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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
EMPREENDEDORISMO:
UM NOVO OLHAR PARA A EDUCAÇÃO
ELIZABETH MEIRELLES DA COSTA ALVES
Orientador
Professora Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
EMPREENDEDORISMO:
UM NOVO OLHAR PARA A EDUCAÇÃO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Administração
e Supervisão Escolar
Por: Elizabeth Meirelles da Costa Alves
3
AGRADECIMENTOS
Na elaboração desse trabalho deve meus agradecimentos a:
Agradeço a meu marido que muito me ajudou na digitação e formatação e
entendeu todos os meus momentos de ausência, estudos e pesquisas na
realização desse trabalho.
Agradeço a minha irmã, que mesmo se restabelecendo de um Acidente
Vascular Cerebral, leu meus textos e me encorajou a continuar.
Agradeço a minhas filhas por sempre terem acreditado em mim.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha mãe, que não se encontra mais perto de mim,
mas que continua me guiando e incentivando.
Mãe, obrigada por tudo, seu legado de amor plantou raízes fortes em
meu coração.
5
RESUMO
Propor uma pedagogia empreendedora nas escolas é o objeto deste
trabalho. O empreendedorismo não se aplica apenas as empresa, mas deve
ser utilizado nas escolas, como pedagogia, de modo que as habilidades que
forem desenvolvidas gerem tais competências que o aluno possa, depois de
fora da escola, estar preparado para um futuro incerto. As escolas não podem
deixar de preparar o jovem para uma plena cidadania onde ele possa,
criticamente, escolher e modificar seu futuro.
A sociedade hoje é cosmopolita, globalizante e capitalista. Mas a escola
ainda prepara, como nos séculos XIX e XX, para uma sociedade que desejava
civilizar através dos conhecimentos. Nossa sociedade, hoje, é voltada para
avanços tecnológicos cada vez maiores que modificam o cenário social
econômico e político incontáveis vezes de tal forma, que o indivíduo deva estar
preparado para perceber a mudança e aproveitar o melhor dela. Preparado
para reconhecer o novo cenário, preparado para criticar, propor soluções,
ousar, criar.
A escola pode e deve ensinar estas habilidades, por isso não pode
omitir-se, ou fugir, a este novo mundo em que vivemos. Antes, a escola
preparava para a vida, hoje a vida pulsa cada vez mais dentro da sociedade,
dos alunos, dos professores e da própria instituição.
O mundo do trabalho, uma parte importante da vida de todos que vivem
em uma sociedade competitiva, como a sociedade capitalista, não pode
dissociar-se da vida escolar. A pedagogia empreendedora, de valores
humanísticos, nada mais é que uma metodologia que traz a escola para o
século XXI, para o mundo das transformações, que sai do mundo
antiparadigmático e vai para o mundo ousado e criativo do futuro. Não se
pretende preparar para a vida, pretende-se trazer a vida para a educação
sistemática de tal modo que o aluno – que hoje está afastado da escola e por
ela não se motiva – possa, transgredindo as regras que o normatizam, podam
6 e reduzem a criatividade, usar a ousadia, o ímpeto, e todas as habilidades que
puder e desejar ter para fazer da sua vida, da vida da sua sociedade, da vida
da sua família, da vida da sua escola e do seu trabalho, um lugar melhor para
estar e viver._____________________________________________________
Trata-se, neste trabalho, de dar ferramentas ao professor para que ele,
enquanto orientador da aprendizagem, possa pedagogicamente transformar a
escola em que trabalha. Muitas experiências têm sido feitas, no Brasil, com
êxito e o apoio, o que buscamos apresentar, seja da UNESCO ou do SEBRAE,
mobilizando professores e alunos de escolas públicas e privadas. É isto que
este trabalho propõe, através, principalmente, de exemplos de sucesso. É
objetivo deste trabalho motivar o professor a empreender de modo que ele
possa desenvolver habilidades e competências em seu aluno. Sendo
fundamental que o profissional da educação reflita permanentemente sobre sua
prática, aperfeiçoando cada vez mais seu trabalho em sala de aula. Estudando
e/ou pesquisando, desataremos nós e chegaremos, com certeza, a
reesignificação do aprendizado.
7
METODOLOGIA
Ao inscrever-me no curso de pós-graduação lato sensu de gestão e
supervisão, pensei que deveria trazer à baila, junto com a aprendizagem que o
curso certamente me daria, a experiência de minha prática educativa.
Comecei a ler sobre o empreendedorismo na educação por acreditar
que a educação brasileira está passando por um momento de reflexão que,
fatalmente nos levará a novos caminhos com mais qualidade e um ambiente
motivacional adequado para o jovem do século XXI. Encontrei a primeira
resistência do tema no ambiente escolar. Nas escolas ainda é comum
confundir-se, talvez por falta de conhecimento, educação empreendedora com
educação da empresa para seus funcionários.
Ao ler sobre empreendedorismo a bibliografia contemplava mais a
empresa do que a escola, como se a empresa pudesse, sozinha, ocupar-se de
ensinar habilidades para gerar competências. Como ensinar o aluno a aprender
a aprender? Como ensiná-lo a ser? Como prepará-lo para um mundo em
contínuas transformações onde a informação muda a cada segundo e chega
aos recantos mais perdidos do planeta Terra? Tinham questões que eram
relevantes para o desenvolvimento deste trabalho que, no entanto, me
instigavam a trilhar esse caminho. Conversando com profissionais, como eu,
verifiquei que eles faziam o trabalho de transformar habilidades em
competências, eles orientavam o aluno a aprender aprendendo. Por que então
não se tinha difundida e implementada uma educação empreendedora, que é
uma questão presente nas turmas de Educação de Jovens e Adultos com as
quais trabalho? Porque, acredito, falta ao professor a ousadia de transgredir e
na transgressão estabelecer um novo paradigma. Falta ao professor mais
nomear o processo que faz, do que propriamente ir contra a metodologia da
pedagogia empreendedora.
Ao apresentar os êxitos da educação empreendedora divulgados seja
pela UNESCO, seja pelo SEBRAE, em escolas do nordeste brasileiro, foi meu
8 objetivo estimular o professor a ousar, ainda que com pouca disponibilidade de
recursos, porque acredito, os alunos são o próprio recurso de que deve o
professor se valer para conseguir sucesso. Ao fazer o aluno acreditar em si
mesmo, a contribuir de forma decisiva para seu aprendizado. Acredito que o
professor possa trazer à escola o vigor e a tenacidade que faltam e, por óbvio
chegará à qualidade que busca. Procurei, como disse, usar minha prática por
parâmetro, muitas vezes decodificando o autor para a vida da escola, o que
implica numa peculiar cultura, de quem ali convive. Usei exemplos, dei
sugestões, mas principalmente deixei transparecer no texto a pedagogia da
esperança de que Paulo Freire falava, com a qual Anísio Teixeira sonhava e
que, por descaminhos que a História da Educação conta, não chegaram às
nossas escolas até o século XXI. _______________________________
Apoiada numa análise bibliográfica empresarial busquei dar corpo a uma
idéia que não é minha, mas com a qual comungo e exercito, no meu trabalho
cotidiano nas turmas de Educação de Jovens e Adultos.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I
HISTÓRICO DO EMPREENDEDORISMO 12
CAPÍTULO II
EMPREENDEDORISMO E EDUCAÇÃO 19
CAPÍTULO III
PEDAGOGIA EMPREENDEDORA 28
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA 42
ÍNDICE 43
FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
10
INTRODUÇÃO
O empreendedorismo, apesar de ser um tema amplamente
discutido atualmente, possui várias definições, seu conceito é muito
subjetivo. Seu conteúdo varia muito de um lugar para o outro, de
autor para autor.
O termo empreendedorismo tem, também, muitas origens, que
são propostas por pesquisadores de diferentes campos, que utilizam
princípios de suas próprias áreas de conhecimento para constituir o
conceito.
Este trabalho visa reavaliar o conceito de empreendedorismo
mostrando sua interpretação na sociedade pós-moderna. Sendo
assim, o trabalho apresenta conceitos de empreendedorismo onde os
valores nem sempre estão relacionados somente às riquezas
materiais, mas também à solidariedade, ética, respeito individual e
coletivo.
Essa nova interpretação constrói uma concepção de
empreendedorismo capaz de transformar aprendizagens
indispensáveis para uma educação que busca sustentabilidade ética
e solidária. .
Frequentemente encontramos, no senso comum, o conceito de
empreendedorismo associado a negócios, à riqueza (material),
baseado em uma concepção neoliberal. Sabemos que uma educação
democrática, igualitária e libertadora caminha contra este tipo de
conceito hegemônico, cuja tendência é se estabelecer cada vez mais
uma sociedade capitalista, desigual e excludente. Com base nesta
questão levantamos a seguinte pergunta: É possível construir uma
educação empreendedora, justa, democrática e libertadora?
Neste trabalho pretendemos também mostrar a mudança do
conceito e as articulações do termo empreendedorismo nos dias de
11 hoje. O espírito empreendedor deixou de ser apenas uma
característica do micro-empresário, do empregador. Atualmente ser
empreendedor é deixar de estar passivo aos acontecimentos e ter
sugestões críticas e agregadoras para melhorar o ambiente, seja de
trabalho, seja social, ou seja, educacional.
Educar nos dias de hoje é uma tarefa difícil. Estamos vivendo
um mundo de rápidos avanços tecnológicos e infelizmente a escola
não consegue acompanhar esse ritmo, por isso o que queremos está,
quase sempre, distante do que temos.
Há necessidade da construção de uma nova mentalidade que
aglutine princípios, objetivos e competências. Percebemos, ao
pesquisarmos, que existem poucas teses e monografias de cunho
numérico (quantitativos) sobre o tema que enfatize esta mudança de
paradigma.
Precisamos, com urgência, dar lugar a uma nova realidade
escolar, onde não exista espaço para uma pedagogia fragmentada e
individual. É fundamental que o profissional da Educação reflita
permanentemente sobre sua prática, aperfeiçoando seu trabalho em
sala de aula. Estudando e/ou pesquisando, desataremos nós e
chegaremos, com certeza, à reesignificação do aprendizado.
Acreditamos que para mudar essa realidade é necessária uma
nova proposta de educação básica, alicerçada em uma pedagogia
empreendedora, paradigmática, voltada para o desenvolvimento
humano social e econômico sustentável.
Este trabalho visa, partindo das definições e conceitos
conhecidos, estabelecer mudanças no paradigma educacional de tal
forma que se possa reconceituar o termo empreendedorismo a partir
de valores humanos e sociais que permitam, ao aluno e ao professor,
serem criativos, críticos e participantes num mundo que se
transforma.
12
CAPÍTULO I HISTÓRICO DO EMPREENDEDORISMO
A palavra Empreendedorismo geralmente é associada à capacidade de
criar e gerir empresas, aproveitar oportunidades, ter sucesso, gerar emprego,
renda e riqueza. Mas Empreendedorismo vai muito mais além do que tudo isso;
pressupõe, acima de tudo, a realização do indivíduo por meio de atitudes de
inquietação, ousadia e proatividade na sua relação com o mundo.
Define-se também, como o tipo de comportamento que favorece a
interferência criativa e realizadora na sociedade em que está, em busca de um
crescimento pessoal e coletivo, através do desenvolvimento da capacidade
intelectual para investigar, criticar e solucionar problemas, tomar decisões, ter
iniciativa e orientação inovadora, competências essas, cada vez mais exigidas
na formação pessoal e profissional do sujeito e valorizadas no mundo em que
vivemos. No entanto, no meio educacional o empreendedorismo ainda é quase
desconhecido e pouquíssimo aplicado como metodologia educacional que
objetive este fim.
A escola, espaço de vida, socialização e formação dos jovens, surge
neste contexto como instituição promotora da educação, e, inserida nela, o
professor, empreendedor por natureza, e agente determinante na construção
dos saberes e das novas competências, cabendo-lhe a missão de preparar
esses jovens para uma sociedade que se transforma e para valores que se
perpetuam, enquanto valores humanísticos, de tal modo que exige outros
referenciais na direção da vida coletiva, do trabalho e da cidadania.
Se formos definir a palavra empreendedorismo vamos descobrir que ela
não constava do dicionário, até o ano passado, assim como a palavra
empreendedor, também não consta.
Empreendedorismo é um neologismo que foi criado na metade do século
XX (1950), somente dicionarizado por Houaiss em 2009, que designa os
estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de
13 atividades, seu universo de atuação. Designa uma grande área de
abrangência, tratando de diferentes temas, além da criação de empresas. No
entanto este vocábulo ainda não designa uma metodologia educacional capaz
de, através de valores, inserir o sujeito da ação educativa criticamente, ao
mundo que se apresenta hoje e, ao mesmo tempo, prepará-lo para um futuro
incerto e não sabido.
Empreendedor é, então, o termo utilizado para qualificar, ou especificar,
principalmente, aquele indivíduo que detém uma forma especial, inovadora, de
se dedicar às atividades de organização, administração, execução;
principalmente na geração de riquezas, na transformação de conhecimentos e
bens em novos produtos – mercadorias ou serviços; gerando um novo método
com o seu próprio conhecimento. É o profissional inovador que modifica, com
sua forma de agir, qualquer área do conhecimento humano.
Este é, fundamentalmente o papel do professor, orientador da
aprendizagem, transmissor de valores éticos sociais. No entanto, este papel
ainda não é exercido, de forma plena, seja por aquele que está no papel, seja
pelos formadores de quem cumprirá tal tarefa, porque, como o tema é
relativamente novo, como se verá, não alcançou, ainda, todas as possibilidades
que pretende.
O termo ainda é comumente utilizado – no cenário econômico – para
designar o fundador de uma empresa ou entidade, aquele que construiu tudo a
duras custas, criando o que ainda não existia. Na língua portuguesa, são
utilizados com o mesmo sentido, somente, empreendedor e empresário.
A palavra empreendedorismo foi utilizada primeiramente pelo
economista Joseph Schumpeter, em 1950. Mais tarde, foi introduzido o
conceito de risco, explicando-se que uma pessoa empreendedora precisa
arriscar-se.
Drucker (1974) explica que o empreendedorismo é uma prática onde se
faz os negócios prevendo-se o futuro de modo que o próprio negócio possa,
mais tarde, diferenciar-se.
14 Vários foram os enfoques apresentados teoricamente (PINCHOT, 1985;
AITKEN, 1963; BAUMOL, 1968; BELSHAW, 1955) na área empresarial que
ressaltaram a inovação e a promoção pessoal.
O empreendedorismo é para esses autores uma habilidade de criar uma
atividade empresarial crescente onde não existia nenhuma anteriormente.
Nenhum deles, entretanto, aplicou o conceito fora da esfera empresarial.
Dornellas (2001) deu, porém, a definição que acreditamos mais
completa e atual, ainda que baseada nas pré-existentes. Para ele o
empreendedor além de detectar um negócio e conseguir obter boa
capitalização com ele, é capaz de assumir riscos calculados que transformem o
negócio, de modo sustentável, no futuro. Ele desenvolveu a chamada
Pedagogia Empreendedora.
A Pedagogia Empreendedora, que hoje compõe a grade curricular dos
cursos de graduação e que também é usada pelo SEBRAE (para capacitação
de empresários e micro-empresários), é a que podemos, também, utilizar nas
escolas como metodologia para uma educação sustentável de preparação para
um mundo em transformação.
A visão contemporânea de empreendedorismo se refere à capacidade
do indivíduo de desenvolver, organizar e projetar planos presentes e futuros
que não estão necessariamente associados aos negócios, mas a vida como
um todo.
O Empreendedorismo Educacional é uma metodologia que prega o
desenvolvimento de valores humanísticos sustentáveis, isto é, a mudança
paradigmática de metas e objetivos educacionais visando à vida e a cidadania.
O desenvolvimento desta metodologia requer o conhecimento de valores
que, de alguma forma, poderão converter a Educação e o próprio indivíduo,
sujeito dela, e a ordem social pré-estabelecida em uma proposta pedagógica
inovadora, capaz de transformar as competências básicas em competências
empreendedoras, duráveis, essenciais e necessárias ao desenvolvimento
profissional, pessoal e futuro do sujeito da ação educativa.
15 Conhecer e incorporar, ao longo do tempo, as diferentes abordagens do
Empreendedorismo, pode vir a fazer grande diferença numa Educação voltada
para um futuro incerto, e por isso não preparável, porque o Empreendedorismo
é pautado em valores humanísticos.
Dados do Ministério da Educação e Cultura - MEC (2003) apontavam
que, chegar ao ensino médio e conseqüentemente a uma universidade, ainda
era um sonho e ideal de vida a ser conquistado por cerca de 3 milhões de
jovens brasileiros, principalmente para os que estavam matriculados em
escolas públicas, oriundos das classes populares menos favorecidas
economicamente, às portas do mercado de trabalho e, o que é mais grave,
sem perspectivas de um futuro profissional. É também nessa fase da vida
escolar que se estruturam os conhecimentos e competências gerais, traduzidos
em capacidade de aprender com autonomia intelectual e estabelecer relações
entre a experiência do cotidiano e o trabalho, e entre a teoria e a prática.
Baseado nesses dados, o público jovem surgiu como um grande foco, e
a escola pública, como um grande meio de fazer chegar a mensagem do
empreendedorismo, uma vez que concentra o maior número de jovens
provenientes de classes menos favorecidas economicamente, numa realidade
marcada pela apatia, evasão e baixa auto-estima.
Desde então se tem buscado atrair os professores, no Brasil, para a
metodologia do empreendedorismo, de modo a, qualitativamente, mudar os
paradigmas educativos e possibilitar a mudança do quadro exposto pelos
dados de 2003, porque, para a UNESCO (2007) a exclusão da vida social – por
falta de habilidades e competências que a escola proporciona – provoca a
perda da cidadania.
No final de 2001 foi proposto que, em todos os SEBRAEs estaduais,
fossem desenvolvidas articulações junto às Secretarias Estaduais de
Educação, visando inserir a escola no desenvolvimento das ações para
disseminação de uma cultura empreendedora. No primeiro semestre de 2002,
iniciaram-se levantamentos preliminares em nível de Sistema SEBRAE (São
Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Alagoas e Ceará), visando identificar
experiências exitosas que subsidiassem a elaboração de uma proposta
16 pedagógica capaz de levar a mensagem do empreendedorismo ao jovem da
escola pública. Pelas características regionais, sócio-econômicas e culturais,
tomou-se como referência a experiência desenvolvida no Ceará.
Com o slogan Você quer, Você pode: Aprender, crescer e empreender ,
em março de 2003 o SEBRAE/RN e a SECD/RN, lançaram oficialmente no
estado do Rio Grande do Norte o Projeto Despertar Educação Empreendedora.
Sua idéia básica foi fazer chegar ao jovem da escola pública a cultura do
empreendedorismo, através de uma proposta pedagógica voltada para a
formação de competências que resultassem em desempenhos geradores do
crescimento pessoal e profissional, contribuindo para o desenvolvimento sócio-
econômico do Estado, favorecendo a inclusão social e o desenvolvimento local
e regional.
Tabela 1 Evolução do Projeto (2003 a 2006)
Ano 2003 2004 2005 TOTAL 2006
Escolas 13 29 62 104 93 Municípios 07 28 44 79 81 Professores Capacitados
40 96 104 240 120
Alunos Capacitados
960 2.115 2.420 5.495 5.000
Planos de negócios
192 423 484 1.099 900
Feiras realizadas
07 29 46 82 80
Fonte: Empreendedorismo na Escola Pública, 2007
A partir da realização de Aulas Inaugurais, ou seja, palestras de
introdução ao tema empreendedorismo, os professores lançaram o Projeto nas
suas escolas, com a participação de toda a comunidade. Nesses eventos
também eram apresentados os objetivos do Projeto e pessoas
empreendedoras locais, que foram convidadas para dar depoimentos sobre as
suas trajetórias de vida empreendedora.
17
De 2003 a 2005 o projeto foi implantado em 104 escolas públicas, de 79
municípios do estado, do Rio Grande do Norte, tendo sido capacitados 5.495
alunos e 240 professores, com a elaboração, pelos alunos, de 1.099 (planos de
negócios).
A partir do segundo ano, alguns resultados do Projeto Despertar
começaram a surgir. A proposta era sensibilizar o professor, para que ele,
como agente determinante da formação de competências, pudesse, através da
educação empreendedora, contribuir para a formação de jovens antenados
com a realidade macroeconômica e protagonistas do seu próprio futuro e da
comunidade.
Isso fez com que não só ele, o aluno, mas também o próprio professor,
rompessem com a cultura da dependência e passividade em relação à sua
situação atual, e se apropriassem da autonomia que lhes era inerente.
Transformaram, então, a partir desta metodologia, sonhos, idéias atuais e
projetos futuros, até então engavetados, em realidade.
Apesar dos exemplos positivos, nem tudo são flores, e muitos desafios
ainda são postos para se implantar um Projeto de educação empreendedora.
Segundo o relatório do GEM Global Entrepreneurship Monitor (2004), que
analisa a situação do empreendedorismo no mundo, um dos principais fatores
que limitam o desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil é a deficiência
do nosso sistema educacional. A escola publica é caracterizada pela evasão
escolar, apatia, altos índices de repetência, problemas de infra-estrutura, falta
de professores motivados, estrutura curricular deficiente, falta de recursos e a
ausência de políticas públicas efetivas.
O relatório também revela que, devido à baixa qualificação acadêmica,
apenas 14% dos empreendedores, no Brasil. têm formação superior, e apenas
30% dos potenciais empreendedores não passaram sequer cinco anos pelos
bancos escolares, estando longe, portanto, de completar o ensino fundamental.
Ainda com base no documento, os especialistas recomendam que as
instituições de ensino no Brasil detectem alunos talentosos, em suas
respectivas áreas de atuação, e ofereçam oportunidades diferenciadas no
processo educacional.
18
Propõem ao Ministério da Educação que as Instituições de ensino
mesclem, em seus projetos pedagógicos, formação técnica com
desenvolvimento de habilidades empreendedoras, por meio de metodologias
capazes de instigar o aluno a resolver problemas, identificar oportunidades,
inovar e trabalhar em equipe. Concluem que o sistema educacional brasileiro
ainda não prepara o jovem para os desafios e oportunidades do mundo e muito
menos para o futuro que advirá.
19
CAPÍTULO II
EMPREENDEDORISMO E EDUCAÇÃO
A competência é o que o aluno aprende. Não o que você ensina.
Jamil Cury/CNEB
A necessidade de implementar-se um novo paradigma educacional é
relevante face aos novos tempos capitalistas que necessitam de uma educação
voltada para novas competências que a escola não pode descuidar de
implantar.
Hoje, a competitividade e a empregabilidade são vitais numa sociedade
onde
[...] o empreendedor tem maiores oportunidades de acesso ao mercado de trabalho, seja por sua capacidade de inovação, seja por sua habilidade em reter conhecimento e desenvolver projetos ou propostas por iniciativa própria [...] (UNESCO, 2004)
A Educação vista como uma necessidade de levar a outros
conhecimentos, de modo propedêutico, ligada a condições da escola sem
inserção social, já se foi. Hoje se educa para um mundo globalizado,
competitivo e de escassa empregabilidade. É necessário que a escola, como a
instituição responsável pela Educação formal esteja atenta às mudanças
sociais existentes no mundo capitalista. Assim, se um novo cenário ocorre, é
imprescindível que a escola aprimore e crie alternativas e sobreviva
racionalmente neste novo cenário competitivo ,amoldando-se às condições
presentes e preparando para um futuro incerto onde as competências
adquiridas permitam o contínuo crescimento e desenvolvimento individual.
Nossa sociedade global, de avanços tecnológicos em fluxos constantes
requer que, para se viver mais e melhor, sejam aprimoradas as competências
20 exigidas pelo mercado contemporâneo. Não bastam apenas só os
conhecimentos, há que se poder desenvolver habilidades – que gerem
competências – onde a criação, a inovação, a liderança, o domínio do saber
trabalhar em grupo, são ainda mais imprescindíveis.
Segundo o estudo do INEP (2006), no Brasil ainda é pequeno o
percentual de pessoas, face à nossa população, que teve mais de quinze anos
de escolaridade formal. Ainda são poucos os que têm vinte anos e raríssimos
os que têm mais de vinte anos de escolaridade formal. Este é o cenário do
Brasil em 2007, o que nos deixa perceber que ainda nem todos os alunos
terminam a Educação Básica, o que diminui o número de anos de
escolaridade.
Quadro 2
Entre os jovens de 15 a 17 anos de idade, a taxa de escolarização
passou de 55,3% para 78,8%. Poder-se-ia dizer que os jovens estão tendo
21 mais acesso à escola e nela permanecem por mais tempo. No entanto, os
dados de conclusão do ensino fundamental ainda demonstram um
distanciamento forte em relação aos dados de ingresso. Além disso, os dados
do ensino médio não revelam que essa escolarização ampliada se faz, nessa
etapa de ensino, na faixa etária em questão, como era de se esperar.
(PROEJA, Documento Base, 2007, p. 17)
Enquanto o Brasil nos últimos vinte anos preocupou-se em universalizar
vagas nas escolas descuidou-se da qualidade que o ensino deveria imprimir.
Basta que vejamos qualquer índice oficial de avaliação para perceber-se
claramente o quão distante estamos ainda da qualidade na Educação.
No entanto, para que não se caia no discurso de que a Educação nada
tem a ver com a sociedade capitalista ou que a escola não deve formar
contingentes de trabalhadores, há que se investir muitíssimo na educação
crítica, na capacidade de auto-avaliar-se, de auto-corrigir-se, ou seja, de fazer
da Educação capital do Homem.
A Educação brasileira tem avançado em termos de brasileiros na escola,
é verdade, principalmente quando fazemos uma análise temporal:
Quadro 3
Analfabetismo Brasileiro Historicamente
Na população de 15 anos ou mais _____________________________________________________________________________________
Ano Total(1) Analfabetos(1) Taxa Analfabetismo _________________________________________________________ 1900 9.728 6.348 65,3 1920 17.564 11.409 65,0 1940 23.648 13.269 56,1 1950 30.188 15.272 50,6 1960 40.233 15.964 39,7 1970 53.633 18.100 33,7 1980 74.600 19.356 25,9 1991 94.891 18.682 19,7 2000 119.533 16.295 13,6 _________________________________________________________
Fonte: IBGE, Censo Demográfico.
22
Mas ainda temos que avançar, principalmente em termos de qualidade
porque é a Educação que promoverá desenvolvimento em países como o
Brasil que precisam atingir patamares importantes para que sua população se
torne mais homogênea em termos econômicos, para que deixem de existir
bolsões de miséria e analfabetismo.
“O fato de a educação se preocupar com o trabalho, que representa a maior parte da vida adulta, necessariamente não a desumaniza. O trabalho, como a auto-realização e a cidadania, exige fundamentos em valores, atitudes, comportamentos, conhecimentos e habilidades. Tudo isso cabe, pelo menos amplamente, à escola, uma escola sintonizada com o seu tempo, olhando para frente, como um farol de longo alcance, e não para trás, como uma lanterna.” (UNESCO, 2004)
Para mudar essa realidade é necessária uma nova proposta de
educação básica, ou seja, uma pedagogia empreendedora, voltada para o
desenvolvimento humano, social e econômico sustentável. Temos que mudar
radicalmente a nossa concepção do ensino. Não podemos continuar a ensinar
a fazer, é necessário ensinar a aprender até porque, com os avanços
tecnológicos cada vez maiores e abrangentes não temos como ensinar para
um futuro cada vez mais incerto em termos de modernidade tecnológica.
Esse contexto é explicitado na afirmação de Gohn (1999):
[...] a Educação tem sido proclamada como uma das áreas-chave para enfrentar os novos desafios gerados pela globalização e pelo avanço tecnológico na era da informação. [...]
Em suma, para os alunos, é preciso levá-los a definir o que querem, os
campos que lhes interessam, porque é esse o incentivo para que invistam seus
talentos e suas energias. Nesse sentido, pode-se dizer que o modelo de
educação tradicional deve adequar-se para formar empreendedores de modo
que nunca se condicionem à passividade.
23
No contexto atual, observa-se a necessidade de adoção de diretrizes
educacionais que desafiem os estudantes a se comportarem tanto como
generalistas quanto especialistas para serem desenvolvedores e
solucionadores de problemas de acordo com a realidade organizacional em
que atuam. As diretrizes enfocam o raciocínio conceitual, todavia seguido da
implementação prática e real. Em termos de ensino de gerenciamento de
oportunidades de negócios, nada é mais refinado e desafiador do que esta
metodologia educacional.
Não obstante, a educação para o empreendedorismo não deve ser
confundida com a educação para gerenciar somente empresas. O principal
objetivo da educação para gerenciar empresas é ensinar técnicas gerenciais
aplicáveis ao gerenciamento organizacional, enquanto que a educação para o
empreendedorismo visa estimular a cultura empreendedora, desenvolvendo a
sensibilidade individual ou organizacional (coletiva) para a percepção de
oportunidades (tanto externas quanto intra-organizacionais), ensinando o
empreender responsável mediante a capacidade de assumir riscos pré-
mensurados e aceitáveis.
O educador precisará de um novo modelo aplicável na educação para o
empreendedorismo. Tendo em vista que o empreendedorismo é um processo
econômico altamente criativo, permanecem dúvidas de que as tradicionais
formas de educação possam – isoladamente – resolver tal problema
educacional. Na verdade, deve-se propiciar o desenvolvimento de um novo
estilo de aprender, no qual profundos aspectos do seu próprio ser, emoções,
crenças e valores influenciem o processo do aprendizado.
Estudiosos contemporâneos, afirmam, que as transformações pelas quais a sociedade está passando, estão criando uma nova cultura e modificando as formas de produção e apropriação dos saberes. Por isto competências e habilidades ganharam destaque nos debates atuais, pois fazem referências simultâneas ao cotidiano social e educacional. Segundo o professor Vasco Moretto, um dos sentidos de competência aflora na utilização da palavra no senso comum quando utilizamos expressões como "vou procurar um dentista, mas quero que seja competente", ou "meu irmão é um pianista competente". Todas elas têm o mesmo sentido:
24
uma pessoa é competente quando tem os recursos para realizar bem uma determinada tarefa. A expressão isolada "fulano é competente" não tem muito sentido, provocando outra pergunta: "competente para fazer o quê?" Poderíamos dizer que Ronaldinho (jogar de futebol) é mais, ou menos competente que Guga (tenista)? Vislumbrando as varias acepções de competências, parece-me mais lógico o conceito de competência relacionado à capacidade de bem realizar uma tarefa, ou seja, de resolver uma situação complexa. Para isso, o sujeito deverá ter disponíveis os recursos necessários para serem mobilizados com vistas a resolver a situação na hora em que ela se apresente. Educar para competências é, então, ajudar o sujeito a adquirir e desenvolver as condições e/ou recursos que deverão ser mobilizados para resolver a situação complexa. (BORDONI, Thereza. Saber e fazer: competências e habilidades, 2006)
O ensino de empreendedorismo deve ser encarado, para que ocorra
uma mudança de paradigmas no modo de pensar dos nossos jovens e para
que os jovens cheguem às universidades, munidos da cultura empreendedora,
aptos a agregar novos valores e conseguir aplicá-los na sua vida prática, na
sua carreira profissional.
O empreendedorismo na escola não ensina somente os estudantes a
abrir uma empresa depois que saírem da universidade, ele alimenta a
criatividade, a atitude e a motivação do cidadão.
A educação empreendedora é necessária para qualquer nação que
deseja se desenvolver, através dela atingimos o desenvolvimento humano,
social e econômico. Sua proposta é relembrar, despertar o empreendedor que
existe em todo individuo, mas que se encontra aprisionado pelo próprio modo
de viver.
Existem metodologias para tornar professores capacitados para dar aula
desse tema. Fernando Dolabela dá a dica: “Devemos preparar os professores
para que eles entrem nas aulas e comuniquem, transmitam e criem o
empreendedorismo para os alunos”.
Segundo os dados do professor Fernando Dolabela, a pedagogia
empreendedora já foi implementada em 121 cidades (todas as escolas da rede
pública municipal) envolvendo cerca de 2.000 escolas, 10.000 professores e
25 400.000 alunos. No ano passado a disciplina foi adotada por todas as escolas
do SESI-ES.
Um exemplo interessante quando falamos de cidadania é o Colégio Opet
localizado no bairro Bom Retiro, em Curitiba. Uma cidade mirim foi construída
no pátio da escola. A cidade tem ruas, placas de sinalização, semáforos,
casas, câmara municipal, ouvidoria, rádio, correio, centro cultural, oficina de
reciclagem, horta, arena, casa da família, câmara dos vereadores, posto de
saúde e bancos.
Esse projeto visa despertar nos alunos o interesse pela comunidade da qual fazem parte, sendo futuros geradores de mudanças e transformadores da realidade social, formando lideranças que farão diferença na sociedade. (coordenadora do projeto Andréa Beatrice Costa)
Cada escola adota sua forma de ensinar empreendedorismo e
cidadania, mas Fernando Dolabela acredita em um método que tem duas
perguntas: “Qual é o teu sonho?” e “O que você vai fazer para transformar o
seu sonho em realidade?”
A primeira pergunta tem três objetivos: transformar o aluno em
protagonista da própria vida; desenvolver a auto-estima do aluno e transferir
um poder ao estudante que está longe dele mesmo, explica Dolabela. Já a
segunda pergunta mostra ao aluno que só ele pode criar as estratégias e os
caminhos para realizar o sonho.
Segundo o filósofo grego Platão que viveu nos anos 427 a 347 a.C, o
ideal é formar o individuo participante e atuante em uma comunidade. É
necessário educar o homem em todas as suas dimensões e não somente na
dimensão intelectual.
Apesar de todo este espírito empreendedor tradicional do brasileiro e do
apoio oficial através do SEBRAE e outros órgãos de fomento, nota-se que todo
o ambiente educacional do País, desde a pré-escola até a pós-graduação, tem
dedicado pouco espaço ao tema. Nos cursos superiores de Administração, o
26 tema do empreendedorismo é preocupação recente e, em alguns deles, não
possui uma disciplina que trate especificamente do tema.
Hoje estamos na era do conhecimento e do empreendedorismo, isto faz
com que tenhamos idéias claras e apresentar ferramentas práticas que
possibilitem o domínio especifico do conhecimento, transformando em
conhecimento explicito, tornando, desse modo, o conhecimento pessoal em
conhecimento coletivo, partilhado por todos que dele tenha acesso. Os
fundamentos culturais do empreendedorismo que estão intrínsecos em grande
parte dos trabalhadores brasileiros, precisa ser despertada de uma forma pró-
ativa, que possibilite vislumbrar oportunidades e que não seja praticada por
necessidade. A cultura empreendedora possibilita aos empreendedores estar
preparado para definirem seus objetivos devidos, detectarem e agarrarem
oportunidades, buscarem informações e para inserirem o planejamento e suas
práticas gerenciais.
A tarefa não é ensinar, mas criar um ambiente cultural no qual o aluno
perceba os valores empreendedores como algo positivo e possa, assim,
desenvolver-se no processo de adquirir conhecimentos, aprendendo de forma
auto-suficiente sobre si mesmo, sobre o outro e sobre como utilizar ferramentas
e instrumentos na construção de auto-realização.
Não se trata de uma estratégia pedagógica destinada exclusivamente a
preparar os alunos para criar uma empresa. A metodologia, concebendo o
empreendedorismo como uma forma de ser, mais do que uma forma de fazer,
irá desenvolver o potencial dos alunos para serem empreendedores em
qualquer atividade que escolherem: empregados do governo, do terceiro setor,
de grandes empresas, pesquisadores, artistas, etc.. E também, evidentemente,
para serem proprietários de uma empresa, se esta for a sua escolha.
Cabe ao aluno, e somente a ele, fazer opções profissionais e decidir que
tipo de empreendedor irá ser.
Com uma abordagem acentuadamente humanista, a metodologia elege
como tema central não o enriquecimento pessoal, mas a preparação do
indivíduo para participar ativamente da construção do desenvolvimento social,
através da cooperação, cidadania e da geração e (principalmente) da
27 distribuição de renda, conhecimento e poder, com vistas à melhoria de vida da
população e eliminação da exclusão social
28
CAPÍTULO III
PEDAGOGIA EMPREENDEDORA
A pedagogia empreendedora é uma metodologia de ensino de
empreendedorismo para a Educação Básica; educação infantil até o ensino
médio. Atinge, portanto, idades de 4 a 17 anos e é baseada na concepção do
sonho e na sua realização. Dolabela (2003, p. 73) afirma que “as
características empreendedoras nascem da relação que o indivíduo estabelece
entre o sonho e a sua realização”.
Construída a partir das nossas raízes culturais, é voltada para a
integração com a comunidade, tendo como objetivo o desenvolvimento social.
Estimula a capacidade de escolha do aluno sem influenciar as suas decisões,
preparando-o para as suas próprias opções.
A metodologia de ensino utilizada nesta disciplina é inspirada nos
processos de aprendizagem utilizados pelo empreendedor na vida real. Para
isso a disciplina utiliza-se de uma prática pedagógica com vários recursos e
técnicas tais como: aulas expositivas e dialogadas, oficinas de trabalho,
seminários, palestras, estudos de grupos, jogos de empresa, pesquisa de
mercado, entrevista com o empreendedor e instituições financeiras e SEBRAE
ou apresentação de seminários, apresentação e defesa de trabalhos práticos –
projeto de plano de negócios (banca de professores e/ou profissionais da área).
Para se encontrar efetividade didática na área de empreendedorismo é
essencial que o ensino seja insistentemente inserido no contexto. Deve-se
submeter o aluno pré-empreendedor a situações similares àquelas em que
encontrará na prática. O processo de aprendizagem do empreendedor, na
pequena empresa, é essencialmente baseado em ações.
O futuro empreendedor aprende da seguinte forma: solucionando
problemas; fazendo coisas sob pressão; interagindo com os pares e outras
pessoas; através de trocas com o ambiente; aproveitando oportunidades;
29 copiando outros empreendedores; pelos próprios erros: é uma área em que se
podem cometer erros (pequenos) porque há liberdade; através do feedback
dos clientes.
Tratar o empreendedorismo como uma forma de ser e não somente de
fazer, é a metodologia, transportando o conceito que nasceu na empresa para
todas as áreas da atividade humana. Assim, segundo a Pedagogia
Empreendedora o indivíduo pode e deve ser empreendedor em qualquer área
que escolha para atuar: no governo, no Terceiro Setor, como empregado de
empresas, como artista, como auto-empregado.
O propósito da metodologia é fazer com que os alunos freqüentemente
cruzem os muros da escola para entenderem o funcionamento do mercado, e
estando em sala de aula, submetê-los a processos de trabalho semelhantes
àqueles desenvolvidos pelos empreendedores.
É preciso estar atento quanto ao que diz Dolabela (2003, p. 114) sobre a
pedagogia empreendedora, que não se trata de avaliar conteúdos cognitivos.
Ao formular o sonho e buscar a realização dele, o aluno está se colocando
como um aprendiz de si mesmo, construindo sua relação com o outro e
exercitando sua capacidade de agir, que lhe dá a condição de ser, de construir
sua própria vida. Partindo desse princípio, é essencial que a educação
empreendedora seja adaptada à realidade de cada comunidade, de cada
grupo.
A Pedagogia Empreendedora é realizada por uma linguagem simples,
clara na comunicação de seus conteúdos e que se apóia em duas ferramentas
auxiliares no processo de construção de conhecimento pelo próprio aluno: a)
As perguntas, que são formuladas em torno da matriz: qual é o seu sonho e
como você vai realizá-lo? Os elementos de suporte mencionados por Filion e
Dolabela (2000), que preparam o aluno para sonhar e buscar a realização do
sonho e que constituem o sistema de atividades usado pelo empreendedor
para realizar o seu trabalho.
A Pedagogia Empreendedora é uma estratégia destinada a dotar o
indivíduo de graus crescentes de liberdade para fazer sua escolha. A criança,
ao formular seu sonho e tentar transformá-lo em realidade, assumirá o controle
30 de todo o processo e suas conseqüências, analisando a viabilidade do sonho e
sua capacidade de gerar auto-realização. Ela assume o controle e a
responsabilidade, em graus compatíveis com seu grau de maturidade, por meio
de exercícios que a acompanham da pré-escola ao nível médio.
O ciclo do aprendizado empreendedor pode ser descrito da seguinte
forma: Primeiro momento: O indivíduo desenvolve um sonho, projeta a imagem
de um futuro onde deseja chegar ou estar ou ser. Segundo momento: Ele
busca realizar o sonho e, para isso, identifica e aprende o que for necessário
para realizá-lo. A natureza da relação entre os dois momentos irá determinar o
nascimento e a intensidade do caráter empreendedor. Ela produz a
necessidade do saber em suas várias formas: saber conhecer, saber fazer,
saber ser e saber conviver. Esse conhecimento a que chamo "saber
empreendedor" (e que Carl Rogers batizou de “aprendizagem significativa”)
será adquirido em contexto de realização de desejos e, portanto, de prazer. A
caminhada em direção ao sonho — ou busca constante de realização do sonho
— é a fonte de geração e manutenção do nível emocional que dá ao indivíduo
a capacidade de persistir, de continuar apesar dos erros e das dificuldades. A
habilidade de tentar, de aprender com os erros e, portanto, de evoluir, constitui
a própria construção do saber empreendedor.
Partindo do pressuposto de que todos nós nascemos com as
características básicas do empreendedorismo, Dolabela afirma que nossa
educação acaba reprimindo o livre desabrochar e desenvolvimento dessas
características. Para ele, "lidar com crianças é lidar com autênticos
empreendedores ainda não contaminados pelos valores antiempreendedores
da educação, nas relações sociais, no 'figurino cultural' conservador a que
somos submetidos".
Para o autor, a educação tradicional aprisiona, "impõe limites, preserva
poderes, exclui" enquanto a Pedagogia Empreendedora liberta, pois esta,
diferentemente daquela, não priva os jovens do conhecimento e dos sonhos.
Ele considera, ainda, que o empreendedor precisa primeiro sonhar para em
seguida realizar.
31
A origem e a essência do empreendedorismo estão na "emoção do
indivíduo, na energia que o leva a transformar-se e transformar sua vida". A
educação empreendedora permite que o aluno faça e aprenda; pense e crie;
que resolva e inove; que se aperceba e tire proveito de suas observações; que
possa prever diferentes cenários e soluções, sem medo de ousar. A educação
empreendedora possibilita um aluno atuante, criativo e crítico. A educação
empreendedora, portanto, deve incluir necessariamente o aumento da
capacidade de gerar capital social e capital humano, diferentemente da idéia
tradicional "centrada no fazer empresarial, que, por ter como prioridade o
crescimento econômico, habitualmente concentra renda, reproduzindo assim
padrões socioeconômicos geradores de miséria". A Pedagogia Empreendedora
entende o ser humano como alguém habilitado a criar novos conhecimentos a
partir de um conjunto de saberes que constituem 'os quatro pilares da
educação' - aprender a saber, aprender a fazer, aprender a conviver e
aprender a ser.
Se tivermos em mente as sete referências de Drucker (1974) para o
desenvolvimento do empreendedorismo na escola, teremos como base
motivacional do professor e do aluno a criatividade que o autor chama de fonte
para uma oportunidade inovadora (p.46).
A metodologia é simples e qualquer professor por certo já trabalhou
desta forma, sem saber, talvez, como ir à diante.
A primeira referência é o inesperado. O professor deve proporcionar ao
aluno o aprendizado do inesperado. Isto é, tornar hábito a modificação do
cenário, de que forma isto se passou e como está modificado o cenário no
momento. Para tal as oportunidades de passeio com a turma, sem
programação prévia, por um lugar que seja comum à maioria da turma. Que
cenário existe à hora que eles habitualmente passam? O que foi modificado? A
quem atendia o cenário anterior e este? Tais questionamentos, sobre
mudanças de cenários devem ser feitos constantemente de modo que o aluno
entenda que habilidade ele deve desenvolver.
A segunda referência é a incongruência. O professor, depois de explicar
que incongruência é o mesmo que contradição, pode estimular a turma a
32 discutir uma situação onde dois lados se posicionam. Assim, a turma perceberá
as contradições de um e outro lado e as possibilidades de cada lado, o que
estimulará a criatividade de cada grupo e da turma como um todo que poderá,
por exemplo, julgar cada lado apresentando suas justificativas para escolha de
um grupo ou outro, de acordo com as posições defendidas.
A terceira referência é a necessidade de processo. O professor pode
sugerir que cada um ou um grupo de alunos fabrique um produto qualquer. A
fabricação do produto deve incluir sua venda. Para tal será necessário que o
aluno crie o produto, estabeleça sua necessidade, verifique como este produto
será confeccionado, produza o produto, monte estratégias de venda. O
professor deve servir apenas como orientador de modo que o aluno ou grupo
de alunos possa vivenciar cada etapa e verificar, pelo aprendizado, que existe
um processo e este processo é condição imprescindível para seu êxito final.
A quarta referência é a mudança de estrutura. O professor pode
incentivar que os alunos pesquisem, em pequenos grupos, o que mudou, por
exemplo, no mundo em trinta anos. Cada grupo pode escolher uma situação
diferenciada da outra, seja econômica, política, social, industrial, etc. Quando
cada grupo expuser as mudanças que escolheu expor podemos compará-las
com fatos que são, por exemplo, matérias de jornal para que se perceba
nitidamente as mudanças estruturais em cada caso, e não só as suas
conseqüências, como provavelmente os alunos mostrarão.
A quinta referência são as mudanças referentes aos seres humanos. O
professor pode fazer, por exemplo, estudos de casos sobre transformações
sociais: envelhecimento da população do país; acesso da população às
escolas ou universidades; tratamento do meio ambiente pela população de um
de terminado local, etc. Estes estudos possibilitarão que os alunos identifiquem
as mudanças de cenário e como deve agir nesta nova situação. Após as
apresentações de cada grupo os alunos terão uma bagagem bastante rica de
informações para reflexões posteriores.
A sexta referência é a mudança de percepção ou mudanças de
paradigmas. Os alunos podem escolher que tipo de situação demonstra uma
mudança de paradigma. O professor servirá apenas como orientador do
33 processo. Importante que, após a exposição das mudanças de paradigmas o
aluno possa escrever em blocões que paradigma mudou e por que.
A sétima referência é o estudo das mudanças. Cada aluno,
individualmente, vai apresentar um pequeno texto de 20 linhas com as
mudanças que se operaram nele, em relação à visão que tem da escola, da
vida, da família, etc. após todas estas discussões.
É simples, ser um empreendedor, é preciso não ter medo de ousar, é
preciso ter a habilidade de perceber, de ter a competência de mudar, quando
necessário e quebrar paradigmas. Um professor empreendedor terá um aluno
empreendedor, assim como um professor tradicional terá um aluno inoperante
que recebe tudo pronto sem poder aprender a aprender.
Fernando Pessoa dizia sou definitivamente contra o definido, porque o
definido é o bastante e o bastante não basta. Assim é o professor
empreendedor: impaciente com as normas porque elas limitam; insatisfeito com
os consensos, porque eles não criam; contrariado com os paradigmas porque
não permitem a ousadia. Um professor empreendedor tem sempre um aluno
transgressor no sentido de ousadia, então a capacidade de fazê-lo aprender a
ter, aprender a ser e aprender a aprender é um empreendimento sempre
exitoso.
A Pedagogia Empreendedora pode ser implementada:
• em uma escola da rede pública ou privada
• em toda a rede pública de um município ou estado
• em uma rede de ensino particular
Alguns elementos da metodologia:
• utilizam o professor da própria instituição, que conhece a cultura da
casa, dos alunos e do meio ambiente onde cada unidade está inserida;
• dinamizam conhecimentos já dominados pelo professor;
• são voltada para a prática, sendo de fácil implementação;
34
• não é uma receita, um passo a passo: a metodologia é recriada pelo
professor na sua aplicação, respeitando a cultura da comunidade, dos
alunos, da instituição, do próprio professor;
• possuem material didático específico e inédito, construído inteiramente
para a realidade brasileira;
• são agentes de mudança cultural;
• permitem a rápida disseminação da cultura empreendedora, sendo
concebida para ser aplicada em larga escala, com alta dispersão
geográfica;
• não criam a necessidade de formação de "especialistas"; não geram
dependência da escola a consultores externos;
• integram professores de áreas diferentes;
• são de baixíssimo custo: não duplicam meios e esforços;
• promovem a comunidade fazendo-a participar intensamente, como
educadora e educanda;
• consideram a escola como umas das referências de comunidade;
• são geradoras de capital humano e social;
• apóiam-se na geração do sonho coletivo, na construção do futuro pela
comunidade;
• têm como alvo a construção de um empreendedorismo capaz de gerar e
(principalmente) distribuir, renda conhecimento e poder.
Vivemos na era da globalização, do conhecimento e do empreendedorismo.
É necessário, portanto, fomentar idéias claras e apresentar ferramentas
práticas que possibilitem o domínio tácito do conhecimento, transformando-o
em conhecimento explícito, tornando, desse modo, o conhecimento coletivo,
partilhado por todos que a ele tenham acesso.
Outro aspecto concentra-se nos fundamentos culturais do
empreendedorismo que se encontra intrínseco em grande parte dos alunos e
35 trabalhadores brasileiros, mas ainda adormecido precisando ser despertado de
uma forma pró-ativa, que possibilite vislumbrar oportunidades e que não seja
praticado somente por necessidade.
Analisando a característica social e empresarial da sociedade brasileira,
as disposições para o trabalho e a necessidade estão presentes, porém, não
basta apenas querer fazer é preciso saber fazer e conseqüentemente é preciso
oferecer condições para poder fazer.
O desenvolvimento do empreendedorismo é um dos grandes desafios
desta era pós-industrial. Trata-se de um desafio à sociedade global, uma vez
que envolve a ruptura de paradigmas consolidados durante todo o último
século. Promover a capacidade empreendedora da sociedade é uma faceta
multidimensional e, portanto, esforços isolados de alguns atores não gerarão
resultados consistentes. Uma transição paradigmática envolve o
desenvolvimento de novos valores, congruentes em toda a sociedade.
Assim, a criação de políticas governamentais macros e micros em nível
nacional e políticas educacionais mais efetivas favoráveis à criação e ao
desenvolvimento de novas práticas educativas e o surgimento de empresas
júnior e fortalecimento do movimento de incubadoras, por exemplo, constituem
medidas fundamentais, assim, como muitas outras iniciativas brilhantes que
têm contribuído para que empreendedores possam obter sucesso em seus
projetos.
Contudo, a transição paradigmática envolve o cultivo de novos valores
na base da formação do indivíduo na família e no sistema educacional. Estes
são atores fundamentais para que a sociedade possa contar com um maior
número de empreendedores no futuro. Para lidar com a complexidade do novo
paradigma, todos deverão ser empreendedores, e não apenas aqueles que
criarão novas empresas. As empresas já estabelecidas dependerão deles para
manterem-se competitivas. As escolas dependerão deles para inserirem-se
numa sociedade globalizada, competitiva e capitalista. Os professores
dependerão deles para desafiarem paradigmas. Os alunos dependerão deles
para exercerem plenamente sua cidadania.
.
36
CONCLUSÃO
Um país não precisa só de boas condições econômicas e estímulo para
desenvolver iniciativas empreendedoras. Apesar de serem essenciais para o
sucesso de qualquer negócio, estas são características complementares a algo
que deve ser muito anterior: a educação empreendedora.
Países desenvolvidos beneficiam-se não só de suas condições
privilegiadas no cenário internacional, mas também de cidadãos que desde
cedo estão condicionados a pensar de maneira proativa. De fato, o cenário é
mais favorável quando a burocracia é reduzida e o empreendedor tem fortes
estímulos para tocar seu negócio. Podemos desconfiar, portanto, que a
propensão de um norte-americano ou europeu a investir no próprio negócio
esteja atrelada a esses requisitos, mas você já parou para pensar até que
ponto uma condição é influenciada pela outra?
Sabemos que o peso do empreendedorismo e do e-commerce na
economia de um país é crescente e, consequentemente, a importância que as
administrações públicas dão a esse setor dia após dia. Isso resulta em políticas
favoráveis ao desenvolvimento de novos negócios e ao estabelecimento de
iniciativas de menor porte com mais segurança, como já se observa no Brasil.
Paralelamente, é satisfatório notar como surgem a cada instante notícias
de municípios que colocam em pauta a necessidade do ensino empreendedor
nas escolas de suas regiões, com o intuito de condicionar crianças e
adolescentes a crescerem com um pensamento diferente, cada vez mais
preparadas para encarar os desafios de um empreendimento ou, ainda, de
chegarem ao mercado de trabalho capazes de contribuir para a mudança e o
aperfeiçoamento de processos estabelecidos e que podem ser melhorados.
Lutar pelo condicionamento de nossos jovens à cultura empreendedora,
além de uma atitude visionária, é a certeza de bons resultados a serem obtidos
no médio prazo. Quando crescemos acostumados a uma realidade que
incentiva a atitude e os valores humanísticos, estamos mais preparados para
encarar os desafios e conscientes para saber que essa batalha vale a pena
37 tanto para o sucesso pessoal quanto do país, que se beneficia de cidadãos
críticos que crescem e fazem crescer.
São louváveis as preocupações de administradores que prezam por
essa formação, devendo servir de exemplo para que deixem de ser ações
isoladas e passem a figurar nos currículos de todas as escolas, públicas e
privadas. O país certamente agradecerá!
Nas duas últimas décadas, os assuntos Empreendedorismo e
Empreendedores avançaram muito em termos de visibilidade e importância.
Entretanto, parece que a temática Educação Empreendedora (EE) ainda
carece de uma discussão mais sólida e embasada, que ajude em seu
amadurecimento e norteamento, estimulando sua disseminação de forma mais
profissional e eficaz.
Ao se deparar com novos desafios, as pessoas comuns ainda perguntam: por
quê? Os empreendedores perguntam: por que não?
Essa mesma analogia pode também ser feita no posicionamento da
escola diante da possibilidade de implementar o empreendedorismo em seu
currículo. Enquanto algumas escolas ainda pensam no empreendedorismo
como um modismo passageiro, outras já enxergam essa prática pedagógica
como uma necessidade na formação dos alunos e, até mesmo, um diferencial
de mercado.
Enquanto alguns educadores acreditam que essa é apenas mais uma
proposta, outros acreditam que, diante do cenário mundial no aspecto político
econômico e, principalmente, no seu impacto nas oportunidades de trabalho,
despertar a atitude empreendedora nos jovens é uma proposta essencial.
A grande questão a ser formulada é: por que alguns educadores ainda
resistem a essa tendência? Acredito em três razões básicas:
1ª) Existe uma distorção do termo empreendedorismo. Ainda paira para a
maioria das pessoas uma visão de que o empreendedorismo se resume a
abertura ou gerenciamento de empresas. É a visão do empreendedorismo
atrelada ao ser dono de negócios. Para romper essa barreira, é muito
38 importante que os educadores de fato entendam a atitude empreendedora
como uma realidade e uma necessidade.
Ela envolve o capital humano e o desenvolvimento de potencialidades
em um âmbito muito maior do que o fazer empresarial. Saber empreender
ultrapassa o saber técnico científico e busca na auto-realização a valorização
do ser e da coletividade.
O Empreendedorismo deve ser visto como uma atitude diante da vida e
de seus desafios. É uma opção entre o fazer, o protagonizar e o deixar
acontecer.
2ª) Não é dada à ação empreendedora o seu devido peso. Segundo o BNDES
(2008), empresas com até 100 funcionários são responsáveis por 96% dos
postos de trabalho no Brasil e as pequenas e micro empresas por mais de 60%
dos empregos gerados no país.
Pesquisa realizada pela GEM Global Entrepreneurship Monitor mostra
que 60% dos jovens universitários, sabem que vão ter que abrir um negócio
próprio ou empreender na própria carreira, visto que ao sair da universidade
não conseguirão emprego.
Especialistas em Recursos Humanos são quase unânimes em afirmar
que o mercado de trabalho está, cada vez mais, optando por pessoas capazes
de liderar equipes, trabalhar em grupo e que tenham visão estratégica. Além
disso, estes especialistas ressaltam que esses aspectos comportamentais têm
sido mais valorizados do que a formação acadêmica.
Vivemos um momento em que o modelo de emprego com carteira de
trabalho assinada vem dando lugar à remuneração por competências e aos
bônus por resultados.
Fatores de empregabilidade como comprometimento, responsabilidade,
ousadia, autoconfiança, iniciativa e persistência, dentre outros, aliados a
assumir uma postura empreendedora passam a ser uma questão de
sobrevivência.
39
3ª) Empreender envolve correr riscos. E, dentre as três razões, essa é a mais
difícil de reverter. Evitar o risco e a inovação, manter o status quo e ficar na
zona de segurança são aspectos totalmente contrários à prática
empreendedora, mas ao mesmo tempo, são muito importantes para a própria
sobrevivência de muitas escolas, tanto no aspecto operacional quanto na
própria expectativa dos pais que optam por ela.
Porém, é preciso saber que a prática empreendedora está intimamente
ligada à procura por novos desafios, ao comprometimento com as próprias
escolhas, a uma constante busca de qualidade e à inerente vontade de inovar,
de fazer coisas que ninguém faz, de ser autêntico, de ir além.
Quando o educador assume essa postura com a sua própria vida e na
sua ação profissional, passa a servir de modelo para seus alunos. Além disso,
quando demonstra seu prazer em conviver com jovens criativos, inovadores,
que buscam desafios e que desejam criar seus próprios futuros, torna se um
agente que instiga e fomenta a postura empreendedora. Sem dúvida isso exige
abertura e disposição.
Ao substituir o modelo de educação bancária veementemente
contestada por Paulo Freire por uma educação da visão relativista do saber e
atenta à formação do indivíduo crítico, pensante, a escola se viu diante de
alunos que passaram a contestar qualquer prática de autoritarismo e que
começaram a buscar uma visão integrada dos conteúdos.
Da mesma forma, ao substituir o modelo de educação executiva que
prepara o aluno para executar tarefas por um modelo de educação
empreendedora que estimula o aluno a criar, a se arriscar e a aprender com os
erros a escola também precisará estar preparada para uma nova atitude dos
jovens.
É preciso uma nova visão que vai desde a abertura de espaços para que
os alunos trabalhem o seu lado criativo, sobretudo na área tecnológica, até a
substituição gradativa dos atuais métodos de avaliação, que hoje privilegiam o
40 não errar, por um modelo que reforce a capacidade criativa, a inteligência
emocional e o relacionamento interpessoal.
Se por um lado, existe uma predominância da pouca escolaridade entre
os empreendedores donos de pequenos negócios, por outro, é sabido que a
escolaridade e a informação são forças propulsoras da qualidade
empreendedora. Quando a assunto é empreendedorismo, informar e formar
devem caminhar lado a lado.
O sistema educacional deverá forçosamente ampliar seu currículo para
além dos conhecimentos técnicos e científicos, cada vez mais indispensáveis,
e ao mesmo tempo menos suficientes para a inserção livre do homem no
mercado de trabalho
É realmente interessante e desafiador e se não fosse, não seria
empreendedorismo, perceber que, ao implantar a educação empreendedora, a
escola também estará empreendendo e exercitando os quatro pilares da
Educação, segundo a UNESCO:
Aprender a Ser – No seu próprio repensar sobre si mesma, na sua missão e
nas suas crenças no momento de avaliar o que é importante para seus alunos
e o que é prioritário no papel de educar da escola.
Aprender a Conviver – Abrir-se para uma nova forma de relacionamento e
uma nova postura frente a jovens instigados pelo desafio e preparados para
lidar com o ser humano, para liderar pessoas e para trabalhar em equipe.
Aprender a Fazer – É o ser capaz de se reinventar, de mudar os próprios
paradigmas de atuação. Abrir mão de seguir modelos prontos e estar disposta
a trabalhar com parceiros que detém um outro tipo de know how.
Aprender a Aprender – É se abrir para algo que ainda não sabe como fazer,
estando disposta a aprender fazendo, a se permitir errar e a aprender com as
experiências, equilibrando a sua capacidade de ousar e criar com a sua
responsabilidade frente a um padrão de qualidade esperado.
41
E, por último é muito, muito importante ressaltar que o desafio de
ensinar a empreender pode e deve ser visto como algo sério, porém simples.
Como algo novo, porém com raízes filosóficas.
Ressaltar que ensinar a empreender não está relacionado a coisas
complexas como fluxo de caixa, orçamentos, técnicas de gestão ou
planejamento estratégico. Pelo contrário, ensinar a empreender está associado
a práticas já bastante conhecidas dos educadores e que exigem apenas
atitude:
• estimular o desejo de sonhar e de construir um projeto de vida;
• ensinar o aluno a se comprometer com seus resultados, com a sua vida e
com o seu papel social;
• determinar limites e estabelecer regras para que o jovem aprenda a lidar com
frustrações e a conviver com suas angústias;
• permitir que o jovem aprenda com os erros e, principalmente, que ele aprenda
a se permitir errar;
• estimular o gosto pelos desafios, aprendendo a calcular os riscos;
• ajudar o jovem a se conhecer, reconhecendo suas forças e aprendendo a
lidar com suas fraquezas;
• estimular a criatividade e o gosto pela inovação;
• ajudar o jovem a fazer uma leitura crítica do mundo, propondo ações práticas
e concretas para alterar a realidade;
• trabalhar na construção de uma juventude com idéias, ideais e ideologias.
Ensinar a empreender é acima de tudo uma questão de atitude do
professor em benefício de um aluno pleno de cidadania para a vida que ele tem
ou terá num futuro que nem o professor, nem o aluno, conhecem.
42
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Marcos Garcia.Pedagogia Empresarial: saberes, práticas e
referências.Rio de Janeiro: Brasport, 2006
CUNHA, Daisy Moreira e LAUDARES, João Bosco. Trabalho: Diálogos
Multidisciplinares. Belo Horizonte: UFMG, 2009
DOLABELA, Fernando. O Segredo de Luisa.São Paulo:Sextante, 1999
MANSÃO, Camélia S. Murgo et all (orgs). Orientação Profissional em
Ação:Formação e Prática de Orientadores.São Paulo: Summus Editorial Ltda.,
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PICAWY, Maria Maira e WANDSCHEER, Maria Sirlei Xavier. A Formação do
Pedagogo Gestor diante de Perspectivas Empreendedoras nos Ambientes
Educativos In ZORZO, Cacilda Maria et all (orgs). Pedagogia em Conexão. Rio
Grande do Sul: Ed. ULBRA (Universidade Luterana do Brasil), 2008
UNESCO. Disponível em www.unesco.org.br/ Capturado em 08/10/2009
IBGE. Disponível em http://www.ibge.gov.br/brasil_em_sintese/default.htm
Capturado em 30/11/2010
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 9
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I
Histórico do Empreendedorismo 12
CAPÍTULO II
Empreendedorismo e Educação 19
CAPÍTULO III
Pedagogia Empreendedora 28
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA 42
ÍNDICE 43