universidade federal da bahia escola de danÇa … aparecida... · sempre vão estar nesse corpo....
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE DANA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARTES CNICAS
MARIA APARECIDA LINHARES DOS SANTOS SILVA
SENTIR, CRIAR, DANAR: O AUTOCONHECIMENTO COMO
FUNDAMENTO PARA A DANA-EDUCAO
Salvador
2007
MARIA APARECIDA LINHARES DOS SANTOS SILVA
SENTIR, CRIAR, DANAR: O AUTOCONHECIMENTO COMO FUNDAMENTO
PARA A DANA-EDUCAO
Tese apresentada ao Programa de Pesquisa e Ps-Graduao
em Artes Cnicas, Escola de Dana, Universidade Federal da
Bahia, como requisito para obteno do grau de Doutora em
Artes Cnicas.
Orientador: Prof. Dr. Sergio Coelho Borges Farias
Salvador
2007
Sistema de Bibliotecas da UFBA
S237 Santos-Silva, Cida Linhares. Sentir, criar, danar: o autoconhecimento como base para a dana-educao / Maria Aparecida Linhares dos Santos Silva. - 2006. 226 p.: il. Orientador: Prof. Dr. Sergio Coelho Borges Farias.
Tese (doutorado) - Universidade Federal da Bahia, Escola de Dana, Salvador, 2006.
1. Dana. 2. Dana na educao. 3. Corpomdia. 4. Teoria da autoconscincia. 5. Dana genuna. 6. Umwelt. I. Farias, Sergio Coelho Borges. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Dana. III. Ttulo. CDD - 792.8 CDU - 793
1. Dana. 2. Dana na educao. 3. Corpomdia. 4. Teoria da autoconscincia.
5. Dana genuna. 6. Umwelt. I. Farias, Sergio Coelho Borges. II. Universidade
Federal da Bahia. Escola de Dana. III. Ttulo.
CDD - 792.8
CDU - 793
Homenagem Pstuma
Esta tese dedicada s grandes mes-mestras, Amlia Santos Silva de Arajo e Maria
Amlia de Arajo. Ambas souberam me mostrar o sentido do caminho a seguir atravs do
acolhimento, do amor dedicado e das relaes tcitas desenvolvidas na nossa casa-natal.
Souberam ainda me mostrar que toda a essncia do Ser-Corpo pode ser alcanada atra-
vs do conhecimento adquirido das diversas informaes processadas. Conduziram-me a
aprender a apreender a importncia da autossuperao, a enfrentar os desafios com motiva-
o, coragem, determinao e perseverana.
Atravs do talento artstico, do dinamismo e da cultura que ambas possuram, aprendi
a ser livre, fiel aos meus princpios esttico-ticos, e ser, autenticamente, humana.
Finalizando esta pequena homenagem, reitero que nossas relaes cotidianas me fize-
ram qualificar os sentimentos de amor e solidariedade, com amizade, companheirismo e res-
peito por todos os seres vivos e a natureza.
Grata por terem acreditado em mim! ...
Agradecimentos
Sou grata a muitos que me acompanharam nessa busca. Aos companheiros, amigos fieis,
a aqueles que deixaram que nos tornssemos irmos, a aqueles que atravessaram comigo esse
caminho, ao amigo-orientador que sempre me mostrou caminhos a trilhar, aos colegas, aos
alunos que confiaram no meu trabalho e que, ao meu lado, deram e receberam.
A todos aqueles que so citados nesse trabalho, a aqueles que generosamente comparti-
lharam, e que vo compartilhar junto comigo os seus conhecimentos.
famlia que me deu o seio e a aquela que me deu a existncia, e, especialmente aos meus
filhos que enchem meus dias de amor e alegria.
Cida Linhares
Composio: Cida Linhares
Imagem: internet, sem meno de autoria.
MSCARAS
Gilbert B. Lazan
Cada vez que ponho uma mscara
para esconder minha realidade
fingindo ser quem eu no sou,
fao-o para atrair o outro e logo descubro
que s atraio a outros mascarados,
distanciando-me dos outros devido a um estorvo:
A Mscara.
Fao-o para evitar
que os outros vejam minhas debilidades
e logo descubro que,
ao no verem minha humanidade,
os outros no podem me querer pelo que sou,
seno pela mscara.
Fao-o para preservar minhas amizades
e logo descubro que quando perco um amigo,
por ter sido autntico,
ele realmente no era meu amigo, e sim,
da mscara.
Fao-o para evitar ofender algum
e ser diplomtico e logo descubro,
que aquilo que mais ofende as pessoas
das quais quero ser mais ntimo,
a mscara.
Fao-o convencido... de que melhor que
posso fazer para ser amado e logo
descubro o triste paradoxo;
o que desejo obter com minhas mscaras ,
precisamente,
o que no consigo com elas.
RESUMO
A prxis pedaggica resultante desta pesquisa sobre a Dana-Educao e sua criao
artstica, foi desenvolvida atravs da conscientizao dos processos sensoriais do Ser-dan-
arino, da busca do autoconhecimento como fator fundamental na transversalidade de todo
aprendizado da Dana, e da necessidade artstica e profissional dos alunos da Escola de
Dana da UFBA. Essa busca foi fundamentada pela Dana-Educao, pela Psicologia, es-
pecificamente teoria da Anlise Transacional, pela teoria do Umwelt (entorno ou auto
mundo) de Jacob Von Uexkll trabalhando no encontro de um material especfico que pode
ser utilizado pelo danarino para a sua criao. Trazemos a teoria dos Sistemas que funda-
menta o sistema Ser-Corpo e seu Universo e a teoria da Complexidade. O trabalho artstico
elaborado foi o desenvolvimento de um processo de composio em dana que levasse as
oito alunas do grupo criado para essa pesquisa criao de uma dana genuna do ser dan-
arino. A dana genuna individual e foi baseada no trabalho de busca do autoconheci-
mento de cada uma dessas alunas. O autoconhecimento foi o fator fundante para o conheci-
mento e reconhecimento do Ser-Corpo e da Arte da Dana. Essa processo busca conhecer,
reconhecer e apreender a informao ressignificada pelo Corpo que, estando em constante
relao com seu ambiente de vivncia registro de acontecimentos, mdia, e busca, atravs
da Arte da Dana, constituir-se como um Ser-integral, Ser-Dana, Ser-Pleno.
Palavras Chave: Dana-Educao, Autoconhecimento, Dana-Genuna, Umwelt, Corpom-
dia, Ser-Corpo.
ABSTRACT
The pedagogical praxis of education resulting from this research about the Dance-
Education and his artistic creation was developed through the awareness of sensory pro-
cesses the Be-dancer, the search of self-knowledge as a fundamental factor in transversality
of all learning of Dance, and the need of artistic and professional students of the School of
Dance of the UFBA. This search was founded by Dance-Education, by Psychology, specif-
ically theory of Transactional Analysis, by the theory of the Umwelt (surroundings or auto
world) of Jacob Von Uexkull working at a specific material that can be used by dancer for
their creation. We bring the theory of Systems that enshrines the system Be-Body and his
Universe and the theory of Complexity. The artistic work produced was the development of
a process of composition in dance that takes the eight students from group created for this
research the creation of a dance of genuine be dancer. The genuine dance was individual and
was based on the work of search of self-knowledge of each one of these students. The self-
knowledge was the factor bedrock for the knowledge and recognition of Be-Body and the
Art of Dance. This process seeks to understand, recognize and understand the information
re-signified by Body that, being in constant relationship with its environment of experience
is record of events, it is media, and search through the Art of Dance, as a Be-integral, Be-
Dance, Be-Plenary.
Keywords: Self-Knowledge. Dance-Education, Genuine-Dance, Umwelt, Corpomdia. Be-
Body.
Sumrio
INTRODUO ................................................................................................................. 11
CAPTULO I - O AUTOCONHECIMENTO, FATOR FUNDAMENTAL ................ 20
SISTEMA LMBICO OU CENTRO DAS EMOES ............................................................................. 26
O JOGO DO AUTOCONHECIMENTO .................................................................................................... 35
CAPTULO II - A ARTE-EDUCAO E A DANA-EDUCAO .......................... 37
O ESPELHO .................................................................................................................................................. 43
CAPTULO III - O DANARINO E SEU UMWELT ................................................... 57
O AUTOMUNDO ESPECFICO ..................................................................................................................63
O PROCESSO SGNICO ............................................................................................................................. 66
CAPTULO IV - EMOO E SENTIMENTO NO MOVIMENTO ........................... 94
EMOO EM CONTATO COM A PRTICA DA DANA .................................................................. 96
O AMOR ...................................................................................................................... ..................................113
A SENSAO COMO MECANISMO DE VIGLIA DO DANARINO ............................................. 115
QUANDO O DANARINO DANA ......116
A SUPERAO DO MEDO DE EXPERIMENTAR .......126
A MGICA DO FAZ-DE-CONTA ............................................................................................................ 128
SOMA, SER-CORPO.................................................................................................................................. 133
TERAPIAS CORPORAIS .......................................................................................................................... 138
A PALAVRA................................................................................................................................................ 141
PERCEPO E SENSAO .................................................................................................................... 145
CAPTULO V - DESCRIO E ANLISE DE DADOS ........................................... 153
LABORATRIOS DO CORPO PARA A CONSTRUO DA DANA GENUNA ......................... 162 GESTO OU MOVIMENTO GENUNO ................................................................................................... 165 A IMAGINAO .........................................................................................................................................165
BLOQUEIOS CORPORAIS: COMO SO E COMO SE FORMAM ................................................... 172 EXPRESSO DE UM CORPO UNSSONO E OPO SOMTICA DA EMOO ........................ 178 A ALEGRIA TEM TUDO A VER COM A PLENITUDE E COM O PRAZER .................................. 180 METODOLOGIA SINGULAR NO TRABALHO CRIATIVO DA DANA........................................ 182 DEPOIMENTOS DAS ALUNAS ................................................................................................................184 O AUTOCONHECIMENTO COMO FUNDAMENTO DO MTODO ................................................188 O CORPO COMO MDIA, O CORPOMDIA .........................................................................................195 IMAGINRIO E REALIDADES COMO FORMA DE REENCANTAR A VIDA ..............................196
DESENVOLVENDO A TCNICA DA DANA .................................................................................... 201 MAPEANDO O CORPO ........................................................................................................................... 206
CONCLUSO ................................................................................................................. 214
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 220
11
INTRODUO
Banda de Mobius
Imagem: Icaraideas.blogspot.com / do site oficial do artista M.C. Erscher
Sei como so todas as coisas pelo que est dentro de mim.
LAO TS
A metodologia de ensino resultante desta pesquisa sobre o aprendizado da dana foi
desenvolvida em dois momentos: no primeiro, tratou-se da conscientizao dos processos
sensoriais do Ser-Danarino, como, por exemplo, da formao de imagens mentais como
estmulo criao artstica; no segundo, o trabalho esteve voltado para a utilizao de ima-
gens corporais individuais para o desenvolvimento de um processo coreogrfico que levasse
as alunas criao de uma dana com movimentos genunos.
Alguns recursos imagticos utilizados para a ilustrao desta tese, como a figura da
Banda de Mobius, smbolo semelhante ao do infinito, e a citao de Lao Ts logo abaixo,
so signos que representam de certa forma a prxis descrita, que sugere a construo de um
corpo integralizado, articulando seus desejos, necessidades e comportamentos forma de
vida escolhida. Os recursos imagticos revelaram uma relao contnua, flexvel e harmoni-
osa, onde o todo subjetivo (sentidos do corpo: sensaes, emoes, sentimentos, pensamen-
tos e as imagens corporais suscitadas) tambm era o todo objetivo (as aes elaboradas do
corpo em movimento: dana genuna), refletindo a relao entre o Ser-Danarino como um
micro sistema, Ser-Corpo e seu ambiente de vivncia, os sistemas com os quais este mantm
relao, que compem o Universo, o macro sistema. Estes recursos refletem inclusive a re-
lao do corpo com seus prprios sistemas, como forma do mesmo tornar-se apto ao apren-
dizado da Dana. Chamamos de Ser-Corpo porque, enquanto vida tivermos seremos sempre
corpo, e, tudo que temos, nossa parte biolgica, parte cognitiva-psicolgica, e nosso imo,
sempre vo estar nesse corpo. Se temos esprito, alma ou self, est no corpo. Por isso digo
que somos corpo, e por isso escrevo com letras maisculas.
Destaca-se, no presente estudo, o poder de transformao do autoconhecimento no
aperfeioamento do Ser-Danarino, abordando-se atitudes e posturas do mesmo na investi-
gao das possveis e necessrias mudanas desejadas, conciliando-se o pensar pedaggico
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e o pensar artstico.
Tendo como fundamento o autoconhecimento, a prxis que serviu de base para esta
tese focalizou tambm o processamento consciente das tenses entre o princpio de prazer e
o da realidade. Os dados aqui sistematizados podero servir para que o aluno analise seu
caminho profissional percorrido at ento, praticado na realidade aqui e agora, e pratique a
Dana com base no desejo profissional individual e na criao individual de um planeja-
mento. Neste planejamento, como prxis artstica, prepara-se o aluno para a descoberta de
sua Dana Genuna, e, com base nessa descoberta, estimula-se a criao de uma composio
coreogrfica solstica. Essa foi a hiptese desta tese.
A metodologia resultante desta tese est, portanto, baseada num processo de autoco-
nhecimento, voltado para promover a conscientizao do danarino acerca da sua parte res-
ponsvel na busca das relaes que lhe tragam uma autonomia profissional. Essas relaes
incluem a si mesmo e a todo ambiente de vivncia. Busca-se nesta tese demonstrar que a
autonomia do danarino pode ser alcanada atravs do seu desenvolvimento tcnico-arts-
tico, incorporando in-formaes1 relevantes e ressignificando informaes obsoletas, incor-
poradas anteriormente, principalmente as relativas ao corpo, para a elaborao de um plano
de vida profissional e de uma Dana Genuna do Ser-Corpo. Essa formao para o alcance
de uma autonomia profissional poder ser estendida tambm a coregrafos, performers e
educadores.
O termo Dana Genuna foi criado a partir de uma tcnica denominada Autentic Mo-
vement, desenvolvida por Mary Whitehouse, professora, danarina e dana-terapeuta norte-
americana, nos anos 1950 e 1960 do sculo XX, tcnica fundamentada na nfase da criati-
vidade pessoal e nas teorias psicolgicas de Carl Jung (ALLISON apud FERNANDES,
2002, p.240).
Movimento Genuno: O termo Movimento Genuno origina-se da tcnica norte-
americana denominada Authentic Movement, praticada por danarinos, coregra-
fos e terapeutas como Nina Robinson e Zoe Arstreih. No entanto, o termo autn-
1 In-formao nesta tese sempre significar tudo que, penetrando no corpo, modifica esse corpo, o qual, por
sua vez, devolve a in-formao ressignificada ao ambiente, modificando tambm o ambiente, porque in refere-
se a interior, na lngua inglesa, e formao remete educao do ser, formao profissional, forma de modifi-
cao otimizada de um corpo que se encontra constantemente em evoluo. Essa modificao o que deve
ocorrer com um corpo que vive, cria e tambm se faz dana.
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tico tem gerado controvrsias por sua associao a ideias de originalidade e uni-
cidade criticadas na ps-modernidade. O uso do termo genuno mantm a ideia
inicial, sem esta conotao. Tanto quanto o mtodo Laban/Bartenieff, o Movi-
mento Genuno pode pertencer a um universo fragmentado e multifacetado. Esta
tcnica pode ser realizada com fins artsticos ou teraputicos, ou atuar exatamente
neste limiar, auxiliando na criao de coreografias de pesquisa pessoal e esttica
[...]. Atravs do Movimento Genuno, os atores-danarinos exploram movimentos
alm do comando mental ou de hbitos tcnicos e cotidianos, expandindo suas
possibilidades expressivas (FERNANDES, 2000, p.250-253).
Quanto noo de movimento autntico, termo que se aproxima de dana genuna,
recorremos Moving Journal, web, que apresenta referncias relevantes para a metodologia
em foco. As opes dessas tradues estarem entre colchetes na citao a seguir, visam in-
tensificar a utilizao relevante dos diversos significados das mesmas para o alcance dos
objetivos das alunas do experimento no alcance da Dana Genuna:
Movimento Autntico uma forma simples de redimensionar o movimento auto-
dirigido. Isso geralmente feito com os olhos fechados e com a presena de, no
mnimo, um espectador. O indivduo que se movimenta, segue impulsos internos
para o mover-se livremente, e o espectador observa e imediatamente responde in-
ternamente ao mover, no com a inteno de julgar, mas trabalhando a autocons-
cincia. Pessoas engajam-se no [ou so atradas pelo]. Movimento Autntico,
como uma forma de meditao, prtica espiritual, ou terapia; para ampliar conhe-
cimento (ou conscincia), ou para conectar-se com sua criatividade e processo cri-
ativo. Em consequncia dessa natureza experiencial, o Movimento Autntico
excepcionalmente difcil de definir e descrever. No site: http://www.movingjour-
nal.org (19942, traduo nossa)
Adota-se aqui o termo Dana Genuna como a dana que surge da vivncia do Ser-
danarino, das suas relaes consigo, com o outro, com a natureza e, do seu potencial cria-
tivo, ou seja, da sua capacidade em dar significado e de ressignificar os elementos existentes
no seu Umwelt, que, traduzido do alemo, significa entorno ou automundo. A dana genu-
na, portanto, est baseada no danarino que, atravs do Ser-Corpo conhece, reconhece e
apreende o seu Umwelt. Essa dana deve trazer a in-formao ressignificada pelo corpo que,
estando sempre em relao com o ambiente registro de acontecimentos, mdia, e busca,
com seu trabalho em dana, um Ser Integral, Ser Dana, Ser Pleno.
O conhecimento mais desenvolvido pelo danarino o tcito, que o conhecimento
no expresso por palavras, ideal para a meditao, e que pode ser explorado e elaborado pela
percepo. adquirido por deduo, portanto silencioso, oculto e secreto, podendo ser
2 Authentic Movement is a deceptively simple form of self-directed movement. It is usually done with eyes
closed and in the presence of at least one witness. The mover follows inner impulses to move freely, and the
witness watches and tracks inner responses to the mover with the intention of not judging, but working on self-
awareness. People engage in Authentic Movement as a form of meditative, spiritual practice, or therapy, or to
increase consciousness, or to connect with their creativity and creative process. Because of its experiential
nature, Authentic Movement is unusually difficult to define and describe.
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consciente ou no3. o conhecimento adquirido no cotidiano atravs da percepo ulterior,
ou seja, pode ser reconhecido aps sua incorporao, mas expresso apenas tacitamente.
Mesmo em estado latente, um dia pode ser expresso. Esse tipo de conhecimento sempre
adquirido e utilizado pelo corpo em movimento, basicamente quando no uso das suas rela-
es com o espao-tempo aqui agora. Por isso que o danarino deve exercer sempre sua
profisso atravs de suas percepes cotidianas, principalmente das que explorem este tipo
de conhecimento, base da sua prxis.
Para o danarino pesquisador e intrprete, este conhecimento, alm de ser o foco de
ao da arte da dana, deve ser o fundamento das suas reflexes, sejam estas mais voltadas
para o autoconhecimento que um grande agente das reflexes a respeito da sua integrao
com a profisso escolhida ou voltadas para o conhecimento tcito adquirido ao longo da
vida. Portanto, o conhecimento tcito adquirido pela observao e percepo do aluno sobre
a prxis, tanto observada pela prxis pedaggica exercida pelo professor, quanto pela arts-
tica, elaborada cotidianamente por si mesmo como veremos deve ser o foco principal do
danarino. Este foco pode ser aproveitado caso este conhecimento adquirido se torne cons-
ciente, atravs da busca do autoconhecimento. Esta hiptese nos revela o conhecimento t-
cito como objeto da Arte da Dana e da Arte-Educao, que procura exercer sempre a sua
prxis reflexiva atravs da ao corporal com base no conhecimento tcito adquirido.
Movimento Autntico ou Movimento Genuno a ao provocada por um impulso,
sensao, emoo, imagem ou memria corporal, expressando o prprio self e a prpria ex-
perincia. um tipo de movimento que oscila entre o consciente e o pr-consciente4 do
danarino. Gradualmente, o que invisvel (sensao, impulso) se tornar visvel (movi-
mento genuno ou autntico), pois todo corpo capaz de expressar suas sensaes, suas
emoes, seus sentimentos e suas experincias de vida, ao transform-los em imagens cor-
porais.
Buscou-se inspirao em diversos autores que, com suas teorias, concebem e clareiam
3 DICIONRIO AURLIO DA LNGUA PORTUGUESA, 1986: 1640.
4 Na primeira teoria freudiana, [o pr-consciente ] um dos sistemas constituintes do aparelho psquico. O pr-
consciente rene o conjunto dos processos psicolgicos latentes, mas disponveis, isto , aptos a tornarem-se
conscientes (as lembranas, por exemplo). Um sistema de censura regula a passagem do pr-consciente cons-
cincia. (SILLAMY: 1998 183)
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caminhos a seguir, privilegiando determinados conceitos e noes de termos, tais como: au-
toconhecimento, dana genuna, umwelt ou automundo, biossemitica, semiose, meta-intr-
pretes, corpo-casa, casa natal, essncia ntima e concreta, corpocntrico, corpomdia, auto-
poiesis, dentre outros. Alguns conceitos so de fcil explicitao porque a noo sobre algu-
mas palavras que os compem, aliadas ao contexto, nos remete diretamente ao seu signifi-
cado; outros so mais complexos, j que se referem criao mais recente e vinculada a
novas teorias.
A autopoiesis, por exemplo, nesta tese, tem a ver com o resultado da transformao
do corpo, que, atravs do autoconhecimento, encontra a sua dana, e isso acontece com a
ao consciente de revelao do prprio corpo como identidade e veculo de comunicao e
de transformao de si mesmo e do mundo. Corpo que constri, desconstri e reconstri suas
imagens pelos sentidos, utilizando-se do que em si j poesia para a construo da sua cena
e reconstruo da ao potica expressa em movimentos, elaborando assim a dana genuna
do ser.
Tomando-se Corpo como casa, e tomando-se casa como abrigo natal que se transforma
a partir da introjeo de conhecimentos tcitos adquiridos desde a infncia, e sua relao
com os outros conhecimentos, que se d a cognio consciente do autoconhecimento pes-
quisado. A partir da elaborao cognitiva desses conhecimentos que a ao, com base na
prxis da dana e a autopoiesis dos danarinos pode vir a culminar no encontro e na criao
da Dana Genuna. O autoconhecimento fundamento bsico para que esse encontro se
transforme na dana que a pura representao do Ser-Corpo, do Ser-Danarino, do Ser-
Dana.
Da desconstruo das imagens mentais suscitadas pelos corpos danantes, surgem fo-
cos de ao poticos (poiticos) que se autotransformam, evitando o uso de formas rgidas
ou padronizadas como representantes dos sentidos do corpo. As aes possibilitam que os
sentidos do corpo se propaguem como poesia, transmitindo a beleza do movimento corporal,
informando o que existe entre o Ser-Corpo e o seu ambiente de vivncia. A ao produzida
pelo corpo do danarino ento, acontece na prxis da dana, que revela as relaes intersub-
jetivas entre os sistemas desse mesmo corpo; corpo que cria uma simbiose constante com
seu ambiente, para a elaborao de uma dana que uma semiose de sentidos.
A dana genuna est sempre em transformao, tendo como princpio a evoluo e
educao do corpo danante. Assim sendo, a dana genuna se apresenta como a arte de um
corpo que nico portanto, corpo que se torna responsvel por sua prpria dana, cujas
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qualidades dependem da sensibilidade desse mesmo corpo. Corpo que diferenciado de to-
dos os outros corpos existentes no Universo. Assim, a dana genuna se apresenta como uma
dana que revela um corpo consciente de sua individualidade, corpo nico integrado com o
seu ambiente de vivncia. Portanto, a dana genuna varia sempre de Ser para Ser.
Tendo como referncia pesquisas recentes em vrias reas como as da Dana, Educa-
o, Psicologia, Filosofia e Biologia, os procedimentos de ensino-aprendizagem sistemati-
zados nesta tese, consideraram a necessidade de ampliao desses campos em termos inter-
disciplinar e transdisciplinar. Isso fez a tese reunir elementos com alto grau de complexidade.
Buscar sua sistematizao, mesmo sabendo ser esta provisria, foi um desafio, aps a leitura
de obras de autores diversos.
O hfen utilizado em muitas palavras da nossa lngua para compor neologismos. Isso
possibilita que a expresso revele mais de um sentido. Com ou sem o hfen, procura-se des-
tacar essas palavras para que sua semiose, ou seja, para que o estudo dos seus significados
acrescente algo ao entendimento da representao mais prxima do pensamento formulado
como fruto da pesquisa.
No nada fcil, para aqueles que buscam durante toda a vida profissional aprimorar
o conhecimento tcito, transpor esse conhecimento para a escrita. O conhecimento tcito,
principalmente aquele adquirido durante todo o silncio de um corpo que dialoga apenas
com suas imagens, somente pode ser idealizado e bem representado em papel, caso os signos,
como as palavras, o representem.
O conhecimento tcito, ao mesmo tempo em que se constitui como imagens em mo-
vimento no corpo do danarino com caractersticas e qualidades prprias desse corpo no
que se refere dana genuna, espelho da e de vida um conhecimento que no se exprime
em palavras, portanto deve ser subentendido, deduzido, identificado pelo outro e pelas rela-
es com seu ambiente. Esse conhecimento tambm deve estar implcito e identificado nos
e pelos corpos danantes.
Como somos e fazemos parte de um sistema aberto, segundo a Teoria Geral dos Sis-
temas, pois nos relacionamos com outros sistemas abertos, outros corpos, a relao na pri-
meira etapa do trabalho com o autoconhecimento, possibilitou a formulao de um conheci-
mento especfico para o entendimento das relaes danarino/corpo, danarino/ambiente,
danarino/dana, facilitando assim o aprendizado do fazer dana na contemporaneidade.
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Assim sendo, os procedimentos adotados junto a um grupo de alunas da Escola de
Dana da UFBA, teve como base de trabalho o autoconhecimento.
O corpo se utiliza da tcnica corporal para expressar uma ideia numa criao artstica
e, para isso, necessrio todo um processo de aprendizagem. Quando expressamos uma ideia
com movimentos corporais que representam essa ideia, tambm estamos, ao mesmo tempo,
aprimorando essa tcnica corporal.
A criao artstica parte do Umwelt do danarino, ou seja, parte do resultado da relao
entre ele mesmo e o seu ambiente, formando seu automundo, o que, em outras palavras,
significa aquilo que apreendemos da nossa relao com o ambiente de vivncia.
O projeto inicial de pesquisa no inclua trabalhar com as Teorias do Umwelt ou com
a Teoria Geral dos Sistemas. Num estgio durante o segundo semestre de 2003, na Ps-
Graduao em Comunicao e Semitica da PUC-SP frequentando as aulas do professor
Jorge Albuquerque Vieira e da professora Helena Katz essas teorias foram dadas a conhe-
cer. Essas passaram a constituir ontolgica e filosoficamente as bases desta tese, assim como
a Psicologia, no que diz respeito aos processos psicossociais que compem o cotidiano dos
alunos de Dana. Esses processos referem-se em geral s atitudes diante da profisso esco-
lhida, ou seja, de suas relaes consigo, com o outro, e com o ambiente de aprendizagem,
como bases para um projeto de vida profissional.
Sabe-se da importncia do currculo, e sabe-se tambm que este estruturado sob a
responsabilidade de pessoas preparadas e competentes para tal. Entretanto, um aspecto rele-
vante destacado aqui a necessidade de se analisar criticamente o ensino e a aprendizagem
da dana considerando-a como uma relao entre corpos que possuem objetivos e metas
comuns, o que nos leva a pensar em professores e alunos que saibam trocar, sempre, in-
formaes.
No experimento desenvolvido no mbito desta tese, esse conhecimento era sempre
considerado e reanalisado, uma vez que o conhecimento trazido por cada aluna do grupo de
pesquisa, como fruto de sua vivncia anterior, era de extrema importncia para o seu desen-
volvimento e para o desenvolvimento das demais participantes.
O problema considerado nesta tese consistiu em criar uma metodologia de ensino da
dana que levasse o Ser-Danarino a uma autonomia que facilitasse o seu aprender a apre-
ender a Dana como sua forma escolhida de Arte encontrando, atravs da expresso de
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si mesmo, o autoconhecimento abordasse como sendo a base do aprendizado em Dana,
desde que esta o pensamento do corpo (Katz, 2006), e o que pensamos faz parte do com-
portamento, junto com o sentir, o dizer e o fazer. Digo que este pensamento ao qual Katz
se refere no seu livro A Dana o pensamento do Corpo, no o pensamento que estamos
acostumados a conceituar, mas sim o pensamento sentido, ou o pensamento dos sentidos,
pensamentos processados por ondas neuronais, que nem sempre so pensamentos submeti-
dos conscincia, mesmo que sejam elaborados tecnicamente como Dana. Se assim pode-
mos dizer, a minha sensao de que so pensamentos tcitos.
Como tratar de autoconhecimento tratar de processos psicossociais individuais e co-
letivos, aborda-se tambm o que Franoise Dolto (2002) considera como imagem incons-
ciente do corpo. Esse assunto revelou muitos caminhos a trilhar nas relaes intrnsecas aos
processos criativos, cujos resultados vieram a aperfeioar as relaes com o ambiente de
troca de informaes proposto nas experincias com o grupo de alunas.
O primeiro captulo desta tese apresenta o autoconhecimento como fundamento da
metodologia em foco, utilizado com o objetivo de trabalhar as habilidades sensoriais e cog-
nitivas de cada Ser-Danarino, no desvelar de si mesmo.
Objetivando um trabalho que prepare o Ser-Danarino para atuar na profisso esco-
lhida, esta tese traz a Arte-Educao e a Dana-Educao no segundo captulo, e a expanso
do seu Umwelt, ou relaes com o ambiente, como instrumento utilizado pelo Ser-Danarino
para a criao artstica. A Teoria do Umwelt aparece referenciada no terceiro captulo.
O quarto captulo busca desenvolver articulaes entre as sensaes, emoes e sen-
timentos com os movimentos corporais relativos formao profissional em Dana como a
arte do Ser-Corpo, j visando o fazer artstico, alm da educao comportamental.
O quinto captulo, seguido pelas concluses, contm a descrio da metodologia do
trabalho de campo com o grupo de alunas da Escola de Dana da UFBA. Os dados coletados
so analisados e confrontados com as teorias expostas nos captulos anteriores. Todos eles
me levaram a sistematizar no esquema a seguir; a evoluo do Ser-Corpo.
19
EVOLUO DO SER-CORPO
Composio: Cida Linhares
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CAPTULO I
O AUTOCONHECIMENTO, FATOR FUNDAMENTAL
Composio: Cida Linha-
res. Imagem: extrada da
internet, sem meno de
autoria.
Talvez seja hora, num
momento em que se
assiste a uma crescente
estetizao da existn-
cia, e isso em todos os
domnios, de pensar a
cincia, ou, mais mo-
destamente, o conheci-
mento, como uma arte.
MICHEL
MAFFESOLI
Algumas pesquisas foram feitas com a arte no campo cientfico, com relao criati-
vidade e intuio, principalmente pelos adeptos e seguidores da psicologia humanista, inici-
ada por Jung, como Carl Rogers, Eric Berne e Maslow, dentre outros.
A psicanalista Franoise Dolto, no seu livro A imagem inconsciente do corpo, nos
alerta para o fato de que a imagem que se tem do corpo no seu esquema corporal, porque
este ltimo especifica o indivduo enquanto representante da espcie, ou seja, ele , em prin-
cpio, o mesmo para todos. J a imagem do corpo especfica para cada um, estando ligada
ao sujeito e sua histria.
Dolto apresenta o esquema corporal como uma realidade de fato, sendo este, de certa
forma, nosso viver carnal no contato com o mundo fsico. As experincias de nossa realidade
dependem da integridade de nosso organismo, ou seja, de sua sade ou de suas leses, sejam
essas transitrias ou indelveis, neurolgicas, musculares ou sseas, como tambm das im-
presses fisiolgicas registradas na carne, como nossas sensaes fisiolgicas viscerais, cir-
culatrias tambm chamadas de quinestsicas. (DOLTO, 2002, p.10-11)
Sem dvida, golpes orgnicos nas primeiras idades podem provocar perturbaes do
esquema corporal, e essas perturbaes, seja pela falta ou pela interrupo das relaes cha-
madas por Dolto como linguageiras, representando a imagem falante do corpo, podem
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levar a modificaes passageiras ou durveis da imagem do corpo. No entanto, diz Dolto,
frequente que o esquema corporal enfermo e uma imagem s do corpo coabitem em um
mesmo sujeito. (2002, p.10-11)
Para Dolto, a imagem do corpo pode ser vista como a encarnao simblica do sujeito
desejante. As imagens, especificamente do corpo, foram enfaticamente abordadas durante o
trabalho de autoconhecimento do grupo de alunas do nosso experimento, alm de sempre
serem analisadas durante o trabalho de aprendizado da dana, nas aulas de tcnica do bal
clssico, ministradas por esta autora, na Escola de Dana da UFBA. Estimulou-se a obser-
vao e a percepo dessas imagens corporais especficas em diversos contextos de apren-
dizagem. Vrios links foram criados durante esse experimento, conduzindo a aluna para a
percepo de si mesma e de seus processos de aprendizagem da dana, que constantemente
a mantinham informada e geravam condies para a auto-anlise e auto-avaliao.
Atravs dos movimentos corporais que desenham o espao, muitos dos nossos alunos
expressam aquilo que sentem como suas angstias e seus prazeres, enquanto sujeitos que
buscam a transcendncia. Eles, quando so observados no fazer artstico da dana, deixam
transparecer o que incorporaram como sendo suas imagens do corpo.
O processo de autoconhecimento faz-se presente no universo do danarino atravs da
linguagem verbal e suas representaes. Parafraseando Dolto, a linguagem verbal empres-
tada a essas representaes permite focalizar, imaginariamente, o desejo sobre os objetos de
transferncia criados e executados pelo prprio danarino.
O sujeito que produz a representao toma os objetos de transferncia como objetos
que o representam, objetos dotados de intenes, portanto signos, apropriando-se inclusive
de imagens de pessoas que significaram para o aluno, modelos em sua infncia, podendo
espelh-las na pessoa do professor-educador. Assim, o professor passa a representar outra
pessoa para o aluno, que s consegue enxerg-lo na pessoa do outro. Estando esta transfe-
rncia baseada nas atitudes que estimulam o aprendizado da dana, coerente com os objeti-
vos e meta do aluno em questo, esta transferncia somente vem a acrescentar a possibilidade
de realizao dos objetivos de todos, professor, aluno e da Dana-Educao. Do contrrio,
esta imagem virtual s impede ou atrapalha este caminho a seguir.
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por isto que a importncia de dar-se conta das transferncias e dos signos que as
representam fundamental. Ateno: o mesmo pode acontecer com o professor e necess-
rio que este fique sempre atento a este processo que inconsciente5 na sua essncia, e, por
isto, de alta complexidade.
Para efeito da realizao do experimento desta pesquisa, adotou-se como diretriz que
o aluno de dana deve evitar que seus processos pr-conscientes ou inconscientes o impeam
de ser integral, permitindo que o uso dos sistemas corporais implique sempre na integrao
do que biolgico ao que psicolgico, e que seu trabalho nunca seja ameaado permanen-
temente pelas relaes de transferncia de si para com o universo de vivncia e vice-versa.
Isto nos fez visualizar a importncia do autoconhecimento para a educao.
Portanto, o problema desta pesquisa foi encontrar uma metodologia especificamente
individualizada para a busca de um autoconhecimento necessrio ao aprendizado da Dana
no curso de graduao da UFBA. Foi necessrio conduzir cada aluno conscientizao da
sua forma de se comportar nas diversas reas de atuao. A hiptese que foi criada a priori
foi que o autoconhecimento era fundamental para a criao do danarino integral, aquele que
integralize coerentemente no somente seu comportamento com sua meta profissional, mas
que use o prprio sistema corpo para o conhecimento atravs do reconhecimento das suas
possibilidades e das suas potencialidades artsticas, atravs da autoanlise. Trabalhar estes
objetivos trouxe mais uma hiptese mensurada que foi a de criar uma dana genuna como
representante dessa prxis metodolgica, como fator fundamental e estimulante, que condu-
zisse o aluno ao encontro dos seus objetivos na profisso Dana.
Essas relaes de transferncia causam danos ao aprendizado do aluno pela iseno
de responsabilidade deste sobre si mesmo, ou seja, quando o aluno responsabiliza apenas o
ambiente pela no otimizao relativa ao seu empreendimento profissional. Assim o aluno
omite a sua parte responsvel. Isso faz com que o equvoco se repita constantemente at uma
possvel descoberta do processo desenvolvido, seja pela anlise dos fatos ou intuitivamente.
A descoberta da responsabilidade sobre si mesmo, pelo aluno, fundamental para o sucesso
5 Conjunto dos processos que atuam sobre a conduta, mas escapam da conscincia. Segundo a teoria Freudiana,
o inconsciente, entendido como substantivo a parte do psiquismo latente, feita de desejos e de processos
psicolgicos dinmicos, de que no se pode dispor, pois foge ao conhecimento. Recalcadas fora do campo da
conscincia por uma potncia de controle tico (censura), as foras inconscientes conseguem, no entanto, ma-
nifestar-se em certos atos da vida cotidiana (lapso, esquecimentos), nos sonhos e nos sintomas neurticos.
(SILLAMY, 1996, p.128)
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no processo de amadurecimento da relao do profissional consigo mesmo, com o ambiente
de aquisio do conhecimento e com a profisso escolhida.
O trabalho com o grupo de pesquisa proporcionou, a todas as alunas participantes, as
condies para essa anlise dos fatos, levando-as busca de sua parte responsvel nos resul-
tados almejados, mas ainda no alcanados. A forma mais bsica de descoberta dessa res-
ponsabilidade resultou da identificao da diferena entre os modos de funcionamento do
estmulo e da motivao. O estmulo surge do ambiente, em geral do educador ou facilitador
da aprendizagem. A motivao, por ser intrnseca, deve ser cultivada e trabalhada pelo aluno,
por ser a responsvel mais direta pela conquista da meta almejada atravs dos objetivos tra-
ados.
Uma qualidade bsica que deve estar inerente ao Ser-Danarino a coragem, palavra
que nasceu do francs coeur, que significa corao. Sem a coragem que depende de certa
forma da paixo pelo projeto de vida profissional, muitas pedras podem vir a bloquear o
caminho mais adequado a seguir, e, o que pior, elas podem fazer parte apenas da nossa
imaginao. A coragem para fazer o que se pode fazer, o que se deve fazer, e o que se convm
fazer para que se consiga explorar as potencialidades do corpo com segurana, conhecimento
e prazer no alcance da meta (a Dana), o ponto de partida.
Os alunos de dana em geral, sempre demonstram ser portadores de sonhos, mas nem
todos demonstram possuir a coragem necessria ao alcance da meta e dos objetivos presentes
nesse sonho. A falta de coragem esteja ela associada construo do caminho profissional
apenas, ou busca da plenitude do ser, o inibidor bsico das aes corporais.
Alguns alunos referem-se falta de estmulos para que alcancem suas metas profissi-
onais. Esses provavelmente no possuem motivao suficiente para percorrer o caminho das
metas independente de estmulos. Sem a motivao fica complicado at mesmo o reconhe-
cimento dos estmulos apresentados. Isto fica evidenciado quando alunos se referem s aulas
de tcnicas ou de teoria, como desprovidas de estmulos. Isto sempre acontece quando ava-
liamos, a cada semestre, como o aluno se sente com relao ao processo de implementao
do Plano de Curso elaborado antecipadamente pelo grupo de professores, e, depois disso, o
aluno fala sobre o comportamento adotado por ele diante do processo de aprendizado da
dana.
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O reconhecimento do que significa a motivao para a construo da vida profissional
almejada no suficiente. necessrio que reconheamos tambm os nossos processos cor-
porais individuais, e deixemo-los sempre na evidncia do reconhecimento atravs da nossa
percepo. Isso cria a possibilidade da soluo de problemas, caso estes se apresentem, ao
longo do caminho a percorrer.
O aprendizado da dana no deve ser encarado como mais um objeto de consumo.
Aprender Dana estudar Arte, e aquele que no buscar Ser-lmbico6, ou seja, aquele que
no tiver um corpo sensvel, capaz de aes que demonstrem uma coerncia com seus dese-
jos decorrentes dessa sensibilizao incorporada, dificilmente ter uma relao saudvel
consigo, com o outro e/ou com a Dana.
Partindo-se do experimento com o grupo de alunas da Escola de Dana da UFBA,
traado com base nas necessidades apresentadas pelas prprias alunas que atuaram efetiva-
mente na construo das diversas fases de busca do autoconhecimento e de resoluo de
problemas, chegou-se ao processo de criao da Dana Genuna, objeto de estudo desta pes-
quisa.
Nem todos os assuntos aqui tratados foram estudados pelas alunas. Muitos deles foram
estudados por esta autora, para a facilitao do trabalho com as mesmas, quer seja para a
anlise dos fatos apresentados por elas, quer seja para a anlise dos procedimentos adotados.
Esses procedimentos foram baseados nas teorias apresentadas aqui, para o entendimento dos
processos psicossociais que envolvem o corpo, e para o entendimento dos processos refe-
rentes semiose inerente s informaes adquiridas das relaes entre o corpo e o universo
da Dana, atravs das diversas formas adotadas de linguagem.
Com a ateno voltada para a elaborao das informaes incorporadas, as alunas co-
mearam a perceber as imagens suscitadas pelo prprio corpo com base na experincia de
vida, o que possibilitou a articulao destas imagens percebidas com o prprio comporta-
mento, muitas vezes adotado anteriormente sem conscincia. Assim facilitou-se o entendi-
mento dos prprios processos de aprendizagem e de mudanas favorveis dessas imagens
incorporadas, imagens que se relacionavam diretamente com a autoestima.
6 Ser que se guia pelas emoes e sentimentos previamente otimizados, para se relacionar consigo, com os
outros seres vivos e com a natureza (ambiente como um todo).
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A partir de ento, todos os pensamentos expressos elaborados por qualquer forma
de linguagem foram processados pelo grupo. Esses pensamentos foram analisados consi-
derando-se similaridades e diferenas de comportamentos adotados pelas alunas, enfati-
zando-se sempre os sentidos do corpo e suas possibilidades de representao, seja na vida
cotidiana ou na cena artstica da dana.
A busca pela qualidade nas relaes das alunas com esta autora, no papel de educadora
ou facilitadora do autoconhecimento e, entre elas mesmas, incluiu a descoberta do si mesmo
como motivao para a Dana como profisso escolhida pelo corpo desejante que tambm
anseia preparar-se para o papel de facilitador da aprendizagem da Dana. Foi esse o tema da
experincia, o exerccio da Dana-Educao.
A experincia aqui apresentada foi descrita com base em observaes ao longo da vida
profissional e no registro dos processos de aprendizagem relatados pelas alunas, que focali-
zavam mais as prprias dificuldades, que o inverso. Assim sendo, essa forma de trabalho
trouxe a necessidade de conscientizao da imagem do corpo integralizado como uma das
mais necessrias imagens do corpo, para o aprendizado da dana como profisso.
O autoconhecimento, o desvelar das imagens do corpo ou a conscientizao dos pro-
cessos do corpo com base no pensamento, so formas conscientes de desenvolvimento sen-
sorial e de aquisio de vrias formas de conhecimento, incluindo o conhecimento tcito to
necessrio ao aprendizado e prtica da dana. Portanto, no h aprendizado da dana sem
a prtica da mesma, nem conscincia sem a anlise do comportamento.
A familiaridade que o danarino deve ter com o conhecimento tcito, no exclui a
necessidade de trabalhar com a linguagem oral como meio de comunicao; a mais eficaz,
sem dvida, para a descoberta de resistncias que impeam o desenvolvimento fluido e pra-
zeroso de transformao do corpo. Adotou-se como pressuposto, que a anlise do contedo
dos relatos das participantes do grupo em questo possibilitaria a revelao das representa-
es do que estava impedindo o caminho profissional caso fossem detectadas durante o
aprendizado da dana.
Essa uma forma de desvelamento e conscientizao das resistncias que geralmente
surgem quando o aluno, ao analisar e ser analisado, expressa o que pensa, sente, diz e faz
repetidamente no perodo do seu aprendizado. Muitos hbitos comportamentais, que trazem
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consequncias negativas ao prprio corpo, so ignorados pelos alunos de dana. Esses hbi-
tos geralmente so os maiores produtores das resistncias corporais manifestadas atravs da
prtica da dana. Manter uma relao psicossocial saudvel com os demais envolvidos no
ambiente de aprendizagem a forma mais eficaz do aprendizado concretizar-se no corpo.
Ser lmbico uma das necessidades apresentadas pelo corpo que necessita do autoco-
nhecimento para a descoberta e construo da sua dana. Ter o conhecimento de como se
processam as sensaes, emoes e sentimentos; igualmente o conhecimento dos processos
comunicacionais, implica refletir sobre como se processam anatmica e fisiologicamente as
informaes no corpo, por exemplo. Apresenta-se a seguir, a anatomia e a fisiologia do sis-
tema lmbico humano para que sejam confirmadas algumas noes a respeito do funciona-
mento do corpo no processamento das informaes. (VILELA, S/D e ROCHA, 2000)
SISTEMA LMBICO OU CENTRO DAS EMOES
Figura 1: Sistema Lmbico - Crebro Humano
(Guia-Heu - Sistema Lmbico, Carol Donner, 2005)
O conhecimento do sistema lmbico a base para a identificao do ser lmbico, aquele
que utiliza as capacidades sensoriais do corpo em prol da otimizao do mesmo e das suas
relaes. As funes do Sistema Lmbico so:
Comportamento Emocional
Memria
Aprendizado
Emoes
Vida vegetativa (digesto, circulao, excreo, etc.).
Apresentar aqui essas informaes anatmico-fisiolgicas tem por objetivo esclarecer
como se deu o processo de incorporao das informaes que circularam durante a prxis.
O Sistema Lmbico um grupo de estruturas no corpo, especificamente no nosso crebro o
qual inclui o Hipotlamo, o Tlamo, as Amdalas, o Hipocampo, os corpos mamilares e o
giro do cngulo. Todas estas reas so muito importantes para a emoo e as reaes emoci-
onais. O Hipocampo tambm importante para a memria e o aprendizado (ROCHA, 2000).
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O Tlamo recebe informaes sensoriais do corpo como um todo e as repassa para o cr-
tex cerebral, identificado na figura 2.
Cada rea cerebral tem uma funo especfica. Si-
tuado no interior da caixa craniana, o crebro possui
mais de dez bilhes de neurnios e pesa menos do que
1,5kg. responsvel por regulares atividades inconsci-
entes, como o sonho, assim como aquelas que requerem
o mximo da conscincia do indivduo como aprender,
pensar, criar, analisar e memorizar, entre outras. Figura 2: (VILELA, S/D).
Na figura 2, apresenta-se o esquema de um corte do crebro, que mostra a substncia
cinzenta (crtex cerebral) e a substncia branca. A camada externa do crebro, formada pela
substncia cinzenta, denomina-se crtex cerebral. A parte interna formada pela substncia
branca. atravs do crtex cerebral que so enviadas as informaes motoras para o Tlamo,
o qual por sua vez, envia-as para todo o corpo. Alm disso, o crtex cerebral e o tronco
enceflico do sistema reticular so os responsveis pela filtragem da informao que se
dirige parte consciente do crebro com funes especficas. Funes do Crtex Cerebral:
pensamento, movimento voluntrio, linguagem, julgamento e percepo.
Os sistemas envolvidos na coordenao e na regulao das funes do corpo humano
so os sistemas nervoso e endcrino. O sistema nervoso humano possui a funo bsica de
receber informaes sobre as alteraes do corpo nas relaes com seu meio ambiente, sejam
essas informaes adquiridas de outros sistemas corporais ou do meio ambiente.
O sistema nervoso produz as respostas a essas variaes, atravs dos msculos e das
glndulas. Assim ele contribui, junto com o sistema endcrino, para a homeostase do orga-
nismo. O sistema nervoso humano possui as chamadas funes superiores, que incluem a
memria com a capacidade de armazenar informaes e depois resgat-las o aprendi-
zado, o intelecto, o pensamento e a personalidade. Todas essas funes foram fundamentais
na experincia metodolgica aplicada ao grupo de participantes da pesquisa como se observa
no decorrer dos captulos a seguir.
http://www.guia.heu.nom.br/cerebro.htmhttp://www.guia.heu.nom.br/corpo_fisico.htmhttp://www.guia.heu.nom.br/sistema_endocrino.htmhttp://www.guia.heu.nom.br/memoria.htm
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O Sistema Nervoso divide-se em sistema nervoso central (SNC) e em sistema nervoso
autnomo ou vegetativo (SNA). O SNC aquele que recebe, analisa e integra informaes,
o local onde ocorre a tomada de decises e o envio de ordens; esse sistema rege a vida de
relacionamentos ou o fator somtico, regendo tambm as relaes do corpo com o meio
ambiente. O SNA, sistema nervoso autnomo ou vegetativo, aquele que se ocupa do as-
pecto interior do corpo, regulando e coordenando os rgos. autnomo, por serem esses
processos independentes da vontade do ser humano. O SNA carrega informaes dos rgos
sensoriais para o SNC e do SNC para os rgos efetores (msculos e glndulas). atravs
do sistema nervoso que se recebe, se transmite, se elabora e se armazena informaes. O
sistema nervoso o receptor das informaes sobre as mudan-
as que ocorrem no meio externo; ou seja, ele que d incio
ao relacionamento do indivduo com seu meio ambiente, reela-
borando em seguida, as informaes armazenadas. Neste caso,
principalmente para os professores e os coregrafos, so essas
informaes armazenadas que motivam e do subsdios ao fa-
zer artstico, ou seja, atravs dos dados recebidos e transmiti-
dos, armazena-se, o prprio Umwelt ou entorno, todas as infor-
maes que englobam vrios tipos de conhecimento e, com
elas, elabora-se a obra de arte. Figura 3: (VILELA, S/D)
O sistema nervoso central a sede da inteligncia, o lugar de formao das ideias e o
lugar do qual partem os impulsos para a execuo dos movimentos, para a regulao de todas
as funes do corpo; o anteparo ao qual chegam todas as impresses da viso, da audio,
do tato, do olfato e do paladar, registrando no corpo sensaes, sentimentos, emoo, per-
cepo e intuio (ver figura 3).
As informaes apresentadas acima sobre os sistemas lmbico e nervoso servem de
base para a compreenso dos processos sensoriais envolvidos no corpo que cria e que dana.
Sabe-se que no fcil, e talvez nem seja possvel, adquirir-se sensibilidade a ponto de pos-
suir conscincia de todos os processos envolvidos; sabe-se tambm que, atravs do estudo
do comportamento pode fazer-se conscientizar dos argumentos que j esto psiquicamente
organizados no corpo, para que estes argumentos estejam sempre coerentes com os objetivos
profissionais.
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Durante a experincia com as alunas, uma das maneiras de desenvolver esta sensibili-
dade perceptiva foi focalizar os prprios pensamentos, os prprios dilogos internos, como
forma de conscientizao desses argumentos que geralmente determinam os comportamen-
tos e especificamente as atitudes tomadas pelo corpo.
O olhar para si mesmo como forma de conhecimento e de reconhecimento resultou no
trabalho especfico de autoestima. Cada vez que algo era exposto de forma a demonstrar uma
autoestima baixa, realizava-se a anlise da posio existencial adotada pela aluna perante o
ambiente de vivncia da mesma. Isso intensificava e aprofundava o trabalho de conscienti-
zao do grupo como um todo e de suas relaes.
A maioria dos trabalhos executados pelo grupo de pesquisa no atendia a uma progra-
mao pr-fixada mesmo que se pensasse sempre nas informaes necessrias ao grupo. As
surpresas superavam essa possibilidade, e os interesses suscitados pelas autodescobertas pre-
valeciam sempre nestes encontros.
O sistema nervoso central o responsvel pelo comando de todo o organismo, seja
ele entendido no sentido fsico, ou no sentido psquico. Uma leso que ocorra em qualquer
parte do sistema nervoso central quase sempre permanente e no pode ser reparada. Isso
difere das leses no sistema psquico, que sempre tm soluo, como acontece, por exemplo,
com outros tecidos, como a pele e os msculos, e com outros rgos. O SNC tambm o
responsvel pela relao entre o corpo e seu ambiente, iniciando e regulando as respostas
adequadas.
O sistema nervoso central funciona no somente quando afetado pelo meio externo,
mas tambm pelo meio interno, ou seja, quando afetado pelo que ocorre nas diversas regi-
es do corpo. As mudanas no meio externo so apreciadas de forma mais consciente que as
mudanas no meio interno, que tendem a no ser percebidas conscientemente. Todas as mu-
danas que ocorrem no meio ambiente afetando o sistema nervoso so chamadas de estmu-
los.
o sistema endcrino que regula as funes metablicas do organismo. Juntamente
com o sistema nervoso, ele desempenha a maioria das funes da regulao do organismo.
Portanto, a denominao de sistema nervoso, inclui o conjunto de rgos que transmite ao
organismo os impulsos necessrios aos movimentos e s diversas funes do sistema Corpo,
com base no que recebe do prprio corpo e do mundo externo.
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No sistema nervoso distingue-se uma parte nervosa central formada pelo eixo cre-
bro-espinhal da qual partem os estmulos e qual chegam as impresses, e uma parte
nervosa perifrica, formada pelos nervos, os quais servem para disseminar as impresses
pela corrente nervosa. Os nervos, portanto, transportam os estmulos periferia e dela rece-
bem as diversas impresses que, com percurso inverso, so conduzidas ao sistema nervoso
central, sendo essas impresses advindas do pensamento, que tambm interferem no corpo,
ou sendo principalmente, tcitas (sensoriais).
Ter ossos e msculos sadios no basta para se fazer dana, porque para captar as in-
formaes so necessrios os sentidos. Alm da captao dos sons e rudos (audio), pre-
ciso ver o espao e identificar o objeto que estimula o movimento do corpo para a comuni-
cao atravs da dana. preciso relacionar esse espao ao tempo de execuo, sob o co-
mando do sistema nervoso, o qual geralmente acionado na frequncia mxima durante a
prtica da dana.
O sistema nervoso um conjunto de rgos que tm a capacidade de captar as infor-
maes do ambiente, decodific-las, isto , interpret-las e, aps transform-las em corpo,
tm a capacidade de express-las. Como se v ele elabora suas respostas, se solicitadas, se-
jam estas dadas na forma de movimentos, sensaes agradveis ou desagradveis. As res-
postas podem ser tambm apenas de constatao.
O sistema nervoso integra e coordena praticamente todas as funes do organismo e
funciona por meio de mecanismos eltricos e qumicos, conjugados a eletroqumicos.
O tecido nervoso formado por clulas nervosas, os neurnios. As clulas tpicas deste sis-
tema tm a forma alongada e ramificada, o que representa uma vantagem na conduo das
informaes, isto , dos impulsos do sistema nervoso.
A unidade estrutural e funcional do tecido nervoso, ou seja, a clula, do tecido nervoso
o neurnio. O neurnio uma clula especializada cujas propriedades de excitabilidade e
de conduo so as bases das funes do sistema.
Figura 4: Neurnio Motor (VILELA, S/D)
As mensagens nervosas podem ser grossei-
ramente comparadas a correntes eltricas
que caminham por clulas especiais: os neu-
rnios. Essas mensagens so os impulsos
nervosos. Os neurnios contam com duas
propriedades fundamentais para as funes
que exercem: excitabilidade (capacidade de
reagir aos estmulos) e condutibilidade (uma vez alterados pelos estmulos, os
http://www.guia.heu.nom.br/neuronios.htmhttp://www.guia.heu.nom.br/neuronios.htm
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neurnios transmitem essa alterao por toda sua extenso, em grande veloci-
dade). O tempo decorrido entre um estmulo e a resposta que ele promove sempre
muito pequeno.
As mensagens transmitidas pelo sistema endcrino tm natureza qumica os
hormnios. Estes so substncias que se distribuem pelo sangue e modificam o
funcionamento de outros rgos, denominados rgos-alvo. A atuao do sistema
endcrino mais lenta, pois h latncia entre a recepo do estmulo, a liberao
do hormnio, sua chegada ao rgo-alvo e a execuo da resposta que ele provoca.
Entretanto, esse sistema tem uma vantagem em relao ao nervoso: seu consumo
de energia muito menor. Pequena quantidade de um hormnio pode desencadear
uma ao intensa e duradoura sobre as clulas de um rgo ou mesmo do corpo
todo.
O sistema nervoso pode tanto desencadear como interromper uma ao; j o sis-
tema endcrino s pode iniciar uma ao. Depois que um hormnio liberado na
corrente sangunea, no h como apressar sua remoo; ele continua agindo en-
quanto estiver circulando. (VILELA, S/D)
Como a funo do Axnio a conduo de impulsos do corpo neuronal (vias nervosas
eferentes), acredita-se ser atravs dele o incio de contaminao de todo o corpo preparando
o movimento, que, como disse Llins, iniciado no pensamento. (LLINS E CHUR-
CHLAND, 1995)
Os nervos conduzem impulsos de ou para o Sistema Nervoso Central. Dependendo do
sentido de conduo, podem dividir-se em: Nervos motores, aqueles predominantemente
eferentes, que conduzem os estmulos do sistema nervoso central periferia onde alcanam
os msculos. Nervos sensitivos, predominantemente aferentes, aqueles que transmitem os
estmulos da periferia at o sistema nervoso central. Nervos mistos, aqueles que possuem
um componente motor e outro sensitivo.
Assim, sabe-se como se processam fisicamente os estmulos, que sempre so transfor-
mados em informaes tcitas, em corpo. Cada vez que o corpo interpreta as novas informa-
es e as relaciona com as informaes que j possua, cria-se a possibilidade de mudanas,
desejadas ou no.
Portanto, informaes que no esto na conscincia so relevantes para o ensino e
aprendizado da dana, inclusive aquelas informaes ulteriores e subliminares, que, incons-
cientemente transformam o corpo, sem que o corpo perceba e, essa percepo necessria
para que se deem as mudanas desejadas.
Podemos e devemos ento, com o objetivo de tornar este corpo mais sensvel aos es-
tmulos, torn-lo consciente dos seus processos sensoriais, torn-lo lmbico.
Os estmulos so provenientes sempre da relao do corpo com todos os sistemas que
compem o ambiente de vivncia. Acredita-se que todos os estmulos, ao serem processados
http://www.guia.heu.nom.br/aao_dos_hormonios.htm
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no corpo, transformam-se em motivos para que esse corpo aja, de uma forma saudvel ou
no, buscando sua otimizao ou no. Assim, esses estmulos, processados inconsciente-
mente e transformados em motivao, no garantem uma ao corporal eficiente no tempo
aqui e agora, para o alcance dos objetivos e da meta desse corpo. Portanto, a busca do co-
nhecimento dos processos subjetivos do corpo e de como cada corpo age nesses processos,
fundamental para a qualidade de vida profissional, inclusive para a qualidade dos movi-
mentos para a qualidade da Dana.
Assim tem-se uma ideia do que acontece quando estmulos e ou motivaes acionam
o corpo, e a questo bsica : como saber quando os fatos permitem a otimizao da ao
corporal, para que esta esteja em sintonia com os objetivos de vida profissional? At que
ponto somos responsveis pelos fatores prejudiciais que nos desviam desse caminho? So
os fatores psicossociais os maiores responsveis pela relao bem sucedida entre o talento e
a profisso escolhida, ou ser que isso depende mais do corpo que aprende e apreende as
informaes necessrias, e de como esse corpo processa essas informaes? Onde entra o
acaso e como relacionar-se com ele? Embora no trabalho de grupo este no se ocupasse em
buscar conhecimentos nas reas anatmicas do corpo nem nas suas reaes qumicas, pro-
curou-se identificar uma srie de reaes advindas, tanto dos estmulos quanto das motiva-
es, independentemente do fato de serem favorveis ou desfavorveis. A maioria das aes
e reaes relatadas e trabalhadas pelo grupo de alunas foi adversa aos objetivos especficos
delas, por tratar-se de aes e reaes inconscientes e obsoletas, baseadas numa experincia
do passado, e no condizente com o momento atual. Isso demonstrava uma incoerncia com
o corpo desejante de in-formao (forma + ao consciente, em prol do conhecimento da
Dana-Educao).
Procurou-se questionar sempre, durante o relato das alunas, suas reaes, seus senti-
mentos ou emoes, e suas aes, assim como as consequncias advindas a curto prazo e as
provveis consequncias a longo prazo. Muitas expresses verbais foram utilizadas como
representao da imagem do corpo adotada, como por exemplo: meu sangue ferveu, o
sangue subiu pra cabea (raiva), meu corao acelerou, eu fugi, desisti, suei frio,
no consigo (medo), ou seja, sempre reaes somatizadas por pensamentos e/ou sentimen-
tos que levam as alunas a agirem de forma diversificada e muitas vezes antagnica aos seus
objetivos. A aplicao dessa problemtica foi relevante no sentido das alunas identificarem
os motivos que as levavam a agir muitas vezes contra os prprios desejos. Os motivos mais
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comuns, levantados, tinham sempre relao com os mandatos ou mensagens parentais ne-
fastas de constatao sobre a falta de inteligncia ou de capacidade, ao cometerem erros
comuns. Alm disso, os motivos tinham tambm relao com a posio adotada diante dos
desafios, que sempre parecem ser em nmero maior que os da vida cotidiana, quando se faz
um curso universitrio, principalmente de Arte. Essas mensagens parentais foram transfor-
madas em corpo, e este corpo, possuindo uma imagem gerada a partir delas, reveste-se de
uma camada irreal de pensamentos e aes que, talvez um dia tenham sido motivo de sobre-
vivncia, mas nesta fase, diante de certas vivncias, essas aes e pensamentos se tornaram
obsoletos e inadequados.
Todas as concluses apresentadas aqui nesta tese, relativas s alunas do grupo em ques-
to, ou foram reveladas por elas nas conversas ao longo de toda a experincia, ou observadas
pela autora. Muitas delas vieram confirmar hipteses elaboradas ao longo do tempo de ex-
perincia profissional da autora, com o ensino de dana.
A percepo do estado do corpo foi fundamental para perceber a lgica das reaes
corporais e das aes subsequentes, para a anlise racional das questes levantadas durante
as discusses e dos trabalhos sugeridos com base na cognio (intuio e intelecto). Assim,
cada aluna descobriu a prpria forma de ao, ou seja, seu comportamento diante da vida
presente, trazendo para si a possibilidade de soluo e responsabilidade sobre a problemtica
expressa e identificada pelas mesmas, que possibilitaram a resoluo de problemas surgidos
no decorrer do aprendizado da Dana, independentemente da sua natureza.
O termo transferncia em dana tem basicamente relao com o espao fsico, ou seja,
esta se d quando se sai de onde se est e vai-se ocupar um outro espao. Portanto, transfe-
rncia um estado de transio entre um espao e outro.
Em psicoterapia, a transferncia acontece entre duas ou mais pessoas; a transferncia
no o eu nem o tu, o ns outros, sem identidade real. Diz o texto de Tnia Rivera:
O termo transferncia evoca um movimento, uma ligao entre dois termos dife-
rentes: analisando e analista, certamente, mas tambm entre passado e presente,
como diz Freud. A transferncia se d como uma certa repetio do passado no
presente. Mais do que uma repetio de padres antigos, ou um deslocamento in-
devido, por assim dizer, de uma ligao libidinal do passado sobre uma pessoa
atual, a transferncia deve, contudo, ser entendida como um entre. Luiz Hanns
sublinha, em seu cuidadoso Dicionrio Comentado do Alemo de Freud, que a
bertragung evoca um "arco de ligao" entre dois termos (passado/presente,
longe/perto, eu/outro), uma interligao que permanece "acesa", enviando de um
ao outro, constantemente. A transferncia , pois, um trnsito entre um e outro; ela
marca uma transio, uma certa transitividade.
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como se a transferncia dissesse, com Mrio de S-Carneiro, "eu no sou nem
um nem outro, sou qualquer coisa de intermdio". Este intermdio indica no ape-
nas a proximidade entre um e outro, mas uma certa distncia entre os dois. Uma
certa distncia no no sentido de um ponto mediano e estvel, justa medida entre
um e outro, que seria encontrado, mas de um jogo de proximidade e distncia que
se inaugura entre o eu e outro. (RIVERA, 2001)
A transferncia, ento, uma situao intermediria pela qual se passa, principalmente
quando se est em busca do autoconhecimento, de uma autoconscincia ou de uma dana
genuna do ser. A conscincia da transferncia fundamental para a autonomia. A dor, como
tambm o prazer resultante do processo de autoconscincia um estado inerente ao Ser,
ligado aos sentidos, cognio (intuio e intelecto) e, consequentemente s emoes e a
sentimentos provenientes dessas emoes. O que Rivera diz sobre a dor:
A dor pareceria, ento, consistir numa espcie de objeto transicional de Winicott.
Um objeto que representa um espao intermedirio entre eu e no eu, de onde
surge o brincar em sua potencialidade simbolizante. Mas que espcie de "objeto"
seria a dor? Ela no um objeto com o qual um sujeito poderia entreter alguma
relao. Talvez ela no seja mais do que um significante, que ao surgir em cena
dissolve as categorias de eu e de objeto; ela impessoal, a dor, indefinida.
[...] subitamente apresenta-se a mim um espelho que reflete uma dor indizvel,
emudecedora. Diante desta dor, a pergunta que me fao ("eu sou a dor?") mostra
uma vacilao ("eu?" ou "quem sou eu?"), um estranho re (des) conhecimento de
mim mesma. Se fazendo presente em anlise, a dor vem lembrar que, na verdade,
o entrelaamento que define a transferncia se d no entre o um e o outro, mas
entre o outro e o outro, visto que o "eu" se encontra a de sada descentrado, tendo
perdido cetro e coroa. Como j dizia Arthur Rimbaud, "o eu um outro". Estranho
entrelaamento, este assinalado pela dor, pois ele no une propriamente analista e
paciente, mas nos descentra a ambos, conjugadamente, ao fazer surgir algo entre
ns. (RIVERA, 2001)
A transferncia, em sendo uma encenao, embora inconsciente na maioria dos casos,
uma prtica contnua do danarino.
A prxima citao nos mostra a viso que os psiclogos e os psicoterapeutas anunciam
ter dos artistas que, pela prpria natureza, possuem como caracterstica um desenvolvimento
intuitivo/sensitivo, diferenciado das outras pessoas. O conhecimento de psicologia, para o
danarino, vem preencher uma lacuna deixada pela prpria prtica da dana, que deixa a
psique sempre merc do acaso.
O interesse de Rivera em confrontar a psicanlise com a arte, e a possibilidade disso
sempre acontecer, fica explcito nesse texto a seguir, o qual elucida a busca de integrao
entre a psicologia e a dana-educao. Essa integrao est explcita tambm nos trabalhos
coreogrficos dos alunos de graduao da Escola de Dana da UFBA, onde utilizam mais a
linguagem corporal do que a escrita.
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[...] este entrelaamento entre arte e psicanlise indica, nos primrdios da obra
freudiana, e que, sem pretender substituir a experincia clnica como "material"
que se transpe em teoria, acrescenta a esta um lugar legtimo, ainda que de outra
natureza, arte. Tal proposta no faz mais do que levar a srio a ideia freudiana
segundo a qual muito temos a aprender com os artistas. A figura do artista na obra
freudiana testemunha de uma certa idealizao, o artista sendo caracterizado
como detentor de um saber quase direto do inconsciente, saber que o psicanalista,
cientificamente realizando sua rdua pesquisa, chega a invejar. Mas Freud com-
plexifica ainda sua relao com o artista, em uma carta ao dramaturgo e mdico
Arthur Schnitzler, ao confessar que um temor de encontrar neste o seu "duplo"
teria-o impedido de buscar dele se aproximar. (RIVERA, 2001)
Se o movimento comea no pensamento, como disse Llins (LLINS e CHUR-
CHLAND, 1996, p.01-18), como ser que o movimento iniciado na psique toma todo o
corpo do danarino e por onde comea esse processo?
Muitos alunos danarinos no conseguem fazer com que o corpo como um todo esteja
presente na execuo do movimento, o que faz com que o mesmo perca qualidades. No
convm que o danarino desconhea seus bloqueios psicolgicos ou corporais, caso existam,
por serem os grandes responsveis pelas dificuldades de aprendizado da dana na relao
pensamento/movimento/ao corporal. Se uma das dificuldades encontradas em alunos que
chegam Escola de Dana da UFBA, com um corpo j bloqueado para o aprendizado de
algumas tcnicas de dana, ou seja, um corpo sem livre fluncia, com movimentos padroni-
zados, como liberar esse corpo se no comear pela raiz do movimento que est na psique,
no pensamento?
O JOGO DO AUTOCONHECIMENTO
Composio: Cida Linhares
Tube: LB (tube uma imagem editada no software
print shop pro, imagem principal da composio, sem
fundo, que pode ser modificada pela pessoa que cria
a composio, tornando-a parte da mesma).
Ver no site da internet: .
A insero do jogo, no trabalho
do professor e do aluno, em todos os
encontros ao longo de um semestre,
constituiu-se em provocar relatos de
situaes relevantes vivenciadas an-
teriormente pelos alunos. Cada relato era observado e discutido pelo grupo, trabalhando-se
a relao interpessoal na direo do autoconhecimento. Todos os personagens envolvidos na
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situao relatada tinham seus papis determinados atravs da anlise dos fatos, e suas carac-
tersticas eram levantadas pela aluna que estava no foco do trabalho. Dessa forma, criaram-
se condies para que, caso existissem tenses e/ou conflitos, esses fossem processados e
possivelmente dissolvidos. Uma hiptese a de que esse processamento, chegando disso-
luo da tenso e do conflito, pode levar o danarino a liberar suas capacidades de ao/cri-
ao/improvisao apresentando assim sua genuinidade, com base na vivncia ressignificada
da situao por ele prprio relatada no grupo especfico.
Esse trabalho prtico incluiu a observao da percepo das alunas sobre as posies
existenciais adotadas em comportamentos especficos relatados e sobre suas resistncias. A
estrutura e o funcionamento da personalidade incluem simbioses com outros seres humanos
como forma de substituio de comportamentos que refletem alguns estados de Eu no de-
senvolvidos, patologias estruturais, necessidades bsicas ou fomes. Algumas formas de co-
municao consigo mesmo (dilogos internos) e com o outro, foram relatadas e analisadas,
assim como as crenas e elementos que permeavam os objetivos e metas das alunas, tanto
os que deviam permanecer quanto os que deviam ser inseridos. As formas de estruturao
do tempo das alunas e seus jogos psicolgicos, seus mandatos (mensagens parentais introje-
tadas), dentre outros instrumentos da AT (Anlise Transacional) tambm foram estudados e
utilizados na prtica de grupo (SANTOS-SILVA, 2000). As informaes sobre esses ins-
trumentos foram repassadas para as alunas atravs de textos de autores como o prprio Eric
Berne, criador da AT, Roberto Crema, Roberto Kertsz, Muriel James, Dorothy Jongeward
como membro da International Transactional Analysis Association, dentre outros autores.
A prtica da improvisao em dana nesse trabalho esteve alicerada nas concluses
do prprio Ser-Danarino sobre sua vivncia e suas problemticas (SPOLIN, 1982, p.04-
05). Utilizou-se da improvisao, inicialmente de maneira intensa, para dar forma ao jogo
de carter psicodramtico, procurando aguar a subjetividade do danarino. (CHACRA,
1991, p.12)
A partir dessas ideias bsicas realizaram-se estudos que pudessem fundamentar a ex-
perincia de formao do danarino numa perspectiva de elaborao da dana genuna, a ser
revelada em composies solsticas. De incio os estudos foram encaminhados no sentido de
articular os elementos fundamentais da criao em dana com as bases da Arte-Educao,
atravs da busca do autoconhecimento. Assim sendo, trazemos a seguir o que fundamentou
esta tese.
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CAPTULO II
A ARTE-EDUCAO E A DANA-EDUCAO
Composio: Cida Linhares.
Tubes: Xue Yanqun_the-sisters-
duet 1 e de Yuriy Dyatlov: small
young-ballerina.
O caminho da sensibilidade e
todo o campo de trabalho com
o simblico sonegado em
nome de uma necessidade de
se ensinar um prtico que na
verdade limite. NGELA
LINHARES (1999, p.42)
A tese de Herbert Read baseada na Arte como fundamento da Educao. O autor
busca dar uma definio dos dois termos aqui mencionados. Todos os envolvidos com e
apaixonados pelas artes, sabem o quanto elas possuem de capacidade em aperfeioar a edu-
cao do ser humano. O problema lidar com a complexidade, que trabalhar com o que
ldico e, ao mesmo tempo convencer os poderosos a se engajarem nessa incessante luta pela
educao, tendo a arte como a grande transformadora de uma necessria reforma educacio-
nal. No podemos deixar de citar a importncia dessa luta j assumida anteriormente pelo
ilustre professor Edgard Santos, que foi Reitor da UFBA, criador e incentivador das Escolas
Superiores de Arte.
Diz-se luta porque, se h muito a Educao vem sendo negligenciada pelos dirigentes
responsveis, a Arte por sua vez foi negligenciada pelos responsveis pela estrutura que en-
volve a Educao neste pas. Ao observar o uso das artes pelas escolas, em todos os nveis,
desde o Ensino Fundamental, pode-se comprovar isso. Quem d um panorama amplo nesse
sentido Ana Mae Barbosa, com seus livros baseados nas suas observaes e pesquisas.
Sobre o progresso das cincias naturais que envolvem a problemtica da Educao,
Read diz:
Quando uma cincia natural faz progressos, ela os faz sempre no sentido concreto,
e sempre no sentido do desconhecido. Ora, o desconhecido se encontra nas fron-
teiras das cincias, l onde os professores se devoram entre si, como diz Goethe
(eu digo devoram, mas Goethe no to polido). geralmente nesses domnios
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mal partilhados que jazem os problemas urgentes. Essas terras incultivadas carre-
gam, alis, uma marca. Nas cincias naturais tal como existem, encontramos sem-
pre uma feia rubrica. H sempre um momento em que a cincia de certos fatos no
estando ainda reduzida a conceitos, esses fatos no estando sequer agrupados or-
ganicamente, planta-se sobre essas massas de fatos a bandeirola da ignorncia:
Diversos. a que preciso penetrar. Estamos certos de que a que existem
verdades a encontrar: primeiro porque sabemos que no sabemos, e porque temos
o sentido vivo da quantidade de fatos. (READ, 2001, p.01)
Oferecendo uma definio objetiva quanto natureza da Arte que no implica ne-
nhuma viso e nenhum elemento transcendental, Read traz a Arte para o mundo dos fen-
menos naturais, tornando-a sujeita a mensuraes sob as quais se baseiam as leis cientficas,
em alguns aspectos essenciais.
Quanto ao objetivo que atribui Educao, Read acha pouco provvel encontrar uma
unanimidade, pois deparou-se, pelo menos, diante de duas possibilidades irreconciliveis. A
primeira pressupe que cada indivduo nasce com certas potencialidades que para ele um
valor positivo e que seu destino desenvolver essas potencialidades dentro de um esquema
bsico de uma sociedade suficientemente liberal permitindo at uma infinita variao de
tipos, tudo isso baseado na possibilidade do ser humano dever ser educado para se tornar o
que .
A segunda pressupe que quaisquer que sejam as idiossincrasias exibidas pelo ser hu-
mano desde seu nascimento, dever do professor erradic-las, a menos que estejam de
acordo com certo ideal de carter determinado pelas tradies da sociedade qual, involun-
tariamente, pertence. Ou seja, isso nos faz usar a educao para transformar o indivduo
naquilo que ele no (READ, 2001, p.02). Frente a essas duas possibilidades, Read (2001,
p.02) explica o seguinte:
a. A mente de uma criana recm-nascida permanece um mistrio incomunicvel. b. Antes desse mistrio, todos os tipos de influncias ambientais estiveram em ao,
principalmente aquelas capazes de distorcerem seus dons naturais. Ex: O prprio
nascimento acarreta traumas variveis, onde com certeza nada pode ser descrito
como necessariamente bom ou mal.
c. As tendncias neurolgicas que rapidamente se desenvolvem na criana, tais como sentimentos de agressividade, ansiedade (medo), cime e outros, sem dvida, so
subprodutos dos processos de maturao fsica e adaptao social que podem ser
compreensivelmente controlados.
Assim, continua Read, o educador j comea com o mistrio insolvel: a mente da
criana recm-nascida. A evidncia emprica seja ela antropolgica, fisiolgica ou psico-
lgica no lhe oferece nenhuma indicao precisa quanto natureza dessa mente (READ,
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2001, p.03). Os profissionais da Dana-Educao devem ter seus trabalhos baseados na pro-
duo do mais alto grau de correlao, como diz Read, entre o temperamento e os modos
de expresso do Ser-aluno-danarino. Porm, a partir da hiptese de que possvel criar uma
dana genuna com base em determinados procedimentos da dana-educao, possibilita-
dora de uma forma integrada de experincias interdisciplinares ao Ser-Danarino, que traz
aqui a necessidade de relacionar-se os perceptos atravs das prprias imagens aquelas de-
senvolvidas pelos corpos danantes nas suas unidades originais. Isso acontece quando o
aluno corresponde com sua disposio fsica, em sintonia com o pensamento que analisa,
integra e percebe os estados do corpo suas sensaes, sentimentos e emoes captados
pelos sentidos e revelados pelos movimentos orgnicos do corpo que se dirige a uma apre-
enso mais completa e mais livre de uma realidade prpria.
Buscou-se, atravs desse experimento com o grupo de pesquisa, competncias para o
corpo-danarino que se disps ao aprendizado da dana. Atravs de informaes que desor-
denaram informaes anteriores obsoletas, porm processadas por redes neuronais, realizou-
se a anlise dos processos de transformao evolutiva do corpo que dana, com base nos
pensamentos produzidos e revelados por esse mesmo corpo. Segundo Helena Katz, no
existe outra coisa a no ser in-formao7 adquirida por rede (in = modificao nossa) a
evoluo no tem medida nem controle. Informao contaminao, um vrus. (2004)
A chave para descobrir a primeira regra da Teoria da Evoluo, entender que tudo
processo, e que todo processo transitrio. A adaptao entre corpo e ambiente contnua.
O corpo e o ambiente se auto estruturam, se regulam e se modificam. A regra geral, embora
a troca entre ambos seja especfica. Quanto natureza, essa trabalha de forma diferente do
ser humano. A natureza, por exemplo, no trabalha com a dialtica do bem e do mal, o que
faz com que esses processos evolutivos no funcionem com uma tica de justia, ou de so-
brevivncia de uma sociedade justa, pois a natureza no tem ideologia. Ela opera por pro-
cessos de seleo e adaptao.
Os processos educacionais funcionam de forma adaptativa, ou seja, a transmisso da
informao s pode contar com a recepo da mesma, e isso se d por similaridade, porque
7 In-formao: neologismo, nesse cas