universidade federal de santa catarina - hu.ufsc.br · universidade federal de santa catarina, como...

118
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GESTÃO DO CUIDADO EM ENFERMAGEM Caroline Beatriz Schons PROCEDIMENTOS GERENCIAIS DE UMA COMISSÃO DE ÉTICA DE ENFERMAGEM HOSPITALAR Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Gestão do Cuidado em Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para obtenção do Título de Mestre Profissional em Gestão do Cuidado em Enfermagem Orientadora: Profª. Drª. Alacoque Lorenzini Erdmann. Florianópolis 2012

Upload: nguyenxuyen

Post on 11-Nov-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS GRADUAO EM

    GESTO DO CUIDADO EM ENFERMAGEM

    Caroline Beatriz Schons

    PROCEDIMENTOS GERENCIAIS DE UMA COMISSO DE

    TICA DE ENFERMAGEM HOSPITALAR

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps Graduao em Gesto do

    Cuidado em Enfermagem, da Universidade Federal de Santa

    Catarina, como requisito para obteno do Ttulo de Mestre Profissional em

    Gesto do Cuidado em Enfermagem Orientadora: Prof. Dr. Alacoque

    Lorenzini Erdmann.

    Florianpolis

    2012

  • Catalogao na fonte elaborada pela biblioteca da

    Universidade Federal de Santa Catarina

  • DEDICATRIA

    Aos meus pais, Arlindo e Valdete, ao meu amado irmo Lus

    Roberto e minha cunhada Ana Elisa pelo amor, pacincia, dedicao,

    carinho, fora, amizade e pelo esforo realizado, se no fosse por vocs

    jamais estaria realizando este sonho de ser Mestre!

    Tia Nilza, ao meu querido e doce priminho Luiz Henrique

    que torna nossa vida mais alegre e divertida, ao tio Poio, Tonha.

    Nona Rosa, teu caminho neste mundo encerrou antes da

    concluso deste trabalho, mas como a Senhora sempre disse: Tenho

    muito orgulho da primeira neta mestre! Obrigada pelo incentivo e pelo

    amor.

    Aos que j esto na morada Divina V Wilma, ao V Peron e

    ao Nono Puvi. Sei que sempre me guiaram e me cuidaram l de cima.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo Deus, por ter me dado foras para seguir neste

    caminho e pela oportunidade concedida de estar no convvio de seres to

    magnficos e aprender mais.

    Professora Dra. Alacoque Lorenzini Erdmann por me orientar e

    sempre acreditar em mim, me motivar e mostrar que a vida est muito

    alm do que vivemos hoje. Meu muito obrigada e minha admirao!

    Aos Membros da Banca de Qualificao e Defesa: Professores

    Dra. Selma Regina de Andrade, Dra. Roberta Costa, Dra. Beatriz

    Guitton Renaud Baptista de Oliveira, Dr. Luiz Antonio Bettinelli, Dra.

    Nadirlene Pereira Gomes, Dra. Magda Koerich e a Doutoranda Patrcia

    Klock, por aceitarem o convite e colaborar com desenvolvimento deste

    estudo.

    s Professoras Doutoras Francine Lima Gelbcke, Eliane Matos,

    Selma Regina de Andrade, Roberta Costa e Ndia Chiodelli Salum que

    sempre nos incentivaram e indicaram caminhos, dando-nos palavras de

    apoio e orientando-nos para o aprendizado devido.

    s minhas amigas Karla, Vanessa, Geovana, Suiane, Daianne,

    Camila, Sabrina, Gianna, por me ajudarem a levantar quando caia,

    secaram minhas lgrimas quando estava triste e levaram-me para

    esquecer as dificuldades e a ter momentos de alegrias e trocas de

    conhecimento! Muito Obrigada!

    Aos meus amigos do Grupo Esprita Ramats pelo amparo fsico e

    espiritual.

    Aos amigos do GEPADES, Patrcia em especial, que sempre me

    acolheram e ajudaram no meu aprendizado no mundo do aprender a

    produzir novos conhecimentos.

    s amigas do HISB que o tempo todo me incentivaram, em

    especial ao meu eterno planto Noturno B.

    s colegas de sala de aula que sempre me acolheram de corao.

    A todos que no foram citados aqui, mas sempre enviaram

    energias positivas e torceram por mim.

    Muito Obrigada!

  • Senhor, fazei-me um instrumento de Vossa Paz,

    onde houver dio que eu leve o amor, onde houver ofensa que eu leve o perdo,

    onde houver desespero que leve a esperana, onde houver trevas que eu leve a luz.

    Mestre, fazei com que eu procure mais consolar do que ser consolado,

    compreender do que ser compreendido, amar do que ser amado,

    pois dando que se recebe, perdoando que se perdoado

    e, morrendo que se vive para a vida eterna.

    Orao de So Francisco de Assis.

  • SCHONS, Caroline Beatriz. Procedimentos gerenciais de uma

    comisso de tica de enfermagem hospitalar. 126 p. Dissertao (Mestrado Profissional) Programa de Ps Graduao Gesto do Cuidado em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 2012.

    Orientador: Alacoque Lorenzini Erdmann

    Linha de Pesquisa: Administrao em Enfermagem e Sade

    RESUMO

    Este estudo teve como objetivo geral construir e validar um modelo de

    procedimentos gerenciais para uma Comisso de tica de Enfermagem

    (CEEn) centrado nas melhores prticas e pensamento complexo, por

    meio de aes construtivo-participativas junto equipe de enfermagem

    de um Hospital Infantil. A abordagem metodolgica foi exploratria e

    construtiva, de natureza qualitativa, junto com trinta e dois profissionais

    enfermeiros e tcnicos em enfermagem. Na fase exploratria realizou-se

    uma Prtica Assistencial mediante oficinas com enfoque educativo sobre

    tica, comisso de tica e, melhores prticas construindo-se junto com

    os participantes o Arco da Problematizao cujos dados foram

    registrados mediante um Dirio de Campo. Na fase construtiva foram

    realizadas entrevistas individuais para levantar os conhecimentos dos

    profissionais sobre os procedimentos gerenciais da organizao e

    implementao da CEEn, construir e validar o modelo proposto. As

    entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas com o auxilio do

    software NVIVO. Da anlise das entrevistas emergiu duas categorias

    temticas: Organizando a Comisso de tica de Enfermagem e Realizando a Implementao da Comisso de tica de Enfermagem. Mediante estas informaes construiu-se um modelo de Procedimentos

    Gerenciais de uma Comisso de tica de Enfermagem Hospitalar, o qual

    foi validado por meio de entrevistas com quatro membros da Comisso

    de tica de Enfermagem. A proposta de modelo apresentada se constitui

    numa referncia de procedimentos gerenciais que viabilizaram a

    organizao e implementao de uma CEEn em uma instituio

    hospitalar.

    Palavras-chave: Comisso de tica, Enfermagem, Gerncia, Gerncia

    de Recursos Humanos em Hospitais.

  • ABSTRACT

    This study aimed to construct and validate a model of managerial

    procedures to an Nursing Ethics Committee (CEEn) focused on best

    practices and complex thought through constructive actions-

    participatory with the nursing staff of a Children's Hospital. The

    methodological approach was exploratory and constructive, qualitative,

    along with thirty-two individuals, including nurses and nursing

    technicians. In the exploratory stage held a Healthcare Practice through

    educational workshops focusing on ethics, the ethics committee, and

    best practices building up along with the participants the Arc of

    Problematization whose data were registred by a Field Journal. In the

    Constructive stage, individual interviews were conducted to evaluate the

    knowledge of professionals about management procedures of the

    organization and the implementation of CEEn, build and validate the

    proposed model. The interviews were recorded, transcribed and

    analyzed with the suppport of NVIVO software. From the analysis of

    the interviews emerged two thematic categories: "Organizing Nursing

    Ethics Committee" and "Performing the Implementation of Nursing Ethics Commission." Through this information a model of a Management Procedures Nursing Ethics Committee of Hospital was

    built, which was validated through interviews with four members of the

    Nursing Ethics Committee. The proposed model is presented in a

    reference to managerial procedures that have allowed the organization

    and implementation of a CEEn in a hospital.

    Keywords: Ethics Committees, Nursing, Management, Personnel

    Administration Hospital.

  • RESUMEN

    Este estudio tuvo como objetivo general construir y validar un modelo

    de procedimientos gerenciales para una Comisin de tica de

    Enfermera (CEEn) centrado en las mejores prcticas y pensamiento

    complejo, por medio de acciones constructivo-participativas junto al

    equipo de enfermera de un hospital infantil. El abordaje metodolgico

    fue exploratorio y constructivo, de naturaleza cualitativa, junto con

    treinta y dos profesionales enfermeros y tcnicos en enfermera. En la

    fase exploratoria se realiz una Prctica Asistencial por medio de

    talleres con enfoque educativo sobre tica, comisin de tica y, mejores

    prcticas construyndose junto con los participantes el Arco de la

    Problematizacin cuyos datos fueron registrados por medio de

    entrevistas individuales para levantar los conocimientos de los

    profesionales sobre los procedimientos gerenciales de la organizacin e

    implementacin de la CEEn, construir y validar el modelo propuesto.

    Las entrevistas fueron grabadas, transcritas y analizadas con el auxilio

    del software NVIVO. Del anlisis de las entrevistas emergi dos

    categoras temticas: Organizando la Comisin de tica de

    Enfermera y Realizando la Implementacin de la Comisin de tica

    de Enfermera. Por medio de estas informaciones se construy un

    modelo de Procedimientos Gerenciales de una Comisin de tica de

    Enfermera Hospitalaria, la cual fue validada por medio de entrevistas con cuatro miembros de la Comisin de tica de Enfermera. La

    propuesta de modelo presentada se constituye en una referencia de

    procedimientos gerenciales que viabilizarn la organizacin e implementacin de una CEEn en una institucin hospitalaria.

    Palabras clave: Comisin de tica, Enfermera, Administracin de

    Personales en Hospitales.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Esquema Representativo dos Princpios da Teoria da

    Complexidade ................................................................

    37

    Figura 2 Esquema representativo das Funes da CEEn .............. 42

    Figura 3 Representao esquemtica do processo gerencial.......... 46

    Figura 4 Procedimentos Gerenciais para a Organizao e

    Implementao de uma Comisso de tica de

    Enfermagem .................................................................

    55

    Figura 5 Arco da Problematizao ................................................ 58

    Figura 6 Resultado da Prtica Assistencial Educativa ................... 63

    Figura 7 Categoria 1 e subcategorias ............................................. 64

    Figura 8 Categoria 2 e subcategorias ............................................. 69

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Planejamento anual das atividades da CEEn 53

    Quadro 2 Relacionando os Princpios da Complexidade com a

    CEEn

    107

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Resultados da Pesquisa em Bases de Dados

    pertinentes Reviso Narrativa

    32

    Tabela 2 - Resultados da busca de artigos em Bases de Dados

    pertinentes Reviso Integrativa

    77

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Percentual das respostas obtidas na subcategoria

    reconhecendo a importncia dos conhecimentos na

    prtica da tica na rea da enfermagem......................

    65

    Grfico 2 Percentual das respostas obtidas na subcategoria

    Comisso de tica de Enfermagem como ferramenta

    para melhorar as condies de trabalho na

    enfermagem ..............................................................

    66

    Grfico 3 Percentual das respostas obtidas na subcategoria

    Apontando as funes da Comisso de tica de

    Enfermagem................................................................

    67

    Grfico 4 Percentual das respostas obtidas na subcategoria

    Relacionando a Comisso de tica de Enfermagem

    com as demais reas do hospital.................................

    68

    Grfico 5 Percentual das respostas obtidas na subcategoria

    Compromisso da Comisso de tica de Enfermagem

    com melhores prticas ticas no cuidado....................

    70

    Grfico 6 Percentual das respostas obtidas na subcategoria

    Orientando o trabalho da Comisso de tica de

    Enfermagem atravs do protocolo..............................

    71

    Grfico 7 Percentual das respostas obtidas na subcategoria

    Expectativas com relao aos trabalhos que podem

    ser desenvolvidos pela Comisso de tica de

    Enfermagem................................................................

    72

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    BDENF Bases de Dados em Enfermagem

    BVS Biblioteca Virtual de Sade

    CEEn Comisso de tica de Enfermagem

    CEPE Cdigo de tica dos Profissionais de Enfermagem

    CEPSH Comit de tica em Pesquisas com Seres Humanos

    COFEN Conselho Federal de Enfermagem

    COREN Conselho Regional de Enfermagem

    GEPADES Grupo de Estudos e Pesquisas em Administrao,

    Gerncia do Cuidado e Gesto Educacional em

    Enfermagem e Sade

    HISB Hospital Infantil Seara do Bem

    LILACS Literatura Latino-Americana em Cincias de Sade

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

    UNIPLAC Universidade do Planalto Catarinense

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ......................................................................................... 27

    1.1 OBJETIVOS ................................................................................................ 30

    1.1.1 Objetivo Geral ........................................................................................... 30

    1.1.2 Objetivos Especficos ................................................................................. 30

    2 REVISO DE LITERATURA 31

    2.1 PENSAMENTO COMPLEXO NO CONTEXTO DA COMISSO DE TICA ..............................................................................

    34

    2.2 TICA EM ENFERMAGEM ...................................................................... 38 2.3 COMISSO DE TICA DE ENFERMAGEM ........................................... 40

    2.4 MELHORES PRTICAS DE TRABALHO ............................................... 43 2.5 GESTO DA ASSISTNCIA EM ENFERMAGEM ................................. 45

    3 MTODO ................................................................................................... 49 3.1 TIPO DE ESTUDO ...................................................................................... 49

    3.2 LOCAL DO ESTUDO ................................................................................. 49 3.3 SUJEITOS DO ESTUDO ............................................................................ 51

    3.3.1 Caracterizao dos participantes do estudo ............................................. 51 3.4 QUESTES TICAS .................................................................................. 51

    3.5 ESTRUTURANDO O ESTUDO ................................................................. 52

    3.5.1 Diagnstico de campo................................................................................. 52

    3.5.2 Colocao dos problemas........................................................................... 53

    3.5.3 Tema da pesquisa ....................................................................................... 53

    3.6 FASE EXPLORATRIA ............................................................................ 54

    3.6.1 Divulgao e sensibilizao da prtica educativa .................................... 54

    3.6.2 Dinmica dos grupos e construo do Arco da

    Problematizao .........................................................................................

    54

    3.6.3 Avaliao qualitativa dos encontros ......................................................... 56

    3.7 FASE DA CONSTRUO ......................................................................... 57

    3.7.1 Procedimento Gerencial ............................................................................ 57

    3.7.2 Validao do Instrumento ......................................................................... 58

    3.7.3 Implementao ........................................................................................... 61

    4 RESULTADOS ........................................................................................... 62 4.1 RESULTADOS PRTICA ASSISTENCIAL ............................................. 62

    4.2 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS ....................................................... 63

    4.2.1 Organizando a Comisso de tica de Enfermagem ................................ 64

    4.2.1.1 Reconhecendo a importncia dos conhecimentos e prtica da tica na rea da enfermagem ........................................................................

    64

    4.2.1.2 Comisso de tica como ferramenta para melhorar as condies de trabalho na enfermagem ..........................................................................

    65

    4.2.1.3 Apontando as funes da Comisso de tica de Enfermagem ..................... 66 4.2.1.4 Tornando a Comisso de tica de Enfermagem conhecida

    juntos aos demais setores do hospital ...........................................................

    67

    4.2.2 Implementando a Comisso ...................................................................... 68

    4.2.2.1 Compromisso da Comisso de tica de Enfermagem com 69

  • melhores prticas ticas no cuidado .............................................................

    4.2.2.2 Orientando o trabalho da Comisso atravs do modelo de Procedimentos Gerenciais ............................................................................

    70

    4.2.2.3 Expectativas com relao aos trabalhos que podem ser desenvolvidos pela Comisso .......................................................................

    71

    5 MANUSCRITOS ........................................................................................ 73 5.1 MANUSCRITO 1 - REVISO INTEGRATIVA ........................................ 73

    5.2 MANUSCRITO 2 - PROCEDIMENTOS GERENCIAIS DA COMISSO DE TICA DE ENFERMAGEM HOSPITALAR

    86

    6 CONSIDERAES FINAIS .................................................................... 112

    7 REFERNCIAS ........................................................................................ 114

    APNDICE A- TERMO DE CONSENTIMENTO PARA

    PARTICIPAR DA PESQUISA

    121

    APNDICE B- TERMO DE CONSENTIMENTO PARA

    PARTICIPAR DA PESQUISA

    123

    APNDICE-C- ROTEIRO DE ENTREVISTA 125

    ANEXO A- PARECER CEP - UFSC 126

  • 27

    1 INTRODUO

    O presente estudo trata-se de uma Dissertao de Mestrado

    Profissional inserida na Linha de Pesquisa de Administrao em

    Enfermagem e Sade, vinculada ao Grupo de Estudos e Pesquisas em

    Administrao, Gerncia do Cuidado e Gesto Educacional em

    Enfermagem e Sade (GEPADES) e ao Programa de Mestrado

    Profissional Gesto do Cuidado em Enfermagem da Universidade

    Federal de Santa Catarina, tendo como objeto de estudo a Gesto de

    uma Comisso de tica de Enfermagem.

    O GEPADES foi criado em 1988 e tem como marco terico-

    filosfico: polticas, gesto e avaliao do cuidado de

    enfermagem/sade no processo de viver, ser saudvel e adoecer com

    cidadania, condies naturais/sociais de vida, melhor viver e melhores

    prticas de cuidados/servios de sade, gesto e avaliao

    educacional/ensino de formao/qualificao de profissionais de

    enfermagem/sade. E as seguintes linhas de pesquisa: Administrao

    em Enfermagem e sade; Filosofia, Cuidado e tica em enfermagem e

    sade; Polticas, Gesto e Avaliao do Cuidado em Sade e

    Enfermagem; Tecnologias e Gesto em Educao, Sade, Enfermagem.

    O vnculo deste estudo com o GEPADES justifica-se por o

    referido Grupo ter projetos relacionados produo de conhecimentos e

    tecnologias focados na busca da excelncia ou qualidade da gerncia do

    cuidado atravs das melhores prticas, complexidade organizacional e

    outros possibilitando a criao de modelos e outras ferramentas de

    gesto.

    A Linha de Pesquisa Administrao em Enfermagem e Sade, do

    Programa de Mestrado Profissional Gesto do Cuidado em

    Enfermagem, centra-se nas concepes tericas, filosficas, polticas e

    tecnolgicas da administrao/gerenciamento/gesto da Sade e

    Enfermagem e nos sistemas organizacionais de cuidado em sade e os

    novos paradigmas da cincia.

    Ao longo de minha vivncia como acadmica na Enfermagem,

    busco a reflexo sobre como os profissionais da rea preocupam-se com

    suas atribuies ticas, qualidade na assistncia prestada e a necessidade

    de atualizao vislumbrando o entendimento de questes do cotidiano.

    Participei durante 2 anos como bolsista de iniciao cientfica em um

    projeto de pesquisa que relacionava parasitoses intestinais com

    alteraes hematolgicas e pude incorporar a importncia da realizao

    de pesquisas para a produo de conhecimentos, bem como a elucidao

    de novos caminhos a serem traados pela enfermagem no sentido de

  • 28

    promover a gesto do cuidado. Dentre as habilidades desenvolvidas,

    destaco a manipulao e anlise laboratorial de amostras de sangue e

    fezes, cujos resultados obtidos direcionaram foram realizadas educaes

    e sade para a populao do estudo que habitavam em reas desprovidas

    de saneamento bsico.

    Engajei-me ainda em um projeto vinculado ao Centro Acadmico

    denominado Cuidadores da Alegria, desenvolvido com recursos

    prprios, o grupo de colegas vestia-se de palhaos e visitvamos

    pacientes nos hospitais adultos e peditricos e idosos institucionalizados

    em casas de longa permanncia, no Municpio de Lages. Aps 1 ano,

    tornamos o projeto de extenso na Universidade do Planalto Catarinense

    com a participao de uma docente do curso de enfermagem, e

    funcionou por mais 2 anos.

    Como experincia profissional na enfermagem, iniciei as

    atividades como docente de um curso tcnico de enfermagem, e leciono

    at o momento, por sentir a necessidade de compartilhar conhecimento e

    contribuir para a formao de profissionais comprometidos e ticos.

    Neste perodo, senti a necessidade de melhor me capacitar e

    busquei especializaes em reas da enfermagem relacionadas

    Pediatria, Neonatologia, Sade da Famlia e Terapia Intensiva.

    A atuao em um hospital peditrico me possibilitou a

    aproximao da pediatria e neonatologia. Por assumir no perodo

    noturno, na qualidade de supervisora em toda a instituio, tive

    oportunidade de desenvolver habilidades tcnicas, desde instrumentao

    cirrgica at manuteno de alguns equipamentos, bem como o

    gerenciamento de recursos humanos e materiais, dimensionamento de

    leitos e encaminhamentos a outros setores da rede de apoio. Tambm,

    participei como membro da Comisso de tica de Enfermagem (CEEn)

    deste Hospital Peditrico, e ao buscar as funes e o trabalho que

    deveriam ser desenvolvidos, percebi junto aos demais membros que no

    estvamos devidamente instrumentalizados para atuar.

    Tive a oportunidade de realizar a capacitao proposta pelo rgo

    que orienta sobre os trabalhos da comisso, porm no foi suficiente

    diante das dvidas e desafios de implementar a CEEn neste Hospital.

    preconizado pelo Cdigo de tica dos Profissionais de

    Enfermagem (CEPE) o direito de assistncia populao e aos

    interesses do profissional. Este CEPE foi reformulado, pela ltima vez

    em 2007, atravs da Resoluo COFEN n 311, e adequado para

    orientar a prtica profissional e as reas de atuao da enfermagem

    (gerncia, educao e assistncia), ressaltando que o profissional deve

  • 29

    refletir sobre sua conduta e tomada de decises, tendo em mente os

    aspectos ticos e legais da profisso.

    A organizao do servio, alm de centrar na pessoa, famlia e

    coletividade, o CEPE preconiza que os trabalhadores de Enfermagem

    estejam aliados aos usurios na luta por uma assistncia sem riscos e

    danos e acessvel a toda populao? (COFEN, 2007, p.01).

    importante considerar que o cuidar do ser humano envolve,

    alm de conhecimento terico, tcnicas, tecnologias e a sensibilidade

    para perceber as necessidades subjetivas.

    No sentido de acompanhar do exerccio profissional e tico da

    enfermagem, foi instituda em 1994, atravs da Resoluo n172 pelo

    COFEN, a Comisso de tica de Enfermagem (CEEn). (COFEN, 1994).

    No Estado de Santa Catarina, a Subseo do COREN, na Deciso

    n002 de 2006, prev que as entidades de sade com 20 (vinte) ou mais

    profissionais de Enfermagem devem constituir a sua prpria Comisso

    de tica de Enfermagem (COREN, 2006).

    As CEEn tm funes de carter educativo, consultivo e

    fiscalizador nas reas de assistncia, ensino, administrao e pesquisa.

    Elas devem considerar os profissionais da enfermagem, os demais

    profissionais da equipe de sade, os pacientes e acompanhantes,

    juntamente com todo o corpo administrativo da instituio, tendo

    principalmente um enfoque educativo no intuito de aprimorar os

    servios prestados.

    Na implementao de uma CEEn, devem-se estabelecer relaes

    e interaes interligadas, privilegiando o carter educativo nestas

    relaes, com enfoque no pensamento complexo integrando melhores

    prticas de atuao profissional na gesto da assistncia de enfermagem

    e respectivos processos gerenciais.

    Vale salientar que o pensamento complexo visa juntar as coisas,

    pessoas e situaes, para que de sua interao surjam ideias novas, sem

    perder a condio de individualidade, da singularidade de cada coisa e

    situao. (MARIOTTI, 2007).

    O processo de educao permanente com foco nas melhores

    prticas dos profissionais da enfermagem, por sua vez, promove a

    interao entre: como realizo a assistncia e como ela deve ser. A

    aplicao no ambiente de trabalho constitui um grande desafio, em que

    deve contemplar conhecimentos baseando-se nas inquietaes dos

    envolvidos, tornando-os atores do processo de ensino aprendizagem

    com perspectiva de aprimorar a assistncia no cotidiano da enfermagem.

    S assim as melhores prticas ter sucesso pela ao

    acompanhada por um plano de implantao que respeite o estado atual

  • 30

    de maturidade da equipe, galgando etapas de forma eficaz e consistente.

    Esse deve ser realizado a partir de um processo de aprendizado contnuo

    com etapas iniciais mais importantes, no que diz respeito disseminao

    do conhecimento (SILVEIRA, 2005).

    Embora hoje inmeros estudos acerca do trabalho da

    enfermagem, sobretudo sobre gerenciamento de enfermagem. No

    entanto a temtica deste estudo, Comisso de tica de Enfermagem

    (CEEn), vem sendo pouco explorada.

    A organizao e implementao de CEEn em hospitais vem se

    concretizando e a gerncia desta nova estrutura nos aponta desafios no

    domnio de suas estratgias ou procedimentos mais adequados.

    Neste contexto, a prtica da assistncia de enfermagem deve vir

    acompanhada de melhores prticas gerenciais e da observncia da tica

    profissional no cuidado.

    Considerando as relaes complexas no trabalho e complexidade

    organizacional, que tem como foco as melhores prticas de atuao

    gerencial da enfermagem, busca-se responder a seguinte questo de

    estudo voltada para a produo de novos processos gerenciais na

    prtica profissional da enfermagem hospitalar: Como gerenciar uma

    CEEn de um Hospital Infantil centrado nas melhores prticas? Que

    procedimentos gerenciais instrumentalizam este processo gerencial?

    1.1 OBJETIVOS

    1.1.1 Objetivo Geral

    Construir e validar um modelo de procedimentos gerenciais para

    a CEEn de um hospital infantil, centrado nas melhores prticas e

    pensamento complexo.

    1.1.2 Objetivos Especficos

    - Implementar aes construtivo participativas junto equipe de

    enfermagem.

    - Instrumentalizar os profissionais de enfermagem no processo

    gerencial para garantir a implementao e continuidade do trabalho nas

    CEEn no hospital.

    - Validar os procedimentos gerenciais junto com os membros

    integrantes da CEEn.

  • 31

    2 REVISO DE LITERATURA

    Para sustentar a formulao da questo de estudo elaborado neste

    trabalho e voltada para a produo de novos processos gerenciais na

    prtica profissional da enfermagem hospitalar, no tocante a gerncia de

    uma CEEn, foram abordados os aspectos legais, a tica, o pensamento

    complexo, as melhores prticas de atuao profissional, a gesto

    assistncia de enfermagem e o processo gerencial.

    Para fundamentar a importncia de aprofundar os conhecimentos

    tericos sobre a temtica, realizaram-se duas revises da literatura,

    sendo respectivamente uma narrativa e outra integrativa, devido

    complementao entre estes mtodos de pesquisa e ainda por derivarem

    de estudos recentes, promovendo a reflexo e atualizao profissional. Os artigos de reviso narrativa so publicaes

    amplas, apropriadas para descrever e discutir o desenvolvimento, ou estado da arte de um

    determinado assunto, sob o ponto de vista terico ou contextual. Constituem de uma anlise da

    literatura publicada em livros, artigos de revistas impressas e/ou eletrnicas na interpretao e

    anlise crtica pessoal do autor. Essa categoria de artigos tem um papel fundamental na educao

    continuada, pois permitem ao leitor adquirir e atualizar o conhecimento de uma temtica

    especfica em curto espao de tempo (ROTHER, 2007, p.V).

    Nas revises realizadas, as bases de dados consultadas foram da

    Biblioteca Virtual de Sade (BVS-BIREME), pelo acesso s bases

    eletrnicas de dados LILACS (Literatura Latino-Americana em Cincias

    de Sade) e BDENF (Bases de dados em Enfermagem).

    Na reviso narrativa foram acessados artigos cientficos

    publicados em peridicos nacionais, teses, dissertaes e livros que

    abordaram as ocorrncias ticas em enfermagem e/ou tica em

    enfermagem, melhores prticas profissionais na enfermagem;

    pensamento complexo em sade; comisso de tica de enfermagem.

    A busca foi realizada com os seguintes unitermos isolados ou em

    associao: tica, comisses de tica enfermagem, teoria da

    complexidade, gesto da assistncia de enfermagem e melhores prticas.

    O perodo das publicaes consultadas foi entre 2005 a 2011. As

    bases foram acessadas no perodo de abril a julho de 2011.

  • 32

    Estabeleceram-se, como critrios de incluso: trabalhos de

    reviso, artigos, dissertaes de mestrado e teses de doutorado,

    publicados na ntegra em portugus e indexados nos ltimos 7 anos.

    Resultados da busca esto expostos na tabela abaixo:

    Tabela 1 Resultados da Pesquisa em Bases de Dados pertinentes Reviso Narrativa.

    Un

    iterm

    os

    Tex

    tos

    co

    mp

    leto

    s

    Perti

    nen

    tes

    Tip

    o d

    e

    est

    ud

    o

    Referncias

    Melhore

    s prticas

    69 3 1.Qualitativo

    2. Reviso da

    literatura

    3. Reviso da

    literatura

    1. Reflexo sobre um modelo de sistema

    organizacional de cuidado de enfermagem

    centrado nas melhores prticas. Kempfer,

    Silvana Silveira; Birolo, Ion Vieira Bez;

    Meirelles, Betina Homer Schlindwein;

    Erdmann, Alacoque Lorenzini. Rev Gaucha

    Enferm; 31(3): 562-566, set. 2010.

    2. A interdisciplinaridade como construo do

    conhecimento em sade e enfermagem.

    Meirelles, Betina Horner Schlindwein;

    Erdmann, Alacoque Lorenzini. Texto &

    contexto enferm; 14(3): 411-418, jun.-set. 2005.

    3. Gesto das prticas de sade na perspectiva

    do cuidado complexo. Erdmann, Alacoque

    Lorenzini; Andrade, Selma Regina; Mello, Ana

    Lcia Schaefer Ferreira de; Meirelles, Betina

    Horner Schlindwein. Texto & contexto enferm;

    15(3): 483-491, jul.-set. 2006.

    Comiss

    es de

    tica

    enferma

    gem

    11 4 1.Quantitativo

    2. Qualitativa

    3.Quantitativa

    4. Qualitativa

    1. Ocorrncias ticas com profissionais de

    enfermagem: um estudo quantitativo. Freitas,

    Genival Fernandes de; Oguisso, Taka. Rev Esc

    Enferm USP; 42(1): 34-40, mar. 2008.

    2. Ocorrncias ticas de enfermagem: cotidiano

    de enfermeiros gerentes e membros da comisso

    de tica de enfermagem. Freitas, Genival

    Fernandes de; Oguisso, Taka; Merighi, Miriam

    Aparecida Barbosa. Rev Lat Am Enfermagem;

    14(4): 497-502, jul.-ago. 2006.

    3. Perfil de profissionais de enfermagem e

    ocorrncias ticas. Freitas, Genival Fernandes

    de; Oguisso, Taka. Acta paul. enferm; 20(4):

    489-494, out.-dez. 2007.

    4. Motivaes do agir de enfermeiros nas

    ocorrncias ticas de enfermagem. Freitas,

    Genival Fernandes de; Oguiso, Taka; Merighi,

    Mriam Aparecida Barbosa. Acta paul. enferm;

    19(1): 76-81, jan.-mar. 2006.

    Teoria 64 4 1. Qualitativa 1. O ensino do cuidar na Graduao em

    http://pesquisa.bvsalud.org/regional/resources/lil-479187http://pesquisa.bvsalud.org/regional/resources/lil-479187http://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis|database_name=TITLES|list_type=title|cat_name=ALL|from=1|count=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev%20Esc%20Enferm%20USPhttp://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis|database_name=TITLES|list_type=title|cat_name=ALL|from=1|count=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev%20Esc%20Enferm%20USP

  • 33

    da

    complexi

    dade

    2.Reviso

    literatura

    3. Qualitativa

    4. Qualitativa

    Enfermagem sob a perspectiva da

    complexidade. Silva, Ana Lcia da; Freitas,

    Marlene Gomes de. Rev Esc Enferm USP;

    44(3): 687-693, set. 2010.

    2. Por uma teoria integradora para a

    compreenso da realidade. Grzybowski, Carlos

    Tadeu. Psicol. estud; 15(2): 373-379, abr.-jun.

    2010.

    3. A teoria da complexidade no cotidiano da

    chefia de enfermagem. Pradebon, Vania Marta;

    Erdmann, Alacoque Lorenzini; Leite, Joste

    Luzia; Lima, Suzinara Beatriz Soares de;

    Prochnow, Adelina Giacomelli. Acta paul.

    enferm; 24(1): 13-22, 2011.

    4. A educao em enfermagem luz do

    paradigma da complexidade. Silva, Ana Lcia

    da; Camillo, Simone de Oliveira Rev Esc

    Enferm USP; 41(3): 403-410, set. 2007.

    Gesto

    da

    assistnc

    ia de

    enferma

    gem

    61 2 1.Qualitativo

    2. Qualitativo

    1. Foco no cliente: ferramenta essencial na

    gesto por competncia em enfermagem.

    Ruthes, Rosa Maria; Feldman, Liliane Bauer;

    Cunha, Isabel Cristina Kowal Olm. Rev Bras

    Enferm; 63(2): 317-321, mar.-abr. 2010.

    2. Despertando novas abordagens para a

    gerncia do cuidado de enfermagem: estudo

    qualitativo. Backes, Dirce Stein; Erdmann,

    Alacoque Lorenzini; Lunardi, Valria Lerch;

    Lunardi Filho, Wilson Danilo; Erdmann, Rolf

    Hermann. Online braz. j. nurs. (Online);

    8(2)ago. 2009.

    TOTAL 205 13

    Fonte: Pesquisa de Campo, Florianpolis, 2011.

    Inicialmente foram identificados 205 resumos de textos

    completos na fase de amostragem, dos quais 13 apresentaram

    pertinncia ao tema deste estudo. Foram excludos os trabalhos que no

    tinham o texto completo disponvel e o assunto que no era pertinente

    temtica. Dentre os artigos selecionados, 03 foram de reviso de

    literatura, 08 estudos qualitativos e 02 quantitativos.

    Esta reviso narrativa apontou informaes sobre a atuao da

    enfermagem em todos os contextos de exerccio profissional e a

    importncia da qualidade da assistncia visando promoo, preveno

    e reabilitao da sade, bem como o aprimoramento profissional.

    Faz-se necessrio que o enfermeiro aprofunde os conhecimentos

    sobre as ferramentas de gesto, facilitando o gerenciamento e

    organizao da equipe, bem como a assistncia prestada.

    A adoo de melhores prticas no trabalho pode ser uma

    estratgia para promover a discusso e reflexo da atuao profissional,

  • 34

    tendo em vista que o resultado final do processo de cuidar influenciado

    diretamente pela qualidade com que foi prestado.

    2.1 PENSAMENTO COMPLEXO NO CONTEXTO DA COMISSO

    DE TICA

    Para compreender o pensamento complexo e aplic-lo a uma

    realidade, devemos utilizar as lentes da complexidade, onde todos os

    acontecimentos se do de maneira integrada e no em uma sequncia

    linear.

    O pensamento Complexo derivado da Teoria Geral dos Sistemas

    fundamental para o estudo organizacional, pois permite compreender

    as organizaes de modo abrangente, considerando o ambiente no qual

    elas esto inseridas. Este pensamento surgiu devido ao aumento da

    complexidade organizacional e ao desenvolvimento dos diversos tipos

    de tecnologia, passando a exigir estratgias e metodologias sistmicas

    que tivessem condies de considerar os efeitos gerados a partir das

    interaes mtuas entre componentes. Esta teoria foi criada pelo

    cientista alemo Ludwig Von Bertalanffy, e nasceu com o objetivo de

    compreender o funcionamento dos sistemas e analisar a

    interdependncia entre os elementos que o constituem (BAUER, 2008,

    p.35).

    Morin (2006a) apresenta o pensamento complexo como uma

    incapacidade do ser humano de definir de modo simples e claro o

    ordenamento das idias, a simplificao das coisas, ou seja, o que no

    pode ser reduzido ao simples, tampouco ser resumido palavra

    complexidade. Esta incapacidade denota a incerteza, a desordem e a

    confuso. Dessa forma, o ser, ao perceber a impossibilidade de respostas

    definitivas, de soluo e resoluo das coisas, exprime o incmodo,

    inquieta-se, agita-se e, finalmente, reconhece a incompletude e a

    incerteza das respostas que busca.

    A partir da reflexo sobre a Teoria dos Sistemas,

    o socilogo francs Edgar Morin postula que a chave de toda a compreenso do enfoque

    sistmico est no conceito de complexidade e prope uma compreenso da realidade fundada no

    entendimento das relaes dinmicas entre as partes que compem esta realidade e a totalidade

    resultante da interao das partes (GRZYBOWSKI, 2010,p.376).

  • 35

    Para o autor, complexidade significa o que /foi tecido junto,

    quando elementos diferentes so inseparveis e constitutivos do todo;

    constituintes heterogneos inseparavelmente associados; significa a

    unio, relao, interao entre o uno e o mltiplo a

    multidimensionalidade. Esta, por sua vez, entendida como conexo

    interdependente ente as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre

    si. Integra, dessa forma, os acontecimentos, aes, interaes,

    retroaes, determinaes, acasos, que constituem o mundo fenomnico

    (MORIN, 2006a; 2006b).

    Assim o pensamento complexo instiga a busca de compreenso

    de algum fenmeno ou conhecimento acerca de uma realidade.

    Segundo Almeida (2006, p.27), a vida cotidiana impregnada

    de complexidade, portanto, a complexidade, antes de ser uma

    teoria/paradigma/modelo para pensar a matria, a vida e o homem so

    um atributo de toda a matria.

    A Teoria da Complexidade apresenta sete princpios, que se

    complementam e ao mesmo tempo so interdependentes, formando um

    pensamento nico. So eles:

    1. Princpio sistmico ou organizacional que liga o

    conhecimento das partes ao conhecimento do todo, considerando impossvel conhecer as partes

    sem conhecer o todo, tanto quanto conhecer o todo sem conhecer, particularmente, as partes. A

    idia sistmica, oposta ideia reducionista, que o todo mais do que a soma das partes. O todo

    igualmente, menos que a soma das partes, cujas qualidades so inibidas pela organizao do

    conjunto. 2. Princpio hologrfico que pe em evidncia este

    aparente paradoxo das organizaes complexas, em que no apenas a parte est no todo, como o

    todo est inscrito na parte. 3. Princpio do circuito retroativo que permite o

    conhecimento dos processos auto-reguladores. Este princpio rompe com o princpio da

    causalidade linear: a causa age sobre o efeito e o efeito age sobre a causa.

    4. Princpio do circuito recursivo que ultrapassa a noo de regulao com as de autoproduo e

    auto-organizao. um circuito gerador em que os produtos e os efeitos so produtores e

    causadores daquilo que o produz.

  • 36

    5. Princpio da autonomia/dependncia (auto-

    organizao) onde os seres vivos so seres auto-organizadores, que no param de se autoproduzir

    e, por isso mesmo, despendem energia para manter sua autonomia. Vale especificamente para

    seres humanos, que desenvolvem sua autonomia na dependncia de sua cultura e para as

    sociedades que se desenvolvem na dependncia de seu meio geolgico. Um aspecto chave da auto-

    eco-organizao viva que ela se regenera permanentemente a partir da morte de suas

    clulas. 6. Princpio dialgico: une dois princpios ou

    noes que deviam excluir-se reciprocamente, mas so indissociveis em uma mesma realidade.

    Sob as mais diversas formas, a dialgica est

    constantemente em ao nos mundos fsico, biolgico e humano. Este princpio permite

    assumir racionalmente a inseparabilidade de noes contraditrias para conceber um mesmo

    fenmeno complexo. 7. Princpio da reintroduo do conhecimento em

    todo conhecimento que opera a restaurao do sujeito e revela o problema cognitivo central: da

    percepo teoria cientfica, todo conhecimento uma reconstruo/traduo feita por uma

    mente/crebro, em uma cultura e pocas determinadas (Morin, 2006a, p. 87).

    Os princpios formam um ciclo, no esttico, representado na

    figura abaixo.

  • 37

    Figura 1 Esquema Representativo dos Princpios da Teoria da Complexidade.

    Fonte: Elaborado pela pesquisadora baseado nos Sete princpios da complexidade, MORIN (2006a, p. 87).

    O pensamento complexo se cria e se recria no prprio caminhar e

    reconhece o movimento e a impreciso (MORIN; CIURANA; MOTTA,

    2003).

    [...] na sade, o pensamento complexo traz perspectivas de desenvolvimento, mas atender aos

    critrios das melhores prticas ainda um desafio. O sistema de sade brasileiro necessita atender s

    necessidades do pas, e este apresenta nuances em cada regio, com relao s especificidades da

    populao em sua dimenso territorial, configurando a complexidade (KEMPFER et al,

    2010, p.563).

    O trabalho da enfermagem no contexto hospitalar relaciona-se

    com vrios setores e profissionais, os quais, se no houver integrao, e

    atuarem de maneira fragmentada, apresentaro maior dificuldade em

    realizar a assistncia com qualidade ao paciente.

    As realidades humanas e a natureza so um todo,

    que no pode ser dividido em partes nem reduzido a nenhuma delas, precisam ser tratadas por um

    pensamento de igual complexidade. O pensamento complexo ajuda a gesto dos servios

    de sade a integrar todas as decises e aes das organizaes eliminando a viso segmentada e

    setorial na gesto e na criao do futuro organizacional. Outro benefcio do pensamento

  • 38

    complexo facilitar a construo de estratgias

    em ambientes de incerteza, uma vez que uma estratgia produzida pelo exame simultneo de

    condies determinadas (ordem) e incertas (desordem), e desse processo que se cria a ao.

    O pensamento complexo facilita o tratamento de imprevistos, do inesperado e da incerteza

    (MORIN; MOIGNE, 2000, p. 76).

    Observa-se a influncia do pensamento administrativo na sade

    atravs dos programas e nos servios prestados populao, que

    passaram a considerar os princpios de qualidade e de satisfao das

    pessoas atendidas, tanto na sade coletiva como nos hospitais.

    (KEMPFER et al, 2010).

    2.2 TICA EM ENFERMAGEM

    O conhecimento da tica na enfermagem vem ao encontro da

    proposta por se tratar da instrumentalizao dos profissionais de

    enfermagem sobre as condutas que regem a profisso, as Leis e o CEPE.

    Para Oguisso e Zoboli (2006, p.25), a tica quando observada

    por sua origem semntica se equivale moral. E como o termo moral

    derivado do latim mos ou more, significando costumes, conduta de vida, tica, ento, se refere s regras de conduta humana no cotidiano.

    Ns somos seres morais e as comunidades sempre criaram sistemas de valores e normas

    morais para possibilitar a convivncia social, porque somos seres no determinados pela

    natureza ou pelo destino/Deus. E no processo de conquista da liberdade e do nosso ser descobrimos

    a diferena entre o ser e o dever-ser e a vontade de construir um futuro diferente e a melhor do que o

    presente. Para esta construo no bastam boas intenes, mas tambm um controle sobre os

    efeitos no intencionais das nossas aes e o conhecimento de que o questionamento moral

    pressupe um conflito entre interesse imediato e a longo prazo e entre interesse particular e o da

    coletividade. (SUNG; SILVA, 2007, p.12)

    A tica profissional tem sua reflexo iniciada no decorrer da

    formao para que este indivduo molde-se de acordo com o perfil

  • 39

    profissional seja ele nvel mdio ou superior, ir desenvolver esta

    habilidade prevista em todas as estruturas curriculares.

    Na enfermagem os princpios ticos, baseiam-se nos princpios

    dos Direitos Humanos e abrangem a beneficncia, a no-maleficncia, a

    autonomia, o sigilo profissional e a justia.

    Tendo como referncia os postulados da

    Declarao Universal dos Direitos do Homem, promulgada pela Assemblia Geral das Naes

    Unidas (1948) e adotada pela Conveno de Genebra da Cruz Vermelha (1949), contidos no

    Cdigo de tica do Conselho Internacional de Enfermeiros (1953) e no Cdigo de tica da

    Associao Brasileira de Enfermagem (1975). Teve como referncia, ainda, o Cdigo de

    Deontologia de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (1976), o Cdigo de tica dos

    Profissionais de Enfermagem (1993) e as Normas Internacionais e Nacionais sobre Pesquisa em

    Seres Humanos [Declarao Helsinque (1964), revista em Tquio (1975), em Veneza (1983), em

    Hong Kong (1989) e em Sommerset West (1996) e a Resoluo 196 do Conselho Nacional de

    Sade, Ministrio da Sade (1996)] ( COFEN, 2007, p.01).

    Os cdigos de tica possuem princpios que norteiam e sustentam

    as aes morais dos profissionais.

    Dentre as responsabilidades e deveres do profissional, de acordo

    com o CEPE no Art.18, esto: Respeitar, reconhecer e realizar aes

    que garantam o direito da pessoa ou de seu representante legal, de tomar

    decises sobre sua sade, tratamento, conforto e bem estar (COFEN,

    2007, p.03).

    Quando o profissional de enfermagem realiza alguma atividade

    que no est prevista no CEPE considerada uma infrao tica e de

    acordo com a gravidade do acontecimento e com o histrico profissional

    este ser penalizado. As ocorrncias ticas podem ser consideradas causadoras de iatrogenias quando o agir do

    profissional se revelar displicente ou negligente em relao aos riscos correntes da assistncia

    clientela, tendo em vista que a previsibilidade dos riscos uma varivel importante para se aferir a

  • 40

    responsabilidade profissional (FREITAS;

    OGUISSO, 2007, p.949)

    A enfermagem possui grande responsabilidade em executar as

    suas atribuies, pois requer muita ateno ao realizar os procedimentos

    de enfermagem.

    Os cuidados com os pacientes so enfocados por Flvio (2008)

    onde diz que, A enfermagem responsvel pelos cuidados dos

    pacientes, incluindo a administrao de medicamentos, devem ao registrar suas anotaes

    de enfermagem (auxiliares e tcnicos em enfermagem) ou ainda a evoluo de enfermagem

    (enfermeiros), de maneira clara, coerente e seguindo o modelo da Instituio, de modo que

    constem as queixas ou solicitaes do paciente e/ou familiar, avaliao do estado geral, exame

    fsico e os procedimentos realizados, incluindo as

    orientaes especficas que foram realizadas e se avaliar a necessidade descrever o entendimento ou

    as reaes do paciente ao receb-las. Tornando este documento oficial para assegurar a assistncia

    prestada (FLVIO, 2008, p 41).

    A enfermagem realiza alm das atividades relacionadas

    diretamente no contato do paciente outras que indiretamente so fatores

    que influenciam na qualidade da assistncia prestada, como as

    administrativas.

    2.3 COMISSO DE TICA DE ENFERMAGEM

    O profissional de enfermagem tem o dever de Assegurar

    pessoa, famlia e coletividade assistncia de enfermagem livre de danos

    decorrentes de impercia, negligncia ou imprudncia conforme

    descrito no Art. 12 do CEPE (COFEN, 2007, p.03).

    de fundamental relevncia a compreenso do mundo das

    ocorrncias ticas e os modos de v-las e de lidar com elas, a partir da

    vivncia dos prprios enfermeiros que as vivenciam no seu cotidiano,

    como gerentes ou membros da Comisso de tica de Enfermagem

    (FREITAS; OGUISSO; MERIGUI, 2006, p. 02).

    Neste sentido, observa-se uma preocupao dos profissionais de

    enfermagem e das instituies de sade com a humanizao da

  • 41

    assistncia, com a importncia de ver o paciente em sua totalidade com

    suas particularidades e individualidades, que vive num contexto

    histrico, cultural e social especfico e tem direito de ter autonomia para

    decidir sobre seguir ou no as orientaes dos profissionais de sade.

    O enfermeiro, ao centrar a sua atuao profissional na relao

    interpessoal, deveria valorizar e respeitar os valores, crenas e desejos

    individuais da famlia, agindo na defesa da autonomia e no respeito

    pelas opes das pessoas e o seu cuidado (MENDES, 2009, p. 167)

    Como consequncia, o paciente tem o direito de ser informado

    sobre riscos, custos e benefcios da assistncia de enfermagem, cabendo

    aos profissionais de sade em geral, cumprir, nas instituies em que

    trabalham os direitos dos pacientes (OGUISSO; SCHMIDT, 2009 pg.

    78).

    Salienta-se que na instituio onde foi aplicado o estudo, desde

    sua criao h 50 anos, no existe uma comisso para avaliar as

    situaes e dilemas ticos da enfermagem. Existe uma Comisso de

    tica Mdica composta por mdicos pediatras voluntrios, que se

    renem para resolver questes especficas da medicina.

    Como j citado anteriormente, a CEEn foi instituda pelo COFEN

    em 1994 e a Subseo do COREN de Santa Catarina, a partir de 2006, e

    prev que as entidades de sade com 20 (vinte) ou mais profissionais de

    Enfermagem podero constituir a Comisso.

    Este Regimento Interno estabelece que o rgo que representa o

    COREN, em carter permanente junto s instituies de sade a

    CEEn.

    Conforme o Art. 2 - As CEEn tm funo educativa, consultiva

    e de averiguao do exerccio tico-profissional nas reas de assistncia,

    ensino, administrao e pesquisa em Enfermagem (COREN, 2006,

    p.01).

  • 42

    Figura 2 Esquema representativo das Funes da CEEn

    Fonte: Elaborado pela pesquisadora baseado em COREN (2006, p.01)

    So finalidades da CEEn que constam do art. 3 explicitadas na

    Deciso COREN-SC n002/2006, baseadas na Resoluo COFEN

    n174/1994: I Divulgar, aos profissionais de Enfermagem

    da Instituio de Sade, o Cdigo de tica dos Profissionais de Enfermagem, o Regimento

    Interno da CEEn e as normas ticas e disciplinares referentes ao exerccio profissional.

    II - Orientar a conduta tica dos profissionais de

    Enfermagem da Instituio. III - Zelar pelo exerccio profissional e tico dos

    profissionais da Enfermagem. IV - Averiguar denncias ou fatos no ticos que

    envolvem profissionais de Enfermagem, conforme disposto no Art. 39, incisos XI, XII e XIII do

    Regimento Interno da CEEn. V - Encaminhar ao COREN-SC, relatrios

    circunstanciados sobre fatos ou denncias relativas ao exerccio no tico de profissionais de

    Enfermagem(COREN, 2006, p.01).

    A composio da CEEn que constam do art. 7 e 8 do referido

    Regimento, e englobam as explicitadas na Resoluo n 002/2006:

    X Zelar pelo exerccio tico dos profissionais de Enfermagem.

    XI Averiguar: a) O exerccio tico dos profissionais da

    Enfermagem.

  • 43

    b) As condies oferecidas pela entidade e

    sua compatibilidade com o desempenho tico-profissional.

    c) A qualidade de atendimento dispensada clientela pelos profissionais de Enfermagem.

    XII Averiguar denncias, ou atitudes no ticas praticadas por profissionais de

    Enfermagem. XIII Comunicar, por escrito, ao COREN-SC, as

    irregularidades ou infraes ticas Detectadas (COREN, 2006,p.05).

    Em qualquer Instituio de sade sua criao de grande valia,

    bem como sua atuao, junto aos profissionais de enfermagem para o

    esclarecimento de questes ticas, aprimoramento das atividades

    profissionais e avaliao por parte dos profissionais em relao ao

    funcionamento da CEEn.

    Como o cunho deste estudo est voltado para a gesto do

    cuidado, o eixo escolhido da CEEn ser o educativo, com enfoque no

    processo gerencial desta Comisso, visando s melhores prticas,

    melhor desempenho e a promoo de uma prtica assistencial que

    atenda aos princpios ticos da profisso.

    2.4 MELHORES PRTICAS DE TRABALHO

    Acredita-se que os processos centrados em melhores prticas

    levam em conta o desempenho tico dos profissionais.

    Para que o trabalhador da rea de enfermagem tenha uma boa

    conduta profissional, necessrio que ele siga as normas do cdigo de

    tica como guia para nortear seu raciocnio moral, ou seja, pensamento

    crtico sobre o que certo e errado, sobre o bem e mal. Dessa forma,

    reflita diante das situaes buscando a melhor maneira dentro dos

    preceitos ticos (FLVIO, 2008).

    O pensamento complexo enfatiza a relao entre todos os

    envolvidos de maneira sistmica e dinmica, propiciando o

    desenvolvimento de melhores prticas no trabalho da enfermagem.

    As melhores prticas no trabalho significam o profissional fazer

    as suas funes dentro dos preceitos ticos da sua profisso e das

    normas e rotinas preconizadas no seu local de atuao. A busca por melhores prticas pressupe

    mudanas no comportamento individual/coletivo/

  • 44

    organizacional, nos mtodos de trabalho, no livre

    fluxo de informaes e na incorporao da reflexo crtica. Imputar valor aos recursos

    intelectuais e alterar a forma de estruturar/trabalhar com o conhecimento, tanto

    tcito quanto explcito, contribui inegavelmente para a elaborao permanente do melhor pensar e

    do fazer, numa perspectiva tanto terica quanto prtica (ERDMANN et al,2006, p.487).

    De acordo com o Ministrio da Sade (Brasil, 2009) a Educao

    Permanente aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se

    incorporam ao cotidiano das organizaes e ao trabalho.

    Discutir em grupo os problemas enfrentados na realidade e leva

    em considerao os conhecimentos e as experincias dos envolvidos,

    tornando-os participativos e incentivando a transformar as prticas

    profissionais.

    Na enfermagem, a busca pela competncia, pelo conhecimento e pela atualizao essencial para

    garantir a sobrevivncia tanto do profissional quanto da prpria profisso. Este trabalhador

    precisa estar preparado para atingir, desenvolver e ampliar sua competncia tcnica, crtica e

    interativa, tanto no ensino formal de enfermagem como nos processos de educao permanente, de

    forma a adquirir, assim, a capacidade de aprender a aprender e de aprender a conviver. (BALBINO

    et al, 2010, p. 262).

    A educao permanente na sade deveria frisar sempre a

    melhoria da assistncia ao paciente/cliente. Nesse sentido, ao refletir

    sobre essa temtica, entende-se como sendo o conjunto de experincias

    que se seguem formao do profissional permitindo ao trabalhador

    manter, aumentar ou melhorar sua competncia, visando ao

    desenvolvimento de suas responsabilidades.

    Concorda-se com os autores quando afirmam que,

    Para uma efetiva educao continuada, faz-se necessrio direcion-la ao desenvolvimento global

    de seus integrantes e da profisso, tendo como meta a melhoria da qualidade da assistncia de

    enfermagem. Assim, essa tarefa no se resume a

  • 45

    ensinar, pois engloba desenvolver no profissional

    de enfermagem uma conscincia crtica e a percepo de que ele capaz de aprender sempre,

    por meio da educao permanente, e motiv-lo a buscar, na sua vida profissional, situaes de

    ensino-aprendizagem(PASCHOAL; MANTOVANI; MIER, 2007, p.480).

    O fator mais influente na aprendizagem e nas mudanas a

    prtica constante e o conhecimento atualizado, quando cria no

    indivduo-funcionrio necessidades de adaptao e reorientao em suas

    atividades.

    2.6 GESTO DA ASSISTNCIA EM ENFERMAGEM

    Nosso mundo um mundo de organizaes, uma vez que

    nascemos, vivemos e morremos em organizaes. Isso implica em dizer

    que, de uma forma ou de outra, praticamos e sofremos as aes

    gerenciais, j que as organizaes so o locus da administrao. Mas o

    que realmente faz com que a administrao funcione o processo

    gerencial (ETZIONI, 1980,p. 55).

    O enfermeiro, pela sua natureza profissional desde sua formao,

    agrega conhecimentos administrativos, os quais lhe tornam gestor de sua

    equipe, seja no mbito da ateno primria, secundria ou terciria dos

    nveis de ateno sade.

    Deve-se, portanto, utilizar ferramentas que facilitem esta gesto

    da equipe de maneira que todos estejam focados em melhorar e prestar

    assistncia com qualidade visando ao bem estar do paciente de acordo

    com os princpios ticos de cada profisso.

    Entende-se por processo, todo sequenciamento lgico do tipo

    incio, meio e fim que tem como resultado um produto

    (CHIAVENATO, 1999; DAFT, 1999; MEGGINSON; MOSLEY;

    PIETRI JUNIOR, 1998; LACOMBE; HEILBORN, 2003).

    Para discutir o processo gerencial, importante descrever e

    estudar cada funo do processo individualmente.

    Inicia-se com o planejamento, geralmente feito pelo gestor, com

    ou sem a participao da equipe. Aps a anlise destes fatores, se tem

    uma viso do motivo da existncia do grupo e de sua funo. possvel,

    ento, definir os objetivos a atingir, que sejam claros, mensurveis,

    especficos e desafiadores, calcados em consenso e dentro do tempo e

    espao (SILVA, 2011).

  • 46

    As estratgias servem para se alcanar os objetivos dentro de uma

    programao de atividades e delegao de funes, bem como prazos

    para a execuo.

    A ao corretiva do controle d lugar, quase invariavelmente, a

    um replanejamento e por isso muitos estudiosos do processo gerencial

    consideram as funes como parte de um ciclo contnuo de

    planejamento-controle planejamento.

    Figura 3 Representao esquemtica do processo gerencial

    Fonte: Reformulado baseando-se em (SILVA,2011, p. 05).

    Entende-se a gesto em Enfermagem como sendo:

    um conjunto de atividades gerenciais e

    assistenciais, caracterizadas pelo exerccio da liderana, de tal modo que a influncia atinja

    todos os liderados. Isto ocorre desde a realizao dos procedimentos tcnicos, na elaborao de

    critrios de qualidade nas principais decises

    tomadas, nas linhas de comunicao e nas formas de conduzir as equipes em todos os nveis de

    Enfermagem. As aes baseadas no conjunto de orientaes que devem ser focadas ao cliente na

    instituio, ao paciente e seus familiares(Ruthes; Feldman; Cunha, 2010 p.318)

    O trabalho gerencial desempenhado pelo enfermeiro deve

    contemplar os aspectos da assistncia aliado fundamentao tcnico-

    cientfica, reforando sempre com a equipe o compromisso pedaggico

  • 47

    da profisso, no sentido de sempre estar ensinando o paciente e o

    familiar sobre aspectos relacionados ao cuidado.

    O enfermeiro volta-se para a assistncia direta ao cliente e a

    resoluo de situaes de conflitos entre equipe e famlia e/ou paciente,

    no conseguindo, por vezes, realizar as atividades de maneira planejada.

    A gesto da assistncia de enfermagem est diretamente ligada

    tica, pois ao seguirmos o Cdigo de tica dos Profissionais de

    Enfermagem, estamos comprometidos em realiz-la com qualidade,

    baseada nos valores ticos da justia, beneficncia, respeito s pessoas,

    honestidade, veracidade e sigilo.

    A reflexo tica que envolve o trabalho gerencial do enfermeiro deve ser uma constante no

    cotidiano de sua prtica profissional, uma vez que emergem dilemas e situaes conflituosas que

    podem envolver diversos atores que dele fazem parte. (MAZUR; LABRONICI; WOLFF, 2007,

    p.373).

    O Enfermeiro, sendo lder da equipe de enfermagem, recebe

    vrias reclamaes que nem sempre so relacionadas somente

    enfermagem, mas a outras atividades. Por esta razo, necessita

    desenvolver habilidades que favorea manuseio dessas informaes e

    promova estratgias para melhorar a qualidade da assistncia prestada.

    O cliente paciente e familiar que reclama deve

    ser visto como parceiro da nossa organizao, pois so pessoas interessadas no aprimoramento e

    ansiosas para que os gestores captem rapidamente as mudanas de interesse do usurio do sistema de

    sade, trazendo melhoria e conforto para os

    clientes e benefcios para a instituio. Os que reclamam e so bem tratados podem tornar-se

    aliados capazes de identificar prticas internas, que criam entraves para o bom desempenho da

    instituio (Ruthes; Feldman; Cunha, 2010,p.319).

    Para a enfermagem seguir avanando tcnica e cientificamente

    mediante a aquisio de novos saberes e prticas, faz-se necessrio

    lanar mo de recursos j existentes para incentivar a produo de

    conhecimento e novas tecnologias. Neste contexto a CEEn pode atuar

  • 48

    promovendo tais discusses e reflexes, partindo do cotidiano e das

    dificuldades encontradas em exercer a profisso de acordo com o CEPE.

    Por ser um rgo representativo da categoria dentro das

    instituies de sade, a CEEn deve ter a sua organizao pautada nos

    preceitos legais vigentes e na realidade onde est inserida.

    A gerncia de enfermagem, bem como os membros atuais das

    CCEn podem abordar assuntos que sensibilizem a equipe de

    enfermagem, incentivando, assim, a participao em Comisses e

    demais atividades que possam revisar o conhecimento j existente e, a

    partir de ento, comearem a despertar novos olhares no modo de pensar

    e agir em enfermagem.

    A implementao da CEEn uma continuao do processo de

    organizao, onde a participao dos membros e profissionais,

    obrigatoriamente, deve estar interligada e o planejamento das aes

    serem pautados de acordo com a demanda/necessidades sugerida pelos

    profissionais.

    A necessidade de existir um processo de educao permanente

    construtivo-participativo fica evidente a integrao da CEEn com todos

    setores da instituio envolvidos no atendimento ao paciente, tendo

    como perspectiva a qualidade da assistncia. fundamental para atingir

    a qualidade que a CEEn articule suas aes educativas com o setor

    responsvel pela educao permanente.

    A educao permanente dos trabalhadores da sade deve ser feita

    a partir da problematizao do processo de trabalho, considerando que a

    formao e desenvolvimento dos trabalhadores sejam pautados pelas

    necessidades de sade das pessoas e populaes e tm como objetivos a

    transformao das prticas profissionais e da prpria organizao do

    trabalho (BRASIL, 2009).

  • 49

    3 MTODO

    Neste captulo ser apresentada a trajetria metodolgica do

    estudo, no que se refere ao mtodo, descrio das tcnicas e

    instrumentos de coleta e anlise dos dados obtidos.

    Entende-se que a produo do conhecimento cientfico na rea da sade requer abordagens que

    consigam interligar a teoria e a realidade emprica. O mtodo tem uma funo fundamental em tornar

    plausvel a abordagem da realidade atravs dos questionamentos feitos pelo pesquisador

    (MINAYO, 2010, p.58).

    3.1 TIPO DE ESTUDO

    Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, realizado mediante

    duas fases: uma exploratria e outra construtiva, inspirada na pesquisa-

    ao. A pesquisa-ao est direcionada para a resoluo de problemas e

    tem por objetivo a transformao de uma determinada realidade,

    constituindo-se em uma pesquisa social. Dessa forma, a pesquisa-ao

    encontra um ambiente propcio quando [...] os pesquisadores no

    querem limitar suas investigaes aos aspectos acadmicos e

    burocrticos da maioria das pesquisas convencionais (THIOLLENT,

    2008, p. 18).

    Estas fases devem ser vistas como ponto de partida e chegada,

    sendo possvel em cada situao, o pesquisador junto com os

    participantes, redefinir e adaptar de acordo com as circunstncias da

    situao investigada. Esse aspecto precisa ser considerado e utilizado no

    desenvolvimento da pesquisa, isto porque a sobreposio e interligao

    das fases atribuem dinamismo a todo o processo.

    3.2 LOCAL DO ESTUDO

    O estudo foi desenvolvido em um Hospital Infantil da Regio

    Serrana do Estado, no municpio de Lages, Santa Catarina, com os

    profissionais de enfermagem.

    O Hospital Infantil Seara do Bem (HISB), especializado em

    pediatria (crianas de 0 a 15 anos de idade). Por estar no Centro do

    Estado de Santa Catarina, atende a populao da Regio Serrana, Meio-

  • 50

    Oeste, Oeste e Sul deste Estado, e mantido por uma Associao

    Beneficente de natureza filantrpica.

    Esta Associao foi fundada em 25 de dezembro de 1945, e

    Certificada como Beneficente de Assistncia Social possuindo os ttulos

    de Utilidade Pblica Federal, Estadual e Municipal. Ela atende aos

    usurios do Sistema nico de Sade em uma proporo de 86%.

    Alm disso, desempenha papel ligado formao de recursos

    humanos na rea da sade, com campo de estgio para cursos de

    graduao e ps-graduao em enfermagem, medicina, servio social,

    terapia ocupacional e psicologia. Possui convnio para fortalecimento de

    campo de estgio para outros cursos com as seguintes entidades: Servio

    Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Centro de Educao

    Profissional Renato Ramos da Silva, Fundao das Escolas Unidas do

    Planalto Catarinense (Fundao Uniplac) e Faculdades Pequeno

    Prncipe.

    O HISB possui 65 leitos nas reas de Clnica Mdica, Cirrgica,

    Terapia Intensiva, Neonatologia, Pronto Atendimento, Centro Cirrgico

    e Centro de Esterilizao, Ambulatrio especializado em Ortopedia,

    Pneumopediatria, Oncologia Peditrica.

    No histrico da Instituio consta que em 1951 iniciaram-se

    campanhas junto comunidade com objetivo de construir um hospital

    infantil. Em 30 de junho de 1968 o Hospital Infantil inaugurado. Em

    1999 foi implantado o servio de recreao hospitalar (Projeto em

    parceria com a Universidade do Planalto Catarinense), visando melhorar

    o atendimento com a diminuio do tempo de hospitalizao. No ano de

    2000 foi implantado o servio de Classe Hospitalar em convnio com a

    Secretaria de Estado da Educao, onde as crianas recebem

    acompanhamento escolar durante a internao. Neste mesmo ano,

    comeou-se a desenvolver o Programa Me Acompanhante que visa

    proporcionar um espao para melhor acomodao das mes que

    acompanham seus filhos nas enfermarias, quando internam atravs do

    Sistema nico de Sade.

    A Gerncia de Enfermagem tem finalidade organizativa, visando

    gerir assistncia de enfermagem de excelncia, educar permanentemente

    as pessoas, utilizando princpios cientficos, humansticos, ticos,

    valorizando o ser humano, melhorando as relaes interpessoais.

    Conforme dados fornecidos pelo Setor Pessoal da instituio, no

    ano de 2011, existiam 163 trabalhadores em todo o hospital.

    A enfermagem composta por 66 funcionrios, onde 6 so

    profissionais de nvel superior, enfermeiros (9,09%) e os outros 60

    profissionais so de nvel mdio (90,91 %), tcnicos em enfermagem.

  • 51

    3.3 SUJEITOS DO ESTUDO

    A populao do estudo foi composta por todos os 66 funcionrios

    da equipe de enfermagem da instituio. Os critrios de incluso

    estabelecidos foram: ser funcionrio da equipe de enfermagem da

    instituio em estudo; concordar em participar do estudo assinando o

    TCLE. E, os critrios de excluso foram: funcionrios que estavam

    afastados do trabalho.

    Sensibilizou-se toda a populao do estudo no momento da

    passagem de planto, entregando material explicativo sobre o que a

    Comisso de tica de Enfermagem no hospital (criao, membros,

    atribuies), relevncia do estudo e os mtodos de coleta de dados.

    Com os interessados pela temtica procedeu-se com uma

    conversa individual explicando a pesquisa, sua relevncia e o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO 1 e 2). Foram

    obtidas 32 adeses ao estudo e 34 no aceitaram participar.

    A pesquisa foi realizada com os sujeitos em duas fases, a primeira

    foi a fase exploratria com a realizao da prtica assistencial educativa

    e a segunda foi a fase de construo onde fez-se as entrevistas, a

    construo alm da validao de um modelo de procedimentos

    gerenciais.

    3.3.1 Caracterizao dos participantes do estudo O perfil dos 32 participantes do estudo todos foram mulheres e

    em relao ao cargo ocupado: enfermeiras (6,6%) e tcnicas em

    enfermagem (93,3%), o tempo de atuao na enfermagem variou de 3 a

    32 anos, atuao na instituio de 3 a 32 anos, atuam nos setores de

    Clnica Mdica, Terapia Intensiva e Pronto Atendimento, e todos os

    turnos de trabalho aderiram onde no matutino (30%), vespertino (30%) e

    noturno A (10%) e noturno B (30%).

    3.4 QUESTES TICAS

    As questes ticas do estudo com seres humanos foram

    observadas de acordo com a Resoluo N 196 de 1996 do Conselho

    Nacional de Sade, com a aprovao em Comit de tica em Pesquisa

    da Universidade Federal de Santa Catarina (CEPSH-UFSC) e aplicao

    do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APNDICES

    A e B). No Apndice A, est o primeiro TCLE desenvolvido e aplicado

    na primeira etapa da pesquisa, anterior a qualificao da dissertao, e o

  • 52

    Apndice B est de acordo com a reformulao dos objetivos propostos,

    bem como os momentos alterados por sugesto da banca de

    qualificao.

    Parecer CEPSH-UFSC Consubstanciado N: 2222/11, aprovado

    em 17/10/2011 (ANEXO A).

    O anonimato dos participantes do estudo foi garantido atravs da

    troca de seus nomes por nmeros, no momento da transcrio dos dados

    coletados. As informaes obtidas neste estudo so mantidas em sigilo e

    em caso de divulgao em publicaes cientficas, os dados pessoais no

    sero mencionados. Tais dados ficaro guardados em local de acesso

    exclusivo da pesquisadora, por um perodo de cinco anos e aps sero

    destrudos.

    3.5 ESTRUTURANDO O ESTUDO

    3.5.1 Diagnstico de campo

    O diagnstico do campo do estudo foi por meio dos relatos

    informais dos quatro profissionais que atuam na CEEn da Instituio,

    em encontro realizado em junho de 2011. As falas permearam em torno

    das dvidas sobre a organizao e implementao da CEEn, mesmo

    aps os profissionais terem participado do treinamento oferecido pelo

    COREN-SC. Buscou-se tambm, informaes na literatura sobre as

    CEEn e sua relao com as melhores prticas.

    A partir dessa discusso foi elaborado um planejamento anual das

    aes educativas da CEEn que seriam realizadas junto aos funcionrios

    da Instituio.

  • 53

    Quadro 1- Planejamento anual das atividades da

    CEEn.

    Fonte: Documento interno da CEEn, Lages (2011).

    3.5.2 Colocao dos problemas

    O problema inicial encontrado pelos membros da CEEn foi:

    Como implementar a CEEn sem ter um modelo de funcionamento que

    oriente esta implementao? Com base neste problema a pesquisadora

    levantou uma questo de estudo: Como realizar um modelo de

    procedimentos gerenciais para organizar e implementar uma CEEn?

    3.5.3 Tema da pesquisa

    A criao de um modelo de procedimentos gerenciais para

    organizar e implementar uma CEEn foi a temtica definida e para

    fomentar ser utilizado referencial terico sobre melhores prticas,

    gesto na assistncia de enfermagem e teoria da complexidade.

    As informaes que foram levadas no seminrio (explicitado

    abaixo), e estratgia que faz parte do mtodo foram interpretadas

    conforme o referencial terico seguido, ou seja, sobre melhores prticas,

    gesto na assistncia de enfermagem e teoria da complexidade, dando

    maior rigor cientfico ao estudo (THIOLLENT, 2008).

    A coleta de dados foi realizada em fases, a primeira corresponde

    a Fase Exploratria e a segunda, Fase de Construo.

  • 54

    3.6 FASE EXPLORATRIA

    Esta fase teve a finalidade de promover discusso e tomada de

    decises acerca da investigao (definio de temas e problemas),

    constituir grupos de estudos, definir aes, acompanhar e avaliar

    resultados. O seminrio tem a funo de coordenar as atividades do

    grupo, sempre finalizado pela confeco de atas das reunies

    (THIOLLENT, 2008).

    O plano de ao visa definir os atores, a relao entre eles, quem

    so os lderes, quais os objetivos e os critrios de avaliao da pesquisa,

    continuidade frente s dificuldades, quais estratgias sero utilizadas

    para assegurar a participao dos sujeitos, incorporao de sugestes e

    qual a metodologia de avaliao conjunta de resultados (THIOLLENT,

    2008).

    Esta etapa refere-se implementao de uma prtica educativa

    com os profissionais da enfermagem, apresentada na disciplina

    curricular Projetos Assistenciais e Inovao Tecnolgica como parte

    deste estudo, atingindo o primeiro objetivo de instrumentalizar os

    profissionais de enfermagem de um Hospital Infantil quanto aos

    conhecimentos de tica no cuidado em observncia s determinaes do

    COREN, por meio de aes educativas, construtivo-participativas, como

    parte de um processo gerencial centrado em melhores prticas e relaes

    complexas no trabalho.

    3.6.1 Divulgao e sensibilizao da prtica educativa

    A divulgao da atividade foi realizada atravs de convites

    individuais e colocao de cartazes (ttulo do trabalho e objetivo) em

    locais estratgicos (mural do carto ponto e refeitrio) convidando os

    participantes para atividades.

    Aps o consentimento, foi entregue material explicativo com

    assuntos acerca da tica no trabalho, determinaes do COREN para a

    Comisso e tica e Cdigo de tica de Enfermagem, melhores prticas

    no trabalho, ou seja, fazer o melhor que pode e da forma mais segura.

    3.6.2 Dinmica dos grupos e construo do Arco da

    Problematizao

    A construo do arco da problematizao baseia-se na realidade

    profissional em torno do respeito ao ser humano, tanto paciente como o

    trabalhador como Ser singular.

  • 55

    Foi escolhida uma sala de estudos dentro da instituio, uma vez

    que ocorreram dentro do horrio de trabalho. Com esta estratgia,

    obteve-se a participao de 20 sujeitos, divididos em quatro grupos de

    acordo com os turnos (matutino, vespertino, noturno A e B).

    Como o trabalho da enfermagem realizado em equipe e para

    promover maior interao foi escolhido iniciar os encontros com os

    sujeitos e adotada a estratgia de dinmica de grupo e em seguida a

    construo do arco da problematizao. Os grupos estavam compostos

    por 4 a 9 participantes. Procedeu-se a mesma sequncia e tcnicas nos

    quatro encontros. Estes ocorreram ao longo dos meses de outubro e

    novembro do ano de 2011.

    Acredita-se na possibilidade de transformao da realidade atual

    da enfermagem, a partir de uma construo coletiva, favorecendo a

    soluo ou minimizao dos problemas encontrados.

    A escolha pelo mtodo da problematizao foi amparada no

    interesse demonstrado para qualificar as aes da comisso de tica de

    enfermagem e atingir as mudanas propostas de forma efetiva. Assim,

    essa metodologia apresentou-se como uma estratgia para alcanar o

    primeiro objetivo especfico deste estudo.

    A utilizao do arco da problematizao proposta por Charles

    Maguerez proporciona a discusso da realidade, levantamento dos

    problemas encontrados na prtica, hipteses de soluo e teorizao. A

    Pedagogia da Problematizao, operacionalizada pelo Mtodo do Arco

    de Maguerez, adaptado de (BORDENAVE; PEREIRA, 2002),

    pressupe que a atividade educativa acontea em um processo grupal.

    Figura 4 Arco da Problematizao de Maguerez.

    Fonte: Adaptado de BORDENAVE; PEREIRA (2002).

  • 56

    3.6.3 Avaliao qualitativa dos encontros

    O processo de avaliao da prtica educativa foi o relato de

    experincia vivenciada nas atividades, bem como os arcos construdos e

    as discusses feitas pelos participantes. Para registrar as mudanas

    ocorridas com a equipe no decorrer da pesquisa, utilizou-se o dirio de

    campo.

    O dirio de campo uma tcnica utilizada em pesquisas

    cientficas e atividades acadmicas, a fim de permitir o registro de

    observaes e vivncias em prol do avano em diferentes reas (DAL

    PAI; LAUTERT, 2007, p. 519).

    Esta tcnica possibilita a elaborao das experincias que

    constroem o saber uma vez que o dirio de campo representa mais do

    que um espao para a descrio dos fatos, ele um instrumento que

    estimula a reflexo contnua do pesquisador sobre o contexto onde as

    coisas acontecem, propiciando a leitura crtica sobre a realidade.

    O dirio de campo um instrumento de

    anotaes, um caderno com espao suficiente para

    anotaes, comentrios e reflexo, para uso individual do investigador em seu dia a dia. Nele

    se anotam todas as observaes de fatos concretos, fenmenos sociais, acontecimentos,

    relaes verificadas, experincias pessoais do investigador, suas reflexes e comentrios. Ele

    facilita criar o hbito de escrever e observar com ateno, descrever com preciso e refletir sobre os

    acontecimentos (FALKEMBACH, 2011, p. 02).

    Escrever um dirio registrar peculiaridades e a singularidade de

    um momento, no sendo possvel que em um nico relato ter todos os

    aspectos implicados em uma determinada situao.

    Pode haver o vis do pesquisador, pois o registro daquilo que lhe chamou mais ateno, mesmo

    que da forma mais singular atravs das palavras que escolheu para faz-lo e do sentido que

    pretendeu expressar. Sero dignos de registro,

    para o pesquisador, aqueles aspectos que o sensibilizaram e o fizeram captar a essncia do

    momento no qual ele prprio est inserido e faz parte (PINHO; MOLON, 2011,p.03).

  • 57

    Registraram-se, neste estudo, os momentos de cada encontro

    dentro do Arco da Problematizao, facilitando a validao do contedo

    pelos participantes. Posteriormente os dados foram compilados em um

    Arco para no identificar os sujeitos do estudo.

    3.7 FASE DA CONSTRUO

    Esta fase atingiu os objetivos de instrumentalizar os profissionais

    de enfermagem no processo gerencial para garantir a implementao e

    continuidade do trabalho nas CEEn no hospital e validar os

    procedimentos gerenciais junto aos membros integrantes da CEEn.

    3.7.1 Procedimento Gerencial

    O esboo dos procedimentos gerenciais foi elaborado pela

    pesquisadora com base nos dados colhidos na primeira fase do estudo

    cujas categorias encontradas indicaram subsdios para tal. Entende-se

    que este modelo elaborado possa ser referncia para os servios de

    enfermagem que necessitem implementar sua CEEn. Representado na

    Figura a seguir.

  • 58

    Figura 5- Procedimentos Gerenciais para a Organizao e Implementao de

    uma Comisso de tica de Enfermagem.

    Fonte: Elaborado pela Pesquisadora (2012).

    3.7.2 Validao do Instrumento

    Para a validao do instrumento, Procedimentos Gerenciais de

    uma Comisso de tica de Enfermagem Hospitalar, foram realizadas

    entrevistas abertas a partir de questes que objetivaram responder o

    problema de pesquisa: Como gerenciar uma CEEn de um Hospital

    Infantil como um processo de melhores prticas?

  • 59

    Estas entrevistas aconteceram no perodo de Maro e Abril do

    ano de 2012. O roteiro de entrevista encontra-se no Apndice C. Para

    cada entrevistado, a durao mdia foi de 60 minutos e armazenadas por

    meio de gravador digital, convertidas em arquivos tipo .amr, e transcritas na ntegra pela pesquisadora, utilizando o software Express

    Scribe Pro verso 5.48.

    As transcries das entrevistas foram inseridas no software

    NVIVO 8.0, adquirido pelo GEPADES, facilitando a organizao e

    classificao das informaes coletadas. Salienta-se que o software

    possui verso gratuita do NVIVO 9.0 no site da empresa, porm no

    foi utilizado por no possuir os mesmos recursos e a impossibilidade de

    abrir o arquivo em outra verso do software.

    NVIVO um software que trabalha com documentos do Word,

    documentos PDF e materiais audiovisuais, e uma ampla gama de

    ferramentas inovadoras que permitem uma anlise profunda e flexvel.

    O software de Pesquisa Qualitativa ajuda as pessoas a gerir, formar e

    fazer sentido s informaes no estruturadas (PRINCETON, 2010).

    medida que o pesquisador vai inserindo no software as

    transcries, possvel determinar uma frase ou palavra chave a qual

    ser grifada no contedo automaticamente pelo programa cada vez que

    aparecer e a partir da ele calcula a frequncia que o termo apareceu no

    texto selecionado. importante que o pesquisador tenha conhecimento

    das ferramentas oferecidas para facilitar seu trabalho e, assim,

    aperfeioar seu tempo.

    Quando o pesquisador elabora as suas categorias de anlise,

    coloca-as no formato de Nodos livres (Free Nodes) e as subcategorias os

    Nodos Ramificados (Tree Nodes). Dentre as ferramentas, podem-se

    gerar grficos com tais percentuais facilitando a visualizao dos termos

    nas subcategorias, bem como identific-los nas entrevistas.

    Os dados das entrevistas foram analisados de acordo com a

    Anlise de Contedo, proposta por Bardin (2009), definido como um

    conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes que visa obter por

    procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das

    mensagens, os indicadores (quantitativas ou no) que permitam a

    inferncia de conhecimentos relativos s condies de

    produo/recepo (variveis inferidas) destas mensagens.

    De acordo com os pressupostos, uma interpretao das

    mensagens e dos enunciados, a Anlise de Contedo deve ter como

    ponto de partida uma organizao. As diferentes fases da anlise de

    contedo organizam-se em torno de trs plos, conforme: 1.A pr

  • 60

    anlise; 2. A explorao do material; e, por fim, 3. O tratamento dos

    resultados: a inferncia e a interpretao.

    1. A pr-anlise: a organizao propriamente

    dita, corresponde ao perodo de intuies, mas tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as

    idias iniciais. composta por atividades que podem ser sequenciais ou no. Sua leitura

    flutuante e consiste em conhecer o contedo dos questionrios e da dinmica, buscando-se as

    emoes, os sentimentos e o conhecimento dos sujeitos. A escolha dos documentos significa

    determinar quais sero submetidos aos procedimentos analticos ento chamados de

    corpus. (BARDIN, 2009, p.123).

    Analisados pela Regra da homogeneidade, os documentos devem obedecer a critrios precisos

    de escolha e no apresentar demasiada singularidade fora destes critrios de escolha.

    Entrevistas efetuadas sobre um dado tema devem referir-se a todas a esse tema, ter sido submetidas

    por intermdio de tcnicas idnticas e ser

    realizadas por indivduos semelhantes. As tcnicas sistemticas, citadas pelo autor como

    procedimentos de explorao, permitem a partir dos prprios textos, apreender as ligaes entre as

    diferentes variveis, que funcionam de acordo com o processo dedutivo e facilitam a construo

    de novas hipteses.Desde a pr-anlise devem ser determinadas as operaes de recorte do texto em

    unidades comparveis de categorizao para a anlise temtica e de modalidade de codificao

    para o registro dos dados. A preparao do material, antes da anlise, consiste em organizar a

    transcrio de entrevistas e organizao dos dados (BARDIN, 2009, p.124).

    2. A explorao do material: a fase de anlise

    propriamente dita onde ocorre a aplicao sistemtica de decises tomadas. A codificao

    corresponde a uma transformao dos dados brutos do texto, transformao esta que permite

    atingir uma representao do contedo. A anlise temtica consiste em descobrir os ncleos de

  • 61

    sentido que compem a comunicao, cuja

    presena ou frequncia de apario podem significar alguma coisa para o objetivo analtico

    escolhido (BARDIN, 2009, p.127).

    3. Tratamento dos resultados obtidos e interpretao: os resultados em bruto so tratados

    de maneira a serem significativos e vlidos. Operaes estatsticas simples (percentagens), ou

    mais complexas (anlise fatorial), permitem estabelecer quadros de resultados, diagram