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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM O SUPERVISOR EDUCACIONAL E O PAPEL DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES PARA A CRIAÇÃO DE UMA REFLEXÃO CRÍTICA ACERCA DA PRÁTICA DOCENTE Por: Bianca Carvalho de Andrade Rego Barros Pugliese Orientador Prof. Mary Sue Carvalho Pereira Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O SUPERVISOR EDUCACIONAL E O PAPEL DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES PARA A CRIAÇÃO DE UMA

REFLEXÃO CRÍTICA ACERCA DA PRÁTICA DOCENTE

Por: Bianca Carvalho de Andrade Rego Barros Pugliese

Orientador

Prof. Mary Sue Carvalho Pereira

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

O SUPERVISOR EDUCACIONAL E O PAPEL DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES PARA A CRIAÇÃO DE UMA

REFLEXÃO CRÍTICA ACERCA DA PRÁTICA DOCENTE

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Administração

e Supervisão Escolar.

Por: Bianca C. de Andrade Rego Barros Pugliese

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar meus agradecimentos como forma sincera de

afeição a todos os que estiveram envolvidos de maneira direta ou indireta na

realização deste trabalho ou que de algum modo tornaram meu caminho

acadêmico um pouco menos tortuoso e um pouco mais agradável.

À Sra. Sandra Góes, uma das mantenedoras do Centro Escolar de

Copacabana, pelo incentivo profissional e inspiração acadêmica.

Ao meu eterno mestre, João Baptista Ferreira de Mello, que foi quem

primeiro confiou na minha capacidade como pesquisadora, fazendo com que

eu também confiasse e procurasse prosseguir. Saiba que suas entrevistas

ainda me cativam e que nossos trabalhos de campo nunca serão esquecidos.

Aos meus pais, Luiz e Sirléa, pela minha formação, por me

acompanharem e por torcerem por mim, mesmo quando eu pensava que eles

não estavam se lembrando. Obrigada por cuidarem de mim em todos os

sentidos.

À minha irmã, Fernanda, demais familiares e amigos que souberam

compreender o sentido da minha luta, dispensando-me muitas vezes de seu

convívio para que eu pudesse enfrentar minhas obrigações.

Ao meu marido, Marco Fábio, pelo incentivo e cumplicidade, e por ter me

compreendido e apoiado nos momentos mais cansativos e tensos da

elaboração deste estudo e também em todos os outros momentos nos quais eu

precisei de sua compreensão, carinho, amor e amizade.

Aos professores do Instituto A Vez do Mestre da Universidade Cândido

Mendes, em especial: Maria Cláudia, Lindomar e Flávia pelas aulas brilhantes,

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pelo carinho e pelo respeito que sempre emanaram de vocês em relação a nós,

alunos.

A todos os funcionários do Campus Tijuca da Universidade Cândido

Mendes pelo carinho, respeito, atenção e paciência com os quais sempre nos

recebem.

À minha orientadora Prof. Mary Sue Carvalho Pereira pela paciência e

disposição em ler, reler e corrigir este trabalho, além da presteza com a qual

me atendeu quando da entrega e aprovação do meu plano de pesquisa.

A todos os meus colegas de curso, em especial às outras “Meninas

Superpoderosas”: Beatriz Dias Carlos, Cristina Lopes, Fabiana Nascimento,

Maximiliana Bandeira e Simone Feitosa. Sem vocês o caminho teria sido muito

mais difícil e com muito menos risadas.

A todos os meus colegas de trabalho pelas vivências partilhadas, pelo

material bibliográfico fornecido e principalmente pelas longas conversas, em

especial: Vivian Aronson e Cláudio Perez.

À Natalie Wanzeler, colega de trabalho, amiga e companheira na luta

por uma educação mais humanista, pela paciência em ler e corrigir meu texto,

além das valiosas dicas fornecidas para o desenvolvimento desta monografia.

Valeu, Nat!

A todos os meus alunos, que eu amo, por serem a razão do meu

trabalho e por me fazerem refletir acerca do mesmo.

Aos funcionários de todas as bibliotecas por mim visitadas durante a

elaboração desta pesquisa, que procuraram sempre me ajudar da melhor

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maneira possível. Parabéns pela dedicação com a qual realizam suas

atividades.

Ao querido Zelador de Santo Lúcio Almeida (Odequiluange) pelas

palavras de afeto e compreensão com as quais sempre me recebe e

principalmente pela orientação que me forneceu no momento em que precisei

de paz de espírito e inspiração durante o encaminhamento desta pesquisa –

Que o Pai Maior continue te abençoando e que Oxossi te proteja sempre!

Obrigada por fazer parte das nossas vidas. Nunca poderei nem saberei

agradecer o que fez por nós, quando, mesmo em convalescença, você deixou

a sua casa e veio nos socorrer.

E agradeço a Deus e à Nossa Senhora da Candelária / Iemanjá pelas

bênçãos, inspiração e paz de espírito que possibilitaram a realização deste

estudo mesmo nos momentos mais difíceis.

A todos vocês muito obrigada,

E que Nossa Senhora da Candelária / Iemanjá nos abençoe!

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os alunos incompreendidos em suas diferenças por todos os atores do sistema educacional;

e a todos os colegas professores que, como eu, nos vemos, muitas vezes, desnorteados

com a realidade das salas de aula onde tentamos exercer o nobre ofício de educar.

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RESUMO

Este estudo aponta a importância do Supervisor Educacional no

processo de formação continuada dos docentes, para que estes se preparem

melhor para lidar com alunos e seus problemas, de modo que os Conselhos de

Classe deixem de se prestar a função de análise dos discentes. Além disso,

procura demonstrar que a partir da motivação/liderança exercida pelo

Supervisor é possível se criar uma instância de reflexão crítica da prática

docente, para que a escola possa atender às necessidades de seus alunos. A

partir daí é possível que os Conselhos de Classe passem a cumpram a função

de avaliar o processo ensino-aprendizagem. Então, cabe à pesquisa a questão:

É possível que o Supervisor Educacional motive a formação continuada dos

docentes, voltada às relações humanas, a fim de que se preparem melhor para

lidar com alunos e seus problemas, fazendo com que os Conselhos de Classe

deixem de se prestar a uma mera rotulação dos alunos e passem a cumprir sua

verdadeira e primordial função de avaliar o processo ensino-aprendizagem?

Conclui-se que através da motivação e da criação de instâncias de reflexão

crítica da prática docente é possível ao Supervisor influenciar os demais

membros da escola, principalmente os professores, a adaptar, avaliar e

reavaliar suas atitudes constantemente, fazendo-os lembrar de que alunos são

pessoas cujos sentimentos e necessidades não podem e não devem ser

ignoradas através de uma postura distante apenas porque os professores

encontram-se frente a uma complexa situação pedagógica com a qual não

estão conseguindo lidar.

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METODOLOGIA

O estudo pautou-se no âmbito dos Conselhos de Classe de modo a

mostrar que os mesmos não têm cumprido sua missão de avaliar o processo

de aprendizagem, na medida em que são utilizados como fórum de debates

acerca dos alunos e não das práticas docentes. Para tanto, foram de grande

valia minhas participações efetivadas em tais encontros nos seguintes

estabelecimentos de ensino: Centro Escolar de Copacabana (CEC), situado no

bairro que fornece toponímia à escola; Colégio Estadual Presidente Castelo

Branco, no município de Mesquita; Colégio Estadual Professora Sonia Regina

Scudese, no bairro de Brás de Pina; além do Colégio e Curso Exato, situado no

bairro da Penha.

O trabalho desenvolveu-se também através da leitura de bibliografia

voltada para a importância do Supervisor Educacional como líder e de como o

mesmo pode influenciar seus pares no sentido do cumprimento do papel que

cabe à escola como uma instituição de aprendizagem constante e de qualidade

quando composta por uma equipe de profissionais motivados e que

conseguem renovar suas práticas, investir no tempo para estudos e pesquisas,

promover uma melhor socialização entre os alunos e, assim, tornar a escola

muito mais interessante. Tendo sido este material coletado no acervo da

Biblioteca Nacional, na Biblioteca Popular da Penha, nas bibliotecas das

instituições de ensino supra citadas, além de haverem sido tomadas como

empréstimo do acervo pessoal de amigos e conhecidos.

Para caracterizar o Supervisor Escolar como líder foram abordadas

questões relativas à liderança e à motivação. A fim de analisar o viés de

liderança existente na função do Supervisor Escolar, estudos sobre liderança

educacional subsidiaram a fundamentação teórica, além de leituras que

abordam a questão dos Conselhos de Classe, sua função e suas dinâmicas

efetivas, bem como a importância da motivação para a formação continuada

dos professores no que tange ao relacionamento interpessoal, tanto em relação

aos demais docentes quanto aos discentes. Além disso, discussões efetivadas

com colegas professores, gestores educacionais em geral, além dos próprios

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alunos que foram chamados a refletir acerca das práticas docentes e discentes

no interior de suas salas de aula.

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SUMÁRIO

Introdução 11

Capítulo 1 – Os Conselhos de Classe e sua importância para a avaliação da

prática docente: função e dinâmicas efetivas 15

Capítulo 2 – A necessidade da criação de instâncias de reflexão crítica da

prática docente 23

Capítulo 3 – Uma proposta de formação continuada sob a liderança do

Supervisor Escolar 32

Conclusão 38

Bibliografia 40

Índice 46

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INTRODUÇÃO

O tema desta monografia refere-se à importância do Supervisor

Educacional, enquanto liderança, no processo de formação continuada dos

docentes, através da criação de uma instância de reflexão crítica acerca de sua

prática, para que estes se preparem melhor para lidar com alunos e seus

problemas, fazendo, assim, com que os Conselhos de Classe deixem de se

prestar a função de análise, caso a caso, dos discentes, determinando seu

sucesso ou fracasso escolar, como se o processo ensino-aprendizagem

dependesse exclusivamente desses discentes. Nesse sentido, a questão

central deste trabalho busca esclarecer se é possível que o Supervisor

Educacional, como líder que é, motive a formação continuada dos docentes,

voltada para as relações humanas, para que estes se preparem melhor para

lidar com alunos e seus problemas, fazendo com que os Conselhos de Classe

deixem de se prestar a uma mera rotulação/estigmatização dos alunos e

passem a cumprir sua verdadeira e primordial função de avaliar o processo

ensino-aprendizagem.

O tema sugerido é de fundamental relevância, porque, segundo Lück

(2008), o papel da escola hoje é formar pessoas reflexivas, emocionalmente

equilibradas, capazes de auto-critica, solidárias com o mundo exterior e

capacitadas tecnicamente para enfrentar o mundo do trabalho e da realização

profissional. Desse modo, as mudanças ocorridas na sociedade refletem-se

dentro da escola e o papel da Supervisão Escolar não fica fora deste contexto.

Atualmente, cabe ao Supervisor “o desenvolvimento qualitativo da organização

escolar e dos que nela realizam seu trabalho de estudar, ensinar ou apoiar a

função educativa por meio de aprendizagens individuais e coletivas” (Alarcão,

2004; p.35). Assim, é necessária a criação de uma instância de reflexão crítica

acerca da prática docente a fim de que o despreparo dos professores frente à

complexa situação pedagógica com a qual estão lidando na atualidade e sua

impotência frente à realidade escolar, cheia de diversidades das mais variadas

ordens deixem de existir. Dessa maneira, os professores deixarão de se eximir

de suas responsabilidades em relação ao processo de aprendizagem e

socialização dos alunos. Por isso é importante a atuação do Supervisor como

incentivador de uma formação continuada para os docentes voltada para o

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desenvolvimento de um trabalho de humanização em que a intolerância dos

docentes com as diferenças individuais dos alunos, e sua negligência, em

relação aos aspectos emocionais envolvidos no processo de aprendizagem,

deixem de ser evidenciados nos Conselhos de Classe e estes passem a

cumprir sua função de avaliar o processo de aprendizagem. Nesse sentido,

são, portanto, objetivos desta pesquisa demonstrar que a partir da

motivação/liderança exercida pelo Supervisor Educacional é possível se criar

uma instância de reflexão crítica acerca da prática docente, através de sua

formação continuada, para que a escola possa, realmente, atender às

necessidades de seu principal integrante: o aluno, no que tange ao seu

sucesso escolar, e os Conselhos de Classe cumpram sua função. Refletir

sobre os Conselhos de Classe e a prática recorrente, por parte dos

professores, de julgar os alunos através de conceitos subjetivos que acabam

determinando o sucesso ou fracasso escolar desses a partir de diagnósticos

fornecidos por profissionais ainda despreparados para lidar com situações que

fujam a uma “normalidade” pré-concebida. E finalmente demonstrar que o

encaminhamento para tratamento psicológico de um certo tipo de aluno,

“anormal”, e que acaba por tornar-se decisivo e essencial para que haja um

bom desempenho escolar na medida em que os ajudaria a acatar a disciplina

escolar bem como as regras de comportamento em sala de aula, nada mais é

do que fruto do despreparo técnico dos docentes para entender a importância

das relações humanas no âmbito da escola, uma vez que o vínculo afetivo, o

comprometimento existente entre os sujeitos que ensinam e aprendem, é o que

possibilita a aprendizagem (Freire, 1996).

Desse modo, este trabalho propõe-se a demonstrar que através da

motivação e da criação de instâncias de reflexão crítica da prática docente é

possível ao Supervisor Educacional influenciar os demais membros da escola,

principalmente os professores, a adaptar, avaliar e reavaliar suas atitudes

constantemente com o objetivo de buscar soluções para os problemas

inesperados, que são rotina no ambiente escolar, fazendo-os lembrar de que

alunos são pessoas cujos sentimentos e necessidades não podem e não

devem ser ignoradas através de uma postura distante, a qual chega à beira da

agressividade, inclusive referindo-se aos alunos com expressões e/ou atitudes

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pejorativas apenas porque encontram-se frente a uma complexa situação

pedagógica com a qual não estão conseguindo lidar.

Em obediência às normas exigidas pela academia com vistas à

obtenção do grau de Especialista em Administração e Supervisão Escolar esta

pesquisa está estruturada da seguinte maneira: Introdução; Capítulos 1, 2 e 3 e

Conclusão. O primeiro capítulo enfoca o papel da escola e do professor dentro

do processo ensino-aprendizagem, bem como as dinâmicas efetivas dos

Conselhos de Classe, além de evidenciar uma distorção na função principal

destes.

O segundo capítulo trata da necessidade da criação de instâncias de

reflexão crítica da prática docente devido ao despreparo dos professores

perante as situações enfrentadas em sala de aula. Além de ressaltar o papel do

Supervisor Escolar como motivador/incentivador de uma reflexão acerca da

prática docente. E o terceiro capítulo aborda a relevância da comunicação e

das relações humanas para uma retomada do vínculo afetivo entre professor e

aluno, através de uma proposta de formação continuada que contemple a

dimensão afetiva da educação sem se deixar levar apenas pelos conteúdos

abordados nas propostas curriculares.

Nessas circunstâncias e no âmbito das preocupações da presente

pesquisa, deve-se indagar com vistas à sua elaboração: É possível que o

Supervisor Educacional, como líder que é, motive a formação continuada dos

docentes, voltada às relações humanas, a fim de que se preparem melhor para

lidar com alunos e seus problemas, fazendo com que os Conselhos de Classe

deixem de se prestar a uma mera rotulação/estigmatização dos alunos e

passem a cumprir sua verdadeira e primordial função de avaliar o processo

ensino-aprendizagem?

A pesquisa tendo como objetivo geral demonstrar que é possível se criar

uma instância de reflexão crítica acerca da prática docente, através de sua

formação continuada, e que a partir daí é possível que os Conselhos de Classe

passem a cumprir sua verdadeira função, encerra seu curso tentando

demonstrar a importância das relações humanas no âmbito da escola, uma vez

que o vínculo afetivo, o comprometimento existente entre os sujeitos que

ensinam e aprendem, é o que possibilita a aprendizagem (Freire, 1996). Além

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de propor que através da motivação e da criação de instâncias de reflexão

crítica da prática docente é possível ao Supervisor Educacional influenciar os

demais membros da escola, principalmente os professores, a adaptar, avaliar e

reavaliar suas atitudes constantemente com o objetivo de buscar soluções para

os problemas inesperados que são uma rotina no ambiente escolar, fazendo-os

lembrar de que alunos são pessoas cujos sentimentos e necessidades não

podem e não devem ser ignoradas através de uma postura distante.

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CAPÍTULO 1:

OS CONSELHOS DE CLASSE E SUA IMPORTÂNCIA

PARA A AVALIAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE: FUNÇÃO

E DINÂMICAS EFETIVAS

O capítulo a ser iniciado enfoca o papel da escola e do professor dentro

do processo ensino-aprendizagem, bem como as dinâmicas efetivas dos

Conselhos de Classe, além de evidenciar uma distorção na função principal

destes.

1.1 – O papel da escola e do professor no processo ensino-

aprendizagem

Segundo Lück (2008), o papel da escola hoje é formar pessoas

reflexivas, emocionalmente equilibradas, capazes de auto-crítica, solidárias

com o mundo exterior e capacitadas tecnicamente para enfrentar o mundo do

trabalho e da realização profissional. Atualmente, as demandas do mercado de

trabalho exigem profissionais eficazes, críticos e dinâmicos, o que torna a

educação cada vez mais importante e mais complexa, na medida em que

abrange não só as competências intelectuais, mas, também, as emocionais e

as éticas. Neste contexto, o desafio para o profissional da educação é enorme,

já que o reflexo de nossas ações e a construção do educando só serão

sentidos no decorrer dos anos. Além disso, a função docente traz em si uma

implicação afetiva muito significativa, uma vez que está atrelada a diferentes

instâncias, simultaneamente. Dentro das escolas e em nossa prática docente

sempre nos encontramos com diversas situações e até vivenciamos certa

desesperança que às vezes se abate sobre nossos ombros. Os sinais de

descaso para com o sistema educacional no Brasil estão por toda a parte. Na

falta de interesse de nossos governantes, na falta de recursos para as escolas,

nos baixos salários, na falta de um projeto sério de escolarização e políticas

públicas em todos os níveis, pois o que temos hoje é um paliativo que não

atende à demanda crescente de nosso povo.

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Cada vez mais nossos alunos saem das escolas sabendo menos do que

precisam para suas vidas. Alunos desinteressados, analfabetos funcionais,

baixa qualificação profissional e despreparo emocional são apenas alguns

sintomas da doença que se instalou no meio escolar, reflexo da falta de

interesse da maioria dos envolvidos no processo que não sabem ou fingem não

saber que o sucesso da empreitada educacional é para toda a vida. Nesse

sentido, a escola, como espaço social e público, tem, portanto, a obrigação de

servir a todos os que a procuram, proporcionando o melhor a seus alunos que

buscam nesse local o conhecimento e a formação para a sociedade como

fossem estes o pote de ouro no fim do arco-íris.

Ao professor cabe ser o mediador (Vygotsky, 1998b) do educando,

levando-o a aprender em todos os aspectos, ou seja, na aquisição e

desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes, valores,

ideias ou qualquer tipo de aprendizagem necessária. Sendo ele, portanto, um

agente de educação integral e não apenas transmissor de conhecimentos ou

ainda um repassador de informações. Segundo Lück (2008), o professor é a

figura central na formação dos educandos, sendo responsável por formar no

aluno o gosto ou o desgosto pela escola, a motivação ou não pelos estudos, a

percepção de sua capacidade de aprender e de seu valor como pessoa. Desse

modo, o professor deverá ser competente para poder atuar em ambientes

diversos e conviver com a pluralidade, encontrando alternativas para que os

alunos permaneçam nas escolas, alcançando bons resultados nas

aprendizagens, além de oportunizar aos mesmos uma participação efetiva,

democrática, autônoma e flexível, motivando-os para um maior

desenvolvimento e envolvimento com os conhecimentos. Nesse sentido, o

modo de ser e de fazer do professor influenciarão na orientação da

aprendizagem dos alunos. Sua competência, expectativas, formação, valores e

atitudes serão fatores importantes na determinação de quanto, como e do que

o aluno aprenderá, pois o professor é a figura-chave na escola, na sua pessoa

está centrada a possibilidade de eficácia do processo educativo, uma vez que é

a qualidade do relacionamento professor-aluno que torna o processo educativo

e a escola significativos para o educando (Chalita, 2001; Mosquera, 2001;

Cunha, 2007; Lück, 1996; 2008; Mafra, 2010; Palomares, 2010; Simka, 2010;

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Kauark, 2011). Entrementes, a escola, ao priorizar aspectos intelectuais,

menospreza o papel das emoções no processo do ensino e da aprendizagem,

sem levar em conta que ensinar e aprender são ações indissociáveis, e esse

processo não pode reduzir-se ao cognitivo, pois envolve outros aspectos tais

como a afetividade, a motivação e a sensibilidade (Cunha, 2007; Simka, 2010;

Kauark, 2011).

1.2 - A função primordial dos Conselhos de Classe: avaliar o

processo ensino-aprendizagem

De acordo com Lück (2008), com a expansão da finalidade da educação,

de mera transmissão de conhecimentos para o de promoção do

desenvolvimento integral do educando, a tarefa educativa tornou-se mais

complexa. Seu caráter dinâmico e multidimensional impõe aos educadores

novas habilidades e conhecimentos (Libâneo, 2002; Lück, 2008). Porém,

algumas atitudes por parte dos docentes em relação a determinados alunos,

tais como sua intolerância com as diferenças individuais, a negação de que sua

maneira de ensinar possa não despertar o interesse dos alunos e,

consequentemente, motivar alterações em seus comportamentos; sua

negligência com os aspectos emocionais envolvidos no processo de

aprendizagem, além de um anseio por uma submissão dos alunos, como se o

desempenho escolar de alguém dependesse exclusivamente de uma postura

passiva, demonstram o despreparo dos professores para lidar com situações

que fujam a uma “normalidade” pré-concebida. Nesse sentido, o

desenvolvimento de habilidades de relacionamento interpessoal e comunicação

tornam-se fundamentais à melhoria do processo educativo e sua integração,

pois, desde que a escola assumiu seus contornos atuais, houve uma

diminuição da dimensão afetiva na ação pedagógica, quando, ao contrário,

esta deveria andar lado a lado com a cognição (Cury, 2003; Cunha, 2007;

Lück, 2008; Mafra, 2010; Simka, 2010).

Segundo Stadler (2008), o Conselho de Classe é um órgão colegiado de

natureza consultiva, que possui a função de tratar de assuntos de natureza

didática e pedagógica de cada classe, com o objetivo de analisar o processo

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ensino-aprendizagem, o próprio relacionamento professor-aluno e as

possibilidades de encaminhamento para cada situação. Desta forma, o

levantamento de notas, dificuldades numa matéria, bem como de

comportamentos inadequados têm sentido se colaborarem para a ação

pedagógica e não ficarem simplesmente na narrativa e classificação do aluno

(Barbosa, 2005; Marco, 2007; Stadler, 2008). Desse modo, o Conselho de

Classe, enquanto etapa inclusa na prática da avaliação, deve apontar as

causas que interferem positiva ou negativamente no trabalho pedagógico e

reorientar suas ações, de modo que diagnóstico, aconselhamento, prognóstico,

levantamento de soluções alternativas, elaboração de programas de

recuperação e apoio, reformulação de objetivos, bem como a coleta de

evidências de mudanças de comportamento dos alunos sejam as principais

características da eficiência de um conselho (Barbosa, 2005; Marco, 2007;

Stadler, 2008).

Nesse sentido, o Conselho de Classe seria uma reunião avaliativa em

que diversos especialistas envolvidos no processo ensino-aprendizagem

discutem acerca da aprendizagem dos alunos, do desempenho dos docentes,

dos resultados das estratégias de ensino empregadas, da adequação da

organização curricular e outros aspectos referentes a esse processo, a fim de

avaliá-lo coletivamente, mediante diversos pontos de vista. Portanto constitui-

se numa oportunidade de reunir os professores com o objetivo de refletir sobre

a aprendizagem dos alunos e o processo de ensino, além de favorecer uma

avaliação mais completa do estudante e do próprio trabalho docente,

proporcionando um espaço de reflexão sobre o trabalho que está sendo

realizado e possibilitando a tomada de decisões para um novo fazer

pedagógico, favorecendo mudanças para estratégias mais adequadas à

aprendizagem de cada turma e/ou aluno (Barbosa, 2005; Marco, 2007; Stadler,

2008).

Seriam também objetivos dos Conselhos de Classe, a valorização da

observação do progresso individual dos alunos aula a aula, bem como seu

comportamento cognitivo, afetivo e social durante as aulas, o incentivo à auto-

análise e auto-avaliação dos profissionais de ensino, além de prever mudanças

tanto na prática diária de cada docente como também no currículo e na

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dinâmica escolar, sempre que necessário, traçando metas para que as

mudanças sugeridas sejam efetivamente realizadas. Em outras palavras, a

finalidade primeira dos Conselhos de Classe seria diagnosticar problemas e

apontar soluções tanto em relação aos alunos e turmas quanto aos docentes.

Porém, o que se presencia, na realidade, é a má condução dessas instâncias

avaliativas. Por não ser bem conduzido o Conselho acaba se atendo somente a

questões dos alunos e suas notas e comportamentos, sem avaliar a própria

prática educativa da escola. Ao invés de discutir o aluno de modo integral, os

professores acentuam apenas seus pontos negativos (Barbosa, 2005; Mattos,

2005; Marco, 2007; Stadler, 2008).

Através da análise do artigo de Mattos (2005), bem como da minha

própria vivência profissional, é possível perceber a utilização dos Conselhos de

Classe, pelos docentes e demais participantes, como uma possibilidade de

expor conceitos subjetivos acerca dos discentes. Raras são as ocasiões em

que é feita uma avaliação do processo de aprendizagem do aluno, por meio do

seu desempenho na realização de tarefas, nos testes de conteúdo e em seu

crescimento intelectual e social em relação à turma. As impressões expostas,

sem levar em consideração critérios avaliativos legítimos, acabam

determinando o sucesso ou fracasso escolar dos alunos a partir de

diagnósticos fornecidos por profissionais não qualificados para tanto (Barbosa,

2005; Mattos, 2005; Marco, 2007; Stadler, 2008).

Mattos (2005) evidencia uma distorção na função principal dos

Conselhos de Classe, que é de avaliação do processo de aprendizagem, para

uma análise, caso a caso, dos alunos, sem que haja questionamentos acerca

da prática pedagógica de cada docente envolvido no processo ensino-

aprendizagem, como se este dependesse exclusivamente dos discentes. Na

realidade, o que ocorre é que não há, ainda hoje, mesmo no seio dos

Conselhos de Classe, nenhuma instância de reflexão crítica acerca da prática

docente, que jamais é levada em consideração, seja pelos próprios docentes,

seja pela escola. Tal prática torna os alunos vítimas do despreparo dos

professores frente à complexa situação pedagógica com a qual estão lidando,

além de ignorar o bom rendimento dos discentes sob outros aspectos que não

os avaliados dentro da sala de aula (Barbosa, 2005; Mattos, 2005).

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É válido salientar que a prática recorrente de julgar os alunos acaba por

estigmatizá-los e inviabilizar a busca de soluções para as questões escolares

concernentes a tais instâncias coletivas de avaliação. Ocorre assim uma

espécie de “jogo de empurra” entre a Escola e a Família, onde uma instituição

acaba responsabilizando a outra pelo fracasso das crianças eximindo-se de

sua culpa pelo mau desempenho. O que acontece na atualidade, é que a

Família, o Estado e a Religião parecem não mais ocupar os espaços que

tradicionalmente ocupavam na formação do indivíduo, assim, muitas vezes,

cabe ao professor, quase que exclusivamente, o papel de orientar, informar,

resolver conflitos. E nem sempre o educador está preparado para assumir tais

responsabilidades, ou não quer assumi-las (Barbosa, 2005; Mattos, 2005;

Marco, 2007; Mafra, 2010). Nesse sentido, evidencia-se um deslocamento dos

problemas escolares para fora da escola, o que impede uma interação

pedagógica, de fato, ao mesmo tempo em que se ilustra a hipótese de uma

construção coletiva do fracasso escolar.

1.3 - Os Conselhos de Classe e a rotulação/estigmatização dos

alunos

“comprometer-se com a desumanização é assumi-la

e, inexoravelmente, desumanizar-se também.”

(Paulo Freire)

A indisciplina é o maior problema do ensino hoje em dia. Como um efeito

dominó, a dispersão e o desinteresse geram a falta de concentração, que, por

sua vez, fomenta a indisciplina (Aquino, 1998). Por isso, uma grande

dificuldade para nós, professores, está na normalização de uma classe.

Normalização é um termo utilizado por Montessori, que designa ordem,

disciplina, respeito. Dessa forma, normalizar significa voltar ou fazer voltar ao

estado normal, à serenidade que se adquire no falar baixo, no andar devagar e

em gestos suaves, os quais permitem a concentração para o trabalho e que se

opõem à dispersão (Montessori, s/d).

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É notória a idealização, por parte dos docentes em geral, de uma classe

sem “anormalidades”, uma vez que quaisquer dificuldades que pareçam

insuperáveis são prontamente encaminhadas para fora da esfera escolar,

diminuindo o peso que recai sobre os ombros dos docentes enquanto se evita

questionamentos acerca de suas práticas pedagógicas. Desse modo, os

professores se eximem de suas responsabilidades com o processo de

aprendizagem e socialização dos alunos, recorrendo a fatores diversos que

chegam, muitas vezes à beira da agressividade, inclusive referindo-se aos

alunos com expressões e/ou atitudes pejorativas (Mattos, 2005). Isso só

contribui para o prejuízo do relacionamento entre os dois atores mais

importantes na instituição escolar, a saber: o aluno e o professor. A maneira

como nos comunicamos expressa a forma como vemos os outros e dessa

forma os professores acabam contribuindo para a formação da identidade

pessoal de seus alunos (Mattos, 2005; Cunha, 2007; Lück, 2008; Simka, 2010;

Kauark, 2011).

A partir do exposto o encaminhamento para tratamento psicológico de

um certo tipo de aluno “anormal” torna-se então decisivo e essencial para que

haja um bom desempenho escolar na medida em que o ajudaria a acatar a

disciplina e as regras de comportamento em sala de aula. Tal procedimento

não reconhece que, muitas vezes, comportamentos inadequados do educando

são causados, dentre outros, por disfunções ambientais como, por exemplo,

currículo e programas inadequados às suas necessidades e condições

individuais, regulamentos inflexíveis, ou insensibilidade de professores e

adultos em geral à individualidade do educando, além da parcialidade com que

vê a situação do aluno, da suposição implícita de que no aluno está a causa do

problema (Rangel, 1988; Mattos, 2005; Lück, 2008). Esta técnica de

aconselhamento, utilizada em orientação educacional, desenvolveu-se

originariamente no âmbito da psicoterapia, e implicitamente assume a noção de

que o indivíduo e não o ambiente do qual ele faz parte é que deve modificar-se,

pois é ele, indivíduo, e não o ambiente que está perturbado, doente ou com

problemas. Uma vez que o aconselhamento é mais comumente utilizado em

casos relacionados com indisciplina, o atendimento individual ao educando

parte do pressuposto de que os alunos têm necessidades especiais e que os

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professores não estão preparados tecnicamente para atendê-las (Mattos, 2005;

Lück, 2008).

Segundo Bernard Charlot, em entrevista à revista Nova Escola (2006),

conflitos nascem quando o professor não é compreendido, pelos alunos no

momento de sua explanação, o que o leva a considerar o estudante um

incapaz e atribuir suas dificuldades a diversas causas como hiperatividade,

ausência de valores e desvio de conduta. Neste contexto, evidenciam-se a

impotência dos professores frente a realidade escolar, o que acaba por expor

seu despreparo técnico, a projeção da culpa pelo fracasso de seus alunos

sobre os próprios alunos, seu nível de inteligência ou as características de sua

personalidade, o que ocasiona uma desumanização/coisificação do discente, e

a atribuição do fracasso discente a uma impossibilidade de desenvolvimento

cognitivo por parte do mesmo, o que isenta o docente de culpa e acaba por

desestimular o aluno em relação ao processo de aprendizagem (Mattos, 2005;

Nova Escola, 2006; Lück, 2008).

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CAPÍTULO 2:

A NECESSIDADE DA CRIAÇÃO DE INSTÂNCIAS DE

REFLEXÃO CRÍTICA DA PRÁTICA DOCENTE

O capítulo a ser iniciado trata da necessidade da criação de instâncias

de reflexão crítica da prática docente devido ao despreparo dos professores

perante as situações enfrentadas em sala de aula, e ressaltar o papel do

Supervisor Escolar como motivador/incentivador de uma reflexão acerca da

prática docente.

2.1 – O despreparo dos professores frente às diversas

realidades encontradas em sala de aula

O centro de atenção máxima da escola deve ser o aluno. A escola existe

em função dele, e, portanto, para ele. A sua organização, em qualquer dos

seus aspectos, deve ter em vista a consideração do fim precípuo a que a

escola se destina: a criação de condições e de situações favoráveis ao bem-

estar emocional do educando, e o seu desenvolvimento em todos os sentidos:

cognitivo, psicomotor e afetivo, a fim de que o mesmo adquira habilidades,

conhecimentos e atitudes que lhe permitam confrontar as necessidades vitais e

existenciais da atualidade (Cury, 2003; Cunha, 2007; Lück, 2008; Mafra, 2010;

Simka, 2010; Kauark, 2011).

A vida na escola é dinâmica, ativa, leva a ações e transformações de

acordo com as dificuldades e dilemas que se apresentam cotidianamente. Por

isso, o relacionamento entre todos os envolvidos no processo ensino-

aprendizagem, buscando valores e crenças como a generosidade, a

transparência, a honestidade, o comprometimento e a participação, é tão

importante para que a escola atinja os objetivos aos quais se propõe. Quando

essas atitudes fazem parte do cotidiano dos professores, funcionários, alunos e

pais, não há espaço para comportamentos negativos, críticas e reclamações no

ambiente escolar. Todavia, não é isso que tem ocorrido na atualidade já que a

escola vem sofrendo questionamentos de naturezas diversas e os atores que

fazem parte do processo educacional também. O baixo aproveitamento dos

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alunos em geral e a indisciplina escolar vêm sendo apontados como os

impasses fundamentais vividos no cotidiano escolar brasileiro (Aquino, 1998).

E, por consequência, a emergência dos "alunos-problema" é vista como uma

das principais justificativas empregadas pelos educadores na atribuição das

causas de tal impasse (Aquino, 1998; Lück, 2008).

O aluno-problema é tomado, em geral, como aquele que padece de

certos supostos "distúrbios psicológicos e pedagógicos", distúrbios estes que

podem ser de natureza cognitiva (os chamados "distúrbios de aprendizagem")

ou de natureza comportamental, e nessa última categoria enquadra-se um

grande conjunto de ações que chamamos usualmente de "indisciplinadas".

Dessa forma, a indisciplina e o baixo aproveitamento dos alunos seriam como

duas faces de uma mesma moeda, representando os dois grandes males da

escola contemporânea, geradores do fracasso escolar, e os dois principais

obstáculos para o trabalho docente (Aquino, 1998). Porém, ao eleger o aluno-

problema como um empecilho ou obstáculo para o trabalho pedagógico, nós,

docentes, corremos abertamente o risco de cometer um sério equívoco ético,

que é o de atribuir à clientela escolar a responsabilidade pelas dificuldades e

contratempos de nosso trabalho, nossos "acidentes de percurso".

Por outro lado, se considerarmos a indisciplina como uma temática

fundamentalmente pedagógica, talvez possamos compreendê-la inicialmente

como um sinal, um indício de que a intervenção docente não está se

processando a contento, que seus resultados não se aproximam do esperado.

E a partir desse ponto de vista, a indisciplina passaria, então, a ser algo salutar

e legítimo para o professor. A indisciplina seria, portanto, um evento escolar

sinalizador de que algo, do ponto de vista pedagógico, e mais especificamente

da sala de aula, não está se desdobrando de acordo com as expectativas dos

envolvidos. Nesse sentido, a indisciplina indicaria também uma necessidade

legítima de transformações no interior das relações escolares e, em particular,

na relação professor-aluno, uma vez que é algo estranho e contraditório o fato

de os profissionais da área de educação explicarem o sucesso escolar como

produto da ação pedagógica, e o fracasso, o seu contrário, como produto de

outras instâncias. Ou seja, se entendermos o fracasso escolar como efeito de

algum problema individual e anterior do aluno estaremos nos isentando, em

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certa medida, da responsabilidade sobre nossa ação profissional, o que não

devemos fazer, pois se há fracasso, o fracasso é de todos; e o mesmo com

relação ao sucesso escolar (Aquino, 1998; Lück, 2008). A partir do exposto, é

válido que nos indaguemos acerca do que estamos fazendo para alterar esse

quadro de fracasso. Precisamos, então, reinventar os métodos, reinventar os

conteúdos em certa medida, reinventar nossa relação com nossos alunos, de

modo que possamos, enfim, preservar o escopo ético do trabalho pedagógico.

Não podemos nos isentar de nossas responsabilidades com aqueles que são

colocados sob nossos cuidados. Precisamos considerar nosso ofício como um

campo privilegiado de aprendizagem, de investigação de novas possibilidades

de atuação profissional. Enfim, devemos fazer de nossa sala de aula um

laboratório pedagógico no qual procuraremos adequar o que temos a oferecer

frente às possibilidades de nossos alunos.

Como, de acordo com Lück (2008), a chave do êxito na educação reside

nas pessoas, mudanças curriculares, inovação de métodos e técnicas de

ensino ou do próprio currículo não tornarão por si só o processo ensino-

aprendizagem repentinamente eficaz. Se este tiver que ser melhorado, terá que

ser a partir de nós, professores, do desenvolvimento de nossas atitudes,

habilidades e conhecimentos a respeito das mudanças e inovações

necessárias, pois somente se poderá afirmar que a educação melhorou a partir

do momento em que houver melhora na sala de aula, isto é, na maneira como

se desenvolve o processo ensino-aprendizagem. E o desempenho do professor

em termos de seus conhecimentos, atitudes e habilidades com relação ao

processo ensino-aprendizagem é o cerne da melhoria da qualidade da

educação, muito mais do que a melhoria de prédios, de materiais de ensino, de

métodos e de programas. Nesse sentido, o aprimoramento do processo ensino-

aprendizagem não depende tanto de diretrizes preestabelecidas, de planos

prontos (muitas vezes pouco aceitos pelos professores) ou de conselhos, mas

sim do relacionamento professor-aluno. E é o potencial do professor,

canalizado para o processo ensino-aprendizagem, que fará diferença nesse

processo; da qualidade do relacionamento interpessoal professor-aluno, de

responsabilidade do primeiro, dependerá, entre outras coisas, o equilíbrio

emocional do aluno na sala de aula e na escola. Portanto, não podemos

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conceber a eficiência de uma ação para sanar as dificuldades dos alunos em

sala de aula sem a participação do professor, pois a mudança no

comportamento do educando e o seu desenvolvimento ocorrem mais fácil e

rapidamente quando acompanhados ou precedidos de mudança no

comportamento do adulto com quem ele mantem relacionamento significativo.

Desse modo, o desenvolvimento de habilidades de relacionamento interpessoal

e comunicação serão fundamentais à melhoria do processo educativo e sua

integração (Alarcão, 1996; 2010; Alonso, 2003; Cunha, 2006; Lück, 2008;

Simka, 2010).

Contudo, os cursos de formação de professores vêm enfatizando mais

os aspectos de conhecimento de áreas ou conteúdos específicos e os

conhecimentos de prática e procedimentos básicos em seu currículo, enquanto

outros aspectos vitais para a promoção de uma educação integral e

humanizada estão sendo colocados em segundo plano (Covey, 1989;

Nascimento, 1996; Lück, 2008). Desse modo, o conhecimento dos processos

de desenvolvimento humano e de aprendizagem, a compreensão das

influências do ambiente sócio-econômico-cultural sobre o educando, a

compreensão de suas diferenças individuais e a sensibilidade para lidar com as

mesmas, as habilidades para manter um relacionamento humano eficaz, para

comunicar-se clara e eficazmente, para resolver os problemas de sala de aula,

bem como as habilidades de motivar os alunos e de selecionar e desenvolver

formas de desempenho adequadas ao processo de ensino, de trabalhar

cooperativamente, além do interesse em trabalhar com crianças e em função

de suas necessidades seriam aspectos mais importantes que os reforçados

nos cursos e treinamentos, pois nenhum sistema educacional será melhor que

a qualidade e habilidade de seus professores. E a promoção de

desenvolvimento do educando não será integral, mas desarticulada, na medida

em que deixar de considerar qualquer um desses aspectos. Seu desempenho

e desenvolvimento dependem e estão relacionados aos aspectos cognitivo,

afetivo e psicomotor, interdependentes e interinfluentes em todas e quaisquer

circunstâncias. Cognição, afetividade e psicomotricidade estão presentes em

toda situação de desempenho e desenvolvimento. Portanto, toda atenção deve

ser dada ao desenvolvimento de atitudes, habilidades e conhecimentos do

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professor para que este possa promover um processo educativo relevante,

uma vez que são suas atitudes, práticas e desempenhos os responsáveis por

promover um impacto significativo no educando, influenciando na imagem que

os educandos formam da escola, no processo educativo em geral, na imagem

de si mesmos, e, é claro, em aspectos particulares de sua aprendizagem

(Alarcão, 1996; Libâneo, 2002; Lück, 2008; Fontoura, 2010; Mafra, 2010;

Palomares, 2010; Simka, 2010). Portanto, qualquer ação educativa que

pretenda ser mais que um esforço isolado necessita de uma visão global do

desenvolvimento pretendido com relação ao educando, e nesse sentido, faz-se

necessária a criação de instâncias de reflexão crítica da prática docente

através de uma proposta de formação continuada que tenha como enfoque

principal a relevância da comunicação e das relações humanas no âmbito da

escola para que seja reforçada a importância do vínculo afetivo professor-aluno

como um estopim para o retorno de uma escola que cumpre verdadeiramente

seu papel de oferecer uma aprendizagem completa.

2.2 - O papel do Supervisor Escolar como

incentivador/motivador de uma reflexão sobre a prática

docente

A concepção de que um projeto de formação de professores não pode

visar unicamente à aquisição de conhecimentos, mas também ao

desenvolvimento do professor quanto ao conhecimento de si próprio e da

realidade, implica necessariamente numa ação prolongada, baseada numa

reflexão contínua e coletiva sobre as questões que atingem o trabalho

pedagógico. A definição dos conteúdos desta formação precisa estar

comprometida com a realidade em que se trabalha, pois esta não é uma

formação em abstrato, mas uma formação para a ação e para uma intervenção

educativa mais eficaz na escola e na sala de aula. Nesta perspectiva cabe

destacar a importância da escola como espaço privilegiado, onde a integração

das diversas dimensões do perfil do professor se verifica e onde a inovação e a

mudança se processam, sendo, portanto, este espaço, contexto do trabalho

docente, o lugar onde se torna possível a reflexão sobre a prática real, a

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discussão, a troca, a busca de soluções para os problemas do cotidiano, que

irão se constituir num importante instrumento de formação de professores.

Segundo Nascimento (1996), a prática reflexiva deve estar presente em

diferentes estágios da formação e prática profissionais. Desse modo, uma

proposta de formação de professores centrada na escola e nas práticas destes

profissionais pode proporcionar uma prática de reflexão contínua sobre o

trabalho docente, na busca de possíveis soluções para os problemas reais do

cotidiano escolar, além de constituir-se num importante instrumento de

atualização dos professores através da socialização de experiências bem

sucedidas que são submetidas ao grupo (Alarcão, 1996; 2010; Nascimento,

1996; Libâneo, 2002; Saviani, 2003; Mafra, 2010; Reis, 2010; Simka, 2010).

Uma das tarefas mais importantes na vida do professor é refletir sobre sua

prática, sobre nossa atuação como professores, para que possamos voltar

nosso olhar ao trabalho realizado de modo que possamos aprimorá-lo e

compartilhá-lo com os colegas. Nesse sentido, é crucial que o Supervisor

Escolar preste ao professor uma assistência sistemática, no sentido de

melhoria contínua do seu desempenho através do desenvolvimento de novos

conhecimentos, habilidades e atitudes no professor, a fim de que a sua atuação

junto ao aluno torne-se gradativamente mais eficaz.

Mas, para que isso se converta em realidade faz-se necessário que a

Supervisão Escolar se revista de sua nova dimensão, mais dinâmica e com

maior potencial de eficácia a longo prazo, assumindo as funções relativas ao

treinamento/qualificação de professores, nas mais variadas formas, à

observação e feedback ao seu desempenho, à realização de entrevistas de

ajuda, tanto individualmente como em grupos, à realização de reuniões etc.

Neste contexto, a eficácia da ação do Supervisor Escolar torna-se, pois,

diretamente ligada à sua habilidade em promover mudanças de

comportamento no professor, isto é, na aquisição de novas habilidades ou

reforço de outras já existentes; no desenvolvimento de novas perspectivas,

ideias, opiniões e atitudes por parte dos colegas docentes (Silva Junior, 1984;

Covey, 1989; Medina, 1995; Ronca, 1998; Libâneo, 2002; Alonso, 2003;

Saviani, 2003; Alarcão 2004; Cunha, 2006; Lück, 2000; 2008; Fontoura, 2010;

Kauark, 2011). Uma vez que o clima emocional de trabalho, o estabelecimento

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de prioridades de ação, o tipo de relacionamento professores-professores,

professores-alunos, escola-comunidade, dentre outros aspectos importantes da

vida escolar dependem, sobremaneira, da atuação daquele profissional,

convertendo a Supervisão Escolar em uma área de atuação decisiva para o

processo educativo, tendo em vista sua posição de influência e liderança sobre

todas as atividades desenvolvidas na escola (Anjos, 1988; Covey, 1989;

Santos, 2007; Lück, 2008).

A partir do exposto, pode-se concluir que o papel do Supervisor Escolar

constitui-se, em última análise, numa somatória de esforços e ações

desencadeados, com o sentido de promover a melhoria do processo ensino-

aprendizagem. Porém, no passado, esses esforços limitavam-se apenas à

melhoria dos materiais didáticos, dos métodos, técnicas e procedimentos de

ensino; dos programas curriculares, do processo de avaliação dos alunos, da

descrição de objetivos educacionais, do processo de recuperação discente etc

(Lück, 2008). Em resumo, embora assumindo uma ação voltada ao professor,

nem sempre a ação do Supervisor Escolar preocupou-se com a melhoria do

seu desempenho. A preocupação pela melhoria do processo ensino-

aprendizagem traduzia-se no esforço de analisar algum aspecto desse

processo, organizá-lo, inová-lo, realimentá-lo e entregá-lo ao professor para

que o mesmo o aplicasse.

A Supervisão Escolar ainda guarda a função precípua de auxiliar os

professores a se desenvolverem como profissionais e melhor desempenharem

o seu papel, uma vez que sua linha de atuação foi estabelecida como de

assistência ao professor, já em suas bases. Porém, o Supervisor Escolar da

atualidade assume o papel de assistência ao professor no sentido de que o

mesmo possa desenvolver uma ação educativa integrada, pela consideração

aos aspectos afetivos do educando, juntamente com os cognitivos e

psicomotores e pela promoção do desenvolvimento desses três aspectos; e,

ainda para que o professor possa entender e atender às necessidades dos

educandos, mediante análise da dinâmica do relacionamento interpessoal de

sua turma, através da observação objetiva de comportamentos e reações.

Desse modo, o exercício da Supervisão Escolar passou a se constituir em um

meio cujo objetivo é garantir a melhoria do processo educativo. O que contribui

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para que sua assistência e apoio ao professor, no sentido de que o mesmo

esteja cada vez melhor preparado ao desempenho de suas funções, sejam de

vital importância, a fim de proporcionar aos professores condições para que

aprimorem cada vez mais seu desempenho de modo a tornar todo o currículo

escolar mais significativo. Para tanto, a Supervisão Educacional possui a

missão significativa de motivar, intermediar, planejar, supervisionar e orientar

todas as pessoas e funcionários que estão sob sua supervisão e ainda

providenciar treinamento/qualificação para que esses possam atualizar seu

conhecimento melhorando seu trabalho, seja em sala de aula ou nos demais

setores que formam a organização escolar (Nerici, 1974; Silva Junior, 1984;

Medina, 1995; Fernandes, 1997; Rangel, 1997; Ronca, 1998; Alonso, 2003;

Saviani, 2003; Alarcão, 2004; Cunha, 2006; Santos, 2007).

No que tange ao caráter motivacional e de liderança do Supervisor, este

deve apresentar-se como um profissional que coordena um trabalho coletivo,

que viabiliza o planejamento, a formação continuada, e a investigação acerca

da prática pedagógica. Constituindo-se, portanto, em uma espécie de líder

educacional. Aquele que é competente, com conhecimento teórico, encoraja,

oferece feedback, motiva, assume riscos, dissipa os conflitos desnecessários,

faz contato olho a olho, ouve a todos igualmente, é flexível, enfim, comunica-se

estabelecendo, assim, orientação pedagógica e estímulo à competência

técnica (Anjos, 1988; Freitas, 2003; Saviani, 2003; Hunter, 2004; Gardner,

2005; Santos, 2007; Kauark, 2011). Estabelecendo uma mudança de

paradigma no que diz respeito a sua atuação

“(...) uma vez que a supervisão perde o seu caráter normativo, prescritivo,

para tornar-se uma ação crítico-reflexiva junto ao professor. O papel do

supervisor ganha novas dimensões, passando de controlador e direcionador

para estimulador e sustentador do trabalho docente” (ALONSO, 2003, p.178).

Fazendo com que se torne cada vez mais clara a necessidade de o educador

rever sua postura, sua visão, sua fala, sua relação com o aluno, beneficiando

todo o processo, não só do ‘ensinar’, mas também, e, principalmente, o

caminho do ‘aprender’. Para tanto, urge que os Supervisores estejam

preparados para auxiliarem na formação continuada dos professores em

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serviço para que estes desenvolvam a reflexão crítica, a análise fundamentada

e possam melhorar o trabalho pedagógico, realmente comprometido com o

ensino. Nesse sentido, é necessário que os professores estejam dispostos a

adaptar-se, avaliar-se e reavaliar-se em suas atitudes constantemente, além de

buscar soluções para problemas inesperados, e a figura do Supervisor, como

líder, é fator determinante para que se obtenha sucesso nesse novo panorama,

de modo que sua atuação possa contribuir para o crescimento profissional dos

professores e para a qualificação do trabalho pedagógico desenvolvido na

escola. Uma vez que, segundo Ronca (1995), nenhum educador cresce se não

refletir sobre seu desempenho enquanto profissional (Alarcão, 1996; 2010;

Nascimento, 1996; Fernandes, 1997; Ronca, 1998; Libâneo, 2002; Cunha,

2006; Santos, 2007).

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CAPÍTULO 3:

UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA SOB A

LIDERANÇA DO SUPERVISOR ESCOLAR

O capítulo que ora se inicia aborda a relevância da comunicação e das

relações humanas para uma retomada do vínculo afetivo entre professor e

aluno, através de uma proposta de formação continuada que contemple a

dimensão afetiva da educação sem se deixar levar apenas pelos conteúdos

abordados nas propostas curriculares.

3.1 - A relevância da comunicação e das relações humanas no

âmbito da escola para uma aprendizagem completa

A supervisão educacional vem desenvolvendo um trabalho fundamental

na vida do educando pelo processo de humanização ao coordenar e orientar

todos os esforços no sentido de que a escola, como um todo, produza os

melhores resultados possíveis no que tange às necessidades dos alunos e do

seu desenvolvimento. Nesse sentido, cabe ao Supervisor dinamizar o processo

educativo, levando-o a uma constante renovação, através da melhoria do

processo de relacionamento interpessoal, como função educativa e como meio

para a resolução de problemas. Desse modo, a assistência e o apoio de

profissionais preparadas em diversas áreas da educação, como o Supervisor

Escolar, constitui-se em uma necessidade evidente em nossa escola, a fim de

proporcionar aos professores condições para que aprimorem cada vez mais

seu desempenho e competência e, assim, tornem todo o currículo escolar mais

significativo (Lück, 2008).

Nesta perspectiva, a liderança educacional coloca-se como um desafio à

ação Supervisora, que além de dar conta das questões burocráticas e legais,

precisa contribuir para a formação dos professores, devendo o Supervisor ser

um agente transformador e flexível na busca pelo conhecimento e no

relacionamento com as pessoas que fazem parte do ambiente escolar. Para

tanto, o Supervisor faz a transposição da teoria para a prática escolar, reflete

sobre o trabalho em sala de aula, estuda e usa as teorias para fundamentar o

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fazer e o pensar dos docentes, necessitando para isso apresentar em seu perfil

as seguintes características: auxiliador, orientador, dinâmico, acessível,

eficiente, capaz, produtivo, apoiador, inovador, integrador, cooperativo,

facilitador, criativo, interessado, colaborador, seguro, incentivador, atencioso,

atualizado em relação ao conhecimento, para que seja capaz de criar os laços

necessários para o desenvolvimento do trabalho pedagógico e estabelecer

uma relação com os demais envolvidos no processo educacional construída

com base na confiança, na lealdade, na parceria, e que resulte numa liderança

que respeita, contribui, incita, desafia e divide as glórias alcançadas. Assim

sendo, quando pensamos nas inúmeras tarefas da Educação, destaca-se a

necessidade de primar por uma educação voltada para as práticas

humanizadoras. A sala de aula exige, sobretudo, aguda sensibilidade humana

por parte dos docentes para lidar com as diversas questões que se colocam

em seu interior: arena de combates para alguns; lugar de recreação para

outros; local onde se exercita o aprendizado e se constroem conhecimentos

para poucos. Passarela de exibição para os da moda; sala de bate-papo para

os adeptos e os incovenientes; ambiente enigmático para tantos e, é claro, o

nosso local de trabalho cotidiano. Espaço multifacetado para todos nós que, na

sala de aula, encontramos algum sentido acadêmico de existência. Há na sala

de aula um misto de enigma, desafio, hierarquia, relacionamento e disciplina

que a torna um dos espaços humanos mais marcantes no imaginário e na

lembrança de todos que um dia a frequentaram (Fontoura, 2010; Meneghetti,

2010).

Urge, portanto, que a sala de aula saia de dentro da sala para dialogar

com o mundo, com as ideias e com as pessoas e que se humanize

definitivamente. Cabe ao professor parar por alguns instantes o seu fazer diário

para refletir acerca da poderosa influência que exerce sobre seus alunos, para

tomar consciência de seu poder, a fim de pensar de que maneira está

desempenhando seu papel como educador no cotidiano das centenas de

mentes colocadas sob a sua responsabilidade. Ao parar para pensar sobre seu

desempenho, o professor deve, em especial, indagar como tem se relacionado

com os alunos, como os tem tratado, o que tem dito a eles, enfim, qual tem

sido a sua postura, de modo que a interação edifique um momento especial,

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único, singular, e a aprendizagem se torne significativa, humanizadora. É

necessário que se resgate a empatia no relacionamento professor-aluno. Mais

ainda, é necessário perceber no aluno que possui problemas de

comportamento, seus pontos positivos e trabalhá-los, compreender seus

sentimentos e, finalmente, que sua maneira de agir se faz em função desses

sentimentos. Assim sendo, os professores que procurarem a empatia terão a

colaboração desse tipo de aluno e, com empenho, conseguirão até recuperar

sua autoestima e o farão produzir, pois não podemos nos esquecer de que o

aluno deve ser visto como o fim precípuo da educação. Para ele existe a escola

e, portanto, para a promoção do seu desenvolvimento devem convergir, direta

ou indiretamente, todas as ações. Além disso, o aluno é um ser em

desenvolvimento, desenvolvimento esse que se processa e é facilitado em

etapas. Portanto, qualquer ação educativa necessita ter uma visão global do

desenvolvimento pretendido com relação ao educando, tanto do ponto de vista

cognitivo e psicomotor quanto do afetivo (Lück, 2008; Fontoura, 2010;

Meneghetti, 2010; Simka, 2010).

Porém, não basta falar numa pedagogia voltada ao amor e que não

carregue consigo a competência e a formação. Para isso o amor é necessário,

mas ele não basta. Tem de carregar consigo a competência e a formação,

porque, do contrário, esta pedagogia ficará apenas no plano das intenções.

Precisamos ser capazes de dizer “não” ao que parece não ter alternativa, ser

capazes de recusar o que parece não ter saída, pois se são três os caminhos

para o sucesso: ensinar o que se sabe, praticar o que se ensina e perguntar o

que se ignora, então que passemos a ensinar e praticar o amor, e perguntemos

o que ignoramos ou fingimos muitas vezes ignorar: Que tipo de tratamento

dispensaríamos a nós mesmos? Por certo não caberiam o orgulho, o

desestímulo, o ar zombeteiro, o deixa pra depois, a arrogância, a ostentação.

Por que então a relação entre professor e aluno constitui momentos para

externar aquilo que não somos para nós? É urgente que nós, professores,

tenhamos um discurso humanizador, que guarde simetria com nossa prática, e

que nossas atitudes venham impregnadas de amor pelo próximo (Freire, 1996;

Cury, 2003; Cortella, 2008; Mafra, 2010; Palomares, 2010; Reis, 2010; Simka,

2010).

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Portanto, se as propostas de formação de professores, muitas vezes,

não contemplam essa dimensão afetiva da educação, preocupando-se

excessivamente com os conteúdos abordados nas propostas curriculares, é

nosso dever, enquanto Supervisores, exigir que sejam repensadas, nesse novo

tempo do conhecimento, as práticas educativas, os valores culturais e os

relacionamentos nos espaços escolares, porque esse modelo de educação de

natureza autoritária e conteudística não atende às necessidades do contexto

atual.

3.2 - A importância da retomada do vínculo afetivo professor-

aluno/aluno-professor como estopim para o retorno de uma

escola que cumpre verdadeiramente o seu papel

A motivação das pessoas depende da intensidade dos seus motivos. Os

motivos podem ser definidos como necessidades, desejos ou impulsos vindos

do indivíduo e dirigidos para objetivos, que podem ser conscientes ou

subconscientes. Os motivos são os porquês do comportamento. Provocam e

mantêm as atividades e determinam a orientação geral do comportamento das

pessoas. Resumindo, os motivos ou necessidades são as molas propulsoras

da ação. Nosso comportamento geralmente é motivado pelo desejo de

alcançar algum objetivo. Nem sempre as pessoas têm consciência dos seus

objetivos. Todos nós por vezes nos perguntamos: Por que fiz isso? Nossa

mente nem sempre vê conscientemente a razão das nossas ações. Nesse

sentido, as diferenças de motivação e de afetividade, por parte do professor,

podem justificar as alterações de desempenho discente, da mesma forma que

todos os modos de relacionamento ou de interação, no ambiente escolar,

determinam comportamentos. Se o professor assume postura fria, distante ou

excessivamente autoritária, é comum que gere ansiedade, sentimento de

incompetência, insegurança e baixa autoestima; se, ao contrário, mostra-se

motivador e colaborativo, é comum que seus alunos sejam seguros, criativos e

tenham plenas condições de desenvolverem ao máximo as suas

potencialidades. Isso explica por que, em um mesmo contexto escolar pode

haver resultados tão diferentes na aprendizagem (Freitas, 2003; Lück, 2008;

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Mafra, 2010; Kauark, 2011). Não há como padronizar comportamentos, pois

cada ser é singular, único. Nós, professores, devemos enxergar o aluno como

um ser humano magnífico, e que está sob nossos cuidados. A dimensão

humana da sala de aula é a chave para todas as dificuldades encontradas nos

dias atuais. A indisciplina, o desinteresse e a apatia dos alunos, e por que não

dizer também dos professores, são um sintoma de um modelo de educação

capenga. São um pedido de socorro que provam que mais importante que

passar conteúdos é humanizar, resgatar valores, retirar as emoções das

gavetas, pois educar é um ato de amor irrestrito que exige o equilíbrio entre a

firmeza e a ternura. Temos de buscar a medida certa (Freire, 1996; Cury, 2003;

Correia, 2010; Fontoura, 2010; Reis, 2010).

Na educação, os maiores pecados são a incoerência, o desprezo pelo

sentir, pelo intuir e pelo se relacionar. Nós, docentes, devemos rever nossas

práticas, principalmente, no momento dos Conselhos de Classe, onde

rotulamos nossos alunos e os reduzimos, muitas vezes, ao status de “coisas”

com as quais não sabemos lidar. Os rótulos nos paralisam e nos impedem de

olhar o mundo com novos olhares. A escola deve estar atenta a toda forma de

tratamento desumano. O professor tem de lembrar-se de que está lidando com

pessoas, como ele próprio. Satisfazer com rótulos retira a oportunidade de

entender questões que nos escapam em um primeiro olhar, mas, quando nos

debruçamos sobre elas, representam possibilidades de mudanças. Mesmo os

alunos considerados indisciplinados são gente e possuem muitas qualidades.

É necessário que mudemos nossa postura profissional, precisamos ouvir

os alunos, em aula ou em conversa particular, considerando o que eles têm a

dizer; cumprimentá-los com carinho; interessar-nos por suas vidas, por seus

problemas; valorizar o que eles têm de bom (Correia, 2010; Palomares, 2010).

Ver o aluno como ser humano, sentado ali, à sua frente, parece-me ser a chave

para um bom relacionamento com ele. Precisamos resgatar a importância da

dimensão humana e afetiva na educação do século XXI, pois não existe

educação eficaz que não se paute na dimensão relacional e afetiva. Paulo

Freire afirmou que “ensinar exige querer bem aos educandos” (Freire, 1996; p.

141). Há que se entender que querer bem é sinônimo de respeitar as limitações

e as diferenças, de comprometer-se e de não ser licencioso em suas ações

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pedagógicas. Faz-se necessário exigir das pessoas uma visão mais

humanizadora e menos burocrática, mais comprometedora e menos

dogmática, do fazer pedagógico e de suas consequências para além da sala de

aula. Todo professor deveria, ao menos, experimentar o tratamento humano

para verificar, facilmente, que os alunos reagem de modo sempre positivo

(Freire, 1996; Fontoura, 2010; Mafra, 2010).

O futuro das próximas gerações depende muito do presente da

educação. O que estamos fazendo trará seus implacáveis reflexos em um

futuro bem próximo. Precisamos rever o que estamos fazendo com a educação

no mundo da educação. Estamos em face de um novo desafio: o de

resgatarmos, na relação entre professor e aluno, aquilo que pode apontar para

a tarefa didático-pedagógica como um empreendimento que não diz respeito

apenas ao “eu”, mas, sobretudo, ao “nós” (Correia, 2010; Fontoura, 2010).

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38

CONCLUSÃO

A importância do Supervisor Educacional, enquanto liderança, no

processo de formação continuada dos docentes, através da criação de uma

instância de reflexão crítica acerca de sua prática, para que estes se preparem

melhor para lidar com as pessoas e seus problemas, fazendo, assim, com que

os Conselhos de Classe deixem de se prestar a função de análise, caso a

caso, dos alunos, determinando seu sucesso ou fracasso escolar, constituiu o

foco central desta pesquisa. Nesse sentido, o trabalho procurou demonstrar

que a partir da motivação/liderança exercida pelo Supervisor Educacional é

possível se criar uma instância de reflexão crítica acerca da prática docente,

através de sua formação continuada, para que a escola possa, realmente,

atender às necessidades de seu principal integrante: o aluno, no que tange ao

seu sucesso escolar. E que a partir daí é possível que os Conselhos de Classe

cumpram a função de avaliar o processo ensino-aprendizagem. Além de refletir

sobre os Conselhos de Classe e a prática recorrente, por parte dos

professores, de julgar os alunos através de conceitos subjetivos que acabam

determinando o sucesso ou fracasso escolar destes a partir de diagnósticos

fornecidos por profissionais não qualificados para tanto, devido ao despreparo

dos docentes para lidar com situações que fujam a uma “normalidade” pré-

concebida. Demonstrando ainda que o encaminhamento para tratamento

psicológico de um certo tipo de aluno “anormal” e que acaba por tornar-se

decisivo e essencial para que haja um bom desempenho escolar na medida em

que os ajudaria a acatar a disciplina escolar bem como as regras de

comportamento em sala de aula, nada mais é do que fruto do despreparo

técnico dos docentes para entender a importância das relações humanas no

âmbito da escola, uma vez que o vínculo afetivo, o comprometimento existente

entre os sujeitos que ensinam e aprendem, é o que possibilita a aprendizagem

(FREIRE, 1996).

Desse modo, o estudo se pautou no âmbito dos Conselhos de Classe de

modo a mostrar que os mesmos não têm cumprido sua missão de avaliar o

processo de aprendizagem, na medida que são utilizados como fórum de

debates acerca dos alunos e não das práticas docentes. Enfocando ainda a

importância e necessidade da formação continuada no âmbito das relações

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humanas. A monografia procurou demonstrar ainda que através da motivação

e da criação de instâncias de reflexão crítica da prática docente é possível ao

Supervisor Educacional influenciar os demais membros da escola,

principalmente os professores, a adaptar, avaliar e reavaliar suas atitudes

constantemente com o objetivo de buscar soluções para os problemas

inesperados, que são rotina no ambiente escolar, fazendo-os lembrar de que

alunos são pessoas cujos sentimentos e necessidades não podem e não

devem ser ignoradas através de uma postura distante, a qual chega à beira da

agressividade, inclusive referindo-se aos alunos com expressões e/ou atitudes

pejorativas apenas porque os professores encontram-se frente a uma

complexa situação pedagógica com a qual não estão conseguindo lidar.

Nestas condições, a pesquisa conclui que a dimensão humana da

sala de aula é a chave para todas as dificuldades encontradas nos dias atuais.

Que a indisciplina, o desinteresse e a apatia dos alunos, e por que não dizer

também dos professores, são um sintoma de um modelo de educação

capenga. São um pedido de socorro que prova que mais importante que passar

conteúdos é humanizar, resgatar valores. Sendo, portanto, fundamental que

mudemos nossa postura profissional no sentido de resgatar a importância da

dimensão humana e afetiva na educação do século XXI, pois não existe

educação eficaz que não se paute na dimensão relacional e afetiva. Desse

modo, se as propostas de formação de professores, muitas vezes, não

contemplam essa dimensão afetiva da educação, preocupando-se

excessivamente com os conteúdos abordados nas propostas curriculares, é

nosso dever, enquanto Supervisores, exigir que sejam repensadas, nesse novo

tempo do conhecimento, as práticas educativas, os valores culturais e os

relacionamentos nos espaços escolares, através de uma proposta de formação

continuada que contemple a dimensão afetiva da educação sem se deixar levar

apenas pelos conteúdos abordados nas propostas curriculares, pois a

educação não pode mais ser pensada como uma prática unilateral de

conhecimento, uma vez que esse modelo de educação, de natureza autoritária

e conteudística não atende às necessidades do contexto atual.

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ÍNDICE

Folha de Rosto 2 Agradecimentos 3 Dedicatória 6 Resumo 7 Metodologia 8 Sumário 10 Introdução 11 Capítulo 1 - Os Conselhos de Classe e sua importância para a avaliação da prática docente: função e dinâmicas efetivas 15 1.1 – O papel da escola e do professor no processo ensino-aprendizagem 15 1.2 - A função primordial dos Conselhos de Classe: avaliar o processo ensino-aprendizagem 17 1.3 – Os Conselhos de Classe e a rotulação/estigmatização dos alunos 20 Capítulo 2 - A necessidade da criação de instâncias de reflexão crítica da prática docente 23 2.1 – O despreparo dos professores frente as diversas realidades encontradas em sala de aula 23 2.2 – O papel do Supervisor Escolar como incentivador/motivador de uma reflexão sobre a prática docente Capítulo 3 – Uma proposta de formação continuada sob a liderança do Supervisor Escolar 32 3.1 - A relevância da comunicação e das relações humanas no âmbito da escola para uma aprendizagem completa 32 3.2 - A importância da retomada do vínculo afetivo professor-aluno/aluno-professor como estopim para o retorno de uma escola que cumpre verdadeiramente o seu papel 35 Conclusão 38 Bibliografia 40 Índice 46