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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR CAMPUS DE VILHENA DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA MÔNICA GONÇALVES DA SILVA DE SOUZA DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: REVELANDO CONCEPÇÕES DOCENTES VILHENA - RO Julho, 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

CAMPUS DE VILHENA

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

MÔNICA GONÇALVES DA SILVA DE SOUZA

DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: REVELANDO

CONCEPÇÕES DOCENTES

VILHENA - RO

Julho, 2019

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Fundação Universidade Federal de Rondônia

Gerada automaticamente mediante informações fornecidas pelo(a) autor(a)

S729d Souza, Mônica Gonçalves de.

Disciplina e indisciplina na educação infantil: Revelando concepções docentes / Mônica Gonçalves de Souza. -- Vilhena, RO, 2019.

54 f.

Orientador(a): Prof.ª Ma. Kelly Jessie Queiroz Penafiel Coorientador(a): Prof.ª Ma. Stefanny Karulayne Figueiredo de Lucena.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Fundação Universidade Federal de Rondônia

1.Disciplina e indisciplina. 2.Educação infantil. 3.Conflitos. 4.Concepção e postura. I. Penafiel, Kelly Jessie Queiroz. II. Título.

CDU 37.064.2

Bibliotecário (a) Marcelo Garcia Cardoso CRB 11/1080

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MÔNICA GONÇALVES DA SILVA DE SOUZA

DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: REVELANDO

CONCEPÇÕES DOCENTES

Monografia apresentada a Universidade

Federal de Rondônia, como requisito

avaliativo para conclusão do curso de

Pedagogia.

Orientadora: Profa. Ma. Kelly Jessie Queiroz

Penafiel.

Coorientadora: Profa. Ma. Stefanny Karulayne

Figueiredo de Lucena.

VILHENA - RO

Julho, 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

CAMPUS DE VILHENA

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: REVELANDO

CONCEPÇÕES DOCENTES

MÔNICA GONÇALVES DA SILVA DE SOUZA

Este trabalho foi julgado adequado para obtenção do título de Graduação em

Pedagogia e aprovado pelo Departamento Acadêmico de Ciências da Educação (DACIE) da

Universidade Federal de Rondônia.

__________________________________

Profa. Dr. Giovana Alexandra Stevanato

Chefe do Departamento Acadêmico de Ciências da Educação

Professores que compuseram a banca:

__________________________________

Presidente: Profa. Ma. Stefanny Karulayne Figueiredo de Lucena

Orientadora – Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

__________________________________

Membro: Profa. Ma. Daiane Trindade da Silva

Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

__________________________________

Membro: Profa. Ma. Shuely Souza Rodrigues

Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Vilhena, _________ de __________ de 2019

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus pela vida que me concedeu e por sua misericórdia.

A minha mãe Sônia Gonçalves e meu pai Zaqueu Pereira por terem me educado, cuidado e

ensinado valores que servem para vida toda, e pelo incentivo ao estudo.

A minha querida irmã Luana Faria e meu esposo Thiago Souza por terem me apoiado, e me

dado animo quando estava querendo desistir desse curso.

Ao Jefferson Faria por ter revisado meu trabalho e por ter apresentado sugestões.

Aos amigos e familiares por torcerem por mim e terem tido paciência devido a minha

ausência nesses anos.

A minha professora e orientadora Kelly Jessie Queiroz Penafiel, que me auxiliou a dar o

início a essa pesquisa, e também por sua paciência e dedicação.

A minha coorientadora Stefanny Karulayne Figueiredo de Lucena, por ter me amparado na

pesquisa quando a minha orientadora precisou se afastar, pois graças a ela pude dar

continuidade e concluir esse estudo.

As professoras Daiane Trindade e Shuely Rodrigues por terem aceitado fazer parte da banca

da apresentação e por avaliar essa pesquisa.

Enfim, aos colegas de profissão, aos colegas acadêmicos, aos professores da Universidade

Federal de Rondônia (Campus Vilhena) e pessoas mais, que de alguma forma contribuíram

para que esse sonho se realizasse.

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RESUMO

O objetivo geral do presente estudo é analisar como professores pensam e reagem sobre a

disciplina e indisciplina na educação infantil, e especificamente entender como e o porquê

acontecem esses atos de indisciplina, e assim procurar soluções para o profissional saber lidar

com esses conflitos. A partir da problemática dessa pesquisa que é saber qual concepção do

professor que atua na educação infantil sobre disciplina e indisciplina, utilizei como

metodologia a pesquisa qualitativa e de campo. Primeiramente foi feita uma revisão

bibliográfica com diversos autores que falam dos eixos norteadores desse estudo, que são os

aspectos históricos da educação de crianças de 0 a 5 anos, a infraestrutura e a forma como a

escola se organiza que remete ao confinamento dos sujeitos, os significados dos termos

disciplina e indisciplina e entre outros que estão localizados nas seções e subseções desse

trabalho. Utilizei autores como: Kramer (1984,1992,1995), Áries (2003), Barbosa (2008),

Barros(2011), Maldonado(2014), Louro (1997), Pinto (2003) e entre outros. Depois foi feita

entrevista semiestruturada e os sujeitos dessa pesquisa foram três professoras da rede pública

de ensino e que são regentes na educação infantil. Como resultados, obtivemos três categorias

temáticas, a primeira é focalizada no entendimento das professoras sobre disciplina, e que ela

esta relacionada a algo dentro da norma, a segunda categoria é sobre a indisciplina como

sendo algo fora da norma ou ordem, e a terceira categoria focaliza em como as professoras

resolvem esses conflitos, e a principal resposta é: “a família é a chave para resolver a

indisciplina”. E assim foi possível observar, que as causas desses comportamentos

“indisciplinados” são diversas, desde uma rotina inadequada, de uma didática desinteressante

do professor, de regras que são apenas impostas as crianças e entre outros. Foi observada

também uma semelhança de significados sobre a disciplina como quase sempre relacionada

ao castigar, punir, colocar sentadinho, tirar brinquedo, levar para direção e chamar os pais

para que se comprometam com a disciplina do filho. Nosso posicionamento é que os

conflitos não devem ser vistos como algo negativo, pois se o professor souber media-los

poderá trazer desenvolvimento e aprendizado para os envolvidos. Portando a reflexão e

discussão dessa pesquisa poderá trazer contribuição para o professor ou interessados, a

reverem suas teorias baseadas em senso comum, reverem suas práticas, a forma de veem a

disciplina e indisciplina dentro de sala de aula e mudarem o jeito de enxergar a criança, e

enxergá-la em sua particularidade, em seu modo de se expressar e em seu interesse.

Palavras-Chave: Disciplina. Indisciplina. Educação Infantil. Conflitos. Concepção e postura

do professor.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Identificação das professoras..............................................................................32

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8

2. A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL ....................................................................... 10

2.1 Aspectos históricos da Educação de crianças pequenas ............................................ 10

2.2 A escolarização da Primeira Infância .......................................................................... 13

2.3 A escola como espaço de confinamento........................................................................16

3. DISCIPLINA E INDISCIPLINA NO CONTEXO ESCOLAR ..................................... 21

3.1Trabalhando os conceitos de disciplina e indisciplina ................................................ 21

3.2 Reflexões sobre indisciplina na Educação Infantil ..................................................... 22

4. A PESQUISA ...................................................................................................................... 30

4.1 Participantes do Estudo ............................................................................................... 30

4.2 Instrumentos de coletas e análise de dados ................................................................ 30

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... .32

5.1 A disciplina como sinônimo de ordem .................................................................... ...32

5.2 A indisciplina como algo fora de ordem\norma ....................................................... .38

5.3 A família como uma “peça chave” para lidar com a indisciplina ........................... 41

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 46

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 49

APÊNDICES ........................................................................................................................... 53

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1.INTRODUÇÃO

A curiosidade de investigar e estudar as concepções dos professores sobre disciplina e

indisciplina na educação infantil, se deu através das experiências nos estágios supervisionados

na educação infantil. A partir dessa experiência pude notar que durante conflitos entre alunos,

ou entre professor e aluno, a postura do professor era espantosa, trazendo sentimento de

incomodo a quem via; autoritarismo, braveza e impaciência dominavam os professores e

ainda assim não conseguiam resolver o problema, utilizando de punições, repreensões e

ameaças para intimidar os alunos. Diante disso a indagação que orienta essa pesquisa é saber

qual a concepção do professor da educação infantil sobre disciplina e indisciplina.

O objetivo geral desse estudo é analisar como professores da educação infantil pensam

e consequentemente reagem sobre a disciplina e indisciplina na educação infantil e dessa

forma investigar o porquê e como acontecem esses atos de indisciplinas para propor melhores

soluções para os professores lidaram com esses conflitos na sua prática diária.

O método utilizado para esse estudo deu-se através de uma pesquisa qualitativa de

campo e para obtenção da coleta de dados foi feito um levantamento bibliográfico de autores

relacionados à educação infantil, a postura do professor e sobre disciplina e indisciplina no

contexto escolar, como: Kramer (1984, 1992,1995), Áries (2003), Barbosa (2008), Barros

(2011), Maldonado (2014), Louro (1997), Pinto (2003) e entre outros. E após esse

conhecimento prévio, foi elaborado um questionário de entrevista semiestruturada contendo

nove questões relacionadas a temáticas. Os sujeitos dessa pesquisa foram três professoras da

rede pública de ensino, onde ensinam atualmente na educação infantil. Todas as professoras

são licenciadas em pedagogia, sendo que duas professoras fizeram pós graduação, uma em

gestão e a outra em educação infantil. A faixa etária das professoras é entre 28 a 38 anos, e

dão aula aproximadamente entre 2 anos há uns 4 anos.

As entrevistas foram gravadas, transcritas e delas foram tiradas falas importantes para

a contribuição desse estudo, onde foram analisadas e discutidas baseando-as em autores

como: Pinto (2003), Brighente e Mesquita (2001), Ferreira e Martins (2017), Paula, Durante e

Fantacini (2016), Luz (2010), Benette (2008), Trivesol (2007), Quinquiolo (2017), Franzoloso

(2011) entre outros.

A intenção desse trabalho é trazer uma abordagem que permita que o leitor veja e

reflita sobre a postura das professoras, como agem e pensam (de acordo com suas falas) sobre

a indisciplina e disciplina na educação infantil, para que o leitor (acadêmicos de licenciatura,

pesquisador ou professor) entenda e reflita como acontecem esses conflitos, como são

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gerenciados e como são pensados muitas vezes de formas equivocadas e errôneas, deixando

possíveis marcas negativas nas vidas das crianças, e comprometendo também o seu papel

como mediador, educador e como pessoa humana. Para que assim possamos refletir

diariamente na nossa prática e visão diante desses conflitos.

Mas para entender como tudo isso acontece, foi preciso desenvolver seções que

contextualizasse essa temática, a primeira seção fala da “Escola de Educação Infantil” e nela

possui três subseções, uma sobre “Aspectos históricos da Educação de crianças pequenas”

onde foi preciso voltar no tempo para apresentar quando surgiu o sentimento de infância, de

como a criança era vista e tratada ao logos dos séculos, de como era dada a educação, e como

surgiu as primeiras escolas voltadas as crianças pequenas. A outra subseção é “A

escolarização da Primeira Infância” que focaliza na intenção e os objetivos das creches e pré-

escolas, também são trazidos para o texto os primeiros projetos e escolas de educação infantil

no Brasil, assim como as primeiras leis e direitos voltados às crianças pequenas. E por último

nessa seção será abordado “A escola como espaço de confinamento”, que confina os corpos e

identidades por meio de instrumentos variados.

Já a segunda seção é sobre a “Disciplina e Indisciplina no Contexto escolar”,

que é divida por duas subseções, onde é abordado sobre os conceitos desses termos e os

focaliza na educação infantil. A terceira seção é sobre a Pesquisa em si, como foi feito a

coleta de dados e como esses dados serão analisados. A quarta seção são os Resultados e

Discussões e por último a quinta seção são as considerações finais.

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2. A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Essa seção está organizada em três momentos e visa o entendimento da escola de

Educação Infantil que é uma instituição voltada para o atendimento à criança pequena e a

história do seu surgimento até os dias de hoje. Teremos como referências os trabalhos de

Aranha (1996), Áries (2003), Barbosa (2008), Barros (2011), Kramer (1984,1992, 1995) e

outros.

Iniciaremos abordando os aspectos históricos da educação de crianças pequenas, ou

seja, será levantado um trajeto sobre como ocorria a educação das crianças menores de 6 anos

de idade, desde do inicio da humanidade até os dias atuais. Posteriormente abordaremos a

escolarização da primeira infância explicada de modo geral como surgem às primeiras escolas

de Educação Infantil no mundo e focalizando assim na Educação Infantil no Brasil. A

discussão será finalizada com apontamos e reflexões sobrea escola como espaço de

confinamento, ou seja, a escola como reprodutora e produtora de sujeitos da sociedade, onde

ela delimita o que cada um pode e deve (ou não deve) fazer.

2.1 Aspectos históricos da Educação de crianças pequenas

As ideias a respeito da infância que temos hoje foram forjadas historicamente

acompanhando o movimento de produção da sociedade. Em resposta as demandas da

sociedade capitalista nascente e da crescente industrialização a organização da educação da

criança foi estabelecida. A necessidade de atendimento às crianças de mães trabalhadoras e a

organização da sociedade urbano-industrial passam a exigir outro tipo de formação dos

indivíduos para atuarem no exigente mercado de trabalho que se forma (ARIÈS, 2003).

Do ponto de vista histórico, a educação da criança esteve sob a responsabilidade

exclusiva da família durante séculos, porque era no convívio com os adultos e outras

crianças que ela participava das tradições e aprendia as normas e regras da sua

cultura. Na sociedade contemporânea, por sua vez, a criança tem a oportunidade de

freqüentar um ambiente de socialização, convivendo e aprendendo sobre sua cultura

mediante diferentes interações com seus pares. (PASHOAL; MACHADO, 2009,

p.79).

Aranha (1996) ressalta que no início da história da humanidade, nas comunidades

primitivas ou tribais não se verificava uma atenção especial com a educação das crianças,

essas aprendiam imitando os adultos nas atividades diárias de manutenção da existência. Para

a autora, na antiguidade clássica também não havia lugar para o sentimento de infância tal

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como o conhecemos hoje. Isso não significa que as crianças não eram atendidas em suas

necessidades, mas não recebiam tratamento diferente do mundo adulto. (ARANHA, 1996)

A criança no Mundo Clássico era tratada como inferior, incompleta e inacabada em

relação ao adulto que era por sua vez um ser superior e que tinha a autoridade para criar,

castigar e educar a natureza infantil como bem pretendia. A criança também era vista como

pura possibilidade, como futuro guardiães, futuros governadores, ou seja, ela não era

valorizada em seu presente, mas sim em alguém que poderia ser no futuro. E para que isso

acontecesse a educação tinha como objetivo preparar essas crianças para o futuro, ou seja,

para quando forem adultos suprir as necessidades e melhorar assim a sociedade em que vive

(MALDONADO, 2014).

A Idade Média é caracterizada como período de obscurecimento em diversas áreas.

Durante este momento da história, pouco se evidenciava a criança e não existia o sentimento

de infância que hoje se tem na sociedade, ou seja, “não existia a consciência da

particularidade infantil. Esse fato é verificado nas expressões desse tempo” (MALDONADO,

2014, p.10), como por exemplos nos quadros de pinturas onde a criança era pintada em forma

de um adulto em miniatura. Ao nascer e conseguir sobreviver (coisa bem difícil de acontecer,

já que havia muita mortalidade infantil na época), a criança convivia no meio dos adultos,

frequentando os mesmos lugares e participando das mesmas tarefas e jogos. Ou seja, não

havia distinção entre os espaços sociais destinados ao adulto e a criança. (MALDONADO,

2014)

Já no mundo moderno e com a Revolução Industrial houve uma alteração na estrutura

social vigente, modificando assim os hábitos e costumes das famílias (MALDONADO,

2014). O número de mulheres e também de crianças cresceu no mercado de trabalho, já que

agora não se precisava de tanto trabalho braçal que exigisse força. Dessa forma, essas mães

trabalhadoras e pobres “que não tinham com quem deixar seus filhos utilizavam o trabalho

das mães mercenárias que não trabalhavam fora, e que vendiam seus serviços para abrigarem

e cuidarem dos filhos dessas outras mulheres operárias” (MALDONADO, 2014, p.80).

Porém, a situação dessas crianças não era das melhores, eram maltratadas, desnutridas e o

nível de mortalidade infantil era enorme. E não havia reclamações, pois essas pessoas pobres

precisavam sobreviver e dependiam desses serviços. (PASHOAL; MACHADO, 2009).

Segundo Paschoal e Machado (2009, p.80) “as mazelas contra a infância se tornaram

tão comuns que, por filantropia, algumas pessoas resolveram tomar para si a tarefa de acolher

as crianças desvalidas que se encontravam nas ruas. A sociedade aplaudiu, uma vez que todos

queriam ver as ruas limpas do estorvo e da sujeira provocados pelas crianças abandonadas”.

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As condições materiais de existência da época tornavam altos os índices de

mortalidade infantil. Aquelas que conseguiam sobreviver entravam diretamente no mundo dos

adultos. Para o adulto que conseguia viver com a ajuda do seu trabalho, a ausência de

atividade profissional da criança significava uma perda de ganho para as classes dominadas,

por isso logo cedo as crianças tinham que enfrentar longas jornadas exaustivas de trabalho

(KRAMER, 1995).

Pode-se perceber que enquanto no mundo clássico a educação era vista como

preparatória para o futuro da criança e do país, na modernidade essa educação não existia - ao

menos não no começo. A casa dessas mães mercenárias só servia para retirar as crianças das

ruas e abrigá-las, com cuidados de higiene e alimentação (PASHOAL; MACHADO, 2009).

No início do século XVII surgem as primeiras preocupações com a educação das

crianças pequenas (KRAMER, 1984), que resultam em uma nova percepção sobre a criança e

a infância e reconhecimento social que passaram a ter. Mudanças significativas ocorrerem em

relação às atitudes das famílias para com as crianças pequenas, que inicialmente eram

educadas a partir do convívio com adultos. Analisando a questão, Barbosa e Horn (2008)

afirmam que muitas mudanças ocorreram neste período sobre a concepção do ser criança

perante a sociedade, esta passou de um ser incompleto que precisa de cuidados, a agente de

seu desenvolvimento através das relações que são estabelecidas com a sociedade em que está

inserida.

A ideia de infância surge com muita força com a sociedade capitalista urbano-

industrial na medida em que muda a inserção e o papel social da criança na sociedade. O

crescimento do setor industrial urbano provoca mudanças na estrutura social e com essas

mudanças percebe-se a necessidade de pensar uma educação voltada para as crianças. Vale

ressaltar que neste momento histórico, a tônica do atendimento à criança da classe menos

favorecida era médica, uma vez que se entendia que a medicina preventiva poderia remediar e

socorrer as crianças e suas famílias. (Kramer, 1984)

Depois dessas casas de mães mercenárias foram criadas em países europeus, nos

Estados Unidos e inclusive no Brasil, várias instituições e organizações filantrópicas de cunho

assistencialistas que se importavam com a saúde, higienização e até mesmo a educação das

crianças de 0 a 6 anos de idade. E isso foi um grande marco na sociedade, pois, assim

combateria esse alto índice de mortalidade infantil, porque até então a criança na sociedade

era vista como algo sem importância como um objeto descartável. (PASHOAL; MACHADO,

2009).

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Assim aconteceram movimentos por parte de operários, de instituições privadas, de

humanistas e feministas. Para exigir do Estado direitos as crianças menores de 6 anos de idade

por saúde e educação, independente dos pais trabalharem fora e de sua classe social

(PASHOAL; MACHADO, 2009).

Dessa forma podemos perceber a importância de se entender a história focalizando nas

mudanças que afetam a educação das crianças, e assim compreender como aconteceram esses

processos, as conquistas tiveram ao longo do tempo e ainda assimilar o que esses fatos

contribuíram (contribuem) e afetam a nossa sociedade atual.

2.2 A escolarização da Primeira Infância

A Educação Infantil tem se expandido nas últimas décadas tendo em vista a crescente

urbanização, o ingresso da mulher no mercado de trabalho e as diferentes composições

familiares. Contudo, sabemos que a atenção dispensada à educação deste público é

historicamente nova. Para Kramer (1995) no que se refere ao atendimento de crianças

brasileiras desde o período colonial até 1874 pouco de fazia por elas. Existiam instituições

como a “Casa dos Expostos” ou “Casa dos Enjeitados” ou simplesmente a “Roda”, para

abrigar as crianças que tivessem sido abandonadas, enjeitadas ou desamparadas pelas suas

famílias.

De 1874 até 1889 começaram a surgir projetos elaborados por grupos particulares,

projetos esses que não eram concretizados, em especial eram elaborados por médicos, que

tratavam do atendimento a crianças. Predominava uma visão higienista da infância que

precisava ser “resgatada”. Esse aspecto é interpretado por Kramer (1992, p. 49) da seguinte

forma:

As primeiras iniciativas voltadas às crianças partiram de higienistas e se dirigiam

contra a alarmante mortalidade infantil, que era atribuída por eles a duas causas Uma

dizia respeito aos nascimentos ilegítimos, fruto da união entre escravos e destes com

seus senhores. A segunda se referia à „falta de educação física, moral e intelectual

das mães‟, ou mais concretamente, sua negligência na medida em que permitiam o

aleitamento mercenário (escravas de aluguel) [...].

Alicerçadas em um discurso preconceituoso, tais instituições valorizavam

diferentemente as crianças da classe dominada as da classe dominante. Para as crianças da

classe dominante entendiam que era necessário estimular o seu desenvolvimento, tanto

cognitivo como afetivo, já para as crianças da classe dominada era simplesmente necessário o

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cuidar, higienizar e o alimentar. A educação da criança pequena assumia então um caráter

assistencialista (KRAMER, 1995).

De acordo com Kramer (1995), existe um padrão determinado, único e abstrato de

criança pretendido pela classe dominante. E esse padrão é estabelecido comparando as

crianças de classes diferentes, enquanto as crianças das classes dominantes são descritas como

o ideal “normal” de criança, as da classe dominada recebem os adjetivos de inferiores,

carentes e deficientes na medida em que não corresponde a esse padrão dito de criança normal

(KRAMER, 1995).

A essas crianças tidas como “anormais” são estendidas as propostas compensatórias de

educação, uma vez que:

[...] faltariam a essas crianças, privadas culturalmente, determinados atributos,

atitudes ou conteúdos que deveriam ser nelas incutidos. A fim de suprir as

deficiências de saúde e nutrição, as escolares, ou as do meio sócio-cultural em que

vivem as crianças são propostos diversos programas de educação pré escolar de

cunho compensatório. (KRAMER, 1995, p.24).

Em outras palavras podemos perceber então que a escola para a classe dominada foi (e

em diferentes medidas continua sendo) um modo de “compensar” a miséria que sofriam.

De acordo com Kramer (1995) existem ainda duas crenças muito fortes sobre a

educação da primeira infância, sendo a primeira é que as pré-escolas foram criadas para o

preparo da criança para o primeiro ano do Ensino Fundamental, ou seja, que tem uma

característica e um objetivo futurístico para ir para a próxima série e evitar repetência. A outra

crença é de que a Educação Infantil democratiza as oportunidades educacionais, preparando

essas crianças para o futuro, e assim mudariam a atual crise econômica, social e política (que

sucede devido às diferenças das classes sociais e culturais). A autora considera essas visões

problemáticas, uma vez que se traduzem em:

“uma forma de culpar o passado pela situação de hoje e de focalizar no futuro

quaisquer possibilidades de mudança. Fica-se, assim, inseto de realizar no presente

ações ou transformações significativas que visem atender às necessidades sociais

atuais” (KRAMER, 1995, p. 29).

O primeiro Jardim de Infância brasileiro foi inaugurado no ano de 1875, tendo fechado

logo em seguida da sua criação por falta de apoio do Poder Público. Em 1899 foi criado o

Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Brasil, que teve como sede o Rio de Janeiro,

com os objetivos:

[...] atender aos menores de oito anos; elaborar leis que regulassem a vida e a saúde

dos recém-nascidos; regulamentar o serviço das amas de leite, velar pelos menores

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trabalhadores e criminosos; atender às crianças pobres, doentes, defeituosas,

maltratadas e moralmente abandonadas, criar maternidades, creches e jardins de

infância. (KRAMER, 1995, p. 53).

Em 1908 foi inaugurada a primeira Creche popular, destinada a filhos de operários de

ate dois anos de idade, e em 1909 o Jardim de Infância Campos Salles, no Rio de Janeiro

(KRAMER, 1995). Com iniciativa da equipe fundadora do Instituto de Proteção e Assistência

à Infância do Brasil, foi criado em 1919 o Departamento da Criança no Brasil, com

responsabilidade que caberia ao Estado, foi reconhecido de Utilidade Pública em 1920,

atribuindo às diferentes tarefas:

[...] realizar histórico sobre a situação de proteção à infância no Brasil (arquivo);

fomentar iniciativas de amparo à criança e à mulher grávida pobre, publicar boletins,

divulgar conhecimentos, promover congressos; concorrer para a aplicação das leis

de amparo à crianças; uniformizar as estatísticas brasileiras sobre mortalidade

infantil. (KRAMER, 1995, p. 53).

Nos anos 20 e 30, do século XX, com o avanço da industrialização e com a crescente

urbanização de um operariado, começou a ocorrer uma intensa motivação em defesa da

Escola Pública. As poucas instituições criadas direcionadas as crianças, ainda mantinham

ênfase ao atendimento médico, acrescentando o caráter assistencialista. Segundo Kramer

(1995) essas instituições procuravam “salvar” uma infância abandonada pela família, abrigada

pelo Estado.

O papel do Estado com relação ao atendimento das crianças fica mais evidente que no

início da República, pois recebe influência e pressão do movimento escola novista. Começa a

surgir proposta para o atendimento a criança com certo interesse das autoridades oficiais,

tomando medidas burocráticas que influenciaram a conjuntura administrativa e os programas

de atendimento à infância (KRAMER, 1995).

Foi apenas em 1988 com a Carta Constitucional que esse dever e obrigatoriedade do

Estado para com a Educação Infantil foi efetivado. Assim a escolarização da primeira infância

passou a ser ofertada a todas as crianças de 0 a 6 anos de idade de forma gratuita e com a

pretensão de ser de qualidade. A referida constituição reconheceu a criança como um sujeito

da sociedade e, portanto com direitos. Assim foram criados estatutos e políticas voltados para

a criança e o adolescente para atendê-las e melhorar o nível de ensino nas escolas. A

Educação Infantil passa a ser vista como etapa indispensável da escolarização e

historicamente a concepção de infância muda ao longo dos anos. (KRAMER, 1995)

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Tomando agora a Pedagogia como tema de análise, percebem-se duas concepções de

pedagogia, a tradicional e a nova que tem modos diferentes de ver e tratar as crianças. De

acordo com Kramer (1995), a pedagogia tradicional é aquela que acredita que a natureza da

criança é originalmente corrompida, e que o objetivo da educação é discipliná-la e inculcar-

lhe regras, através da intervenção direta do aluno e da constante transmissão de modelos. Já a

pedagogia “nova” ou “moderna” segundo a mesma autora,

Ao contrário, concebe a natureza da criança como inocência original; a educação

deve proteger o natural infantil, preservando a criança da corrupção da sociedade e

salvaguardando sua pureza. A educação não se baseia na autoridade do adulto, mas

na liberdade da criança e na expressão de sua espontaneidade. (KRAMER, 1995,

p.22)

E ambas as perspectivas tratam a criança como um ser abstrato, ao invés de olhá-la

não em si mesma, padronizando comparando-as umas com as outras. O olhar a criança precisa

envolver o contexto dela, seus desejos e necessidades e como isso afeta seu desenvolvimento.

(KRAMER, 1995)

Existem outras tendências pedagógicas diversas (romântica, cognitiva, crítica), cada

qual com sua crença sobre a criança e sobre como educá-las (KRAMER, 1995), contudo é

preciso frisar que a Educação Infantil no âmbito atual tem por finalidade geral promover o

desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, complementando a ação da família

e da comunidade (BRASIL, 1998). Desenvolver independência, habilidade corporais,

sensibilidade com a natureza e com os outros, autoconhecimento e autoestima, relações

sociais, curiosidade e entre outros são os objetivos a serem alcançados pela creche e pré-

escolas.

2.3 A escola como espaço de confinamento

A escola como espaço de confinamento delimita espaços físicos e também abstratos

(regras, costumes etc.). Segundo Louro (1997) a escola cria símbolos e códigos que diz e

incita o que cada um pode ou não fazer nesse espaço e também na sociedade. Ela separa os

alunos (e dessa forma, as pessoas na sociedade) e dita o lugar que cada um deve pertencer, o

que cada grupo deve e pode fazer, ela os separa por raça, etnia, classe social, sexualidade e

gênero. Beneficia alguns e prejudica outros. (LOURO, 1997)

Em seu artigo Silveira Junior (2008) analisa o espaço escolar de uma escola pública no

interior de São Paulo falando sobre o confinamento existente nessa escola, porém essa

realidade reflete em todas as escolas espalhadas pelo Brasil. Ele mostra alguns exemplos nos

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próprios prédios das escolas e sua forma de organização; as grades e os grandes muros que

estão em volta das escolas, como estão situados os espaços: as salas dos alunos, a entrada, os

banheiros, os pavilhões e pátios, etc. A vigilância existente sobre os alunos, onde transitam e

o que fazem e podem fazer; o controle do tempo e dos horários, o que devem fazer ou não em

determinadas horas; e também controlam os comportamentos dos alunos. Até mesmo existem

funcionários como guardas, porteiro ou inspetor de pátio que sua função é controlar os que

entram nas escolas; controlam entrada, permanência e saída. E tudo tem que ser justificado

aos que interrogam.

Ao invés da escola ser um espaço de socialização e aprendizagem; ela acaba sendo um

lugar de vigilância e repreensão aos alunos (SILVEIRA JUNIOR, 2008)

A mestra em educação e infância Maria Pinto, em sua pesquisa focaliza a escola como

espaço de confinamento direcionado também ao preparo para o mercado de trabalho e nos

revela que “as crianças, ao serem confinadas em instituições educativas que se pautam em

modelos burocráticos, hierárquicos e marcados por relações de poder autoritárias, perdem

espaços importantes de sociabilidade e produção de cultura.” (2003, p.7).

De acordo com a autora, ao falar sobre essa organização espaço-temporal percebe-se o

conservadorismo da arquitetura e da organização do tempo nas escolas, que foram criados e

organizados pelos adultos para priorizar o condicionamento e a disciplinas dos alunos.

Desfavorecendo assim as interações e a criatividade das crianças. (PINTO, 2003)

Ao longo da história, Pinto (2003) aborda que a escola foi se tornando complexa e que

na contemporaneidade acabou submetida à renovações de modo atender às necessidades

produtivas e técnicas, ou seja, ela acabou se tornando funcional para a sociedade industrial e

de forma geral um fracasso para a sociedade. E que essa mudança, resultou na troca do tempo

natural ao tempo racional do relógio, no qual é o uso do tempo como instrumento de

exploração do trabalho, e isso desvendam “aspectos importantes da organização espaço-

temporal da escola moderna, que mesmo originada a mais de duzentos anos, ainda mantém a

mesma estrutura.” (Pinto, 2003, p.12). Dessa forma, ela complementa que:

Mesmo que a escola não tenha surgido apenas com a função de moldar os indivíduos

para o trabalho, mas sim com a função de transmitir conteúdos culturais, estes

autores revelam que esta instituição foi utilizada para tal fim. Assim, tanto o tempo

quanto o espaço foram sendo organizados de forma a disciplinar, organizar,

regularizar, homogeneizar, enfim, criar hábitos relacionados ao trabalho industrial,

tornando as crianças das classes trabalhadoras dóceis e obedientes para que, mais

tarde, pudessem se adequar sem problemas ao trabalho nas indústrias. (PINTO,

2003, p.12)

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Contudo, percebe-se que esses espaços e os tempos escolares não são estruturas

neutras, não são apenas coincidência ou um acaso, mas sim, construções sociais que

aprendemos e que condicionam as significações e os modos de educação (PINTO, 2003).

Silveira Junior (2008) comenta também que a disciplina é o instrumento de poder

usado nos espaços escolares para doutrinar e confinar os corpos. Assim, esse poder

“disciplinar” tem em sua característica principal à normalização dos corpos. “Logo, ela se

coloca como um tipo de poder que não se identifica especificamente com uma instituição nem

com um aparelho, mas sim como uma modalidade que comporta todo um conjunto de

instrumentos, técnicas, procedimentos, níveis de aplicação, etc.” (SILVEIRA JUNIOR, 2008,

pag.103).

Essa cultura escolar que vivemos hoje, no caso: a infraestrutura do prédio, suas regras

e costumes, acabam sendo visto como algo normal, sendo justificada para proteger os alunos

da violência do mundo, ou para impedir que alunos matem aula e se prejudiquem; porém

Nietzsche (1998) apud Silveira Junior (2008, p.108), fala que “necessitamos de uma crítica

dos valores morais, o próprio valor desses valores deverá ser colocado em questão”. Ou seja,

a sociedade precisa repensar a escola, precisa refletir e mudar o que é taxado como algo

normal dentro de uma escola.

Resultante disso, vemos o sujeito obediente, que segue os hábitos e as ordens da escola

sem ao menos se questionar o porquê, essa autoridade exercida continuamente sobre ele em

torno dele, faz com que ele siga automaticamente. Esse poder disciplinar é um mecanismo

subjetivo que obriga os alunos a terem determinadas atitudes sem o uso da força, e por isso e

com isso se torna um método muito mais violento. (Silveira Junior, 2008)

Nesse espaço escolar e também fora da escola, os espaços e os limites (bens sociais,

direitos, oportunidades e etc.) de cada grupo são brevemente determinados. As diferenças,

distinções e desigualdades que hoje existem na sociedade e entre esses grupos, a escola não só

reproduz no seu cotidiano, como os produzem (LOURO 1997).

Segundo as ideias de Louro (1997) a escola confina sujeitos e identidades. Criando

assim diferenças de tratamentos e oportunidades entre homens e mulheres, brancos e negros,

pobres e ricos, heterossexuais e homossexuais e outras dicotomias, que geram racismo,

preconceitos, estereótipos, sexismo e etnocentrismo, são feitas de forma natural na escola,

seja implicitamente ou explicitamente.

Tratar os(as) alunos(as) diferentes uns(umas) dos(das) outros(outras) acontece de

forma “natural” na escola, e é por isso que:

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[...] nosso olhar deve se voltar especialmente para as práticas cotidianas em que se

envolvem todos os sujeitos. São, pois, as práticas rotineiras e comuns, os gestos e as

palavras banalizadas que precisam se tonar alvos de atenção renovada, de

questionamento e, em especial, de desconfiança. A tarefa mais urgente talvez seja

exatamente essa: desconfiar do que é tomado como “natural” (LOURO, 1997, p.63).

É nessa projeção e poder de determinar o presente e o futuro de cada um, é que a

escola cria essas facetas, seja no próprio desenho arquitetônico do prédio ou na organização

escolar, quanto nos currículos, nos materiais didáticos, nos regulamentos, avaliações e

docentes. E dessa maneira a escola garante e produz essas diferenças entre os sujeitos

(LOURO, 1997).

Durante os anos que os (as) alunos (as) passam pela escola, estudam e aprendem nos

livros, retratos ou pinturas de história de quem são os protagonistas e heróis que conquistaram

determinada coisa, geralmente são homens brancos e que fazem parte da nobreza. Os negros,

os pobres, os indígenas e as mulheres são apenas figurantes, pares românticos e antagonistas.

Disciplinas como matemática e Educação Física são matérias na quais mais podemos perceber

o que se espera de meninos e meninas. Na matemática, por exemplo, de acordo com Louro

(1997) se espera que os meninos se tenham melhor desempenho que as meninas com a

justificativa de que isso é algo natural para eles. Quando isso não acontece e as meninas se

desenvolvem melhor que eles nessa matéria, as explicações se voltam para o enaltecimento do

esforço e dedicação individual. Já na Educação Física, se a aluna se desenvolve bem nas

atividades corporais e gosta de algum esporte dito masculino, como o futebol, as

preocupações escolares recaem sobre o comportamento dito não “natural” da menina. Como

consequência, as práticas escolares se voltam para formá-la, torná-la mais feminina e sensível.

(LOURO, 1997)

A valorização da cultura da classe burguesa sobre as demais também é gritante nas

escolas, desde a linguagem até no modo de vida, enquanto a cultura dos mais pobres é

deixada de lado e até ridicularizada. Estas formas de disciplinamento têm servido para um

processo de emparedamento e institucionalização da infância escolarizada. Percebe-se isso

principalmente nos currículos, livros didáticos, nas disciplinas e até no tratamento dos alunos

no que diz respeito à disciplina/indisciplina. A escolarização é vista como espaço de

confinamento por fabricar sujeitos, porque de acordo com Louro (1997, p.61):

[...] Ali se aprende a olhar e a se olhar, se aprende a ouvir, a falar e a calar; se

aprende a preferir. Todos os sentidos são treinados, fazendo com que cada um e cada

uma conheça os sons, os cheiros e os sabores “bons” e decentes e rejeite os

indecentes; aprenda o que, a quem e como tocar (ou, na maior parte das vezes, não

tocar); fazendo com que tenha algumas habilidades e outras não [...]. E todas essas

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lições são atravessadas pelas diferenças, elas confirmam e também produzem

diferença. Evidentemente, os sujeitos não são passivos receptores de imposições

externas. Ativamente eles se envolvem e são envolvidos nessas aprendizagens-

reagem, respondem, recusam ou as assumem inteiramente.

Ao analisar a história do surgimento da prisão, Foucault (2014) comenta que em

instituições como a prisão, a fábrica, o hospital e a escola, é produzido uma vigilância

permanente sobre o corpo daqueles que são vigiados. Para o autor, sobre o corpo são fixados a

um aparelho de produção e controle.

As provocações que Louro (1997), Pinto (2003), Silveira Junior (2008) e Foucault

(2014) nos trazem são necessárias para pensarmos que, desde seu momento de criação e

consolidação até os dias atuais, a escola de Educação Infantil tem se colocado como

instituição incontornável para a infância. A defesa da escola para esta etapa não deve ser feita,

sem, contudo, que seu espaço seja problematizado como espaço que tem servido para tornar

dócil o corpo das crianças e professores. Esta discussão passa pela temática do

disciplinamento que acontece nesse espaço.

E que por serem construções históricas, sociais e políticas, segundo Pinto (2003)

acredita-se que possa haver uma mudança nesse cenário escolar, que esse espaço, tempo,

regras, valores da instituição educacional possa ser mudado, exigindo para isso, uma postura

crítica dos envolvidos com o trabalho escolar, para que assim o ambiente da escola favoreça o

processo de desenvolvimento e formação das crianças, e respeitando-as como sujeitos de

direto; pois “além de adquirir os conhecimentos acumulados historicamente pela humanidade,

(...) necessita também de espaços e tempos que garantam o desenvolvimento das dimensões

afetiva, lúdica e criativa, enfim que garantam tempo e espaço para viverem suas infâncias”

(PINTO, 2003, p.11).

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3. DISCIPLINA E INDISCIPLINA NO CONTEXTO ESCOLAR

Um dos grandes desafios que a escola e também o âmbito familiar enfrentam está

relacionado à indisciplina. É preciso que os conceitos de indisciplina e disciplina sejam

explorados para que possamos compreender suas implicações para o contexto da sala de aula.

3.1 Trabalhando os conceitos de disciplina e indisciplina

Em qualquer dicionário ao pesquisar pelas palavras disciplina e indisciplina

encontramos significados semelhantes. O vocábulo disciplina, de acordo com o dicionário

Aurélio, significa um regime de ordem imposta ou livremente consentida, é cumprir e

respeitar preceitos e normas. A disciplina pode ser também uma relação de subordinação do

aluno ao professor (FERREIRA, 2004), de aceitar tudo o que o professor propõe, manda ou

faz de forma pacífica e acatar sem debater e discordar; assim pode-se perceber que algumas

vezes os aspectos da disciplina podem ser compreendidos como algo do autoritarismo, da

opressão.

A disciplina pode ser compreendida também como um bem no qual os seres humanos

precisam para viver em sociedade e esse processo se inicia desde a infância. De acordo com

La Taille (1996) apud Trevisol (2007, p.3):

[...] as crianças precisam sim aderir a regras e estas somente podem vir de seus

educadores, pais ou professores. Os „limites‟ implicados por estas regras não devem

ser apenas interpretados no seu sentido negativo: o que não poderia ser feito ou

ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa,

dá consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social – a família, a

escola, e a sociedade como um todo.

Já a indisciplina é descrita como um ato ou procedimento contrário à disciplina, como

a desobediência, a desordem, falta de limites e a bagunça (FERREIRA, 2004). Em

contrapartida, o aluno indisciplinado pode ser visto também como aquele que se revolta, que

não aceita e não acata as regras da escola e do professor, é um ser que podemos dizer assim,

ativo e que tem um procedimento ao contrário a disciplina.

Esses conceitos, embora tenham uma significação geral, varia de pessoa para pessoa.

A concepção dos conceitos e as medidas para gerenciar os atos de indisciplina também irão

variar de professor para professor. De certo modo há uma confusão, porque às vezes o aluno

não é indisciplinado e é adjetivado como sendo, porém de acordo com Rego (1996, p. 87):

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Um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona, pergunta se

inquieta e se movimenta, mas sim como aquele que não tem limites, que não respeita

a opinião e sentimentos alheios, que apresenta dificuldades em entender o ponto de

vista do outro e de se autogovernar, que não consegue compartilhar, dialogar e

conviver de modo cooperativo com seus pares.

É comum algumas pessoas acharem que esse aluno/filho que questiona, que se

movimenta, que é inquieto, é indisciplinado. Muitas vezes o professor/pais querem que esses

sejam quietos, aceitem tudo o que determinam e que sejam pacíficos e devotos a eles e as suas

determinações.

O aluno/filho indisciplinado de acordo com Trevisol (2007), por um lado pode

representar uma virtude onde o mesmo não se permite ser enquadrado em algum modelo ou

padrão, ou por outro lado uma tirania às avessas como cita o mesmo autor, na qual os

conflitos e as situações que acontecem ficam submetido à vontade do aluno/filho. La Taille

(1996) declara que um ato de indisciplina, muitas vezes, é genuinamente moral na medida em

que representa resistência a uma imposição injusta.

Porém, esses conceitos são bem variáveis dependendo da cultura do grupo, do tempo

histórico em que se encontra, da classe social, do contexto e entre outros fatores que podem

alterar ou possuir significado e significação diferente. Isso acontece por que:

O próprio conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático,

uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e

expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa

mesma sociedade, nas diversas classes sociais, [...]. No plano individual, a palavra

indisciplina pode ter diferentes sentidos que dependerão das vivências de cada

sujeito e do contexto em que forem aplicadas. (REGO, 1996, p.84).

Ou seja, a questão da disciplina envolve variados contextos, desde o significado da

palavra para cada grupo, até a interpretação e os valores de cada um, do ambiente no qual se

está inserido e entre outros fatores que determinam o comportamento dos envolvidos.

Dependendo da situação e da pessoa podemos entendê-las como algo bom ou ruim.

3.2 Reflexões sobre indisciplina na Educação Infantil

De acordo com Trevisol (2007) o problema com/da indisciplina pode estar classificado

e apontado não somente ao aluno/filho, mas em vários contextos e pessoas em toda sociedade.

Após uma grande análise em diferentes fontes bibliográficas a autora identificou as seguintes

situações: a indisciplina aluno/ filho; pais e sociedade; professores e escolas.

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A relação da indisciplina com aluno/filho terá agora o enquadramento de um

comportamento que não respeita os colegas e o professor; que bagunça e atrapalha as aulas;

que responde com grosseria ou até usa de violência, e entre outros. Um dos fatores que levam

o aluno a esse comportamento é o enfraquecimento do vínculo com a moralidade, a ausência

do sentimento de vergonha, e a falta do respeito com outras pessoas e consigo mesmo.

(KAKAZU, 2009).

Trevisol (2007) aponta que o que pode induzir esses comportamentos é a falta de

interesse nas aulas e na escola. Para o autor, esses atos se manifestam como sinal de que o

ensino não está sendo realizado da maneira como esse aluno gostaria e que dessa forma ele

estaria reivindicando mudanças nesse processo de ensino-aprendizagem, ou seja, exigir que a

escola cumpra seu dever de ensinar, mas de forma que agrade e desperte o interesse dos

alunos.

A relação disciplina/indisciplina e sociedade, de acordo com Kakazu (2009) estão na

própria relação de pais e filhos e suas características. Para Rego (1996), existem três perfis de

pais: os autoritários, os permissivos e os democráticos. Os pais autoritários são aqueles que

dão muito valor a obediência às normas e regras e nem se preocupam em explicar os motivos

das ameaças, castigos e imposições. Os pais permissivos valorizam o diálogo, porém têm

dificuldade em exercer controle, são bem tolerantes e assim não estabelecem limites e nem

costumam exigir responsabilidades de seus filhos. Os pais democráticos por sua vez são

equilibrados, e por sua vez conseguem ser afetuosos e abertos para o dialogo, e ao mesmo

tempo colocam regras e limites.

As consequências de cada uma dessas relações são bem significativas ao

comportamento da criança. Nas palavras de Rego (1996, p. 98).

Os filhos de pais autoritários manifestam obediência, organização, timidez,

apreensão, baixa autonomia e baixa auto-estima. Como são privadas de entender as

justificativas para as normas que lhe são impostas, tendem a orientar suas ações de

modo a receberem gratificações ou evitarem castigos. Os filhos de pais permissivos,

apesar de mais alegres e dispostos que aqueles que recebem uma educação

autoritária, devido às poucas exigências e controle de seus pais tendem a apresentar

um comportamento impulsivo e imaturo, assim como dificuldade de assumir

responsabilidades. Já os que recebem educação democrática, além de apresentar

significativo autocontrole, auto estima, capacidade iniciativa, autonomia e facilidade

nos relacionamentos, tende a demonstrar que os valores morais difundidos em

suafamília foram interiorizados: parecem ser capazes de assumir determinadas

posturas por seus valores intrínsecos e não pelo temor às sanções externas.

Dessa forma percebe-se a relevância que a educação familiar tem sobre um indivíduo,

seja na dimensão cognitiva, afetiva ou moral. “Porém, as influências que caracterizarão os

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jovens ao longo de seu desenvolvimento não serão somente as vivenciadas na sua família,

mas também as aprendizagens nos diferentes contextos sociais, como na escola.” (KAKAZU,

2009, p.5). Para o autor, as ações, valores, atitudes e posturas (sejam elas disciplinadas ou

indisciplinadas) resultam de um processo compartilhado com pessoas e objetos da cultura.

Isso porque,

Diferentemente dos animais, que já nascem com o seu desenvolvimento e

comportamento programado geneticamente (ou seja, suas características estão

rigorosamente prefixa em seu código genético), o comportamento e

desenvolvimentos dos membros da espécie humana dependerão não somente de suas

disposições orgânicas, mas, principalmente, das inúmeras influências culturais, das

aprendizagens e das experiências educativas.(REGO, 1996, p. 94).

Portanto, os traços de cada ser humano estão ligados diretamente ao grupo cultural e

as características em que está inserido, e também de suas experiências e de sua história.

Diante disso, é possível perceber que ninguém nasce rebelde ou disciplinado, e que esses

comportamentos resultam de inúmeras influencias que a criança recebe ao longo de seu

desenvolvimento e vai internalizando. Por esse motivo que a disciplina ou indisciplina não

estão alheias a família ou a escola (KAKAZU, 2009).

É por isso que o ambiente familiar: seus valores, moralidade e relação pais e filhos são

muito importantes na construção de um indivíduo para viver bem individualmente e

coletivamente, respeitando a si e aos outros. Porque ao contrário disso o ambiente familiar

pode intensificar o aparecimento da indisciplina do filho/ aluno na escola (TREVISOL, 2007).

Já a correlação da indisciplina com os professores e a escola abrange vários outros elos

que influenciam no comportamento do aluno, e também a indisciplina que estão em si

próprios. Por exemplo, quando o professor que não faz planejamento e ministra sua aula

desmotivado, ele acaba influenciando seus alunos a comportamentos dispersos, de

desinteresse e de até bagunças, pelo motivo da mesma não se agradável e sim entediante.

Segundo Trivesol (2007, p. 07) “nesse tipo de atitude do professor, descomprometida diante

de seus alunos evidenciamos um outro sentido para a indisciplina, identificada como uma

“atitude indisciplinada na postura do professor”. Ou seja, além de influenciar seus alunos à

indisciplina, o próprio professor acaba sendo indisciplinado por não cumprir corretamente sua

função social.

A escola em sua estrutura organizacional também contribui para manifestações de

indisciplina devido ao descontentamento por essas regras e pela não compreensão das

mesmas. “A escola é a responsável pelo estabelecimento e pela clareza das normas. O não

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entendimento das mesmas pode reverter em tomadas de decisão indevidas com relação ao

grupo de alunos”. (TRIVESOL, 2007, p.07). Ou seja, muitas das regras e das normas da

escola que são impostas, não são claras para os alunos, e ai surgem esses conflitos que são

traduzidos como indisciplina.

Outro aspecto destacado por Trivesol (2007) é a questão da escola que vigia e pune.

Essa vigilância está presente nas práticas, no currículo e na avaliação. E a punição acontece

quando as regras preestabelecidas são descumpridas. Para o autor, há incoerência nas práticas

escolares que cobram do aluno o respeito e o cumprimento das normas, mas não oferece

informações e diálogos para evitar ou resolver esses problemas. Em relação a isso Trivesol

(2007, p. 7) indaga:

Como um aluno irá desenvolver conceitos de justiça e praticá-los se é

frequentemente injustiçado e punido, se não é ouvido ou mesmo questionado sobre o

que se passa com ele? E o que é pior, na maioria das vezes, a culpa ou a origem dos

fracassos e da indisciplina recaem sobre o próprio aluno. O sistema escolar isenta-se

de suas responsabilidades e desconsidera suas práticas excludentes.

É importante que a escola dê a oportunidade e seja democrática para que os alunos

também participem da construção de regras e não as recebam pronta, que eles possam fazer

parte desse processo, se sentir parte da escola e assim contribuir para um ambiente de

harmonia, de interação e aprendizado na escola (TRIVESOL, 2007).

Segundo Oliveira (2009, p.5) os estudos na área da psicologia revelam que:

“adolescentes que geram problemas constantes na escola, geralmente, começam a apresentá-

los em idade precoce. Alguns sinais podem aparecer em crianças a partir dos três anos de

idade: hiperatividade, instabilidade emocional e agressividade.” A grande maioria desses

estudos, principalmente aqueles de base epistemológica organicista, partem da concepção de

que os problemas de indisciplinas decorrem de questões inerentes ao sujeito. Esta visão

desconsidera as influências do contexto social e as relações que se travam nele.

Procurando compreender a questão da indisciplina no contexto da Educação Infantil,

Franzoloso (2011), comenta que é na creche e nas pré-escolas que ocorre o primeiro contato

da criança na vida escolar, as suas regras, seus costumes e seu primeiro convívio social. E “é

nessa fase também que elas começam a desenvolver noções de valores, de justiça e de

moralidade, e a aprimorarem seu desenvolvimento intelectual, social, motor e cognitivo. ”

(FRANZOLOSO, 2011, pag.01)

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Ao começar essas novas experiências, desenvolver-se e adaptar-se com a vida escolar,

a criança passa a conhecer as noções de disciplina que são apresentadas a elas e assim os atos

de indisciplina já podem começar a parecer. (FRANZOLOSO, 2011).

Porém falar sobre a indisciplina na educação infantil é bem complexo, e de acordo

com Franzoloso (2011), indagações sobre essa temática e sua veracidade, faz dela uma

problemática importante a ser pensada, discutida e prevista, portanto há poucas pesquisas e

obras literárias e cientificas discutindo sobre essa temática. Alguns teóricos e profissionais da

Educação infantil indagam se podemos mesmo pensar em indisciplina nas creches e pré-

escolas, já que as crianças estão tenra idade e em formações de processos sociais, cognitivos e

morais (Franzoloso, 2011)

Assim, supõe-se taxativo e precoce identificar algumas atitudes como indisciplina,

de forma que, os atos “chamados de indisciplina” seriam, na verdade, inerentes ao

desenvolvimento da criança que está se constituindo, aprendendo, que está iniciando

seu convívio com regras e que, por isso, não pode ser identificada como desregrada,

desordeira, ou seja, indisciplinada. (FRANZOLOSO, 2011, pag.02)

Portanto Franzoloso (2011, pag. 02) sobre a indisciplina na educação infantil “...

entendemos que, assim como nem toda ação desordeira pode ser considerada indisciplina,

nem toda desordem que comprometa a aprendizagem e os relacionamentos pode ser

considerada adequada e característica da faixa etária.”.

Pois ao dizer que alguns comportamentos são esperados e até aceitáveis a faixa etária

das crianças que estão na educação infantil como serem: agressivos, resistentes, com

dificuldades a adaptação de regras de convivência e as normas da escola, é como se os

professores e os pais não pudessem fazer nada para mudar a situação e apenas esperar para

que esses comportamentos passem com o tempo (FRANZOLOSO, 2011). Mas não educando,

esses comportamentos podem perdurar nos anos seguintes e afetar assim o desenvolvimento

dessa criança comprometendo “o seu processo de aprendizagem, tendo como consequências

possíveis, o comprometimento de seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral”

(Franzoloso, 2011, pag.03)

Pensando sobre os atos que levam as crianças a cometerem indisciplina na sala de aula

da educação infantil, Oliveira (2009, p. 5) destaca que:

[...] entendemos que são diversos os fatores que levam os alunos a cometer atos de

indisciplina, e esses fatores não atuam, necessariamente, com a mesma intensidade

no comportamento da criança ou adolescente; alguns podem ser mais ou menos

extremos, conforme a circunstância e a realidade de cada aluno e de cada escola.

Eles podem ser, ainda, de origem interna ou externa à instituição.

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A autora aponta ainda que esses fatores podem ser divididos em dois blocos: os

psicossociais e pedagógicos. Os fatores psicossociais envolvem a família, a mídia, a

diversidade entre os alunos, os problemas de “distúrbios” de atenção e a carência afetiva. Já

os fatores pedagógicos influenciador da indisciplina na escola, que é o eixo norteador desse

trabalho envolvem a imposição ou falta de regras, a formação docente, a metodologia do

professor e o sistema educacional. (OLIVEIRA, 2009)

No que diz respeito a essa imposição ou a falta de regras na escola de educação

infantil o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), indaga sobre a

escola promover debates com as crianças para que elas possam expressar suas opiniões e seus

pontos de vistas para fazerem parte da criação de regras comuns no planejamento pedagógico

da escola. BRASIL (1998) apud Oliveira (2009, pag.14) ainda aponta que:

Para tanto, é preciso ajudar nossos alunos a fazer a passagem da heteronomia

característica de pessoas que aceitam prontas as regras de conduta sem discussão,

sem procurar entender as razões que as justificam, para a autonomia, que é a

capacidade de se conduzir e tomar decisões, levando em conta não só as regras, mas

sua perspectiva pessoal e a perspectiva do outro.

.

Oliveira (2009, pag.14), comenta que o Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil ainda preconiza “desenvolver a autonomia já na faixa etária da educação

infantil é mais do que um objetivo a ser alcançado, devendo ser um princípio das ações

educativas, ou seja, precisamos ajudar nossos alunos a alcançarem a autodisciplina com

responsabilidade.”.

Por isso a importância em pensar sobre a indisciplina na Educação Infantil, pois dessa

forma abre-se:

[...] a possibilidade de ampliar a investigação e o estudo sobre essa temática, afim de

assegurar a devida definição do conceito e identificação adequada de suas

manifestações, bem como evitar que essa forma de agir (indisciplinada ou normal

para faixa etária) se configure como um problema de maior seriedade quando essa

criança crescer e estiver no Ensino Fundamental ou Médio( onde lá é identificado

como indisciplina). (FRANZOLOSO, 2001, p.11)

Em relação a formação do professor e a proposta pedagógica dele nesse processo

acontecem devido os cursos de licenciatura muitas vezes não preparam os futuros docentes

para desenvolver um trabalho de ensino e aprendizagem de acordo com a expectativas e

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realidade do aluno, também não os preparam para casos de conflitos entre professor-aluno,

incluindo as causas da indisciplina e a prevenção da mesma, e não os orientam para um

gerenciamento de sala de aula que envolva motivação, interesse e participação dos alunos.

(OLIVEIRA, 2009).

E não existindo uma formação pedagógica desses professores voltados para a

prevenção e as possíveis causas da indisciplina, o comportamento indisciplinado de algumas

crianças que aparecem no início da vida escolar pode se agravar aos longos dos anos. E como

os professores não estão preparados para essas circunstancia na sala, sentindo ameaça a sua

autoridade, eles poderão agir de forma autoritária e repressiva gerando assim novos conflitos

(OLIVEIRA, 2009).

E por último Oliveira (2009) aponta com sendo fator envolvedor das indisciplinas na

escola é a própria escola, sua estrutura, seu funcionamento, suas regras, cobranças e

burocracias, que acabam interferindo no processo de ensino-aprendizagem do professor-

aluno, e também se tornando desmotivadora aos professores e desagradável aos olhos dos

alunos que a frequenta por obrigação.

Sim, é importante relembrar e entender que as relações que acontecem dentro das

instituições escolares não é apenas um reflexo dos problemas sociais que existem no mundo,

mas que além de ser receptora desses problemas, ela também pode ser o agente de

modificação desse sistema (OLIVEIRA, 2009).

A proposta desta discussão de acordo com Franzoloso (2001, p.10) é, justamente,:

[...] valorizar o período de desenvolvimento, de formação, de construção em

que a criança da Educação Infantil se encontra e suscitar questionamentos,

reflexões e práticas que tentem influenciar, intervir, promover o processo de

constituição de sua personalidade, de seu caráter, de sua moralidade nessa

etapa da educação e no próprio ambiente escolar. É tentar fazer alguma coisa

por esta criança, desde o início de sua escolarização, desde o princípio de sua

convivência social, de seu desenvolvimento moral.

E para amenizar essa indisciplina nas escolas, segundo Oliveira (2005) a melhor

estratégica a usar é a elaboração e a implantação de um Projeto Político-Pedagógico, onde

todos os agentes envolvidos nessa instituição escolar se comprometam e participem desse

PPP, para que assim todos possam ser capazes de prever e prevenir esses problemas

corriqueiros da escola. Desenvolvendo assim um trabalho fundamentado nos princípios de

igualdade e responsabilidade, “podendo fazer emergir uma disciplina num contexto

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democrático, criando na escola um clima favorável à aprendizagem e a convivência em grupo,

bem como a formação de homens participantes e responsáveis por sua própria história”

(OLIVEIRA, 2005, p.18).

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4. A PESQUISA

Para entender a temática sobre a concepção dos professores sobre a disciplina e

indisciplina na educação infantil, foi realizada uma revisão bibliográfica, entrevistas

semiestruturadas com questões abertas para coleta dos dados qualitativos, com uso de um

aplicativo de gravador de voz, foi possível à obtenção dos dados necessários para análise para

esse estudo.

4.1 Participantes do Estudo

Foram selecionadas três professoras da rede pública de diferentes escolas que

lecionam na Educação Infantil. Como esse estudo tem a intenção de analisar e entender como

os professores pensam a indisciplina e disciplina na educação infantil, haverá sigilo nas

identidades das professoras, a identificação acontecerá somente por meio das letras “A”,”B” e

“C‟. No quadro abaixo estão as descrições detalhadas das pedagogas.

Professora Idade Formação Tempo de atuação

Professora A 27 anos Licenciada em pedagogia. 3 anos

Professora B 38 anos Licenciada em pedagogia com pós-

graduação em educação infantil.

5 anos

Professora C 30 anos Pedagoga e habilitação em gestão. 4 anos

Quadro 1-Identifação das professoras

4.2 Instrumento de coleta e análise dos dados

O instrumento de coleta escolhido foi à entrevista (Anexo1) semiestruturada, onde foi

formulado um roteiro contendo nove questões relacionadas à: disciplina, indisciplina,

educação infantil, experiência e possíveis soluções. Porém, foi pensando na possibilidade de

deixar a entrevista aberta para se caso surgisse outras questões, elas serem respondidas, ou se

caso a entrevistada falar de outro assunto/contribuição para o estudo que não estavam no

roteiro.

Depois das gravações das entrevistas, as mesmas foram transcritas para uma melhor

investigação, comparação e estudo pormenorizado a fim de obter uma melhor compreensão.

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O procedimento qualitativo de analise de conteúdo que será usado nesse trabalho, de acordo

com Bardin (1977), é mais intuitivo, maleável e adaptável aos índices não previstos; também

permite que o analisador evolua em suas hipóteses “já que permite sugerir possíveis relações

entre um índice da mensagem e uma ou várias variáveis do locutor” (Bardin, 1977, p.115)

Bardin (1977, p.115) ainda comenta que a “análise qualitativa apresenta certas

características particulares: válida, sobretudo, na elaboração das deduções específicas sobre

um acontecimento ou uma variável de inferência precisa, e não em inferências gerais.” Ou

seja, é quando o analisador afirma a verdade de uma teoria baseando-se em decorrência de sua

ligação com outras referencias ou experiências já reconhecidas como verdadeiras.

Assim decidiu-se que a análise qualitativa do conteúdo seria por meio de categorias,

dessa forma foram criadas três categorias que corresponde aos pontos em comuns das

questões elaboradas e respondidas. A primeira categoria é: “A disciplina como ordem”, a

segunda categoria: “A indisciplina como algo fora de ordem” e a terceira categoria é: “ A

família como uma peça chave para lidar com a indisciplina”.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

As categorias foram organizadas de acordo com as falas em comum das professoras e

no que colocaram ênfase, a primeira categoria apresentada é a ideia das professoras

mencionando a disciplina como sinônimo de ordem, a segunda categoria já é relatado como

sendo oposto a isso, ou seja, a indisciplina é vista como algo fora da norma e fora de ordem. E

por ultimo a categoria que focaliza na própria fala de uma das professoras onde a família é a

“peça chave” para lidar com a disciplina. Dessa forma serão explicitados alguns eixos

importantes nessa pesquisa, baseando-se nos argumentos das professoras sobre e de acordo

com cada categoria.

5.1 A disciplina como sinônimo de ordem

Para as professoras entrevistadas a disciplina é um conjunto de ordens e regras que

devem ser seguidas, que estão ligadas ao comportamento de serem obedientes e de ter uma

organização, por isso duas dessas professoras citou a importância da rotina definida na sala de

aula para que assim as crianças acostumem e saibam que existe hora para tudo, ou seja, hora

de comer, estudar, brincar e etc.

A Mestra em Educação e Infância Maria Pinto (2003), em seu artigo sobre “Tempo e

Espaços Escolares” pesquisou vários textos e artigos por todos os tipos de fontes seja nacional

ou estrangeira, e encontrou pouquíssimos estudos que falavam do tempo e espaço das crianças

nas escolas, porém ela revela que esse controle sobre o aluno é um jeito de confinar a infância

nessas instituições voltadas à educação, e impõe:

[...] um sério problema para as crianças: diferente do espaço da rua que permitia que

os grupos se auto-organizassem e se autogestassem, nestas instituições é o adulto

quem organiza o tempo e o espaço da criança, criando regras de convivência sem a

participação das mesmas que acabam indo muitas vezes de encontro aos interesses

das crianças (PINTO, 2003, p.8).

Portanto, essa rotina que as professoras colocam para as crianças na sala de aula para

disciplinar, é feita pelos adultos, no caso a professora da sala ou o corpo gestor da escola,

decidem horário e o tempo dos alunos para tudo, eles determinam o que, como, e quando as

crianças devem “sentir” vontade de dormir, brincar, comer, estudar e etc. Essa rotina é posta

as crianças, e querem a todo custo que elas a seguem, e quando não a seguem são ditas

indisciplinadas. Não questionamos aqui o fato da rotina ser algo negativo, mas ela não pode

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ser usada como instrumento de punição e controle. Ela é feita por adultos, mas para que o

adulto a fez, foi pensando na criança, no que é melhor para ela, ou no que é melhor para a

escola e o sistema, se ela foi pensada para facilitar o uso do poder disciplinador. Porque de

acordo com Foucault (1987, p.143) “o poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de

se apropriar e de retirar, tem como função maior “adestrar”; ou sem dúvida adestrar para

retirar e se apropriar ainda mais e melhor”. Ou seja, é um instrumento que vai moldando e

controlando o indivíduo para se ter o comportamento que deseja.

Em relação ao que as entrevistadas falam sobre a turma disciplinada, esta última

também surgiu relacionada a um determinado mantimento de ordem escolar, como pode ser

observado nas falas: “além de respeitar os colegas e seus espaços, é aquela que as crianças

fazem o que a professora pede” (Professora B, 38 anos), é quando conseguem dar aula sem

problemas ou dificuldades (Professora C, 30 anos), é quando as crianças obedecem e seguem

as regras, “cada um sentadinho, e tem que comer sentadinho” (Professora A, 27 anos). Pode-

se perceber na fala das professoras um perfil de turma disciplinada feita com crianças

“perfeitas” que obedecem sem se oporem ao que a professora propõe, crianças “tranquilas e

boazinhas” pois a professora consegue dar aula “sem problemas” e crianças mecanizadas que

ficam sentadinhas e quietinhas.

Brighente e Mesquida (2001) utilizado a abordagem de Foucault , diz que essa cultura

histórica do poder disciplinar que era usado nas prisões pelos carrascos que punia, ditava as

ordens, vigiava e pregava uma suposta ordem, transformou-se nesses profissionais que hoje

estão nos espaços escolares. A intenção de docilização, submissão, privação da palavra, a

proibição do pensamento e a exigência de boa conduta é a mesma, só o método é diferente.

Com ou sem intenção as professoras acabam influenciando as crianças a serem

sujeitos fáceis de serem manipulados, a serem sujeitos não críticos e submissos aos outros e a

qualquer sistema. Ferreira e Martins (2017, p.14) fazem uma crítica do que é esperado do

sujeito moderno:

O sujeito moderno para ser útil, dócil e produtivo, precisa ser disciplinado, por isso a

necessidade das normas disciplinadoras. O corpo vai se tornando uma “mecânica do

poder” que vai sendo moldado para fazerem não o que querem, mas o que querem

que façam.

Focalizando no que seja um aluno disciplinado, em geral é aquele que obedece as

regras e que faz o que é pedido; é aquele que sabe que tem horários para tudo, e que também

sabe ser organizado. Porém chama-se atenção na fala de duas professoras, a primeira diz que

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aluno disciplinado “é aquele que sabe o que é errado e não faz e – ainda acaba ajudando ou

contando para professora, ou incentivando aquele que faz a não fazer” (Professora A, 27

anos).

Portanto essa aprovação da professora na atitude do aluno disciplinado que delata o

outro colega pode influenciar negativamente nos comportamentos dos dois alunos, o que faz

algo errado e é delatado, recebe uma bronca ou uma punição, já o outro aluno é elogiado e

muitas vezes utilizado como exemplo da sala. Essas atitudes podem contribuir negativamente

na personalidade das crianças, pois como aponta Quinquiolo (2017) à escola de educação

infantil hoje não tem função apenas de cuidar e ensinar os conhecimentos, ela passou a ser

uma extensão do ambiente familiar, onde ela educar e auxilia no desenvolvimento da

personalidade da criança, participando ativamente na construção de seus valores sócios

morais.

Em todas as relações sociais há a existência de conflitos, assim como nesse caso, “já

que crianças começam ali a ter contato com outros indivíduos fora de sua casa, sejam eles

adultos ou outras crianças” (QUINQUIOLO, 2017, p.177) e para solucioná-los é preciso que

o professor tenha uma postura de mediador: “que saibam compreender o significado

construtivo do conflito na formação do ser e saibam também, mediar as situações em que

estes conflitos ocorrem” (QUINQUIOLO, 2017,p.177). De acordo com Chrispino (2007)

apud Paula, Durante e Fantacini (2016, p.60):

Conflito é toda opinião divergente ou maneira diferente de ver ou interpretar algum

acontecimento. A partir disso, todos nós que vivemos em sociedade temos a

experiência do conflito. Desde os conflitos próprios da infância, passamos pelos

conflitos pessoais da adolescência e, hoje, visitados pela maturidade, continuamos a

conviver com o conflito intrapessoal (ir/não ir, fazer/não fazer, falar/não falar,

comprar/não comprar, vender/não vender, casar/não asar etc.) ou interpessoal, sobre

o qual nos deteremos. São exemplos de conflito interpessoal a briga de vizinhos, a

separação familiar, a guerra e o desentendimento entre alunos.

Os conflitos não devem ser vistos como negativo, mas encarados e tratados de forma

natural, pois ele faz parte de manifestações de diferentes interesses e consigo traz

oportunidades de crescimento individual e coletivo (QUINQUIOLO, 2017). E o professor

tendo em seu papel mediar às relações, ele precisa ouvir e entender os envolvidos, sendo

imparcial sem acusar ninguém e por fim auxiliar as crianças a resolver os problemas, assim

esses conflitos trariam momentos de aprendizagem, pois caso o contrário, a ação do professor

poderia refletir negativamente nesse conflito e nas crianças (PAULO, DURANTE,

FANTACINI, 2016).

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Outra professora diz que aluno disciplinado é aquele que sabe se reportar a um adulto,

porque de acordo com ela as crianças “se reportam ao adulto como se elas tivessem no mesmo

patamar do adulto, elas não têm mais aquela referência do que é um adulto- e eu sou uma

criança, eu tenho que ter uma educação para com ele, eu tenho que ter respeito” (Professora

C, 30 anos).

Antes de qualquer coisa, foi preciso uma busca rápida do verbo “reportar”, para

entender o seu significado, e utilizando o Google foram encontrados os seguintes sinônimos:

Tornar comedido, moderado, contido; sofrear-se, cair em si: ao ver o perigo, reportou-se e

tomou cuidado; e ainda: reduzir, suavizar e recuar. Não se sabe ao certo o que para ela é

“reportar”, mas pode-se ter uma noção e dedução diante dos sinônimos. A sua fala nos remete

a história da criança, onde no mundo clássico a criança era vista como inferior ao adulto, onde

o ser adulto tinha a autoridade para criar e educar a natureza infantil como bem pretendia

(Maldonado, 2014). Os séculos se passaram, mas a visão do adulto como superior a criança

ainda continua, onde o adulto está sempre certo e dita o que ela deve fazer, já ela tende a

baixar a cabeça e obedecer sem ao menos saber o porquê, e isso é se torna uma visão de

adultocentrismo. De acordo com Luz (2010, pag.4) “esse adultocentrismo se expressa quando

o modo de se comportar do adulto é considerado o jeito mais correto e superior de lidar com a

realidade”

Portanto é importante que a relação entre e adultos e crianças seja baseado no respeito,

que as vontades do adulto sobre a criança não se imponham sobre as necessidades delas, mas

sim colocar o direito delas como o eixo norteador nas ações pedagógicas, e ainda romper com

as variadas formas de dominação sobre a criança e as ações como negligências, repreensão ou

castigo que podem afeta-las fisicamente ou psicologicamente. (LUZ, 2010).

“O respeito às especificidades das crianças é um meio de romper com o

“adultocentrismo” largamente difundido na nossa sociedade (LUZ, 2010, p.4). Ou seja, fala-

se muito do respeito que a criança deve ao adulto, ao professor, mas não se ouve dos adultos e

até mesmo das professoras o respeito que devemos ter a criança, ela como sujeito histórico, de

direitos, de quereres próprios, de opiniões e de sentimentos.

Podemos perceber que a educação infantil também pode ser adjetivada de disciplinada

ou indisciplinada dependendo dos perfis dos alunos. Paras as professoras entrevistadas, para a

turma ser disciplinada ela só precisa acostumar com a rotina e as regras.

Uma das entrevistas (Professora A, 27 anos) demonstra em seu diálogo a importância

que dá em seu planejamento e em sua atuação como pedagoga, ela sabe que as reações das

crianças dependem do que ela propõe, ela citou como exemplo que ao planejar uma atividade

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extensa essa se torna cansativa para as crianças ou ao contrário se você deixa-las muito tempo

ociosas o resultado dessas duas ações influenciam no comportamento da criança, onde elas

fazem bagunça. Ela tenta trazer em suas práticas coisas novas e “muda um pouco” (Professora

A, 27 anos) sua concepção sobre disciplina, quando diz que o momento da bagunça deve

existir na educação infantil, como ocorre no dia do brinquedo ou quando eles dançam, cantam

e etc.; mas para ela isso é uma bagunça organizada, pois ao mesmo tempo em que permite que

as crianças se “expressem” nas brincadeiras, ela os controla e os puni quando ultrapassam o

limite definido por ela do que pode ou não, “se correr, brigar por causa do brinquedo eu vou

juntar” (Professora A, 27 anos). A partir dessa fala, percebemos como surge a ameaça e o

castigo como forma de punição para as crianças, tirando o brinquedo, ou seja, ela usa da

domesticalização para os corrigir, ela tira deles o que eles querem porque eles não estão tendo

o comportamento desejado por ela.

Porém, percebe-se que esses momentos “diferenciados e inovadores” feitos pela

professora A (27 anos) são poucos, por que em sua fala ela disse que as crianças estão tão

acostumadas com a rotina que quando não saem nas sextas para brincar fora da sala, eles

falam “vamos sair lá fora, vamos dançar mosquitinho, vamos dançar a dança da mãozinha,

vamos brincar" (Professora A, 27 anos) .

É tudo tão automático e sem inovação que pode até ser desmotivante e desinteressante

para as crianças, produzindo assim atos que são reprovados pelas professoras, ditas atitudes

indisciplinadas. Sobre isso Trivesol (2007) afirma que o comportamento da criança em sala de

aula, muitas vezes está relacionado à postura e a didática do professor, então se a aula não

desperta o interesse da criança, e se o professor não procura agradar e chamar a atenção delas

a consequência disso é atitudes “indisciplinadas”.

Já para outra professora B (38 anos) essa “bagunça” é aceitável porque para ela

quando as crianças estão desenvolvendo certas atividades é normal ficarem eufóricas, chamar

atenção e terem conversações, ela não vê como indisciplina, mas sim como algo bom, pois

significa que as crianças se interessaram.

Ainda sobre a disciplina, as regras e rotina, há uma discordância bem evidente das

falas das professoras B e C. Para a professora B (38 anos), ela acha mais difícil as crianças da

educação infantil seguirem as regras pois elas ainda estão aprendendo o que é certo ou errado,

“é mais difícil elas compreenderem, então se torna mais difícil lidar” (Professora B, 38 anos)

. Já para a professora C (30 anos), a educação infantil é mais fácil para aceitar essas regras,

pois eles estão mais abertos a aceitar, ela ainda disse que as crianças gostam e pedem limites,

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pois gostam de testar os adultos pra ver até onde aquele adulto é capaz de impor um limite pra

ela.

Ao dizer que criança pede limite e testa o adulto, ou que gosta de ser controlada parece

à visão da professora, algo do senso comum e também do adultocentrismo como Luz (2010)

comenta. Esse fato social, histórico e cultural do adulto ditar e falar o que as crianças pensam

ou sentem em relação alguma coisa, generaliza e se torna errôneo, “a infância não pode mais

ser concebida a partir de uma ótica adultocêntrica que cristalizou o modo de se compreender

as crianças” (LUZ, 2010, p.2). O adulto precisa permitir que a criança fale por si, ou seja:

[...] as “crianças estão merecendo estudos como crianças”. Isto exige, por parte

daquele que se coloca na posição de pesquisador, o descentramento do olhar

adultocêntrico, para enxergar a partir do olhar da criança, a fim de percebê-la em sua

singularidade e na forma como ela atribui sentido ao que vivencia e experiencia.

(LUZ, 2010, p.3)

A autora Luz (2010) comenta que o pesquisador precisar enxergar a criança em sua

particularidade, porém podemos trazer esse olhar e essa visão do descentramento do olhar do

adulto para as professoras da educação infantil, que elas possam descontruir o que acham que

as crianças são, para que possam aprender e entender como cada criança se comporta, e que

isso é ligado a sua identidade, de situação social, do seu gênero, da sua idade física e mental,

sua cultura, sua natureza e personalidade e etc.

Em sua fala a professora C (30 anos) elogiou sua turma por ser disciplinada, e citou

um problema que teve no começo com algumas crianças que tinha um comportamento

agitado, que não queriam ficar sentadas, que só queriam ficar rodando dentro da sala e que ela

conseguiu resolver a situação (no momento não vem ao caso), pois de acordo com ela, sua

preocupação era a preparação desses alunos “para ir pro primeiro ano e diminuir o máximo

possível esse sofrimento” (Professora C, 30 anos), ela quer que eles cheguem no fundamental

diferente de como chegaram em sua sala. Por mais que a intenção da professora pareça boa,

nos remete a uma crítica que Kramer (1995) que fala que a educação da primeira infância tem

o foco no preparo da criança para o primeiro ano do Ensino Fundamental, ou seja, que tem um

objetivo focalizado no futuro, na próxima série para evitar a repetência, e isso é um problema

por que ao pensar só no futuro, fica isento realizar no presente ações e transformações

significativas que atentem as atuais necessidades da criança.

5.2 A indisciplina como algo fora de ordem\norma

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Primeiramente serão colocadas aqui partes importantes nas falas da professora sobre o

que é indisciplina, aluno indisciplinado e turma indisciplina e assim será direcionada a

discussão para a educação infantil onde atualmente lecionam. A indisciplina na concepção das

professoras é algo contrário à disciplina, algo fora de ordem, e os exemplos das professoras

são parecidos: “é correria, palavras que não podem ser faladas e etc.” (Professora A, 27

anos), “é o que não esta dentro das regras, que esta desacordo com o que é certo, e assim

existe vários tipos de indisciplinas(...) depende de que ano quer saber” (Professora B, 38

anos) , “ é quando a criança não quer, não quer ter horário pra nada, ela escolhe o que ela

come, ela escolhe a hora de brincar (...) tudo que você coloca pra ela fazer, ela faz o oposto,

ela se opõe, ela bate de frente com a gente...” (Professora C, 30 anos).

E ainda, sobre o que é uma turma indisciplinada as professoras comentaram que é

aquela turma onde os alunos recusam e não fazem o que é proposto e que fazem somente o

que querem; também é quando a turma não se respeita e não respeita as professoras e quando

elas não conseguem ensinar e “andar” com o conteúdo.

Sendo assim uma turma indisciplina é uma turma taxada como bagunceira, de acordo

com a uma professora é “onde a professora não da conta e deixa solto (...) e é por isso que de

acordo com ela deve-se utilizar as táticas desde o início, ai você acaba tendo um domínio

maior na sala” (Professora A, 27 anos), as táticas utilizadas por ela como vimos são: punição

e ameaças.

Por sua vez o aluno indisciplinado, para as professoras é a criança que não consegue

compreender as regras da escola, que não compreende o que pode e o que não pode e o que

não obedece. Uma das professoras A (27 anos) ainda diz que tem “aquele aluno que faz por

maldade mesmo”, quando bate, empurra e xinga o colega. A professora B (38 anos) falou que

aluno indisciplinado é o que não tem um comportamento adequado. E a professora C (30

anos) retomou a fala de que é o aluno que “não sabe se reportar ao adulto como adulto”.

Em suas falas percebesse que a indisciplina é tratada como algo que foge a norma do

que é certo, do que é correto, que no caso seria o contrário da visão delas sobre disciplina.

Então tudo que foge dessa norma estabelecida por elas (ou pelo sistema) é errado, é fora de

ordem. Elas só vêm à indisciplina como sendo ruim, nenhuma mencionou que a atitude

indisciplinada pode ser um jeito da criança se manifestar que é contra o que determinam a ela,

que ela pode estar passando por algum momento difícil e essa é uma das maneiras de chamar

atenção, ou que esse comportamento é simplesmente normal para uma criança, e reprimi-la ou

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castigá-la só trará consequências desastrosas a ela. É injusto com as crianças esse único olhar

das professoras em relação à desordem, sobre algo fora do normal e sobre a indisciplina.

É preciso trazer novamente as questões sobre como a educação infantil é pensada,

como por exemplo, o tempo, espaço e a rotina das crianças são definidos, Pinto (2003) aponta

que quem organiza esses os espaços da criança e o tempo de brincar, comer, dormir e estudar

é o adulto, ele cria regras e rotinas sem a participação das crianças na elaboração dos mesmos,

ele simplesmente impõe e querem que elas acatem, e isso muitas vezes vai de encontro aos

interesses das crianças, ou seja, elas não concordam e não aceitam, sendo assim adjetivadas de

indisciplinadas. Pois infelizmente o adulto pensa pela criança sem olhar sua individualidade,

sem ouvi seus interesses, sem a inclui-la (LUZ, 2010).

Porém, além de a escola elaborar essas normas e regras sem a criança, ela não

esclarece, explica ou justifica aos alunos o porquê delas. Outro fator que podem influenciar no

aparecimento desses atos “indisciplinados” é a própria postura do professor, seja em sua

didática desinteressante, seja em sua falta de compromisso com os alunos e com sua

obrigação ou também a carência de um bom profissionalismo, que geram em seus alunos

comportamentos dispersos, de oposição ou até mesmo de “bagunça” (TRIVESOL ,2007)

A relação professor\aluno, e adulto/criança é uma problemática também, pois falta ao

professor uma postura mais humana. Porque antes o professor era uma figura autoritária que

exigia respeito frente a sua posição, pelo fato de ser o detentor dos conhecimentos, já hoje

essa postura tem sido revista, de acordo com Santos (2014) e Lima (2003) apud Quinquiolo

(2017, p.121):

A função do professor hoje, principalmente na Educação Infantil, é de mediador dos

processos de ensino e aprendizagem. Este conceito, muitas vezes, faz parte do

discurso de muitos profissionais da educação e o que se tem percebido é que, na

pratica, ainda há uma postura vertical em relação as crianças, ou seja, o/a professor/a

ocupando a posição de detentor do saber (Santos, 2014). Lima (2003) destaca que

devido à formação precária, o trabalho pedagógico dos educadores fica alicerçado

no senso comum, e não numa teoria ou estudo cientifico sério e consistente.

Portanto Luz (2010) destaca a importância na relação entre o adulto e criança, nesse

caso professor e aluno sejam pautados pelo respeito, e que ainda o professor deve romper com

as várias formas de dominação em relação à criança que não é inferior ao adulto e não deve

ser tratada como. Ela fala também que os comportamentos e atitudes exigidos dos adultos não

dever se impor sobre as necessidades das crianças.

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Trazendo a abordagem que as professoras disseram sobre o aluno que é violento, bate,

agride, xinga, “faz por mal” e por isso é indisciplinado na educação infantil, Franzoloso

(2001, p.1870) diz:

Por esta ser uma etapa de escolarização em que as crianças ainda se encontram em

formação de seus processos cognitivos, sociais e morais, alguns teóricos e

profissionais da área da Pedagogia e da Educação Infantil questionam se podemos

pensar indisciplina nesse nível de ensino. Assim, supõe-se taxativo e precoce

identificar algumas atitudes como indisciplina, de forma que, os atos “chamados de

indisciplina” seriam, na verdade, inerentes ao desenvolvimento da criança que está

se constituindo, aprendendo, que está iniciando seu convívio com regras e que, por

isso, não pode ser identificada como desregrada, desordeira, ou seja, indisciplinada.

Existe uma utilização inadequada e errônea do termo indisciplina e violência no

ambiente escolar, e que apesar disso, alguns ainda defende o emprego do conceito de

indisciplina para comportamentos que desrespeitam as regras criadas para garantir condições

de interação e aprendizagem (Luz, 2010). Porem de acordo com Luz (2010) na educação

infantil não é possível utilizar esses termos, pois para isso a criança precisaria ter a

consciência de que sua ação pode causar danos ou prejuízos a outras pessoas, ou seja, ela

precisaria reconhecer primeiro o que é certo e o que é errado na vida e nas relações com

outras pessoas para ser violenta ou indisciplinada. A autora ainda diz:

Desse modo, a realização de atos violentos pressupõe que a pessoa já tenha

desenvolvido a capacidade de compreender e interpretar as situações vividas. Por

essas características que definem o ato violento (ou a violência), e considerando o

desenvolvimento das crianças na faixa etária de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, não há

como dizer que essas crianças agem de forma violenta. Mesmo que a vontade de

incomodar ou machucar possa estar presente nos motivos da criança, elas não

conseguem avaliar, de forma completa, as possíveis consequências de seus atos.

(LUZ, 2010, p. 2)

Luz (2010) fala ainda que nessa faixa etária, as crianças não possuem o controle

completo do próprio comportamento estando propensas as reações provocadas por emoções, e

por não possuírem a linguagem totalmente desenvolvida elas acabam utilizando alguns gestos

para traduzir a emoção, ou seja, o que estão sentindo no momento. Por isso que para

“qualificar de indisciplina o comportamento das crianças (...) teríamos de assegurar que elas

já possuíssem pleno entendimento das regras de convivência social adotadas pelas instituições

de educação infantil” (LUZ, 2010, p.2).

5.3 A família como uma “peça chave” para lidar com a indisciplina.

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Com o interesse de saber como acontecem e como é a postura das professoras nesses

casos de indisciplinas no cotidiano de uma prática real, foi questionado se elas já haviam

presenciado algum caso de indisciplina e como resolveram. Como esperado, todas elas já

presenciaram e tiveram que lidar com algum caso de indisciplina.

A professora A (27 anos)comentou que todo ano tem um aluno que não consegue

entender e seguir as regras, e ela utiliza uma tática chamada “abraço” que é fazer com que as

crianças se abracem, ou faz a criança pedir desculpas, também manda sentar na cadeira do

pensamento, utiliza punição e por final levam elas para diretoria, supervisão e orientação.

A professora B (38 anos) mencionou um aluno que é bem agitado, e que ela ainda não

descobriu qual o motivo dele ser assim, acredita que pode ser de saúde, e ele já foi

encaminhado para o psicólogo. De acordo com ela, ele tumultua a sala, fala muito alto, é

agressivo, nervoso, só faz as coisas quando quer, sai da sala quando quer, ele até já a agrediu;

“isso pra mim é indisciplina”. Para resolver ela procura conversar com a criança e explica o

por que aquele comportamento não é aceitável, e se a situação persiste ela encaminha a ela pra

orientação, direção.

A professora C (30 anos) apenas comentou que já teve turmas complicadas quando

lecionava nos anos iniciais do fundamental, e lá ela passou por um caso de indisciplina

absurdo que até comprometeu a aprendizagem dos alunos. Reclamou dos pais e do sistema

que não retia o aluno, e não colaboravam para uma melhoria na disciplina e na aprendizagem

do mesmo. Mas agora ela esta na educação infantil e acha mais fácil lidar, em sua fala não

citou sobre algum caso que presenciou de indisciplina na educação infantil, parece resolvida.

É preciso trazer a abordagem de Luz (2010), onde ela fala que para o sujeito ser

indisciplinado, agressivo e violento, é preciso que ele saiba que sua ação traz consequências

prejudiciais, pois uma criança da educação infantil que tem entre 0 à 5 anos, por mais que

tenha intenção de fazer tal coisa ela não compreende como aquilo é prejudicial, e outra ela

não possui um equilíbrio emocional estável para saber se controlar, e por final ela ainda não

tem a capacidade linguística de se comunicar e falar o que está errado, acabando assim agindo

indisciplinadamente. Agora se for realmente algum caso psicológico como a professora “B”

(38 anos) falou, já não cabe entrar aqui essa discussão.

Com bases em estudos às táticas dos professores em relação ao comportamento dito

indisciplinados mostram que eles não sabem lidar com esse tipo de situação, de acordo com

Claro e Ribeiro (2017) existe uma discussão em torno do “Educar ou Punir”, onde muitas

vezes o professor pune com a intenção de educar, mas acaba produzindo o contrário, ou seja,

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a punição só reprimi as manifestações por algum tempo, mas não a modifica, podendo agravar

a situação.

Algumas pesquisas feitas sobre punições escolar constatam que a verdade é que os

professores não querem resolver o problema da indisciplina, pois isso dá muito trabalho,

requer paciência, compreensão, empatia, escutar e aconselhar (CLARO, RIBEIRO, 2017),

mas querem apenas controlar o aluno e fazer com que ele não incomode mais. O professor

puni da mesma forma quantas vezes quiser, o mesmo aluno e pela mesma falha, aí percebe-se

a ineficiência do castigo e da postura do professor . Pode-se colocar, por exemplo, que os

instrumentos e formas de castigar mudaram ao longos dos anos, como a vara de marmelo que

deixava marcas visíveis foi substituída pela “cadeirinha do pensamento” que as professoras

tanto defendem e aplicam em seus métodos, foi substituída pela suspensão do recreio, das

brincadeiras e brinquedos(PEREIRA, 2000).

Portanto ao professor usar essas “táticas” e verem que elas não resolvem o problema

de indisciplina, ou simplesmente percebem que não dão conta, eles acabam encaminhando a

criança a orientação, supervisão ou direção. Isso mostra a falta de autonomia e preparo para

lidar com esses conflitos, também reforça a ideia de que o professor não consegue resolver os

problemas com os alunos, os repreendendo, controlando e apelando para ameaças a direção

ou os encaminhando, assim ele “resolvem” o problema, que é o incomodo na sala de

aula.(GALLAD, 2010).

De forma geral, para saber a visão das professoras foi perguntado a elas como

acontecem os atos de indisciplina, o porquê eles acontecem e como podemos solucioná-los.

Todas elas relacionaram a indisciplina ao contexto familiar que a criança está inserida,

acompanhe especificamente as ideias das professoras.

A professora A (27 anos) disse que grande parte da indisciplina nos alunos começa em

casa, por carência de alguma coisa, brincadeiras de lutinhas, perfis dos pais (agressivos), a

mídia que influência e da própria professora que pode ser indisciplinada. A professora B (38

anos) também disse que a indisciplina vem do contexto familiar, por falta de uma educação,

problema de saúde e psicológicos, ou por um problema que a família esta passando como

brigas e divórcios. A professora C (30 anos) afirmou várias vezes em suas falas que o

problema de indisciplina da criança também é a família, porém “reconheceu” que às vezes

uma parte da indisciplina que acontece depende de sua postura.

Foi percebido nas falas das professoras duas atitudes que tomam relacionada à

indisciplina em sala de aula, a primeira parece um fator corriqueiro, uma atitude indisciplina

simplória, sem muitos “danos”. A segunda atitude esta relacionado a casos de indisciplina que

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foge do comum, mais sério, como mencionou a professora C (30 anos) em uma de suas falas,

um caso absurdo.

No primeiro caso, o passo que tomam quando o aluno tem uma atitude indisciplinada

de acordo com as professoras “A” (27 anos) e “B”(38 anos) é conversar com o aluno e

explicar que não pode aquela atitude, depois os colocam na “cadeira do pensamento” que é só

mais uma forma de castigo e punição e por ultimo quando não sabem mais lidar com isso,

encaminham a criança para o orientador, supervisor ou diretor como já foi discutido.

Por vez, a professora C (30 anos) formalizou sua resposta, deixando dúvidas de como

realmente se comporta: “Olha uma solução para esses problemas é o que a gente busca

diariamente, e assim não tem receita pronta, não tem uma solução imediata, é assim é

envolver o aluno, são as praticas que gente vai exercendo, envolver o aluno, tentar trazer o

aluno pra gente né.”

Já no segundo caso, para elas a solução para resolver os casos de indisciplinas é

focalizada em torno da família. A professora A (27 anos) diz que pesquisa pra saber o que

está acontecendo, conversa com o aluno, aconselha os pais, mas muitas vezes não funciona,

por que tem pai que se preocupa e tem pai que não se preocupa.

A professora B (38 anos) também parte para a família: ”você tem que buscar a

família, conversar com a família e descobrir o que está acontecendo, é o primeiro ponto pra

você resolver, tentar resolver, mas talvez não se resolva, ai você tem que procurar de outra

forma, psicologo, alguém de fora pra tentar ajudando aquela criança.”

E a ideia da professora C (30 anos) é a mesma: “só que tem uma peça chave, que faz

toda diferença no seu trabalho, que é a família.”, ou seja, para ela os conflitos só se resolvem

quando há um comprometimento dos pais e da família.

Em uma discussão anterior, foi falado que o professor pode influenciar

comportamentos indisciplinado, quando ele não tem uma boa didática, quando não inova,

quando suas aulas são desinteressantes, mas pouco se fala do professor indisciplinado,

percebe-se nas falas das professoras que elas reconhecem que elas podem influenciar esses

comportamentos como também podem serem indisciplinadas, isso acontece quando não se faz

planejamento e quando não cumpre com sua função (TRIVESOL, 2007).

Uma coisa que nenhuma delas comentou foi sobre a estrutura organizacional da

escola, que também podem influenciar nos comportamentos dos alunos, pois ela é pensada

apenas no ponto de vista do adulto, seja em sua arquitetura, sua rotina, sua burocracia, sua

vigilância e desconfiança em relação ao aluno. (TRIVESOL, 2007)

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Comentaram também da mídia e sua influencia no comportamento do aluno, o acesso

às tecnologias cresceu muitos nos últimos anos, e hoje, ter um aparelho tecnológico(televisor,

celular, computador) é comum e seu uso faz parte do cotidiano na vidas das pessoas, uma de

suas funções é o papel de entreter, e que a sua programação dá noticias e informam o que

acontece no mundo todo, e ela abrange vários públicos, inclusive o infantil, “nesse caso

preenchendo uma boa parte de seu dia, interferindo em seu modo de pensar, agir e se

relacionar com o mundo, desenvolvendo uma educação paralela a escola, contribuindo na

formação do indivíduo e influenciando o seu comportamento.” (SILVA, NASCIMENTO,

2013, p.1). E o que ela aprende podem ser coisas boas, como coisas ruins, porque muitos pais

não controlam e não limitam o uso do aparelho, então a criança recebe um monte de

informação na qual não sabem lidar, pois não maturidade suficiente, também se torna

precoces, e podem não saber diferenciar o mundo real com o que é visto em algum filme,

aprendendo assim comportamentos agressivos. (SILVA, NASCIMENTO, 2013)

Também não trouxeram em seus diálogos sobre a sociedade e como ela interfere no

desenvolvimento e comportamento do individuo, porque ao nascer à criança é inserida no

meio social, e com esse meio ela aprende às normas, os valores, as condutas, culturas

diferenciadas; e como ela não distingue o que é certo e o que é errado, ela assimila; o primeiro

contato que ela tem é com os familiares, e depois com outros grupos, como: vizinhos, colegas,

pessoas nas ruas, pessoas em mercados ou pessoas em outro lugar qualquer. Enfim, a

sociedade também é responsável por produzir comportamentos negativos nas crianças.

Mas de todas as possibilidades de responsáveis por comportamento indisciplinado no

aluno, é família, ela é a primeira a ser apontada. E quando se pretende solucionar um

problema de indisciplina, a família é a base, a “peça chave”, por que caso contrário a

situação não é resolvida. Sim, sabemos que o papel da família é educar, ensinar valores

morais, cuidar do desenvolvimento da criança e de seu comportamento, muitos dizem que isso

é papel apenas da família, pensar assim é errôneo, principalmente na educação infantil onde a

escola tem como objetivo trabalhar e desenvolver esses requisitos na criança auxiliando a

família. Porém, vale lembrar que a realidade de muitas famílias é complicada, existem muitas

famílias desestruturadas, não me refiro ao perfil da família por quem a criança é cuidada, mas

refiro a realidade socioeconômica, cultural e educacional de uma família, onde muitas vezes

não tem a disponibilidade ou capacidade para cumprir com o seu papel.

E aí é que está a diferença entre essas famílias e os professores, pois elas muitas vezes

não escolheram a realidade que vivem, não querendo generalizar, mais muitas vezes são

vítimas da sociedade, já o professor escolheu estar em sala de aula, tinha consciência das

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dificuldades que poderia em enfrentar, foi capacitado, e seu papel na educação infantil é

ensinar e educar.

Portanto é preciso que o educador reflita e faça uma autocrítica de sua ação

pedagógica para entender o que se passa com o aluno e achar uma solução para resolver esse

problema, não apenas querer silencia-lo para não incomodar na aula. É necessário que o

professor se “comprometa com os alunos para encará-los como um desafio pedagógico e

buscar alternativas, sem achar que a culpa está no aluno, na família, no sistema, e etc. O que

importa não é encontrar o culpado, mas sim buscar a solução para o problema.” (BENETTE,

2008, p.21)

Ou seja, essa postura de falar que a culpa é da família é só um meio de se justiçar

tirando a responsabilidade de si, e que independente de sua origem esse comportamento deve

ser trabalho. Vasconcellos (1989) apud Benette (2008) fala que em relação a isso existem

duas alternativas para o professor, a primeira é demitir-se e a segunda é enfrentar esse desafio;

por que muito professores não conseguem se comprometer com sua função e também não

assumem sua realidade, que na real existem conflitos nas relações, que os alunos são

diferentes, que cada um tem sua realidade, sua identidade e forma de expressar, e que o

professor não pode ficar sonhando com alunos ideias e perfeitos.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se por esse estudo que as concepções das professoras sobre disciplina e

indisciplina na educação infantil são baseadas em senso comum, experiências ou estereótipos,

onde o significado desses conceitos não é uma coisa estática e nem universal, mas que

depende de pessoa para pessoa e que cada um interpreta o sentindo desses palavras de acordo

com suas vivências e dependendo de seus contextos. Porém pedagogos licenciados que

fizeram uma graduação onde seu foco é o estudo em torno da criança e para a criança, não

podem se basear em senso comum e estereótipos, sua visão e postura (no caso, sua prática)

deve ser trabalhada em conjunto com teorias, não em achismo. E embora algumas falas elas

afirmassem que a disciplina e indisciplina na educação infantil são diferentes das outras séries

e outras idades, atribuíram a indisciplina a comportamentos como não obedecer às regras, não

ficar sentado e quietinho, não fazer o que a professora pede ou também agredir e ser violento

com o próximo, etc.

É preciso, portanto que o professor reveja sua prática e avalie sua postura e crenças

diante de um conflito dentro de sua sala de aula. Que ele possa ser um professor mediador,

empático, humano e justo com ele e com as crianças, e deixar de lado a visão adultocentrista

ou de autoritarismo de que é o adulto e professor e por isso é o detentor do conhecimento e é

o que manda na sala.

Também há uma ausência do olhar do professor aos alunos, geralmente generalizam as

crianças e seus comportamentos, se faz um padrão do que é certo ou não e a partir dai tomam

uma postura para resolver o problema, sem perceber a criança em si, como ser único, sem

tentar entender sua história, sem procurar saber o contexto em que vive, o que sentem e

pensam, e o que estão passando.

E é de suma importância que o professor possa olhar a criança em sua particularidade

e tentar entender o que leva ela a agir de tal maneira, conversar com a ela e diante de algum

conflito entre colegas, que o professor possa ouvir ambas as partes sem apontar culpado e

assim auxiliar as crianças a acharem uma solução. Por que os conflitos existem em todo o

lugar, é um choque de interesses e se a ação do educador foi boa pode trazer aprendizagem e

crescimento aos envolvidos, mas se ação do professor for ruim pode trazer prejuízos e

incentivar ainda mais comportamentos do tipo.

Diante disso, apontamos algumas questões importantes a serem considerada sobre a

indisciplina/disciplina em sala de aula, e destacamos a necessidade de uma formação

continuada dos, na busca por novos conhecimentos para melhorar sua prática pedagógica e

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compreender melhor as reais dificuldades do seu aluno, pois o que percebemos com este

estudo é que as entrevistadas se baseiam em apenas experiências vividas e em senso comum.

Como por exemplos: ao falar que a criança pede limite, que age de uma forma por maldade,

que é indisciplinada por que não quer ficar sentadinha, não quer fazer a atividade (porque

acha desinteressante) e que questiona; mostra como se baseiam no que acham que é.

Outra coisa que é importante ser repensada e mudada é a estrutura organizacional da

escola, seja em sua arquitetura, ou como as crianças são obrigadas a se organizarem dentro da

escola, a rotina e o tempo de cada coisa que foram feitas sem a participação das mesmas,

foram planejadas e pensadas aos olhos e interesses dos adultos.

Quando se fala sobre indisciplina na educação infantil, existe uma confusão, porque

muitos pesquisadores defendem que esse termo como violência e agressão não devem ser

utilizados nas creches e pré-escolas (criança de 0 a 5 anos), pois a criança ainda não se

desenvolveu o suficiente para entender que tal ação prejudica o próximo, e que existe o que é

certo e o que não é, por isso tende a ter dificuldades em seguir as regras, por que ainda não

compreendem o que significam.

Quando é falado que não existe indisciplina na educação infantil, e a criança age de

uma forma “agressiva” por inocência, não estamos querendo dizer que os adultos não devem

colocar limites nas ações das crianças, quando essas se colocam em risco ou desrespeitam

outras pessoas. O que importa é o modo como esse limite deve ser colocado, utilizando assim

do diálogo, da explicação, da indicação de como a criança deve agir em determinada situação

devem ser o ponto de partida dessa atitude educativa. O fundamental é que sejam pensadas

estratégias que considere o momento de cada criança e não somente o ideal de adultos ou de

disciplina da instituição.

Se caso a postura da criança for “absurda”, é preciso que o professor tome uma postura

profissional e humana para resolver, se caso não conseguir sozinho, ele não deve jogar a

responsabilidade toda na família, de que ela é chave e a base para resolver o problema,

lembrando que não são todas as famílias que tem a condição de acompanhar e educar seus

filhos, por isso o professor deve buscar ajuda, não refiro de mandar a criança para direção

para ser repreendida ou castigada, mas de buscar ajuda com outros profissionais como

psicólogos e assistente sociais, para entender o que acontece com a criança para estar se

comportando dessa forma e procurar melhores soluções para a criança.

Enfim não se deve culpabilizar e responsabilizar somente o aluno, ou a família, ou a

professora por um comportamento “indisciplinado”; por que todos nós- a sociedade- deve ter

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a responsabilidade de zelar e cuidar das crianças que estão no mundo, e olhá-las como sujeitos

históricos, de direitos e de interesses próprios.

Portanto essa pesquisa e estudo não tem a intenção de criticar as professoras, mas de

fazer o leitor refletir e se desfazer de pensamentos e condutas equivocadas em relação ao que

é pensando sobre disciplina e indisciplina e como são tratados esses conflitos. E que o

professor, acadêmico, futuro educador ou pessoas interessadas nessa temática possam rever

seus conceitos e saberem que sua conduta em relação a esses conflitos irá depender de suas

crenças, estudos, de como enxerga a criança, do que entende sobre esses termos e outros, e

mais ainda de como é sua postura humana.

.

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APÊNDICE

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APÊNDICE I: ROTEIRO DA ENTREVISTA

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Idade:

Sexo:

Formação Acadêmica (Graduação e/ou Pós-Graduação)

Atuação profissional: Como professor/a: Como professor/a da Educação

Infantil:

Turmas em que leciona na Educação Infantil:

1) Como você definiria a palavra “disciplina”? Você pode dar um exemplo?

2) Como você definiria a palavra “indisciplina?” Você pode dar um exemplo?

3) Na sua opinião, o que define um/a turma/sala de aula disciplinada? E indisciplinada?

(Comente)

4) Na sua opinião, o que define um/a aluno/a disciplinado/a? E indisciplinado/a?

5) Você já presenciou situações que descreveria como de indisciplina na escola?

Comente.

6) Como esta situação foi resolvida?

7) Considerando a etapa da Educação Infantil, como você descreveria uma sala

disciplinada?

8) Na sua opinião, o que geram os atos de indisciplina? Como o/a professor/a deve

gerenciar estes atos?

9) Aponte alguma sugestão de ações ou práticas que, na sua opinião, resolveria a questão.

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