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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO GESTÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE KELLY CHAVES DE OLIVEIRA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE FREQUENTADORES DE CINCO PRAÇAS PÚBLICAS DA CIDADE DE SÃO PAULO EM RELAÇÃO AO SEU USO E FUNÇÃO. São Paulo 2015

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAO

GESTO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE

KELLY CHAVES DE OLIVEIRA

PERCEPO AMBIENTAL DE FREQUENTADORES DE CINCO PRAAS PBLICAS DA CIDADE DE SO PAULO EM RELAO AO SEU USO E

FUNO.

So Paulo 2015

Kelly Chaves de Oliveira

PERCEPO AMBIENTAL DE FREQUENTADORES DE CINCO PRAAS PBLICAS DA CIDADE DE SO PAULO EM RELAO AO SEU USO E

FUNO.

ENVIORNMENTAL PRECEPTION OF GOERS OF FIVE PUBLIC SQUARES IN SO PAULO CITY IN RELATION OF ITS USE AND FUNCTION.

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Nove de Julho UNINOVE, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Gesto Ambiental e Sustentabilidade.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Ana Paula do Nascimento Lamano Ferreira

So Paulo 2015

FICHA CATALOGRFICA

Oliveira, Kelly Chaves de

Percepo ambiental de frequentadores de cinco praas pblicas da

cidade de So Paulo em relao ao seu uso e funo./ Kelly Chaves de

Oliveira. 2015.

130 f.

Dissertao (mestrado) Universidade Nove de Julho - UNINOVE,

So Paulo, 2015.

Orientador (a): Prof. Dr. Ana Paula do Nascimento Lamano-Ferreira.

1. reas verdes. 2. Percepo ambiental. 3. Gesto pblica. I. Lamano-Ferreira, Ana Paula do Nascimento. II. Titulo

CDU 658:504.6

PERCEPO AMBIENTAL DOS FREQUENTADORES DE CINCO PRAAS PBLICAS DA CIDADE DE SO PAULO EM RELAO AO SEU USO E

FUNO.

Por

Kelly Chaves De Oliveira

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Universidade Nove de Julho UNINOVE, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Gesto Ambiental e Sustentabilidade, apresentada Banca Examinadora formada por:

___________________________________________________________

Prof(a). Dr(a). Tania Maria Cerati Bertozzo Instituto de Botnica IBOT - SP

__________________________________________________________

Prof(a). Dr(a). Silvia Maria Guerra Molina Escola Superior de Agricultura ESALQ

- USP

___________________________________________________________

Prof(a). Dr(a). Ana Paula do Nascimento Lamano Ferreira Universidade Nove de

Julho UNINOVE

___________________________________________________________

Prof(a). Dr(a). Heidy Rodrigues Ramos Universidade Nove de Julho UNINOVE

_________________________________________________________

Prof. Dr. Mauro Ruiz Universidade Nove de Julho UNINOVE

So Paulo, 23 de fevereiro de 2015.

DEDICATRIA

Dedico este trabalho minha famlia, especialmente pai, me e marido, que foram meus grandes apoiadores nesta

jornada.

AGRADECIMENTO

Agradeo a minha famlia, pelo apoio,

pacincia e compreenso. Especialmente a minha me,

que sempre me apoiou e incentivou a seguir em frente

nesta busca por conhecimento e formao acadmica, e

que ao longo de toda a minha vida foi a responsvel por

gerar em mim este amor pelo saber e pela carreira

acadmica. Ao meu pai, por sempre acreditar em mim e

vibrar pelas minhas vitrias. Ao marido por estar

disponvel e me apoiar sempre que precisei e ao Raul, por

ser minha fiel companhia nos momentos de isolamento

dedicados a execuo deste trabalho.

Agradeo tambm aos meus colegas do

curso de mestrado que compartilharam comigo este

caminho at aqui, com todas as suas maravilhas e

sofrimentos. E a minha orientadora, por toda a

colaborao a esta pesquisa e ao meu desenvolvimento

como pesquisadora.

Agradeo em especial a Deus, pela fora

espiritual necessria para passar por todas as etapas

deste processo.

RESUMO

O presente trabalho buscou identificar a relao que frequentadores estabelecem com praas pblicas na cidade de So Paulo, SP, entendendo suas percepes em relao s funes destes espaos pblicos, bem como seu uso, participao e expectativas. As praas selecionadas para este estudo foram: Praa Franklin Roosevelt, Praa Silvio Romero, Praa Novo Mundo, Praa Benedito Calixto e Praa Floriano Peixoto. Para a coleta de dados o presente trabalho est dividido em dois momentos: primeiro foi realizada uma avaliao quali-quantitativa das praas por meio da aplicao de metodologia de avaliao e qualificao de praas desenvolvida por De Angelis et al. (2004). Num segundo momento foram feitas entrevistas com trs frequentadores de cada praa a fim de verificar sua percepo em relao a uso e funo do espao e sua relao com a rea verde. Os resultados mostraram que os frequentadores buscam nas praas a funo de ser uma rea verde e local de lazer e socializao. A praa um local procurado para a prtica de atividades de lazer cotidianas por estar localizada prxima a residncia de seus frequentadores. O entorno tambm visto como parte da praa, o que pode influenciar a maneira de gesto deste espao. A avaliao quali-quantitativa das praas demonstra que no h padro no planejamento das estruturas e equipamentos em diferentes praas, o que pode ser justificado por pertencerem a diferentes subprefeituras e que leva a divergncias no planejamento desses espaos pblicos. As percepes dos frequentadores podem auxiliar na criao de projetos bases, com elementos semelhantes, que atendam a expectativas em comum, mas que sejam flexveis em alguns pontos para que possam ser adequados a necessidades especficas de certos bairros e tipos de praas.

Palavras chave: reas Verdes Urbanas, Percepo Ambiental, Gesto Pblica.

ABSTRACT

This paper aims to identify the relationship goers have with public squares in the city of So Paulo, SP, understanding their perceptions of the functions of these public spaces, the use done and their participation and expectations. The squares selected for this study were: Franklin Roosevelt Square, Silvio Romero Square, New World Square, Praa Benedito Calixto and Praa Floriano Peixoto. To collect data this paper is divided into two stages: first were made a qualitative and quantitative assessment of the squares through the application of the methodology of evaluation and qualification squares developed by De Angelis et al. (2004). Secondly interviews were conducted with three regulars goers of each square to check their perception of the use and function of the space and its relation to the green area. Results showed that the square should have de funcion of green area na local for laisure and sociaization. The square is a place chosen for the practice of everyday leisure activities to be located near the residence of its regulars. The surrounding area is also seen as part of the square, which can influence the way management of this area is done. The qualitative and quantitative evaluation of the squares shows that there is no default in the planning of structures and equipment in different places, which can be justified because they belong to different boroughs which leads to differences in the planning of these public spaces. Perceptions of the regulars can help create bases projects with similar elements that meet the expectations in common, but are flexible on some points so they can be tailored to specific needs of certain neighborhoods and types of squares. Keywords: Urban Green Spaces, Environmental Perception, Public Management.

SUMRIO

1. INTRODUO .................................................................................................................... 8 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA .................................................................................................... 9

1.1.1 Questo de pesquisa ....................................................................................................... 10 1.2 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 10

1.2.1 Geral ................................................................................................................................... 10 1.2.2 Especficos ........................................................................................................................ 10

1.3 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA ...................................................................... 10 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO .............................................................................................. 11

2. REFERENCIAL TERICO ............................................................................................. 13 2.1 REAS VERDES URBANAS: CONCEITOS, DESAFIOS E ESTRATGIAS ................ 13

2.1.1 Gesto de reas Verdes e Polticas Pblicas ............................................................. 14 2.3 PERCEPO AMBIENTAL ................................................................................................... 26 3.1 LOCAL DE ESTUDO ............................................................................................................... 30 3.2 COLETA DOS DADOS ........................................................................................................... 31

3.2.1 Avaliao quali-quantitativa ............................................................................................ 32 3.2.2 Entrevistas ......................................................................................................................... 32 3.2.2.1 Roteiro de entrevista ..................................................................................................... 33

3.3 ANLISE DOS DADOS .......................................................................................................... 35 3.3.1 Avaliao quali-quantitativa das praas ........................................................................ 35 3.3.2 Anlise das entrevistas .................................................................................................... 36

4. ANLISE E INTERPRETAO DOS RESULTADOS ............................................ 39 4.1 ESTRUTURA E EQUIPAMENTOS DAS PRAAS ............................................................ 39

4.1.1 Praa Novo Mundo ........................................................................................................... 39 4.1.2 Praa Silvio Romero ........................................................................................................ 43 4.1.3 Praa Benedito Calixto .................................................................................................... 45 4.1.4 Praa Franklin Roosevelt ................................................................................................ 48 4.1.5 Praa Floriano Peixoto .................................................................................................... 50 4.1.6 Comparao entre as cinco praas estudadas ........................................................... 52

4.2 PERFIL DOS FREQUENTADORES .................................................................................... 54 4.3 PERCEPO DE FREQUENTADORES SOBRE AS PRAAS ESTUDADAS ............ 58

4.3.1 Estrutura e equipamentos ............................................................................................... 58 4.3.2 Motivao e usos das praas ......................................................................................... 63 4.3.3 Topofilia .............................................................................................................................. 74 4.3.4 rea verde da praa ......................................................................................................... 79 4.3.5 Conflitos e desafios para a gesto ................................................................................ 82 4.3.6 Funo das praas ........................................................................................................... 87

5. CONCLUSES E RECOMENDAES ..................................................................... 91 6. CONTRIBUIES PARA A PRTICA ....................................................................... 93 ANEXOS ............................................................................................................................... 101 APNDICE ........................................................................................................................... 105

8

1. INTRODUO

A importncia de espaos verdes em reas urbanas tem sido relatada em

diversos estudos, uma vez que esto relacionados com a conservao da

biodiversidade (Barbosa, Tratalos, Armsworth, Davies, Johnson, Gaston & 2007;

Goddard, Dougill & Benton, 2009; Sushinsky, Rhoder, Possingham, Gill e Fuller,

2013) e com a sade humana (Tzoulas, Korpela, Venn, Yli-Pelkonen, Kazmierczak,

Niemela & James, 2007; Lee & Maheswaran, 2010). A reduo de reas verdes est

relacionada com o crescimento da populao humana e a intensa urbanizao (Silva

& Vargas, 2010). De acordo com Sushinsky, Rhodes, Possingham, Gill e Fuller

(2013), pouco se conhece sobre como as cidades devem crescer para se minimizar

impactos ecolgicos.

O desafio no planejamento e manuteno de espaos verdes pblicos

urbanos no mundo difere entre pases em desenvolvimento e pases desenvolvidos

(Shackleton & Blair, 2013). Estudos realizados na frica (Shackleton & Blair, 2013) e

China (Jin & Chen, 2010; Lo & Jim, 2010), mostram que diferentes perfis sociais da

populao percebem e utilizam os espaos verdes urbanos de maneiras

divergentes, ou seja, com expectativas e demandas especficas. Dentre os espaos

pblicos urbanos que esto sendo focos de estudo, destacam-se locais como

parques, praas e quintais (Sushinsky et al., 2013). Estes espaos so relevantes

uma vez que proporcionam interaes entre a populao humana e os recursos

vegetais (o que foi perdido com a crescente urbanizao).

No Brasil, as praas so comumente espaos pblicos encontrados na

maioria dos municpios, desempenhando papel na melhoria da qualidade de vida

ambiental e social (Barros & Virgilio, 2003). Em grandes centros urbanos

demonstram ser importantes nichos de conservao (De Angelis, Castro & Neto,

2004), aumentando os ndices de reas verdes (IAV) e minimizando impactos do

crescimento urbano desordenado, como fragmentos de habitats. A maioria dos

trabalhos referem-se as praas como espao pblico aberto, ao ar livre, com

vegetao e destinadas ao lazer e convvio social (Barros & Virgilio, 2003; Loboda &

De Angelis, 2005; Harder, Ribeiro & Tavares, 2006; Souza, Ferreira, Melllo, Plcido,

Santos, Graa, Junior, Barretto, Dantas, Silva & Gomes, 2011). Porm, no h uma

padronizao, um conceito que englobe todas as praas, pois estes espaos

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apresentam suas particularidades, sendo alguns considerados como praas sem

possuir uma rea verde, ou seja, com vegetao. De acordo com Costa e Colesanti

(2011) e Tuan (2012) pesquisas sobre percepo ambiental das populaes

contribuem para estudos sobre reas verdes.

O municpio de So Paulo, a terceira maior cidade do mundo, comporta

aproximadamente 11.821.873 habitantes conforme estimativa do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatstica (IBGE) para o ano de 2013 (IBGE, 2010). Um dos

desafios do municpio a gesto de espaos pblicos que so geridos pelas 31

subprefeituras, com exceo dos parques administrados pela Secretaria Municipal

do Verde e Meio Ambiente (SVMA) (Laredo & Somekn, 2013). Este municpio teve

crescimento desordenado e acelerado, causando problemas ambientais de diversas

ordens, incluindo a reduo de reas verdes. No entanto, de acordo com informao

divulgada em uma reunio informal do Projeto Boa Praa, no h uma lista das

praas existentes no municpio.

A partir do exposto acima torna-se importante conhecer a percepo e uso

de diferentes frequentadores em relao aos espaos verdes pblicos, uma vez que

a populao pode exercer influncia sobre conservao da biodiversidade atravs

das suas expectativas e participao. Dessa forma o presente trabalho pretende

apresentar dados quantitativos e qualitativos sobre o perfil social de frequentadores

de cinco praas da cidade de So Paulo respondendo as seguintes perguntas:

i) Qual a percepo dos frequentadores de cinco praas pblicas de So

Paulo em relao a esses espaos (e suas reas verdes)? ii) Como diferentes perfis

de frequentadores utilizam as praas? iii) Quais equipamentos, estrutura e

vegetao esto presentes nestas praas? iv) Quais variveis socioambientais esto

relacionadas s expectativas de lazer da populao frequentadora?

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Um dos desafios que a gesto das praas encontra adequar este espao

para que ele atinja as necessidades da populao e tenha valor para ela, evitando

sua depreciao e abandono.

A relao estabelecida entre os frequentadores e as praas pblicas

determina o tipo de uso que feito deste espao e a funo que ele tem no cotidiano

10

destas pessoas. Segundo Tuan (2012), a forma como o indivduo percebe o

ambiente ao seu redor determina a maneira como ele interage com o mesmo e o

valor que este ambiente tem para esta pessoa.

Conhecer a percepo que os frequentadores das praas pblicas de So

Paulo tm das mesmas explica o tipo de uso e funo estabelecido entre eles, o que

pode auxiliar gestores pblicos na administrao destes espaos.

1.1.1 Questo de pesquisa

Qual a percepo dos frequentadores das praas pblicas de So Paulo em

relao a seu uso e funo?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

Identificar a relao que frequentadores estabelecem com cinco praas

pblicas na cidade de So Paulo, SP, entendendo suas percepes em relao s

funes destes espaos pblicos, bem como seu uso e expectativas.

1.2.2 Especficos

Descrever as caractersticas estruturais das praas pesquisadas, avaliando

qualitativamente e quantitativamente os equipamentos;

Verificar qual o perfil dos frequentadores e se a percepo varia de acordo

com determinados perfis socioambientais;

Analisar quais percepes os frequentadores tem de cada praa em relao

ao seu uso e funo;

Analisar se o contato com a rea verde um fator determinante na deciso

de visitar a praa e qual o tipo de relao o frequentador estabelece com

esta rea.

1.3 JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA

11

Dentre os fatores que justificam o presente trabalho est o fato de na cidade

de So Paulo no existir um rgo responsvel inteiramente pela gesto de praas.

Cada parte da praa de responsabilidade de um rgo diferente, como a

Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) que cuida das rvores e plantas, a

Secretaria de Urbanismo que cuida da parte estrutural, etc. Desta forma raro

encontrar projetos voltados para praas que pensem este espao de forma integrada

e de acordo com os anseios da populao (De Angelis et al. 2004). O que se v so

projetos priorizando apenas um aspecto, como o projeto Florir da SVMA, que visava

melhorar a parte paisagstica das praas (PPSP, 2011). Alm disso, a prefeitura no

tem um mapeamento das praas da cidade, o que torna difcil visualizar quantas

praas existem na capital, quais suas caractersticas e necessidades, algo

importante para nortear um possvel projeto de revitalizao ou manuteno destes

espaos.

Conhecer os fatores que determinam uma boa relao do frequentador com a

praa permite criar indicadores do que atrativo para a populao e que tipo de

relao ela busca ter com este espao, dados que contribuiriam para uma

compreenso da funo que as praas exercem na sociedade urbana paulistana e

do que se deve priorizar nos projetos de criao e manuteno destas reas verdes

(Fernandes, Souza, Pelissari, & Fernandes, 2004; Carvalho & Fidlis, 2009).

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

O presente trabalho trata da gesto de reas verdes urbanas, buscando

compreender a relao do frequentador com a praa a partir da anlise de sua

percepo ambiental. O primeiro captulo traz a introduo ao tema, justificativas,

objetivos gerais e especficos e onde apresentada a estrutura do trabalho. No

segundo captulo encontrado o referencial terico que baseia esta pesquisa

relatando sobre reas verdes urbanas e sua gesto, praas pblicas e percepo

ambiental.

O captulo trs apresenta a metodologia de coleta e anlise de dados

adotada. Inicialmente apresenta-se o local de estudo e os critrios definidos para

escolha das praas. A coleta de dados foi realizada em dois momentos, utilizando-se

a primeiramente a metodologia de avaliao quali-quantitativa das praas

12

desenvolvida por De Angelis et al. (2004) que visa descrever e analisar

tecnicamente a estrutura das praas pesquisadas, uma vez que este fator auxilia na

compreenso das respostas das entrevistas. Posteriormente apresentado item

entrevistas que descreve a maneira como foram realizadas e os critrios para

adoo deste mtodo e elaborao do roteiro de entrevista. Por fim relata-se a

metodologia de anlise dos dados resultantes.

O quarto captulo apresenta os resultados da pesquisa. A princpio so

relatados os resultados da avaliao quali-quantitativa das praas e em seguida os

resultados e anlises das entrevistas. Por fim, o quinto captulo traz as concluses e

consideraes finais sobre esta pesquisa e as recomendaes para pesquisas

futuras.

13

2. REFERENCIAL TERICO

A seguir apresenta-se reviso dos principais temas envolvidos neste trabalho,

como o conceito de reas verdes urbanas e os desafios da gesto destes espaos

pblicos; a apresentao de conceitos de praa e o porque deste espao ser

categorizado como rea verde urbana e uma breve discusso sobre a percepo

ambiental.

2.1 REAS VERDES URBANAS: CONCEITOS, DESAFIOS E ESTRATGIAS

Nas ltimas dcadas a preocupao com os problemas ambientais do planeta

vem crescendo. Dentro deste contexto, as cidades e a forma como so

administradas vem ganhando mais a ateno pela evidente degradao que

sofreram ao longo do processo de urbanizao gerando problemas de ordem social,

econmica e ambiental (Acselrad, 2013).

O crescimento urbano vem acontecendo de forma desregrada ao longo dos

anos, tendo como consequncia o empobrecimento da paisagem urbana e acmulo

de problemas econmicos, polticos, sociais e culturais (Loboda & De Angelis, 2005;

Coporusso & Matias, 2008). O espao pblico tido como mercadoria ou como

problema pelo poder pblico, ficando sempre em segundo plano. Como

consequncia as reas verdes urbanas acabaram por ser destrudas,

desencadeando uma srie de problemas por conta da interdependncia dos

mltiplos sistemas de uma cidade, como enchentes, aumento da poluio, aumento

da quantidade de parasitas, entre outros (Loboda & De Angelis, 2005). A

degradao social e ambiental avanaram juntas neste processo, especialmente no

Brasil (Acselrad, 2013; Momm-Schult, Piper, Denaldi, Freitas, Fonseca & Oliveira,

2013).

Ao final do sculo XX e incio do sculo XXI, o efeito deste processo de

urbanizao sem planejamento vem sendo sentido com maior intensidade,

principalmente em grandes cidades. Em relao s reas verdes pblicas, percebe-

se que se no tiverem reabilitadas suas estruturas fsicas, sociais e estticas, haver

uma depreciao da qualidade de vida da populao (Loboda & De Angelis, 2005;

Haq, 2011).

14

No Brasil, as consequncias desta urbanizao desregrada so sentidas

principalmente em grandes cidades, como So Paulo, que sofreu um crescimento

rpido e desordenado, acompanhado de uma incapacidade das gestes pblicas em

desenvolverem polticas de proteo ambiental, desencadeando uma srie de

problemas sociais e ambientais, especialmente nas reas de habitao e

saneamento bsico (Momm-Schult et al., 2013). Com isso, problemas como

enchentes, ocupao indevida de reas protegidas ou contaminadas,

desabamentos, carncia de espaos de lazer e recreao, entre outros problemas,

passaram a ser comuns nas grandes cidades brasileiras.

A gesto adequada de reas verdes urbanas auxiliaria a combater a

ocupao irregular destes locais (Momm-Schultet et al., 2013). No entanto, essa

gesto no pode ser rgida ao ponto de inibir uma apropriao da rea pblica pela

populao. Esse modelo mais rgido de gesto de espaos pblicos, incluindo reas

verdes, muitas vezes adotado com o intuito de evitar a marginalidade e a

depredao, porm, se bem direcionada, a apropriao far com que a populao

adeque aquele espao as suas necessidades, incentivando seu uso de forma

criativa e continuada, agregando valor aquela rea. Para isso, o mapeamento das

atividades encontradas nestes espaos e das caractersticas da populao que o

utiliza deve ser feito e considerado como ponto importante da sua gesto

(Mendona, 2007).

2.1.1 Gesto de reas Verdes e Polticas Pblicas

Um dos primeiros problemas encontrados na gesto de reas verdes urbanas

sua conceituao. No h um consenso entre os pesquisadores do tema e

gestores pblicos sobre o que define rea verde urbana e muitos outros conceitos

como espaos pblicos, espaos verdes, entre outros, so usados como sinnimos,

o que contribui para a confuso (Benini & Martin, 2011; Coporusso & Matias, 2008).

Benini & Martin (2011) apontam para a dificuldade nesta conceituao

encontrada na legislao brasileira. O artigo 22 da Lei Federal de Parcelamento do

Solo Urbano (Lei de Parcelamento de Solo n 6.766, 19.12.1979) define reas

verdes urbanas como espao livres com predomnio de vegetao, fazendo clara

excluso de reas edificadas, como praas, passeios pblicos, faixas ao longo de

15

rios, entre outras. Mesmo sendo comumente verdes, sua conceituao no permite

que se exija que sejam reas permeabilizadas, o que justifica sua excluso pela

legislao da classificao de reas verdes, fazendo com que sua administrao

varie de acordo com a vontade do rgo gestor.

Para Benini & Martin (2011) este um fator prejudicial, pois uma vez que

tenham reas permeveis e com cobertura vegetal tais espaos podem trazer os

mesmos benefcios que se busca na rea verde urbana, como melhoria na

qualidade de vida e do ar. O fato desta lei no considerar estes espaos, mesmo

com cobertura vegetal como rea verde, pode fazer com que a gesto pblica perca

o interesse em cuidar destas reas.

No Estado de So Paulo a legislao vigente mais especfica. A resoluo

CONAMA nmero 369/2006 define reas verdes como espao de domnio pblico

que desempenhe funo ecolgica, paisagstica e recreativa, propiciando a melhoria

da qualidade esttica, funcional e ambiental da cidade, sendo dotado de vegetao

e espaos livres de impermeabilizao. J a resoluo SMA-SP 31/2009 faz meso

direta ao uso que se deve fazer destes espaos. Ela exige que para loteamentos a

partir de trinta mil metros quadrados, no mnimo 20% da rea seja destinada a rea

verde, e a esta rea ser admitida a incluso de equipamentos esportivos e de lazer,

desde que obedea a um limite de 30% do total da rea verde. Tambm podero ser

inclusas nesta porcentagem de rea verde exigida reas de lazer pr-existentes que

atendam a estas exigncias, o que permite que parques e praas sejam

considerados como rea verde urbana, desde que apresentem as caractersticas

exigidas.

Benini & Martin (2011) ento definem reas verdes urbanas da seguinte maneira:

rea verde pblica todo espao livre (rea verde/lazer) que foi afetado como de uso comum e que apresente algum tipo de vegetao (espontnea ou plantada), que possa contribuir em termos ambientais (fotossntese, evapotranspirao, sombreamento, permeabilidade, conservao da biodiversidade e mitigue os efeitos da poluio sonora e atmosfrica) e que tambm seja utilizado com objetivos sociais, ecolgicos, cientficos ou culturais.

Este conceito refora os benefcios ambientais que a rea verde deve

proporcionar, mas inclui tambm a funo sociocultural, o que permite a incluso de

praas nesta categoria, uma vez dotadas de reas verdes, j que estas tm como

funo primordial a socializao e o lazer, conforme explicado anteriormente. No

16

entanto, esta definio deixa vaga a poro de verde que se deve existir para um

espao ser considerado rea verde.

Caporusso & Matias (2008) trazem uma definio onde enfatizam a

predominncia de vegetao e solo permevel e que inclui claramente reas

pblicas e privadas, algo que no feito por Benini. Segundo estas autoras:

[...] um conceito adequado para reas verdes urbanas deve considerar que estas sejam uma categoria de espao livre urbano composta, predominantemente, por solo permevel e vegetao arbrea e arbustiva (inclusive pelas rvores no leito das vias pblicas, desde que estas atinjam um raio de influncia que as capacite a exercer as funes de uma rea verde), de acesso pblico ou no, e que exeram minimamente as funes ecolgicas, estticas e de lazer.

Jim e Chen (2006) traz um conceito mais focado na forma do que na

utilizao ou benefcios gerados pela rea verde. Para ele, espaos verdes urbanos

so espaos abertos, localizados dentro dos limites de uma cidade, com boa

cobertura vegetal, que pode ter sido plantada ou herdada da pr-urbanizao.

Em uma abordagem mais holstica, Haq (2011) entende reas verdes

urbanas como espaos que podem prover benefcios ambientais, sociais,

economicos, culturais e psciologicos para a populao. Como benefcios ambientais

o autor cita o controle da poluio do ar e sonora e a manteneo da biodiversidade.

Como benefcios econmicos so citados a valorizao da propriedade e economia

de energia. Benefcios sociais e psicolgicos citados so recreao e melhoria na

sade. Por isso, para Haq (2011), uma gesto adequada destes espaoes deve

fazer uma abordagem integrativa de todas essas caractersticas e para isso a

cobertura vegetal um fator importante.

Thompson (2002) j usa a terminologia espaos abertos urbanos, o que no

deixa claro o fato de exitir ou no cobertura vegetal, mas que segundo o autor, so

espaos que devem trazer oportunidades de socializao, lazer e contemplao do

meio ambiente para a populao, o que vai de encontro com os conceitos dos

autores anteiormente citados. A autora tambm cita praas e parques como espaos

pblicos capazes de alcanar estes objetivos. Momm-Schult et al (2013) classifica

como espaos verdes urbanos parques, jardins, cemitrios, pequenos bosques,

telhados verdes, campos de esportes e corpos dagua. Quando estes espaos esto

conectados a vias ou crregos, ajudam a evitar alagamentos, a controlar a

temperatura local, conservar a biodiversidade, e prover benefcios socioculturais

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para a populao estes espaos constituem uma infraestrutura verde, que agrega

valores sociais, economicos, e ambientais a cidade. Em uma abordagem

semelhante, Dunn (2010), usa a terminologia infraestrutura verde, que definida

como sistemas que usam vegetao e solo natural para capturar gua e reduzir a

temperatura alm de proteger e ampliar a qualidade ambiental e sade pblica.

Quadro 1. Conceitos de reas verde urbana, de acordo com a literatura visitada.

Autor Termo usado Conceito

Benini & Martin (2011)

rea verde

rea verde pblica todo espao livre (rea verde/lazer) que foi afetado como de uso comum e que apresente algum tipo de vegetao (espontnea ou plantada), que possa contribuir em termos ambientais (fotossntese, evapotranspirao, sombreamento, permeabilidade, conservao da biodiversidade e mitigue os efeitos da poluio sonora e atmosfrica) e que tambm seja utilizado com objetivos sociais, ecolgicos, cientficos ou culturais.

Caporusso & Matias (2008)

rea verde

...um conceito adequado para reas verdes urbanas deve considerar que estas sejam uma categoria de espao livre urbano composta, predominantemente, por solo permevel e vegetao arbrea e arbustiva (inclusive pelas rvores no leito das vias pblicas, desde que estas atinjam um raio de influncia que as capacite a exercer as funes de uma rea verde), de acesso pblico ou no, e que exeram minimamente as funes ecolgicas, estticas e de lazer.

Jim et al. (2006)

Espao verde

espaos verdes urbanos so espaos abertos, localizados dentro dos limites de uma cidade, com boa cobertura vegetal, que pode ter sido plantada ou herdada da pr-urbanizao

Haq (2011)

Espao verde

entende reas verdes urbanas como espaos que podem prover benefcios ambientais, sociais, econmicos, culturais e psicolgicos para a populao

Thompson (2002)

Espao aberto

"espaos abertos urbanos so espaos que devem trazer oportunidades de socializao, lazer e contemplao do meio ambiente para a populao

Momm-Schult et al. (2013)

Espao verde

classifica como espaos verdes urbanos parques, jardins, cemitrios, pequenos bosques, telhados verdes, campos de esportes e corpos dagua. Quando estes espaos esto conectados a vias ou crregos, ajudam a evitar alagamentos, a controlar a temperatura local, conservar a biodiversidade, e prover benefcios socioculturais para a populao estes espaos constituem uma infraestrutura verde, que agrega valores sociais, econmicos, e ambientais a cidade.

Dunn ( 2010)

Infraestrutura verde

usa a terminologia infraestrutura verde, que definida como sistemas que usam vegetao e solo natural para capturar gua e reduzir a temperatura alm de proteger e ampliar a qualidade ambiental e sade pblica.

Fonte: autora

Segundo Haq (2011), atualmente as cidades ocupam cenca de 2% da

cobertura terrestre, mas consomem 75% de seus recursos. Este um dado

alarmante que pe os gestores pblicos diante de um grande desafio: o de tornar as

18

cidades mais sustentveis e para isso, a gesto de reas verdes fundamental,

devendo haver uma forte proteo das reas j existentes, ser resistente a novas

oportunidades de desenvolvimento que possam diminuir a oferta pblica de lazer e

prover novas reas verdes com qualidade ambiental, acessibilidade e opes de

lazer (Haq, 2011; Thompson, 2002).

Carvalho & Romero (2013) entendem desenvolvimento sustentvel como

sendo aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as

possibilidades das geraes futuras atenderem as suas prprias necessidades,

pressupondo a participao da sociedade e equidade de distribuio de bens,

espao e recursos naturais. J Acselrad (2013) afirma que a ideia de cidade

sustentvel esta associada ao desenvolvimento da cidade de acordo com alguns

princpios, como a eficincia energtica, controle do crescimento econmico,

autosuficincia econmica (fazendo a cidade depender cada vez menos de recursos

externos), da tica, da justia e da ecologia. Conduzir uma cidade para a

sustentabilidade significa aos gestores criar instncias governamentais a fim de

regulamentar e promover a questo ambiental (Mendona, 2007).

Segundo Cavalcanti (1997) uma poltica pblica ou governamental voltada

pra a sustentabilidade significa identificar uma necessidade de utilizao cuidadosa

dos recursos ambientais e de como seus benefcios so compartilhados

populao. Frey (2009) chama a ateno para o fato de o aumento de problemas

ambientais ter refletido num aumento da consciencia ecolgica por parte da

populao, reforando os conflitos entre interesses economicos e ambientais. Isto

resulta em adoes de polticas pblicas voltadas para a gesto ambiental.

Frey (2009) explica ainda que o termo polticas pblicas se referem aos

contedos concretos, programas polticos e problemas tcnicos refentes as tomadas

de decises politicas, ou seja a ao oriunda de uma deciso poltica. A

elaborao destas polticas podem envolver instituies diferentes, tanto do

legislativo como do executivo e da sociedade.

Jacobi (2003) alerta para o fato de no Brasil as decises em relao as

polticas pblicas a serem adotadas tem participao majoritria do Governo,

envolvendo de forma minima a populao ou entidades de representao popular.

Este defende a adoo de comits que envolvam representantes governamentais de

diferentes nveis como federal, estadual e municipal e entidades de representao

19

da populao e ongs, afim de buscar uma associao entre cidadania, democradia

participativa, governabilidade e sustentabilidade.

Cuidar para que os recursos naturais encontrados nas cidades sejam

preservados pode fortalecer o sentimento de identificao do cidado com a cidade

e melhorar a imagem da mesma num sentido geral, passando a ser valorizada pelo

seu patromnio biofsico (Acselrad, 2013).

Para que os benefcios das reas verdes urbanas possam ser sentidos em

sua totalidade pela populao importante criar opes de lazer diversificadas e

interessantes o suficiente para satisfazer os anseios dos cidados, encorajando-os a

permanecer e desfrutar deste espao (Haq, 2011). No entanto, este pode ser

exatamente o grande desafio dos gestores urbanos, que se encontram diante de

uma populao que tem na tecnologia e nos meios de comunicao sua principal

fonte de lazer. Para ser atrativa para esta parcela de pblico importante resgatar o

lado emocional que pode existir em relao a esse ambiente e a possibilidade de se

viver uma experincia interativa com este espao, que vai alm da visual encontrada

nas TVs e computadores (Thompson, 2002; Mendona, 2007).

Thompson (2002) aponta ainda outro desafio na gesto de reas verdes

urbanas: a estrutura destes espaos especialmente em relao acessibilidade. Ele

afirma que nas cidades existem muitas opes para socializao, lazer e at mesmo

contemplao do meio ambiente, nas ruas e avenidas do que nas praas e parques,

que so os tipos de reas verdes mais voltados para o lazer e socializao. Isto faz

com que estes locais acabam por serem alvo de um tipo especfico de pblico, como

idosos, crianas, pessoas de baixo poder aquisitivo ou portadores de necessidades

especiais. Este pblico, no entanto, o que mais necessita de facilidade de acesso

e segurana o que faz com que o gestor tenha que pensar a gesto destes espaos

de forma mais abrangente (Thompson, 2002). As reas verdes do futuro devem ser

locais que consigam atender aos anseios socioculturais e de lazer dessa sociedade

heterognea e que tambm possam promover oportunidades de se interagir com a

natureza, observar sua transformao e crescimento (Thompson, 2002; Mendona,

2007; Dunn, 2010).

Em So Paulo, no entando, a gesto pblica se depara com um problema que

precede todos estes desafios: a falta de reas verdes existentes e de espao para a

criao de novas. Buscando solues rpidas para problemas de transporte e rpido

20

crescimento da cidade, as admnistraes pblicas realizaram obras, especialmente

vias expressas e avenidas, em reas de importncia ambiental, como margem de

rios e corregos, vales, entre outros, tornando praticamente impossvel a recuperao

dessas reas. Isto juntamente com o crescimento desordenado, que implicava em

ocupao irregular do solo, fez com que a cidade tivesse grande parte de sua rea

impermeabilizada e construda, sendo dificil hoje reverter esse processo (Momm-

Schult et al., 2013).

Martins (2011) afirma que esta situao de crescimento desordenado resulta

em um conflito pelo uso do espao, gerando tenso principalmente entre o

assentamento urbano e o meio ambiente. Segundo esta autora, a questo ambiental

urbana esta diretamente relacionada a questo da moradia e a falta de opotunidades

e alternativas para um crescimento ordenado e sustentvel. A questo ambiental em

grandes metropoles esta diretamente relacionada a questo social, que deve ser

levada em conta nas politicas pblicas ambientais.

Segundo Zhouri e Laschefski (2010) a causa destes conflitos ambientais

urbanos so as distintas prticas de apropriao do espao, que por sua vez so

motivadas pela manifestao de diferentes vises sobre a utilizao do espao

urbano. Estes conflitos acabam por evidenciar situaes de injustia ambiental onde

o nus desta disputa em geral fica a cargo de parcelas da populao mais

marginalizadas e vulnerveis, evidenciando a desigualdade social presente nestas

cidades. Estas disputas podem terminar no campo poltico e legislativo, onde

projetos e leis sero criados com o objetivo de orientar o uso e ocupao do solo.

Para uma melhor gesto das reas verdes urbanas na capital paulista,

Momm-Schult et al. (2013) sugere que algumas medidas sejam priorizadas, como a

integrao de polticas urbanisticas e ambientais, prioritizao da infraestrutura

verde, ampliao da regulamentao pblica sobre a especulao imobiliria, crio

de mecanismos que viabilizem projetos de longa durao e por fim, repensar e

reestruturar o uso do solo.

2.2 PRAA EVOLUO DE UM ESPAO URBANO SOCIAL E VERDE

Desde o incio da formao das cidades, as praas foram de grande

importncia no processo civilizatrio e urbanstico. Sua funo, porm, vem se

21

transformando ao longo do tempo, fazendo com que a estrutura do espao da praa

tenha que se adaptar a esses diversos tipos de uso ao longo do tempo.

Nas sociedades mais antigas, como a greco-romana, a praa tinha a funo

de centro das atividades cvicas, sendo o ponto principal nas cidades e sua

configurao, de posio central e cercada por edifcios institucionais, sagrados e

comerciais, reforava essa ideia de lugar de domnio pblico. A partir da a praa se

desenvolveu nas sociedades ocidentais como um espao urbano de convvio e

sociabilidade, tornando-se importantes no desenvolvimento das cidades, como

vazios na malha urbana que funcionam como ponto de descompresso e ruptura na

paisagem edificada, passando a ser um elemento de urbanizao a partir do perodo

do renascimento (Caldeira, 2007).

Com o surgimento de princpios de urbanizao e a valorizao da esttica

urbana a praa passa a ser um elemento estruturante nas cidades, definido por uma

rgida geometria (Caldeira, 2007). Em contrapartida o desenvolvimento da burguesia

faz com que a vida pblica e a socializao passem a acontecer em espaos

privados como teatros, bares e cafs e a praa e outros espaos pblicos que

outrora tinha essa funo passam a esvaziar-se (Caldeira, 2007; Gomes, 2008;

Benini & Martin, 2011).

Foi neste perodo que as cidades comearam a surgir no Brasil, com forte

influncia de um urbanismo racionalista, porm com caractersticas muito prprias

da cultura portuguesa, como o respeito topografia do local e praas urbanas como

elementos centrais das cidades, localizados em pontos estratgicos e como espaos

complementares de edifcios importantes como igrejas, edifcios polticos, mercantis

e militares. Isto acabava por designar uma funo especfica para cada praa no

contexto da cidade, exceto alguns casos em que edifcios de diferentes instituies

circundavam uma mesma praa. (Caldeira, 2007; De Angelis et al 2004). H, no

entanto, um destaque maior para as praas de igreja, ou praa religiosa, que um

modelo predominante nas cidades brasileiras. As cidades se iniciavam a partir de

uma igreja e em torno de seu adro se instalavam os principais edifcios das cidades,

como comrcio e casa de pessoas influentes (Caldeira, 2007; Gomes, 2008). Ainda

hoje a praa principal e a igreja catlica so elementos referenciais para o centro

das cidades brasileiras (Gomes, 2008).

22

Todavia, de forma diferente ao ocorrido na Europa, as praas brasileiras

continuaram a ser local principal para as relaes sociais da populao, onde

ocorriam todo o tipo de manifestaes populares, civis e militares (Gomes, 2008).

De Angelis et al. (2004) ainda chama a ateno para as praas das aldeias

indgenas, que eram reas centrais das aldeias destinadas as manifestaes

populares diversas. A forma de estruturao destas aldeias inicialmente tiveram

influncia na formao das primeiras vilas brasileiras, que postariormente evoluiram

para cidades (Caldeira, 2007), fato que refora o status de marco central das praas

e a importncia e familiaridade da populao Brasileira com este espao.

Com o desenvolvimento dos meios de transporte automotivos as cidades

passaram a investir na construo de modernos e complexos trechos virios e as

praas, neste contexto, passaram a serem grandes espaos vazios, utilizados

muitas vezes como estacionamentos ou simples reas de passagem (Caldeira,

2007).

No Brasil, houve um movimento de modernizao e sanitizao das cidades

que culminou na reformulao da estrutura urbana. Tambm neste perodo, por

influncia europeia, surgiu um movimento de embelezamento das cidades, onde o

ajardinamento decorativo tornou-se prtica comum e fez com que espaos pblicos

e especialmente as praas fossem alvo desse tipo de ornamentao, definindo o

formato mais usual de praas encontrado no Brasil e especialmente na cidade de

So Paulo, devido ao seu perodo de rpido crescimento e modernizao (Caldeira,

2007; Gomes, 2008).

Tambm houve uma distino no pblico que a frequentava. As praas

passaram a ser espaos de lazer frequentados pela populao mais pobre,

enquanto a elite preferia adotar espaos privados para seus momentos de lazer,

caracterstica que prevalece at hoje (Gomes, 2008). Este fator pode ter funcionado

como motivo para depreciao da praa, que em algumas situaes foi abandonada

pela populao em geral, sendo ocupada pela marginalidade, prostituio, etc. (De

Angelis, et al 2004; Gomes, 2008).

Este ajardinamento das praas determinou uma caracterstica importante para

este espao no Brasil que acabou por determinar o entendimento de praa do

brasileiro, que denomina praa um local necessariamente com rea verde. O que

seriam praas sem rea verde, comuns na Europa, aqui so classificados como

23

largos, ptios ou terreiros pela populao brasileira, como o ptio do Colgio em So

paulo (De Angelis, et al 2004; Gomes, 2008). Este novo modelo de praa jardim

acabou por redefinir seu tipo de uso, consolidando a praa como espao de lazer,

passeio e convvio da populao (Caldeira, 2007; Gomes, 2008).

Observando este histrico da evoluo das praas descrito at aqui

possvel compreender as classificaes de praas adotadas por De Angelis et al.

(2004) em sua metodologia pra classificao de praas, que so: praas de igreja,

de descanso ou recreao, de circulao, monumental e de signficao visual. Cada

um destes tipos de praas est claramente representando um modelo de praa

estabelecido em um determinado momento histrico de urbanizao das cidades.

A partir destas classificaes possivel notar tambm que no h um

conceito consensual do que praa. Gomes (2008) observa que, dentre as

definies de diversos autores o nico fator que prevalece o de espao pblico.

Robba & Macedo (2002 em Gomes, 2008) por exemplo, conceituam praas como

espaos livres urbanos destinados ao lazer e ao convvio da populao, acessveis

aos cidados e livres de veculos, ressaltando a caracterstica de local de convvio e

recreao, que impede a classificao de espaos como canteiros, rotatrias e

outros espaos muitas vezes classificados como praas por rgos administradores,

que buscam ampliar sua poro de reas de lazer perante a populao (Gomes,

2008).

J Mendona (2007) traz um conceito mais estrutural e urbanstica da praa,

como sendo espaos pblicos com funo de convvio social, inseridos na malha

urbana como elemento organizador da circulao e de amenizao pblica, com

rea equivalente da quadra, geralmente contendo expressiva cobertura vegetal,

mobilirio rstico, canteiros e bancos.

Silva (2012) define praas como locais pblicos com funo social, destinada

ao lazer, socializao e realizao de atividades cvico-religiosas, com funo

tambm de embelezamento da cidade, por ter aspectos ornamentais. J De Angelis,

De Angelis Neto, Mota, Scapin, Mano, Schiavon, Hoffmann, Savi, Silva, Recco,

Barcos, Santana, Fantini, Domingues, Barbeiro e Yuassa (2005) trazem uma

definio mais funcional da praa e que a praa apresentou ao longo do tempo,

como praas so locais onde as pessoas se reunem para fins comerciais, polticos,

sociais ou religiosos, ou ainda, onde se desenvolvem atividades de entretenimento.

24

Estas vises abrangem muitas das caractersticas e funes das praas, mas

que justamente por isso no delimitam claramente que tipo de estrutura ela deve ter.

De Angelis et al (2004) confirma este aspcto ao relatar o fato de grande parte dos

criadores das praas brasileiras no terem uma ideia clara de como estruturar este

espao, tendo predomnio de duas imagens: a do jardim e da praa de esportes,

mas ainda sim de uma forma bem vaga.

Quadro 2 . Conceitos de praa de acordo com a literatura consultada.

Autor Conceito

Funo

Robba & Macedo (2002 em Gomes, 2008)

espaos livres urbanos destinados ao lazer e ao convvio da populao, acessveis aos cidados e livres de veculos

Espao de lazer e convvio social.

Mendona (2007)

espaos pblicos com funo de convvio social, inseridos na malha urbana como elemento organizador da circulao e de amenizao pblica, com rea equivalente da quadra, geralmente contendo expressiva cobertura vegetal, mobilirio rstico, canteiros e bancos.

Espao e convvio social e de organizao espacial

Silva (2012)

"locais pblicos com funo social, destinada ao lazer, socializao e realizao de atividades cvico-religiosas, com funo tambm de embelezamento da cidade, por ter aspectos ornamentais."

Espao de lazer, convvio social, atividades cvico religiosas e embelezamento da cidade

De Angelis et al. (2005)

praas so locais onde as pessoas se reunem para fins comerciais, polticos, sociais ou religiosos, ou ainda, onde se desenvolvem atividades de entretenimento

Espao de atividades religiosas, lazer, comerciais e politico sociais.

Fonte: autora

Segundo De Angelis et al. (2004), a realidade brasileira demonstra bem esta

falta de entendimento pelos administradores pblicos da funo que as praas

deveriam ter no cotidiano das cidades. O que se v a falta de critrios deste a

elaborao do projeto at a fase de implantao, no havendo estudos sobre as

caractersticas do local, da populao local, da melhor forma de insero da praa

na malha urbana. O mais comum a adoo de projetos padres, que so

simplesmente replicados a cada nova praa (De Angelis et al. 2004). Isto explicaria a

falta de interesse da populao por estes espaos e a preferncia, em grandes

centros urbanos, por outras opes de lazer, como parques ou shopping centers

(Gomes, 2008).

25

Este um aspecto negativo da gesto de praas pblicas no Brasil,

especialmente em grandes cidades, carentes de espaos verdes que possam

melhorar a qualidade de vida da populao, permitindo uma melhoria da sade fsica

e mental e contribuindo para uma melhor qualidade do ar, funo que as praas

poderiam exercer com eficcia por serem reas de tamanho limitado, que facilita que

estejam espalhadas pela malha urbana sem comprometer sua estrutura e

funcionalidade (Lee & Maheswaran, 2011). Para Gomes (2008), estes benefcios

fizeram com que a rea verde e consequentemente as praas, passassem a ser

mais valorizada e requerida nas cidades.

Gomes (2008) tambm relaciona a causa do esvaziamento das praas

pblicas urbanas contemporneas s opes de lazer oferecidas pelas novas

tecnologias, como a TV e a internet e a falta de segurana existente nos espaos

pblicos das grandes cidades. Para continuar atraindo a populao a praa tem que

se mostrar to interativa, moderna e prtica quanto o homem atual. De Angelis et al.

(2005) concorda com a viso de Gomes e relaciona esse esvaziamento da praa

no s a mudana da vida cotidiana e suas preferencias de lazer, mas tambm ao

surgimento de outras opes privadas de lazer e ao abandono destes espaos pelo

poder pblico, que no s deixa de realizar as manutenes necessrias como deixa

de adapta-las com mobilirio e equipamentos adequados aos reais anseios da

populao.

Orth e Cunha (2000) atentam para a funo de espao de lazer das praas

pblicas, tendo esta caracterstica mais acentuada em cidades urbanizadas com

grande densidade de edifcios, aumentando a necessidade por espaos de lazer

construdos como praas e parques que servem para agregar qualidade de vida

para as pessoas que ali habitam.

Dumazedier (1976) traz a seguinte definio de lazer:

[...] conjunto de ocupaes s quais o indivduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear e entreter-se ou ainda, para desenvolver sua informao ou formao desinteressada, sua participao social voluntria ou sua livre capacidade criadora aps livrar-se ou desembaraar-se das obrigaes profissionais, familiares e sociais. (p.94)

Marcellino (2006) destaca dois tipos de lazer, o lazer passivo, referindo-se

principalmente ao lazer de consumo, como teatro, cinema, shopping e atividades

como leitura, contemplao e jogos sentado, e o lazer ativo, referindo-se prtca de

26

atividades fsicas como caminhadas e prtica de esportes e ldicas, como

brincadeiras e jogos infantis.

A praa, alm de ter essa funo de espao de lazer tambm agrega outras

funes que ampliam o bem estar promovido pela utilizao deste espao pelo

cidado, como sociabilidade, conforto ambiental e contato com a natureza (Orth &

Cunha 2000; Oliveira & Mascar, 2007).

Estas funes somadas refletem na melhoria de qualidade de vida dos

frequentadores das praas e por isso importante que estas sejam planejadas de

forma que atendam de maneira equitativa diferentes pblicos e que tenham

elementos que visem aumentar a permanncia do visitante neste espao, como

bancos e equipamentos de lazer, que devem estar presentes de forma quantitativa

mas tambm qualitativa (Oliveira & Mascar, 2007).

2.3 PERCEPO AMBIENTAL

O crescente interesse por estudos e projetos voltados para as reas verdes

urbanas fez com que se buscasse compreender e maximizar os benefcios que

estes espaos podem trazer para a populao. No entanto, esta tendncia fez com

que pesquisadores olhassem para a relao que o ser humano tem com este

espao e os sentimentos que nutre por ele. A partir dai os estudos de percepo

ambiental se mostraram uma importante ferramenta para auxiliar na compreenso

da maneira como o indivduo v e sente determinado espao o que pode explicar as

suas aes em relao a ele (Costa & Colesanti, 2011; Del Rio, 1996).

Os estudos de percepo humana surgiram em 1879 pelo psiclogo Wilhelm

Wundt, e a partir dai passaram a chamar a ateno de pesquisadores em diversas

reas como educao e geografia. No Brasil, os estudos nessa rea comearam a

se destacar na dcada de 1970, culminando na criao, em 2000, do Ncleo de

Pesquisas em Percepo Ambiental (NEPA) da Faculdade Brasileira no Espirito

Santo que hoje desenvolve pesquisas em diversos setores (Rodrigues, Malheiros,

Fernandes, & Dars, 2012).

Estes estudos visam explicar as atitudes do indivduo em relao a

determinado ambiente a partir da forma como ele entende aquele espao e das

impresses que ele tem sobre o mesmo (Del Rio, 1996). Segundo Tuan (2012),

27

estas impresses so construdas a partir dos estmulos que o ambiente provoca no

indviduo, vivenciados a partir dos seus sentidos, como tambm pela cultura e

personalidade que aquele indivduo tem. Portanto, para este autor, para

compreender os problemas ambientais necessrio primeiramente compreender os

seres humanos que interagem com ele. Castello (1996) confirma esta ideia e afirma

que tambm nas prticas de urbanismo cada vez mais importante compreender

com clareza a relao homem-ambiente.

A percepo ambiental o resultado do contato entre nossos sentidos e o

mundo. Chau (2001) descreve este processo da seguinte forma:

A percepo envolve toda nossa personalidade, nossa histria pessoal, nossa afetividade, nossos desejos e paixes, Isto , a percepo uma maneira fundamental de os seres humanos estarem no mundo. Percebemos as coisas e os outros de modo positivo ou negativo, percebemos as coisas como instrumentos ou como valores, reagimos positiva ou negativamente a cores, odores, sabores, texturas, distncias, tamanhos. O mundo percebido qualitativamente, afetivamente e valorativamente. Quando percebemos outra pessoa, por exemplo, no temos uma coleo de sensaes que nos dariam as partes de seu corpo, mas a percebemos como tendo uma fisionomia (agradvel ou desagradvel, bela ou feia, serena ou agitada, sadia ou doentia, sedutora ou repelente) e por essa percepo definimos nosso modo de relao com ela. (p. 123)

Segundo esta autora existem trs correntes de pensamento que estudam a

percepo ambiental: a Empirista, onde a percepo depende do estmulo externo e

se consolida por meio da repetio e da frequncia destes estmulos; a

intelectualista, onde a percepo depende do sujeito que a percebe e acontece

quando o sujeito analisa o objeto e o decompe em suas qualidades simples; e a

fenomenolgica, onde no h distino entre sensao e percepo e estas

sensaes provocadas pelo ambiente so dotadas de sentido e significado (Chau,

2001).

Kohlsdorf (1996) explica melhor esta relao entre sensao e percepo:

Na percepo do espao, em que pese contribuio dos receptores visuais e ttil - cintico, no comparecem apenas estas caractersticas do objeto, mas toda a sua complexidade, ainda que de maneira subjetiva. por isso que a percepo constitui-se, no processo de conhecimento humano, a forma bsica do reflexo sensorial, e no a sensao. A percepo possui carter de maior conscientizao: est intimamente ligada ao pensamento e s demais experincias anteriormente adquiridas, porque, no crtex cerebral, ocorre uma sntese dos estilos provenientes de todos os receptores, tanto os sensoriais (sinais primrios) quanto dos decodificadores (sinais secundrios). Em segundo lugar esta sntese fornece a percepo carter de globalidade, o que faz da imagem percebida um retrato claro da realidade objetiva, onde esto abrangidos no

28

apenas as manifestaes externas, as relaes superficiais, o isolado e o ocasional, mas tambm, junto com estes, as conexes internas importantes, genricas e essenciais (p.18)

Para Liynch (1960) a relao de um morador de uma cidade pode ser

determinada pelas diversas percepes que este acumulou ao longo de sua relao

com este ambiente. Segundo ele, uma imagem ambiental positiva pode estabelecer

uma relao harmoniosa entre a cidade e o indivduo que a percebe. O quadro

mental elaborado produto tanto da sensao imediata quanto das experincias

passadas acumuladas.

Del Rio (1996) afirma ainda que estes estmulos provocados pelo meio

ambiente no indivduo no ocorrem de forma passiva, h uma contribuio do sujeito

a este processo de percepo, como a motivao, necessidades, humor,

conhecimento prvio, julgamento de valor, expectativas entre outros.

Tuan (2012) afirma ainda que esta percepo no imutvel, mas que pode

variar com passar do tempo, onde aquele ambiente pode sofrer mudanas e as

experincias vividas por aquela pessoa podem mudar seu modo de agir e pensar.

Qureshi (Qureshi, Breuste & Jim, 2013) complementa dizendo que o nvel

socioeconmico do indivduo pode influenciar em sua forma de ver o ambiente e

consequentemente determinar suas escolhas e preferncias em relao s areas

verdes urbanas.

Mesmo fazendo parte de uma mesma cidade ou bairro as pessoas podem

perceber o ambiente a sua volta de forma diferente, entretanto, admite-se que

existam consideraes e atitudes comuns entre um determinado grupo, o que

justifica a adoo de pesquisas de percepo ambiental para nortear a ao pblica

(Del Rio, 1996). Por isso, projetos padronizados ou que so elaborados sem a

consulta a populao podem no gerar os resultados esperados. A forma como o

planejador v e pensa aquele espao verde pode no ser compatvel com a viso da

populao de seu entorno (Costa & Colesanti, 2011).

Neste sentido os estudos de percepo ambiental ajudam a compreender

quais as expectativas da populao de terminada regio tem em relao a rea

verde de sua localidade e o que fazer para melhorar essa relao, ou at mesmo,

compreender os motivos para uma atitude negativa em relao a rea verde e

reverte-la (Costa & Colesanti, 2011).

29

A anlise da percepo ambiental tambm permite ao gestor saber como as

polticas e projetos implementados foram sentidos e avaliados pela populao local,

o que ajuda a direcionar as aes para um resultado mais prximo do desejado.

Alm disso, uma forma de estreitar a relao entre o poder pblico e os cidados,

favorecendo essa linha de comunicao (Rodrigues et al 2012; Costa & Colesanti,

2011; Jim & Chen, 2006).

O desafio do planejador justamente o de captar e compreender estes

valores subjetivos que compem a percepo ambiental da populao e conseguir

aplica-los aos projetos de gesto de reas verdes urbanas (Costa & Colesanti,

2011). Sem o envolvimento da populao o gestor corre o risco de no conseguir

atingir as expectativas da mesma, barrar certos tipos de pblico e atrair elementos e

atividades indesejadas para aquela rea (Jim & Chen, 2006).

Um dos principais programas que vem incentivando o uso de estudos de

percepo ambiental em gesto de reas verdes o Man and Biosphere (Unesco).

Trata-se de um programa intergovernamental que visa melhorar o relacionamento

entre o homem e o meio ambiente de forma a promover o desenvolvimento

sustentvel (UNESCO, 2014). Dos 14 projetos que compem o programa o projeto

13 trata justamente de estudos de percepo da qualidade ambiental.

Atualmente o MAB esta presente em 117 pases, tendo sido implantado em

grandes cidades como Roma e a Cidade do Mxico, cidades de grande urbanizao

assim como So Paulo. Na Capital Paulista, ele se aplica especialmete em reas

pertencentes ao Cinturo Verde de So Paulo, que preserva reas de Mata Atlantica

remanescentes (RBMA, 2014). Em seus projetos o MAB busca contrapor a opinio

dos trs principais atores relacionados ao meio ambiente que so: especialistas na

rea, tomadores de deciso e frequentadores, sendo estes ltimos o alvo dos

estudos de percepo ambiental (Bonnes, Carrus, Bonaiuto, Fornara, & Passafaro,

2004).

30

3. METODOLOGIA E TCNICAS DE PESQUISA

O presente trabalho uma pesquisa de natureza qualitativa. Trata-se de um

estudo preliminar em funo da falta de estudos e dados neste tema. Ao final deste

trabalho obteve-se um panorama da percepo dos frequentadores das praas

pblicas de So Paulo, em relao ao seu uso e funo, de forma a contribuir com

hipteses a serem exploradas em pesquisas futuras.

3.1 LOCAL DE ESTUDO

Para este estudo, foi escolhida a cidade de So Paulo, localizada no Estado

de So Paulo, regio Sudeste do Brasil. O Estado dividido em 645 municpios e

ocupa uma rea de 248.209,426 Km2. A cidade de So Paulo possui rea urbana

com 1.521,101 Km2 de extenso territorial e 11.821.876 habitantes (IBGE, 2013),

sendo considerada a maior cidade da Amrica Latina. Esta rea subdividida em

cinco regies, conforme mostra a Figura 1 (PPSP, 2014).

Figura 1. Mapa do Brasil com destaque para o Estado de So Paulo e o municpio de So Paulo com suas regies (PPSP 2014).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_munic%C3%ADpios_de_S%C3%A3o_Paulohttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rea

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3.1.1 Praas selecionadas

Como mencionado anteriormente, houve dificuldade no acesso a informaes

sobre as praas cadastradas no municpio de So Paulo. No stio da prefeitura a

nica relao de praas encontradas, foi referente ao projeto Praas Digitais ou

WIFI LIVRE SP. Este projeto visa levar o acesso internet para 120 praas ou

localidades pblicas da cidade (PPSP, 2014). Nesta relao encontrada, os locais

pblicos que sero beneficados com o projeto tem informaes sobre localizao

(bairro e regio), tamanho da rea e nmero de frequentadoress. Dessa forma,

dentre todas as praas relacionadas no projeto acima descrito, foram selecionadas

cinco praas pblicas com tamanhos entre 13 e 18 mil metros quadrados e/ou com

nmero de 200 a 500 frequentadores, sendo cada praa localizada em regies

diferentes do municpio, conforme mostra a Tabela 1. A fonte no continha

informaes referentes ao tamanho da praa Floriano Peixoto, mas esta foi

escolhida por ser a que tinha nmero de visitantes semelhante as demais

escolhidas.

As praas selecionadas para este estudo no municpio de So Paulo so:

Praa Franklin Roosevelt, Praa Silvio Romero, Praa Novo Mundo, Praa Benedito

Calixto e Praa Floriano Peixoto.

Tabela 1. Praas selecionadas para a realizao dessa dissertao.

Regio Distrito Suprefeitura Praa M2 N

frequentadores

Centro Consolao S Praa Franklin Roosevelt 15.000 500 Leste Tatuap Mooca Praa Silvia Romero 18.000 200 Norte Vila Maria Vila Maria Praa Novo Mundo 13.000 200 Oeste Jardim Paulista Pinheiros Praa Benedito Calixto 15.000 500 Sul Santo Amaro Santo Amaro Praa Floriano Peixoto - 300

Fonte: (PPSP, 2013)

3.2 COLETA DOS DADOS

Para a coleta de dados o presente trabalho est dividido em dois momentos.

Primeiramente foi realizada uma avaliao quali-quantitativa das praas por meio da

aplicao de metodologia de avaliao e qualificao de praas desenvolvida por De

Angelis et al. (2004). Num segundo momento foram feitas entrevistas com os

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frequentadores das praas a fim de coletar dados referentes sua percepo

ambiental.

3.2.1 Avaliao quali-quantitativa

Como instrumentos para esta avaliao foram utilizadas duas fichas de

avaliao desenvolvida por De Angelis et al (2004), onde a ficha 1 (Anexo 1)

utilizada para a avaliao quantitativa dos elementos da praa e a ficha 2 (Anexo 2)

para a avaliao qualitativa. Porm para este trabalho as fichas foram adaptadas.

Nas fichas 1 e 2 foi adicionado o tem parque canino e na ficha 2 foi inserido o tem

acessibilidade e a coluna qualificao.

3.2.2 Entrevistas

Num segundo momento foram iniciadas entrevistas com frequentadores das

praas selecionadas, buscando verificar como eles percebem e se relacionam com

este espao. Para esta etapa foi elaborado um roteiro de entrevista semi-

estruturado, com perguntas fechadas e abertas (Marconi & Lakatos, 2002),

construdo com base nas diretrizes contidas no guia Guidelines for field studies in

environmental perception (White, 1977).

Neste guia so apresentadas trs abordagens diferentes, divididas de acordo

com os tipos de tcnicas utilizadas: observar, ouvir e perguntar. Para este trabalho

foi escolhida a abordagem perguntar por ser a mais utilizada e por ter mtodos

mais estruturados, simples e de rpida aplicao e anlise de resultados (White,

1977). Aps a escolha da abordagem a ser usada partiu-se para a classificao do

tipo de varivel a ser estudada. Neste trabalho pretendeu-se verificar qual o tipo de

funo a praa deve exercer de acordo com a viso da populao, ou seja, qual

valorao ela faz desse espao e como ele deveria ser usado. Estas variveis se

enquadram na categoria Categorizao e Julgamento, explicada por White (1977).

Tambm h variveis categorizadas como Caractersticas Individuais, que so as

questes referentes aos dados pessoais do pesquisado.

Para estes tipos de variveis o mais indicado segundo esta metodologia so

as questes abertas para as variveis de Categorizao e Julgamento e perguntas

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fechadas para as variveis de Caractersticas Individuais, resultando em um roteiro

de entrevista semi-estruturado, com perguntas abertas e fechadas.

Duarte (2004) confirma que a realizao de entrevistas o mtodo mais

eficaz quando se almeja conhecer em maior profundidade como um grupo de

indivduos percebe e significa sua realidade.

As entrevistas foram conduzidas da seguinte forma: em cada praa foram

entrevistas trs pessoas que estavam praticando alguma atividade na praa no

momento da entrevista, ou seja, foram descartados passantes. Cada uma destas

pessoas deveriam se enquadrar nos seguintes critrios que determinam o conceito

de frequentador adotado neste trabalho: ser frequentador da praa a pelo menos 3

anos; visitar a praa ao menos 1 vez por semana; e pertencer a uma das 3 faixas

etrias estipuladas: Faixa 1 (de 15 a 29 anos), Faixa 2 (de 30 a 59 anos) e Faixa 3

(acima de 60 anos), estabelecidos como critrios no presente trabalho, como

utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estattica (IBGE).

O periodo mnimo de 3 anos como frequentador de praa foi determinado

devido ao ltimo projeto voltado para praas desenvolvido pela Prefeitura da cidade,

o projeto Florir, ter ocorrido a trs anos atrs. Assim o frequentador possivelmente

poder ter notado diferenas na estrutura da praa que frequenta a partir deste

perodo (PPSP, 2015).

As respostas foram gravadas e transcritas posteriormente. Ainda segundo

White (1977), em pesquisas com questionrios de perguntas abertas importante o

registro das respostas dos respondentes e posterior transcrio (disponvel no

apndice IV), e portanto foi feito o uso destes recursos.

A realizao das entrevistas se deu entre outubro e dezembro de 2015, em

dias da semana variados, nos perodos da manh e tarde. O perodo da noite foi

evitado pela sensao de insegurana percebida pela pesquisadora e apontada

tambm pelos entrevistados.

3.2.2.1 Roteiro de entrevista

As perguntas fechadas includas so referentes ao gnero, idade, nvel de

escolaridade, renda mdia familiar, ocupao, bairro de residncia, quantidade de

vezes que frequenta a praa; tipo de residncia casa ou apartamento; nmero de

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filhos e animais de estimao. A questo referente ao bairro auxiliou a determinar a

distncia que o frequentador reside da praa. Estudos de percepo ambiental

afirmam que visitantes podem ter uma percepo do ambiente diferente dos

moradores locais (Tuan, 2012). As perguntas sobre filhos e animais de estimao

foram includas, pois levar as crianas para brincar e passear com o cachorro foram

apontados em pesquisas como motivos relevantes que levam pessoas a

frequentarem reas pblicas urbanas e por isso importante consultar se estes

perfis de frequentadores de praa percebem este ambiente de maneira particular

(Loj, Rozylowicz, Patroescu, Nita, & Vnau, 2011)

As perguntas abertas foram formuladas de modo a estimular o respondente a

descrever as atividades que costuma praticar na praa e sua motivao para a

visita, a forma como v a praa hoje, como se sentiria e agiria frente a determinados

acontecimentos, como a extino da praa ou sua pavimentao completa e como

ele gostaria de v-la no futuro. White (1977) afirma que o processo de descrio a

melhor tcnica para se registar elementos conscientes e inconscientes da percepo

ambiental de um indivduo e por isso foi escolhida elaborar perguntas que

estimulassem esse tipo de discurso.

Aps a elaborao do roteiro de entrevista este foi submetido a um pr-teste

com frequentadores da praa Novo Mundo a fim de verificar se as questes seriam

compreendidas pelos respondentes e se responderiam as questes de pesquisa

deste trabalho. A praa Novo Mundo, selecionada pra o pr-teste est localizada em

uma regio de perfil econmico social mais baixo (Parque Novo Mundo), onde seria

mais provvel encontrar respondentes com baixo grau de instruo e que poderiam

apresentar mais dificuldade na compreenso de algumas questes. Ao final deste

pr-teste, foram realizados ajustes no texto das perguntas e realizadas as

entrevistas finais com respondentes de cada praa, um de cada faixa etria

conforme previamente estabelecido. Ao longo da aplicao das entrevistas foram

feitas anotaes pela pesquisadora que pudesse auxiliar na compreenso dos

dados obtidos (Duarte, 2004).

35

3.3 ANLISE DOS DADOS

3.3.1 Avaliao quali-quantitativa das praas

Para a qualificao dos elementos encontrados na praa, sero utilizados

conceitos criados por De Angelis et al. (2004) para levantamento de praas no

Brasil. Os equipamentos foram designados por notas onde: 0 | 0,5 pssimo;

0,5 | 1,5 ruim; 1,5 | 2,5 regular; 2,5 | 3,5 bom; 3,5 | 4,0 timo.

Para reduzir a subjetividade da avaliao e qualificao, foram considerados

no momento da classificao, os seguintes critrios:

Bancos: estado de conservao; material empregado em sua confeco; conforto;

locao ao longo dos caminhos - se recuados ou no; distribuio espacial - se em

reas sombreadas ou no; desenho; quantidade; distanciamento;

Iluminao: alta ou baixa - em funo da copa das rvores; tipo - poste, super

poste, baliza, holofote; localizao; conservao; atendimento ao objetivo precpuo;

Lixeiras: tipo; quantidade; localizao; funcionalidade; material empregado;

conservao; distanciamento;

Sanitrios: condies de uso; conservao; quantidade;

Telefone pblico: localizao - na praa, prximo ou distante de conservao;

Bebedouros: tipo; quantidade; condies de uso; conservao;

Piso: material empregado; funcionalidade e segurana; conservao;

Traado dos caminhos: funcionalidade; largura; manuteno; desenho;

Palco/coreto: funcionalidade; conservao; design; uso - frequente, espordico,

sem uso; se compatvel com o desenho da praa;

Obra de arte (monumento, esttua, busto): significncia da obra de arte;

conservao; insero no conjunto da praa;

Espelho dgua/chafariz: em funcionamento; se inserido ou no no contexto da

praa; conservao;

Estacionamento: conservao; sombreamento; segurana;

Ponto de nibus e de txi: se na praa, prximo ou distante de; presena ou no

de abrigo; conservao;

Quadra esportiva: quantidade; conservao; material empregado; com

iluminao; cercada;

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Equipamentos para prtica de exerccios fsicos: tipo e quantidade; material

empregado; conservao;

Estrutura para terceira idade: estruturas existentes; conservao;

Parque infantil: brinquedos que o compem; material empregado e cor; se em

rea reservada e protegida; conservao;

Banca de revista: localizao - perifrica ou central, em evidncia ou no; material

empregado em sua construo; design; esttica - se compatvel com a praa;

Quiosque para alimentao e/ou similar: tipo - treiler, carrinho, construo em

alvenaria,.-; higiene; esttica; localizao;

Segurana: em funo da localizao, frequncia de pessoas, policiamento e

conservao;

Conservao: estado geral da praa - equipamentos, estruturas, varrio,

limpeza;

Localizao: se prximo ou distante de centros habitados; facilidade de acesso;

Vegetao: estado geral; manuteno;

Paisagismo: escolha e locao das diferentes espcies; criatividade; insero do

verde no conjunto;

Conforto ambiental: no presente item inseriu-se conjuntamente o conforto

acstico, o conforto trmico, o conforto visual e a condio de tranquilidade. Os

quesitos analisados foram: presena de agentes causadores de poluio sonora;

localizao; trnsito de veculos; relao entre rea sombreada e no;

impermeabilizao da rea da praa e seu entorno; e caracterizao visual da praa

e seu entorno.

3.3.2 Anlise das entrevistas

Nesta etapa foi feita a utilizao de metodologia de anlise de entrevistas que

utiliza elementos de anlise do contedo, objetivando uma eficaz explorao,

compreenso e categorizao dos dados obtidos (Silva, Gobbi, & Simo, 2005).

Entretanto decidiu-se no se aprofundar tecnicamente na aplicao desta

metodologia (anlise de contedo) por completo, devido a complexidade da mesma

e pelo uso de uma anlise mais simples de entrevistas ser suficiente para trazer os

resultados esperados.

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Segundo Duarte (2004), a anlise de entrevistas semi-estruturadas pode

ocorrer por meio da adoo de anlises temticas, onde os dados coletados so

organizados em eixos temticos relacionados aos objetivos da pesquisa. Estes eixos

podem ser pr-formulados a partir de reviso terica e completados a partir dos

dados coletados. Neste caso, apenas fragmentos do discurso que forem mais

relevantes foram considerados.

Esta proposta de Duarte (2004), para anlise qualitativa de dados de

entrevistas vai de encontro com a proposta de Mayring (2002), denominada de

anlise de contedo qualitativa. Mayring (2002) sugere diversos procedimentos para

anlise de dados qualitativos, explicando em detalhes qual a melhor tcnica para

cada tipo de dado e de resultado que se espera conseguir ao final da pesquisa. A

tcnica de anlise de contedo qualitativa se mostrou ser a mais adequada pra este

trabalho, pois permite explorar o contedo das entrevistas realizadas de forma a

relacionar todos os tipos de percepo e uso das praas citados. Ambos autores

afirmam que esta tcnica de categorizao dos dados tem um maior nvel de

confiabilidade dos resultados por ter suporte no referencial terico, o que reduz a

subjetividade da anlise.

A figura 2 apresenta um modelo de anlise qualitativa de dados proposto por

Mayring (2002) e que foi considerado como procedimento para a anlise de dados

do presente trabalho.

Em funo da combinao das duas metodologias apresentadas (Duarte,

2004; Mayring 2002), as respostas as questes abertas foram categorizadas e

observados elementos referentes a percepo dos frequentadores em relao a: 1.

Estrutura e equipamentos das praas; 2. Motivao e uso das praas; 3. Funo e

Topofilia (relao de apego sentimental com o espao) (Tuan, 2012); 4. reas

Verdes; e 5. Conflitos e desafios para a gesto.

Estas categorias foram definidas de acordo com os objetivos do trabalho em

comparao com as definies de praa apresentadas no quadro 2. Posteriormente

elas foram revisadas ao longo da analise dos dados das entrevistas para garantir

que as categorias propostas esgotassem as possibilidades de anlise encontradas

nos dados.

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Figura 2. Modelo do processo de criao indutiva de categorias. Fonte: Mayring (2002).

3.4 LIMITAES DA PESQUISA

Por ser tratar de um estudo qualitativo a presente pesquisa visou entender em

profundidade a percepo ambiental dos frequentadores das praas em relao ao

seu uso e funo. Por esta caracterstica de estudo exploratria no possvel

comprovar estatisticamente as concluses aqui levantadas, ficando como sugesto

para pesquisas futuras.

O recorte da percepo em relao aos usos e funo tambm limita o

conhecimento mais amplo da percepo destes frequentadores em relao a outros

elementos da praa, como espao, estrutura, histria, entre outros. A pesquisa

tambm limitou-se a ouvir frequentadores das praas, definidos como pessoas que

visitam a praa ao menos uma vez por semana e praticam algum tipo de atividade

na mesma. No foram ouvidos passantes e visitantes espordicos que tambm

fazem uso deste espao e podem ter percepes distintas dos frequentadores.

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4. ANLISE E INTERPRETAO DOS RESULTADOS

Primeiramente so apresentados os resultados referentes ao levantamento da

estrutura e equipamentos presentes em cada praa estudada, perfil dos

frequentadores entrevistados, e por ltimo so apresentados os resultados sobre a

percepo e usos destes espaos.

4.1 ESTRUTURA E EQUIPAMENTOS DAS PRAAS

O levantamento quali-quantitativo das praas consistiu em relatar como estes

espaos so planejados e/ou estruturados pelos administradores pblicos, para que

sejam utilizados pela populao. Assim ser relatado a seguir caractersticas desses

espaos pblicos alm do levantamento da infraestrutura, equipamentos e sua

conservao das cinco praas estudadas conforme sugerido por De Angelis et

al.(2004).

4.1.1 Praa Novo Mundo

Localizao: A Praa Novo Mundo esta situada no bairro Parque Novo

Mundo, zona Norte da cidade de So Paulo, a qual administrada pela

subprefeitura da Vila Maria. A praa se encontra em posio central onde se

conectam ruas do bairro. Ao seu redor encontram-se diversos estabelecimentos

comerciais, como lojas, bancos oficinas mecnicas e restaurantes. Nas ruas do

entorno foi possvel observar muitas casas e edifcios residenciais.

Estrutura: Os elementos encontrados na praa realam sua funo de espao

social e de lazer (Figura 4A). Nela so encontradas duas quadras, um playground,

mesas de jogos, um campo de bocha, um bicicletrio, aparelhos de exerccio para

terceira idade e um palco. Tambm est presente uma base da polcia militar, que

fornece a segurana do local.

A maior parte do terreno da praa coberto por grama e rvores. Existem

caminhos que cortam toda a praa, de piso de concreto simples que se encontram

em estado de conservao regular, sem buracos ou rachaduras graves. H bancos

de concreto espalhados por toda a praa, ao longo dos caminhos, na rea central,

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prximos ao palco, aos aparelhos de exerccio para a terceira idade e ao parque

infantil. Os bancos esto bem conservados mas oferecem baixo conforto por no

terem encostos. Lixeiras de plstico tambm so encontradas ao longo de toda a

praa, sendo uma delas para lixo reciclvel. Observou-se algumas lixeiras

depredadas, e em frente a base da polcia militar existem quatro vagas de

estacionamento, que no so suficientes para o tamanho da praa. O visitante que

vai de carro pode encontrar dificuldade em estacionar, pois com exceo destas

vagas proibido estacionar ao redor da praa.

Segurana: A base da policia militar um diferencial na praa, por ser bem

estruturada e contar com ao menos trs carros de policia constantes, podendo trazer

a sensao de segurana aos frequentadores apesar de alguns moradores de rua. A

base composta por dois cmodos e equipada com cadeiras, mesas, televiso e

computadores e tem vaga de estacionamento para deficientes. H iluminao em

toda a praa, com postes altos, acima da copa das rvores, que no iluminam bem o

espao a noite.

Equipamentos esportivos: As quadras so cercadas por alambrados e se

posicionam em lados opostos da praa. Elas contam com refletores de iluminao e

uma delas coberta por sombra de rvores prximas, ficando a outra mais exposta

ao sol. Elas encontram-se em estado de conservao regular, com piso e estruturas

danificadas, mas que ainda sim no impedem a utilizao. H um bicicletrio na

praa (Figura 4B), que um espao para alocao de bicicletas, localizado ao lado

da base da policia. Apesar do bicicletrio, a praa no dispe de ciclovia, o que

sugere que este equipamento seja direcionado a pessoas que usam a bicicleta como

meio de locomoo at a praa e no na praa.

Equipamentos para terceira idade: Existem apenas trs aparelhos de

exerccios voltados para a terceira idade, que so poucos para o tamanho da praa.

Durante a visita estes aparelhos eram utilizados mais por crianas do que por

idosos. J o campo de bocha simples e aparenta pouca utilizao, apesar de bem

conservado (Figura 4C) .

Equipamentos culturais/ lazer: Prximo aos aparelhos de ginstica h um

palco (Figura 4D), constitudo por piso de concreto e quatro vigas horizontais e

quatro verticais, que deveriam suportar uma cobertura que no existe. O estado de

conservao deste local classificado como ruim, pois ele tem poucas condies de

41

cumprir a funo que deveria. Alm do palco a praa conta tambm com um

monumento em forma de obelisco em homenagem aos moradores do bairro Parque

Novo Mundo, que se encontra ao lado de uma das quadras, num local escondido por

rvores e quase imperceptvel aos passantes. Para o lazer ainda existem mesas de

concreto com tabuleiros de xadrez em suas superfcies, cercadas de bancos do

mesmo material. Estas mesas esto localizadas ao redor de uma rvore grande, de

caule bastante espesso e copa frondosa, que proporciona sombra e boa sensao

climtica para os jogadores.

Parque infantil: H uma rea cercada destinada ao parque infantil (Figura 4E),

com piso permevel de terra batida e grama, com rvores conferindo sombra e

conforto ambiental a rea. Os dois brinquedos encontrados estavam completamente

destrudos, incapacitando o uso.

Opes de alimentao: Em relao oferta de alimentao, alm dos bares

e restaurantes presentes ao redor, na praa encontra-se um trailer que vende

sorvete e aos sbados, em decorrncia de uma feira-livre que acontece numa rua

vizinha, alguns vendedores ambulantes de bolos e doces tambm esto presentes

na praa.

Conservao e limpeza: Em toda a rea da praa possvel encontrar lixo

espalhado pelo cho, apesar das lixeiras existentes. No entanto essa quantidade de

lixo no expressiva a ponto de tornar a praa menos atrativa.

Cobertura vegetal: No possvel verificar paisagismo recorrente na praa e

partes do gramado esto danificadas, mas a quantidade de rvores existentes pode

trazer um bom conforto ambiental. Uma caracterstica interessante so placas de

identificao em algumas rvores, constando seu nome cientfico e popular (Figura

4F).

Acesso e Acessibilidade: A praa est ambientada em um terreno totalmente

plano, com avenidas movimentadas ao seu redor, onde