universidade federal de roraima instituto de geogiências
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA
INSTITUTO DE GEOGIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
ROSEANE PEREIRA MORAIS
ASPECTOS DINÂMICOS DA PAISAGEM DO LAVRADO, NORDESTE DE
RORAIMA
BOA VISTA - RR
2014
ROSEANE PEREIRA MORAIS
ASPECTOS DINÂMICOS DA PAISAGEM DO LAVRADO, NORDESTE DE
RORAIMA
Monografia apresentada como pré-requisito para
conclusão do curso de Bacharelado em Geografia
do departamento de Geografia da Universidade
Federal de Roraima.
Orientador: Prof. MSc. Thiago Morato de
Carvalho
BOA VISTA - RR
2014
ROSEANE PEREIRA MORAIS
ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA PAISAGEM DO LAVRADO NO NORDESTE DE
RORAIMA
Monografia apresentada como pré-requisito para
conclusão do curso de Bacharelado em Geografia
do departamento de Geografia da Universidade
Federal de Roraima. Defendida em 17 de julho de
2014 e avaliada pela seguinte banca examinadora:
_________________________________________
Prof. MSc. Thiago Morato de Carvalho
Orientador/curso de Geografia
_________________________________________
Profª. MSc. Luciana Diniz Cunha
Membro da banca/curso de Geografia
_________________________________________
Prof. Dr. Gersa Maria Neves Mourão
Membro da banca/curso de Geografia
DEDICATÓRIA
Aos meus queridos pais, Edileuza Pereira
Morais e Valdecy Campos Morais por terem
se esforçado a vida toda para que minha
educação fosse completa. Aos meus irmãos
que deram todo o apoio necessário para que
este sonho tenha se realizado.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter sido minha fonte de inspiração nessa caminhada.
Aos meus pais Edileuza e Valdecy que me ensinaram desde sempre que com muito
esforço e trabalho podemos alcançar o inesperado.
Aos meus queridos irmãos Rodrigo, Aldo e Lucas que sempre de deram força para
continuar os estudos e são a razão do meu sucesso.
Ao meu orientador Thiago Morato de Carvalho e ao Laboratório e Grupo de Pesquisa
de Métricas da Paisagem do Departamento de Geografia/UFRR, pelos subsídios e
contribuições concedidas durante o desenvolvimento desta pesquisa.
A minha segunda mãe Iolanda, uma pessoa maravilhosa que merece toda a felicidade
do mundo por ter um coração doce e cheio de solidariedade.
A minha amiga Raiane pelas palavras de incentivo e pelos momentos divertidos que
passamos durante esse trajeto.
Ao Laboratório de Produção Territorial e ao professor Antonio Tolrino de Rezende
Veras.
Ao CNPq pela disponibilidade da Bolsa PIBIC fornecida a mim no últimos três anos.
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo a caracterização da paisagem do lavrado roraimense, com
enfoque em uma abordagem não somente funcional da ecologia, mas também com destaque
para a valorização dos conceitos e técnicas da geografia, que como ciência do espaço possui
um vasto conhecimento sobre os elementos que compõe dada paisagem e sobre os processos
que a dinamizam. A metodologia abordada foi o uso de técnicas de Geoprocessamento e
Sensoriamento Remoto para quantificação estatística das unidades da paisagem que mais se
destacam no ambiente estudado, entre elas estão os sistemas lacustres do lavrado e os
municípios que fazem parte dessa extensa matriz dominante. Essa quantificação também foi
realizada com a aplicação de algumas métricas (ou índices) da paisagem, tais como índice de
forma e índice de classes. Os resultados nos mostram que o lavrado de Roraima é uma região
única, com atributos próprios e por esta razão deve ser estudada com enfoque em sua própria
biodiversidade, identidade ecológica e cultural e o uso de técnicas estatísticas merecem ter
maior destaque nos estudos da paisagem em geral do Estado, pois os estudos de paisagem
ainda são, por vezes, subjetivos e descritivos, tornando o conhecimento limitado.
Palavras-chave: Ecologia da Paisagem. Geografia de Roraima. Lavrado de Roraima.
Técnicas Estatísticas e de Geoprocessamento.
ABSTRACT
This research had as objective the characterization of the landscape of lavrado Roraima,
focusing on an approach that is not only functional, but also ecology with emphasis on the
appreciation of the concepts and techniques of geography, like space science has a vast
knowledge about the elements that make up given landscape and on the processes that
streamline. The methodology addressed was the use of Gis and remote sensing techniques to
statistical quantification of landscape units that stand out in the environment studied, among
them are Lake systems of the plowed and the municipalities that are part of this extensive
dominant matrix. This quantification was also performed with the application of some metrics
(or indices) of the landscape, such as shape index and index of classes. The results show us
that the lavrado of Roraima is a unique region, with own attributes and for this reason should
be studied with a focus in their own biodiversity, ecological and cultural identity and the use
of statistical techniques deserve to have greater prominence in the landscape studies in
General, because the landscape studies are still sometimes subjective and descriptive, making
the limited knowledge.
Keywords: Landscape Ecology. Geography of Roraima. Lavrado Roraima. Statistical
Techniques and Geoprocessing.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
Figura 10
- Quadro das linhas de abordagem da Ecologia da Paisagem........................
- Limite do Lavrado em Roraima...................................................................
- Lavrado com buritis e arbustos; (B) Lavrado, vegetação de campo com
vegetação arbustiva esparsa e cupinzeiro; (C) Ilhas de mata; e, (D) Lagos
isolados e veredas..........................................................................................
- (A) Lavrado da região de Uiramutã, lavrado de altitude, região de serras
do sistema Parima-Pacaraima; (B) Lavrado em contato com região do
sistema Parima-Pacaraima, lavrado de altitude e buritizais incipientes; (C)
Depósitos de areia branca no lavrado de Roraima; (D) Serras isoladas no
lavrado roraimense.........................................................................................
- Classes altimétricas do Lavrado e perfis topográficos dos diferentes
compartimentos do relevo dessa região: o primeiro (A-a-a’) mostra uma
área de transição entre a superfície de aplainamento e as regiões de serra
com altitudes abaixo de 850 m, o segundo perfil (B-b-b’) atravessa apenas
a superfície mais rebaixada do lavrado com cotas entre 40 e 850 e o
terceiro perfil perpassa por entre os três compartimentos do lavrado,
pegando o baixo, o intermediário e o forte relevo com controle
estrutural........................................................................................................
- Padrões morfológicos de sistemas denudacionais e agradacionais. (A) –
região do Complexo Parima-Paricarana, forte dissecação e controle
estrutural (4°62’N 60°67’W); (B) –, Transição entre lavrado e floresta
ombrófila, município de Pacaraima, com forte dissecação e controle
estrutural (4°29’N 60°33’W); (C) – rio Uraricoera, dissecação moderada
dissecação média, com controle estrutural, transição de morfologias
agradacionais e denudacionais (3°30’N 61°33’W); (D) – Confluência dos
rio Tacutu e Uraricoera, com predominância de morfologias agradacionais
(3°12’N 60°29’W).........................................................................................
- Cobertura da paisagem do Lavrado, (período chuvoso) do Nordeste de
Roraima..........................................................................................................
- Comparativo das classes de cobertura da terra (km²) no lavrado, nordeste
de Roraima.....................................................................................................
- Distribuição dos lagos na paisagem do lavrado nos períodos de estiagem
(A) e chuvoso (B). Nordeste de Roraima.......................................................
- Alguns exemplos das regiões dos lagos interconectados no período
chuvoso, agrupamentos referentes a figura 9, lavrado, Nordeste de
Roraima. (A) Região entre os rios Tacutu e Uraricoera; (B) e (C) Regiões
a margem do rio Branco; (D) Região a margem esquerda do rio
Uraricoera; (E) Região a margem direita do rio Tacutu; (F) Região a
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Figura 11
Figura 12
Figura 13
Figura 14
Figuras 15
Figura 16
Figura 17
Figura 18
Figura 19
margem esquerda do rio Tacutu.....................................................................
- Mesmas regiões da figura 10, mostrando alguns exemplos dos lagos
perenes isolados ou poucos conectados no período de estiagem,
agrupamentos referentes a figura 9. (A) Região entre os rios Tacutu e
Uraricoera; (B) e (C) Regiões a margem do rio Branco; (D) Região a
margem esquerda do rio Uraricoera; (E) Região a margem direita do rio
Tacutu; (F) Região a margem esquerda do rio Tacutu..................................
- (A) Quantidade de áreas em quilômetros quadrados ocupadas pelos lagos
nos períodos chuvoso e estiagem; (B) Quantidade de lagos em unidade
que ocupam áreas do lavrado nos períodos de chuva e seco.........................
- (A) e (B) Tesos e veredas com lagos interconectados no lavrado do
Nordeste de Roraima. ....................................................................................
- (A) Lagos de nascentes semicirculares; (B) Lagos isolados circulares;
(C) Lago isolado retangular; e, (D) Lagos conectados..................................
- Principais tipos de lagos do lavrado. (A) Lagos semicirculares isolados,
ao fundo confluência dos rios Uraricoera e Tacutu; (B) Lago semicircular
isolado em borda de ilha de mata; (C) Lago de nascente em veredas (D)
Lagos de cheia isolados circulares e conectados...........................................
- Malhas viárias no lavrado e mobilidades humanas, ponto de partida a
cidade de Boa Vista, nordeste de Roraima....................................................
- Principais municípios que fazem parte do lavrado, nordeste de
Roraima..........................................................................................................
- Tabela do total da população que residente do lavrado, nordeste de
Roraima..........................................................................................................
- Terras Indígenas que fazem parte do domínio do lavrado, nordeste de
Roraima..........................................................................................................
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SUMÁRIO
1.
1.1
2
2.1
2.2
3
3.1
3.2
3.2.1
3.3
3.4
4
4.1
4.2
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5.1
5.2
5.3
5.4
INTRODUÇÃO................................................................................................
CONTEXTUALIZAÇÃO.................................................................................
OBJETIVOS.....................................................................................................
OBJETIVO GERAL..........................................................................................
OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................
PAISAGEM E CONCEITUALIZAÇÃO..........................................................
ECOLOGIA DA PAISAGEM...........................................................................
Estrutura da Paisagem....................................................................................
QUANTIFICAÇÃO DE UNIDADES DE PAISAGEM, USO DO
SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO.........................
COBERTURA DA TERRA..............................................................................
MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.............................................
METODOLOGIA APLICADA.........................................................................
RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................
ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DO LAVRADO, NORDESTE DE
RORAIMA........................................................................................................
COBERTURA DA PAISAGEM DO LAVRADO...........................................
SISTEMAS LACUSTRES................................................................................
A PAISAGEM DO LAVRADO COMO ESCALA ESPACIAL PARA
GESTÃO TERRITORIAL................................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................
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1. INTRODUÇÃO
1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO
O processo de caraterização da paisagem é bastante complexo, por se tratar de um
tema que vem sendo discutido ao longo dos anos sobre diversas perspectivas de análise,
sobretudo na área da Geografia. A paisagem é um termo de difícil definição, pois durante seus
estudos e comparações é levada em consideração uma série de fatores que se individualizam
no ponto de vista do pesquisador, tais como estéticos, culturais e históricos. Em escalas
temporais distintas, análise multi-temporal, podemos enxergar na paisagem aparentemente
estática o dinamismo dos elementos que a compõe, seja estes relacionados às forças naturais,
que atuaram e atuam no modelado do relevo, como o sistema de drenagem, clima, tectônica,
etc.; seja devido às forças humanas manifestas em distintos modos de produção e formações
sociais, culturais, que evoluem ao longo das gerações (SOARES FILHO, 1998; MORAIS E
CARVALHO, 2013).
Um dos assuntos com maior destaque no meio acadêmico, científico e social, é a
preocupação com a demanda dos recursos naturais. Já que, com o aumento populacional,
também tem crescido a pressão por espaços para o uso e ocupação (moradias, agricultura,
pecuária, extrativismo, etc.), fazendo com que a influencia humana nesses ambientes se
intensifiquem progressivamente, acarretando na perda da biodiversidade ao redor do mundo
(BRUNDTLAND, 1987). Essas atividades antrópicas contribuem assiduamente no aumento
da fragmentação de paisagens, ou seja, modificação da disposição dos elementos da paisagem.
Esse processo que se inicia com a destruição de pequenas áreas da vegetação natural, pode
evoluir no decorrer de anos, gerando uma interrupção na conectividade desse sistema
comprometendo sua integridade biológica, principalmente alterando relações entre as espécies
(NOSS; CSUTI, 1997).
Segundo Hovel e Lipcius (2001) os estudos que envolvem a fragmentação de
paisagens costumam enfatizar a importância do tamanho e isolamento desses fragmentos, já
que a diminuição das áreas nativas implica em uma redução do tamanho populacional e o
isolamento dessa fragmentação reduz o fluxo de espécies, aumentando os riscos de extinção
em paisagens com uma biodiversidade endêmica, como por exemplo, as áreas campestres do
nordeste de Roraima, o lavrado. De maneira simplista, essas relações entre fragmentação,
conectividade e biodiversidade são passíveis de serem quantificadas como uma medida de
controle temporal e espacial das atividades humanas sobre o ambiente natural, quando
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aplicadas dentro de uma abordagem geográfica e sobre a perspectiva ecológica contribuem
para a conservação de ambientes naturais (MORAIS; CARVALHO, 2013).
Diante de um complexo envolvimento de conceitos sendo consolidados, não se pode
falar de paisagem sem compreender a que processos (interação entre os elementos) ela está
inserida, ou do que ela é formada (sua estrutura). É preciso entender como ela está organizada
(estruturada), suas funcionalidades e a que mudanças ela está passível de sofrer ao longo do
tempo. Neste último caso, a temporalidade faz muita diferença para que haja modificações no
comportamento natural ou antrópico dos padrões do sistema. Morais e Carvalho (2013)
deixam claro que a paisagem é dinâmica, este é o ponto de partida para se explorar seus
elementos funcionais, base para compreender sua evolução.
A metodologia abordada a partir de métodos de quantificação das unidades de
paisagem é utilizada como resultado da integração de estudos da paisagem numa perspectiva
de análise de escala ecológica e sua aplicabilidade na resolução de problemas ambientais. A
Ecologia de Paisagens centraliza o reconhecimento de interdependência espacial entre as
unidades de paisagem, ou seja, o pleno funcionamento de determinado sistema é regido pelas
interações que uma unidade mantem com as unidades vizinhas (METZGER, 2001), sendo
uma fusão entre análise espacial da geografia e o estudo funcional da ecologia. Por isso a
utilização de métodos quantitativos que associam padrões espaciais e processos ecológicos em
diferentes escalas.
O problema em questão está baseado na escassez de trabalhos acadêmicos e científicos
que quantifiquem estatisticamente unidades da paisagem com base em índices,
contextualizada como uma metodologia abordada para padrões espaciais, neste caso, em
Roraima, sobretudo não há indícios de sua aplicabilidade em um dos sistemas naturais que
mais se destaca nessa região, peculiar pelas suas características morfoestruturais e
vegetacionais diferenciadas, neste caso o lavrado, e sobretudo, é preciso elevar a importância
do uso de técnicas em sensoriamento remoto e geoprocessamento, como ferramenta essencial
para essa caracterização.
Essa pesquisa irá contribuir com estudos sobre quantificação de unidades da paisagem
em Roraima, funcionando como base para futuras abordagens científicas da temática,
fornecendo subsídios com embasamento estatístico da relação entre as heterogeneidades do
lavrado. Essa situação se justifica pela necessidade de se trabalhar com questões relacionadas
a métodos quantitativos de unidades da paisagem, cuja base está na Ecologia da Paisagem,
Geossistemas e Geografia Regional no Estado de Roraima, em particular na região Nordeste,
domínio regional do Lavrado. Região a qual apresenta uma diversidade física complexa e um
12
histórico de expansão de suas cidades. É dentro dessa perspectiva que os modelos de
quantificação da paisagem podem ser utilizados também no auxílio da gestão sobre a
influência antrópica, em áreas de conectividade regional - Georedes (redes urbanas-rural), as
quais precisam ser caracterizadas na relação de seu domínio na paisagem, contribuindo para o
planejamento e gestão territorial da região.
Portanto, esta pesquisa será parte integrante e base para os estudos em andamento
dentro do escopo do projeto de Métricas da Paisagem de Roraima, coordenado pelo
Laboratório de Métricas da Paisagem (Mepa) do Dep. de Geografia da Universidade Federal
de Roraima.
13
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
O objetivo deste estudo é caracterizar a paisagem do lavrado na região do Nordeste de
Roraima, através dos aspectos fisiográficos, analisando seus elementos estruturantes e
funcionais, classificação da cobertura que reveste o lavrado roraimense e territorialização dos
municípios que compõe esta matriz geográfica.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
i) Delimitar o lavrado em ambiente SIG (Sistema de Informações Geográficas);
ii) Caracterizar os aspectos fisiográfico da paisagem do lavrado de Roraima;
iii) Classificar a Cobertura da Terra da região em estudo;
iv) Caracterizar e quantificar sistemas lacustres com base em índices da paisagem da região
em estudo;
v) Caracterizar territorialmente os municípios que fazem parte do Nordeste de Roraima.
14
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 PAISAGEM E CONCEITUALIZAÇÃO
Existem muitas interpretações para o termo paisagem, embora cada uma delas se refira
a um espaço visualizado a partir de um distanciamento, ou seja, numa percepção sustentada
pela amplitude de um lugar. Metzger (2001) descreve que a paisagem é percebida como um
plano de fundo, pois ela é o que se vê ao longe e/ou de cima dependendo da perspectiva
científica ou cultural do observador. Bertrand (2004) a descreve como a uma porção do
espaço composta pelo resultado da combinação dinâmica entre elementos físicos, biológicos e
antrópicos, de tamanhos variados e com determinada função que atuando de maneira
integrada formam um mosaico de informações relevantes a quaisquer mecanismos de estudo.
Zonneveld (1979) conceitua a paisagem como uma superfície terrestre que abrange um
complexo de sistemas com características geológicas, hidrográficas, do ar, da vegetação, dos
animais e do homem e por suas formas fisionômicas resultantes, que podem ser reconhecidas
como entidades. Turner e Gardner (1991) citado por Soares Filho (1998) fala da paisagem
como resultado das formas do relevo de uma região e seus habitats associados á escala de
hectares ou de vários quilômetros quadrados.
É dentro dessa complexidade de conceitos que pode se dizer que a palavra paisagem
abrange setores que estão além de uma definição universal, pois está presente em todos os
lugares possíveis e sua estrutura está em constante transformação sejam no âmbito social,
cultural, ambiental ou econômico. Quanto a isso Metzger (2001) enfatiza que há muitas
possibilidades sobre o que se pode entender com o termo paisagem, pois existem variadas
conotações que seguem linhas de análises específicas.
Portanto, pintores, geógrafos, geólogos, arquitetos, urbanistas, biólogos, etc., todos
possuem sua própria interpretação daquilo que se pode chamar de paisagem, e, dentro dessa
questão os conceitos atravessam as fronteiras da diversidade, tais como a sua trajetória
dramática na história das artes visuais e literatura que contam com uma valorização nos
aspectos naturais no final do século XVIII, onde as pinturas mais exuberantes tentavam
aproximar o ser humano da natureza pura e primordial, de que havia se separado de maneira
trágica (SIEWERDT, 2007). Artistas e escritores dessa época tentavam retratar a paisagem
como um reflexo do interior de quem as observasse, rebuscando sentimentos de melancolia e
solidão.
15
A paisagem surgida na pintura artística é resultado da ruptura com a visão teológica
medieval face ao ambiente para ocupar lugar primordial no campo da Geografia. Esse é um
ponto importante para posicionar a concepção do homem perante o ambiente que o cerca. O
aparecimento do conceito de paisagem foi acompanhado de uma revolução técnica e científica
que libertou a natureza da ideologia divina tornando-a objeto de conhecimento e abrindo
caminho à sua manipulação e transformação com diversos fins (SALGUEIRO, 2001).
Pozzo e Vidal (2010) relatam que as expedições para o Novo Mundo na gênese do
capitalismo europeu, ansiavam por buscas de respostas em torno da ampliação do
conhecimento científico e principalmente tornarem conhecidos territórios em nome do
interesse econômico pelas potências europeias. É nesse momento que o conceito de paisagem
ganha contextos mais científicos, passando a se traduzir na “expressão visível da ordem
natural do mundo que ao manifestar-se em diferentes regiões, dá ensejo à formulação de
estudos comparativos que são à base da Geografia Moderna” (POZZO; VIDAL, 2010, p.
114).
Segundo Santos (2006), Humboldt tratava a paisagem como a configuração da
superfície do globo em uma determinada região, cujos caracteres individuais causam nas
pessoas sensações e sentimentos, ou seja, neste caso o que existe é uma relação de identidade
com o lugar que abriga uma série de características importantes no conforto psicológico do
ser humano. Essas características estão entrelaçadas com cada unidade presentes na paisagem
a que estão inseridas.
A escola alemã de Geografia traz um conceito contemporâneo de paisagem utilizado
pelos geógrafos norte-americanos, quando Carl Sauer (Escola de Berkeley) que funda a
Geografia Cultural dando a ideia de relação entre as formas físicas e culturais da paisagem
(POZZO; VIDAL, 2010). Santos (2006) discute que para Sauer “a paisagem cultural é a
paisagem que nasce da expressão cultural humana sobre a área” (p. 104). Esse conceito nasce
da ideia de que o homem é o principal agente modificador do espaço e ele com toda a sua
complexidade estampa na paisagem natural as marcas de sua história como um todo
organizado. Ele modifica, constrói, territorializa tudo aquilo que era livre, e, a natureza ganha
outras formas e funções, ganhando outros tons, outras cores e outros movimentos.
Segundo Dolffus (1978), a paisagem de uma dada superfície terrestre pode ser
classificada de acordo com o grau de intervenção humana, assim temos: paisagem natural,
paisagem humana e organizada. A primeira seria aquela que não foi submetida a ação do
homem, a segunda foi modificada pelo homem até certa extensão consistindo em uma espécie
de transição para a terceira que pode ser chamada de paisagem cultural, pois é resultado da
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contínua ação humana combinada e meditada. Entretanto, é preciso compreender que a
paisagem, como sendo complexa, possui uma função, uma estrutura e é passível de mudanças
ao longo do tempo e em escalas definidas, este último refere-se a processos que ocorrem em
sua estrutura inicial causando modificações em seu comportamento natural e/ou antrópico.
Segundo Crepani et al. (1996) as unidades da paisagem natural podem ser analisadas a partir
de sua gênese, constituição física, forma e estágio de evolução, além do tipo de cobertura
vegetal que se desenvolve sobre ela. Essas informações são fornecidas por vários campos da
Ciência em si, o que torna o estudo da paisagem uma área multidisciplinar e complementar.
Sabemos que a paisagem é dinâmica, este é o ponto de partida para se explorar seus
elementos funcionais. Tricart (1977) fala em Ecodinâmica, termo utilizado para entender os
processos que envolvem a morfogênese e pedogênese, onde o primeiro está relacionado aos
processos erosivos de modificação das formas do relevo e o segundo do predomínio dos
processos de formação de solos.
A Geologia, por exemplo, contribui com a análise das unidades da paisagem a partir
de informações relativas ao grau de coesão das rochas que a compõe, informação básica
integrada a partir da Ecodinâmica, bem como a história da evolução do seu ambiente
geológico. A Geomorfologia oferece informações morfométricas que influenciam diretamente
nos processos ecodinâmicos, tais como: amplitude do relevo, declividade e grau de dissecação
da unidade da paisagem. Já a Pedologia trabalha com a caracterização das unidades da
paisagem a partir de suas posições dentro de uma escala gradativa dentro da Ecodinâmica, por
exemplo, a maturidade dos solos.
Crepani et al. (1996), ainda cita a Fitogeografia e suas informações importantes em
defesa das unidades da paisagem contra processos erosivos sobre diversas maneiras, ou seja, a
cobertura vegetal evita impactos de gotas da chuva direto no solo, evita sua compactação,
aumenta a capacidade de infiltração difusa da água, entre outros aspectos relacionados a
proteção das unidades da paisagem, enquanto que a Climatologia fornece informações
necessárias que se contrapõe a essa defesa, como a quantificação da pluviosidade anual que
permitem identificar o grau de risco a que está submetida uma unidade da paisagem. De uma
maneira geral, a paisagem natural é analisada através dessas informações fornecidas por todos
esses campos disciplinares para que se tenha um retrato fiel do comportamento das unidades
frente a esses processos integrados.
Couto (2004) fala que a paisagem mesmo interpretada sobre diversos ângulos, sempre
está inserida dentro do contexto descrito como “mosaico de manchas” ou elementos que estão
em constante interação. Esse mosaico ecológico está relacionado a extensão, que é a área
17
sujeita a investigação, e grão, que é o tamanho das unidades de observação. É nesse contexto
que surge, o termo Ecologia da Paisagem que segundo Soares Filho (1998) foi introduzido,
pela primeira vez em 1939 pelo geógrafo alemão Carl Troll. Nessa perspectiva Troll defendeu
a ideia de geógrafos e ecologistas trabalhando juntos em estreita colaboração, visando o
surgimento de uma nova ciência que objetivaria a unificação dos princípios da vida e da terra
através da análise da paisagem, a qual segundo Troll (1971) poderia ser definida como uma
entidade total e espacial, integrando a geosfera, biosfera e a noosfera (esfera da consciência e
mente humana). A partir daí escolas de Geografia e Ecologia começaram a fundamentar
outros conceitos com relação à paisagem.
3.2 ECOLOGIA DA PAISAGEM
A Ecologia da Paisagem passou e ainda permanece em fase de processos de
conceituação desde sua origem até os dias atuais. A princípio, formulada apenas em nível de
percepção humana com descrições de processos estritamente ligados a interação do homem e
ambiente por muitos estudiosos e cientistas, de países diferentes, e fundamentados pela
contribuição de economistas e geógrafos que criaram diversas técnicas para ligar padrões
estruturais que se processem a grandes escalas. Assim, o conceito de ecologia da paisagem
integrada a uma visão mais tradicionalista, que a define como interação dos processos
naturais, incluindo animais, plantas e o homem, ao longo dos anos ganha uma
contextualização mais evoluída.
Para Bunce e Jongman (1993) essa evolução ocorreu na direção de um estudo
integrado dos padrões texturais da paisagem e os processos de que resultaram, e, portanto,
“estuda a estrutura e a dinâmica de mosaicos heterogêneos e suas causas e consequências
ecológicas” (PIVELLO; METZGER, 2007, p. 22) levando em consideração a escala de
observação para a compreensão dos padrões de ocorrência e abundância de organismos.
Para Metzger (2001) a Ecologia da Paisagem é uma área dentro da Ecologia que se
formou de maneira recente e se caracteriza por possuir dois caminhos distintos que muitas
vezes se mesclam, dependendo é claro da área de atuação do pesquisador: a primeira prioriza
a ação antrópica sobre a paisagem e a gestão do território, ou seja, uma abordagem
geográfica; já, a segunda busca enfatizar os processos ecológicos que ocorrem em
determinado contexto espacial e a relação destes com os interesses da conservação biológica,
esta seria sua abordagem puramente ecológica.
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Dentre essas duas linhas de abordagens podemos citar algumas de suas características
mais marcantes, tais como mostra a seguinte Figura 1:
Figura 1: Quadro das linhas de abordagem da Ecologia da Paisagem definidas por Metzger
(2001).
Abordagem Geográfica Abordagem Ecológica
Ori
gem
O termo Ecologia da Paisagem foi criado
pelo biogeógrafo alemão Carl Troll em
1939, através de estudos voltados para a
geografia regional da Europa e estudos
vegetacionais a partir dos benefícios
oferecidos pela fotografia aérea. Troll
juntou as relações verticais estudadas por
ecólogos de ecossistema com a abordagem
horizontal dos geógrafos (METZGER,
2001)
Surgiu a partir de um encontro entre biogeógrafos e
ecólogos norte-americanos, na década de 1980,
estes buscavam adaptar a biogeografia de ilhas para
o planejamento de reservas naturais em ambientes
continentais. Esse marco foi tão importante para
biólogos conservacionistas que usaram essa nova
ferramenta para relacionar efeitos de fragmentação
no habitat e suas consequências no fluxo de espécies
e riscos de extinção (METZGER, 2001)
Cara
cter
ísti
cas
Análise de heterogeneidades espaciais
aglomerando aspectos geomorfológicos e
uso e cobertura do solo; estudo das
influências antrópicas no meio natural
com ênfase na aplicação de medidas que
minimizem problemas ambientais;
abordagem holística, que integra ciências
sociais, fisiográficas e biológicas, visando
a compreensão global da paisagem e
abordagem territorial.
Compreender os efeitos da estrutura espacial da
paisagem sobre os processos ecológicos; prioriza
paisagens naturais com a aplicação de conceitos
para a conservação da biodiversidade e manejo de
recursos naturais; não enfatiza a macro escala; é
mais voltada para estudos ecológicos e biofísicos.
Noçã
o
de
pais
ag
em Essencialmente visual e espacial do
espaço ocupado pelo homem, mosaico de
relevos, tipo de vegetação e formas de
ocupação.
Área heterogênea composta por conjuntos
interativos de ecossistemas; área espacialmente
heterogênea.
Un
idad
e b
ási
ca
de
pais
agem
Unidade de Terra
Hábitats
Fonte: Elaboração própria, 2014.
Essas duas formas de se abordar a Ecologia da Paisagem não deve ser vista como uma
dualidade de conceitos e objetivos que se confrontam ambiguamente, porque na verdade,
ambas oferecem interesses definidos de estudo. Quando Metzger afirma que estes interesses
podem se mesclar, o que ele quer dizer é que além de depender da idiocrasia do pesquisador,
o que vai determinar os conceitos que ele irá trabalhar é seu objeto de estudo e as quais
finalidades este se sujeitam. Mesmo assim, existe um processo de organização e solidificação
de conceitos que está em plena construção devida a essa tentativa de unir os dois enfoques de
análise apontados e também a questão da disciplina ainda possuir um caráter de recente
formulação.
19
A partir desse contexto muitos pesquisadores buscam unificar e integrar as principais
abordagens na tentativa de se estabelecer uma estrutura definida para a disciplina, no entanto
essa tarefa se mostra bastante intrincada, já que a Ecologia da Paisagem é, inevitavelmente,
uma combinação de conteúdos, além disso, devido a sua linha de base está inteiramente
relacionada a vários aspectos da paisagem em si – históricos, econômicos, sociais, culturais,
ecológicos, ambientais e fisiológicos – é considerado amplamente um enfoque
interdisciplinar, ou até mesmo transdisciplinar, onde pontos de vista de inúmeros
pesquisadores estão envolvidos holisticamente.
Num envolvimento geral as definições de ecologia da paisagem vão variar de acordo
com a função dessas abordagens e de seus autores. No geral a Ecologia da Paisagem surgiu
como uma importante disciplina nos estudos da estrutura, função e das mudanças da
paisagem. Para esse estudo o que se torna relevante são aspectos como: a interação entre as
diferentes manchas, padrões das unidades da paisagem e as formas como esses dois fatores
mudam com o tempo (FORMAN; GODRON, 1986). Esse trabalho procurou utilizar
conceitos e metodologias de ambas às abordagens apresentadas (geográfica e ecológica), já
que se propõe a investigar aspectos fisiográficos da paisagem natural de determinada área e a
influencia humana sobre esta, tanto no sentido de contribuir nos estudos de conservação
ecológica quanto na investigação dos diferentes usos e cobertura do solo para tentar
minimizar possíveis problemas ambientais e gestão territorial.
Os principais conceitos em Ecologia da Paisagem utilizados nesse trabalho serão
especificados mais adiante para melhor compreensão dos resultados alcançados na proposta
desse estudo.
3.2.1. Estrutura da Paisagem
Segundo os conceitos de análise da Ecologia da Paisagem a estrutura de uma paisagem
está relacionada basicamente às interações entre os elementos da paisagem em si e diferentes
ecossistemas. É como um arranjo ou padrão da paisagem visualizado entre formas, tamanho,
números e configurações espaciais que determinam a distribuição de energia, matérias e seres
vivos, com mudanças de grandes escalas e grandes reflexos ecológicos no padrão espacial de
ecossistemas distintos. É importante ressaltar que essa disciplina não somente se concentra em
fatores biológicos, físicos e químicos em mudanças de comportamento espacial dos elementos
da paisagem, mas também considera o homem como um dos principais atores desse processo,
por isso, ela busca compreender também dentro dessa cadeia de envolvimentos, fatores
20
históricos, culturais e socioeconômicos da Ecologia Humana que se encontram conectados a
diferentes usos do solo. Dessa forma segundo Naveh (1991) na Ecologia de Paisagem o fator
de perturbação não é o único aspecto direcionado ao homem, mas ele também se apresenta em
muitos processos como componente interativo e co-evolucionário.
No envolvimento desse contexto destaca-se que para a análise de uma paisagem, seja
ela natural, modificada ou cultural, é preciso entender como funcionam os elementos que a
compõe e em diferentes níveis hierárquicos de escalas. Esses elementos recebem
denominações diversas que vão de acordo com a metodologia utilizada ou do emprego de
conceitos literários nas diferenciadas áreas de estudo, como exemplo, o ecótopo e o biótopo
termos usados por ecologistas para definir a menor unidade de paisagem. O mais interessante
nessa questão é ressaltar que dentre essas terminologias a unidade de paisagem é empregada
para descrever um intervalo da superfície terrestre especificamente homogênea, e com escala
definida, essa homogeneidade é abordada como uma característica de que certos elementos
são expressivamente menores e conjugados numa única unidade, e, devido ao seu contexto
interno as diferenças não podem ser visualizadas.
Contudo, uma definição mais simplista para a unidade de paisagem é empregada no
sentido de espaços que apresentam características semelhantes entre si, que normalmente
foram determinadas por fatores ou atributos físicos naturais ou antrópicos, assim elas são
individualizadas pela drenagem, relevo, clima, solo, cobertura vegetal e espaços urbanizados
que fornecem informações relevantes para os estudos das inter-relações topológicas e da
distribuição geográfica dos organismos. Com a afirmação de que não importa qual dos
atributos mencionados é o mais importante para determinar as características de algum lugar,
pois cada um deles representa uma unidade total de qualquer atributo, Zonneveld (1979)
reforça a ideia de que é preciso levar em conta que a unidade de paisagem não é somente um
conceito de objetos disposto em um mapa, mas sim uma resposta de sistemas de fatores que
interagem de modo consequente, portanto, esse termo não especificamente se restringe a uma
forma de escala de análise, mas faz parte de um contexto geral.
Já para Forman e Godron (1986) os elementos da paisagem são formados pelas
unidades geográficas que possuem determinada homogeneidade no qual resulta em um
arranjo espacial estruturado que definem as características gerais de sistemas de paisagem
denominados de mosaicos, esse sistema de paisagem se torna diferente do chamado sistema
de paisagem gradiente (estrutura de superfície contínua), pela composição de três tipos de
elementos presentes em uma dada área da superfície terrestre: as manchas que também são
chamadas de áreas, polígonos ou patches; os corredores ou corridors; e a matriz ou matrix.
21
Esses elementos são a base para definição e quantificação de diferenciados tipos de paisagem,
ou de forma simplificada podemos dizer que esses três elementos quando combinados
formam variedades de mosaicos de paisagem na superfície da terra. Para melhor entendermos
como esses processos ocorrem em sua individualidade ou totalidade é preciso abordar esse
arranjo espacial separadamente, então:
a) Manchas:
As manchas são consideradas áreas homogêneas, restritas, não lineares da paisagem, e
distintas das unidades vizinhas. De acordo com Forman e Godron (1986), elas podem variar
de forma, tamanho, tipo, heterogeneidade e característica de fronteira, em geral são
circundadas por uma matriz composta por aspectos diferenciados dos seus. Contudo, é preciso
entender que as manchas não necessariamente são comunidades de plantas ou animais, mas
também podem ser formados por microrganismos ou atributos não vivos como solo exposto,
áreas urbanizadas ou com algum outro tipo de antropização.
Conforme Casimiro (2009) para a identificação de tipos de manchas que podemos
encontrar em uma paisagem são utilizadas algumas variáveis tais como a sua origem e/ou
mecanismos causais, descritas abaixo como:
As manchas de perturbação são aquelas originadas a partir de perturbações naturais
ou antrópicas, tais como deslizamentos, queimadas, temporais, pisoteio de gado,
exploração florestal, entre outros. As consequências que se podem esperar após essas
perturbações são basicamente extinção de espécies, diminuição de populações ou
dormência de sementes (no caso de incêndio), com isso ocorre uma mudança drástica
nos padrões naturais dos sistemas, gerando novas dinâmicas espaciais que dão origem
a manchas com diversidades estruturais diferenciadas aptas a movimentos migratórios,
adaptações de hábitats e sistemas dependentes da própria perturbação que a gerou (as
antrópicas), estes últimos tendem encontrar o equilíbrio;
Manchas remanescentes, estas são caracterizadas por se apresentar como uma área
não afetada pelas perturbações a sua volta, sendo consideradas como manchas ilhadas
em meio a uma paisagem perturbada, inclusive são essas ilhas que fornecerão as
sementes necessárias no caso de regeneração vegetal, são consideradas também
lugares de memória das espécies que compunham a paisagem anterior à perturbação
encaixada na matriz perturbada, no entanto não há certeza de que sua composição
original continuará devido às perturbações que a circunda ainda permanecerem ativas;
22
As manchas de regeneração são semelhantes às remanescentes, porém, o que a
diferencia é que neste caso as perturbações a sua volta cessaram permitindo sua
recuperação;
As manchas de recurso ambiental se caracterizam por serem estáveis e livres de
qualquer perturbação, são áreas de colonização e manutenção de espécies, nelas os
processos naturais de migração, flutuação e extinção estão presentes, mas em número
muito baixo;
As manchas introduzidas são exclusivamente antrópicas, pois estão ligadas às
necessidades do homem de introduzir organismos e objetos em determinada área, tais
como plantas, animais, pessoas, e diferentes usos da área. Elas se subdividem em:
manchas plantadas e habitações. O mais interessante dessas tipologias é que no caso
da mancha plantada, por exemplo, o manejo que se processa nesses ambientes como a
fertilização e irrigação para manutenção de plantações faz com a mancha continue
persistente por longos períodos. Na mancha com introdução de animais o que ocorre é
que estes podem gerar uma espécie de submancha dentro matriz global, que se for
prolongado pode gerar perturbações graves na vegetação e causar a degradação
ambiental. Já com relação às habitações que podem ser de pessoas, de espécies
animais e vegetais introduzidos ou imigrações de espécies o que ocorre é que a
manutenção desse ambiente feita pelo homem determina sua estabilidade e equilíbrio.
As manchas efêmeras são simplesmente aquelas sazonais ou momentâneas de
espécies vegetais e animais, originadas pela migração, floração, abate de árvores, etc.
As manchas são de grande importância dentro da análise de estrutura de uma
paisagem, pois elas representam uma área originada por diversos processos, como já
descritos, e estes nos fornecem informações necessárias na compreensão das atividades
humanas ou interações entre as espécies que povoam determinado lugar. A partir daí procura-
se definir detalhes preliminares das tipologias de paisagem existentes em nossa área de
alcance ou escala definida. Para isso é preciso utilizar ferramentas necessárias na identificação
dessas manchas e suas origens, é nesse contexto que entram as técnicas de geoprocessamento
que inclui basicamente a representação de uma mancha no mapa a partir de um polígono (na
representação vetorial) ou área singular definida por valores igualitários de pixels
(representação matricial). Dentro dessas técnicas cartográficas as manchas também recebem
atributos nominais, a partir dos elementos da paisagem que a compõe (SOARES FILHO,
1998).
23
O geoprocessamento como ferramenta essencial nessa caracterização também se
utiliza dos parâmetros que controlam e influenciam essas manchas na superfície terrestre, tais
como: tamanho, forma, número e conectividade e distância entre as manchas. O tamanho da
mancha é o aspecto mais notável que se pode visualizar e também se caracteriza por
influenciar e controlar diretamente o fluxo e quantidade de espécies, energia e nutrientes
armazenados dentro de seus limites além de possibilitar o uso de máquinas agrícolas para uso
antrópico. Esse aspecto influencia também no chamado efeito de borda, que são considerados
ecótonos ou zonas de transição entre dois hábitats que desempenham um papel importante na
manutenção de ambientes ecológicos, pois podem conter uma quantidade significativa de
espécies maior do que nos interiores de manchas (SOARES FILHO, 1998).
Já forma da mancha está diretamente relacionada com o efeito de borda, pois quanto
mais isométricas forem as manchas, como as circulares e/ou quadradas, maior será a
diversidade de espécies em seu interior, menos barreiras e maior distribuição de alimentos do
que em suas bordas, já as mais alongadas ou lineares vão possuir uma maior ligação com sua
matriz funcionando como uma espécie de corredor, por possuir uma borda maior do que as
manchas circulares e por isso a diversidade de espécies em sua área tende a ser diferenciada e
com dinâmica própria daquelas do seu interior, além disso, quanto mais alongadas e angulares
forem as margens das manchas mais antrópicas são os elementos da Paisagem.
Além dessas variáveis são estudados também alguns aspectos como densidade,
configuração e número de manchas para uma melhor análise dos padrões de determinada
paisagem. Ainda com relação a esse estudo é preciso entender que os diferentes usos do solo
praticados pelo homem, como atividades agrícolas ou movimentos de urbanização, modificam
as formas, tamanho e principalmente as distâncias entre as manchas iniciando um processo de
fragmentação da paisagem, elemento que pode definir o grau de degradação ambiental que
determinada paisagem pode está sofrendo.
b) Corredores
Parecidos com as manchas, os corredores são denominados áreas homogêneas com
características diferenciadas das unidades vizinhas só que com aspectos morfológicos
lineares. Soares Filho (1998) descreve suscintamente a importância dos corredores dentro da
estrutura da paisagem, para este autor, os elementos de uma classe de paisagem estão em
constante ligação, “numa espécie de conectividade, função da configuração de redes, onde os
corredores permitem o movimento e intercâmbio genético entre animais e plantas e as
24
barreiras inibem tais trocas” (1998, p. 20). Nesse sentido, para o estudo dos corredores dentro
da paisagem é preciso levar em consideração algumas de suas características mais
importantes, tais como largura, conectividade, complexidade e estreitamento.
Esta conectividade não somente influencia nos fluxos das espécies entre as manchas,
mas também é um aspecto fundamental na mobilidade humana dentro dos domínios da
paisagem, isto porque os corredores não são apenas de origem natural, mas eles também são
abertos na paisagem como meio de conexão entre os lugares culturais, efeitos de transporte,
proteção, recursos e efeitos estéticos (FORMAN; GODRON, 1986). Os usos antrópicos mais
comuns abertos dentro dos domínios da paisagem que funcionam como corredores estão
relacionados aos meios de transporte, tais como: estradas, canais, ferrovias, linhas de
transporte de energia, etc. promovendo assim a mobilidade de bens e pessoas através da
paisagem.
No contexto da Ecologia de Paisagens, esses corredores podem ser também
considerados espacialmente margens e fronteiras de manchas numa determinada paisagem,
devido as diferenciações entre as condições biológicas existentes entre o interior da mancha e
sua margem. Para Forman (1995), os corredores desempenham cinco funcionalidades, tais
como:
Hábitat: esses corredores são normalmente habitados por espécies adaptadas às
margens, podendo haver também espécies generalistas, aquelas que estão em
constante movimento na paisagem, e se o corredor tiver uma largura significativa pode
até conter espécies de interior. As espécies raras ou ameaçadas de extinção geralmente
não habitam esses lugares, a menos que esta seja a única vegetação remanescente
presente na paisagem.
Conduta: essa funcionalidade está ligada estritamente as linhas de água ou a
predominância de qualquer outro sistema de transportes e movimento, embora outros
tipos de corredores exerçam essa função, ainda que de maneira parcial. Nesses
corredores deslocam-se pessoas, bens, veículos, nutrientes, sedimentos, animais e
matérias orgânicas.
Filtro: quando ocorre uma espécie de filtração nos fluxos que percorrem o corredor de
determinada paisagem fazendo com que apenas alguns animais consigam atravessar
essas passagens. Dependendo da escala de análise, rios, ribeiras, estradas, caminhos,
valas, paredes e outros fatores, formam essas barreiras de difícil permeabilidade.
25
Fonte: esse corredor é caracterizado por ser a única mancha (no sentido de fragmentar
a paisagem) dentro de uma matriz dominante, e é “dele que vão dispensar-se e
colonizar o espaço envolvente” (CASIMIRO, 2009, p.83)
Sumidouro: corredor caracterizado por ser responsável pelo desaparecimento de
água, sedimento ou animais provindo da matriz. É o caso de sedimentos e águas
alcançarem rios ou outra linha de água ou quando espécies de animais morrem ao
atravessar vias de comunicação, estradas ou rios.
Segundo Marsh (1997), os corredores também são classificáveis quanto a sua
estrutura, independendo da sua origem, uso humano e tipo de paisagem, dessa maneira temos:
os corredores em linhas, que podem ser estradas, caminhos, sebes, limites de propriedades,
valas de drenagem e canais de irrigação; corredores ripícolas (ribeirinho), ou seja, margens de
linha de água; corredores de interflúvio, individualizados por entre os corredores das linhas de
água, ao longo dos topos; corredores de grelha, associados a sebes e limites de estradas, valas
de drenagem, reproduzindo o desenho retilíneo e por vezes ortogonal; e, corredores
segmentados, que são uma espécie de resultado das atividades humanas nos corredores já
descritos acima, como um rio interrompido por barragens, por exemplo.
De uma maneira resumida, quando se trata de corredores Forman e Godron (1986, p.
153-155) são bastante específicos:
uma das principais caracteristicas dos corredores é a conectividade, ou presença de
quebras. Nós contendo espécies interiores estão geralmente “agarrados” a
corredores, formando uma estrutura tipo colar de contas. Os corredores têm
gradientes fortes em termos micro – climáticos e de solo, entre um lado e outro. O
centro é tipicamente um hábitat único, parcialmente determinado pelo transporte ou
movimento que se desenrola ao longo do corredor. Os corredores (linha) são
estreitos e compostos basicameente de espécies de margem, ou mais largos e
contendo uma abundância significativa de espécies interiores ao longo do seu eixo.
[..] O efeito de largura do corredor exerce um controle chave na natureza do mesmo,
aplicando-se estas caracteristicas tanto quando é mais alto, como mais baixo que a
envolvência.
c) Matriz
A matriz é o elemento mais extenso e mais conectado da paisagem, sendo, portanto a
unidade dominante (espacial e funcionalmente) que controla toda a sua dinâmica, por esta
razão é considerada o elemento mais importante para análise e compreensão efetiva da
estrutura da paisagem (FORMAN; GODRON, 1986). Segundo esses mesmos autores a
diferenciação entre manchas e matriz consiste em difícil tarefa para o estudo da Ecologia da
26
Paisagem, tendo dessa maneira que obedecer a alguns critérios definidos, separados em itens
por Casimiro (2007), tais como:
Área relativa: a matriz, neste caso, é consideravelmente o elemento da paisagem mais
extenso que outros em uma dada área.
Conectividade: a matriz é o elemento mais conectado da paisagem, mesmo abrigando
uma série de outros tipos de manchas em sua área.
Controle da dinâmica: a matriz possui um controle dominante na dinâmica da
paisagem e nos fluxos de energia. É através da matriz que se originam novas
paisagens.
Além desses critérios determinantes para a identificação do elemento dominante de
uma paisagem, ou seja, a sua matriz, existem outros conceitos que são fundamentais entender
pelas suas aplicabilidades e possibilidades quantitativas de avaliação da paisagem como a
porosidade da matriz, que segundo Soares Filho (2009) “consiste na medida de densidade de
manchas numa paisagem, como (...) número de remanescentes florestais ao meio de áreas
agrícolas” (p. 20).
A matriz de uma paisagem, entretanto, afeta populações e comunidades fragmentadas,
tendo em vista que ela é geralmente composta por ambientes agrícolas e a forma como ocorre
esse manejo agrícola pode influenciar diretamente nas espécies que habitam ou utilizam a
matriz como conduto é fundamental não somente para a conservação biológica, mas para
entender os conflitos territoriais que ocorre em dada paisagem.
3.3 QUANTIFICAÇÃO DE UNIDADES DE PAISAGEM, USO DO SENSORIAMENTO
REMOTO E GEOPROCESSAMENTO
Os crescentes problemas ambientais envolvendo os processos de expansão de cidades
e diversos outros usos da terra de maneira desorganizada tem agitado os meios sociais,
políticos e científicos nos últimos tempos. A Ecologia da Paisagem com toda a sua bagagem
de conceitos, estudos aplicados e análises sobre fragmentação e conservação de espécies e
ecossistemas também passaram mudanças grandiosas, o que permitiu, segundo Meztger
(2001), uma integração da heterogeneidade espacial e do conceito de escala nas análises
ecológicas, aumentando, assim, as possibilidades de minimização de problemas ambientais
recorrentes.
Essas mudanças partem, principalmente, do reconhecimento de uma dependência
espacial entre as unidades da paisagem, ou seja, o funcionamento de uma unidade depende
27
das interações que ela mantem com as unidades vizinhas (METZGER, 2001), percepção
adquirida pela junção da análise espacial da Geografia e o estudo funcional da Ecologia, como
já foi visto anteriormente. Desta maneira, é possível associar os métodos quantitativos em
Ecologia da Paisagem a processos ecológicos em grandes escalas espaciais e temporais e
também utilizá-los como medidas de controle de atividades antrópicas em ambientes passíveis
de conflitos territoriais. A busca por novos métodos quantitativos possui uma longa trajetória,
nas ultimas décadas as pesquisas estavam voltadas para as análises de padrões, importância de
processos espaciais explícitos e desenvolvimento de modelos confiáveis (TURNER;
GARDNER, 1991).
O modo como são abordados os conceitos de paisagem e suas generalidades sempre
nos confrontam com um conhecimento por vezes subjetivo e incompleto que interferem na
sua avaliação e processos de caracterização mais específica. É a partir desse contexto que as
métricas (ou índices) surgem como uma das formas de quantificar os atributos espaciais de
uma paisagem. Esses índices têm como função estabelecer bases comparativas, susceptíveis
de captar e descrever aspectos como heterogeneidade, fragmentação e a organização espacial
de um sistema complexo de paisagem. São exemplos de índices de paisagem: vegetação,
diversidade espacial, fragmentação, isolamento, conectividade, de classes, e, de forma, entre
outros.
A quantificação da estrutura e complexidade da paisagem, na verdade, pode ser
realizadas de muitas maneiras, de acordo com o objeto de estudo do pesquisador. As métricas,
por exemplo, baseiam-se na análise da distribuição, forma e arranjo espacial das manchas.
Segundo Casimiro (2007) a aplicação desses índices pode-se fazer em três níveis: resolução
individual das manchas (todas uma a uma), classes de classificação das manchas (como uso e
cobertura da terra) e à escala da paisagem como um todo (calcula-se as interações entre as
manchas).
Segundo este mesmo autor, esta análise pode ser realizada seguindo duas abordagens
distintas, a primeira refere-se a composição da paisagem, nesta abordagem o que se pretende
descrever é a qualidade e a quantidade dos elementos que a compõem sem a necessidade de
posicioná-los ou localizá-los espacialmente, são exemplos de quantificação da composição:
riquezas de manchas, equidade de manchas, distribuição de manchas e diversidade de
manchas. Já a segunda abordagem é a configuração da paisagem, esta pretende descrever a
distribuição física das manchas a partir de algumas variáveis específicas, tais como: o grau de
isolamento das manchas, dimensão e forma interna da área interna, justaposição e distâncias
entre as manchas do mesmo tipo ou complexidade de fronteira.
28
No entanto, é preciso destacar que essas duas abordagens não são facilmente
classificáveis a todos os índices de paisagem, pois podem ocorrer casos em que estes índices
forneçam dados que atendam as referências tanto de composição quanto configuração de
paisagem ou simplesmente não precisam de nenhuma das informações precisamente descritas
nessas abordagens. Índices como a dimensão de manchas não deixa claro exatamente a que
linha de abordagem ele se aplica, pois não dependem de caráter espacial ou posição relativa
das manchas. Além disso, a dimensão média e a sua densidade refletem tanto na quantidade
de manchas presentes (composição), como a sua distribuição espacial (configuração)
(CASIMIRO, 2007).
Em termos de métricas da paisagem, Casimiro (2007) também descreve que estas
estão subdivididas em quatro grandes áreas: Forma – dimensão das manchas são exemplos,
área total por tipo de manchas, proporção ocupada pela maior mancha, número de manchas e
dimensão média de manchas, total de margens e diversidade, etc.; Complexidade –
irregularidades, que podem ser índice de forma da paisagem, índice de forma ponderado pela
área, dimensão fractal média das manchas e da paisagem, etc.; Arranjo – organização
espacial, tais como distância média à mancha mais próxima, índice médio de proximidade,
índice de dispersão e justaposição, etc.; e, Diversidade.
Apesar da importância de se entender as métricas da paisagem e suas funcionalidades
mais básicas dentro da análise quantitativa da estrutura da paisagem, estas requerem
ferramentas adicionais como base de dados, estatística espacial, Sistema de Informação
Geográfica (SIG), Técnicas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento e GPS (Global
Positioning Systems) (FARINA, 2006). Para isso existem no mercado alguns programas que
proporcionam diferentes possibilidades de quantificar os elementos de uma paisagem, tais
como o ENVI 4.0 versão atualizada, o QUANTUN GIS 2.2.0, ArcGis 10 e o SAGA 2.1. Com
estes é possível obter métricas de áreas, métricas de fragmentação, conectividade da matriz,
diversidade de manchas, entre outros, utilizando dados em raster e vetor. Esses produtos
quantitativos resultantes das métricas possuem grandes aplicações em comparações entre
paisagens distintas, identificação das manchas que mais fragmentam a matriz (incluindo
manchas antrópicas), avaliações temporais, interação entre manchas, entre outros aspectos.
Como exemplo do uso destas técnicas aplicadas pioneiramente em Roraima, o
município de Caracaraí serviu como recorte funcional para execução de alguns índices de
paisagem no segundo semestre de 2013. Nesta localidade foi aplicado índice de classes, com
base na cobertura do solo realizada no ENVI 4.0, onde três grandes atributos foram
identificados (floresta ombrófila, campinaranas e massas d’água), em seguida, através do
29
índice do grau de fragmentação da paisagem executada no SAGA 2.1, foi possível identificar
a matriz dominante, ou seja, a classe mais fragmentada dentro do município, neste caso é a
vegetação de floresta, além das manchas que a fragmentam (água, campinaranas, solo
exposto, etc.). Também com o uso desses recursos foram aplicados índices de conectividade,
e a floresta também se mostrou como unidade da paisagem que mais se conecta por todo o
município, e, portanto, possui o maior grau de conectividade, e por último, ainda nesta região
foi aplicado um índice de densidade de elementos para identificar o grau de homogeneidade
das manchas na paisagem de Caracaraí e sua matriz dominante (MORAIS; CARVALHO,
2013).
As técnicas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento também estão sendo
bastante aplicadas à descrição de hábitats. Carvalho e Carvalho (2012) apresentam, neste
sentido, três exemplos de como trabalhar com o uso dessas técnicas em relação a citada
temática, no intuito de obter alguns parâmetros morfométricos de relevo, são eles: a referência
ao uso de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) na delimitação de domínios
morfoclimáticos, com base na morfologia do relevo, isso gera inúmeras possibilidades de
estudos ligados a biodiversidade de determinada paisagem; a espacialização de espécies em
biogeografia através da importância de modelos digitais de elevação; e, a utilização de
atributos topográficos para a caracterização de diferentes hábitats, como base em declividade,
hipsometria, plano de curvatura, índice de umidade, perfis topográficos, entre outros. Como
metodologia estes autores trabalharam técnicas como extração de dados fisiográficos do
relevo através de Modelos Digitais de Elevação nos programas já citados.
Já, os parâmetros morfométricos (geomorfometria) em si, têm como objetivo gerar por
meio de métodos estatísticos uma descrição quantitativa das formas do relevo. Com base
nessas técnicas aplicadas através de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, Carvalho
(2009) utiliza dessa metodologia para descrever o relevo da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Tupé em Manaus (AM), os produtos cartográficos gerados serviram para
representar a realidade do terreno, o que não só permitiu a identificação da dinâmica
geomorfológica da região, mas também auxiliou em estudos ecológicos, como distribuição de
espécies. Outro exemplo de estudo da paisagem com base nessas técnicas apresentadas são a
discussões a respeito de aspectos sobre fragmentos florestados para a conservação da
biodiversidade. Sobre isso Santos, Carvalho e Carvalho (2012) com o auxílio das ferramentas
necessárias aplicaram esse tipo de análise de remanescentes florestais na mata atlântica de
Sergipe para obtenção de dados e interpretação da paisagem o que possibilitou resultados
interessantes não só somente ao meio acadêmico e cientifico, como também ajudam na
30
elaboração de “projeções futuras de possíveis cenários para políticas ambientais. Ao nível de
ecossistemas continentais estas informações se somam a outras para contribuir na
caracterização do que restou de florestas antes contínuas” (p. 59).
3.4 COBERTURA DA TERRA
O acelerado crescimento populacional gera diversas demandas por recursos, como
água e alimentos, e destes, por terras produtivas, provocando assim, o aumento das atividades
antrópicas em áreas naturais no ritmo da dinâmica do consumo, modificando e reestruturando
a paisagem a sua volta. Por esta razão, tem crescido a pressão sobre o espaço a ser produzido,
fazendo com que os planejadores invistam em políticas públicas que garantam não somente a
sustentação do sistema econômico de seus territórios, mas que, também forneçam medidas
que minimizem os impactos ambientais causados pelo crescimento do consumo em massa.
Para que haja a proposição dessas medidas, torna-se necessário conhecer como estão
estruturados os sistemas de cobertura, revestimento natural do solo de determinado lugar, bem
como, os tipos de usos antrópicos (habitação, agricultura, agropecuária, extrativismo, etc.) os
quais interferem nesses sistemas, os fragmentam. Essa base é importante, para que o
planejamento da política de gestão territorial tenha fundamentação adequada a realidade
regional, além de contribuir para os estudos da paisagem que o cerca, estudos sobre sua
dinâmica e evolução.
A expressão Cobertura do Solo (ou da terra) é um conceito formado por duas
palavras: cobertura e solo (terra). A cobertura é um termo que se refere aos seus atributos
físicos, químicos e biológicos como as florestas, gramíneas, água e áreas construídas. Quanto
ao solo, é a camada superficial da crosta terrestre oriundo da decomposição da rocha-matriz,
sob influência do clima e de processos intempéricos (FLORES; FASOLO; POTTER, 1999).
No contexto conjuntural essa expressão está relacionada às vulnerabilidades que determinada
região possui em função de atividades inseridas ou construídas na superfície terrestre e/ou,
aos tipos de manejos do solo para agricultura, pastagens, cidades, entre outras, desenvolvidas
pelo homem. Couto (2004) fala que uma investigação de padrões espaciais e sua comparação
podem melhorar as simulações de fenômenos em grande escala, além de gerir recursos
naturais ao nível de paisagem, é neste ponto que entra a cobertura da terra como categoria de
estudo para análise da paisagem, definida neste caso como uma área formada por elementos
integradores, tanto naturais quanto socioeconômicos.
31
Além disso, a cobertura do solo (ou da terra) juntamente com os mais variados usos
antrópicos, como principal foco de interesse dentro dos estudos da paisagem de determinado
lugar, auxiliam na obtenção de dados dos elementos naturais que a fragmentam, podemos
destacar ainda o interesse sobre o desenvolvimento socioeconômico, considerando o uso de
forma planejada para minimizar possível degradação ao meio ambiente. No entanto, são
necessárias medidas que garantam a preservação e manutenção do meio ambiente assim como
a relação do espaço. O estudo do uso e cobertura do solo consiste em caracterizar a vegetação
e demais elementos naturais que revestem o solo ou conhecer de que forma o homem esta
utilizando a área por ele ocupada.
Briassoulis (1999) estabelece que o conceito de uso e cobertura do solo seja analisado
separadamente, a partir disso podemos fazer uma relação destes conceitos, para uma melhor
compreensão. Sendo cobertura do solo, reforçando o que foi dito anteriormente, a
caracterização do estado físico, químico e biológico da superfície terrestre (floresta, gramínea,
água, ou área construída); enquanto o uso do solo se refere aos propósitos humanos,
associados àquela cobertura, por exemplo, pecuária, recreação, conservação, área residencial,
etc. Isso permite dizer que uma única classe de cobertura pode suportar múltiplos usos como
extração madeireira, preservação de espécies, habitação, recreação em áreas de floresta ao
mesmo tempo em que um único sistema de uso pode incluir diversas coberturas: certos
sistemas agropecuários combinam com áreas cultivadas, pastagens melhoradas, áreas de
reserva e áreas construídas. Geralmente, as atividades humanas estão diretamente
relacionadas com o tipo de revestimento do solo, seja ele florestal, agrícola, residencial ou
industrial.
Seguindo essas premissas podemos entender o uso e cobertura do solo por categorias:
Local: erosão, sedimentação, contaminação, extinção de espécies, as mudanças de uso
do solo afetam as estruturas de emprego, produtividade da terra e qualidade de vida.
Regional: poluição do ar e da água, degradação do solo, desertificação, eutrofização
de corpos d'água, acidificação, perda de biodiversidade.
Global: questões de interesse entre os padrões de uso/cobertura da terra e o
aquecimento global, a diminuição na camada de ozônio, aumento do nível do mar,
processos de desertificação, perda da biodiversidade, destruição de habitats,
disponibilidade de alimentos e água para a crescente população mundial, as migrações
humanas, as questões de segurança humana frente a alterações e acidentes causados
por fenômenos naturais ou mudanças tecnológicas.
32
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
No domínio florestal da Amazônia ocorrem alguns enclaves de áreas abertas naturais:
as campinas, campinaranas, e no caso de Roraima o lavrado que caracteriza-se por ser um
sistema campestre com área de 43.281,519 km², que se estende parte para República
Cooperativista da Guiana na porção Nordeste e República Bolivariana da Venezuela ao Norte
(Figura 2), é considerada uma fitofisionomia com características específicas e singulares
inseridas dentro do domínio morfoclimático da Amazônia (CARVALHO e CARVALHO,
2012; CARVALHO, 2009; VANZOLINI e CARVALHO, 1991; VELOSO et al., 1975).
Figura 2: Limite do Lavrado em Roraima, Amazônia setentrional.
Fonte: Google Earth, 2014. Adaptado por Roseane Morais, 2014.
Em termos percentuais, o lavrado de Roraima ocupa cerca de 19,29% do Estado, uma
área considerável em relação as diversas peculiaridades que se contrastam notoriamente com
a floresta densa que predomina nos estados vizinhos (Amazonas e Pará) e em sua porção Sul-
33
Sudeste. Suas características visuais lembram o cerrado brasileiro, no entanto, essas
semelhanças só seguem até este ponto, já que o lavrado roraimense possui seus próprios
atributos ecológicos e geográficos. O próprio termo lavrado é utilizado regionalmente pela
população, surgiu da identidade histórica e cultural dos moradores dessas áreas e sua relação
indissociável com a paisagem onde vivem. A partir dessas concepções essenciais e por
considerar que os nomes regionais para paisagens com grandes extensões devem ter
prioridade, muitos pesquisadores já aderiram ao termo lavrado atribuído as áreas abertas de
Roraima (Carvalho, 2009).
Cerca de 72,03% da população do Estado mora nessa região, a capital de Roraima,
Boa Vista possui 284.313 habitantes (IBGE, 2010), é a maior concentração populacional de
Roraima, a qual está inteiramente dentro do domínio do lavrado. Os demais municípios que
tem parcialmente áreas dentro do lavrado são Alto Alegre, Amajari, Pacaraima, Normandia,
Uiramutã, Bonfim e Rorainópolis. Uma das atividades econômicas predominante sobre as
pastagens nativas do lavrado é a pecuária bovina, esta segundo Gianluppi et al., (2001)
caracteriza-se por ser uma atividade extensiva e pouco produtiva, já a mais importante é o cultivo
de grãos, como o arroz irrigado ou de várzeas.
O clima predominante nesta região é tropical úmido do tipo AW (segundo a
classificação de Köppen), identificado prioritariamente pela precipitação, apresentando duas
estações bem definidas, uma chuvosa, de abril a setembro, e outra seca, de outubro a março,
com temperatura média anual de 27,4°. Em geral o período do ano mais seco ocorre no mês
de janeiro, onde a precipitação média inferior gira em torno dos 60 mm. A precipitação média
anual oscila em torno de 1650 mm, concentrada na estação chuvosa, enquanto que na outra
estação predominam maciçamente a circulação dos alísios (ventos de E e NE).
A concentração de chuvas no lavrado produz, em sua paisagem grandes contrastes ao
longo do ano, nos períodos de secas crescem os riscos de queimadas que podem ser tanto
naturais quanto induzidas, favorecidas pela composição vegetal, que apresentam
características mais vulneráveis ao fogo que as comuns, o que favorece o surgimento de
manchas antrópicas fragmentando negativamente a paisagem local e, além disso, modificam a
variabilidade dos processos físicos da atmosfera da região.
A cobertura vegetal dominante do lavrado roraimense é formada por uma camada de
gramíneas e ciperáceas em algumas áreas francamente abertas, em outras elas são
entremeadas por vegetação arbustiva, como o caimbé (Curatella americana) e murici
(Byrsonima spp) e árvores como sucuuba (Himatanthus articulatus) e sucupira do campo ou
paricarana (Bowdichia virgilioides) (OLIVEIRA, 2011). Além destas, a vegetação do lavrado
34
é composta por complexa rede de ilhas de matas diversamente distribuídas por formações de
buritizais lineares ou agrupados. Os buritizais (Mauritia flexuosa) presentes nesta região se
distribuem por duas maneiras, a primeira, são os que se formam ao longo dos igarapés1 que
drenam o lavrado, os quais são interconectados com os principais rios por uma mata de
galeria, e a segunda formação de buritizal, é associado aos paleocanais (terraços) de alguns
rios como o Cauamé, Uraricoera e Branco, dispostos em agrupamento (CARVALHO;
CARVALHO, 2012) (Figura 3).
Figura 3: Aspectos morfovegetacionais do lavrado, nordeste de Roraima. (A) Lavrado com
buritis e arbustos; (B) Lavrado, vegetação de campo com vegetação arbustiva esparsa e
cupinzeiro; (C) Ilhas de mata; e, (D) Lagos isolados e veredas.
Fonte: fotografias utilizadas com Cortesia do Mepa/UFRR.
Com relação a geomorfologia do lavrado (Figura 4), a característica que mais chama
atenção é a extensa superfície de aplainamento com suaves ondulações, denominadas de tesos
correspondendo a remanescentes residuais de origens diversas (lateritos, rochas pré-
cambrianas, etc), localizada em toda a sua área central, trata-se da formação mais recente de
Roraima dentro da bacia sedimentar pertencente a Formação Boa Vista com uma 1 Igarapé: termo regional amazônico aplicado a um curso de rio ou canal que costuma ficar escondidos dentro do
interior de uma mata.
35
predominância dos processos agradacionais cfraco controle estrutural e dissecação de relevo.
As cotas do compartimento dessa superfície situam-se entre 40 a 250 metros. Esta região
possui algumas serras e morros isolados (inselbergs e hogbacks), com sistemas de
acumulação, como planícies fluviais e lacustres.
Figura 4: Aspectos morfovegetacionais do lavrado, nordeste de Roraima. (A) Lavrado da
região de Uiramutã, lavrado de altitude, região de serras do sistema Parima-Pacaraima; (B)
Lavrado em contato com região do sistema Parima-Pacaraima, lavrado de altitude e buritizais
incipientes; (C) Depósitos de areia branca no lavrado de Roraima; (D) Serras isoladas no
lavrado roraimense.
Fonte: fotografias utilizadas com Cortesia do Mepa/UFRR.
Outra compartimentação que ocorre no lavrado é o complexo de serras do sistema
Parima-Pacaraima, com cotas entre 350 e 1400 metros de altura. Esta região está situada na
porção norte do lavrado, na zona de transição entre a planície do lavrado (Formação Boa
Vista) e o sistema serrano Parima-Pacaraima, este último no qual faz parte, sustentado por
rochas cristalinas. A dissecação do relevo nestas regiões são fracos a médios, na região central
e sul do lavrado, dissecado por planícies fluviais desenvolvidas, com predomínio do sistema
agradacional (sedimentação, deposicional); na porção norte e em alguns complexos estruturais
36
serranos a dissecação é forte a muito forte, com predomínio do sistema denudacional
(erosivo).
Na porção norte, com contato com a Venezuela, situa-se um sistema de erosão
recuante (Zona de Erosão Recuante, usada por Latrubesse e Carvalho (2006); Carvalho e
Bayer (2008), associados aos dobramentos e linhas de falha de contato entre a planície do
lavrado (extensa planície regional de aplainamento) e o sistema Parima-Pacaraima (Planalto
divisor Amazônas-Orinoco). Esta área de contato atua como um sistema de rebaixamento pela
atuação da drenagem, portanto há um predomínio tanto dos sistemas denudacionais quanto
dos agradacionais. Neste mesmo conjunto de serras, deslocando mais ao norte da região, nas
altitudes entre 850 e 1400 metros, o que vai predominar são apenas processos denudacionais,
pois esta região é caracterizada pelo forte controle estrutural que a sustenta.
Morfologicamente, são caracterizados por formas dissecadas em cristas e colinas com fortes
declives e vales encaixados (CARVALHO; CARVALHO, 2012).
Com relação a massa da água que circula nesse ambiente, situam-se os fluxos dos rios
de maior importância para a rede de drenagem roraimense como o Tacutu e o Uraricoera que
formam o rio Branco, a característica que mais se destaca nesse setor é a complexidade de
redes de sistema lacustre abastecida pelo lençol freático e essencialmente pelos picos de
pluviosidade, durante o período chuvoso. Durante esse mesmo período, o conjunto de lagos
formam no lavrado um sistema de áreas alagadas interconectadas e durante o período de
estiagem grande parte desses lagos desaparecem (temporários), restando apenas aqueles
perenes que perduram o ano inteiro.
4.2 METODOLOGIA APLICADA
A metodologia está baseada em técnicas de sensoriamento remoto e
geoprocessamento, as quais foram úteis para todas as etapas do estudo. Estas técnicas já são
de uso comum no meio acadêmico, e foram utilizadas com apoio do Mepa (Laboratório de
Métricas da Paisagem), dep. de Geografia/UFRR, com material disponível em seu banco de
dados. As etapas metodológicas estão descritas abaixo:
i) Delimitação do lavrado em ambiente SIG (Sistema de Informação Geográfica):
Esta etapa foi realizada com base em imagens do satélite Landsat 8 (OLI), ano de
2014, período de estiagem, as quais foram mosaicadas e utilizadas para
37
delimitação do lavrado da região nordeste de Roraima, o qual se diferencia
visualmente entre ambientes de áreas abertas (lavrado) e florestal (floresta
ombrófila mista).
ii) Caracterização dos aspectos fisiográficos: descrições do relevo da paisagem do
lavrado foram feitas através da interpretação de imagem SRTM (radar
interferométrico da Shuttle Radar Topography Mission) onde primeiro foi
elaborado um mapa de classes altimétricas no programa ENVI 4.0, com classes
entre 40 e 1400 metros de altitude, com intervalo da equidistância de 150 metros.
Foram elaborados também perfis topográficos do relevo para caracterizar as
variações morfológicas ao longo de um perfil longitudinal e transversal do lavrado,
relevo sombreado, o que ajudou a identificar os processos agradacionais e
denudacionais, graus de dissecação do relevo, controle estrutural, e a declividade
do terreno em graus.
iii) Classificação da Cobertura da Terra: refere-se ao tipo de revestimento da terra,
considerando as seguintes classes: vegetação; campos abertos/arbustivo; e corpos
d´água. Foram classificadas imagens do período chuvoso, Landsat 8 ano 2013 e
outra no período de estiagem Landsat 8 ano 2014, pelo método supervisionado,
técnica de classificação que se baseou na amostragem de áreas conhecidas (classes
de cobertura, descritas acima), as quais foram por meio do método de Máxima
Verossimilhança, identificadas para toda a região de estudo. Com base nas classes
obtidas, foi possível quantificar por meio do programa ENVI 4.0, o percentual de
áreas de cada classe mapeada nos dois períodos (estiagem e chuvoso), através das
ferramentas básicas de estatística no ENVI 4.0. No entanto, para melhor visualizar
a distribuição das classes escolhidas, a imagem do período chuvoso foi a utilizada
para confecção do mapa de cobertura da terra apresentada como figura neste
trabalho.
iv) Quantificação e caracterização dos sistemas lacustres: Os sistemas lacustres foram
identificados pelo método de classificação supervisionada, com base em imagens
do Landsat 8, do ano de 2013 para o período chuvoso; e imagens para o período de
estiagem do ano de 2014. Após a classificação, a classe de massa d´água, arquivo
raster, foi transformada de raster para vetor. Este procedimento foi necessário para
que fosse possível trabalhar com os dados em forma vetorial, possibilitando a
edição dos dados (manuseio) em ambiente SIG, por exemplo, a separação de
igarapés, rios e demais feições que não pertencesse a classe de sistemas lacustres.
38
Esta etapa de correção foi realizada no programa Quantun Gis 2.2, através de
ferramentas de edição vetorial. Também foram contabilizadas a quantidade e a
área ocupada pelos lagos perenes e temporários. Com a finalidade de comparação,
os vetores identificados para os lagos de estiagem e chuvoso foram sobrepostos em
camadas no limite do lavrado, para análise das morfologias dos lagos,
agrupamentos, e a relação destes com a rede drenagem fluvial. A morfologia dos
lagos se refere ao índice de forma, o qual se baseia em atribuir uma correlação do
perímetro do lago com a geometria de um círculo de igual perímetro (SANTOS;
CARVALHO; CARVALHO, 2013). Atribui-se uma forma circular com índice
igual a 1 e quanto maior o índice mais irregular é a forma. Esta etapa foi elaborada
usando o algoritmo VLATE 2.0, extensão para o ArcGis 10.
v) Caracterização territorial dos municípios que fazem parte do lavrado: Esta etapa
foi realizada através do programa Quantum Gis 2.2 onde foram trabalhadas
algumas camadas vetoriais que permitiram a geração dos mapas dos fluxos viários
de Roraima, mapa de municípios dentro do domínio do lavrado e mapa de áreas
livres para produção e as que estão destinadas a áreas indígenas. Essas camadas
trabalhadas (malha viária, limites de municípios e Terras Indígenas), fazem parte
do banco de dados do Mepa (http://ufrr.br/mepa/). Nesta caracterização também
foi contabilizado o contingente populacional que reside na região com base nos
dados do IBGE, censo 2010, através da ferramenta Webcart (webcart.ibge.gov.br).
39
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DO LAVRADO, NORDESTE DE RORAIMA
O relevo no lavrado de Roraima se caracteriza por possuir dois sistemas distintos de
comportamento estrutural, unidades denudacionais e agradacionais, com altitudes variando
entre 50 e 1400 metros, nas seguintes proporções: 73,53% da região entre 50 a 200 metros,
15,77% entre 200 a 600 metros e 10,70% acima de 600 metros de altitude.
Três sistemas morfológicos podem ser identificados nesta região. Um compartimento
com cotas acima de 800 metros que localizada na região Norte do lavrado, fronteira entre
lavrado e floresta ombrófila no município de Uiramutã. Neste compartimento serrano
predominam morfologias tipicamente denudacionais, com dissecação forte e controle
estrutural, vales encaixados, serra formando hogbacks e inselbergs, as quais estão associadas
as antigas superfícies de aplainamento. Essas serras roraimenses possui um complexo mais
expressivo acima de 1000 metros de altitude, denominado Parima-Pacaraima, importante para
definir ecossistemas ligados a bacia de Boa Vista de uma lado e do rio Orinoco do outro.
Um segundo compartimento, intermediário, tem as cotas entre 250 a 850 metros,
intercalado por morfologias típicas denudacionaais e agradacionais (prevalecendo a primeira).
Caracteriza-se por ser uma região instável do ponto de vista evolutivo da paisagem, atuando
como frente de escarpa, ou zona de erosão recuante (LATRUBESSE; CARVALHO, 2006;
CARVALHO; BAYER, 2008), onde o sistema de drenagem atua dissecando a paisagem
(rebaixamento) formando um complexo sistema de serras e morros. Ocorrem neste
compartimento os inselbergs e as planícies fluviais incipientes, as quais têm suave caimento
em direção ao rio Branco.
O terceiro compartimento, com predominância de feições agradacionais, é
caracterizado pelos sistemas lacustres do lavrado. São áreas com extensos depósitos
aluvionares e planícies fluviais bem desenvolvidas, as quais atuam em cotas inferiores a 250
metros. Estas são regiões estáveis, com dissecação fraca, caracterizada por uma superfície
aplainada por rede drenagem dos rios Branco, Tacutu, Uraricoera, Cauamé e afluentes, com
feições topográficas suaves, formadas por colinas dissecadas, localmente conhecidas como
tesos. Esta é a região com maior destaque dentro dessas áreas abertas, trata-se de uma
extensão superfície de aplainamento mais recente que a do sistema Parima-Pacaraima, fruto
de um manto de intemperismo químico profundo, relacionado ao sistema descrito por Büdel
(1957, 1963, 1982) como uma superfície de etchplanação, esta região possui a presenças de
40
algumas serras isoladas com altitudes entre 350 e 850 metros com controle estrutural e forte
dissecação (Figura 5).
Figura 5: Classes altimétricas do Lavrado e perfis topográficos dos diferentes
compartimentos do relevo dessa região: o primeiro (A-a-a’) mostra uma área de transição
entre a superfície de aplainamento e as regiões de serra com altitudes abaixo de 850 m, o
segundo perfil (B-b-b’) atravessa apenas a superfície mais rebaixada do lavrado com cotas
entre 40 e 850 e o terceiro perfil (C-c-c’) perpassa por entre os três compartimentos do
lavrado, pegando o baixo, o intermediário e o forte relevo com controle estrutural.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
41
A declividade do lavrado em sua maior área, cerca de 44,80% está entre 0° e 1°, em
relevo plano, com baixa energia, favorecendo a formação de sistema lacustres
interconectados, relacionados a extensa superfície de aplainamento do lavrado. Outras
variações também ocorrem, mas em números menores, com 21,49% de áreas que estão entre
1° e 2° graus; e 14,79% que ocorrem entre 2° e 5° de declividade. Acima dos 5° graus de
declividade situam-se 18,89% de áreas de lavrado com máximas de 45° a 85°. Essa extensa
área aplainada se caracteriza por ser uma região de aporte de material sedimentar,
basicamente arenosos, provenientes das áreas adjacentes elevadas do escudo das Guianas.
Os padrões morfológicos atuantes nestas áreas (sistemas denudacionais e
agradacionais) são passíveis de classificação. A figura 6, portanto, mostra áreas totalmente
rebaixadas, com aporte de material sedimentado, onde a dissecação é fraca e controle
estrutural quase inexistente, com predomínio do sistema agradacional, também mostra lugares
em que essas características são médias e os dois sistemas atuam de maneira mútua, já outros
lugares possuem forte controle estrutural e forte dissecação com predomínio do sistema
denudacional, mas mais que isso são regiões que se destacam por ser uma zona recuante
dissecada pela rede de drenagem que banha o lavrado, e por último, temos mais ao norte o
complexo de serra Parima-Paricarana, como mencionado anteriormente, uma região de
controle estrutural e dissecação muito forte.
42
Figura 6: Padrões morfológicos de sistemas denudacionais e agradacionais. (A) – região do
Complexo Parima-Paricarana, forte dissecação e controle estrutural (4°62’N 60°67’W); (B) –,
Transição entre lavrado e floresta ombrófila, município de Pacaraima, com forte dissecação e
controle estrutural (4°29’N 60°33’W); (C) – rio Uraricoera, dissecação moderada dissecação
média, com controle estrutural, transição de morfologias agradacionais e denudacionais
(3°30’N 61°33’W); (D) – Confluência dos rio Tacutu e Uraricoera, com predominância de
morfologias agradacionais (3°12’N 60°29’W).
Fonte: Elaboração própria, 2014.
5.2. COBERTURA DA PAISAGEM DO LAVRADO
Para melhor conhecimento da fisiologia de uma paisagem, segundo Carvalho e
Carvalho (2012b), é preciso que haja um estudo detalhado das características do relevo,
vegetação, hidrografia, solo e clima presentes nesta região. Portanto, a Figura 7 a seguir
mostra três principais classes que predominam dentro do território do lavrado: Enclaves e
ilhas de vegetação de grande porte, floresta ombrófila, interpretadas como manchas e
corredores dentro da matriz dominante (lavrado); Campos de lavrado caracterizado por
variadas espécies de gramíneas e vegetação arbustiva, entrecortadas por veredas (buritizais), e
constituindo a classe dominante da paisagem; e, as massas d´água representadas pelos
43
principais rios que interconectam a rede drenagem na paisagem, com destaque para os
principais rios Tacutu, Uraricoera e o rio Branco que fluem quase todo o território roraimense,
formandos por planícies fluviais bem desenvolvidas. E os sistemas lacustres, formados por
lagos perenes e temporários, distribuídos principalmente na região central do lavrado.
Figura 7: Cobertura da paisagem do Lavrado, (período chuvoso) do Nordeste de Roraima.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
Para podermos caracterizar e compreender a influencia dos aspectos físicos na
paisagem em estudo foram quantificadas as áreas de cada classe de cobertura mapeada,
comparando-as entre si, com relação às perdas e os acréscimos de áreas distribuídas pelos
períodos de estiagem e chuvoso, os quais possuem uma duração praticamente semelhante. O
período chuvoso (úmido), compreendendo os meses de abril a setembro, quando os totais de
chuvas em média são de 1384 mm/ano, com média mensal de 280 mm/ano (dados para o
período de 1940 a 2013); e o período seco (estiagem), de outubro a março, caracterizando-se
44
por significativo decréscimo de chuvas, com, um total médio de 270 mm/ano, e com média
mensal de 45 mm, o que resulta em grande deficiência hídrica.
Com relação ao período chuvoso, foi constatado que as massas d’água ocupam uma
área de 5,83% (2.526,36 km²) do lavrado; a vegetação ocupa uma área de 16,77% (7.261,86
km²); os campos com 75,46% (32.660,627 km²); e, os lagos, com área de 1,92% (832,672
km²) no total. No período seco, os baixos índices de pluviosidade fazem com que o balanço
hídrico comece a apresentar perdas significativas e gradativas ao longo do tempo, e por isso
as áreas ocupadas pelas massas d’água com 1,88% (814,54 km²) e os lagos com 0,31%
(136,275 km²), nesta época, cedem espaço para a vegetação, com um pequeno acréscimo de
0.12%, com 16,89% (7.314,51 km²) da área; e os campos, que apresentam um acréscimo de
5.44%, com 80,90% (35.016,194 km²) do lavrado, se constituindo como a matriz de
dominância dessa paisagem (Figura 8).
Figura 8: Comparativo das classes de cobertura da terra (km²) no lavrado, nordeste de
Roraima.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
Com base nesses dados, e, ainda na aplicação de outros índices de classes, forma e
áreas que são aprofundados nos subtítulos a seguir, e também nos conceitos estudados até esta
etapa da pesquisa, podemos afirmar que a paisagem do lavrado está estruturada da seguinte
forma:
A matriz dominante, caracterizada por ser a área de maior extensão, conectividade e
que controla toda a dinâmica da paisagem, são os campos formados pelas gramíneas e
ciperáceas, e de fato, são estas que comandam todos os processos que ocorrem nesta
região, inclusive as intervenções antrópicas;
2526,36 814,54
7261,86 7314,51
32660,627 35016,194
832,672 136,275 0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
Massa d'Água no período chuvoso
Massa d'Água no período de estiagem
Vegetação no período chuvoso
Vegetação no período de estiagem
Campos no período chuvoso
Campos no período de estiagem
Lagos no período chuvoso
Lagos no período de estiagem
km² LEGENDA
45
As manchas fragmentam esta matriz são as inúmeras, mas as principais são ilhas de
matas distribuídas por todas essas áreas, os sistemas de produção antrópicos como os
pastos e áreas de plantio, além disso, temos a cidade de Boa Vista e outras sedes
inteiras como manchas urbanas na extensa matriz, e, os lagos que tanto no período
chuvoso quanto no de estiagem estampam na paisagem as suas marcas, deixando esta
região ainda mais deslumbrante;
E, por último temos os corredores formados pelas veredas de buritizais, as matas de
galeria, e as estradas que interligam os municípios do lavrado de Roraima.
5.3. SISTEMAS LACUSTRES
Para compreender como funciona a dinâmica dos sistemas lacustres do lavrado de
Roraima, faz-se necessário entender que os lagos são corpos d’água que não são elementos
permanentes da paisagem, pois eles são fenômenos de curta durabilidade na escala geológica,
portanto surgem e desaparecem no decorrer do tempo.
Na região amazônica, existem uma infinidade de lagos com tamanho e formas
variadas, que são na grande maioria de origem ligadas a processos fluviais, como os típicos de
áreas inundáveis (planícies fluviais) com conexões temporárias ou permanentes, formados
pela dinâmica do sistema fluvial, de origem variada como paleocanais do tipo meandros
abandonados, acreção de ilhas à planície aluvionar, lagos de escoamento impedido, entre
outros, sendo estes os predominantes na Amazônia, ou seja, de origem fluvial (CARVALHO;
CARVALHO, 2012; CARVALHO; ZUCHI 2009).
No caso do lavrado, os sistemas lacustres predominantes são os formados na extensa
planície de aplainamento da Formação Boa Vista, configurando-se em lagos desconexos de
planícies fluviais, estando conectados durante os períodos de cheia e desconexos, em parte
temporários, durante o período de estiagem.
Os lagos do lavrado roraimense são caracterizados por se desenvolverem em uma
ampla superfície plana da porção Nordeste do estado, com cotas entre 40 a 200 metros e
declividade entre 0°-1°, dominada por feições agradacionais – região estável com dissecação
fraca, caracterizada por uma superfície aplainada pela rede de drenagem dos rios Uraricoera,
Tacutu e Branco – em meio a uma vegetação campestre entrecortada por veredas de buritizais,
matas de galeria e igarapés. Suas bacias lacustres são consideradas rasas, de pequeno porte e
com o nível de água controlado sazonalmente pelos períodos chuvoso e de estiagem. Durante
o período chuvoso ocorre o aumento na distribuição de lagos temporários por esta região, já
46
no período de estiagem vários desses lagos começam a secar restando apenas aqueles
considerados perenes, que mesmo com o baixo nível de água, resistem a esta estação de
poucas incidências pluviométricas.
A figura 9 é possível observar a diminuição e aumento da distribuição dos lagos na
passagem do período de estiagem, onde ocorre a diminuição dos núcleos de lagos em
determinadas áreas, para o chuvoso, período em que os lagos estão mais conectados e
concentrados, aumentando o tamanho desses núcleos na paisagem que se distribuem em
regiões situadas na porção central do lavrado abrangendo todo o município de Boa Vista, uma
pequena parte da região Leste de Alto Alegre e Amajari, todo o Sul de Pacaraima e
Normandia e o Norte de Bonfim, sendo que em Uiramutã só se registra a presença de lagos
temporários em uma pequena porção de sua região Sul.
Observa-se (também na figura 9) que no período seco ocorre a formação de quatro
pequenos núcleos localizados nas regiões próximas a margem direita do rio Branco: o
primeiro núcleo com hachura roxa no mapa da figura (A) possui uma área de 466,817 km²,
porém no período chuvoso esta mancha chega a atingir 1.401,217 km² (hachura também roxa
da figura B); os outros três núcleos com hachuras em tons de amarelo na figura (A) possuem
respectivamente áreas 315,220 km² (amarelo claro), 228.676 km² (amarelo) e 426,658 km²
(amarelo escura), no período chuvoso estes se juntam e formam um grande núcleo com área
de 2.702,420 km² (hachura amarela da figura B). O núcleo em hachura laranja na figura (B)
que se localiza na margem esquerda do rio Branco desaparece do período chuvoso, onde
abrangia uma área de 367,826 km², para o de estiagem. Já o pequeno núcleo localizado entre a
confluência dos rios Tacutu e Uraricoera, no período seco com uma área de 267,812 km²
(hachura vermelha na figura A) tem seu tamanho mais que dobrado no período chuvoso,
ficando com 786,554 km² na figura (B), com destaque para a intensidade da concentração dos
lagos dessa região. A margem esquerda do rio Uraricoera, os dois núcleos que se formam,
representados por hachuras em tons esverdeados possuem áreas aproximadas de 582,812 km²
(verde claro na figura A) e 339,177 (verde escuro na figura A) km², estes no período chuvoso
crescem para 3.635,286 km² (verde claro na figura B) e 1.531,926 km² (verde escuro na figura
B) respectivamente. O pequeno núcleo da margem direita do rio Tacutu com área de 780,551
km² (hachura em magenta na figura A) cresce para 2.837,989 km² (hachura magenta na figura
B). E, por fim, os dois núcleos que ficam a sua margem esquerda, com tons de azul, possuem
áreas de 291,856 km² (azul) e 700,353 km² (azul claro) no período seco (figura A), se juntam
e ambos ocupam uma área 3.114,242 km² (azul) no período chuvoso na figura (B).
47
Figura 9: Distribuição dos lagos na paisagem do lavrado nos períodos de estiagem (A) e
chuvoso (B), Nordeste de Roraima.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
Analisando a conectividade desses lagos usando como exemplo as áreas especificadas
na figura acima, observamos que durante o período chuvoso essa característica começa a ficar
mais evidente a medida que os lagos temporários começam a surgir com a elevação dos níveis
de chuva, como mostra a figura 10, referente aos agrupamentos da figura 9B:
48
Figura 10: Alguns exemplos das regiões dos lagos interconectados no período chuvoso,
agrupamentos referentes a figura 9B, lavrado, Nordeste de Roraima. (A) Região entre os rios
Tacutu e Uraricoera; (B) e (C) Regiões a margem do rio Branco; (D) Região a margem
esquerda do rio Uraricoera; (E) Região a margem direita do rio Tacutu; (F) Região a margem
esquerda do rio Tacutu.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
Para as mesmas regiões no período de estiagem vemos que essas conexões se dissipam
resultando em uma paisagem com lagos perenes isolados e poucos conectados, devido as
baixas nos índices de chuva que, anteriormente, abasteciam toda essa região, inclusive
formando os lagos temporários que funcionavam como elos importantes destas conjunções
(Figura 11).
49
Figura 11: Mesmas regiões da figura 10, mostrando alguns exemplos dos lagos perenes
isolados ou poucos conectados no período de estiagem, agrupamentos referentes a figura 9A.
(A) Região entre os rios Tacutu e Uraricoera; (B) e (C) Regiões a margem do rio Branco; (D)
Região a margem esquerda do rio Uraricoera; (E) Região a margem direita do rio Tacutu; (F)
Região a margem esquerda do rio Tacutu.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
Essas variações na quantidade e nas áreas do lavrado ocupada pelos lagos relacionadas
ao sistema pluvial, notamos que as diferenças são significativas. Como já mencionado, os
lagos do período chuvoso ocupam uma área de 1,92% do lavrado e os do período de estiagem
ocupam 0,31%, mas é na quantidade de lagos que secam gradativamente durante a transição
do período chuvoso para o período seco que nota-se nitidamente essa diferença, um
equivalente a 16.414 lagos temporários desaparecem na época de seca como mostra a figura
12.
50
Figura 12: (A) Quantidade de áreas em quilômetros quadrados ocupadas pelos lagos nos
períodos chuvoso e estiagem; (B) Quantidade de lagos em unidade que ocupam áreas do
lavrado nos períodos de chuva e seco.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
Com relação às tipos dos lagos e sua ligação com os demais, e conexação com os
igarapés, analisados a partir de imagens de satélite e fotografias áreas, verificou-se que
existem morfologias distintas, as quais são controladas pela precipitação, gradiente do relevo
e revestimento basal (solo; rochas). São lagos formados em área inter-tesos, ou seja, nas
depressões de suaves elevações (tesos) do lavrado (Figura 13).
Figura 13: (A) e (B) Tesos e veredas com lagos interconectados no lavrado do Nordeste de
Roraima.
Fonte: fotografias utilizadas com Cortesia do Mepa/UFRR.
Podemos classificar estes lagos como: lagos de nascentes; lagos isolados; lagos
conectados como mostra a figura 14.
a) Os lagos de nascentes se caracterizem por serem as cabeceiras de veredas,
normalmente são semicirculares, onde inicia-se um pequeno igarapé com buritis
jovens, e esparsos, pertencentes a um sistema de drenagem do tipo dendrítica;
51
b) Os lagos do tipo isolados, se configuram por não apresentarem conexão direta com
demais lagos circunvizinhos, mesmo no período chuvoso, ou quando apresenta
conexão na cheia, é através de pequeno fluxos temporários do escoamento superficial.
São lagos geralmente circulares, de pequena extensão, não pertencentes a um sistema
de vereda (igarapés), e raramente ocorrem dentro das ilhas de mata do lavrado, e
quando não-circulares, com tendência morfológica retangular, estão associados ao
controle estrutural, inseridos em área com drenagem retangular e sub-retangular, como
na região de Bonfim, com relevo com dissecação média;
c) Os lagos conectados são formados por uma interconexão de uma rede de igarapés, os
quais se conectam diretamente entre si. Durante o período chuvoso, a predominância
são os lagos conectados, formando um sistema lacustre único. Porém, no período de
estiagem, estes geralmente estão associados a dois lagos que permanecem conectados,
diretamente ou por um pequeno braço (depressão).
Figura 14: (A) Lagos de nascentes semicirculares; (B) Lagos isolados circulares; (C) Lago
isolado retangular; e, (D) Lagos conectados.
Fonte: Google Earth, 2014. Adaptado por Roseane Morais, 2014.
52
Em relação à morfologia dos lagos que mais se destaca na paisagem, e, por
conseguinte, predominam em maiores quantidades durante os períodos chuvoso e de estiagem
são os circulares e semicirculares, por esta razão possuem algumas características específicas,
tais como índice de forma mais próximos a 1, pequena extensão de área ocupada e perímetro.
No período chuvoso a média da área ocupada pelos lagos é de 29.913 m², o perímetro médio é
de 776,14 m, e um índice de forma médio de 1,49. Já no período de estiagem a área média é
de 12.098 m², a média do perímetro de cada lago é de 469,38 m e o índice de forma médio é
de 1,41.
As seguintes fotografias mostram os tipos de lagos encontrados na paisagem do
lavrado (Figura 15).
Figuras 15: Principais tipos de lagos do lavrado. (A) Lagos semicirculares isolados, ao fundo
confluência dos rios Uraricoera e Tacutu; (B) Lago semicircular isolado em borda de ilha de
mata; (C) Lago de nascente em veredas (D) Lagos de cheia isolados circulares e conectados.
Fonte: fotografias utilizadas com Cortesia do Mepa/UFRR.
53
5.4 A PAISAGEM DO LAVRADO COMO ESCALA ESPACIAL PARA GESTÃO
TERRITORIAL
Com relação a mobilidade humana no lavrado é possível entendê-la através das
atividades encontradas nos corredores de circulação viária. Nestas linhas de corredores há um
destaque importante para as estradas federais e estaduais que são os principais meios de
conexão entre a população dos principais municípios que fazem parte do domínio do lavrado,
além de serem ferramentas primordiais no escoamento das produções agrícolas, caminhos
para o turismo e comércio local e internacional, com as fronteiras da Venezuela ao Norte e
com a Guiana a Nordeste, eixo compreendido dentro do Macro Zoneamento Ecológico
Econômico da Amazônia Legal como corredor (eixo) de integração Amazônia-Caribe.
Essas mobilidades são mais intensas entre os municípios das regiões Oeste e Noroeste
do Estado e o município de Boa Vista (capital do Estado), isso se explica tanto pela
centralidade que esta última exerce sobre a maioria, senão todos, os municípios de Roraima,
por apresentar em sua sede urbana equipamentos públicos em melhores condições de uso e
comércio variado. Portanto, qualquer produção ou contingente populacional tende a
estacionar na localidade de Boa Vista, matriz de conexão entre os fluxos sociais-econômicos
do lavrado, configurando uma significante malha de estradas que cruzam pelo município.
Os fluxos começam a perder força quando nos deslocamos dos municípios da região
Norte em direção a capital, isto porque a área de fronteira entre Brasil e Venezuela em
Pacaraima, nesta porção do Estado estimula o comércio localmente, estacionando a população
residente. Além disso, o único corredor que conecta esses dois municípios é a BR 174,
caracterizando essa área como principal corredor de integração entre a Amazônia e Caribe.
Isso também ocorre na área fronteiriça de Bonfim – limite Brasil e Guiana, no entanto, o
comércio dos outros municípios das regiões Nordeste e Leste são, em sua maioria, abastecidos
tanto por Roraima quanto outros estados brasileiros, como Manaus/AM e Belém/PA, e a
produção tende a estacionar em Boa Vista ou ser escoada diretamente para Manaus e
proximidades em estradas desviadas para o Sul do Estado (Figura 16).
54
Figura 16: Malhas viárias no lavrado e mobilidades humanas, ponto de partida a cidade de
Boa Vista, nordeste de Roraima.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
Como o lavrado possui uma área extensa em quilômetros quadrados (43.281,519 km²),
a região abrange nove dos quinze munícipios de Roraima, com destaque para o município de
Boa Vista, totalmente dentro do domínio do lavrado (100%). Os demais possuem partes de
suas áreas dentro do domínio do lavrado, abrangendo uma pequena porcentagem de sua área
em contato com alguns enclaves de floresta ombrófila, como os municípios de Uiramutã com
uma área de lavrado de 75, 51%, Pacaraima com 86, 89% de sua área no lavrado, Normandia
com 97,31% e Bonfim com 90,50%; e outros com a maior porcentagem de sua área dentro do
domínio da floresta ombrófila, e que por isso, os campos de lavrado representam as manchas
que fragmentam essas áreas, sendo a floresta matriz da paisagem dominante, como os
municípios de Caracaraí que possui apenas 1,11% de sua área no lavrado, Amajari possui
19,42%, Alto Alegre um percentual de 12,43%, e Cantá com 10,48% (Figura 17).
55
Figura 17: Principais municípios que fazem parte do lavrado, nordeste de Roraima.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
Para se ter uma ideia do grande papel que a população desempenha na paisagem em
estudo, a partir das relações de produção, formas de uso da terra, graus de fragmentação da
paisagem, entre outros aspectos, é necessário quantificar o contingente populacional da
região, como forma de entender a dimensão das atividades antrópicas que ocorrem nessas
áreas e compreender melhor a paisagem como escala de análise para se pensar em futuras
medidas de gestão territorial.
A partir dos dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) – censo 2010 – para a população residente, urbana e rural foi possível contabilizar o
total de pessoas que moram nessas áreas abertas, destacando algumas considerações (Figura
18), tais como: para os munícipios de Alto Alegre e Amajari, como já foi mencionado, os
quais possuem em sua área quase que total no domínio das florestas ombrófilas (matriz
paisagística dominante), apenas foi contabilizada a sua população urbana que realmente está
56
localizada dentro dos campos de lavrado; para Pacaraima, o dado primordial para a
totalização dos residentes é a sua população rural, ou seja, o setor dentro do munícipio que
possui a maior porção territorial dentro do lavrado, pois a sede urbana encontra-se fora desses
limites; para os municípios de Cantá e Caracaraí, através da interpretação das imagens de
satélite foi possível perceber que a sede urbana não está localizada na matriz do lavrado e a
população rural se concentra quase que totalmente nas áreas de floresta, dessa forma foram
descartadas as possibilidades de contagem para a população total do lavrado, além de que
essas áreas são ínfimas se considerado o tamanho total desses munícipios que pertencem a
floresta; e, para os outros municípios que possuem quase que integralmente suas áreas no
lavrado, incluindo a sede urbana, foi considerada a população residente em geral, como
mostra na tabela abaixo:
Figura 18: Tabela do total da população residente no lavrado, nordeste de Roraima.
População residente
Municípios População Urbana População Rural População
urb./rural
Área
municipal
no lavrado
(km²)
Alto Alegre 4.780 - - 3.206,073
Normandia 1.219 - - 6.839,509
Pacaraima - 5.919 - 7.040,230
Boa Vista - - 284.313 5.734,067
Uiramutã - - 8.375 6.153,563
Bonfim - - 10.943 7.385,062
Amajari - - 8.940 5.579,491
Caracaraí - - - 533,991
Cantá - - - 809,533
Total 324.489 habitantes no lavrado 43.281,519
Fonte: Elaboração própria, 2014.
O lavrado, conforme os dados da tabela 1 possui uma população de aproximadamente
324.489 habitantes, isso representa cerca de 72% da população total do Estado, residindo no
lavrado. Levando em consideração que Roraima possui cerca de 450.479 habitantes, podemos
afirmar que a paisagem do lavrado não apenas se configura como uma importante escala para
os aspectos ecológicos ligados as medidas de conservação e preservação do ambiente natural,
mas também é uma escala fundamental para medidas de políticas públicas de gestão
57
territorial, que visem as melhores formas de uso das terras, com intuito de fortalecer a
economia regional, com uma matriz voltada para a agropecuária e energética, com base
sustentável, em conformidade com as diretrizes do Zoneamento Ecológico Econômico de
Roraima.
Quanto às áreas com potenciais agropecuários na região do lavrado, foi estimado que
estas correspondem a aproximadamente 44,40% de todo domínio de áreas abertas em
contraste com os cerca de 55,60% das terras indígenas demarcadas, pertencentes ao Governo
Federal (Figura 19), entre as mais importantes e com maior extensão de área está a Raposa
Serra do Sol situada no Nordeste de Roraima, correspondendo a 35,49% de toda área do
lavrado, abrangendo os municípios de Pacaraima, Normandia e Uiramutã, pivô de lutas
intensas entre indígenas e agricultores, com potencial econômico para o Estado. Nesta terra
indígena estão concentrações minerais, potencial hidroelétrico e agrícola, especialmente nos
vales dos rios Cotingo e Surumú. Nesta região se concentrava mais da metade da produção
estadual de arroz irrigado que representou em 2002/2003 um dos produtos mais importantes
na economia do setor agrícola em Roraima.
Fazendo fronteira com a Raposa Serra do Sol, temos a segunda maior Terra Indígena
do lavrado, São Marcos, esta se estende desde o Norte de Boa Vista até quase todo o território
de Pacaraima correspondendo a 13,90% de áreas no lavrado roraimense. Além dessas duas
grandes TI’s existem outras dezessete distribuídas ao longo da matriz campestre.
Essa realidade caracterizada pela limitação do uso de recursos econômicos nesses
setores é resultado da negligência do planejamento global e gestão territorial do Estado que se
gerou durante os últimos vinte anos pelas administrações estaduais, que pouco se propuseram
a estabelecer uma organização espacial que beneficiasse a todos que se utilizam das terras em
comum. Infelizmente as políticas concentradas apenas nas infraestruturas urbanas e linhas de
conexão durante esse período prejudicou o setor produtivo de maneira a estagnar ou encolher
a sua participação no PIB, em detrimento de um aumento da participação do Estado.
As consequências da falta de domínio territorial e de uma política estadual de
desenvolvimento e gestão territorial são conhecidas, pois além de impedir a ocupação e uso
das terras de maneira organizada. Aproximadamente 70% do Estado é engessado por áreas
institucionais federais, como Terras Indígenas e Unidades de Conservação.
58
Figura 19: Terras Indígenas que fazem parte do domínio do lavrado, nordeste de Roraima.
Fonte: Elaboração própria, 2014.
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A paisagem dos campos do nordeste de Roraima - lavrado roraimense - é formada por
um mosaico de manchas e corredores que possuem uma vasta e complexa rede de
informações físicas e antrópicas que precisam ser exploradas separadamente dos conceitos
comparativos entre as áreas abertas que fragmentam os grandes domínios morfoclimáticos
distribuídos pelo Brasil. É preciso levar em conta as relações que ocorrem entre paisagem e
população local dentro dessas áreas, além das espécies de fauna e flora puramente adaptados
ao ecossistema do lavrado.
Ab’Saber (1996) descreve o lavrado com uma paisagem de campos extensos de
Roraima, caracterizado por um “conjunto territorial sulcado por florestas-galeria, dotadas de
magníficos buritizais e presença de rupestre biomas de cactáceas em inselbegs” (p. 140).
Essas são algumas das características presentes nessa região, destacadas pelas diferenciações
físicas que se interconectam em algum momento para estruturar a paisagem e promover os
fluxos das espécies que o perpetuam e também dinamizam a mobilidade das pessoas que se
beneficiam dessas áreas para diversas formas de uso e ocupação da terra, entre as principais,
estão as pastagens extensivas e as produções agrícolas.
Em sua estrutura fisiológica, esta região pertence ao conjunto de paisagens
denominadas de mosaicos de manchas, isto porque possui uma matriz dominante, formado
pelos campos de gramíneas e ciperáceas; manchas de ilhas de mata, lagos e manchas
antrópicas; e extensos corredores que entrecortam essa matriz em muitas áreas, formados não
somente pelas veredas de buritizais e matas de galerias, mas também pelas estradas que
mobilizam pessoas, bens e veículos dos municípios que pertencem a essas áreas, entre outros.
Além disso, em se tratando de localização estratégica e geopolítica do Estado, é na paisagem
do lavrado que os principais fluxos econômicos e culturais precisam atravessar de um
corredor amazônico ao caribe venezuelano de Sul ao Norte e também na fronteira com a
Guiana em sua porção Nordeste.
Em contraposição, é preciso levar em conta que a paisagem do lavrado, por se tratar de
uma fitofisionomia diferenciada dentro dos aspectos físicos de Roraima e por abranger uma
extensa área de domínio territorial marcada por conflitos em relação ao diversos usos da terra,
necessita cada vez mais de ser cientificamente explorada para que os conhecimentos sobre
suas características físicas principais e sobre como estas influenciam nas atividades humanas
e vice-versa, resulte em melhores condições de apropriação dessas terras de maneira que
beneficie todas as vertentes sociais, econômicas e ambientais. Pois, dessa forma, é possível
60
repensar em medidas de garantir aspectos sustentáveis de expansão da economia local e
também da minimização de impactos causados pelo homem, sobre os elementos que compõe
a paisagem natural.
Dentro desse contexto, é importante destacar nessas considerações a importância de se
trabalhar conceitos de paisagem aplicados não somente a uma visão ecológica limitada pelas
generalidades da biodiversidade e conservação, mas é preciso cada vez mais valorizar a
presença do homem nesses ambientes não apenas como um fator de perturbação externa ao
que é natural, pois a partir do momento em que ele sente a necessidade de se locomover e de
desenvolver suas culturas em uma paisagem favorável, em aspectos, ele passa a ser integrante
co-evolucionário dessa dinâmica, por isso a Geografia além de fornecer as bases fisiográficas
com conceitos aplicados em grandes escalas, também contribui com noção de espaço
geográfico cultural e ambiental.
A guisa de conclusão foi frisado algumas vezes na pesquisa em si, que os estudos da
paisagem de forma apenas subjetiva e descritiva limita o conhecimento da realidade
aprofundada dos seus elementos, unidades e estrutura, por isso a partir de trabalhos como
esses o desafio necessário, sobretudo no campo da Geografia de Roraima, de se trabalhar com
métodos estatísticos através de técnicas de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto e
estes associados a gama de estudos que já se desenvolvem no Estado, vai proporcionar
materiais inéditos e cada vez mais completos sobre as inúmeras paisagens que aqui existem.
Através dessa metodologia aplicada ao lavrado de Roraima, podemos compreender um pouco
mais das suas caraterísticas mais importantes, com certa riqueza de detalhes imprescindíveis a
qualquer pesquisador da área, gestores públicos, comunidade acadêmicas em diversas
disciplinas, inclusive de humanas. Espera-se, portanto, que as ideias abordadas nesta pesquisa
sirvam de inspiração e interesse para futuros trabalhos que queiram se aprofundar ainda mais
nesses temas com base na identificação estrutural da paisagem e sua dinâmica ambiental e
cultural, com uma visão cientificamente geográfica.
61
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