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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ÈTICA EMPRESARIAL
Por: José Carlos Alves
Orientadora
Profª. Ana Cristina
Rio de Janeiro
2006
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ÈTICA EMPRESARIAL
OBJETIVO DO TRABALHO ACADÊMICO:
Apresentação dessa Monografia, à Universidade
Candido Mendes, como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Pedagogia
Empresarial.
Por: José Carlos Alves.
3
AGRADECIMENTOS
Aos amigos da turma C007 e C010, de
Pedagogia Empresarial, que me
ajudaram com idéias inteligentes para o
meu desenvolvimento humano e
crescimento acadêmico.
4
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia a minha esposa,
que colaborou com sua paciência
incomensurável, quando tínhamos de
abrir mão do lazer, para dedicar à este
trabalho.
José Carlos Alves
A razão dos conflitos é que vivemos em
tempos e momentos distintos.
José Carlos Alves
5
RESUMO
A Ética é um conjunto de regras de condutas ou hábitos julgados válidos
para qualquer tempo ou lugar, para grupo ou pessoas determinadas. Ilumina a
consciência humana, sustenta e dirige as ações do homem, norteando a
conduta individual e social. É um produto histórico, cultural, e como tal, define o
que é virtude, o que é bom ou mal, certo ou errado, permitido ou proibido, para
cada cultura e sociedade. Dessa maneira é universal, enquanto estabelece um
código de condutas morais válidas para todos os membros de uma
determinada sociedade e, ao mesmo tempo, tal código é relativo ao contexto
sócio-político-econômico e cultural, onde vivem os sujeitos éticos e onde
realizam suas ações morais.
A Ética é vital à sobrevivência da humanidade, sem ela nós nos
autodestruímos. É impossível a vida em sociedade e a continuidade de um
grupo sem estrutura Ética, ou seja, de valores, princípios, limites, respeito à
pessoa, sentido de bem comum, uma verdadeira Consciência Ética. Para tanto,
é preciso distinguir: Predisposição Ética que se refere a sensibilidade social, a
percepção de valor, a relevância do bem geral com o moral coletivo, e a
Consciência Ética que corresponde a capacidade de avaliar e julgar, dentro de
parâmetros pré determinados pela sociedade constituída.
A Ética Empresarial é baseada em vários princípios. Começando pelo
local e onde a empresa é edificada. O ambiente é importante devido a cultura
da região, que é fundamental, para se estabelecer os valores necessários à
Ética empregada pela empresa. No transcorrer da implantação da Ética se
verifica o desenvolvimento e o crescimento dos recursos humanos. Onde o
respeito as pessoas e as responsabilidades administrativas são preocupações
constantes para as empresas que zelam pelo nome e credibilidade no
mercado.
Em suma, nenhuma empresa sobrevive sem uma forte postura Ética.
Porque os clientes, fornecedores e funcionários, julgam os valores e a conduta
Ética do trabalho apresentado pelos seus gerentes e administradores.
6
METODOLOGIA
O procedimento metodológico será delineamento pelas amostragem das
coletas de dados e análise do material recolhido, em várias fontes obtidas,
principalmente as consultas pela Internet. A fonte principal será sem dúvida do
professor orientador, trilhando os caminhos junto ao educando na busca de
informações, e onde chegar com as propostas bibliográficas. Em todo o mundo,
sem excluir o Brasil, as Empresas estabelecem normas de conduta aos seus
integrantes, que as vezes duram 24 (vinte e quatro) horas do dia.
Este estudo sobre as formas de dirigir uma empresa dentro de
parâmetros pré-estabelecidos, veio de pesquisas individualizadas, onde
observei diferentes e iguais maneiras de conseguir objetivos, fixadas pelas
empresas, em lugares semelhantes e distintos. A orientação foi através de
diversos livros, revistas, estatutos, regimentos, códigos e outras fontes de
pesquisas, sobre o assunto em pauta. Não foi difícil despertar o interesse pelo
tema, porque em todo o trabalho desenvolvido surgiam idéias novas, dentro do
estabelecido pelas leis do pais. Descobre-se com o assunto formas de
direcionar, nortear, gerenciar, gerir, controlar e administrar as empresas.
O propósito central do estudo sobre a ética das empresas vem da
incrível diversificação das formas de determinar caminhos para o
desenvolvimento e crescimento delas. O objetivo geral está em observarmos
tudo isso e tentar concluir como acontece.
Outros objetivos que o trabalho pretende enfocar é sobre a idéia de
união entre o útil e o agradável. Colocando o ser humano em seu principal
meio de chegar ao fim das metas empresarias. Toda a ética empresarial
trabalha em cima da dignidade das pessoas, criando um clima de respeito,
responsabilidade e reciprocidade, nos diversos níveis hierárquicos da
empresa.A resposta para saber em que se baseia a ética empresarial, é sem
dúvida, a sobrevivência da empresa. E essa sobrevivência para ser duradoura,
tem que ser uma constante preocupação, não podendo, em nenhum momento,
esquecer da concorrência e da continuada reciclagem dos conhecimentos e da
informação, para a empresa não ficar obsoleta ou alienada no futuro.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................08
CAPÍTULO I
ORIGEM DA ÉTICA..........................................................................................10
CAPÍTULO II
CULTURA BRASILEIRA...................................................................................18
CAPÍTULO III
IMPORTÂNCIA DA ÉTICA EMPRESARIAL NA SOCIEDADE.........................27
CAPÍTULO IV
PARA QUE CÓDIGO DE TICA?...................................................................... 32
CONCLUSÃO....................................................................................................39
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA..........................................................................41
ÍNDICE ..............................................................................................................42
FOLHA DE AVALIAÇÃO...................................................................................43
FOLHA COM 4 (QUATRO) EVENTOS CULTURAIS........................................44
8
INTRODUÇÃO
É Impossível a vida em sociedade e a continuidade de um grupo
sem estrutura ética, ou seja, de valores, princípios, limites, respeito à pessoa
e sentido de bem comum.
Os líderes empresariais descobriram que a ética passou a ser um fator
que agrega valor à imagem da empresa. Eis a razão da crescente
preocupação, entre os empresários, com a adoção de padrões éticos para suas
organizações. Sem dúvida, os integrantes dessas organizações serão
analisados através do comportamento e das ações por eles praticadas, tendo
como base um conjunto de princípios e valores. Da mesma forma que o
indivíduo é analisado pelos seus atos, as empresas (que são formadas por
indivíduos) passaram a ter sua conduta mais controlada e analisada, sobretudo
após a edição de leis que visam a defesa de interesses coletivos. A
credibilidade de uma instituição é o reflexo da prática efetiva de valores como a
integridade, honestidade, transparência, qualidade do produto, eficiência do
serviço, respeito ao consumidor, entre outros.
Nessa dimensão ética distinguem-se dois grandes planos de ação que
são propostos como desafio às organizações: de um lado, em termos de
projeção de seus valores para o exterior, fala-se em empresa cidadã, no
sentido de respeito ao meio ambiente, incentivo ao trabalho voluntário,
realização de algum benefício para a comunidade, responsabilidade social,
etc..., de outro lado, sob a perspectiva de seu público mais próximo, como
executivos, empregados, colaboradores, fornecedores, acionistas, envidam-se
esforços para a criação de um sistema que assegure um modo ético de operar,
sempre respeitando a filosofia da organização e os princípios do direito.
São muito pesados os ônus impostos às empresas que,
despreocupadas com a ética, enfrentam situações que muitas vezes, em
apenas um dia, destroem uma imagem que consumiu anos para ser
conquistada. Multas elevadas, quebra da rotina normal, empregados
9desmotivados, fraude interna, perda da confiança na reputação da empresa,
são exemplos desses ônus. Daí o motivo de muitas empresas terem adotado
elevados padrões pessoais de conduta para seleção de seus empregados,
cientes de que, atualmente, a integridade nos negócios exige profissionais
altamente capazes de compaginar princípios pessoais e valores empresariais.
É perfeitamente plausível e absolutamente necessário aliar lucros,
resultados, produtividade, qualidade e eficiência de produtos e serviços, além
de outros valores típicos de empresa, com valores pessoais, tais como:
honestidade, justiça, cooperação, tenacidade, compreensão, exigência,
prudência, entre outros. Por essa razão muitas empresas de respeito
empreendem um esforço organizado, a fim de encorajar a conduta ética entre
seus empregados. Para tanto, elegem princípios e valores que são erigidos
como baluartes da organização. Sob a égide desses postulados, implantam
códigos de ética, idealizam programas (hoje em dia programas virtuais) de
treinamento para seus executivos e empregados, criam comitês de ética,
capacitam lideres que percorrem os estabelecimentos da organização
incentivando o desenvolvimento de um clima ético, além de outras ações.
Nessa perspectiva, as empresas que se utilizam de todos estes
instrumentos, conquistam um clima muito favorável à assimilação, por parte de
todos os seus colaboradores, daqueles princípios e valores, que pouco à pouco
vão se disseminando por toda a organização. Adquirem a consciência de que a
ética nasce de um imperativo, que emerge de uma convicção interior,
reclamando coerência entre os princípios defendidos e as atitudes tomadas.
Com efeito, a empresa que desenvolve programas de ética, preocupando-se
com a criação e desenvolvimento de clima ético no ambiente de trabalho, terá
agregada à sua imagem excelente fator de competitividade.
10
CAPÍTULO I
ORIGEM DA ÉTICA
Ética vem do grego ethos e nos remete aos costumes. Refere-se ao
conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade. A ética nos manda a
valores vinculados à virtude e ao bem. Ela se baseia em que a conduta do
indivíduo e os valores da sociedade têm que ser coerentes entre si, porque é
na existência compartilhada com os outros que podemos realizar a liberdade, a
justiça e a felicidade, como valores humanos. Baseia-se igualmente no caráter
dos homens.
A ética é concebida como educação do caráter dos sujeitos, para que
seu comportamento seja moral, controlando seus impulsos de violência, de
egoísmo, para orientar-se em direção do bem individual e coletivo, como
virtude máxima. Toda ética tem que encontrar suas formas de realização, fazer
da utopia um horizonte concreto e não apenas o que satisfaz aos que se
contentam em ter razão, sem nunca conseguirem transformar o mundo
conforme os nossos sonhos. Historicamente vamos partir do princípio que a
história da ética teve sua origem na antigüidade grega. Reflexões de caráter
ético, quando buscavam entender as razões do comportamento humano. O
objetivo da ética é o de proporcionar o máximo de tranqüilidade ao maior
número de pessoas.
Sócrates (470-399 a.C.) considerou a ética como sendo a disciplina em
torno da qual deveriam girar todas as reflexões filosóficas, como tal, passa a
praticá-la e sente-se conseqüentemente bem.
Platão (427-347 a.C.) a ética de Platão está relacionada intimamente
com a razão que deve aspirar à sabedoria e a justiça. De certa forma ele criou
uma "pedagogia" para o desenvolvimento das virtudes. Exemplo: na escola as
crianças primeiramente têm de aprender a controlar seus desejos,
11desenvolvendo a temperança, depois incrementar a coragem para, por fim,
atingir a sabedoria.
Aristóteles (384-322 a.C.), não só organizou a ética como disciplina
filosófica mas, além disso, formulou a maior parte dos problemas que mais
tarde iriam se ocupar os filósofos da ética: relação entre a moral individual e a
ética social, relações entre a vida teórica e prática, classificação das virtudes,
etc. Sua concepção ética privilegia as virtudes (justiça, caridade e
generosidade), tidas como propensas tanto a provocar um sentimento de
realização pessoal, àquele que age, quanto simultaneamente beneficiar a
sociedade em que vive. A ética aristotélica busca valorizar a harmonia entre a
moral individual e a ética social.
Nicolau Maquiavel (1469-1527) provoca uma revolução na ética. O que
importa são os resultados e não a ação em si,
Immannuel Kant (1724-1804). A ética era estabelecer a regra da conduta
na substância racional do homem. Ele fez do conceito do dever ponto central
da ética. Buscando sempre na razão, formas de procedimentos práticos que
possam ser universalizáveis, isto é, um ato moralmente bom é aquele que pode
ser universalizável, de tal modo que os princípios que eu sigo possam valer
para todos.
Friedrich Hegel (1770-1831) A ética subjetiva (ou moral pessoal) é uma
consciência do dever e a ética objetiva (ou social) é formada pelos costumes,
pelas leis e normas de uma sociedade. O Estado, para Hegel, reúne esses dois
aspectos numa "totalidade ética". Além disso, essa vontade regula e normatiza
as condutas individuais através de um conjunto de valores e costumes vigentes
em uma determinada sociedade em uma determinada época.
A vida ética consiste na interiorização dos valores, normas e leis de uma
sociedade, condensadas na vontade objetiva cultural, por um sujeito moral que
as aceita livre e espontaneamente através de sua vontade subjetiva individual.
A vontade pessoal resulta da aceitação harmoniosa da vontade coletiva de
uma cultura.
12Karl Marx (1818-1883) via a ética como uma espécie de "superestrutura
ideológica", cumprindo uma função social que, via de regra, servia para
sacramentar as relações e condições de existência de acordo com os
interesses da classe dominante. Não pode existir uma ética válido para todos
os tempos e todas as sociedades. Para garantir a harmonia da emergente
sociedade. A transformação da antiga ética e a construção da nova, exigem a
participação consciente dos homens. A nova ética, com suas novas virtudes
transforma-se numa necessidade. O homem portanto, deve interferir sempre na
transformação da sociedade.
1.1 – Conceito de Ética
Ao iniciar um trabalho que envolve a ética como objeto de estudo,
consideramos importante, como ponto de partida, estudar o conceito de ética.
O estudo da ética foi iniciado com filósofos gregos. Hoje em dia, seu campo de
atuação ultrapassa os limites da filosofia e inúmeros outros pesquisadores do
conhecimento dedicam-se ao seu estudo. Sociólogos, psicólogos, biólogos e
muitos outros profissionais desenvolvem trabalhos no campo da ética, tantas
vezes interpretada como sinônimo de moral.
A ética seria então uma espécie de teoria e prática moral, "em geral, a
ciência da conduta", amplia a definição afirmando que "a ética é a ciência do
comportamento dos homens em sociedade.” Também estuda a
responsabilidade do ato, ou seja, a decisão de agir numa situação concreta, é
um problema prático da ética, mas investigar se a pessoa pôde escolher entre
duas ou mais alternativas de ação e agir de acordo com sua decisão é um
problema teórico da ético, pois verifica a liberdade ou o determinismo ao qual
nossos atos estão sujeitos.
A ética pode também contribuir para fundamentar ou justificar certa
forma de comportamento. Assim, se a ética revela uma relação entre o
comportamento e as necessidades e os interesses sociais, ela nos ajudará a
situar no devido lugar da ética efetiva, real, do grupo social. Por outro lado, ela
13nos permite exercitar uma forma de questionamento, onde nos colocamos
diante do dilema entre "o que é" e o "que deveria ser", imunizando-nos contra a
simplória assimilação dos valores e normas vigentes na sociedade e abrindo
em nossas almas a possibilidade de desconfiarmos de que os valores vigentes
podem estar encobrindo interesses que não correspondem às próprias causas
geradoras da ética.
A reflexão ética também permite a identificação de valores petrificados
que já não mais satisfazem os interesses da sociedade a que servem. Por
exemplo: na época da escravidão, as pessoas acreditavam que os escravos
eram seres inferiores por natureza (como dizia Aristóteles) ou pela vontade
divina (como diziam muitos na América colonial). Elas não se sentiam
eticamente questionadas diante da injustiça cometida contra os escravos. Isso
porque o termo "injustiça" já é fruto de juízo ético de alguém que percebe que a
realidade não é o que deveria ser. A experiência existencial de se rebelar
diante de uma situação desumana ou injusta é chamada de indignação ética.
A ética é uma característica inerente a toda ação humana e, por esta
razão, é um elemento vital na produção da realidade social. Existem sempre
comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e errado, do bem
e do mal. Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações
sempre têm relação com as matrizes culturais que prevalecem em
determinadas sociedades e contextos históricos. A ética está relacionada à
opção, mantendo com os outros relações justas e aceitáveis.
Sendo a ética uma ciência, devemos evitar a tentação de reduzi-la ao
campo exclusivamente normativo. Seu valor está naquilo que explica e não no
fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas.
1.2 – Problemas Éticos
Problemas éticos são problemas cujas soluções, via de regra, não
envolvem apenas a pessoa que os propõe, mas também a outra ou outras
14pessoas que poderão sofrer as conseqüências das decisões e ações,
conseqüências que poderão muitas vezes afetar uma comunidade inteira.
Os problemas éticos são caracterizados pela sua generalidade. Por
exemplo: se um indivíduo está diante de uma determinada situação, deverá
resolvê-la por si mesmo, com a ajuda de uma norma que reconhece e aceita
intimamente, pois o problema do que fazer numa dada situação é um problema
prático e não teórico. Mas, quando estamos diante de uma situação, como por
exemplo: definir o conceito de Bem, já ultrapassamos os limites dos problemas
éticos e estamos num problema geral de caráter teórico, no campo de
investigação. Tanto assim, que diversas teorias éticas organizaram-se em torno
da definição do que é Bem. Muitos filósofos acreditaram que, uma vez
entendido o que é Bem, descobriríamos o que fazer diante das situações
apresentadas pela vida. As respostas encontradas não são unânimes e as
definições de Bem variam muito de um filósofo para outro. Para uns, Bem é o
prazer, para outros é o útil e assim por diante.
O homem é um ser-no-mundo, que só realiza sua existência no encontro
com outros homens, sendo que, todas as suas ações e decisões afetam as
outras pessoas. Nesta convivência, nesta coexistência, naturalmente têm que
existir regras que coordenem e harmonizem esta relação. Estas regras, dentro
de um grupo qualquer, indicam os limites em relação aos quais podemos medir
as nossas possibilidades e as limitações a que devemos nos submeter. São os
códigos de ética ou culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo nos
protegem.
Diante dos dilemas da vida, temos a tendência de conduzir nossas
ações de forma quase que instintiva, automática, fazendo uso de alguma
"fórmula" ou "receita" presente em nosso meio social, de normas que julgamos
mais adequadas de serem cumpridas, por terem sido aceitas intimamente e
reconhecidas como válidas e obrigatórias. Fazemos uso de normas, praticamos
determinados atos e, muitas vezes, nos servimos de determinados argumentos
para tomar decisões, justificar nossas ações e nos sentirmos dentro da
15normalidade. As normas de que estamos falando têm relação como o que
chamamos de ética. São os meios pelos quais um grupo social manifesta um
caráter normativo e obrigatório.
A ética pode então ser entendida como o conjunto das práticas
cristalizadas pelos costumes e convenções histórico-sociais. Cada sociedade
tem sido caracterizada por seus conjuntos de normas, valores e regras. São as
prescrições e proibições do tipo "não matarás", "não roubarás", de
cumprimento obrigatório. Muitas vezes essas práticas são até mesmo
incompatíveis com os avanços e conhecimentos das ciências naturais e
sociais.
A ética tem um forte caráter social, estando apoiada na tríade cultura,
história e natureza humana. É algo adquirido como herança e preservado pela
comunidade. Quando os valores e costumes estabelecidos numa determinada
sociedade são bem aceitos, não há muita necessidade de reflexão sobre eles.
Mas, quando surgem questionamentos sobre a validade de certos costumes ou
valores consolidados pela prática, surge a necessidade de fundamentá-los
teoricamente, ou, para os que discordam deles, criticá-los.
1.3 – Mudanças de Paradigmas
É exatamente esse individualismo e falta de ética predominante na
sociedade contemporânea que está provocando uma nova corrida ao seu
estudo. A ética está se tornando um tema corrente em nosso dia a dia, pois
nossa sociedade, enfrentando esses graves desafios nos últimos anos, precisa
de visões do futuro que sejam atraentes, inspiradoras e vigorosas o bastante,
para levar as pessoas a deixar de lado o seu costume atual de concentrar-se
nas crises imediatas e a voltar-se com esperança para o futuro - um futuro em
que a saúde e o bem estar da Terra e dos seus habitantes estejam
assegurados.
Estamos mais sensíveis às questões de conservação, ao caráter
sagrado da vida e cooperação global. As inúmeras conferências internacionais
16sobre ecologia, fome e direitos humanos são exemplos significativos da
necessidade de uma mudança ética em todos os campos da vida social.
O debate sobre a Ética na política, nas questões sociais e econômicas,
ressurgiu com muita força nos últimos anos. O estudo e a preocupação com
questões éticas também passou a ser assunto de discussão nos meios
empresariais. Já existe uma grande bibliografia sobre "Ética nas Empresas" e
muitos cursos de Gestão de Negócios estão incluindo em seus currículos a
disciplina "Ética".
A Sociedade industrial cresceu arraigada no materialismo e na
supremacia do homem sobre a natureza. Vem daí a ênfase na competição, na
auto-preservação e no consumo, que levou a problemas atuais como poluição,
o armazenamento de resíduos sólidos, o crime, a violência familiar, o
terrorismo internacional, a destruição de espécimes animais, a devastação das
florestas, os buracos na camada de ozônio e as milhares de pessoas que
morrem de inanição todos os dias por conta do crescimento populacional fora
de controle e de uma perversa distribuição de riquezas. Parece que perdemos
a capacidade de agirmos eticamente e as aplicações irresponsáveis da ciência
e tecnologia estão ameaçando a vida no planeta.
As últimas duas décadas de nosso século vêm registrando um estado de
profunda crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas
afetam todos os aspectos de nossa vida - a saúde e o modo de vida, a
qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e
política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise
de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade.
Pela primeira vez temos que nos defrontar com a real ameaça de extinção da
raça humana e toda a vida no planeta.
Dentro desse novo contexto só teremos chances de sobrevivência se
dedicarmos algum tempo a olhar por cima de nossos próprios ombros, se de
fato nos preocuparmos com os outros e vivermos além dos limites de nossas
próprias famílias e instituições. As necessidades de mudanças, que nos
17conduzam a uma nova visão de mundo são urgentes e, de certa forma, já estão
ocorrendo. Hoje em dia, por exemplo, as exigências do cidadão não recaem
apenas por produtos ou serviços de qualidade, mas são também de natureza
ética. Ou seja: se vai comprar um carro, um sabonete, uma vasilha de
refrigerante ou um serviço financeiro quer saber se aquela empresa recolhe
seus impostos, remunera dentro do padrão de mercado seus empregados,
polui o meio ambiente, trata a concorrência com lealdade, atende os eventuais
reclamos da sua clientela e participa de forma positiva de sua comunidade.
Muitas pessoas, em especial jovens, estão dispostas a contribuir com
boas causas, existindo uma procura crescente por empresas não apenas
voltadas para a produção e lucro, mas que também estejam preocupadas com
a solução de problemas mais amplos como preservação do meio ambiente e
bem estar social.
18
CAPÍTULO II
CULTURA BRASILEIRA
A Ética Empresarial sofre influência da Cultua Interna e Externa da
Empresa. Pretende-se, aqui, identificar a Cultura Empresarial Brasileira, sobre
tudo de como ela interfere nas proposições de uma política de desenvolvimento
e treinamento de recursos humanos. Não há regras gerais aplicáveis a todas
as organizações. Assim, observa-se que cada tipo de cultura exerce um tipo
próprio de controle de seus membros. Pode-se mencionar algumas
características:
- as decisões caracterizam-se por uma interação social intensa, e por um
envolvimento ativo dos dirigentes superiores, geralmente autocráticos;
- a autoridade hierárquica e a intensa comunicação fora das horas e espaços
de trabalho embora tornem mais ágil a tomada de decisões, acabam por
privilegiar alguns dos responsáveis pelas decisões;
- as decisões são tomadas com um número menor de participantes e com um
menor número de informações;
- a distância do poder nas organizações brasileiras é muito grande e o controle
oscila entre o uso da autoridade e da sedução;
- os comportamentos organizacionais trazem a marca do engenho e do binômio
casa grande e senzala onde a distância social era a contrapartida da
proximidade física;
- predomínio da “grande família”.
Cabe destacar que de modo geral, os valores democráticos não são
muito fortes no âmbito das organizações. Entretanto, não é democracia, mas
também não é autocracia. Trata-se de algo intermediário, ambíguo, como
muitos traços da cultura brasileira. Ou ainda, a ambigüidade favorece os
caminhos alternativos, que incluem a criatividade e a inovação, mas também a
descoberta e o cultivo do ‘padrinho’, o apelo às relações sociais informais como
forma de reasseguramento, o uso do ‘jeitinho’ que surge no plano da lei. Leis
descoladas das práticas sociais precisam ser contornadas. Também é o que se
19dá em relação à classe dominante, no plano interno e no plano externo. Os
‘padrinhos’ das organizações são os ‘despachantes’ que cobram pouco, ou
nem cobram, e que abrem caminhos.
Observa-se no comportamento brasileiro uma necessidade de
personalizar as relações, buscando através da identificação de algo em comum
u ma forma de aproximação que diminua a formalidade.
Em termos das tentativas de entendimento e interpretação desses traços
culturais brasileiros, vários estudos foram realizados e várias interpretações
têm sido propostas. A mais recente é a interpretação psicanalítica, segundo a
qual é possível identificar em cada brasileiro um colonizador e um colono. Este
é o discurso dominante no Brasil, que o brasileiro não fala como colonizador ou
como colono, ele fala nas duas condições, ou em alguma condição
intermediária, como aprendeu a falar desde muito cedo.
Se o brasileiro se move como um fora-da-lei ou como um servil, faz
diferença para uma série de efeitos. Toda via, são os mesmos temores que
movem as duas categorias. Nesse sentido, estas categorias vivem em um
medo de descompromisso social que lhes aparece fantasmagoricamente como
sem saída. É interessante observar o quanto as raízes híbridas da sociedade
brasileira marcam as formas como cada organização se estrutura. As
especificidades aí presentes decorrem, também, de outros fatores além da
cultura nacional / local como fundação / fundadores, tipo de liderança,
mecanismos de inserção no ambiente e outros.
Um outro ponto importante para o entendimento da dinâmica das
organizações brasileiras refere-se à questão da autoridade. Nesse particular é
marcantes a presença da figura paterna, plena de autoridade e poder. A
autoridade pessoal do pai-senhor estrutura-se na dependência e na
necessidade de proteção tanto das mulheres, crianças ou subalternos
(escravos / empregados). As repercussões deste modelo da grande família,
pautada na imagem de pai associada a do patrão podem se estender às
chefias. Sob esta perspectiva o chefe passa a ser considerado o mediador da
empresa, predominando nas relações inter pessoais a obediência e as relações
ideológicas num permanente reforçar mútuo. Não raro, transfere-se para a
20empresa a linguagem familiar. O pai é o patrão e os operários os filhos. Essa
lógica é assegurada através do oferecimento de serviços assistencialistas e /
ou paternalistas. O patrão representa ao mesmo tempo autoridade e firmeza, e
generosidade e cordialidade.
É nesse contexto que a busca de alternativas para uma filosofia
empresarial, junto à cultura interna e externa, encontra a partir do entendimento
de como se estrutura em cada contexto organizacional, propor estratégias de
desenvolvimento de recursos humanos que permita a melhoria da qualidade do
desempenho pessoal e organizacional, sem perder de vista que tais
procedimentos refletem e revelam posturas muito mais do que necessidades e
/ ou propósitos.
Pode-se inferir do exposto que é nesse universo plural que as ações da
cultura organizacional brasileira se movem:
- tendência a centralização do poder dentro dos grupos sociais;
- distanciamento nas relações entre diferentes grupos sociais;
- passividade e aceitação dos grupos inferiores;
- sociedade baseada nas relações pessoais;
- busca da proximidade e afeto nas relações;
- paternalismo: domínio moral e econômico
- flexibilidade e adaptabilidade como meio de navegação social;
- jeitinho;
- gosto pelo sensual e pelo exótico nas relações sociais;
- mais sonhador do que disciplinado;
- tendência à aversão ao trabalho manual ou metódico.
2.1 – Cultura Empresarial
Um dos pontos essenciais para o entendimento do que é e do que faz a
cultura, é a possibilidade de analisá-la como um fenômeno representado e
criado pelas nossas relações com os outros, permeando todas as formas e
tipos de interação. Vale destacar, aqui, que são os integrantes no interior de
21um sistema que fazem da organização aquilo que ela é e, portanto, toda
construção histórico-social, reflete essencialmente na cultura da empresa.
Assim, ao buscar entender “cultura” no âmbito das organizações e seus
grupos, percebe-se, na maioria das abordagens, a preocupação em detectar
como ela é criada, desenvolvida, manipulada, gerenciada e transformada.
Nota-se em determinado momento dessa tentativa de análise da questão da
cultura organizacional, a ênfase na busca de modelos que permitissem o
gerenciamento da cultura. Assim, encontram-se, na literatura, várias
formulações referentes a esse propósito. Entre elas temos: que o processo
dinâmico de criação e gerenciamento da cultura é a essência da liderança e
fazem perceber que cultura e liderança são faces de uma mesma questão.
Portanto, cultura é o resultado de um complexo conjunto de processos
de aprendizagem os quais são, apenas parcialmente, influenciados pelo
comportamento e vontade do líder. Por outro lado, destaca-se que a cultura
organizacional indica o clima e as práticas que as organizações desenvolvem
ao “redor” dos seus integrantes.
Há que destacar a dificuldade para conceituar cultura, organização,
grupos e instituição. Para fazê-lo, buscam-se os referenciais das mais
diferentes áreas do conhecimento como a sociologia e a psicologia, em
especial. A busca de referenciais mais abrangentes deve-se, provavelmente,
entre outras coisas, à necessidade da explicitação de elementos como:
regularidade do comportamento em termos de linguagem, costumes, tradições
e rituais; normas grupais; valores conjugados; filosofia formal da organização;
clima institucional; hábitos de pensamento, habilidades mentais e paradigmas
lingüísticos; significados e principais metáforas adotadas. O ponto crítico
dessas abordagens é associar palavras como qualidade, normas, valores,
modelos de comportamento, rituais e tradições com cultura, especialmente
porque, em algum nível, uma estabilidade estrutural do grupo é pretendida.
Nessa perspectiva, em outro ponto fundamental é a normatização ou
integração desses elementos em um paradigma mais amplo.
A amplitude do conceito de cultura, por exemplo, chama a atenção para
alguns elementos que fazem parte das necessidades humanas de estabilidade,
22consistência e pensamento. Apesar da complexidade a que o próprio termo
remete, tem-se a necessidade de definir formalmente cultura como algo resulta
da definição de cultura do grupo e do modelo de suposições básicas
compartilhadas e aprendidas, por esse mesmo grupo, ao resolver seus
problemas de adaptação externa e integração interna que deram certo o
suficiente para serem considerados válidas e por isso, passíveis de serem
ensinadas aos novos membros do grupo como a maneira correta de perceber,
pensar e sentir-se em relação àqueles problemas.
Dentre as abordagens sobre cultura das organizações, a partir da
tendência cujo pressuposto supões a “construção”, a “formação” e o
“gerenciamento” da cultura, encontra-se que um dos modelos para estudar as
dimensões da cultura foi desenvolvido pela sociologia e pela dinâmica de
grupo, baseados na distinção fundamental entre as questões de sobrevivência
e adaptação no grupo e em seus processos internos para garantir a
capacidade de continuar a sobreviver e adaptar.
Desse modo a cultura é multidimensional, um fenômeno multifacetado,
não facilmente reduzido a poucas dimensões majoritárias. E, quanto mais
multidimensional, maior a necessidade de compreender-se que a verdade não
pode ser entendida somente a partir dos pressupostos do método científico,
mas como algo mais abrangente que inclui linguagens e representações de
tempo, espaço, poder, religião, ideologia e outros, que estão conectadas
especialmente à essência humana. A cultura organizacional, relaciona-se com
as percepções dos integrantes em relação às práticas e princípios norteadores
de uma dada organização.
É, pois, importante reconhecer como cada realidade é conceituada, que
conceitos e dimensões guiam as percepções de mundo, e como o ambiente
físico é constituído e utilizado pelos integrantes envolvidos na dinâmica
organizacional.
Em termos do estudo das culturas organizacionais e, por conseguinte,
das diferentes percepções a respeito do princípios da organização envolvem
riscos internos e externos. Os riscos internos existem no sentido de que os
membros da organização podem não querer conhecer as análises sobre a sua
23cultura. Os externos referem-se a que os membros da organização receiam a
possibilidade de que alguma informação sobre sua cultura os deixe vulneráveis
à avaliação dos outros. Nesse último caso, há o perigo da informação ser
incorreta ou superficial. Nesse sentido, os dados serão sempre de risco, tanto
interno quanto externo.
Em síntese, após as considerações feitas aqui sobre a questão da
cultura organizacional, parece oportuno acrescentar as idéias de que pouco
importa se a cultura é, como dizem alguns, uma simples moda ou não. Importa
que ela se refere a problemas reais que se ampliam em função desse real. E,
sem dúvida, dentre esses problemas reais um deles diz respeito á
complexidade que envolve a cultura nas organizações e suas modalidades de
expressão.
A cultura organizacional não é um conjunto homogêneo de atitudes e
valores, mas uma configuração de subculturas com a sua identidade própria
cujos contornos vão dinamicamente sendo construídos a partir da busca de
equilíbrios consensuais possíveis. Uma vez que revelam pontos importantes
como:
- a cultura habitualmente vinculada uma função estabilizadora de um certo
quadro de referência e de ação;
- o estudo da cultura remete para a análise da interpretação ideológica dos
integrantes que se constitui numa visão persistente, com um certo grau de
permanência, de representações sociais produzidas em contextos
organizacionais específicos;
- as organizações podem desenvolver culturas diferenciadas das unidades
sociais mais amplas. Desse modo, no interior de uma mesma organização
poderão desenvolver-se múltiplas culturas.
- a cultura organizacional é tributária das “matrizes” culturais de integração
objetiva dos integrantes – poder formal, estrutura organizacional e a atividade
de gestão as quais pontuam uma forma específica de inserção no contexto
local;
- a distinção entre cultura interna e cultura externa;
24- a compreensão aos princípios de aprendizagem cultural e explicita
profundidade das identidades coletivas reais na diferentes organizações de
trabalho.
Em síntese, uma compreensão mais cuidadosa dos elementos da
cultura organizacional, frente não apenas às necessidades de treinamento e
formação, mas, sobretudo, frente à especificidades das concepções e visões
de mundo que compõem o universo organizacional como um todo e cada setor
da organização, em particular.
2.2 – Ética e o Código Civil
Ser ético nas relações contratuais deixou de ser uma opção sob o novo
Código Civil, ele tem sido elogiado pela incorporação de preceitos éticos ao
seu texto. Tais dispositivos são dirigidos aos praticantes de atos jurídicos,
principalmente as partes dos contratos. Muitos contratos são celebrados por
pessoas naturais. Outros são estabelecidos entre pessoas jurídicas, ou entre
essas e as pessoas naturais. O novo Código Civil dirige-se sempre às pessoas,
inclusive àquelas que agem na representação de sociedade (geralmente
organizada sob a forma de empresa), associação ou fundação.
Sabemos que a ética empresarial, em sua essência, é a determinação,
às pessoas que integram uma organização, de agir sempre em conformidade
com os valores da honestidade, verdade e justiça, em todas as atividades nas
quais representem essas entidades jurídicas: nas compras, nas vendas, nos
empréstimos, nas relações com empregados, com a concorrência, com o
governo e com a comunidade, e em quaisquer outras.
A prática dos valores acima implica em agir sempre em boa-fé,
consistente na prática de cada ato sem dolo e sem incorrer em fraude,
revelando a verdade à outra parte e agindo sob a convicção de estar protegido
pela lei, tomando também como verdadeiras e justas as declarações e
exigências do outro contratante. A boa-fé significa também somente assumir
25obrigações com a possibilidade e a intenção verdadeiras de cumpri-las no
prazo acordado.
Portanto, agir em boa-fé significa acima de tudo agir com ética. Ser ético
nas relações obrigacionais (contratuais) deixou de ser uma opção sob o novo
Código Civil. Passou a ser um dever cuja violação acarretará responsabilidades
para a parte infratora. Para se ter uma idéia de como o novo código valorizou a
matéria, basta verificar que a expressão boa-fé foi nele citado 55 vezes, contra
30 vezes em que era citada pelo repositório antigo, revogado.
O principal dispositivo do novo Código Civil a respeito do assunto é o
que estabelece que os contratantes são obrigados a observar a boa-fé tanto na
celebração quanto no cumprimento dos contratos (artigo 422). E o código
acrescenta também o dever da probidade, assim entendida a honestidade, ou
seja, a prática de não lesar a outrem e, em conseqüência atribuir a cada um o
que lhe é devido. Outros dispositivos importantes que valorizam o aspecto ético
e a boa-fé no novo código são:
(a) os contratos devem ser interpretados de acordo com a boa-fé
e os usos do lugar em que forem celebrados (artigo 113). Esse dispositivo deve
ser sempre aplicado em conjunto com o que determina que se deve atentar
mais para a vontade das partes do que para a literalidade das palavras com
que elas a expressam (artigo 112);
(b) no caso de simulação de negócio jurídico, ficam ressalvados
os direitos dos terceiros de boa-fé em face dos contraentes (artigo 167);
(c) o titular de direito legítimo que ao exercê-lo excede os limites
dos seus fins econômicos e sociais ou da boa-fé comete ato ilícito (artigo 187);
(d) o devedor que paga a alguém julgando ser este último o
credor, baseado em fundadas razões, libera-se da obrigação, mesmo que fique
provado que faltava ao recebedor a legitimidade (artigo 309).
26Há muitos outros dispositivos que requerem a prática da boa-fé nas
diversas relações civis. Alguns deles já existiam nas relações de consumo e já
eram vedadas pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC). Foram eles agora
incorporados às demais relações civis e comerciais mantidas pelas empresas,
alcançando aquelas que não estão protegidas pelo Código do Consumidor.
Com tais provisões, o novo código certamente desestimula as ações antiéticas,
como, por exemplo:
(a) a empresa compradora de bens ou contratante de serviços
que atrasa o pagamento do fornecedor porque o contrato não prevê multa, ou
quando prevê o valor desta é menor do que os juros pagos pelo mercado
financeiro pelo investimento do montante durante o período de atraso;
(b) a empresa fornecedora que entrega produto anunciado com
características diferentes daquelas que de fato possui e com as quais se
comprometeu perante a organização adquirente;
(c) o devedor que assume dívida que sabe não poder honrar, ou
quando de antemão não pretender pagar.
As penalidades pelo descumprimento dos deveres éticos são as
previstas para a violação das obrigações contratuais. Em qualquer caso, a
empresa que agir com má-fé, deixando de proceder de conformidade com os
princípios éticos, como regra geral fica sujeita ao pagamento de perdas e
danos, mais correção monetária e juros (artigos 389/395). As perdas e danos
compreenderão os valores que a parte prejudicada tenha perdido, mais
aqueles que razoavelmente tenha deixado de ganhar (artigos 402/405). No
caso de descumprimento de obrigações de pagamento em dinheiro, se não
houver no contrato previsão de multa o juiz poderá arbitrar juros a serem
calculados por taxa que reflita a perda real do prejudicado, ou seja, aquelas
praticadas pelo mercado financeiro.
27
CAPÍTULO III
IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA SOCIEDADE
A sociedade contemporânea está resgatando comportamentos que
possibilitem o cultivo de relações éticas. São freqüentes as queixas sobre a
falta de ética na sociedade, na política, na indústria e até mesmo nos meios
esportivos, culturais e religiosos. Um dos campos mais carentes, no que diz
respeito à aplicação da ética é do trabalho e exercício profissional. Por esta
razão, executivos e teóricos em administração de empresas voltaram a se
debruçar sobre as questões éticas, esquecer-se da ética pode ser um mau
negócio. Nas universidades e escolas brasileiras, nota-se uma modificação
gradativa nos currículos com a inclusão e ênfase ao estudo da ética. Hoje
fundações também estão desenvolvendo estudos em ética organizacional.
Para a vertente que busca o Bem Comum pautado na Ética na Atividade
Empresarial, é indiscutível que as boas decisões empresariais resultem de
decisões éticas. Uma empresa é considerada ética se cumprir com todos os
compromissos éticos que tiver, se adotar uma postura ética como estratégia de
negócios, ou seja, agir de forma honesta com todos aqueles que têm algum
tipo de relacionamento com ela. Estão envolvidos nesse grupo, os clientes, os
fornecedores, os sócios, os funcionários, o governo e a sociedade como um
todo. Seus valores, rumos e expectativas devem levar em conta todo esse
universo de relacionamentos e seu desempenho também deve ser avaliado
quanto ao seu esforço no cumprimento de suas responsabilidades públicas e
em sua atuação como boa cidadã.
Percebe-se claramente a necessidade da moderna gestão empresarial
em criar relacionamento mais éticos no mundo dos negócios para poder
sobreviver e, obviamente, obter vantagens competitivas. A sociedade como um
todo também se beneficia deste movimento. As organizações necessitam
investir continuamente no desenvolvimento de seus funcionários por meio da
educação. A maior parte das organizações independentemente do porte, pode
28desenvolver mecanismos para contribuir para a satisfação dos funcionários.
Ter padrões éticos significa ter bons negócios a longo prazo. Existem estudos
indicando a veracidade dessa afirmativa. Na maioria das vezes, contudo, as
empresas e organizações reagem a situações de curto prazo.
A integridade e o desempenho não são extremidades opostas de um
contínuo. Quando as pessoas trabalham para uma organização que acreditam
ser justa, onde todos estão dispostos a dar de si para a realização das tarefas,
onde as tradições de fidelidade e cuidado são marcantes, as pessoas
trabalham em um nível mais elevado. Os valores ao seu redor passam a fazer
parte delas e elas vêem o cliente como alguém a quem devem o melhor
produto ou serviço possível. Bons negócios dependem essencialmente do
desenvolvimento e manutenção de relações de longo prazo e falhas éticas
levam as empresas a perderem clientes e fornecedores importantes,
dificultando o estabelecimento de parcerias, cada vez mais comum hoje em dia
A reputação das empresas e organizações é um fator primário nas
relações comerciais, formais ou informais, quer estas digam respeito à
publicidade, ao desenvolvimento de produtos ou a questões ligadas aos
recursos humanos. Nas atuais economias nacionais e globais, as práticas
empresariais dos administradores afetam a imagem da empresa para qual
trabalham. Assim, se a empresa quiser competir com sucesso nos mercados
nacional e mundial, será importante manter uma sólida reputação de
comportamento ético.
3.1 – Responsabilidade Social
O ambiente empresarial tem visto nos últimos anos um crescimento
muito grande na discussão de temas relacionados à Ética, Responsabilidade
Social, e Governança Corporativa, há um sentimento partilhado e mais
profundo sobre a necessidade de transformação da sociedade. A organização
empresarial é o agente mais dinâmico da sociedade, em conseqüência, não
podemos deixar a empresa fora deste processo.
29Como a empresa pode contribuir decisivamente neste processo de
transformação, mantendo-se competitiva e sustentável, é o grande desafio a
vencer. Os temas que nos preocupam, estão absoluta e definitivamente ligados
à criação de uma Identidade Empresarial, desta forma deveremos encontrar
um ponto de partida sólido para incorporá-los à visão estratégica integrada da
organização, e não como temas de oportunidade ou conveniência.
Responder a pergunta: como queremos que nossa organização seja
reconhecida como participativa, ética e socialmente responsável? Implica um
maduro processo de busca de consenso, definição de prioridades, indicadores
de evolução, comunicação, verdadeira participação interna e externa com
todos os públicos da empresa onde a função de R. H. assume um rol
fundamental. A atividade humana, e por conseqüência, a empresarial, sempre
tem uma dimensão ética. O "agir ético" não será uma 'simples' ação produtiva,
mas, necessitará sempre de uma especulação, de uma ação refletiva, que
oriente as ações diante de escolhas ou caminhos a seguir.
Esta reflexão terá como referenciais o conjunto de valores que podemos
identificar como "saber ético". Será importante reconhecer sempre esses dois
elementos - saber e agir ético - que se complementam e enriquecem
mutuamente. Em qualquer ação não se referir ao saber ético poderá nos
orientar a uma solução relativista - qualquer decisão poderá ser boa ou má,
dependendo das circunstancias - ou utilitarista - tomar uma decisão em função
da utilidade pessoal.
No intuito de demonstrar o compromisso com a sociedade e seus
públicos, muitas empresas vêm elaborando códigos de conduta ou ética, que
podem se converter em um poderoso instrumento contrario à própria empresa
no caso de que esses públicos, interno e externos, não possam constatar a
coerência entre o discurso e a pratica, entre o código e as ações concretas.
Um eficaz processo de reflexão ética na empresa implica a adoção de
algumas praticas claramente definidas e conhecidas por todos os
colaboradores. A criação de um ambiente ético permite compreender e
30implantar um processo de Responsabilidade Social Corporativa, que como tal,
esteja integrado na visão estratégica da empresa, e por meio do qual a mesma
tem consciência e assume as responsabilidades de sua gestão, nos campos
econômico, social e ambiental, na cadeia completa de suas atividades,
mantendo um permanente dialogo com todos os agentes interessados.
Prestar contas: disponibilizar de forma oportuna, correta e transparente
as informações da gestão empresarial que tem impacto na sociedade, se
converte em um dos desafios da empresa que quere ser perene e conquistar a
confiança e fidelidade de seus clientes. E isto vai muito além de oferecer bons
produtos e serviços. Este enfoque não se aplica a determinadas empresas
conforme seu tamanho ou área de atuação, é aplicável a todas as empresas,
de todas as áreas e de qualquer tamanho, desde a micro empresa até a grande
corporação transnacional, pois, todas formam parte da sociedade.
O mercado, como expressão da sociedade, está cada dia mais
consciente e critico das atitudes empresariais, e disposto a "premiar" ou
"condenar" praticas éticas e socialmente responsáveis, ou sua negação. Da
mesma forma também, os investidores analisam cada vez com maior atenção a
forma na qual as empresas realizam seus lucros e oferecem retornos a seus
acionistas e investidores. Somente serão duradouras neste século as
empresas que saibam criar uma nova sociedade, as organizações empresariais
que possam ser reconhecidas como ética, social e ambientalmente
responsáveis, por isso, esta discussão não é uma questão de moda, trata-se
de uma necessidade de estratégia empresarial.
3.2 – Ética, Moral do Coletivo
Egresso de uma vida inculta, desorganizada, baseada apenas em
instintos, o homem, sobre a Terra, foi-se organizando, na busca de maior
estabilidade vital. Foi cedendo parcelas do referido individualismo para se
beneficiar da união, da divisão do trabalho, da proteção da vida em comum. A
organização social foi um progresso, como continua a ser a evolução da
31mesma, na definição, cada vez maior, das funções dos cidadãos e tal definição
acentua, gradativamente, o limite de ação das classes.
Sabemos que entre a sociedade de hoje e aquela primitiva não existem
mais níveis de comparação, quanto à complexidade; devemos reconhecer,
porém, que, nos núcleos menores, o sentido de solidariedade era bem mais
acentuado, assim como os rigores éticos e poucas cidades de maior dimensão
possuem, na atualidade, o espírito comunitário; também, com dificuldades,
enfrentam as questões classistas.A vocação para o coletivo já não se encontra,
nos dias atuais, com a mesma pujança nos grandes centros. Parece-me pouco
entendido, por um número expressivo de pessoas, que existe um bem comum
a defender e do qual elas dependem para o bem-estar próprio e o de seus
semelhantes, havendo uma inequívoca interação que nem sempre é
compreendida pelos que possuem espírito egoísta. Quem lidera entidades de
classe bem sabe a dificuldade para reunir colegas, para delegar tarefas de
utilidade geral.
Tal posicionamento termina, quase sempre, em uma oligarquia dos que
se sacrificam, e o poder das entidades tende sempre a permanecer em mãos
desses grupos, por longo tempo. O egoísmo parece ainda vigorar e sua
reversão não nos parece fácil, diante da massificação que se tem promovido,
propositadamente, para a conservação dos grupos dominantes no poder.
Como o progresso do individualismo gera sempre o risco da transgressão ética,
imperativa se faz a necessidade de uma tutela sobre o trabalho, através de
normas éticas. É sabido que uma disciplina de conduta protege todos, evitando
o caos que pode imperar quando se outorga ao indivíduo o direito de tudo
fazer, ainda que prejudicando terceiros.
É preciso que cada um ceda alguma coisa para receber muitas outras e
esse é um princípio que sustenta e justifica a prática virtuosa perante a
comunidade. O homem não deve construir seu bem a custa de destruir o de
outros, nem admitir que só existe a sua vida em todo o universo. Em geral, o
egoísta é um ser de curta visão, pragmático quase sempre, isolado em sua
perseguição de um bem que imagina ser só seu.
32
CAPÍTULO IV
PARA QUE CÓDIGOS DE ÉTICA?
Os códigos de ética nos levam a acreditar na possibilidade de explorar
um caminho que abre espaço para que percorram juntos, sem antagonismo, os
valores humanos e os resultados econômicos.
Empresa é ética quando tem uma filosofia de trabalho que prioriza a
coerência entre o que se diz e o que se faz. Preservando os valores. As
empresas são reconhecidas no mercado por essa postura. Não raro este
comentário advém de empresários que exercem importante papel de liderança
e chefia, sem perceberem as reais vantagens de adotar, para suas empresas,
códigos de ética ou guias de conduta.
De modo muito simples e resumido podemos afirmar que é ético aquele
que podendo escolher livremente, elege o bem e não o mal e age assim de
modo constante. A fonte da ética é a própria realidade humana, o ambiente em
que vivemos. Assim, o ambiente de trabalho, no qual passamos grande parte
de nosso dia, se desenvolve em uma sucessão de escolhas e de prática de
virtudes, que nada mais são do que os valores transformados em ação.
O Código de ética é um instrumento de realização da filosofia da
empresa, de sua visão, missão e valores. Deve ser concebido pela própria
empresa, muitas vezes com o auxílio de consultores externos, e expressar a
sua cultura. Serve para orientar as ações de seus colaboradores e explicitar a
postura da empresa em face dos diferentes públicos com os quais interage.
É imperioso que haja consistência e coerência entre o que está disposto
no Código de Ética e o que se vive na organização.
33Se o código de conduta, de fato cumprir o seu papel, sem dúvida
significará um diferencial que agrega valor à empresa. As empresas estão
implantando códigos de ética porque este documento tem o condão de:
1. fortalecer critérios ou diretrizes para que as pessoas se sintam
seguras ao adotarem formas éticas de se conduzir;
2. garantir homogeneidade na forma de encaminhar questões
específicas.
3. Aumentar a integração entre os funcionários da empresa.
4. Favorecer ótimo ambiente de trabalho que desencadeia a boa
qualidade da produção, alto rendimento e por em via de conseqüência,
ampliação dos negócios e maior lucro.
5. Criar nos colaboradores maior sensibilidade que lhes permita
procurar o bem estar dos clientes e fornecedores e, em conseqüência, sua
satisfação.
6. Estimular o comprometimento de todos os envolvidos no
documento.
7. Proteger interesses públicos e de profissionais que contribuem
para a organização.
8. Facilitar o desenvolvimento da competitividade saudável entre
concorrentes.
9. Consolidar a lealdade e fidelidade do cliente.
10. Atrair cliente, fornecedores, colaboradores e parceiros que se
conduzem dentro de elevados padrões éticos.
11. Agregar valor e fortalecer a imagem da empresa. Garantir a
sobrevivência da empresa.
34
4.1 – Ética Profissional
Cabe sempre, quando se fala em virtudes profissionais (lealdade,
responsabilidade, iniciativa, Honestidade, Sigilo, Competência, Prudência,
Coragem, Perseverança, Compreensão, Humildade, Imparcialidade, Otimismo,
Etc ...) mencionarmos a existência dos códigos de ética profissional.
As relações de valor que existem entre o ideal moral traçado e os
diversos campos da conduta humana podem ser reunidos em um instrumento
regulador. É uma espécie de contrato de classe e os órgãos de fiscalização do
exercício da profissão passam a controlar a execução de tal peça magna. Tudo
deriva, pois, de critérios de condutas de um indivíduo perante seu grupo e o
todo social. Tem como base as virtudes que devem ser exigíveis e respeitadas
no exercício da profissão, abrangendo o relacionamento com usuários, colegas
de profissão, classe e sociedade.
O interesse no cumprimento do aludido código passa, entretanto a ser
de todos. O exercício de uma virtude obrigatória torna-se exigível de cada
profissional, como se uma lei fosse, mas com proveito geral. Cria-se a
necessidade de uma mentalidade ética e de uma educação pertinente que
conduza à vontade de agir, de acordo com o estabelecido. Essa disciplina da
atividade é antiga, já encontrada nas provas históricas mais remotas, e é uma
tendência natural na vida das comunidades.
É inequívoco que o ser tenha sua individualidade, sua forma de realizar
seu trabalho, mas também o é que uma norma comportamental deva reger a
prática profissional no que concerne a sua conduta, em relação a seus
semelhantes. Toda comunidade possui elementos qualificados e alguns que
transgridem a prática das virtudes; seria utópico admitir uniformidade de
conduta.
A disciplina, entretanto, através de um contrato de atitudes, de deveres,
de estados de consciência, e que deve formar um código de ética, tem sido a
solução, notadamente nas classes profissionais que são egressas de cursos
universitários (contadores, médicos, advogados, etc.). Uma ordem deve existir
para que se consiga eliminar conflitos e especialmente evitar que se macule o
35bom nome e o conceito social de uma categoria. Se muitos exercem a mesma
profissão, é preciso que uma disciplina de conduta ocorra.
4.2 – Ética e Trabalho
Os animais vivem em harmonia com sua própria natureza. Isso significa
que todo animal age de acordo com as características de sua espécie quando,
por exemplo, se acasala, protege a cria, caça e se defende. Os instintos
animais são regidos por leis biológicas, de modo que podemos prever as
reações típicas de cada espécie.
Os animais vêm ao mundo com impulsos altamente especializados e
firmemente dirigidos, e por isso vivem quase que completamente determinados
pelos seus instintos e cada espécie vive no seu ambiente particular (mundo dos
cavalos, dos gatos, dos elefantes, etc.). A etologia é a ciência que se ocupa do
estudo comparado do comportamento dos animais, indicando a regularidade
desse comportamento.
É evidente que existem grandes diferenças entre os animais conforme
seu lugar na escala zoológica: enquanto um inseto como a abelha constrói a
colméia e prepara o mel seguindo os padrões rígidos das ações instintivas,
animais superiores, como alguns mamíferos, agem por instinto mas também
desenvolvem outros comportamentos mais flexíveis e portanto menos
previsíveis.
Essas habilidades, porém, não levam os animais superiores a
ultrapassar o mundo natural, caminho esse exclusivo da aventura humana.
O ser humano, ao contrário, é imperfeitamente programado pela sua
constituição biológica. Sua estrutura de instintos no nascimento é
insuficientemente especializada e não é dirigida a um ambiente que lhe seja
específico. Sugar e chorar são das poucas coisas que sabemos quando
nascemos. O mundo humano é um mundo aberto, isto é, um mundo que deve
ser construído pela própria atividade humana.
36Como os outros mamíferos, estamos num mundo que é anterior ao
nosso aparecimento. Mas, diferentemente deles, este mundo que nos precede
não é simplesmente dado, colocado à nossa disposição para um
relacionamento imediato. O ser humano precisa "organizar" o mundo para
superar o "caos", necessita construir um mundo para si, um mundo que tenha
um sentido humano, e, nesse processo, construir a si mesmo.
Karl MARX consegue colocar essa idéia de uma forma
extraordinariamente clara, quando faz a distinção entre o trabalho humano e a
atividade instintiva do animal. Exemplificando que uma aranha executa
operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto
ao construir sua colméia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha
é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade.
No fim do processo de trabalho aparece um resultado que já existia antes
idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o
material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha
conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de
operar e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa subordinação não é
um ato fortuito. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é mister a vontade
adequada que se manifesta através da atenção durante todo o curso do
trabalho. E isso é tanto mais necessário quanto menos se sinta o trabalhador
atraído pelo conteúdo e pelo método de execução de sua tarefa, que lhe
oferece por isso menos possibilidade de fruir da aplicação das suas próprias
forças físicas e espirituais.
É como se pelo trabalho o homem, na condição de transformador da
natureza, pudesse atingir seu mais elevado ideal de realização, com
consciência e liberdade. Quando o homem age, cria e empreende, produzindo
objetos e saberes, bens materiais e simbólicos, está atuando não somente no
campo do fazer, isto é, no âmbito do trabalho, mas também no campo do saber
e do poder, ou seja, no campo da cultura e da política. Tais dimensões estão
entrelaçadas e carregam uma forte componente ética.
37
4.3 – Ética na Gestão
Ao se falar de Ética na Gestão, faz-se necessário distinguir alguns
pontos importantes: Gestão, Administração e Gerenciamento, não são
sinônimos, embora infelizmente seja normal nivelar grosseiramente os três
conceitos. Mas, por que é importante essa distinção para a questão ética? A
resposta é incisiva: porque para se viabilizar o resgate da Ética nas Empresas
esta é a forma mais convincente. E é simples de se entender, pois a Gestão
(gestain, do grego, conduzir) tem duas vertentes distintas, mas
complementares, o Governo ou Administração, e o Controle ou Gerenciamento.
Gestão é Governo com Controle. Governo não é Controle. Quem quer
“conduzir” bem deve ter Governo, isto é, saber onde quer chegar, o que quer
realizar. E deve ter Controle também, isto é, não perder o rumo traçado pelo
Governo.
Uma vez feita esta distinção, a conclusão é cristalina: na Gestão das
Empresas, ou condução dos negócios, o Controle diz respeito à parte Técnica,
científica. A Ética é uma questão filosófica, subjetiva, de responsabilidade de
quem está no Governo, portanto na Administração da Empresa, e não de quem
se ocupa das tarefas Gerenciais. A Gestão de Empresas, uma Ciência em
pleno desenvolvimento, pertence tanto à área de “Humanas” (se a Gestão é
entendida como Administração), quanto à área de “Exatas” (quando a Gestão
atua como Gerenciamento). De qualquer forma, como toda Ciência, que deve
ser universal, não pode se tornar privilégio de poucos (seja como Filosofia
Administrativa, seja como Ciência Gerencial), jamais permanecendo a serviço
exclusivo das elites, o que infelizmente ainda acontece no mundo dos
negócios.
A Gestão, enquanto Ciência humana, traduz sua característica ética de
universalidade através da sua sociabilidade, da sua responsabilidade social. O
Gerenciamento, embora pareça estranho dizer, não é de natureza ética. O
Gerenciamento é uma atividade técnica, que na ponta dos insumos utiliza
recursos, e na outra ponta produz resultados otimizados. Essa é sua missão,
38cujo mecanismo natural, para ser objetivo e bem sucedido, não deve levar em
conta questões subjetivas, portanto sem nenhuma implicação ética. A única
“ética” que será cobrada do Gerente na sua Gestão é a ética profissional, isto
é, de cumprir sua obrigação, de realizar bem o trabalho pelo qual foi contratado
e alcançar os fins estabelecidos pela Administração.
Num mundo sofisticado como o nosso, para se obter bons resultados, há
que se utilizar muita técnica, tecnologias avançadas, novas e boas o suficiente
para atingir os fins previamente programados. Isso não significa em hipótese
alguma que o Gerenciamento da Empresa, por ser de natureza técnica não
tenha nenhuma responsabilidade ética pelo que faz. A distinção não cria
comportas estanques nos corredores da Empresa. Pelo simples fato de ser um
cidadão e partícipe do processo empresarial, qualquer um deve ser tido como
promotor ético. Desta forma, a Gestão do terceiro milênio tem se tornado
sempre mais de duplo caráter, complementando Gestão Técnica com Gestão
Ética.
Sabemos como é difícil ganhar dinheiro, e como ele é fundamental numa
sociedade, único meio honesto e digno de adquirir os bens necessários à
sobrevivência. A meta mais ética da Gestão é a de erradicar a miséria humana.
As Partes são as pessoas, o todo são as comunidades. As partes são os povos
da Terra, o todo é a Humanidade. Nos escritórios também se decide o futuro da
espécie humana.
39
CONCLUSÃO
Ética empresarial não é assunto para as horas vagas, é filosofia e
prática de empresa. Significa não ao individualismo e aos seus subprodutos:
egocentrismo e corporativismo. Não ao autoritarismo e suas subdivisões: o
totalitarismo político, com a centralização do poder; o totalitarismo
organizacional, com o comportamento burocrático; o totalitarismo emocional,
com o paternalismo. Ética é vida! Sem princípios éticos é inviável a
organização social. Ética Empresarial é a alma do negócio. È o que garante o
conceito púbico e a perpetuidade.
Para concluirmos este trabalho sobre a ética nas empresas, acreditamos
ser da maior importância o papel da educação, treinamento e desenvolvimento
de seus empregados na transformação positiva da sociedade em que estão
inseridos. Já existe uma opinião crescente, na moderna administração
contemporânea quanto a esse novo papel a ser incorporado pelas empresas
do futuro. Para sobreviverem essas empresas terão de estar aptas a se
ajustarem às exigências do seu tempo, às velozes mudanças que estão
ocorrendo. Será necessária muita acuidade mental por parte de empresários e
dirigentes de empresas para que não desapareçam neste turbilhão de
mudanças aceleradas.
É urgente o advento de uma nova cultura empresarial, preparando o
terreno para uma nova maneira de gerenciar a vida das empresas para o
terceiro milênio. Assim, as empresas e através delas a tecnologia contribuirá
para que o ser humano atinja plenamente sua plenitude produtiva, trabalhando
de forma inteira e completa. Essas empresas estão se transformando aos
poucos em "novas universidades" no que tange à educação. Estão caminhando
no sentido de devolver ao trabalho humano sua dignidade e caráter sagrado.
Quando isso acontecer, tornar-se-á redundante qualquer aplicação de
programas de ética no trabalho, pois a sua própria essência engrandecedora e
moral terá sido resgatada.
40Não é mais possível continuarmos vivendo de forma miserável,
enganando os outros, dizendo meias verdades, manipulando, cedendo a jogos
de poder. Acreditamos existir alguns valores universais que podem ser
cultivados quando se fala em formação de pessoas: respeito, fraternidade e
igualdade (exemplos de valores básicos). Nós, temos de rever a postura até
aqui adotada sobre a ética geral e específica. Teremos de buscar novos
valores e transcender os valores da empresa. Qualidade, respeito a clientes e
colaboradores são coisas legais, interessantes, mas temos de ir além disso.
Com a globalização da economia e o advento de "modismos" como
Qualidade Total e Reengenharia temos de aprofundar nossos questionamentos
e responder à indagações do tipo: "é justo conseguir produtividade,
produtividade e mais produtividade, apoiados em alta tecnologia, mas às
custas do desemprego de milhares de pessoas?" O debate quanto às questões
éticas está se ampliando muito nesse século, e temos de extrapolar os limites
de nossas áreas de conhecimento para poder responder as questões que
estão surgindo.
As empresas, escolas e universidades, todos envolvidos no processo de
treinamento, educação e desenvolvimento de seres humanos, devem criar
espaços para o crescimento pessoal, profissional e existencial das pessoas,
criar serviços de apoio, para o auto-desenvolvimento de seu pessoal, evitando
sempre o paternalismo, o clientelismo e o assistencialismo. Encarar os
colaboradores como seres emancipados, seres humanos plenos. Investir
continuamente em saúde, lazer, aperfeiçoamento profissional contínuos, é uma
forma de fortalecer as virtudes profissionais e, conseqüentemente, a auto-
estima de todos envolvidos no sistema.
Falar de educação para a ética é falar também de educação para a
cidadania. Uma empresa é feita por cidadãos que vivem numa comunidade,
por isso, ela também precisa participar positivamente da vida da comunidade.
Deve estimular projetos educativos que reforcem o poder de cidadania de seus
colaboradores. Uma empresa pode investir em educação, numa gama que vai
da pré-escola à universidade
41
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA
AGUILAR, Francis J. A ética nas empresas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1996.
LAROSA, Marco Antonio e AYRES, Fernando Arduini. Como produzir uma
monografia. 5ª . ed. revisada e ampliada. RJ: Walprint, 2005.
MOTTA, Fernando C. Prestes e CALDAS, Miguel P. (Orgs) Cultura
organizacional e cultura brasileira. São Paulo: Atlas, 1997
MOTTA, Nair de Souza. Ética e vida profissional. Rio de Janeiro: Âmbito
Cultural Edições, 1984.
SUNG, Jung Mo; SILVA, Josué Cândido da. Conversando sobre ética e
sociedade. Petrópolis: Vozes, 1995.
http://www.ceris.org.br/rse/eticaempr.asp, Rio de Janeiro – acesso em
12/02/2006.
http://www.eticaempresarial.com.br/artigos.asp, Rio de Janeiro – acesso
em 12/02/2006.
http://www.vezdomestre.com.br, ícone monografia, Rio de Janeiro –
Universidade Candido Mendes – 2005, acesso em 12 /02/2006.
42
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO............................................................................................2
AGRADECIMENTO............................................................................................3
DEDICATÓRIA...................................................................................................4
RESUMO............................................................................................................5
METODOLOGIA.................................................................................................6
SUMÁRIO...........................................................................................................7
INTRODUÇÃO...................................................................................................8
CAPÍTULO I
ORIGEM DA ÉTICA.........................................................................................10
1.1-Conceito de ética................................................................... ......... 12
1.2-Problemas Éticos.................................................................... ..... .. 13
1.3-Mudanças de Paradigmas....................................................... .... ...15
CAPÍTULO II
CULTURA BRASILEIRA..................................................................................18
2.1-Cultura Empresarial.........................................................................21
2.2-Ética e o Código Civil......................................................................28
CAPÍTULO III
IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA SOCIEDADE..................................................27
3.1-Responsabilidade Social............................................................... 28
3.2-Ética, Moral do Coletivo.................................................................30
CAPÍTULO IV
PARA QUE CÓDIGO DE ÉTICA?...................................................................32
4.1- Ética Profissional............................................................................34
4.2- Ética e Trabalho.............................................................................35
4.3-Ética na Gestão...............................................................................37
CONCLUSÃO..................................................................................................39
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA........................................................................41
ÍNDICE.............................................................................................................42
FOLHA DE AVALIAÇÃO..................................................................................43
FOLHA COM 4 (QUATRO) EVENTOS CULTURAIS......................................44
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes - A Vez do Mestre
Título da Monografia: Ética Empresarial
Autor: José Carlos Alves
Data da entrega: 28 de julho de 2006
Avaliado por: Conceito: