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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA GESTÃO DA QUALIDADE EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (MPES) COMO VANTAGEM COMPETITIVA Por: Marcus Vinicius Pace Ramos Orientador Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço Rio de Janeiro 2012

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Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O primeiro capítulo desenvolveu a contextualização da micro e pequena empresa na economia. O segundo capítulo abordou a vantagem

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

GESTÃO DA QUALIDADE EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

(MPES) COMO VANTAGEM COMPETITIVA

Por: Marcus Vinicius Pace Ramos

Orientador

Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

GESTÃO DA QUALIDADE EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

(MPES) COMO VANTAGEM COMPETITIVA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Administração da

Qualidade.

Por: Marcus Vinicius Pace Ramos

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O primeiro capítulo desenvolveu a contextualização da micro e pequena empresa na economia. O segundo capítulo abordou a vantagem

RESUMO

Este estudo teve como objetivo analisar como a Gestão da Qualidade

pode contribuir para gerar vantagem competitiva para as Micro e Pequenas

Empresas (MPEs). Para responder aos objetivos desta pesquisa, apresentou-

se em três capítulos. O primeiro capítulo desenvolveu a contextualização da

micro e pequena empresa na economia. O segundo capítulo abordou a

vantagem competitiva das micro e pequenas empresas e o último capítulo

comentou-se sobre a qualidade total. Concluiu-se que é necessária a

implementação de programas de gestão de qualidade, com conduções de

medidas não financeiras, tais como acompanhamento do nível de satisfação

dos clientes, controles internos para evitar falhas de produção, como também,

investimentos financeiros em treinamento internos sobre conhecimento e

interpretação das normas ISO, com a remuneração da consultoria externa

encarregada de implementar o processo de certificação.

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METODOLOGIA

A pesquisa é de caráter descritivo e bibliográfico, ou seja, a pesquisa

bibliográfica investiga o problema a partir do referencial existente nas fontes de

pesquisa, constituindo-se tanto em uma pesquisa independente como também

em pré-requisito básico para todos os outros tipos de pesquisa científica.

Foi desenvolvida uma revisão de literatura com vistas a contemplar os

objetivos específicos propostos neste estudo sobre o tema de Gestão da

Qualidade em Micro e Pequenas Empresas. O emprego do método para coleta

de dados foram utilizadas fontes tais como: livros, artigos, e documentos

eletrônicos devidamente referenciados, que foram inseridas nos textos

conforme o andamento e a necessidade de complementar o estudo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 5

CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO DA MICRO E PEQUENA EMPRESA NA ECONOMIA 7

CAPÍTULO II

VANTAGEM COMPETITIVA DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS 17

CAPÍTULO III

QUALIDADE TOTAL 31

CONSIDERAÇÕES FINAIS 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

ÍNDICE 43

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INTRODUÇÃO

Este estudo desenvolve a Gestão da Qualidade em Micro e Pequenas

Empresas (MPEs) como Vantagem Competitiva.

O objeto deste estudo consiste na ‘Gestão da Qualidade’ e sua

contribuição para gerar vantagem competitiva para as Micro e Pequenas

Empresas (MPEs).

No que se refere ao objetivo geral, buscou-se analisar como a Gestão

da Qualidade pode contribuir para gerar vantagem competitiva para as Micro e

Pequenas Empresas (MPEs).

Atualmente, a MPE é uma realidade. É difícil imaginar o modelo de

produção capitalista sem o apoio da produção, do serviço e do comércio desse

grupo de empresas.

A evolução da gestão, o acesso e o barateamento da tecnologia, a

melhoria no crédito e a economia favorável são evidências de que cada vez

mais haverá espaço no mercado para o crescimento das Micro e Pequenas

empresas. Entretanto, a principal dificuldade das MPEs, nos seus primeiros

cinco anos, é sua sobrevivência.

A instabilidade e a vulnerabilidade são focos das principais críticas a

esse grupo de empresas. Nesse sentido, ‘Gestão da qualidade’ pode ser uma

importante estratégia para gerar vantagem competitiva a este grupo de

empresas, uma vez que em um mercado globalizado não basta mais somente

produzir, é preciso conquistar o cliente.

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Para isso, tem-se como problema de pesquisa: A Gestão da Qualidade

é uma importante estratégia de vantagem competitiva para as Micro e

Pequenas Empresas (MPEs)?

Acredita-se que a Gestão da Qualidade seja uma importante estratégia

para a vantagem competitiva das MPEs, haja vista ser a estrutura enxuta uma

característica predominante destas organizações.

Possuem estruturas administrativas pequenas, com funcionários

polivalentes que muitas vezes são responsáveis por mais de uma área da

empresa. Muitas vezes usufruem de serviços de terceiros para manter a

estrutura flexível de acordo com a demanda do mercado, e com isso

certamente possuem maior risco de negligenciarem a qualidade como fator de

prioridade.

Dessa forma, este estudo encontra-se dividido em três capítulos, cujo

primeiro abordou-se a contextualização da micro e pequena empresa na

economia. O segundo capítulo desenvolve a vantagem competitiva das micro e

pequenas empresas. O último capítulo descreve a qualidade total.

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CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO DA MICRO E PEQUENA

EMPRESA NA ECONOMIA

Os pequenos negócios, formais e informais, respondem por mais de dois

terços das ocupações do setor privado. Essa força das Micro e Pequenas

Empresas (MPEs) para criar empregos têm sua representatividade no Brasil

expressada nos seguintes termos: 98,5% das empresas no país; 95% das

empresas do setor industrial; 99,1% das empresas comerciais; 99% das

empresas do setor de serviços; 60% da oferta de emprego; 21% do Produto

Interno Bruto (cerca de R$ 190 bilhões) (SEBRAE, 2011)

O critério de classificação do porte das empresas utilizado neste estudo

foi o do SEBRAE (2011), que é baseado no número de funcionários, por se

entender que poderia melhor identificar as empresas, visto que, dependendo

do tipo de atividade, o faturamento da empresa pode ser expressivo, mas a

estrutura pode ser simples. O número de funcionários reduzido e o perfil podem

ser típicos de pequena empresa.

Microempresa: na indústria, até 19 pessoas ocupadas; no

comércio e serviços, até nove pessoas ocupadas. Pequena

empresa: na indústria, de 20 a 99 pessoas ocupadas; no

comércio e serviços, de 10 a 49 pessoas ocupadas. Média

empresa: na indústria, de 100 a 499 pessoas ocupadas; no

comércio e serviços, de 50 a 99 pessoas ocupadas. Grande

empresa: na indústria, acima de 500 pessoas ocupadas; no

comércio e serviços, acima de 100 pessoas ocupadas.

(SEBRAE, 2011).

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As empresas de pequeno porte apresentam características peculiares,

tais como um único serviço ou produto para comercialização. Sua produção é

limitada à capacidade de vendas e utiliza processos técnicos simples. O

sucesso com um produto ou serviço determina o incremento da produção e o

aumento da cobertura do mercado pelo oferecimento de uma linha especial de

produtos, originando os serviços complementares, as preocupações com a

qualidade e com as garantias dadas aos consumidores.

Enquanto as multinacionais, conglomerados e empresas de grande porte

reduzem sua participação no total de pessoas atuantes nos diferentes setores

econômicos, os pequenos negócios tendem a aumentar seu espaço

empresarial. (SEBRAE, 2005).

Cândido e Abreu (2001) colocam que:

As pequenas empresas possuem um ambiente diferente das

grandes empresas em todos os sentidos, tem capacidade

produtiva, tamanho, nível de qualidade, capacitação dos

funcionários, conhecimento do mercado, organização e nível

de capital disponível também diferenciados; centralização,

pouca informação e utilização intensa da intuição, dentre outros

fatores. (CANDIDO; ABREU, 2001, p. 18).

Ainda para Cândido e Abreu (2001):

De um modo geral, as MPEs são caracterizadas pela sua baixa

capacidade competitiva, por políticas de treinamento

ineficientes e inadequadas, pela inexistência de um sistema de

custos, pelo atraso e deficiência tecnológica; pela falta de

orientação para o mercado; pela escassez de recursos

econômicos; pela pouca participação nos mercados

internacionais e pelos poucos investimentos em pesquisa e

desenvolvimento. (CÂNDIDO; ABREU, 2001, p.19).

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A maioria dos micro e pequenos empresários foi um profissional técnico,

funcionário de empresas. Aquele mais interessado em desenvolver sua

expertise profissional do que em adquirir um caminho de carreira alternativo,

como o administrativo. “São pessoas que querem avançar em suas carreiras,

mas sem adquirir funções administrativas e gerenciais” (RAELIN, 1987, p. 198).

Pode ser definido como um grupo de especialistas, profissionais de

pesquisa e desenvolvimento, engenheiros, químicos, físicos, biólogos e demais

profissionais atuantes na área técnica de nível superior e que não se orientam

para a carreira gerencial. (CÂNDIDO; ABREU, 2001)

Portanto, os micro e pequenos empresários podem ser definidos como

indivíduos que em sua formação acadêmica não tiveram contato com cursos

relacionados à gestão empresarial. Estendendo-se o conceito, são indivíduos

que, baseados em sua opção de formação profissional e acadêmica, entram no

mercado de trabalho em funções correlatas, e tampouco desenvolverão

atividades administrativas e de cunho estratégico organizacional.

Trata-se, ao menos nos estágios iniciais da carreira, de funções em que

irão exercer sua expertise técnica, principalmente. Os micro e pequenos

empresários têm mais o conhecimento técnico do que administrativo, o que

pode ser uma das explicações para o alto índice de mortalidade dessa

empresas.

Dentre os micro e pequenos empresários, existem os empreendedores:

“São pessoas que tomam riscos e investem recursos para fazer algo novo,

desenham uma nova maneira de fazer algo já existente ou criam novos

mercados” (CHUSIMIR, 1998, p. 39). A definição de empreendedorismo é “ter a

capacidade em inovar, investir e expandir seus produtos e serviços em novos

mercados. Muitos empreendedores são micro e pequenos empresários”.

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O empreendedor é o agente do processo de destruição criativa que,

segundo Joseph A. Shumpter, é o impulso fundamental que aciona e mantém

em marcha o motor capitalista, constantemente criando novos produtos, novos

métodos de produção, novos mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se

aos antigos métodos menos eficientes e mais caros (DEGEN, 1995, p.12).

Ou seja, os empreendedores fazem parte deste estudo até o momento

em que esses deixaram de ser micro ou pequenos empresários e tornaram-se

empresários de Médias e Grandes Empresas (MGEs). O empreendedorismo

relaciona-se com as MPEs, porque a maioria dos empreendedores, ao iniciar

suas atividades, iniciou como micro e pequeno.

No entanto, a mesma importância econômica que influencia o

aumento de discussões e debates sobre as MPEs também

influencia, em uma menor reflexão, sobre o próprio indivíduo

empresário: trata-se de uma consequente preponderância do

fator econômico sobre o fator humano do tema. O micro e

pequeno empresário torna-se, cada vez mais, uma nova

‘classe trabalhadora’ com necessidade de representatividade e

pró-atividade. (DEGEN, 1995, p.15).

Devido à possibilidade de ganhos econômicos do empresário, da

possibilidade que a carreira oferece para acumular riquezas e dos grandes

empreendedores expostos pela mídia como modelos profissionais, observam-

se estudos focados nos efeitos financeiros: tópicos como desempenho, atitudes

em direção a benefícios, estratégias de negócios de êxito e casos de sucesso.

Desse modo, a literatura enfatiza fortemente uma ênfase no

“saber fazer” e no “saber agir”, negligenciando estudos que

apontem para valorização da pessoa como indivíduo, sua vida

social, sua família, realização pessoal entre outros assuntos

mais ‘humanos’. (CHUSIMIR, 1998, p. 41).

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Portanto, este estudo visa compreender no contexto da reestruturação

produtiva a gestão da qualidade, a estrutura (empresa flexível), a tecnologia

das Micro e Pequenas empresas. Mas não obstante essa curiosidade, busca-

se trazer a realidade da vida social, o “custo” da busca pelo retorno financeiro

dos micro e pequenos empresários. Eles estão satisfeitos com os resultados

financeiros? Eles estão felizes com a vida social que desfrutam?

As MPEs e a rede formada por subcontratações e terceirizados é uma

realidade da reestruturação produtiva. São empresas de grande porte que

necessitam das pequenas empresas por sua flexibilidade, agilidade, preço,

facilidade, dentre outras características. A grande empresa, por sua vez, detém

tecnologias que são utilizadas por MPEs. Verifica-se que as mesmas também

precisam ser flexíveis e enxutas.

Apenas o porte não determina a flexibilidade da empresa. Nesse

sentido, observa-se a utilização de subcontratações e terceirização no

processo produtivo das MPEs.

1.1 – A Micro e Pequena Empresa na Reestruturação Produtiva

A reestruturação produtiva, o barateamento e o avanço da tecnologia da

informação e as Micro e Pequenas empresas propiciaram o desenvolvimento

de uma vasta rede de fornecimento entre fornecedores e terceiros. Novos

programas de computadores possibilitaram o controle da qualidade dessas

redes em que grandes e médias empresas puderam reestruturar sua forma de

produção utilizando as das MPEs.

Por outro lado, as MPEs também contam com estruturas flexíveis, com

auxílio de terceirizados e com programas de computadores atuais. Não são

todos os novos conceitos da reestruturação produtiva que se encaixam no

modelo de gestão das MPEs. A gestão de pessoas, a atenção voltada para o

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funcionário, ainda não é uma realidade das MPEs. A produção, a qualidade e a

informatização são os temas preferidos dos micro e pequenos empresários.

Naisbitt (1982) afirma que:

São as pequenas empresas e não as grandes corporações que

possibilitaram a criação de novos empregos nos EUA na

década de 1980. O estudo mais citado é o Programa sobre a

Comunidade e a Mudança Regional, de David Birch, do MIT. O

estudo, que pesquisou aproximadamente cerca de 80% dos

novos negócios nos EUA entre 1969 e 1976, mostrou que

aproximadamente dois terços dos empregos criados estavam

nas MPEs. Naisbitt afirma que durante a década de 1970 as mil

maiores empresas da lista da revista Fortune não

proporcionavam crescimento nos empregos. (NASBITT, 1982

p.146).

Nasbitt (1992) exemplifica um caso em que um executivo de uma

empresa de recrutamento e seleção de Nova York afirmou que o número de

empregados transferidos de seu emprego para MPEs dobrou na metade da

década de 1970. Esse foi o início do auge da reestruturação produtiva norte-

americana.

Tachizawa e Scaico (2006, p.40) cita que:

Os executivos que resolveram mudar afirmam estar mais

satisfeitos com o emprego, mais independentes e, em alguns

casos, recebem uma remuneração melhor. Na década de

1980, o desafio do capitalismo americano era de trazer de volta

aos EUA o ‘espírito de empreendedor’. As grandes

organizações desencorajaram a expressão e ambição das

pessoas. Os EUA precisam da revitalização do espírito dos

pequenos negócios. O crescimento das MPEs está tirando os

trabalhadores das grandes fábricas ‘fordistas’, está melhor

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distribuindo o povo norte-americano sem dependência dos

grandes centros urbanos e das grandes empresas.

Para Naisbitt (1982), os pequenos negócios estão novamente

humanizando o trabalho, tanto para os empregados como para as atividades

dos empregadores.

Os pequenos negócios surgiam em todos os lugares dos EUA.

Dos 11 milhões de empresas americanas, 10,8 milhões eram

de pequeno porte. Cerca de 60% da força de trabalho do país.

O que representava 100 milhões de trabalhadores que estavam

nas micro e pequenas empresas. (NASBITT, 1982, p. 167).

Nasbitt (1982) afirma que “nesse período o inconsciente coletivo

americano estava mudando”. O que fosse bom para os pequenos negócios

seria bom para os EUA também. Esse fato era visível também nas

universidades e nos cursos que surgiram ao longo da década de 1980.

Juntamente com o capitalismo flexível, os estudos sobre as MPEs e o

empreendedorismo aumentaram consideravelmente em termos de número de

pesquisadores, artigos, conferências e jornais. Nas universidades e nos cursos

de especialização identifica-se facilmente uma mudança nas grades

curriculares das universidades e, principalmente, das escolas de negócios, que

passaram a oferecer matérias relacionadas ao tema. Tais matérias não têm

apenas o intuito de compreender o empreendedorismo, mas talvez de

incentivar e oferecer aos alunos as habilidades necessárias para

desenvolverem seus próprios negócios.

Desse modo, matérias como criação de novos negócios, elaboração de

planos de negócio, inovação e administração da pequena e média empresa

passaram a ser comuns nos centros acadêmicos.

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Em um estudo realizado por Kotter (1995) com alunos do curso de MBA

da Harvard Business School no ano de 1974, ao longo do qual se estudou suas

carreiras desde a graduação até o ano de 1993, constatou-se uma nova e

interessante tendência: uma enorme redução, ano a ano, no número de

graduandos em posições de top management em grandes corporações.

Em 1975, apenas 30% dos graduandos da classe de 74 alunos entraram

em posições em pequenas empresas. Em 1992, cerca de 65% daqueles

mesmos alunos estavam trabalhando para pequenas empresas, representando

um enorme índice de transição de carreira. Das 45 matérias oferecidas por

Harvard, apenas duas eram relacionadas a pequenas empresas e

empreendedorismo, as quais eram matérias vistas de pouco prestígio pelos

profissionais acadêmicos. (KOTTER, 1995)

Kotter (1995) conclui que os profissionais não devem depender de

convenções, pois esta é uma época de rápidas mudanças, em que o não

convencional sempre ganha. É uma época também de grandes e novas

oportunidades, como de grandes desafios. Flexibilidade e rapidez estão

ganhando em um mundo competitivo como o atual, e pequenas empresas se

adaptam melhor a essa realidade e, por fim, deve-se buscar “ajudar” as

grandes e burocráticas empresas, pois, conforme elas se adaptam aos novos

tempos, oportunidades surgirão para consultores e outros provedores de

serviços.

Todos esses pontos, essa nova realidade, acabam por incentivar o

desenvolvimento de novos negócios (KOTTER, 1995).

Autores como Nasbitt, Kotler, entre outros, enalteceram o papel e a

necessidade do crescimento das MPEs para um novo modelo de produção.

Para Nasbitt (1982), a produção enxuta se opunha ao “fordismo” principalmente

porque estava por retirar as pessoas de dentro das grandes fábricas

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controladoras para uma rede de fornecedores de micro e pequeno porte. Para

o autor, uma forma mais democrática de sistema produtivo.

Naisbitt (1982) ressalta que as MPEs são mais flexíveis do que as GMEs

e portanto se ajustam melhor ao atual modelo de produção.

Essa linha de estratégia de subcontratação das atividades acessórias,

externamente junto a MPEs, abre oportunidade de utilização não só das

organizações existentes como para o surgimento de novas e pequenas

empresas periféricas, no ambiente operacional externo da organização flexível

(TACHIZAWA; SCAICO, 2006, p. 83).

De acordo com a análise de Tachizawa e Scaico (2006), baseada em

dados dos Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão, as empresas de grande

porte continuam a concentrar uma proporção crescente de capital e de

mercados em todas as principais economias.

Para os autores, as Micro e Pequenas empresas são menos avançadas

tecnologicamente e menos capazes de introduzir inovações tecnológicas no

processo e no produto do que as empresas maiores.

Castells (1999) exemplifica sua teoria com o resultado de pesquisas que

mostram os arquétipos da especialização flexível nas empresas italianas das

regiões industriais da Emilia Romagna. As Micro e Pequenas empresas, no

início dos anos 1990, experimentaram uma série de fusões e/ou passaram para

o controle de grandes empresas, ou tiveram de crescer para não ser falidas

pela concorrência.

Porém, algumas dessas informações são controversas. Há muitas Micro

e Pequenas empresas pela Itália.

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Castells (1999) afirma que as empresas tiveram de repensar suas

atividades e focar nas suas atividades e nas suas capacidades específicas.

A reestruturação produtiva teve grande esforço de racionalização de

atividades com vistas à redução de custos, com a terceirização daquelas

consideradas não essenciais. Com isso, iniciou-se a “formação de redes

globalizadas de fornecedores e parceiros conforme as necessidades das

MGEs” (CASTELLS, 1999, p. 193).

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CAPÍTULO II

VANTAGEM COMPETITIVA DAS MICRO E PEQUENAS

EMPRESAS

O mais influente sistema produtivo japonês desde a década de 1960 foi

o sistema Toyota (toyotismo) que se constituiu em um complexo de inovações

organizacionais de importância comparável às que foram, em suas épocas, as

mudanças organizacionais implantadas pelo fordismo1.

As inovações tecnológicas e organizacionais sob enfoque da

flexibilidade e da adaptação representaram os fatores fundamentais do

toyotismo como garantia de eficiência aos planos da reestruturação. Segundo

ressalta Castells: ”O ‘toyotismo’ é um sistema de gerenciamento mais

destinado a reduzir incertezas que a estimular a adaptabilidade. A flexibilidade

está no processo e não no produto”. (CASTELLS, 1999, p.216).

A principal constatação ao se comparar os princípios do fordismo com os

do toyotismo está no destaque de Coriat (1994, apud CASTELLS, 1999, p.216),

que esclarece as diferenças e propósitos entre os modelos de gerenciamento:

De fato, a verdadeira natureza distintiva do toyotismo em

relação ao fordismo não diz respeito às relações entre as

empresas, mas entre os gerentes e os trabalhadores. O

gerenciamento japonês não é nem pré, nem pós-fordismo, mas

um modo original e novo de gerenciamento do processo de

trabalho: a característica central e diferenciadora do método

japonês foi abolir a função de trabalhadores profissionais

especializados para torná-los especialistas multifuncionais.

(CASTELLS, 1999, p. 216).

1 Modelo de produção que defende a produção em série de um mesmo produto, desenvolvida no contexto de uma linha de montagem linear e contínua.

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O modelo toyotista de gerenciamento apresenta um conjunto de ações

no âmbito produtivo que influencia a organização do trabalho e as

competências do trabalhador. O principal responsável pela introdução das

inovações organizacionais que darão origem ao Sistema Toyota de Produção é

Taiichi Ohno, engenheiro de produção (sem diploma universitário) que iniciou

sua carreira na Toyota Motor Company em 1943.

O método Toyota, insiste Ohno, está fundamentado em dois princípios

fundamentais: (1) autoativação da produção; e (2) o modelo de produção ”just-

in-time. As demais técnicas envolvidas no toyotismo são apenas, segundo o

próprio Ohno, procedimentos para garantir a realização dos dois princípios,

conforme adverte Coriat (1994, p.32):

Os dois ‘pilares’ do método, por mais importantes que sejam,

só assumem sua significação verdadeira sob esta luz sob este

imperativo próprio do ohnoismo: buscar origens e naturezas de

ganhos de produtividade inéditas, fora dos recursos das

economias de escala e da padronização taylorista e fordista,

isso na pequena série e na produção simultânea de produtos

diferenciados e variados.

O 1º pilar fundador do toyotismo é o princípio da autoativação, que

consiste em dotar as máquinas automáticas de certa “autonomia”, de modo a

introduzir dispositivos de parada automática em caso de funcionamento

inadequado ou defeituoso. (CORIAT, 1994, p.52):

O princípio de tais dispositivos, introduzidos primeiramente na

concepção das máquinas têxteis, será largamente reutilizado

no conjunto das linhas de produção automobilística. Este ponto

é absolutamente notável, pois se refere tanto aos dispositivos

mecânicos introduzidos no coração das máquinas quanto aos

dispositivos organizacionais que dizem respeito à execução do

trabalho humano.

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Em sua origem têxtil, a “autonomação ou autoativação”, caracteriza o

passo fundamental em direção à trajetória tecnológica da Toyota desde o

século XIX, isto é, desde o desenvolvimento da automação industrial.

O propósito da autoativação da produção é oferecer a um só operário

polivalente a capacidade de controlar uma grande quantidade de máquinas

simultaneamente – a organização do trabalho em torno de postos polivalentes.

O 2º pilar fundamental do toyotismo é o princípio de produção just-in-

time, reconhecido como um sistema de administração da produção que

determina que nada deva ser produzido, transportado ou comprado antes da

hora exata. Em termos de produção, significa que, na montagem do produto e

de suas partes (subconjuntos) precedentes devem estar em quantidades

adequadas na linha de produção, no momento exato à montagem, atendendo à

lógica que produz apenas o necessário (preferencialmente produzir apenas

aquilo que já foi vendido), e organizada em pequenos lotes.

O conceito de just-in-time está relacionado ao de produção por demanda

(produção puxada), em que primeiramente se vende o produto para depois

comprar os insumos e, posteriormente, fabricá-lo ou montá-lo. Diferente do

modelo fordista, no qual a “produção é empurrada” para a venda, que devia se

empenhar no objetivo de comercializar toda a produção.

Descreve-se o princípio organizacional desenvolvido por Ohno do

seguinte modo: o trabalhador da montagem (seção chamada de cliente) é

abastecido, sempre que necessário, de peças ou itens (seção chamada de

insumos comprados) no posto de trabalho anterior (seção chamada de

fornecedor). Assim, o registro de atividades da fabricação nos postos só se faz

para realimentar as seções em peças vendidas.

Cumpre acrescentar que aqui existe aqui uma inversão das regras

tradicionais – o ponto de partida está nas vendas que endereçam as

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encomendas para serem fabricadas, sob condição de produto vendido, lógica

exatamente inversa à do fordismo, que primeiro produzia para depois vender,

de acordo com Coriat (1994):

Todo o sistema de circulação de informações é realizado

através de ‘caixas’ nas quais são colocados ‘cartazes’ (em

japonês Kanban), em que são inscritas ‘encomendas’ que os

diferentes postos de fabricação encaminham uns aos outros.

[...] A inovação, como se vê, é puramente organizacional e

conceitual; nada de ‘tecnológico’ aqui intervém. (CORIAT,

1994, p.57).

Nos locais onde está implantado o just-in-time, a característica

predominante do estoque de insumos é mínimo e suficiente para poucas horas

de produção. Para que isto seja possível, os fornecedores devem ser treinados,

capacitados e conectados a fim de que possam fazer entregas de pequenos

lotes na frequência desejada.

Fato marcante na utilização do sistema just-in-time é a redução do

número de fornecedores, porém a vulnerabilidade do sistema é manter um

grupo de fornecedores confiáveis, uma vez que os fornecedores alternativos

foram excluídos. Nesse sentido, a quantidade mínima de insumos provocada

pelo Just-in-time caracteriza o conceito conhecido como – “Produção Enxuta”

(Lean Manufacturing), cujo principal objetivo está em aumentar a eficiência da

produção ao se eliminarem continuamente desperdícios (tempo de retrabalho e

insumos).

Incluem-se, ainda, as técnicas Kanban e Kaizen (princípio de melhoria

contínua) que representam as principais soluções organizacionais flexíveis. No

entanto, essas novas propostas de organização da produção e do trabalho

exigem novas qualificações e capacitações da força de trabalho. O modelo

produtivo japonês baseado nos princípios Toyotistas (Just-in-time; Kanban;

Kaizen) se destina à produção de lotes pequenos, o que permite uma maior

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variedade de produtos e garante a flexibilidade diante de qualquer mudança

quando se programa a produção, sustentada por mão de obra constituída por

trabalhadores multifuncionais, que conhecem todas as tarefas do processo

podendo, inclusive, operar mais de uma máquina simultaneamente.

O processo gerencial japonês exige a participação absoluta de todos os

trabalhadores no processo de inovação, disseminando seus conhecimentos e

habilidades. O renomado economista Masahiko Aoki (1993, apud CASTELLS,

1999, p. 216), indica a organização do trabalho como chave do sucesso das

empresas japonesas, conforme se observa no texto abaixo:

A principal diferença entre a empresa norte-americana e a

japonesa pode ser resumida assim: a empresa norte-

americana enfatiza a eficiência conseguida via grande

especialização e profunda demarcação de função, ao passo

que a empresa japonesa dá ênfase à capacidade de o grupo

de trabalhadores lidar (sic) com as emergências locais

anonimamente, o que se aprende fazendo e compartilhando

conhecimentos no chão de fábrica. (CASTELLS, 1999, p. 216).

O modelo toyotista de gerenciamento apresenta um conjunto de ações

no âmbito produtivo diferenciadas das estratégias fordistas de produção,

porquanto influenciem não apenas a organização do trabalho, mas também as

competências do trabalhador.

A organização do trabalho, sob o princípio da flexibilidade e da

polivalência, adapta-se às circunstâncias do mercado globalizado e da

competitividade entre as empresas. Passa a exigir qualificação profissional

dentro dos princípios da qualidade total, com objetivo de obter maior

racionalidade produtiva e, por conseguinte, criar mecanismos de adaptação

aos trabalhadores e, assim, aumentar sua capacidade produtiva. Ou seja, o

trabalho no modelo Toyota de produção exige um trabalhador qualificado e

disciplinado para atender às normas da empresa. A produção é coletiva e

realizada por grupos de trabalhadores multifuncionais que, por meio das “ilhas

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de produtividade”, determinam o quantum de mercadorias a produzir, e a

qualidade dos produtos é verificada em cada “célula”.

Dessa forma, o toyotismo excluiu o trabalho repetitivo e cíclico

proveniente dos modelos americanos e incentivou o desaparecimento do

binômio concepção/execução, exigindo que os trabalhadores fossem

capacitados a fim de participar de todo o processo de realização do produto.

Essa iniciativa exigiu, pois, novas competências e qualificações, além de

restituir ao trabalhador sua capacidade de avaliar sobre suas atividades e

decisões, transferindo o saber fazer do trabalho e resgatando os “saberes de

ofício”.

Entretanto, a restituição do savoir-faire para o trabalho não significa

liberdade sem controle, uma vez que a organização do trabalho no toyotismo

ainda permanece controlada pela gerência, como destaca Coriat (1994):

No começo dos anos de 1950, uma via própria, japonesa, de

organização do trabalho e de gestão da produção se põe em

curso de se afirmar. Seu traço central e distintivo, em relação à

via taylorista norte-americana, é que em lugar de proceder

através da destruição dos saberes operários complexos e da

decomposição em gestos elementares, a via japonesa via

avançar pela desespecialização dos profissionais para

transformá-los não em operários parcelares, mas em

plurioperadores, em profissionais polivalentes, em

‘trabalhadores multifuncionais. (CORIAT,1994, p. 53).

O trabalhador polivalente não-especializado é a transformação do

trabalho multifuncional cujo objetivo, ao contrário do taylorismo-fordismo, não

está em parcelar as tarefas, pois o importante não é a especialização, mas um

conjunto de conhecimentos básicos para operar várias células operacionais. No

toyotismo, a capacidade racional do trabalhador deve integrar as atividades

cotidianas no processo de trabalho (não apenas execução de tarefas). Para

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tanto, a empresa deve incentivar o envolvimento e criar ambientes que

favoreçam a troca de experiências profissionais tácitas e explícitas (savoir-

faire).

Nesse sentido, a organização do trabalho toyotista considera os canais

de comunicação o requisito fundamental para a disseminação de informações e

conhecimentos, função atribuída aos Círculos de Controle de Qualidade

(doravante CCQs).

Os CCQs consistem na formação de um grupo de trabalhadores

voluntários, pertencentes a um mesmo setor, que se reúnem periodicamente

para identificar e estudar os problemas relacionados às suas atividades. As

conclusões de seus estudos são encaminhadas ao superior imediato, sob a

forma de sugestões a serem implantadas e, por vezes, os integrantes dos

CCQs poderão até conduzir diretamente à efetivação da solução formulada ou

mesmo supervisioná-la, caso seja realizada por terceiros.

O principal objetivo dos CCQs é o desenvolvimento de uma consciência

sobre boas práticas de trabalho para uma permanente busca da qualidade

global das empresas e se dirige para as pessoas, pois é através delas que a

qualidade será obtida.

O envolvimento dos trabalhadores na resolução de problemas

empresariais atende a dois atributos distintos: por um lado, qualifica os

trabalhadores em níveis cada vez mais avançados, contribuindo para a

motivação profissional e credenciando o trabalhador para assumir novas

competências; por outro lado, os conhecimentos debatidos nos CCQs são

disseminados (hoje em mídia computacional). Assim, o capital aumenta o

controle físico e racional sobre o trabalho e o trabalhador, de maneira a

determinar ritmo das atividades e velocidade de produção, possibilitando

controlar os índices de produtividade e o desgaste dos envolvidos.

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Ademais, a autonomia criada pelos CCQs propicia até que se interrompa

a produção na busca de eventuais problemas na fabricação, prova do incentivo

ao comportamento obsessivo pela qualidade e melhoria contínua. Tal postura,

todavia, não deve ser interpretada como preocupação, mas como atitude

espontânea e incansável de manutenção dos níveis de qualidade.

Sobre autoridade e autonomia, o relato de um alto executivo da Toyota

citado por Coriat (1994) demonstra a postura que se espera de qualquer

trabalhador da Toyota, seja da produção ou de outras áreas:

Da mesma forma que a qualidade deve ser mantida através da

concepção dos produtos, dos preparativos de produção, das

compras, da produção, do marketing e dos serviços, também a

programação de encomendas e fabricação deve ser mantida,

em seu conjunto, dentro da totalidade da empresa. [...] Se os

clientes não podem obter os produtos dos quais necessitam no

momento em que deles necessitam é porque o sistema não

anda. Este é o verdadeiro sentido da expressão ‘sistema de

programação de encomendas e fabricação’, e atingir esse

objetivo é algo que exige terríveis esforços transfuncionais. É

somente depois que ela consegue resolver estes problemas

que a empresa deve se preocupar com outros fatores de

qualidade, como a competitividade e os custos. (CORIAT,

1994, p. 77).

Os desdobramentos do controle total da qualidade, do Kanban e do Just-

in-time criam operações cada vez mais eficientes sob seus princípios –

melhorar sempre com nenhum desperdício. Ou seja, conceito de Gestão Zero:

defeito zero; estoque zero; quebra zero; tempo zero de preparação - Setup de

máquina; lead time2 zero; lote mínimo.

2 Tempo de provisão.

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Desta forma, passa a ser um traço, um hábito do trabalhador em

controlar a qualidade ao mesmo tempo em que desempenha sua função.

Nesse ponto, cada trabalhador tem sua função unificada com as funções de

operador e controlador da qualidade, constituindo um dos pilares fundamentais

do modelo de Ohno – a autoativação, caracterizada pelo controle autônomo

dos trabalhadores sobre os resultados indesejados. Segundo Coriat (1994):

[...] a regra é efetivamente pensar pelo avesso – partindo do

mercado para garantir permanentemente a adaptabilidade da

empresa à mudança, – a rigidificação da separação funcional

não pode ser mantida. Ela nada mais é que um obstáculo à

competitividade e a valorização do capital. (CORIAT, 1994,

p.78).

Esse movimento lógico pelo controle da qualidade define outro princípio

do toyotismo, a melhoria contínua – Kaisen, que possibilita um ciclo

permanente de inovações no processo produtivo, sob responsabilidade

exclusiva dos trabalhadores, que respondem pelo nível de eficiência produtiva

global, e que buscam nos CCQs o instrumento principal para otimizar os

esforços individuais para melhoria contínua, iniciativas que incrementam ainda

mais os princípios de polivalência e multifuncionalidade.

O sistema de produção flexível toyotista (como outros modelos

baseados na flexibilidade de processos) depende de uma força de trabalho

polivalente e multifuncional.

O polivalente não é uma simples rotação de cargos sem planejamento,

com frequência intensiva, conforme muitos imaginam e até aplicam na prática.

Polivalência é a capacidade que um operador possui para executar diferentes

tarefas, agregando mais valor ao trabalho.

Já o multifuncional é um trabalhador que, além de executar suas

atividades produtivas (que agregam valor), cria novas formas de executar as

atividades básicas da produção e efetuam ajustes que a máquina não

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consegue por si só executar, bem como controla a qualidade dos produtos e o

seu ambiente de trabalho (WATANABE, 1993). Esse perfil de trabalhador opera

mais de uma máquina com características semelhantes, acrescentando pouco

desenvolvimento e qualificação profissional.

O trabalhador multiqualificado, diferentemente do multifuncional,

desenvolve e incorpora diferentes habilidades e repertório profissional. Ou seja,

é o trabalhador que tem um conhecimento mais abrangente do sistema de

trabalho no qual está inserido e detém maior criatividade para executar suas

tarefas, sendo esse o perfil mais adequado aos sistemas produtivos flexíveis.

A parceria entre empresários e trabalhadores se fortalece, na medida em

que o comportamento desses dois sujeitos se modifica, em virtude do

reconhecimento recíproco de que o futuro depende da atitude e postura de

ambos. Nesse sentido, a pauta de reivindicações dos trabalhadores dá lugar à

negociação. Da mesma forma, os empresários entendem que a manutenção

dos índices de qualidade e de produtividade depende da participação,

colaboração e decisões assumidas pelos trabalhadores. Essas novas relações

de trabalhistas permitem a flexibilização do mercado de trabalho, caracterizado

nas práticas empresariais e jurídicas sob a redefinição das condições de uma

remuneração variável com base na participação dos lucros e resultados.

Assim, com responsabilidades divididas e foco nos propósitos de

negócio, as relações de trabalho entre direção e operários passam a gerir

metas coletivas, delineando a participação de todos nos resultados

conquistados, modificando o papel dos sindicatos e da mediação do Estado.

Nesse contexto, além de permitir maior adaptabilidade ao sistema produtivo, a

polivalência e a multifuncionalidade dos trabalhadores possibilita vantagens

adicionais quando comparadas ao sistema fordista, mantendo o

desenvolvimento constante de novas competências.

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2.1 – Cinco Forças Competitivas de Porter

O modelo das cinco forças competitivas pode ser aplicado às Micro e

Pequenas empresas e em geral, pois o setor é alvo de pressões vindas dos

fabricantes, indústria fornecedora, das centrais de compra varejistas, da

rivalidade interna do setor e da evolução das modalidades logísticas.

Acredita-se que a rivalidade entre concorrentes refere-se às manobras

praticadas pelas empresas para obter e ampliar a participação em um

mercado. Assim sendo, uma análise de rivalidade interna deve começar pela

definição do mercado.

Como o segmento de Micro e Pequenas empresas é um intermediário

dentro do canal de distribuição, para que este se torne competitivo e eficiente,

a organização atacadista precisa de participação de mercado, pois, com este

share de mercado as empresas atacadistas têm como melhorar seus

indicadores de desempenho, como ticket médio, preço médio de venda e

diminuição do custo de oportunidade do investimento em estoques.

Para aumentar sua participação de mercado, contudo, com produtos

com pouca diferenciação, a organização precisa diferenciar-se das demais

concorrentes, seja por preço ou prestação de melhores serviços.

Ao analisar o poder de compra dos fornecedores e compradores em

relação aos atacadistas, percebe-se que duas tendências têm ameaçado a

posição intermediária de empresas atacadistas: o aumento da central de

compras no mercado varejista e a utilização da distribuição direta por parte dos

fabricantes.

Essas são pressões que podem ser caracterizadas como poder de

barganha de compradores e fornecedores, do mesmo modo que obrigam o

atacado tradicional a se adaptar a esta nova realidade. Isso porque, com as

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centrais de compras varejistas, os mesmos ganham poder de compra e

passam a adquirir diretamente da indústria fornecedora, eliminando, assim, o

intermediário atacadista.

Existe ainda a possibilidade de os varejistas realizarem a integração

vertical ascendente, em que eles possam ter uma empresa atacadista em seu

grupo econômico, passando assim a ser um concorrente direto.

A distribuição direta da indústria para o varejista acontece, pois o

atacado tradicional não está agregando valor ao repassar a mercadoria para o

varejista, o que aumenta o preço final de custo na gôndola do varejista e

diminuiu a quantidade vendida, conforme acentua Porter (1999, p.36) ao

dizerem que “os atacadistas são tiradores de pedidos que não promovem a

linha de produto do fabricante”.

Com relação à força competitiva, a ameaça de produtos/serviços

substitutos, no caso das micro e pequenas empresas, sofre hoje com a entrada

de produtos de “marca própria” de um concorrente, que compete com os

produtos de fornecedores.

Além deste fato existe um serviço substituto ao atacado tradicional que é

o operador logístico qualificado/broker, cujo foco é o mesmo mercado alvo do

atacado tradicional, mas possui alguns serviços diferenciados em relação a

esse, tais como: controle de estoque do varejista e disponibilidade de produtos

em estoque.

No que tange à ameaça de entrantes, as Micro e Pequenas empresas

não possuem muitas barreiras de entradas, o que pode acarretar um aumento

da concorrência interna com a agregação de novos competidores. Esse fato

tende a ser mais aquecido se, no caso, o setor em análise não possuir uma

taxa de crescimento de igual proporção à taxa de incorporação de novas

empresas no mercado.

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A empresa entrante, contudo, precisa ter uma parcela do mercado, para

que possa ter poder de compra junto ao fornecedor e ainda possa diluir seus

custos fixos. Caso contrário, não poderá competir, pois terá grande

desvantagem de custo.

Ao analisar o modelo das cinco forças competitivas, a Micro e Pequena

empresa pode indicar qual sua posição estratégica dentro do mercado onde

compete, pois, segundo Porter (2004, p.25), “a essência da formulação de uma

estratégia competitiva é relacionar uma empresa ao seu meio ambiente”.

Sendo assim, a organização deve ter como meta encontrar uma posição

dentro do escopo competitivo, em que a micro e pequena empresa possa

melhor se posicionar da interferência das forças competitivas, e assim fazer

suas escolhas em termos de suas estratégias competitivas.

Para Porter (2004):

No que tange a liderança de custo, a organização busca

vantagem competitiva por meio de custo de produção eficiente,

contudo deve-se observar que o corte de custo tem um limite,

e, se este limite não for obedecido, pode comprometer a

qualidade do produto. (PORTER, 2004, p.135).

Sua implicação no segmento atacadista revela que ele deve utilizar sua

estrutura de modo eficiente, elevando assim seu giro de estoque, já que o setor

citado não manufatura produtos, de modo que ganhe escala e rateie o custo

fixo ao máximo.

Com essa eficiência estrutural, o setor de compras do atacado pode

ganhar mais poder de barganha perante seu fornecedor, conseguindo

descontos significativos nas compras, alimentando, assim, um ciclo que

garante a queda do custo fixo unitário até o limite operacional da empresa. O

comércio atacadista pode utilizar uma estratégia para que a organização

atacadista consiga ser líder de custo: estratégias de crescimento interno.

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Wright, Kroll e Parnell (2007, p.9) “crescimento interno como conseguido

por meio do aumento das vendas, da capacidade de produção e da força de

trabalho”. Os autores ainda destacam outra vantagem dessa estratégia:

A preservação da identidade da organização, pois a empresa,

quando aumenta sua estrutura, realiza capacitação interna e os

novos funcionários que comporão o quadro funcional são

treinados dentro da filosofia de trabalho da organização. A

tipologia de crescimento interno é a integração vertical.

(WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007, p.10).

Segundo Harrison (2005, p.137), “a integração vertical significa que uma

empresa se move adiante para se tornar seu próprio cliente ou move-se

retroativamente para se tornar seu próprio fornecedor.”

A integração vertical cria organizações que atuam dentro do canal de

distribuição da empresa. As Micro e Pequenas empresas podem optar por

integrar-se verticalmente no sentido descendente, ou seja, em direção ao

consumidor final. A implicação dessa estratégia é a abertura de organizações

varejistas, que tendem a comprar suas mercadorias do setor atacadista,

aumentando, assim, suas vendas e, consequentemente seu giro de estoque.

A análise das cinco forças relacionadas às Micro e Pequenas empresas

possibilitam observar que o operador logístico qualificado pode ser utilizado

como estratégia competitiva de diferenciação.

A última estratégia genérica proferida por Porter (2004, p.22) é o foco,

ou enfoque, que preconiza “focar suas ações em determinados grupos de

compra, um segmento da linha de produtos ou um mercado geográfico”.

Harrison (2005, p.138) alerta para a noção que “as empresas devem

avaliar seu setor de mercado-alvo e também atender às necessidades e aos

desejos dos compradores desse segmento.”

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CAPÍTULO III

QUALIDADE TOTAL

3.1 – Conceito

As teorias sobre qualidade, na maioria das vezes, referem-se a um

atributo de um produto ou serviço, associado às específicas técnicas. O

potencial da qualidade justifica seu valor estratégico ao oferecer lucros

maiores, em razão da crescente competitividade do mercado atual, para que as

organizações se mobilizem e proporcionem produtos e serviços de qualidade a

seus clientes internos e externos.

Para isso, foi preciso vincular qualidade à satisfação dos clientes, e não

apenas às especificações técnicas. Ou seja, predomina a perspectiva externa

do mercado em relação à visão interna para a medida da satisfação dos

clientes.

A qualidade começa a ser ampliada segundo uma visão do ambiente

externo das organizações. As pesquisas de mercado, de análise dos

concorrentes e de satisfação dos clientes passam a ser mais evidenciadas,

tornando fundamental a busca de melhoria contínua pelas organizações. A

qualidade passou a ser incluída no planejamento estratégico das organizações,

trazendo a necessidade de treinamento e a educação de todos os envolvidos.

Deming (1990), Juran e Gryna (1991) e Crosby (1992), cada um tem seu

próprio conceito de qualidade.

Para Deming (1990), a qualidade deve atender às necessidades do

cliente, visto que busca produtos cada vez mais diferenciados. Os produtos

devem ter sua qualidade alterada constantemente, de forma a garantir sua

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melhoria contínua. O autor indica o caminho para que uma organização possa

eliminar completamente as causas de defeitos, reduzindo a variabilidade dos

produtos e processo, alcançando o mais elevado padrão de qualidade sem

defeitos nem desperdícios de material, mão-de-obra e dinheiro. Os 14

princípios da qualidade que formulou são:

1. Deve-se aperfeiçoar constantemente os produtos e serviços.

2. Não se deve aceitar níveis comumente de atrasos, enganos

e defeitos de materiais e de mão-de-obra.

3. Inspeção em massa não deve ser aceita. Adote as

ferramentas estatísticas de qualidade para monitoramento do

processo.

4. Negócios não devem ser fechados com base somente em

preço.

5. Encontrar problemas no produto ou processo, para trabalhar

continuamente a melhoria contínua dos mesmos.

6. Treinamento no local de trabalho com métodos modernos é

fundamental para especialização da mão-de-obra.

7. Mudar os números da qualidade é responsabilidade dos

supervisores. Implante métodos modernos de supervisão dos

trabalhadores da produção.

8. O local e as tarefas de trabalhos devem ser executados sem

medo por todos os colaboradores.

9. Deve ter integração entre os departamentos.

10. Deve oferecer recursos, caso sejam implementadas metas

numéricas, cartazes e slogans que peçam novos níveis de

produtividade à força de trabalho.

11. Elimine os padrões de trabalho que prescrevam quotas

numéricas.

12. Remova as barreiras que ficam entre o trabalhador e seu

direito ao orgulho pelo seu trabalho.

13. Estabeleça um programa vigoroso de educação e

treinamento.

14. A alta gerência deve ter uma estrutura que instigue todos

os dias a respeito dos 13 pontos acima. (DEMING, 1990).

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Para Deming (1990), ter qualidade exige ter transformação. Contribuiu

para a gestão da qualidade e o desenvolvimento de produtos por meio do uso

contínuo do ciclo PDCA. Para alcançar as metas, faz uso de métodos

estatísticos e, sobretudo, prega o respeito e a valorização do ser humano.

Deming (1990) recomenda estabelecer a constância de propósito para

melhorar o produto e o serviço, na medida em que propõe uma nova definição

radical do papel de uma empresa. Em vez de somente ter lucro, tem de

permanecer no ramo e oferecer emprego com base em inovação, pesquisa,

aperfeiçoamento constante e manutenção.

Juran e Gryna (1991) classificam qualidade como a adequação ao uso.

Para atingir a qualidade, a organização precisa ajustar sua estrutura às

precisões de mercado. A definição explica de forma simples e objetiva uma

teoria capaz de retratar a importância da qualidade para as organizações.

Juran e Gryna (1991) formulam seus dez pontos:

1. Crie a consciência da necessidade e da oportunidade de

melhorar.

2. Estabeleça metas para melhoramentos.

3. Organize-se para atingir as metas. Forme uma equipe ou

facilitadores para conseguir.

4. Forneça treinamento.

5. Execute projetos para resolver problemas.

6. Divulgue os progressos atingidos.

7. Dê reconhecimento às pessoas.

8. Informe os resultados.

9. Mantenha um sistema de gestão que monitore os resultados.

10. Mantenha o impulso, incorporando o aperfeiçoamento

anual aos sistemas e processos regulares da organização.

Esses princípios têm como fundamentos os métodos estatísticos de

Deming (1990), mas não com a mesma importância.

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Segundo Crosby (1992), a qualidade é a conformidade com requisitos.

Ele ressalta que, ao se referir à qualidade de algum objeto, deve-se definir esse

objeto em termos específicos, e quando todos os critérios estiverem definidos e

explicados, será possível e praticável a mensuração da qualidade. Seus 14

pontos são:

1. A gerência deve está comprometida com a qualidade.

2. Forme equipes de melhoramento da qualidade, com

representantes de todos os departamentos.

3. Faça o mapeamento de onde estão os problemas de

qualidade.

4. Avalie a consciência da qualidade e a preocupação pessoal

de todos os colaboradores.

5. Eleve a consciência da qualidade e a preocupação pessoal

de todos os colaboradores.

6. Implemente ações para corrigir os problemas identificados

por meio dos passos anteriores.

7. Forme um grupo para o programa de zero defeito.

8. Habilite os supervisores para que executem ativamente sua

parte no programa de melhoramento da qualidade.

9. Crie o “Dia de zero defeito”, para que todos os colaboradores

compreendam que houve uma mudança.

10. Anime as pessoas a estabelecer metas de melhoramento

para si mesmas e para seus grupos.

11. Encoraje os colaboradores a comunicarem à gerência os

obstáculos que encontrarem para atingir suas metas de

melhoramento.

12. Reconheça e valorize aqueles que participam.

13. Estabeleça conselhos de qualidade que se comuniquem

regularmente.

14. Faça tudo de novo para enfatizar que o programa de

melhoramento da qualidade nunca termina.

Para Crosby (1992), o controle estatístico da qualidade não é fator

principal para o sucesso da qualidade, ao contrário de Deming (1990), que

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preza os controles estatísticos como principal ferramenta de apoio na gestão

da qualidade. Criador das concepções de “zero defeito” e “fazer certo da

primeira vez”, define a qualidade como simples, e não complexa. Para ele,

produzir bem da primeira vez depende necessariamente dos recursos humanos

oferecidos pela organização, os quais devem ser submetidos a treinamentos e

à conscientização de que qualidade é responsabilidade de todos. Portanto, a

qualidade só será obtida se todos estiverem envolvidos, e a organização deve

reconhecer os esforços para melhoria contínua.

3.1 – Relação da qualidade com o cliente

Por ser uma abordagem gerencial, a Qualidade Total é regida por uma

série de princípios básicos.

Para Campos (1992), esses princípios só são atingidos por métodos e

procedimentos concretos, que as pessoas utilizam por meio de educação e

treinamento contínuos. Em linhas gerais, o autor relaciona-os da seguinte

forma:

Produzir e fornecer produtos e/ou serviços que atendam

concretamente às necessidades do cliente; garantir a

sobrevivência da empresa através do lucro contínuo adquirido

pelo domínio da Qualidade; identificar o problema mais crítico e

solucioná-lo pela mais alta prioridade; falar, raciocinar e decidir

com dados e com base em fatos; gerenciar a empresa ao

longo do processo e não por resultados; reduzir

metodicamente as dispersões através do isolamento de suas

causas fundamentais; o cliente é o rei; procurar prevenir a

origem de problemas cada vez mais a montante; nunca permitir

que o mesmo problema se repita pela mesma causa; respeitar

os empregados como seres humanos independentes; definir e

garantir a execução da visão e a estratégia da alta direção da

empresa. (CAMPOS, 1992, p.33).

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A definição da Gestão da Qualidade Total (GQT), que consta das

normas International Organization for Standartization (ISO), desde 1992,

recomendada pelos japoneses depois que esses e os americanos assumiram a

mesma denominação – para o modelo de Gestão pela Qualidade Total (TQM),

diz o seguinte:

“TQM: Um modelo de gerenciamento de uma organização centrado na

qualidade, baseado na participação de todos os seus membros e visando ao

sucesso de longo prazo através da satisfação do consumidor e de benefícios

para todos os membros da organização e para a sociedade”. (ISO 8402-92).

Atualmente, existem três abordagens distintas na área da Qualidade: a

americana, a japonesa e a europeia.

A abordagem americana defende a idéia de que a Qualidade não

acontece por acaso, e sim, por programa constituído de: planejamento de

qualidade, controle da qualidade e aperfeiçoamento da qualidade, ou seja, nos

princípios básicos de Juran (1990, p.11).

A abordagem japonesa fundamenta-se nos métodos estatísticos e,

sobretudo, no respeito e valorização do ser humano, ou seja, nos princípios de

Deming (1990).

A abordagem europeia tem por base a padronização da International

Organization for Standartization (ISO), fundada em Genebra, na Suíça e

responsável pelo conjunto de normas ISO 9000, que estabelece os requisitos

mínimos para que a organização elabore um sistema de qualidade.

As organizações que cumprem os requisitos podem se candidatar a

receber um certificado de qualificação homologado por um órgão nacional ou

internacional.

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Ishikawa (1993) defende o conceito amplo de Controle da Qualidade: a

Qualidade é colocada como prioridade, em primeiro lugar não está o lucro

imediato; a orientação é para o cliente, não para quem produz pensar a partir

do outro lado; seu cliente é quem responde pelo processo seguinte ao seu, é

necessário quebrar a barreira do departamentalismo; utilizar fatos e dados ao

fazer apresentações, usar métodos estatísticos; respeito pelas pessoas como

filosofia gerencial, ênfase na administração participativa; gerenciamento

interfuncional.

Segundo Deming (1990), a Qualidade baseia-se na melhoria do produto

e na conformidade através da redução da variabilidade dos processos e

controle dos processos, com base no ciclo PDCA (Planejamento,

Desenvolvimento, Checagem e Ações Corretivas). Defende um uso extensivo

dos métodos estatísticos de controle, como formas de controlar e melhorar

processos. Ratifica a sua visão de que a Qualidade requer esforço planejado e

uma visão sistêmica da organização.

Juran (1990, p.11) focou seu trabalho na crença de que a melhoria da

Qualidade é obtida trabalhando dentro do sistema. Propôs que se atingisse a

Qualidade em dois níveis: empresas devem atingir alta qualidade de produtos,

e cada indivíduo deve atingir alta qualidade individualmente.

Crosby (1992), outro dos precursores da filosofia da qualidade, afirma

que um sistema de qualidade deve atuar de forma a prevenir defeitos. Sua

definição é que qualidade é fazer bem desde a primeira vez, isto é, manter um

compromisso real com aquilo que está sendo realizado.

Segundo Garvin (1984), a definição dada à qualidade por diversos

autores depende de sua formação profissional original. Os autores originários

da área de produção tendem a uma visão de produção, em que qualidade

implica em redução de custos, enquanto os da área de marketing tendem a

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usar a abordagem do usuário, em que qualidade pode implicar em custos

maiores.

Segundo Juran e Gryna (1991), a palavra qualidade tem dois

significados predominantes: a qualidade consiste nas características do

produto que vão ao encontro das necessidades dos clientes e, dessa forma,

proporcionam satisfação em relação ao produto; a qualidade é a ausência de

falhas.

Garvin (1992) sugere que, para um produto atingir realmente a

qualidade, deve-se adotar uma abordagem dinâmica desse conceito, dando

prioridade a diferentes aspectos, no caminho percorrido desde a concepção do

produto até sua colocação no mercado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As empresas que competem pelo atual mercado global necessitam

controlar e reduzir seus custos, enquanto o aumento da qualidade é de

fundamental importância para manter a empresa competitiva.

Reduzir custos, principalmente aqueles oriundos da falta de qualidade,

é uma oportunidade de tornar a empresa mais lucrativa e, assim, com maior

rentabilidade.

Produzir com qualidade é uma exigência do mercado globalizado, não

sendo mais uma vantagem estratégica e, sim, uma vantagem competitiva

necessária à sustentabilidade da empresa.

Pela sua importância em termos de potencial informativo e pelas

possibilidades de redução de custos, a atenção do gestor deve estar

direcionada à mensuração dos custos da qualidade, principalmente as que se

relacionam com as falhas (internas e externas).

Para o desempenho da Gestão da Qualidade, é necessária a

implementação de programas de gestão de qualidade, com conduções de

medidas não financeiras, tais como: acompanhamento do nível de satisfação

dos clientes, controles internos para evitar falhas de produção, como também

investimentos financeiros em treinamentos internos sobre conhecimento e

interpretação das normas ISO, com a remuneração da consultoria externa

encarregada de implementar o processo de certificação.

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Também é de fundamental importância que a empresa tenha um

sistema de custo, não apenas auxiliando no custo dos produtos e analisar a

rentabilidade de clientes com decisões de curto prazo, mas que propicie a

melhoria dos processos e redução dos desperdícios, tornando a empresa

competitiva e sustentável.

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41

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ........................................................................................... 1

RESUMO ........................................................................................................... 2

METODOLOGIA ................................................................................................ 3

SUMÁRIO .......................................................................................................... 4

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5

CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO DA MICRO E PEQUENA EMPRESA NA ECONOMIA 7

1.1 – A Micro e Pequena Empresa na Reestruturação Produtiva .................... 11

CAPÍTULO II

VANTAGEM COMPETITIVA DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS ......... 17

2.1 – Cinco Forças Competitivas de Porter ...................................................... 27

CAPÍTULO III

QUALIDADE TOTAL ........................................................................................ 31

3.1 – Conceito .................................................................................................. 31

3.1 – Relação da qualidade com o cliente ....................................................... 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ....................................................................... 41

ÍNDICE ............................................................................................................. 43