universidade regional integrada do alto uruguai … · de material pedagógico, um guia prático...

124
UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI – CAMPUS DE SANTO ÂNGELO – RS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO – MESTRADO A HISTÓRIA DA CIÊNCIA NO CINEMA: CONTRIBUIÇÕES PARA A PROBLEMATIZAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE NATUREZA DA CIÊNCIA ELIANE GONÇALVES DOS SANTOS SANTO ÂNGELO (RS) 2011

Upload: vudang

Post on 13-Dec-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

URI – CAMPUS DE SANTO ÂNGELO – RS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO CIENTÍFICO E

TECNOLÓGICO – MESTRADO

A HISTÓRIA DA CIÊNCIA NO CINEMA: CONTRIBUIÇÕES PARA A

PROBLEMATIZAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE NATUREZA DA CIÊNCIA

ELIANE GONÇALVES DOS SANTOS

SANTO ÂNGELO (RS)

2011

2

ELIANE GONÇALVES DOS SANTOS

A HISTÓRIA DA CIÊNCIA NO CINEMA: CONTRIBUIÇÕES PARA A

PROBLEMATIZAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE NATUREZA DA CIÊNCIA

Dissertação de Mestrado em Ensino Científico e Tecnológico para obtenção do título de Mestre em Ensino Científico e Tecnológico da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus de Santo Ângelo, Departamento de Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós-Graduação em Ensino Científico e Tecnológico – Mestrado.

Orientadora: Professora Doutora Neusa Maria John Scheid

SANTO ÂNGELO (RS)

2011

PÁGINA DE APROVAÇÃO

Será entregue pela secretaria do programa de mestrado em Ensino Científico e Tecnológico da

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões após a defesa em banca

MESTRANDO

TÍTULO SUBTÍTULO

Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Ensino Científico e Tecnológico – Mestrado da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Santo Ângelo como parte dos requisitos necessários à obtenção do Grau de Mestre em Ensino Científico e Tecnológico. Área de Concentração: Ensino de Ciências e Matemática, Linha de Pesquisa: II – Práticas Educativas no Ensino de Ciência e Tecnologia.

Banca Examinadora:

_____________________________ Nome do Prof. Orientador, Doutor em ...

Orientador

_____________________________ Nome do Prof. Examinador, Doutor em

Examinador

_____________________________ Nome do Prof. Examinador, Doutor em

Examinador

Conceito: _________

Santo Ângelo (RS), XX de yyyyy de 2011.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que, de uma forma ou outra, contribuíram com ideias e

sugestões para a construção deste trabalho.

A minha orientadora, professora Drª Neusa Maria John Scheid, pela compreensão,

pelo carinho, pela paciência, pela atenção e tempo despendido, pelo conhecimento

compartilhado, bem como pelos livros e filmes emprestados. E, igualmente, agradeço aos

demais professores do curso que partilharam conosco seus conhecimentos e experiências.

Aos colegas da turma de 2009, pelo aprendizado e convívio, em especial às amigas

Leoni Rosane Ritter e Renata Machado Hamadd, pelos momentos vividos durante esta

caminhada e pela amizade construída e a Simoni Priesnitz Friedrich, companheira das horas

de estudo e viagens de idas e vindas de Cerro Largo a Santo Ângelo.

À funcionária Neiva Gracieli Schwantes Rodrigues, secretária do Curso de Mestrado

em Ensino Científico e Tecnológico, que, sempre atenciosa e prestativa, nos ajudou quando

necessitamos.

Às direções da Escola Técnica Guaramano e da Escola Estadual de Ensino Médio

João Przyczynski, de Guarani das Missões, pela acolhida e autorização para realização da

pesquisa e desenvolvimento do projeto nesses educandários.

Aos alunos do terceiro ano de 2010 do Ensino Médio das duas escolas, pela

participação e colaboração nesta pesquisa, pois o envolvimento deles foi fundamental para a

realização deste trabalho.

Às colegas das Escolas nas quais leciono, pela colaboração e apoio nos momentos

de angústias.

Agradeço muito carinhosamente aos meus pais, Aparício Oliveira dos Santos e

Ramona Gonçalves dos Santos; ao meu irmão Neuri e, em especial, a minha irmã Cidiane,

5

pela suma importância em minha vida, pois, para poder sair de casa e estudar, era aos

cuidados dela que entregava meus filhos.

Enfim, um agradecimento especial às pessoas mais importantes de minha vida: meu

esposo, Elói Petry Batista, pelo carinho, incentivo e companheirismo; e ao Otávio, Marina e

Felipe dos Santos Batista, queridos filhos, minha razão e motivo de seguir sempre em frente.

A todos, muito obrigada!

Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino.

(Paulo Freire)

1

RESUMO

Esta dissertação apresenta uma investigação realizada com o objetivo de avaliar a contribuição que o cinema pode possibilitar na introdução da História da Ciência para problematizar a concepção de ciência e do fazer científico promovendo a melhoria da educação científica desde a escola básica. A pesquisa empírica foi realizada em 2010 envolvendo estudantes do Ensino Médio de escolas públicas. Nessa perspectiva, filmes do circuito comercial foram exibidos em seis encontros. Com abordagem qualitativa, informações foram coletadas acerca das percepções dos estudantes sobre a imagem de ciência e de cientista presente nesses filmes. Os resultados indicam que a visão de ciência desses estudantes ainda é, em geral, muito mitificada e orientada por noções positivistas, mas pode ser problematizada por meio da análise de alguns filmes. Argumentamos que muitos enredos fílmicos podem, por meio de sua utilização crítica, constituir-se uma forma de contextualização dos conteúdos e de discussão da natureza da ciência. Em vista disso, a introdução da História da Ciência na Educação Básica, visando desenvolver uma adequada compreensão da natureza da ciência, poderá colaborar para a melhoria da educação científica. Com o intuito de contribuir com essa abordagem na escola básica, é apresentada uma proposta de material pedagógico, um Guia Prático para o uso de filmes comerciais em sala de aula com um roteiro para uso do programa computacional Movie Maker para auxiliar os professores na utilização, integral ou de recortes, de filmes comercias em sala de aula para discutir e promover debates acerca das concepções da natureza da ciência.

Palavras-chave: concepção de natureza da ciência, cinema e educação científica, filmes e História da Ciência.

2

ABSTRACT

This study presents an investigation that was done with the purpose of assessing the contribution hat the cinema can make possible in the introduction of the History of Science to problematize the concept of science and the scientific making promoting the improvement of scientific education since the elementary school. The empirical research was held in 2010 involving high school students from a public school. With this perspective, films of the commercial area were displayed in six meetings. Using qualitative approach, information was collected about the students perceptions concerning the mage of science and scientist presented on those films. The out comings indicate that the vision of science of those students still is, in general, very mystified and oriented by positive concepts, but it an be problematized through the analysis of some films. We argue that many plots can, by means of their critical use, constitute themselves as a way of contextualization of the concepts and the discussion of the nature of science. In view of this, the introduction of the History of Science in the basic education, ordering to develop a proper comprehension of the nature of science, could cooperate to the improvement of the scientific education. In order to contribute toward this approach in the basic school, a proposal of pedagogical stuff is presented, a practical guide for the application of commercial films in classroom with an itinerary for the Movie Maker computer program to help teachers, in full or side view, of commercial films in the classroom in order to debate and promote discussions about the concepts of the nature of science. Keywords: conception of the nature of science, cinema and scientific education, films and History of Science.

3

LISTA DE TABELA E GRÁFICOS

Tabela 01: Quadro idade e sexo dos sujeitos da pesquisa ---------------------------------------- 41

Gráfico 01: Frequência com que os alunos assistem a filmes ----------------------------------- 42

Gráfico 02: Acessos dos alunos aos filmes --------------------------------------------------------- 43

Gráfico 03: Categoria --------------------------------------------------------------------------------- 45

11

SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS -------------------------------------------------------------------- 13

1 A HISTÓRIA DA CIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA ---------------------------------- 17

1.1 A HISTÓRIA DA CIÊNCIA E O ENSINO DE CIÊNCIAS -------------------------------- 18 1.2 LIMITES E POSSIBILIDADES DA UTILIZAÇÃO DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA NO ENSINO ------------------------------------------------------------------------------------------------ 21 1.3 SUBSÍDIOS PARA O USO EDUCACIONAL DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA NA DISCIPLINA DE BIOLOGIA ----------------------------------------------------------------------- 23

2 EDUCAR, TRANSFORMAR E ENCANTAR ATRAVÉS DO CINEMA -------------- 26

2.1 UM POUCO DA HISTÓRIA DO CINEMA -------------------------------------------------- 27 2.2 AS IMAGENS DA CIÊNCIA E DOS CIENTISTAS NO CINEMA ----------------------- 29 2.3 O CINEMA E A SALA DE AULA ------------------------------------------------------------ 32 2.4 RECOMENDAÇÕES AO UTILIZAR FILMES NA EDUCAÇÃO ------------------------ 37

3 UM OLHAR ACERCA DA HISTÓRIA E CONCEPÇÃO DE CIÊNCIAS NO ENSINO MÉDIO ------------------------------------------------------------------------------------ 40

3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA ----------------------------------- 41 3.2 DESCRIÇÃO METODOLÓGICA ------------------------------------------------------------- 45 3.3 FILMES UTILIZADOS -------------------------------------------------------------------------- 47

3.3.1 A vida de Louis Pasteur ------------------------------------------------------------------- 47 3.3.2 Madame Curie ------------------------------------------------------------------------------ 48 3.3.3 E a vida continua --------------------------------------------------------------------------- 49 3.3.4 O Óleo de Lorenzo ------------------------------------------------------------------------- 51 3.3.5 Contato --------------------------------------------------------------------------------------- 53 3.3.6 Greystoke - A Lenda de Tarzan, O Rei da Selva ------------------------------------- 54

3.4 PROBLEMATIZAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE NATUREZA DA CIÊNCIA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ---------------------------------------------------------------- 56

4 GUIA PRÁTICO PARA O USO DE FILMES COMERCIAIS EM SALA DE AULA 67

4.1 INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------- 67

12

4.2 HISTÓRIA DA CIÊNCIA: UMA RE-LEITURA DO PASSADO: POSSIBILIDADE DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E CONTEXTUALIZADA NO ENSINO DE CIÊNCIAS --------------------------------------------------------------------------------------------- 68 4.3 ENSINANDO CIÊNCIAS E ENCANTANDO A PARTIR DAS LENTES DO CINEMA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 70

4.3.1 Roteiro para passar vídeos em sala de aula -------------------------------------------- 71 4.4 FILMES NO ENSINO DE CIÊNCIAS: ANÁLISES E PROCEDIMENTOS ------------- 74

4.4.1 Proposta metodológica para o uso de filmes em sala de aula ----------------------- 74 4.4.1.1 Filme A vida de Louis Pasteur -------------------------------------------------------- 74 4.4.1.2 Filme Madame Curie ------------------------------------------------------------------- 76 4.4.1.3 Filme E a vida continua ---------------------------------------------------------------- 77 4.4.1.4 Filme O Óleo de Lorenzo -------------------------------------------------------------- 79 4.4.1.5 Filme Contato --------------------------------------------------------------------------- 80 4.4.1.6 Filme Greystoke - A Lenda de Tarzan, O Rei da Selva ---------------------------- 82

4.5 SUGESTÕES DE FILMES PARA APRENDER SOBRE CIÊNCIAS -------------------- 83 4.5.1 Relação de alguns filmes comerciais que apresentam pontos para se discutir a História da Ciência na Educação Básica ------------------------------------------------------ 84

CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------- 99

REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------- 107

APÊNDICES ----------------------------------------------------------------------------------------- 107

APÊNDICE A ---------------------------------------------------------------------------------------- 107

APÊNDICE B ---------------------------------------------------------------------------------------- 107

APÊNDICE C ---------------------------------------------------------------------------------------- 107

13

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Minha trajetória na educação se inicia quando, ao concluir o Ensino Médio, prestei

vestibular na URI - Santo Ângelo, para o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, área

que sempre me encantou pelo fascínio da descoberta, do entendimento e da compreensão do

mundo e da vida que o estudo dela pode proporcionar.

Ao sair da graduação, no ano de 2002, e iniciar minha atividade docente, observava

que o encantamento e interesse por essa área, muitas vezes não era visível nos alunos da

Educação Básica, porém não conseguia encontrar uma explicação para esse questionamento.

Outro fato que me incomodava era o pouco tempo para trabalhar essas disciplinas e, sempre,

com o foco voltado à preparação para o vestibular.

Já no mestrado, durante as aulas de História da Ciência Aplicada ao Ensino, na

leitura dos livros e artigos que tratavam desse assunto, visualizei nessa área uma possibilidade

de entendimento e compreensão para a problemática observada no ensino de ciências e

biologia. Até o ingresso no mestrado, não fizera contato com essa linha de pensamento, pois

na graduação não foram abordados assuntos referentes à História e Filosofia da Ciência.

A partir dessas reflexões, a hipótese mais recorrente era a de que a forma como se

ensina/aprende ciências e biologia não possibilita ao estudante conceber a ciência como algo

além de um corpo de conhecimento. Sem um adequado entendimento do papel da ciência e da

construção do conhecimento científico no contexto escolar, a ciência surge como algo dado,

pronto, realizado por seres geniais, sem possibilidade de questionamentos e, em vista disso,

sem desafios e encantamentos para o estudante. Possivelmente, isso seja decorrente da

ausência dessas discussões na formação de professores da área, pois apenas recentemente,

algumas universidades estão inserindo na base curricular dos cursos de licenciatura da área

científica a disciplina da História e Filosofia da Ciência.

Nesse contexto, surgiu o problema da pesquisa: Como problematizar a concepção de

ciência e do fazer científico com a finalidade de melhorar a educação científica na Escola

14

Básica? Uma das hipóteses apontadas por pesquisas da área da educação em ciências, dentre

as quais a tese de minha orientadora (SCHEID, 2006), sugere a introdução da História da

Ciência. Mas, como abordar essa história quando dispomos de poucos materiais didáticos para

tratar esse assunto com estudantes da Educação Básica de forma que eles se sintam motivados

para participar das discussões? Então novamente a revisão de pesquisas na área de Educação

em Ciências apontou a possibilidade de utilizar filmes comerciais como instrumentos para

promover essas discussões.

Assim, elaborei o projeto de pesquisa com o objetivo de avaliar a contribuição que o

cinema pode possibilitar na introdução da História da Ciência para problematizar a concepção

de ciência e do fazer científico promovendo a melhoria da educação científica desde a escola

básica. Juntamente com a colaboração de estudantes ao final da Educação Básica, busquei

algumas respostas para esses questionamentos desenvolvendo, com três turmas de alunos de

terceiro ano do Ensino Médio, o projeto “Cinema e Educação”. Utilizando filmes comerciais

para discutir o papel da ciência e dos cientistas no processo de construção do conhecimento

científico, procurei propor algumas discussões e reflexões sobre o ensino da História da

Ciência nas salas de aula da Educação Básica.

Este trabalho está estruturado da seguinte forma: primeiramente abordo a História e

Filosofia da Ciência, dando importância à inserção dessa disciplina nos vários níveis de

educação, já que pode contribuir de maneira significativa no aprendizado dos conteúdos

científicos. Aponto também as dificuldades e os cuidados que o professor deve ter ao abordar

a História da Ciência em sala de aula. A partir daí, apresento uma breve história do cinema, a

visão da ciência veiculada por essa mídia e a utilização do cinema como ferramenta

pedagógica, que pode contribuir nas discussões acerca da concepção e do papel da ciência e

dos cientistas na sociedade.

Demonstrando a potencialidade do cinema comercial para discutir ciências e ensinar

conteúdos na área da Biologia, em um terceiro momento é apresentado o projeto, os dados

coletados e as análises da pesquisa realizadas com os alunos da Educação Básica.

Posteriormente, apresento as considerações sobre este trabalho e, finalmente, uma proposta de

âmbito didático-pedagógico para trabalhar e discutir a História da Ciência usando o cinema na

sala de aula.

No primeiro capítulo deste trabalho, mencionei a importância da introdução da

História da Ciência (HC), como um caminho viável para a alfabetização científica, colocando

de lado a visão popular equivocada do processo científico: descontextualizado, fragmentário e

dogmático. MARTINS (2006, xx), com relação à História da Ciência, chama a atenção para o

15

fato de que “talvez, seja agora um momento adequado de introduzir na educação científica,

em todos os níveis – começando pela formação dos docentes e do pessoal de nível superior,

para poder atingir depois outros níveis de educação e uma população mais ampla.”

Partindo dessa premissa, julgo importante conhecer a concepção que os alunos da

Educação Básica têm acerca da ciência e dos processos da ciência para incentivar neles o

gosto pela ciência.

Dessa forma, torna-se importante enveredarmos pelos caminhos da ciência,

conhecendo seus vieses e atalhos. Entendo que a ciência não é neutra, que é falível, feita por

pessoas sujeitas a erros e que é mutável. Percebo também que seus conhecimentos podem

perdurar por muito tempo, mas que novas concepções podem surgir derrubando teorias até

então tidas como absolutas e imutáveis.

Nos últimos anos, várias pesquisas registram a importância da inclusão, nos

currículos, da História da Ciência vista em MATTHEWS (1995), MARTINS (2006),

ALFONSO-GOLFARB (2004) e SILVA C.P et al (2008) como forma de ensinar e

compreender melhor o ensino de ciências. Por outra parte, acredito que a investigação

científica possa instigar o desenvolvimento do pensamento científico, deixando de lado o

ensino da pseudo-história que acaba comprometendo e deformando o conhecimento da

ciência.

No segundo capítulo, busquei demonstrar que é possível discutir e ensinar História

da Ciência utilizando a sétima arte. O uso dos filmes comerciais na educação permite aos

educadores oportunizarem momentos diferenciados de aprendizagem aos educandos. O

cinema, por meio de suas obras, propicia reflexões sobre o desenvolvimento histórico-cultural

de uma sociedade. Com linguagem acessível e imagens, os filmes permitem aos estudantes

estabelecer conexões e representações para o entendimento dos conteúdos trabalhados em sala

de aula.

Busquei, a partir do terceiro capítulo, verificar como os estudantes visualizam o

conteúdo do filme e que concepção de ciência eles têm. Para isso, utilizamos entrevistas em

dois momentos: uma antes e outra após o projeto “Cinema e Educação”. Nesse projeto, foram

utilizados seis filmes comerciais com potencial para problematizar as concepções de natureza

da ciência apresentadas pelos alunos, selecionados a partir de Oliveira (2005, 2007). Antes de

cada sessão, foi encaminhado um texto com sinopse e análise do filme para leitura prévia, de

forma a orientar a discussão do mesmo. Os filmes escolhidos eram de três gêneros: filmes

biográficos; dramas fundamentados em casos reais e ficção científica. Posteriormente, foi

feita a categorização e análise dos dados.

16

Ao pensar a utilização de filmes - em especial nas aulas de Biologia - como um

recurso que desperta nos educandos interesse e curiosidade, elaborei uma proposta para o uso

de filmes comerciais em sala de aula, como tarefa final do Mestrado Profissionalizante e que é

apresentada no quarto capítulo. Nessa proposta, apresento reflexões acerca da importância

para compreender o que é/faz a ciência, além de dicas para o uso de filmes; análises de filmes;

sugestão de procedimentos pedagógicos para análise de um filme. Disponibilizo um roteiro

(Apêndice C) para ensinar os professores a realizar recortes de filmes com o programa

computacional Movie Maker, que possibilita ao docente utilizar apenas partes do filme. Tenho

a intenção de publicar esse guia prático e divulgá-lo em escolas públicas.

17

1 A HISTÓRIA DA CIÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Conhecer a ciência tem demonstrado ser uma enorme aventura intelectual. Conhecer sua história constitui, muitas vezes, um gostoso garimpar nos rascunhos do passado, vendo o quanto cada civilização se desenvolveu até um determinado estágio para poder enfrentar os desafios da natureza (CHASSOT, 2004, p.09).

A História da Ciência busca mostrar a origem de um determinado fato científico

invenção/descoberta e como o mesmo ocorreu, quais os motivos e em que contexto histórico e

cultural isso aconteceu. A História da Ciência deve, segundo Silva et al. (2008, p. 498) ser

“uma história que apresente a ciência em toda a sua historicidade, como prática social e

cultural realizada por seres humanos imersos numa cultura”.

Nesse sentido, a História da Ciência reconhece um passado histórico, reflete sobre o

presente e aproxima-se do futuro, pelo entendimento de que

Conhecer o passado histórico é tão importante quanto conhecer o presente ou mesmo o futuro, pois é pelo passado que os seres humanos são julgados, e é por este passado, que somos conhecidos. Ter o conhecimento e refletir sobre o passado das ciências implica em saber mais sobre quais são as suas origens e seus erros e muito mais, conhecer-se a si mesmo. Desta forma, conhecer a história da construção dos principais episódios científicos, que são objetos de estudos das Ciências, faz da disciplina de Biologia um instrumento que vem contribuir para uma melhor formação de professores e alunos e suas atuações em salas de aula. A abordagem histórica aproxima cognitivamente o conhecimento científico do conhecimento comum (OLIVEIRA, 2009, p.17).

Hoje, muito discutida e pesquisada, a História da Ciência (HC) torna-se um caminho

viável para a alfabetização científica, colocando de lado a visão popular equivocada de como

ocorre o processo científico: de forma descontextualizada, fragmentária e dogmática.

Ao abordar a inserção da História da Ciência na educação de nível básico e superior,

percebe-se que há alguns problemas a serem resolvidos, como a falta de material didático

adequado e a carência de pessoal especializado em História da Ciência. Martins (2006)

adverte que, quando utilizada de forma inadequada, a história da ciência pode tornar-se um

empecilho ao bom ensino de ciências. De acordo com Alfonso-Goldfarb (2004), não basta

juntar História e Ciência para que o resultado final seja História da Ciência.

Conforme Martins (2006), a História da Ciência apresenta uma visão a respeito da

natureza da pesquisa e do desenvolvimento científico que não se costuma encontrar no estudo

didático dos livros científicos. Ao pensar em educação científica, surge a dúvida em torno de

que educação em ciências está se buscando: Uma que resgate o verdadeiro processo de

18

construção do conhecimento com seus procedimentos e suas limitações ou aquela que pincela

fatos e cita passagens bem sucedidas dos cientistas?

Nos últimos anos, várias pesquisas já vêm relatando a importância da inclusão nos

currículos da História da Ciência (MATTHEWS, 1995; MARTINS, 2006; ALFONSO-

GOLFARB, 2004; SILVA, C.P et al, 2008). Como forma de ensinar e compreender melhor o

ensino de ciências, a investigação científica pode instigar o desenvolvimento do pensamento

científico, deixando de lado o ensino da pseudo-história definida por Baldinato e Porto:

Como aproximação de uma história simplificada, que seleciona aspectos relevantes da história quase sempre caindo no erro por omitir fatos e interpretações que acabam por comprometer e deformar o conhecimento. É notório que um professor precisa conhecer a fundo a sua disciplina para promover um ensino de qualidade (BALDINATO E PORTO, 2009, p.84).

É assim que Matthews (apud Quintal e Morais) expressa sua opinião sobre esse

assunto:

A história, a filosofia e a sociologia podem humanizar as ciências e aproximá-las dos interesses pessoais, éticos, culturais e políticos da comunidade; pode tornar as aulas de ciências mais desafiadoras e reflexivas, permitindo desse modo, o desenvolvimento do pensamento crítico (2009, p.76).

Uma das metas das Universidades é ter o ensino e a pesquisa como ferramentas

para melhorar a formação dos futuros docentes, contribuindo para que tenham uma visão mais

rica e dinâmica da ciência. Essas instituições esperam, dessa forma, favorecer a postura dos

docentes em aula, o que pode contribuir para uma prática centrada na formação de um aluno

crítico e criativo.

1.1 A HISTÓRIA DA CIÊNCIA E O ENSINO DE CIÊNCIAS

O conceito de ciências como objeto de investigação histórico vem sendo redefinido e

tem merecido novas abordagens. Desde os anos 50 do século XX, a ciência ainda é vista com

um olhar tradicional de neutralidade, infalível, constituída por cientistas abnegados e geniais.

Essa visão dogmática e divorciada do contexto social compromete a mudança de postura

daqueles que demonstram gosto e interesse pela ciência, conforme Silva (2008).

Estudar a História da Ciência é compreender suas relações com outros domínios,

suas limitações e sua natureza:

19

[...] insubstituível na formação de uma concepção adequada sobre a natureza das ciências, suas limitações, suas relações com outros domínios. Esses episódios podem mostrar grandes sucessos e também grandes fracassos do esforço humano para compreender a natureza; a contribuição titânica de alguns cientistas, acompanhada, no entanto por muitos erros gigantescos das mesmas pessoas, o papel de uma multidão de pesquisadores obscuros no desenvolvimento de importantes aspectos das ciências; o processo gradual de formação das teorias, modelos, conceitos e do próprio método científico; a existência de teorias alternativas, de controvérsias, de revoluções que lançam por terra concepções que eram aceitas (por bons motivos) durante muito tempo; a permanência de dúvidas mesmo com relação a teorias que eram bem corroboradas; a influência de concepções filosóficas, religiosas e o papel da tradição e preconceitos injustificados no desenvolvimento das ciências; e muitos outros aspectos da dinâmica das ciências (MARTINS, 2006, xx).

A História da Ciência não tem todas as respostas, mas esta pode, de acordo com

Matthews (1995), contribuir para superação do mar de falta de “significação” que se diz ter

inundado as salas de aulas de ciências quando se buscou compreender seu desenvolvimento

ao longo dos anos. Essa abordagem para o ensino tem dado origem a uma linha de pesquisa

importante na área em nível internacional, com fortes reflexos no Brasil.

Matthews (1995) cita que, nos últimos anos, se verifica uma crise no ensino

contemporâneo de ciências. Na tentativa de reverter tal panorama, alguns países como

Inglaterra e Estados Unidos implementaram programas educacionais, como por exemplo, o

Novo Currículo Nacional Britânico de Ciências e o Projeto Americano 2061 de Diretrizes

Curriculares, planejado pela Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS).

Embora de naturezas distintas, ambos apresentavam propostas com vistas ao engajamento da

História, Filosofia e Sociologia (HFS) no ensino de ciências nos cursos de ensino fundamental

e médio, como alternativa para uma visão mais rica e abrangente das questões históricas,

filosóficas e sociológicas que permeiam a construção da ciência.

É notória a preocupação que pesquisadores e governos têm com a inserção da

História da Ciência no ensino, na busca de melhor qualidade do processo ensino-

aprendizagem. Reforça-se, dessa forma, o pensamento de Matthews (1994) que sintetiza da

seguinte forma a utilidade da introdução de tópicos em História, Filosofia e Sociologia no

ensino de ciências, pois estes:

• podem humanizar as ciências e estabelecer a conexão com problemas

pessoais, éticos, culturais e políticos; • podem permitir o desenvolvimento de habilidades de raciocínio e de

pensamento crítico; • podem contribuir para uma melhor compreensão dos conceitos

científicos; • podem melhorar a formação dos professores permitindo-lhes uma

compreensão mais rica e autêntica da ciência e de seu lugar nos esquemas intelectuais e sociais;

20

• podem facilitar a compreensão dos professores sobre as dificuldades dos estudantes para a aprendizagem de conceitos científicos;

• podem contribuir em debates atuais sobre temas educacionais, por exemplo, sobre o desenvolvimento sustentável, a biotecnologia, a engenharia genética e suas implicações éticas (...) (MATTHEWS, 1994, p. 7).

A preocupação com um ensino de ciências contextualizado, que supere a demarcação

entre o ensino dos conteúdos científicos e o de seus contextos de produção, já aparece como

algo discutido desde 1950. Essa referência é dada por Matthews (1995, p. 171), citando o

eminente historiador da ciência da Universidade de Harvard, Bernard Cohen, que

argumentava a favor da introdução de material histórico nos programas das faculdades de

ciências, “para se adquirir um conhecimento mais sólido da história da ciência (...) tornando

as aulas mais ricas e profundas além de mais interessantes para (...) os estudantes”.

Assim, a contextualização dos conteúdos da ciência é algo que envolve muita

pesquisa e dedicação, além de discussões que permitam ressaltar as diferentes perspectivas e

pressupostos implícitos da Ciência, de forma a compreender e entender sua natureza. Na

verdade, a História da Ciência pode ser um recurso didático útil, contribuindo para mudar o

ensino de Biologia/Ciência na Educação Básica. Prestes e Caldeira (2009), afirmam que

textos com linguagem adequada aos estudantes, informações históricas corretas e bem

fundamentadas, discussão histórica mais aprofundada do assunto que relatem o modo como

os cientistas trabalham, a construção dos modelos e teorias propostas pelos cientistas, assim

como seus diferentes conceitos, métodos e limitações permitem ao estudante compreender

como se processa o conhecimento científico e o papel da ciência ao longo dos séculos,

tornando a aprendizagem mais interessante e atrativa.

Seguindo essa linha de pensamento:

O problema hermenêutico de interpretação na história da ciência, longe de dificultar ou impedir o uso da história, pode tornar-se uma boa ocasião para que os alunos sejam apresentados a importantes questões de como lemos textos e interpretamos os fatos, isto é, ao complexo problema do significado: a partir de seu dia a dia, os alunos sabem que as pessoas vêem as coisas de formas diferentes; portanto, a história da ciência constitui-se num veículo natural para se demonstrar como esta subjetividade afeta a própria ciência (MATTHEWS, 1995, p.177).

Corroborando a importância da inserção da História da Ciência no Ensino de

Ciência, Martins (1998, p. 18) menciona que “a História da Ciência deve ser utilizada como

um dispositivo didático útil para tornar o Ensino Médio mais interessante, facilitando sua

aprendizagem”. Logo, a utilização da História da Ciência no Ensino Médio pode contribuir

para:

21

- mostrar, por meio de episódios históricos, o processo gradativo e lento de

construção do conhecimento, permitindo uma visão concreta da natureza real da ciência, seus

métodos, suas limitações. Isso possibilitará a formação do espírito crítico fazendo com que o

conhecimento científico seja desmistificado sem que se destrua seu valor;

- mostrar, por meio de episódios históricos, que ocorreu um processo lento de

desenvolvimento de conceitos até chegar às concepções aceitas atualmente, o que facilita o

aprendizado do educando que poderá perceber que suas dúvidas são pertinentes ao conceito

em questão;

- levar o educando a ter a chance de perceber que a aceitação ou não de uma proposta

não depende do seu valor intrínseco, mas sim de outros valores sociais, filosóficos, políticos e

religiosos.

1.2 LIMITES E POSSIBILIDADES DA UTILIZAÇÃO DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA NO

ENSINO

O estudo da História da Ciência possibilita uma re-leitura do passado, com um olhar

mais atento e crítico, desmistificando as concepções ingênuas sobre as ciências. Martins

(2008) assegura que esse novo conhecimento não se difundiu adequadamente, e que talvez

seja o momento apropriado para a introdução na educação científica em nível superior, para

posteriormente atingir outros níveis de educação e uma população mais ampla.

Diversos autores como GIL PÉREZ (1993); MATTHEWS (1995) e VANNUCCHI

(1996) convergem nessa direção, defendendo e expondo razões para a presença da História e

Filosofia da Ciência (HFC) nas salas de aula dos diversos níveis de ensino. Nessa linha, as

recentes reformas educacionais em nosso país apontam a necessidade da contextualização

histórico-social do conhecimento científico, o que implica considerar a contribuição da

História e Filosofia da Ciência no ensino de Ciências. Os Parâmetros Curriculares Nacionais

(BRASIL, 1998), cujas diretrizes estabelecem regras com ênfase na interdisciplinaridade, na

ligação com o cotidiano, no desenvolvimento de competências e no aprendizado de conteúdos

importantes para o exercício da cidadania e trabalho, demonstram interesse de aproximar a

História da Ciência e o ensino de ciências.

Dentro dessa perspectiva:

A História e Filosofia da Ciência surgem como uma necessidade formativa do professor, na medida em que pode contribuir para: evitar visões

22

distorcidas sobre o fazer científico; permitir uma compreensão mais refinada dos diversos aspectos envolvendo o processo de ensino-aprendizagem da ciência; proporcionar uma intervenção mais qualificada em sala de aula (MARTINS, 2007, p.115).

O professor precisa saber lidar com o material que tem à mão, e “para avaliar o

conteúdo da História da Ciência presente nos livros didáticos, é necessário que ele, em algum

momento de sua formação, seja apresentado às questões historiográficas da ciência”

(BALDINATO e PORTO, 2009, p.84).

A simples consideração de elementos históricos e filosóficos na formação inicial de

professores das áreas científicas, ainda que feita com qualidade, não garante a inserção desses

conhecimentos nas salas de aula do ensino básico, tampouco uma reflexão mais aprofundada,

por parte dos professores, do papel da História e Filosofia da Ciência para o campo da

didática das ciências, segundo Martins (2007).

Compreende-se que muitos são os obstáculos apresentados aos professores da

Educação Básica, assim como para os pesquisadores da área. Para que a História da Ciência

desempenhe efetivamente o papel que pode e deve ter no ensino, as principais barreiras, de

acordo com Martins (2008), são: a carência de um número suficiente de professores com

formação adequada para pesquisar e ensinar de forma correta a história das ciências; a falta de

material didático adequado (textos sobre História da Ciência) que possa ser utilizado no

ensino; e os equívocos a respeito da própria natureza da História da Ciência e seu uso na

educação.

Diante do exposto, deve-se ter clareza que abordar a História da Ciência em sala de

aula não é uma tarefa fácil, pois, na tentativa de inseri-la na aprendizagem dos estudantes,

podem acontecer simplificações e distorções das informações. Conforme Silva et al (2008,

p.500) “as imagens que temos da ciência são forjadas desde muito cedo, nos primeiros anos

escolares”. Dessa maneira, os professores já têm uma imagem positivista da ciência como

produto acabado e não como um processo que envolve pessoas comuns, contextos concretos e

debates. Assim, um correto entendimento da estrutura e dinâmica científica é essencial no

ensino de Ciências, pois contextualiza o ensino historicamente, permitindo ao aluno a

compreensão da dinâmica da ciência e da produção do conhecimento científico, já que o

desenvolvimento “da ciência dá-se tanto por fatores internos à própria ciência quanto por

fatores externos, ou extra científicos” (SILVA, et al., 2008, p.498).

É assim que, considerando que a História da Ciência é uma atividade humana

influenciada por suas aspirações social, política e cultural. Nesse sentido, Pumfrey (1991,

23

apud Silva e Martins), lista alguns importantes componentes da visão contemporânea sobre a

pesquisa científica que podem ser apreendidos por meio da História da Ciência:

1. Uma observação significativa não é possível sem uma expectativa pré-

existente. 2. A natureza não fornece evidências simples o suficiente que permitam

interpretações sem ambigüidade. 3. Teorias científicas não são induções, mas sim hipóteses que vão

necessariamente além das observações. 4. Teorias científicas não podem ser provadas. 5. O conhecimento científico não é estático e convergente, mas sim

mutável e sem fim. 6. Uma formação prévia dentro de um mesmo paradigma é uma

componente essencial para que haja acordo entre os cientistas. 7. O pensamento científico não se constrói sem influência de fatores

sociais, morais, espirituais e culturais. 8. Os cientistas não constroem deduções incontestáveis, mas sim

julgamentos complexos e especializados. 9. O desacordo é sempre possível (2003, p.54).

São esses componentes que nos possibilitam a oportunidade de enriquecer nossas

aulas, a partir da discussão crítica acerca da construção do conhecimento científico para uma

apresentação da História da Ciência adequada diante de todo o seu desenvolvimento,

favorecendo a contextualização dos conteúdos trabalhados.

1.3 SUBSÍDIOS PARA O USO EDUCACIONAL DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA NA

DISCIPLINA DE BIOLOGIA

Algumas propostas surgem como ferramentas didáticas com o intuito de

desmistificar e desconstruir a imagem de ciência como uma coleção de curiosidades

científicas, eventualmente utilizadas como fonte de exemplos quando não como um conjunto

de anedotas. Ao abordar a História da Ciência em sala de aula, esta pode ser vista como uma

construção humana, suscetível à influência de fatores externos, de natureza social, econômica,

cultural e de época.

Matthews (1995) ressalta, ainda que seja importante salientar que não se pretende,

nas mudanças curriculares, que se substitua a Ciência pela História da Ciência, o que se

pretende é que o aluno reflita sobre o conhecimento que está sendo construído.

Como o texto acima está um pouco confuso, resolvi reescrevê-lo abaixo, tentando

melhorar o sentido dele. Caso concordes com a mudança, é só apagar o texto anterior. Veja se

é isto que queres dizer:

24

Matthews (1995) aconselha que se substitua o ensino a Ciência pelo da História da

Ciência. É importante salientar, no entanto, que não se pretende fazer isso nas mudanças

curriculares. O que se pretende é que o aluno reflita sobre o conhecimento que está sendo

construído.

Com uma visão mais adequada do desenvolvimento da Ciência, o estudante terá a

oportunidade de compreender e expressar sua opinião acerca da construção do conhecimento

científico, familiarizando-se com a linguagem científica e desmistificando a visão de que a

ciência é algo “inacessível ou feita por gênios”.

Nesse sentido, é importante relembrar as afirmações de Oliveira (2009), segundo o

qual:

Quando os alunos discutem a origem dos conceitos ou de um episódio

científico e sua transformação ao longo do tempo, reconhecem mais facilmente tais conceitos como objetos passíveis de construção.

Ao buscarem o estabelecimento do diálogo entre o presente e o passado, os alunos transitam com mais naturalidade entre as ideias. Sentem mais autorizados a formular explicações mais significativas ou em nível mais profundo.

Deixam de se contentar com a mera repetição de definições ou formulações que não são suas, para as quais sequer construíram sentido; de forma a facilitar a entrada deste aluno no universo sofisticado da ciência muitas vezes visto por ele como inacessível (OLIVEIRA, 2009, p.41 - 42).

É preciso salientar que deve haver um estudo historiográfico apropriado, que

considere as rupturas ocorridas nos caminhos da ciência, mas que analise suas continuidades,

a fim de evitar aquelas tão conhecidas classificações anacrônicas que rotulam as ciências

antigas como pré ou pseudociência (ALFONSO-GOLFBARD, 2004).

Nesse sentido, conhecer o passado histórico e a origem do conhecimento é um

fator importante para que os alunos percebam os vários percursos dos cientistas para

formularem suas hipóteses e teorias, assim como demonstrar que as teorias científicas não

surgem a partir do nada, pois sempre há um conhecimento anterior, que inquieta, provoca a

dúvida, a curiosidade e o desejo de pesquisa. Oliveira (2009) assevera que o estudo adequado

de alguns episódios históricos permite compreender as inter-relações entre Ciência,

Tecnologia e Sociedade, mostrando que a Ciência não é um segmento isolado dos outros, mas

faz parte de um desenvolvimento histórico, de uma cultura, de um mundo humano, sofrendo

influências e influenciando, por sua vez, muitos aspectos da sociedade. Segundo esse autor:

A História e Filosofia da Ciência não podem substituir o ensino comum das Ciências, mas podem complementá-lo de várias formas. Mostrar por exemplo, somente a molécula pronta do DNA, e o nome dos seus criadores, sem relacionar os fatos que os levaram ao resultado, nos dão uma falsa impressão de que a Ciência

25

está fora do tempo, que surge com mágica e que está à parte das outras atividades humanas. “Assim, o estudo deste mesmo conteúdo contextualizado permite compreender as inter-relações entre Ciências, Tecnologia e Sociedade, mostrando que a Ciência não é isolada, mas sim que ela faz parte de um estudo histórico (OLIVEIRA, 2009, p.45).

Assim, no segundo capítulo, serão apresentadas as concepções encontradas na

literatura sob a ótica de vários autores acerca da utilização do cinema, dos papéis da ciência e

a maneira como esta é divulgada por esse veículo midiático. Também serão debatidas as

potencialidades do cinema para a educação em Ciências.

26

2 EDUCAR, TRANSFORMAR E ENCANTAR ATRAVÉS DO CINEMA

“Ensinar não é transmitir conhecimento, mas permitir que o educando construa seu próprio saber” (FREIRE, 1996).

A população, em especial os jovens, está constantemente recebendo novas

informações, advindas de diversas fontes, como a televisão, os jornais, o rádio, a internet.

Diante desse novo contexto, o professor deve buscar novas ferramentas para dinamizar sua

atividade docente tornando a busca do conhecimento, para o estudante, uma atividade

motivadora, instigante e prazerosa, em que haja comparação entre o que está aprendendo em

sala de aula e os assuntos vivenciados e debatidos na sociedade.

O mundo contemporâneo exige a presença de pessoas com um aguçado senso crítico

para enfrentar as novas formas de linguagens que a sociedade oferece. Frente aos avanços

tecnológicos e científicos, é necessário ampliar os horizontes do conhecimento por intermédio

dos novos meios de comunicação que a sociedade apresenta. Tal afirmativa questiona o papel

da educação e coloca em cheque a postura tradicional da escola.

Frente a essa situação que se esboça, surgem as dúvidas em torno de como

desenvolver a atividade pedagógica, que quase sempre esteve voltada para uma aprendizagem

mecânica, em que o professor era o detentor do conhecimento, para uma atividade holística

voltada para o todo e não apenas ao conhecimento fragmentário, ou seja, uma atividade

interessada no desenvolvimento de um indivíduo crítico e responsável. Essa deve ser uma

atividade que procure tornar a sala de aula, e em especial a disciplina de Biologia, um

momento de busca, de investigação, de construção de saberes, como cita Paulo Freire (1996).

Diante de tantas dúvidas e desafios que o século XXI - também designado como o

século da tecnologia e da informação - apresenta, o professor pode recorrer a um recurso não

tão recente, como o cinema que, por meio da associação entre imagens e sons, fascina e

encanta plateias em todo o mundo há mais de um século, para discutir e relacionar os

conteúdos, tornando-os mais próximos e acessíveis aos educandos. Para Oliveira e Rezende

(2007), o cinema é um meio de comunicação que possui ampla diversidade temática em seus

filmes, podendo constituir-se como veículo que proporciona discussões sobre os mais

variados assuntos.

Em um mundo cada vez mais pautado pela imagem, nada melhor do que a utilização

dela própria para desmistificar estereótipos e despertar uma visão crítica diante das

possibilidades que este recurso oferece, considerando que:

27

O filme é uma fonte muito valiosa de relação entre a realidade e o conteúdo da aprendizagem formal, pois se trata de uma forma de linguagem mais próxima e distinta das utilizadas normalmente nas aulas (BARROS PAULINO E, 2006, p.13).

Além disso, é preciso concordar com a ideia de que:

O cinema ao ser incorporado à educação surge como um elemento que possibilita a aprendizagem, garantindo com isso uma participação na atividade educativa. Por isso, o uso do cinema no âmbito escolar como instrumento de aprendizagem deve considerar as necessidades e desejos, atribuindo-lhes, inclusive, um potencial papel pedagógico a ser explorado pelo professor (DANTAS, 2007, p.05).

Conforme o pensamento exposto pelos autores citados entende-se que a educação

pode abordar o cinema como instrumento, objeto de conhecimento, meio de comunicação e

meio de expressão de pensamentos, arte e sentimentos. Os filmes apresentam um potencial

que pode integrar, informar, educar e divertir, gerando conhecimento e envolvendo

professores e alunos.

Foi nesse sentido que se buscou em Barca (2005) e Costa (2006) os fundamentos a

partir dos quais é apresentada uma síntese histórica do Cinema.

2.1 UM POUCO DA HISTÓRIA DO CINEMA

Considerado a sétima arte, o cinema encanta e fascina os espectadores

proporcionando-lhes momentos de entretenimento, uma vez que propicia prazer e diversão e

momentos pedagógicos, pois ao possibilitar aquisição de conhecimento, os filmes

oportunizam períodos lúdicos, em que as imagens, os sons e os efeitos especiais permitem que

a plateia vivencie as cenas, se sentindo parte integrante da história. Os filmes também são

fontes de informação, quando relatam, por meio de suas histórias, a realidade, o

comportamento social e a situação econômica e política da época em que foram produzidos.

A história do cinema registra o fascínio do homem desde tempos muito remotos,

pelas imagens em movimento. Segundo Barca (2005), no século XVIII, o alemão Athanasius

Kircher, inventou a lanterna mágica – uma caixa composta de uma fonte de luz e lentes que

enviavam imagens fixas para a tela – invento considerado o verdadeiro precursor do cinema.

No ano de 1833, o britânico W. G. Horner criou o zootrópio, aparelho baseado na sucessão

circular de imagens que, ao serem giradas, davam a ilusão óptica de movimento contínuo. Em

28

1877, o francês Émile Reynaud inventou o teatro óptico, que juntou a lanterna mágica e

espelhos para projetar filmes de desenhos numa tela.

No final do século XIX, o norte americano Thomas Alva Edison (1847-1931)

construiu uma espécie de caixa metálica com uma fonte de luz e um visor, o quinestoscópio,

por meio do qual uma fita - filme de celulóide - passava 46 imagens por segundo gerando

sensação de movimento. Entretanto, é na França que nasce o cinematógrafo, inventado pelos

irmãos Luis e Augusto Lumière. A primeira apresentação pública de um filme feito por eles

aconteceu em 28 de dezembro de 1895, em Paris, onde foram projetadas apenas duas

pequenas filmagens, de aproximadamente um minuto cada, as quais causaram espanto no

público presente. Uma delas foi a chegada de um trem à estação, e a outra, a saída de

operários da fábrica Lumière.

Costa (2006) cita que, quando o cinema apareceu, por volta de 1895, não possuía um

código próprio e estava misturado a outras formas culturais como os espetáculos de lanterna

mágica, o teatro popular e os cartuns. Esses aparelhos eram exibidos como novidades em

demonstrações nos círculos de cientistas, em palestras ilustradas, misturados a outras formas

de diversões populares como: circos, parques e espetáculos. Os primeiros 20 anos do cinema

encontram-se relacionados com os divertimentos populares.

Por serem negociantes, os irmãos Lumière foram os que ficaram mais famosos com o

invento do cinema, mas não foram os primeiros na corrida.

Não existiu um único descobridor do cinema, e os aparatos que a invenção envolve não surgiram repentinamente num único lugar. Uma conjunção de circunstâncias técnicas aconteceu quando, no final do século XIX, vários inventores passaram a mostrar os resultados de suas pesquisas na busca da projeção de imagens em movimento (COSTA, 2006, p.18).

Conforme a autora, a invenção do cinema está ligada ao empresário Thomas Alva

Edison, que trabalhava com uma equipe de técnicos em seus laboratórios em West Orange,

New Jersey. Após ele ter visto a câmera produzida por Ettiénne-Jules Marey em Paris,

encarregou seus técnicos de construírem uma máquina que produzisse e mostrasse fotografias

em movimento. Em 1891, o quinestoscópio estava pronto e reproduzia filmetes nos quais

apareciam imagens em movimento de números cômicos, animais amestrados e bailarinas. Em

dezembro de 1895, em local estratégico - O Grand Café de Paris - aonde as pessoas iam

encontrar amigos, beber, ler jornais e assistir a apresentações, os irmãos Lumière

apresentaram, ao público francês, o cinematógrafo. A partir desse momento, inicia-se uma

disputa pelo mercado do cinema entre a família Lumière, Thomas Edison, Georges Mélies e

29

Charles Pathé, dono da Companhia Pathé que comprara as patentes dos Lumière e a Star Film.

A companhia Pathé se estabeleceu como produtora e distribuidora de filmes, dominando o

mercado mundial de cinema até a Primeira Guerra Mundial.

Surgindo em meio às outras formas de cultura anteriormente citadas, o cinema

passou a ser visto como um instrumento capaz de reproduzir fielmente a realidade e

proporcionar sensações jamais imaginadas, como as dos filmes em terceira ou quarta

dimensão. Ao longo dos anos e, com o avanço da tecnologia no século XX, o cinema se

transformou numa máquina de sonhos, cada vez mais sofisticada, ditando modos e costumes

para a população.

Para Oliveira (2006, p 134), a vivacidade das imagens e sua reprodutibilidade

facilitaram sua aceitação como pura representação da realidade. Mesmo sabendo que são

cenas montadas, a magia e o encantamento do fluxo de imagens fazem o espectador reagir

como se fosse a própria realidade.

2.2 AS IMAGENS DA CIÊNCIA E DOS CIENTISTAS NO CINEMA

Ao assistirmos a um filme, estamos diante de um recurso que proporciona, por

algumas horas, momentos de entretenimento e, sem perceber, se estão recebendo mensagens

implícitas que irão, de alguma forma, formar ou reforçar conceitos e imagens acerca de

determinados assuntos referentes à Ciência, como assegura Oliveira (2006), quando remete à

formação do imaginário científico.

As transposições e as vivências que a linguagem cinematográfica possibilita são tão marcantes, que muitas vezes tornam-se referência de como a ciência e a técnica passam a percebidas por grande parte da sociedade. Mais do que aprendizagens derivadas das práticas educativas formais, as experiências vivenciadas nos filmes acabam compondo boa parte do arsenal simbólico através do qual a opinião pública passa a vislumbrar o alcance dos empreendimentos científicos e tecnológicos (OLIVEIRA, 2006, p.135).

Os filmes influenciam a representação do imaginário científico das pessoas,

reforçando a visão estereotipada da ciência dos cientistas que são tidos como: “trapalhão

genial, cheio de tiques, ridicularizado e incompreendido por seus alunos e pares”. (BARCA,

2005, p.31). Quando observamos, ao longo das décadas, os filmes que abordam o papel da

ciência e dos cientistas ou se referem a ele, consideramos que:

30

[...] todos esses tipos de filmes são históricos, tanto no sentido de refletirem o olhar de uma sociedade ou um grupo de uma determinada época, como no sentido de serem agentes históricos, enquanto elemento formador do imaginário social. Em ambos os sentidos, podem contribuir para a compreensão da história da ciência (idem, 2006, p.143).

É nesse sentido que concordamos com Barca (2005, p.33), quando afirma que “o fato

é que a maioria da população forma suas impressões sobre a ciência e os cientistas a partir do

que vêem na mídia, seja nos noticiários, seja em programas de entretenimento, como os filmes

e as telenovelas”.

Dada a ampla gama de filmes que abordam a ciência, para Barca (2005) que se

mostra apoiada no trabalho do sociólogo inglês Andrew Tudor - da Universidade de York,

EUA, autor do livro Monsters and mad scientists: a cultural history of the horror movie

(Monstros e cientistas malucos: a história cultural dos filmes de terror), publicado em 1989,

na Inglaterra - a análise e traços de alguns perfis dos cientistas e da trajetória da ciência em

diferentes épocas refletem a mudança das imagens no decorrer dos anos.

Em 1910, Thomas Edison filmou o curta Frankenstein, com base no personagem da

célebre novela da escritora inglesa Mary Shelley (1797-1851), publicada em 1818 e

considerada precursora da ficção científica. Na verdade, Victor Frankenstein foi o primeiro

cientista a fazer sucesso nas telas do cinema, embora muitos outros o tenham seguido,

causando maior ou menor impacto no imaginário das pessoas.

Entre os anos de 1931 a 1950, os filmes mostram homens comprometidos com a

ciência e ocupados em descobrir os segredos da vida, seja criando novos seres vivos, seja

modificando os já existentes.

Nos filmes da década de 1930, o cientista era um tipo esquisito, que vivia num

casarão ou castelo, em local afastado. A referência é, de novo, Victor Frankenstein. Em

meados da década de 30, a medicina era a face mais visível da ciência. O cientista típico era

uma mistura de clínico, cirurgião e pesquisador, cercado por uma parafernália de substâncias

e equipamentos bizarros, capazes de render inquietantes cenários com retortas e tubos de

ensaio borbulhantes. Um exemplo de filme dessa época é “O médico e o monstro – Dr. Jekyll

and Mr. Hyde”. Em filmes como “A Ilha das Almas Perdidas” e “Dr. Moreau”, os cientistas

eram pessoas que queriam se sentir como deuses. Por essa razão, dedicavam-se a criar

homens a partir de animais.

No segundo período, de 1951 a 1964, o preço do progresso é o fio condutor de filmes

em que a ameaça é representada pelo uso da energia atômica. Com as imagens da destruição

de Hiroshima e Nagasaki, surge uma nova tendência no tratamento que o cinema dá à ciência

31

e à forma como seu avanço, uma ameaça à humanidade. O mundo descobre a existência de

homens vivos, inteligentes e respeitáveis produtores de conhecimento por trás dos feitos

militares. A bomba atômica é real, assim como os homens que a criaram.

No período pós-guerra, de 1945 até 1970, identifica-se outro estereótipo nos filmes

ingleses: a figura do técnico/cientista a serviço do governo ou dos militares, num filme que

retrata essa realidade, “Dr. Fantástico”, ou “Como aprendi a parar de me preocupar e comecei

a amar a bomba”, datado de 1964.

É assim que a visão de futuro, nos filmes da década de 1960, aparece marcada pelas

sombras de uma sucessão de guerras atômicas. Os sobreviventes desses conflitos são jovens

sem sentimentos, criados em ambiente de conforto e fartura. O filme que expõe esse

pensamento é “A máquina do tempo”, de 1960.

Já nos anos seguintes, a inspiração no cinema vem da Guerra Fria, quando os filmes

de espionagem mostram a ascensão do cientista especialista em armas, principalmente as

nucleares. É o caso do primeiro filme do agente britânico 007, personagem criado pelo

escritor inglês Ian Fleming (1909-1964).

Nos anos de 1965 a 1976, os filmes conferem menor importância à ciência. Mais de

60% desses filmes mostram o Governo, as Forças Armadas ou grandes empresas utilizando a

ciência como ferramenta, um meio de chegar a seus objetivos de poder ou lucro. O cientista,

quando aparece, tem papel secundário e, algumas vezes, é ridicularizado. Um exemplo de

filme que retrata esta temática é “Westworld”, em 1973.

É também nesse período que o cinema provoca impacto na sociedade com um dos

mais inquietantes filmes de ficção científica de todos os tempos: “2001: Uma Odisséia no

Espaço” (1968), do cineasta norte-americano Stanley Kubrick. Todavia, a partir de 1970, os

cientistas malucos ainda aparecem, mas, na maioria dos filmes, são os acidentes ou os

resultados colaterais de experiências científicas que provocam danos ao planeta e à população.

São filmes como “Viagens alucinantes” de 1980 e “A Mosca”, de 1986. “Os meninos do

Brasil” de Ira Levin (1978) é filme de ficção científica que aborda a clonagem humana a

partir de experimentos de Josef Mengele.

Na década de 80, Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, de 1981, inaugura

uma fase em que o cientista assume papéis mais ousados e simpáticos nas telas. Ele é o herói

e aventureiro que utiliza seus conhecimentos para resolver mistérios e salvar o mundo. É,

também, o professor fascinante que desperta paixões nos alunos e, principalmente, nas alunas.

Já na segunda metade da década de 1980, o cinema nos apresenta um cientista atrapalhado e

genial que faz experiências divertidas e bastante arriscadas, mas que sempre aparece no

32

momento certo para evitar consequências de maior gravidade para o seu jovem amigo e

cobaia, como em “De volta para o futuro I”, de 1985; e seus sucessores, II e III.

Considerando-se a novidade, os cientistas conquistaram a simpatia do público com heróis

aloprados e divertidos, sempre empenhados em novas experiências, que quase nunca dão

certo. É o caso do atrapalhado inventor Wayne Szalinski de “Querida, encolhi as crianças”,

datado de 1988.

É na década de 1990 que as conquistas da engenharia genética fazem uma brilhante

trajetória nas telas. O filme “Jurassic” mostra os cientistas das duas versões do filme que,

metade do tempo, ficam maravilhados com as conquistas obtidas e a outra metade fugindo das

consequências das mudanças que provocaram.

Por outra parte, a genética também é tema de filmes sobre o futuro da humanidade e,

somente na última década do século 20, surge um personagem do sexo feminino

representando o papel de uma cientista.

A Dra. Ellie Arroway, do filme “Contato”, de 1997, é uma cientista obstinada, que

conquistou status e reputação entre seus pares e estabeleceu relações profissionais importantes

para os seus objetivos de carreira.

Outras mulheres cientistas aparecem em filmes de boa bilheteria na década de 1990.

Exemplos aparecem em “Asteróide” e em “Mutação” ambos de 1997.

Esta pequena amostra de filmes demonstra a diversidade de papéis que o cientista representou no cinema ao longo de um século. Certamente tais filmes, de alguma forma, influenciaram entendimento público sobre a ciência e ajudaram a construir as representações da sociedade sobre os cientistas (BARCA, 2005, p.38).

2.3 O CINEMA E A SALA DE AULA

Atualmente um dos dilemas da educação é encontrar métodos que possibilitem o

desenvolvimento de práticas na sala de aula para auxiliar na aprendizagem, estimulando os

alunos e proporcionando a elevação do rendimento escolar. Nesse contexto, os educadores

deparam-se com um desafio - desenvolver habilidades que permitam acesso e controle das

tecnologias e seus efeitos - para que, dessa forma, tornem sua atividade docente dinâmica e

significativa, facilitando o processo de ensino-aprendizagem.

Segundo Barbosa:

33

[...] a Tecnologia, que toma raízes na Ciência, constitui a ponte que a liga à realidade, nela testando a sua operatividade e eficácia práticas. Sob este prisma, o nosso século, mais do que uma era da Ciência, parece apresentar-se antes como uma verdadeira Civilização da Tecnologia: a tecnologia confirmando a ciência na exata medida em que, aplicando os seus ditames, nos permite agir sobre a realidade concreta e modelá-la, até à escala planetária (BARBOSA, 1995, p.20).

Ao buscar novas abordagens que culminem em estratégias e reflexões para inovar a

produção do conhecimento, a utilização do cinema surge como instrumento de reflexão na

sala de aula e meio inesgotável de possibilidades de criação e produção do saber. Napolitano

(2005) entende que o cinema tem sempre alguma possibilidade para o trabalho escolar.

Assim, a utilização do cinema, oportuniza ao aluno entender os conteúdos ou

fenômenos que, apenas explicados pelo professor, seriam mais difíceis de compreender. O

que se percebe, no trabalho com o filme em sala de aula, é que o cinema aproxima o estudante

do cotidiano e de novas linguagens e o transporta para outros mundos. Nessa troca, acaba (re)

conhecendo personagens que antes eram encontrados apenas nos livros e nas explicações do

professor.

Os filmes também possibilitam situações impossíveis como, por exemplo, nos filmes

de ficção científica. E, diante de tantas possibilidades e do momento tecnológico vivenciado,

pensar a utilização do cinema em sala de aula, principalmente nas disciplinas de

Ciências/Biologia como um instrumento de apoio ao ensino e complemento de aprendizagem,

é voltar-se ao trabalho com a ampliação da visão de mundo e a visibilidade da ciência. Essa

prática é, porém, desafiadora, uma vez que a utilização desse recurso requer atenção e cuidado

para corrigir distorções e erros que a obra cinematográfica possa apresentar.

Conforme Scheid (2008a), o cinema oferece importantes possibilidades de estudos

nessa área, pois alguns filmes podem promover o questionamento de concepções de ciências,

enquanto outros podem ser utilizados para ampliar informações e facilitar a compreensão da

produção do conhecimento científico.

Para Moran (2002), a televisão e o vídeo partem do concreto, do visível, do imediato,

do próximo, daquilo que toca todos os sentidos. Assim, a eficácia dos meios eletrônicos, em

particular da televisão, se deve também à capacidade de articulação, de superposição e de

combinação de linguagens diferentes – imagens, vozes, música, escrita – com uma narrativa

fluída. Ao utilizarmos filmes como recursos pedagógicos, estamos possibilitando a promoção

de debates e de reflexões a respeito dos temas trabalhados, de forma mais interessante e

prazerosa.

34

Scheid e Araújo (2008) reiteram que, por serem atraentes para os jovens estudantes,

os filmes podem ser um ótimo recurso didático, quando determinados aspectos são utilizados

para propor questões, ampliar informações, motivar o estudo de um tema e facilitar a

compreensão de alguns processos.

É assim que o cinema exerce, igualmente, uma expressiva influência cultural no

mundo. O papel do filme na sala de aula é provocar uma situação de ensino e aprendizagem,

na qual a imagem cinematográfica esteja a serviço da investigação e da crítica a respeito da

sociedade em que vivemos. Portanto, cabe ao professor auxiliar o aluno a refletir criticamente

sobre as mensagens do filme, pois, conforme Napolitano (2005),

Ao usar os filmes como recurso pedagógico, o professor deve ter alguns cuidados como: as possibilidades técnicas e organizativas na exibição de um filme para a classe; a articulação com o currículo e/ou conteúdo discutido, com as habilidades desejadas e com os conceitos discutidos; a adequação à faixa etária e etapa específica da classe na relação ensino-aprendizagem (NAPOLITANO, 2005, p.16).

Nesse sentido, o filme na educação escolar representa uma possibilidade de

organização e de controle da técnica. Adequando a temática do recurso ao currículo escolar, o

professor adentra na possibilidade da reflexão, da discussão e demais propriedades, motiva os

alunos ao estudo do tema e facilita compreensões.

Desse modo, o professor aguça da curiosidade do aluno tornando concreto aquilo que

é subjetivo nos conteúdos presentes nos livros didáticos, pois a utilização de filmes aparece

como veículo de comunicação e expressão da sensibilidade humana no ambiente escolar.

Nesse sentido, o professor pode explorar vários conteúdos, assim como as distorções e visões

tendenciosas apresentadas no enredo da história,que, às vezes, passam despercebidas ao olhar

do espectador. Assim, o campo de abrangência do audiovisual mostra-se muito diversificado e

passível de uma série de encaminhamentos para diferentes áreas.

Acreditamos, assim, que os múltiplos olhares acerca do cinema permitem considerar

que um dos motivos de sua importância didático-pedagógica decorra do fato de ele ser um

objeto em relação ao qual se encontram ligados os saberes historicamente construídos, e que

“provavelmente tecem, por intermédio de diferentes temporalidades e contextos, o seu

significado social presente, na forma de um saber prático, de como os indivíduos sentem,

apreendem e interpretam o mundo” (DANTAS, 2007, p.07).

Essa mesma perspectiva aparece em Oliveira quando afirma que:

35

Numa cultura inteiramente permeada pela expectativa de progresso científico e inovações tecnológicas é natural que os meios de comunicação projetem perspectivas semelhantes. Não apenas documentários e ficções científicas exprimem os conhecimentos desejados e os alcançados, mas até mesmo os dramas (profundos ou tolos) e as comédias revelam a penetração da ciência em nossa cultura. Isso faz dos filmes um ótimo material para análise da cultura e também para a compreensão da história da ciência (OLIVEIRA, 2006, p.135).

Diante desses aspectos, o professor deve criar as possibilidades para que os

educandos aprendam, disponibilizando condições favoráveis para o desenvolvimento das suas

faculdades humanas como criatividade, linguagem, memória, expressão corporal e atenção.

Mesquita e Soares (2008, p. 419) ponderam que sob esse enfoque se reafirma a

importância do papel do professor, pois “é ele que deve conduzir, com destreza e

competência, o processo de aproximar a realidade da sala de aula à realidade do aluno, com o

objetivo de tornar significativa a aprendizagem de conteúdos”. Na verdade, ao trazer o cinema

para a sala de aula, o professor de Biologia pode propiciar aos alunos um espaço de debate e

análise das obras cinematográficas, que trazem questões polêmicas presentes na sociedade

atual, assim como discutir o papel da ciência e dos cientistas veiculado pelos filmes.

Aprender ciências significa aprender não apenas o conteúdo científico ou o seu

conhecimento substantivo, mas também compreender os métodos investigativos das ciências

e sua dinâmica com a sociedade, com a política e com a economia. Assim, a Biologia vista

como ciência tem papel preponderante diante de temas de bioética e de tecnologias, bem

como de assuntos ligados à cognição e desenvolvimento humano. Entendendo-se o

conhecimento científico como uma das fontes e formas de interpretar a realidade, o filme

propicia um diálogo entre diferentes formas de conhecimento, fazendo uma ponte entre ficção

e realidade e fortalecendo a sala de aula como espaço de discussão e reflexão.

Os filmes de ação, ficção e drama podem ser explorados pelos professores para

apresentar e discutir ideias e conceitos científicos, desmistificando muitos conceitos errôneos

que os alunos têm a respeito da Ciência ou de conteúdos científicos, considerando que, para a

população em geral, a ciência é muito abstrata e distante do seu cotidiano.

Menéndez e Medina (s.d., p.3) asseveram que os filmes são um novo espaço, pois

outorgam grande valor ao mundo simbólico. São, na verdade, fontes de informação sobre a

ocasião em que foram produzidos, refletindo a realidade política e social daquele momento. E,

é assim que, ao utilizarmos filmes em sala de aula, estamos proporcionando aos alunos a

oportunidade de refletir sobre questões sociais, políticas, culturais ou históricas, com

diversidade e originalidade. Dessa forma, o cinema propicia a ampliação de mundo e o

conhecimento de outras realidades.

36

Rocco (1989) propõe que, ao analisarmos a linguagem televisiva da ludicidade, que

recobre o discurso desses textos, podemos partir para o contraponto do questionamento da

mensagem veiculada, iniciando um processo de crítica às figuras e aos arquétipos que nos

chegam. Assim, a importância da utilização dos filmes como instrumentos didático-

pedagógicos em sala de aula pode ser avaliada a partir dos efeitos, encantos, desejos que as

imagens e sons trabalhados despertam nos alunos. Isso porque a imagem, seja ela qual for,

possibilita a desconstrução, a construção, a contextualização e a relativização quando

associada ao cotidiano das pessoas.

Ao usar o cinema como um instrumento de auxílio pedagógico, podemos questionar

e debater com os alunos a respeito da percepção que estes apresentam sobre a complexidade

da construção de fatos científicos, concepção e história da ciência. Muitas vezes, como citam

Silva et al. (2008, p.499), a história da ciência retratada nos filmes é um tipo de história que

não passa de cronologia, de uma sequência de fatos, datas e de “gênios de avental branco”

confinados a laboratórios e bibliotecas.

Os filmes podem ser, assim, importantes instrumentos para contribuir na elaboração

de uma adequada concepção de natureza da ciência, colaborando para um melhor

entendimento da mesma por alunos e professores. O uso do cinema pode contribuir para

estabelecer um elo entre a concepção de Ciência e a História da Ciência, buscando

desmistificar o conceito de ciência infalível.

No entanto, para que este trabalho seja significativo e obtenha o resultado esperado -

que é a promoção de questionamentos que propiciem ao educando uma adequada

compreensão da natureza da ciência distinguir, analisar criticamente e refletir acerca das

visões distorcidas, positivistas sobre a ciência e os cientistas no conteúdo da obra

cinematográfica - Oliveira chama a atenção dos professores para:

Um dos desafios a ser enfrentado no ensino de ciências é o de evitar uma visão ingênua e deturpada da ciência na formação dos estudantes. Embora não haja um consenso sobre os aspectos cruciais da ciência e nem acerca do que seria mais importante a ser ensinado, o fato é que muitos dos trabalhos em história, sociologia e filosofia da ciência vêm reforçando a necessidade de uma renovação no ensino de ciências de forma a mostrar não só a importância, mas também as dificuldades e incertezas da atividade científica (OLIVEIRA, 2007, p.02).

A atividade científica mostra-se, então, envolta nesses desafios que conduzem à

discussão e ao hábito da reflexão como compromisso na arte de educar, encantar e

transformar por meio do cinema.

37

Mesquita e Soares alertam os educadores que enfrentam esse desafio no ensino de

ciência:

[...] que para conduzir uma discussão sobre este tema, com propriedade e sem correr risco de propagar idéias incorretas, ao professor de ciências não resta alternativa senão a de desenvolver, ao longo do seu trabalho docente, o hábito do estudo, da reflexão, e o compromisso com uma educação que privilegie o ser ao invés do ter, e a compreensão ao invés da informação (MESQUITA E SOARES, 2008, p.427).

Nessa perspectiva, ao utilizar os filmes em sala de aula, o professor está propondo

uma alternativa à tentativa de tornar o ensino de ciências um ensino significativo e prazeroso

na vida dos jovens. Buscando um ensino e aprendizagem voltados para o diálogo,

afetividade, interação e construção do conhecimento.

Nessa confrontação entre o que está se aprendendo em sala de aula e os assuntos

econômicos, sociais, políticos e culturais, se percebem as exigências de um mundo

contemporâneo situado em novas formas de linguagens, tecnologias e cientificidade.

2.4 RECOMENDAÇÕES AO UTILIZAR FILMES NA EDUCAÇÃO

Hoje a televisão tornou-se o meio de comunicação predominante, que determina

regras e valores, uma vez que se apresenta como um importante meio cultural na sociedade e

consegue atingir a grande maioria dos lares. Na verdade, há uma cultura audiovisual

eletrônica proporcionando aos jovens informações, valores, saberes, outros modos de ler e

perceber o mundo.

Currículos escolares tentam ignorar que fora de sala de aula às crianças muito aprendem sobre o mundo, que a informação que a mídia lhes lega é acessível. A escola é solicitada a estimular competências não para simplesmente ler, interpretar, mas para compreender meios e mensagens audiovisuais que os jovens consomem e com os quais se envolvem afetivamente (CARNEIRO, sd, p. 01).

Levando em conta essa visão, a escola deve desenvolver nos alunos competências

para analisar, selecionar e criticar as mensagens veiculadas pela mídia. E por que não utilizar

o cinema como recurso para fazer essas análises? Alguns autores como Moran (1995),

Napolitano (2005), Dantas (2007), Scheid (2008), Scheid e Araújo (2008), e Oliveira (2007)

convergem na opinião de que os filmes são ferramentas que podem auxiliar no processo de

38

aprendizagem, uma vez que, em suas histórias, utilizam imagens e uma linguagem mais

acessível relacionada à cultura cotidiana dos estudantes.

Pelo vídeo sentimos, experimentamos sensorialmente o outro, o mundo, nós mesmos. O vídeo desenvolve um ver entrecortado, com múltiplos recortes da realidade, através dos planos e muitos ritmos visuais. O vídeo combina a comunicação sensorial-cinestésica com a audiovisual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão (MORAN, 1995).

Entende-se, assim, que o aproveitamento pedagógico do cinema implica

planejamento didático-pedagógico do professor que deve, primeiramente, conhecer as

potencialidades e restrições do filme escolhido, para saber se este apresenta possibilidades de

construção de conhecimento ou é impróprio para esse fim, evitando quaisquer problemas

quanto à indicação da faixa etária, qualidade do vídeo, tempo de duração e equipamentos

necessários para a reprodução.

Com relação à seleção de filmes, Sousa (2005) tem a seguinte concepção: “o filme é

como um texto que deve ser lido, analisado e criticado pelo estudante”. Entende que a sua

seleção deve ser tão rigorosa quanto a de qualquer outra fonte pedagógica de conhecimentos,

cujo exemplo notório é o livro didático.

Moran (1995, p 29-30) chama atenção para algumas formas inadequadas do uso dos

filmes em sala de aula,

Vídeo tapa-buraco: colocar vídeo quando há um problema inesperado,

como ausência de professor, pode ser útil, mas utilizado com freqüência associa na cabeça do aluno a não ter aula;

Vídeo enrolação: exibir um vídeo sem muita ligação com o conteúdo. O aluno percebe que o vídeo é usado como forma de camuflar a aula;

Vídeo deslumbramento: o professor que acaba de descobrir o uso do vídeo costuma empolgar-se e passa vídeo em todas as aulas. O uso exagerado do vídeo diminui a sua eficácia e empobrece as aulas;

Vídeo perfeição: existem professores que questionam todos os vídeos possíveis, porque possuem defeitos de informação ou estéticos. Os vídeos que apresentam conceitos problemáticos podem ser usados para descobri-los junto com os alunos, e questioná-los;

Só vídeo: não é satisfatório didaticamente exibir o vídeo sem discuti-lo, sem integrá-lo com o assunto de aula, sem voltar e mostrar alguns momentos mais importantes.

De acordo com essas perspectivas, Napolitano (2005) enfatiza que o educador deve

buscar alguns procedimentos básicos para selecionar os filmes e sugere algumas abordagens

como: os conteúdos disciplinares tradicionais; a interdisciplinaridade, na qual diferentes

disciplinas estejam integradas às atividades do filme; trabalho com tópicos como sugerem os

39

Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs; temas transversais e atividades elaboradas com

base na linguagem e nos elementos narrativos do filme.

Na verdade, o cinema é mais um recurso que o professor tem ao seu alcance, mas

não substitui os demais, apenas os complementa e serve de apoio para enriquecer e

problematizar as discussões acerca de certos assuntos e conteúdos.

O professor é um mediador, que deve propor leituras mais ambiciosas além do puro lazer, fazendo a ponte entre a emoção e razão de forma mais direcionada, incentivando o aluno a se tornar um espectador mais exigente e crítico, propondo relações de conteúdo/linguagem do filme com o conteúdo escolar (NAPOLITANO, 2005, p.15).

No próximo capítulo, será apresentado um olhar e uma reflexão sobre o ensino de

ciências na Educação Básica e as possibilidades do uso de filmes comerciais na educação

como um recurso didático passível de discussão sobre ciência.

40

3 UM OLHAR ACERCA DA HISTÓRIA E CONCEPÇÃO DE CIÊNCIAS NO

ENSINO MÉDIO

Ao iniciar as aulas no curso de pós-graduação, fomos apresentados à disciplina A

História da Ciência, com concepções e visões de ciência e cientista. Aí surgiu uma situação

de dúvidas e questionamentos em torno da questão: “para uma aluna de mestrado, havia essas

incertezas acerca da epistemologia da ciência, e como esse conhecimento estaria sendo

abordado/trabalhado nas escolas de Educação Básica?” ou “como os alunos enxergavam a

ciência e qual era o papel desempenhado pela mesma na sociedade?”.

Movida por essas dúvidas e motivada por minha orientadora, desenvolvi o projeto

Cinema e Educação em duas escolas de Educação Básica do município de Guarani das

Missões - RS. A finalidade desse estudo foi buscar respostas para minhas incertezas e

questionamentos, pensando numa proposta para auxiliar o ensino de Ciências na escola e

contribuir com ele, com base em uma abordagem de conteúdos contextualizados, usando o

cinema como ferramenta de apoio pedagógico. Nesse sentido, esta ferramenta representa

elemento que objetiva promover situações pela qual os educandos possam compreender e

discutir os caminhos e vieses da Ciência, a forma como se processa o conhecimento

científico, participando ativamente no processo de ensino, e não apenas aceitando

passivamente o conhecimento, sem questionar ou ousar pensar que poderia ser diferente.

Para Chassot (2004), a Ciência é uma linguagem construída para tentar explicar o

mundo natural. Já Vanucchi (1996, p.14) assegura que “o conhecimento apropriado da

Ciência envolve não apenas seus produtos-leis, teorias - mas, também o conhecimento dos

processos da Ciência – seus métodos, suas estruturas de desenvolvimento”.

Para introduzir nossas ideias nesse campo tão vasto e polêmico que é o da educação

científica, buscamos o respaldo em Chassot que assim leciona:

Há nesse momento a necessidade de se pensar a ciência com posturas mais holísticas – isto é, uma ciência que contemple aspectos históricos, dimensões ambientais, posturas éticas e políticas, e também encharcada no estudo dos saberes popular e nas dimensões da etnociências, - proposta que traz nítidas vantagens, especialmente se pensarmos na ciência que se aprende como um saber escolar (CHASSOT, 2004, p.257).

Assim, a presente pesquisa tem como foco a compreensão sobre a contribuição que

os filmes comerciais podem proporcionar como instrumentos para abordar aspectos da

41

História da Ciência e, por meio desses aspectos históricos, problematizar a concepção de

Ciência contribuindo para a melhoria do ensino de Biologia.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Esta pesquisa baseou-se na busca e análise de dados. Os estudantes que colaboraram

com ela eram alunos do terceiro ano do Ensino Médio de duas Escolas Públicas de Educação

Básica do município de Guarani das Missões – RS. O trabalho empírico teve início no

primeiro semestre do ano de 2010, com três turmas envolvidas, duas do horário diurno e uma

do horário noturno, totalizando quarenta alunos.

A cidade de Guarani das Missões – RS está localizada nas Missões, região Noroeste

do Estado do Rio Grande do Sul e tem uma população de 8.115 habitantes. A base da

economia do município é a agricultura e a pecuária. O setor da indústria está representado por

uma fábrica de couro e outra de beneficiamento de sementes. Por ser uma cidade pequena, em

sua sede há duas escolas municipais e duas estaduais que compõem a rede de ensino. Uma

delas oferece o Ensino Médio regular e a outra, o Ensino Médio regular e o Curso Técnico em

Agropecuária. Esta tem 1.100 alunos matriculados, recebendo estudantes de toda a região

missioneira, que vêm buscar, nesse educandário, além do Ensino Médio, o aperfeiçoamento

técnico para ajudar nas pequenas propriedades de onde são oriundos. Pretendem lançar-se no

mercado de trabalho também em outros estados brasileiros.

Dentre os 40 estudantes que participaram da pesquisa, observou-se uma expressiva

incidência de jovens, na faixa dos 15 aos 19 anos, com predominância do sexo feminino, 26

meninas e 14 rapazes. O quadro 01 mostra os dados referentes a sexo e idade dos

entrevistados.

Idade 15 16 17 18 19 20 21 22 33 48 Sexo

masculino 03 05 02 03 01

Sexo feminino

03 13 04 02 01 01 01 01

TOTAL 03 16 09 04 03 01 01 01 01 01 Tabela 01: Distribuição idade e sexo dos sujeitos da pesquisa

Fonte: pesquisa empírica (SANTOS, 2010).

Ao indagar-lhes se gostavam da disciplina de Biologia, 90% (36 alunos) dos

entrevistados responderam afirmativamente e 10% (4 alunos) declararam não gostar dessa

42

disciplina. Os quatro sujeitos que não gostam da disciplina são do sexo masculino e estudam à

noite. Em conversas paralelas, alegaram que a disciplina era, às vezes, muito difícil, com

terminologia complicada. Mas foram unânimes ao responder que gostam de assistir filmes,

que consideram importante o uso dos filmes em sala de aula para melhorar a compreensão de

certos conteúdos e facilitar a aprendizagem. Além disso, disseram acreditar que as telas do

cinema podem contribuir para aprender ciência de uma forma mais dinâmica e prazerosa.

Os alunos assistem aos filmes com certa frequência:

Gráfico 01: Frequência com que os alunos assistem a filmes

Fonte: pesquisa empírica (SANTOS, 2010).

Ao analisar os dados obtidos no gráfico 01, observamos que os dados podem ser

diferentes, pois os alunos escolheram mais de uma opção como resposta. Assim, 42% dos

sujeitos assistem a filmes com a frequência de uma vez por semana, e 35% de três a quatro

vezes por semana. Um entrevistado não respondeu e o outro afirmou que não assiste a filmes,

alegando como justificativa o fato de que sua religião não permite isso; mesmo assim, essa

jovem participou do projeto, por ser uma atividade escolar e não uma atividade de lazer.

Rizzini (2005), em pesquisa realizada com 949 jovens do Rio de Janeiro, assegura

que, na categoria dos programas de que os jovens mais gostam de assistir na televisão, os

filmes aparecem com preferência de 20,1%, com relação a outros. O formato mais citado é a

teledramaturgia, preferência de 62% dos adolescentes respondentes.

43

Machado (sd, p.01), relata que “o segmento jovem é o maior consumidor de produtos

cinematográficos de acordo com várias pesquisas”. Conforme informações reiteradas pelo

Ibope em parceria com o site Filme B (www.filmeb.com.br):

O público que frequenta as salas de cinema do Brasil, divulgados através de estudo realizado na Universidade Federal de Pernambuco indicam que 33% dos espectadores têm até 20 anos de idade, 40% estão na faixa etária dos 21 aos 40 anos e 27% dos usuários de cinemas brasileiros têm 41 anos ou mais (MACHADO, s.d, p.1).

O acesso que os estudantes desta pesquisa têm aos filmes, na sua grande maioria,

acontece pela televisão e pela locação de DVDs em videolocadoras da cidade.

Gráfico 02: Acessos dos alunos aos filmes

Fonte: pesquisa empírica (SANTOS, 2010).

Os resultados demonstram que os jovens guaranienses encontram na tela da televisão

lazer e entretenimento, uma vez que no município não há salas de cinema e a mais próxima

fica na cidade vizinha de Santo Ângelo – RS, distante cerca de 40 km de Guarani das

Missões. Dentre os fatores elencados para justificar o fato de esses jovens não frequentarem o

cinema, destacam-se os seguintes: são menores de idade, são de baixa renda e existe

dificuldade de deslocamento, pois alguns moram no interior do município e dependem do

transporte escolar.

Há aqueles alunos que dominam o uso das tecnologias, e uma pequena parcela deles

dispõe de computador em casa, portanto, baixa da internet os filmes a que desejam assistir.

44

Cabe ressaltar, no entanto, que todos têm acesso a computadores, seja na escola, no

laboratório de informática ou nas lan houses da cidade, onde realizam pesquisas escolares,

jogam e frequentam sites de relacionamento.

Em trabalhos publicados, Rizzini e colaboradores (2005) e Carneiro (2007)

informam que, no Brasil, o computador ainda é um equipamento caro e, portanto, inacessível

para grande parte da população. A utilização das mídias e das novas tecnologias pela

população, em especial pelo público jovem, apontada pelo Censo do IBGE (2000), indica que

a televisão está presente nos lares da quase totalidade dos adolescentes. Só na área urbana da

região sudeste, 95,4% do total dos entrevistados declararam que dispunham de televisão em

suas casas. A TV é citada por 97% dos respondentes como uma das mídias que usam na maior

parte do tempo.

Esses dados confirmam uma tendência mundial que aponta a televisão como o

equipamento de comunicação de massa mais difundido, mesmo entre os setores mais

populares, pois no Brasil, como afirma Carneiro (2007), assistir à TV constitui o principal

lazer entre crianças e adolescentes. Cabe, portanto, pensar na televisão e no cinema como

possibilidades a favor da educação, pois:

O desafio de integrar a televisão às atividades curriculares consiste em trazer, das experiências televisivas dos alunos, a motivação para aprender os conteúdos curriculares, bem como prepará-los para ser mais seletivos e reflexivos diante da programação a que assistem em casa (CARNEIRO, 2007, p.199).

Diante do fascínio que o cinema provoca nos telespectadores, percebe-se que “o

mercado cinematográfico investe grandes quantias nesse setor, visando esse gordo e lucrativo

segmento de espectadores formado por crianças, adolescentes e jovens adultos” (RIZZINI,

2005; CARNEIRO, 2007).

Quanto às categorias elencadas pelos jovens participantes do projeto, a preferência é

por filmes de comédia, suspense, romance e ficção científica entre outros. É importante

ressaltar que cada aluno pode assinalar mais de uma categoria, conforme demonstra o gráfico.

45

Gráfico 03: Categoria de filmes citados pelos estudantes entrevistados

Fonte: pesquisa empírica (SANTOS, 2010).

3.2 DESCRIÇÃO METODOLÓGICA

A pesquisa teve como objetivo geral investigar como a História da Ciência,

apresentada pelo cinema, pode contribuir para a problematização das concepções da Natureza

da Ciência, proporcionando melhoria do ensino da disciplina de Ciências/Biologia. Os

objetivos específicos foram:

- verificar as concepções de Natureza da Ciência de alunos do Ensino Médio de duas

escolas de Educação Básica do município de Guarani das Missões – RS;

- problematizar as concepções de ciência apresentadas pelos alunos por meio da

análise da História da Ciência apresentada em filmes;

- avaliar filmes comerciais que possam ser utilizados como instrumento capaz de

possibilitar condições para a exploração de uma visão mais adequada da natureza, da

produção e evolução do conhecimento científico;

- contribuir para a melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem de

Ciências/Biologia.

Como anunciado, essa investigação foi realizada com a colaboração de 40 alunos de

ensino médio de duas escolas de Educação Básica da rede pública estadual no município de

Guarani das Missões – RS, região de abrangência da 14ª Coordenadoria Regional de

Educação (CRE). Antes de iniciar o trabalho, os sujeitos da pesquisa, depois de esclarecidos e

46

informados sobre os objetivos da investigação e sobre a forma como os dados poderiam ser

utilizados, foram consultados sobre sua disposição em participar dela.

Os dados foram coletados por meio da aplicação de questionário respondido

anonimamente. Os entrevistados foram identificados pelo sistema alfanumérico A1, A2,... An,

resguardando a identidade deles e a autoria das respostas.

Na primeira etapa da coleta de informações, foi utilizada a técnica do questionário

com questões abertas e fechadas, envolvendo todos os alunos que se dispuseram a participar.

O roteiro básico do questionário foi dimensionado em dois tópicos principais:

i) dados pessoais como idade, sexo, entre outros;

ii) questões para investigar as concepções apresentadas pelos alunos sobre a natureza

da ciência.

Na segunda etapa, foram utilizados seis filmes comerciais com potencial para

problematizar as concepções de natureza da ciência apresentadas pelos alunos, selecionados a

partir de Oliveira (2005, 2007). Em cada sessão, os alunos assistiram a um dos filmes e

discutiam sobre ele. Os filmes escolhidos foram de três gêneros:

Filmes biográficos: “A vida de Louis Pasteur” (EUA, 1936) e “Madame Curie”

(EUA, 1943);

Dramas fundamentados em casos reais: “E a vida continua” (EUA, 1993) e “Óleo de

Lorenzo” (EUA, 1992);

Ficção Científica: “Contato” (EUA, 1997) e “Greystoke, a lenda de Tarzan” (EUA,

1983).

Antes de cada sessão, era encaminhado um texto com uma sinopse e uma breve

análise do filme para leitura prévia. Após a realização de seis sessões com cada turma, foi

novamente aplicado o questionário inicial para investigar as concepções sobre natureza da

ciência presentes após essa etapa.

A população-alvo é representada por alunos do terceiro ano do Ensino Médio de duas

escolas (EA e EB) de Ensino Básico da rede pública estadual do município de Guarani das

Missões - RS, pertencentes à 14ª CRE.

A Amostra é de 12 alunos da turma TA da escola EA, que participaram às terças-

feiras durante o turno da manhã; 08 alunos da turma TB da escola EB, que frequentam as

sessões nas terças-feiras à tarde e mais 20 alunos do horário noturno dessa mesma escola,

totalizando 40 alunos.

47

O presente projeto de pesquisa teve parecer favorável para sua realização pelo

registro Nº 036-4/PPH/08 do Comitê de Ética em Pesquisa, da URI-Campus de Santo Ângelo,

emitido em 08/04/08.

3.3 FILMES UTILIZADOS

O enredo dos filmes escolhidos para o projeto revela a maneira como a ciência e os

cientistas são apresentados para o mundo, ajudando, muitas vezes, a constituir a imagem e os

conceitos que a sociedade faz deles. A seguir, serão apresentados os principais dados (sinopse

e ficha técnica) dos seis filmes, utilizando como referencial Oliveira (2005, 2007).

3.3.1 A vida de Louis Pasteur

Sinopse: Primeira produção que retrata a vida do cientista e químico francês Louis

Pasteur. A história começa em 1860, quando a França acompanha a morte de milhares de

mulheres durante o parto, assim como, posteriormente, a de seus bebês, vítimas de infecção.

Pasteur, que elaborava sua teoria sobre germes, recomenda aos doutores a esterilização e

higiene dos equipamentos médicos. Mas a Academia de Ciências e a sociedade não lhe davam

ouvidos.

Pasteur é duramente criticado por seus pares e, algumas vezes, acusado e

ridicularizado por defender suas ideias sobre microbiologia, intervindo em uma área à qual

não pertencia. A forte oposição e rejeição as pesquisas de Louis Pasteur, fizeram com que

deixasse Paris e se transferisse para o interior da França.

Passados dez anos, os rebanhos franceses morrem pelo ataque de uma bactéria, menos

na cidade onde vive Pasteur. A notícia chega até o governo, que envia representantes para

averiguar o motivo de os rebanhos daquela pequena cidade estarem livres do Antrax, também

conhecido como carbúnculo. Ao indagarem a população sobre a razão desse fato, os

representantes do governo descobrem que Pasteur aplica vacinas nos animais, o que os

protege contra a doença. Chabornnet tenta desmoralizar o trabalho do químico, convidando-o

para uma demonstração pública, que comprove a eficácia da vacina contra o Antrax. São

organizados dois grupos de animais, um dos quais é vacinado e o outro não. Passados alguns

dias, fica comprovada a eficiência da vacina: no grupo que não recebera a medicação todos os

animais estavam mortos. Os do grupo vacinado se encontravam vivos e saudáveis.

48

Pasteur sai vitorioso e retorna a Paris. Mas, agora, desenvolve suas pesquisas em um

laboratório maior e mais bem equipado, acompanhado por uma equipe de pesquisadores

mobilizada na descoberta da cura para a raiva.

Um dos pontos altos do filme acontece quando a filha de Pasteur entra em trabalho de

parto. Este sai em busca de um médico e, como não consegue nenhum, acaba procurando por

Chabornnet, que aceita fazer o parto, conforme as orientações de esterilização dos materiais

sugeridos por Pasteur, se o mesmo escrever uma carta pública rejeitando e negando suas

teorias e pesquisas sobre microbiologia. Pasteur aceita o acordo. Porém, após algum tempo,

contaminado com o vírus da raiva, Chabornnet acaba recorrendo a Pasteur para se tratar,

devolvendo-lhe a carta.

O segundo triunfo do cientista ocorre quando ele consegue salvar a vida de um menino

contaminado com o vírus da raiva e, posteriormente, cura um grupo de homens russos

aplicando-lhes a vacina antirrábica. Somente quando os russos percebem a genialidade do

cientista é que a França finalmente reconhece e honra seus trabalhos.

Ficha Técnica

Título Original: The Story of Louis Pasteur

Direção: William Dieterle

Ano: 1936

País: Estados Unidos

Gênero: Drama Biográfico

Duração: 87min

No filme “A vida de Louis Pasteur” temos a visão ingênua e romântica da ciência, na

qual o bem prevalece sobre o mal.

3.3.2 Madame Curie

Sinopse: O filme mostra o romance de Marie com seu marido Pierre, assim como

algumas partes de sua árdua pesquisa sobre os fenômenos radioativos. A trama desenvolve-se

na França do final do século XIX, quando muitos estudantes iam estudar em Paris. A jovem

polonesa Marie Sklodowska matricula-se na Faculdade de Ciências da Sorbonne. Apesar das

dificuldades em morar em um país estrangeiro e do preconceito masculino em relação a uma

mulher trabalhar com ciências, ela consegue êxito nos estudos acadêmicos, principalmente em

Matemática e Física. Com a ajuda de seu professor, Marie consegue um lugar no laboratório

49

de Pierre Curie para concluir suas pesquisas sobre o magnetismo dos aços. A presença

feminina de Marie incomoda Pierre, que, aos poucos, se encanta e apaixona-se por ela, uma

vez que os dois têm os mesmos interesses, objetivos e amor pela ciência. Na lua de mel,

decidem descobrir o que causa o estranho efeito que o Prof. Becquerel assinalou ser

provocado pelas pedras de urânio/tório. Após muitas experiências, descobrem que deve haver

mais elementos radioativos que aqueles dois, e tentam isolá-los.

Depois de vários anos de pesquisa sobre a radiação, em condições desumanas de

trabalho, o casal apresenta resultados de forma efetiva para um melhor conhecimento da

radioatividade e dos elementos radioativos. Em 1903, os pesquisadores Marie e Pierre Curie e

Henri Becquerel dividem o Prêmio Nobel de Física. O casal Curie fica mundialmente famoso.

Pierre morre atropelado. Marie torna-se a primeira mulher a ocupar uma cátedra na Sorbonne,

e continua seus estudos sobre radioatividade. Em 1911, a pesquisadora conquista seu segundo

prêmio Nobel, agora em química.

Ficha Técnica

Título: Madame Curie

Direção: Mervyn LeRoy

Ano: 1943

País: EUA

Gênero: Drama biográfico

Duração: 124min

Elenco: Greer Garson, Walter Pidgeon, Mary Whitty, Henry Travers, Albert

Basserman, Robert Walker, C. Aubrey Smith, Victor Francen, Reginald Owen, Van Johnson,

Margaret O Brien.

O filme “Madame Curie” foi baseado na biografia da cientista, escrita por sua filha

mais nova, Eve Curie. Nos filmes Madame Curie e Contato, a ficção apresenta a mulher

cientista e os preconceitos da academia e da sociedade com a presença feminina nessa área até

então dominada pelos homens.

3.3.3 E a vida continua

Sinopse: Esse filme é um misto de documentário e drama. De forma bastante didática,

segue os passos de uma equipe de cientistas americanos desde o surgimento da AIDS até a

virada da década de 90. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS é uma doença

50

que tem mobilizado muitos recursos científicos, dinheiro e atenção, pois o vírus HIV infecta

diariamente milhares de homens, mulheres e crianças no mundo.

Desfilam pela tela momentos e lugares que entraram para a história na luta contra essa

epidemia. Registra desde o fechamento das saunas de San Francisco que, na década de 70 e

início da de 80, eram lugares de encontro de gays, até as grandes passeatas em memória das

vítimas da doença. A disputa pela descoberta do vírus HIV, envolvendo o americano Robert

Gallo e o francês Luc Montagnier, também é acompanhada bem de perto. No centro da trama

está o galã Matthew Modine no papel do heroico pesquisador Don Francis, que, juntamente

com outros pesquisadores, encontram pelo caminho obstáculos como a falta de apoio do

governo, as vaidades no meio científico, o medo e a ignorância.

Ao surgirem os primeiros casos de AIDS, as pessoas consideravam essa doença um

grande mal de enorme propagação e consequências devastadoras, que atingia principalmente a

comunidade gay. Diante dessa situação, o Centro de Controle de Doenças (CDC), agência do

governo americano, por meio dos seus profissionais, sem saber exatamente do que se tratava,

detectou a doença, mapeou sua propagação e passou a investigar suas causas e possíveis

meios de controle.

À medida que a equipe da agência realiza os exames laboratoriais dos infectados, e

esses pesquisadores revelam diminuição ou até mesmo ausência das células T do sistema

imunológico, imaginavam que esse mal grave decorria do uso de certas drogas e estimulantes.

Alguns meses depois, no entanto, chegaram à explicação de que a transmissão da moléstia

ocorria por meio do sangue. Essa hipótese foi reforçada pelo surgimento de casos de

heterossexuais que haviam contraído a doença em transfusões sanguíneas.

A propagação acelerada da doença, o cômputo do número de infectados e mortos, o

descaso e preconceito do governo e sociedade, marcam o pulso da narrativa. Esses fatos

ajudaram a retardar os processos de pesquisa e identificação da doença. Enquanto os

homossexuais eram vistos como o único ou principal grupo de risco de contaminação,

ninguém dava muita atenção ao caso. No momento, porém, que a vulnerabilidade de outros

grupos da sociedade como os hemofílicos e usuários dos bancos de sangue são contaminados,

a sociedade, o governo americano e a imprensa são sensibilizados para a questão.

O filme foi baseado no livro And the band played on: Politics, people and the AIDS

epidemic, de Randy Shilts, um jornalista que descobriu que era soropositivo logo após ter

publicado seu livro em 1987. Sua adaptação para o cinema ajudou a divulgar a história da

pesquisa sobre o HIV e também a compreensão de aspectos políticos da prática científica.

Ficha Técnica

51

Título original: And the band played on

Título no Brasil: E a vida continua

Direção: Roger Spottiswoode

Ano: 1993 (DVD 2004)

País: EUA

Roteiro: Arnold Schulman

Duração: 140min

Elenco:

Matthew Modine (Dr. Don Francis)

Alan Alda (Dr. Robert Gallo)

Saul Rubinek (Dr. Jim Curran, chefe do CDC)

Glenne Headly (Dr. Mary Guinan)

Patrick Bauchau (Dr. Luc Montagnier)

Anjelica Huston (Dra. Selma Dritz de San Francisco)

Ian McKellen (deputado Bill Kraus)

B.D. Wong (Kico Govantes).

Drama e documentário interligam-se em “E a Vida Continua”, um filme de Arnold

Schulmann. Essa película proporciona discussões referentes ao histórico da doença conhecida

como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS, o preconceito e a falta de informação

da população acerca dessa doença e a compreensão de aspectos políticos da prática científica,

e da influência de setores externos na Ciência.

3.3.4 O Óleo de Lorenzo

Sinopse: O Óleo de Lorenzo, conta uma história verídica e comovente. É quando o

casal Odone toma conhecimento de que seu único filho é portador de uma doença genética

rara e terminal. Lorenzo tinha cinco anos de idade, quando começou a apresentar os primeiros

sintomas da doença, problemas de ordem mental, diagnosticados como adenoleucodistrofia-

ALD, doença extremamente rara que provoca uma incurável degeneração no cérebro e leva o

paciente à morte em, no máximo, dois anos. Os pais do menino ficam frustrados com o

fracasso dos médicos e a falta de medicamento para uma doença dessa natureza. Assim,

começam a estudar e a pesquisar sozinhos, na esperança de descobrir algo que possa deter o

avanço da doença.

52

Toda a família se envolve na busca da cura e compreensão da adenoleucodistrofia

(ALD), uma doença que, em poucos meses, acarreta demência, cegueira, surdez, paralisia e,

após dois anos, a morte. Após uma bateria de exames, os médicos diagnosticam Lorenzo

como portador de ALD, e explicam aos pais do garoto que a doença é causada pelo defeito na

enzima responsável pela decomposição de ácidos graxos de cadeia longa (C24 e C26). Se

estas não são decompostas, se acumulam no cérebro e destroem a mielina, uma substância

lipóide que envolve os neurônios, acarretando a destruição e degeneração da massa branca.

Além desse terrível diagnóstico, Micaela, mãe de Lorenzo, recebe a notícia do médico, de que

Lorenzo herdara dela esse gene. Como ele não se manifesta em mulheres, isso ocorre nos

meninos, filhos de mães portadoras. Nesse momento, Micaela sente-se muito culpada e

desorientada, se afasta de seus familiares, dedicando-se inteiramente aos cuidados do filho.

Por conta própria, os pais de Lorenzo iniciam uma incursão na literatura especializada

em bioquímica, para compreender e entender como se dá a interação entre os ácidos graxos

monoinsaturados e saturados. Eles buscam ampla literatura que fale sobre a bioquímica e a

doença e, enquanto isso, tentam encontrar respostas para a seguinte pergunta: Porque os níveis

de C24 e C26 no sangue aumentam, ao invés de diminuírem, quando a ingestão de alimentos

que contêm tais substâncias é interrompida? Enquanto pesquisam, Lorenzo é submetido a

dietas catastróficas, que não ajudam e sim agravam mais seu quadro clínico. Desesperada com

o avanço da doença e como o menino ficava cada dia mais debilitado, Micaela se desvela em

cuidá-lo e contar-lhe histórias sem tratá-lo como um vegetal, como alguns pais da Associação

de Pais de Portadores de ALD fazem com seus filhos.

Os Odones obtêm alguns pequenos sucessos em suas pesquisas, mas enfrentam os

olhares desconfiados tanto dos pais da associação quanto dos médicos. Em sua luta contra a

adenoleucodistrofia, empenham-se e mobilizam cientistas e pais em congressos para discutir o

assunto e encontrar uma possível cura para esta doença. Depois de alguns anos, os pais de

Lorenzo conseguem encontrar a solução para o enigma da atuação dos ácidos graxos e

consequentemente a cura para a ALD: o ácido oléico, hoje conhecido como o óleo de

Lorenzo. A atuação e perseverança dos pais de Lorenzo salvaram sua vida e de outras

crianças portadoras da doença. Este filme termina com depoimentos de portadores de ALD,

curados pela ação do óleo, até aquela época.

Ficha Técnica

Título original: Lorenzo's Oil

Direção: George Miller

Ano: 1992

53

País: EUA

Gênero: Drama

Duração: 135min

Estúdio: Universal Pictures

Distribuidora: Universal Pictures / UIP

Em O Óleo de Lorenzo, são visualizados os processos da ciência, a construção do

conhecimento científico, dificuldades, debates e disputas entre cientistas e a não neutralidade

da ciência. Fica claro que os pais de Lorenzo tinham conhecimento que os habilitaram a

buscar novas soluções. Mesmo não pertencendo a um grupo de cientistas como preconiza

Kuhn (1978), eles conseguiram criar um feito científico e sensibilizaram diferentes cientistas

que contribuíram para a identificação da doença e suas possíveis soluções.

3.3.5 Contato

Sinopse: Baseado no livro homônimo escrito em 1985 por Carl Sagan, “Contato”, o

filme dirigido por Robert Zemeckis, retrata a vida da radioastrônoma Elie Arroway (Jodie

Foster) interessada por sinais de vidas extraterrestres inteligentes. Para alcançar seu objetivo,

Ellie realiza observações de estrelas que ela considera candidatas a terem desenvolvido algum

tipo de civilização tecnologicamente avançada, que permita o envio de sinais pelo espaço. Seu

local de trabalho é o observatório de Arecibo, em Porto Rico.

Depois de perder o financiamento pela National Sciencie Foundation, Ellie e sua

equipe recorrem a patrocinadores privados, obtendo apoio de um excêntrico milionário,

Hadden. Após receber os recursos, as pesquisas são reiniciadas, com o uso do rádio

interferômetro da cidade de Socorro, no Novo México.

Ellie é considerada por muitos dos seus colegas como uma cientista inteligente,

talentosa e comprometida. Apesar disso, sua reputação é frequentemente questionada por

causa de sua escolha por um tema pouco comum de pesquisa, sendo às vezes chamada pela

imprensa de a sacerdotisa do deserto. O personagem David Drumlim (Tom Skerritt) considera

Ellie genial, perseverante, mas obcecada por uma área que ele vê como suicídio profissional.

Drumlim é quem corta o financiamento do projeto SETI, que está por trás do quase

cancelamento do contrato do uso do VLAi pela equipe de Ellie.

54

O filme também apresenta discussões entre ciência e religião pelo envolvimento da

personagem com o teólogo e conselheiro espiritual da Casa Branca, Palmer Joss (Matthew

Maconaughey) que auxilia o presidente americano nas questões referentes a religião.

No Novo México, Ellie e sua equipe usam o conjunto de 27 antenas de

radiotelescópios conhecidos como VerynLargen Array ( VLA). Nesse local, ela obtém

finalmente o sinal tão procurado de extraterrestres, proveniente do sistema solar Vega. Essa

decodificação dos sinais permite e reconstituição da primeira cena televisionada da Terra, que

mostra Hitler, em 1938, durante a abertura dos jogos olímpicos de Berlim. Junto da imagem,

há uma mensagem detalhada de instruções para a construção de uma máquina de

teletransporte. Vários países financiam a construção da primeira máquina, que é destruída por

um terrorista norte-americano e uma segunda máquina é construída pelos japoneses, quando

Ellie tem, então, a oportunidade de realizar a viagem.

Ficha Técnica

Título Original: Contact

Título no Brasil: Contato

Direção: Robert Zemeckis

Ano: 1997

País: EUA

Gênero: Ficção Científica

Tempo de Duração: 150min

Estúdio/Distribuidor: Warner Home Vídeo

No filme “Contato” as questões referentes à posição da mulher na ciência, os debates

em torno da relação entre ciência e religião e as relações acerca da vida extraterrestre ficam

em evidência.

3.3.6 Greystoke - A Lenda de Tarzan, O Rei da Selva

Sinopse: Essa história se passa no século XIX, período em que o colonialismo

europeu travou grandes batalhas pela distribuição de terras e poder nos solos da Ásia e África.

O jovem casal de herdeiros do condado de Greystoke, na Escócia, sai em expedição num

navio que naufraga perto da selva africana. O referido casal consegue chegar à terra firme. A

mulher grávida tem seu filho em uma casa nas árvores. Algum tempo depois, a mãe do bebê

morre e o pai é brutalmente assassinado pelos macacos. O menino órfão é acolhido e adotado

55

por uma macaca, que havia perdido seu filhote. O menino cresce como se fosse um símio,

aprendendo a sobreviver na selva e tornando-se líder do grupo, consequência da sua

inteligência superior.

Em expedição pelas terras africanas, um grupo de cientistas, em busca de novos

espécimes da fauna e flora local, são atacados e mortos por aborígenes, porém, o guia da

expedição D´Arnot, mesmo crivado de flechas consegue sobreviver e é salvo por Tarzan.

D´Arnot reconhece Tarzan, como o herdeiro de Greystoke, após ligar os fatos referentes às

anotações de Clayton, sobre o infortúnio do casal após o naufrágio. Após 20 anos na selva, o

homem-macaco é descoberto e, com grande dificuldade, consegue entender que não é um

símio, aprende a falar e a se comportar como um homem civilizado e volta à civilização, na

qual é herdeiro de uma grande fortuna.

A chegada ao mundo civilizado causa em Tarzan grande desconforto, pois esse é um

universo cheio de regras e comportamentos. O encontro com seu avô ameniza essa situação,

mas, com a morte do ancião, essa convivência torna-se difícil. A adaptação com esta nova

realidade é estranha demais para ele, e sua prima Jane ensina-lhe regras de etiqueta e ambos

acabam se apaixonando. O conflito interno de Tarzan se agrava, quando este, no Museu de

Ciências Naturais, se depara com espécies de animais mortas e empalhadas e também com

macacos mortos em mesas de laboratórios sendo analisados e dissecados para estudo. Quando

Tarzan encontra no laboratório seu pai-símio preso, logo percebe que ele terá o mesmo

destino que os demais macacos. Num ato de proteção, liberta-o e ambos fogem. Seu instinto

de homem da selva fala mais alto e todos os componentes do seu aspecto selvagem ressurgem

fortemente. Durante a fuga, o primata acaba sendo alvejado pelos policiais. Incompreendido e

sem entender a sociedade que o cerca, lorde Greystoke retorna à selva, levando D´Arnot e

Jane. O filme se encerra com o personagem adentrando a floresta, numa sugestão de que ele

abandona a civilização para não mais retornar.

Ficha Técnica

Título Original: Greystoke: The Legend of Tarzan, Lord of the Apes

Título no Brasil: Greystoke - A Lenda de Tarzan, O Rei da Selva

Direção: Hugh Hudson

Ano: 1984

País: EUA

Gênero: Aventura

Duração: 137min

Estúdio/Distribuidor: Warner Home Vídeo

56

Em “Greystoke: A lenda de Tarzan” aparece o choque entre culturas distintas e as

imposições e atrocidades que ocorrem nos meios científicos em nome da ciência no início do

século XX.

3.4 PROBLEMATIZAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE NATUREZA DA CIÊNCIA E

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Pelo cinema, buscamos uma educação científica, comprometida com uma concepção

adequada sobre a natureza da ciência, que estimule nos educandos a capacidade de visão

crítica e investigativa da construção do conhecimento.

Nesse sentido, a seguir serão apresentadas algumas discussões e debates ocorridos

durante as sessões de cinema, sobre a forma como os alunos discutem acerca da concepção de

ciência e da postura dos cientistas, a construção do conhecimento científico, assim como a

busca de respostas para um problema. Os dados foram obtidos a partir das falas dos

estudantes após o término de cada sessão, antecedida por leituras de material de apoio

extraído de Oliveira (2005; 2007).

Um primeiro resultado que cabe destacar é que, embora a pesquisa tenha sido

realizada em duas escolas, percebeu-se a ausência da necessidade de uma discussão em

separado das respostas de cada escola. Isso ocorre porque, inicialmente, realizou-se apenas a

categorização das respostas da escola EA, verificando, em seguida, que as mesmas categorias

oriundas dessa análise também se faziam presentes na escola EB.

A análise dos dados permite afirmar que a maioria dos estudantes acredita que a

ciência caracteriza-se como um corpo organizado de conhecimentos, expressando sua

concepção, quando inquiridos sobre o que é Ciência, por meio de afirmações como: “A

ciência é o estudo aprofundado das coisas ao nosso redor” (A1); “É o estudo da Física, da

Química e da Biologia” (A13). Seis alunos não responderam a essa questão.

Em relação às finalidades da Ciência, as respostas obtidas indicam que uma parcela

significativa dos estudantes participantes da pesquisa afirma que a ciência tem uma finalidade

cultural, ou seja, busca a obtenção de conhecimentos e explicações para fenômenos, fatos,

teorias e acontecimentos. A visão utilitarista, também presente entre os participantes, entende

que a ciência tem como objetivo principal a melhoria da qualidade de vida e a utilização do

conhecimento científico para o bem da humanidade. Em algumas respostas, pode-se

identificar, além da finalidade cultural e utilitária, uma indicação da visão empírico-

57

indutivista muito presente, quando afirmam: “A finalidade que a Ciência tem é de fazer

experimentos, verificar hipóteses, modificar, criar curiosidades entre as pessoas, etc. Ciência

é conhecimento” (A31).

Ao questioná-los sobre o que é preciso para que um conhecimento seja considerado

científico, 45% dos estudantes não responderam à questão, deixando-a em branco. Os outros

afirmaram que deve haver muita pesquisa, análise e conhecimento sobre o assunto além da

participação dos cientistas e 7,5% (três alunos) mencionam que o conhecimento científico

deve ter sua procedência cientificamente comprovada. Observamos que é expressivo o

número de alunos entrevistados que apresentam dúvidas acerca da construção dos

conhecimentos na ciência, os processos de busca, o levantamento de hipóteses, as tentativas,

os erros e os acertos, a veiculação das informações e as discussões entre os pares.

A descrição de um cientista apresentada pelos alunos, não é muito diferente das

demais relatadas em outras pesquisas como em HARRES (1999); PETRUCCI y DIBAR URE

(2001); EL-HANI et al (2004). Para ser cientista, o sujeito deve ser muito inteligente,

persistente, louco e dedicado, pois busca descobrir novos inventos para melhorar a vida das

pessoas, conforme as afirmações dos alunos: “Alguém muito inteligente, capaz de descobrir

coisas maravilhosas” (A39); “Pessoas loucas que imaginam coisas. Para mim, são pessoas

que enxergam além, que buscam soluções para enigma e salvam vidas com suas descobertas”

(A8); “Ele deve ser um tanto curioso, inteligente, persistente e corajoso para que seus

experimentos, dando certo ou não, não o decepcionem” (A1).

Um dos dados que chamou a atenção foi o de que, ao pedir que os alunos citassem

nome de cientistas, a grande maioria lembrou-se dos cientistas do passado, todos do sexo

masculino e os mais lembrados foram: Albert Einstein, Charles Darwin, Louis Pasteur, Isaac

Newton. Curiosamente, apareceu também o nome de Bill Gates, provavelmente por ser

considerado um gênio na área da informática constantemente citado pela mídia.

Quanto aos cientistas elencados pelos estudantes, certamente, são os mais

mencionados nas disciplinas de Biologia e Física, conforme as seguintes observações dos

alunos entrevistados: “Conhecemos por cientista somente aquele que já possui um nome, ex.

Albert Einstein” (A15), “Albert Einstein – um alemão estranho, totalmente diferente de

qualquer pessoa e por isso conseguiu a façanha da Teoria da Relatividade. Um gênio da

ciência” (A16).

Nesse primeiro questionário, constatamos que os estudantes avaliam a ciência como

uma atividade exclusivamente masculina, feita por gênios, neutra e, na qual, a presença de

58

mulheres cientistas não é mencionada, assim como também não são lembrados os cientistas

do final do século XX e século XXI.

Escolhemos iniciar as sessões como a obra “A vida de Louis Pasteur (1936)”, por ser

um filme que apresenta uma visão positiva da ciência e do papel desempenhado pelos

cientistas, para confrontar as ideias e conhecimentos dos sujeitos entrevistados.

Inicialmente, os alunos elegeram Pasteur como um cientista magnífico, preocupado

com o desenvolvimento de suas pesquisas e com o bem-estar de todos, uma pessoa

desprendida de valores materiais e que encontrava na família e, principalmente, na esposa, o

apoio necessário para o sucesso de seus experimentos em microbiologia. Essas foram algumas

das conclusões deles sobre o filme ao indagar-lhes sobre a postura que os demais cientistas

tiveram com Pasteur e suas pesquisas, a interferência do governo e da Academia na ciência.

Até este momento os alunos estavam convictos da neutralidade da ciência.

Questionando-os sobre os motivos das contestações da sociedade e de outros

cientistas sobre os trabalhos de Pasteur, os estudantes alegaram que os atrasos nas pesquisas

ocorreram pela desconfiança e inveja, pois Pasteur, um químico, estava questionando um

procedimento médico, até então nunca discutido. Esse pensamento pode ter se originado na

fragmentação do conhecimento, característica da fase escolar.

A partir desse filme, lançamos algumas sementes de dúvidas e incertezas para nossos

entrevistados: Em que medida a ciência é neutra? A ciência sofre interferências da sociedade

e dos governos? Os cientistas estão unicamente preocupados como o bem da humanidade?

Como ficam as questões acerca das patentes e dos financiamentos? Quais serão realmente os

interesses da ciência e dos que fazem ciência?

Após assistirem aos filmes “Madame Curie” e “O Contato”, a discussão ocorreu em

torno do papel da mulher na ciência. Ao perguntar-lhes sobre nomes de cientistas mulheres,

nenhum foi citado. Eles alegaram não saber isso. E, após a aplicação do segundo questionário,

apareceu somente o nome das duas personagens dos filmes como cientistas. Acredito que,

pelo fato de serem insistentemente veiculadas na mídia (filmes, propagandas e entrevistas)

imagens de homens fazendo ciência, os educandos apresentaram certa dificuldade em lembrar

e relacionar a ciência como uma atividade para ambos os sexos. Outra justificativa para essa

aparente desinformação pode ser a falta de citações/menções por parte dos professores em

destacar as atividades e as mulheres que fazem ciência no Brasil e no mundo e nomes de

mulheres que já escreveram nas páginas da história suas pesquisas e trajetórias na área

científica, assim como as que estão hoje fazendo isso e contribuindo com a ciência.

59

Em ambos os filmes, os educandos relatam o preconceito da sociedade com relação à

presença da mulher na ciência, as dificuldades e os olhares de desconfiança com relação ao

seu trabalho. Para que uma mulher tenha sucesso nessa área, ela deve ser sempre a melhor,

dedicar-se inteiramente a seus projetos e se destacar. Outro ponto comentado é acerca da

família e dos envolvimentos amorosos, que parecem ser veiculados pelos filmes como algo

fora de contexto de um cientista, seja ele do sexo feminino ou masculino, pois em quatro dos

filmes exibidos, dois cientistas têm família, mas suas pesquisas estão em primeiro lugar. No

filme “A vida de Louis Pasteur”, a esposa é figura presente no comando da família, enquanto

em “Madame Curie”, a casa e as filhas estão geralmente sob a responsabilidade dos sogros de

Marie. Nos filmes “O Contato” e “E a vida continua” os cientistas são bonitos, solteiros e

acabam dedicando todo o seu tempo a suas pesquisas, não tendo vida social e, assim, seus

interesses aparecem voltados apenas para a ciência.

Ao traçarem um paralelo entre a trajetória de vida das duas cientistas do filme

“Madame Curie”, os alunos asseguram que Marie Curie, teve de lutar e enfrentar o

preconceito e a discriminação da academia para que suas pesquisas fossem aceitas. Muitas

vezes, essa cientista foi submetida a condições desumanas de trabalho, para poder se firmar

nessa área, até então dominada pelo sexo masculino. Algumas observações dos entrevistados

referentes à pesquisadora trazem a seguinte visão: (A19)- R: “Madame Curie foi uma cientista

que sofreu um grande preconceito na época, por ser mulher, mas com o passar do tempo

conquistou o seu lugar entre os maiores cientistas do mundo, tendo o seu nome lembrado até

hoje”, (A27)- R: “Marie Curie era uma cientista muito dedicada a sua carreira. A ciência e a

cura estavam acima de tudo para ela”.

A cientista Elie Arroway, do filme “Contato”, na visão dos educandos, sofreu menos

com o preconceito e desconfiança de seus pares com relação a sua condição de mulher na

ciência, porém sua linha de pesquisa era tida por muitos como algo sem futuro, uma perda de

tempo, um desperdício de talento. Para eles, Ellie é aquele tipo de cientista que não possui

família e é obstinada por seu trabalho a ponto de se esquecer da vida, deixando de lado tudo

que não fosse relacionado às suas pesquisas. Nesse filme, muitas questões acerca da ciência

vêm à tona, retirando o véu de neutralidade da imagem da ciência - sem interferências de

poderes e governos, sem fins lucrativos, da briga pelo poder e fama, além de aspectos éticos,

morais e psicológicos dos personagens. Em “O Contato”, os alunos continuam e acirram as

discussões do real papel da ciência, fazendo citações que “o que nos colocam é realmente

verdadeiro, se o que nos informam não é somente o que interessa aos governos, senão

ocorrem manipulações de dados” (A-16). Uma questão bastante comentada pelos alunos foi a

60

divergência entre a ciência e a religião, como ambas discordam e debatem em torno de

assuntos polêmicos como a existência de Deus, os milagres e o eterno conflito entre a origem

do homem e do Universo. Outra questão levantada após o filme foi: “Será que estamos

sozinhos no Universo?” Essa era uma grande dúvida, mas a maioria dos entrevistados acredita

haver vida extraterrestre, talvez não seres humanos como nós, mas seres mais simples como

bactérias, pois, para alguns, o Universo é muito grande para estarmos sozinhos aqui.

Após assistir ao filme “E a vida continua”, os estudantes foram questionados sobre o

que sabiam acerca da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). A grande maioria dos

alunos enfatizou que desconhecia a história do surgimento da doença, assim como tinha

pouco conhecimento sobre ela. O filme aborda justamente a falta de conhecimento sobre a

AIDS na comunidade científica. Isso propicia uma grande batalha sobre o entendimento dessa

epidemia, uma vez que o preconceito e a discriminação com os soropositivos demonstram

desrespeito com os cidadãos e com os direitos humanos.

A transmissão do HIV – agente causador da AIDS – ocorre pelo sangue e

hemoderivados, e os hemofílicos e pacientes que necessitam de transfusões sanguíneas são os

mais vulneráveis. É também difícil a detecção dessa síndrome em crianças, mulheres e

usuários de drogas com o vírus. Após ter esse conhecimento, ocorre uma forte mobilização

social e pressão sobre os bancos de sangue e governo, forçando mudanças nas atitudes desses

setores.

O preconceito e a discriminação contra os homossexuais foi um dos fatos que mais

chamou a atenção dos alunos. Eles comentaram que tal comportamento só fez com que os

avanços, as pesquisas e as divulgações de informações sobre a doença fossem retardados.

Outra questão abordada foi a resistência do governo do presidente Reagan em falar sobre a

nova doença, bem como a destinação de verbas e pessoal para trabalhar nas pesquisas sobre a

AIDS, uma vez que a comunidade gay era o principal segmento atingido da população

considerado por muitos uma aberração, e associar a imagem do governo a este grupo poderia

ser algo catastrófico politicamente. Em relação a isso, os estudantes argumentaram que não

imaginavam que o poder político pudesse, em alguns momentos, ter tanta influência no

desenvolvimento da ciência.

Ao problematizar com os estudantes as concepções de ciência e de cientista contidas

no filme, eles se referiram à maneira como é concebida uma pesquisa científica. No filme, são

evidenciadas as etapas do processo científico e da atuação dos cientistas/pesquisadores. Os

estudantes destacaram que “ao se deparar com um problema, os cientistas elaboram

hipóteses e saem em busca de dados ou provas que irão dar validade a esse conhecimento”

61

(A17). Isso evidencia a predominância de uma visão empírico-indutivista na qual a

observação precede o desenvolvimento científico, com a comprovação do conhecimento

científico ocorrendo por intermédio de métodos experimentais. Questionar essa visão, nesse

momento, poderá trazer contribuições significativas para a educação científica desses

estudantes da escola básica. Outra maneira que se percebe de conceber a ciência, em alguns

episódios do filme, está associada à forma como a comunidade científica é conservadora, o

que remete aos paradigmas de Kuhn (1978), segundo os quais só são considerados científicos,

os fatos e as teorias validadas pela comunidade científica.

Em “E a vida continua”, o filme foca o trabalho de equipe, em que os pesquisadores

se ajudam, trocam informações e saem dos laboratórios o que permite demonstrar que ciência

não é um trabalho realizado solitariamente, reservado aos “iluminados” detentores do

conhecimento. Diante do exposto, a visão de ciência neutra, indiscutível, centrada no bem-

estar da humanidade e no estereótipo dos cientistas como grandes gênios, começou a ser

questionada pelos alunos, problematizando a imagem presente no seu imaginário sobre a

ciência e as suas caracterizações.

Os estudantes citaram o trabalho de dois personagens que atuam como mediadores

/interventores a favor das pesquisas sobre AIDS, que são o político Bill Kraus representante

da comunidade gay de São Francisco e a pesquisadora do setor de saúde pública de São

Francisco, Selma Drizt. Essa constatação foi importante para problematizar a questão da não

neutralidade da ciência, pois diversos fatores externos podem influenciar a forma como são

conduzidas as pesquisas. Desde o financiamento até a divulgação dos resultados, influências

políticas e econômicas interferem no trabalho do cientista.

Em relação à imagem do pesquisador Bob Gallo, citado nos livros didáticos como o

responsável pela descoberta do retrovírus causador da AIDS, os estudantes expressaram seu

estranhamento em relação à sua postura como cientista. Concluíram que Gallo era

competitivo, ganancioso, desonesto, nada ético e que estava somente interessado na fama,

poder e dinheiro. Diante disso, afirmaram que há pesquisadores interessados no bem-estar da

humanidade, mas reconhecem que também pode haver uma parcela de cientistas que não atua

eticamente, buscando apenas poder, prestígio e dinheiro, sem analisar que os resultados das

suas pesquisas podem trazer consequências graves e desastrosas para a humanidade.

Lembraram-se da bomba atômica, das armas biológicas, entre outros produtos disponíveis

graças ao trabalho de cientistas. Ao se discutir a questão de ética na ciência, a atuação de Bob

Gallo e do pesquisador Drublin de “O Contato” pode ser utilizada como motivadora de debate

62

em sala de aula sobre o que é ética e em que consiste um comportamento ético no mundo

científico.

Após a sessão, percebemos a importância de refletir sobre esses e outros aspectos

envolvidos no processo de construção do conhecimento científico, pois essa atitude é

fundamental para problematizar a concepção de ciência presente ou em construção entre os

estudantes e, a partir dela, apresentar a concepção mais adequada.

Para desmistificar o conceito de que ciência só pode ser feita por cientistas, foi

trabalhado o filme “O Óleo de Lorenzo”, que mostra como o conhecimento científico pode ser

elaborado por pessoas leigas, que não fazem parte da academia, mas têm conhecimentos que

permitem observações e teorizações. Outras questões que pudemos suscitar foram as

relacionadas ao comportamento dogmático dos cientistas. Estes também são falíveis e,

algumas vezes, não estão dispostos a reconhecer suas falhas, podendo atrasar os resultados de

pesquisas como fica demonstrado nos filmes “O Óleo de Lorenzo” e “A vida continua”. Outro

ponto que também colabora para o atraso das pesquisas é a intervenção do governo, pois a

ciência não é neutra e sofre influência de agentes externos como: governo, laboratórios,

sociedade e igrejas. O filme “O Óleo de Lorenzo” aborda várias temáticas que o educador

pode explorar em sala de aula, como: valores, ética, assuntos ligados a genética, determinação

e perseverança além, é claro, da construção do conhecimento científico, assim como o

comportamento de quem faz ciência.

Ao indagar dos alunos se é possível que uma pessoa estranha ao mundo científico

possa formular hipóteses ou buscar respostas para um problema e encontrá-las, os

entrevistados responderam negativamente. Mas se surpreenderam com a história da família

Odone e com a persistência e perseverança do casal em busca da cura para a doença do filho.

Estavam muito curiosos sobre o tema da genética, sobre como era essa doença, assim como as

doenças ligadas ao sexo. Os estudantes questionavam a grande resistência da associação de

pais das crianças portadoras de ADL e também dos médicos, que não aceitavam os estudos

dos Odone. Durante a discussão sobre o filme, um aluno comenta que talvez os médicos não

aceitassem e se mostrassem resistentes quanto às descobertas dos pais de Lorenzo, por não

serem médicos, e estarem contrariando esses “doutores” e seus conhecimentos, uma vez que

estes estudaram para isso.

Para os sujeitos da pesquisa, a ciência tem essa visão utilitarista, que busca encontrar

soluções e curas para os problemas que afetam a sociedade e o planeta. Essa postura fica

demonstrada nas seguintes ponderações dos alunos:

63

A16 - “Ciência é tudo que nos rodeia, é tudo que possa ser descoberto em prol do

benefício da humanidade. É uma solução para enigmas de sintomas que podemos sentir, é

algo que nos beneficia, ajudando a encontrar a cura de doenças”.

A18 – “Ciência é o estudo entre os seres vivos e humanos. Estudando o avanço da

genética, os cientistas tentam achar a cura para as doenças”.

A12 – “Ciência é um conjunto de ideias concretas (pesquisas), coleta de

informações para a comunidade, tirando aqueles que pensam em si. Ciência também é fonte

de conhecimento e informação”.

A14- “Ciência é o estudo das coisas e invenções. É realizar pesquisas e chegar a

uma conclusão, provar que é possível. Um cientista cria e, junto com a criação, salva

pessoas”.

Podemos perceber como é forte a visão utilitarista no imaginário desses estudantes e

como os cientistas têm o poder em suas mãos, são quase deuses, acima do bem e do mal e

infalíveis na busca e na concepção da ciência.

A história e a consequente evolução da ciência nem sempre apresentam relações

tranquilas entre a busca do conhecimento e os métodos utilizados para chegar a esses

conhecimentos e para provocar essa discussão e debate em torno do papel exercido pelos

cientistas ao longo dos anos. Sobre o evolucionismo, as implicações e o uso de animais no

avanço da ciência, bem como a sua função e atuação na cultura contemporânea, foi exibido o

filme “Greystoke: A lenda de Tarzan, o rei das selvas”. Esse filme relata o dilema de um bebê

criado por gorilas e que, quando adulto, vê-se dividido entre o mundo dos homens e o coração

da selva africana.

Essa obra é polêmica, pois retrata questões relativas à evolução do homem, à

manipulação que os cientistas do século XVIII fazem sobre a natureza e também o choque

entre duas culturas distintas. Nesse sentido podemos citar que, na busca de respostas para suas

indagações sobre a compreensão da origem das espécies, os cientistas e suas equipes,

cometem atos cruéis com os animais, aos separá-los de seus bandos, retirá-los de seu habitat

natural, dissecá-los, empalhá-los e os expor à visitação nos museus de ciências naturais, o que

era recorrente no momento em que se passa a história. Aqui questionamos o direito de um

homem, ou melhor, de um cientista, quando pratica todos esses atos, apresentando como

elemento justificativo o bem e o progresso da ciência.

Conforme comentários dos estudantes, essa obra os fez refletir acerca de questões

relativas ao processo de adequação do homem a um ambiente completamente diferente do

seu, das relações de afeto entre espécies diferentes, quando a gorila adota o pequeno Tarzan

64

como filho e o protege dos perigos da selva e de seu próprio bando. O filme analisa também o

momento em que o homem-macaco toma consciência de sua força e de sua habilidade e

inteligência em relação aos demais animais da floresta, passando a assumir o comando do

bando de primatas. A obra propõe também pensarmos sobre o contato do herói com seu

semelhante e quando ele aprende a usar a linguagem para se expressar.

O maior conflito que o filme apresenta é, porém, o choque entre cultura e a maneira

como a sociedade cobra um comportamento dos indivíduos, muitas vezes ignorando suas

origens, sua cultura e conhecimentos e, em algumas situações, excluindo aqueles que não se

ajustam ao perfil exigido pela sociedade e tido como padrão. Para Tarzan, o mundo civilizado

é cercado de mistérios e regras, difíceis de lidar, como manusear os talheres, portar-se à mesa,

usar roupas e calçados e se comportar como pessoas da nobreza.

Outro ponto exposto pelos estudantes é o lugar e posição da ciência. Para

demonstrarem e explicarem a evolução das espécies, os cientistas manipulam e exploram a

natureza, e colocam as espécies em exposição em museus para apreciação e observação pela

sociedade. Esse tipo de exposição deixa o personagem da trama transtornado, pois, ao

reconhecer esses animais como parte do ambiente em que fora criado, encontrando-os ali

imóveis, ele não entende o motivo daquela situação. O conflito interno de Tarzan se acentua

ao encontrar seu pai primata engaiolado e, posteriormente, morto pelos policiais. Com isso, se

quebra o último elo familiar de Tarzan, que não se considera integrante deste mundo, pois não

consegue desvencilhar-se de seu passado. Somente ao retornar à selva africana, ele volta às

origens e à liberdade, pois, no mundo civilizado, os cientistas o enxergavam como um caso a

ser estudado e compreendido e não como um ser humano, com razão, sentimentos e emoções.

Para estes, o que estava em jogo era o progresso da ciência.

Essa aventura do menino-macaco, mesmo sendo um gênero fantasioso, percorre

caminhos que nos fazem levantar questões sobre a ciência e repensar os valores, a ética e o

papel da ciência na sociedade contemporânea e sua finalidade, em que os meios justificam os

fins. (OLIVEIRA, 2005).

Após assistir aos filmes, houve discussões para verificar as impressões dos

estudantes sobre a ciência, a construção do conhecimento científico e os cientistas. Ao

término da oficina, os alunos preencheram um questionário, com as mesmas questões do

primeiro, para verificarmos as suas percepções e entendimentos antes e após o uso dos filmes

acerca da concepção e natureza da ciência.

No primeiro instrumento, as questões estavam relacionadas com o conceito de

ciência; o que eles entendiam como conhecimento científico. As finalidades da ciência foram

65

deixadas em branco em um percentual que variou de 30% a 40%. No segundo questionário,

nenhuma das questões ficou em branco, todas foram respondidas. Pudemos constatar que,

mesmo após a leitura dos textos, as sessões dos filmes e discussões em grupo, a visão positiva

da ciência ainda é muito presente no imaginário dos alunos entrevistados. Alguns estudantes

já apresentavam, porém, certo entendimento do papel da ciência, que não é neutra, que sofre

influência de vários setores da sociedade, que está sujeita a erros e sofre mudanças com o

passar dos anos. Alguns entenderam que os cientistas têm responsabilidades com os

resultados de suas pesquisas e trabalhos, que o seu conhecimento pode ser usado tanto para o

bem quanto para o mal, como cita o aluno (A-17): “Os cientistas são pessoas inteligentes, que

podem com seu conhecimento encontrar a cura para muitas doenças, mas também podem

construir e criar coisas que pode destruir e matar muitas pessoas, como a bomba atômica.”

Ao analisar as respostas dos sujeitos da pesquisa, pudemos constatar que a escola

aborda a ciência de forma descontextualizada, que tanto a escola quanto a mídia transmitem

aos estudantes informações de que a ciência tem um papel utilitarista na vida das pessoas, que

só pode ser feita em laboratórios sofisticados e muito bem equipados, que cientistas devem ser

de sexo masculino, que a ciência nunca falha, pois só visualizamos o que deu certo. Ao levar

a proposta do uso de filmes para a escola para discutir e problematizar as concepções de

ciência, percebemos que esse processo é válido, pois o cinema atrai a atenção dos alunos.

Apenas seis filmes, no entanto, não permitem mudar a imagem consolidada nesses jovens,

que já chegam à escola com algum pensamento pré-estabelecido – absorvido graças a filmes,

novelas e desenhos - animados de ciência e do trabalho dos cientistas. Após o término da

oficina, percebemos que alguns alunos começaram a questionar o real papel da ciência e,

portanto, aprovar o uso de filmes comerciais para discutir e ensinar ciência. Esse processo,

porém, deve ser contínuo, pois essa mudança de concepção perpassa não apenas a escola

básica, mas também a Universidade, instituição que forma também os professores. Mas essa é

apenas uma pequena discussão acerca dessa área que é o ensino de ciências e que, até o

momento, é apresentado nos bancos escolares como uma ciência empírico-indutivista, de

conhecimentos previamente elaborados. Além disso, não oferece aos educandos a

oportunidade de questionar, investigar. Portanto, o uso dos filmes na educação,

principalmente no ensino de ciências proporciona um momento diferenciado de

aprendizagem, em que estabelece um elo entre o que foi visualizado no filme e o que é

ensinado em sala de aula. Monteiro tem o cinema como uma arte. Para esse autor, o cinema

também aporta conhecimentos enquanto ferramenta pedagógica:

66

Como uma arte que pode levar a um entendimento visceral do mundo que é bem diferente daquele alcançado quando se lê palavras numa página impressa, e possível ser mais duradouro, podendo tornar a tecnologia inteligível a um público de não especialistas e permitir um processo de auto-reflexão (...). Independentemente de a ciência representada no cinema ser crível ou não, as imagens podem transformar a fala técnica da ciência em um domínio emocional do discurso público, ajudando na assimilação cultural das descobertas científicas ao mesmo tempo em que as divulga para o grande público, leigo em sua maioria. Além disso, o cinema pode ser usado como ferramenta pedagógica, contribuindo para educar sobre o que é ou não aceito como cientificamente correto e porque, sobre os processos de negociação existentes nos bastidores da produção científica, sobre como a ciência e a sociedade relacionam-se formando uma teia sem costuras (MONTEIRO, 2005p. 172).

Ao propormos essa reflexão sobre o nosso fazer pedagógico, enquanto sujeitos

responsáveis pela formação intelectual e cultural de nossos educandos, elencamos algumas

possibilidades de construção do conhecimento científico, com o uso de filmes comerciais,

buscando respaldo em ampla literatura, que considera urgentes as mudanças e as reformas no

ensino de ciências.

67

4 GUIA PRÁTICO PARA O USO DE FILMES COMERCIAIS EM SALA DE AULA

4.1 INTRODUÇÃO

Com os diversos avanços da ciência e das tecnologias, surgem algumas inquietações

com o nível de conhecimento em ciências que a população tem, uma vez que estamos

sofrendo mudanças profundas em nossas vidas e no planeta, decorrentes do desenvolvimento

tecnológico e científico. Nesse contexto, devemos ter um olhar mais atento para a escola,

berço da informação e formação científica dos jovens.

Pensar a educação em ciências é uma tarefa que requer paciência, dinamismo e,

acima de tudo, perseverança, pois o domínio do conhecimento científico é um processo lento

que deve ser incentivado desde cedo na escola de Educação Básica, estimulando os

estudantes, a partir das séries iniciais, a interagir com os demais e a se apropriar dos

conhecimentos das ciências. Isso é necessário para que os jovens possam ter uma boa

bagagem de conhecimentos científicos, e dos processos da ciência e possam intervir, discutir e

compreender as mudanças da sociedade. Devemos ter presente que a promoção do acesso ao

saber científico não é somente papel da escola. Ele também pode ser determinado,

reproduzido e apropriado nos museus de ciências, programas educativos de rádio e televisão e

nos meios impressos (KRASILCHIK e MARANDINO, 2007).

Para que os jovens estudantes sejam estimulados e entendam como se processa a

ciência, é importante que o professor contextualize e problematize o ensino de ciências,

argumentando sobre a importância de termos clareza do conhecimento científico e

tecnológico, das suas necessidades, de seus interesses e objetivos, conhecendo seus conceitos

e os utilizando no cotidiano. Somente assim poderemos ser sujeitos ativos, que pensam nos

processos de divulgação e de alfabetização científica, tornando-a mais popular em nossa

sociedade.

Na busca de novas abordagens que culminem em estratégias e reflexões para inovar a

produção do conhecimento, a utilização do cinema surge como instrumento de reflexão na

sala de aula e como meio inesgotável de possibilidades de criação e produção do saber.

Napolitano (2005) entende que o cinema tem sempre alguma possibilidade para o trabalho

escolar.

Pensando na formação científica dos jovens e num ensino de ciências mais prazeroso

e motivador, elaboramos esta proposta que é um guia prático para professores de Educação

68

Básica de como utilizar os filmes comerciais em sala de aula para problematizar e discutir

ciências e a história e a concepção de ciências dos jovens.

Nossa proposta se encontra estruturada em quatro itens. No primeiro, abordaremos o

uso dos filmes na sala de aula e a importância de compreender o que é/faz a ciência. No

segundo, traremos dicas para o uso de filmes. No terceiro, traremos as análises de filmes e

sugestão de procedimentos pedagógicos para apreciação de um filme. No quarto item,

finalmente, apresentaremos uma sugestão de filmes para aprender sobre ciência.

4.2 HISTÓRIA DA CIÊNCIA: UMA RE-LEITURA DO PASSADO: POSSIBILIDADE DE

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E CONTEXTUALIZADA NO ENSINO DE

CIÊNCIAS

Este guia é um convite aos docentes e discentes para um olhar mais atento acerca da

educação científica e do uso da sétima arte na sala de aula. Com este material, traremos uma

breve abordagem da inserção da História e Filosofia da Ciência na Educação Básica. Essa

abordagem busca apresentar os processos históricos e a forma como ocorreu a construção do

conhecimento científico, tentando desmistificar a visão de ciência positiva presente no

imaginário das pessoas. Como cita Matthews (1994), a História é necessária para entender a

ciência e seus processos. Para abordarmos essa temática, iniciaremos falando sobre as

possibilidades do uso da História da Ciência pelos professores.

Muito discutida e pesquisada hoje, a História da Ciência (HC) é um caminho viável

para a alfabetização científica, colocando de lado a visão popular equivocada de como ocorre

o processo científico: de forma descontextualizada, fragmentária e dogmática. Ao abordarmos

a inserção da História da Ciência na Educação Básica e Superior vemos que existem alguns

problemas a serem resolvidos, como a falta de material didático adequado e pessoal

especializado em História da Ciência. Martins (2006) adverte que, quando utilizada de forma

inadequada, a história da ciência pode chegar a ser um empecilho ao bom ensino de ciências.

De acordo com Alfonso-Goldfarb (2004) não basta juntar História e Ciência para que o

resultado final seja História da Ciência.

Ao pensar em educação científica, surge a dúvida: Afinal, que educação em ciências

buscamos? Uma educação que resgata o processo de construção do conhecimento com seus

procedimentos e suas limitações ou aquela que pincela fatos e cita passagens bem sucedidas

dos cientistas?

69

O conceito de ciência como objeto de investigação histórica vem sendo redefinido e

recebendo novas abordagens desde os anos 50 do século XX. Porém, a ciência ainda é vista

com um olhar tradicional que a considera neutra, infalível e constituída por cientistas

abnegados e geniais. Essa visão dogmática compromete a qualidade e o ensino de ciências.

A História das Ciências não tem todas as respostas, mas pode contribuir para

melhorar o ensino e a aprendizagem de ciências. A contextualização dos conteúdos da ciência

é algo que envolve muita pesquisa e dedicação, além de discussões que permitam ressaltar as

diferentes perspectivas e pressupostos implícitos da Ciência, de forma a compreender e

entender a sua natureza.

Assim, a História da Ciência pode ser um recurso didático útil, contribuindo para

mudar o ensino de Biologia/Ciência na Educação Básica. O estudo da História da Ciência

possibilita uma re-leitura do passado, com um olhar mais atento e crítico, desmistificando a

concepção ingênua sobre as ciências e possibilitando uma aprendizagem mais significativa e

contextualizada. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), cujas diretrizes

estabelecem regras com ênfase na interdisciplinaridade, na ligação com o cotidiano, no

desenvolvimento de competências e no aprendizado de conteúdos importantes para o

exercício da cidadania e trabalho, demonstram ansiedade em aproximar a História da Ciência

e o ensino de ciências. Essa abordagem pode fazer com que os estudantes compreendam que o

conhecimento científico é um conhecimento cumulativo, que vai se (re) estruturando ao longo

dos anos, permitindo novas construções e abordagens de acordo com a época e o momento

que estamos vivenciando.

Mas é preciso cuidado ao utilizar a História da Ciência em sala de aula, para não

provocarmos simplificações e distorção nas informações. Precisamos ter presente também que

este é mais um recurso para enriquecer nossas aulas e um caminho viável para a formação

científica dos educandos. De acordo com Oliveira (2009), o estudo adequado de alguns

episódios históricos permite compreender as inter-relações entre Ciência, Tecnologia e

Sociedade, mostrando que a Ciência não é algo isolado de tudo, mas faz parte do

desenvolvimento histórico, de uma cultura, de um mundo e de uma sociedade. Portanto,

devemos deixar claro aos estudantes que a ciência não é um processo acabado, mas está em

constante mudança, feito por pessoas, portanto sujeito a erros e que estes conhecimentos não

se encontram a favor só dos cientistas, mas de toda a sociedade.

A partir dessa reflexão, surge nova indagação: Como os docentes podem fazer para

que os conhecimentos de ciência e tecnologia sejam aprendidos e difundidos pelos jovens de

70

maneira crítica, possibilitando um conhecimento contemporâneo sobre ciência, tecnologia e

fazer científico?

Diante dos questionamentos e desafios que a educação em ciências no século XXI

nos apresenta, propomos aos educadores recorrer ao cinema como um recurso estratégico.

Embora nem tão recente esse recurso, por meio da combinação entre imagem e som, o cinema

fascina e encanta plateias em todo o mundo há mais de um século. Assim ele serve também

para discutir e relacionar os conteúdos de ciências, tornando-os mais próximo e acessível aos

educandos.

Diante das possibilidades e do momento tecnológico que vivenciamos, pensar a

utilização do cinema em sala de aula, principalmente nas disciplinas de Ciências/Biologia

como um instrumento de apoio ao ensino e complemento de aprendizagem, para ampliar a

visão de mundo e a visibilidade da ciência, é algo, no mínimo, desafiador. A partir do cinema,

podemos discutir e visualizar as imagens que os estudantes têm acerca da ciência e

problematizá-las, intervindo de maneira significativa nessas concepções, para promover

diálogo entre os sujeitos envolvidos e suas percepções sobre o que é/faz a ciência.

4.3 ENSINANDO CIÊNCIAS E ENCANTANDO A PARTIR DAS LENTES DO CINEMA

Cinema é arte que encanta crianças, jovens e adultos. Através de suas lentes, o

público vive histórias épicas, dramas, romances, comédias e aventuras sentindo-se, por alguns

momentos, parte integrante do enredo. Portanto, pensar o uso de filmes comerciais como uma

metodologia pedagógica para discutir e ensinar ciências é uma proposta viável, pois, a partir

das imagens e do enredo das histórias, podemos compreender certos fatos e questões

referentes à visão da ciência e dos cientistas veiculadas a partir do cinema. Nos filmes,

podemos sentir também a atuação dos cientistas no processo de descobertas e construção do

conhecimento científico em certas ocasiões omitidas ou abordadas com outro viés. Dessa

maneira, os filmes possibilitam debates e excelentes oportunidades de ensinar e problematizar

o ensino de ciências na Educação Básica.

A educação pode abordar o cinema como instrumento, objeto de conhecimento,

meio de comunicação ou meio de expressão de pensamentos, arte e sentimentos. Os filmes

apresentam um potencial que pode integrar, informar, educar e divertir, gerando

conhecimento e envolvendo professores e alunos. Para Oliveira e Rezende (2007), o cinema é

71

como um meio de comunicação que possui ampla diversidade temática em seus filmes,

podendo constituir-se como um veículo que proporciona discussões sobre diversos assuntos.

Ao assistirmos a um filme, estamos diante de um recurso que nos proporciona por

algumas horas momentos de entretenimento. Quase sem perceber recebemos mensagens

implícitas que irão, de alguma forma, formar ou reforçar conceitos e imagens acerca de

determinados assuntos referentes à Ciência, como diz Oliveira (2006), e formar o nosso

imaginário científico.

O cinema aproxima o estudante do cotidiano, de novas linguagens e o leva para

outros mundos, conhecendo personagens que antes eram encontrados apenas nos livros e nas

explicações do professor. Os filmes relatam histórias do momento em que foram produzidos e

possibilitam situações impossíveis como ocorre, por exemplo, nos filmes de ficção científica.

Dessa forma, os filmes devem ser valorizados enquanto meios e fins na produção de

conhecimentos.

O cinema exerce uma expressiva influência cultural no mundo. O papel do filme na

sala de aula é provocar uma situação de ensino-aprendizagem, em que a imagem

cinematográfica esteja a serviço da investigação e da crítica a respeito da sociedade. Cabe ao

professor auxiliar o aluno a refletir criticamente sobre as mensagens do filme, assim como

corrigir distorções e erros que a obra cinematográfica possa apresentar.

Nesse contexto, pensamos como proposta pedagógica para os professores da

Educação Básica, a inserção da História da Ciência, para que o educando compreenda como

acontece o processo de formação do conhecimento científico. Por meio dos filmes comerciais,

procuramos introduzir e propor questionamentos acerca desse processo. Temos a convicção

de que os filmes são um recurso pedagógico que, em algumas situações, proporciona uma

aprendizagem mais acessível e prazerosa para o estudante. Pensamos que a utilização de

filmes permite capacitar os espectadores para uma leitura crítica e reflexiva de temas

relacionados com a história e concepção de ciência, promovendo o diálogo entre os saberes e

a concepção de ciência presentes no imaginário dos estudantes.

4.3.1 Roteiro para passar vídeos em sala de aula

É inegável que a linguagem e imagens cinematográficas influenciam os

telespectadores, até mesmo estabelecendo moda e comportamentos. Dessa forma, buscar neste

recurso uma possibilidade de ligar conteúdos como os enredos, é um meio de favorecer a

72

análise crítica e a aprendizagem dos estudantes. Ao usar os filmes como recurso pedagógico,

o professor deve ter alguns cuidados iniciais como: avaliar as possibilidades técnicas e

organizativas na exibição do filme para a classe; observar a articulação entre o enredo e o

currículo e/ou conteúdo discutido, estabelecendo paralelo entre as habilidades desejadas e os

conceitos discutidos; adequar o filme à faixa etária e etapa específica da classe na relação

ensino-aprendizagem (NAPOLITANO, 2005).

O aproveitamento pedagógico do cinema implica um planejamento didático-

pedagógico do professor que deve conhecer as potencialidades e restrições do filme escolhido,

para saber se o mesmo apresenta possibilidades de construção de conhecimento ou é

impróprio para esse fim, evitando quaisquer problemas quanto à indicação da faixa etária,

qualidade do vídeo, tempo de duração e equipamentos necessários para a reprodução.

Moran (1995) chama atenção para algumas formas inadequadas do uso dos filmes

em sala de aula:

1-Vídeo tapa buraco: colocar vídeo quando há um problema inesperado,

como ausência de professor, pode ser útil, mas utilizado com freqüência associa na cabeça do aluno a não ter aula;

2-Vídeo enrolação: exibir um vídeo sem muita ligação com o conteúdo. O aluno percebe que o vídeo é usado como forma de camuflar a aula;

3-Vídeo deslumbramento: o professor que acaba de descobrir o uso do vídeo costuma empolgar-se e passa vídeo em todas as aulas. O uso exagerado do vídeo diminui a sua eficácia e empobrece as aulas;

4-Vídeo perfeição: existem professores que questionam todos os vídeos possíveis, porque possuem defeitos de informação ou estéticos. Os vídeos que apresentam conceitos problemáticos podem ser usados para descobri-los junto com os alunos, e questioná-los;

5-Só vídeo: não é satisfatório didaticamente exibir o vídeo sem discuti-lo, sem integrá-lo com o assunto de aula, sem voltar e mostrar alguns momentos mais importantes (MORAN, 1995, p. 29-30).

Podemos ainda complementar os cuidados com a utilização dos filmes em sala de

aula com as seguintes orientações:

1-Primeiramente deve-se eleger um tema; 2-Verificar o tempo disponível para o desenvolvimento da atividade; 3- Definir a sala onde será exibido o filme; 4- Estabelecer os objetivos da aula; 5-A história do filme deve se aproximar da vida real, com o tema a ser

discutido e presença de situações densas no que se refere aos desafios; 6-Os filmes não devem ser muito longos; 7-O professor deve ter domínio da trama; 8-Preparar um roteiro dos principais aspectos a serem analisados; 9-Selecionar material para leitura prévia; 10-Reproduzir material que será lido pelos alunos (GUILHEM, DINIZ,

ZICKER, 2007, 85-86).

73

Os múltiplos olhares acerca do cinema permitem considerar que um dos motivos de

sua importância didático-pedagógica decorre do fato de ser um objeto em relação ao qual se

encontram os saberes historicamente construídos e que, provavelmente, tecem por intermédio

de diferentes temporalidades e contextos o seu significado social presente na forma de um

saber prático, de como os indivíduos sentem, apreendem e interpretam o mundo (DANTAS,

2007).

Ao trazer o cinema para a sala de aula, o professor de ciências pode propiciar aos

alunos um espaço de debate e análise das obras cinematográficas que contemplam questões

polêmicas presentes na sociedade atual, assim como discutir o papel da ciência e dos

cientistas veiculadas nos filmes.

Os filmes de ação, ficção e drama podem ser explorados pelos professores para

apresentar e discutir ideias e conceitos científicos, desmistificando muitos julgamentos

errôneos que os alunos fazem a respeito da Ciência ou de conteúdos científicos, considerando

que, para a população em geral, a ciência é muito abstrata e distante do cotidiano. Menéndez e

Medina (s.d., p.03) afirmam que os filmes são um novo espaço, que outorga grande valor ao

mundo simbólico. São fontes de informação sobre o momento em que foram produzidos,

refletindo a realidade política e social do momento. Ao utilizarmos filmes em sala de aula,

proporcionamos aos alunos a oportunidade de refletir sobre questões sociais e históricas, com

diversidade e originalidade. Dessa forma, o cinema propicia-lhes a ampliação de mundo e o

conhecimento de outras realidades.

Ao usar o cinema como um instrumento de auxílio pedagógico, pode-se questionar e

debater com os alunos a respeito da percepção que estes apresentam sobre a complexidade da

construção de fatos científicos, concepção e história da ciência. Muitas vezes, como citam

Silva et al. (2008, p.499), “a história da ciência retratada nos filmes é um tipo de história que

não passa de cronologia, de uma seqüência de fatos, datas e de ‘gênios de avental branco’

confinados a laboratórios e bibliotecas”.

Os filmes podem ser importantes instrumentos para a elaboração de uma adequada

concepção de natureza da ciência, colaborando para melhor entendimento desta pelos alunos e

professores. O uso do cinema pode, portanto, contribuir para estabelecer um elo entre a

concepção de Ciência e a História da Ciência, buscando desmistificar o conceito de ciência

infalível.

74

4.4 FILMES NO ENSINO DE CIÊNCIAS: ANÁLISES E PROCEDIMENTOS

Atualmente um dos dilemas da educação é encontrar métodos que possibilitem o

desenvolvimento de práticas na sala de aula que auxiliem na aprendizagem, estimulando os

alunos e proporcionando a elevação do rendimento escolar. Nesse contexto, os educadores

têm o desafio de desenvolver habilidades que permitam o acesso e o controle das tecnologias

e seus efeitos, para tornar sua atividade docente dinâmica e significativa facilitando o

processo de ensino-aprendizagem.

É notório destacar que, na educação de ciências, os estudantes apresentam maior

dificuldade de aprendizagem e compreensão em decorrência do entendimento e interpretação

das terminologias das áreas de Ciências e Biologia. Portanto, ao pensarmos no uso dos filmes

comerciais em sala de aula para ensinar e discutir ciências, para analisar e questionar a

maneira como o cinema demonstra o ser/fazer ciência, temos a intenção de tornar visíveis

certas situações e procedimentos. Através das lentes do cinema, estas podem ser mais bem

entendidas pelos estudantes, contribuindo para a aprendizagem e promovendo debates e

questionamentos sobre temas trabalhados e apresentados nos filmes. É possível, assim, a

conexão entre os conceitos e procedimentos científicos vislumbrados com as experiências

cotidianas das aulas de ciências e a realidade dos sujeitos. A proposta de utilização de filmes

comerciais em sala de aula busca reescrever uma nova abordagem do processo investigativo e

reflexivo sobre novas possibilidades de ensino e aprendizagem na educação.

Diante do que foi exposto, traremos agora algumas análises de filmes comerciais

com potencial para problematizar as concepções de natureza da ciência apresentadas pelos

alunos, sugerindo como material de leitura prévia alguns artigos selecionados a partir de

Oliveira (2005, 2007).

4.4.1 Proposta metodológica para o uso de filmes em sala de aula

4.4.1.1 Filme A vida de Louis Pasteur

Tema: Data: Título do filme: A vida de Louis Pasteur

Ficha Técnica:

Título Original: The Story of Louis Pasteur Direção: William Dieterle Ano: 1936 País: Estados Unidos

75

Gênero: Drama biográfico Duração: 87 min.

Sinopse:

Primeira produção que retrata a vida do cientista e químico francês Louis Pasteur. Sua história começa em 1860, quando a França acompanha a morte de milhares de mulheres durante o parto, assim como posteriormente seus bebês, vítimas de infecção. Pasteur, que elaborava sua teoria sobre germes, recomenda a todos os doutores a esterilização e higiene dos equipamentos médicos. Mas, a Academia de Ciências e a sociedade não lhe davam ouvidos.

Pasteur é duramente criticado por seus pares, sendo algumas vezes acusado e ridicularizado por defender suas idéias sobre microbiologia. Sai de Paris, para ir morar no interior da França.

Passados dez anos, os rebanhos franceses estão morrendo pelo o ataque do Antrax, menos na cidade onde vive Pasteur. O químico imuniza os rebanhos aplicando vacinas nos animais, que os protegem contra a doença. Após comprovar a eficiência da vacina, Pasteur retorna a Paris, ganha um laboratório maior e melhor equipado para desenvolver suas pesquisas. Louis Pasteur e sua equipe estão mobilizados para encontrar a cura para a raiva.

Após um longo período de estudos e pesquisas sobre a cura da raiva, Pasteur consegue salvar a vida de um menino contaminado com o vírus da raiva, posteriormente cura um grupo de homens russos aplicando a vacina anti-rábica. Somente quando os russos percebem a genialidade do cientista é que a França finalmente reconhece e honra seus trabalhos.

Duração da aula: Aproximadamente 2h30min

Objetivos:

Refletir sobre a visão ingênua e romântica do papel da ciência e do cientista apresentada pela obra cinematográfica; - Analisar o contexto histórico e social do:

a.trabalho de Louis Pasteur ; b.A falta de esterilização e higiene dos materiais cirúrgicos e durante os

procedimentos operatórios realizados no final do século XIX na França;

c.O trabalho em equipe para fabricar vacina contra o Antrax e a raiva; - Debater acerca das teorias da abiogênese e biogênese propostas pelo filme; - Discutir sobre os jogos de vaidade que ocorrem na ciência; - Visualizar a interferência do governo nos trabalhos de Pasteur.

Metodologia:

Passo 1: fazer a leitura do material de apoio; Passo 2: assistir o filme; Passo 3: solicitar aos estudantes que apresentem suas impressões da história mostrada pelo filme; Passo 4: debater acerca dos pontos positivos e negativos da obra, assim como detecção de distorções apresentadas pelo filme; Passo 5: fazer perguntas específicas relacionando o filme como a concepção e imagem de ciência presente no imaginário dos estudantes; Passo 6: fazer um comparativo entre as situações demonstradas no filme e o contexto atual da ciência.

Pontos para Discussão:

Apresentar a vida do cientista Louis Pasteur. Visões estereotipadas da Ciência, do papel dos cientistas, as influências e

76

interferências dos governos nas pesquisas científicas e atuação da Academia de Ciências. Questão da interdisciplinaridade: química – microbiologia.

Texto para Leitura:

CONDÉ, M.L.L. A História de Louis Pasteur. In: OLIVEIRA, B. J. de (Org.). História da Ciência no Cinema 2. Belo Horizonte: Argumentum, 2007, p. 7-11.

4.4.1.2 Filme Madame Curie

Tema: Data: Título do filme: Madame Curie

Ficha Técnica:

Título: Madame Curie Direção: Mervyn LeRoy Ano: 1943 País: Estados Unidos Gênero: Drama biográfico Duração: 124 min

Sinopse:

O filme “Madame Curie” foi baseado na biografia da cientista Marie Sklodowska Curie, escrita pela filha mais nova Eve Curie. O filme mostra o romance de Marie com seu marido Pierre, assim como algumas partes da árdua pesquisa sobre os fenômenos radioativos. A trama desenvolve-se na França do final do século XIX, naquele tempo, muitos estudantes viam estudar em Paris. Marie Sklodowska, uma jovem polonesa matricula-se na Faculdade de Ciências da Sorbonne. Apesar das dificuldades em morar em um país estrangeiro e do preconceito masculino em relação a uma mulher trabalhar com ciências, ela consegue êxito nos estudos acadêmicos, principalmente em matemática e física. Marie consegue com a ajuda de seu professor, um lugar no laboratório de Pierre Curie para concluir suas pesquisas sobre o magnetismo dos aços. A presença feminina de Marie incomoda Pierre, que aos poucos se encanta e apaixona-se por ela, uma vez os dois tem os mesmos interesses, objetivos e amor pela ciência. Durante a lua de mel decidem descobrir o que causa o estranho efeito que o Prof. Becquerel assinalou ser provocado pelas pedras de urânio/tório. Após muitas experiências descobrem que deve haver mais elementos radioativos que a aqueles dois, e tentam isolá-los.

Depois de vários anos de pesquisa sobre a radiação, em condições desumanas de trabalho, o casal apresenta resultados de forma efetiva para um melhor conhecimento da radioatividade e dos elementos radioativos. Em 1903, os pesquisadores Marie e Pierre Curie, Henri Becquerel dividem o prêmio Nobel de Física. O casal Curie fica mundialmente famoso. Pierre morre atropelado. Marie torna-se a primeira mulher a ocupar uma cátedra na Sorbonne, e continua seus estudos sobre radioatividade. A pesquisadora conquista em 1911, seu segundo prêmio Nobel, agora em química.

Duração da aula: Aproximadamente 3h30min

Objetivos: Refletir sobre a visão ingênua e romântica do papel da ciência e do cientista apresentada pela obra cinematográfica;

77

- Analisar o contexto histórico e social do: a- trabalho do casal Pierre e Marie Curie; b- a presença e as implicações de uma mulher no início do século XX no meio científico; c- como se processa a construção do conhecimento científico, primeiro com uma dúvida, segundo com o levantamento de hipóteses e terceiro com a realização de pesquisas; d- as condições insalubres de trabalho do casal;

- Discutir sobre a descoberta dos elementos radioativos e as implicações desta nova área para o avanço da medicina.

Metodologia:

Passo 1: fazer a leitura do material de apoio; Passo 2: assistir o filme; Passo 3: solicitar aos estudantes que apresentem suas impressões da história mostrada pelo filme; Passo 4: debater acerca dos pontos positivos e negativos da obra, assim como detecção de distorções apresentadas pelo filme; Passo 5: fazer perguntas específicas relacionando o filme como a concepção e imagem de ciência presente no imaginário dos estudantes; Passo 6: fazer um comparativo entre as situações demonstradas no filme e o contexto atual da ciência.

Pontos para Discussão:

A mulher na Ciência e o preconceito da academia e sociedade com a presença de uma mulher nesta área; Visões estereotipadas da Ciência, do papel dos cientistas, O trabalho de pesquisa, o levantamento de hipóteses para construção de um conhecimento científico, Os erros e acertos durante uma pesquisa de cunho científico.

Textos para Leitura:

ARAÚJO, Robson. Madame Curie, o filme. In: OLIVEIRA, B. J. de (Org.). História da Ciência no Cinema 2. Belo Horizonte: Argumentum, 2007, p. 35-50. CHASSOT, Áttico. A ciência é masculina? É sim, senhora! São Leopoldo: Editora da Unisinos, 2003.

4.4.1.3 Filme E a vida continua

Tema: Data: Título do filme: E a vida continua

Ficha Técnica:

Título original: And the band played on Direção: Roger Spottiswoode Ano: 1993 (DVD 2004) País: Estados UnidosUA Roteiro de Arnold Schulman Duração: 140 minutos

Sinopse: Esse filme é um misto de documentário e drama. De forma bastante

didática, segue os passos de uma equipe de cientistas americanos desde o surgimento da AIDS até a virada da década de 90. A Síndrome da

78

Imunodeficiência Adquirida – AIDS é uma doença que tem mobilizado muitos recursos científicos, dinheiro e atenção, pois o vírus HIV infecta diariamente milhares de homens, mulheres e crianças no mundo.

Desfilam pela tela momentos e lugares que entraram para a história na luta contra a epidemia. Registra desde o fechamento das saunas de San Francisco, que na década de 70 e início da de 80 eram lugares de encontro de gays, até as grandes passeatas em memória das vítimas da doença. A disputa pela descoberta do vírus HIV, envolvendo o americano Robert Gallo e o francês Luc Montagnier, também é acompanhada bem de perto. No centro da trama está o galã Matthew Modine no papel do heróico pesquisador Don Francis, que, juntamente com outros pesquisadores encontram pelo caminho obstáculos como a falta de apoio do governo, as vaidades no meio científico, o medo e a ignorância.

O filme foi baseado no livro And the band played on: Politics, people and the AIDS epidemic, de Randy Shilts, um jornalista que descobriu que era soropositivo logo após ter publicado seu livro em 1987. Sua adaptação para o cinema ajudou a divulgar a história da pesquisa sobre o HIV e também a compreensão de aspectos políticos da prática científica.

Duração da aula: Aproximadamente 3h30min

Objetivos:

Conhecer o histórico da pesquisa da Aids, seu mapeamento até a compreensão da doença pela comunidade científica; Discutir o contexto histórico e social da doença, dos registros dos primeiros casos de pessoas contaminadas com o vírus; compreensão que a doença não está restrita a um grupo de risco, mas toda a população pode se contaminar com o vírus HIV. a- as barreiras impostas pelos bancos de sangue em fazer o controle dos sangues para transfusões; b- a falta de informação e do preconceito da população, e dos meios de comunicação; c- a compreensão de aspectos políticos da prática científica, e da influência de setores externos na Ciência.

Metodologia:

Passo 1: fazer a leitura do material de apoio; Passo 2: assistir o filme; Passo 3: solicitar aos estudantes que apresentem suas impressões da história mostrada pelo filme; Passo 4: debater acerca dos pontos positivos e negativos da obra, assim como detecção de distorções apresentadas pelo filme; Passo 5: fazer perguntas específicas relacionando o filme como a concepção e imagem de ciência presente no imaginário dos estudantes; Passo 6: fazer um comparativo entre as situações demonstradas no filme e o contexto atual da ciência.

Pontos para Discussão:

Reconstruir o surgimento da epidemia da AIDS e a conjunção de esforços e conflitos para enfrentá-la. Discutir as concepções de cientista presente entre os alunos (questão dos estereótipos, mídia e senso comum). Demonstrar que a construção do conhecimento científico não é uma atividade solitária. Demonstrar que a ciência não é neutra e sofre interferências de setores externos como mídias, empresas e governos.

79

Texto para Leitura:

OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de. E a vida continua... complexa. In: OLIVEIRA, B.J. (Org.). História da Ciência no Cinema. Belo Horizonte: Argumentum, 2005, p. 69-82.

4.4.1.4 Filme O Óleo de Lorenzo

Tema: Data: Título do filme: O Óleo de Lorenzo

Ficha Técnica:

Título original: Lorenzo's Oil Direção: George Miller Ano: 1992 País: Estados Unidos Gênero: Drama Duração: 135 min

Sinopse:

O Óleo de Lorenzo, conta a história verídica e comovente, onde o casal Odone toma conhecimento que o único filho é portador de uma doença genética rara e terminal. Lorenzo tinha cinco anos de idade, quando começou apresentar os primeiros sintomas da doença, ele passa a ter diversos problemas de ordem mental que foram diagnosticados como ALD, uma doença extremamente rara que provoca uma incurável degeneração no cérebro, levando o paciente à morte em no máximo dois anos. Os pais do menino ficam frustrados com o fracasso dos médicos e a falta de medicamento para uma doença desta natureza. Assim, começam a estudar e a pesquisar sozinhos, na esperança de descobrir algo que possa deter o avanço da doença. Toda a família dos Odone está envolvida na busca da cura e compreensão da adenoleucodistrofia (ALD). A doença está relacionada ao sexo, que Lorenzo herdou o gene defeituoso da mãe, e esse gene não se manifesta em mulheres, sendo elas apenas as portadoras. Os pais de Lorenzo iniciam por conta própria uma incursão na literatura especializada em bioquímica, para compreender e entender como se dá a interação entre os ácidos graxos monoinsaturados e saturados. Os Odones obtêm alguns pequenos sucessos em suas pesquisas, mas enfrentam os olhares desconfiados tanto dos pais da associação quanto dos médicos, mas na sua luta contra a ALD, estes se empenham e mobilizam cientistas, pais em congressos para discutir e encontrar uma possível cura para esta doença. Depois de alguns anos, os pais de Lorenzo conseguem encontrar a solução para o enigma da atuação dos ácidos graxos e conseqüentemente a cura para a adenoleucodistrofia, o ácido oléico, hoje conhecido como o óleo de Lorenzo.

Duração da aula: Aproximadamente 3h30min

Objetivos:

Conhecer o histórico da doença da Adenoleucodistrofia - ADL, do diagnóstico até a compreensão da doença pela comunidade científica; Analisar e discutir o contexto: Da doença, suas causas e implicações; O processo de busca de informações dos pais de Lorenzo para entender o que é ALD;

80

Como o conhecimento científico pode se dar fora da comunidade científica; A desconfiança da associação de pais de portadores de ALD e dos médicos com relação as pesquisas dos Odones; A autoridade da ciência; As influências dos meios externos nos processos de construção do conhecimento científico; Os debates e disputas entre cientistas. A validação do conhecimento científico pela comunidade científica.

Metodologia:

Passo 1: fazer a leitura do material de apoio; Passo 2: assistir o filme; Passo 3: solicitar aos estudantes que apresentem suas impressões da história mostrada pelo filme; Passo 4: debater acerca dos pontos positivos e negativos da obra, assim como detecção de distorções apresentadas pelo filme; Passo 5: fazer perguntas específicas relacionando o filme como a concepção e imagem de ciência presente no imaginário dos estudantes; Passo 6: fazer um comparativo entre as situações demonstradas no filme e o contexto atual da ciência.

Pontos para Discussão:

Discutir os aspectos econômicos que influenciam a pesquisa científica e a complexidade das relações entre a ciência e a sociedade. Perceber é possível haver ciência fora de uma comunidade científica. Discutir sobre alguns conceitos de Genética; Indagar acerca do respeito e o esclarecimento dos participantes em pesquisas; As relações entre cientista, as disputas e a falta de diálogo em algumas situações entre os pares; A validação do conhecimento científico.

Textos para Leitura:

FREITAS, Renan Springer de. O óleo de Lorenzo: como é possível existir ciência fora da comunidade científica. In: OLIVEIRA, B. J. de (Org.). História da Ciência no Cinema. Belo Horizonte: Argumentum, 2005, p. 57-68. MAESTRELI, Sýlvia Regina Pedrosa; FERRARI, Nadir. O óleo de Lorenzo: o uso do cinema para contextualizar o ensino de genética e discutir a construção do conhecimento científico. Genética na Escola, v. 1, n.2, p. 35-39, 2006.

4.4.1.5 Filme Contato

Tema: Data: Título do filme: Contato

81

Ficha Técnica:

Título Original: Contact ;Título no Brasil: Contato Direção: Robert Zemeckis Ano: 1997 País: Estados Unidos Gênero: Ficção Científica Tempo de Duração: 150 minutos

Sinopse

Baseado no livro homônino escrito em 1985 por Carl Sagan, “Contato”, filme dirigido por Robert Zemeckis, retrata a vida da radio astrônoma Elie Arroway (Jodie Foster) por sinais de vidas extraterrestres inteligentes. Para alcançar seu objetivo, Ellie realiza observações de estrelas que ela considera candidatas a terem desenvolvido algum tipo de civilização tecnologicamente avançada, que permita o envio de sinais pelo espaço. Seu local de trabalho é o observatório de Arecibo, em Porto Rico. Depois de perder o corte do financiamento pela National Sciencie Foundation, Ellie e sua equipe recorrem a patrocinadores privados, obtendo apoio de um excêntrico milionário, Hadden. Após receber os recursos, as pesquisas são reiniciadas, com o uso do rádio interferômetro da cidade de Socorro, no Novo México. Ellie é considerada por muitos dos seus colegas como uma cientista inteligente, talentosa e comprometida. Apesar disso, sua reputação é frequentemente questionada por causa de sua escolha por um tema pouco comum de pesquisa. O filme, também nos apresenta discussões entre ciência e religião. No Novo México, Ellie e sua equipe usam o conjunto de 27 antenas de radiotelescópios conhecidos como VerynLargen Array (VLA). Neste local, ela obtém finalmente o sinal tão procurado de extraterrestres, proveniente do sistema solar Vega, a decodificação dos sinais permite e reconstituição da primeira cena televisionada da Terra, Hitler, em 1938, durante a abertura dos jogos olímpicos de Berlim. Junto da imagem, há uma mensagem detalhada de instruções para a construção de uma máquina de tele transporte. Vários países financiam a construção da primeira máquina, que é destruída por um terrorista norte-americano. Uma segunda máquina é construída pelos japoneses, onde Ellie tem a oportunidade de realizar a viagem.

Duração da aula: Aproximadamente 3h30min

Objetivos:

Debater e refletir sobre: A presença da mulher na ciência; As possibilidades de haver vida extraterrestre; A não neutralidade da ciência; Os debates e disputas entre cientistas; A ética nas pesquisas e relações entre os cientistas; Relação entre a ciência e a religião.

Metodologia:

Passo 1: fazer a leitura do material de apoio; Passo 2: assistir o filme; Passo 3: solicitar aos estudantes que apresentem suas impressões da história mostrada pelo filme; Passo 4: debater acerca dos pontos positivos e negativos da obra, assim como detecção de distorções apresentadas pelo filme; Passo 5: fazer perguntas específicas relacionando o filme como a

82

concepção e imagem de ciência presente no imaginário dos estudantes; Passo 6: fazer um comparativo entre as situações demonstradas no filme e o contexto atual da ciência.

Pontos para Discussão:

Demonstrar o papel e a importância da mulher no processo de construção da ciência; Enfocar a não neutralidade da ciência e que a mesma sofre interferências de setores externos como mídias, empresas e governos. As brigas entre os cientistas, e a falta de ética que pode ocorrer nestas relações. Preconceito, a falta de informação e o medo em relação à vida extraterrestre. A relação entre ciência e religião.

Texto para Leitura:

MONTEIRO, Rosana Horio. Contato: Afinal, estamos sozinhos? In: OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de. História da Ciência no Cinema 2. Belo Horizonte: Argumentum, 2007, p. 131-143.

4.4.1.6 Filme Greystoke - A Lenda de Tarzan, O Rei da Selva

Tema: Data: Título do filme: Greystoke - A Lenda de Tarzan, O Rei da Selva.

Ficha Técnica:

Título Original: Greystoke: The Legend of Tarzan, Lord of the Apes Título no Brasil: Greystoke - A Lenda de Tarzan, O Rei da Selva Direção: Hugh Hudson Ano: 1984 País: Estados Unidos Gênero: Aventura Duração: 137 min. Estúdio/Distribuidor: Warner Home Vídeo

Sinopse:

No século XIX, período em que o colonialismo europeu, travou grandes batalhas pela distribuição de terras e poder no solo da Ásia, em especial da África, o jovem casal herdeiros do condado de Greystoke, na Escócia, sai em expedição num navio que naufraga perto da selva africana. O casal consegue chegar à terra firme. A mulher grávida tem seu filho em uma casa nas árvores. Algum tempo depois a mãe do bebê morre e o pai é brutalmente assassinado pelos macacos, o menino órfão é acolhido e adotado por uma macaca, que havia perdido seu filhote. O menino cresce como se fosse um símio, apreendendo a sobreviver na selva, e torna-se líder do grupo. Nesta época o continente africano recebia constantes expedições de cientistas na busca de novos espécimes da fauna e flora local, um dos guias da expedição D´Arnot, após ser atacado e ferido por aborígenes, consegue, com a ajuda de Tarzan se salvar, o mesmo reconhece Tarzan, como sendo o herdeiro de Greystoke. Após ligar os fatos referentes às anotações de Clayton, sobre o infortúnio do casal após o naufrágio, o homem-macaco é descoberto, e com grande dificuldade ele consegue entender que não é um símio, aprende a falar e se comportar como um homem civilizado e volta à

83

civilização, onde é herdeiro de uma grande fortuna. A chegada ao mundo civilizado causa em Tarzan grande desconforto, pois é um universo cheio de regras e comportamentos, a adaptação com esta nova realidade é estranha demais para ele. Sua prima Jane ensina-lhe regras de etiqueta e ambos acabam se apaixonando. O conflito interno de Tarzan se agrava, quando está no Museu de Ciências Natural e se depara, com espécies de animais mortas e empalhadas, macacos mortos em mesas de laboratórios sendo analisados e dissecados para estudo. Incompreendido e sem compreender a sociedade que o cerca, lorde Greystoke retorna à selva, levando D´Arnot e Jane. O filme se encerra com o personagem adentrando a floresta, numa sugestão de que ele abandona a civilização para não mais retornar.

Duração da aula: Aproximadamente 3h30min

Objetivos:

Refletir sobre a relação do homem com os animais e a natureza, a partir da relação de Tarzan com os primatas que o criaram; Observar o processo das expedições de coleta de espécimes para os Museus de Ciências Naturais. Refletir sobre o comportamento e a ação dos homens sobre os demais animais, no sentido de exploração e manipulação, desrespeitando o direito a vida.

Metodologia:

Passo 1: fazer a leitura do material de apoio; Passo 2: assistir o filme; Passo 3: solicitar aos estudantes que apresentem suas impressões da história mostrada pelo filme; Passo 4 : debater acerca dos pontos positivos e negativos da obra, assim como detecção de distorções apresentadas pelo filme; Passo 5: fazer perguntas específicas relacionando o filme como a concepção e imagem de ciência presente no imaginário dos estudantes; Passo 6: fazer um comparativo entre as situações demonstradas no filme e o contexto atual da ciência.

Pontos para Discussão:

O choque entre culturas distintas; As imposições e atrocidades que ocorrem nos meios científicos em nome da ciência no início do século XX; A relação homem natureza.

Texto para Leitura:

OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de.Greystoke, a lenda de Tarzan , o rei da selva: evolucionismo e crítica da ciência. In: FREITAS, de M. V. História da Ciência no Cinema. Belo Horizonte: Argumentum, 2005, p.131-145.

4.5 SUGESTÕES DE FILMES PARA APRENDER SOBRE CIÊNCIAS

O cinema é mais um recurso que o professor tem a seu alcance, mas não substitui os

demais. O cinema apenas complementa o ensino e serve de apoio para enriquecer e

problematizar as discussões acerca de certos assuntos e conteúdos. Trazer a magia e o encanto

das telas para a sala de aula é mais uma opção de proporcionar aos estudantes um momento de

reflexão e olhar crítico sobre vários assuntos.

84

Ao usar o cinema como um instrumento de auxílio pedagógico durante as aulas de

Ciências e Biologia, pode-se questionar e debater com os alunos a respeito da percepção que

estes apresentam sobre a complexidade da construção de fatos científicos, concepção e

história da ciência. Os filmes podem ser importantes instrumentos para contribuir na

elaboração de uma adequada concepção de natureza da ciência, colaborando para melhor

entendimento dela pelos alunos e professores.

4.5.1 Relação de alguns filmes comerciais que apresentam pontos para se discutir a

História da Ciência na Educação Básica

Sinopse O filme retrata a vida no Rio de Janeiro na primeira década do século XX. A história desenvolvida tem como tema principal a famosa Revolta da Vacina, ocorrida em 1904, que agitou a cidade do Rio de Janeiro, trazendo para o cenário público as decisões, pouco populares, das medidas da saúde pública no Brasil, ou seja, a obrigatoriedade da vacinação. O Rio de Janeiro vivencia, nas últimas décadas do século XIX e no início do século XX, uma série de epidemias que dizimavam parcelas significativas da população e ameaçavam a economia como um todo. Concomitantemente ao movimento da revolta da vacina haviam os problemas enfrentados pelos imigrantes, especialmente as mulheres de origem judaica, envolvidas em uma rede de prostituição na cidade portuária. Adequado para: O filme retrata a vida no Rio de Janeiro na primeira década do século XX. A história desenvolvida tem como tema principal a famosa Revolta da Vacina, ocorrida em 1904, que agitou a cidade do Rio de Janeiro, trazendo para o cenário público as decisões, pouco populares, das medidas da saúde pública no Brasil, ou seja, a obrigatoriedade da vacinação. O Rio de Janeiro vivencia, nas últimas décadas do século XIX e no início do século XX, uma série de epidemias que dizimavam parcelas significativas da população e ameaçavam a economia como um todo. Concomitantemente ao movimento da revolta da vacina haviam os problemas enfrentados pelos imigrantes, especialmente as mulheres de origem judaica, envolvidas em uma rede de prostituição na cidade portuária.

Sugestão de Leitura FIGUEIREDO, Betânia Gonçalves. Sonhos Tropicais: caminhos e descaminhos da saúde pública no Brasil no início do século XIX. In: OLIVEIRA, B.J. (Org.). História da Ciência no Cinema. Belo Horizonte: Argumentum, 2005, p. 21-38. SCLIAR, Moacyr. Sonhos Tropicais. São Paulo: Cia das Letras, 1992.

SONHOS TROPICAIS

Fonte: www.adorocinema.com/filmes/sonhos-tropicais/

Ficha Técnica Título: Sonhos Tropicais País de origem: Brasil Ano: 2002 Duração: 120 min Roteiro: Fernando Bonassi, Victos Navas e André Sturm (baseado em livro de Moacyr Scliar)

85

GIORDANO BRUNO

Fonte: www.filmesepicos.com/2009/07/giordano-bruno-1973.html

Ficha Técnica Título: Giordano Bruno Ano: 1973 País de origem: Itália Duração: 123 min Roteiro: Piergiovanni Anchisi, Lucio De Caro e Giuliano Montaldo.

Sinopse O roteiro mostra um dos episódios mais polêmicos da história: o processo e a execução do astrônomo, matemático e filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600), queimado na fogueira pela Inquisição por causa de suas teorias contrárias aos dogmas da Igreja Católica. Adequado para: Discutir a questão das relações entre a Igreja e a Ciência. Em torno de 400 anos após esses acontecimentos, as relações entre Igreja e Ciência, em determinados momentos, ainda são tensas. Temas mais complexos como a bioética, a clonagem, a manipulação genética, a teoria criacionista e o uso de células-tronco embrionárias têm provocado confrontos entre as explicações científicas e as convicções religiosas, quando são discutidos com argumentos de fundo dogmático e doutrinário. A poucos anos atrás, no Brasil, a polêmica da introdução da teoria criacionista no currículo de escolas públicas do Rio de Janeiro, reascendeu a discussão da interferência da Igreja nos domínios do Estado.

Sugestão de Leitura CAMENIETZKI, C. Z.; CARVALHO, D.O. de. Giordano Bruno: A igreja e os trinta anos que nos separam de um filme. In: OLIVEIRA, B. J. de (Org.). História da Ciência no Cinema. Belo Horizonte: Argumentum, 2005, p. 83-93.

86

UMA MENTE BRILHANTE

Fonte: www.adorocinema.com/filmes/mente-brilhante/

Ficha Técnica Título Original: A Beautiful Mind Título no Brasil: Uma Mente Brilhante Ano: 2001 País de Origem: Estados Unidos Gênero: Drama Duração: 134 minutos Direção: Ron Howard

Sinopse John Nash (Russell Crowe) é um gênio da matemática que, aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua genialidade e o tornou aclamado no meio onde atuava. Mas aos poucos o belo e arrogante John Nash se transforma em um sofrido e atormentado homem, que chega até mesmo a ser diagnosticado como esquizofrênico pelos médicos que o tratam. Porém, após anos de luta para se recuperar, ele consegue retornar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel. Adequado para: Estudar aspectos sobre a esquizofrenia aguda; Mostrar o ambiente acadêmico americano entre os anos 1940-1980; Analisar as relações entre Ciência (matemática) e a Política.

Sugestão de Leitura D’AMBROSIO, Ubiratan. Uma mente brilhante: John Forbes Nash Jr. In: OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de. História da Ciência no Cinema. 2. Belo Horizonte: Argumentum, 2007, p. 111-130.

87

O VENTO SERÁ TUA HERANÇA

Fonte: http://melhoresfilmes.com.br/filmes/o-vento-sera-tua-herança/

FichaTécnica: Título Original: Inherit the Wind Diretor: Daniel Petrie Título no Brasil: O vento será tua herança Ano: 1960 País de origem: Estados Unidos Tempo de Duração: 129 minutos Gênero: drama Direção: Stanley Kramer Roteiro: Jerome Lawrence e Robert Lee

Sinopse Em 1925, dois brilhantes advogados se opõem no julgamento de um professor processado por ensinar a Teoria Darwiniana aos seus alunos. O filme baseia-se em um fato real ocorrido em Dayton, Tenessee, em 1925. A sociedade americana vivia um período de aumento da religiosidade e do fundamentalismo, com forte rejeição das teorias darwinianas. Vários estados do sul proibiram terminantemente seu ensino, como Oklahoma, Flórida, Mississipi e Tenessee, apesar de inúmeros protestos contra a inconstitucionalidade da decisão pela American Civil Liberties Union, com sede em New York. O julgamento durou 12 dias e concentrou a atenção de todo o país.

Adequado para: Discutir as relações entre Ciência e Religião.

Sugestão de Leitura DUARTE, Regina Horta. O vento será tua herança... Ciência, evolucionismo e sociedade. In: OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de. História da Ciência no Cinema. Belo Horizonte: Argumentum, 2005, p. 11-20.

88

NARRADORES DE JAVÉ

Fonte:www.adorocinema.com/filmes/narradores-de-jave/

Ficha Técnica Título: Narradores de Javé País de origem: Brasil Ano: 2003 Duração: 102 minutos Direção: Eliane Café Roteiro: Luiz Alberto de Abreu e Eliane Caffé Distribuição: Rio Filme

Sinopse Rodado entre junho e setembro de 2001 em Gameleira da Lapa, cidade do interior da Bahia, “Narradores de Javé” conta a história de um povoado que, ao ver a iminência de ter seu vilarejo inundado pelas águas de uma represa, vê como único modo de impedir o acontecimento na transformação do local em um patrimônio da humanidade. Para isso os moradores decidem passar para o papel todas as lendas sobre a origem de Javé, e assim chamam o escrivão local Antônio Biá para escrever um livro sobre o vilarejo. Acontece que Biá tinha sido banido de Javé pela população por ter difamado praticamente toda esta através de cartas que ajudaram a salvar seu emprego nos Correios locais. Mas no desespero a população acaba dando esta oportunidade do escrivão se redimir. A partir daí, Biá passa a ir de casa em casa na região para passar para o papel as lendas guardadas nas cabeças dos moradores de Javé. O único problema é que cada morador conta uma história diferente, e sempre defendendo os interesses de seus antepassados. O filme é brilhante, ganhou os prêmios principais nos Festivais do Rio e de Recife, onde em ambos o trabalho, não menos magnífico, de José Dumont foi premiado. Dumont é a alma do longa, onde pode treinar toda sua capacidade de improvisação. Praticamente todas as marcantes falas de Biá, como “piaba de silicone”, “tapioca de exu”, “manicure de lacraia”, “pokemon de Jesus”, “omelete de cupim”, “desinteria de tinta”, “um dilúvio bovino”, “clonado de miolo de pão”, entre outras, foram criadas pelo próprio ator. Adequado para: Mostrar o confronto entre o progresso e as tradições de um lugarejo; Citar o problema das terras em nosso país, onde os primeiros habitantes demarcavam, por si mesmos, a extensão de suas propriedades; Discutir questões sócio-ambientais criadas pela construção de barragens; O status da ciência e o senso comum.

Sugestão de Leitura MASSARANI, Luisa. Ciência,Sociedade, câmara... ação! In:OLIVEIRA, B.J. (Org.). História da Ciência no Cinema 2. Belo Horizonte: Argumentum, 2007, p. 115130.

89

Sinopse Jonas (Enrique Diaz) chega em Kenoma, um pequeno povoado que fica no "fim do mundo" e é habitado por trabalhadores rurais, garimpeiros e pequenos comerciantes. Jonas permanece no local atraído pela jovem Tari (Mariana Lima). O modo de vida em Kenoma é primitivo. Entre os habitantes destaca-se Lineu (José Dumont), que se dedica há 20 anos à tarefa de, em um moinho abandonado, construir uma máquina capaz de produzir constantemente sem necessidade de combustível: o moto-perpétuo. Obcecado pelo sonho de instalar em Kenoma a primeira máquina auto-suficiente, Lineu converte sua existência numa infinita sucessão de tentativas e fracassos. Ele não investe apenas contra as leis da física, que o frustam em cada uma de suas tentativas, como também contra os anseios de Gerônimo (Jonas Bloch), dono do moinho e maior proprietário da região, opositor de sua invenção. Pragmático, Gerônimo quer fazer de Kenoma uma cidade próspera. Para ele a máquina de Lineu é um empreendimento que não funciona, mas consome tempo e energia. Jonas alia-se a Lineu, mais fascinado por sua determinação do que por sua obra. Enquanto cresce a cumplicidade entre os dois, aumenta a dificuldade de Jonas concretizar seu amor por Tari paralelamente à busca pela realização de um antigo sonho da humanidade: o moto perpétuo.

Adequado para: Discutir aspectos sobre a relação entre progresso/desenvolvimento e tecnologia; Visão da ciência e do trabalho do cientista X o poder econômico; O status quo da tecnologia.

Sugestão de Leitura FREIRE Jr., O, FREIRE, V. O conflito entre o moderno e a tradição. In:OLIVEIRA, B.J. (Org.). História da Ciência no Cinema. Belo Horizonte: Argumentum, 2005, p. 147-159.

KENOMA

Fonte:www.meucinemabrasileiro.com/filmes/kenoma/kenoma.asp

Ficha Técnica Título original: (Kenoma) País de origem: Brasil Ano: 1998 Direção: Eliane Caffé Duração: 109 min Gênero: Drama

90

O PONTO DE MUTAÇÃO

Fonte: www.google.com.br/imagens

Ficha Técnica Título original: Mindwalk Título no Brasil: Ponto de Mutação Ano:1990 Duração: 110 min Direção: Bernt Capra

Sinopse O filme se desenrola ambientado na França, início da Década de 1990. Sonia Hoffmann (Liv Ullmann) é uma física desiludida com os rumos tomados pela ciência. Após descobrir que suas pesquisas com microlasers estavam sendo utilizadas no projeto americano Guerra nas Estrelas, ela decidiu isolar-se em um vilarejo francês para repensar a vida. Embora tendo a chance de conviver um pouco mais com a única filha, enfrenta um processo difícil desta convivência e o atrito entre as duas acaba sendo acentuado porque suas percepções do mundo divergem completamente. No mesmo país, na capital, vive o poeta Thomas Harrimann (John Heard). Ele abandonou a cidade de Nova York por não suportar um modo de vida mercantilizado e refugiou-se no velho mundo para recuperar-se da decepção profissional e de um casamento fracassado, e para tentar superar, com tranqüilidade, a crise de meia idade que o acomete. Na América no Norte, seu amigo Jack Edwards (Sam Waterston) é um político bem sucedido. Porém, após perder as eleições para presidente dos Estados Unidos da América, sente-se esgotado, confuso em relação aos rumos de sua carreira e solicita socorro. Edwards recebe um convite de Thomas para passar uma temporada na França e o encontro dos dois com Sonia Hoffmann marca o início do conflito proposto em Ponto de Mutação. O cenário onde a trama tem sua evolução é um castelo no litoral noroeste, no alto do Mont Saint Michel. Uma construção medieval localizada na fronteira com a Normandia e a Bretanha. A região é famosa por possuir a maré mais alta do mundo. Em alguns pontos, ela atinge até quinze metros e deixaria o vilarejo de La Mont Saint Michel completamente isolado do continente, se não fosse um acesso construído para ligar a ilha à França. O local é propício para a discussão que toma toda a estória, por conter objetos que remontam à história da sociedade moderna e evocam as linhas de pensamento inerentes a ela. Adequado para: Discutir a visão cartesiana e a (não)neutralidaade da ciência ; Compreender a importância da mudança de paradigmas para se adquirir uma visão sistêmica do mundo vivo; Obs. O personagem do político no filme é inspirado em Al Gore, que foi vice-presidente de Bill Clinton e candidato a presidente, derrotado por Bush em 2000. Atualmente lidera uma campanha internacional contra o aquecimento global com o documentário “Uma verdade inconveniente”, premiado com um Oscar em 2007.

Sugestão de Leitura OLIVEIRA, B. J. de. O ponto de mutação e o de interrogação. In: OLIVEIRA, B.J. (Org.). História da Ciência no Cinema. 2. Belo Horizonte: Argumentum, 2007, p. 145-156. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. 25 ed. São Paulo: Cultrix, 2005.

91

QUASE DEUSES

Fonte: www.adorocinema.com/filmes/quase-deuses/

Ficha Técnica Título Original: Something the Lord Made Título no Brasil: Quase Deuses Ano: 2004 País de origem: Estados Unidos Tempo de Duração: 110 minutos Direção: Joseph Sargent Roteiro: Peter Silverman e Robert Caswell Produção: Mike Drake e Julian Krainin Gênero: Drama

Sinopse A história está ambientada em Nashville, em 1930, Vivien Thomas (Mos Def) é um hábil marceneiro, que tinha um nome feminino pois sua mãe achava que teria uma menina e, quando veio um garoto, não quis mudar o nome escolhido. Ele é demitido quando chega a Grande Depressão, pois estavam dando preferência para quem tinha uma família para sustentar. A Depressão o atinge duplamente, pois sumiram as economias de 7 anos, que ele guardou com sacrifício para fazer a faculdade de medicina, pois o banco faliu. Thomas consegue emprego de faxineiro, trabalhando para Alfred Blalock (Alan Rickman), um médico pesquisador que logo descobre que ele tem uma inteligência privilegiada e que poderia ser melhor aproveitado. Blalock acaba se tornando o cirurgião-chefe na Universidade Johns Hopkins, onde está pesquisando novas técnicas para a cirurgia do coração. Os dois acabam fazendo uma parceria incomum e às vezes conflitante, pois Thomas nem sempre era lembrado quando conseguiam criar uma técnica, já que não era médico. Adequado para: Discutir a ciência como um trabalho coletivo, sem desconsiderar as qualidades individuais; Investigar a trajetória histórica do conhecimento sobre o corpo humano até a culminância das cirurgias cardíacas mais complexas; Discutir a relação entre Ciência e política.

Sugestão de Leitura FIGUEIREDO, B.G. Quase deuses e a técnica da medicina. In:OLIVEIRA, B.J. (Org.). História da Ciência no Cinema. 2. Belo Horizonte: Argumentum, 2007, p. 59-69.

92

QUESTÃO DE SENSIBILIDADE

Fonte: www.cinematotal.com/filmes

Ficha Técnica Título original: The Twilight of the Golds Título no Brasil: Questão de Sensibilidade Ano: 1997 País de origem: Estados Unidos Duração: 95 min Gênero: drama Direção: Ross Marks,

Sinopse O enredo faz uma sátira ao preconceito brincando com a tese de que a homossexualidade teria origem genética. Suzanne (Jennifer Beals) está grávida. Seu marido, Rob (Jon Tenney), que é médico e trabalha com genética (análise do genoma humano), é questionado por seu superior se vai ou não fazer a análise genômica de seu filho, visto que, no momento, é uma possibilidade real para todas as pessoas que assim o desejarem. A partir de algumas ponderações sobre a necessidade ou não de realizar tal exame, Rob acaba aceitando a tarefa e analisa os genes do feto. O resultado mostra que, para a maioria das características, não há problemas, com exceção da probabilidade de ser homossexual, que é de 90%, pois contém a seqüência descrita por Hamer. Este fato torna-se um problema grave para a família uma vez que Suzanne tem um irmão (Brendan Fraser) que é homossexual assumido. A família convive com a homossexualidade, no entanto, não a aceita, e entra em crise ao discutir sobre preconceitos e alterações genéticas. Suzanne sente- se pressionada pelo marido e pelos pais a interromper a gestação, ao mesmo tempo em que o irmão lhe aponta uma série de motivos para não tomar tal atitude.

Adequado para: Discutir conceitos básicos de genética; Tratar questões éticas relacionadas à orientação sexual; Problematizar a visão determinista em genética e o trabalho do cientista e sua vida pessoal.

Sugestão de Leitura SCHEID, N. M. J. e ARAÚJO, M. C. P. de, – Questão de Sensibilidade: um filme para conversar sobre a homossexualidade e conceitos básicos de genética. Revista Genética na Escola. v. 03, n. 01, p. 33-35, 2008. Disponível em: www.sbg.org.br .

93

ALEXANDRIA

Fonte: www.imagensfilmes.com

Ficha técnica Título Original: Agora Título no Brasil: Alexandria País de Origem: Espanha Ano: 2009 Gênero: Drama Duração: 125 minutos Estúdio/Distrib.: Flashstar Direção: Alejandro Amenábar

Sinopse O filme relata a história de Hipátia (Rachel Weisz), filósofa e professora em Alexandria, no Egito entre os anos 355 e 415 da nossa era. Única personagem feminina do filme, Hipátia ensina filosofia, matemática e astronomia na Escola de Alexandria, junto à Biblioteca. Resultante de uma cultura iniciada com Alexandre Magno, passando depois pela dominação romana, Alexandria é agitada por ideais religiosos diversos: o cristianismo, que passou de religião intolerada para religião intolerante, convive com o judaísmo e a cultura greco-romana. Hipátia tem entre seus alunos Orestes, que a ama, sem ser correspondido, e Sinésius, adepto do cristianismo. Seu escravo Davus também a ama, secretamente. Hipátia não deseja casar-se, mas se dedica unicamente ao estudo, à filosofia, matemática, astronomia, e sua principal preocupação, no relato do filme, é com o movimento da Terra em torno do Sol. Adequado para: Discutir o papel da mulher na ciência, pois Hipátia de Alexandria é a primeira mulher conhecida por seu papel na transmissão da Tradição. Foi a líder da escola platônica de Alexandria no ano 400 antes de nossa era. Ela também foi professora e contribuiu enormemente para o desenvolvimento da matemática; Comentar sobre a visão de mundo/estilo de pensamento predominante que impede a busca de outras explicações; Dogmatismo na Ciência e Ciência X Religião.

Sugestão de Leitura CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. 2 ed. Reform. – São Paulo: Moderna, 2004. Coleção Polêmica. CHASSOT, A. A ciência é masculina? É sim, senhora! São Leopoldo: Editora da Unisinos, 2003.

94

UMA PROVA DE AMOR

Fonte: www.google.com.br/filmeumaprovadeamor-imagens

Ficha Técnica Título original: My Sister’s Keeper Título no Brasil: Uma prova de amor Ano: 2009 País de origem: Estados Unidos Duração: 106 mim. Direção: Nick Cassavetes Gênero: Drama

Sinopse Este filme, aborda a história de Kate (Sofia Vassilieva) uma jovem que tem na infância o quadro de leucemia diagnosticado. Sua mãe Sara (Cameron Diaz), uma advogada de sucesso afastada do ofício para cuidar da filha doente, e seu pai, o bombeiro Brian (Jason Patric), tentam de todas as maneiras reverter o quadro da doença, e quando veem todas as possibilidades cessarem, são aconselhados por um médico a fazer uma fertilização in vitro para que a criança se torne uma doadora. Anna é projetada para ser compatível com a irmã, ao nascer já tem como missão salvar a vida da irmã, desde bebê passa a doar sangue, medula óssea e células para a irmã mais velha. Só que o quadro clínico de Kate não melhora, e a única chance de uma possível recuperação é a doação de um rim. A estas alturas, Anna é uma adolescente de 11 anos que cansou de todo esse processo cirúrgico, então decide ter uma vida normal; ama a irmã, mas quer ter controle do próprio corpo. Anna, procura o advogado Campbell Alexander (Alec Baldwin) e resolve iniciar um processo contra seus pais, pedindo uma “emancipação médica”. Na verdade, a parte oculta dessa história e que vai sendo revelada ao longo de flashes no filme, é que Anna ama a irmã, quer ajuda-lá, mas é Kate que não quer mais se submeter aos tratamentos, que quer ter o direito de morrer e pede à irmã que procure um advogado e entre com um pedido de emancipação do próprio corpo. Sara fica horrorizada com a ação judicial, e decide a todo custo manter Kate viva. Essa, por sua vez, começa a viver um comovente romance com Taylor (Thomas Dekker), um paciente do hospital que também sofre da mesma patologia. Há ainda o irmão Jesse (Evan Ellingson), que se vê cada vez mais ignorado pelos pais, uma vez que estava sempre em segundo plano. O caso é levado a julgamento, e durante este processo todas as histórias mal resolvidas da família vêem a tona. Sara em tribunal, durante as perguntas do advogado Campbell, parece se dar conta de todo o sofrimento que a filha mais nova era submetida, para extração de material para o tratamento da irmã. Por ser um caso delicado, que envolve uma questão ética, a juíza De Salvo (Joan Cusack), marca uma audiência em seu gabinete com Anna, para ouvi-lá, sem a presença da mãe e do advogado, e posteriormente dar sua sentença. Durante o processo o pai de Anna é compreensível e solidário com a decisão da caçula.

Adequado para: Discutir questões relacionadas à engenharia genética; questões referentes aos transplantes de órgãos; Tratar questões voltadas ao direito de escolha entre: a vida e a morte; Abordar temas relacionados à ética.

Sugestão de Leitura RIBEIRO, D. C. Autonomia: viver a própria vida e morrer a própria morte. Caderno de Saúde Pública [online]. 2006, vol.22, n.8, pp. 1749-1754. Acessado em 28/08/2011.

95

DECISÕES EXTREMAS

Fonte: www.google.com.br/filme-decisões-extremas-imagens

Ficha Técnica Título: Decisões Extremas Ano: 2010 País de origem: Estados Unidos Duração: 105 min. Diretor: Tom Vaughan Produção: Michael Shamber, Stacey Sher e Carla Shamberg Roteiro: Robert Nelson Jacobs Distribuidora: Sony Pictures Gênero: Drama

Sinopse Este filme é baseado em história real, os filhos do casal Aileen (Keri Russel) e John Crowley (Brendan Fraser) têm uma doença degenerativa conhecida como Doença de Pompe. O filme inicia com o aniversário de 8 anos de Megan ( Meredith Droeger), que é a segunda filha do casal, Megan e o irmão mais novo Patrick ( Diego Velazquez) tem Pompe, e vivem com permanente cuidados de sua mãe e enfermeiras, as crianças apresentam os músculos frágeis, não conseguem ficar em pé, os órgãos como coração e o fígado crescem demais. Com o aniversário de oito anos da filha, aumenta a preocupação com o estado de saúde dela, pois os pacientes com essa doença genética não passam dos nove anos de idade, em alguns casos morrendo antes disso. O casal Crowley está desesperado e procura uma cura para a doença dos filhos. Em suas buscas por mais informações e possíveis formas de tratamento, Aileen encontra na internet artigos do cientista Robert Stonehill (Harrison Ford) que pesquisa uma droga para o tratamento do Mal de Pompe. O cientista trabalha como pesquisador na Universidade de Nebraska, e apresenta um comportamento excêntrico e imprevisível. Aileen é um administrador de empresas muito competente, mas determinado a encontrar a cura para a doença dos filhos, decide pedir demissão do cargo que ocupa e investir nas pesquisas do cientista. Aileen e a esposa fundam uma associação de pais de portadores de Pompe. O casal Crowley juntamente com Stonehill abrem uma empresa com o objetivo de desenvolver uma droga que salve a vida das crianças e que prove as teorias do cientista. Na urgência de resultados Aileen, vende a empresa para um grupo rival; vários cientistas da mesma empresa estão trabalhando em 4 equipes separadas para encontrar um medicamento eficaz para o tratamento da doença. O gênio difícil de Stonehill , e a presença de administrador incomoda os demais pesquisadores, pois Aileen não é cientista, é um leigo na área, mas como o vice-diretor da empresa mencionou que para terem o cientista na equipe, ele é parte do pacote. Uma droga está pronta para ser testadas em portadores e verificar sua eficácia. Aileen vibrante com a notícia, que “surge a uma esperança para seus filhos, recebe a notícia que eles não poderão fazer parte do grupo de testes, que irá ser aplicado em crianças com até 2 anos. No decorrer do drama o estado de saúde de Megan se agrava, desesperado e sabendo que os filhos não poderam receber a medicação, ele toma uma decisão, entra escondido no laboratório e tenta roubar algumas amostras quando é surpreendido, mas com a ajuda do cientista consegue resolver a situação. Após tentativa frustrada de incluir os filhos nos testes, Aileen é repreendido severamente pelos seus superiores, e acaba sendo demitido, sem nenhum vínculo como laboratório, seus filhos são aceitos no teste e recebem a medicação. Adequado para: Discutir os aspectos econômicos que influenciam a pesquisa científica e a complexidade das relações entre a ciência e a sociedade; Perceber é possível haver ciência fora de uma comunidade científica; Discutir sobre conceitos de Genética e conhecer um pouco mais sobre a Doença de Pompe; Debater sobre questões referentes à ética.

Sugestão de Leitura MAIA, H., MAZZOTTI, T. É possível ensinar ética nas escolas? Revista da Faced, nº 10, 2006, p.113- 123. FREITAS, Renan Springer de. O óleo de Lorenzo: como é possível existir ciência fora da comunidade científica. In: OLIVEIRA, B. J. de (Org.). História da Ciência no Cinema. Belo Horizonte: Argumentum, 2005, p. 57-68.

96

TEMPO DE DESPERTAR

Ficha Técnica Título original: Awakenings Título no Brasil: Tempo de Despertar Ano: 1990 País de origem: Estados Unidos Direção: Penny Marshall Duração: 121min. Gênero: drama

Sinopse Malcon Sayer (Robert Willians) é um médico neurologista que durante alguns anos trabalhou como pesquisador em uma universidade. Desempregado, ele consegue emprego como médico em um hospital psiquiátrico. O local e a forma como os pacientes eram tratados pelos médicos e enfermeiros incomodavam Sayer, que ao realizar um exame em uma paciente, observou que está não reagia a qualquer estímulo, mas quando lhe era arremessada uma bola, a mesma a pegava. Após, esse fato, o médico começou a observar os demais pacientes e investigar o histórico deles, constatando que os mesmos levavam uma vida normal, e repentinamente começam a apresentar perda do controle dos membros, fala, até ficarem estáticos, como se estivessem “adormecidos”, no entanto, que reagiam a alguns estímulos e que se fossem medicados de maneira certa poderia despertar. Ao pesquisar mais o assunto, chega à conclusão de que o medicamento L-DOPA, uma nova droga que está sendo usada em pacientes com Mal de Parkinson, pode ser o medicamento ideal para despertar os pacientes deste quadro em que se encontram. No entanto, ao levar o caso para o diretor do hospital, este só autoriza o tratamento de um paciente, imediatamente o médico escolhe Leonard Lowe (Robert De Niro), que há décadas estava adormecido. A equipe médica inicia a administração da droga L-DOPA em Leonard, que inicialmente não demonstra nenhum resultado, após Sayer administrar uma dosagem maior ao paciente, este acorda do seu sono durante a noite. Os resultados impressionantes obtidos com Leonard fazem com que Sayer, desenvolva um projeto para tratar mais pacientes com a doença, e ao conseguir que os demais pacientes catatônico despertem do estágio no qual se encontravam, despertam cheio de alegrias, entusiasmos, determinando também um renascimento para Sayer, que obcecado pelo trabalho e suas pesquisas, descobre junto com seus pacientes as coisas simples da vida. Só que este despertar dura apenas uma estação, e os pacientes voltam ao estágio inicial, adormecidos. Essa história, é baseada em fatos reais, retrata os laços de amizade, a força de vontade da alma humana, os olhos atentos de um médico pesquisador, e a determinação de uma mãe para enfrentar uma doença até então desconhecida.

Adequado para: Discutir o papel dos cientistas e as formas como estes levantam e testam suas hipóteses; Investigar a trajetória da doença; Problematizar as relações entre equipe médica, família e pacientes.

Sugestão de Leitura SACKS, O.W., Tempo de Despertar. Tradução Laura Teixeira Motta. 6 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. OLIVEIRA, B. J. (Org.). História da Ciência no cinema. Belo Horizonte-MG: Argumentum, 2005. ___ (Org.). História da Ciência no cinema. 2. Belo Horizonte-MG: Argumentum, 2007.

97

O JARDINEIRO FIEL

Fonte: www.adorocinema.com/filmes/tempo-de-despertar

Ficha Técnica Título original: The Constant Gardener Título no Brasil: O Jardineiro Fiel Ano: 2005 País de lançamento: Estados Unidos Direção: Fernando Meirelles Duração: 129 min. Gênero: drama

Sinopse O filme “O Jardineiro Fiel”, com direção do brasileiro Fernando Meirelles (2005) levanta as questões sobre os duvidosos interesses e práticas de “fictícias” empresas farmacêuticas, foi baseado no livro do inglês John Le Carré, publicado em 2002. O “O Jardineiro Fiel” tem como relato da morte de Tessa, esposa do diplomata Justin. Com a morte de sua esposa sua vida se transformou numa “aventura” a fim de descobrir a verdadeira razão do assassinato de sua companheira. A cada dia suas convicções políticas ficavam abaladas. O filme nos conta o envolvimento de inescrupulosos e poderosos grupos financeiros que manobravam com os laboratórios, transformando vidas humanas em deploráveis cobaias, na pressa irresponsável de lançar novos produtos farmacêuticos no mercado. Justin que apesar de ter tido na vida a posição privilegiada de diplomata britânico, ganhando conhecimento de toda a maldade e de como bilhões de dólares são anualmente movimentados pelas empresas que possuem o monopólio de fórmulas e pesquisas na área e na produção de medicamentos; e que esses grandes laboratórios possuem todos os recursos seja humano ou financeiro e são os representantes da indústria farmacêutica dos países mais desenvolvidos. Esses grupos farmacêuticos são responsáveis pela movimentação do dinheiro que muitas vezes superam o que chamamos de PIB (Produto Interno Bruto) dos países subdesenvolvidos e pré-emergentes. Justin,a partir desta descoberta, o seu íntimo sofre uma transformação desregrada dos paradigmas criados em toda sua trajetória de vida, levando aos pouco ao empobrecimento espiritual em busca de respostas que cada vez mais o surpreendia. No decorrer da trama do assassinato da esposa foi acusado e apontado como um marido traído. Quando se depara com a verdade, de que aquele que seus amigos acusavam de amante, amigo traidor, era na verdade homossexual e tinha por sua esposa, um amor acima das vicissitudes bestiais do sexo. As pessoas, as quais consideravam amigos e companheiros de trabalho mostraram o que de mais sórdido e cruel pode haver numa amizade. São personagens de uma humanização quase perfeita. Vão do mal urbano propriamente dito ao ingênuo e despreparado primitivo. Neste ambiente de ramificações mundiais que vai de Naiorobi na África, passando pela Europa e raspando no Canadá, este romance de Le Carré é leitura imperdível para os amantes de uma boa ficção com resquícios de verdade das profundezas insondáveis caráter humano. O “Jardineiro Fiel” ainda nos coloca frente à realidade do continente africano. Abandonada pelos países ricos, sobrevivendo à custa de doações que constituem migalhas, partilhada entre tiranos locais que nada mais são do que detentores do capital internacional, a África se decompõe e se torna cada dia mais terra de ninguém em grandes porções de seu território. Adequado para Discutir questões relacionadas à (bio)ética; Demonstrar que a ciência não é neutra e sofre interferências de setores externos como empresas, governos e mídia; Promover debates a respeito do Continente Africano, e a maneira como países subdesenvolvidos são tratado pelas nações ricas.

Sugestão de Leitura SANTOS, E.G., FRIEDRICH, S.F., SCHEID, N.M.J. A (Bio)ética e o Jardineiro Fiel. In: V Encontro regional sul de ensino de biologia e IV simpósio latino americano e caribenho de educação em ciências do Icase, 2011, Londrina – PR. Anais do Encontro

98

Regional Sul do Ensino de Biologia e IV Simpósio Latino Americano e Caribenho de Educação em Ciências do ICASE. Londrina: UEL, 2011. p. 01-10. MAIA, H., MAZZOTTI, T. É possível ensinar ética nas escolas? Revista da Faced, nº 10, 2006, p.113- 123.

99

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste trabalho possibilitou constatar que uma possível resposta ao

problema de pesquisa que indagava como se poderia problematizar a concepção de ciência e

do fazer científico com a finalidade de melhorar a educação científica na escola básica, pode

estar na discussão de aspectos de História da Ciência presente em filmes comerciais. Para

obter a réplica a essa indagação, inicialmente procurei investigar as concepções que os

estudantes ao final da Educação Básica têm a respeito da ciência e da atividade científica em

uma sociedade cada vez mais complexa e influenciada pelas tecnologias.

Durante o processo de pesquisa e análise das entrevistas constatei que a grande

maioria dos sujeitos da pesquisa apresenta uma concepção distorcida ou equivocada sobre a

natureza da ciência. No imaginário desses alunos, a ciência e os cientistas estão acima do

bem e do mal. A ciência é neutra, e somente pessoas muito inteligentes podem se dedicar a

essa área prevalecendo neles a visão empírico-indutivista. Após o desenvolvimento do projeto

“Cinema e Educação”, embora fossem percebidos alguns indicativos de que a concepção de

ciência fora problematizada, não se pode concluir que esses estudantes agora terão uma visão

adequada do tema. Certamente, não é tão simples e rápido provocar o questionamento de

concepções impressas ao longo de anos pela metodologia dos professores, pelos materiais

didáticos utilizados e por opiniões presentes na mídia.

Não obstante os resultados, posso afirmar que o objetivo de avaliar a contribuição do

cinema na introdução da História da Ciência para problematizar a concepção de ciência e do

fazer científico promovendo a melhoria da educação científica desde a escola básica foi

alcançado. Fica evidente que é preciso (re) pensar a maneira de o professor apresentar a

Ciência aos estudantes. Devemos ter consciência de que o ensino de ciências deve buscar

formar cidadãos cientificamente alfabetizados, capazes de entender, utilizar e aplicar no

cotidiano os conceitos que aprendem em sala de aula.

100

Entendendo que a educação passa por transformações, procuro salientar que, para

reverter a visão simplista e ingênua da ciência presente no senso comum dos estudantes, os

docentes devem buscar uma mudança de postura e uma ruptura com as práticas convencionais

que reforçam o desinteresse dos jovens por essa área.

Cabe destacar que a concepção de Ciências dos professores da Educação Básica

depende da formação que receberam durante os cursos de formação inicial e do material

didático que utilizam em suas aulas. Vale ressaltar que as universidades devem inserir em

suas grades curriculares a disciplina de História e Filosofia da Ciência, o que permitirá aos

futuros professores momentos de discussão, apropriação e entendimento de que a Ciência é

uma atividade humana, sujeita a ações e pressões da academia e da sociedade, que se encontra

em processo contínuo de debates e construção do conhecimento científico.

Por isso, é importante que o professor seja um pesquisador e demonstre para seus

educandos que o ensino de ciências é um processo dinâmico que sofre influência e também

influencia vários setores da sociedade, pois a ciência está inserida em um contexto sócio-

histórico-cultural. Trazendo essa prática para a sala de aula, o professor possibilita um ensino

que contemple o conhecimento sobre a ciência e desperte nos estudantes o gosto e vontade de

aprender ciências.

Neste século, a informação está cada vez mais acessível aos nossos alunos pelos

diversos meios de comunicação como rádio, revistas, jornais, computadores conectados à

internet e televisão, mídia que mais influencia e molda o comportamento e o pensamento da

sociedade. Ao analisar as informações, principalmente as veiculadas por alguns filmes,

percebe-se como são distorcidas e estereotipadas as imagens passadas ao público como, por

exemplo, a do papel da ciência e dos cientistas.

Muitos filmes retratam a ciência de maneira positivista, na qual os cientistas são

apresentados como criaturas loucas, diabólicas e atrapalhadas ou heroicas e aventureiras, mas

capazes de inventos miraculosos. É fundamental, portanto, destacar a importância de o

professor ter uma boa formação inicial, pois sua atuação em sala de aula lhe permitirá abordar

essas situações veiculadas pelos canais de comunicação instigando o senso crítico e o olhar

atento dos jovens para essas informações e produções das representações da ciência e poderá,

assim, valer-se desse material para enriquecer suas aulas.

No mundo contemporâneo, novos espaços de ensino-aprendizagem se definem.

Assim, o professor precisa fazer uso desses espaços para conduzir de forma adequada sua

ação docente ao realizar essa investigação com o objetivo de avaliar a contribuição que o

cinema pode possibilitar.

101

Após a oficina e análise dos dados, constatou-se que os alunos das séries finais da

Educação Básica, apresentam dificuldades na compreensão da construção do conhecimento

científico, porém eles afirmaram ser uma maneira interessante e prazerosa discutir e aprender

ciências a partir do uso de filmes.

É importante destacar que as histórias dos filmes contam um pouco da época em que

foram concebidos, as ideias daquele momento, a evolução do conhecimento cultural e

científico, ajudando na formação do pensamento do sujeito. Mas, para que isso ocorra, é

primordial destacar que o papel do professor na utilização desse recurso é decisivo. Sua

orientação e apoio ao aluno são vitais para que a introdução da História da Ciência na

Educação Básica, visando desenvolver uma adequada compreensão da natureza da Ciência,

colabore para a melhoria da educação científica.

Ao me deparar com a realidade da sala de aula, verifiquei o pouco tempo disponível

para o uso de filmes, pois a grande maioria necessita mais de 90 minutos de exibição. Para

buscar a solução desse problema e indicar os filmes que os professores podem utilizar nas

suas aulas para discutir a História da Ciência, foi que elaborei a proposta do livro que traz

sugestões de filmes e formas de se trabalhar com eles, assim como o programa Movie Maker,

que ensina como fazer recortes de partes de um filme.

Reconhecendo que este trabalho tem limitações, como em todos os estudos de

pequena escala, seus resultados não são necessariamente representativos da população geral.

Além disso, a recomendação é de que se utilizem filmes por um tempo maior e de forma

contínua para oportunizar discussão de elementos da História da Ciência e obter resultados

mais consideráveis. No entanto, este estudo aponta a possibilidade de o cinema ser utilizado

como forma de problematizar as concepções sobre ciência e o processo de construção do

conhecimento, bem como sobre a imagem do cientista, além de indicar que novas pesquisas

deverão aprofundar essa investigação.

102

REFERÊNCIAS

ALFONSO-GOLDFARB, A. M. O que é história da ciência. 4ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2004. BALDINATO, J. O.; PORTO, P. A. Variações da história da ciência e a (pseudo-) história de Michael Faraday”. História da ciência e ensino - propostas, tendências e construção de interfaces, São Paulo: Livraria da Física, 2009, p. 80-5.

BARBOSA, P. Metamorfoses do real: arte, imaginário e conhecimento estético. Porto: Edições Afrontamento, 1995.

BARCA, L.: As múltiplas imagens do cientista no cinema. Comunicação & educação, Ano X, Número 1, p. 31- 39, jan/abr 2005. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Rio de Janeiro: Edições 70, 1977. BARROS, C.; PAULINO, W. R. Física e química. 48 ed. São Paulo: Ática, 2000.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: história. Brasília: MEC/SEF, 1998. CAPRA, F. O ponto de Mutação. 25 ed. São Paulo: Cultrix, 2005. CARNEIRO, V.L.Q. A TV como objeto de estudo na formação e prática de educadores: prazer e crítica. Cadernos de educação | FaE/UFPel | Pelotas [28]: 197 - 212, janeiro/junho 2007. CHASSOT, A. A ciência é masculina? É sim, senhora! São Leopoldo: Editora da Unisinos, 2003. _________. A ciência através dos tempos. 2 ed. Reform. São Paulo: Moderna, 2004. COSTA, F.C. Primeiro cinema: história do cinema mundial / Fernando Mascarello (org.). Campinas, SP: Papirus, 2006.

CUNHA, M. B. da; GIORDAN, M. A Imagem da Ciência no Cinema. Química nova na escola. Vol. 31, n. 1, p. 09-17, fev 2009.

103

DANTAS, A. L. O cinema como ferramenta pedagógica no ensino médio. Faculdade Pitágoras de Londrina. Dez., 2007. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J.A; PERNAMBUCO, M.M. Ensino de ciências fundamentos e métodos. 3° ed. São Paulo: Cortez, 2009. EL-HANI, C. N; TAVARES, E. J. M.; ROCHA, P. L. B. da. Concepções epistemológicas de estudantes de Biologia e sua transformação por uma proposta explícita de ensino sobre História e Filosofia das Ciências. Investigações em ensino de ciências, Porto Alegre, v. 9, n.3, p. 01-50, dez 2004. Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/public/ensino. Acessado em 25/06/2010.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GIL-PÉREZ, D. Contribuición de la Historia y de la Filosofía de las Ciencias al desarrollo de un modelo de enseñanza/aprendizaje como investigación. Enseñanza de las ciencias, v. 11, n. 2, p. 197-212, 1993.

GUILHEM D. ; DINIZ, D. ; ZICKER, F. . Pelas lentes do cinema: bioética e ética em pesquisa. Brasilia: Editora Letras Livres/ Ed. UnB, 2007.

HARRES, J. B. S. Uma revisão de pesquisas nas concepções de professores sobre a natureza da ciência e suas implicações para o ensino. Investigações em ensino de ciências. Porto Alegre, v.4, n.3, 1999. Disponível em: www.if.ufrgs.br/public/ensino. Acessado em 27/06/2010. KRASILCHIK, M.; MARANDINO, M. Ensino de ciências e cidadania. 2° ed. São Paulo: Moderna, 2007. KHUN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1978. MACHADO, J. L. A. Cinema para o Ensino Fundamental. Portal planeta e educação: um mundo de serviços para a escola. Disponível em: http://planetaeducacao.com, acessado em 25/08/2010. MAIA, H., MAZZOTI, T. É possível ensinar ética nas escolas? Revista da Faced, nº 10, p.113-123, 2006. MARTINS, L. A. P. A História da Ciência e o Ensino de Biologia. Jornal semestral do grupo de estudo e pesquisa em ensino e ciência da faculdade de educação da Unicamp, v. 5, p. 18-21, 1998. MARTINS, A. F. P. História e Filosofia da Ciência no Ensino: há muitas pedras nesse caminho. Caderno brasileiro ensino de física, v. 24, n. 1: p. 112-131, abr. 2007. MARTINS, R. A. de. Introdução. A história das ciências e seus usos na educação. p. xvii-xxx. In: SILVA, C. C. (ed.). Estudos de história e filosofia das ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo: Livraria da Física, 2006.

104

MATTHEWS, M. R. Science teaching: the role of history and philosophy of science. London: British Library Cataloguing, 1994. _________. História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v. 12, n. 3, p. 164-214, 1995. MENÉNDEZ, A.; MEDINA, R. M. Cine, historia y medicina. Suplemento de Conecta nº 1. Issn 1576-4826, (s.d ). MESQUITA, N. A. da S.; SOARES, M. H. F. B. Visões de Ciência em Desenhos Animados: uma alternativa para o debate sobre a construção do conhecimento científico em sala de aula. Ciência & educação, v. 14, n. 3, p. 417-29, 2008. MONTEIRO, M. Cinema e Escola: a vocação educativa dos filmes. Diálogo cinema e escola - Boletins. TVE Brasil, 2006. MORAN, J. M. O vídeo na sala de aula: Comunicação e educação, São Paulo, (2): p. 27- 35, jan./abr. 1995. MORAN, J. M. Desafios da televisão e do vídeo à escola. Texto de apoio ao programa Salto para o Futuro da TV Escola no módulo TV na Escola e os Desafios de Hoje. No dia 25/06/2002. Disponível: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/tedh/tedhtxt2b.htm2 NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. 2° ed. São Paulo: Contexto, 2005. OLIVEIRA, B. J. Cinema e imaginário científico. História, ciências, saúde - manguinhos, v. 13 (suplemento), p. 133-50, out 2006. _________. (Org.). História da ciência no cinema. Belo Horizonte-MG: Argumentum, 2005. _________. (Org.). História da ciência no cinema 2. Belo Horizonte-MG: Argumentum, 2007.

_________. O profeta e o cientista: jogadas da ciência em sociedade. In: VI Encontro nacional de pesquisa em ensino de ciências, Florianópolis, 2007. OLIVEIRA, V. D. R. B. As dificuldades da contextualização pela história da ciência no ensino de biologia: o episódio da dupla-hélice do DNA. 2009. 92f. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, Londrina –PR. OLIVEIRA, D. E. M. B.; REZENDE, L. A. Cinema e educação precário limite. In: Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste, 2007. PETRUCCI, D.; DIBAR URE, M. C. Imagen de la Ciencia en alumnos universitarios: una revisión y resultados. Enseñanza de las ciencias. Barcelona, v.2, n.19, p. 217-229, 2001. PRESTES, M. E. B.; CALDEIRA, A. M. A. A importância da história da ciência na educação científica. In: Filosofia e história da biologia, São Paulo: ABHFB, 2009. vol. 4, p. 01-16.

105

QUINTAL, J. R.; MORAES, A. G. A importância da História da Ciência no aprendizado em Física. In: Maria Helena Roxo Beltran; Fumikasu Saito; Rosana Nunes dos Santos e Wagner Wuo. (Org.). História da ciência e ensino: propostas, tendências e construção de interfaces. São Paulo: Livraria da Física, 2009. p. 75-79.

RIBEIRO, D. C. Autonomia: viver a própria vida e morrer a própria morte. Caderno de saúde pública [online]. 2006, vol.22, n.8, pp. 1749-1754. Acessado em 28/08/2011. RIZZINI I. et al. Adolescentes brasileiros, mídia e novas tecnologias. Alceu, v. 06, n.11, p. 41 – 63, jul/dez 2005. ROCCO, M. T. F. Linguagem autoritária: televisão e persuasão. São Paulo: Brasiliense, 1989.

SACKS, O.W. Tempo de Despertar. Tradução Laura Teixeira Motta. 06 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. SANTOS, E.G., FRIEDRICH, S.F., SCHEID, N.M.J. A (Bio)ética e o Jardineiro Fiel. In: V Encontro regional sul de ensino de biologia e IV simpósio latino americano e caribenho de educação em ciências do ICASE, 2011, Londrina – PR. Anais do Encontro Regional Sul do Ensino de Biologia e IV Simpósio Latino Americano e Caribenho de Educação em Ciências do ICASE. Londrina: UEL, 2011. p. 01-10. SCHEID, N. M. J. A contribuição da História da biologia para a formação inicial de professores de ciências biológicas. 2006. 215f. Tese (Doutorado em Educação Científica e Tecnológica) – Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis.

_________. Contribuições do Cinema na Formação Inicial de Professores de Ciências Biológicas. Vivências, Erechim, v. 04, n. 06, outubro/2008. Disponível em: http://www.reitoria.uri.br/~vivencias. Acessado em 04/07/09. SCHEID, N. M. J.; ARAÚJO, M. C.P. de – Questão de Sensibilidade: um filme para conversar sobre a homossexualidade e conceitos básicos de genética. Revista genética na escola. v. 03, n. 01, p. 33-35, 2008. Disponível em: http://www.sbg.org.br. Acessado em 12/06/09. SCHEID, N. M J.; FERRARI, N.; DELIZOICOV, D. Concepções sobre a natureza da ciência num curso de Ciências Biológicas: imagens que dificultam a educação científica. Investigações em ensino de ciências – v.12(2), p. 157-181, 2007. SCLIAR, M. Sonhos tropicais. São Paulo: Cia das Letras, 1992. SILVA, C.C.; MARTINS, R. A. A teoria das cores de Newton: um exemplo do uso da História da Ciência em sala de aula. Ciência & educação, v. 9, n. 1, p. 53-65, 2003. SILVA, C.P et al. Subsídios para o uso da História das Ciências no Ensino: Exemplos Extraídos das Geociências. Ciência & educação, v. 14, n.3, p.497-517, 2008.

106

SOUSA, B. J. O cinema na escola: aspectos pedagógicos do texto cinematográfico. 2005. 142f. Dissertação de Mestrado em Educação. Universidade Católica de Goiás Goiânia. VANNUCCHI, A. I. História e filosofia da ciência: da teoria para a sala de aula, 1996. 131f. (Dissertação de Mestrado) – Instituto de Física e à Faculdade de Educação. USP – Universidade de São Paulo, São Paulo.

107

APÊNDICE A

MOVIE MAKER

Neste capítulo, apresentaremos algumas dicas de como utilizar o programa

computacional Movie Maker, com o qual é possível fazer recortes de partes de filmes, ainda

editar vídeos acrescentando nestes imagens e músicas.

TUTORIAL BÁSICO DO WINDOWS MOVIE MAKER

OBJETIVOS: Conhecer o software pertencente ao sistema operacional Windows,

bem como iniciar seu manuseio.

Ao ligar o computador, ativamos Iniciar/ Todos os programas/ Windows Movie

Maker

108

II) Temos a tela de apresentação do Movie Maker

Em Arquivo - Importar Imagem ou Importar Videos, ativamos a busca pela pasta

onde estão as imagens ou vídeos a serem trabalhados, selecionaremos as imagens e vídeos

desejados e importaremos para o Movie Maker:

As imagens/videos selecionados serão importadas para a Coleção de imagens do

documento:

109

III) Utilizando o mouse, arrastaremos as imagens ou videos para o Storyboard.

110

Agora podemos inserir efeitos em Exibir Transições de Vídeo. A forma de

incluirmos este efeito no nosso vídeo é, depois de selecioná-lo, arrastá-lo até o storyboard, no

local específico, entre os quadros:

Com as transições dispostas de acordo com a idéia de produção, podemos editar

nossas imagens acionando o recurso Exibir Efeitos de Vídeo. Continuaremos com o

movimento de “arrastar e soltar”. O lugar específico para “soltarmos” o efeito de vídeo é

sobre a estrela cinza que se encontra no canto inferior esquerdo de cada imagem disposta no

Storyboard.

111

Para inserirmos títulos, legendas ou créditos no nosso clipe, devemos selecionar a

opção Criar Títulos ou Créditos

Se desejarmos inserir uma tela só com texto, podemos selecionar: Título ao Início do

Filme, Título Antes do Clipe Selecionado, Título Após o Clipe Selecionado:

112

Se optarmos por inserir legenda nas imagens, a opção é: Título ao Clipe

Selecionado. Assim, seu texto irá aparecer sobre a imagem.

IV) Se desejarmos inserir Créditos ao Final do Filme é só selecionar esta opção e digitar seu texto:

113

Quaisquer das opções acima levarão à tela a seguir. Digitaremos o texto na janela

própria para este fim. Após poderemos alterar a animação do título, bem como editar a fonte e

a cor do texto.

V) Definidas as opções, clicar em Concluído, adicionar título ao filme.

VI) Para inserção de áudio, clicar em Arquivo – Importar áudio:

114

VII) Importamos o arquivo de áudio

Ativamos a Linha do Tempo e arrastamos o arquivo de áudio para o nosso clipe no

local indicado para ele. No caso de vídeos que já possuem áudio este será arrastado

automaticamente junto com o vídeo. Você pode clicar com o botão direito do mouse sobre a

linha onde ele aparece e retirar o som da gravação se assim desejar deixando rodar apenas a

música escolhida.

115

Enquanto produzimos o clipe, salvamos em Arquivo - Salvar Projeto Como.

Lembrando que as imagens escolhidas para pertencer ao vídeo não podem ser deslocadas de

suas pastas e/ou diretórios. Bem como não poderão ser renomeadas nem excluídas, pois o

Movie Maker pode não encontrá-las quando você abrir o projeto novamente para editá-lo. O

ideal é criar uma única pasta, salvando todas as imagens e vídeos que se vai usar em um

mesmo local do computador até o projeto estar salvo como filme.

Após o filme concluído, devemos salvar o Projeto em Arquivo - Salvar Arquivo de

Filme. A partir daí, não corremos mais o risco de perdermos imagens, devido alguma

alteração. O filme está pronto e poderá ser visualizado por completo.

116

XIX) Fazendo cortes no vídeo – Você pode precisar remover partes de seu vídeo

que não ficaram boas ou simplesmente seccioná-lo em mais partes. Selecione Mostrar Linha

do Tempo:

XX) Selecione o tempo exato em que o vídeo deve ser cortado no display:

117

XXI) A posição da barra de rolagem determina a posição do corte na Linha do Tempo:

XXII) Depois de delimitado o corte, clique na opção Clipe na barra de menu:

118

XVIII) A seguir clique em Definir Ponto de Corte Inicial:

XXIV) Repita o procedimento de definir o ponto de corte com a barrra de rolagem e Linha do Tempo. A seguir vá novamente em Clipe e em Definir Ponto de Corte Final:

119

XXV) Pronto, os cortes foram feitos. Agora vamos dividir um vídeo em duas partes. Primeiro selecione o momento do vídeo em que deseja fazer o corte:

XXVI) Após, clique no botão destacado em vermelho no quadro abaixo:

120

XXVII) O vídeo foi cortado no local demarcado na Linha do Tempo.

Créditos : UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

CENTRO INTERDISCIPLINAR DE NOVAS TECNOLOGIAS

Liane Margarida Rockenbach Tarouco Coordenação

Pedro Moiano Escobar dos Santos

Anita Raquel da Silva Grando Equipe de Desenvolvimento

MATERIAL PRODUZIDO E ELABORADO POR: ANA CLAUDIA MEREGALLI

Professora-assessora de Inclusão Digital – SMED 2008/01

121

APÊNDICE B

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI -

CAMPUS SANTO ÂNGELO (PPGEnCT ) Você está sendo convidado a responder a este questionário que é completamente anônimo.

Ele faz parte da coleta de dados da pesquisa “HISTÓRIA DA CIÊNCIA E CONCEPÇÃO DE

NATUREZA DA CIÊNCIA NO ENSINO MÉDIO: CONTRIBUIÇÕES DO CINEMA”, sob

responsabilidade da pesquisadora Profa. Eliane Gonçalves dos Santos, com orientação da professora

Neusa Maria John Scheid da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões – URI –

Campus de Santo Ângelo.

Caso você concorde em participar da pesquisa, esclarecemos o seguinte: a) que você é livre para, a qualquer momento, recusar a responder às perguntas que ocasionem constrangimentos de alguma natureza; b) que você pode deixar de participar da pesquisa e não precisa apresentar justificativas para isso; c) que todas as informações fornecidas por você serão mantidas em sigilo. f) que, caso você queira, poderá ser informado (a) de todos os resultados obtidos, independentemente do fato de mudar seu consentimento em participar da pesquisa.

ANEXO A – QUESTIONÁRIO 1

1. Dados de identificação: a) Idade:_____anos b) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2) Você gosta de biologia? ( ) sim ( ) não 3) Gosta de assistir filmes? ( ) sim ( ) não 4) Com que frequência você assiste a filmes? ( ) 1 vez por semana ( ) 2 vezes por semana ( ) 3 vezes por semana ( ) 4 vezes ou mais por semana 5) Você tem acesso aos filmes através da: ( ) televisão ( ) internet ( ) cinema ( ) locadora 6) De que categoria de filmes mais gosta? ( ) drama ( ) comédia ( ) ficção científica ( ) suspense ( ) outro- Qual?.......................................................................... 7) Na sua opinião, o uso de filmes na sala de aula pode ajudar para uma melhor compreensão de certos conteúdos e desta maneira facilitar a aprendizagem? ( ) sim ( )não 8) Os filmes podem ajudar a aprender Ciências?

122

( ) sim ( ) não 9) O que é a Ciência? ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 10) O que é preciso para que um conhecimento seja científico? .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 11) Descreva um cientista. ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 12) Cite alguns nomes de cientistas. .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 13) Em sua opinião, quais são as finalidades da ciência? .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. Muito obrigada pela participação!

123

APÊNDICE C

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI -

CAMPUS SANTO ÂNGELO (PPGEnCT) Você é convidado (a) a responder a este questionário que é completamente anônimo.

Ele faz parte da coleta de dados da pesquisa “HISTÓRIA DA CIÊNCIA E CONCEPÇÃO DE

NATUREZA DA CIÊNCIA NO ENSINO MÉDIO: CONTRIBUIÇÕES DO CINEMA”, sob

responsabilidade da pesquisadora Profa. Eliane Gonçalves dos Santos, com orientação da professora

Neusa Maria John Scheid da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões – URI -

Campus Santo Ângelo.

Caso você concorde em participar da pesquisa, esclarecemos o seguinte: a) que você é livre para, a qualquer momento, recusar a responder às perguntas que ocasionem constrangimentos de alguma natureza; b) que você pode deixar de participar da pesquisa e não precisa apresentar justificativas para isso; c) que todas as informações fornecidas por você serão mantidas em sigilo. f) que caso você queira, poderá ser informado (a) de todos os resultados obtidos, independentemente do fato de mudar seu consentimento em participar da pesquisa.

ANEXO B – QUESTIONÁRIO 2

1. Dados de identificação: a) Idade:_____anos b) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2. O que é a Ciência? ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 3. O que é preciso para que um conhecimento seja científico? ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 4. Descreva um cientista. 5. Cite nomes de alguns cientistas. ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

124

6. Em sua opinião, quais são as finalidades da ciência? ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

7. Você fez a leitura dos artigos indicados para cada filme? ( ) sim ( ) não

125