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J ORNAL -L ABORATÓRIO DO CURSO DE J ORNALISMO DA U NIDERP nifolha U "A primeira impressão que tivemos ao chegar ao Museu da Televisão foi a de ter voltado ao passado" "Um museu é o melhor lugar para recordações. Elementos que fizeram parte do passado estão ali, diante de nós..." O "transplante" das culturas... CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO - 2009 | EDIÇÃO 83 | ANO XII | ESPECIAL pro jeto espe cial E SUAS HISTÓRIAS... MUSEUS E SUAS HISTÓRIAS... MUSEUS

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J o r n a l - l a b o r a t ó r i o d o c u r s o d e J o r n a l i s m o d a u n i d e r p

nifolhaU

"A primeira impressão que tivemos ao chegar ao Museu da Televisão foi a de ter voltado ao passado"

"Um museu é o melhor lugar para recordações. Elementos que fizeram parte do passado estão ali, diante de nós..."

O "transplante" das culturas...

CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO - 2009 | EDIÇÃO 83 | ANO XII | ESPECIAL

projetoespecial

E SUAS HISTÓRIAS...MUSEUSE SUAS HISTÓRIAS...MUSEUS

02 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

Cia de Artes da Universidade completa nove anos

Investimento na dança:

Ascom Uniderp

Com o objetivo de promover o desenvolvi-mento da arte e da dança, oferecer condições de trabalho aos bailarinos e proporcionar a população o acesso à cultura, em setembro de 2000 foi criada a Cia de Artes da Universi-dade Anhanguera-Uniderp. A primeira apre-sentação aconteceu em outubro de 2000, em um evento promovido pelo Rotary. “Nesse ano completamos nove anos de atividades”, lembra Maria Helena Pettengill, uma das co-ordenadoras da Cia.

A frente do projeto com Maria Helena, es-tá a professora Sonia Rolon. A companhia é composta por bailarinos profissionais e aca-dêmicos da instituição. “Hoje estamos com acadêmicos de Direito e Educação Física. Já tivemos estudantes de outros cursos como Arquitetura e Urbanismo, por exemplo. Te-mos um corpo de bailarinos permanente. Por ano saem no máximo três pessoas, mais por problemas pessoais, pelo fato de não conse-guir mais conciliar os ensaios com o traba-lho”, pontua Maria Helena.

Atualmente a companhia conta com dez bailarinos. Segundo a professora Maria He-lena já passaram pela história da companhia aproximadamente 25 bailarinos. “Para ser bailarino da companhia tem que ter compro-misso. Ensaiamos três vezes na semana e ex-cepcionalmente, quando temos apresentações nos finais de semana também”, conta Maria Helena sobre a rotina das atividades da Cia.

“A Universidade entende que as manifes-tações artísticas e culturais estão intimamente ligadas ao bem-estar e desenvolvimento do ser humano, por isso, procuramos sempre in-centivar projetos nessa área”, destaca o pro-fessor Ivo Busato, pró-reitor de Extensão da Instituição. Para o professor, nesse período a companhia contribuiu para enriquecer e di-vulgar a dança sul-mato-grossense.

Um pouco de nós é o nome do espetácu-lo que a Cia de Artes está preparando para mostrar cinco trabalhos diferentes do gru-po. “A apresentação deve acontecer no teatro Aracy Balabanian no final de novembro”, diz Maria Helena.

Trajetória - Por ano a Companhia de Ar-tes faz, em média, 30 apresentações e nesses nove anos de história, algumas se destacam

como as mais marcantes. “Em janeiro de 2003, a companhia se

apresentou ao lado do grupo Chalana de Prata na cerimônia de posse do atual pre-sidente da República. Fomos o grupo que representou o Estado de Mato Grosso do Sul e essa apresentação foi muito impor-tante”, pontua Pettengil. No ano de 2006 a Cia de Artes participou da 3ª Mostra de Dança, em Cuiabá, Mato Grosso. Na oca-

sião foram apresentados três trabalhos: Idas e Vindas; Cunhataiporã e Nossos Campos têm Mais flores...

Escolhida pelos sul-mato-grossenses, a Cia de Artes da Universidade foi um dos representantes de MS no Salão de Turismo. O evento nacional aconteceu de 18 a 22 de junho de 2008 em São Paulo. Além da Cia, também participou o duo Filho dos Livres e a dupla Tostão e Guarany.

wAgNER gUImARÃES

Unifolha – Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Anhanguera/UniderpAno XII - Nº 83 - outubro de 2009 - Tiragem 5 mil exemplares.Obs.: As matérias publicadas neste veículo de comunicação foram produzidas pelos acadêmicos do 4º semestre do curso de Jornalismo da Anhanguera/Uniderp (N 40)Chanceler: Professora Ana Maria Costa de SouzaReitor: Professor Guilherme Marback NetoVice-Reitora: Professora Heloísa Gianotti PereiraPró-Reitor Administrativo: Antonio Fonseca de CarvalhoPró-Reitor de Graduação: Professor Eduardo de Oliveira EliasPró-Reitor de Extensão: Professor Ivo Arcângelo V. BusatoPró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Professora Elizabeth Tereza Brunini SbardeliniDiretor de Controle Acadêmico: Professor Eduardo de Oliveira Elias

Coordenador do curso de Jornalismo: Professor Marcos Rezende Morandi DRT/MS 067Jornalista responsável: Professor Alexandre Maciel (DRT/MS 162).Revisão: Professor Mário Márcio Cabrera (DRT/MS 109)Edição de fotos: Professora Elis Regina Nogueira (DRT/MS 090)Projeto Interdisciplinar "Vivências" - 4º semestre de Jornalismo - Professores envolvidos: Alexandre Maciel, Carlos Kuntzel, Elis Regina Nogueira e Mário Márcio Cabreira.Projeto Gráfico, Diagramação: Acadêmicos do 4º semestre, com supervisão do Professor Carlos Kuntzel DRT/MS 041Impressão: Gráfica "A Crítica"Unifolha - Rua Ceará, 333, bairro Miguel Couto, Campo Grande-MS. Cep: 79.003-010 – Tel:(0**67) 3348-8096. www.unifolha.com.br - E-mail: [email protected]

Expediente

03 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

A política da culturacAio possAri dAnielly AzevedosUe lizzie viAnA4º semestre

A partir de abril de 2009 foi criado o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), um sonho de todos que trabalham na área museológica. A entidade é a mais nova instituição federal vinculada à es-trutura administrativa do Ministério da Cultura e será responsável pela coor-denação das ações da política nacional específica para a área. Além de capaci-tar profissionais para atuar neste setor, que está, por enquanto, deficitário. Há menos de cinco cursos de graduação em museologia no Brasil.

A instituição também pede que to-dos os estados criem um sistema esta-dual de museus para haver uma maior interação em nível nacional. A finali-dade é melhorar os serviços do setor, aumentar a visitação e arrecadação dos museus, além de fomentar políticas de aquisição e preservação dos acervos.

Mato Grosso do Sul conta com 31 museus e um sistema estadual já foi criado, composto por todas as institui-ções que tem relação ao tema, sejam es-taduais, oficiais, públicas ou privadas, comunitárias, ecomuseus, entre outras. Vários municípios pretendem criar ou revitalizar seu centro de memória. O mais novo projeto em andamento é o da cidade de Três Lagoas.

Do início do ano até hoje, houve grande valorização dos museus perante a sociedade nacional e, de acordo com as estatísticas, haverá um aumento por conta da percepção que a população começa a ter de que estes são patrimô-nios públicos de grande importância para a cultura de um cidadão.

“As pessoas em geral ainda tem um conceito errado de museus, não pen-sam muito em cultura brasileira e ain-da confundem a utilidade dos acer-vos”, confirma a gerente de Patrimônio Histórico da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Neusa Arashiro.

Um museu, segundo o Ibram, tem que ter acervo próprio e que seja dis-ponibilizado para consulta pública. Acima de tudo, deve desenvolver uma ação educativa. Essa última caracterís-tica se remete a ser um ambiente vivo, aberto para questionamentos e novas informações. É exatamente isso que a sociedade tem que entender e buscar.

Apesar do pouco investimento desti-nado a essas instituições, Mato Grosso do Sul vai receber um recurso da or-dem de 205 mil reais do Ibram e a con-trapartida do Estado varia entre 10% a 20% do valor. Os responsáveis pelos museus procuram maximizar e apro-veitar de todo o jeito essa quantia para melhorias gradativas.

“Em Mato Grosso do Sul, ganhamos no mês passado o Museu da Cultura Dom Bosco, com acervo fantástico de culturas indígenas, com alta tecnologia de nível internacional”, lembra Neusa. O Conselho Internacional de Museus (Icom) define que um espaço como es-te “é uma instituição permanente sem finalidade lucrativa, aberta ao público, a serviço da sociedade e do seu desen-volvimento; que realiza pesquisa sobre a evidência material do homem e do seu ambiente, conserva, investiga, co-munica e exibe com finalidade de estu-do, educação e fruição”.

Livros sobre as políticas públicas dos museus ajudam a consolidar novo modelo de interação

dAnielly Azevedo

Neusa Arashiro, gerente de Patrimônio Histórico, diz que ainda resistem conceitos equivocados

dAnielly Azevedo

04 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

JUliAnA nogUeirAnAndo mendes4º semestre

Em uma manhã cin-zenta de setembro, adentramos o Par-que das Nações In-

dígenas para conhecer a nova sede do Museu da Cultura Dom Bosco, ou do Índio. São mil metros quadrados desti-nados ao prédio de tijolinho à vista, bem diferente daque-le que ficava na Missão Sa-lesiana, no centro da cidade. Originalmente, o museu foi criado em 1951 pelos padres salesianos e ficava no colégio de mesmo nome.

Ele está aberto para visitação desde o dia 24 de agosto, quando aconteceu a reinauguração ofi-cial, com coquetel de abertura da exposição. Ao entrarmos no hall sentimos o frescor do ambiente ainda com cheiro de constru-ção. Uma arquitetura moderna e arejada, com recepção ao fundo e pessoas descarregando um ca-minhão de bichos empalhados transitando ao meio.

Somos recepcionados pelo curador arqueológico, Dirceu Lonkhuijzen, calvo, de olhos claros e barba loira, que nos conta um pouco sobre a mostra. “Temos apenas 50% da exposi-ção pronta. Já é toda a parte ar-queológica e etnográfica, trazida do museu antigo e adaptada à nova estrutura. A maior atração, que é a coleção zoológica, ainda não está disponível”.

Antes de entrar no museu, o visitante tem uma aula de edu-cação patrimonial no auditório que fica do lado esquerdo da entrada principal. “Esperamos que essas aulas de boas manei-ras não durem muito tempo, pois as pessoas tem que se acos-tumar com visitas deste tipo”. Os ingressos custam 10 reais e estudantes e idosos pagam meia-entrada.

Dirceu nos leva à sala princi-pal, e nos deparamos com um grande portal de vidro sensível à nossa presença, que se abre e dá passagem para uma sur-

"Transplante" das culturas Dom Bosco

Acervo é apresentado de forma interativa para o público, com peças de cerâmica, urnas funerárias e até uma sala que representa as "almas" dos indígenas

presa: Um museu de nível in-ternacional, equipado com alta tecnologia.

Projeções no chão enchem nossos olhos com imagens do museu antigo e de como o acer-vo era disposto ao publico, sem muito cuidado. No primeiro ambiente, podemos ter acesso ao acervo de forma interativa, com muitas peças que contam suas histórias, formando uma sequência de bom gosto.

O ambiente foi projetado para o índio. Ele tem que reconhecer sua his-tória aqui dentro. As paredes, assoa-lho, iluminação e o clima nascem de uma visão futurista das formas e conceitos indíge-nas, para que a atual posteri-dade possa ser degustada com muita veracidade. “Os próprios indígenas ajudaram a montar a

exposição”.Avistamos, então, um índio

deslocado, porém orgulhoso de seu rastro étnico. De passagem por Campo Grande, o cacique do Xingu Faremá Kalapalo fa-lou sobre sua contribuição para o museu e explicou um pouco

da sua cultura. “Eu trouxe machado que meu avô fazê”.

Faremá também doou totens feitos na sua tribo para representar uma festividade fúnebre feita sempre que um cacique morre. “Quando eu mor-rer, meu filho fazê Quarup”, comenta o índio olhando com um sorrisinho ingênuo.

Quanto ao con-traste da vida na aldeia com as experiências na cidade, ele se mostra incomodado. “É difícil. O dinheiro lá é diferente. Aqui como você vai comer? Lá tem

peixe, tem água pra beber. Aqui compra tudo”. No entanto, Fare-má ressalta que hoje dependem de utensílios do homem branco. “A gente usa fósforo, machado, panela. Sempre que eu vou, le-vo coisa do homem branco”.

E o passeio pelo mundo indí-gena continua. Agora estamos diante de peças de cerâmica que representam o sepultamento. Pro-jetadas em uma superfície cônca-va que nos remete a uma caver-na, pinturas da pré-colonização parecem estar ali naquele lugar. Vemos também materiais usados na fabricação de tintas para uso na pele. Uma tigela tosca de pe-dra e um soquete. Imaginamos uma garota tirando uma dessas da bolsa, hoje em dia, para se ma-quiar dentro da sala de aula. Seria no mínimo engraçado.

Vasos, brinquedos, cocares e tantos outros ornamentos que sobreviveram ao longo dos sé-culos estão à disposição dos vi-sitantes do museu. Há também passarelas com piso de vidro, pa-ra que possamos sentir a cultura

indígena mais de perto, e ter a sensação de viver aquilo tudo.

No final da exposição, que pode ser vista sem um rotei-ro, há uma área circular cheia de bonecos muito antigos que representam as almas dos in-dígenas. “Este é um espaço para contemplação muito in-teressante, em que as pessoas às vezes têm a sensação de que estão sendo observadas”, comenta Dirceu antes de nos conduzir a um local repleto de computadores, onde os vi-sitantes podem ter acesso às imagens das peças e saber o máximo de informações pos-sível sobre elas.

Deixamos o museu com muita vontade de dividir a ex-periência com tantas pessoas que nunca viram algo tão es-pecial na cidade. Surpresos e encantados, só queremos ver o museu cheio de gente, be-bendo nessa fonte cultural tão importante e acessível, que acaba de tomar o primeiro fôlego pós parto.

"Uma tigela tosca de pedra e um soquete. Imaginamos uma garota tirando uma dessas da

bolsa, hoje em dia, para se

maquiar dentro da sala de aula. Seria no mínimo

engraçado."

rAchid wAqUed

05 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

Gritos no silêncio das coresO peão sela o seu cavalo, enquanto a bailarina dança ao lado. E, nas costas da magia, peixes nadam...

dAyAne reisdAyene pAzmílton JúniortAmArA mendonçA4º semestre

Compras, eletrônicos, gritos, promoções e muitas pes-soas. Quarta-feira, duas e meia da tarde, no Centro

Comercial Popular de Campo Grande, o Camelódromo. Em meio a anúncios de ofertas e milhares de produtos, en-contramos algo a mais, ao longe, em um canto quase que despercebido, se-guindo uma longa e sinuosa entrada. Caminho que nos leva ao silêncio, va-zio e floral. Rosas, tulipas, orquídeas, formando um jardim de telas em meio ao concreto e às armações.

Logo na entrada, senhoras e crian-ças reunidas cercadas de papéis. Era uma oficina de mosaicos. A concen-tração de todas elas nos inibia de fa-zer perguntas. Porém, a felicidade e a disposição estampadas em seus olha-res nos mostravam a grande realiza-ção que era aquele momento. Andan-do pelo espaço, em um segundo ato, casas, estradas e até Paris surgem nas

telas. O abstrato invade nossos olhos enquanto a música toca.

A média de preços dos quadros va-ria de 100 a 1,5 mil reais. Mas há tam-bém os menores, a valores populares de 30 a 70 reais. Relações Públicas do espaço, Lucila de Araújo diz que as obras são “vendidas bem”. “Normal-mente, são turistas que compram, pa-ra levar de recordação. Procuram na maioria das vezes ‘onças’, ‘jacarés’ e coisas relacionadas ao Pantanal”.

O peão sela o seu cavalo, enquanto a bailarina dança ao lado. E, nas costas da magia, peixes nadam. O “Espaço de Arte Criação e Mostra” foi inaugu-rado em dezembro de 2005. Sua função sempre foi expor ar-te nas mais variadas formas. Hoje, podemos encontrar telas pintadas por artistas como Nato Ma-galhães, Lenir Marques, Vanda Flores,

Clélia Caramori. Uma exposição de ori-gamis invadirá o local em breve.

C o o r d e n a -dora do local, Gisele Pacheco Mendes fala so-bre as mudan-ças de objeti-vos no espaço. “No começo, fazíamos expo-sições com ar-tistas consagra-dos da terra, e, agora, estamos fazendo com novos talen-tos”. Isso tudo

para difundir a arte no estado. Com as exposições, são ministrados cursos dos mais variados. Mosaico, cerâmi-

ca, violão, entre outros, com duração de dois meses cada. O público é, em sua maioria, composto por mulheres acima dos 30 anos.

Em um curso de desenho, mulhe-res viajavam entre os rostos que sur-giam no papel. Os lápis desenhavam formas desajeitadas. Olhos redondos, puxados, bocas grandes e tortas de ar-tistas iniciantes. Por ser gratuito, os cursos oferecidos têm como objetivo aproximar a arte da população. Uma vez que o ser humano se depara com ela, ele pode se transformar.

A exposição e os cursos ministrados no local são uma parceria entre a Fun-dação de Cultura de MS (Fundac) e a Prefeitura Municipal de Campo Gran-de. Cursos de Inglês e teatro também são oferecidos, mas estes apenas para filhos dos comerciantes do Camelódromo.

O lugar não somente expõe, mas, tam-bém, forma novos talentos. A maneira de expressão não importa, seja na musica, nas telas ou na cerâmica. O Espaço de Arte Criação e Mostra representa o reco-nhecimento da cultura regional pela socie-dade, pois preza pela promoção da arte de Mato Grosso do Sul.

Além de expor obras no local, os artis-tas podem comercializá-las. Os interes-sados em expor suas obras devem entrar em contato com a Fundac, na rua Brasil, 464. É necessário levar um portifólio com criações desenvolvidas pelo artista. Cada mostra tem a duração de quatro meses. E os cursos oferecidos são iniciados a cada bimestre.

O Espaço de Arte fica no segundo piso do Camelódromo, na avenida Afonso Pe-na. O horário de funcionamento é de 8h a 18h. Instalado em meio a um comércio popular, o lugar tem o objetivo de levar a arte, para quem tem mais dificuldade de acesso.

“No começo, fazíamos exposições com

artistas consagrados da terra, e, agora,

estamos fazendo com novos talentos”.

Em meio a gritos de anúncios e promoções, encontra-se o Espaço de Arte Criação e Mostra

DAyANE REIS

TAmARA mENDONÇA

Além da exposição de quadros, o espaço oferece cursos de mosaico, pintura, violão, entre outros, estimulando a formação de futuros talentos

06 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

Marco traz panorama histórico e socialAlém da escola contemporânea, são expostas obras de vários momentos das artes plásticas de MS

Arte em movimento

Adeline FernAndAAdriAnA qUeirozÉlidA monteiroJoAnA moronilAne nAkAsoneleonArdo BrAndão4º semestre

O Museu de Arte Contemporânea (Marco), localizado no Parque das Na-ções Indígenas, completa 17 anos de existência, em dezembro de 2009. Se-gundo a gestora de Arte e Cultura do local, Cristina Moura, são quatro expo-sições temporárias por ano. No acervo permanente, estão expostas obras que compõem um panorama histórico e so-cial de Mato Grosso do Sul.

“As obras estão organizadas, levando em consideração os momentos históricos das artes plásticas do estado e, também, contemplam as nacionalmente premia-das. Em decorrência disso, nem todas as telas são da escola contemporânea”.

Na sala onde fica o acervo permanen-te, a primeira artista que reconhecemos é Conceição dos Bugres. Três esculturas de bugrinhos estão dispostas uma em cima da outra. Logo atrás, outros sete estão enfileirados, com tamanhos e di-ferentes tons de amarelo e de marrom, na arte que é ícone no estado.

Os quadros apresentam diversas lin-guagens. Alguns são totalmente abstra-tos. Outros têm figuras humanas em

destaque. Temas como o Pantanal, os índios, a natureza, a divisão do estado são comuns. Ícones regionais, valores humanos e símbolos capitalistas, como um quadro que reinterpreta o logotipo da Coca-Cola, estão presentes também.

Cores fortes e suaves; telas coloridas ou quase monocromáticas; quadros di-nâmicos, outros reflexivos, alguns ale-gres e uns dramáticos. Diferentes técni-cas de pintura: xilogravura, ponta seca sobre papel, acrílico sobre linho ou tela, óleo, encáustica sobre náilon, guache sobre tela, pastel seco sobre papel.

Cristina Moura aponta uma contradi-ção. “Aqui (Marco), temos uma sala es-pecífica para restauração, mas não tem o profissional”. Não há, em MS, um grupo permanente de restauradores. Se uma peça sofrer dano, a mão de obra para o reparo tem que vir de outras par-tes do Brasil.

Segundo a gestora, para os funcioná-rios do museu, cada obra “é como se fosse um filho único”. Os cuidados se devem ao reconhecimento do trabalho que os autores tiveram. “São meses de produção pelo artista, sem contar o pro-cesso de criação e concepção, que exige muita dedicação deles”.

O economista carioca Fernando dos Santos do Nascimento, 33 anos, diz que é primeira vez que ele vem ao Marco. Ele admite que não tem muito costume

de visitar museus, mas acredita que o local é importante para transmitir a his-tória e a cultura da região.

Para a visitante Sandra Guimarães, 36 anos, é necessário observar a arte regio-nal. Ela conta que sempre traz os filhos para mostrar que o estado tem cultura. “Desde cedo, eles precisam se familiari-zar com esse tipo de arte”.

A estudante Patrícia de Souza Brandão, 19 anos, afirma que, no final de semana “é melhor ver a cultura do estado do que ficar em casa”. Ela gosta do museu por-que tem acesso às manifestações de ou-tras épocas. “Às vezes, a gente estuda nos livros, mas podemos aprender no museu, também. Tem gente que reclama que não tem acesso à cultura, mas tem opções em Campo Grande, como museu, mostra de filmes, tudo de graça”.

Cristina Moura destaca que muitos pensam que visitar um espaço como esse é somente o ato de admirar as obras expostas. “Hoje, passamos por um processo de formação de público e um ponto importante para isso são os oferecimentos de outras atrações pelo museu”.

Existe uma parceria com as escolas públicas, que podem levar seus alunos para conhecer o espaço. “Antes de co-meçar a visitação, contamos um pouco da história do museu”. São várias ofici-nas de arte e projetos educativos.

O Projeto Cinemarco acontece no segundo e último domingo do mês. Filmes do acervo da Progra-madora Brasil são exibidos gratui-tamente, no auditório. O Projeto Fazendo Arte no Marco envolve crianças de 7 a 12 anos. No último domingo do mês, promove-se re-leitura de obras do acervo ou de fora, oficinas de pintura, dese-nho, modelagem, expressão cor-poral, dramatização e música.

O Projeto Paralelos promove debates e discussões relacio-nadas à diversidade artística, além de palestras e cursos. Nas

férias, o museu oferece cursos de mosaicos, mangás e outros. No primeiro domingo do mês, acontece o Bazar de Artesanato. Já a oficina de fusão de vidro é permanente.

Há, ainda, uma biblioteca espe-cializada em arte contemporânea. Livros, revistas e catálogos, na-cionais e internacionais, além de vídeos sobre a história da arte, do cinema, da fotografia e da arquite-tura. Para participar das atividades e obter mais informações, ligue pa-ra o telefone 3326-7449 ou acesse o site www.marcovirtual.com.br.

“É melhor ver a cultura do estado do que ficar em casa”, afirma visitante

Projeto de parceria entre escolas e a instituição favorece a formação de público qualificado

ADELINE fERNANDA

jOANA mORONI

07 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

A história por trás das telasSe fossem

várias crianças, certamente ficariam

fascinadas, que- rendo pegar logo

cada um daqueles “brinquedos”.

Realmente, são deslumbrantes

as imagens que vimos. A primeira

impressão que tivemos ao chegar

ao Museu da Televisão foi a de ter voltado ao passado. O

local que abriga o museu em Campo

Grande foi uma das primeiras

residências da família Zahran.

AryAnA loBolUciAnA ÁBregoroBertA cÁceres4° semestre

Logo na entrada, nos deparamos com portões de ferro e as paredes feitas de tijolos pintados de branco, maiores que o comum, sustentados por enormes to-ras de madeira, em formato quadran-gular. O chão também é feito do mes-mo material, bem lustrado, tudo muito bem conservado. As portas e janelas estão sempre trancadas, para a conser-vação do local. O museu é iluminado por pequenas lâmpadas, proporcionan-do um ambiente agradável pela discre-ta iluminação.

Ao entrarmos em uma sala que logo daria acesso a outras, deparamo-nos com objetos muito valiosos. De início, fomos levadas ao ano de 1968, em con-tato com a primeira autorização da TV Morena para a transmissão da progra-mação. Foi como se estivéssemos exa-tamente naquela época, naquele dia.

Encontramos os materiais que fo-ram usados no começo da televisão, como câmeras antigas e pesadas, de fabricação inglesa, os primeiros apa-relhos televisivos e as máquinas que faziam as edições de imagem. Todas as relíquias e os documentos prote-gidos por uma caixa de vidro, bem reforçada.

Há uma câmera enorme, com tripé, a primeira usada na cidade. Além de quadros espalhados por todo o museu contando a história da televisão, com fotos e informações da época, como um retrato em preto e branco enve-lhecido dos pioneiros da televisão na região, Eduardo e Ueze Elias Zahran.

Na seqüência, entramos em outra sala. O gerente de marketing da TV Morena, Eddie Gutemberg nos mos-trou a fotografia de uma televisão, a primeira que veio para a cidade. Re-latou que as pessoas não tinham aces-so aos aparelhos televisivos. Por esse motivo, os irmãos Zahran trouxeram cerca de mil televisores e distribuí-ram gratuitamente, em vários pontos da cidade, como praças e centros co-merciais. Eles acreditavam que, assim, as pessoas iriam se interessar e com-prar, o que aumentaria a audiência dos programas exibidos pela emissora.

Eddie explica o porquê do museu ter pouca divul-gação. “Muito disso daqui é nosso arquivo”, reforça, dizendo que é aberto ao público. Apenas é neces-sário o agendamento. E, ainda, conta que o Museu da Televisão é mais direcionado aos estudantes de Comunicação. É um público específico que procura o local, o que gera certo receio. “Se você deixa muito aberto as pessoas podem depredar e queremos preservar”. Eddie explica que algu-mas reportagens são feitas lá, como em dias de visitação, quando escolas lavam seus alunos para enriquecer os

seus conhecimentos.Quando perguntamos por que se

chama Museu da Televisão e não da TV Morena, ele explica que os arqui-vos pertencem à emissora. Porém, acredita que é melhor ficar com essa denominação, pois, caso seja preciso agregar outras informações, não fica-riam presos ao nome.

Mais adiante Eddie seguiu em dire-ção a uma porta enigmática, trancada

com cadeados e reforçada por um ferro que a cruza-va. Era como se fosse anti-gamente, um baú no qual as pessoas guardavam lem-branças importantes que ho-je se tornaram símbolos ou amuleto de prosperidade.

Ao terminar de abrir as portas, toda aquela clarida-de tomou conta do lugar. A luz refletia nos preciosos ob-jetos da história da televisão.

Então estava ali a réplica da maior tor-re de transmissão do estado, cercada de pedras brancas como em um jardim de inverno. As visitas podem ser feitas de segunda à sexta, das 8 às 11 horas e das 14 às 18 h, mediante agenda-mento, nas dependências da Fundação Ueze Zahran, situada na rua Pedro Celestino, 1433, centro. Telefone para informações: (67) 3325-7050.

Há uma câmera enorme, com

tripé, a primeira usada na

cidade. Além de quadros

espalhados por todo o museu...

No local, os visitantes podem ver os aparelhos antigos e a réplica da torre da TV Morena

roBertA cÁceres

Diretor de marketing, Eddie Gutemberg, mostra os primeiros equipamentos usados na TV

AryAnA loBo

08 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

Um lugar para reviverAníBAl plAcêncioFlÁviA AndrAdemArcUs AntôniorAFAel pAniAgo4º semestre

Heróis no que fazem e, sempre, a ser-viço da população. Vão aos lugares de mais difícil acesso, com um objetivo claro: salvar vidas. Para eles, as chamas da esperança estarão sempre acesas, as-sim como acontece com as famílias en-volvidas na situação. Os personagens em questão são os militares do 2º/10º Grupo de Aviação Esquadrão Pelica-no, criado pela Força Aérea Brasileira (FAB), em 6 de dezembro de 1957.

Um museu é o melhor lugar para recordações. Elementos que fizeram parte do passado estão ali, diante de nós. A sensação é de estar frente a fren-te com a história que só conhecemos pelos livros. Ao entrarmos no Museu da Aviação da Busca e Salvamento, a recepção é amigável. O tenente Taffarel, responsável pelo atendimento, explica tudo sobre o Esquadrão Pelicano e o museu. Logo na entrada, a exposição de um avião que já foi utilizado pelo grupo fornece uma idéia do que está por vir.

Dentro do museu, inúmeros equipa-mentos que deixam todos fascinados. O tenente Taffarel explica que, antiga-

mente, muitos deles não eram patente-ados. “Demorou para os brasileiros per-ceberem a importância de patentear as criações. Há muitas coisas que foram idealizadas aqui, mas que povos, como os ingleses, copiaram e registraram no nome deles”.

Por causa disso, no ano de 1944, foi criada uma Organização Internacional de Aviação Civil (OACI), para que as invenções fossem registradas oficial-mente. As cordas em exposição no museu, embora simples, são elogiáveis. “Muitas pessoas já foram salvas com a utilização dessas cordas. Nos dias atu-ais, os cabos de aviões e helicópteros de resgate são mais finos”. Os capace-tes utilizados pelos militares, ao longo dos anos, não foram fabricados casu-almente, mas, sim, feitos sob medida, para as missões realizadas.

Assim como os capacetes, os unifor-mes usados pelos militares são des-taque nas estantes de exposição. Há muitos detalhes que só se percebem ao observar de perto, como a gola das camisas e, logo abaixo, o bolso com o símbolo maior do grupo, o pelicano. Existem uniformes de cores diferen-tes: laranja, verde e azul-marinho.

Há armamentos de todo tipo no mu-seu, metralhadoras principalmente. “As armas só são utilizadas em casos especiais, quando se sobrevoam áreas de risco ou países com ambiente hos-til, para prevenir”.

Tenente Tafarel trabalha há 8 anos na área, e sua vida é “ralada”, como a de todos os pelicanos. “Não é raro termos que trabalhar em finais de semana, feriados, até no Natal. Mas,

eu sou feliz aqui”. Ao final da visi-ta, ele mostrou aviões e helicópteros do Esquadrão Pelicano, além de nos presentear com livro e DVD, com a história do grupo.

Desde o ano de 1981, a sede oficial fica na cidade de Campo Grande-MS. O lema deles está claro nes-te trecho do hino “Juramos a todos salvar, sempre salvar, por uma vida a nossa ordem é lutar”. A partir do ano de 1968, com a desativação do SB-176, o Esquadrão Pelicano se tor-nou a única unidade aérea dedicada exclusivamente à missão de Serviço de Busca e Salvamento Aeronáutico (SAR), na FAB.

As atividades de busca e salvamento foram se desenvolvendo muito no Bra-sil, com o passar dos anos, acompa-nhando o crescimento do tráfego aéreo no país. Quando o Esquadrão comple-tou 50 anos de existência, os milita-res receberam um presente à altura da data: aeronaves mais modernas, que trouxeram agilidade para as missões.

O Esquadrão Pelicano é conhecido pelos resgates em acidentes aéreos. Mas a missão deles é bem ampla, e inclui tarefas como ajudar em campa-nhas de vacinação nas áreas de difícil acesso. Atualmente, a unidade é com-posta de 30 pilotos, 50 mecânicos e 30 militares.

Tenente Taffarel relata fatos históricos do museu e se sente honrado em fazer parte da FAB

Saguão de manutenção dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB): "A certeza do resgate vem dos céus" nos 40 anos do Esquadrão Pelicano

rAFAel pAniAgo

mArcUs Antônio

09 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

Embalados pelo slogan “A cobra vai fumar”, símbolo da FEB, nos-

sos soldados desembarcaram nas frias terras italianas para defender as Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Histórias como essa atra-em visitantes como o estudante Pablo Araújo, de 17 anos. “Vim apenas duas vezes aqui, mas sempre que preciso pesquisar algo mais sobre o trabalho da FEB e a Segunda Guerra, é o primeiro lugar que me vem à cabeça”.

Entre fotos, qua-dros e objetos utili-zados em combate, as conquistas e tra-gédias se revelam inúmeras nas três salas do museu. “Eu falei!”, comemorou Pablo, como se acabasse de fazer um gol, quando viu um panfleto da Segunda Guerra que confirmou sua tese sobre o conflito psicoló-gico, que possuia um conteúdo extremamente idealista. “Coisas assim não se encontra na Inter-net”.

O valor material e represen-tativo das peças é inestimável. Todo o acervo foi adquirido por meio de doações que são feitas principalmente por militares e reservistas que atuaram na expedição. O acervo inicial foi

doado pelo coronel José Alves Marcondes ao Comando Militar do Oeste (CMO) e integrado ao museu. Dentre eles, os objetos que melhor retratam a atuação e o espírito da FEB são os de suplementação e primeiros so-corros, mostrando o importante valor de suporte técnico e ope-racional que os pracinhas brasi-leiros desempenharam em solos italianos.

Por um instante, os mapas estratégi-cos e fotos da mon-tanhosa região de combate por onde os soldados passa-ram, nos leva a um cenário paradisíaco e ao mesmo tempo hostil, retratando as várias faces da guer-ra. “Deve ter sido

horrível para os soldados passar dias em campanas entre essas montanhas”, diz Pablo admiran-do as fotos.

Os apetrechos de combate e de reconhecimento dos soldados tinham uma particularidade para enfrentar o rigoroso inverno eu-ropeu. É o que mostram as rou-pas e o fardamento militar, com-posto por um espesso casaco de lona que também era utilizado como “traia” para o acampamen-to, reduzindo, assim, o material levado em campanas.

O manequim utilizado para

a exposição da vestimenta no museu, que enfrenta de segun-da a sexta o calor local, diferen-temente do clima da Itália, não parece nada confortável.

As glórias e conquistas trans-bordam do quadro de meda-lhas e condecorações, como a Cruz de Combate e a medalha de guerra, forjadas em metais nobres e atribuídas aos heróis e aqueles que deram a vida pelo Brasil na Segunda Guerra Mun-dial e também nas publicações dos jornais da época, otimizan-do as ações militares.

O material bélico exposto no museu é raro e repleto de armas de grosso calibre. Muitas delas são de fabricação alemã e foram abandonadas durante os com-

"A cobra vai fumar"

bates. Há até uma granada de morteiro 60 milímetros, capaz de destruir um automóvel.

Na sala, que simula um front de batalha e no quadro de armas, encontramos um verdadeiro ar-senal de guerra. As submetralha-doras MP-18; MP-40; a impres-sionante metralhadora MG-34, utilizada para abater veículos grandes; o rifle carabina K-48; pistola 9mm e também a Luger 08, semelhante a que o ditador nazista Adolf Hitler utilizou em maio de 1945 para se matar, for-mam essa artilharia pesada.

A todo o momento, a história e as nuances da Segunda Guerra se mostram a qualquer olhar, e não se resumem em apenas do-cumentos concretos. No acervo

de fotos, o museu nos traz algu-mas peculiaridades para serem contempladas, como a reprodu-ção da morte do ditador italiano Benedito Mussolini, capturado e executado pelas forças aliadas em 1945.

“Isso é muito importante pa-ra o resgate, eu não sabia que ele tinha morrido exatamente assim”, afirmou Pablo rumo aos canteiros da avenida Afonso Pena, com a sua pesquisa con-cluída e após ter vivido uma experiência que poucas pes-soas que visitam o museu da FEB encontram. Muitas delas são estudantes em excursões e militares, que se vêem bra-vamente retratados em cada canto do museu.

No coração de Campo Grande, entre a avenida Afonso Pena e Rui Barbosa, está localizado o museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB) o “guardião da historia”, que nos convida a voltar a um dos períodos mais patrióticos vividos pelo Exército Brasileiro

Na sala, que simula um front

de batalha e no quadro de armas,

encontramos um verdadeiro

arsenal de guerra

denis AUgUstogUstAvo nUnesmichAel grAncerAFAel hiAne4º semestre

No calor sul-mato-grossense, o traje utilizado pelos pracinhas da FEB no rigoroso frio europeu, fica só no museu

Explosões nem pensar: Por medida de segurança, armas e munições utilizadas na Segunda Guerra foram desativadas

denis AUgUsto

denis AUgUsto

Imagens e sons da nossa históriaAnny mAlAgoliniFlAviA silveirAJoice vieirAsUzy FigUeirAs4º semestre

O Museu da Imagem e do Som (MIS), de Mato Grosso do Sul, foi fundado em dezembro de 1997, e, mesmo assim, poucos o conhecem ou sabem da sua

importância para o resgate da cultura do estado, que é novo e ainda está criando sua identidade cul-tural.

Em seu acervo, guarda cerca de cinco mil peças como CDs, fitas VHS, fotografias, livros, documen-tários, filmes 16 milímetros e mostras de arte digital interativa. O museu já esteve em vários endereços e está passando por uma reestruturação, seguindo as normas do Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-tístico Nacional (Iphan). Será construída uma sala de projeção maior para conservar melhor o arquivo, agora deslizante e climatizado, informa o gestor de Produção Cultural do museu, Rodolfo Ikeda.

João, ator e estudante de artes cênicas, diz não co-nhecer o novo espaço do MIS em Campo Grande. Ele, que já participou de um curso de cinema, no antigo endereço, na avenida Afonso Pena em frente à Praça do Rádio Clube, ressaltou a importância do fomento à produção.

O novo espaço do MIS vai preservar melhor o acervo, diz o ator Mário Filho . Para ele, o que falta para o museu ser freqüentado como nos grandes centros é divulgação. “É aquela velha história, a po-pulação nunca vai freqüentar o MIS se não souber da existência dele e do que se trata. Muita gente nem conhece o que tem lá dentro. Fotos do inicio da cidade, filmes de Glauce Rocha, do José Otavio Guizzo. Eles fazem mostras, mas uma vez fui em uma e tinha três pessoas assistindo o filme. Acho um absurdo isso".

O MIS recebeu no dia 1º de junho de 2009, o prê-mio Darcy Ribeiro, pelo projeto “Preservar a me-mória, educar para o futuro”, que foi publicado na revista Instituto Brasileiro de Museus. “Falta cons-cientização da população quanto à importância da cultura e da construção de uma identidade local. A conscientização dessa identidade. Todos os eventos são divulgados na mídia”, defende Rodolfo Ikeda.

Enquanto isso, o acervo está guardado, esperando a nova infra-estrutura. Na programação, exibições de filmes, exposições de fotos, instalações e cur-sos de fotografia e cinema. O novo espaço do MIS não tem previsão para ser inaugurado, mas, mes-mo assim, o museu continua aberto de segunda à sexta-feira, das 12h às 18h. A entrada é gratuita e a classificação é livre.

Com o intuito de fomentar a produção no estado e o conhecimento profissional nas áreas voltadas para a imagem e som, acontece até dezembro o programa Ciclo de Formação em Cultura Audiovisual.

Elementos significativos da linguagem cinematográfica por meio da análise de trechos de filmes e curtas-metragens selecionados

Iniciação à fotografia, com análise dessa linguagem na publicidade e na imprensa, com o objetivo de capacitar novos profissionais

10 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

jOICE vIEIRA

ANNy mALAgOLINI

11 CAM PO GRAN DE OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

elizângelA lemeslArissA mUnhoz4º semestre

Biotério é uma área específi-ca, autorizada e equipada para acomodar animais, como roe-dores, serpentes, marsupiais, cães e aves, para utilização em pesquisas, extração de venenos

Biotério é espaço de visitas e pesquisas

e estudos de comportamento. Universidade da capital abriga um serpentário com uma mé-dia de 300 cobras.

A bióloga e médica veteriná-ria, Paula Helena Santa Rita, explica que eles extraem o ve-neno das serpentes e mandam para São Paulo e, de lá, é em-

barcado para a China. “Aqui é o biotério onde se faz toda reprodução de camundongos para pesquisas científicas e também alimentação das ser-pentes.” Um forte odor de uri-na de rato impregna o lugar. “Já nem sinto mais o cheiro, acostumei”, brinca a bióloga

da equipe de apoio, Larissa Calif. O biotério possui dois corredores amplos, compostos por duas alas específicas. A dos roedores, com cinco salas de reprodução, dois estoques e uma de quarentena. Estes espaços são cheios de furos nas extremidades, para a cir-culação do ar.

A população estimada de roedores que o biotério tem está em torno de quatro mil. “Nossa capacidade mensal de reprodução é de cinco mil ro-edores, por sala”, informa Pau-la. A outra ala é onde ficam as serpentes, composta por duas salas de criação, uma para triagem e atendimento veteri-nário, onde se faz a biometria e sexagem. Outra é de necrop-sia, fixação e material, uma sa-la de estoque e de produção.

Na parte de fora do biotério, existe o tanque da sucuri, uma espécie de piscina, com diver-sas plantas, parecendo um pântano. São três cobras da es-pécie, duas fêmeas e um ma-cho. “Pesamos, tiramos 20% do peso e as alimentamos com dois ratinhos”, explica Larissa. Os alunos do curso de Biologia da Universidade Federal que estão no biotério, manuseiam as serpentes mor-tas e todos passam no teste de segurar uma jibóia viva. A bióloga Larissa explica como se deve segurar a cabeça e o corpo do animal, para não ser atacado por ele. Estas repór-teres, também passam pelo mesmo teste e constatam que a serpente, além de pesada, é fria e escamosa. Mas é um be-lo animal.

Bióloga explica sobre os cuidados que se deve tomar ao segurar as cobras

Alunos de Biologia visitam ala das serpentes e aprendem sobre a fisiologia de cada uma das espécies ali presentes

lArissA mUnhoz

elizângelA lemes

12 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

dAyAnA JesUssAmUel otA4°semestre

Em busca de terras ricas, es-paçosas, melhores condições para desenvolver junto à famí-lia, “a nova Canaã”, um grupo de sonhadores iniciou uma viagem. Saíram de suas terras e encontraram outras, dando origem aquela que viria a ser, anos depois, uma das mais be-las e novas capitais do Brasil.

Em homenagem ao desbra-vador e fundador da região, José Antônio Pereira, em 1983, a casa que havia da-do a seu filho Antônio Luiz, é tombada como patrimônio histórico e batizada de museu com o seu nome. Instalado na fazenda Bálsamo, o museu é preservado com característi-cas da época.

O lugar, que “era também o refúgio do senhor José”, torna-

BrUnA loUrençocArlos pereirA4° semestre

“No final do século XIX, o carro de boi transportava a es-perança dos pioneiros”. Este é um trecho de uma mensagem que recepciona os visitantes do museu José Antônio Perei-ra. Hoje, ao contemplar o veí-culo, exposto na cocheira, ao lado da antiga sede da fazenda Bálsamo, o visitante é trans-portado ao passado.

A construção em pau-a-pique é coberta com telhas de barro originais da época, “feitas nas coxas dos escravos”, segundo Luciano Almeida Lima, 23 anos, estagiário do museu e estudante do 3º ano do curso de História, da UFMS. Por este motivo, a temperatura mantém-se agradá-vel no interior da casa, mesmo nos dias de sol intenso.

A sala é o maior cômodo e o único com piso de tábuas cor-ridas, que, quase soltas, mo-vem-se conforme os passos do visitante. Nas demais peças da

residência, o piso é revestido com ladrilhos de fabricação caseira. Mesmo com poucos móveis e utensílios, pode-se ter uma pequena noção de como era morar naquela ca-sa. Os quartos ainda exalam o cheiro do couro utilizado para confeccionar os estrados das camas, “cheiros de uma épo-ca”. Alguns baús, uma velha máquina de costura e, em um canto, a imagem de Santo An-tônio. Na parede, uma mala de couro, uma camisa e um terno nos contam a história da família que ali vivia.

Ao passarmos pela baixís-sima porta que dá acesso aos fundos da construção, a in-crível sensação de sermos transportados ao passado é quebrada pela contrastante ar-quitetura moderna da sala da administração, com cores for-tes e vibrantes e equipamen-tos modernos ali instalados.

Ao lado, separada da casa principal, fica a cozinha. Esta era construída separada, para evitar riscos de incêndio, uma

vez que a lenha queimava du-rante todo o dia e, também, à noite, e por lá ser um local on-de ficavam os funcionários. As panelas de ferro sobre o fogão a lenha relembram aquela comi-da caseira dos tempos da vovó.

A aparente tranqüilidade do museu é quebrada pelo som do movimento furioso dos veículos, que trafegam pelas

ruas e avenidas, as quais, ho-je, cortam o que foi a fazenda Bálsamo.

Aos poucos, ouve-se o baru-lho das árvores movendo com o vento. Um grande pé de caju chama atenção entre o abaca-teiro, a goiabeira e, também, uma frondosa mangueira, que tem aproximadamente 140 anos. Uma doce mistura de

cores e sabores. Os visitantes são recebidos

por Anna Luiza, Antônio Luiz Pereira e a pequena Car-linda, que sobrevivem ali sob a forma de estátuas. "Hoje me veio à lembrança o casarão da Fazenda Bálsamo – A casa on-de nasci", diz Alda Garcia de Oliveira, trineta de José Antô-nio Pereira.

se parte da história de Campo Grande. Foi doado ao municí-pio em 1966, pela neta de José Antônio. Desde então, o mu-seu recebe visitantes de todos os bairros da cidade, turistas, estudantes, pais, filhos e aca-dêmicos.

“O público varia, vem mais famílias”, diz o guarda muni-cipal Lourival Soares da Sil-va, que há três anos trabalha no local. Para ele, o museu é antigo e tem que ser conserva-do. “Alunos que chegam aqui curiosos querem saber cada detalhe dos objetos”.

Seu Lourival responde com muito orgulho, porque ele te-ve uma oportunidade. A em-presa ofereceu o curso de mu-seologia, pela prefeitura, para os três guardas que trabalham ali. Mas, apenas seu Lourival se interessou. “Quando tem uma oportunidade, tem que

aproveitar. Sempre gosto de atender o pessoal. Temos que estar preparados. Desde o fa-xineiro ao guarda, tem que sa-ber, para poder ajudar quando precisar. O que eu posso fazer, eu faço pelo museu”.

Para recepcionar os visitan-tes, estão de prontidão três estagiários de História, da UFMS. Uma das estagiárias, Tatiane de Oliveira, acompa-nha os visitantes no museu, mostrando os objetos, expli-cando cada um deles, contan-do a história, as curiosidades e o modo de vida da época.

Mas, infelizmente, a maioria dos visitantes vem aqui “mais pra conhecer os objetos e não a história”, diz Tatiane, frus-trada. Sábado de manhã, Joel Tito, de 47 anos, foi acompa-nhar seus filhos no museu. Chegando, foram logo tirar fo-to do carro de boi. “Eu vinha

aqui, quando guri, era rústi-co”, afirma Joel, relembrando do passado. Sua filha, Vivian Gonçalves Tito, de 17 anos,

que estuda no colégio ABC, veio ao museu para fazer um trabalho sobre a historia de Campo Grande.

Visitantes do museu observam o engenho de cana-de-açucar, usado pelo fundador da cidade, José Antônio Pereira

Do refúgio do senhor José, nasce Campo Grande

Público observa uma das peças, cama típica da época dos pioneiros

Fazenda Bálsamo, morada dos pioneirosBrUnA loUrenço

cArlos pereirA

13 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

História contada de um jeito diferentedAliAne rAmireskArinA BritogABriel mAymone4º semestre

“Achei as conchinhas na praia, du-rante minha lua-de-mel”, lembra João Sâmper, professor de história e respon-sável pelo museu Latino Americano, localizado na chácara do Latino. Ele acredita que os objetos que fazem parte da História devem ser mostrados para todo mundo. Resolveu, então, exibir suas coleções no museu e foi juntando mais itens para complementar o acer-vo. Sâmper conta que ministra aulas de História no local, que é voltado para os alunos do colégio. “Os alunos têm dificuldade na aula e a ideia é estimu-lar a pessoa”.

Quem visita o museu presencia uma verdadeira aula. O professor faz ques-tão de explicar a origem de cada obje-to. O local só funciona hoje graças ao empenho e esforço do docente, que ga-nhou a maioria das peças. “Alguns pais doam objetos para o museu, e a gente dá um desconto na mensalidade”.

O passeio é recheado de curiosida-des. Os alunos encontram desde mine-rais originais, até maquetes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), História do Brasil e do mundo. Alguns objetos raros, como bonecos de porcelana va-

liosos, do século XIX, também podem ser apreciados.

A principal “engenhoca” é uma gran-de maquete da Segunda Guerra Mun-dial. Trata-se de um cenário muito real de como foi a guerra. O professor mi-nistra uma aula inteira sobre o aconte-cimento aos alunos, no museu. Muitas miniaturas foram adaptadas para se movimentar, tornando-as mais reais ainda.

Outra grande atração é o ferrorama. O professor João conta que ele expli-ca a evolução do trem, desde o modelo movido a carvão até o elétrico. “O pro-jeto começou na sala de aula, na feira de ciências, há dez anos”. O cenário da ferrovia é de acordo com a época. O trem à base de carvão passa por um castelo medieval, e o elétrico atravessa o cenário de uma cidade moderna.

Outra paixão do professor são as mi-niaturas de aviões da Segunda Guer-ra. Ele conta que demora cerca de dois meses para montar uma. Sâmper mos-tra com orgulho sua coleção de selos, inclusive, o primeiro do Brasil, o “Olho de Boi”. “Comecei quando era guri”. Documentos do ex-presidente Jusceli-no Kubitschek também são excelentes para dar aula. “Principalmente, para pré-vestibulandos”.

O museu Latino Americano tem a A cada explicação, os visitantes conhecem novos objetos que fazem parte de outras culturas

dAliAne rAmires

Adeline FernAndAmArcUs AlmeidA4º semestre

Voltar ao passado é importante pa-ra compreender o presente e resgatar a cultura. Como conhecer o antes que não presenciamos? A arqueologia estuda an-tigas sociedades, por meio de escavações e monumentos. E este estudo tem seu es-paço garantido em Mato Grosso do Sul.

Existe um lugar onde se preservam as origens culturais que vão se perden-do ao longo das gerações. A UFMS, por meio do Laboratório de Pesquisas Ar-queológicas (LPA), montou um belo acervo, exposto desde 1987. Segundo um dos técnicos do museu, Éder Janeo da Silva, o centro, que se localizava no Morenão, ficou pequeno para acomo-dar tantas peças. Demorou, mas a apro-vação para criar o museu saiu em 2003.

Depois de mais um tempo de espera de um espaço adequado, no dia 19 de maio de 2008, o MuArq foi inaugurado no Memorial da Cultura e Cidadania.

Os funcionários do museu, em sua maioria, são estagiários de História ou Artes. Laura Roseli Pael Duarte, futu-ra historiadora, que trabalha no local, conta que o público é bem específico, composto por grupos de escolas e uni-

versitários. “O museu ainda não está bem divulgado. Ano passado, vieram 140 professores em um evento; mas, tirando isso são mais estudantes.”

Mais conhecido como Antigo Fórum, com escadaria larga e comprida que nos le-va a uma instigante e maravilhosa viagem no tempo. Em seu interior, observa-se que nossa cultura é bela; porém, desvalorizada. Sentada em sua bancada, está uma moci-nha simpática, que nos remete ao contrário do arquétipo de um museu tradicional. Lo-go na entrada, surge o convite para assistir a um vídeo, em uma sala que mais parece um cinema. Ar condicionado, poltronas macias, paredes pretas e som ambiente, tudo muito moderno. Somos transpor-tados a um tempo quando as pessoas que aqui viviam eram muito diferentes das de hoje. Essa espetacular máquina é pilotada pelo arqueólogo e professor da UFMS, Gilson Rodolfo Martins, que,

com seu conhecimento, nos guia rumo ao passado. A viagem não se restringe apenas à minissala de cinema.

Ao entrar de fato, no museu da Ar-queologia, começamos a entender a importância de termos História. Silên-cio, paz, tranqüilidade... sentimos tu-do isso ao passear pelo conhecimento. Obras feitas antes de estarmos aqui. Bem a nossa frente, urnas funerárias, até guampa de tereré que era utiliza-da antes dos descobridores, cerâmicas ricamente decoradas, armas, pratos e copos. A cada passo, uma descoberta, uma deliciosa emoção de estar direta-mente dentro da historia do Mato Gros-so do Sul. Saímos com a impressão de que não sabemos nada sobre nós mes-mos, muito menos sobre o local onde vivemos. E com muito mais conhe-cimento que antes, após sensações e imagens inesquecíveis.

Quer saber sobre as origens indígenas?

forma de um castelo romano, com gra-ma ao seu redor e tocos de árvores que constroem o caminho que leva o visi-tante para dentro do espaço. Há telefo-nes antigos, pedras, moedas, bengalas e bibelôs, artesanato indígena, rádios, vasos de barro, fotos de monumentos e bancos, um violão utilizado na Grécia

antiga, cartões postais, cartas de pes-soas importantes, como uma ao impe-rador, réplicas de carros, armaduras, armas de fogo e muito mais.

O passeio é repleto de surpresas, curiosidades e aprendizado. Para mar-car um horário, basta entrar em con-tato com o professor João Samper na

Nossas origens descobertas pela Arqueologia

Adeline FernAndA

14 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

nAtÁliA chAvesnAthAliA AlBUqUerqUe4º semestre

Grande espaço que possui teatro, local para exposi-ções plásticas, salas para cursos e oficinas. Rodea-

do por um terreno com um gramado e bancos ao ar livre. É assim o Centro Cultural José Octavio Guizzo, localiza-do na rua 26 de agosto na área central de Campo Grande. Fundado em 11 de outubro de 1984, vem a ser o primei-ro espaço destinado exclusivamente à cultura em Mato Grosso do Sul.

Atualmente, recém passado por mo-dificações o espaço ficou mais definido e com cara própria. Coordenadora do local, Fabíola Marques conta que me-didas foram adotadas para melhorá-lo. “Houve uma repaginação na parte da frente, nos muros fizemos um trabalho de grafitagem. Porém ainda são mu-

danças pequenas". Mais obras de repa-ros acontecerão em 2010, com verba do Ministério da Cultura.

Ainda na frente do prédio é possível observar algumas esculturas. Ao adentrar no Centro Cultural nos deparamos com um grande salão revestido por paredes de vidro. Lá podem ser localizadas a recep-ção, uma das entradas para o teatro, e a galeria principal Wega Nery. Fabíola conta que foi uma forma de homenagear a artis-ta plástica sul-mato-grossense, pouco re-conhecida no estado. Nesta galeria ficam expostos os seus principais trabalhos.

Seguindo por um corredor, se vê um painel que retrata o cenário musical do es-tado. O diferente do quadro? O formato do mapa de Mato Grosso do Sul é composto por CDs de diferentes músicos e bandas regionais. Logo adiante, a segunda galeria, Ignêz Corrêa da Costa, outra importante artista do estado. Esse local traz pequenas exposições do Museu de Arte Contempo-rânea (Marco). “Nossa tentativa é aproxi-mar o público, já que nem todas as pesso-as podem ir até o Parque das Nações”.

Ainda nesse corredor estão localizadas as salas para palestras, cursos temporá-rios e ensaios dos grupos de teatro e dan-ça. Aliado ao Centro Cultural, fica o seu complemento, o teatro Aracy Balabanian sendo que muitos pensam o contrário. O espaço teatral conta com capacidade para 297 pessoas. Sendo bastante uti-lizado para peças, eventos de música e danças.

Projeto bem conhecido é o Cena Som, que ocorre toda quinta-feira. Trata-se de uma integração e uma ten-tativa de mostrar ao público talentos do cenário regional. O Centro Cultural possibilita aos artistas elaborarem seus espetáculos e em troca, fornece mate-rial, equipamento e iluminação para a sua realização.

O Centro Cultural tenta, por meio de parcerias e projetos inovadores resga-tar a população para os valores e ideias culturais. Fabíola conta que as barreiras são gigantescas. Durante muito tempo as pessoas, primeiro, associavam o te-

atro e nem se lembravam que existia um Centro Cultural ali do lado. Hoje, as coisas estão mudando: o Centro Cul-tural ganhou mais notoriedade e o pró-ximo passo é fazer com que as pessoas se conscientizem do espaço e, no tempo livre, façam dele uma opção de lazer.

Maneiras para se passar o tempo não faltam no Centro Cultural. Existem op-ções para os diversos gostos. O projeto Cine Brasil traz exibições de longas e curtas nacionais. na última semana de todo mês. As exibições ocorrem sem-pre às 18h30.

O Projeto Cinema de Horror, no mes-mo horário, proporciona exibições de filmes do gênero seguidas de debate. Já na primeira terça-feira do mês aconte-ce o Sarau do Centro Cultural, das 19h às 21h no qual é promovido o encontro de manifestações culturais.

Existem também oficinas que ocorrem tanto de forma permanente como tempo-rárias. Estas são de capoeira, dança, teatro, musicalização para bebes. Pintura e histó-ria da arte, teatro infantil, juvenil e adulto e dança de salão. O Centro Cultural fica aberto todos os dias e o telefone para con-tato é (67) 3317-1792.

CENA SOMtoda quinta-feira19h

CINE BRASILúltima semana do mês18h30

CINEMA DE HORRORduas exibiçoes mensais18h30

SARAU Primeira terça-feira do mês19h

QUARTA ERUDITAprimeira quarta-feira do mês 19h

Entre oficinas e exposições, uma nova arte

Oficina de cerâmica do Centro Cultural é um dos exemplos da pluralidade de eventos no local

Painel de CDs com cenário musical do estado

NATáLIA ChAvES

NATáLIA ChAvES

15 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

AdriAnA qUeirozmAzzio nAntes4º semestre

Decoração preta e branca. Quadros, fotos, camisetas, bonés, caneta, copo. O acervo do Memorial do Operário Fute-bol Clube foi montado com doações de torcedores. O local foi inaugurado no dia 21 de agosto deste ano, quando o time completou 71 anos de existência.

As fotos mostram o estádio Pedro Pedrossian, o Morenão, lotado e com faixas enormes da Garra Operariana. Retratam momentos importantes, co-mo o título de 1976, quando o Operá-rio foi campeão estadual invicto, com o técnico Carlos Castilho. “O Operário Futebol Clube é a equipe que possui mais títulos entre as profissionais de Mato Grosso do Sul”, diz um texto do quadro com a história do time.

Presidente da torcida organizada Gar-ra Operariana, Américo Ferreira conta que o memorial é uma homenagem ao time. “O torcedor pode reviver o pas-sado e pensar no presente também”. O prédio é alugado, mantido pela Asso-ciação da Garra Operariana. São 360 filiados. Alguns possuem a carteirinha da entidade e ajudam nas despesas. A torcida sempre acompanha o time. “Quando tem jogo, a torcida faz cara-vana. Chapadão, Corumbá... já fomos a muitas cidades para assistir os jogos".

A intenção é mudar o acervo a cada quatro meses, para as pessoas visita-rem sempre. “Fazer acervos temáticos, por exemplo, pegar o ano de 1974 e fa-

Força operariana de muitas glórias

lar quais eram os jogadores, relembrar momentos do Comerário, que é o clás-sico Comercial e Operário. Queremos passar o lado positivo do time, atrain-do empresários, para que as pessoas ajudem a fortalecer a equipe”.

Américo conta que o Operário está há 12 anos sem ganhar título. Por isso, é difícil conseguir torcedores. Para ele, o lugar serve para manter a história da equipe, resgatar e formar admiradores. “Hoje, os jovens veem os jogos mais pela televisão. Os pais precisam incentivar os filhos a torcer pelos times do estado. Ensinar o filho a ser torcedor de arqui-bancada, aquele que grita, que pode in-fluenciar o jogador, o time, o jogo”.

Mesmo com a situação difícil, o am-biente é alegre. É também um ponto de encontro dos torcedores. Nas sextas-feiras e aos sábados, a torcida se reúne para jogar sinuca e ver jogos do Ope-rário. “Temos oito DVDs com jogos do time”. E, ainda, tem música ao vivo.

torcedores

Luciano Nascimento é radialista e torce pelo Operário desde criança. “Achei muito lindo o Memorial. É mi-nha segunda casa. E é uma forma de reerguer nosso futebol. Não torço para time de fora do estado”. Um dos fun-dadores da Garra Operariana, Edivaldo Moraes, enfatiza o fato de que a torcida é a única que transmite os jogos do ti-me. “Temos a TV Galo, transmitimos os jogos ao vivo pela internet, com um link da Holanda. Somos a única tor-

cida do Brasil que tem televisão”. Ele tem 41 anos e é analista judiciário. Fica chateado com a imagem que algumas pessoas têm da torcida. “Tem gente que acha que somos um bando de desocu-pados, baderneiros. Muito pelo contrá-rio, nossa torcida não é baderna, é tudo organizado, somos casados, temos fa-mília, profissão”.

Uma das mais antigas torcedoras do Operário, Maria de Lourdes Oruê, não sabe dizer exatamente desde quando tem paixão pelo time. Aos 72 anos, ela conta que morava em Aquidauana e, quando veio para Campo Grande, co-nheceu a sede do Operário. “Eu mora-

va ali perto, mas deixaram desmanchar a sede”. Indignada com o descaso com os times do estado, ela se acalma quan-do olha as fotos no acervo, relembran-do o nome de cada jogador e contando histórias da época.

Sílvio Eduardo relata que a maioria dos torcedores do Operário tem acima de 30 anos, porque as pessoas não pas-sam nossa cultura para frente, não va-lorizam. “Temos que honrar a cultura, os valores regionais. A divisão do Esta-do aconteceu pela luta de identidade, então vamos honrar. Nós e a mídia te-mos a missão de passar nossas culturas para nossos filhos”.

Tudo começou no dia 21 de agos-to de 1938, com os trabalhadores e produtores rurais que interrompiam seu trabalho diário para se reunir aos finais de semana, com o intuito de se divertir com os amigos e com a famí-lia. Com o passar dos anos, a brinca-deira começou a surtir efeito entre os empregados, empresários e amigos, hoje torcedores. Na década de 1970, o time decidiu se profissionalizar. O Operário Futebol Clube, com suas vi-tórias e garra, conquistava a torcida e o mundo.

O ponto alto da equipe foi em 1977, na disputa do campeonato bra-sileiro de futebol, quando enfrentou um dos mais fortes times brasileiros, o Palmeiras. O Operário conseguiu se classificar para a semifinal do campeonato e enfrentou o São Pau-lo, vencendo, no Morenão, por 1 a 0. Mas, não teve a grande felicidade no jogo de volta, no Morumbi, perdendo por 3x0. Assim, o Operário conquis-tava o terceiro lugar do Campeonato Brasileiro. Alguns atletas desse fei-to histórico começaram a escrever sua trajetória. Entre eles, estava o já consagrado goleiro Manga, um dos maiores ídolos operarianos.

O clube, conhecido nacionalmen-te, queria muito mais. Em 1982, o Operário foi disputar o campeonato Presidente Cup (na Coréia do Sul).

Com uma vitória em cima do “pode-roso Bayern de Munique”, o time saiu vitorioso do campeonato, em uma de suas maiores conquistas.

Mas, com o passar do tempo, a equipe começava a entrar em crise. Em 1999, com dívidas, a direção de-cide vender parte de algumas ações, criando, assim, o “futebol empresa”. No dia 29 de novembro de 1999, for-mava-se o Operário Sociedade Anôni-ma. Mas, na realidade, poucas coisas mudaram e isto se arrastou até 2006. Hoje, o clube não vive um grande mo-mento no futebol nacional, está rebai-xado no campeonato estadual, mas luta e busca retomar as vitórias.

Trajetória do Galo

Torcida organizada faz homenagem ao Operário, uns dos maiores times do estado de MS

Ídolo operaniano: grafite do goleiro Manga

Calma de Maria de Lourdes esconde a indignação com o descaso em relação ao futebol regional

mAzzIO NANTES

mAzzIO NANTES

16 CAM PO GRAN DE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL

AndrÉiA lorenzonimAriA FrAnciscA pAgnozzimArcos riBeirotAísA rodrigUes4º semestre

Descendo a rua Calógeras, no sen-tido da avenida Afonso Pena, o velho casarão de telhas francesas e esqua-drias italianas, trazidas pela mesma linha do trem que tirou a vida de seu fundador, Bernardo, abre as portas do passado para que possamos descobrir, ou ao menos imaginar, o mundo secreto da artista plástica Lídia.

O museu Lídia Baís foi o primeiro prédio de alvenaria de Campo Grande, construído em 1918. Conservam-se ali objetos pessoais da família Baís, assim como o quarto, que pertenceu à artis-ta, onde é possível ver suas telas e seus painéis.

Andando pela sala de entrada, é no-tável a inquietação e perspicácia aguda que as obras de Lídia nos mostram. Im-

pressiona a fase modernista, com o sur-realismo do quadro em que a artista apa-rece em cima do planeta Terra, cercada de nuvens e anjos. Ou, a ousada “Última Ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo”, em que se põe como o apóstolo preferido de Cristo.

Os olhos expressos nas fotografias ao longo da escada principal nos acompa-nham durante o percurso, envoltos em um clima místico, exprimindo a forte personalidade da artista.

Levada pela imaginação e inspiração artística, Lídia pintou os painéis nas pa-redes da Morada, sob os olhares compla-centes do pai e críticas das pessoas, pela ousadia de três figuras nuas, em face dos preconceitos da época. Tempos depois, já com outros moradores, essas pinturas no sobrado foram encobertas por tinta, à base de cal.

A Morada foi transformada na Pensão Pimentel, até 1979, e, depois, deu lugar a vários tipos de comércio, sendo revi-talizada em 1995, quando foram restau-rados três painéis feitos por Lídia, nos anos 1930. A coordenadora da Morada dos Baís, Janine Tortorelli, explica que as obras de Lídia foram doadas para o Mu-seu de Arte Contemporânea (Marco).

Hoje, quem entra no Museu Lídia Baís pode conferir um lugar reservado à ar-tista. Seu quarto original, montado com objetos pessoais, cadeira de balanço, chapéus, fotos, materiais de pintura, o violão e a harpa da compositora autodi-tada. A delicada cama, feita sob medida

para seus 1,45cm. Pode-se ver um dos quadros mais importantes: o “Retrato da Família Baís”, que organiza uma es-pécie de árvore genealógica. Lídia era a caçula de nove irmãos.

No ano de 1901, nasce uma figura pe-quenina, carente e de conduta volun-tariosa, filha de Bernardo Franco Baís. A menina de jeito franzino destacou-se cedo pelo comportamento rebelde aos padrões da época. Lídia Baís pro-fetizava entre seus familiares: “Por mi-nha causa, vocês vão ficar na história”. Transparecendo sua constante insatis-fação com o mundo ao redor, vez por outra, simulava situações para chamar a atenção.

Na sua infância, estudou em colégios em Assunção, no Rio Grande do Sul e em várias outras instituições, onde aprendeu pintura e piano. Ainda peque-na, morou na Itália, por mais de ano,

com sua família. Seus primeiros qua-dros a óleo foram pintados por volta de 1915. No mundo das cores, telas, tintas e dos pincéis, encontrou sentido na vi-da. Mergulhou no sonho, para justificar sua liberdade incompreendida.

Nunca se intimidou nem se subme-teu às lições domésticas dos colégios por onde passou. Também, nunca se interes-sou por divertimentos próprios da ida-de. Após dez anos de esforços dos pais, já adolescente, Lídia voltou para casa.

No ano de 1926, convenceu o pai a deixá-la ir ao Rio de Janeiro, estudar pintura com Henrique Bernadelli. Fez uma viagem à Europa, interessada em aperfeiçoar sua técnica e seu estilo de pintura, recebendo forte influência do expressionismo e do surrealismo, rompendo com o estilo acadêmico adotado nas fases anteriores. Lídia retornou ao Brasil e, estimulada pelo mestre Bernadelli, realizou no Rio de Janeiro uma exposição de pinturas a óleo, de pouca duração.

No Rio de Janeiro, quando fugiu para estudar Belas Artes, envolveu-se com pessoas que diziam ser espíritas. Praticou o jejum e outros atos mirabo-lantes, desembocando em um quadro de fragilidade mental. Devido a isso, Lídia foi internada várias vezes, para cuidados médicos. Em 1930, a família a obriga a retornar a Campo Grande. Sentindo-se deslocada, ela dizia: "Vou fazer o que nessa aldeia?".

Com a perda do pai, que foi atrope-lado pelo trem que passava em frente à sua casa, mudou-se para um sobra-do na rua XV de Novembro. A artista tentou abrir o próprio espaço, o Museu Baís. Como não conseguiu, mandou recolher a obra e se dedicou cada vez mais à clausura religiosa.

A velhice chegou e, cercada de mui-tos animais de sua estimação, Lídia se isolou, recebendo raras visitas, enfra-quecida e apresentando sintomas de esclerose. Acamada, foi definhando em silêncio, recusando tratamento médi-co. Assim, deixou esse mundo aos 85 anos de idade.

Solar abre suas portas para o passadoNas paredes do museu, a história de uma mulher franzina, que não se intimidou com críticas e revolucionou a arte, com suas pinturas singulares

AndreiA lorenzoni

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Guia ajuda a desvendar os mistérios da artista Com os móveis originais preservados, o museu reproduz como era o quarto de Lídia Baís