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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O MERCADO DE DERIVATIVOS Por: Hélio Regueira Gondim Neto Orientador: Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O MERCADO DE DERIVATIVOS

Por: Hélio Regueira Gondim Neto

Orientador:

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O MERCADO DE DERIVATIVOS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Finanças e

Gestão Corporativa.

Por: Hélio Regueira Gondim Neto

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Instituto A Vez do Mestre

pela possibilidade de realizar este

trabalho. Aos mestres que durante

essa trajetória acadêmica ofereceram

ensinamentos fundamentais e

partilharam um pouco de suas

experiências de vida. Em especial, ao

orientador Vilson Sérgio de Carvalho

pelo apoio e conhecimento transmitido

na elaboração deste projeto.

4

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho ao meu avô, Jacinto

Nunes, grande incentivador, que com toda

a certeza acompanha meus passos e

vibra com cada vitória que conquisto em

minha vida.

5

RESUMO

Este estudo é apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de Pós Graduação em Finanças e Gestão Corporativa do Instituto A Vez do Mestre da Universidade Candido Mendes. O trabalho tem como tema O Mercado de Derivativos e suas aplicações no cenário econômico mundial. Seu conteúdo apresenta o Mercado de Derivativos como instrumento auxiliar a gestão de risco, além da possibilidade de ser utilizado apenas com caráter especulativo. Os participantes desse mercado são diferenciados pelo objetivo para o qual operam. O hadger e o especulador são os principais participantes que buscam reduzir seu risco e obter ganhos financeiros, respectivamente. Os contratos de Derivativos são as ferramentas utilizadas por esses agentes para operar nesse mercado. A BM&F é o local específico onde esses contratos, em sua maioria, são negociados e oferece infra-estrutura moderna e adequada para a realização dessas transações. O objetivo do estudo é demostrar como pode ser vantajoso operar nesse mercado, tanto para os agentes que buscam proteção contra algum tipo de risco, quanto para outros que tem interesse apenas em ganhos especulativos.

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada na construção da Monografia foi baseada na leitura de

livros, revistas, artigos, sites e outras fontes de informação relacionadas com o

tema central do estudo. Após a etapa de leitura e compreensão do conteúdo,

foram selecionados, de forma lógica e ordenada, os tópicos que deram

seqüência a estrutura do trabalho. Com a estrutura já idealizada, o passo

seguinte foi o desenvolvimento de cada tópico a partir da análise da bibliografia

utilizada.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................................................08

CAPÍTULO I – Base conceitual.....................................................10

1.1 – Breve histórico......................................10

1.2 – Conceito.................................................12

CAPÍTULO II – Participantes do Mercado......................................16

2.1 – Hadger...................................................16

2.2 – Especulador...........................................18

2.3 – Arbitrador...............................................19

CAPÍTULO III – Tipos de Derivativos.............................................20

3.1 – Contrato a termo....................................20

3.2 – Contrato futuro.......................................22

3.3 – Swap......................................................22

3.4 – Opções...................................................23

CAPÍTULO IV – A BOLSA..............................................................25

CAPÍTULO V – Risco X Retorno....................................................30

CONCLUSÃO.................................................................................34

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA....................................................36

8

INTRODUÇÃO

O Mercado de Derivativos é um segmento do Mercado Financeiro que vem

crescendo num ritmo muito acelerado e que tem sido o destino de uma

quantidade de recursos bastante significativa. O objetivo é introduzir o assunto

de maneira bem ampla, possibilitando ao leitor conhecer os principais pontos

que norteiam o assunto.

O trabalho está dividido em quatro capítulos:

O capítulo I traz um breve histórico do Mercado de Derivativos, mostrando suas

origens e os fatos que motivaram a sua existência, além de exemplos práticos

e casos reais que demonstram como nasceram esses instrumentos financeiros.

Em seguida, conceitua-se o Mercado de Derivativos, trazendo uma idéia mais

atual do que é, na prática, esse mercado.

O capítulo II apresenta os principais participantes do Mercado de Derivativos e

suas características mais marcantes. Ficam evidentes as diferenças quanto

aos objetivos perseguidos por esses agentes, e como essas diferenças os

dividem em grupos distintos.

O capítulo III aborda, de forma bastante objetiva, os principais tipos de

contratos de derivativos negociados no mercado e suas principais

características. Em alguns casos, são feitas comparações entre esses tipos de

contratos, para mostrar suas vantagens e desvantagens, além de esclarecer

em quais situações cada um deles poderá ser mais apropriado.

No capítulo IV, o trabalho trata basicamente da BM&F(Bolsa de Mercadorias e

Futuros), que é o grande centro de negociações desse mercado no Brasil. É

apresentado um histórico do surgimento das bolsas em todo o mundo e de

como elas se desenvolveram ao longo do tempo.

9

Já no Capítulo V, o enfoque principal é a relação risco X retorno de se operar

com Derivativos. É apresentada uma idéia mais ampla do que seja risco e a

quais tipos de risco estamos expostos. Em seguida, é apresentada uma

relação entre os riscos e o retorno proporcionado pelo uso dos Derivativos,

demonstrando o quanto interessante pode se tornar esse mercado.

10

CAPÍTULO I

BASE CONCEITUAL

1.1 – Breve Histórico

No fim do século XIX, no Japão, a commoditie arroz era praticamente uma

moeda corrente. A organização do comércio interno, baseada nesse produto,

era um caos total. Seus preços variavam muito de um estabelecimento para

outro, e não respeitavam uma lógica normal. Foi então, que um comerciante

local percebeu que poderia tirar proveito dessa desorganização. Ele

desenvolveu um sistema com bandeiras onde conseguia, simultaneamente,

comprar o produto a um preço baixo, e vender por um preço mais alto.(Silva

Neto, 2002)

O negócio foi gradativamente evoluindo e ganhando, ao mesmo tempo, força e

confiança por parte dos usuários. Em pouco tempo, todos conheciam tal

comerciante. Com o passar dos anos, pôde-se notar que as características das

negociações foram tomando uma nova forma. Ao invés de uma simples compra

e venda, onde uma parte faz o pagamento e a outra leva o produto no ato, os

negócios começaram a ser fechados sem que o produto estivesse fisicamente

no local. Eram compromissos formais de compra e venda onde uma parte se

comprometia a entregar determinada mercadoria no futuro, mediante a um

pagamento no ato, feito pela outra parte. Mais tarde, além das entregas no

futuro, também os pagamentos passaram a ser feitos no futuro, junto à entrega

do produto. Entretanto, nesses casos, o preço era fechado na época da

assinatura do contrato. Esses acordos garantiam, tanto a uma parte quanto à

outra, mais segurança nos negócios. Com a assinatura de um contrato como

esse, o risco de perda com mudanças bruscas nos preços do produto passa a

ser mínimo.(Silva Neto, 2002)

O estabelecimento desse comerciante passou a ser referência no Japão e

chamou tanta atenção que o estado se apropriou do sistema de bandeiras

11

criado por ele, justificando que tamanho poder não poderia ser administrado

por alguém que não o próprio estado.(Silva Neto, 2002)

Também na época das grandes navegações, contratos chamados To Arrive,

eram comuns de se encontrar. Eram contratos onde o navegador vendia as

especiarias que traria das colônias, antes mesmo de partir para buscá-las. Nos

EUA, também no final do século XIX, já se negociavam contratos de

Derivativos na Chicago Board of Trade, a primeira bolsa de Commodities do

mundo.(Silva Neto, 2002)

Muita polêmica gira em torno de quando efetivamente surgiram os primeiros

contratos de Derivativos. Alguns autores citam a China Antiga, com a

comercialização de Commodities básicas, como sendo a precursora dessa

prática. Outros autores afirmam que esses contratos começaram a ser

realizados na Idade Média, com a especialização do comércio. Já outros

acham que essas operações só surgiram na década de 70, com o

aparecimento dos Swaps. Na realidade, nenhum deles está errado. Em todos

esses casos, as operações que estavam sendo realizadas, eram pelo menos

em parte, operações com Derivativos. Era um início, em condições ainda

precárias e amadoras, do que conhecemos hoje como Derivativos.(Silva Neto,

2002)

Foram operações como estas, realizadas no decorrer da nossa história, que

deram origem aos contratos de hoje. Como podemos perceber os derivativos

não são simplesmente uma invenção moderna, contemporânea. Eles são fruto

da evolução dos tempos, do amadurecimento e do desenvolvimento das

relações comerciais e econômicas. Contudo, é importante não esquecer que

esse amadurecimento é contínuo, o que significa dizer que muito ainda está

por vir, em se tratando de Derivativos. É uma área relativamente nova e com

um potencial de crescimento enorme para se explorar.

Esses instrumentos surgiram inicialmente como facilitadores das relações

comerciais, mas que desde o início, destacaram-se como mecanismos

auxiliares a gestão de risco. Soma-se a esse primeiro objetivo, um outro, que é

12

a possibilidade de auferir ganhos financeiros com a simples exploração desse

mercado. É com base nesses direcionamentos que o Mercado de Derivativos

evolui e vem se destacando no cenário econômico como uma opção, quase

que obrigatória para alguns, e no mínimo, bastante proveitosa para

outros.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

1.2 - Conceito

Podemos citar como exemplo o caso de um industrial que produz café em pó

em larga escala. Obviamente, a sua principal matéria-prima é o café em grãos,

aquele que sai direto das plantações, é ensacado e vendido para mercado

interno e externo. Ocorre que esse industrial tem clientes fiéis, que compram

sua mercadoria em grandes quantidades e periodicamente. Portanto, tem

importantes contratos já fechados para entregar lotes de sua produção que

ainda nem começaram a ser produzidos. Alguns desses clientes utilizam seu

poder de barganha e exigem contratos longos com preço negociado para todos

os lotes no ato do fechamento do contrato.(Barbedo, 2005)

Vamos imaginar agora, esse mesmo industrial, um semestre depois. Ele ainda

tem o compromisso de entregar a mercadoria a seu cliente no preço e

quantidade acordados seis meses atrás. Naquela época, o preço de venda era

satisfatório a ambas as partes, o que possibilitava aos dois, obter os lucros

projetados na época da assinatura do contrato. Ocorre que nesse meio tempo

uma seca devastou parte da colheita do café, o que diminuiu a oferta do

produto e fez com que seu preço disparasse no mercado. O cliente do

industrial tem em mãos um contrato que diz que ele deve receber um

carregamento de café em pó, o que significa que o industrial vai ter que

comprar o café em grãos e transformá-lo em pó para cumprir com o acordado.

Ocorre que no nível que o preço do café em grãos está cotado hoje, o que o

industrial irá receber pela venda não cobriria nem os custos com a produção, e

consequentemente ele teria prejuízo.(Barbedo, 2005)

Contudo, sabendo do risco que corria quando fechou o contrato com seu

cliente, e levando em consideração a volatilidade do preço do café em grãos no

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mercado, o industrial, na ocasião que fechou sua venda, foi a mercado e

comprou a quantidade de café em grãos que precisava, para ser entregue na

data combinada e a um preço condizente com seus custos. Dessa forma, a

crise instalada em virtude da seca não afetou os seus negócios porque ele já

havia comprado antecipadamente o café, a um preço inferior ao negociado

hoje.(Barbedo, 2005)

O que o industrial fez, foi na verdade um contrato a termo, uma das espécies

de Derivativos e talvez a primeira a surgir. Como podemos notar, os derivativos

são instrumentos que surgiram como facilitadores das relações comerciais,

mas que desde aquela época, apresentavam-se como mecanismos auxiliares a

gestão de risco. Conceituar Derivativos não é uma tarefa fácil. Há muitas

definições sobre o que são Derivativos, mas talvez nenhuma delas seja

completa. É um conceito muito amplo e provavelmente qualquer definição que

se tente fazer iria deixar de contemplar alguma característica desses

instrumentos. Todavia, faremos uma tentativa.(Silva Neto, 2002; Barbedo,

2005)

Derivativo é um contrato bilateral de troca de resultado financeiro obtido

através da aplicação da variação do valor de índices ou projeções de preços,

em um determinado período de tempo e sobre um montante teórico inicial. Ele

não é um instrumento destinado à comercialização de produtos e serviços. Sua

utilização está mais voltada para a área de Gestão do Risco de Caixa, ou da

carteira de uma empresa. A possibilidade de mudanças nos preços dos ativos

é a motivação desse mercado.(Silva Neto, 2002)

Por exemplo, vamos supor que uma empresa tem no seu ativo, algumas contas

a receber para daqui a seis meses, em dólar, decorrentes de contratos de

venda da sua produção para um cliente no exterior. Acontece que o valor da

venda foi baseado na taxa de câmbio de hoje, ou seja, as contas foram feitas

tendo como base quanto vale em reais, um dólar americano, hoje. O risco que

essa empresa corre é de daqui a seis meses, quando for receber essa quantia

em dólares, perder dinheiro no momento da conversão desse valor em reais,

se o real se valorizar frente ao dólar. O contrato derivativo entra nesse contexto

14

da seguinte forma. A empresa vende a futuro, na data mais próxima do

vencimento, contratos de dólar no preço mais próximo possível do cotado hoje.

Assim, se acontecer algo como o acima citado, no momento em que receber os

dólares, a empresa já repassa a um outro agente do mercado, os dólares

recebidos com a menor perda possível no conjunto do resultado da operação.

O Derivativo acima é um contrato futuro de dólar, um tipo de derivativo muito

usado atualmente. O exemplo teve por objetivo dar uma noção superficial do

que é um derivativo e qual o sentido de se fazer uma operação como essa. É

claro que existem mais alguns tipos de contratos Derivativos e que eles

obviamente têm metodologias distintas, ou seja, o formato dela difere de um

tipo de operação para a outra. Porém, o que não muda de um tipo para outro

de Derivativo são os motivos que levam alguém a operar nesse mercado.

Apesar de ser um assunto um tanto complexo e denso, as motivações para a

entrada nesse mercado são as mesmas para todos. A primeira é a de realizar

lucros com a especulação dos preços de seus produtos, enquanto que a

segunda, e a mais importante, é a de atuar como instrumento auxiliar à gestão

do risco. Foram com esses objetivos que esse mercado foi construído e se

desenvolveu.(Barbedo, 2005)

Como o próprio nome já diz, os derivativos são contratos que dependem de

outro contrato ou ativo objeto para existirem. No exemplo acima, o contrato

futuro de dólar tem como ativo objeto o próprio dólar cotado no mercado à

vista. O preço do ativo no presente é a base para o cálculo do seu preço no

futuro. Atualmente, existem contratos derivativos cobrindo uma vasta gama de

ativos objetos, que vão desde commodities, como café e soja, até taxas de

juros, câmbio e índices. Sem a existência desses ativos objetos e as variações

de preços em torno deles, os contratos derivativos não teriam sentido de existir.

A razão de ser desses contratos é minimizar as perdas em virtude das

oscilações de preços dos seus ativos objetos. Como as expectativas de preços

para esses contratos, no futuro, são baseadas no preço ou cotação desses

ativos objetos no mercado a vista, caso um desses ativos deixe de existir, ou

simplesmente deixe de ser negociado livremente no mercado, ou seja, deixe de

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ter seu preço ditado ou formado pelo mercado, ele perde a razão de

ser.(Barbedo, 2005)

A gasolina, por exemplo. Nos EUA, ela é negociada no Mercado de

Derivativos. Lá, esse ativo é um ativo objeto desses contratos, porque seu

preço é formado pelo mercado. Já no Brasil, não faria sentido algum ter um

contrato derivativo de gasolina, tendo em vista que seu preço é definido pelo

governo e não pelo mercado. Sendo assim, não há risco ou volatilidade nos

preços desse ativo que justifiquem a existência de um contrato derivativo.(Silva

Neto, 2002)

Com a globalização do comércio e a dinâmica que acompanha essas relações,

esse tipo de instrumento passou a ser de vital importância para a sobrevivência

de uma grande quantidade de organizações. Isso sem falar nos outros agentes

econômicos, inclusive pessoas físicas, que vem fazendo uso desses

instrumentos objetivando principalmente o lucro. É um mercado que vem

ocupando seu espaço no cenário econômico, e que tem uma perspectiva de

crescimento muito grande, levando em consideração que esse mercado ainda

é relativamente pouco conhecido e explorado pelo mundo.

16

CAPÍTULO II

PARTICIPANTES DO MERCADO

Os participantes do mercado de Derivativos podem ser diferenciados

basicamente pela postura com que atuam no mercado e pelo objetivo fim

buscado ao operar com esses instrumentos financeiros. A estrutura de que

dispõem as normas e regulamentos a que são submetidos e os instrumentos

disponibilizados, são os mesmos para todos esses agentes. O que os

diferencia, no âmbito do mercado financeiro, e em especial no de Mercado de

Derivativos, é o porquê de cada um deles operar nesse mercado. A intenção e

o objetivo a que se propõe é o que divide esses participantes em alguns grupos

distintos.

2.1 - Hedger

Os hedgers são agentes do mercado que tem como objetivo básico a proteção.

Eles entram no Mercado de Derivativos buscando reduzir ao máximo os riscos

de perdas derivados das oscilações nos preços dos ativos, taxas de juros,

moedas ou ações que estejam negociando. Para esse tipo de participante não

interessa especular em cima da volatilidade dos preços dos ativos. O que eles

buscam é justamente o inverso, é montar uma operação de tal forma que sua

exposição a determinado risco se anule ou pelo menos seja reduzida ao

máximo possível. A finalidade é construir uma operação onde esse aplicador

possa garantir um retorno na sua atividade fim, independentemente de como

caminhe o mercado nesse período.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

Percebe-se então uma clara identificação nesse tipo de participante com uma

das estratégias buscadas por quem opera nesse mercado, que é a de gestão

do risco. Todo o esforço, empenho e dinheiro colocado por esses agentes é no

sentido de reduzir perdas originadas de adversidades no mercado. A essa

estratégia destinada à gestão do risco dá-se o nome de hedge.(Barbedo, 2005;

Silva Neto, 2002)

17

Pode-se então entender como Hedge, uma estratégia de gestão de riscos que

possibilita ao administrador determinar no presente o resultado de uma

operação que só se encerrará no futuro, anulando as perdas decorrentes das

adversidades do mercado em que atua.(Barbedo, 2005)

Esse tipo de operação baseia-se em tomar no mercado futuro, uma posição

oposta a que se tem no mercado à vista. Por exemplo, um exportador fecha

uma operação para entregar daqui a seis meses uma quantidade X de uma

determinada Commodite e receberá como pagamento uma determinada

quantia em dólares americanos. Para se proteger das flutuações no preço do

dólar, esse exportador recorre ao mercado futuro e nele assume uma posição

contrária a que assumiu no mercado à vista. Ele então vende contratos futuros

de dólar, ou seja, ele vende dólar no futuro, mais precisamente para daqui a

seis meses, por um preço Y, que seja compatível com a taxa de câmbio de

hoje. Dessa forma, ele estará coberto contra qualquer alteração no preço do

dólar e consequentemente contra qualquer alteração no resultado final da

operação.(Barbedo, 2005)

Podemos pensar no caso do exportador, acima citado, optar por não fazer o

hedge. Se o preço do dólar no fim do contrato estivesse menor do que o dólar

cotado hoje, o produtor teria um resultado inferior ao que teria caso tivesse feito

o hedge, já que com a operação de Derivativo, o exportador venderia sua

produção por uma taxa de câmbio próxima à de hoje. Nesse caso, a depender

do nível de queda da moeda estrangeira, ele poderia até amargar um resultado

negativo, tomando como base a totalidade da operação. Entretanto, se o preço

do dólar subisse, além do resultado esperado pelo exportador no início da

operação, ele ainda teria um ganho referente à oscilação da moeda, ou seja,

ele venderia seus dólares a um preço mais alto do que venderia se tivesse feito

o hedge.

O que é importante perceber é que o hedger opta por não correr esse risco. Ele

não sabe ou não se julga capaz de saber ou prever, a que nível de preço

aquele ativo vai estar no futuro. Em virtude dessa incerteza ele recorre ao

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mercado de futuros para anular ou pelo menos minimizar os riscos inerentes

aos seus negócios.(Barbedo, 2005)

É bom ressaltar que os hedgers podem operar em qualquer dos tipos de

derivativos, sejam eles contratos a termo, futuros, swaps. O caso acima foi

apenas um exemplo de como os derivativos são utilizados para a finalidade do

hedge.

2.2 - Especulador

Os especuladores são agentes que entram no mercado com o propósito oposto

ao dos hedgers. A intenção dos hedgers e eliminar ao máximo os riscos,

enquanto que os especuladores são tomadores desses riscos. O objetivo deles

e transformar esses riscos em lucro. Eles são “apostadores”, que tomam

posições no mercado com palpites de que no futuro as oscilações dos preços

vão lhes favorecer. Eles são motivados pela possibilidade de auferir ganhos

através da dinâmica de movimentação dos preços dos ativos negociados no

mercado.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

O seu papel é prever com o máximo de precisão possível, o sobe e desce dos

preços das commodities, taxas de juros e moedas. É importante ressaltar que

os palpites dos especuladores a respeito da posição futura do preço de um

ativo não são um simples “chute”. Muito tempo e recursos são investidos com o

objetivo de aperfeiçoar cada vez mais as ferramentas de análise e os

profissionais do setor para que essas especulações sejam cada vez mais

precisas. Portanto, essa é também uma função dos especuladores, a de formar

preços e suas expectativas para o futuro.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

Outro papel importante dessa modalidade de agente do Mercado de

Derivativos é que com a participação deles no mercado, cria-se uma maior

liquidez para esses contratos, o que, consequentemente, forma preços para

seus ativos com uma qualidade muito maior. Se não fosse pelos especuladores

quem assumiria os riscos que os hedgers tentam anular. A imprensa em geral

transforma esses agentes numa espécie de vilões, ou um vírus que fragiliza a

19

economia brasileira, mas a verdade é que sem eles o funcionamento normal do

mercado ficaria inviável, principalmente no que se refere a liquidez,

transferência de riscos e visibilidade de preços.(Barbedo, 2005; Silva Neto,

2002)

Uma curiosidade a respeito desses agentes é que o seu objetivo é apenas

lucrar com as oscilações nos preços em função do tempo. Outra curiosidade é

que os especuladores sempre encerram suas posições antes do vencimento,

ou seja, eles nunca entregam ou recebem o bem físico porque não são

especialistas nisso. Eles não saberiam o que fazer se recebessem ao final de

um contrato um carregamento de café, por exemplo.(Barbedo, 2005)

2.3 - Arbitrador

Seu papel principal é equilibrar o mercado. Eles atuam em mercados diferentes

auferindo ganhos com a diferença nos preços dos mesmos ativos em

mercados distintos. Essas distorções ocorrem em função do desequilíbrio entre

a oferta e a demanda do bem em um ou outro mercado. Portanto, eles operam

simultaneamente em dois ou mais mercados e são responsáveis pela

manutenção do equilíbrio nos preços desses ativos nos mercados de todo o

mundo.(Barbedo, 2005)

20

CAPÍTULO III

TIPOS DE DERIVATIVOS

3.1 - Contrato a Termo

É um contrato de compra e venda firmado entre duas partes com montante,

prazo e preço previamente definidos. É um contrato mercantil, firmado no

presente e com liquidação financeira e física no futuro. A característica mais

marcante nesse contrato, e a que o diferencia mais dos outros tipos de

Derivativos é a flexibilidade. No contrato a termo é possível negociar cada item

do contrato como quantidade, qualidade, data de pagamento, data de entrega,

local de entrega e preço. Apesar de ser um tipo de contrato mais antigo, com

menos liquidez e mais risco, é ainda muito usado para quem procura ou prefere

uma negociação mais específica, personalizada. Ao contrário de outros

derivativos, onde é possível liquidar sua posição, financeiramente, antes do

vencimento, nesse tipo de contrato há invariavelmente a entrega do bem físico

no encerramento do contrato. É um tipo de contrato que pode, ou não, ser

registrado em bolsa.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002; Hull, 1996)

3.2 - Contrato Futuro

O Contrato futuro é uma evolução dos contratos a termo. Na época em que os

contratos futuros foram concebidos, um problema grave incomodava os

participantes do mercado. Nos contratos a termo, o vendedor precisava

encontrar um comprador que concordasse em adquirir o produto que ele tinha

no prazo, quantidade, qualidade e local de entrega que lhe conviesse. O

mesmo acontecia com quem estava comprando, ou seja, eram muitos itens a

serem negociados, o que transformava a operação num acordo desgastante e

difícil de concretizar. A figura do especulador ficava ainda pior nesse contexto,

já que tinha em mãos um contrato totalmente personalizado que provavelmente

desagradaria a qualquer possível comprador em pelo menos algum item.

Nesse contexto, se um participante, por algum motivo, precisasse se desfazer

desse contrato, ele não tinha a quem repassar. Os contratos não tinham

21

liquidez, e em conseqüência disso não transitavam entre um participante e

outro.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002; Hull, 1996)

Com o decorrer do tempo, o mercado percebeu que ficaria mais fácil negociar

contratos que seguissem um determinado padrão que agradasse ou atendesse

à maioria dos participantes. Foi feito então um estudo de quais as

características mais encontradas nas operações até então registradas na bolsa

e chegou-se a conclusão que os seguintes itens dos contratos seriam

padronizados:

• Quantidade – A unidade de comercialização passou a ser uma quantidade

fixa do produto alvo do contrato.(Silva Neto, 2002)

• Qualidade – Foram estabelecidos mecanismos para mensurar a qualidade

dos produtos e a partir da faixa em que se encaixar, o produto será

precificado.(Silva Neto, 2002)

• Data de vencimento – Foram estabelecidas datas específicas para o

vencimento de acordo com o ciclo de comercialização dos produtos e os

períodos de safra e entressafra.(Silva Neto, 2002)

• Local de entrega – O local é também fator importante na determinação do

preço. Em virtude disso, os pontos de entrega são normalmente definidos

próximos aos centros de produção e consumo.(Silva Neto, 2002)

Quando, por acaso, algum produto não for passível de ter pelo menos esses

quatro itens padronizados, esse produto não poderá ter um contrato futuro.

Com isso, o único item restante a se negociar ficou sendo o preço. Isso tornou

o mercado muito mais ágil e transparente no que tange à negociação do preço.

A esses contratos dá-se o nome de contratos futuros.(Silva Neto, 2002)

São contratos padronizados, negociados no ambiente da bolsa entre duas

partes para um vencimento futuro. Nesse tipo de contrato não existe a

liquidação financeira no final do contrato. O sistema utilizado para os contratos

22

futuros e o ajuste diário de posições, onde diariamente apura-se o resultado da

operação, tendo o aplicador que pagar quando necessário ou receber quando

for o caso. Esse sistema reduz o risco de crédito e o risco da contraparte não

pagar, pois esses pagamentos são diluídos diariamente através desses

ajustes. Além desse diferencial em relação aos contratos termo, os contratos

futuros levam vantagem em mais um item importante, a possibilidade da

intercambialidade de posições. Isso quer dizer que uma parte pode repassar a

outra uma posição que tomou no mercado. Nos contratos a termo isso não

acontece, mesmo porque como já foi esclarecido, esses tipos de contratos são

praticamente personalizados, específicos no que tange aos interesses de quem

os contratou. Como os contratos futuros são todos padronizados, há a

possibilidade de transferir essas posições entre os participantes do

mercado.(Silva Neto, 2002; Hull, 1996)

3.3 - Opções

É o tipo de Derivativo mais flexível que existe. Vem desse derivativo, a maior

contribuição do mercado à gestão do risco. As técnicas de previsão mais bem

testadas e adaptadas a cada mercado foram importadas das análises

realizadas para as opções.(Silva Neto, 2002; Hull, 1996)

Opções são contratos que permitem ao titular o direito de comprar ou vender,

opção de compra e venda respectivamente, um ativo a um preço e data

preestabelecidos, e ao vendedor, a obrigação de cumprir o que estiver

acordado em caso de solicitação do comprador. Quem compra a opção, titular,

paga ao lançador, o prêmio, que é o preço da opção.(Silva Neto, 2002; Hull,

1996)

Segundo Lauro de Araújo Silva Neto(2002), um exemplo de opção é um

contrato de seguro. O segurado, “comprador da opção”, tem o direito de usar o

seguro, se quiser ou precisar, a qualquer momento, enquanto que a

seguradora, “lançadora da opção”, tem a obrigação de indenizar o segurado se

assim ele solicitar. O preço de seguro é o prêmio pago pela opção.(Silva Neto,

2002; Hull, 1996)

23

A opção de compra é chamada de Call, enquanto a de venda é chamada de

Put. Quem é titular de uma Call tem um direito de comprar algo hoje, a um

preço pré-determinado, até uma data futura também pré-determinada. Quem

adquire uma opção de venda, tem o direito de vender algo, a um preço e data

pré-estabelecidos.(Silva Neto, 2002; Hull, 1996)

O preço pelo qual o bem será negociado se a opção for exercida é chamado de

preço de exercício e a data na qual a opção será negociada se for exercida é

chamada de data de exercício.(Silva Neto, 2002; Hull, 1996)

Existem dois tipos de opções, a Americana e a Européia. Na Americana, o

detentor de uma opção de compra pode exercer o seu direito de comprar o

ativo objeto durante todo o período em que a opção estiver vigente. Já a opção

de venda só pode ser exercida, ou seja, o titular só pode exercer o seu direito,

no vencimento da opção. Na opção Européia, tanto as opções de compra,

quanto as opções de venda, só podem ser exercidas nos vencimentos.(Silva

Neto, 2002; Hull, 1996)

Se num determinado momento o titular quiser se desfazer da opção, basta

tomar uma posição contraria a que está, mas tendo obrigatoriamente que

negociar o mesmo ativo objeto e com mesmo vencimento.(Silva Neto, 2002;

Hull, 1996)

3.4 - Swaps

Esse tipo de Derivativo vem crescendo muito em todo mundo. São contratos

que consistem na troca de índices entre as partes, sem a troca do principal.

Estipula-se um montante X, comum às duas partes, e cada uma escolhe um

indexador que será aplicado aquele montante. No final do prazo acordado, a

diferença entre os rendimentos é o resultado da operação. O aplicador que

estava ativo no indexador que obteve maior rendimento, receberá da outra

parte a diferença entre os rendimentos.(Silva Neto, 2002)

24

Em geral, uma operação de Swap nasce em virtude de um descasamento entre

o ativo e o passivo de uma empresa. Essa situação gera um risco que a

organização não quer correr. O que acontece é que ela procura uma outra

parte que aceite assumir esse risco em seu lugar. Nesse caso, essa outra parte

está exposta a um risco contrário ao da primeira, e essa operação é a

oportunidade de também diminuir sua exposição ao risco.(Silva Neto, 2002)

Os Swaps podem ser com caixa e sem caixa, ou com garantias e sem

garantias. Com caixa é com a troca do principal e sem caixa é sem a troca do

principal. Já os Swaps com garantia são aqueles que além do registro na Cetip

ou BM&F(obrigatório por lei), têm um depósito de uma determinada quantia

como forma de garantir o pagamento das obrigações em caso de perda. Os

contratos sem garantia não fazem esses depósitos, apenas o registro, como

descrito em lei.(Silva Neto, 2002)

25

CAPÍTULO IV

A BOLSA

A origem das bolsas está nas antigas feiras da Antigüidade. Lá, negociava-se

de tudo, mas principalmente gêneros alimentícios. Logo algumas regiões foram

se especializando em alguns produtos e daí surgiu à classe dos comerciantes.

Eles passaram a controlar a produção desses alimentos e os distribuíam por

toda a redondeza. O passo seguinte foi a organização dessa classe em

organizações comerciais especializadas em determinados produtos. Elas

tinham o objetivo de organizar o setor, que antes do seu surgimento, não

tinham uma estrutura física adequada e careciam de um local que reunisse as

pessoas que operavam nesse mercado. Antes da criação da bolsa, o ambiente

de negociação não era especifico, podia ser em qualquer lugar e sem nenhum

controle.(Silva Neto, 2002)

Surge então, o conceito de bolsa como maneira de organizar o mercado e dar

transparência, agilidade e segurança a todas as transações. Num primeiro

momento, pode-se ter a impressão de que uma estrutura como essa restringiria

o acesso de novos participantes e incentivaria o monopólio. Logo, nota-se que

isso não é verdade e que o efeito é justamente o inverso. Com as negociações

realizadas no ambiente da bolsa, a formação dos preços pelo mercado e a

competição garantiam baixos custos de negociação.(Silva Neto, 2002)

A BM&F, Bolsa de Mercadorias e Futuros, criada em 1991, através da fusão

das bolsas BM&F(Bolsa Mercantil e de Futuros) e BMSP(Bolsa de Mercadoria

de São Paulo), é o centro de negócios do Mercado de Derivativos no Brasil. Ela

é o resultado de um processo evolutivo iniciado no país em 1917 com a criação

da BMSP, concebida inicialmente com o intuito de auxiliar na comercialização,

propriamente dita, de algumas poucas commodities, em especial o algodão.

Não demorou muito e essa bolsa começou a negociar derivativos sobre essas

commodities e outras, tais como o boi gordo. Foi o ponto de partida para o

desenvolvimento dos Derivativos no Brasil.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

26

Na década de 70, já existia uma vasta gama de contratos futuros de

commodities sendo negociados em bolsa. No início dos anos 80 foi a vez do

primeiro ativo financeiro ter um contrato Derivativo negociado. Em 1983, no Rio

de Janeiro, foi fundada a BBF(Bolsa Brasileira de Futuros). Essa bolsa

especializou-se em negociar contratos futuros de instrumentos financeiros.

Mais tarde, em 1985, foi fundada a BM&F(Bolsa Mercantil e de Futuros). Já no

seu início, essa bolsa lançou uma variedade muito grande de contratos futuros,

tanto de commodities, quanto de instrumentos financeiros, concorrendo

diretamente com as duas outras bolsas. Em 1991, a então chamada BM&F se

funde com a BMSP mantendo a sigla BM&F, e posteriormente, em 1997, um

acordo operacional dessa mesma BM&F com a BBF, coloca a BM&F como a

única bolsa de futuros operando no país.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

Nessa mesma época, paralelamente a esse movimento que acontecia no

Brasil, em muitos outros países também surgiam bolsas de futuros como a

BM&F, embora muitas delas não tenham sobrevivido. O importante a se

destacar é que entre os países em desenvolvimento, a BM&F foi a única a

figurar durante todos esses anos entre as dez maiores bolsas de futuros do

mundo, com números muito representativos, tanto em quantidade de contratos

negociados, quanto em volume financeiro.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

O papel da bolsa, no caso a BM&F, é desenvolver, organizar e operacionalizar

mercados livres e transparentes para negociação de títulos e contratos que

sejam referenciados em ativos financeiros, índices, indicadores, taxas, moedas

e mercadorias nas modalidades à vista e liquidação futura. Esse amplo

conceito é resultado da evolução desse mercado. O ambiente de negociação

hoje encontrado nas bolsas, e no nosso caso, na BM&F, foi construído porque

se provou ser útil à existência de um local como esse.(Barbedo, 2005; Silva

Neto, 2002)

Quando as bolsas começaram a operar, a estrutura que se tinha era

extremamente simplificada e precária, muito diferente do que encontramos

numa bolsa nos dias de hoje. Naquela época, a quantidade de participantes era

muito menor, os contratos eram muito mais simples e o montante que circulava

27

no mercado era infinitamente inferior. Essa simplicidade levava o sistema a

problemas como:

• Risco de crédito, que é o risco da contraparte não cumprir sua

obrigação.(Barbedo, 2005)

• Falta de padronização da qualidade.(Barbedo, 2005)

• Falta de divulgação ampla de preços, que levava a uma formação de

preços dos ativos sem transparência e qualidade.(Barbedo, 2005)

• Impossibilidade de transferência de posições.(Barbedo, 2005)

Com o decorrer do tempo e a dinâmica de desenvolvimento do mercado,

chegou-se a conclusão de que modificações eram necessárias. Foi então que

gradativamente a bolsa foi fazendo essas alterações de forma que a instituição

acompanhasse as necessidades do mercado. Logo, os pontos que antes eram

vistos como entraves ao crescimento tornaram-se alvo de medidas que

correspondessem à expectativa do mercado.(Barbedo, 2005)

Dentro desse contexto, a bolsa fez o seu papel e criou o ambiente propício

para o desenvolvimento desse mercado. Os problemas antes apontados foram

revertidos e o perfil da bolsa passou a ser o oposto do cenário existente

anteriormente. Dentre as características mais marcantes e fundamentais ao

seu perfeito funcionamento, estão:

• Um sistema com normas claras e padronizadas para todos.(Silva Neto,

2002)

• Códigos de ética e conduta a serem seguidos e respectivas penalidades

para quem não as respeitar.(Silva Neto, 2002)

• Formação de preço com total transparência.(Silva Neto, 2002)

• Entidade superior independente a quem recorrer (CVM – Comissão de

Valores Mobiliários).(Silva Neto, 2002)

28

• Possibilidade de intercambialidade de posições.(Silva Neto, 2002)

Ainda sim, uma grave questão ainda ameaçava o bom funcionamento da bolsa,

era o risco de crédito. A principal preocupação ficou por conta dos valores

muito altos que as operações passaram a cobrir. Se por algum motivo, essas

operações não fossem pagas, a credibilidade da bolsa ficaria comprometida, ou

seja, o risco de crédito ameaçava a continuidade da bolsa como

instituição.(Silva Neto, 2002)

Foi então que corretores criaram uma outra instituição chamada Câmara de

Compensação ou Clearing House. Essas instituições passaram a ser

responsáveis pela compensação e liquidação das posições assumidas nas

bolsas. Seus recursos são provenientes de taxas cobradas em todas as

transações realizadas junto à bolsa. A grande mudança que foi incorporada ao

sistema com o advento das Clearings, é que a partir desse momento, a

contraparte de quem esta operando na bolsa passa a ser a própria Clearing, ou

seja, ela passa a ser a garantidora das transações realizadas. Significa dizer

que se dois aplicadores fecham um swap e no final da operação a parte que

teve prejuízo não quita seu débito, a outra parte não é prejudicada porque ela

vai receber o que lhe é de direito da clearing. Essa, por conseguinte, é que vai

buscar do devedor a quantia devida.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

Embora a criação das clearings tenha reduzido o risco de crédito do sistema,

elas não foram suficientes para resolver o problema por completo. A maior

dificuldade foi com relação aos contratos a termo, em que as posições

assumidas eram muito grandes e o risco de um colapso em caso de calote

preocupava a bolsa. Foi então instituído um sistema de margens de garantias,

onde para cada operação realizada era depositado um valor como garantia da

posição assumida. Dessa forma, a bolsa como um todo, podia assegurar com

mais tranqüilidade e transparência, o bom funcionamento de suas

operações.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

29

No caso da BM&F, podemos dizer que estamos em par de igualdades com

qualquer outra bolsa do mundo. Temos uma bolsa ágil e moderna, que faz o

registro, a compensação e a liquidação, tanto física quanto financeira, de todos

os contratos realizados em seu pregão eletrônico ou viva-voz. Ela mantém local

e sistemas próprios para realizar todas as suas atribuições, além de divulgar da

maneira mais rápida e transparente possível, todas as informações sobre

operações, incluindo preços, quantidades, cotações. Para isso dispõe de tudo

que há de mais moderno em recursos humanos e tecnológicos no mercado, o

que a coloca em posição de destaque entre todas as outras bolsas de futuros

do mundo.(Barbedo, 2005; Silva Neto, 2002)

30

CAPÍTULO V

RISCO X RETORNO

Os Derivativos, como foi dito no decorrer de todo o trabalho, surgiram da

necessidade de se criar mecanismos capazes de melhor controlar os riscos

inerentes às atividades até então realizadas. Obviamente que a figura do

especulador e a sua atuação no mercado não serão deixadas de lado, muito

pelo contrário, sabemos que sem eles a atividade do hedger seria inviabilizada.

Entretanto, foi basicamente a partir da idéia de reduzir o risco que se

desenvolveu esse mercado. Por esse motivo seria incoerente tratar desse tema

sem falar um pouco de risco.

Que grande empresa não gostaria de saber o que fazer para não ser atingida

inesperadamente por algum evento que lhe gerasse um prejuízo? Identificar

quais são os riscos a que se está exposto e tentar reduzir essa exposição é

hoje um dos maiores desafios do mundo empresarial. Estudando a fundo e

qualificando esses riscos, fica mais fácil se prevenir contra eventuais

problemas, além do fato de que é a partir desse constante estudo que são

desenvolvidas as teorias e as práticas de combate a tais situações. Um sinal

que demonstra esse momento pelo qual passa o mercado de derivativos, é que

uma quantidade muito grande de recursos vem sendo destinada a essa área,

desde tecnologia avançada, inclusive softwares, até a formação dos

profissionais do ramo.

São muitos os tipos de risco já classificados, entretanto, segundo o G30(Global

Derivatives Study Group), instituição renomada que estuda a fundo o assunto,

quatro grandes grupos englobariam todos os demais: Risco de Mercado, Risco

de Crédito, Risco Operacional e Risco Legal. É importante salientar que apesar

de separados por tipo, todos esses riscos estão na realidade interligados. Na

maioria das vezes, eles se misturam fazendo com que um risco leve ao outro, e

assim por diante, podendo chegar até a um efeito cascata.(Silva Neto, 2002)

31

O risco de Mercado é aquele relacionado com a mudança no preço do ativo ou

do bem. Para avaliar esse risco é preciso entender o comportamento do

mercado, sua interação com o ambiente, analisar suas mudanças, etc. No caso

dos Derivativos, é indispensável avaliar a relação do contrato de Derivativo

com o ativo objeto desse contrato.(Silva Neto, 2002)

O risco de Crédito é o risco de não receber da sua contraparte. As operações

em bolsa têm esse risco bastante reduzido em virtude de, como já foi dito, a

contraparte de quem opera ser sempre a clearing da bolsa, além dos depósitos

de garantia realizados. Já as operações de balcão não têm essa característica,

o que aumenta muito esse tipo de risco.(Silva Neto, 2002)

O risco Operacional está diretamente relacionado com falhas de sistema, erro

humano, falha de gerenciamento ou falta de controle e transparência dos

sistemas. Essa descrição faz parecer que esse risco é de fácil controle,

entretanto, ele é responsável por muitas perdas de grande relevância no

cenário econômico. A complexidade dos Derivativos requer infra-estrutura

adequada, tanto na parte humana como em relação aos sistemas.(Silva Neto,

2002)

O risco legal, como o próprio nome já diz, está relacionado às leis que

envolvem esse mercado. Um grave problema se criou nesse sentido já que

poucos legisladores conhecem o assunto o que trava os avanços nesse

mercado. Soma-se a isso o fato de que empresas e outros participantes

operam em mercados em diferentes países e com legislações diferentes a

respeito do assunto, o que trava o desenvolvimento do mercado em geral.(Silva

Neto, 2002)

Percebe-se então que os riscos relacionados às atividades em geral são

muitos, e que se não tiverem, por parte dos seus gestores, a devida atenção,

tendem a se transformar em obstáculos extremamente difíceis de ultrapassar.

Existe um ditado que diz que “Quanto maior o risco, maior o retorno”, mas é

verdade também que nesse caso o prejuízo pode ser maior ainda. É nesse

32

sentido que os Derivativos constróem a sua importância. Eles se constituíram

uma importante ferramenta capaz de reduzir ou até eliminar o risco implícito

numa determinada atividade.

É claro que também existe um risco implícito quando se opera um produto

Derivativo, e que por sinal não é baixo. É importante ter total conhecimento do

que se está fazendo nesse mercado para que “o tiro não saia pela culatra”, ou

seja, a tentativa de eliminar um risco de prejuízo não aumente ainda mais a sua

perda. É um mercado com bases teóricas bastantes complexas e que

requerem de seus operadores habilidades específicas. Contudo, os benefícios

que elas podem trazer quando utilizadas com responsabilidade, são bastante

atrativos e convincentes, do ponto de vista financeiro.(Silva Neto, 2002)

Seguindo essa linha, devemos olhar para os Derivativos como uma

oportunidade. O retorno ao utilizar um produto derivativo é relativo. Ele pode

ser tanto um ganho financeiro, quanto a eliminação de um risco de perda.

A relação entre hedgear sua posição e está exposto a certos riscos é que deve

ser bem avaliada. A idéia de complexidade e perigo embutida nos Derivativos

afasta determinada parcela de potenciais participantes que preferem correr o

risco do mercado a incorrer em mais um risco, o de operar esses instrumentos.

Entretanto, o preço a se pagar por não operar derivativos pode ser muito alto.

No caso das grandes empresas, que movimentam grandes quantias e têm

fluxo de moedas estrangeiras no caixa, deixar de hedgear uma posição ativa

em dólar, por exemplo, e ficar vulnerável à volatilidade da taxa de câmbio dos

dias de hoje, pode resultar em perdas que comprometem a saúde financeira da

organização.

Outro exemplo pode ser o de um banco, que tem um passivo alto em taxa

prefixada. Se a taxa de juros básica controlada pelo governo sobe, as perdas

podem comprometer muito seu caixa porque ele passa a pagar mais caro pelo

dinheiro que toma, enquanto está recebendo uma taxa inferior à praticada pelo

mercado.

33

Obviamente que o mercado pode se movimentar em um determinado sentido

que ao invés de gerar perdas, pode se refletir positivamente no caixa da

empresa. O detalhe dessa questão é que não se pode prever em que direção

vai caminhar o mercado, e consequentemente se a sua posição atual é

favorável ou não a esse movimento.

É importante avaliar o grau de exposição que se tem, e a partir daí montar uma

estratégia de hedge que tenha uma relação de custo X benefício atraente. O

resultado, se bem feito, é a garantia de um determinado ganho, sem a

interferência de possíveis adversidades do mercado.

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CONCLUSÃO

A história dos Derivativos esteve sempre marcada por grandes polêmicas. É a

mais pura verdade que grandes empresas já perderam bilhões de dólares

nesse mercado, ou que os instrumentos derivativos foram utilizados para

maquiar resultados negativos de grandes corporações. De tempos em tempos

ouvimos esse tipo de notícia e inconscientemente culpamos o Mercado de

Derivativos por essas informações noticiadas.

É verdade que grandes perdas aconteceram, mas também é verdade que

escândalos como esses podem ser vistos freqüentemente em vários outros

segmentos da economia. É importante deixar claro que esses instrumentos não

são os culpados por esses prejuízos, e sim, o despreparo ou a imprudência na

sua utilização. A impressão que fica é que os Derivativos são maléficos, o que

não é verdade. O que acontece é que os fracassos, em muitos casos, tendem

a chamar mais a atenção do que as vitórias.

No Mercado de Derivativos, as experiências de sucessos são muito mais

comuns do que o contrário. No caso dos especuladores, onde a atividade tem

um elevado risco agregado, podem-se encontrar fortunas construídas com

base na especulação. É evidente que em virtude do alto risco, muitas perdas

também acontecem. Já no caso dos hadgers, onde objetivo ao ingressar no

mercado é eliminar riscos, os casos de sucesso são muito maiores, porém, não

aparecem muito porque o sucesso de um hedge não se traduz em lucros

exorbitantes, e sim em perdas eliminadas ou minimizadas. Os resultados não

chamam atenção, mas são eficazes e atendem ao objetivo traçado.

Portanto, os Derivativos, são sim, uma excelente opção tanto para quem quer

lucrar com a especulação, quanto para quem pretende simplesmente não ter

um prejuízo incorporado ao seu resultado. Durante todo o estudo, foi muito

focada a parte que trata de relações comerciais, mas não devemos esquecer

que essas estratégias também podem ser usadas com moedas, taxas de juros,

índices, entre outros. As variações possíveis de serem feitas são muitas, desde

35

operações para respaldar uma operação comercial, até uma operação que

pretenda eliminar a perda com a taxa de inflação, por exemplo. O que mais

impressiona é que elas tendem a aumentar com o desenvolvimento desse

mercado.

O cenário econômico e financeiro mundial, favorecem o desenvolvimento

desse mercado. Ele chama a atenção pelo ritmo de crescimento, tanto em

volume, quanto em quantidade de operações. Com a globalização, as

operações comerciais e financeiras transcendem as fronteiras de seus países e

criam um mercado único, onde os preços dos ativos passam a ser formados

entre as bolsas, e não na bolsa. Esse é mais um ponto que indica a

importância desse mercado para o futuro da sociedade.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

SILVA NETO, Lauro de Araújo. Derivativos: definições, emprego e risco / - 4.

Ed. - São Paulo: Atlas, 2002.

BARBEDO, Cláudio. Mercado de Derivativos no Brasil: conceitos, operações e

estratégias / Gustavo Silva Araújo, Octávio Manuel Bessada Lion. - Rio de

Janeiro: Record, 2005.

HULL, John, Introdução aos mercados futuros e de opções. São Paulo: Bolsa

de Mercadorias e Futuros, 1996.

BM&F. Bolsa de Mercadorias e Futuros, Biblioteca, Derivativos/ A decisão de

realizar ou não hedge no ambiente corporativo. Disponível em

http://www2.bmf.com.br/cim/Consulta_Geral_ResultadoEncontrados.asp>.

Acesso em jan 2007.

BM&F. Bolsa de Mercadorias e Futuros, Biblioteca, Derivativos/ Uso de

derivativos em empresas não-financeiras. Disponível em

http://www2.bmf.com.br/cim/Consulta_Geral_ResultadoEncontrados.asp>.

Acesso em jan 2007.

BM&F. Bolsa de Mercadorias e Futuros, Contratos, Derivativos Financeiros.

Disponível em

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