universidade federal do cearÁ - deecc.ufc.br · 3.2 comparação de custos entre os sistemas ......
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE TECNOLOGIA
ENGENHARIA CIVIL
DINO DE TARSO PINHEIRO E PINHO
SISTEMA CONSTRUTIVO PAREDE DE CONCRETO – UM ESTUDO DE CASO
FORTALEZA
2010
ii
DINO DE TARSO PINHEIRO E PINHO
SISTEMA CONSTRUTIVO PAREDE DE CONCRETO – UM ESTUDO DE CASO
Monografia submetida à Coordenação do
Curso de Engenharia Civil da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial para
obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Orientador: Prof. D. Sc. Augusto Teixeira de
Albuquerque
FORTALEZA
2010
iii
DINO DE TARSO PINHEIRO E PINHO
SISTEMA CONSTRUTIVO PAREDE DE CONCRETO – UM ESTUDO DE CASO
Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Aprovada em ____/____/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Prof. Augusto Teixeira de Albuquerque (Orientador), D. Sc.
Universidade Federal do Ceará - UFC
_______________________________________________________
Eng. Joaquim Caracas
Impacto Protensão
________________________________________________________
Prof. D. Sc. Alexandre Araújo Bertini
Universidade Federal do Ceará - UFC
iv
Aos meus pais,
Osvaldino Antonio Martins de Pinho e Ana Raquel Araújo Pinheiro
Por serem meu maior exemplo e a quem eu devo tudo o que sou.
v
AGRADECIMENTOS
A DEUS, acima de tudo pela vida, e por guiar, proteger e iluminar todos os meus
passos. Que me dê força para continuar a caminhada em busca dos meus objetivos.
Aos meus pais, Osvaldino Pinho e Ana Raquel Pinheiro, que sempre me incentivaram
e acreditaram e mim.
A minha namorada Lívia Brasileiro Lima, que sempre me apoiou nos momentos mais
difíceis dessa trajetória de curso, nunca me deixando fraquejar em momento algum.
Ao professor, Augusto Teixeira, pelo incentivo e pela dedicada orientação para a
elaboração desta monografia.
Aos meus amigos por todo apoio me deram.
Aos professores pelo apoio direto e indireto, que tanto contribuíram para a minha
formação pessoal e profissional.
A todos que de alguma forma desejaram minha obtenção do Grau de Engenheiro Civil.
vi
“As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que
precisam e, quando não as encontram, as criam.”
Bernard Shaw
vii
RESUMO
Um dos motivos para o crescimento do numero de construções no Brasil é o
incentivo da iniciativa pública em programas habitacionais, como o „„Minha Casa, Minha
Vida‟‟. Em função da retomada destes programas, as construtoras têm buscado sistemas
construtivos econômicos e produtivos para produzir casas em massa, sem comprometer a
qualidade e o desempenho das edificações. O sistema construtivo parede de concreto, muito
utilizado em países como Chile, Colômbia e México por apresentar vantagens em termos de
prazos, custos e qualidade, é um sistema que, em função da velocidade de execução e
otimização de mão-de-obra, tem sido uma das escolhas das empresas que ingressaram no
mercado econômico de habitação. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é mostrar que o
sistema construtivo parede de concreto pode ser mais uma alternativa construtiva para ser
utilizada no programa „„Minha Casa, Minha Vida‟‟. A metodologia usada foi o estudo de caso
em uma obra que utiliza o sistema parede de concreto e o de alvenaria convencional, onde foi
realizada uma comparação entre os sistemas. A partir desta comparação se obteve o custo do
item paredes e painéis, de uma habitação, para cada sistema. Por fim, foi realizada uma
análise comparativa mais detalhada, calculou-se uma estimativa de potencial de ganho de
cada sistema no período de um mês, trabalhando com o mesmo quantitativo de mão-de-obra.
Os resultados encontrados foram que o custo unitário de uma habitação no sistema de
alvenaria convencional é mais baixo do que no sistema parede de concreto, porém o potencial
de ganho no sistema parede de concreto é maior, pois produz mais habitações em um mesmo
intervalo de tempo.
Palavras-chaves: Alvenaria convencional, governo federal, parede de concreto e programa
habitacional.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Ilustração do programa federal (MINHACASAMINHAVIDA, 2010) ................. 2 Figura 2.1 – Vedação e estrutura constituem o mesmo elemento .............................................. 5 Figura 2.2 – Empreendimento com alta repetitividade (HESKETH, 2009) ............................... 6 Figura 2.3 – Exemplos de tipologias (HESKETH, 2009) .......................................................... 6
Figura 2.4 – Os operários são montadores e executam todas as tarefas necessárias como
armação, instalações, montagem, concretagem e desfôrma ....................................................... 7 Figura 2.5 – Resíduos gerados no sistema de Alvenaria Convencional ..................................... 8 Figura 2.6 – Comparação entre as etapas construtivas que sucedem o acabamento
(HESKETH, 2009) ..................................................................................................................... 9
Figura 2.7 – Exemplo de procedimento para ser feita a concretagem (ABCP, 2007).............. 11 Figura 2.8 – Concretagem com auxilio de bomba-lança .......................................................... 12
Figura 2.9 – Adensamento do concreto feito com vibrador de mangote (MISURELLI;
MASSUDA, 2009) ................................................................................................................... 12 Figura 2.10 – Tipos de fôrmas utilizadas (ABCP, 2007) ......................................................... 14 Figura 2.11 – Nivelamento da laje ........................................................................................... 14
Figura 2.12 – Marcação das linhas de paredes ......................................................................... 15 Figura 2.13 – Colocação das armaduras e instalações.............................................................. 15
Figura 2.14 – Montagem dos painéis........................................................................................ 16 Figura 2.15 – Numeração dos painéis ...................................................................................... 16 Figura 2.16 – Colocação de ancoragens para fechamento das fôrmas ..................................... 17
Figura 2.17 – Limpeza dos painéis ........................................................................................... 18 Figura 2.18 – Interatividade entre cobertura, fachada e piso para melhor desempenho acústico
(WENDLER, 2009) .................................................................................................................. 19 Figura 2.19 – Espessura mínima das paredes (WENDLER, 2009) .......................................... 20
Figura 2.20 – Conjunto Habitacional em Cunha(MARGANELLI, 2004) ............................... 21 Figura 2.21 – Empresários brasileiros durante a missão técnica em Bogotá na Colômbia
(LOTURCO, 2007) ................................................................................................................... 22
Figura 2.22 – Empreendimento Garden Village realizado pela Rodobens Negócios
Imobiliários no sistema construtivo parede de concreto (SODRÉ, 2008) ................................ 23 Figura 2.23 – Foto de um empreendimento Bairro Novo (MOACYR, 2008) ......................... 24 Figura 3.1 – Planta baixa da casa ............................................................................................. 26 Figura 3.2 – Localização da obra.............................................................................................. 27 Figura 3.3 – Placa na entrada da obra com as empresas responsáveis ..................................... 27
Figura 3.4 – Sistema de alvenaria convencional ...................................................................... 28 Figura 3.5 – Os três tipos de fôrmas utilizados na obra ........................................................... 29
Figura 3.6 – Central de Concreto ............................................................................................. 29 Figura 3.7 – Foto das visitas realizadas .................................................................................... 30
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LISTA DE TABELAS
Tabela 2-1 – Resumo dos tipos de concreto (ABCP, 2007) ..................................................... 10 Tabela 2-2 – Instituições e laboratórios onde foram realizados testes nos quatro tipos de
concreto (WENDLER,2009) .................................................................................................... 19 Tabela 3-1 – Piso salarial.......................................................................................................... 30
Tabela 3-2 – Diárias mais encargos .......................................................................................... 31 Tabela 3-3 – Orçamento do sistema construtivo parede de concreto ....................................... 31 Tabela 3-4 – Orçamento do sistema de alvenaria convencional .............................................. 31
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico I – Comparativo de custo entre os sistemas ................................................................ 32 Gráfico II – Índices de mão-de-obra e de material ................................................................... 33 Gráfico III – Produtividade dos sistemas com 12 homens trabalhando durante 20 dias úteis . 34
Gráfico IV – Potencial de ganho dos sistemas ......................................................................... 34
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1 1.1 Considerações iniciais .................................................................................................. 1 1.2 Objetivos ........................................................................................................................ 3 1.2.1 Objetivo geral .............................................................................................................. 3
1.2.2 Objetivos específicos ................................................................................................... 3
1.3 Metodologia ................................................................................................................... 3 1.4 Estrutura do trabalho .................................................................................................. 4 2 SISTEMA CONSTRUTIVO PAREDE DE CONCRETO ....................................... 5
2.1 Características .............................................................................................................. 5
2.2 Materiais ........................................................................................................................ 9 2.2.1 Concreto ....................................................................................................................... 9
2.2.2 Fôrmas ....................................................................................................................... 13 2.2.3 Aço ............................................................................................................................. 18
2.3 Homologação do sistema ............................................................................................ 18 2.3.1 Desempenho Térmico ................................................................................................ 19
2.3.2 Desempenho Acústico ............................................................................................... 20
2.4 Entidades que apóiam o sistema ............................................................................... 20
2.5 Empresas nacionais que utilizam o sistema ............................................................. 22 2.5.1 Rodobens ................................................................................................................... 22 2.5.2 Bairro Novo ............................................................................................................... 24
3 ESTUDO DE CASO ................................................................................................... 26 3.1 A obra .......................................................................................................................... 26
3.2 Comparação de custos entre os sistemas .................................................................. 30 3.3 Análise dos dados ........................................................................................................ 32
4 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 37
ANEXOS ................................................................................................................................. 39
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 Considerações iniciais
A crise econômica de 2008, iniciada nos EUA e depois espalhada pelo mundo em
decorrência da globalização econômica e financeira fez com que os governos do capitalismo
central tomassem varias medidas de intervenção para controlar a crise. Nos EUA, o governo
Bush elaborou um plano de socorro aos bancos de investimentos da ordem de mais de um
trilhão de dólares. (FOLHA ONLINE, 2009)
O Brasil inicialmente não foi atingido em cheio pela crise, pois os bancos não
possuíam papéis ligados às hipotecas de alto risco que originaram os problemas. Mas vários
setores sofreram com a contração de crédito e pela queda das exportações e da demanda
interna. O resultado foi o avanço do desemprego e a expectativa de desaceleração no
crescimento econômico do país. (FOLHA ONLINE, 2009)
Uma das principais medidas tomada pelo governo federal para combater a crise,
foi investir no setor da construção civil, pois é um setor muito representativo para a economia
nacional, tanto para o bem ou para o mal, sendo assim, se o setor voltasse a crescer, o Brasil
estaria de novo no caminho do crescimento econômico. (ROMANELLI, 2009)
Segundo a Agência Brasil (2010) o grande carro-chefe do setor da construção
civil foi a criação do Programa habitacional ``Minha Casa, Minha Vida`` (Figura 1.1).
O governo federal está investindo R$35 bilhões para que milhões de brasileiros
tenham acesso à casa própria. O Minha Casa, Minha Vida viabiliza a construção de
1 milhão de moradias para famílias com renda de até 10 salários mínimos, em
parceria com estados, municípios e iniciativa privada, vai impulsionar a economia,
gerar empregos e trazer reflexos positivos para toda sociedade.
(MINHACASAMINHAVIDA, 2009)
O Principal objetivo do programa é chegar em 2010, com a construção de 1
milhão de casas populares, com prestações baratas e mais acessíveis à população de baixa
renda. O dinheiro deverá sair do FGTS e do tesouro nacional. Do total de moradias, 400 mil
serão destinadas para quem tem renda até três salários mínimos, outras 200 mil para quem
recebe entre três e quatro salários mínimos, 100 mil para quem tem renda entre quatro e cinco
salários mínimos, 100 mil para quem recebe entre cinco e seis salários mínimos e as 200 mil
restantes são para população que recebe entre seis e dez salários mínimos.
(MINHACASAMINHAVIDA, 2009)
2
A partir desse cenário, os empresários do setor da construção civil têm pela frente
uma rara oportunidade e um grande desafio, diante de uma demanda jamais vista no país. Eles
podem abrir um imenso mercado, criando produtos com qualidade para a população de menor
poder aquisitivo. Mas o crescimento da construção civil coloca a todos uma questão: Como
executar todas essas habitações em um intervalo de tempo tão curto, utilizando sistemas
construtivos econômicos sem comprometer a qualidade e o desempenho das edificações?
O lançamento do programa trouxe à tona uma série de processos construtivos e
para poder construir todas essas moradias, é necessário contar com tecnologias aplicáveis em
grande escala e de custo acessível. Em palavras exatas, industrializar a construção civil é o
modo que as construtoras estão encontrando para executar toda essas moradias, e é nesse
contexto que o sistema parede de concreto aparece como uma alternativa viável, pois é
indicada à produção de empreendimentos que têm alta repetitividade, em construções de
grandes e médios conjuntos habitacionais ou até de pequenos bairros. É um método de
construção racionalizado que oferece padronização, produtividade, qualidade e economia de
escala. Foi o sistema construtivo usado para erradicar o déficit habitacional do México, e é
muito usado no Chile e na Colômbia. (JUSTUS, 2009; ABCP, 2007)
Figura 1.1 – Ilustração do programa federal (MINHACASAMINHAVIDA, 2010)
3
No sistema construtivo parede de concreto, a vedação e a estrutura são compostas
por um único elemento, e o método se resume basicamente na montagem de fôrmas que
depois são preenchidos com concreto tendo embutidas as instalações elétricas e hidráulicas. O
sistema foi utilizado no Brasil nas décadas de 70 e 80, em experiências consagradas e bem-
sucedidas do sistema Gethal (concreto celular) e sistema Outinor (concreto convencional),
mas devido à falta de escala e de continuidade de obras nesses padrões e também pela
escassez de financiamentos e programas habitacionais, essas tecnologias não se consolidaram
no mercado brasileiro. (ABCP, 2007)
A Votorantim Cimentos prevê que 70% do mercado total de habitação popular no
Brasil serão de parede de concreto, já a ABCP tem uma projeção mais conservadora,
considera que 50% dos projetos irão utilizar o método. (JUSTUS, 2009)
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Mostrar que o sistema construtivo parede de concreto pode ser mais uma
alternativa construtiva para ser utilizada em obras do programa habitacional “Minha Casa,
Minha Vida”.
1.2.2 Objetivos específicos
a) Descrever todo o sistema construtivo parede de concreto;
b) Apresentar vantagens do sistema em relação aos sistemas tradicionais;
c) Apresentar empresas nacionais que utilizam e entidades que apóiam o sistema;
d) Comparar o sistema construtivo parede de concreto com o de alvenaria convencional –
estudo de caso;
1.3 Metodologia
Nesta monografia foram utilizados dois procedimentos metodológicos, o primeiro
uma pesquisa bibliográfica, que mostra uma coletânea de informações do sistema parede de
concreto, que foi obtida a partir de uma coleta de dados. O segundo é um estudo empírico, do
tipo estudo de caso, que aborda a comparação do sistema construtivo parede de concreto com
4
o sistema de alvenaria convencional, que foi realizado em uma obra que utiliza os dois
sistemas construtivos.
1.4 Estrutura do trabalho
Esta monografia encontra-se dividida em quatro capítulos, conforme a descrição
abaixo:
a) Capítulo 1 – Introdução: Neste capítulo é abordado o contexto em que se insere o tema
explorado, bem como o problema de pesquisa, a justificativa para o estudo, a
metodologia, os objetivos e a estrutura do trabalho;
b) Capítulo 2 – Sistema construtivo parede de concreto: Este capítulo trata da revisão
bibliográfica sobre o tema;
c) Capítulo 3 – Estudo de Caso: Este capítulo aborda o estudo de caso, onde se faz a
comparação do sistema construtivo parede de concreto com o de alvenaria
convencional, em uma obra que utiliza os dois sistemas.
d) Capítulo 4 – Conclusões: Neste capítulo final será discutida a avaliação dos objetivos
traçados e trará também as considerações finais.
5
2 SISTEMA CONSTRUTIVO PAREDE DE CONCRETO
2.1 Características
O sistema construtivo parede de concreto é um método que utiliza fôrmas que são
montadas no local da obra e depois preenchidas com concreto, já com as instalações
hidráulicas e elétricas embutidas. A principal característica do sistema é que a vedação e
estrutura constituem um único elemento (Figura 2.1) (MISURELLI; MASSUDA, 2009).
Figura 2.1 – Vedação e estrutura constituem o mesmo elemento
O sistema é recomendado para empreendimentos que têm alta repetitividade
(Figura 2.2) e podem ser utilizadas em obras de pequeno, médio e alto padrão, devido a sua
grande versatilidade. O que define a escolha é uma criteriosa análise de custos, que leve em
consideração todos os fatores tais como mão-de-obra e tempo de construção com seus
encargos. Podem ser utilizados em edificações de casas térreas, sobrados, edifícios de até seis
pavimentos, edifícios de até nove pavimentos com apenas esforços de compressão, e tendo
inclusive exemplos de utilização em edifícios de até 30 pavimentos (Figura 2.3) (ABCP,
2007).
6
Figura 2.2 – Empreendimento com alta repetitividade (HESKETH, 2009)
O sistema de alvenaria convencional que é bastante utilizado para construção de
conjuntos habitacionais no Brasil é marcado pelo tempo de execução lento, atividades
artesanais que demandam índices de mão-de-obra elevados e onde se predomina o
desperdício. Já o sistema construtivo parede de concreto é totalmente sistematizado, pois é
baseado inteiramente em conceitos de industrialização de materiais e equipamentos,
mecanização, modulação, controle tecnológico e multifuncionalidade. Por esses fatos a obra
se transforma em uma linha de montagem, como na indústria automobilística (ABCP, 2007).
Dessa forma é possível conseguir um produto homogêneo, independentemente da região do
país e da mão de obra a ser empregada, sendo um diferencial para empresas que constroem
em vários estados (CICHINELLI, 2009).
Figura 2.3 – Exemplos de tipologias (HESKETH, 2009)
7
O sistema reduz as atividades artesanais e improvisações, contribuindo para
diminuir o numero de operários no canteiro, com maior produção em menos tempo, o sistema
se viabiliza a partir de escala, velocidade, padronização e planejamento sistêmico. Para se ter
a qualidade final, produtividade e o prazo desejado, é necessário que o engenheiro faça todo o
controle da obra desde a fase de projetos até a entrega da obra, atentando principalmente a
fase de montagem das fôrmas até a desfôrma, pois qualquer erro pode acarretar a danificação
das fôrmas ou a perda do concreto (ABCP, 2007).
Uma das principais características do sistema é a racionalização dos serviços. Os
operários são multifuncionais e executam todas as tarefas necessárias como armação,
instalações, montagem, concretagem e desfôrma (Figura 2.4), outra vantagem também é que o
sistema não necessita de mão-de-obra especializada. Os benefícios do sistema Parede de
Concreto são: Velocidade de execução, garantia nos prazos de entrega, industrialização do
processo, maior qualidade e desempenho técnico, mão-de-obra não especializada e
diminuição da mão-de-obra e dos custos indiretos (ABCP, 2007;MISURELLI; MASSUDA,
2009).
Figura 2.4 – Os operários são montadores e executam todas as tarefas necessárias como armação, instalações,
montagem, concretagem e desfôrma
Além da velocidade e da economia de custos, o sistema parede de concreto
também reduz o desperdício e as etapas construtivas de uma obra. No sistema de alvenaria
convencional, depois de erguida a casa, as paredes têm de ser quebradas para as instalações
hidráulicas e elétricas serem colocadas, como no sistema parede de concreto as instalações já
8
vem embutidas, o desperdício de mão-de-obra com estes retrabalhos são eliminados. Esta
quebra nas paredes no sistema de alvenaria convencional para serem colocadas as instalações
gera desperdício, e esse desperdício se transforma em resíduos (Figura 2.5) (JUSTUS, 2009).
No sistema Parede de Concreto o desperdício é mínimo, em relação à alvenaria convencional,
gera 80% menos resíduos (D'AMBROSIO, 2009).
Figura 2.5 – Resíduos gerados no sistema de Alvenaria Convencional
Em relação ao acabamento, as paredes de alvenaria convencional requerem a
aplicação do chapisco e o reboco para depois ser feito o acabamento final. Na parede de
concreto, depois de desenformada, dependendo do acabamento final do concreto, a casa já
está pronta para ser pintada ou ser feito o assentamento cerâmico (Figura 2.6) (JUSTUS,
2009). Se o acabamento final do concreto não ficar perfeito, é feito a estucagem, que é a
correção das falhas e emendas do concreto (PINI, 2009). Outra vantagem em relação à
alvenaria convencional é que pelo fato da espessura da parede ser menor, permite obter ganho
de área de útil para a mesma área total da unidade. (ABCP, 2007)
9
Figura 2.6 – Comparação entre as etapas construtivas que sucedem o acabamento (HESKETH, 2009)
2.2 Materiais
2.2.1 Concreto
O concreto é o principal elemento do sistema Parede de Concreto, por isso exige-
se uma atenção especial com este componente (MISURELLI; MASSUDA, 2009).
2.2.1.1 Tipos
São remendados quatro tipos de concreto para o sistema (Tabela 2-1):
Concreto Celular (Tipo L1)
O concreto celular é preparado com agregados convencionais (areia e brita),
cimento Portland, água e minúsculas bolhas de ar distribuídas uniformemente em sua massa.
Por causa das bolhas de ar, adquire características como a baixa massa especifica e o bom
desempenho térmico e acústico. É usualmente utilizado para estruturas de até dois
pavimentos, quando a resistência especificada seja igual à resistência mínima de 4Mpa
(ABCP, 2007).
Concreto com elevado teor de ar incorporado - até 9% (Tipo M)
10
Tem características acústicas, térmicas e mecânicas parecidas às do concreto tipo
L1, é usualmente utilizado em residências térreas e assobradas, desde que especificado com
resistência igual à resistência mínima de 6Mpa (ABCP, 2007).
Concreto com agregados leves ou baixa massa especifica (Tipo L2)
Esse concreto é composto com agregados leves, tem características como bom
desempenho térmico e acústico mas levemente inferior aos concretos Tipos L1 e M. É usado
em qualquer estrutura que necessite de resistência de até 25Mpa (ABCP, 2007).
Concreto convencional ou auto-adensável (tipo N)
Tem duas principais características: Aplicação é muito rápida, feita por
bombeamento e a mistura é extremamente plástica, dispensando o uso de vibradores (ABCP,
2007).
Tabela 2-1 – Resumo dos tipos de concreto (ABCP, 2007)
2.2.1.2 Transporte, Lançamento e Cura
O caminhão betoneira é o transporte mais indicado para transportar o concreto
matriz feito em centrais dosadoras até os locais que as fôrmas estiverem. Antes de iniciar a
concretagem, tem que ser conferido o documento de entrega, para certifica-se de que a
descrição do material solicitado está correta (ABCP, 2007).
11
Figura 2.7 – Exemplo de procedimento para ser feita a concretagem (ABCP, 2007)
Para ser feito o lançamento do concreto nas fôrmas é necessário que antes tenha
sido feito um planejamento detalhado, levando em consideração as características do concreto
que será utilizado, a geometria das fôrmas e o layout do canteiro. O procedimento para ser
feito o lançamento consiste em iniciar a concretagem por um dos cantos da edificação, depois
de uma significativa parcela das paredes próximas ao ponto esteja totalmente cheia, muda-se a
posição em direção ao canto oposto, até que se complete o rodízio dos quatros cantos opostos
da estrutura (Figura 2.7). A utilização de bomba (Figura 2.8) para lançamento do concreto
reduz a probabilidade de falhas de concretagem e não deve haver interrupções com duração
superior a 30 minutos, pois ficaria caracterizada uma junta de dilatação (MISURELLI;
MASSUDA, 2009).
12
Figura 2.8 – Concretagem com auxilio de bomba-lança
O concreto deve ser vibrado (Figura 2.9) com equipamento adequado durante e
imediatamente após o lançamento. O adensamento deve ser cuidadoso, para que a mistura
preencha todos os espaços da fôrma. Deve-se também acompanhar o enchimento das fôrmas
por meio de leves batidas com martelo de borracha nos painéis. O concreto autoadensável
(Tipo N) ou celular (Tipo L1) não tem necessidade de ser vibrado, pelo fato de ter maior
fluidez, plasticidade e viscosidade (evita a segregação dos materiais) (ABCP, 2007).
Figura 2.9 – Adensamento do concreto feito com vibrador de mangote (MISURELLI; MASSUDA, 2009)
13
Para ser feito a cura corretamente, o concreto deve ser protegido contra agentes
que lhe são prejudiciais como mudanças bruscas de temperatura, secagem, vento, chuva forte,
água torrencial, agentes químicos, choques e vibrações de intensidade que possam ocasionar
fissuras no concreto ou afetar a aderência com a armadura (ABCP, 2007).
2.2.2 Fôrmas
São estruturas provisórias com o objetivo de moldar o concreto fresco. Elas têm
que resistir a todas as pressões do lançamento do concreto até que adquira resistência
suficiente para a desfôrma. O projeto de fôrma deve abordar o detalhamento dos seguintes
itens: Posicionamento dos painéis, equipamentos auxiliares, peças de travamento e prumo,
escoramento e seqüência de montagem e desmontagem (MISURELLI; MASSUDA, 2009).
2.2.2.1 Tipos
São recomendado três tipos de fôrmas (Figura 2.10):
Fôrma Metálica
Utilizam quadros e chapas metálicas. O material mais usado é o alumínio, por ser
mais leve e resistente outro material usado nesse tipo de fôrma é o aço (ABCP, 2007). São
consideradas as fôrmas mais caras e que mais podem ser reutilizadas, cerca de 1000 vezes
(PINI, 2009).
Fôrma Mista
Utilizam quadros em peças metálicas e chapas de madeira compensada. As chapas
são parte da fôrma que mantém o contato com o concreto (ABCP, 2007).
Fôrma Plástica
Utilizam quadros e chapas feitas em plástico reciclável. São consideradas as
fôrmas mais baratas e que menos podem ser reutilizadas, cerca de 100 vezes (ABCP, 2007).
14
Figura 2.10 – Tipos de fôrmas utilizadas (ABCP, 2007)
2.2.2.2 Montagem e desmontagem
A montagem do sistema de fôrmas deve seguir a seqüência do projeto original do
fornecedor, mas geralmente, a maioria das fôrmas segue a mesma seqüência padrão:
Nivelamento da laje de piso (Figura 2.11). A laje de piso (“radier”) tem a função de
fundação.
Figura 2.11 – Nivelamento da laje
15
Marcação de linhas de paredes no piso de apoio (Figura 2.12)
Figura 2.12 – Marcação das linhas de paredes
Montagem das armaduras e redes hidráulica e elétrica (Figura 2.13)
Figura 2.13 – Colocação das armaduras e instalações
16
Montagem dos painéis (Figura 2.14), seguindo a numeração das fôrmas (Figura 2.15).
Figura 2.14 – Montagem dos painéis
Figura 2.15 – Numeração dos painéis
17
Colocação de ancoragens: fechamento das fôrmas de paredes (Figura 2.16)
Figura 2.16 – Colocação de ancoragens para fechamento das fôrmas
Na desmontagem, os painéis devem ser posicionados ao lado da próxima
habitação a ser executada. Após o sistema ser desmontado, a fôrma deve ser limpa (Figura
2.17) para a reutilização, o material tem de ser escovado para que todo o resíduo de argamassa
seja eliminado do molde, possibilitando a aplicação de um desmoldante. Como o sistema
paredes de concreto admite o uso de três tipos de fôrmas, uma atenção especial deve ser dada
ao desmoldante escolhido. O produto precisa ser adequado a cada superfície, evitando-se que
o concreto grude na fôrma e não deixe resíduos na superfície das paredes, o que
comprometeria a aderência do revestimento final (ABCP, 2007).
18
Figura 2.17 – Limpeza dos painéis
2.2.3 Aço
A armação adotada no sistema parede de concreto é a tela soldada posicionada no
eixo vertical da parede. Bordas, vãos de portas e janelas recebem reforços de telas ou barras
de armadura convencional. Em edifícios mais altos, as paredes devem receber duas camadas
de telas soldadas, posicionadas verticalmente, e reforços verticais nas extremidades das
paredes. As armaduras devem atender a três requisitos básicos: resistir a esforços de
flexotorção nas paredes, controlar a retração do concreto e estruturar e fixar as tubulações de
elétrica, hidráulica e gás (ABCP, 2007).
2.3 Homologação do sistema
Os quatros tipos de concreto foram testados e aprovados nos mais renomados
laboratórios e institutos de pesquisa (Tabela 2-2). Todos os testes foram realizados sob o rigor
da norma de desempenho ABNT NBR 15.575, que foi aprovada recentemente. O sistema
apresentou desempenho superior aos sistemas convencionais e os ensaios realizados com base
nessa norma levam em consideração os seguintes aspectos: segurança estrutural, segurança
contra incêndio, uso e operação, estanqueidade, desempenho térmico, desempenho acústico,
desempenho luministico, durabilidade, manutenibilidade, saúde, funcionalidade, conforto
antropodinamico e adequação ambiental (WENDLER, 2009). O sistema já foi homologado
19
em vários estados brasileiros e esses laudos certificam que essa metodologia pode ser usada
em território nacional (ABCP, 2007).
Tabela 2-2 – Instituições e laboratórios onde foram realizados testes nos quatro tipos de concreto
(WENDLER,2009)
Concreto celular - L1 Avaliações de sistemas construtivos e estabelecimentos de requisitos para
edificações térreas - Furnas, dezembro de 2003
Concreto com
agregado leve - L2
Desenvolvimento de concreto de alto desempenho estrutural leve - USP São
Carlos, fevereiro de 2005
Avaliação do desempenho construtivo - CETEC, julho de 2005
Relatório de desempenho de conforto térmico - USP São Carlos, agosto de
2006
Avaliação do desempenho acústico - USP São Carlos, dezembro de 2006
Concreto com ar
incorporado – M
Avaliação de desempenho térmico de edifícios habitacionais em oito zonas
bioclimáticas do Brasil - IPT, maio de 2008
Concreto normal – N Sistemas construtivos em concreto moldado in loco e tilt up - Furnas, 2006
O desempenho térmico e acústico só pode ser aprovado conforme algumas
observações.
2.3.1 Desempenho Térmico
A edificação habitacional deve reunir características que atendam exigências entre
o local de implantação da obra e a respectiva zona bioclimática, e o desempenho interativo
entre fachada,cobertura e piso (Figura 2.18) (WENDLER, 2009).
Figura 2.18 – Interatividade entre cobertura, fachada e piso para melhor desempenho acústico (WENDLER,
2009)
20
O país tem oito zonas bioclimáticas definidas pela variação de temperatura e para
cada zona são feitas recomendações sobre tamanho e sombreamento das aberturas e condições
gerais de ventilação (WENDLER, 2009).
2.3.2 Desempenho Acústico
Os níveis de ruídos admitidos na habitação devem proporcionar isolamento
acústico entre o meio externo e interno, bem como entre unidades distintas (mínimo de 45dB)
e complementarmente entre cômodos de uma mesma unidade (mínimo de 30dB). O conforto
acústico depende da massa das paredes que é a relação entre a massa especifica e a espessura
das paredes (Figura 2.19) (WENDLER, 2009).
Figura 2.19 – Espessura mínima das paredes (WENDLER, 2009)
2.4 Entidades que apóiam o sistema
A ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) em 2004 com uma parceria
firmada com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de
São Paulo) desenvolveram um projeto piloto visando o melhor conhecimento do sistema
construtivo parede de concreto na produção de casas populares. As casas foram executadas
pelos futuros moradores, em forma de mutirão, comandados por um mestre de obras da
CDHU e assessorados pela ABCP (Figura 2.20). Foram construídas 21 casas de 45m² de área
construída por unidade na cidade de Cunha, região do Vale do Paraíba, a 222 km de São
21
Paulo. A ABCP fez todo acompanhamento e o controle tecnológico, tanto do sistema
construtivo quanto do concreto utilizado (ANTUNES, 2004).
Figura 2.20 – Conjunto Habitacional em Cunha(MARGANELLI, 2004)
Em 2007, visando conhecer in loco o sistema Parede de Concreto, a ABCP junto
ao IBTS (Instituto Brasileiro de Telas soldadas) e a ABESC (Associação brasileira de serviços
de concretagem) lideraram a visita de um grupo de construtoras nacionais a obras em
Santiago do Chile e Bogotá na Colômbia (Figura 2.21). A viagem consistiu em encontros com
empresários e técnicos do setor da construção civil desses países e visita a uma série de obras,
desde residenciais de pequeno e médio porte, até edifícios de 18 pavimentos, onde foi
possível constatar que o sistema realmente é viável dos pontos de vista técnicos e econômicos.
(ABESC, 2007)
22
Figura 2.21 – Empresários brasileiros durante a missão técnica em Bogotá na Colômbia (LOTURCO, 2007)
A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) foi fundada em 1936 e é
uma entidade privada de pesquisa, desenvolvimento e prestação de serviços técnicos sem fins
lucrativos. A entidade é mantida pela indústria brasileira do cimento com o objetivo de
difundir e assessorar para a aplicação do melhor uso do cimento e seus derivados. A ABCP é
um centro de referência em tecnologia do cimento e concreto, reconhecida nacional e
internacionalmente pelos serviços prestados à construção civil, à comunidade e às empresas
associadas. A entidade desenvolve o mercado de produtos e sistemas construtivos à base de
cimento, realizando pesquisas, oferecendo cursos de aperfeiçoamento, colaborando com
universidades em pesquisas científicas e apoiando tecnicamente as construtoras e as indústrias
que utilizam o cimento como matéria-prima (ABCP, 2010).
O Instituto Brasileiro de Telas Soldadas (IBTS), foi criada em 1983 por iniciativa
dos fabricantes de telas soldadas, é uma entidade sem fins lucrativos com o objetivo de
desenvolver o mercado de telas soldadas através de palestras, cursos, elaboração de material
técnico, pesquisas e outros serviços tenham alguma relação com a instituição (IBTS, 2010). A
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABESC) foi criada em 1978 pelas empresas de
concretagem com o objetivo de promover o desenvolvimento e o aperfeiçoamento tecnológico
das concreteiras (ABESC, 2010).
2.5 Empresas nacionais que utilizam o sistema
2.5.1 Rodobens
23
A Rodobens Negócios Imobiliários foi a primeira empresa brasileira a adotar o
sistema construtivo parede de concreto em 2006. Antes de implantar o sistema, o corpo
técnico da empresa foi ao México visitar a maior construtora do país, a Homex, que adota
esse modelo desde 1989 e hoje constrói uma casa em sete dias, e tinha como missão de
conhecer melhor o modelo (D`AMBROSIO, 2009). Hoje a empresa possui 57 jogos de
fôrmas que custam entre R$500 a R$600 mil que são capazes de produzir quatro casas por
semana, conseguiu reduzir o ciclo de construção de uma casa, entre o lançamento e a entrega,
de 12 para oito meses e aplica o sistema parede de concreto (Figura 2.22) para todos os 26
empreendimentos que se enquadram no ``Minha casa, Minha Vida``. Segundo o diretor,
Eduardo Gorayeb, a economia de custos na parede de concreto pode chegar a até 10% em
relação à alvenaria convencional e afirma que o método construtivo vai se tornar uma
tendência em médio prazo, principalmente entre as grandes construtoras brasileiras. A
Rodobens possui a homologação do sistema construtivo pela Caixa Econômica Federal, e está
habilitada a utilizar esse sistema em todo território nacional (JUSTUS, 2009).
Figura 2.22 – Empreendimento Garden Village realizado pela Rodobens Negócios Imobiliários no sistema
construtivo parede de concreto (SODRÉ, 2008)
A Rodobens Negócios Imobiliários é uma empresa que faz parte do grupo
empresarial Rodobens, fundado em 1949 e que se encontra entre os 100 maiores do Brasil. A
área de construção e negócios imobiliários do grupo começou a se desenvolver a partir de
1991 e hoje já lançou cerca de 120 empreendimentos, em 45 cidades de nove estados
brasileiros, somando mais de 38 mil unidades com área total de três milhões de m²,
24
conseguindo assim, se consolidar entre as 15 maiores construtoras do país (RODOBENS,
2010).
2.5.2 Bairro Novo
A Bairro novo está construindo em Fortaleza um empreendimento residencial de
2.846 unidades que se enquadram no programa “Minha casa, Minha Vida`` para a classe de
três a dez salários mínimos (Figura 2.23). As habitações serão feitas pelo sistema construtivo
parede de concreto, tendo como tipologias casas térreas e prédios de até quatro pavimentos.
Na moldagem das paredes serão usadas fôrmas de alumínio. Segundo o diretor regional da
Bairro Novo, Hugo Montenegro, o custo das fôrmas é alto se comparado a outros tipos de
fôrmas mas assegura que o valor é amortizado pois o a fôrma de alumínio permite cerca de
1000 reutilizações (PINI, 2009).
Figura 2.23 – Foto de um empreendimento Bairro Novo (MOACYR, 2008)
Antes de decidir pelo sistema parede de concreto, a empresa realizou comparações
com sistema de alvenaria convencional. Na tabela comparativa da empresa de custos, na
parede de concreto se gasta R$ 12,4 mil com material e R$ 5,6 mil com mão de obra, já com
alvenaria convencional se gasta R$ 4,3 mil com material e R$ 12,1 mil com mão de obra.
Tendo assim um aumento de aproximadamente 9% o custo da parede de concreto em relação
à alvenaria convencional. Diante desses números, surge a pergunta. Porque o sistema de
parede de concreto sendo mais caro que o de alvenaria convencional, segundo os cálculos da
25
empresa, foi o escolhido para a execução do empreendimento? A resposta foi maior
velocidade e produtividade na execução, dessa forma o ganho é em escala. Em uma
comparação sobre produtividade realizada pela empresa, no sistema parede de concreto, com
20 homens se faz um módulo, composto por duas casas de três quartos, em um dia, usando o
segundo dia para a estucagem (correção de falhas e emendas no concreto). Já na alvenaria
convencional a construção de um módulo composto levaria no mínimo quatro dias, com 20
homens trabalhando. O cálculo considera a elevação da alvenaria e o revestimento das
paredes (PINI, 2009).
A Bairro Novo é uma empresa da Odebrecht Realizações Imobiliárias e foi criada
para atuar no segmento econômico da construção civil. Tem como proposta construir bairros
planejados de mil a 10 mil unidades, formados por diversos condomínios integrados, com
casas de 2 e 3 dormitórios e apartamentos de 2 dormitórios, localizados em zonas residenciais,
com qualidade de vida e infra-estrutura urbana (BAIRRONOVO, 2010).
26
3 ESTUDO DE CASO
3.1 A obra
O estudo de caso ocorreu em uma obra que utiliza o sistema construtivo Parede de
Concreto e participa do programa „„Minha Casa, Minha Vida‟‟. A obra em questão é o
Residencial Nova Terra que tem um projeto de 4051 casas de 36,15m² de área total e 32m² de
área útil (Figura 3.1). Hoje é o maior complexo habitacional que esta sendo construído no
estado do Maranhão (EMIR, 2010a). Fica localizado na região Metropolitana de São Luís
(MA) - São José de Ribamar (MA) na estrada Quinta da Mata (Figura 3.2). A obra teve as
atividades iniciadas em março/2010, e tem prazo de entrega para março/2011. No anexo A
uma figura que ilustra a sequência construtiva do sistema Parede de Concreto, a casa pronta,
logo depois a desfôrma e por ultimo a montagem das fôrmas.
Figura 3.1 – Planta baixa da casa
27
Figura 3.2 – Localização da obra
Quatro empresas participam da construção da obra, são elas (Figura 3.3): a
Techmaster Engenharia LTDA que possui 1367 unidades, a Lastro Engenharia Indústria e
Comercio LTDA que possui 1020 unidades, a K2 Engenharia LTDA que possui 960 e a Vitral
Construção e Incorporação LTDA que possui 704 unidades.
Figura 3.3 – Placa na entrada da obra com as empresas responsáveis
28
Ao todo serão construídas 4051 casas, sendo 3500 no sistema construtivo parede
de concreto, e 551 no sistema convencional de alvenaria (Figura 3.4). As empresas foram
pioneiras em utilizar o sistema construtivo parede de concreto no programa habitacional
``Minha Casa, Minha Vida`` no estado do Maranhão. O estado passa por uma grande escassez
de mão-de-obra, pelo fato de ser um dos estados que mais aprovaram projetos do programa do
governo, dessa forma, o fator mão-de-obra foi o principal motivo para as empresas
escolherem o sistema, pois em relação ao sistema convencional de alvenaria utiliza menos
mão-de-obra para se construir uma casa. Como o prazo da obra é muito curto (1 ano) para a
quantidade de casas do projeto, a maior velocidade do sistema construtivo parede de concreto
foi outro fator importante para a escolha do sistema. A escolha da execução de 551 casas de
alvenaria convencional foi particular de uma das empresas do consórcio, que já possuía duas
fabricas de bloco de cimento e com isso podia aproveitar para a obra (EMIR, 2010b).
Figura 3.4 – Sistema de alvenaria convencional
A obra tem os três tipos de fôrmas: as metálicas, mistas e de resina plásticas
(Figura 3.5). Sendo sete metálicas, duas mistas e uma de resina plástica. Uma jogo de fôrma é
montada para duas casas, pois são geminadas, dessa forma se consegue fazer duas casas por
dia com um jogo de fôrma, pois o tempo da montagem até a concretagem é de um dia. O
preço de uma fôrma metálica é R$360.000,00, podendo ser reutilizada até 1000 vezes. O tipo
de concreto usado nas fôrmas é o tipo M – com alto teor incorporado, e na casa geminada são
utilizados 18m³ de concreto.
29
Figura 3.5 – Os três tipos de fôrmas utilizados na obra
Diariamente a obra consome em média 180m³ de concreto, e como a obra se
encontra na região metropolitana de São Luís, as concreteiras não teriam estrutura para
atender a demanda de concreto da obra. Diante disso as empresas montaram três centrais de
concreto, uma de silo e duas ``rasga-saco``, para não dependerem do precário fornecimento
das terceirizadas. Com mais 10 caminhões betoneiras para atender a logística (Figura 3.6).
Figura 3.6 – Central de Concreto
Foram realizadas quatro visitas a obra, uma no mês de março, outra no mês de
maio, uma no mês de agosto e a ultima no mês de outubro de 2010 (Figura 3.7). Durante as
visitas pôde-se observar a velocidade do sistema, como mostram as fotos aéreas nos anexos
B,C e D.
30
Figura 3.7 – Foto das visitas realizadas
3.2 Comparação de custos entre os sistemas
De acordo com o corpo técnico do consórcio no sistema construtivo parede de
concreto, uma equipe com 24 meio-oficiais fazem duas casas por dia, então 12 meio-oficiais
fazem uma casa por dia. Desde a montagem da fôrma até o final do processo (desfôrma). No
sistema de alvenaria convencional com bloco de cimento, uma equipe de três pedreiros e três
serventes faz uma casa em quatro dias. Levam dois dias para levantar a alvenaria e dois dias
para fazer o reboco interno e externo. Os valores de mão-de-obra foram calculados com base
no piso salarial estipulado pelo Sinduscon-MA (Tabela 3-1).
Tabela 3-1 – Piso salarial
OFICIAL
R$ 728,20
R$ 3,31/h
MEIO-OFICIAL
R$ 545,60
R$ 2,48/h
SERVENTE
R$ 530,20
R$ 2,41/h
Para se calcular uma diária de cada profissional, foi dividido o salário por 20 dias
e depois somado com os encargos (Tabela 3-2). Segundo a Sinapi da CAIXA-MA, os
encargos sociais em setembro de 2010 são 124,06%.
31
Tabela 3-2 – Diárias mais encargos
OFICIAL R$ 81,58
MEIO-OFICIAL R$ 61,12
SERVENTE R$ 59,40
Todos os quantitativos dos materiais e mão-de-obra foram adotados com base em
informações da obra, tal como os valores dos materiais. Logo abaixo se apresentam as tabelas
de custos dos dois sistemas construtivos (Tabela 3-3;Tabela 3-4).
Tabela 3-3 – Orçamento do sistema construtivo parede de concreto
Sistema construtivo parede de concreto
1.1 Paredes e Painéis UND Quant. Custo unit. Custo total
1.1.1 Forma em painéis metálicos (estruturados) UND 1,00 180,00 180,00
1.1.2 Concreto usinado fck 20 mpa para paredes M³ 9,00 340,00 3.060,00
1.1.3 Tela soldada Q61 - Malha 15x15cm - Ø 3,4mm UND 6,00 68,00 408,00
1.1.4 Espaçadores para tela soldada UND 200,00 0,36 72,00
1.1.5 Mão-de-obra Homens 12,00 61,12 733,44
CUSTO TOTAL DO ÍTEM R$ 4.453,44
Tabela 3-4 – Orçamento do sistema de alvenaria convencional
Sistema de alvenaria convencional com blocos de cimento
1.1 Paredes e painéis UND
Quant. Atual
Custo unit. Custo total
atual
1.1.1 Bloco de cimento 9x19x39 com argamassa m2 94,65 18,80 1.779,42
1.1.2 Mão-de-obra Homens 12,00 70,49 845,88
CUSTO TOTAL DO SUB ÍTEM 2.625,30
2.1 Revestimento Interno
2.1.1 Reboco Interno m² 106,43 4,80 510,86
2.1.2 Mão-de-obra Homens 8,00 70,49 563,92
CUSTO TOTAL DO SUB ÍTEM 1.074,78
3.1 Revestimento externo
3.1.1 Reboco Externo m² 70,00 4,80 336,00
3.1.2 Mão-de-obra Homens 4,00 70,49 281,96
CUSTO TOTAL DO SUB ÍTEM 617,96
CUSTO TOTAL DO ÍTEM R$ 4.318,04
32
3.3 Análise dos dados
De acordo com os dois orçamentos comparativos, o sistema construtivo parede de
concreto apresentou um valor 3% superior ao de alvenaria convencional. Na parede de
concreto o índice de mão-de-obra representa 16,46%, enquanto na alvenaria convencional
representa 39,17% (Gráfico I;Gráfico II).
Gráfico I – Comparativo de custo entre os sistemas
R$ 3.720,00
R$ 2.626,28
R$ 733,44
R$ 1.691,76
R$ 0,00
R$ 500,00
R$ 1.000,00
R$ 1.500,00
R$ 2.000,00
R$ 2.500,00
R$ 3.000,00
R$ 3.500,00
R$ 4.000,00
R$ 4.500,00
R$ 5.000,00
Parede de Concreto Alvenaria Convencional
Material Mão-de-obra
33
Gráfico II – Índices de mão-de-obra e de material
Para fazer uma análise de custos mais detalhada, será feito uma estimativa do
potencial de ganho de cada sistema. De acordo com o orçamento da Pini (2009), o custo de
uma casa popular sem o item paredes e painéis é R$15.746,65, dessa forma o custo de uma
casa no sistema construtivo parede de concreto é R$20.200,09 e o custo no sistema de
alvenaria convencional é R$20.064,69. O valor pago em média pelo mercado é R$22.000,00,
dessa maneira, qual o sistema que teria maior potencial de ganho em um mês com 12 homens
trabalhando? Considerando 20 dias úteis, no sistema construtivo parede de concreto, 12
homens fazem uma casa em um dia, então a produção seria 20 casas no mês, no sistema de
alvenaria convencional seis homens fazem uma casa em quatro dias, então a produção seria de
10 casas no mês (Gráfico III). O lucro de uma casa no sistema parede de concreto é
R$1.799,91 e no sistema de alvenaria convencional é R$1.935,31. Como na parede de
concreto podem ser produzidas 20 casas, o potencial de ganho é R$35.998,2, enquanto na
alvenaria convencional podem ser feitas 10 casas, o potencial de lucro é R$19.353,1 (Gráfico
IV).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Parede de Concreto Alvenaria convencional
Mão-de-obra
Material
34
Gráfico III – Produtividade dos sistemas com 12 homens trabalhando durante 20 dias úteis
Gráfico IV – Potencial de ganho dos sistemas
0
5
10
15
20
25
Dia
1
Dia
2
Dia
3
Dia
4
Dia
5
Dia
6
Dia
7
Dia
8
Dia
9
Dia
10
Dia
11
Dia
12
Dia
13
Dia
14
Dia
15
Dia
16
Dia
17
Dia
18
Dia
19
Dia
20
Parede de Concreto
Alvenaria convencional
Potencial de ganho
Parede de Concreto R$ 35.998,20
Alvenaria convencional R$ 19.353,10
R$ 0,00
R$ 5.000,00
R$ 10.000,00
R$ 15.000,00
R$ 20.000,00
R$ 25.000,00
R$ 30.000,00
R$ 35.000,00
R$ 40.000,00
35
Após a análise dos resultados apresentados, pode-se afirmar que o sistema
construtivo parede de concreto teve melhores resultados quando comparado ao sistema de
alvenaria convencional, mesmo o custo total de uma unidade seja maior 3% no sistema
construtivo parede de concreto, a grande vantagem do sistema é o ganho em escala,
proporcionando assim um maior potencial de lucro com a mesma quantidade de mão-de-obra.
36
4 CONCLUSÃO
Essa monografia tratou sobre o sistema construtivo parede de concreto. O tema
apresenta grande relevância tendo em vista a grande demanda de construções que surgiu
depois da criação do programa habitacional ``Minha Casa, Minha Vida``.
Os objetivos específicos dessa monografia estão contemplados no capitulo 2, onde
foi descrito o sistema construtivo parede de concreto como um todo, apresentaram-se as
vantagens do sistema em relação ao de alvenaria convencional, falou-se sobre as empresas
nacionais que já utilizam o sistema e as entidades que o apóiam, e por fim comparou-se o
sistema com o de alvenaria convencional. A partir dessa comparação se pôde chegar também
ao objetivo principal.
Vale ressaltar que esta comparação foi favorável ao sistema parede de concreto
neste empreendimento, e pode ter variações de produtividade e valores de mão-de-obra como
também os preços de materiais de região para região. Salienta-se ainda que o custo inicial
com o sistema construtivo parede de concreto é alto, pois o jogo de fôrma para duas casas
desta obra custou R$360.000,00, podendo ser reutilizados até 1000 vezes, por isso, para
amortizar o investimento, é ideal que a forma seja utilizada toda sua vida útil. Recomenda-se
então que para cada empreendimento se execute um comparativo de custos detalhado, levando
em consideração todas as características dos sistemas construtivos, de forma que seja
exaustivamente estudado para que não sejam tomadas decisões equivocadas.
Concluímos assim que o sistema construtivo parede de concreto pode ser mais
uma alternativa construtiva para ser utilizada em obras do programa habitacional ``Minha
Casa, Minha Vida``.
37
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38
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ANEXOS
Anexo A – Sequência construtiva do sistema Parede de Concreto
Anexo B – Início da montagem da fôrmas em março/2010
Anexo C – Em maio/2010 já se pôde observar a velocidade do sistema
Anexo D – Em outubro/2010 mais da metade das estruturas já se encontra prontas