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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ÉRICA MARGAS CIMA AS RELAÇÕES ENTRE OS REINOS IBÉRICOS NA NARRATIVA DOS FEITOS DE D. JAUME I DE ARAGÃO (1208-1276) CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ÉRICA MARGAS CIMA

AS RELAÇÕES ENTRE OS REINOS IBÉRICOS NA NARRATIVA DOS FEITOS DE D.

JAUME I DE ARAGÃO (1208-1276)

CURITIBA

2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

ÉRICA MARGAS CIMA

AS RELAÇÕES ENTRE OS REINOS IBÉRICOS NA NARRATIVA DOS FEITOS DE D.

JAUME I DE ARAGÃO (1208-1276)

Monografia apresentada à disciplina de Estágio Supervisionado em Pesquisa Histórica, como requisito à conclusão do Curso de Licenciatura e Bacharelado em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná. Orientadora: Professora Doutora Marcella Lopes Guimarães.

CURITIBA

2011

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DEDICATÓRIA

Essa obra é dedicada a Alcenir e Marilene, não

apenas pelos pais maravilhosos que são, mas

também por serem meus amigos e cúmplices nesta

jornada.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais que sempre estiveram ao meu lado em todos os mementos, me

apoiando e dando forças, agradeço por terem acreditado em mim e pelos dias de

trabalho que tiveram para que meu sonho fosse realizado. Sem vocês eu não seria

nada, pois vocês são meus exemplos de vida.

Ao meu irmão, Douglas, que sempre esteve quando precisei, e tenho certeza que

sempre estará.

À minhã irmã Leyse pelas conversas durante a noite e companhia eterna.

À minha avó Maria, que sempre esteve ao meu lado nos momentos difíceis e que

sempre me mostrou o quanto é mágico a paixão pelo estudo.

Ao meu Avô Telvi, homem forte por quem tenho uma enorme admiração.

À minha família, da qual sinto orgulho em fazer parte, pela simplicidade, alegria e

cumplicidade.

Ao Samuel, por todo amor que sinto por ele, pela companhia em toda minha

jornada bem como o apoio e a compreensão, pelos sonhos juntos construídos que me

deram forças para continuar e querer melhorar sempre.

Aos amigos de minha vida, que sempre estrão presentes mesmo longe.

Aos amigos da Universidade, Angelita, Vanessa, Sérgio, Gustavo, Nikesara,

Cássia e Rafaela. A primeira, pela felicidade que emana e faz um bem a todos, e

também pela amizade sincera. A segunda, por ser uma pessoa amorosa e sempre

presente. Ao terceiro por ser único e não fazer questão de ser diferente. Ao quarto, pela

companhia e conversas. A quinta, por ser uma mulher tão forte que me mostrando que

nada é capaz de derrubá-la. A sexta, pela companhia no caminho quando lecionávamos

no mesmo lugar, e a sétima, por não desistir e ter batalhado.

À Annelyse e Gaúcho (Guilherme), por serem os melhores em todos os

momentos, por estarem ao meu lado sempre, pelas risadas intermináveis, piadas sem

graça e pela certeza de que eu encontrei amigos que serão eternos. Obrigada, pelos

trabalhos durante a madrugada, pelas lágrimas que derrubamos juntos e por cada

abraço.

À Marcella Lopes Guimarães, pela paciência, compreesão e por ser um exemplo

de professora e pesquisadora, por ter me apresentado o tema de pesquisa e pela sua

incessante batalha em me ajudar a concluir esse trabalho.

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Aos professores, Fátima, Renan e Martha, por quem tenho uma profunda

admiração por suas carreiras profissionais mas principalmente pelas pessoas que se

mostraram ser. Obrigada pelas conversas, críticas, compreensões e por estarem ao meu

lado durante os quatro anos.

E finalmente a Deus, que permitiu que eu conquistasse tudo o que sonhei até

então, pelos pais maravilhosos que ele me proporcionou, bem como todos os

sentimentos maravilhosos que eu senti.

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“O Amor que aprendi vem dos meus pais, o amor que tive e recebi.”

“Pra você guardei o amor”- Nando Reis e Os

Infernais.

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RESUMO

Jaume I (1208-1276), rei de Aragão, ficou conhecido como O Conquistador após seus feitos em Maiorca (1229), Valência (1238) e Múrcia (1243); herdara de eu pai Pedro O Católico um território economicamente desfavorável, mas conseguiu chegar à maior expansão territorial que Aragão já teve. Em sua crônica, primeira das quatro grandes crônicas medievais da catalunha, Jaume descreve suas relações entre os reinos ibéricos cristão ou não. Dentre esses reinos, detemo-nos mais particularmente a Castela com quem ao longo de seu reinado o monarca sempre teve um laço bem estreito, era o reino de sua primeira mulher Leonor e de sua filha, que se casaria com Afonso X (1221-1284). Nossa ambição nesse trabalho foi a partir da crônica, perceber como os feitos engtre Aragão e Castela no reinado de Jaume foram construídos, como a memória de Jaume é recomposta sobre as relações entre os reinos vizinhos.

Palavras-chave: Livro dos Feitos- Jaume I- Aragão

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SUMÁRIO

Introdução.........................................................................................................................9 Capítulo I - A fonte..........................................................................................................13 1.1-Do que a fonte trata..................................................................................................13 1.2-Quem foi Jaume I o Conquistador..........................................................................15 1.3Discussões de autores com a fonte........................................................................19 Capítulo II - Memória e história no Livro dos Feitos...................................................24

2.1-A memória em conjunto com a narrativa...............................................................24 2.2- Sentimentos na memória, como os feitos foram construídos............................26

Capítulo III - Memória e História nas relações entre os reinos ibéricos....................31

3.1-Construção da tabela e gráficos.............................................................................31 3.2- Resultados obtidos.................................................................................................32

Conclusões......................................................................................................................36 Bibliografia......................................................................................................................38 Anexos.............................................................................................................................40

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INTRODUÇÃO

O Livro dos Feitos do rei D. Jaume I, primeira das quatro grandes crônicas medievais

da Catalunha, em tradução recém publicada para o português (2010), por Luciano José

Vianna1 e Ricardo da Costa2, é uma fonte pouco trabalhada que contém o que para o rei

de Aragão foram seus maiores anseios, conquistas e dificuldades, através da seleção

que o rei cavalheiro nos propiciou. Com sua crônica, trabalharemos as relações de

política externa, com os reinos peninsulares, cristãos e mulçumanos, ao longo dos 63

anos de seu reinado (1208-1276).

Nosso trabalho será feito com a análise da memória de Jaume, para isso

utilizaremos o conceito de memória extraído da enciclopédia EINAUDI, sendo um

elemento que intervém na cronologia dos acontecimentos e opera releituras desses, ora

os engrandecendo, ora desprezando-os, ou ainda ignorando-os em esquecimento

proposital.

“... no domínio literário, a oralidade continua ao lado da escrita e a memória é um dos elementos constitutivos da literatura medieval”

3

A memória sendo um instrumento mutável nos permite analisar dentro do Livro

dos Feitos a relação da oralidade de Jaume frente à construção de sua memória, suas

seleções, os sentimentos que o levaram a querer narrar tais feitos, e como ele constrói

essa memória que é um elemento central no cristianismo medieval4. Cavaleiro e

defensor do cristianismo, Jaime nos traz em sua Crônica elementos que para ele eram

organizadores do mundo de então.

Podemos observar através da crônica como Jaume se tornou um monarca, seus

feitos foram sempre engendrados com o projeto divino e de Santa Maria para o

1 Aluno do curso de Doutorado Cultures em contacte a La mediterránia do Departament de

Ciéncies de l‟antiguitat e de l‟Edat Mitjana da Universitat Autònoma de Barcelona (UAB), Espanha. Bolsista (BCC) da Agéncia de Gestió d‟ Ajuts Universitaris i de Recerca (AGAUR) 2008-2010. Membro da Associação Brasileira de Estudos Medievais (ABREM) e do Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio (IBFCRL)

2 Professor Associado I da Universidade Federal do Espirito Santo. Acadêmico Correspondente n.

90 da Reial Academia Bones Lletres de Barcelona, Espanha. Membro da Society for the study of the crusades and the latin east, da Associação Brasileira de Estudos Medievais, da Sociedade Brasileira de Filosofia Medieval, do Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio e do Programa de Pós graduação em Filosofia da UFES.

3 ROMANO. R “Enciclopédia Einaudi, Labirinto-memória” Ed: Einaudi, 1979. Pg. 28

4 GOFF Le “Dicionário Temático do Ocidente Medieval” pg.

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cristianismo, legitimando o relato, pois Jaume em sua crônica tem sempre a certeza da

vitória. Esse sentimento de ser um vitorioso caminha ao lado de Jaume por toda a sua

crônica desde acontecimentos que ocorreram com monarca na sua infância.

“... quando nós jazíamos no berço, por uma janela atiraram uma pedra sobre nós, mas ela caiu perto do berço, pois Nosso Senhor quis nos salvar para que não morrêssemos.”

5

Inocêncio III (1160-1216) havia prometido à mãe de Jaume que cuidaria do

menino e depois da morte dela publica uma bula obrigando o cruzado Simon de Montfort

a devolver Jaume aos seus reinos6. A partir daí, ele seria educado pelos templários. Aos

12 anos é coroado rei de Aragão reino que herdará de seu pai Pedro o Católico, o reino

estava fraco, pois, segundo Jaume, seu pai fizera muitas doações e também se deixava

levar pelas mulheres7, e devido a isso não deixou um reino fortificado. “Nosso pai, o rei

Dom Pedro, foi o rei mais liberal que houve em Espanha, o mais cortês e o mais afável,

pois dava tanto que sua rendas cada vez valiam menos”8

A conquista de Maiorca, Valência e a batalha travada contra os sarracenos de

Múrcia rendem várias páginas do Livro dos Feitos, que engrandecem o monarca e o

eximem de erros principalmente relacionados à sua vida pessoal (relação com seus

casamentos ou filhos) que, com o auxílio de bibliografia, percebemos que não foram

poucos,9 pois mesmo ele sendo um cavalheiro cristão, foi um homem e um rei medieval

real.

Os feitos para Jaume não são apenas as batalhas que vencera ao longo de toda

a sua narrativa. Para ele seu nascimento foi também um grande feito, o primeiro de

tantos que ele conseguiu com a ajuda divina, foi concebido na única noite que seus pais

se encontraram conjugalmente, e devido a isso recebe o nome do apóstolo devido a

uma promessa de sua mãe Dona Maria. Jaume por toda a crônica tem uma grande

5 Crônica, pg 31.

6 BERLANGA Villacañas Luis José. “Biografia de Jaume I” Ed: Huertas, 2004. Pg.60

7 “Contudo, após o casamento, o monarca aragonês não passou a viver a vida conjugal como era

esperado, afastando-se de sua esposa e se relacionando com outras mulheres. Esse comportamento do rei preocupou a nobreza de Aragão” MENDONÇA, D C. “A MONARQUIA ARAGONESA E OS INIMIGOS DA CRISTANDADE: DUAS IMAGENS DA ATUAÇÃO DE PEDRO II DE ARAGÃO NAS CRÔNICAS MEDIEVAIS”pg13. 8 VIANNA, José Luciano. Costa, Ricardo. “Livro dos Feitos/ Jaume I de Aragão” São Paulo: Instituto

Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2010. Pg. 31 9 André Gimenéz Soler no capítulo destinado a Jaume no livro: “La Edad Média Em La Corona de Aragón”,

mostra um lado do rei que não se pode extrair de sua crônica, faz críticas grandes pricipalmente quando se trata do monarca em seu papel de esposo: “ Hombre de poca intesidad de afectos, fué mal marido de sus murejes y mal padre de sus hijos”. Pg 128

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devoção por ela.

“...ela é amada (Dona Maria) por todos os homens do mundo que conheceram seu comportamento. E Nosso Senhor a amou tanto e lhe deu tantas graças que ela é aclamada „rainha santa‟ por aqueles que estão em Roma, e „santa‟ por todo o mundo”

10

As três principais conquistas que Jaume narra como seus Feitos dentre

realizações pessoais, (como a participação no Concílio de Avgnion), são as já citadas

batalhas de Maiorca, Valência e Múrcia. O primeiro feito rende muitas páginas da

crônica, conquistar o Reino de Maiorca que estava sobre domínio mulçumano, território

que ele denominava “O Reino sobre as águas”, parecia para o monarca uma grande

conquista para o cristianismo, em todo o momento de sua crônica ele nos passa uma

certeza da vitória, pois Deus estaria ao seu lado e desejando a conquista junto a ele11, a

batalha foi sangrenta sem muitos acordos e juntamente com a conquista de Maiorca

Jaume conquista Minorca uma ilha menor e vizinha.

Sendo o Livro dos Feitos uma crônica e como o próprio título nos remete, trata

apenas dos feitos, muitos dos aspectos pessoais da vida de Jaume bem como o pouco

esclarecimento de personagens que aparecerem na crônica sanamos com a utilização

da obra de José Luis Villacañas Barlanga, espanhol, que analisa a vida de Jaume I em

uma extensa biografia sobre O Conquistador, uma obra densa em que o autor nos traz

uma visão filosófica da vida do monarca.

Outros autores contribuíram muito para a análise da fonte como Marcella Lopes

Guimarães que fez um artigo para o Congresso Internacional sobre Matéria

Cavalheiresca, o qual trabalha com os aspectos cavalheirescos de Jaume dentro da

crônica; Fátima Regina Fernandes com seus textos referentes à teoria política medieval,

e a construção do conceito de unidade, esta unidade que é extremamente importante

frente à relação de Jaume I com seu Genro Afonso X

Nosso trabalho está dividido em quatro capítulos, o primeiro trata da fonte e está

subdividido em três partes, ele explana do que a fonte trata, a vida do protagonista, bem

10

VIANNA, José Luciano. Costa, Ricardo. “Livro dos Feitos/ Jaume I de Aragão” São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2010. Pg.32 11

Jaume nesta batalha descreve muita dificuldades em conseguir chegar na ilha de Maiorca os mares estavam revoltos, mas quando se acalma ele tem a certeza da presença de Deus a confusão que os ventos fizeram nas naus proporcionaram que eles atracassem nos melhores locais da ilha. Crônica pg. 106

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como situa o espaço geográfico que a fonte se reporta e as discussões que

conseguimos através da bibliografia com a fonte.

No segundo capítulo que está subdivido em duas partes trabalhamos com o

conceito memória e história dentro do Livro dos Feitos, como a memória aparece em

conjunto com a narrativa, e os sentimentos que Jaume transmite ao narrar seus feitos

com a forma que eles foram construídos. No terceiro capítulo, também subdividido em

duas partes trabalhamos com memória e história no espaço geográfico que tratamos

neste trabalho, os reinos ibéricos, demonstrando como construímos a tabela que serviu

para que chegássemos aos resultados, bem como os gráficos que criamos para facilitar

a visualização de Jaume I em suas relações com os reinos ibéricos.

O quarto capítulo é a conclusão, na qual trazemos as nossas considerações finais

referentes à nossa pesquisa, nos anexos é possível consultar nossa tabela completa, os

gráficos e também um mapa sobre a constituição geográfica da Península Ibérica no

séc. XIII.

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CAPÍTULO I - A FONTE.

1.1- Do que a fonte trata

O Livro dos Feitos é considerado a primeira das quatro grandes crônicas

medievais da Catalunha. É uma fonte do século XIII, em tradução recém publicada para

o português (2010), que nos reporta à vida militar de Jaume I mostrando-nos seus feitos

e a razão de seu epíteto “O Conquistador”; a dificuldade pelas quais passou quando

criança, após a morte de sua mãe Maria de Montpellier (1180-1213), e de seu pai Pedro

o Católico (1178-1213), juntamente com a pressão de se tornar um rei, quando não tinha

a idéia de como se fazia isso.

Foi entregue a Simon de Montfort12(1160-1218) por seu pai Pedro o Católico afim

de que o cavaleiro o educasse, pois Jaume estava jurado a casar-se com a filha

daquele, como reparação por Pedro o Católico e Simon de Montfort terem sido inimigos

na batalha de Muret13, no entanto Jaume em sua crônica descreve a ação de seu pai

frente a este episódio desta forma. “... „Simon de Montfort‟ quis ter o amor de nosso pai

e pediu-lhe que nos entregasse a ele para ele nos educar. E ele confiou tanto nele e em

seu amor que nos entregou a ele para nos nutrir” 14, Jaume tinha três anos de idade

quando fora entregue.

Desde o início da crônica, Jaume nos mostra que o fato de ele ter se tornado rei

foi por algo maior que o simples fato de ele ser o herdeiro da coroa de Aragão, ele

tornou-se um rei por vontade divina, pois ele defenderia o cristianismo e seria guiado por

Deus para a conquista de seus feitos. O casamento de seus pais não fora dos melhores

e a imagem que ele tem do rei católico não é nada apreciativa, ainda mais quando

comparado ao sentimento que ele retrata por sua mãe, essa visão depreciativa que

acompanha sua memória referente ao pai pode ser pelo fato de que Jaume recebe um

reino enfraquecido e cheio de dívidas. Sua mãe até morrer esteve ao lado do catolicismo

e isso faz com que o monarca lembrasse dela em reconhecimento e devoção por ter

sido uma boa mãe, rainha e fiel à religião, que para o nosso rei cavaleiro cristão é a

verdadeira salvação e detentora da verdade “E Nosso Senhor a amou tanto e lhe deu

12

Simon de Montfort (1160-1218) foi líder na cruzada contra os albigenses hereges, que eram defendidos pelo pai de Jaume Pedro o Católico. Tinha domínios na ilha-da-frança e era conde de Leicester na Inglaterra. 13

Batalha que ocorreu no ano de 1213 em que morre o pai de Jaume, Pedro o Católico. 14

Crônica 8

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14

tantas graças que ela é aclamada „rainha santa‟ por aqueles que estão em Roma, e

„santa‟ por todo o mundo”.15

O pai de Jaume Pedro o Católico morre na batalhe de Murret (1213), em que

lutou ao lado dos hereges albigenses contra Simon de Montfort e sua hoste, “estava com

homens a cavalo, entre oitocentos e mil, e nosso pai caiu sobre ele perto do lugar onde

ele estava”16. Em sua crônica Jaume descreve que seu pai perdeu esta batalha devido

ao seu comportamento promíscuo antes da mesma, enquanto Simon de Montfort ouviu a

missa e tomou a Santa Óstia, seu pai deitava-se com mulheres antes do embate.

No Livro dos Feitos temos a imagem dele próprio como um rei bondoso, justo e

acima de tudo defensor do cristianismo. Por toda sua obra o projeto divino é o que lhe

move e o que lhe dá forças para continuar bem como por vezes ir contra a corte e as

negações que lhe são feitas. Através do título da obra já podemos ter em mente o que

iremos encontrar na crônica, os feitos que para Jaume o legitimam como rei e cavaleiro.

O Conquistador se mostra presente ao longo das páginas e as descrições de como as

batalhas foram realizadas bem como as capacidades do rei em nomear as pessoas que

estavam ao seu lado frente às batalhas ou as pessoas que não lhe ajudaram, com

atitudes desonrosas ou traições, tornam a leitura mais intensa e interessante.

A percepção da necessidade do rei para com seus súditos é importante, e por

vezes o próprio rei denomina-os como irmãos e quase sempre o monarca deixa explícito

seu amor pelos mesmos. Podemos assim perceber onde se encontra a fragilidade e a

também a força de um rei. Seus súditos, amigos e pessoas próximas estão sempre ao

lado do monarca para apoiá-lo ou expressar suas idéias de maneira que seja o melhor

resultado para o monarca.

A necessidade do inimigo de conseguir legitimar seu poder frente a ele e também

a sabedoria de que a guerra não é sempre a melhor escolha, na verdade, é uma das

piores, homens se perdem, dinheiro e provisões são gastos evidencia-se no texto. A

diplomacia sempre parece a melhor saída para ambos os lados, é notável a

responsabilidade de um rei quando seu coração diz uma coisa, mas a cabeça outra, e

mesmo que seja contra a sua vontade se for a favor do bem comum deve ser realizado.

“Porque teremos dor da sua morte, e, se com a sua vontade nos rendessem a vila, poderíamos tê-la, mas desejamos tê-la mas por esta forma do que por outra, ou seja, pela força. Porque a maior parte da hoste deseja o saque da vila, mas nós não o desejamos pela dor que tomamos de vós. Esta é a nossa vontade e

15

Cronica 7- Jaume referindo-se a sua mãe após a morte da mesma. 16

Cronica 9

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15

de outra forma não o faremos, e assim,se vós não vos constrangerdes, nós vos faremos mal pela força.”

17

Os feitos que Jaume realiza em sua crônica dão mais certeza do projeto divino, e

do quanto Ele esteve ao seu lado nas batalhas. Em todas as suas conquistas, o rei

remete a sua vontade juntamente com a vontade divina, todos os seus atos fortalecem a

sua fé, bem como a fé de seus súditos. As três principais conquistas que Jaume narra

como seus Feitos dentre realizações pessoais, como a participação no Concílio de

Avgnion, para a batalha Ultramar são as já citadas Maiorca, Valência e Múrcia. O

primeiro feito rende muitas páginas da crônica, conquistar o Reino de Maiorca que ele

denominava “O Reino sobre as águas”, parecia que seria para o monarca a maior prova

de que Deus estava ao seu lado, a batalha foi sangrenta sem muitos acordos.

Juntamente com a conquista de Maiorca Jaume conquista Minorca.

A conquista de Valência vem sem batalhas, a diplomacia na crônica de Jaume

parece-nos que é algo importante para o sucesso que o monarca nos relata em sua

narrativa. Acordos parecem ser preferidos ao rei que nos mostra em sua crônica o

desgaste e o quanto é caro ter provisões para manter batalhas.

A derrota dos sarracenos em Múrcia foi para Jaume a sua maior legitimação

frente ao seu inimigo e genro Afonso X. Sua filha Violante, rainha de Castela, pede ajuda

ao pai que termine com a invasão moura em Castela ou seus netos ficariam deserdados,

Jaume ajuda Afonso X, e a partir desse acontecimento a relação dos monarcas muda na

narrativa. Além da legitimação do poder, Jaume em sua crônica age como um cavaleiro

cristão, defendendo a Espanha contra os infiéis.

1.2-Quem foi Jaume I o Conquistador.

Maria de Montpellier teve uma relação estreita com o papa Inocêncio III devido à

sua grande devoção e trabalho em prol do cristianismo. Preocupado com o futuro de

Montpellier, o papa não permitiu que Pedro o Católico se tornasse o dono das terras

oriundas do casamento devido o comportamento do Católico com a nobreza herética,

tendo o rei se casado com ela pelo simples fato de querer o domínio de Montpellier.

Após essa decisão papal o casamento entra em crise com Pedro furioso pela decisão

17

Crônica cap. 294 Conversa com o rei de Valência.

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tomada pelo santíssimo18. No entanto o papa não permite que o casamento termine,

pois era prejudicial que o monarca arranjasse um casamento problemático para o

catolicismo, tornando a relação da senhora de Montpelier com o senhor de Aragão ainda

mais complicada para o surgimento de um herdeiro.

Pedro o Católico sem possuir um herdeiro (tivera uma menina com Maria de

Montpelier que vem a falecer) e não tento um relacionamento bom com sua esposa,

começa a preocupar seus súditos que temem o futuro do reinado sem um descendente

juntamente com as pessoas de Montpellier que se viam nas mãos de um homem um

tanto problemático para a regência de um reino, pois estes queriam a independência de

sua cidade e isso deixaria de acontecer com o Católico no controle das regiões. Jaume

descreve em sua crônica a forma como seu pai havia governado e era ciente de que não

podia seguir esses passos. “Nosso pai, o rei Dom Pedro, foi o rei mais liberal que houve

em Espanha, o mais cortês e o mais afável, pois dava tanto que sua rendas cada vez

valiam menos”19

As preocupações com o casamento do Católico com Maria de Montpelier fizeram

com que os súditos tivessem de tomar providências um tanto estranhas quando tratadas

de um casamento convencional, tiveram de fantasiar Maria e fazer ela se encontrar com

seu próprio marido às escuras. Pedro fora levado ao local com promessas de que outra

mulher lhe seria entregue, nessa noite Maria engravidou de Jaume I,20 o nome de seu

filho ela escolheu através de uma promessa que fizera. Ascendeu 12 velas cada uma

tinha o nome de um apóstolo a última a apagar-se seria o nome de seu filho. Jaume,

esse foi o nome que mais resistiu ao calor do fogo, em sua tradução do catalão para o

português retrata o nome do apóstolo São Tiago.

“Asì, el niño debìa llamarse Jaume, um nombre que no tênia precedente em la casa de Aragón ni em la casa de Cataluña. Um nombre que nadie em Castilla se atrevió a poner a sus reyses.”

21

Após ser tirado dos cuidados de Simon de Montfort, o futuro rei que até então era

herdeiro apenas de Montpellier, estava prometido a se casar com a filha do cavaleiro

18

“Asi que el Papa mantuvo el señorío de Montpellier a favor de la reina María, su esposa, y el rey aragonés se retiró indignado, herido, violento.” Biografia pg.56 19

VIANNA, José Luciano. Costa, Ricardo. “Livro dos Feitos/ Jaume I de Aragão” São Paulo:

Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2010. Pg. 31.

20 “los testigos que pudiera Haber allí, y que sin Duda entraron hasta el hecho de los estraños amantes,

cumplieron com su papel, y dieron testimonio de la unión y de la legitimidad del embarazo”. Biografia 57 21

Biografia 48

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17

Amicia. Jaume foi entregue aos templários por uma bula papal emitida por Inocêncio III,

pedido de sua mãe Maria de Montpellier que, em vida, pediu ao papa que cuidasse de

seu filho, após ela ter conseguido garantir que Jaume fosse o herdeiro da coroa de

Aragão, pois o pai de Jaume firmou um tratado com Sancho o Forte em Navarra, que

por ele declarava seus irmãos os herdeiros de seu reino.

Coroado rei aos seis anos de idade, desde sempre foi um problema para muitos,

para seu pai que não o quisera reconhecer como herdeiro, para os tios que seriam os

novos herdeiros de Aragão se não fosse pela sua existência e também para Castela que

sem um rei propriamente dito o reinado de Aragão ficaria bem mais à mercê de ataques,

e não esqueçamos que também para o islamismo que se não fosse pela presença de

um rei católico tão fortificado em sua fé talvez a religião entrasse facilmente e Aragão

poderia se tornar um reinado Islâmico como Granada.

A vontade que tinham de que Jaume não se tornasse um monarca é retratada em

sua crônica quando ainda bebê uma pedra é lançada sobre seu berço, mas segundo

Jaume foi a predestinação divina que impediu que a pedra o acertasse e caisse ao lado

do berço, mostrando para ele que sempre fora um rei predestinado a grandes feitos.

“Adiante, quando nós jazìamos no berço, por uma janela atiraram uma pedra sobre nós, mas ela caiu perto do berço, pois Nosso Senhor quis nos salvar para que não morrêssemos”

22

Em conversa com o tradutor Ricardo da Costa23 podemos destacar que Jaume

em toda a sua crônica escreve em primeira pessoa do plural isso talvez se de pelo fato

de quando ele narrou a crônica já era um rei consagrado e havia passado por tudo, e

como um bom rei fala por seu povo, seus sentimentos e memórias também são os

sentimentos e memórias de seus súditos, quem sabe a sua devoção é tão grandiosa na

fé cristã que ele pode escrever em nome de todos os cristãos.

Jaume sendo coroado ainda criança precisou ter ajuda em seus primeiros anos

para conseguir governar, o auxílio dos ricos homens não foi esquecido por Jaume que

os agradece em sua crônica e mostra o medo desses em querer que ele se casasse

rápido, de forma a conseguir logo um herdeiro lembrando que ele era o único

descendente de Pedro o Católico.

22

Crônica 31 23

Conversa por e-mail durante o mês de outubro 2011. Sobre o autor ver nota 2.

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18

Pelo fato de Jaume ser o único herdeiro de Pedro o Católico, foi aconselhado a se

casar ainda criança, casamento este que só pode ser consumado depois de mais de um

ano de ocorrido, pois era muito novo, tinha apenas 13 anos. “Podìamos ter então doze

anos completos, entrando no décimo terceiro ano, e estivemos um ano com ela sem

poder fazer o que os homens têm que fazer com sua mulher, porque não tínhamos

idade” 24. Dificuldades como essa que Jaume relata em sua crônica nos mostra uma

criança que começa a sentir as responsabilidades que viria a ter, esse primeiro

casamento feito às pressas não termina de uma forma boa para o monarca, sua primeira

mulher Dona Leonor, descendente de Castela, o abandona após um feito do monarca o

qual a pede que ela desça por uma corda através de uma janela, “la vergënza del

encierro y el peligro sentido rompieron el martrimonio de facto”25. Jaume afirma que esse

casamento foi anulado por problemas de consangüinidade, o abandono de sua mulher

foi algo humilhante para o rei, fazendo com que os súditos do seu reino e os reinos

vizinhos começassem a duvidar das forças desse jovem rei que teria nessa época 16

anos26.

Jaume casou-se mais duas vezes, a primeira vez com Dona Violante de Hungria

com quem teve três meninos e três meninas. Após a morte desta, Jaume quis se casar

com Teresa Gil de Viadurre, uma dama principal de Aragão, mas teve que se casar com

essa escondido, pois a união não se legitimaria perante a Santa Madre Igreja. Esta

última mulher contraiu lepra e o monarca quis a separação, no entanto sua mulher não

aceitou e recorreu a Roma provando que era sua mulher legítima.

Segundo André Gimenez Soler27 a primeira mulher de Jaume foi uma santa

mulher e que depois de sua separação retirou-se para um convento, a segunda

dominava a monarca e se fez de madrasta do primogênito do rei Afonso, causadora de

muitos transtornos para o monarca, e a terceira mulher cumpriu um papel de rainha

secreta, notemos nesta relação com a última mulher elementos de corteses.

Um rei com grandes pretensões que sonhou colocar o reino de Aragão em um

patamar até então não alcançado, foi bem sucedido de certa forma, levou Aragão a ter

24

Crônica 46 25

Biografia 100 26

“Los nobles aragoneses y catalanes no habían ahorrado ningúm esfuerzo para humillar al rey. Jaume, um adolescente de dieciesiete años, finalmente, volvia a sser casi nadie. Embargadas sus propriedades, repartidos los cargos, el joven Jaume se había convertido em um personaje marginal del sistema de poder feudal de su tierra.” Biografia pg 100 27

SOLER, G. “La Edad Media Em La Corona de Aragón” Editorial labor, S.A.pg.128

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sua maior expansão territorial e conseguiu feitos que pareciam ser difíceis de ser

alcançados.

1.3-Discussões de autores com a fonte

Para analisar a fonte recorremos a José Luis Villacañas Barlanga, espanhol, que

esmiuça vida de Jaume I em uma extensa biografia sobre O Conquistador. Uma obra

densa em que o autor nos traz uma visão filosófica da vida do monarca nos permitindo o

conhecimento da trajetória de Jaume juntamente com os fatos que ele não descreve na

crônica. As visões que a biografia nos proporciona nos auxiliam na análise da fonte

como uma construção e uma seleção dos feitos para Jaume. Villacañas também nos

traz uma análise da época em que o monarca reinou. Esta obra nos auxiliou muito em

nosso trabalho, pois no Brasil ainda são poucos os estudos sobre o rei Conqusitador,

temos pouco material para nos basear sobre o monarca e compreender a vida desse rei

medieval, que é uma figura adorada para o povo hispânico.

Os relatos de Jaume são bem coerentes com o que sabemos do período em que

ele escreveu e a forma como a Espanha estava preocupada com as invasões islâmicas,

o período da Reconquista. No entanto, como Jaume descreve de sua própria vida todos

os personagens lhe são familiares, isso faz com que o monarca não se preocupe em

explicar ou esclarecer quem são as pessoas citadas na crônica, nem como elas fizeram

parte de sua vida, apenas são dados os nomes e em que momento eles o auxiliam ou

mesmo o traem.

A biografia de Jaume foi essencial para conseguirmos fechar as lacunas de fatos

que encontramos na fonte bem como nos mostrar quem são os nomes mais importantes

citados na crônica e por que eles aparecem. Por muitas vezes, as notas de roda-pé que

temos na nossa versão traduzida da fonte nos auxiliaram muito nesse aspecto, mas

ainda a biografia sanou muitas dúvidas que ficam após várias leituras. No índice,

encontramos no mínimo 5 nomes de personagens que são importantes para a vida de

Jaume, três deles são: Guillem de Montrêdon o qual dirigiu a expressa proteção papal

sobre Jaume para que este fosse retirado do castelo de Simon de Montfort quando

criança28;Pedro Ahonés o qual diigiu com seu irmão o bispo de Zaragosa, Sancho

Ahones, uma batalha contra os mouros em um momento em que Jaume teria firmado

28

Biografia pg.77

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trégua com os mesmos, nos mostrando que nem todos os nobres que estavam ao lado

de Jaume o respeitavam, para que isso não ocorra Jaume mata o traidor29 em uma

batalha de igual para igual apenas os dois com suas espadas.

A visão filosófica que o livro nos proporciona é interessante por que nos traz a

idéia dos motivos que Jaume tivera para tomar as decisões que tomou ao longo de sua

história como rei, e como a sua infância e bem como a tentativa de compreender o que o

rei sentia e pensava durante suas ações colabora para a nossa visão histórica do todo.

Para trabalharmos com os aspectos cavaleiro e cristão de Jaume utilizamos a

autora Marcella Lopes Guimarães que fez um artigo30 para o Congresso Internacional

sobre Matéria Cavalheiresca realizado neste ano de 2011 na cidade de São Paulo-USP,

o qual trabalha com os aspectos cavalheirescos de Jaume dentro da crônica; ela nos

traz uma comparação com o modelo cavaleiro de Jaume e a caracterização do

cavaleiro para a época, nos reportando para determinadas atitudes do monarca que o

coloca dentro dessa vida cavaleira, sendo ele um homem de armas e na sua narrativa

encontramos elementos de uma cultura cortesã. A autora trabalha com a forma como os

feitos foram construídos na crônica e como eles legitimam ainda mais o caráter cavaleiro

de nosso rei medieval.

Jacques Le Goff e Jean-Claude Schmitt, que trazem no Dicionário Temático do

Ocidente Medieval um artigo sobre Memória, nos ajudou a compreender a construção da

mesma na crônica, utilizamos desse material também o artigo “História” para

conseguirmos compreender os enlaces de memória e história juntamente com a

construção de uma crônica. Os artigos nos auxiliaram no trabalho de conseguir

compreender as diferenças que esses elementos têm quando separados e como eles

podem ser trabalhados quando juntos.

Utilizamos outro verbete também chamado de “Memória”, mas esse da

Enciclopédia ENAUDI que nos amparou na compreensão de memória como seleção,

esquecimento proposital, ou mesmo uma recriação de um fato passado devido à visão

que se tem do ocorrido no presente em que se lembra. Esse artigo também nos traz

uma breve explanação da memória no medievo, que cresce com o domínio do

cristianismo no âmbito intelectual da sociedade bem como o auxílio da escrita para a

conservação da memória, conservação da memória essa que de início era para as 29

“Se trata de la muerte de un rebelde, muerte ejemplar, casi providencial, justicera a los ojos de Jaume.” Biografia pg 106. 30

“Ouvida a missa do espírito Santo, cingimos a espada que tomamos do altar: palavras e feitos do rei cavaleiro Jaume I de Aragão (1208-1276)

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questões religiosas. A história de Cristo deveria ser lembrada por toda a eternidade, por

isso o auxílio da escrita que nunca se apaga. Notemos que o Livro dos Feitos é narrado

por Jaume com a certeza de que suas conquistas devem ser lembradas, ainda mais por

fazerem parte de algo maior, de um projeto divino.

Para trabalharmos com os feitos de Jaume em seu reino e como visamos

trabalhar com suas relações entre reinos é necessário que tenhamos uma visão ampla

do que acontecia politicamente e geograficamente31 na Espanha do século XIII e se

possível em toda a Europa nesse período, não esquecendo a Reconquista que faz parte

desse momento. Então convocamos materiais que nos dessem uma visão abrangente e

política do que acontecia no século XIII e que poderia afetar Jaume e seu reino cristão.

Para nos amparar utilizamos alguns autores como Fernando García de Cortázar e José

Manuel González Vesga, que nos trazem32 o contexto da Espanha Medieval bem como

as relações entre os reinos suas desavenças e a questão econômica entre eles, bem

como as disputas religiosas.

Como achávamos importante termos uma visão mais geral da Europa durante o

reinado de Jaume, utilizamos o texto apresentado na XXI Semana de Estudos Medievais

Estella33 de Bonifacio Palacios Martín34, que nos mostra o desenvolvimento da

instituição da monarquia em meados do século XIII, juntamente com o pensamento

filosófico-teológico que nutriam os espelhos de príncipe, nos lembrando que a Idade

Média sempre esteve em desenvolvimento na continuidade de sua política, e cultura, e

que nosso monarca estava no meio desse desenvolvimento institucional, que incluía a

monarquia.

Outros autores ainda colaboraram e muito para análise da fonte, André Giménez

Soler, espanhol, nos trouxe uma visão crítica35 de Jaume dando um contraste com a

imagem que encontramos o rei em sua crônica, ele nos reporta mais aos aspectos em

que Jaume talvez puxara de seu pai mas que preferiu não colocar na crônica, sua

relação com as mulheres e com seus casamentos que segundo o autor não foram dos

melhores. “Fué mujerengo; los cronistas lo execusan diciendo que más que solicitar él,

31

Referente a conquistas que possam ocorrem em territórios mudando eles de reino, ou então de religião. 32

Em seu livro: CORTÁZAR, Garcia Fernando. VESGA José Manuel González. “Breve historia de España” Alianza, Ed: Madrid. 33

“Europa em los umbrales de la crisis: 1250-1350” 34

“El mundo de las idéias políticas em los tratados doctrinales españoles: los „espejos de príncipes‟ (1250-1350) 35

SOLER, G. “La Edad Media Em La Corona de Aragón” Editorial labor, S.A.

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era solicitado”36 trabalha com a visão de um Jaume prepotente que não conhecia seu

inimigo antes de atacar, para o autor as vitórias que Jaume teve não foram por méritos

seus, e sim pela debilidade de seus inimigos frente a uma batalha37. Será que Jaume

então não conhecia essa debilidade e devido a isso não se “esforçava” o quanto o autor

esperava? Essas visões diferentes do que estamos acostumados a ver de Jaume em

sua crônica nos ajudam para que não nos deixemos levar pelo encanto que adquirimos

na figura do monarca ao estudá-lo.

Na compreensão da teoria política medieval utilizamos Fátima Regina

Fernandes38, através de sua obra conseguimos ter a compreensão de por que nem

sempre os desfechos das conquistas de Jaume são os mesmos, entendemos o conceito

de cruzamento de influências, era preciso fazer com que todos os dominados se

sentissem a partir de então pertencentes a coroa de Aragão, e isso se dá com o

cruzamento de influências, para cada território é necessário um meio para que aja uma

aculturação do modo de vida Aragonês e muitas vezes cristão. Era necessário levar em

conta os elementos culturais e ideológicos de quem pretendia-se dominar, levando-nos a

uma idéia de unidade no medievo ocidental39. “No ocidente medieval as unidades

intelectuais mais fortes são os reinos e muitos dos intelectuais que aí vivem estão

envolvidos na elaboração de teorias legitimadoras da supremacia régia frente às suas

sociedades políticas e a outros poderes paralelos que aí também co-existem.”40

A espiritualidade é muito presente na crônica de Jaume. Para trabalharmos com

esse aspecto utilizamos André Vauchez, espanhol, que nos ajudou na compreensão da

espiritualidade no ocidente medieval, principalmente no capítulo IV41 que retrata o

homem medieval à procura de Deus. O Conquistador em cada um dos seus feitos

consegue encontrar a Deus, pois ele tem a certeza de sua presença antes de cada

conquista ou batalha, pois tudo o que ele faz é em prol de Sua obra. A certeza da ajuda

divina, como a mão que sempre o ampara em momentos difíceis, da-lhe certeza da

vitória. O lado espiritual de Jaume é muito forte, o fato de ter se tornado um monge de

36

Idem pg.127 37

“No fué militar precavido: al emprender sus conquistas desconocía las fuerzas de los enemigos, y las campañas Le resultaron bien, no por él, sino per la debilidad de aquellos a quienes combatia” pg. 129 38

FERNANDES, Fátima Regina. “Teoria polìticas medievais e a construção do conceito de unidade” São

Paulo: 2009.

39 Unidade essa que não precisa ser necessariamente política, mas também religiosa.

40 FERNANDES, Fátima Regina. “Teoria polìticas medievais e a construção do conceito de unidade” São

Paulo: 2009. Pg.46 41

“El hombre medieval a la búsqueda de Dios Formas y contenido de la experiência religiosa”

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Cister ao final da sua vida nos mostra o quanto esse aspecto era importante para o

nosso monarca, talvez esse desfecho tenha feito com que essa espiritualidade em sua

crônica fosse tão valorizada.

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24

CAPÍTULO II - MEMÓRIA NO LIVRO DOS FEITOS

2.1- A memória em conjunto com a narrativa

O domínio intelectual do cristianismo teve grande influência para a importância da

memória no medievo, a doutrina cristã preza muito a lembrança “Lembra-te, não te

esqueças” são frases por vezes repetidas no livro sagrado cristão, o ato de rezar missa

em nome dos bons cristãos, comemorarem o dia do santo para que ele não seja

esquecido e a necessidade de que o bom cristão deva sempre seguir os dogmas e ter

em mente que os atos divinos que nos levam a salvação se encontram no passado.

A oralidade era o complemento da memória, através das histórias mantinha-se viva

uma cultura ou acontecimento, juntamente com a oralidade vem-se o desenvolvimento

da escrita entre os grupos de clérigos e literários, a escrita torna-se um suporte para a

memória fazendo com que surja um equilíbrio entre a memória oral e a escrita. A escrita

no medievo começa a ser utilizada para o que era considerado de grande importância,

como vida de santos, tratados, espelho de príncipes, legislações, conhecimentos que

serviriam para ensinar, inspirar, conteúdos dignos de serem conservados com as letras

que duram para sempre.

O que constitui esta crônica régia são os relatos de Jaume I, relatos esses filtrados

pelos anos de vida do monarca e pela experiência que ele adquiriu até narrar o

acontecimento. Segundo o artigo “História” de Jacques Le Goff,42 as fontes narrativas

podem ser testemunhos ingênuos ou então elaborados, em que o autor cuida do que

transmite, preocupando-se com a posterioridade que receberá as lembranças. Segundo

Le Goff, devemos ter cuidados ao analisar uma crônica, “Longe de ser a exposição

ingênua de conhecimentos elementares, uma crônica é freqüentemente ao contrário, o

fruto elaborado de uma erudição para qual o tempo é necessário”.43

Villacañas também nos alerta para o fato de Jaume ter narrado sua crônica visando a

imagem que os posteriores teriam de sua pessoa44, devido a isso os sentimentos que

Jaume coloca em sua crônica nos contam algo que para ele era interessante ou marcam

sua vida como monarca.

42

GOFF Le “Dicionário Temático do Ocidente Medieval” 43

Idem. Pg532. 44

“Jaume sabía em todo momento lo que era ser rey, y dictó su Crónica con la certeza de su misión y de su destino”.

BERLANGA Villacañas Luis José. “Biografia de Jaume I” Ed: Huertas, 2004. Pg.21

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25

A vivência da pessoa que narra é muito importante para a construção da crônica, ao

longo do tempo a importância dos acontecimentos muda, depois que já sabemos o

resultado, torna-se mais fácil falar da mesma, ou então não comentar de determinado

assunto.

Os acontecimentos podem no momento que ocorrem não parecerem tão grandes ou

mesmo importantes, mas se ao longo do tempo eles nos engrandecem ou nos atribuem

adjetivos, nos os vemos de uma forma mais importante, tudo irá variar segundo as

conseqüências ou vantagens que o ocorrido nos vem engendrar. Para trabalharmos com

um material que é a representação da memória de alguém (neste caso não é de uma

pessoa comum e sim de um rei medieval) precisamos compreender os anseios, as

crenças e o contexto em que ela nos foi sagrada.

Segundo o artigo “Memória” extraído da enciclopédia EINAUDI, tomamos a memória

como uma verdade, no entanto a verdade de quem a narra, ao longo do tempo a

memória torna-se uma construção, essa construção se dá pela experiência de vida por

ver todos os atos já realizados e por termos uma outra concepção da época em que o

mesmo ocorreu. Lembremos que o Livro dos Feitos foi narrado por um rei que possuía

mais de 70 anos, suas concepções mudaram muito, visto que fora rei desde seus 12

anos.

“...agora aos campos e às vastas zonas da memória, onde repousam os tesouros das inumeráveis imagens de toda a espécie de coisas introduzidas pelas percepções; onde estão também depositados todos os produtos do nosso pensamento, obtidos através da ampliação, redução ou qualquer outra alteração das percepções dos sentidos, e tudo aquilo que nos foi poupado e posto de parte ou que o esqueciemnto ainda não absorveu ou sepultou”.

45

Jaume narrou sua crônica preocupando-se com sua religião, o cristianismo é muito

presente em sua obra, são poucas as passagens em que Jaume não faz uma menção à

sua fé, bem como a necessidade e a confiança de que ele fora protegido por sua crença.

“Assim se vós desejais fazer o bem, este é o caminho: que vós, ele e aqueles, que estão

aqui guardem os nossos direitos nossa senhoria, uma vez que tendes muito caramente

pela grande natureza e pela senhoria que temos convosco, e também por que a vila

melhorou já que Nosso Senhor desejou que ela estivesse em nosso poder.”46

45

EINAUDI 46

VIANNA, José Luciano. Costa, Ricardo. “Livro dos Feitos/ Jaume I de Aragão” São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2010. Cap 297 (Jaume falando com sarracenos sobre a intenção deles de servir).

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Suas opiniões como cavaleiro cristão em defesa de uma Espanha católica, podendo

observar nessa memória uma unidade dentro de uma universalidade, a sua fé e

confiança na obra de Deus são elementos sempre presentes em seu relato, e o seu

relato fala por todos seus súditos e defensores da fé cristã, pelo menos potencialmente.

2.2-Sentimentos na memória, como os feitos foram construídos.

Notamos no Livro dos Feitos uma mistura de sentimentos e desejos que muitas

vezes não conseguem ser alcançados, pois trata-se de um rei real e sendo assim as

dificuldades que enfrenta como monarca estão presentes em sua crônica, encontramos

problemas com os alimentos das hostes, com o medo de perder homens frente a uma

batalha e também com o problema de ser enganado, traído ou mesmo abandonado por

alguém.

A crônica nos mostra como um menino se torna rei e o que foi preciso para que

ele chegasse aonde chegou, retrata as obras de um rei novo e que precisou aprender

muitas das funções de monarca e como melhor resolvê-las em alguns momentos

sozinhos, trata-se de um homem normal, mas que precisava firmar-se como rei e tanto

fez por merecer que conseguiu o epíteto de O Conquistador.

Os sentimentos que são colocados na memória de uma conquista, ou em uma

decepção da forma como Jaume constrói sendo etapas de sua vida, a forma como

esses sentimentos são lembrados e quais os sentimentos que um monarca medieval,

cavalheiro e cristão faz questão de lembrar, legitimam toda a sua vida. Os assuntos que

merecem ser lebrados e as imagens que para ele foram importantes e devido a isso

presentes em sua crônica, permitem que possamos realizar uma análise de como as

relações entre os reinos para Jaume foram importantes para a legitimação de suas

conquistas e bênçãos de Deus.

O Livro dos Feitos para Jaume foi uma forma de recompensar o amor que Deus

sempre teve por ele, essa crônica parece-nos que foi destinada para o fim de que todos

soudessem que a sua fé fez com ele conseguisse tudo, e nada mais justo que mostrar

isso. “Nós rogamos a Nosso Senhor Deus e à Virgem Santa, Sua Mãe, para que

possamos dizer algumas palavras em honra de nós e de vós, as quais escutareis, e que

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27

elas sejam prazerosas a Deus e à Sua Mãe, Nossa Senhora Santa Maria. Nós

queremos falar de boas obras, pois as boas obras vêm Dele e são Suas.”47

Dentre os maiores feitos citados em sua crônica podemos destacar:

Maiorca(1229), Valência(1238) e Múrcia(1243), os sentimentos do monarca frente a

conquista dessas regiões é algo notável para o leitor. Pretensões inovadoras até mesmo

para os seus mais próximos, pois Jaume muitas vezes toma decisões que para os que

estão ao seu lado são loucura, mas todos acreditam na sanidade de seu monarca e o

seguem em sua luta sem freios para a vontade divina e régia.

“(Tripulação que estava com Jaume, para a conquista de Maiorca) Este tempo de lebeg que nós temos agora não é nosso, nem de vossa esquadra, antes vos é tão contrário que não podereis tomar a terra em toda a ilha de Maiorca. (Jaume) Nós fomos nessa viajem na fé de Deus e por aqueles que não crêem n‟Ele. E fomos lutar contra eles por duas coisas: ou para convertê-los, ou para destruí-los, para que devolvessem aquele reino à fé de Nosso Senhor. E como fomos em Seu nome, tìnhamos confiança n‟Ele, pois Ele nos guiaria”

48

Este trecho da crônica consegue exemplificar bem o sentimento que Jaume

expressa quando está à frente de um feito grandioso, a sua fé em que tudo dará certo

pelo fato de ele ser um seguidor da religião cristã, pela sua crença em Deus e em Nossa

Senhora, a confiança que torna tudo mais fácil e também necessário de ser realizado,

Jaume estava decidido a tomar o reino de Maiorca, além de uma vitória para Aragão

seria ainda maior para o cristianismo.

A idéia de universalidade na crônica é vista também pelo fato de que Jaume

narra em primeira pessoa do plural, nos mostrando que não se trata de uma memória

individual e sim coletiva, de seus súditos e dos que participaram com ele de seus feitos.

Isso já nos remete à característica do monarca enquanto rei e conquistador, todos de

seu reino fazem parte de sua história e com ele as recorda. “Nós (Jaume) respondemos

que ele bem sabia que sempre os amamos e o honramos, tanto ele quanto o Hospital, e

que faríamos o que ele nos pedia voluntariamente e de bom grado, por isso nos

agradava muito.49” Acreditamos que podemos inserir nessa memória coletiva também

uma memória própria do cristianismo, parece-nos que Jaume acreditava que a sua

história também fazia parte da história do cristianismo, suas conquistas são envoltas

nesse sentimento de contribuir para o advento cristão.

47

Idem cap.48 “Palavras de Jaume em uma corte para a realização do feito de Maiorca”. 48

Idem Cap 56 49

Crônica pg.152

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Em toda a crônica, a memória de Jaume é envolta de uma devoção, que o

acompanha desde sua infância, quando Deus o salvou de ser morto em seu berço por

uma pedra que atiraram pela janela. Nenhum de seus feitos foi realizado sem a vontade

de Deus (segundo o rei), Jaume sendo um cavalheiro cristão deixa que perpasse por

sua narrativa características e sentimentos que o enquadrem com tais características, a

necessidade de batalhar se for preciso pelo bem de sua religião esteve presente

corporalmente em todos os seus feitos fazendo com que sua fé na vitória se mostrasse

legitimada. Ele queria participar das conquistas para seu reino, súditos e para a sua fé.

Por se tratar de uma crônica sobre seus feitos e digamos de „Aragão‟, relações de

cunho mais pessoal foram pouco referidas em sua crônica. Seus casamentos, o quase

relacionamento com seus filhos, não constam em sua crônica, talvez para ele esses

fatos não interferissem na sua tarefa de conquistador, não foram exatamente “Feitos”.

Encontramos em sua crônica, preocupações referentes às hostes, problemas com

indisciplinas entre seus súditos e até mesmo de traição. No início de sua crônica ele

narra o quão difícil foi ser rei tão cedo, e que sua ingenuidade o atrapalhara, necessitava

sempre de seus conselheiros até que pudesse tomar suas próprias decisões de maneira

sábia. Aos 14 anos foi aconselhado a consumar seu casamento com a rainha Dona

Leonor, filha do rei Dom Afonso de Castela, devido ao medo de doenças e por Jaume

ser o único filho de Pedro o Católico. “Consumado este matrimônio50, entramos em

Aragão e em Catalunha, nós e nossa mulher, a rainha. E cada um dos ricos homens

lutava para ser nosso privado, para o que nós fizéssemos, o fizéssemos a conselho

deles” 51.

Toda a crônica de Jaume é narrada de forma a evidenciar que não se trata de

uma memória individual e sim coletiva, de seus súditos e dos que participaram com ele

de seus feitos. Isso já nos remete à característica do monarca enquanto rei e

conquistador, todos de seu reino fazem parte de sua história de como ele as recorda.

“Nós (Jaume) respondemos que ele bem sabia que sempre os amamos e o honramos, tanto ele quanto o Hospital, e que faríamos o que ele nos pedia voluntariamente e de bom grado, por isso nos agradava muito.

52”

Também devemos destacar que os sentimentos que Jaume nos mostra em sua

crônica são diferenciados. O livro dos Feitos não foi narrado todo de uma vez. Na

50

O matrimônio foi realizado em Santa Maria de Horta, em Terragona. 51

Crônica pg.46 52

Crônica pg.152

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29

tradução que utilizamos, os tradutores nos esclarecem que para Lluís Nicolau D‟Olwer

em sua obra “La Crònica Del Conqueridor i els seus problemas” a Crônica foi composta

por dois momentos: um em Játiva, em 1244, e outro em Barcelona, em 1274, no entanto

outros autores acreditam que ela tenha sido produzida nos últimos anos da vida de

Jaume53.

A nosso ver os sentimentos de Jaume são mais intensos no que seria para D‟

Olwer o primeiro momento da criação da Crônica por Jaume estar mais perto do

acontecido, o feito de Maiorca é descrito por uma paixão e uma gana muito grande do

monarca bem como os nomes dos personagens que são muito presentes. Jaume

consegue nomear quase todos que estão à sua volta, também por vezes lembrar-se de

pequenos gestos que estes faziam, na primeira parte da crônica os diálogos são maiores

e mais detalhados. “Nós saìmos às vistas de todos, vestidos com nossos perpontes e as

espadas cingidas, e foram conosco Dom Ramon Folch, Dom Guilherme de Cardona,

Dom Ato Foces, Dom Rodrigo Lizana, Dom Ladrão, que era filho de Dom Ladrão que era

nobre e de grande linhagem54, Dom Assalit de Gudar e um cavaleiro nosso, e Dom

Pelegrino de Bolas. Da parte deles chegaram Dom Fernando, que era nosso tio, Dom

Guilherme de Montcada, pai de Dom Gastão, Dom Pedro Cornel, Fernando Perez de

Pina, e outros que eram de sua parte que nós não lembramos55”.

A visão que Jaume tem dos Mouros também muda ao longo da Crônica, por

vezes esses são valorados pelo monarca devido o caráter guerreiro e por vezes

mereceram a confiança do monarca durante a crônica, Jaume chegou a denominar um

mouro como um anjo, devido à forma como o aquele agiu. No entanto esses

sentimentos positivos referentes aos mouros são mais visto na primeira parte da crônica,

talvez pelo fato de Jaume ter se feito Monge as memórias e os sentimentos pelos

Mouros retratados deve ter ocorrido alguma alteração.

Devemos nos lembrar da memória como um elemento mutável durante a

experiência adquirida em vida, talvez pelo desfecho de Jaume tornar-se um membro da

igreja a visão que ele nos trás do inimigo da verdadeira fé tornou-se mais agravante.

Em raros momentos Jaume cita os Judeus em sua crônica, mas com o auxílio de bibliografia percebemos que a presença deles nessa região era bem significativa.

53

Stefano Maria Cingolani “Jaume I: història i mite d‟ um rei” . Josep Maria Pujol “Jaume I. Libre Del Fets” e Abert Soler Llopart “Literarura Catalã Medieval”. 54

Jaume por muitas vezes em sua crônica descreve a linhagem dos que andam ao seu lado. 55

Crônica cap33 Excerto da passagem do sítio de Jaume em Huesca.

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30

“Reservado estaba, no obstante, a los júdios de Gerona, como a los de toda Catalunã y Aragón, el subir muy em breve a prosperidad jamás alcanzada por ellos em aquellas regiones; y este hecho tenia realidad bajo el glorioso reinado de Jaume I”

56

56

RIOS, J A. “ História social política y religiosa de los judios de España e Portugal” ED: Aguilar- Madrid 1960 Pg.208

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31

CAPÍTULO III - MEMÓRA E HISTÓRIA NAS RELAÇÕES ENTRE OS REINOS

IBÉRICOS.

3.1-Construção da tabela e gráficos

Para trabalharmos com a Memória e História nas relações entre os reinos

ibéricos, precisávamos de uma visão mais ampla do que a crônica nos trazia e o que

teria maior importância para Jaume durante seu reinado, o que legitimaria seu Epíteto e

com isso seus feitos. Como a memória de seus feitos foi construída na crônica já vimos

no capítulo anterior, porém neste capítulo vamos ter uma visão mais clara da fonte e das

relações que Jaume quis nos trazer que para ele são envolta dos sentimentos tratados.

As relações do monarca com os outros reinos ibéricos foram minuciosamente

isoladas e inseridas em uma tabela57 que originou gráficos58 com os quais podemos ter

uma visão mais ampla das relações de Aragão com outros reinos. Juntamente na

análise do gráfico podemos destacar com quais reinos sua relação foi mais estreita e se

a religião influenciou ou não sua conduta cavalheiresca. A criação da tabela se deu por

uma leitura detalhada da fonte e pelo levantamento de dados que acreditamos ser

importantes para a conclusão desse projeto.

Constam na tabela: com quem Jaume se encontra (ou não), o capítulo em que o

encontro ocorre e o desfecho (se originou uma batalha ou um acordo). Nesta tabela

também estão inseridos feitos que são grandiosos para Jaume, como sua convocação

para o Concílio de Lyon, no entanto esse tipo de informação não entra no gráfico pois

não se trata de uma relação com outro reino como visamos tratar nesse projeto.

A tabela completa possui 76 quadros, sendo que três não consideramos porque

trata-se de Jaume no Concílio de Lion em 1274, mas decidimos inserir na tabela, pois,

foi um grande feito para o rei.

“Eu vim aqui (Concìlio de Lion) por duas coisas que vós me chamastes; a terceira é minha. A primeira e que mandaste me chamar para dar conselho, a segunda, a ajuda. (...) A terceira é minha: incitarei os outros que não têm a intenção de Servir Nosso Senhor, e dir-lhes-ei e farei tanto, que, por isso, se animarão.”

59

57

Ver anexo 2. 58

Ver anexo 3. 59RIOS, J A. “ História social política y religiosa de los judios de España e Portugal” ED: Aguilar- Madrid 1960 Pg.. 457

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32

Dos 73 quadros válidos 43 são sobre as relações de Jaume com os reinos

mulçumanos, e 30 são em relação ao reinado de Jaume com os reinos cristãos, desses

30, 22 são referentes ao reino de Castela, mostrando a estreita relação entre o monarca

e seu genro Afonso X. Tanto entre os reinos mulçumanos quanto os cristãos as batalhas

foram minoria frente aos acordos. Entre Aragão e Castela ocorreu apenas 01 batalha,

referente ao início da crônica que Jaume I luta ao lado do Rei Dom Sancho de Navarra

tornando-se seu herdeiro, na ajuda contra o rei de Castela.

3.2- Resultados obtidos

Através da análise dos gráficos que construímos podemos destacar que Jaume I

se apresenta em sua crônica como um rei aberto a acordos tanto com cristãos quanto

com mulçumanos, mas sua relação com os cristãos é notória analisando os gráficos.

Percebe-se uma maior abertura para acordos quando se trata dos cristãos, pois mais da

metade são encontros ou acordos e, dentre os cinco desacordos, apenas 01 originou

batalha.

Podemos nos direcionar a Villacañas nessa análise, na biografia de Jaume ele

nos deixa ciente que o monarca queria nos passar uma imagem de seu caráter cavaleiro

e cristão, mas acima de tudo de rei, árbitro, portanto.

“Jaume habla a uma contemporaneidad absoluta y cree em la eternidade de su época de manera tan firme como confia em La eternidad de su descendência.”

60

Os encontros entre os reinos cristãos muitas vezes se originaram por vontade do

monarca quando este decidia realizar um novo feito e precisava de suprimentos para

conseguir o feito, isso constou na tabela gerando acordo ou não. Em nenhum momento

da crônica, a negação de um reinado frente a um pedido de Jaume gerou uma batalha, o

monarca se mostrava decepcionado, pois muitas vezes essas expedições eram para

lutar contra o infiel, tão somente.

“- O que vós ganhareis se, nas Igrejas onde Nosso Senhor e Sua Mãe são adorados e por má ventura fossem perdidas, fosse adorado Maomé”

61

60

BERLANGA Villacañas Luis José. “Biografia de Jaume I” Ed: Huertas, 2004.pg.22 61

Momento em que Jaume reclama pois a corte em Barcelona decide não colaborar, com o auxílio para a Batalha em Múrcia contra os sarracenos.VIANNA, José Luciano. Costa, Ricardo. “Livro dos Feitos/ Jaume I de Aragão” São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2010. Pg.367

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33

A grande quantidade de quadros contidos na tabela entre o Reino de Aragão e de

Castela nos mostra que Jaume se preocupou em mostrar o estreito laço político entre os

reinos e com isso a importância de seu reino ao lado do vizinho, maior em extensão e

mais poderoso.

“Las relacionnes que busco Jaume com Castilla fueron las de um sincero equilíbrio basado em La conciensia realista de la dura realidad Del poder, el respeto recíproco, La igualdad de potestas, La franqueza em La defensa de sus intereses y puntos de vista y la continua presencia de uma profunda solidariedad hispana.”

62

Além da solidariedade hispânica frente à religião, Jaume ao ajudar seu genro

legitima seu poder frente ao outro reinado, também colabora para que não haja mais

fragmentação no poder hispânico, lembremos que a Idade Média é composta por

políticas fragmentadas e que a união é um desejo mútuo de reis, pois se manter no

poder sem ter aliados era praticamente impossível.

Jaume é um rei que mostra na crônica que foi traído e mesmo desrespeitado, ele

faz questão de demonstrar isso juntamente com o quanto estão errados em desrespeitá-

lo, pois ele sendo um rei tão bom quanto o demonstra, sabia valorizar muito um súdito

ora, devido a uma desonra que lhe causaram, os súditos infiéis não teriam mais o direito

a ter sua admiração ou gratidão.

As dificuldades em governar também estão presentes na crônica, Jaume precisa

ir atrás de provisões para a sua hoste, precisa de empréstimos para que possa continuar

um feito, e por vezes mostra-se preocupado com o que sua hoste tem de comer, é um

rei que mostra as dificuldades que um monarca medieval passava ao entrar em uma

batalha, dificuldades essas que legitimam ainda mais sua fé, pois toda essa dificuldade é

enfrentada pela certeza no projeto divino.

“Antes que passássemos por Alventosa, deram-nos dezessete mil besantes pelos cem mouros que nós levávamos, ma, se oss tivéssemos retido por mis um mês nós teríamos trinta mil. Porém, tivemos que entregá-los por tão pouco, pois os mercadores nos apressavam sobre o que lhes havíamos pedido emprestado para a hoste.”

63

Os sentimentos que Jaume coloca em sua crônica sempre são envoltos de muita

sabedoria, o monarca sabe como castigar e como agradar a quem merece, devemos

62

BERLANGA Villacañas Luis José. “Biografia de Jaume I” Ed: Huertas, 2004. pg.17 63

VIANNA, José Luciano. Costa, Ricardo. “Livro dos Feitos/ Jaume I de Aragão” São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2010. pg.241

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nos lembrar que a traição é grave para o rei medieval, pois quem o trai também trai a

Deus. Todos os seus atos são voltados para a fé, ele nunca deixa de comparecer à

primeira missa do dia antes de uma conquista ou de um encontro.

Analisando os gráficos notamos que o número de acordos entre as relações de

Jaume sempre foi a maioria, podemos destacar aqui a política do bem comum que o rei

deveria seguir. Referente aos mulçumanos os acordos não aconteceram na maioria das

vezes porque uma religião não queria ceder o direito de rezar em um determinado local,

os dois queriam a mesma mesquita ou igreja para transformar no seu templo de oração.

Os gráficos referentes aos cristãos em maioria à Castela de 30/22 revelam que as

batalhas foram quase inexistentes, isso mostra que a religião influencia muito no

julgamento do nosso rei que tenta em sua crônica se mostrar um rei aberto aos vizinhos,

irmãos em fé.

Notemos que os dois pontos em sua crônica legitimam o poder para Jaume fora a

vontade divina, são os encontros com os mulçumanos em que por várias vezes ele sai

vitorioso mesmo sem a batalha, pois o acordo também é uma vitória e bem mais barata,

e como notamos na crônica as batalhas necessitavam de grandes investimentos. E suas

relações com Castela, que também são maioria em sua crônica.

Podemos perceber o quanto o reino de Castela era importante para Jaume, ele

não se isenta em nos contar em sua crônica que Afonso X tornou-se mais próximo dele

após ele o ter ajudado na conquista de Múrcia, conquista essa que para monarca

conseguiu mostrar seu poderio frente ao reino vizinho, pois a sua ajuda foi solicitada.

Maiorca para o rei foi a sua maior conquista e vitória para o cristianismo, pois o reino

sobre as águas virou cristão. Múrcia foi uma conquista mais pessoal e importante para

que Jaume pudesse crescer como rei e ser respeitado por seu vizinho maior e mais

poderoso.

“A terceira “razão para ajudar o rei de Castela, esse discurso Jaume fez durante a corte” (que é a mais forte de todas, pois pertence ao censo natural) é que se o rei de Castela perder sua terra, nós ficaríamos mal aqui, em nossa terra, pois mais vale que defendamos a sua que a nossa.”

64

A legitimação do poder de Jaume juntamente com a vitória do cristianismo sobre

os mouros fizeram com que o rei não escutasse o concílio que ele chamou para tentar

conseguir provisões para o feito de Múrcia, o concílio não estava de acordo e não

64

Idem pg. 366

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queriam dar provisões ao rei para defender um inimigo, Jaume não os acolheu e decidiu

que ajudaria Afonso X, lembrando que foi um pedido de sua filha, esposa do rei de

Castela.

Castela foi uma grande aliada para Jaume legitimar seu poder, sua fé e honrar o

nome de O Conquistador, seu caráter de cavaleiro cristão, e bom rei pensando no bem

comum de uma comunidade maior que seu reino, a cristandade. A unificação desse

grupo era um dos motivos que movia o monarca e o fazia crer que poderia conquistar o

que estivesse ao seu alcance. As memórias de Jaume em sua crônica são compostas

por uma verdade que ele traz como inquestionável, a verdade de que ele faz parte de

um projeto divino, visível quando se depara com o inimigo da cristandade. Percebemos

através dos gráficos que Jaume não ajuda seu inimigo apenas em prol do cristianismo e

sim devido a uma visão militar e estratégia de guerra. Não permitindo que os

mulçumanos invadam Murcia ele mantém a fronteira de seu reinado longe dos infiéis.

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36

4-CONCLUSÕES

O Livro dos Feitos por ser uma fonte recém traduzida e pouco trabalhada no

Brasil tornou-se uma ótima opção para a realização dessa pesquisa, minha orientadora65

sabendo da grandiosidade de conhecimento que essa fonte poderia nos proporcionar

frente a um rei medieval e cavaleiro me deu a opção de desenvolver a monografia.

Nosso projeto em seu inicio possuía uma abordagem mais ampla tinha como

intenção estudar as relações de Jaume I com os reinos ibéricos em geral na sua crônica,

isso muito contribuiu também devido à denominação de Jaume O Conquistador, um

conquistador deve ter uma relação no mínimo interessante com seus inimigos ou

vizinhos, no entanto o que mais seria interessante é saber como um conquistador

gostaria de ser lembrando através de sua narrativa.

Desde o início do projeto a idéia era marcar bem que a crônica é uma seleção das

memórias que Jaume gostaria de passar sobre sua vida, em todo o nosso trabalho

tivemos em mente que a crônica é uma criação, mas nem por isso é uma mentira para

Jaume, como percebemos muitas das coisas realmente aconteceram, e segundo a

enciclopédia EINAUDI em seu verbete memória muitas das coisas que são narradas

realmente aconteceram para quem as narra (nem que seja apenas em pensamento).

Juntamente com a quantidade de sentimentos que são inseridos dentro de um feito,

talvez não seja tão grandioso ou tão interessante quanto ouvimos, mas interessante é

justamente isso, através da forma como é contado podemos perceber o quanto foi

importante para quem o viveu e por vezes essa memória desencadeia outras.

Nos restringimos mais particularmente a Castela devido à grande quantidade de

páginas destinadas a este reino durante a crônica, e conseguimos ter uma maior certeza

ao terminarmos a tabela e montarmos os gráficos notamos o quanto esse reino se fez

importante para o reinado de Jaume. Para que pudéssemos fazer um trabalho adequado

frente à grandiosidade que são as memórias de Jaume frente ao reino vizinho de seu

genro e inimigo decidimos nos ater a Castela.

65

Marcella Lopes Guimarães, possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995), mestrado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999) e doutorado em História pela Universidade Federal do Paraná (2004). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Medieval, atuando principalmente nos seguintes temas: história medieval, história cultural, literatura portuguesa e crítica literária. Para a realização de trabalho me orientou com bolsa de iniciação científica CNPq Julho 2010/2011

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Os gráficos foram de grande valia para as considerações a que conseguimos

chegar durante o nosso trabalho. Os judeus são pouquíssimas vezes comentados na

crônica, mas nada que fosse envolto de uma memória ou encontro para que se

procedesse algum feito. Mesmo tratando de um trabalho referentes as suas relações

entre os Reinos Ibéricos, Portugal também não aparece na crônica, isso pode ser por

que Jaume detinha um bom relacionamento com esse reino ou mais provável ainda por

que não se trata de um reino vizinho e como a crônica trata de O Conquistador não era

interessante para essa obra suas relações em vida com esse reinado.

O trabalho foi realizado com uma grande satisfação, ainda mais quando ao

terminarmos a tabela e os gráficos percebemos que fizemos uma ótima escolha no

tema, em todo o momento que o comparamos com Castela em sua crônica Jaume

consegue legitimar seu poder. Seu inimigo que por fim lhe pede conselhos66 tornou-se

na Crônica um aliado, o aliado que ele precisava para mostrar o quanto era grandioso e

o quando realmente Deus estava ao seu lado quando o tornou um rei.

A crônica de Jaume I é um material extremamente instigante e grandioso, que por

momentos de forma bem ingênua nos deixamos levar pela leitura de uma forma

prazerosa esquecendo que devemos nos ater a estudá-la e não apenas degustá-la

como um bom livro de cabeceira, no entanto ele deve-ser desfrutado ao ler, pois é uma

obra muito bem escrita. O Conquistador em sua obra se faz um homem grandioso,

diplomata e com certeza sua crônica serviu para que alguns seguissem seus exemplos

de como se tornar um bom rei. Sabemos que muitas dessas características são

construções, mas devemos admitir que são construções bem alicerçadas para o leitor

que por vezes se deixa levar.

“E ali, em Valência, no ano de 1276, na sexta calendas de agosto, o nobre Dom Jaume, pela graça de Deus rei de Aragão, de Maiorca e de Valência, conde de Barcelona e de Urgel e senhor de Montpelier, passou deste século. Cuius anima per misericordiam Dei sine fine requiescat in pace. Amen”

67

66

“Ele esteve ali (Afonso X) sete dias conosco, e nesses sete dias lhe demos sete conselhos do que fazer em seus assuntos” Crônica pg. 440 67

Idem pg. 480

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38

FONTE.

VIANNA, José Luciano. Costa, Ricardo. “Livro dos Feitos/ Jaume I de Aragão” São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2010.

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MAPA:

http://www.google.com.br/imgres?q=mapa+de+Arag%C3%A3o+e+Castela+no+s%C3%A9culo+XIII&hl=pt.

Último acesso dia 14/12/2011.

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ANEXOS

ANEXO- I

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41

ANEXO – II

Encontros ou não, Cristãos ou não.

Capítulos Solução do encontro ou conflito

Abu Seid, rei de Valência e Múrcia.

09 Acordo para trégua, Abu Seid teria que dar a quinta parte do que ganha, já tirada as peitas.

Encontro com Ali de Palomera, um Sarraceno que trouxe informações sobre o reino de Maiorca.

59 Preparativos para a entrada em Maiorca.

Cavaleiros de Jaume I decidem atacar por conta sarracenos na ilha de Maiorca.

60 Batalha.

Sarracenos pediram para conversar com um mensageiro de Jaume após o começo da batalha de Maiorca. O rei de Maiorca disse que nada tinha a dizer.

74 Sem acordo.

Guilherme de Alagon agora com o nome de Maomé, tenta uma trégua prometendo a Jaume pagar todas as despesas que tivera até o momento.

75 Jaume não aceitou e manteve a decisão de conquistar Maiorca.

Encontro com o rei de Maiorca, tenta fazer um acordo para que não aja batalha.

76 O mensageiro de Jaume Don Nuno avisa que não terá trégua.

Encontro com dois homens de Tortosa, os quais juraram entregar o rei por 2 mil libras.

87 Acordo.

Xuaip de Xavier líder de todos os sarracenos em Túnis.

113 Acordo.

Encontro com Dom Blasco que era dono do Castelo de Morela.

137 Acordo, tudo o que Dom Blasco conquistar dos mouros será de sua posse.

Encontro com o rei Don Sancho de Navarra.

138 O rei de Navarra adota Jaume tornando-o herdeiro em troca de ajuda contra o rei de Castela.

Sem encontro com os mouros de Jerida.

153 Devastação da vila.

Sem encontro com os mouros de Tores Tores.

155 Arrasam o local.

Ataque a Burriana. 156 Tentativa de tomada do local.

Seus ricos homens o aconselham a aceitar o que o rei de valência, Zahen lhe propõem.

166 Jaume não aceita, pois julga que será vergonhoso voltar para Aragão sem as terras, e continua a batalha.

Sarracenos pedem 5 dias para tirar todos da vila de Burriana, e assim entregar o território.

117-178 Acordo, Jaume aceitou 4 dias para que tirassem tudo o que podiam de Burriana, a cidade é tomada depois de 2 meses

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42

de sítio.

Sarracenos enviam uma carta para Dom Jimeno de Urrea que eles renderiam Peníscola.

182 Rendição de Peníscola por parte dos Sarracenos.

Encontro com os sarracenos que enviaram a carta para Dom Jimeno de Urrea.

184 Jaume ganhou muitos presentes dos sarracenos e estes entregam o castelo de Peníscola para Jaume.

Sarracenos queriam se encontrar com Dom Pedro Cornel, para dizer que renderiam Almaçora.

190 Houve batalha por que alguns sarracenos descobriram a cilada, mas ainda sim foi tomado o castelo de Almaçora.

Sem encontro. 201 Entrada em Burriana matando os mouros, com o objetivo de ficar entre Valência e Burriana.

Sem encontro. 202 Fundíbulo em Montcada, os sarracenos do local se rendem em 5 dias capturam 100 sarracenos.

Castelo de Museros, sem encontro.

203 Rendição do castelo no 3° dia.

Encontro com sarracenos de valência.

204 Acordo, 60 sarracenos por Dom Guilherme de Aguiló.

Encontro de sarracenos com Dom Berengue de Etneza.

218 Sarracenos trazem notícias de Zahen rei de Valência.

Zahen envia Ali Albaca, para falar com Fernando Dias, queria fazer um acordo: daria parte de vários castelos e também dinheiro.

242 Jaume não aceita o acordo e se prepara para a batalha, quer Valência inteira.

Maometanos queriam render Almenara contanto que Jaume lhe dessem alguns agrados.

243 Acordo, oito dias para que se realizasse a conquista do castelo que ocorre no capítulo 247.

Encontro com sarracenos de Valência para fazerem torneios em meio a guerra.

265 Acordo parece já ser uma prática.

Sarracenos de Boadela, dizem que se rendem.

268 Jaume não aceita pelo fato de eles não terem se rendido antes.

Mercador sarraceno de Valência avisa Jaume que Zahen pensa em desistir.

269 Jaume fica maravilhado.

Zahen manda Ali Albaca para conversar.

271 Ali Albaca comunica que virá o governador de Valência sobrinho de Zahen, acordo.

Conversa com o governador de Valência, Abulmalec.

272/275-277 Querendo entender o porque da desavença de Jaume com o rei de Valência. Sem acordo.

Conversa com o governador novamente resolvem se entregar e pedir que Jaume de 10 dias para que os sarracenos tirem o que podem de Valência.

278 Acordo, no entanto Jaume cedeu 5 dias ao invés de 10.

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43

Encontro com pessoa de Montpellier.

301 Juraram lealdade a Jaume.

Zahen que estava em Bayrén tenta fazer um acordo com Jaume, pede que ele troque Minorca pelo Castelo de Alicante.

307 Sem acordo Jaume diz que não pode acordar porque esse castelo esta na região de divisa com Castela.

Encontro com Alcaide de Bayrén.

308 Acordo Jaume lhes oferece 5 dias para que rendam o castelo.

Alcaide de Játiva envia Abin Ferri para conversar com Jaume que queria Dom Pedro de Acaló que estava prisiioneiro.

318 Sem acordo. Dom Pedro de Acaló juntamente com os cavaleiros prisioneiros haviam sido vendido.

Sexti conselheiro do Alcaide de Játiva, avisa que entregará Dom Pedro de Acaló.

322 Jaume decide que quer Játiva, sem acordo.

Sarracenos de Azira enviam carta para Jaume avisando que renderiam a cidade.

329-330 Jaume pede as 2 principais torres da entrada de Valência e 5 dias para que tudo seja acordado, no entanto Jaume tem que respeitar a religião dos sarracenos, Acordo.

Jaume se encontra com o Alcaide de Játiva com o pretexto de que eles descumpriram o trato que tinham feito.

334 Os mouros avisam que não foram eles que descumpriram com o trato por isso não iriam render Játiva, Jaume não concorda e inicia-se a batalha.

Capturou 17 sarracenos com a idéia de que os outros lhe dariam Játiva.

342 Os sarracenos não cedem, sem acordo Jaume decapita metade e a outra metade é enforcada.

Encontro com Don Afonso 345 Dom Afonso pede um pouco das terras de Játiva , pois acha que esta no direito. Jaume não cede.

Sarraceno chamado Albucassim, queria impedir o ataque a Játiva.

350 Jaume não aceita.

Albucassim tenta em um novo encontro fazer um acordo com Jaume.

353 Jaume aceita o acordo e fica com os dois menores castelos de Játiva deixando o maior para eles.

Sarracenos de Bia encontram Jaume e dizem que conseguem entregar o castelo para ele.

355 Não deu certo, os sarracenos de Bia não concordaram e defenderam o castelo ele só foi entregue para Jaume pelo Alcaíde Muça Almoravida no cap.359

Encontra-se com Seid de Castala.

360 Jaume deu os castelos de Chester e Vilamar e obteve Castala. Os reinos de Jucar até Múrcia se renderam a Jaume com o acordo de que o rei os deixariam no mesmo lugar.

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44

Sem encontro. 368 Grande guerra entre católicos e mulçumanos de Játiva.

Rei de Castala pede trégua para Jaume, ele estava do lado dos mulçumanos.

372 Jaume aceita trégua no período da quaresma até a páscoa.

Filha de Jaume que é casada com o rei de Castela pede ajuda para o pai contra os ataques dos mulçumanos em Múrcia.

379 Jaume quer aceitar o acordo no entanto os ricos homens da Catalunha acham que ele não deve aceitar. Cap.386

Jaume convoca a corte em Barcelona.

383 Não quiseram ajudar a Coroa de Castela.

Encontro com homens de Catalunha.

387 Querem ajudar Jaume pagando tributo de Bovatge (tributo por cabeça de gado)

Encontro com a corte de bispos em Aragão e um frade franciscano de Navarra.

389 O frade teve um sonho que o senhor avisa que Jaume é o defensor da Espanha frente aos sarracenos.

Juramento em Saragoça, Alagon.

395 Acusavam Jaume de não cumprir o forro de Aragão.

Encontro com Sarracenos que invadiram Vilena Manuel de Castela.

410 Acordo, Vilena volta a Dom Manoel.

Encontros com dois xeques e um judeu que renderam o castelo de Dom Jofre em Castela.

414 Acordo consegue o castelo.

Encontros com Sarracenos de Elche.

416 Acordo entrega da Torre de Calahorra.

Encontro com Afonso X em Alcaraz.

432

Chega a Múrcia. 435

Jaume manda um mensageiro falar com um aquazil.

436 Pediram 3 dias.

Encontro com mulçumanos. 442 Promete o Alcácer para cima.

Encontro com Dom ferriz de Lizana.

461-465 Batalha tomada do castelo de Lizana.

Encontro com Afonso X 475-481 O rei de Castela acompanha Jaume contra os Tártaros até Toledo manda para Jaume sessenta mil besantes.

Encontro com os Tártaros em Valência.

482 Grande Cã, rei dos Tártaros oferece ajuda a Jaume para conquistarem o sepulcro.

Encontro com a rainha de Castela.

483 Ela pede que Jaume permaneça, mas ele continua sua viajem a Barcelona para realizar a travessia.

Encontro com dois cônsules de Montpelier

492-93 Jaume pede ajuda devido os gastos que tiveram ao tentar se aventurar no Ultramar promete 60.000 soldos se Jaume passasse. Jaume sai furioso.

Encontro com o rei de Castela em Ágreda, devido as bodas de Dom Fernando

494 Abraçam-se a caminho de Burgos, falavam de feitos e se auxiliavam.

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neto de Jaume.

Em Burgos com o Rei de Castela, pede que seu neto Dom Sancho seja investido cavaleiro pelo rei e não pelo irmão Dom Fernando.

495 Dom Sancho aceitou e Jaume passa 15 dias no local.

Rei de Castela segue Jaume a caminho de Tarrazona, pois não queria se separar enquanto estivesse em suas terras.

497 Passaram o natal em Terrazona, e ofereceu a cada rico homem que acompanhava Afonso X, tudo o que precisava para o conforto.

Jaume e o rei de Castela passam 7 dias juntos.

498 Jaume da 7 conselhos ao rei de Castela.

Rei de Castela em Fitero manda uma carta para Jaume pedindo a sua presença, pois estava doente da perna.

499 Jaume permanece 3 dias com ele e depois parte para Calatayud.

Afonso X com Violante vão a Valência.

501 Jaume propicia jogos e tudo mais que pudesse para alegrá-los, foi a primeira vez que a filha de Jaume volta a Aragão desde o casamento.

Afonso X manda uma mensagem para Jaume, querendo tratar de grandes feitos.

505 Jaume mandou um escrivão, no entanto o rei de Castela pede a sua presença.

Jaume parte para Alicante ao encontro do rei de Castela.

506-07 Afonso X pede conselho a Jaume, não sabe o que fazer referente ao feito do rei de Granada e com os governantes sarracenos. Jaume o aconselha a seguir o rei de Granada que fez a primeira oferta.

Encontro com o infante de Valência que se levanta contra Jaume.

520 Perdoa.

Jaume é convidado por Gregório X em Alzira para aconselhar no feito Ultramar.

523 Jaume vai para o Concílio de Lyon, 1274.

Senta ao lado direito do Papa no concílio. Aconselha ao papa em relação a quantidade de homens que ele deve enviar a Terra Santa.

523-31 Jaume ajudaria com mil cavaleiros em troca o Papa deve ajudar com o dizimo do seu reino.

Encontra-se com o Papa para pedir que não prenda Don Henrique de Castela.

540 O Papa disse que rogaria a Carlos de Anjou, inimigo de Henrique.

Bispo de Barcelona e outros ricos-homens da Catalunha pediam mercê e Juízes para saberem se tinham errado com Jaume.

546 Jaume concede juízes, marcam de se encontrar no meio da quaresma em Lérida.

Afonso X pede conselho a Jaume, pois gostaria de falar com o Papa.

547 Afonso X, não escuta Jaume e parte mesmo assim.

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Corte para resolver os problemas das terras do Infante Dom Pedro.

549 Corte corrompida sem sucesso.

Alcaide as Al Bafuim levantou um castelo que Jaume destruiu, pediram três dias para devolverem o castelo.

555 Jaume não aceita.

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ANEXO - III

Gráfico referente aos mulçumanos: total 43. Batalhas: 11 Acordos: 15 Sem Acordo: 11 Rendição: 06

Gráfico referente aos cristãos: 30 Acordos: 24 Sem acordo: 5 Rendição: 0 Batalhas: 1

Gráfico referente à Castela: 22 Acordo: 18 Batalha: 01 Sem acordo: 03 Rendição:0

batalhas

acordo

sem acordo

rendição

batalhas

acordo

sem acordo

rendição

batalha

acordo

sem acordo

rendição