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Niterói 1/2017
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO
CAROLINE CONCEIÇÃO FARIA MARINA LOURENÇONE DA SILVA
“ESTUDO SOBRE AS PROPRIEDADES ANTI-CORROSIVAS DE LÍQUIDOS IÔNICOS UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE
BIOCOMBUSTÍVEIS”
Niterói 1/2017
CAROLINE CONCEIÇÃO FARIA MARINA LOURENÇONE DA SILVA
“ESTUDO SOBRE AS PROPRIEDADES ANTI-CORROSIVAS DE LÍQUIDOS IÔNICOS UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE
BIOCOMBUSTÍVEIS”
Projeto Final apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Química, oferecido pelo departamento de Engenharia Química e de Petróleo da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Engenharia Química.
ORIENTADORES
Profo. Dr. Eduardo Ariel Ponzio
Profo Dr. Luciano Tavares da Costa
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computação da UFF
F224 Faria, Caroline Conceição
Estudo sobre as propriedades anti-corrosivas de líquidos iônicos
utilizados na produção de biocombústíveis / Caroline Conceição
Faria, Marina Lourençone da Silva. – Niterói, RJ : [s.n.], 2017.
68 f.
Projeto Final (Bacharelado em Engenharia Química) –
Universidade Federal Fluminense, 2017.
Orientadores: Eduardo Ariel Ponzio, Luciano Tavares da Costa.
1. Biocombustível. 2. Líquido iônico. 3. Aço carbono. I. Silva,
Marina Lourençone da. II. Título.
CDD 662.88
Niterói
1/2017
CAROLINE CONCEIÇÃO FARIA
MARINA LOURENÇONE DA SILVA
“ESTUDO SOBRE AS PROPRIEDADES ANTI-CORROSIVAS DE
LÍQUIDOS IÔNICOS UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE
BIOCOMBUSTÍVEIS”
Projeto Final apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Química, oferecido pelo departamento de Engenharia Química e de Petróleo, da Escola de Engenharia, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Engenharia Química.
Aprovado em 07 de julho de 2017.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Profo Eduardo Ariel Ponzio, D.Sc. – IQ-UFF
Presidente da Banca - Orientador
____________________________________________________________ Profo Luciano Tavares da Costa, D.Sc. – IQ-UFF
Orientador
____________________________________________________________
Profo Fernando Benedicto Mainier, D.Sc. – TEQ-UFF
____________________________________________________________
Profo Juan Manuel Pardal, D.Sc. – TEM-UFF
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Universidade Federal Fluminense, corpo docente e administrativo, que
nos proporcionaram a oportunidade de adquirir os conhecimentos necessários à nossa formação
profissional e à elaboração deste trabalho.
Agradecemos aos orientadores, Luciano Costa e Eduardo Ariel Ponzio, pelo suporte e
disponibilidade para a realização deste trabalho ainda que com tempo reduzido.
Agradecemos à equipe do laboratório G2E e do laboratório de espectroscopia, pelo
auxílio na realização dos procedimentos experimentais e análises.
Agradecemos às nossas famílias, pelo apoio incondicional em todas as etapas de nossa
formação. Em especial, agradecemos aos nossos pais que nos proporcionaram a oportunidade de
ingressar nesta universidade e sempre nos incentivaram a crescer na vida acadêmica.
Agradeço aos meus colegas de curso Deborah Garrido Dias Max, Paulo Victor de Freitas
Lopes, Gabriela Carvalho Cardoso e Caroline Conceição Faria, por compartilhar as dificuldades e
vitórias ao longo de nossa formação, em especial agradeço à Deborah e Paulo pelo carinho e
companheirismo ao longo destes 6 anos.
Agradeço aos amigos de longa data e àqueles feitos ao longo do caminho. Seriam muitos
para enumerar e sinto que cometeria uma injustiça tremenda ao mencionar apenas alguns nomes
pois, acredito que cada encontro é um aprendizado e, certamente, cada um contribui da sua
forma, para minha jornada até aqui.
“I have not failed. I’ve just found 10,000 ways that won’t work.”
Thomas A. Edison
RESUMO
Neste estudo foram investigadas as propriedades anticorrosivas dos líquidos iônicos (LI)
Bis(trifluormetil-sulfonil)imida de 1-butil-3-metilimidazólio ([BMIM][NTf2]) e Cloreto de 1-
butil-3-metilimidazólio ([BMIM][Cl]), utilizados na produção de combustíveis renováveis. O LI
[BMIM][Cl] é utilizado na produção de etanol a partir de biomassa de segunda geração, enquanto
que o [BMIM][NTf2] é aplicado como solvente na produção de biodiesel, tanto por via
enzimática como na via catalítica. Desta forma, o estudo das propriedades anticorrosivas desses
LI é interessante para a indústria de biocombustíveis devido aos problemas associados à corrosão.
O efeito anticorrosivo dos LI no aço carbono (A36) em HCl 1M foi determinado por meio de
ensaio de perda de massa, a 25°C e pressão atmosférica. As concentrações de LI usados neste
estudo foram de 100ppm, 250ppm e 500ppm. Os resultados apontam uma diminuição na taxa de
corrosão com o aumento da concentração dos LI, apresentando uma eficiência máxima em torno
de 60% para ambos.
Palavras-chave: Líquidos Iônicos. Inibidor de Corrosão. Biocombustíveis. Perda de Massa. Aço
Carbono.
ABSTRACT
This study investigated the anti-corrosive properties of the ionic liquids (IL) 1-butyl-3-
methlimidazolium bis(trifluormethyl-sulfonyl) imide([BMIM][NTf2]) and 1-butyl-3-
methlimidazoliumchloride ([BMIM][Cl]), both applied on biofuels production. The IL
[BMIM][Cl] is used for ethanol production from second generation biomass, while the
[BMIM][NTf2] is used as solvent on biodiesel production either through the enzymatic or the
catalytic route. Therefore, the study of anti-corrosive properties of these IL are of high interest for
the biofuels industry, due to the associated corrosive problems. The anti-corrosive effect of IL on
the mild steel (A36) in 1M HCl were determined using mass loss technique, at 25°C and
atmospheric pressure. The IL concentrations used for this study were 100ppm, 250ppm and
500ppm. The results indicated a decrease in the corrosive rate of mild steel, with the increase in
the IL concentrations, showing a maximum efficiency around 60% for both IL.
Key-words: Ionic Liquids. Corrosion Inhibitor. Biofuels. Mass Loss. Mild Steel.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1–Diferentes aplicações dos LI. ......................................................................................... 16
Figura 2 - Evolução do número de patentes relacionadas à LI. ..................................................... 18
Figura 3 – Tipos de cátions e ânions e influência dos ânions na reatividade ao ar e água. ........... 21
Figura 4 - Diagrama resumo das gerações de LI. .......................................................................... 23
Figura 5 – Algumas famílias de cátions, incluindo as mais comuns em LI, imidazólio e amônio
derivados. ....................................................................................................................................... 24
Figura 6- Produção de Biocombustíveis por País. ......................................................................... 27
Figura 7- Produção de Etanol no Brasil......................................................................................... 28
Figura 8- Produção de Biodiesel no Brasil. ................................................................................... 29
Figura 9 - Posicionamento dos corpos de prova A e B (testes em duplicata). .............................. 45
Figura 10–Tubo para amostra com suporte metálico e orifício que permite a incidência do
laser sobre a amostra...................................................................................................................... 50
Figura 11 - Arranjo para espectroscopia Raman. .......................................................................... 50
Figura 12 - Eficiência do LI BMIM Cl como inibidor de corrosão em A36 a 100ppm, 250ppm
e 500ppm e linha de tendência. ..................................................................................................... 52
Figura 13 - Eficiência do LI BMIM NTF2 como inibidor de corrosão em A36 a 100ppm,
250ppm e 500ppm e linha de tendência. ....................................................................................... 53
Figura 14 - Comparação entre os espectros Raman do [BMIM][NTf2] puro com as soluções de
HCl 1 M pura e contendo 3000 e 10000 ppm................................................................................ 56
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Propriedades físico-químicas dos LI estudados: viscosidade, densidade,
condutividade, condutividade molar, peso molecular, ponto de fusão e temperatura de
decomposição térmica. .................................................................................................................. 37
Tabela 2 -Artigos sobre eficiência de LI como inibidores de corrosão. ¹Resultados de
eficiência para a maior concentração............................................................................................. 38
Tabela 3- Especificações Técnicas do Espectrômetro Raman. ..................................................... 49
Tabela 4 - Resultados do teste de perda de massa. Solução HCl 1M, T=25°C, por 5h. ............... 51
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
[BMIM][Br] Brometo de 1-n-butil-3-metilimidazólio
[BMIM][Cl] Cloreto de 1-n-butil-3-metilimidazólio
[BMIM][HSO4] Bissulfato de 1-n-butil-3-metilimidazólio
[BMIM][NTf2] Bis(triflúormetilssulfonil)imida de 1-n-butil-3-metilimidazólio
[C2MIM]+ Cátion 1-etil-1-metilimidazólio
[C3MPyr]+ Cátion 1-propil-1-metilpirrolidínio
[C4MPyr]+ Cátion 1-butil-1-metilpirrolidínio
[Ch][AA] Amino ácidos colínicos (nome genérico)
[Ch][Cl] Cloreto colínico
[Ch][Lys] Lisinato colínico
[EtNH3][NO3] Nitrato de etilamônia
[HMIM][BF4] Tetraflúorborato de 1-hexil-3-metilimidazólio
[HMIM][NTf2] Bis(triflúormetilssulfonil)imida de 1-hexil-3-metilimidazólio
[NTf2] Ânion Bis(triflúormetilssulfonil)imida
[P66614]+ Cátion tri(hexil)tetradecilfosfônio
[PDMIM][NTf2] Bis(triflúormetilssulfonil)imida de 1-propil-2,3-dimetilimidazólio
[PMIM][NTf2] Bis(triflúormetilssulfonil)imida de 1-propil-3-metilimidazólio
∆G0ads Energia livre de Gibbs de absorção nas condições padrão
AISI American Iron and Steel Institute
ANP Agência Nacional de Petróleo
DDI Iodeto de 1,2-dimetil-3-decilimidazólio
DES Deep Eutetic Solvents
DOI Digital Object Identifier
IEA International Energy Agency
LI Líquidos Iônicos ou Liquido Iônico
LIA Líquidos Iônicos Apróticos
LIP Líquidos Iônicos Próticos
MME Ministério de Minas e Energia
MOOB Brometo de 1,3-bis[2-(4-metóxifenil)-2-oxoetil-1H-3-benzimidazólio
PA Padrão Analítico
TMA Acetato de N-trietil metilamônio
TML Laureato de N-trietil metilamônio
ΔG Energia livre de Gibbs
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
2. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 14
3. CONCEITOS GERAIS SOBRE LÍQUIDOS IÔNICOS ...................................................... 14
4. CARACTERIZAÇÃO DOS LI ............................................................................................. 17
4.1. CLASSIFICAÇÕES POSSÍVEIS ................................................................................... 19
4.1.1. Amônio derivados ................................................................................................... 24
4.1.2. Imidazólio derivados ............................................................................................... 25
5. LÍQUIDOS IÔNICOS NA PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS ................................. 26
5.1. BIOCOMBUSTÍVEIS NO CENÁRIO MUNDIAL E NO BRASIL ............................. 26
5.2. PROCESSOS INDUSTRIAIS DE PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS NO
BRASIL ..................................................................................................................................... 29
5.3. LÍQUIDOS IÔNICOS NA PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS ........................... 32
6. CORROSÃO ......................................................................................................................... 34
6.1. CORROSIVIDADE DOS LI E A INDÚSTRIA DE BIOCOMBUSTÍVEIS ................ 34
6.2. PROPRIEDADES DOS LI ESCOLHIDOS ................................................................... 36
6.3. ESTUDOS SOBRE CORROSIVIDADE DOS LI ESCOLHIDOS ............................... 37
7. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................. 41
7.1. PREPARO DAS SOLUÇÕES ........................................................................................ 41
7.1.1. Soluções de [BMIM][NTf2] .................................................................................... 42
7.1.2. Soluções de [BMIM][Cl] ......................................................................................... 43
7.2. ENSAIOS DE PERDA DE MASSA .............................................................................. 44
7.3. ESPECTROSCOPIA RAMAN ...................................................................................... 46
8. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................... 50
9. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 60
APÊNDICE A – Cálculos para preparo das soluções ................................................................... 66
13
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos dezessete anos a comunidade científica observou um crescimento
exponencial no número de artigos e patentes relacionadas aos líquidos iônicos (LI). Esta “nova
classe de líquidos”, frequentemente referidos como designer solvents devido à possibilidade de se
controlar suas propriedades de acordo com a combinação de cátion e ânion, oferece ainda uma
alternativa mais sustentável à indústria química (PLECHKOVA; SEDDON, 2008).
Características estas, que os fizeram especialmente interessantes na área de biocombustíveis.
A escassez iminente de combustíveis fósseis, aliada à crescente conscientização a respeito
da necessidade de diminuir a emissão de gases de efeito estufa e outros poluentes, abriu caminho
para a utilização de combustíveis alternativos. Entretanto, apesar de bem desenvolvida em alguns
países como o Brasil (7,09 milhões de galões)1, e EUA (14,81 milhões de galões), atualmente, a
produção de biocombustíveis é ainda baseada na utilização de solventes orgânicos que são
conhecidos por sua toxicidade, alta volatilidade e flamabilidade. Além disso, o processo utiliza
matérias primas oriundas de cultivos majoritariamente, alimentícios. O que, segundo alguns
autores, geraria uma diminuição na oferta de alimentos, podendo levar à uma situação de
insegurança alimentar (KOH; GHAZOUL, 2008). É neste cenário que se insere a utilização de LI
como solventes ou auxiliares na indústria de biocombustíveis.
Diversos autores propõem a utilização de LI para dissolução de biomassa lignocelulósica
para produção de etanol assim como para produção de biodiesel (SHELDON, 2016a). No
primeiro caso o uso de LI e enzimas termo tolerantes possibilita ainda a realização do processo
em uma etapa (one pot), o que simplificaria a produção e reduziria o consumo de água em até 15
vezes comparado aos métodos tradicionais (SHI et al., 2013). Na produção de biodiesel encontra-
se, por exemplo, o uso do LI como suporte para o catalisador obtendo-se alta pureza e rendimento
(LAPIS et al., 2008).
Além de ser uma alternativa mais sustentável, especialmente no caso dos LI de terceira
geração, adicionalmente, alguns LI apresentaram atividade como anticorrosivos, seja atuando
como inibidores de corrosão diretamente, ou como eletrólitos na deposição eletroquímica de
1 Produção de etanol em 2015 (AFDC, 2016).
14
metais para formação da camada de passivação (ARIAS-PARDILLA; ESPINOSA;
BERMÚDEZ, 2015). Tal propriedade anticorrosiva, diminuiria o custo com equipamentos e
operação, além de tornar o processo mais seguro. Sendo, portanto, uma grande vantagem
adicional o uso de um líquido iônico com potencial inibidor de corrosão na indústria de
biocombustíveis. Neste contexto, optou-se por estudar a corrosividade dos LI
Bis(triflúormetilssulfonil)imida de 1-n-butil-3-metilimidazólio, ou [BMIM][NTf2], e Cloreto de
1-n-butil-3-metilimidazólio, ou [BMIM][Cl], que são investigados na produção de biodiesel e
etanol, respectivamente (MEDEIROS et al., 2013; SWATLOSKI et al., 2002).
2. OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo estudar as propriedades anticorrosivas dos LI
[BMIM][NTf2] e [BMIM][Cl] em aço carbono A36.
Objetivos específicos:
● Avaliar o efeito anticorrosivo dos LI selecionados no aço A36 pelo método de perda de
massa;
3. CONCEITOS GERAIS SOBRE LÍQUIDOS IÔNICOS
“Ionic liquids are pretty self-explanatory; they are ionic materials in a liquid state.” Matthew Cude (2012).
Líquidos iônicos é o nome atribuído a uma classe de compostos bastante ampla e, por
isso, bastante difícil de se definir a partir de características comuns. Devido a isso, uma definição
arbitrária, mas, usualmente empregada, é a de que LI são substâncias com ponto de fusão menor
ou igual a 100°C, compostos apenas por íons. Tal temperatura, a princípio, sem nenhum
15
significado físico, tem se justificado devido às diversas aplicações dos LI em faixas próximas a
esse valor (TORRIERO, 2015).
Segundo Seddon (1997), a princípio, qualquer líquido composto apenas de íons poderia
ser denominado de líquido iônico. O que englobaria toda a classe de sais, já a muito tempo objeto
de estudos em eletroquímica, para citar apenas um campo. De fato, no trabalho mais antigo
disponível online, onde o termo ionic liquids é encontrado2, o autor propõe uma classificação de
líquidos a serem estudados a respeito de viscosidade, apenas mencionando o termo como
sinônimo de molten salts (Ewell, 1938). Entretanto, com o tempo, ambas definições foram se
distanciando, pois os sais classicamente utilizados até então, como por exemplo, KCl e NaCl,
possuem alto ponto de fusão e alta corrosividade (SEDDON, 1997; TORRIERO, 2015). Assim,
para se diferenciar entre este tipo de sais e àqueles que apresentam ponto de fusão baixos, passou-
se a empregar a definição apresentada acima.
Adicionalmente, alguns autores chamam a atenção para o fato de que os materiais
atualmente denominados líquidos iônicos, apresentam, como distinção dos sais tradicionais, a
presença de cátions orgânicos (SWATLOSKI et al., 2002) em geral.
Apesar de não haver consenso sobre quem teria sido o pioneiro no estudo dos LI, atribui-
se o feito a Paul Walden que, em 1914, estudou as propriedades físicas do nitrato de etilamônia
([EtNH3][NO3]) (PLECHKOVA; SEDDON, 2008). É possível encontrar, porém, autores que
mencionam o trabalho de Gabriel e Weiner, de 1888, sobre nitrato de etanolamônio, como sendo
o primeiro artigo sobre a síntese de um LI (GHANDI, 2014).
Contudo, é compreensível a menção de Paul Walden devido à significância de seu
trabalho. Dentre outras importantes contribuições Walden determinou a relação entre
condutividade molar (Λ𝑚0 ) e viscosidade (𝜂𝛼) de compostos iônicos (Equação 2), segundo a qual
é possível determinar a ionicidade dos mesmos com relação à uma solução de referência (KCl
0.01M), dando origem ao gráfico que leva seu nome e amplamente utilizado no estudo de LI
(SCHREINER et al., 2010).
Equação 1
Λ𝑚0 𝜂𝛼 = 𝐶, 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒
Equação 2
𝑙𝑜𝑔(Λ𝑚0 ) = log(𝐶) + 𝛼log(𝜂)
2 Resultado de uma busca, feita em janeiro/2017, pelos termos exatos “ionic liquid” ou “ionic liquids” nas bases de
dados Periódicos Capes, World Catalog e Google Academics, organizando os resultados em ordem crescente de data.
16
Seja qual for a origem, o fato é que os LI tem sido uma revolução na química orgânica por
oferecerem a possibilidade de se realizar reações em meio não aquoso a baixas temperaturas e em
condições antes impossíveis com os solventes tradicionais (SEDDON, 1997; TORRIERO, 2015).
Desde a publicação da primeira patente de um LI nos EUA, em 1934, concedida para “sais
liquefeitos de amônio quaternário” e sua utilização na dissolução de celulose, a aplicação
industrial de LI cresceu exponencialmente e, atualmente, pode-se encontrar estudos sobre a
aplicação dos mesmos em campos bastante variados, como podemos verificar na Figura 1, que
sumariza as diferentes aplicações dos LI (PLECHKOVA; SEDDON, 2008).
Fonte: Adaptado de Plechkova e Seddon (2008).
Figura 1–Diferentes aplicações dos LI.
17
O uso de LI como substitutos aos solventes é o campo mais explorado até então. Porém,
aplicações mais recentes, que envolvem o seu uso em misturas, ou como aditivos utilizados com
o intuito de alterar as propriedades físicas de solventes, atuando como catalisadores ou auxiliares,
são relatadas como os principais focos atualmente (KUCHENBUCH; GIERNOTH, 2015).
Revisões a respeito de plantas piloto e processos industriais que fazem uso de LI podem ser
encontradas na literatura com considerações a respeito das vantagens e barreiras ainda
encontradas como, por exemplo, estabilidade e capacidade de reciclagem do LI e custo do
processo (PLECHKOVA; SEDDON, 2008; TORRIERO, 2015).
4. CARACTERIZAÇÃO DOS LI
A popularidade crescente dos LI pode ser atribuída a três características principais: a
versatilidade, ou possibilidade de criação de um LI com características específicas para cada
aplicação; a sustentabilidade dos LI frente à outras substâncias usuais (em alguns casos,
conforme abordaremos adiante); e às propriedades físico-químicas dessas substâncias.
Os LI são frequentemente referidos como designer solvents por ser possível combinar, a
princípio, um cátion e ânion quaisquer a fim de se obter as características desejadas, o que
implicaria, em uma possibilidade praticamente infinita de combinações. É possível, por exemplo,
desenvolver um LI que possa dissolver compostos polares e apolares ao mesmo tempo, visto que
eles podem ser elaborados de forma a se obter diferentes regimes de polaridade em uma fase
homogênea, o que teria, inclusive, levado a um novo debate sobre o conceito de polaridade
(KUCHENBUCH; GIERNOTH, 2015).
Entretanto, a expressão mencionada apesar de bastante pertinente, ainda é limitada pois,
como já mencionado e sumarizado pela Figura 1, os LI possuem aplicações muito além de
solventes (KUCHENBUCH; GIERNOTH, 2015). Não obstante, os LI podem também ser
englobados na categoria de neoteric solvents (solventes neotéricos3), juntamente com os fluidos
supercríticos (PLECHKOVA; SEDDON, 2008). E devemos destacar ainda que, sua maior
3 Neotérico: que, ou o que introduz doutrinas novas. Próprio da mocidade. Moderno.(NEOTÉRICO, 2017)
18
capacidade de solubilizar compostos implica em um ganho operacional com relação aos solventes
comuns, visto que uma melhor solubilidade implica em menores reatores (SEDDON, 1997).
Essa versatilidade dos LI por si só, já poderia explicar a existência de aplicações tão
variadas e o grande número de patentes relacionadas à essa classe de substâncias, como pode ser
visto na Figura 2.
Fonte:(WIPO, 2017).
Figura 2 - Evolução do número de patentes relacionadas à LI.
Porém, como Wilkes (2002) menciona, nenhum solvente molecular supera a faixa na qual
os LI são líquidos, talvez apenas alguns polímeros. Com a combinação apropriada de íons há um
impedimento espacial ao arranjo cristalino, fazendo com que a substância permaneça líquida em
uma faixa considerável de temperaturas (DOS SANTOS, 2014). Essa propriedade, juntamente
com a capacidade de determinar o tamanho, formato e características do LI, é fundamental para
se obter melhor controle sobre as reações.
Adicionalmente, diferente dos solventes moleculares, a maioria dos LI têm o limite
superior dessa faixa de temperaturas limitado pela decomposição térmica, ao invés da
19
vaporização, o que significa que os LI (que apresentam essa característica) não são voláteis. E no
limite inferior, i.e. cerca de -70°C a -90°C para cátions 1-alquil-3-metilimidazólio, formam-se
fases cristalinas polimórficas ou, mais frequentemente, a formação de fases cristalinas plásticas
(com fracas interações) (ANTHONY et al., 2002). Contudo, devido à diversidade de LI possíveis,
faz mais sentido falar das propriedades desses compostos agrupando-os por classes, como
verificaremos a seguir.
4.1. CLASSIFICAÇÕES POSSÍVEIS
Como o estudo sobre LI ainda se encontra em desenvolvimento, diferentes autores optam
por diferentes classificações, não necessariamente excludentes. Uma classificação mais
abrangente e intuitiva, é aquela que separa LI em Próticos e Apróticos. Mas Angell (2012)
também sugere adicionar à essas categorias, as classificações como Inorgânicos e Quelatos. Outra
classificação possível, mais específica, e comumente empregada por fabricantes de LI, é aquela
baseada na família de cátions utilizados. Os mais comuns, sendo os LI Amônio e Imidazólio
derivados4 (GHANDI, 2014; IOLITEC, [s.d.]; SIGMA-ALDRICH, 2017). Entretanto, uma
terceira classificação ainda é possível e bastante comum em publicações que tratam da
sustentabilidade dos LI ou química verde. Nesta classificação os LI são separados em LI de
Primeira, Segunda ou Terceira Geração (FREEMANTLE, 2009).
LI Próticos (LIP): os LIP são aqueles formados pela transferência de prótons de um
ácido de Bronsted (HA) para uma base de Bronsted (B). A reversibilidade e natureza dessa
reação estabelece uma versatilidade especial a esse grupo de LI. Ainda, a propriedade de se
refinar a energia de transferência de próton, fez com que fosse possível obter alguns dos LI com
maior condutividade já registrados (AUSTEN ANGELL; ANSARI; ZHAO, 2012).
Com a presença de ânion fortemente básico e pelo menos um próton disponível, alguns
LIP tem sido estudados como alternativa à NaOH na absorção de gases como CO2 e H2S (DOS
4 A nomenclatura proposta por Ghandi (2014) foi (A) Alquilamônio, (B) Dialquil-imidazólio, (C) Fosfônio e (D) N-
alquil-piridínio. Mas, foram feitas adaptações para englobar aquela mais comumente encontrada em sites dos
fabricantes (Iolitec e Sigma Aldrich, i.e.).
20
SANTOS, 2014). São exemplos de LIP o [C2H5NH3][NO3] e o [HMIM][BF4] (FREEMANTLE,
2009).
LI Apróticos (LIA): os LIA, como por exemplo alquil-piridínio e dialquil-imidazólio
derivados (cátions), agrupam um grande número de LI que, em geral, são encontrados com os
ânions BF4-, PF6
-, NTf2- e CF3SO3
-. Nota-se que o ânion fluoreto possui um papel de destaque, o
que se justifica pela menor viscosidade dos LI com esses ânions, devido à diminuição nas
interações de van der Walls, decorrente do caráter não polarizável do flúor (AUSTEN ANGELL;
ANSARI; ZHAO, 2012).
LI Inorgânicos: são menos comuns e também podem ser englobados nas categorias de
LIP ou LIA. Como exemplo de LIA, é mencionado o cloreto de lítio e sua mistura eutética com
perclorato de lítio. Enquanto que, como exemplo de LIP, menciona-se o nitrato de hidrazina e,
ainda, as misturas de sais de amônio que apresentam baixa temperatura de fusão, assim como LI
formados por cátions inorgânicos como, por exemplo, o PBr3Cl+ (AUSTEN ANGELL; ANSARI;
ZHAO, 2012).
Quelatos: o próprio Angel (2012)admite, não costuma ser referido como uma classe de
LI. No entanto, ele destaca a importância da síntese feita por Tamura et al. (apud AUSTEN
ANGELL; ANSARI; ZHAO, 2012) utilizando quatro grupos alcóxi iguais (por exemplo,
tetraglime5 solvatando o Li+), e um ânion do tipo imida, para obter uma mistura iônica líquida a
temperatura ambiente. Publicações posteriores, no entanto, já mencionam os quelatos como uma
classe de LI, e relatam a importância destes como eletrólitos em baterias de Li-S (SAITO et al.,
2016) ou células de Li–LiCoO2, tendo sido relatada eficiência em Coulombs maior que 99% com
o uso do LI [Li(G3)1][TFSA], mesmo após 100 ciclos (ZHANG et al., 2014).
Ao abordar a próxima classificação dada aos LI, inevitavelmente, abordaremos o segundo
motivo pelo qual eles têm sido tão estudados: sua fama como substitutos mais sustentáveis. As
pesquisas iniciais com LI apontavam estas substâncias como sendo não voláteis, não inflamáveis,
com alta estabilidade térmica e eletroquímica e baixa toxicidade. Entretanto, com o
amadurecimento dessa área de estudo, algumas vantagens se confirmaram enquanto outras
passaram a ser questionadas (TORRIERO, 2015). Neste contexto, alguns autores passaram a
diferenciar os LI como sendo de Primeira, Segunda ou Terceira Gerações.
5 Tetraetilenoglicol tetraetil-éter.
21
Uma característica que merece destaque é a “não volatilidade” dos LI, motivo pelo qual
eles foram inicialmente considerados “solventes verdes”. Ao contrário do que se acreditava até
2005, alguns LI podem sim ser destilados sem sofrer degradação (EARLE et al., 2006).
Entretanto, como bem pontuado por Plechkova e Seddon (2008), a volatilidade não é o único
critério a se considerar para dizer se um LI é sustentável ou não. Temos que levar em conta
fatores como biodegrabilidade, toxicidade, matérias primas usadas, enfim, todo o ciclo de vida do
produto. O que impossibilita a afirmação generalizada a respeito da sustentabilidade ou não dessa
classe de substâncias. E, como indicam alguns estudos sobre a toxicidade de LI, alguns deles
podem ser bastante tóxicos, como é o caso daqueles contendo os cátions imidazólio e piridínio
(aromáticos) (PETKOVIC et al. apud HOU et al., 2013) e ânions como tetraflúorborato e o
trifluormetanosulfonato (LATAŁA; NĘDZI; STEPNOWSKI, 2009).
LI de Primeira Geração: os LI de Primeira Geração foram os primeiros LI estudados.
No contexto da biocatálise, eles são compostos basicamente por cátions de dialquil-imidazólio
com os ânions BF4- e PF6
-. (SHELDON, 2016a). Além de um processo de obtenção pouco
eficiente (E-factor alto, isto é, alta produção de resíduos com relação à quantidade de produto
obtido) (SHELDON, 2016b), esta geração de LI é caracterizada pela baixa biodegrabilidade
(COLEEMAN, GATERHOOD apud SHELDON, 2016b) e alta ecotoxicidade para organismos
aquáticos (STOLTE et al., 2007; FRADE; AFONSO, 2010; BRUZZONE et al., 2011; THUY
PHAM; CHO; CHUM, 2010 apud SHELDON, 2016b).
Fonte: Adaptado de Anthony et al. (2002).
Figura 3 – Tipos de cátions e ânions e influência dos ânions na reatividade ao ar e água.
Reativos à água
Estáveis ao ar e à água
Habilidade coordenante
decrescente
Hidrofobicidade
crescente
Ânions Cátions
Tetra-alquil
amônio Tetra-alquil
fosfônio
22
Outros autores classificam como LI de Primeira Geração, os haloaluminatos e outros LI
instáveis ao ar e à água e que, portanto, foram logo dando lugar aos LI da próxima geração
(FREEMANTLE, 2009; P.M.; RODRIGUEZ; A., 2013). Apesar das limitações, estes LI foram
extensivamente estudados, inclusive como catalisadores para reação de Friedel-Crafts
(FREEMANTLE, 2009). Nessa abordagem, os LI citados acima (dialquil-imidazólio com os
ânions não coordenantes BF4- e PF6
-) seriam já de segunda geração, pois apresentam estabilidade
ao ar e a água como podemos verificar na Figura 3 (p.21).
LI de Segunda Geração: a busca por LI com melhor biocompatibilidade (SHELDON,
2016a) e estabilidade ao ar e a água (FREEMANTLE, 2009), levou aos LI de Segunda Geração.
Estes LI, apresentam melhor biodegradabilidade, são menos tóxicos que os primeiros e, em geral,
provenientes de matérias-primas naturais e renováveis, como carboidratos. São exemplo de LI de
segunda geração, aqueles derivados do cátion colínico, como [Ch][Cl] ou [Ch][Lys] (SHELDON,
2016a). Em estudo sobre a toxicidade e biodegradabilidade de LI derivados do cátion colínico e
ânions de amino ácidos, ou [Ch][AA], constatou-se que eles são “prontamente biodegradáveis” e
apresentam baixa toxicidade, pois a presença de um grupo carboxil e um grupo amida, favorecem
a atuação de micro-organismos em sua decomposição (HOU et al., 2013).
LI de Terceira Geração: os LI de Terceira Geração apresentam cátions e ânions
compatíveis com atividade biológica (BANIĆ et al., 2016) em adição às características já
apresentadas aos LI de Segunda Geração (biodegradabilidade, baixa toxicidade). Também
chamados de LI Avançados (Vide Figura 4, p.23) eles apresentam ainda, maior hidrofilicidade
que os LI da geração anterior. Os Solventes Eutéticos Profundos (Deep Eutetic Solvents - DES)
são, às vezes, incluídos nesta categoria (GORKE; SRIENC; KAZLAUSKAS, 2010).
Solventes Eutéticos Profundos, ou Misturas de Baixa Temperatura de Transição, é o nome
atribuído à mistura de LI com doadores de hidrogênio, como glicerol, ácidos carboxílicos e
amino ácidos (SHELDON, 2016a) ou com sais metálicos, como cloreto de zinco. Essa mistura
tem como característica, a diminuição, ás vezes drástica, do ponto de fusão com relação ao ponto
de fusão do LI e do sal ou ácido puros (FREEMANTLE, 2009). Por exemplo, a mistura 1:2 de
cloreto colínico (ponto de fusão 302°C) com ureia (ponto de fusão 132°C), resulta em um DES
com ponto de fusão 12°C (SHELDON, 2016a).
23
Fonte: Adaptado de GORKE; SRIENC; KAZLAUSKAS(2010).
Figura 4 - Diagrama resumo das gerações de LI.
Finalmente, uma classificação mais interessante para abordarmos as propriedades físico-
química dos LI é aquela baseada nas famílias de cátions (vide Figura 5, p.24). A natureza do
cátion é um fator importante na definição de características como ponto de fusão (SEDDON,
1997), viscosidade, miscibilidade com outros solventes (SIRIWARDANA, 2015) e volatilidade
(EARLE et al., 2006).
24
Como regra geral, cátions grandes e com baixa simetria, dificultam o empacotamento e,
consequentemente, a cristalização, dando origem à LI com menor ponto de fusão. Por exemplo, o
1,3-dimetilimidazólio dá origem à LI com pontos de fusão maiores que o 1-etil-3-metilimidazólio
(PLECHKOVA; SEDDON, 2008). Adicionalmente, verificou-se que LI capazes de formar
ligações de hidrogênio do tipo “CH---X-” (onde X é um haleto), possuem maior ponto de fusão
do que seus similares que não o fazem, como os que contém ânions BF4- ou PF4
- (PLECHKOVA;
SEDDON, 2008) e, embora essa correlação não seja direta, pois existem LI com ânions que,
apesar do caráter recebedor de H ainda tem ponto de ebulição próximos de outros que não tem,
ela é um indicativo importante (ANTHONY et al., 2002). Informações mais detalhadas sobre
estudos que verificam a influência do cátion e do ânion nas propriedades físico-químicas dos LI
podem ser encontradas em Anthony et al.(2002).
4.1.1. Amônio derivados
Os LI amônio derivados são aqueles onde temos o íon amônio (H4N+), comumente, todo
substituído (sais de tetraalquilamônio). Esta família de LI é bastante estudada e verificou-se que
são necessárias pelo menos dois ou três grupos alquil diferentes para dificultar o empacotamento
cristalino, e de fato, obter LI com ponto de fusão próximo à temperatura ambiente
(SIRIWARDANA, 2015).
Os LI derivados do íon fosfônio tem estrutura similar aos anteriores, porém sabe-se que
possuem maior viscosidade que os amônio derivados (embora ela diminua acentuadamente com a
temperatura) e, ainda, possuem maior estabilidade térmica (BRADARIC et al. apud
SIRIWARDANA, 2015). LI desta família são geralmente obtidos da fosfina relacionada, porém a
Da esquerda para direita: Imidazólio (1-alquil-3-metilimidazólio), Piridínio (N-alquilpiridínio),
Amônio (tetraalquilamônio) e Fosfônio (tetraalquilfosfônio). Desenhados com
ACD/ChemSketch (Freware Academic License).
Figura 5 – Algumas famílias de cátions, incluindo as mais comuns em LI, imidazólio e amônio
derivados.
25
natureza pirofórica das alquil fosfinas mais leves torna o estudo destes compostos mais difícil
(SIRIWARDANA, 2015).
Quanto à viscosidade dos amônio derivados, são encontrados valores de 50 cP (25°C) a
574 cP (25°C), para o [(CH3)3(CH3OCH2)N][NTf2] e [(n-C8H17)(C4H9)3N][NTf2],
respectivamente (ANTHONY et al., 2002, Tabela 3.2-3, p.63.). Compilações de dados sobre
densidade, condutividade molar, solubilidade e solvatação, também podem ser encontrados na
literatura (ANTHONY et al., 2002; TORRIERO, 2015).
4.1.2. Imidazólio derivados
Sem dúvidas, a família de cátions mais estudada até então (somente a Sigma-Aldrich
possui mais de 133 produtos diferentes nesta família de cátions (SIGMA-ALDRICH, 2017)6). O
1,3-dialquilimidazólio é o tipo de cátion mais pesquisado e Dupont (2004) os descreve como
estruturas poliméricas supramoleculares constituídas por ligações de hidrogênio.
Como esperado, o ponto de fusão desse grupo de compostos é influenciado pela natureza
do cátion. Os haletos de triazólio apresentam-se, pois, no estado sólido à temperatura ambiente.
No entanto, sua metátese com sais assimétricos como BF4-, reduzem o ponto de fusão tornando-o
líquido à temperatura ambiente (SIRIWARDANA, 2015).
Quanto à viscosidade, temos que em geral, os imidazólio derivados são bastante viscosos,
sendo encontrado valores na literatura de 31 cP (25°C) a 373 cP (20°C) (ANTHONY et al., 2002,
Tabela 3.2-1, p.60)
No conhecido estudo feito por EARLE et al.(2006) e que pôs fim de vez ao mito de que
os LI não são voláteis, foi verificado que a maioria dos sais de 1-alquil-3-metilimidazólio podem
ser destilados sem sofrer decomposição. De fato, os autores relataram a destilação do
[BMIM][NTf2] a 300°C utilizando o aparato de Kugelrohr, por 8 horas a 6 mbar obtendo uma
fração de destilado decomposto de apenas 2% e de resíduo de 2%. Os autores ressaltam que
alguns LI sofrem decomposição, porém o uso de vácuo, que possibilita a utilização de baixas
6 Consultado em 21/04/2017. Considerando também a linha Basionics®, composta por imidazólio derivados.
26
temperaturas, permite a destilação de LI que, até então não se considerava possível, abrindo
assim, novas possibilidades para separação e purificação dos LI.
5. LÍQUIDOS IÔNICOS NA PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS
5.1. BIOCOMBUSTÍVEIS NO CENÁRIO MUNDIAL E NO BRASIL
O estudo de fontes de energia sustentáveis tornou-se alvo de interesse da comunidade
científica à medida que as reservas fósseis se revelaram escassas e, os combustíveis derivados
dessa matéria prima mostraram-se prejudiciais ao meio ambiente. A queima de combustíveis
fósseis é a principal causa do aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.
Em consequência, um aumento acelerado na temperatura global é observado e vem causando
danos substanciais ao meio ambiente (ONU, 2016). Neste cenário, as tecnologias baseadas no uso
de biomassa como matéria prima para produção de combustíveis alternativos, que minimizam a
emissão de gás carbônico, mostraram avanços significativos.
O pico de estudos nesta área ocorreu devido à crise mundial do petróleo na década de 70,
quando vários países buscaram novas opções para diminuir a dependência de suas matrizes
energéticas em derivados fósseis (MATTEI, 2010). Atualmente, a produção de biocombustíveis é
uma realidade consolidada em diversos países, como pode ser visto na Figura 6, e em 2015,
segundo a International Energy Agency (2016), estes representaram 4% dos combustíveis
utilizados para transporte rodoviário no mundo. Dentre os países que se destacam, os Estados
Unidos é o maior produtor mundial de etanol (produzido a partir do milho) e de biodiesel,
seguido do Brasil, cujo etanol é produzido a partir da cana-de-açúcar, e da Alemanha (Ministério
de Minas e Energia - MME, 2016). Entretanto, o Brasil é o pioneiro no desenvolvimento deste
tipo de combustível na América Latina, sendo atualmente um dos maiores consumidores (ANP,
2016).
27
Fonte:(MME, 2016)
O governo brasileiro, motivado pelo aumento repentino de preço do petróleo, criou, em
1975, o Programa Nacional do Álcool (PROÁCOOL) que visava diminuir a dependência dos
combustíveis fósseis através da produção de etanol obtido da fermentação da cana-de-açúcar e
serviu para impulsionar a produção de etanol como pode ser visto na Figura 7 (p.28). Ao longos
dos anos, este combustível se tornou menos atrativo devido ao corte de crédito as usinas em 1985
e a queda no preço do petróleo (ANTONIOSI; MAINTINGUER, 2016). Portanto, figurando uma
tentativa de estimular seu consumo, toda gasolina comercializada no país passou a conter
obrigatoriamente um certo teor de etanol anidro. Desde 2015 este teor é de 27% (em volume)
para gasolina comum e de 25% (em volume) para gasolina de alta octanagem (PORTAL
BRASIL, 2015).
Figura 6- Produção de Biocombustíveis por País.
28
Fonte: (ANP, 2017a)
Figura 7- Produção de Etanol no Brasil.
Seguindo a mesma tendência, em 1983 o Programa de Óleos Vegetais para fins
Carburantes foi lançado no país visando testar diferentes misturas de biodiesel e diesel mineral.
Porém, em 1986 esta iniciativa foi abandonada também devido à queda do preço do petróleo.
Contudo, pesquisas continuaram a ser desenvolvidas na área e em 2002 foi lançado o
PROBIODIESEL, que tinha como objetivo substituir a longo prazo todo o diesel de petróleo por
biodiesel. Novamente, a produção de biodiesel ficou em segundo plano e o PROBIODIESEL foi
descontinuado pois não priorizava a agricultura familiar. Entretanto, em 2004, foi implementado
o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) que foi baseado em estudos sobre
a viabilidade do biodiesel como combustível automotivo. Como desdobramento deste programa,
a partir de 2008, segundo a lei 11.097/2005, o teor de 2% (em volume) de biodiesel passou a ser
obrigatório em todo diesel fóssil e, atualmente, após aumentos consecutivos, este teor exigido é
de 8%, com previsão de aumento para 10% até 2019 (MME, 2016; RAMOS et al., 2011).
29
Fonte: (ANP, 2017b)
Figura 8- Produção de Biodiesel no Brasil.
Em 2016 a produção de etanol no Brasil atingiu 28,7 milhões m3 e a de biodiesel 3,4
milhões de m3, como pode ser visto na Figura 8. Porém, esta produção ainda está abaixo da atual
capacidade nominal instalada de 121,8 milhões para etanol e de 7,6 milhões para biodiesel (ANP,
2017a, 2017b). Este fato pode ser atribuído aos processos industriais atualmente aplicados na
produção de biocombustíveis que ainda apresentam pontos que necessitam ser otimizados.
5.2. PROCESSOS INDUSTRIAIS DE PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS NO
BRASIL
Considerando os dados apresentados, pode-se concluir que etanol e biodiesel são os
principais representantes na produção mundial de biocombustíveis. Portanto, seus principais
processos de produção serão esclarecidos.
Atualmente, a principal via de obtenção de etanol é a fermentação alcoólica, pela ação de
30
leveduras, de substratos açucarados compostos basicamente de dissacarídeos. No Brasil, a cana-
de-açúcar, que possui entre 12 a 17 % de açúcares, é a matéria prima utilizada em 97,1% das
plantas de etanol (ANP, 2017a; MACHADO; ABREU, 2006).
O processo consiste em realizar a moagem da cana-de-açúcar e fermentar o caldo retirado,
enquanto que o bagaço é descartado. Antes da fermentação, o caldo é aquecido, para diminuir
contaminação microbiana, em seguida são adicionados nutrientes e é feito um ajuste de pH e
temperatura. Uma vez adequado às condições de processo, o caldo é então inserido em um
inóculo de leveduras, geralmente a Saccharomyces cerevisiae e Saccharomyces carlsbergensis,
que metabolizam os carboidratos presentes transformando-os em álcool e gás carbônico. A
fermentação pode levar de 2 a 5 dias dependo do tipo microrganismo, substrato e condições
reacionais (MACHADO; ABREU, 2006).
O mosto fermentado, que é originado na fermentação, contém de 7 a 10% (em volume) de
álcool e outros componentes, e passa por um processo de destilação fracionada em uma série de
colunas. O destilado é o álcool hidratado que consiste em uma mistura azeotrópica de etanol,
96% (em volume), e água. Dependendo da aplicação, o álcool precisa ser desidratado por meio de
uma destilação azeotrópica extrativa ou com peneiras moleculares (MACHADO; ABREU,
2006).
Em contrapartida, o biodiesel é obtido majoritariamente pela transesterificação catalítica
de materiais graxos utilizando um álcool primário, que tem como produto monoésteres alquílicos
(biodiesel) e como subproduto o glicerol. No Brasil o óleo de soja é o mais utilizado como
matéria prima representado 64,84%, seguido da gordura bovina com 15,50% e outro materiais
graxos com 10,73% (ANP, 2017b; SHELDON, 2016a).
A reação de transesterificação pode ser realizada por via química, que se baseia no uso de
catalisadores (homogêneos ou heterogêneos) ácidos ou básicos, ou por via enzimática, que faz
uso de biocatalisadores. Ambas as técnicas, catalítica e enzimática, não podem ser realizadas em
meio aquoso, pois os produtos podem sofrer hidrólise. Portanto, solventes orgânicos voláteis são
utilizados como meio reacional na produção de biodiesel, pois estes previnem a decomposição
dos produtos e podem ser facilmente eliminados por evaporação (SHELDON, 2016a).
As plantas de produção de biodiesel atualmente utilizam a rota química, porém, esta rota
ainda apresenta aspectos desvantajosos (RAMOS et al., 2011).
O processo em meio homogêneo ácido é catalisado geralmente por ácidos de Brönsted-
31
Lowry. Estes, protonam a carbonila do material graxo formando um carbocátion que sofre ataque
nucleofílico originando um intermediário. Por fim, ocorrem duas transferências seguidas de
próton que levam a formação de ésteres graxos e glicerol. Esta técnica demanda alto custo
energético, investimentos mais altos em equipamentos devido ao problema da corrosão e custos
significativos com tratamento de resíduos devido a sua baixa seletividade (RAMOS et al., 2011).
A transesterificação utilizando álcool metílico em meio homogêneo básico é o método
mais aplicado atualmente nas plantas de produção de biodiesel. O catalisador geralmente é um
alcóxido metálico que realiza um ataque nucleofílico na carbonila do óleo formando um
intermediário. Por último, este intermediário origina éster metílico e glicerol. Apesar deste
procedimento necessitar de condições reacionais mais brandas em relação a catálise ácida,
ocorrem problemas de desativação do catalisador devido a presença de ácidos graxos livres na
corrente de entrada (RAMOS et al., 2011; SHELDON, 2016a).
A via enzimática baseia-se no uso de lipases, que são enzimas presentes em diversos
organismos onde atuam na degradação de lipídeos, para catalisar a reação de transesterificação.
Estas enzimas exigem condições mais brandas de processo, não apresentam sensibilidade quanto
a presença de ácidos graxos livres e apresentam alta especificidade gerando menos subprodutos,
o que potencialmente diminuiria os custos com tratamento de resíduos. Contudo, apesar de
apresentar vantagens sobre a rota química, o uso de biocatalisadores ainda não é viável
economicamente e é objeto de estudo da comunidade científica (RAMOS et al., 2011).
Devido aos problemas apresentados pelas tecnologias industriais de produção de
biodiesel, novas propostas vêm sendo estudadas. Dentre elas podemos destacar os processos
híbridos, que consistem na esterificação metílica dos ácidos graxos livres seguida da
transesterificação tradicionalmente utilizada; a rota catalítica heterogênea, que pode ser realizada
na superfície de sólidos catalíticos que apresentam sítios ácidos de Brönsted-Lowry ou sítios
básicos de Lewis; e a pirólise de biomassa de segunda geração que produz bio-óleo, um
composto que pode ser fracionado como é feito com o petróleo. Estes métodos, apesar de
apresentarem vantagens em relação aos atualmente aplicados, apresentam limitações e ainda são
economicamente inviáveis para serem implantados industrialmente (RAMOS et al., 2011).
Dentro do exposto, dois pontos podem ser ressaltados. Primeiramente, as matérias primas
utilizadas são largamente aplicadas na indústria alimentícia, o que dificulta o processo produtivo
a longo prazo devido a competição dos mercados. Neste contexto, fontes alternativas vêm sendo
32
estudadas. Por exemplo, o uso de óleos produzidos por microalgas é apresentado como
alternativa, porém sua aplicação em larga escala ainda enfrenta muitos obstáculos tecnológicos.
Portanto, seria mais atrativo fazer uso de biomassa de segunda geração, por exemplo, biomassa
residual, resíduos agrícolas, plantas não alimentícias, madeira, etc., pois estas apresentam grande
disponibilidade (RAMOS et al., 2011; SHELDON, 2016a).
Em segundo lugar, os compostos orgânicos empregados como solvente são conhecidos
por serem poluentes ao meio ambiente devido a sua alta toxicidade e alta flamabilidade, gerando
maior custo no tratamento de efluentes. Além disso, no caso da via enzimática, o meio orgânico
diminui a eficiência das enzimas uma vez que estas in natura atuam em meio aquoso. Portanto
sua substituição por meios reacionais menos agressivos ao ambiente é desejável, tanto do ponto
de vista ecológico como do ponto de vista econômico (RAMOS et al., 2011).
5.3. LÍQUIDOS IÔNICOS NA PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS
Estudos sobre as possíveis aplicações dos LI indicam que estes podem ser utilizados como
meio reacional/suporte para processos catalíticos, outros mostram sua biocompatibilidade com
diversas enzimas, sua capacidade de conferir maior estabilidade e seletividade a enzimas e sua
habilidade de solubilizar carboidratos, polissacarídeos, nucleosídeos e lignocelulose. Estes
resultados indicam que estes compostos apresentam alto potencial para atuar nos processos de
produção de biocombustíveis (SHELDON, 2016a).
Na produção de bioetanol, os LI seriam opções atrativas para viabilizar o uso da biomassa
de segunda geração, que consiste em substratos lignocelulósicos, como fonte de açúcares para a
fermentação alcoólica como, por exemplo, o próprio bagaço da cana-de-açúcar.
Os substratos lignocelulósicos são compostos por lignina, hemicelulose e celulose. A
lignina compõe a parede celular das plantas conferindo suporte estrutural e consiste de um
polímero natural em que o fenilpropano é o monômero principal, portanto não contém açúcares.
Por outro lado, a celulose é um polímero de glicose e a hemicelulose consiste em um conjunto de
polissacarídeos. Assim, estes dois últimos podem ser hidrolisados em açúcares mais simples
passíveis de serem fermentados para produzir etanol. Contudo, estes encontram-se envoltos pela
33
lignina no complexo lignocelulósico (HARMSEN et al., 2010).
Portanto, para viabilizar o uso desse tipo de biomassa para a produção de etanol, é
necessário um pré-tratamento para abrir a estrutura da lignina, fator que configura o maior
desafio na utilização desse tipo de biomassa. Em seguida, realizar a despolimerização e
oxigenação parcial da celulose e da hemicelulose, através de um coquetel de enzimas que
hidrolisam esses compostos em açúcares simples (HARMSEN et al., 2010).
Diversas técnicas, mecânicas e químicas, foram testadas para separar a lignina da celulose
e da hemicelulose como moagem, ultrassom, tratamentos com água quente pressurizada, hidrólise
ácida fraca e forte, hidrólise básica, solvólise orgânica, tratamentos oxidativos, tratamentos
biológicos e até combinações das mesmas. Contudo, custos associados ao reciclo de solventes e a
necessidade de retirar subprodutos, que inibem o processo fermentativo, da corrente de processo,
são fatores que tornam estes procedimentos economicamente desvantajosos (HARMSEN et al.,
2010).
Neste contexto, o LI ([BMIM][Cl]) se mostrou capaz de solubilizar a lignina presente
nesse tipo de matéria prima. O material lignocelulósico pré -tratado durante 8h a 140ºC com o LI,
atingiu rendimento de 70% na subsequente produção de etanol (REINA et al., 2016).
Na produção de biodiesel, devido a descoberta da afinidade dos LI com enzimas, estudou-
se a viabilidade de utilizar estes como meio reacional para a transesterificação pela rota
enzimática, visto que esta apresenta vantagens sobre a rota química atualmente aplicada. A
substituição dos solventes orgânicos tradicionalmente utilizados como meio reacional é desejável,
não só do ponto de vista ecológico, mas, também porque estes diminuem a atividade das enzimas.
Entretanto, nos LI foi observado que as enzimas se estabilizam, apresentando maior seletividade,
maior especificidade e maior atividade catalítica (MEDEIROS et al., 2013).
Um dos sistemas reacionais LI/ enzima que se mostrou promissor para a reação de
transesterificação do óleo de soja, foi a combinação entre o LI 1-n-butil-3-metilimidazólio
bis(triflúormetanossulfonil) ([BMIM][NTf2]) e a enzima lipase da cultura Pseudomonas cepacea.
Rendimentos de até 96% foram alcançados para a produção de biodiesel, utilizando o conjunto
LI/lipase a 30ºC durante um período de 48h. Foi possível ainda reutilizar o sistema
[BMIM][NTf2]/lipase até quatro vezes sem perda significativa na atividade da enzima (LAPIS et
al., 2008).
Além da aplicação do [BMIM][NTf2] na via enzimática, bons resultados foram obtidos
34
quando este LI foi aplicado como suporte para catalisadores ácidos e básicos na reação de
transesterificação do óleo de soja. O sistema H2SO4/[BMIM][NTf2] mantido a 70ºC por 24 h
obteve rendimentos acima de 93% para a produção de biodiesel. Após a síntese um sistema
heterogêneo é formado, onde o biodiesel se separa da fase aquosa e do conjunto LI/ácido
facilitando assim a sua purificação. Por fim, a combinação LI/ácido pode ser reciclada até seis
vezes sem perder significativamente o rendimento (LAPIS et al., 2008).
Diante dos resultados apresentados, podemos concluir que o uso de LI na produção de
biocombustíveis é uma alternativa viável. Contudo, sua aplicação industrial ainda é um desafio
visto o custo destes solventes. Entretanto, as vantagens operacionais e ao meio ambiente que
estes proporcionam são um fator motivador para futuros estudos, que proponham as soluções
necessárias para a implantação em larga escala destes sistemas. Neste contexto, este trabalho visa
estudar o comportamento eletroquímico destes compostos, uma vez que este parâmetro é de suma
importância para os custos de instalação e operação de plantas industriais.
6. CORROSÃO
6.1. CORROSIVIDADE DOS LI E A INDÚSTRIA DE BIOCOMBUSTÍVEIS
Os processos de produção de biocombustíveis envolvem o uso compostos que causam
corrosão nos equipamentos de operação, que são majoritariamente feitos de metal. O aço
inoxidável do tipo 304L é o mais aplicado nas instalações industriais de produção de etanol e
biodiesel. Apesar da resistência à oxidação conferida pela camada passiva de óxido de cromo,
este tipo de liga é suscetível a sofrer corrosão por pite e intergranular (TORSNER, 2010).
A corrosão por pite ou puntiforme ocorre em pequenas áreas da superfície metálica, que
tiveram sua camada de passivação removida, produzindo cavidades de fundo anguloso, que tem
como principal caraterística ter profundidade maior que seu diâmetro (GENTIL, 1996).
A corrosão intergranular se dá entre os grãos da rede cristalina do metal que perdem suas
propriedades mecânicas e sofrem fratura diante de uma grande solicitação de esforços mecânicos.
35
Esta fratura é possível devido a presença de tensões residuais do material, que são geradas no
próprio processo de fabricação do metal. Ocorre então a corrosão sob tensão fraturante (GENTIL,
1996).
Ambos os casos de corrosão são intensificados na presença de cloreto e em altas
temperaturas, que são condições frequentes em alguns equipamentos utilizados nas plantas de
produção tanto de etanol quanto de biodiesel (TORSNER, 2010).
Nas plantas de etanol as colunas de destilação e os trocadores de calor são os
equipamentos que mais sofrem com a corrosão. Estes operam em altas temperaturas e estão
expostos aos ânions cloreto provenientes da água de processo e dos pesticidas (utilizados no
plantio da cana-de-açúcar). Esses fatores associados às tensões residuais do material podem
acarretar em um processo de corrosão sob tensão fraturante, além da corrosão por pite
(TORSNER, 2010).
Nas plantas de biodiesel a maioria dos equipamentos são alvos de corrosão, pois ácido ou
base (mais frequentemente utilizada) são introduzidos já no início da transesterificação para
catalisar a reação. Os equipamentos responsáveis pela separação do biodiesel e recuperação do
catalisador são os mais afetados. Entretanto, mesmo após a separação do catalisador por produto,
traços destes seguem no processo, que associados as altas temperaturas, causam problemas de
corrosão ao longo da planta (TORSNER, 2010).
Visto estas ocorrências de corrosão na indústria de biocombustíveis, novas opções vêm
sendo estudadas e neste contexto os LI mostram resultados interessantes. Estudos sobres estes
compostos indicam que quando em contato com diversos metais uma camada protetora se forma
na superfície do metal. A aplicação de variados LI, com propriedades e estruturas distintas, para
inibir processos de corrosão em diferentes tipos de metais em meios corrosivos vem sendo
estudada (TORRIERO, 2015).
Os LI da classe dos imidazólios e piridínios, quando adicionados em pequenas
concentrações em meio de HCl 1M, funcionam como inibidores de corrosão não competitivos
para o aço carbono imerso, com a composição em massa de C = 0.15%, Mn = 0.45%, Si = 0.10,
S= 0.05%, P% = 0.03%. A eficiência de inibição se mostrou diretamente proporcional ao
aumento da concentração dos inibidores. Estes apresentaram comportamento similar quanto ao
mecanismo de inibição, que consiste na adsorção dos LI, segundo uma isoterma de Langmuir, na
superfície do aço impedindo o contato deste com o meio ácido. A variação da energia livre de
36
Gibbs, ou ΔG, de adsorção dos LI estudados apresentaram valores absolutos em torno de 30
kJ/mol e sinal negativos. Portanto, pode-se concluir que as interações entre os LI e a superfície
metálica são espontâneas e o tipo de adsorção predominantemente é fisissorção (IBRAHIM et al.,
2011).
6.2. PROPRIEDADES DOS LI ESCOLHIDOS
Os LI escolhidos, [BMIM][Cl] e [BMIM][NTf2], foram apontados como possíveis solventes
e auxiliares na produção de biocombustíveis (LAPIS et al., 2008; SWATLOSKI et al., 2002).
Ambos possuem o cátion 1-butil-3-metilimidazólio, orgânico e aprótico. Porém, o [BMIM][Cl] é
um LI de primeira geração7, enquanto o [BMIM][NTf2], pode ser considerado de segunda
geração, pois apresenta estabilidade na presença de ar e água devido a presença do ânion
[[CF3SO2]2N]- (ANTHONY et al., 2002; FREEMANTLE, 2009).
O [BMIM][Cl] apresenta o ânion cloreto, inorgânico, que confere caráter básico ao LI, a
possibilidade de realizar ligações de hidrogênio do tipo CH---X- e, consequentemente, maior
habilidade na dissolução da celulose (SWATLOSKI et al., 2002), ou de outras moléculas
orgânicas complexas (ANTHONY et al., 2002).
O LI [BMIM][NTf2] apresenta um ânion orgânico, volumoso e que, portanto, confere menor
viscosidade e ponto de fusão a esse LI em comparação ao anterior. Apesar de hidrofóbico
(FREEMANTLE, 2009), o [BMIM][NTf2] pode absorver até 1,4% (massa) de água
(BLANCHARD & BRENNECKE apud ANTHONY et al., 2002). A seguir apresentamos um
resumo das propriedades físico-químicas conhecidas dos LI estudados.
Propriedades [BMIM][Cl]
C8H15N2Cl
[BMIM][NTf2]
C10H15F6N3O4S2
Viscosidade (cP) N.D. 52 (20°C)
7 De acordo com a classificação apresentada por Freemantle (2009).
37
Propriedades [BMIM][Cl]
C8H15N2Cl
[BMIM][NTf2]
C10H15F6N3O4S2
Densidade (g/cm3) 1,086 (20°C) a 1,44 (20°C e 1,013 hPa) a
1,429 (20°C) b
Ponto de Fusão (°C) 70 1
Condutividade (ҡ), (mS.cm-1) N.D. 3,9
Condutividade Molar (Λ),
(cm2.Ω-1.mol-1)
N.D. 1,14
Temperatura de decomposição
térmica (inicial) (°C)
240 400
Peso molecular 174,67 419,36
Fontes: Viscosidade, Densidade (b), Condutividade e Condutividade Molar, Tabela 3.2-
1,ANTHONY et al., 2002. / Densidade (a) e Peso Molecular, SIGMA-ALDRICH, (2015, 2016).
/ Ponto de Fusão e Temperatura de Decomposição Térmica, Figura 3.1-2 ANTHONY et al.,
2002.
Tabela 1 - Propriedades físico-químicas dos LI estudados: viscosidade, densidade, condutividade,
condutividade molar, peso molecular, ponto de fusão e temperatura de decomposição térmica.
6.3. ESTUDOS SOBRE CORROSIVIDADE DOS LI ESCOLHIDOS
Diversos estudos sobre a corrosividade de LI tem sido publicados nos últimos anos e
inclusive publicações específicas sobre as propriedades eletroquímicas dos LI podem ser
encontradas, com informações sobre seu efeito corrosivo ou anticorrosivo sobre ligas e metais
(TORRIERO, 2015). Dos estudos encontrados, foram selecionados aqueles que apresentam a
eficiência encontrada para os LI como inibidores de corrosão, conforme Tabela 2 (p.38).
38
Tabela 2 -Artigos sobre eficiência de LI como inibidores de corrosão. ¹Resultados de eficiência para a maior concentração.
Referência Material testado Líquido iônico Meio corrosivo Dosagem do LI Eficiência¹ Técnicas utilizadas
Murulana et al. 2012. Aço carbono
[PMIM][NTf2]
HCl 1,0M
100, 200, 300, 400
e 500ppm para
perda de massa.
100, 300 e 500ppm
para testes
eletroquímicos
66.3% (30°C)
Perda de massa,
polarização e impedância
eletroquímica
[BMIM][NTf2] 68.9% (30°C)
[HMIM][NTf2] 75.7% (30°C)
[PDMIM][NTf2] 86.7% (30°C)
Kshama Shetty, S.;
Nityananda Shetty, 2017.
6061 Al, 15 vol.%
SiC
Brometo de 1,3-bis[2-(4-
metóxifenil)-2-oxoetil-
1H-3-benzimidazólio
(MOBB)
0,1 M HCl 5, 10, 15, 20 e
25ppm 98,7% (40°C)
Impedância, Polarização
Potenciodinâmica e
Análises de Superfície 0,1 M H2SO4
50, 99, 149, 198 e
248ppm 98,8% (40°C)
Olivares-Xometl et al.
2014. Aço API 5L X-52
Iodeto de 1,2-dimetil-3-
decilimidazólio (DDI)
1,0 M H2SO4
25, 50, 75 e
100ppm
95% (25°C)
Polarização (Tafel) e
Análise de Superfície
(OCP, SEM e EDX)
1,0 M HCl 67% (25°C)
Acetato de N-trietil
metilamônio (TMA)
1,0 M H2SO4 68% (25°C)
1,0 M HCl 70% (25°C)
Laureato de N-trietil
metilamônio (TML)
1,0 M H2SO4 62% (25°C)
1,0 M HCl 70% (25°C)
Zhang; Hua, 2009. Aço carbono
[BMIM][Cl] (*cloretos) HCl 1,0M 87, 175, 873 e
1747ppm 87,5% (30°C) Impedância, perda de
massa e polarização
potenciodinâmica [BMIM][HSO4] HCl 1,0M 118, 236, 1181 e
2363ppm 93,7% (30°C)
Scendo; Uznanska, 2011. Cobre
[BMIM][Cl] NaCl + HCl,
pH=1, [Cl-] =
1M
17, 175, 873, 1747
e 8734ppm 95,68% (25°C)
Polarização, microscopia
eletrônica [BMIM][Br]
22, 219, 1096,
2191 e 10965ppm 83,45% (25°C)
39
A Tabela 2 apresenta os estudos encontrados onde se procurou determinar a eficiência de LI
como inibidores de corrosão em diferentes meios, soluções, metais e temperaturas e serviu de
embasamento para escolha do método utilizado neste trabalho. Entretanto, nem todos os estudos
encontrados se referem aos LI estudados. Como é o caso dos trabalhos apresentados por Shetty e
Shetty (2017), onde foi estudado o LI Brometo de 1,3-bis[2-(4-metóxifenil)-2-oxoetil-1H-
benzimidazol-3-ium, chamado pelo autor de “MOBB”; e por Olivares-Xometl et al.(2014), onde
foram estudados os LI DDI (Iodeto de 1,2-dimetil-3-decilimidazólio), TMA (Acetato de n-trietil-
metilamônio) e TML (Laureato de n-trietil-metilamônio).
O ânion [NTf2]- especialmente, aparece em inúmeras publicações em combinações com os
cátions [C4MPyr]+, [C3MPyr]+ (no Li e ligas), [C2MIM]+, [C3MPyr]+, [P66614]+ (no Mg e
ligas), em estudos que investigam o efeito de LI na corrosividade do metais (ARIAS-
PARDILLA; ESPINOSA; BERMÚDEZ, 2015). Entretanto, geralmente, estes estudos utilizam o
LI como solventes puros (ausência de água) ou não apresentam a eficiência de inibição embora
essa propriedade seja verificada em alguns casos.
Em se tratando especificamente do LI [BMIM][NTf2], por exemplo, foi verificada corrosão
insignificante até 150° C para níquel, latão, Inconel 600 e aço AISI 1018 imersos por 48h no LI
puro. Já para o cobre, ou para temperaturas mais altas (até 325°C), a corrosão se torna
significativa. Entretanto, embora o estudo tenha apresentado medições de perda de massa e
eletroquímicos, não foi calculada a eficiência de inibição. Foram apresentadas apenas análises
qualitativas e a densidade de corrente de corrosão na presença do LI testado (PERISSI et al.,
2006).
Em um outro estudo, sobre a propriedade anticorrosiva de LI derivados do imidazólio e
contendo o ânion [NTf2]- verificou-se que os mesmos apresentam característica inibidora de
corrosão, em solução de HCl 1M, a 30°C, com eficiência máxima de cerca de 86% para
concentração de inibidor de 500ppm (para [PDMIM][NTf2]), e mínima de 60% a 100ppm (para
[PMIM][NTf2]). No mesmo estudo verificou-se que a propriedade inibidora de corrosão do LI
aumenta com o aumento da cadeia alquílica ou número de radicais ligados ao anel imidazólio. E,
ainda, sugere-se que essa interação se deva ao maior caráter hidrofóbico de cadeias maiores,
fazendo com que o cátion interaja mais com a superfície metálica do que com a água
(MURULANA et al., 2012). Essa relação entre o aumento da inibição à corrosão com o aumento
40
da cadeia alquílica ligada ao N3 do imidazólio, também foi confirmada por Shi et al. (apud
SCENDO; UZNANSKA, 2011).
Estudos sobre o efeito anticorrosivo do LI contendo o ânion [Cl]- também foram encontrados.
Foi estudado o efeito do [BMIM][Cl] em condições de fluxo turbulento, onde a formação do
filme protetivo pode ser prejudicada, sobre seis ligas metálicas diferentes, em solução aquosa
com concentração do LI de 7% e na temperatura de 90°C, por quatro dias. Nestas condições
verificou-se uma taxa de corrosão de aproximadamente 2mm/ano sobre o cobre e latão, enquanto
que a liga à base de níquel, Hastelloy C22, e o aço inox austenítico 1.4301 (equivalente ao 304),
não apresentaram corrosão. Já sobre oAlMg3 e aço carbono, o LI praticamente não apresentou
efeito inibidor, tendo sido registrada uma taxa de corrosão de cerca de 20 mm/ano e 6 mm/ano,
respectivamente (UERDINGEN et al., 2005).
Em estudo comparativo sobre o efeito anticorrosivo do [BMIM][Cl] versus [BMIM][Br], em
solução de HCl 1M sobre o cobre, verificou-se que ambos apresentam característica de
inibidores. Utilizando técnicas de polarização, obteve-se eficiência de inibição máxima de
95,68% para o [BMIM][Cl], na concentração de 0,05 M, a 25°C (SCENDO; UZNANSKA,
2011). Neste estudo é possível verificar ainda a influência do ânion, uma vez que o LI contendo
[Br]- apresenta menor eficiência que o LI contendo [Cl]- em todas as condições.
Outro estudo comparativo, desta vez entre [BMIM][Cl] e [BMIM][HSO4] também
confirmou o caráter inibidor de corrosão dos LI, em solução de HCl 1M, sobre aço carbono, em
temperaturas de 30°C a 60°C. Utilizando-se teste de perda de massa obteve-se eficiência máxima
de inibição para o [BMIM][Cl] de 86,5%, a 30°C e na concentração de 0,01 M. O LI contendo o
ânion [HSO4]- apresentou maior eficiência como inibidor de corrosão que o LI contendo [Cl]- em
todas as condições (ZHANG; HUA, 2009).
Os estudos concluem que os LI atuam como inibidores de corrosão do tipo misto (afetam
tanto reações anódicas quanto catódicas), adsorvendo na superfície do metal e bloqueando os
sítios de corrosão (não afetam o mecanismo das reações de corrosão do cobre ou do aço),
obedecendo ao modelo da isoterma de Langmuir para adsorção (MURULANA et al., 2012;
SCENDO; UZNANSKA, 2011; ZHANG; HUA, 2009).
Scendo e Uznanska (2011) afirmam contudo, que a adsorção se dá, predominantemente,
por quimissorção, enquanto que Zhang e Hua(2009) afirmam que seja fisissorção, apesar de
ambos obterem os mesmos valores, ∆G0ads=-27,2 kJ/mol e ∆G0
ads=-27,3 kJ/mol, respectivamente,
41
para [BMIM][Cl]. Contudo, como ambos trabalhos mencionam, a adsorção física é caracterizada
por valores de ∆G0ads em torno de -20 kJ/mol, e a química, por ∆G0
ads menor ou igual a -40
kJ/mol. Logo, o correto seria inferir que a adsorção se dá, predominantemente, por fisissorção
(ARIAS-PARDILLA; ESPINOSA; BERMÚDEZ, 2015).
É consenso, contudo, que o efeito anticorrosivo é inversamente proporcional ao aumento
da temperatura e, diretamente proporcional ao aumento da concentração (MURULANA et al.,
2012; SCENDO; UZNANSKA, 2011; ZHANG; HUA, 2009). Este último fator, é coerente com o
efeito de inibição por adsorção, já que uma maior concentração de inibidor favorece a formação
da camada protetiva, impedindo a transferência de massa e de carga (SCENDO; UZNANSKA,
2011). Também é possível concluir que o efeito inibidor existe independentemente do ânion
escolhido (ARIAS-PARDILLA; ESPINOSA; BERMÚDEZ, 2015), contudo, o ânion possui
algum efeito sobre a inibição, já que verifica-se que, em meio de HCl 1 M, a eficiência de
inibição decresce na seguinte ordem: [HSO4]- > [Cl]- (ZHANG; HUA, 2009) e [Cl]- > [Br]-
(SCENDO; UZNANSKA, 2011).
7. MATERIAIS E MÉTODOS
7.1. PREPARO DAS SOLUÇÕES
As soluções foram preparadas sempre no mesmo dia do experimento para evitar qualquer
tipo de degradação ou alteração do LI pelo efeito da luz ou umidade, especialmente no caso
do [BMIM][Cl] que é bastante higroscópico e sensível à luminosidade. Os LI utilizados
foram adquiridos prontos da empresa Sigma Aldrich, com pureza maior que 95% para o
[BMIM][Cl] e maior que 98% para o [BMIM][NTf2] e nenhum procedimento de purificação
foi adotado antes da utilização.
A forma adotada para preparo das soluções foi diferente para cada LI devido ao seu
estado físico. Ao contrário do que foi encontrado na literatura onde reporta-se que o
[BMIM][Cl] é sólido a temperatura ambiente (Ponto de fusão 70°C) (ANTHONY et al.,
42
2002), verificou-se um líquido bastante viscoso à temperaturas em torno de 25°C, sendo
necessário preparo de uma solução mais concentrada por pesagem e, então, a diluição para as
soluções de trabalho. Os cálculos são apresentados no Apêndice A, elaborado com o auxílio
do programa MathCad.
Todos os ensaios foram realizados com soluções de LI nas concentrações de 100ppm,
250ppm e 500ppm. Isto posto, seguimos à descrição dos preparos das soluções.
7.1.1. Soluções de [BMIM][NTf2]
Foram preparadas soluções de [BMIM][NTf2] nas concentrações de 100ppm, 250ppm e
500ppm utilizando como solvente solução de HCl 1 M.
a) A solução de HCl 1 M foi preparada na capela, adicionando-se 82,8 mL do HCl P.A.
(MM 36,46g/mol, pureza 37%) no balão volumétrico de 1 litro previamente
preenchido com água destilada até aproximadamente a metade da parte arredondada
do balão. Em seguida completou-se o balão com água destilada. As soluções
preparadas eram armazenadas em recipiente de vidro âmbar para utilização posterior.
b) Para preparar as soluções de [BMIM][NTf2], também na capela, partiu-se da solução
de maior concentração (500ppm), realizando-se a diluição para as demais
concentrações (100 ppm e 250 ppm). Após rinsar o balão volumétrico de 50mL com a
solução de HCl 1M, adicionou-se certa quantidade dessa solução ao balão (até
aproximadamente metade da parte arredondada) e, em seguida, acrescentou-se 35,40
µL do produto [BMIM][NTf2] com auxílio de pipeta eletrônica (pipeta de 20-200µL.
LI com pureza ≥98%, densidade 1,44 g/cm³), completando-se então o balão com a
solução de HCl 1M até que o menisco atingisse a marca de 50mL. Devido ao caráter
hidrofóbico do LI, foi necessário realizar a homogeneização em equipamento de
ultrassom, durante 20min, agitando-se a solução a cada 2 min. Após esse período,
deixou-se que a solução repousasse por cerca de 10min para verificar se haveria nova
separação de fases. Não sendo verificada nenhuma separação de fases visível a olho
nu, prosseguiu-se para o preparo das demais soluções.
43
c) Para preparo da solução de 100ppm, retirou-se, então, uma alíquota de 10mL da
solução de LI 500ppm utilizando-se uma proveta graduada e adicionou-se à um balão
volumétrico de 50mL, previamente rinsado e preenchido com solução de HCl 1M até
a metade da parte arredondada do balão. Completou-se o balão com solução de HCl
1M e homogeneizou-se a solução manualmente.
d) O mesmo procedimento foi adotado para o preparo da solução de LI 250ppm, também
em balões de 50mL, porém, adicionando-se uma alíquota de 25mL da solução de LI
500ppm.
7.1.2. Soluções de [BMIM][Cl]
Devido à alta viscosidade do [BMIM][Cl] seu preparo foi realizado por pesagem em balança
de precisão. Como as concentrações necessárias eram bastante baixas e o LI bastante denso e
higroscópico, sendo necessário, portanto, evitar ao máximo a exposição ao ar, optou-se pelo
seguinte procedimento, sendo necessária a realização de novos cálculos de concentração a cada
preparo (valores a seguir são, portanto, apenas uma amostra):
a) Um balão volumétrico de 50mL foi rinsado com a solução de HCl 1M e tarado na balança
de precisão. Então, adicionou-se 2 gotas do produto [BMIM][Cl] e anotou-se o peso
obtido 0,2294 g, tampando o balão logo em seguida. Então, adicionou-se solução de HCl
1M ao balão com o LI até completar 50mL, homogeneizando-se manualmente e
calculando-se a concentração obtida conforme Equação 3.
Equação 3
0,2294𝑔𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜
50𝑚𝑙×
95𝑔𝐿𝐼
100𝑔𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜= 4,3586. 10−3
𝑔
𝑚𝑙𝑜𝑢4.358,6𝑝𝑝𝑚
b) Então, calculou-se as diluições necessárias para obtenção das soluções com as
concentrações desejadas, prosseguindo-se para o preparo das mesmas conforme
44
procedimento descrito anteriormente no item 7.1.1b). No caso exemplificado acima,
retirou-se as seguintes alíquotas da solução mais concentrada, para preparo das demais
soluções em balões volumétricos de 50 mL: 5,75 mL para preparo da solução de 500 ppm,
2,90 mL para preparo da solução de 250 ppm e 1,15 mL para preparo da solução de 100
ppm. Como o LI é bastante higroscópico, não foi adotado nenhum procedimento adicional
para homogeneização (homogeneizou-se manualmente).
7.2. ENSAIOS DE PERDA DE MASSA
Para os ensaios de perda de massa foram utilizadas soluções de LI nas concentrações de
100pp, 250ppm, 500ppm, solução de HCl 1 M, preparadas conforme descrito anteriormente,
solução de Clark (HCl, Sb2O3, SnCl2 – já disponibilizada pelo laboratório), além de acetona,
água destilada, etanol e detergente.
Os corpos de prova de aço A36 (tamanhos conforme Tabela, p.51) foram lixados em lixas
d’água de granulometria 400 e 600 e armazenados em um tubo plástico de 50mL com óleo
protetivo suficiente para cobri-los a fim de evitar corrosão. Antes de cada procedimento,
procedeu-se a lavagem dos corpos de prova lixados, em bécher de 500 mL com água
destilada deixando o conjunto no ultrassom por 3min para melhor remoção do óleo protetivo.
Repetiu-se a lavagem até remoção completa do óleo. Em seguida à lavagem, realizou-se a
medição do corpo de prova com paquímetro (+/-0,01mm) anotando-se as medidas de
comprimento, largura e espessura (Padrão adotado: a=maior medida ou comprimento,
b=intermediária ou largura e c=menor medida ou espessura) e então, realizou-se sua limpeza
mergulhando o corpo de prova em uma sequência de soluções com o auxílio de uma pinça:
detergente com água, água destilada, água destilada, etanol, acetona. Então secou-se o corpo
de prova com o auxílio do secador e pesou-se anotando-se a massa (M1) obtida. As pesagens
foram repetidas até peso constante.
Os corpos de prova, que seguem a proporção entre área superficial e volume de solução
de acordo com o especificado pela Norma ASTM G31 – Standard Guide for Laboratory
45
Immersion Corrosion Testing of Metals8, foram medidos, limpos e pesados, foram então
posicionados no tubo plástico de 50mL com as soluções de LI e branco (HCl 1 M) conforme
Figura 9, p. 45 (1 tubo para cada solução).
Após 5 horas a temperatura ambiente, procedeu-se a decapagem ou limpeza química dos
corpos de prova para remoção da camada oxidada, mergulhando, rapidamente, cada corpo de
prova na sequência de soluções: água com sabão, água, água, solução de Clark, etanol e
acetona. Secou-se o corpo de prova em seguida com auxílio do secador e novamente mediu-
se sua massa (M2), até peso constante.
Durante todos os procedimentos teve-se o cuidado de deixar os corpos de prova
minimamente expostos ao ar a fim de evitar ocorrência de corrosão fora das condições do
experimento. Ou seja, procedeu-se a lavagem dos corpos de prova dois a dois, de modo a
posicioná-los nas soluções de trabalho logo em seguida à primeira pesagem. E no final, para
decapagem química, os corpos de prova também foram removidos dos tubos dois a dois para
pesagem final logo após a limpeza.
A taxa de corrosão foi então calculada conforme Equação 4, e a eficiência de inibição
conforme Equação 5.
Equação 4
𝑇𝑐 =8,76. 104. (𝑚1 − 𝑚2)
𝐴. 𝑑. 𝑡
8 A norma não foi consultada, pois o laboratório G2E, onde foi feita a pesquisa, já possuía os corpos de prova
prontos. Mencionamos apenas para conhecimento do leitor.
Corpo de prova A
Corpo de prova B
Figura 9 - Posicionamento dos corpos de prova A e B (testes em duplicata).
46
Equação 5
ŋ(%) =(𝑇𝑐° − 𝑇𝑐)
𝑇𝑐°×100%
Onde:
- Tc: Taxa de corrosão (mm.ano-1)
- (m1-m2): variação de massa (g)
- A: área exposta (cm2)
- d: densidade do aço (g.cm-3)
- t: tempo de exposição (h)
- ŋ: Eficiência de inibição à corrosão (%)
- Tco: Taxa de corrosão na ausência do
inibidor (mm.ano-1)
- Tc: Taxa de corrosão na presença do
inibidor (mm.ano-1)
- 8,76x104: conversão de unidades
(mm.h.cm-1.ano-1)
Todas as planilhas e gráficos referentes à perda de massa e Figura 2, foram elaborados com o
auxílio do programa Excel.
7.3. ESPECTROSCOPIA RAMAN
A espectroscopia Raman é uma técnica fundamentada na interação entre radiação e a
matéria, para caracterizar materiais e suas propriedades. Esta consiste em medir as frequências da
luz espalhada por um material e subtraí-la das frequências da radiação incidente para obter as
frequências dos modos vibracionais das moléculas. Deste modo, é possível determinar as
características das moléculas que compõem o material e como elas interagem entre si
(RODRIGUES; GALZERANI, 2012).
As ondas eletromagnéticas, da ordem de 105 cm-1, ao incidirem em um material, são em
parte refletidas e parte transmitidas dentro do material. A porção de energia transmitida pode ser
tanto absorvida na forma de calor como ser retransmitida na forma de luz espalhada. Esta parcela
retransmitida pode conter a mesma energia ou possuir uma energia diferente da radiação
incidente. No primeiro caso, ocorre um espalhamento elástico, e não se pode inferir muito sobre o
material uma vez que a radiação não sofre nenhuma alteração durante sua transmissão pelo
47
mesmo. Porém, no segundo caso, ocorre um espalhamento inelástico e a variação na frequência
da onda provocada pelo material pode ser relacionada às propriedades do mesmo (RODRIGUES;
GALZERANI, 2012).
A intensidade da radiação espalhada depende da polarização induzida pelo campo elétrico
oscilante, provocado pela incidência das ondas eletromagnéticas, e da polarização da luz
incidente. Essa intensidade deve ser diferente de zero para que os modos vibracionais sejam
considerados ativos para a espectroscopia Raman (RODRIGUES; GALZERANI, 2012). Esta
pode ser escrita como:
Equação 6
𝐼𝑠 ∝ |ê𝑖. 𝑅. ⃡ ê𝑠|
Onde:
- 𝐼𝑠 é a intensidade da luz espalhada;
- ê𝑖é a polarização da luz incidente e;
- ê𝑠 é a polarização da luz espalhada.
Nesta equação, 𝑅 representa o tensor Raman que se refere a uma oscilação atômica
específica, que é responsável por alterar a polarização do meio, e depende da direção de
propagação da mesma (RODRIGUES; GALZERANI, 2012).
Equação 7
𝑅 = (𝑑𝑋
𝑑û)
𝑞=0
Onde:
- 𝑋 é o tensor de suscetibilidade elétrica do meio;
- û é o versor paralelo à direção do deslocamento atômico;
- 𝑞 é o vetor de onda.
Portanto, além da intensidade, a geometria de espalhamento aplicada também determina a
atividade Raman do material (RODRIGUES; GALZERANI, 2012).
A diferença entre as frequências da luz espalhada e aquelas da luz incidente, chamado
deslocamento Raman, é então plotada contra a intensidade espectral, que depende de parâmetros
48
experimentais. Deste modo, é obtido o espectro Raman que é específico para um determinado
material, pois este fornece os modos normais de oscilação deste. Portanto, conhecido o espectro
Raman característico de uma determinada substância, é possível detectar alterações no mesmo
devido a interações com outros compostos (RODRIGUES; GALZERANI, 2012).
O equipamento que fornece estes espectros é chamado de espectrômetro, que consiste em
uma fonte de luz excitadora, um conjunto de lentes, dispostos de modo a dispersar a radiação
espalhada, e um fotodetector. Este sensor mede as frequências das ondas eletromagnéticas que
compõe a luz espalhada (RODRIGUES; GALZERANI, 2012). Foi utilizado o MultiRAM e suas
especificações técnicas são mencionadas na Tabela 3.
Especificações Técnicas - Espectrômetro MultiRAM
Dimensões do Equipamento Completo: 97 x 85 x 29 cm
Compartimento da amostra: 27 x 19 x 25 cm
Faixa de Temperatura
Operacional 18-25 °C
Variação de Temperatura Máx. 1°C/ por hora e máx. 2°C/ por dia
Umidade Relativa (sem
condensação) <80%
Classificação do Laser
Sistemas da Classe 4:
λ = 1064nm
Pmax ≤ 0.5, 1.0W
divergence angle: 2mrad
λ = 976nm
Pmax ≤ 1000mW
divergence angle: 2.8mrad
λ = 785nm
Pmax ≤ 0.5W
divergence angle: 2.8mrad
Faixa Espectral 1064nm = 3500 - 70 cm-1
976nm = 70 - 4500 cm-1
758nm = 4100 - 70 cm-1
Resolução Padrão: melhor que 0,8 cm-1
Precisão do número de onda 0,1 cm-1
Conjunto Ótico Conjunto de lentes padrão 180° de alta performance
Interferômetro Interferômetro de alta estabilidade, permanentemente alinhado
49
Especificações Técnicas - Espectrômetro MultiRAM
Detector
* InGaAs, a temperatura ambiente, detector de alta sensibilidade,
ou; *N2 líquido refrigerado, detector de ultra sensibilidade com 5
dias de tempo de espera
Fonte: Adaptado do Manual do Usuário MultiRAM
Tabela 3- Especificações Técnicas do Espectrômetro Raman.
A espectroscopia Raman foi utilizada para analisar as interações intermoleculares entre a
solução de HCl 1 M e o [BMIM][NTf2], pois este LI apresentou dificuldade em se solubilizar.
Foi preparada solução contendo 500ppm de LI, seguindo o mesmo procedimento adotado para
demais soluções descritas neste trabalho. Entretanto, verificou-se que a solução de 500ppm
apresentava uma concentração muito baixa de LI para detecção e optou-se por utilizar soluções
mais concentradas de 3.000ppm e 10.000ppm, também preparadas conforme procedimento já
mencionado.
Para a obtenção dos espectros das amostras de HCl 1M puro e de [BMIM][NTf2] puro, a
intensidade da luz incidente aplicada foi 450 mV e 400 scans foram necessários. Enquanto que,
para as amostras das soluções de HCl 1M com 3.000 e 10.000 ppm, a intensidade da luz incidente
aplicada foi 350 mV e também foram necessários 400 scans.
Uma alíquota de cada uma das soluções de HCl 1M com [BMIM][NTf2], foi transferida
com o auxílio de uma seringa para um tubo de vidro (Figura 10) previamente limpo e seco de
cerca de 2cm de altura e 3mm de diâmetro. Este tubo foi introduzido em um suporte, que deixou
uma área circular exposta em ambos os lados para que o laser pudesse penetrar a amostra (Figura
11). Um espelho foi acoplado ao lado oposto ao laser de modo a refletir de volta a radiação
incidente. Por fim, o equipamento foi ajustado com a potência e número de varreduras adequadas
para cada amostra, conforme pode ser verificado nos respectivos gráficos, elaborados com o
auxílio do programa Origin.
50
Figura 10–Tubo para amostra com suporte metálico e orifício que permite a incidência do laser
sobre a amostra.
Figura 11 - Arranjo para espectroscopia Raman.
8. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A eficiência dos LI como inibidores de corrosão para o aço A36 foi determinada por meio dos
testes de perda de massa, à temperatura ambiente e para concentrações variáveis de LI, de
100ppm, 250ppm e 500ppm. Após realização de uma série de ensaios de perda massa até a
obtenção de resultados reprodutíveis, obteve-se as taxas de corrosão para cada concentração e
51
branco e, em seguida, a eficiência de inibição. Verificou-se, assim, que os LI apresentam efeito
como inibidores de corrosão, em conformidade com as informações encontradas na literatura já
mencionada, Tabela (p.38).
A eficiência de corrosão foi determinada a partir da média das perdas de massa registradas
para os corpos de prova A e B de cada solução, conforme apresentado na Tabela 4 (p.51), sendo
que os testes foram realizados a temperatura de 25°C (monitorada com termômetro posicionado
ao lado dos tubos), por um período de 5 horas. A densidade utilizada para cálculo da taxa de
corrosão dos corpos de prova, foi a pré-determinada pelo laboratório, de 7,85 g/cm³. Desta forma,
a taxa de corrosão verificada para a solução de HCl 1M (branco) foi de 2,22 mm/ano,
correspondente à uma perda de massa de 0,0011g.
LI
Corpo
de
Prova
Concentração
LI (ppm)
Dimensões do Corpo de Prova Perda de Massa
a (mm) b (mm) c (mm) S (cm²) M1 (g)
(±0,0001g)
M2(g)
(±0,0001g) Δm (g)
BMIM
Cl
A 100 8,84 4,12 2,03 1,25 0,5711 0,5703 0,0008
B 100 8,32 3,96 1,84 1,11 0,4213 0,4206 0,0007
A 250 8,55 4,31 1,95 1,24 0,4900 0,4894 0,0006
B 250 8,2 4,25 1,94 1,18 0,4978 0,4972 0,0006
A 500 8,75 4,22 2,04 1,27 0,4959 0,4953 0,0006
B 500 8,30 3,89 2,16 1,17 0,4703 0,4698 0,0005
BMIM
NTF2
A 100 8,49 4,19 1,97 1,21 0,4851 0,4841 0,0010
B 100 8,46 4,10 1,92 1,18 0,4588 0,4577 0,0011
A 250 8,49 4,35 1,89 1,22 0,4962 0,4955 0,0007
B 250 8,45 4,28 2,07 1,25 0,5412 0,5403 0,0009
A 500 8,52 4,16 1,94 1,20 0,4722 0,4718 0,0004
B 500 8,83 4,37 1,78 1,24 0,5434 0,5428 0,0006
Tabela 4 - Resultados do teste de perda de massa. Solução HCl 1M, T=25°C, por 5h.
52
Conforme pode ser visto na Figura 12, para [BMIM][Cl], este LI apresentou uma
eficiência de inibição de 54,82% para concentração de 500ppm. Ainda, nota-se que o
[BMIM][Cl] apresenta uma tendência à estabilização da eficiência de inibição, para
concentrações de LI acima de 500ppm, em torno de 55%. Os valores encontrados seguiram a
tendência de aumento com a concentração conforme encontrado na literatura (MURULANA et
al., 2012; SCENDO; UZNANSKA, 2011; ZHANG; HUA, 2009). Zhang e Hua (2009)
mencionam uma eficiência máxima de inibição em aço carbono de 87,5% para concentração de
1747ppm de [BMIM][Cl] e de 65,9% para 175ppm, porém, os ensaios foram realizados a 30°C e,
como a temperatura influencia no efeito de adsorção e, consequentemente, de inibição, não se
pode comparar diretamente os resultados.
Figura 12 - Eficiência do LI BMIM Cl como inibidor de corrosão em A36 a
100ppm, 250ppm e 500ppm e linha de tendência.
53
Na Figura 13 para o [BMIM][NTf2], verificou-se uma eficiência de inibição de 59,01%
para a maior concentração (500ppm) e, ao contrário do LI anterior, o [BMIM][NTf2], apresentou
um aumento linear da eficiência de inibição em função da concentração. O valor encontrado é
bastante próximo aquele reportado por Murulana et al.(2012), de 68,9% (30°C, 500ppm), assim
como a tendência de aumento da inibição com a concentração. Devido ao crescimento linear da
curva de tendência, podemos concluir que o LI em questão, é promissor como inibidor de
corrosão e mais testes poderiam ser realizados afim de verificar se o efeito inibidor continua a
aumentar com a concentração, ou se haveria uma estabilização dessa eficiência.
Figura 13 - Eficiência do LI BMIM NTF2 como inibidor de corrosão em A36
a 100ppm, 250ppm e 500ppm e linha de tendência.
54
Murulana et al.(2012) apresenta a característica hidrofóbica do alquil-imidazólio com
cadeias alquílica longas, como justificativa para a maior eficiência de inibição, pois, segundo o
autor, o caráter hidrofóbico do LI faria com que ele interagisse mais com o metal do que com a
própria solução de HCl 1M. Desta forma, pode-se sugerir que o LI com o ânion [NTf2], bastante
hidrofóbico, deva apresentar eficiência de inibição maior que o LI com o ânion [Cl], o que condiz
com as diferentes tendências de crescimento da eficiência de inibição com a concentração
verificadas (crescente para o [NTf2] e próxima da estabilização para o [Cl]).
Ainda, sabe-se que os LI contendo o cátion [BMIM] e os seguintes ânions podem ser
agrupados, conforme a eficiência de inibição à corrosão, em: [HSO4] > [Cl] > [Br] (SCENDO;
UZNANSKA, 2011; ZHANG; HUA, 2009). Sendo que o [HSO4] apresentou eficiência de 70,5%
a 118ppm, 30°C em aço carbono (ZHANG; HUA, 2009). Desta forma, podemos inferir que o LI
com o ânion [NTf2] deve apresentar uma eficiência de inibição máxima intermediária entre o
[BMIM][Cl] e o [BMIM][HSO4].
Como podemos verificar pelos resultados da perda de massa, ambos LI apresentam
propriedades anticorrosivas em solução de HCl 1M e, portanto, certo grau de interação com a
solução e a superfície metálica, conforme reportado por Murulana et al. (2012). Entretanto,
durante o preparo das soluções para o ensaio de perda de massa, foi observado que o LI
[BMIM][NTF2] não se solubilizava totalmente no meio de HCl 1M, formando uma segunda fase,
mais densa que a solução. Por apesentar forte caráter hidrofóbico, o LI forma uma bolha ao ser
adicionado à solução, que não se dissolve por agitação manual. Este fato não foi reportado na
literatura consultada em que figura o [BMIM][NTf2] (mencionada na Tabela 2), nem a forma
utilizada para homogeneização da solução, apesar de seu caráter hidrofóbico ser conhecido
(FREEMANTLE, 2009).
Devido a esta separação de fases observada, na forma de bolha(s) de LI, a solução foi
levada a um equipamento de ultrassom para homogeneização. O ultrassom tem por finalidade
ceder energia, por meio da cavitação, ao LI para romper as interações do LI com ele mesmo, a
fim de provocar sua dispersão em solução. Durante exposição da solução ao ultrassom, com
agitação manual a cada 2 minutos, aproximadamente, verificou-se que a bolha de LI se dividia
em bolhas cada vez menores, até que, por fim, não era mais possível identificar separação de
fases a olho nu. Dentro deste contexto, decidiu-se verificar a interação do [BMIM][NTF2] com a
solução de HCl 1M por meio da espectroscopia Raman.
55
A espectroscopia foi empregada com o objetivo de comparar os espectros característicos
da solução de HCl 1M pura e do LI puro com o espectro da solução com diferentes concentrações
de [BMIM][NTF2]. Foram então obtidos os espectros que apresentam o número de onda em
função das intensidades dos modos vibracionais característicos das moléculas para cada uma das
soluções.
56
Figura 14 - Comparação entre os espectros Raman do [BMIM][NTf2] puro com as soluções de HCl 1 M pura e contendo
3000 e 10000 ppm
57
O espectro característico do LI [BMIM][NTF2] puro apresenta seu maior pico de intensidade
quando o número de onda é aproximadamente 780 cm-1, e é característico do ânion [NTf2]. Além
deste, outros picos marcantes são aqueles manifestados em torno de 3000 e 1200 cm-1, que
representam respectivamente os movimentos de estiramento e a deformação da ligação C-H no
anel do cátion de imidazólio, [BMIM].
Após a passagem da solução ácida contendo o LI pelo ultrassom, esperava-se que os picos
característicos do espectro do LI puro se manifestassem no espectro da solução de HCL 1M
contendo o [BMIM][NTF2]. Entretanto, nenhuma diferença significativa pode ser apontada entre
o espectro do HCl 1M puro e do mesmo contendo o LI, como pode ser visto Figura 14.
Estes resultados indicam que possivelmente o LI não se encontrava completamente disperso
na solução, e provavelmente ocorreu uma micro separação de fases. Ou seja, a interação entre o
[BMIM][NTF2] e a solução de HCl 1M seria baixa e, portanto, as moléculas do LI
preferencialmente se ligam umas às outras e permanecem no fundo do tubo, devido à maior
densidade, não sendo então afetadas pela radiação do espectrômetro que é direcionada para a
metade da altura do tubo. Isto explicaria a ausência de picos característicos do LI nos espectros
das soluções analisadas. Deste modo, podemos também inferir que não se pode garantir que as
soluções de HCl 1M contendo LI, preparadas por diluição, apresentam de fato a concentração
desejada, uma vez que não há a homogeneização completa da solução.
Desta forma, a eficiência de inibição verificada pelo método de perda de massa pode ser
afetada uma vez que esta é diretamente proporcional a concentração de inibidor no meio. O que
pode explicar os resultados abaixo daqueles esperados pelos dados encontrados na literatura em
Murulana et al. (2012). Assim, conclui-se que estudos mais detalhados sobre a interação do
[BMIM][NTF2] com a solução de HCl 1M são necessários para compreender de forma mais
ampla a formação de microfases, sua interferência na eficiência de inibição e a necessidade ou
não de determinação de um método mais efetivo para homogeneização das soluções.
58
9. CONCLUSÃO
Os resultados indicam que os LI estudados, também usados na produção de biocombustíveis,
apresentam potencial como inibidores de corrosão, em solução ácida de HCL 1M, a temperatura
ambiente e pressão atmosférica. Ambos LI apresentaram eficiência de inibição máxima, para
concentrações de 500ppm, em torno de 60%, e apresentaram ainda, um aumento da eficiência de
inibição com aumento da concentração. Então, pode-se afirmar que os LI estudados apresentam
uma vantagem adicional em comparação com os solventes atualmente aplicados na indústria de
biocombustíveis.
Adicionalmente, os espectros Raman obtidos indicam que o LI [BMIM][NTf2], não se
encontra totalmente disperso na solução de HCl 1M mesmo após a tentativa de solubilização com
o auxílio de ultrassom.
Concluiu-se assim, que devido à característica hidrofóbica do [BMIM][NTf2], podem estar se
formando micro fases e, portanto, seriam necessárias outras análises para compreender sua
interação com a solução e o metal estudado. Pois, observamos que a natureza desta interação é
pouco explorada na compreensão do processo de inibição.
59
RECOMENDAÇÕES
Para trabalhos a serem desenvolvidos futuramente, a respeito dos mesmos LI deste trabalho,
recomenda-se:
• Dedicar atenção especial a questão da solubilidade do LI [BMIM][NTf2], testando
diferentes estratégias de solubilização;
• Realizar testes mais precisos para estudar a interação entre o LI e a solução ácida;
• Realizar ensaios de polarização e impedância eletroquímica para entender de forma mais
completa o comportamento eletroquímico do metal na presença do LI;
• Registar imagens do metal após o ensaio de perda de massa para observar o tipo de
corrosão que ocorre na superfície metálica;
• Testar a capacidade de inibição dos LI em metais de diferentes composições.
60
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