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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA DETERMINAÇÃO DA CORRENTE LIMITE PARA OS PROCESSOS DE TRATAMENTO ELETROQUÍMICO DE EFLUENTES CONTENDO METAIS TÓXICOS E POLUENTES ORGÂNICOS GUILHERME PINCELLI São Carlos – SP 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

DETERMINAÇÃO DA CORRENTE LIMITE PARA OS PROCESSOS

DE TRATAMENTO ELETROQUÍMICO DE EFLUENTES

CONTENDO METAIS TÓXICOS E POLUENTES ORGÂNICOS

GUILHERME PINCELLI

São Carlos – SP

2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

DETERMINAÇÃO DA CORRENTE LIMITE PARA OS PROCESSOS

DE TRATAMENTO ELETROQUÍMICO DE EFLUENTES

CONTENDO METAIS TÓXICOS E POLUENTES ORGÂNICOS

GUILHERME PINCELLI

Trabalho de Graduação apresentado ao

Departamento de Engenharia Química da

Universidade Federal de São Carlos

Orientador: Prof. Dr. LUÍS AUGUSTO MARTINS RUOTOLO

São Carlos – SP

2012

i

BANCA EXAMINADORA

Trabalho de Graduação apresentado no dia 22 de JUNHO de 2012 perante a

seguinte banca examinadora:

Orientador: Prof. Dr. LUÍS AUGUSTO MARTINS RUOTOLO

Convidado: Doutorando PEDRO HENRIQUE DE BRITTO COSTA

Professor da Disciplina: Prof. Dra. TERESA CRISTINA ZANGIROLAMI

ii

À minha família.

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor Luís Augusto Martins Ruotolo por todo o apoio dado

durante todos os projetos de iniciação científica feitos sob sua supervisão além de seus

conselhos e auxílios em outras atividades acadêmicas e, ainda, pela sua amizade.

Aos meus pais e ao meu irmão por estarem sempre presentes apoiando e

incentivando minhas decisões.

A todos meus familiares e amigos que me apoiaram durante toda minha

graduação.

À FAPESP pela concessão de bolsa para a execução deste trabalho.

iv

RESUMO

Processos eletroquímicos aplicados ao tratamento de efluentes podem ser otimizados

visando a maximização da eficiência de corrente e a minimização do consumo energético.

Esta otimização ocorre através da aplicação ao processo da corrente limite (IL), a qual, por

sua vez, é função da concentração da espécie eletroativa e da velocidade de escoamento.

Uma das maneiras de se obter a corrente limite de um sistema é através do cálculo do

coeficiente de transporte de massa (km) através da determinação da espessura da camada

limite difusiva e do coeficiente de difusão. Assim sendo, utilizou-se uma célula de difusão

para a determinação dos coeficientes de difusão das espécies eletroativas Cl- e Cu2+. Em

seguida determinou-se a espessura da camada difusiva utilizando-se a técnica clássica

empregando o par redox ferri/ferrocianeto para um reator eletroquímico do tipo filtro-

prensa. Uma vez determinado o valor de km foram então calculados os valores de corrente

limite para diversas concentrações das espécies eletroativas e velocidades de escoamento.

Valores de corrente limite, assim como frações deste valor, dadas pelo parâmetro α (α =

I/IL), foram aplicados a dois tipos de processos eletroquímicos de interesse na área de

tratamento de efluentes: 1) remoção de íons metálicos utilizando-se eletrodo de carbono

vítreo reticulado e 2) degradação de compostos orgânicos utilizando eletrodo de

Ti/Ti0,7Ru0,3O2. Os processos foram avaliados em termos de eficiência de corrente e

consumo energético. A técnica de determinação da corrente limite usando a célula de

difusão foi estudada e determinou-se o melhor valor de α a fim de otimizar a cinética da

reação e a minimização do consumo energético. Os resultados da eletrodeposição de cobre

indicam que o pH e a presença de agentes complexantes no eletrólito determinam a

cinética da reação, a eficiência de corrente e o consumo energético do processo. Já os

experimentos de descoloração do corante AR-19 mostram que a corrente limite

determinada a partir do coeficiente de difusão do cloreto não foi suficiente para atingir a

cinética máxima de descoloração do sistema, indicando que esta não ocorre apenas pela

reação do cloro ativo gerado com a molécula do corante.

v

ABSTRACT

Electrochemical processes applied to wastewater treatment can be

optimized in order to maximize the current efficiency and minimizing energy

consumption. This optimization takes place by applying the process of the limiting

current (IL) which depends on the concentration of the electroactive species and the flow

rate. One way of determining the limiting current of a system is by calculating the mass

transfer coefficient (km) by determining the diffusive boundary layer thickness and

the diffusion coefficient. Therefore it is used a diffusion cell to determine the diffusion

coefficient of the electroactive species Cl- and Cu2 +. Then the diffusive layer thickness was

determined by using the conventional technique using the redox

couple ferri / ferrocyanide to an electrochemical reactor projected with a filter-press

configuration. Once determined the value of km, the limiting current values for

various concentrations of the electroactive species and flow rates were

calculated. The limiting current values, as well as fractions of the value given by

the parameter α (α = I/IL) will be applied to two types of electrochemical processes of

concern in the field of effluent treatment: 1) removal of metallic ions using reticulated

vitreous carbon electrode and 2) degradation of organic

compounds using electrode Ti/Ti0,7Ru0,3O2. The procedures will be evaluated in terms of

current efficiency and energy consumption. The technique of determining the limiting

current using the diffusion cell was used and the best value of α that optimizes both

the reaction kinetics and minimize the energy consumption was achieved. The results of

the electrodeposition of copper show that pH and the presence of complexing agents in the

electrolyte determine the kinetics of the reaction, the current efficiency and energy

consumption of the process. The experiments of bleaching the dye AR-19 show that the

current limit determined from the diffusion coefficient of chloride is not sufficient to

achieve the maximum kinetic on the bleaching system, indicating that this occurs not only

by the reaction of chlorine generated with the dye molecule.

vi

SUMÁRIO

Banca Examinadora............................................................................................. i Dedicatória............................................................................................................. ii Agradecimentos..................................................................................................... iii Resumo................................................................................................................... iv Abstract.................................................................................................................. v Lista de Figuras..................................................................................................... vi Lista de Tabelas e Quadros.................................................................................. vii Nomenclatura........................................................................................................ xi 1- INTRODUÇÃO................................................................................................ 1 2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 3 2.1- Aspectos gerais de processos eletroquímicos.......................................... 3 2.2- Controle cinético por transferência de massa........................................ 7 2.3- Célula de Diafragma para Medida do Coeficiente de Difusão............. 10 2.4- Camada Limite Difusiva.......................................................................... 12 2.5- Eletrodeposição de metais em eletrodos porosos................................... 13 2.6- Degradação de corante............................................................................. 16 3- MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................ 18 3.1- Determinação do coeficiente de difusão.................................................. 18 3.2- Determinação da espessura da camada limite difusiva......................... 19 3.3- Eletrodeposição de cobre......................................................................... 20 3.4- Tratamento de dados................................................................................ 20 3.5- Degradação de corante............................................................................. 21 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO 22 4.1- Eletrodeposição de cobre......................................................................... 22 4.1.1- Determinação da constante da célula de difusão........................ 22 4.1.2- Determinação do coeficiente de difusão dos íons Cu2+............... 22 4.1.3- Determinação do coeficiente de difusão dos íons CuII................ 23

4.1.4- Determinação da espessura da camada limite difusiva.............. 23 4.1.5- Eletrodeposição de Cu2+................................................................ 24 4.1.6- Eletrodeposição de CuII ................................................................ 28 4.1.7- Eficiência de corrente e consumo energético globais................. 30 4.2- Degradação de corante............................................................................. 32 4.2.1- Determinação do coeficiente de difusão para o cloreto.............. 32 4.2.2- Determinação da espessura da camada limite difusiva.............. 32 4.2.3- Experimentos de degradação de corante AR-19......................... 34 5- CONCLUSÕES E SUGESTÕES.................................................................... 38 5.1- CONCLUSÕES......................................................................................... 38 5.2- SUGESTÕES............................................................................................ 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 39 BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 40

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1. Representação esquemática dos processos envolvidos na reação

RneO ⇔+ − .

3

Figura 2.2. Curva de corrente em função do potencial 4 Figura 2.3. a) Concentração em função do tempo; b) eficiência de corrente

em função do tempo 5

Figura 2.4. Diagrama esquemático da célula de diafragma poroso 10 Figura 3.1. Célula de difusão. (a) visão externa lateral; (b) visão interna; e

(c) vista explodida. 18

Figura 3.2. (a) Visão esquemática do sistema experimental: 1) reservatório de eletrólito, 2) bomba centrífuga, 3) medidor de vazão, 4) válvula diafragma, 5) voltímetro, 6) reator eletroquímico, 7) fonte de corrente ou potenciostato, 8) banho termostático. (b) Reator eletroquímico: 1) alimentador de corrente (aço inox); 2) cátodo poroso; 3) distribuidor de fluxo; 4) tecido de poliamida; 5) tela de polietileno; 6) contra-eletrodo (Ti/RuO2) e 7) entrada e saída do eletrólito.

19

Figura 3.3. Reator eletroquímico: 1) contra-eletrodo (aço inox); 2) canal de escoamento do eletrólito; 3) ânodo de Ti/Ti0,7Ru0,3O2 e 4) entrada e saída do eletrólito.

21

Figura 4.1 Voltamogramas para o sistema ferri/ferrocianeto. K3Fe(CN)6

0,001 mol L-1, K4Fe(CN)6 0,01 mol L-1, Na2CO3 1,0 mol L-1. Velocidade de varredura = 50 mV s-1.

24

Figura 4.2. Concentração de cobre normalizada em função do tempo para diferentes valores de α. (a) pH = 3,0; (b) pH 4,8. C0 = 500 mg L-

1, 0,5 mol L-1 Na2SO4. 25

Figura 4.3. Concentração de cobre normalizada em função do tempo para diferentes valores de α e pHs. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

26

Figura 4.4. ECI em função da concentração normalizada para diferentes valores de α. (a) pH 3,0; (b) pH 4,8. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

27

Figura 4.5. CEI em função da concentração normalizada para diferentes valores de α. (a) pH 3,0; (b) pH 4,8. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

28

Figura 4.6. Concentração de cobre normalizada em função do tempo para diferentes valores de α. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

29

Figura 4.7. (a) ECI e (b) CEI em função da concentração de cobre normalizada para diferentes valores de α. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

30

Figura 4.8. Voltamogramas de eletrodeposição de Cu2+ e CuII sobre carbono vítreo. Eletrólito suporte: Na2SO4 0,5 mol L-1; Velocidade de varredura: 100 mV s-1.

30

Figura 4.9. (a) ECG e (b) CEG em função de α. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

31

viii

Figura 4.10. Voltamogramas para o sistema ferri/ferrocianeto. Eletrodo: Ti/Ti0,7Ru0,3O2 28 cm2. Eletrólito: K3Fe(CN)6 0,001 mol L-1, K4Fe(CN)6 0,01 mol L-1, Na2CO3 1,0 mol L-1. Velocidade de varredura = 50 mV s-1.

33

Figura 4.11. a) km e b) δ em função da velocidade de escoamento para o reator da Figura 3.3.

33

Figura 4.12. Descoloração do AR-19 em função do tempo para diferentes valores de α: (a) 150 mg L-1 Cl- e (b) 750 mg L-1 Cl-. C0 = 30 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

34

Figura 4.13. Descoloração do AR-19 em função do tempo utilizando a corrente de 1,58 A.

35

Figura 4.14. Descoloração do corante AR-19 em função da carga aplicada ao processo para diferentes valores de α: a) 150 mg L-1 e b) 750 mg L-1.

36

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1. Coeficiente de difusão para Cu2+. 20 Tabela 4.2. Coeficiente de difusão para CuII/EDTA (1:1 molar). 23 Tabela 4.3. Coeficiente de difusão para os ânions Cl-. 32 Tabela 4.4. Consumo energético para o processo de descoloração do AR-19 36

x

NOMENCLATURA

A Área [L2]

C, Cb Concentração mássica no seio da solução [ML-3] Cs Concentração na superfície do eletrodo [ML-3] C0 Concentração inicial [ML-3] CE Consumo energético [L2T-2M-1]

CEG Consumo energético global [L2T-2M-1] CEI Consumo energético instantâneo [L2T-2M-1]

D Coeficiente de difusão [L2T-1] E Potencial de eletrodo [L2MT-3I-1] Ecl Potencial de corrente limite [L2MT-3I-1] Eeq Potencial de equilíbrio [L2MT-3I-1] EC Eficiência de corrente [-]

ECG Eficiência de corrente global [-] ECI Eficiência de corrente instantânea [-] ECtc Eficiência de corrente na região de controle por transferência de

carga [-]

F Constante de Faraday [ITN-1] i Densidade de corrente [IL-2] iL Densidade de corrente limite [IL-2] I Corrente elétrica [I] IL Corrente limite [I] km Coeficiente de transporte de massa [LT-1] L Espessura da membrana [L] m Massa [M] M Massa molecular [MN-1] ND Fluxo mássico difusivo [MT-1L-2] t Tempo [T] v Velocidade de escoamento [LT-1] vx Velocidade de escoamento na direção x [LT-1] V Volume de eletrólito [L-3] x Direção no sentido do campo elétrico [L] z Direção no sentido do comprimento do eletrodo [L] z Número de elétrons envolvidos na reação [-]

Símbolos gregos α Razão I/IL [-] ββββ Constante da célula diafragma [L-2] δ Espessura da camada limite hidrodinâmica [L] ∆U Potencial de célula [L2MT-3I-1] η Sobrepotencial [L2MT-3I] µ Mobilidade iônica [IT3M-1] φ Potencial elétrico [L2MT-3I-1]

1

1- INTRODUÇÃO

Atualmente há uma grande preocupação acerca dos riscos e perigos para os seres

humanos e para o meio ambiente que podem ser ocasionados por efluentes industriais e

outros resíduos gerados pelas atividades da vida moderna. Diante desta preocupação,

muitos governos têm estabelecido severas leis que impõem limites legais para o descarte

de materiais tóxicos, tais como o monóxido de carbono expelido por automóveis, íons

metálicos provenientes de plantas químicas e compostos orgânicos gerados por diversos

tipos de indústrias. Para que a legislação possa ser cumprida se faz necessário o

desenvolvimento de tecnologias que garantam atingir os limites legais estabelecidos de

forma rápida e com baixo custo operacional.

Efluentes contendo metais tóxicos são convencionalmente tratados por precipitação

química através do aumento do pH do efluente pela adição de óxido de cálcio ou outra base,

fazendo com que o metal seja precipitado na forma de um hidróxido insolúvel. O floco

formado neste processo deve então ser sedimentado, filtrado e concentrado. Os principais

inconvenientes desta técnica se devem ao consumo irreversível de produtos químicos e ao

fato do problema ser apenas transferido da fase líquida para a fase sólida, a qual deverá ser

armazenada ou então encaminhada para aterros sanitários de classe especial, representando

custos adicionais ao processo de tratamento. No caso de efluentes contendo compostos

orgânicos, o tratamento é feito muitas vezes utilizando processos biológicos. Entretanto,

algumas categorias de compostos, entre eles os fenólicos, são bastante refratárias a este tipo de

tratamento e requerem a utilização de tecnologias conhecidas como Processos Oxidativos

Avançados (POA’s), que se baseiam na geração química ou fotoquímica de radicais oxidantes.

Para ambos os casos citados anteriormente, a tecnologia eletroquímica surgiu como

uma alternativa ambientalmente compatível e com vantagens como eliminação de transporte e

estocagem de produtos químicos perigosos, diminuição da mão-de-obra e facilidade de

controle do processo. No caso dos metais, estes podem inclusive ser recuperados na sua forma

metálica e reincorporados ao processo principal ou vendidos e, em muitos casos, a água

também poderá ser reutilizada.

Uma vez que o elétron é o principal reagente neste processo, a tecnologia

eletroquímica está inserida dentro de um grupo de tecnologias cada vez mais desejável

devido à compatibilidade ambiental, o grupo das “tecnologias limpas”. Do ponto de vista

econômico, a tecnologia eletroquímica também é bastante competitiva por apresentar baixo

custo e facilidade de operação e manutenção. Apesar destas vantagens, a tecnologia

2

eletroquímica apresenta aspectos cinéticos e de transferência de massa que necessitam ser

bem entendidos para permitir um projeto adequado do processo que maximize a taxa de

reação e a eficiência de corrente, com a conseqüente minimização do consumo energético.

Diante disto, constatou-se a necessidade de otimização do consumo energético do

processo com relação às variáveis operacionais. Desta maneira, a determinação da corrente

limite seria de fundamental importância uma vez que eu valor leva em consideração aspectos

de transferência de massa aos quais estão associados os valores de parâmetros operacionais

importantes tais como a concentração da espécie eletroativa e a velocidade de escoamento.

Assim sendo, os objetivos gerais deste trabalho de graduação consistiram em: 1) no

desenvolvimento de uma metodologia simples para a determinação da corrente limite de um

processo eletroquímico utilizando-se a técnica da célula de difusão para a determinação do

coeficiente de difusão e do par redox ferri/ferrocianeto para a determinação da espessura da

camada limite difusiva e sua validação através da aplicação em diferentes processos e reatores

e 2) otimização destes processos através do parâmetro α.

3

2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Devido à crescente consciência ambiental em relação ao tratamento dos resíduos

industriais e aos custos atribuídos a esses processos, a busca por novas tecnologias para o

tratamento de efluentes tem sido cada vez mais intensa nas últimas décadas. Dentre os

problemas de poluição ambiental, tem destaque a contaminação por metais tóxicos

proveniente de despejos industriais e a contaminação por poluentes orgânicos pouco ou

não biodegradáveis.

Uma vez que o elétron é o principal reagente no processo de eletrodeposição, a

tecnologia eletroquímica está inserida dentro de um grupo de tecnologias cada vez mais

desejável devido à compatibilidade ambiental, o grupo das “tecnologias limpas”. No entanto,

apesar de todas as vantagens mencionadas, a tecnologia eletroquímica apresenta aspectos

cinéticos e de transferência de massa que ainda necessitam ser bem entendidos para permitir

um projeto adequado do processo que maximize a taxa de reação e a eficiência de corrente,

com a conseqüente minimização do consumo energético.

2.1 - Aspectos gerais de processos eletroquímicos

Em uma reação eletroquímica simples do tipo RneO ⇔+ − (onde O corresponde à

espécie que sofre redução e R à espécie que sofre oxidação) podem existir diversas etapas

que determinam a cinética do processo eletródico. Uma seqüência básica das etapas

envolvidas em um processo eletroquímico é mostrada na Figura 2.1.

Figura 2.1. Representação esquemática dos processos envolvidos na reação

RneO ⇔+ − . (BARD e FAULKNER, 1980)

4

Em suma, para manter uma corrente circulando pelo sistema e para que uma reação

eletroquímica ocorra é necessário fornecer um sobrepotencial suficientemente elevado para

que ocorra a transferência de elétrons e concomitantemente é essencial disponibilizar o

reagente na superfície do eletrodo e remover o produto formado (BARD; FAULKNER,

1980).

Uma vez que a taxa de reação e, conseqüentemente, a densidade de corrente são

determinadas pela velocidade total de todas as etapas, a etapa mais lenta será a

determinante da taxa de reação. Diversas situações complexas podem ocorrer e então afetar

direta ou indiretamente as etapas de transferência de elétrons e massa, tais como a

existência de múltiplos estágios de transferência de elétrons, reações químicas, adsorção e

formação de fases (VETTER, 1967). Contudo, muitas vezes são consideradas apenas

equações idealizadas e simplistas, mas que geralmente são suficientes para o entendimento

e reconhecimento das etapas fundamentais envolvidas nos processos eletrolíticos como um

todo, presentes na maioria dos processos industriais de interesse prático. Neste contexto, a

compreensão das características de transferência de massa e transferência de elétrons na

maioria das vezes é suficiente para a análise do processo eletroquímico.

A Figura 2.2 ajuda a entender melhor os fenômenos relacionados à corrente e ao

potencial e seus efeitos sobre a cinética das reações eletródicas.

Figura 2.2. Curva de corrente em função do potencial. (VETTER, 1967)

O aumento da corrente elétrica imposta ao sistema faz com que o potencial aumente,

ocorrendo assim três regiões distintas. Quando baixas correntes são aplicadas, a reação se

dá por controle ativado, ou seja, a transferência de carga do eletrodo para a espécie

química de interesse presente na superfície do eletrodo é a limitante do processo. Quando

5

a reação ocorre sob controle de transferência de massa significa que não basta apenas a

existência de elétrons disponíveis para a reação, mas também a concentração do íon na

superfície do eletrodo deve ser suficiente para que a reação de interesse ocorra. Ao se

aumentar a corrente aplicada, o sistema atingirá um patamar no qual a reação ocorre

exclusivamente sob controle de transferência de massa e a corrente neste caso é

denominada de corrente limite (IL). As maiores taxas de reação para um sistema específico

são obtidas em condições de corrente limite. Quando se aplicam correntes superiores à

limite, reações paralelas como a decomposição do solvente passam a ser favorecidas pela

existência de sobrepotenciais muito negativos ou muito positivos (DOHERTY et al., 1996;

GOODRIGE; SCOTT, 1995; PONCE-DE-LEÓN et al., 2007).

O caso ideal de operação de um reator eletroquímico seria fazê-lo funcionar apenas em

condição de corrente limite. No entanto, a corrente limite sofre influência de diversas variáveis

de processo, tais como velocidade de escoamento, concentração, temperatura e condutividade

do eletrólito.

Figura 2.3. a) Concentração em função do tempo; b) eficiência de corrente em função

do tempo (GOODRIGE; SCOTT, 1995)

Uma curva típica de concentração dos íons metálicos em função do tempo é

mostrada na Figura 2.3(a). Na primeira etapa, momento anterior ao tempo t* e à

6

concentração C*, o controle do processo é regido pela transferência de carga. Neste caso a

taxa de reação é constante (decaimento linear da concentração em função do tempo) e,

sendo assim, a eficiência de corrente (EC), de acordo com a Figura 2.3(b), apresenta um

patamar de eficiência de corrente constante (ECtc). Nesta região, a concentração em função

do tempo é dada pela seguinte equação:

*tc

0 t t tVFz

ECMICC <⋅

⋅⋅

⋅⋅−= (2.1)

No trecho entre t* e t**, dentro dos limites de concentração C* e C**, o controle do

processo é misto, já que tanto a transferência de carga quanto o transporte de massa

influem de forma significativa no sistema. A função desconhecida ƒ(C,η) para esta região

depende da concentração e do sobrepotencial aplicado. Para valores de tempo maiores que

t** e de concentração maiores que C**, o transporte de massa dos íons do seio da solução

para a superfície do eletrodo controla o processo. Neste trecho, tanto a concentração

quanto a EC decaem exponencialmente em função do tempo, conforme ilustram as Figuras

2.3(a) e 2.3(b). A concentração em função do tempo para este domínio (PICKETT, 1973) é

dada pelas seguintes equações:

( ) *** t t t ,CfC ≤<η= (2.2)

**m** t t tV

AkexpCC >

−= (2.3)

Considerando-se que os íons metálicos presentes em efluentes industriais na maioria dos

casos estão presentes em baixas concentrações, a transferência de massa é o principal

mecanismo controlador da cinética da reação. Portanto, a busca por técnicas simples e rápidas

para a determinação do coeficiente de transporte de massa (km) visa proporcionar uma maneira

prática de se estipular os valores de vazão e corrente elétrica a serem aplicados em

determinado processo de tratamento e também permitir o dimensionamento adequado do

reator eletroquímico.

2.2- Controle cinético por transferência de massa

O transporte de massa em sistemas eletroquímicos pode ocorrer de três maneiras:

difusão (devido a um gradiente de concentração), migração (devido a um gradiente de

7

potencial elétrico) e convecção (gradiente de forças mecânicas) (BARD; FAULKNER,

1980; GUBULIN, 1998; NEWMAN, 1973). Desta forma, o fluxo mássico total de uma

espécie k no interior de uma fase pode ser expresso por:

v.C.µ.C.M

F.zC.Dv.C kskk

k

kkkkk

rr+φ∇−∇−= (2.4)

Se a espécie química k for um íon em movimento no seio da solução, haverá então

uma corrente iônica associada a este movimento dada por:

kkk

kk vC

M

zFi

rr= (2.5)

Na Equação 2.4, o primeiro termo da direita representa a contribuição devido à

difusão, o segundo termo a contribuição devido à migração e o último termo devido à

convecção. Enquanto o transporte de massa por difusão ocorre devido ao movimento das

espécies em solução em função da existência de um gradiente de concentração, a migração

ocorre devido a um gradiente de potencial elétrico e é responsável pelo transporte de

cargas na solução (corrente iônica) necessária para fechar o circuito elétrico entre os

eletrodos e os componentes externos. Em muitos casos de interesse prático, usa-se um

grande excesso de um eletrólito inerte (também chamado de eletrólito suporte) de maneira

que o efeito da migração sobre o transporte de massa total possa ser negligenciado. A

terceira forma de transporte de massa ocorre devido a forças mecânicas e é induzida pela

agitação do eletrólito na solução e, em alguns casos, o eletrodo é a parte móvel.

Para a modelagem de sistemas de fluxo turbulento de líquidos têm-se utilizado

freqüentemente um modelo simples, denominado teoria de filme ou modelo de filme

(TREYBAL, 1980). Nesta teoria, a primeira hipótese assumida é que o transporte de massa

devido à convecção no seio da solução é tão rápido, quando comparado à difusão

molecular, que a última pode ser ignorada e uma concentração uniforme no seio da solução

pode ser assumida. A segunda hipótese consiste em se atribuir toda a resistência ao

transporte de massa à difusão molecular na subcamada laminar, a qual pode ser expressa

quantitativamente por um gradiente completamente linear de concentração. O ponto em

que o gradiente linear de concentração atinge a concentração constante do seio da solução

define o que foi denominada espessura da camada limite difusiva (δ). Desta forma, o fluxo

8

mássico pode ser calculado derivando-se uma expressão para a difusão molecular da

espécie eletroativa através da camada estagnada de espessura δ (GOODRIDGE; SCOTT,

1995):

∂=

∂2

2

x

CD

t

C (2.6)

Considerando-se estado estacionário e as condições de contorno x = 0 � C = Cs e x

= δ � C = Cb, obtém-se para o fluxo difusivo na camada limite:

)CC(D

N sbD −δ

= (2.7)

O termo D/δ é conhecido como coeficiente de transporte de massa (km).

Considerando um processo controlado por transporte de massa, a taxa de reação, ou

seja, a corrente elétrica que circulará pelo sistema, pode ser expressa por:

ANM

zFI D= (2.8)

Combinando-se as Equações 2.7 e 2.8, obtém-se:

( )sbm CCAkM

zFI −= (2.9)

Observa-se na Equação 2.9 que quando a concentração na superfície do eletrodo

tende a zero, seja em função da lentidão do processo de transferência de massa ou da

rapidez da cinética intrínseca na superfície, a densidade de corrente atinge um valor

máximo, denominado corrente limite ou densidade de corrente limite (IL/A) (GUBULIN,

1998):

bmL ACkM

zFI = (2.10)

9

A Equação 2.10 representa o patamar de corrente observado na curva I-E da Figura

2.2 quando se estende a faixa de variação do potencial atingindo-se a densidade de corrente

limite.

Como pôde ser constatado, a determinação experimental de D e δ determinam o

coeficiente de transporte de massa (km), que por sua vez pode ser utilizado para o cálculo

da corrente limite, fornecendo assim o valor ótimo de corrente que deve ser aplicado ao

processo de maneira que se obtenha a melhor eficiência de corrente com o menor consumo

energético. Porém, como pode ser verificado na Equação 2.10, a corrente limite é também

função da concentração da espécie eletroativa, a qual diminui ao longo do processo de

tratamento de efluentes, fazendo então com que a eficiência de corrente diminua. Sendo

assim, o uso de correntes menores que a limite poderiam proporcionar um processo que

funcionasse um tempo maior em condições de elevada eficiência de corrente. No entanto, o

tempo de processo seria maior. Por outro lado, a aplicação de correntes iguais ou maiores

que a limite faria com que a eficiência fosse menor, mas o tempo de processo também

diminuiria. Estas duas situações antagônicas sugerem que deve existir uma fração do valor

da corrente limite, denominado aqui de parâmetro α, que pode ser aplicado e que otimiza

simultaneamente tanto o tempo de processo quanto a eficiência de corrente.

Diante da importância do conhecimento da corrente limite em um processo

eletroquímico, a utilização de técnicas simples para obtenção do coeficiente de difusão e da

espessura da camada limite, para a conseqüente determinação do coeficiente de

transferência de massa e da corrente limite é cada vez mais desejável. Assim sendo, na

seqüência são apresentadas as técnicas da célula de diafragma para obtenção do coeficiente

de difusão e do par ferri/ferrocianeto para determinação da espessura da camada limite

difusiva.

2.3- Célula de Diafragma para Medida do Coeficiente de Difusão

A técnica da célula de difusão, também conhecida como célula a diafragma poroso,

foi introduzida por Northrop e Anson em 1928 (GUBULIN; TOBINAGA, 1990) e tem

como objetivo obter de forma simples e rápida o coeficiente de difusão de espécies

químicas. Para isso, a idéia fundamental consiste em confinar a difusão nos poros de um

diafragma poroso, minimizando assim os efeitos de vibração.

A célula de difusão a diafragma poroso consiste de dois compartimentos preenchidos

com solução de concentrações diferentes e separados por uma membrana porosa

(diafragma). A difusão ocorre no interior do diafragma, considerado como sendo uma

10

multiplicidade de poros de comprimento L e área total A. Se os compartimentos são

suficientemente grandes, comparados com o volume de poros do diafragma, as

concentrações em cada um deles varia lentamente, de sorte que o perfil de concentrações no

interior do diafragma poroso é praticamente constante na duração do experimento. Os

compartimentos são continuamente agitados para que se mantenha a uniformidade de

concentrações. Por outro lado, o diâmetro dos poros do diafragma deve ser suficientemente

pequeno para que a difusão não seja perturbada pela agitação e suficientemente grande,

com relação às dimensões das moléculas, para que o transporte ocorra por difusão

molecular (GUBULIN; TOBINAGA, 1990).

A agitação nos compartimentos, além de uniformizar a concentração também tem a

função de gerar a turbulência necessária para que a camada limite hidrodinâmica adjacente

à superfície do diafragma se torne tão pequena que possa ser negligenciada e, desta

maneira, a difusão no filme líquido possa ser desconsiderada no modelo matemático. A

eliminação da difusão do filme líquido pode ser feita selecionando-se a velocidade dos

agitadores de maneira que ela se torne desprezível em comparação com aquela do interior

do diafragma poroso. Um esquema típico da célula de difusão é mostrado na Figura 2.4.

Figura 2.4. Diagrama esquemático da célula de diafragma poroso

Uma vez selecionada a velocidade adequada para que a camada limite hidrodinâmica

possa ser negligenciada, o processo de transferência de massa no interior dos poros pode

ser considerado como unidirecional, sendo a difusão a única forma de transporte, ou seja,

assumi-se que não há movimento convectivo. Considerando difusão binária e assumindo-

11

se por hipótese que o coeficiente de difusão (DAB) é constante e que o processo ocorre em

regime pseudo-estacionário, o fluxo mássico das espécies A pode ser descrito por:

dz

dCD

dt

dmAN A

ABA

Az −== (2.11)

Analogamente, pode-se escrever a mesma expressão para o componente B.

Partindo de um balanço de massa global no comprimento da membrana (L), a

variação da massa do componente A em cada compartimento em função do tempo pode ser

escrita como:

0z

1A

AB

1A

1

1A

dt

dCAD

dt

dCV

dt

dm

=

−=−= (2.12)

Lz

2A

AB

2A

2

2A

dt

dCAD

dt

dCV

dt

dm

=

−=−= (2.13)

Pela hipótese se regime permanente tem-se:

L0

CC

dt

dC

dt

dC 2A

1A

Lz

A

0z

A

−==

==

(2.14)

Substituindo as Equação 2.14 nas Equações 2.12 e 2.13 obtém-se

( ) 0dtCCL

ADdCV 2

A1AAB

1A1 =−+ (2.15)

( ) 0dtCCL

ADdCV 2

A1AAB

2A2 =−− (2.16)

Subtraindo a Equação 2.15 da Equação 2.16 resulta em:

( )( ) dtD

V

1

V

1

L

A

CC

CCdAB

212A

1A

2A

1A

+−=

− (2.17)

12

Agrupando os termos geométricos em uma constante denominada “constante da

célula” (β):

+−=β

21 V

1

V

1

L

A (2.18)

Integrando a Equação 2.17 entre o instante inicial t = 0 até o instante final t e

chamando as concentrações iniciais de C1A0 e C2

A0 e as concentrações finais de C1Af e

C2Af:

( )( ) tD

CC

CCln AB2

0A1

0A

2Af

1Af β−=

− (2.19)

O valor de β pode ser determinado experimentalmente considerando-se um sistema

cujo coeficiente de difusão seja conhecido. Uma vez determinado o valor da constante de

célula, o coeficiente de difusão de um componente para um sistema desconhecido pode ser

então determinado conhecendo-se as concentrações iniciais e medindo-se, transcorrido

determinado tempo, as concentrações finais do componente em cada compartimento da

célula (GUBULIN; TOBINAGA, 1990).

2.4- Camada Limite Difusiva

A espessura da camada limite difusiva pode ser determinada para diferentes

velocidades de escoamento através da medida experimental das curvas de corrente-

potencial como as mostradas na Figura 2.2. A corrente limite corresponde àquela em que

ocorre o patamar de corrente constante.

Existem vários sistemas que podem ser usados para determinar a densidade de

corrente limite, porém um dos mais utilizados é o par redox ferri-ferrocianeto, o qual

fornece patamares de corrente limite bastante nítidos e é bastante reversível (PLETCHER;

WALSH, 1990). A redução do ferricianeto a ferrocianeto,

( ) ( ) −−−→+

46

36 CNFeeCNFe (2.20)

13

é usada para determinar iL. Uma vez que a concentração e o coeficiente de difusão do

ferricianeto (6,4 x 10-6 cm2 s-1) são conhecidos, utilizando-se a Equação 2.10 é possível

determinar-se então o valor de δ para uma condição hidrodinâmica específica. No ânodo a

reação inversa ocorre, mantendo a concentração do sistema redox praticamente constante.

Para se garantir que as condições de corrente limite não são atingidas primeiramente no

contra-eletrodo, a concentração de ferrocianeto é bastante superior à de ferricianeto. Com

a finalidade de se estabilizar os complexos e também atuar como eletrólito suporte,

geralmente utiliza-se um eletrólito alcalino. Concentrações típicas utilizadas neste sistema

são: 0,01 mol L-1 de ferricianeto de potássio, 0,03 mol L-1 de ferrocianeto de potássio e

0,50 mol L-1 de carbonato de potássio (GOODRIDGE E SCOTT, 1995).

Uma dificuldade de se trabalhar com o sistema ferri-ferrocianeto é sua sensibilidade

à luz, ou seja, qualquer parte transparente do equipamento deve ser protegida da luz e as

soluções armazenadas no escuro.

2.5- Eletrodeposição de metais em eletrodos porosos

No caso dos efluentes contendo íons metálicos, mesmo estes podendo estar em

baixas concentrações, ainda são bastante tóxicos aos organismos vivos e devem, portanto,

ser adequadamente tratados antes do despejo em rede de esgoto ou mananciais.

O tratamento convencional para este tipo de efluente é o tratamento empregando

produtos químicos, o qual consiste na remoção do íon metálico através de sua precipitação

na forma de sais ou hidróxidos insolúveis, gerando ao final do processo um resíduo sólido

(“lama”) que deve ser separado da fase aquosa por sedimentação e filtração para

posteriormente ser adequadamente disposto em aterros sanitários de classe especial. Outro

processo também empregado para a remoção de metais tóxicos presentes em concentrações

muito baixas é o de troca iônica. Nesse processo são utilizadas resinas catiônicas ou

zeólitas que têm a capacidade de captar sobre sua superfície os íons metálicos presentes na

solução. Uma característica comum aos dois processos apresentados é que eles apenas

transferem o problema da fase líquida para a sólida, a qual demanda processos posteriores

de transporte e armazenamento do resíduo sólido (RUOTOLO, 2009). Com a finalidade de

superar os problemas relacionados aos processos mencionados, novas tecnologias têm

surgido nos últimos anos e, dentre elas, destaca-se o processo eletroquímico em que o íon

metálico é removido pela sua eletrodeposição sobre a superfície de um eletrodo com a

aplicação de uma corrente elétrica (RAJESHWAR; IBAÑEZ, 1997).

14

A tecnologia eletroquímica para remoção de metais consiste basicamente em um

processo de eletrodeposição: íon na solução + elétron no eletrodo → metal sólido. Nota-se

neste caso que o metal pode ser recuperado na sua forma pura, podendo ser reutilizado.

Ocasionalmente, a água poderá também ser reutilizada no processo ou na indústria.

Comparativamente, podem ser enumeradas quatro principais vantagens da utilização de

eletrodeposição como forma de tratamento de efluentes industriais contendo metais

tóxicos: 1) remoção do metal da solução e não apenas a transferência do íon para a fase

sólida; 2) reutilização do metal; 3) o fato da eletricidade ser um reagente “limpo”; e 4)

facilidade de controle do processo, uma vez que as variáveis (corrente e vazão) são de fácil

ajuste (PLETCHER; WALSH, 1990).

Em virtude dos efluentes industriais apresentarem íons metálicos em baixas

concentrações (menores que 2000 mg L-1), formando assim soluções diluídas, o processo

de eletrodeposição é controlado principalmente pela transferência de massa e, portanto, o

eletrodo convencional plano mostrou-se ineficaz devido a restrições não somente de

transferência de massa, mas também de área superficial específica. Diante disto, a

deposição eletroquímica de metais visando o tratamento de efluentes é realizada utilizando

eletrodos porosos ou tridimensionais que apresentam elevada área superficial específica

aliada a uma alta porosidade, proporcionando ao processo eletroquímico altas taxas de

transferência de massa. Por este motivo os eletrodos porosos, entre eles o carbono vítreo

reticulado (CVR), vêm obtendo grande sucesso na redução eletroquímica de metais presentes

em soluções diluídas (RUOTOLO; GUBULIN, 2002).

O cobre é um dos metais mais utilizados industrialmente devido principalmente às

suas propriedades de ductibilidade, maleabilidade e boa condutividade de calor e

eletricidade. Na forma iônica livre (Cu2+) ou complexada (CuII), o cobre está presente nas

indústrias de circuito impresso, galvanoplastia e de extração hidrometalúrgica, entre outras.

Uma vez que os efluentes aquosos gerados nestes processos apresentam ainda

concentrações elevadas do metal, sua remoção deve ser feita antes de seu descarte final.

No caso do cobre, por ser este metal tóxico e se acumular na cadeia alimentar, seu

descarte é estritamente controlado por órgãos fiscalizadores, como a CETESB (decreto

8.468), que estabelece, para emissão em corpos d’água, que a concentração de Cu2+ não

deve exceder 1,0 mg L-1, mantendo-se o pH na faixa entre 5,0 e 9,0. Para a rede de esgoto,

a legislação estabelece um limite de concentração de 1,5 mg L-1, com o pH entre 6,0 e

10,0. A principal doença relacionada ao cobre é a doença de Wilson, em que o portador da

15

doença acumula cobre em seus tecidos, ocasionando em problemas hepáticos, renais,

oftálmicos, cardíacos e até dermatológicos (BREMNER, 1998).

Diante dos aspectos mencionados, a busca por tecnologias para o tratamento de

efluentes industriais contendo íons metálicos é altamente desejável. O processo

convencional de precipitação química possui muitos inconvenientes como o consumo

irreversível de produtos químicos, geração de lodo tóxico que deve ser armazenado em

aterros especiais e, muitas vezes, o limite de concentração estipulado pela legislação não

consegue ser atingido. Visando superar estas dificuldades, a tecnologia eletroquímica surge

como uma alternativa para a redução de custos e do impacto ambiental através da remoção

do metal do meio aquoso pela sua eletrodeposição na forma metálica.

Apesar das diversas vantagens da tecnologia eletroquímica citadas anteriormente, esta

ainda apresenta aspectos cinéticos e de transferência de massa que necessitam ser bem

entendidos para permitir um projeto adequado do processo que maximize a taxa de reação e

a eficiência de corrente, com a conseqüente minimização do consumo energético e

maximização da remoção do poluente da fase aquosa. Neste contexto, a determinação da

corrente limite é de fundamental importância uma vez que seu valor leva em consideração

aspectos de transferência de massa nos quais estão associados os valores de parâmetros

operacionais importantes tais como a concentração da espécie eletroativa e a hidrodinâmica

do sistema (BRITTO-COSTA E RUOTOLO, 2011).

Diante do que foi colocado, este estudo de caso aborda a eletrodeposição de cobre

tanto na sua forma iônica livre como na sua forma complexada. Através da determinação do

coeficiente de difusão e da espessura da camada limite difusiva determinou-se o coeficiente

de transporte de massa e a corrente limite do processo, o qual foi avaliado em termos da

cinética de eletrodeposição, eficiência de corrente e consumo energético em função da

aplicação de diferentes frações da corrente limite calculada.

2.6- Degradação de corante

O consumo brasileiro de corantes é de cerca de 26.500 t/ano e desta quantidade cerca

de 12% são perdidos durantes as etapas de produção e processamento (KUNZ et al., 2002).

A principal geradora deste tipo de efluente é a indústria têxtil, a qual costuma descartar

cerca de 20% dos corantes utilizados em sua etapa de tingimento (VENKATARAMAN,

1972). Além disso, vale lembrar que efluentes contendo corantes geralmente são bastante

diluídos, ou seja, a quantidade de corantes perdida gera um volume de efluente líquido

bastante elevado.

16

A principal característica de efluentes contendo corantes é justamente a intensa

coloração que estes possuem que, em ambiente aquáticos, dificultam a penetração da luz

solar através da lâmina de água e interferem no processo de fotossíntese das algas. Além

disso, certas classes de corantes, assim como seus subprodutos podem ser carcinogênicos

e/ou mutagênicos (KUNZ et al., 2002).

Os principais tipos de corantes utilizados na indústria têxtil são corantes azos, que se

caracterizam pelo grupo –N=N- ligados a anéis aromáticos (KUNZ et al., 2002), sendo que

esta função inclui a maioria dos corantes reativos. No caso do corante azul reativo 19 (AR-

19), que foi utilizado neste trabalho, o grupo cromóforo é constituído por uma base

antraquinona, formada por 3 anéis aromáticos dispostos como na molécula de antraceno,

mas com 2 oxigênios unidos ao anel central, um em cada extremidade, por ligações duplas.

Devido ao alto impacto ambiental produzido por este tipo de efluente e a dificuldade

de seu tratamento, várias técnicas e combinações delas vêm sendo estudadas tais como

tratamentos biológicos, de precipitação química, oxidação química, adsorção, fotocatálise e

eletroquímicas.

Com relação às técnicas eletroquímicas, os compostos aromáticos podem ser convertidos

em produtos biodegradáveis ou, até mesmo, em gás carbônico e água tanto da forma direta, ou

seja, reação do corante diretamente com a superfície do eletrodo, quanto indireta, utilizando

outra espécie química a ser reduzida e posteriormente oxidada no seio da solução a fim de

quebrar as ligações químicas necessárias. No entanto, segundo Andrade et al. (2005), é

necessário um grande potencial de eletrodo para quebrar diretamente as ligações aromáticas e,

por isso, a eficiência desses processos geralmente é baixa uma vez que, em potenciais anódicos

elevados, a reação de desprendimento de oxigênio (RDO) é bastante pronunciada. Porém,

segundo Iniesta et al. ( 2001) e Fryda et al. (1999), alguns eletrodos como o de SnO2 e de β-

PbO2 possuem alto sobrepotencial para a RDO, inibindo que esta ocorra e aumentando as

eficiências de corrente para o processo de degradação. Estes dois tipos de eletrodos, bem como

o uso de dopantes, foram estudados por Andrade et al. (2005) e altas porcentagens de

eliminação da carga orgânica total foram obtidas, confirmando a eficácia do uso destes dois

tipos de eletrodos. Apesar dos bons resultados obtidos usando os eletrodos de SnO2 e de β-

PbO2 problemas associados à desativação do primeiro e à possibilidade de liberação de íons

chumbo para a solução pelo segundo limitam sua utilização efetiva.

Uma alternativa a esses eletrodos seria a utilização de eletrodos do tipo ADE (ânodos

dimensionalmente estáveis) que, apesar do baixo potencial para a RDO, favoreceria a

degradação indireta através da utilização de soluções contendo NaCl que gerariam compostos

17

oxidantes resultantes da oxidação do cloreto. Segundo Comninellis e Pulgarin (1993) as

reações que acontecem no processo indireto de degradação eletroquímica utilizando NaCl são:

2 ��� � ��� � 2

� (2.21)

��2 � 2 �� � �2���

�� ��

� (2.22)

� ���� � ��� � �������� � � �� � �� � ��

� (2.23)

A reação representada pela Equação 22 ocorre em pHs entre 7 e 12 e o hipoclorito

(OCl-) gerado é um composto altamente oxidante, o qual é gerado a partir de um potencial

de oxidação de +1,36 V (relativamente baixo). Este composto então, devido a sua alta

reatividade, consegue quebrar até mesmo ligações fortes como aquelas presentes em

compostos aromáticos.

Câmara-Martins, Britto-Costa e Ruotolo (2008) estudaram a descoloração do corante

AR-19 utilizando a oxidação indireta em um reator do tipo filtro-prensa com eletrodo

comercial de Ti/Ti0,7Ru0,3O2 e solução composta por 450 mg L-1 de cloreto de sódio e 0,5

mol L-1 de sulfato de sódio como eletrólito suporte. Os resultados obtidos foram o aumento

da taxa de descoloração tanto em função do aumento da velocidade de escoamento quanto

do aumento da corrente aplicada.

18

3 – MATERIAIS E MÉTODOS

3.1- Determinação do coeficiente de difusão

A célula de diafragma utilizada para a medida do coeficiente de difusão é

apresentada na Figura 3.1 (GUBULIN; TOBINAGA, 1990). Os dois compartimentos (V1

e V2) possuem volumes idênticos (50 mL) os quais são separados por uma membrana de

acetato de celulose (M), com diâmetro de poro de 0,2 micrômetros, a qual é fixada entre as

flanges. Internamente cada compartimento contém um imã recoberto por teflon e,

externamente um imã (I) no formato de U, ligado por um semi-eixo a uma polia. Estas

polias (P) têm ligação com duas outras polias situadas nas extremidades de um eixo

paralelo à célula como consta na Figura 3.1(c). Uma delas recebe a transmissão do

movimento de um motor de corrente contínua e tensão máxima de 12 V. Conectado ao

motor tem-se uma fonte de tensão variável, que permite selecionar a velocidade dos

agitadores.

As principais etapas do procedimento experimental foram: 1) preenchimento simultâneo

dos compartimentos; 2) seleção da velocidade dos agitadores através da fonte de tensão

variável; 3) início da agitação e da contagem do tempo e 4) ao término do tempo escolhido,

as amostras de ambos os compartimentos foram coletadas e procedeu-se então à análise de

concentração por espectrofotometria de absorção atômica (Varian, modelo SpectrAA200).

(a) (b) (c)

Figura 3.1. Célula de difusão. (a) visão externa lateral; (b) visão interna; e (c) vista

explodida.

O coeficiente de difusão foi determinado em meio aquoso e em uma solução

contendo 0,1 mol L-1 de Na2SO4. O estudo do sistema contendo Na2SO4 foi escolhido uma

vez que este foi utilizado como eletrólito suporte nos experimentos de eletrodeposição.

19

3.2- Determinação da espessura da camada limite difusiva

Nestes experimentos foi utilizado o sistema experimental representado

esquematicamente na Figura 3.2(a), no qual uma bomba centrífuga fazia circular pelo

reator o eletrólito contendo 0,001 mol L-1 de ferricianeto, 0,01 mol L-1 de ferrocianeto e 1

mol L-1 de Na2CO3 (GRIFFITHS; PONCE-DE-LEON; WALSH, 2005). A vazão era

ajustada no valor desejado e então eram feitas voltametrias (curvas corrente em função do

potencial) utilizando um potenciostato (Autolab, PGSTAT 30).

O reator eletroquímico é mostrado na Figura 3.2(b) e foi confeccionado em acrílico.

O cátodo poroso utilizado foi o carbono vítreo reticulado (CVR) com dimensões de 0,0127 m

x 0,04 m x 0,07 m, porosidade de 20 ppi (poros por polegada) e área superficial específica de

1166 m2 m-3 (dados fornecidos pelo fabricante – ERG). As telas de polietileno e o tecido de

poliamida constituíam um separador que evitava o curto circuito do sistema.

1

2

3

45

6

7

(a) (b)

Figura 3.2. (a) Visão esquemática do sistema experimental: 1) reservatório de

eletrólito, 2) bomba centrífuga, 3) medidor de vazão, 4) válvula diafragma, 5)

voltímetro, 6) reator eletroquímico, 7) fonte de corrente ou potenciostato, 8) banho

termostático. (b) Reator eletroquímico: 1) alimentador de corrente (aço inox); 2)

cátodo poroso; 3) distribuidor de fluxo; 4) tecido de poliamida; 5) tela de polietileno;

6) contra-eletrodo (Ti/RuO2) e 7) entrada e saída do eletrólito.

3.3- Eletrodeposição de cobre

Utilizando-se o reator e sistema experimental mostrados na Figura 3.2 foram

realizados os experimentos de eletrodeposição de cobre, utilizando-se para tanto 1,0 L de

eletrólito com uma concentração de 500 mg L-1 de cobre (fonte: sulfato de cobre

20

pentahidratado). Como eletrólito suporte foi usada uma solução de Na2SO4 0,5 mol L-1.

No caso da eletrodeposição de CuII, EDTA foi usado como agente complexante na

proporção molar 1:1 de CuII:EDTA.

Nestes experimentos a corrente foi fornecida por uma fonte de corrente constante e

um voltímetro foi usado para medir o potencial de célula.

O procedimento experimental consistia em ajustar-se a vazão, acionar a fonte de

corrente e retirar amostras de eletrólito ao longo do tempo para posterior análise de

concentração por espectrofotometria de absorção atômica.

3.4- Tratamento de dados

No estudo da cinética de eletrodeposição o processo de remoção do íon metálico foi

avaliado em função do parâmetro α (I/IL). A eficácia do processo foi avaliada em termos da

eficiência de corrente instantânea (ECI) e do consumo energético instantâneo (CEI), os

quais são dois dos mais importantes parâmetros quantitativos para se avaliar o desempenho

de um reator eletroquímico.

A ECI foi calculada usando-se a Equação 3.1, que expressa a razão entre a corrente

elétrica destinada à reação de interesse, dada pela lei de Faraday, e a corrente total

aplicada.

−⋅

⋅⋅⋅=

dt

dC

IM

VFz100ECI (3.1)

O consumo energético instantâneo (CEI) corresponde à energia utilizada para se

eletrodepositar uma unidade de massa de metal. A Equação 3.2 mostra a relação entre o

consumo energético instantâneo e a taxa de remoção do metal ( )dtdC . A constante 2,78 x

10-2 possui unidade h s-1.

MECI

UFz 10 x 78,2CEI

-2

∆⋅⋅⋅= (3.2)

3.5- Degradação de corante

Para o processo de descoloração do corante AR-19 foi utilizado o reator mostrado na

Figura 3.3, o qual foi conectado a um sistema experimental similar ao da Figura 3.2(a). Em

cada experimento foram utilizados 2,0 L de eletrólito com uma concentração de 30 mg L-1

21

do corante AR-19 e 0,5 mol L-1 de Na2SO4 (eletrólito suporte). Antes de iniciar o

experimento adicionava-se ao sistema a massa de NaCl necessária para se obter a

concentração desejada em cada uma das condições estudadas (150 e 750 mg L-1 de Cl-).

Figura 3.3. Reator eletroquímico: 1) contra-eletrodo (aço inox); 2) canal de

escoamento do eletrólito; 3) ânodo de Ti/Ti0,7Ru0,3O2 e 4) entrada e saída do eletrólito.

Nestes experimentos a corrente também foi fornecida por uma fonte de corrente

constante e um voltímetro foi usado para medir o potencial de célula. O procedimento

experimental consistia em ajustar-se a vazão, acionar-se a fonte de corrente com o valor de

corrente a ser aplicado já ajustado previamente e retirar-se amostras de eletrólito ao longo

do tempo para posterior análise de concentração por espectrofotometria UV-Vis

(Amersham Pharmacia).

22

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1- Eletrodeposição de cobre

4.1.1- Determinação da constante da célula de difusão

Inicialmente determinou-se experimentalmente a constante de célula (β) usando para

tanto um sistema com solução de KCl, cujo coeficiente de difusão é conhecido. Porém,

cabe informar que antes de se determinar o coeficiente de difusão para o sistema KCl-H2O

tomou-se o cuidado de se determinar a velocidade de rotação mínima de agitação a fim de

minimizar o efeito da camada limite hidrodinâmica, tornando-a desprezível em

comparação com a espessura do diafragma poroso. A velocidade determinada foi de 465

rpm e foi utilizada em todos os experimentos com a célula de difusão.

Seguindo-se o procedimento experimental descrito anteriormente, a Equação 2.19 e

conhecendo-se o coeficiente de difusão para o sistema KCl-H2O a 25ºC (WOLF E

TILLEY, 1967), a constante de célula β foi determinada como sendo 1,22 x 105 m-2.

4.1.2- Determinação do coeficiente de difusão dos íons Cu2+

O coeficiente de difusão dos íons Cu2+ foi determinado em meio aquoso e em uma

solução contendo 0,1 mol/L de Na2SO4. O estudo do sistema contendo Na2SO4 foi

escolhido uma vez que o mesmo foi utilizado nos experimentos de eletrodeposição como

eletrólito suporte. Na Tabela 4.1 são mostrados os resultados experimentais para os

sistemas CuSO4-H2O e CuSO4-Na2SO4-H2O. Verifica-se que a presença de sulfato de

sódio nas concentrações utilizadas praticamente não altera o coeficiente de difusão dos

íons Cu2+, cujo valor médio é 4,7 x 10-10 m2 s-1.

Tabela 4.1. Coeficiente de difusão para Cu2+.

Sistema C10

(mg L-1)

C20

(mg L-1)

C1f

(mg L-1)

C2f

(mg L-1)

t

(s)

D x 1010

(m2 s-1)

CuSO4-H2O 972 389 928 383 900 6,33

CuSO4-H2O 762 302 743 319 1800 3,68

CuSO4-H2O 973 418 969 469 1800 4,79

CuSO4-Na2SO4-H2O 1179 465 1158 476 900 4,19

23

Britto-Costa e Ruotolo (2009) determinaram o coeficiente de difusão para os íons cobre

usando a técnica de eletrodo de disco rotatório para um sistema contendo 100 mg L-1 de cobre

e 0,5 mol L-1 de Na2SO4 e encontraram o valor de 6,8 x 10-10 m2 s-1. Pletcher et al. (1991)

determinaram o coeficiente de difusão dos íons Cu2+ para os sistemas CuSO4-Na2SO4-H2O

(pH =2) com concentrações de íons cobre e sulfato de sódio de 635 mg L-1 e 0,5 mol L-1,

respectivamente, encontrando um valor de D = 4,9 x 10-10 m2 s-1. Esses mesmos autores

encontraram um valor de D = 4,8 x 10-10 m2 s-1 para um sistema aquoso com concentrações de

cobre de 63,5 mg L-1 e 6,35 mg L-1.

4.1.3- Determinação do coeficiente de difusão dos íons CuII

O coeficiente de difusão do CuII complexado com EDTA (proporção molar 1:1) está

mostrado na Tabela 4.2. Como esperado, o coeficiente de difusão para o cátion

complexado é menor do que o do íon livre, na forma de Cu2+.

Tabela 4.2. Coeficiente de difusão para CuII/EDTA (1:1 molar).

C10

(mol L-1)

C20

(mol L-1)

C1f

(mol L-1)

C2f

(mol L-1)

t

(s)

D x 1010

(m2 s-1)

598 228 594 238 900 3,40

4.1.4- Determinação da espessura da camada limite difusiva

A Figura 4.1 mostra os voltamogramas para o sistema ferri/ferrocianeto obtidos para

diferentes velocidades de escoamento aplicadas ao reator da Figura 3.2(b). Ao contrário

do que ocorre com eletrodos planos, quando são utilizados eletrodos tridimensionais ou

porosos o patamar de corrente limite como o mostrado na Figura 2.2 não pôde ser

reconhecido. Esse comportamento é esperado uma vez que eletrodos tridimensionais

possuem uma distribuição irregular de potencial e corrente. No entanto, o potencial de

corrente limite (Ecl) é conhecido e seu valor foi determinado por Britto-Costa e Ruotolo

(2009) como sendo de – 0,9 V vs. Ag/AgCl. Usando-se este valor de potencial e as

voltametrias da Figura 4.1 determinou-se então a corrente limite do sistema. É importante

notar que não houve uma variação significativa da corrente em função da velocidade de

escoamento dentro do intervalo estudado, portanto, determinou-se um valor médio de

corrente limite para a faixa de velocidade de escoamento utilizada, cujo valor é IL = 0,365 A.

Usando-se o valor da corrente limite média entre os valores de vazão utilizados,

considerando-se z = 1 para a reação de redução do ferricianeto e aplicando-se a Equação

24

2.10 obtém-se o valor de km de 9,13 x 10-5 m s-1. Conhecendo-se a relação entre km e D

para o ferricianeto (D = 6,4 x 10-10 m2 s-1), obtém-se então a espessura da camada limite

difusiva média de 7,01 x 10-6 m para a faixa de velocidades de escoamento entre 0,033 e

0,082 m s-1.

-1,6 -1,2 -0,8 -0,4 0,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

I / A

E / V vs. Ag/AgCl

0,031 m s-1

0,042 m s-1

0,062 m s-1

0,083 m s-1

Ecl

Figura 4.1. Voltamogramas para o sistema ferri/ferrocianeto. K3Fe(CN)6 0,001 mol L-1,

K4Fe(CN)6 0,01 mol L-1, Na2CO3 1,0 mol L-1.

Velocidade de varredura = 50 mV s-1.

4.1.5- Eletrodeposição de Cu2+

Usando-se o valor de δ e do coeficiente de difusão dos íons Cu2+ determinados

anteriormente, calculou-se então a corrente limite para uma concentração de Cu2+ de 500

mg L-1. Aplicando-se a Equação 2.10, o valor de IL obtido é de 4,22 A.

Usando-se diferentes valores da razão de I/IL, denominado de α, foram obtidas as

curvas de concentração de cobre normalizada em função do tempo, mostradas na Figura

4.2, para dois valores diferentes de pH. Como esperado, o aumento do valor de α leva a

um aumento da cinética de reação uma vez que mais elétrons estarão disponíveis para a

reação eletroquímica. No entanto, à medida que o valor de α aproxima-se de 1, a região da

curva sob controle por transferência de carga (região de decaimento linear da

concentração) passa a ter um peso cada vez menor sobre a cinética total do processo e,

portanto, o aumento da corrente não causa um aumento expressivo da taxa de reação, uma

vez que a transferência de massa passa a ter um controle cada vez maior na cinética do

processo.

25

Com relação ao efeito do pH, verifica-se na Figura 4.2 que para o pH mais elevado o

uso de correntes muito baixas (α = 0,17) leva a uma grande diminuição da cinética da

reação, indicando que algum outro processo além da transferência de carga e transferência

de massa está afetando o processo. Quando valores de α maiores que 0,17 são aplicados a

cinética torna-se bem mais rápida, porém não havendo um grande incremento no intervalo

de valores de α entre 0,33 e 0,83.

0 20 40 60 80

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

(a)

α = 0,17

α = 0,33

α = 0,50

α = 0,67

α = 0,83

C/C

0

tempo (min)0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

(b) tempo / min

C/C

0

α = 0,17 α = 0,33 α = 0,50 α = 0,67 α = 0,83

Figura 4.2. Concentração de cobre normalizada em função do tempo para diferentes

valores de α. (a) pH = 3,0; (b) pH 4,8. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

Na Figura 4.3 são comparadas as curvas de concentração normalizada de cobre em

função do tempo para os dois pHs estudados e dois valores de α. Como pode ser observado,

o aumento do pH causa uma diminuição da cinética da reação. Estes resultados

demonstram a importância do pH sobre o processo de eletrodeposição, o qual pode

determinar o grau de solvatação do íon ou sua especiação, como pode ser constatado

observando-se os diagramas de Pourbaix para o cobre (POURBAIX, 1974). Outra

observação importante que pode ser feita na Figura 4.3 é que, apesar da cinética de

eletrodeposição ser diferente em cada pH, o tempo para remoção completa do cobre para

cada valor de α praticamente não depende do pH inicial da solução.

26

0 10 20 30 40 50

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

C/C

0

tempo (min)

pH 3,0; α = 0,33 pH 4,8; α = 0,33 pH 3,0; α = 0,83 pH 4,8; α = 0,83

Figura 4.3. Concentração de cobre normalizada em função do tempo para diferentes

valores de α e pHs. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

A eficiência de corrente instantânea em função da concentração normalizada de cobre

é mostrada na Figura 4.4. Analisando-se a Figura 4.4(a) é possível observar que o aumento

de α causa uma grande diminuição da ECtc, indicando que sobrepotenciais muito catódicos

que favorecem reações paralelas, principalmente a reação de desprendimento de

hidrogênio (RDE) estariam ocorrendo no interior do eletrodo poroso (BRITTO-COSTA;

RUOTOLO, 2011; RALPH et al., 1996; RUOTOLO; GUBULIN, 2002). De fato, muitos

estudos mostram que a distribuição irregular de sobrepotencial e corrente no interior de

eletrodos porosos fazem surgir zonas muito catódicas nas regiões próximas ao contra-

eletrodo, onde a RDE seria favorecida (DOHERTY et al., 1996; RUOTOLO; GUBULIN,

2002, 2009). O aumento do valor de α também leva à diminuição do comprimento do

patamar de ECtc, ou seja, o processo passa a operar menos tempo em condições de controle

por transferência de carga e a região sob controle de transferência de massa é atingida em

concentrações mais elevadas. Atingida a concentração em que a corrente aplicada se iguala

à corrente limite do processo, o processo passa então a ser controlado pelo transporte de

massa e, por ser galvanostático, a eficiência de corrente diminui rapidamente.

Considerando-se a Figura 4.4(b), o efeito de α sobre o comprimento do patamar de

ECtc não é evidente e observa-se que os valores de eficiência de corrente são bastante

inferiores aos observados para o pH 3,0, principalmente para os valores de α menores que

0,50.

27

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,00,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

(a)

EC

I

C/C0

α = 0,17

α = 0,33

α = 0,50

α = 0,67

α = 0,83

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,00,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

(b)

EC

I

C/C0

α = 0,33 α = 0,50 α = 0,67 α = 0,83

Figura 4.4. ECI em função da concentração normalizada para diferentes valores de α.

(a) pH 3,0; (b) pH 4,8. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

O comportamento da eficiência de corrente tem efeito direto sobre o consumo

energético do processo, o qual pode ser observado na Figura 4.5 em função da concentração

normalizada de cobre. Em concentrações de cobre elevadas, um pequeno aumento do CEI

pode ser observado, principalmente para o pH 3,0, o qual pode ser atribuído ao aumento do

potencial de célula devido principalmente à diminuição da condutividade do eletrólito

decorrente da remoção dos íons cobre. Atingida a concentração em que o processo passa a

ser controlado pelo transporte de massa o consumo energético aumenta rapidamente em

decorrência da rápida diminuição da eficiência de corrente nestas condições.

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,00

20

40

60

80

(a)

CE

I /

kWh

kg-1

C/C0

α = 0,17

α = 0,33

α = 0,50

α = 0,67

α = 0,83

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,00

20

40

60

80

100

(b)

CE

I / k

Wh

kg-1

C/C0

α = 0,33 α = 0,50 α = 0,67 α = 0,83

Figura 4.5. CEI em função da concentração normalizada para diferentes valores de α.

(a) pH 3,0; (b) pH 4,8. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

28

4.1.6- Eletrodeposição de CuII

Usando-se o valor de δ e do coeficiente de difusão dos íons CuII calculou-se a

corrente limite para uma concentração de CuII de 500 mg L-1. Aplicando-se a Equação

2.10, o valor de IL obtido é de 3,05 A. Como esperado, este valor de corrente limite é

bastante inferior àquele obtido para os íons Cu2+ devido ao menor coeficiente de difusão

dos íons complexados. O pH desta solução foi mantido próximo ao neutro, pois a tentativa

de se acidificar a solução causava a precipitação do EDTA.

A Figura 4.6 mostra as curvas de concentração normalizada de CuII em função do

tempo para os diferentes valores de α estudados. Ao contrário do observado na Figura 4.2,

o aumento do valor de α até 0,60 causou uma melhoria importante na cinética da reação,

porém sem alterar significativamente o valor da ECtc, como mostrado na Figura 4.7(a). No

entanto, comparando-se os valores de ECtc para os íons Cu2+ e CuII observa-se que quando o

íon cobre está complexado, as eficiências de corrente são bastante inferiores, mesmo

aplicando correntes bem menores do que aquelas usadas no processo de eletrodeposição de

Cu2+ (a corrente limite para o CuII é menor que para o Cu2+). Este resultado advém do fato

de que, além do processo de transferência de massa ser mais lento para o cátion complexado,

ocorre também um deslocamento do sobrepotencial de eletrodeposição do cobre para valores

mais catódicos em que a RDH é favorecida, como pode ser observado na Figura 4.8, em que

são mostrados voltamogramas para as soluções aquosas contendo Cu2+ e CuII complexado

com EDTA. De fato, na Figura 4.8 constata-se que o potencial de redução catódica do cobre

passa de -0,12 para Cu2+ para -0,98 V vs. Ag/AgCl para CuII. Como conseqüência disto, os

valores de eficiência de corrente para a eletrodeposição de CuII diminuem e o consumo

energético (Figura 4.7(b)) aumenta quando comparados com o processo de eletrodeposição

de Cu2+.

As curvas de CEI em função da concentração normalizada mostradas na Figura

4.7(b) seguem o mesmo comportamento daquelas mostradas na Figura 4.5 e a análise é

análoga ao que foi discutido para a eletrodeposição dos íons Cu2+, sendo apenas os valores

de CEI mais elevados do que aqueles observados para a eletrodeposição de Cu2+ na faixa de

concentração em que o processo é controlado pelo transporte de carga.

29

0 30 60 90 120 150

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

C/C

0

tempo (min)

α = 0,20

α = 0,30

α = 0,40

α = 0,60

Figura 4.6. Concentração de cobre normalizada em função do tempo para diferentes

valores de α. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,00,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

EC

I

C/C0

α = 0,20

α = 0,30

α = 0,40

α = 0,61

(a)0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

0

20

40

60

80

(b)

CE

I / k

Wh

kg-1

C/C0

α = 0,20

α = 0,30

α = 0,40

α = 0,60

Figura 4.7. (a) ECI e (b) CEI em função da concentração de cobre normalizada para

diferentes valores de α. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

30

-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5

-5

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

i / m

A c

m-2

E / V vs. Ag/AgCl

eletrólito suporte

eletrólito suporte + 3 mmol L-1 EDTA

eletrólito suporte + 3 mmol L-1 Cu2+

eletrólito suporte + 3 mmol L-1 EDTA + 3 mmol L-1CuII

Figura 4.8. Voltamogramas de eletrodeposição de Cu2+ e CuII sobre carbono vítreo.

Eletrólito suporte: Na2SO4 0,5 mol L-1; Velocidade de varredura: 100 mV s-1.

4.1.7- Eficiência de corrente e consumo energético globais

Como foi observado anteriormente, a aplicação de correntes elevadas leva a uma

diminuição do tempo para a remoção completa do cobre da solução, porém a ECtc é menor;

por outro lado, a aplicação de correntes baixas melhora a ECtc, no entanto o tempo de

processo pode tornar-se demasiadamente longo. Estas duas situações antagônicas sugerem

que deve haver um ponto de ótimo para o tempo de processo e o consumo energético. Para

esta análise determinou-se a eficiência de corrente global (ECG) do processo utilizando-se

a Equação 4.1 e as curvas das Figuras 4.4 e 4.7(a). Neste caso, calculou-se a ECG

considerando-se a remoção de todo o cobre da solução.

( ) ( )

( )∫

∫= 1

0

0

1

0

0

C/Cd

C/CdECI

ECG (4.1)

O consumo energético global (CEG) foi calculado pela Equação 3.2, porém ao invés

de se utilizar o valor de ECI utilizou-se o valor de ECG. Os resultados obtidos de ECG e

CEG em função de α são mostrados na Figura 4.9.

31

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,90,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

(a)

Cu2+

- pH 3,0

Cu2+ - pH 4,8

CuII

EC

G

α0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

2

4

6

8

10

12

14

16

(b)α

CE

G /

kWh

kg-1

Cu2+ - pH 3,0

Cu2+ - pH 4,8

CuII

Figura 4.9. (a) ECG e (b) CEG em função de α. C0 = 500 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

Como se pode observar na Figura 4.9(a), a ECG do processo diminui à medida que o

valor de α aumenta, sendo esta queda menos sensível para a eletrodeposição dos íons

complexados. Com relação ao CEG mostrado na Figura 4.9(b), seu aumento é pronunciado

para todas as condições com o aumento de α. Apesar da diminuição da ECG e do aumento

do CEG, o tempo de processo ou a área de eletrodo podem ser decisivos para uma tomada de

decisão. A opção pela utilização de valores baixos de α implicam maiores tempos

necessários para a remoção completa do cobre ou então em áreas de eletrodo mais elevadas.

A utilização de valores elevados de α levam a uma situação inversa. Por exemplo, o uso

de α = 0,17 e 0,20 para a eletrodeposição de Cu2+ em pH 3 e CuII, levariam a um tempo de

processo, considerando-se a remoção de 95% do cobre da solução, de 53 e 129 minutos,

respectivamente. No entanto, usando-se os valores de α = 0,67 e 0,60 para a eletrodeposição

de Cu2+ em pH 3 e CuII, este tempo diminuiria para 26 e 65 minutos, respectivamente. Em

termos de consumo energético, haveria um aumento médio aproximado de 55%.

4.2- Degradações de corante

4.2.1- Determinação do coeficiente de difusão para o cloreto

O coeficiente de difusão dos íons Cl- foi determinado em meio aquoso e em uma

solução contendo 0,5 mol L-1 de Na2SO4. O estudo do sistema contendo Na2SO4 foi

escolhido uma vez que o mesmo foi utilizado nos experimentos de descoloração do corante

AR-19 como eletrólito suporte. Na Tabela 4.3 é mostrado o resultado experimental para os

sistemas NaCl-Na2SO4-H2O.

32

Tabela 4.3. Coeficiente de difusão para os ânions Cl-.

Sistema C10

(mg L-1)

C20

(mg L-1)

C1f

(mg L-1)

C2f

(mg L-1)

t

(s)

D x 109

(m2 s-1)

NaCl-Na2SO4-H2O 562 81 520 132 900 1,95

Segundo Gubulin e Tobinaga (1990), o coeficiente de difusão para o sistema NaCl-

H2O obtido pela técnica da célula de difusão é 1,40 x 10-9 m2 s-1. Sendo assim, pode-se

observar que a adição de Na2SO4 ao sistema provoca um aumento no coeficiente de

difusão dos íons cloreto.

4.2.2- Determinação da espessura da camada limite difusiva

A Figura 4.10 mostra os voltamogramas para o sistema ferri/ferrocianeto obtidos

para diferentes velocidades de escoamento aplicadas ao reator da Figura 3.3. Ao contrário

do que ocorreu com o eletrodo poroso, para o eletrodo plano foram obtidas voltametrias

em que o patamar de corrente limite está claramente evidente entre os potenciais de -1,0 V

até -0,7 V vs. Ag/AgCl. A corrente limite foi medida considerando-se o potencial de – 0,9

V vs. Ag/AgCl.

-1,4 -1,2 -1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0-10

-8

-6

-4

-2

0

2

I / m

A

E / V vs. Ag/AgCl

0,105 m s-1

0,139 m s-1

0,278 m s-1

0,347 m s-1

0,417 m s-1

0,556 m s-1

0,694 m s-1

0,833 m s-1

0,972 m s-1

Ecl

Figura 4.10. Voltamogramas para o sistema ferri/ferrocianeto. Eletrodo:

Ti/Ti0,7Ru0,3O2 28 cm2. Eletrólito: K3Fe(CN)6 0,001 mol L-1, K4Fe(CN)6 0,01 mol L-1,

Na2CO3 1,0 mol L-1. Velocidade de varredura = 50 mV s-1.

Utilizando-se os valores de IL obtidos a partir da Figura 4.10 e substituindo-os na

Equação 2.10 obtém-se a Figura 4.11(a) que mostra o coeficiente de transporte de massa

em função da velocidade de escoamento. Em seguida, utilizando a relação km = D/δ

33

(D = 6,4 x 10-10 m2 s-1) obtém-se a curva de δ em função velocidade de escoamento

mostrada na Figura 4.11(b).

0,2 0,4 0,6 0,8 1,03,2

3,6

4,0

4,4

4,8

5,2

k m x

105

/ m

s-1

v / m s-1(a)

0,2 0,4 0,6 0,8 1,01,2

1,4

1,6

1,8

2,0

(b)

δ x

105

/ m

v / m s-1

Figura 4.11. a) km e b) δ em função da velocidade de escoamento para o reator da

Figura 3.3.

A velocidade de escoamento escolhida para a realização dos experimentos de

descoloração do corante AR-19 foi a de 0,556 m s-1. Esta velocidade foi escolhida por

proporcionar um valor relativamente elevado de km sem a necessidade de uma vazão muito

elevada que levaria a elevadas perdas de carga no sistema e aumentando,

conseqüentemente, o custo associado à operação de bombeamento.

4.2.3- Experimentos de degradação de corante AR-19

Usando-se o valor de δ (1,41 x 10-5 m) para a velocidade de escoamento desejada

(0,556 m s-1) e do coeficiente de difusão dos íons Cl- determinados anteriormente (1,95 x

10-9 m2 s-1), calculou-se então a corrente limite para as duas concentrações de Cl-

utilizadas: 150 e 750 mg L-1. Aplicando-se a Equação 2.10, os valores de IL obtidos foram

0,16 e 0,79 A para as concentrações de Cl- de 150 e 750 mg L-1, respectivamente.

Usando-se os valores de α iguais a 0,5, 1,0, 1,5 e 2,0, foram obtidas as curvas de

descoloração do corante em função do tempo, mostradas na Figura 4.12.

34

0 20 40 60 80 100 1200,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

(a)

A/A

0

t / min

α = 0,5

α = 1,0

α = 1,5

α = 2,0

0 5 10 15 20 25 30

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

(b)

A/A

0

t ( min)

α = 0,5 α = 1,0 α = 1,5 α = 2,0

Figura 4.12. Descoloração do AR-19 em função do tempo para diferentes valores de

α: (a) 150 mg L-1 Cl- e (b) 750 mg L-1 Cl-. C0 = 30 mg L-1, 0,5 mol L-1 Na2SO4.

A partir da Figura 4.12 verifica-se que para as duas concentrações de cloreto

observadas a taxa de descoloração aumentou com o aumento de α, mesmo quando aplicadas

correntes cujo α é maior que 1, ou seja, a corrente aplicada é maior que a limite. A partir

desses resultados pode-se levantar a hipótese de que a descoloração não está ocorrendo

apenas pela reação com o cloro ativo gerado. Sendo assim, foi realizado um experimento

aplicando-se a corrente de 1,58 A, referente ao valore de α = 2 para a concentração de Cl- de

750 mg L-1, para o mesmo sistema, porém na ausência de cloreto. A descoloração obtida é

mostrada na Figura 4.13.

0 20 40 60 80 100 1200,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

A/A

0

t (min)

sem cloreto 750 ppm de cloreto

Figura 4.13. Descoloração do AR-19 em função do tempo utilizando a corrente de

1,58 A.

35

Apesar de ter ocorrido descoloração na ausência de cloreto, esta foi bem lenta e

insuficiente para atribuir-se que a diferença entre as condições de α = 1 e α = 2 sejam

apenas devido à reação direta na superfície do eletrodo, indicando que há algum outro tipo de

mecanismo colaborando com o processo de descoloração.

Como pode ser observado na Figura 4.14a, a taxa de descoloração não se alterou

significativamente em função dos parâmetros α aplicados quando foram utilizados 150 mg

L-1 de Cl-. Sendo assim, conclui-se que o aumento da corrente aplicada no processo, dentro

da faixa estudada leva a uma maior taxa de descoloração sem perda da eficiência de corrente.

A partir destas características do processo, a forma de análise da eficiência de corrente

adotado foi o da descoloração em função da carga aplicada, como mostrado na Figura 4.14.

0 400 800 1200 1600 2000 24000,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

(a)

A/A

0

Q / A s

α = 0,5 α = 1,0 α = 1,5 α = 2,0

0 400 800 1200 1600 2000

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

(b)

A/A

0

Q / A s

α = 0,5

α = 1,0

α = 1,5

α = 2,0

Figura 4.14. Descoloração do corante AR-19 em função da carga aplicada ao processo

para diferentes valores de α: a) 150 mg L-1 e b) 750 mg L-1 de Cl-.

Na Figura 4.14b, referente ao uso de 750 mg L-1 de Cl-, fica claro uma queda

da eficiência de corrente a partir de A/A0 = 0,5 (50% de descoloração), identificada através

do maior consumo de carga para que ocorra a mesma descoloração em função do acréscimo

de α.

Finalmente, foram calculados os consumos energéticos para as condições estudadas

para as condições de 30% e 90% da descoloração do corante, como pode ser observado na

Tabela 4.4.

36

Tabela 4.4. Consumo energético para o processo de descoloração do AR-19

Consumo Energético / kWh m-3

t30% t90%

α 150 mg L-1 750 mg L-1 750 mg L-1

0,5 * 0,104 0,202 ( 20 min)

1,0 0,427 0,124 0,315 (14,5 min)

1,5 0,384 0,103 0,430 (12,5 min)

2,0 0,440 0,097 0,526 (10,8 min)

*Não foi atingido 30% da descoloração.

Segundo a Tabela 4.4, pode-se observar que o consumo energético não se altera

significativamente quando se utiliza 150 mg L-1 de Cl- nos experimentos. Esse resultado é

coerente com a análise de eficiência de corrente já que a mesma não se alterou nestas

mesmas condições. Para tal descoloração (30%) também há uma redução do consumo

energético quando utilizada maior concentração de cloreto e, neste intervalo, não houve

discrepâncias entre os consumos energéticos em função dos valores de α estudados. Por

outro lado, quando se analisa a descoloração de 90% (para 750 mg L-1 de Cl-), o consumo

energético aumenta em função de α, reflexo da queda de eficiência a partir dos 50% de

descoloração.

37

5- CONCLUSÕES E SUGESTÕES

5.1- Conclusões

Os resultados da eletrodeposição de cobre apresentados permitem concluir que o pH

e a presença de agentes complexantes no eletrólito determinam a cinética da reação e,

conseqüentemente, a eficiência de corrente e o consumo energético do processo. A

proporção em que o processo de eletrodeposição é controlado pelo transporte de carga e

pelo transporte de massa, representado pelo parâmetro α, é determinante da eficiência de

corrente e do consumo energético globais do processo.

Com relação aos experimentos de descoloração do corante AR-19 pode-se concluir

que a corrente limite determinada a partir do coeficiente de difusão do cloreto não foi

suficiente para atingir a cinética máxima de descoloração do sistema, ou seja, para valores

de α maiores que 1 ocorreu o aumento na taxa de descoloração, indicando que esta não

ocorre apenas pela reação do cloro ativo gerado com a molécula do corante. Conclui-se

também que há um grande aumento da cinética de descoloração com o aumento da

concentração de cloreto utilizada e que, para os casos com a maior concentração de cloreto,

a eficiência de corrente diminuiu consideravelmente com o aumento de α, após atingida

50% de descoloração. Esta diminuição da eficiência de corrente provocou um aumento no

consumo energético, mas também levou a uma diminuição do tempo necessário para a

descoloração da solução.

5.2- Sugestões para trabalhos futuros

A partir dos resultados obtidos nesse trabalho, os seguintes estudos podem ser

sugeridos:

- aplicar o método utilizado neste trabalho para outros íons para verificar sua

validade;

- estudar o mecanismo de descoloração do corante AR-19 já que, como observado,

este não depende apenas da reação do cloro ativo com a molécula do corante;

38

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