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Seminarios de Ressonância Magnetica Nuclear
Transporte iônico em vidros e vitrocerâmicas de AgI
Prof. Dr. José Pedro Donoso
Universidade de São Paulo
Instituto de Física de São Carlos - IFSC
A fase de altas T do AgI (α-AgI) é conhecida
como um dos melhores condutores iônicos
de Ag: σ ~ 1 S/cm a 150 oC.
A fase α-AgI porém é termodinamicamente
estável apenas a T superiores 147 oC.
A T ambiente o AgI adota a fase hexagonal
(β-AgI) ou a fase zinc-blend (γ-AgI), de baixa
condutividade : σ < 10-6 S/cm a T ambiente
A fase α-AgI consegue ser estabilizada a T
ambiente em matrizes vitreas de AgI ou Ag2O
e MxOy (B2O3, GeO2, MoO3, etc.) usando uma
tecnica de quenching rápido. Os compositos
(vitro cerâmicas) apresentam σ ~ 3×10-2
S/cm a T ambiente.
AgI : condutor “superiônico”
Os espectros do Ag-109 foram obtidos num
Espectrômetro Bruker – 300 a 13.9 MHz
Referência do chemical shift : solução AgNO3
Núcleo 109Ag: spin I = ½ , abundância: 48.65%
γ = 0.198 KHz/G = 1.24×103 s-1.
Fig. 1: espectro estático do vidro homogêneo
O espectro a 22 oC mostra estreitamento
provocado pela mobilidade iônica (motional
narrowing).
Espectro a -100 oC : ∆H (FWHM) = 320 Hz
AgI-based oxide glasses: ∆HRL ~ 5 KHz (25 G)
Fig. 2: espectro estático da vitro cerámica
(composito tipo B)
O espectro a 22 oC tem uma largura de linha
maior (∆H = 230 Hz) que a do vidro (120 Hz).
Este resultado é atribuido ao fato da
distribuição de chemical shifts na vitro cerâmica
ser maior que a do vidro, devido sua estrutura
heterogênea, composta de microcristais de α-
AgI na matriz vitrea.
Entre -20 e -80 oC, a linha desdobra em dois.
Medidas de DSC e XRD não detetaram
nenhuma transição de fase nessas T. O
desdobramento pode ser atribuido a chemical
shift anisotropy ou a interação dipolar.
Fig. 3: espectro MAS da vitro cerámica
(composito tipo B). Como a técnica de rotação
segundo o ângulo mágico promedia as
interações de chemical shift anisotropy e a
dipolo-dipolo, o espectro mostrará apenas os
efeitos isotrôpicos.
A Fig. 3 mostra que, entre -20 e -80 oC, a linha
desdobra em dois componentes. Como este
desdobramento não pode ser por chemical
shift anisotropy nem a interação dipolo-dipolo,
é atribuido a presença de dois chemical shift
(isotropicos) diferentes correspondentes a dois
tipos de Ag+ em ambientes diferentes.
A razão das intensidades integradas dos picos
(i) e (ii) no intervalo de -20 a -80 oC é: 83 : 17
(standard desviation 7%)
Este valor é proximo a razão de matriz vitrea e
das partículas de α-AgI estimadas por SEM,
84 : 16 (±5)
Dado que a vitro cerâmica é constituida
apenas de microcristais de α-AgI (φ = 20-30
nm) dispersos na matriz vitrea, os picos são
atribuidos aos Ag+ nos microcristais (pico ii) e
na matriz vitrea (pico i).
Fig. 3: espectro MAS da vitro cerámica
(composito tipo A). A figura mostra que a
linha desdobra em três componentes.
Em analogia ao composito tipo B, os picos (i)
e (ii) são atribuidos a matriz vitrea e aos
microcristais de α-AgI, respectivamente.
O pico (iii) observado em ~ 700 ppm,
observado anteriormente em vitro cerâmicas
de AgI-Ag2O-B2O3 e AgI-Ag2O-GeO2, é
atribuido a microcristais de fase β-AgI.
A razão das intensidades integradas dos
picos (i), (ii) e (iii) é 53 : 26 : 21
Relaxação spin – rede (T1)
Núcleos: 109Ag: spin I = ½ , abundância: 48.65%
γ = 0.198 KHz/G = 1.24×103 s-1. 127I : spin I = 5/2 , abundância: 100% γ = 0.8519
KHz/G = 5.35×103 s-1.
Distância Ag-I em α-AgI : 2.82Å ⇒ Ag-Ag ~ 1.8 Å
Segundo momento M2(109Ag):
( )( ) 23
6
5422
2 103)1(
4
3G
r
IIAgAgM F −×=
+=−
hγ
( )( ) 2
6
54
1111
22
11
2 6.0)1(
3
14 G
r
SSIAgM
IS
=
+=−
hγ
( ) 2
222 6.0)()( GIAgMAgAgMAgM ≈−+−=
Relaxação spin – rede (T1)
Segundo momento M2(109Ag) ~ 0.6 G2
Taxa de relaxação dipolar:
1
0
2
2
1
015.044.11 −==
s
M
Tdip
ω
γ
ou seja, (T1)min = 67 s.
Valor medido : (T1)min ~1.3 s
Evidentemente a interação dipolar não é o
mecanismo responsável pela relaxação observada.
A interação dominante para o processo de T1 são as flutuações dos campos magnéticos
devidas aos movimentos de saltos dos íons Ag+ entre posições no vidro com diferentes
shielding factors (mecanismo CSA, chemical shift anisotropy). Um outro mecanismo que
deve ser considerado é o da interação escalar 109Ag–109Ag e 109Ag–127I [Phys Rev B 41,
6154, 1990, e 58, 9054, 1998]
Parâmetros obtidos dos dados de relaxação nuclear:
+=
22
01 1
1
c
cAT τω
τδω
τ1
=ex( ) kTE
eT oc ττ =
Conversão: 1 eV = 96.5 kJ/mol
Chemical exchange of silver ions
O comportamento da forma de linha foi atribuido
ao exchange dos cations Ag+ entre dois
ambientes diferentes,
Os Ag+ localizados nos ambientes (i) e (ii)
correspondentes a matriz vitrea e aos
microcristais α-AgI, intercambiam suas
posições. O tempo de exchange é τex
Quando 1/τex é menor que a diferença nas
frequências de ressonância dos dois estados,
δω, o espectro desdobra em duas linhas (figura)
Quando 1/τex e maior que δω, o espectro
colapsa numa unica linha. A temperatura onde
os dois picos começam a colapsar é chamada
temperatura de coalescência. Ali: δω⋅τex ~ 1.
Na vitro cerâmica da Figura 2, a temperatura de
coalescência estaria entre -20 e 0 oC
A coalescência do espectro se deve a difusão
rápida dos íons Ag+ atraves dos microcristais α-
AgI e a matriz vitrea, num processo de exchange.
Desdobramento das linhas na figura é ~ 40 ppm
Como a frequência de Larmor é de 13.9 MHz,
( )( ) Hz556109.13104066 =××= −δω
( )msex 3.0
5562
11===
πδωτ
O tempo de coalescência é:
Tempo de escape
Calculamos o tempo de escape dos íons Ag+ dos microcristais α-AgI devido ao movimento
de difusão aleatória. Dos parâmetros obtidos das medidas de T1 para os cristais α-AgI (E =
0.124 eV e τ0 = 1.3×10-11 s) calculamos o tempo de correlação a -20 oC: τ(253 K) = 3.3×
10-9 s. Como a distância Ag–Ag em α-AgI é de 1.8 Å, o coeficiente de difusão é:
( )( ) s
mrD
212
9
2102
106.1108.36
108.1
6
−
−
−
×≈×
×==
τ
O tempo de escape dos íons Ag+ dos microcristais α-AgI de tamanho L entre 10 e 30 nm:
Este tempo de escape, entre 0.03 a 0.28 ms, está em bom acordo com o valor estimado
para o tempo de coalescência, τex ~ 0.3 ms, sugerindo que os íons Ag+ na vitro cerâmica
se transferem atraves da interface entre o αAgI e a matriz vitrea.
sD
Lt
42
108.23.02
−×−≈=
Condutividades
Condutividade do vidro 74AgI – 8.7Ag2O – 17.3MoO3
Concentração de íons Ag+ : n = 1.75×1028 m-3 (J. Non-Cryst. Solids 38/39, 289, 1980)
Distância de salto: r0 = 1.9 Å
Tempo de correlação na temperatura de (T1)min: τ(213 K) = 1.1× 10-8 s
Coeficiente de difusão nessa temperatura:
Condutividade a 213 K:
O valor experimental é 0.8 S/m a -60 oC. A discrepância é atribuida a um efeito de
muitos corpos. Se define o enhancement fator f:
sm
rD
213
2
0 105.56
−×==τ
mS
kT
zenD084.0
)(2
==σ
στ
τ
σ
σ NMR
NMR
obsf ==
Condutividade da vitro cerâmica 74AgI – 8.7Ag2O – 17.3MoO3 (composito B)
Concentração de íons Ag+ : n = 1.75×1028 m-3 (no vidro) e 1.55×1028 m-3 (nos cristais α-AgI)
Distância de salto: r0 = 1.9 Å
Tempos de correlação: τ(213 K) = 1.9× 10-8 s (no vidro) e 7.6×10-9 s (nos cristais)
Coeficientes de difusão a 213 K:
Condutividades a 213 K:
sm
glass
rD
213
2
0 102.36
−×==τ
sm
AgI
rD
213
2
0 109.76
−×==τ
mS
kT
zenDglass 05.0
)(2
==σm
SkT
zenDAgI 094.0
)(2
==σ
A condutividade do compósito pode ser estimada da expressão de Bruggman:
))(1(
31
dcd
dmix
c
mix
V σσ
σσ
σ
σ
−−
−=
Condutividade da vitro cerâmica 74AgI – 8.7Ag2O – 17.3MoO3 (composito B)
Expressão de Bruggman para a condutividade σmix de um material compósito de 2 fases:
))(1(
31
dcd
dmix
c
mix
V σσ
σσ
σ
σ
−−
−=
onde σd é a condutividade da fase dispersa (os microcristais de α-AgI), σc a da fase
continua (glass) e Vd é a fração de volume da fase dispersa, estimada em 0.15 a partir
da razão entre os picos (i) e (ii) no espectro de NMR (fig. 2 e 3).
σd = 0.094 S/mσc = 0.05 S/mVd = 0.15 037.0
094.0
05.0
31
−=
mixmix σσ
Esta equação é trascendental (ou seja, não pode ser resolvida analíticamente).
mS
mix 055.0=σ
A solução da Eq. de Bruggman requer:
−=
037.0
094.0
05.0
31
mixmixσσ
M1 M2
Solução gráfica:
Solução gráfica da Eq. de Bruggman para a condutividade da vitro cerâmica
σd = 0.094 S/m : condutividade da fase dispersa (os microcristais de α-AgI)
σc = 0.05 S/m : condutividade da fase continua (vidro)
Vd = 0.15 : fração de volume da fase dispersa
Graficamos F(σmix) vs σmix
A solução gráfica F(σmix) = 0 é:
mS
mix 055.0=σ
Valor medido a -60 oC: σexp = 0.28 S/m
(Enhancement factor: f ≈ 5)
A solução da Eq. de Bruggman requer:
0037.0
094.0
05.0)(
31
=
−−
≡ mixmix
mixFσσ
σ
-1.00
0.00
1.00
2.00
1 2 3 4 5 6 7 8
Seqüência1