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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM MICROBIOLOGIA
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS CASOS DE FEBRE CHIKUNGUNYA
NOTIFICADOS EM MATO GROSSO, BRASIL, 2015-2016
MICHELL CHARLLES DE SOUZA COSTA
CUIABÁ
2016
DISTRIBUIÇÂO ESPACIAL DOS CASOS DE FEBRE CHIKUNGUNYA
NOTIFICADOS EM MATO GROSSO, BRASIL, 2015-2016
MICHELL CHARLLES DE SOUZA COSTA
Orientador: Renata Dezengrini Slhessarenko
Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato
Sensu em Microbiologia do Programa de Pós-Graduação do
Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato
Grosso, campus Cuiabá, como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista em Microbiologia.
CUIABÁ
2016
Ficha catalográfica
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.
Costa, Michell Charlles de Souza. Distribuiçâo espacial dos casos de febre Chikungunya notificados em Mato
Grosso, Brasil 2015-2016 / Michell Charlles de Souza Costa – 2016,
33 f.
Orientadora: Renata Dezengrini Slhessarenko. Monografia (especialização) - Universidade Federal de Mato Grosso, Programa de Pós-Graduação do Instituto de Biociências, 2016.
Inclui bibliografia.
1. CHIKV. 2. Arbovírus. 3. Febre Chikungunya. 4. Saúde Pública.
Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo (a)
autor (a).
Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.
AGRADECIMENTOS
À Deus, por sempre me conceder sabedoria nas escolhas dos melhores caminhos,
coragem e força para não desistir.
À minha orientadora, Profª Drª Renata Dezengrini Slhessarenko, pela oportunidade e
compreensão. Obrigado pelo seu saber e competência e, por todos os ensinamentos,
orientações e dedicação.
Aos meus pais, pela tolerância, amor, por torcerem e me incentivarem sempre. A toda
a minha família, pelo carinho e exemplo, por me mostrarem o verdadeiro amor, pela
alegria que me proporcionam quando estou ao lado de cada um. Vocês são especiais
na minha vida, amo vocês.
Aos amigos e parceiros de caminhada, Andressa, Bruno, Laura, Lorena, Luana, Maria
Cristina, Maria Rosangela, Michellen, Otacilia. Obrigado pela parceria, apoio, por me
ouvirem e ajudarem. Ao querido Odenir, pelo incentivo, força, conselhos e parceria
constante. Vocês fizeram meus dias mais felizes, estarão sempre em meu coração.
À turma da especialização, foi incrível compartilhar essa experiência com vocês.
À UFMT e ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Biociências pela formação
acadêmica e científica.
RESUMO
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS CASOS DE FEBRE CHIKUNGUNYA
NOTIFICADOS EM MATO GROSSO, BRASIL, 2015-2016
O vírus Chikungunya (CHIKV) está associado a surtos epidêmicos de doença febril
em humanos em diversos países, constituindo-se em problema de saúde pública. Este
estudo teve como objetivo verificar a distribuição espacial dos casos de febre
Chikungunya notificados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN) em Mato Grosso (MT), Brasil, entre 2015-2016, assim, trata-se de um estudo
ecológico, descritivo e exploratório. Para isso, os casos notificados pelo SINAN de
febre Chikungunya durante o ano de 2015 até agosto de 2016 (semana
epidemiológica n° 34), foram coletados do boletim epidemiológico n° 24, edição 01,
S.E n° 34, publicado pela Secretaria Estadual de Saúde de MT. Os dados foram
tabulados e analisados por meio do software Microsoft Excel 2010® e apresentados
em forma de tabela e gráficos. O mapa geográfico do MT contendo a distribuição
espacial das notificações foi elaborado no software ArcGIS (versão 10.1). Casos
suspeitos de CHIKV têm sido notificados desde 2015 em MT. Ao total houve 1720
notificações no período, 324 (18,8%) referentes a 2015, 1396 (81,2%) até a SE 34 de
2016, em 78 (55,3%) municípios e quinze regionais de saúde no Estado. Pelos dados
analisados, observa-se a ampliação dos casos entre 2015 e 2016 em 331%. A rápida
disseminação do agente no estado provavelmente reflete a presença de clima,
população de vetores e hospedeiros completamente susceptíveis a este agente, que
obteve sua primeira introdução no Estado nestes anos analisados. Ressalta-se pelos
dados apresentados a importância da ampliação do diagnóstico diferencial entre as
arboviroses, que cursam com sintomas semelhantes, para compreender a dinâmica
de dispersão, áreas de risco e a situação epidemiológica real deste arbovírus em MT.
Além disso, há a necessidade de implantação de estratégias de vigilância
entomológica e virológica, visando a prevenção e controle de surtos do CHIKV na
população de MT.
Palavras-chave: CHIKV, arbovírus, febre Chikungunya, saúde pública, epidemiologia.
LISTA DE ABREVIATURAS
% Porcentagem
°C Graus Celsius
A. aegypti Aedes aegypti
A. albopictus Aedes albopictusi
DENV Vírus da Dengue
ELISA Ensaio Imuno-Enzimático
EUA Estados Unidos da América
IFA/IFI Imunofluorescência/Imunofluorescência Indireta
MAC-ELISA ELISA de Captura
mL Mililitro
MT Mato Grosso
Nm Nanômetros
NS Proteína não estrutural
Pb Pares de Base
pH Potencial Hidrogênico
RNA Ácido Ribonucléico
RT-PCR Transcrição Reversa e reação em cadeia da polimerase
SES Secretaria Estadual de Saúde
SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificações
SNC Sistema nervoso central
UFMT Universidade Federal de Mato Grosso
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Representação esquemática da estrutura dos alfavírus ...........................10
Figura 2. Ciclos de transmissão (silvestre e urbano) do vírus Chikungunya ............12
Figura 3. Representação esquemática da disseminação de CHIKV em diferentes tecidos e órgãos ........................................................................................................14
Figura 4. Distribuição geográfica mundial do CHIKV em 2015.................................18
Figura 5. Casos suspeitos e municípios notificados com febre Chikungunya em Mato
Grosso, Brasil entre 2015 e 2016 ..............................................................................23
Figura 6. Distribuição espacial dos casos suspeitos de febre Chikungunya dos
municípios distribuídos por Regional de Saúde, Mato Grosso, Brasil, 2015 até a S.E.
35 de 2016..................................................................................................................25
LISTA DE TABELAS
Table 1. Principais manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes infectados
por CHIKV nas fases aguda, subaguda e crônica.........................…………………...15
Tabela 2. Número de casos suspeitos de febre Chikungunya distribuídos por Regional
de Saúde, Mato Grosso, Brasil, 2015 até a S.E. 34 de 2016....…….……................ 24
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10
1.1 Referencial teórico............................................................................................. 10
1.1.1 Vírus Chikungunya (CHIKV)........................................................................... 10
1.1.2 Ciclo de Transmissão...................................................................................... 11
1.1.3 Principais vetores de transmissão do CHIKV................................................. 11
1.1.4 Febre Chikungunya e manifestações clínicas................................................. 13
1.1.5 Fases da infecção por CHIKV......................................................................... 14
1.1.6 Diagnóstico e tratamento................................................................................ 16
1.1.6 Epidemiologia do CHIKV................................................................................. 17
2 JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 19
3 OBJETIVOS.......................................................................................................... 20
3.1 Objetivo Geral.................................................................................................... 20
3.2 Objetivos Específicos......................................................................................... 20
4 METODOLOGIA................................................................................................... 21
4.1 Área de estudo................................................................................................... 21
4.2 Coleta e análise de dados.................................................................................. 21
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................ 23
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 28
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 29
10
1. INTRODUÇÃO
1.1 Referencial teórico
1.1.1 Vírus Chikungunya (CHIKV)
O vírus Chikungunya (CHIKV) é um arbovírus pertencente à família
Togaviridae, gênero Alphavirus, com cerca de 60-70 nm de diâmetro e estrutura
composta por capsídeo icosaédrico e envelope fosfolipídico, sendo sensíveis à
dessecação e temperaturas acima de 58 °C (Figura 1) (STRAUSS, et
al.,1994; KHAN et al., 2002). O genoma consiste em uma cadeia simples de RNA de
polaridade positiva com aproximadamente 11,8 kb, que codifica uma poliproteína que,
após processamento, origina quatro proteínas não-estruturais (nsP1, nsP2, nsP3,
nsP4) necessárias para a replicação viral e três estruturais (E1, E2, E3) (CARVALHO
et al.,2012; PINTO, 2013). Ainda, existem três genótipos circulantes em diferentes
regiões do planeta, o Leste/Centro/Sul Africano (ECSA), África Ocidental e Ásia
(POWERS et al., 2000).
O tropismo do CHIKV em seres humanos ainda não está elucidado, porém,
macrófagos, células epiteliais, endoteliais e fibroblastos humanos funcionam como
reservatórios do vírus. Assim, para adentrar a célula hospedeira e iniciar o processo
de replicação viral, este arbovírus liga-se através da glicoproteína E2 a receptores na
superfície celular. Após a ligação, o CHIKV é internalizado por endocitose, seguido de
desnudamento e liberação do RNA viral para iniciação da síntese protéica, que
contribuirá para a morfogênese de novas partículas virais. Estas brotam a partir da
membrana plasmática para o meio extracelular, infectando novas células (COUDERC
et al., 2009; SOURISSEAU et al., 2007; FLORES, 2007).
Figura 1. Representação esquemática da estrutura dos alfavírus (FLORES et al.,
2007).
11
1.1.2 Ciclo de transmissão
O CHIKV é mantido na natureza em dois ciclos epidemiológicos: silvestre e
urbano (Figura 2). O ciclo silvestre ocorre principalmente no continente africano,
envolvendo primatas não-humanos e pequenos mamíferos como principais
hospedeiros amplificadores e mosquitos Aedes furcifer-taylori, Aedes africanus e
Aedes aegypti como vetores (PINTO, 2013). Já o ciclo urbano foi relatado inicialmente
na Ásia. Os mosquitos A. aegypti e A. albopictus são os principais vetores de
transmissão e, os humanos hospedeiros amplificadores. Devido a ampla distribuição
geográfica em regiões tropicais e subtropicais desses vetores e presença de
hospedeiros susceptíveis, este ciclo epidemiológico atualmente é descrito em diversos
continentes, inclusive o americano (BURT et al., 2012). Porém, surtos rurais também
são relatados em períodos em que as populações de mosquitos proliferam-se,
principalmente em regiões onde exista a presença de hospedeiros não-imunes
(DENDASKI et al., 2016).
Outras formas de transmissão do CHIKV foram descritas em literatura, dentre
elas foi apontada a possível transmissão por transfusão sanguínea. Ainda, a
ocorrência de transmissão do CHIKV no período gestacional, não havendo evidencias
da transmissão deste arbovírus por aleitamento (ROLÓN et. al.,2015). Mulheres
gestantes infectadas pelo CHIKV e em estado de viremia podem transmitir o vírus por
via intra-uterina e ocasionar abortos (PIALOUX et al, 2007; RAMFOUL et al., 2007;
POWER et al., 2009; BURT et al., 2012). Desta forma, os recém nascidos que
contraem o vírus no período perinatal apresentam maior tendência para o
desenvolvimento de meningoencefalite, lesões subcutâneas, edema cerebral,
sintomas hemorrágicos e miocardite (GERANDIN et al., 2008; DAS et al, 2009;
KUCHARZ et al., 2012).
1.1.3 Principais vetores de transmissão do CHIKV
Os vetores de transmissão do CHIKV variam de acordo com a região geográfica
onde está se disseminando o arbovírus, por exemplo, em áreas silvestres no
continente africano os mosquitos Aedes furcifer-taylori, Aedes. africanus e A. aegypti
são os principais vetores. Já em ambientes urbanos, as duas principais espécies
12
envolvidas com a transmissão do CHIKV a humanos são os mosquitos A. aegypti e A.
albopictus (BURT et al., 2012).
Figura 2. Ciclos de transmissão silvestre e urbano do vírus Chikungunya.
A. aegypti é originário da África, vetor de outros arbovírus como o vírus da
Dengue e o Zika vírus (COFFEY, 2011), atualmente, encontra-se disseminado em
regiões tropicais e subtropicais, sendo raramente encontrados em ambientes
silvestres, pois preferencialmente povoam áreas urbanas com a presença de
humanos para a realização da hematofagia e de uma gama de opções de recipientes
artificiais que servem como criadouros, favorecendo a proliferação e estabelecimento
destes mosquitos nestes locais (CONSOLI et al., 1998).
O A. albopictus é originário da Ásia, descrito primariamente na Índia em 1984,
é também conhecido como “tigre asiático”. No entanto, desde 1979 dispersou-se
amplamente em outros continentes. Sua distribuição geográfica engloba tanto regiões
de clima quente como temperados e ao contrário dos mosquitos A. aegypti não são
dependentes de áreas com grande concentração humana, pois podem alimentar-se
de néctar de plantas e de sangue de animais silvestres. Assim, demonstram
preferências por ambientes rurais e silvestres, além de apresentar maior tolerância a
baixas temperaturas (GRATZ, 2004).
Os mosquitos A. aegypti e A. albopictus são espécies com ampla distribuição
geográfica mundial, inclusive nas Américas, assim a presença desses vetores pode
13
facilitar a introdução do CHIKV em novas áreas (BENEDICT et al., 2007). Além disso,
o CHIKV possui tendência de dispersão e emergência em localidades ainda não
afetadas devido a capacidade de adaptação deste arbovírus a novas espécies de
vetores (CHARREL et al., 2008).
1.1.4 Febre Chikungunya e manifestações clínicas
A patogênese da febre Chikungunya em humanos inicia-se pela hematofagia
do mosquito infectado, com a liberação de partículas do CHIKV na região
intradérmica. Posteriormente, se desloca para os capilares subcutâneos, quando
ocorre a replicação viral, preferencialmente em fibroblastos, células endoteliais e
macrófagos. Em seguida, o CHIKV invade os nódulos linfáticos, é drenado através do
canal torácico para a corrente sanguínea e alcança os órgãos-alvo, como o fígado,
músculos, articulações e cérebro (Figura 3) (GILLES et al., 2007).
Após a infecção, o período de incubação intrínseco ocorre em média por três a
sete dias, seguido por período de viremia que se manifesta até dois dias antes da
apresentação dos sintomas e prevalecem por mais de oito dias. Ainda, o número de
indivíduos infectados pelo CHIKV e que desenvolvem manifestações clínicas (70%
dos indivíduos são sintomáticos) é significativo quando comparados ás demais
arboviroses (BRASIL, 2015).
A palavra “Chikungunya” é um termo utilizado na língua Makonde (África
Oriental) que significa ”aqueles que se dobram” sendo referente à posição curvada
que os pacientes desenvolvem. Assim, embora os sintomas apresentados pelos
pacientes acometidos pelo CHIKV sejam semelhantes as demais arboviroses, esta
infecção é caracterizada pelas dores articulares intensas que podem perdurar por dias
ou até anos após a doença febril (BRASIL, 2015; CARVALHO et al, 2012).
As manifestações clínicas frequentemente relatadas pelos indivíduos
infectados são: hipertermia, cefaléia, fadiga, dores musculares intensas, conjuntivite,
edema facial, náusea e emese, convalescendo após 7-10 dias (JACUPS et al., 2008).
Além disso, o vírus também está associado com complicações neurológicas
(encefalite, meningoencefalite, mielite, síndrome Guillain Barré), cardiovasculares,
renais, hepáticas e oculares, principalmente, em bebês que adquirem a infecção no
período perinatal, em idosos e pessoas com comorbidades (POWER et al., 2007;
RHAIM et al., 2011; ECONOMOPOULOU et al., 2009; HONÒRIO et al., 2015).
14
A qualidade de vida dos acometidos pela febre Chikungunya pode ser
prejudicada devido as sequelas permanentes articulares, que reduzem a
produtividade dos pacientes (HORCADA et al., 2015). Existe a alusão para a
possibilidade da ocorrência de óbitos (HONÓRIO et al., 2015). Casos de mortalidade
associados à CHIKV foram evidenciados inicialmente nas Ilhas da Reunião e na Índia.
Em particular nas Ilhas da Reunião onde as taxas mensais de mortalidade excederam
aos valores esperados em fevereiro e março de 2006, correspondendo a um aumento
de 18,4% quando comparado a estimativa da taxa de letalidade por CHIKV
(BEESOON et al., 2008; MAVALANKAR et al., 2008).
Figura 3. Representação esquemática da disseminação de CHIKV em diferentes
tecidos e órgãos.
1.1.5 Fases da infecção por CHIKV
Segundo o manejo clínico proposto pelo Ministério da Saúde, a febre
Chikungunya pode evoluir em três fases: aguda, subaguda e crônica (BRASIL, 2015).
A fase aguda é a fase inicial da doença, autolimitada e os sintomas agudos
desaparecem em três a dez dias (MOYA et al., 2014). Já a fase subaguda é
caracterizada, normalmente, pelo desaparecimento do estado febril e persistência da
artralgia. Por fim, a fase crônica é de duração mais prolongada, com manifestações
clínicas perdurando por doze semanas até três anos. Fatores de risco para o
15
estabelecimento da fase crônica são: idade acima de 45 anos, desordem articular
preexistente e lesões articulares intensas durante a fase aguda.
Casos graves associados ao óbito de acometidos por CHIKV têm sido relatados
principalmente em pacientes com comorbidades e idade avançada. Porém, nas
Américas a letalidade por CHIKV é menor do que os casos notificados por vírus da
Dengue (BRASIL, 2015).
Tabela 1. Principais manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes infectados
por CHIKV nas fases aguda, subaguda e crônica.
Fases Duração Manifestações clínicas
Fase
aguda ou
febril
7-14 dias
Febre de início súbito intensa poliartralgia, dores nas
costas, cefaleia fadiga, bradicardia relativa, poliartralgia
(90% dos pacientes), dor articular, exantema (macular ou
maculopapular), prurido (25% dos pacientes -
generalizado ou apenas localizado na região palmo-
plantar), dor retro-ocular, calafrios, conjuntivite, faringite,
náusea, vômitos, diarréia, dor abdominal e neurite. As
manifestações do trato gastrointestinal são mais presentes
nas crianças.
Fase
subaguda
14 dias -
3 meses
Febre persistente, agravamento da artralgia, incluindo
poliartrite distal, exacerbação de dores articulares em
punhos e tornozelos, edema de intensidade variável, Há
relatos de recorrência da febre, astenia, prurido
generalizado e exantema maculopapular, além de lesões
purpúricas,vesiculares e bolhosas. Ainda, há relatos de
pacientes com doença vascular periférica, fadiga e
sintomas depressivos.
Fase
crônica
meses - 3
anos
Dor articular persistente, com ou sem edema, limitação de
movimento, deformidade e ausência de eritema, dor
musculoesquelética, fadiga, cefaléia, prurido, alopecia,
exantema, bursite, dor neuropática, distúrbios do sono,
alterações da memória, déficit de atenção, turvação visual
e depressão.
Fonte: BRASIL, 2015.
16
1.1.6 Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da infecção por CHIKV é realizado, basicamente, por critérios
clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. Pacientes com febre de início agudo,
artralgia ou artrite intensa e que visitaram ou residem em áreas endêmicas ou
epidêmicas são considerados um caso provável de febre Chikungunya. No entanto, a
confirmação laboratorial é indispensável, para distinção de outras doenças febris com
manifestações clínicas semelhantes (BRASIL, 2015).
Vários métodos laboratoriais podem ser aplicados para o diagnóstico de
infecções por CHIKV, tais como: isolamento viral, reação em cadeia da polimerase
(RT-PCR) e detecção da resposta imune por testes sorológicos. Porém, a seleção do
método laboratorial adequado depende principalmente de quando ocorreu o início dos
sintomas (BRASIL, 2015).
As amostras de pacientes obtidas durante a primeira semana da infecção
podem ser submetidas ao isolamento viral em linhagens de célula como a C6/36,
VERO, BHK-21 e HeLa, onde produzirá efeitos citopáticos típicos (BRASIL, 2015).
Porém, amostras coletadas tardiamente, após o início da resposta imune não são
classificadas como apropriadas para o isolamento, pois os anticorpos produzidos pelo
organismo debelam a infecção e reduzem a carga viral dos pacientes na circulação
sanguínea (PANNING et al., 2006).
Na fase aguda da infecção, normalmente entre os sete primeiros dias após o
surgimento dos sinais clínicos, o genoma viral pode ser facilmente detectado pela RT-
PCR (BRASIL, 2014). Assim, diversos ensaios têm sido descritos na literatura, desde
RT-PCR convencional para genes de envelope (E1) e genes não-estruturais (NSP1)
até RT-PCR em tempo real (PASTORINO et al., 2005, CARLETTI et al., 2007,
BRASIL, 2015).
Após a fase virêmica inicial, o diagnóstico é baseado principalmente na
detecção da resposta imune específica por métodos sorológicos como enzyme-linked
immunosorbent assay (ELISA) e o teste de neutralização por redução de placas
(PRNT).
O diagnóstico sorológico é realizado pela detecção da imunoglobulina M (IgM)
específica para CHIKV por ELISA de captura (MAC-ELISA) seguida do PRNT,
técnicas vantajosas por detectar anticorpos produzidos nos primeiros dias da infecção,
ou pela detecção através do ELISA da imunoglobulina G (IgG) específica para CHIKV,
17
produzida após o período inicial da infecção e permanecendo detectável no soro dos
pacientes infectados mesmo depois do desaparecimento do IgM (BRASIL, 2015).
Porém, a interpretação dos resultados sorológicos deve considerar a possibilidade de
reações cruzadas com outros arbovírus como nyong-nyong, Mayaro e Ross River
(BLACKBUM et al., 1995).
Até o momento, não existem medicamentos específicos contra CHIKV e a
terapia dos pacientes infectados é de suporte sintomático. A terapia baseia-se,
principalmente, no uso de medicamentos como analgésicos e anti-inflamatórios para
alívio da dor e febre. Porém, o paracetamol deve ser usado com cautela em pessoas
com doenças hepáticas (BRASIL, 2015). Deste modo, além do fato de não existir
vacina para imunização da população e diante das condições de terapia já relatadas,
a principal medida para prevenir-se contra infecção por CHIKV é evitando a picada do
mosquito, assim, atitudes como não frequentar lugares endêmicos, utilizar produtos
repelentes de insetos e porta telas para deter mosquitos transmissores devem ser
colocadas em prática neste período em que o número de casos de infecções por este
arbovírus tem sido crescente (MONTERO, 2014; CDC, 2016).
1.1.7 Epidemiologia do CHIKV
Somente no ano de 1953 o CHIKV foi associado a infecções em humanos,
sendo inicialmente considerado restrito aos continentes africano e asiático (JEANDEL
et al., 2004). Essa associação tardia, provavelmente, ocorreu devido à falta de
diagnóstico diferencial e a dificuldade de diferenciar clinicamente infecções por
dengue de outras doenças febris agudas tropicais. No entanto, um surto de grande
relevância iniciou no Quênia em 2004 e disseminou-se pela primeira vez a bacia do
Oceano Índico, em seguida, para o subcontinente indiano e sudeste asiático,
intensificando a preocupação com medidas preventivas contra este vírus reemergente
(FERNANDEZ et al., 2015).
Posteriormente, o CHIKV foi introduzido em diversas regiões; transmissão
autóctone foi relatada no norte da Itália e sul da França (MAVALANKAR et al., 2008;
CASOLARI et al., 2008; LIUMBRUNO et al., 2008). Recentemente, o CHIKV
disseminou-se para o Caribe, norte da América do Sul, América Central e México, a
partir da introdução por viajantes virêmicos de áreas endêmicas asiáticas
(JOSSERAN et al., 2006; GANESAN et al., 2008).
18
Diversos países do continente americano foram notificados com casos de
infecções por CHIKV, por exemplo, a detecção de casos nos Estados Unidos entre
1995 a 2010, no Canadá entre 2005 a 2010. Em 2006 foram detectados casos
importados na Guiana Francesa, sendo uma região que apresenta frequentes
transmissões de dengue e com presença intensa de vetores, assim,
consequentemente tornou-se vulnerável para o início de transmissão autóctone da
doença (WHO, 2007; CDC, 2010).
No Brasil, as infecções causadas por CHIKV foram relatadas inicialmente em
outubro de 2014 em Oiapoque (AM) e, posteriormente, Feira de Santana (BH), onde
dos três genótipos descritos, dois foram confirmados como circulantes no território
brasileiro: ECSA e Asiático (NUNES et. al, 2015; HONÓRIO et. al, 2015).
Figura 4. Distribuição geográfica mundial do CHIKV em 2015 (SEPPA, 2015).
19
2. JUSTIFICATIVA
O vírus Chikungunya está associado a surtos de doenças em humanos com
ampla distribuição geográfica, sendo relatados surtos epidêmicos constantemente em
diversos países e, consequentemente, constituindo-se em problema de saúde pública.
Este arbovírus é um patógeno causador de morbimortalidade em indivíduos,
resultando em sinais e sintomas em dois entre três pacientes infectados, porém, a
frequência e distribuição do CHIKV entre pacientes com doença febril aguda é pouco
compreendida em MT. Casos de febre Chikungunya têm sido notificados desde 2015
em diversos municípios de MT. Ao total, 1720 notificações e 78 municípios foram
relatados com casos suspeitos de infecção por CHIKV entre 2015 e 2016 (SES-MT,
2016).
Desenvolver tal estudo com base nas notificações registradas em MT torna-se
de essencial relevância, ao se considerar a ampla extensão territorial do Estado, no
qual compatibilizam condições favoráveis para a disseminação das infecções por
CHIKV, tais como a presença de três principais biomas (Amazônia, Cerrado e
Pantanal), a localização em região de clima tropical, com disponibilidade de vetores e
hospedeiros susceptíveis para a manutenção e circulação do CHIKV (SEMA, 2014).
Diante desse cenário, faz-se necessário desenvolver estudos sobre este
arbovírus e a distribuição geográfica dos casos notificados no Estado, pois favorecem
para uma melhor compreensão da dinâmica de disseminação, com o intuito de
aprimorar as ações de vigilância epidemiológica.
20
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Verificar a distribuição espacial dos casos de febre Chikungunya notificados
pelo SINAN em Mato Grosso, Brasil, 2015-2016.
3.2 Objetivos específicos
- Identificar as regionais de saúde com notificações para CHIKV entre 2015 e 2016;
- Verificar o número de municípios com notificações para CHIKV entre 2015 e 2016;
- Verificar o padrão de disseminação do CHIKV em MT entre 2015 e 2016;
- Compreender a distribuição espacial das notificações de CHIKV em 2015 e 2016 por
regional de saúde.
21
4. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo ecológico, descritivo e exploratório dos casos notificados
pelo SINAN para febre Chikungunya durante o ano de 2015 até agosto de 2016
(semana epidemiológica n° 34), coletados através de consulta ao boletim
epidemiológico n° 24, edição 01 publicado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES)
de MT.
4.1 Área de estudo
O Estado de MT possui 141 municípios, está localizado no Centro-Oeste
brasileiro com extensão territorial de 903.198,091 km², sendo o terceiro maior Estado
do país. Segundo o censo demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, a população de
MT é de 3.035.122 habitantes, representando 1,59% da população brasileira; cerca
de 81,9% residem em zona urbana (IBGE, 2010). No Estado, estão duas importantes
bacias hidrográficas, a bacia Amazônica e a bacia Platina. Ainda, apresenta uma
ampla diversidade de fauna e flora e acolhe três biomas brasileiros, a floresta
amazônica ao norte (53,6%), o Pantanal ao sul (6,9%) e Cerrado (39,6%) com
predominância do clima tropical e duas estações bem definidas (seca e chuvosa)
(EMBRAPA, 2006).
4.2 Coleta e análise de dados
Ao se considerar o uso de dados secundários para elaboração deste estudo e
a disparidade entre fontes diferentes, optou-se por utilizar apenas a base de dados da
SES-MT. Desta forma, os dados coletados são referentes aos casos de febre
Chikungunya em MT notificados durante o ano de 2015 até a semana epidemiológica
n° 34 de 2016 pelo SINAN e disponibilizados no formato de boletim epidemiológico
online.
Através dos dados obtidos foi verificado o percentual de casos notificados por
regional de saúde (Baixada Cuiabana, Cáceres, Água Boa, Alta Floresta, Tangará da
Serra, Porto Alegre do Norte, Rondonópolis, Barra do Garças, Juína, Juara, Peixoto
do Azevedo, Pontes e Lacerda, Diamantino, Sinop, Colíder e São Felix do Araguaia)
e o total de municípios com registros de suspeita de infecção por CHIKV. Ainda, foi
averiguado se houve progresso ou não das notificações entre o ano de 2015 e 2016
22
e a distribuição espacial dos casos registrados pelo SINAN, considerando cada
regional de saúde.
Os dados foram tabulados e analisados por meio dos softwares Microsoft Excel
2010® e apresentados em forma de tabela e gráficos. O mapa geográfico do MT
contendo a distribuição espacial das notificações registradas pelo SINAN foi elaborado
no software ArcGIS versão 10.1.
23
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O monitoramento realizado pelo SINAN em Mato Grosso entre o ano de 2015
até a Semana Epidemiológica (SE) 34 de 2016 dos casos de febre Chikungunya
registrou o total de 1720 notificações, no qual 324 (18,8%) casos foram referentes a
2015 e 1396 (81,2%) casos notificados até a SE 34 de 2016 (Figura 5). Casos
suspeitos de infecção por CHIKV foram relatados em 78 (55,3%) dos 141 municípios
mato-grossenses, sendo seis (7,7%) municípios notificados somente em 2015, 35
(44,9%) somente em 2016 e 37 (47,4%) municípios apresentaram relatos de febre
Chikungunya em 2015 e 2016 (Figura 5). Porém, estes números podem ser alterados
devido aos atrasos nas atualizações dos sistemas de informação dos municípios.
Figura 5. Casos suspeitos e municípios notificados com febre Chikungunya em Mato
Grosso, Brasil entre 2015 e 2016.
Fonte: SES-MT, 2016.
Segundo o boletim epidemiológico de 2016, MT é classificado com risco de
baixa incidência de febre Chikungunya, porém, houve um aumento de 1072 (331%)
casos notificados em relação ao total anual de 2015. Ainda, ao se considerar a
distribuição dos municípios segundo a classificação da incidência em 2016, o CHIKV
é o agravo que apresentou diminuição do número de municípios silenciosos. De modo
24
geral, no Estado 51,1% dos municípios ainda são classificados como silenciosos,
41,8% são municípios de baixo risco e 5% são municípios de médio risco.
Tabela 2. Número de casos suspeitos de febre Chikungunya distribuídos por Regional
de Saúde, Mato Grosso, Brasil, 2015 até a S.E. 34 de 2016.
Esc. Regional de Saúde - ERS
REGIONAL DE SAÚDE Absoluto (n) % Absoluto (n) % 2015 2015 2016 2016 Baixada Cuiabana 23 7,1 61 4,4 Cáceres 126 38,9 87 6,2 Água Boa 7 2,2 89 6,3 Alta Floresta 4 1,2 9 0,7 Tangará da Serra 54 16,6 690 49,4 Porto Alegre do Norte 0 0 18 1,3 Rondonópolis 7 2,2 71 5,1 Barra do Garças 0 0 36 2,6 Juína 8 2,5 60 4,3 Juara 9 2,7 40 2,9 Peixoto de Azevedo 30 9,3 36 2,6 Pontes e Lacerda 20 6,2 21 1,5 Diamantino 1 0,3 16 1,2 Sinop 33 10,2 143 10,3 Colíder 2 0,6 16 1,2 São Félix do Araguaia 0 0 0 0
Total 324 100 1396 100
Fonte: SES-MT, 2016.
Das 16 regionais de saúde existentes em MT, a regional de Porto Alegre do
Norte e Barra do Garças em 2015 e a regional de São Félix do Araguaia em 2015 e
2016 não registram casos de CHIKV (Figura 6). Ainda, a regional de saúde de Cáceres
apresentou redução do número de casos suspeitos de 126 notificações em 2015 para
87 em 2016. Porém, nas demais regionais foi observado um aumento do número de
casos suspeitos de febre Chikungunya em 2016 quando comparado ao ano anterior.
Somente na regional de saúde de Tangará da Serra, que engloba dez municípios
mato-grossenses, as notificações de CHIKV aumentaram de 54 casos em 2015 para
690 casos em 2016 (Tabela 2). Casos suspeitos de CHIKV foram notificados em
quinzes regionais de saúde entre os dois anos analisados (Figura 6) e, conforme o
mapa, observa-se que embora em 2015 tenham sido notificados principalmente no
oeste do MT, em 2016 encontram-se distribuídos em todas as regiões do Estado.
25
Figura 6. Distribuição espacial dos casos suspeitos de febre Chikungunya dos
municípios distribuídos por Regional de Saúde, Mato Grosso, Brasil, 2015 até a S.E.
35 de 2016.
Fonte: SES-MT, 2016.
No Brasil, as infecções causadas por CHIKV foram relatadas inicialmente em
outubro de 2014 em Oiapoque, Estado do Amapá e, posteriormente, Feira de
Santana. Até então, dos três genótipos descritos, dois foram confirmados como
circulantes no território brasileiro: ECSA e Asiático (NUNES et al., 2015; HONÓRIO et
al., 2015). Pelo estudo de Nunes e colaboradores (2015), é mais provável que a
introdução do vírus no MT ocorra pelo genótipo asiático, introduzido no Amapá,
contudo estudos moleculares são necessários para identificar o vírus circulante no
Estado. Em MT somente em 2015 os primeiros casos de infecções por CHIKV foram
26
notificados, e tem sido crescente o número de pacientes classificados como casos
suspeitos de infecção por este arbovírus.
Em Mato Grosso foi observado um aumento significativo do número de casos
suspeitos de febre Chikungunya de 2015 para 2016. Como qualquer outra doença
transmitida por vetor, a propagação de CHIKV depende de características do vector,
hospedeiro e meio ambiente (MADARIAGA et al., 2016).
Assim, alguns estudos relatam os principais fatores para o estabelecimento,
manutenção e disseminação dos arbovírus em uma determinada região geográfica,
tais como a degradação ambiental e crescimento populacional, pois em aglomerações
urbanas o risco de contagio viral torna-se maior, além da capacidade do vírus
disseminar-se rapidamente através de viagens. Deste modo, o vírus pode migrar para
novas áreas urbanas e, associado ao crescimento descontrolado das cidades, pode
elevar a possibilidade de propagação de patógenos (KOONIN, 2009; VASCONCELOS
et al., 1992).
Outro fator mensurado como favorável para que o CHIKV adquirira um maior
potencial para a sua emergência é a capacidade do CHIKV sofrer mutações e / ou
adaptar-se a novos ciclos zoonóticos (FIGUEIREDO et al., 2014). Por exemplo, a
mutação A226V que aumentou a aptidão do CHIKV replicar em A. albopictus
(MADARIAGA et al., 2016).
Além da extensão territorial do Brasil, que dificulta a vigilância e o acesso de
grande parte dos serviços de saúde aos testes laboratoriais de diagnóstico, algumas
características do território brasileiro corroboram para a possibilidade de grandes
epidemias de febre Chikungunya. Se destacam, neste sentido, a ampla infestação
pelos dois vetores com potencial para transmitir o CHIKV, a circulação concomitante
de DENV, ZIKV e CHIKV no país, dificultando o diagnóstico diferencial, alto índice de
casos sintomáticos, viremia prolongada, susceptibilidade humana e presença
abundante de primatas que favorecem o estabelecimento e manutenção do ciclo
silvestre no Brasil (HONORIO et al., 2015).
As causas da emergência, reememergência e disseminação dos arbovírus
estão constantemente associadas as alterações ecológicas, condições ambientais ou
climáticas, propagação de reservatórios e vetores, urbanização descontrolada
propiciando invasão de nichos ecológicos, mobilidade humana a regiões endêmicas e
a circulação simultânea de outros arbovirus, que favorecendo a ocorrência de
epidemias (TRAVASSOS, 1986; PYBUS et al., 2009; LOPES et al; 2014).
27
Deste modo, o Estado de MT possui o perfil ecológico ideal que favorece a
circulação e manutenção dos ciclos epidemiológicos das arboviroses, como a
proliferação e diversificação de vetores e hospedeiros amplificadores de arbovírus,
clima tropical e duas estações (seca e chuvosa), ampla extensão e variabilidade de
ecossistemas e três biomas (Amazônia, Cerrado e Pantanal) com grande diversidade
de vetores (inclusive A. aegypti e A. albopictus), assim como a intensa atividade
ecoturística e expansão agropecuária presente no Estado (SEMA, 2014). Tais fatores
contribuem para a circulação de arbovírus como o CHIKV próximos a grandes centros
urbanos e infecção de seres humanos susceptíveis e, possivelmente, estão
relacionados ao aumento do número de notificações de febre Chikungunya
observados entre 2015 até a SE 34 de 2016 em MT.
Os arbovírus são patógenos causadores de morbimortalidade mundialmente,
porém a frequência e distribuição destes arbovírus entre pacientes com doença febril
aguda é pouco compreendida no MT (KUNIHOLM et al., 2006). Embora representem
uma ameaça à saúde pública sendo frequentemente notificados, muitos arbovírus
ainda permanecem largamente negligenciados e poucos casos são confirmados
laboratorialmente.
Clinicamente, as arboviroses são confundíveis entre si, sendo impossível
estabelecer diagnóstico definitivo sem a confirmação por métodos específicos, além
de promover a subestimação da distribuição real dos arbovírus. O agente etiológico
da febre Chikungunya é um desses arbovírus que possui similaridade de
sintomatologia com outras infecções virais e pode ser confundido com outras febres
virais (LOPES et al; 2014). Pelos dados analisados notificados pelo SINAN de casos
apenas suspeitos de CHIKV, observa-se a importância da ampliação do diagnóstico
diferencial entre as arboviroses para compreender a dinâmica de dispersão, áreas de
risco e a situação epidemiológica real deste arbovírus em MT. Além disso, há a
necessidade de implantação de estratégias de vigilância entomológica e virológica,
visando a prevenção e controle de surtos do CHIKV na população de MT.
A febre Chikungunya representa ameaça a sociedade brasileira e um grande
desafio para as autoridades de saúde (TEIXEIRA et al., 2016; LIUMBRUNO et al.,
2008). O estudo limitou-se a analisar somente a distribuição espacial dos casos
notificados para CHIKV, no qual foi realizada uma análise global, pois não há
disponível dados sociodemográficos dos indivíduos acometidos. Assim, é de grande
importância o levantamento desses dados dos pacientes notificados com febre
28
Chikungunya, pois são essenciais para verificar as possíveis causalidades e fatores
de risco que possam estar associados a esta infecção em MT, tendo em vista que
esta representa a primeira introdução do agente no Estado e, a população encontra-
se completamente susceptível à infecção pelo CHIKV.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O CHIKV tem sido frequentemente associado a doença febril no Brasil,
resultando em problemas de saúde pública relevantes que desafiam as autoridades
de saúde em diversas regiões do país.
Casos de febre Chikungunya têm sido notificados desde 2015 em MT. Ao total
foram 1720 notificações, 324 (18,8%) casos foram referentes a 2015 e 1396 (81,2%)
até a SE 35 de 2016. Muitos casos permanecem sem diagnóstico laboratorial
definitivo, seja provavelmente por causa de suas manifestações clínicas autolimitadas
ou pelas longas distâncias para instalações de serviços de cuidados à saúde e falta
de laboratórios capazes de conduzir os métodos de diagnóstico.
Assim, ao saber que MT possui características ideais para a disseminação
deste e de outros arbovírus, torna-se essencial a implementação e manutenção de
apoio laboratorial eficiente para a realização de diagnóstico diferencial e medidas
educativas e sanitárias, visando a vigilância, o controle e prevenção desta infecção no
Estado.
29
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