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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS SENSORIAIS SOB UM OLHAR PSICOMOTOR Por: Belinda Gomes Taranto Orientador Prof. Vilson Sérgio Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS SENSORIAIS

SOB UM OLHAR PSICOMOTOR

Por: Belinda Gomes Taranto

Orientador

Prof. Vilson Sérgio

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS SENSORIAIS

SOB UM OLHAR PSICOMOTOR

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicomotricidade.

Por: Belinda Gomes Taranto

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AGRADECIMENTOS

Às minhas amigas, irmãs e mãe, por estarem

sempre na torcida, suas presenças são

fundamentais na minha vida e ao meu

orientador, pela compreensão e calma que

transmitia a cada encontro.

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DEDICATÓRIA

Dedico o presente trabalho à minha

mãe, minha heroína, meu exemplo

de vida e de mulher.

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RESUMO

O presente trabalho foi constituído com o objetivo de pesquisar a

importância dos jogos sensoriais para o desenvolvimento psicomotor

humano.

Através de um estudo bibliográfico, foi analisada a importância dos

jogos como um método de trabalho psicomotor, sua história, suas

classificações e características. Bem como foram pesquisados a

importância da própria psicomotricidade, sua origem, seu

desenvolvimento e seus conceitos. Além do estudo do desenvolvimento

neuropsicomotor do ser humano, visando o entendimento dos sistemas

sensoriais e das suas atuações no desenvolvimento psicomotor humano.

O trabalho apresentou também um capítulo dedicado somente a

exemplos de jogos e atividades sensoriais a serem aplicadas em

ambientes diversos e com indivíduos de diversas idades.

O estudo conclui, portanto, através de sua análise bibliográfica, que

os jogos psicomotores aplicados aos sistemas sensoriais interferem

positivamente no desenvolvimento psicomotor humano.

O estudo conclui, porém não esgota o tema proposto, sugere, por

conseguinte, mais pesquisas teóricas e principalmente praticas para o

aprimoramento do assunto.

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METODOLOGIA

A vivência profissional me levou à idéia deste estudo, devido à

necessidade de me aprimorar no tema proposto. Assim surgiu o desejo

de pesquisar e compreender mais sobre o desenvolvimento

neuropsicomotor e a influência de estímulos externos sobre ele.

Bem como a própria psicomotricidade diz, é fundamental a

motivação pela ação proposta, seja ela qual for, este desejo interno é

indispensável para o sucesso.

Por conseguinte, este trabalho foi feito com base em uma pesquisa

bibliográfica, composta por livros atuais, existentes no mercado de

psicomotricidade, de autores conceituados e conhecidos.

Foram analisados os dados fornecidos pelos autores, seus

conceitos, suas idéias e opiniões. Em seguida, as palavras foram

selecionadas e organizadas na forma do presente trabalho.

Ainda há muito que estudar, desenvolver e pesquisar sobre o tema

e pretendo continuar com este aprimoramento teórico e prático.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – Psicomotricidade e Jogos 11

CAPÍTULO II – Desenvolvimento Neuropsicomotor 21

CAPÍTULO III – Atividades e Jogos Sensoriais 30

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

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INTRODUÇÃO

Imagine um indivíduo recebendo um objeto em suas mãos pela

primeira vez na vida, sem nunca antes tê-lo visto ou ouvido falar dele, em

lugar algum. Este indivíduo vai pegá-lo com as suas mãos e vai começar

a observar o objeto, e vai se perguntar, para que serve, de que material é

feito, resistente ou frágil, duro ou mole, pesado ou leve, se tem cheiro, se

existem outros tamanhos, outras formas, outras cores... Talvez até

arrisque experimentar todas estas perguntas e tente desmontar o objeto,

ainda que não consiga montar depois.

Pois estas são curiosidades inatas do ser humano, são adquiridas

ao nascer, e estimuladas durante toda a vida, diante da riqueza de

estímulos que o mundo externo oferece. E é através dos sistemas

sensoriais que se satisfaz e se estimula novamente esta curiosidade e

este interesse inato do ser humano pelo meio ambiente que o cerca,

pelos demais seres humanos e por si mesmo. E este ciclo estímulo e

resposta, ação e reação se repete ao longo do desenvolvimento e permite

toda a exploração e vivência do indivíduo, resultando em uma harmonia

do desenvolvimento humano.

Em qualquer lugar, em qualquer momento, preste atenção, as

sensações estão acompanhando sempre todo e qualquer movimento,

intenção ou desejo. Para isto, a natureza criou o homem com cinco

sentidos, visão, audição, olfato, paladar e tato. Estes são os cinco

sentidos do organismo humano e funcionam em conjunto e total harmonia

com os sistemas musculares, articulares, vestibulares, digestório,

respiratório, emocional, psicológico, e todos os demais sistemas

existentes no corpo humano. Todas estas sensações estão relacionadas

entre si. Todas constituem o equilíbrio corporal do ser humano. Todas

influenciam no comportamento social do indivíduo e na sua motricidade,

afetividade e cognição.

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O sistema nervoso coordena as sensações e as idéias, integra com

a consciência, agrupa com o desejo e a intenção, interpreta os estímulos

provenientes da superfície do corpo, das vísceras e de todas as funções

orgânicas e responde adequadamente a cada um destes estímulos.

Muitas destas informações são selecionadas e outras são eliminadas pelo

sistema nervoso como sendo irrelevantes para o equilíbrio corporal do ser

humano.

Por exemplo, ao tentar conversar com um amigo em pleno metrô

lotado, cheio de gente conversando, alguns falando alto, outros exalando

um odor não muito agradável, a campainha da estação do metrô tocando

a cada parada, entre outras situações bastante estimulantes

sensorialmente, é necessário que o sistema nervoso central processe

somente as informações relevantes (no caso, a voz, a expressão facial,

os gestos e a atitude corporal do seu amigo) e descarte as informações

recebidas que não são significativas (no caso, todo o acontecimento

restante no metrô). Porém, sem deixar de recebê-las, e manter-se alerta

se um destes estímulos for aumentado (por exemplo, se começar a sentir

um cheiro de queimado forte no local), então, rapidamente o sistema

nervoso central irá interpretar este novo estímulo e produzirá uma

resposta comportamental (que pode ser correr, gritar ou chamar o

guarda).

Tudo isso ocorre o tempo todo, com todos os seres humanos, em

maior ou menor escala, de acordo com sua vivência, sua estimulação,

sua exploração, sua fisiologia sensorial humana e conseqüentemente,

seu desenvolvimento psicomotor humano.

Quando este desenvolvimento psicomotor ocorre de forma

harmônica, equilibrada e integrada motora, afetiva, psicológica e

socialmente, o indivíduo possui a capacidade de dominar seu corpo, de

utilizá-lo com desenvoltura e eficácia, proporcionando bem-estar e

inteligência.

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De acordo com este entendimento prévio, o presente trabalho

propõe o estudo da importância do jogo psicomotor aplicado ao

desenvolvimento dos sistemas sensoriais como meio de interferir

positivamente no ser humano. Este estudo analisa o jogo, a

psicomotricidade, o desenvolvimento neuropsicomotor e apresenta jogos

e atividades a serem trabalhadas em ambientes diversos e com

indivíduos de várias idades. Sempre com o objetivo de contribuir

positivamente para a compreensão do desenvolvimento psicomotor

humano, o presente estudo foi dividido em três capítulos. No primeiro

capítulo busca-se analisar a importância do jogo como método de

trabalho da psicomotricidade, através do conhecimento da história do jogo

e de seus conceitos, bem como analisar a própria psicomotricidade, sua

origem, desenvolvimento e aplicação. No segundo capítulo pretende-se

compreender o desenvolvimento neuropsicomotor, com o objetivo de

estudar a influência dos sistemas sensoriais no desenvolvimento humano.

No terceiro capítulo apresentam-se exemplos de jogos e atividades

sensoriais, a serem aplicadas em diversos locais e em quaisquer

indivíduos. Finalmente ao final da pesquisa, há a conclusão do trabalho,

sem, contudo, esgotar o tema proposto, por haver tanto ainda a descobrir

e surpreender-se.

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CAPÍTULO I

PSICOMOTRICIDADE E JOGOS

Atualmente existem inúmeros estudos, bibliografias e artigos

científicos evidenciando a importância da psicomotricidade. Sua

aplicação se dá em incontáveis campos de intervenção terapêutica,

educativa e social, sendo elaborada em clínicas, centros de formação e

de consciência corporal, salas de aula, hospitais, centros esportivos,

empresas e creches. Com atuação em todas as idades, desde

estimulação psicomotora precoce até a psicomotricidade na terceira

idade, incluindo infância, pré-adolescência, adolescência e juventude. É

dirigida a todo e qualquer ser humano.

Mas não foi sempre assim, durante muito tempo o corpo humano

foi posto de lado e o ser humano dividido em corpo, alma e mente. Desde

a Grécia antiga havia poetas, filósofos e estudiosos que tentavam

desvendar a complexidade do corpo humano. “Sócrates (470-399 a.C.)

considerava a imortalidade da alma e o corpo como um lugar transitório

dessa alma imortal” (MATTOS e KABARITE, 2005, p.13). Para Platão, “o

corpo estava no mundo das coisas, do visível, da sensibilidade e da

percepção, e a alma, no mundo das idéias, do pensamento” (Id., 2005,

p.13).

Com o aparecimento do Cristianismo, o corpo passa a ser visto

como sendo mau e o espírito sendo bom e a filosofia seguiu esta idéia,

com o pensamento de Descartes (1596-1650) que diz que “corpo só é

uma coisa externa que não pensa e alma é a substância pensante, que

não participa de nada que pertence ao corpo” (Ibid., 2005, p.14).

Somente no século XIX, depois de muitas idéias, muitos

pensamentos e muita reflexão para satisfazer a curiosidade sobre o

conhecimento do corpo humano, é que o filósofo Maine de Biran (1766-

1824) diz que “a alma precisa do corpo para assumir sua intencionalidade

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e é o corpo que possibilita à alma tomar consciência de sua existência”

(Ibid., 2005, p.15).

Este é somente um pequeno resumo sobre a linha de pensamento

do complexo corpo humano. Em torno de todos estes filósofos e

pensadores havia a religião, a história e a ciência. E de acordo com o

avanço do conhecimento em cada área, todos os interesses e desejos de

conhecimento a respeito do corpo humano iam se modificando e se

desenvolvendo.

Até que, por volta de 1900, explode o conhecimento nas áreas

voltadas para o estudo do cérebro e suas funções, com descobertas

neurofisiológicas de autores como Broca e Wernick (com o mapeamento

cerebral), de autores como Penfield (com o homúnculo de Penfield –

mapa da região do corpo no córtex sensorial), autores como Pavlov (com

o modelo estímulo x resposta), entre tantos outros autores. E a partir de

então, “a preocupação da ciência médica passou a ser o funcionamento

do organismo e não a sua estrutura” (Ibid., 2005, p.16).

Nesta mesma época surge o termo psicomotricidade, com base

nos fundamentos neurológicos, através do Neurologista Francês Ernest

Dupré, que realizou estudos sobre as relações psíquicas e as relações

motoras (ARAÚJO, 1992).

Ernest Dupré foi realmente um pioneiro no estudo da

psicomotricidade e seu nome é citado em sua quase totalidade de

bibliografias atuais sobre o tema. Seus estudos contribuíram para a

continuidade do interesse sobre o assunto da interação entre psiquismo e

motricidade.

Assim foi se desenvolvendo a psicomotricidade, com elaboração de

intensos estudos, em diversas áreas específicas e a psicomotricidade se

enriqueceu com estudos da Psicologia, da Sociologia, da Biologia, da

Neurologia e toda uma rede de especialidades (Id., 1992).

Hoje em dia há inumeráveis conceituações, definições ou

tendências sobre a psicomotricidade, mas o entendimento de

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psicomotricidade envolve humanização, relações afetivas, interação do

homem com os ambientes, com os fatos e com as outras pessoas, enfim,

envolve toda a ação realizada pelo sujeito, que represente suas

necessidades e permita sua integração, sua agregação, seu ajuste e sua

relação com o outro (ALVES, 2005; ALMEIDA, 2007).

Há necessariamente, na psicomotricidade, a integração psiquismo-

motricidade. Psiquismo sendo considerado como o “conjunto de

sensações, percepções, imagens, pensamentos, afeto, etc.” E

motricidade sendo definida como “resultado da ação do sistema nervoso

sobre a musculatura, como resposta à estimulação sensorial” (ALVES,

2005, p.15).

A psicomotricidade trata da relação entre o homem, seu corpo e o

meio físico e sociocultural onde convive (MARINHO, 1945).

“A psicomotricidade se ocupa de um sujeito que

fala por meio de seu corpo, suas posturas, seus

movimentos, seus gestos, seu tônus muscular, seu

eixo corporal. Não é o corpo que sofre ou que fala,

mas sim um sujeito por meio de seu corpo, de seus

movimentos, de suas relações tônicas, de seus

gestos” (LEVIN apud MATTOS e KABARITE, 2005,

p.31).

“Psicomotricidade é a realização do pensamento através do ato

motor preciso, econômico e harmonioso” (AJURIAGUERRA apud MELLO,

1989, p.9).

Lapierre (apud MARQUES e PONTES, 2001) apresenta a

psicomotricidade como uma busca para resgatar e reencontrar a

globalidade do ser, para redescobrir e utilizar a dimensão psíquica do

corpo e a dimensão corporal do psiquismo.

E finalmente, a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade define:

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“Psicomotricidade é uma ciência que estuda o

homem por meio de seu corpo em movimento em

relação ao seu mundo interno e externo e de suas

possibilidades de perceber, atuar e agir com o

outro, com os objetos e consigo mesmo. Está

relacionada ao processo de maturação, onde o

corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas

e orgânicas” (MATTOS e KABARITE, 2005, p.32).

Portanto, psicomotricidade é um termo utilizado para uma

compreensão de “movimento organizado e integrado, em função das

experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua

individualidade, sua linguagem e sua socialização” (ALMEIDA, 2007, p.17).

Os recursos e as ferramentas da psicomotricidade para reconhecer

e perceber questões estruturais do corpo são inumeráveis, mas é

fundamental compreender que estes recursos e ferramentas devem ser

utilizados em atividades onde o ser humano em questão possa se

reconhecer, se identificar, se compreender, enfim, se encontrar e

descobrir seus próprios sabores, suas preferências, suas próprias

condições e capacidades e, portanto, seus limites de exploração, uso e

ações corporais (ALMEIDA, 2007).

Incluído em quaisquer recursos e ferramentas da psicomotricidade

está o movimento, pois ele possibilita a exploração do mundo exterior e

esta exploração desenvolve as consciências internas e externas,

indispensáveis para o desenvolvimento psicomotor. O meio externo, o

mundo das pessoas e objetos em que o sujeito vive têm características

essenciais no desenvolvimento psicomotor, porque é neste mundo, o

mundo das pessoas, dos animais e dos objetos, que se encontra o

objetivo de suas atitudes, de suas ações e é nele que o sujeito se torna

sujeito, se inclui, torna-se parte dele, pertencente a ele. As relações com

o outro estão intimamente ligadas à atividade motora e sensório-motora

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do indivíduo, pois é esta atividade que “permite reconhecer as coisas e as

pessoas, diferenciar-se, adaptar-se e integrar-se” (ALVES, 2005, p.26).

Para a atuação da psicomotricidade, há inúmeras técnicas,

métodos e conceitos de diferentes tratos, mas “o primordial em

Psicomotricidade não é utilizar uma técnica nova, diferente, e sim não

perder de vista o sujeito, o objeto desta técnica” (JARDIM Apud MATTOS e

KABARITE, 2005, p.31). A psicomotricidade deve atuar, portanto, diante de

um quadro formado pelos componentes de ordem cognitiva, sensorial,

psicológica, afetiva e social que acompanham o ato motor, que não é

concebido somente como o funcionamento de sistemas neurológicos

justapostos (MARINHO, 1945).

A psicomotricidade deve alcançar o sujeito na sua totalidade,

estimulando as qualidades de atenção, representação e relacionamento,

objetivando uma melhor organização mental. O jogo, o brinquedo e os

objetos criativos têm um papel muito importante, por criarem uma

atmosfera lúdica, tolerante e segura que garante a aquisição de novas

possibilidades, novas sensações (FONSECA, 1983).

Do mesmo modo que a psicomotricidade tem a sua história, o jogo

também tem sua história de seu desenvolvimento como recurso e técnica

de psicomotricidade, desde sua origem até a atualidade: ao contrário do

corpo, que a princípio era desvalorizado e somente depois de muito

estudo e reflexão é que sua importância foi descoberta, o jogo sempre

teve sua importância percebida, “em todos os tempos, principalmente

quando se apresentava como fator essencial na construção da

personalidade da criança” (ARAÚJO, 1992, p.13).

Desde a época anterior a Cristo, Platão já discutia o valor educativo

do jogo na vida das crianças, porém os jogos eram fixos e controlados

pelo Estado e somente até os seis anos de idade que a criança era

permitida de usufruir a liberdade do jogo, pois existia uma idéia de

desagrado a Deus ao recrearem-se as crianças acima de seis anos

(ARAÚJO, 1992).

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Com a evolução dos tempos, o jogo foi-se tornando parte da

recreação da educação física, depois como fator educacional e

atualmente já é sabido que o jogo é um recurso fundamental, quando bem

utilizado claro, em diversas áreas, desde a recreação, passando pela

educação pedagógica, até como parte do tratamento clínico de diversas

patologias.

Realmente, graças à experiência e estudos de vários autores,

pode-se entender o papel do jogo de diversas formas: “O jogo é a

primeira escola do pensar e do querer” (GORKI apud MARQUES e PONTES,

2001, p.5). É o caminho para o reconhecimento do mundo em que se

vive. É uma atividade que constitui a base da percepção da realidade.

Através do jogo, o sujeito encontra soluções para a contradição entre o

seu desejo de agir e suas condições para exercer as ações (MATTOS e

KABARITE, 2001).

O jogo não é uma atividade produtiva por si só; seu alvo não está

em seu resultado, mas na ação em si mesma, esta sim é produtiva

(LEONTIEV apud MATTOS e KABARITE, 2001).

Segundo Huizinga (apud MELLO, 1989), o jogo é uma atividade ou

ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de

tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas

absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo,

acompanhado de um sentido de tensão e de alegria e de uma consciência

de ser diferente da “vida cotidiana”.

“A alegria é a finalidade do jogo. Quando esta finalidade é

realmente conseguida, em jogo alegre, a estrutura do tempo do universo

do jogo assume uma qualidade muito específica – isto é, se torna

realidade” (BERGER apud ARAÚJO, 1992, p.15).

“O jogo é um processo de derivação por ficção... e

tem por função permitir ao indivíduo realizar seu eu,

ostentar sua personalidade, seguir

momentaneamente a trilha de seu maior interesse

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nos casos em que não possa consegui-lo

recorrendo às atividades sérias” (CLAPARÉDE apud

ARAÚJO, 1992, p.18).

Detalhando este entendimento da importância do jogo, este possui

classificação e características peculiares, que são distintas para muitos

autores:

Caillois, citado por Marinho (1945), pesquisou determinadas

características do jogo e propôs uma classificação em quatro categorias:

a) Jogos de competição;

b) Jogos de acaso;

c) Jogos de simulação a disfarce;

d) Jogos de vertigem

Esta classificação de Aillos leva em consideração alguns aspectos

diferentes e impotentes do jogo:

a) Grau de liberdade que envolve o jogo;

b) Espaço físico e de tempo delimitados;

c) Regras estabelecidas;

d) Improdutividade, uma vez que não gera riquezas diretas ou bens;

e) Incerteza no seu desdobramento;

f) Fuga à vida cotidiana, tomando um aspecto fictício.

Para este autor, o jogo pode ser definido como uma atividade ou

ocupação voluntária, onde o real e a fantasia se encontram juntos.

No contexto de Geraldo Almeida (2007), os jogos podem ser

classificados de várias formas, porém ele salienta que sua grande

importância é sua forma de contribuição para o crescimento psicossocial

e destaca três grandes formas de classificação:

- jogos afetivos: com o objetivo de possibilitar a troca afetiva intensa entre

as crianças durante a sua realização;

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- jogos cognitivos: com o objetivo de desenvolver o raciocínio lógico-

matemático;

- jogos corporais: com o objetivo de desenvolver a atividade motora e

corporal;

Segundo as idéias de Christie (apud KISHIMOTO,1994), o jogo

contem os seguintes critérios:

- a não-literalidade: neste quadro a realidade interna é predominante

sobre a realidade externa, por exemplo, o ursinho de pelúcia pode ser o

filhinho da criança;

- efeito positivo: explica que a criança deve brincar livremente e se

satisfazer quando realiza o jogo, demonstrando por meio do sorriso este

prazer; assim, o efeito positivo seria atingido na dominância corporal,

moral e social da criança;

- flexibilidade: existe ausência de pressão no ambiente do jogo, assim as

crianças tornam-se mais disponíveis e flexíveis e buscam mais

alternativas de ação;

- prioridade do processo de brincar: é necessário a criança pensar apenas

na brincadeira, para concentrar sua atenção na atividade em si e não em

seus resultados ou efeitos;

- livre escolha: para o jogo não ser trabalho ou ensino ele deve ser

selecionado de uma forma livre e espontânea pela criança;

- controle interno: é a própria criança e não o profissional que deve

determinar o desenvolvimento dos acontecimentos.

Nos estudos de Piaget (apud ARAÚJO, 1992), a classificação do

jogo é dividida em duas categorias:

- jogos de exercícios sensório-motores: são distinguidos em três classes:

jogos de exercícios simples, que é a repetição da ação pelo prazer que

ela proporciona, por exemplo, subir e descer a escada inúmeras vezes;

jogos de combinações sem finalidade, onde a criança não só repete a

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ação, mas também passa a construir, com esta repetição, novas ações,

novas combinações, por exemplo, subir e descer escada em um pé só,

trocar de pé, saltando com os dois pés ou com somente um pé; jogos de

combinações com finalidade, que é quando esta ação construída

anteriormente passa a ter alguma representação, possui regras definidas,

mesmo sendo uma atividade predominantemente lúdica.

- jogos de pensamento: distingue-se em dois tipos: jogo simbólico, onde a

representação está sempre presente, transformando o real em função da

satisfação da própria criança; jogo de regra, onde as relações sociais são

destacadas, são jogos em grupo.

Segundo Lopes (apud ALMEIDA, 2007), os jogos desenvolvem

outras características, como:

- trabalhar a ansiedade: devido à atividade intensa do jogo, onde o seu

equilíbrio emocional é muito exigido, a criança trabalha seus próprios

mecanismos de superação e enfrentamento desta situação de ansiedade;

- rever os limites: aceitando as derrotas, o fracasso e o fato de não ser o

centro do grupo;

- reduzir a descrença na autocapacidade: o jogo mostra que é necessário

o ensinamento anterior à atividade e que a criança precisa da ajuda do

outro;

- diminuir a dependência e possibilitar a autonomia: em toda criança há

um momento em que se deve romper a ligação de dependência absoluta,

e o jogo é um bom momento para se trabalhar esta ruptura.

- aprimorar as coordenações motoras: durante o jogo com movimento, é

exigida uma destreza corpórea do jogador;

- melhorar o controle segmentar: facilitando a sincronia entre um e outro

movimento do braço, do antebraço, da mão e dos dedos separadamente

e em conjunto.

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- desenvolver a percepção de ritmo: as crianças necessitam de um

trabalho específico de percepção e de estimulação para que possam

desenvolver uma sintonia com sons e com movimentos mais elaborados;

- aumentar a atenção e a concentração: a atenção deve ser estimulada

por ser uma condição primordial para a aprendizagem;

- desenvolver a antecipação e estratégia: é a capacidade de prever e de

se preparar para a jogada do outro, estimulando o planejamento de suas

ações;

- ampliar o raciocínio lógico: o raciocínio é constantemente exigido no

jogo e estimulá-lo é fundamental para que não se atrofie;

- desenvolver a criatividade: em jogos de legos, cubos, baralhos,

elásticos, barbantes, enfim, em muitos jogos a criatividade está muito

presente;

- perceber a socialização e a coletividade: os jogos coletivos ajudam a

construir este espírito de coletividade.

Concluindo este capítulo de psicomotricidade e jogos, há inúmeras

definições, características, conceitos sobre ambos os temas, mas em uma

questão todos concordam: o principal no trabalho com psicomotricidade e

com jogos é o envolvimento, o comprometimento com a criança, com o

ser humano em questão, o olhar para além do desempenho, enfim, a

relação com afetividade.

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CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR

O desenvolvimento do ser humano abrange todas as mudanças

contínuas que ocorrem desde a concepção ao nascimento, e do

nascimento e do nascimento à morte. Nestes períodos ocorrem

processos evolutivos, maturacionais e hierarquizados em um plano

biológico, social, afetivo e psicológico.

O desenvolvimento psicomotor humano é resultado, portanto, de

um processo reacional e relacional complexo e não apenas um quadro de

maturação neurológica e fisiológica. É uma “adaptação construtiva do

organismo a seu meio” (HERREN e HERREN, 1986, p.28) que produz o

raciocínio e a socialização dos desejos deste ser humano em

desenvolvimento, emergindo a maturação neuromotora e fisiológica

(ALVES, 2005; HERREN e HERREN, 1986).

Todo desenvolvimento deve ocorrer de forma harmônica e

equilibrada, compreendendo todas as funções do sistema nervoso –

sensoriais, motoras, afetivas e intelectuais – evoluindo integralmente e em

conjunto; visto que “cada uma dessas funções é dependente do

progresso das outras” (BRASIL, 2000, p. 1).

O ser humano é uma totalidade biopsicossocial, completamente

único e indissolúvel, onde quaisquer alterações em uma de suas partes

que constitui o seu todo irá se refletir em todas as outras partes e em

suas funções. E este equilíbrio, desequilíbrio e busca pelo reequilíbrio

provoca uma sucessão de avanços, de onde emerge o desenvolvimento

psicomotor humano.

De acordo com Fátima Alves (2005), o desenvolvimento psicomotor

abrange quatro fases:

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- 1ª fase: fase de reação dos reflexos aos estímulos provocados pelo

meio externo. Nesta fase ocorrem as seguintes conquistas:

- Organização da estrutura motora;

- Organização do tônus muscular;

- Organização da sensibilidade proprioceptiva;

- Desaparecimento das reações primitivas.

- 2ª fase: fase de organização do plano motor, com as possibilidades

de conhecimento do meio externo e das relações sociais,

aperfeiçoando a orientação espaço-temporal.

- 3ª fase: fase de tornar mais habitual e automática as aquisições

motoras, conseqüentemente, aperfeiçoando-as.

- 4ª fase: fase de completo aperfeiçoamento e desenvolvimento das

habilidades motoras adquiridas e explosão de novas e infinitas

possibilidades motoras a serem elaboradas.

Esmiuçando este desenvolvimento em etapas, segundo os autores

Bobath e Bobath (1989), Claudia Brasil (2000), Fátima Alves (2005) e

Herren e Herren (1986), cada etapa possui seus marcos do

desenvolvimento padrões a todos os indivíduos e possui

características próprias.

Os marcos do desenvolvimento são atividades bem características

que as crianças ditas normais realizam aproximadamente na mesma

época, em certos estágios cronológicos, como, por exemplo, rolar,

sentar, engatinhar, levantar, entre outras.

Porém,

“o desenvolvimento não se processa numa

seqüência linear de marcos separados... em

qualquer estágio do desenvolvimento de uma

criança, quando esta atinge um marco específico,

muitas outras habilidades, igualmente importantes,

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são atingidas, pertencentes a este mesmo estágio”

(BOBATH e BOBATH, 1989, p.4).

No recém-nascido, suas atividades são basicamente reflexas.

Ainda não há intencionalidade em seus movimentos. Contudo, o seu

“sistema tônico está desenvolvido, tanto no plano sensitivo, quanto no

motor” (ALVES, 2005, p.32). Os reflexos são de extrema importância,

pois somente “vamos executar um movimento voluntário após ele ter

sido experimentado por acaso” (BRASIL, 2000, p.1). Seu tônus é

predominantemente flexor em seus quatro membros, simetricamente e

sua mãos estão fechadas. Esta posição é um padrão organizado do

bebê, onde ele se encontra mais relaxado e receptivo aos estímulos

externos que vão lhe sendo oferecidos.

“Os seis reflexos primários principais são nítidos: reflexo dos

pontos cardeais, reflexo de Moro, reflexo de agarrar, de encurvação do

tronco, de alongamento cruzado dos membros inferiores, de marcha”

(HERREN e HERREN, 1986, p.29).

Além destes reflexos principais, há ainda as reações labirínticas e

de erguer-se, que proporcionam a posição normal do corpo e seus

componentes em relação à posição da cabeça (BOBATH apud HERREN

e HERREN, 1986).

Nesta fase, é o contato com o meio externo (com o lençol, a toalha,

o algodão, os toques dos pais, o leite da mãe, a conversa dos pais

com o bebê, o colo, o sabonete e a pomada na pele do bebê...) que

começa a criar suas percepções táteis cinestésicas, auditivas,

olfativas, gustativas, visuais e vestibulares. Pois é através deste

contato que “o bebê recebe informações sobre o mundo ao seu redor”

(BRASIL, 2000, p.1) e é com a repetição destas sensações que o ser

humano segue formando o conhecimento do mundo ao seu redor e

crescendo intelectualmente.

Durante o primeiro mês, “a coordenação visual se afina, para

resultar em um movimento ocular facilitado nas quatro direções”

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(HERREN e HERREN, 1986, p.29). Este olhar torna-se mais atento e

mais expressivo e ele inicia a sua interação e comunicação afetiva e

real com o mundo através de sorrisos, movimentos e vocalizações

espontâneas e variadas, ainda sem nenhuma intenção, apenas

experimentando e explorando os movimentos.

Por volta do terceiro mês é que “a criança começa a estabelecer

ligações entre os seus desejos e o meio externo e por meio do

movimento do seu próprio corpo” (ALVES, 2005, p.32), assim, a criança

vai descobrindo o prazer de brincar com seus próprios pés, suas

mãos, e vai progressivamente recebendo informações sobre o seu

próprio corpo e suas próprias sensações, de prazer, de tato

interoceptivo, exteroceptivo e a maturação dos seus órgãos dos

sentidos vai se acelerando, devido à influência dos seus próprios

estímulos e dos estímulos externos.

Neste estágio do terceiro mês, há a “preparação para a orientação

da linha média” (BOBATH e BOBATH, 1989, p.4). Quando a criança leva

suas duas mãos à boca e quando começa a extender o seu tronco na

posição supina (de cabeça para baixo) levantando sua cabeça, ela

gradativamente vai organizando seu corpo e seu organismo na linha

média, que é onde está o centro de gravidade do corpo humano.

Ainda nesta fase, há o “estabelecimento do reflexo de

convergência, que permite a concentração do olhar sobre o objeto que

se aproxima e um início de observação atenta” (HERREN e HERREN,

1986, p.29); permitindo uma evolução no órgão sensorial visual.

“É pela visão que se integra a atividade motora,

perceptiva e mental da criança; é por meio dela que

se estabelecem as ligações dos primeiros

esquemas responsáveis pela integração das

mensagens, através das quais se dão significações

a cada um dos sistemas” (PIAGET apud FONSECA,

1983, p.119).

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Também é nesta fase que a criança explora sua boca, com as suas

mãos e com os objetos, os brinquedos e até com os pés, formando

assim seu órgão sensorial gustativo e formando também uma imagem

prazerosa de levar coisas à boca. Essa ação exploratória é

extremamente importante, pois vai garantir sua alimentação no futuro

e “parece que as primeiras imagens percebidas são as bucais”

(BRASIL, 2000, p.2).

Entre o terceiro e o quarto mês os reflexos primários vão

praticamente desaparecendo e no quarto mês “o tônus ainda

pronunciado que limitava a amplitude e a agilidade dos movimentos dá

lugar a uma fase de hipotonia atingindo os membros superiores e a

seguir os inferiores” (HERREN e HERREN, 1986, p.30). Há, porém, uma

compensação do tônus postural que ao nível do eixo corporal

aumenta, e em conjunto com a diminuição do tônus apendicular, a

criança começa a se sustentar melhor, sua cabeça, seu tronco e a

explorar melhor também o mundo com seus movimentos mais amplos.

Desta forma, no quinto mês ocorrem as

“primeiras preensões voluntárias, que, juntamente

com a coordenação da visão acarretam um controle

sobre os objetos e, mais tarde, a tomada intencional

dos objetos que estão a sua volta” (ALVES, 2005,

p.32,33).

Aos seis meses, com a diminuição da tonicidade primitiva dos

membros superiores e a consolidação do tronco, a preensão voluntária

se estabelece firmemente e a “agitação descoordenada dos membros

superiores começa a suceder uma atividade coordenada de ambas as

mãos” (HERREN e HERREN, 1986, p.30). As duas mãos, que antes

movimentavam-se juntas, começam a movimentarem-se

separadamente, em uma atividade coerente de exploração dos

objetos, desenvolvendo a coordenação viso-tátil-cinestésica e

aprimorando a função sensório-motora de seu corpo.

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“A coordenação dos sistemas sensoriomotores

se estabelece e se concretiza no movimento, que,

de forma cumulativa, dá lugar à atividade

organizada como conseqüência da assimilação dos

estímulos exteriores” (FONSECA, 1983, p.26).

A fase de sete e oito meses é marcada pelo desenvolvimento de

seu equilíbrio (órgão sensorial vestibular em conjunto com o órgão

sensorial visual e a propriocepção). Nesta fase, a criança gira em

torno de seu próprio eixo, “as reações de equilíbrio na posição sentada

são ativas” (BOBATH e BOBATH, 1986, p.5) e “a criança dela participa

ativamente e mantém-se cada vez mais na posição vertical” (HERREN e

HERREN, 1986, p.31).

A função de equilíbrio e a audição andam juntas, devido ao

desenvolvimento neurofisiológico do oitavo par de nervos cranianos,

vestibulococlear, que é responsável pela audição e orientação.

“Na função auditiva, os complexos são os estímulos

eficazes. Existe uma relação estreita entre a

intensidade do estímulo e a resposta. A intensidade

do som também tem importância: as respostas se

produzem preferentemente por sons de baixa

freqüência (graves) e por sons de alta freqüência

(agudos). A criança orienta-se muito precocemente

em função da audição e de um som suficientemente

intenso.” (LE BOULCH apud ALMEIDA, 2007, p.69)

No estágio de nove meses “a visão de um objeto muito pequeno torna-

se precisa e alia-se à preensão entre polegar e indicador” (HERREN e

HERREN, 1986, p.31). A criança pode manipular um objeto, batê-lo

contra outro objeto, agarrar outro objeto e explorar os dois, enfim, de

acordo com as possibilidades oferecidas, ela vai estimulando seus

sentidos e seus movimentos e aprimorando-os.

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Neste estágio, ocorrem as “primeiras imitações, primeiramente com

as partes visíveis do seu corpo, como as mãos, depois passando para

aquelas que não vê: a boca, por exemplo” (BRASIL, 2000, p.2).

A criança desenvolve o seu “engatinhar sobre os quatro membros,

ou alternadamente com um joelho e em pé sobre o solo” (BOBATH e

BOBATH, 1986, p.7), explorando todo o ambiente, as mobílias pela

casa e se colocando de pé com apoio sobre elas. Este é um passo

muito importante, porque muda o seu foco visual com a transferência

do plano horizontal para o plano vertical, desenvolvendo assim sua

noção espacial e a tridimencionalidade.

Nesta fase também, a criança “começa a diferenciação do sujeito-

objeto (...) através da tomada de consciência de seus limites corporais

e das diferentes posições que os objetos ocupam” (ALVES, 2005, p.32).

Passando assim, a sentir a diferença entre o seu mundo interno e o

mundo externo em que se encontra.

Dos dez meses até os doze meses é transposta uma nova etapa

rumo à autonomia. “As funções de erguer-se, aliadas às do equilíbrio,

abrem-lhe o campo de todas as variações de postura no espaço. Sua

curiosidade e sua intrepidez fazem o resto...” (HERREN e HERREN,

1986, p.32).

Aos doze meses a compreensão da linguagem familiar está mais

desenvolvida, as brincadeiras de esconder, as situações familiares

que indicam outras situações (como colocar a roupa para sair), a

imitação dos gestos dos pais, o conhecimento do próprio corpo; tudo

isso é o “despertar da inteligência sensório-motora” (HERREN e

HERREN, 1986, p.32).

Somente aos dois anos que ocorre o “início da simbolização, onde

a palavra começa a funcionar como um signo, ou seja, não é mais

parte da ação, mas sim uma evocação desta” (BRASIL, 2000, p.2).

Através das experiências vividas, o seu mundo torna-se mais amplo,

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vai além do seu olhar, e com o domínio da marcha ela passa a agir

através do seu próprio deslocamento.

Nesta fase é necessário e imprescindível a criança explorar, tocar,

cheirar, provar, manusear, subir, descer, cair, levantar, entrar, sair, ou

seja, vivenciar muitas experiências diversas, de prazer e de desprazer

também, para o seu aprendizado do mundo externo, das formas,

dimensões, volumes, direções, orientações, superfícies, e assim

aprender a se adaptar às situações, a agir da melhor maneira,

portanto, a aprender a pensar.

Com isso, a criança aprende a se comunicar com o seu corpo e

com o outro através do seu corpo. A criança neste estágio ainda não

tem a imagem completa de seu corpo somente quando se olha no

espelho, portanto é fundamental a liberdade de ação e a oferta de

diversas possibilidades de exploração.

Aos três anos “a criança começa a compor o seu ‘eu social’”

(ALVES, 2005, p.34), é a idade da auto-afirmação, aonde ela começa a

descobrir o outro ser.

Dos quatro aos seis anos, suas partes do corpo estão se

desenvolvendo e crescendo, sua imagem corporal ainda é estática,

portanto seus movimentos ainda não são bem executados.

Dos sete aos dez anos ocorre a estruturação do seu esquema

corporal, com toda a sua vivência e aos doze anos a criança já

executa bem seus movimentos, com planejamento completo de sua

ação.

Na puberdade ocorre um rápido desenvolvimento de sua força

muscular e uma mudança em seu corpo e sua imagem corporal,

“porém conservarão as características fundamentais da idade anterior”

(ALVES, 2005, p.35).

Concluindo este capítulo, essas são as fases marcantes do

desenvolvimento neuropsicomotor do ser humano. Esta harmonia no

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desenvolvimento é que vai originar a noção corporal e esse

conhecimento corporal, alcançado através das vivências. Das

experiências, da exploração e da relação é que permite ao indivíduo

se expressar efetivamente e conquistar sua autoconfiança,

enxergando, portanto, melhor o mundo a sua volta e a si mesmo.

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CAPÍTULO III

ATIVIDADES E JOGOS SENSORIAIS:

As atividades e jogos voltados para o estímulo de sistemas

sensoriais na sua maioria envolvem a integração dos sistemas sensoriais,

com a utilização de muitas sensações ao mesmo tempo, desenvolvendo

os sentidos. Didaticamente serão apresentados atividades e jogos

separadamente por órgão sensorial, privilegiando o órgão mais solicitado

no exercício proposto.

3.1- Visão

“A visão é o primeiro e mais importante modo de comunicação

interpessoal”.(DILL apud FONSECA, 1998, p.189).

As expressões faciais, formadas pelos olhos, sobrancelhas,

pestanas, testa, cabeça, queixo, nariz, lábios e boca são fontes

inesgotáveis de comunicação não verbal e são os constituintes de

comunicação primeiramente integrados no bebê, muito antes da fala. (Id.,

1998).

A visão é um órgão com um papel fundamental de “vigilância, de

alerta, de atenção e de prontidão para a comunicação”. (Ibid., 1998,

p.189).

- Atividades com papel:

Papéis de diversas cores, texturas, tamanhos e formas.

Fazer dobraduras com o papel transformando-os em bichos ou

objetos;

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Montar um quebra-cabeça gigante no chão com os pedaços de

papel.

Estas atividades são idéias do autor Geraldo de Almeida (2007).

- Jogo Pintando o Amigo:

Formam-se duplas em que um vai pintar o outro em um papel (de

preferência grande), depois cada um vai olhar o desenho do outro e dizer

se está parecido consigo mesmo ou não e o colega também vai falar o

que viu no outro e pintou no papel. Enriquecer a atividade com as

características corporais, como por exemplo, nariz, orelhas, olhos grandes

ou pequenos, cabelos compridos ou curtos, expressão facial, corpo gordo,

magro, alto ou baixo...

- Jogo de futebol;

- Jogo de passar a bola:

Formar uma roda, utilizando bolas de diferentes tamanhos, cores,

texturas e pesos, os colegas vão passando as bolas por cima, por baixo,

pela frente e pelos lados para qualquer colega da roda.

Estas atividades foram referências da autora Fátima Alves (2005).

- Jogo de esculturas:

O material utilizado pode ser argila, areia, gesso ou massinha de

modelar. Os participantes vão criar esculturas com estes materiais que

podem ser divididas por temas, como, por exemplo, animais, pessoas,

plantas ou objetos, ou podem ser esculturas livres.

- Jogo da memória:

Contém várias peças em pares iguais, com desenhos e cores

iguais. Misturam-se todas as peças voltadas de cabeça para baixo e

organizam-se as peças sobre um local plano, como uma mesa, ou no

chão. O objetivo é encontrar os pares, e para isso cada participante deve

virar somente duas peças por jogada e memorizar o local onde estão as

peças.

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- Jogo da limpeza da praia:

Esta é uma opção de jogo ao ar livre, na praia. Os participantes

devem ter em mãos sacos de lixos diferentes para cada tipo de lixo

encontrado na praia: garrafas, latinhas de alumínio, papéis e plásticos.

Estipula-se um tempo para que os participantes coletem os lixos ou

determina-se um tipo de lixo para cada participante.

- Jogo da grande imagem:

O material utilizado é uma lupa. Deve-se explicar previamente que

a lupa é um instrumento para revelar as visões escondidas da natureza,

mas que ela também pode iniciar um incêndio ou causar queimaduras na

pele e roupas se utilizada de modo errado. O objetivo do jogo é observar

todas as coisas ao redor bem de perto e perceber como é diferente

quando estão em baixo da lente. Pode-se observar a superfície do chão,

das paredes, das roupas, a pele do colega, as plantas, os insetos e o que

mais a curiosidade estimular.

- Jogo da camuflagem:

Deve-se ter em mãos diversos utensílios domésticos, como colher

de pau, guardanapo de cores diferentes, sabonetes, entre outros. O

objetivo do jogo é procurar um local da sala aonde se pode camuflar estes

objetos, por exemplo, um guardanapo rosa pode ser camuflado perto de

uma flor da mesma cor, uma colher de pau pode ser camuflada perto de

um objeto de madeira, um sabonete verde pode ser camuflado perto de

uma planta... E assim depois de escondê-los os participantes devem

procurar os objetos escondidos pelo outro.

- Jogo de encontrar as cores:

Aproveitando a rica fonte de cores em uma sala de aula, ou em

uma clínica, ou na rua mesmo. Os participantes devem apontar ou

recolher os objetos, que estão presentes no local, de uma determinada

cor estipulada.

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- Jogo das nuvens:

Também é outro jogo ao ar livre, os participantes devem olhar para

o céu e procurar formas nas nuvens, de bichos, rostos e corpos de

pessoas, objetos, plantas e todas as formas possíveis.

Estas atividades e jogos foram encontrados através dos autores

Steve e Ruth Bennett (2004).

- Jogo do espelho:

Forma-se duplas, um colega em frente ao outro, um imita os

gestos, expressões e movimentos do outro como se fosse um espelho.

- Jogo de dança com a luz:

Em uma sala escura, com todas as luzes apagadas, coloca-se uma

música e todos os participantes voltados para a parede. O orientador liga

então uma lanterna voltada para a parede e todos dançam

acompanhando a direção e o sentido da luz da lanterna projetada na

parede.

3.2 - Audição

Em função da audição inicia-se a orientação.(LÊ BOUCH apud

ALMEIDA, 2007). Além de ser um sentido básico para a compreensão

situacional, é um sentido para a compreensão da linguagem falada.

(FONSECA, 1998).

- Jogo de perceber os sons do seu corpo:

Com o ambiente em silêncio, um orientador induz a percepção do

som do coração, da respiração e do toque no corpo.

Esta atividade foi proposta pela autora Fátima Alves (2005).

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- Jogo da atenção ao som:

O material utilizado pode ser pandeiro, triângulo, bolas, bambolês e

cadeiras. Os participantes ficam distribuídos livremente por um espaço

delimitado cada um com uma bola na mão, dentro do bambolê. Quando o

orientador tocar o pandeiro eles deixam a bola no bambolê e sobem na

cadeira e quando tocar o triângulo, eles descem da cadeira e pegam a

bola no bambolê. Pode haver variações, como quicar a bola uma ou mais

vezes ou trocar de lugar.

Este jogo foi proposto pelas autoras Teresa Godall e Anna Hospital

(2004).

- Jogo da conversa dos tambores:

Podem-se utilizar como instrumentos latas, potes ou panelas com

colheres de pau. Inventa-se uma linguagem dos tambores, por exemplo,

uma batida pode significar olá, duas batidas lentas podem ser olá pra

você também, duas batidas rápidas podem significar corram que tem uma

barata voadora na sala! E assim segue-se a brincadeira.

- Jogo do megafone:

Transformam-se objetos simples, como tubos de rolo de papel

higiênico ou papel toalha e os participantes formam um grande coral de

megafone.

- Jogo dos sons da natureza:

Esta atividade deve ser feita ao ar livre, o objetivo do jogo é

observar e identificar os sons da natureza, dos pássaros, dos rios, do

mar, cachoeira, dos passos no chão, das folhas secas...

Estes jogos foram sugeridos por Steve e Ruth Bennett (2004).

- Jogo de imitação dos sons dos animais:

Pode ser dentro de um contexto de uma história, música ou

livremente. Os participantes irão imitar os sons de diversos animais da

natureza.

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- Jogo da identificação do som:

Com um cd que reproduz diversos sons diferentes, como um

espirro, uma risada, uma tosse, um animal, um choro de bebê, um

arrastar de uma cadeira, um instrumento musical, dentre muitos outros, os

participantes vão escrevendo em uma folha de papel, em ordem, a

identificação deles de cada som para depois ser comparada com os

demais e verificada novamente no cd.

3.3 - Olfato

O sentido do olfato é um canal não-verbal extremamente

importante na comunicação, bastante relevante no processo de

vinculação mãe-filho. Está profundamente associado a situações de

prazer e desprazer e também de sobrevivência. (FONSECA, 1998).

- Jogo das plantas aromáticas:

Separar algumas plantas aromáticas, como manjericão, hortelã,

louro, salsa, cebolinha, coentro, entre outras. Passar as plantas para

cada participante para o participante olhar, manusear e principalmente

cheirar. O orientador ajuda a identificar a planta, com o seu nome e sua

utilização. Depois, vendar os participantes e passar novamente as

plantas para que os participantes reconheçam-nas somente pelo cheiro.

Este jogo foi apresentado pelo autor Geraldo de Almeida (2007).

- Jogo de sentir o perfume:

Os participantes formam uma roda e um deles está fora da roda,

virado de costas e vendado. O orientador distribui três lencinhos

perfumados para três participantes. Estes participantes devem colocar o

lencinho em algum lugar do corpo. O participante que está com os olhos

vendados vem para o centro da roda e começa a cheirar um por um

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tentando adivinhar com quem estão os lencinhos e onde está escondido o

lencinho.

Este jogo foi identificado pelas autoras Tereza Godall e Anna

Hospital (2004).

3.4 - Paladar

O gosto representa um canal de comunicação não verbal ligada à

alimentação, à nutrição, que é de grande importância não só para a

sobrevivência biológica, como também para a interação social e afetiva

que ocorre durante as refeições. (FONSECA, 1998).

- Jogo de degustação:

Os participantes devem estar de olhos vendados sentados em

roda, enquanto o orientador passa com alimentos em pedaços,

distribuindo para cada um experimentar. Após cada rodada, pede-se que

identifiquem quais os gostos dos alimentos, azedo, doce, amargo ou

salgado. Estes alimentos podem também estar em diferentes

temperaturas.

Este jogo foi desenvolvido pela autora Fátima Alves (2005).

- Jogo do tem gosto de quê:

Os participantes devem ter em mãos lápis e canetas e folhas para

desenhar. O orientador vai estimular suas memórias e suas curiosidades

a respeito do paladar deles. Vai fazer uma série de perguntas e pedir

para eles desenharem as respostas, mais ou menos assim: qual o doce

mais gostoso que existe no mundo todo? Ou, o que vocês têm vontade de

comer, que ainda não experimentaram? E assim segue-se estimulando o

paladar.

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3.4 - Tato

O tato é um extraordinário meio de comunicação, devido a sua

localização espalhada de maneira diferente por todo o corpo, por toda a

pele. Temperatura, pressão, dor, posturas, movimentos, toques

superficiais e profundos são processados por sensores táteis e

quinestésicos. Esta discriminação tátil é altamente elevada em algumas

regiões do corpo, como a ponta dos dedos, os lábios e as zonas erógenas

são consideradas mais sensíveis e por isso também têm a maior

importância para a comunicação e interação com o mundo externo e

interno. (Fonseca, 1998).

- Jogo de reconhecer colegas através do tato:

Todo o grupo senta-se no chão em roda, no centro da roda um

participante deita-se voltado de costas para o grupo e cobre-se com um

lençol. O grupo tenta adivinhar as partes do corpo do participante sob o

lençol através do tato e identifica suas partes confirmando com os outros

colegas.

Este jogo foi selecionado pela autora Fátima Alves (2005).

- Jogo de brincar com espuma:

Os participantes devem estar com roupas leves e após a atividade

deve haver a possibilidade de trocar de roupa. Deve haver um ou mais

recipientes com água e sabão promovendo bastante espuma. Os

participantes livremente distribuídos exploram a espuma tocando com

diferentes partes do corpo, pegando a espuma e tocando no outro colega,

fazendo bolhas de sabão, desenhos, e tudo o mais que a imaginação

permitir.

- Jogo do olho com olho, orelha com orelha:

Todos os participantes andam pela sala livremente, ao sinal do

apito é indicada a parte do corpo com a qual as crianças devem

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estabelecer contato entre si, devem se encostar, como por exemplo, o

nariz, a orelha, os olhos, o bum-bum, os pés, os ombros e as diversas

partes do corpo.

Estes jogos foram exemplificados pelas autoras Teresa Godall e

Anna Hospital (2004).

- Jogo da caixa de Pandora:

Os participantes localizam-se sentados em roda. Escolhe-se um

para iniciar a brincadeira. Este venda seus olhos, coloca sua mão dentro

de uma caixa repleta de objetos variados, escolhe um único objeto e

através do tato, este participante identifica o objeto escolhido. Então,

retira-se o objeto da caixa e um novo participante irá escolher outro objeto

com seus olhos vendados e assim continua até que todos tenham

participado.

Há inúmeras outras mais atividades e jogos com objetivos voltados

para o desenvolvimento dos sistemas sensoriais, contribuindo, portanto,

para um melhor desenvolvimento psicomotor. Neste capítulo foram

apresentados alguns exemplos de jogos e atividades, sem pretensão

alguma de esgotar o tema. É importante sobressaltar também que as

sensações são informações pessoais e geralmente subjetivas, portanto, é

necessário reconhecer que as respostas aos estímulos sensoriais,

provocados pelas atividades e jogos propostos, podem ser diferenciadas

para cada individuo participante.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho apresentou o jogo como uma alternativa de

trabalho psicomotor, preconizando os sistemas sensoriais, para o

desenvolvimento psicomotor do indivíduo.

Segundo Fátima Alves (2005), o jogo é uma atividade natural do

ser humano, através dele o indivíduo se envolve na atividade, com seu

sentimento e emoção através da ação produzida e explorada. O jogo

integra os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais dentro de uma

mesma atividade.

Ao elaborar, planejar ou programar atividades e jogos baseados no

desenvolvimento das sensações, é preciso enfatizar a importância da

sensibilidade no ser humano. O indivíduo utiliza os órgãos dos sentidos

em praticamente todas as suas atividades diárias. Ao comer e beber,

desde o primeiro dia de vida, inicia-se o desenvolvimento do sentido

olfatório e gustativo e também sua resposta motora, através de sua

atividade tônico-postural. Ao falar em público, ao escutar música ou

pessoas falando ao redor no ambiente aonde se encontra o indivíduo em

questão, é necessário organizar e orientar o corpo humano em busca de

conforto e adequação ao ambiente.

As sensações, segundo Teresa Godall e Anna Hospital (2004), são

a primeira fonte de informação do ser humano. Ao nascer, o bebê recebe

sensações externas e internas que possibilitam passar do mundo uterino

para a gravidade do mundo terrestre. São as sensações que possibilitam

a sobrevivência do ser humano, que são os indicadores do mundo físico,

psíquico e do mundo inteiro que rodeia o indivíduo. Todas as sensações

são chamadas de indicadores porque é através destas que o individuo

aprende a se movimentar e a adquirir uma independência fundamental

para selecionar, discriminar, memorizar, interpretar e procurar sensações

no mundo que o envolve.

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Ou seja, trabalhar o desenvolvimento psicomotor do ser humano

ignorando a importância de se trabalhar os sistemas sensoriais e a

riqueza de conteúdos trabalhados dentro do contexto do jogo é, sob o

olhar psicomotor um verdadeiro abismo. Não há trabalho completo de

psicomotricidade que não inclua o jogo como atividade de extrema

grandeza devido a todas as possibilidades de trabalho que apresenta;

nem tampouco que não inclua o estímulo dos sistemas sensoriais como

fundamental para a organização motora do ser humano.

O trabalho conclui-se, portanto, com a resposta afirmativa ao

problema apresentado no projeto, que questiona se os jogos

psicomotores aplicados ao desenvolvimento dos sistemas sensoriais

humanos podem interferir positivamente no ser humano; sim, com certeza

interferem.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALMEIDA, Geraldo P. Teoria e Prática em Psicomotricidade. Rio de

Janeiro: Wak Editora, 2007.

ALVES, Fátima. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. Rio de

Janeiro: Wak Editora, 2005.

ARAÚJO, Vânia C. O Jogo no Contexto da Educação Psicomotora. São

Paulo: Cortez Editora, 1992.

BENNETT, Steve; BENNETT, Ruth. 365 Atividades Infantis ao Ar Livre.

São Paulo: Madras, 2004.

BOBATH, Berta; BOBATTH, Karel. Desenvolvimento Motor Nos

Diferentes Tipos de Paralisia Cerebral. São Paulo: Manole, 1989.

BRASIL, Claudia R. Desenvolvimento Infantil de 0 a 4 Anos. Rio de

Janeiro: Revista do Conselho Regional de Fonoaudiologia, 2000.

FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade: Filogênese, Ontogênese e

Retrogênese. Porto Alegre: Artmed, 1998.

GODALL, Teresa; HOSPITAL, Anna. 150 Propostas de Atividades

Motoras Para a Educação Infantil de 3 a 6 Anos. São Paulo: Artmed,

2004.

HERREN, H.; HERREN, M. P. Estimulação Psicomotora Precoce. Porto

Alegre: Artes Médicas, 1986.

KISHIMOTO, Tizuko M. O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Livraria

Pioneira Editora, 1994.

MATTOS, Vera; KABARITE, Aline. Perfil Psicomotor: Um Olhar Para

Além do Desempenho. Rio de Janeiro: Editora Rio, 2005.

MARINHO, Inezil P. Jogos – Principais Teorias. Rio de Janeiro: MEC,

1945.

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42

MARQUES, Fernando; PONTES, João. Ensino de Psicomotricidade e

Educação Física. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001.

MELLO, Alexandre M. Psicomotricidade - Educação Física - Jogos

Infantis. São Paulo: Ibrasa, 1989.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

PSICOMOTRICIDADE E JOGOS 11

CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR 21

CAPÍTULO III

JOGOS E ATIVIDADES SENSORIAIS 30

3.1 – VISÃO 30

3.2 – AUDIÇÃO 33

3.3 – OLFATO 35

3.4 – PALADAR 36

3.5 – TATO 37

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

ÍNDICE 43

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: A Importância dos Jogos Sensoriais

Sob Um Olhar Psicomotor

Autor: Belinda Gomes Taranto

Data da entrega: 27.04.07

Avaliado por: Conceito: