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RESUMO
Este trabalho procura registrar a viabilidade econômica, social e ambiental de um
modelo de fossa séptica biodigestora – MODELO EMBRAPA, visando a permanência e
sustentabilidade das famílias em atividades rurais, em região do município Ribeirão Grande,
no Estado de São Paulo. Para nortear o projeto foi elaborado um diagnóstico participativo
com moradores do Bairro Mato Dentro, propondo mudanças no processo de construção de
fossas na zona rural, em região desprovida de coleta e tratamento de esgoto, assim como
diagnosticar suas aspirações para o futuro. Foi também realizado um diagnóstico técnico das
propriedades rurais, onde é proposta essa melhoria. E, baseado nos diagnósticos, traçou-se o
plano de ação orientado por diretrizes de cooperativismo e a construção de novos
conhecimentos, capaz de dar suporte a uma transição de formas de práticas na agricultura e,
portanto, contribuir para o estabelecimento de processos de desenvolvimento rural
sustentável. Neste ambiente de busca e construção de novos conhecimentos, é proposto o
estabelecimento de agriculturas de base ecológica e/ou sustentáveis. A redução de casos de
infecções intestinais, pela existência de serviços de esgoto em todos os domicílios brasileiros
possibilitaria uma economia R$ 745 milhões, somente em despesas de internação no SUS ao
longo dos anos. Por outro lado; não basta apenas ofertar uma ampla gama de alternativas de
saneamento ao indivíduo; é necessário desenvolver o reconhecimento dos benefícios, da sua
sustentabilidade, a partir da identificação dos determinantes da escolha das famílias e a
resposta a estes questionamentos envolve diferentes aspectos que estão relacionados, não
apenas ao custo do serviço, mas também a características sócio-econômicas e demográficas
do indivíduo.
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INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
A vida no planeta Terra depende da água, do ar e do solo, para salvaguardar aspectos
da vida humana, no que concerne à saúde e ao bem estar de seus habitantes e à qualidade do
meio ambiente que deve ser preservada para a manutenção da vida.
Quase dois terços dos brasileiros, que vivem fora de áreas urbanas, ainda não contam
com serviço de saneamento básico. Isso significa que mais de 20 milhões de pessoas – o
dobro da população de uma cidade como São Paulo – estão em permanente situação de risco
de contrair doenças infecciosas ou parasitárias, que são adquiridas principalmente pelo
contato com o esgoto in natura e/ou através da água do lençol freático, contaminada pelo uso
de fossas rudimentares (fossa “negra”, poço, buraco). Segundo dados do estudo “Objetivos e
Desenvolvimento do Milênio (CEPAL,2005, apud Adriana Soares Faustino), o Brasil é o
quarto colocado em pior nos indicadores de saneamento rural,.em toda América Latina e
Caribe.
Entretanto, os efeitos indesejáveis, traduzidos por esses riscos, podem ser mitigados ou
evitados, a partir da formação de uma consciência ecológica e de cooperação mútua de todos
os atores envolvidos nesse drama, quando puderem modificar as ações causadoras desses
efeitos, resultando num processo que poderíamos chamar de gerenciamento ambiental, obtido
principalmente através de desenvolvimento sustentável.
O assunto discutido no artigo de Santos e colaboradores (Gabriela Lamarca e Mário
Vettore em 17/06/2011) é bastante atual e vem ao encontro da síntese dos indicadores sociais
brasileiros publicada em abril de 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (www.ibge.gov.br). Segundo o IBGE, apenas 43% dos nossos esgotos são
coletados e somente um terço deles recebe algum tipo de tratamento. Além disso, para cada
100 domicílios com acesso a abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e
iluminação elétrica existem 64 domicílio sem acesso ao abastecimento de água, esgotamento
sanitário, coleta de lixo e iluminação elétrica. Esses indicadores representam o grau de
desenvolvimento do país e apontam para futuros desafios, ainda a serem vencidos.
A probabilidade de uma pessoa com acesso à rede de esgoto se afastar das atividades
por qualquer motivo é 6,5% menor, do que a de uma pessoa que não tem acesso à rede. O
acesso universal teria um impacto de redução de gastos de R$ 309 milhões nos afastamentos
de trabalhadores, por algum tipo de enfermidade decorrente de contato com água
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contaminada. Se for dado acesso à coleta de esgoto a um trabalhador que não disponha desse
serviço, espera-se que a melhora geral de sua qualidade de vida ocasione uma produtividade
13,3% superior, possibilitando o crescimento de sua renda em igual proporção. Segundo os
estudos e relatos do Tratabrasil, o ganho global, com a universalização dos serviços de
saneamento, seria bastante significativo em termos de renda do trabalhador.
Em 2009, dos 462 mil pacientes internados por infecções gastrintestinais, 2.101
morreram no hospital, e haveria uma redução de 25% no número de internações e 65% na
mortalidade – ou seja, 1.277 vidas seriam salvas, se houvesse acesso universal aos serviços de
saneamento.
No Brasil, a chance de mortalidade ao nascer aumenta 24% com a ausência de esgoto
e 60% das faltas escolares de crianças matriculadas se dão por motivos de saúde. As chances
de ausência devido a sintomas de diarreia e vômitos de quem tem acesso a saneamento são
9% menores do que quem não tem saneamento (Neri, 2008).
A preocupação com o saneamento básico é algo que vem desde a antiguidade quando
do surgimento e expansão das primeiras cidades. O primeiro aqueduto de que se tem notícia
foi construído em 691 a.C.,na Assíria. Sem falar nos que foram construídos em Roma com
quilômetros de extensão. Entretanto, por muito tempo, os conhecimentos que eram adquiridos
por uma civilização acabavam morrendo com ela e, por isso, a cada nova civilização os
conhecimentos tinham de ser redescobertos. Junto com seus benefícios.
Atualmente o benefício mais difundido do saneamento básico tem a ver com sua
característica de prevenção. Estudos comprovam que para, aproximadamente, cada 1 real
investido em saneamento básico têm-se um economia de 4 reais com assistência médica.
Por ano, pelo menos 217 mil pessoas se afastam de seus postos de trabalho por
adquirir problemas gastrointestinais provocados pela falta de saneamento. O resultado é a
perda de 17 horas de trabalho a cada afastamento, o que gera um prejuízo de R$ 238 milhões
em horas-pagas e não trabalhadas. Isso sem falar dos óbitos. O custo para cada internação
chega, em média, a R$ 350, sendo que, com a universalização do acesso à rede de esgoto, se
economizaria R$ 745 milhões em pouco menos de duas décadas. O valor poderia ser
investido em educação, por exemplo. Além do mais, se houvesse saneamento básico para
todos, o número de internações seria reduzido em 25% e a mortalidade, em 65%, ou seja,
1.277 vidas seriam salvas. (André Castro, e o professor e coordenador da pesquisa, Fernando
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Garcia, da FGV – Fundação Getúlio Vargas, o estudo “Benefícios Econômicos da Expansão
do Saneamento Brasileiro” indica que a expansão da rede de esgoto).
A proposta é de levantarmos dados do município de Ribeirão Grande, divulgá-los e
ampliarmos a implantação desse modelo de fossas sépticas biodigestoras para o município
todo contribuindo com a infraestrutura, que consigamos propor o tratamento dos resíduos
sólido de uma maneira sustentável e com autonomia aos beneficiários.
O Município de Ribeirão Grande insere-se nesse contexto geral acima descrito,
localizando-se no Vale do Alto Paranapanema, região Sudoeste do Estado de São Paulo, cerca
de 230 km da capital paulista. Ribeirão Grande tem sua história ligada à cidade de Capão
Bonito, município do qual era distrito e tendo a sua emancipação ocorrida em 1991. O
município está a uma altitude média de 690 m, com latitude 24º05'57"sul, Longitude:
48º21'55" oeste, UTM- 7.308 e 7.338 N; e 758 e 777 E.
A área total do município é de 33.336 hectares (IBGE 2007); sendo a área rural de
32.861 hectares (ITESP mapa e Departamento de Obras do município Ribeirão Grande) e a
urbana 475 hectares (ITESP mapa e Departamento de Obras do município Ribeirão Grande);
fazendo divisas com os municípios de Capão Bonito (a norte e a leste), Guapiara (a oeste),
Iporanga e Eldorado (ao sul), caracteriza-se por sua riqueza cultural e cênica.
Ribeirão Grande é beneficiado pela exuberante Mata Atlântica que rodeia o município
e, sendo a sede do Parque Intervales, tem um potencial turístico que se destaca em relação aos
municípios vizinhos, ressaltando também que o município foi o verdadeiro berço da
colonização da região, segundo relato do “Roteiro Turístico dos Encanados”.
Salienta-se a importância, que essa região está inserida na fase I da implantação da
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, estando assim, reconhecida pela UNESCO, desde
1993, como Patrimônio Natural da Humanidade. Além disso, essa região está inserida
também no tombamento da Serra do Mar (Resolução n.º 40, de 06/06/1985), declarada pelo
CONDEPHAAT.
O município de Ribeirão Grande possui característica tipicamente rural, com ocupação
da área de 70% na zona rural e 30% em área urbana caracterizado por atividades econômicas
agrícolas (produção agrícola e pecuária) em sistema de agricultura familiar e não agrícolas;
indústria: mineração. Os agricultores familiares plantam milho, feijão pepino, cebola, tomate,
repolho, maxixe, abobrinha, beterraba e alguns têm horta e pomar caseiros.
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Os Bairros estão divididos por famílias e algumas moradias estão dispostas ao longo
do córrego, onde parte do esgoto é lançada.
Os dados geográficos de população demonstrados no quadro 01 e demais informações
que seguem, caracterizam o município com particularidades importantes e ressalta a
necessidade de cuidados com os recursos naturais não renováveis.
Quadro 01.
População total População urbana População rural Densidade demográfica
6.928 1.886 5.042 20,78 hab./km2
(IBGE 2007)
O estudo detalhado do meio físico mostrou que esse município caracteriza-se por
relevo com predomínio de Morros, com destaque para Serras Restritas, Mar de Morros e
Morros Paralelos e as terras do município e os tipos de solo: Argissolos e Cambissolos. Fonte
IPT.
Para as atividades de agricultura e pecuária, é importante o cuidado com a conservação
do solo, minimizando efeitos indesejados como a erosão e a perda de fertilidade, sendo
necessário atentar para as práticas mecânicas de conservação de solo, uma vez que os
Argissolos e Cambissolos ocorrem geralmente nas bordas dos rios e córregos. Fonte IPT.
O município é provido de água tratada e estação de tratamento de esgoto sob
concessão da Sabesp, sendo 74% do esgoto coletado com 100% de tratamento, somente na
zona urbana. (Segundo dados da SABESP de 2011).
E, quanto à zona rural, o município conta com a implantação de fossas sépticas
biodigestoras – Modelo EMBRAPA - nos Bairros Mato Dentro e Taquarianos, por iniciativa
do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, em parceria com a Prefeitura Municipal
de Ribeirão Grande.
OBJETIVOS Contribuir para melhoria da qualidade de vida da população rural do município de
Ribeirão Grande, com a identificação de desafios que reduzam a situação de risco e
vulnerabilidade em que vivem.
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2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar, estabelecer e orientar ações para atuação no saneamento rural com técnicas
de baixo custo, como instrumento de estudo para a Gestão de Recursos Hídricos.
Propor e realizar programa de monitoramento e avaliação periódica da eficiência de
fossas sépticas biodigestoras existentes como forma de desenvolver uma percepção dos seus
benefícios.
REVISÃO DE LITERATURA E/OU FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DO
PROJETO.
No município de Ribeirão Grande, onde nasce o Rio das Almas, considerado um dos
principais afluentes do Rio Paranapanema é grande a preocupação com a contaminação das
águas através dos dejetos do esgoto doméstico, como foi também uma das prioridades
levantadas pela comunidade durante a realização do Plano de Microbacias Hidrográficas do
Bairro Mato Dentro. Utilizando incentivos do Programa Estadual de Microbacias
Hidrográficas a Associação dos Pequenos Produtores do Bairro do Mato Dentro mobilizou os
moradores para a instalação de fossas sépticas biodigestoras – Modelo Embrapa. (Anexo I)
A maioria absoluta das propriedades rurais de nossa região não conta com um sistema
eficiente de tratamento de esgoto domiciliar. A construção de fossa séptica biodigestora passa
ser uma alternativa bastante interessante, contribuindo para a redução da poluição do solo e da
contaminação da água. (Anexo I)
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e o Abastecimento, a
agricultura de base familiar reúne 14 milhões de pessoas, mais de 60% do total de
agricultores, e detém 75% dos estabelecimentos agrícolas no Brasil. É comum nessas
propriedades o uso de fossas rudimentares (fossa "negra", poço, buraco, etc.), que
contaminam águas subterrâneas e, obviamente os poços de água, os conhecidos poços
”caipiras”. Assim, há a possibilidade de contaminação dessa população, por doenças
veiculadas pela urina, fezes e água, como hepatite, cólera, salmonelose e outras.
O processo de biodigestão de resíduos orgânicos é bastante antigo, sendo que a
primeira unidade foi instalada em Bombaim, na Índia em 1819 e na Austrália, o metano a
partir de esgoto, já é produzido e industrializado desde 1911. A China possui 4,5 milhões de
biodigestores que produzem gás e adubo orgânico, sendo que a principal função é o
saneamento no meio rural. No Brasil, a ênfase para os biodigestores foi dada para a produção
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de gás, com o objetivo de converter a energia do biogás em energia elétrica através de
geradores. Isso permitiu melhorar as condições rurais, como por exemplo, o uso de
ordenhadeiras na produção de leite, e outros benefícios que podem ser introduzidos. Esse
processo realiza-se através da decomposição anaeróbica da matéria orgânica digerível por
bactérias que a transforma em biogás e efluente estabilizado e sem odores, podendo ser
utilizado para fins agrícolas. As fases do processo constam de: fase de hidrólise enzimática,
ácida e metanogênica (Olsen & Larsen, 1987), as quais eliminam todo e qualquer elemento
patogênico existente nas fezes, devido principalmente, à variação de temperatura. Com isso, o
processo de biodigestão de resíduos orgânicos é uma possibilidade real a ser considerada para
a melhoria do saneamento no meio rural.
Em suma, o biodigestor aqui desenvolvido tem dois objetivos: 1) substituir, a um custo
barato para o produtor rural, o esgoto a céu aberto e as fossas sépticas e 2) utilizar o efluente
como um adubo orgânico, minimizando gastos com adubação química, ou seja, melhorar o
saneamento rural e desenvolver a agricultura orgânica.
O sistema (figura 1a) é composto por duas caixas de cimento amianto ou plástico de
1000 L cada [5], facilmente encontradas no comércio, conectadas exclusivamente ao vaso
sanitário, (pois a água do banheiro e da pia não têm potencial patogênico e sabão ou
detergente tem propriedades antibióticas que inibem o processo de biodigestão) e a uma
terceira de 1000 L [6], que serve para coleta do efluente (adubo orgânico). As tampas dessas
caixas devem ser vedadas com borracha e unidas entre si por tubos e conexões de PVC de 4",
com curva de 90o longa [3] no interior das caixas e T de inspeção [4] para o caso de
entupimento do sistema. Os tubos e conexões devem ser vedados na junção com a caixa com
cola de silicone e o sistema deve ficar enterrado no solo para manter o isolamento térmico.
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Em 1997, o Governo do Estado negociou com o Banco Mundial um acordo de
empréstimo com o objetivo de financiar o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas.
Para tanto, foi necessária uma reorganização do Programa, começando pela redefinição do seu
objetivo, que passou a ser o de promover o desenvolvimento rural sustentável no Estado de
São Paulo; entendendo-se por desenvolvimento rural a ampliação das oportunidades de
ocupação, a melhoria dos níveis de renda, uma maior produtividade geral das unidades de
produção, uma redução dos custos e uma reorientação técno-agronômica. Tudo para propiciar
o aumento do bem-estar das populações rurais, através da implantação de sistemas de
produção agropecuária que viessem a garantir a sustentabilidade sócio-econômica e
ambiental, com plena participação e envolvimento dos beneficiários e da sociedade civil
organizada. Anexo I
DIVISÃO HIDROGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO GRANDE
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CLASSIFICAÇÃO DAS MBH DO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO GRANDE
01- MBH MATO DENTRO
02- MBH TAQUARIANOS
03- MBH BAIRRO DO URUCUBA
04- MBH BAIRRO DOS CRISTAIS
05- MBH RIO DAS ALMAS
06- MBH RIO DAS CONCHAS
07- MBH CÓRREGO DA ESTIVA
08- MBH BAIRRO BOA VISTA
09-MBH CÓRREGO DO ANQUINHO
10- MBH RIO DAS ALMAS
Onde MBH refere-se a Micro Bacia Hidrográfica (MBH), adotando-se a forma de
nomeação utilizada pela Secretaria e Agricultura do Estado de São Paulo para o programa do
mesmo nome.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Enquanto temos regiões muito desenvolvidas, temos outras em que a população não
tem os serviços mínimos necessários para viver de forma digna.
Conforme relatado no item da Justificativa, a falta dos serviços de saneamento básico
é o início de uma cadeia que induz e facilita com que a população tenha maior probabilidade
de desenvolver doenças. E nesse cenário, as crianças formam o segmento mais afetado com a
maior incidência de casos de diarreias, vômitos, mas não podemos deixar de relacionar os
adultos que, da mesma forma, desenvolvem doenças devido às condições em que vivem,
mesmo que com riscos menores.
Como o próprio nome diz saneamento básico, é o mínimo que uma população deve ter
para minimizar os casos de doenças e para viver saúde. Construir o entendimento de que
contrair doenças por causa de esgoto, lixo não é uma tarefa difícil.
Saneamento básico e doenças são questões que sempre estarão juntas, portanto cabe a
nós como cidadãos, exigir providências dos nossos representantes. E como profissionais de
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saúde devemos educar e orientar a população quanto às regras básicas para atuarem com
prevenção das doenças originadas da inexistência do saneamento básico.
Ademais, faz-se necessário considerar, também, que a prática da agricultura envolve
um processo social, integrado a sistemas econômicos e que, portanto, qualquer enfoque
baseado simplesmente na tecnologia ou na mudança da base técnica da agricultura, pode
implicar no surgimento de novas relações sociais, de novo tipo de relação dos homens com o
meio ambiente e, entre outras coisas, em maior ou menor grau de autonomia e capacidade de
exercer a cidadania. O antes mencionado serve como reforço à ideia segundo a qual os
contextos de agricultura e desenvolvimento rural sustentável exigem um tratamento mais
equitativo a todos os atores envolvidos – especialmente em termos das oportunidades a eles
estendidas, buscando-se uma melhoria crescente e equilibrada daqueles elementos ou aspectos
que expressam os avanços positivos em cada uma das seis dimensões ( ecológica, econômica,
social, cultural, política e ética) da sustentabilidade.(Costabeber e Caporal, 2003).Anexo I.
E concomitantemente a reutilização dos resíduos sólidos oriundo de fossas sépticas
biodigestoras; pode melhorar as condições físicas, químicas e biológicas, aumentando a
permeabilidade, fertilidade e a infiltração das águas pluviais no solo; conservando o solo e a
água. Anexo II.
Relatório de ensaio de água bruta residual oriunda dos vasos sanitários, contendo
resultados analíticos Coliformes totais, coliformes termotolerantes, nitrogênio Total,
amoniacal, Kjeidahl, fósforo total, pH e condutividade por potenciometria em campo, onde os
parâmetros então dentro dos métodos, contudo a água residual ser utilizada no solo como
adubo orgânico.Resolução Conama 357. Disposição de efluente líquido se jogar em curso d
água.
Diminuição de registros de casos de enfermidades (diarreia e vômito), principalmente
em crianças, relatadas pelas mães no Bairro Mato Dentro em Ribeirão Grande. Anexo I
CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os benefícios do saneamento rural para a sustentabilidade do manancial do Rio das Almas,
permite-se aceitabilidade dos beneficiários, baixo custo de implantação, manutenção de fácil
aplicabilidade, facilidade de monitoramento do modelo proposto através de ausência de
odores, destino adequado do efluente gerado e autonomia na reutilização como adubo
orgânico.
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Com o desenvolvimento tecnológico dessa prática é possível, cada vez mais, reduzir a
contaminação dos recursos hídricos e, naturalmente, melhorar a qualidade de vida da
comunidade, diminuindo as incidências de enfermidades, oriundas de águas contaminadas
pela descarga de esgoto e beneficiando a agricultura no sistema de produção orgânica e
otimização de recursos, bem como na preservação do meio ambiente.
O questionário - Anexo II permite a verificação da manutenção, demonstra resultados da
implantação das fossas sépticas biodigestoras, atingindo um dos objetivos do saneamento
básico rural. A avaliação do saneamento com o questionário permite sua continuidade e
ampliação junto às propriedades não atingidas. Considera-se a repetibilidade do questionário
em primeira instância, anualmente, uma das alternativas mais eficientes.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SÃO PAULO; Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas. SAA-CATI-EDR
Itapetininga Disponível em http://www.cati.sp.gov.br/Cati/_projetos/pemh/pemh.php; acesso
em março de 2012.
SÃO PAULO; Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Plano Estadual de Recursos
Hídricos: 2004/2007 Resumo.São Paulo, DAEE,2006.
SÃO PAULO, CA-SOLUÇÕES E PLANEJAMENTO AMBIENTAL LTDA, 2008.Machado,
Paulo Affonso Leme – Diretor Ambiental Brasileiro:SP:Malheiros,7.ed., 1999.
BRASIL, Brasília. Casa Civil, subchefia para assuntos jurídicos. Lei Federal 9394/1997 –
Institui a Política Nacional de Recurso Hídricos, Brasília, 1997.
BRASIL, Brasília. CNRH – Resolução n.º 32/2003 – Institui a Divisão Hidrográfica
Nacional, Brasília, 2003.
FAUSTINO, A. S. Estudo físico-químicos do efluente produzidos por fossa séptica
biodigestora e o impacto do seu uso no solo. São Carlos: UfSCar, 2007.
PORTAL EDUCAÇÃO - Cursos Online : Mais de 900 cursos online com certificado
http://www.portaleducacao.com.br/enfermagem/artigos/14999/saneamento-basico-
doencas#ixzz2BvC1qzrA
http://www.cepal.org/cgibin/getProd.asp?xml=/prensa/noticias/comunicados/0/21570/P21570.
xml&xsl=/prensa/tpl-p/p6f.xsl&base=/tpl/top-bottom.xslt, acesso em 30 de Maio de 2012.
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ANEXO I
Reportagem da fossa saiu vida, publicada pela Coordenadoria de Assistencia Técnica
Integral em Campinas em 30/11/2006, escrita por Cleusa Pinheiro, jornalista contratada
para registrar o trabalho desenvolvido pela Extensionista Engenheiro Agrônoma Raquel
Regina Scudeller Silva, junto a Microbacia do Bairro Mato Dentro no município de
Ribeirão Grande – SP, no ano de 2006, em virtude das ações de desenvolvimento,
envolvimento, comprometimento, elaboração do diagnóstico participativo e mobilização
da comunidade para a implantação das fossas sépticas biodigestoras em comemoração
ao aniversário da CATI .
A transcrição dessa reportagem se faz necessária, pois relata a situação no momento da
implantação das fossas, publicada no mês de novembro do ano de 2006 (Revista da CATI) e
os depoimentos são dos beneficiários que acreditaram no modelo proposto, entretanto, não
tínhamos na prática a comprovação do seu funcionamento, a eficiência e eficácia.
No princípio como indicador apenas a recomendação da Embrapa, que na ausência de odor na
última caixa, demonstrava a eficiência no tratamento do esgoto. Com o passar dos anos, outro
indicador foi acrescido, é a ausência de reclamações no funcionamento e manutenção do
modelo proposto e a autonomia no descarte do efluente líquido como adubo orgânico nas
culturas comerciais e jardins das residências.
A partir do Diagnóstico Participativo aplicando as ferramentas que contribuíram e auxiliaram
no diálogo para perguntar o que a comunidade desejava e os anseios de despoluir e deixar de
contaminar o córrego se concretizou por meio das parcerias entre Estado, Prefeitura e
Sociedade Civil.
O município de Ribeirão Grande é provido de Unidade Básica - Programa Saúde da Família,
formada de três equipes. A equipe Milênio que abrange o Bairro Mato Dentro, tendo a
enfermeira responsável Lucinéia Nunes Ferreira da Cruz que no dia 02 de junho de 2012, foi
solicitada a realizar um levantamento dos casos de diarreia e verminose no Bairro Mato
Dentro a partir do ano de 2006.
A enfermeira relatou que o Bairro possuía um índice muito grande de casos de verminose e
diarreia e depois da instalação de fossas melhorou muito. O relato dela foi que as mães
mencionam da fossa e ela nem sabia como funcionava e nem sabia que foi o Departamento de
Agropecuária de Ribeirão Grande tinha instalado as mesmas.
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Imediatamente, contribuí com as informações de funcionamento, manutenção e a reutilização
do efluente como adubo orgânico e a comprovação por meio de análises laboratoriais. A
enfermeira mobilizou a equipe da vigilância sanitária e as agentes de saúde que atende ao
Bairro e contribuiu que o ano de 2011, ocorreu somente dois casos de diarreia, índice
baixíssimo comparado com os anos que antecederam as instalações das fossas sépticas
biodigestoras. A diminuição é muito grande, como ela disse antes era um absurdo a
quantidade de registro de diarreia e vomito.
A contribuição do Trabalho de Conclusão de Curso BENEFÍCIOS DO SANEAMENTO
RURAL PARA A SUSTENTABILIDADE DO MANANCIAL DO RIO DAS ALMAS, fez
com que refletíssemos as ações e conquistas atingidas e a redução na degradação dos recursos
hídricos, o aumento da autoestima dos munícipes e nos reporta para um futuro de ampliação
do modelo de fossas sépticas biodigestoras na Microbacia toda e no município inteiro.
Com o desenvolvimento tecnológico dessa prática é possível, cada vez mais, melhorar a
qualidade dos recursos hídricos e, naturalmente, a vida da população, reduzindo problemas de
saúde pública e beneficiando a agricultura no sistema de produção e otimização de recursos,
bem como na preservação do meio ambiente.
Da fossa saiu vida...
Instalação de 27 fossas na Microbacia do Córrego Mato Dentro, em Ribeirão Grande, resgata
a dignidade, a saúde, a autoestima e a cidadania de famílias rurais e contribui para a
diminuição da poluição.
Por Cleusa Pinheiro- Jornalista Cecor - CATI
“Moro aqui há 32 anos. Nunca tive um vaso sanitário, pois a gente não queria jogar os
dejetos direto no rio. Quando chegava alguém e pedia para usar o banheiro, eu morria de
vergonha, pois como levar a pessoa lá na casinha, no meio do mato? Hoje, com a construção
dessa fossa séptica realizei um sonho. Em várias parcelas tenho o meu tão sonhado vaso.
Agora, quem pedir pode usar o nosso banheiro! Estou feliz e a gente merece ser um
pouquinho na vida, né?” Com os olhos marejados, mas um largo sorriso no rosto, D. Tereza
Pedra de Campos, 55, é o retrato da transformação que está acontecendo na Microbacia do
Córrego Mato Dentro, no município de Ribeirão Grande, pertencente à CATI Regional de
Itapetininga.
Como ela, dezenas de moradores do bairro nos relataram o que a parceria CATI,
Prefeitura e Comunidade organizada (por meio do Programa de Microbacias) tem
proporcionado: dignidade, difusão de conhecimento, novos horizontes, enfim, vida nova.
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Em razão de uma topografia entrecortada e uma agricultura familiar quase que
totalmente de subsistência no município, a técnica executora Raquel Regina Scudeller da
Silva esclarece que alguns incentivos não puderam ser aplicados, mas com a inclusão de
novos incentivos, que ela considera sociais, a atuação do Programa de Microbacias no
município está sendo ampliada e o produtor aumentando seu protagonismo. “Com a
realização das primeiras reuniões para o desenho do plano de ações, percebemos que as
maiores necessidades da comunidade eram sociais: saneamento básico, eletrificação,
encanamento de água, lazer e, principalmente, organização. Para que o processo fosse
efetivamente participativo, com a comunidade determinando as prioridades, nós da Casa da
Agricultura e os integrantes do Departamento de Agropecuária e Meio Ambiente da Prefeitura
atuamos apenas como facilitadores do processo e canal de conhecimento. E agora estamos
vendo o resultado”.
Porém, a instalação das 27 fossas sépticas não aconteceu por acaso. O projeto foi
apresentado aos produtores, por meio da Associação, que logo repassaram as informações
recebidas dos técnicos da Casa da Agricultura e da Prefeitura (eles montaram, com técnicos
da CATI de Itapetininga, uma apresentação em data show na Igreja do bairro), para todos os
moradores do bairro que, no início, ficaram um pouco desconfiados. “Quando vieram falar
dessa fossa achei que era mais uma conversa, que não ia sair do papel. Depois de pouco
tempo que aceitei participar, a fossa já foi instalada no sítio e eu gastei só um pouquinho.
Hoje digo a quem quiser ouvir: esse Programa é de verdade; faz acontecer”, diz o produtor
Antônio Ambrósio Ferreira.
Para baratear os custos e otimizar o tempo de instalação, os equipamentos foram
adquiridos em conjunto, o que facilitou também o trabalho da Prefeitura que deslocou os
equipamentos necessários para a abertura das valas e instalação de acordo com o sistema
elaborado pela Embrapa, detentora da tecnologia das fossas sépticas biodigestoras.
Outra demonstração de que parceria dá o tom em Ribeirão Grande foi a
disponibilização de um ônibus, por parte da Prefeitura, e a disposição do técnico agrícola Ivo
José da Silva, da Casa da Agricultura, que acompanhou os produtores na abertura das contas
no Banco Nossa Caixa (para recebimento do valor apoiado pelo Programa de Microbacias),
que não possui agência na cidade.
Benefícios
27 residências
135 pessoas beneficiadas diretamente
40,5m³/mês de efluente deixado de ser lançado no Córrego Mato Dentro
Utilização do resíduo como fonte de adubo orgânico
Viabilidade do saneamento básico na área rural
Participação efetiva dos produtores para reverter a degradação dos recursos
naturais
Melhoria na qualidade da água da Bacia do Alto Paranapanema.
Fortalecimento da parceria Estado, Município e Sociedade Civil.
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Depoimentos
“Se não viesse esse projeto de fossas sépticas pela Microbacia, acho que íamos morrer e não
teríamos um banheiro, que não fosse um buraco negro”, Maria Antonia Campos, 25 anos.
“Quando os técnicos da Casa da Agricultura falaram sobre o Programa de Microbacias e esse
projeto de fossa, achei muito bonito, mas não entendi muito bem. Mas eles foram explicando
e em mim foi nascendo o desejo de ver realizado. Hoje, quando olho e vejo concretizado,
suspiro feliz. Agora entendo também que nem sempre as coisas boas acontecem no tempo que
a gente quer, mas no tempo que deve ser. É que nem as panelas que fazemos: tem a hora de
tirar o barro, a de amassar, depois moldar, queimar.... Mas quando fica pronto é lindo. Com
esse programa aqui foi assim: demorou um pouco, mas agora tá muito bom para nós”, Maria
Aparecida Ferreira, 72 anos, moradora da microbacia, que confecciona panelas de
barro.
“O desejo foi tanto de ver as fossas prontas, que eu cavei sozinha os buracos para colocar as
caixas. Não deu nem para esperar as máquinas da Prefeitura”, Ângela Merice da Silva, 30
anos.
“Cuide da terra que ela dá retorno. Um pé de fruta, uma horta mata a nossa fome. A gente
pensa assim, por isso agarramos todas as oportunidades para aprender mais e continuar
labutando no sítio. Com esse Programa, através do trabalho dos técnicos da Casa da
Agricultura e da Prefeitura, nós visitamos outros lugares, fizemos cursos, aprendemos a
diversificar as atividades. Com a construção da fossa, temos a certeza que estamos
contribuindo para melhorar o nosso meio ambiente. Se a água estiver limpa, nossa vida
também fica. Temos seis filhos que tiveram que ir trabalhar fora, mas nós continuamos firmes
aqui. Mas continuamos precisando de apoio e um ponto para comercialização para vender
direto para as pessoas. Com isso, a gente pode continuar tirando o sustento da terra e, no
futuro, se os filhos quiserem voltar terão para onde”, Maria das Dores Silva Mendes
(Dorinha), 44, e Benedito Mendes, 45, um dos poucos produtores que ainda vivem
integralmente da atividade agropecuária na Microbacia.
“A felicidade foi tanta na minha família pela realização do sonho de ter a fossa, que fizemos
um almoço especial com o pessoal da Casa da Agricultura e da Prefeitura que auxiliaram na
construção. Minha sogra de mais de 70 anos convocou as mulheres da casa, que cozinharam
arroz e frango em panelas de barro confeccionadas por nós mesmas. E o povo gostou tanto
que voltou para tigüerar (comer o restante do almoço no final da tarde)”, Aparecida Mendes.
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ANEXO II
Questionário de Avaliação periódica do funcionamento das fossas sépticas biodigestoras,
elaborado pela Engenheira Agrônoma Raquel Regina Scudeller Silva, com o intuito de
obter dados, informações sobre o funcionamento, manutenção e satisfação dos
beneficiários. As respostas armazenadas servirão de referência para instalação das
fossas sépticas biodigestoras em outros Bairros e no município como um todo,
proporcionando a expansão do saneamento rural.
Questionário
1) O Senhor tem a fossa séptica biodigestora- Modelo Embrapa?
2) A localização da sua residência fica na parte baixa do Bairro ou na parte alta do
Bairro?
3) Como funciona a fossa séptica biodigestoras?
4) Há necessidade de ficar limpando as caixas?
5) Quanto tempo depois pode usar os rejeitos das fossas?
6) Quanto tempo dura o modelo, precisa ficar instalando mais de uma vez?
7) Onde posso usar o efluente das fossas?
8) O senhor percebeu alguma diferença no local onde colocou o efluente?
9) Esse modelo de fossa séptica dá cheiro? E moscas ou qualquer outro inseto?
10) O senhor acha que contribuiu com o meio ambiente? De que forma?
11) Comparado a outros modelos de fossas utilizadas, quais são as vantagens? E as
desvantagens?
12) Qual o custo de implantação?
13) Quanto a manutenção está havendo dificuldade em arrumar o esterco? Onde o senhor
consegue o esterco? Na propriedade? No vizinho? Ou o senhor compra?
14) O senhor acha que depois das instalações das fossas houve redução de verminose,
diarreia e vômito na comunidade?
15) O senhor fosse dar uma nota entre 0 a 10 que nota o senhor daria?