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0 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE JUSSARA LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS - INGLÊS E RESPECTIVAS LITERATURAS NAIARA DE BRITO FREITAS ASPECTOS DAS PERSONAGENS NO ROMANCE “ORGULHO E PRECONCEITO” DE JANE AUSTEN JUSSARA-GO 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE JUSSARA

LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS - INGLÊS E RESPECTIVAS

LITERATURAS

NAIARA DE BRITO FREITAS

ASPECTOS DAS PERSONAGENS NO ROMANCE “ORGULHO E PRECONCEITO”

DE JANE AUSTEN

JUSSARA-GO

2012

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Naiara de Brito Freitas

ASPECTOS DAS PERSONAGENS NO ROMANCE “ORGULHO E PRECONCEITO”

DE JANE AUSTEN

Monografia apresentada ao curso de Letras para fins de avaliação final do 4º ano do Curso de Licenciatura Plena em Português/Inglês e respectivas Literaturas da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Jussara, sob a orientação do professor Evandro Rosa de Araújo.

JUSSARA – GO

2012

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por ter me dado sabedoria para concluí-lo,

tarefa que, depois de muito esforço, chegou ao fim.

Aos meus pais, que com muito carinho sempre estiveram ao meu lado, dando-me força

para enfrentar minhas dificuldades.

Não poderia esquecer também de mencionar meu namorado, Guilherme Pimenta dos

Santos, que apesar das inúmeras vezes em que tive que abrir mão de sua companhia para

estudar, ainda assim, sempre me apoiou me incentivando a alcançar mais essa vitória em

minha vida.

Não poderia deixar de dedicar este trabalho também ao meu professor e amigo

Evandro Rosa de Araújo, que não mediu esforços para me orientar, contribuindo muito para a

realização deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Acredito que quando pensamos em agradecer, a primeira “pessoa” que vem em nossas

mentes é Deus e eu, não sou diferente, pois sem ele em minha vida jamais teria chegado aqui;

então, agradeço a Ti Senhor por dar-me sabedoria para conseguir vencer todos os obstáculos

que encontrei durante essa jornada e que hoje graças a Ti, tenho a certeza de que pude

cumprir com meu dever de estudante.

Agradeço também ao meu adorado pai, Mário Baltazar de Freitas, que sempre esteve

presente dando-me forças para que eu continuasse a minha luta; à minha mãezinha, Divina

Aparecida Ferreira de Brito Freitas, que com suas palavras sábias, sempre soube como me

consolar nas horas de solidão e angústia, dando colo e me fazendo sentir amada.

Ao meu irmão Sidney Brito de Freitas que sempre me falava para eu não desistir dessa

conquista; ao meu namorado Guilherme Pimenta dos Santos que sempre me apoiou nesse

período.

Carinhosamente agradeço também todos os professores da Unidade Universitária de

Jussara, em especial, ao professor Evandro Rosa de Araújo, que em nenhum momento deixou

de me orientar e direcionar; não há palavras que possam descrever quão grande é a minha

gratidão por ele.

Aos meus familiares próximos e aos de longe que sempre procuravam ajudar de

alguma maneira.

Aos meus amigos da faculdade que nunca me abandonaram e que sempre me

encorajaram a enfrentar meus obstáculos, dizendo que esta luta nunca foi fácil para ninguém,

mas que com fé e dedicação eu venceria.

Aos meus amigos que não estudavam comigo, mas que a todo o momento, mesmo nos

momentos de descontração, me diziam para não desistir e ir até o fim, que eu ia conseguir

realizar meu sonho.

Enfim, obrigada a todas as pessoas que estiveram do meu lado, direta ou

indiretamente, durante essa trajetória que se encerra aqui, hoje posso dizer, que fácil não foi,

mas consegui e me sinto realizada por estar me formando em um dos cursos dos muitos que

virão.

Então, a todos que torceram de alguma forma para a conclusão de minha formação, só

me resta dizer: muito obrigada. Valeu a Força!!!!

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“A vida pura e simples não consiste em possuir muitas coisas ou

poucas coisas, mas em estar livre do afã de possuir ou de não possuir”.

Krishnnamurti

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RESUMO

A obra “Orgulho e Preconceito”, escrito pela britânica Jane Austen (1775-1817) e publicado em 1813, narra a trajetória, que se passa no final do século XVIII, da jovem de 20 anos Elizabeth Bennet, a qual vive com suas quatro irmãs em uma cidade do interior. A trama gira em torno da jovem Elizabeth e seu affair recém-chegado na cidade, Fitzwilliam Darcy. A autora mostrou como o amor do casal era capaz de superar barreiras de “orgulho e preconceito”, a diferença social entre eles e o escasso poder de decisão concedido à mulher na sociedade da época. Os costumes, o amor, a condição da mulher, os preconceitos e o casamento são abordados de maneira simples e engenhosa neste livro, considerado uma das primeiras comédias românticas da história e uma obra-prima da literatura universal. O presente trabalho monográfico pretende analisar criticamente a protagonista da obra “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen, no qual trata-se de Elizabeth, no intuito de mostrar sua postura social-ideológica à frente dos padrões da época. Serão utilizadas fontes bibliográficas como Zilberman (1989), Eagleton (2003), Austen (1996) que ressaltam a importância da literatura anglo-saxônica, que tem sido muito pouco questionada pelos universitários.

Palavras-chave: Orgulho e Preconceito. Elizabeth Bennet. Sociedade. Personagem.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO 1 A FORTUNA CRÍTICA DE JANE AUSTEN 10

1.1 Introdução a Jane Austen 10

1.2 Razões para ler Jane Austen 19

CAPÍTULO 2 ASPECTOS DA TEORIA DA PERSONAGEM 22

2.1 Particularidades dos diversos personagens na obra “Orgulho e

Preconceito”

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CAPÍTULO 3 A IMAGEM DA PERSONAGEM ELIZABETH E COMO ELA SE

APRESENTA NA CONTEMPORANEIDADE

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3.1 Elizabeth Bennet “Beth” e suas faces 36

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA 42

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INTRODUÇÃO

A ideia de escrever esta monografia surgiu com o estudo da Literatura Inglesa em

meio a uma conversa com o professor desta disciplina na Unidade Universitária de Jussara,

que apresentou alguns aspectos do romance inglês “Orgulho e Preconceito” da autora Jane

Austen. Neste momento despertou-me interesse em aprofundar meus estudos nesta obra, por

meio de pesquisas sobre assuntos da cultura inglesa, que venham enriquecer os

conhecimentos dos estudantes do curso de Letras através deste trabalho monográfico.

Em meio a tantas mudanças que a Inglaterra sofria durante o período victoriano a

população inglesa não se preocupava com outros assuntos, no entanto Jane Austen percebia

que as coisas estavam mudando e que a sociedade deveria se adaptar-se a elas. Diante dessa

vontade de demonstrar o que acontecia, Austen escreve o romance “Orgulho e Preconceito”,

publicado em 1813, com o intuito de relatar exatamente o que a mesma estava vivenciando

em seu país, pois a protagonista da obra, Elizabeth Bennet é o reflexo dos conflitos desta

época.

Diante dessa premissa de descoberta, esta pesquisa monográfica pretende analisar

aspectos relevantes da obra “Orgulho e Preconceito”, e ainda motivar e divulgar a importância

desta narrativa de Jane Austen para os leitores contemporâneos.

Sendo assim, alguns teóricos como Terry Eagleton podem contribuir muito com os

aspectos pertinentes da teoria literária, os quais são utilizados com o intuito de que possam

esclarecer algumas dificuldades na compreensão da narrativa de “Orgulho e Preconceito”,

uma vez que para a boa interação com o texto é necessário que haja motivação na leitura e

que esta seja recebida com prazer, com entendimento da parte do leitor, para assim poder

compreendê-la e interpreta - lá.

Portanto, esta monografia é dividida em três capítulos, sendo que o primeiro, com o

título “A fortuna crítica de Jane Austen”, que faz um mapeamento da trajetória de sua vida e

de suas diversas obras, bem como as muitas análises críticas desenvolvidas por vários

teóricos. Este capítulo é acompanhado pelo tópico 1.1 “Introdução a Jane Austen”, e o tópico

1.2 “Razões para ler Jane Austen”. E para finalizar são abordados às turbulências que a jovem

autora inglesa enfrentou para a materialização de seus trabalhos.

O segundo capítulo “Aspectos da teoria da personagem”, desenrolar-se à na análise da

formação de cada personagem que a autora aborda no romance. Para isso o tópico 2.1

“Particularidades dos diversos personagens na obra Orgulho e Preconceito”, faz uma reflexão

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sobre até que ponto as personagens no romance agradam o público contemporâneo, assim

como os aspectos da construção moral e social utilizados por Jane Austen.

Já o terceiro e último capítulo desde trabalho tem como titulo “A imagem da

personagem Elizabeth e como ela se apresenta na contemporaneidade”, relatando no tópico

3.1 “Elizabeth Bennet (BETH) e suas faces”. Nessa parte apresenta-se aos leitores

contemporâneos a sua criação principal na obra que se trata da jovem Beth. Busca-se enfatizar

os diversos aspectos da teoria da personagem aqui estudada e conhecida.

A imagem de “Beth” no romance acontece sempre relacionada à questão do

casamento, pois ela defende a necessidade da opção da escolha e de um verdadeiro amor para

se casar. Sendo que no decorrer da narrativa outras personagens tem o casamento com um

subterfúgio para obter melhores condições financeiras.

Diante desse desejo de mudança, percebe-se ao ler o romance, que a personagem Beth

foi idealizada pela autora de forma independente, com estilos e conotações diferentes do meio

no qual ela estava inserida, demonstrando ideais muito à frente do seu tempo.

Como já foi dito, assim como despertou em mim, a vontade de aprofundar meus

estudos na busca de enriquecer meus conhecimentos na Literatura Inglesa, baseando-se no

romance “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen, espera-se com a conclusão deste trabalho

venha ao encontro das expectativas dos professores, e possa aguçar o interesse de leitores para

esta obra.

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CAPÍTULO 1 A FORTUNA CRÍTICA DE JANE AUSTEN

A literatura é a arte que permite ao autor discorrer sobre qualquer assunto, incluindo

temas fictícios que posam causar uma reflexão sobre a realidade de uma época entre os

leitores. Aproveitando-se dessa realidade e multiplicidade de temas, Jane Austen escreve

sobre os mais variados assuntos, mostrando que é uma mulher além de seu tempo.

Para entender melhor o que se espera neste trabalho monográfico, o presente tem por

objetivo fazer uma abordagem da fortuna crítica da vida dessa autora que muito contribui para

a Literatura Inglesa. Esta pesquisa pauta-se em estudos biográficos, literários e

periodológicos.

No primeiro momento faz-se uma amostra de quem foi Jane Austen, por meio de sua

biografia. Este capítulo divide-se em dois tópicos: o primeiro com o título “introdução de

Jane Austen”, o segundo titulado como “Razões para ler Jane Austen”, os tópicos tiveram as

seguintes fundamentações teóricas: Austen (1997), Eagleton (2003), Zilberman (1989), entre

outros fundadores e seguidores que ajudaram a encontrar respostas para vários

questionamentos que surgiram ao longo desse capítulo.

1.1 Introdução a Jane Austen

A vida de Jane Austen foi muito turbulenta, até descobrir o talento de escrever, por

prazer e necessidade. Era uma moça cheia de sonhos, prova disto são as obras que saíram do

anonimato para se destacarem como leituras em livros ou em filmes, porém demorou muito

para se tornar renomada e ter o reconhecimento de ver seus romances publicados, os quais

atualmente são conhecidos mundialmente.

Muitas vezes não se sabe como os artistas adquirem seu poder criador, ignoram-se as

inúmeras etapas percorridas pelo escritor ao longo de sua vida até se tornar um indivíduo

pronto e com inspiração suficiente para produzir seus trabalhos. Jane Austen foi uma dessas

escritoras, nascida em 16 de dezembro do ano de 1775, na cidade de Steventon, situada na

Inglaterra. Provavelmente sua convivência no contexto de Steventon, observando o dia a dia

da vida real das pessoas, levou-a a estabelecer um elo muito forte com o realismo evidente

daquele período. Ela era a sétima filha do senhor George Austen, considerado um velho tutor

na região, e da senhora Cassandra, conhecida como Leigh.

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Austen veio de uma família grande, a qual se totalizava em oito irmãos, ressaltando

que Jane e Cassandra eram as únicas mulheres. Com isso elas passam a ser muito amigas,

trocando informações e fazendo planos para a vida futura, principalmente quando se referiam

a casamentos, elas não perdiam tempo em imaginarem-se casando com homens bonitos e

elegantes, embora a mãe e o pai quisessem que elas se casassem com homens ricos. Diante

desses anseios entre as irmãs é que até os dias de hoje, ainda tem se encontrado cartas e

correspondências de Jane Austen e sua irmã Cassandra trocando informações sobre tais

assuntos.

Sem terem muitos recursos financeiros para prosseguir nos estudos no ano de 1783,

elas se mudaram para a casa da senhora Cawley, conhecida da família que vivia na cidade de

Southampton, e assim Jane e Cassandra puderam dar continuidade aos estudos. Tudo

transcorria bem até o momento em que contraíram uma enfermidade e ficaram doentes, com

isso não lhes restaram nada além de voltar para casa.

Quando chegaram não demorou muito tempo para as irmãs entrarem em um internato

da senhora Goddard, na cidade de Reading. Elas tentavam levar uma vida digna, o que seria

difícil em meio à realidade em que viviam, mesmo assim Jane Austen ficava pensando no seu

destino e na vida solitária que levava. Diante dessa solidão, a jovem começou escrever cada

dia mais, com isso foi se aperfeiçoando para escrever o seu primeiro romance, a história de

Emma, uma moça que vivia sozinha em meio à sua realidade. Esta obra tornou-se anos mais

tarde, um filme de sucesso conhecido atualmente no mundo literário.

É percebido que viver em meio a muitas mudanças ideológicas era muito difícil, e

tornar-se um escritor famoso nem se questionava, pois a Inglaterra passava por um período de

mudança. Diante de tantas oscilações governamentais, Austen descreveu com muita riqueza e

detalhes os problemas em que o seu país estava passando, e assim surgiu um dos mais belos

retratos da Inglaterra do final do século XVII, que descrevia a realidade do novo modo de

governar que estava surgindo na sociedade patriarcal. Desta maneira, Jane Austen deixou

reflexões em seus escritos que até hoje são estudadas e analisadas.

As palavras de Gordon foram ditas em nosso século, mas encontraram ressonância em toda a Inglaterra victoriana. Trata-se de uma reflexão notável, esta de que, se não fosse por esta crise dramática na ideologia de meados do séc.XIX, poderíamos não ter hoje tal abundância de estudos analíticos de Jane Austen ou guias de Pound, escritos por blefadores. (EAGLETON, 2003, p. 32).

Jane Austen, nunca desperdiçou seu tempo, desde sua adolescência quando a única

preocupação que tinha era com os afazeres em casa, ela já havia começado sua trajetória de

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escritas. Enfrentou muitos obstáculos para a concretização de seu sonho, que antes não tinha

ambição alguma a não ser de escrever por prazer, depois sim, queria chegar à divulgação de

suas obras para o conhecimento de todos, embora não tenha sido reconhecida tão breve.

No entanto, apesar de ser muito jovem, não desistiu da realização profissional, quis ir

além de sua realidade, mesmo sabendo que encontraria obstáculos, pois era considerada

imatura e, para completar suas dificuldades, era do sexo feminino, naquele período era muito

discriminado; pois a sociedade tinha a concepção de que somente os homens possuíam

domínio para escrever.

Contudo, anos mais tarde seus textos começaram a se destacar no mercado de obras

literárias, pois já existiam editores, e assim as obras da autora Jane Austen também foram

repassadas a várias pessoas, levando-a a um patamar de celebridade consagrada até os dias de

hoje.

Neste cenário de propagação de obras, a juventude já tinha força total, marcando a

época com uma grande corrente de novas escrituras, consequentemente, isso fez com que as

mesmas se propagassem e que atualmente, todos pudessem apreciar tais obras, como destaca

Zilberman:

Talvez o traço mais marcante dessa década tenha sido a revelação de “poder jovem”, a juventude vindo a construir uma força política até então desconhecida, de um lado, por rapidamente converter seu inconformismo em revolta, de outro, por atuar independentemente dos partidos existentes ou das ideologias de esquerda ou direita herdadas das gerações anteriores (ZILBERMAN, 1989, p. 08).

Até onde se sabe, o pai de Jane Austen dava aulas particulares em casa, com isso a

jovem se perdia nos vagões de pensamento de livros que o pai adotava em meio à realidade,

diferente do que se possa pensar, a moça não costumava ler apenas romances, mas sim uma

diversidade de obras, as mesmas que mais tarde, lhe inspiraram a dar nomes a alguns de seus

romances clássicos.

Jane Austen a cada dia se aperfeiçoava sem suas escritas, sendo que somente nos anos

de 1782 a 1784 que realmente começou a mostrar seu talento para a sociedade, fazendo

algumas representações em peças teatrais na reitoria da cidade de Steventon, que mais tarde

foram editadas com a ajuda de sua prima Eliza, a quem foi merecedora de Love and

Friendship em agradecimento pela dedicação em ajudá-la.

A partir daí, ela mostrava suas habilidades na escrita, apesar de ter vergonha de se

expor à sociedade, devido aos costumes seguidos pela época que eram rigorosos. Percebendo-

se que Austen adorava escrever, seus pais demonstravam admiração pela filha, ficando ainda

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mais orgulhosos quando ela escreveu Juvenilia; esta foi sua primeira obra completa, incluindo

nesta várias paródias da literatura da época. Depois de algum tempo, poucos superavam as

escritas da autora, mal terminava uma obra para dar início à outra, dentre as quais pode-se

destacar Pride and Prejudice que seu pai quis publicar, porém, para sua tristeza, o editor

recusou o pedido, no entanto sua família nunca desistiu de propagar o seu sucesso.

Austen viveu sempre de forma simples, embora não haja documentos que enfocam a

sua vida amorosa, aos 20 anos de idade teve um rápido relacionamento com um rapaz

irlandês, tudo isto é o que conta sobre relacionamentos destinados à autora que se doava às

linhas, e traçava romances.

Passado algum tempo, seu pai decide mudar para Bath, uma cidade que Jane Austen

não gostava muito, mas que todos os anos, como era de costume, a família ia para apreciar os

verões. Apesar de algumas pessoas pensarem que este período foi uma inspiração para a obra

Persuasion, em nenhuma de suas cartas estava escrito algo que relata esse acontecimento, foi

lá que a jovem conheceu um rapaz que muito chamou sua atenção.

Entre as várias mudanças de cidade em que a família de Jane Austen fazia, uma delas

foi para Bigg, que ficava próximo de Steventon, lá a jovem conheceu Harris que logo a pediu

em casamento que, por sua vez, logo aceitou a proposta, pois acreditava que assim poderia ter

uma vida melhor do que estava vivendo.

Contudo, não demorou muito para que a jovem rompesse o compromisso e fosse

embora acompanhada da irmã Cassandra para a cidade de Bath, lugar em que a irmã

encontraria com Thomas, sendo que o romance entre Cassandra e Thomas foi à expiração

para Austen criar os principais personagens na obra “Orgulho e Preconceito”, pois de acordo

com as pesquisas, há um relato do que ocorreu na vida real, em que esse jovem era como o

primeiro moço por quem Jane Austen se apaixonou: um rapaz que não tinha condições

financeiras para se casar naquele momento, com isso o casamento sempre era adiado,

totalizando três anos de uma longa espera. Não demorou muito tempo depois das jovens irem

até Bath, para seguirem viagem ao Caribe, assim como os militares da época faziam, eles

também foram com a intenção de conseguir dinheiro para casar-se, mas Thomas faleceu

devido à febre amarela, não alcançando tal conquista. Diante dessa visão entre realidade e

ficção é possível perceber que a arte literária se desenvolve a partir de uma autonomia

advinda da vida real, assim como afirma Zilberman em:

Quando afirmam ter a história da literatura um funcionamento autônomo, conferindo-lhe a independência de que vinha se ressentindo desde o século XIX, não conseguem fazer o caminho de volta, rearticulando os

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intercâmbios da literatura com a sociedade e a ideologia (ZILBERMAN, 1989, p. 14).

Certamente vivenciando tais circunstâncias, o seu poder de criação foi desenvolvido

levando-a a produzir belíssimas histórias, tais como a história das irmãs Austen, que não

conseguiram realizar o sonho de se casar, ambos os compromissados tiveram o mesmo

destino: a morte. Ao passo que o destino das irmãs foi ficar solteira.

No ano de 1805 elas perderam o pai e passaram por muitas dificuldades, pois todos da

casa dependiam mensalmente da ajuda de seus irmãos, os quais serviam à marinha e

chegaram ao posto de almirantes e assim podiam ganhar mais; além do salário dos irmãos,

elas também contaram com alguns bens que o prometido de Cassandra havia deixado para ela.

Em meio a tantas mudanças, tanto emocionais quanto de localidade, Jane Austen

retornou ao seu espírito de escritora voltando às suas atividades literárias, revisando algumas

obras, como Sense and Sensibility, e por volta de 1810 – 1811 encontrou um editor que se

propôs a editar alguns de seus textos, mesmo sabendo dos problemas que essa publicação

poderia trazer se outras pessoas descobrissem que os textos eram escritos por uma mulher;

devido a isso, foi publicada como anônima no mês de outubro, recebendo até outro nome de

By a Lady. Com essa atitude de publicar os textos de Jane, logo ela se tornou conhecida, pois

segundo Zilberman a obra só se torna ativa e modificadora de opiniões, após sua circulação

em meio social:

A literatura participa ativamente desse mecanismo, pois tem papel formador; portanto, pode-se, a partir dela, reconstituir o conhecimento coletivo, o saber circulante, responsável pela significação e relevância das ideias e atitudes no conjunto das atividades sociais (ZILBERMAN, 1989, p. 106).

Conforme relatado no diário de Fanny – sobrinha de Austen – ela descreve um

momento que havia recebido uma carta, a qual trazia a informação em forma de um pedido

para que não fosse dito a ninguém que a tia Jane Austen era a autora da obra Sense and

Sensibility, mas que esta era assinada por outra pessoa, pois desta maneira seria favorável para

deixar a obra mais completa.

Com isso Jane Austen ficou animada e buscava se inspirar a cada dia mais, mesmo

sabendo que suas obras mudariam de nome. Diante dessa euforia, surgiam novas obras e as

antigas eram aperfeiçoadas, transformando-se em grandes edições e novidades para os

editores da época. Para a divulgação ela contava sempre com a ajuda e apoio de seu irmão

Henry, que por morar em Londres negociava com os editores a venda das obras.

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Para negociar com os editores, Austen contou com a ajuda de Henry que vivia em

Londres, mas em alguns momentos ele agia de maneira egoísta, pois usava o nome da irmã

para beneficio próprio, como aconteceu quando foi tratado pelo Sr. Clarke, que era médico do

príncipe regente, pois sabia que o príncipe apreciava suas obras, principalmente os romances

Pride and Prejudice e Sense Sensibility. Em troca prometera que o próximo romance seria

dedicado a ele. Isso foi confirmado em dezembro de 1815 com a publicação de Emma

dedicada ao príncipe regente. E no ano seguinte decide fazer uma nova edição Mansfield

Park, mas não alcançou o mesmo êxito das obras anteriores.

As obras de Jane Austen foram assim, realistas ao período que estava vivenciando,

colocava a realidade nas escritas em forma de versos, relatava de maneira clara a vida, de um

jeito tão especial que todos que lessem as obras pudessem sentir o sofrimento de alguém que

queria ter “algo e não podia”, e para realizar seus objetivos teve que enfrentar desafios,

perdas, perspectivas de vida, limitações, ainda assim, pôde tornar-se uma escritora respeitada

e conhecida por muitos leitores. Afirmando tais afirmações remete-se as palavras de

Zilberman que diz:

O sentido é, nas palavras, um evento, isto é, um processo a ocorrer durante a leitura, subordinado a transformações por que passam as operações mentais ao leitor. O texto confunde-se à experiência que proporciona e a que o leitor carrega consigo, perdendo toda a objetividade. (ZILBERMAN, 1989, p.27)

Muitos não conheciam o talento de Jane Austen que era muito discreta e totalmente

dependente de seus irmãos que escondiam o seu talento que depois de muitos anos seria

revelado. Embora cada obra escrita pela autora trazia alguns requisitos de uma sociedade em

construção, para modernizar em meios à população que fazia presença na vida de Jane em

seus romances, contudo demorou muito tempo para grande parte das pessoas lerem as obras e

se depararem com uma experiência individualista.

No ano de 1815, a romancista começou escrever Persuasion, no entanto não teve

muita sorte nesta obra, pois um ano depois adoeceu, mas não desistiu e continuou registrando

seus pensamentos. Diante de um quadro de saúde já debilitado, Austen em 1817, deu início a

Sanditon, obra que a autora abandonou, pois a doença a impossibilitava de escrever, devido a

essa enfermidade teve que recorrer urgentemente a um tratamento médico sendo levada para

Winchester, onde não demorou muito tempo para piorar seu estado de saúde e veio a falecer

no dia 18 de Julho de 1817, com 41 anos de idade, deixando para trás grandes recordações e

obras de valores incomparáveis, juntando-se a outros escritores conhecidos por escrever de

maneira peculiar, enriquecendo assim a Literatura Inglesa. Neste sentido pode ver a realidade

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onde mostra que a: “literatura é um fenômeno contínuo e, ao mesmo tempo, em permanente

transformação, pois a norma existe para ser violada, e é a condição de existência da estrutura

artística, ao agregar e integrar os diferentes elementos a compor o texto” (ZILBERMAN,

1989, p.23).

Assim, no século XIX, perde-se a autora Jane Austen, que deixou um legado que pode

ser estudado e aprofundado em trabalhos atuais, pois as obras da romancista trazem

recordações expressas para pessoas que nunca viveram esse período, pois os romances eram

escritos com uma visão muito própria da época, levando o leitor a viajar desde o século XVIII

ao XXI trazendo um pouco do real e um pouco de ficção em seus romances, como por

exemplo em “Orgulho e Preconceito”, na qual relata a realidade da sociedade

complementando com maestria o processo mimético necessário na formulação do texto

literário. Contudo, para comprovação das palavras referidas remete-se a citação: “Ao encarar

a personagem como ser fictício, com forma própria de existir, os autores situam a personagem

dentro da especificidade de texto, considerando a sua complexidade e o alcance dos métodos

para apreendê-la” (BRAIT, 2010, p.51).

As obras de Jane Austen levam os leitores a tomarem gosto pela leitura e remete a uma

alusão mimética das histórias vividas pela autora, momentos que na maioria das vezes

revelam as palavras que não podiam dizer de forma explícita, só mesmo entre as linhas e

pensamentos poderiam ser expressas. Entretanto, ocorre um desabrochar artístico nas obras de

Austen que motivam desde os leitores contemporâneos até os atuais que buscam

questionamentos dentro de uma época.

Jane Austen viveu boa parte de sua vida na Inglaterra. Contudo, suas obras

descreveram a sociedade da época, mais especificamente a sociedade rural, e ela se

preocupava em descrever as mudanças sofridas em meio à sociedade que vivia da maneira em

que o leitor recebe as obras literárias, tendo nestas inúmeras possibilidades de interpretação

perante o que está ocorrendo na sociedade da época.

É bom ressaltar que ocorreram mudanças sociais dentro da política. Tudo se moldava

em meio à abolição da escravatura, esta que foi a principal fonte de justiça para os

necessitados. Nesse período alguns estudiosos tiveram interesse em defender as políticas,

acreditando que assim, poderiam proporcionar melhoria na qualidade de vida da população

carente, construindo orfanatos e escolas dominicais, inclusive em uma delas, Jane Austen

estudou.

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Na literatura, a época georgiana1 difundiu-se pelo surgimento de romances e pela

diversidade de gêneros literários. Diante dessa diversidade surge a jovem escritora Jane

Austen que viveu de forma simples, limitando-se aos olhos da família, de modo que não pôde

sair para conhecer o outro lado da sociedade britânica, conhecendo assim apenas o meio

social que pertencia, deixando evidente em seus textos literários o modo que vivia, como

dizem nas escritas que “A definição de literatura fica dependendo da maneira pela qual

alguém resolve ler, e não da natureza daquilo que é lido” (EAGLETON, 2003, p.11).

Austen não pôde desvendar os olhos devido às limitações da mulher naquela época,

por isso tinha que obedecer às ordens e costumes de seus pais. Mesmo com tantas restrições

da presença feminina na sociedade inglesa, ela escreve o seu romance “Orgulho e

Preconceito”. Nesta obra faz um relato descrevendo os desejos feministas das personagens

perante a sociedade. Pois sabe-se que é :

A personagem que vai se delineando aos olhos do leitor, montado unicamente com os recursos oferecidos pelo código verbal, passa a ter uma existência que carrega em si toda uma crítica ao sistema educacional. O autor começa a construir uma personagem que é, ao mesmo tempo, extensão e condição de existência de um sistema educacional calcado apenas nas aparências, na ilusão, na miragem desprovida de consistência (BRAIT, 2010, p.27).

Jane Austen, assim como outras escritoras escreviam para registrar a diferença no

tratamento entre homens e mulheres, tendo como exemplo a vida cotidiana. Enquanto seus

irmãos tinham seus negócios, ela juntamente com a mãe e sua irmã dependiam para

sobreviver dos recursos de seu pai. Depois de sua morte, elas passaram a depender de seus

irmãos, mostrando assim a dificuldade de uma mulher viver numa época em que os homens

eram soberanos.

Jane Austen foi uma das primeiras precursoras a lançar-se como escritora na Literatura

Inglesa. Pois os escritos viviam nos anonimatos por medo de expressar como sentia numa

sociedade conservadora. As mulheres daquela época podiam ser talentosas, mas não

conseguiam o reconhecimento enquanto escritoras. Porém, no início século XIX, elas

começaram a ganhar força no mundo literário, mas ainda com bastante limitações por serem

femininas.

Nessa época que as escritoras romancistas explodiam com determinação, talento e

muita força de vontade, pois até então, a literatura era destinada aos escritores de sexo 1 Época georgiana: período causado por um expansionismo de mudança no governo da Inglaterra, tudo em prol de melhoria para a população nobre da época.

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masculino, e desse momento em diante as mulheres adquiriram resistência e assumiram o

lugar na literatura, pois antes seus textos ficavam guardados sem que a sociedade pudesse ter

acesso.

Assim como outras escritoras importantes na história literária, Jane Austen dedicou-se

sua vida escrevendo várias obras, que hoje são reconhecidas mundialmente, mas sua ascensão

só veio após seu falecimento, pois em meados do século XIX que a mulher já podia se

expressar e demonstrar suas ideologias, assim esses requisitos foram capazes de auxiliar no

processo de construção de personagens para compor as obras que atualmente são apreciadas

por diferentes tipos de leitores, tomando como suporte os romances que muito contribuíram

para essa realização dessas mudanças. Para a concretização das ideias a citação afirma:

Tomando como medida o romance moderno, empenhado cada vez mais em distanciar a personagem dos esquemas fixos que delimitam o ser fictício, teremos que admitir que esse recurso ajuda a multiplicar a complexidade da personagem e da escrita que lhe dá existência. Mas não é uma receita para a construção de personagens mais densas: tudo, como sempre vai depender da perícia do escritor, de sua capacidade de selecionar e combinar os elementos que participam da arquitetura da personagem (BRAIT, 2010, p. 61).

Duvidando da capacidade feminina, escritores daquele período não acreditavam que as

mulheres conseguissem se sustentar com suas obras, alguns autores descriminavam-nas, em

especial àquelas que de uma forma ou de outra estavam adquirindo nome na sociedade. Jane

Austen mesmo em meios a esses tributos não desistiu e muito menos abandonou sua cidade,

apesar de mudar-se várias vezes, sempre se manteve em cidades próximas a sua cidade natal.

Apesar de todos os transtornos decorrentes do período em que autora viveu, ainda

assim, não se abalou e continuou a escrever, mesmo sem ter a certeza de como seus textos

iriam ser recebidos pela sociedade, uma vez que suas obras sempre traziam temas que

pudessem ter vários significados, e que cada pessoa os concebia de uma maneira. Jane Austen

teve seus esforços literários interrompidos, devido às condições financeiras que sofreu, as

quais lhe ocasionaram demora na conclusão de algumas obras.

Mesmo com tantas dificuldades encontradas para a publicação de suas obras, Jane

Austen alcança sua ascensão com livros importantes na Literatura Inglesa, em que relatam os

costumes de uma época em construção, para que os leitores possam conhecê-los comparando

com o jeito de viver atualmente.

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1.2 Razões para ler Jane Austen

Sabe-se que ler é um exercício que leva os cidadãos a terem um conhecimento

significativo para toda a vida, além de aprimorar conceitos, leva o leitor a ampliar seu

horizonte de conhecimentos, dando-lhe oportunidades de conhecer, por meio da leitura,

pessoas que foram famosas e que perpetuam-se até os dias de hoje. Em meio aos intelectuais

é percebida a busca constante de novas descobertas, as quais vão além da literatura brasileira,

buscando conhecer escritores respeitados que já morreram, contudo, se perpetuaram por meio

de seus escritos como é o caso de vários escritores da Literatura Inglesa. Assim, percebe-se

que a leitura deve ser livre, flexível de entendimento, e isto é esclarecido com teorias que

orientam o leitor a buscar esta flexibilidade e compreensão destes saberes.

Percebe-se que escritores e escritoras procuram buscar a realização pessoal na

produção literária, Jane Austen é um bom exemplo desse rompimento de paradigmas, que

particularmente compreende de maneira distinta, já que ela conseguiu ruptura das hierarquias

de sua época, decorrente do período no qual as mulheres eram submissas aos homens.

As obras de Jane Austen procuram estabelecer um linguajar neutro, ou seja, não

estabelecendo linguagens distintas do poder da época. No entanto, a autora utiliza da ficção,

criando personagens femininos com comportamentos diferentes dos costumes que viviam

aquela sociedade, dando valores que cabiam as mulheres. Assim, obras literárias como as de

Austen ajudaram muitas mulheres a não ser tão dependentes dos homens. Nota-se que essa

mudança continua na atualidade, pois a cada dia a mulher busca os mesmos direitos e deveres

que o homem: no pessoal, no profissional e no social. Enfim, a igualdade de ambos.

Podem-se ver aspectos desse poder na obra “Orgulho e Preconceito” ao ler este, o

qual se faz como objeto de pesquisa deste trabalho, trazendo as diferenças econômicas e

sociais que traumatizavam a época, desafiando o senso das mulheres que se davam aos belos

romances escritos. Como Moisés diz que:

O leitor do romance é obrigado a imaginar, a idealizar, servindo-se dos dados que lhe são oferecidos pelo ficcionista, como se fossêm sinais cujo sentido a intuição desvendasse ou vislumbrasse ao longo da leitura, sentir e entender podem ser atos simultâneos durante a leitura, pois o leitor se faculta o direito de interrompê-la, refazê-la, adiá-la (MASSAUD, 1967,p.261).

Para alguns pesquisadores Jane Austen enfrentou a questão de discriminação contra a

mulher e não se sensibilizou em momento algum, deixando claro para os leitores a figura

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feminina que na obra é representada por Elizabeth Bennet, uma jovem bonita, classe média e

solteira. A autora buscava o prestígio em suas obras, sem que fosse julgada segundo os

aspectos relevantes da sociedade, que traz com firmeza o casamento como principal fonte de

realização amorosa e pessoal.

Quando trata-se dos personagens masculinos, Jane Austen os conduz de maneira

irrelevante, pois as características a ser analisadas são atribuídas as mulheres como mostra no

romance “ Orgulho e Preconceito”. Esta obra também apresenta alguns aspectos do realismo

como uma ironia diversificada ao período da época, esse preconceito é visto pela própria

sociedade, e o principal foco do mesmo é o casamento, que é abordado sempre pelo lado de

obter bens materiais e não pelo amor.

Entende-se que mesmo com as exigências da sociedade à autora aborda sua vida

intima de forma tradicional, desde que se case por afinidade e não por um amor incondicional,

como é abordado na maioria das vezes nos romances. Esta é uma das características que a

diferencia dos outros autores, devido a esses requisitos que Jane Austen se destaca como uma

das principais escritoras lidas em todo o universo. Com isso é pertinente observar estas

palavras:

A valorização da experiência estética, que confere ao leitor um papel produtivo e resulta da identificação desse com o texto lido, enfatiza a idéia de que uma obra só pode ser julgada do ponto de vista do relacionamento com seu destinatário (ZILBERMAN, 1989, p. 110).

Jane Austen vai além de seu tempo, no século XIX, sentindo a pressão de um

cotidiano cercado de turbulências, ainda assim, não desiste de escrever, pelo contrário, mostra

que mesmo vivendo diante daquela realidade, era possível escrever obras extraordinárias, e

em seus textos era o melhor lugar para que ela colocasse todos os seus verdadeiros

sentimentos, os quais jamais poderia expor. Contudo, Austen jamais imaginou que ao

depositar seus sentimentos dentro dos livros, um dia poderia levar homens e mulheres a

apaixonarem-se por suas escritas e imaginarem-se vivendo em seu tempo.

É certo que Jane Austen teve o sucesso merecido, pois apesar de viver pouco, deixou

grande legado de escritas que até hoje são apreciados e conhecidos. Foi assim que a autora

viveu em suas escritas, sempre com clareza, buscando favorecer aspectos reais da sociedade e

da época literária que transitava recursos favoráveis, somando sabedoria e conhecimento

adquirido no passado para atuar no presente de suas obras. Diante desse encantamento

Zilberman destaca:

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Quando se soma a isto o fato de que uma obra de época diversa reatualiza a experiência do passado, de outra maneira inacessível, compreende-se em que medida a literatura também possibilita um relacionamento histórico e temporal praticável apenas dessa maneira (ZILBERMAN, 1989, p. 110).

Ao contrário de tudo que era natural naquele período, esta obra “Orgulho e

Preconceito” veio para revolucionar as críticas na família Bennet, a qual tem como centro a

protagonista do romance vivendo uma rotina simples, numa sociedade totalmente diferente

em que se cobravam princípios e rigidez, no qual nem tudo o que aparenta pode ser

considerado como realidade.

Contudo, a Literatura Inglesa apresenta uma diversidade temática que desperta

interesse em ampliar os conhecimentos da mesma, e ainda mostrar a importância que ela tem

na vida dos leitores que apreciam romances de época, principalmente os dessa fase, na qual

Jane Austen viveu.

Pôde-se, por meio de estudos, mostrar o assunto que foi tema para este primeiro

momento de apreciação e conhecimento adquirido pela trajetória de vida da autora, que se faz

presente em todo o trabalho.

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CAPÍTULO 2 ASPECTOS DA TEORIA DA PERSONAGEM

Este capítulo tem o objetivo de mostrar um pouco sobre a teoria da personagem. Para

isso algumas obras serão necessárias como: A personagem, de Beth Brait (2010) e Porque ler

os clássicos, de Ítalo Calvino (1993), assim como as obras de Massaud Moisés que abordam a

teoria da personagem e serão úteis nessa parte do trabalho monográfico.

A personagem é extremamente útil e de grande importância, pois é por meio dela que

o leitor chega a um juízo de valor frente à obra lida. Diante do conhecimento adquirido ao

longo da pesquisa, entende-se que as teorias que envolvem a construção da personagem, vêm

sendo mais abordadas com o passar dos anos.

Nesse sentido torna-se necessário mostrar um pouco da construção dos personagens no

romance “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen, e demonstrar como é feita pela autora,

comprovando o que Aristóteles já havia determinado em duas coisas no campo da construção

das personagens, que nada mais é do que “a personagem como reflexo da pessoa humana e a

personagem como construção, cuja existência obedece ás leis particulares que regem o texto”

(BRAIT, 2010, p.29).

Seguindo os pressupostos da leitura do filósofo, a autora levanta a hipótese de que “o

conceito de verossimilhança interna de uma obra é extremamente pertinente e pode ser

utilizado na leitura de obras produzidas em outros momentos que não os estudados pelo

pensador grego” (BRAIT, 2010, p.31).

Tendo conhecimento das palavras da autora, pode-se associar que esta coloca a

personagem na própria realidade. Para isso o tópico a seguir se compromete em fazer uma

auto-reflexão do que são os personagens, de como esses se dialogam e como são enfocados na

obra.

Antes de qualquer coisa é necessário remeter-se a um dicionário de Língua Portuguesa

para observar a definição da palavra personagem fora do campo da literatura. De acordo com

Brait a personagem no novo dicionário Aurélio é:

Personagem [Do fr. Personagem.] S.F. e m. 1. pessoa notável, eminente, importante; personalidade, pessoa. 2. Cada um dos papéis que figuram numa peça teatral e que devem ser encarnados por um ator ou uma atriz; figura dramática. 3. P.ext. Cada uma das pessoas que figuram em uma narração, poema ou acontecimento. 4. P.ext. Ser humano representando em uma obra de arte: “A criança é um dos personagens mais bonitos do quadro” (BRAIT, 2010, p.09).

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Aqui destacam-se algumas definições do que é uma personagem, assim percebe-se

que para cada pessoa há uma determinada caracterização, e que leva o receptor da mensagem

a ter um entendimento na compreensão dos seres que habitam as páginas dos romances. Desse

modo, observa-se que a personagem é um foco importante e abrange toda a estrutura de

qualquer obra.

Não obstante, para melhor esclarecimento dessas características, Brait descreve como

são os personagens no campo da literatura.

Para explicar a palavra personagem, a palavra pessoa(s) foi utilizada três vezes e a expressão “ser humano” uma vez. Tratando-se de um dicionário geral da língua e não de um dicionário especializado em teoria literária é plenamente justificável o jogo explicativo em que uma palavra é tomada por outra. Mas esse jogo metalingüístico simplista aponta mais uma vez para uma confusão terminológica que traduz com clareza a confusão existente entre a pessoa – ser vivo – e personagem - ser ficcional (BRAIT, 2010, p.10).

Diante das palavras acima, notam-se alguns pressupostos do que é um personagem, já

que se diferencia em determinados momentos, entre um ser vivo, e o outro ficcional, aquele

que é considerado criação da mente, isto é, um ser imaginário, fictício.

Entende-se que durante algum tempo este conceito era meramente tratado de forma

concisa, para os povos que tinham conhecimento, pois há alguns anos atrás nem todos tinham

conhecimentos da leitura e escrita, isto era um privilégio somente da classe nobre. Diante

dessa realidade muitos escritores escreviam obras para agradar o público nobre, contudo ainda

existiam escritores que não mediam esforços em transmitir por meio da escrita suas

realidades, assim como fez a escritora Jane Austen em suas obras que tinham como tema

central a melancolia e a tristeza.

Ao referir-se à palavra romance, é bom ressaltar que esta teve origem pelos romanos

“O falar romance passou a designar, no curso da Idade Média, as línguas usadas pelos povos

sob domínio romano” (MASSAUD, 1967, p. 149) e desde então, nunca mais ficou esquecida

e foi se aderindo ao conhecimento e gosto de todos. Assim, a palavra romance surgiu e vem

sendo usada cada vez mais, não mudou a sua concepção, pois se entende que apesar de ter

surgido há vários séculos, ainda se encontra presente. Diante de tantos anos de sobrevivência

de uma palavra Moisés afirma que:

A palavra romance remonta, pois, há vários séculos. Não é assim a fôrma literária, em pros, que o vocábulo veio a rotular. O romance surge, como entendemos hoje em dia, em meados do século XVIII. Por outros termos aparece com o romantismo, ampla revolução cultural originaria da Escócia e da Prússia (MASSAUD, 1967, p.150).

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É importante ressaltar que se durante esse tempo, a concepção do pensador Aristóteles,

que concebia a formulação mimética da personagem como sendo estes bons e maus, e vigorou

por muitos artistas daquele período. Com o passar dos anos, este contexto tomou outro rumo,

deixando o pensamento de que personagem era somente o que a população aristotélica

empunha; a partir daí, procuraram-se meios que pudessem renovar os aspectos dos

personagens e assim substituíram os pensamentos que já estavam impregnados em cada

indivíduo da era aristotélica. Diante desse novo olhar para o personagem, este passou a ser

analisado não só como forma física, mas também como ser pensante, fazendo com que a

personagem pudesse ser vista “como a representação do universo psicológico do seu criador”

(BRAIT, 2010, p.37).

Esse cenário de mudanças no perfil de cada personagem só tomou forma definitiva

após a segunda metade do século XVIII, uma vez que a concepção herdada por Aristóteles e

Horácio ainda se fazia presente na mente de muitos escritores, causando muita confusão no

meio literário. Porém essa ideologia de perceber o personagem apenas como bons ou maus,

causou muita turbulência, mas não resistiu aos novos recursos literários e se declinou cada dia

mais, dando espaço para uma nova forma de concebê-lo, pois a partir deste momento ele toma

outras formas, deixando de serem um simples ser da história para tornarem-se reflexos da

mesma. Mudando a concepção que outrora era vigente:

Especificamente no século XVIII, o romance entrega-se a análise das paixões e dos sentimentos humanos, á sátira social e política e também as narrativas de intenções filosóficas. Com o advento do romantismo, chega a vez do romance psicológico, da confissão e da “análise de almas” do romance histórico, romance de crítica e análise da realidade social. E é durante a segunda metade do século XIX que o gênero alcança seu apogeu, refinando-se enquanto escrituras e articulando as experiências humanas mais diversificadas (BRAIT, 2010, p. 37-38).

As mudanças ocorridas no perfil de cada personagem podem ser percebidas na obra de

Jane Austen, uma vez que os mesmos são bem delineados ao longo de toda a narrativa,

começando com a família que é formada por cinco irmãs, que se destacam em personagens

com peculiaridades distintas ao senso comum da comunidade na qual viviam.

A autora trata em suas obras do cotidiano das pessoas, em “Orgulho e Preconceito”

apresenta ao leitor a vida familiar de amigos, vizinhos e parentes da jovem Elizabeth Bennet,

protagonista da história, considerada a heroína com a voz feminina. Uma das características

marcantes da obra é o fato de Austen ter dado o papel principal a uma mulher, uma vez que

até o presente momento a mulher era vista como submissa e incapaz de se defender, aqui ela é

apresentada não só como capaz, como também heroína, superior a muitos homens. Neste

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aspecto, a autora é vista como ousada para seu tempo, pois situações como esta jamais seriam

apresentadas em uma obra literária, visto que até o momento a discriminação social fazia

parte da rotina de qualquer cidadão.

Foi assim que Austen viu a necessidade de mudança e resolveu colocar em prática

modificações a fim de proporcionar melhoria para a sociedade, em especial a feminina,

transformando situações irônicas e tornando-as cômicas para o público. E é assim, em meio a

muitas críticas em relação às atitudes exageradas do meio social, que a autora buscava

inspiração para abordar os assuntos centrais de suas obras.

2.1 Particularidades dos diversos personagens na obra “Orgulho e Preconceito”

Ao ler a obra “Orgulho e Preconceito” percebe-se que esta apresenta personagens

com características diferentes, as quais fazem com que o leitor se sinta preso à narrativa,

despertando em cada página mais curiosidade para saber quem são os personagens e como se

dará o desfecho da história. Assim, em uma busca constante de saber quem é quem na

história, a autora aos poucos vai apresentando ao leitor cada um deles, auxiliando-o a dar

forma e características a todos os personagens que se fazem presente na obra. Diante dessa

busca é possível chegar a um desfecho interessante, percebendo situações da vida real,

transformadas em mazelas da literatura. Assim como afirma Moisés, os personagens do

romance são:

As “pessoas” que vivem dramas e situações dentro da narrativa, como se fôssem seres vivos idênticos a nós próprios. “Mas com “representações” verbais, “ilusões” ou “sugestões”, recebem o nome de “personagem” (MASSAUD, 1967, p.194).

Então é possível perceber essas características nos personagens do romance, pois os

mesmos vivem situações que levam o leitor a concretização de que os fatos vividos por eles

no decorrer da história são semelhantes aos que o homem vive na vida real.

Diante da descrição feita pela autora aos seus personagens de Orgulho e Preconceito,

o desenrolar da trama se faz basicamente com os seguintes personagens: Elizabeth Bennet,

Fitzwilliam Darcy, Mr. Bennet, Mrs. Bennet, Jane Bennet, Mary Bennet, Katherine Bennet,

Lydia Bennet, Charles Bingley, George Wickham, William Collins, Lady Catherine, Mr.

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Gardiner. Todos estes, seguindo o processo de manipulação mimético desenvolvidos por Jane

Austen.

Nesse sentido de construção de personagens nota-se que Elizabeth Bennet foi

construída de forma bem articulada pela autora, tendo em vista que esta é a protagonista da

história e tem a sua volta todos os destaques da narrativa. Ela é a filha mais velha do senhor

Bennet e envolve-se na trama do início ao fim, transmitindo ao leitor a satisfação em suas

conquistas. Este pode ser um dos fatores que provavelmente a fazem se destacar diante dos

demais personagens, levando o público a sentir por ela – Elizabeth – uma admiração,

agradando o leitor que a conhece. Cumprindo assim o seu papel de receptividade, cabendo à

aplicação da teoria da recepção, pois é diante da visão de recepção do leitor que se perceberá

o perfil da personagem, pois aqui o que é analisado é como o leitor recebe-o, pois:

O que importa pode não ser a escrita de texto, mas o modo pelo qual as pessoas o consideram. Se elas decidirem que se tratam de literatura, então, ao que parece, o texto será literatura, a despeito do que o seu autor tenha passado (EAGLETON, 2003, p.12).

Afirma-se que no romance há dois personagens protagonistas: o Fitzwilliam Darcy,

que é um jovem bem sucedido, muitíssimo reservado quando se trata de sua vida pessoal, e é

descrito pelas jovens da trama como arrogante devido ao seu jeito de viver; e Elizabeth

Bennet, que ao contrário de Fitzwilliam Darcy, vive de forma simples, com uma família

humilde e todos da região têm muito carinho pela jovem. Apesar das diferenças existentes

entre os dois jovens, isso não os torna menos ou mais importantes do que o outro na trama,

mas sim, pela forma de apresentarem-se ao público, pois o que os fazem ser considerados

protagonistas é o que eles representam no romance e não a cumplicidade do papel deles, como

já afirmava Moisés sobre a construção do protagonista:

Essas personagens não se colocam no mesmo plano, ou quando isso acontece, elas não são realmente iguais. Quer dizer dois protagonistas podem ser basicamente contrários enquanto personagens, pouco importando que se pareçam pelo fato de agirem com igual rêlevo no corpo da narrativa: igualam-se pela ação, mas diferem na personalidade (MASSAUD, 1967, p.195).

Assim, observa-se que no romance os personagens têm comportamentos distintos da

época, representando uma realidade própria do momento histórico pintado na narrativa e

reproduzido pela autora. Diante desse pensamento, Jane Austen desenvolveu em seu romance

“Orgulho e Preconceito” a típica imagem da sociedade na qual ela estava inserida.

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Então, observa-se que na trama ela reproduz algumas situações muito semelhantes as

que o público pode imaginar ser a representação real de uma sociedade medíocre, a qual a

autora descreve com descaso. Estas circunstâncias são percebidas nas ações que descrevem a

atitude de um homem sem a menor delicadeza com a figura feminina, pois ao mostrar a

situação ocorrida no baile, Austen apresenta um homem grosso que não sabe ser cavalheiro

com uma dama. Como pode ser observado nas palavras a seguir:

Você esta dançando com a única moça bonita que existe neste salão disse o Sr Darcy, olhando para a mais velha das irmãs Bennet. Oh, ela é a mais linda moça que já vi em minha vida, mas atrás de você está uma de suas irmãs, que é muito bonita e agradável. Posso pedir ao meu par que apresente a ela?- Qual? – perguntou a ele, voltando-se e detendo um momento o olhar em Elizabeth até que, encontrando-lhes os olhos, desviou os seus, friamente: -É sofrível, mas não tem beleza suficiente para tentar-me. Não estou disposto agora a dar atenção a moças que são desprezadas pelos outros homens. É melhor você voltar ao seu par e se deliciar com os sorrisos dela, pois está perdendo tempo comigo. O sr Bingley segui o conselho. O sr Darcy se afastou e os sentimentos de Elizabeth para com ele não foram muito cardiais (AUSTEN, 1997, p.11 e 12).

Outro personagem do romance é o senhor Mr. Bennet, pai de cinco filhas – Elizabeth,

Jane, Mary, Lydia, Catherine –, é casado com a senhora Mrs. Bennet que é muito conhecida

na cidade por ser a mãe da tão notória Elizabeth.

Ao construir seus personagens a autora lança mão de técnicas bastante avançadas para

sua época, construindo e desconstruindo características que eles apresentam ao longo do

romance como: “O orgulho se relaciona mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a

vaidade, com o que desejaríamos que os outros pensassem de nós” (AUSTEN, 1997, p.18).

Os romances de Austen são considerados ousados para a época, considerando que ela

vivia uma concepção de vida muito além do seu tempo. E este talvez tenha sido um dos

pontos que mais a destacaram, pois ela passou essas características distintas da sociedade da

época, para as obras, procurando palavras e personagens adequados que pudessem descrever o

quanto as pessoas se preocupavam com o que poderiam falar dela e não com a realidade que

estavam vivendo. Provavelmente é nesse sentido de criação do universo ficcional elaborado

que Terry Eagleton diz que “a literatura transforma e intensifica a linguagem comum,

afastando-se sistematicamente da fala cotidiana” (EAGLETON, 2003, p.02). Diante dessa

visão, a autora descreve uma sociedade que mantinha hábitos e costumes que ela não era de

acordo, que transformava fatos supostamente reais em casos banais.

Para a criação da personagem Elizabeth (Beth) a autora adotou uma técnica de

composição para dar vida à personagem e esta deveria apresentar-se como uma jovem que

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fosse sensível, mas ao mesmo tempo forte o suficiente para lutar contra os princípios da

época. Foi caracterizada com atributos que a fizeram possuir um comportamento diferente das

demais irmãs.

Como na vida real, em “Orgulho e Preconceito” não foi diferente, pois diante da

leitura, grande parte dos leitores acreditavam que Jane era a mais responsável devido ao fato

de ser mais velha, porém essa realidade aqui já não estava tão interligada às situações

cotidianas, embora ela seguisse todos os costumes desejados pela família e fosse considerada

a mais bela jovem da família. Pode-se notar uma diferenciação na personagem de Mary

Bennet que ao invés de ficar horas costurando com a mãe, prefere ler os livros da biblioteca

de seu pai. Nesse sentido Terry Eagleton vai alertar sobre o fato de que a “literatura pode ser

tanto uma questão daquilo que as pessoas fazem com a escrita, como daquilo que a escrita faz

com as pessoas” (EAGLETON, 2003, p.09), esta é uma realidade que pode mudar a

concepção de vida de muitas pessoas, uma vez que a leitura tem o poder de mudar não só o

homem, mas uma sociedade.

Seguindo os princípios de manipulação dos personagens, Catherine Bennet (Kitty) é

transgressora e sempre arruma confusão, sua irmã Lydia Bennet é considerada o suporte da

mãe, mas a jovem gostava mesmo é de ficar apreciando os militares, que se alojavam

próximos à sua casa, a fim de arranjar um casamento, embora ainda tivesse apenas 17 anos.

Ao reproduzir esta imagem, a autora pretende-se em múltiplos sentidos prender a

atenção do leitor construindo assim “sob a pressão dos artifícios literários, a linguagem

comum era intensificada, condensada, torcida, reduzida, ampliada, investida” (EAGLETON,

2003, p.05), levando o leitor a perceber que a representação dos personagens de Austen busca

descrever figuras diferentes das idealizadas pela sociedade vigente.

O jovem Charles Bingley é um desses rapazes que as jovens tinham interesse, um

cavalheiro que foi morar em Netherfield, amigo de Darcy e que estão sempre juntos nos bailes

da região, pode-se definir que entre Bingley e Darcy havia uma amizade muito forte,

entretanto eram opostos um ao outro: um possuía um caráter genioso e o outro mais

complacente.

Ainda tem Caroline irmã de Bingley que tem a característica de ser arrogante e quer o

jovem Darcy ao seu lado, e não deixa mulher alguma se aproximar dele, no entanto ela não

tem sucesso com essa atitude, pois este é apaixonado por Elizabeth Bennet. Dessa forma, ao

construir esses personagens repletos de conflitos a autora lança mão da técnica de composição

mimética para representar por meio da literatura o comportamento do homem citadino da

sociedade da época.

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Outro personagem em destaque na obra é o senhor William Collins primo do Mr.

Bennet também não possuiu filhos homens, sendo assim, não tinha herdeiros, pois naquela

época quem não possuía filhos do sexo masculino não deixava herança, mas a autora

descreve-o como um grande interesseiro; contudo, em alguns momentos da trama é muito

humilhado.

Lady Catherine também faz presença na trama é uma jovem dominadora e muito

poderosa, no entanto tem muito ciúme do irmão Collins e acaba humilhando todas as pessoas

que se aproximam do jovem.

O Mr Gardiner é irmão de Mr Bennet, sempre tenta aconselhar a sobrinha Lydia a ser

menos audaciosa, pois se preocupa com as atitudes inconsequentes e as travessuras da

sobrinha na região que vive.

Observa-se que a autora sempre procura dar vida aos seus personagens de modo a

aproximá-los da real situação vivida pela população da Inglaterra, com isso, nota-se o desejo

da escritora em promover um confronto de opiniões entre o real e a ficção que muito agrada

aos leitores. Configurando assim, a técnica da receptividade defendida pela teoria da

recepção. Diante dessa visão de confrontos ideológicos percebe-se que Austen descreve a

situação vivida por Darcy e Bingley, a qual é muito semelhante às vividas por jovens amigos:

Entre ele e Darcy havia uma amizade muito firme, apesar de seus caracteres serem opostos. Bingley era caro a Darcy pela doçura, fraqueza e maleabilidade de seu gênio, apesar de essas qualidades contratarem de forma absoluta com as suas e Darcy não parecer nada descontente com as que lhe tinham cabido pela sorte. Bingley confiava cegamente na força dos sentimentos de Darcy, e tinha a mais alta opinião por suas idéias. Em inteligência Darcy era superior. Bingley não era de maneira alguma deficiente em força metal, mas Darcy era mais vivo (AUSTEN, 1997, p.15).

Outra característica presente em “Orgulho e Preconceito” é a riqueza dos detalhes

que a autora consegue repassar, um fato muito marcante dentro dessa perspectiva é o

momento em que são descritas algumas situações vividas pelas personagens, relatando fatos

de quando os mesmos ainda eram crianças, uma viagem que leva o leitor para um tempo e um

espaço diferente do que estão no momento. Um bom exemplo dessas viagens é quando o

jovem George Wickham um dos melhores amigos de infância do senhor Darcy, ao passar

alguns dias na cidade, relembra momentos de sua infância, fazendo um paralelo de como

eram quando crianças e como ficaram depois de se tornarem adultos e que cada um seguiu a

sua vida como melhor lhe foi conveniente. Podem-se perceber tais mudanças de fases na vida

das personagens diante das palavras de Austen.

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Lembro-me de que se orgulhou certa vez em Netherfield de ser implacável nos seus ressentimentos. E de possuir um temperamento rancoroso. Deve ter um gênio terrível. - Quanto a isso, nada posso dizer – declarou Wickham. – Não me sinto em condições de julgá-los com justiça. Elizabeth tornou a mergulhar em seus pensamentos e, depois de algum tempo disse: - Tratar dessa maneira o afilhado, o amigo, o favorito de seu pai... E poderia ter acrescentado: “Um rapaz como o senhor, cuja aparência o favorece tanto”. Limitou-se, porém, a dizer: - E, além disso, um companheiro de infância, um intimo, como o senhor mesmo disse (AUSTEN, 1997, p.68).

Ao conhecer o perfil das personagens de “Orgulho e Preconceito”, é necessário fazer

um breve resumo da história, a fim de esclarecer a importância de cada personagem presente

na trama e para que pudesse chegar a um resultado satisfatório foi realizada uma leitura

minuciosa seguindo as ideias de Calvino: “a leitura de um clássico deve oferecer-nos alguma

surpresa em relação á imagem que dele tínhamos” (CALVINO, 1993, p.12). Assim, foi

realizada a leitura, e a cada página lida, encontra-se uma surpresa na história, fato que instiga

o leitor a atentar-se à narrativa. Entretanto, ao chegar ao fim este é surpreendido com os

acontecimentos relatados pela autora durante todo o romance, levando-o a perceber que na

narrativa havia atitudes dos personagens que antes não eram do seu conhecimento. Neste

contexto de descobertas e curiosidades, Calvino diz que:

O clássico não necessariamente nos ensina algo que não sabíamos, às vezes descobrimos nele algo que sempre soubéramos (ou acreditávamos saber), mas desconhecíamos que ele o dissera primeiro. E mesmo esta é uma surpresa que dá satisfação, como sempre dá a descoberta de uma origem, de uma relação, de uma pertinência (CALVINO, 1993, p.12).

Diante da leitura da obra “Orgulho e Preconceito”, nota-se que Austen relata de

forma clara as questões relacionadas ao casamento da época, que eram voltados aos interesses

das famílias, visto como meio de aumentar fortunas ou até mesmo de adquiri-la, ou seja, era

uma maneira de aumentar os bens matérias (riqueza) e ter status social. Atualmente essa

realidade é bem diferente, pois a cada dia o homem passa por alterações e novos princípios de

vida são introduzidos ao meio social. Essa situação causada por diferenças sociais é descrita

por Austen com tom sutil e irônico, como relata Cevasco e Siqueira:

No entanto, com sua narrativa sutil e seus diálogos espontâneos, Jane Auten foi capaz de criar personagens reais, com vícios e virtudes [...]. [...] O tom de sua narrativa é irônico, os seus sentimentos são contidos. Jane Auten não parece haver vivido no mesmo mundo dos poetas românticos (CEVASCO E SIQUEIRA, 1993, p.52).

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Sendo assim, o enredo da trama se inicia com a família Bennet e suas cinco filhas

morando em uma simples casa numa cidadezinha tranquila e pacata, o pai passava o dia em

uma humilde biblioteca, a mãe com os afazeres de costura, na maior parte do tempo estava

acompanhada pelas filhas; até que certo dia chega à notícia de que mudariam para a cidade de

Netherfield Park, um lugar que transformaria a rotina que estavam acostumados.

A notícia da mudança causou desconforto, pois já estavam habituados a viver lá, era

um lugar onde a maior parte da população já os conhecia, acreditando que eles eram uma

família rica e bem sucedida nos negócios. A senhora Bennet sempre demonstrava ser uma

mulher de princípios e rigorosa, principalmente quando o assunto era a escolha de marido

para qualquer uma de suas filhas, pois acreditava que elas deveriam se casar com homens que

tivessem dinheiro, tendo em vista primeiramente a fortuna, pois depois do casamento elas

teriam uma vida tranquila. Apesar disso, a jovem Elizabeth ao se mudar deixa para trás seu

amigo Bingley, homem rico e solteiro.

Bingley era rico, educado e sempre demonstrou interesse pela mais velha da família

Bennet: Jane, que tinha 22 anos. Bingley era muito amigo de Darcy, rapaz muito rico, porém

era indiferente com as pessoas, pouca conversava e jamais olhava para moça alguma. Diante

dessa postura todos questionavam seu orgulho. Era tão arrogante que durante um baile,

conversando com seu amigo Bingley confessa que a jovem Elizabeth não era bonita ao ponto

de ser sua companheira de dança, a jovem ouve e com isso acabam todas as perspectivas que

a jovem tinha, a partir desse momento ela passa a desprezá-lo durante todo baile.

Elizabeth não descarta a possibilidade de estar apaixonada pelo jovem e não aceita o

pedido de casamento de seu primo Collins que também era bem sucedido, contrariando os

desejos da mãe, que desaprova a atitude da filha em perder um bom partido. O jovem não fica

muito tempo sozinho e logo, se arranja, casando-se com Charlotte, amiga de Elizabeth.

Com o passar dos dias, Elizabeth vai visitar a amiga e fica surpresa com a notícia de

que Darcy é o culpado da mudança de Bingley para Londres, tudo isso para impedi-la de

casar, mas para surpresa sua irmã Jane estava envolvida. E com tantos acontecimentos Darcy

declara o amor que sente pela jovem Elizabeth, até faz uma proposta a ela, que sem ao menos

pensar recusa-o e acaba questionando informações de Bingley e Wickham.

Elizabeth explicou-lhe o motivo pelo qual guardava segredo. Não quisera falar no nome de Bingley. E a incerteza de seus próprios sentimentos fazia com que ela evitasse falar o nome de Darcy. Mas, agora Elizabeth não podia mais ocultar da irmã a participação de Darcy no caso de Lydia.Contou tudo. Passaram metade da noite conversando (AUSTEN, 1997, p.292).

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Em meio a tantos acontecidos acabam discutindo e se separam, indo um para cada

lado. No outro dia ela recebe uma carta em sua casa do jovem que tenta explicar seus motivos

em separar sua irmã de Bingley e pede muitas desculpas por ter deixado ela tão decepcionada.

Ele tenta falar a verdadeira história de Wickham, que ele não é uma pessoa boa,

tentou tirar proveito do pai Darcy com o dinheiro que foi dado a ele, e ele acaba planejando

fugir com a irmã de Darcy. Ao desenrolar da conversa Elizabeth questiona o fato de ter sido

dura com o jovem, mas fielmente questiona o fato de ter demorado a saber a verdade

acreditando ser muito tarde para reatar a amizade. Depois deste dia fica fria ao tratar de

Wickham que agora mora em Brighton, cidade que sua irmã Lydia quer visitar.

Não sabendo do fato e acreditando que era tudo confidência, nem comenta com sua

irmã das noticias referentes ao jovem Wickham, pois espera nunca mais vê-lo. As irmãs vão

fazer uma visita aos tios, sem saber de nada, planejam uma viajem para conhecer a mansão de

Darcy, enganada de que o jovem não esta lá, Elizabeth aceita ir ao passeio.

Chegando à casa de Darcy, todos ficam vislumbrados com a beleza da casa, pois a

mesma era perfeita, com tudo que se possa imaginar, depois de conhecê-la por dentro, eles

resolvem fazer um passeio pelo jardim, lá Elizabeth vê Darcy, e fica sem atitude alguma, mas

espera alguns minutos e cumprimenta-o, a moça fica com vergonha, tendo o pensamento de

que o jovem poderia ter má fé, por ela ter ido a casa dele sem ter sido convidada. Porém para

sua surpresa foi muito receptivo com seus familiares, assim, todos ficaram satisfeitos pela

atitude, pois tudo era diferente do que Elizabeth havia comentado.

Passando alguns dias na cidade de Darcy, Elizabeth recebe uma carta contando que

sua irmã Lydia havia fugido de casa, logo tratou de falar para o jovem sem se importar com as

conseqüências e voltou para casa. Algum tempo depois Elizabeth fica sabendo que Darcy era

o rapaz que havia encontrado sua irmã e a ajudado, providenciando todos os bens para o novo

casal, dali para frente mudava a imagem que Elizabeth tinha em relação ao jovem, agora não

era mais rancor, mas sim admiração. A outra notícia boa era que Bringley retornou à cidade e

pediu a mão de Jane em casamento. Contudo Austen aborda que:

Era evidente, toda vez que se encontravam, que ele realmente admirava a Srta. Bennet, e para Elizabeth era igualmente que Jane cedia à preferência que o Sr.Bingley havia começado a manifestar por ela desde o início, e que devia estar de certo modo muito apaixonada (AUSTEN, 1993, p.19).

Diante dessa situação e de toda a trama pode-se perceber que o casal era cúmplice

desde o início até o final do romance. Assim observa-se:

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Eles sempre mantiveram um relacionamento bastante íntimo. Darcy, tanto quanto Elizabeth, tinha maior afeição por eles. E, além disso, jamais se esqueceram da gratidão que deviam as pessoas por intermédio das quais lês haviam reatado suas relações, durante aquele passeio por Derbyshire (AUSTEN, 1997, p.303).

Desta maneira, nota-se que Darcy e Elizabeth foram bastante orgulhosos e também

preconceituosos durante toda a narrativa, mas ao final puderam declarar o seu amor um para o

outro confirmando o amor que sentiam. Para o desenvolvimento, fez se necessário à leitura da

obra em sua íntegra, uma vez que para se entender a ficção do romance que a família Bennet

viveu, foi necessário entender o que estava ocorrendo na Inglaterra no período que foi

relatado na história, para compreender os problemas que a família enfrentava.

Lembrando que “o romance vem desde a colonização do Brasil até os recentes anos

setenta, acrescidos de visões proféticas, acompanhando a contínua transformação. A história

do Brasil determina o começo e não deixa fixar o fim” (SHULLER, 1989, p.52).

A obra de “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen relaciona os desafios interligados à

educação, casamento e cultura na época aristocrática da Inglaterra, lugar em que a população

ainda não estava adaptada a receber tais informações que a autora aborda em suas obras e

desperta a curiosidade por ainda tratar de um assunto polêmico para aquele período.

Esta história se passa no século XIX e tem fascinado os leitores, tanto os que viveram

naquela época, quanto os atuais, fazendo com que a referida obra continue tendo a preferência

no mercado, uma vez que a procura de obras distintas como as de Jane Austen cresce a cada

dia. Portanto, Calvino traz a concepção que: “Dizem-se clássicos aqueles livros que

constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado, mas constituem uma riqueza não

menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para

apreciá-los” (CALVINO, 1993, p.10).

Atualmente é percebido que existem pessoas que procuram estes livros por

curiosidade em conhecer obras que não são de conhecimento de todos, no entanto ao entrar

em contato com as mesmas, percebem o seu valor e passam a admirá-las, mesmo estas não

fazendo parte dos clássicos brasileiros.

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CAPÍTULO 3 A IMAGEM DA PERSONAGEM ELIZABETH E COMO ELA SE

APRESENTA NA CONTEMPORANEIDADE

O capítulo a seguir faz uma análise da personagem Elizabeth Bennet, mais conhecida

como “BETH” na obra “Orgulho e Preconceito”, observando o que a diferencia dos demais

personagens na contemporaneidade (mundo em que vive), pois é percebido que até agora os

conflitos relacionados a esta, não medem esforços em lidar com as diferenças dos vários

outros personagens presente na referida obra de Jane Austen.

Neste capítulo somente uma personagem será analisada de forma precisa para saber

como a autora a coloca como centro de todas as questões do romance, que atualmente vêem

conquistando cada vez mais leitores contemporâneos que se desabrocham em meio às escritas

de Jane Austen, uma escritora Inglesa que escrevia pelo dom e não para tornar-se conhecida

como ficou, até por que “Hoje conhecemos esses poetas como românticos, embora eles nunca

tenham denominado assim. Foi somente a partir da segunda metade do século XIX que o

termo romantismo foi aplicado ao movimento que eles iniciaram” (CEVASCO e SIQUEIRA,

1993, p.47).

Sabe-se que para o enredo do romance, é de extrema importância as características da

personagem a ele destinada se entrelaçar junto à história e destinar ao público leitor

significados frente à obra lida.

Diante desse envolvimento entre o leitor e a obra é de se esperar que os romances,

desde o surgimento dos clássicos, até as histórias de heróis e heroínas que acabam morrendo

na trama em prol do amor, passem a conquistar um espaço cada vez maior em meio aos

demais livros literários.

Então, neste sentido, cabe entender o que é um romance e como este se desencadeou

para os leitores, desde a antiguidade até os dias atuais, que vêem sendo modificado com

pensamentos individuais de cada um, que ao ler um romance procura de maneira extrovertida

entender os problemas que este aborda. Shuller vai além do romance, partindo para o campo

da leitura, pois sem a mesma não há como chegar à conclusão se é um romance ou não.

Assim, Shuller descreve:

O romance retratou, desde o começo, conflitos individuais e vida cotidiana, opondo-se a noções medievais latinas, que privilegiavam qualidades fixas, persistentes ainda em epopéias nacionais. Os leitores de romance, ao se libertarem da oralidade medieval, adquiriram novos hábitos. O romance criou núcleos não sujeitos ao púlpito, veículo privilegiado de idéias e centro

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de coesão social. A leitura, restrita a um reduzido número de clérigos letrados, conquistou novos espaços. Lido isoladamente, o romance abalou a vida em comunidade, exigida pelas outras artes (pintura, teatro, canto, arquitetura, oratória). Dirigindo-se ao indivíduo fora da sociedade, o romance favoreceu o tratamento de problemas reservados, de conflitos interiores. (SHULLER, 1989, p.06)

É por meio de ideais assim, que Austen deu vida a personagem Elizabeth, uma moça

ingênua que procura sempre agradar aos outros, lamenta algumas coisas por dar errado, mas

jamais reclama de algo, sempre com um sorriso, transmite ao leitor a importância da

maturidade encontrada na jovem. Isso faz com que seu público admire-a por ser uma mulher à

frente do seu tempo.

Austen revela mudanças numa sociedade em que tudo era seguido por princípios

tradicionais e transmite ao leitor a possibilidade de um novo olhar perante as mazelas de uma

sociedade arraigada de preconceitos, criando uma personagem que a todo o momento

apresenta um mal entendido, deixando a obra mais interessante e ao mesmo tempo cômica.

Seguindo os conceitos de personagem romântica em “Orgulho e Preconceito”

Elizabeth é a segunda filha do Sr Bennet, jovem que vive de maneira simples, porém

confortável ao lado de sua família na Inglaterra. É inteligente, alegre e também sincera ao

ponto de julgar as pessoas até mesmo pela aparência, sem ao menos conhecê-las. Está sempre

ao lado de seu pai na biblioteca, acompanhada de sua melhor amiga Charlotte Lucas e de sua

tia Mrs. Gardiner que sempre apoiava a jovem quando necessitava.

Elizabeth em alguns momentos é considerada a heroína da história, encaixando-se

perfeitamente nos princípios que uma moça deveria seguir naquela época, tem dons, mas não

almeja que qualquer pessoa veja independentemente de querer casar, recusa a todo tempo

procurar pretendentes como a família deseja, ou melhor, como a mãe desejava: bons

casamentos para todas as filhas, principalmente em termos financeiros.

A autora transmitiu ao leitor o valor de independência da mulher por meio da jovem,

uma vez que esta é apresentada ao público cercada de exigências que deveriam ser cumpridas

por todas as mulheres no período em que ela estava inserida. Assim, Austen descreve um

pouco da jovem nesta citação:

Quando, após o jantar, as senhoras se retirarem, Elizabeth correu para junto de sua irmã e, agasalhando-a contra o frio, levou-a até a sala, onde a convalescente foi recebida pelas duas amigas com grandes manifestações de alegria. Elizabeth jamais tinha visto aquelas senhoras se portarem com tanta amabilidade como durante a hora que precedeu o momento de os cavalheiros apareceram. Sabiam conversar magnificamente, sabiam descrever um baile com todos os por- menores, relatar um episódio com graça e zombar com

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espírito dos conhecidos. Porém, quando os cavalheiros entraram, Jane deixou de ser o centro das atenções (AUSTEN, 1997, p.46).

Diante desta, é possível observar que Austen apresenta, além dos detalhes do

comportamento físico de suas personagens, também o psicológico, possibilitando ao leitor a

percepção de que a autora levanta hipóteses de uma sociedade cheia de defeitos e

indiferenças; de tal modo, percebe-se que ela faz com que o leitor reflita sobre o

comportamento da sociedade inglesa da época.

3.1 Elizabeth Bennet “Beth” e suas faces

Jane Austen ao escrever a obra “Orgulho e Preconceito” lança mão da vida da

protagonista Elizabeth como um retrato de uma jovem que ao longo do romance passa por

transformações, levando a mesma a sofrer com todas essas mudanças de comportamento,

sendo esta uma característica da autora, isto é, escrever romances que demonstrem

desentendimentos vividos pela sociedade, apresentados pelos protagonistas que são rodeados

de mal entendidos, despertando o interesse no público leitor e levando-o além das

expectativas da narrativa.

O romance aqui analisado “Orgulho e Preconceito” traz um assunto que muito chama

atenção da sociedade atual, pois os namoros relatados aqui eram voltados aos conceitos de

que deveriam ser correspondidos apenas por olhares e poucas conversas, o maior contato que

os namorados podiam ter nessa época era por meio das danças ocasionadas nos bailes. Isso é

notório na maneira como a obra dá início, mostrando que apesar das diferenças no modo de

conceber o namoro os jovens podiam contar com momentos de descontração e divertimento,

talvez até possa ser um fato que desperte curiosidade nos leitores contemporâneos em querer

adentrar-se na leitura da obra. Pois desde o início já assumia seu jeito de ser como a narrativa

de Brait afirma:

Quando a personagem expressa a si mesma na narrativa pode assumir diversas formas: diário íntimo, romance epistolar, memórias, monólogo interior. Cada um desses discursos procura presentificar a personagem expondo sua interioridade de forma a diminuir a distancia entre o escritor e o “vivido” (BRAIT, 2010, p. 61).

Ao observar o perfil de Beth, nota-se que o primeiro contato dela com Darcy não foi

muito cordial, pois ele a tratou com indiferença. Diante dessa situação ocorrida no baile que

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inicia a trama, a jovem sentiu-se mal tratada e passou a demonstrar indiferença em relação ao

jovem Darcy, mesmo não o conhecendo. Perante isso a moça tratava-o com frieza e desprezo,

passou a referir-se ao rapaz sempre o caracterizando como alguém arrogante e antipático. Tais

características podem ser comprovadas nas palavras de Austen:

O Sr Darcy dançou apenas uma vez com a Sra Hurst e outra moça e passou o resto da noite andando pelo salão, conversando ocasionalmente com uma outra pessoa do seu próprio grupo.Seu caráter estava estabelecido. Era o homem mais orgulhoso, mais desagradável do mundo. E todos pediam a Deus para que ele nunca voltasse. Entre as pessoas que se colocaram contra ele, a mais violenta era a Sra Bennet, a cuja antipatia por sua conduta se adicionava o despeito de ver uma de suas filhas desprezada por ele (AUSTEN, 1997, p.11).

Essa atitude de Darcy faz com que Elizabeth não tenha gosto em conhecê-lo, e já o

considere um homem muito diferente de seu mundo. A jovem sentiu-se excluída pelo jovem

por meio de gesto ou conversa com seu amigo Bingley, demonstrando que não está à vontade

naquele ambiente, dificultando qualquer tipo de aproximação de Elizabeth com o mesmo, pois

até o momento sentia admiração por ele, a partir de então, tudo é transformado em antipatia.

Racional e confiante, ela passa a considerá-lo como uma pessoa insuportável para conviver,

tendo em vista que ele tinha desprezo pelas pessoas de classe baixa, ou seja, pessoas que ele

julgava como sendo inferiores. Embora todas as pessoas possuíssem críticas parecidas com as

de Elizabeth em relação ao jovem Darcy. Austen descreve estas situações nas seguintes

palavras:

Devido á falta de pares, Elizabeth Bennet havia sido obrigada a ficar sentada durante duas danças, e parte desse tempo ela passou suficientemente próxima ao Sr Darcy para ouvir uma conversa entre ele o Sr Bingley. Este último, que acabara de dançar, procurava convencer o amigo a imitá-lo. – Venha, Darcy – disse ele – você precisa dançar. Incomoda-me vê-lo aí sozinho, de um modo tão estúpido. Seria muito melhor que você dançasse. - Por coisa alguma desde mundo, bem sabe como eu detesto dançar, a não ser conhecendo intimamente meu par (AUSTEN, 1997, p.11).

Ao longo da trama Elizabeth tem oportunidades de conhecer Darcy e cada encontro

com o rapaz ou algum amigo deles, muda sua opinião e percebe que estava sendo egoísta em

julgá-lo. Darcy escreve uma carta a um amigo falando que estava inconformado com as

mentiras que o Sr Wickham havia contado a Elizabeth. Porém antes que esta chegasse a seu

destino a jovem a leu e pôde descobrir que durante algum tempo havia sido enganada, que na

realidade nada que o Sr Wickham falou aconteceu. Para isso confirmam-se as palavras de

Austen:

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Portanto, o Sr Wickham ficou à vontade para conversar com Elizabeth, que ouvia com a maior boa vontade, embora não alimentasse a esperança de que ele contasse o que ela mais desejava: a história das suas relações com o Sr Darcy. Elizabeth não ousou nem sequer pronunciar o nome daquele cavalheiro. O próprio Sr Wickham introduziu o assunto e indagou qual era a distância que separava de Netherfield de Meryton, e, após ouvir a resposta, perguntou hesitante, há quanto tempo o Sr Darcy estava morando lá. – Há cerca de um mês - respondeu Elizabeth. E em seguida, para não deixar morrer o assunto, acrescentou:- Ouvi dizer que ele possui uma grande propriedade em Derbyshire.- Sim- confirmou wickham –, ele possui uma bela propriedade. Dez mil libras líquida por ano. A senhorita não poderia encontra melhor informante do que eu a respeito deste assunto, pois desde a minha infância conheço a família intimamente. Elizabeth não conseguiu evitar mostrar espanto. -A sua surpresa, senhorita Bennet, é muito natural, pois presenciou a frieza com que nos cumprimentamos ontem (AUSTEN, 1997, p.65).

Portando, mais tarde quando a verdade foi revelada, a jovem despe-se do seu orgulho e

tenta rever suas atitudes em relação ao rapaz, pois havia descoberto que o Sr Darcy não era a

pessoa que ela pensava que a versão contada pelo Sr Wickham era falsa.

Ainda levou algum tempo para Elizabeth ver a pessoa que Darcy era, um jovem que a

cada dia se tornava melhor em seu mundo. Demorou muito para que os jovens percebessem

que estavam se envolvendo um com o outro, para isso foi necessário que pessoas de fora

começassem a comentar; tudo começou com um elogio feito pelo caseiro da fazenda e depois

desta visita na propriedade rural que este sentimento começou a ser descoberto. Assim, “no

dia seguinte, Elizabeth contou a Jane tudo o que havia conversado com o Sr Wickham. Jane

ouviu a irmã com assombro e atenção. Não conseguia acreditar que o Sr Darcy fosse tão

indigno da amizade do Sr Bingley (AUSTEN, 1997, p.71)”.

E finalmente, com o auxílio prestado com o objetivo de salvar o prestígio de sua irmã

Lydia, é que o mau julgamento de Elizabeth por Darcy toma outro destino, pois agora põe em

fins a barreira que impedia o amor dos protagonistas.

Ao construir a protagonista do romance, a autora busca características distintas dentro

de uma sociedade ainda em mudanças que é regada de princípios e valores familiares.

Contudo Elizabeth Bennet faz-se como reflexo dos conflitos de valores de sua época, já que

seus pais asseguram a necessidade da jovem casar com um bom partido. Embora aqui, esta já

possua ideais individualistas da época, pode-se afirmar que Elizabeth Bennet procura dentro

da instituição conservadora do casamento, um espaço no qual pudesse obter satisfação e

tamanha felicidade.

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Com tudo esclarecido e Elizabeth tendo outra visão do jovem, tudo fica diferente, e

Darcy percebe que havia conquistado a moça desde o primeiro olhar, mas entre orgulho e

preconceito só depois de muitos desentendimentos, o amor é declarado. Portanto deixa ao

público leitor a mensagem que o amor é capaz de superar barreiras e ter um final feliz, assim

como aconteceu no romance “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen.

Ainda que faça importância em lembrar que muitos momentos de Jane Austen as

personagens possuem comportamentos além das possibilidades reais para as mulheres no

século XIX. Apesar disso, a obra analisada em questão, nos mostra que mesmo com todas as

dificuldades e limites colocados às mulheres, era possível a elas escrever, expressar suas

ideias e criticar as duras regras da sociedade em que viviam. Contudo buscando criar textos

literários que se mantêm interessantes e envolventes, desde que foram construídos até os dias

atuais.

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CONCLUSÃO

Concluída esta etapa dos estudos relacionados à autora Jane Austen, aqui analisada em

sua obra “Orgulho e Preconceito”, percebe-se em primeiro momento que muito poderia ser

dito a respeito do tema pesquisado, pois as obras da autora podem ser analisadas por vários

ângulos, o que as torna mais interessantes do que supunha-se antes de conhecê-las.

Contudo, ao longo dos três capítulos presentes neste trabalho monográfico fez se

melhor compreensão da autora em questão e dos personagens tratados no romance

supracitado, por meio de sua leitura; pois se sabe que ler tornou-se um exercício para a vida e

os romances vêem contribuindo muito para que se obtenha um interesse amplo na busca do

conhecimento. Além disso, houve a contribuição de teóricos que abordam em suas obras

conceitos presentes nesta pesquisa.

Utilizou-se ainda a Literatura Inglesa que foi abordada em todo o processo desta

pesquisa, com o intuito de entender o que se passava naquela época, fazendo várias

abordagens que auxiliaram no processo de compreensão, para saber e ter conhecimento de

quem foi à escritora britânica Jane Austen.

Os resultados deste trabalho apontam a forma de como eram os princípios sociais na

época que a autora viveu, pois na sociedade inglesa cabiam ao sexo feminino os princípios

relegados a família que nada mais eram do que se casar com um bom partido, visando à

ascensão financeira. Austen vai além, pois coloca a mulher no seio familiar dentro das

relações sociais e mostra o papel da mulher, como fora visto na obra “Orgulho e

Preconceito”, aqui analisada.

Regada com um universo feminino em suas obras, é possível vislumbrar uma

sociedade em transformação sob a ótica de personagens vivendo em um cotidiano simples e

ramificado, deixando para cada leitor contemporâneo a necessidade em distinguir os

princípios da época. É importante salientar que a escritora acompanhava em suas obras um

cenário de época, cheio de propriedades rurais, pequenos bosques e vilarejos.

Mesmo não estando no movimento feminista do ano de 1960, Austen foi além de seu

tempo criando de forma sutil os princípios nos quais se encontrava e era obrigada a seguir,

pois até o momento as mudanças eram escondidas; na obra “Orgulho e Preconceito” a autora

vai além e constrói uma personagem protagonista complexa como Elizabeth, que é sempre

autoconfiante e acaba julgando as pessoas, cabendo mais uma crítica em construção para a

autora.

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Portanto, toda a trama gira em torno da questão do casamento, mas Elizabeth Bennet

tem a concepção de escolha e o sentimento de amor para então se casar, embora dinheiro e

herança façam parte de sua rotina, ela jamais os coloca em primeiro lugar, afirmando que o

casamento tinha a função em pautar-se com sentimentos verdadeiros; enquanto outros

personagens buscavam o interesse financeiro em prol de uma base familiar.

A autora cria neste romance um conflito diferenciado ao período em relação ao

casamento: o primeiro é a forma tradicional que deveria ser seguida, neste caso sendo um

compromisso familiar; e o outro moderno, bem a frente de seu tempo, que coloca o ser

autônomo com a opção de escolha, ato que era criticado a todo o momento por sair dos

princípios familiares.

Partindo desses pressupostos, podemos definir que Jane Austen é uma das mais

importantes escritoras inglesas de todos os tempos, e apesar das restrições que lhe foram

impostas por ser do sexo feminino, ainda sim foi capaz de criticar as hierarquias e as

concepções tradicionais de feminilidade da época. Construindo em suas obras personagens

femininas complexas e ainda com personalidades desafiadoras, características além da época.

É factual que em alguns momentos as personagens que Jane Austen cria, se

comportem além das expectativas dos leitores. A obra aqui trabalhada mostra que em meio às

várias dificuldades referentes às mulheres, ainda assim era possível colocar no papel a

realidade, expressando idéias e sentimento puros a fim de receber críticas, como foram

destacadas, em relação à obra “Orgulho e Preconceito” que acaba marcando uma transição na

vida de Jane Austen.

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