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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO MESTRADO EM HEBIATRIA ATENDIMENTO EM REDE AOS ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA: O OLHAR DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE CAMARAGIBE-PE 2014

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO

MESTRADO EM HEBIATRIA

ATENDIMENTO EM REDE AOS ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE

VIOLÊNCIA: O OLHAR DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE

CAMARAGIBE-PE

2014

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CLÁUDIA FABIANE GOMES GONÇALVES

ATENDIMENTO EM REDE AOS ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE

VIOLÊNCIA: O OLHAR DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Dissertação apresentada a Faculdade de

Odontologia da Universidade de Pernambuco –

FOP/UPE, como requisito para obtenção do

título de Mestre em Hebiatria, na área de

concentração: Determinantes na Saúde do

Adolescente.

Orientadora: Prof.ª Drª. Lygia Maria Pereira da

Silva

CAMARAGIBE-PE

2014

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – UPE

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PERNAMBUCO – FOP

MESTRADO EM HEBIATRIA

A dissertação: ATENDIMENTO EM REDE AOS ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO

DE VIOLÊNCIA: O OLHAR DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Elaborada por CLÁUDIA FABIANE GOMES GONÇALVES

Será julgada pelos membros da Comissão Examinadora para obtenção do grau de

MESTRE EM HEBIATRIA na área de concentração: Determinantes na Saúde do

Adolescente.

Data: 28 de março de 2014.

______________________________________________

Profª. Drª. Viviane Colares Soares de Andrade e Amorim

Coordenadora do Mestrado em Hebiatria UPE / FOP

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________

Profª. Drª. Lygia Maria Pereira da Silva

Orientadora

______________________________________________

Profª. Drª. Ana Carolina Rodarti Pitangui

Universidade de Pernambuco

______________________________________________

Profª. Drª. Estela Maria Leite Meirelles Monteiro

Universidade Federal de Pernambuco

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DEDICATÓRIA

A minha família que eu tanto amo e sempre me apoia em

todas as fases da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, presença constante em minha vida. Muitos foram os momentos de cansaços e

incertezas, contudo, Ele me sustentou, guiou meus passou e permitiu mais essa conquista.

“Posso, tudo posso, naquele que me fortalece”. Obrigado, Senhor.

À Prof.ª Drª Lygia Maria Pereira da Silva, que como sempre a sua atuação extrapolou

em muito os limites da orientação. Foi meu colo em muitos momentos, por ter tido paciência

e por ter acreditado em mim, sendo um exemplo de profissional a ser seguido.

Ao Programa de Fortalecimento Acadêmico (PFA), pela concessão da bolsa a qual

permitiu o aprimoramento da minha qualificação profissional e pessoal.

Ao Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia (IFPE), Instituição na qual

tenho o privilégio de ser docente e trabalhar com pessoas com a mente aberta

À minha mãe, Maria do Carmo Gomes da Silva “Carminha” que esteve ao meu lado

em toda caminhada com incentivos de força, compreendendo e se fazendo presente nas

minhas ausências junto com a minha família. Emociona-me lembrar a história de vida que

construímos juntas. Essa vitória também pertence a ela.

Ao meu esposo José Agnaldo, por me acompanhar nessa trajetória com paciência,

palavras de ânimos e amor. Um grande companheiro.

Aos meus filhos Diego e Camylla Gomes que nessa fase da adolescência vivenciada

por eles, ensinaram-me a ser mais compreensiva.

Aos meus familiares por acreditarem em mim, oferendo o apoio mesmo quando

estavam distantes.

As colegas que conheci da graduação da Faculdade Nossa senhora das Graças

(FENSG) Marcela e Cintia, por ter contribuído bastante na construção desse estudo.

Ao corpo docente do curso de Hebiatria, por contribuir para o enriquecimento do meu

aprendizado, em especial a Profª Viviane Colares que mesmo em um momento tão difícil de

sua vida, tinha uma palavra de incentivo para todos nós.

Aos amigos e colegas de Mestrado, pela convivência, pelo companheirismo e por

tornarem o processo de aprendizado prazeroso e as dificuldades mais amenas.

Enfim, agradeço a todos que contribuíram direta e indiretamente em mais uma etapa

de formação da minha carreira.

Muito obrigada!

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“Tantas vezes pensamos em ter chegado, tantas vezes é preciso ir além”

Fernando Pessoa

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RESUMO

A violência na adolescência apresenta semelhanças com o fenômeno quando esse ocorre na

infância, porém percebe-se especificidades, pois o adolescente com maior frequência

circula em espaço fora da família, reforçando a necessidade do trabalho em rede,

convocando e articulando políticas públicas para abordagem na perspectiva da

integralidade. Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratória e descritiva, com abordagem

qualitativa, realizado de maio a julho de 2013. O campo de estudo foi um serviço de

referência em saúde, para os atendimentos aos casos de violência e os sujeitos gerentes dos

serviços. Teve como sujeitos gerentes de serviços de um hospital de referência para

atendimento aos casos de violência, no estado de Pernambuco, Brasil. A coleta dos dados

foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas e do mapeamento mínimo dos

vínculos institucionais. A análise dos dados foi realizada por meio da análise de conteúdo,

modalidade temática. Utilizou-se a teoria da proteção integral como suporte teórico, para a

análise dos dados. Os resultados mostram que o serviço de saúde é importante referência

no atendimento às vítimas adolescentes, porém em suas ações o serviço não obedece os

padrões de atuação em rede, evidenciando uma lacuna para a proteção aos adolescentes

vítimas de violência. O mapeamento mínimo dos vínculos institucionais do serviço de

saúde com as instituições do setor saúde e de outros setores, que atendem aos adolescentes

vítimas de violência revela que a configuração da rede é mediana, heterogênea e apresenta

paridade entre vínculos significativos e fragilizados, com variação do número de

instituições em cada quadrante. Os sujeitos valorizam a rede de atendimento, entretanto, a

consideram insuficiente em ações dirigidas aos adolescentes, com ausência de

normatização da assistência e fragilidade no fluxo de atendimento. É fundamental

promover discussões do problema envolvendo gestores, profissionais dos serviços de

proteção, sócio educativos, saúde, organizações não governamentais e sociedade civil, para

fortalecimento dos vínculos institucionais, de modo que o trabalho em rede contribua

efetivamente para as ações que garantam a assistência integral aos adolescentes vítimas de

violência.

Palavras-chave: Adolescentes; rede social; comunicação interdisciplinar; serviços de saúde;

proteção integral.

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ABSTRACT

Violence on an adolescent life shows things which are the same of the phenomenon when

it happens on the childhood, we can see same specificities, because the adolescent doesn’t

spend all his time with his family, reinforcing the idea to work in groups, asking and

involving public policies to approach on a totally way. This is a descriptive and

exploratory study, with a qualitative approach, conducted from May to July 2013. The

study setting was a reference health center, which is a referral center for cases of violence,

and the managers of its services. The subjects were managers of a hospital that is a referral

center for cases of violence in the Brazilian State of Pernambuco. Data was gathered using

semi-structured interviews and minimal mapping of institutional ties. Data analysis was

carried out using content analysis by theme. The results show that the health service is an

important point of reference for care of adolescents who have been subjected to violence,

but does not follow the standards of the network, pointing a space to the adolescents

protection victims of violence. The minimal mapping of institutional ties between

reference health center and internal institutions and outside the health sector, which help

adolescents victims of violence reveals that the configuration of the network is medium

and heterogeneous, with parity between significant and precarious links, with a variation in

the number of institutions in each quadrant. The subjects appreciate the health service,

however they regards as insufficient in actions aimed with lack of standardization of care

and service flow answering.

Health care network is appreciated, but regarded as insufficient in actions aimed at

adolescents, with lack of standardization of care and service flow. It is essential to promote

discussions of the problem involving managers, health workers of protective services,

social educational, health, non-governmental organizations and civil society, to strengthen

ties between institutions, if working as part of a network is to contribute effectively to

providing all-round care for adolescents victims of violence.

Key-words: Adolescents; social network; interdisciplinary communication; health services;

full protection.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRAPIA Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e a

Adolescência

CEDCA Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

CONASS Conselho Nacional dos Secretários de Saúde

CTQ Centro de Tratamento de Queimados

CRAS Centro de Referência da Assistência Social

CREAS Centro de Referência Especializado da Assistência Social

CT Conselho Tutelar

DHPP Departamento de Homicídios e de Proteção a Pessoas

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

FNI Ficha de Notificação/Investigação Individual

GPCA Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente

HR Hospital da Restauração

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IML Instituto Médico-Legal

MP Ministério Público

NEVUPE Núcleo de Estudos sobre Violência e Promoção da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

OPAS Organização Pan-americana da Saúde

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PNRMAV Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e

Violência

PSE Programa Saúde na Escola

PSF Programa Saúde da Família

RIACA Rede Interna de Atendimento à Criança e Adolescente

SGD Sistema de Garantia de Direito

UPE Universidade de Pernambuco

SINAN Sistema de Informações de Agravos de Notificação

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SES Secretaria Estadual de Saúde

SMS Secretaria Municipal de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

WHO World Health Organization

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Hospital da Restauração...............................................................................

29

29

Figura 2. Figura 1 do Artigo 3 - Esquema gráfico para construção do mapa dos

vínculos........................................................................................................................

71

Figura 3. Figura 2 do Artigo 3 - Mapa dos vínculos institucionais ..........................

73

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13

2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 17

2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................... 17

2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................... 17

3. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 18

3.1 A violência cometida contra adolescentes ............................................................... 18

3.2 O Estatuto da Criança e do Adolescente e a atuação no enfrentamento da

violência contra adolescentes ............................................................................................. 20

3.3 A atuação em rede para o enfrentamento da violência............................................22

4. PRESUPOSTOS DA PESQUISA..............................................................................27

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................28

5.1 Delineamento do estudo .......................................................................................... 28

5.2 Campo do estudo ..................................................................................................... 28

5.3 Sujeitos do estudo .................................................................................................... 30

5.4 Critérios de Inclusão...................................................................................................30

5.5 Critérios de exclusão...................................................................................................30

5.6 Instrumentos de Coleta...............................................................................................30

5.6.1 As entrevistas semiestruturadas................................................................................30

5.6.2 O mapeamento mínimo da rede institucional...........................................................31

5.7 Análise e interpretação dos dados..............................................................................32

5.8 Considerações Éticas...................................................................................................33

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................35

6.1 Caracterização dos sujeitos........................................................................................35

6.2 Artigo 1 - Atuação em rede no atendimento ao adolescente vítima de violência:

desafios e possibilidades..........................................................................................................36

6.3 Artigo 2 - A rede intersetorial para atendimento ao adolescente em situação de

violencia, na percepção de profissionais de saúde...............................................................53

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................73

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 75

APÊNDICES ...........................................................................................................................79

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.........................................79

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APÊNDICE B – Instrumento de coleta – Entrevista semiestruturada..............................82

APÊNDICE C – Problematização do mapa da rede externa - HR....................................83

ANEXOS..................................................................................................................................84

ANEXO A – Carta de Anuência da Secretaria Estadual de Saúde .................................. 84

ANEXO B – Carta de Anuência do Hospital da Restauração .......................................... 85

ANEXO C – Aprovação do projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP)....................86

ANEXO D – Mapa Mínimo da Rede Social institucional....................................................88

ANEXO E – Normas da Revista Brasileira Materno Infantil............................................89

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1. INTRODUÇÃO

No cenário mundial da saúde as maiores vítimas de violência são as crianças,

adolescentes e jovens. Muito se tem refletido e debatido sobre esse fenômeno. Em alguns

casos, a negligência e a violência física, psicológica e sexual de que são vítimas chegam a

comprometer o seu processo de desenvolvimento, deixando sequelas por toda a vida

(BRASIL, 2001).

Na abordagem da violência, a adolescência constitui-se o grupo de interesse para o

presente estudo. A adolescência é a etapa da vida compreendida entre a infância e a fase

adulta, marcada por um complexo processo de crescimento e desenvolvimento

biopsicossocial (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE - OMS, 2002).

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069 de 13 de Julho de

1990 considera adolescente a faixa etária de 12 a 17 anos 11 meses e 29 dias (BRASIL,

1990).

Compreender as características epidemiológicas da violência contra esse grupo etário é

o primeiro passo para o desenvolvimento de estratégias de atuação. No entanto, tem sido

difícil quantificar o impacto da violência não fatal, seja pela escassez, seja pela imprecisão

dos dados disponíveis. Por isso, os dados referentes à mortalidade em todo o mundo têm sido

mais utilizados pela maior facilidade de sua obtenção. Uma pequena parcela desses eventos

pode ser dimensionada por meio das estatísticas de morbimortalidade (BRASIL, 2001).

Em 2009, o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), do

Ministério da Saúde, incluiu na listagem de doenças e agravos de notificação compulsória a

violência doméstica, sexual e/ou outras violências. Assim, todo e qualquer atendimento,

suspeito ou confirmado de violência, quer seja em serviço de atenção primária ou hospitalar,

deve ser registrado em Ficha de Notificação/Investigação Individual (FNI) de Violência

Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências (BRASIL, 2006). O ato de notificar inicia um

processo que visa interromper as atitudes e comportamentos violentos no âmbito da família e

por parte de qualquer agressor (MARTINS, 2009).

Segundo o Censo Demográfico de 2010, os jovens entre 12 e 18 anos de idade somam

24.033.745 de brasileiros, o que corresponde a 12,6% da população total. O Mapa da

Violência 2012 aborda uma análise internacional sobre número de homicídios entre as idades

de 15 e 19 anos, e observa-se que o Brasil ocupa a 4ª, esses dados correspondem aos anos de

2008 a 2009 e revelam a gravidade do problema. Os estados que mais registraram violência

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contra adolescentes, na faixa de 15 a 19 anos, foram Amapá, Alagoas e Bahia. Enquanto,

Rondônia e Espírito Santo os menores índices (WAISELFISZ, 2012).

Na faixa etária de 10 a 14 anos, a violência física foi a mais notificada, vale ressaltar

que esse tipo violência não acontece predominante na rua, essas agressões ocorrem

principalmente na residência da criança, e boa parte são cometidas pelos pais (COSTA, 2013).

Em Pernambuco, os dados da violência contra crianças e adolescentes têm demonstrado um

significativo crescimento. Segundo a Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente

(GPCA) entre os anos de 2006 e 2008, houve uma média mensal de 53 registros de crimes de

natureza sexual praticados contra crianças e adolescentes.

No Brasil, o setor da saúde foi pioneiro a adotar, desde 2001, uma Política Nacional de

Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências (PNRMAV). Na última década,

houve um avanço nas pesquisas sobre o tema junto ao Ministério da Saúde, universidades e

outras instituições. Porém, os estudos e as políticas concentram-se nas capitais e grandes

cidades do país, e a mortalidade tem sido a abordagem mais frequente (MELLO; KOIZUMI,

2004).

A abordagem da violência contra adolescentes consta nas recomendações da OMS,

com ações que atuem na eliminação ou redução dos fatores de risco e ampliação dos fatores

de proteção, ou redução da recorrência de violência e seus efeitos prejudiciais (WHO, 2004).

Na realidade brasileira, várias ações têm sido implantadas com recursos públicos, por

meio de organizações governamentais e não governamentais em diversos setores,

contribuindo para a prevenção da violência e assistência às vítimas e aos seus familiares,

aumentando a notificação dos casos para o Conselho Tutelar (CT) e encaminhamento a outras

instituições do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

MULTIPROFISSIONAL DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA E À ADOLESCÊNCIA -

ABRAPIA, 2007).

Para a efetivação das políticas públicas voltadas para adolescentes em situação de

violência, faz-se necessário que a gestão assuma o problema, considerando a sua grande

magnitude e inclua o mesmo entre as ações a serem realizadas para atendimento baseado na

proteção integral.

Conforme as leis brasileiras, os atendimentos aos adolescentes em situação de

violência devem ser atrelados às ações de proteção e responsabilização, requerendo o

acionamento de uma rede que envolva vários atores e instituições do SGD. Estão envolvidos

os setores de saúde e educação, Assistência Social, CT, Conselhos de Direito Municipal e

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Estadual, Delegacias Especializadas, Ministério Público (MP), Juizado da Infância e da

Juventude, organizações não governamentais, as entidades de articulação como a Rede de

Combate ao Abuso e à Exploração Sexual (FALEIROS; FALEIROS, 2001).

O acionamento das instituições demanda a articulação entre os diversos setores

caracterizando assim o trabalho em rede, visando a atender os direitos das crianças e dos

adolescentes em situação de violência (BRASIL, 2010a).

A atuação em rede possibilita o fortalecimento da garantia dos direitos das crianças e

dos adolescentes. A articulação entre serviços de vários setores é uma condição necessária

para se realizar ações de proteção integral às vítimas (DESLANDES; GOMES, 2004).

Desse modo, este estudo se justifica pela necessidade de se identificar a estrutura de

atendimento dos casos de violência no serviço de saúde, referência na cidade do Recife/PE,

procedendo-se a análise à luz do conceito de proteção integral. O princípio da proteção

integral é derivado da Declaração Universal dos Direitos da Criança, assinada em 1989 e

consagrada na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e encontra-se

previsto no ECA (BRASIL, 1990).

O princípio da proteção integral “afirma o valor intrínseco da criança como ser

humano; a necessidade de especial respeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento, o

valor prospectivo da infância e da juventude[...]” (COSTA,1992). Ao estabelecer a

responsabilidade solidária da família, da sociedade e do estado pela proteção da criança e do

adolescente, o ECA buscou estabelecer garantias por meio da efetivação dos direitos a eles

conferidos.

Mediante o quadro descrito, percebe-se a necessidade de estudos que permitam o

diagnóstico da rede de atendimento, tanto no âmbito da sua estrutura, quanto da qualificação

específica dos profissionais, para atuação em rede.

Várias questões são identificadas no trabalho em rede, por isso, buscou-se sintetizar as

inquietações nos seguintes questionamentos: 1) Qual a composição e a configuração da rede

para o atendimento aos adolescentes em situação de violência em um serviço referência de

saúde? 2) Como os gerentes do serviço, envolvidos na assistência aos adolescentes vítimas de

violência percebem o trabalho em rede? Desse modo, apresenta-se como objetivo desta

pesquisa analisar a configuração e a composição da rede e os vínculos entre um hospital

referência e as demais instituições e serviços envolvidos no enfrentamento à violência contra

adolescentes.

Page 17: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

16

Essa dissertação foi estruturada no formato de dois artigos, de forma que no primeiro

estudo objetivou investigar a percepção de gerentes de serviços de saúde sobre a atuação em

rede para o atendimento aos adolescentes vítimas de violência. O segundo estudo objetivou

conhecer como se configuram os vínculos entre um serviço de saúde e as instituições

envolvidas no enfrentamento da violência contra adolescentes.

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17

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar a configuração e a composição da rede e os vínculos entre um hospital

referência e outras instituições envolvidas no atendimento aos adolescentes

vítimas de violência.

2.2 Objetivos Específicos

Compreender a percepção de gerentes de serviços acerca do trabalho em rede,

para o enfrentamento da violência contra adolescentes;

Conhecer como se configuram os vínculos, entre um serviço de saúde e as

instituições envolvidas no atendimento aos adolescentes em situação de violência.

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18

3 REVISÃO DA LITERATURA

Tendo em vista o objeto do estudo, ao considerar a complexidade da violência contra

adolescentes e do seu enfrentamento, buscou-se uma fundamentação teórica que permita a

melhor compreensão desse fenômeno e do conjunto dos serviços que compõem a rede de

atendimento, assim como a interação entre eles.

3.1 A violência cometida contra adolescentes

A violência é um fenômeno sóciohistórico, que acompanha a trajetória da

humanidade, e se converte em um problema para a saúde pública porque afeta a saúde

individual e coletiva, exigindo a formulação de políticas específicas, a organização de práticas

e de serviços peculiares ao setor (MINAYO, 2005). O fenômeno da violência tem mobilizado

as diferentes áreas do conhecimento, no estabelecimento de parcerias que buscam a efetivação

de diferentes estratégias de prevenção e intervenção, no enfrentamento do problema

(BRASIL, 2001).

Buscando conceituar a violência, Minayo (2005), afirma tratar-se de um fenômeno

múltiplo. De origem latina, o vocábulo vem da palavra vis, que quer dizer força e se refere às

noções de constrangimento e de uso de superioridade física sobre o outro.

A PNRMAV, publicada pelo Ministério da Saúde do Brasil, considera como violência

“as ações realizadas por indivíduos, grupos, classes, nações, que ocasionam danos físicos,

emocionais e espirituais a si próprio e aos outros” (BRASIL, 2001).

Existe um consenso das instituições nacionais e internacionais de que a violência

representa uma ameaça ao desenvolvimento humano. No estudo da conceituação, verifica-se

grandes esforços ao longo dos anos, com o propósito de debater a temática. Para fins deste

estudo, sempre que for referido o termo violência, será adotado o conceito assumido pela

OMS (2002), no Primeiro Relatório Mundial sobre Violência e Saúde que define, a violência

como:

O uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça contra si

próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que

resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico,

deficiência de desenvolvimento ou privação de liberdade (OMS, 2002.p.5).

Page 20: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

19

Segundo a OMS, as formas de violência são autoinfligidas, que abrange suicídio e

abusos autoinfligidos, tais como auto mutilações. A violência coletiva, que envolve grupos

contra grupos ou contra indivíduos desses grupos com propósitos políticos, econômicos ou

sociais. A interpessoal, que se subdivide em familiar e conjugal e ocorre entre cônjuges ou

entre outros membros da família dentro do lar. A comunitária, que acontece entre pessoas que

não têm relações de intimidade se fora do lar, incluindo a violência física e a sexual. Além

disso, aborda-se, também, a violência institucional que ocorre nos locais de trabalho, em

prisões, em escolas, entre outros (WHO 2004).

A violência contra adolescentes é estudada e classificada em pesquisas que,

geralmente, abordam esses eventos que atingem o público infanto-juvenil. A literatura

classifica quatro formas: abuso físico, negligência ou privação de cuidados, o psicológico e o

sexual. A violência física contra crianças e adolescentes é assim entendida como qualquer

ação que causa dor física, a partir de um simples tapa até o espancamento fatal. Suas

manifestações ocorrem por diferentes lesões no corpo do adolescente, dependendo da

intensidade e da frequência em que são utilizados (ROSA; LIRA, 2012).

A negligência é caracterizada pela omissão dos pais ou responsáveis em prover os

cuidados necessários ao bem-estar, o que pode ameaçar seu desenvolvimento do indivíduo.

Acredita-se que a modalidade mencionada acima, é a forma mais comum de violência

praticada por pais, contra crianças. Já a violência sexual contra crianças e adolescentes

representam "o envolvimento de crianças e adolescentes, por adultos, através do uso da força

física ou de sedução, visando a satisfação e o prazer deles, em atos ou jogos e práticas

sexuais" (ROSA; LIRA, 2012, p. 246).

O contexto familiar parece ser o local onde acontece a maioria dos casos de violência,

cuja prática, envolve pessoas que desempenham o papel de cuidadores de crianças e

adolescentes. A violência psicológica é de difícil identificação. Afirma-se que é a mais

subjetiva, embora seja muito comum a associação com a violência física, deixa profundas

marcas no desenvolvimento e pode comprometer a saúde mental. Note-se que o uso de

palavras discriminatórias e depreciativas, por exemplo, nem sempre é reconhecido como

violência psicológica de pais contra filhos (ROSA; LIRA, 2012).

A violência na adolescência apresenta semelhanças com o fenômeno quando este

ocorre na infância, porém percebe-se especificidades, pois o adolescente com maior

frequência circula em espaços fora da família. Conforme o Conselho Nacional dos Direitos da

Criança e do Adolescente (CONANDA) anualmente, 6,5 milhões de crianças e adolescentes

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20

sofrem algum tipo de violência doméstica no Brasil. O que se tem percebido é que cada vez

mais a problemática da violência ultrapassa os limites da esfera familiar, tornando-se, então,

uma evidência na sociedade, principalmente nas instituições hospitalares e educacionais

(CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE -

CONANDA, 2006).

Segundo a OMS (2002) todos os adolescentes estão potencialmente em risco de serem

vítimas de violência, porém, o risco de violência física é maior para os rapazes, enquanto a

violência sexual, a negligência e a exploração sexual comercial se revelam maior risco para as

moças.

Em países de baixo e médio rendimento a probabilidade de morte por homicídio é o

dobro do que em países de rendimento elevado. Na adolescência, os rapazes com idades

compreendidas entre os 15 e os 17 anos são os que correm maior risco. Alguns grupos de

adolescentes são particularmente vulneráveis, especialmente os que são portadores de

deficiência, os que pertencem a grupos minoritários, os que vivem nas ruas, os que estão em

conflito com a lei, e as crianças refugiadas ou deslocadas (WAISELFISZ, 2012).

Muitos estudos discutem os efeitos traumáticos da violência, tal como aponta um dos

documentos da OMS (2002) ao afirmar que, pelo número de vítimas e pela magnitude de

sequelas orgânicas e emocionais que produz a violência, esse fenômeno adquiriu um caráter

endêmico.

O estudo sobre a violência contra os adolescentes resulta de um esforço global para

traçar um quadro detalhado sobre a natureza, extensão e causas para propor recomendações

claras para a adoção de medidas destinadas a prevenir e responder às situações em que ocorrer

(BRASIL, 2001).

3.2 O Estatuto da criança e do adolescente e a atuação no enfrentamento da violência

O Brasil foi o primeiro país da América Latina a adequar sua legislação nacional aos

termos da Convenção das Nações Unidas de Direito da Criança que prima pela Doutrina da

Proteção Integral à criança e ao adolescente. Na perspectiva jurídica, a Doutrina da Proteção

Integral traz em seu bojo a proposta de proporcionar um tratamento jurídico diferenciado às

crianças e aos adolescentes, promovendo assim, o então “menor”, fadado ao desrespeito,

servindo apenas como mero objeto do processo, para uma nova categoria jurídica, passando-o

à condição de sujeito do processo, observada sua condição especial de pessoa em

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21

desenvolvimento (SARAIVA, 2003).

No início da década de 1980, muitos profissionais, pesquisadores e sistemas de saúde

pública tomaram para si as tarefas de entender as raízes da violência e evitar que ela ocorra.

No enfrentamento da violência, encontram-se exemplos bem sucedidos em todo o mundo,

desde trabalhos individuais e comunitários em pequena escala até políticas nacionais e

iniciativas legislativas (WHO, 2004).

Na perspectiva da proteção aos adolescentes em situação de violência, políticas

públicas foram formuladas para o enfrentamento do problema. As políticas públicas são

formas de aplicação dos artigos constitucionais e das leis que os regulamentam. As políticas

podem ser consideradas como desenho/arquitetura planificada dos direitos garantidos em lei.

A lei estabelece os objetivos da política, os instrumentos institucionais de sua realização e

outras condições de implementação. São instrumentos de ação do governo a serem

desenvolvidos em programas, projetos e serviços que são do interesse da sociedade

(KAUCHAKJE, 2007).

Entende-se os programas como as atividades que são oferecidas em bases contínuas,

sendo um conjunto de projetos e iniciativas que se articulam e se complementam com vistas à

obtenção de resultados assertivos num tempo definido (LOBATO, 2005; KAUCHAKJE,

2007, OLIVA, KAUCHAKJE, 2009).

No Brasil, o ECA é resultado de um movimento articulado de setores progressistas da

sociedade para que crianças e adolescentes sejam reconhecidos como sujeitos de direitos. Os

direitos assegurados pelo ECA resgatam a cidadania de crianças e adolescentes, que antes não

eram atendidas pelas leis do País, pois antes dele, existia o código de menores (1979), de

caráter punitivo e repressivo aos “menores” infratores ou que estivessem em situação de

pobreza (MORAES, 2012).

O ECA é considerado um avanço na garantia dos direitos da infância e adolescência

brasileira, e, por meio dessa lei, todas as crianças e adolescentes em qualquer condição

cultural, social, econômica, moral, física, gozam dos mesmos direitos e estão passíveis de

obrigações compatíveis à sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento consideradas,

sobretudo, prioridade absoluta. “Os esforços para que o ECA se consagre em sua amplitude

são incontestáveis, tendo o mesmo a intenção de revelar-se como instrumento eficiente na

resolução da problemática social da infância e da juventude no país” (RIZZINI, PILOTTI,

2009, p. 320).

Page 23: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

22

O ECA propôs a Política de Atendimento à Criança e ao Adolescente, com a criação

dos Conselhos e mudança no Juizado de Menores para Juizado da Infância e Juventude. Desse

modo, os Conselhos de direitos atuam na elaboração e controle das políticas públicas

referentes às criança e adolescentes, e os CTs no zelo e fiscalização dos direitos assegurados

pelo ECA. O Juizado da Infância e Juventude atua como julgador e aplicador de medidas e

sentenças em favor da proteção à infância (MORAES, 2012).

O ECA estabelece os objetivos e os instrumentos institucionais e outras condições de

implementação para a formulação de políticas de proteção. Determina o atendimento às

necessidades de crianças e adolescentes, bem como os direitos fundamentais que garantem

seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, garantindo a proteção integral

(BRASIL, 1990).

O desenvolvimento de uma política de atendimento dos direitos de crianças e

adolescentes deve reforçar a satisfação das necessidades básicas, como direito do cidadão-

criança e do direito de cidadão-adolescente, e como um dever do Estado, da família e da

sociedade (NOGUEIRA, 2005). Para este autor nada adianta reconhecer as crianças como

sujeitos de direitos e ao mesmo tempo reforçar a superioridade sobre elas, portanto existe a

necessidade de que o atendimento aos adolescentes seja contínuo, devendo ser feito pelo

conjunto de serviços, por órgãos do Estado e da sociedade.

O ECA, além de outros temas, aborda a prevenção e a repressão às várias formas de

violência cometidas contra o público infanto-juvenil. No que diz respeito especificamente ao

atendimento às vítimas, o ECA, no inciso III do Art. 87 prevê duas linhas de ação: “serviços

especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-

tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão”.

No sentido de qualificar os atendimentos oferecidos pelo setor saúde, a PNRMAV

define que os profissionais de saúde deverão ser capacitados e os serviços estruturados, para

as ações de proteção às vítimas e prevenção dos eventos violentos (BRASIL, 2001).

Em Pernambuco, como em outros Estados do Brasil, as ações de enfrentamento da

violência contra adolescentes se dão nos âmbitos da prevenção, proteção e responsabilização,

para potencializar os recursos existentes (SILVA, 2010). A indagação é que na maioria dos

municípios de pequeno porte, essa rede é representada pelo CT, Juizado da Infância e

Juventude e pela Secretaria de Assistência Social. Em muitos municípios, há uma

fragmentação desta rede, seja pela falta de capacitação da equipe de profissionais que

atendem a adolescentes, seja pela falta de apoio do poder executivo local (NOGUEIRA,

Page 24: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

23

2005).

3.3 A atuação em rede para o enfrentamento da violência

No Brasil a história das redes de proteção à infância e adolescência foi impulsionada

pelas mobilizações sociais das organizações não governamentais no final da década de 1980

(DESLANDES, 2006; COSTA; BRIGAS, 2007). Pode-se incluir nesta história a criação do

Fórum Nacional Permanente de Entidades Não Governamentais de Defesa dos Direitos da

Criança e do Adolescente - Fórum DCA, em 1988 que veio reafirmar a concepção de proteção

integral com a definição de criança e adolescente como cidadã com prioridade absoluta

nacional, e também articulou, formulou e garantiu a aprovação pelo Congresso Nacional do

Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, que traz a definição de direitos e deveres da

sociedade para a proteção infantil (MARTINHO, 2003; DESLANDES, 2006; COSTA;

BRIGAS, 2007).

As especificidades da violência reforçam a necessidade do trabalho em rede,

convocando e articulando políticas públicas para a abordagem na perspectiva da integralidade.

A violência é multicausal e suas consequências, muito diversas, por isso, as necessidades de

intervenção não se esgotam em um único projeto ou instituição (DESLANDES, 2006).

Muito se tem discutido sobre o atendimento em rede para a proteção de adolescentes

vítimas de violência. Todavia, é necessário compreender o que é rede, rede de proteção, a fim

de se definir sua contribuição para a promoção da proteção integral (BRASIL, 2010a). “O

conceito de rede se transformou em uma alternativa prática de organização, capaz de

responder às demandas sociais no mundo contemporâneo” (MEIRELLES; SILVA, 2007, p.

141).

Segundo Oliveira (2001), rede é uma articulação política entre pares que, para se

estabelecer, exige: reconhecer (que o outro existe e é importante); conhecer (o que o outro

faz); colaborar (prestar ajuda quando necessário); cooperar (compartilhar saberes, ações e

poderes) e associar-se (compartilhar objetivos e projetos). Estas condições preliminares

resultam, respectivamente, em autonomia, vontade, dinamismo, multiliderança, informação,

descentralização e múltiplos níveis de operacionalização.

Rede de serviços de apoio ou rede de apoio social, pode ser representada como "o

conjunto de sistemas de pessoas significativas que compõem os elos de relacionamento

recebidos e percebidos do indivíduo" (ROSA; LIRA, 2012, p. 3). Diversas áreas do

Page 25: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

24

conhecimento há algum tempo exploram o tema das redes de apoio social. Neste contexto, a

rede de apoio disponível pela primeira vez, é constituída pela família e amigos que exercem

alternadamente, papéis importantes, não só para o desenvolvimento emocional e social de

seus membros, mas também para a construção de uma rede como apoio social (ROSA; LIRA

2012).

As redes de apoio, tanto social quanto emocional, bem estruturadas, podem

desempenhar um papel positivo na vida das pessoas, contribuindo para a prevenção de

eventos violentos. Imagina-se que estas redes representam oportunidades para oferecer

solidariedade e suporte durante os episódios em que um indivíduo ou família passam por

experiências difíceis (ROSA; LIRA, 2012).

O enfrentamento da violência contra os adolescentes requer a articulação de uma rede

que atenda às necessidades da abordagem do problema em sua complexidade, como planos e

políticas públicas voltadas para ações interdisciplinares e intersetoriais (SILVA, 2010).

Compõem a rede de proteção para as vítimas e suas famílias os órgãos institucionais,

tais como os conselhos de direito, conselhos tutelares, promotoria e juizado da infância e

adolescência, bem como demais instituições que prestam atendimento, a exemplo de escolas,

unidades de saúde, hospitais, abrigos, entre outras redes de apoio social. As instituições

podem desempenhar mecanismos que interferem tanto positiva quanto negativamente, que,

por sua vez, podem desencadear uma série de efeitos subsequentes sobre a rede de proteção

(COSTA; BRIGAS, 2007).

O ECA trouxe o enfoque de proteção integral para a saúde dos adolescentes, que são

reconhecidos como sujeitos de direitos. No Art. 11 assegura o “atendimento integral à criança

e ao adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), garantido o acesso

universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde”

(BRASIL, 1990). A rede de serviços do SUS constitui-se num espaço privilegiado para a

identificação, acolhimento, atendimento, notificação, cuidados e proteção de crianças e

adolescentes em situação de violência (BRASIL, 2001).

O setor saúde é responsável pela organização das redes de atenção integral à saúde,

pela qualidade e integralidade destas ações e pela resolutividade da atenção às vítimas de

violência, integrando as diversas interfaces das três esferas de gestão (Federal, Estadual e

Municipal) do SUS (BRASIL, 2010b).

É necessário enfatizar que a produção de saúde para adolescentes não se faz sem que

haja fortes laços intersetoriais que abram canais entre o setor saúde e a participação e a

Page 26: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

25

colaboração de outros setores, e da própria comunidade, e suas famílias, uma vez que as

necessidades de saúde ampliada, dessa população, ultrapassam as ações do setor saúde.

(BRASIL, 2010b).

Enfim, busca-se o entendimento da saúde em seu sentido mais abrangente, com suas

diversas dimensões e múltiplos fatores causais, e, ainda, que os gestores e profissionais de

saúde, a família e a sociedade em geral compreendam os processos e necessidades desse

grupo etário, assim como os fatores ambientais, sociais e culturais que afetam a sua saúde.

Estas características específicas e influências do contexto precisam ser consideradas também

no planejamento, desenvolvimento, gestão e organização dos serviços de saúde (BRASIL,

2010b).

Segundo Deslandes e Gomes (2004), a articulação entre serviços de vários setores é

uma condição necessária à proteção integral às vítimas. A atuação em rede possibilita o

fortalecimento da garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes. Ratificando a

importância do atendimento em rede, Gomes et al. (2006) mostram que a articulação com

outras instituições e com a comunidade é de grande importância para o enfrentamento da

violência no âmbito da prevenção, e que a sua falta prejudica a implementação das ações.

Na busca de alcançar a integração, o ECA, no Art. 86 assegura que “a política de

atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto

articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos municípios” (BRASIL, 1990). Visando atender os direitos das crianças e dos

adolescentes, a articulação proposta pelo ECA caracteriza o trabalho em rede.

A construção de redes pressupõe que as decisões sejam adotadas de forma horizontal

nos princípios de igualdade, democracia, cooperação e solidariedade.

Esse método de trabalho permite a troca de informações, a articulação

institucional, projetos comuns, que contribuem para a integralidade da

atenção, defesa, proteção e garantia de direitos das crianças, dos

adolescentes e suas famílias em situação de violência (MEIRELLES;

SILVA, 2007, p. 141).

Sabe-se que a violência pode gerar problemas sociais, emocionais, psicológicos e

cognitivos capazes de impactar fortemente a saúde das pessoas ao longo de sua existência.

Isso reforça a importância de orientar as ações e pactuar estratégias para a atenção integral à

saúde dos adolescentes e suas famílias em situação de violência de acordo com as diretrizes

da PNRMAV, da Política Nacional de Promoção da Saúde e da Política Nacional de Atenção

Básica/Primária, entre outras (BRASIL, 2001).

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26

Essas ações e diretrizes são articuladas com as políticas sociais e de direitos humanos

e são pactuadas entre as instâncias colegiadas da gestão do SUS, nas três esferas de governo,

por intermédio do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho

Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems), e no âmbito Estadual, municipal e

do Distrito Federal nos conselhos locais (BRASIL, 2010b).

Em que pesem os avanços na atenção integral à saúde de crianças e adolescentes,

ainda são grandes os desafios para lidar com questões complexas que envolvem aspectos

relativos à moral, à ética, à ideologia e à cultura, exigindo do profissional e dos gestores da

saúde outras habilidades não adquiridas durante sua formação acadêmica (BRASIL, 2008).

A atuação em rede no enfrentamento da violência se constitui recurso necessário nos

eixos da prevenção da violência, proteção às vítimas e responsabilização dos agressores,

sendo imprescindível para o atendimento baseado no princípio da proteção integral. Desse

modo, o trabalho em rede é uma estratégia que fortalece a defesa, a responsabilização e o

apoio aos adolescentes em situação de violência (SILVA, 2010). O trabalho em rede implica

no desenvolvimento de ações planejadas e articuladas, com o compartilhamento dos

objetivos, das responsabilidades, das informações e dos resultados, e não apenas em

encaminhar os casos. Para a realização das intervenções que visam à proteção das vítimas,

deve vincular as pessoas e suas instituições (FALEIROS, 2006).

A despeito de se registrarem nos últimos anos vários avanços para o enfrentamento da

violência contra crianças e adolescentes na perspectiva de redes, ainda se verifica que, nas

ações realizadas nas políticas públicas, a intersetorialidade ainda é uma meta a ser alcançada.

Por não serem disseminadas as experiências bem sucedidas, os atendimentos não têm

ocorrido nos moldes desejados, apresentando insuficiência na qualificação dos profissionais

envolvidos, levando ao prejuízo para a efetividade das ações (REDE DE

MONITORAMENTO AMIGA DA CRIANÇA, 2007).

Page 28: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

27

4. PRESSUPOSTOS DA PESQUISA

A rede de serviços realiza os atendimentos aos adolescentes em situação de violência,

pressupõem-se que apresentam lacunas e fragilidades, com prejuízo para a proteção integral

dos adolescentes atendidos.

A atuação em rede possibilita fortalecer a garantia dos direitos dos adolescentes, no

entanto a lógica de funcionamento do conjunto de serviços, que atuam desarticulados, oferece

dificuldades na concretização de uma política baseada nos princípios da proteção integral às

vítimas.

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28

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.1 Delineamento do estudo

Esta dissertação é parte de um projeto de pesquisa mais amplo, intitulado “Atuação em

rede na atenção às crianças e aos adolescentes em situação de violência: uma análise com

enfoque na proteção integral”. O projeto de pesquisa abordou o tema violência contra crianças

e adolescentes, considerando-o grave problema de saúde pública, que exige não apenas ações

concretas para proteger as vítimas, mas, principalmente, uma rede de serviços para atender as

necessidades dos que convivem com esse problema.

Levando em consideração a problemática e as características desse estudo, o presente

trabalho foi uma pesquisa descritiva de caráter exploratório com abordagem qualitativa

(GUERRA, 2006).

O estudo descritivo busca descrever, observar, registrar, analisar os fatos e fenômenos

de determinada realidade. Através do caráter exploratório foram estabelecidos critérios,

métodos e técnicas para a definição da pesquisa (CERVO, 1996).

5.2 Campo do estudo

Hospital da Restauração, a maior unidade da rede de saúde pública do Estado de

Pernambuco, inaugurado como Hospital de Pronto Socorro em 1967, só em dezembro de

1971 a unidade de saúde passou a ser chamada Hospital da Restauração (HR), em

homenagem ao tricentenário da Restauração Pernambucana (1654). O setor saúde se constitui

importante porta de entrada para os usuários vitimizados (BRASIL, 2001; BUDÓ 2012).

O HR pertence à Secretaria da Saúde do Estado de Pernambuco e está localizado em

área central da cidade de Recife. É um hospital de grande porte, funciona com um total de 723

leitos para atender a demanda que lhe é submetida. Em junho de 2010, a antiga Emergência

Geral foi desmembrada em três emergências com entradas e espaços independentes:

Emergência Pediátrica, Emergência Traumatológica e Emergência Clínica.

Pela sua fácil localização recebe pacientes oriundos de todas as regiões da cidade e

Região Metropolitana, inclusive de outros estados. Além disso, é referência no estado nos

casos intoxicação exógena e por animais peçonhentos (Centro de Assistência Toxicológica -

Page 30: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

29

CEATOX - HR). O Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), é referência nacional com

40 leitos, o que o torna um dos maiores do Brasil.

O HR possui o Programa de Atendimento a Crianças e Adolescentes vítimas de

violência, desenvolvido pelo Serviço Social, que surgiu a partir da necessidade de

sistematização da prática do Serviço Social na instituição frente à questão da violência sofrida

por crianças e adolescentes, prática esta que vem se consolidando desde 1990 dentro da

unidade (MELO, 2012). Esta questão ganha um reforço com os preceitos preconizados no

ECA, sancionado e amplamente divulgado a partir de 1990, em especial nos seus artigos 13 e

245, que estabelecem às unidades de saúde a notificação aos órgãos competentes de toda e

qualquer suspeita de violência contra criança e adolescente.

A coleta de dados foi realizada no período de maio a julho de 2013, nas dependências

do serviço.

Figura 1: Hospital da Restauração

Page 31: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

30

5.3 Sujeitos do estudo

Os sujeitos do estudo foram gerentes dos serviços de saúde de um hospital referência no

atendimento ao adolescente vítima de violência.

5.4 Critérios de inclusão

a) Ocupar cargo de gerência no serviço para atendimento aos adolescentes em situação

de violência;

b) Atuar no serviço há, pelo menos, doze meses.

5.5 Critério de exclusão

a) Estar em gozo de férias, licença médica ou prêmio, no período da coleta.

Os sujeitos foram definidos por conveniência ou acessibilidade (GIL, 2006). Foram

contatados para agendamento de acordo com a disponibilidade de cada participante. Ao todo,

a amostra foi composta por 15 gerentes. Foi utilizado um gravador digital para o registro das

entrevistas, para garantir a fidedignidade, após a concordância dos sujeitos. As entrevistas

foram realizadas nas dependências do hospital, respeitando a privacidade dos sujeitos, e

transcritas na íntegra, destacando os conteúdos mais frequentes e intensos. Cada sujeito foi

identificado com a letra S, numerada de 1 a 15 (S1, S2, S3 e assim por diante).

5.6 Instrumentos de coleta

Os dados foram coletados por meio de dois instrumentos. O primeiro aplicado por

meio de entrevistas semiestruturadas e o segundo pelo preenchimento do mapeamento

mínimo dos vínculos institucionais. Primeiramente realizou-se a abordagem aos sujeitos e o

convite para participação na pesquisa, quando foi explicado o estudo proposto, as suas

finalidades e os procedimentos a serem realizados.

5.6.1 As entrevistas semiestruturadas

As entrevistas semiestruturadas, no presente estudo, foram realizadas em três

Page 32: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

31

momentos:

No primeiro momento, pretendia-se conhecer a percepção dos gestores de serviços

acerca do trabalho em rede;

No segundo momento, se construiu com os sujeitos, os mapas dos vínculos

institucionais a partir do HR;

Por último, quando utilizou o mapa mais representativo dos vínculos externos, e,

por meio de uma cópia impressa em tamanho A4, buscou-se, conforme recomenda

Ude (2008), problematizar questões relativas aos vínculos estabelecidos.

A entrevista semiestruturada é aquela na qual o entrevistador estabelece um roteiro

prévio de perguntas, havendo liberdade de alteração dos tópicos e inclusão de questões frente

às situações (BARROS; LEHFELD, 2005).

Minayo (2007), define a entrevista semiestruturada como aquela que ocorre a partir de

um roteiro que se presta a enumerar, da forma mais abrangente possível, as questões que se

quer abordar. A entrevista semiestruturada (APÊNDICE B) combina perguntas fechadas e

abertas, em que o entrevistado tem a oportunidade de discorrer sobre o tema em questão sem

se prender à indagação formulada. Conforme a autora, por ter um apoio claro na sequência

das questões, a entrevista semiestruturada facilita a abordagem e assegura que as hipóteses e

os pressupostos sejam contemplados pela entrevista.

Para o registro das entrevistas, em concordância com os sujeitos, foi utilizado um

gravador, a fim de garantir a fidedignidade. A transcrição das falas deu-se o mais breve

possível após a entrevista, para que fossem preservadas outras impressões presentes na

interação, pois conforme Chizzotti (2001), a transcrição das informações deve respeitar o

vocabulário, o estilo das respostas e as eventuais contradições da fala.

5.6.2 O mapeamento mínimo da rede institucional

O mapeamento institucional proposto teve o objetivo de identificar os vínculos e as

lacunas para o trabalho de intervenção (UDE, 2008). Especificamente, no presente estudo, o

mapeamento teve a finalidade de conhecer a configuração dos vínculos entre as instituições

envolvidas no enfrentamento da violência contra adolescentes, na cidade do Recife.

O mapa desenvolvido por Ude (2008), é formado por quatro círculos e, dentro dele,

quadrantes que representam os diversos setores que compõem a instituição. Em seguida

traçam-se linhas para indicar a qualidade dos vínculos existentes entre cada setor ou equipe. A

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32

representação gráfica pode ser feita por linhas com cores diferentes, esquema no qual a cor

verde significa vínculos significativos, cor amarela vínculos fragilizados e cor vermelha

vínculos rompidos ou inexistente (ANEXO D). Slukzi (1997) apud Ude (2002) descreve

como a rede pode ser avaliada, conforme seus vínculos:

Tamanho: Avalia-se o número de instituições/serviços na rede. No que se refere à rede

institucional, verifica-se a quantidade de vínculos institucionais estabelecidos. Sendo

assim, a rede pode ser classificada como reduzida, mediana ou ampliada.

Densidade: Avalia a qualidade dos vínculos observados no nível institucional, no que

tange às linhas do traçado: significativos, fragilizados, rompidos ou inexistentes.

Distribuição/composição: Refere-se ao número de instituições situadas em cada

quadrante. Aqui, denotam-se lacunas e recursos existentes na rede.

Dispersão/acesso: Trata-se da distância geográfica entre os profissionais e instituições.

Esse fator pode dificultar contatos e apoio mútuos no cotidiano dos sujeitos.

Homogênea ou heterogênea: Avalia as características das instituições, no intuito de

verificar a diversidade e as semelhanças que compõe a rede.

Conforme sugere Ude (2008), após o preenchimento do mapa, foi aplicado um

instrumento para complementação das informações. O instrumento constitui-se em uma

entrevista semiestruturada, na qual foram problematizadas as informações fornecidas pelo

sujeito. As questões investigaram como é a relação entre as instituições e quais os pontos

fortes e os pontos fracos. Outra questão foi se as pessoas que atuam nos serviços acreditam

que podem contar com a sua instituição e de que modo. A última questão buscou saber se o

entrevistado acredita que as instituições precisam mudar as relações.

5.7 Análise e interpretação dos dados

Para melhor compreensão do objeto e considerando o desenho metodológico de

natureza qualitativa adotado nesta pesquisa, buscou-se um suporte que propicie maior clareza

de como proceder nesta etapa, elegendo-se a técnica de análise de conteúdo.

Segundo Bardin (2002), a análise de conteúdo é compreendida como:

“um conjunto de técnicas de análise das comunicações que busca os núcleos

de significados, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do

conteúdo das mensagens, que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção e recepção das mensagens” (BARDIN,

2002 p. 42).

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33

Para o tratamento dos dados obtidos, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo,

modalidade temática. O motivo da escolha dessa técnica se explica por ser um instrumento de

análise que, com maior rigor, analisa o vasto campo das comunicações, facilitando a tentativa

exploratória e enriquecendo as interpretações. As três etapas descritas por Bardin (2002) que

compreendem a análise de conteúdo modalidade temática são:

a) Pré-análise: consiste na organização do material por meio dos seguintes passos: leitura

exaustiva do conjunto das comunicações (leitura flutuante) e verificação da validade

do material coletado em termos de exaustividade, representatividade, homogeneidade

e pertinência; revisão dos objetivos da pesquisa frente ao material coletado; elaboração

de indicadores orientadores da interpretação final; determinação das unidades de

registro (temas), das unidades de contexto (contexto do qual fazem parte as unidades

de registro) e das categorias empíricas (específicas, concretas), geradas a partir da

coleta de dados e que foram comparadas às categorias teóricas pré-estabelecidas.

b) A exploração do material: transformação dos dados brutos, visando alcançar os

núcleos de compreensão do texto (recorte dos textos em unidades de registro, seguido

de classificação e agregação dos dados em categorias teóricas ou empíricas que

comandaram a especificação dos temas);

c) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: Buscou-se desvendar o conteúdo

subjacente ao que está sendo manifesto, buscando tendências ou outras determinações

características do fenômeno estudado.

Posteriormente a esta etapa deu-se a discussão dos dados da pesquisa, quando foram

sintetizados os achados do estudo e apontadas as possibilidades para estudos futuros que

aprofundem o tema e as possíveis contribuições proporcionadas pelo estudo realizado.

5.8 Considerações Éticas

Em obediência a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério

da Saúde (BRASIL, 1996), que disciplina as pesquisas envolvendo seres humanos, esta

pesquisa foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de

Pernambuco (UPE), tendo obtido aprovação através do parecer nº 199.969; CAAE:

06601012.8.0000.5207.

Quanto aos cuidados em relação à participação dos sujeitos, esta ocorreu após assinatura

do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual constou o tipo de pesquisa,

Page 35: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

34

seus objetivos e esclareceu sobre a participação é voluntária e que não foi previsto qualquer

tipo de ressarcimento aos participantes, além de assegurar que tanto a participação, quanto a

não concordância em participar da pesquisa não lhes acarretaria nenhum prejuízo de qualquer

natureza. No termo também se estabeleceu um compromisso com a privacidade de cada

participante e a utilização confidencial e sigilosa dos dados coletados.

A pesquisadora colocou-se à disposição para os esclarecimentos necessários e foi

respeitada a livre participação, com liberdade para desistência, em qualquer fase da pesquisa.

Page 36: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

35

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 Caracterização dos sujeitos

Os participantes foram 15 profissionais do serviço de saúde, que ocupavam cargo de

gerentes. Desses, doze eram do sexo feminino, e três do sexo masculino com idades variando

entre 30 e 58 anos. Em relação à formação todos possuíam ensino superior completo, quatro

eram enfermeiros, seis médicos, dois psicólogos, um assistente social, um terapeuta

ocupacional e um educador físico. Um cursou somente a graduação, oito cursaram

especialização, quatro cursaram residência e dois cursaram mestrado. O tempo de atuação no

serviço variou de 3 a 38 anos. Em relação ao tema violência, 12 tinham experiência

significativa com tempo de atuação entre 10 e 24 anos, tendo atendido entre dezenas e

centenas de casos. Cinco sujeitos declararam não atuar ou não ter experiência no

enfrentamento da violência. Onze gerentes participaram de cursos ou palestras sobre o

enfrentamento da violência contra adolescentes.

Page 37: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

36

6.2 Artigo 1

Atuação em rede no atendimento ao adolescente vítima de violência: desafios e

possibilidades1

Network action to care for the adolescent victim of violence: challenges and possibilities1

Actuación en red en el atendimiento al adolecente víctima de violencia: desafíos y

posibilidades1

___________________________________________________________________________

Artigo elaborado de acordo com as normas da Revista Brasileira Materno

Infantil_____________________________________________________________________

Cláudia Fabiane gomes Gonçalves2

Lygia Maria Pereira da Silva3

Ana Carolina Rodarti Pitangui4

Cintia Cibele da Silva5

Marcela Virgínia de Santana5

Resumo Este estudo teve por objetivo investigar a percepção de gerentes de serviços de saúde sobre a

atuação em rede para o atendimento aos adolescentes vítimas de violência. Trata-se de estudo

descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa, realizado de maio a julho de 2013. Teve

como sujeitos gerentes de serviços de um hospital de referência para atendimento aos casos de

violência, no estado de Pernambuco, Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevistas

semiestruturadas e explorados com base na Análise de Conteúdo. Os resultados indicam que o

serviço social exerce um papel agregador e articulador requerido pelo serviço em rede. A rede

de atendimento é valorizada, mas considerada insuficiente em ações dirigidas aos

adolescentes, com falta de normatização da assistência e do fluxo de atendimento. Conclui-se

que os sujeitos demonstram percepção positiva do papel do serviço estudado, mas apontam

carência de normas técnicas específicas no setor da saúde voltadas a uma atenção de

qualidade para adolescentes.

Palavras-chave: Adolescentes, Violência, Rede social, Comunicação interdisciplinar,

Serviços de saúde, Proteção

___________________________________________________________________________

Abstract This study aims to investigate the perception of health care service managers about the

network action to care for adolescent victims of violence. This is a descriptive and

exploratory study, with a qualitative approach, conducted from May to July 2013.The subjects

were managers of a hospital that is a referral center for cases of violence in the Brazilian State

of Pernambuco. Data were collected through semi-structured interviews and explored having

Content Analysis as a basis. The results indicate that social work plays an aggregating and

interconnecting role required by network service. Health care network is appreciated, but

regarded as insufficient in actions aimed at adolescents, with lack of standardization of care

and service flow. We conclude that the subjects show a positive perception of the role of the

service under study, but they point out a lack of specific technical standards in the health care

sector aimed at a good quality care for adolescents.

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37

Key words: Adolescents, Violence, Social network, Interdisciplinary communication, Health

care services, Protection

______________________________________________________________________

Resumen

Este estudio tuvo por objetivo investigar la percepción de los jefes de servicios de salud

respecto a la actuación en red para el atendimiento a adolecentes víctimas de violencia. Se

trata de un estudio descriptivo y exploratorio, con enfoque cualitativo. El objeto del estudio

fueron jefes de servicios de salud en Pernambuco. Los datos fueron recopilados por

intermedio de entrevistas no estructuradas y explorados con base en el Análisis de Contenido.

Los resultados indican que el servicio social ejerce una función de agregar y articular

requerida por el servicio en red. La red de atendimiento es valorada, sin embargo es

considerada insuficiente respecto a acciones dirigidas a los adolecentes, con falta de

regularización del socorro y del atendimiento. Se concluye que el objeto en estudio demuestra

percepción positiva de la función del servicio estudiado, aunque apunta carencia de normas

técnicas específicas en el área de la salud dirigidas a un atendimiento de calidad para

adolecentes.

Palabras - clave: Adolecentes, Violencia, Red Social, Comunicación interdisciplinar,

Servicios de salud, protección.

1Artigo extraído da dissertação de Mestrado “Atendimento em rede aos adolescentes em situação de violência : o

olhar dos profissionais da saúde”, apresentada a Universidade de Pernambuco (UPE), Brasil. 2Enfermeira, Mestranda em Hebiatria pelo Mestrado da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP) -

Universidade de Pernambuco(UPE), Brasil. 3Enfermeira, PhD Professor, Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Recife (PE), Universidade

de Pernambuco (UPE),e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Hebiatria, Recife (PE), Brasil.

Correspondência: Lygia Pereira, [email protected], 4Fisioterapeuta, Professor Doutor, adjunta no Curso de Fisioterapia da Universidade de Pernambuco(UPE),

campus Petrolina e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Hebiatria, Recife (PE), Brasil. 5Acadêmico de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Recife (PE), Universidade

de Pernambuco (UPE), Brasil.

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Introdução

A adolescência constitui um processo biológico e vivências orgânicas, com acelerado

desenvolvimento cognitivo e estruturação da personalidade; esse período abrange a segunda

década de vida, dos 10 aos 19 anos.1 Essa definição também é adotada no Brasil, pelo

Ministério da Saúde. Entretanto, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define a

adolescência na faixa entre 12 e 17 anos, 11 meses e 29 dias.2

No Brasil, embora existam leis que protegem e asseguram direitos à vida e à saúde

dessa população, ainda hoje, muitos desses direitos são infringidos.3A violência contra os

adolescentes é um fenômeno que ocorre em todos os espaços e mostra-se em diferentes

formas, estabelecendo-se por inúmeros fatores que atingem a realidade social, constituindo

grave ameaça à vida.4

Estudos internacionais apontam que, nos Estados Unidos da América, mais de 1 em

cada 8 crianças e adolescentes entre 2 e 17 anos sofreram alguma forma de violência.2

Na

Nicarágua, esses percentuais são de 26,0% para as meninas e 20,0% para os meninos,

enquanto estudo realizado em uma escola pública do Chile revela que 80,4% dos pais

admitiram o uso do castigo físico como prática educativa.5

Estudos brasileiros sobre a violência contra adolescentes revelam que todas as faixas

etárias são vitimizadas. As violências e os acidentes, juntos constituem a segunda causa de

óbitos no quadro da mortalidade geral brasileira. Em idades entre 5 e 19 anos, a violência

constitui a primeira causa entre todas as mortes ocorridas.6 Segundo o Sistema de Informação

de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, em 2011 foram registrados em

Pernambuco 1.375 casos de violência em adolescentes de 14 a 19 anos.7

A garantia de atendimentos aos adolescentes em situação de violência encontra-se em

diversos documentos, leis, planos e políticas fundamentados na Teoria da Proteção Integral8.

Essa teoria, surgiu a partir de movimentos populares que passaram a reivindicar uma

assistência integral, universal e equânime, e foi estabelecida pela Convenção Internacional

sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1989, apoiada

pela Declaração Universal dos Direitos da Criança, de 1959, sendo também contemplada pela

Constituição da República Federativa do Brasil e, em seguida, pelo ECA, consolidando-se

como verdadeiro paradigma na compreensão da infância e adolescência no Brasil.8

Elaborado à luz da Doutrina da Proteção Integral, o ECA é considerado um avanço na

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39

garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros. Esse documento aborda a

prevenção e a coibição das várias formas de violência cometidas contra o público infanto-

juvenil.2

Sob o prisma da Teoria da Proteção Integral, o enfrentamento da violência contra os

adolescentes demanda a articulação de uma rede que atenda às necessidades da abordagem do

problema em sua complexidade, por meio de planos e políticas públicas voltadas para ações

interdisciplinares e intersetoriais.9 Compõem a rede de proteção às vítimas e suas famílias

diversos órgãos, tais como Conselhos de Direito, Conselho Tutelar (CT), promotoria pública e

juizado da infância e adolescência, bem como as demais instituições que prestam

atendimento, a exemplo de escolas, unidades de saúde, hospitais, unidades de acolhimento,

entre outras redes de apoio social.10

Dentre os diversos serviços que atendem aos casos de violência, as unidades de saúde

constituem importante porta de entrada para os usuários vitimizados.11,12

No sentido de

qualificar os atendimentos oferecidos pelo setor saúde, a Política Nacional de Redução da

Morbimortalidade por Acidentes e Violência (PRMAV) define que os profissionais de saúde

deverão ser capacitados e os serviços estruturados para as ações de proteção às vítimas e

prevenção dos eventos violentos.12

Em Pernambuco, como em outros Estados do Brasil, as ações de enfrentamento da

violência contra adolescentes se dão nos âmbitos da prevenção, proteção e

responsabilização.13

Ao considerar a importância de uma rede constituída para o atendimento

aos adolescentes em situação de violência, neste estudo objetivou-se analisar a percepção de

gerentes de serviços de saúde sobre a atuação em rede para o atendimento aos adolescentes

vítimas de violência.

Métodos

Este estudo é do tipo exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa,14

buscando

a contribuição para o planejamento de estratégias que possibilitem a ampliação da proteção

aos adolescentes.

O campo de pesquisa foi o Hospital da Restauração (HR), que é uma unidade de saúde

referência no atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência, e recorrem a ele

pacientes de todo o estado de Pernambuco e de outros estados da região Nordeste do Brasil.15

No HR existe a Rede Interna de Atendimento a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência

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40

(RIACA), criada em1990, com o objetivo de oferecer um atendimento às vítimas por meio de

uma equipe interdisciplinar através de articulações internas e externas em ações integradas.16

Os sujeitos do estudo foram gerentes de serviços do hospital, definidos segundo o

critério de conveniência ou acessibilidade.17

Foram contatados para agendamento de acordo

com a disponibilidade de cada participante. Foi explicado o objetivo do estudo e agendada a

entrevista, em horário e local respeitando a disponibilidade e a privacidade dos entrevistados.

Todos os gerentes participaram e assinaram o Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido

(TCLE). O critério de inclusão foi atuar como gerente de setor do serviço onde o estudo foi

realizado, ao passo que os critérios de exclusão foram trabalhar no serviço há menos de um

ano e não estar em gozo de férias ou licença no período da coleta. Ao todo, a amostra foi

composta por 15 gerentes.

A coleta dos dados foi realizada entre maio e julho de 2013, por meio de entrevista

individual semiestruturada.18

Para o registro da entrevista, em concordância com os sujeitos,

foi utilizado um gravador, a fim de garantir a fidedignidade. Essas entrevistas foram

transcritas na íntegra, destacando os conteúdos mais intensos e frequentes. Cada sujeito

entrevistado foi identificado com a letra S e numerado de 1 a 15 (S1, S2, S3 etc.).

O roteiro de entrevista foi baseado em questões norteadoras que buscaram identificar

as percepções dos profissionais acerca da atuação em rede para o atendimento aos

adolescentes vítimas de violência. 1) Como é a relação do hospital com os serviços com os

quais se vincula, quais são os pontos fracos e os pontos fortes; 2) Se as pessoas que atuam nos

serviços externos acreditam que podem contar com o hospital e de que modo; 3) Se o hospital

precisa mudar a relação que mantém com os serviços com os quais se vincula e, quando a

resposta foi afirmativa, foi solicitado ao entrevistado que exemplificasse.

A análise das entrevistas foi baseada na técnica de análise de conteúdo, a partir de sua

modalidade temática.19

Houve uma fase de pré-análise, na qual foi realizada uma leitura para

estabelecer contato com a integralidade discursiva do material e, a partir daí, foram

identificadas informações pertinentes ao tema. Procedeu-se, então, à categorização dos temas

e subtemas.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Pernambuco (UPE),

sob o CAAE n. 06601012.8.0000.5207.

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41

Resultados e discussão

Caracterização dos sujeitos

Os participantes foram 15 profissionais da área da saúde, com idade variando entre 30

e 58 anos, sendo 12 do sexo feminino e 3 do sexo masculino. Em relação à sua formação,

todos possuíam curso superior completo, com tempo mínimo de atuação no serviço de 3 e

máximo de 38 anos. Quanto ao tema violência, constatou-se que 12 tinham experiência

significativa, com tempo de atuação entre 10 e 24 anos.

O emergir das categorias

A partir da análise das entrevistas emergiram duas categorias: “O Serviço de saúde

como referência”, com as subcategorias “o serviço é referência”, “o serviço atua em rede”, “o

serviço social como ponte para resolutividade” e “Desafios para atuação em rede”, com as

subcategorias “falta normatização da assistência” e “investimento em recursos humanos”.

Uma vez definidas essas categorias empíricas, foram recortadas falas, agrupadas de acordo

com seu conteúdo e significado, que pautaram as discussões.

1) O Serviço de saúde como referência

O setor da saúde constitui o espaço no qual conflui a maioria dos casos da violência e

essa busca exerce pressão sobre os serviços de urgência, de atenção especializada, reabilitação

física, psicológica e de assistência social.12,20

Esse fato aponta a necessidade do Poder Público

assumir essa situação como um problema de saúde pública.

O serviço é referência

Em geral, os sujeitos reconhecem a importância do hospital no atendimento às vítimas

de violência, como denotam as falas abaixo:

[...] É um serviço que tem muita credibilidade perante toda a sociedade.

Esta questão da referência é um peso enorme, porque todos que procuram o

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serviço querem uma solução. (S5)

A afirmação do sujeito mostra que o serviço constitui uma referência no atendimento

aos casos de violência em todo o estado e as ações de enfrentamento do problema no serviço

de saúde ocorrem em um contexto maior, o das políticas de saúde.12,20,21

A posição do serviço em estudo como referência resulta em expectativa e cobrança de

que as ações apresentem resolutividade.

[...] Eles cobram essa resolutividade do serviço, o que foi feito? Porque

deixou de fazer? É como se isso fosse natural, ao mesmo tempo é bom, pois

essa cobrança não faz com que as coisas caiam no esquecimento. (S5)

Sendo o setor da saúde uma porta de entrada para os casos de violência, a literatura

científica afirma que o setor representa lócus privilegiado para identificação destas

situações.12,22

O serviço atua em rede

Muito se tem discutido sobre o atendimento em rede para a proteção de adolescentes

vítimas de violência. Nesse contexto, o Ministério da Saúde, ressalta a importância da

organização de redes de atenção à saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), definindo-as

como estruturas integradas de provisão de ações e serviços de saúde, institucionalizadas pelas

políticas públicas a partir do trabalho coletivamente planejado e do aprofundamento das

relações de interdependência entre os atores envolvidos.23

A construção de redes pressupõe

que as decisões sejam adotadas de forma horizontal sob os princípios de igualdade,

democracia, cooperação e solidariedade.24,25

Os profissionais entrevistados demonstram o entendimento de que a rede de proteção

aos adolescentes vítimas de violência requer uma intervenção intersetorial e interdisciplinar,

extrapolando os limites do setor da saúde.

[...] Esse trabalho em rede nós buscamos no dia a dia através dos contatos

com outros órgãos lá fora. (S5)

[...] Trabalhar dentro do hospital e levar isso pra uma rede que funcione lá

fora. (S3)

Desta forma, pode-se verificar na fala dos sujeitos que existe a atuação em equipe e a

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43

articulação entre as diferentes categorias profissionais no atendimento dos casos. A atuação

em rede constitui recurso necessário nos eixos da prevenção da violência, proteção às vítimas

e responsabilização dos agressores. Desse modo, o trabalho em rede é uma estratégia que

fortalece a defesa, a responsabilização e o apoio aos adolescentes em situação de violência.8

Nesse aspecto, a literatura revela que atores das redes de atenção às situações de

violência do país também reconhecem que a atuação interinstitucional, mais que um princípio,

é absoluta necessidade perante a complexidade do problema.26

Os depoimentos dos sujeitos vão ao encontro dos achados de diversos estudos que

afirmam que a prestação de uma assistência efetiva que contemple os aspectos individual,

institucional e social, dar-se-á, sobretudo, mediante o estabelecimento de sistemas de

referência entre o setor da saúde e os outros setores que também atendem os adolescentes.6,8

Entretanto, essa rede de atendimento mesmo sendo bastante valorizada, é considerada

insuficiente, sobretudo em ações dirigidas aos adolescentes.

O serviço social como ponte para resolutividade

O contexto da violência contra adolescentes exige atuação de uma equipe

interdisciplinar. A organização do serviço estudado denota a posição de liderança no trabalho

em rede do serviço social, estabelecendo um elo entre a assistência à saúde do adolescente

vítima de violência e demais instâncias de proteção a esse grupo vulnerável.

De acordo com os depoimentos, o serviço social é a ponte para a resolutividade dos

casos de violência.

[...] O serviço social tem esse papel de fazer a ponte, essa comunicação

entre os diversos órgãos para as intervenções externas. (S15)

[...] O serviço social toma a frente do caso para resolver. Pode demorar um

pouco, mas, elas cobram e resolvem. (S9)

O serviço social tem um papel agregador e de articulação entre os serviços para as

ações integradas, visando fortalecer as relações entre os integrantes da rede. De acordo com a

fala dos sujeitos, as assistentes sociais atuam diretamente na identificação de situações

suspeitas ou confirmadas de violência, podendo, ainda, ser acionadas por outros profissionais

envolvidos no atendimento.

[...] Quando nós, aqui, da instituição precisamos referenciar para outros

órgãos solicitamos ao serviço social, que faz a ponte, e elas providenciam,

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44

entram em contato, tomam todas as providências. (S4)

[...] Na realidade, quando passa a ter vínculos externos, quem toma a frente

disso é o serviço social, elas providenciam tudo. A gente comunica, elas

fazem um levantamento dos dados do caso e tomam as medidas cabíveis.

(S12)

O setor de serviço social da instituição estudada tem um programa estruturado voltado

à temática, com objetivos principalmente de defender os direitos das crianças e adolescentes

vítimas de violência.16

Nesse âmbito, os gerentes reconhecem a importância específica do profissional do

serviço social no trabalho em rede. Além disso, eles acreditam que o serviço tem cumprido

seu papel dentro de suas possibilidades, não obstante os entraves operacionais.

2) Desafios para atuação em rede

O enfrentamento da violência contra os adolescentes requer a articulação de uma rede

que atenda às necessidades da abordagem do problema em sua complexidade.9 Entretanto,

percebe-se que a atuação em rede revela dificuldades, tais como divergências dos objetivos

das instituições, deficiência de articulação, falta de normatização da assistência, isolamento

dos serviços, inexistência de fluxo e de qualificação profissional.27

Falta normatização da assistência

A implantação de protocolo institucional, na assistência ao adolescente vítima de

violência, pode ser uma estratégia que permite identificar situações de violência evitando

ações personalizadas e sem fundamentação científica.3

Na construção de tais instrumentos, é necessário um olhar ampliado no atendimento,

baseado no reconhecimento do ser cuidado como sujeito de direitos.28

O processo de trabalho

em saúde deve convergir com o que está preconizado nas diretrizes do SUS e no ECA, no

tocante à integralidade da assistência.3

[...] Protocolos para os casos de violência, pois, dessa maneira, todos os

profissionais seguiriam a mesma rotina, independente da categoria

profissional, claro que fazendo os encaminhamentos necessários. (S1)

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45

[...] Falta de protocolo para esses casos, com detalhes de como proceder,

para onde encaminhar. (S12)

Os entrevistados revelam preocupação com a falta de normatização, que resulta em

dificuldades no atendimento. Um protocolo de atendimento pensado para atuação em rede

deve conter os fluxogramas internos e externos ao serviço procurando articular as políticas

existentes.8,12,13

Conhecedores dessa necessidade, os sujeitos apontam como entrave a

inexistência de um fluxo planejado.

[...] A burocracia existente atrapalha muito a informação. Devíamos ser

mais práticos, ter um fluxo, normas, protocolos, o que melhoraria bastante

as ações, pois acho que agilidade nos casos pode ser um fator determinante.

(S10)

[...] Falta um fluxograma para podermos começar a trabalhar de forma

homogênea, não só no Hospital, mas, no estado todo. (S9)

A falta de definição de um fluxo de atendimento foi um dos pontos negativos citados

por todos entrevistados, revelando que o fluxo existe de forma ocasional e não sistemática.

Esses relatos vão ao encontro aos estudos que sinalizam problemas relacionados ao

desconhecimento ou descontinuidade do fluxo, fazendo com que alguns profissionais atuem

de modo isolado, desarticulado e valendo-se, muitas vezes, de contatos pessoais para dar

seguimento aos casos.3,21

Diante dessa complexidade, o relato da falta de contrarreferência representa um ponto

relevante de fragilidade para as ações em rede.

[...] A contrarreferência que não existe, acho que não custa nada mandar

um relatório até mesmo por e-mail. Isso estimularia até os profissionais que

estão atuando. Não tem interdisciplinaridade. (S5)

[...] A contrarreferência é falha, demora ou não chega essa resposta, e a

gente fica com a sensação de trabalho sem continuidade. (S13)

Nas ações intersetoriais para o enfrentamento da violência é fundamental a inclusão

dos setores da saúde, educação, jurídico, segurança, bem-estar social, dentre outros, de modo

a permitir que as tomadas de decisão e a concretização das ações sejam descentralizadas. Esse

trabalho requer intervenção interdisciplinar, devido às características do fenômeno e aos

danos causados às vítimas.3

A referência e a contrarreferência citadas pelos sujeitos se referem ao CT, o que está

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46

de acordo com a pesquisa desenvolvida em 5 capitais brasileiras e, na qual constatou-se que

em quase todos os serviços de saúde os encaminhamentos das crianças vítimas de violência

vão para o CT, para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) ou para

programas e serviços de assistência social.29

A intersetorialidade e as dificuldades para sua materialização são constantemente

evidenciadas nas falas dos sujeitos. Os entrevistados identificam na intersetorialidade uma

nova possibilidade para a atenção integral aos adolescentes, mas, também, um desafio que

esbarra na operacionalização das ações. Considera-se importante acompanhar e saber o que

aconteceu com os adolescentes, quando os sujeitos se queixam por não tomar conhecimento

do desfecho dos casos.

[...] O que eu disse é que não temos essa contrarreferência, porque, se nós,

profissionais, ficássemos sabendo o desfecho dos casos, acho que seria mais

um estímulo. (S4)

Nesse sentido, os entrevistados evidenciam, em suas falas os obstáculos encontrados

para garantir o viés intersetorial entre as políticas públicas para o enfrentamento à violência,

em que se destaca a intersetorialidade, a qual conforme os sujeitos, abrange a comunicação e a

continuidade das ações:

[...] A falta de comunicação entre os serviços que compõe a rede de

enfrentamento da violência, para que as medidas de proteção sejam

asseguradas e acompanhadas para seu cumprimento. (S15)

[...]Quem são as nossas referências? Se for perguntar isso para os

profissionais de saúde são poucos os que sabem. Sei que tem CT,

Delegacia... (S10)

[...] Seria a divulgação dos perfis dos hospitais com cada tipo de

atendimento, pois isso facilitaria, e muito, para a população no

atendimento, desde o interior até a capital. (S5)

Estudos demonstram a necessidade de investimento na interlocução de suas gerências,

profissionais, na articulação entre unidades e avaliações de ações, a fim de garantir o

atendimento de qualidade às vítimas de violência.8,28

A falta de comunicação entre as

instituições, sobretudo de defesa e atendimento, acerca dos casos de violência, enfraquece e

atomiza as instituições existentes.25

A comunicação, nesse processo, tem importância fundamental para que a rede de

proteção se estabeleça de fato e para que, dessa forma, suas ações sejam eficazes.

Comunicação (comum + ação) remete à ideia de ações planejadas e efetivadas em conjunto.

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47

Significa compartilhar informações e responsabilidades tendo como foco principal a proteção

ao adolescente.30

Investimento em recursos humanos

Ainda com a finalidade da organização da rede de atendimento, as capacitações foram

outro objeto de questionamento, como se observa nos depoimentos a seguir:

[...] Com o adolescente dos 15 anos em diante há um descaso bem maior,

mas com a criança e o adolescente mais novo essa atenção é muito

qualificada. (S1)

[...] Acho que poderíamos nos fortalecer com capacitações e conhecimento

da própria lei. (S13)

[...] Daí a necessidade de capacitação para os profissionais que trabalham

com essas crianças e adolescentes, inclusive vendo as questões sociais para

que haja uma compreensão real dos casos, bem como conduzir uma

intervenção adequada. (S15)

O depoimento do S1 sinaliza a dificuldade enfrentada pelo adolescente na emergência

do hospital. Mesmo em condições emergenciais, esse atendimento ainda acontece muitas

vezes de forma desqualificada, por se tratar a adolescência de uma fase da vida em que suas

prioridades e inclusões não são reconhecidas. Todavia, o ECA assegura o direito à assistência

à saúde, por meio dos serviços da rede de saúde do SUS, nos diversos níveis de

complexidade.31

Dessa forma, é fundamental que esses espaços nos quais ocorre o reconhecimento das

necessidades desses usuários por meio do atendimento/ investigação/notificação, possam ser

implementados no sentido de efetivamente darem conta dessa demanda com estratégias de

enfrentamento a violência, as quais mobilizarão vários níveis de apoio que compõe a rede.

Essas ações podem identificar suas necessidades específicas, considerando-o sujeito ativo no

processo de cuidado à sua saúde.32

A PNRMAV estabelece princípios e diretrizes cujo objetivo é proporcionar atenção

qualificada à população vítima de acidentes e violências, nos vários níveis de atenção do

sistema de saúde12

.

Constata-se a necessidade de capacitar os profissionais que trabalham com essa

temática, de modo a permitir que alcancem a real compreensão dos casos, bem como conduzir

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48

intervenções adequadas, visto que os profissionais de saúde são, com frequência, os primeiros

a serem procurados.20

Vários estudos apontam a existência desse despreparo diante do

problema em questão, apontado como um desafio a ser superado, de modo a permitir que se

ofereça às vítimas e suas famílias a assistência necessária e compatível com a complexidade

dos casos.28,21

A capacitação de pessoal tem sido considerada prioridade e é trabalhada em

abordagens multiprofissionais, envolvendo os trabalhadores da rede de atendimento em saúde,

buscando soluções definitivas e não pontuais, independentemente de sua área de atuação. A

formação universitária, na percepção deles, não é suficiente para adquirir habilidades e

sensibilidade para a condução dos casos. Diversos estudos corroboram as falas dos sujeitos,

que revelam lacunas na formação profissional, que os faz sentir despreparados para lidar com

o problema em questão.8,21

Na prática, esse atendimento deve ir muito além da formação universitária de base,

pois somente o treino intelectual não é suficiente para atender a questão da violência.20

Os

profissionais precisam estar preparados para lidar com os casos suspeitos ou confirmados de

violência. Para identificar, notificar, comunicar e referenciar, proceder ao acolhimento,

assistência, tratamento e encaminhamento necessário em um trabalho interdisciplinar e

intersetorial.8,20

Considerações finais

O artigo possibilitou analisar a percepção de gerentes de serviços acerca da atuação

em rede no atendimento aos adolescentes vítimas de violência, a partir de um serviço de saúde

de referência em Pernambuco.

Com base nos resultados encontrados, pode-se constatar que os sujeitos demonstram

uma percepção positiva da atuação em rede do serviço estudado. Entretanto, os entrevistados

indicaram carência de normas técnicas específicas, protocolos e fluxogramas para o

atendimento aos adolescentes em situação de violência.

Diante da complexidade e do impacto da violência na saúde dos adolescentes, este

artigo busca contribuir para potencializar o envolvimento dos gerentes na abordagem e na

atenção baseadas no paradigma da proteção integral, sendo imprescindível a promoção de

práticas gerenciais. Evidencia-se a necessidade de incluir esse tema na formação dos

profissionais de diversas áreas, para instrumentalizá-los para sua atuação junto aos

Page 50: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

49

adolescentes em situação de violência. Da mesma forma, revela-se indispensável o

envolvimento dos serviços de saúde, dos órgãos de classe e das instituições de Ensino

Superior na qualificação dos profissionais para uma atuação comprometida e competente.

Percebe-se que, apesar da existência de legislação específica no Brasil, ainda se faz

necessário avançar e superar a falta do reconhecimento dos adolescentes como sujeitos de

direitos em condição de desenvolvimento biopsicossocial.

Diante das inúmeras repercussões da violência na vida dos adolescentes, é

fundamental promover o compromisso dos atores envolvidos com o tema, com o intuito de

implantar e implementar políticas de combate e enfrentamento da violência. Existe a

necessidade, portanto, da consolidação de uma atuação em rede que integre vários

profissionais e serviços.

Espera-se que os resultados desta pesquisa contribuam para a construção do

conhecimento e favoreçam a reflexão sobre o tema. Entende-se que a temática tem muitos

desafios a superar, sendo necessária a realização de estudos futuros que abordem o problema

em sua complexidade, abarcando um olhar multiprofissional e ações intersetoriais para que a

política de enfrentamento da violência leve à efetiva proteção aos adolescentes.

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16. Melo LAC, Souza LF, Alves RMPS. Avaliação do “Programa de Atuação do Serviço

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Políticas, Programas e Projetos; 2010; Recife [Internet]. Recife: UFPE; 2010 [cited 2013 fev

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17. Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas; 2006.

18. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10th

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20. Silva LMP, Ferriani MGC, Silva MAI. Atuação da enfermagem frente à violência sexual

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21. Aragão AS, Ferriani MGC, Vendruscollo TS, Souza SL, Gomes R. Abordagem dos casos

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2013 [cited 2013 jul 20];21(esp.):172-9. Available from:

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29. Deslandes SF, Souza ER, Minayo MCS, Costa CRBSF, Krempe M, Cavalcanti ML et al.

Caracterização diagnóstica dos serviços que atendem vítimas de acidentes e violências em 5

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31. Queiroz MVO, Ribeiro EMV, Pennafort VPS. Assistência ao adolescente em um serviço

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32. Pacheco ML, Malgarim BG. Centro de referência especializado de assistência social:

apanhados teóricos sobre uma rede especial de apoio e proteção em casos de abuso sexual

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Page 54: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

53

6.3 Artigo 2

A rede intersetorial para atendimento ao adolescente em situação de violência, na

percepção de profissionais de saúde1

Intersectoral network to serve the adolescents in situations of violence, the perception of

health professionals1

___________________________________________________________________________

Revista a ser escolhida

___________________________________________________________________________

Cláudia Fabiane Gomes Gonçalves2

Lygia Maria Pereira da Silva3

RESUMO

Objetivo: Conhecer como se configuram os vínculos entre um serviço de saúde e as

instituições envolvidas no enfrentamento da violência contra adolescentes.

Métodos: Estudo de abordagem qualitativa, realizado no período de maio a julho de 2013.

Teve como sujeitos gerentes de serviços de um hospital de referência para atendimento aos

casos de violência, no estado de Pernambuco, Brasil. Os dados foram coletados por meio de

entrevistas semiestruturadas e analisados por meio da técnica análise de conteúdo, modalidade

temática.

Resultados: A configuração da rede é mediana, heterogênea e apresenta paridade entre

vínculos significativos e fragilizados, com variação do número de instituições em cada

quadrante.

Conclusões: As ações intersetoriais demandam uma articulação de trabalho em rede que

atenda às necessidades do problema em sua complexidade, envolvendo ações planejadas e

articuladas, com o compartilhamento, dos objetivos, das responsabilidades, das informações e

dos resultados. Verificou-se que é necessário unir gestores, profissionais e serviços na

discussão do problema, para fortalecimento dos vínculos institucionais, de forma, que o

trabalho em rede, colabore efetivamente nas ações de integralidade, intersetorialidade e

interdisciplinaridade

PALAVRAS-CHAVE

Adolescentes; rede social; comunicação interdisciplinar; serviços de saúde; proteção integral.

Page 55: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

54

ABSTRACT

Aim: To examine the way links between a healthcare service and other institutions involved

in confronting violence against adolescents are configured.

Methods: A qualitative study was carried out between May and July 2013. The subjects were

managers of a hospital that is a referral center for cases of violence in the Brazilian State of

Pernambuco. The data were collected using semi-structured questionnaires and analyzed by

way of content analysis, by theme.

Results: The configuration of the network is median and heterogeneous, with parity between

significant and precarious links, with a variation in the number of institutions in each

quadrant.

Conclusions: It was found that there is a need to bring together managers, health-workers and

services to discuss the problem, as a way of strengthening institutional ties, if work as part of

a network is to contribute effectively to taking integrated, inter-sector and interdisciplinary

action.

Key-words: Adolescents; social network; interdisciplinary communication; health services;

full protection.

1Artigo extraído da dissertação de Mestrado “Atendimento em rede aos adolescentes em situação de violência : o

olhar dos profissionais da saúde”, apresentada a Universidade de Pernambuco (UPE), Brasil. 2Enfermeira, Mestranda em Hebiatria pelo Mestrado da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP) -

Universidade de Pernambuco(UPE), Brasil. 3Enfermeira, PhD Professor, Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças, Recife (PE), Universidade

Page 56: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

55

de Pernambuco (UPE),e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Hebiatria, Recife (PE), Brasil.

Correspondência: Lygia Pereira, [email protected],

Page 57: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

56

INTRODUÇÃO

A violência foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) como um grave problema de saúde pública, de

grande magnitude e transcendência, já que provoca forte impacto na morbimortalidade das

populações, devido à alta prevalência e aos prejuízos para o desenvolvimento cognitivo,

social, afetivo e comportamental do sujeito. O fenômeno é observado em todas as camadas

sociais, sem distinção de cor, religião, sexo, ou escolaridade especialmente na população

jovem.1,2

Dados do Ministério da Saúde, no período de 2000 a 2008, revelam que 191.136

crianças e adolescentes morreram por acidentes e violências, o que representa, uma mudança

no perfil de mortalidade no país.3 Esses números nos chamam atenção para a necessidade de

incentivar o desenvolvimento de pesquisas a fim de dimensionar esse problema na região

Nordeste, pois a maior parte dos estudos de base populacional e em serviços relacionados ao

tema se concentra no Sudeste, especialmente nas áreas metropolitanas de São Paulo e do Rio

de Janeiro.4

Para este estudo o grupo de interesse é o dos adolescentes, nos quais a violência

repercute de modo específico. A classificação etária que adotamos foi a do Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990, que considera

adolescente a faixa de 12 a 17 anos 11 meses e 29 dias.5

Muitos estudos discutem os efeitos traumáticos da violência, tal como aponta um dos

documentos da OMS ao dizer que, pelo número de vítimas e pela magnitude de sequelas

orgânicas e emocionais que produz a violência, esse fenômeno adquiriu um caráter

endêmico.6

Devido à complexidade do problema da violência, o trabalho para o seu enfrentamento

requer intervenção integradora entre múltiplos setores, tanto nos aspectos macroestruturais (as

políticas) quanto na articulação interna, para mobilização das intervenções, demandando

interação interinstitucional e intersetorial, que extrapola os limites do setor saúde.7 Essa

estratégia de trabalho permite a descentralização quanto à tomada de decisões e concretização

das ações. Pesquisas corroboram que na ação intersetorial para o enfrentamento da violência é

fundamental o trabalho em rede, que inclua setores de saúde, educação, jurídico, segurança,

bem-estar social, dentre outros, de forma articulada e responsável.8,9

A construção de redes pressupõe que as decisões sejam adotadas de forma horizontal

Page 58: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

57

nos princípios de igualdade, democracia, cooperação e solidariedade.10

Considera-se uma

condição necessária a articulação entre serviços de vários setores para uma efetiva proteção

integral às vítimas.8,9,11

Ao se considerar a complexidade da violência, compreende-se que a

metodologia do trabalho em rede para atendimento é indispensável, por se tratar de estratégia

que torna mais eficaz a defesa, a responsabilização e o apoio às pessoas em situação de

violência.12

A integração das instituições que atuam na rede de atendimento requer o

conhecimento mútuo. Tal conhecimento tem sido abordado por meio de estudos dos vínculos

entre os serviços com a utilização do mapeamento da rede institucional.13

O mapeamento pode envolver os vínculos entre as instituições que atendem as

crianças e adolescentes em situação de violência e possibilita o diagnóstico que, por sua vez,

representa um elemento gerador de intervenções, podendo apontar caminhos para um trabalho

em redes mais fortalecidas, solidárias e cooperativas.14

Neste sentido, foi proposto o mapeamento mínimo dos vínculos institucionais do

serviço, para o enfrentamento à violência contra adolescentes, que abrange os vínculos

estabelecidos entre a instituição e outras do território onde atua.10

Diante do exposto, por meio

deste estudo objetivou-se conhecer como se configuram os vínculos entre um serviço de

saúde e as instituições envolvidas no enfrentamento da violência contra adolescentes.

METODOLOGIA

Pesquisa do tipo exploratório e descritivo, pautada na abordagem qualitativa.15

O

campo da pesquisa foi o Hospital da Restauração (HR) que é um serviço de saúde referência

no atendimento às crianças e aos adolescentes vítimas de violência, sendo considerada a

maior unidade da rede pública, situada no município de Recife na região metropolitana de

Pernambuco.16

O Programa de atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência do

HR foi criado em 1990 pelo Serviço Social e denominado Rede Interna de Atendimento à

Criança e Adolescente (RIACA). A RIACA se organiza em três eixos estratégicos de atuação,

quais sejam: atendimento das situações, mobilização e articulação e por fim, monitoramento e

avaliação.17

Os sujeitos foram definidos por conveniência ou acessibilidade. O critério de inclusão

para o estudo consistiu em ser gerente de serviço de saúde e os critérios de exclusão foram

atuar no serviço há menos de 12 meses e estar em gozo de férias ou licença.18

Foram

Page 59: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

58

contatados para agendamento de acordo com a disponibilidade de cada participante, quando

se esclareceu o objetivo do estudo e foi agendada a entrevista, em horário e local respeitando

a privacidade dos entrevistados. Todos os gerentes participaram e assinaram o Termo de

Conhecimento Livre e Esclarecido (TCLE). Ao todo, a amostra foi composta por 15 gerentes.

Para a coletada dos dados foram utilizados dois instrumentos, sendo o primeiro o

mapeamento mínimo dos vínculos institucionais e o segundo as entrevistas semiestruturadas.

O mapa mínimo dos vínculos institucionais é formado por um círculo e dentro dele

quadrantes que representam os diversos setores que compõem a instituição, sendo que foram

deixados propositalmente quadrantes em branco para que no momento do preenchimento, o

sujeito pudesse acrescentar outras instituições que considerasse importante. Em seguida foram

traçadas linhas para indicar a qualidade dos vínculos existentes entre cada setor ou equipe.10

A representação gráfica pode ser feita por linhas com cores diferentes, esquema no

qual a cor verde significa vínculos significativos, cor amarela vínculos fragilizados e a cor

vermelha vínculos inexistentes ou rompidos. As relações representadas em amarelo e

vermelho caracterizam lacunas na rede, conforme esquema gráfico e legenda a seguir.

Figura 1 – Esquema gráfico para construção do mapa dos vínculos institucionais.

Após o preenchimento do mapa mínimo dos vínculos institucionais, deve-se proceder

Page 60: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

59

a avaliação da rede, que segundo seus vínculos pode ser descrita conforme: 1) Tamanho:

Avalia-se o número de instituições/serviços na rede, verifica-se a quantidade de vínculos

institucionais estabelecidos. Sendo assim, a rede pode ser classificada como reduzida,

mediana ou ampliada. 2) Densidade: Avalia-se a qualidade dos vínculos observados no nível

institucional, no que tange às linhas do traçado: significativos, fragilizados, rompidos ou

inexistentes. 3) Distribuição/composição: Refere-se ao número de instituições situadas em

cada quadrante. Aqui, denotam-se lacunas e recursos existentes na rede. 4) Dispersão/acesso:

Trata-se da distância geográfica entre os profissionais e instituições. Esse fator pode dificultar

contatos e apoio mútuos no cotidiano dos sujeitos. 5) Homogênea ou heterogênea: Avalia as

características das instituições, no intuito de verificar a diversidade e as semelhanças que

compõe a rede14

.

Ofereceu-se explicação sobre o preenchimento do mapa, em seguida procedeu-se ao

seu preenchimento, seguida da discussão sobre os vínculos da rede a partir do serviço de

saúde10

. Foi aplicado um instrumento para complementação das informações. O instrumento

constitui-se em uma entrevista semiestruturada,19

na qual foram problematizadas as

informações fornecidas pelo sujeito no mapa. As questões investigaram se o serviço de saúde

relaciona-se bem com os serviços com os quais se vincula, como é essa relação, quais os

pontos fracos e os pontos fortes. Outra questão foi se as pessoas que atuam nos serviços

externos acreditam que podem contar com o hospital e de que modo. E ainda, se serviço de

saúde precisa mudar a relação que mantém com os serviços com os quais se vincula, e

exemplificar.

Para o registro da entrevista, foi utilizado um gravador, em concordância com os

sujeitos, a fim de garantir a fidedignidade e posteriormente a transcrição na íntegra,

destacando os conteúdos mais intensos e os mais frequentes. Cada sujeito foi identificado com

a letra S, numeradas de 1 a 15 (S1, S2, S3 e assim por diante).

As entrevistas foram realizadas no contexto do hospital, nas salas das referidas

gerências. O período da coleta foi de maio a julho de 2013.

A análise dos dados foi realizada por meio da técnica análise de conteúdo, modalidade

temática.20

Para a interpretação dos dados foi realizada leitura exaustiva das entrevistas,

exploração do material e elaboração de síntese interpretativa, considerando-se o contexto no

qual está inserido serviço de saúde, assim como o embate com os dados empíricos.

O estudo atendeu aos princípios éticos da pesquisa com seres humanos, estabelecidos

pelo Conselho Nacional de Saúde, através da Resolução 196/96. Este estudo é parte de uma

Page 61: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

60

SECRETARIA ESTADUAL

SECRETARIA MUNICIPAL

SECRETARIA ESTADUAL

SECRETARIA MUNICIPAL

CRAS

CREAS

CONSELHO

TUTELAR

FAMÍLIA (VÍTIMA /

RESPONSÁVEIS / AGRESSOR)

IML

GPCA

MINISTÉRIO

PÚBLICO

DHPP

SAÚDE EDUCAÇÃO

ASSISTÊNCIA

SOCIAL

SECRETARIA

DEFESA SOCIAL

LEGENDA

RELAÇÕES INEXISTENTE OU ROMPIDAS

RELAÇÕES FRAGILIZADAS

RELAÇÕES SIGNIFICATIVAS

HR

pesquisa maior, aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade de Pernambuco sob CAAE:

06601012.8.0000.5207.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os participantes foram 15 profissionais da área da saúde, que ocupam cargo de

gerentes. Desses, doze são do sexo feminino, e três do sexo masculino, com idades variando

entre 30 e 58 anos. Em relação à formação, todos possuem curso superior completo, quatro

enfermeiros, seis médicos, dois psicólogos, um assistente social, um terapeuta ocupacional e

um educador físico. Destes, um cursou somente a graduação, oito cursaram especialização,

quatro cursaram residência e dois cursaram mestrado. O tempo de atuação no serviço variou

de 3 a 38 anos. Já no tema violência, constatou-se que 12 tinham experiência significativa,

com tempo de atuação entre 10 e 24 anos.

Para o diagnóstico de vínculos institucionais, o mapa de vínculos foi construído a

partir do hospital com instituições que atuam no atendimento aos adolescentes em situação de

violência, apresentando a configuração a seguir.10

Page 62: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

61

Figura 2 – Mapa dos vínculos institucionais.

Utilizou-se o mapa dos vínculos construído pelo serviço social por representar dentro

da instituição um setor que tem o papel de integração entre os serviços visando ao

fortalecimento das relações entre os integrantes da rede. Quando identificados casos de

violência, o serviço social é acionado para tomar as medidas cabíveis e fazer os possíveis

encaminhamentos, sendo apontado por todos os setores como agregador e resolutivo para os

casos de violência.

Como se observa no mapa dos vínculos institucionais entre o hospital e as instituições

externas, quanto ao tamanho a rede é mediana considerando o número de instituições que se

vinculam ao hospital para o atendimento aos adolescentes em situação de violência. Quanto à

densidade, a configuração da rede se apresenta da seguinte forma: paridade entre os vínculos

significativos e os fragilizados, com ausência de vínculos inexistentes ou rompidos.

O acesso, que é a distância geográfica entre as instituições equivale a dispersão, o que

igualmente ao estudo de Silva (2010) não foi considerado no presente estudo como elemento

de dificuldade, pois o hospital está localizado em uma região central da cidade, além disso, os

meios de comunicação rápida como telefone e internet diminuem a distância entre os serviços.

Por fim, quanto às características das instituições que compõem a rede, esta pode ser

avaliada como heterogênea, apresentando tendência à abertura, podendo ser fortalecida10

.

Inferiu-se que a heterogeneidade da rede se deve tanto a complexidade do problema da

violência, que resulta em demandas de ações de setores variados, quanto a capacidade de

articulação do serviço de saúde.

De acordo com a problematização das informações fornecidas no mapa dos vínculos

pelos sujeitos, a análise temática das entrevistas das falas dos sujeitos permitiu o

estabelecimento de duas categorias: “Atuação do serviço de saúde na proteção ao adolescente

vitimizado” com os subtemas “Atuação em rede intrasetorial,” “Atuação em rede

intersetorial” e “Desafios para atuação em rede” com os subtemas “Desconhecimento dos

serviços que compõe a estrutura da rede de atendimento aos adolescentes”, “Fluxo entre

serviços que compõe a rede de atendimento” e “Monitoramento do trabalho em rede no

atendimento aos adolescentes em caso de violência” Uma vez definidas essas categorias

empíricas, foram recortadas falas, agrupadas de acordo com seu conteúdo e significado, que

pautaram as discussões.

Page 63: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

62

1. Atuação do serviço de saúde na proteção ao adolescente vitimizado

O setor saúde constitui importante porta de entrada para os casos de violência, pois é o

espaço para onde conflui a maioria das ocorrências de violência.9,21,22

O Sistema Único de Saúde (SUS), amparado pelas Leis 8080/90 e 8142/90 é definido

como um conjunto de ações e serviços, oferecidos por órgãos e instituições públicas federais,

estaduais e municipais, da administração direta e indireta e fundações mantidas pelo poder

público, procurando unificar todas as instituições e serviços de saúde em um único sistema.

Tem como objetivo extinguir a dicotomia existente entre assistência preventiva e curativa,

oferecendo atenção integral à saúde.23

As especificidades da violência reforçam a necessidade

do trabalho em rede, demandando políticas públicas para a abordagem na perspectiva da

integralidade.24

Atuação em rede intrasetorial

De acordo com a percepção dos entrevistados, o hospital constitui um espaço de

referência para o atendimento ao adolescente em situação de violência, estabelecendo um

vínculo com outros serviços de saúde. Como se percebe nas falas abaixo:

[...] Fazemos a detecção da situação de risco da vulnerabilidade física,

psicológica e social em que o adolescente possa se encontrar, independente

da sintomatologia dele. E o encaminhamento a todos os profissionais que

possam garantir os direitos desses adolescentes à assistência integral. (S1)

[...] Esses vínculos que o hospital tem com os serviços de saúde constituem

vínculos fortes no meu ponto de vista. (S9)

O setor saúde é responsável pela organização das redes de atenção integral à saúde,

pela qualidade e integralidade destas ações e pela resolutividade da atenção às vítimas de

violência, integrando as diversas interfaces das três esferas de gestão do SUS, a saber:

municipal, estadual e federal.25

O serviço de saúde, nesse contexto, tem um papel importante,

pois agrega e articula suas demandas para a rede de apoio.

O sujeito 1 reconhece as diversas necessidades que o adolescente vítima de violência

apresenta, e o encaminhamento para a rede de saúde objetiva atender tais demandas. Sendo

assim, os profissionais devem estar preparados e principalmente atentos para reconhecer o

fenômeno, que nem sempre deixa marcas visíveis, e que pode ser de difícil identificação.26

A despeito do valor que os sujeitos atribuem à rede intrasetorial, o mapa dos vínculos

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63

institucionais mostra vínculos fragilizados com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e com

a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Tal representação diverge da fala do sujeito 9, no que

diz respeito às dificuldades para garantia da efetivação dos direitos dos adolescentes

atendidos.

Atuação em rede intersetorial

A integralidade da assistência requer uma rede intrasetorial bem articulada. Além da

articulação intrasetorial, o sistema de saúde deve se articular com as políticas e programas de

enfrentamento às situações de violência do país, reconhecendo que a atuação

interinstitucional, mais que um princípio, é de absoluta necessidade perante a complexidade

do problema. Contudo, promover articulações e parcerias é um processo que depende de uma

série de fatores ligados a cada instituição.27

A interação entre políticas públicas para efetivação da integralidade requer a

intersetorialidade, ou seja, as redes de atenção à saúde não devem ser restritas ao setor saúde,

devendo incluir políticas de outros setores relacionados às determinantes do processo saúde-

doença.8

[...] Quando nós da saúde que fazemos os primeiros atendimentos e não

podemos oferecer o atendimento [dar continuidade], nós vamos buscar fora.

(S6)

[...]o hospital já tem um trabalho significativo aqui, com esses adolescentes

vítimas de violências[...] É acionado o Conselho Tutelar (CT), então a coisa

fica amarrada. (S10)

[...] Eu diria que essa relação com diversas instituições é muito boa, pois

quando o serviço social precisa de qualquer coisa deles(CRAS) [Centro de

Referência da Assistência Social], elas solicitam, tentam resolver os casos e

vice versa. (S13)

[...]No campo da educação, a escola tem papel fundamental na formação

dos jovens. Essa relação com o hospital é de referência mesmo, pois tudo

que acontece lá vem pra cá. (S1)

Para o enfrentamento da violência, nas ações intersetoriais torna-se fundamental a

inclusão dos setores de saúde, educação, jurídico, segurança, bem-estar social, dentre outros.

O trabalho em rede permite a troca de informações, a articulação institucional, projetos

comuns, que contribuem para a integralidade da atenção, defesa, proteção e garantia de

direitos das crianças, dos adolescentes e suas famílias em situação de violência.28

Há situações que mostram a necessidade de fortalecimento das relações entre as

Page 65: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

64

instituições. Essas fragilidades nas relações podem resultar uma maior vulnerabilidade para a

concretização das ações, uma vez que as necessidades deixam de ser atendidas na sua

integralidade.29

O mapa dos vínculos institucionais, no quadrante referente à Assistência Social,

mostra relações significativas do hospital tanto com o CRAS quanto com o Centro de

Referência Especializado da Assistência Social (CREAS).

No contexto dos serviços disponíveis, o CRAS e o CREAS são unidades da área do

serviço social que têm uma proposta de ações com foco na família, o que favorece e

potencializa as possibilidades de fortalecimento da parceria entre esses serviços com potencial

para proteger e efetivar os direitos humanos.30

Na Política Nacional de Assistência Social (PNAS), os CRASs são destinados à

prestação de serviços e implementação de programas socioassistenciais de proteção social

básica às famílias e indivíduos, à articulação destes serviços no seu território de abrangência e

à atuação intersetorial na perspectiva de potencializar a proteção social. Como entidades

integrantes da rede de enfrentamento das várias formas de violência contra adolescentes, têm

atuação importante na temática.31

O CREAS é uma unidade pública estatal, que objetiva atender através de serviços

continuados de Proteção Social Especial, indivíduos e famílias com direitos violados e em

situação de vulnerabilidade e risco social e tem como papel estratégico a articulação dos

serviços da rede socioassistencial da proteção básica e especial com as demais políticas

públicas e institucionais que compõem o Sistema de Garantia de Direitos (SGD).32

Observe-

se que tendo o CREAS um papel de articulação, o vínculo significativo com o hospital pode

ser traduzido como um importante potencial para proteção aos adolescentes.

Ao considerar os serviços que compõe a rede socioassistencial para proteção aos

adolescentes, a escola ocupa um papel de destaque, pois é esperado que ela oportunize

condições para o pleno desenvolvimento escolar, psicológico, sexual. Possui também a função

de proteger seus estudantes, contra qualquer violação de seus direitos. Essas

responsabilidades não são exclusivas da escola, mas de toda Rede de Proteção da qual a

instituição de ensino é parte integrante e na qual tem papel preponderante.33

A escola tem papel fundamental na identificação dos casos de violência cometidos

contra adolescentes. Por meio da observação das mudanças de comportamento do

adolescente, inclusive o baixo rendimento escolar, a grande maioria dos profissionais da área

de educação tem condições de identificar os casos e contribuir para a proteção às vítimas.34,35

Page 66: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

65

Ainda com o objetivo de proteger o adolescente o governo brasileiro instituiu o

Programa de Saúde Escolar (PSE). O programa surgiu como uma política intersetorial, entre

os Ministérios da saúde e da Educação. O PSE tem a perspectiva de atenção integral à saúde

da criança e do adolescente e jovens do ensino público básico. Suas ações são direcionadas ao

enfrentamento das vulnerabilidades que afetam o desenvolvimento de crianças e jovens na

rede pública de ensino.36,37

2. Desafios para atuação em rede

Na visualização da necessidade de uma rede mais organizada, as entrevistas apontam

limites para a efetivação da proteção integral ao adolescente em situação de violência, por

meio de ações integradas de origem organizacionais, estruturais e de gestão, perpassando pela

compreensão do que é um trabalho em rede.

Desconhecimento dos serviços que compõem a estrutura da rede de atendimento aos

adolescentes vítimas de violência

Muito se tem discutido sobre o atendimento em rede para a proteção de adolescentes

vítimas de violência e os sujeitos revelam a sua compreensão do trabalho em rede e

identificam limites, conforme as falas expressas a seguir.

[...] Um ponto que eu destacaria era sabermos quais os órgãos que

trabalham com a violência. (S4)

[...]Eu sei que existem as políticas públicas para o enfrentamento da

violência, mas não é divulgado para o Estado, quem são as nossas

referências? Se for perguntar isso para os profissionais de saúde são poucos

os que sabem. (S10)

[...]adolescente vítima de agressão de Caruaru e o Conselho de Caruaru

disse que era pra atender no conselho daqui. (...) Então, não é nosso, gente!

Tem que mandar pra Caruaru. (S3)

É necessário compreender o que é rede, a fim de se definir sua contribuição para a

promoção da proteção integral.25

Rede é uma articulação política entre pares que, para se

estabelecer, exige: reconhecer (que o outro existe e é importante); conhecer (o que o outro

faz); colaborar (prestar ajuda quando necessário); cooperar (compartilhar saberes, ações e

poderes) e associar-se (compartilhar objetivos e projetos). Estas condições preliminares

Page 67: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

66

resultam, respectivamente, em autonomia, vontade, dinamismo, multiliderança, informação,

descentralização e múltiplos níveis de operacionalização.38

Vários sujeitos apontam situações que denotam o desconhecimento de diversos atores

sociais dos objetivos e das funções dos serviços. O mapa dos vínculos revela vínculo

fragilizado com o CT, o que concorda com a fala do sujeito 14. A fragilidade desse vínculo

compromete as ações para proteção às vítimas.

Conforme o ECA, no Artigo 131 o CT é o órgão encarregado pela sociedade de zelar

pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente.5 Por isso, a relação dos serviços

de saúde com o CT tem grande importância, e uma articulação entre essas instituições

contribuem para a proteção aos adolescentes em situação de violência.21

Embora as redes não precisem necessariamente ter um território delimitado, essa

condição favorece uma definição clara das responsabilidades, que cabe a cada serviço situado

dentro do município e também melhor articulação intersetorial para intervenções. Dessa

forma oferece melhor condição para a construção de vínculos e corresponsabilidades entre as

instituições para melhorar essa relação.

Fluxo entre os serviços que compõe a rede de atendimento

Ao abordar os vínculos com os serviços, os sujeitos referem problemas relacionados à

comunicação e à circulação das informações entre serviços de saúde e outros serviços. Nesse

sentido, os sujeitos evidenciam, em suas falas viés para a comunicação:

[...] Falta comunicação entre os serviços que compõem a rede de

enfrentamento a violência, para que as medidas de proteção sejam

asseguradas e acompanhadas para uma intervenção adequada. (S15)

[...] Todo o processo de comunicação tem tido dificuldade. Você leva para o

DHPP [Departamento de Homicídios e de Proteção a Pessoas], o DHPP

diz: “Ah! Não é aqui não”. Aí, leva para outro órgão, e o outro órgão diz:

“Ah! Não é aqui não”. Houve uma divisão, mas que não ficou muito claro.

(S3)

[...]O Ministério Público (MP) deveria ser mais presente, é como que eles

trabalhassem isoladamente, o vínculo é frágil, mas ele é forte, entende? (S9)

[...] Falta entrosamento do serviço social com o CT, porque tem vários

casos que não tem desfecho.” [...] Falta um planejamento, não tem contra

referência dos casos que encaminhamos. (S14)

[...] Pra mim uma das maiores fragilidades é a questão da continuidade das

Page 68: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

67

ações. É mais importante a gente ter esse vínculo com o Conselho Tutelar,

[...]com a família e/ou agressores, com o MP, esse vínculo é significativo”.

(S1)

As falas denotam a carência de articulação, comunicação, entrosamento entre os

serviços de saúde no atendimento e outras instituições que compõem a rede de apoio.

Problemas semelhantes foram encontrados em estudo desenvolvido em cinco capitais

brasileiras, que aponta obstáculos para a articulação intersetorial e mesmo dificuldade de

estabelecer fluxos intrasetoriais para o atendimento, com desconhecimento dos gestores de

saúde acerca das políticas setoriais de enfrentamento da violência.27

Os sujeitos apontam a necessidade de haver melhor comunicação entre os setores

externos da rede de proteção aos adolescentes em situação de violência, para que as ações de

intervenção sejam efetivas.

Ao se observar o quadrante referente a segurança/defesa social o mapa dos vínculos

revela relações fragilizadas com alguns órgãos da Defesa Social, como o Instituto Médico-

Legal (IML) e relações significativas com a Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente

(GPCA).

A lei brasileira determina que os crimes praticados contra crianças e adolescentes

devem ter prioridade na elucidação e responsabilização.5,39

Ao se considerar que o IML tem

uma grande importância na elucidação dos casos, por meio da emissão dos laudos resultantes

do exame pericial, se pode considerar que as relações fragilizadas comprometem o

funcionamento da rede no eixo da responsabilização.9,39

Os casos seguem um caminho previsto em lei, primeiramente a notificação é

encaminhada ao CT, Delegacia Especializada e/ou MP. A partir da delegacia os casos chegam

ao IML através de ofício expedido por um delegado de polícia. O laudo do IML constará no

processo como prova da violência, podendo ser positivo, negativo ou inconclusivo para a

prova que se buscou por meio do exame. O relatório final da delegacia é encaminhado ao MP,

que oferece a denúncia e qualifica o crime, encaminhando o caso à vara de Crimes contra

Crianças e Adolescentes, quando se darão os procedimentos judiciários com o atendimento

jurídico-social.l9,39

Monitoramento do trabalho em rede no atendimento aos adolescentes em caso de

violência

Page 69: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

68

A prática de encaminhar os casos de violência para outros profissionais ou setores do

Sistema de Garantia de Direitos (SGD) mostra que o enfrentamento de um fenômeno

complexo e multicausal requer ações igualmente complexas. Outro aspecto evidente é a

importância de ações que tornem efetivas as intervenções de proteção aos adolescentes e

minimizem os efeitos da violência sofrida,22

como observado na afirmação a seguir:

[...] Nós dos setores não interagimos com esses serviços, a não ser para

algum esclarecimento, relatório. (S12)

[...]O pessoal daqui já chegou a acionar a justiça no papel do MP, então

rede pra mim é exatamente isso, não deixar a ocorrência cair no vazio.

(S15)

[...] Acho que os gestores deviam ter outro olhar em relação a violência,

cobrar mais atuação e definição por parte do Estado, enfim ter uma relação

mais forte com o lado externo. (S14)

Os sujeitos apontam limites no processo de trabalho desenvolvidos diante de casos de

violência que exigem ações integradas. Essas limitações nas relações podem resultar em

maior vulnerabilidade dos adolescentes, impactando negativamente na continuidade das

ações.29

O MP tem um papel ativo e fundamental para a defesa dos interesses das crianças e

dos adolescentes, previsto e valorizado em todo o ECA. Cabe a esse órgão solicitar medidas

de proteção, reconhecer a necessidade de buscar em profissionais de outras áreas do

conhecimento, que compõem a equipe técnica, a ajuda necessária para tornarem mais efetivas

as estratégias adotadas pelo promotor público.5 Essa relação é imprescindível, a considerar a

complexidade das situações com as quais lida em seu cotidiano.40

Desse modo, os sujeitos

revelam lacuna na rede de proteção, ao referirem vínculo fragilizado entre o HR e o MP.

O vínculo a partir do serviço de saúde responsável pelo atendimento de urgência a

adolescentes, no quadrante destinado às famílias, denota uma relação significativa. Os

familiares têm as suas responsabilidades diante das situações de violência. No entanto,

estudos demostram que o enfoque do setor saúde no enfrentamento da violência não deve ser

o de buscar culpados e, sim, alternativas para a prevenção, até mesmo porque não cabe apenas

à família o papel de denunciar essas situações. É importante enfatizar que a violência

doméstica, por exemplo, compreende o agressor enquanto membro do núcleo familiar, e este,

também deve ser incluído no planejamento do atendimento aos casos de violência.41,42

Page 70: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

69

Estudos demonstram que a família é um espaço privilegiado, pois ela é responsável

pelo bem-estar de seus membros, especialmente as crianças e os adolescentes. Desse modo,

assemelha o exercício de proteção inerente às famílias com as funções das políticas sociais,

pois, as duas visam atender as demandas da produção e da proteção social dos que estão sob

sua tutela. Com isso, o Estado e a família desempenham papéis similares, pois regulam,

normatizam, impõem direitos de propriedade, poder e dever de proteção e assistência.43,44

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo identificou que o mapa dos vínculos institucionais entre o hospital e as

instituições internas e externas ao setor saúde, que atendem aos adolescentes vítimas de

violência revela que a rede é mediana, heterogenênea e mostra paridade na quantidade de

vínculos significativos e fragilizados, não apresentando vínculos inexistentes ou rompidos.

Os sujeitos reconhecem o papel do serviço de saúde no atendimento na rede de

atendimento como relevante, para a proteção integral aos adolescentes vitimizados. Entretanto

identificaram limites de ordem política e estrutural.

Verificou-se a existência de dificuldades intrasetoriais para o atendimento no modelo

de redes, na representação dos vínculos fragilizados com as secretarias municipal e estadual

de saúde. Em maior número foram identificados vínculos fragilizados com instituições do

sistema de justiça. Tais constatações são igualmente preocupantes, ao se considerar a lógica

de atuação em redes, com funcionamento horizontal.

A partir dos achados deste estudo, recomenda-se o trabalho conjunto e integrado por

meio da promoção do diálogo e da integração dos serviços. É imprescindível a promoção de

práticas gerenciais e de participação que orientem os profissionais e os serviços de saúde para

o enfrentamento da violência, por meio de:

a) atuação intersecretarias, com o envolvimento dos gestores, de modo que a atuação em rede

para o enfrentamento da violência seja mais que um método, uma opção política;

b) integração dos serviços por meio de cursos, seminários, estudos de caso, de caráter

multiprofissional;

c) fortalecimento das ações dos profissionais e dos serviços por meio da discussão dos casos

com membros das várias equipes e serviços, numa visão interdisciplinar e intersetorial;

d) discussão de impasses ou problemas no desenvolvimento do trabalho, de modo a contribuir

para a reflexão de temas e mudanças das práticas;

e) fortalecimento e aumento dos vínculos significativos para maior proteção aos adolescentes

Page 71: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

70

vitimizadas.

Os resultados da presente pesquisa contribuem para o avanço do conhecimento, na

medida em que apresentam um aporte pautado na importância da ressignificação da atuação

no nível terciário de atenção à saúde e da articulação de diferentes atores e áreas que

compõem o trabalho de atenção integral e intersetorial a esse fenômeno. Entende-se que a

discussão sobre o problema requer outros estudos que favoreçam a compreensão do fenômeno

do enfrentamento da violência contra os adolescentes.

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74

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em resposta ao objetivo deste estudo identificou-se e analisou-se a configuração da

rede e os vínculos entre o HR e outras instituições envolvidas no atendimento aos

adolescentes vítimas de violência.

Atendendo aos pressupostos constatou-se que a rede de serviços que realizam os

atendimentos aos adolescentes em situação de violência apresenta fragilidades, com prejuízo

para a proteção integral dos adolescentes atendidos. Também constatou-se que a atuação em

rede possibilita o fortalecimento os vínculos institucionais para garantia dos direitos dos

adolescentes. No entanto, as fragilidades identificadas dificultam a concretização de uma

política baseada nos princípios da proteção integral as vítimas.

O primeiro objetivo específico do estudo buscou compreender a percepção de gerentes

de serviços acerca do trabalho em rede, para o enfrentamento da violência contra

adolescentes, onde os relatos apontaram que a rede interna do HR interfere nas práticas de

atendimento às crianças e aos adolescentes, com prejuízo para a assistência baseada na

proteção integral.

Observou-se que, o trabalho em rede interna no serviço ocorre fora dos padrões aos

quais a rede se propõe, como, por exemplo, uma concentração das ações do enfrentamento à

violência no serviço social. Além disso, foi evidenciada a necessidade de maior qualificação

dos profissionais para o atendimento aos adolescentes vitimizados. Nesse sentido recomenda-

se a necessidade de educação continuada para esses profissionais.

Evidenciou-se, ainda, a ausência de protocolos e fluxogramas que guiem as ações dos

profissionais. Essa lacuna evidencia a necessidade de mudanças mais profundas para um

norteamento das ações, sendo imprescindível a discussão e a implantação de políticas

públicas para o enfrentamento do problema.

O segundo objetivo específico buscou identificar os vínculos externos estabelecidos

entre o serviço de saúde e outras instituições da rede para atendimento aos adolescentes

vítimas de violência.

Com base nos resultados encontrados os sujeitos demonstram uma percepção positiva

do papel do serviço estudado, que é referência no atendimento às vítimas de violência.

Entretanto, os entrevistados também identificaram uma insuficiência do envolvimento dos

gerentes na abordagem e na atenção baseadas no paradigma da proteção integral, sendo

imprescindível a promoção de práticas gerenciais. Evidencia-se a necessidade de incluir esse

Page 76: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

75

tema na formação dos profissionais de diversas áreas, no sentido de instrumentalizá-los para a

sua atuação junto aos adolescentes em situação de violência. Da mesma forma, revela-se

indispensável o envolvimento das instituições de ensino superior na qualificação dos

profissionais para uma atuação comprometida e competente.

Percebe-se que, apesar da existência de uma legislação no Brasil, ainda se faz

necessário avançar e superar a falta do reconhecimento dos adolescentes como sujeitos de

direitos em condição de desenvolvimento biopsicossocial.

Existe a necessidade, portanto, da consolidação de uma atuação em rede que integre

vários profissionais e serviços.

Buscou-se, por meio do terceiro objetivo específico conhecer como se configuram os

vínculos entre um serviço de saúde e as instituições envolvidas no enfrentamento da violência

contra adolescentes. Para atingir esse objetivo foi utilizado o mapa dos vínculos.

O mapa elaborado pelos sujeitos e exposto no artigo 2, permitiu analisar a rede que

apresenta-se mediana, considerando o número de instituições que se vinculam ao HR. Quanto

à densidade, a configuração da rede apresenta paridade entre os vínculos significativos e os

fragilizados, com ausência de vínculos inexistentes ou rompidos. No tocante às características

das instituições que compõem a rede, esta pode ser avaliada como heterogênea, apresentando

tendência à abertura, podendo ser fortalecida.

Verificou-se dificuldades intrasetoriais para o atendimento no modelo de redes. Em

maior número foram identificados vínculos fragilizados com instituições do sistema de

justiça. Tais constatações são igualmente preocupantes, ao considerar-se a lógica de atuação

em redes, com funcionamento horizontal.

Espera-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir para a construção do

conhecimento e favoreçam a reflexão sobre o tema. Entende-se que existe muitos desafios a

superar sobre essa temática, sendo necessária a realização de estudos futuros que abordem o

problema em sua complexidade, envolvendo um olhar multiprofissional e ações intrasetoriais

e intersetoriais para que as ações de enfrentamento da violência levem à proteção integral aos

adolescentes.

Page 77: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

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Page 81: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

80

APÊNDICES

APÊNDICE A

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário, de uma pesquisa. Após

ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo,

assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do

pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado (a) sob hipótese

alguma.

Informações sobre a pesquisa:

Título da Pesquisa: A percepção dos gestores acerca do atendimento em rede aos

adolescentes em situação de violência: uma análise com enfoque na proteção integral.

Pesquisadores: Professora Lygia Maria Pereira da Silva (81) 9922-2571; Cláudia Fabiane

Gomes Gonçalves (87) 9927-4528; Marcela Virginia de Santana (81) 9666-8391; Cintia

Cibele da Silva (87) 9655-2877.

Justificativa dos objetivos: Nosso objetivo geral é analisar a configuração da rede e os

vínculos entre as instituições envolvidas no atendimento aos adolescentes vítimas de

violência. Percebemos a necessidade de estudos que permitam o diagnóstico da rede, tanto no

âmbito da sua estrutura, quanto da qualificação específica dos profissionais, para atuação

baseados no paradigma de redes.

Metodologia: Após a assinatura do termo de consentimento, você será submetido à entrevista

e responderá a um questionário.

Riscos e desconfortos: A presente pesquisa não oferece prejuízos à saúde do participante.

Considera-se nesta pesquisa o risco mínimo de alguns participantes sentirem vergonha ou

constrangimento durante a coleta de dados, portanto pretendemos reduzir estes riscos

realizando as entrevistas de forma individual, em salas destinadas unicamente a esta

finalidade. Além de assegurar sobre a confidencialidade dos dados e das informações

coletadas, e garantidos de que os resultados serão obtidos apenas para alcançar os objetivos da

pesquisa, incluindo a sua publicação na literatura científica especializada.

Page 82: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

81

Benefícios: O presente estudo, por meio da análise da configuração da rede e dos vínculos

entre as instituições envolvidas no atendimento às crianças e adolescentes vítimas de

violência, permitirá o diagnóstico do acesso e do atendimento realizado nos serviços de

referência. Pretende-se que os resultados da pesquisa forneçam subsídios para identificação

dos recursos e lacunas, com vistas à ampliação dos fatores de proteção para as crianças e

adolescentes atendidos, assim como das necessidades dos profissionais que atuam nos

serviços em relação à sua qualificação para atuação em rede.

DIRETOS DO SUJEITO PESQUISADO:

1. Garantia de esclarecimento e resposta a qualquer pergunta;

2. Liberdade de abandonar a pesquisa a qualquer momento sem prejuízo para si;

3. Garantia de privacidade à sua identidade e do sigilo de suas informações;

4.Garantia de que caso haja algum dano ao sujeito, os prejuízos serão assumidos pelos

pesquisadores ou pela instituição responsável, como acompanhamento médico e hospitalar.

Dúvidas e esclarecimentos: Em caso de dúvidas ou quaisquer que sejam os esclarecimentos,

estaremos à disposição em qualquer momento através do telefone móvel de cada pesquisador.

Estes números estão apresentados na página acima em pesquisadores. Caso queira entrar em

contato com o Comitê de Ética em Pesquisa, contato pode ser mantido pelo fone (81) 3183-

3775 ou pelo endereço: Av. Agamenon Magalhães S/N, Santo Amaro, Recife, PE, CEP:

50.100-010.

Agradecemos a sua atenção, colaboração e solicitamos o preenchimento, em duas vias de

igual teor e forma, do termo abaixo:

Eu, ____________________________________________________________, abaixo

assinado, tendo recebido todos os esclarecimentos acima citados, e ciente dos meus

direitos, concordo em participar desta pesquisa: “A percepção dos gestores acerca da

atenção aos adolescentes em situação de violência: uma análise com enfoque na proteção

integral”.

Fui devidamente informado (a) e esclarecido (a) pelas pesquisadoras sobre a pesquisa, os

procedimentos envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha

participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento,

sem que isto leve à qualquer penalidade, bem como autorizo toda documentação necessária, a

divulgação e a publicação em periódicos, revistas bem como apresentação em congressos,

Page 83: UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE …

82

workshop e quaisquer eventos de caráter científico.

Local: _____________________________ Data: ____/____/___

Assinatura do Sujeito:_______________________________________________

Assinatura do Pesquisador:___________________________________________

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83

APÊNDICE B

Instrumento de coleta - Entrevista semiestruturada

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

1) Caracterização dos sujeitos

Idade:__________anos

Formação profissional: _________________________

Titulação:

Graduação ( ) Especialização ( ) Residência ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( )

Qual? _________________________________

Há quanto tempo concluiu a graduação? _______________________

Tempo de atuação no serviço:_________________

Tempo de atuação no tema violência contra crianças e adolescentes: ____________________

Cargo ocupado: _______________________

No seu curso de graduação o tema violência contra crianças e adolescentes foi abordado?

( ) Sim ( ) Não

Você já participou de algum curso ou palestra sobre o enfrentamento da violência contra

crianças e adolescentes

( ) Sim ( ) Não

Qual a carga horária? _____________________________________

Qual o enfoque? _________________________________________

2) Sobre o tema da pesquisa:

2.1 O que você entende como trabalho em rede?

2.2 Na instituição onde você trabalha, existem ações que caracterizem o trabalho em rede?

2.2.1 Explique

2.3 Como devem ser as ações para serem caracterizadas como trabalho em rede no

enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes?

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84

APÊNDICE C

PROBLEMATIZAÇÃO DO MAPA EXTERNO - HR

PROBLEMATIZAÇÃO DO MAPA DA REDE EXTERNA - HR

SOBRE A INTERAÇÃO ENTRE O HR E OS SERVIÇOS EXTERNOS

O HR se relaciona bem com os serviços

com os quais se vincula?

( )

Sim

( )

Não

( )

Não sei

Como é essa relação? Quais

os pontos fracos e os pontos

fortes?

Para você, as pessoas que atuam nos

serviços acreditam que podem contar

com o HR?

( )

Sim

( )

Não

( )

Não sei

De que modo?

O HR precisa mudar a relação que

mantém com os serviços com os quais

se vincula?

( )

Sim

( )

Não

( )

Não sei

Exemplifique:

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85

ANEXOS

ANEXO A

Carta de Anuência da Secretaria Estadual de Saúde

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86

ANEXO B

Carta de Anuência do Hospital da Restauração

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87

ANEXO C

Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

Elaborado pela Instituição Coparticipante

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA Título da Pesquisa: ATUAÇÃO EM REDE NA ATENÇÃO ÀS CRIANÇAS E AOS ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA: UMA ANÁLISE COM ENFOQUE NA PROTEÇÃO INTEGRAL Pesquisador: Lygia Maria Pereira da Silva Área Temática: Versão: 2 CAAE: 06601012.8.0000.5207 Instituição Proponente: FUNDACAO UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (FESP-UPE ) Patrocinador Principal: Financiamento Próprio DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 229.248 Data da Relatoria: 26/03/2013 Apresentação do Projeto:

O projeto tem por premissa analisar a configuração da rede e os vínculos entre as instituições envolvidas no atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência. Objetivo da Pesquisa: A pesquisa terá a finalidade de conhecer como se configuram os vínculos entre as instituições envolvidas no enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, na cidade do Recife. Avaliação dos Riscos e Benefícios: A pesquisa apresenta riscos mínimos, uma vez que os dados serão coletados em bancos de dados dos serviços e a partir de entrevistas com os gestores das instituições. Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

A pesquisa apresenta o objetivo avaliar e de reforçar a importância da atuação em rede para potencializar os recursos para o atendimento às crianças e adolescentes em situação de violência, na cidade de Recife. Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória: O projeto apresenta todos os termos de apresentação obrigatória. Recomendações:

Acho que seria necessária a obtenção de uma carta de anuência do serviço em questão (Hospital da Restauração)

HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO

Endereço: Av. Agamenon Magalhães, s/nº 5º Andar

Bairro: Derby CEP: 52.010-040 UF: PE Município: RECIFE

Telefone: (81)3181-5603 Fax: (81)3181-5603 E-mail: [email protected]

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88

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

O trabalho é de grande importância e encontra-se em obediência a todos os preceitos éticos.

Situação do Parecer:

Aprovado

Necessita Apreciação da CONEP:

Não

Considerações Finais a critério do CEP:

Acho que seria necessária a obtenção de uma carta de anuência do serviço em questão (Hospital da

Restauração)

RECIFE, 26 de Março de 2013

_________________________________________________

Assinador por:

Josimário João da Silva

(Coordenador)

ANEXO D

Mapa mínimo da rede social institucional

HOSPITAL DA RESTAURAÇÃO

Endereço: Av. Agamenon Magalhães, s/nº 5º Andar

Bairro: Derby CEP: 52.010-040 UF: PE Município: RECIFE

Telefone: (81)3181-5603 Fax: (81)3181-5603 E-mail: [email protected]

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ANEXO D – Mapa Mínimo da Rede Social institucional..

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ANEXO E

Normas da Revista Brasileira Materno Infantil

Tipos de artigos aceitos:

A Revista Brasileira Materno Infantil publica os seguintes tipos de manuscritos: