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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
GERAÇÃO - UMA CONTRIBUIÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NO
TRABALHO COM ADOLESCENTES
MARIA FERNANDA DALTRO VENÂNCIO
ORIENTADOR:
Prof. Marco Antônio Chaves
Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2002
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
GERAÇÃO - UMA CONTRIBUIÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE NO
TRABALHO COM ADOLESCENTES
MARIA FERNANDA DALTRO VENÂNCIO
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Psicomotricidade.
Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2002
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Aos Colegas de Classe
Interagir é trocar, é participar, interagir, em qualquer
processo é dialogar de forma responsável,
inteligente e transformadora.
É ser capaz de contribuir para circulação de idéias e
informações, acrescentando colaborações ,
inovadoras, decorrentes de sua experiência
cotidiana.
Dialogar é ser, enfim é ser co-autor.
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Dedico aos Mestres
O que mais provoca a aprendizagem nas pessoas é o fato
de acreditarmos nelas, em sua capacidade de percepção e
aprendizagem. É uma "profecia que se cumpre".
Se acreditamos que a pessoa vai aprender muito, ela
aprende, se não acreditamos, ela não aprende.
Desenvolvemos, assim, a compreensão que a história
individual faz parte da história de um determinado grupo
social, e as diferentes histórias de diferentes grupos
sociais realizam a história de uma nação, de um povo.
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"Educar será sinônimo de aprender a gostar de progredir, a melhorar sempre; nesse dia, educar não significará mais formar e manter os homens a meio caminho de suas possibilidades de desabrochamento, mas pelo contrário, será abrir-se para a essência e para a plenitude da própria existência".
Paulo Freire
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 06 CAPÍTULO I - O QUE É ADOLESCENTE/ JOVEM? ...................................... 08 CAPÍTULOII-CONHECENDO UM POUCO SOBRE PSICOMOTRICIDADE 13 2.1 O que vem a ser psicomotricidade? ................................................................ 14 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 19
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INTRODUÇÃO
Um dos maiores desafios nos núcleos que trabalham com adolescentes é
fomentar e desenvolver uma consciência plástica e política desse jovem no contexto
social.
Sabemos que são inúmeros os vetores que fragilizam essa leitura ampliada,
até porque são "sedutoras" do ponto de vista de alienação. A erotização das danças,
músicas que maximizam a indústria da exploração sexual é um desses vetores.
A massificação da mídia em imprimir conceitos, comportamentos,
ideologias, corrobora para que haja uma distorção dos valores, focando uma realidade
maquiada, ao qual esse jovem não postula idéias, não ensaia novos rumos, etc.
As "ondas" sedutoras e alienantes, vêm para atrofiar possíveis movimentos
que eclodiriam num despertar crítico, por conseguinte, aspirando por mudanças na
estrutura social que se reproduz uma cadeia de excluídos.
A auto-estima, o reconhecimento do ser enquanto pessoa, a consciência
plástica e política de que ele é um ator social, sujeito de direitos e deveres, que poderá
interferir na sua própria história e de sua comunidade, reluz a uma mudança frente a
essa cadeia inexorável de alienação e dominação.
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Vários projetos como, por exemplo, o Afro Reage de Vigário Geral, utiliza a
linguagem corporal como eixo principal no resgate da auto-estima e identidade cultural.
A cultura é uma ferramenta singular na reversão desse processo.
A auto-estima entra como pedra angular desse processo, que a partir da
consciência crítica é afirmada em toda a sua plenitude.
Pegando como gancho essa experiência, onde o corpo, o movimento é
trabalhado através da dança, dos ritmos, do jogo da capoeira, da dramatização, é que
apresentaremos uma experiência e algumas reflexões vividas na comunidade de João
Bernardo, Belford Roxo com adolescentes.
Sabe -se que a adolescência é uma fase de transição e transformação, onde
os acontecimentos adquiridos estão sedimentando-se às vivências percebidas. Isso é
inerente a qualquer jovem inserido nesta faixa etária. Entretanto, faremos um recorte,
incluindo aí, uma questão que torna ainda mais difícil atravessar esta fase de modo que
se tenha um entendimento mais globalizado do mundo que o cerca.
Falamos de uma população com renda per capta e inferior a meio salário
mínimo, onde o nível de escolaridade não atinge ao ensino fundamental completo.
Trabalhar com essa população é lançar uma proposta política pedagógica
que sacie as várias "fomes sociais".
Acreditamos que o primeiro passo, é trabalhar esse "eu singular" para que a
partir dele possamos vislumbrar o sujeito coletivo.
Nesse sentido, a imagem corporal é a nossa rota investigativa para uma
intervenção desta população.
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CAPÍTULO I
O QUE É ADOLESCENTE/ JOVEM?
Mapeando o que vem a ser adolescente na sociedade brasileira.
O Estatuto da criança e do adolescente (E.C.A.), criado em 13/07/1990, pela
lei 8069/90, considera como criança a pessoa que vai até 12 anos incompletos e
adolescente quem está entre 12 e 18 anos.
A adolescência apresenta uma característica marcante: a ambivalência. Por
ser fase de transição, os movimentos contraditórios/conflitantes apresentam-se em dupla
direção: na busca da própria identidade, na formação de uma escala de valores própria e
da construção de uma visão de mundo, o desejo de crescer e assumira responsabilidades
por um lado, e, na busca de situações imediatas de prazer, satisfação de necessidades e
impulsos/ necessidades, com alta valorização do momento presente, do aqui/agora.
O risco entre essas duas possibilidades se encontra nas situações em que
adolescentes/jovens se sentem incapazes de tolerar frustrações e adiar projetos. Daí a
busca pelas compensações inadequadas, como bebidas, drogas, suicídio, etc.
Vale a pena contextualizar esse adolescente frente aos vetores sociais que
pulgenciam.
Hoje as notícias são alarmantes no que diz respeito:
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Á crescente taxa de fecundidade das adolescentes e na pré-adolescência;
O que se relaciona, imediatamente, ao crescimento de jovens contaminadas pelo vírus
da Aids e por doenças sexualmente transmissíveis;
A violência na escola praticada, sobretudo, por adolescentes onde eles mesmos são as
principais vítimas;
O abuso sexual onde as adolescentes, são vendidas em folders e programas;
A erotização nos programas infantis e jovens, até músicas - o sexo é visto de forma
banal, o corpo é usado como venda de CDs, roupas, entre outros produtos.
Para qualquer jovem enfrentar tais vetores de maneira lúcida já é
complicado, imaginemos o quão difícil torna-se atravessar esta fase, seccionando o
acesso à formação e à informação.
"O ser humano, no que tange ao aspecto social é, ao mesmo tempo, determinante e determinado da história de sua sociedade. Ele age produzindo e transformando o contexto social. Para que isto ocorra, é necessário que sua ação, seja planejada e posteriormente avaliada o que irá, provavelmente, determinar uma correção de rumo".
Nesse entendimento, podemos dizer que qualquer ação a ser desenvolvida,
implica em se processar as informações adquiridas através da aprendizagem enquanto
sujeito inserido nos diversos grupos sociais. Dizemos que neste momento, solidificam-
se conceituações, vivências, etc.
"A preservação de uma sociedade digna de um ser humano depende da formação dos seus valores. "São os valores que nos orientam e fornecem parâmetros para o julgamento, avaliação e a adoção de condutas, doutrinas, crenças, ideologias e culturas." (Kruger, 1986 p. 39)
Vivemos em uma época contaminada pela inversão dos valores, que gera
insegurança, inquietação e ausência de paz. Assistimos fatos como o do índio que foi
incendiado e erroneamente confundido com um mendigo, postulando como o ser
humano, ou melhor, a vida do ser humano é banalizada pela sua condição social.
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Em meio a este contexto social encontramos uma massa de jovens vivendo a
adolescência. E é nesta fase que os jovens começam a fazer as suas escolhas, que irão
nortear o seu futuro e ajudá-los a conquistar uma identidade social.
Mas como poderão fazer escolhas se não lhes são apresentados ferramentas
para estruturarem os seus próprios conceitos? Qual o papel da mídia e a sua influência
neste sectarismo cultural? Em uma reportagem produzida pelo Jornal do Brasil
(16/06/99), aponta um debate promovido pela ESG, Escola Superior de Guerra e, com
o painel: o papel da mídia na sociedade brasileira apresenta alguns jornalistas e suas
concepções sobre o referido tema.
Foi unânime dentre os convidados a questão da educação. Traçaram o
panorama de que "hoje em dia, com tecnologias cada vez mais avançadas como
Internet, não será possível determinar de cima para baixo, o que vai ser notícia. Há cada
vez mais opções e o que vai determinar a escolha do veículo é o grau de instrução do
leitor", enfatiza Noênio Spínola. Outro jornalista, Cláudio Petráglia, coloca que "a
televisão cria estados emocionais, é o ópio do povo".
Essas informações deveriam vir a reboque de uma discussão clara, lúcida
dos fatos, fazendo com que haja o exercício da reflexão, consciência crítica. Entretanto
o que vemos é a existência de dois mundos balizando o futuro e perspectivas desses
jovens frente às recorrências dessa sociedade globalizadora.
O que é interessante e ao mesmo tempo paradoxal é entender esse jovem em
meio a esses vetores, inserido, construído, modificado por esse caldo cultural que nos
apresenta o surgimento de uma nova geração, antenada com as novas tecnologias e todo
o arcabouço adquirido a partir dela.
Apresentaremos alguns trechos de uma matéria produzida pela revista
Exame,1999 que clarifica e pontua essa geração.
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Título: "Eles vêm com tudo" - a primeira geração digital brasileira chega ao
mercado e pode mudar o panorama dos negócios no país.
Por Adriano Silva.
"Eles usam piercing no nariz, na língua, no lábio, no umbigo,. Eles tingem e cortam os cabelos de maneira espalhafatosa. Eles vestem calças vários números maiores que seu tamanho e as ajeitam na cintura de modo a deixar à vista a roupa de baixo. Misturam tetrô com futurismo, androginia com paz e amor. Seus pais não os entendem, simplesmente não conseguem acompanhar sua lógica. O mundo corporativo, especialmente no Brasil, não os leva a sério - talvez nem sequer se tenha dado conta de sua existência e de sua importância. E, no entanto, eles compõem uma horda de 55 milhões de brasileiros com potencial para influenciar o mercado e o modo como são feitos de concebidos os negócios do país.”
Ao falarmos sobre essa primeira geração digital da nossa história, sentimo-
nos confusos, pois trazer à lira o jovem carente, excluídos socialmente, imputa-se aí,
mais uma exclusão: a digital.
Mais adiante na reportagem caracteriza essa geração que já nasce sendo
filmada, virando registro eletrônico, crescendo em frente a um computador.
" (...) Eles se divertem com vários programas e tornam-se exímios com o mouse antes mesmo de entrar na escola. Para eles, o computador não é nem assustador mainframe dos anos 60, nem o pedregoso XT da década de 80".
"(...) Por tudo, a interatividade e o virtuosismo - conceitos complexos para as gerações anteriores - são lugares-comuns no universo da geração digital. Eles não imaginam a vida sem Internet, sem jogos 3D, sem realidade virtual. Tampouco concebam um dia-a-dia desplugado, sem chats, sem listas de e-mails"...
Entender esses dois mundos, de jovens adolescentes, que em tese têm as
mesmas recorrências peculiares a esta fase, torna-se um desafio, já que o recorte ao
qual nos detivemos, caracteriza-se por serem de classes sociais desfavorecidas, portanto,
não pertencentes a esse mundo digitalizado.
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A proposta é a inversão da mão dessa lógica inexorável. Através da herança
cultural, no pleno usofruto dos bens culturais é que propusemos estreitar esses mundos
dicotomizados.
A imagem corporal, a excelência da consciência da nossa herança, nossa
identidade, nossa cultura perpassará através do momento, das manifestações culturais,
solidificando uma auto-estima e o potencial criativo. Partiremos no próximo capítulo
para o trabalho com o corpo, o movimento, a intencionalidade do gesto, denotando a sua
contribuição para o alcance da maturidade na imagem corporal.
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CAPÍTULO II
CONHECENDO UM POUCO SOBRE PSICOMOTRICIDADE
Antes de investigarmos a contribuição da psicomotricidade numa
intervenção com adolescentes, vale a pena debruçarmos sobre os pensamentos de alguns
autores que definem e postulam o encaminhamento visando alcançar o nosso objetivo.
A nossa intenção é traçar uma linha de intervenção que contemple o
indivíduo como sujeito, ou seja, entendido como um ser que é construído
paulatinamente, através da interação com o meio e de suas próprias realizações.
Desta forma, para entendermos esse ser que está elaborando , sedimentando
seus conceitos. Propusemos então, pinçar algumas reflexões que permeiam a primeira
fase (infância), o quão importantes são trabalharmos esta fase para que na adolescência,
nosso eixo de investigação, possamos auxiliá-los para tom de uma boa arem consciência
de seus próprios bloqueios e procurar suas origens, reelaborando, obtendo uma imagem
corporal mais lúcida.
Ademais, leremos uma breve revista nas conceituações de alguns autores,
na origem da psicomotricidade.
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2.1 O que vem a ser psicomotricidade?
A psicomotricidade é uma técnica abrangente de intervenção, onde assentam
várias ciências que corroboram para entender melhor o indivíduo. Elas se apropria da
biologia, psicologia, psicanálise, sociologia e lingüística. Essa apropriação vem garantir
o entendimento do homem enquanto pessoa, dotada de várias recorrências que para
serem satisfeitas precisam ser vistas conjuntamente.
Segundo a expressão proposta pelo Dr. Jolivat, é uma terapia psicomotriz,
que se dispõe a desenvolver o as faculdades expressivas do indivíduo.
O termo apareceu em 1920 nos trabalhos de Depré. A história da
psicomotricidade nasce com a história do corpo, a concepção que o homem tem do seu
corpo.
Significa o entrelaçamento entre movimento e pensamento.
Para entendermos melhor sobre essa consciência apontaremos algumas
concepções de autores com diferentes correntes filosóficas que sem dúvida,
contribuíram para as nossas reflexões.
Merleau-Pontej (1971-p.113) ultrapassa a visão dualista entre corpo e
mente. Sua concepção diz que o homem é uma realidade cultural, ele é seu corpo, é uma
"subjetividade encarnada". O autor quer dizer com isto que é na ação que a
especialidade do corpo se completa e a análise do movimento próprio (consciência)
permite-nos compreendê-la melhor.
Vivemos num mundo globalizado. Percebemos que com essa globalização
cada vez mais ansiamos por resultados; o homem é visto pelo que produz e cada vez
mais velozmente precisa responder às recorrências desta aldeia. Mas como podemos
atender a resultados mecânicos, se o homem é um ser, se estimulado, dotados
subjetividade? O que estaremos formando?
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Essa urgência por resultados formatados, secciona o poder da criação da
ousadia, da ludicidade. À medida que este homem é visto como "corpo máquina",
submetido às leis da mecânica, transformamo-nos num esquizóide , sem vida, sem
expressão, sem movimento genuíno e gracioso.
A reeducação psicomotora tem por objetivo desenvolver esse aspecto
comunicativo do corpo, o que equivale à possibilitar ao indivíduo o mínimo do seu
corpo, de pensar seus gestos a fim de aumentar-lhes a eficácia e a estética, de completar
e aperfeiçoar seu equilíbrio.
Isso pressupõe libertá-lo de suas amarras, mordaças, suas couraças
musculares.
Sabemos que hoje em dia o homem necessita ter um bom domínio corporal,
boa percepção auditiva e visual, uma lateralização bem definida, faculdade de
simbolização, orientação espaço temporal, poder de concentração, percepção de forma,
tamanho, número, domínio dos diferentes comandos psicomotores como coordenação
fina e global, equilíbrio.
Entretanto, Wallar (19, p 17-33 ) um dos precursores da psicomotricidade,
salienta a importância do aspecto efetivo como anterior a qualquer tipo de
comportamento. Ele propugnava existência de um diálogo corporal e uma evolução
tônica e corporal, constituindo num " prelúdio da comunicação verbal".
O movimento aparece como elo de ligação dessas duas esferas (corpo e
mente). Embuídas de emoções vividas, o movimento representa a reflexão das ações do
homem.
Wallon faz algumas afirmações que ilustram bem a concepção do
movimento.
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"Sempre a ação motriz que regula o aparecimento e o desenvolvimento das
formações mentais".
"Movimento (ação), pensamento e linguagem são uma unidade inseparável.
O movimento é o pensamento em ato, e o pensamento é o dos movimento sem ato" .
Percebemos como isto a importância de enxergarmos lucidamente o
movimento como um elemento básico de reflexão humana, atrelado a um fundamento
sócio- cultural e dependente de um contexto histórico e dialético.
Apresentamos os fundamentos de Ajuriaguerra, que elucida a questão de
atentarmos para os lapsos ao estudarmos a psicomotricidade apenas sob o plano motor.
"(...) Exclusivamente ao estudo de um "homem motor". Isto conduziria a considerar a motricidade como uma simples função instrumental de valor puramente efetuador e dependentes da mobilização de sistemas por uma força estranha a eles, quer seja exterior ou interior ao indivíduo, despersonalizando-o, assim, completamente a função motora." Ajuriaguerra (1980,p.211)
Defontaine (1980, vol.1, p.17-18), defende que só será possível
entendermos a psicomotricidade através de uma triangulação : corpo, espaço e tempo:
"C'est le corp dans l'espace et le temps se coordenant et se synchronisant
vers.... avec ses aspects anatomiques, neurophysiologiques, mecaniques et locomoteurs,
por emettre et reavoir, signifié.”
Ou seja: a psicomotricidade é um caminho, é o desejo de fazer, de querer
fazer; e saber fazer e o poder fazer.
Fonseca (1988, p.332), concebe em sua análise psico e o motor como
elementos que não podem ser dissociados. Sobre isso ele afirma:
"Defendemos, através da nossa concepção psicopedagógica, a inseparabilidade do movimento e da vida mental (do ato ao
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pensamento), estruturas que representam o resultado das experiência adquiridas, traduzidas numa evolução progressiva da inteligência, só possível por uma motricidade cada vez mais organizada e consciencializada.”
Salienta ainda que a psicomotricidade "não é exclusiva de um novo método,
ou de uma "escola" ou de corrente de pensamento, nem constitui uma técnica, um
processo, mas visa fins educativos pelo emprego do movimento humano.”
(op.cit.,p332).
Enfatiza que o importante é enxergar o movimento como realização
intencional, como expressão da personalidade e que, portanto, deve ser observado não
tanto por aquilo que se vê e executa, mas também por aquilo que representa e origina.
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CONCLUSÃO
O homem é um ser em trânsito, não é uma realidade acabada.
Educar não é produzir um modelo: é fazer um novo homem na progressão
genética de seu destino evolutivo. O educador pode descobrir as variáveis do processo,
não pode antecipar a forma da construção porque a evolução não é uma fatalidade
determinada, mas um processo probabilístico. Pode acelerar ou frear a progressão, mas
não pode limitar (sem empobrecer) as possibilidades criativas de um ser
autologicamente original. Participa do processo criativo, mas não impõe soluções,
porque cada homem é uma infinidade de possibilidades. Educar passará a ser,
simplesmente, uma facilitação da criatividade, repondo o ser humano em sua linha
evolutiva histórica. Depois de uma longa parada, a humanidade retorna à marcha batida
de sua evolução para um futuro, que só pode ser antecipado por uma reflexão
probabilística.
Em suma, acreditamos que é possível ir na contramão da história,
possibilitando novos horizontes, novos olhares. O corpo é uma caixa de ressonância do
que agregamos culturalmente. É o guardião da nossa alma, nossa essência. É preciso
investigá-lo, trabalhá-lo de modo que ele represente verdadeiramente a nossa persona.
Libertos da docilidade, do sono letárgico da alienação, dos corpos dóceis, tornaremo-
nos sujeitos protagonistas da nossa própria existência
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AJURIAGUERRA, J. de. Manuel de Psychiatrie de L'enfant., Masson e lie., 1971
COSTE, Jean-Claude. A Psicomotricidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
KRUGER, H. Introdução A Psicologia Social. São Paulo: EPU, 1996.
LACERDA, C.A.O. e LACERDA, M.P. Adolescência Problema, mito ou desafio?.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1998.
LANC, S.T.M. e CODO, W (orgs). Psicologia Social - O Homem em Movimento. São
Paulo: Brasiliense, 1995.
20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRANTES, Antônio Augusto. O que é cultura Popular. São Paulo: Coleção
Primeiros Passos, Brasiliense.
FREIRE , Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
GUATTARI, Felix. Caosmose: Um novo Paradigma Estético. Rio de Janeiro: Editora
34, 1993.
OSTROWER, Faiga. Criatividade e Processos de Criação. Rio de Janeiro: Imago
Editora, 1977.
PESSOA, Antônio da Cunha e outros. A Cultura da Sobrevivência: Relatório Final.
Fortaleza: CETREDE/PRODASEC Urbano, 1981.
SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. São Paulo: Coleção Primeiros Passos,
Brasiliense.
SODRÉ, Muniz. A Verdade Seduzida: Por um conceito de cultura no Brasil. Rio de
Janeiro: CODRECI, Coleção Cultura Brasileira, 1983.