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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GESTÃO DE NEGÓCIOS DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA ESTUDO SOBRE A DIMENSÃO ONTOLÓGICA DO EMPREENDEDORISMO Londrina 2006

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GESTÃO DE NEGÓCIOS

DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA

ESTUDO SOBRE A DIMENSÃO ONTOLÓGICA DO EMPREENDEDORISMO

Londrina 2006

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DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA

ESTUDO SOBRE A DIMENSÃO ONTOLÓGICA DO EMPREENDEDORISMO

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPA-UEL/UEM), área de concentração: Gestão de Negócios, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração. Linha de pesquisa: Empreendedorismo Orientador: Prof. Dr. Paulo da Costa Lopes

Londrina 2006

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DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA

ESTUDO SOBRE A DIMENSÃO ONTOLÓGICA DO EMPREENDEDORISMO

Dissertação aprovada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPA-UEL/UEM), pela banca examinadora composta pelos professores:

Aprovada em 27 de abril de 2006.

Paulo da Costa Lopes (B.Sc., M.Sc., D.Sc.)

Orientador – PPA/UEL

Fernando Antônio Prado Gimenez (B.Sc., M.Sc., Ph.D.)

Convidado – UNICENP

Elisa Yoshie Ichikawa (B.Sc., M.Sc., D.Sc.)

Membro – PPA/UEM

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FICHA CATALOGRÁFICA

Boava, Diego Luiz Teixeira, 1974- Estudo sobre a dimensão ontológica do empreendedorismo. / Diego

Luiz Teixeira Boava. -- Londrina: UEL, 2006. 203p. il. Orientador: Prof. Dr. Paulo da Costa Lopes Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Estadual

de Londrina. Empreendedorismo. 2. Ontologia. 3. Fenomenologia. I.Universidade Estadual de Londrina. II.Título.

B636e

CDU- 658 CDD- 658.022

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Dedicatória

A Fernanda, menina-mulher

que sintetiza a liberdade e o amor.

6

Agradecimentos

Este trabalho não é obra individual. Como ser-no-mundo, devo sua realização aos

indivíduos que coexistiram comigo ao largo de minha vida.

A Fernanda, melhor oponente para debates intelectuais que se pode ter; inestimável.

Aos amigos de elucubrações Paulo e Elisa, que acreditaram haver possibilidades

nas divagações fenomenológicas. Verdadeiros empreendedores acadêmicos.

A turma 2004, irreverente e unida, que deu sentido à existência de cada um de seus

membros, sendo responsável por momentos felizes. O Vandre que o diga.

Ao Francisco, pessoa singular dotada de grandes valores.

Aos amigos de trabalho Perettinho, Evanil, Sturion, Márcio, Menão e outros, que

mesmo não sabendo contribuíram com o estudo.

A Cristiane, pela percepção de mundo e coragem em ser livre.

Ao Romério, Jorge e Jaime, sempre companheiros de luta.

A Dirce, que abriu portas para o futuro.

Aos elucubradores anônimos, não mencionados.

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Trinta anos é uma idade difícil (...)

A vida acaba, começa a existência.

Bay, A. Escritor francês

O homem é livre; mas ele encontra

a lei na sua própria liberdade.

Beauvoir, S. Filósofa francesa

Nunca chegamos aos pensamentos.

São eles que vêm.

Heidegger, M. Filósofo alemão

O que é ensinado em escolas e

universidades não representa educação,

mas são meios para obtê-la.

Emerson Filósofo americano

8

SUMÁRIO Lista de quadros ................................................................................................ 10

Lista de figuras .................................................................................................. 11

Resumo ............................................................................................................... 12

Abstract .............................................................................................................. 13

Introdução........................................................................................................... 14

Capítulo I – Empreendedorismo ...................................................................... 31 1.1 – Abordagens econômicas............................................................................. 41

1.2 – Abordagens comportamentais..................................................................... 45

Capítulo II – Sobre o método.............................................................................. 48

2.1 – A pesquisa nas ciências sociais................................................................... 50

2.2 – Fenomenologia............................................................................................ 57

2.3 – O método fenomenológico.......................................................................... 68

2.4 – A dinâmica do método fenomenológico...................................................... 76

Capítulo III – Etapas da investigação e apresentação dos resultados........... 77

3.1 – Formulação de uma proposição .................................................................. 78

3.2 – Determinação da “amostra”.......................................................................... 79

3.3 – Distribuição e recolhimento.......................................................................... 80

3.4 – Análise dos resultados.................................................................................. 80

3.5 – Interpretação................................................................................................. 82

3.6 – O fenômeno.................................................................................................. 83

3.7 – As unidades de sentido e significação para o investigador e

respectivas interpretações.................................................................................... 86

3.8 – Síntese das unidades de sentido modificadas............................................. 92

9

Capítulo IV – Interpretação dos resultados....................................................... 98

4.1 – Existencialismo............................................................................................. 105

4.2 – Analítica existencial...................................................................................... 110

4.3 – Interpretação dos resultados........................................................................ 112

Conclusão............................................................................................................ 118

Referências bibliográficas................................................................................. 123

Bibliografia .......................................................................................................... 138

Apêndices ............................................................................................................146

Apêndice I – Edmund Husserl...........................................................................................147

Apêndice II – Caracterização de incubadoras de empresas ............................................152

Apêndice III – A cidade de Londrina..................................................................................160 Apêndice IV – A Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da

Universidade Estadual de Londrina (INTUEL)...................................................................163

Apêndice V – Comentários gerais do investigador............................................................173

Anexos.................................................................................................................. 179 Anexo I – Estatuto Social do Consórcio GeNorP/INTUEL................................................ 180

Anexo II – Conselho Deliberativo e Equipe do Consórcio GeNorP/INTUEL.................... 196

Anexo III – Influência das idéias fenomenológicas........................................................... 198

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Distinção ôntico X ontológico................................................................ 16

Quadro 2: Possibilidades de análises filosóficas................................................... 19

Quadro 3: A dimensão subjetivo-objetivo nas ciências sociais............................. 51

Quadro 4: Características da dimensão regulação-mudança radical.................... 53

Quadro 5: Definições de empreendedorismo e empreendedor........................... 101

Quadro 6: Principais temas da pesquisa sobre empreendedorismo..................... 102

Quadro 7: Abordagens ao estudo do empreendedorismo..................................... 103

Quadro 8: Tipos de incubadora ............................................................................ 154

Quadro 9: Conceito de incubadora........................................................................ 155

11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Exemplos de abordagens do empreendedorismo................................. 37

Figura 2: Evolução paradigmática ........................................................................ 38

Figura 3: Paradigmas sociológicos....................................................................... 54

Figura 4: A consciência em Kant e Husserl........................................................... 59

Figura 5: O círculo hermenêutico.......................................................................... 64

Figura 6: Percurso metodológico.......................................................................... 81

Figura 7: Dimensões de atuação do empreendedor............................................. 108

Figura 8: Modelo tridimensional X abordagem existencial.................................... 109

Figura 9: Esquema das limitações do ser............................................................. 111

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RESUMO

BOAVA, D.LT. Estudo sobre a dimensão ontológica do empreendedorismo. Londrina, 2006. 203p. Dissertação (mestrado em administração), UEL – Universidade Estadual de Londrina.

No mundo contemporâneo, o estudo do empreendedorismo adquire grande destaque, posto que é um fenômeno capaz de provocar profundas transformações sociais, políticas, culturais, econômicas e psicológicas. Permeando esse contexto, existe a necessidade de abordá-lo com uma perspectiva distinta das que habitualmente são empregadas. Nesta investigação, fazendo-se uso do método fenomenológico e da fenomenologia, busca-se esclarecer a essência do empreendedorismo, a partir do estudo sobre sua dimensão ontológica. Tal elucubração se justifica na medida em que pode gerar resultados capazes de contribuir para uma nova forma de compreensão do empreendedorismo e do ser que empreende, por parte da Academia e da sociedade. Além disso, seus resultados podem ser utilizados como subsídios para estudos vindouros acerca da temática, considerando seu caráter propedêutico e deflagrador de novas abordagens. Assim, partindo-se de uma reflexão filosófica, procura-se aproximar filosofia e administração, na tentativa de aprofundar o conhecimento sobre assunto. A Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina foi escolhida como locus privilegiado para as investigações, sendo que os relatos de cinco empresários incubados serviram de subsídio para as análises.

Palavras-chave: Empreendedorismo; empreendedor; fenomenologia; ontologia; liberdade.

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ABSTRACT

BOAVA, D.LT. Study about the ontological dimension of the entrepreneurship. Londrina, 2006. 203p. Dissertation (master's degree in administration), UEL - State University of Londrina.

At the present world, the study of the entrepreneurship acquires a big projection, as it´s a phenomenon able to provoke deep social, political, cultural, economical, and psychological transformations. Permeating this context, there is the need to approach it with a different perspective of the ones that are habitually employed. In this investigation, making use of the phenomenological method and of the phenomenology, we try to clarify the essence of the entrepreneurship, from the study of its ontological dimension. Such a lucubration is justified in the measure that it can generate results capable to contribute to a new way of understanding of the entrepreneurship and of the being that entrepreneur, by the Academy and society´s part. Besides this, its results can be used as subsidies to still to come studies about the thematic, considering its propaedeutic character and starter of new views. So, departing from a phylosofical reflection, it is searched to approach physolophy and administration, attempting to deepen the knowledge aboout the subject. The International Incubator of Enterprises of Technological Basis of the State University of Londrina was chosen as a priviledged locus to the investigations, being that the reports of five incubated entrepreneurs served as subsidy to the analysis. Key-words: Entrepreneurship; entrepreneur; phenomenology; ontology; freedom.

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INTRODUÇÃO

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O homem, lançado ao mundo, é livre para fazer escolhas. O próprio ato de não

escolher já é uma escolha, que traz consigo as conseqüências de suas atitudes.

Empreender, a partir dessa perspectiva, representa uma ruptura com aquilo que

proporciona ao ser humano segurança e estabilidade.

Neste trabalho procura-se discutir aspectos relacionados a essa temática,

particularmente o empreendedorismo e o ser que empreende, a partir das reflexões

obtidas através do relato de cinco empresários participantes da Incubadora

Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de

Londrina.

Busca-se estreitar os laços da administração com a filosofia, estabelecendo uma

relação dialógica entre ambas, visando um melhor entendimento sobre a natureza

do empreendedorismo. Nesta dissertação, diversos conceitos filosóficos são

empregados no estudo da temática, com a finalidade de se proceder a uma reflexão

crítica, que traga subsídios para estudos vindouros.

Para tal, necessário se faz considerar que atualmente é comum ouvir a palavra

“empreendedorismo”. Publicam-se revistas científicas, realizam-se congressos e

seminários, discute-se o tema em jornais e revistas de grande acesso popular. Os

governos, entidades de classe e toda a sociedade voltam a atenção para o assunto.

Mas qual seu significado? O que é empreender? O que representa ser

empreendedor? Na tentativa de se responder a essas e diversas outras questões,

inúmeros estudos abordam o empreendedorismo de diferentes formas,

principalmente através de investigações econômicas, psicológicas, administrativas,

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sociológicas etc. (DRUCKER, 1987; FILION 1997a; 1999, DORNELAS, 2001,

VERSTRAETE, 2002; PAIVA JR. e CORDEIRO 2002).

Por que isso ocorre? Primeiramente, deve-se analisar que os estudos efetuados

objetivam características ônticas, ao invés de privilegiarem as ontológicas, que

trariam outra contribuição aos debates. Ao se investigar aspectos que se relacionam

ou pertencem ao ser que empreende e suas características, em detrimento de

elucidar a partir da reflexão sobre o sentido abrangente do empreendedor como

aquilo que torna possível suas múltiplas existências, os pesquisadores observam

partes da realidade.

O quadro I apresenta uma distinção do ôntico X ontológico:

ÔNTICO

ONTOLÓGICO

Relativo ou pertencente ao ser ou às suas características. Refere-se à estrutura e à essência própria de um ente, aquilo que ele é em si mesmo, sua identidade, sua diferença em face de outros entes, suas relações com outros entes. Diz respeito aos entes em sua existência própria, concreta e múltipla.

Refere-se ao estudo filosófico dos entes, à investigação dos conceitos que permitam conhecer e determinar em que consistem as modalidades ônticas, quais os métodos para o estudo de cada uma delas e quais as categorias que se aplicam. Diz respeito aos entes tomados como objetos de conhecimento

Quadro 1: Distinção ôntico X ontológico Fonte: adaptado de Chauí (2002); Heidegger (1999a)

O pesquisador que privilegia características ônticas, após longos estudos, diz: “O

empreendedor é alguém que assume riscos e inova”. Tal afirmação, baseada em

rigorosos métodos quantitativos, é inequívoca. Fundamenta-se na ciência. Já o

investigador ontológico indaga: O que é inovação? O que é sucesso ou o fracasso?

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Tais termos existem em si e por si mesmos ou são avaliações sobre as ações

humanas? O que é coragem? O que é valor?

Mas, qual a diferença entre ambos? Pode-se dizer que está no modo de ver o

fenômeno. Para os cientistas, há necessidade de se apresentar uma realidade,

conceber dúvidas sobre essa realidade e a partir disso fazer problematização

científica. Eles então recorrem a uma ou mais teorias e fazem uso de um ou mais

métodos para se responder a pergunta que efetuaram sobre o problema. É o cogito,

ergo sum de Descartes. Já a ontologia é diferente. Pesquisa a partir de outro ponto

de partida.

Chauí (2002, p. 242) pergunta:

O que estuda a ontologia? Os entes ou seres antes que sejam investigados pelas ciências, e depois que se tornaram enigmáticos para nossa vida cotidiana. Em outras palavras, os entes ou os seres antes de serem transformados em conceitos das ciências e depois que nossa experiência cotidiana sofreu o espanto, a admiração e o estranhamento de que eles sejam como nos parecem ser, ou não sejam o que nos parecem ser. A ontologia estuda as essências antes que sejam fatos da ciência explicativa e depois que se tornaram estranhas para nós.

Assim, a ontologia investiga o dado, ou o sentido do ente, seja ele da natureza que

for. Analisa as diferenças e as relações entre eles, seu modo de existir, sua origem,

sua finalidade. O que é empreender? Eis uma questão ontológica.

Chauí (2002, p. 242) observou que aqui há o resgate da velha questão filosófica: “O

que é isto que é?”, mas acrescida de nova questão: “Para quem é isto que é?”

Objetiva-se a essência das coisas, dos atos, dos valores humanos, da vida e da

morte, do infinito e do finito. A pergunta “O que é isto que é?” refere-se ao modo de

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ser dos entes naturais, artificiais, ideais e humanos; a pergunta “Para quem é isto

que é?” refere-se ao sentido ou à significação desses entes.

Danjou (2002) corrobora o privilégio ôntico conferido às pesquisas sobre

empreendedorismo, demonstrando que este é investigado a partir de diferentes

perspectivas, através de três abordagens:

a) a do contexto: condições ou efeitos da ação empreendedora, originando-se

dos campos da economia, sociologia e antropologia.

b) a do ator: o empreendedor, originando-se a partir da psicologia.

c) a da ação: o processo empreendedor, originando-se de estudos

organizacionais.

Esclarecido o privilégio que é dado às características ônticas no estudo do

empreendedorismo, é importante discutir outras possibilidades de investigações.

Para haver um avanço qualitativo nas pesquisas sobre o tema é necessário

estruturar a questão sobre o empreendedorismo a partir de uma análise filosófica

considerando suas dimensões ontológicas, axiológicas e epistemológicas, a

exemplo do que tem ocorrido nos debates sobre a questão da tecnologia

(VARGAS, 1985, 1994; GAMA, 1984, 1985, 1987; MIRANDA, 2002). Isso é

importante porque as pesquisas sobre essa questão podem servir de referência no

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estudo sobre empreendedorismo, considerando suas peculiaridades no tocante a

suas finalidades.

O quadro 2 ilustra os significados desses termos.

DIMENSÕES

ESTUDOS

Ontologia

Investiga o ser a partir de si mesmo, considerado independente de suas determinações particulares. Trata-se de reflexão a respeito do sentido abrangente do ser, como aquilo que torna possível suas múltiplas existências. A ontologia investiga o dado antes que seja fato da ciência e depois que se transforme em colocações de difícil compreensão.

Axiologia

Teorias do valor. O objeto de estudo da axiologia é a natureza dos valores e juízos valorativos. Valor é o que é precioso para o ser e que contribua para o seu crescimento. Exemplos: valores econômicos, sociais, espirituais, culturais etc. O homem é um ser cultural, que tem como fundamentação a língua, os costumes, as técnicas e os valores. A Ética e a Estética são partes constituintes da axiologia.

Epistemologia

Investiga a origem e o valor do conhecimento humano em geral (em torno de sua natureza, etapas e limites). Indaga as ciências (princípios, postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico), além dos critérios de verificação e de verdade, do valor dos sistemas científicos, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e a história.

Quadro 2: Possibilidades de análises filosóficas

Fonte: adaptado de Chauí (2002); Heidegger (1999a)

Pretende-se aqui contribuir com a dimensão ontológica sobre a questão do

empreendedorismo, de forma propedêutica.

Neste ponto, recorrer a Merleau-Ponty (1994) é fundamental. Para o autor, o ato de

refletir sobre determinado tema, por si mesmo, é capaz de elucidar dado fenômeno,

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considerando que tal reflexão parte daquilo que é dado. O “grau” dessa reflexão será

determinante para se saber o quanto se conhece o assunto. É necessário também

unir o ato de refletir ao conhecimento da história do tema e com as explicações

externas, além de se tentar recolocar as causas e o sentido do tema em uma

doutrina de existência.

E em relação aos estudos sobre empreendedorismo, isso ocorre? No limite desta

pesquisa, a resposta a esta indagação é negativa. Mas porque isso não ocorre, já

que se debate sobre o assunto há dezenas de anos?

A resposta a essa indagação é que, aparentemente, não tem havido um avanço e

um desenvolvimento de investigações sobre a doutrina de existência do

empreendedorismo e não se buscou uma análise ontológica sobre o assunto.

Assim, nesse trabalho discutir-se-á essas questões, a partir dos procedimentos a

seguir.

Problema da pesquisa

O empreendedorismo traz em si a capacidade de provocar grandes transformações

psicológicas, sociais, políticas, econômicas e culturais. Assim, estudá-lo de forma a

privilegiar características ônticas, através de abordagens racionalistas, empiristas ou

utilitaristas acarreta limitações na compreensão do fenômeno como um todo.

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O entendimento que o empreendedorismo se explica apenas a partir de

características psicológicas do empreendedor (em uma espécie de psicologismo),

ou do contexto da ação empreendedora (em uma espécie de sociologismo) ou do

processo empreendedor (em uma espécie de organilogismo) significa ater-se a

fragmentos da realidade.

O empreendedorismo não pode ser confundido com estudo do empreender, implica

um conhecimento filosófico, a partir das dimensões ontológicas, axiológicas e

epistemológicas.

Assim, significa que é possível pensar em uma filosofia do empreendedorismo,

assentada nas três dimensões mencionadas. Neste trabalho discuti-se aspectos

relacionados à ontologia, procurando contribuir para esclarecer qual a gênese do

empreendedorismo, qual seu ser, qual sua essência.

Esta pesquisa assenta-se em uma reflexão crítica sobre o tema, sendo um modo da

Academia proporcionar à sociedade contribuições de natureza filosófico-

administrativas. Assim, o assunto deve ser tratado como um “problema filosófico”.

Deste modo, o problema deste trabalho é: Qual a essência do

empreendedorismo? Pretende-se assim contribuir com o entendimento ontológico

sobre o assunto, conforme as justificativas a seguir.

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Justificativas

Justificativa teórica: Não há, até o momento, um paradigma que acolha as

diferentes discussões acadêmicas sobre empreendedorismo. Esse tema ainda não

possui uma “teoria”, nem consenso científico. Desta forma, este trabalho se justifica

pela possibilidade de se estudar o empreendedorismo e o homem que empreende a

partir de uma dimensão pouco explorada: a ontologia.

Assim, pode-se contribuir qualitativamente no entendimento desse ser humano que

tem consciência, que atribui significados a sua existência e que é “esquecido” pela

maior parte das investigações já efetuadas, de caráter econômico e comportamental

(considerando que essa denominação comportamental é utilizada no sentido de ser

assentada sobre a psicologia do sujeito e relacionar-se com sua interação social).

Ademais, este estudo poderá ser deflagrador de outros estudos transdisciplinares,

por parte de investigadores que visem aprofundar o entendimento do assunto.

Justificativa prática: Demonstrou-se que os estudos de caráter econômico e

comportamental, que são utilizados ao se refletir sobre a formulação de políticas de

planejamento para a indução da prática empreendedora no país, não produzem

consenso acadêmico ou conceitual. Assim, pretende-se com este trabalho contribuir

no debate sobre a formulação de políticas indutoras da prática empreendedora, por

meio da discussão existencial do ser que empreende. Afinal, é inegável o impacto

prático que as idéias existencialistas tiveram no último meio século, recolocando a

questão do sentido do ser sob um novo prisma.

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Objetivo Geral:

Analisar o empreendedorismo a partir de sua dimensão ontológica, visando

esclarecer sua essência e considerando sua base filosófica. Assim, contribuir-se-á

para a reflexão crítica sobre o assunto, fornecendo a possibilidade de um novo modo

de estudar o tema.

Objetivos Específicos:

a) Evidenciar os aspectos paradigmáticos do empreendedorismo e suas

implicações no âmbito ontológico;

b) Analisar a natureza do empreendedorismo, explicitando que sua realidade

une o conhecimento científico e o filosófico;

c) Investigar o empreendedorismo a partir de relatos de cinco participantes da

Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade

Estadual de Londrina.

Estruturação da dissertação

Neste trabalho há a introdução e mais quatro capítulos.

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Na introdução discutem-se aspectos relacionados ao tema da pesquisa, problema,

justificativas, objetivos. Explicita a necessidade de se efetuar uma investigação

ontológica sobre o fenômeno.

Os capítulos estão estruturados em:

Capítulo I – Empreendedorismo – faz uma caracterização de empreendedorismo.

Apresenta as abordagens economistas e comportamentais. Demonstra a

complexidade das discussões e a diversidade dos estudos.

Capítulo II – Sobre o método – discute o método empregado na investigação. Faz

também considerações sobre a pesquisa nas ciências sociais e a fenomenologia.

Capítulo III – Etapas da investigação e apresentação dos resultados – apresenta

procedimentos metodológicos utilizados e os resultados da pesquisa.

Capítulo IV – Interpretação dos resultados – traz o desenvolvimento das análises

teóricas sobre os processos relacionados ao fenômeno, com interpretação dos

resultados.

A seqüência terá a conclusão, as referências bibliográficas, a bibliografia, os

apêndices e os anexos.

O apêndice I discute a vida e obra de Edmund Husserl. No apêndice II há a

caracterização de incubadoras de empresas. O apêndice III traz a caracterização da

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cidade de Londrina. No apêndice IV discute-se a INTUEL e o apêndice V apresenta

os comentários gerais do investigador.

Já o anexo I apresenta o Estatuto Social do Consórcio GeNnorP/INTUEL. Por sua

vez o anexo II demonstra os componentes do Conselho Deliberativo e Equipe do

Consórcio GeNorP/INTUEL e o anexo III demonstra a importância do pensamento

fenomenológico no século XX.

Portanto, o que será visto neste trabalho é uma análise propedêutica, deflagradora

de novas abordagens no estudo do empreendedorismo. Busca-se contribuir para

estreitar a ligação entre a filosofia e a administração de uma forma inovadora,

procurando evitar perder o rigor metodológico que tal ação pode comportar.

Não obstante, Guerreiro Ramos, há 40 anos, no prefácio de sua obra “Administração

e contexto brasileiro” (publicado originalmente em 1966) diz que seu texto é uma

... tentativa de formular as bases preliminares de uma ciência administrativa fundada no que tenho chamado de redução sociológica... numa tentativa de delinear os rudimentos de uma sociologia especial da administração (RAMOS, 1983, p.XIII).

O que se destaca na fala do autor é que as bases preliminares da ciência

administrativa se assentam na redução sociológica, e essa é uma derivação da

chamada redução fenomenológica. Partindo dessa consideração, é válido e

pertinente estudar empreendedorismo a partir da ontologia.

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Guerreiro Ramos é influenciado pelo existencialismo de Sartre e pela sociologia de

base fenomenológica de Gurvitch. A redução sociológica assenta suas raízes neste

ponto, em uma tentativa do autor para chegar à fenomenologia alemã via os autores

franceses (SCHWARTZMAN, 1983).

Essa redução sociológica, inspirada em Husserl, Heidegger e seguidores, é

... uma atitude metódica que tem por fim descobrir os pressupostos referenciais, de natureza histórica, dos objetos e fatos da realidade social. A redução sociológica, porém, é ditada não somente pelo imperativo de conhecer, mas também pela necessidade social de uma comunidade que, na realização de seu projeto de existência histórico, tem de servir-se da experiência de outras comunidades (RAMOS, 1965, p. 45).

Ramos (1981) afirma também que a administração, e as ciências sociais que a

originam, são instrumentos para legitimação do status quo.

Isso ocorre porque as pesquisas se ocupam com o imediatismo dos resultados,

adotando uma posição ingênua e irrefletida. Para reverter tal situação é preciso

questionar as práticas e valores vigentes, por meio de uma reflexão crítica (RAMOS,

1981).

Ademais, existe a questão da utilização equivocada que a administração faz de

conceitos de outras ciências sociais. Modificando o sentido original, os

pesquisadores alteram o significado inicial, muitas vezes utilizando os conceitos de

forma inversa ao sentido inicialmente proposto (RAMOS, 1981).

27

Para finalizar, é preciso citar o texto orientador do Painel “Preparando o EnEO

2006”, realizado durante o XXIX EnANPAD, em 2005:

Há cerca de 50 anos, Guerreiro Ramos criticava a produção acadêmica nacional em um manifesto contra o que chamou de "servidão intelectual", intitulado "A Redução Sociológica". Nele, defendia uma atitude parentética que possibilitasse transcender, nos limites do possível, os condicionamentos circunstanciais que atuam contra a expressão livre e autônoma. Defendia, também, a apropriação crítica da produção estrangeira. Dessa forma, segundo ele, deveríamos produzir objetos de estudo e idéias adequados às nossas exigências históricas, considerando as particularidades constitutivas de nossa formação social, do nosso espaço e tempo... Sem fazer uma exaltação romântica do local, regional ou nacional, Guerreiro Ramos propunha aos cientistas brasileiros uma posição de compromisso consciente, apropriando-se do seu contexto e apropriada ao seu contexto. Nesse sentido, contrapunha a ciência como hábito, no sentido usado pelos escolásticos - como aptidão inata ou adquirida pelo treinamento, à ciência como ato - como produção fundamentada na consciência crítica dos fatores que a influenciam (ANPAD, 2006).

Conforme analisado, a administração é indissociável da filosofia. As contribuições

que estudos filosóficos podem oferecer extrapolam a esfera das possibilidades e

podem se tornar realidade. A questão é que a filosofia pode concretamente modificar

o entendimento da realidade humana.

Bittar e Almeida (2001, p. 24-25) ilustram essa assertiva discutindo alguns tipos de

filosofia:

Filosofias científicas: determinam o percurso intelectual da humanidade.

Exemplificam com a lógica formal e analítica de Aristóteles.

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Filosofias abstratas: determinam os destinos da própria ciência e da filosofia após

intervenção no meio científico. Exemplificam com a questão da modernidade sem os

pensamentos de Kant.

Filosofias radicais: de cunho político e crítica social, são produtoras dos maiores

reflexos sobre a sociedade e as estruturas de poder. Exemplificam com Marx e

Engels.

Filosofias espirituais: formam um conjunto de prescrições que conduzem a

sociedade. Exemplificam com Gandhi e a não violência.

Logo, se observa o impacto dos estudos filosóficos. O que Guerreiro Ramos fez no

estudo da administração foi transpor a filosofia para a criação de uma sociologia

administrativa.

Não obstante, em relação à utilização da fenomenologia em estudos

organizacionais, pode-se observar que as investigações são realizadas há muitos

anos e diversos estudos abordam tal temática.

Burrel e Morgan (1979) fazem uma análise sobre a epistemologia e metodologia nos

estudos organizacionais. Para os autores, todas as teorias no campo se baseiam em

uma filosofia da ciência e em uma teoria da sociedade. Especificamente sobre a

fenomenologia, apresentam a questão da redução em Husserl, a intencionalidade da

consciência e outros temas. No capítulo II desta dissertação as idéias desses

autores serão aprofundadas.

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No artigo clássico “Phenomenology: a new way of viewing organizational research”,

Sanders (1982) discorre sobre a dificuldade em encontrar estudos fenomenológicos

na pesquisa em administração. Apresenta e discute aspectos da fenomenologia e

também um modelo de pesquisa específica para a área, além de tecer considerações

sobre a questão paradigmática da ciência e suas relações com o tema.

Moreira (2002b) observa que há um incremento na utilização do método

fenomenológico nas pesquisas em administração, mas os pesquisadores não sabem

definir exatamente o que seja fenomenologia. Discute ainda a dificuldade de

transpor um método filosófico para a pesquisa empírica e as adaptações

necessárias para que isso ocorra, além de apresentar possíveis variantes que

podem ser utilizadas na pesquisa em administração.

Por sua vez, Gil (2003) busca analisar a aplicabilidade do método fenomenológico

na pesquisa em administração. Utiliza Husserl para discutir conceitos

fenomenológicos e observa que muitas pesquisas chamadas fenomenológicas não

podem ser assim definidas, devido a imprecisões metodológicas dos pesquisadores.

Acredita ainda que o método fenomenológico é uma promessa para a pesquisa em

administração, e que o interesse de muitos pesquisadores pelo método advém da

preferência por pesquisas qualitativas, não pelo reconhecimento de seu alcance

metodológico e epistemológico.

Gibson e Hanes (2003) revêem o estado atual da pesquisa fenomenológica em

recursos humanos e propõem uma agenda para pesquisas futuras no campo.

Apresentam a fenomenologia como uma metodologia interpretava para a pesquisa

30

na área, sendo essencial para possibilitar uma compreensão mais completa da

natureza holística e da complexidade de experiências que são relevantes à prática

desse ramo da administração.

Thiry-Cherques (2004), afirma que os métodos de raiz fenomenológica são

convenientes à ciência da gestão. Partindo da fenomenologia de Husserl, o autor

apresenta seus principais conceitos e faz diversas considerações sobre o

movimento fenomenológico, discorrendo sobre um programa para aplicação às

pesquisas em administração do método fenomenológico.

Vergara e Carvalho (2004) analisam que a compreensão das experiências

interativas e das vivências essenciais dos consumidores com os ambientes físicos

de serviços não é possível por procedimentos metodológicos convencionais e

apresentam argumentos, procedimentos e formas pelas quais a fenomenologia pode

ser uma opção metodológica adequada para a pesquisa nesses ambientes.

Ehrich (2005) faz considerações sobre a transposição da filosofia fenomenológica

para a pesquisa empírica fenomenológica. Apresenta e discute as idéias do

fundador da fenomenologia, Husserl e afirma que tal metodologia tem muito a

oferecer à administração.

Como visto, a filosofia pode efetivamente contribuir com a administração,

especialmente através da fenomenologia. Assim, o que se pretende neste trabalho é

contribuir para estreitar a ligação entre ambas, através do estudo ontológico do

empreendedorismo.

31

CAPÍTULO I

EMPREENDEDORISMO

32

Para iniciar este estudo é importante compreender o que significa

empreendedorismo, pois assim há a possibilidade de entendimento de sua essência.

Mas, o que é empreendedorismo? Esta é uma questão intrincada, que até o

momento parece não ter sido esclarecida por completo. Um dos motivos relaciona-

se com a etimologia complexa do termo, que é responsável pela confusão aparente

em relação ao assunto. As definições de empreendedorismo e empreendedor têm

evoluído, ao longo do tempo, de diferentes formas e de modos distintos

(GALLOWAY e WILSON, 2003, p. 04).

Destarte, atendo-se ao princípio fenomenológico de “ir às coisas mesmas”, efetuar-

se-á neste momento um esclarecimento etimológico, semântico e morfológico dos

termos, mesmo assim em caráter provisório.

A origem dos termos empreendedorismo, empreendedor e empreender vêm da

palavra francesa entrepreneur, com origem no latim.

E o que é entrepreneur? Para responder a essa questão, recorrer-se-á aos trabalhos

desenvolvidos pelo Laboratório de Análise e Tratamento Informático da Língua

Francesa, mantido pelo conhecido CNRS – Centro Nacional de Pesquisa Científica e

pela Universidade de Nancy, na França.

Segundo o Laboratório (ATILF, 2006 a), entrepreneur origina-se entre os anos de

1253 e 1289, pelo termo entreprendeeurs, significando “aquele que se encarrega e

que faz alguma construção ou outra coisa”, derivando do particípio presente de

entreprendre. Há basicamente os seguintes sentidos:

33

1.) Aquele que empreende, que organiza;

2.) Pessoa que compromete capitais e utiliza mão-de-obra assalariada para uma

produção determinada;

Acepção utilizada por Say (1767-1832):

Outro aproveita destes conhecimentos para criar produtos úteis. É o agricultor, o fabricante ou o comerciante ou, para designá-lo por uma denominação comum a ambos, é o entrepreneur [ empreendedor ] de indústria, o que empreende em criar por sua conta e riscos, o seu lucro, um produto qualquer (SAY, 1803, 2002, p. 60).

3.) Pessoa que fornece a um terceiro, e notadamente a coletividade pública ou o

Estado, um produto determinado, um serviço;

4.) Industrial tomando a responsabilidade da execução de operações relativas à construção.

Entreprendre, por seu turno, é derivado de entre e de prendre. Um primeiro

significado é “atacar” e origina-se em 1140. Outra acepção é “interpelar, acusar”

(originado em 1174-76). Na seqüência cronológica, em 1176-81, aparece o

significado que Say e Cantillon utilizaram em suas elucubrações para consagrar a

palavra: “começar (algo), levar a efeito, em pôr-se a executar”. A origem do termo é

o latim imprehendere (ATILF, 2006 b).

E em português? Segundo o filólogo e lexicógrafo Antonio Houaiss, empreendedor

significa “que, ou aquele que empreende”, surgindo de empreendido + -or com a

retomada da vogal temática –e. Surge em 1563. Empreender, por sua vez, significa:

34

a) pessoa decidir realizar (tarefa difícil e trabalhosa); tentar; b) pôr em execução;

realizar. A origem do termo é o latim imprehendo ou impraehendo e significa 'tentar

executar uma tarefa, com origem em 1619 (HOUAISS, 2001, p. 1128).

Não há registros de empreendedorismo nos dicionários de Houaiss (2001) [que

possui ≈ 228.000 verbetes]; Bueno (1992) [que possui ≈ 80.000 verbetes]; Ferreira (1999)

[que possui ≈ 160.000 verbetes]; Michaelis (1998) [que possui ≈ 200.000 verbetes];

Priberam (2006) [que possui ≈ 95.000 verbetes]. Isso evidencia o quão recente é o

termo. Devido a essa ausência, proceder-se-á uma demonstração do que seja

empreendedorismo, no sentido de alcançar, por intermédio da evidência, uma

explicação, que não se manifesta à primeira vista.

Empreendedorismo é composto de empreendedor + ismo. Empreendedor é

aquele que empreende. O sufixo ismo, em formas atuais, é utilizado para designar

movimentos sociais, ideológicos, políticos, opinativos, religiosos e personativos.

Trata-se da tomada de um partido, uma posição, um sistema, uma filosofia, uma

circunstância (exemplo: heideggerianismo, nazismo, idealismo, comunismo). Deve-

se observar também o contexto histórico em que surge. No caso do

empreendedorismo, séculos XVIII e XIX na Europa. Cantillon (1680-1734) foi um dos

precursores do empreendedorismo e este acreditava que o empreendedor era uma

pessoa que adquiria matéria-prima, processava de algum modo e revendia com um

preço incerto posteriormente. Caso lucrasse de uma forma não prevista, inovara. Ele

introduzira o conceito de capitalista de risco, associando com a figura do

empreendedor. Para isso, utilizou o termo em francês. Nesta época, a revolução

industrial ocorria. Então, os ingleses e americanos não ficaram indiferentes com o

35

que acontecia na França em relação à utilização dessas palavras com suas

características polissêmicas, principalmente devido aos estudos desenvolvidos na

esfera econômica.

O galicismo entrepreneur foi de tal forma vigoroso que incorporou-se ipsis litteris ao

vocabulário inglês, para designar empreendedor. O primeiro registro conhecido do

termo foi 1475, designando alguém que se responsabiliza por algo, um gerente, um

controlador ou campeão em batalhas. A palavra possui conotações de coragem e

liderança. Em 1828, surge o significado de “alguém que dirige ou administra

entretenimentos musicais”. Modernamente significa, entre outras coisas, alguém que

se responsabiliza por um negócio; uma pessoa que possua e/ou administre um

negócio, assumindo o risco de lucrar ou perder. Por sua vez, em 1934 surge o termo

entrepreneurship, para qualificar a atividade de organizar, de controlar, e de supor

os riscos de uma empresa ou negócio (OED, 2006).

E foi essa palavra (entrepreneurship) a traduzida para o português como sendo

empreendedorismo. Um anglicismo, portanto.

Após esclarecer as origens dos termos, foi possível compreender as formas pelas

quais Cantillon e Say puderam estabelecer as bases do sentido que nos dias atuais

esses termos possuem.

Pois bem, discorrer sobre aspectos semânticos, de forma diacrônica, fez vir à tona que

a construção da palavra empreendedorismo foi tortuosa. Seguindo esse fio condutor,

efetuar-se-á agora uma análise histórica sobre a temática, até os dias atuais.

36

Joseph Schumpeter (1883 - 1950), economista austríaco radicado nos Estados

Unidos, foi o primeiro teórico a observar e destacar a importância do empreendedor

na economia, afirmando ser este o “motor da economia capitalista”. Acredita o autor

que empreendedorismo e inovação atuam em simbiose. O empreendedor promove a

“destruição criativa”, um processo que introduz o novo e gera desenvolvimento e

riqueza para uma nação, sendo um impulso fundamental que aciona e mantém em

marcha o motor da economia capitalista, criando novos produtos, novos modos de

produção, novos mercados (SCHUMPETER, 1982).

Desde Schumpeter o estudo científico sobre a questão apresenta avanços, estruturando-

se basicamente em duas abordagens: as econômicas e as comportamentais.

Antes, porém, de proceder a verificação dessas correntes, mister se faz introduzir a

idéia de inter, multi e transdisciplinaridade que encerra o empreendedorismo.

Mas, o que significa isso? Quando se diz que o empreendedorismo é

interdisciplinar, pretende-se demonstrar que há o estabelecimento de relações

entre a área e outros ramos de conhecimento; sendo sua esfera de atuação comum

a duas ou mais disciplinas. Multidisciplinar, revela que a área contém, envolve e

distribui-se por várias disciplinas e pesquisas. Transdisciplinar, indica que o

empreendedorismo busca fora e além de si mesmo respostas a suas indagações,

fazendo emergir dados que proporcionam uma nova visão de sua natureza e

realidade. Seria uma espécie de metaempreendedorismo, assentado sobre bases

metafísicas (no sentido de estar voltado para uma compreensão ontológica da

realidade) e teleológicas (no sentido de atingir metas, fins ou objetivos últimos,

37

considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização

e transformações decorrentes da ação empreendedora).

Figura 1: Exemplos de abordagens do empreendedorismo

Fonte: sistematizado pelo autor

Devido a essa característica singular da área de estudos “empreendedorismo”, há

dificuldades em proceder uma adequada caracterização do termo. Isso ocorre em

função de quais fatores? Não há consenso acadêmico, não há um paradigma?

Inicialmente, é importante destacar que há tantas definições de empreendedorismo

quanto autores que tratam do tema. Cada estado, cada país tem sua definição.

Destaca-se também a relativa incapacidade de se definir o objeto de estudo foco do

empreendedorismo: é a inovação? É o empreendedor? É o risco? O que será? No

momento em que investigações de cunho epistemológico forem aprofundadas, estas

respostas serão dadas.

Husserl (1990, p. 47), analisando a questão da interdisciplinaridade, faz um alerta:

Na esfera natural da investigação, uma ciência pode, sem mais, edificar-se sobre outra e uma pode servir à outra de modelo metódico, se bem que só em certa medida, determinada e definida pela natureza do respectivo campo de investigação.

ECONOMIA

PSICOLOGIA

38

Mas, para fins deste trabalho, para ajudar na compreensão do fenômeno e para

discorrer posteriormente sobre aspectos ontológicos, proceder-se-á o

estabelecimento da noção que o empreendedorismo está em uma fase pré-

paradigmática.

A discussão de paradigmas em empreendedorismo é uma tarefa complexa,

considerando ser o fenômeno recente e parte integrante de diversos ramos do

saber, principalmente a economia, a administração e a psicologia, além do fato de

apresentar sua epistemologia em construção. Nesse sentido, é necessário analisar

e compreender alguns conceitos e ponderações.

O chamado paradigma foi estabelecido por Kuhn (2001). Tal autor apresenta

conceitos inovadores relacionados à filosofia da ciência, destacando-se os

aspectos histórico-sociológicos no trato da prática científica, em detrimento dos

aspectos lógico-metodológicos que são encontrados nos trabalhos de Popper

(1993), ou do anarquismo metodológico de Feyerabend (1989).

Para Kuhn (2001), as verdades científicas e a evolução da ciência se processam assim:

Figura 2: Evolução paradigmática Fonte: adaptado de Kuhn (2001)

39

Nessa visão, entende-se por:

Pré-paradigma

A atividade de busca do conhecimento, para resolver determinado problema antes

da formação de paradigma, caracterizando-se por desorganização, segmentação,

teorias em permanente confronto e inexistência de um conjunto de métodos ou

princípios pré-estabelecidos.

Paradigma

Conjunto de princípios ou matriz teórica disciplinar que, uma vez aceito pela maioria

da comunidade científica, estabelece padrões, orienta e determina a atividade

científica ou do conhecimento humano num determinado período, à medida que é

aceito pela maioria dos pesquisadores. Apresenta como principais características

ser consensual, provisório e temporário, além de depender do contexto histórico e

fornecer respostas para as questões dos cientistas de maneira imediata.

Ciência normal

A atividade científica propriamente dita que se realiza no interior de um paradigma

previamente determinado, seguindo suas regras e seus padrões já estabelecidos. É

governada por um único paradigma, além de ser dogmática (fornece respostas sem

questionar seu ponto de partida, que é o próprio paradigma). Pode-se dizer ainda

40

que seja uniforme, padronizada, típica do método demonstrativo e entra em crise

junto com o paradigma quando este apresenta anomalias.

Ciência em crise

A atividade científica própria do período em que o paradigma previamente instalado

não mais fornece respostas satisfatórias e soluções para os questionamentos e

problemas que lhe são impostos.

Revolução científica

A substituição de um paradigma por outro.

Diante do exposto é possível afirmar que o empreendedorismo encontra-se em uma

fase de busca pelo conhecimento (pré-paradigmática), situação em que os teóricos

buscam captar os sentidos do fenômeno a partir de suas próprias visões, deixando

de elucubrar a partir do próprio fenômeno.

Corroborando esse entendimento e para um esclarecimento mais aprofundado

dessa temática, recorrer aos trabalhos de Busenitz et al. (2003); Déry e Toulouse

(1996) e Lavarde (2004) é fundamental.

Busenitz et al. (2003) demonstram que há possibilidades de novas perspectivas de

investigação no campo de empreendedorismo, pois as pesquisas já efetuadas

obtiveram um progresso limitado em busca de consolidar o empreendedorismo

41

como disciplina de conhecimento. Os autores efetuaram seu estudo a partir de

análises de artigos publicados em periódicos.

Déry e Toulouse (1996) afirmam que o campo de estudos empreendedorismo não

possui ainda um paradigma, não havendo consenso teórico, face a sua estruturação ser

baseada em diversas ciências humanas e gerenciais. Ademais, a variedade de

definições do que seja empreendedorismo, o grande número de conceitos e a pequena

convergência entre os estudos já efetuados demonstram a diversidade do ramo.

Por sua vez, Lavarde (2004) acredita que o empreendedorismo se encontra em uma

etapa de falta de maturidade científica, necessitando reconhecer a importância das

dimensões temporais e sociais nas investigações. Assim, com esta compreensão

cada pesquisador poderá escolher suas áreas de interesse reconhecendo suas

potencialidades.

Com a constatação da fase epistemológica que o empreendedorismo está situado, é

possível, finalmente, estudar os dois grupos de abordagens mais importantes sobre o

assunto. Danjou (2002) esclarece que uma das formas de se compreender esse fenômeno é

conhecer o que se investiga entre as diversas áreas de pesquisa, como será visto a seguir.

1.1 – Abordagens econômicas

A origem de todas as afirmações sobre empreendedorismo é advinda da economia,

como já foi verificado anteriormente. Será demonstrado a seguir como o

pensamento econômico em relação ao tema evoluiu até os dias atuais.

42

Cantillon (1755, 2003, p. 30-33), em sua obra “Essai sur la nature du commerce en

général”, utilizou o termo entrepreneur para designar o empresário que corre riscos

em função de sua atividade, seja o produtor, o atravessador ou o comerciante. É o

empreendedor que compra a matéria-prima a um preço determinado e vende o

produto a um preço incerto.

Em Smith (1776, 1985), no tratado “Riqueza das nações”, pode-se inferir que o

empreendedor tem como finalidade produzir dinheiro, sendo um proprietário

capitalista, um fornecedor de capital, concomitantemente um administrador situado

entre o trabalhador e o consumidor.

Say (1803, 2002, p. 60) em seu livro “Traité d’économie politique” acreditava que o

empreendedor é um ser dotado de características ligadas à inovação. Estudioso de

Smith, levou as idéias desse autor para a França.

Ademais, observou a inexistência do termo empreendedor no léxico inglês:

Os ingleses não têm palavra para designar o empreendedor de indústria; o que os impede, talvez, de distinguir nas operações industriais o serviço que presta o capital, do serviço que presta, pela sua capacidade e seu talento, o que emprega o capital... A língua italiana, muito mais rica a esse respeito, tem quatro palavras para designar o que entendemos por um empreendedor de indústria: imprenditore, impresario, intraprenditore, intraprensore (1803, 2002, p. 60).

Schumpeter (1982) [primeira edição em alemão em 1912 e em inglês em 1934]

assenta as bases de seu raciocínio na inovação. Visa ir além da mera história da

economia e de especulações teóricas abstratas. Para tal, utilizou do chamado fluxo

43

circular de produção. Intenta relacionar desenvolvimento econômico com câmbios

endógenos e intermitentes na produção de bens e serviços.

Esse fluxo circular é uma teoria econômica do equilíbrio geral. Em outros termos,

analisa a questão da produção ser uma atividade contínua, sendo que os agentes

econômicos repetem e fazem previsões acerca de sua produção e vendas. É uma

teoria estática que não contempla cismos e rupturas. A teoria de Schumpeter, ao

contrário, prevê a mudança, através de inovação, principalmente, por meio da

“destruição criativa”, induzida pelo empreendedor, primeiramente pela introdução de

um novo bem ou de uma nova qualidade de bem. Em seguida a introdução de um

novo modelo de produção, ou seja, um método ainda não verificado pela experiência

naquele ramo produtivo em que tal introdução é realizada e que não decorre

necessariamente de qualquer descoberta científica, mas que pode simplesmente

consistir em um novo método de tratar comercialmente uma mercadoria. Na

seqüência, a abertura de um novo mercado. Posteriormente, a conquista de uma

nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semimanufaturados, mais uma

vez independente do fato de que essa fonte já exista ou tenha que ser criada.

Finalmente, a fundação de uma nova empresa de qualquer indústria, como a criação ou

a ruptura de uma posição de monopólio. Destaca-se que o autor demonstrou o quão

importante é o papel do empreendedor e inovação dentro da economia moderna.

Verificou-se que a inovação está ligada ao empreendedorismo. Mas o que é inovar?

O que é inovação?

44

A polissemia desses termos existe, mas é menor que em outros vocábulos

analisados. Destarte, convém recorrer a origem latina da palavra inovação, que

corresponde a innovatìo, significando renovação. Modernamente, os sentidos são:

a) ação ou efeito de inovar; b) aquilo que é novo, coisa nova, novidade. Registrado

pela primeira vez na língua portuguesa no século XIV (HOUAISS, 2001, p. 1622).

Já em francês o primeiro registro foi em 1297, a partir de innovacion, que tinha o

sentido de "transformação de uma antiga obrigação por substituição de um novo

débito ao antigo". Desde aquela época o vocábulo foi sofrendo alterações. Em 1559

surge o termo innovation, significando “fazer inovações no estado da coisa pública”.

A etimologia também é o latim innovatio, com o significado de "mudança, renovação,

inovação". Modernamente os sentidos são a) ação, fazer inovação; b) resultado

dessa ação, introdução de uma coisa nova (ATILF, 2006 c).

Finalmente, em inglês inovação corresponde igualmente ao termo francês: innovation. O

primeiro registro foi em 1597 “fazer mudanças em algo estabelecido”; depois, “introduzir

novidade” e, em 1818, “tornar algo novo” e “renovar”. Origem latim (OED, 2006).

Como visto, inovação já existia desde o século XIII, não sendo uma criação atual. O

que Say (1803, 2002) e Schumpeter (1982) fizeram foi renovar (a tautologia aqui é

necessária) a idéia e aplicá-la na economia, com estudos sobre o empreendedor.

Knight (1921, 2006) afirma que o empreendedor possui capacidade de prever e lidar

com as incertezas e riscos de forma diversa dos outros seres humanos, quando da

implantação de ações no âmbito empresarial. Argumenta que as situações são

previsíveis, não havendo espaço para o lucro, que surge em momentos de incerteza.

45

Casson (1982) acredita que os economistas clássicos retiram o papel do

empreendedor na geração de lucro, sendo este um ser especializado em tomar

decisões a administrar com recursos escassos. O que o autor fez foi tentar unir o

empreendedor com o desenvolvimento econômico.

1.2 – Abordagens comportamentais

Com a observação que a “naturalização” do fenômeno empreendedorismo não o

explicava por completo, surgem os teóricos da abordagem comportamental

(psicólogos, sociólogos etc.) que se contrapuseram a muitos economistas que

consideravam o homem como uma espécie de engrenagem na dinâmica econômica.

Destaca-se que a denominação comportamental, para fins deste trabalho, é utilizada

no sentido de ser assentada sobre a psicologia do sujeito e relacionar-se com sua

interação social.

Weber (2004) [publicado originalmente em alemão em 1904] identificou o sistema de

valores como componente essencial para a explicação do comportamento

empreendedor. O motivador para quem se estabelecia por conta própria era a

religião e/ou o trabalho ético protestante. O autor acredita que os empreendedores

sejam inovadores e independentes, e que com o cumprimento de seu papel de

liderança nos negócios desempenham uma fonte de autoridade formal.

McClelland (1961) pretende por meios quantitativos isolar fatores psicológicos e

culturais do empreendedor, demonstrando que tais fatores são importantes para o

desenvolvimento econômico. O motivo para tal elucubração foi descobrir como se dá

46

a ascensão e queda dos impérios e civilizações. Em “The achieving society”, o autor

se propugnou a estabelecer um paralelo entre o progresso econômico e a

necessidade de realização.

Collins e Moore (1964) constataram que o ato de empreender é uma ação imitada

dos modelos copiados da infância. A partir de uma perspectiva psicanalítica os

autores verificaram a necessidade de autonomia, independência e autoconfiança por

parte dos empreendedores. O que os motiva são conflitos não resolvidos, além de

terem vivido rupturas. Eventos dramáticos em suas vidas também são significativos.

Drucker (1987) afirma que o empreendedor busca a mudança, cria algo novo, sendo

inovador e transformando valores. Consegue ainda viver com as incertezas e riscos

que um negócio comporta. Ademais, o empreendedor sabe aproveitar as

oportunidades, que não é necessariamente vista por outras pessoas.

Ray (1993) acredita que a personalidade do empreendedor é preponderante na

obtenção de sucesso, pois é ela que ajudará na formação da cultura e valores da

empresa. Observa ainda que não existe uma personalidade que possua

características tais que sejam condição de sucesso. Para o autor, há espaço para o

porvir de uma ciência que lide com esses assuntos.

Já Timmons (1989) diz que o fator primordial para alguém ser empreendedor é sua

capacidade de empreender. Os comportamentos necessários para tal são: a)

responder de forma proativa a desafios e aprender com os erros; b) ter iniciativa; c)

ter perseverança e determinação.

47

Filion (1991) apresenta a chamada teoria visionária, a partir de uma abordagem

sistêmica, na qual esferas de vida do empreendedor se interagem e se influenciam

mutuamente – familiar, espiritual, empreendedora etc. Este conjunto é designado de

sistema ecológico de vida, estabelecendo as referências e a formas de agir.

Dolabela (1999) utiliza aspectos ligados ao sonho para apresentar sua

argumentação. A visão é este sonho em ação. Assim, qualquer pessoa pode

empreender, desde que tenha capacidade de sonhar e tenha motivação para

transformar em realidade seus desejos.

Paiva Júnior (2004) analisa o empreendedorismo na ação de empreender, a partir da

fenomenologia sociológica de Schütz. O fenômeno empreendedor é compreendido sob a

ótica de dirigentes de empresas de base tecnológica. O pensamento e a ação

empreendedora são fundados em seis categorias: a imaginação social, cultura,

identidade, relações de poder, expertise e a interação social.

Os estudos econômicos e comportamentais analisados anteriormente são importantes

para se compreender o empreendedorismo em função de sua complexidade. Além disso,

fornecem subsídios para a investigação ontológica em curso, face à explicitação do

caráter ôntico encontrado nos mesmos.

Ademais, verificado o que se estuda sobre o assunto, é possível agora discutir sobre o

método empregado na investigação, como será visto a seguir.

48

CAPÍTULO II

SOBRE O MÉTODO

49

Nesta investigação utiliza-se como método geral o fenomenológico, baseado em

Husserl, Heidegger e seguidores. Por excelência é a via de acesso ideal para a

compreensão do fenômeno, independente do fenômeno em si (por isso a ênfase em

explicitar seus conceitos, que será conferida posteriormente). Assim, o importante

em uma investigação desse tipo não é a concepção que o investigador tenha sobre

empreendedorismo, mas sim a manifestação desses fenômenos.

Tal método será utilizado na investigação, considerando que

...as realidades, em transformações, cuja natureza e estrutura peculiar só podem ser captadas desde o marco de referência interno do sujeito que as vive e experimenta, exigem ser estudadas através do método fenomenológico. Neste caso, não se está estudando uma realidade objetiva e externa (como ordinariamente se qualifica), igual para todos, senão uma realidade cuja essência depende do modo como é vivida e percebida pelo sujeito, uma realidade interna e pessoal, única e própria de cada ser humano (MARTINEZ, 2004, p. 137).

Fazendo uso de uma metodologia que procura “exprimir aquilo que é dado

diretamente na consciência”, no dizer de Husserl (1900-1901), recopilar-se-á

depoimentos vários de cinco empresários incubados, sintetizando informações que

possam revelar percepções, derivando delas essências, e a partir daí extrair sua

natureza; perspectivas, sempre dentro da ótica dos próprios empresários.

Destaca-se que o métódo fenomenológico não é hermético, enclausurado em si

mesmo. Trata-se de um método de investigação aberto a novas possibilidades de

apreensão da realidade, a partir daquilo que é dado. Isso significa que ele encerra a

proposta de ser livre de pressuposições no momento da investigação.

50

Assim, não há “um” único método, ou mesmo “o” método fenomenológico. O que há

são possibilidades. Ao longo do tempo os pesquisadores construíram diversas

variantes metodológicas, todas com o intuito de de captar a realidade. Neste ponto,

o círculo hermenêutico interpretação – compreensão – nova interpretação é de

grande valia.

Masini (1997, p. 62) observou, em relação a essa questão, que o que existe é

... uma atitude de abertura do ser humano para compreender o que se mostra (abertura no sentido de estar livre para perceber o que se mostra e não preso a conceitos ou predefinições). Estamos livres quando sabemos de nossos valores, conceitos e preconceitos e podemos ver o que se mostra cuidando das possíveis distorções.

Para principiar a discussão sobre o método fenomenológico deve-se, primeiramente,

contextualizar o debate epistemológico sobre as pesquisas no campo da

administração. Na introdução desta dissertação observou-se que a Academia tem

procurado efetuar investigações utilizando a fenomenologia como forma de

aprofundar os estudos na área. Portanto, a seguir discorrer-se-á sobre essa

temática.

2.1 – A pesquisa nas ciências sociais

Burrell e Morgan (1979) têm um livro clássico sobre epistemologia e metodologia

nos estudos organizacionais e defendem a idéia de que todas as teorias se baseiam

em uma filosofia da ciência e em uma teoria da sociedade.

51

Segundo esses autores, o conceito de ciências sociais deve ser definido segundo

quatro conjuntos dimensionais, cada qual tendo extremos que representam

conceitos filosóficos opostos, segundo o quadro abaixo: Ontologia (nominalismo,

realismo), refere-se à essência do fenômeno do ser; Epistemologia (antipositivismo,

positivismo), concernente às bases do conhecimento; Natureza humana

(voluntarismo, determinismo), refere-se à relação entre o homem e o ambiente;

Metodologia (ideográfica, nomotética), surge das implicações das dimensões

anteriores (BURRELL e MORGAN, 1979).

Ciência Social Subjetiva Ciência Social ObjetivaNominalismo ontologia Realismo

Antipositivismo epistemologia Positivismo Voluntarismo natureza humana Determinismo Ideográfica metodologia Nomotética

Quadro 3: A dimensão subjetivo-objetivo nas ciências sociais Fonte: Burrell e Morgan (1979, p.3)

O realismo considera que o mundo social existe “ali fora”, à margem da apreciação

individual e é tão concreto como o mundo físico. O nominalismo, ao contrário,

considera que o mundo social externo à cognição individual está composto por

nomes, conceitos e etiquetas que servem como ferramentas para descrever,

interpretar e gerir o mundo externo.

O positivismo intenta explicar e predizer os acontecimentos sociais mediante a

investigação das regularidades e a determinação das relações causais. O

crescimento do conhecimento se dá como um processo essencialmente

acumulativo, em que se inclui nova informação ao conjunto de conhecimentos já

existentes, e em que se eliminam as hipóteses falsas. O antipositivismo, pelo

contrário, considera que o mundo social é essencialmente relativista, compreensível

52

somente através do ponto de vista dos indivíduos diretamente implicados nas

atividades que são investigadas.

O determinismo considera que os seres humanos respondem de uma maneira

mecânica ou inclusive determinista ante as situações com as quais se encontram em

seu mundo externo. O voluntarismo representa os seres humanos com um papel

mais criativo. Assume-se o livre arbítrio, a autonomia, e considera que os seres

humanos são capazes de criar seus próprios ambientes e de controlá-los, em vez de

ser controlados por eles.

Adotam-se metodologias nomotéticas por parte daqueles cientistas sociais que

tratam o mundo social como se fosse uma realidade objetiva e externa. Buscam-se

leis universais que expliquem e governem a realidade social, concreta e objetiva,

cuja existência se supõe. As metodologias ideográficas são adotadas por aqueles

que assumem a importância da experiência subjetiva dos indivíduos no processo de

construir os mundos sociais. Sua preocupação é compreender as formas com as

quais os indivíduos constroem, modificam e interpretam o mundo social no qual se

encontram.

A teoria de sociedade resgata o debate “ordem-conflito”, procurando explicar a

natureza da ordem social e do equilíbrio, de um lado e, por outro, entender os

problemas mais conexos com as questões de mudança, conflito e coerção nas

estruturas sociais. “Ordem” e “conflito” passam a constituir duas teorias de

sociedade, assim constituídas: a) teoria social que enfatiza a ordem e o

integracionismo, através da valorização da estabilidade, da integração, da

53

coordenação funcional, do consenso; b) teoria social que focaliza o conflito e a

coerção, por meio da mudança, da desintegração e da coerção (BURRELL e

MORGAN, 1979). Os autores chamam a atenção para o fato de que a realidade se

posiciona em algum ponto entre os extremos opostos do continuum ordem-conflito.

Regulação Mudança radical status quo mudança radical

ordem social conflito estrutural consenso modos de dominação

integração social e coesão contradição solidariedade emancipação

satisfação de necessidade privação realidade potencialidade

Quadro 4: Características da dimensão regulação-mudança radical Fonte: Burrell e Morgan (1979, p.18)

Burrell e Morgan (1979), como se observa no quadro anterior, utilizaram os termos

sociologia da regulação e sociologia da mudança radical para descrever posições

extremas sobre a natureza da sociedade, ou dimensão ordem-conflito.

A sociologia da regulação, posição dominante no Ocidente, reflete a posição dos

teóricos preocupados em explicar a unidade e coesão subjacentes na sociedade. Já

os teóricos da sociologia da mudança radical enxergam a sociedade moderna como

que caracterizada pelos conflitos, os modos de dominação e a contradição.

Preocupam-se com a emancipação das pessoas em relação às estruturas sociais e

ideológicas existentes.

A partir dessas discussões preliminares, os autores sugerem que as premissas

sobre a natureza da ciência podem ser pensadas em termos de uma dimensão

subjetiva versus objetiva e as premissas sobre a natureza da sociedade em termos

de uma dimensão regulação versus mudança radical e discutem as relações entre

54

as duas dimensões com vistas a desenvolver um esquema coerente para a análise

da teoria social.

A proposta é de que as dimensões tomadas em conjunto permitem definir quatro

paradigmas sociológicos distintos para análise de uma ampla variedade de teorias

sociais, cada qual podendo compartilhar uma série de aspectos com seus vizinhos,

nos eixos horizontal e vertical em uma de duas dimensões, mas diferenciando-se na

outra dimensão. Esses paradigmas são demonstrados através da figura a seguir:

Figura 3: Paradigmas sociológicos Fonte: adaptado de Burrell e Morgan (1979, p.22)

O paradigma humanista radical baseia-se no suposto que a realidade social é

socialmente criada e sustentada, passível de equívoco e/ou limitação restritivos.

Busca investigar as possibilidades e modos de os homens atingirem com eficácia

radical a mudança no sentido de transcender as limitações sociais alienantes.

Orienta-se pelo entendimento da sociedade segundo uma perspectiva de mudança

radical, ou seja, segundo os modos de dominação, privação e emancipação. A

HUMANISMO RADICAL

55

abordagem deste paradigma é nominalista, anti-positivista, voluntarista e

ideográfica, sendo que sua origem vem do idealismo alemão, destacando-se Kant e

Hegel, além do jovem Marx, e de Husserl. Os autores Sartre, Stirner, Bookchin,

Lucaks, Gramsci, Horkheimer, Adorno, Benjamin, Fromm, Kirschheimer, Lowenthal,

Marcuse e Habermas são os mais proeminentes.

O paradigma estruturalista radical apóia-se na visão de sociedade como

potencialmente dominada; contudo, supõe que ela tenha uma existência própria,

independente dos significados individuais do cotidiano. Orienta-se pelo

entendimento da natureza da sociedade segundo uma sociologia da mudança

radical, porém, diferentemente do paradigma humanista radical, de um ponto de

vista objetivo. Sua abordagem é realista, positivista, determinista e nomotética, e os

autores principais são Marx, Engels, Plekhanov, Lênin, Bukharin, Althusser,

Poulantzas, Rex, Dahrendorf.

O paradigma funcionalista baseia-se nos supostos de que a sociedade tem uma

existência real e concreta e uma orientação sistêmica para produzir um estado de

relação ordenado e regulado. Os supostos ontológicos garantem a possibilidade da

objetividade na ciência social; o cientista mantém-se distante e neutro do cenário

que analisa através de métodos e técnicas rigorosas. Também se apóia na

possibilidade de generalização dos conhecimentos empíricos. Teorias incluídas

nesse paradigma se interessam pelo estudo de status quo, ordem social, integração

e solidariedade. São exemplos desse grupo a teoria de sistemas sociais, a teoria

integrativa e a teoria da ação social. Ademais, sua abordagem é realista, positivista,

determinista e nomotético. Já os autores principais são Comte, Spencer, Durkheim,

56

Pareto, Malinowski, Brown, Parsons, Simmel, Mead, Blumer, Rex, Eldridge,

Goldthorpe, Silverman, Blau, Merton, Coser, Gouldner, Buckley e Skinner.

O paradigma interpretativo baseia–se na visão de que a realidade social não tem

existência concreta, mas é produto da experiência subjetiva e intersubjetiva. Para

entendê-lo, é preciso captar a percepção dos participantes em ação, em vez do

ponto de vista do observador. Assim como o paradigma funcionalista, preocupa-se

com a ordem e a regulação no mundo social, contudo, de um ponto de vista

subjetivo. Defende a ciência social como uma rede de jogos de linguagem, baseada

em arranjos de subjetividade de determinados conceitos e regras que os

participantes inventam e seguem. A abordagem deste paradigma é nominalista, anti-

positivista, voluntarista e ideográfica e os autores são Dilthey, Husserl, Weber,

Gadamer, Schütz, Scheller, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, Garfinkel, Cicourel,

Schegloff, Sacks, McHugh, Denzin, Zimmerman e Wieder.

O emprego do método fenomenológico em administração, a depender da corrente

com a qual se trabalhe, situa-se dentro da subjetividade, podendo ser interpretativa

ou humanista radical. Isto decorre do fato de se poder trabalhar com o

existencialismo, a hermenêutica, a fenomenologia realista entre outras abordagens,

em função da linha com que o autor principal esteja inserido. Nesta investigação,

adotar-se-á o paradigma interpretativo, a partir das colocações a seguir.

57

2.2 – Fenomenologia

Para discorrer sobre o método fenomenológico, é fundamental discutir a

fenomenologia. Acredita-se que esse termo foi empregado pela primeira vez em

1764, por Joham Heinrich Lambert (1728-1777), na quarta parte da obra “Neues

orgamon”, intitulada “Fenomenologia ou aparência ilusória e suas variedades”. Tal

obra traz todo o fundamento do saber empírico, cabendo à fenomenologia distinguir

entre a aparência e a verdade.

Depois de Lambert, muitos filósofos utilizaram o termo, com variadas acepções,

como Kant, Hegel, Eduard von Hartmann entre outros.

Antes de Lambert, todavia, um homem chamado Jesus Ben Sirac, por volta do ano

180 a.C. escreveu sobre “A palavra revela o homem” (BÍBLIA:Sr 27,4-8):

Quando se sacode a peneira, ficam os resíduos: / do mesmo modo os defeitos de um homem, quando discute. Como o forno prova os vasos do oleiro, assim a prova de um homem está no seu raciocínio. O fruto da árvore revela como foi o seu cultivo:/assim a discussão, os pensamentos do coração do homem. Não louves a ninguém antes de ouvi-lo falar, pois é aí que se provam os homens.

Contudo, foi Husserl quem cunhou o termo com o sentido que atualmente é

conhecido, dando um conteúdo novo a uma palavra já antiga. Em suas

“Investigações lógicas” (1900-1901) e obras sucessivas, Husserl criou uma nova

escola filosófica, que incluiria, entre outros, Scheler, Heidegger, Sartre, Merleau-

Ponty. O apêndice um traz dados sobre o autor.

58

A fenomenologia permite que a filosofia transforme-se em uma “ciência do rigor”,

que analisa o conteúdo da consciência, que se manifesta intencionalmente à

mesma, com a finalidade de se chegar a uma nova forma de filosofar.

Pode ainda a fenomenologia ser vista como uma tentativa elucubrativa para resgatar

o contato original com o objeto, que se perdeu em especulações metafísicas

abstratas ou reduções matemáticas. Sempre há uma volta às origens.

Capalbo (1996, p. 38-39) acredita que

A fenomenologia não possui uma ortodoxia. Ela se questiona constantemente, ela se diversifica, mas fundamentalmente tenta conservar a unidade de sua atitude metodológica, que pode ser aplicada nos diferentes setores do conhecimento, tais como a psiquiatria, a psicanálise, a lingüística, a antropologia, o serviço social etc. ... Ela instaura a atitude dialogal e do acolhimento do outro em suas opiniões, idéias e sentimentos, procurando colocar-se na perspectiva do outro para compreender e ver como o outro vê, sente ou pensa. Esta afirmação traduz uma orientação metodológica nas ciências humanas: a da compreensão dos fenômenos, que se opõe à orientação formal, conduzindo à matematização dos fatos sociais.

Phainomenon + logos (φαιν�µενον + λ�γος) significa “discurso sobre aquilo que

se mostra como é”. A proposta de Husserl é acabar com a naturalização da

consciência, considerando que fatos psíquicos não se equiparam aos fatos físicos

(SARDI,2001, p. 14). O filósofo poderá, então, “ir às coisas mesmas”, à procura de

“exprimir aquilo que é dado diretamente na consciência”. A fenomenologia descreve

e analisa o significado e a relevância da experiência humana.

59

A consciência, aqui, difere daquela propugnada pelos kantianos e neokantianos.

Para estes, a referida consciência era assimiladora, ao passo que em Husserl a

consciencia intencional é como um farol que projeta sobre as aparências, aspectos

ou aquilo que se apresenta à mesma (MORA, 1963, p. 56).

Kant Husserl

Figura 4: A consciência em Kant e Husserl Fonte: adaptado de Mora, 1963.

Martins e Bicudo (1983, p.10) afirmaram que a fenomenologia:

... procura abordar o fenômeno, aquilo que se manifesta por si mesmo, de modo que não o parcializa ou o explica a partir de conceitos prévios, de crenças ou de afirmações sobre o mesmo, enfim, um referencial teórico. Mas ela tem a intenção de abordá-lo diretamente, interrogando-o, tentando descrevê-lo e procurando captar sua essência.

Giles (1989, p. 59) observou que

O impulso de investigação fenomenológica deve partir não dos filósofos e, sim, das próprias coisas. Não sou eu, nem as minhas convicções e, sim, as próprias coisas, como estas se revelam na sua pureza irrefutável, que têm de se impor para dar testemunho de verdade.

60

Por sua vez Sardi (2001, p. 219) acredita que

Husserl tentou livrar a filosofia de todos aqueles prejuízos, esquemas interpretativos, categorias a priori, propondo que ela focalize a atenção na simplicidade das coisas falando por si mesmas a partir de um sujeito que percebe. Quando se diz que a percepção fenomenológica é isenta de qualquer dúvida é porque se quer dizer que nada pode contestar o que eu percebo. O conteúdo percebido, posteriormente, pode se converter em essências ou ideais. É isto que encontramos em bibliotecas de todo o mundo: percepções convertidas em essências ou ideais. É outro nome do conhecimento neutro e ‘conhecimento cientificamente objetivado’.

Abbagnano (1993, p.76) afirmou que a obra de Husserl é assentada sobre os

seguintes pontos:

É uma ciência teorética (contemplativa) e rigorosa, isto é, “fundamentada”, no

sentido de ser “dotada de fundamentos absolutos”.

É uma ciência intuitiva, porque tenta apreender essências que se apresentam à

razão de uma forma análoga àquela em que as coisas se apresentam à percepção

sensível. Este aspecto da filosofia reflete o caráter apofântico da razão

(considerando a possibilidade de qualquer enunciado ser considerado verdadeiro ou

falso, em função de descrever corretamente, ou não, o mundo real).

É uma ciência não-objetiva, e por isso completamente diferente das outras

ciências particulares, que são ciências dos fatos ou das realidades (físicas ou

psíquicas), enquanto que ela prescinde de qualquer fato ou realidade e se preocupa

apenas com essências.

61

É uma ciência das origens e dos primeiros princípios, dado que a consciência

contém o sentido de todos os possíveis modos como as coisas podem ser dadas ou

constituídas.

É uma ciência da subjetividade, porque a análise da consciência se dirige para o

eu como sujeito ou pólo unificador de todas as intencionalidades constitutivas.

É uma ciência impessoal, porque “os seus colaboradores não têm necessidade de

prudência mas de dotes teoréticos”.

Como observa o autor, estes aspectos definem a filosofia na forma como ela foi

entendida por Husserl, mas não o conjunto do movimento fenomenólogico, como

será visto adiante.

Para entender a fenomenologia, é necessário compreender que o homem é um

“doador de sentido” ao mundo. Deve-se “avançar para as próprias coisas” (coisas =

aquilo que é dado à consciência). Este dado é o fenômeno, que aparece à

consciência.

O fenômeno, portanto, é o objeto da investigação fenomenológica, sendo a

intuição o instrumento de conhecimento (VERA, 1978, p. 63). A intuição só é

possível devido à intencionalidade da consciência (“toda consciência é consciência

de algo”). A consciência não opera no vazio, daí para haver objeto há que haver um

sujeito e vice-versa. O fundamental para a fenomenologia é a busca dos significados

das experiências que chegam à consciência.

62

Em sua sexta “Investigação lógica” assim se expressou Husserl (1988, p. 176):

... chamaremos de ‘fenômeno’ tudo aquilo que é vivência, na unidade de vivência de um eu: a fenomenologia é, por conseguinte, a doutrina das vivências em geral, abrangendo também a doutrina de todos os dados, não só os genuínos, mas também os intencionais, que podem ser evidenciados nas vivências.

Com o desenvolvimento e adaptações sofridas pela fenomenologia desde sua

criação, resulta que atualmente existem basicamente cinco tendências filosóficas

dominantes, segundo Embree et. al. (1996) apud Moreira (2002a):

Fenomenologia descritiva – abordagem reflexiva, evidencial e descritiva tanto dos

encontros como dos objetos como encontrados. Criada por Husserl, em suas

“Investigações lógicas” (1900-1091).

Fenomenologia realista – busca as essências universais de vários tipos de

assuntos, incluindo as ações humanas, os motivos etc.

Fenomenologia constitutiva – utilização da filosofia das ciências naturais na

fenomenologia. Aplicação das chamadas redução fenomenológica e redução

eidética, visando suspender a aceitação do estado pré-dado da vida consciente

como algo que existe no mundo. Surgiu com a obra de Husserl “Idéias relativas a

uma fenomenologia pura e a uma filosofia fenomenológica” , de 1913.

Fenomenologia existencial – aplicação de conceitos como ação, conflito, desejo,

finitude, opressão e morte. Desenvolveu-se com Heidegger (1889-1976), a partir da

63

obra “Ser e Tempo”, tendo ainda expoentes como Merleau-Ponty, Levinas, Sartre

entre outros.

Fenomenologia hermenêutica – também derivada do “Ser e Tempo”, considerando

que a existência humana é interpretativa. A temática desta tendência filosófica inclui

todas as que já estavam nas fases anteriores, diferindo somente na ênfase dada à

hermenêutica, ou método de interpretação.

As fenomenologias realista e constitutiva desenvolveram-se na Alemanha, nos anos

ao redor da I Guerra Mundial, ao passo que a fenomenologia existencial teve lugar

na França, após a II Guerra Mundial. Já a fenomenologia hermenêutica foi influente

nos Estados Unidos, a partir dos anos 1970 e 1980.

Nesta investigação adota-se a fenomenologia hermenêutica, de cunho existencial.

Sobre o assunto, Rey (1997, p. 12) assim se expressou:

A partir de Heidegger se enfatiza a inseparabilidade da expressão e da ação do sujeito, a qual conduz a compreender os sentidos que se reconstróem na interpretação hermenêutica; são aqueles que o sujeito está produzindo durante sua ação. A interpretação hermenêutica desenvolvida por Heidegger expressa uma ênfase do existencial na produção de conhecimento sobre o homem.

Essa abordagem busca a relação entre a essência e o fenômeno pesquisado,

através do círculo hermenêutico interpretação – compreensão – nova

interpretação.

64

Entender é um processo circular, que se dá através do círculo hermenêutico. O

círculo tem um elemento de intuição, sendo necessário um conhecimento prévio

mínimo sobre o tema para entender o que se pesquisa. Sem isso não é possível

entrar no círculo.

Figura 5: O círculo hermenêutico Fonte: sistematizado a partir de Heidegger (1999a); Gadamer (2002)

Heidegger (1999a, p. 218) já dizia que toda compreensão guarda em si a

possibilidade de interpretação. Em sua obra, o referido autor procurou criar uma

nova terminologia filosófica, a partir de fragmentos pré-socráticos. Observou que é

na linguagem que se dá a apreensão do ser. Sua filosofia pode ser considerada uma

hermenêutica do ser. A compreensão é a base de toda interpretação; sendo co-

original com a existência dos seres. Em outras palavras ela é ontologicamente

fundamental. A compreensão é temporal, intencional e histórica.

INTERPRETAÇÃO COMPREENSÃO

65

Assim, se alguém diz “o copo é de vidro” há significado hermenêutico a priori, em

função de haver uma pré-concepção do copo como receptáculo de armazenar

líquidos.

Na concepção usual, o copo é apenas um instrumento, um objeto, pois é passível de

aferição (o copo pode ser azul, comprido, fino, leve, pesado etc.). Já na ontologia

busca-se a compreensão do que ele é, no momento anterior a separação entre

sujeito e objeto. Busca-se situá-lo a partir do instante em que ele emerge; daquilo

que ele significa no mundo. A interpretação está assentada na manifestação da

coisa, não na consciência do que se tenha dela. Assim, é a coisa que vem de

encontro ao pesquisador.

Heidegger (1999a) afirma que o círculo hermenêutico é o fundamento de toda a

possibilidade de apreensão humana. Tal círculo possibilita a descrição da

inteligibilidade dos seres humanos, ou seja, as possibilidades de compreensão do

homem, considerando aquilo que ele é.

Espitia (2000) apresentou uma análise dos fundamentos da fenomenologia de

Heidegger, que se baseiam nos seguintes pressupostos filosóficos sobre a pessoa e

o ser humano:

Os seres humanos têm mundo. Estar no mundo é existir, é estar involucrado,

comprometido. Habitar ou viver no mundo é a forma básica de ser-no-mundo do ser

humano. O mundo está constituído e é constitutivo do ser. Os seres humanos têm

um mundo que é diferente do ambiente, da natureza ou do universo onde eles

66

vivem. Este mundo é um conjunto de relações, práticas e compromissos adquiridos

em uma cultura. A linguagem torna possível as formas particulares de relacionar-se

e sentir que possuem valor em uma cultura. Habilidades, significados e práticas têm

sentido graças ao mundo compartilhado dado pela cultura e articulado pela

linguagem. Este conhecimento ou familiaridade é o que Heidegger (1999a) chama

mundo. O mundo não se movimenta, permanece estático e só se nota em situações

de ruptura ou destruição. Os mundos em que vivem as pessoas não são universais

e atemporais, pelo contrário, são diferentes segundo a cultura, o tempo ou época

histórica, e a família em que se nasce.

A pessoa como um ser para quem as coisas têm significado. A maneira

fundamental das pessoas viverem no mundo é através da atividade prática.

Heidegger (1999a) descreve dois modos através dos quais os seres humanos estão

involucrados no mundo. O primeiro é aquele no qual as pessoas estão

completamente involucradas ou submergidas na atividade diária sem notar sua

existência; neste caso, as pessoas estão comprometidas com coisas que têm

significado e valor de acordo com seu mundo. Em contraste, o segundo modo é

aquele no qual as pessoas são conscientes de sua existência. A significância ou

significado das coisas se baseiam nas distinções qualitativas reconhecidas pela

pessoa em sua vida diária. Estas distinções qualitativas podem se moldadas pela

cultura e pela linguagem.

A pessoa é um ser autointerpretativo. Os seres humanos são seres capazes de

interpretar a si mesmos, porém em uma forma não teórica. O são porque as coisas

têm importância para eles. Quando os seres humanos expressam e atuam frente

67

àquilo que estão comprometidos ou lhes interessa, tomam uma posição sobre quem

são. Os interesses ou inquietudes da pessoa ilustram o que é importante e preocupante

em uma situação específica. Conhecer e compreender o que rodeia o ser humano é

uma maneira fundamental de ser-no-mundo. As pessoas entendem e captam

significados do que as rodeia mediante a linguagem. A linguagem serve para

representar-se a si mesmo e ao mundo, e constitui a vida. A linguagem representa,

articula e faz com que as coisas se manifestem e, ao fazê-lo, molda nossas vidas.

A pessoa como corporalidade. Para a fenomenologia, mais que ter um corpo a

pessoa é corporal. Ser humano é ter uma inteligência corporal que torna possível

involucrar-se habilmente nas situações. As práticas comuns se baseiam em

capacidades perceptivas corporais compartilhadas.

A pessoa como um ser temporal. Heidegger (1999a) concebeu a pessoa como

ser-no-tempo. Este tempo não é o tempo linear ou a sucessão infinita de agoras

como geralmente se pensa nas culturas ocidentais. O autor chama ao tempo

temporalidade e o tempo é constitutivo do ser ou existência. O tempo linear dificulta

conceber a continuidade ou a transição; faz crer que os seres e as coisas que

existem são estáticas e atemporais.

As análises que serão feitas dos discursos dos sujeitos desta pesquisa terão como

pressupostos o que foi exposto aqui. Destaca-se que tais pressupostos se aplicam

tanto aos participantes como ao investigador, que é um ser autointerpretativo, que é

e tem um mundo e para quem as coisas têm significado, além de possuir inteligência

corporal e que vive em seu tempo.

68

2.3 – O método fenomenológico

Para lograr êxito em sua pretensão de transformar a filosofia em uma “ciência do

rigor”, Husserl criou o método fenomenológico, que serviria para o desenvolvimento

da ciência das essências.

É este necessariamente seu caráter; a fenomenologia quer ser ciência e método, a fim de elucidar possibilidades, possibilidades de conhecimento, possibilidades de valoração, e as elucidar a partir do seu fundamento essencial; são possibilidades universalmente em questão e, portanto, as investigações fenomenológicas são investigações universais de essências (HUSSERL, 1990, p. 79).

Spiegelberg (1984), considerado o maior historiador sobre o movimento

fenomenológico do mundo, na parte introdutória de sua obra “The phenomenological

movement”, diz que não há uma doutrina filosófica chamada “fenomenologia”, mas

sim um método fenomenológico que é, em primeiro lugar, uma forma de ir contra ao

reducionismo. Neste livro, o autor traz um elenco dos passos dos métodos usados

por vários fenomenólogos, a saber:

1. Investigar os fenômenos particulares

Basicamente, consiste em intuir, analisar e descrever. Intuir representa o esforço de

se concentrar sobre o objeto, evitando que se perca a visão crítica. Analisar é

delimitar os elementos e a estrutura do fenômeno obtido na intuição. Não se trata de

separá-los em partes, mas sim distinguir os constituintes do fenômeno, assim como

a exploração de suas relações e de suas conexões com os fenômenos adjacentes.

Descrever, por sua vez, se baseia em uma classificação dos fenômenos. A

69

descrição por negação é o modo mais simples de indicar a unicidade e a

irredutibilidade do fenômeno.

2. Investigar as essências gerais

Não há intuição da essência adequada sem a intuição antecedente. Para ter a

essência geral deve-se considerar os particulares como referência.

3. Captar as relações essenciais entre as essências

Usa-se a chamada variação imaginativa livre, que consiste em abandonar alguns

componentes e substituí-los por outros.

4. Observar os modos de aparição

Há três sentidos de aparência: a) o lado ou aspecto de um objeto, a partir do todo; b)

a aparência do objeto pode estar deformada, o que se chama de perspectiva; c) os

modos de clareza, seus graus ou nitidez podem ser diferentes. Isto se aplica

principalmente a áreas periféricas do campo fenomenal.

5. Explorar a constituição dos fenômenos

Determinar o caminho seguido para que o fenômeno se estabeleça e tome forma na

consciência. Busca-se determinar a estrutura de uma constituição na consciência

por meio de análise de seus passos.

70

6. Suspender a crença no fenômeno

Consiste em suspender o juízo sobre a existência ou não existência do fenômeno

(corresponde à suspensão momentânea da faculdade de avaliar), para verificação

desse fenômeno sob nova perspectiva. Assume-se uma atitude neutra, visando

refletir e questionar, de forma a possibilitar apreender novo sentido sobre fatos que

não tinham sido vistos e observados anteriormente.

7. Interpretar as significações ocultas

A hermenêutica busca interpretar o sentido de certos fenômenos. Todo estudo das

estruturas intencionais consiste em uma análise interpretativa e na descrição das

significações dos atos conscientes. Heidegger (1999a) demonstra que certas

estruturas do ser humano possuem significação.

Os três primeiros passos são adotados por praticamente todos os fenomenólogos,

enquanto os demais são praticados conforme a orientação filosófica que o

pesquisador adotar. O passo 6 é a redução fenomenológica, e o passo 7 é praticado

pelos adeptos da fenomenologia hermenêutica.

Esta pesquisa desenvolver-se-á a partir dos pressuspostos da fenomenologia,

baseado em Husserl, Heidegger e seus seguidores, particularmente a abordagem de

Giorgi (1985), utlizada em diversos estudos, como nas teses de doutorado de

França (1989) e Sardi (2001).

71

Partir-se-á da idéia fenomenológica que o homem é um “doador de sentido” ao

mundo. A origem de todas as afirmações racionais é a “consciência doadora

originária”, que está centrada no fenômeno, ou seja, aquilo que é visado pela

consciência.

Masini (1997), como visto anteriormente, observou que não existe um único método

fenomenológico, mas sim uma atitude de abertura do ser humano para apreender o

que se mostra à consciência, livre a priori de conceitos ou pré-definições que a

coloquem em uma “camisa-de-força”.

Destarte, o método fenomenológico não pretende ser empírico ou dedutivo, mas

descritivo. Sua finalidade é a descrição do fenômeno, tal como ele se apresenta,

sem reduzi-lo a algo que não aparece. Epistemologicamente, opõe-se à visão de

sujeito e objeto isolados, passando a considerá-los como correlacionados, já que a

consciência é sempre intencional.

O método centra-se no homem, especificamente na análise do significado e

relevância da experiência humana. O ponto inicial da investigação fenomenológica é

a compreensão do viver.

Giorgi (1985), demonstra que o método é utilizado para pesquisas de fenômenos

humanos, tais como vividos e experienciados. Afinal, o homem é um “doador de

sentidos” ao mundo, que é capaz de intuir, que tem intencionalidades, que orienta

significações. Dando significações aos objetos do mundo (que podem ser inclusive

outros sujeitos), o homem une-se a eles.

72

Gomes (1989), observou que o que se espera de uma pesquisa fenomenológica é a

descoberta do novo, do desconhecido e até mesmo de uma possibilidade não pensada.

Por sua vez, Coltro (2000, p. 40) analisando o caráter hermenêutico do método

fenomenológico, acredita que este

... propõe uma reflexão exaustiva, constante e contínua sobre a importância, validade e finalidade dos questionamentos, indagações e respostas obtidos. Apresenta-se como de natureza exploratória, ou seja, como interpretação aberta a outras interpretações, muitas vezes conflitantes e que marcam seu caráter polissêmico, sendo este o maior sinal de sua fertilidade.

O método fenomenológico busca captar as essências do que o homem vivenciou.

Mas esse homem vive em grupo, em uma sociedade. Ele é mutável, efêmero,

perturbado por motivações obscuras. Ele é influenciado pela mídia, por sua família,

sensível aos valores.

A pergunta que o investigador fenomenólogo deve-se fazer, neste momento de

constatação que o sujeito de sua pesquisa é volúvel, é: como proceder para eliminar

toda a interferência na análise?

Esta é uma questão delicada para a fenomenologia, que faz uso da chamada

redução, que será vista mais adiante. Porém, não basta isso. Deve-se entender os

papéis desempenhados pela inter-relação humana, além do grau de defasagem que

o homem possui em sua fala sobre si mesmo.

73

Vera (1978), analisando os papéis na inter-relação humana, concluiu que as

respectivas situações podem ser vividas em diversos níveis de profundidade, que

em tais relações se realizam encontros, que variam dos autênticos (onde há

essência) e os inautênticos (sem essência). Diz o autor:

Merlau Ponty dizia que ‘o comportamento e as palavras do outro não são o outro’. No encontro aparente, acreditamos conhecer o homem porque o definimos através de seus atos ou baseamo-nos no que ele possa dizer-nos de si mesmo. Este não é um encontro real; há nele uma presença inautêntica que é, na verdade, ausência. Reciprocamente uma pessoa fisicamente ausente pode estar presente, se há um encontro autêntico (VERA, 1978, p. 80).

Aqui cabe ao pesquisador procurar um encontro autêntico com o sujeito de sua

pesquisa, para procurar captar a “essência” de seu discurso, representante da

vivência que se procura conhecer, para então descrever a realidade.

Sobre a questão do discurso do homem, França (1989, p. 33), diz:

Na realidade, aquilo que se fala ou se escreve sobre a própria existência é sempre um discurso de segundo grau, de segunda mão, já vem sempre com a nota de obsolescência, de defasagem. O discurso primeiro, ou a palavra primeira que ‘pronunciamos’ é o próprio fato de existir, por menos que se esteja atento a isso. Neste sentido, percebe-se o quanto é verdadeiro dizer-se que a interpretação é laboriosa, pois trata-se de buscar o oculto no patente, e este não se mostra aquele em sua plenitude.

Como observou o autor, o pesquisador deve se esmerar na interpretação. Assinala-

se que a fenomenologia permite interpretar sobre aquilo que é dito enquanto

sentido e aquilo que deixa de ser dito.

Corroborando esse pensamento, Coppe (2001, p. 46), analisando a questão da

utilização do método fenomenológico no estudo da subjetividade, diz que o

74

pesquisador busca compreender o mundo para o sujeito, ou seja: captar significados

do mundo deste sujeito a partir da sua descrição do vivido.

A opção pelo método fenomenológico pode parecer questionável, principalmente

seu emprego em pesquisas em uma área de conhecimento pouco explorada, como

é a análise ontológica do empreendedorismo. Tal método, ainda desperta dúvidas

em relação à sua cientificidade posto que não repete o modelo do positivismo e

empirismo típico das ciências físicas e naturais.

Porém, com mais de um século de aplicação, o método, em ciências humanas e

sociais (o ser humano é um processo em permanente mutação, não sendo possível

estudá-lo de forma estática), vem demonstrando consistência e legitimidade em

pesquisas que focalizem, nas palavras de França (1989, p. 26) a experiência vivida

e sua significação, não sendo possível explicá-la por uma relação de causa e efeito,

reduzindo-a a leis, princípios ou conceitos.

Heidegger (1973, p. 499) analisando a questão da contemporaneidade da

fenomenologia, pergunta:

E hoje? Parece que o tempo da filosofia fenomenológica passou. Já é julgada como algo passado, que é apenas consignado ainda historiograficamente ao lado de outros movimentos filosóficos. Entretanto, a fenomenologia não é nenhum movimento, naquilo que lhe é mais próprio. Ela é a possibilidade do pensamento – que periodicamente se transforma e somente assim permanece - de corresponder ao apelo do que deve ser pensado. Se a fenomenologia for assim compreendida e guardada, então pode desaparecer como expressão, para dar lugar à questão do pensamento, cuja manifestação permanece um mistério.

75

Na época em que Heidegger escrevera esse texto (1963) novos movimentos filosóficos

surgiam, e os fenomenólogos já não gozavam de tanto prestígio. Mesmo o

existencialismo inspirado na fenomenologia começava a sair de cena, nesse dinâmico

processo do saber filosófico. Porém, não imaginava o autor a aplicação do método

fenomenológico em ciências humanas e sociais, e o grande sucesso posterior.

Já Von Zuben (1989, p.148), analisando o impacto das idéias de Husserl no século

XX, afirmou que:

Desde o início deste século, um número expressivo de pensadores se deixaram influenciar pelas idéias de Husserl. Muitos as criticaram, outros tantos buscaram nelas impulso e movimento para suas próprias idéias. E mais, a filosofia fenomenológica de Husserl teve seus efeitos na própria metodologia das ciências.

Streubert e Carpenter (1995) apud Moreira (2002a) explicam que o pesquisador, antes de

se definir pela adoção de um método, deve impor-se uma tripla interrogante capaz de

convencê-lo, ou não, da opção e respectiva exeqüibilidade do método fenomenológico:

1) Existe uma necessidade de maior clareza no fenômeno selecionado? Talvez exista

pouca coisa publicada, ou o que exista precise ser descrito em maior profundidade.

2) Será que a experiência vivida compartilhada é a melhor fonte de dados para o

fenômeno de interesse?

3) Em terceiro lugar, o pesquisador deve considerar os recursos disponíveis, o

tempo para o término da pesquisa, a audiência a quem a pesquisa será

apresentada; o próprio estilo pessoal do pesquisador e sua habilidade para se

envolver no método de forma rigorosa.

76

2.4 – A dinâmica do método fenomenológico

Neste trabalho utliza-se o método fenomenológico descrito por Giorgi (1985). O objetivo

é a obtenção de “unidades de sentido”, a partir do relato escrito pelo participante.

A decisão de utilização de relatos escritos deveu-se a necessidade de se analisar os

discursos considerando a intencionalidade da consciência. Assim, caso o relator

fosse convidado a discorrer oralmente, utilizando um gravador para posterior

transcrição, ocorreria um significativo viés. Não se busca aqui efetuar uma análise

de conteúdo ou estudar a fala do empreendedor, mas sim conhecer a dimensão

ontológica do empreendedorismo. Assim, ao permitir que o relator discorresse

livremente, ele não estaria refletindo adequadamente sobre o assunto, mas sim

sendo “espontâneo”.

O relato escrito é diferente. O sujeito necessita se concentrar na pergunta, redige,

suprime termos, acrescenta sentido, age intencionalmente.

Nesse ponto, Ricoeur (1988) demonstra que a passagem do discurso à escrita é a

passagem do dizer ao dito. O texto apresenta uma vida própria, que pode se desviar

daquilo que o locutor queria dizer, sendo uma espécie de objetivação do discurso,

em virtude de ter perdido as características subjetivas do locutor. Assim, há uma

libertação das palavras do indivíduo que escreve, quando da leitura por outrem. O

indivíduo que escreve contribui com as palavras e o leitor com a significação.

77

CAPÍTULO III

ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO

E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

78

O empreendedorismo é um fenômeno complexo, multifacetado e de difícil

apreensão. Requer em seu estudo ontológico a utilização de uma visão holística,

visando a compreensão aprofundada do assunto.

Ademais, é fundamental que se escolha um local que forneça condições adequadas para

as investigações. Neste quesito, as chamadas incubadoras de empresas são o habitat

ideal no qual empreendedores podem desenvolver suas potencialidades de forma plena

e completa, face as características peculiares de tais organizações. Ao invés de se

incubar uma bactéria, um ovo ou uma planta, a incubadora lida com pessoas jurídicas,

que são constituídas por empreendedores, que coabitam em um espaço em que há a

indução da prática empreendedora, especialmente planejado para tal.

Ou seja, nesse ambiente o empreendedorismo existe de fato, sendo portanto essa a

razão da escolha da Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da

Universidade Estadual de Londrina como o sítio privilegiado para as elucubrações.

Trata-se de uma organização gerenciada pelo Consórcio GeNorP/INTUEL (Genesis do

Norte do Paraná) e tem por objetivo a geração de novas empresas nas áreas de tecnologia

da informação e comunicação, biotecnologia entre outras áreas, criado em 2003.

3.1 – Formulação de uma proposição

A primeira etapa da pesquisa consistiu na elaboração de uma proposição aos

relatores, nos seguintes termos:

79

Pesquisa com empresários incubados

1. O que é, para você, empreender?

2. O que signfica, para você, empreendedorismo?

3. Descreva e comente aspectos de sua vivência como empresário incubado

relacionados ao desenvolvimento de sua capacidade empreendedora, que

considere mais significativos e marcantes.

4. Quais as causas que o levaram a tornar-se empresário?

Idade

Sexo

Essas proposições foram amplas e pretendem apreender os aspectos que os

empresários considerem “mais significativos”, compreendido que se trata de uma

análise própria dos sujeitos.

3.2 – Determinação da “amostra”

Determinou-se cinco sujeitos, sendo uma “amostragem” não-probabilística

intencional.

Os relatores foram selecionados a partir de suas experiências como

empreendedores. Buscou-se seguir uma lógica na escolha dos mesmos, em função

das características da pesquisa fenomenológica, que se equilibra na tensão entre

singularidades e universalidades. O objetivo é a descoberta de conhecimentos; não

se trata da verificação de hipóteses.

80

São cinco homens, com as idades variando de 21 a 50 anos de idade, que atuam

em suas organizações na Incubadora Internacional de Empresas de Base

Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina.

Os indivíduos são empreendedores que vivenciam no cotidiano os aspectos

relacionados à prática empreendedora, por isso a escolha intencional dos mesmos.

3.3 – Distribuição e recolhimento

A terceira etapa consistiu em distribuir e recolher os relatos, com prazo de três

semanas para o preenchimento. Foi esclarecido aos empresários que os relatos

seriam utilizados em uma pesquisa de pós-graduação em administração.

Assegurou-se o anonimato e confidencialidade em relação à divulgação dos nomes

dos relatores.

3.4 – Análise dos resultados

Nesta última etapa, empregou-se o método descrito por Giorgi (1985), utilizado nas

teses de doutorado de França (1989) e Sardi (2001). Tal método estrutura-se em

quatro fases:

1. Sentido do todo - Simples leitura do texto e a habilidade de entender a

linguagem do sujeito.

81

2. Discriminação das unidades de sentido - Considerando que é impossível

analisar um texto inteiro ao mesmo tempo, é necessário separá-lo em unidades

manejáveis. As unidades são analisadas de acordo com o interesse da pesquisa

(caráter psicológico, econômico, sociológico, teológico etc.).

3. Transformação das expressões de linguagem do sujeito para linguagem

com ênfase no fenômeno que está sendo investigado - A intenção do método

aqui é de chegar a uma categoria geral partindo das expressões concretas.

Giorgi (1985, p.19), afirma que é fundamental precisar a linguagem, padronizar,

para “iluminá-lo” pela perspectiva fenomenológica.

4. Resultado das unidades de sentido transformadas em colocações - O objetivo

é sintetizar, integrar e descrever as descobertas das unidades mais significativas.

A figura a seguir traz a representação do percurso metodológico empregado.

Figura 6: Percurso metodológico Fonte: sistematizado a partir de Giorgi (1985), Sartre (1997), Heidegger (1999a)

82

Para concluir, sobre a importância de se “ir às coisas mesmas”, Sardi (2001, p. 27),

assim se expressou:

... a filosofia, através da fenomenologia de Husserl, está convidada a ver o que realmente é dado na experiência: o fenômeno. Ela, a fenomenologia, surgiu com tentativa de restituir um fundamento ao universo e uma orientação à consciência e à vida. Husserl nos convoca para que nos desembaracemos de todo prejuízo, de toda linguagem confusa e cheia de pressupostos a priori, deixando que os fenômenos ‘falem por si’, em seu ato mais simples que é o de se mostrar.

3.5 – Interpretação

A interpretação dos resultados acontece em três momentos distintos:

1. Na fase de observação empírica da realidade da Incubadora Internacional de

Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina,

resultante da vivência do pesquisador como aluno do mestrado em administração

da UEL.

2. Durante a leitura dos relatos.

3. Na elaboração das análises e síntese.

Sobre as interpretações dos relatos, Giorgi (1985, p. 11) diz:

As discriminações de unidade significativa (de interpretação) são percebidas diretamente da descrição sempre que o investigador, ao reler o texto, se torna consciente da mudança de significado da situação para o sujeito, a qual parece ser psicológicamente sensível.

83

O que torna a interpretação possível é a existência de símbolos de linguagem,

registrados sobre papel. Segundo Ricoeur (1979, p. 15), a interpretação é

entendida como sendo um trabalho do pensamento que consiste em decifrar o

sentido oculto no sentido aparente, em desdobrar os níveis de significação

implicados na significação literal. Já o símbolo é toda estrutura de significação em

que um sentido direto, primário e literal, designa, por acréscimo, outro sentido

indireto, secundário e figurado, que só pode ser apreendido pelo primeiro.

Ademais, deve-se atentar para as palavras de Von Zuben (1989, p. 155-156):

Há que se evitar, no entanto, vieses e reducionismo; entende-se, muitas vezes, aplicação da fenomenologia ou do método fenomenológico como uma espécie de prestação de serviços especializados de um quadro conceitual esotérico. Por alguma razão nem sempre claramente identificada... o cientista (social em particular) entra em contato com a ‘moda’, ou a ‘onda’, ou o ‘mito’, da fenomenologia em busca de subsídios para sua pesquisa.

3.6 – O fenômeno

Ao abordar um objeto, o observador procura apreendê-lo, fazendo com

que esse chegue à sua consciência. Denomina-se fenômeno aquilo que de fato é

apresentado à consciência humana. Afinal, “toda consciência é consciência de algo”.

Sendo assim, o subjetivismo poderia se tornar um empecilho no que diz respeito a

confiabilidade dos estudos baseados no método fenomenológico.

No entanto, para resolver essa questão, o método recomenda o emprego da

redução, que é a busca do fenômeno livre de traços pessoais e culturais, que levará

a obtenção da essência.

84

Na verdade são duas as reduções: a eidética e a transcendental (ou

fenomenológica). Bochenski (1957) apud Vera (1978, p. 65-66) afirma que a

redução eidética deve ser efetuada da seguinte maneira, por parte do pesquisador:

1. Eliminação no grau possível do subjetivo: assumir atitude objetiva frente ao

dado.

2. Exclusão do teórico: eliminação momentânea de toda a hipótese, teoria, ou

outro conhecimento prévio.

3. Suspensão da tradição: exclusão das tradições das ciências e das autoridades

humanas.

4. Ver todo o dado, e não somente alguns aspectos do objeto.

5. Descrever o objeto, analisando suas partes.

O objetivo aqui é atingir a essência, o eidos. Assim, a realidade, em função da livre

consideração de todas as possibilidades que a razão descobre, perde as

características individuais e se revela uma essência constante e invariável.

Noesis é o nome que se dá ao ato de perceber (o cogitatio). Noema, por sua vez,

representa o que é percebido (o cogitatum). Assim, o que se investiga é um

fenômeno de consciência (noema). A redução fenomenológica busca limitar o

conhecimento ao fenômeno da experiência de consciência. Para isso procura

85

desconsiderar o mundo real, em uma espécie de suspensão do juízo. Em outras

palavras, o põe "entre parênteses".

Mas o que significa isso? O homem se encontra no mundo, foi lançado nesse mundo

e nele vive. Chama-se atitude natural os termos e o modo pelo qual esse homem

percebe, interpreta e age no mundo em que vive. Trata-se de um modo ingênuo de

existir que faz com que a humanidade acredite que as coisas são como se mostram.

Não há dúvidas em relação a isso. Assim, há os padrões de comportamento e as

certezas das coisas.

A redução fenomenológica proporciona ao investigador que suspenda a crença no

mundo exterior, seja da forma pela qual ela é vista pelos seres humanos no dia-a-

dia, seja pelo modo como é vista pelos teóricos, filósofos ou cientistas. Assim, ocorre

uma ruptura com a visão de mundo estereotipada, ocorrendo a possibilidade de se

atingir autonomia em relação ao mundo e à consciência que dele se possui.

Este trabalho é realizado a partir da redução eidética e fenomenológica. Para

efetivação da análise fenomenológica o investigador procurou adotar uma postura

objetiva, isenta de hipóteses e pré-concepções, visando perceber e descrever toda

conjuntura do fenômeno tal como naturalmente se mostra.

86

3.7 – As unidades de sentido e significação para o investigador e respectivas

interpretações

Foram quatro as unidades de sentido identificadas, que surgiram a partir da leitura

dos cinco relatos:

1. Desenvolvimento de habilidades

2. Visão de futuro

3. Saber fazer

4. Potencialidade

É importante destacar que as unidades de sentido só existem em função da

perspectiva de quem analisa. Pretende-se descobrir o sentido oculto, desdobrando

os níveis de significação aparente.

Rezende (1978, p. 223) discute a questão da linguagem como sendo a própria vida,

na qual o sentido se formula pela primeira vez como fenômeno original.

A questão da intersubjetividade também é importante. Coexistir é próprio do homem

e a palavra representa não apenas uma expressão, mas também comunicação e

simbologia.

Os relatos não foram alterados, nem corrigidos.

87

A seguir apresenta-se as unidades de sentidos discriminadas:

As unidades de sentido organizadas em categorias e a letra

dos depoimentos nos quais elas foram identificadas

Categorias de unidades

de sentido

Depoimentos

1. Desenvolvimento de habilidades

A – B – C – E

2. Visão de futuro

A – D

3. Saber fazer

A – B – C

4. Potencialidade

C – D – E

Dando continuidade, foram destacados fragmentos dos depoimentos relacionados

com as unidades de sentido com significado para o investigador, seguido de

interpretações – unidade modificada (U.M.).

01. DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES

Relato A – “Ser empreendedor me possibilitou desenvolver habilidades até então

desconhecidas. Fez com que me preocupasse não só com questões técnicas..., mas

também com questões comerciais e administrativas. Criei habilidade para negociar,

apesar de ainda buscar me capacitar cada vez mais na área”.

U.M. – O sujeito enxerga a si próprio como um empreendedor, que desenvolveu

habilidades que não conhecia. A Incubadora, como locus privilegiado para a

realização empreendedora, fez com que o indivíduo transcendesse a condição

88

tecnicista que permeia a prática empreendedora, observando a coadunibilidade

existente entre questões técnicas, comerciais e administrativas. Esse fragmento

demonstra características ontológicas, considerando que o relator busca ir além na

busca de sua realização como empreendedor, pois percebe a capacitação como

uma condição essencial.

Relato B – “Criar e desenvolver produtos e empresa... Estar sempre pesquisando e

criando”.

U.M. – As habilidades, para o depoente, relacionam-se com a importância da

pesquisa e desenvolvimento de produtos, além da criação e busca de novos meios

de ver a realidade. A realidade empreendedora é vista sob um ângulo reducionista,

permeando a realidade ôntica subjacente. Isso significa que possui extrema

objetividade no trato com as questões da empresa.

Relato C – “... usando de características empreendedoras como conhecer o

ambiente de trabalho detalhadamente e encontrar soluções adequadas respeitando

características particulares de cada um pude sair de situações embaraçosas e

limitadas”.

U.M. – Esse fragmento traz à discussão as chamadas “características

empreendedoras”, que seriam, para o autor, as responsáveis pelo fato dele sair de

situações limitantes e embaraçosas. Isso demonstra que o ser empreendedor é,

entre outros aspectos, um “estado” (considerado aqui como a soma de condições

em que se encontra em determinado momento). A possibilidade de desvencilhar-se

89

de algo intrincado, originado a partir do desenvolvimento de determinadas

habilidades, faz com que o sujeito explicite que o empreendedorismo é capaz de

fazer com que as pessoas possam se realizar a partir de si mesmas.

Relato E – “Saber dialogar, pois somente com a troca de idéias e a exposição de

suas opiniões é que você vai poder ter acesso as melhores oportunidades”.

U.M. – Para o depoente, a capacidade de dialogar e estabelecer relações sociais

significa o desenvolvimento de suas habilidades e oportunidade de novos negócios e

oportunidades. O homem vive em sociedade, não é isolado e onipotente. Paiva Jr.

(2004) em seu estudo fenomenológico já observara essa questão. O aspecto

ontológico se manifesta nessa assertiva, considerando os pressupostos

apresentados por Espitia (2000) anteriormente, sobre os fundamentos da obra de

Heidegger (1999a).

02. VISÃO DE FUTURO

Relato A – “Ter mentalidade voltada para o futuro”.

U.M. – Viver o presente, mas com foco no futuro, faz com que o depoente acredite

que o sucesso do empreendimento esteja ligado com possibilidades vindouras. Não

se trata de viver no futuro, mas vê-lo como um fim, em bases teleológicas. O

metaempreendedorismo explicitado anteriormente, por meio da abordagem

transdisciplinar, corrobora essa afirmação. O depoente vê no venturo as

possibilidades de realização.

90

Relato D – “...levar o seu negócio para onde quiser, no ritmo que quiser”.

U.M. – O negócio é, em última instância, algo que se constrói no presente, com

perspectivas futuras. O andamento do empreendimento é ditado não por fatores

externos, mas internos a seu ser. É o depoente que fará as coisas acontecerem, no

ritmo que desejar e da forma que melhor lhe aprouver.

03. SABER FAZER

Relato A – “A possibilidade de desenvolver inovação e conseqüentemente ganhar

dinheiro com ela”.

U.M. – A inovação, que para os economistas é fundamental para a economia

capitalista, é vista aqui como meio de auferir lucros e fazer dinheiro. O saber fazer,

através do desenvolvimento da inovação, é um instrumento que possibilita a

realização empreendedora. A técnica é o meio para se atingir os objetivos

propostos.

Relato B – “Desenvolvimento de produtos”.

U.M. – O desenvolvimento de produtos é o mais importante no ato de se fazer algo.

Observa-se nesse fragmento a preocupação com o realizar, não com o processo

para realizar.

91

Relato C – “... desenvolver, operar, realizar e prosperar de forma sustentada...

procurar saídas para as dificuldades e soluções para as dúvidas sem encarar pedras

como obstáculos, mas sim, como degraus”.

U.M. – A capacidade de fazer está relacionada com aspectos axiológicos. O

depoente apresenta valores bem arraigados, que normatizam sua conduta. Faz e

realiza suas ações pautado em seu modo de ver o mundo. Isso faz com que aja de

acordo com princípios inerentes a seu ser, e tais princípios direcionam seu

empreendimento.

04. POTENCIALIDADE

Relato C – “... tornar a realidade à sua volta propicia ao que você deseja... encarar a

realidade de forma a modelar a sua maneira... maneira ativa de participar de

diferentes situações. Necessidade de colocar em prática conhecimentos e

vontades”.

U.M. – Para o relator, aquilo que ele desejar pode acontecer, em função de suas

potencialidades enquanto ser. A vontade, aqui, é vista como um catalisador no

processo de empreender. Já a realidade é construída e moldada, de acordo com seu

interesse. O fragmento vai ao encontro do pensamento existencialista, que

considera o homem um projeto.

92

Relato D – “Independer-se, ter a liberdade... me tornar mais completo. Não ser

somente um financeiro, ou um R.H., ou um contador, mas sim pela vivência e

controle sobre uma empresa como um todo”.

U.M. – O projeto de autonomia, para o sujeito, se realiza através de ações

empreendedoras. A limitação enclausurante de uma existência inautêntica, em um

setor específico de uma empresa, é citada como razão para a busca da verdadeira

potencialidade do sujeito. A realização pessoal só é possível se transcender a

condição passiva e assumir uma atitude empreendedora.

Relato E – “Construir algo que fosse meu e que me permitisse liberdade de criação

e idéias”.

U.M. – A afirmação do sujeito, como ser, se realiza através do empreendedorismo.

Só há possibilidade de pensar e criar através de ações empreendedoras. Demonstra

ainda que seu projeto de vida contempla uma individualidade inerente a tal prática.

Tal individualidade se relaciona com aspectos próprios do empreendedor, seus

valores e crenças.

3.8 – Síntese das unidades de sentido modificadas

Nos relatos apresentados, os depoentes se expressaram de uma forma bastante

particular. É importante ressaltar que a fenomenologia considera inesgotáveis os

sentidos de um determinado fenômeno na medida em que se altera a perspectiva da

observação.

93

As unidades de sentido somente existem em função de quem as analisa, em

dependência da perspectiva que o pesquisador adote. Por exemplo, pode-se

destacar e tornar significativos, dos depoimentos, aspectos os mais variados, como

gramaticais, aspectos sociológicos, valores, aspectos psicológicos, econômicos,

históricos ou estilísticos.

Neste trabalho se privilegia aspectos ontológicos relacionados com o

empreendedorismo.

Como já observado, o que torna a interpretação possível, neste trabalho, é a

existência de símbolos de linguagem, registrados sobre papel.

Ricoeur (1979, p.15), como verificado anteriormente, observou que a interpretação

é um trabalho do pensamento que consiste em decifrar o sentido oculto no sentido

aparente, em desdobrar os níveis de significação implicados na significação literal.

Já o símbolo é toda estrutura de significação em que um sentido direto, primário e

literal, designa, por acréscimo, outro sentido indireto, secundário e figurado, que só

pode ser apreendido pelo primeiro.

Os empreendedores que colaboraram com esta pesquisa, ao participarem da

incubadora, tinham mais dúvidas que certezas em suas cabeças. Pode-se dizer que

a única certeza que tinham era que iriam desenvolver seus trabalhos e criar uma

empresa.

94

Assim, o que se pode obter a partir da análise dos depoimentos são os significados

de maior importância, que se relacionam com:

A. INOVAÇÃO – Os depoentes reconhecem a importância e influência da

inovação como instrumento para realização plena de suas potencialidades

empreendedoras. O enfoque de Schumpeter (1982) é vivido e experimentado

de forma peculiar, com ênfase em seus resultados para a vida pessoal dos

empreendedores.

B. GERENCIAMENTO – O ato de gerir sua própria empresa, sendo responsável

pelo sucesso ou insucesso do empreendimento, traz consigo conseqüências

para a existência do empreendedor. Há observação de seu papel como

indivíduo que faz a diferença em uma organização, em contraposição aos

papéis secundários desempenhados como subalternos em outras empresas.

C. DESAFIOS – Relacionado com a questão da gerência. O ato de gerir sua

própria organização faz com que o empreendedor assuma desafios para

lograr êxito comercial, financeiro e administrativo. Os depoentes vêm o

desafio como oportunidade, não como obstáculo.

D. CRIAÇÃO – A criação, é entendida aqui como ação de conceber, de inventar,

de dar existência ao que não existe, ou de dar nova forma, novo uso a

alguma coisa ou, ainda, de aperfeiçoar coisas já existentes (HOUAISS, p.

868). Os relatores observam a criação como propulsora no desenvolvimento

de seus negócios.

95

E. RELACIONAMENTO – O estabelecimento de relacionamentos interpessoais,

através de contatos comerciais e científicos, é considerando importante para

os negócios, pois permite o networking que alavanca os empreendimentos.

F. TEORIA NA PRÁTICA – A questão da aplicação prática dos conhecimentos

teóricos obtidos na formação básica do empreendedor se faz presente.

Assim, a dicotomia existente nesse debate é minorada, de modo a

proporcionar novas possibilidades de negócios.

G. SUJEITO DA AÇÃO – A percepção de ser o sujeito da ação, que com seus

atos pode modificar a realidade circundante, é observada. A ação entre os

pares é fundamental. A analogia com o “animal político” de Aristóteles (1997),

que por natureza dirige e convive em sociedade, se faz presente. O ser

sujeito da ação é motivo de realização pessoal.

H. PESQUISA – Em consonância com a inovação e criação, a questão da

pesquisa e desenvolvimento é valorada. Pesquisar não é apenas descobrir e

desenvolver novos conhecimentos e produtos. É uma afirmação pessoal, que

reforça a criatividade. A pesquisa transforma a potencialidade em realidade,

através de uma postura ativa na busca da realização.

96

I. INCUBADORA – A incubadora desempenha um papel secundário na ação

empreendedora. É um locus, onde os depoentes podem se realizar. A relativa

importância atribuída pelos sujeitos a esse habitat demonstra que eles se

fazem, não são produto do meio em que vivem. Porém, não significa

necessariamente que não seja importante ou fundamental, mas sim que há

autonomia no desenvolver ações e a utilização do espaço como espécie de

“fomentadora” de idéias e projetos.

J. EMPREENDEDORISMO – Os depoentes estão circundados por um ambiente

empreendedor. Recebem treinamentos, participam de cursos e palestras,

além de coabitarem um local com pessoas empreendedoras. Contudo,

compreendem o empreendedorismo de forma peculiar. Não há incorporação

do discurso do universo reificado em seus relatos, tão pouco fazem uma

representação social do mesmo (MOSCOVICI, 1978, 2003), no sentido stricto.

Isso se deve a forma de experienciar a realidade de forma pessoal e única,

sendo produtores de seu conhecimento, fazendo uma apreensão da realidade

de um modo singular.

K. ÔNTICO/ONTOLÓGICO – Os relatos abordam as duas dimensões, com

predominância da segunda. O modo de ver a questão, por parte dos

empreendedores, revela o fenômeno. Como construção intencional, os

discursos demonstram que o privilégio ôntico conferido as pesquisas sobre o

tema deve-se a necessidade dos pesquisadores efetuarem, entre outras

coisas: a) quantificação, b) repetição e controle, c) generalização, d) provar

ou refutar pesquisas anteriores, e) medição etc. A predominância ontológica

97

explica-se pelo fato do empreendedorismo ir além da visão utilitarista e

empírica que permeia o tema. Assim, é possível deixar que o fenômeno se

mostre naturalmente, que se desvele.

L. INTER/MULTI/TRANSDISCIPLINARIDADE – Da mesma forma que os

empreendedores relativizaram a importância da incubadora para seus

negócios, também não observaram as interfaces do empreendedorismo com

outras disciplinas. Isso não foi notado de forma direta. Indiretamente, porém,

constataram as relações, principalmente com a economia, a administração e

a psicologia, nos relatos sobre dinheiro, gerência e realização pessoal,

respectivamente. A perspectiva adotada, da transdisciplinaridade, revelou-se

acertada, face à observação do metaempreendedorismo como explicador da

realidade circundante.

M. EPISTEMOLOGIA/AXIOLOGIA/ONTOLOGIA – Inexiste considerações

epistemológicas nos discursos, devido ao fato dessa área estudar o tema de

outra forma. Em relação à axiologia, essa se faz presente, da mesma forma

que a ontologia, ambas consideradas no sentido lato.

Essas significações, que emergiram dos depoimentos dos empresários incubados,

são descrições da realidade empreendedora. Porém, mister se faz interpretá-las, a

partir dos pressupostos da fenomenologia hermenêutica, explicitados no capítulo II.

Tal interpretação será efetuada não apenas dos relatos, mas também a partir do

fenômeno em-si, fazendo uso das reduções fenomenológica e eidética, conforme

será visto a seguir.

98

CAPÍTULO IV

INTERPRETAÇÃO

DOS RESULTADOS

99

Considerando que um fenômeno pode ser interpretado a partir daquilo que ele é,

propõe-se neste capítulo discorrer sobre a atitude interpretativa explicitada

anteriormente. O sentido do fenômeno é inesgotável, pois a depender do prisma que

se adote haverá sempre a possibilidade de uma interpretação.

Assim, adotar-se-á nessa análise os pressupostos da fenomenologia existencial.

Não porque esta seja “melhor” que outra abordagem, mas sim em função de

representar a oportunidade de discorrer com mais propriedade sobre elementos da

constituição ontológica do empreendedorismo.

Ademais, verificou-se que para conhecer a realidade de determinado fenômeno é

necessário fazer uso do círculo hermenêutico interpretação-compreensão-nova

interpretação. No capítulo I observou-se as diversas definições que se tem sobre

empreendedorismo e a indefinição conceitual que permeia o tema.

Não obstante, para se avançar no trabalho interpretativo, cumpre discorrer sobre

elementos epistemológicos do empreendedorismo, pois o que foi visto no capítulo I

sobre o tema relaciona-se com uma explicitação propredêutica e histórica.

Tal explicitação, porém, é insuficiente para fornecer as bases de uma interpretação

mais consistente sobre a temática. É necessário um aprofundamento maior, através

da reflexão geral sobre a natureza, etapas e limites do conhecimento sobre o

assunto, particularmente nas relações que se estabelecem entre o pesquisador e a

temática. É a constante retomada do ponto de partida, para se fazer a interpretação

do que já foi descrito.

100

Dito isto, convém esclarecer que essa retomada analisará preponderantemente três

itens não contemplados anteriormente: a) definições de empreendedores; b) temas

de pesquisa; c) abordagens de estudos.

Iniciando as análises, é importante citar Bygrave e Hofer (1991), que acreditam ser o

principal desafio da área o desenvolvimento de uma fundamentação teórica. Os

autores discutem obstáculos para estabelecer uma estrutura formal, tal como o

pouco consenso dos investigadores em ratificar uma definição geral de

empreendedorismo e a difícil caracterização do processo empreendedor. Com essa

indefinição, cada pesquisador pode explicar o que entende por empreendedorismo

sem perder rigor científico.

A revisão da literatura efetuada nesta investigação sobre o assunto não foi

exaustiva, mas ratifica o entendimento que a complexidade inerente a essa

discussão reside no estágio epistemológico que o empreendedorismo se encontra.

Estando em uma fase pré-paradigmática, a área tem espaço para os mais diversos

estudos, que evoluem de acordo com aspectos contingenciais (em relação ao

caráter eventual ou circunstancial das investigações), das condições sócio-políticas-

ambientais e do momento histórico em que os pesquisadores desenvolvem suas

elucubrações.

O quadro a seguir ilustra essa situação, em que há tantos autores quantas

definições possíveis sobre essa temática.

101

Autor

Definição

Cantillon (1755) Empreendedores como auto-empregados que se ajustam ao risco, quando o retorno é incerto. Especulador.

Say (1821) Indivíduo que combina recursos diversos. Knight (1921) Indivíduo que toma decisões em condições de incertezas.

Dominguez (2002) Para Marx, o empreendedor não existe; apenas o capitalista. Os economistas neoclássicos ignoram-no.

Schumpeter (1934) Indivíduo que inova, motor da economia capitalista. McClelland (1961) Controla meios de produção e produz mais que consome.

Drucker (1969) Alguém que procura maximizar as oportunidades. Hayeck (1974) Captador e utilizador de informações, que lhe permite encontrar

oportunidades. Chave para o desenvolvimento. Liles (1974) Nem toda pessoa que cria uma empresa é empreendedora. O

empreendedor inova, identifica e cria oportunidades. Casson (1982) Lida com recursos escassos e sabe discernir. Kirzner (1982) Faz arbitragem de informação imperfeita. Carland et al.

(1984) Fazem a distinção entre empreendedor e dono de PME, baseando-se no caráter inovador do empreendedor, que visa o lucro, ao passo que o dono de PME visa objetivos pessoais.

Stevenson e Gumpert (1985)

Persegue oportunidade sem se deixar limitar pelos recursos que controla.

Bracker, Keats e Pearson (1988)

Similar a abordagem de Carland et al. (1984), com a introdução da idéia de gestão estratégica por parte do empreendedor.

Bareto (1989) Coordena, arbitra, inova e suporta a incerteza.

Gartner (1989) A criação de organizações distingue o empreendedorismo de outras disciplinas, sendo este a criação de organizações. O empreendedorismo termina quando o estágio de criação de empresas acaba.

Stewwart (1991)

Baseado em perspectivas antropológicas, econômicas e estratégicas, o empreendedorismo pode ser definido como produto da criação, através da inovação.

Davidsson (1991) Empreendedorismo é gradual e pode manifestar-se de diversas formas: start-up, crescimento, inovação etc.

Bygrave e Hofer (1991)

Um empreendedor é alguém que se apercebe de uma oportunidade e cria uma organização para persegui-la.

Krueger, Jr e Brazeal (1994)

Empreendedorismo é a busca de oportunidades independente dos recursos disponíveis. Empreendedor é aquele que se vê como perseguindo essas oportunidades.

Palich e Bagby (1995)

Economistas tendem a adotar a definição de Schumpeter. Corporate executives vêm o empreendedor como gestores de PME, incapazes de dirigirem empresas maiores.

Westhead e Wright (1999)

Distinguem entre empreendedor ocasional, empreendedor em série e empreendedor que constrói um portfólio de negócios.

Anderson (2000)

As qualidades do empreendedor são a capacidade de ver novas combinações, vontade de agir e desenvolver estas combinações, a visão de que interessa agir de acordo com a visão pessoal do que com cálculos racionais e a capacidade de convencer os outros.

Henderson (2002) O empreendedorismo é descobrir e desenvolver oportunidades de criar valor através da inovação.

Quadro 5: Definições de empreendedorismo e empreendedor Fonte: adaptado de Gaspar (2003, p. 192-193)

102

Sem paradigma orientador, os estudiosos investigam diversos temas. Isso ocorre

devido ao aspecto interdisciplinar do empreendedorismo, que faz com que

pesquisadores de vários ramos do saber incluam o assunto em suas elucubrações.

Porém, pode-se perceber no quadro a seguir que os estudos privilegiam

características ônticas, não as ontológicas.

• Características comportamentais dos empreendedores • Características econômicas e demográfica das pequenas empresas • Empreendedorismo e pequenas empresas nos países em desenvolvimento • Características gerenciais dos empreendedores • O processo empreendedorial • Criação do risco • Desenvolvimento de negócios • Capital de risco e financiamento para pequenas empresas • Gestão, recuperação e aquisição de negócios • Empresas de alta tecnologia • Estratégia e crescimento da empresa empreendedorial • Alianças estratégicas • Empreendedorismo ou intraempreendedorismo em companhias (corporações empresariais) • Negócios familiares • Auto emprego • Sistemas de apoio a incubadoras e ao empreendedorismo • Redes • Fatores que influenciam a criação e o desenvolvimento de risco • Políticas de governo e criação de risco • Mulheres, minorias, grupos étnicos e empreendedorismo • Educação do empreendedorismo • Pesquisa do empreendedorismo • Estudos culturais comparativos • Empreendedorismo e sociedade • Franquias

Quadro 6: Principais temas da pesquisa sobre empreendedorismo

Fonte: Filion (1997b, p. 06)

Com a constatação da ausência de paradigmas e a definição dos temas de pesquisa

em empreendedorismo, surge uma importante questão: como os pesquisadores

estudam o assunto? Danjou (2002) demonstrou que pode haver três abordagens; a

do contexto; a do ator; e da ação, conforme verificado na introdução deste

trabalho. No quadro a seguir uma explicação de possíveis outras abordagens.

103

Autor

Abordagem

Casson (1982) Início dos anos 1960 ocorre a dicotomia na pesquisa, com o advento dos estudos de gestão, ligados às características do empreendedor.

Gartner (1985) 4 perspectivas de

estudos

1. características do empreendedor. 2. a organização que ele cria. 3. o ambiente que circunda essa organização. 4. o processo pelo qual é criada a organização.

Low e McMillan (1988) 3 ramos

de estudos

1. comportamento (personalidade; ambiente demográfico). 2. caráter das ações. 3. aspecto normativo.

Gartner (1989)

Não interessa quem é o empreendedor, mas sim o que ele faz. Ao invés de se estudar as características do empreendedor, deve-se estudar o processo de criação de novas organizações. A abordagem comportamental olha para o empreendedorismo como algo que alguém faz e não algo que alguém é, assim olha-se para a organização e não para a pessoa.

Stevenson e Jarillo (1990) 3 ramos de

estudos

1. What-economia. Inicia com Cantillon, criador do termo, com foco econômico, e não na pessoa. Prossegue com Say, que introduz o conceito de combinar fatores de produção; avança com Schumpeter. 2. Why-psicologia/sociologia. 3. How they act-gestão.

Stewart (1991) 2 temas de estudos

1. acesso à atividade empreendedorismo. 2. o clustering espacial do empreendedorismo.

Stewart (1991) antropologia

1. etnografia. 2. grounded theory.

Bygrave e Hofer (1991)

Mudar o foco das características do empreendedor para o processo empreendedor.

Davidsson (1991) As medidas de empreendedorismo usadas são limitativas. A investigação deve focar em empreendedorismo continuado e em graus de empreendedorismo.

Savage e Black (1995) 2 eixos

1. teleológico (porque sabemos?): características da linguagem, descoberta de regularidades, compreensão de significado, reflexão. 2. epistemológico (como sabemos?):experiencing, examining, enquiring.

Savage e Black (1995) quadro de

investigação

a) investigação tradicionalmente é feita com base em métodos da ciência social, incluindo etnografia (antropologia); observação participante (sociologia); estudos de caso (psicologia). b) nos últimos 50 anos enriqueceu-se o debate com as inovações das ciências sociais, assim como os vindos da educação e lingüística. c) outras escolas de pensamento: teoria crítica, hermenêutica, fenomenologia e interação simbólica.

Andersson (2000) 3 categorias

1. como as pessoas agem. 2. porque agem. 3. o que acontece quando agem.

Ucbasaran, Westhead e Wright (2001) Estudo de

artigos sobre tipos, comportamento,

reconhecimento e formas

organizacionais

- estudos com foco nas características do empreendedor são criticados e produzem resultados fracos. - estudos recentes focam o comportamento do empreendedor. - o processo cognitivo também é estudado e o processo de decisão ou heurístico do empreendedor é promissor. - identifica 05 temas de investigação: a) antecedentes; b) tipos; c) processo e tipos de organizações criadas; d) ambiente externo; e) resultados.

Quadro 7: Abordagens ao estudo do empreendedorismo Fonte: adaptado de Gaspar (2003, p. 194-195)

104

Filion (1997b, p. 8), analisando as questões anteriormente discutidas, apresenta o

termo empreendedologia para definir a disciplina que pesquisa a temática e que se

destina à Academia, ao passo que a disciplina empreendedorismo destina-se aos

seus praticantes. Para o autor, o campo está dominado pelos funcionalista-positivistas,

existindo a necessidade de abrir novas perspectivas para compreender o que os

empreendedores são e o que eles fazem. É preciso ainda separar a pesquisa pura da

aplicada, com o intuito de se criar uma teoria do empreendedor. A ciência que daria

suporte a essa teoria seria a empreendedologia (FILION, 1997b, p. 10).

Basicamente, o que Filion (1997b) demonstra é que o empirismo dominante no

empreendedorismo faz com que as características ônticas sejam o objeto de

estudos dos pesquisadores.

É possível observar que a maior parte dos estudos efetuados no campo do

empreendedorismo baseiam-se no empirismo. Davidsson (1991) e Davidsson e

Wiklund (2001) observam que tais estudos recolhem dados empíricos sem estudar

seu significado em termos de abstrações mais elaboradas, ao invés de estabelecer

modelos para depois proceder a verificação.

Porém, a Academia tem voltado sua atenção para novas formas de se analisar o

problema. Cope (2005) observa que recentemente emergiu no campo do

empreendedorismo pesquisas fenomenológicas, dentro do paradigma interpretativo

(CAVE, ECCLES, RUNDLE, 2001; COPE, 2001; COPE, WATTS, 2000; GRANT,

PERRIN, 2002). Em seu texto, o autor analisa aspectos relacionados à

105

epistemologia e à ontologia, ilustrando a passagem da filosofia fenomenológica para

a metodologia.

Berglund (2006), por sua vez, observa que muitas pesquisas da área são positivistas.

Apresenta as filosofias de Husserl e Heidegger, para procurar compreender como os

conceitos teóricos e eventos empíricos podem ser tratados com o uso da abordagem

fenomenológica.

Como observado, a epistemologia do empreendedorismo encontra-se em construção.

A Academia tem acompanhado essa questão, através do desenvolvimento de

diversos tipos de pesquisas, com variadas abordagens. Uma dessas abordagens

consiste em estudos fenomenológicos, que visam enriquecer os debates,

considerando as particularidades da fenomenologia, que visa atingir, invariavelmente,

a essência de seus objetos de estudo. Nesta dissertação, a novidade está em

introduzir o existencialismo como um importante meio para análises e reflexões

sobre o assunto, conforme explicitado a seguir.

4.1 – Existencialismo

O platonismo, baseado em Platão e o cristianismo, derivado de Cristo, foram

filosofias que obtiveram sucesso na separação do corpo e da alma, dicotomizando

corpo e consciência. Além disso, estabeleceram uma hierarquia em que a

consciência poderia dominar as vontades e paixões advindas do corpo. O

racionalismo de Descartes também preconizava tal situação (SARDI, 2001). Com o

106

advento do existencialismo isso mudou, de forma que o homem ganhou lugar nas

discussões. Isso ocorre devido ao conceito de intencionalidade da consciência.

Basicamente o existencialismo tem como característica a inclusão da realidade

concreta do homem (sua mundanidade, angústia, desespero etc.) no centro da

investigação filosófica, em antagonismo com os racionalistas que acabam com a

subjetividade individual em estruturas conceituais abstratas e universais. Em outras

palavras, as especulações voltam-se para aspectos fundamentais da existência, que

privilegiam a dimensão de finitude na humanidade: a liberdade, a morte, o

compromisso, a responsabilidade etc.

O objeto da reflexão é o homem em sua existência concreta, a partir de uma

situação determinada, mas não necessária (o “ser-para-outro”; “ser-no-mundo” etc.).

O homem, condenado a ser livre em função de não ser portador de uma essência

abstrata e universal, surge como o realizador de sua vida, o dono do próprio destino,

submetido a limitações do dia-a-dia. Por sua vez, como método filosófico, apresenta

um pensamento especulativo, com a elaboração de teorias filosóficas a partir de

conceitos abstratos. Utiliza a fenomenologia e busca-se o dado, o realmente

percebido, com descrição daquilo que se manifesta na humanidade.

O momento histórico conturbado de seu surgimento (entre as duas grandes guerras

mundiais) foi determinante para que os filósofos existencialistas dessem uma

conotação muito particular de seus pressupostos, que influenciou sobremaneira o

modo de ver o mundo de inúmeras pessoas.

107

Ex-sistere é o termo em latim equivalente a existência. Significa o vir a constituir-se

e a manter-se (sistere) provindo de um (ex) outro. Basicamente, a existência é o

devir, o devir do homem (SEVERINO, 1986, p. 239).

Abbagnano (1993, p.128) demonstra que Kierkegaard (1813-1855) e Husserl foram os

precursores do existencialismo. Do primeiro, os existencialistas valeram-se da categoria

fundamental de que se serve na análise da existência, a possibilidade, considerada

principalmente no seu caráter ameaçador e paralisante, que é devido ao fato de tornar

problemática a relação do homem com o mundo e de excluir de tal relação a garantia

de um sucesso infalível. Ao passo que do segundo utilizaram a ontologia apofântica,

ou a concepção de um ser (mundo) que se revela melhor ou pior ao homem segundo

estruturas que constituem o modo de ser do próprio homem.

Porém, o primeiro existencialista foi Heidegger (1899-1976), que tinha por objetivo

estabelecer uma ontologia a partir da compreensão primária do ser que possibilita

auscultá-lo e interrogá-lo para obter sucesso em determinar plena e completamente

o sentido do ser (ABBAGNANO, 1993, p.137).

Sartre (1966) afirmou que a existência precede a essência. Em outras palavras,

pode-se dizer que o homem surge no mundo, encontra a si próprio, existe, para

apenas e tão-somente depois se definir. O homem será aquilo que fizer de si mesmo

(o autor chama isso de subjetividade), não há condicionantes extrínsecos. O ser

humano é um projeto que se faz gradualmente. Conseqüentemente, define-se pelo

conjunto dos seus atos. Em resumo, o indivíduo é que se faz.

108

Cabe aqui esclarecer que ser não equivale a existir. Quando alguém diz: “sou

empreendedor”, está se portando de uma forma típica de todos os seres, de forma

passiva e sem grandes possibilidades. Ao passo que quando se diz ”estou

empreendedor”, há demonstração de se estar passando de uma condição de

potencialidade para realidade. Conscientemente, o sujeito percebe estar se

realizando como empreendedor. Ou seja, o indivíduo escolheu ser empreendedor.

Exemplificando esse significado, é possível fazer uma correlação com o estudo de

Ferreira (2003). Em seu trabalho, o autor criou um modelo heurístico tridimensional,

para identificação do perfil do empreendedor. A figura abaixo demonstra que o

empreendedor localiza-se na dimensão individual. A dimensão ambiental e a

grupal/organizacional, somadas a primeira, proporcionará em seus interstícios o

chamado desempenho empreendedor.

Figura 7: Dimensões de atuação do empreendedor

Fonte: Ferreira (2003, p. 45)

109

Observa-se aqui que o empreendedor não está, ele é. Não é um projeto, que se

realiza por vontade própria, sendo livre para escolher. Fatores extrínsecos atuam

sobre ele, impedindo suas potencialidades.

Em uma abordagem existencial, há o predomínio do humano. Isso significa que o

empreendedor pode se realizar. A figura a seguir contrapõe as duas análises.

Figura 8: Modelo tridimensional X abordagem existencial

Fonte: Ferreira (2003, p. 45); do autor

Como observado, o fundamental não são fatores externos. Estes coadunam para o

chamado desempenho empreendedor. O empreendedor não “nasce” empreendedor,

ele torna-se. Os fatores ambientais ou grupais/organizacionais são meios, não fins,

para a realização do projeto empreendedor do ser.

Isso não equivale dizer que a abordagem existencial seja preponderante ou mais

adequada que outras. Apenas indica que ela não está baseada em identificar perfis,

110

congruências ou similitudes. Afinal, modelos e abstrações buscam encontrar algo

que explique o funcionamento e mecanismos de ação de determinado fenômeno.

Isso ocorre em ciências exatas e naturais, não em ciências sociais.

Boaventura de Souza Santos, em sua obra “Introdução a ciência pós-moderna“

(1989) faz uma crítica à ciência moderna, afirmando que suas práticas de

conhecimento enquadram a sociedade e o mundo. O ponto de partida é que a

ciência é uma práxis social, sendo os fenômenos sociais estudados pelas ciências

sociais e não pelas ciências naturais.

O que importa é a construção que o homem faz. Assim, o debate deve ser efetuado

a partir do fenômeno, deixando que ele se manifeste livremente.

Por isso, a utilização da fenomenologia é importante, pois esta investiga o ser, a

partir do que ele é, visando sua essência.

4.2 – Analítica existencial

Heidegger (1999a) utiliza a chamada analítica existencial. Não há interesse pela

existência pessoal, nem pelos problemas dela oriundos. O autor visa discutir o ser,

discorrer sobre o estabelecimento de uma ontologia geral, uma teoria do ser.

111

Essa ontologia utiliza a analítica existencial, que somada a derivados existenciais

adequados possibilitam descrever aspectos essenciais ônticos. Assim, os problemas

ônticos podem ser formulados e resolvidos de diferentes modos de ser do homem

no mundo e não a partir dos pressupostos reducionistas, objetificantes,

deterministas e empiristas da ciência natural (LOPARIC, 1999).

Para iniciar as análises, convém discutir o esquema das limitações do Ser,

apresentado por Heidegger (1999b), conforme figura a seguir.

Figura 9: Esquema das limitações do ser

Fonte: adaptado de Heidegger (1999b, p. 214)

Para Heidegger (1999b), a separação entre Ser e Pensar está desenhada para

baixo, significando que o pensar é o fundamento que sustenta e determina o ser. Já

a separação entre o Ser e o Dever a seta está para cima, indicando que assim como

DEVER

112

o Ser é fundado no pensar, também é coroado pelo dever. A Aparência, indicada no

esquema, é o incorreto, e está fundamentada na distorção do pensar. Já o Vir a ser

ainda não é. Trata-se da mudança de lugar, cuja manifestação decisiva e normativa

está no movimento. Tanto o Vir a ser, como a Aparência, também se determinam

pela perspectiva do pensar.

O Ser, a partir de sua capacidade de pensar, pode viver na aparência ou se realizar

plenamente, considerando o dever como instância “final”.

4.3 – Interpretação dos resultados

Os prolegômenos apresentados, conforme verificado ao longo desta dissertação,

serviram para esclarecer e situar o debate sobre o tema. Porém, pretende-se aqui

conhecer a essência do empreendedorismo. Assim, as análises a seguir visam

discutir o assunto.

Observou-se os modos pelas quais o termo empreendedorismo evoluiu até os dias

atuais, suas características polissêmicas, os estudos científicos efetuados, o

privilégio ôntico conferido à temática etc.

Até o momento demonstrou-se que as investigações efetuadas não obtiveram

sucesso na busca pela essência do empreendedorismo. Isso se deve a dois

motivos: 1) a fase pré-paradigmática em que o ramo se encontra; 2) ênfase em

estudos ônticos.

113

Destarte, face ao exposto e considerando a pesquisa realizada, é possível afirmar

que a essência do empreendedorismo reside na liberdade. Não se trata da

possibilidade que tem o empreendedor de agir conforme sua vontade e idéias, ou

mesmo sua consciência, mas sim a potencialidade que tal indivíduo tem de agir de

forma autônoma buscando seus objetivos. Sem considerar condições ou limites, o

empreendedor se realiza a partir de sua autodeterminação, e constitui a si próprio e

o mundo que vive.

Ou seja, não há determinantes externos, não há casualidade. A inovação, os valores

recebidos na infância, a capacidade de gerir etc. são apenas meios para se atingir a

liberdade, que é atingida no momento em que há realização do projeto

empreendedor do ser.

Sartre (1966) observou que o homem apresenta-se como uma escolha a fazer, que

não há um determinismo natural. Ademais, não é apenas como se concebe, mas

como quer ser, considerando o querer como uma decisão consciente. A decisão de

empreender é, nesse sentido, uma manifestação da vontade.

O estudo da dimensão ontológica do empreendedorismo apresenta em sua tessitura

a questão da intencionalidade da consciência. Sendo o homem alguém que se faz e

que apresenta suas limitações assentadas no pensamento [conforme visto no

esquema das limitações do ser, de Heidegger (1999b)], percebe-se que qualquer

114

investigação nesse campo deve, necessariamente, considerar que todo ato humano

é intencional.

A novidade nesta discussão é que a essência do empreendedorismo está na

liberdade. Mas essa liberdade tem um limite? Sartre (1997) observou que o homem

só não é livre para deixar de ser livre. Assim, ou o homem é totalmente livre ou não

é. Isso é o que explica a obstinação de certos empreendedores encontrada nos

estudos ônticos que são efetuados sobre a temática que traz essa característica

como proeminente.

É no ato de empreender, na ação, que o empreendedor vislumbra o propósito de

mudança que almeja. Assim, não há destino, há a construção de uma realidade.

E o não empreendedor? Como pode a essência do empreendedorismo ser a

liberdade, se há indivíduos que não se tornam empreendedores?

Sartre (1997) afirma que a angústia é o meio que o homem utiliza para tomar

consciência de sua liberdade. Vivendo angustiado, por não ser livre, pode optar ou

não por se realizar.

Assim, o não empreendedor se angustia, pois não se realiza. Conforma-se e vive

sua vida de forma a esquecer sua condição.

115

Desta forma, pode-se explicar como a necessidade faz com que muitas pessoas

empreendam. O fazem não porque possuam características peculiares, ou porque a

necessidade é maior que sua “natureza”, mas sim devido ao desejo de liberdade, no

sentido de desincumbir-se de uma condição problemática em busca da felicidade e

realização.

Então é possível afirmar que qualquer pessoa possa ser empreendedora? Sim. Mas

se haverá sucesso ou insucesso no empreendimento isso não é possível afirmar.

Para esclarecer as condições do sucesso ou insucesso de um negócio há

necessidade de estudos ônticos.

É importante considerar, porém, o sentido etimológico da palavra existência para o

homem. Vattimo (1987, p. 25) diz que se deve considerar o ex-sistere, como estar

fora, ultrapassar a realidade presente na direção da possibilidade.

Como possibilidade, somente há o caminho da liberdade, eis a essência do

empreendedorismo.

Além disso, como observado na pesquisa, o empreendedorismo é um fenômeno

social, que traz consigo implicações de diversas naturezas, sejam psicológicas,

sociais, culturais ou econômicas.

116

Percebe-se ainda que o empreendedorismo é contigencial (no sentido de ocorrer de

maneira eventual e circunstancial), não necessitando de condições apriorísticas para

sua concretização.

No limite desta investigação, a partir da perspectiva analítica existencial utilizada,

considera-se que esta dissertação possa contribuir com o estudo do

empreendedorismo e do ser que empreende, sintetizando os conceitos a seguir:

Empreendedor: indivíduo executor de uma ação capaz de produzir uma ruptura

com aquilo que lhe proporciona segurança e estabilidade (a acomodação, a

alienação, a paixão etc.). Produz-se assim um efeito catártico que gera nesse

indivíduo uma libertação daquilo que lhe é estranho à sua essência e que, por esta

razão, limita sua capacidade empreendedora. Trata-se, portanto, de uma pessoa

que transforma sua potencialidade em realidade, caracterizando-se por ser temporal

e impermanente, abarcando as mais variadas esferas da vida social, tais como:

negócios, política, esportes entre outras.

Empreendedorismo: conjunto de atividades que visam proporcionar ao

empreendedor, no decurso de sua ação, plena liberdade. Tal liberdade se manifesta

devido à ocorrência de uma ruptura com aquilo que lhe proporciona segurança e

estabilidade. O estado de dependência em relação a fatores externos (existente na

segurança e estabilidade) é substituído pela possibilidade de ser sujeito da ação.

Sua base é transdisciplinar e teleológica, sustentando-se na busca pela realização

plena do ser.

117

Como verificado, haverá empreendedor e empreendedorismo onde houver ser

humano. A face econômica-administrativa do campo é uma entre muitas, que ganha

relevância devido ao crescente interesse por parte dos governos e sociedade.

O reducionismo existente, ao se considerar o empreendedorismo e o empreendedor

apenas como “objetos” da economia, psicologia ou administração faz com que não

haja uma compreensão holística do fenômeno.

É necessário, antes de tudo, considerar que a temática é própria do homem. Assim,

em outros ramos de atividades humanas ela acontece, como na política, nos

esportes, na vida cotidiana, na Academia (por exemplo, ao escrever sobre a teoria

da dissociação eletrolítica, Arrhenius foi empreendedor) etc.

Finalmente, cumpre esclarecer que a atitude interpretativa adotada nesta

dissertação é inicial, provisória e que o assunto não se esgota nele mesmo. É

preciso conduzir estudos mais aprofundados, tanto ônticos como ontológicos.

118

CONCLUSÃO

119

O objetivo geral deste trabalho consistiu em analisar o empreendedorismo a partir de

sua dimensão ontológica, visando esclarecer sua essência e considerando sua base

filosófica. Neste sentido, mediante o emprego do método fenomenológico-

hermenêutico o resultado foi alcançado. A liberdade desvelou-se como sendo essa

essência.

Por sua vez, os objetivos específicos também foram atingidos, na medida em que se

evidenciou que os aspectos paradigmáticos do empreendedorismo trazem

implicações no âmbito ontológico, além de se demonstrar que o empreendedorismo

implica um conhecimento científico e filosófico, de forma indissociável.

A pesquisa com os empresários incubados, a seu turno, foi de grande valia para

demonstrar que a essência do empreendedorismo relaciona-se, primeiramente, com

o próprio ato de existir do homem.

Porém, a investigação com os empresários foi insuficiente para caracterizar

plenamente a essência do empreendedorismo, sendo fundamental para isso a

analítica existencial realizada.

Não obstante, observa-se que a liberdade, quando não efetivada, acarreta

alienação, ou seja, a ausência de liberdade na qual o ser-no-mundo é incapaz de

dar sentido a sua própria existência. E a angústia é o meio que o homem utiliza para

tomar consciência de sua liberdade. Sabe que está sozinho, pois precisa escolher o

que vai fazer ao longo de sua vida.

120

Na medida em que o sujeito evolua do ser-em-si em direção ao ser-para-si, haverá o

desenvolvimento da capacidade empreendedora, pois o grau de sua liberdade

estará sendo incrementado.

Esse sujeito, lançado ao mundo, primeiro existe com o tempo, tornando-se aquilo

que desejar. Nesse momento adquire sua essência. Ao longo de sua vida, é

constantemente submetido a fazer escolhas, sendo tais escolhas tomadas a partir

de sua perspectiva e filosofia de vida, sem condicionantes externos.

A essência do empreendedorismo é a liberdade porque é ela que impulsiona o ser,

independente do motivo que foi deflagrador do desejo de empreender (por exemplo:

adquirir riquezas, ter uma ocupação, competir, necessidade etc.). O ser somente

será livre se estiver constantemente empreendendo.

Sendo a liberdade uma potencialidade, o ser pode decidir a existência que quer para

si, sendo essa existência determinada em um tempo e espaço, condicionada pelo

convívio em sociedade, com suas leis e ditames.

Ademais, com a constatação que o empreendedorismo comporta uma filosofia,

baseada na ontologia, na axiologia e na epistemologia, foi possível verificar que

apenas investigações científicas sobre o tema são insuficientes para uma

compreensão abrangente do fenômeno. Mister se faz também investigações

filosóficas.

121

Tais investigações diferem das científicas por procurarem atingir os primeiros

princípios, a gênese. Perguntas como “qual a essência disto?”, “o que é isto que é?”,

“para quem é isto que é?” etc. são efetuadas neste tipo de estudo.

O empreendedorismo, dentro de uma perspectiva filosófica, é universal. Onde haja

homem e sociedade haverá empreendedorismo. O pesquisador ôntico parte de

certezas, de pressupostos que o fazem problematizar. O investigador ontológico

problematiza o ponto de partida.

Por isso, a consideração do empreendedorismo ser transdisciplinar está adequada à

realidade. Do mesmo modo que o entendimento que as respostas à suas

indagações não estar nele mesmo, mas sim no metaempreendedorismo, que tem

suas bases assentadas na teleologia e na metafísica.

Na ciência, por sua vez, Filion (1997b) observou essa questão e afirma que é

preciso separar a pesquisa pura da aplicada, com o intuito de se criar uma teoria do

empreendedor. A ciência que daria suporte a essa teoria seria a empreendedologia.

Como observado, os estudos na área encontram-se em fase de amadurecimento.

Este trabalho contribui com o assunto na medida em que o questiona a partir de um

novo ponto de partida. A essência do empreendedorismo é a liberdade, que não

está contida nela mesma, mas sim em âmbito do ser que empreende.

122

Em termos temporais, este trabalho foi efetuado analisando o empreendedorismo a

partir do século XIX, sendo que o entendimento da atividade sofreu poucas

alterações desde seu advento.

Como colocado na introdução, não se pretendia aqui esgotar o assunto, mas sim

deflagrar novos estudos transdisciplinares. Muitas das observações efetuadas

necessitam de aprofundamento, sendo necessário ainda conduzir investigações

sobre as dimensões não contempladas, quais sejam: a axiologia e a epistemologia.

O homem é um ser-para-empreender. O que determinará a ação empreendedora

não são fatores externos, mas sim sua condição de potencialidade.

Finalizando, contribui-se para o avanço científico-filosófico sobre a temática, ao

descortinar novos horizontes investigativos e recolocando a primazia do ser no trato

com o assunto.

123

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146

APÊNDICES

147

APÊNDICE I – Edmund Husserl

Nascido em Prossnitz, Morávia, então Império austro-húngaro, hoje Prostejov, atual

República Checa, em 08 de abril de 1859 e falecido em Freiburg, Alemanha, em 26

de abril de 1938, Husserl foi um matemático, que em suas primeiras elucubrações

tratou da questão da fundamentação da matemática, objetivando uma construção

consistente dessa ciência.

Estimulado por sua família judia, estudou também física, astronomia e filosofia nas

universidades de Leipzig, Berlim e Viena. Husserl foi discípulo dos matemáticos

Kronecker e Weirstrass, chegando inclusive a ser ajudante deste último em 1883.

Nesse ano em Viena conheceu Franz Brentano (1838-1917), do qual adotou o

conceito de intencionalidade e que influiria decisivamente em sua formação

filosófica. Brentano influenciou além de Husserl, Sigmund Freud, Carl Stumpf entre

outros.

Em 1882 Husserl defendeu sua tese de doutoramento, intitulada “Contribuição para

a Teoria do Cálculo de Variáveis“. Em 1886 Brentano envia Husserl a Carl Stumpf, o

mais velho de seus estudantes e que era professor de filosofia e psicologia na

universidade de Halle. Nesta universidade Husserl passou no concurso para

professor conferencista em 1887. Nesse ano também se casou com Malvine

Steinschneider, mulher determinada e enérgica, que exerceu grande influência em

sua vida e em seus trabalhos.

148

O tema da tese de habilitação em Halle foi "Sobre o conceito de número: análise

psicológica", o que demonstra sua transição da pesquisa matemática para uma

reflexão sobre as bases psicológicas dos conceitos básicos da matemática.

A tese foi um ensaio desenvolvido depois em seu primeiro livro, “Filosofia da

aritmética”, publicado em 1891, que foi uma tentativa de derivar aritmética e lógica

da psicologia. Dizia que as leis matemáticas têm validade independente da forma

com que o pensamento chegue a formulá-las.

Sua obra estritamente filosófica começou nos anos de 1900 e 1901, com a

publicação de suas “Investigações lógicas”, em que refutou a si próprio. Neste

trabalho Husserl causou grande polêmica, ao atacar o psicologismo na lógica e ao

propor uma reorientação do pensamento puro.

A intenção do agora filósofo fenomenólogo era estabelecer uma base

epistemológica para a filosofia, que a converteria em uma ciência do rigor.

Para isso, criou o chamado “método fenomenológico”. A consciência é a condição

sine qua non de qualquer conhecimento e é “intencional” (“toda consciência é

consciência de algo”). Para Husserl, o trabalho do filósofo é a superação das

atitudes naturalistas e psicologistas, por meio da apreensão das essências das

coisas, que podem ser reconhecidas por meio de regras sistemáticas que definem a

variação dos objetos na imaginação.

149

Depois da publicação de “Investigações lógicas”, Husserl foi convidado a ministrar

aulas em Gottingen, onde permanece de 1901 a 1916, local em que redigiu “A

filosofia como ciência do rigor”, em 1910-1911 e “Idéias relativas a uma

fenomenologia pura e a uma filosofia fenomenológica”, em 1913, cujo livro aplica a

fenomenologia no estudo do conhecimento em geral, considerado por vários autores

e estudiosos fenomenólogos uma obra clássica de sua fenomenologia, uma espécie

de vade mecum.

Em 1916 Husserl foi convidado a se tornar professor catedrático em Freiburg. Isto

representou um novo começo para ele, que escreveu as obras “Fenomenologia da

consciência do tempo interno” (1928); “Lógica formal e transcendental” (1929);

“Meditações cartesianas” (1931); “A crise das ciências européias” (1936).

Com a chegada dos nazistas ao poder, em 1933, Husserl, por ter origem judaica (em

sua juventude adotou o luteranismo, mas os nazistas o consideravam impuro), foi

impedido de ensinar. Mas o reconhecimento por sua obra vem de muitos locais do

mundo. Sua filosofia cria a chamada “escola fenomenológica”, que tem entre seus

primeiros expoentes Max Scheler e Martin Heidegger.

O movimento criado por Husserl cresceu e expandiu-se por todo o mundo. A

amplitude de suas elucubrações é tão vasta que engloba quase todas as ciências e

campos do saber. A fenomenologia, depois de mais de um século de criação, está

forte e ganhando novos adeptos a cada dia.

150

Publicam-se livros, anais, revistas e jornais. Realizam-se congressos, simpósios,

seminários, encontros, jornadas e debates sobre o assunto. São criadas

associações e sociedades científicas para se debater o tema.

Isto ocorre devido ao fato do criador da fenomenologia, Edmund Husserl, ter

desenvolvido um método que consegue, de uma forma mais apurada que os

demais, captar as essências mais sutis do caminho que conduz à verdade, através

de um pensamento metafilosófico rigoroso.

Contribui também para o sucesso da fenomenologia a personalidade de Husserl,

que era um homem extremamente meticuloso, organizado e sistêmico.

Ao morrer, em 1938, deixou 45.000 páginas de manuscritos estenografados, além

de sua biblioteca particular, que atualmente encontram-se na Universidade Católica

de Louvain, na Bélgica.

Deste modo, ainda hoje se publicam livros de Husserl inéditos. Esta obra, já tem

mais de 30 volumes, além de outros 10 volumes de cartas e correspondências,

sendo conhecida como “Arquivos Husserl” ou “Husserliana”.

Outro fator de sucesso da fenomenologia consiste em sua intrínseca dificuldade.

Compreender sua amplitude, manipular os conceitos filosóficos e transpô-los para o

campo de estudo de interesse requer muita disciplina e adestramento mental.

151

Isso, de alguma forma, estimula e encoraja muitos filósofos, sociólogos, psicólogos,

administradores etc. a procurar uma nova via metodológica, capaz captar os

sentidos menos aparentes da experiência vivida. Nesse sentido, Bochenski (1951, p.

149) pondera sobre a possibilidade da fenomenologia se transformar na base da

filosofia do porvir.

Como dito anteriormente, em 26 de abril de 1938 Husserl morreu e suas cinzas

foram enterradas no cemitério em Gunterstal, perto de Freiburg. Seu criador, que

sempre retomava os estudos, refazendo e recriando os conceitos anteriormente

escritos, se achava um principiante em filosofia, que havia dado apenas os primeiros

passos.

152

APÊNDICE II – Caracterização de incubadoras de empresas

O que é uma incubadora de empresas? Para responder a essa questão, é

necessário explicar o conceito de incubar. Etimologicamente, o termo vem do latim

incubo e significa “estar deitado em ou sobre, estar estendido em ou sobre”. Sua

origem em português é 1540. O termo tem relação também com o verbo latino

incubare, do século XIV, e que significa “estar deitado sobre”. Já a incubadora

surge em 1873, originado de incubador + -a (HOUAISS, 2001, p. 1600 ).

Apenas a descrição etimológica não é suficiente para esclarecer a questão, mas

fornece subsídios importantes.

Modernamente, o sentido de incubar relaciona-se com o ato de se manter um ente

criado em incubadora por tempo determinado e mediante certas condições

adequadas e controladas, visando seu desenvolvimento e surgimento. Ou seja, dar

assistência à criação e manutenção da vida.

Essa observação é pertinente devido à “casualidade histórica” que acompanhou o

surgimento e efetivação do sentido do termo incubadora de empresas. Em fins dos

anos 1950 a Massey-Ferguson, a maior indústria de Batavia, Nova Iorque, fechou as

portas e deixou vazio um galpão de aproximadamente 80.000 metros quadrados e

gerou um desemprego elevado na região, da ordem de 20 por cento. A família

Mancuso, influente e dotada de recursos, compra o complexo e encarrega Joseph

Mancuso, então um gerente de loja de ferragens, da tarefa de criar opções para

fazer dinheiro com esse investimento (NBIA, 2006).

153

A primeira tentativa foi a de encontrar uma única companhia para alugar a planta.

Mas não obteve sucesso. Então, decidiu-se por dividir o edifício e alugar para várias

empresas, fornecendo e compartilhando serviços de escritório, auxiliando com

levantamento de capital e fornecendo conselhos de negócio. Depois de certo tempo,

Mancuso já tinha recrutado seus primeiros moradores, incluindo um produtor de

vinhos, uma organização de caridade e um aviário. E foi por causa do aviário que as

pessoas começaram a chamar o prédio de incubadora de empresas (NBIA, 2006).

Assim, de forma espontânea e casual, surge e se consolida o termo. Ressaltando

que ao invés de se incubar uma bactéria, um ovo ou uma planta, a incubadora de

empresas está lidando com pessoas jurídicas.

Destaca-se que essas pessoas jurídicas são constituídas por empreendedores, que

coabitam em um espaço em que há a indução da prática empreendedora,

especialmente planejado para tal.

As incubadoras podem ser de diversas modalidades, a depender do tipo de empresa

que se pretenda oferecer apoio e suporte.

O quadro a seguir traz os principais tipos de incubadoras, conforme a finalidade

estatutária e comercial da empresa incubada.

154

Tecnológica

Abriga empresas, cujos produtos, processos e serviços resultam de pesquisa científica.

Tradicional

Abriga empreendimentos ligados aos setores da economia que detêm tecnologias difundidas e que querem agregar valor aos seus produtos, processos e serviços.

Mista

Abriga empresas de base tecnológica e tradicionais.

Setorial

Abriga empreendimentos de apenas um setor da economia.

Cultural

Abriga empreendimentos da área de cultura.

Agroindustrial

Abriga empreendimentos de produtos e serviços agropecuários.

Cooperativa

Apóia cooperativa em processo de formação e/ou consolidação instaladas dentro ou fora do município.

Social

Abriga empreendimentos oriundos de projetos sociais.

Rural

Apóia empreendimentos localizados em áreas rurais por meio de prestação de serviços, formação e capacitação, financiamento e divulgação.

Virtual

Oferece aos empreendedores todos os serviços de assessoria e apoio, mas normalmente não oferece espaço físico e infra-estrutura compartilhada.

Quadro 8: Tipos de incubadora

Fonte: adaptado de Nassif e Carmo (2005)

Este intróito foi importante para ressaltar que a questão é recente; plena de

possibilidades. Como fenômeno recente, as incubadoras estão em fase de

definições conceituais, a exemplo do que ocorre com aspectos teóricos do

empreendedorismo.

155

O quadro a seguir apresenta algumas definições.

Morais (2001)

Mecanismo de estímulo e apoio à criação e ao desenvolvimento de empreendimentos inovadores sustentáveis.

Spolidoro

(1999)

Ambiente que favorece a criação e o desenvolvimento de empresas e produtos inovadores.

Lalkaka e Bishop

(1996)

Ambiente de trabalho controlado adequado para auxiliar o crescimento de novas empresas emergentes.

Medeiros

(1992)

Um núcleo que abriga, usualmente, micro-empresas de base tecnológicas.

Nadas et al.

(1991)

Uma estrutura compartilhada por empresas com suporte administrativo centralizado.

Quadro 9: Conceito de incubadora

Fonte: adaptado de Nassif e Carmo (2005)

Porém, tais definições necessitam de aprofundamento. Nesse sentido, Smilor

(1987, p. 146) a definiu como:

... uma instalação planejada para apoiar o desenvolvimento de novas empresas. Ela provê uma variedade de serviços e apoio ao start-up das empresas com uma clara preferência por aquelas de alta tecnologia e industrias manufatureiras leves. A incubadora procura unir efetivamente talento, tecnologia, capital e conhecimento, para alavancar o talento empreendedor, acelerar a comercialização de tecnologia e encorajar o desenvolvimento de novas empresas.

Já Dornelas (2002, p. 21) acredita que uma incubadora de empresas é:

... um mecanismo – mantido por entidades governamentais, universidades, grupos comunitários etc. – de aceleração do desenvolvimento de empreendimentos (incubados ou associados), mediante um regime de negócios, serviços e suporte técnico compartilhado, além de orientação prática e profissional.

156

Por sua vez, Aranha (2000, p. 278) diz que

Uma incubadora de empresas é um ambiente para o desenvolvimento de novos empreendimentos, cujos resultados esperados deverão garantir, em prazo e tempo determinados, autonomia e auto-sustentação da empresa... pode ser considerada também um laboratório de inovação, um local de estudos para pesquisadores e para estágios orientados.

Estabelecidas essas três definições orientadoras do que seja incubadora de

empresas, cumpre prosseguir no círculo de compreensão. Como dito anteriormente,

esta investigação desenvolve-se com empresários localizados na Incubadora

Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de

Londrina. Para esclarecer melhor a questão, deve-se discorrer sobre o conceito de

empresa de base tecnológica. Porém, para esclarecer o que seja empresa de

base tecnológica é fundamental compreender o sentido de tecnologia. Conforme

apresentado na introdução deste trabalho, os estudos sobre a tecnologia estão

avançando significativamente, a partir de reflexões filosóficas. Assim, pergunta-se: o

que é tecnologia?

Esta questão encerra em si muitas respostas. Poder-se-ia discorrer longamente

sobre possíveis respostas, porém o foco aqui são as empresas de base tecnológica.

Por isso, deve-se ir direto ao ponto que interessa. O grego é o idioma que utilizou a

palavra pela primeira vez: tekhnología, 'tratado ou dissertação sobre uma arte,

exposição das regras de uma arte', formado a partir do radical. tekhno- (de tékhné

'arte, artesania, indústria, ciência') e do radical -logía (de lógos,ou 'linguagem,

proposição'). Em português, aparece em 1783, significando uma teoria geral e/ou

estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um

ou mais ofícios ou domínios da atividade humana (HOUAISS, 2001, p. 2683 ).

157

A resposta está aqui. A tecnologia então pode ser entendida, para fins

exclusivamente da pergunta efetuada anteriormente e deste trabalho, como uma

aplicação de conhecimentos teóricos em situações práticas, mediante uso de ciência

e inovação.

Esclarecido o conceito de tecnologia, cumpre agora discorrer sobre empresa de

base tecnológica. Trata-se de uma organização que desenvolve sua atividade

através de pesquisas aplicadas, nas quais a tecnologia e a ciência têm papel

preponderante, resultando em produtos, processos e/ou serviços inovadores.

Exemplos de empresas de base tecnológica são as de biotecnologia, polímeros,

cerâmica, informática, microeletrônica, mecânica de precisão etc.

Diversos pesquisadores têm estudado o fenômeno das incubadoras (FURTADO,

1998; LEMOS, 1998; SALOMÃO, 1998; BAÊTA, 1999; DIAS e CARVALHO, 2002;

DORNELAS, 2002; STAINSACK, 2003). A produção científica tem se consolidado e

propiciado o surgimento de novas investigações na área, de modo interdisciplinar.

Todavia, faz-se necessário verificar, em termo mundiais, as experiências

relacionadas ao tema.

Em todo o mundo são encontradas incubadoras de empresas de base tecnológica e

parques tecnológicos. Nos Estados Unidos elas resultam de diversas ações,

principalmente a de se criar um novo ambiente de localização industrial, que permita

a transferência de tecnologia da universidade para a indústria, inaugurando, assim,

uma relação universidade-empresa incomum. As incubadoras americanas originam-

158

se de iniciativas de empreendedores privados ou de grupos de investidores

interessados em transferir a novos empreendedores sua experiência e

conhecimentos (FURTADO, 1998; LEMOS, 1998).

O fato que impulsionou a criação de incubadoras foi o sucesso da região hoje

conhecida como Vale do Silício, na Califórnia, a partir da iniciativa da Universidade

de Stanford, que na década de 1950 criara um Parque Industrial e, posteriormente,

um Parque Tecnológico. O objetivo era promover a transferência da tecnologia

desenvolvida na universidade às empresas e a criação de novas empresas de

tecnologia, especialmente do setor eletrônico. O êxito obtido com essa experiência

estimulou a reprodução de iniciativas semelhantes em outras localidades, dentro e

fora dos Estados Unidos (STAINSACK, 2003).

Por sua vez, na Europa, o movimento de incubadoras iniciou-se na década de 1970,

quando surgiram os primeiros parques tecnológicos europeus, em Edimburgo e

Cambridge, no Reino Unido, e Sophia Antipolis e Grenoble-Meylan, na França.

Esses parques pioneiros voltavam-se para o desenvolvimento regional e

contribuíram para a inovação tecnológica, com o apoio ao surgimento de empresas

que tinham a tecnologia como insumo principal. Na Europa, observa-se que a

população apresenta expectativas diferenciada; a depender do local de instalação

das incubadoras (FURTADO, 1998; LEMOS, 1998).

Há basicamente duas grandes expectativas: a preocupação de fortalecer a presença

das universidades na região e a possibilidade de geração de empregos com a

implantação de novas empresas.

159

Já a China encontra-se em fase de modernização tecnológica. Assim, as

incubadoras estão sendo elemento-chave nesse processo. As incubadoras do país

fornecem parte do capital de risco demandado pelas empresas, caso outras fontes

de financiamento não sejam encontradas. Assim, como acionista, a incubadora está

envolvida no processo decisório da empresa. Neste país, a incubadora é uma

organização não governamental sem fins lucrativos, cuja função é dar apoio e

assistência aos tecnólogos e cientistas que pesquisem e que possuam patentes,

com o intuito de se criar novas empresas independentes, fornecendo-lhes

instalações e meios imediatos (STAINSACK, 2003).

O Japão também possui experiências na área, com presença de prefeituras

fornecendo capital. Grandes grupos empresariais, como Sanyo, Hitachi etc. fazem-

se presentes com seus centros de pesquisas (FURTADO, 1998).

O Brasil, por seu turno, apresenta as primeiras incubadoras sendo criadas na

década de 1980. Desde então tem havido um aumento significativo, com a maior

parte dos empreendimentos localizados no sudeste e sul do país, devido ao perfil

econômico da região. A criação de vários programas de apoio às incubadoras no

Brasil, por parte de agencias como a Financiadora de Estudos e Projetos e o

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, demonstra sua

importância (BAÊTA, 1999; DIAS e CARVALHO, 2002).

Em Londrina, existe a Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica

da Universidade Estadual de Londrina (INTUEL), entidade criada em 2003 por um

consórcio interinstitucional.

160

APÊNDICE III – A cidade de Londrina

Londrina é uma cidade recente, criada em 1934. A colonização da região começou,

porém, nos primeiros anos da década de 1900, com migrantes dos estados de São

Paulo e Minas Gerais. Essa primeira experiência colonizadora caracterizou-se por

ser constituída de grandes propriedades nas mãos de poucos fazendeiros. Enquanto

isso, o governo do estado do Paraná seguia com sua política de colonização, não

obtendo sucesso. No início da década de 1920, face ao insucesso relativo de suas

ações, o governo começa a transferir para agricultores privados a tarefa de colonizar

o norte do estado. Assim, nos idos de 1924, a “Companhia de Terras Norte do

Paraná”, subsidiária da empresa inglesa “Paraná Plantations Ltd.” inicia suas

operações. Neste mesmo ano chega a chamada “Missão Montagu”, que adquire

duas glebas de terra para instalar fazendas e máquinas de beneficiamento de

algodão, com o apoio de "Brazil Plantations Syndicate", de Londres (PERFIL, 2004).

Porém, devido a condições desfavoráveis do mercado de algodão e dificuldade de

acesso a sementes a experiência não obtém sucesso. Nessa época, em Londres, a

“Paraná Plantations” decide transformar suas propriedades em um projeto

imobiliário, para ressarcimento dos prejuízos. Iniciou-se então a venda de lotes, na

forma de terrenos pequenos, com o fornecimento dos respectivos títulos de

propriedade da terra, o que fez com que, os conflitos entre colonos antigos e os

recém-chegados fossem praticamente inexistentes, diferentemente do que ocorria

nas áreas dominadas pelos primeiros fazendeiros da região. A forma de pagamento

era facilitada, o que atraiu grande contingente populacional. Além disso, tal projeto

foi pioneiro no sentido de fazer propaganda massiva, transporte gratuito para os

161

colonos, posse das terras em quatro anos, assistência técnica e financeira,

levantamentos topográficos da área e mapeamento do solo em algumas zonas.

Essa política agrária favoreceu a concentração da produção de café e provocou a

expansão de núcleos urbanos e o aparecimento de classes médias rurais (PERFIL,

2004).

Londrina surge em 1929 como primeiro posto avançado deste projeto de

colonização, com seu nome sendo uma homenagem a Londres. Cinco anos depois,

em 1934, ocorre a criação do município, por meio de decreto estadual (PERFIL,

2004).

Desde então, a cidade tem se desenvolvido de forma dinâmica. Até 1975 a

economia da região vinculava-se ao café, sendo dessa época o denominado

“Estádio do Café”. Porém nesse ano ocorre uma forte geada (chegando a nevar em

Curitiba) que dizimou vastas áreas, fazendo com que a importância do referido

produto fosse minorada.

No período de 1976 ao início da década de 1990 Londrina atravessa uma época de

grandes investimentos na construção civil, fazendo com que houvesse uma

verticalização no ambiente urbano. A partir de 1990 o munícipio diversifica sua

economia, que atualmente é baseada no setor de serviços, mas ainda fortemente

relacionada ao setor agrícola.

Em 1998 é criada a Região Metropolitana de Londrina, que engloba os municípios

de Londrina, Tamarana, Cambé, Sertanópolis, Jataizinho, Rolândia, Bela Vista do

162

Paraíso e Ibiporã, com uma população aproximada de 750 mil habitantes, sendo

que apenas a cidade de Londrina possui cerca de 450 mil habitantes.

Nesse mesmo ano surge o “Programa Londrina Tecnópolis”. Tal projeto é composto

de um conjunto de ações estratégicas visando consolidar a região de Londrina,

como um dos três principais pólos de inovação tecnológica do país até 2010. Para

tal, utiliza-se da infra-estrutura que existe na região compreendida entre Apucarana-

Londrina-Cornélio Procópio, tais como institutos de pesquisa, empresas inovadoras

e universidades.

Um dos parceiros do Programa Londrina Tecnópolis é a Associação do

Desenvolvimento Tecnológico de Londrina (ADETEC), criada em 1993 com a

finalidade de ser um agente de integração para o desenvolvimento tecnológico da

região de Londrina, nas áreas de educação, cultura, ecologia e biodiversidade,

pesquisa científica e tecnológica, desenvolvimento institucional e ensino,

treinamento e aperfeiçoamento.

Como observado, a cidade como um todo tem se mobilizado para criar condições de

transformar Londrina em um pólo de ciência, tecnologia e inovação. Nesse sentido,

a criação da INTUEL foi um passo significativo.

163

APÊNDICE IV – A Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica

da Universidade Estadual de Londrina (INTUEL)

A Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade

Estadual de Londrina é uma organização gerenciada pelo Consórcio

GeNorP/INTUEL (Genesis do Norte do Paraná) e tem por objetivo a geração de

novas empresas nas áreas de tecnologia da informação e comunicação - TIC,

biotecnologia entre outras áreas, criado em 2003. Sua constituição é de uma pessoa

jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e deliberada por um Conselho. Trata-

se de um ambiente de inovação, propício à criação e desenvolvimento de atividades

voltadas a transformações de idéias em produtos ou processos inovadores, com

potencial mercadológico, que traga benefícios à sociedade como um todo.

Essa incubadora visa consolidar um modelo institucional de inovação e

empreendedorismo, unindo os diversos agentes (instituições do setor publico,

empresas privadas, governo, agencias de fomento, pesquisadores), cujas atividades

se complementam e geram novas tecnologias, sendo a inovação e o

empreendedorismo seus aspectos cruciais.

Segundo a publicação informativa da organização (INTUEL, 2005, p. 05), seus

objetivos são:

I. Fomentar a criação de novos empreendimentos tecnológicos a partir

de alunos e profissionais recém formados, atuando como uma pré-

incubadora, através do Centro SoftEx Genesis GeNorP da UEL;

164

II. Contribuir para o crescimento das empresas nascentes de base

tecnológica, através de fornecimento de ambiente favorável para a

capacitação tecnológica e ambiental, através da INTUEL- Incubadora

Internacional de Empresas de base tecnológica da UEL;

III. Incentivar e apoiar as atividades de inovação e desenvolvimento

científico e tecnológico, de gestão e transferência de tecnologia, de

promoção do capital humano, através da cultura e treinamento, de

natureza técnica e mercadológica;

IV. Desenvolver atividades de consultoria, assessoria e atividades

administrativas a empresas privadas e instituições públicas e privadas,

Institutos de Pesquisa e outros;

V. Promover a integração da Universidade com as empresas do setor

privado, com os órgãos do setor público e com as organizações da

sociedade civil.

A empresa interessada em participar da incubadora passa por três fases: pré-

incubação, incubação e pós-incubação.

A pré-incubação é a fase de desenvolvimento da idéia até o produto final. Neste

período, a equipe de empreendedores passa por um processo formação de

habilidades empresariais e técnicas, sendo ainda o momento em que as parcerias

para o desenvolvimento dos produtos começam a se constituir. Neste período, a

165

empresa ainda não está formalmente constituída, ou seja, ainda não possui CNPJ, é

uma "pré"-empresa residente (INTUEL, 2005, p.06).

Após a fase pré-incubação, a empresa vai para a fase de incubação. Nessa fase a

empresa se constitui legalmente e assume os encargos de uma empresa normal. No

entanto, a empresa incubada tem apoio técnico e empresarial da INTUEL.

A empresa incubada participa de cursos de capacitação, palestras e eventos

empresariais, feiras e rodadas de negócios nacionais e internacionais e recebe

incentivo comercial, assessoria na divulgação e outros tipos de apoio oferecidos pela

incubadora. Ao final do processo de incubação, a empresa gradua-se, se desliga

fisicamente e se torna uma empresa associada à INTUEL, participando das

atividades da incubadora por meio do programa de pós-incubação (INTUEL, 2005,

p.08).

A pós-incubação da INTUEL corresponde ao estágio em que a empresa se instala

fora do ambiente físico da incubadora e mantém parceria como empresa associada

recebendo assessorias e participando de eventos e cursos de captação e suprindo

as necessidades de aprimoramento em gestão de negócios (INTUEL, 2005, p.10).

Além disso, a INTUEL possui o Programa de Empreendedorismo, que

corresponde ao fomento da cultura empreendedora na cidade de Londrina e região,

em especial na Universidade Estadual de Londrina, por meio de atividades como

palestras de sensibilização nas instituições de ensino superior e técnicas da cidade,

palestras com depoimento de empreendedores de sucesso, Feira da Idéia e

166

maratonas de empreendedores, servindo ainda de base para os programas de

incubação e pré-incubação (INTUEL, 2005, p.11).

Há também o Escritório de Proteção do Conhecimento da UEL, que atua desde

1997 desenvolvendo atividades relacionadas à propriedade intelectual, inicialmente

no âmbito do Projeto Gênesis/GeNorP e da INTUEL. Em 2003, com a aprovação do

Edital CNPq/FINEP, o Escritório de Proteção do Conhecimento da UEL amplia seus

trabalhos, atendendo toda a comunidade da UEL. Seus objetivos são (INTUEL,

2005, p.13):

a) Sensibilizar acerca da importância e necessidade da proteção

intelectual;

b) Prestar orientação quanto às formas e procedimentos de proteção

das obras intelectuais;

c) Fornecer informações tecnológicas e incentivar o desenvolvimento

de novas tecnologias;

d) Estimular e promover a aplicação da capacidade existente na UEL

para interação com a sociedade.

As atividades desenvolvidas no escritório são (INTUEL, 2005, p.13):

167

a) Palestras e cursos sobre a importância da propriedade intelectual e

seus conceitos;

b) Orientação na elaboração de documentos de patente, solicitação de

registro de marcas, desenho industrial, indicações geográficas e

programas de computador;

c) Orientação nos pedidos de registro de obras artísticas, científicas e

literárias e;

d) Acompanhamento do trâmite dos pedidos de proteção intelectual.

Já a Unidade de Negócios tem como objetivo fortalecer as atividades econômico-

comerciais das empresas da INTUEL, disponibilizando sua equipe para orientar os

empreendedores na caracterização dos projetos e na maximização das

competências. A Unidade de Negócios provém às comunidades interna e externa da

Incubadora, os seguintes serviços (INTUEL, 2005, p.14):

a) Orientação para elaboração de Planos de Negócios e Resumos

Executivos.

b) Coordenação dos processos seletivos (bancas de seleção) para

inclusão na INTUEL.

168

c) Atendimento personalizado a empreendedores que pleiteiam

participar da INTUEL.

d) Direcionamento econômico-comercial das Empresas Incubadas e

Pré-Incubadas para os projetos em desenvolvimento.

e) Auxílio na busca de novos parceiros tecnológicos, comerciais e

financeiros.

f) Atualização das empresas quanto às tendências econômicas dos

mercados nacional e internacional.

g) Indicações e acompanhamento para as empresas da INTUEL, de

Eventos, Feiras Comerciais e Rodadas de Negócios, fornecendo

treinamento de postura e negociação.

h) Intermediação de negociações entre a INTUEL, Empresas

Incubadas e Pré-Incubadas e Potenciais Parceiros, Clientes e

Fornecedores.

i) Revisão e auxilio na elaboração de materiais de Marketing,

Publicidade, Propaganda e Web.

Finalmente, há o Programa de Empresas Juniores da INTUEL, que visa oferecer a

seus membros condições de aplicação prática dos conhecimentos teóricos relativos

169

à área de formação profissional específica, adquiridos na faculdade, contribuindo

para a formação dos estudantes, estimulando os conceitos do empreendedorismo,

inovação e responsabilidade social. Além disso, o programa tem espaço para os

universitários exercitarem seus conhecimentos sem a pressão usual do mercado de

trabalho, dando a oportunidade aos estudantes de melhorar a qualidade do seu

ensino e ao mesmo tempo contribuir com a sociedade. Algumas ações

desenvolvidas em conjunto com as empresas juniores são (INTUEL, 2005, p.12):

a) Orientação no desenvolvimento dos planos de negócios dos futuros

projetos e empresas incubadas;

b) Seleção, estudo de viabilidade econômico-financeiro, controle

financeiro, consultoria em análise financeira;

c) Desenvolvimento do sistema de gerenciamento de projetos e;

d) Plano estratégico de marketing.

Para participar da incubadora, o empreendedor deve possuir um negócio que seja

inovador, ter um protótipo e contatar a INTUEL para agendar uma reunião com o

Escritório de Negócios, além de elaborar um resumo executivo. Após análise e

aprovação do resumo executivo e protótipo pela INTUEL e se o projeto corresponder

aos critérios de seleção, o empreendedor será encaminhado para receber

assessoria especializada para elaboração de um plano de negócios. Depois, será

marcada uma apresentação do plano de negócios para a banca de seleção, onde o

170

empreendedor e o protótipo serão avaliados. A análise verificará a viabilidade

mercadológica, financeira, técnica e a adequação da proposta às especificações

traçadas no Plano de Negócios. Se aprovado, o empreendedor e sua equipe iniciam

o processo administrativo de ingresso no Programa de Incubação. Caso o

empreendedor não possua um protótipo do produto ou serviço pronto, poderá

participar do processo de desenvolvimento da idéia até o produto final-como

acontece na pré-Incubação da empresa (INTUEL, 2005, p.08-09).

Segundo a INTUEL (2005, p.08-09), o público-alvo da incubadora é composto de:

a) Empresas de base tecnológica nacionais e internacionais e

inovadoras em constituição;

b) Micro e pequenas empresas de base tecnológica nacionais e

internacionais já constituídas que queiram desenvolver um produto,

processos ou serviço inovador;

c) Empreendedores com protótipos (produtos e processos) inovadores;

d) Departamento e ou divisão de empresas nacionais e internacionais

que queiram consolidar parcerias no desenvolvimento de novos

produtos e processos de elevado cunho tecnológico;

e) Escritórios de negócios tecnológicos nacionais e internacionais;

171

f) Spin-off de empresas;

g) Projetos oriundos do GeNorP - Pré-Incubação de Empresas.

Por sua vez, as áreas de empreendimentos aceitos são (INTUEL, 2005, p.08-09):

- Tecnologia da Informação, Software e Hardware;

- Tecnologia de Precisão;

- Instrumentação Biomédica;

- Mecatrônica;

- Design;

- Micro-Eletrônica;

- Tecnologia de Novos Materiais;

- Tecnologia Fármaco Químico;

- Tecnologia de Alimentos;

- Biotecnologia.

172

Outras áreas de tecnologia poderão ser avaliadas e se houver possibilidade de

apoio, também poderão pleitear vaga no Programa de Incubação.

Para a seleção, são considerados a visão de mercado e a visão do empreendedor,

sendo que o interessado deverá fazer uma defesa pública em banca, constituída por

um conselho técnico, composto de representantes do Consórcio e convidados

especiais das diversas áreas tecnológicas (INTUEL, 2005, p.08-09).

173

APÊNDICE V – Comentários gerais do investigador

A seguir comentários gerais do investigador referentes ao processo de construção

da pesquisa, desde o momento da chegada na cidade de Londrina até a redação da

dissertação.

O objetivo é estabelecer um diálogo com o leitor.

A) Heidegger fala da questão temporal. Este é um trabalho

desenvolvido em 2006, dentro de uma realidade específica

(INTUEL-Londrina). Não é possível generalizar suas conclusões.

B) Husserl pode ser colocado no mesmo patamar intelectual de

outras três pessoas que modificaram o mundo com suas idéias:

Einstein, Marx e Freud. Contudo, dos quatro, o filósofo Husserl

foi o menos compreendido, talvez por possuir as idéias “mais

radicais”.

C) Para muitos o mestrado representa um fim. Para poucos

significa um começo, que vai transformar o mundo com idéias.

Onde termina o trabalho de um começa o trabalho de outro, e os

fragmentos de contribuições uma vez reunidos constroem a

ciência.

174

D) Ainda não foi desenvolvido um método de pesquisa com maior

rigor em analisar a experiência vivida que o método

fenomenológico. Apesar de ser instrumentalmente complexo,

sua utilidade está em ser simples e direto.

E) Londrina é um lugar pitoresco. Cidade interiorana, abriga seres

humanos criativos e engajados.

F) O empreendedorismo em breve terá sua “filosofia” e sua

“fenomenologia”.

G) O investigador reconhece suas limitações intelectuais. Ser

filósofo não significa querer filosofar.

H) O intercâmbio dialético com os professores Paulo e Elisa foi

fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. Do

primeiro, as críticas construtivas advindas de um positivista

lógico, da segunda a visão antipositivista analítica.

I) Partindo do pressuposto que as idéias e palavras transformam o

mundo, pode-se dizer que este trabalho será útil para mentes

futuras que analisem o empreendedorismo a partir de uma

perspectiva filosófica.

175

J) O investigador não é o mesmo que começou este trabalho.

Houve um processo de aprendizagem, de mudanças, de

amadurecimento.

K) A história apresenta inúmeros exemplos de personagens que,

enfrentando condições restritivas obtiveram sucesso em seu

projeto empreendedor na busca pela liberdade, seja construindo

grandes corporações (Thomas Edison, Bill Gates, Silvio Santos),

seja no campo político (Juscelino Kubitschek, Vladimir Lênin,

Carlos Prestes), seja no campo científico (Albert Einstein,

Stephen Hawking, Santos Dumont) etc. Esses indivíduos tinham

em comum a ânsia em concretizar seus desejos, manifestos

através da vontade de realizá-los através de suas ações.

L) O empreendedorismo não é apenas um ramo da administração,

da economia ou da psicologia, mas sim algo próprio do ser

humano, que lhe permeia a existência. Além disso, convém

destacar que somente empreendedores de sucesso são

lembrados nessas discussões, sendo os fracassados

desconsiderados.

M) Houve um esforço no sentido de escrever o texto em uma

linguagem simples, devido as particularidades do vocabulário

filosófico, que é naturalmente complexo e polissêmico. As idéias

de determinados autores, correntes filosóficas, conceitos etc.

176

foram, na medida do possível, apresentadas para serem

acessíveis, por isso a utilização de quadros e tabelas, por

exemplo.

N) O investigador acredita que a pesquisa, na Academia, deve ser

transformadora da realidade circundante, seja através de ações

concretas ou reflexivas, além de norteadoras para estudos

vindouros.

O) As limitações deste trabalho vinculam-se ao ser-no-mundo

próprio do investigador.

P) O dogmatismo na Academia é um empecilho importante para o

avanço das idéias e da ciência. Não é porque o outro vê o

mundo de uma forma distinta que seu trabalho não tem validade.

Q) A docência no ensino superior iniciada pelo investigador no

decurso deste trabalho revelou-se um importante meio para

verificar na prática muito das teorias estudadas.

R) Heidegger, mais uma vez, estava certo ao afirmar que a

ontologia só é possível como fenomenologia.

177

S) Sartre foi um homem livre, que soube dar sentido a existência

não apenas dele próprio, mas de toda humanidade. Alguém

além de seu mundo.

T) No mestrado o pesquisador atem-se a revisar, sistematizar e

explanar. Há tolhimento da liberdade intelectual, falta de

ousadia. Mas é um importante degrau para o doutorado, serve

como estágio acadêmico e de vida. Para o investigador,

representou grande crescimento intelectual, pessoal e

acadêmico.

U) A existência de um cônjuge que compartilhe com o pesquisador

o amor ao saber faz deste um ser mais exigente consigo mesmo

e com seu trabalho. O simples ato de coabitar uma edificação

com alguém que compreende e contribui para seu labor é

inestimável, haja visto que é um oponente a altura para debates

de elevado nível, sobre questões tão díspares quanto a

imanência em Spinoza, a evolução de Darwin, a relatividade de

Einstein ou a lógica formal em Husserl.

V) Na alfabetização há o despertar para as palavras e símbolos, o

primeiro contato com o amor ao saber. No ensino fundamental o

desenvolvimento da noção de complexidade do mundo

circundante. No ensino médio inicia-se a fragmentação do saber

em áreas desconexas, que gera a perplexidade da

178

insignificância do ser perante o universo. Por sua vez, a

graduação representa o despertar do espírito crítico-reflexivo

que conduz à verdade e iluminação. No mestrado ocorre a

abertura da porta do oráculo de Delfos; o pesquisador observa

que há luz por trás da obscuridade reinante no seio do saber.

W) Einstein certa vez disse que a mente que se abre a uma nova

idéia, jamais volta ao seu tamanho original. Ele estava certo. A

fenomenologia é como o amor: inexplicável, mas vivencial;

contraditória, mas unificadora; difícil, mas simples. O amor é

construído no cotidiano, da mesma forma que a aquisição do

saber fenomenológico. O pesquisador tem esperança de um dia

poder compreender a ambos.

X) A certeza é uma das piores coisas que um pesquisador pode ter.

Com ela, o imponderável é excluído da validade racional.

Y) Residir no Paraná, vindo de Minas Gerais e crescido em São

Paulo, fez com que o pesquisador compreendesse que as

diferenças são o catalisador de qualquer ação humana.

Z) A essência do empreendedorismo é a liberdade. O homem é

livre. Logo, todo homem é empreendedor...

179

ANEXOS

180

ANEXO I - Estatuto Social do Consórcio GeNnorP/INTUEL

CAPÍTULO I - DENOMINAÇÃO, SEDE E OBJETIVOS

Art. 1º - O Consórcio GeNorP/INTUEL (Projeto Genesis Norte do Paraná/Incubadora

Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de

Londrina) é pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, regendo-se pelo

presente Estatuto, pela legislação que lhe for aplicável, com prazo de duração

indeterminado, dotada de autonomia administrativa e financeira com relação aos

seus fundadores e mantenedores.

§ primeiro: Fundadores são as pessoas físicas e jurídicas (parceiros)

signatárias da ata de constituição do Consórcio.

§ segundo: Mantenedores são as pessoas físicas e jurídicas que tenham

contribuído para a formação do patrimônio inicial da sociedade ou que

venham a doar-lhe bens e direitos de relevante expressão econômica, ou

ainda que sejam contribuintes das importâncias necessárias ao custeio de

suas atividades.

Art. 2º - O Consórcio GeNorP/INTUEL é uma entidade que atua, entre outras

atividades, como gestora de programas de pré incubação, incubação de empresas

de base tecnológica, e outros relacionados como o empreendedorismo,

desenvolvimento de inovação tecnológica e transferência de tecnologia, nascido a

partir da congregação dos parceiros abaixo:

181

I. Universidade Estadual de Londrina;

II. Instituto Euvaldo Loddi - IEL;

III. Federação das Indústrias do Estado do Paraná - FIEP/PR;

IV. Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento - CNPq;

V. A. Yoshii Engenharia e Construções Ltda;

VI. Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UEL - FAUEL;

VII. Incubadora Industrial de Londrina - INCIL;

VIII. Empresa Júnior de Computação da UEL - Cop Junior.

Parágrafo Único: Outras instituições poderão se associar posteriormente

mediante manifestação e aprovação da Assembléia.

Art. 3º - O Consórcio GeNorP/INTUEL terá sede no Campus Universitário da UEL,

Rodovia Celso Garcia Cid, s/n.

Art. 4º - O Consórcio GeNorP/INTUEL tem por objetivos principais:

182

I. Fomentar a criação de novos empreendimentos tecnológicos a partir de

alunos e profissionais recém formados, atuando como uma pré-

incubadora, através do Centro SoftEx Genesis GeNorP da UEL;

II. Contribuir para o crescimento das empresas nascentes de base

tecnológica, através de fornecimento de ambiente favorável para a

capacitação tecnológica e ambiental, através da INTUEL- Incubadora

Internacional de Empresas de base tecnológica da UEL;

III. Incentivar e apoiar as atividades de inovação e desenvolvimento científico

e tecnológico, de gestão e transferência de tecnologia, de promoção do

capital humano, através da cultura e treinamento, de natureza técnica e

mercadológica;

IV. Desenvolver atividades de consultoria, assessoria e atividades

administrativas a empresas privadas e instituições públicas e privadas,

Institutos de Pesquisa e outros;

V. Promover a integração da Universidade com as empresas do setor

privado, com os órgãos do setor público e com as organizações da

sociedade civil;

Art. 5º - Para consecução de suas finalidades, o Consórcio GeNorP/INTUEL poderá:

183

I. Firmar convênios ou contratos, acordos de gestão com autoridades

constituídas, para manutenção e garantia do cumprimento de seus

objetivos;

II. Promover gestões junto às organizações públicas ou privadas,

nacionais ou estrangeiras, para obtenção de incentivos financeiros ou

fiscais e captação de recursos;

III. Identificar e atrair fontes de financiamento e de capital de risco para as

empresas participantes da INTUEL;

IV. Conceder apoio financeiro ou participar do capital de empresas que

tenham sido selecionadas, desde que este apoio ou participação de

capital contribua com os objetivos do Consórcio GeNorP/INTUEL;

V. Promover eventos, cursos e seminários que contribuam para o

fortalecimento das empresas e projetos de empresas incubadas;

VI. Conceder bolsas vinculadas ao desenvolvimento de projetos, nos

campos do ensino e pesquisa (bolsa ensino e bolsa pesquisa).

§ Primeiro: A concessão de bolsas obedecerá os seguintes critérios:

I. As bolsas serão concedidas em caráter voluntário, a título de doação,

como estímulo à formação e aperfeiçoamento profissional, no caso de

184

bolsa ensino, e de apoio ao desenvolvimento de projetos de pesquisa ou

estudos;

II. Os pedidos de concessão de bolsa serão analisados pela Diretoria do

Consórcio, obedecendo aos limites do orçamento anual aprovado pelo

Conselho Deliberativo, à vista da solicitação da pessoa interessada,

devidamente instruída com cópia do projeto a ser executado e currículo

que comprove haver afinidade entre sua formação acadêmico-profissional

com as atividades a serem desenvolvidas;

III. A concessão de bolsa não implica na subordinação laboral, técnica ou

científica ao Consórcio por parte do bolsista, razão pela qual não configura

vínculo empregatício;

IV. A bolsa destina-se a suprir meios de subsistência e, eventualmente,

cobertura de despesas quando necessário o deslocamento para fora do

domicílio, ou para viabilização em participação em estágios, pesquisas e

outras atividades de cunho acadêmico, cientifico e tecnológico, durante o

período de realização destes;

V. A manutenção do beneficio fica condicionada à efetiva participação do

bolsista nas atividades que deram origem à bolsa, tal implicando no estrito

cumprimento da programação estabelecida no projeto, devendo ainda, o

interessado, apresentar ao Consórcio, periodicamente, relatórios sobre as

atividades desenvolvidas;

185

§ segundo: Compete à Diretoria do Consórcio analisar os relatórios de atividades

dos bolsistas, e deliberar sobre a manutenção do benefício.

§ terceiro: O valor da bolsa será estabelecido de acordo com a proposta

orçamentária de cada projeto, ficando o mesmo isento de tributos de

conformidade com a legislação vigente.

CAPÍTULO II - PATRIMÔNIO E RECEITA

Art. 6º - O patrimônio do Consórcio GeNorP/INTUEL é constituído por:

I. Dotações iniciais, em bens móveis e imóveis e em dinheiro, que lhe

forem concedidas;

II. Doações, auxílios, subvenções e legados que lhe venham a ser feitos;

III. Bens e direitos que venha a adquirir.

Art. 7º - Constituem receita do Consórcio GeNorP/INTUEL:

I. As provenientes da administração de seu patrimônio;

II. As taxas de manutenção pagas pelas empresas ou projetos de

empresas selecionadas pelo Consórcio GeNorP/INTUEL;

186

III. As contribuições a qualquer título que lhe forem feitas por pessoas

físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras;

IV. Os percentuais definidos em contrato, dos negócios realizados pelas

empresas incubadas;

V. Rendas resultantes de prestação de serviços.

Art. 8º - O patrimônio e as receitas somente poderão ser aplicados na realização de

seus objetivos, definidos no artigo 4º deste Estatuto.

Art. 9º - Em caso de extinção do Consórcio GeNorP/INTUEL, todos os seus bens

serão destinados a Universidade Estadual de Londrina - UEL.

CAPÍTULO III - ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

Art. 10 - O Consórcio GeNorP/INTUEL compõe-se de:

I. Conselho Deliberativo;

II. Diretoria Executiva;

III. Conselho Fiscal.

187

Art. 11 - Os membros dos órgãos de que trata o Artigo 10, no exercício regular de

suas atribuições e competência, não respondem solidária ou subsidiariamente pelas

obrigações ou encargos do Consórcio.

Art. 12 - Os membros do Conselho Deliberativo não perceberão remuneração de

qualquer espécie, sendo-lhes devido, porém o fornecimento dos meios adequados

de transporte e de diárias para custeio da estada, quando do deslocamento, no

interesse do Consórcio, da cidade na qual mantenham residência ou domicílio.

SEÇÃO I - DO CONSELHO DELIBERATIVO

Art. 13 - O Conselho Deliberativo é o órgão colegiado de administração superior e

soberano da sociedade e compõe-se dos seguintes membros:

I. Representantes indicados pelas entidades públicas e privadas,

parceiras do Consórcio;

II. Presidente do Conselho eleito entre os representantes.

Art. 14 - O Conselho Deliberativo terá um Presidente, atuando concomitantemente

como Presidente do Consórcio, eleito por seus membros, competindo-lhe a

presidência das reuniões do Conselho e a definição prévia dos assuntos a serem

incluídos na pauta.

188

§ primeiro: O mandato dos membros eleitos para compor o Conselho

Deliberativo é de 02 (dois) anos, admitida a recondução.

Art. 15 - O Conselho Deliberativo reunir-se-á ordinariamente em Assembléia 2 (duas)

vezes a cada ano, por convocação de seu Presidente, e extraordinariamente por

convocação de seu Presidente ou por solicitação de 2/3 (dois terços) de seus

membros.

§ primeiro: As reuniões ordinárias serão instaladas em primeira convocação,

com a presença mínima de 2/3 (dois terços) dos membros do Conselho

Deliberativo e em segunda convocação, 30 (trinta) minutos após, com

qualquer número de presentes.

§ segundo: As reuniões extraordinárias serão instaladas, em primeira

convocação, com 2/3 (dois terços) dos membros do Conselho Deliberativo, e

em segunda convocação, 30 (trinta) minutos após, com maioria absoluta dos

integrantes do referido órgão.

Art. 16 - Compete ao Conselho Deliberativo:

I. Fazer cumprir o objetivo social do Consórcio, definido no artigo 4º

deste estatuto;

II. Autorizar, prévia e expressamente, a aquisição, alienação ou oneração

de bens imóveis, a contratação de empréstimos e financiamentos e a

189

prestação de garantias reais ou fidejussórias, perante instituição

financeira pública ou privada, vinculadas estritamente as operações de

financiamento em favor das empresas ou projetos de empresas

incubadas;

III. Alterar ou reformar o Estatuto;

IV. Deliberar sobre a extinção do Consórcio e sobre a destinação de seu

patrimônio, observado o disposto no artigo 9º;

V. Determinar a contratação de auditoria contábil-financeira externa, para

fiscalizar o cumprimento das diretrizes, metas e movimentos

econômicos-financeiros da sociedade;

VI. Aprovar os Procedimentos Internos do Consórcio, suas alterações e

reformas, com base em proposta da Diretoria Executiva;

VII. Estabelecer diretrizes e metas para cada exercício, com base em

proposta da Diretoria Executiva;

VIII. Supervisionar o desenvolvimento das atividades do Consórcio;

IX. Aprovar o orçamento e o programa de investimentos do exercício

seguinte e deliberar sobre a prestação de contas do exercício anterior,

com base em proposta da Diretoria Executiva;

190

X. Estabelecer a política de pessoal, remuneração e benefícios do

Consórcio;

XI. Aprovar a contratação de terceiros para execução de atividades

necessárias ao cumprimento dos objetivos do Consórcio;

XII. Deliberar sobre a seleção, designação, contratação e dispensa dos

membros da Diretoria Executiva;

XIII. Eleger o Vice Presidente, o Secretário do Conselho Deliberativo e os

membros do Conselho Fiscal;

XIV. Aprovar o regulamento para contratações, compras, obras, serviços e

alienações da sociedade, com base em proposta da Diretoria

Executiva;

XV. Aprovar e encaminhar, às autoridades competentes, os relatórios

gerenciais e de atividades da sociedade, elaborados pela Diretoria

Executiva.

SEÇÃO II - DO CONSELHO FISCAL

Art. 17 - O Conselho Fiscal será composto de três membros efetivos e igual número

de suplentes, designados pelo Conselho Deliberativo, com mandato de (2) dois

anos, admitida a recondução.

191

Art. 18 - Compete ao Conselho Fiscal:

I. Examinar as contas, demonstrações financeiras e documentos da

sociedade;

II. Emitir parecer sobre as contas do Consórcio, constantes de

demonstrações contábeis-financeiras do Consórcio e sobre o relatório

anual, elaborado pela Diretoria Executiva;

III. Fazer publicar anualmente, no Diário Oficial do Município de Londrina -

PR, os relatórios financeiros e de execução, devidamente auditados e

aprovados pelo Conselho Deliberativo.

SEÇÃO III - DA DIRETORIA EXECUTIVA

Art. 19 - A Diretoria Executiva será constituída por um Diretor Presidente e por até

quatro Diretores Especializados, com mandato de 2 (dois) anos renováveis,

recrutados dentre profissionais de notória qualificação técnica e especialização, em

assuntos pertinentes ao desenvolvimento tecnológico, e em particular em atividades

ligadas ao estímulo à geração de novas empresas.

Art. 20 - Compete à Diretoria Executiva:

I. Administrar o Consórcio;

192

II. Propor ao Conselho Deliberativo as diretrizes e metas do Consórcio

para cada exercício;

III. Propor ao Conselho Deliberativo o orçamento para o exercício seguinte

e a prestação de contas do exercício anterior;

IV. Propor ao Conselho Deliberativo os Procedimentos Internos do

Consórcio e suas posteriores reformas e alterações;

V. Propor ao Conselho Deliberativo a política de pessoal, a remuneração

e benefícios dos empregados do Consórcio;

VI. Planejar e executar as atividades do Consórcio, segundo a política

institucional fixada, observadas as diretrizes, as metas, a orientação e

o Plano de Trabalho aprovados anualmente pelo Conselho

Deliberativo;

VII. Propor ao Conselho Deliberativo o regulamento para contratações,

compras, obras, serviços e alienações do Consórcio;

VIII. Conceder diárias, ajudas de custo, passagens e hospedagens, de

acordo com as atividades programadas pelo Conselho Deliberativo, ou

para atender às necessidades técnicas e administrativas dos projetos

desenvolvidos em parceria com o Consórcio;

193

IX. Assinar, em nome do Consórcio, convênios, acordos, ajustes,

contratos, obrigações e compromissos;

X. Contratar terceiros para execução das atividades necessárias a

execução dos objetivos do Consórcio;

XI. Elaborar o Relatório Anual das atividades do Consórcio e a prestação

de contas desta.

CAPÍTULO V - DO EXERCÍCIO FINANCEIRO E DAS CONTAS

Art. 21 - O exercício financeiro coincidirá com o ano civil, encerrando-se em 31 de

Dezembro de cada ano.

Art. 22- A Diretoria Executiva submeterá ao Conselho Deliberativo a proposta

orçamentária para o exercício seguinte, na qual serão especificadas,

separadamente, as despesas de capital e custeio.

Art. 23 - A prestação de contas de cada exercício será feita ao Conselho

Deliberativo, acompanhadas de parecer do Conselho Fiscal, em sua primeira

reunião ordinária do exercício subseqüente, mediante a apresentação das seguintes

demonstrações contábil-financeiras:

I. Balanço geral;

194

II. Demonstração da conta de resultados;

III. Quadro comparativo da receita orçada com a arrecadação realizada;

IV. Quadro comparativo da despesa autorizada com a realizada.

Parágrafo único: Depois de aprovados pelo Conselho Deliberativo, o relatório das

atividades e as demonstrações contábil-financeiras, bem como o parecer do

Conselho Fiscal, serão encaminhados às autoridades competentes.

CAPÍTULO VI - DA EXTINÇÃO DO CONSÓRCIO

Art. 24 - O Consórcio será extinto:

I. Quando for impossível a sua manutenção;

II. Por inobservância ou desvio dos objetivos pelos quais foi instituído.

CAPÍTULO VII - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 25 - Os casos omissos neste Estatuto serão solucionados pelo Conselho

Deliberativo.

Art. 26- O Diretor Presidente do Consórcio responde pelo mesmo, representando-o

ativa e passivamente, em juízo ou for a dele.

195

Art. 27- Todos os documentos que obriguem o Consórcio serão assinados

conjuntamente por dois Diretores, sendo que uma das assinaturas poderá ser de um

procurador legalmente constituído.

Art. 28- O Consórcio não distribuirá lucros, vantagens ou bonificações aos membros

do Conselho Deliberativo, da Diretoria, ou do Conselho Fiscal sob nenhuma forma

ou pretexto, aplicando todos os resultados na consecução dos seus objetivos

sociais.

Art. 29 - Os empregados admitidos para prestar serviços profissionais ao Consórcio

serão regidos pela CLT ou pelo estabelecido por contrato de prestação de serviços.

Art. 30 - Fica estabelecido o foro de Londrina - PR, para dirimir quaisquer dúvidas

decorrentes deste estatuto.

Londrina, 25 de Julho de 2003.

______________________________________________

Berenice Quinzani Jordão

Presidente do Consórcio

______________________________________________

Cristiane Minowa

Advogada - OAB/PR 23.659-B

196

ANEXO II – Conselho Deliberativo e Equipe do Consórcio GeNorP/INTUEL

A INTUEL é gerenciada pelo Consórcio GeNorP Intuel, que é pessoa jurídica de

direito privado, sem fins lucrativos e deliberada por um Conselho, cujos membros

estão nomeados no Estatuto Social da instituição.

Conselho Deliberativo Consórcio GeNorP INTUEL:

Presidente

Berenice Quinzani Jordão

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós Graduação da Universidade Estadual de Londrina

Vice – Presidente

Atsushi Yoshii - Diretor Presidente da Construtora AYoshii

Secretário

Clóvis Coelho - Coordenador Regional da FIEP Londrina

Conselheiros Fiscais

Dirceu Moreira Guazzi - Chefe do Departamento de Computação da UEL

José Roberto Hoffman - Docente do Departamento de Estruturas da UEL

Rafael Robson Negrão - Docente do Departamento de Computação da UEL

197

Consórcio GeNorP INTUEL:

Diretora Presidente

Cleusa Rocha Asanome

Diretoras Especializadas

Cristiane Rumika Minowa

Vanerli Beloti

Equipe da INTUEL:

Diretoria Presidente: Profa. Dra. Cleusa Rocha Asanome

Diretoria Especializada - Cristiane Minowa

Diretoria Especializada - Profa. Dra. Vanerli Beloti

Gerência Administrativa - Fernanda Yumi Tsujiguchi

Gerência de Projetos - Susi Keila Klassen

Gerência de Rede - Vinicius Oliveira

Gerência do Núcleo de Games - Paulo Mologni

Escritório de Proteção do Conhecimento e Unidade de Negócios - Ciro Ozawa

Assessoria do Escritório de Proteção do Conhecimento - Andréia Nomi e Lisa Hirota

Secretaria Executiva - Maria Carolina Crepaldi Selerge

Recepção - Cássia Fernanda Campos de Oliveira

Zeladoria - Emília Maria de Lima

198

ANEXO III – Influência das idéias fenomenológicas

Em 1999, dez intelectuais convidados pelo jornal Folha de São Paulo elaboraram

uma lista dos cem textos teóricos mais importantes do século XX. Da listagem,

constam autores como Einstein, Freud, Marx e outros (FOLHA, 1999; CARUSO,

2006).

O que chama a atenção, porém, são os autores “fenomenólogos”, particularmente

Husserl, Heidegger e Sartre.

A seguir, apresenta-se os textos de cada autor “fenomenólogo” listados no artigo da

Folha de São Paulo e sua respectiva colocação. O objetivo é introduzir o leitor nas

idéias gerais das obras relacionadas, que tiveram grande impacto no modo de

pensar da humanidade:

Autor: Martin Heidegger (1889-1976) [ 2 textos]

Texto: Ser e Tempo (1927)

O discípulo de Husserl empreende uma "analítica da existência humana". Com a

noção de existência, Heidegger espera superar o dualismo sujeito-objeto e a filosofia

da consciência e faz da adesão pré-reflexiva ao mundo a questão central para o

pensamento filosófico (5º colocado).

199

Texto: Construir, Habitar, Pensar

Em francês, no volume "Essais et Conférences" (Gallimard). Reunião de ensaios

tardios do filósofo, que dão testemunho da radicalização do programa filosófico de

"Ser e Tempo" e de seu envolvimento crescente com a poesia lírica, em especial a

de Hölderlin (62º colocado).

Autor: Jean-Paul Sartre (1905-1980) [ 3 textos]

Texto: Crítica da Razão Dialética (1960)

Em francês: "Critique de la Raison Dialectique" (Ed. Gallimard). Nessa tentativa de

formulação de uma teoria materialista do sujeito, Sartre procurou conciliar conceitos

oriundos do existencialismo, da psicanálise e do marxismo (16º colocado).

Texto: O Ser e o Nada (1943)

Na esteira de Heidegger, o filósofo e escritor francês, criador do existencialismo,

desenvolve uma analítica da existência que visa afirmar a liberdade do "eu" como

essência do humano (18º colocado).

Texto: O Existencialismo é um Humanismo (1946)

Em francês, "L'Existencialisme Est un Humanisme" (Gallimard). Escrito logo após a

guerra, esse manifesto procura defender o existencialismo da crítica de anti-

200

humanismo que lhe dirigiam autores cristãos e marxistas. Tornou-se uma espécie de

cartilha daquela corrente filosófica (85º colocado).

Autor: Edmund Husserl (1859-1938) [ 3 textos]

Texto: A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental (1954)

Em inglês, "Crisis of European Sciences" (Northwestern University Press). Obra

publicada postumamente e que ficou inacabada, representa o testamento intelectual

do criador da fenomenologia (31º colocado).

Texto: Fenomenologia da Consciência Interna do Tempo (1928)

Em inglês, "On the Phenomenology of Consciousness of Internal Time" (Kluwer

Press). Husserl examina de um ponto de vista fenomenológico a constituição da

identidade subjetiva a partir do fluxo de percepções sensíveis e da experiência

interna do tempo (41º colocado).

Texto: Idéias sobre uma Fenomenologia (1913)

Autocrítica em que o autor alemão procura livrar-se do lastro kantiano: a

fenomenologia deve livrar-se da distinção entre fenômeno e coisa-em-si (87º

colocado).

201

Autor: Maurice Merleau-Ponty (1908-1961)

Texto: O Visível e o Invisível (1964)

Nessa obra inacabada e publicada postumamente, o filósofo francês estende suas

investigações da "Fenomenologia da Percepção" em direção ontológica,

investigando os modos pré-reflexivos de "adesão ao mundo" (11º colocado).

Autor: Henri Bergson (1859-1941)

Texto: O Pensamento e o Movente (1934)

Em francês, "La Pensée et le Mouvant" (PUF). Reunião de conferências e ensaios

desse que é um dos principais filósofos europeus do século. Entre eles, "Introdução

à Metafísica", considerado uma importante síntese de seu pensamento (27º

colocado).

Autor: Hans-Georg Gadamer (1900)

Texto: Verdade e Método (1960)

Discípulo de Heidegger, esse filósofo alemão parte da "analítica do ser" de seu

mestre para promover o primado da hermenêutica, da compreensão intersubjetiva

sobre o ideal de um método científico puro. Sua influência vai de Jürgen Habermas

aos estudos literários (42º colocado).

202

Autora: Hannah Arendt (1906-1975) [ 2 textos]

Texto: A Condição Humana (1953)

Um reexame da condição humana em suas três dimensões essenciais -o labor, o

trabalho e a ação- a partir das experiências e temores do mundo moderno,

dominado pelo conhecimento científico e técnico, que aparta o homem do mundo

natural e vincula-o ao mundo dos artefatos humanos (21º colocado).

Texto: As Origens do Totalitarismo (1951)

Escrito sob o impacto do nazismo e do stalinismo, este ensaio examina a gênese e a

particularidade do fenômeno totalitário, nova forma de dominação baseada no terror

e na massificação, cujas possibilidades de surgimento foram dadas pelo anti-

semitismo e pelo imperialismo (29º colocado).

Autora: Simone de Beauvoir (1908-1986)

Texto: O Segundo Sexo (1949)

Manifesto pioneiro do feminismo, no qual a autora propõe novas bases para o

relacionamento entre mulheres e homens, fundadas na "estrutura ontológica

comum" a ambos (54º colocado).

203

Autor: Charles Sanders Peirce (1839-1914)

Texto: Oportunidade, Amor e Lógica (1923)

Em inglês, "Chance, Love and Logic - Philosophical Essays" (University of Nebraska

Press). Antologia de ensaios do filósofo cuja reflexão é uma das mais completas nos

Estados Unidos, abarcando diferentes questões que ocuparam o pensamento norte-

americano neste século, como o pragmatismo, o empirismo lógico e a filosofia da

linguagem (68º colocado).

Autor: Albert Camus (1913-1960)

Texto: O Mito de Sísifo (1942)

Trata-se do ensaio filosófico mais importante do autor. A indiferença do mundo aos

desejos e aspirações humanas faz nascer a experiência do absurdo, diante da qual

a revolta se impõe como único ato genuinamente humano (90º colocado).

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