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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
CAMPUS CATALÃO
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
JULIANA VAZ DA SILVA
ENTRE O PÚLPITO E O PALANQUE
CANDIDATOS EVANGÉLICOS DA CIDADE DE CATALÃO NAS ELEIÇÕES
DE 2012
CATALÃO - 2013
JULIANA VAZ DA SILVA
ENTRE O PÚLPITO E O PALANQUE
Candidatos evangélicos da Cidade de Catalão nas eleições de 2012
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de Ciências
Sociais da UFG/Campus Catalão,
como requisito parcial para a
obtenção do título de Licenciatura
e Bacharelado em Ciências
Sociais.
Orientador: Prof. Dr. Daniel Alves
CATALÃO
2013
JULIANA VAZ DA SILVA
ENTRE O PÚLPITO E O PALANQUE : candidatos evangélicos da Cidade de
Catalão nas eleições de 2012
_________________________________________
Dr. Ismar da Silva Costa
Examinador
_________________________________________
Prof. Dr. Daniel Alves
Orientador
Catalão, 18 de setembro de 2013.
Resultado: ____________________________
4
Aos meus pais e irmã pelo carinho.
5
Primeiramente agradeço a Deus pela sua proteção e direcionamento em minha
vida. Á minha amiga Juliana Pires que sempre me consolou nos momentos tensos da
Universidade e a todos os outros colegas que conviveram comigo durante estes anos.
Ao Radamés Nunes pelo companheirismo e carinho.
Á atenção e compreensão e dedicação do Prof. Dr. Daniel, por sempre estar
presente me ensinando. Parabéns e obrigado por tudo. Não posso deixar de agradecer
todos os candidatos que me receberam e cederam seu tempo para esta pesquisa. Desde
já muito obrigado a todos.
6
RESUMO
Nós últimos anos o debate em torno da relação entre religião e política tem sido bastante
intenso no Brasil. Ciente disso, nos voltamos para a cidade de Catalão para entender
como essa relação entre religião e política se dá na cidade, analisando candidatos
evangélicos na eleição municipal de 2012. Observamos, também, a recepção destas
candidaturas por parte das igrejas evangélicas em Catalão. Nosso intuito foi
compreender as formas de atuação, concepção política e estratégias de campanha desses
candidatos, e os meios através dos quais buscam se representar na política. Para tanto
realizamos observação participante com os candidatos evangélicos. A partir das
características observadas identificamos três grupos: o primeiro formado por candidatos
que tentam aceitação, principalmente, no meio evangélico, tendo como foco de
campanha propostas de assistência social, valendo-se eventualmente do título
eclesiástico na promoção da sua candidatura. O segundo grupo é constituído por
candidatos que realizam sua campanha sem utilizar o nome da igreja ou proclamar a sua
fé, embora recebam apoio da igreja onde congregam. O terceiro é caracterizado por
candidatos escolhidos como representantes da igreja que realizam sua campanha
principalmente nos cultos religiosos.
Palavras-chave: Eleição, Religião e Política.
ABSTRACT
We recent years the debate on the relationship between religion and politics has been quite
intense in Brazil. Knowing this, we turn to the Catalan city to understand how this relationship
between religion and politics takes place in the city, analyzing evangelical candidates in the
municipal election of 2012. We also noted the receipt of these applications by the evangelical
churches in Catalan. Our aim was to understand the ways of acting, design and political
campaign strategies of these candidates, and the means by which they seek to be represented in
politics. Therefore we conducted participant observation with candidates evangelicals. From the
observed characteristics identified three groups: one formed by candidates trying to acceptance,
especially in the evangelical, focused campaign proposals for social assistance, using any of the
ecclesiastical title in promoting his candidacy. The second group consists of candidates who
perform their campaign without using the name of the church or proclaim their faith while
receiving support from the church where congregate. The third is characterized by candidates
chosen as representatives of the church who carry his campaign mainly in religious cults.
Keywords: Election, Politics and Religion.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
COMEC – Conselho de Ministros Evangélicos de Catalão
IEQ- Igreja Evangelho Quadrangular
MCP- Movimento Camponês Popular
MST- Movimento Sem Terra
SAMU- Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
SESI/SENAI- Serviço Social da Indústria / Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial
SIMECAT- Sindicato dos Metalúrgicos de Catalão
PDT- Partido Democrático Trabalhista
PMDB- Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PRTB- Partido Renovador Trabalhista Brasileiro
PSC- Partido Social Cristão
PSDB- Partido da Social Democracia Brasileira
PTB- Partido Trabalhista Brasileiro
PT- Partido dos Trabalhadores
UEG- Universidade Estadual de Goiás
UFG/ CAC- Universidade Federal de Goiás/ Campus Catalão
UPA- Unidade de Pronto Atendimento
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ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 01 - Folheto do candidato Pastor Antônio.................................... 48, 49, 50
Figura 02 - Santinho do candidato Pastor Silvio...................................... 52
Figura 03 - Santinho do candidato Pastor Marcelino............................... 54
Figura 04 - Santinho do candidato Dr. João Quesslen............................. 57
Figura 05 - Folheto do Dr. João Quesslen................................................ 58
Figura 06 - Santinho do candidato Tiago Batista..................................... 60
Figura 07 - Santinho do candidato Vandeval Florisbelo.......................... 61
9
SUMÁRIO
Introdução........................................................................................................... 10
Cap. I – 1. ENTRANDO EM CAMPO: POLÍTICA E RELIGIÃO O
PRELUDIO......................................................................................................... 13
CAP. II – 2. FÉ DEMAIS Á ELEIÇÃO: PROJETOS DE DEUS PARA O
HOMEM OU PROJETOS DO HOMEM PARA DEUS?.............................. 21
2.1 – Entre conversas, encontros e propostas: religiosos e pré-candidaturas....... 27
2.1.1- Conversas e Parcerias................................................................................ 31
2.1.2 – Assembleia do PDT................................................................................... 33
2.1.3 – Registros de candidaturas......................................................................... 33
2.2 – Candidaturas Evangélicas para vereador..................................................... 34
2.2.1 – Pastor Marcelino...................................................................................... 34
2.2.2 – Vandeval Florisbelo.................................................................................. 36
2.2.3 – Tiago Batista............................................................................................. 37
2.2.4 – João Alexandre.......................................................................................... 37
2.2.5 – Dr. João Quesslen..................................................................................... 38
2.2.6 – Pastor Silvio.............................................................................................. 39
2.2.7 – Pastora Vera Lúcia................................................................................... 39
2.2.8 – Pastor Antônio.......................................................................................... 40
2.3 – Políticos religiosos ou Religiosos Políticos?............................................... 41
Cap. III – 3. “Muitos são chamados, mas poucos escolhidos”: Escolhidos de Deus
nem sempre Eleitos pelo povo............................................................................ 46
3.1 – Vamos falar dos Eleitos: Representantes de Deus ou Representantes do
Povo?.................................................................................................................... 60
4. Considerações Finais...................................................................................... 66
Referências Bibliográficas.................................................................................. 69
Tabela 01 – Detalhes dos candidatos e resultado da eleição................................ 45
10
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como proposta compreender a inserção de candidatos
evangélicos nas eleições de 2012 em Catalão-GO. Nosso interesse é perceber e refletir
sobre as articulações entre religião e política que norteiam a ação dos candidatos.
O método principal utilizado na pesquisa foi a entrevista semi-aberta de cunho
qualitativo. O trabalho realizado ocorreu conjuntamente com leituras de autores que
estudam as transformações da sociedade e o crescimento das religiões. Estes autores
contribuíram para o esclarecimento de como estas religiões se relacionam com as
escolhas e posicionamentos dos indivíduos.
As entrevistas nos ajudaram a compreender melhor os posicionamentos e as
intenções dos lideres que foram escolhidos pelas suas denominações, ou por um
“projeto divino”, para governar a cidade. As entrevistas foram gravadas com o
consentimento do entrevistado e destinaram-se à compreensão de como estes atores se
envolveram com a política e quais suas principais metas de trabalho. Alguns materiais
de propaganda, como o popular “santinho”, com fotos e slogans de campanha, foram
coletados entre os partidos ou entre os próprios candidatos. Esses documentos foram
importantes para perceber os objetivos, o perfil e a imagem que cada candidato
construiu para os eleitores. Tanto as entrevistas quanto os materiais coletados foram
analisados cuidadosamente e usados como meio para conhecer os candidatos, e as
mudanças que eles se submeteram ao longo do processo eleitoral.
Observamos no campo, o crescimento de adeptos da religião evangélica no
Brasil nos últimos dez anos. Segundo dados da amostra dos dois últimos censos, a
proporção de evangélicos na população brasileira subiu de 15,4% a 22,1%. Na cidade de
Catalão, essa proporção saltou de 14,8% a 24,4%, no período que vai de 2000 a 2010,
ainda segundo os dois censos (IBGE, 2012). Num cenário em que, no plano nacional, os
evangélicos, especialmente os de corte pentecostal e neopentecostal, vem adquirindo
proeminência política, especialmente assumindo mandatos de deputados federais e
senadores, encontrou também, em nível local, essa mesma tendência.
11
Os evangélicos pentecostais das primeiras igrejas no início do século XX
orientavam a seus fieis que guardassem uma distância do mundo da política.1
Compunham-se como uma minoria religiosa sem delimitação étnica, pelo menos no
caso das Assembleias de Deus, fundadas por missionários suecos em Belém do Pará
(FRESTON, 1994).
Os candidatos evangélicos2 em questão atualmente vêm de igrejas pentecostais
ou neopentecostais. Especialmente entre os últimos, entende-se a política como meio de
fortalecimento da instituição religiosa. Esse novo posicionamento surge nessas igrejas,
que passam a considerar a necessidade de se posicionar politicamente e não serem
“governados por corruptos”. Alguns chegam a descrever a política como uma
oportunidade de fazer a obra de Deus no mundo. Enfim, os partidos buscam a
participação e o apoio de igrejas evangélicas, porque entende que elas são cada vez mais
relevantes entre a população, porque compõem uma identidade social distinta.
Através da pesquisa, queremos compreender, no plano local, como esses
políticos estabeleceram o dialogo entre sua atuação pública como candidatos e a sua
pertença religiosa, através das alianças, das mundivisões em jogo, dentre outras
1 No Brasil os evangélicos se estabeleceram através de missões via a política como uma esfera de atuação
mundana, separada da dimensão espiritual característica da religião. Mesmo igrejas pentecostais
tradicionais, como as Assembleias de Deus e a Congregação Cristã, quando se estabeleceram no país no
início do século XX, postulavam a absoluta separação entre política, esta última considerada “impura” e
“corrupta”, sendo identificada de modo geral como um lugar impróprio para o servo de Deus. Com o
passar dos anos estas igrejas historicistas foram se distanciando, e atualmente percebemos que se mantêm,
especialmente entre adeptos dessas expressões religiosas evangélicas mais tradicionais, a mesma relação
simbólica entre política e impureza postulada há décadas.
Durante o século XIX, as igrejas protestantes difundiram-se nas então colônias de tradição católica na
América Latina. No Brasil, os anglicanos ingleses foram os primeiros a adquirir direitos de liberdade de
culto e de construir seus templos através de acordo da Inglaterra com Portugal, no âmbito da abertura dos
portos às nações amigas (DA SILVA, 2011). Pouco depois, já no período imperial, projetos de
colonização trouxeram ao Brasil levas de descendentes alemães, em boa parte dos luteranos. Esses
protestantismos de migração marcadamente étnicos constituíram-se meio a tensões históricas constantes
ao longo dos séculos XIX e XX.
2 Nem todos os nomes dos candidatos evangélicos são verdadeiras, alguns cederam as informações
solicitadas, mas quiseram preservar sua identidade.
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características que podem surgir na espontaneidade da comunicação que caracteriza os
métodos qualitativos de pesquisa.
Muitos questionamentos têm surgido, tanto na academia como na opinião
pública, relacionados ao crescimento das religiões evangélicas em nosso país, com suas
novas demandas e novos atores políticos. Esta parcela quer ser representada nas esferas
públicas, mas alguns que foram considerados “pessoas íntegras” por bases eleitorais
evangélicas foram acusadas de fazerem uso de dinheiro publico para fins particulares
(MARIANO, HOFF, DANTAS, 2006). Embora relevante, esse tema dos escândalos de
corrupção no Brasil envolvendo deputados da bancada evangélica fará parte de nossa
interlocução apenas incidentalmente, na medida em que nos dedicaremos a levantar
dados locais sobre o tema proposto, e não há, ao que percebemos, escândalos da mesma
proporção em nível local. Desta forma, o presente trabalho visa compreender, a partir de
entrevistas com candidatos a vereador nas eleições municipais de 2012 na cidade de
Catalão-GO que abertamente professaram sua pertença religiosa como evangélica, as
articulações entre religião e política elaboradas por estes atores sociais, a partir de suas
experiências no último pleito.
Este trabalho se divide em três capítulos. O primeiro capítulo é um relato
dedicado a descrever nossa experiência durante o trabalho, centrado sobre nossas
vivências, impressões, apreensões e dificuldades. O segundo capítulo se dedica à
apresentação dos candidatos evangélicos e a atuação dos mesmos durante o processo
eleitoral, ressaltando suas principais motivações, demandas, interesses e outras
particularidades. No terceiro e último capítulo trataremos dos candidatos no período
pós-eleição, no sentido de entender suas percepções e experiências acerca do que levou
a vitória nas urnas dos eleitos e a derrota dos não eleitos.
13
Capítulo I
1- ENTRANDO EM CAMPO: POLÍTICA E RELIGIÃO O PRELUDIO
Esta pesquisa surgiu das minhas observações e dos questionamentos que me fiz
ao notar o quanto a candidatura de evangélicos, na cidade de Catalão, é considerada
como algo constrangedor e polêmico. Muitas igrejas se posicionam contra e tratam as
candidaturas como algo que pode sujar a imagem da igreja, prejudicando sua expansão e
a adesão de novos membros.
Durante a 3ª. Marcha para Jesus3, organizada em 2011 pelo COMEC,
4 já
existiam conversas sobre a polêmica relação entre religião e política. Especialmente
pelo fato de que um pastor, chamado Daniel (Igreja Missão Vida Nova), tinha declarado
pretensões a uma candidatura política nas eleições de 2012. O que podia ser uma
simples candidatura foi encarado de forma drástica por parte significativa do
seguimento evangélico, pois o evento era organizado pela COMEC e patrocinado pela
prefeitura. A prefeitura na época era governada pelo Velomar Rios (PMDB).
Durante o evento da Marcha para Jesus, foi visível como o clima estava tenso.
No momento da oração dos líderes religiosos da cidade, os pastores se posicionaram
contra a vontade do Pastor Daniel de subir e falar no microfone, já cientes da sua
posição e interesse político. A provável motivação para essa situação desconfortável
entre os lideres evangélicos se deu pelo fato de que, por saber da presença dele no
evento, a prefeitura não quis contribuir para a realização da Marcha como fez nas
edições anteriores. Além disso, algumas igrejas se recusaram a participar do evento e
proibiram também os seus membros de irem, por considerar que a COMEC estava
lançando candidatura em um evento de evangelização. A recusa por parte de algumas
3 Marcha para Jesus é um evento que as igrejas evangélicas realizam para ganhar visibilidade, mostrar sua
força, poder de atuação na sociedade, para celebrar e evidenciar a unidade entre os cristãos. É o encontro
de evangélicos de varias denominações, com caráter evangelístico, que se reúnem num dia especifico para
realizar várias atividades de forma coletiva, como passeata, cultos, shows, etc. Existem Marchas para
Jesus a nível nacional, regional e municipal, cada marcha para Jesus tem sua peculiaridade dependendo
do lugar e momento em questão. Portanto fica difícil definir de forma precisa.
4 Conselho de Ministros Evangélicos de Catalão.
14
igrejas (por exemplo,da Assembleia de Deus), se deu porque o evento apoiava o PMDB,
que estava no poder no governo municipal naquele momento.
Tudo indica que estes acreditavam que participar do evento religioso seria a
mesma coisa que apoiar politicamente a candidatura do Pastor Daniel, o que contrariaria
seu apoio ao candidato do PMDB. Estava em questão neste momento se a COMEC
estava ou não lançando candidaturas para ganhar o apoio dos evangélicos. Parte não
entendeu que a candidatura do Pastor Daniel não havia relação alguma com a COMEC,
e outra parte entendeu que a COMEC havia lançado o mesmo como candidato. A data
comemorativa religiosa, naquele momento de véspera da campanha eleitoral, foi
marcada pelas polemicas políticas e pela diferente forma com que cada igreja vive o
jogo político.
Este momento me instigou a pensar como a política e a religião possuem formas
diversas de diálogo na cidade de Catalão. Uma simples notícia de uma possível
candidatura desmobilizou as igrejas a optarem por participar ou não participar do
evento. Esse momento demonstrou a frágil à unidade entre os evangélicos, unidade esta
muito mais presente no discurso do que na prática.
Resolvi entender melhor esse meio dos evangélicos. No começo, considerava-os
um todo homogêneo e não tinha conhecimento das divisões e interpretações distintas
em muitas questões, inclusive em relação à política. Com todas minhas indagações, de
primeiro momento fiz contanto com o Pastor Antônio, amigo e parceiro de
evangelização do Pastor Daniel, ambos pastores fundadores da mesma igreja e ambos
com intenção de candidatura.
O Pastor Antônio logo me passou seus números de contato e aceitou a proposta
de eu acompanha-lo antes do período da eleição e quando sua candidatura fosse
registrada. A primeira vez que o abordei ele estava em uma manifestação contra o banco
Itaú promovido pelo MCP5, em defesa de uma família camponesa que estava sendo
ameaçada de ser desapropriada. A adesão do Pastor à causa camponesa se deu em razão
de que vários camponeses integrantes do MCP são membros da igreja que ele pastoreia
em Santo Antônio do Rio Verde, um distrito de Catalão em que a produção rural é
5 Movimento Camponês Popular.
15
muito forte. Por ocasião das ações em prol dessa causa, ele fez inclusive greve de fome
juntamente com Dona Elvira, proprietária da terra, e um aluno da UFG-Campus de
Catalão. O mesmo me informou que junto com o sindicato SIMECAT6 tinha participado
também da greve dos agentes de saúde em frente à prefeitura. É importante lembrar que
um dos lideres do SIMECAT é presidente do partido PDT o que explica a ligação do
Pastor com este sindicato e suas causas.
Logo no começo, o pastor Antônio estava com muitas reuniões marcadas com
alguns pastores e moradores de bairros mais afastados. Em sua fala me dizia sempre que
sua motivação era trabalhar para Jesus Cristo e fazer que suas doutrinas fossem
praticadas na Câmara. Ficou perceptível que a sua participação nesses vários espaços
resultou numa visibilidade que possivelmente o ajudaria no pleito político.
Esse primeiro momento no campo de pesquisa foi ao mesmo tempo muito difícil
e desafiador por vários motivos, assim quero destacar quatro deles. Primeiro porque o
Pastor Antônio só ficava sabendo das suas atividades a poucas horas antes de acontecer,
segundo por que aquele era um momento em que muitas coisas estavam acontecendo de
maneira que foi intensa a mobilização para acompanhar aquele frenesi de
acontecimentos. Terceiro, porque tive que organizar e me articular rapidamente para
conciliar as atividades acadêmicas com o trabalho de campo, uma vez que estava em
período de cumprimento de disciplinas. Assim que tinha alguma informação sobre uma
possível reunião ou outro ato qualquer, via-me obrigada a me desdobrar para inserir
aquela atividade na minha agenda.
O quarto motivo, talvez o mais difícil e desafiador, foi interpretar as motivações
do sujeito que se colocava naqueles espaços que acompanhei. Reconhecer e saber
separar, se é que isto é possível, quem atuava naquelas situações, ou seja, qual
motivação era predominante: se a do Pastor evangelista cuidando do rebanho ou do
candidato político em busca de eleitores. Se o pastor via a politica como um meio de
atuação para o seu proposito religioso ou se o candidato político via o espaço religioso
como meio de alcançar seus objetivos. Se o pastor via a politica como uma ampliação
da sua igreja ou se o candidato foi motivado pelo interesse de um partido nesse grupo de
eleitores em pleno crescimento. O que o politico tem do religioso e vice e versa. Ou
6 Sindicato dos Metalúrgicos de Catalão
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mesmo se esse esforço de separação que me vi fazendo entre o papel do politico e do
líder religioso não se trata apenas de um engano de interpretação. Enfim, o campo me
inquietou no sentido de tentar absorver os posicionamentos e escolhas num momento
em que tudo estava em planejamento e as imagens públicas constituíam-se.
Diante destes motivos e questões me vi obrigada a rever o projeto de fazer a
pesquisa acompanhando apenas o pastor Antônio, pois estava se tornando inviável
acompanhá-lo, vez que não conseguia estar frequentemente com o mesmo. Minha
intenção era acompanhar desde o começo, já que nem ele sabia dos seus compromissos,
pois não seguia um planejamento e agenda fixa. Após isso, decidi que faria uma
pesquisa analisando todos os candidatos de uma forma mais distante, o que me permitiu
uma visão mais panorâmica e me deu dimensão maior da pluralidade dessa relação entre
política e religião. Não acompanhar um candidato foi positivo, pois esta proximidade
poderia comprometer minhas analises. Lidar com todos os candidatos de uma forma
mais distante teve outra vantagem, pois muito deles não me conheciam e não sabiam da
minha profissão de fé. Viram-me apenas como pesquisadora, e fui tratada como tal.
Quero registrar não uma dificuldade, mais uma curiosidade na minha
experiência de campo. A maioria dos candidatos que entrevistei não sabia que sou cristã
evangélica, a outra parte sim. O tratamento que recebi de ambos foi diferente. Aqueles
sabiam da minha profissão de fé falavam muito mais intensamente como líderes
religiosos, ressaltando os argumentos voltados à fé. Trataram-me, inclusive, como uma
apoiadora da causa deles, falando mais à vontade. Já os que não sabiam ficavam cheios
de cuidados com minha presença e cautelosos com suas falas, pareciam me ver como
uma possível ameaça a sua candidatura e ao nome das suas igrejas. Havia certo temor
em responder as questões, por receio de se comprometer pelo uso de sua fala, já que a
desconfiança deles em relação a minha intenção era visível. Com todos os candidatos
tive o cuidado de focar na pesquisa e nos interesses como pesquisadora, minimizando o
máximo possível os afetos que a minha fé poderia causar sobre a minha identidade de
pesquisadora, deixando claro para todos que o foco da pesquisa era cientifico e não de
fé.
Percebi que parte dos candidatos usava na sua fala muitos jargões do universo
religioso, como misericórdia, amém, louvado seja Deus, nosso propósito, dentre outros.
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E já observavam que, além do meio religioso, precisavam ser reconhecidos pela
sociedade.
Sucessivas leituras foram me abrindo os olhos para conseguir observar e
absorver as características desse meio. Por via da obra de Pierre Boudieu, “A Economia
das trocas simbólicas”, percebi como o meio religioso possui um habitus. Este habitus
são disposições incorporadas características de um grupo, que o identifica tanto no meio
de outros grupos como também traz respeito entre os membros de seu grupo. Este jeito
de se expressar e de ser facilmente reconhecido é o que faz a pessoa ou no caso o
candidato ser definido como crente (religião protestante evangélica). No campo
identifiquei características que chegam a compor um código. As pessoas religiosas
usam muito os seus mandamentos e doutrinas de suas igrejas para compreender as
relações sociais em seu meio, e assim suas crenças têm muita influência em suas
escolhas e ações.
Quando estava em campo acompanhando os candidatos, fui descoberta pelos que
desconheciam a minha fé por não possuir este habitus. E isso é a causa de em muitas
vezes algumas coisas serem restritas ao grupo, por tentarem proteger suas crenças de
qualquer pessoa que possa, de alguma forma, desrespeitar e publicar alguma coisa que
desconheça ou que tenha visto de uma forma preconceituosa. Enfim, o meio evangélico
pode ser fechado e carregado de formalismos. No começo do campo me deparei com
um espaço no qual precisava ganhar mais confiança, o que me fez ter muito cuidado,
uma vez que eu era observada e considerada “suspeita” e “perigosa” a todo momento
por alguns líderes religiosos. Tal avaliação passava por uma análise do meu habitus de
estudante universitária, expresso em aspectos simples como meu corte de cabelo, unha,
maquiagem, roupa, tatuagem, piercing, forma de se expressar, etc.
Percebi que quando se trata de uma pesquisa de universidade, os pastores em
geral pensam que sua religião vai ser questionada, além de acharem que sairão
publicações que desrespeitem sua fé e o nome da sua igreja. Esse medo é frequente, pois
sabemos que em geral as igrejas buscam sempre espalhar suas doutrinas e crenças e
agregar membros. Esse temor também se dá por um discurso tanto de algumas igrejas
como de pessoas da academia que insistem em separar fé e ciência como coisas que se
excluem, por serem absolutamente contraditórias e antagônicas.
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Foi importante conhecer os candidatos no começo, saber que são evangélicos,
pois como nos acrescenta Marcio Martins em “Tributos do Povo, Servos de Deus”
(2005), o processo eleitoral é um processo que o candidato está em constante
construção, ele se encontra em frequente contanto com a ideologia do partido. O
candidato busca uma aceitação que o leve a ser eleito, e por isso muitos se secularizam
tanto que nem reconhecemos em seu discurso que são candidatos oficiais da igreja. Por
isso, ressaltamos a importância de acompanhar estes candidatos desde cedo, para captar
suas primeiras intenções e acompanhar esse processo de transformação durante o
processo eleitoral. Percebe-se que eles buscam uma exposição pública muitas vezes
vinculada a projetos de ajuda social, ou alguma atuação na sociedade. Os candidatos
começam a se comportar como se tivessem que se tornar atraentes para serem aceitos.
Estar atento o tempo todo ao discurso que os candidatos usam é importante para
compreender seus objetivos de primeiro momento, bem como também entender o que
os levou a candidatura, vez que seus discursos e propostas estarão carregados de
demandas daquele grupo que os apoia ou que espera maior aceitação da candidatura e
votos.
Os candidatos saem de algum lugar e são motivados por algum interesse,
erguendo-se como porta-voz de um grupo, mas tendo que se identificar com outras
demandas. Assim, durante o processo eleitoral, os candidatos buscam agregar propostas
variadas para que muitos grupos se identifiquem e para que consigam apoio político,
mesmo que isso implique em algo que seja, em alguma medida, contraditório com a fé
professada. Nesse momento percebemos que a perda de uma eleição pode estar ligada a
candidatos que buscam apenas os votos de um grupo, e o seu discurso é apenas para tal
grupo. E o que acontece na maioria das vezes é que os outros membros da sociedade
não buscam representantes políticos que vão apenas defender e privilegia um segmento.
Durante o processo eleitoral, busquei observar as principais motivações dos
candidatos evangélicos e quais os apoios que estes buscavam, pois havia muitos
convites de distintos partidos para candidatos religiosos para que aderissem as suas
legendas se declarando como pastores ou ressaltando suas funções na igreja. Observei
que essa busca por candidatos a vereadores era uma tentativa de que cada voto para o
possível vereador fosse um voto para o prefeito do mesmo partido.
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Os candidatos evangélicos em geral buscam ser representantes de Deus, ainda
mais quando um partido busca em sua legenda candidatos que se identifiquem e se
declarem como religiosos. Desta forma, o partido “comprova” que se aproxima de
princípios cristãos. São muito mal vistos os que se consideram ateus ou satânicos, já que
os partidos trabalham muito com a imagem do candidato e procuram mostrar os
candidatos com vidas perfeitas e padronizadas. Na nossa sociedade ainda há muita
rejeição por integrantes de outras religiões por haver um preconceito que enaltece a
cultura ocidental cristã.
Com o frenesi das campanhas eleitorais, logo percebi quem eram os candidatos
evangélicos e procurei observar suas propagandas políticas e seus desempenhos no
palanque. Tive dificuldades em ir a todos os comícios, por falta de transporte, mas fui a
alguns. Sempre antes do comício havia ou uma caminhada pelo bairro algumas horas
antes, ou uma carreata, e logo depois começava o comício. Nele, todos os candidatos
subiam no palanque, mas não eram todos que podiam usar o microfone. Os comícios
eram feitos em diversos bairros e em geral os que usavam o microfone eram os
candidatos moradores destes bairros e os candidatos mais reconhecidos pelo povo, ou os
que tentavam reeleição.
A cidade de Catalão caracteriza-se como uma cidade pequeno-média, com cerca
de 90.000 habitantes, na qual identifica uma rivalidade grande entre dois partidos. As
pessoas da cidade têm verdadeiro fascínio, durante o período eleitoral, em falar sobre
política, sendo o assunto nas escolas, nas ruas, rodas de amigos, ate mesmo nas igrejas.
Como acontece em muitas cidades pequenas, política é assunto associado apenas ao
período de eleição e de candidatura. As pessoas escolhem seus candidatos por
afinidades ou por privilégios a ganhar. Moacir Palmeiras nos remete a esse aspecto
quando ressalta:
O tempo da política não envolve apenas candidatos e eleitores, mas
toda a população, cujo cotidiano é subvertido. Nesse período de
conflito autorizado, as facções políticas em que se dividem as
municipalidades – ao longo do ano, mais uma referência a “navegação
social” das pessoas do que grupos substantivos – se explicitam
plenamente. A sociedade exibe divisões. Não é casual que se trate de
um período marcado por rituais e interdições. Nele, mais do que a
escolha de representantes ou governantes, parece estar em jogo um
rearranjo de posições sociais. (PALMEIRAS M. 2000, p. 171-172)
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Assim, não se trata de avaliar a melhor proposta política para a cidade e nem,
caso tratar-se de uma reeleição, de avaliar se o então candidato teve um mandato limpo
sem corrupção ou sua administração para a cidade. Em Catalão, como outras cidades de
interior, o que prevalece é o poder simbólico da família que está no poder. Os
moradores têm vínculos partidários que não se justificam por razoes estritamente
politicas, mas por aproximação, por privilégios, entre outros. Muitas vezes nem
entendem a diferença de um cargo para outro e sua função (vereador, prefeito, vice-
prefeito e etc).
Durante a eleição me senti como se estivesse em uma partida de futebol. Quando
você vai em um comício que ninguém te reconhece, a sensação é como estivesse com a
camiseta do seu time na torcida adversária. Durante o comício ainda é frequente ouvir
nos dois partidos que mantém essa rixa política: “Tem pessoas aqui do outro lado, que
estão nos espiando, mas vocês não me intimidam”, ou coisa parecida, e nesses
momentos que o então candidato faz sua fala é como se ele tivesse feito um gol na
partida e os cidadãos presentes favoráveis vão ao delírio com gritos e aplausos por ter
um candidato tão corajoso em sua cidade.
Enfim, circula uma ideia que apenas no período eleitoral podem-se ganhar
favores e privilégios. A escolha do representante é feita pelo cidadão a partir de quanto
vai ser beneficiado por sua eleição. Há um pragmatismo disseminado de tal forma que
os candidatos parecem não refletir que administrar uma cidade e ter um cargo político é
ser representante de toda uma sociedade, criando leis e dividindo recursos para todos.
Mas o que me nutriu maior curiosidade era entender as principais motivações
que fazem esses “servos de Deus” buscarem o exercício da política para realizar o “ide
do Senhor” ou para mostrar seu diferencial, como “sal da terra e luz do mundo”. E
procuro desenvolver o texto tentando compreender esse universo do religioso e a ponte
que o leva ao político. Lugar este que ao mesmo tempo em que é considerado por uns
como impuro é também visto como a única opção para proteger e abençoar a sociedade.
Assim, durante toda a pesquisa procurei compreender os objetivos que levaram
estes senhores a se candidatarem. E tentei acompanhar estes candidatos no processo
eleitoral observado seus progressos e agregações de valores e mudanças no pensamento
e comportamento.
21
CAPÍTULO II
2 - FÉ DEMAIS À ELEIÇÂO: PROJETOS DE DEUS PARA O HOMEM
OU PROJETOS DO HOMEM PARA DEUS?
A cidade de Catalão possui muitas igrejas evangélicas. Caso atuassem na eleição
como unidade e fechassem com alguns candidatos, poderiam eleger e escolher os seus
próprios representantes. Mas isso não ocorre porque não há uma identificação entre os
membros dos diferentes seguimentos evangélicos, principalmente quando se refere à
questão política. Em Catalão-GO, num primeiro momento, observou-se que a entrada
dos evangélicos na política foi motivada por convites dos partidos locais, que buscavam
votos em diferentes grupos para a eleição majoritária. Assim, os partidos buscaram uma
variedade de candidatos a vereadores para que trouxessem votos para os prefeitos.
Dentre os evangélicos a questão da política como carreira possui duas visões: A
primeira que a política é um lugar sujo e corrupto, e sendo assim os puros têm que se
afastar e se preservar. O pastor José Ricardo (Igreja Sal da Terra), presidente do
conselho de pastores de Catalão, expôs sua opinião sobre o assunto:
Em primeiro lugar a questão da candidatura em si, é algo que eu vejo em
minha opinião, a primeira coisa que precisa ocorrer na mente e no coração
destas pessoas que são levadas a serem candidatos. Eu creio que, como são
homens espirituais, a primeira coisa que tem que haver é a revelação de
Deus no coração deles. Então havendo uma revelação no coração deles eu
vejo que é pertinente. Uma vez que nos temos visto como o meio evangélico
tem tomando posse de algumas esferas que até então eram totalmente
desconhecidas ou totalmente nós não tínhamos acesso. Então eu vejo isso
com bons olhos, porque a palavra de Deus nos diz que temos que levar as
boas novas até os quatro cantos do mundo e uma oportunidade do povo de
Deus mostrar o seu trabalho. Mas lembro mostra o seu trabalho aquele que
tem a revelação de Deus, aquele que não vá fazer o seu próprio interesse
pessoal, a sua própria vontade carnal. Então eu entendo que uma
candidatura, eu não posso aqui nenhum daqueles que se lançaram candidatos
se houve relação ou não. Mas no meu entendimento precisa haver uma
revelação. Havendo uma revelação, a igreja em si como um corpo, como um
todo, a igreja deveria estar voltada também para entender sobre política.
Uma vez que nós nos esquivamos da política porque temos um entendimento
distorcido que a política hoje é só corrupção, que é só ladrões, distorções.
Mas nós temos que entender que são os lugares que nós temos que ir para
fazer a diferença, uma vez que a Palavra de Deus nos diz que seríamos
22
cordeiros no meio de lobos, mas que faríamos a diferença...(Entrevista com
José Ricardo, agosto de 2012).
O seu ponto de vista é que a candidatura do evangélico para ser uma “benção”
tem que ser uma determinação de Deus. Segundo o pastor, muitos usam a candidatura
como uma determinação de Deus para fazer circular a mensagem de Cristo, mas a
vontade é apenas da pessoa mesmo, assim a pessoa deixa de fazer a vontade de Deus e
começa a agir de acordo com os seus próprios interesses. Também comentou que
recebeu um convite para se candidatar, mas está fazendo um trabalho e nesse momento
apenas iria fazer a sua própria vontade.
Na opinião do pastor José Ricardo, o evangélico tem que ver a política como
um espaço para circular a mensagem de Cristo. Mas deixou bem claro que considera
muito prejudicial e perigoso o envolvimento com a política quando a motivação nasce
da vontade individual. Esta vontade que ele caracteriza sendo “carnal”, que nasce do
próprio indivíduo para realizar suas vontades e não preza pela obediência aos princípios
do “Senhor”.
As interpretações e visões sobre o que convém e não convém são muitas.
Percebe-se que líderes religiosos possuem a visibilidade do poder de atuação dos
religiosos protestantes na cidade, mas que tem certo receio de confiar e não serem
devidamente representados trazendo problemas, possibilidades de constrangimento e
desonra, se algo sair errado. Outro temor é o medo de que as pessoas julguem todos os
evangélicos pela postura de uma única pessoa, ou seja, de reduzir todas as igrejas a um
indivíduo e seu “mau testemunho” tornando popularmente uma característica formada, o
que prejudicaria o principal princípio do protestante (apresentar o Evangelho para a
conversão d pessoas).
Essa visão da política como campo de atuação é muito forte dentro do
protestantismo, pois se baseiam nas metáforas de “cordeiros no meio de lobos”, “sal da
terra, luz do mundo”, ou seja, todo espaço é lugar para o cristão fazer a diferença,
inclusive na política. Sobre a questão de ser necessária uma revelação de Deus,
poderíamos questionar de que forma essa revelação se dá, pois percebemos que a
maioria se coloca como “escolhido de Deus”, mas apresentam propostas e estratégias
23
bastante diferentes. Tudo indica que o fato de ser escolhido por Deus, por meio de
revelação, é uma maneira de legitimar as ações dos evangélicos no meio político.
A segunda visão é de que a igreja tem que se posicionar e não aceitar ser
governada por corruptos. Alguns candidatos usam figuras da Bíblia (Moises, Daniel,
dentre outros) para justificar a candidatura. E outros se posicionam deixando bem nítido
que os políticos têm que ser homens de Deus, justos para governar a cidade e abençoá-
la.
Além dessa polêmica sobre se é certo ou não o evangélico ser político, ainda há
um questionamento maior e mais complexo, caso se trate de um pastor. Alguns como o
Pastor Marcelo, da Igreja Presbiteriana Renovada, acredita que:
Eu penso que a política é importante para todos os segmentos da sociedade
inclusive os cristãos, agora com relação ao pastorado, eu acredito que o
pastorado é um chamado bem definido, entendeu. Eu não acredito que a
pessoa consegue administrar um rebanho e administrar uma instituição, ou
um estado alguma coisa neste sentido. Então eu penso, eu particularmente
não concordo em um pastor ser candidato e ser eleito a menos que ele desista
temporalmente de seu cargo pastoral. (Entrevista com Pastor Marcelo,
setembro de 2012)
Segundo tal ponto de vista, a candidatura de pastores é vista com muita
seriedade. Sendo assim, exercer as duas funções não fará bem e por isso o
candidato/pastor tem que se ausentar. O líder religioso deve escolher para não fazer um
dos dois trabalhos de qualquer jeito. O líder religioso Marcelo considerou, sobretudo as
funções exercidas por um pastor realmente dedicado ao seu rebanho, que na opinião
dele são árduas demais para ter que conciliar com um cargo político. Outros pastores
como o Pastor Marcelino (que se candidatou pelo PMDB a vereador) não vê nenhum
problema em exercer as duas funções. Pois acreditam que o fato de ser político, não
afeta suas obrigações do “ministério pastoral”.
Percebemos que as diferentes denominações e vertentes protestantes, seja
pentecostal, histórica/tradicional, ou neopentecostal, mesmo internamente se dividem
sobre a participação dos evangélicos na política, não há consenso. Ao que parece, as
24
posições de uma mesma pessoa podem sofrer alteração dependendo do momento e do
envolvimento com a política.
Existem muitos questionamentos, mas como vimos essa aproximação desses
dois importantes aspectos da realidade, embora tenha se fortalecido atualmente, não é
novidade. A política foi usada no começo da inserção das igrejas evangélicas no Brasil
pelas igrejas protestantes de vertente históricas como ferramenta de proteção da religião,
para se ampliar e garantir direitos de liberdade religiosa. Conforme a citação abaixo:
A revolução de 30, que findou a República Velha e colocou Getúlio
Vargas no poder pela primeira vez, trouxe consigo uma intensificação
das pressões da Igreja Católica sobre o Governo Provisório. Neste
processo, os insistentes apelos do cardeal Dom Sebastião Leme
resultaram num decreto que tornava o ensino religioso facultativo nas
escolas públicas. As lideranças católicas também se esforçaram para
criar a Liga Eleitoral Católica (LEC), instituição através da qual
pretendiam incentivar a eleição para a Assembleia Nacional
Constituintes de políticos dispostos a lutar pela inserção de princípios
de seu interesse na Constituição que viria a ser promulgada em 1934
(Mariano, 2002). Numa reação a esta nova investida dos católicos, que
pretendiam recuperar ao menos parte dos privilégios que tinham
anteriormente, alguns evangélicos se organizaram e conseguiram
eleger como deputado federal o pastor Guaracy Silveira, de São Paulo.
(Mariano; Campos; Martins, 2005, p. 26).
Em Catalão identificamos que o grupo evangélico é bastante segmentado, tendo
igrejas históricas, pentecostais e neopentecostais. A participação na política é
promovida, principalmente, pelas igrejas pentecostais e neopentecostais que buscam na
política além de proteção religiosa, criar projetos que ajudem a abrir novas igrejas, que
levem a prefeitura a apoiar eventos evangélicos na cidade, a fortalecer alguns projetos
sociais, dentre outras demandas. As igrejas históricas ou tradicionais são mais
cautelosas e dificilmente se abrem de forma direta para o jogo político, tanto é que dos
candidatos pesquisados nenhum deles são membros de igrejas tradicionais como
Metodista, Presbiteriana, Batista, Cristã Evangélica, para citar as mais conhecidas na
cidade de Catalão.
Dos com maior poder de alcance e atuação de Catalão, que são o PMDB e o
PSDB, saíram candidatos que se apresentaram como pastores ou por sua função
25
ministerial que exercem na igreja onde congregam. O interesse destes partidos em trazer
para suas campanhas pessoas evangélicas foi perceptivo. Em muitas igrejas, foram
organizadas visitas e conversas com os candidatos, mas é importante frisar a
necessidade de buscar aceitação e apoio ao grupo evangélico por ser um público que
cresce vertiginosamente. A abordagem é tão direta que em algumas igrejas os
candidatos participam dos cultos, são apresentados como candidato da igreja, sobem no
“altar” e usam o púlpito para tratar de política em plena liturgia religiosa. Os partidos
perceberam a presença de um possível nicho eleitoral através deste grupo que vem
ganhando adeptos a cada ano. Há uma divisão partidária entre algumas igrejas que
fecham com um partido e se fecham para outro partido. Há também denominações em
que a liderança se divide para apoiar tanto um quanto o outro. E possui também na
cidade igrejas que não manifestam a sua opinião, se dizem “neutras” e não apoiam
nenhum candidato; estas últimas são maioria.
Alguns meses antes do período eleitoral, alguns candidatos como Irmão Antônio
(que concorreu a vereador) e o Pastor Daniel (que se anunciava como possível vice-
prefeito), ambos pelo PDT, já se organizavam fazendo reuniões em algumas localidades
para debater a necessidade de se ter representantes evangélicos na política, bem como
acabar com o clientelismo em Catalão. A proposta desses candidatos no início da
política era se organizar e tentar propor uma política sem perseguição partidária e de
melhoras para a cidade. Outros candidatos neste momento estavam também se
articulando com partidos e organizando reuniões.
Nesta reunião, mencionada acima, a Pastora Vera, esposa do pastor Daniel
revelou que:
Nós nunca tivemos um projeto político na realidade né, nunca
pensamos, mas a partir do momento que Deus fez o chamando para o
meu esposo agente passa a obedecer. Porque quando a gente faz a
vontade da gente, a gente sempre acaba errado, mas quando faz à
vontade de Deus as coisas vão se encaminhando e a gente tem visto a
mão de Deus em tudo aquilo que nós temos feito. O Senhor está
abrindo portas, está fazendo coisas trazendo pessoas e a cada dia ele
confirma que é proposito de Deus ter este ano um Pastor aqui na
política de Catalão. Até porque o povo tem sofrido demais e o povo
esta querendo mudança, e a mudança tem de começar em cada um de
nós em primeiro lugar, quando nós começamos a mudar a mentalidade
da gente, agente consegue mudar a mentalidade das pessoas por uma
nova política. E eu conheço muito bem o meu marido eu sei dos
26
projetos dele e os sonhos dele para essa cidade. Nós estamos aqui a
dez anos, nós somos de São Paulo e nós apreendemos a amar a cidade
aqui e também agente tem visto as falhas e dificuldades que tem aqui
né em todas as áreas , coisas que poderiam fazer né ser feitas. E eu
estou do lado do meu esposo apoiando ele em tudo aquilo que Deus
quiser da gente. Não só espiritualmente a gente já disse pra Deus Eis
nos aqui e agora politicamente também. Tem muitas pessoas que
acham que crente não tem que se meter em política, mas a própria
palavra diz que “feliz a nação cujo Deus é o Senhor”. Se feliz é a
nação cujo Deus é o senhor, o senhor não vai descer aqui pra
governar, mas ele vai usar servos dele para que façam esse governo
né, e quando o justo governa o povo se alegra. E eu acho que está na
hora de o povo sofrido aqui em Catalão ter uma mudança e eu como
esposa dele também tenho essa pretensão de estar na parte social da
cidade cuidado dos menos favorecidos. Esse sempre foi meu proposito
em todos os lugares que eu trabalhei sempre olhei para a classe mais
pobre, sempre lutei por eles. É uma coisa que esta dentro de mim eu
gosto disso e é o que a gente pretende para a cidade de Catalão. Então
eu queria que vocês não só orassem mais agisse, toda oração não é só
orar tem de agir. Ora, Deus confirma, Deus tem confirmado com tanta
gente, principalmente conosco e nos ajudar nessa batalha.
(Pronunciamento público da Pastora Vera, 2012)
Nesta ocasião é declarado que é um propósito de Deus e nos passa a impressão
que sua candidatura já está garantida. A todo o momento é visto a candidatura como
propósito de Deus e estes são seus escolhidos para representar sua igreja. A fala deles é
direcionada para os que estavam no local, assim falavam sempre da necessidade de
evangelizar e de proteger, é encarada como uma guerra entre Deus e o Maligno. O
diferencial destas candidaturas é declarado neste momento para as pessoas no local
como um meio de purificar, limpar toda a corrupção e trazer bênçãos para os moradores,
bem como conversões. Assim eles buscam melhorias de distribuição de renda e também
de mudança de pertença espiritual para a cidade, e acreditam que com estas mudanças a
cidade vai prosperar.
A fala da pastora Vera revela a euforia que se tinha durante os preparativos para
a eleição. O chamado de Deus, conforme ela acentua, se confirma pelo apoio das
pessoas à candidatura do seu esposo, mas ao mesmo tempo ela chama todos para agir,
“pois só oração não basta”. Parecem se mover mais pelas questões do sobrenatural, mas
não ignoram a ação no campo do terreno e natural.
27
A questão política parece também acirrar a rivalidade entre algumas igrejas, pois
uma denominação julga a ação de outra denominação como negativa e incoerente com a
fé professada, como quando ocorre denuncia dos pastores de troca de favores entre
políticos e candidatos. Mas devemos questionar também se isso não se trata apenas de
um discurso para se colocar como a melhor alternativa para esse segmento tão múltiplo
como são os evangélicos.
As igrejas evangélicas em Catalão, desde o início, apresentam um
distanciamento mútuo, justificado em grande medida pelas diferenças doutrinarias e de
denominação. Contudo, atualmente, existe o Conselho de Ministros Evangélicos de
Catalão (COMEC) que reúne os pastores de muitas igrejas (não são todos os pastores
que participam). Essa organização, como é de praxe no meio evangélico, está
proporcionando trabalhar com a convivência entre as várias denominações igrejas. Ou
seja, é uma tentativa de articular e promover uma possível unidade entre as mesmas.
2.1- Entre conversas, encontros e propostas: religiosos e pré-candidaturas
O primeiro contato com pré-candidatos políticos evangélicos foi feito com o
Pastor Daniel e o Pastor Antônio, ambos são fundadores de uma instituição religiosa á
qual montaram juntos o projeto (Igreja Missão Vida Nova). Neste período ainda não
estavam registrando-se candidaturas, assim era difícil saber quais seriam os pré-
candidatos.
O pré-candidato Pastor Daniel vinha de São Paulo em viagens de negócios, e
acabou por se instalar em Catalão. É casado e pai de três filhos. Em suas falas
comparava muito as grandes metrópoles com Catalão, enunciando a necessidade de
trazer progresso e inovação. Estava se candidatando à Vice-prefeito na chapa do PT,
que lançaria candidato evangélico pela primeira vez. Em suas falas, o pastor Daniel
expressava sempre a diferença entre o político temente a Deus e o político sem temor.
Segundo ele Catalão precisava ser governado por políticos justos que abençoassem a
cidade com prosperidade. A igreja deveria agir e representar-se, e não aceitar ser
28
governada por corruptos. Pastor Daniel em alguns momentos citava algumas passagens
da Bíblia, como a de Moisés libertando o povo do Egito, ressaltando que a política
precisava de alguém íntegro liderando o povo.
É interessante essa associação, pois é como se o pastor se colocasse como o
próprio Moisés, o povo catalano como os hebreus, e os políticos não evangélicos como
faraós que oprimem os cidadãos. O futuro que a cidade alcançaria caso os evangélicos
fossem eleitos seria qualquer coisa como alcançar a terra prometida. A associação com
Daniel também diz muito, porque seria o homem correto em terra de corruptos.
O pré-candidato a vereador, conhecido como Irmão Antônio (PDT), é pastor,
casado, natural de Catalão, possui sete filhos, sendo muito conhecido no Distrito de
Santo Antônio do Rio Verde por sua família ter trabalhado na carvoeira e atualmente ter
uma igreja naquele local. Possui um jeito de conversar e se integrar muito popular,
consegue a atenção e carisma com as pessoas por ter um vocabulário simples. Disse em
vários momentos que “a cidade precisa de um político justo, porque quando o justo
governa o povo se alegra”. Contou também que tinha uma lista com 510 cabos
eleitorais que se ofereceram para trabalhar para ele sem remuneração. Pastor Antônio
nos disse que “são pessoas que acreditam em nós e sonham junto com a gente o nosso
sonho”, amigos que ele “conquistou durante a vida”.
É interessante notar como os evangélicos ressaltam a questão da figura do justo,
associando essa figura a eles mesmos e, principalmente, ao fato de serem evangélicos.
Uma noção de justiça que passa pela profissão de fé. O otimismo antes da definição
eleitoral também é algo a se destacar, o fato de citar os 510 cabos eleitorais é mais uma
forma de dizer que sua candidatura não é por interesse ou por projeto pessoal, mas um
pedido do povo.
Outra pré-candidata era a Pastora Vera, casada com o Pastor Daniel, que se
lançou como candidata a vereadora pelo PDT. Dona de uma forma de falar muito serena
e de uma oratória rebuscada usada apenas em alguns momentos, a pastora Vera
apresentava-se publicamente sempre acompanhada de seu marido e apenas em algumas
ocasiões coloca seu ponto de vista quando é feito o convite por ele.
29
Como o alvo era principalmente os evangélicos, essa postura da pastora Vera
pode ser explicada pela visão de submissão da mulher que algumas igrejas acreditam.
Segundo essa concepção, o marido sempre deve exercer uma posição de liderança frente
a esposa.
Pastor Antônio e Pastor Daniel além de serem amigos, estavam se candidatando
juntos a cargos políticos pelo partido PDT. Em alguns encontros realizados neste
período antes do registro da candidatura, abordaram um pouco de sua iniciativa para
participarem da eleição de 2012. Suas principais intenções era acabar com a falta de
comunicação das Igrejas Evangélicas com a prefeitura, com o monopólio político, com
a má distribuição da arrecadação da cidade e com a corrupção.
Estes dois últimos pré-candidatos estavam na posse da nova chapa SIMECAT
2012/2016, no Sindicato dos metalúrgicos de Catalão, em 30/05/2012. Ocasião em que
o presidente do partido do PDT, Carlos Albino estava também tomando posse como
integrante da nova chapa. Estava presentes o Dep Federal Paulinho da Força (SP), o ora
Dep. Estadual Jardel Sebba (GO), o Presidente do Sindicato e Presidente do PDT
(Carlos Albino estava tomando posse para o novo governo no sindicato), Presidente da
Força Sindical em Catalão, conhecido como Rodrigão, o Presidente da Confederação
Nacional de Brasília Miguel Torres, Diretor do SESI/SENAI Antônio Ilídio, Secretário
do Trabalho da Prefeitura de Catalão Professor Mamed Leão (representando o Pref.
Velomar Rios), Vereador Silvano Mecânico, Vereadora Regina Felix, dentre outros
presidentes de sindicatos de vários estados como São Paulo, Tocantins e outros. Bem
como os pré-candidatos do PDT, Pastor Antônio e Pastor Daniel, que vieram
homenagear o Presidente do seu partido que estava tomando posse.
Todos os que compunham a mesa discursaram, e após os discursos foi projetado
um vídeo que contava a história do sindicato. O vídeo era composto com fotos antigas e
depoimento do Vereador Rodrigão (presidente do sindicato que no momento estava
passando a presidência para ser pré-candidato a vice-prefeito pelo PSDB) e de Carlos
Albino (Presidente do PDT que compõe, desde a formação do sindicato, todas as
chapas, inclusive a que estava tomando posse). Este vídeo provocava um saudosismo e
sentimento de pertencimento a este grupo, e ilustrava a imagem do então Vereador
Rodrigão como implacável, porém generoso. A chapa da situação apenas mudou alguns
30
integrantes, permanecendo os principais criadores do sindicato, vencendo com 98 por
cento de aprovação.
Depois da cerimônia, houve uma mesa de salgados e bebidas no local tendo
música ao vivo. Conversei com o Pastor Daniel, que me contou um pouco da iniciativa
de se candidatar. Pastor Daniel abordou a questão dos jornais e meios de comunicação
não apresentarem a eles como pré-candidatos, e de que tinham entrevistado outros pré-
candidatos de outros partidos que foram assim identificados. Segundo ele, não é aberto
este espaço para os evangélicos, porque queriam abafar as candidaturas dos evangélicos
na cidade, por terem muito apoio e serem pessoas limpas e integras. Creio que essa
cerimonia demonstra o quanto o jogo político na cidade foi diverso.
Em sua fala com frequência citava a Deus e justificava sua candidatura como um
projeto de Deus para sua vida, para evangelizar e abençoar a cidade. Em alguns
momentos, nos quais abordava seu projeto de candidatura, apontava que já esperava
que, com sua candidatura lançada, os seus concorrentes usassem meios mentirosos para
distorcer sua personalidade e integridade. O pastor parece explorar a dicotomia entre os
bons políticos evangélicos e os maus políticos não evangélicos. Parece reforçar uma
dimensão espiritual, sobrenatural a uma questão do mundo terreno. Há um esforço de
reflexão para dizer que sempre os escolhidos de Deus sofrem perseguição daqueles que
são corruptos e corruptores.
Na oportunidade, o Pastor Antônio comentou sobre espaços nos quais ele vinha
atuando e que vinham ganhando visibilidade, como a Marcha para Jesus em Santo
Antônio do Rio Verde (GO) (idealizada por ele), o Protesto contra o Banco Itaú pelo
MCP e o apoio ao movimento grevista da UFG-CAC. São espaços que, segundo ele,
abriram-se sem arranjos prévios.
Mesmo declarando não forçar a participação em busca de visibilidade política,
suas aparições apresentam sua pessoa como pública. São cenas que fortalecem a
imagem do então candidato, ora conhecido no meio cristão, para apresentá-lo para toda
a cidade de Catalão, não deixando de ser uma plataforma política.
31
2.1.1 - Conversas e parcerias
No dia 06 de junho de 2012, uma reunião foi feita na casa do morador João no
Bairro Jardim Paraíso. João ficou responsável de chamar a população para ouvir a
proposta de trabalho dos pré-candidatos Daniel e Antônio. A conversa começou umas
07h30min. Ao chegar ao local, o Pastor Antônio foi conversar separadamente com os
homens, enquanto aguardava o Pastor Daniel. As mulheres ficavam na sala conversando
sobre coisas cotidianas.
Jardim Paraíso é um bairro muito carente, nas margens da cidade, localizado na
saída para Goiandira. A reunião foi feita em uma casa muito simples e contava ao todo
com oito mulheres, dez homens e três crianças. Os que estavam presentes eram
evangélicos, sendo alguns pastores.
A esposa do Pastor Daniel abriu a palavra contando a história da vida dos dois,
saindo de São Paulo e vindo parar aqui por projeto de Deus. Em sua fala, enfatizou o
apoio ao seu marido e acreditava que a candidatura era um propósito de Deus para com
ele. Mostrava-se muito respeitosa e submissa ao marido. A esposa do Pastor Antônio
sempre o acompanha, mas não fala nada em público. Fica apenas observado o seu
marido e olhando seu único filho com o Pastor Antônio.
O pastor Antônio tomou a palavra e falou de quando teve a afirmação de Deus
que era um escolhido para governar em seu nome. Em suas várias atuações que citou,
disse que Deus o escolheu porque é ousado e vai buscar governar lutando para
benfeitorias junto aos crentes que sempre é saciado depois de todos (colocou que o
grupo dos evangélicos é deixado de lado pela organização política na cidade). Ressaltou
a importância do contato com o povo, e o povo precisava de governantes justos que não
se corrompessem. Em sua fala, enunciava-se o desejo de governar tanto para defender a
autonomia dos crentes na sociedade como também para defender o Distrito de Santo
Antônio do Rio Verde.
O Pastor Daniel falou do “governo dos justos”, dizendo que o povo se alegra
quando vê o escolhido de Deus para a obra, e queria limpar a prefeitura de corrupção.
Em vários momentos disse que não tinha medo das forças políticas de Catalão, pois tem
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a seu favor o seu Deus, a ficha limpa e a sua integridade. Segundo ele o seu governo vai
ser de integridade, transparência e o mais importante, temor em Deus. Disse contar com
apoio dos 23 mil crentes, com os sindicatos e também com o MCP e o MST. Na sua
lista arrolava 26 igrejas de Catalão que estavam apoiando, como a Universal e a
Mundial. O povo evangélico de Catalão é tratado por ele em alguns momentos como
uma unidade que não deixaria o representante de Deus na mão.
Em seu mandato, queria criar uma secretária de assuntos cristãos, onde os
pastores seriam orientados para saber como implantar igrejas em bairros novos, e que
conseguiria também verba para ônibus em apoio a eventos e outras necessidades das
igrejas. Buscava, com este projeto, ter um patrocínio assim como a igreja católica
possui da prefeitura. Citou o seu projeto de fechar a Avenida 20 de agosto, centro de
Catalão, para o trânsito apenas de pedestres, evitando atropelamento e outras
inconveniências. Queria trazer projetos que modernizassem a cidade de acordo com seu
crescimento, e pretendia também criar uma escola de tempo integral para cerca de 1.200
crianças.
Após a sua fala, perguntou das demandas das pessoas na reunião. As mais
destacadas foram: escolas de qualidade em todos os bairros, creches, moradia, postos de
saúde, posto policial, criação de um albergue para pessoas de outras cidades que vêm
para Catalão, e a manutenção da comunicação com os políticos depois da eleição.
Os pré-candidatos ressaltaram que sua campanha está sendo feita sem recursos e
que estas demandas vão ser cumpridas se eles se elegerem, porque o seu trabalho
ajudaria a preservar o direito do povo. No final da reunião enfatizou que todos que vão
trabalhar como cabos eleitorais não iriam receber salário e nem ajuda, já que suas
campanhas seriam feitas “pela Fé em Deus e não no dinheiro”.
No final, as pessoas da reunião agradeceram e demonstraram que eles
representavam “a salvação da política”, e uma “garantia de proteção” para o povo
evangélico. Nessa oportunidade percebi que os dois estavam sendo orientados, que
faziam uso de oratória, que seu discurso era evangélico, mas abrangente e que
conseguiam transmitir uma mensagem para as pessoas. No local eles iriam distribuir
caldo de galinha, mas foram orientados pelo advogado do partido de que isso era ilegal
e poderia até mesmo levar à cassação da candidatura.
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2.1.2 - Assembleia do PDT
Na assembleia do PDT, no dia 29 de junho de 2012, foram apresentados os pré-
candidatos do partido e registrou o número de cada um. O PDT postulava uma
candidatura própria e, a princípio, esperava-se uma coligação com o PT, sendo Álvaro
do PT o candidato a prefeito e o Pastor Daniel, do PDT, vice-candidato. O candidato
irmão Antonio saiu com o numero 12345, com o mote “Tá na mão, vote no irmão
Antonio”. Neste dia, a assembleia contava com a presença do candidato a vice-prefeito
pelo PSDB, Rodrigão, e o candidato a prefeito pelo partido PHS, Giovane Cartopassi.
O interessante é que o então pré-candidato a vice-prefeito pelo PSDB Rodrigão
foi presença confirmada em reuniões do PDT e da SIMECAT, apesar de existir uma
suposta desaprovação entre os membros do PDT por não se candidatar neste partido. As
relações políticas e de interesses abarcavam muitas possibilidades, inclusive discursos
que respondiam questionamentos frequentes sobre a presença do então vereador
Rodrigão em outro partido. O conflito entre estes partidos existia, mas não era declarado
e nem levado às últimas consequências. Creio ser importante mencionar que Rodrigão
não se furtou da aproximação com os evangélicos, em suas falas ele sempre mencionou
um suposto desejo de ser pastor que se realizaria num futuro próximo e que caso fosse
eleito os seus primeiros salários seriam doados a três igrejas evangélicas. Ao mesmo
tempo sua figura também é conhecida por ser dançador nas congadas de Catalão.
2.1.3- Registros de candidaturas
Através do período de registro de candidatos a cargos políticos da eleição de
2013, podemos conhecer os candidatos de cada partido. Neste período as propagandas
eleitorais já estavam circulando, depois de já reconhecido e conhecido cada um dos
candidatos, veio à notícia de que o PMDB vetou a candidatura única do PT. Isso
ocorreu por causa de um acordo entre a aliança nacional do partido do PMDB com o
PT: sempre que um registrasse uma bancada completa, o outro partido não poderia
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concorrer com chapa majoritária. Assim, o PT recorreu várias vezes para contornar a
situação, mas não conseguiram regularizar a candidatura à prefeito de Álvaro Barbosa
da Silva (Proprietário da ADUCAT fertilizantes), tendo como vice-prefeito o Pastor
Daniel.
Depois destes acontecimentos, os vereadores do PDT ficaram sem saber o que
fazer, já que muitos impedimentos surgiram. Diminuiu-se o tempo do horário eleitoral,
escassearam-se os recursos financeiros para confecção dos populares santinhos e
adesivos, dentre outros problemas. Com esta situação o partido se dividiu. Alguns
vereadores receberam o convite e formalmente apoiaram o PSDB (apoiaram sem haver
a feitura da coligação entre os partidos); outros, como o então candidato a vice- prefeito
Pastor Daniel, apoiou o PMDB.
Durante a campanha política o Pastor Daniel era recebido e apresentado no
palanque do PMDB, “como a aliança do PT do bem”, apesar do pastor ser filiado ao
PDT em uma de suas falas, disse que depois de compreender que não sairia sua
candidatura pelo acordo entre os partidos, ele se reservou e orou, e a resposta de Deus
foi a de apoiar a candidatura do PMDB.
Durante o período da eleição muitas alianças são feitas e desfeitas. Percebemos
que estes acordos são aceitos apenas quando se analisa que suas opções eram poucas.
Não podemos deixar de ressaltar que antes do período de propaganda vigente da eleição,
candidatos que associavam o mandato do PMDB na cidade com características
coronelistas passaram, com os realinhamentos de poder na pré-eleição, a considerar o
poder municipal em vigência em termos mais brandos.
2.2 - Candidaturas evangélicas para vereador:
2.2.1- Pastor Marcelino
35
Pelo Partido Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), se candidataram
como vereadores evangélicos o Pastor Marcelino, pastor da IEQ7 há mais de quinze
anos, casado com a Pastora Rozana (que na penúltima eleição concorreu ao cargo de
vereador). Pastor Marcelino participa do conselho de pastores e se candidatou por
convite feito pelo PMDB, partido do qual participa desde 2002. Dotado de um tom de
voz seguro e uma sonoridade mansa, passa tranquilidade e simpatia, se veste com
roupas sociais e postura de executivo.
Durante a entrevista demonstrou uma tranquilidade e segurança em sua fala, não
demonstrando nenhuma reclusão a entrevistas. Segundo o mesmo, o projeto de se
candidatar veio por meio de convite. Ao longo da entrevista, afirmou que “apesar do
Dr. Adib Elias não ser cristão, ele é o abençoador da igreja”. Acreditava no trabalho
do candidato a prefeito Adib Elias. Com dificuldades na candidatura, citou a luta para
que a política seja vista como espaço de atuação dos crentes. Seu ministério não
considera a política como impura, já que a igreja quadrangular articula-se por
secretarias de vários níveis (nacionais, estaduais, regionais e municipais).
Pastor Marcelino citou personagens da Bíblia como Rei Davi, Rei Salomão,
Apostolo Paulo, os fariseus e Simão Pedro, para dar exemplos que já existia políticos na
Bíblia. Reforçou que as mudanças na sociedade apenas serão feitas quando não houver
mais pessoas governando sem o temor de Deus. Pastor Marcelino comparou o seu
pastoreado com exercer seu cargo político: governar é cuidar bem da sociedade de uma
maneira ampla, cuidar não somente da cidade, mas das pessoas. Considera que a igreja
já ajuda muito a sociedade restaurando famílias, fortalecendo a moral e auxiliando as
pessoas contra os vícios. Sua instituição religiosa possui três igrejas em Catalão e nove
congregações. Caso eleito esperava ser, encontrado nestes lugares, sempre acessível à
população.
Como propostas, Marcelino advogava a leitura da bíblia na abertura de todas as
seções da Câmara Municipal de Vereadores de Catalão, e defendia projetos para
construção de moradias populares, de passarelas entre alguns bairros nos quais passam
rodovias. O candidato planejava continuar pastoreando se fosse eleito, afirmando que a
7 Igreja do Evangélico Quadrangular.
36
cidade precisava de candidatos cristãos que fossem íntegros, que dessem um exemplo
de honestidade e, acima de tudo, ficha limpa.
Apesar de dizer que quer governar amplamente e não ter proposta específica
para os evangélicos, Marcelino apresenta algumas propostas como a leitura da Bíblia,
que privilegia este grupo. O candidato não cita em nenhum momento a existência de
vereadores evangélicos, ao contrário, diz que há mais de 20 anos a cidade está
carecendo de políticos evangélicos.
2.2.2- Vandeval Florisbelo
Ainda na legenda do PMDB, cadidatava-se à sexta reeleição Vereador Vandeval
Florisbelo, divorciado, professor da rede pública estadual de educação de Catalão,
membro da Igreja Assembleia de Deus Madureira, vereador pelo quinto ano
consecutivo, candidato a vereador pela oitava vez. Muito conhecido pela cidade por
fazer sua campanha caminhando ou de bicicleta, sua figura é associada pelos moradores
por ser um político honesto.
Em entrevista, disse: “Comecei na política em 1982, no projeto como vereador
dos bairros. Minha bandeira prioritária é a educação. Eu sou professor, então minha
meta e meu objetivo era criar cursos superiores, graduação e cursos técnicos”. Este
vereador participou de greves e lutas por melhorias na educação, e talvez por isso
poucas pessoas reconheçam este candidato como evangélico. Disse que no seu trabalho
de vereador já vetou leis controversas aos cristãos. Possui projeto especifico para o meio
evangélico: criar o dia do evangélico e criar um dispositivo para que nos prédios do
poder legislativo, executivo e judiciário haja uma Bíblia na porta.
Declarou ser muito importante um cristão que acredita nos mandamentos de
Deus estar legislando, porque assim como para Davi e outras personagens da Bíblia, a
política é importante e não tem que ser vista como um meio impuro e sujo. Espera que
monte uma bancada evangélica na Câmara para defender as causas evangélicas.
37
Comporta-se e se veste com roupas simples e uma oratória direta. Demonstrou
seu principal interesse pela educação e pela saúde, como proposta possui implantação
da UEG e do Instituto Federal Goiano, construção de ciclovias, implantação do
UPA(unidade pronto atendimento), centro de línguas estrangeiras, projetos para
moradia popular, e implantação da secretária da juventude.
Por não usar muito na sua fala o nome de Deus, e não fazer recurso espontâneo a
expressões que confirmem sua pertença evangélica foi algumas vezes criticado por
alguns grupos do meio evangélico de não estar protegendo os dogmas da igreja em sua
legislatura.
2.2.3- Tiago Batista
Candidatou-se pela primeira vez, pelo PRTB, coligação com o PMDB. Casado
há pouco tempo, pai de uma menina e filho do pastor João (com o qual mora), da igreja
Cristo Vivo (onde congrega). Tiago estuda engenharia numa universidade pública. De
perfil mais retraído, durante o período eleitoral esse candidato não frequentava os
comícios, aonde sempre colocavam um pôster com seu número e nome. Candidatou-se
pela juventude do PMDB, que lançaram candidatos jovens, com propostas direcionadas
para os jovens. Durante a campanha usou um cavanhaque para dar um visual mais
responsável e maduro.
2.2.4- João Alexandre
Primeira candidatura, casado, frequentava a Igreja de Deus. Candidatou-se pelo
PSC, coligado com o PMDB. Dentro do grupo dos evangélicos, era bastante conhecido
por igrejas neopentecostais, comparecendo inclusive em algumas programações. Não
participou muito de comícios. Suas propostas são ligadas aos bairros carentes e
afastados como o Bairro Pontal Norte e à melhoria dos serviços de saúde, tendo como
proposta a fundação de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos.
38
Em sua campanha seu slogan era “João Alexandre, a bola da vez”. Tanto sua
postura como sua oratória era simples, sendo qualificado nas propagandas como um
candidato a vereador que veio do povo, não está ligado à imagem de servo de Deus em
sua campanha.
2.2.5 - Dr. João Quesslen
Candidato pelo PTB, casado, advogado, aposentado pelo Ministério dos
Transportes, natural da cidade de Catalão, obreiro da Igreja Mundial do Poder de Deus.
Em entrevista disse que resolveu se candidatar por um convite das autoridades
superiores da igreja. Segundo João Quesslen, após conversa com Roberto Santana
(Bispo do Estado de Goiás) foi convencido da importância de se ter um vereador
aprovado pela igreja para defender “as causas evangélicas” (o lema da campanha era
“em favor das causas evangélicas e da proteção à família e do cidadão”), e proteger sua
igreja da perseguição política e de leis que feririam a liberdade da igreja.
Seu partido era coligado com o PSDB, tendo recebido convite de Jardel Sebba,
ao qual fez elogios dizendo que a campanha do candidato “era baseada na esperança do
verdadeiro Deus”. Como proposta de atuação política, se eleito fosse (em entrevista
chegou a dizer que já está eleito por Deus), gostaria vigiar o orçamento público e fazer
com que os impostos fossem usados em prol da justiça social, em trabalho com
dependentes químicos, viúvas e outros necessitados.
Ao ser questionado por apoio político pelos crentes, disse: “não tenho apoio de
nenhum evangélico eu tenho apoio de Deus, do espírito santo de Deus, eu trabalho para
Jesus Cristo em todos os lugares...”. Em sua fala é nítido que seu projeto é feito e
proposto pela e para sua igreja.
João Quesslen possui um perfil de religioso histórico por ser fechado e rígido,
possui uma oratória muito erudita. Ao ser argumentado, sempre respondia embasado na
Bíblia e citava o nome do Apostolo Valdomiro Santiago. Demonstra um envolvimento
muito grande com sua igreja e um prestigio com a pessoa de Valdomiro Santiago.
39
2.2.6- Pastor Silvio
Casado, pastor da Igreja de Cristo entrou na política por uma retribuição. Sua
igreja possui um projeto social uma casa de recuperação de dependentes químicos. O
projeto precisava de um favor político, e em troca do favor o mediador exigiu que Silvio
se candidatasse. Segundo o próprio pastor Silvio, depois ele mesmo acabou percebendo
que gostava, disse até que “estava no sangue”. Disse então que através da política
buscava ajudar o próximo, através da sua igreja já promove trabalhos sociais, mas
através da política busca uma maior abrangência de recursos para poder ajudar mais
pessoas. Afirmou que sua proposta é cuidar do ser humano, beneficiando as creches, os
postos de saúde, apoiando todos os projetos do Jardel Sebba.
Sobre apoio no conselho de pastores do qual participa, afirmou que não possui
apoio, tem apenas amigos. O Pastor Silvio considera pastores e políticos como líderes,
por isso se vê instruindo para liderar e garantir os direitos do povo. Disse que “um dos
meios mais divididos em termo político é a igreja evangélica, não temos aceitação”, “à
igreja falta sabedoria para entender como o pastor pode trabalhar sendo político”.
Pastor Silvio se via perseguido pela oposição por desenvolver trabalho social,
muitas vezes confundido com uma busca de arrecadação de votos. Afirmou que suas
obras sociais não são realizadas com a intenção de se promover, mas pelo chamado de
Deus. O Pastor Silvio se mostra muito cuidadoso com as palavras, é bem orientado,
falou muito do amor ao próximo e da necessidade de preservar a família e ajudar os
necessitados, enunciando um discurso ainda em construção: falava ao mesmo tempo de
modo simples e com palavras mais elaboradas. Sempre se candidatou pelo PSDB, e
demonstrava convicção que seria eleito. Andava sempre acompanhado de evangélicos
que o apoiavam e com alguns rapazes da casa de recuperação. Estava presente em todas
as caminhadas e comícios do seu partido.
2.2.7- Pastora Vera Lúcia
Esposa do Pastor Daniel, já citada neste trabalho. Apesar de ter se apresentado
em muitas ocasiões sua candidatura, não fez campanha eleitoral, talvez pela dissolução
40
do seu partido. Não apareceu em comícios se mostrando como candidata, apenas
acompanhava seu marido Pastor Daniel em comícios do PMDB.
2.2.8- Pastor Antônio
Como já citado acima, após a proibição da candidatura do PT com o PDT, ele
recebeu um convite do PSDB e o apoiou, ao contrário do Pastor Daniel que resolveu
apoiar o PMDB. Aparecia tanto no programa eleitoral como em caminhadas e comícios
feitos pelo PSDB. Seu partido não fez coligação formalizada. Desenvolveu sua
campanha fazendo reuniões em casas e dentro de sua igreja afirmou que também falava
de política, mas orientando os seus membros sobre a importância do voto em certos
momentos. É importante ressaltar que o pastor exerce uma posição de liderança em
relação aos membros de sua igreja, certamente sua orientação foi direcionada para
aquilo que ele defendia naquele momento ser o melhor para a igreja, de certa forma há
aqui uma orientação ou uma tentativa de orientação dos votos.
Estes foram os principais candidatos evangélicos na eleição que pesquisamos.
Após a apresentação dos candidatos os eleitores tiveram variedades de escolhas.
O interesse dos partidos por candidatos que se mostrassem evangélicos foi nítido.
Alguns partidos inclusive fizeram reuniões com grupos de pastores para apresentar suas
propostas e ouvir as necessidades deste grupo e consequentemente teve muitas visitas
de candidatos em várias instituições religiosas. Dentre essas destaco uma realizada no
Bairro Santa Terezinha, a título de exemplo para expor como se deu essa prática.
Ana (esposa do candidato a prefeito Jardel Sebba - PSDB) e Mirian (Pretinha
como é conhecida e chamada, esposa do vice-prefeito Rodrigão), Pastora Débora
(esposa do Pastor Silvio) organizaram uma reunião no Bairro Santa Terezinha na casa
da Pastora Edna (Igreja Filhos da Promessa).
Dona Ana apresentou a proposta do PSDB para os evangélicos. Assim como tem
a semana da Festa da Nossa Senhora do Rosário, a proposta é criar uma semana com
feriado para ter uma festa com bandas, conhecidas no meio gospel, em Catalão e abrir
41
espaço para cada igreja também fazer apresentações nesse período separa para os
evangélicos. Inclusive no momento de sua fala citou o exemplo da Festa do Nossa
Senhora do Rosário de Catalão e criticou a religiosidade como uma “festa pagã”.
Mostraram também as propostas do Jardel para a sociedade, falando da saúde, escola
integral, construção de casas populares, maior representatividade nos bairros carentes e
afastados, financiamento ônibus e bolsas para estudantes de nível superior, etc.
A pastora Débora esposa do candidato a vereador Pastor Sílvio, abordou a
dificuldade de estar mantendo a Casa de Recuperação de Catalão, o governo da atual
prefeitura não tem nenhum tipo de apoio para este projeto e, além disso, disse que há
uma perseguição política contra o seu marido. Abordou os projetos de construção de
uma casa de recuperação para mulheres e idosos e um asilo em Catalão.
O PSDB constituiu um Comitê Evangélico separado do Comitê do PSDB. A
idéia surgiu na ultima eleição para abranger o povo evangélico, buscando assim a
articulação dos líderes e a participação deste grupo. O local era reservado para os
candidatos evangélicos realizarem reuniões e programações. Neste ano nesse comitê se
encontrava material eleitoral dos candidatos Irmão Antônio, e da candidatura de Jardel
Sebba e Rodrigão, com informativos que cotava a vida e a proposta destes candidatos.
As reuniões com lideranças evangélicas foram frequentes, ao que parece apenas as
igrejas históricas, ditas tradicionais, se recusaram a receber candidatos para expor seus
projetos, por entender que a igreja não pode ferir a autonomia do cidadão e direcionar
seu voto.
2.3- Políticos religiosos ou Religiosos políticos?
Por acompanhar estes candidatos percebemos que eles se dividem, basicamente
em três grupos, separados de acordo com seus modos de fazer política e como se
portam. Essa divisão de grupos, que fizemos para mapear cada um deles nas suas
semelhanças e diferenças, de forma mais didática, não é estanque e a circulação dos
42
candidatos evangélicos de um grupo para outro pode ocorrer, sobretudo, ao sabor das
circunstâncias.
O primeiro é o grupo dos evangélicos que em sua campanha se identificam com
a função que realiza em sua igreja. Sempre antes do nome vem à função (pastor, irmão,
dentre outras.). Suas propostas são, sobretudo, trabalhos sociais com os mais carentes,
possui um perfil que logo os identifica. Um dos pontos que este grupo trabalho é
defender a igreja evangélica de perseguição, dar espaço e visibilidade ao grupo.
Colocam-se como os defensores da fé cristã em Catalão, os militantes da causa gospel.
Lembram os primeiros cristãos que se candidataram como nos relata a obra de
Marcio Martins (2005, p. 200) “Tributos do Povo, Servos de Deus”, que os políticos
evangélicos ideais deveriam lutar contra as interferências e favoritismos para a igreja
católica e transmitir a palavra de Deus. Neste grupo está o Irmão Antônio, Pastor
Daniel, Pastora Vera, Pastor Marcelino, Pastor Silvio, Tiago Batista. São reconhecidos
facilmente por terem um vocabulário e expressões típicas do meio evangélico, como
“misericórdia”, “aleluia”, “benção”, “amados”, “repreendido”, “Tomar posse”,
“propósito de Deus” e etc.
Um dos motivos que sustentam para a importância de ter vereadores evangélicos
na política é para proteger a igreja de leis que beneficiem os homossexuais, leis que
persigam as igrejas ou que beneficiem a igreja católica. Em entrevista o Pastor Antônio
nos disse:
...eu creio que apartir de novos partidos que estão chegando aí, eu creio que a falta
de representante dos evangélicos, a dificuldade de enfrentar a câmara de agora para
frente com as leis que se aparecer, as leis da homofobia, a lei do aborto, a lei das
imagens agora diante da nossa cidade, pode até que hoje com o susto do numero do
povo evangélico, eu creio que nós estamos pegando aí os abaixos assinados e pode
até abafar isso por um tempo,mas eu creio que eles o Dom Guilherme tem um ponto
fechado com o prefeito eleito em nossa cidade para que estas imagens sejam
colocadas em nossa cidade... (Entrevista Pastor Antônio, janeiro, 2013).
Todo o debate que ocorre a nível nacional sobre as leis, a bancada evangélica, os
movimentos ativistas, ganha dimensão a nível local. Os pastores se inserem no debate
numa perspectiva local.
43
A política para este grupo é um meio de proteger e ampliar o seu trabalho de
expandir as doutrinas da Bíblia, percebemos que estes segmentos estão cientes da
necessidade de conseguir autonomia e respeito dentro da sociedade e através da política
buscar legitimidade. É como se a política fosse o campo de atuação, uma extensão do
seu ministério evangélico, ou seja, do seu trabalho como cristão. Esse grupo, pelo
menos na dimensão do discurso, trata e se diz em defesa do cristianismo evangélico
como um todo e não apenas de alguns segmentos. A imagem que eles querem fazer
conhecida é a de servos de Deus que atuam e querem atuar no campo da política.
O segundo grupo busca realizar uma política direcionada á doutrina de sua
própria instituição religiosa. Enquadra-se o Dr. João Quesslen, pertencente à Igreja
Mundial do Poder de Deus. O diferencial deste grupo, composto apenas por este sujeito,
é que aqui se configura um projeto no qual a instituição religiosa tem de levantar nomes
e fazer convites para que estas pessoas se candidatem. Na entrevista com o candidato
Dr. João Quesslen fica evidente que sua igreja possui um projeto e que foi convencido
pelo Bispo do estado de Goiás pela necessidade de ter um vereador no qual a igreja
confie. Sua campanha política é reforçada dentro da igreja e acreditam serem eleitos
pelo voto da igreja. Estes políticos não buscam a aceitação de outros grupos evangélicos
e são pouco carismáticos. Em suas falas sempre citam o nome de sua igreja e do seu
líder, agradecendo e elogiando-o, e trabalham com uma perspectiva de enaltecer sua
igreja em relação a outras instituições religiosas evangélicas.
Este grupo demonstra que a instituição parece não ter uma identificação com as
outras denominações evangélicas, parecendo existir, inclusive uma rivalidade ou
concorrência entre igrejas, principalmente por fiéis. Esse grupo é expressão de como
algumas igrejas buscam demonstrar sua força, agindo de forma isolada e autônoma em
relação ao movimento evangélico, e como buscam poder, inclusive no meio político
para atender diretamente aos seus interesses. É necessário lembrar que o candidato
representa uma igreja fundada e dirigida pelo Pastor Valdomiro Santiago e segue a
lógica, princípios e projeto da Igreja Mundial do poder de Deus, que está espalhada em
todo o país. Segundo o candidato, todas as igrejas sujeitas ao Pastor Valdomiro, em
nível nacional, buscam ter seus próprios representantes na esfera política. Em Catalão o
nome escolhido foi o do Dr. João Quesslen.
44
O terceiro grupo é composto pelos candidatos a vereadores Vandeval Florisbelo
e João Alexandre. Diferenciam-se dos outros candidatos evangélicos porque, pelo fato
de terem suas propostas políticas pautadas em seus trabalhos sociais, não são
reconhecidos diretamente como evangélicos. Nas suas propagandas, não diferenciam
suas campanhas direcionando-as ao grupo evangélico. Apresentam forte aceitação
perante a sociedade e são criticados, por este motivo, por outros candidatos evangélicos
por não imporem os dizeres da igreja. Apenas algumas pessoas sabem de sua opção
religiosa. Buscam uma forma de governar a sociedade melhorando o seu bairro, a
educação, dentre outras demandas, mas governar a todos. Em alguns momentos mudam
seu discurso, quando participam de reunião em igrejas, onde expõem suas propostas,
sendo algumas direcionadas aos evangélicos, mas apenas nestas ocasiões se comportam
desta maneira. São políticos que buscam a aceitação de todos, na maioria das vezes já
possuem uma trajetória política, seja como presidente de bairro ou de alguma
associação ou de alguma bandeira levantada a alguma causa. Tentam pela política uma
atuação que melhora a sociedade, são reconhecidos pela sociedade como políticos
profissionais.
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Tabela 01 – Detalhes dos candidatos e resultado da eleição
Nome Igreja Função na
igreja
Partido
Político
Quantas
candidaturas
Tema da
campanha
Reeleito Ganhou? Votos
recebidos*
João
Alexandre
Igreja de Deus Congregado PSC 01 Negão, a bola
da vez.
Não Sim 1.328
Dr. João
Quesslen
Igreja Mundial Obreiro PTB 01 Em favor das
causas
evangélicas e
da proteção a
família e do
cidadão.
Não Não 139
Irmão
Antônio
Igreja Missão
Vida Nova
Pastor PDT 01 Quando o
justo governa,
o povo se
alegra.
Não Não 327
Pastor
Marcelino
Igreja do
Evangelho
Quadrangular
Pastor PMDB 01 Não Não 744
Pastor Silvio Igreja de
Cristo
Pastor PSDB 03 Pastor Silvio e
você:
marcados para
vencer.
Não Não 613
Tiago Batista Igreja Cristo
Vivo
Congregado PRTB 01 Trabalho e fé. Não Não 113
Vandeval
Florisbelo
Assembleia de
Deus
Madureira.
Congregado PMDB 08 Trabalho e
realização
Seis vezes Sim 1.580
Pastora Vera
Lucia
Igreja Missão
Vida Nova
Pastora PDT 01 Não Não 0
Fonte: dados coletados em campo, *O ESTADO DE SÃO PAULO, 2012.
46
CAPÍTULO III
3.“Muitos são Chamados, mas poucos escolhidos”: Escolhidos de Deus nem sempre
Eleitos pelo povo
Após a apuração das urnas o resultado foi que apenas os candidatos João
Alexandre e Vandeval foram eleitos. Seria este um indicio de que a estratégia do
terceiro grupo foi a mais eficiente, a mais eficaz? Qual leitura os candidatos fizeram das
eleições, uma vez definidos os resultados? Os discursos se mantiveram posterior a
eleição? Não necessariamente para responder essas perguntas, mas para conhecer
melhor esse momento da relação entre religião e política, achamos por bem voltar a
campo e realizar novas entrevistas, para com isso interpretar quem eram e quais as
principais mudanças e percepções de cada um. Nesse capítulo será feito também uma
breve análise do material impresso de cara candidato em relação à imagem que cada um
deles quis passar aos eleitores.
De primeiro momento quis um contato com os que conseguiram se eleger, mas tive
informações de que apenas no mês de março eles iniciariam o expediente normal, por
motivo de reforma na Câmara dos Vereadores, vez que aumentou a quantidade de
gabinetes. Encontrei também dificuldade por partes dos candidatos a vereadores que não
obterão êxito nas eleições, pois a maioria não teve muito interesse em me relatar por
entrevistas suas percepções e experiências.
Não consegui fazer contanto apenas com o Dr. João Quesslen, todos os demais
consegui uma mediação, mas nem todos contribuíram para a pesquisa. Outros
marcaram, mas cumpriram com o combinado e me deixaram esperando.
O pastor Antônio foi uns dos primeiros a me ceder entrevista, na casa dele nos
fundos da Igreja Missão Vida Nova, onde me recebeu com muita educação e
simplicidade. Sua igreja é pequena, situada na Rua Ademar Camargo – Bairro Vila
Chaud, os seus principais membros são pessoas simples. Possui uma igreja no Distrito
de Santo Antônio do Rio Verde, situada próxima à entrada da cidade, seus principais
47
membros são pessoas simples, geralmente lavradores e donas de casa, trabalhadores
rurais.
Durante a campanha eleitoral tive acesso a alguns materiais como um folheto em
forma de jornal que possui fotos suas de quando trabalhava na fabricação de carvão e de
outras pessoas, como em sua consagração á pastor. Mas neste folheto possui também
fotos de pessoas que ele ajudou ou causas que ele lutou.
48
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50
51
A principal imagem que tenta frisar de sua pessoa é de simplicidade e
honestidade, o folheto possui trechos que são declarações do próprio candidato em que
faz seu maior comprometimento que é “o amor pelo próximo”. Apesar de deixar bem
claro em todas as oportunidades de mostrar publicamente que é um homem religioso,
tenta buscar aceitação entre a população mais carente e menos instruída politicamente.
Saiu com o nome Irmão Antônio, tá na mão 12345, número fácil de decorar, facilita até
mesmo para quem não é alfabetizado. É uma personalidade intrigante que abraça todas
as causas mesmo não sendo atuante antes, se torna um participante ativo.
Seu material o ressalta como um homem de ação que já faz um trabalho social
importante como pastor, mas que deseja ampliar seu poder de ação no campo político.
Suas bandeiras de luta apontam para questões que ferem os princípios cristãos. A
imagem que construiu para seus eleitores é de uma pessoa diretamente ligada, presente e
ciente das mazelas que sofrem a população menos favorecida, parece focar,
especialmente, nos habitantes de Santo Antônio do Rio Verde, mas com o intuito de
ampliar seus votos em Catalão.
Costuma falar sempre de uma maneira simples e busca estar atualizado e
envolvido com manifestações. Atualmente sua preocupação é com as notícias de que
vão colocar imagens católicas na entrada e na saída da cidade, e já se manifesta pela
necessidade de se ter um líder evangélico que seja lançado como candidato oficial da
igreja evangélica para defender o evangelho sobre as pretensões da igreja católica na
cidade. Segundo sua opinião os pastores que deixarem isso acontecer é como se
estivessem renegando a Deus por terem medo do enfrentamento e deixando a maldição
se instalar na cidade.
Sua pretensão é criar uma casa de recuperação que salve vidas e além de tudo
proteger a integridade de sua religião, participando das decisões públicas. Percebe que
além do mais ele busca e sempre está aberto para novas parcerias.
Sua imagem remete aos políticos que geralmente são representantes oficiais das
suas igrejas. Em seu discurso encontramos muito da Teologia da Libertação, fala da
necessidade de lutar contra o inimigo (diabo) e ser um representante de Deus. Estes
políticos têm como característica falar como se estivessem sempre em uma luta.
52
Acreditam que a fé em seu Deus tem que ser posta em prática e que o cristão não deve
deixar qualquer ímpio o governar.
Fiz contato com o Pastor Silvio, que me falou da dificuldade de me ceder uma
entrevista, por estar abrindo uma loja assim ele sempre marcava e remarcava a
entrevista. Pelo que se percebe parece ter adiado as pretensões políticas, virou
comerciante no ramo do vestuário. Foi comum que os candidatos anteriormente
contatados não expressassem mais o interesse de dar entrevistas, depois de passada a
eleição.
Seu material eleitoral passa a imagem de um homem sério e assim como o
Pastor Antônio foi candidato oficial de sua igreja por ele mesmo ser o pastor e apoiar a
si mesmo. Seu “santinho” o apresenta como pastor e utiliza um jargão do universo
gospel, “marcados para vencer”, uma expressão bastante utilizada nas igrejas
neopentecostais que trabalha com a ideia da teologia da prosperidade, como se a vitória
fosse sempre algo inevitável, já determinado na vida das pessoas.
Consegui fazer contato com o Pastor Marcelino e marcamos uma entrevista que
se realizou em seu gabinete na sua igreja. Logo de começo trouxe novidades, a sua
53
candidatura foi também proposta nacional de sua igreja e ainda completou dizendo “a
igreja participa da vida familiar da pessoa, a igreja participa da vida profissional da
pessoa, e porque não participar da política também”. Completa enaltecendo a proposta
de sua igreja:
... havia a necessidade de ter candidatos próprios da igreja, aí alguns
nomes foram sondados dentro da igreja e eu fui indicado pelo nosso
Bispo nosso superintendente que é o Pastor Helton que é o líder da
igreja aqui, é o bispo regional aqui da região nossa aqui de Catalão e
as cidades vizinhas, então dentre três nomes se optou pelo meu e eu
falei então sendo assim eu vou estar disputando e ajudando a igreja no
que for possível...(Entrevista com o pastor Marcelino, maio de 2013)
Com essa nova informação, o Pastor Marcelino também pode ser incluído no
segundo grupo de candidatos, pois assim como o João Quesslen ele se candidatou para
cumprir com uma determinação e projeto da denominação a qual ele pertence. Sua
pretensão não é a defesa do movimento evangélico como um todo, mas sim a
representação da sua igreja na Câmara de Vereadores. Mantemos a estrutura dos grupos
porque pela imagem que o pastor Marcelino passa ele estaria a serviço das causas
evangélicas e se porta como tal nas propagandas politicas, mas como já observamos, na
realidade ele está sujeito as determinações da IEQ, portanto também se insere no
segundo grupo. Tentando compreender o sentido de esconder essa informação antes e
durante as eleições, acreditamos que isso se deu principalmente em razão de que apenas
a pós as eleições ele se sentiu a vontade para dizer que se candidatou a pedido da igreja,
pois como tudo já estava resolvido essa afirmação não lhe causaria prejuízo algum,
principalmente em relação a possíveis votos.
A igreja do Pastor Marcelino como ele já tinha citado antes possui secretárias de
instâncias municipais, estaduais e federais para debater e planejar as candidaturas.
Entretanto desconhecia seu funcionamento e com a autora Rosilene dos Santos
Schoenfelder em sua obra “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”: Um estudo
antropológico sobre a escolha dos candidatos oficiais da Igreja Evangelho Quadrangular
no Rio de Grande do Sul”, ela faz um estudo apenas com candidatos oriundos desta
denominação e mostra a organização para escolha dos candidatos para serem candidatos
oficiais da igreja:
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(...) a IEQ privilegia um procedimento democrático de escolha dos
candidatos oficiais semelhantes ás prévias que ocorrem dentro dos
partidos políticos. Um ano antes das eleições, é realizado um pleito
interno que os pastores de todo o estado reúnem-se para votar e
decidir quem serão os candidatos apoiados, dentre os que se
apresentam, segundo os princípios estatutários que regem esta
organização. De modo que os não-eleitos no pleito não serão
reconhecidos pela instituição como candidatos oficiais ( Shoenfelder,
2008, p. 21).
O interessante é que eles privilegiam para a escolha pessoas que tenham cargos de
liderança como presbíteros, obreiros, bispos ou pastores, por acharem que estes terão
mais obediência aos objetivos da igreja durante a candidatura e depois de eleitos.
Por essa preparação toda encontramos os vestígios em seu material eleitoral em que
se lança com o nome de Pastor, com seu posto na igreja e vestido socialmente como nos
dias de pregação. No entanto podemos observar que não há nenhuma menção ou indicio
de sua pertença à denominação IEQ. Isso faz entender que o projeto tinha como objetivo
alcançar o voto de todos os eleitores possíveis independentemente do credo, mas
representar sua denominação, uma vez eleito.
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Estes candidatos são oficiais da igreja sendo lançados para cumprir e proteger e
acatar as decisões da igreja e seus posicionamentos. Percebemos em sua fala quando
indaguei o porquê se candidatou á um cargo político “... pretensão nenhuma. Pretensão
nenhuma, porque pra mim primeiro lugar é o ministério, é o ministério, é a igreja,
servir a igreja, os irmãos da igreja e tudo, mas devido à necessidade tive que aceitar...”
A candidatura para o sujeito não passa de obediência à instituição ao qual o
individuo é membro, estas candidaturas é uma tentativa da IEQ, ter um representante
legislado. A diferença para o Pastor Marcelino de um político que seja evangélico para
outro que não é, foi simplificadas assim:
...o servo de Deus tem a principio o temor do Senhor. E o temor do
Senhor a bíblia diz que consiste em desviar-se do mal, pra nós que
temos nossa vida pautada e dirigida pela palavra de Deus nós temos o
temor do Senhor porque eu sei que aquela situação está errada, eu
tendo o temor do Senhor eu vou me desviar daquilo ali. Ao passo, ao
passo, ao passo que uma pessoa que não tem o temor do Senhor vai
fazer uma coisa errada achando que está certo. E a situação está difícil
do jeito que esta porque quem cuida quem administra quem zela do
patrimônio publico são pessoas que não tem o temor do Senhor...
(Entrevista com o Pastor Marcelino, maio de 2013).
Assim, fica claro que para o Pastor Marcelino a diferença está na honestidade e nos
bons princípios que a igreja possui, além do mais quando o candidato é oficial da IEQ,
ela participa orienta e verifica todas as decisões por este sujeito está levando o nome da
igreja. Por fim perguntei para o pastor Marcelino qual a razão da não eleição, o mesmo
declarou que:
... o candidato que teve mais voto em Catalão, teve dois mil e alguma
coisa, vamos falar dois mil cem aí, foi o Deusmar Barbosa. Ele já era
candidato se eu não me engano pelo quarto mandato, comitê só dele
todos os benefícios desses quatros mandados que a câmara
proporciona para o candidato. (...) A dificuldade maior é esse
preconceito que há, pastor não deve se meter em política então é por
isso que eu não tive mais voto (...) é a questão da igreja não admitir
que o pastor seja candidato e o maior medo da igreja é eu vou perder o
meu pastor, está é a maior questão. O pastor não deve mexer porque é
perigoso ele largar a igreja. O pastor não deve mexer porque ele vai
abandonar a gente, o maior medo da igreja é esse. (Entrevista com
Pastor Marcelino, maio de 2013).
Com a fala do pastor Marcelino, podemos questionar até que ponto os membros das
igrejas são sujeitos aos seus lideres religiosos. Até que ponto eles compreendem e
aceitam a relação entre fé e política? Até que ponto os fiéis são sujeitos aos pastores?
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A todo o momento percebemos que a igreja participa da vida de seus líderes e
que tem total influência nas decisões desses membros. Depois da tarefa passada á estes
líderes, eles ficam motivados e são responsáveis pela escolha de partido e detalhes
restantes. Mesmo não tendo a vontade ou um motivo coerente de ser eleito para
contribuir na melhoria de uma política limpa de corrupção e igualitária para todos,
quando são escolhidos pela liderança da igreja participam com dedicação e se
comprometem a fazer o seu melhor para representar a igreja.
O material eleitoral do Dr. João Quesslen, nos remente a seriedade e compromisso,
sua imagem de homem social de terno e gravata, além do vestuário o “Dr” ressalta sua
formação no direito. Importante destacar que embora ele defenda, sobretudo os
interesses da Igreja Mundial em Catalão, seu material quer alcançar a todos os
evangélicos e para isso toca numa questão cara ao meio. Que é a questão da família.
Diante do caloroso debate a nível nacional sobre as leis em relação a homossexualidade,
ele destaca sua formação no direito e interesse em lutar, com conhecimento de causa,
contra aquilo que prejudica a noção de família cristã. A imagem que salta aos olhos é o
advogado em defesa da família. Outro aspecto importante do material desse candidato é
o destaque ao fato de ser da cidade, como algo que garante o seu interesse pelo bem
estar de Catalão.
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Além do “santinho” tem uma pequena folha impressa, neste panfleto ele fez um
resumo das principais leis que circulam no senado que segundo o folhetim são leis que
perseguem e prejudicam os evangélicos. Por fim ele reafirma a importância de ser eleito
para cuidar e proteger os cidadãos crentes de leis que reduzam a liberdade dos crentes
de pregar suas doutrinas e de realizar seus cultos. Lembrando que essa defesa se dá
unicamente dentro daquilo que sua denominação determina.
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Folheto anexado ao “santinho” do candidato Dr. João Quesslen, distribuído na
igreja do mesmo.
Nesse panfleto do candidato Dr. João Quesslen podemos perceber um discurso que
justifica a candidatura do mesmo e quer convencer o eleitor de votar nele. Apresenta no
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panfleto uma situação caótica sob o ponto de vista dos evangélicos e se coloca como a
solução. Como se o primeiro passo para vencer essa situação fosse votar nele. Como se
o fato de não votar nele fosse a mesma coisa de estar em acordo com todas os projetos
de leis apresentados no panfleto. João Quesslen embora tenha focado no público de sua
igreja, não buscou o voto de todos os eleitores, mas almejou o voto dos evangélicos
independente de sua denominação. Usando uma estratégia do medo e da culpa, para
ampliar possibilidade de vitória. Medo de que os evangélicos fossem perseguidos e
culpa, caso não recebesse a ajuda na luta contra as mazelas que apresentou para o meio
gospel. Os versículos bíblicos são utilizados como forma de avalizar a sua leitura da
conjuntura apresentada no panfleto.
A estratégia não teve a eficiência esperada, já que o candidato recebeu poucos votos
que não condiz nem com a frequência dos fieis da sua igreja. Embora a Mundial tenha
um aspecto que mereça ser lembrado, não possui membros fixos que se identificam e se
denominam como pertencentes a igreja mundial, há mais uma circulação de pessoas,
assim não tem uma relação mais obediente com as decisões da igreja.
Na parte da tarja preta ele ressalta a diminuição do numero de evangélicos políticos,
o que faz o inferno prevalecer contra a igreja de Cristo, fica subentendido que para
reverter a situação e não deixar que a igreja fique a mercê do mal, é necessário eleger
evangélicos na câmara de vereadores.
Por último, mas não menos importante, está o candidato Thiago Batista. No seu
material eleitoral, aparece com barba e com uma camisa social, expondo-se como
alguém mais velho, maduro e responsável. Também seja um dos candidatos,
declaradamente, mais defensores da causa evangélica, embora não haja nenhum indício
da sua relação com o cristianismo evangélico. A campanha do Tiago Batista foi bastante
tímida e com pouca visibilidade. Não nos concedeu entrevista nem durante e nem
depois das eleições.
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Enfim, são pessoas com os modos de vida diferentes que após os resultados das urnas
voltaram a sua vida normal. Alguns já estão traçando outros ramos de trabalho e outros
continuam se dedicando ao que já faziam.
3.1-Vamos falar dos Eleitos: Representantes de Deus ou Representantes do Povo?
Depois que as urnas foram abertas e apuradas e os gabinetes foram construídos e
distribuídos para os eleitos, fui atrás e fiz uma aproximação com os dois candidatos
evangélicos eleitos. Logo no começo tive contanto apenas com os secretários dos
vereadores.
Primeiro marquei, por telefone, uma entrevista com o Vereador Vandeval. Então fui
avisada pelo seu secretário que por ele ter oferecer aulas em muitos colégios estaduais
(vez que sua profissão é de professor de matemática), seria difícil arrumar tempo para
entrevista. O vereador apenas vai à Câmara dos vereadores quando precisa de sua
presença, de resto costuma visitar bairros e preparar aulas. Por está razão marcou nosso
encontro em um colégio ao qual leciona no período noturno, mas por informações
trocadas não consegui fazer a entrevista, naquele dia.
Tive que entrar em contato mais uma vez. Como de praxe, seu assessor me
respondeu e marcamos em outro colégio, onde também leciona no período noturno. No
colégio da rede estadual de educação, onde trabalha, percebi durante a entrevista o
carinho e a admiração que os alunos tem por ele.
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Vandeval passa a imagem de uma pessoa simples e acessível, em seu material esta
com uma imagem com vestimentas simples e sorriso no rosto. Seu santinho não destaca
em momento algum sua pertença religiosa. Nenhuma alusão a sua fé pode ser
identificada no seu material. No verso estão enumeradas suas principais propostas, e a
maioria delas são propostas pela educação. Não há nada sobre sua luta pela causa
evangélica. Como o candidato buscava mais uma reeleição, destacando como lema de
sua campanha “trabalho e realização”, demonstrando que muito já fez e que muito ainda
quer fazer. Percebemos que quase todos os seus projetos têm relação com sua própria
identidade: por ser professor, tem projetos para a educação; por ser ciclista, apresentou
propostas para ciclovias; e por identificar-se com os jovens, propõe criar uma secretaria
da juventude. Por essa associação com os jovens, sobretudo os das escolas onde
trabalha, sendo inclusive chamado por muito, não de Vandeval, mas de “Jovem”.
É conhecido por muitos na cidade como educador e ele mesmo reconhece que seus
eleitores em maioria são seus alunos. Vandeval nos revela:
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(...) Minha força política é a juventude são os alunos porque já tem
trinta anos que eu venho lecionando e os evangélicos que confiam em
mim. Porque os evangélicos têm uma demanda e enxergam em mim
uma pessoa que eu possa servir lá na igreja e possa defender os
interesses dos evangélicos a doutrina dos evangélicos também lá na
câmara municipal. (Entrevista com Vandeval Florisbelo, junho de
2013)
Apesar de citar os evangélicos também, fica claro que ele não é um candidato
estritamente para o público evangélico e sim um educador e vereador que tem como sua
fé a doutrina evangélica. Encontra-se neste vereador uma característica de história e
participação política. Em suas candidaturas expõe seus projetos, como “projetos de
natureza de infraestrutura como esgoto sanitário, malha de asfalto, também na área da
saúde, como o SAMU 192” (Entrevista com Vandeval Florisbelo, junho de 2013).
Com essa estratégia, consegue abarcar um publico eleitor mais diversificado. E, além
disso, possui apoio também de igrejas, por ter sua imagem como humilde e defensor da
doutrina evangélica, mas se diferenciando de políticos como os que são oficiais das
igrejas. Em alguns momentos sua postura é de defesa a sua fé, quando nos disse:
(...) Como vieram projetos lá para abaixar os decibéis das igrejas
porque crente pentecostal realmente faz muito barulho. Quiseram
abaixar os decibéis da igreja para que insira ali isolamento acústico, aí
eu consegui derrubar este projeto como evangélico, e defendo lá
também a doutrina evangélica. (Entrevista com Vandeval Florisbelo,
junho de 2013)
Muito interessante a colocação do Vereador Vandeval, pois apesar de não ser um
candidato conforme o segundo grupo, ele defende os interesses da igreja, pois ele faz
parte de uma igreja pentecostal que é a Assembleia de Deus, e entra em defesa desta
quando se faz necessário.
Além disso, a sua postura ao mesmo tempo em que parece ser tática politica se
mistura a assistencialista. Ele expõe que não quer se candidatar em outro cargo, se diz
que sua característica é de servir o povo. Faz crítica a políticos que candidatam sendo
representantes da igreja, pois segundo sua visão um governante é de todos e não há por
que “politizar a religião”. Parece que o vereador acha legitimo que os princípios
religiosos entrem na política como prática, mas que a política não deve entrar na igreja.
Ele declara não ter pretensão de se candidatar em outro cargo, e declara não querer uma
trajetória política, embora já tenha uma.
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Ao ser questionando como se ganha uma eleição, disse:
(...) se ganha uma eleição com uma meta com um objetivo, servi o
povo, servi nas suas demandas, nas suas reinvindicações e nos seus
anseios. Você serviu você ganha à eleição. Mas se você, qualquer
pessoa que for apático e não desenvolver um trabalho coletivo e
pessoal não ganha as eleições. Então, é servir nas suas demandas, e
nos anseios e reinvindicações do povo, assim se ganha uma eleição.
(Entrevista com Vandeval Florisbelo, junho de 2013)
Percebam que ele não faz menção alguma ao povo evangélico, como responsável
pela sua vitória nas eleições, pois não se sente eleito somente por esse público. Todavia,
durante as eleições era comum sua presença na porta das igrejas entregando seu material
de campanha. É necessário dizer que fora das igrejas, e não nas igrejas, como alguns
fizeram. O vereador não faz muita aproximação e evita relacionar sua função política
com sua profissão de fé, embora em alguns momentos isto seja inevitável.
Enfim, é um vereador que se integrou na política participando como vereador de
bairros, conheceu seu partido na década de 1980 e permanece até os dias de hoje nele.
Ele consegue manter bem sua aceitação, porém nem o partido e nem o candidato
parecem dispostos a lançá-lo como candidato a outros cargos, como o de deputado, por
exemplo.
O nosso próximo candidato eleito a ser comentando, ao contrário do Vandeval, foi à
primeira candidatura e foi eleito com êxito. O então vereador João Alexandre, com o
qual fiz contanto inúmeras vezes, mas ele não retornava. Até que um dia o encontrei em
um supermercado e consegui marcar uma entrevista.
No dia marcado compareci e fiquei esperando por algum tempo, e pude perceber
que os gabinetes são de tamanho uniforme. Há uma pequena ante-sala e a sala do
vereador grande ao fundo, contudo na maioria dos dias os vereadores não usam os seus
gabinetes: quando procurados, só se encontra os secretários. Na sala do João Alexandre
não havia símbolo ou frase que o identificasse como evangélico. Sua mesa é cheia de
fotos de seus filhos e todos os móveis são bem simples.
Caracteriza-se como um vereador que faz o trabalho social, durante toda nossa
conversa repetiu várias vezes que trabalha para o povo no social. E uma das qualidades
que chegou a citar da Igreja é o trabalho social que desenvolve. Em sua fala nos diz que:
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...Antes de candidatura a igreja onde eu converti e fui batizado, foi a
Igreja do Evangelho Quadrangular do Pastor Elton, mas depois que eu
fui para o meio político, ai eu não tenho uma igreja fixa. Porque eu
frequento várias, porque eu visito e gosto de comprar a briga de ajudar
vários pastores, vários ministérios. Então cada final de semana eu
frequento eu faço visita em uma igreja. (Entrevista com João
Alexandre, junho de 2013)
Em sua fala podemos perceber que é uma pessoa que não gosta de se posicionar, o
fato de não ter uma igreja fixa é uma característica disso. Mas, não ter uma igreja fixa
significa também e principalmente não ter intervenção de liderança no seu mandato,
principalmente no que se refere à IEQ, que como vimos tem interesse em ter uma
representação na câmara, talvez isso explique seu “afastamento” da igreja (em seus
próprios termos). Assim, ele pode ter mais possibilidades de ser escolhido por mais
igrejas como um possível representante. Ele mesmo reconhece a importância do publico
evangélico para a sua aprovação nas urnas, quando nos diz que:
(...) As igrejas, eu considero que tive mais de 50% da minha votação
dentro das igrejas evangélicas e para minha família, uma família
muito grande de gente que eu considero no meu nível de pessoas
humildes, mas, que sempre respeitadoras e não tinha dificuldade.
Pouquíssimos uma meia dúzia de sobrinhos é que tinha compromisso
com outras pessoas, mas a minha família foi fundamental. (Entrevista
com João Alexandre, junho de 2013).
Percebemos que ele frisa muitas vezes a sua personalidade humilde. Essa
característica agrega eleitores que esperam ser representados e ouvidos depois de seus
representantes eleitos, além, é claro, de remeter a um sentimento de confiança e
esperança a um político honesto e prestativo. Sua principal propaganda é dizer que veio
de uma família carente, reforçando a ideia que entende as necessidades do povo menos
favorecido economicamente e que é um representante a sua altura e ciente das suas
necessidades que lhe são as suas também.
Quando nos argumento sobre o porquê resolveu se candidatar e como escolheu o
partido, nos relata que foi por convites de amigos. Mas em nenhum momento nos
remete as ideologias do partido e os principais objetivos do partido para a cidade.
Quanto à experiência política, comentou que já havia trabalhando nas candidaturas de
outros vereadores (Leonardo Bueno, Deusmar Barbosa), mas nunca havia se
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candidatado e completou justificado que sua candidatura tem como objetivo “ajudar o
carente”.
Percebe-se que o agora vereador possui alguma experiência no campo político, e
resguarda-se de alguns riscos a sua imagem. Até mesmo quando diz preferir votar
secretamente na Câmara do que usar o direito e fazer como alguns colegas seus que
usam a tribuna para expor suas opiniões, por mas que é um direito de cada um, tenta
preservar sua imagem e também manter alianças e contato. Essa escolha ao mesmo
tempo em que pode ser positiva também tem o seu lado negativo, vez que os políticos
são reconhecidos por suas principais causas que defendem. Posicionar-se é ter uma
opinião e defendê-la, e isso atrai pessoas contrárias, mas trazem também aliados.
Este candidato buscou apoio das igrejas, como mais um grupo de eleitores
possíveis e não como foco preferencial, embora tenha sido eleito, na opinião dele, pelos
evangélicos não percebemos no seu discurso uma responsabilidade sua em prol das
causas evangélicas.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o resultado da eleição, os candidatos Vandeval Florisbelo e João Alexandre
se elegeram. Percebe que foram eleitos por ter já trabalhos na política e por isso sua
aceitação entre diversos eleitores foram aceitas. No trabalho de Marcio Martins dos
Santos (2005), “Tributos do Povo, Servos de Deus”, o autor acompanha dois candidatos
evangélicos em Porto Alegre (RS), ressaltando a necessidade que estes tiveram de
mudar seu perfil. Ambos tinham formas diferentes de atuar tanto no ambiente religioso
como no ambiente publico (palanque, propaganda eleitoral, discursos públicos). Estes
candidatos eleitos do grupo três também possuíam está características, falavam de
política e suas propostas e nas igrejas falavam de seu trabalho e como reagiam em
determinadas situações protegendo sua religião. Por essa atuação são considerados
como políticos profissionais, e até mesmo no meio evangélico alguns os apóiam,
mesmo recebendo uma densa critica por não se assumirem e terem sua religião como
pauta principal.
Do primeiro grupo, o que mais recebeu voto foi o Pastor Silvio, mas mesmo
assim não conseguiram se eleger. Como muitos candidatos, ressaltaram a política para
os evangélicos que parece ser muito mal vista. Este grupo, para eleger um candidato,
precisaria de uma atuação conjunta, ao que tudo indica essa identificação e ação como
um só “Corpo de Cristo” está mais presente no discurso do que nas práticas, sobretudo
em relação a questão política e a atuação do segmento nela.
Podemos concluir que ainda que haja um habitus religioso evangélico, até o
momento não houve uma conversão de capital religioso em capital político. Como nos
fala Pierre Bourdieu na obra “A economia das trocas simbólicas”, o campo religioso
possui um habitus religioso que é o principio formador dos pensamentos, percepção e
ação, modos de agir, e falar. O habitus faz com que este grupo seja reconhecido, suas
formas de falar e pensar são parecidas. Talvez esse rigor, esta forma mais elaborada e
dentre outros visões que os evangélicos possuem, são causas da má aceitação dos
evangélicos na política. A visão geral dos evangélicos na política por vezes é associada
aos recentes escândalos em nível nacional, e isso pode ser mais um dos motivos pelos
quais este grupo encontra dificuldades de aceitação por outros no que tange às eleições.
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O segundo grupo composto pelo candidato pastor Marcelino, mas
principalmente por Dr. João Quesslen, que recebeu apenas 139 votos. A sua campanha
foi feita para os membros da sua igreja, em entrevista deixava bem claro o porquê de
sua participação, e que não estava buscando aceitação entre os evangélicos, embora seu
material expresse, como vimos, o desejo de alcance de todos os evangélicos. Este modo
de fazer política funciona em grandes metrópoles, elegendo muitas vezes até mais
candidatos como nos mostra o Marcio Martins (2005), em seu trabalho ao qual
acompanha dois candidatos evangélicos em Porto Alegre, e como também é
demonstrando nos resultados positivos das igrejas Mundiais em grandes cidades. Mas
na cidade de catalão a estratégia se mostrou, até então, ineficaz.
Durante toda a pesquisa muitos questionamentos surgiram e considero que para
respondê-los precisaria estender ainda mais as analises e observações. Termino com a
sensação de que muito mais poderia ser feito. A religião sempre andou com a política,
teve sua participação e importância, vemos isso principalmente quando analisamos o
quanto a questão moral e ética é importante para os candidatos, além de outras
características que as doutrinas religiosas pregam como importante.
Mas afinal, por que nesta cidade de Catalão, esse grupo de evangélicos não
conseguem eleger líderes que se declaram o tempo todo como “Servos de Deus”,
“Escolhidos de Deus”. Será que não são tementes e obedientes as suas doutrinas? Ou
que estavam errados quanto o “chamado de Deus” para candidatura? Os candidatos não
tem um suporte fixo, fazem suas campanhas sem o apoio até mesmo de seus seguidores,
acabam buscando aceitação em vários lugares e, de alguma forma, põem em risco seu
principal apoio, o reconhecimento da igreja. A população evangélica em Catalão
encontra-se espalhada em muitas igrejas, e talvez por isso o aumento da influencia
política desse grupo só poderia ocorrer, de forma mais acentuada, através de uma ação
conjunta entre denominações.
Através das entrevistas percebemos que muitos denunciaram a necessidade de
“união entre o grupo evangélico”. Catalão é uma cidade em que os partidos já se
mobilizam para abarcar os evangélicos, mas apenas alguns líderes sabem realmente o
poder de atuação que possui. Buscam a união das igrejas, como é tão proposto pelos
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líderes religiosos, mas isso pode ser prejudicado pelas diferenças de denominações e de
divisões de ministérios que a própria religião possui para se expandir.
Tentamos esclarecer quais as relações que os candidatos possuem com suas
igrejas e como levam para sua campanha estas características. Compreender como estas
características são identificadas e julgadas na sociedade (aceitação ou negação da
imagem do candidato). Enfim buscamos através deste trabalho abarcar esse universo
que se cria em volta das campanhas políticas, aonde a vida dos candidatos se torna
pública e são constantemente analisados e questionados, neste período os próprios
candidatos repensam suas imagens, e suas propostas, fazem alianças e vivem esse
frenesi de emoções e acontecimentos.
Muitos levantamentos foram feitos, mas vejo que muito ainda tem que ser
acompanhado e investigado, pois este processo ainda está em construção, ainda está em
aberto, prova disso são as intrigas e estranhamentos que estas candidaturas ainda
provocam no meio evangélico.
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