universidade federal da bahia - repositorio.ufba.br§ão... · complex, while noting the release of...
TRANSCRIPT
-
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE QUMICA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QUMICA
JULIANA GUERREIRO CEZAR
SNTESE, CARACTERIZAO E REATIVIDADE DE NITROSILO
COMPLEXOS DE RUTNIO COM LIGANTE DIFLUNISAL
Salvador
2015
-
JULIANA GUERREIRO CEZAR
SNTESE, CARACTERIZAO E REATIVIDADE DE NITROSILO
COMPLEXOS DE RUTNIO COM LIGANTE DIFLUNISAL
Dissertao submetida ao Programa de Ps-
Graduao e Pesquisa do Instituto de Qumica, da
Universidade Federal da Bahia, como requisito
parcial para obteno do ttulo de mestre em
Qumica.
Orientador: Prof. Dr. Kleber Queiroz Ferreira
Salvador
2015
-
CEZAR, Juliana Guerreiro. Sntese, caracterizao e reatividade de nitrosilo complexos de Rutnio com ligante diflunisal. / Juliana Guerreiro Cezar Bahia: UFBA, 2015.
117 fls.; il.
Orientador: Prof. Dr. Klber Queiroz Ferreira Dissertao (Mestrado) Universidade Federal da Bahia, Instituto de Qumica, Salvador, 2015.
1. xido ntrico. 2. Nitrosilo complexos de Rutnio. 3. Tetra-azamacrociclos. 4. Diflunisal. I. Ferreira, Kleber Queiroz. II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Qumica. III. Ttulo
CDD 546
CDU 546.96:661.982
-
TERMO DE APROVAO
JULIANA GUERREIRO CEZAR
SNTESE, CARACTERIZAO E REATIVIDADE DE NITROSILO
COMPLEXOS DE RUTNIO COM LIGANTE DIFLUNISAL
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao e Pesquisa do Instituto de
Qumica, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obteno do
mestrado em Qumica.
Aprovada em 15 de Outubro de 2015.
Kleber Queiroz Ferreira Orientador ______________________________________
Doutor em Qumica, Universidade de So Paulo, Brasil Departamento de Qumica Geral e Inorgnica, Instituto de Qumica/UFBA
Marcos Malta dos Santos _____________________________________________
Doutor em Qumica, Universidade de So Paulo, Brasil Departamento de Fsico-Qumica, Instituto de Qumica/UFBA Arnaud Victor dos Santos_______________________________________________
Doutor em Qumica Analtica, Universidade de So Paulo, Brasil
Departamento de Cincias Exatas e da Terra, Campos I/ UNEB.
-
DEDICO ESTA DISSERTAO
A Deus,
Por me dar coragem, fora e f para enfrentar os desafios da vida e, assim,
adquirir maturidade e evoluir espiritualmente.
A minha amada me, Sileide Guerreiro
Que sempre se doou inteiramente pela felicidade da nossa famlia.
Que, apesar dos sacrifcios, nunca nos deixou faltar nada, sempre apoiando,
incentivando e lutando por ns.
Que, sem sombra de dvidas, a melhor me guerreira que poderamos ter.
Ao meu sobrinho e afilhado, Henrique Guerreiro
Que, mesmo sem ter noo, tem ajudado muito a dinda. Que o anjo que
Deus enviou para me ajudar a cumprir minha misso.
-
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Ao meu orientador, professor Dr. Kleber Queiroz Ferreira,
Pelos seus ensinamentos, dedicao e oportunidade de trabalhar sob sua
orientao, o que me proporcionou um conhecimento terico-cientfico imensurvel.
Agradeo, sobretudo, pelo incentivo em cursar o doutorado numa universidade
melhor estruturada e pelas recomendaes feitas professora Sofia.
Ao professor Dr. Jos Roque,
Que gentilmente cedeu parte de seu laboratrio para a realizao da
pesquisa.
Ao professor Dr. Hlio Pimentel,
Por sua amizade e contribuies na minha formao acadmica e cientfica.
Ao professor Dr. Fbio Dro
Pelo apoio na pesquisa e importantes contribuies para a realizao deste
trabalho.
A professora Dra. Adelaide Viveiros
Por compartilhar seus conhecimentos de forma clara, simples e brilhante.
Sinto-me agraciada por ter sido sua aluna, o que, sem dvidas, propiciou grande
aprendizado. Agradeo tambm pela receptividade com a qual sempre fui recebida
em sua sala ao procur-la para tirar dvidas e, pelo aporte na escrita desta
dissertao.
Ao professor Dr. Frederico Guar
Pela predisposio e imensa ajuda com a interpretao dos espectros de
RMN deste trabalho.
A professora Dra. Znis Novais
Por ter subsidiado a realizao da pesquisa, disponibilizando equipamentos
necessrios para algumas anlises deste trabalho.
-
Ao professor Dr. Marcos Malta,
Que generosamente nos forneceu alguns materiais indispensveis para
algumas anlises.
Aos bolsistas e professores dos laboratrios 108 e 207, em especial ao colega
Ernani Lacerda,
Que mesmo de longe continuou colaborando comigo.
Ao meu namorado, Augusto Carvalho,
Por sua dedicao e incentivo em todos os momentos. Agradeo tambm
pela pacincia nos momentos de stress e pela importante colaborao com as
formataes desta dissertao.
A minha irm e meu cunhado,
Que me acolheram e me ajudaram em um dos momentos mais delicados da
minha vida.
A minha psicloga, Jssica Barbosa,
Que tem subsidiado a minha busca pela autonomia pessoal e me ajudado a
manter o controle nos momentos de ansiedade.
As minhas amigas de toda a vida, Hanna, Isis, Kenia, Monique e Priscilla,
Pelo apoio e pelas risadas que me proporcionaram.
A CNPq pelo auxlio financeiro.
E a todos que contriburam direta ou indiretamente para que eu pudesse
realizar este trabalho.
-
Nunca deixe que lhe digam que no vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vo dar certo
Ou que voc nunca vai ser algum
...
Se voc quiser algum em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcana!
(Renato Russo)
-
RESUMO
Considerando a importncia biolgica do NO para a boa manuteno do
organismo, verifica-se grande interesse no estudo de agentes teraputicos que
auxiliem no controle do teor de xido ntrico no organismo, seja liberando ou
capturando NO. Nesse sentido, nitrosilo complexos de rutnio tm despertado
interesse. Da mesma forma a molcula de diflunisal apresenta-se como um potente
anti-inflamatrio no esteroide, tanto na forma livre como coordenado a centros
metlicos. Neste trabalho buscou-se sintetizar, caracterizar e realizar alguns estudos
de reatividade qumica dos compostos contendo na sua composio tanto o xido
ntrico como o diflunisal, visando combinar as suas propriedades biolgicas. Os
complexos sintetizados foram: cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]2+, cis-
[Ru(NO)(NO2)(cyclen)]2+, cis-[Ru(DF)2(cyclen)] e cis-[Ru(DF)(cyclen)]. Anlises dos
espectros vibracionais mostraram o aparecimento de bandas caractersticas dos
ligantes DF e cyclen, bem como de sinais prximo de 1880 cm-1, caracterstico de
NO (NO+). Os espectros eletrnicos apresentaram bandas associadas a transies
IL e TCML. As tcnicas de anlise elementar e RMN, realizada para alguns
compostos, foram suficientes para ratificar a formulao proposta. Estudos de VPD
permitiram avaliar os processos redox atribudos aos ligantes NO e diflunisal e ao
centro metlico (Ru), bem como investigar qualitativamente, a liberao de NO dos
nitrosilo compostos, quando submetidos a estmulos eletroqumicos. Atravs de
estudos cinticos e termodinmico foi possvel determinar as constantes associadas
a aquao dos cloretos no complexo cis-[RuCl2(cyclen)]+, Os quais so muito
relevantes para o entendimento relativo a reao de coordenao dos ligantes
diflunisal e nitrosilo ao centro metlico, nos complexos precursores. Portanto, os
resultados obtidos sustentam a formulao dos complexos sintetizados, ao passo
que constata a liberao de NO pelos nitrosilo complexos, justificando a importncia
do trabalho e incentivando estudos futuros que contemplem anlises de reatividade
eletroqumica e fotoqumica e atividade biolgica dos compostos.
Palavras-chaves: xido ntrico. Nitrosilo complexos de rutnio.
Tetraazamacrociclos. Diflunisal.
-
ABSTRACT
Given the biological importance of NO to the proper maintenance of the
organism, there is great interest in the study of therapeutic agents that assist in
control of the content of nitric oxide in the body, or capturing or releasing NO. In this
sense, nitrosyl ruthenium complexes have attracted interest. Similarly the molecule of
diflunisal get introduced as a potent non-steroidal anti-inflammatory drugs, as free or
coordinate to metal centres. In this paper we sought to synthesize, characterize and
perform some chemical reactivity studies of compounds containing in their
composition both nitric oxide as the diflunisal aiming to combine their biological
properties. The complexes were synthesized: cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]2+, cis-
[Ru(NO)(NO2)(cyclen)]2+, cis-[Ru(DF)2(cyclen)] and cis-[Ru(DF)(cyclen)]. Analysis of
the vibrational spectra showed the appearance of characteristic bands of DF and
cyclen ligands as well as signals near 1880 cm-1, characteristic of NO (NO+). The
electronic spectra showed bands associated LI and LMCT transitions. The
techniques of elemental analysis and NMR, held for some compounds were enough
to ratify the proposed wording. DPV study allowed us to evaluate redox processes
associated with NO and diflunisal ligands and metallic Centre (Ru), as well as
investigate qualitatively the release of NO from nitrosyl compounds, when subjected
to electrochemical stimuli. Through kinetic and thermodynamic studies it was
possible to determine the constants associated with change of chloride for water in
the cis-[RuCl2(cyclen)]+ complex, which are highly relevant for the understanding on
the coordination reaction of diflunisal and nitrosyl ligands to the metal center, in the
complex precursors. Therefore, the results support the formulation of the synthesized
complex, while noting the release of NO by nitrosyl complex, justifying the importance
of work and encouraging future studies that include electrochemical reactivity
analyzes and photochemical and biological activity of the compounds.
Keywords: Nitric oxide. Nitrosyl Ruthenium complexes.
Tetraazamacrocycles. Diflunysal.
-
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Complexos metlicos de uso clnico. ........................................................ 20
Figura 2 - Representao esquemtica da biossntese do xido ntrico. .................. 23
Figura 3 - Diagrama de orbitais moleculares do xido ntrico (adaptado). ................ 25
Figura 4 - Esquema dos orbitais moleculares envolvidos na ligao
M-NO (M=metal). ................................................................................... 26
Figura 5 - Modos de coordenao do NO ao centro metlico. .................................. 27
Figura 6 - Frmula estrutural do Diflunisal. ............................................................... 29
Figura 7 - Estrutura de ligantes macrocclicos........................................................... 30
Figura 8 - Estrutura dos compostos NAMI e NAMI-A. ............................................... 33
Figura 9 - Representao do desdobramento dos orbitais d do Ru(II) em campo
octadrico. ............................................................................................. 34
Figura 10 - Esquema de clula eletroqumica contendo 3 eletrodos: eletrodo de
referncia, eletrodo de trabalho e eletrodo auxiliar. ............................... 40
Figura 11 - Espectro vibracional do cyclen em pastiha KBr. ..................................... 56
Figura 12 - Espectro vibracional do DF em pastilha de KBr. ..................................... 57
Figura 13 - Espectro vibracional infravermelho do Na2DF em pastilha de KBr. ........ 57
Figura 14 - Espectro vibracional do cis-[Ru(DF)2(cyclen)] (sintetizado usando DF) em
KBr. ........................................................................................................ 59
Figura 15 - Espectro vibracional do cis-[RuDF(cyclen)] (sintetizado usando Na2DF)
em KBr. .................................................................................................. 60
Figura 16 - Espectro vibracional do cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]Cl2 (sintetizado a partir
do mtodo 1) em KBr. ............................................................................ 61
Figura 17 - Espectro vibracional do cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]Cl2 (sintetizado a partir
do mtodo 2) em KBr. ............................................................................ 62
Figura 18 - Espectro vibracional do cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)](PF6)2 (sintetizado a
partir do cis-[RuCl2(dmso)4]) em KBr (a) e em filme de acetona numa
janela de fluoreto de clcio (b). .............................................................. 64
Figura 19 - Espectro vibracional do cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)]Cl2 (sintetizado a partir
do cis-[RuCl (cyclen)(dmso)]Cl) em KBr. ............................................... 65
Figura 20 - Espectro eletrnico do ligante DF em acetonitrila (C=5,0x10-5mol.L--1). . 67
Figura 21 - Espectro eletrnico do sal Na2DF em acetonitrila (C=5,0x10-5 mol.L-1). . 68
-
Figura 22 - Espectro eletrnico do complexo cis-[Ru(DF)2(cyclen)] em acetonitrila
(C=5,0x10-5 mol.L-1). .............................................................................. 69
Figura 23 - Espectro eletrnico do complexo cis-[Ru(DF)(cyclen)] em acetona
(1,0x10-3 mol.L-1), metanol (1,0x10-3 mol.L-1), e acetonitrila
(1,0x10-3 mol.L-1). ................................................................................... 69
Figura 24 - Espectro eletrnico do cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]Cl2 (sintetizado a partir
do mtodo 1) em HCl (C=1,0 mol.L-1). ................................................... 70
Figura 25 - Espectro eletrnico do cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]Cl2 (sintetizado a partir
do mtodo 2) em HCl (C=1,0 mol.L-1) .................................................... 71
Figura 26 - Espectro eletrnico do cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)](PF6)2 em HCl
(C=0,1 mol.L-1). ...................................................................................... 72
Figura 27 - VPD do ligante DF (C = 2,40 x 10-3 mol.L-1) em uma mistura de
acetonitrila com soluo tampo acetato pH 4,4 (0,1 mol.L-1) como
eletrlito suporte. Faixa de varredura de 600 a 1200 mV vs Ag/AgCl.
V = 50 mV.s-1. ........................................................................................ 73
Figura 28 - VPD do cis-[Ru(DF)(cyclen)] (C = 2,60 x 10-3 mol.L-1) em uma mistura de
acetonitrila e soluo HCl/KCl pH 1,0 (0,1 mol.L-1) como eletrlito
suporte. Faixa de varredura de -750 a 1200 mV vs Ag/AgCl.
V = 50 mV.s-1. ........................................................................................ 75
Figura 29 - VDP do complexo cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]Cl2 (C = 2,40 x 10-3 mol.L-1),
usando soluo de HCl/KCl pH 1,0 (0,1 mol.L-1) como eletrlito suporte.
Faixa de varredura de 800 a -800 mV vs Ag/AgCl. V = 50 mV.s-1. ........ 76
Figura 30 - VDP do complexo cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)](PF6)2 (C = 10-3 mol.L-1),
usando soluo de CF3COOH/CF3COONal pH 1,0 (0,1 mol.L-1) como
eletrlito suporte. Faixa de varredura de 600 a - 600 mV vs Ag/AgCl.
V =100 mV.s-1. ....................................................................................... 77
Figura 31 - Voltamograma de pulso diferencial com varredura catdica do cis-
[Ru(NO+)(NO2)(cyclen)]+ a 1 x 10-3 mol.L-1 em CF3COOH/CF3COONa
0,1 mol.L-1. a:inicial , b: aps 5 min. de eletrlise, c: 10 min.
d: eletrlise exaustiva ............................................................................ 78
Figura 32 - Espectro RMN 1H do cis-[Ru(DF)2(cyclen)] em acetona-d6. .................... 81
Figura 33- Espectro de RMN 1H do cis-[Ru(DF)2(cyclen)] em acetona-d6 (ampliado
na regio do DF). ................................................................................... 82
-
Figura 34 - Espectro RMN 1H do cis-[RuDF)2(cyclen)] em acetona (ampliado na
regio do cyclen). ................................................................................... 83
Figura 35 - Parte do espectro RMN 13C do complexo cis-[Ru(DF)2(cyclen)] em
acetona (regio do DF). ......................................................................... 84
Figura 36 - Estrutura em linhas proposta para cis-[Ru(DF)2(cyclen)]. ....................... 85
Figura 37 - Estrutura em 3D proposta para cis-[Ru(DF)2(cyclen)]. ............................ 86
Figura 38 - Representao da estrutura em linhas proposta para o cis-
[Ru(DF)(cyclen)]. .................................................................................... 88
Figura 39 - Representao da estrutura 3D proposta para o
cis-[Ru(DF)(cyclen)]. .............................................................................. 89
Figura 40 - Espectro RMN de 1H do cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)](PF6)2 em D2O ........ 90
Figura 41 - Espectro RMN de 13C do cis-[Ru(NO)(NO2)](PF6)2 em D2O ................... 91
Figura 42 - RMN 1H bidimensional do cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)](PF6)2 em D2O ..... 92
Figura 43 - Representao da estrutura em linhas proposta para o
cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)](PF6)2. ........................................................... 93
Figura 44 - Representao da estrutura em 3D proposta para o
cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)](PF6)2. ........................................................... 93
Figura 45 - Representao de estrutura em linhas proposta para o cis-
[Ru(NO)(DF)(cyclen)]Cl2 . ...................................................................... 95
Figura 46 - Representao de estrutura em 3D proposta para o cis-
[Ru(NO)(DF)(cyclen)]Cl2 . ...................................................................... 95
Figura 47 - a) Alterao espectral para a reao de aquao do cloreto (reao
direta representada pela equao 30) no complexo cis-[RuCl2(cyclen)]+
(4x10-4 mol.L-1), em uma soluo de CF3COOH/CF3COONa (pH = 1,0;
=0,1 mol.L-1 e T = 25 C). b) Inserido: curva cintica para 300 nm em
intervalos de tempo de 20 s. .................................................................. 97
Figura 48 - a) Alterao espectral para a reao de entrada de cloreto no complexo
cis-[RuCl(OH2)(cyclen)]2+ (2,5x10-4 mol.L-1), em uma soluo de NaCl
(6x10-2 mol.L-1) e CF3COOH/CF3COONa (pH = 1,0; =0,1 mol.L-1 e
T = 25 C). b) Inserido: curva cintica para 360 nm em intervalos de
10 s. ....................................................................................................... 99
Figura 49 - a) Alterao espectral para a reao de aquao do cloreto (reao
direta representada pela equao 31) no complexo
cis-[RuCl(OH)(cyclen)]+ (1,3x10-4 mol.L-1), em uma soluo de tampo
-
acetato (pH = 6; =0,1 mol.L-1 e T = 25 C). b) Inserido: curva cintica
para 360 nm em intervalos de tempo de 10 s. ..................................... 101
Figura 50 - Grfico de max.X pH para determinao do pKa2 do
cis-[Ru(OH2)2(cyclen)]3+. ...................................................................... 105
-
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Propriedades fsicas do xido ntrico. ....................................................... 24
Tabela 2 - Energia vibracional na regio do infravermelho e comprimento de ligao
das espcie NO+, NO0 e NO-. ................................................................ 27
Tabela 3 - Lista dos reagentes com suas respectivas procedncia. ......................... 38
Tabela 4 - Atribuio das bandas na regio do infravermelho para os ligantes. ....... 58
Tabela 5 - Atribuio das bandas na regio do infravermelho para complexos apenas
com DF. ................................................................................................. 60
Tabela 6 - Atribuio das bandas na regio do infravermelho para os nitrosilo
complexos de Ru com DF sintetizados. ................................................. 62
Tabela 7 - Atribuio das bandas na regio do infravermelho para os nitrosilo
complexos de Ru com NO2-sintetizados. ............................................... 65
Tabela 8 - Dados dos espectros eletrnicos do DF e Na2DF. ................................... 68
Tabela 9 - Dados dos espectros eletrnicos dos compostos
cis-[Ru(DF)2(cyclen)] e cis-[Ru(DF)(cyclen)]. ......................................... 70
Tabela 10 - Dados dos espectros eletrnicos dos Nitrosilo complexos de Ru com DF.
............................................................................................................... 71
Tabela 11 - Dados dos espectros eletrnicos dos nitrosilo complexos de Ru com
NO2-. ...................................................................................................... 72
Tabela 12 - Dados de RMN de 1H, atribuies e multiplicidades associados aos
sinais para o cis-[Ru(DF)2(cyclen)], na regio do DF. ............................ 87
Tabela 13 - Dados cinticos obtidos para a reao descrita na equao 30. ........... 98
Tabela 14 - Dados cinticos obtidos para a reao inversa descrita na equao 30.
[cis-[RuCl(OH2)(cyclen)]+ ] = 4x10-4mol.L-1. ............................................ 99
Tabela 15 - Constantes velocidade de pseudo-primeira ordem para equao do
cloreto em complexos [RuCl(L)(mac)]n+ (L = Cl-, H2O, OH-) e espcies
correlatas a 25 oC. ............................................................................... 103
Tabela 16 - pKa dos aqua-complexos de cyclam, cyclen e espcies correlatas. .... 106
-
ABREVIATURAS E SIGLAS
Smbolo Significado
AINES Antiinflamatrios no esteroidais
COX Ciclo-oxigenasse
Cyclam 1,4,8,11-tetraazaciclotetradecano
Cyclen 1,4,7,10-tetrazaciclododecano
Diflunisal (DF) cido 5-(2,4-difluorofenil)-2-hidroxi-benzico
DMSO Dimetilsulfxido
DNA cido desoxirribonucleico
D2O xido de deutrio
E Energia
HCl cido clordrico
EDTA cido etilenodiamino tetra-actico
HgCl2 Cloreto de mercrio (II)
HPF6 cido hexafluorfosfrico
IL Transferncia interna do ligante
Im Imidazol
In-mac Imina (C=N) do macrociclo
IV Infravermelho
KBr Brometo de potssio
KCl Cloreto de potssio
kobs Constante de velocidade observada
M Centro metlico
Mac Macrociclo
Me Grupo metila
NaAc Acetato de sdio
Na2SO4 Sulfato de sdio
NaNO2 Nitrito de sdio
NO xido ntrico
NO+ on nitrosnio
NO- Nitroxila
NO-2 on nitrito
O2 Oxignio molecular
-
RMN Ressonncia Magntica Nuclear
PF6- on hexafluorfosfato
TBANO2 Nitrito de tetrabutilamnio
TBAPF6 Hexafluorfosfato de Tetrabutilamnio
TCC Teoria do campo cristalino
TCLM Transferncia de carga ligante-metal
TCML Transferncia de carga metalligante
UV-vis Ultravioleta visvel
V Velocidade de varredura
VPD Voltamograma de pulso diferencial
Deslocamento qumico
Estiramento da ligao
Coeficiente de absortividade molar
Comprimento de onda
Fora inica
-
LISTA DE ESTRUTURAS
DMSO
Diflunisal
Cyclen
-
SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................... 20
2 REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................................... 22
2.1 IMPORTNCIA BIOLGICA DO XIDO NTRICO......................................... 22
2.1.1 Propriedades fsico-qumicas do xido ntrico ................................................ 24
2.2 ANTIINFLAMATRIAS NO ESTEROIDAIS (AINES).................................... 28
1.2.1 Diflunisal como um potencial anti-inflamatrio. ............................................... 29
2.3 A VERSATILIDADE DOS LIGANTES TETRAAZAMACROCCLICOS ............ 30
2.4 COMPLEXOS DE RUTNIO .......................................................................... 32
2.4.1 Funes biolgicas dos nitrosilo complexos de rutnio .................................. 34
3 OBJETIVOS ................................................................................................... 37
4 MATERIAS E MTODOS ............................................................................... 38
4.1 MATERIAIS .................................................................................................... 38
4.1.1 Substncias: procedncia e pureza ................................................................ 38
4.1.2 Equipamentos e tcnicas experimentais......................................................... 39
4.1.3 Tratamento de solventes e preparao de amlgama .................................... 41
4.2 PROCEDIMENTO SINTTICO DOS COMPLEXOS ....................................... 42
4.2.1 Sntese do complexo cis-[RuCl2(dmso)4] ........................................................ 42
4.2.2 Sntese do complexo cis-[RuCl2(cyclen)]Cl ..................................................... 43
4.2.3 Sntese do cis-[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl ........................................................... 43
4.2.4 Sntese do Na2DF ........................................................................................... 43
4.2.5 Sntese do complexo cis-[Ru(DF)2(cyclen)] a partir do cis-[RuCl2(cyclen)]Cl
..................................................................................................................44
4.2.6 Sntese do complexo cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]Cl2 ......................................... 44
4.2.7 Sntese do cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)](PF6)2 a partir do cis-[RuCl2(dmso)4] ... 45
4.2.8 Sntese do cis-[Ru(DF)(cyclen)] a partir do cis-[RuCl2(dmso)4] ....................... 46
4.2.9 Sntese do cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)]Cl2 a parir do cis-[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl
46
5 RESULTADOS E DISCUSSES ................................................................... 48
5.1 SNTESES ...................................................................................................... 48
-
5.1.1 cis-[RuCl2(dmso)4] .......................................................................................... 48
5.1.2 cis-[RuCl2(cyclen)]Cl ....................................................................................... 49
5.1.3 cis-[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl ............................................................................. 50
5.1.4 cis-[Ru(DF)2(cyclen)] ....................................................................................... 50
5.1.5 cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)] ................................................................................ 52
5.1.6 cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)]2+ ............................................................................ 54
5.2 CARACTERIZAO ....................................................................................... 55
5.2.1 Caracterizao por espectroscopia vibracional .............................................. 55
5.2.1.1 Ligantes ...................................................................................................... 56
5.2.1.2 Complexos inditos sintetizados ................................................................ 59
5.2.2 Caracterizao por espectroscopia eletrnica ................................................ 66
5.2.2.1 Ligantes ...................................................................................................... 67
4.2.2.2 Complexos inditos sintetizados.................................................................70
5.2.3 Caracterizao por voltametria de pulso diferencial ....................................... 72
5.2.3.1 Ligantes ...................................................................................................... 73
5.2.3.2 Complexos inditos sintetizados ................................................................ 74
5.2.4 Caracterizao por Ressonncia Magntica Nuclear de 1H e 13C .................. 79
5.2.4.1 Complexos inditos sintetizados ................................................................ 80
5.3 REATIVIDADE QUMICA ................................................................................ 96
6 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................... 107
7 PERSPECTIVAS .......................................................................................... 108
REFERNCIAS........................................................................................................109
-
20
1 INTRODUO
A importncia da Qumica Inorgnica na medicina tem sido cada vez mais
notria. O crescente desenvolvimento de pesquisas cientficas de carter
interdisciplinar, com foco nas reas qumica e biolgica, que propem o emprego de
metais como agentes teraputicos ratificam essa afirmativa.
A descoberta das propriedades citotxicas da cisplatina (cis-
diaminodicloroplatina(II)) em 1965, motivou a descoberta e aplicao de novos
complexos metlicos na terapia do cncer e no uso clnico em geral (TRUDU et al.,
2015). Em contrapartida, a ocorrncia de reaes adversas relacionadas ao uso da
cisplatina e outros compostos inorgnicos restringem as suas aplicaes
teraputicas. Por isso, nos ltimos 15 anos, um grande esforo tem sido dedicado ao
desenvolvimento de drogas que superem a atividade e o espectro de ao e,
principalmente, reduzam a toxicidade frente aos compostos j existentes. Assim,
complexos de metais menos txicos, como rutnio, ouro e cobre, so apontados
como promissores (TRUDU et al., 2015). Ainda, alguns grupos de pesquisa (TFOUNI
et al., 2012) sugerem a associao de complexos metlicos com xido ntrico,
espcie atraente por apresentar pluralidade de funes biolgicas. Na figura 1
podem ser vistas as estruturas de alguns complexos metlicos usados na clnica.
Figura 1 - Complexos metlicos de uso clnico.
Fonte: ZHANG e LIPPARD, 2003.
-
21
O xido ntrico (NO) desempenha diversas funes fisiolgicas in vivo, tais
como: neurotransmisso, controle da presso arterial, citotoxidade de macrfagos,
alm de estar envolvido em processos antiinflamatrios e no sistema imunolgico na
destruio de clulas tumorais e parasitrias.
Dadas as importncias biolgica do xido ntrico e do rutnio, foi proposto, neste
trabalho, a sntese de nitrosilo complexos de rutnio, visando a obteno de
compostos capazes de liberar (ou capturar) NO in vivo, de forma controlada, quando
submetidos estmulo fotoqumico ou eletroqumico.
Os ligantes macrocclicos, como o cyclen, so importantes na associao
com compostos de coordenao, uma vez que sua inrcia promove diferentes
propriedades aos complexos, facilitando o estudo destes e viabilizando a produo
de novos metalo-frmacos (Tfouni et al.; 2005).
Tambm foi empregado como ligante na sntese de alguns complexos neste
trabalho, o diflunisal, derivado sinttico do cido saliclico, pertencente classe dos
antiinflamatrios no esteroides. O diflunisal conhecido pelo seu potente efeito
antiinflamatrio e sua baixa toxicidade frente outros frmacos desta classe, tanto
na forma livre como coordenado a centros metlicos.
-
22
2 REVISO BIBLIOGRFICA
Considerando a relevncia biolgica do xido ntrico (NO) e o destaque que
essa substncia recebeu neste trabalho, faz-se necessrio explanar, com detalhes,
as caractersticas atrativas do NO, que motivaram seu emprego como ligante nos
compostos inditos sintetizados, apresentados neste trabalho.
2.1 IMPORTNCIA BIOLGICA DO XIDO NTRICO
Durante muito tempo o xido ntrico (NO) teve sua qumica associada
essencialmente a problemas ambientais (DUSSE, et al., 2003). Isto se deve ao fato
dessa molcula ser um dos principais constituintes dos resduos lanados na
atmosfera atravs da queima de combustveis fsseis, contribuindo para a
destruio da camada de oznio e intensificando fenmenos ambientais como a
chuva cida (MARMION et al., 2004).
O interesse pelas atividades biolgicas do NO tiveram incio a partir de 1980
com os estudos de Furchgott e Zawadzki. Foi possvel comprovar que alguns
vasodilatadores, como a acetilcolina, liberam uma substncia que est envolvida no
relaxamento endotlio dependente. Cerca de sete anos depois, estudos mais
detalhados demonstraram que esta substncia era o xido ntrico (FURCHGOTT E
ZAWADZKI, 1980). Desde ento se tornou evidente a importncia dessa molcula
para os organismos vivos e, o xido ntrico passou a despertar interesses
tecnolgico e biolgico. Em 1992 o NO foi chamado de ''molcula do ano'' (JAMES,
1995).
A biossntese do xido ntrico ocorre no sistema nervoso central atravs da
converso do aminocido L-arginina no aminocido L-citrulina e NO. O processo
inclui a oxidao de cinco eltrons e a formao do intermedirio NG-Hidroxi-L-
arginina. O mecanismo dessa converso, catalisada pela enzima xido ntrico
sintetase (NOS), est descrito a seguir.
-
23
Figura 2 - Representao esquemtica da biossntese do xido ntrico.
Fonte: FELDMAN,1993.
O xido ntrico participa ativamente de numerosos processos fisiolgicos. Em
1988, verificou-se que o NO pode funcionar como um neurotransmissor. A sua
funo exata no crebro desconhecida, mas acredita-se que o NO est envolvido
nos processos de aprendizado e memorizao (FRICKER, 1995). Atualmente se
sabe que o xido ntrico tambm desempenha papel fundamental na coagulao do
sangue, controle da presso arterial e citotoxicidade de macrfagos, em processos
antiinflamatrios e no sistema imunolgico destruindo clulas tumorais e parasitas
intracelulares. Recentemente, tambm foi verificada a atuao do NO como
antioxidante endgeno, devido sua elevada reatividade com outros radicais
(IGNARRO, 2000; FELDMAN, 1993; WINK E MITCHELL, 1998).
Em contrapartida, a concentrao excessiva de xido ntrico txica para o
corpo, e pode trazer complicaes no caso de doenas como diabetes, artrite,
inflamao, epilepsia e choque sptico (FRICKER, 1995). Numa situao de choque
sptico, por exemplo, a alta concentrao de NO promove indesejvel efeito
vasodilatador nas paredes dos vasos, permitindo a passagem de fluidos vitais para
os tecidos, ocasionando inchao e queda de presso sangunea e, desenvolvendo
considervel risco de morte. (ORIANI E SAUAIA, 2004). Por isso, cientistas tm se
empenhado na elucidao de novos compostos que sejam capazes de
liberar/capturar NO de forma controlada diretamente no local afetado (TFOUNI et al.,
2003).
-
24
Sabendo-se das caractersticas antagnicas do NO nos sistemas biolgicos,
se faz necessrio conhecer as propriedades fsico-qumicas do mesmo, para uma
melhor compreenso acerca da sua ao no organismo.
2.1.1 Propriedades fsico-qumicas do xido ntrico
O xido ntrico (NO) uma substncia inorgnica, que nas condies normais
de temperatura e presso (CNTP) apresenta-se na forma de um gs incolor e
termodinamicamente instvel frente a gases como N2 e O2. Apresenta solubilidade
em gua moderada (aproximadamente 2 mmol.L-1 a 25 0C) (IGNARRO,2000) e
maior solubilidade em solventes pouco polares, como o n-hexano (0,13 mol.L-1 a 25
0C) (QUEIROZ E BATISTA, 1999). Explicando-se, assim, sua tendncia em
estabelecer-se preferencialmente em meio fisiolgico lipoflico, como membranas e
domnios hidrofbicos de protenas, dispensando o uso de transportadores. A
constante de difusibilidade (D) em gua varia de 2 a 4.10-5 cm2s-1 e, sob condies
fisiolgicas, D calculado em 3,3.10-5 cm2s-1 (ORIANI e SAUAIA, 2004; QUEIROZ E
BATISTA, 1999). Esses dados revelam que o xido ntrico percorre grandes
distncias em curto intervalo de tempo a partir da clula que o produz, antes da sua
inativao. Destacando a sua funo como mensageiro biolgico.
A tabela abaixo ilustra outras importantes propriedades fsicas do xido
ntrico.
Tabela 1 - Propriedades fsicas do xido ntrico.
Ponto de fuso -163,6 C
Ponto de ebulio -151,8 C
Entalpia padro de formao 90,2 kJ/mol
Comprimento de ligao 115 pm
Fonte: QUEIROZ e BATISTA, 1999.
A molcula de NO apresenta configurao eletrnica (2s)2 (2s*)2 (2pz)2
(2p)4 (2p*)1, com 11 eltrons distribudos por seus orbitais moleculares, sendo um
eltron desemparelhado descrito por um orbital pi antiligante (*), conforme
representado na Figura 3. Isso permite sua classificao como substncia
paramagntica (radicalar), conferindo ao NO curto tempo de vida (meia-vida de 5 a
-
25
10 s in vitro) e, por consequncia, elevada reatividade frente a outras espcies
qumicas (IGNARRO, 2000). Sua ordem de ligao correspondente a 2,5.
Figura 3 - Diagrama de orbitais moleculares do xido ntrico (adaptado).
Fonte: IGNARRO, 2000.
Analisando o diagrama de orbital molecular do NO, figura 3, observa-se que
esta molcula apresenta um par de eltrons no orbital z. Sendo assim, o xido
ntrico tem a possibilidade de atuar como -doador frente a metais de transio. A
estabilidade dessa ligao depende da doao de densidade eletrnica dos orbitais
do tipo sigma () da molcula de NO para os orbitais d vazios do metal, que
possuem simetria e energia adequadas para tal. Assim, o xido ntrico atua como
uma base de Lewis e o metal como um cido de Lewis. Alm disso, como o NO
tambm apresenta orbitais * semi-preenchidos, a depender da natureza do on
metlico em questo, alm da ligao sigma, tambm pode haver doao de
densidade eletrnica dos orbitais d de simetria do metal para o orbital * do NO
(d(M) *(NO)), ver Figura 4. Essa retro-doao ser mais efetiva e, portanto a
ligao M-NO ser mais forte, quando o metal se tratar de um cido de Lewis
relativamente mole, de baixo estado de oxidao. De acordo cm os conceitos de
Pearson sobre moleza e dureza de cidos e bases, um cido de Lewis
considerado duro frente a outro cido de Lewis, quando possui maior
polarizabilidade, ou seja, maior tendncia em distorcer a nuvem eletrnica de uma
base de Lewis, enquanto que um cido mole exibe menor tendncia em distorcer a
nuvem eletrnica da base. De forma anloga, uma base de Lewis considerada
-
26
dura frente outra base (de caracterstica mole) se possui menor tendncia em
deixar sua nuvem eletrnica ser distorcida por um cido de Lewis.
Figura 4 - Esquema dos orbitais moleculares envolvidos na ligao M-NO (M=metal).
Fonte: MARCHESI, 2008.
Outra propriedade interessante do xido ntrico sua diversidade de espcies
derivadas, fator que contribui para a riqueza da bioqumica dessa molcula. A perda
do eltron no emparelhado no orbital * resulta na formao do on nitrosnio
(NO+), enquanto que a adio de um eltron em um destes orbitais resulta no nion
nitroxila (NO-).
A presena de eltron nos orbitais * das espcies NO0 e NO- faz com que os
eltrons provenientes de outra espcie sejam mais fortemente repelidos do que no
caso do NO+, cujos orbitais * encontram-se vazios. Portanto, a reduo de NO0
menos favorecida que a reduo de NO+, o que ratificado pelos valores de
potenciais de reduo de NO+ e NO0 em meio aquoso (ver semi-equaes a seguir).
NO+ + e- NO0 E0= +1,20 V Semi-equao 1 (FORD e LORKOVIC, 2002)
NO0 + e NO- E0= -0,80 V Semi-equao 2 (FORD e LORKOVIC, 2002)
Assim como o NO, as espcies NO+ e NO- tambm podem se coordenar a
metais de transio, doando par de eltrons (base de Lewis) e recebendo densidade
eletrnica, formando os nitrosilo complexos. A caracterizao de nitrosilo complexos,
por sua vez, pode ser feita atravs da tcnica de espectroscopia na regio do
infravermelho, onde identificada a banda de estiramento do NO ou de suas
espcies derivadas. Assim, a retro-doao contribui para o enfraquecimento da N-O,
na espcie coordenada, refletindo em menores nmeros de onda associados ao
estiramento do NO, quando comparado aos nmeros de onda para a espcie livre
(ver Tabela 2).
-
27
Tabela 2 - Energia vibracional na regio do infravermelho e comprimento de ligao
das espcie NO+, NO
0 e NO
-, para NO livre e coordena.
Espcie NO+ NO0 NO-
(NO)(cm-1)-Livre 2377 1875 1470
Distncia N-O()-Livre
1,06 1,15 1,26
(NO)(cm-1)-Coordenado
1800-1900 1600-1700 1300-1444
Fonte: FORD e LORKOVIC, 2002.
A coordenao entre o metal (M) e a molcula de NO pode se dar via o tomo
de nitrognio ou via o tomo de oxignio, originando as formas nitrosil-N (M-NO) e
nitrosil-O (M-ON), respectivamente (FUKUTO et al., 2000). A primeira a forma mais
comum, enquanto que a forma isonitrosil ocorre apenas quando a ligao
estabelecida com metais do bloco s, como Li e Na (RITCHER-ADDO e LEGZDINS,
1992). Isto se deve a questes energticas, pois, sendo o oxignio mais
eletronegativo que o nitrognio, o mesmo atrai mais os eltrons da ligao N-O, de
forma que o complexo de formulao M-ON ser mais estabilizado quando M for do
grupo 1 frente a um M de transio do mesmo perodo, devido a forma dos orbitais s
e p propiciarem menor repulso eletrnica que os orbitais d. O NO coordenado pode
adotar geometria linear ou angular em relao ao centro metlico, como pode ser
visto na figura 5. A geometria linear predomina quando o comprimento da ligao M-
NO curto (1,60-1,75 ) e a frequncia de estiramento do NO no infravermelho
alta (1650-1985 cm-1). Enquanto que a geometria angular apresenta comprimentos
da ligao M-NO maiores (1,80-1,95 ) e baixa frequncia de estiramento do NO no
infravermelho (1525-1590 cm-1).
Figura 5 - Modos de coordenao do NO ao centro metlico.
Fonte: RITCHER-ADDO e LEGZDINS, 1992.
Sabendo-se que o xido ntrico liga-se facilmente a determinados metais de
transio, alguns complexos metlicos vm sendo examinados como possveis
-
28
aprisionadores de NO e observou-se que complexos de rutnio apresentam-se como
potencial e eficiente doador de NO em sistemas biolgicos (RITCHER-ADDO e
LEGZDINS, 1992).
2.2 ANTIINFLAMATRIAS NO ESTEROIDAIS (AINES)
De acordo com MONTEIRO (2008), os antiinflamatrios no esteroides so
um grupo heterogneo de compostos, que possuem um ou mais anis aromticos
ligados a um grupamento cido funcional. So cidos orgnicos fracos que atuam
principalmente nos tecidos inflamados, se ligando primordialmente albumina
plasmtica.
As classes qumicas dos AINEs compreendem salicilatos e derivados, cidos
fenilalcanicos, cidos antranlicos, oxicams, sulfonamidas e furanonas (TSILIKI et
al., 2013).
O principal mecanismo de ao dos AINEs consiste na inibio especfica da
ciclooxigenase (COX) e consequente reduo da converso do cido araquidnico
em prostaglandinas (MONTEIRO et al., 2002).
Os antiinflamatrios no esteroides apresentam amplo espectro de indicaes
teraputicas, como analgesia, antiinflamao, antipirese e profilaxia contra doenas
cardiovasculares (KUMMER e COELHO, 2008).
Os AINEs tambm tem demonstrado atividade anti-tumoral atravs da
reduo do nmero e tamanho de alguns tipos de tumores, incluindo: clon, mama,
prstata, leucemia mielide humana e estmago. Podem ainda apresentar
comportamento sinrgico com outros frmacos anti-tumorais, como alguns
complexos metlicos. O mecanismo atravs do qual os AINES e seus complexos
exibem essas propriedades ainda no esto claramente elucidados (FOUNTOULAKI
et al., 2011; TOLIA et al., 2013).
Neste trabalho empregou-se o antiinflamatrio no esteroide diflunisal como
um dos ligantes dos complexos sintetizados. Alm do mesmo apresentar-se como
um potente anti-inflamatrio, autores relatam menor toxicidade associada a este
medicamento (SAYIN e KIR, 2001).
-
29
1.2.1 Diflunisal como um potencial anti-inflamatrio.
O Diflunisal, cido 5-(2,4-difluorofenil)-2-hidroxi-benzico (vide estrutura na
figura 6), um anlogo sinttico do cido saliclico, pertence classe dos
antiinflamatrios no esteroides e utilizado no trato da inflamao e dor (SAYIN e
KIR, 2001).
Figura 6 - Frmula estrutural do Diflunisal.
Algumas caractersticas atrativas do Diflunisal, do ponto de vista
farmacolgico, que o mesmo mais potente e possui menor toxicidade frente a
outros frmacos desta classe, como aspirina, indometacina e ibuprofeno (SAYIN e
KIR, 2001). Outra atribuio importante a esse frmaco est relacionada a uma
meia-vida relativamente longa, o que refora ainda mais a sua aplicao clnica e o
custo-eficcia (FOUNTOULAKI et al., 2011).
Alguns complexos com diflunisal tm sido estudados e empregados na
medicina. Um relato encontrado na literatura acerca de complexos com diflunisal foi
feito por Fountoulaki et al. (2011). As snteses realizadas por esses pesquisadores
consistiram na utilizao do cobre(II) como centro metlico e do diflunisal como
ligante, na presena de dimetilformamida, piridina, 1,10-fenantrolina, 2,2 '-bipiridina
ou 2,2 '-bipiridilamina. Esses estudos apontaram uma preferncia do diflunisal em se
ligar protena albumina, humana ou bovina, quando o mesmo encontra-se
coordenado ao Cu(II). De acordo com as anlises espectroscpicas e eletroqumicas
realizadas, o ligante diflunisal desprotonado se coordena ao Cu(II) atravs do
oxignio do on carboxilato.
-
30
No foram encontrados relatos na literatura que evidenciassem estudos de
compostos de rutnio com diflunisal. Dessa forma, foi proposto, no presente trabalho
de mestrado, a associao de complexos de rutnio com o AINE diflunisal, visto que
ambos desempenham importantes papis fisiolgicos, podendo conferir ao
composto final propriedades antiinflamatrias e outras atividades biolgicas.
2.3 A VERSATILIDADE DOS LIGANTES TETRAAZAMACROCCLICOS
Define-se ligantes macrocclicos como compostos de estrutura cclica, cujo
anel possui nove ou mais membros, incluindo todos os heterotomos, e com trs ou
mais tomos doadores (CHE et al.,1985). Na figura 7 pode-se observar estruturas de
alguns ligantes macrocclicos.
O interesse nos ligantes macrocclicos se deve presena desses ligantes
nas estruturas de um grande nmero de complexos de importncia biolgica,
participando de atividades como transporte de oxignio e catlise enzimtica
(CHRISTIEN et al., 1974).
Figura 7 - Estrutura de ligantes macrocclicos.
Fonte: WALKER e TAUBER, 1981.
-
31
Inicialmente, a sntese dos ligantes macrocclicos era limitada devido a
dificuldades na ciclizao e purificao de compostos com anis grandes. Mais
tarde, tornou-se possvel obter esses ligantes via sntese template, onde os
mesmos eram sintetizados pela coordenao a ons metlicos (OLIVEIRA et al.,
2007).
Dentre as muitas classes dos macrociclos, os ligantes tetraazamacroccliclos
no heme, como cyclam, cyclen e compostos correlatos, tem sido estudados como
carregadores de ons metlicos em aplicaes biolgicas. Esses ligantes podem
formar complexos com muitos metais de transio, porm, nas ltimas dcadas, os
estudos tem se concentrado em complexos de Ru, Fe, Cr, Ni, Cu, Zn, Rh e Co
(TFOUNI, 2005 e DORO et al., 2008). Ligantes tetraazamacrocclicos, quando
coordenados a centros metlicos, conferem espcie formada caractersticas
especficas, distintas de sistemas anlogos de cadeia aberta, tais como (TFOUNI,
2005 e OLIVEIRA et al, 2007):
a) elevada estabilidade termodinmica e cintica, promovendo inrcia na
substituio dos ligantes;
b) maior intensidade de banda de transio de campo ligante;
c) elevada constante de formao desses complexos;
d) estabilizao de estados de oxidao no usuais para os ons metlicos
(CHE e POON, 1988).
Essas caractersticas podem ser relacionadas com propriedades estruturais
dos ligantes, como: rigidez do ciclo, tamanho do anel do macrociclo, presena de
insaturaes no macrociclo e existncia de substituintes ligados aos tomos
doadores (WALKER e TAUBE, 1981). O tamanho do metal tambm pode influenciar
nessas caractersticas (DILIP et al., 2012).
Os complexos tetraazamacrocclicos frequentemente adotam configurao ou
trans (como os de 1,4,8,12- tetraazaciclopentadecano) ou cis (como os de
cyclen(1,4,7,10- tetraazaciclododecano)), embora os complexos de cyclam (1,4,8,11-
tetraazaciclotetradecano) existam em ambas configuraes (FERREIRA et al., 2002;
TFOUNI et al., 2005; WALKER e TAUBE, 1981).
O rutnio, em particular, forma uma variedade de complexos com
tetraazamacrociclos, principalmente nos estados de oxidao +2 e +3. Porm,
exemplos de complexos de Ru(IV) e Ru(V) tambm tm sido relatados (CHE et al.,
-
32
1985). O interesse em complexos desse tipo se deve, principalmente, grande
estabilidade que o ligante macrociclo confere a esses ons metlicos. Nesse mbito,
diversos complexos de rutnio do tipo trans-[Ru(L)(L)(mac)]n+ ou cis-
[Ru(L)(L)(mac)]n+, onde mac=tetraazamacrociclo e L e L so Cl-, Br-, I-, CN-, SCN-,
NO, OH-, H2O, tm sido sintetizados (TFOUNI et al., 2005).
Os nitrosilo complexos de rutnio com ligantes tetraazamacrocclicos tm
recebido considervel ateno devido aos efeitos do NO em sistemas biolgicos,
aliado possibilidade desses complexos atuarem como potenciais doadores de NO
(TFOUNI et al., 2005). Alguns estudos permitiram constatar que nitrosilo complexos
de rutnio com cyclam liberam NO quando reduzidos qumica ou eletroquimicamente
ou quando irradiados com luz (OLIVEIRA et al., 2007; TFOUNI et al., 2005;
OLIVEIRA et al., 2004), a exemplo do complexo trans-[Ru(NO)Cl(cyclam)]2+ cuja
velocidade de liberao de NO, aps reduo do complexo, menor que para
complexos anlogos do tipo trans-[Ru(NO)(NH3)4(L)]n+ (L=bases heterocclicas
nitrogenadas), o que pode viabilizar o uso deste complexo como um potencial
doador controlado de NO (TFOUNI et al., 2003).
2.4 COMPLEXOS DE RUTNIO
Metalo-drogas baseadas em complexos de rutnio tm recebido considervel
ateno, no apenas pelas inmeras aplicaes mdicas, mas, sobretudo devido
baixa toxicidade associada a esses compostos (TFOUNI et al., 2012).
As atividades biolgicas de complexos de rutnio foram primeiramente
reportadas em 1950 com a descoberta de alguns compostos, como o agente
anticancergeno fac-[RuII(NH3)3Cl3] (TFOUNI et al.; 2012). Exemplos mais recentes
so os complexos NAMI (trans-[RuIII(dmso)(Im)Cl4]Na) e o seu derivado NAMI-A
(trans- [RuIII(dmso)(Im)Cl4]ImH), primeiras drogas anti-cncer de rutnio a entrar em
testes clnicos (HEINRICH et al., 2011 e ZHANG e LIPPARD, 2003). Alm do seu
potencial anticancergeno, os complexos de rutnio podem ser aplicados como
imunossupressores, antibiticos, antifngicos e agentes anti-HIV (de LIMA, 2006).
-
33
Figura 8 - Estrutura dos compostos NAMI e NAMI-A.
Fonte: ZHANG e LIPPARD, 2003.
A baixa toxicidade do rutnio est associada, possivelmente, capacidade
desse metal de imitar o ferro, ligando-se a vrias biomolculas como albumina e
transferrina (protenas que captam excesso de ferro no organismo) (TFOUNI et al.,
2012).
A toxicidade do metal tambm est relacionada com o seu estado de
oxidao. O tomo de rutnio pode assumir diversos estados de oxidao (II, III e
IV) em seus compostos, sendo a maioria deles acessveis em condies biolgicas
(TFOUNI et al., 2012).
Nos compostos de coordenao onde o rutnio o tomo central os estados
de oxidao mais comuns so II e III que, devido estabilizao do campo ligante,
so normalmente octadricos e frequentemente inertes substituio dos ligantes,
ou seja, no ocorre a labilizao de ligantes indesejados (FERREIRA, 2004).
No estado de oxidao III, o rutnio apresenta configurao d5, onde, sob
ao do campo octadrico, de acordo com a teoria do campo cristalino (TCC),
apresenta configurao t2g5 e, portanto spin baixo. J no estado de oxidao II,
apresenta configurao d6, sendo t2g6 considerando a TCC e, portanto spin baixo. A
existncia de um eltron a mais no Ru(II) quando comparado ao Ru(III), permite a
classificao do primeiro como um cido de Lewis mole, j que a relao carga/raio
do Ru(III) maior. Assim, o Ru(II) um on metlico sigma-doador, que liga-se
preferencialmente a bases moles de Lewis, que possuem orbitais -antiligantes
vazios de energia e simetria adequada para receberem densidade eletrnica (retro-
doao), aumentando a estabilidade termodinmica do complexo. Empregando os
-
34
conceitos de Pearson sobre moleza e dureza de cidos e bases, agora para Ru(III),
tem-se que o mesmo classificado como um cido de Lewis duro, bastante inerte
substituio de ligantes, -aceptor e que liga-se preferencialmente a bases de Lewis
duras (TFOUNI et al., 2012; PEARSON, 1963; BASOLO e JOHNSON, 1976).
Figura 9 - Representao do desdobramento dos orbitais d do Ru(II) em campo octadrico.
Outra importante caracterstica dos compostos de rutnio que suas
propriedades podem ser moduladas em funo do ligante empregado, conferindo ao
complexo, potencialidades mltiplas de aplicao. Ainda, o rutnio evidenciado
como o metal que mais forma complexos com xido ntrico (FERREIRA, 2004).
Nesse sentido, a presente dissertao foi direcionada ao estudo, sntese e
caracterizao de nitrosilo compostos de rutnio inditos, com ligantes adequados,
que alm de promoverem aplicaes diversas ao complexo, garantam a inexistncia
de reaes paralelas indesejadas, viabilizando seu emprego para uso clnico.
2.4.1 Funes biolgicas dos nitrosilo complexos de rutnio
Foi relatado que o xido ntrico tem sido evidenciado como uma molcula de
sinalizao importante numa grande variedade de processos fisiolgicos (ROSE e
MASCHARAK, 2008). Sabe-se ainda, que diversos estados patolgicos, como
problemas cardiovasculares e cerebrais, doenas inflamatrias e infecciosas, podem
-
35
estar relacionados com baixo ou alto nvel de xido ntrico no organismo (QUEIROZ
e BATISTA, 1999). Por isso, muitas pesquisas tm sido direcionadas para o
desenvolvimento de complexos metlicos capazes de gerar ou capturar NO em meio
biolgico, incluindo os de rutnio, que so menos txicos e bastante robustos em
solues aquosas (MARCONDES et al., 2002).
Os nitrosilo complexos de metais de transio tm sido utilizados na medicina
como agentes liberadores de xido ntrico desde o sculo XIX. Um exemplo de
complexo nitrosilado o nitroprussiato de sdio, usado em casos de hipertenso.
Porm, a utilizao de frmacos como esse possui restries devido ocorrncia de
reaes secundrias indesejveis, dificultando seu estudo in vivo e sua aplicao
como metalo-drogas (SANTOS, 2007 e RITCHER-ADDO, 1992). Outro problema
que a maioria dos doadoes de NO em utilizao corrente no so especficos
(ROSE e MASCHARAK, 2008).
Embora a importncia dos nitrosilo complexos metlicos seja bem conhecida,
fatores como instabilidade trmica e frente luz e meia-vida curta (0,1 a 0,6
segundos), representam desafios do ponto de vista farmacolgico (MARCONDES et
al., 2002).
A possibilidade de complexos de metais de transio atuarem como espcies
sequestradoras ou doadoras de xido ntrico tem despertado o interesse de diversos
grupos de pesquisa. Assim, snteses e estudos aprofundados da cintica desses
compostos so de fundamental importncia para viabilizar sua aplicao como
metalo-droga (FIGUEIREDO, 2013).
O grande desafio da qumica de coordenao sintetizar compostos cintica
e termodinamicamente estveis, que possam, com mnimo de efeitos txicos, servir
de veculos para liberar (ou capturar) NO de forma controlada nos sistemas
biolgicos (MARCONDES et al., 2002; RITCHER-ADDO, 1992).
Nesse sentido, os nitrosilo complexos de rutnio so atrativos devido
estabilidade trmica da ligao Ru-NO. Dessa forma, esses complexos podem atuar
como agentes doadores de NO quando na presena de luz ou atravs de estmulo
eletroqumico. Outro atrativo se deve cintica desses compostos, j que a
labilizao do NO pode ser modulada pelo carter do co-ligante empregado,
controlando a reatividade do composto e, consequentemente extinguindo a
ocorrncia de reaes secundrias (OLIVEIRA et al., 2004).
-
36
Estudos recentes tm sido realizados por Tfouni e outros pesquisadores
(2012) com o intuito de minimizar as reaes paralelas liberao do NO. Isto tem
sido feito atravs de snteses de nitrosilo complexos de rutnio com ligantes
macrocclicos, como o cyclam (1, 4, 8,11-tetraazaciclotetradecano) e cyclen
(1,4,7,10-tetraazaciclododecano).
-
37
3 OBJETIVOS
GERAL
Motivado pelas caractersticas atrativas do xido ntrico (NO) no mbito
farmacolgico e pela possibilidade de nitrosilo complexos de metais de transio
atuar como veculos na liberao controlada de NO nos alvos biolgicos, tratando
assim diversas patologias, este trabalho de dissertao buscou sintetizar e
caracterizar nitrosilo complexos de rutnio e complexos de rutnio apenas com DF.
ESPECFICOS
Realizar estudos terico-prticos das propriedades espectroscpicas e
eletroqumicas de nitrosilo complexos de rutnio e complexos de rutnio
apenas com diflunisal.
Caracterizar os referidos complexos tambm por anlise elementar e
Ressonncia Magntica Nuclear de 1H e 13C.
Investigar, qualitativamente, a liberao de NO nos nitrosilo complexos.
Estudar as reaes de aquao dos cloretos nos complexos [RuL2(cyclen))]n+
(L = Cl-, OH2, OH-)
-
38
4 MATERIAS E MTODOS
4.1 MATERIAIS
4.1.1 Substncias: procedncia e pureza
Nos procedimentos realizados neste trabalho, foram utilizados os reagentes e
solventes indicados na Tabela 3. A procedncia de cada um deles tambm est
apresentada na mesma. Em todos os ensaios qumicos utilizou-se substncias de
alta pureza analtica, gua deionizada e, quando se fez necessrio, algumas
substncias foram purificadas seguindo mtodos padro.
Tabela 3 - Lista dos reagentes com suas respectivas procedncia.
Reagentes/solventes Marca
Acetato de sdio (NaAc) Merck
Acetonitrila Merck grau HPLC
Acetona Fmaia
Acido Clordrico concentrado Fmaia
cido hexafluorfosfrico (HPF6) Merck
cido ntrico Fmaia
cloreto de mercrio (II) (HgCl2) Aldrich
Cloreto de potssio (KCl) Merck
Cloreto de Rutnio (III) hidratado Aldrich
Cyclen Strem Chemicals
Diflunisal Aldrich
DMSO Merck
Etanol Fmaia
ter Fmaia
Hidrxido de sdio Fmaia
Metanol Fmaia
Nitrito de sdio Merck
xido de deutrio (D2O) -
Pentxido de fsforo Merck
Sulfato de sdio (Na2SO4) Synth
TBANO2 Strem chemicals
TBAPF6 Strem chemicals
-
39
O Dimetilsulfxido (DMSO) foi destilado sob presso reduzida e armazenado
em peneira molecular de 4 .
Nas snteses dos complexos foi utilizado gs inerte argnio de procedncia
Linde.
4.1.2 Equipamentos e tcnicas experimentais
Espectroscopia vibracional
As medidas de espectroscopia vibracional foram obtidas a partir de um
espectrofotmetro com transformada de Fourier (FTIR) Bomem modelo MB-102, na
regio de 4000 a 400 cm-1. As amostras foram preparadas na forma de pastilhas,
utilizando-se brometo de potssio (KBr), e na forma de filme, gotejando-se a amostra
dissolvida em acetona numa janela de fluoreto de clcio. O branco foi obtido a partir
do registro da intensidade de cada sinal dos espectros em funo do ar.
Espectroscopia eletrnica
As medidas de espectroscopia eletrnica foram realizadas num
espectrofotmetro Hitachi modelo U-3501. Foram utilizadas celas de quartzo com
caminho ptico de 1,0 cm. Os espectros foram obtidos atravs da mistura da massa
adequada da amostra com o solvente que melhor a solubilizava. Esses espectros
foram registrados em relao a um branco.
Medidas voltamtricas
As medidas eletroqumicas foram efetuadas com potenciostato DropSens,
modelo start200 acoplado a um microcomputador compatvel. Foram adicionados 5
ml da soluo de eletrlito suporte (HCl/KCl 0,1 mol.L-1) clula eletroqumica com
fluxo contnuo de argnio durante 20 minutos. Em seguida, adicionou-se quantidade
do complexo suficiente para uma concentrao de aproximadamente 10-3 mol.L-1.
Retirou-se o fluxo de argnio e registou-se as medidas. Na figura 10 encontra-se
ilustrado o sistema utilizado nas medidas voltamtricas, o qual foi conectado a uma
fonte de alimentao e processamento de dados (microcomputador).
-
40
O sistema consistia em uma clula eletroltica com fio de platina como
eletrodo auxiliar, carbono vtreo como eletrodo de trabalho e Ag/AgCl (em KCl 3
mol.L-1) como eletrodo de referncia.
Figura 10 - Esquema de clula eletroqumica contendo 3 eletrodos: eletrodo de referncia, eletrodo de trabalho e eletrodo auxiliar.
Espectroscopia de ressonncia magntica nuclear de 13C e 1H
As amostras foram preparadas dissolvendo-se aproximadamente 20 mg dos
compostos em 1 mL de D2O ou acetona-d6 em um bquer de 5 mL. As solues
resultantes foram filtradas com o auxlio de um pequeno pedao de algodo no
interior de uma pipeta e, em seguida, transferidas para tubos de anlise. Estes foram
completados com volume de solvente necessrio para anlise.
Os espectros de Ressonncia Magntica Nuclear de 1H e 13C em solues de
concentrao da ordem de 10-5 mol.L-1 foram obtidos na Faculdade de Filosofia
Cincias e Letras de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo e tambm no
Laboratrio Baiano de Ressonncia Magntica Nuclear (LABAREMN) no Instituto de
Qumica da Universidade Federal da Bahia, com um espectrmetro de RMN Bruker
modelo Avance DRX300 ou Avance DRX500.
-
41
4.1.3 Tratamento de solventes e preparao de amlgama
Tratamento do etanol
O etanol foi adicionado num balo de fundo redondo juntamente com
pentxido de fsforo e porcelana porosa. Deixou-se vedado por duas horas. Aps
este tempo, efetuou-se uma destilao e o solvente foi coletado em um recipiente
que foi vedado.
Tratamento do ter
O ter foi adicionado num balo de fundo redondo juntamente com pedaos
de sdio e porcelana porosa. Deixou-se vedado at todo o sdio ser consumido.
Aps este tempo, efetuou-se uma destilao e o solvente foi coletado em um
recipiente que foi vedado.
Preparao de amlgama de zinco
O amlgama de zinco (Zn(Hg)) foi utilizado na forma granulada com a
finalidade de auxiliar na reduo de Ru(III) a Ru(II). A sua preparao foi feita
atravs da lavagem de pastilhas de zinco com soluo concentrada de cido ntrico
e em seguida com gua e cido clordrico 0,1 mol.L-1. Depois adicionou-se soluo
de cloreto de mercrio(II) (HgCl2) 0,1 mol.L-1. Aps alguns minutos separou-se a
soluo do amlgama e este foi lavado com gua deionizada e seco ao ar.
Tratamento de resina DOWEX 50W-X2
A resina do tipo DOWEX 50W-X2, foi tratada de acordo com procedimento
relatado na literatura (Pavanin, 1988), descrito a seguir:
[1]. Lavou-se 4 vezes com gua e filtrou-se;
[2]. Lavou-se 2 vezes com NaOH 3 mol.L-1 e filtrou-se;
[3]. Lavou-se 2 vezes com H2O2 3% e filtrou-se;
[4]. Lavou-se 2 vezes com HCl 6 mol.L-1 e filtrou-se;
[5]. Lavou-se 4 vezes com H2O e filtrou-se;
[6]. Lavou-se 4 vezes com acetona/ gua 50% (v/v) e filtrou-se;
[7]. Lavou-se com gua at o pH do eluato ser igual ao da gua.
-
42
4.2 PROCEDIMENTO SINTTICO DOS COMPLEXOS
Todas as snteses foram realizadas com base em rotas descritas por EVANS
et al., 1973; FERREIRA et al., 2002; BERBEN et al., 2006; DIAMANTIS e
DUBRAWSKI,1981; TFOUNI et al., 2003, com algumas modificaes.
importante salientar que todas as snteses foram realizadas na ausncia de
luz e em condies controladas de temperatura para evitar possvel isomerizao
e/ou oxidao do complexo de interesse. Outro requisito para a realizao da
maioria das snteses aqui descritas a necessidade de uma atmosfera inerte.
Assim, a utilizao constante de gs inerte argnio (procedncia Linde) fez-se
necessrio para evitar possveis oxidaes. Outros procedimentos adotados durante
as snteses para garantir a ausncia de oxignio foi trabalhar em sistema fechado,
utilizando bales de fundo redondo e cnulas de teflon para a conduo do gs.
4.2.1 Sntese do complexo cis-[RuCl2(dmso)4]
Adicionou-se 2,0 g (9,6mmol) de Cloreto de Rutnio (III) hidratado
(RuCl3.nH2O) e 10,0 mL de DMSO em um balo de uma boca. O sistema foi mantido
sob refluxo a aproximadamente 160 oC e agitao magntica por exatamente 5
minutos. A soluo, inicialmente de cor marrom, tornou-se amarelada. Durante a
sntese foi preciso proteger o sistema da luz para evitar isomerizao do composto.
Aps resfriamento da soluo, adicionou-se acetona para induzir a precipitao.
Como ainda no havia formado precipitado, a soluo foi submetida agitao
magntica at verificar a formao de slido. Ento coletou-se o slido amarelo
formado por filtrao vcuo, lavou-se com acetona e completou-se a secagem em
dessecador. Ao filtrado adicionou-se uma mistura de acetona e etanol (50%) e a
soluo foi submetida a agitao magntica e aquecimento at reduzir seu volume
em 1/3. Formou mais precipitado que foi novamente coletado por filtrao a vcuo e
lavado com acetona. Obteve-se 3,22 g de slido (6,6 mmol), o equivalente a um
rendimento de 70%.
-
43
4.2.2 Sntese do complexo cis-[RuCl2(cyclen)]Cl
O complexo cloreto de cis-dicloro(1,4,7,10-tetraazaciclododecano)-rutnio(III)
foi sintetizado utilizando-se 0,5 g (1 mmol) do complexo precursor cis-[RuCl2(dmso)4]
dissolvido em 10,0 mL de etanol previamente destilado e desaerado. A mistura foi
submetida a agitao, aquecimento e passagem contnua de argnio. Aps
completa dissoluo, adicionou-se, gota a gota, aproximadamente 0,2 g (1,2 mmol)
de cyclen (1,4,7,10-tetrazaciclododecano) dissolvido em 10,0 mL de etanol
(previamente desaerado). Ento, o sistema permaneceu em refluxo por 2 horas.
Aps esse perodo retirou-se o argnio e com auxlio de uma bomba, borbulhou-se
ar na soluo por 30 minutos. Em seguida, adicionou-se 10,0 mL de cido clordrico
concentrado e manteve-se o refluxo por mais 4 horas. Por fim, coletou-se um slido
amarelo-alaranjado por filtrao a vcuo e lavou-se com acetona e ter. Obteve-se
0,124 mg do composto (0,3 mmol), o equivalente a um rendimento de 33%.
4.2.3 Sntese do cis-[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl
Dissolveu-se 3,3 g (6,8 mmol) de cis-[RuCl2(dmso)4] em 20 mL de etanol e
submeteu o sistema a aquecimento e agitao. Aps completa dissoluo,
adicionou-se 1,2 g (7,0 mmol) de cyclen. A soluo permaneceu sob agitao e
aquecimento por 2 horas. Terminado esse tempo, a soluo foi resfriada e um slido
amarelo foi coletado por filtrao a vcuo. Obteve-se 1,6 g de composto (3,7 mmol),
o equivalente a um rendimento de 83%.
4.2.4 Sntese do Na2DF
O sal do diflunisal (Na2DF) foi preparado adicionando 0,5 g (2,0 mmol) de DF
em 1,5 mL de soluo aquosa 3 mol.L-1 de NaOH. A essa mistura, foi adicionado
17,5 mL de gua deionizada. O sistema foi submetido a agitao e aquecimento at
55 C durante 10 minutos. Em seguida, o sistema foi resfriado e um slido branco foi
coletado por filtrao a vcuo. Obteve-se 0,55 g de slido (1,86 mmol), o equivalente
a um rendimento de 93%.
-
44
4.2.5 Sntese do complexo cis-[Ru(DF)2(cyclen)] a partir do cis-[RuCl2(cyclen)]Cl
Uma vez obtido o cis-[RuCl2(cyclen)]Cl, tomou-se 0,05 g (0,12 mmol) do
mesmo e dissolveu-o em 10 mL de gua. Deixou sob aquecimento, agitao e
passagem de argnio por cerca de 15 minutos, obtendo-se uma soluo alaranjada.
Em seguida, adicionou-se cerca de 5 partilhas de amlgama (Zn(Hg)) para promover
a reduo de Ru(III) a Ru(II). Ento a soluo assumiu um tom de colorao mais
claro. Manteve-se a agitao, passagem de argnio e deixou refluxar por 2 horas.
Ento, foi adicionado uma emulso do ligante (0,06 g de diflunisal em 1 mL de gua)
e o sistema foi aquecido, sob refluxo, durante 2 horas, em atmosfera de argnio at
completa dissoluo. O precipitado formado de cor marrom esverdeado foi coletado
por filtrao vcuo e lavado com acetona e ter. Obteve-se 0,0036 g de composto
(0,005 mmol), o equivalente a um rendimento de 47%.
4.2.6 Sntese do complexo cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]Cl2
MTODO 1
Dissolveu-se 0,35 g (0,72 mmol) do complexo precursor cis-[RuCl2(dmso)4]
em 30 mL de etanol e, adicionou, gota a gota 0,13 g (0,75 mmol) de cyclen
dissolvido em 10 mL de etanol. A soluo foi mantida em refluxo a 75 C, passagem
de argnio e agitao por 2 horas, assumindo ao final deste tempo uma colorao
laranja. Aps essa etapa adicionou-se 0,21g (0,73 mmol) de nitrito de
tetrabutilamnio soluo, que imediatamente teve colorao alterada para marrom-
avermelhado e, foi mantida s mesmas condies por mais 2 horas. Em seguida,
adicionou-se 0,18 g (0,72 mmol) do ligante diflunisal, mantendo-se as condies de
refluxo por 1 hora. Finalmente, a soluo foi acidulada com 3 gotas de cido
clordrico concentrado. Ao final da sntese obteve-se 0,12 g de composto (0,19
mmol), o equivalente a um rendimento de 30 %.
MTODO 2
Dissolveu-se 0,21 g (0,5 mmol) de cis-[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl em 2 mL de
gua deionizada e adicionou-se 0,028 g (0,4 mmol) de nitrito de sdio dissolvido em
-
45
1 mL de gua deionizada. O sistema foi refluxado at 90 C, com passagem
contnua de gs argnio por 2 horas. Nessa etapa a soluo adquiriu uma colorao
marrom. Em seguida, adicionou-se 0,12 g (0,4 mmol) de Na2DF e o sistema
permaneceu sob as mesmas condies por 20 horas. Por fim, retirou-se o argnio e
adicionou-se aproximadamente 3 gotas de HCl concentrado. A soluo foi resfriada
e colocada em banho de gelo. Como no houve formao de precipitado, a soluo
foi rotoevaporada at secar. Obteve-se 0,21 g de composto (0,34 mmol), o
equivalente a um rendimento de 84%.
Anlise elementar %terica (%experimental) para C21N5H27Cl2O4F2Ru (623,45
g.mol-1): C= 40,45% (41,10%); N= 11,24% (11,78%); H= 4,37% (4,69%).
4.2.7 Sntese do cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)](PF6)2 a partir do cis-[RuCl2(dmso)4]
Dissolveu-se 0,5 g (1,0 mmol) de cis-[RuCl2(dmso)4] em 30 mL de etanol de
submeteu a aquecimento, agitao e passagem de argnio. Aps completa
dissoluo, adicionou-se, gota a gota, 0,2 g (1,2 mmol) de cyclen dissolvido em 10
mL de etanol e mantiveram-se as mesmas condies por 2 horas. Nessa etapa, a
colorao da soluo foi alterada de amarelo para laranja. Em seguida, adicionou-se
0,89 g (3,1 mmol) de nitrito de tetrabutilamnio e mantiveram-se as mesmas
condies por 2 horas. A soluo adquiriu colorao avermelhada. Ento, retirou-se
o argnio e o aquecimento e, adicionou-se 3 gotas de cido clordrico concentrado e
deixou sob agitao por 1 hora. Por fim, adicionou-se 1,9 g (4,9 mmol) de
hexafluorfosfato de tetrabutilamnio, deixando reagir por 1 hora. Aps resfriamento
da soluo, o slido formado foi coletado por filtrao vcuo. Como o rendimento
foi maior do que o terico de 100% pde-se inferir que o composto apresentava-se
impuro, o que foi posteriormente confirmado por meio do espectro de infravermelho
do composto, em que foi verificado sinal intenso prximo de 841 cm-1, caracterstico
de PF6-. Ento o slido foi recristalizado em gua, e ao separar a impureza obteve-
se 0,11 g de slido (0,16 mmol), o equivalente a 16% de rendimento.
Anlise elementar %terica (%experimental) para C8N6H20O3P2F12Ru (639,31
g.mol-1): C= 15,03% (15,64%); N= 13,15% (13,01%); H= 3,15% (2,98%).
-
46
4.2.8 Sntese do cis-[Ru(DF)(cyclen)] a partir do cis-[RuCl2(dmso)4]
Dissolveu-se 0,5 g (1,0 mmol) de cis-[RuCl2(dmso)4] em 30 mL de etanol e
submeteu o sistema a aquecimento, agitao e passagem de argnio. Aps
completa dissoluo, adicionou-se, gota a gota, 0,2 g (1,2 mmol) de cyclen
dissolvido em 10 mL de etanol. A soluo foi refluxada por 2 horas. Aps esse
tempo adicionou-se, gota a gota, 0,9 g (3,0 mmol) de sal de diflunisal (Na2DF)
dissolvido em quantidade mnima de metanol. A soluo foi refluxada por mais 2
horas. Por fim, o sistema foi resfriado e coletou-se um slido marrom-esverdeado
por filtrao a vcuo. Obteve-se 0,4 g do composto (0,76 mmol), o equivalente a um
rendimento de 75%.
Anlise elementar %terica (%experimental) para C21N4H26O3F2Ru (521,23
g.mol-1):
C= 48,36% (48,10%); N= 10,75% (11,18%); H= 5,03% (4,87%).
4.2.9 Sntese do cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)]Cl2 a parir do cis-[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl
Dissolveu-se 0,5 g (1,2 mmol) de cis-[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl em 5 mL de
gua deionizada e adicionou-se 3,45 g (50 mmol) de nitrito de sdio dissolvido em 5
mL de gua deionizada. O sistema foi refluxado, com passagem contnua de gs
argnio por 20 horas. Nessa etapa a soluo adquiriu uma colorao avermelhada.
Em seguida, adicionou-se aproximadamente 3-4 gotas de HCl concentrado e
manteve-se o sistema sob as mesmas condies por mais 30 minutos. Ao final,
como no formou precipitado, a soluo foi rotoevaporada at secar, obtendo-se 4,3
g (10 mmol) de um slido marrom. Como a massa obtida foi muito superior
esperada, pde-se inferir que o composto estava impuro, o que foi posteriormente
confirmado atravs de mtodos de caracterizao, necessitando de procedimentos
para purificao. O composto foi purificado utilizando-se cromatografia em coluna,
utilizando-se resina do tipo DOWEX 50W-X2.
Aps o tratamento, a resina foi empacotada em coluna, adicionou-se soluo
do complexo a ser separado e a eluio foi feita com HCl nas concentraes 0,1;
-
47
0,2; 0,5; 1,0 e 2,0 mol.L-1. As fraes coletadas foram rotoevaporadas
separadamente restando 0,083 g (0,2 mmol) do complexo. Rendimento: 17,4%.
A caracterizao dos complexos obtidos foi feita atravs de infravermelho,
ultravioleta visvel, voltametria, ressonncia magntica nuclear de 13C e 1H, anlise
elementar, e algumas medidas de reatividade qumica, e encontra-se apresentada
no item de resultados e discusses deste trabalho.
-
48
5 RESULTADOS E DISCUSSES
No presente trabalho de dissertao foram sintetizados os complexos inditos
cis-[Ru(DF)2(cyclen)], cis-[Ru(DF)(cyclen)], cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]2+
e
cis-[Ru(NO)(NO2)(cyclen)]2+, usando diferentes precursores. Os mesmos foram
caracterizados atravs de tcnicas espectroscpicas (UV-vis, infravermelho e RMN
de 1H e 13C, anlise elementar). Estudos de reatividade eletroqumica, atravs da
tcnica de voltametria de pulso diferencial, permitiram fazer uma anlise dos
processos redox associados aos ligantes (NO e diflunisal) e ao centro metlico, bem
como uma investigao qualitativa da liberao de NO ao submeter os compostos a
estmulos eletroqumicos. Alm disso, foram realizados estudos de reatividade
qumica para justificar a coordenao dos ligantes diflunisal e nitrosilo ao centro
metlico.
5.1 SNTESES
5.1.1 cis-[RuCl2(dmso)4]
O processo de obteno do complexo cis-diclorotetrakisdimetilsulfxido
rutnio(II) envolve a adio de cloreto de rutnio(III) (slido preto), em
dimetilssulfxido (lquido incolor), sob agitao magntica e refluxo 160 0C. Ao final
da reao verifica-se uma alterao na cor da soluo de marrom para amarelo. Tal
evidncia experimental, juntamente com relatos da literatura (Poon 1982), permite
inferir que houve uma reao redox, onde o solvente DMSO atuou com ligante e
agente redutor, promovendo a reduo de RuIII a RuII, conforme representao pela
equao 1. A estabilizao do Ru(II) quando coordenado ao DMSO explicada pelo
fato do tomo doador do ligante (o enxofre) possuir orbitais disponveis para
aceitar densidade eletrnica do centro metlico, ou seja, o DMSO um ligante
aceptor. Como o Ru(II) um cido de Lewis mole frente a Ru(III), a retro-doao
mais efetiva quando o centro metlico Ru(II), justificando a reduo de RuIII a RuII
na presena de DMSO.
-
49
3 2 ( )( )3 2 3 2 4( ) 24( ) ( )III II
DMSOls cis ClRu Cl nH O CH SO Ru Cl CH SO
(Equao 1)
5.1.2 cis-[RuCl2(cyclen)]Cl
J a obteno do complexo cloreto de cis-dicloro(1,4,7,10-
tetraazaciclododecano)-rutnio(III) a partir do cis-[RuCl2(dmso)4], complexo de
colorao amarela, consistiu na adio do cyclen dissolvido em etanol ao precursor,
tambm em etanol, sob atmosfera de argnio, agitao magntica e refluxo. Aps a
adio do cyclen a soluo adquiriu colorao alaranjada, o que indcio da entrada
do cyclen na esfera de coordenao do rutnio. A substituio do cyclen pelos
ligantes cloreto e DMSO justificado pelo efeito quelato, que ocorre quando ligantes
polidentados como o cyclen formam compostos de coordenao com estruturas
anelares envolvendo o tomo central e outros ligantes. Esse tipo de composto
sempre mais estvel que os no quelatos correspondentes. Sob o ponto de vista
termodinmico, o efeito quelato determinado pelo aumento de entropia associada
formao do composto, j que h um aumento do nmero de espcies qumicas
(ver equao 2). Na etapa seguinte, foi necessrio passar ar (O2) no sistema para
promover a oxidao de RuII a RuIII e, em seguida adicionou-se cido clordrico
concentrado, de alta pureza analtica e previamente desaerado. Este ltimo tem
funo de tornar o meio cido o suficiente para desfavorecer a oxidao do cyclen e
garantir o excesso de ons cloreto no meio (FERREIRA et al., 2002). Outra
estratgia adotada foi a utilizao criteriosa de argnio para garantir uma atmosfera
inerte. Entretanto, o composto amarelo-alaranjado obtido apresentou-se bastante
higroscpico e passvel de ter o ligante cyclen oxidado a im-cyclen (imina). As
reaes envolvidas nessa etapa so representadas pelas equaes a seguir.
3 32
32 8 20 24
,
( )2 4 2 8 20 4( ) (et) (et) (l)2( ) 2 2(CH ) SO[ ((CH ) SO) ] (CH ) SOII
Ar IIaqaq cis Clcis Ru Cl C H N Ru C H N
(Equao 2)
-
50
22
3 2 8 20 4 3 2
/Ar
( )2 2 8 20 4(et) (et) (et) (l)((CH ) SO) ( ) 2( )[ (C H N )] 3 C H NII O III
l cis Cl CH SOcis Ru HCl Ru Cl
(Equao 3)
5.1.3 cis-[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl
O complexo cis-[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl foi sintetizado segundo o mtodo
descrito na literatura (BERBEN et al., 2006) usando o cis-[RuCl2(dmso)4] como
precursor. A vantagem desse mtodo e, por conseguinte, de se usar esse complexo
como precursor dos complexos de interesse em detrimento do cis-[RuCl2(cyclen)]Cl
est relacionada com o baixo tempo de sntese, o rendimento relativamente alto,
alm da alta pureza do complexo obtido. Entretanto, aps sintetizado, o composto
deve ser utilizado at no mximo dois meses, pois o mesmo apresentou-se passvel
de ter o cyclen oxidado. Isso pde ser inferido levando em considerao a evidncia
experimental de alterao de cor do slido de amarelo para marrom. Uma forma
alternativa de no perder o slido foi adicionar ao mesmo gua e nitrito para formar
RuNO. A equao qumica que representa a reao de formao do cis-
[RuCl(cyclen)(dmso)]Cl est apresentada a seguir.
3 2 8 20 3 24 ( )2 4 8 20 4 3 2( ) ( ) ( ) (l)( ) 3[ ((CH ) SO) ] (CH ) SO (CH ) SOII II
aqaq aq aqcis Cl Clcis Ru Cl C H N Ru C H N
(Equao 4)
5.1.4 cis-[Ru(DF)2(cyclen)]
Para a obteno do complexo cis-[Ru(DF)2(cyclen)] a partir do cis-
[RuCl2(cyclen)]Cl dissolveu-se o precursor em meio aquoso, sob atmosfera de
argnio. A equao que representa a reao de aquao do ligante cloreto que
ocorre nessa etapa (vide mais detalhes desta aquao no item 5.3) ilustrada
abaixo (discutida no item reatividade qumica):
-
51
2
8 20 4 8 20 4
/
2
H O ArIII IIIaq aq aq
Cl cis Clcis Ru C H N Ru OH C H N Cl
(Equao 5)
Propem-se que o produto formado com a adio de gua no seja
protonado, como representado pela equao 5, com a presena do ligante hidrxido
no lugar de um dos cloretos. Essa proposta baseada no fato de o Ru(III) possuir
relao carga-raio mais acentuada que o Ru(II) que, consequentemente, se deve ao
fato de o Ru(II) apresentar maior quantidade de eltrons em sua configurao
eletrnica que o Ru(III); isto , contribuindo para uma maior repulso eltron-eltron
e, portanto a distncia entre os eltrons de valncia e o centro do ncleo ser maior
para Ru(II), refletindo numa menor razo carga/raio para este em relao ao Ru(III)
(que por sua vez tem seus eltrons mais atrados pelo ncleo). Dessa forma, de
acordo com os conceitos de Pearson, o Ru (III) classificado como um cido duro
frente o Ru (II), que classificado como um cido mole, ou seja, o Ru(III) possui um
alto poder polarizante frente a Ru(II), distorcendo de forma mais pronunciada a
nuvem eletrnica de uma base. Ainda de acordo com Pearson, cidos duros ligam-
se, preferencialmente a bases de mesma natureza (bases duras), e vice-versa, pois
essa situao proporciona uma maior densidade eletrnica compartilhada no eixo de
ligao. Tambm destaca-se que a gua coordenada ao Ru(III) fica mais cida,
devido ao Ru(III) polarizar mais a ligao O-H na gua coordenada em comparao
agua no coordenada. Da a explicao da proposta para a coordenao do on
hidrxido (base dura) ao Ru(III) ao invs de H2O (base mole). Pelas mesmas razes
pode-se inferir que na etapa seguinte, onde adicionado o redutor (Zn/Hg) e gua,
ocorre a formao do complexo protonado (vide equao 6). Os cloretos so lbeis
em relao ao Ru(II) e a sada rpida (vide item 5.3 de reatividade qumica),
formando-se o diaquo complexo cis-[Ru(H2O)2(cyclen)]2+, conforme a equao 6. No
processo de reduo do rutnio utilizado como redutor amlgama de zinco. O
mesmo promove a reduo do Ru(III) a Ru (II), processo representado pela equao
7. importante lembrar que a utilizao de outro redutor de caractersticas no-
txicas, como redutores biolgicos, torna-se invivel, uma vez que a cintica da
reao envolvida seria bastante lenta.
-
52
2
2( ( )) 2
8 20 4 2 8 20 4 ( ) ( ) ( )/ 2( )
IIZn HgIII
aq aq aqH O Araqcis Ru Cl OH C H N cis Ru H O C H N Zn Cl
(Equao 6)
( ) ( )2 8 20 4 2 8 20 4III IIcis Ru Cl C H N e cis Ru Cl C H N
(Equao 7)
Por fim, ocorre a sada da gua e o ligante diflunisal entra para a esfera de
coordenao. Prope-se ainda que dois ligantes diflunisal se coordenem ao Rutnio,
de forma monodentada, o que pode ser confirmado pelos dados de RMN (item
5.2.4).
8 20 4 13 8 2 8 20 4232
( ) ( )72 2 13 2 3( ) ( ) ( )O( ) 2
II IIaq aq aqcis Ru H C H N C H F O cis Ru C H F O C H N
(Equao 8)
A sntese do complexo foi repetida utilizando o mesmo precursor, mas
trocando o diflunisal pelo sal do diflunisal (Na2DF), previamente sintetizado. A
inteno era forar a coordenao do DF ao Ru de forma bidentada, com apenas um
DF ligado ao Ru.
5.1.5 cis-[Ru(NO)(DF)(cyclen)]
Na obteno do nitrosilo complexo de Rutnio cis-[Ru(NO)(df)(cyclen)] a partir
do cis-[RuCl2(dmso)4] (mtodo 1), o precursor foi dissolvido em etanol. O mesmo
parcialmente solvel em etanol e, portanto forma-se uma emulso de colorao
amarela. Aps a adio do cyclen, observou-se que a soluo adquiriu uma
colorao mais intensa, indicando a coordenao do cyclen ao RuII e consequente
labilizao de quatro ligantes. Pode-se propor a sada dos 4 ligantes DMSO ou ainda
a labilizao de 1 cloreto e apenas 3 ligantes DMSO. De acordo com experincias
realizadas por Berben (2006), os resultados obtidos para tal sntese consistem com
a sada de 1 cloreto e 3 ligantes DMSO da esfera de coordenao do Ru(II), ao
passo que o cyclen coordenado. Assim, prope-se que o complexo obtido nessa
-
53
etapa da sntese o cis-[RuCl(dmso)(cyclen)]+. Aqui, L utilizado para designar
esses ligantes.
3 2 8 204
2 2 8 20 4( ) ( )4 75( )( )
o
nArII IIaq aqCaq
cis Ru Cl CH SO C H N cis Ru L C H N
(Equao 9)
Em seguida, adicionou-se nitrito de tetrabutilamnio soluo para que
houvesse a coordenao do NO2-, provocando a sada de outro ligante, que pode
ser Cl- ou DMSO (equao 10). Essa substituio justificada pelo fato de o nitrito
atuar como -doador e -aceptor frente a Ru(II), enquanto que Cl- e DMSO atuam
apenas como -doadores. Dessa forma, a densidade eletrnica compartilhada e,
portanto, a fora da ligao ser maior em Ru(II)-NO2- do que em Ru(II)-Cl ou Ru(II)-
dmso.
2 8 20 4 2 2 8 20 4( ) ( )( ) ( )n nAr
aq aqcis Ru II L C H N TBANO cis Ru II NO L C H N
(Equao 10)
A coordenao do diflunisal ao Ru(II) pode ser representada pela equao
abaixo:
38 20 4 1