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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CCH CURSO DE PEDAGOGIA KARINA RAFAELA RIBEIRO PEDAGOGIA HOSPITALAR: A ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO NO ATENDIMENTO PEDAGOGICO DOMICILIAR. MARINGÁ 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CCH

CURSO DE PEDAGOGIA

KARINA RAFAELA RIBEIRO

PEDAGOGIA HOSPITALAR: A ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO NO ATENDIMENTO

PEDAGOGICO DOMICILIAR.

MARINGÁ

2012

KARINA RAFAELA RIBEIRO

PEDAGOGIA HOSPITALAR: A ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO NO ATENDIMENTO

PEDAGOGICO DOMICILIAR.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito parcial para a obtenção do título

de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade

Estadual de Maringá.

Orientadora: Profa. Dra. Ercilia Maria Angeli

Teixeira de Paula

MARINGÁ

2012

KARINA RAFAELA RIBEIRO

PEDAGOGIA HOSPITALAR: A ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO NO ATENDIMENTO

DOMICILIAR.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito parcial para a obtenção do título

de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade

Estadual de Maringá.

Orientadora: Profa. Dra. Ercilia Maria Angeli

Teixeira de Paula.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Prof. Ercilia Maria Angeli Teixeira de Paula

Universidade Estadual de Maringá

___________________________________

Prof. Aparecida Meire Calegari Falco

Universidade Estadual de Maringá

___________________________________

Prof. Celma Regina B. Rodriguero

Universidade Estadual de Maringá

Maringá, 17 de Outubro de 2012.

Dedico este trabalho aos meus pais, Aparecido e Eva

pelo incentivo, carinho e apoio durante toda essa

caminhada.

AGRADECIMENTOS

À Deus, que me deu a vida e que me dá forças para continuar a caminhada em busca

dos meus objetivos, sonhos e planos.

À minha família que durante todo este percursso se preocupou e me deu ânimo para

que eu não desistisse. Aos meus irmãos Alessandra, Gizelly, Rodrigo e Renata que têm desde

sempre estado comigo nos momentos tristes e alegres.

À orientadora Prof. Dra. Ercilia Maria Angeli Teixeira de Paula pelo incentivo e

dedicação, por todas as orientações e todos os conhecimentos transmitidos para realização

deste trabalho. Agradeço a minha primeira orientadora, Aparecida Meire Calegari Falco, que

muito me ajudou e orientou para que eu concluisse este trabalho.

Àos meus queridos sobrinhos Ana Clara, Maria Beatriz, Murilo e Ana Laura pela

alegria contagiante, que deixam meus dias mais felizes.

Ao Rafael, meu futuro noivo, amigo e companheiro pela paciência, força e incentivo.

À Universidade Estadual de Maringá , aos professores, coordenadores e funcionários

do curso de pedagogia.

Às minhas queridas amigas Graziela, Gessica, Franciely, Mariana e Gislaine pelo afeto

verdadeiro e pelo companheirismo. Obrigada por estarem sempre ao meu lado me apoiando

em cada decisão. Tenham certeza que é com saudade que lembrarei de cada momento que,

com vocês, dividi nesses quatro anos.

6

PEDAGOGIA HOSPITALAR: A ESCOLARIZAÇÃO DO ALUNO NO

ATENDIMENTO PEDAGÓGICO DOMICILIAR

Karina Rafaela Ribeiro

Ercília Maria Angeli Teixeira de Paula- Orientadora

Resumo

O objetivo deste artigo é apresentar as produções acadêmicas que discutem o Atendimento

Pedagógico Domiciliar para crianças e adolescentes os quais apresentam doenças crônicas, ou

que realizaram cirurgias ou que sofreram acidentes que os impossibilitaram de frequentar as

escolas regulares. Essas crianças e adolescentes são atendidos individualmente em suas casas

através do atendimento educacional domiciliar pelos professores e/ou pedagogos hospitalares,

que ensinam a esses alunos, os conteúdos escolares que aprenderiam em suas receptivas

instituições escolares. A metodologia deste trabalho foi a revisão de literatura e análise de

trabalhos sobre atendimento domiciliar em saúde e atendimento pedagógico domiciliar.

Analisamos essas produções acadêmicas e suas contribuições para o entendimento deste tipo

de atendimento educacional. Também avaliamos as dificuldades e avanços deste trabalho

mediante o ensino do pedagogo e/ou professores hospitalares. Deste modo, buscamos

conhecer as características deste trabalho e os processos educacionais envolvidos. Nos

resultados encontrados constatamos que a educação e a saúde caminham juntas e precisam

buscar soluções qualitativas para crianças e adolescentes que não podem frequentar as escolas

regulares. É dever do Estado, a garantia do direito à educação, inclusive no atendimento

pedagógico domiciliar e preparar os professores para exercer tal função.

Palavras-chave: Pedagogia Hospitalar; Atendimento Domiciliar; Escolarização.

Abstract

The objective of this paper is to present the academic productions discussing Pedagogical

Household Care for children and adolescents who have chronic diseases or who underwent

surgery or who have suffered accidents that made it impossible to attend regular schools.

These children and adolescents are treated individually in their homes through home care

education by teachers and / or hospital educators who teach these students, the school subjects

they learn in their receptive schools. The methodology of this study was to review the

literature and analysis work on home care in health care and educational home. We analyze

these productions and academic contributions to the understanding of this type of educational

service. We also evaluate the difficulties and progress of this work by teaching the teacher

and / or teacher hospital. Thus, we sought to understand the characteristics of this work and

the educational processes involved. In the results we find that education and health go

together and need to get qualitative solutions for children and adolescents who can not attend

regular schools. It is the State's duty to guarantee the right to education, including home care

teaching and preparing teachers to exercise this function.

Keywords: Pedagogy Hospital, Home Care; Schooling.

7

Introdução

Iniciaremos este trabalho nos focando na importância da Pedagogia como teoria da

educação, ou seja, uma ciência que estuda a educação como uma prática multidiferencial. Não

podemos discutir a Pedagogia individualmente, pois ela é considerada uma ciência parceira de

outras ciências. Portanto, é desse modo que compreendemos os diversos campos da

Pedagogia como Ciência da Educação. Atualmente, a educação não está mais restrita

somente às instituições escolares, pois é muito ampla. Sua prática não ocorre somente no

ensino escolar e é muito mais que isso. A junção que existe entre teoria e prática tem sido

trabalhada em outros ambientes, assim como o hospital.

De acordo com Libâneo (1998), a Pedagogia ocupa-se de processos educativos,

métodos e maneiras de ensinar. É uma ciência ampla que pode abraçar vários campos do

conhecimento que se preocupam com as práticas educativas. Este artigo pretende abordar

alguns destes aspectos desta realidade educacional em transformação, desta ciência

integradora e dos aportes desta área. Portanto, da Pedagogia originou a Pedagogia Hospitalar

que a cada dia vem expandido. Muitos hospitais já aderiram essa prática humanística e

política.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394 de 1996 (BRASIL, 1996) foi um

passo importante para o reconhecimento dos direitos das crianças e dos adolescentes

hospitalizados, pois propõe que todas as pessoas disponham dos meios necessários para evitar

a suspensão do aprendizado. Um dos enfoques da Pedagogia Hospitalar é garantir a

continuidade do ensino, mesmo em situações adversas.

A Pedagogia Hospitalar pode ser considerada como um processo pedagógico de vasto

ramo de atuação do pedagogo e de professores na sociedade atual, pois, é um novo campo de

atuação onde o pedagogo e/ou professor desenvolve seu trabalho em ambiente hospitalar e,

recentemente, também no ambiente domiciliar. Dessa forma, ele possibilita para as crianças e

adolescentes a continuidade de suas atividades educacionais, mesmo estando afastados da

instituição escolar formalmente dita.

Na educação nos hospitais os professores atuam de diferentes maneiras. Em alguns

hospitais, os professores são contratados pela prefeitura e normalmente o ensino é coletivo,

pois as salas são multisseriadas (um professor para vários alunos). Também existem Estados

que contratam professores, assim como hospitais federais. No Paraná, já existe o programa

SAREH - Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar. Neste programa o

8

atendimento é diferenciado e os professores são da Rede Estadual de ensino e atendem a

várias áreas no hospital e também no atendimento pedagógico domiciliar.

A partir do momento que a criança se afasta para qualquer tratamento de saúde, (por

três dias ou mais), existe uma interrupção do seu processo de ensino e aprendizagem. A

Pedagogia Hospitalar vem sendo utilizada para minimizar fatos como esse e também mostrar

à criança e aos adolescentes que o hospital não é somente um espaço que provoca dor e

sofrimento, mas pode ser um lugar de trocas de informações e saberes. O pedagogo e/ou

professor que atua nessa área precisa possuir conhecimentos necessários e básicos para lidar

com um aluno hospitalizado em idade escolar. Ele também precisa de meios para se adequar

ao hospital e dar continuidade às tarefas escolares de seus alunos.

Este trabalho surgiu a partir de vivências com o meio hospitalar através do Projeto de

Extensão “Intervenções Pedagógicas Junto a Criança Hospitalizada.”1

Naquele período, estudantes do curso de graduação de Pedagogia da Universidade

Estadual de Maringá (UEM) realizavam o projeto duas vezes por semana no Hospital

Universitário de Maringá. Atualmente, existem duas estagiárias bolsistas que vão todos os

dias e estagiários que vão aos finais de semana e realizam atividades lúdicas na pediatria com

as crianças e adolescentes internados. No período em que participei do projeto é que surgiu o

interesse em pesquisar sobre crianças e adolescentes que não possuíam meios de irem para as

suas escolas regulares e, muitas vezes, nem podiam estar nos hospitais. Desta maneira surgiu

o interesse em pesquisar sobre como ocorre o Atendimento Pedagógico Domiciliar.

Nesta pesquisa, portanto, serão abordados artigos que tratam desta nova forma de

atendimento e o trabalho será focado no Atendimento Pedagógico Domiciliar e como este se

manifesta no processo de escolarização das crianças e dos adolescentes. A metodologia deste

trabalho constitui-se na revisão de literatura.

Abaixo, encontram-se os artigos utilizados e analisados neste estudo em dois

aspectos: artigos que discutem especificamente o Atendimento Pedagógico Domiciliar e

artigos que discutem a Pedagogia Hospitalar de forma geral:

1 Projeto instalado no Hospital Universitário de Maringá, em que participei no ano de 2010, coordenado

pela Professora Celma Regina Rodriguero, hoje pela professora Aparecida Meire Calegari Falco.

9

Autores (as) e Data Título do artigo Publicação

FONTES (2005) A escuta pedagógica à

criança hospitalizada:

discutindo o papel da

educação no hospital

Artigo publicado na Revista

Brasileira de Educação –

Universidade Federal

Fluminense – 2005.

BARBOSA (2009) Política de Atendimento

Pedagógico Domiciliar na

Rede Municipal de Ensino de

Curitiba: Uma proposta

inclusiva considerando

tempo e formas de aprender.

Artigo apresentado no

Congresso de Educação –

EDUCERE - PUC - Curitiba,

2009

GODOY (2009) Atendimento pedagógico

domiciliar – Relato de uma

experiência ocorrida em

escola da rede estadual de

ensino em Londrina.

Artigo apresentado no

Congresso de Educação –

EDUCERE – PUC –

Curitiba, 2009.

GARCIA; GATTI; COSTA.

(2010)

Visitas Domiciliares a

crianças com doenças

crônicas: influencia na

formação do estudante de

medicina.

Artigo publicado na Revista

“O mundo da Saúde” de São

Paulo, 2010.

PAULA; ZAIAS. (2010) A produção acadêmica sobre

práticas pedagógicas em

espaços hospitalares: analise

de teses e dissertações

Artigo publicado em Revista

Cientifica “Educação

Unisinos” de Ponta Grossa –

PR, 2010.

AVANZINI; SILVA. (2011) A educação hospitalar e

domiciliar: a identidade

pedagógica dos professores

que atuam no

SAREH/SEED/PARANÁ.

Artigo apresentado no

Congresso de Educação –

EDUCERE – Curitiba –

PUC- 2011.

JUNIOR; TAVERNARD;

BARBOSA; ABE;

MOURÃO. (2012)

A percepção, a visualidade e

a mitologia amazônica:

possibilidades estético-

pedagógicas na Classe

Hospitalar.

Artigo apresentado no

Encontro Nacional de

Atendimento Escolar

Hospitalar & Seminário de

Educação Popular e Saúde de

Belém - PA, 2012.

SILVA; SOUZA; LEAL.

(2012)

Programas de atendimento

domiciliar para crianças com

necessidades especiais de

saúde.

Artigo apresentado no

Encontro “Pesquisando em

Enfermagem” da UFRJ

(Universidade Federal do Rio

de Janeiro), 2012.

ESTEVES (s/d) Pedagogia Hospitalar: um

breve histórico

Sem identificação.

A seguir descreveremos os autores que discutem a Pedagogia em diferentes contextos.

Posteriormente, apresentaremos a Pedagogia Hospitalar como recurso multidiferencial, o

Atendimento Domiciliar da Equipe de Saúde e o Atendimento Pedagógico Domiciliar.

10

A Pedagogia em diferentes contextos

Existem diferentes estudiosos que discutem a Pedagogia em diferentes contextos.

Neste artigo apresentaremos as posições de José Carlos Libâneo (1998) e Selma Garrido

Pimenta (1996) sobre a preparação do profissional pedagogo para atuação em áreas

diversificadas. O primeiro destes autores, Libâneo (1998) apresenta em sua obra a discussão

da temática: “Pedagogia e Pedagogos, para quê?”. A segunda autora, Pimenta (1996) que

publicou o livro: “Pedagogia, ciência da educação?” nos proporciona a discussão e

reconhecimento da Pedagogia como ciência autônoma.

Libâneo (1998) é autor de diversas obras que contribuem para o esclarecimento das

fases da Pedagogia, assim como suas tendências. Na obra “Pedagogia e Pedagogos, para

quê?” ele traz textos escritos desde 1990 que foram selecionados para serem publicados e

responderem à pergunta sobre as novas identidades dos pedagogos. A Pedagogia, para o

autor, ocupa-se dos processos educativos, métodos e maneiras de ensinar. Porém, é um campo

amplo e com múltiplos conhecimentos sobre a ação educativa.

Desta maneira, é a Pedagogia que pode postular o educativo propriamente dito e ser

ciência integradora dos aportes das demais áreas. Isso significa que, embora ela não ocupe

lugar hierarquicamente superior às outras ciências da educação, tem um lugar diferenciado.

(LIBÂNEO, 1998, p. 29)

Para Libâneo (1998, p.23) a Pedagogia é uma ciência autônoma que se preocupa em

estudar as teorias da prática educativa concreta. Dessa forma, o objeto da Pedagogia é

entender como funcionam as práticas pedagógicas. Portanto, o pedagogo precisa ser capaz de

atuar em várias instâncias das práticas educativas, ou seja, na educação informal, não-formal e

formal, sempre buscando conciliar a teoria com a prática.

O autor ainda aponta seis definições clássicas de educação: a perspectiva Naturalista,

na qual se acredita que a educação ajuda a manifestar o que é inato no indivíduo; a

perspectiva Pragmática, na qual se concebe que o ser humano é produto do meio e a função da

educação é ajudar nesse desenvolvimento. A perspectiva Espiritualista baseia-se em conceitos

religiosos em que a educação prepara o individuo para grandes ideias, como a vida eterna. A

perspectiva Culturalista preocupa-se com a formação do individuo, tanto interna como

externa, por meio de transmissão de conhecimentos. Já a perspectiva Ambientalista acredita

que o homem se desenvolve com o meio em que vive e a educação é a organização e a

11

estimulação desse desenvolvimento. A perspectiva Interacionista afirma que o processo

educativo ocorre por meio da interação entre o sujeito e o meio.

Libâneo (1998) diz que o campo de atuação do profissional formado em Pedagogia é

tão vasto quanto são as práticas educativas na sociedade. Para ele, em todo lugar no qual

houver uma prática educativa com caráter de intencionalidade, existe a Pedagogia.

(LIBÂNEO, 1998, p. 43-44)

No que se refere à identidade do pedagogo e ou professor no hospital e no atendimento

pedagógico domiciliar, acreditamos que a perspectiva Interacionista é necessária para que

esse profissional saiba conciliar a teoria aprendida em sua docência com a prática vivida em

sala de aula, em contato e interação com esses alunos hospitalizados, ou nas casas dos alunos

através do ensino individualizado. Para Libâneo (1988, p. 47): “A identidade do profissional

pedagogo é reconhecida, portanto, na identidade do campo de investigação e na sua atuação

dentro da variedade de atividades voltadas para o respeito e para o educativo e com as

pessoas”.

A autora Pimenta (1996) juntamente com os autores Libâneo, Mazzotti e Nóvoa,

produziu uma coleção de textos e elaborou a obra “Pedagogia, ciência da educação?”, Onde

é discutida a Pedagogia como uma Ciência da Educação e consideram que é possível

constituir essa ciência através das práticas educativas. Nos diversos textos escritos,

encontramos o trabalho do professor como educador de uma ciência autônoma. Os autores

descrevem que as ciências da educação devem integrar as diversas racionalidades, não caindo

no totalitarismo da exclusão, mas antes na diversidade e pluralismo. (PIMENTA, 1996, p.

83).

Pensando numa forma de educação diferenciada e com suas particularidades, a

contribuição da Pedagogia Hospitalar é expressiva para entender a relação entre educação e

saúde por considerar o indivíduo na sua totalidade. Contudo, fica claro que a educação não se

restringe somente a instituições escolares, ela está muito além dos limites dos muros da

escola. Libâneo (1998) relata que a educação está em todos os lugares, seja para ensinar,

aprender ou para aprender-e-ensinar.

Ela é um campo totalmente vasto no qual o profissional formado em Pedagogia e

licenciaturas se relaciona com todas as atividades de aprendizagem e de desenvolvimento.

Para esse autor, onde existir uma prática educativa com intencionalidade haverá uma

Pedagogia, portanto o papel do pedagogo é também fora da escola formal. Libâneo (1998)

12

deixa claro que o pedagogo é um profissional que deve saber lidar com fatos, estruturas,

contextos e situações todas referentes à prática educativa em suas várias modalidades.

A seguir apresentaremos os autores que discutem a inserção da Pedagogia nos

hospitais apresentando várias intencionalidades no processo educativo: formação intelectual,

humana e lúdica das crianças e adolescentes envolvidos.

A Pedagogia no Hospital – Pedagogia Hospitalar

A criança ou adolescente “doente” pode apresentar um déficit de empenho e

disposição, e muitas vezes não possui ânimo para realizar atividades que lhe são propostas.

Como estão enfermos, eles passam muito tempo em suas casas, de repouso, ou são internados

em hospitais, ou mesmo, algumas destas pessoas nem podem estar nos hospitais devido às

possíveis contaminações e precisam ficar em suas casas recebendo atendimento domiciliar.

Os pedagogos e/ou professores hospitalares precisam se adaptar a esses diferentes espaços e

estarem à disposição das crianças e dos adolescentes para ensiná-los de uma forma lúdica o

mesmo conteúdo que eles aprenderiam nos estabelecimentos escolares.

É necessário enfatizar que essas crianças ou adolescentes, nestas situações, precisarão

de estímulos e apoio para seu desenvolvimento cognitivo. Lembrando que a internação e o

atendimento domiciliar não podem ser vistos como problemas que impeçam o avanço desses

alunos.

Sendo assim, quando esses alunos diminuem suas frequências nas escolas por estarem

doentes, quando os hospitais possuem o programa da Pedagogia Hospitalar ou as Secretarias

Municipais ou Estaduais de Educação realizam esse trabalho, esses alunos e suas famílias

ficam com uma preocupação a menos diante da doença, da hospitalização, ou mesmo, da

questão do atendimento nos domicílios. Quando as crianças e adolescentes passam mais

tempo nos hospitais do que nas suas próprias casas ou escolas, os pedagogos e/ou professores

hospitalares deve entrar em ação e entrar em contato com as escolas para que eles não percam

as aulas. Eles vão aos poucos ensinando, com métodos lúdicos e de estimulação, esses alunos

nesses diferentes contextos.

As autoras Matos e Mugiatti (2006) em sua obra “Pedagogia Hospitalar A

Humanização Integrando Educação e Saúde”, trabalham com a necessidade da presença dos

pedagogos nas equipes de saúde e o quanto é importante que os cursos de Pedagogia ofereçam

fundamentos teórico-práticos essenciais para que esses pedagogos possam orientar suas

13

práticas nos hospitais. A Pedagogia Hospitalar é um suporte lúdico e pedagógico dos mais

importantes, porque não isola o escolar na condição pura de doente, mas sim o mantém

integrado em suas atividades da escola e da família e apoiado pedagogicamente na sua

condição de doente. (MATOS; MUGIATTI, 2006, p. 47).

Fonseca (2003, p. 46) discorre sobre o atendimento escolar no ambiente hospitalar

como uma realidade que deveria ser muito bem trabalhada nas universidades de educação e

discute sobre o atendimento do sujeito hospitalizado que possui necessidades que devem ser

atendidas, da sua obra “Atendimento Escolar no Ambiente Hospitalar”, é importante ressaltar

que a criança e o adolescente não trabalham de forma isolada. Eles constroem novos

conceitos, os reformulam e os aprimoram diante das trocas que realizam com os professores e

com os colegas:

A escolarização hospitalar deve levar em consideração a diversidade

de estratégias para favorecer o ensino aprendizagem e a partir disso

ampliar o olhar no aluno, para preparar as atividades, levando-se em

conta as necessidades e dificuldades dos alunos em cada momento e

em cada situação com o objetivo de oportunizar o contato com a

aquisição de novos conhecimentos. (FONSECA apud AVANZINI;

SILVA, 2011, p. 15913).

A dissertação de mestrado de Calegari-Falco (2003) defendida no Programa de Pós

Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá, com o título “Educação e

Saúde: As inter-relações do trabalho do pedagogo no contexto hospitalar” apresenta as

relações entre a educação e a saúde.

A Pedagogia Hospitalar é uma forma de atender a criança e adolescente hospitalizados

de modo que esta não interrompa seu ciclo de escolarização, não só realizando atendimento

intelectual, mas também trabalhando com seu emocional. Uma escola no hospital tem o

grande desafio de se dedicar a uma prática diferenciada da escola regular, sempre

considerando o estado emocional e clínico da criança hospitalizada. Para Fonseca (2003, p.

54):

A criança hospitalizada, assim como qualquer criança, apresenta o

desenvolvimento que lhe é possível de acordo com uma diversidade

de fatores com os quais interage e, dentre eles, as limitações que o

diagnostico clinico possa lhe impor. De forma alguma podemos

considerar que a hospitalização seja, de fato, incapacitante para a

criança. Um ser em desenvolvimento tem sempre possibilidades de

usar e expressar, de uma forma ou de outra, o seu potencial.

14

Zaias e Paula (2010) relatam que nem sempre ter um professor no hospital é sinônimo

de um processo pedagógico de qualidade. O profissional que está nesta área, precisa possuir

muita sensibilidade, comunicação, didática e saber expor suas finalidades e objetivos. Deve

ouvir a criança e/ou adolescente, ouvir suas ansiedades, história, desejos e medos. Deste modo

construirá um bom vínculo com a criança e/ou adolescente internado. Caso contrário, o

atendimento poderá não ser gratificante.

O pedagogo e/ou professor hospitalar deve entrar em contato com a escola para

solicitar o currículo que a criança ou adolescente se encontra. Deste modo, ele desenvolverá

atividades específicas do ano escolar dos alunos. Além, do atendimento dentro do hospital,

como já mencionamos anteriormente, foi elaborado para benefício daqueles que não podem

frequentar a escola, e nem o hospital, o atendimento domiciliar que é uma maneira de maior

satisfação e acomodação do aluno para receber o atendimento escolar em sua casa. Nestes

casos, os professores se deslocam dos hospitais ou de suas escolas de origem para os

domicílios das crianças e adolescentes impossibilitados de irem ao hospital. Tanto no

ambiente hospitalar como domiciliar, é importante que o professor adote um currículo

flexível:

[...] o ambiente hospitalar não possui o mesmo grau de sistematização

e acumulação de conhecimento proposto pela escola, tendo em vista as

suas particularidades (estado emocional, doença e saúde dos

hospitalizados), bem como os rituais que acontecem no hospital

(intervenções médicas). (ZAIAS; PAULA, 2010, p. 229).

Desta maneira, a Pedagogia Hospitalar tem como objetivo a continuidade do ensino,

para que a criança ou adolescente tenha a oportunidade de caminhar com seu currículo escolar

sem defasagem.

Discutiremos a importância das atividades que devem ser preparadas para serem

aplicadas no ambiente hospitalar. A primeira característica é o fazer uso do lúdico, brincar,

utilizar materiais e jogos educativos. A segunda se caracteriza no próprio ambiente do

hospital que deve ser conhecido e utilizado e a terceira característica, é o diálogo, ponto de

partida para uma relação entre professor e aluno. (ZAIAS; PAULA, 2010)

Quando as crianças e adolescentes estão no hospital ou nos seus domicílios, eles

possuem pouco contato com amigos e colegas da escola. Deste modo, o convívio social se

modifica. Muitas vezes frente ao seu adoecimento, eles perdem o interesse em estudar, ler e

até mesmo, de brincar. Nos hospitais:

O programa de Classe Hospitalar constitui-se como um

desdobramento da educação, que visa a proporcionar à criança, ao

15

adolescente e ao adulto hospitalizado, a possibilidade de melhora da

sua qualidade de vida, por meio de atividades pedagógicas, lúdicas e

recreativas. O atendimento objetiva ainda melhorar a auto-estima,

minimizando espasmos da dor, quando interpreta a proposta a

processos de humanização. (ABE et al, 2012, p. 02, apud FONSECA).

Uma grande ferramenta para atingir uma educação de qualidade e mais prazerosa é a

brincadeira.

[...] na brincadeira ela experimenta, testa, fantasia, imita situações

sociais com as quais convive. Educar através da brincadeira torna-se

algo precioso, desde que induzido e acompanhado de forma séria e

comprometida. Ao brincar, as crianças exteriorizam o seu interior, os

seus medos. A brincadeira possibilita a integração entre as crianças e

desde com os professores e demais envolvido, vivenciam situações

que lhes levam a refletir e resolver problemas. (MATOS, 2009, p.

126-127).

E ainda:

O brinquedo surge na vida da criança juntamente com sua capacidade

de imaginar, de transcender o real e construir um mundo

simbolicamente possível. O brinquedo na realidade, surge da

necessidade e do desejo frustrado da criança de realizar algo que

concretamente ela não pode, naquele momento. (FONTES, 2005, p.

126).

A auto estima e o lúdico das crianças e adolescentes muitas vezes são suprimidos pela

enfermidade e pelo sentimento de impotência. Por meio de ações pedagógicas realizadas nos

hospitais ou nos domicílios, se estabelece uma relação entre professores/alunos e

alunos/professores. Existe uma ampliação dos conhecimentos de ambos. Os resultados da

auto estima dos alunos, pós esses diálogos, atividades e brincadeiras são consideráveis no

processo de ensino aprendizagem. Para Matos (2009, p. 100) “a criança, ao receber estímulos

na escolarização hospitalizada tem sua auto-estima elevada, o seu desenvolvimento intelectual

se dá num processo mais natural e benéfico, mostrando todo o seu potencial, podendo esta

criança diminuir sua hospitalização”.

A necessidade de implantação de escolas nos hospitais já é reconhecida pela legislação

brasileira como um direito às crianças e adolescentes hospitalizados. A resolução nº 41/95

(BRASIL, 1995) trata especificamente os Direitos das Crianças e dos Adolescentes

hospitalizados. O artigo 9, dessa mesma resolução enfatiza os direitos: “direito de desfrutar de

alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do

currículo escolar durante sua permanência hospitalar.” (BRASIL, 1995, p. 01).

16

O Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2001) instituiu algumas Diretrizes

Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. No artigo 13 é referida a

necessidade da relação entre a escola e os sistemas de saúde para que a continuidade da

aprendizagem não seja interrompida. Deste modo, quando eles voltarem para as escolas não

estarão atrasados ou até mesmo perdidos.

As leis que amparam a educação em contexto hospitalar vêm reforçar e legitimar o

direito a educação, visto que o desenvolvimento de uma criança, bem como o seu aprendizado

não para em virtude de uma internação. (ZAIAS; PAULA, 2010, p. 224).

Não devemos enxergar o hospital apenas como um espaço onde encontramos uma

maneira de reabilitação da saúde. Neste ambiente existem outros profissionais além da equipe

essencial para exclusivos cuidados com a saúde. Exemplos são os professores e os pedagogos.

Zaias e Paula (2010) relatam que muitos desconhecem as práticas dos professores nos

hospitais e não sabem a extrema importância destes profissionais e como influenciam os

alunos internados:

[...] as ações nas escolas nos hospitais exigem dos professores vontade

e determinação para se trabalhar com a diversidade humana e

diferentes experiências culturais, de modo que identifiquem as

necessidades educacionais dos sujeitos hospitalizados, bem como

sejam capazes de inserir modificações e adaptações curriculares no

processo de ensino aprendizagem. [...] as salas de aulas, normalmente,

são multisseriadas e os professores são polivalentes. (PAULA;

ZAIAS, 2010, p.228).

Portanto, por meio dessa complexidade é possível entender o trabalho desses

profissionais. No Paraná vem sendo desenvolvido o programa SAREH, desde o ano de 2007,

com parceria entre as Secretarias de Estado da Educação (SEED), a Secretaria de Estado da

Saúde (SESA) e a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) com

o objetivo de atender adolescentes, jovens e adultos hospitalizados, que estejam cursando o

Ensino Fundamental II, Ensino Médio ou EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Segundo informações do artigo de Avanzini e Silva (2011), o SAREH/Maringá (HUM

- Hospital Universitário de Maringá, 2012), aplica os conteúdos aprendidos no hospital que

valem como conteúdos ministrados e serão enviados para as escolas de origem dos alunos

através de um relatório. Desse modo, os alunos não ficam com faltas e não são prejudicados

na aprendizagem. A equipe do SAREH é composta por um Pedagogo e três professores da

Rede Estadual de Ensino, vinculados à SEED. No caso de Maringá, os professores são do

Núcleo Regional de Educação de Maringá (NRE). Geralmente é um professor para atender as

17

disciplinas de matemática, física, química e biologia, outro professor para as disciplinas de

língua portuguesa e estrangeira, arte e educação física e o terceiro professor para as

disciplinas de historia, geografia, sociologia, filosofia e ensino religioso. Todos trabalham 20

horas semanais. O pedagogo para organizar todo o trabalho pedagógico da instituição,

trabalha 40 horas semanais.

A equipe que participa da Classe Hospitalar2 passa por um processo seletivo e recebe

treinamento e formação especifica durante o período que atuam como professores

hospitalares. Os horários das aulas são no período vespertino, e o pedagogo fica durante os

dois períodos para organização pedagógica da Classe Hospitalar. De acordo com Menezes (p.

31, 2004, apud, Avanzini; Silva, p. 15917, 2011), “o compromisso do pedagogo no contexto

hospitalar exige experiência e flexibilidade de soluções no processo de construção de

conhecimentos. Durante a execução de atividades, as crianças podem exteriorizar expectativas

e experiências afetivas muito particulares”.

Há diferentes formas deste trabalho e ele depende da unidade hospitalar onde o serviço

está inserido, assim como do Núcleo de Educação. O pedagogo faz atendimento com todas as

crianças e adolescentes que estão internados e que estão na fase escolar. Ele recolhe os dados

referentes à escola, ao ano no qual aluno está matriculado, o período que estará internado.

Essa é outra questão importante, o tempo do internamento, pois irá determinar o trabalho com

o aluno. O tempo pode variar conforme o regulamento de cada unidade hospitalar, variando

de dias ou semanas. Após esse primeiro contato, o pedagogo solicita a escola o Plano de ação

Docente para encaminhar aos professores realizarem as atividades. (Avanzini e Silva, 2011).

Este novo ramo da Pedagogia, se faz presente em muitos hospitais estaduais do

Paraná. Também existem os atendimentos domiciliares provenientes destes hospitais. Nos

2 A Classe Hospitalar foi criada para assegurar as crianças e aos adolescentes hospitalizados, a continuidade dos

conteúdos regulares, possibilitando um retorno após a alta sem prejuízos a sua formação escolar. (ESTEVES,

s/d, p. 5). De acordo com Zaias; Paula (2010,p.224): “Muitos pesquisadores consideram a expressão classe

hospitalar insuficiente para atender as demandas que existem. Taam (2004) argumenta que o conceito classe

hospitalar configura esta modalidade de ensino como um anexo das escolas regulares, enfraquecendo a

autonomia desse sistema. Assim, atualmente, são várias as nomenclaturas utilizadas pelos diversos estudiosos da

Pedagogia Hospitalar. Matos (2008) utiliza o termo “escolarização hospitalar”, Fonseca (2008) faz uso dos

termos “escola hospitalar”, “atendimento pedagógico-educacional hospitalar”. Há autores, como Paula (2005) e

Arosa e Shilke (2007), que utilizam o conceito “escola no hospital” para definir as práticas pedagógicas neste

ambiente. Considera-se que o termo “escola no hospital” é o mais apropriado, pois abrange a necessidade de uma

estrutura complexa, não somente professores deslocados de suas escolas de origem (das prefeituras e dos

Estados). Torna-se importante que as escolas nos hospitais possuam um número de profissionais que possam

contemplar as várias áreas do conhecimento das crianças, os diferentes níveis de escolaridade e também

coordenadores pedagógicos para mediar a relação das escolas nos hospitais com as escolas regulares”. Desta

forma, no decorrer da pesquisa utilizaremos o termo ‘escola no hospital’.

18

limitaremos aqui a apresentar os atendimentos nos hospitais que o SAREH atende: 1)

Associação Hospitalar de Proteção à Infância Doutor Raul Carneiro/ Hospital Pequeno

Príncipe – Curitiba; 2) Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia – APACN

– Curitiba; 3) Hospital de Clinicas da Universidade Federal do Paraná – Curitiba; 4) Hospital

do trabalhador – Curitiba; 5) Hospital Erasto Gaertner – Curitiba; 6) Hospital Universitário

Evangélico de Curitiba – Curitiba; 7) Hospital Universitário Regional – Maringá; 8) Hospital

Universitário Regional do Norte do Paraná – Londrina; 9) Hospital Universitário do Oeste do

Paraná – Cascavel; 10) Hospital Infantil Doutor Waldemar Monastier – Campo Largo e 11)

Hospital Regional do Litoral – Paranaguá.

No caso de internação e afastamento da escola por mais de 90 dias e se o laudo médico

propuser liberação do ambiente hospitalar e a recomendação for do aluno não frequentar as

aulas na instituição escolar, a Pedagogia Hospitalar é adequada e deve proporcionar ao aluno

o atendimento pedagógico domiciliar que é uma maneira eficaz a qual ultrapassa os portões

da escola e do hospital. Mas esse tipo de atendimento não deixa de lado, o ensino e

aprendizagem, que são os objetivos que devem ser transmitidos, além do lúdico e do cuidado

emocional e familiar.

O Atendimento Pedagógico Domiciliar pode ser iniciado pela própria família da

criança. Posteriormente, essa família deve se encontrar na situação de receber o professor em

sua casa. No caso do aluno, ele oportuniza que o profissional adequado realize esse trabalho e

traga conhecimentos novos. O profissional deve estar preparado para realizar este tipo de

atendimento. Portanto, é importante a visita e o trabalho do pedagogo e/ou professor no lar da

criança e adolescente que já não pode se mover para outros lugares.

Atendimento Domiciliar

No Brasil existe um sistema que promove atenção à saúde para um grande número de

pessoas que procuram os hospitais e unidades públicas que constituem o Sistema Único de

Saúde (SUS). Este programa foi criado com base no artigo 196 e 198 da Constituição Federal

de 1988, que consiste:

19

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido

mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco

de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às

ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede

regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único,

organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades

preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade. (BRASIL, 1988)

O SUS não é um serviço ou uma instituição, mas um sistema que consiste em um

conjunto de unidades, de serviços e ações que interagem para um fim comum: saúde básica

para a população brasileira. O SUS é orientado a partir de algumas normas e alguns princípios

organizativos nacionais sob as esferas municipais, estaduais e federais. Conforme os preceitos

da Constituição (BRASIL, 1988) que diz respeito à saúde, o SUS se orienta pelas normas da

universalidade, equidade e integralidade, cedendo assistência à população promovendo assim

proteção e recuperação de saúde.

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 1988) a implantação o SUS unificou

o sistema de saúde brasileiro que antes era responsabilidade de diversos ministérios

governamentais. A saúde deixou de ser exclusiva do Poder Executivo Federal e dos Estados e

os Municípios começaram a tomarem conta de sua administração. Podemos relacionar este

fato com a linha que segue a Gestão Democrática, onde as instituições devem implantar esta

gestão como descentralização, de acordo com o Plano (BRASIL, Senado Federal, 2001), traz

em si exigência de co-responsabilidade dos diferentes níveis administrativos (união, estados e

municípios), demando um regime de colaboração entre fóruns nacionais, locais de

planejamento e conselhos de educação em diferentes níveis, além da participação da

comunidade educacional. (FONSECA; TOSCHI; OLIVEIRA, 2004, p.22)

Entre as ações mais reconhecidas do SUS estão a criação do Serviço de atendimento

móvel de urgência (SAMU), Políticas Nacionais de Atenção Integral à Saúde da Mulher, de

Humanização do SUS e de saúde do trabalhador, além de programas de vacinação em massa

de crianças e idosos entre outros, porém iremos nos focar inicialmente no Atendimento

Domiciliar, que humaniza. Humanizar é colocar-se frente às tarefas com compromisso e

20

seriedade para que ela seja desenvolvida com respeito às pessoas, acolhimento, direito de cada

um ter oportunidades iguais, ter olhos voltados para o ser global.

Para que esse Atendimento Domiciliar (AD) seja realizado, foi implantado o Programa

Saúde da Família ou Estratégia Saúde da Família (PSF/ESF). Este programa foi criado no ano

de 1994, por meio da parceria entre o Ministério da Saúde e o Fundo das Nações Unidas para

a Infância/UNICEF. Acredita-se que a oferta de alguns serviços à comunidade em suas

próprias casas resulta em melhorias na saúde e privilegia a atenção integral. Este programa

tem como função promover o conceito de saúde como direito à cidadania, a humanização no

atendimento, a prevenção de doenças com a identificação dos fatores de risco e a participação

da comunidade.

O PSF/ESF deve manter uma equipe composta por 01 médico, 01 enfermeiro, 01

auxiliar ou técnico de enfermagem e 04 a 06 Agentes Comunitários de Saúde. Esta equipe

realiza visitas aos domicílios de famílias que utilizam a Unidade Básica de Saúde e o Hospital

Público como meio de assistência a sua saúde e geralmente são crianças de 0 a 5 anos de

idade, adolescentes, adultos e jovens com risco e idosos. O método de trabalho desta equipe

se inicia com o Agente Comunitário de Saúde que antes de todos, vai até a casa dos pacientes

e os identifica, isto é, o agente cadastra as famílias e identifica se existe algum sinal de risco.

Para isso, ele leva consigo uma ficha de cadastro na qual anota todas as informações

necessárias. Ao identificar qualquer problema de saúde, o próximo passo é encaminhar para a

Unidade ou Hospital onde está instalado o PSF/ESF. Deste modo, o médico avalia o caso e o

paciente em questão e faz orientações precisas após o diagnóstico, assim o médico e a equipe

acompanham o caso. A visita domiciliar é feita várias vezes somente quando o paciente está

acamado. Ou seja, existe uma equipe criada para atender a família, mas o atendimento

domiciliar é realizado apenas pelo agente que diariamente precisa estar nas ruas “rastreando”

e acompanhando os casos e problemas de saúde das comunidades.

Como podemos observar o trabalho da PSF/ESF está localizado nestes quatro

princípios: identificar, encaminhar, orientar e acompanhar. Quando o médico ou enfermeira

saem para as visitas é para verificar pressão arterial ou aplicar vacinas entre outros

procedimentos nos pacientes acamados que geralmente são idosos. Quando raro, os

profissionais vão até a casa de crianças e as atendem.

No Estatuto da criança e do adolescente – ECA- Lei 8.069/1990, artigo 11, é

assegurado atendimento integral a saúde da criança e do adolescente, por intermédio do SUS,

garantindo o acesso universal e igualitário as ações e serviços para promoção e recuperação

21

de saúde. De igual forma, é direito da criança e do adolescente receber um atendimento

especializado e com recursos para o tratamento.

Leal; Souza e Silva (2012, p. 06) relatam que o atendimento domiciliar é visto muitas

vezes como uma estratégia para desospitalização. O objetivo do A.D é retirar o paciente do

meio hospitalar e levar para o seu domicílio, trazendo benefícios como a diminuição das re-

internações, a redução de risco de infecção, e o aumento da qualidade de vida do paciente e de

seus familiares.

Os benefícios da assistência domiciliar são a diminuição das re-

internações e dos custos hospitalares, a redução do risco de infecção

hospitalar e a manutenção do paciente no núcleo familiar e o aumento

da qualidade de vida deste e de seus familiares.

As autoras também trazem as dificuldades encontradas neste método de atendimento

como: a maior parte dos pacientes atendidos residem em áreas de violência e isso prejudica a

atuação dos responsáveis da visita. Um outro aspecto é a falta de orientação da família que

muitas vezes não tem conhecimento sobre os cuidados domiciliares. O profissional também

precisa estar preparado para toda função, porém muitas vezes, eles se encontram perdidos por

não estarem em ambientes hospitalares.

É importante dizer que o A.D objetiva vários benfícios sociais e econômicos como:

tranquilidade do paciente por estar perto de seus familiares; humanização do atendimento;

maior rapidez na recuperação; diminuição do risco de infecção hospitalar; redução de custos e

de dias de internação; prevenção e diminuição de sequelas e otimização de leitos hospitalares

para pacientes que deles necessitam. (LEAL; SOUZA e SILVA, 2012, p. 10).

No A.D a família assume postos que no hospital são realizados pelos médicos, por isso

as orientações devem ser feitas de maneira simples, levando em consideração a realidade

daquela família que se propôs a ajudar. O A.D deve ser efetivamente uma política de Estado o

que poderia proporcionar de forma efetiva uma melhor qualidade de vida para o paciente e

seus familiares bem como uma melhoria da qualidade da assistência das instituições

hospitalares, às quais estariam voltadas, única e exclusivamente para outras demandas de

saúde que não aquelas de caráter crônicos de longa permanência, além de proporcionar a

otimização de procedimentos e consequentemente a diminuição dos custos hospitalares.

(LEAL; SOUZA e SILVA, 2012, p. 16).

Não podemos deixar de enfatizar que o programa de visitas aos enfermos em seus

domicílios é de extrema importância para a comunidade, mas o que observamos é que as

22

visitas são mais focadas para crianças que ainda não estão em fase escolar, geralmente são

crianças entre meses de vida até os cinco anos de idade, se preocupam com o comportamento

nutricional. O programa, que é de muita importância, poderia estar mais atento para estas

questões.

Porém, já existem estudos que vivenciam esta realidade. Encontramos o artigo de duas

estudantes graduadas em medicina pelo Centro Universitário São Camilo em São Paulo que

realizaram um estudo no ano de 2010. A pesquisa teve como titulo: “Visitas Domiciliares a

crianças com doenças crônicas: influência na formação do estudante de medicina”. De

acordo com as autoras, é preciso dar voz as crianças e compreendê-las, a partir dos discursos

que elas realizam relatando o significado da doença ou até mesmo a falta que elas sentem das

atividades que são limitadas. O atendimento Domiciliar tem sido de grande eficácia na

diminuição de sofrimento para o paciente e seus familiares, bem como um fator de redução de

custos para o sistema de saúde. É importante dizer que a equipe de saúde que realiza visita a

pacientes que são crianças, incorpore atividades educativas ao tratamento, relatam que

recursos como brinquedos, livros e vídeos pedagógicos conduzem a pequenos progressos aos

pacientes. (COSTA; GARCIA; GATTI, 2010).

Ainda neste mesmo artigo podemos encontrar relatos dos estudantes após a realização

da visita, abaixo mencionaremos alguns comentários:

[...] somos apresentados a seu ambiente domestico, que muitas vezes

não se apresenta confortável e convidativo a uma pessoa estranha.

Também somos expostos a seus conflitos e suas angustias.

[...] pode-se constatar que a visita domiciliar é de fundamental

importância, pois ainda que as crianças não apresentassem patologias

graves, careciam muito de assistência.

[...] nossa presença trás uma espécie de conforto para as famílias, a

nossa simples presença em suas casas deixa a impressão de que

alguém se importa com o que estão vivendo. (COSTA; GARCIA;

GATTI, 2010).

O médico da família necessita apresentar competência técnica e uma grande

habilidade em comunicação para realizar seu trabalho com cuidado integral, humanizado,

longitudinal e continuado, pois exerce uma atividade totalmente impactante, que desenvolve

sua sensibilidade frente a realidade que vivencia juntamente com os pacientes. É preciso

construir um profissional moderno, atualizado, que atenda as expectativas da população e que

esteja atento as diversas dificuldades e limites do pequeno paciente, necessitamos de um

23

profissional que conheça o processo da educação, pois o artigo declara que o médico da

família é sempre o educador. (COSTA; GARCIA; GATTI, 2010, p. 333-334).

Por este motivo, a importância da Visita Domiciliar e do Atendimento Pedagógico

para a criança e o adolescente através do profissional pedagogo e do professor. A equipe de

saúde que realiza este trabalho não tem tempo por motivo do grande número de pacientes e a

série de procedimentos que realizam durante a visita, assim como não tem formação e sua

função não é esse trabalho. A criação do Atendimento Pedagógico Domiciliar (APD), com

certeza, traz melhorias ao tratamento das crianças e adolescentes que não podem estar se

movendo para o hospital, escola ou qualquer outro lugar.

Atendimento Pedagógico Domiciliar

De acordo com o MEC/SEESP (BRASIL, 2002) o documento “Classe Hospitalar e

Atendimento Pedagógico Domiciliar – estratégias e orientações” define o APD (Atendimento

Pedagógico Domiciliar) da seguinte forma:

Atendimento que ocorre em ambiente domiciliar, quando o estudante

encontra-se com problemas de saúde que o impossibilita de freqüentar

regularmente os espaços escolares, ou esteja em casa de

apoio/recuperação de saúde ou em outras estruturas de apoio da

sociedade. Estes estudantes devem receber respaldo da família e da

unidade escolar a qual estão matriculados, tendo apoio didático

pedagógico e adaptações físicas necessárias que lhe garantam

igualdade de condições para o acesso ao conhecimento e continuidade

de seus estudos de acordo com currículo escolar vigente. (BRASIL,

2002).

A Deliberação nº 02/03 do Conselho Estadual do Paraná, Indicação nº 01/2003,

caracteriza desta maneira:

[...] serviço destinado a viabilizar a educação escolar de alunos com

necessidade educacionais especiais que estejam impossibilitados de

freqüentar as aulas, em razão de tratamento de saúde que implique

permanência prolongada em domicilio, mediante atendimento

especializado em educação especial vinculado a um serviço

especializado. (BRASIL, 2003)

A resolução do CNE/CEB n° 02, de 11/09/2001, artigo 13 que define:

[...] os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas

de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a

alunos impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento

24

de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial

ou permanência prolongada em domicilio. (BRASIL, 2001)

De acordo com o artigo “Políticas de atendimento pedagógico domiciliar na rede

municipal de ensino de Curitiba: uma proposta inclusiva considerando tempo e formas de

aprender”, elaborado por Barbosa (2009), o APD para as crianças e adolescentes é como se

fosse uma ação que visa à inclusão e o sucesso escolar de todos os estudantes em seu pleno

desenvolvimento. Isto é, garante a continuidade dos seus estudos. É na Política Nacional de

Educação Especial (MEC/SEESP, 1994) que a educação em domicilio aparece como

modalidade de ensino, por isso passamos a utilizar o nome Atendimento Pedagógico

Domiciliar.

A caracterização do APD é o estudante estar matriculado no ensino regular e ter

atestado médico por mais de 30 dias. Portanto, a família e o Núcleo de Educação deve

solicitar o atendimento, relatando a necessidade que o faz estar afastado das atividades da

escola. O APD é destinado preferencialmente a crianças e adolescentes que possuem

tratamentos prolongados de saúde, diferente da visita do médico do PSF/ESF, como já

relatamos, o atendimento do professor e/ou pedagogo esta presente para que se possa

reconhecer, estimular e trabalhar com o potencial da aprendizagem do aluno. Nesta

modalidade de atendimento, o foco não é a doença e sim o tratamento, a recuperação e a

educação que também deve ser preservada. O APD possui características próprias em relação

a utilização do tempo, pois se concretiza em ambientes diferenciados, com realidades sociais,

culturais e econômicas diversificadas, requerendo uma construção própria e apropriada do uso

do tempo. (BARBOSA, 2009).

A estratégia do APD é dinamizar os conteúdos trabalhados através de planejamentos

prévios e contextualizados. Pode-se utilizar também materiais educativos como o ábaco, o

material dourado, as réguas numéricas, os blocos lógicos, o alfabeto móvel e jogos diversos.

Para Matos (2009, p.87-88) a hospitalização pode ser uma experiência difícil e

dolorosa para a vida do pequeno enfermo. Esse fator facilita a irritabilidade, desmotivação,

estresse e outros mais. O pedagogo pode desenvolver um trabalho lúdico e educativo para

ajudar os hospitalizados a aceitar a ideia do processo de internação e também no de

recuperação. Um exemplo disso é o brinquedo, que pode ser utilizado para fins terapêuticos,

recreativos e até de comunicação.

É interessante que o professor, quando o aluno possui acesso a internet por meio do

computador em seu domicilio, é importante que ele utilize esse instrumento para enviar

25

atividades para serem feitas no decorrer da semana. Este processo é de grande valia para os

professores, tornando o acesso mais fácil e prático. Não podemos questionar o quanto hoje as

crianças e adolescentes estão envolvidos nas novas tecnologias, a rapidez do desenvolvimento

dos equipamentos tecnológicos que tem crescido com muita intensidade. Tornando as novas

gerações capazes de utilizá-los sem dificuldades.

O professor para participar desta nova modalidade de ensino deve ter formação

preferencialmente em habilitação de Pedagogia com especialização em psicopedagogia ou

Educação Especial, assim como experiência como docente em ambiente hospitalar, além de

ser um conhecedor de múltiplas formas de ensinar e aprender e deve saber gerenciar as tarefas

propostas (isso varia de municípios para municípios). Precisa aceitar o desafio e adequar-se as

adaptações tecnológicas possíveis e necessárias para enriquecimento do processo de ensino e

aprendizagem. (BARBOSA, 2009).

O pedagogo e/ou professor durante os atendimentos deve se organizar no seu tempo,

para que construa um ambiente de aprendizagem efetivo e eficaz, que atenda ao ritmo da

criança. Sem ultrapassar a hora de atendimento e muito menos ter pressa para que a aula

chegue ao fim. É preciso ter equilíbrio e organização nos atendimentos domiciliares, pois cada

estudante tem seu tempo para aprender e compreender. Segundo Barbosa (2009) só se

constrói algo com intenção, tempo e planejamento, ele ainda diz que o APD oportuniza ao

aluno a continuidade de sua vida escolar. Isso tem sido um aprendizado constante de vida, de

esperança e persistência. Os estudantes atendidos de maneira geral demonstram uma

vivacidade impressionante, a vontade de aprender é latente a cada encontro e os resultados são

significativos.

Muitos alunos que participam deste ensino estão muitas vezes no portão e janelas de

suas casas, esperando pelo professor e/ou pedagogo. Além de um encontro pedagógico, é

também um encontro humano, sincero, responsável, prazeroso e repleto de entusiasmo.

(BARBOSA, 2009). É importante ressaltar aqui a importância de conhecer e conversar com a

criança, dessa forma, ela poderá se auto-afirmar e reconstruir também seus valores. (Matos,

2009). A criança precisa de alguém que lhe dê a oportunidade da escuta pedagógica:

A escuta pedagógica aparece como a oportunidade a criança se

expressar verbalmente. [...] parece ser o caminho a ser trilhado, pois

marca o dialogo não somente como a forma de criança se expressar

seus sentimentos, mas também organizar suas ideias a partir da

linguagem. Além disso, o dialogo pressupõe um outro na relação, que

pode trazer informações ou esclarecimentos relevantes que auxiliam o

individuo a compreender melhor a realidade que o cerca. (FONTES,

2005, p. 133)

26

É importante que o professor e/ou pedagogo conheça o significado das doenças de

seus alunos, este aspecto contribui para desenvolver um estado de estabilidade.

No artigo de Godoy (2009), o APD trata-se de um apoio para crianças e adolescentes

com problemas graves/crônicos de saúde e se faz necessário o “uso” da internação e também

de um tratamento prolongado. Deste modo, ele receberá os mesmos cuidados do hospital na

sua casa. Um novo tipo de tratamento que não causara danos a sua aprendizagem e

principalmente à sua saúde. Por necessitar de um período maior para recuperação e

tratamento, o professor e/ou pedagogo pode fazer seus atendimentos ao aluno no seu

domicilio e criar vínculos que dão inicio a um método de comunicação muito útil e favorável

ao tratamento do aluno adoentado.

O Programa SAREH do Paraná, como já comentamos anteriormente, faz parte do

Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional DEEIN/SEED/PR e enfatiza

também o atendimento pedagógico domiciliar. Este programa busca embasamento legal nas

propostas para a Educação Especial no Estado do Paraná:

Os serviços especializados serão assegurados pelo Estado que também

firmará parcerias ou convênios com as áreas de educação, saúde,

assistência social, trabalho, transporte, esporte, lazer e outros,

incluindo apoio e orientação à família, a comunidade e a escola

compreendendo: I Classe especial; II Escola Especial; III Classes

hospitalares; IV Atendimento Pedagógico domiciliar; [...] (CEE/PR,

2003).

Assegurar atendimento educacional aos alunos que se encontram

impossibilitados de freqüentar a escola por motivos de enfermidade,

em virtude de situação de internamento hospitalar ou de outras formas

de tratamento de saúde, oportunizando e continuidade no processo de

escolarização, a inserção ou a reinscerção em seu ambiente escolar

(SUED/SEED, 2008).

O APD é uma interação entre ambientes e deve haver uma relação entre o ambiente

escolar, ambiente domiciliar e ambiente hospitalar. No ambiente escolar o professor deve

estar acompanham do mesmo modo o educando, pois pode haver durante estes períodos de

aula alguma ocorrência, como: perda de memória, cansaço, sonolência e o professor tem que

estar o ajudando muitas vezes no contra-turno o que foi visto na sala de aula. No ambiente

domiciliar o professor deve caminhar conforme o aluno caminha no seu tratamento e por fim

no ambiente hospitalar, o professor segue os horários de disponibilidade dos alunos e da

continuidade ao estudo da criança da onde ela interrompeu. (GODOY, 2009)

27

Os professores do APD possuem atribuições e regras que devem ser seguidas

normalmente, assim como um professor de classe normal. Ele pode participar dos

planejamentos junto com os professores da sala de aula do aluno que será atendido, para saber

mais sobre o que deve ser estudado, ter um conhecimento dos conteúdos que serão

trabalhados e realizar hora atividade diferenciada, isto é, o professor que desempenha o APD

não possui horários de aula fixos, ele se adapta aos horários disponíveis do aluno, portanto

fica a critério da disponibilidade dos períodos vagos do professor para realizar seu

planejamento e elaborar suas aulas.

O professor antes de iniciar as aulas na casa dos alunos, tem a opção de ir ate a

instituição escolar da criança ou adolescente, recolher as atividades propostas para aquele dia,

construída pelos docentes da escola para realizar com seu aluno, o mediando no que precisar.

Avanzini e Silva (2011) relatam que o atendimento domiciliar aqui no Paraná, tem 12

horas semanais por aluno. Nestas horas o professor é do aluno, o estudo é individualizado e as

12 horas são de uso exclusivo ao aluno. O SAREH proporciona aos professores e pedagogos

que realizam visitas pedagógicas encontros de formação com temáticas que fazem parte do

cotidiano de cada profissional. Dessa forma, as ações educativas que esses profissionais

realizam, conseguem atingir os objetivos propostos junto ao aluno com suas enfermidades.

Além de reuniões entre professores e responsáveis do NRE e do DEEIN/SAREH na

SEED, os professores discutem questões tanto pedagógicas, como administrativas,

relacionadas a esse tipo de atendimento. Nas horas atividades (que também é um direito do

professor hospitalar), eles podem preparar suas aulas e visitar as escolas dos alunos, assim

como participar das reuniões pedagógicas das instituições que os alunos faziam parte.

[...] o trabalho de educação hospitalar e domiciliar não pode prescindir

dos conteúdos escolares formais, que estruturam o currículo escolar a

partir dos conhecimentos científicos histórica e culturalmente

produzidos pela humanidade para que os sujeitos/alunos apropriem-se

desse saber cientifico a fim de compreender o mundo em que vivem e

lutar para muda-lo, se assim o desejarem. (AVANZINI; SILVA, 2011)

Segundo Fontes (2005) a identidade de ser criança é diluída numa situação de

internação, onde ela se encontra numa realidade diferente da sua vida cotidiana. O papel da

criança é sufocado pelas rotinas e práticas hospitalares e as mobilizações de situações

pedagógicas podem interferir numa recuperação mais eficaz do aluno hospitalizado.

28

O trabalho do professor é ensinar, não há dúvida, mas isso será feito tendo-se em vista

o objetivo maior; a recuperação da saúde, pela qual trabalham todos os profissionais de um

hospital. (TAAM apud FONTES, 2005, p. 121-122).

Fontes (2005) ainda diz que é importante perceber a criança e seus familiares como

seres pensantes que, quando chegam ao hospital, já trazem histórias de vida e conhecimentos.

Assim como também é preciso pensar nas crianças e adolescentes que recebem atendimento

pedagógico domiciliar, pois eles também apresentam marcas da hospitalização e de suas

doenças.

Considerações Finais

Através da análise da revisão de literatura, ficou evidente o grau de importância que a

Pedagogia Hospitalar desempenha na vida de crianças e adolescentes que, por motivos de

saúde, possuem impasses para escolarização. Esta modalidade da Pedagogia está diretamente

relacionada ao processo de humanização. Após esse estudo já estamos cientes de que a

educação e a saúde devem caminhar juntas, sempre buscando soluções qualitativas para o

aprendizado de crianças e jovens hospitalizados. Ao receberem o conhecimento por meio da

educação, terão forças para reagir ao tratamento, renovando seu fôlego e recompondo sua

saúde. A criação da Pedagogia Hospitalar deve ser vista com seriedade e responsabilidade.

De maneira geral, a Pedagogia Hospitalar tem como meta assegurar as crianças e aos

adolescentes hospitalizados, a continuidade dos conteúdos regulares, possibilitando um

retorno após a alta sem prejuízos a sua formação escolar. (ESTEVES, s/d)

A educação deve ser estendida no âmbito hospitalar de forma que a criança possa

desfrutar de uma educação continuada, ou seja, o atendimento educacional que teria na escola,

tornando-se presente no hospital. (MATOS, 2009, p. 122). É importante que o serviço de

atendimento no ambiente hospitalar busque por educadores competentes e especializados.

Que transformem o hospital em um ambiente estimulador, sendo flexível, comprometido e

ético. O papel do pedagogo e do professor deve ser de muita seriedade para o aluno

adoentado. A Pedagogia Hospitalar é ainda um método de ensino que pode ser chamado de

novo para muitos profissionais da educação, pois ainda está em processo de realização,

portanto, a ideia de humanizar e educar são a integração da saúde com a educação.

O pedagogo e o professor deve acolher a ansiedade da criança hospitalizada, para que

por meio de suas ações pedagógicas ele contribua para a melhoria do seu quadro clínico. A

29

Pedagogia Hospitalar deve valorizar o espaço de expressão (coletivo ou individual) e

acolhimento das emoções. (FONTES, 2005). Sendo assim, o período em que o aluno fica

internado pode ser um período de ensino e novas aprendizagens que levam para o

desenvolvimento. Assim como o período em que está em sua casa sem poder sair.

Ficar doente faz parte de nossas vidas, porém, há casos que necessitam de

hospitalização e os que precisam ficar em casa traz consequências emocionais e sociais pois

ficam afastados dos amigos e da escola. Existem muitas crianças que são carentes e em seu

ambiente domestico muitas vezes não recebe o atendimento solicitado pelo médico, entretanto

para essas crianças o hospital traz mais conforto e cuidados essenciais. Ficar doente ou

possuir uma doença crônica que impede esses alunos de saírem de suas casas pode ser mais

difícil quando os adoentados são crianças ou adolescente que levam consigo para o hospital e

suas vidas certas marcas, como a discriminação por estar doente e debilidade física e

emocional. Quando internados ou se têm que ficar em casa, eles deixam para trás uma parte

importante da sua vida, a infância e a adolescência, períodos fundamentais para

desenvolvimento cognitivo.

O dever de profissionais da educação é garantir que o aluno tenha seu direito de

escolarização respeitando mesmo que esteja associada à doença. A Pedagogia pode trabalhar

com esses alunos, utilizando como meio de educação seus aspectos afetivos, cognitivos,

físicos e sociais.

O APD é um desafio para o aluno e também para toda família. Apesar de todas as

limitações que são postas para o aluno, a transformação acontece quando o profissional da

educação atua com responsabilidade e compromisso técnico, garantindo visitas pedagógicas

de qualidade e muita interação com o aluno, desse modo os resultados aparecem mais cedo do

que esperamos durante a recuperação. No APD é importante respeitar o aluno na sua

individualidade com seu próprio universo.

Concluímos que é possível pensar em um ambiente hospitalar e domiciliar como

espaços de educação para crianças e adolescentes, entre jovens e adultos que estejam em

idade escolar. Podem ser pensados espaços de encontros, transformações e desejos para que o

desenvolvimento seja integral. Para isso, é preciso que enxerguemos as crianças e

adolescentes como pessoas saudáveis. Precisamos compreendê-los, respeitá-los e

principalmente, auxiliá-los no que necessitarem.

Referências

30

AVANZINI, C. M. V.; SILVA, T. G. A educação hospitalar e domiciliar: a identidade

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