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Universidade de Lisboa Faculdade de Medicina de Lisboa Factores associados à variação de peso em doentes com depressão Jerónima Isabel Carvalho Correia Raposo Curso de Mestrado em Dietética e Nutrição Ano 2010

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Medicina de Lisboa

Factores associados à variação de peso

em doentes com depressão

Jerónima Isabel Carvalho Correia Raposo

Curso de Mestrado em Dietética e Nutrição

Ano 2010

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Factores associados à variação de peso nos doentes com depressão Ano 2010

Jerónima Correia Página ii

Universidade de Lisboa

Faculdade de Medicina de Lisboa

Factores associados à variação de peso

em doentes com depressão

Jerónima Isabel Carvalho Correia Raposo

Curso de Mestrado em Dietética e Nutrição

Ano 2010

A impressão desta dissertação foi aprovada pela Comissão

Coordenadora do Conselho Cientifico da Faculdade de Medicina de

Lisboa em reunião de 20/07/2010.

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Jerónima Correia Página iii

Universidade de Lisboa

Faculdade de Medicina de Lisboa

Factores associados à variação de peso

em doentes com depressão

Jerónima Isabel Carvalho Correia Raposo

Dissertação orientada pela Prof. Doutora Paula Ravasco

Curso de Mestrado em Dietética e Nutrição

Ano 2010

Os conteúdos apresentados são da responsabilidade do mestrando,

excluindo qualquer responsabilidade da Faculdade de Medicina de

Lisboa.

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Jerónima Correia Página iv

RESUMO

Objectivos: A depressão pode levar à obesidade e a obesidade pode potenciar

perturbações depressivas. No entanto, mudanças nos hábitos alimentares e no

padrão nutricional em doentes com síndromes depressivos, têm sido pouco

investigados. O nosso objectivo foi identificar possíveis associações entre factores

nutricionais e a depressão. Métodos: Este estudo transversal incluiu 127 doentes

adultos com perturbações depressivas (DSM-IV), sob tratamento psiquiátrico. Todos

os parâmetros estudados foram ajustados para a idade e sexo: Índice Massa

Corporal (IMC), perímetro abdominal, %gordura (BIA-TanitaBC-418®), ingestão

nutricional (questionário estruturado e validado semi-quantitativo) e actividade física

(questionário estruturado e validado semi-quantitativo), tendo sido comparados as

recomendações internacionais. Resultados: a idade média dos doentes foi de

48±13 (18-81) anos; 119/127 eram mulheres (94%). Excesso de peso/obesidade

encontrou-se em 72% dos doentes, 72% tinha excesso de massa gorda e 69%

apresentava um perímetro abdominal acima dos valores máximos recomendados. A

doença prolongada estava associada a níveis mais elevados de IMC e massa gorda,

p<0,03. O ganho de peso durante a doença registou-se em 87% dos doentes, e

apenas 12% perderam peso, não tendo sido verificada desnutrição. O ganho de

peso e um excesso de massa gorda estavam correlacionados com um IMC mais

elevado, p=0,002. O padrão de ingestão alimentar encontrado era pobre, monótono

e inadequado em 59% dos doentes. Existia também em 78% dos doentes uma

ingestão regular de alimentos hipercalóricos, e o padrão de ingestão alimentar

estava associado ao ganho de peso, p=0.002. O consumo de psicofármacos estava

associado com aumento de peso significativo, p=0,01; os fármacos mais prescritos

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Jerónima Correia Página v

foram os anti-depressivos (75%) e as benzodiazedinas (72%). Além disso, 80% dos

doentes não praticava qualquer actividade física. Conclusões: Existia uma

associação bidireccional entre depressão e excesso de peso/obesidade, com uma

prevalência clinicamente preocupante de excesso de massa gorda, gordura

abdominal, aumento de peso, ingestão nutricional inadequada e sedentarismo. Este

padrão não saudável justifica a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, que

promova estilos de vida saudáveis que possam coadjuvar no tratamento da

depressão.

Palavras chave: Depressão, nutrição, variação ponderal, ingestão alimentar,

actividade física, psicofármacos

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Jerónima Correia Página vi

ABSTRACT

Rationale: Depression may lead to obesity whereas obesity can contribute to

depressive disturbances; yet changes in nutritional pattern and habits in depressive

syndromes have been scantily investigated. We aimed to identify possible

associations between nutritional factors and diagnosed depression. Methods: This

cross sectional study comprised 127 consecutive ambulatory adult patients with

depression (DSMIV), under psychiatric treatment. All studied items, adjusted for sex

and age, included: BMI, waist circumference, %fat mass (BIA-TanitaBC-418®),

nutritional intake by comparison with recommendations (validated semi-quantitative

structured food questionnaire) and physical activity (validated structured

questionnaire). Results: Patient’s mean age was 48±13 (18-81) yrs, 119/127 (94%)

were women. Overweight/obesity was found in 72% of the cohort, 72% had

excessive fat mass and 69% had a waist circumference above the maximum cut-off

value. Longer disease was associated with higher BMI and fat mass, p<0.003.

Weight gain during illness was registered in 87%, only 12% lost weight, though

undernutrition did not occur. Weight gain and greater fat mass were correlated with

higher BMI, p=0.002. The pattern of food intake was poor, monotonous and

inadequate in 59% of patients, there was also a regular consumption of hypercaloric

foods by 78%. Overall, the food intake pattern was associated with weight gain,

p=0.002. Drug consumption was associated with significant weight gain, p=0.01;

antidepressants (75%) and benzodiazepines (72%) were prevalent. Furthermore,

80% of patients did not practice any physical activity. Conclusions: There was a

bidirectional association with overweight/obesity: a striking and clinically worrying

prevalence of excess fat mass, abdominal fat, weight gain, poor nutritional intake and

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Jerónima Correia Página vii

sedentarism. This unhealthy pattern points towards the need of a multidisciplinary

approach to promote healthy life styles that may help depression management.

Key words: Depression, nutrition, weight changes, food intake, physical activity,

psychiatric drugs

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Jerónima Correia Página viii

ÍNDICE GERAL

RESUMO ................................................................................................................................. iv

ABSTRACT .............................................................................................................................. vi

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ xii

I - INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

1- DEPRESSÃO .................................................................................................................. 3

1.1 - Classificação ........................................................................................................... 4

1.2 - Epidemiologia .......................................................................................................... 6

1.3 - Aspectos Psicológicos da Depressão ................................................................. 7

1.4 - Aspectos Biológicos da Depressão ..................................................................... 8

2 - DEPRESSÃO E OBESIDADE ..................................................................................... 9

3 - DEPRESSÃO E OBESIDADE E/OU SÍNDROME METABÓLICA ...................... 11

4 - TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA DA DEPRESSÃO ....................................... 13

4.1- Psicofármacos e Variação Ponderal .................................................................. 15

5 - ALTERAÇÕES DA INGESTÃO ALIMENTAR ......................................................... 17

6 - DEPRESSÃO E CONSUMO ALIMENTAR ............................................................. 19

7- DEPRESSÃO E ACTIVIDADE FÍSICA ..................................................................... 20

II - OBJECTIVOS ................................................................................................................... 21

III- DOENTES E MÉTODOS ................................................................................................ 22

1 - TIPO DE ESTUDO ...................................................................................................... 22

2 - POPULAÇÃO ............................................................................................................... 23

3 - CONSENTIMENTO INFORMADO ........................................................................... 24

4 - CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ........................................................... 25

5 - PROCEDIMENTO DE RECOLHA DE DADOS ...................................................... 26

6 - RECOLHA DE DADOS ............................................................................................... 27

6.1 - Parâmetros Nutricionais ...................................................................................... 27

7 - ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................ 36

IV – RESULTADOS............................................................................................................... 37

1- DOENTES ...................................................................................................................... 37

2 - AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA ........................................................................... 38

2.1 - Índice de Massa Corporal ................................................................................... 38

2.2 - % Gordura corporal e perímetro abdominal ..................................................... 38

2.3 - Variação ponderal ................................................................................................ 39

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3 - HÁBITOS ALIMENTARES ......................................................................................... 41

4 - ACTIVIDADE FÍSICA .................................................................................................. 47

5 - PSICOFÁRMACOS ..................................................................................................... 48

V - DISCUSSÃO .................................................................................................................... 54

VI - CONCLUSÃO ................................................................................................................. 58

VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 59

VIII - ANEXOS ....................................................................................................................... xiii

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Jerónima Correia Página x

ÍNDICE DE FÍGURAS

Figura 1. Modelo bidireccional entre a obesidade e a depressão ……..…………….10

Figura 2. Roda dos Alimentos Portuguesa ………………………………….………… 32

Figura 3. Co-morbilidades ………….…………………………………………………… 37

Figura 4. Distribuição dos doentes por categorias de IMC ………………………….. 38

Figura 5. IMC vs gordura corporal ……………………………………………………… 40

Figura 6. Padrão de número de refeições dos doentes ……………………………… 42

Figura 7. Intervalo entre as refeições feitos habitualmente pelos doentes ……… .. 42

Figura 8. Tipo de alimentos consumidos habitualmente pelo doente ……………… 44

Figura 9. Quantidades de alimentos consumidos habitualmente pelo doente ……..44

Figura 10. Frequência de ingestão de alimentos hipercalóricos ……………………. 45

Figura 11. Anti-depressivos ……………………………………...……………………… 49

Figura 12. Anti-psicóticos ……………………..…………………………………………. 50

Figura 13. Estabilizadores de Humor …………………………………….…………….. 51

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Jerónima Correia Página xi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Influência de psicófarmacos na variação ponderal ………………..………16

Tabela 2. Gordura corporal e perímetro abdominal ………………………………….. 39

Tabela 3. Variação de peso …………………………………………………………….. 39

Tabela 4. Hábitos alimentares ………………………………………………………….. 41

Tabela 5. Compulsividade alimentar e alimentos hipercalóricos …………………… 45

Tabela 6. Actividade Física ……………………………………………………………… 47

Tabela 7. Psicofármacos ………………………………………………………………… 48

Tabela 8. Anti-depressivos vs IMC ………………………………………………………52

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AGRADECIMENTOS

À orientadora desta tese, a Prof.ª Doutora Paula Ravasco, pelo seu apoio,

disponibilidade, crítica e partilha.

Aos doentes da Consulta de Psiquiatria do Hospital Nossa Senhora do Rosário, EPE

Barreiro, pela sua ajuda e disponibilidade em participar neste estudo. Assim como as

experiências de vida partilhadas.

À Directora da Consulta de Psiquiatria, à Comissão de Ética e a todos os psiquiatras

que me “cederam” os preciosos doentes possibilitando a realização e sucesso do

mesmo. À Enfermeira Ana Rocha por me “guardar” alguns doentes e à Dra. Fátima

Lourenço, psicóloga, por tudo!

À Dra. Carla Pereira, coordenadora do Serviço de Nutrição e Dietética pelo apoio e

incentivo neste Mestrado e a todas as colegas do serviço.

Aos meus pais e irmão que directa ou indirectamente me ajudaram a realizar este

estudo.

Ao Carlos que me deu força para frequentar, desde o primeiro dia, este mestrado e

que me “secretariou” em tantas ocasiões.

Ao pequeno Daniel, pela ausência da mãe em tantos e longos dias.

Obrigado a todos

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I- INTRODUÇÃO

A Organização Mundial de Saúde reconheceu a obesidade como a epidemia do

século XXI, sendo que em Portugal 14,2% da população é obesa e 39,4% têm

excesso de peso (1).

A obesidade está associada ao aumento de risco de desenvolver co-morbilidades

diversas com potencial influência na mortalidade (2). Adicionalmente, já foi também

identificada uma relação entre a obesidade e factores psicológicos (2), existindo a

sugestão de que indivíduos com excesso de peso ou obesidade apresentem com

frequência sintomas depressivos e mesmo depressão (2-4). De notar que indivíduos

que sofrem de obesidade e de depressão têm risco acrescido de desenvolver

doenças cardiovasculares e diabetes mellitus (5).

O bem estar psicológico é essencial para uma maior qualidade de vida, sendo que

um bom estado nutricional é preditivo de um aumento do bem estar psicológico (6).

No 4º Inquérito Nacional de Saúde realizado pelo Instituto Nacional de Estatística

e pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge em 2005/2006, verificou-se que

8,3% da população portuguesa sofre de depressão, sendo a prevalência superior no

sexo feminino (7).

A Depressão pode classificar-se em vários tipos, dependendo da gravidade, da

cronicidade e da persistência dos sintomas (8). Assim, a classificação de “depressão

minor”, também chamada de distimia, é usada quando estão presentes 2 a 4

sintomas de depressão, durante um período mínimo de 2 semanas (8, 9). Na

depressão major estão presentes durante mais de 2 semanas, 5 ou mais sintomas

de depressão. (8, 10). Sendo um dos sintomas da depressão as alterações do

apetite, que podem variar entre a anorexia marcada e apetite excessivo com

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consequente hiperfagia, deparamo-nos com variações ponderais acentuadas

durante o percurso da doença. Existem ainda algumas situações específicas que

contribuem para o aumento ponderal; um exemplo é o da compulsividade alimentar

(binge eating desorder) predominante na depressão major (3,11); outro, são alguns

psicofármacos que têm como efeito secundário o aumento do apetite e do peso (12).

Assim, temos uma associação bidireccional ainda pouco conhecida: a obesidade

pode potenciar perturbações depressivas, e a depressão pode levar à obesidade.

Compreender os factores subjacentes a esta associação é crucial para o tratamento

de indivíduos que sofrem de ambas as patologias (2, 5, 13-17).

O estudo dos factores que influenciam a variação ponderal em doentes com

depressão foi objectivo principal deste trabalho de investigação, que decorreu na

Consulta Externa de Psiquiatria do Hospital Nossa Senhora do Rosário (HNSR),

EPE – Barreiro. A relevância deste estudo prende-se com a integração protocolada

da nutrição e educação alimentar no tratamento destes doentes, de forma a prevenir

variações de peso e possivelmente co-morbilidades, com um melhor estado de

saúde global.

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Jerónima Correia Página 3

1 - DEPRESSÃO

A depressão é uma doença mental que se caracteriza por um estado prolongado

e persistente de tristeza, podendo afectar pessoas de todas as idades, desde a

infância à terceira idade (18). O conceito depressão parece ter origem no termo

melancolia usado por Hipócrates, sendo o estado melancólico atribuído ao

excesso/alteração de “bílis negra” (humores básicos), com particular incidência na

Primavera e Outono (19). Esta patologia deve ser entendida como uma síndrome

que pode ter múltiplas etiologias, desde o pólo psicológico ao pólo biológico em que

a tristeza reflecte qualquer obscura disfunção do sistema nervoso central, ou uma

disfunção do humor secundária a uma patologia somática (20).

É hoje mais consensual que a depressão é uma doença crónica, muitas vezes

com episódios recorrentes causando incapacidade e morbilidade significativa (5). É

frequente ocorrer em doentes com patologia(s) médica(s), podendo levar a uma

redução da sua Qualidade de Vida e interferir na evolução clínica da própria doença

(19). Estudos indicam que a depressão pode também estar associada ao aumento

do risco de desenvolver outras doenças, como a diabetes mellitus, a hipertensão

arterial, as doenças cardiovasculares e a obesidade (4, 21-23).

Do ponto de vista clínico, sabe-se que a probabilidade de recorrência é de 50%

após o primeiro episódio, 70% após o segundo e 90% para os doentes que sofreram

mais de dois episódios de agudização da doença (20), o que torna necessários

períodos longos de intervenção terapêutica, em especial nos doentes com múltiplos

episódios de agudização (20).

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Jerónima Correia Página 4

1.1- Classificação

Segundo a “American Psychiaric Association”, a depressão encontra-se integrada

nas perturbações do humor (8). Por sua vez as perturbações do humor dividem-se

em perturbações depressivas (depressão unipolar), perturbações bipolares,

perturbações do humor devidas a distúrbios orgânicos e perturbações de humor

induzidas por substâncias (8). Nas perturbações depressivas incluem-se a

perturbação depressiva major, a perturbação distímica ou minor, e a perturbação

depressiva sem outra especificação (8). As perturbações depressivas major e minor

distinguem-se por factores como a gravidade, cronicidade e persistência dos

sintomas (8).

De acordo com a definição, na perturbação depressiva major, o humor depressivo

tem que estar presente a maior parte do dia de forma constante, por um período de

pelo menos duas semanas, enquanto que na perturbação distímica ou minor tem de

estar presente em mais de metade dos dias durante um período de pelo menos dois

anos. O diagnóstico diferencial entre as duas perturbações torna-se particularmente

difícil, uma vez que partilham sintomas semelhantes e as diferenças entre elas no

início, sua duração, persistência e gravidade não são lineares de destrinçar (8). Um

ou mais episódios depressivos major são a característica essencial da Perturbação

Depressiva Major, sem história de episódios maníacos, mistos ou hipomaniacos (8).

São nove os sintomas que caracterizam a depressão (8, 10):

1) Humor deprimido durante a maior parte do dia, quase todos os dias;

2) Diminuição do interesse e/ou prazer em todas ou quase todas as actividades

durante a maior parte do dia, praticamente todos os dias;

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3) Perda de peso significativa involuntária ou aumento de peso (variação superior a

5% do peso corporal no período de um mês) ou diminuição ou aumento do apetite

praticamente todos os dias;

4) Insónia ou hipersónia quase todos os dias;

5) Agitação ou apatia quase todos os dias;

6) Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;

7) Sensação de inutilidade ou de culpa excessiva ou inapropriada quase todos os

dias;

8) Diminuição na capacidade para pensar, para se concentrar e/ou indecisão quase

todos os dias;

9) Pensamentos negativos recorrentes incluindo sobre a morte.

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Jerónima Correia Página 6

1.2- Epidemiologia

Globalmente a prevalência das perturbações afectivas é mais elevada no sexo

feminino (20); embora as explicações possíveis possam ser variadas, aspectos

sócio-culturais parecem ter particular peso nas diferentes prevalências entre sexos.

É assim possível identificar factores de risco para a depressão (20):

- Sexo feminino;

- Mulheres casadas;

- Homens que vivem sozinhos;

- Idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos;

- Perdas parentais antes da adolescência;

- História familiar de depressão;

- Puerpério;

- Ausência de um confidente;

- Acontecimentos vitais negativos;

- Residência em área urbana.

No 4º Inquérito Nacional de Saúde realizado pelo Instituto Nacional de Estatística

e pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge em 2005/2006, verificou-se que

8,3% da população portuguesa sofre de depressão, havendo prevalência superior

nas mulheres. Neste inquérito também foi contemplada a existência provável de

sofrimento psicológico, sendo que no Continente 27,6% da população com 15 anos

ou mais enquadra-se nesse grupo, destacando-se 36,8% das mulheres vs 17,6%

dos homens (7). À semelhança de Portugal, nos EUA a prevalência da perturbação

depressiva major é superior nas mulheres: 10-25% vs 5-10% dos homens (20).

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Jerónima Correia Página 7

1.3- Aspectos Psicológicos da Depressão

Os modelos cognitivos da depressão relacionam o humor deprimido com

perturbações cognitivas que enviesam a representação que a pessoa faz da

realidade e de si própria e que ocorrem de uma forma inesperada (20). A tríade

cognitiva depressiva consiste na auto-desvalorização, isto é, na

desvalorização/distúrbio da sua auto-imagem, das suas capacidades e das suas

realizações, desvalorização do presente e do futuro, que o indivíduo vive com

sensação de desespero. Existem erros cognitivos específicos que em circunstâncias

propícias, vulnerabilizam para a depressão; são eles a abstracção selectiva, que

consiste em conferir muita importância a um detalhe negativo insignificante,

desconsiderando a globalidade da situação, que pode ser globalmente favorável.

Também a sobregeneralização, ou seja, tirar uma conclusão precipitada com base

em um único evento negativo; também a maximização ou a minimização de

acontecimentos sobrevalorizados (sempre de um forma que desfavorece o próprio,

exagerando a importância de acontecimentos negativos ou retirando importância a

acontecimentos positivos). Pode ainda existir a inferência arbitrária, isto é, retirar

uma conclusão negativa para si sem ter evidência para tal, e ainda a personalização,

em que a pessoa atribui a si própria a responsabilidade por acontecimentos

negativos cujas causas lhe são totalmente estranhas. Estes erros cognitivos,

ampliam os sentimentos depressivos (20).

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1.4- Aspectos Biológicos da Depressão

A alteração biológica que parece ser mais significativa na depressão, é o défice

absoluto ou relativo de monoaminas (catecolaminas: noradrenalina, dopamina) e/ou

de indolaminas como a serotonina. Este facto torna-se visível quando alguns

fármacos levam à depleção destas monoaminas, levando ao desenvolvimento de

depressões. Por outro lado, a medicação que resulta no aumento da disponibilidade

da noradrenalina, i.e. anti-depressivos tricíclicos resulta na melhoria de alguns

quadros depressivos (20, 22).

As alterações psico-neuro-imunológicas na depressão, possivelmente

secundárias a alterações catecolaminérgicas, podem incluir: diminuição da

proliferação linfocitária em presença de um mitogénio, diminuição da actividade das

killer cells e distúrbios em diferentes linhas das células brancas do sangue (20). As

alterações do sono, insónia e a menos frequente hipersónia, são um sinal clínico

ubiquitário da depressão (20).

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2 - DEPRESSÃO E OBESIDADE

A Organização Mundial de Saúde reconheceu a obesidade como a epidemia do

século XXI, sendo que em Portugal 14,2% da população é obesa e 39,4% têm

excesso de peso (1). A obesidade está associada ao aumento do risco de

desenvolver co-morbilidades diversas com potencial influência na mortalidade (2).

Adicionalmente, já foi também identificada uma relação entre a obesidade e factores

psicológicos (2), existindo a sugestão de que indivíduos com excesso de

peso/obesidade apresentem com maior frequência sintomas depressivos e mesmo

depressão (2-5). Assim, estamos perante uma inter-relação importante: a depressão

pode ocorrer no contexto de variadas patologias, podendo afectar a eficácia e

resposta do seu tratamento, com a agravante de no excesso de peso/obesidade, a

sintomatologia depressiva estar muitas vezes presente (3, 19).

Existe uma associação entre depressão e obesidade, embora permaneça

desconhecido o mecanismo subjacente (2, 3, 14). Sendo a depressão um factor de

risco para desenvolver obesidade (2), a Figura 1 esquematiza as relações

bidireccionais entre a depressão e obesidade, por um lado como factor de risco por

outro como consequência (2).

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Jerónima Correia Página 10

Figura 1. Modelo bidireccional entre a obesidade e a depressão (2)

Assim, indivíduos com depressão e obesidade têm riscos acrescidos de

desenvolver patologias e maior morbilidade, sendo necessária intervenção

multidisciplinar e monitorização regular da terapêutica farmacológica (2).

Nível sócio-económico Obesidade grave

Insatisfação com a imagem corporal

Sexo

Obesidade Depressão

Compulsividade alimentar Oscilações de peso

Estado de saúde Disfunções hormonais

Dieta Estigma social

Baixa adesão e falta de exercício físico Pensamentos negativos Falta de suporte social

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Jerónima Correia Página 11

3 - DEPRESSÃO E OBESIDADE E/OU SÍNDROME METABÓLICA

A síndrome metabólica é constituída por um conjunto de alterações metabólicas

específicas, existindo vários critérios para o seu diagnóstico, sendo a guideline mais

utilizada na clínica e com mais estudos publicados a da American Heart Association

(Adult Treatment Panel - ATP III) (24). Assim, a síndrome metabólica existe quando

estão presentes três ou mais, dos cinco critérios de diagnóstico (25):

a) Obesidade central (perímetro abdominal ≥102cm no homem e ≥88cm na

mulher);

b) Trigliceridemia >150mg/dl;

c) Níveis de colesterol HDL <40mg/dl nos homens e <50mg/dl na mulher;

d) Pressão arterial ≥130/85mmHg;

e) Glicemia em jejum ≥110mg/dl.

A sua patogénese é complexa e pouco compreendida, mas as interacções entre

obesidade, estilo de vida sedentário, alimentação inadequada e alguns factores

genéticos, parece estar no cerne do seu desenvolvimento (5, 15). Das alterações

metabólicas que caracterizam a síndrome metabólica, a resistência à insulina parece

ser a sua origem (15, 24), estando associada ao aumento do risco de diabetes

mellitus tipo 2 e ao aumento do risco de doenças cardio e cerebrovasculares (5). Por

outro lado, a presença de sintomas depressivos está associada ao aumento de

obesidade abdominal, aumento do perímetro abdominal especialmente na mulher,

parecendo haver uma associação entre a depressão e o aumento de gordura

visceral, podendo assim levar também ao agravamento da diabetes mellitus e

aumentar o risco de doenças cardio e cerebrovasculares (5, 21).

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Jerónima Correia Página 12

Na depressão, a incidência de Síndrome Metabólica está aumentada (5, 15): em

doentes psiquiátricos a sua prevalência é 138% maior nos homens e 251% maior

nas mulheres, do que na população saudável. O estado emocional, comportamental

e o stress psicológico contribuem para a sua etiologia, mas entre os factores que

podem justificar este aumento de risco metabólico nestes doentes, destacam-se os

psicofármacos (24). É também sabido que o aumento do risco cardiometabólico está

associado ao aumento de peso e aos psicofármacos administrados para o

tratamento da depressão, que podem potenciar o risco de dislipidemia e diabetes

mellitus tipo 2 (15).

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Jerónima Correia Página 13

4 - TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA DA DEPRESSÃO

A terapêutica farmacológica da depressão teve o seu início na década de 50 (20,

26), com os inibidores da Monoaminoxidase (IMAO) e os anti-depressivos tricíclicos,

tendo como mecanismo de acção o aumento da disponibilidade das monoaminas

(20); ex: amitriptilina, clomipramina, imipramina, doxepina, nortriptilina, maprotilina e

desipramina. Os anti-depressivos tricíclicos inibem a recaptação das monoaminas

(noradrenalina, serotonina e dopamina), aumentando a sua concentração na fenda

sináptica, produzindo uma dessensibilização dos receptores pós-sinápticos (20).

Estes fármacos também possuem afinidade para inúmeros receptores celulares em

vários tecidos, o que determina inúmeros efeitos secundários, entre os quais se

destacam o aumento de peso, sedação, obstipação, xerostomia, hipotensão

ortostática, entre outros (20). Estes e outros efeitos secundários são ligeiramente

diferentes entre os diversos anti-depressivos desta classe, uma vez que as

afinidades para os receptores também diferem (20).

Os inibidores selectivos da recaptação da serotonina (ISRS) introduzidos na

prática clínica na década de 80, ex: paroxetina, citalopram, sertralina, fluvoxamina e

fluoxetina (20), permitem atingir iguais níveis de eficácia com maior tolerância e

segurança, por comparação com os anti-depressivos tricíclicos (20, 26),

especialmente no que se refere à sua segurança a nível cardiovascular, podendo

mesmo melhorar o prognóstico de doentes cardíacos (23). Relativamente aos efeitos

adversos destes anti-depressivos, destacam-se as náuseas, anorexia e perda

ponderal, cefaleias, disfunções sexuais, insónia e ansiedade/agitação (sobretudo

com a fluoxetina e a sertralina) (20, 26). Existem ainda os inibidores selectivos da

recaptação da serotonina e da noradrenalina (ISRSN), que se comportam como os

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ISRS em doses baixas e inibem a recaptação da noradrenalina em doses altas. O

mais conhecido e utilizado é a venlafaxina (20, 26).

Os anti-depressivos tricíclicos são pelas razões acima mencionadas cada vez

menos usados, dado o risco aumentado de promoverem eventos cardíacos,

taquicardia e arritmias, tendo sido associado a morte súbita (23). Estes anti-

depressivos levam também ao aumento de peso e podem conduzir à diminuição de

produção de insulina (23).

De notar que para além dos anti-depressivos, existem outros psicofármacos

prescritos para o tratamento da depressão, com o objectivo de reduzir sintomas

depressivos, i.e. ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, efeitos maioritariamente

conseguidos com a utilização de benzodiazepinas (27, 28). As Benzodiazepinas são

fármacos com um bom perfil de segurança e efectivos quando administrados por

curtos períodos de tempo (2 a 4 semanas idealmente), melhorando sobretudo a

ansiedade e a insónia. Devido ao risco de desenvolvimento de dependência, o seu

uso por longos períodos de tempo deve ser evitado; a síndrome de privação

aquando da interrupção do tratamento também é frequente (27-29). Portugal

apresenta um dos maiores níveis de utilização de benzodiazepinas a nível europeu

(27). Os estabilizadores de humor e os anti-psicóticos são outros psicofármacos por

vezes administrados em perturbações depressivas, para minimizar ou evitar os

sintomas.

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4.1- Psicofármacos e Variação Ponderal

Existem alguns mecanismos que explicam a associação entre a variação de peso

e os psicofármacos, nomeadamente relacionados com os neurotransmissores

envolvidos na sua farmacodinâmica (24). Existe a hipótese das monoaminas que

promovem aumento de apetite em modelos animais, pela redução na disponibilidade

da dopamina hipotalâmica (24, 30). Pela diminuição da estimulação do receptor

(5HT2C) da serotonina, também em modelos animais, parece haver um aumento de

insulina e leptina, contribuindo para a obesidade (24). Outra hipótese é a da

histamina, uma vez que os seus receptores têm uma função essencial na regulação

do peso e do consumo alimentar (24, 31). Em modelos animais verificou-se também

que a insensibilidade aos efeitos saciantes da leptina promove o aumento de peso e

da procura de alimento (24). Outra hipótese é a colinérgica, que embora não

totalmente comprovada, defende que o efeito anti-colinérgico possa mediar o

aumento de peso (24). No geral, os anti-depressivos, os estabilizadores de humor e

os anti-psicóticos levam habitualmente ao aumento de peso; no entanto, alguns

destes fármacos podem promover a sua redução (24).

Os anti-depressivos tricíclicos, os IMAO, a mirtazapina e alguns ISRS (sobretudo

a paroxetina) estão associados a maior ganho ponderal (24). Os estabilizadores de

humor que induzem maior aumento de peso são o valproato, o lítio e a

carbamazepina (24). Os anti-psicóticos que mais se associam ao aumento de peso

são a clozapina, a olanzapina e a clorpromazina (24). Na Tabela 1, encontram-se

esquematizados os mecanismos de acção dos diferentes psicofármacos

relativamente ao peso.

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Tabela 1. Influência de psicófarmacos na variação ponderal (24)

Fármacos Aumentam Peso Mantêm Peso Diminuem Peso

Anti-depressivos

Anti-depressivos tricíclicos Mirtazapina Paroxetina

Venlafaxina Duloxetina

Outros ISRS

Fluoxetina Bupropiona

Estabilizadores de humor

Valproato Carbamazepina

Lítio Lamotrigina Topiramato

Anti-psicóticos

Clozapina Olanzapina

Clorpomazina Quetiapina Risperidona

Ziprazidona Aripiprazol Haloperidol

-

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Jerónima Correia Página 17

5 - ALTERAÇÕES DA INGESTÃO ALIMENTAR

Qualquer organismo, independentemente do tamanho ou composição, necessita

para se manter vivo de energia, adquirida através da alimentação. A ingestão

alimentar necessária varia consoante a idade, a raça, o sexo, o exercício físico,

entre outros (32, 33). A alimentação, é portanto um processo de seleccionar

alimentos, dependendo das disponibilidades e da aprendizagem de cada indivíduo.

Este é um processo que permite compor a alimentação diária, de acordo com os

hábitos e condições pessoais, tratando-se de um processo voluntário, determinado

por factores sócio-económicos, demográficos e psicológicos (34).

Uma enorme variedade de distúrbios e doenças tem sido atribuída a mudanças

do estilo de vida, dos quais a alimentação é um factor chave (34). Comer de forma

saudável deve ser cada vez mais uma preocupação comum, à medida que se vão

clarificando as complexas relações entre a alimentação e a saúde. Com o aumento

deste conhecimento das ligações entre a dieta e a doença, que prematuramente

debilitam e matam, uma alimentação apropriada é considerada como sendo aquela

que ajuda a reduzir os riscos de desenvolver doenças crónicas e degenerativas (34).

No entanto, muitas pessoas não têm acesso a alimentos em quantidades

suficientes. Outras cometem cada vez mais erros e excessos por ignorância dos

malefícios e pouca consciência da importância que a alimentação saudável pode ter

para o seu bem-estar e saúde. As alterações da ingestão alimentar são portanto

frequentes em muitas situações de doença (34).

Do ponto de vista fisiológico, a ingestão alimentar é desencadeada pela sensação

de fome iniciada por receptores no hipotálamo, sensíveis à insuficiência de glicose

no interior das células. O stress psicológico e a ansiedade podem ter um efeito

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Jerónima Correia Página 18

semelhante assim como a restrição alimentar (35). O comportamento alimentar é

ainda influenciado por factores afectivos e socioculturais que por sua vez derivam da

diferenciação educacional e também da utilização da alimentação como meio de

relação; é por isso frequente haver alterações da ingestão alimentar ao longo do

ciclo de vida (34).

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Jerónima Correia Página 19

6 - DEPRESSÃO E CONSUMO ALIMENTAR

Os hábitos dietéticos são importantes quando se pensa num estilo de vida

saudável, que influencia a saúde, a morbilidade e a mortalidade. Assim, o consumo

alimentar parece também ter influência sobre a manutenção de uma adequada

saúde mental (6, 36). O apetite e o comportamento alimentar estão frequentemente

alterados na depressão (37); o consumo de hidratos de carbono e açúcares simples

parece estar aumentado e, pelo contrário, o consumo de fruta, vegetais e carne

parece estar diminuído (36). O consumo de chocolate está também associado a

estados depressivos, aumentando quando aumenta a ansiedade e a irritabilidade,

tentando o indivíduo encontrar conforto com esta ingestão (38).

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7- DEPRESSÃO E ACTIVIDADE FÍSICA

Existe particular interesse na actividade física e depressão, uma vez que os

sintomas depressivos são reduzidos pela prática de exercício aeróbio e/ou

anaeróbio (2, 39). Outro benefício do exercício físico a curto prazo é a do controlo do

apetite e aumento da sensibilidade à insulina (40). O exercício pode ser um

adjuvante mutuamente benéfico: deve ser integrado no tratamento da obesidade e

prevenção do excesso de peso (41, 42) e pode ser uma opção terapêutica

suplementar muito benéfica na depressão, aumentando ainda adesão do doente ao

tratamento no seu todo (2). Assim, poderá ser da maior utilidade para a promoção

da actividade física a sugestão prática de pequenas caminhadas de 10 minutos

durante o dia, uma vez que este exercício físico é cumulativo, tentando que se atinja

os 30 minutos diários de intensidade moderada cinco dias por semana; ou em

alternativa 20 minutos diários de exercício intenso três dias por semana, de acordo

com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (2, 41, 43, 44).

Em alguns casos pode verificar-se que o exercício físico pode ser eficaz na

redução da ansiedade, diminuição de sintomas depressivos, aumento da auto-

estima, valorização da imagem corporal e melhoria cognitiva (39, 45).

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II – OBJECTIVOS

Existe uma associação bidireccional ainda pouco conhecida entre a obesidade e

Síndromes Depressivos: a depressão pode levar à obesidade e a obesidade pode

potenciar perturbações depressivas. Em Portugal não existem dados acerca desta

realidade, sendo que compreender os factores subjacentes a esta associação é

crucial para o tratamento de indivíduos que sofrem de ambas as patologias (2, 5, 13-

17).

Assim, o objectivo geral deste trabalho foi melhor conhecer e caracterizar estas

associações e identificar factores associados à variação de peso em doentes com

perturbações depressivas. Os objectivos específicos em doentes com Perturbações

Depressivas incluíram: a avaliação detalhada do seu estado nutricional, dos seus

hábitos alimentares e da prática de actividade física em ambiente de consulta

especialmente concebida para o efeito. Foi ainda recolhida toda a informação

relativa à terapêutica farmacológica de cada doente.

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III- DOENTES E MÉTODOS

Após a formulação dos objectivos, do enquadramento teórico da problemática em

estudo e da forma de a abordar em termos práticos, apresentamos agora de forma

concisa: a metodologia do trabalho, o tipo de estudo, a amostra populacional, a

definição das variáveis e instrumentos de pesquisa, a recolha de dados e os

procedimentos usados para o seu tratamento estatístico.

1- TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo transversal, observacional e analítico. Foi previamente

elaborado um formulário para registo individual da informação obtida de cada doente

estudado. Este formulário foi concebido para registo de todos os dados recolhidos

necessários à prossecução criteriosa do trabalho, desenhado e concebido para

posterior análise e tratamento estatísticos (Anexo 1).

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2- POPULAÇÃO

O estudo decorreu na Consulta Externa de Psiquiatria do Hospital Nossa Senhora

do Rosário, EPE no Barreiro. Entre Maio e Dezembro de 2009, período de execução

do estudo, foram referenciados para a Consulta de Nutrição especialmente

concebida para este projecto, 127 doentes com perturbações depressivas. A

amostra foi ocasional e de conveniência, tendo sido incluídos os doentes de forma

aleatória e consecutiva.

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3- CONSENTIMENTO INFORMADO

Este estudo foi autorizado pela Comissão Nacional de Protecção de Dados e foi

aprovado pela Comissão de Ética do Hospital Nossa Senhora do Rosário, EPE

Barreiro e foi realizado de acordo com a declaração de Helsínquia datada de 1975,

revista em 1983 e actualizada em 2002. Todos os doentes foram informados sobre o

estudo, objectivos, procedimentos e avaliações tendo dado o seu consentimento

informado escrito para a sua participação (Anexo 2).

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Jerónima Correia Página 25

4- CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Os critérios foram pré-estabelecidos aquando do desenho do estudo, sendo

critério de inclusão a idade igual ou superior a 18 anos com perturbações

depressivas, e critério de exclusão os doentes que tinham sido submetidos a

internamento nos últimos 6 meses e/ou os doentes submetidos a terapêutica

farmacológica para redução ponderal.

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5 - PROCEDIMENTO DE RECOLHA DE DADOS

Para a recolha de dados, foi realizada uma consulta especialmente concebida

para este projecto. As avaliações foram sempre feitas quando o doente era indicado

para a consulta de Psiquiatria do Hospital Nossa Senhora do Rosário, EPE Barreiro.

As avaliações foram sempre realizadas pela mesma investigadora e autora deste

estudo (JC); os dados clínicos e a terapêutica farmacológica foram obtidos através

da consulta do processo clínico. Os parâmetros nutricionais e actividade física foram

recolhidos após avaliação individual de cada doente, pelos vários métodos e pelo

questionário aplicado em todas as consultas.

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6 - RECOLHA DE DADOS

Os dados foram recolhidos através da consulta do processo clínico e através da

avaliação dos parâmetros antropométricos, da ingestão alimentar e da prática de

actividade física. Os dados recolhidos através da consulta do processo clínico foram

a idade, o sexo, o tempo de evolução da doença, as co-morbilidades e a toma de

psicofármacos efectuada. Os parâmetros antropométricos, a ingestão alimentar e a

prática de actividade física foram avaliados pela investigadora.

Relativamente à idade e sexo, foi considerada a informação que consta do

processo clínico do doente. O tempo de evolução da doença, co-morbilidades e

psicofármacos de cada doente, foram registados em função da informação contida

na história clínica de cada doente.

6.1 - Parâmetros Nutricionais

6.1.1 - Peso

O peso corporal é a soma de todos os compartimentos. Alguns ou todos os

componentes estão sujeitos alterações como reflexo do crescimento, estado

reprodutivo, variação ao nível do exercício e dos efeitos do envelhecimento. A água

representa cerca de 60 a 65% do peso corporal, sendo o componente mais variável,

pelo que o estado de hidratação pode induzir flutuações (33). Assim, a determinação

do peso espelha todos os compartimentos do organismo, fornecendo uma avaliação

global das reservas adiposa e muscular; as variações ponderais reflectem em geral

alterações no equilíbrio entre a ingestão e consumo de nutrientes (46). O peso é útil

na determinação do estado nutricional em adultos, juntamente com a altura, pois

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permite o cálculo do Índice de Massa Corporal, útil para avaliar o excesso de peso e

obesidade, sendo um método fácil e rápido de aplicar (46).

A determinação do peso (expresso em Kg) foi efectuada através da balança

“Tanita Body Composition Analyser BC-418®”, com o doente vestido em pé

mantendo-se sem apoio, descalço, no centro da plataforma da balança calibrada.

6.1.2 - Variação ponderal

A recolha do peso habitual e sua comparação com o peso actual é considerada

mandatória em qualquer situação clínica; antes da instalação da doença, permite

avaliar as mudanças de peso, factores precipitantes e sua gravidade em função do

período de tempo em que ocorreu (46, 47). A variação de peso foi determinada

através da diferença entre o peso actual e o peso antes do início da doença,

expresso em Kg e foi ainda calculada a percentagem de perda ou de ganho de peso.

6.1.3 - Altura

Vários métodos podem ser usados para medir a altura, podendo ser obtida por via

directa ou indirecta (46). O método directo é a medida com o indivíduo em pé,

descalço, sobre uma superfície lisa, encostado a uma régua vertical graduada

(craveira), com um cursor móvel que nos dará a altura em metros. Quando não é

possível ser medida desta forma, a via indirecta é a utilizada, incluindo medidas do

comprimento do braço, altura deitado e da altura do joelho podem ser opções para

aqueles que não podem ficar em pé (46). Neste estudo a altura utilizada foi a que

consta no Bilhete de Identidade do doente, expressa em metros.

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6.1.4 - Índice de Massa Corporal

O índice de Massa Corporal (IMC) é usado comumente para estimar o nível de

adiposidade, e define a obesidade como a relação entre o peso e a altura. O IMC

deve ser feito com algum grau de cepticismo. É um modo conveniente de padronizar

o tamanho corporal numa faixa de normalidade de peso e altura para adultos, mas

não elimina a necessidade de considerar sexo e estrutura corporal. As alterações na

composição corporal com a idade, fazem com que o IMC normal, ou de referência

aumente (46, 48). O IMC foi calculado através da fórmula [peso(kg)/altura(m)2] e os

valores obtidos foram posteriormente categorizados em função dos critérios da

Organização Mundial de Saúde em: <18,5=magreza; 18,5-24,9=peso adequado; 25-

29,9=excesso de peso; ≥30=obesidade (49).

6.1.5 - Perímetro abdominal

O perímetro abdominal é uma medida antropométrica usada na avaliação

nutricional, com a qual é possível avaliar distribuição da gordura bem como o grau

da sua acumulação intra-abdominal, que é um reconhecido indicador de risco cardio-

metabólico (46, 50-52). O perímetro abdominal foi medido com uma fita métrica não

extensível no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca no plano horizontal,

expresso em centímetros, tendo sido utilizado o valor médio de 3 medições (53).

Para categorização e interpretação dos valores, estes foram valorizados em função

dos cut-offs para risco aumentado de desenvolver complicações cardio-metabólicas:

se ≥102cm no homem e ≥88cm na mulher (54, 55).

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6.1.6 - Gordura corporal

A avaliação da quantidade de massa gorda é útil para analisar a gordura corporal

que, em conjunto com outras medidas antropométricas, permite avaliar a distribuição

de gordura no organismo e riscos associados (46). A determinação da composição

corporal baseia-se no princípio de que a massa magra (músculo, osso e órgãos)

apresenta uma maior condução eléctrica e maior impedância à passagem de uma

corrente eléctrica, quando comparado ao tecido adiposo. A determinação da

composição corporal pode ser feita utilizando diversos métodos. Em contexto clínico

o método mais viável e mais adequado é o da Impedância Bioeléctrica (passagem

de uma corrente eléctrica de baixo potencial), tendo sido esse o método utilizado

neste estudo (46). Foi utilizada a balança de chão com Bioimpedância incorporada

“Tanita Body Composition Analyser BC-418®”; para a medição, o doente estava

vestido em pé, mantendo-se sem apoio e descalço no centro da plataforma da

balança calibrada. Os resultados da massa gorda foram expressos em percentagem,

e por comparação com os valores de referência internacionais, foram considerados

normais se 21-33% na mulher e entre 10-25% no homem (56).

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Jerónima Correia Página 31

6.2 - Hábitos Alimentares

Os hábitos alimentares de cada indivíduo são adquiridos durante a infância; ao

longo do crescimento e na idade adulta, decorrentes das várias vivências,

experiências, preferências e escolhas. Desenvolvem-se hábitos que dependem

directa ou indirectamente de factores sociais, características individuais, cultura,

religião e também com a situação clínica e/ou com a(s) patologia(s) do indivíduo. De

notar que a alimentação é uma necessidade, mas também é um acto que faz parte

do nosso dia-a-dia, sendo também uma fonte de prazer e bem-estar (35).

Uma alimentação saudável deve ser completa e variada, constituída por refeições

equilibradas e frequentes, de forma a garantir uma nutrição adequada veiculando a

ingestão das quantidades necessárias de cada nutriente, quer de macro quer de

micronutrientes. Idealmente, a ingestão alimentar deve ser distribuída ao longo do

dia e deve ser feita em três refeições principais, o pequeno-almoço, almoço e o

jantar, e por duas a três refeições intermédias a meio da manhã, meio da tarde ou

lanche e ceia, não ultrapassando as 3 horas e meia entre refeições (33, 35, 57-60).

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Jerónima Correia Página 32

Figura 2. Roda dos Alimentos Portuguesa (61)

Neste sentido, a nova Roda dos Alimentos validada para a população Portuguesa

(61), transmite de uma forma simples orientações para uma Alimentação Saudável,

ensinando a comer alimentos de cada grupo, respeitando as dimensões dos

mesmos, nas porções adequadas e indicadas a ingerir diariamente; há que variar de

tipo de alimento dentro de cada grupo e reforça a necessidade e importância da

ingestão de água diariamente.

Neste estudo foi realizado um inquérito alimentar estruturado para avaliar as

escolhas alimentares e caracterizar o padrão alimentar dos doentes, inquérito este

que consistia em questões objectivas e abertas. Em detalhe, foi analisado o número

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de refeições diárias, o intervalo de tempo médio entre as refeições, os alimentos

consumidos e as respectivas quantidades, ao qual foi atribuída a cada uma, uma

pontuação. Assim, como máximo atribuíram-se 4 pontos ao número de refeições

diárias realizadas pelo doente, bem como ao intervalo de tempo médio entre as

refeições, e 6 pontos aos alimentos consumidos e às respectivas quantidades.

Tendo-se seguido todas as recomendações de alimentação saudável (33, 35, 57-

61). Estes pontos foram no final somados, sendo o total máximo possível de 20

pontos. Quanto maior a pontuação, mais adequados foram considerados os hábitos

alimentares.

Os hábitos alimentares foram assim estruturados e valorizados em: adequados=

15-20 pontos; pouco adequados= 9-14 pontos ou inadequados= 0-8 pontos. As

pontuações atribuídas ao número de refeições, intervalo de tempo médio entre as

refeições, tipo de alimentos e quantidades de alimentos encontram-se presentes no

Anexo 3.

6.2.1 - Ingestão de alimentos hipercalóricos

A ingestão de alimentos de elevada densidade calórica, é considerado um erro

alimentar frequente e major em diversos estudos populacionais (62-64), bem como

na população portuguesa (58), sendo reconhecido o seu papel na precipitação e/ou

agravamento de diversas co-morbilidades. Por outro lado, e no âmbito concreto do

presente estudo, o interesse na ingestão deste tipo de alimentos prende-se com a

conhecida relação entre o aumento da ingestão deste tipo de alimentos e estados

depressivos (36-38). Neste estudo, foi avaliado o consumo diário por cada doente de

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alimentos de elevada densidade calórica, alimentos ricos em gordura e também

bebidas açucaradas.

6.2.2 - Compulsividade alimentar

A ingestão alimentar compulsiva ocorre habitualmente em episódios, regulares ou

esporádicos, de frequência diversa ao longo do dia (65). É conhecida como “Binge

eating disorder” e é definida pela ingestão num curto período de tempo de uma

quantidade anormal e excessiva de todo o tipo de alimentos, não tolerável pela

maioria das pessoas. Nestes episódios, os doentes comem “tudo o que conseguem

encontrar” desde bolos, sobremesas, pão, até comida congelada ou conservada no

frigorífico. Comem de forma voraz, engolem os alimentos e quase não os mastigam,

tudo a uma velocidade inexplicável. O episódio pára quando é atingido o limite

máximo do seu conteúdo gástrico, podendo muitas vezes acabar com lipotímia,

perda de consciência e/ou vómito (8, 65, 66). Foi avaliada a ocorrência de episódios

de ingestão alimentar compulsiva durante o dia e também durante a noite, por

perguntas abertas ao doente.

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Jerónima Correia Página 35

6.3 - Realização de Actividade Física

Preconizado como estilo de vida saudável está a associação entre alimentação

adequada de acordo com as recomendações para idade e sexo, e a prática regular

de actividade física (33, 41, 42, 53), definida como mínimo, de 30 minutos de

actividade física moderada cinco vezes por semana ou 20 minutos de actividade

física intensa três vezes por semana (43, 44). Através de um questionário

estruturado, foi avaliada a prática de actividade física, que incluiu a duração e a

frequência semanal e o tipo de actividade física praticada, ao qual foi atribuída a

cada um, uma pontuação. Assim e como máximo atribuiu-se 5 pontos à duração e à

frequência semanal de actividade física. Sendo o total máximo possível de 10

pontos. Quanto maior a pontuação, mais adequada é considerada a actividade

física.

Tendo sido a realização de actividade física entre: Actividade física adequada=8-

10 pontos; Actividade física pouco adequada=5-7 pontos; Actividade física

inadequada= 0- 4 pontos. As pontuações atribuídas à duração da actividade física e

à frequência da actividade física encontram-se presentes no Anexo 4.

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7 - ANÁLISE ESTATÍSTICA

A análise estatística foi realizada com os programas SPSS versão 16.0 para

Windows e Microsoft Office Excel 2007. Para a obtenção dos resultados foi utilizada

uma estatística descritiva para uma primeira caracterização e leitura dos dados. A

idade foi apresentada em média ± desvio padrão (limites inferior e superior), assim

como a duração da doença; a distribuição por sexos foi apresentada em número e

percentagem. As co-morbilidades, o Índice de Massa Corporal, a gordura corporal, o

perímetro abdominal e a variação de peso foram apresentados em número e

percentagens, conforme adequado. Para as análises estatísticas de associação

foram utilizadas as variáveis nutricionais em valores absolutos (variáveis numéricas)

para aplicação dos testes de Kruskal-Wallis e Mann Whitney U. Os hábitos

alimentares e a actividade física foram ainda classificados em categorias (adequado,

pouco adequado e inadequado) e a sua associação com outras variáveis de estado

nutricional e clínicas foi avaliada pelos mesmos testes estatísticos.

Foi efectuada análise de frequências e todas as correlações foram bi-variadas

utilizando o método de Spearman para uma primeira abordagem de relação entre

variáveis. As variáveis categóricas foram comparadas pelo teste do Qui quadrado.

Para todos os testes foi estabelecido o nível de significância para 5%.

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IV – RESULTADOS

1- DOENTES

Foram avaliados 127 doentes com perturbações depressivas; a idade média foi

de 48±13 (18-81) anos. A maioria era do sexo feminino: 119/127 (94%); 8/127 (6%)

eram do sexo masculino. A duração da doença variou entre os 2 meses e os 30

anos, sendo que em 46% (n=58) a doença havia sido diagnosticada no período de 1

e 5 anos prévios à data da colheita dos dados.

Relativamente ao estado de saúde prévio dos doentes, 43% (n=55/127) tinha 1 ou

mais co-morbilidades (Figura 3).

Sem comorbili dades

HTA

Doenças Cardiovasculares

hipercolesterol emia

HTA e Hipercolesterolemia

HTA e Diabetes Mellitus

"HTA,Diabetes Mel litus e Hipercolesterolémia"

Di abetes Mellitus e Hipercolesterolémia

Comorbilidades

n=1

Figura 3. Co-morbilidades

0,8% n=1

4,7% n=6 2,4%

n=3

11,8% n=15

9,4% n=12

56,7% n=72

13,4% n=17

0,8% n=1

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2 – AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA

2.1- Índice de Massa Corporal

Este parâmetro indicou que a maioria dos doentes (72%; n=92/127) apresentava

excesso de peso ou obesidade. A Figura 4 ilustra a distribuição dos doentes pelos

vários graus do IMC desde a desnutrição à obesidade mórbida.

Baixo Peso

Peso Normal

Excesso de Peso

Obesidade grau 1 e 2

Obesidade Mórbida

IMC0,79%n=1

26,19%n=33

26,98%n=34

40,48%n=51

5,56%n=7

Figura 4. Distribuição dos doentes por categorias de IMC

2.2 - % Gordura corporal e perímetro abdominal

A esmagadora maioria dos doentes (72%; n=91) tinha excesso de massa gorda, e

69% (n=87) tinham um perímetro abdominal acima dos valores máximos

recomendados (Tabela 2).

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Tabela 2. Gordura corporal e perímetro abdominal

N (%)

% Gordura corporal

<25%♂ e <33%♀ 36 (28%)

≥25%♂ e ≥ 33%♀ 91 (72%)

Perímetro abdominal (cm)

<102♂ e <88♀ 40 (31%)

≥102♂ e ≥88♀ 87 (69%)

Dados expressos em número(%) de doentes

2.3- Variação ponderal

Dos 127 doentes, 110 doentes (87%) aumentaram de peso, 1 doente (1%)

manteve o peso e 16 doentes (12%) diminuíram de peso, durante a doença (Tabela

3).

Os doentes com ganho ponderal, variaram o seu peso entre os 0,4% e os 129%

por comparação com o seu peso habitual. Verificámos que havia uma correlação

significativa entre a variação de peso e o tempo de evolução da doença (p=0,038).

Tabela 3. Variação de peso

N (%)

Variação de Peso

Diminuíram o peso 16 (12%)

Manteve o peso 1 (1%)

Aumentaram o peso 110 (87%)

Dados expressos em número(%) de doentes

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Verificámos que havia uma correlação significativa entre a variação de peso e o

IMC (p=0,002), uma vez que 84 doentes (76,4%) que aumentaram de peso,

apresentam excesso de peso ou obesidade; havia também uma correlação positiva

significativa entre o IMC e a % gordura corporal em ambos os sexos p<0,002

(Figura 5).

Figura 5. IMC vs gordura corporal

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3 – HÁBITOS ALIMENTARES

Conforme ilustrado na Tabela 4, os hábitos alimentares em 59% (n=75) dos

doentes eram pouco adequados ou inadequados.

Tabela 4. Hábitos alimentares

N (%)

Hábitos Alimentares

Adequados 52 (41%)

Pouco adequados 35 (28%)

Inadequados 40 (31%)

Dados expressos em número(%) de doentes

Em detalhe, verificámos que 67 doentes (53%) faziam um número adequado de

refeições e 60 doentes (47%) faziam um número pouco adequado ou inadequado

(NS) de refeições. Relativamente ao intervalo entre as refeições, 49 doentes (46%)

faziam um intervalo considerado adequado entre as refeições, enquanto que 68

doentes (54%) tinham um intervalo pouco adequado ou inadequado entre as

refeições (Figuras 6 e 7).

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Figura 6. Padrão de número de refeições dos doentes

Figura 7. Intervalo entre as refeições feitos habitualmente pelos doentes

No que concerne aos alimentos ingeridos diariamente pelos doentes, 55% (n=70)

dos doentes ingerem os alimentos constantes na Roda dos Alimentos Portuguesa,

enquanto que 45% (n=57) dos doentes faziam uma ingestão alimentar pouco

5,5% n=7

52,8% n=67 41,7%

n=53

33,4% n=43

19,8% n=25

46,8% n=59

Inadequado ( <3 ou >7 refeições)

Pouco Adequado ( 3-4 refei ções)

Adequado ( 5-7 refeições)

Nº Refeições

Inadequado ( <2 ou >5 horas)

Pouco Adequado (4-5 horas)

Adequado ( 2-3,5 horas)

Intervalos entre refeições

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adequada ou inadequada (Figura 8). Dos 70 doentes que ingeriam os alimentos

constantes na Roda dos Alimentos Portuguesa, 46 deles (66%) faziam um número

de refeições e um intervalo adequados entre as refeições (p<0,04). Podemos ainda

acrescentar que dos 57 doentes que faziam uma ingestão alimentar pouco

adequada ou inadequada, 42 deles (74%) faziam um número de refeições e um

intervalo entre as refeições também pouco adequado ou inadequado (p<0.05); 11

destes doentes (19%) faziam um número de refeições e um intervalo entre as

refeições adequado (p<0,05).

No que toca à quantidade, de alimentos, ingerida, era escasso o número de

doentes que comiam em quantidades adequadas de acordo com as recomendações

(7%; n=9), ao passo que 93% (n=118/127) comiam em quantidades pouco

adequadas ou inadequadas (Figura 9). Dos 9 doentes que comiam em quantidades

adequadas, todos ingeriam os alimentos recomendados pela Roda dos Alimentos

Portuguesa, faziam um número de refeições e um intervalo entre as refeições

também adequados (p<0.04). Podemos ainda referir que dos 118 doentes que

comiam em quantidades pouco adequadas ou inadequadas, 41 deles (35%) tinham

um número de refeições e um intervalo entre refeições inadequados. E não ingeriam

os alimentos conforme recomendado pela Roda dos Alimentos Portuguesa (p<0,05);

36 doentes (31%) faziam um número de refeições adequado, um intervalo entre

refeições adequado e ingeriam os alimentos conforme recomendado pela Roda dos

Alimentos Portuguesa (p<0,04).

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Figura 8. Tipo de alimentos consumidos habitualmente pelo doente

Figura 9. Quantidades de alimentos consumidos habitualmente pelo doente

Existiu uma correlação significativa entre os hábitos alimentares e a variação de

peso (p=0,05), uma vez que 55% (n=69/110) dos doentes que aumentaram de peso,

apresentavam hábitos alimentares pouco adequados ou inadequados e 62%

(n=10/16) dos doentes que diminuíram de peso, apresentavam hábitos alimentares

adequados. O consumo de alimentos hipercalóricos era predominante na maioria

34,7% n=44

10,2% n=13

55,1% n=70

28,3% n=36

7,1% n=9

64,6% n=82

Inadequado ( 1-3 grupos)

Pouco Adequado ( 4-5 grupos)

Adequado ( 6-7 grupos)

Tipo de Alimentos

Inadequado ( 1-3 grupos)

Pouco Adequado ( 4-5 grupos)

Adequado ( 6-7 grupos)

Quantidades de alimentos

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dos doentes (n=99; 78%), sendo os doces como o chocolate os mais consumidos,

p<0,0. Adicionalmente, a compulsividade alimentar estava ausente na maioria, em

61% dos doentes, Figura 10 e Tabela 5.

Sim

Não

Alimentos Hipercalóricos

Figura 10. Frequência de ingestão de alimentos hipercalóricos

Tabela 5. Compulsividade alimentar e alimentos hipercalóricos

N (%)

Compulsividade Alimentar

Presente 49 (39%)

Ausente 78 (61%)

Alimentos Hipercalóricos

Consome 99 (78%)

Não consome 28 (22%)

Dados expressos em número(%) de doentes

77,9% n=99

22,1% n=28

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Havia uma correlação significativa entre o consumo de alimentos hipercalóricos e

a % gordura corporal nas mulheres (p=0,013), assim como com o perímetro

abdominal (p=0,013) e o IMC (p=0,086); no entanto, quanto à variação de peso a

correlação não foi significativa (p=0,721). Também não verificámos correlação

significativa entre o consumo de alimentos hipercalóricos e a duração da doença

(p=0,736).

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4 – ACTIVIDADE FÍSICA

A esmagadora maioria dos doentes não praticava exercício físico (n=101/127,

80%), conforme ilustra a Tabela 6 e a Figura 11.

Tabela 6. Actividade Física

N (%)

Actividade Física

Adequados 16 (12%)

Pouco adequados 10 (8%)

Inadequados 101 (80%)

Dados expressos em número(%) de doentes

Podemos referir que dos 26 doentes que praticavam adequadamente actividade

física, 12% (n=16) tinha uma prática de 30 minutos ou superior de actividade

moderada, durante 5 dias por semana ou de 20 minutos ou superior de actividade

intensa, durante 3 dias por semana. Apenas 10 doentes (8%) praticavam alguma

actividade física, no entanto pouco adequada.

Após a primeira análise dos dados, não encontrámos correlação significativa entre

a actividade física e a variação de peso, apesar de 88% (n=97/110) dos doentes que

aumentaram de peso não apresentarem qualquer actividade física e 19% (n=3/16)

dos doentes que diminuíram de peso, apresentavam actividade física adequada.

Através de uma análise de concordância individual, foi possível verificar que os

doentes que aumentaram de peso efectivamente não praticavam actividade física

(p<0,02) e que os doentes que perderam peso eram fisicamente activos (p<0,01).

Não se verificou associação entre a actividade física e o IMC, a % gordura corporal

nem com o perímetro abdominal (p=0.444).

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5 – PSICOFÁRMACOS

A maioria dos doentes tomava psicofármacos, sendo os mais utilizados os anti-

depressivos (n=95) e os ansiolíticos (n=92), Tabela 7.

Tabela 7. Psicofármacos

N (%)

Psicofármacos

Anti-depressivos 95 (75%)

Ansiolíticos 92 (72%)

Anti-psicóticos 39 (32%)

Estabilizadores de humor 23 (17%)

Relaxantes musculares 2 (2%)

Dados expressos em número(%) de doentes

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Os anti-depressivos mais consumidos eram os ISRS, em 89% dos doentes

(n=70), e destes a Fluoxetina era o fármaco mais comum seguido da Sertralina.

Seguem-se depois os anti-depressivos tricíclicos e por último, os menos consumidos

os anti-depressivos ISRSN (Figura 11).

Figura 11. Anti-depressivos

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Dos 92 indivíduos que tomavam ansiolíticos, 91 tomavam Benzodiazepinas e

apenas 1 tomava valeriana. Os anti-psicóticos foram consumidos por 32% da

amostra, sendo o mais prescrito a Risperidona (Figura 12).

Figura 12. Anti-psicóticos

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Dos 23 doentes que tomavam estabilizadores de humor, o mais prescrito foi o

Valproato de Sódio, seguido da Lamotrigina (Figura 13).

Figura 13. Estabilizadores de Humor

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Dos 95 indivíduos que tomaram anti-depressivos, 81 apresentaram aumento

ponderal (p=0,002). A toma de anti-depressivos estava associada a maior IMC,

sendo que 74 doentes (79%) que tomavam anti-depressivos apresentavam excesso

de peso ou obesidade (p=0,013), conforme mostra na Tabela 8. Não foi encontrada

associação entre a toma de anti-depressivos e o aumento do perímetro abdominal a

% gordura corporal.

Tabela 8. Anti-depressivos vs IMC

IMC

Peso Normal Excesso de peso e Obesidade

Consumo de

Anti-depressivos

Sim 19 74

Não 14 18

Dados expressos em número de doentes

Dos 23 indivíduos que tomavam estabilizadores de humor, praticamente todos os

doentes (n=22) aumentaram o peso (p=0,01). Dos 39 indivíduos que tomavam anti-

psicóticos, 35 doentes aumentaram de peso (p=0,001). Obtivemos então uma

associação significativa entre a toma de psicofármacos e a variação de peso. De

notar que os doentes faziam vários psicofármacos em simultâneo, sendo que as

associações encontradas poderiam ser mais significativas, uma vez que, sendo a

Fluoxetina o anti-depressivo mais administrado, outros psicofármacos podem ter

efeitos contrários.

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Separando os doentes de acordo com o tempo de duração da doença: 1 grupo

com diagnóstico de doença inferior a 5 anos e outro com duração da doença ≥5

anos, verificámos diferenças relevantes. Relativamente ao IMC existe uma

percentagem superior de excesso de peso e obesidade (76%) nos doentes que

apresentam a doença há mais de 5 anos vs os doentes que apresentam a doença

há menos de 5 anos (70%). No que concerne à % gordura corporal, obtivemos

igualmente uma percentagem superior nos doentes que apresentam um aumento

deste valor, com o tempo de evolução de doença ≥5 anos (79%) vs os doentes em

que a evolução de doença era até 5 anos (71%). Já no que se refere ao perímetro

abdominal, a diferença é quase nula: 67% de doentes que apresentam um perímetro

abdominal aumentado com tempo de evolução de doença ≥5 anos vs os 67% de

doentes que tinham aumento do perímetro abdominal com a apresentação da

doença há menos de 5 anos. A variação de peso dos doentes com o tempo de

evolução de doença até 5 anos, apresentam 86% de doentes que engordaram, e

90% de doentes que engordaram com um tempo de evolução de doença igual ou

superior a 5 anos.

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V – DISCUSSÃO

Aquando da avaliação geral do doente, a avaliação nutricional (antropometria,

dieta, hábitos alimentares, variações ponderais), deverá fazer parte integrante, uma

vez que através desta avaliação, são obtidas informações clínicas de extrema

relevância para profissionais e para os doentes. A avaliação do estado nutricional

em doentes com perturbações depressivas é muitas vezes esquecida, sendo

encarado como prioritário tratar os sintomas depressivos, sendo que a referenciação

para uma consulta de nutrição/dietética acontece essencialmente em doentes que

verbalizam querer ajuda para o controlo do seu peso. Ao longo da colheita de dados

deste trabalho na Consulta Externa de Psiquiatria do Hospital Nossa Senhora do

Rosário, a percepção de que é dada pouco importância à avaliação antropométrica,

à alimentação, à actividade física e às alterações metabólicas é nítida. No entanto,

existe alguma preocupação em prescrever psicofármacos que estão associados à

redução ponderal, quando possível.

Com a realização deste estudo, pretendeu-se conhecer as associações entre

factores associados à variação de peso em doentes com perturbações depressivas,

obtendo conhecimentos da realidade, para que possam vir a contribuir para a uma

possível mudança de atitude e abordagem a estes doentes.

No global era comum a 31% dos doentes haver um IMC acima do adequado,

%gordura corporal excessiva e um perímetro abdominal acima do limite máximo

recomendado; estes mesmos doentes haviam ganho peso no decorrer da doença,

tinham hábitos alimentares inadequados, não praticavam actividade física e

consumiam alimentos hipercalóricos com frequência. Adicionalmente, os 127

doentes com perturbações depressivas incluídos no estudo, apresentavam algumas

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co-morbilidades, como sendo a HTA (13%) e a HTA cumulativamente com a

hipercolesterolémia em 12% dos doentes. Estas co-morbilidades são preocupantes,

uma vez que são reconhecidos factores de risco cardio/cerebrovasculares (5, 15).

Quanto à avaliação antropométrica, e verificando que 72% dos doentes

apresentava excesso de peso e obesidade, obtivemos concordância com a

bibliografia, sendo de referir também uma elevada prevalência de perímetro

abdominal acima do limite máximo em 69% dos doentes e uma elevada % gordura

corporal em 72% dos doentes (21, 24). No que se refere à variação de peso, neste

estudo 87% dos doentes havia aumentado de peso no decorrer da doença. Quando

pesquisámos a potencial associação entre a variação de peso e o tempo de

evolução da doença, obtivemos uma correlação positiva (p=0,038), assim como com

o IMC (p=0,002). Houve igualmente correlação positiva entre o IMC e a %de gordura

corporal (p<0,002). Assim é possível especular que a depressão pode efectivamente

determinar alterações do estado nutricional com importantes implicações na saúde

futura dos doentes.

Já em relação aos hábitos alimentares, 59% dos doentes tinha hábitos pouco

adequados ou inadequados, tendo sido analisados vários parâmetros, i.e. o número

de refeições por dia, o intervalo entre as refeições, o tipo de alimentos e a

quantidade consumida. Verificámos que 53% dos doentes fazia um número de

refeições adequado, 46% dos doentes fazia um intervalo adequado entre as

refeições, 55% dos doentes ingeria os alimentos nas proporções constantes na

Roda dos Alimentos Portuguesa e 7% dos doentes (n=9) ingeriam as quantidades

adequadas segundo as recomendações (61). Assim sendo, o maior erro alimentar

encontrado foi a quantidade excessiva de alimentos consumida ingerida em 93%

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dos doentes. De notar que este consumo pode estar associado à situação clínica

destes doentes (37). E de facto, 78% dos doentes ingeria grandes quantidades de

alimentos hipercalóricos, em particular aqueles ricos em açúcar e destes em

especial o chocolate, facto clínica e fisiologicamente reconhecido (36, 38). Estes

dados vão de encontro aos dados da literatura, uma vez que o apetite e o

comportamento alimentar estão alterados em situações de depressão (37) e parece

haver um consumo aumentado de hidratos de carbono e açúcares simples (36)

estando o consumo de chocolate também associado a estados depressivos (38).

Avançando na análise dos dados, o consumo excessivo de alimentos hipercalóricos

estava significativamente correlacionado com a gordura corporal e o perímetro

abdominal.

A prática de actividade física era escassa nos doentes estudados, em que se

verificou que 88% tinha hábitos sedentários. Apenas 12% praticavam actividade

física de acordo com as recomendações pela OMS: mínimo de 30 minutos de

actividade moderada, durante 5 dias por semana ou de 20 minutos de actividade

intensa durante 3 dias por semana (2, 41, 43, 44). De notar que em doentes com

perturbações depressivas, a actividade física é também benéfica como adjuvante da

terapêutica, devendo ser incentivada a sua prática regular (2, 40-42).

Os psicofármacos consumidos pelos doentes eram vários e raramente isolados;

anti-depressivos, os ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, anti-psicóticos,

estabilizadores de humor, até aos muito menos frequentes os relaxantes

musculares. Os anti-depressivos eram os mais prescritos (75% dos doentes), e

destes os ISRS eram os mais frequentes, seguidos dos anti-depressivos tricíclicos e

por último os ISRSN. No geral, o anti-depressivo mais consumido foi a Fluoxetina

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que apesar de referido na literatura como associado à diminuição de peso (24), este

facto não se verificou neste estudo, talvez porque este anti-depressivo não era

consumido isoladamente. Verificámos também que a toma dos anti-depressivos

estava correlacionada com o aumento de peso, bem como com um maior IMC. Os

anti-psicóticos eram consumidos por 32% dos doentes e o mais comum era a

Risperidona, associada ao aumento de peso (24), que se verificou também neste

estudo, em que dos doentes que tomavam Risperidona, apenas 1 doente não

engordou. Os estabilizadores de humor eram consumidos por 17% dos doentes,

sendo o mais prescrito o Valproato de Sódio, que segundo a evidência contribui para

o aumento do peso (24), e de facto neste estudo todos os doentes sujeitos à toma

deste estabilizador de humor aumentaram de peso. Assim, a toma de anti-

depressivos, anti-psicóticos e de estabilizadores de humor estava associada ao

aumento de peso e a um maior IMC.

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VI – CONCLUSÃO

Dada a associação bidireccional entre a obesidade e perturbações depressivas,

surgiu a necessidade de identificar os factores que estão associados à variação de

peso nos doentes com perturbações depressivas. É da máxima importância

compreender os factores subjacentes a esta associação, sendo crucial para o

tratamento de indivíduos que sofrem de ambas as patologias (2, 5, 13-17). Assim, é

importante monitorizar o doente com depressão, para poder intervir quando surgem

factores de risco metabólicos.

É ainda importante que os doentes com perturbações depressivas adoptem

estilos de vida saudáveis, através de uma alimentação equilibrada e da prática de

actividade física de acordo com as recomendações, para prevenir e tratar o possível

excesso de peso ou obesidade e as possíveis alterações metabólicas, bem como

para beneficiarem dos benefícios da actividade física na sua patologia de base.

Os nossos resultados confirmaram objectivamente a percepção dos doentes, que

desde há muito referem que a toma de psicofármacos contribui para o seu aumento

de peso. A abordagem farmacológica deverá ser ponderada, na medida em que

poderá interferir não só com o peso mas também com co-morbilidades como a HTA

e a dislipidémia. Conscientes de todos os factores limitantes a estas alterações, há

que reflectir sobre qual a melhor estratégia farmacológica, mas obrigatoriamente a

abordagem ao doente terá de incluir uma equipa multidisciplinar, de forma a modular

estilos de vida, alimentação e estado nutricional, sendo estas alterações de toda a

pertinência a nível psiquiátrico.

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