto, mais que um 257 CHAN, F.; YANKOSKI, D. Louco amor, p. 108-109. 258 REAL, P. Relacionamentos na igreja, p. 18.

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70 Cléber Mateus de Moraes Ribas mero sentimento, mas uma atitude. Paulo Real, pastor batista, afirma que “uma pessoa com autêntico caráter cristão submete as emoções a seus princípios. E não o contrário. A maioria das pessoas, entretanto, só é capaz de amar se seus sentimentos estiverem à flor da pele. É nesse ponto que muitos tropeçam, inclusive os cristãos”.259

Este amor, que pode ser chamado de amor cristão, deve tornar os crentes zelosos uns para com os outros, fazendo com que haja uma busca pelo bem alheio, bem como um cuidado recíproco.260 Conforme Real,

A prática do amor cristão está em amar as pessoas com a singularidade cristã, buscando formas práticas e criativas de ajudá-las, sem medir esforços. Quem ama se interessa por pessoas e busca estar sempre em contato com elas para expressar não só seu amor, mas também a alegria em poder ajudá-las.261

O amor cristão demonstra às outras pessoas que elas são valiosas aos olhos de Deus, direcionando-as, assim, a Ele.262 No entanto, o crente não deve pensar que suas atitudes sempre serão bem recebidas pelas outras pessoas. Muitas vezes, as atitudes de amor serão vistas como intromissão na vida alheia. Isto porque direcionar as pessoas a Deus, muitas vezes, significará exortá-las e corrigi-las. Ainda assim, é possível decidir agir em busca do melhor para os irmãos ainda que haja sofrimento pela sua tristeza, bem como perdoá-los quando necessário.263 Desta forma, é possível condicionar as emoções,

259 REAL, P. Relacionamentos na igreja, p. 19. 260 Ibidim, p. 23. 261 Ibidim, p. 26. 262 Ibidim, p. 30. 263 Ibidim, p. 18.

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acomodando-as às decisões racionais.264 Só através deste amor cristão é que serão desenvolvidos relacionamentos verdadeiros entre os crentes.265 Uma vez que todos são imperfeitos, suas diferenças devem ser sempre solucionadas neste amor e não gerando conflitos266 e divisões. Bruce afirma que

se a comunhão cristã for caracterizada por este tipo de amor (amor uns aos outros), então ela será reconhecida como comunhão dos seguidores de Cristo; apresentará a marca inconfundível do seu amor. Neste sentido, Tertuliano relata que em seu tempo (um século depois que este evangelho [João] foi publicado) os pagãos diziam aos cristãos: ‘Vejam como eles se amam!’ E eles não estavam falando de mero amor superficial, porque ele continua: ‘Como estão prontos a morrer uns pelos outros!’.267

É este amor que gera a unidade visível. É ele que o mundo precisa conhecer, pois revela o amor de Deus. Afinal, Cristo morreu pela humanidade. Atualmente, muitos alegam não conseguir amar os irmãos porque são muito diferentes e complicados, porque os outros não gostam deles ou porque não veem amor nas atitudes dos demais crentes. Muitos líderes não buscam amar os demais pastores da igreja urbana porque esperam ser amados primeiro. No entanto, Jesus amou pessoas bem diferentes e complicadas (Mt 9.13). Ele amou os que não gostavam dele e com certeza não viu nenhum amor nas atitudes daqueles pelos quais ele pediu o perdão de Deus (Lc 23.24). Cristo não esperou que ninguém o amasse para retribuir-lhes com a cruz. Pelo

264 REAL, P. Relacionamentos na igreja, p. 18. 265 Ibidim, p. 26. 266 Ibidim, p. 26. 267 BRUCE, F. F. João, p. 254.

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72 Cléber Mateus de Moraes Ribas contrário, ele morreu enquanto os cristãos ainda eram pecadores (Rm 5.8).

Sendo assim, de acordo com Real, não é hipocrisia nenhuma amar as pessoas pelas quais não há sentimentos afetivos. Assim seria se fosse feito por interesse ou motivos errados. Mas, quando o cristão decide amar estas pessoas ele está obedecendo a Deus,268 ou seja, está amando-o. Somente por meio deste amor obediente é possível disciplinar, corrigir e calar-se sem, no entanto, constranger, julgar, favorecer injustamente, ser omisso ou conivente.269 Só ele “é capaz de fazer pessoas diferentes, com visões diferentes, dons diferentes, e ministérios diferentes, caminharem juntas”.270 Real afirma que

Assim é o amor cristão. Ele visa a (sic) proporcionar o bem das pessoas e a promover seu crescimento em todos os sentidos. Esse amor pode reverter quadros de tristeza, fazer brotar esperança em corações angustiados, sarar feridas profundas e impactar as pessoas de maneira inesquecível.271

Assim, não é preciso “sair pregando” este amor às outras pessoas, e sim pô-lo em prática no dia a dia.272 Esta é a forma de evitar a divisão273 e, consequentemente, promover a unidade. Isto está claro no capítulo treze da primeira carta de Paulo aos coríntios. Este capítulo das Escrituras, que é muito lido em casamentos e funerais,274 “deve ser estudado no contexto do restante desta carta de Paulo à igreja de Corinto. Caso contrário, a bela canção não passará de um conjunto de 268 REAL, P. Relacionamentos na igreja, p. 19. 269 KIVITZ, E. R. Uma igreja como a sua, p. 170. 270 Ibidim, p. 170. 271 REAL, P. Op. Cit., p. 25. 272 CHAN, F.; YANKOSKI, D. Louco amor, p. 166. 273 REAL, P. Op. Cit., p. 25-26. 274 PRIOR. D. A mensagem de 1 Coríntios, p. 241.

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palavras – nobres, até enobrecedoras, mas apenas palavras”.275 Naquela igreja havia “divisões internas (1Co 1.11-13); conflitos judiciais entre irmãos (6.1); comportamentos que escandalizavam os mais fracos (8.8-13); egoísmo e embriaguez (11.20-22) e conflitos oriundos de práticas carismáticas (14.23-25)”.276 O caminho para a unidade desta igreja era o amor entre os irmãos. Por isso, neste capítulo, o apóstolo orienta os crentes daquela cidade “a exercerem a bondade e a paciência nos relacionamentos. Era preciso praticar o amor cristão, o amor oferecido por Deus, por meio de seu Espírito. Viver o que as Escrituras ensinam”.277 Conforme Stott, as palavras deste capítulo “nos colocam no devido lugar; elas nos humilham, porque começamos a enxergar o que realmente é importante para Deus. Elas nos redirecionam, como corpo de Cristo, para a nossa verdadeira vocação”.278

Assim, o amor a que Paulo se refere não é um sentimento, uma emoção temporária ou uma simpatia por alguém. É uma atitude. Ed René Kivitz, teólogo, escritor e pastor, afirma que

O amor é paciente, tudo espera e tudo suporta; isto é, o amor não é invejoso nem vive falando bem acerca de sim (sic) mesmo ou é cheio de vaidade fútil. Nada mais necessário do que estas propriedades para uma igreja onde seus membros disputavam ente (sic) si o ‘ser mais espiritual’ (I Co 1.9-11).279

Segundo Boor, os relacionamentos humanos, por serem baseados em simpatia e antipatia, em pouco tempo são abalados, pois a

275 PRIOR. D. A mensagem de 1 Coríntios, p. 242. 276 REAL, P. Relacionamentos na igreja, p. 25. 277 Ibidim, p. 25-26. 278 PRIOR. D. Op. Cit., p. 242. 279 KIVITZ, E. R. Uma igreja como a sua, p. 169.

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74 Cléber Mateus de Moraes Ribas paciência logo se acaba. No entanto, o amor cristão “não perde o fôlego”.280 Quem ama se doa, ou seja, não parte do que o outro possui, mas do que há em si mesmo que pode ser oferecido. Ele “abraça o outro também com todas as suas dificuldades e incompatibilidades”.281 Este amor liga o cristão com os outros irmãos, resultando em uma partilha de vida. No entanto, ele

‘não se alegra com a injustiça’ entre eles. Pelo contrário, ‘alegra-se com a verdade’, com tudo o que é verdadeiro e, por consequência, salutar e bom na vida dos outros. Portanto, (...) não é ‘cego’. Não tem nada a ver com a atitude pusilânime de enfeitar e encobrir, que muitas vezes consideramos como ‘amor cristão’.282

Sem amor, “a comunidade cristã se esfacela. Sem que os membros do corpo se entreguem uns aos outros, em atos altruístas, cairemos num individualismo competitivo que nos será fatal”.283

Assim sendo, toda e qualquer busca por uma unidade cristã deve ter como único objetivo o amor a Deus. Este amor é demonstrado, principalmente, através da obediência. Esta obediência é demonstrada em atitudes de amor para com as outras pessoas. Por isso, é imprescindível que os líderes cristãos da cidade não busquem seus próprios interesses, ou de sua denominação. Mas, é também fundamental que amem uns aos outros. Não apenas em palavras, mas especialmente em ações altruístas. Exemplos de atitudes de amor que preservam a unidade

Os líderes da igreja urbana devem amar-se de forma prática. Falcão Sobrinho afirma que 280 BOOR, W. Carta aos coríntios, p. 206. 281 Ibidim, p. 206. 282 Ibidim, p. 207. 283 KIVITZ, E. R. Uma igreja como a sua, p. 169.

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as igrejas devem sustentar os laços de amor umas com as outras, unindo os seus esforços para alcançarem juntas, o mundo inteiro com o conhecimento do Deus que ama a todo o mundo, tendo demonstrado esse amor por meio de Cristo. Assim como os laços de amor fraternal se ampliam profundamente no convívio da Igreja local à medida que o crente cresce em maturidade cristã, o amor das igrejas umas para com as outras também cresce à medida que elas vão amadurecendo como igrejas.284

Assim, o pastor deve lembrar-se de que os outros líderes, inclusive os de outras denominações, são seus colegas, o que nem sempre acontece, uma vez que os relacionamentos entre eles algumas vezes não são exemplares.285 No entanto, esta realidade precisa mudar. O líder que ama a Deus também tem de amar seus colegas de ministério de forma prática.

Algo que é extremamente importante, porém muito negligenciado, é a ação do líder em prol do Reino. Conforme Riter, “se nossa igreja é abençoada com líderes ou músicos, será que não poderíamos enviar alguns a uma igreja que deles necessitasse?”.286 O pastor que faz este tipo de questionamento está pensando primeiramente no Reino, mesmo que para isto tenha de abrir mão do crescimento de sua igreja, quando necessário. Riter afirma ainda que

vários grupos cristãos acreditam que existe apenas uma igreja em uma cidade – a deles. Portanto, se você não estiver naquele grupo, você não está em lugar nenhum. Somente o grupo deles tem a verdade.287

Infelizmente, isto faz com que muitos cristãos tentem levar os irmãos de outras igrejas a fazerem parte da sua. Para Riter, “a maior 284 FALCÃO SOBRINHO, J. A túnica inconsútil, p. 115. 285 CARTER, J. E.; TRULL, J. E. Ética ministerial, p. 157. 286 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 204-218. 287 Ibidim, p. 208.

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76 Cléber Mateus de Moraes Ribas parte do crescimento congregacional vem dos cristãos que mudam de uma igreja para outra, e não pela conversão de novas pessoas”.288 Para que isto não aconteça é preciso lembrar-se de que mais importante do que ter um rol de membros extenso é lutar para que mais pessoas alcancem o Reino dos Céus. O pastor que deseja a unidade entre líderes da cidade deve sempre ter isto em mente. Em hipótese alguma deve “pescar no aquário dos outros”, ou seja, tentar aumentar seu rebanho com ovelhas de outros pastores.

Além disso, ele deve ter discernimento quanto às pessoas que desejam ser membros em sua igreja. James E. Carter, experiente pastor americano, e Joe E. Trull, editor do periódico Christian ethics today (Ética cristã hoje), em sua obra conjunta, Ética ministerial, afirmam que “quando alguém que deseja mudar de denominação entra em contato com o pastor de outra igreja, ele deve esclarecer as dúvidas dessa pessoa com honestidade. Deve ressaltar as diferenças, mas não usá-las para fazer pouco das crenças de outros”.289 Se a pessoa não concordar com a doutrina da igreja nos pormenores, mas concordar nos absolutos da fé, deve ser encaminhada para outra igreja em que possa ser útil e também cuidada. Afinal, o pastor deve ter em mente que é melhor que a igreja da esquina, desde que seja biblicamente correta, tenha mil membros fiéis e a sua apenas cinco da mesma forma, do que as duas tendo pouco mais de duzentos acomodados.

Também é necessário que haja tolerância dos líderes para com as outras denominações quanto às suas diferenças. Obviamente, desde

288 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 204. 289 CARTER, J. E.; TRULL, J. E. Ética ministerial, p. 158.

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que não sejam diferenças nos absolutos da fé cristã. Falcão Sobrinho afirma que

Embora sejam autogovernativas e soberanas em suas decisões, as igrejas cooperam umas com as outras sem ferir a sua individualidade porque todas as igrejas estão sob o domínio do mesmo Senhor, (...) sob o controle do mesmo Espírito, fundamentam-se na mesma Palavra e visam alcançar o mesmo objetivo: a salvação do mundo, o que, obviamente, é um desafio maior do que todos os interesses imediatos de todas as igrejas.290

Por isso, é preciso agir tolerantemente. Segundo Carter e Trull, é bom que os líderes da igreja urbana tenham contato entre si. Conforme o seu relacionamento melhorar, também melhorará o seu trabalho em conjunto. Para promover este relacionamento é importante que os líderes trabalhem juntos, reúnam-se em “um grupo de estudo, apoio ou comunhão que seja interdenominacional, no qual pastores de várias denominações se encontram para discutir experiências e interesses comuns”.291 As igrejas podem trabalhar em conjunto dando assistência à comunidade na área social, como, por exemplo, aos moradores de rua e a outros grupos carentes.292

Ações de amor exclusivas do pastor também são extremamente importantes para a preservação da unidade e para sua manifestação de forma visível. O respeito e a valorização mútuos melhoram os relacionamentos “e expandem os horizontes de seu ministério”.293 Para que o pastor apoie, valorize e considere outros líderes da igreja urbana como aliados em diversas questões, não é preciso concordar com todos

290 FALCÃO SOBRINHO, J. A túnica inconsútil, p. 116. 291 CARTER, J. E.; TRULL, J. E. Ética ministerial, p. 158. 292 Ibidim, p. 158. 293 Ibidim, p. 160.

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78 Cléber Mateus de Moraes Ribas os métodos deles.294 Talvez o pastor não concorde com um determinado método de crescimento de igrejas adotado por outro líder, mas pode orar pelo sucesso dele. Além disso, pequenos gestos podem fazer toda a diferença nos relacionamentos entre ambos. Conforme Carter e Trull,

O pastor que já está estabelecido em uma comunidade deve visitar o pastor novo de qualquer igreja da vizinhança, independente da denominação. Se houver uma recepção ou festa de boas-vindas para apresentar o pastor à comunidade, outros pastores devem comparecer. Também devem procurar dar apoio aos colegas quando estes se encontrarem hospitalizados ou sofrerem alguma tragédia pessoal.295

Isso faz com que os outros líderes sintam-se amados e respeitados. Não mais passam a ver o pastor que agiu desta forma como um rival, mas como um irmão em Cristo e um companheiro na obra Dele. No entanto, muitos agem como se, para alcançar a unidade visível, fosse preciso desvalorizar os outros e competir com eles. De acordo com Riter,

será que desvalorizar outros crentes faz com que a nossa igreja fique melhor? Será que o nosso espírito crítico não implica em (sic) que competimos uns contra os outros? A crítica e a competição nunca promovem a unidade, elas apenas dividem o corpo de Cristo. A desunião tem origem em três mentiras básicas: todo mundo tem que crer como nós cremos, comportar-se como nós nos comportamos, e fazer parte de nosso grupo. Permitimos que a inverdade nos cause danos quando acreditamos que a unidade tem origem em qualquer uma dessas mentiras.296

294 CARTER, J. E.; TRULL, J. E. Ética ministerial, p. 160. 295 Ibidim, p. 158. 296 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 205.

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79 Unidade entre líderes da igreja da cidade Infelizmente, muitas dificuldades em alcançar a unidade na

cidade se dão pelo orgulho denominacional. Muitos defendem que o seu grupo “é o dono da verdade”,297 julgam-se mais fiéis do que os outros e sem falhas.298 Outros consideram-se os mais bíblicos, santos ou espirituais. Acabam acreditando na própria mentira de que são a melhor igreja.299

Riter conta que em um certo dia recebeu um folheto de uma igreja com os seguintes dizeres:

As pessoas evitam frequentar a igreja por muitos motivos. Por via de regra, os cultos de adoração são monótonos, só se fala em dinheiro, e a música é careta. Épocas e estilos mudam... não queremos que a igreja fique parada no tempo. Estamos começando o tipo de igreja que você procurava: Real, Radical, Relevante e Relacional! Nossos cultos se caracterizam pela música moderna, tecnologia de ponta, pessoas autênticas, jeans, e mensagens positivas que abordam as questões que você enfrenta no mundo de hoje. As pessoas estão percebendo que a igreja pode ser interessante, simpática, espiritualmente relevante e – será que nos atrevemos a dizer? – divertida! Mas, se você estiver procurando por bancos duros, hinos sonolentos, sermões entediantes, rituais vazios, e uma grande bandeja de coleta... desculpe-nos. Não dá para agradar a todos.300

Segundo ele, esta igreja transmitiu uma mensagem semioculta: “Evite as demais igrejas. Elas o chatearão e pedirão seu dinheiro. Elas tocam uma música careta e possuem bancos desconfortáveis. Mas nós sabemos ser igreja”.301 Estas críticas acontecem, principalmente,

297 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 204. 298 Ibidim, p. 204. 299 Ibidim, p. 204. 300 Ibidim, p. 203. 301 Ibidim, p. 203.

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80 Cléber Mateus de Moraes Ribas porque nem todos entendem a fé da mesma forma.302 De acordo com Stott,

Alguns procuram principalmente as estruturas de unidade mas, segundo parece, não têm a mesma preocupação no sentido de que a igreja se torne uma comunidade, pela mansidão, pela longanimidade, pela paciência em suportar e pelo amor. A preocupação principal de Paulo não é com estruturas; começa e termina com o amor (vs. 2,16).303

Riter ilustra esta falta de amor causada pelo orgulho denominacional. Segundo ele,

a Igreja dos mórmons surgiu porque seu fundador, Joseph Smith, não conseguiu decidir a que denominação cristã ele deveria se juntar. Cada denominação que ele investigava dizia que as outras estavam erradas e somente ela estava certa.304

Isto não significa que sua atitude ou as doutrinas defendidas por seu grupo atual estejam corretas. Pelo contrário, o líder que ama deve tentar ajudar na busca pela preservação da unidade da igreja e não fundar um novo grupo ou denominação por causa disso.

Há ainda outras formas de manifestar o amor que gera a unidade visível da igreja urbana. Riter apresenta alguns exemplos de igrejas e pessoas que buscaram pôr em prática a unidade, como em uma cidade em que todas as igrejas fecharam as suas portas para juntas cultuarem a Deus.305 Outra história de busca pela preservação da unidade que pode servir como exemplo para os líderes eclesiásticos da atualidade é a de Ted Haggard, também contada por Riter:

302 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 204-205. 303 STOTT, J. A mensagem de Efésios, p. 125. 304 RITER, T. Op. Cit., p. 204-205. 305 Ibidim, p. 218.

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Quando entendemos a necessidade da unidade, é certo que a maneira de vivermos nossa fé sofrerá mudanças. Algum tempo atrás, Ted Haggard começou uma nova igreja em Colorado Springs; depois de um início bem difícil, a igreja começou a crescer significativamente. Outra igreja da redondeza se sentiu ameaçada e castigou a igreja de Haggard com repetidos ataques públicos. Haggard tinha se comprometido com a unidade entre as igrejas, mas ele não tinha a menor ideia de como fechar essa brecha. Mais tarde, ele ficou sabendo que a outra igreja estava tendo dificuldade em pagar sua hipoteca de cerca de 100 mil dólares. Ele orou, apresentou os fatos a seu conselho, e deu um cheque de 100 mil para o pastor daquela igreja. Que tremendo ato de unidade! Assim com fez Haggard, devemos ir além de nosso entendimento intelectual sobre unidade, para vivê-la na prática.306

Assim, todas as atitudes em prol da unidade devem ser baseadas no amor a Deus e ao próximo – mais especificamente aos irmãos em Cristo. Por amor a Deus o líder busca em primeiro lugar o acréscimo de pessoas no Reino, mesmo que isto gere mais membros a outras igrejas. Ele tolera as divergências quanto a questões doutrinárias secundárias e não defende a sua denominação em detrimento das outras. Também não compactua com atitudes pecaminosas e com heresias praticadas por outros pastores. Pelo contrário, por amor a Deus e a eles, ele busca exortá-los visando o melhor para eles. Este pastor continua buscando a unidade visível com outros líderes, não importa o tempo que passe. E ainda que possa ter unidade visível apenas com um líder fiel a Deus, ele luta para isso, crendo ser melhor que com 20 pastores que estão longe de Deus. Por amor a Ele e aos irmãos, este líder jamais deixará de corrigir o que está errado, bem como de aceitar a correção. Enfim, o pastor que deseja buscar a 306 RITER, T. 12 mentiras que você ouve na igreja, p. 204-205.

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82 Cléber Mateus de Moraes Ribas unidade visível entre líderes da igreja urbana não pode percorrer outro caminho senão o caminho do amor – a Deus e ao seu irmão.

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CONCLUSÃO

Para a sociedade secular é muito difícil entender como várias igrejas podem afirmar servir ao mesmo Senhor e serem tão divididas. A grande maioria das igrejas presentes em uma cidade vivem completamente longe umas das outras, e às vezes isto ocorre até mesmo entre as da mesma denominação. No entanto, este afastamento não ocorre, na maioria das vezes, por causa dos membros, mas de seus líderes. Muitos pastores denigrem a imagem de outros grupos e fazem o máximo possível para que as suas ovelhas fiquem bem longe de outras igrejas, talvez até por medo de perdê-las. Esta realidade, porém, precisa mudar. É preciso um caminho para que haja unidade visível entre estes líderes, o qual foi apresentado nesta pesquisa.

Para isso, inicialmente foram conceituados os termos igreja, cidade e unidade, no primeiro capítulo. A igreja pode ser definida como um grupo de pessoas salvas por Cristo. Este grupo pode abranger desde os reunidos em uma casa até o conjunto de todos os cristãos em toda a história. Assim, a igreja pode ser o total de crentes de uma cidade. Esta, no Brasil, consiste em toda e qualquer sede municipal,

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84 Cléber Mateus de Moraes Ribas independente do número de habitantes que possuir, sempre com características urbanas. A unidade que esta igreja urbana precisa já existe, pois foi criada por Deus. Ela abrange todos os verdadeiros cristãos que devem zelar por preservá-la e mantê-la visível. Eles não necessariamente precisam concordar em tudo, mas apenas nas doutrinas essenciais.

No segundo capítulo foram apresentadas estas doutrinas, ou os absolutos da fé cristã. Primeiramente, os cristãos devem professar a mesma fé no único Deus. Ele é Trino, ou seja, é ao mesmo tempo três pessoas distintas – Deus Pai, Filho (Cristo) e Espírito Santo. O Pai enviou o Filho para morrer em favor dos homens que, crendo, recebem o Espírito Santo. É inegável também que o homem foi criado por Deus, conforme o relato bíblico. Todos são pecadores por natureza e precisam da graça salvadora de Deus para alcançar a vida eterna com Ele. Após ser salvo, o cristão passa a desfrutar da vida com Deus. Ela deve ser vivida à luz da Bíblia, que por sua vez, deve ser crida em sua totalidade e tida como a base para a conduta do crente. A vida cristã deve ser uma vida transformada, ou seja, diferente de como era antes da salvação, servindo de testemunho aos que não reconheceram o amor de Deus. Por fim, o cristão deve ter a certeza de que após a morte viverá eternamente na presença de Deus.

Prezar pela unidade é, mais que uma obrigação, um privilégio dos cristãos. Ela é claramente defendida na Bíblia, em especial nas cartas paulinas, como uma necessidade do corpo de Cristo. Somente os salvos que, por conseguinte, pertencem a este corpo têm o direito de lutar por ela. Ela é também um desejo de Jesus expresso em sua oração (Jo 17). É um grande privilégio dos cristãos o fato do Cristo ter orado pelo seu sucesso em relação à unidade. Por fim, ela é também uma

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forma de tornar Cristo conhecido ao mundo. Isto porque ela reflete o amor que Deus tem pelos seus, por meio do amor que eles têm um pelo outro. E que grande vantagem é mostrar ao mundo que Ele é essencialmente amor.

No último capítulo, é apresentado o caminho para a unidade entre os líderes da igreja urbana. Ela, assim como todas as atitudes cristãs, deve estar centrada no amor demonstrado de forma prática. Este amor deve ser primeiramente direcionado a Deus em forma de obediência, fruto de um relacionamento sincero. Ele também é manifesto no amor aos irmãos. Este amor não é um mero sentimento, mas uma prática intencional. É uma doação diária de si mesmo em prol do melhor para os outros. Por isso, são também apontados exemplos de atitudes por parte do líder que manifestam o amor cristão. O líder deve priorizar o Reino de Deus, ser tolerante para com os outros e não ter orgulho de sua denominação em detrimento das demais. Ou seja, deve agir sempre pensando primeiramente em agradar a Deus e buscando levar os outros a Ele.

Assim, de acordo com esta pesquisa as atitudes do líder cristão, quando baseadas no amor a Deus e ao seu irmão, podem levar uma igreja urbana a uma unidade visível. No entanto, isto pode ser até uma boa ideia, mas que ainda assim, seja considerada uma grande utopia. Ou ela pode ser algo pelo qual valha a pena lutar a fim de que seja posto em prática, mesmo que demore e que os resultados não sejam os esperados. Isto dependerá do leitor.

Se esta monografia servir apenas como fonte de pesquisa ou uma simples leitura, ela permanecerá sendo apenas mais uma teoria interessante. No entanto, ela não foi produzida com este intuito. Sua finalidade é a de levar o leitor a tomar a decisão de fazer a sua parte.

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86 Cléber Mateus de Moraes Ribas Desta forma, esteja servindo a Deus onde estiver, ele não medirá esforços para buscar a unidade visível entre os líderes da igreja urbana por meio do amor prático. Talvez demore anos para que um ou dois pastores da cidade também se engajem nesta busca. Talvez pouquíssimas pessoas entreguem-se a Cristo por causa desta unidade. Mas, mesmo assim, quando isto acontecer, terá valido a pena cada segundo em oração e cada lágrima derramada, pois a vontade de Deus terá sido cumprida na vida deste líder. Desta forma, as pessoas da sociedade secular saberão que determinadas igrejas são sim semelhantes e que lá elas encontrarão o único e verdadeiro Jesus e nele a salvação.

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