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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE LETRAS
MESTRADO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM
JOVANA MAURICIO ACOSTA DE OLIVEIRA
ANÁLISE FUNCIONAL DAS CONSTRUÇÕES CORRELATAS
ALTERNATIVAS
NITERÓI
2016
2
JOVANA MAURICIO ACOSTA DE OLIVEIRA
ANÁLISE FUNCIONAL DAS CONSTRUÇÕES CORRELATAS
ALTERNATIVAS
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos de Linguagem, da Universidade Federal
Fluminense, como parte dos requisitos necessários à obtenção
do título de mestre em Estudos de Linguagem.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Ivo da Costa do Rosário
NITERÓI
2016
3
A185 Acosta, Jovana Mauricio.
Análise funcional das construções correlatas alternativas / Jovana
Mauricio Acosta. – 2016.
97 f. ; il.
Orientador: Ivo da Costa do Rosário.
Dissertação (Mestrado em Estudos de Linguagem) – Universidade
Federal Fluminense, Instituto de Letras, 2016.
Bibliografia: f. 93-97.
1. Correlação. 2. Disjunção. 3. Construção. I. Rosário, Ivo da
Costa do. II. Universidade Federal Fluminense, Instituto de Letras.
III. Título.
4
JOVANA MAURICIO ACOSTA DE OLIVEIRA
ANÁLISE FUNCIONAL DAS CONSTRUÇÕES CORRELATAS
ALTERNATIVAS
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Letras, da Universidade Federal Fluminense,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de
mestre em Letras. Área de concentração: Estudos de
Linguagem.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Prof. Dr. IVO DA COSTA DO ROSÁRIO (UFF)
______________________________________________________________________
Profª. Drª. VIOLETA VIRGINIA RODRIGUES (UFRJ)
______________________________________________________________________
Profª. Drª. EDILA VIANNA DA SILVA (UFF)
______________________________________________________________________
Profª. Drª ANA CLÁUDIA MACHADO TEIXEIRA (UFF)
______________________________________________________________________
Profª. Drª MILENA TORRES DE AGUIAR (UERJ-FFP)
5
NITERÓI
2016
À minha mãe, ao meu marido e ao meu filho pelo amor e dedicação e por sempre
acreditarem e investirem em meus sonhos.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre presente em minha vida, conduzindo os meus passos.
À minha mãe, pela dedicação de uma vida inteira e por sempre me mostrar o valor do
estudo.
Ao meu marido, pelo companheirismo, amor e incentivo de sempre, o que fizeram com
que este trabalho fosse possível. Por estar sempre ao meu lado, em todos os momentos
da minha vida.
Ao meu filho Pedro, por despertar em mim um amor que me faz querer ser melhor
sempre e que, sem dúvida, motiva o meu crescimento.
À minha tia Diva, pelo incentivo e por me ajudar nos cuidados com meu filho durante
as aulas do mestrado.
Ao meu amigo Tharlles, pela companhia, parceria e amizade no mestrado e na vida. E
por compartilhar sempre comigo conhecimentos, textos e ideias que contribuem para o
meu crescimento profissional e pessoal.
À minha amiga Letícia, pela companhia, risadas e amizade que tornaram os meus
momentos de estudos mais divertidos.
Ao professor Ivo, meu orientador, por sua paciência, dedicação e por ser para mim um
exemplo de profissional que motiva não só a minha carreira profissional, mas também a
minha vida.
À professora e amiga Violeta, minha orientadora na graduação, por sempre acreditar e
valorizar o meu esforço e dedicação, acreditando no meu potencial.
Aos membros titulares e suplentes desta banca, por gentilmente aceitarem o convite de
participar desta etapa tão importante em minha vida acadêmica.
7
A todos vocês, meu muito obrigada!
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo observar os padrões de uso das construções
correlatas alternativas à luz da Linguística Funcional Centrada no Uso, reunindo tanto
pressupostos funcionalistas quanto construcionistas. Essa teoria parte do princípio de
que a língua emerge a partir de seu uso e vai sendo moldada por meio de sua
própria instabilidade. A partir dessa premissa, nossa pesquisa observa os usos e os
contextos em que estão inseridas as construções correlatas alternativas. Pretendemos
analisar o comportamento semântico e sintático que envolve esse tipo de construção
dentro do quadro da correlação. Pretendemos, ainda, observar os valores sintáticos e
semânticos de cada type correlativo encontrado. Com base na constatação de
Fillenbaum (1986) de que algumas orações disjuntivas podem assumir um valor
condicional, observamos se há sobreposição de valores semânticos nas construções
correlatas alternativas analisadas e quais os fatores motivadores para esse fenômeno.
O objeto em análise é tratado como construção, por aderirmos à proposta atual da
Gramática de Construções nos modelos de Croft (2007), Goldberg e Jackendoff
(2004) e Trousdale (2008). Nessa perspectiva, a gramática é vista de forma holística,
ou seja, nenhum nível é central. Ademais, forma e significado são pareados como
iguais e passam a funcionar, nesta teoria, como unidades básicas e centrais da língua,
operando em diferentes níveis da gramática. O corpus utilizado é composto por textos
retirados de versões eletrônicas da Revista Veja (http://www.veja.abril.com.br)
Palavras chave: Correlação, disjunção, construção.
8
ABSTRACT
This study aims to observe the usage patterns of the alternatives related buildings in
the light of Linguistics Centered Functional in use, bringing together both
functionalist assumptions as constructionist. This theory assumes that language
emerges from its use and is being shaped by its instability. From this premise, our
research will observe the uses and contexts in which they operate alternative
constructions. We intend to analyze the semantic and syntactic behavior involving this
type of construction within the correlation table. It is intended to also observe the
syntactic and semantic value of each correlative type found. Based on the finding
Fillenbaum (1986) that some disjunctive prayers can take a conditional value, we will
see if there is overlap of semantic values in the alternatives considered related
buildings and what the motivating factors for this phenomenon. The object in question
will be treated as construction, by adhering to the current proposal of construction of
grammar in Croft models (2007), Goldberg and Jackendoff (2004) and Trousdale
(2008). From this perspective, the grammar is viewed holistically, that is, no level is
central. Moreover, form and meaning are paired as equals and will function in this
theory, as basic units and language centers, operating at different levels of grammar.
The corpus used is composed of texts taken from electronic versions of the magazine
Veja (http://www.veja.abril.com.br)
Key-words: Correlation, disjunction, construction.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
1. A CORRELAÇAO 13
1.1 A construção alternativa 24
2. PRESUPOSTOS TEÓRICOS 32
2.1. A Linguística Funcional Centrada no Uso 32
2.2. Gramática de Construções 34
2.3. Neonálise e analogização 40
2.4. Construcionalização e Mudança construcional 41
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 43
3.1. Caracterização do corpus 44
3.2. Fatores de análise 45
3.2.1. Correlatores espelhados e não-espelhados 46
3.2.2. Interdependência 46
3.2.3. Ordem das construções correlatas 47
3.2.4. Padrões oracionais e não-oracionais 48
3.2.5. Sobreposição de valores semânticos 49
3.2.6. Sequências tipológicas 50
3.2.7. Leitura semântica de exclusão ou inclusão 51
4. ANÁLISE DE DADOS 53
4.1. Correlatores espelhados 55
4.1.1 Correlatores de base conjuncional 56
4.1.1.1. Construções com ou...ou 57
4.1.1.2. Construções com nem...nem 66
4.1.2. Correlatores de base verbal 70
4.1.2.1. As construções com seja...seja 70
4.1.2.2. As construções com quer...quer 75
4.1.3. Correlatores de base substantiva 77
4.1.3.1. As construções com ora...ora 78
4.2. Correlatores não-espelhados 82
10
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 87
6. REFERÊNCIAS 92
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Definições de coordenação..........................................................................15
Quadro 2 - Definições de subordinação........................................................................ 16
Quadro 3 - Correlação nas gramáticas tradicionais........................................................18
Quadro 4 - Tipos de orações correlatas........................................................................ 26
Quadro 5 - Oração alternativa nas gramáticas tradicionais.......................................... 27
Quadro 6 - Conjunções alternativas.............................................................................. 28
Quadro 7 - Diferenças entre construção coordenada e construção correlata................ 90
Quadro 8 - Propriedades das construções correlatas alternativas.................................. 92
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Primeiros resultados...................................................................................... 47
Tabela 2 - Dados de jan/2013 a fev/2014...................................................................... 54
Tabela 3 - Types de construções correlatas alternativas................................................ 55
Tabela 4 - Types de construções correlatas alternativas espelhadas.............................. 56
Tabela 5 - Ordem das construções com ou...ou............................................................. 62
Tabela 6 - Sobreposição semântica das construções com ou...ou.................................. 63
Tabela 7 - Padrão oracional das construções com ou...ou.............................................. 65
Tabela 8 - Padrão oracional das construções com seja...seja......................................... 71
Tabela 9 - Sequências tipológicas das construções com seja...seja............................... 74
Tabela 10 - Padrão oracional das construções com seja...seja....................................... 80
Tabela 11 - Sequências tipológicas das construções com ora...ora............................... 81
Tabela 12 - Types de construções correlatas alternativas não-espelhadas..................... 82
Tabela 13 - Sequências tipológicas das construções com seja...ou................................ 84
Tabela 14 - Possibilidade de inversão das constuções alternativas............................... 88
Tabela 15 - Padrão oracional das construções alternativas............................................ 89
Tabela 16 - Interpretação semântica de inclusão/exclusão das construções correlatas . 89
12
INTRODUÇÃO
A correlação destaca-se por sua importância dentro dos estudos da estruturação
do período e no âmbito de toda a sintaxe. A presente pesquisa pretende contribuir para
que o estudo desse fenômeno, no campo da alternância/disjunção, ganhe maior
notoriedade, atraindo mais pesquisas sobre o tema.
Este trabalho faz parte de um projeto maior desenvolvido pelo Prof. Dr. Ivo da
Costa do Rosário, orientador desta dissertação, no âmbito do Grupo de Pesquisa sobre
Conectivos e Conexão de Orações (CCO), que pretende, dentre outras atividades,
realizar uma descrição de todo o quadro da correlação no português. Diante disso,
para esta investigação científica, selecionamos as construções correlatas
alternativas, tradicionalmente conhecidas pela gramática tradicional como orações
coordenadas alternativas. Esse é o recorte a ser analisado neste estudo.
Pautados na Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU), que leva em conta
as inovações e as mudanças apresentadas na língua em uso, consideramos aqui todos
os correlatores1 que estabelecem a noção de alternância, ou seja, os prescritos e os
não prescritos pelas gramáticas tradicionais2. Sendo assim, a partir do corpus
selecionado para esta pesquisa, analisamos os correlatores mais comuns (ou...ou,
seja...seja, quer...quer, nem...nem, ora...ora), bem como algumas variações não
canônicas desses pares: seja...ou, nem... ou. etc.
A hipótese central que motivou a nossa pesquisa é a de que a construção
correlata alternativa é uma construção diferente da coordenada alternativa, apesar de
comumente serem apresentadas de forma intercambiável por vários compêndios. Para
tentarmos comprovar a nossa hipótese, os objetivos traçados são:
1 O termo correlatores foi criado por Rosário (2012), em analogia a coordenadores e subordinadores,
para referir-se aos articuladores sintáticos responsáveis pela correlação. 2 Consideramos Gramática Tradicional o modelo utilizado como base para a abordagem e ensino da
língua portuguesa nas escolas. Tem origem em uma tradição de estudos de base filosófica que se iniciou
na Grécia Antiga, e está consubstanciada nas obras de Rocha Lima (1999), Cunha & Cintra (2001) , Luft
(2000), Kury (2003), dentre outros.
13
Demonstrar que as construções correlatas alternativas apresentam
características que as diferenciam das típicas coordenadas.
Analisar o comportamento semântico e sintático que envolve esse tipo de
construção dentro do quadro da correlação.
Observar se há sobreposição de valores semânticos nas construções correlatas
alternativas analisadas e quais os fatores motivadores para esse fenômeno.
No capítulo 1, apresentamos as definições de coordenação e subordinação
adotadas por alguns autores, com o intuito de observamos como o assunto é abordado
pelos principais gramáticos. Em seguida, traçamos um breve panorama sobre os
estudos da correlação e definimos o nosso objeto de estudo: a correlação alternativa.
Nesse ponto do trabalho, discorremos com mais detalhes sobre as hipóteses que
impulsionam esta pesquisa.
No capítulo 2, apresentamos os pressupostos teóricos que norteiam a nossa
pesquisa: a LFCU e a Gramática de Construções. Além de apresentarmos brevemente
a teoria linguística adotada, destacamos o conceito de construção adotado por autores
como Croft (2007) e Goldberg (1995), dentre outros, abordando também alguns
conceitos relacionados a mudança linguística que igualmente servem como aporte
teórico para nossa análise.
No capítulo 3, apresentamos o corpus, detalhadamente, e os procedimentos
metodológicos utilizados nesta pesquisa, demonstrando quais critérios foram adotados
em nossa análise e a relevância de cada um para o desenvolvimento da pesquisa.
No capítulo 4, procedemos à análise dos dados, em que são explicitados os
resultados e todos os types3 de construções alternativas encontrados, com um breve
comentário acerca do valor semântico apresentado para cada um. Apresentamos
também os critérios delimitados para análise dos dados e o resultado da aplicação de
cada critério selecionado.
Por fim, no capítulo 5, apreciamos as considerações finais que constarão de
uma breve síntese das descobertas e conclusões obtidas a partir da análise de dados.
3 Types são construções individuais, também conhecidos como microconstruções (cf. TRAUGOTT;
TROUSDALE, 2013).
14
Neste último capítulo, procuramos responder também os questionamentos surgidos ao
longo da pesquisa.
1. A CORRELAÇÃO
Neste capítulo, apresentamos as diferentes visões adotadas pelos autores em
relação à correlação. Trata-se de um dos processos de estruturação do período que tem
sido colocado à margem em vários estudos de sintaxe. De fato, a maioria das
gramáticas não aborda esse fenômeno sintático e, quando o assunto é abordado, não
recebe o tratamento adequado, sendo apresentado de forma abreviada.
Em 1952, Oiticica propôs quatro tipos de estruturação do período: coordenação,
subordinação, correlação e justaposição, demonstrando que a correlação apresentava
especificidades em relação aos demais processos. Em obra intitulada Teoria da
Correlação, Oiticica afirma que “esse processo de composição do período [a
correlação] sempre andou confundido com o da subordinação em todas as gramáticas
brasileiras ou estrangeiras.” (cf. OITICICA, 1952, p. 13) enfatizando, ainda, o
diferencial sintático apresentado pela correlação: a interdependência.
Apesar de haver alguns estudos já clássicos sobre o tema, esse fenômeno ainda é
alvo de enorme discordância entre os linguistas e mesmo entre os gramáticos. Como
vermos adiante, alguns autores analisam a correlação como um subtipo da
subordinação e da coordenação. Outros acreditam ser este um processo à parte, por
apresentar características próprias em relação aos processos canônicos de ligação de
orações.
De acordo com as gramáticas tradicionais, as aqui chamadas construções
correlatas alternativas são tratadas no âmbito das orações coordenadas alternativas. No
entanto, acreditamos que a construção correlata apresenta características particulares
que a diferenciam das coordenadas. Como o nosso objeto de estudo é tradicionalmente
classificado dentro da coordenação, mas como citou Oiticica (1952), é muitas vezes
confundido com a subordinação, veremos como alguns autores abordam esses dois
processos mais canônicos.
15
Quadro 1 – Definições de coordenação4
COORDENAÇÃO
Cunha e Cintra
(2001, p. 593-594)
Segundo palavras de Cunha & Cintra, as orações coordenadas são estruturas da
mesma natureza, autônomas, independentes, isto é, cada uma tem sentido próprio.
Elas não funcionam como termos de outra oração, nem a eles se referem: apenas
uma pode enriquecer com o seu sentido a totalidade da outra.
Rocha Lima
(1999, p. 260)
Comunicação de um pensamento em sua integridade, pela sucessão de orações
gramaticalmente independentes – eis o que constitui o período composto por
coordenação.
Luft
(2000, p. 47 e 51)
Coordenadas são as orações de igual função, ligadas entre si por meio de
conjunções coordenativas, ou por justaposição (assíndeton) na expressão
daquelas. [...] As orações do período ‘composto por coordenação’, independentes,
levam o nome de coordenadas.
Melo (1978, p. 146-
147)
Coordenação é o paralelismo de funções ou valores sintáticos idênticos. Oração
coordenada é a que está posta ao lado de outra, de igual natureza e igual função.
Almeida, N.
(2004, p. 523)
Oração coordenada é a que vem ligada a outra de igual função, ou seja, as
coordenadas entre si podem estar quer independentes, quer subordinadas, quer
principais.
Ribeiro, M.
(2004, p. 307)
Na coordenação, ocorre uma independência sintática: cada oração coordenada tem
seus próprios termos. Coordenação é a sequência de orações em que uma não
exerce função sintática de outra.
Bueno
(1963, p. 140)
Quando ambas as proposições exercem a mesma função no período, de tal modo
que uma pode ser separada de outra, mantendo a sua perfeita significação, serão
coordenadas.
Said Ali (1966, p. 130)
A combinação coordenativa é formada de uma oração inicial e uma ou mais
orações sequentes ou coordenadas que se caracterizam por alguma das partículas
e, mas, ou, portanto, logo, porquanto, etc.
Kury
(2003, p. 62)
Se todas as orações de um período são independentes, isto é, têm sentido por si
mesmas, e poderiam, por isso, constituir cada uma um período, o período se diz
composto por coordenação.
Pereira, E. (1943, p. 206)
A coordenação consiste na combinação de palavras e frases da mesma função
gramatical, e, ainda, de termos que se prendem por concordância, como o
predicado e o sujeito, o atributo e o substantivo.
Maciel
4 Os quadros 1 e 2 foram elaborados por Rosário (2012).
16
(1931, p. 357-
358) As proposições coordenadas exprimem pensamentos independentes, relacionados
apenas pelo sentido ou por conjunção coordenativa.
Bechara
(1999, p. 48)
Consiste a parataxe na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades de um
mesmo estrato funcional podem combinar-se nesse mesmo nível para constituir,
no mesmo estrato, uma nova unidade suscetível de contrair relações sintagmáticas
próprias das unidades simples deste estrato. Portanto, o que caracteriza a parataxe
é a circunstância de que unidades combinadas são equivalentes do ponto de vista
gramatical, isto é, uma não determina a outra, de modo que a unidade resultante
da combinação é também gramaticalmente equivalente às unidades combinadas.
Não sobem a estrato de estruturação superior.
Quadro 2 – Definições de subordinação
SUBORDINAÇÃO
Cunha e Cintra
(2001, p. 594.600)
Orações subordinadas são orações sem autonomia gramatical, isto é, funcionam
como termos essenciais, integrantes ou acessórios de outra oração. O período
composto por subordinação é, na essência, equivalente a um período simples.
Distingue-os apenas o fato de os termos (essenciais, integrantes e acessórios)
deste serem representados naqueles por orações.
Rocha Lima
(1999, p. 261-
622)
No período composto por subordinação, há uma oração principal, que traz presa a
si, como dependente, outra ou outras. Dependentes, porque cada uma tem seu
papel como um dos termos da oração principal.
Luft
(2000, p. 48 e 53)
Subordinada é aquela que depende de uma principal. É uma oração regida por
outra, ou por um termo desta. [...] Onde há uma oração subordinada há também
uma principal; são termos correlativos: não há principal sem subordinada, nem
subordinada sem principal.
Melo
(1978, p. 148-149)
Subordinação é a relação de dependência entre as funções sintáticas. Em toda
oração normalmente constituída há necessariamente pelo menos um elo
subordinativo, o que prende ao sujeito o predicado. [...] Oração subordinada é
aquela que exerce em outra uma função ou subfunção, e que por isso não tem
autonomia, não vale por si, é parte de outra oração, chamada principal.
Almeida, N. (2004, p. 524)
Oração subordinada é a que completa o sentido de outra de que depende,
chamada principal, à qual se prende por conjunções subordinativas ou pelas
formas nominais do verbo.
Ribeiro, M.
(2004, p. 308)
Oração subordinada é a que desempenha o papel de termo de uma oração
principal.
Bueno (1963, p. 140)
Se no período lógico, uma oração não pode ser separada de outra porque ficará
incompleta em sua significação, haverá orações subordinadas.
Said Ali
(1966, p. 130)
A combinação subordinativa consta de uma oração principal e uma ou mais
secundárias ou subordinadas. Orações secundárias são desdobramentos do sujeito,
do complemento ou dos determinantes atributivos ou adverbiais em novas
orações.
Pereira, E. (1943, p. 207)
A subordinação dá-se quando uma palavra ou frase se combina ou relaciona com
um outro termo de diferente função sintática.
Maciel
(1931, p. 360)
Os termos da proposição simples expandem-se, desenvolvem-se, ligando
proposições acessórias mediante conectivos subordinantes, isto é, pronomes
relativos, conjunções subordinativas, e às vezes os adjetivos ou os pronomes
indefinidos.
17
Bechara
(1999, p. 47)
A hipotaxe é a propriedade oposta à hipertaxe: consiste na possibilidade de uma
unidade correspondente a um estrato superior poder funcionar num estrato
inferior, ou em estratos inferiores. É o caso de uma oração passar a funcionar
como “membro” de outra oração, particularidade muito conhecida em gramática.
Podemos observar, a partir dos quadros apresentados, que várias definições
apresentam divergências em alguns pontos: em algumas definições, por exemplo,
subentende-se que a coordenação e a subordinação só ocorrem no período composto.
Em outros casos, há inconsistência com relação ao termo (in)dependência, não
deixando claro se esse conceito se refere a um traço de natureza semântica ou sintática,
dentre outros problemas. Como foi observado por Rosário (2012), para autores como
Rocha Lima (1999) e Ribeiro (2004), por exemplo, a subordinação exibe uma relação
de dependência sintática. Para Almeida (2004) e Bueno (1963), por outro lado, trata-se
de uma relação de dependência semântica.
Percebemos que caracterizar coordenação simplesmente como independência de
elementos e subordinação como dependência de um elemento a outro é algo
inconsistente, pois isso dá margem a inúmeros questionamentos. Rosário (2012, p.10)
afirma que:
os critérios semântico e sintático estão presentes na maioria das
definições apresentadas, juntamente com o conceito de dependência,
mas não são bem definidos, gerando incompreensões e falta de clareza
nas exposições teóricas. Essa heterogeneidade evidencia a carência de
uma posição precisa por parte dos gramáticos de orientação
tradicional e dificulta uma análise gramatical criteriosa.
A divergência que ocorre em torno dos processos de coordenação e
subordinação já foi abordada por diversos autores. De fato, a forma como esses
processos são apresentados pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) dá
margem a diversos debates e questionamentos, por gerarem definições inconsistentes e
instáveis. As questões debatidas pelos autores são muitas e envolvem vários aspectos, e
essas divergências crescem quando nos referimos aos processos de justaposição e de
correlação, que não são abordados adequadamente, como já dissemos, pela maioria das
gramáticas tradicionais.
18
As construções alternativas costumam ser abordadas dentro da coordenação.
Por essa razão, vejamos, nos parágrafos seguintes, duas definições de coordenação
apresentadas por autores mais modernos.
Segundo Pezatti e Longhin-Thomazi (2008, p. 865), “construção coordenada
consiste em dois ou mais membros, funcionalmente equivalentes, combinados no
mesmo nível estrutural por meio de mecanismos de ligação”. Com isso, as autoras
ressaltam a independência sintática da coordenação, afirmando que nenhum membro da
construção coordenada é dependente dos demais, destacando, ainda, a sua equivalência
funcional, ou seja, os membros devem ter as mesmas funções semânticas, sintáticas e
pragmáticas.
Ramat e Mauri (2011, p.1) consideram como coordenação entre duas cláusulas
qualquer relação estabelecida entre estados de coisas funcionalmente equivalentes, com
a mesma função semântica e perfis cognitivos autônomos, “sendo ambos codificados
por declarações caracterizadas pela presença de alguma força ilocucional.”
Observamos que os autores citados ressaltam, principalmente, a independência
e a equivalência funcional como propriedades intrínsecas da coordenação. Nesse
sentido, assemelham-se bastante aos autores tradicionais apresentados nos quadros 1 e
2, ou seja, não há diferença substancial entre eles.
A seguir, apresentamos as visões de alguns autores que focalizam a correlação.
Quadro- 3- Correlação nas gramáticas tradicionais
(Dias, 1970, p. 252)
De dar realce à pluralidade dos objetos serve
(entre membros de uma oração) tanto [assim] –
como (que substitui o latim et-et). Ex: “offeyro..
todo huherdamento de Crexemil, assi us das sestas
como todo u outro herdamento (Doc.de 1193)”
(Dias, 1970, p. 252).
Rocha Lima (1999, p. 261) Para dar mais vigor à coordenação, valemo-nos de
uma fórmula correlativa (não só...mas também;
não só...mas ainda; não só...senão também; não
só...senão que).
Luft (2000, p.51)
Alternativas enfáticas correlatas: ora lê, ora
escreve.
Uchôa (2004, p.111)
Já no terceiro tipo da alegada ‘correlação’, o que
se tem na realidade é uma coordenação aditiva
enfática.
Fonte: a autora, 2016
19
Por meio do quadro 3, notamos que os autores, ao fazerem referência ao
processo da correlação, utilizam palavras como vigor, ênfase e realce para defini-lo,
ressaltando, assim, o caráter argumentativo e persuasivo presente na correlação. Esse
dado é muito importante, pois é destacado um fator de ordem pragmática.
Alguns gramáticos estrangeiros também ressaltaram o caráter persuasivo da
correlação. Quirk et al. (1985), por exemplo, afirmam que a correlação apresenta uma
argumentação mais persuasiva e mais formal, sendo utilizada quando se quer ressaltar a
força do pensamento. Autores como Eastwood (1985) e Berndt et al. (1983, apud
Rosário, 2012) concordam com Quirk et al.(1985) e ressaltam o uso enfático da
correlação.
De fato, notamos que a maioria dos autores associa correlação a argumentação.
Esse parece ser um ponto bastante pacífico. Entretanto, não há essa mesma harmonia
quando a questão está ligada ao status de processo de estruturação do período ou não.
Em outras palavras, a correlação está no mesmo nível da subordinação e da
coordenação?
Alguns autores, como Azeredo (1979) e Câmara Jr. (1981), dentre outros,
defendem a existência de apenas dois processos de estruturação do período:
coordenação e subordinação. De acordo com esses autores, a correlação deve ser vista
apenas como um subtipo dos processos já existentes. Câmara Jr. (1981, p. 87) reconhece
que a correlação apresenta um arranjo sintático diferenciado, entretanto não concorda
que seja um processo autônomo em relação aos demais.
Luft (2002) concorda com os autores citados, afirmando que a correlação não
passa de um tipo especial de conexão que se estabelece dentro da coordenação, e não
deve ser vista como um processo independente dos demais. Carone (2006, p.36), à
maneira de Luft (2002), afirma que:
As relações estabelecidas entre orações podem apresentar, por vezes,
características de realização que as distinguem do usual, o que tem
levado alguns gramáticos a ver nisso outros tantos procedimentos
sintáticos. Trata-se da correlação e da justaposição, variantes formais
dos processos (de subordinação e de coordenação). Não nos deteremos
na justaposição e na correlação porque são variantes formais de
subordinação ou coordenação: aquela, com omissão do instrumento
gramatical (conjunção); esta, com significados descontínuos (ex:
seja...seja, não só...mas também).
20
Podemos observar que a maioria dos gramáticos prefere não considerar a
correlação como um terceiro processo de estruturação sintática. No entanto, não
apresentam justificativas claras e contundentes que justifiquem tal escolha. Ao contrário
desses autores, alguns pesquisadores como Melo (1978), Rodrigues (2007) e Rosário
(2012), dentre outros, defendem que a correlação apresenta especificidades em relação
aos outros processos e não deve ser classificada como um subtipo da coordenação ou da
subordinação, mas como um processo autônomo.
Segundo Rodrigues (2007), a correlação é um mecanismo de estruturação
sintática ou procedimento sintático em que uma sentença estabelece uma relação de
interdependência com a outra no nível estrutural. Sendo assim, nesse processo, uma
oração não existiria sem a outra, por serem interdependentes. Ainda de acordo com a
autora, a conexão na correlação é estabelecida por “conectores correlatos” que tem cada
uma de suas partes em orações diferentes. Com isso, ela diferencia os processos de
estruturação da seguinte forma:
- Subordinação – processo de hierarquização de estruturas em que as orações são
sintaticamente dependentes. (cf. RODRIGUES, 2007, p. 227).
- Coordenação – processo em que as orações são sintaticamente independentes uma
das outras, caracterizando-se pelo fato de implicarem paralelismo de funções ou valores
sintáticos idênticos. (cf. RODRIGUES, 2007, p. 227).
- Correlação – processo em que “duas orações são formalmente interdependentes,
relação materializada por meio de expressões correlatas”. (cf. RODRIGUES, 2007, p.
231).
Rodrigues (2007, p. 232-233) apresenta uma proposta de classificação para as
correlatas, subdividindo-as, em português, em 5 grupos: correlação aditiva, correlação
alternativa, correlação comparativa, correlação proporcional e correlação consecutiva.
Ademais, estabelece uma distinção entre orações correlatas e não correlatas:
a) a correlação apresenta conectores que vêm aos pares, cada elemento do par em uma
oração;
21
b) no período composto por correlação, as orações não podem ter sua ordem invertida,
isto é, não apresentam a mobilidade posicional típica das subordinadas adverbiais que
funcionam como adjuntos;
c) as correlatas não podem ser consideradas parte constituinte de outra, como ocorre
com as substantivas e as adjetivas restritivas.
A autora faz ainda uma importante ressalva em relação à proposta apresentada:
afirma que as correlatas aditivas não apresentam um comportamento homogêneo e, por
isso, não se encaixam em todos os critérios apresentados, já que prototípicamente é uma
construção que admite a inversão.
Ressaltamos que o nosso objeto de estudo, as construções correlatas alternativas,
também não se encaixam plenamente em todos os critérios apontados por Rodrigues
(2007), pois, assim como as aditivas, prototipicamente também admitem a inversão por
apresentarem mobilidade: Vejamos um dado do corpus de pesquisa5:
PRÓTASE APÓDADE
(1) “Além das montanhas” tem ainda uma dimensão interna poderosa (no
relacionamento cheio de pulsões das duas amigas), uma psicóloga (no contraste
entre os enquadramentos)
ora ordenados, ora caóticos
Revista Veja on-line, ed. 09/01/2013, pág. 99
Notamos que, se invertêssemos a ordem das construçõess, não traríamos grande
prejuízo em relação à primeira informação que se desejava transmitir (ora caóticos, ora
ordenados). Assim, a inversão é possível tanto do ponto de vista sintático (por resultar
em um enunciado gramatical) como do ponto de vista semântico (por conservar a
essência do sentido veiculado, sem grande alteração no conteúdo).
Melo (1978, p.152) também cultiva uma visão semelhante a Rodrigues (2007) e
Rosário (2012) ao considerar a correlação como um terceiro processo de estruturação
sintática, distinto da subordinação e da coordenação. Vejamos:
5 O corpus de pesquisa será mais bem detalhado no capítulo 3.
22
“(a correlação) é um processo sintático irredutível a qualquer dos
outros dois (subordinação ou coordenação), um processo mais
complexo, em que há, de certo modo, interdependência. Nele, dá-se a
intensificação de um dos membros da frase, ou de toda a frase,
intensificação que pede um termo”.
Notamos que o autor também admite, assim como considerado neste trabalho,
que a correlação pode ser estabelecida não só entre orações, mas também entre termos
da oração, ressaltando, ainda, a intensificação presente nas construções correlatas.
Módolo (2011) também considera a correlação como um processo distinto da
coordenação e da subordinação. Em artigo acerca do tema em que propõe “uma
tipologia sintática para as sentenças correlatas”, o autor considera a correlação aditiva
(não só ... como também, etc.), alternativa (nem ... nem, ou ... ou, quer... quer, seja ...
seja, ora ... ora, etc.), consecutiva (tão ... como, tão ... quanto, etc.) e comparativa
(mais/ menos/ antes ... do que, tanto ... quanto, quanto mais ... mais, quanto menos ...
menos, quanto mais ... menos, quanto menos ... mais, etc). Vejamos:
a correlação conjuncional pode ser caracterizada de modo geral como
um tipo de conexão sintática de uso relativamente frequente,
particularmente útil para emprestar vigor a um raciocínio,
estabelecendo uma coesão forte entre sentenças ou sintagmas, e
aparecendo principalmente nos textos apologéticos e enfáticos. A
correlação exerce aí um papel importante, pois concorre para que se
destaquem as opiniões expressas, a defesa de posições, a busca de
apoio, muito mais do que por informarem com objetividade os
acontecimentos. (MÓDOLO, 2011, p.462)
Observamos que Módolo (2011), assim como Melo (1978), ressalta o caráter
enfático da construção correlata e seu importante papel de destacar a opinião que se
quer defender e de persuadir o leitor.
Rosário (2012), em tese de doutorado realizada acerca das construções correlatas
aditivas, não só defende a correlação como um processo autônomo, mas reafirma o
estatuto particular das correlatas aditivas em relação às coordenadas aditivas. O autor
demonstra que aquelas são diferentes não só na forma, por apresentarem conectivos que
vêm aos pares, mas por serem permeadas por uma interdependência que acarreta uma
ligação mais forte entre as partes da construção.
23
O autor justifica a sua escolha, afirmando que, diante da necessidade de maior
expressividade ou de um tipo de argumentação mais formal ou enfática, houve a
necessidade de criação de um arranjo sintático formal diferente dos já tradicionais
esquemas subordinativos ou coordenativos. Com isso, o autor chama a atenção para o
diferencial pragmático das correlatas, demonstrando que essas construções são
diferentes discursivamente, por apresentarem uma carga enfática que interfere nas
relações discursivas. Vejamos os exemplos a seguir:
a. O menino trabalha ou estuda.
b. O menino ou trabalha ou estuda.6
Os exemplos citados em (a) e (b), à primeira vista apresentam similaridade. No
entanto, são construções diferentes: em (a), temos uma construção coordenada
prototípica que estabelece a alternância entre duas cláusulas por meio do conector7 ou.
Já em (b), temos uma construção correlata alternativa, com dois conectores, ou...ou
estabelecendo também a noção de alternância. Veremos ao longo deste trabalho que
essas construções apresentam diferenças que ultrapassam a forma. As duas construções
servem a necessidades comunicativas diferentes.
De fato, veremos a seguir que, assim como constatado por Rosário (2012) em
relação às aditivas, também aqui, a construção correlata alternativa apresenta, de fato,
um conteúdo pragmático particular que certamente a faz diferente da coordenada
alternativa, não só na forma, mas em sua função comunicativa.
Manna (1984, p. 31 e 180) apud Rosário (2012) concorda com os autores
citados em relação à apresentação de características particulares da correlação, e
assevera que algumas estruturas existentes na língua, definidas pelo autor como
correlacionais, não se encaixam nos padrões descritos até o momento, ressaltando a
presença da interdependência contida nas correlatas e sua função inerente no
desencadeamento do termo seguinte:
6 Os exemplos a e b foram criados para explicitar, com melhor exatidão, o diferencial pragmático
existente entre correlação e coordenação altenativa.
7 Reconhecemos a divergência no tocante ao assunto, especialmente por conta das filiações teóricas a que
os conceitos estão ligados, mas, nesta dissertação, tomamos os termos conector e conectivo como
sinônimos.
24
Nem todos os processos estruturais da língua podem ser reduzidos aos
padrões descritos até agora. Há relações combinatórias que não se
enquadram nem no tipo determinado/determinante [...] nem no tipo
unidades ou conjugados independentes entre si. [...] Pode acontecer
que os termos considerados se vinculem numa relação de
interdependência para a expressão, no plano considerado. Ora, em tais
casos, ter-se-á de admitir que o processo é distinto dos demais.
Chamamos-lhe, portanto, valendo-nos de nomenclatura já consagrada,
‘estrutura correlacional’. [...] O padrão estrutural de que se cogita
agora não responde a nenhuma de tais características (da subordinação
e da coordenação), já que os seus constituintes, ou membros, são
interdependentes, ou seja, a expressão de um deles desencadeia
necessariamente o aparecimento do outro.
Pauliukonis (1995), apud Rodrigues (2007), em defesa da correlação como
terceiro processo, salienta, assim como Oiticica, que a correlação está em nível
diferente da coordenação e da subordinação e realça o teor argumentativo presente na
correlação através de “termos indissociáveis”.
Assim como os últimos autores citados, Castilho (2010, p.387) concorda com a
ideia de que a correlação também deve ser vista como um “terceiro processo de
relações intersentenciais”. De acordo com o autor, a correlação é um relacionamento
simultâneo formado por conjunções complexas que seriam resultantes de um processo
de redobramento sintático.
Percebemos que os argumentos em defesa da correlação como um terceiro
processo de estruturação sintática são bem fundamentados e convincentes. Neste
trabalho, concordamos com, Rodrigues (2007), Castilho (2010) e Rosário (2012),
dentre outros, e assumimos a posição de que a correlação é um processo autônomo em
relação à coordenação e à subordinação.
Após a apresentação da visão de vários autores sobre o tema da correlação,
podemos decidir pela adoção de um conceito para esse fenômeno. Assim, com base em
Rosário (2012), entendemos por correlação uma “construção sintática prototipicamente
composta por duas partes interdependentes e relacionadas entre si, encabeçadas por
correlatores de tal sorte que a enunciação de uma (prótase) prepara a enunciação de
outra (apódose).” Vejamos alguns tokens8 a seguir:
8 Tokens são instância de uso proferidas pelo falante em uma ocasião especial. De acordo com Traugott e
Troudale (2013), tokens são constructos empiricamente comprovados. É conhecido como o locus da
mudança.
25
PRÓTASE APÓDOSE
(2) Sabe-se que a capacidade de aceitação pela sociedade de situações absurdas tem
limites
ou a Argentina passa a levar em consideração
tal aspecto
ou não sai do lugar.
Revista Veja on-line, ed. 02/01/2013, pág. 26
PRÓTASE APÓDODE
(3) Musicalmente, o brega não cultiva
nem a tradição, nem a modernidade.
Revista Veja on-line, ed. 01/01/2014, pág. 14
Verificamos no exemplo (2) que, na prótase Ou a Argentina passa a levar em
consideração tal aspecto, cria-se uma expectativa para o que será explicitado pela
apódose ou não sai do lugar. É como se a primeira oração servisse como elemento
focalizador para anunciar o que será apresentado na segunda oração. No exemplo (3),
verificamos que, assim como ocorre em (2), a prótase nem a tradição prepara a
anunciação da apódose nem a modernidade. Prótase e apódose são, de fato, duas partes
relacionadas entre si, intimamente ligadas uma à outra.
Uma vez definido o conceito e exemplificado o fenômeno, façamos um breve
estudo da noção de alternância/disjunção.
1.1 A construção alternativa
Assim como ocorre com a correlação como um todo, observamos que há
algumas divergências envolvendo a classificação das construções alternativas. Alguns
autores como Castilho (2010), Módolo (2011) e Melo (1978), por exemplo, as
classificam dentro do quadro das correlatas. Outros preferem sua classificação dentro
das coordenadas. Essa discussão torna-se aparente na afirmativa de Câmara Jr, em obra
organizada por Uchôa (2004, p.111):
Os adeptos da correlação, à força de explorar o conceito, chegaram à
demonstração por absurdo de que ele é falso, quando criaram a
‘correlação alternativa’ como faz Gladstone Chaves de Melo
atendendo a uma sugestão do jovem professor Maximiano de
Carvalho. Assim, dois professores excelentes (e Gladstone Chaves de
Melo é uma pessoa que muito admiro, como já frisei mais de uma vez)
aboliram a coordenação alternativa com –‘ou...ou...’, ‘quer... quer...’
sob alegação de que uma oração de ‘ou’ ou ‘quer’ não se justifica sem
26
a outra. Mas isso é normal em toda coordenação: na adversativa,
na explicativa, na conclusiva e até na aditiva, em que cada oração se
compreende em função da anterior: ‘mas preguiçoso’, ‘preguiçoso
pois’ e assim por diante não formam ‘sentido completo’. A ser válido
o raciocínio dos dois dignos professores, não há coordenação, e em
seu lugar teremos a correlação.
Discordamos da argumentação apresentada pelo autor supracitado em alguns
aspectos. Considerar a existência de correlatas alternativas não necessariamente
implica a abolição da coordenação alternativa, pois, como apresentamos neste trabalho,
trata-se de construções diferentes.
Com respeito à inclusão das alternativas no campo das correlatas (em se
tratando dos autores que admitem a existência da correlação), há quase um consenso.
Vejamos, no quadro a seguir, como isso ocorrem em cinco obras distintas.
Quadro 4- Tipos de orações correlatas9
Melo
(1978)
Melo
(1997)
Luft
(2000)
Castilho
(2004)
Uchôa
(2004)
Aditivas Aditivas Aditivas Aditivas Aditivas
Comparativas Comparativas Comparativas Comparativas Comparativas
Consecutivas Consecutivas Consecutivas Consecutivas Consecutivas
Alternativas Alternativas Alternativas Alternativas _
_ _ Equiparativas10 _ _
Proporcionais _ _ _ _
_ _ _ Paralelísticas _
Verificamos, a partir do quadro anterior, que há consenso quanto às aditivas,
comparativas e consecutivas, no entanto, os autores divergem em relação às
equiparativas, proporcionais, paralelísticas e alternativas. Diante dessas divergências
envolvendo a correlação, fica evidente a necessidade de mais estudos que contribuam
para que a análise dos processos de estruturação sintática se torne mais estável.
9 Quadro extraído de Rosário (2012). 10 A correlação equiparativa, segundo Melo (1978), ocorre quando queremos estabelecer igualdade ou
equivalência para o segundo termo, que vem fechar um pensamento deixado em aberto ou em suspenso
no primeiro termo.
27
Ademais, o fato de Uchôa (2004) não considerar as construções alternativas
dentro do quadro da correlação revela-se como bastante intrigante. A nossa hipótese
para isso está ligada à visão demonstrada pelo autor anteriormente. Como vimos, ele
acredita que, ao considerar as alternativas dentro do quadro da correlação, a
coordenação alternativa seria abolida.
Observamos que Uchôa (2004), ao defender sua posição de não concordância
com a ideia de que a correlação e justaposição são processos que estejam no mesmo
nível da coordenação e da correlação, vale-se, a todo momento, de questões referentes
a dependência. No entanto, o autor desconsidera que a correlação apresenta outros
aspectos, sendo a interdependência uma das mais marcantes.
A seguir, apresentamos uma breve pesquisa com relação ao tratamento dado à
oração alternativa em algumas gramáticas, demonstrando que, muitas vezes, as
definições são pautadas a partir de suas conjunções. Vejamos:
Quadro 5- Oração alternativa nas gramáticas
Oração alternativa
Melo
(1978, p. 147)
As orações sindéticas tomam o nome da conjunção que as encabeça.
Teremos, assim, coordenadas sindéticas, aditivas, alternativas, adversativas
conclusivas e explicativas.
Rocha Lima
(1999, p. 260)
As orações coordenadas sindéticas recebem o nome das conjunções que as
iniciam, classificando-se, portanto, em: aditivas, adversativas, alternativas,
conclusivas e explicativas.
Luft
(2000, p. 51)
A coordenação entre as orações se faz por meio de umas das conjunções
coordenativas, caso em que são sindéticas e recebem o nome da respectiva
conjunção.
Alternativas: Lê ou escreves.
Cunha
(2001, p. 597)
Coordenada sindética alternativa, se a conjunção é alternativa.
Bechara
(2003, p. 350)
São três as relações semânticas marcadas pelas conjunções
coordenativas ou conectores: aditiva, adversativa e alternativa:
Estudas ou brincas
Henriques
(2003, p. 97)
Alternativas- conjunção-base: ou
Exs: Nossa vista está embaraçada ou isso é neblina?
Ora os políticos dizem uma coisa, ora dizem outra.
Kury
(2003, p. 68)
Alternativas: As várias orações exprimem pensamentos que se alternam,
ou se excluem.
28
Mateus et alii
(2003, p. 591)
Os períodos coordenados podem estruturar-se por conjunções ou
conectores:
Por conjunções:
a) copulativa ou aditiva
b) disjuntivas ou alternativas (ou...ou; nem.. .nem; ora.. ora: quer... quer)
Esta noite, ou vamos ao teatro, ou ao cinema
c) adversativas ou contrajuntivas.
Castilho
(2010, p. 133)
Coordenação disjuntiva ou alternativa: essa coordenação é marcada pela
conjunção ou. O que é dito para o primeiro termo não vale para o
segundo.
Fonte: a autora, 2016
Como observamos a partir do quadro anterior, as definições calcadas apenas nas
conjunções não é didática, pois o leitor precisa ter um conhecimento prévio das
conjunções alternativas para compreender o significado de coordenação alternativa.
São definições circulares, portanto.
A opção pela definição das orações coordenadas a partir de suas conjunções é
adotado pela maioria das gramáticas tradicionais. Notamos que apenas alguns autores
como Castilho (2010) e Kury (2003) discutem o viés semântico dessa estrutura.
Visto que há essa forte associação (conjunções e orações), vejamos as
definições de conjunções alternativas apresentadas por algumas obras, observando
como tais gramáticas abordam essa questão. Igualmente importante é atentarmos para
como os gramáticos apresentam os conectivos correlativos.
Quadro 6- Conjunções alternativas
Bechara
(1999, p. 321)
Enlaçam as unidades coordenadas matizando-as de um valor
alternativo, quer para exprimir a incompatibilidade dos
conceitos envolvidos, quer para exprimir a equivalência deles.
Ou...ou, quer...quer.
seja...seja, ora...ora
Rocha Lima
(1999, p. 185)
As conjunções alternativas relacionam pensamentos que se
excluem. O tipo é ou, que pode repetir-se, ou não, antes
de todos os elementos coordenados. ou...ou, ora...ora,
seja...seja, quer...quer, já...já.
Cunha e cintra
(2001, p.580)
As conjunções alternativas ligam dois termos ou orações de
sentido distinto, indicando que, ao cumprir-se um fato, o outro
não se cumpre. São as conjunções ou (repetida ou não) e,
quando repetidas: ora...ora, quer...quer, etc.
Carvalho
(2011, p. 365)
As conjunções alternativas justapõem pensamentos que se
excluem: ou...ou...já...já, quer...quer, ora...ora, seja...seja.
Neves
(2011, p. 593)
A conjunção coordenativa com ou marca disjunção ou
alternância entre o elemento coordenado no qual ocorre e o
elemento anterior.
29
Verificamos, no quadro anterior, que algumas gramáticas referem-se às aqui
chamadas correlatas alternativas como estruturas instanciadas por conjunções em
repetição (ou conjunções duplicadas). Além disso, não fazem nenhuma referência
específica à correlação, com exceção de Neves (2011), que cita a correlação com ou ao
tratar da disjunção exclusiva.
Em relação aos correlatores, observamos que alguns abordados nessa pesquisa,
como seja..ou, não são mencionados pelos autores citados, provavelmente por não
serem canônicos, ou seja, esses pares são desconsiderados por não integrarem o padrão
normativo da língua, apesar de seu uso corrente (como se verá na análise de dados).
Apenas Bechara (1999) cita o correlator sejam..sejam, desconsiderando, no entanto, o
uso de seja..ou. O autor, diferentemente dos outros aqui apresentados, não considera
os correlatores seja...seja , quer...quer e ora...ora como conectores, apontando para uma
nova divergência presente no estudo das construções alternativas . Observemos:
A numeração distributiva que matiza a ideia de alternância leva a que
se empreguem neste significado advérbios como já, bem, ora
(repetidos ou não) ou formas verbais imobilizadas como quer...quer,
seja...seja. Tais unidades não são conectores e, por isso, as orações
enlaçadas se devem considerar justapostas. (BECHARA, 1999, p.
321).
Como podemos observar, Bechara (1999) não considera as conjunções citadas
acima como conectores, desprezando, assim, o processo de gramaticalização sofrido por
essas conjunções. Com isso, neste aspecto, o autor ignora a evolução e a mudança da
língua e o fato de que as palavras das quais as conjunções se originaram perderam
características, adquirindo uma nova função. A seguir, trataremos mais detalhadamente
dos correlatores quer...quer e seja...seja. Observaremos também como a correlação e a
relação de disjunção são abordadas por outros gramáticos e linguistas mais modernos.
Carvalho (2011, p. 365) apresenta o correlator seja...seja como conjunção, no
entanto, condena o uso da conjunção flexionada (do tipo sejam...sejam). Vejamos:
A conjunção seja, por ser conjunção é invariável. Está, portanto,
corretíssima a seguinte passagem da coluna “coisas de política”, de
Rosângela Bittar (Jornal do Brasil, 24-12-96): “Portanto ficam sem
30
fundamento as interpretações de recentes declarações do presidente
sobre o plebiscito, seja as feitas a deputados (...), seja as expostas em
entrevistas (...) A tendência do usuário da língua seria pôr no plural as
duas ocorrências de seja (grifo nosso).
Notamos que Carvalho classifica como um “erro” o uso flexionado da
conjunção seja...seja. No entanto, veremos no decorrer do nosso trabalho que
encontramos em nosso corpus, que é representativo da língua padrão, alguns dados da
conjunção seja flexionada. O autor condena também o uso de conjunções não-
espelhadas11. Vejamos:
O falante é livre para escolher uma conjunção alternativa entre várias
ao seu dispor. Uma vez escolhida, a conjunção deve manter-se a
mesma até o fim do período composto. Evitem-se, portanto,
construções como: “Ele sairá quer você queira ou não (queira)”. Ele
ficou triste seja porque você o ofendeu, ou porque não gostou do que
você disse” (Na primeira ocorrência, ou deve ser substituído por quer:
quer não queira; na segunda ocorrência , ou deve ser substituído por
seja: seja porque não gostou...Em ambos os casos, a correção visa
manter um principio de paralelismo de construção).(CARVALHO
2011, p.365).
Percebemos que o autor, além de condenar o uso das conjunções não-espelhadas,
afirma que estas devem ser substituídas pela conjunção equivalente para não “ferir” o
paralelismo das construções, desconsiderando que a escolha do falante vai muito além
do paralelismo formal envolvido no discurso.
Notamos, ainda, a partir do quadro anterior, que Rocha Lima (1999) e Cunha e
Cintra (2001) apesentam uma noção equivocada de alternância, pois desconsideram o
fato de que a alternância nem sempre indica exclusão, podendo indicar também
inclusão, como veremos ao longo deste trabalho.
Mateus et alii (2003, p. 563) englobam a correlação dentro da coordenação e
afirmam que a coordenação pode ser estabelecida por meio de conjunções simples ou
correlativas:
As conjunções podem ocorrer isoladamente, como e, nem, ou ,mas.
Podem, contudo exigir a presença de um correlato no primeiro
11 Conjunções não espelhadas são as compostas por dois itens desiguais. Por exemplo: seja...ou.
31
membro de coordenação. No primeiro caso, as estruturas de
coordenação mobilizam uma conjunção simples; no último caso,
locuções conjuncionais assumem a forma de uma expressão
descontínua, as chamadas conjunções correlativas.
Pezatti e Longhin-Thomazi (2008, p.898), ao referir-se à relação de disjunção,
afirmam que esta pode ser efetuada por meio da conjunção ou, simples e dupla. Essa
obra, por ter como objetivo uma análise do português em uso, é uma das poucas que
fazem referência à correlação instanciada por seja...ou. As autoras afirmam que esses
correlatores, diferentemente do que “preveem as convenções normativas”, apresenta
duas conjunções distintas para estabelecer a ligação de prótase e apódose:
A ocorrência de seja…seja manifesta , na realidade, uma forma de
repetição do predicado verbal, que parece estar se gramaticalizando
como conjunção e cuja associação com ou é frequentemente
licenciada, com valor concessivo, como é possível verificar numa
sentença como “Sejam os réus ricos ou pobres, a justiça tem que
aplicar-se”.
Raposo et alii (2013, p. 1777) admitem existir dois tipos de coordenação: a
coordenação simples e a correlativa, que pode ser feita “por duas conjunções ou
locuções, cada uma delas introduzindo um dos termos (e a segunda articulando o
primeiro com o segundo)”. Os autores ressaltam que os dois elementos que formam a
coordenação correlativa são, na verdade, um só e devem ser considerados como uma
única “conjunção de natureza complexa”. Com isso, os autores consideram dois tipos
de conectores correlativos:
- Aquele em que cada parte do conector é formada por uma conjunção simples e o todo
formado pelo seu redobro, como quer...quer, ou..ou, ora...ora, nem...nem.
- E o caso em que o conector é formado por um ou mais elementos de natureza
adverbial, como não só...mas também, não só... como (também).
Percebe-se, por meio dos conectores apresentados, que Raposo et alii (2013)
também não fazem referência a outros correlatores que serão mencionados neste
trabalho como o seja...ou, por exemplo. Aliás, não apresentam qualquer característica
que os encaixem nos dois tipos de conjunções apresentadas, já que não apresentam
conjunções repetidas nem são de base adverbial.
32
Embora Raposo et alii (2013) não tenham enquadrado o correlator seja...seja
junto aos outros mencionados, ele é citado pelos autores em nota de página. Afirmam
os autores: “A forma verbal seja também pode ser usada como conjunção correlativa,
como em seja o Antônio, seja o Manuel”.
Os autores destacam, ainda, a relação de interdependência estabelecida pelas
conjunções correlativas, formando, assim, uma “unidade estrutural” em que nenhuma
das partes pode ser omitida. (RAPOSO et alii 2003, p. 1778).
É importante ressaltarmos, no entanto, que essa gramática portuguesa prestigia
o padrão culto da língua, por isso não menciona alguns correlatores encontrados em
nossa pesquisa. Ressaltamos também que, embora os autores tenham mencionado a
correlação, eles não a consideram como um fenômeno independente dos outros
processos de estruturação do período.
Langacker (2008) afirma que a coordenação com ou, definida pelo autor como
“combinação”, é mais elaborada e mais difícil de ser caracterizada, por exemplo, do que
a combinação com e. O autor explica que, enquanto na combinação com e temos uma
justaposição mental simples em que apenas uma imagem é invocada, na combinação
com ou duas imagens são invocadas para que uma exclua a outra.
O autor ressalta que, apesar de a disjunção evocar dois espaços mentais, ambos
são equivalentes. Assim sendo, a simetria se mantém, já que os conjuntos (sintagmas)
participantes são gramaticalmente equivalentes e paralelos, assim como na adição.
Entretanto, o autor chama a atenção para o fato de que a equivalência e a simetria
COMPLETAS nunca podem ser alcançadas na prática e é justamente por isso, segundo
Langacker (2008), que a coordenação com ou é comumente descrita como disjunção, e
não conjunção. É importante ressaltarmos que o autor considera apenas a alternância
exclusiva, e não a inclusiva.
Ramat e Mauri (2011), em trabalho sobre a gramaticalização da coordenação,
trazem uma importante contribuição para uma melhor compreensão da relação
disjuntiva. Os autores apontam que a disjunção é um dos principais tipos de relações
presentes na coordenação, separando os tipos de relações coordenativas em dois grupos:
a) conectivos conjuntivos e disjuntivos e b) conectivos adversativos.
De acordo com os autores, os conectores disjuntivos são menos gramaticalizados
que os adversativos, por serem menos renováveis ao longo do tempo, ou seja, serem
mais estáticos. Seriam mais estáticos no sentido de serem menos utilizados pelos
usuários da língua do que os adversativos, por exemplo.
33
Outra razão apresentada para tal fato é que conectivos disjuntivos são
caracterizados por um menor grau de intersubjetividade, que, por sua vez, determinam
uma necessidade menos urgente de expressividade e renovação.
Feita a revisão da bibliografia, no capítulo seguinte, apresentamos os
pressupostos teóricos que balizam a presente pesquisa.
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Este capítulo está dividido em quatro seções. Na primeira, apresentamos a
Linguística Funcional Centrada no Uso (LFCU) em linhas gerais. Na segunda seção,
delineamos os pressupostos centrais da Gramática de Construções, que se revela como
aporte teórico fundamental para essa pesquisa. Em seguida, tratamos de dois conceitos
fundamentais para a compreensão de um dos aspectos do fenômeno que estamos
investigando: a neoanálise e a analogização. Por fim, trataremos dos processos de
construcionalização e mudanças construcionais, igualmente basilares para essa
pesquisa.
2.1 A Linguística Funcional Centrada no Uso
Neste capítulo, apresentamos a base teórica central que norteia a análise das
construções correlatas alternativas contempladas nesta pesquisa. A Linguística
Funcional Centrada no Uso (LFCU) representa a união de pressupostos teórico-
metodológicos da Linguística Funcional de vertente norte-americana nos modelos de
Talmy Givón, Paul Hopper, Christian Lehmann, entre outros com a Linguística
Cognitiva, na linha de Willian Croft, George Lakof, Adele Goldberg, entre outros.
A Linguística Funcional norte-americana ganha destaque na década de 70 e
prioriza o contexto linguístico e a situação comunicativa na análise da estrutura da
língua. Com isso, a língua passa a ser investigada em seus contextos efetivos de
comunicação e como um instrumento de interação social. Nessa perspectiva, discurso e
gramática tornam-se indissociáveis, ou seja, ambos interagem causando influência um
34
sobre o outro.
De acordo com Furtado da Cunha (2013, p. 9), na Linguística Funcional,
a sintaxe é compreendida como uma estrutura em constante mutação
em consequência das vicissitudes do discurso, ao qual se molda. Ou
seja, há uma forte vinculação entre discurso e gramática : a sintaxe
tem a forma que tem em razão das estratégias de organização da
informação empregadas pelos falantes no momento na interação
discursiva.
Sendo assim, o falante reorganiza a gramática em função do uso e da sua
necessidade comunicativa, ou seja, a gramática é afetada pelas experiências dos
usuários com a língua.
A Linguística Cognitiva surge na década de 70, a partir dos trabalhos de George
Lakoff e Charles Filmore como uma reação aos estudos de base gerativista,
principalmente no que diz respeito à concepção tradicional do gerativismo, de que os
humanos apresentam capacidades inatas específicas para aprender as línguas naturais.
De acordo com os cognitivistas, o estudo da linguagem não é independente de
outras faculdades mentais. O comportamento linguístico é visto como reflexo de
capacidades cognitivas, e a estrutura da linguagem é concebida como uma manifestação
de capacidades cognitivas gerais, de princípios de categorização, de mecanismos de
processamento e da experiência cultural, social e individual.
Ronald Langacker (1991) afirma que a gramática constitui um conjunto de
princípios dinâmicos que se associam a rotinas cognitivas que são moldadas, mantidas e
modificadas pelo uso. Com isso, a construção do significado é negociada pelo falante no
discurso.
Sendo assim, nessa abordagem, as categorias linguísticas são calcadas na
experiência social do indivíduo, ou seja, elas nascem a partir da experiência que o
indivíduo adquire socialmente. Nesse sentido, as construções linguísticas são vistas
como esquemas cognitivos relativamente automatizados comunicativamente.
Verificamos, dessa forma, que essas duas correntes compartilham vários
pressupostos, os quais são assumidos pela LFCU:
Rejeição à autonomia da sintaxe e incorporação da semântica e da
pragmática às análises; não distinção estrita entre léxico e sintaxe;
relação estreita entre estruturas das línguas e o uso que os falantes
fazem delas nos contextos reais de comunicação; entendimento de que
35
os dados para análise linguística são enunciados que ocorrem no
discurso natural. (FURTADO DA CUNHA, 2012, p.29)
Observamos que, a partir dessa fusão, a gramática passa a ser concebida como
uma representação da experiência dos indivíduos com a língua, considerando, ainda,
que há padrões regulares de uso e formas emergentes ao mesmo tempo, ou seja, a
estrutura da língua emerge à proporção de seu uso, e a gramática é compreendida como
em constante adaptação em consequência do discurso.
De acordo com Furtado da Cunha (2012), pode-se dizer que a língua é vista
como instrumento de comunicação não-autônomo e está submetida às pressões
comunicativas do meio no qual se insere, ou seja, ao uso, o que é refletido diretamente
sobre sua estrutura linguística. As aparentes instabilidades são motivadas e modeladas
pelas práticas discursivas dos usuários da língua em seu cotidiano. Ainda de acordo
com a autora, a LFCU procura explicar os fatos linguísticos levando em conta suas
funções semântico-cognitivas e discursivo-pragmáticas.
Tomasello (1998, p. 15), apud Funtado da Cunha (2012) ressalta a importância
que essa teoria confere à interação verbal:
De acordo com essa visão, as línguas são moldadas pela interação
complexa de princípios cognitivos e interacionais que desempenham
um papel crucial na mudança linguística, na aquisição e no uso da
língua. Assim, a lingua(gem) constitui um mosaico complexo de
atividades comunicativas, cognitivas e sociais estreitamente
integradas a outros aspectos da psicologia humana.
Observa-se que a concepção de sintaxe adotada pela LFCU corresponde às
noções de “gramática emergente” de Hopper (1987). O autor entende a gramática da
língua como um estatuto que vai sendo negociado na fala e que não pode ser separado
das estratégias de construção do discurso. Com isso, a gramática não pode ser vista
como um produto acabado, mas em constante transformação, sendo compreendida,
ainda, como esquemas simbólicos que são utilizados na produção do discurso,
motivada não só por fatores comunicativos, mas também por fatores cognitivos.
36
Esta pesquisa baseia-se na Linguística Funcional Centrada no Uso, uma vez que
trabalha com dados reais de comunicação, coletados de um corpus de língua em uso, e
analisa contextos em que as construções alternativas aparecem, considerando não só
seus aspectos sintático-semânticos, mas também seus fatores pragmáticos.
2.2. Gramática de Construções
O primeiro a fazer uso do termo construção foi Cícero, orador romano, no
primeiro século da era cristã, para referir-se a um grupo de palavras. Desde então, o
termo tem passado por transformações diversas em seu significado. No entanto,
observamos que a análise linguística voltada para as construções, como o conceito tem
sido tomado nas pesquisas atuais, é recente na literatura, sendo inaugurada a partir de
meados da década de 1980 com os trabalhos de Fillmore, Kay & O’Connor (1988),
Goldberg (1995, 2006), Croft (2001, 2009) entre outros.
É importante ressaltar que, a depender da linha teórica à qual a pesquisa se
insere, o termo construção pode assumir acepções diferenciadas. Veremos a visão de
construção adotada por alguns autores.
Goldberg (1995) advoga a favor do reconhecimento das construções como
unidades básicas da língua. A autora define a construção como um pareamento de
forma e significado. Observemos, a seguir, a definição apresentada por Goldberg
(1995):
C é uma CONSTRUÇÃO se e somente se C é um pareamento
forma/significado <Fi, Si> de modo que algum aspecto de Fi ou do Si,
não é estritamente previsível a partir de partes componentes de C ou a
partir de outras construções previamente estabelecidas12.
(GOLDBERG, 1995, p. 4)
Segundo a autora, o significado geral da construção independe dos significados
de suas partes. Goldberg (1995, p. 40) defende que as construções correspondem a tipos
12 “C is a CONSTRUCTION iff def C is a form-meaning pair <Fi, Si> such that some aspect of Fior some
aspect of Si is not predictable from C’s component parts or from other previously established
constructions.”
37
de sentenças básicos da língua e que o significado da construção está atrelado a eventos
da experiência humana. A autora define essa perspectiva como “semântica de frames”,
em que os eventos automatizados da experiência do indivíduo relacionam-se com o
significado da construção.
O estudo de Goldberg (1995) discorre também sobre a diferença de significados
das constuções, afirmando que a condição para que uma outra construção exista é que
não seja igual a nenhuma outra já existente. Com isso, a autora demonstra que
construções formadas pelos mesmos itens e por estruturas sintáticas semelhantes podem
assumir significados diferenciados.
A partir disso, a autora formula o princípio da não sinonímia da forma
gramatical. Segundo esse princípio, “se duas construções são sintaticamente distintas,
elas também devem ser semântica ou pragmaticamente distintas”. Esse princípio,
segundo Goldberg (2005, p. 67), subdivide-se em dois corolários:
Corolário A: Se duas construções são sintaticamente distintas e semanticamente
sinônimas, então elas não devem ser pragmaticamente sinônimas.
Corolário B: Se duas construções são sintaticamente distintas e pragmaticamente
sinônimas, então elas não devem ser semanticamente sinônimas.
A autora ressalta que os aspectos pragmáticos envolvem elementos de sua
estrutura informacional como tópico, foco e aspectos estilísticos. A abordagem
apresentada por Goldberg (1995) configura-se como base de sustentanção para a
hipótese central deste trabalho, ou seja, a de que a construção correlata alternativa é uma
construção diferente da coordenada alternativa. Afinal, embora tais construções
apresentem semelhanças, a construção correlata apresenta um significado diferenciado.
Observemos13:
,a - Sempre que aparecem rachaduras ou ferrugem na estrutura, eles são acionados por
reação química, refazendo-a automaticamente. (coordenada)
13 O exemplo (a1) faz parte dos dados coletados da revista Veja on line, que constitui o corpus adotado
para a análise de dados desta dissertação. O exemplo (a) foi criado apenas a título de comparação.
38
a1- Sempre que aparecem ou rachaduras ou ferrugem na estrutura, eles são acionados
por reação .
Revista Veja on-line, ed. 02/01/2013, pág.52
Verificamos que, embora a e a1 apresentem estruturas sintáticas semelhantes,
não são sinônimas em termos de significados: em a, observamos que podem aparecer
rachaduras ou ferrugem (leitura exclusiva), mas também podem aparecer ambas -
rachaduras e ferrugem (leitura inclusiva).
No entanto, na construção a1, a interpretação só admite a ideia de exclusão, já
que um elemento necessariamente rechaça o outro, ou seja, a leitura aditiva (rachaduras
+ ferrugem) não é licenciada.
Nos próximos capítulos, discutiremos o assunto com mais detalhes, mas
observamos que, pautados na afirmativa de Goldberg (1995), a construção correlata
alternativa configura-se como uma nova construção, pois apresenta um significado
particular que a diferencia da típica coordenada alternativa, apesar de serem
semelhantes.
Goldberg (2006) amplia o conceito de construção, afirmando que todos os níveis
de análise gramatical envolvem construções. Segundo a autora, a construção é uma
forma, pertencente a qualquer nível gramatical, ligada a um determinado sentido, função
pragmática ou componente informacional. Com isso, a autora abarca também os
modelos estocados na mente dos falantes como construção.
Bybee (2010), em uma acepção muito semelhante a Goldberg (2006), afirma que
construções são pareamentos de forma e significado, ressaltando que o significado
também inclui a pragmática. De acordo com a autora, a construção é parcialmente
esquemática e apresenta “posições abertas” a diversos tipos de preenchimentos (slots),
contendo ainda partes fixas que são de grande importância para o reconhecimento de
seu modelo exemplar. Com isso, novas construções surgem apoiadas nos modelos
exemplares de velhas construções.
A autora, em Language, usage and cognition, apresenta as razões por adotar
uma abordagem baseada nas construções:
Construções são unidades particularmente apropriadas para a
formulação de uma explicação de domínio geral da natureza da
gramática. Primeiro, a formação, a aquisição e o uso de construções
39
está estreitamente relacionado ao processo de domínio geral chunking,
através do qual porções de experiência que são repetidamente
associadas são reembaladas em uma única unidade. Segundo, o
desenvolvimento das porções esquemáticas de construções é baseado
em categorizações específicas do item, estabelecidas por semelhança,
uma outra habilidades de domínio geral14. (BYBEE 2010, p.31)
Desse modo, compreendemos que a autora considera que a análise da língua
pautada em uma abordagem construcional é mais apropriada por englobar domínios
gerais que contribuem para a criação de estruturas linguísticas.
Outra base teórica para esta pesquisa está calcada em Traugott e Trousdale
(2013), para quem a língua é considerada uma rede de nós, de relações entre
construções, em que as mudanças estão interconectadas. Alguns nós da rede
constructional são representados por esquemas, outros por subesquemas e outros por
microconstruções com diferentes níveis de esquematicidade.
De acordo com Oliveira e Batoréo (2014) o esquema se configura como o
nível mais abtrato e virtual da construção, o subesquema como um conjunto de
construções específicas e os types, as construções individuais.
Segundo Traugott e Trousdale (2013), a metáfora da rede tem sido
desenvolvida em várias teorias da linguística cognitiva e desempenha um importante
papel nos modelos de gramática desenvolvidos por Goldberg (1995), Croft (2001) e
Langacker (2008), entre outros, sendo inclusive coerente com a visão de Bybee
(2010, p. 50) de que “a padronização da língua faz parte de nossa capacidade de
domínio geral de categorizar, estabelecer relações, e para operar em ambos os níveis
locais e globais”.
Observamos que a proposta da gramática como rede é central na linguística
cognitiva e coerente com a visão de construção de todos os autores aqui abordados,
“devido à noção chave de que a organização da língua não é intrinsecamente diferente
da organização de outros aspectos da cognição” (TRAUGOTT E TROUSDALE,
2013, p. 50), ou seja, o conhecimento da língua faz parte de um sistema de
14 constructions are particularly appropriate units for formulating a domain-general account of the nature
of grammar. First, as mentioned in the previous chapter, the formation, acquisition, and use of
constructions is closely related to the domain-general process of chunking, by which bits of experience
that are repeatedly associated are repackaged into a single unit. Given human sequential-learning
capacities, even rather long constructions can be unified into chunks through repetition. Second, the
development of the schematic portions of constructions is based on item-specific, similarity-based
categorization, another domain-general cognitive ability.
40
conhecimento maior, que inclui todos os outros tipos de conhecimento.
De acordo com Croft (2001), a relação existente entre forma e significado é
interna à construção e não existem relações sintáticas independentes dela. Com isso, o
autor afirma que a unidade básica da gramática é a construção, que é considerada
uma “unidade simbólica convencional”.
Ainda na visão de Croft (2001), as construções são unidades em que há uma
correspondência ente forma e sentido. A forma compreende propriedades sintáticas,
morfológicas e fonológicas, e o sentido compreende propriedades semânticas,
pragmáticas e/ou discursivo-funcionais.
A seguir, observamos a representação de construção apresentada por Croft:
CONSTRUÇÃO
Propriedades sintáticas
Propriedades morfológicas FORMA
Propriedades fonológicas
↓ ← CORRESPONDÊNCIA SIMBÓLICA
Propriedades semânticas
Propriedades pragmáticas SENTIDO
Propriedades discursivo-funcionais
Nessa perspectiva, as propriedades ligadas à forma abrangem aspectos mais
convencionais da língua, enquanto que o sentido refere-se a todos os aspectos
convencionalizados da função da construção, incluindo as particularidades da
situação descrita no enunciado, as propriedades do discurso em que este ocorre e o
próprio contexto de uso (CROFT, 2001).
Observamos, neste capítulo, a visão de construção de vários autores que
seguem as diferentes vertentes das gramáticas de construções. Nesta pesquisa,
construção é definida como um pareamento de forma e sentido que apresenta
significado próprio, esquemático, parcialmente independente das palavras que a
41
compõem, servindo, pois, como um esquema ou modelo que reúne o que é comum a
um conjunto de elementos da mesma natureza (cf. GOLDBERG, 1995).
Nessa perspectiva, a gramática é vista em sua totalidade, ou seja, nenhum
nível é central, e forma e significado são pareados como iguais, passando a
funcionar como unidades básicas e centrais da língua, operando em diferentes níveis
da gramática. Com isso, a Gramática de Construções prevê que todas as unidades
da língua são simbólicas – desde morfemas simples, passando por expressões
idiomáticas, estruturas sintáticas (GOLDBERG, 1995, 2006), até padrões mais
abstratos.
2.3. Neoanálise e analogização
A abordagem construcional da gramática representa uma contribuição
importante para entendermos com mais precisão as mudanças que ocorrem nas
contruções ao longo do tempo. A partir dos mecanismos apresentados pela
abordagem construcional, conseguimos compreender, por exemplo, como e por que
as construções se modificam.
Traugott e Trousdale (2013) definem os principais mecanismos de mudança
como analogização e neonálise, ressaltando a diferença entre os mecanismos
(analogização e neoanálise) e as motivações (parsing e pensamento analógico) para as
mudanças. Segundo os autores, os mecanismos buscam explicar como as mudanças
ocorrem, já as motivações representam o porquê de as mudanças acontecerem.
O termo analogização era tradicionalmente conhecido nos estudos funcionalistas
como analogia. Bybee (2010), por exemplo, afirma que, por meio do processo da
analogia, novos enunciados são produzidos com base no reconhecimento de outros
enunciados já vivenciados em experiências discursivas anteriores. Sendo assim, na
analogia, as mudanças ocorrem com base em um padrão já existente que serve como
modelo para a criação de novos padrões.
Traugott e Trousdale (2013) não descartam as perspectivas anteriores a respeito
do conceito de analogia. Eles apenas realinham os termos para ressaltar, como já
citamos, as diferenças entre mecanismos e motivações envolvidos no processo de
42
mudança, ressaltando ainda, a importante distinção entre pensamento analógico e
analogização.
O pensamento analógico, segundo os autores, combina aspectos de sentido e
forma; permite, mas pode ou não resultar em mudança, e pode ser visto como um
processo necessário e que vem antes da analogização. O pensamento analógico é a
motivação para que o mecanismo da analogização ocorra.
De acordo com Traugott e Trousdale (2013), analogização é o mecanismo ou
operação de mudança que traz alinhamentos e combinações de sentido e forma que não
existiam antes. Há, por meio dos alinhamentos, uma reconfiguração nas características
de uma construção. Os autores ressaltam que o fato de a analogização envolver
reconfiguração ou alinhamento de construções implica micropassos de mudança, ou
seja, neoanálise.
A neoanálise, conhecida tradicionalmente nos estudos funcionalista como
reanálise, ocorre quando há a criação de uma nova estrutura e envolve mudanças
morfossintáticas, semânticas, pragmáticas e fonológicas. A neoanálise é considerada um
micropasso da mudança construcional, em que formanova e significadonovo são formados
a partir do modelo da Gramática de Construções.
Com isso, os autores afirmam que analogização é neoanálise, no entanto, nem
toda neoanálise envolve analogização. Se as neoanálises forem baseadas em
exemplares, em um modelo, elas são analogizações que podem ser vistas como um tipo
de neoanálise.
Os mecanismos de mudança apresentados por Traugott e Trousdale (2013)
colaboram com nossa pesquisa, pois convergem com a visão de construção aqui
adotada. A proposta dos autores é especialmente útil para explicar o aparecimento na
língua de alguns types de construções alternativas encontrados em nossa análise
(seja…ou, quer…ou e nem…ou) que foram formados a partir de processo de
analogização com base em modelos já convencionalizados na língua de construções
correlatas alternativas. Abordaremos essa questão com maior ênfase na análise de
dados.
2.4. Construcionalização e mudança construcional
Ainda no que se refere às mudanças sofridas pelas construções, Traugott e
Trousdale (2013) afirmam que elas podem resultar de dois modelos: mudanças
43
construcionais e construcionalização.
A construcionalização é um tipo de mudança em que há a formação de
formanova-significadonovo. Há a criação de um novo nó na rede construcional através de
uma sequência de neoanálises da forma e do significado, criando-se uma nova
construção, com significados e formas inteiramente novas. Na construcionalização, há
mudanças em vários níveis da construção como os graus de esquematicidade,
composicionalidade e produtividade.
A esquematicidade, segundo Traugot e Trousdale (2013), é uma propriedade da
categorização que envolve abstração. Os esquemas são modelos de experiência
rotinizados ou cognitivamente entrincheirados. Mudanças na esquematicidade
possibilitam a criação de “slots” e participação em paradigmas.
A composicionalidade refere-se à correspondência ou incompatibilidade entre
aspectos da forma e aspectos do significado. Se a leitura, o significado de uma
construção é feita, levando em conta o valor semântico de cada item que a compõe,
temos então uma construção composicional. Entretanto, se compreendemos o
significado de uma construção a partir do todo, de forma holística, essa construção é
menos composicional.
A produtividade diz respeito à frequência com que uma construção gera novos
types. Quanto mais types de microconstruções são gerados a partir da construção, mais
produtiva ela será considerada.
Verificamos, assim, que a construcionalização gera um novo par forma-função,
um novo signo na rede construcional. No entanto, observaremos que nem sempre a
mudança linguística resultará em um novo nó na rede como ocorre na mudança
construcional.
As mudanças construcionais afetam apenas alguns dos componentes da
construção como a sintaxe, a morfologia, a semântica e a pragmática e podem preceder
ou acompanhar a construcionalização. Mudanças construcionais, de acordo com
Traugott e Trousdale (2013, p. 46), “envolvem novos links entre características de nó na
rede, mas não novos nós .” 15(tradução nossa).
Sendo assim, observamos que a mudança ocorre em alguns níveis e não resulta
em par (forma-significado) novo como ocorreu com alguns dos types de construção
15 Constructional changes involve new links among features of a network node, but no new node in the network. (TRAUGOTT E TROUSDALE, 2013, p.46)
44
alternativa encontrados em nossa análise que apresentaram uma mudança na forma, mas
não no significado. Veremos essa questão com mais precisão na análise de dados.
Ressaltamos que todos os autores aqui citados contribuíram para a visão de
construção adotada nesta pesquisa, no entanto, os principais autores que serviram
para a análise das construções correlatas alternativas foram os seguintes: Goldberg
(1995), Croft (2001) e Traugott e Trousdale (2013).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Como vimos expondo ao longo do trabalho, a pesquisa tem como objetivo
principal analisar o comportamento das construções correlatas alternativas em situações
reais de comunicação. Sendo assim, a escolha por uma análise pautada na Linguística
Funcional Centrada no Uso se justifica, tendo em vista que nossa pesquisa foi feita com
base em um veículo de comunicação da atualidade, ou seja, um instrumento da língua
em uso, e não em frases criadas artificialmente.
Objetivamos também buscar características particulares da construção
correlata alternativa por meio da análise de padrões oracionais e não-oracionais,
funções sintático-semânticas e por meio da possível sobreposição de valores semânticos
que podem emergir em algumas dessas construções.
A partir dos objetivos traçados, o passo seguinte foi a escolha do corpus.
Essa escolha não foi aleatória, já que levamos em conta a constatação de pesquisas
anteriores como a de Módolo (2008) e Rosário (2012) que enfatizaram a correlação
como um recurso formal/funcional mais utilizado em textos de cunho argumentativo.
Observemos a afirmação de Módolo (2008, p. 1101):
Não há dúvida de que a língua falada e a língua escrita exploram de
modo diverso os elementos que constituem as conjunções correlatas.
Mais produtivas nos textos escritos, sobretudo quando se quer ouvir
mais de uma voz em debate, as correlatas têm seu nicho em textos
fortemente argumentativos.
45
Sendo assim, estabelecemos como corpus o acervo digital da Revista Veja on
line, um corpus de língua escrita, que adota um discurso mais formal e que possui
diversas seções com textos argumentativos.
Para a apresentação dos procedimentos metodológicos aqui adotados, dividimos
este capítulo em duas seções. Na seção 3.1, apresentamos a caracterização do corpus, e
detalhamos as etapas da coleta de dados e mostramos como tais etapas foram sendo
modificadas em função do objetivo e encaminhamento da pesquisa. Em seguida, na
seção 3.2, apontamos quais critérios foram adotados na análise dos dados, justificando-
os e demonstrando como foram aplicados.
3.1. Caracterização do corpus
O corpus escolhido para análise foi o acervo digital da Revista Veja on-line
que se encontra disponível na página http://www.veja.abril.com.br e que disponibiliza
edições desde 1968 até a data presente. A revista contempla diversos gêneros
textuais, como entrevistas, artigos de opinião, cartas do leitor etc.
Inicialmente, buscamos no corpus apenas as construções correlatas alternativas
que são o objeto de estudo de nossa pesquisa, no entanto, posteriormente, julgamos
que seria necessário olharmos também para a construção alternativa não correlata, a
fim de buscarmos características que a diferenciassem da construção correlata.
É importante mencionarmos, no entanto, que esta não é uma pesquisa
comparativa. Foram coletados apenas alguns dados da construção coordenada, ou seja,
não correlata, com o intuito de afirmarmos o estatuto particular da construção
correlata. Alguns dos dados encontrados foram:
Construção correlata alternativa:
a - Ótima reportagem da jornalista Tatiana Gianini (“O México pronto para decolar, 3
de abril) . Ou cultivamos as eternas virtudes do livre mercado ou optamos pelo
estatismo fanático e afundamos no lamaçal boliviano, com a Venezuela e a Argentina. Revista Veja on-line, ed. 10/04/2013
Construção coordenada alternativa
46
b - A boa vontade com o Brasil é imensa. Somos um país pacífico, unificado pelo
idioma sem disputas étnicas ou religiosas, com uma população que começa a ter
oportunidades iguais de educação e ascenção social. Revista Veja on-line, ed. 15/01/2014, pág. 33
Em uma primeira análise, coletamos os dados apenas em textos argumentativos.
Foram analisados textos de 12 edições da Revista Veja on-line no período de março a
maio de 2013, sendo encontradas 17 ocorrências de construções correlatas alternativas.
Observemos:
Tabela 1 - Primeiros resultados
ou…ou 9
seja…seja 6
ora…ora 2
Total 17
Devido à baixa frequência de dados encontrados, avaliamos que seria
necessário alargarmos o corpus e coletarmos os dados em todas as seções da revista.
Concluímos, a partir disso, que essa poderia ser uma análise muito produtiva, pois nos
permitiria a observação do gênero em que apareceria um maior número de construções
correlatas alternativas.
No entanto, a análise calcada nos gêneros textuais foi abordada apenas em um
primeiro momento. Em seguida, para um maior refinamento da pesquisa, optou-se pela
análise com base em sequências tipológicas, tendo em vista que esse seria um critério
mais acertado para a análise do fenômeno. A partir disso, a análise contemplou 61
edições da revista no período de janeiro de 2013 a fevereiro de 2014. Foram
encontradas 205 ocorrências (tokens) da construção correlata alternativa.
47
3.2 Fatores de análise
Em seguida, adotamos alguns fatores de análise que julgamos ser relevantes na
observação dos dados, com o objetivo de obtermos uma descrição mais completa dos
valores sintático-semânticos das construções correlatas alternativas. Eis os critérios
observados:
a) Correlatores espelhados e não-espelhados;
b) Interdependência;
c) Ordem das construções correlatas;
c) Padrão oracional e não- oracional;
d) Sequências tipológicas;
e) Leitura semântica de exclusão ou inclusão;
f) Sobreposição de valores semânticos.
Vejamos cada um desses fatores de maneira detalhada.
3.2.1. Correlatores espelhados e não-espelhados
Módolo (2011) afirma que os pares correlatos em português podem ser formados
pela repetição do mesmo elemento conjuntivo, denominando-os como espelhados, ou
pelo uso de elementos conjuntivos distintos, ou seja, não-espelhados. O autor ressalta
que Maciel (1914) é o único dos autores consultados, em língua portuguesa, que se
preocupou em fazer uma classificação formal desse fenômeno linguístico, rotulando-o
em construções similares (correlativas espelhadas) e dissimilares (correlativas não
espelhadas).
Com base nessas afirmações, julgamos que seria importante analisarmos esse
aspecto em nossos dados com o intuito de observarmos se o espelhamento ou não das
construções traria informações que pudessem ser relevantes para a nossa análise. Sendo
assim, observamos se as construções correlatas apresentavam-se por formas espelhadas
ou não espelhadas, e se haveria uma tendência entre essas construções por espelhamento
ou não-espelhamento.
3.2.2 Interdependência
48
A escolha pela observação do critério da interdependência foi pautada em
Rodrigues (2007), que, seguindo a orientação proposta por Oiticica (1952),
estabeleceu a distinção entre a correlação e os outros processos de estruturação da
seguinte forma:
a) Subordinação – processo de hierarquização de estruturas em que as orações são
sintaticamente dependentes.
b) Coordenação – processo em que as orações são sintaticamente independentes
uma das outras, caracterizando-se pelo fato de implicarem paralelismo de
funções ou valores sintáticos idênticos.
c) Correlação – processo em que “duas orações são formalmente
interdependentes, relação materializada por meio de expressões correlatas”.
(cf. RODRIGUES 2007, p. 231)
Melo (1978, p. 121) também já havia feito menção à interdependência como
característica da correlação. Observemos:
(A correlação) é um processo sintático irredutível a qualquer dos
outros dois (subordinação ou coordenação), um processo mais
complexo, em que há, de certo modo, interdependência. Nele, dá-se
a intensificação de um dos membros da frase, ou de toda a frase,
intensificação que pede um termo. (MELO, 1978, p. 152, grifo nosso)
A partir disso, concluímos que a observação da presença ou ausência de
interdependência nas construções correlatas alternativas seria importante para nossa
análise, para confirmarmos se a construção correlata alternativa apresenta a
interdependência típica da correlação ou não.
3.2.3 Ordem das construções correlatas
Outro critério aplicado na análise dos dados foi a possibilidade de inversão
apresentada pelas construções correlatas encontradas. A adoção desse critério levou em
conta o fato de a iconicidade ser apontada como característica da coordenação por
49
diversos autores. De acordo com Lima-Hernandes (1998, p. 96), “gramáticos e
funcionalistas partilham a ideia de que construções paratáticas não admitem inversão,
porque são regidas pelo princípio da iconicidade linguística”.
Outro fator que motivou a escolha deste critério de análise foi a afirmação de
alguns autores de que a coordenação alternativa se apresenta como exceção, já que,
em alguns casos, a inversão é possível sem prejuízo da informação.
Rocha Lima (2009, p. 260), por exemplo, ressalta que “nem sempre é indiferente
a ordem das orações no período composto por coordenação” e acrescenta que elas “se
hão de dispor conforme o sentido e a sucessão lógica dos fatos”. O autor afirma,
em seguida, que “a inversão tem, todavia, lugar, quando sem ofensa da ordem verídica
e histórica dos fatos, a coordenação é feita por conjunções disjuntivas.” (ROCHA
LIMA, 2009, p. 261).
Neves (2000, p. 782) também afirma que “as construções com ou são
simétricas, isto é, os dois membros da disjunção podem facilmente permutar de posição,
com resultado de sentido que difere apenas do ponto de vista da distribuição da
informação.”
A autora chama atenção, por outro lado, para os casos em que algumas
construções com ou são assimétricas, ou seja, não podem ser permutadas, pois
apresentam uma ordem iconicamente motivada:
“Ordenam-se dois segmentos por subsequência temporal e/ou por
relação causa-consequência e/ou condicionante-condicionado, o que
constitui um caso típico de ordem iconicamente motivada: Abram
ou botamos a porta abaixo.” (NEVES, 2000, p. 783).
Nesse sentido, a abordagem da autora de filiação funcionalista destaca-se dos
demais autores por demonstrar que nem sempre a ordem é indiferente nas construções
alternativas.
Abreu (1997), na esteira de Haiman e Thompson, ao apresentar alguns critérios
para uma tentativa de descrição da coordenação e da subordinação, apresenta a ausência
de iconicidade como característica da subordinação, o que supostamente aproxima o
nosso objeto das estruturas subordinativas. Em seguida, após aplicação dos critérios, os
autores confirmaram a ausência de iconicidade das construções alternativas.
50
Com isso, julgamos que seria necessário observar como as construções
correlatas alternativas se comportam. Sendo assim, procurou-se observar se há maior ou
menor possibilidade de inversão nas construções encontradas sem prejuízo da primeira
informação. Falamos em maior e menor possibilidade por acreditarmos, assim como
Neves (2000), que, ainda que a inversão seja válida, o efeito comunicativo obtido é
diferente, já que, a priori, nenhuma inversão é possível se procuramos conservar a
essência da primeira informação.
3.2.4. Padrões oracionais e não-oracionais
As gramáticas tradicionais, ao apresentarem a construção alternativa, a abordam
apenas na seção do período composto, o que nos faz pressupor que esse recurso é
apenas estabelecido entre orações. No entanto, como usuários da língua, sabemos que a
alternância pode ser estabelecida não só entre cláusulas, mas também entre palavras. A
partir disso, decidimos observar se esta intuição se confirmaria em nossos dados.
Assim, passamos a observar quais types de construções alternativas
apresentam-se com maior frequência em estruturas oracionais e/ou não oracionais,
observando quais fatores motivam a preferência dos types por uma ou outra estrutura.
Com isso, objetivamos observar se essa preferência está relacionada com o
traço semântico apresentado por cada type, pois, apesar de todos apresentarem a
alternância típica das construções alternativas, cada correlator pode servir a uma
necessidade particular. Caso contrário, não haveria a necessidade da criação de vários
types para estabelecer a alternância, como veremos posteriormente na análise de
dados.
3.2.5. Sobreposição de valores semânticos
Em uma primeira análise, na pesquisa piloto, observamos que algumas
construções correlatas alternativas pareciam apresentar sobreposição de valores
semânticos, pois além da disjunção inclusiva/exclusiva que se revela como marca
de prototipicidade desse tipo de construção, percebemos outros valores semânticos
adjungidos ao já esperado.
Sendo assim, verificamos que seria necessário olharmos com mais precisão para
essa questão. A partir disso, decidimos observar quais types apresentavam sobreposição
51
de valores semânticos e quais os fatores motivadores para a ocorrência desse fenômeno.
Encontramos, logo na primeira análise, dados como o seguinte:
a - Com a aprovação da PEC das domésticas alguns maridos que se preparem: ou
ajudam nas tarefas domésticas ou sua esposa vai reivindicar direitos trabalhistas.
Revista Veja on-line, ed. 27/03/2013, pág 90
Observamos que, além da alternância típica, a construção acima apresenta um
valor secundário condicional, na prótase. Falaremos mais detalhadamente sobre o
assunto na análise dos dados em que apresentaremos outros tipos de sobreposições e
procuraremos outras ocorrências de construções com sobreposição semântica,
verificando que types favorecem a sobreposição, além de ou...ou.
3.2.6 Sequências tipológicas
Segundo Marcuschi (2005), os gêneros textuais são fenômenos históricos
profundamente vinculados à vida cultural e social, portanto, são entidades sócio-
discursivas e formas de ação social em qualquer situação comunicativa. A
expressão gênero textual é usada para nos referirmos aos textos que encontramos
em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas
específicas. São plásticos, não estáticos. Caracterizam-se, segundo Marcuschi (2005),
como eventos textuais altamente maleáveis e dinâmicos e surgem a partir das
necessidades e atividades sócio-culturais, inclusive as necessidades tecnológicas, já
que hoje temos muito mais gêneros que antes, justamente por essas necessidades.
Partindo do pressuposto básico de Marcuschi (2005), de que é impossível nos
comunicarmos sem a utilização de um gênero textual, julgamos que seria relevante
observarmos em nossa pesquisa em que gêneros textuais as construções correlatas
apareceriam com maior frequência. Segundo Marcuschi (2005, p.3)
Esta visão segue uma noção de língua como atividade social,
histórica e cognitiva. Privilegia a natureza funcional e interativa e
não o aspecto formal e estrutural da língua. Afirma o caráter de
indeterminação e ao mesmo tempo de atividade constitutiva da
língua, o que equivale a dizer que a língua não é vista como um
espelho da realidade, nem como um instrumento de representação
52
dos fatos. Nesse contexto teórico, a língua é tida como uma forma de
ação social e histórica.
Sendo assim, em uma primeira análise, decidimos observar todos os gêneros
em que as construções correlatas alternativas apareceriam. Em seguida, avaliamos,
ainda calcados em Marcuscchi (2005), que seria mais relevante uma análise com base
em sequências tipológicas, ou seja, uma “espécie de construção teórica definida pela
natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais,
relações lógicas)” (MARCUSCHI, 2005, p. 22).
De acordo com o autor, as sequências tipológicas são mais limitadas em termos
quantitativos. São elas: narração, descrição, argumentação, injunção e exposição. Os
gêneros não são homogêneos, mas tipologicamente variados, podendo abarcar
diferentes tipos de texto em sua estrutura. Uma carta, por exemplo, pode conter diversas
sequências tipológicas como argumentativas, expositivas e até injuntivas, e essas
sequências alternam-se constantemente na ligação dos fatos e argumentos abordados.
A coesão, dessa forma, costuma ser construída à medida que as sequências
tipológicas vão sendo utilizadas. Assim, dizemos que há textos predominantemente
argumentativos, narrativos, descritivos etc. A partir disso, adotamos o procedimento de
olharmos as sequências tipológicas em que aparece um maior número de construções
correlatas alternativas.
3.2.7 Leitura semântica de exclusão ou inclusão
A disjunção exclusiva é apontada como uma particularidade de ou...ou por
alguns autores. Neves (2000), por exemplo, afirma que as disjunções com ou, ora
podem indicar inclusão, ora exclusão, destacando também que a disjunção com
ou...ou sempre será exclusiva. Barreto (1999, p. 443) afirmou que a conjunção
ou...ou originou-se da conjunção latina aut que também apresentava uma
interpretação exclusiva.
Alguns autores discorrem sobre o valor de inclusão e exclusão apresentado
pelas construções coordenadas e correlatas. Entre eles, destacamos Raposo et alii
(2013, p. 1778):
53
Quanto a aparente exceção a este princípio da conjunção correlativa
ou...ou, consideramos aqui que ou simples é uma conjunção distinta
de ou...ou correlativo, não resultando, pois, de uma simplificação
desta por omissão do primeiro elemento. A corroborar esta análise
note-se que ou...ou tem preferencialmente uma leitura de disjunção
exclusiva, ao passo que ou simples pode ser exclusivo ou inclusivo:
assim, a interpretação mais natural da frase (exprimindo uma ordem)
ou ouves música ou lês leva à inferência pelo ouvinte de que apenas
umas das possibilidades são permitidas, algo que não acontece em
ouves música ou lês, que pode ser seguido por faz o que te apetecer.
Observamos que os autores, além de explicitarem as diferentes leituras que as
conjunções podem apresentar, chamam a atenção para o fato de que ou...ou e ou são
conjunções distintas e não podem ser vistas apenas como redução ou repetição de outra.
Esta afirmação dos autores converge com o que aqui afirmamos de que a correlação
alternativa é diferente da coordenação alternativa, não só na forma, mas também
pragmaticamente.
Diante de tais afirmações, decidimos observar se todas as construções com
ou...ou apresentavam, em nossos dados, a leitura semântica de exclusão, e observarmos
também como se comportavam os outros types de construção alternativa, a fim de
constatarmos se esta característica poderia ser estabelecida como uma traço particular
da correlação alternativa.
54
4. ANÁLISE DE DADOS
Como citado, analisamos textos de 61 edições da Revista Veja on-line, no
período de janeiro de 2013 a fevereiro de 2014. Foram encontradas 205 ocorrências
de construções alternativas: 181 ocorrências de construções correlatas alternativas e
24 ocorrências das construções coordenadas alternativas que, como já foi falado,
apenas serviram como referência para que pudéssemos buscar características
particulares da construção correlata. Vejamos:
Tabela 2 – Dados de jan/2013 a fev/2014
CONSTRUÇÕES
ALTERNATIVAS
Correlatas 181
Coordenadas 24
Total 205
A seguir, a título de ilustração, apresentamos alguns dos dados encontrados
da construção alternativa coordenada. Vejamos:
55
c) – Britto - Um meio armador como raros. Habilidoso e sutil foi capaz de ditar o ritmo do
jogo, imprimindo-lhe velocidade ou credenciando-o, conforme as exigências do momento.
Revista Veja on-line, ed. 02/01/2013, pág.102
d) - Os produtos brasileiros perderão mercado, pois serão preteridos no direito a cotas para
exportação ou pagarão tarifas mais altas em detrimento de quem estiver nos blocos.
Revista Veja on-line, ed. 18/12/2013, pág.106
Em ambos os tokens acima, temos apenas o uso de ou simples. Essa é a
principal marca da coordenação alternativa. Vejamos, na tabela a seguir, os types
encontrados da construção correlata alternativa, o nosso objeto de estudo:
Tabela 3 - Types de construções correlatas alternativas
TYPES TOKENS %
ou...ou 63 34,8%
seja...seja 42 23,2%
seja...ou 32 17,7%
ora...ora 21 11,6%
nem...nem 16 8,8%
quer...quer 4 2,2%
quer...ou 2 1,2%
nem...ou 1 0,5
TOTAL 181 100%
Ao observamos a tabela acima, verificamos que o type ou...ou se apresenta como
o mais frequente entre as construções correlatas alternativas, como era esperado, já que
as gramáticas, de um modo geral, apresentam a conjunção ou como a mais utilizada
pelos usuários da língua entre as construções alternativas.
De acordo com Traugott e Trousdale (2013), construções são objetos
linguísticos convencionais em que a frequência de ocorrência pode influenciar a
categorização. Sendo assim, calcados na perspectiva construcional que funciona como
aporte teórico para essa pesquisa, concluímos que o type ou...ou é o membro central
56
prototípico da categoria das construções correlatas alternativas, pois se apresenta como
um exemplar de alta frequência dentro de sua categoria e já está altamente
convencionalizado pelos usuários da língua.
A partir da análise da tabela, verificamos que, curiosamente, o terceiro type mais
frequente de construção correlata foi o seja...ou, um conectivo que não está previsto
nas gramáticas normativas e que é pouco abordado pelas gramáticas em geral, inclusive
pelas que apresentam uma visão menos tradicional a respeito dos fenômenos existentes
na língua. A seguir veremos como o type seja...ou foi recrutado pelo falante, com base
na perspectiva construcional.
A observação da alta frequência apresentada pelo type seja...ou demonstra a
importância de se levar em conta a língua em uso na análise linguística, e ressalta a
necessidade de se fazer uma revisão em nossas obras gramaticais, para que os novos
padrões sejam contemplados, visto que já são atestados em textos normatizados do
português padrão.
A seguir, a partir dos types encontrados, daremos continuidade à análise dos
dados, observando os critérios já citados anteriormente, quais sejam:
a) Correlatores espelhados e não-espelhados;
b) Interdependência;
c) Ordem das construções correlatas;
c) Padrão oracional e não- oracional;
d) Sequências tipológicas;
e) Leitura semântica de exclusão ou inclusão;
f) Sobreposição de valores semânticos.
A partir da análise dos dados, observamos que a correlação alternativa, assim
como outros tipos de correlações, se estabelece na língua em uso, através de
correlatores espelhados, ou seja, repetidos, como ou...ou, seja...seja, etc ou por meio
de correlatores não-espelhados, ou seja, diferentes, como seja...ou, quer...ou, entre
outros. Na seção a seguir, veremos mais detalhadamente os correlatores espelhados e
não-espelhadas encontrados em nosso corpus.
Faz-se importante mencionar que alguns dados, em nossa análise, foram
explicitados em quadros, assim como fez Rosário (2012). Essa forma de representação
57
foi adotada por ser didática e permite expressar com mais exatidão as partes que
compõem prótase e apódose de cada token.
4.1. Correlatores espelhados
A análise dos dados nos revelou cinco types de construções correlatas
alternativas formadas por correlatores espelhados. Observemos:
Tabela 4 - Types de construções correlatas alternativas espelhadas
TYPES TOKENS %
ou...ou 63 43,1%
seja...seja 42 28,7%
ora...ora 21 14,4%
nem...nem 16 10,9%
quer...quer 4 2,9%
Total 146 100%
Observamos, a partir da tabela, que os types espelhados são os prototípicos nas
construções, ou seja, a construção correlata alternativa estabelece a alternância com
maior frequência através de types espelhados, já que das 181 ocorrências encontradas,
146, ou seja, 80,6 % dos dados são formadas por types dessa natureza.
A partir da análise, observamos também que os correlatores espelhados podem
ser divididos em três grupos:
- Os que apresentam uma base conjuncional;
- Os que apresentam uma base verbal;
- Os que apresentam uma base substantiva.
Vejamos a seguir, mais detalhadamente, cada um desses grupos:
58
4.1.1. Correlatores de base conjuncional
Os correlatores alternativos espelhados ou...ou e nem...nem, encontrados em
nossa análise, originaram-se diacronicamente, como veremos, da conjunção ou e nem
respectivamente. Esses correlatores são tradicionalmente apresentados nas gramáticas
tradicionais, como já dissemos, como conjunções coordenativas. Autores como Rocha
Lima (1999) e Cunha e Cintra (2001), por exemplo, os apresentam apenas como uma
repetição das conjunções ou e nem.
No entanto, veremos, a seguir, que esses correlatores não são apenas uma
repetição das conjunções já existentes, já que apresentam valores semânticos e
pragmáticos diferenciados em relação à sua conjunção de origem.
4.1.1.1. Construções com ou...ou
Como era previsto, já que as gramáticas de um modo geral apresentam a
conjunção ou como a mais utilizada pelos usuários da língua no plano semântico da
alternância, as construções alternativas espelhadas com ou...ou confirmaram-se como as
correlatas alternativas prototípicas em nosso corpus.
Dos 146 tokens, 63 ocorrências (quase 44% das construções), em nossa análise,
são encabeçadas por ou...ou, confirmando, assim, sua prototipicidade em relação aos
outros correlatores alternativos, provavelmente por ser um correlator mais curto, mais
leve em relação à sua quantidade de massa fônica e pela maior facilidade de
processamento em relação aos outros types. Observemos o exemplo a seguir:
PRÓTASE APÓDOSE
(4) As forças assadistas parecem estar nos
tomando a dianteira, deixando a Síria com duas
opções:
ou continua, na maior parte, sob o
domínio do tirano
ou cai nas mãos dos fundamentalistas mulçumanos que hoje controlam
praticamente todas as forças da rebelião.
Revista Veja on-line, ed.22/05/2013, p.29
Nesta ocorrência, observamos que o item ou...ou imprime na construção uma
noção semântica de alternância típica das construções alternativas. Além disso, percebe-
59
se que a disjunção apresentada é exclusiva, já que uma opção exclui a outra. A Síria
deve escolher entre uma opção ou outra: ou continua sendo dominada ou cai nas mãos
dos fundamentalistas. A interpretação exclusiva fica ainda mais evidenciada pela porção
textual que precede a prótase correlativa (“deixando a Síria com duas opções”) (grifo
nosso).
A manifestação de uma interpretação exclusiva nas construções com ou...ou
foi observada em todas as estruturas encabeçadas por este par de correlatores, ou seja,
os 63 tokens instanciados apresentaram a leitura de exclusão.
De acordo com Barreto (1999), a conjunção ou originou-se da conjunção
latina aut, sendo formada a partir de um elemento adverbial au, acrescido da partícula
ti. A autora afirma que havia no latim três formas para indicar a disjunção: aut, vel e ve.
No entanto, aut era a mais empregada e a única que passou às línguas românicas, sendo
utilizada para indicar a disjunção ou alternância entre dois termos, “quer se excluíssem,
quer fossem equivalentes ou indiferentes a uma eleição”. (BARRETO, 1999 p. 193).
A autora ressalta, ainda, que nos textos do século XIII, a conjunção ou
aparecia sempre como membro da correlação alternativa e afirma que a
gramaticalização da conjunção ocorreu ainda no latim. Vejamos:
Latim > Português
au + ti > aut ou
adv. conj. conj. item do discurso
alternativa alternativa
Segundo Barreto (1999, p.443), em seguida, ocorreu no português a
discursivização, e a conjunção passou a alternar elementos do discurso. A conjunção ou,
repetida, segundo a autora, constitui a correlação com ou...ou que alterna itens lexicais,
sintagmas ou sentenças. A conjunção correlata originou-se da conjunção latina
aut...aut que também apresentava uma interpretação exclusiva. Essa informação de
Barreto (1999) pode indicar que o valor semântico de exclusão observado por
ou...ou permaneceu como uma persistência de sua palavra de origem, a conjunção
aut...aut.
60
Alguns autores já haviam ressaltado, em trabalhos anteriores, o caráter
tipicamente exclusivo apresentado por ou...ou. Assim como Barreto (1999), Pezatti e
Loghin-Thomazi (2008) corroboram essa questão.
Sendo assim, de acordo com as autoras, quando ficou reconhecido que há no
português apenas uma forma para indicar inclusão e exclusão, ficou estabelecido que
apenas o contexto poderia determinar se seria uma disjunção inclusiva ou exclusiva.
Assim, Pezatti e Loghin-Thomazi (2008, p. 899) afirmam que, a partir disso,
estabeleceu-se uma “teoria oficial sobre as sentenças disjuntivas”, que pode ser resumida
como o seguinte: “o sistema do Português teria mantido uma só partícula disjuntiva
(ou)..., que é usada para expressar dois sentidos diferentes (o inclusivo e o exclusivo)...
aos quais se chega operando sobre o contexto.”
No entanto, os autores afirmam que esta teoria é equivocada por não terem
considerado a repetição de ou, ou seja, ou...ou. Com isso, as autoras ressaltam que, no
português, diferentemente do latim, a repetição não indica uma “mera variação
estilística ou enfática”, mas uma oposição dos sentidos expressados pelas conjunções
latinas. Ou seja, ou...ou é utilizada apenas para indicar a exclusão.
A disjunção exclusiva é apontada como uma particularidade de ou...ou por outros
autores. Neves (2000), por exemplo, também afirma que as disjunções com ou ora
podem indicar inclusão, ora exclusão, destacando também que a disjunção com
ou...ou sempre será exclusiva.
Em relação à frequência de ou e ou...ou, Pezatti e Loghin-Thomazi (2008, p.
900) ressaltaram, ainda, que a forma ambígua (A ou B) é a forma não marcada no
português falado no Brasil e que a forma exclusiva (ou A ou B) é a forma marcada.
Sendo assim, as autoras concluem que ou...ou é menos produtivo, justamente pelo fato
de significar apenas exclusão.
Diante de tais constatações, tornou-se inevitável para a nossa análise, como já
citamos, a observação de algumas construções com ou, não correlatas, apesar de esse
não ser o foco de nossa pesquisa. Sendo assim, foram analisadas 24 construções
coordenadas com ou.
A análise demonstrou que, dos 24 tokens observados, 8 apresentaram uma
leitura exclusiva e 16 apresentaram uma leitura inclusiva, como observamos nos
exemplos seguintes:
61
e) - Envio de dados: para evitar que o adolescente divulgue dados como endereço,
telefone ou número de cartão de crédito, o programa embaralha os caracteres sempre
que o usuário tenta enviar ou publicar nas redes sociais informações predefinidas
pelos pais como privadas. Revista Veja on-line, ed. 02/01/2013-pág. 88
Neste token, observamos que a disjunção é inclusiva, pois o usuário não
consegue nem enviar nem publicar informações privadas, ou seja, as duas ações são
discursivamente consideradas. Neste caso, observamos que a conjunção ou poderia até
mesmo ser parafraseada pela conjunção e, tipicamente inclusiva. Vejamos:
e’) - Envio de dados: para evitar que o adolescente divulgue dados como endereço,
telefone ou número de cartão de crédito, o programa embaralha os caracteres sempre
que o usuário tenta enviar e publicar nas redes sociais informações predefinidas pelos
pais como privadas.
Já no token a seguir, o ou apresenta uma leitura exclusiva. Observemos:
f) Resta saber se agora prevalecem os novos projetos desses que estão voltando ao
Brasil ou as velhas ideias daqueles que permaneceram aqui invadindo reitorias,
promovendo utopias de almoços grátis, depredando bancos e lojas, fazendo de tudo,
menos estudar. Revista Veja on-line, ed. 14/12/2013- pág. 51
Neste token, observamos que temos duas alternativas excludentes: ou os velhos
projetos ou as velhas bases. Sendo assim, o ou é exclusivo.
Observamos em nossos dados que o ou, apesar de ter demonstrado tanto uma
leitura inclusiva, quanto uma leitura exclusiva, apresentou preferência pela inclusão. Já
ou...ou apresenta somente uma leitura exclusiva. Há um forte indício de especialização
no uso desses itens na língua.
Constatamos, assim, que o valor de exclusão particular apresentado pelas
estruturas alternativas não é simplesmente veiculado pela presença de outro ou. Para
que haja uma construção correlata ou...ou, além da presença de correlatores (um par), é
necessário haver o valor de exclusão.
Sendo assim, a hipótese de que uma coordenada alternativa é diferente de uma
construção correlata alternativa é fortalecida, pois apresentam, além da forma
diferenciada, valores semânticos distintos. Entre outros termos, a construção
coordenada e a correlata apresentam forma e função diferentes, por isso devem ser
62
vistas como construções particulares que servem a contextos comunicativos
específicos.
Vejamos, a seguir, mais uma ocorrência encontrada do type ou...ou:
PRÓTASE APÓDOSE
(5) Temos de enfrentar esse leão, não há tempo a perder. O que está sendo feito em educação
em nosso país é da pior qualidade, e, aparentemente, os
ministros que passam pela educação,
ou não tem apoio para fazer as mudanças necessárias
ou lhes falta a devida dose, de
atitude estadista. .
Revista Veja on-line, ed. 18/12/2013-pág. 48
Também no token (5), o correlator ou...ou estabelece alternância exclusiva entre
duas sentenças, confirmando, como já foi dito, o valor exclusivo particular apresentado
pela construção alternativa correlata. Ao falar das atitudes dos ministros, o autor do
texto apresenta duas razões distintas e incompatíveis para o fracasso da educação
nacional: falta de apoio ou atitude estadista.
Verificamos também na análise deste type que todas as construções com ou...ou
apesentaram a interdependência típica das construções correlatas. Vejamos:
PRÓTASE APÓDOSE
(6) Moda é um equilíbrio entre criatividade e comércio: Quem
não é capaz de conciliar os dois aspecto,
ou arranja alguém para cuidar dos negócios,
ou se conforma em trabalhar para a marca de outro
estilista
Revista Veja on-line, ed.03/07/2013- pág. 104
Podemos observar, a partir do token citado, que há entre as correlatas com
ou...ou uma forte ligação e que uma não funcionaria sem a outra. Observamos que
há a criação de uma expectativa na prótase, funcionando como uma preparação para
enunciação que irá ocorrer na apódose, reforçando a interdependência entre as
cláusulas, assim como é característico da correlação. A relação estabelecida entre
prótase e apódose ressalta a interdependência presente entre as construções, tal como
asseverado anteriormente por Rodrigues (2007).
63
Em relação à ordem, observamos que as construções com ou...ou apresentaram
maior possibilidade de inversão. Vejamos:
Tabela 5 - Ordem das constuções com ou...ou
Possibilidade de
inversão
Qnt. %
+ inversão 42 66,7
- inversão 21 33,3
Total 63 100%
Verificamos que dos 63 types instanciados, 42 apresentaram maior
possibilidade de inversão. Vejamos, a seguir, alguns exemplos de construções com
ou...ou encontrados nos dados com maior e menor possibilidade de inversão,
respectivamente.
Revista Veja on-line, ed.06/03/2014, pág.60
Nessa ocorrência, observamos maior possibilidade de inversão sem maiores
alterações da primeira informação veiculada, ou seja, se trocássemos a ordem das
orações (ou se faz algo privado ou se faz algo público), não alteraríamos muito a
informação original.
No entanto, observamos nos dados que algumas dessas construções
apresentaram menor possibilidade de inversão, sendo motivadas iconicamente por
fatores diversos, como já afirmado por Neves (2000), fato que é desconsiderado pelas
gramaticas tradicionais. Vejamos:
PRÓTASE APÓDOSE
(8) O resultado é que os intermediários precisam
melhorar
ou passam a agregar novos valores,
ou são extintos.
Revista Veja on-line,ed. 22/05/2013,pág.15
PRÓTASE APÓDOSE
(7) Ao mesmo tempo, o governo tenta aprovar uma lei que abre à
iniciativa privada o investimento em portos. Tem de acabar a contradição no Brasil de que
ou se faz algo público ou se faz algo privado.
64
Essa ocorrência (08) apresenta menor possibilidade de inversão, pois, se
alterássemos a ordem das partes da construção alternativa, teríamos maior prejuízo
semântico da informação inicial. É aparente que a segunda parte da construção ou são
extintos é uma consequência da primeira ou passa a agregar novos valores e, como
consequência, normalmente vem depois da causa, e não anteriormente. Não
poderíamos, neste caso, portanto, inverter a ordem das cláusulas.
A questão da possibilidade de inversão ou não da prótase e da apódose revelou-
se como um fator fortemente associado à questão da sobreposição semântica. Vejamos
esse fator:
Tabela 6 - Sobreposição semântica das construções com ou...ou
Sobreposição semântica Qnt. %
Sem sobreposição 42 66,7
Com sobreposição 21 33,3
Total 63 100%
De fato, algumas construções com o type ou...ou apresentaram também
sobreposição de valores semânticos, pois além da disjunção alternativa/exclusiva
que se colocou como marca de prototipicidade desse tipo de construção, pôde-se
observar um valor condicional em alguns casos. Observemos:
PRÓTASE APÓDOSE
(9) Um, dois, três, quatro, cinco mil,
ou para a roubalheira, ou paramos o Brasil.
Revista Veja on-li,ne, ed. 03/072013- pág. 17
Observamos no token acima que há entre as construções um vínculo semântico,
uma relação de causa-consequência que seria típica das construções condicionais. A
65
noção semântica que se imprime na construção é a seguinte: Se a roubalheira não
parar, pararemos o Brasil. Percebemos, ainda, um tom de ameaça nas cláusulas, que
favorece a leitura condicional. De acordo com Hirata Vale (2008), que desenvolveu um
estudo a respeito do assunto em relação às construções com ou, há diversos fatores
motivadores para a explicação do fenômeno. Segundo a autora:
Para receber uma leitura condicional, as orações que compõem uma
construção justaposta, ou a uma construção coordenada aditiva ou
disjuntiva devem ter, entre si, um tipo de vinculo, a que se pode
chamar de causal, que leva, por sua vez, a uma ordenação icônica,
que vai da causa para a consequência. (HIRATA-VALE, 2008, p.
215)
A autora ainda ressalta que a relação causal e a ordenação linear
presentes nesses tipos de construções favorecem a leitura condicional nessas
cláusulas. Além disso, de acordo com Fillenbaum (1986, apud Hirata Vale 2008), as
orações disjuntivas, quando usadas para expressar ameaças, podem receber essa
interpretação condicional. Eis o caso das nossas construções correlatas alternativas
aqui presentes. A ordenação icônica citada pela autora é fator marcante em todas as
alternativas condicionais aqui encontradas, como pode ser verificado na ocorrência a
seguir:
PRÓTASE APÓDOSE
(10) Com a aprovação da PEC das empregadas domésticas, alguns maridos que se
preparem:
ou ajudam nas tarefas domésticas,
ou sua esposa vai reivindicar direitos
trabalhistas.
Revista Veja-online, ed. 27/03/2013-pág 90
É evidente nesta ocorrência a impossibilidade de comutação das cláusulas
sem que haja prejuízo da primeira informação desejada. Hirata Vale (2008) afirma,
ainda, o predomínio desse valor condicional nas construções do tipo ou...ou aqui
chamadas correlatas. A autora só não se refere diretamente à correlação como fizemos
nessa análise.
Raposo et alii (2003) também mencionaram a possibilidade de as coordenadas
disjuntivas veicularem um valor de condicionalidade, ressaltando, inclusive, que nesses
66
casos ela terá sempre uma interpretação exclusiva. Os autores acrescentaram, ainda,
que, nestes casos, a primeira oração coordenada “equivalente ao antecedente da
condição” é interpretada como negativa. Observemos um exemplo fornecido pelos
autores:
a - Veste o casaco ou constipas-te!
a’ - Se não veste o casaco constipas-te!
Verificamos que o mesmo se aplica às correlatas. Vejamos o dado (10) de nosso
corpus:
b -...ou ajudam nas tarefas domésticas, ou sua esposa vai reivindicar direitos
trabalhistas. Revista Veja on-line, ed. 13/02/2013, pág.55
b’ - Se não ajudarem nas tarefas domésticas, sua esposa vai reivindicar direitos
trabalhistas.
As orações com sobreposição aqui evidenciadas também se encaixam na
afirmativa de Neves (2000), já citada anteriormente, de que algumas construções com
ou são assimétricas, ou seja, são iconicamente motivadas, embora a autora também
não faça nenhuma referência às construções correlatas.
A análise dos padrões oracionais indicou que as construções alternativas com
ou...ou apresentam-se, em sua maioria, em estruturas oracionais. Vejamos:
Tabela 7 - Padrão oracional das construções com ou...ou
Padrão
oracional
Qnt. %
Oracional 48 76,2
não-oracional 15 23,8
Total 63 100%
67
Observamos, a partir da tabela anterior, que dos 63 tokens encontrados, 48
eram oracionais. Vejamos a seguir alguns dos dados oracionais e não-oracionais
encontrados:
PRÓTASE APÓDOSE
(11) Depois da visita, Sartre somente deplorou a “desumanidade” do
isolamento de Andreas Baader na prisão.
ou o filósofo era um ingênuo que de fato acreditava que as
organizações terroristas brasileiras de esquerda
queriam derrotar a ditadura militar para instaurar uma
democracia,
ou tinha dois pesos em uma balança defeituosa
Revista Veja on-line , ed.01/01/2014, pág. 56
Observamos que o par ou...ou correlaciona duas estruturas oracionais, ou seja,
duas orações. Vejamos agora um dado de ou...ou correlacionando estruturas não-
oracionais:
PRÓTASE APÓDOSE
(12) O senhor é um ser humano
cheio de virtudes e comoções
que, como todos nós que
estamos num hospital,
ou doentes, ou não, nos sentimos
impotentes.
Revista Veja on-line, ed.22/01/2014, pág. 37
A correlação ou doentes ou não, como está claro, não é instanciada com a
presença de verbos. Logo, o fenômeno da correlação alternativa também é flagrada em
dados não-oracionais, algo tipicamente descartado pelas abordagens tradicionais.
A análise das sequências tipológicas revelou que todas as construções com o
type ou...ou apareceram em sequências argumentativas, ressaltando o caráter
argumentativo da correlação, o que foi observado por alguns autores, como Rosário
(2012), dentre outros.
As constatações obtidas nesta análise nos ajudaram a comprovar o estatuto
sintático da correlação alternativa como distinto da coordenação alternativa. Como
68
estamos diante de dois usos diferentes, podemos reiterar que a coordenação alternativa
é uma construção diferente da correlação alternativa, apesar da semelhança entre
ambas. Veremos essa questão com mais detalhes posteriormente, ao longo deste
capítulo destinado aos resultados, e nas considerações finais.
4.1.1.2. Construções com nem...nem
De acordo com Barreto (1992, p. 85-86), a partícula nem pode funcionar como
um advérbio ou conjunção aditiva negativa correspondendo a e não, e “vem sempre
precedida de sentença negativa”. Já o par nem... nem, ainda segundo a autora citada,
teria valor correlativo coordenativo alternativo, no sentido de expressar uma
“alternância negada”. A conjunção nem, repetida, segundo a autora, como já era
empregada no latim, antes de itens lexicais, sintagmas ou sentenças, constitui a
correlação alternativa nem ...nem que ocorre em português, desde o séc. XIII.
Ainda segundo Barreto (1992), a conjunção nem com valor aditivo é
proveniente da conjunção latina nec e era, primitivamente no latim, um advérbio de
negação. Posteriormente nec passou ao português sob a forma nem, indicando advérbio
e conjunção. A gramaticalização de nem, de acordo com a autora, ocorreu no próprio
latim, através da recategorização advérbio > conjunção e da sintaticização, caracterizada
pela posição do item na sentença. Vejamos16:
Latim > Português
nec nem
adv. conj. aditiva adv. e conj. aditiva
negação negativa e negação negativa e
alternativa alternativa
negativa negativa
Vejamos, a seguir, um dos tokens encontrados de nem...nem.
PRÓTASE APÓDOSE
16 Esquema extraído da tese de Barreto (1992)
69
(13) A paz é um dueto, não um solo. E não
tivemos ainda uma só declaração,
nem da OLP, nem do Hamas, Muito menos do Hezbollah, que aceite o
direito de Israel existir.
Revista Veja on-line , ed.15/01/2014-,pág. 19
Notamos no token (13) acima que o correlator nem...nem estabelece a
correlação alternativa negativa, entre as sentenças, assim como citado por Barreto
(1992). Entretanto, reconhecemos que os limites entre alterância e adição tornam-se
altamente difusos, a ponto de ser possível a postulação de uma construção alternativa-
aditiva, de cunho negativo.
Segunto Santos (1990, p.72), “o uso de nem em lugar de ou tem como efeito não
somente a apresentação de alternativas, mas, mais do que isso, a negação, simultânea à
apresentação dessas mesmas alternativas”. Ou seja, duas alternativas são apresentadas
para mostrar que elas não se realizam. Observemos outra ocorrência de nem...nem
encontrada nos dados:
PRÓTASE APÓDOSE
(14) Mas sua desgraça é que não cresceu,
nem perto do necessário, nem com a rapidez de que precisava.
Revista Veja on-line, ed. 25/12/2013, pág. 60
Observamos no token citado que o correlator nem...nem estabelece a
alternância negativa entre as duas sentenças, apresentando alternativas que não se
realizaram, assim como afirmado anteriormente por Santos (1990). Isso é reforçado
pela presença da partícula não, que antecede a prótase.
Observemos, agora, a interdependência no type nem...nem:
PRÓTASE APÓDOSE
(15) Dilma também prometeu ferrovias que não vai entregar, e águas que não vai
transpor,
nem do São Francisco, nem de lugar nenhum.
Revista Veja on-line, ed. 19/02/2014, pág. 106
70
Verificamos que todos os 16 tokens encontrados apresentaram a
interdependência evidenciada por Rodrigues (2007), como traço característico das
construções correlatas.
Em relação à ordem, verificamos que todas as construções com nem...nem
apresentaram maior possibilidade de inversão. Observemos:
PRÓTASE APÓDOSE
(16) Presidente da Petrolífera Statoil, a maior estatal da Noruega e um dos gigantes mundiais do setor, Helge Lund, 50 anos, diz coisas que podem soar inacreditáveis para um brasileiro. Primeiro: garante que não sofre pressão alguma,
PRÓTASE APÓDOSE
... narra sua mudança para São Paulo e os primeiros envolvimentos com a política e as mulheres,
ora como obsessão, ora como problema.
nem do governo, nem do Parlamento,
Revista Veja on-line, ed. 13/02/2013, pág.12
Se invertêssemos a ordem dos termos (nem do Parlamento nem do governo),
teríamos um enunciado muito próximo da informação original, tal como veiculada
pela Revista Veja. Em outras palavras, não provocaríamos alteração substancial de
significado.
As construções com nem...nem também apresentaram preferência por
estruturas não-oracionais. Todos os 16 tokens encontrados apresentavam-se em
estruturas desse tipo. Observemos:
PRÓTASE APÓDOSE
(17) Sim, é a chance de tudo. Nós não somos nem mais inteligentes, nem mais burros .
Revista Veja on-line, ed.26/02/2014, pág.19
Notamos no token (17) que o correlator nem...nem liga estruturas não-oracionais
apresentando a negação de adjetivos. Sendo assim, notamos que o correlator nem...nem
correlaciona e nega, no dado apresentado, estruturas de usos adjetivais.
Observamos também que as construções com nem...nem apresentaram apenas o
valor semântico de alternância, não envolvendo, assim, em nenhum token, sobreposição
de valores semânticos como ocorre com o type ou...ou, a não ser o valor aditivo.
Verificamos, ainda, em relação ao valor semântico de nem...nem, que todas as
construções, diferentemente de ou...ou, apresentaram a leitura semântica de inclusão,
com uma especificidade já levantada: uma inclusão de cunho negativo. Vejamos:
71
PRÓTASE APÓDOSE
(18) O desprezo pela canção popular-ou popularesca, como preferem alguns- tem
certo preconceito de classes. Em geral, seus intérpretes são de origem e tem
pouca escolaridade. Musicalmente o brega não cultiva
nem a tradição
nem a modernidade
Revista Veja on-line, ed. 01/01/2014, pág. 90
Observamos no token citado, que a música brega não cultiva a tradição e
também não cultiva a modernidade, ou seja, não cultiva nenhuma das duas. Sendo
assim, a leitura apresentada é de inclusão.
A análise das sequências tipológicas em que apareceram as construções com
nem...nem demonstra também uma preferência pelo aparecimento em sequência
argumentativas. Dos 16 tokens encontrados, 14 apresentam-se em sequências
argumentativas e apenas 2 em sequências narrativas. Vejamos, a seguir, um dado de
cada ocorrência:
PRÓTASE APÓDOSE
(19) A verdade é que nem a economia brasileira estava tão bem nos tempos de euforia,
nem está tão ruim agora, apesar de tudo.
Revista Veja on-line, ed. 01/01/2014
Observamos no token (19) que o autor manifesta uma opinião sobre a economia
e argumenta por meio do uso de construções correlatas. Com isso, temos uma sequência
argumentativa. Já no token seguinte, a sequência é narrativa. Vejamos:
PRÓTASE APÓDOSE
(20) Luke (Ruan Goslin), que pilota motocicletas no globo da morte em um circo itinerante,
descobre que deixou Romina( Eva Mendes) grávida, e decide ficar pela cidade , embora não
tenha nada a oferecer,
nem a ela nem ao filho, e Romina esteja já com outro homem.
nem a ela nem ao filho, e Romina esteja já com outro homem.
nem ao filho,
Revista Veja on-line, ed. 15/01/2014. Pág. 101
72
O autor, no token (20), narra a cena de um filme sendo, portanto, a sequência
narrativa. A correlação efetuada por “nem a ela nem ao filho” veicula a ideia de uma
alternância inclusiva negativa.
Passemos, agora, à análise dos correlatores de base verbal.
4.1.2. Correlatores de base verbal
Alguns correlatores espelhados (seja...seja e quer...quer) são de base verbal,
pois tiveram como origem os verbos ser e querer, respectivamente. Esses
correlatores, assim como os já citados, também apresentaram um traço persistente
de sua palavra de origem, ou seja, preservaram características verbais que atuam no
comportamento sintático e semântico dessas construções, como veremos a seguir.
4.1.2.1. As construções com seja...seja
O primeiro type espelhado de base verbal a ser analisado é o seja..seja. Esse
type aparece em segundo lugar na preferência de uso entre os usuários da língua. Dos
146 types espelhados apresentados na análise de dados, 42 types foram de seja...seja.
O correlator seja...seja, de acordo com Pezzatti e Longhin-Thomazi (2008,
p.898), “manifesta, na realidade, uma forma de repetição do predicado verbal, que
parece estar se gramaticalizando como conjunção”. Sendo assim, as autoras afirmam
que a conjunção ainda se encontra em processo de gramaticalização. Vejamos um dos
tokens encontrados na análise de dados:
PRÓTASE APÓDASE
(21) O direito de ir e vir é sagrado,
seja para pobre, seja para rico, inclusive nos shoppings. Mas precisa ir em bando
de 500, 1000, 2000? Revista Veja on-line, ed. 29/01/2014, pág. 27.
No token (21), observamos que o type seja...seja estabelece a correlação
alternativa entre dois termos, ou seja, correlaciona estruturas não-oracionais e
apresenta a alternância típica da construção alternativa. Observamos, ainda, que o fato
de seja...seja correlacionar, com maior frequência, termos não-oracionais configura-
se, em nossa pesquisa, como uma característica particular desse correlator. Vejamos:
73
Tabela 8 - Padrão oracional de seja...seja
Padrão oracional Qnt. %
não-oracional 32 75,7%
oracional 10 24,3
Total 42 100%
A preferência de seja...seja pelas construções não-oracionais é uma constatação
de que o correlator, por si só, já preserva características de seu estatuto verbal. Dos 42
tokens instanciados, 32 correlacionavam termos não-oracionais.
Alguns autores comentam sobre os resquícios verbais preservados por
seja...seja. Por exemplo, Bosque y Demonte (1999, p. 2687) ressaltam a distribuição
sintática diferenciada apresentada por este correlator em relação aos outros types de
construção correlata alternativa, na língua espanhola. Os autores afirmaram que
seja...seja coordena orações e sintagmas preposicionados, mas sua distribuição é bem
mais limitada com argumentos do verbo”17. Sendo assim, apresenta a preferência por
sintagmas preposicionados, como também constatamos em nossos dados.
Notamos que, das 32 construções de seja...seja não-oracionais encontradas em
nossos dados, 19 eram compostas por sintagmas preposicionados, confirmando, assim, a
afirmativa dos autores também com dados do português.
Os autores salientaram, ainda, que por preservar o seu caráter verbal, o correlator
seja...seja bloqueia a proximidade de outros verbos, e daí a sua preferência por
correlacionar termos não-oracionais. Um fator ainda mais saliente desse resquício
verbal é o aparecimento, em alguns dados, do seja flexionado. Vejamos o token a
seguir:
PRÓTASE APÓDASE
17 Sea...sea coordina oraciones y SSPP, pero su distrubución es bastante más limitada com argumentos
del verbo.
74
(22) Suíços fazem ótimos chocolates, fabricam
esplêndidos relógios e, alpinos que são adoram
montanhas.
sejam aquelas de cumes gelados,
sejam as nem tão metafóricas assim,
compostas de euros e dólares convertidos em francos nativos.
Revista Veja on-line, ed. 15/05/2013, pág. 102
No token (22), o seja...seja aparece flexionado (sejam... sejam),
apresentando mais um indício de que o correlator ainda preserva traços verbais, já
que as conjunções tradicionalmente, por definição, não recebem o traço da flexão.
De acordo com Bechara (1999, p. 321), assim como outros autores
mencionaram, isso se deve ao fato de a conjunção seja...seja não estar totalmente
gramaticalizada, indicando que esse conector teria nascido do verbo ser e que
ainda guardaria traços de sua origem.
A seguir, observamos outro token, apresentando o correlator seja...seja
flexionado. Observemos:
PRÓTASE APÓDASE
(23) Prada tem um quarto só seu, decorado com borboletas na
parede, e adora enfeites
sejam as bijuterias da dona,
seja sua própria gargantilha de pérolas
verdadeiras.
Revista Veja on-line, ed. 14/08/2013, pág. 97
Nesse token, observamos que apenas o primeiro correlator é flexionado, pois
acompanha a flexão do sintagma da prótase (as bijuterias da dona) ao qual faz
referência. O segundo correlator mantém-se em uma forma não-marcada, justamente
por combinar-se com um sintagma singular.
Como citamos, as construções com seja...seja apresentam preferência por
estruturas não-oracionais, no entanto, observamos, com base na tabela 7, que 9 tokens
apresentaram-se em estruturas oracionais, como o exemplo seguinte. Vejamos:
PRÓTASE APÓDASE
75
(24) Muitas não acreditam que a doação possa fazer grande
diferenças
seja porque não podem doar muito,
seja porque estão convencidas de que os esforços para mudar as
condições de vida de outras pessoas são
inúteis.
Revista Veja on-line, ed. 27/03/2013, pág. 90
Podemos observar no token (24) que o correlator seja...seja correlaciona
estruturas oracionais. No entanto, observamos também que há a presença de um
segundo conector (porque) logo após ambos os correlatores, acrescentando um outro
matiz semântico que se adjunge à noção de alternância. A presença desse outro
conector junto ao correlator pode ser observada em quase todos os tokens que se
apresentam em estruturas oracionais. Dos 9 encontrados, em apenas 1 dado não foi
observada a presença de um segundo conector.
Vejamos outra ocorrência de seja...seja correlacionando estruturas oracionais:
PRÓTASE APÓDASE
(25) Suas aparições públicas noticiadas pelos meios de
comunicação desertavam em mim um misto de euforia,
otimismo e orgulho,
seja porque elas traziam ínsita a certeza de boas
venturanças (premiações por trabalhos
desenvolvidos, anúncios de projetos virtuosos),
seja porque eu gostava de vê-lo como pessoa mesmo, admirava seu semblante, sua feição.
Revista Veja on-line, ed. 12/06/2013, pág.32
Verificamos, no token (25), que os correlatores estão introduzindo duas
orações causais. Sendo assim, concluímos que, nestes casos, a função da correlação
alternativa oracional com seja...seja é normalmente correlacionar orações causais.
Afinal, a coocorrência de porque com seja foi quase categórica.
A análise dos dados de seja...seja revelou-nos também que, em todas as
ocorrências, a disjunção apresentada é inclusiva. Vejamos:
PRÓTASE APÓDASE
(26) Os autômatos tomam suas
próprias decisões
seja em situações de policiamento
Seja em zonas de intervenção militar.
Revista Veja on-line, ed. 05/02/2014, pág. 103
76
Notamos que os autômatos tomam suas próprias decisões tanto em situações de
policiamento quanto em zonas de intervenção militar. Há, portanto, uma ideia de
inclusão, e não exclusão, como comumente ocorre com o correlator ou...ou. Sendo
assim, a disjunção existe, mas é tipicamente inclusiva.
Alguns autores, em trabalhos anteriores, ressaltaram o caráter diferenciado
apresentado pelo correlator seja...seja. Bosque y Demonte (1999), por exemplo,
afirmaram que a conjunção seja...seja é diferenciada por ser compatível com a
conjunção ou, mas incompatível com a conjunção ou..ou, pois apresenta a disjunção
somente inclusiva, assim como constatamos em nossos dados.
A análise das sequências tipológicas demonstrou a predominância das
construções com seja...seja em sequências argumentativas. Vejamos:
Tabela 9 - Sequências tipológicas das construções com seja...seja
Sequências tipológicas Qnt. %
Argumentativas 25 67,5
Expositivas 12 32,5
Total 37 100%
Observamos que, dos 37 tokens instanciados por seja...seja, 12 se
apresentaram em sequências expositivas. Vejamos um exemplo deste caso:
PRÓTASE APÓDASE
(27) Depois da divulgação das investigações, que ainda devem continuar nos próximos meses, a FIFA se viu obrigada a criar um canal exclusivo para o recebimento de
denúncias,
Seja sobre violações de
código de ética,
Seja sobre a manipulação de
resultados.
Revista Veja on-line, ed. 13/02/2013, pág. 63
77
Notamos que a reportagem expõe atitudes tomadas pela Fifa para o
esclarecimento de dúvidas. Assim, a sequência é expositiva. Já no token (26),
observamos uma sequência argumentativa. Vejamos.
PRÓTASE APÓDASE
(28) Esse amadurecimento ao longo da vida — fortemente influenciado pela nossa Educação formal prévia — metamorfoseia-se em maior
produtividade. Eis a mágica da Educação! Visto de outra maneira, o que aprendemos na
Escola e tem uso imediato aumenta os salários, mas não tanto. Conta mais o que
aprendemos depois. Logo,
seja do ponto de vista individual,
seja do da empresa.
Revista Veja on-line, ed. 06/03/2013, pág. 20
Na sequência anterior, verificamos que o autor apresenta argumentos para
explicitar sua opinião de que o aprendizado mais valorizado economicamente é aquele
que se dá durante a vida profissional, não antes, sendo assim, estamos diante de uma
sequência argumentativa.
Ressaltamos que nenhum caso de construções com seja...seja apresentou
sobreposição de valores semânticos como ocorreu com as construções com ou...ou.
4.1.2.2 As construções com quer...quer
Outro correlator de base verbal encontrado nos dados foi o quer...quer. De
acordo com Barreto (1999), a conjunção quer é derivada do verbo querer de 3ª pessoa
do presente do indicativo que, por sua vez é “oriundo do latim quaerere, ‘buscar’,
‘aspirar’, ‘desejar’.” Ainda segundo a autora, a conjunção correlativa quer...quer
originou-se a partir de um processo de recategorização: verbo > conjunção e foi
acompanhada, em alguns casos, por uma mudança de conteúdo semântico, pois pode
indicar, em alguns contextos, um valor concessivo-condicional como observado no
exemplo seguinte:
Quer eu faça isto, quer eu faça aquilo, ela sempre reclama comigo.
No exemplo citado, Barreto (1999) demonstra que, neste caso, poderíamos
facilmente substituir a conjunção quer pela conjunção condicional se. Outros autores
78
como Garcia (1972) também ressaltaram o caráter concessivo-condicional de
quer...quer, no entanto, a autora ressalta que em outros casos a conjunção apresenta seu
valor primitivo, o alternativo, e segue o valor semântico de ou...ou como no exemplo a
seguir:
Quer chova quer faça sol, irei à praia.18
Em nossos dados, foram encontrados apenas 4 tokens de quer...quer,
demonstrando ser este o correlator alternativo menos prototípico entre os que veiculam
a noção de alternância. Em 2 tokens instanciados, o correlator quer...quer apresentou
sobreposição de valores semânticos, pois além da alternância típica das construções
alternativas, apresentou valores condicionais-concessivos, assim como foi observado
por Garcia (1972) e Barreto (1999). Vejamos a seguir um desses tokens encontrados:
PRÓTASE
APÓDASE
(29)
Não importa o destino do projeto de lei, é evidente que prostitutas,
por necessidade, gosto ou as duas coisas, continuarão a
vender seus serviços,
quer você queira,
quer não.
Revista Veja on-line, ed.19/02/2014, pág. 23
Verificamos também que, apesar de o correlator quer...quer apresentar uma base
verbal como seja...seja, em nenhum caso admite a flexão. De acordo com Kury (2003),
isso ocorre porque, diferentemente do que acontece com seja...seja, a conjunção
quer..quer já está totalmente gramaticalizada, permanecendo, assim, sempre invariável.
Em relação ao padrão oracional, observamos que os 4 tokens instanciados por
quer...quer apresentaram-se em estruturas oracionais, demonstrando que ele não
bloqueia a presença de outros verbos como ocorre com seja...seja. Certamente, isso
18 Os exemplos do type quer...quer foram extraídos de Barreto (1999)
79
ocorre pelo fato de o correlator quer...quer não preservar mais as suas características
verbais como ocorre com seja...seja, pois está totalmente invariável.
Observamos que, em todos os tokens instanciados pelo type quer...quer, a
disjunção apresentada foi também inclusiva, assim como aconteceu com o type
seja...seja.
PRÓTASE APÓDASE
(30) A vida pode nos passar uma bela rasteira,
quer sejamos pobres, quer tenhamos abundância à nossa
disposição.
Revista Veja on-line, ed. 04/12/2013, pág. 26
Verificamos que a vida pode nos passar uma bela rasteira tanto sendo pobre
quanto sendo rico. O conteúdo da prótase, portanto, não exclui o que é afirmado na
apódose.
Em relação à ordem, observamos que todas as ocorrências de quer...quer
apresentaram maior possibilidade de inversão, pois a comutação não traria grande
prejuízo para a primeira informação que se deseja obter. Vejamos:
PRÓTASE APÓDASE
(31) Não sei que estado de delírio (usando um termo brando) as
excelências cometeram tão vergonhoso ato,
quer votando protegidos pelo torpe
voto secreto,
quer se omitindo de votar,
Revista Veja on-line, ed. 11/09/2013, pág 20
Verificamos que a inversão das cláusulas, que geraria a sequência quer
se omitindo de votar, quer votando protegidos pelo torpe voto secreto não traz
uma alteração substancial para a primeira informação.
4.1.3 Correlatores de base substantiva
Um dos correlatores encontrados, em nossa análise, apresenta como
base uma palavra substantiva como é o caso do correlator ora...ora.
Barreto (1992) afirma que o substantivo latino hora, precedido do
demonstrativo hac (hac hora) deu origem ao advérbio português agora ‘nesta
hora’, ‘neste momento’. Já a preposição ad (ad hora) deu origem ao advérbio
português ora semanticamente equivalente. Ao lado de hora, segundo Barreto
(1992), ora era também de uso corrente no espanhol na Idade Média, com o
80
sentido de ‘tempo livre para fazer algo’. Sendo assim, os itens ora e agora mantiveram-
se, as duas, na língua portuguesa pelo fato de não serem sinônimos e serem utilizados
em contextos diferentes.
4.1.3.1 As construções com ora...ora
O type ora...ora também apareceu nos dados como um dos correlatores que
instanciam construções correlatas alternativas, totalizando 21 tokens. Observemos:
PRÓTASE APÓDOSE
(32) O cantor carioca, nascido João Luiz Wordenberg Filho, passou boa parte
da vida trombando
ora com a lei (nos anos 80, usuário contumaz de drogas
diversas, era chamado tantas vezes às delegacia que passou a andar
com algemas no bolso),
ora com seus colegas músicos.
Revista Veja on-line, ed. 28/08/2013, pág. 15
No token (32) acima transcrito, percebemos que o correlator ora...ora, além da
alternância, nos remete a um valor temporal secundário que pode ser percebido com
clareza. Observemos: “O músico, em alguns momentos, tinha problemas com a
polícia e, em outros momentos, com seus colegas.”
A semântica temporal apresentada por esse tipo de correlator pode ser
depreendida como uma persistência de sua palavra de origem. De acordo com Barreto
(1992), a conjunção ora é derivada do substantivo hora, que traz em si um
conteúdo tipicamente temporal. Observemos:
Machado (1967: s.v. hora) admite que ora provém de ad hora ou do
próprio substantivo hora, podendo a perda do h inicial, segundo o
autor, ser explicada pelo fato de que, no latim imperial, o h, já era
apenas um símbolo gráfico. O item lexical hora é o substantivo
latino ‘hora’, ‘tempo’, ‘momento’, derivado do grego hora ‘qualquer
divisão ou período de tempo’, que passou ao português, também
como substantivo, com idêntico valor semântico (Corominas 1991:
s.v. hora) (BARRETO,1999, p. 444)
81
Vejamos agora o processo de gramaticalização envolvendo as conjunções ora e
agora, explicitado por Barreto (1992)19
preposição + substantivo > advérbio
ad + hora > ora
dem + substantivo > advérbio
hac + hora > agora
De acordo com a autora, podemos observar no processo de gramaticalização
dessas conjunções a recategorização, a morfologização e a sintaticização ocorrida pela
reanálise dos itens e pela nova distribuição desses elementos na sentença. Além disso,
podemos observar a passagem de um sentido [+ concreto] ‘hora’ para um sentido [-
concreto] ‘neste momento’. Em seguida, ocorreu uma nova gramaticalização e o
advérbio ora, repetido, passou a conjunção alternativa.
Vejamos, agora, como se comportaram os tokens encontrados de ora...ora em
nossos dados. Observamos que, em todos os tokens aqui encontrados, o correlator
ora...ora, de fato preserva o conteúdo semântico de tempo, mencionado acima por
Barreto (1999). Observemos outro token.
PRÓTASE APÓDOSE
(33) Vivemos a era do individualismo tecnológico. Criamos perfis virtuais que nem sempre condizem com a realidade. Com alguns
cliques,
ora nos apresentamos como
pessoas amáveis,
ora como pessoas totalmente poderosas.
Revista Veja on-line, ed. 16/01/2013, pág. 28
Percebemos que a noção semântica de tempo também é facilmente
percebida no token acima citado. Com relação aos perfis criados nas redes
virtuais, verificamos que, em alguns momentos, nos apresentamos como
pessoas amáveis, e em outros momentos, como pessoas poderosas.
Verificamos, também, que todos os tokens instanciados pelo type
ora...ora apresentam a leitura semântica de exclusão. Observemos:
PRÓTASE APÓDOSE
19 Esquema extraído da tese de Barreto (1999)
82
(34) Uma parte das que se veem enredadas pela pressão procura ajuda especializada para
tratar do assunto, deixando entrever o preconceito do qual são alvo,
ora velado, ora escancarado.
Revista Veja on-line, ed. 29/05/2013, pág. 120
Notamos que, no token (34), um momento exclui o outro. Em alguns momentos
o preconceito é velado, em outros momentos ele é escancarado. É impossível, portanto,
uma leitura inclusiva.
Em relação à possibilidade de inversão das construções em que aparecem o
type ora...ora, notamos que todos os types apresentaram maior possibilidade de
inversão. Vejamos:
PRÓTASE APÓDOSE
(35) O político narra sua mudança para São Paulo e os primeiros envolvimentos com a política e as
mulheres, duas paixões que o dominariam,
ora como obsessão, ora como problema
Revista Veja on-line, ed. 12/06/2013, pág. 64
Percebemos que a inversão das construções no token citado traria menor
prejuízo para o primeiro significado apresentado pelas construções. Afinal, se
invertêssemos a ordem das construções, não haveria grandes alterações de significado
(ora como problema, ora como obsessão).
As construções com ora...ora também apresentaram-se com maior frequência
em padrões não-oracionais. Vejamos na tabela a seguir:
Tabela 10 - Padrão oracional de ora...ora
Padrão
oracional
Qnt. %
não-oracional 15 71,5
oracional 6 28,5
Total 21 100%
A partir da tabela 10, observamos que, dos 21 tokens instanciados, 15
apresentaram-se em estruturas não-oracionais. Vejamos:
PRÓTASE APÓDOSE
83
(36) “Além das montanhas” tem ainda uma dimensão interna poderosa (no relacionamento
cheio de pulsões das duas amigas), uma psicóloga no contraste entre os
enquadramentos,
ora ordenados, ora caóticos ...
Revista Veja on-line, ed. 09/01/2013, pág. 99
Apenas 6 tokens apresentaram-se em estruturas oracionais, Vejamos:
PRÓTASE APÓDOSE
(37) Vivemos a era do individualismo tecnológico. Criamos perfis virtuais que nem sempre condizem com a realidade. Com alguns
cliques,
ora nos apresentamos como
pessoas amáveis,
ora como pessoas totalmente poderosas.
Revista Veja on-line, ed.05/06/2013, pág. 108
No token (37), observamos que o type ora...ora apresenta-se em uma estrutura
oracional, pois correlaciona duas cláusulas. A primeira é instanciada pelo verbo
apresentar. A segunda cláusula, por sua vez, apresenta o mesmo verbo, mas de forma
elíptica.
A análise das sequências tipológicas demonstrou uma predominância pelo
aparecimento deste type também em sequências argumentativas. Vejamos:
Tabela 11 - Sequência tipológicas das construções com ora...ora
Sequências tipológicas Qnt. %
Argumentativas 23 62,2
Expositivas 14 37,8
Total 37 100%
Dos 37 tokens instanciados por seja...seja, apenas 14 se apresentaram em
sequências expositivas. Os demais tokens são atestados em sequências argumentativas,
o que reforça, mais uma vez, a predominância de construções correlatas no campo da
argumentação.
A partir da análise dos types espelhados, em geral, concluímos que todos
apresentam maior possibilidade de inversão, pois apenas as construções com
84
sobreposição semântica impossibilitaram a inversão da prótase e da apódose.
Concluímos também que os types espelhados apresentam preferência por estruturas
não-oracionais e indicam inclusão ou exclusão de acordo com o token recrutado pelo
falante, no momento da interação.
Veremos, na seção seguinte, os correlatores não-espelhados apresentados na
análise dos dados.
4.2 Correlatores não-espelhados
A análise dos dados nos revelou 3 types da construção correlata alternativa não-
espelhada, ou seja, formada por correlatores com itens diferenciados: Vejamos:
Tabela 12 - Types de construções correlatas alternativas não-espelhados
Types Tokens %
seja...ou 32 91,44%
quer...ou 2 5,71%
nem...ou 1 2,85%
Total 35 100%
Observamos que os types não-espelhados são formados a partir da mescla dos
types espelhados já existentes e explorados até este ponto da dissertação. A formação
desses types se deu a partir de um processo de analogização que veremos mais
detalhadamente ao final desta seção.
Podemos observar que foram encontradas 32 ocorrências do type seja...ou na
análise dos dados, uma frequência alta para um correlator alternativo considerado não
canônico, já que as gramáticas de um modo geral não mencionam a existência deste
conector.
85
Pezzati e Loghin-Thomazi (2008) enquadraram o correlator seja...ou dentro dos
disjuntores, e afirmaram que a associação de seja com ou é “frequentemente
licenciada”. Vejamos, para fins ilustrativos, um dos tokens encontrados:
Prótase Apódose
(38) Além disso, o aumento na capacidade portuária
depende de avanços no acesso aos terminais,
seja por rodovias, ou ferrovias.
Revista Veja on-line, ed. 22/05/2013, pág. 120
Encontramos também 2 types da construção com quer...ou, como a apresentada
a seguir, vejamos:
Prótase Apódose
(39) “Niels por que a ferradura? Você não pode acreditar
nisso”. Ele respondeu: É claro que não acredito . Mas isso
funciona
quer você acredite ou não.
Revista Veja on-line, ed. 15/01/2014, pág. 19
Vejamos agora um token encontrado de nem... ou.
Prótase Apódose
(40) Ninguém faz nada quanto a isso; por alguma razão
misteriosa, insondável, nada se corrige. Homens, mulheres,
jogados aos magotes em celas que não admitiriam
razoavelmente
nem seis,
ou dez.
Revista Veja on-line, ed. 18/12/2013, pág. 32
Com relação à ordem das construções com correlatores não-espelhados,
observamos que nenhum dos types apresenta possibilidade de inversão. Vejamos:
Prótase Apódose
86
(41) “Niels por que a ferradura? Você não pode acreditar
nisso”. Ele respondeu: É claro que não acredito . Mas isso
funciona
quer você acredite ou não.
Revista Veja on-line, ed. 15/01/2014, pág. 19
A partir da análise do token (41), observamos que o correlator quer...ou não
poderia ter sua ordem invertida. Aliás, isso se constatou em todos os types não
espelhados de construções correlatas alternativas. Em todos 35 tokens instanciados a
partir desses types, a inversão não foi possível, apontando para uma cristalização da
forma, mantendo-se o ou como o correlator da apódose, obrigatoriamente. Isso se
explica porque, afinal, é justamente esse o item responsável, por excelência, para a
veiculação da noção de alternância.
Em relação à interdependência, verificamos se os dados apresentavam ou não a
interdependência típica das construções correlatas. A análise revelou que todos os
tokens não-espelhados apresentam interdependência.
A análise das sequências tipológicas dos types não-espelhados demonstra que
alguns como seja...ou aparecem em sequências argumentativas e expositivas e outros,
como quer...ou e nem...ou, apenas em sequências argumentativas. Vejamos:
Tabela 13 - Sequências tipológicas das construções com seja...ou
Sequências tipológicas Qnt. %
Argumentativas 26 81,3
Expositivas 6 18,7
Total 32 100%
A partir da análise da tabela, percebemos que as construções com seja...ou
apresentam preferência pelo aparecimento em sequências argumentativas. Ressaltamos
que todos os outros types espelhados, 2 tokens de quer...ou e 1 token de nem...ou
apresentaram-se em sequências argumentativas. Sendo assim, notamos que dos 35
types espelhados, 29 apresentaram-se em sequências argumentativas, o que reforça
87
mais uma vez o caráter fortemente argumentativo da correlação. Percebemos também
que todos os tokens instanciados pelos types quer...ou, seja...ou e nem...ou apresentam
a leitura semântica de inclusão.
Em relação ao padrão oracional das não-espelhadas, notamos a preferência pelo
aparecimento em estruturas não-oracionais. Todos os 32 types de seja...ou, e o type
nem...ou apresentaram-se em estruturas não oracionais. Já o type quer...ou apresentou-
se também em estruturas oracionais.
A partir da constatação, em nossa pesquisa, da utilização dessas formas pelos
usuários da língua, imediatamente alguns questionamentos tornaram-se presentes:
Como essas formas teriam sido criadas? Qual a motivação para o seu uso? Com que
necessidade os falantes as teriam criado? Para explicarmos o surgimento dessas formas,
nos valemos da obra de Traugott e Trousdale (2013).
De acordo com os autores, como vimos nos pressupostos teóricos desta
pesquisa, um dos mecanismos de mudança existentes para explicar o surgimento de
uma nova construção é o fenômeno da analogização. Na analogização, o falante
reconfigura e alinha traços de uma construção já existente para a formação de uma
construção nova. O exemplar da categoria de uma construção é tomado como um
modelo para a criação de novos types. Sendo assim, observamos que o mecanismo da
analogização é útil para a interpretação dos mecanismos de mudança pelos quais foram
criados os novos types seja...ou, quer ...ou e nem...ou.
Esses types foram formados por meio da atração de membros e de construtos já
existentes, que são os seguintes: seja...seja, quer...quer, nem...nem e ou...ou. Essas
novas formas partilham, alinham traços das velhas e das novas construções
possibilitando a emergência de novas formas, novos types de construção. Vejamos:
Figura 1- Analogização das construções não espelhadas
88
Observamos, a partir da figura acima, que o type ou...ou está presente em todos
os novos types criados, demonstrando grande produtividade. Isso ocorre por ser ele o
exemplar da categoria das construções correlatas alternativas, o que pode ser
comprovado pela sua antiguidade e alta frequência token até os dias de hoje. De fato, o
conectivo ou é o elemento alternativo/disjuntivo por excelência. Daí a presença dele
nos novos types formados, garantindo a persistência desse matiz semântico
fundamental.
De acordo com a abordagem construcional proposta por Traugott e Tousdale
(2013), esse fenômeno acontece porque, ao utilizamos a língua, acessamos
informações estocadas, e aquelas que são mais frequentes são acessadas com maior
facilidade. Sendo assim, como o type ou...ou é o mais frequente, ele é mais facilmente
recrutado pelo usuário da língua.
Com relação aos correlatores não-espelhados, concluímos que os types
seja...ou, quer ...ou e nem...ou se colocam como os marginais na categoria das
construções correlatas alternativas. Diferentemente do type prototípico ou...ou, que
apresenta valor de exclusão, maior possibilidade de inversão e preferência por
estruturas oracionais, esses types apresentam a leitura semântica de inclusão, menor
possibilidade de inversão e apresentam-se com maior frequência em estruturas não-
oracionais.
Concluímos também que o processo de analogização, ao qual foram
submetidos os types para a criação das novas formas, resultou em uma mudança
construcional, pois apesar da constatação da mudança, não houve a criação de uma
nova construção, com forma e significado novos pareados. A mudança fundamental
observada foi apenas no campo da forma, sendo assim, apenas uma mudança
construcional. No campo do significado, a ideia de alternância/disjunção está sempre
presente.
No capítulo a seguir, faremos uma síntese das descobertas obtidas a partir da
análise de dados, e responderemos aos questionamentos levantados ao longo da
pesquisa.
89
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste momento, faz-se necessária uma síntese das descobertas e constatações
obtidas ao longo da pesquisa, para verificarmos se alcançamos os objetivos propostos
no início deste trabalho e se a hipóteses levantadas foram confirmadas.
Verificamos, a partir da análise de dados, que a construção correlata alternativa
pode se apresentar na língua em uso a partir de diversos types. Embora tivéssemos
inicialmente como referência o type ou...ou, que de fato se comprovou como o type mais
prototípico, e alguns outros mais recorrentes como ora..ora e seja..seja, verificamos o
aparecimento de outros conectores alternativos menos recorrentes, mas que também
estabelecem a correlação alternativa, de forma provavelmente inovadora.
90
Hipotetizamos que esses correlatores menos prototípicos encontrados (seja...ou,
quer...ou e nem...ou) foram criados por um processo de analogização a partir de outros
types já existentes. A partir dessa primeira observação em relação ao types, surgiu nosso
primeiro questionamento: Com que finalidade o falante recrutaria tantos types diferentes
para estabelecer a correlação alternativa? Concluímos que o falante recruta novas
formas, pois seu objetivo é sempre a necessidade de conferir maior expressividade ao
discurso, daí a renovação no rol desses conectivos.
Em seguida, a partir da análise minuciosa de cada type, verificamos que, apesar
de todos estabelecerem a alternância, cada correlator apresenta um matiz semântico
particular que se encaixa melhor em um determinado contexto de uso. Observamos que
este matiz semântico particular apresentado por cada type é decorrente da origem de
cada correlator.
Assim, o type ou...ou é recrutado pelo falante para explicitar a alternância
prototípica, em que o falante apresenta alternativas com o valor preciso de exclusão. Já
o type seja...seja é recrutado nos casos em que o falante quer explicitar duas alternativas
que não se excluem, representando, na verdade, um acréscimo, uma inclusão de
alternativas, através de padrões não-oracionais.
O type ora...ora também é indicado para expressar exclusão, no entanto, a sua
noção semântica temporal faz com que ele seja recrutado para as estruturas em que o
falante deseja veicular, mesmo que subsidiariamente, uma noção de tempo. Já o type
quer...quer parece indicar inclusão como seja...seja, entretanto, não podemos tecer
afirmações categóricas sobre este type pelo fato de termos encontrados apenas 4 tokens.
Os poucos dados apontam que esse type é mais utilizado para os casos de estruturas
oracionais, pelo fato de já estar totalmente gramaticalizado e não bloquear a presença
dos verbos como ocorre com seja...seja.
O type nem...nem é recrutado pelo usuário da língua quando o falante quer
apresentar uma negação das alternativas apresentadas, sendo bastante próximo da noção
de adição, o que poderia até mesmo possibilitar uma classificação do tipo alternativo-
aditivo.
Já com relação aos types não-espelhados, embora tenhamos percebido que
tenham trazido traços de seus correlatores de origem, não foi possível depreender nessa
pesquisa os contextos exatos de seus usos. Essa é uma questão aparentemente nova, que
demandará novos estudos em vista de um maior aprofundamento futuro.
91
Verificamos também que algumas construções correlatas com ou...ou e
quer...quer apresentaram sobreposição de valores semânticos, ou seja, além da
alternância, apresentaram um valor condicional. Essa sobreposição parece ser
motivada, segundo alguns autores e por meio da análise de dados, pela ordenação das
construções nos eventos em que estão inseridas. A partir dessa constatação, mais um
questionamento surgiu: Por que, em nossos dados, apenas os types ou...ou e
quer...quer apresentam maior facilidade de admitir a sobreposição? Concluímos que
isso ocorreu pelo fato de esses correlatores estarem mais gramaticalizados do que os
outros types, assim como afirmado por Barreto (1999), facilitando, assim, esse
fenômeno de adjunção de matizes semânticos.
A ordenação também foi pauta de uma das nossas análises. Obtivemos a
confirmação de que as correlatas alternativas apresentam maior possibilidade de
inversão em relação às coordenadas prototípicas. Vejamos:
Tabela 14 - Possibilidade de inversão das construções alternativas
Das 181 ocorrências encontradas, verificamos que quase 70% das construções
correlatas apresentam maior possibilidade de inversão. Isso se explica pelo próprio
padrão sintático da correlação alternativa, que se caracteriza por uma interdependência
que tende a equalizar a força da prótase e da apódose.
Em relação ao padrão oracional, observou-se que esse tipo de construção pode
apresentar-se em padrões tanto oracionais quanto não-oracionais, entretanto a
construção correlata alternativa apresenta preferência pelo aparecimento em estruturas
não-oracionais. Vejamos:
Tabela 15 - Padrão oracional das construções alternativas
Padrão
oracional
Qnt. %
não-oracional 118 71,5
Possibilidade de inversão % %
+ inversão 125 69,1%
- inversão 56 30,9%
Total 181 100%
92
oracional 63 28,5
Total 181 100%
Observamos que dos 181 tokens encontrados de construções correlatas
alternativas, 118 apresentaram-se em estruturas não-oracionais e apenas 63 em
estruturas oracionais. Isso comprova a necessidade de revisão de nossas gramáticas
que só tratam da alternância no plano do período composto, assim como acontece
com aditivas, proporcionais, comparativas e outras correlatas.
Verificamos também que as correlatas alternativas, a depender de cada type,
podem indicar tanto uma leitura semântica de inclusão quanto de exclusão, mas
apresentam preferência por uma leitura inclusiva, apesar do prototípico ou...ou
apresentar uma leitura categórica de exclusão. Com relação aos dados em geral,
vejamos uma quantificação desse fator.
Tabela 16 - Interpretação semântica de inclusão/exclusão das construções correlatas
Interpretação Qnt. %
inclusão 97 53,5%
exclusão 84 46,4
Total 181 100%
A análise da interpretação inclusiva/exclusiva foi de grande importância para
nossa pesquisa, pois nos possibilitou a verificação de que a correlata com ou...ou
difere da coordenada com ou em relação à possibilidade de interpretação semântica.
A construção coordenada com ou pode receber tanto uma leitura inclusiva
quanto exclusiva, revelando-se, muitas vezes, nesse ponto, como uma construção
ambígua. Já na construção correlata com ou...ou, a interpretação será sempre
exclusiva, e a possibilidade de ambiguidade se desfaz. Confirmamos também, a partir
de nossa análise, que a correlação alternativa é um recurso tipicamente
argumentativo, tendo em vista a sequência tipológica em que ocorre com maior
frequência.
Ao final da pesquisa, confirmamos a hipótese que impulsionou este trabalho: a
construção correlata alternativa é uma construção diferente da construção coordenada
93
alternativa, pois apresenta aspectos morfossintáticos, semânticos e funcionais distintos
e serve a necessidades comunicativas também diferentes.
A seguir, apresentamos um quadro com uma síntese das diferenças observadas,
neste trabalho, entre coordenadas alternativas e correlatas alternativas. Vejamos:
Quadro 7- Diferenças entre coordenada alternativa e correlata alternativa
A análise de dados nos possibilitou também observar quais as características
gerais da construção correlata alternativa. Para esta demonstração, usamos como base
a representação de construção proposta por Croft (2001). Vejamos:
Quadro 8- Propriedades das construções correlatas alternativas
POLO PROPRIEDADES TRAÇOS
FORMA
Sintática
Relativa liberdade posicional. Capacidade de reunir
segmentos oracionais e não-oracionais
Morfológica
Recrutamento de partículas diversas para
formação do par correlativo (partículas advindas
de outras categorias). Interdependência e não
contiguidade. Competição de formas.
FORMA
Fonológica
Pequena quantidade de massa fônica.
CORRELATAS Alternativas
COORDENADAS
Alternativas
Maior possibilidade de inversão
Menor possibilidade de inversão
O par ou...ou somente veicula noção de
exclusão
ou pode veicular a ideia de inclusão ou
exclusão
Interdependência Independência
Estabelecida por vários types Estabelecida apenas por um único type: ou
Conectivos descontínuos (correlatores) Apenas um conectivo
94
CONTEÚDO
Semântica
Deslizamento semântico do sentido primário dos itens
que compõem os correlatores. Manutenção da ideia de
alternância. Não linearidade das informações. Pragmática Maior formalidade.
Discursivo-
funcional
Presença maior em contextos argumentativos.
Menor frequência de uso.
Diante disso, concluímos que esta pesquisa representa uma contribuição para
os estudos da correlação. Sem dúvida, ainda necessitamos de muitas outras
investigações que descrevam esse processo especial de forma mais pormenorizada.
Especificamente em relação à correlação alternativa, respeitando os limites deste
trabalho, notamos que muito ainda há de ser feito futuramente para que possamos
detalhar esse universo com mais precisão, mas concluímos que esta pesquisa se
configurou como um passo importante nesta seara.
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