universidade federal do parÁ instituto de ciÊncias
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAS APLICADAS
FACULDADE DE TURISMO
MARCUS WAGNER OLIVEIRA FEIO
MAYKON BATISTA DE SOUZA SERRÃO
ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS UM ESTUDO SOBRE A CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO RECEPTIVO NA
CIDADE DE BELÉM/PA
BELÉM
2014
MARCUS WAGNER OLIVEIRA FEIO
MAYKON BATISTA DE SOUZA SERRÃO
ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS UM ESTUDO SOBRE A CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO RECEPTIVO NA
CIDADE DE BELÉM/PA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Turismo, pela Universidade Federal do Pará.
Orientador (a): Profª. Drª Maria
José de Souza Barbosa
BELÉM
2014
Marcus Wagner Oliveira Feio
Maykon Batista de Souza Serrão
ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS UM ESTUDO SOBRE A CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO RECEPTIVO NA
CIDADE DE BELÉM/PA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Turismo, pela Universidade Federal do Pará.
Orientador (a): Profª. Drª Maria
José de Souza Barbosa
ORIENTADOR: _____________________________________________
EXAMINADOR: _____________________________________________
EXAMINADOR: _____________________________________________
Belém, ____de________________________ de 2014.
Aos meus pais, pela estrutura e base familiar e aos amigos pelo apoio emocional que foram imprescindíveis nesta jornada.
Marcus Feio
À minha mãe, por sua dedicação e exemplo. Aos meus professores, desde a pré-
escola à graduação, que me ajudaram a descobrir o quanto o conhecimento é
importante em minha vida.
Maykon Serrão
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Deus pela grande conquista, por ter mostrado os
caminhos que deveria percorrer para que chegasse até aqui.
Aos meus pais, Vanda e Malco, além de meu padrasto José, pelo
ensinamento dos valores que formaram meu carater e pelo financiamento de minha
educação nesta longa jornada.
Agradeço, também, ao Maykon Serrão, meu amigo de curso e parceiro
nesta empreitada.
À nossa orientadora, Profª Drª Maria José, por ter acreditado em nosso projeto.
À Profª Msc Vânia Lúcia Quadros Nascimento, que foi fundamental na reta
final do curso, por injetar ânimo e contribuir imensamente para a minha formação.
Aos meus amigos, que me proporcionaram momentos de felicidade e que
me ajudaram a relaxar nos momentos de tensão.
Não poderia deixar de agradecer à minha amiga e namorada, Maria Clara,
pela companhia, amor, paciência e motivação, que foram fundamentais na minha
estabilidade emocional nos 4 anos de curso.
Espero poder contar com todos novamente para contribuir perante os
desafios que estão por vir.
MARCUS FEIO
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, ao Pai Celestial, pois Ele me proporcionou
encontrar e estar com pessoas especiais nesta jornada de quatro anos que, à
maneira deles, me ajudaram a trilhar este caminho.
À minha mãe, Rita, por ter me ensinado a trilhar o caminho do bem e
formado meu caráter. À minha tia Ana e minha avó, Maria de Nazaré (in memorian),
que tiveram esta contribuição e investiram seu tempo e recursos em minha
educação.
Aos meus amigos Dulcirene Furtado, pelo apoio nas horas mais
complicadas; ao Alexandre Noronha, por acreditar em meu potencial em continuar
minha formação profissional e ter investido, financeira e emocionalmente, nisso; ao
Manoel Júnior, que esteve ao meu lado em boa parte desta jornada.
Em especial ao meu amigo de classe, Marcus Feio, pois desde o início
formamos uma dupla de sucesso durante o curso, por sua dedicação,
responsabilidade e foco nos momentos mais tensos.
Aos meus professores, em especial à professora Maria José, nossa
orientadora, por nos mostrar nossos erros e acertos de nosso projeto e por acreditar
nele; à professora Vânia que, apesar de termos trabalhado tão pouco tempo juntos
em sala, trouxe enorme e importante contribuição ao meu conhecimento cientifico.
Aos meus amigos e colegas de sala, pelos trabalhos que fizemos e
apresentamos juntos, os quais contribuíram para o meu aprendizado e pelos
momentos mais descontraídos, seja nas visitas técnicas, viagens ou mesmo no dia-
a-dia.
Espero, um dia, retribuir a todos de alguma forma e que mantenhamos
contato, pois a jornada está apenas começando.
MAYKON SERRÃO
RESUMO Este trabalho apresenta como tema central um estudo sobre a cadeia produtiva do
turismo receptivo da cidade de Belém/ PA. Tem como objetivo geral investigar a
possível existência de interação entre os diversos setores vinculados à atividade
turística, identificar e sugerir alternativas de desenvolvimento de arranjos produtivos
locais para o turismo em Belém. Por meio de levantamento bibliográfico e pesquisa
documental, mostrar-se-á conceitos e definições sobre planejamento, clusters,
desenvolvimento endógeno e exógeno. Através da análise de dados, identifica-se os
principais entraves que dificultam o desenvolvimento do turismo receptivo na cidade,
desde o papel do poder público, a falta de um planejamento mais efetivo por parte
do município (em especial, o órgão de turismo de Belém), a falta de sintonia entre os
diversos atores da atividade, até mesmo a não utilização de áreas com potencial
para desenvolver atividades turísticas ligadas à natureza, como as 39 ilhas sob
administração municipal. Aponta-se a clusterização como uma alternativa para o
desenvolvimento do turismo na cidade, envolvendo trade, poder público e sociedade,
gerando emprego e renda.
Palavras-chave: arranjos produtivos locais, cluster, planejamento, atividade
turística, turismo receptivo.
ABSTRACT This work presents as central subject a study about the productive chain of receptive
tourism of the city Belém/ PA. It has as a general purpose to investigate a possible
existence of interaction between several sectors linked to tourism activity, identify
and suggest alternatives of progress of local productive arrangements for the tourism
in Belém. By means of bibliographic lifting and search documental, it will show
themselves concepts and definitions about planning, clusters, endogenous and
exogenous development. Through of the data’s analysis, identifies the main
impediments which difficult receptive tourism in the city, since public power’s role, the
absence of a planning more effective by the municipal district (especially, the
tourism’s organ of Belém), the absence of sintony between the various actors of the
activity, even the not-use of areas with potential to develop touristic activities linked to
nature, such as 39 islands in the municipal administration. It points the clustering as
an alternative for the tourism development in the city, including trade, public power
and society, creating employ and rent.
Keywords: local productive arrangements, cluster, planning, touristic activity,
receptive tourism
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................12 2 O TURISMO E O DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO E
DENSENVOLVIMENTO EXÓGENO .......................................................................14 2.1 TURISMO COMO INDUTOR DE DESENVOLVIMENTO LOCAL .......................17 3 PLANEJAMENTO TURÍSTICO NA PERSPECTIVA DO
DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO .......................................................................18 3.1 O PLANEJAMENTO NA ATIVIDADE TURÍSTICA .................................................18 3.2 PLANEJAMENTO TURÍSTICO E SEU FOCO DE AÇÃO ....................................21 3.3 OS ENTRAVES DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO .............................................22 3.4 FERRAMENTAS UTILIZADAS NO PLANEJAMENTO TURISTICO ...................24 3.5 CAMINHOS IMPORTANTES PARA O ÊXITO DO PLANEJAMENTO
TURÍSTICO ..................................................................................................................24 4 TURISMO: CONTEXTUALIZAÇÃO, CONCEITOS E DEFINIÇÕES .................26 4.1 CARACTERÍSTICAS DO TURISMO ........................................................................28 4.2 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA TURÍSTICA ....................................................29 5 ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS E OS CLUSTERS TURÍSTICOS ...........33 5.1 CLUSTERS TURÍSTICOS ..........................................................................................35 6 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO
RECEPTIVO DE BELÉM ...........................................................................................40 6.1 SUBSISTEMA DE ATRATIVOS TURÍSTICOS EM BELÉM .................................42 6.1.1 Belém Continental ......................................................................................................43 6.1.2 Belém Insular – Ilha de Mosqueiro ........................................................................45 6.1.3 Belém Insular – Ilha de Caratateua ........................................................................46 6.1.4 Belém Insular – Ilha de Cotijuba .............................................................................47 6.1.5 Belém Insular – Ilha do Combú ...............................................................................48 6.1.6 Síntese dos recursos turísticos por segmento turístico .................................49 6.2 SUBSISTEMA DE HOSPITALIDADE .......................................................................50 6.3 SUBSISTEMA DE ALIMENTOS E BEBIDAS .........................................................52 6.4 SUBSISTEMA DE AGENCIAMENTO ............................................................... 53
6.5 SUBSISTEMA DE TRANSPORTES .........................................................................56 6.6 SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO ASSOCIADA AO TURISMO .............................58
7 O SISTEMA DE GESTÃO DO TURISMO EM BELÉM .........................................60 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................61
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................65
ANEXOS .......................................................................................................................69
ANEXO A – LISTA DE ESTABELECIMENTOS DE
HOSPEDAGEM - CADASTUR .................................................................................70
ANEXO B – LISTA DE ESTABELECIMENTOS A & B -
CADASTUR .................................................................................................................71
ANEXO C – LISTA DE ESTABELECIMENTOS DE A & B
ASSOCIADOS - ABRASEL ......................................................................................72
12
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o turismo vem ganhando importância como gerador de
receitas para muitos lugares e tem um importante papel no Produto Interno bruto
(PIB) destes. Alguns estudos vêm sendo feitos a fim de compreender melhor esta
atividade, como fenômeno social. Estes mesmos estudos ocupavam-se apenas em
relatar os efeitos positivos. Conforme as discussões se desenvolviam, passou-se a
discutir também os impactos negativos, no que tange aos aspectos socioculturais,
ambientais e econômicos.
No Brasil, observou-se o desenvolvimento do turismo sem levar em conta os
impactos negativos gerados, especialmente na região nordeste, onde a maioria das
pessoas foram deixadas de lado do processo de implementação da atividade,
sobretudo nas regiões litorâneas e lar de comunidades tradicionais.
Passando de uma realidade nacional para outra regional, a cidade de Belém,
apesar de grande potencial para a atividade turística, ainda não experimentou o
mesmo “desenvolvimento” presente na região Nordeste. Mesmo porque a realidade
da cidade, considerada a porta de entrada da região amazônica, é bem diferente.
O que se observa na cidade é a falta de sinergia entre os diversos atores do
turismo e, em especial, em relação ao turismo receptivo. É um descompasso entre o
Poder Público, empresários e comunidade, onde cada um trabalha de forma em que
possam extrair o máximo, de forma isolada.
O que poderia ser uma barreira para o desenvolvimento do turismo receptivo
em Belém, passa a ser um forte motivador em busca de alternativas para tal, de
forma que todos se beneficiem de forma satisfatória e ordenada. Com o intuito de
buscar tais alternativas, surge o questionamento de quais ferramentas do
planejamento turístico podem auxiliar no desenvolvimento do turismo receptivo.
Chegou-se à proposição de que a criação ou o desenvolvimento de arranjos
produtivos locais permitem a sinergia entre os atores do turismo receptivo,
estimulando, ao mesmo tempo, a parceria e a concorrência. Possibilita, ainda,
evolução do “produto” turístico final.
Propõe-se, com este trabalho, investigar o nível de interação entre os atores
do turismo receptivo em Belém; pesquisar quais tipos de políticas públicas foram
implantadas para fomentar o turismo em cadeia. Avaliar o nível de retorno (positivo
ou negativo); descobrir quais benefícios a cidade ganharia com esse tipo de gestão
13
integrada do turismo; sugerir um modelo de desenvolvimento com base em um
arranjo multiorganizacional para potencializar o setor do turismo em Belém.
Como metodologia, fez-se o uso de ferramentas como as técnicas de
levantamento bibliográfico e de pesquisa documental, de dados disponíveis em
manuais, relatórios, planos e boletins dos órgãos oficiais de turismo e Secretaria de
Estado de Turismo do Pará, do Ministério do Turismo e informações das diversas
entidades de classe que fazem parte da atividade turística.
Com isso, almeja-se apontar que é possível a organização de um arranjo
produtivo local para o turismo receptivo na cidade, como uma alternativa viável para
o desenvolvimento deste setor.
O capítulo 2 trata do debate entre o desenvolvimento endógeno e o
desenvolvimento exógeno, bem como o contexto histórico, como ambas as correntes
surgiram e de que forma o turismo se encaixa neste contexto, como indutor de
desenvolvimento local, dentro da corrente do crescimento de “baixo para cima”. O
capítulo 3 expõe a respeito do planejamento turístico na perspectiva do
desenvolvimento endógeno. Trata das definições de planejamento e sua aplicação
na atividade turística, seu foco de ação, bem como os entraves e os caminhos a
seguir para a potencialização do planejamento no turismo.
Já o capítulo 4 contextualiza o turismo, por meio de conceitos e definições,
suas características e aspectos importantes. O capítulo 5 trata dos arranjos
produtivos locais e os clusters turísticos, o contexto histórico, quais autores expõem
acerca do tema e seu papel como alternativa de desenvolvimento regional e sua
aplicabilidade na realidade amazônica.
No capítulo 6 é feito um ensaio de diagnostico da cadeia produtiva do
turismo receptivo de Belém. Por meio de pesquisa quali-quantitativa, identifica-se o
papel dos principais atores da cadeia produtiva do turismo e apresenta-se a
metodologia utilizada para obter dados, através de fontes secundarias, e pesquisa
documental dos órgãos oficiais de turismo municipal e estadual. Optou-se por
subdividir os stakeholders em subsistemas de atrativos turísticos, hospitalidade,
alimentos e bebidas, agenciamento, transportes e produção associada ao turismo.
Por fim, o capítulo 7 expõe o sistema de gestão do turismo de Belém,
especialmente as dificuldades para elaborar estratégias de planejamento e pô-las
em prática. A descontinuidade dos poucos programas implantados também constitui
um grave problema para o município.
14
2 O TURISMO E O DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO E DESENVOLVIMENTO
EXÓGENO
No espaço temporal que precede a Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
houve vários tipos de classificações para designar os Estados Nacionais “ricos” dos
“pobres”. Os países eram classificados quanto à geografia (ocidentais x orientais),
religião (católicos x pagãos), cultura (civilizados x não civilizados) etc. Com a
destruição física e econômica das principais potencias mundiais no final do conflito,
os Estados Unidos da América (EUA) herdaram o protagonismo na liderança
mundial e no “auxílio” à reconstrução dos países destruídos.
A chegada de Harry Truman à presidência dos EUA (1949) e a consolidação
dos norte-americanos como nação hegemônica permitiram a introdução e difusão do
conceito de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Truman fez as demais nações
entenderem na associação da condição de subdesenvolvimento à ideia de
inferioridade, e que as nações precisavam fugir dessa condição “indigna” para
alcançar o desenvolvimento. (CORIOLANO, 2003).
Desde então, o desenvolvimento passou a ser utilizado como justificativa no
planejamento e implementação de políticas públicas em diversos países, incluindo o
Brasil. No entanto, a difusão da política desenvolvimentista durante a década de 50
foi realizada em caráter de urgência na então presidência de Juscelino Kubitschek a
partir do Plano de Metas, cujo lema “cinquenta anos em cinco” justificava a pressa
em corresponder às pressões americanas em desenvolver o Brasil.
O Plano de Metas foi levado adiante sem um amplo debate acerca de
possíveis impactos positivos e negativos da política, ou sobre a necessidade de
existência de uma indústria de base que apoiasse e subsidiasse o desenvolvimento
pretendido. Não houve, muito menos, a discussão se essa política teria efetividade
ou não no território nacional, dada as diferenças da configuração sócio-espacial-
econômica entre EUA e Brasil, ou modelos alternativos ou adaptados à realidade
brasileira, os quais se apresentarão a seguir.
Segundo Garrido (2001) o desenvolvimento pode ser apresentado em duas
correntes principais, de acordo com suas origens e processos de instalação. A
primeira está relacionada ao planejamento centralizado de um Estado Nacional,
também entendido como desenvolvimento “de cima para baixo”.
15
A história econômica associa essa corrente aos grandes projetos
estruturantes (a exemplo dos complexos industriais), que foram concebidos a partir
de uma política voltada para a produção nacional. Nessa linha de pensamento,
Almeida (2001, p. 15 apud GARRIDO 2001) cita Perroux, que define
desenvolvimento econômico da seguinte forma:
[...] a mudança estrutural provocada no espaço econômico pela expansão destes núcleos de indústrias dinâmicas. Os pólos de crescimento industrial iniciariam o processo que seria, em seguida, difundido ao resto da economia por efeitos multiplicadores e aglomeração sobre o investimento, a renda e o emprego, incluindo a multiplicação de pequenas empresas.
Para exemplificar esta concepção de desenvolvimento, tem-se como marco
na história do Brasil o governo militar (1964 a 1985). Nesse período, a Amazônia foi
um grande laboratório no planejamento e implementação de políticas públicas
desenvolvimentistas, as quais almejavam engendrar maior dinamismo econômico à
região, sem levar em consideração suas peculiaridades. O resultado dessa política
foi um desastroso surgimento de conflitos agrários, em grande parte, que perduram
até os dias atuais, principalmente no Estado do Pará.
A segunda corrente, segundo Garrido (2001), conhecida como
desenvolvimento endógeno, ou ainda desenvolvimento local, propõe um movimento “de baixo para cima” e, mesmo nos dias atuais, é caracterizada como forma
alternativa de desenvolvimento. É estabelecida a partir do sistema produtivo local,
aproveitando as suas potencialidades socioeconômicas. Bacelar (2000 apud
GARRIDO, 2001) argumenta que o desenvolvimento local é resultante da
capacidade dos atores locais de se estruturarem e se mobilizarem, tendo como base
não somente suas potencialidades, mas também sua matriz cultural. Para Amaral Filho (1999, p. 1.282), “desenvolvimento endógeno” pode ser entendido como:
[...] um processo de crescimento econômico implicando uma contínua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção bem como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia local, e/ou a atração de excedentes provenientes de outras regiões. Este processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda local ou da região mais ou menos definido dentro de um modelo específico de desenvolvimento regional.
16
A partir do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, tem-se acrescentado
ao desenvolvimento regional a noção de sustentabilidade, considerando–se, além
dos fatores socioeconômicos, a preocupação socioambiental. Buarque (1996, p.8)
conceitua desenvolvimento sustentável, como:
[...] processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social, partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre gerações.
Para Loiola (2001, p. 6), o novo contexto das relações entre economia,
sociedade e meio ambiente, no qual a eficiência econômica, a qualidade de vida e a
equidade social experimentam iniciativas mais equilibradas, embora esteja claro que
resultados mais efetivos somente serão viabilizados no longo prazo. Além disso,
permanecem algumas situações de conflito de interesses entre diferentes atores
sociais e entre objetivos de curto e longo prazo.
Na posição de Amaral Filho (1999, p. 1.286), sobre o desenvolvimento
endógeno, estruturado a partir das potencialidades socioeconômicas locais, ou seja, “de baixo para cima”, atinge-se “coerência interna, aderência ao local e sintonia com
o movimento mundial dos fatores”.
De acordo com Loiola (2001, p. 5) é possível afirmar que existe uma relação
muito estreita e recíproca entre o desenvolvimento local e as condições de
competitividade do setor empresarial. Se, por um lado, as empresas mais
competitivas emergem ou são atraídas para locais que apresentam melhor padrão
de vida, por outro lado, essas mesmas empresas alavancam o desenvolvimento
dessas regiões, fortalecendo o capital social local.
A ideia de que o desenvolvimento era intimamente efeito do crescimento
econômico, hoje, pode-se observar que há a necessidade de alguns outros
parâmetros para mensurar o desenvolvimento. Isso quer dizer que nem sempre uma
taxa de crescimento considerada alta, de fato, representa o desenvolvimento de
determinado local. Exemplo disso é o chamado “Índice de Desenvolvimento Humano – IDH” das Nações Unidas (ONU). Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o IDH “é uma medida resumida do progresso a longo
prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e
17
saúde”. Tal índice é justamente para contrapor outro que é bastante utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
O Brasil experimentou taxas altas de desenvolvimento, especialmente na
década de 1970, conforme nos apresenta Dias (2003, pp. 104 – 110). No entanto,
como se vê hoje em dia, o crescimento do passado não representou melhorias em
longo prazo para a grande maioria da população. O resultado foi o aumento da
dívida externa e da dívida pública do país. Experimentam-se índices alarmantes de
desenvolvimento humano, com os piores indicadores possíveis.
2.1 TURISMO COMO INDUTOR DE DESENVOLVIMENTO LOCAL
Alguns setores da economia são motores de desenvolvimento em diversos
lugares, como a indústria, a agricultura, entre outros. A atividade turística pode ser
inserida neste contexto, pois muitos países têm como grande parte de sua receita o
turismo.
Não se pretende substituir outras importantes atividades econômicas pela
atividade turística como principal gerador de divisas. Muitos fatores devem ser
levados em conta: capacidade de carga do destino, sazonalidade, equipamentos,
além de estrutura que ficam desgastadas com o tempo e também o próprio destino,
caso ele não se “reinvente”. Porém, em muitas localidades, pode ser um
complemento de renda, uma alternativa para outras atividades econômicas
presentes.
Dencker (2004, p. 15) pensa que “o turismo é um filão inesgotável de novas
oportunidades e que pode ser desenvolvido na maioria das localidades, com um
nível relativamente baixo de investimento, resultando em geração de empregos”. De
fato, se levar em consideração outros setores da economia que demandam altos
investimentos para serem implantados, o turismo não exige senão infraestrutura
básica, para que a atividade possa ser sustentável.
18
3 PLANEJAMENTO TURÍSTICO NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO
ENDÓGENO
3.1 O PLANEJAMENTO NA ATIVIDADE TURÍSTICA
Para o desenvolvimento da atividade turística é necessário entender suas
várias definições, a fim de organizar as ações a serem desenvolvidas. Para tanto, é
preciso conhecimento de técnicas que irão auxiliar nesta organização.
Para quem decidir enveredar por este campo, é necessário utilizar tais
técnicas e conhecimento científico para ser um bom planejador.
Autores, como Bromley (1982, apud DIAS 2003, p. 87), discorrem acerca do tema:
[...] o planejamento busca definir e alcançar objetivos para o futuro, de tal maneira que as transformações que ocorram nas sociedades humanas não sejam determinadas por circunstâncias fortuitas ou externas, mas como resultado de decisões e propósitos gerados por um conjunto de pessoas determinadas.
Muitas vezes, sem que se perceba, o planejamento acaba fazendo parte da
vida das pessoas, direta ou indiretamente. Ao almejar uma carreira, adquirir um
produto ou quando um governante ou empregador decide a respeito de determinado
tipo de serviço ou benefício para determinado grupo de pessoas, há um tanto de
planejamento nisto. Caso estejam utilizando técnicas ou seguindo conceitos dos
diversos autores, isto é passível de análises mais profundas.
O planejamento é aplicado em diversas áreas de atuação. Na maioria das
vezes por um grupo menor de pessoas, cujos passos ou benefício de outros
milhares depende do que é feito, melhor dizendo, do que é decidido e no quanto
estas decisões podem afetar a vida da população.
Geralmente, a tomada de decisão é feita pelo poder público. Supõe-se que
haja pessoas de perfil técnico para tais assuntos, pessoas estas que detêm o
conhecimento técnico e científico para tanto. A respeito disto, segundo Dias (2008,
p. 88), “ao efetuarmos qualquer planejamento visando sempre adequar os meios aos
objetivos enunciados. Essa adequação se faz levando-se sempre em consideração
as mutações da realidade na qual o planejamento está inserido”.
19
O fato das tomadas de decisões a respeito do futuro e determinar os objetivos
a serem atingidos, deve-se levar em consideração se a parte mais interessada
(melhor dizendo, a parte mais afetada), que é a população, aprova ou não. Caso
isso não aconteça, deve-se ter flexibilidade para adequar os objetivos à realidade.
Se o planejamento e a gestão começam de forma errada, o resultado final pode ser
desastroso, ocasionando perda de tempo, recursos e credibilidade.
Para efeito de análise em relação ao poder público, este pode ser
considerado um dos agentes do planejamento, pois é quem elabora e executa o
plano. Embora algumas organizações sociais sejam chamadas para dialogar, quem
tem o poder de decisão é o Estado, na figura de um ministério ou de uma secretaria.
Uma das áreas onde o planejamento está presente é na atividade turística.
Como foi discutido anteriormente, são várias as definições, mas todas têm como
enfoque o futuro, seja ele próximo ou distante, como diz Petrocchi (1998, p. 20).
Desde janeiro de 2003, o Ministério do Turismo é o principal representante do
poder público no que tange às políticas voltadas para o turismo. Em sua missão,
tem-se o seguinte:
Desenvolver o turismo como uma atividade econômica sustentável, com papel relevante na geração de empregos e divisas, proporcionando a inclusão social. O Ministério do Turismo inova na condução de políticas públicas com um papel de gestão descentralizado, orientado pelo pensamento estratégico (BRASIL, 2003).
A estrutura responsável pela execução da política nacional para o setor é a
Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, enquanto o Conselho Nacional de
Turismo tem como atribuição assessorar o ministro do turismo na questão de
formular e aplicar a Política Nacional de Turismo, planos e programas.
Desde que o Ministério do Turismo foi criado, alguns planos foram
apresentados. Dentre os principais exemplos são o Plano Nacional de Turismo –
Diretrizes, metas e programas - 2003/ 2007; o Plano Nacional de Turismo – Uma
viagem de Inclusão – 2007/ 2010 e; o Plano Nacional de Turismo – O turismo
fazendo muito mais pelo Brasil - 2013 – 2016.
De fato, alguns programas e projetos primam pela descentralização da
atividade turística. Exemplo disso é o projeto “Destino Referência em Segmentos
Turísticos”. Apesar de haver esta descentralização, não significa que os vários
atores e órgãos tenham que trabalhar de forma isolada. Para a concepção deste
20
projeto, foi necessária a integração das instâncias de gestão pública, da iniciativa
privada e do terceiro setor. De acordo com a descrição do modo de gestão do
projeto:
[...] esta parceria permitiu abordagens em dois enfoques estratégicos nos destinos: o foco na gestão compartilhada, que valoriza a governança local, e o foco no mercado, que permite a elaboração dos planos de ação voltados aos principais segmentos turísticos que dão identidade aos territórios contemplados (BRASIL, 2010, p. 11).
Outro programa que pode ser citado é o “Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil", visando integrar todos os setores econômicos e sociais na
promoção de um roteiro regionalizado, com o intuito de melhorar a qualidade de vida
e criar uma nova dinâmica econômica para o país.
No caso específico do Turismo, há de se levar em conta que são muitos os
envolvidos. Pode-se citar a comunidade receptora, o trade turístico, o Poder Público,
os empresários. Logo, quando não há a participação destes no planejamento, ou
seja, se não houver o envolvimento ou ao menos ouvir um destes atores (exceção
do Poder Público, já que este detém o poder decisório), tudo tende a falhar no
resultado final.
Na prática, se observa a total discordância entre estes atores. Os programas
são criados, porém, nem sempre seguem adiante. O que se vê são setores
trabalhando de forma isolada, cujo objetivo é atender ao mercado, melhor dizendo, a
seu próprio interesse. Dencker (2004, p.1) afirma que:
[...] o planejamento e a gestão de negócios do turismo e da hospitalidade constituem processos baseados em pesquisa e ação [...] seus objetivos deverão contemplar a otimização e a contribuição do setor do turismo e hospitalidade para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente, integrando-se de forma harmônica com as demais atividades sociais e econômicas.
Esta integração deve ser positiva para todos os envolvidos. Mas, de que
forma pode-se haver integração se muitos querem trabalhar por conta própria?
Mais do que alcançar o lucro, é necessário que haja ações efetivas para que
haja esta integração entre os atores. Planejar para obter o lucro de forma imediata,
sem pensar nos impactos de uma atividade que atrai grande fluxo de pessoas, como
o turismo, podendo trazer sérias consequências para o futuro.
21
Dentre estes atores, pode-se incorporar também a academia. Segundo Dencker (2004, p. 1), “[...] as reflexões realizadas pela universidade, de modo a
contribuir para a compreensão de que a ação social não pode ser apenas síntese de
uma pluralidade de lógicas redutíveis a determinantes econômicos”. Lembrando que
o conhecimento científico é fundamental para que se possa planejar de forma
eficiente e ninguém melhor do que a academia para tê-lo.
3.2 PLANEJAMENTO TURÍSTICO E SEU FOCO DE AÇÃO
Com a criação do Ministério do Turismo, em 2003, surgiram vários programas
e planos que norteavam a atividade turística no Brasil, como foi dito anteriormente,
atribuindo e apontando os caminhos a serem seguidos, em uma tentativa de fazer
com que esta atividade pudesse ser benéfica a todos os envolvidos.
Na prática, quem detém o capital para investir no setor tem muito mais
vantagens. São os empresários e investidores que irão decidir onde o dinheiro será
aplicado. O foco principal destes é o lucro e isso pode ser mensurado de forma mais
objetiva.
No setor público o foco é mais na qualidade daquilo que é oferecido ao
visitante. Não visa o lucro.
No entanto, Poder Público e a iniciativa privada devem andar juntos e ao
mesmo tempo manter uma interdependência. Ruschmann (1997, p. 84) pesquisou
este fenômeno e observa este trabalho em conjunto:
[...] Diante da amplitude e da variedade das ações de cada um dos setores, a abordagem deste estudo se concentra no planejamento turístico nas organizações públicas que, para alcançar seus objetivos, necessitam da colaboração das empresas privadas, atuando direta ou indiretamente no desenvolvimento da atividade.
O Poder Público, nas diferentes escalas de governo e governance deve
garantir, por meio das legislações vigentes, o desenvolvimento da infraestrutura
básica para o crescimento da atividade turística, beneficiando não somente os
visitantes, mas principalmente a população residente.
Precisa ir além de atingir os objetivos do mercado ou do bem-estar dos
visitantes, o foco do planejamento deve ser a população local. Em sua pesquisa a
respeito de hospitalidade, Dencker (2004, p. 10), incorporou à análise a ideia de
22
hospitalidade, e afirmou “permitiria trabalhar a questão da inclusão social, proposta
pelos modelos de planejamento que visam à ampliação da participação direta dos
cidadãos e dos grupos sociais [...]”. Isso inclui o chamado “Orçamento participativo”,
em que a população teoricamente participava das tomadas de decisão por meio de
reuniões com os centros comunitários em cidades como Porto Alegre e Belém, em
algumas gestões de prefeitos da década de 1990. Claro que a decisão final cabia à
prefeitura.
O Estado também pode criar subsídios ou vantagens aos empresários do
setor para que estes criem mais vagas de emprego à população local. Com isto,
esta mão de obra pode ser absolvida pelos diversos setores ligados direta ou
indiretamente à atividade turística.
O poder público cria, por exemplo, um programa de capacitação de pessoas
para o bom atendimento ao turista. Estas pessoas podem procurar vagas de
trabalho ou emprego nos restaurantes, transporte, agências, lojas. Setores estes
que estão ligados à atividade turística.
Desta maneira todos são beneficiados, no entanto, a forma como os setores
produtivos da cadeia turística se beneficiam, obtendo o lucro necessário para sua
existência e mesmo para a geração de divisas para o local. Afinal, seria uma utopia
a iniciativa privada investir em algo sem que houvesse contrapartida.
3.3 OS ENTRAVES DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO
A forma como o planejamento turístico é elaborado traz entraves ao
desenvolvimento de suas atividades, como foi dito anteriormente, devido ao fato de
que os seus agentes atuam de acordo com suas necessidades e interesse privados.
O que se vê são empresários que enxergam os outros como concorrentes, nunca
como possíveis parceiros. Este descompasso complica informações que poderiam
ser simples e acabam gerando transtornos, especialmente, para o visitante. Isso traz
um desgaste para o setor e o destino.
Com o insucesso no empreendimento, o empresário para de investir no setor.
Sem contar que a troca de experiências poderia aumentar a relação de confiança
entre o trade turístico. Um desgaste que poderia ser evitado caso houvesse um bom
planejamento que previsse alavancar as potencialidades de cada agente inserido na
dinâmica das atividades turísticas, isto tem gerado certos contratempos.
23
Novas propostas de gestão devem ser pensadas. De fato, o se vê a repetição
de velhas fórmulas, copiadas de realidades diferentes para a região amazônica. O
mesmo modelo que é aplicado no Nordeste não é o modelo ideal para o Norte. O
que deu certo no Sul do Brasil pode não dar certo no Pantanal. Deve-se levar em
conta a realidade de cada local para que, tanto as políticas públicas, quanto aos
investimentos do setor privado tenham êxito em determinadas regiões.
Dencker (2004, p. 8-9) lista duas dificuldades no planejamento: a) a falta de
metodologias adequadas, apontando a dificuldade em conciliar as diretrizes políticas
dos gestores com as necessidades da população local e; b) a tendência de
centralização e cultura autoritária, podendo ser citado os gestores públicos na
representação de seus secretários e ministros de estado. Ainda Dencker afirma,
ainda, que esta centralização favorecia ao que ela chama de “autoritarismo”, no
sentido de que quem solicita algo ao poder público estará sempre sujeito ao jogo
político do momento e, mais adiante, à tradicional descontinuidade política no Brasil.
Por isso, muitos programas iniciados em governos anteriores não são levados
adiante.
Diante disto, questiona-se: como, então, enfrentar estes entraves? O que é
necessário para que não ocorram os mesmo erros do passado?
De acordo com Ruschmann (1997, p. 84) os objetivos do planejamento para o
setor turístico devem estar bem definidos. Além disso, também, podem ser
planejadas atividades que envolvam escalas, como determinadas localidades,
regiões, países e até continentes, além de órgãos públicos e empresas privadas.
Isso acontece principalmente quando há mudanças no cenário político, em que um
governante eleito pertence a outro partido diferente do governante anterior.
Este fato acontece de forma constante nas esferas municipal, estadual e
federal. Os governantes eleitos acabam priorizando aquelas pessoas ou
associações que apoiaram sua candidatura, de acordo com suas necessidades e
interesses no momento. O que foi planejado no governo anterior pode deixar de ser
prioridade no governo seguinte.
Algo muito importante em relação aos objetivos do planejamento é coordenar
o turismo com outras atividades econômicas, pois não pode e nem deve trabalhar de
forma isolada de outras atividades. É fácil compreender isto: para que aconteça a
atividade turística em uma ilha, por exemplo, é necessária a coordenação com
órgãos de transporte para facilitar o acesso do visitante, de órgãos de infraestrutura
24
para construir um terminal hidroviário em condições adequadas, do serviço de
limpeza pública para manter a cidade limpa, dos órgãos de segurança pública para
evitar situações de roubos, assaltos e manter a ordem, de serviços de saúde, caso
alguém precise de atendimento médico. Isso sem falar do trade turístico e de outros
serviços, como taxi, alimentos e bebidas, artesanatos, casas de câmbio, entre tantos
outros serviços que o visitante poderá utilizar.
3.4 FERRAMENTAS UTILIZADAS NO PLANEJAMENTO TURISTICO
Dias (2003, p. 96 apud Holanda, 1974, p.40) discorre acerca das fases do
processo de planejamento. Segundo esse autor, tudo começa com o diagnóstico, “uma análise do passado que constitui a base factual, estatística ou histórica do
processo de planejamento”. É nesta fase que acontece a coleta de dados e as
análises, que são feitas de forma quantitativa e qualitativa.
Após o diagnóstico, entra a fase do prognóstico, o comportamento futuro do
que está se planejando. Este é o plano propriamente dito. Esta é a parte mais
técnica. É onde acontece a criação dos critérios e diretrizes a serem seguidos.
A implantação do plano é a última parte do processo, sendo importante a
participação de organizações sociais e da comunidade. Esta ultima é quem recebe e
quem irá sofrer os impactos, positivos ou não, da atividade turística pode
proporcionar. Por conta disso é importante que a população participe, pois sabe
melhor as dificuldades enfrentadas no cotidiano.
Os chamados programas e projetos são unidades menores que fazem parte
do plano, porém com importância um pouco menor, já que o plano é a parte mais
elevada. Os programas são constituídos por projetos a fim de alcançarem um
mesmo objetivo. Dias (2003, p. 98) afirma que “um programa é composto por uma
série de projetos que guardam estreita relação entre si, e que em conjunto são
destinados a converter em realidade os objetivos e metas do plano”.
3.5 CAMINHOS IMPORTANTES PARA O ÊXITO DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO
Um planejamento bem elaborado requer flexibilidade no caso de precisar
solucionar problemas futuros de modo mais eficaz ou mesmo evitá-los. Deste modo
fica mais fácil alcançar os objetivos propostos e dar andamento ao plano. Além da
25
flexibilidade, o profissionalismo também é importante. De acordo com Ruschmann
(1997, p. 87):
[...] o profissionalismo deve ser a base da atividade e é o ponto que distingue o
planejamento atual e futuro daquele realizado no passado, quando o amadorismo conduzia as atividades para o desenvolvimento, nem sempre adequado – baseando-se em experiências que deram certo anteriormente.
A participação da população, embora ela não tenha o poder de decisão, é
importante para ser inserida no processo de planejamento do turismo, que também
pode ser uma ferramenta de inclusão social, não somente um gerador de divisas.
Face à inserção da população, tem-se a integração, que se dá de duas formas:
integração entre os atores da atividade turística e a integração entre os diversos
programas sociais.
A integração entre os atores da atividade turística, teoricamente, é uma
forma de não isolar determinado grupo. Podem-se considerar as diversas regiões do
país que deveriam experimentar uma integração maior. Regiões que possuem áreas
naturais semelhantes que tirariam melhor proveito se houvesse uma cooperação
maior entre elas. No caso da região amazônica, por exemplo, os principais destinos
da região, se trabalhassem juntas em um roteiro integrado, reunindo o trade turístico
das duas regiões e oferecessem seus serviços turísticos, seriam muito mais
fortalecidas se trabalhassem juntas, abordando especificamente de Belém e
Manaus. Não indo muito longe, Belém e a região do Tapajós também poderiam se
beneficiar disto.
Algumas regiões no Nordeste se beneficiam desta integração. A chamada
“Rota das Emoções1” é um exemplo de como essa integração dá resultados. Caso
trabalhassem separadamente, talvez não tivessem o mesmo sucesso, quando estão
reunidas.
A respeito dos programas sociais, a integração também seria benéfica, caso
os planos de desenvolvimento turístico trabalhasse junto a outros programas.
Isoladamente, o plano tende a falhar e sequer atingir seus objetivos.
1Apesar de estarem localizadas em estados diferentes, Jericoacoara, no Ceará, Delta do Parnaíba,
no Piauí e Lençóis Maranhenses, no Maranhão, são um bom exemplo de como a regionalização do turismo pode trazer resultados satisfatórios para o trade turístico, às localidades e à população local.
26
4 TURISMO: CONTEXTUALIZAÇÃO, CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Ao se observar a fenomenologia do Turismo, prematuramente conclui-se que
a atividade não necessita de grandes estudos para ser compreendida. No entanto,
quando o observador utiliza-se das ferramentas e métodos das ciências diversas
que compõem o campo do conhecimento humano e aprofunda-se nos
questionamentos que, evidentemente, surgem no decorrer da pesquisa, a
problemática que permeia a atividade torna-se um fator instigante para novas
descobertas. Estas mesmas descobertas podem ser consideradas o principal
negócio do turismo, sendo as motivadoras do deslocamento de pessoas de seus
lugares habituais para outras regiões, por razões diversas.
Historicamente, tem-se o deslocamento do homem como um instinto natural
de sobrevivência, quando se usou do nomadismo para buscar melhores condições
de alimentação e clima (BENI, 1998). No entanto, a partir do domínio das técnicas
agrícolas e de domesticação de animais, o homem sedentário deixou de ter o
deslocamento como um fator decisivo para a sua sobrevivência, pois a fixação do
homem à terra garantiu quase todos os itens necessários para sua subsistência.
Desde então, o deslocamento passou a ser utilizado eventualmente como nas
disputas olímpicas da Grécia antiga (Idade Antiga), nas cruzadas cristãs (Idade
Média) na descoberta do novo mundo pelos povos da Ibéria (Idade Moderna).
O deslocamento passou a se constituir como um negócio rentável no decorrer
do século XIX, reflexo do momento histórico que a Inglaterra Vivia na 2ª Revolução
Industrial. A industrialização, na Europa, transformou quase todos os métodos de
produção artesanal em produção industrial. O mesmo aconteceu com o
deslocamento, que, favorecido pela intensa expansão da integração ferroviária na
Europa, começou a ser oferecido com serviços agregados: hospedagens,
guiamento, alimentos e bebidas, etc. O idealizador desta modalidade lucrativa de
vender o deslocamento com serviços agregados foi Thomas Cook2, que batizou a
atividade como “tour” (ANSARAH, 2000).
A criação de pacotes turísticos foi intensamente difundida por diversos países
da Europa, e, posteriormente, nos Estados Unidos da América nos anos 1860, com
2Thomas Cook: considerado o “pai do turismo” por vislumbrar a atividade em larga escala. Cook
inaugurou filiais de sua agência em diversas partes da Europa e América e popularizou os serviços de viagens e turismo.
27
Revolução Industrial americana (VIDAL, 2010). Desde então, a atividade turística
desenvolveu-se acintosamente, de modo a preencher nichos e criando segmentos
para diversificar a oferta de serviços turísticos.
Algumas situações colaboraram para o desenvolvimento do turismo como
atividade econômica, a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Destacam-se,
segundo Garrido (2001): a) redução da jornada de trabalho e introdução das férias
remuneradas; b) elevação do nível educacional com a abordagem de conhecimento
que passam despertar o interesse por conhecer outros lugares no mundo; c)
melhorias nos sistemas de transportes; d) dispersão de desenvolvimento econômico,
crescendo em paralelo ao volume de viagens de negócios; e) aumento da renda per
capita disponível para viagens. Outro marco fundamental da estruturação do turismo
foi a criação da Organização Mundial do Turismo (OMT), realizando sua primeira
assembléia geral em 1975 e, a convite do Governo Espanhol, instalou sua secretaria
em Madrid. A OMT é um organismo supranacional de turismo, que tem como
objetivo fundamental, segundo o Artigo 3º de seu Estatuto:
Promoção e desenvolvimento do turismo, com vistas a contribuir para o desenvolvimento econômico, a compreensão internacional, a paz, a prosperidade e o respeito universal, a observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo,
língua ou religião. (OMT, 2009, p.2)3.
A definição de Turismo aborda três aspectos importantes: o deslocamento de
pessoas, a temporalidade e as necessidades do indivíduo fora de seu local habitual – concentrando-se, sobretudo, no local em que ocorrerá o “consumo” desse produto. Complementando esse conceito básico, pode-se acrescentar que este setor
econômico engloba, além das atividades realizadas no destino turístico, aquelas
exercidas pelos diversos fornecedores de produtos e serviços que se situam nos
chamados núcleos emissores (GARRIDO, 2001).
O turismo, por ser uma atividade que atua diretamente sobre o ambiente
natural e cultural das localidades receptoras, produz uma série de impactos não
somente positivos, mas também negativos. Durante muito tempo, os estudos sobre
turismo ocupavam-se em relatar apenas os aspectos positivos da atividade, mas
com o passar do tempo e o seu crescimento acelerado nos últimos 50 anos,
3Tradução dos autores.
28
começaram a se observar consequências negativas, tanto nos aspectos
socioculturais quanto ambientais e econômicos.
Portanto, pensa-se que o desenvolvimento do turismo em bases planejadas,
contando com os devidos mecanismos de controle e monitoramento, poderá
alcançar a redução dos seus impactos negativos, principalmente se levar em
consideração os princípios do desenvolvimento sustentável ecológica, sociocultural e
economicamente.
4.1 CARACTERÍSTICAS DO TURISMO
A atividade turística, no decorrer de seu desenvolvimento, ganhou
características peculiares que foram identificadas com ajuda de ferramentas
metodológicas de outros campos da ciência. Antes de descrever as características
da oferta, deve-se conceituar o “produto” turístico, analisando diversos autores para
chegar-se a uma ideia aproximada do que se trata o “produto” em questão.
É importante situar a atividade turística a partir de dois dos seus principais
eixos pesquisados. Para a economia, o turismo caracteriza-se como um serviço, por
ser intangível e não gerar “consumo” e sim o “uso” de serviços turísticos. Já para a Geografia, o turismo é um serviço, mas também é um produto. Isso ocorre pelo fato
da atividade necessitar do deslocamento do turista (consumidor) até o lugar turístico
(produto) (CRUZ, 2005). Conclui-se, concordando com Cruz (2005), que o consumo
fica caracterizado pela transformação provocada em função da apropriação do
espaço para fins turísticos.
Para Kotler e Armstrong (1995), o produto, de uma forma geral, é qualquer
bem ou serviço que possa ser oferecido ao mercado consumidor para satisfazer uma
necessidade ou um desejo. Kotler e Armstrong também tratam de diferenciar os
produtos tangíveis dos intangíveis. Para os autores, os produtos tangíveis são os
produtos físicos, os quais possuem embalagem, podendo assumir diferentes formas,
desde um produto de supermercado a um automóvel. Já os intangíveis, ainda
segundo os autores, são mais conhecidos como serviços, onde o turismo se
enquadra.
Entende-se que todo serviço, é um produto. Mas nem todo produto é um
serviço. O segundo é mais abrangente, amplo. Beni (1998 apud DANTAS 2008) já
correlaciona o produto ao produto turístico, argumentando que o produto turístico
29
possui as seguintes características: 1 – é baseado no fator tempo; 2 – é
irrecuperável; 3 – não é cumulativo; 4 – não pode ser transportado. 5 – matéria-
prima não é agrupável; 6 – é dinâmico e instável, pois é uma forma de interação
entre o homem e o território, 7 – é opcional na escala de necessidade do
consumidor.
Boullón (1985, apud PETROCCHI 2009,p.9) é mais específico ao afirmar que
o produto turístico é “o resultado de uma série de combinações de serviços
efetuados pelas empresas especializadas no atendimento das necessidades dos
viajantes, desde que estes saiam até que regressam às suas casas". O autor
complementa, ainda, argumentando que o serviço turístico só se torna um produto
no ato em que é consumido, pois, assim como em todo e qualquer serviço, a
“produção e o consumo” são processos simultâneos, ocorrendo, na maioria das
vezes, no mesmo lugar.
Compreende-se, a partir da leitura dos autores supracitados, que o produto
turístico ou serviço turístico engloba um conjunto de três fatores básicos, os quais
são necessários para haver a oferta turística:
a) atratividade: motivo que desperta o interesse do deslocamento até o
destino turístico;
b) facilidades: presente no processo de escolha do destino para o qual se irá
viajar. As condicionantes fundamentais para facilitar a escolha do destino pelo
viajante são as informações do destino, disponibilidade de canais de venda (Internet,
agências de viagens, mala direta, etc.) e o preço do produto. Após a escolha do
destino turístico, outras condicionantes também devem ser levadas em consideração
como a infraestrutura turística (meios de hospedagem, casas de câmbio,
entretenimento e alimentos & bebidas e etc.) e a infraestrutura básica (hospitais,
segurança pública, acessibilidade para PCD’s e etc.);
c) acessos: disponibilidade de meios de transporte e infraestrutura aérea,
náutica, rodoviária e ferroviária para facilitar o deslocamento até o destino turístico.
4.2 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA TURÍSTICA
Complementando as características do “produto turístico”, em que se engloba,
basicamente, alguns aspectos como a necessidade do deslocamento de pessoas e
o consumo ocorrendo simultaneamente à produção, a oferta turística também é
30
composta por características singulares frente a outros tipos de serviços. A
existência de várias definições acerca da oferta turística. Portanto, tentar-se-á
aproximar os conceitos de vários autores para se chegar a um denominador comum.
Para Ignarra (2003, p. 50) “a oferta turística é constituída por um conjunto de
elementos que conformam o produto turístico, os quais, isoladamente, possuem
pouco valor turístico”. A composição da oferta turística, segundo o autor, é uma
gama de elementos tangíveis e intangíveis, que são enumeradas da seguinte forma:
a) atrativos turísticos; b) serviços turísticos; c) serviços públicos; d) infraestrutura
básica; e) gestão; f) imagem da marca do destino; g) preço.
Rose (2002) define a oferta turística como um complexo de recursos naturais
e culturais que são os responsáveis em despertar a motivação do deslocamento e
permanência de pessoas em um lugar cotidiano. Quando se agrega a esses
recursos os equipamentos, bens e serviços que dão amparo e auxílio ao turista, tem-
se a oferta turística no mais amplo sentido. Beni (1998) complementa este raciocínio
citando a existência de dois tipos de oferta turística: a primeira reúne os elementos
que constituem a matéria prima da atividade turística, denominada de oferta turística
original e a segunda, denominada oferta turística derivada, é constituída pelo
conjunto de prestadores de serviços das empresas de turismo.
Chias (2007) trata de explicar como acontece o desenvolvimento de ofertas
turísticas. Segundo o autor, os recursos, que são baseados no conjunto de atrativos
do destino, compõem a primeira etapa deste processo. O homem, seu legado
histórico e o local ao seu entorno configuram os três elementos básicos para gestão
do destino.
Pode-se dizer, também, que estes elementos são a “matéria prima” in natura
para o turismo. Quando estes recursos se estruturam para a apropriação pelo
turismo, estes se transformam em produtos turísticos, prontos para serem
consumidos (visitados, assistidos, estudados, comidos, etc.) pelos turistas. Ou seja,
todo atrativo que não esteja acessível para o turista, não pode ser considerado um
produto turístico. Quando o produto, através do marketing, é promovido ou
anunciado fora do seu local de origem, ocorre a transformação em uma oferta
turística. Pelas afirmações de Chias (2007), chega-se à conclusão de que há a
existência de somente um tipo de oferta turística, facilitando a compreensão do
processo básico do turismo. Esse processo pode ser compreendido na figura 1.
31
Figura 1: O Processo básico do turismo.
Fonte: Joseph Chias (2007)
Outros fatores característicos da atividade turística são explorados por Dias
(2003). Dentre esses, apresenta-se o caráter da sazonalidade do turismo, que ocorre
em razão do intenso movimento de turistas em determinadas épocas do ano,
período em que se faz o uso intensivo dos recursos turísticos, serviços e
infraestrutura do lugar visitado.
A utilização demasiada dos recursos do destino se contrapõe à subutilização
destes mesmos recursos no período fora da “alta temporada”. Dias (2003) considera
ainda que a sazonalidade cria o fenômeno das populações flutuantes, que acarretam
inúmeros impactos à comunidade receptora como a sobrecarga nos sistemas
públicos de água, saúde e segurança.
A transitoriedade da demanda turística é outra característica fundamental do
turismo que pode aumentar ou diminuir de um momento para o outro, em função de
acontecimentos políticos, econômicos, sociais e ambientais. A atividade turística
apresenta extrema sensibilidade a alterações de qualquer ordem, tanto no país de
origem quanto no destino, pois o turista, quando viaja, não quer que problemas
prejudiquem a sua estadia no local visitado (DIAS, 2003).
Estes fatores expostos por Dias (2003) são algumas das razões pelas quais
não se pode pensar que a atividade turística deva ter a total prioridade ou a
exclusiva atenção econômica de cidades turísticas. A diversificação produtiva pode,
efetivamente, diminuir os impactos econômicos causados pela expansão da
demanda, bem como suprir a diminuição da movimentação de capital nos períodos
de baixa temporada. Existem várias alternativas para amenizar os efeitos da
sazonalidade, como, por exemplo, a organização de eventos nos períodos de baixa
temporada para aumentar o fluxo turístico do destino, beneficiando, por conseguinte,
a hotelaria, o comércio e as empresas do segmento de alimentos e bebidas.
Outra saída recorrente do planejamento turístico para escapar da
sazonalidade, expansão e a restrição de demanda turística é a segmentação do
32
mercado. Para Lovelock (2001, p. 72), a segmentação do mercado permite, do ponto
de vista da demanda, “agrupar clientes atuais e potenciais que compartilham das
mesmas necessidades e características, comportamento de compra ou padrões de
consumo”.
O Ministério do Turismo (MTUR) reconhece a segmentação como uma prática
eminente do planejamento governamental para criar alternativas de desenvolvimento
e fortalecimento dos destinos turísticos no Brasil, como se confirma a seguir:
Para o Ministério do Turismo, a segmentação é entendida como uma forma de organizar o turismo para fins de planejamento, gestão e mercado. Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir dos elementos da identidade da oferta e também das características e variáveis da demanda (MTUR, 2006, p. 61).
A segmentação possibilita, portanto, a melhor utilização dos recursos
turísticos brasileiros, dada a grande variedade ecológica e cultural do Brasil e sua
vastidão territorial. Isto explica a preferência do Ministério do Turismo em priorizar o
desenvolvimento dos 65 pólos indutores do turismo regional, na tentativa de
fortalecer não só o destino turístico, como a região a qual ele está inserido. A seguir
apresenta-se o mapa dos 65 destinos selecionados pelo Ministério do Turismo (Fig.
2).
Figura 2: Mapa dos 65 destinos indutores de turismo regional.
Fonte: Ministério do Turismo (2007)
A seleção dos destinos indutores pelo MTUR utilizou os critérios explicados
por Chias (2007), considerando como produtos turísticos aptos para o consumo
apenas os recursos que dispõem de infraestrutura de acesso e de apoio para os
visitantes. A partir de então, este desenvolvimento do destino poderia, finalmente,
irradiar para os locais adjacentes.
33
5. ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS E OS CLUSTERS TURÍSTICOS
Antes de discutir a questão do turismo à luz das teorias de arranjos
produtivos, explicar-se-á os conceitos difundidos nos dias atuais. Levando-se em
consideração que as teorias dos aglomerados e arranjos produtivos locais são
oriundas de outros campos do conhecimento, como as ciências econômicas e a
administração, portanto, buscar-se-á as contribuições desses campos de
conhecimento par aplicar a realidade da atividade turística.
Primeiramente, explica-se que cluster é uma palavra de origem americana,
que, traduzida para a língua portuguesa significa aglomeração. Autores como Beni
(2012) referem-se a cluster utilizando esta tradução. Entretanto, é bastante usual,
também, utilizar o termo “arranjos produtivos”, criado e difundido amplamente no
Brasil.
Nas palavras de Porter (1998), os arranjos produtivos são concentrações
geográficas de companhias e instituições em um setor específico. Os clusters -
denominação de arranjos produtivos pelo autor - englobam uma gama de empresas
e outras entidades importantes para a competição, incluindo, por exemplo,
fornecedores de matéria-prima, componentes, maquinários, serviços e instituições
voltadas para o setor delimitado.
Amato Neto (2001) apresenta uma visão organizacional sobre clusters,
argumentando que estes representam formas de integração que permite uma
condução satisfatória dos negócios para muitas organizações. Entretanto, Silva
(2012) contrapõe Amato (2001) sugerindo que a ideia de um cluster é a eficiência
conjunta, mas, em alguns casos de clusters, pode acontecer o desenvolvimento de
uma empresa e outras não.
Para o SEBRAE4, os arranjos produtivos locais são aglomerações de
empresas localizadas em um mesmo território bem delimitado, que apresentam
especialização produtiva e mantém algum vínculo de articulação, interação,
cooperação e aprendizado entre si e com os atores locais, como governo,
associações comunitárias, instituições de crédito, ensino e pesquisa.
Silva (2012) salienta a importância da formação de clusters, pois, a partir da
cooperação conjunta entre as organizações que compõem o arranjo produtivo,
4SEBRAE. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br>. Acesso em 14 de julho de 2013.
34
ocorre o fortalecimento dos atores participantes, preparando-os para as ondulações
do mercado. Em razão disso, o cluster mostra-se como uma importante organização
dos diversos segmentos que compõem a cadeia produtiva para amenizar efeitos da
oferta turística já citados neste trabalho, como a transitoriedade da demanda.
Ainda Silva (2012), o cluster apresenta um ciclo de formação, iniciando nas
primeiras relações comerciais e políticas entre as organizações, evoluindo para a
fase de crescimento e verticalização até, finalmente, a fase estruturada do cluster.
Este processo é melhor compreendido na quadro 1.
Quadro 1: Ciclo de vida de um Cluster Fonte: Eurada (1999) apud Silva (2012)
Lohmann e Panosso Neto (2008, apud TOMAZZONI, 2012) complementam a
conceituação de cluster citando três elementos básicos para sua configuração:
aglomeração, afinidade e articulação.
Nesse contexto, a aplicação da metodologia dos clusters consiste na
identificação das aglomerações, elaboração diagnóstica das atividades e interações
organizacionais, além da implementação de um plano estratégico de ação para o
desenvolvimento do arranjo. Não há modelos de clusters, estes guardam relação
com as dinâmicas locais, portanto, diferente de um lugar para o outro em função do
ambiente em que está inserido e das políticas que o permeiam. No entanto, para
resultados positivos, torna-se necessário o investimento em três macro áreas:
infraestrutura, recursos humanos e tecnologia para facilitar o relacionamento e
interação entre os componentes do cluster (BENI, 2012).
Porter (1999) também entende que as inter-relações entre empresas se
constituem no principal meio para criação de valor. Cassiolato e Szapiro (2003, apud
SILVA 2012) complementam, argumentando que o próprio conceito de aglomeração,
a partir do início da década de 1990, tornou-se mais articulado e difundido quando
houve a vinculação à ideia de redes, no contexto de cooperação entre os agentes ao
longo da cadeia produtiva. Essa cooperação passou a ser um elemento central na
35
competitividade do local. Chama-se atenção, ainda, para o fato de que isto se aplica
para empresas de qualquer porte, setor ou âmbito de atuação.
No turismo, uma das alternativas de desenvolvimento regional é a formação
de arranjos produtivos locais, de maneira a fortalecer a cadeia produtiva para
oferecer um melhor aproveitamento dos recursos turísticos e, conseguintemente,
uma melhor qualidade de experiência para os visitantes. Este modelo de
desenvolvimento turístico é perceptivelmente aplicável à realidade amazônica, pois
nas grandes cidades, como o caso da capital do Estado do Pará, Belém, o turismo
receptivo ocorre de maneira incipiente.
A viabilidade de arranjos produtivos nesta cidade acontece em função da
gama de recursos turísticos não aproveitados ou subutilizados, (ver os dados na
pág. 43). No entanto, a realidade deste setor apresenta-se de forma desarticulada, o
que inviabilizada em função de seus atores atuarem de forma isolada, ou mesmo
competitivas entre si, e não de forma cooperada.
Percebe-se, completando o pensamento de Porter, no capítulo anterior, que,
em escala micro, os arranjos produtivos também apresentam, teoricamente, alta
viabilidade para pequenas comunidades amazônicas. Através do associativismo e
cooperativismo, as tomadas de decisões conjuntas proporcionadas por estas
tipologias organizacionais, podem facilitar o desenvolvimento por igual da
comunidade receptora. O turismo de base comunitária apresenta uma relevante
afinidade para esta atividade.
5.1 CLUSTERS TURÍSTICOS
A formação dos modelos multiorganizacionais para aglomerados, como é o
caso dos arranjos produtivos locais, partem, quase sempre, do mesmo ponto: a
percepção das externalidades, geralmente, estão relacionadas ao processo de
produção e consumo de bens e serviços, podendo assumir características positivas
ou negativas e influenciando direta ou indiretamente a cadeia produtiva local.
Segundo Petrocchi (2009), o primeiro passo para a formação de arranjos produtivos
locais é o reconhecimento das externalidades. Esse passo é fundamental para a
tomada de consciência da interdependência das organizações para o
desenvolvimento regional.
36
Ao aproximar as teorias dos aglomerados ao campo do turismo, percebe-se a
relevância destes estudos para o planejamento da atividade turística. Os
planejadores em turismo precisam atentar para as dificuldades que o destino
encontrará afim de se consolidar no mercado, caso não haja a profissionalização das
relações entre os atores do turismo, pois, segundo Beni (1998 apud TOMAZZI, 2006,
p. 26), a oferta de serviços “[...] terá de satisfazer as necessidades de uma clientela
muito mais exigente, sofisticada versus uma oferta fragmentada e globalizada”.
A globalização facilita a disseminação das marcas turísticas, estimulando os
fluxos turísticos, acirrando a competitividade entre os destinos.
Para Petrocchi (2009, p. 12), um cluster turístico “é um destino de turismo
composto de empresas e organizações voltadas à atividade comum do turismo e
reunidas em uma mesma área”. O compartilhamento dos esforços entre as
empresas aumenta a competitividade dos produtos, facilitando, por exemplo, a
integração entre pacotes turísticos, pesquisas de mercado, aquisição conjunta de
equipamentos e insumos. Concordando com Petrocchi (2009), Beni (1998, p. 156)
conceitua o cluster turístico como:
[...] um conjunto de atrativos de destacado diferencial turístico, dotado de equipamentos e serviços de qualidade, com excelência gerencial, concentrado num espaço geográfico delimitado [...] apresenta-se aos distintos mercados consumidores de turismo como produto acabado, final, com tarifas diferenciadas na forma de packages tours (pacotes turísticos) em alto nível de competitividade internacional.
A estruturação de clusters em destinos turísticos, como citou o autor, favorece
o desenvolvimento da cadeia produtiva, promovendo, também a consolidação dos
produtos, serviços e atrativos que caracterizam a oferta. Esse autor argumenta sobre
a sustentabilidade do cluster, devido aos destinos que precisam dispor de
inteligência de mercado para compreendê-lo e segmentá-lo, e, finalmente, disputar
os mercados mais favoráveis.
Beni (2012), em sua releitura sobre o tema, apresenta outra visão mais
abrangente sobre a adoção do cluster, com técnica do planejamento, para induzir o
desenvolvimento regional. O cluster turístico constitui, portanto, um conjunto
permanente de ações dinâmicas de esforço comunitário, mobilização social,
empreendedorismo, investimentos econômicos, eficiente comunicação
37
interorganizacional, engajamento dos atores sociais e agentes institucionais e
interação de todos os segmentos da oferta para a necessária e imprescindível
sinergia no arranjo produtivo a fim de consolidar seu desenvolvimento.
O diferencial de um cluster de turismo em relação a outros tipos de
aglomerações é que, em grande maioria, os arranjos produtivos surgem a partir de
um determinado setor industrial, ou seja, para produção de bens que após o
processo produtivo se materializam nas mãos do consumidor.
No caso do turismo, em função de sua característica essencial, a
intangibilidade, o cluster turístico não pode deixar fugir a ideia de que o consumidor é que vai até o produto, o “consumindo” no mesmo momento da produção. Portanto,
o consumidor passa por toda a “linha de produção” do cluster, acompanhando o
processo de “produção” e “consumo” instantâneo.
Este diferencial mostra-se como fator merecedor de cautelas, pois, no caso
de cluster convencional, é possível a reparação de danos em caso de defeitos no
produto adquirido. Para isso, as organizações oferecem vários recursos no chamado “pós-venda” para várias finalidades, como: demonstração de uso do produto,
garantias de uso, assistência técnica, peças para reposição e até mesmo a troca do
produto em caso de defeitos.
Como visão de negócios, o turismo almeja o atendimento ou superação das
expectativas de seus clientes, devendo tomar o cuidado para não prejudicar a
imagem do destino em caso de insatisfação do cliente, pois dada a característica de
irrecuperabilidade do produto turístico torna-se quase impossível à assistência de
um “pós-venda” para reparação de danos ao cliente. Neste sentido, o marketing do
produto necessita ser cauteloso, de forma a não vender falsas expectativas ao
turista, causando prejuízos à imagem do destino.
Após a compreensão das teorias apresentadas anteriormente, conclui-se que
após a montagem, o cluster de turismo deve funcionar em alguns passos análogos
aos que são mostrados a seguir:
a) montagem dos produtos - a partir da especialização produtiva e da
criação de microclusters, os produtos devem ser criados de modo a
fazer a melhor utilização dos recursos do destino. A predefinição da
segmentação do destino facilita a escolha dos nichos de mercado que
se irá disputar. Como exemplo, temos a figura 4 ilustrando o
funcionamento de um cluster de ecoturismo. O modelo abaixo explica
38
como pode acontecer a operacionalização do produto turístico,
servindo, também para outros tipos de segmentação.
Quadro 2: Ilustração de um Cluster de ecoturismo Fonte: Elaboração dos autores.
b) oferta dos produtos – seguindo a linha de raciocínio de Chias (2007),
para o produto se tornar uma oferta, é necessário a sua divulgação por
meio de um programa dirigido ao público. Ou seja, para atingir o
mercado consumidor, o produto deve ter uma gestão em marketing
para torná-lo conhecido no mercado. A parceria com as agências de
viagens é importante para esta etapa, pois a divulgação do produto nos
encartes, banners e portfólios geralmente não implica em custos
consideráveis para ambas as partes.
c) venda – ainda com a intermediação das agencias de viagens, o
produto consegue captar clientes através da venda indireta pelos
agentes. É o primeiro contato do consumidor com o produto.
d) operação - etapa do consumo do produto pelo turista. Esta parte não é
possível de se estipular a forma de trabalho das empresas que
compõem o cluster, conforme já foi explicado por Beni (2012), em
função de cada cluster estar inserido em um ambiente diferente,
portanto, as relações dos clusters com o meio sempre são diferentes
uma das outras.
O processo de operacionalização do cluster demonstra uma responsabilidade
mútua entre os componentes do arranjo produtivo. A falta de habilidade na condução
dos negócios implica na insatisfação do atendimento das expectativas do visitante,
ocasionando marketing negativo não só para o cluster, mas também para o destino
como um todo.
39
A composição de vários microclusters de segmentos no destino é possível,
pois, raramente, no Brasil, uma mesma região apresenta potencial para um só
segmento. Isto se torna benéfico pra a cadeia produtiva do turismo, em função do
aumento da oferta turística no destino, diminuindo os preços e fomentando o fluxo
turístico.
40
6 DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO RECEPTIVO DE
BELÉM
Os benefícios do planejamento turístico a partir da ideia de cluster podem
potencializar a cadeia produtiva do turismo. No caso da cidade de Belém – PA, o
destino é realidade no segmento de turismo de negócios e eventos desde a
inauguração do Hangar - Centro de Convenções da Amazônia.
No entanto, a partir da abertura do centro de eventos, o grande desafio da
gerência de turismo estadual e municipal é intrínseco a questão de como prolongar a
permanência do turista de negócios e eventos na cidade para utilização dos finais de
semana em atividade de turismo de lazer.
No entanto, ao se estabelecer o prolongamento da estadia do turista como
uma meta, juntamente com o desejo natural de aumento do fluxo turístico, percebe-
se a complexidade das ações que devem ser tomadas como políticas públicas de
fomento. A natureza multidisciplinar do turismo enseja a discussão em várias frentes
de diálogo acerca do desenvolvimento de localidades ainda não “turistificadas5” ou
com atividade ainda incipiente.
Silva (2012) salienta a importância da formação de clusters para o
desenvolvimento sustentável do destino. O autor alega que a busca desenfreada
pelo mercado é a principal causadora de impactos sociais e ambientais, em função
da tentativa de “turistificar” todos os recursos naturais do destino, além da constante
contratação da mão de obra local de baixa qualificação, para justificar os baixos
salários e a desvalorização. No cluster turístico, os nichos de mercado de cada
empresa são bem delimitados e garantidos, portanto, teoricamente, as empresas
não necessitam se lançar no território do destino para fazer a apropriação dos
recursos, territórios e cultura da localidade receptora.
Portanto, este capítulo objetiva, a partir de uma pesquisa quali-quantitativa,
identificar quais os papéis e as possíveis relações dos protagonistas da cadeia
produtiva do turismo com a atividade. Para tanto se utilizou da metodologia de
diagnóstico preconizada por Barbosa e Zamboni (2000, apud MAMBERTI & BRAGA
2004), a qual foi adaptada à realidade desta pesquisa. Os dados obtidos nesta fase
5 Turistificação é a transformação resultante do processo de apropriação dos espaços, recursos e
equipamentos de lazer do lugar (destino), produzindo novas relações culturais, sociais, ambientais e econômicas (ALMEIDA, 1999)
41
do trabalho foram construídos a partir de fontes secundárias por meio de pesquisa
documental nos órgãos oficiais de gerência do turismo municipal e estadual.
Segundo os autores supracitados (BARBOSA E ZAMBONI, 2000, apud
MAMBERTI & BRAGA 2004), o mapeamento da cadeia produtiva local é feito a partir
de uma representação gráfica composta por cinco anéis que representam o
posicionamento dos stakeholders6 no processo que envolve o turismo.
Figura 3 - Anéis concêntricos do arranjo produtivo turístico
Fonte: Barbosa e Zamboni (2000, apud MAMBERTI & BRAGA 2004)
Para esta pesquisa, optou-se por redimensionar os stakeholders da cadeia
produtiva. O redimensionamento objetivou simplificar as categorias de análise, de
modo a enquadrar a metodologia anterior às peculiaridades dos serviços de turismo
receptivo da cidade de Belém-PA. Buscou-se, também, denominar cada categoria
como “subsistema”, afim de que ficasse mais explicito a complexidade do sistema
turístico local, como se pode compreender a partir do item a seguir.
6Stakeholders: denominação dos atores envolvidos ou atingidos diretamente pelas tomadas de
decisões das lideranças do cluster.
42
6.1 SUBSISTEMA DE ATRATIVOS TURÍSTICOS EM BELÉM
O presente subsistema consiste na apresentação descritiva dos atrativos que
compõem a oferta turística do município de Belém. Atualizou-se os dados
apresentados em 2010, no documento publicado pela PARATUR, intitulado “Resumo Executivo do Pólo Belém-PA”. Este subsistema demonstra a variada
composição da oferta turística municipal.
Para efeito de classificação quanto ao grau de sedução dos atrativos
turísticos, utilizou-se da mesma metodologia apresentada no documento. De acordo
com Bote Gomes (1997 apud PARÁ 2010), precursora dessa metodologia, a
caracterização da oferta turística deve ser feita segundo a hierarquia abaixo:
I. hierarquia 3 – atrativo excepcional e de grande significação para o mercado
turístico internacional, capaz por si só de motivar uma importante corrente de
visitantes;
II. hierarquia 2 – atrativo com traços excepcionais em um país, capaz de motivar
uma corrente de visitantes nacionais ou internacionais, e sem por si só ou em
conjunto com outros atrativos; III. hierarquia 1 – atrativo com algum traço de atração, capaz de interessar
visitantes de longa distância que chegam a uma localidade por outras
motivações turísticas, ou são capazes de motivar correntes turísticas locais; IV. hierarquia 0 – atrativo sem mérito suficiente para ser considerado ao nível das
hierarquias anteriores, porém que igualmente forma parte do patrimônio
turístico como elemento que pode complementar a outros de maior hierarquia
em desenvolvimento de complexos turísticos.
A partir dessa classificação, tem-se a apresentação dos atrativos agrupados
por região (continental ou insular) e pela segmentação de atrativa (atrativo natural,
histórico-cultural, sol e praia etc.).
Essa classificação possibilitará a caracterização dos atrativos turísticos da
cidade, fornecendo os dados necessários para o planejamento público e privado na
determinação de objetivos comuns para a “revitalização” do sistema turístico
municipal. Os dados podem auxiliar comunidades locais, principalmente as
43
comunidades ribeirinhas, a melhorar a qualidade das ofertas turísticas locais a fim
de atender as necessidades da “demanda reprimida7” existente.
6.1.1 Belém Continental
Belém continental concentra 44 (63,7%) dos 69 atrativos de todo o município.
Percebe-se, no entanto, que estes recursos encontram-se reprimidos em função da
ausência de programas estruturantes para potencializar os atrativos turísticos a fim
de ganharem qualificação, acessibilidade e competitividade e, ao mesmo tempo,
possam se tornar ofertas turísticas efetivas.
Conforme pode se perceber no item “problemas identificados”, observa-se
que estes são comuns à quase todos os atrativos agrupados por segmentos.
Destaca-se a degradação ambiental nos atrativos naturais, deficiência em segurança
e iluminação pública nos atrativos histórico-culturais, além de problemas com
segurança nos eventos fixos, especificamente nos eventos esportivos
. Quadro 3: Lista de atrativos turísticos da Belém continental
Segmento Turístico Atrativo Turístico/Equipamento de Lazer Problemas Identificados Hierarquia
Atrativos Naturais
Degradação ambiental do espaço,
Turismo Cultural e saneamento básico inadequado e
Parque Ambiental Mangal das Garças iluminação pública deficiente, falta 2
Ecoturismo
segurança pública e não possui
plano de uso.
Ecoturismo Complexo Ecológico Parque dos Igarapés Presença de lixo nas margens do rio e
2
a falta de saneamento básico
Turismo Cultural e Orla pública Portal da Amazônia Problemas com segurança pública 3
Ecoturismo
Degradação ambiental do espaço,
Turismo Cultural e saneamento básico inadequado e
Parque Estadual do Utinga - PEUT iluminação pública deficiente, falta 2
Ecoturismo
segurança pública e não possui plano
de uso.
Degradação ambiental do espaço,
Turismo Cultural e Área de Proteção Ambiental dos Mananciais de saneamento básico inadequado e
iluminação pública deficiente, falta 2
Ecoturismo Abastecimento de Água de Belém - APA Belém segurança pública e não possui plano
de uso.
Turismo Cultural e Degradação ambiental, falta de
Bosque Rodrigues Alves saneamento básico e iluminação 3
Ecoturismo
pública deficientes.
Turismo Cultural, Parque Zoobotanico do Museu Paraense Emílio
Ação antrópica sobre o ambiente, por
Ecoturismo e Turismo mais de uma década, dificultando a 3
de Intercâmbio Goeldi conservação do local.
Poluição sonora devido ser
Turismo Cultural e Parque Ecológico do Município de Belém - localizado no centro da cidade de
Belém e os pequenos recursos 1
Ecoturismo PEMB
financeiros para as pesquisas
científicas.
7 Demanda reprimida: tipificação de consumidores que não encontram os produtos ou serviços
adequados para atender ou satisfazer suas necessidades.
44
Atrativos Históricos - Culturais
Turismo Cultural,
Ecoturismo e Turismo Museu Paraense Emílio Recursos financeiros insuficientes 3
de Estudos e Goeldi para as pesquisas científicas
Intercâmbios
Mercado Ver-o-Peso Deficiência de Segurança Pública, 2
Complexo do Ver-o-Peso pontos insuficientes de iluminação 2
pública, lixo no entorno dos atrativos,
Complexo Ver-o-Rio 1
muitos vendedores ambulantes na
Solar da Beira 1
região sem uma fiscalização
Estação das Docas adequada. 2
Núcleo Cultural Feliz Lusitânia 1
Forte do Presépio 1
Igreja da Sé - Catedral Metropolitana 1
Espaço Cultural Casa das Onze Janelas Não Foi Identificado 1
Turismo Cultural Museu do Círio 1
Museu de Artes Sacra - MAS
1
Corveta Museu Solimões 0
Museu de Gemas do Pará 1
Museu de Artes de Belém - MABE (Palácio
Antôno Lemos) 1
Lixo identificado no entorno dos
Basília Santuário de Nossa Senhora de Nazaré atrativos e a falta de segurança 1
Mercado de São Brás
pública e insuficiência pontos de 1
iluminação pública.
Parque da Residência 1
Theatro da Paz 1
Praça da República 1
Manifestações Culturais e Festas Populares
Círio de Nossa Senhora de Nazaré 2
O Auto do Círio 1
O Arrastão do Boi Pavulagem 1
Turismo cultural A Festa das Filhas da Chiquita Não Foi Identificado 1
Danças Regionais 1
Artesanato marajoara e tapajônico 1
Gastronomia 1
Eventos Fixos
Grande Prêmio Brasil de Atletismo Não Foi Identificado 3
Corrida do Círio Não Foi Identificado 2
Campeonato Brasileiro de Futebol série C 1
Turismo de Esportes Campeonato Brasileiro de Futebol série D Problemas com segurança 1
Copa do Brasil pública no interior e arredores dos 1
Copa Verde estádios de futebol 1
Campeonato Paraense de Futebol 0
Turismo Cultural e de Feiras, congressos e Convenções Não Foi Identificado 3
Negócios Feira Panamazônica do Livro Não Foi Identificado 1
Fonte: Pará, 2009 p. 15-16. Adaptado pelos autores.
45
6.1.2 Belém Insular - Ilha de Mosqueiro
A Ilha de Mosqueiro, apesar de dispor de 17 praias de água doce, apresenta
apenas uma praia em condições para usufruto turístico, segundo o inventário. A
relação do turismo com o distrito de Mosqueiro ainda é incipiente, mesmo com o
visível desrespeito à capacidade de carga da ilha. Por tratar-se de um distrito de
Belém, a administração distrital tem dificuldades no ordenamento espacial da
atividade turística na ilha.
Dentre a problemática que envolve o turismo na ilha, os principais entraves
para o desenvolvimento da atividade no distrito são comuns à grande parte da
periferia de Belém: urbanização desordenada, infraestrutura de transportes
deficiente, iluminação pública e falta de controle e ordenamento dos trabalhadores
informais.
Essa problemática exposta pode ser explicada pela teoria do Ciclo de Butler.
Segundo o autor, um destino ou atrativo turístico tem um ciclo de vida que passa
pelo estágio de exploração, desenvolvimento, consolidação e estagnação, quando o
local atinge um número crítico de visitantes. Cabe ao poder público fazer o
rejuvenescimento do produto, através de políticas públicas, que possam reordenar a
atividade no destino (RUSCHMANN, 1997).
Portanto, fica evidente, neste sentido, a ausência do poder público municipal
para organizar a atividade na Ilha de Mosqueiro, favorecendo a proliferação do
Turismo de massa causado pelos visitantes da Belém continental. Esses motivos
contribuem para a dificuldade no desenvolvimento do turismo consciente na ilha.
Quadro 4: Lista de atrativos turísticos da Ilha de Mosqueiro Segmento Turístico Atrativo Turístico/Equipamento de Lazer Problemas Identificados Hierarquia
Atrativos Histórico - Culturais
Os casarões encontram-se
Turismo Cultural Casarões da Orla deteriorados necessitando de 1
restauração.
Turismo Cultural Mercado Público Municipal Falta de lixeiras e limpeza com maior
1
frequência
turismo Cultural Tapiocaria Não foi identificado 1
Manifestações Culturais e Festas Populares
Turismo Cultural Grupos folclóricos, os Boi-Bumbás, os cordões 0
pássaros e as quadrilhas juninas.
Ausência de espaço para as
Festas religiosas como Nossa Senhora do Ó,
Turismo Cultural manifestações culturais 0
Santa Rosa de Lima e São Pedro e os
Turismo Cultural Festivais do Açaí, Cupuaçu e Camarão 0
Dificuldades para a conservação,
Turismo Cultural Danças regionais, difusão e valorização da cultura 0
as lendas e mitos popular, provocadas pela falta de
recursos e do apoio público.
46
Segmento Turístico Atrativo Turístico/Equipamento de Lazer Problemas Identificados Hierarquia
Atrativos Naturais
Turismo de Sol e Praia Praia do Bispo Urbanização desordenada, 1
desmatamento, lixos nas praias.
Dificuldade de acesso, segurança nos
Ecoturismo Trilha Ecológica Olhos d'água transportes e falta de saneamento 1
básico.
Barracas na orla sem estrutura de
serviço, ausência de saneamento
Turismo de Sol e Praia Orla de Mosqueiro básico, falta de posto de informações 1
turísticas, tráfego náutico na faixa
aquática da orla sem disciplina e
respeito aos banhistas.
A infraestrutura de transporte é
precária, feita em pequenas
Turismo Náutico Rios e Igarapés embarcações sem a devida 0
segurança. O lixo é encontrado com
freqüência nas margens dos rios.
Infraestrutura precária de transporte,
Ecoturismo Furos realizada por meio de embarcações 0
sem a devida segurança.
Faltam pesquisas acerca da fauna e
flora e incentivos das entidades
Turismo Cultural Comunidade de Caruaru públicas, que possibilitem a 1
preservação e a sustentabilidade da
comunidade.
Turismo Cultural e Iluminação pública deficiente, falta de
Parque Municipal da Ilha de Mosqueiro - PMIM sinalização turística e de lixeiras ao 1
Ecoturismo
longo das trilhas.
Faltam pesquisas acerca da fauna e
Ecoturismo Estação Ecológica do Furo das Marinhas flora que possibilitem a preservação e 1
a sustentabilidade das mesmas.
Fonte: Pará, 2009 p. 16-17. Adaptado pelos autores 6.1.3 Belém Insular – Ilha de Caratateua
A Ilha de Caratateua, popularmente chamada de Ilha do Outeiro, é o distrito
com as praias de água doce mais próximas do centro de Belém. No entanto, por
também depender de uma administração distrital, a ilha também sofre com escassez
de recursos para estruturar os seus atrativos.
De um modo geral, a ilha tem problemas com infraestrutura de saneamento
básico, acesso, alimentação e hospedagem. A qualidade de balneabilidade das
águas das praias é inerente da inexistência do saneamento básico, o que
problematiza a utilização das praias como recurso de lazer.
A Escola Bosque, que poderia ser aliada da Prefeitura Municipal e da
Agência Distrital de Outeiro na sensibilização para a educação ambiental, também é
impedida de realizar ações efusivas e que contemplem a qualidade de vida dos
moradores e qualidade de experiência dos visitantes em função da falta de recursos
para realizar tais ações.
47
Quadro 5: Lista de atrativos turísticos da Ilha de Caratateua
Segmento Turístico Atrativo Turístico/Equipamento de Lazer Problemas Identificados Hierarquia
Atrativos Naturais
Praia do Amor Falta Infraestrutura de saneamento 0
básico, de Infraestrutura de serviços
Turismo de Sol e Praia
de alimentação, de transporte e
Praia de Santa Cruz equipamentos hoteleiros. 0
Atrativos Históricos - Culturais
Falta de recursos para o
Turismo Cultural e Fundação Centro de Referência em Educação desenvolvimento de projetos
Turismo de Estudos e ambientais e educacionais. E para 2
Ambiental Escola Bosque
Intercâmbio conservação da estrutura
organizacional.
Manifestações Culturais e Festas Populares
Dificuldades para a conservação,
difusão e valorização de sua cultura
Turismo Cultural Cultura Teatral popular, provocadas pela falta de 1
recursos e do apoio público. Falta de
Infraestrutura física para a realização
de atividades culturais.
Fonte: Pará, 2009 p. 17-18. 6.1.4 Belém Insular – Ilha de Cotijuba
A ilha de Cotijuba carece dos mesmos problemas do distrito de Outeiro, com
o agravante da incipiência do transporte público, obrigando os moradores e
visitantes a utilizarem barcos sem condições de segurança. Além dos impactos
ambientais causados pelo inchaço populacional e pelo frequente turismo de massa
aos finais de semana.
Destaca-se o potencial da praia do Vai-quem-quer para o turismo de base
comunitária, em função desta ser distante do centro da ilha e, portanto, menos
impactada pelo turismo de massa, que causa inúmeros problemas sócioambientais.
Quadro 6: Lista de atrativos turísticos da Ilha de Cotijuba. Segmento Turístico Atrativo Turístico/Equipamento de Lazer Problemas Identificados Hierarquia
Atrativos Naturais
Dispõe de infraestrutura incipiente e
rústica de meios de hospedagem,
alimentação e transporte, assim como
Turismo de Sol e Praia Praias do Farol, do Cravo, Saudade e Vai-quem- as praias apresentam modesta
1
quer estrutura de serviços. Outro problema
é que a Ilha de Cotijuba já perdeu
46% de area florestal em decorrência
do desmatamento.
Segmento Turístico Atrativo Turístico/Equipamento de Lazer Problemas Identificados Hierarquia
Atrativos Históricos - Culturais
Turismo Cultural Ruínas do Educandário Nogueira de Faria Encontra-se abandonada e não é
1
adequada para visitação
Manifestações Culturais e Festas Populares
Dificuldades para a conservação,
Turismo Cultural Danças Regionais difusão e valorização de sua cultura
1
popular, provocadas pela falta de
recursos e do apoio público.
Fonte: Pará, 2009 p. 18.
48
6.1.5 Belém Insular – Ilha do Combú
A ilha do Combú apresenta vocação eminente para ecoturismo e turismo de
base comunitária, mas peca pela falta de infraestrutura de acesso e de locomoção
dentro da ilha.
A Área de Proteção Ambiental do Combú (APA), que protege a ilha, é uma
unidade de conservação estadual de uso sustentável e que, portanto, permite a
apropriação dos seus espaços pelo turismo, salvaguardado da capacidade de carga
da ilha. Entretanto, a APA ainda não dispõe de um plano de manejo que forneça os
dados necessários para a delimitação da capacidade de carga.
Atualmente, o principal atrativo da ilha é o restaurante Saudosa Maloca, que
serve comida regional, bem como as inúmeras trilhas que adentram a mata,
possibilitando um contato ainda não planejado entre o visitante e o ribeirinho. É
possível encontrar outros restaurantes às margens da ilha, mas que ainda não
possuem serviços adequados para atendimento ao turista.
A maior problemática para a administração da ilha é a falta de bom senso da
prefeitura municipal e assembléia legislativa ao deixá-la como pertencente à agência
distrital do outeiro, geograficamente distante do centro de tomada de decisões. A
inviabilidade desta forma de gestão da ilha prejudica ainda mais a chegada de
recursos que possam auxiliar o desenvolvimento da dinâmica turística na ilha.
Quadro 7: Lista de atrativos turísticos da Ilha do Combú
Segmento Turístico Atrativo Turístico/Equipamento de Lazer Problemas Identificados Hierarquia
Atrativos Naturais
Turismo de Estudos de Falta infraestrutura turística e de
Área de Proteção Ambiental - APA da Ilha do serviços básicos, como saneamento,
Intercâmbios, Turismo 1
Combú transportes, iluminação pública,
Cultural e Ecoturismo
abastecimento de água.
Atrativos Histórico - Culturais
Apresenta deficiência em relação à
Turismo Cultural Saudosa Maloca infraestrutura de saneamento básico e
iluminação pública.
Manifestações Culturais e Festas Populares
Dificuldades para a conservação,
Pássaro Junino (Folguedos Juninos) difusão e valorização de sua cultura
1
popular, provocadas pela falta de
recursos e do apoio público
Turismo Cultural
Ausência de espaço para a
comercialização dos produtos
Artesanato artesanais. Dificuldades para a
1
conservação, difusão e valorização de
sua cultura popular, provocadas pela
falta de recursos e do apoio público.
Fonte: Pará, 2009 p 18-19.
49
6.1.6 Síntese dos recursos turísticos por segmento turístico
Esta seção objetiva demonstrar o potencial turístico dos atrativos
diagnosticados pela PARATUR. Observa-se, primeiramente, que um mesmo atrativo
turístico pode apresentar pré-disposição para mais de um segmento.
A composição da oferta turística municipal disponibiliza várias opções para a
montagem de produtos e serviços turísticos pela iniciativa privada. Há, ainda, a
opção de implantação de turismo de base comunitária nas ilhas de Cotijuba,
Mosqueiro e Combú, de forma a preencher a lacuna existente atualmente dentre os
pacotes comercializados pelas agências de turismo.
O turismo de base comunitária é uma opção de inclusão social de populações
tradicionais em um arranjo produtivo local, por proporcionar, teoricamente, o repasse
às comunidades das técnicas de hospitalidade, agenciamento e atendimento ao
público. Portanto, as comunidades adquirem know how do “como fazer”, aliado ao
conhecimento tradicional repassado durante as gerações familiares.
A presença massiva de atrativos de cunho cultural se dá em função das várias
construções históricas no centro de Belém, confirmando a tese popular de que a
cidade apresenta vocação para turismo cultural, gastronômico e ecoturismo.
Portanto, conclui-se que a cidade apresenta atrativos capazes de compor a oferta
turística e de proporcionar mais opções de lazer aos visitantes oriundos do
segmento turismo negócios e eventos.
Quadro 8: Síntese número de recursos que contribuem com cada segmento Grau de atratividade Hierárquica
Segmento 0 1 2 3
Cultural 5 34 9 4
Ecoturismo 1 5 5 4
Sol e Praia 2 3 0 0
Náutico 1 0 0 0
Estudo e
Intercambio 0 1 1 2
Esportes 1 4 1 1
Negócios 0 1 0 1 Fonte: Pará, 2009 p. 19. Adaptado pelos autores.
50
6.2 SUBSISTEMA DE HOSPITALIDADE
Apesar de ser bastante utilizado como sinônimo de hotelaria, não há uma
definição para o termo “hospitalidade”, ao menos uma definição onde vários autores
concordem de maneira unânime.
De fato, os estudos feitos pelos órgãos oficiais de turismo remetem o termo às
diversas tipologias de meios de hospedagem.
Dois fatores devem ser considerados em relação à hospitalidade: o número
de UH’s e a taxa de ocupação. De acordo com o Resumo Executivo do Pólo Belém,
da Companhia Paraense de Turismo (PARATUR), em 2009 havia 55 meios de
hospedagens cadastrados. No entanto, pode-se observar que há um desencontro de
informações quando se verifica os dados fornecidos pela Associação Brasileira da
Indústria de Hotéis (ABIH), com 2.310 UH’s e 4.567 leitos. E ainda, os dados
atualizados do “Boletim Ver-os-dados”, da Secretaria de Estado de Turismo (SETUR) apontam o seguinte:
Figura 4 – Indicadores da Hotelaria de Belém em 2012
Fonte: Pará, 2013, p.7.
51
Apesar de os dados da ABIH serem de uma época diferente daqueles da
SETUR (estes, extraídos com base no CADASTUR8), isso mostra o descompasso
entre os diversos órgãos no sentido de fornecer dados importantes que ajudariam a
fomentar o setor hoteleiro e formular alternativas mais consistentes para o setor,
visando seu desenvolvimento.
O boletim informa que a hotelaria em Belém fechou o ano de 2012 com uma
média de 54,44% de ocupação. Os meses de março e novembro foram os que
apresentaram maior alta, com taxas que ultrapassaram 60%, de acordo com o
gráfico abaixo:
Gráfico 1: Taxa de ocupação por UH (em %)
Fonte: Pará, 2013, p. 8.
Por fim, o CADASTUR fornece em sua base de dados na internet os
prestadores de serviços de hotelaria com cadastro regular, em Belém, com um total
de 31 estabelecimentos, englobando tanto na Belém continental quanto insular,
como é o caso de Mosqueiro, que faz parte de Belém.
Diferentemente da ABIH, o CADASTUR faz parte do Ministério do Turismo, do
governo federal, órgão máximo de regulação do setor de turismo no Brasil. Não à
toa, a SETUR do estado do Pará utiliza seus dados para informar sobre o
crescimento do setor. (vide ANEXO A).
8 Cadastur: é o sistema de cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam na cadeia produtiva do
turismo, executado pelo Ministério do Turismo em parceria com os Órgãos Oficiais de Turismo das Unidades da Federação. Disponível em: <http://www.cadastur.turismo.gov.br/cadastur/SobreCadastur.mtur>.
52
6.3 SUBSISTEMA DE ALIMENTOS E BEBIDAS
O subsistema de A & B é enquadrado no setor de infraestrutura turística, de
acordo com a representação gráfica de Barbosa e Zamboni (2000, apud MAMBERTI
& BRAGA 2004).
A cidade de Belém é famosa por sua cozinha regional. Tanto que há
publicações de circulação nacional mostrando a diversidade e criatividade das
comidas típicas. Exemplo disso é a edição especial da revista “Veja Belém” que a
cada ano indica ou premia diversos estabelecimentos de alimentos e bebidas, das
mais variadas categorias, como o melhor restaurante de comida típica, o melhor
salgado, o melhor peixe, dentre tantas outras.
Porém, algumas pesquisas oficiais apontam que um dos entraves do turismo
receptivo na cidade é a má qualidade no atendimento. Na justificativa de contratar
mão-de-obra local, muitos empresários oferecem baixos salários por profissionais
pouco ou sem nenhuma qualificação. Isso acaba influenciando no mau atendimento
e gera reclamações por parte dos visitantes, em geral, bastante exigentes. Exemplo
de documento oficial é o Relatório Executivo do Polo Belém (2010, p.21):
Nos restaurantes de grande porte, a qualidade dos serviços é garantida pelo nível de qualificação da gerência e dos funcionários que trabalham no setor. Porém, na maioria dos equipamentos de alimentos e bebidas de médio e pequeno porte, a deficiência da gestão administrativa e a ausência de visão empreendedora inviabiliza a formação de parcerias, e a falta de recursos para investir em tecnologia comprometem a qualidade do nível dos serviços ofertados.
Observa-se que os preços nestes estabelecimentos não agradam nem aos
moradores locais, muito menos aos visitantes e não condiz com a qualidade que
lhes é ofertado. De fato, o mesmo relatório aponta, a respeito da relação preço-
qualidade, que o Polo Belém é pouco competitivo, em uma comparação com
destinos concorrentes , em especial da região Nordeste.(PARÁ, 2010, p. 21).
Durante a pesquisa documental, verificou-se o fato de muitos
estabelecimentos conhecidos na cidade encontram-se no banco de dados da
ABRASEL, como associados, porém, não se encontram no CADASTUR. Apesar de
o cadastro ser obrigatório, isso não os impediu de atuarem no segmento, na cidade.
53
A lista da ABRASEL conta com 34 associado. Enquanto a lista do CADASTUR, com
14 estabelecimentos (vide anexos B. e C, respectivamente).
6.4 SUBSISTEMA DE AGENCIAMENTO
Este item busca dimensionar as atividades das empresas atuantes no
mercado de serviços receptivos da cadeia produtiva do turismo municipal. Portanto,
os dados aqui apresentados referem-se exclusivamente às agências de turismo
receptivo local9.
O subsistema de agenciamento de serviços receptivos do município de Belém
apresenta-se descoordenado e desconexo. A base de dados dos órgãos públicos e
entidades locais que gerem o setor não apresentam dados confiáveis, muito menos
uma distinção clara e objetiva entre agências prestadoras de serviços receptivos
locais e agência de turismo emissivo. Este fato dificultou a detecção das empresas
que comercializam produtos e serviços turísticos para os turistas e visitantes da
cidade.
Os dados aqui apresentados foram coletados no CADASTUR, por ser uma
base de dado nacional e obrigatória para todas as pessoas físicas e jurídicas que
trabalham direta ou indiretamente no turismo. Portanto, apresenta-se, a seguir, um
panorama geral do subsistema de agenciamento, mostrando a participação das
agencias de turismo receptivo no processo que envolve o turismo no município de
Belém.
Figura 5 - Panorama geral do subsistema de agenciamento de viagens de Belém
Fonte: Elaborado pelos autores
9 Entende-se por empresas do turismo receptivo local as organizações que prestam serviços de
operação e comercialização de serviços turísticos no destino da viagem. Ex: traslados, city tour, river tour, excussões etc.
54
Ao se extrair do universo de organizações cadastradas no CADASTUR as
organizações que trabalham direta ou indiretamente com o turismo receptivo, tem-se
a configuração mostrada a seguir:
Figura 6 - Participação das agências de turismo receptivo por segmento
Fonte: Elaboração dos autores
As empresas prestadoras de serviços de transportes turísticos são
organizações dedicadas em fazer a recepção, transporte e condução dos turistas no
destino, sempre assistidas por um profissional guia de turismo.
As agências de viagens intermediadoras são as empresas que disponibilizam
seus canais de vendas para divulgar e comercializar os produtos das operadoras de
turismo. Geralmente, as agências intermediadoras somente comercializam o “produto de terceiros”, como frequentemente é chamado esse tipo de serviço, pois a
operacionalização de serviços turísticos carece de investimentos bem maiores para
garantir a infraestrutura de visitação para os turistas. Portanto, as agências de
turismo intermediadoras exercem um papel fundamental no sistema de turístico, por
fazer a intermediação entre o turista/consumidor e os serviços turísticos fornecidos
por terceiros, além de montar pacotes variados em forfait, que são serviços reunidos
e comercializados especificamente para atender a necessidade de um determinado
consumidor.
As operadoras de turismo são empresas dedicadas em elaborar e
operacionalizar viagens, circuitos, roteiros, passeios e trilhas e demais serviços que
55
facilitem e agreguem valores cognitivos à experiência de viagem do turista. As
operadoras também comercializam seus serviços, mas depende da rede de contatos
e clientes das agências de turismo intermediadoras para dinamizar suas relações
comerciais. As operadoras de turismo são responsáveis, também, por contratar os
serviços de guia de turismo e de transportes turísticos, caso não as empresas não
disponham de estrutura e profissionais qualificados para exercer essas funções.
No caso da cidade Belém, observa-se que a operacionalização de serviços
turísticos esbarra na incipiente originalidade dos serviços ofertados ao mercado. Do
universo de 125 organizações pesquisadas, apenas, apenas 11 apresentam algum
produto ou serviço “original”. A partir disto, ocasiona-se a baixa variedade de
serviços com diferenciais capazes de, por si só, motivar ou atrair um turista até
Belém. O Gráfico abaixo ilustra a situação descrita:
Figura 7 – Contribuição das agências para a configuração do “produto turístico Belém”
Fonte: Elaboração dos autores
Para efeito de esclarecimentos, as empresas que oferecem os 91% de
produtos e serviços tidos como “não originais”, são as que concorrem com os
mesmos serviços pelos mesmos clientes. Ex: no segmento de transportes nenhuma
empresa apresentou algum produto ou serviço que a difere das outras. Todas
oferecem apenas os serviços básicos, como locação de veículos, transfer in e
transfer out, traslados e city tour.
A pouca disponibilidade de produtos e serviços diferenciais, dificultam o
prolongamento da estadia do turista na cidade, haja vista demanda cada vez mais
exigente por serviços que ofereçam originalidade e que agreguem valor à
experiência do visitante.
56
6.5 SUBSISTEMA DE TRANSPORTES
A cidade de Belém é servida por, pelo menos, três modais de transporte, a
saber: aéreo, rodoviário e fluvial. É o que aponta o Plano Ver-o-Pará, que foi
apresentado em 2011 pelo então órgão oficial de turismo do estado do Pará
(PARATUR).
De acordo com o Resumo Executivo do Polo Belém, do Governo do Estado
(2010), o meio de transporte mais utilizado para quem vem visitar a cidade é o avião,
seguido do ônibus e do navio.
Em relação ao modal aéreo, dados disponíveis no site da Infraero, indicam o
seguinte:
Quadro 9: Movimento de passageiros no Aeroporto Internacional de Belém – 2011 e 2013 DESEMBARQUE DE PASSAGEIROS NO AEROPORTO INTERNACIONAL DE BELEM/
VAL-DE-CANS/ JULIO CEZAR RIBEIRO Domésticos Internacionais Total Nov/ 2011 2.676,346 40.647 2.716,993 Nov/ 2013 3.096,584 41.632 3.138,216 Fonte: <http://www.infraero.gov.br>, adaptado pelos autores.
Os números mostram a evolução, de forma quantitativa de passageiros que
desembarcaram no aeroporto internacional de Belém, em períodos diferentes.
Houve um aumento em 421.223 passageiros, a maioria de voos domésticos. A
quantidade de passageiros que desembarca em voos internacionais, comparado
com os domésticos, é muito inferior, em 41.632 passageiros. Podemos concluir que: a) há poucos destinos internacionais que saem de Belém. Até o momento, Belém
possui voos internacionais apenas para Caiena (Guiana Francesa) e Paramaribo
(Suriname), pela Surinam Airways. b) estes mesmos voos podem não significar que os mesmos passageiros
desembarcam exclusivamente para a atividade turística. c) segundo o plano Ver-o-Pará, são poucas as opções de voos em relação a
horários. Além disso, o valor das passagens é superior à média nacional (PARÁ,
2011).
No entanto, segundo o governo do estado, foi assinado um protocolo de
intenção que irá trazer voos diretos de Lisboa, pela TAP, e de Miami, via TAM. A
expectativa é do aumento do fluxo de passageiros, entre Belém e estes destinos. O
57
ideal seria que houvesse um número maior em relação a receber passageiros, e não
a emissão destes.
Em relação ao transporte fluvial, os barcos são o meio de transporte mais
utilizado para interligar Belém a outros municípios próximos ou mesmo de outras
regiões do estado e da região amazônica, ainda de acordo com o plano Ver-o-Pará (2011), “o transporte fluvial é considerado o mais eficiente em termos ambientais e o
mais competitivo na comparação dos custos (relação tonelada transportada X km
percorrido”.
Porém, isso não significa que este modal de transporte seja o mais eficiente
ou mesmo seguro. Segundo o Relatório Executivo do Pólo Belém (2010, p. 21), em
relação ao transporte fluvial, “a qualidade é comprometida devido à ausência de
manutenção dos terminais de embarque e desembarque e as embarcações
apresentam sinais de desgaste e a falta de alguns itens de segurança”. Além deste
entrave, existe o fato de não haver uma fiscalização eficiente por parte dos órgãos
competentes. Mesmo Belém é uma região com 39 ilhas e uma equipe pequena da
Capitania dos Portos da Amazônia Oriental.
Ainda segundo o Plano Ver-o-Pará (2011, p. 35), “o Estado não tem uma
legislação específica para regulamentar o transporte hidroviário”.
Sobre o transporte rodoviário, apesar de ser incipiente no estado do Pará
como um todo, o pólo Belém é onde se localizam as principais ligações com o
restante do país. Saindo pela BR-316, é possível chegar à região nordeste do estado
e do Brasil. Também é possível a ligação entre Belém e Brasília, por meio da BR -
010.
Apesar de a cidade possuir essas conexões com outras regiões, o Plano
Ver-o-Pará aponta que, devido aos altos índices pluviométricos presentes no Pará
como um todo, os investimentos acabam se tornando escassos. Por conta da chuva,
os deslocamentos acabam comprometidos ou inviabilizados.
Apesar de haver, no estado, um órgão que estabelece normas e fiscaliza os
serviços públicos (neste caso a Agência de regulação e controle de serviços públicos
do estado do Pará – ARCON/ PA), e entre as funções, normatizar e regulamentar os
serviços hidroviários e rodoviários, não foram encontrados dados estatísticos que
possibilitassem fazer um diagnóstico a respeito do fluxo de passageiros. De alguma
forma, esta falta de dados prejudica qualquer tentativa de planejamento turístico,
onde dados quantitativos são fundamentais.
58
6.6 SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO ASSOCIADA AO TURISMO
Segundo o Ministério do Turismo (MTUR), a produção associada ao turismo “é toda produção artesanal, agropecuária ou industrial que detêm atributos naturais
e/ou culturais de uma determinada localidade ou região capazes de agregar valor ao
produto turístico” (BRASIL, 2009) e constitui-se em uma importante ferramenta para
aumento do fluxo turístico e período de permanência do visitante, através da
diversificação da oferta turística.
Através desse conceito, o MTUR, juntamente com o SEBRAE e lideranças
locais, desenvolveu, em 2010, o projeto “Economia da Experiência: um exemplo de
parceria público-privada”. O projeto consistia no diagnóstico, sensibilização,
consultoria e fomento da cadeia produtiva do turismo em Belém para
desenvolvimento da produção associada ao turismo na cidade.
No entanto, o projeto contemplou apenas 25 empreendimentos, todos de
pequeno e médio porte, conforme a listagem divulgada pelo relatório executivo do
projeto:
Quadro 9 : Empreendimentos selecionados pelo projeto "Economia da Experiência"
Amazon Beer Os Baioaras Amazônia Hostel Ourogema Amazonita Restaurante Dom Giuseppe Chamma da Amazônia Restaurante Marujos Divina Comida Restaurante Point do Açaí Ecopousada Miriti Restaurante Quintela Golden Grill Restaurante Trapiche Grupo Uauiara Saldosa Maloca Hotel Paraíso do Atlântico Tapioquinha da Amazônia Instituto Arraial do Pavulagem Tapuia Manjar das Garças Vitoria Régia Turismo Miritong Vous Voulez Nova Turismo
Fonte: BRASIL, 2010.
A análise dos empreendimentos contemplados pelo projeto permite
compreender que pouco foi explorado da cultura tradicional, como os brinquedos de
miriti, as ervas do Ver-o-Peso, a cerâmica de Icoaraci, bem como toda produção
artesanal das comunidades ribeirinhas que compõe a região insular de Belém.
A priorização da escolha por empreendimentos que já gozam de certa
consolidação no mercado, mesmo com produtos e serviços que realmente
59
precisariam de reformulações e novas estratégias, o lado social do projeto não
deveria ter sido deixado de lado.
Os saberes e fazeres das comunidades ribeirinhas, feirantes do Ver-o-Peso e
ceramistas de Icoaraci funcionariam muito bem como ferramenta para a
diversificação da oferta turística no município, além da disponibilização do turismo
como uma porta para a inclusão social destas comunidades.
Na prática, a produção associada ao turismo estimula a concorrência
saudável entre as empresas, possibilitando que a diversificação da oferta turística
incremente positivamente a balança comercial do turismo local, ainda oportunizando
emprego e renda para comunidades tradicionais.
60
7 O SISTEMA DE GESTÃO DO TURISMO EM BELÉM
O turismo em Belém, apesar de toda a mobilização nacional para o fomento
ao desenvolvimento regional através do turismo, ainda não recebeu a mesma
atenção que os outros níveis governamentais no que tange ao planejamento turístico
e políticas públicas.
O sistema de gestão pública do turismo municipal é composto, apenas, pela
Coordenadoria Municipal de Turismo de Belém (BELEMTUR), que foi criada através
da Lei Municipal 8.291/2003. A BELEMTUR é proveniente da alteração da estrutura
administrativa municipal, com a extinção da Companhia de Turismo de Belém
(BELEMTUR). A BELEMTUR foi criada com a missão de planejar, coordenar,
controlar e avaliar as atividades referentes ao turismo na capital paraense (BELÉM,
2003).
A única tentativa para atender as demandas de planejamento turístico e
elaboração de políticas públicas feitas em escala municipal, foi o “Programa Belém
14 – 14 diretrizes para o desenvolvimento de Belém através do Turismo”. Entretanto
o documento não teve finalidade alguma em função de não conter metas, objetivos e
horizonte temporal para o planejamento do turismo em Belém.
A falta de estratégias de planejamento contidas no “Programa Belém 14” tem
culminado com vários problemas tanto para o Trade Turístico quanto para os
visitantes. Faltam sinalização turística, postos de informações, capacitação de
comerciantes e prestadores de serviços, etc. Estes são só alguns dos problemas de
Belém que foram contemplados no Programa Municipal, mas que não pode ser
levado adiante em função da problemática da má concepção do “Plano” municipal.
Outro agravante do Programa Belém 14 é o não alinhamento da política
Municipal às políticas Nacionais e Estaduais de Turismo, impossibilitando a
continuidade da gestão conjunta dos três niveis de poder. O Ministério do Turismo, já
trata da concepção de aranjos produtivos locais em destinos como Jijoca de
Jericoacoara – CE, Parnaiba – PI e Barreirinhas, como alternativa para
desenvolvimento local através do turismo. Entretanto, a gestão municipal de Belém
ainda não vislumbrou o mesmo tipo de gerenciamento da cadeia produtiva do
turismo, deixando maiores responsabilidades à cargo da Secretaria Estadual de
Turismo (SETUR) e Companhia de Turismo do Pará (PARATUR).
61
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho objetivou estudar a cadeia produtiva do turismo receptivo
na cidade de Belém-PA, com o intuito de investigar e descobrir uma possível
existência de interação entre os diversos setores vinculados às atividades turísticas.
Para tanto, tratou-se de justificar a “clusterização” do turismo municipal através da
ótica do desenvolvimento regional como uma alternativa de endogeneização do
desenvolvimento a partir do envolvimento da sociedade local.
A “clusterização” do turismo, por ser uma atividade eminente dos serviços,
ainda encontra barreiras para a implantação sólida deste modelo, justamente pelo
fato do cluster ser típico dos setores industriais. Portanto, a absorção deste modelo
pelo turismo sempre carecerá de ajustes e adaptações metodológicas para a
implantação em um destino turístico.
Ao confrontar a literatura exposta neste trabalho com os dados obtidos na
pesquisa documental, conclui-se que a formação de arranjos produtivos locais ainda
não é vislumbrada como uma real alternativa de desenvolvimento para as
comunidades locais, empreendedores e poder público de Belém. A incipiência da
aplicação deste modelo ficou latente ao confrontar o capítulo de subsistema de
atrativos turísticos, que apresentou um total de 69 atrativos turísticos em diversos
estágios de qualificação para o turismo, ao capítulo do subsistema de agenciamento,
que apresentou 49 empresas de turismo receptivo, sendo somente 11 empresas
apresentando produtos diferenciais para o turista visitante.
A análise dos dados obtidos na pesquisa documental mostra a insuficiência
da “exploração” correta pela iniciativa privada do número de atrativos turísticos
diagnosticados pela PARATUR. O serviços turísticos ofertados hoje ao mercado
concentram suas atividades nos atrativos do centro histórico e comercial de Belém,
deixando um vasto leque de opções no restante da cidade e na região insular do
município.
A concentração das operadoras de turismo em torno de alguns poucos
atrativos na região central de Belém, além de prejudicar a diversificação da oferta
turística do município, cria uma desnecessária concorrência entre várias empresas
por um mesmo produto/serviço. Um cluster objetiva a união de esforços para
oferecer um produto de qualidade a um preço acessível, portanto, o ideal seria
62
abertura de diálogo entre os diversos segmentos do trade turístico, afim de recompor
a oferta turística municipal, com produtos e serviços integrados.
A possibilidade de criação de um arranjo produtivo para a cidade de Belém
permitirá, a partir da diversificação da oferta, um ambiente propício para novas
oportunidades de negócios e empreendimentos, favorecendo o surgimento de
vantagens competitivas para a iniciativa privada, em detrimento a outros destinos
com características semelhantes à Belém, como, por exemplo, o destino Manaus –
AM.
Destaca-se também a falta de incentivo ao turismo nas áreas protegidas que
constam na área do município, como as unidades de conservação estaduais APA
Ilha do Combú e Parque Ambiental de Belém (Parque Ambiental do Utinga), bem
como as unidades de conservação municipais Parque Municipal da Ilha de
Mosqueiro (PMIM) e Parque Ecológico do Município de Belém (PEMB). A utilização
desses recursos pelo turismo ajudaria a viabilizar economicamente a manutenção
dessas unidades de conservação. Outra justificativa para a “turistificação” desses
espaços é a possibilidade de inclusão social das comunidades do entorno das
unidades, propiciando oportunidade de emprego e renda.
O poder público municipal também terá um papel importante na
clusterização do turismo no município de Belém. Sugere-se à Prefeitura Municipal de
Belém, alterar a estrutura administrativa da Coordenadoria Municipal de Turismo –
BELEMTUR, concedendo-lhe a estrutura de Secretaria Municipal de Turismo. Essa
medida visa possibilitar a autonomia que o município necessita para a elaboração da
política municipal de turismo, haja vista que, até os dias atuais, a BELEMTUR não
vem obedecendo a linha hierárquica do planejamento (planos, programas, projetos e
ações). A Coordenadoria atua somente com projetos pontuais, como o projeto “Amigo do Turista no Círio de Nazaré”.
A falta de planejamento da política pública municipal prejudica o
desenvolvimento de Belém enquanto destino turístico em qualquer escala temporal.
Portanto, a partir da tomada de decisão em reorganizar a BELEMTUR, a elaboração
da política municipal de turismo também deve recomeçar para passar por todas as
instâncias hierárquicas do planejamento, de modo alinhá-lo às políticas nacional e
estadual de turismo.
A política de turismo de Belém deve traçar objetivos e metas em um
horizonte temporal, tornando-a, portanto, uma verdadeira política municipal de
63
turismo, e não uma política de governo. Essa medida visa possibilitar a continuidade
dos planos e projetos por todo o horizonte temporal, sem que haja interrupções em
função das trocas no poder executivo e legislativo municipal.
Para o fomento ao processo de criação de arranjos produtivos locais,
sugere-se a criação do Fórum Municipal de Turismo. O fórum disporá como uma
ferramenta de base para reunir os stakeholders da cadeia produtiva do turismo, a fim
de discutir acerca das possibilidades de articulação e desenvolvimento do turismo
municipal.
Longe da intenção da prática do discurso senso-comum, as demais
secretarias públicas devem criar condições para a visitação pública dos atrativos
turísticos e equipamentos de lazer. Dentre essas condicionantes, destaca-se a
necessidade de infra-estrutura de acesso, saneamento básico, segurança, além de
educação sócio-ambiental tanto com os visitantes, quanto com os residentes, para
resguardar o patrimônio histórico, cultural e ambiental do município.
Ressalta-se que não há um modelo fixo de implantação de arranjos
produtivos locais de turismo. O modelo a ser implantado sempre deve ser discutido
entre os atores impactados direta ou indiretamente com as tomadas de decisão do
fórum municipal de turismo. Essa característica dos arranjos produtivos de turismo
força a criação de um modelo adaptado à realidade local, possibilitando a
maximização de impactos positivos e minimização de impactos negativos, na mais
otimista das possibilidades.
Na mais pessimista das possibilidades, a diversificação da oferta turística,
oriunda do melhor aproveitamento dos 69 atrativos turísticos diagnosticados, já
possibilitaria um avanço sem igual para oferecer aos turistas/visitante condições
melhores para a prática do lazer. A diversificação da oferta criará, também,
motivações para o aumento do período de estadia dos visitantes de turismo de
eventos e negócios.
Conclui-se que o turismo na cidade de Belém necessita de um planejamento
mais efetivo, de modo a reorganizar e gerenciar com eficácia a atividade no
município. O ganho de competitividade do setor proporcionará o incremento de
divisas para a economia do município, além da eminente geração de emprego e
renda para os munícipes. O aumento da arrecadação do município através do
turismo também condicionará a população de Belém e região insular a melhores
condições de qualidade de vida. A clusterização do turismo municipal surge como
64
uma alternativa de indução ao desenvolvimento local para transformar a realidade da
atividade turística no município e a vida dos que necessitam de emprego e renda.
65
REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. G. (1999). Cultura: invenção e construção do objeto turístico.
Espaço aberto turismo e formação profissional. AGB-Seção Fortaleza, Fortaleza.
ALMEIDA, Paulo H. Pequena empresa e desenvolvimento local: os limites da
abordagem competitiva. [S.l.], 2001. p.23. (mimeo.).
AMARAL FILHO, Jair. A endogeneização no desenvolvimento econômico regional.
In: Encontro Nacional de Economia – Anpec, 27, 1999, Belém. Anais da Anpec.
Belém: [s.n.], 1999. v.2, p.1281-1300.
AMATO NETO, João. Redes de cooperação produtiva e clusters regionais. São
Paulo: Atlas, 2001.
ANSARAH, Marília Gomes dos Reis in. TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi; ANSARAH,
Marília Gomes dos Reis (Org.) Turismo: como aprender, como ensinar. 3. ed. São
Paulo: SENAC 2003-2004
BELÉM. Lei n. 8.291, de 30 de dezembro de 2003. Altera a estrutura da
administração pública municipal, cria a Coordenadoria Municipal de Turismo -
BELEMTUR, extingue a Companhia de Turismo de Belém - BELEMTUR, e dá outras
providências. Disponível em:<http://cm-belem.jusbrasil.com.br/legislacao/574531/lei-
8291-03>. Acesso em 19 dez. 2013.
BENI, Mário Carlos. Análise Estrutural do turismo. 13 Ed. São Paulo: SENAC,
1998.
______ Clusters de turismo. In BENI, Mário Carlos. Turismo: planejamento
estratégico e capacidade de Gestão – Desenvolvimento regional, rede de produção
e clusters. São Paulo: Manole, 2012. p. 517-545.
BRASIL, Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais.
Brasília: Ministério do Turismo, 2006.
______ Ministério do Turismo. Missão do MTUR. Disponível em <
http://www.turismo.gov.br/turismo/o_ministerio/missao/index.html>. Acesso em
09/12/2013.
66
______, Ministério do Turismo. Rede de Cooperação Técnica para a Roteirização
– 2ª edição: Manual de Orientações Metodológicas. Brasília: Ministério do Turismo,
2009.
______ Ministério do Turismo. Estudo de caso: tour da experiência. Brasília: 2010.
Disponível em: <
http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downl
oads_publicacoes/Estudo_de_Caso_Tour_Experiencia.pdf>. Acesso em 12/12/2013.
______ Ministério do Turismo. Segmentação do turismo e o mercado. Brasília:
Ministério do Turismo, 2010. Disponível em <
http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downl
oads_publicacoes/Segmentaxo_do_Mercado_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf>. Acesso em 12/12/2013. BUARQUE, Sérgio C. Desenvolvimento sustentável: conceitos e desafios. In:
Bahia Análise & Dados, Salvador, v.6, n.2, p.5-15, set. 1996.
CORIOLANO, Luzia N. Os limites do desenvolvimento e do turismo. Revista de
Turismo y Patrimonio Cultural.
CHIAS, Joseph. Turismo, o negócio da felicidade: desenvolvimento e marketing
turístico de países, regiões, lugares e cidades. Tradução: Sandra Valenzuela. São
Paulo: SENAC, 2007.
CRUZ, Rita de C. Os paradoxos do turismo na cidade de São Paulo. In:
ALESSANDRI, Ana F; UMBELINO, Ariovaldo. (Org.). Geografias da metrópole.
São Paulo: Contexto, 2005.
DIAS, Reinaldo. Planejamento do turismo: política e desenvolvimento do turismo
no Brasil. São Paulo: Atlas, 2003.
DENCKER, Ada de Freitas M. planejamento e gestão em turismo e
hospitalidade. São Paulo: Thomson, 2004.
DANTAS, José Carlos de Souza. Qualidade do atendimento nas agências de
viagens: uma questão de gestão estratégica. São Paulo: Roca, 2008.
GARRIDO, Inez. Modelos multiorganizacionais no turismo: Cadeias, Clusters e
Redes. Salvador, 2001. 124f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Núcleo de
Pós Graduação em Administração, UFBA, 2001.
67
IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do turismo. 2. ed. São Paulo: Pioneira
Thomson Learnig, 2003.
KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary.Princípios de marketing.7 ed. Rio de
Janeiro: Prentice-Hall, 1995.
LOIOLA, Elizabeth. Turismo e desenvolvimento. Salvador: Universidade Federal
da Bahia, 2001. 24 p. (mimeo.).
LOVELOCK, Christopher; WRIGHT, Lauren.Serviços: Marketing e Gestão. São
Paulo: Saraiva 2001.
MAMBERTI, Marina; BRAGA, Roberto. Arranjos Produtivos Turísticos e
Desenvolvimento Local. In: Anais do I Seminário Internacional O Desenvolvimento
Local na Integração: estratégias, instituições e políticas. Rio Claro: UNESP, 2004.
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DEL TURISMO. Estatutos de LaOrganización
Mundial Del Turismo.Madrid: OMT, 2009.Disponível em
<http://www2.unwto.org/es/content/estatutos>.Acesso 15 abr. 2013.
PARÁ, PARATUR. Resumo Executivo do Pólo Belém. Ministério do
Turismo/PARATUR. Belém: Empresa Expansão Gestão em Educação e Eventos,
2009.
PETROCCHI, Mário. Turismo: planejamento e gestão. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2009. PORTER, Michael. Competição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
______. Clusters e competitividade. São Paulo: HSM Management, 1999.
ROSE, Alexandre Turatti de. Turismo: planejamento e marketing. Barueri (SP):
Manole, 2002.
68
RUSCHMANN, Dóris V. M. Turismo e Planejamento Sustentável: a proteção do
meio ambiente. Campinas: Papirus, 1997.
SILVA, Jorge Antônio S. O Conceito de Cluster e o desenvolvimento turístico
regional: um caminho para os países menos desenvolvidos. In BENI, Mário Carlos.
Turismo: planejamento estratégico e capacidade de Gestão – Desenvolvimento
regional, rede de produção e clusters. São Paulo: Manole, 2012. p. 463 - 485.
THOMAZI, Silvia M. Cluster de Turismo: Introdução ao estudo de arranjo produtivo
local. São Paulo: Aleph, 2006.
TOMAZZONI, Edegar Luís. Observatório de Turismo e Cultura, integração regional
do cluster de turismo e desenvolvimento socioeconômico da Serra Gaúcha. In BENI,
Mário Carlos. Turismo: planejamento estratégico e capacidade de Gestão –
Desenvolvimento regional, rede de produção e clusters. São Paulo: Manole, 2012. p.
111-129
VIDAL, Marcelo de Oliveira. O surgimento da indústria Turística no mundo: uma
análise da origem da expansão do capital nacional no setor durante a segunda
metade do século XIX e inicio do século XX. In: XIV encontro regional da ANPUH-
RIO: Memória e Patrimônio. Anais... Rio de Janeiro: ANPUH/UFRJ, 2010. Disponível
em: <http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276186003_ARQUIVO_a
npuh_marceloVidal.pdf>. Acesso em: 28 de jul. 2013.
69
ANEXOS
70
ANEXO A
LISTA DE ESTABELECIMENTOS DE HOSPEDAGEM - CADASTUR
Nome Fantasia Localização Hotel Pouso dos Arirambas Mosqueiro Hotel Crowne Plaza Belém Belém Hotel Hilton Belém Belém Hotel Sagres Belém Hotel Farol Belém Hotel Regente Belém Tulip Inn Batista Campos Belém Hotel Fazenda Paraíso Mosqueiro Beira Rio Hotel Belém Hotel Amazônia Belém Gold Mar Hotel Belém Belém Soft Hotel Belém Hotel Ibis Budget Belém Belém Tulip Inn Nazaré Belém Ecopousada Miriti Belém Hotel Manacá Belém Íbis Belém Aeroporto Belém Norte Hotelaria SCP Soft Inn Batista Belém
Campos
Residência Karimbo Amazônia Belém Norte Hotelaria SCP Connext Loft Belém Atlantica Hotels Belém G1 Hotel o Ideal Belém Hotel Grão Pará Belém Hotel Val-de-Cans Belém Hotel Aviz Belém Delma Sena Nogueira Belém DM Hoteis e Resorts Belém LA Hotels empreendimentos 1 Ltda Belém LA Hotels empreendimentos 1 Ltda Belém R-1 CH Angel Mosqueiro Hotel Le Massília Belém
71
ANEXO B
LISTA DE ESTABELECIMENTOS A & B - CADASTUR
Prestadores de Serviços Turísticos A & B
La Pizzeria
Spazzio Verdi - Brás de Aguiar
Spazzio Verdi - Parque Shopping
Spazzio Verdi - Pátio Belém
Spazzio Verdi - Castanheira
Spazzio Castanheira II
Spazzio Café - Hangar
Spazzio Verdi - Estação das Docas
Tratoria do Eddie
Gio Espetos
Restaurante Lá em Casa
Amazon Beer
Manjar das Garças
Ligue Pizza
Total de Estabelecimentos: 14
72
ANEXO C
LISTA DE ESTABELECIMENTOS DE A & B ASSOCIADOS - ABRASEL
Associação Brasileira de Bares e Restaurantes - Abrasel/ PA
Boteco das Onze
Bares
Cosa Nostra
Doca Speto
Toca Restô Bar
Casa das Tortas
Lanchonetes
Milleo Lanches
Rock N' Roll Circus
Tapioquinha da Amazônia
Distribuidor de Vinhos
Don Vino
Grand Cru
Cia. Paulista de Pizza - Bernal do Couto
Pizzaria Cia. Paulista de Pizza - Doca
Pizza Hut
A Forneria
Amazon Beer
Anzol Restô
Capone
Divina Comida
Estação Gourmet
Famiglia Tratoria
Família Sicilia
Restaurante Avenida
Restaurantes Roxy Bar
Saldosa Maloca
Izumo
Lá em Casa
La Madre
La Traviatta
Manjar das Garças
Marujos
Pomme D'Or
Quintela - Fogão de Lenha
Total de Estabelecimentos: 32