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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA WAGNER ROBERTO ARAÚJO DE JESUS RELAÇÃO DO RITMO APLICADO NA ETAPA DO CICLISMO E O DESEMPENHO NA CORRIDA DA PROVA DE LONGA DISTÂNCIA-IRONMAN® CAMPINAS 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

WAGNER ROBERTO ARAÚJO DE JESUS

RELAÇÃO DO RITMO APLICADO NA ETAPA DO CICLISMO E O DESEMPENHO

NA CORRIDA DA PROVA DE LONGA DISTÂNCIA-IRONMAN®

CAMPINAS 2017

WAGNER ROBERTO ARAÚJO DE JESUS

RELAÇÃO DO RITMO APLICADO NA ETAPA DO CICLISMO E O DESEMPENHO

NA CORRIDA DA PROVA DE LONGA DISTÂNCIA-IRONMAN®

Dissertação apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Educação Física, na Área de Biodinâmica do Movimento e Esporte.

Orientador: Orival Andries Junior

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO WAGNER ROBERTO ARAÚJO DE JESUS, E ORIENTADA PELO PROF. DR. ORIVAL ANDRIES JUNIOR. ____________________________________________

Assinatura do Orientador

CAMPINAS 2017

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. Orival Andries Junior

Prof. Dr. Gerson Leite

Prof. Dr. Renato Barroso da Silva

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

processo de vida acadêmica do aluno.

DEDICATÓRIA

In memoriam

A razão por que a despedida nos dói tanto é que nossas almas estão ligadas. Talvez

sempre tenham sido e sempre serão. Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes

desta e em cada uma delas nós nos encontramos. E talvez a cada vez tenhamos

sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos. Isso significa que este adeus é

ao mesmo tempo um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio do que virá.

A minha querida Mãe, exemplo de tudo nesta vida #42.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus por me fazer continuar nas horas mais difíceis.

O meu eterno amor, minha mãe que tudo fez enquanto esteve entre nós. Sei

que estas orgulhosa.

Ao grande amigo e orientador Prof. Orival que soube entender os grandes

problemas envolvidos e me impulsionou sempre a continuar transmitindo seus

conhecimentos como professor e grande ser humano que é! Meu muito obrigado profi!

Ao Professor Luiz Vieira, pela colaboração no trabalho e pelo exemplo de

inquietude e perseverença que és.

Ao professor Borin, que mesmo sem saber, a 3 anos atrás me indicou ao

professor Orival, criando a oportunidade de realizar meu mestrado.

Aos funcionários da secretaria de pós-graduação, principalmente a Simone, por

toda a ajuda e boa vontade.

Aos colegas do Laboratório Bruno Pignata, Silvia Fusco e Luiz Vieira por toda

a convivência, risadas e troca de experiências.

A Andreia Manzato Moralez, por toda a ajuda na formatação deste trabalho.

Muito obrigado por sua disponibilidade e atenção.

A Julia Barreira que mesmo com seu tempo curto, não poupou esforços na

ajuda de toda a estatística do trabalho. Muito obrigado amada.

Ao grupo da TT que apesar da minha ausência, tiveram uma enorme paciência

e compreensão.

Ao meu amigo Valtinho Cuba, que segurou uma enorme onda quando quase

abandonei o grupo da TT. Meu enorme obrigado. Sem palavras!

A minha namorada Erika, por todo apoio e ajuda com o mestrado. Obrigado por

me recuperar de um momento tão difícil e pela paciência até aqui amada.

As minhas filhas amadas, obrigado por tudo.

A todas as pessoas que direta ou indiretamente participaram da minha

evolução e amadurecimento como ser humano.

A CAPES pela bolsa de estudos concedida.

RESUMO

O triathlon é uma modalidade esportiva que reúne três etapas (nadar, pedalar e correr)

de forma ininterrupta. Nos últimos anos o triathlon vem ganhando popularidade e

reconhecimento, principalmente na distância IRONMAN® (IM) - 3,8 km de natação,

180 km de ciclismo e 42 km de corrida. Poucos são os estudos com o propósito de

avaliar uma possível relação dos ritmos treinados e executados no IM e a relação com

um possível prejuízo observado no desempenho na etapa da corrida. Sendo assim, o

estudo tem como objetivo verificar a relação entre os ritmos executados nos treinos

longos e os realizados durante as etapas do ciclismo e corrida do IRONMAN®. Para

isso, foi aplicado um questionário nos atletas amadores masculinos, das categorias

30-34 e 35-39, que participaram da etapa brasileira do Campeonato Mundial de

triathlon - IRONMAN® que aconteceu na cidade de Florianópolis/SC, no mês de maio

de 2014. Em relação à inferência dos dados, a normalidade dos dados foi analisada

através do teste de Lilliefors. O teste do Qui-Quadrado foi utilizado para comparar a

frequência dos intervalos e para comparar o prejuízo no desempenho da corrida foi

utilizado o teste estatístico de Kruskalwallis O nível de significância foi pré-fixado em

5%. As variantes foram comparadas com o resultado final da prova, bem como com

as etapas do ciclismo e corrida do triathlon. Os resultados mostraram que os maiores

prejuizos apresentados na etapa da corrida, foram observados nos atletas que

realizaram a etapa do ciclismo abaixo do ritmo treinado, sendo que a media do prejuizo

nos atletas avaliados foi de 21.5% em relação a corrida isolada quando comparada

com a etapa de corrida do IRONMAN®.

Palavras-chave: Ritmo, Desempenho, Triathlon, IRONMAN®, Corrida e Ciclismo.

ABSTRACT

Triathlon is a sport that considers three continuous and sequential disciplines

(swimming, cycling and running). Over the last years, triathlon has gained publicity and

become more popular, especially in IRONMAN® distance races – 3.8 km swim, 180

km cycling and a 42 km run. There are few studies dedicated to evaluating the possible

relation between workout paces and the paces accomplished during an IM race and

the negative impact during the running stage. Therefore, the aim of this study was to

investigate a possible relationship between the intensities during cycling and running

in IRONMAN® training and racing. In order to do this, amateur male athletes in

categories 30-34 and 35-39, who participated in the 2014 IRONMAN® South American

championship in the city of Florianópolis in Brazil, answered a questionnaire. Statistical

analysis for data comparison considered Kruskal-Wallis with significance levels pre-

established at 5%. The variants were compared with the final race time, as well as

with the individual cycling and racing disciplines. Results showed that the largest

negative impact during running occurred when the athletes raced in a cycling pace

lower than their training pace, where the average observed negative impact in pace

during IRONMAN® running was of 21.5% in comparison to the isolated running

training.

Keywords: Pace, performance, triathlon, Ironman®, Running and Cycling.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Resposta da FC durante uma prova de IRONMAN® ................................. 32

Figura 2: Manutenção da homesotase a partir do sistema de feedback negativo. .... 36

Figura 3: Fatores que podem afetar como o ritmo é ajustado e regulado durante a competição. ............................................................................................................... 37

Figura 4: Quantidade de atletas participantes do estudo por categoria. ................... 39

Figura 5: Ritmos dos atletas nos últimos 4 (quatro), treinos longos de ciclismo. ...... 41

Figura 6: Ritmos dos atletas nos últimos 4 (quatro), treinos longos de corrida. ........ 42

Figura 7: Prejuízo no ritmo da corrida (treinado – realizado) quando o ritmo do ciclismo na prova foi realizado abaixo, dentro ou acima do treinado. ..................................... 45

Figura 8: Médias dos prejuízos ou das melhoras de desempenho apresentadas por cada um dos quintis x prejuízos na prova de corrida por cada um dos cinco grupos analisados. ................................................................................................................ 46

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Distâncias das provas de triathlon ............................................................. 15

Tabela 2. Diferenças entre o ritmo treinado x realizado na etapa do ciclismo. ......... 42

Tabela 3. Diferenças entre o ritmo treinado x realizado na etapa da corrida. ........... 43

Tabela 4. Frequência de atletas que realizaram os ritmos do ciclismo e corrida abaixo, dentro ou acima do treinado ...................................................................................... 44

Tabela 5. Frequência de atletas que realizaram os ritmos do ciclismo e corrida abaixo, dentro ou acima do treinado ...................................................................................... 44

Tabela 6. Prejuízo no ritmo da corrida quando o ritmo do ciclismo na prova foi realizado abaixo, dentro ou acima do treinado ......................................................................... 45

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BPM = Batimento por minuto

CBTRI = Confederação Brasileira de Triathlon

COI = Comite Olimpico Internacional

EMG = Eletromiografia

FC = Frequencia cardíaca

FFTRI = Federação Francesa de Triathlon

IM = IRONMAN®

ITU = Internation Triathlon Union

KM = kilometro

Km/h = Kilometros por hora

Lan = Limiar Anaeróbio

SNC = Sistema nervoso Central

VE = Volume expiratório

WTC = World Triathlon Corporation

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13

2 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 18

2.1 Objetivos Específicos .......................................................................................... 18

3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 18

4 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 20

4.1 Carga de treinamento .......................................................................................... 21

4.1.1 Volume de treinamento .................................................................................... 21

4.1.2 Intensidade do treinamento .............................................................................. 23

4.1.3 Relação entre volume e intensidade ................................................................ 24

4.2 Ritmo ................................................................................................................... 25

4.2.1 Fisiologia do ritmo ............................................................................................ 27

4.2.2 Fatores que afetam o ritmo .............................................................................. 27

4.3 O ritmo no IRONMAN® ....................................................................................... 32

4.4 Fadiga periférica .................................................................................................. 33

4.5 Tele-antecipação ................................................................................................. 34

4.6 Homeostase e o papel do feedback aferente e eferente ..................................... 35

4.7 Teoria do governador central .............................................................................. 36

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 38

5.1 Procedimento de coleta de dados ....................................................................... 38

5.2 Caracterização da amostra ................................................................................. 38

5.3 Análise estatística ............................................................................................... 39

6 RESULTADOS ................................................................................................... 41

6.1 Análise do ritmo treinado vs. Realizado .............................................................. 43

7 DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................................................ 47

8 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 50

9 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 51

ANEXO A - QUESTIONÁRIO APLICADO ................................................................. 59

ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO ASSINADO ........................................ 60

13

1 INTRODUÇÃO

Eventos multi-esportivos de resistência são completados de forma continua

ou em sequência, compostos por diversas modalidades esportivas. Dentre uma

grande variedade de esportes, um dos mais populares eventos multi-esportivos é o

triathlon (SLEIVERT; ROWLANDS, 1996). O triathlon, etimologicamente tri = três e

athlon = combates, é em geral aplicado à uma combinação única de natação, ciclismo

e corrida, ligados por duas transições (MILLET; VLECK, 2000). Devido a esta

especificidade única, as demandas fisiológicas e biomecânicas são diferentes dos

esportes individuais que o compõem (BENTLEY et al., 2002).

A origem do nome triathlon, deriva do grego “Triaousithlon” que configura

um evento atlético composto por três modalidades. Scott Tinley, ex-triatleta e

bicampeão mundial de IRONMAN® (IM), um dos maiores historiadores do triathlon

mundial, afirma que eventos multi-esportes existem desde o século 19 e que já havia

indícios de um esporte semelhante ao triathlon na década de 1920, na França,

modalidade chamada de “Les trois sports” (Os três esportes), "A Course de

Débrouillards" e "A course dês Touche à Tout".

Ainda em 1920, o jornal francês "L'Auto” publicou que o "Les trois sports"

iniciava com uma corrida de 3 quilômetros, seguido de 12 quilômetros de bicicleta e

finalizava com a natação no canal Marne. Na época os jornais da região já noticiavam

sobre uma competição em Marselha em 1927 (no mesmo formato). Um outro artigo

de 1934 sobre "Les trois sports" na cidade da Rochelle com uma distância diferente,

considerava 200m de natação, 10 quilômetros de ciclismo ao redor do porto de

Rochelle e do parque de Laleu, e finalizava com uma corrida de 1200m no estádio

André Barbeau (FEDERAÇÃO FRANCESA DE TRIATHLON- FFTRI).

Após esta aparição nos jornais da época, surge então um período de

escuridão entre as décadas de 1930 e 1970, aonde pouco se ouviu falar sobre a

modalidade, até que em 1974 em San Diego (EUA) o triathlon moderno como

conhecemos atualmente, teve sua origem. Um técnico de atletismo ao dar férias aos

seus atletas, orientou sessões de treinos na qual consistiam, principalmente,

exercícios de natação, para que os atletas pudessem se recuperar da temporada de

treinos específicos e competições, sem perder o condicionamento. Ocasionalmente

era incluso outras modalidades como ciclismo e corrida. Um dos formatos na época,

14

consistia em nadar 500 metros na piscina, pedalar 12 quilômetros e, por vezes, correr

5 quilômetros na pista de atletismo do clube. Os atletas gostaram tanto deste modelo

de "período transitório" que pediram ao treinador para “repetir a dose” nas férias

seguintes.

Com uma grande repercussão entre os atletas, logo a notícia se espalhou

e o convite para outros atletas e salva vidas da região foi feito. Assim surge o primeiro

triathlon americano (na ordem correta – natação, ciclismo e corrida) em 1975 no Fiesta

Island (sul da Califórnia, perto de San Diego), com as distancias de 800 metros de

natação, 8 quilômetros de ciclismo e 8 quilômetros de corrida.

Desde sua criação, o esporte passou por diversas modificações até que no

ano de 1982 adotou a distância Standard ou Olímpica (1500 metros de natação, 40

quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros de corrida), visando ser esporte de

demonstração nas Olimpíadas de Los Angeles (1984), mas que por motivos políticos,

o triathlon teve que aguardar mais 16 longos anos (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA

DE TRIATHLON) para fazer sua estreia olímpica em Sydney no ano de 2000.

No Brasil, o triathlon chegou no ano de 1981, mas foi apenas em 1983 que

se realizou a primeira competição oficial. Realizada da Cidade do Rio de Janeiro, teve

o nome de “1º triathlon Rio de Janeiro/Gente de Ferro”, com as distancias de 1km de

natação, 43 km de ciclismo e 11 km de corrida e o vencedor da prova foi Roger de

Moraes.

Em agosto de 1989 foi fundada a ITU (INTERNACIONAL TRIATHLON

UNION), na cidade de Avignon na França, com o objetivo de dar status de olimpismo

ao esporte frente ao Comitê Olímpico Internacional (COI). Pouco tempo depois, em

1992, foi fundada a Confederação Brasileira de Triathlon (CBTRI), em Salvador/BA,

composta pelas federações do Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal e Bahia,

órgão que tem por fim coordenar a gestão e organizar todos os aspectos relativos à

prática da modalidade triathlon no território brasileiro, e, para todos os fins, representar

o esporte no exterior.

Segundo a CBTRI, há uma grande variedade nas distâncias realizadas nos

eventos de triathlon, como o sprint (considerado a porta de entrada da modalidade),

standard (também considerado como distancia olímpica), a longa distância e a

ultradistância (vide Tabela 1).

Por conta da grande variedade de distâncias, o tempo para se completar

as provas de triathlon podem variar em média de 1 à 2h, horas para as menores

15

distâncias e entre 8 à 17h para o IM (SLEIVERT; ROWLANDS, 1996; LAURSEN;

RHODES, 2001).

Tabela 1. Distâncias das provas de triathlon

Modalidade

Natação Ciclismo Corrida

Prova

Sprint 750 m 20 km 5 km

Standard 1.5 km 40 km 10 km

Long distance 3 a 4 km 80-120 km 20-30 km

Meio Ironman® 1.9 km 90 km 21.09 km

Ironman® 3.8 km 180 km 42.195 km

Fonte: CBTRI (2013), WTC (2001-2016).

Devido à grande popularidade do IM, existe a falsa ideia de que o esporte

triathlon surgiu no Havaí. Na realidade, o esporte já era existente, porém foi no Havaí

que foi dado início ao IM, prova que definitivamente apresentou para o mundo este

esporte maravilhoso.

Isto ocorreu no ano de 1977, e foi idealizado pelo comandante

da marinha americana John Collins e sua esposa, para pôr fim a uma discussão

sobre qual seria o atleta mais resistente: nadadores, corredores ou atletas de outras

modalidades. O comandante e sua esposa então, sugeriram combinar as três provas

já existentes, "The Waikiki Rothwater Swim", que compreendia aproximadamente 3,8

quilômetros de natação; a "The Around-Oahu Bike Race", que originalmente acontecia

em dois dias e percorria aproximadamente 180 quilômetros (KM) de bicicleta e a

Maratona de Honolulu com 42 quilômetros, de modo que fossem completadas

sucessivamente. Quem terminasse a prova em primeiro lugar seria chamado de

homem de ferro (Ironman).

No dia 18 de fevereiro de 1978, na praia de Waikiki em Honolulu, em

pleno verão havaiano, 16 atletas largaram para a inédita prova. Neste primeiro evento,

apenas 12 atletas completaram o percurso, sendo que o vencedor foi Gordon Haller,

que nadou os 3,8 km em 1h20min, pedalou os 180 km em 6h56min e finalizou a corrida

da maratona em 3h30min, totalizando o tempo de 11h46min40seg, tornando-se

assim, o 1º IM (LEPERS, 2008).

No Brasil, o primeiro IM com as distâncias oficiais data de 1998, na cidade

16

de Porto Seguro (BA), aonde permaneceu até o ano de 2000. A partir de 2001 a prova

passou a ser disputada apenas na cidade de Florianópolis ganhando mais uma etapa

em 2014, esta na cidade de Fortaleza. Os organizadores estimam que no país existam

cerca de 25.000 atletas praticantes desta distância sendo que os estados de São

Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa

Catarina e Bahia concentram a maior parte deles.

Atualmente, 40 provas com a distância IM e 98 provas na distância “meio

IM” (1.900 metros de natação, 90 km de ciclismo e 21 km de corrida), compõem o

circuito mundial, cobrindo os mais variados destinos no mundo, tais como Estados

Unidos, Canadá, China, Áustria, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia, Malásia, África

do Sul, França, Japão e Brasil. Todas as provas são organizadas por empresas que

licenciam o uso da marca IM, propriedade da WTC.

Estas provas que acontecem ao redor do mundo, distribuem vagas para os

melhores colocados em cada categoria, dando o direito a disputarem na cidade de

Kona, no Havaí, a prova de resistência que é considerada uma das 12 mais difíceis

do mundo (KNECHTLE et al., 2015, SUMNER, 2012). Em sua última edição em

outubro de 2016, a etapa final contou com aproximadamente 2.316 atletas

(IRONMAN® 2001-2016) oriundos das vagas classificatórias, ou através de um

sistema de loteria. O IM, mesmo sendo um esporte relativamente novo e considerado

de longa duração, isto é ≥ 4 horas (LEPERS et al., 2008), vem ganhando novos

adeptos a cada ano, sendo que as inscrições para estes eventos se esgotam em

poucos minutos após a abertura.

Desta forma, a busca por melhores resultados, não só por atletas de elite,

mas também por atletas amadores que buscam os melhores índices técnicos,

posições e classificações para os campeonatos mundiais, criou um novo desafio na

compreensão das possíveis variáveis intervenientes no treinamento e na competição.

Pesquisadores têm procurado entender as variáveis psicológicas (PARRY

et al., 2011; STOEBER et al., 2009), fisiológicas (O´TOOLE et al., 1987, 1989),

diferentes características antropométricas (KNECHTLE et al., 2010, O´TOOLE et al.,

1987), e de treinamento (KNECHTLE et al., 2010a, 2010b; O´TOOLE, 1989) que

possam nortear técnicos e atletas na busca dos melhores resultados e desempenho.

Tradicionalmente, a transição ciclismo-corrida é considerada o segmento

mais importante no triathlon (ROWLANDS; DOMNEY, 2000). Triatletas com

habilidade para realizar as 3 etapas de forma consecutiva e com o menor nível de

17

fadiga, especialmente a transição do ciclismo para corrida, atingem os melhores

resultados finais na competição (CHAPMAN et al., 2009).

A importância de uma estratégia que miniminize ou retarde a fadiga de

atleta durante a competição, esta diretamente ligada a manipulação contínua do

esforço empregado e/ou velocidade durante toda a prova. Possivelmente esta

estratégia esteja ligada a um possível limiar de ultra-endurance ou uma ótima

intensidade relativamente abaixo do limiar anaeróbio ventilatório (LAURSEN;

RHODES, 2001).

Embora existam recomendações sobre treinamento, o ritmo que é uma

variável extremamente importante para o desempenho no triathlon, tem recebido

limitada atenção científica (LE MEUR et al., 2009, 2011), principalmente durante as

provas de IM (BARRERO et al., 2014). Há uma falta de evidencias e orientações na

distribuição nos volumes e principalmente nas intensidades para este evento

particular.

Compreender os ritmos realizados durante o treinamento nas modalidades

do ciclismo e corrida e compara-las com os ritmos aplicados durante as etapas do

ciclismo e corrida durante a competição IM, procurando entender o possível prejuízo

observado na etapa da corrida associado a estes ritmos, são de extrema importância

para cientistas e técnicos que trabalham com o triathlon.

18

2 OBJETIVO GERAL

O presente estudo tem por objetivo verificar a relação entre os ritmos

realizados nos últimos 4 treinos longos e o ritmo executado durante as etapas do

ciclismo e corrida do IM.

2.1 Objetivos Específicos

• Verificar a relação existente entre o ritmo realizado nos treinos longos de

ciclismo e a etapa do ciclismo no IM;

• Verificar qual a relação existente entre o ritmo realizado nos treinos longos de

corrida e a etapa da corrida no IM;

• Verificar se o ritmo aplicado na etapa do ciclismo poderia interferir na etapa da

corrida.

3 JUSTIFICATIVA

Sabe-se que a estratégia de ritmo, ou o quão rápido ou lento se escolhe

para realizar um evento, tem um impacto direto no resultado no desempenho particular

em um evento (ABBISS; LAURSEN, 2008). Por exemplo, O'Toole (1989) apontou que

os triatletas mais rápidos no IM do Havaí foram capazes de manter seus ritmos ao

longo de todas as três etapas da prova.

Desta forma, o ritmo parece ter um papel extremamente importante durante

provas de triathlon, onde os atletas carregam um efeito residual de uma modalidade

para a outra, elevando a demanda fisiológica para a etapa seguinte, podendo resultar

em uma diminuição no desempenho (KREIDER 1988). Desta maneira, parece

importante determinar a estratégia de ritmo durante a etapa do ciclismo no triathlon,

uma vez que esta pode influenciar diretamente no desempenho total do atleta na

prova.

Ademais, no que diz respeito a treinamento específico, possuir uma clara

compreensão de qual estratégia de ritmo otimiza o desempenho do atleta parece ser

fundamental para técnicos que estão preparando atletas para um evento em

19

particular. Apesar de muitos autores investigarem o efeito da etapa do ciclismo no

desempenho da posterior corrida em provas de sprint triathlon (BERNARD et al., 2007,

BOUSSANA et al., 2003) e standard triathlon (CALA et al., 2009, MILLET; BENTLEY,

2004), poucos investigadores têm considerado o efeito da intensidade aplicada na

etapa do ciclismo em provas de longa duração, como o IM.

Ainda existe uma lacuna nas pesquisas em triathlon de longa duração,

comparando os dados dos ritmos aplicados durante as sessões de treinos específicos

(longos) e os possíveis ritmos realizados durante uma prova na distância IM.

20

4 REVISÃO DA LITERATURA

A ideia de treinamento físico nas diversas modalidades, através de

exercícios com orientações distintas, visa atingir um elevado potencial de

desempenho, um rendimento esportivo máximo ou objetivo especifico. Todo o período

de treinamento é voltado para que o atleta seja capaz de resolver as situações que

enfrentará durante a competição. De la Rosa (2006), afirma que o treinamento

desportivo é um processo permanente de adaptação à carga de trabalho. Para Smith

(2003), a carga de trabalho envolve a manipulação de algumas variáveis do

treinamento como a intensidade, duração e frequência.

Segundo Laursen (2010), a eficiência ou não de um programa de

treinamento físico vem em resposta a manipulação do volume, intensidade e

densidade do treinamento. No triathlon, com as etapas aresentando tempos de

duração, modo de execução, padrões e musculaturas envolvidas no movimento

diferentes, parece ser fundamental compreender o impacto destas variáveis

(SLEIVERT; ROWLANDS 1996), onde a correta manipulação deve vir de encontro

aos requisitos funcionais, fisiológicos e psicológicos do objetivo do treinamento ou da

competição (BOMPA; HAFF, 2012), evitando que o atleta possa estagnar sua

evolução.

Pesquisas em desempenho no triathlon tem identificado que a estratégia

de ritmo pode determinar o resultado final da competição (HAUSSWIRTH et al., 2010).

De fato, devido às etapas que compõem o triathlon serem realizadas de forma

sequenciais, com o desempenho de uma modalidade exercendo efeito sobre a

modalidade seguinte, cria-se a necessidade de otimizar e identificar as melhores

estratégias de ritmos que devem ser aplicados durante a competição (MILLET;

VLECK, 2000).

Pouca atenção tem sido direcionada ao comportamento dos atletas,

especialmente a estratégia de ritmo durante a competição do IM. Desta forma,

perguntas de "como", "quanto" ou "quanto intenso” fazem parte do cotidiano de atletas

e técnicos que trabalham com o triathlon. Compreender os mecanismos responsáveis

pelos ajustes da velocidade ao longo da corrida e o seu papel na prevenção de

grandes distúrbios fisiológicos que possam prejudicar o desempenho (TUCKER;

NOAKES, 2009), se faz necessário para estas respostas.

21

4.1 Carga de treinamento

O rendimento desportivo do atleta é, em grande parte, determinado pela

distribuição dinâmica das cargas de treinamento e de competições no ciclo anual

(GOMES, 2009). Carga de treinamento é a medida quantitativa do trabalho de

treinamento aplicado e que é realizado pelo atleta, sendo um aspecto essencial do

rendimento. A relação entre a condição do atleta e a sua carga de treinamento

constitui o problema central do planejamento do treinamento (GOMES, 2009, DE LA

ROSA, 2006).

De maneira geral, a carga de treinamento se divide em carga externa

(quantidade de trabalho desenvolvido), interna (efeito criado no organismo), e

psicológica (como é visto pelo atleta). Esta carga de treinamento, hoje é conhecida

hoje pelos treinadores e triatletas apenas como volume e intensidade (GOMES, 2009).

De La Rosa (2004), define a carga de treinamento como a magnitude dos

exercícios físicos que contribuem para elevar, consolidar ou manter os níveis de

preparação para o rendimento dos atletas. Com esta definição, o próprio autor ainda

se questiona sobre o que é carga de treinamento e afirma que a mesma não pode ser

definida como uma expressão literal – uma vez que o que ela representa uma série

de eventos resultantes de aspectos internos, e que, ao explicá-los, cometemos o erro

de analisa-los separadamente, chegando a ser a definição de carga, contraditória com

relação à sua importância e ao que representa.

O mesmo autor em 2006, apresenta uma abordagem que, segundo ele, é

mais adequada e baseia-se fundamentalmente na experiência pratica no esporte

competitivo e nas considerações de renomados pesquisadores da área. Ele define,

por fim, a carga de treinamento sendo a relação inversa entre o potencial de

treinamento e a condição do atleta.

Fleck e Kraemer (2006 apud DE LA ROSA, 2006), defendem que a carga

de treino deve nortear a periodização através de uma manipulação (oscilação) entre

os componentes volume e intensidade.

4.1.1 Volume de treinamento

Sendo o componente primário do treinamento no esporte contemporâneo

22

e considerado um pré-requisito para o alto nível de êxito técnico, tático e físico, o termo

volume, muitas vezes chamado erroneamente de “duração do treinamento” incorpora

as seguintes partes essenciais: tempo ou duração do treinamento, a distância

realizada ou o volume da carga (series de treinamento x repetições x resistência em

quilogramas) e o número de repetições de um exercício ou movimento que um atleta

executa num dado tempo (BOMPA, 2012). Neste contexto, o autor também afirma que

podemos considerar e calcular o volume relativo (quantidade total de tempo dedicado

ao treinamento e que raras vezes tem um significado para o atleta individual), e o

volume absoluto (se relaciona com o trabalho realizado por unidade de tempo).

Para Gomes (2009), o volume de treino pode ser caracterizado pela

quantidade de exercícios executados na prática, e pode ser analisado pela sua

magnitude/ intensidade e pela duração da carga.

De La Rosa (2006), aponta que o volume é o componente principal do

treinamento sendo um requisito prévio quantitativo para o alcance de desempenho no

esporte contemporâneo havendo uma relação entre o volume de horas de treinamento

por ano e o desempenho desejado. De fato, Brandão et al. (1990), apontam a

necessidade de um elevado volume de treinamento para o alto desempenho nos

desportes de resistência como a natação, ciclismo e atletismo.

Segundo Bompa (2012), a forma mais simplista de volume é a quantidade

total de atividade executada, sendo considerado a soma de trabalho realizado durante

uma sessão ou fase de treinamento e que sua avaliação depende do esporte ou

atividade.

A duração em tempo de cada sessão de treino depende de fatores como

a especificidade e distância do evento (IM, distância olímpica ou sprint), período ou

momento da periodização (geral e competitivo) e nível do atleta, que neste caso

específico, quanto maior o nível maior a magnitude suportada. A distribuição dos

volumes nas modalidades que compõem o triathlon também é um fator importante

durante toda a temporada.

Especialmente para atletas focados em provas de longa duração como o

IM, o volume de treinamento consiste em sessões de treinos que podem variar entre

50 minutos a 1h30 minutos na natação, 4 a 6 horas de ciclismo e 1 a 3 horas de

corrida, sendo que os volumes semanais atingem entre 10 e 14 horas de treinamento

(MCGREGOR, 2013).

Knechtle et al. (2015), observaram que atletas participantes do Triple-IM na

23

Alemanha e o IM Suíça treinavam em média cerca de 19 horas e 14h respectivamente.

Um estudo realizado com triatletas masters, Neal et al. (2011), observaram

que estes tinham em média entre 8 e 11 horas de treinos semanais durante um

período de 6 meses.

Outro estudo interessante realizado com a equipe de treinamento da

Alemanha, Ciclistas especializados na prova de perseguição em 4000m no

velódromo, mostrou que o treinamento foi baseado na utilização de grandes volumes

(29000 – 35000 Km) o que o caracteriza como treinamento não específico

(SHUMACHER; MUELLER, 2002).

É importante destacar que nem sempre a aplicação de um maior volume,

tem relação com um maior rendimento, e que muitas vezes, o aumento exagerado

desta variável pode diminuir a capacidade do atleta (GOMES 2009, 2010).

4.1.2 Intensidade do treinamento

A Intensidade ou o componente qualitativo do trabalho que um atleta

executa pode ser definida como a qualidade do trabalho realizado em um determinado

período de tempo e juntamente com o volume e a densidade formam os componentes

do treinamento físico (DE LA ROSA, 2006).

Sendo assim, para se mensurar a variável de velocidade utilizamos metros

por segundo (m/s), quilômetros por hora (km/h), ou minutos por quilômetros (m/km),

para a realização do movimento. Nas modalidades cíclicas como o ciclismo, corrida,

remo, natação e o triathlon, a velocidade de deslocamento do atleta está diretamente

relacionada com o seu gasto energético – o que constitui a velocidade como

parâmetro externo de intensidade da carga. Gomes (2009) e De La Rosa (2006)

afirmam que a escolha dos critérios de intensidade, devem levar em conta as

particularidades das diferentes modalidades e, por isto, é aconselhável estabelecer e

utilizar graus variáveis de intensidade no treinamento. Para este trabalho em

especifico, iremos adotar km/h para o ciclismo e corrida.

Para a manipulação e controle das variáveis de intensidade existem alguns

critérios fisiológicos utilizados como parâmetros, tais quais: frequência cardíaca, teor

de lactato no sangue (GOMES 2009; DE LA ROSA, 2006), percepção subjetiva do

esforço (BRANDÃO et al., 1989), e o sistema energético empregado como substrato

na atividade esportiva – considerado por alguns autores como o índice mais mais

24

adequado aos desportos cíclicos (ASTRAND; SALTIN, 1961, FARFEL, 1960;

MARGARIDA et al.,1963; MATHEWS; FOX, 1971 apud DE LA ROSA 2016).

Hausswirth et al. (2010) estudou a influência do ritmo na etapa de corrida

em triatletas bem treinados, especialistas em provas na distância olímpica. Eles

avaliaram três diferentes estratégias de ritmo (-10%, -5% e +5% na corrida isolada)

durante a fase inicial da corrida (apenas o primeiro quilometro), e concluíram que

quando estes atletas iniciavam a última etapa da prova com um ritmo 5% mais lento

que o ritmo de 10km de uma corrida isolada, obtinham seus melhores desempenhos.

Outro estudo realizado com maratonistas de elite franceses e portugueses

observou que durante as 12 semanas anteriores ao pré-olímpico os atletas correram

78% dos quilômetros de seus treinamentos abaixo da velocidade de maratona (V-

maratona) e apenas 4% dos quilômetros foram realizados na V-maratona (BILLAT et

al., 2001). Já em outro trabalho, Billat et al. (2003), observaram que 85% do volume

total semanal realizado por corredores de elite quenianos, estava abaixo da

velocidade do segundo limiar.

4.1.3 Relação entre volume e intensidade

Tubino (1985), afirma que os êxitos de atletas de alto rendimento, estão

relacionados com uma grande quantidade (volume) e uma alta qualidade (intensidade)

em seus treinamentos e que estas duas variáveis (volume e intensidade) deverão

sempre se ajustar às fases de treinamento do atleta. Parece claro que no processo de

treinamento, a alternância entre o volume e a intensidade é fundamental, e que esta

manipulação causa efeitos específicos sobre adaptações fisiológicas e também no

desempenho. A magnitude destas alterações pode ser estimulada deslocando-se a

ênfase relativa em um dos componentes do treinamento. Desta forma, não se pode

considerar o volume e a intensidade de forma separada devido a qualidade a

quantidade, serem um bom indicador de estresse do treinamento (BOMPA, 2012).

Quanto maior a intensidade e o tempo que o atleta fica exposto a ela,

maiores são as respostas funcionais e o estresse fisiológico, sendo este indicado

como a diminuição dos substratos energéticos, aumento dos distúrbios hormonais e

aumento da fadiga neuromuscular. Neste contexto, Margaritis at al. (1999),

encontraram uma diminuição da capacidade de gerar força nos músculos extensores

e flexores do joelho após uma prova de meio IM. Similarmente, Suzuki et al. (2006),

25

encontraram uma diminuição significativa da altura do salto durante o

contramovimento (CMS) e uma redução da força isométrica máxima dos extensores

do joelho após um IM demostrando que o desempenho muscular está prejudicado

após uma prova de longa duração, mas a sua principal origem ainda permanece

desconhecida. Alguns autores sugerem que estas mudanças podem ocorrer devido a

alterações sensoriais e mecânicas (HUE et al., 1998, MILLET, 2000).

Determinar a carga de trabalho ideal, que implica na combinação de

volumes e intensidades de treinamento, é uma tarefa complexa que depende de

muitos fatores como as especificidades da modalidade esportiva, a fase do plano

anual de treinamento e o nível ou calibre do atleta (BOMPA, 2012).

4.2 Ritmo

O termo ritmo ou Pace é dado para a distribuição de energia usada durante

o exercício ou tarefa (THOMPSON et al., 2015, WU et al., 2014), constituindo uma

meta fundamental para atingir o resultado desejado, seja este alcançar a linha de

chegada o mais rápido possível ou chegar à frente de outros competidores. Neste

trabalho iremos utilizar apenas o termo ritmo.

Embora o controle do ritmo ou a intensidade do trabalho durante toda a

competição seja importante, a falta de habilidade em gerenciar de forma rigorosa o

ritmo nas fases iniciais das provas de longa duração leva por diversas vezes a

consequências catastróficas. Neste sentido, a velocidade pode apresentar severa

deterioriação por conta da situação extremamente desafiadora, de superaquecimento,

de desidratação ou por queda nos níveis de energia em função de uma baixa nos

níveis de glicogênio muscular e glicose sanguínea. Por outro lado, erros podem

acontecer na direção contrária, quando atletas cruzam a linha de chegada com

reservas de energia que poderiam ter sido utilizadas durante a competição para um

melhor resultado (THOMPSON et al., 2015).

Durante o exercício, o ritmo de trabalho é regulado pelo cérebro baseado

na integração de sinais de vários sistemas fisiológicos. Tem sido proposto que o

cérebro regula o grau de ativação muscular e, portanto, a intensidade do exercício,

especificamente para evitar prejuízos ou distúrbios fisiológicos a um ou mais sistemas

(THOMPSON et al., 2015).

Esta regulação na distribuição de velocidade ou o gasto de energia de uma

26

tarefa ou exercício, está intimamente ligada com a otimização do desempenho

(ESTEVE-LANAO et al., 2008), que na maioria dos esportes é definido por diversos

fatores intrínsecos e extrínsecos (WU et al., 2014).

Em modalidades isoladas como a corrida (LE MEUR et al., 2011; TUCKER

et al., 2006), ciclismo (BERNARD et al., 2009; FOSTER et al., 1993, 2004), natação

(PEELLING et al., 2005; SKORSKI et al., 2014), e remo (GARLAND, 2005) foram

identificados alguns possíveis mecanismos que poderiam influenciar o ritmo. Entres

estes, estão a disponibilidade de substratos energéticos, termoregulação, experiência

anterior na modalidade, conhecimento sobre a duração do exercício, condicionamento

físico atual, capacidade cognitiva, estados de humor e a regulação central e periférica

(ABBISS et al., 2005; GIBSON et al., 2006; NYBO et al., 2004; RAUCH 2005;

WILLIAMS et al., 2012; PARRY et al., 2011).

Além das variáveis citadas acima, Foster et al. (2009) observaram que o

ritmo é um processo de aprendizagem e que leva em consideração elementos como

experiência competitiva anterior, tomada de decisões de forma consciente durante a

competição e até a realização de simulados como parte do treinamento que

contribuem para no desenvolvimento do senso de ritmo que poderia otimizar o

desempenho.

Uma estratégia de ritmo eficiente deve levar em consideração as

características da modalidade, condições ambientais e de equipamento, bem como

as características psicológicas e fisiológicas dos atletas que precisam manter uma

capacidade metabólica suficiente durante a competição para evitar a fadiga antes da

linha de chegada.

Neste sentido o esporte triathlon prove um modelo único de análise de ritmo

devido a sua constituição (3 disciplinas), realizada de forma sequencial em uma

variedade de distancias (WU et al., 2014). A distribuição do ritmo ao longo de todo

percurso está diretamente relacionada com a capacidade do triatleta em gerar

potência contínua e constante, suficiente para superar forças de resistência que ele

experimenta no decorrer da competição (arrasto hidrodinâmico durante a natação,

gravidade e resistência aerodinâmica durante o ciclismo e corrida), (ABBISS et al.,

2006, 2008). Embora o gasto energético ou a distribuição de velocidade seja

conhecida como "pacing" ou ritmo, este termo tem sido utilizado como sinônimo para

o termo "estratégia de ritmo”, que se refere a uma forma consciente em manipular o

esforço durante a competição. De fato, o ritmo durante um exercício ou competição

27

pode ser parcialmente regulado em um nível subconsciente, manipulado através de

interações complexas entre informações corporais periféricas e um controle central

que garante que os sistemas fisiológicos serão mantidos dentro de limites

homeostáticos ou administráveis, enquanto procura retardar os efeitos negativos da

fadiga (ABBISS et al., 2008, 2005).

4.2.1 Fisiologia do ritmo

A fisiologia do ritmo envolve um grande número de processos corporais

regulatórios que trabalham em conjunto para ajustar o ritmo. O treinamento de

resistência causa adaptações hematológicas, estruturais e funcionais no coração que

elevam o VO2 máximo. Associado a adaptações na musculatura esquelética, cardíaca

e alterações no fluxo sanguíneo, que são resultados deste modelo de treinamento,

tornam o atleta mais eficiente (JOYNER; COYLE, 2008).

Embora haja uma grande compreensão de como os aspectos fisiológicos

podem limitar o desempenho, existe ainda, pouco conhecimento de como o corpo usa

a adaptação ao treinamento para alterar a estratégia de ritmo do atleta. Atualmente,

alguns modelos têm sido descritos para a melhor compreensão dos mecanismos de

controle da estratégia de prova e como os atletas regulam seus ritmos durante o

exercício.

4.2.2 Fatores que afetam o ritmo

Alguns fatores externos são elementos importantes que afetam

diretamente ao desempenho no triathlon. A distância ou duração do exercício

(LEPERS et al., 2010), dinâmica da competição com ou sem o vácuo (HAUSSWIRTH

et al., 2008), influência de outros atletas (TUCKER, 2009), fatores ambientais como

correntes marítimas, velocidade do vento, relevo do percurso (ATKINSON et al., 2000;

ATKINSON, 2007, SWAIN, 1997), transições (T1 = transição entre a etapa da natação

para a etapa do ciclismo e T2 = transição entre a etapa do ciclismo para a etapa da

corrida), idade e sexo (ETTER, 2013), a depleção do glicogênio muscular, (ABBISS;

LAURSEN, 2005), os danos nas fibras musculares (DEL COSO et al., 2012), aumento

da temperatura corporal ao longo da competição (GONZÁLEZ-ALONSO et al., 1999)

e a redução da atividade neuromuscular (GIBSON et al., 2001) poderiam influenciar o

28

desempenho, em diferentes níveis, à medida que o exercício de longa duração

progride, resultando assim na adoção de diferentes estratégias de ritmo.

Eventos de ultra-resistência (duração total maior que 6 horas) (ZARYSKI et

al., 2005), levam a uma maior fadiga neuromuscular devido à grande demanda

imposta sobre substratos metabólicos e fatores psicológicos (ABBISS, 2005). Apesar

da grande importância do tempo exposto na atividade, não há atualmente nenhuma

pesquisa que tenha estudado de forma ampla a influência dos ritmos aplicados nas

etapas de natação e ciclismo, na corrida do IM. De fato, a maioria dos pesquisadores

que avaliaram a distribuição de ritmo dentro do triathlon, pesquisaram a distância

olímpica (BERNARD et al., 2009; LE MEUR, 2009, 2011), sendo que apenas um

estudo investigou a etapa do ciclismo no IM (ABBISS et al., 2006).

Um dos fatores mais importantes que podem influenciar o ritmo é a

distância do evento (PEELING, 2005), sendo que esta variável atua de forma

significante sobre os mecanismos responsáveis pela fadiga (ABBISS 2005), dos

atletas. Em provas de triathlon na distância olímpica (LE MEUR et al., 2011; ABBISS

et al., 2006), como na distância IM (ABBISS, 2006), se observa uma progressiva

redução no ritmo, mas as causas parecem estar relacionadas à diferentes fatores.

Na distância olímpica, nota-se uma fadiga neuromuscular e um acúmulo de

metabólitos anaeróbios. Contudo, em eventos de longa duração como o meio IM, o

aparecimento da fadiga parece estar mais relacionado com a redução do glicogênio e

a atividade neuromuscular (ABBISS, 2005). De fato, uma redução na disponibilidade

de carboidratos provou reduzir o ritmo do ciclismo após cerca de 2 horas de atividade

prolongada (HUE et al., 1998).

Gibson et al. (2001), avaliaram ciclistas de longa duração (100 km),

comparando a relação entre o ritmo aplicado e a atividade neuromuscular em um

pedal intermitente (1km ou 4km em alta intensidade). O teste foi realizado em

laboratório e os autores concluíram que com o avançar do teste sobre a distância e

principalmente durante os intervalos de 4km, houveram decréscimos progressivos na

produção de potência concomitante ao declínio progressivo na atividade

eletromiografica (EMG).

As estratégias também podem variar em relação às características da

prova. Competições com ou sem o “vácuo”, são muito diferentes, devido à quantidade

considerável de energia conservada durante a etapa do ciclismo, quando realizado

atrás de outro atleta (HAUSSWIRTH; BRISSWALTER, 2008; TUCKER; NOAKES,

29

2009). Atletas amadores (faixa de categoria), assim como atletas da distância IM não

podem utilizar o recurso do vácuo (BERNARD et al., 2009; LE MEUR, 2011), e são

obrigados a manter uma determinada distância do concorrente a frente.

Especificamente, uma distância entre as duas bicicletas de 7-12 metros (zona de

vácuo) é mantida no IM, com um tempo de passagem de 20-25 segundos, estipulada

quando o atleta entra na zona de ultrapassagem. O atleta ultrapassado tem então o

mesmo tempo para se posicionar atrás da zona de vácuo.

A distribuição do ritmo durante toda a competição também desempenha um

importante papel. A natureza prolongada do IM (~ 8 a 17 horas), e a falta de um bom

gerenciamento na estratégia de ritmo, pode levar a uma distribuição sub-ótima das

reservas energéticas e promover uma fatiga prematura (THOMPSON et al., 2004).

Desta forma, uma estratégia de ritmo mais conservadora e em ritmo constante,

permite um menor desgaste das fontes de glicogênio, melhorando o desempenho

geral (WU et al., 2014).

É importante destacar que as etapas do nadar, pedalar e correr do triathlon

são executadas em diferentes velocidades e com diferentes resistências externas.

Estas resistências influenciam de forma direta o ritmo e o grau de variação do gasto

energético, sendo necessário adotar uma estratégia de ritmo ideal.

Isto fica ainda mais evidente no ciclismo, aonde o aumento da velocidade

e a consequente alteração de ritmo durante esta etapa, requer um aumento dramático

no gasto energético para superar o aumento das forças de resistência do ar. Tais

mudanças na produção de potência ou ritmo têm sido mostradas por aumentar o

desgaste fisiológico e reduzir o desempenho (THOMAS, 2013).

Fatores como o vento, relevo, umidade, bem como características

fisiológicas, nível de condicionamento e taxa de dissipação de calor do atleta, devem

ser observados ao se estudar a melhor estratégia de ritmo em provas de IM. Estas

provas, quando ocorrem em locais com altas temperaturas criam um grande desafio

fisiológico, não só na manutenção do desempenho, mas também na temperatura

corporal em níveis aceitáveis. Nesta condição, a dissipação de calor está prejudicada,

uma vez que o ar ambiente está mais quente que a temperatura interna corporal.

Associado a este processo, a variação ou aumento da intensidade eleva a produção

interna de calor, podendo chegar a aproximadamente 70 a 90% da energia produzida

para o movimento, na forma de calor, resultando em até 25 vezes o aumento da

produção de calor corporal (THOMPSON et al., 2015).

30

De fato, o exercício de longa duração em um ambiente quente, está

associado a um aumento significativo da temperatura corporal do core (BENTLEY et

al., 2002, LEPERS, 2013), da percepção de fadiga (LEPERS et al., 2013), e uma

diminuição no desempenho da atividade (ABBISS 2008), mediada pelo governador

central (BERNARD et al., 2009).

Peiffer e Abbiss (2011), avaliaram a produção de potência durante um Time

Trial (TT), de 40km com diferentes temperaturas (32° C, 27° C, 22° C e 17° C). Eles

concluíram que nas fases iniciais, houve uma diminuição na potência com grande

variabilidade em altas temperaturas quando comparada com as temperaturas

menores.

A idade também é um fator que se deve levar em consideração quando

falamos em desempenho. A diferença entre homens e mulheres em relação a

diminuição do desempenho está em 10-15% até 50 anos de idade (LEPERS et al.,

2013). Já entre o triathlon a diferença entre os sexos pode variar entre 12 e 18,2%

sendo que foram observados os maiores declínios nas distancias mais curtas, quando

comparado com o IM (LEPERS et al., 2013). Este declínio parece estar associado a

uma redução em VO2max (LEPERS et al., 2013; WU et al., 2014), uma redução da

massa e força muscular, diminuição no tempo de recuperação dos músculos

esqueléticos (WU et al., 2014), menor conteúdo de glicogênio muscular no repouso e

uma redução no volume e intensidade do treino (LEPERS et al., 2010, 2013). É

possível que maiores diferenças entre os sexos, sejam observadas em provas com o

vácuo proibido, devido à grande dinâmica da competição (LEPERS et al., 2013)

March et al. (2011) investigaram as mudanças relacionadas à idade no

ritmo de 319 atletas que completaram uma prova de maratona. Ele observou que as

mulheres e os atletas mais velhos, realizaram um ritmo mais constante durante a

prova, quando comparado com os homens e os atletas mais jovens. Certamente, a

complexidade do esporte triathlon e do aumento do consumo de oxigênio durante

competição de indica que o ritmo durante o triathlon poderia alterar com a idade

(GUEZENNEC et al., 1996).

Um dos momentos mais criticos e técnicos do triathlon, são as transições.

A transição é uma área demarcada no triathlon, aonde atletas realizam a passagem

ou troca de uma modalidade para outra; são duas as transições que acompanham a

prova, T1 e T2. O efeito residual de uma modalidade sobre a outra é uns dos aspectos

mais estudados no triathlon (DELEXTRAT et al., 2005; KREIDER et al., 1998;

31

PEELING et al., 2005; SILVA NETO, 2014).

Este efeito residual foi obsevado por Kreider et al. (1998), que mostrou em

seu estudo uma redução de 16,8% na produção de potência durante 75 minutos de

bicicleta, logo após a natação de 800 m, quando comparado com o ciclismo isolado

sem a natação anterior. Eles concluíram que a natação pode elevar o estresse

fisiológico e um consequente impacto negativo no desempenho do ciclismo e corrida.

Da mesma forma, Guezennec et al. (1996), observaram um aumento

significativo no consumo de O2 (51,2 versus 47,8 ml kg min.) e frequência cardíaca

(162 bpm versus 156 bpm), durante 10 km de corrida de um triathlon na distância

olímpico, após o ciclismo, em comparação com a corrida isolada. Os autores

afirmaram que os grupos musculares utilizados de forma diferente, o aumento do

gasto energético e os requisitos técnicos das transições alteraram o ritmo do triathlon.

Um outro estudo bem conduzido por Peeling et al., (2005), sugeriu que uma

redução na intensidade da etapa da natação, poderia diminuir a fatiga e melhorar o

desempenho geral em provas sprint. Eles investigaram os efeitos da natação realizada

a intensidades de 80%, 85%, 90%, 95%, 98% e 102% da velocidade alcançada

durante um teste de natação, no subsequente desempenho do ciclismo e corrida. Eles

observaram que o ciclismo teve os menores prejuízos, quando a natação foi realizada

em 80-85% e 90-95%, em comparação com 98-102%, mostrando que o ritmo da

natação pode influenciar não só a etapa do ciclismo como o desempenho geral do

triathlon.

Aparentemente, a etapa de natação de um triathlon com distancias mais

curtas, tem uma maior importância quando comparado com a natação de um meio IM

ou IM (WU et al, 2014). De fato, a contribuição percentual de natação para o tempo

total de prova é consideravelmente baixa (~10% e ~20%, durante distâncias mais

longas e mais curtas, respectivamente) (LAURSEN; RHODES 2001). Laursen et al.

(2000) estudaram a possível influencia da natação (3000m), precedendo 3h de

ciclismo realizado a 60% do VO2max e identificaram que a velocidade de nado, na

qual foi realizado o teste, não interferiu de maneira significativa nas respostas de

consumo de oxigênio (VO2), frequência cardíaca (FC) ou volume expiratório (VE) em

triatletas treinados, durante a fase do ciclismo. Assim, se tem sugerido que o

desempenho na etapa da natação em competições de IM podem não alterar o

desempenho geral.

Já Delextrat et al., (2003), afirma que a corrida sendo a última etapa do

32

triathlon, carrega um considerável gasto de energia da etapa da natação e ciclismo.

Além disso, a natureza do modo de locomoção da corrida, provoca mais danos

musculares e fadiga quando comparada com a natação e ciclismo. A influência que a

natação pode ter no ciclismo é dependente da distância em que esta é realizada

(provas de curta versus longa duração), pois quanto mais rápida for a velocidade

empregada durante a etapa de natação, maiores serão os efeitos no ciclismo,

induzindo, assim, alterações metabólicas importantes. Assim, parece que o

rendimento no ciclismo possa ser dependente da intensidade e duração na qual a

etapa de natação é realizada. Da mesma forma o desempemho na corrida é

significante mais rápido após a realização do ciclismo em uma intensidade constante,

quando comparada com uma intensidade variável, sugerindo que uma estratégia de

ritmo constante na etapa do ciclismo é preferível durante um triathlon na distância

sprint (BERNARD et al., 2007).

4.3 O ritmo no IRONMAN®

A intensidade aplicada durante a prova de IM e as demandas metabólicas

deste evento em particular são bem diferentes do triathlon olímpico. Tem sido

demostrado em triatletas bem treinados que a etapa do ciclismo é realizada em uma

intensidade moderada (55% Vo2 máx.) (ABBISS et al., 2006; LAURSEN et al., 2005;

O´TOOLE et al., 1987). A estratégia de ritmo geralmente utilizada em provas de IM é

chamada de “ritmo positivo”, onde o ritmo diminui durante todo o percurso da

competição (FIGURA 1).

Figura 1: Resposta da FC durante uma prova de IRONMAN®. Fonte: Abbiss; Laursen (2008).

33

Acredita-se que a aplicação de um ritmo constante durante toda a prova na

distância IM, seja a mais eficiente. Isto porque na teoria, estes atletas competem em

uma intensidade moderada a forte, entre seu primeiro limiar ventilatório e seu limiar

de lactato. Há algum indicio que triatletas de IM, podem executar a etapa do ciclismo

abaixo do primeiro limiar ventilatório. De fato, Laursen et al. (2002), avaliaram a

frequência cardíaca de 21 triatletas durante a etapa do ciclismo e da corrida durante

uma prova de IM e comparou com testes progressivos anteriormente realizados na

esteira e ciclo ergômetro para detectar as frequências cardíacas do primeiro e

segundo limiares ventilatórios. Os resultados apresentados neste estudo, sugerem

que triatletas utilizaram uma intensidade próxima de seu primeiro limiar ventilatório na

etapa do ciclismo e corrida do IM. Outro estudo do mesmo autor, identificou que a FC

dos atletas foi similar a aquelas observadas no primeiro limiar ventilatório

(150bpm/min), medidas em laboratório durante um teste incremental em

cicloergômetro, mas a potência produzida foi mais baixa (LAURSEN et al., 2002).

Thompson et al. (2015), observaram que quando atletas realizaram a etapa

do ciclismo em uma intensidade moderada, eles utilizavam seus estoques de gordura

para produzir energia aeróbia, poupando os estoques de glicogênio muscular para a

última etapa. Ele concluiu que uma manutenção adequada dos níveis de glicose

sanguínea para um boa proteção cerebral e coordenação de movimento, resultavam

uma melhor velocidade na corrida durante a maratona.

4.4 Fadiga periférica

A fadiga periférica com a evolução do exercício se desenvolve

progressivamente (THOMPSON, 2015), mas o nível em que ela acomete os atletas,

não é igual para todos, existindo assim um limiar critico em termos de fadiga periférica

durante exercícios de alta intensidade e longa duração que não pode ser excedido

(AMANN 2011).

A causa parece estar ligada a uma falha no suporte energético

(THOMPSON et al., 2015), e a subprodutos do metabolismo anaeróbio nos músculos

(aumento H+), acarretando uma redução do pH intramuscular, gerando um processo

de acidose metabólica e redução na taxa de produção de ATP o que incapacita o

atleta de manter a produção de força, mesmo com aumento da ativação elétrica

34

motora (PEELING et al., 2005; SILVA NETO 2014; THOMPSON et al., 2015).

4.5 Tele-antecipação

No modelo da Tele-antecipação as variáveis fisiológicas seriam

monitoradas constantemente pelo sistema nervoso central (i.e., comando central) a

fim de evitar possíveis distúrbios fisiológicos que pudessem prejudicar as funções

celulares e o desequilíbrio homeostático (NOAKES; ST CLAIR GIBSON; LAMBERT,

2005; ULMER, 1996 apud Noakes, 2011). Desta forma, a estratégia de corrida seria

continuamente monitorada ao longo da prova, em decorrência de informações

(aferência periférica), advinda das alterações fisiológicas e metabólicas, para que o

esforço seja mantido em uma intensidade “segura”, evitando assim a “catástrofe

fisiológica”. O modelo de tele-antecipação proposto por Ulmer (1996) apud Noakes

(2011), determinava que o fim da atividade estava relacionado não somente por

mecanismos periféricos, mas também por mecanismos centrais.

De acordo com Noakes (2005), teleantecipação é a resposta de complexas

interações entre os feedbacks metabólicos, cognitivos e contextuais passados e

atuais, que determinam o ritmo a ser empregado em determinada tarefa, com o

objetivo de evitar precocemente o aparecimento dos processos fisiológicos

causadores da fadiga. Quando ocorrem alterações que possam ultrapassar esses

níveis, e induzir a “catástrofe fisiológica”, o SNC antecipa essa situação, como um

mecanismo de defesa homeostático, diminuindo o “drive-motor”, e consequentemente

a intensidade do exercício, antes que níveis críticos sejam atingidos (CARMO et al.,

2012).

Ulmer (1996), aponta que o prévio conhecimento do percurso e do possível

tempo de exposição na atividade, constroem um modelo de ritmo para a corrida e que

a experiência competitiva se revela um importante fator no correto ajuste deste ritmo

durante as provas. Desta forma, é provável que o desempenho de atletas das provas

de meio-fundo e fundo não dependa apenas do potencial metabólico, mas também da

adoção e elaboração da estratégia de corrida (LAMBERT et al., 2005).

35

4.6 Homeostase e o papel do feedback aferente e eferente

Após o início de toda atividade, inúmeros receptores corporais, monitoram

de forma constante os estímulos, provenientes de informações internas e externas.

Os estímulos externos que poderiam alterar o ritmo do atleta incluem alterações das

condições ambientais (vento, temperatura, umidade), e a tática de outros

competidores por exemplo. Já os estímulos internos, informam o cérebro sobre as

condições internas como a mudança de temperatura corporal ou mudanças na

concentração de glicose. Todas estas informações são enviadas através de sensores

aferentes (chegada do sinal).

Durante o exercício o cérebro recebe estas informações e o SNC, via córtex

motor ajusta o potencial elétrico para a ativação muscular através dos sensores

eferentes (saída do sinal), modulando o tipo, a taxa e frequência da contração

muscular, fazendo com as condições homeostáticas retornem à normalidade.

Esta ativação de controle na fibra muscular é conhecida como comando

motor e sua finalidade é recrutar as fibras musculares restantes em maior ou menor

grau, dependendo da reserva fisiológica e a necessidade de evitar um grande prejuízo

corporal ou na performance.

A finalidade desse “circuito” durante o exercício é regular e delimitar o

desenvolvimento da fadiga periférica muscular, evitando um potencial prejuízo nos

músculos, coração e cérebro.

36

Figura 2: Manutenção da homesotase a partir do sistema de feedback negativo.

Fonte: Thompson et al. (2015).

4.7 Teoria do governador central

Este modelo, que é semelhante à tele-antecipação, foi adaptado por

Noakes, St. Clair Gibson e Lambert (2005), e permite uma melhor compreensão dos

ajustes na estratégia de corrida para provas de longa duração e foi denominado como

modelo de “controle central” ou modelo do “governador central”.

Através deste modelo, o sistema nervoso central (SNC) monitora todos os

sistemas do organismo através de informações enviadas para o cérebro (respostas

aferentes), limitando a ação ou tarefa quando este detecta a proximidade de um limite

crítico, próximo ao que possa colocar em risco a homeostase. Sendo assim a

homeostase trabalha para manter os sistemas fisiológicos em um grau de variação

que proteja o corpo contra uma falha catastrófica em um ou mais sistemas (NOAKES;

ST CLAIR GIBSON; LAMBERT, 2005). Além disso, o modelo do “governador central”

sugere que não só as informações aferentes advindas da periferia (chegada do sinal),

mas que mecanismos centrais (saída do sinal), gerados por fatores como as

37

experiências prévias do atleta, estado de humor e motivação, bem como outras

variáveis psicológicas, interferem no ajuste da intensidade do exercício.

Portanto, nesse modelo, o ajuste da estratégia de corrida parece ser

influenciado por fatores fisiológicos e psicológicos, que são manipulados a todo

momento durante a prova, de forma subconsciente (CARMO et al., 2012; NOAKES;

ST CLAIR GIBSON; LAMBERT, 2005).

Figura 3: Fatores que podem afetar como o ritmo é ajustado e regulado durante a competição.

Fonte: Noakes (2011).

38

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.1 Procedimento de coleta de dados

O estudo caracteriza-se como observacional e analítico.

Foi aplicado um questionário, junto aos participantes da prova IM, realizada

no mês de maio de 2014, na cidade de Florianópolis, SC, Brasil. Procurou-se atingir o

máximo de atletas participantes entre as idades de 30 a 39 anos, que participaram do

evento.

O questionário aplicado, incluiu informações sobre o número do

competidor, o ritmo executado nos últimos 4 (quatro) treinos longos de ciclismo e os

últimos quartro treinos de corrida. (ANEXO A).

A investigação foi realizada, pelo pesquisador e pessoas treinadas para tal,

no dia anterior a realização da prova, no momento em que ocorreu a inspeção

obrigatória das bicicletas (bike check-in).

Antes do início da pesquisa, os participantes assinaram um Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que foi aprovado pelo comitê de ética em

pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP com o parecer Nº 233/728,

no qual todos se voluntariavam tomando conhecimento dos riscos e benefícios

(ANEXO B).

Após a competição, tivemos acesso aos resultados das etapas individuais

(natação, ciclismo e corrida), bem como o tempo final da competição através do site:

www.ironmanbrasil.com.br.

5.2 Caracterização da amostra

Participaram desse estudo 243 triatletas amadores do sexo masculino,

sendo 117 (48%) pertencentes à categoria de 30 a 34 anos e 126 (52%) atletas da

categoria 35 a 39 anos (Figura 4).

39

Qu

an

tid

ad

e d

e A

tle

tas

30 a

34 a

no

s

35 a

39 a

no

s

0

5 0

1 0 0

1 5 0

4 8 %

4 8 %5 2 %

Figura 4: Quantidade de atletas participantes do estudo por categoria.

A escolha da categoria 30-34 e 35-39 se deve ao fato de que o pico de

desempenho em provas de IM é atingido entre estas idades. Rust (2012), demonstrou

que os tempos mais rápidos nas provas de IM, são realizados por atletas com idades

de 33 ± 3 anos para as mulheres e 34 ± 4 anos para os homens. Quando os atletas

estão nesta faixa etária, parecem ser capazes de atingir aproximadamente o mesmo

tempo realizado em suas provas classificatórias, no IM Havaí (LEPERS, R., 2011).

5.3 Análise estatística

Foi utilizada uma planilha de Excel® para a tabulação dos dados obtidos a

partir do questionário aplicado. A estatística descritiva foi utilizada para explorar o

banco de dados coletado. Os dados foram resumidos através de frequência (relativas

e absolutas), de medidas de tendência central (média e mediana) e de dispersão

(desvio padrão, mínimo e máximo). Gráficos de barras também foram utilizados para

apresentar os dados.

A normalidade dos dados foi analisada através do teste de Lilliefors. Para

comparar o prejuízo no desempenho da corrida quando os ritmos realizados no

ciclismo foram abaixo, dentro ou acima do treinado foi utilizado o teste estatístico de

Kruskalwallis. O mesmo teste foi utilizado para comparar os prejuízos na corrida

40

quando os atletas foram divididos em quintis baseados no desempenho do ciclismo.

Quando encontradas diferenças significativas, o post-hoc de Dunns foi utilizado para

identifica-las.

O nível de significância adotado foi de p<0.05. Todas as análises foram

realizadas no programa MATLAB 2010.

41

6 RESULTADOS

Neste capítulo apresentamos nossos resultados na forma de figuras e

tabelas.

Na Figura 5 são apresentados os ritmos dos atletas durante o ciclismo em

treinos longos. Em nossa amostra, o ritmo mais frequente durante os treinos de

ciclismo foi de 32 a 33 km/h.

T r e in o s R e a liz a d o s C ic lis m o

Fre

qu

ên

cia

<27 K

Mh

28 a

29 K

Mh

30 a

31 K

Mh

32 a

33 K

Mh

34 a

35 K

Mh

36 a

37 K

Mh

38 a

39 K

Mh

0

2 0

4 0

6 0

8 0

Figura 5: Ritmos dos atletas nos últimos 4 (quatro), treinos longos de ciclismo.

Quando comparadas pela divisão de categoria que abrange nossa amostra, os

ritmos também não apresentaram diferenças estatisticamente diferentes entre os

atletas da categoria 30 a 34 anos (32,9±2.7 km/h), e da categoria 35-39 (32,4±2.6

km/h).

A Tabela 2 apresenta a comparação dos ritmos treinados e executados durante

a competição na etapa do ciclismo. Nota-se que os ritmos mais velozes, também

foram aqueles que tiveram os maiores prejuízos.

42

Tabela 2. Diferenças entre o ritmo treinado x realizado na etapa do ciclismo.

CICLISMO

RITMO TREINADO (KM/h)

<27 28 a 29 30 a 31 32 a 33 34 a 35 36 a 37 38 a 39

N 5 20 56 74 56 24 8

RITMO REALIZADO (KM/h)

Média 29,5 30,5 31,3 32,4 34,0 34,9 35,6

DP 2,7 1,9 2,4 2,4 2,3 1,8 1,5

Mínimo 26,0 25,5 25,6 27,6 28,3 32,0 32,4

Máximo 32,3 32,9 35,8 37,9 38,8 38,2 37,2

PREJUÍZO VEL MÍNIMA 9% 9% 4% 1% 0% -3% -6%

PREJUÍZO VEL MÁXIMA

5% 1% -2% -3% -6% -9%

Na Figura 6 são apresentados os ritmos dos atletas durante a corrida em treinos

longos. Em nossa amostra, o ritmo mais frequente durante os treinos de corrida foi de

11.2 km/h à 11.9 km/h.

T r e in o s R e a liz a d o s C o r r id a

Fre

qu

ên

cia

< 9

.4 K

Mh

9.5

a 9

.9 K

Mh

10.0

a 1

0.5

KM

h

10.6

a 1

1.1

KM

h

11.2

a 1

1.9

KM

h

12 a

12.8

KM

h

12.9

a 1

3.7

KM

h

13.8

a 1

5 K

Mh

> 1

5.1

KM

h

0

2 0

4 0

6 0

Figura 6: Ritmos dos atletas nos últimos 4 (quatro), treinos longos de corrida.

43

Quando comparadas pela divisão de categoria que abrange nossa amostra,

os ritmos também não apresentaram diferenças estatisticamente diferentes entre os

atletas da categoria 30 a 34 (5:34±1:06 min/km), e a categoria 35 a 39 (5:40±0:41

min/km).

A Tabela 3 apresenta os prejuízos observados na etapa da corrida em relação

aos ritmos treinados e os executados durante a competição. Nota-se que a

velocidade de treino, abaixo de 9,4km/h e acima de 15,1 tiveram os maiores

prejuízos.

Tabela 3. Diferenças entre o ritmo treinado x realizado na etapa da corrida.

6.1 Análise do ritmo treinado vs. Realizado

A Tabela 4 apresenta a frequência de atletas que realizaram os ritmos do

ciclismo e corrida abaixo, dentro ou acima do treinado. Grande parte dos atletas

apresentou ritmos na prova de ciclismo abaixo (42%) e acima (43%) do treinado. Em

relação à corrida, a maioria dos atletas (87%) apresentaram um ritmo abaixo do

treinado, ou seja, mais lento.

CORRIDA

RITMO TREINADO (KM/h)

<9,4 9,5 a 9,9

10,0 a 10,5

10,6 a 11,1

11,2 a 11,9

12 a 12,8

12,9 a 13,7

13,8 a 15

>15,1

N 5 13 24 39 52 51 36 17 6

RITMO REALIZ. (KM/h)

Média 7,8 8,5 8,9 9,5 10,1 10,6 11,2 11,8 12,4

DP 1,5 1,3 1,4 1,0 1,0 1,2 1,3 1,0 1,7

Mínimo 6,5 6,3 6,0 6,3 6,8 6,5 8,3 10,1 9,8

Máximo 10,0 10,5 12,7 11,4 12,4 12,8 13,6 13,9 13,9

PREJUÍZO VEL MÍNIMA

-17% -11% -11% -11% -10% -12% -13% -14% -18%

PREJUÍZO VEL MÁXIMA

-14% -15% -15% -15% -17% -18% -21%

44

Tabela 4. Frequência de atletas que realizaram os ritmos do ciclismo e corrida abaixo, dentro ou acima do treinado

Ciclismo Corrida

Abaixo Dentro Acima Acima Dentro Abaixo

30 a 34 47 (41%) 18 (15%) 52 (44%) 3 (3%) 11 (9%) 103 (88%)

35 a 39 55 (44%) 19 (15%) 52 (41%) 4 (3%) 13 (10%) 109 (87%)

Total 102 (42%) 37 (15%) 104 (43%) 7 (3%) 24 (10%) 212 (87%)

Na Tabela 5 vemos que tanto os atletas que realizaram o ritmo do ciclismo

abaixo ou acima do treinado (40% e 32% respectivamente), correram abaixo do ritmo

que treinaram. Apenas 7 (2%) atletas apresentaram ritmos na corrida acima daqueles

realizados em seus treinos longos.

Tabela 5. Frequência de atletas que realizaram os ritmos do ciclismo e corrida abaixo, dentro ou acima do treinado

Ciclismo

Abaixo (n=102)

Dentro (n=37)

Acima (n=104)

Corrida

Abaixo (n=212)

99 (40%) 35 (14%) 78 (32%)

Dentro (n=24) 3 (1%) 1 (0%) 20 (8%)

Acima (n=7) 0 (0%) 1 (0%) 6 (2%)

A Figura 7 são apresentados os prejuízos no desempenho da corrida

quando o ritmo no ciclismo foi realizado abaixo, dentro ou acima do treinado. O menor

prejuízo no desempenho da corrida foi verificado quando o ritmo do ciclismo foi

realizado acima do treinado. Em contrapartida, os maiores prejuízos no desempenho

da corrida foram verificados quando o ritmo do ciclismo foi realizado dentro ou abaixo

do treinado.

45

P r e ju iz o C o r r id a

Pre

juíz

o P

ac

e C

orrid

a (

%)

Ab

aix

o

Den

tro

Acim

a

-5 0

-4 0

-3 0

-2 0

-1 0

0

*

Legenda: * diferença estatisticamente significativa em relação à situação Dentro e Abaixo.

Figura 7: Prejuízo no ritmo da corrida (treinado – realizado) quando o ritmo do ciclismo na prova foi realizado abaixo, dentro ou acima do treinado.

A Tabela 6 apresenta os prejuízos médios no ritmo da corrida em função

do ritmo no ciclismo. Os maiores prejuízos, de 25% e 21%, foram verificados quando

os ritmos do ciclismo foram realizados abaixo e dentro do treinado. Em contrapartida,

o menor prejuízo na corrida, de 17%, foi apresentado pelos atletas que realizaram o

ritmo do ciclismo acima do treinado.

Tabela 6. Prejuízo no ritmo da corrida quando o ritmo do ciclismo na prova foi realizado abaixo, dentro ou acima do treinado

Ciclismo

Abaixo (n=102)

Dentro (n=37)

Acima (n=104)

Corrida Abaixo(n=212) -25.5% (17.4%)

-21.4% (13.5%)

-17.6% * (11.0%)

Dados apresentados em média (desvio padrão).

* diferença estatisticamente significativa em relação à situação Dentro e Abaixo.

Dividimos a amostra em quintis (20%) baseado na diferença entre o ritmo

treinado e realizado na etapa do ciclismo. Na Figura 8 apresentamos as médias dos

prejuízos ou das melhoras de desempenho apresentadas por cada um dos quintis e

apresentamos os prejuízos apresentados na prova de corrida por cada um dos cinco

grupos analisados.

46

P re ju iz o s n a B ik e

Pre

juíz

o c

orrid

a (

%)

-10%

-4%

0%

5%

13%

-6 0

-4 0

-2 0

0

Legenda: Grupo -10% apresentou diferenças estatisticamente significativas em relação aos grupos

0%, 5% e 13%.

Figura 8: Médias dos prejuízos ou das melhoras de desempenho apresentadas por cada um dos quintis x prejuízos na prova de corrida por cada um dos cinco grupos analisados.

O grupo com os maiores prejuízos no ciclismo também apresentou os maiores

prejuízos na corrida. Em contrapartida, o grupo com a maior melhora de ritmo no

ciclismo apresentou os menores prejuízos na corrida.

47

7 DISCUSSÃO DOS DADOS

Enquanto as variáveis metabólicas têm sido extensivamente estudadas

(O´TOOLE et al., 1987, 1989; HUE et al., 1998; BOUSSANA et al., 2003), pouca

atenção tem sido dada para identificar o ritmo do ciclismo que poderia levar à um

menor prejuizo na etapa da corrida principalmente na distância IM (LE MEUR et al.

2009, 2011; WU et al., 2014.

Tipicamente, os triatletas de longa distância adotam uma estratégia de

ritmo caracterizada por um ritmo inicial rápido com uma redução do ritmo ao longo da

competição (Laursen et al., 2002, 2005). Isto foi mostrado como uma diminuição da

FC em média de 1-2% a cada hora, durante um triatlo IM (Laursen et al., 2005). Da

mesma forma, a produção de potência e a velocidade diminuíram durante a fase de

180 km de um triathlon Ironman (Abbiss et al., 2008). Os possíveis fatores associados

com a redução progressiva da intensidade do exercício incluem a depleção de

glicogênio, fadiga neuromuscular e / ou fatores psicológicos associados à percepção

de fadiga (Abbiss & Laursen, 2008). Embora seja difícil fazê-lo, os triatletas de longa

distância são aconselhados a tentar realizar uma estratégia uniforme de ritmo e

realizar sua prova a um ritmo semelhante ao que é realizado durante o treinamento

(O'Toole, 1989). Foster, (1994), aborda que para determinar o ritmo dos atletas

durante eventos de longa duração, se analisa os ritmos treinados assumindo que

estes atletas praticam tais ritmos durante a preparação para o evento.

Deste modo, o propósito do nosso estudo foi verificar se o ritmo aplicado

na etapa do ciclismo era capaz de influenciar o ritmo na etapa da maratona

subsequente. Nossa hipótese era que quanto mais próximo do ritmo treinado o atleta

realizar a etapa do ciclismo, menor seria o prejuízo durante a etapa da corrida. Para

tal, procuramos identificar se os ritmos executados durante a competição, foram

abaixo, dentro ou acima daqueles ritmos treinados pelos atletas e se esta possível

diferença teria relação com o prejuízo normalmente observado na maratona do IM.

Nosso estudo apontou que os atletas apresentaram o ritmo de 32 a 33

km/h. como o mais frequente para a etapa do ciclismo e 11,2 a 12,8 km/h para a etapa

da corrida. Não foram verificadas diferenças estatisticamente significativas entre os

ritmos treinados entre os atletas das duas categorias (p=0.2173, p=0.3173

respectivamente). Estes ritmos, estão de acordo com Gulbin e Gaffney (1999), que

48

observaram em triatletas amadores (média de idade de 34.2 +/- 8.8 anos), que

disputaram o IM Lanzarote, uma média de treinamento no ciclismo e corrida de 270 ±

107 km/wk e 58,2 ± 21,9 km⋅wk com um ritmo de 31,8 km/hr, e 4,55 min/km, nestas

modalidades respectivamente.

O principal achado deste estudo foi que a maioria dos atletas avaliados

(87%), independente da estratégia de ritmo empregado na etapa do ciclismo, tiveram

na média um prejuízo de 21.5% na corrida do IM, quando comparada com a corrida

treinada (isolada).

Este prejuízo observado na corrida pode ser explicado pelo modelo

proposto por Noakes (2005) denominado como “modelo do controle central” ou

“modelo do governador central”, de forma parecida ao modelo da tele-antecipação,

aonde as variáveis fisiológicas são monitoradas constantemente pelo comando

central, evitando assim possíveis distúrbios na homeostase que levariam a um

prejuízo das funções celulares. (NOAKES, ST CLAIR GIBSON & LAMBERT, 2005).

Estudos têm demonstrado que a fadiga neuromuscular e a capacidade de

produção de força não são afetadas a ponto de comprometer o desempenho após a

realização de corridas de média e longa duração. De fato, Lambert (2005), realizou

um estudo com ultramaratonistas (100km), e observou que os corredores mais rápidos

mantiveram a sua velocidade inicial de corrida até uma distância de aproximadamente

50 km antes que eles diminuíssem a velocidade da corrida. Por outro lado, os

corredores mais lentos foram incapazes de manter a sua velocidade inicial logo no

inicio da prova. O autor não conseguiu explicar os mecanismos que causam as

diferenças no ritmo, no entanto, cita que a incapacidade de manter a velocidade de

corrida pode ser atribuída aos mecanismos fisiológicos. Tem sido sugerido que a

redução no recrutamento das unidades motoras, não ocorra pela fadiga periférica e/ou

incapacidade do sistema neuromuscular, mas sim por outros mecanismos (AMANN,

2011; NOAKES, 2007; NOAKES, ST CLAIR GIBSON & LAMBERT, 2005).

Desta forma os ajustes da velocidade durante a competição, estão

constantemente sendo monitorados, em decorrência de modificações fisiológicas e

metabólicas, para que o trabalho seja realizado em uma intensidade “segura”,

evitando assim, a “catástrofe fisiológica” (NOAKES, ST CLAIR GIBSON & LAMBERT,

2005).

Além das informações advindas da periferia (“feedback”), o modelo do

governador central propõe ainda que o ritmo do exercício pode sofrer interferência

49

direta de mecanismos centrais (“feedforward”), gerados por fatores como motivação,

estado de humor, experiências prévias do atleta e outras variáveis psicológicas com

o atleta realizando o ajuste em nível subconsciente momento a momento durante a

prova (JOSEPH et al., 2008; NOAKES, 2007; NOAKES, ST CLAIR GIBSON &

LAMBERT, 2005). Em nosso estudo, não foi observado a experiência anterior, número

de sessões ou volumes de treinamento destes atletas o que poderia explicar nossos

resultados. Não é surpreendente, que as condutas em treinamento dos triatletas de

longa duração e suas crenças sobre o melhor programa que os conduziria ao sucesso,

tendem a variar (O'TOOLE, 1989; GULBIN; GAFFNEY, 1999).

É possivel também que os atletas mais lentos durante a etapa do ciclismo,

tenham enfrentado condições ambientais mais duras. O aumento da temperatura, que

no dia da competição, variou entre 14º e 22º graus, poderia levar à um queda no

rendimento e consequentemente um maior prejuizo na corrida dos atletas, da mesma

forma que alterações na velocidade e direção do vento. Dados não publicados de Wu

et al. (2014), mostraram que uma distribuição constante em triatletas bem treinados,

durante a etapa do ciclismo do IM, mesmo com uma modificação na condição do vento

durante a competição, poderia reduzir a intensidade do declínio no ritmo da corrida

subsequente (WU et al., 2014, LAURSEN; RHODES, 2001).

Esta alteração no ritmo, parace ser mais evidente durante triathlons de longa

duração, aonde a manutenção da homeostase fisiológica pode sofrer com o aumento

da fatiga neuromuscular e o desequilíbrio das reservas metabólicas, principalmente

durante a etapa da corrida (WU et al. 2014a). Em nosso estudo, não controlamos a

variação de ritmo observada durante a etapa do ciclismo, o que poderia contribuir para

uma maior deterioração dos ritmos executados, principalmente em atletas com menor

experiência neste tipo de competição. Em nosso estudo, a amostra analisada foi

extremamente heterogenea, sendo que a variação de tempo para completar a prova

chegou a quase 6h.

Esta possível diferença no calibre dos atletas pode sugerir que os individuos

com maior experiencia, apresentam menor distúrbio metabólico e fisiológico que

poderiam refletir sobre o comando central, manipulando de forma positiva o controle

da estratégia de corrida (TUCKER, 2009).

50

8 CONCLUSÃO

A concusão considerada nesta pesquisa foi que tanto no ciclismo como na

corrida, os atletas que realizaram os maiores ritmos de treinamento, ou seja, as

maiores velocidades (com exceção da velocidade <9,4 km/h na corrida), tiveram os

maiores prejuizos observados em relação ao ritmo treinado x realizado.

Ja em relação a competição, os maiores prejuizos encontrados na etapa da

corrida, foram observados nos atletas que realizaram a etapa do ciclismo abaixo do

ritmo treinado, ou seja, praticaram um ritmo mais lento na competição do que em seus

treinamentos.

Estes resultados contrariaram a hipotese inical que sugeria que os ritmos acima

do treinado, quando aplicados durante a competição, poderiam gerar os maiores

prejuizos na etapa da corrida.

Em media, observamos um prejuizo de 21.5% nos atletas avaliados em relação

a corrida isolada para a corrida da etapa do IM.

A diferença observada, não foi relacionada com a estratégia de ritmo

empregada no ciclismo. Tanto os atletas que pedalaram abaixo, dentro ou acima do

ritmo treinado, apresentaram prejuizos na ultima etapa, sendo que os menores

prejuizos foram observados nos atletas que pedalaram acima do ritmo que treinaram

(17%).

Parece prudente estipular o ritmo da competição, não apenas pela distancia da

prova, mas para cada indivíduo de forma individual.

.

51

9 REFERÊNCIAS

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ANEXO A - QUESTIONÁRIO APLICADO

Nº ATLETA: TREINADOR? ( ) SIM ( ) NÃO

TEMPO PREVISTO: SWIM: BIKE: RUN: TOTAL:

QUANT. DE PROVAS IM ( ) 1ª X ( ) 2ª X ( ) 3ª X ( ) 4ª OU MAIS

SEMANAS de TAPER VOLUME MÉDIO NATAÇÃO/SEM.

ÚLTIMA PROVA REALIZADA

( ) -30 dias ( ) 1 a 2 ( ) 3 a 4 ( ) +5 meses

( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4

60

ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO ASSINADO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu ________________________________________________________________, aceito participar

como sujeito da pesquisa: “RELAÇÃO DO RITMO APLICADO NA ETAPA DO CICLISMO E O

DESEMPENHO NA CORRIDA DA PROVA DE LONGA DISTÂNCIA-IRONMAN®”, que irá realizar

uma análise de dados sobre o ritmo de aplicado nos treinos de ciclismo comparando com o realizado

durante a prova e o desempenho da corrida no IRONMAN®, a fim de identificar através dos dados

obtidos, a estratégia de ritmo utilizada da etapa do ciclismo e sua relação com a corrida durante a

prova. Para isso fui informado (a) e estou ciente de que:

• A coleta dos dados sobre intensidades e volumes de treinos longos será obtida através de um

questionário aplicado no dia anterior a prova de ironman;

• Participarei da pesquisa, sendo meus dados, minha privacidade e identidade mantida em sigilo,

mesmo que os resultados da pesquisa sejam utilizados em apresentações e publicações

futuras, contribuindo para a pesquisa, meus dados serão importantes para a investigação

acima citada;

• Não receberei nenhum tipo de remuneração e não terei nenhum tipo de gasto ao participar

desta pesquisa;

• Caso não me sentir à vontade ou não quiser participar dos procedimentos, terei a opção de

não participar da pesquisa sem penalização ou prejuízo à minha pessoa;

• Em caso de qualquer esclarecimento ou dúvidas poderei entrar em contato com os

pesquisadores pelos telefones/e-mails: (11) 97285.7173/

[email protected]/[email protected] (Wagner Roberto A de Jesus), ou

então com o comitê de ética no endereço Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126 - Caixa Postal

6111 13083-887, Campinas – SP, pelo telefone (19) 35218936 ou através do e-mail

[email protected].

Ao assinar este termo, juntamente com o pesquisador, farei em duas vias, sendo que uma cópia ficará

comigo e a outra com o pesquisador.

Campinas, ____de _________________ de _________.

___________________________________________________

Assinatura e nº do documento de identidade (RG) do atleta.

___________________________________________________

Pesquisador Wagner R. A. de Jesus

Laboratório de Atividades Aquáticas - Departamento de Ciências do Esporte

Faculdade de Educação Física - Universidade Estadual de Campinas