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Atrás do

Candelabro

Leon Carlos Ferraz

1ª ediçãoSão Paulo SP

2014

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Revisão

Nêodo Ambrosio de Castro

O conteúdo desta obra é de responsabilidade do(s)

Autor(es),proprietário(s) do Direito Autoral. Leon Carlos Ferraz

BIOGRAFIA

Leon Carlos Ferraz nasceu na capital paulista, e é

descendente de imigrantes italianos e franceses,

estabelecidos em São Paulo. Formado em Administração

de Empresas, trabalhou com Transporte Rodoviário e

atualmente com Importação de Insumos Agrícolas em

Comércio Exterior.

Iniciou sua paixão pelo mundo das Artes através da

Fotografia, Cinema e Literatura. Porém, esta última

mostrou-se mais forte há aproximadamente quatro anos,

quando exercitou sua experiência ao escrever suas

memórias de infância. Investiu então na elaboração de seu

primeiro livro, um desafio compensador, e sempre

incentivado pela esposa, filhas e genro. Dedicou-se a ser

um “aprendiz de escritor”, como ele mesmo gosta de

dizer.

Neste seu segundo livro, Leon destaca-se por sua intensa

criatividade e sua imensa vontade de escrever, levando-o

a compartilhar com seus leitores suas ideias e emoções.

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ATRÁS DO CANDELABRO

Agradecimentos

Meus agradecimentos a minha esposa Silvana, sempre

ouvindo a narrativa dos contos e me ajudando a trilhar o

caminho certo, dando a dinâmica necessária que o tema

exige.

Agradeço aos queridos amigos Simone e Alexandre

Fraenkel pelo incentivo e orientação nessa caminhada.

Meus sinceros agradecimentos ao prezado amigo, Poeta e

Escritor Nêodo Ambrosio de Castro por tanta dedicação,

ajuda e incentivo.

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Dedicatória

Ao meu querido e inesquecível pai José Ferraz, amigo e

companheiro de lutas.

Com satisfação dedico a minha querida família em

especial a Silvana, minha parceira em todos os momentos.

Com carinho a três queridos amigos que mesmo distantes,

regam sempre nosso jardim da amizade eterna. Pelo

apoio, pela ajuda e tanto incentivo: Jackie Leal, Sandra

Monteiro e Dany Ricupero( meu querido afilhado).

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SUMÁRIO

Biografia 03

Agradecimentos e dedicatória 04

Apresentação 07

A lenda 10

Onde tudo começou 14

1ª Parte 21

2ª Parte 40

3ª Parte 56

Consultas 75

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ATRÁS DO CANDELABRO

Apresentação

Escrevi esse pequeno conto, aguçado em debater temas

que julgo interessantes. Criei uma cidade situada numa

região de serras, na busca do mágico e do místico. A

cidade está encravada entre três morros, formando um

belo conjunto serrano. Esses aspectos a torna mais linda e

fascinante por sua diversidade de opiniões, de belezas

naturais com rios e cachoeiras borbulhantes, muito

misticismo e de um clima dos mais aprazíveis. A

vegetação é exuberante composta de espécies da caatinga

semiárida e da flora serrana e que após uma visita política

inesperada, torna esse paraíso de cidade um verdadeiro

inferno.

Qual o efeito de um mau exemplo?

Qual prato da balança tem mais peso, o do Bem ou o do

Mal?

Personagens bizarros permeiam pela cidade, cada qual

salientando suas deficiências e principalmente éticas.

Brinquei com meus personagens, não para torná-los

ridículos, mas sim para serem vetores de uma nova

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conscientização de atitudes e mentalidade. Introduzi

simbolismos para dar mais contorno ao que se relatava na

busca de aguçar ao leitor um aprofundamento em cada

caso explicitado. Ousei em mostrar tipos axéropolitanos,

que se manifestam da forma mais despudorada possível.

Em alguns casos não fiz uma descrição, principalmente

física do personagem, justamente para dar ao leitor a

oportunidade de voar e imaginar o personagem ao seu

modo.

Quem é o Seu Com Certeza?

Porque as pessoas não o enxergam por trás do

candelabro?

Dos seus inesquecíveis engenhos afloram histórias

místicas e relevantes. Escravos mortos eram jogados nos

rios. Seriam eles a caminhar no silêncio da madrugada de

Casquálycom?

Brinquei, critiquei, sempre na esperança de que os olhos

sejam abertos para um país melhor. Casquálycom merece

viver em paz em comunhão perfeita entre homem e

natureza. Espero que os fracos de alma dessa cidade

consigam enxergar e reunir os laços de ternura, dando

assim uma nova conscientização a Casquálycom.

Quando a arte te corre no sangue, derramas no dorso livre

um sossego ardente que te devora os recantos da mente.

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Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas,

cidades e regiões, terá sido mera coincidência.

Leon

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ATRÁS DO CANDELABRO

A lenda

Do alto dos morros é o completo encantamento.

Reza a lenda que um jovem pastor que pastoreava suas

ovelhas nas verdejantes encostas de um grande morro em

Terras Brasilis, viu uma estrela cadente muito reluzente

cruzar os céus daquela imensa terra, rasgando-o no

sentido Oeste para Leste. Seus olhos ficaram presos a

aquele encanto de imagem, por alguns segundos sentiu-se

mergulhado em um sonho.

Imensos paredões, cânions, desfiladeiros, grutas, cavernas,

rios e cachoeiras, criaram o ambiente propício ao jovem

pastor de voar pelo universo, enxergando as mais

interessantes e confusas mensagens.

Ser pastor é um sacerdócio, ele não tem quem o defenda e

também cabe a ele, zelar pela existência dos animais. O

pastor está sempre nu, carregando com ele somente seus

sentimentos e fé. Acreditam os historiadores que essa

função que domesticava os animais surgiu no período

neolítico. Esse conjunto torna o pastor alguém muito

especial, sempre só, mas pensamentos voltados a Deus.

Este jovem filho de pastores e artesão em cerâmica era

chamado de Casquálius. Pessoa simples e com um coração

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admirável. Suas atitudes estavam sempre pautadas no

auxílio ao próximo. Não media esforço para agradar seus

animaizinhos ou seus amigos.

No morro ao lado encontrava-se outro pastor de ovelhas,

o jovem Lycom. Este também viu a mesma estrela cadente

muito brilhante cruzar os céus da imensa terra, só que no

sentido Leste para Oeste. Teve as mesmas sensações que

Casquálius, de um êxtase inesquecível. Naquela

imensidão da noite em total solidão, as sílabas de silêncio

cristalizavam-se no vazio das palavras.

Vivia, modestamente, com sua mãe, mas com muito amor

no coração. Lycom por mais simples que fosse tinha a

sensibilidade de sentir as cores que havia dentro das

pessoas.

O povo que os sucedeu, para homenagear os dois pastores

de ovelhas, nomeou a cidade como Casquálycom. Nunca

ninguém ficou sabendo qual dos dois pastores tinha razão

no sentido da estrela cadente, mas fizeram questão de

homenageá-los.

Casquálycon tornou-se uma cidade muito importante no

Axé e em Terras Brasilis com um fluxo imenso de turistas

que vinham visitar a Chapada Brilhantina, com suas

magias e sincretismo religioso dos mais exacerbados.

Séculos e séculos se passaram, mas a terra mágica

sobrevivia, trazendo sempre novas visões e

acontecimentos. Ali a maioria dançava com a paisagem de

suas almas.

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A pequena e pacata cidade prosperou demais e tornou-se

o maior centro aglutinador de esotéricos de Terras Brasilis.

Todos os tipos de esotéricos permeavam por lá, assim

como inúmeras seitas e ONGs. O entardecer visto do

Morro do Mirante era algo de um indescritível esplendor,

assim como do alto dos três morros ver o amanhecer com

o fog (nevoeiro) axéropolitano sobre a cidade.

Todo crescimento exige muita infraestrutura, mais os

políticos acabam sempre negligenciando e com isso

dificultam a vida dos moradores e dos transeuntes de

Casquálycon. A cidade carece de muitas benfeitorias, que

são sempre prometidas, mas nunca cumpridas. Como

sempre os olhos dos políticos não enxergam aquilo que o

povo carece.

Em meio a essa nebulosa de problemas, o místico se

sobressaía e dava vazão a milhares de fatos estranhos.

Uma avermelhada feiticeira russo-lusitana chamada

Zekaduska, usando seu tradicional desaparta-puta, meio a

migué profetizou sobre um dilúvio lacrimal.

*Como dizem os axéropolitanos, desaparta-puta é o perfume

barato, o mesmo que espanta nigrinha.

Entendam a migué, como à vontade.

Até hoje passados tantos séculos, viúvas tresloucadas,

beatas e carolas ainda murmuram; ora por um e ora por

outro, assim dizendo:

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O mundo chora por Casquálius. O mundo chora por

Lycom.

A ambiguidade passou a ser à base da sociedade de

Casquálycom.

Os choques de opinião e atitudes eram frequentes. Não

havia um morador ou transeunte que não deixasse ali

marcas por onde passava.

Que Deus abençoe a todos os moradores de Casquálycom.

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ATRÁS DO CANDELABRO

Onde tudo começou

Terras Brasilis, um “gigante continental” vive um

momento de grande euforia pela eleição presidencial em

primeiro turno. Casquálycom sempre foi uma cidade

tranquila, com grande fluxo de turistas, mais que sempre

respeitaram as leis municipais, principalmente no que

tange a meio ambiente. Havia uma forte conscientização

feita pelo filosofo da cidade Seu Com Certeza, que fazia às

vezes do governo, educando os habitantes da terra. Um

trabalho de anos, fazendo boca a boca com os moradores

da cidade. Seu Com Certeza abria as janelas da vida para

os moradores de Casquálycom, ele sabia mesclar a

sociedade tornado-a uma boa mistura. Era o maestro de

uma sinfônica silenciosa, mas com os mais belos e

diversos acordes.

Com as campanhas nas ruas, todos os partidos políticos

passavam por Casquálycom à caça de votos. Era a única

vez que políticos graúdos procuravam essa cidade. E foi

num início de tarde que a comitiva do Partido Tribalista

chegou à cidade fazendo muito barulho, uma buzinação

imensa trazendo uma enorme carreata na qual em um dos

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seus carros estava o ex-presidente de Terras Brasilis o

arqueado Mula.

A cidade de Casquálycom assim como o estado de Axé

como só poderia ser não se preparou para o evento e todo

axéropolitano tem ojeriza à organização. Quanto mais

bagunçado melhor. Sujeira, desordem e falta de educação,

em Axé, são expressões de cultura e arte.

Axéropolitano que é axéropolitano tem que ser

baderneiro. Eles quando têm que ajudar em algo, alega

sem pudor algum aquela tremenda dor de viado.

* Os axéropolitanos chamam dor de viado à dor no baço.

Após tomarem a praça principal de assalto, Mula e sua

tropa de tribalistas dirigiram-se para um modesto

palanque e de lá proferiu um longo discurso. Promessas e

mais promessas. Fez críticas a todos os candidatos e óbvio

enalteceu a sua candidata Capranéa. O ex-presidente

ofendeu uma candidata chamando-a de x-9 e os outros

ofendendo com palavras de baixo calão. A falta de

educação e ética do arqueado Mula era algo grotesco e

vários jornalistas já faziam suas crônicas do acontecido.

Na cidade não havia grande empolgação pelo arqueado

Mula e cada ênfase que ele dava e os aplausos se

mantinham fracos, ele aumentava o tom da voz, passando

no final a gritar que nem um despirocado. O povo de

Casquálycom com a boa influência do Seu Com Certeza,

não deitava muita simpatia ao destemperado político.

* Entenda-se despirocado como maluco, louco, azuado.