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VELEJANDO NA POLINÉSIA FRANCESA Maio 2013

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Grupo de amigos velejando no Taiti, maio 2013

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VELEJANDO NA POLINÉSIA FRANCESA

Maio 2013

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VELEJANDO NA POLINÉSIA FRANCESA

Somos uma equipe de sete velejadores, grandes pescadores do mar azul e acima de tudo, grandes amigos. Desde 2006, já velejamos muitas vezes juntos e realizamos vários charters em Angra dos Reis, nas Ilhas Virgens Britânicas, em Granada & Granadinas e nas Bahamas. Nosso último charter, no Caribe, foi em 2010 e devido a contratempos passamos quase três anos sem velejar. O grande incentivo para velejar na Polinésia Francesa, veio do nosso parceiro Ricardo: “já que não podemos velejar nos próximos dois anos, vamos economizar e partir para o Taiti em maio 2013!” No início pareceu uma sugestão futurística e fora da nossa realidade. Muito longe e muito cara mas, após várias pesquisas, a idéia se concretizou e, em janeiro de 2011, decidimos velejar no Taiti e realizar nosso sonho.

A Escolha do Catamarã

Em todos os grandes destinos da vela mundial, existem muitas empresas de charter, que oferecem grandes quantidades de veleiros e catamarãs de aluguel. As opções são tantas que chegam a confundir e acarretar insegurança na tomada de decisão. Optamos por consultar uma empresa agenciadora e especializada nesse setor, a Tropical Yachts, que muito nos ajudou a buscar o melhor Cat e pelo menor preço. www.tropicalyachts.com. Basta informar as datas do cruzeiro juntamente com o número de tripulantes e a agência fornece diversas opções de veleiros de várias empresas de charter; inclusive sai mais barato. No nosso caso, já tínhamos decidido

Tripulação da esquerda para direita: Ricardo Meneguzzo, André Detoni, Philip Conolly, Fabiano Becker, Kleber A. Costa Pinto, Antônio Sérgio Medeiros e Ubiratan A. Rayel.

que queríamos um catamarã, veleiro ideal para charters, muito espaçoso e com muito conforto. Recebemos a oferta de um Leopard de 46 pés da Moorings e um Leopard 444 – 2012, da Sunsail, com apenas um ano de uso. Fechamos com o Cat 444, o MANAVAI II, e optamos pelo contrato sem tripulação profissional, classificado internacionalmente como bare boat ou barco vazio.

O Manavi II tem 04 suítes, ar condicionado central em todos os ambientes, uma ampla sala, um cockpit espaçoso na popa e a grande novidade, outro cockpit na proa. A integração total de todos os ambientes, sala, cozinha e deck no mesmo nível, asseguram a confraternização e conforto da tripulação. A cobertura rígida do bimini protege o cockpit do vento e da chuva, acarretando um ambiente acolhedor e confortável. As lâmpadas LED são ótimas, de

Por Philip Conolly

Aeroporto de Santiago - Chile

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baixo consumo, permitindo deixar toda embarcação bem iluminada, sem a preocupação com o consumo das baterias. O comando fica instalado numa posição mais alta, com uma visão ampla da proa e das velas. Todos os cabos das adriças, escotas e o controle do traveller estão na mão do timoneiro. O grande destaque é uma catraca elétrica que permite que o 444 possa ser manobrado apenas por uma pessoa; uma mordomia.

Manavai II – Características Técnicas- Fabricante: Leopard Catamarans - Robertson and Caine’s – África do Sul- Ano de Fabricação: 2012- Comprimento Total: 13,77 metros- Boca:7,25 metros- Calado: 1,3m- Área Vélica: 120 metros quadrados- Motorização: 2 x Yanmar 39 HP - Bote inflável, de fundo rígido, para 8 pessoas com motor de popa 9,9hp - Acomodações: 04 suítes, 02 pequenas camas nos bicos de proa, mais uma cama de casal sobre a mesa do salão. - Banheiros: 04 e uma ducha na popa - Capacidade de água: 1000 litros - Capacidade de combustível: 260 litros óleo diesel - Equipamentos eletrônicos: GPS com plotter, sonda, anemômetro e piloto automático. - Cozinha completa: freezer, geladeira, fogão de quatro bocas com forno.

Catamarã MANAVAI II em Bora Bora. Cockpit .

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Detalhes do MANAVAI II

Salão com a mesa que vira uma grande cama. Cozinha completa com vista para cockpit da popa

Cockpit da proa. A grande inovação do 444Comando com instrumentação e a catraca elétrica aboreste ( na direita)

Mesa para oito pessoas no cockpit de popa Iluminação LED do cockpit

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A Viagem

Saindo do Brasil, a maneira mais rápida e barata para chegar no Taiti é via Santiago do Chile, pela empresa aérea LAN. Da capital chilena, mais um voo de 4,5 horas até a Ilha de Páscoa para reabastecimento e depois 6 horas até Papeete, a capital do Taiti.

Chegamos à Polinésia Francesa às duas horas da manhã, bastante cansados devido as 15 horas de voo, os grandes intervalos de espera nos aeroportos e tudo isso somado a diferença de 7 horas no fuso horário, além da grande expectativa de chegar, que parece aumentar o tempo. No final, chegamos felizes de ter alcançado o nosso tão cobiçado destino. Pernoitamos em Papeete e optamos por um pequeno hotel, quase um albergue, Fare Suisse, propriedade de um jovem Suíço chamado Beni, que fez pessoalmente os transfers para o aeroporto. Tudo muito limpo e com muita cordialidade (www.fare-suisse.com).

Papeete é a capital de toda Polinésia Francesa e tem quase 135 mil habitantes. É uma cidade bem movimentada com um bom comércio, supermercados e um grande mercado público que vale a pena visitar. Só ficamos frustrados com a pequena oferta de pescado à venda. Como pescadores, gostamos de ver espécies diferentes de peixes e as que são consumidas pela população local. Só tinha pedaços de atum e outros pequenos peixes em duas bancas. Ficamos frustrados. Será que é um sinal que estamos fora da temporada de pesca?

Sérgio e André no Mercado Público de Papeete.

Escala na Ilha de Páscoa

Piscina do Hotel Fare Suisse - Papeete.

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No final da tarde, partimos de Papeete, num voo regional para a Ilha de Raiatea, onde fica a sede de quatro grandes empresas de charter de veleiros: a www.moorings.com; www.tahitiyachts.com; www.dreamyachtcharter.com e a www.sunsail.com; O voo de 45 minutos sobrevou as Ilhas de Morea e Huahine, e, dependendo do horário tem-se um lindo visual das ilhas, barreiras de coral e do contraste do azul oceânico com o verde esmeralda das áreas rasas.

Chegamos em Raiatea e fomos recepcionados pelo transfer do Sunset Beach Motel, que nos perguntou se queríamos jantar na cidade ou fazer umas compras para comer nos bangalôs. Esta oferta caiu do céu e rapidamente passamos num pequeno mercado e compramos queijos, salames, baguetes e vinho, certamente um maravilhoso Bordeaux Francês, o primeiro de muitos...! O Happy Hour taitiano estava garantido.

Queijos e vinhos em Raiatea O primeiro Bordeaux ninguem esquece! Bangalô do Sunset Beach Motel

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O hotel ocupa uma grande área a beira mar, muito arborizado, com muitos coqueiros e gramados. Os dez bangalôs são muito bem equipados com uma cozinha completa e varanda com vista para mar. O ambiente é muito bonito, tranquilo, acolhedor e barato para os padrões do Taiti, US$160 p/ bangalô para 04 pessoas. Não tem restaurante e só servem café da manhã se for previamente agendado, US$15 por pessoa www.sunset-raiatea.pf Pela manhã, duas senhoras taitianas, com flores no cabelo, serviram um café maravilhoso, com frutas regionais, queijos e baguetes ao estilo Francês. O ambiente descontraído e bem no estilo polinésio que tanto sonhamos conhecer. Após o “petit déjeuner”, partimos para a Marina Apoiti, para receber o catamarã da Sunsail. O transfer do hotel entrou na marina e estacionou a van exatamente ao lado do nosso Leopard 444. A equipe da empresa de charter nos recebeu com colares de flores. A primeira impressão do nosso Manavai II foi das melhores. O grande catamarã estava atracado de popa e após o embarque constatamos que tínhamos feito uma grande escolha. O barco estava impecavelmente limpo, abastecido e pronto para partir.

Bangalô do Sunset Beach Motel

Café da manhã - Sunset Beach Motel

Frutas de Raiatea

Manavai II - Marina ApoitiSérgio a bordo do Manavai II

Recepção pela Sunsail - Raiatea

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Cada dupla de tripulantes recebe uma responsabilidade no mercado; grupo das carnes e massa, grupo das verduras e frutas e o meu grupo das bebidas, queijos e beliscos...certamente o melhor. Só tivemos dificuldades para comprar ovos, um artigo raro e difícil de comprar no Taiti. Vimos e ouvimos muitos galos cantando, mas onde estão as galinhas? As carnes bovinas são importadas da Nova Zelândia e de excelente qualidade. Os preços são muito acessíveis, 30% mais caro que no Brasil. A cerveja local do Taiti é a Hinano, muito boa. A degustação e aprovação foi feita pelo Bira, mestre cervejeiro de larga tradição. Ele era responsável pela organização, segurança e abastecimento do cooler com muito gelo. Um dia ele me relatou! ...“ Capitão, estamos com problemas hidráulicos a bordo”. Fiquei preocupado. O que será? No guincho, na bomba d’água? ... mas o bom tripulante logo me tranquilizou; o “causo” era a cerveja que estava acabando! Ok, não é sério, mas preocupante. A felicidade da tripulação precisa ser mantida, senão, o happy hour vira um motim! Passamos dez dias velejando, mas contratamos o Manavai por 11 dias. Um a mais, justamente para adaptação e preparar o veleiro com calma, sem estresse e ter tempo para o reconhecimento da ilha. Este procedimento é chamado de Sleep Abord ou durma a bordo. Altamente recomendado para um charter, especialmente depois de uma longa viagem, somada ao fuso horário. Nos dois primeiros dias choveu muito a noite, com grandes aguaceiros durante o dia. Chegamos a pensar que não íamos precisar de protetor solar, mas depois o Sol chegou bravo. A temperatura é muito estável, com a média de 28C. Faz muito calor e o ar-condicionado foi muito utilizado durante todas as noites.

Todos os contratos de charters proíbem a navegação noturna e estamos de pleno acordo. Para que navegar a noite, correr riscos e perder o sono? Consequentemente, planejamos as velejadas e as maiores travessias, sempre para chegar no destino bem antes do anoitecer. Afinal, estávamos de férias nas pérolas do pacífico e as noites eram sagradas e reservadas para nossos happy hours, tomando tragos e contando “causos”.

Compras em Raiatea

Compras em RaiateaCerveja Hinano e o Mestre Cervejeiro Bira

Manavai na Marina Apoiti - Raiatea

Manavai na marina

Marina Apoiti - Raiatea

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O briefing operacional foi realizado por um skipper da Sunsail. Ele me instruiu sobre as ilhas, rotas, melhores locais para fundeio e sobre o sistema de balizamento. Na polinésia, adotam Sistema Internacional de Sinalização Náutica - IALA-A. Nas entradas das barras a baliza verde fica à boreste. O Brasil adota o sistema inverso IALA–B. A língua oficial no Taiti é o francês, mas o inglês é muito falado no comércio e nos ambientes turísticos. Nas ilhas, alguns nativos só falam taitiano e a comunicação é através de sorrisos e mímicas. O povo taitiano é muito acolhedor e gentil. Gostam da nossa música e dos brasileiros e agora, após a Copa das Confederações, certamente ainda mais. A moeda local é XPF ( Franco Pacífico Francês). O Euro e o Dólar americano são muito bem aceitos no comércio, bem como os cartões de crédito. Passamos o dia na marina, acondicionando as tralhas a bordo, preparando as varas, carretilhas, iscas artificiais para pesca e compramos as nossas provisões. Os mercados em Raiatea são pequenos, mas bem abastecidos. A nossa experiência em cruzeiros anteriores, nos ensinou a programar o cardápio de bordo. Um prato principal por dia e para cada receita, quantificamos exatamente as quantidades de temperos e legumes. Desta forma, compra-se apenas o necessário, evitando perdas e viabilizando o armazenamento a bordo. O nosso Chefe de Cozinha, Ricardo , é um exímio cozinheiro e um estrategista para organizar as listas de compras.

Balizamento dos canais

Frutas no mercado de Papeete

Nossas provisões em Raiatea

No total, levamos 02 carretilhas, um molinete e duas linhas de mão.Iscas artificiais

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O Início de Cruzeiro

Zarpamos de Raiatea no final da manhã, com ventos de 22 nós pelo través de bombordo, velas rizadas e muita chuva. Velejamos três horas acompanhando os canais profundos da região lagu-nar. O balizamento náutico é excelente, constituído de marcos fixos sobre os bancos de corais. A cor e as tonalidades da água impressionam, azul marinho, quase roxo nos canais, que chegam a 40m de profundidade e o verde esmeralda nas áreas rasas. Estes contrastes, somados a qualidade do balizamento, proporcionam uma navegação diurna e muito tranquila. Ancoramos próximo ao Motu ou Ilha de Tautau, sede do Taha’a Island Resort & Spa. Um complexo hoteleiro que ca-racteriza bem a imagem do Taiti, dezenas de bangalôs cravados sobre o mar. Visual paradisíaco, mas muito bom para quem pode. A diária mínima é de US$1000 por casal, só com café da manhã www.letahaa.com .

Motu Tautau e o Resort,

Ancoramos e partimos no nosso inflável para explorar o Motu Maha-rare desabitado, bem próximo a Tautau. Esta pequena ilha, caracteriza bem as dezenas de motus que circundam cada arquipélago. Estas ilhas, formadas de areia, conchas e detritos de coral, são muito planas com uma altitude máxima de 1m acima do nível do mar. A maioria desses motus são privadas e de acesso proibido. A quantidade de grandes co-queiros impressiona, uma verdadeira floresta dessas palmeiras.

Primeira velejadada Marina até Motu Tautau

Saída da marina com chuva e ventos de 22 nós

Kleber em Tahaa

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Carangueijo terrestre, muito abundantes.

Milhares de cocos nos motus

Os taitianos não sobem para colher os cocos, apenas coletam os frutos maduros quando caem e devido a quantidade, não conseguem consumir toda produção. O excesso termina germinando na areia e assim a floresta vai se perpetuando. Os motus também tem uma grande população de grandes caranguejos terrestres. Parece o nosso guaiamum do Nordeste. Devem ser bons de co-mer, mas difíceis de capturar, são muito rápidos, correm e entram nas tocas.

Passamos mais dois dias velejando e conhecen-do a Ilha de Tahaa. Inicialmente, navegamos den-tro da barreira de corais e no final saímos para cor-ricar, ou pescar com iscas artificiais, circundando os arrecifes pelo lado do mar aberto. Somos uma equipe de pescadores fanáticos e a perspectiva de pescar nas águas azuis do Taiti, nos deixou muito motivados. Levamos duas carretilhas, um moline-te e duas linhas fixas, somado a uma dezena de iscas artificiais. Também levamos apetrechos para fazer o sashimi: hashi, wasabi e uma faca espe-cial. O primeiro dia de pesca foi uma frustração; não pescamos nada...Nenhum peixe! O sushi vai ter que esperar.

Kleber desembarcando no motu.

Sérgio na expectativa

Happy hour no cockpit da proaAndré no canal entre dois motus

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Inicialmente tínhamos programado velejar até a Ilha de Huahine, que está localizada 22 milhas náuticas a leste de Raiatea, mas devido a intensidade e direção do vento resolvemos abortar a visita. Teríamos que motorar até Huahine e consequentemente perderíamos um dia na travessia, um dia na ilha e um dia para regressar a Tahaa, que consumiria um terço do charter . Decidimos economizar este precioso tempo para a perola do pacífico, Bora Bora.

Todas as manhãs, tomávamos café no cokpit. A mesa sempre bem posta e com as nossas melhores opções: frutas, baguetes, manteiga, queijo, presunto e até chimarrão. Antes de aquecer a água do café, André, gaúcho de Erechim, se apoderava da chaleira para garantir o chimarrão sagrado de todos os dias. Um bom café ajuda muito a harmonizar, elevar a moral a bordo e manter todos nutridos até a noite. Na hora do almoço, só sanduiches e beliscos. Tivemos grandes dificuldades para comprar ovos, consequentemente o famoso omelete de bacon do Fabiano só foi servido uma vez.

Bora Bora

Acordamos bem cedo, ainda estava escuro, para preparar nossa partida para Bora Bora, o nosso destino tão sonhado nos últimos dois anos. Levantamos a âncora logo com o nascer do Sol e içamos a vela mestra ainda dentro da grande laguna da Ilha de Tahaa. Saímos pela barra, ou Passe Papai, que está situado no lado Oeste ou a sotavento. A brisa de 8 nós ajudou o Manavi II a deslizar silenciosamente para fora da grande barreira de coral que circunda todas as ilhas no Taiti. Um mar de águas cristalinas, calmas e de uma coloração azul marinho, que impressiona pela cor. Logo na saída da barra, a profundidade aumenta rapidamente, 40, 80, 200 metros e ... o sonar deixa de marcar. As profundidades abissais estão muito próximas dos arrecifes.

Café da manhã com salada de frutas

Ricardo, observando o Passe de Papai, com Bora Bora ao fundo Vista Leste de Bora Bora. Distância 11 milhas

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Velejando ao largo de Bora Bora. Vista da laguna interior.

Rota seguida de Tahaa até Bora Bora

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Velejamos 25 milhas com ventos de 10 nós pela alheta de boreste até chegar no paredão de corais de Bora Bora . Normalmente, os veleiros e embarcações contornam o lado Sul da ilha até o único passe ou barra de entrada para a laguna. Optamos por circundar a ilha pelo Norte, buscando águas menos navegadas e na esperança de capturar nosso primeiro peixe para o sonhado sashimi. Na ponta NE da ilha, encontramos muita atividade de pássaros, que renovou nossas esperanças pesqueiras e uma das nossas iscas foi atacada, mas o peixe não ferrou, perdemos. Contornar o lado Norte de Bora Bora junto a barreira de corais, propicia um lindo visual dos motus com suas florestas de coqueiros. Entre uma ilha e outra é possível ver o interior da laguna e a cor verde esmeralda das águas rasas. Depois de velejar 5 horas, entramos em Bora Bora. A tripulação toda a postos na proa, vibrando e felizes de ter chegado na Pérola do Pacífico.

Bora Bora é formada pela grande ilha principal, circundada e protegida por um grande anel de corais de aproximadamente 14km de diâmetro. Dentro desse atol exis-tem dezenas de motus que formam um cintu-rão verde. A única entrada ou barra, o Passe Teavanui, fica a sotavento da ilha, ou exata-mente do lado calmo e protegido do vento. Isto torna o acesso náutico à ilha muito se-guro e tranquilo.

Logo na chegada a Bora Bora, procuramos um local para atracação. As ancoragens pró-ximas a vila de Vaitape são muito profundas, acima de 30 metros. Neste ponto, existe um cais público, mas é muito movimentado com ferry boats entrando e saindo a cada hora. Precisávamos comprar alguns suprimen-tos e aproveitar para reabastecer os tanques d’água. Encontramos poitas disponíveis na

Velejando na laguna de Bora Bora.

Canais muito bem balizados

Manavai atracado na Marina Maikai

Contornando costa Norte de Bora Bora.

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Marina Maikai, onde pernoitamos a primeira noite. Um ambiente muito bonito, tranquilo e acolhedor. Para nossa surpresa, a Maikai não cobrou a estadia nem o wi-fi e a utiliza-ção dos banheiros. Só cobraram o abasteci-mento de água. www.maikaimarina.com.

Dedicamos nosso segundo dia em Bora Bora para conhecer o grande Motu Toopu, localizado na parte SW do arquipélago. Pas-samos uma noite bem próximo ao Resort Hilton Bora Bora Nui. Outro local mágico do Taiti. Tentamos mergulhar ou praticar o snorkeling nessa área mas as correntes ma-rítimas estavam extremamente fortes; então desistimos.

O melhor restaurante em Bora Bora é o Bloody Mary´s, situando na Baía de Povai, que dispõe de um bom píer de atracação e várias bóias para fundeio. Também ofere-cem água para reabastecer os veleiros sem custo para os clientes. Tivemos o grande prazer de jantar neste restaurante. O am-biente é muito bem decorado ao estilo típico da polinésia. Telhado de palha, muita ma-deira rústica e o piso de areia de praia bem fina e branca. As garçonetes são senhoras taitianas vestidas em trajes típicos e com flores no cabelo. Logo na entrada, existe um grande balcão refrigerado e muito bem decorado com peixes frescos, onde todas as carnes, porções de peixes e entradas são apresentadas para a escolha dos clien-tes. Este é o cardápio, a própria comida inatura, que é apresentada pelos donos do Bloody Mary. As porções são individu-ais, lindamente decoradas e servidas. Um jantar custa aproximadamente USD80 por pessoa, incluindo um bom vinho francês. Altamente recomendado para velejadores. www.360cities.net/image/bloody-marys-bora-bora-novem-ber-2010-daniel-nilsson?utm_source=google_earth&utm_medium=all_images#-94.22,-13.92,70.0.

Desembarque no Hilton Resort

Mordomia no Hilton Resort

Chef Ricardo com seu merecido Drink

Resort em Bora Bora

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Cais do Bloody Marys Fabiano, Ricardo, Ségio e Kleber

Tripulação pronta para o jantar

Apresentaçaõ do cardápio Boody Marys

Jantar inesquecível no Boody Marys

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Todos os dias saíamos para conhecer os diversos pontos da ilha. A navegação diurna, dentro do arquipélago de Bora Bora é muito tranquila e bem balizada. No lado Leste da ilha, estão localizados os maiores e melhores resorts de Bora Bora, que tem a vista privile-giada da laguna e da montanha Otemanu, que domina a ilha. As tonalidades das águas cris-talinas, verde esmeralda e azul marinho, criam uma imagem espetacular, tropical que impres-siona.

Desembarcamos no Motu Tupe para conhe-cer o Lagoonarium. Logo na chegada fomos abordados por uma nativa que informou que a ilha era particular e tínhamos que pagar USD28 p/ pessoa, para ter acesso ao parque. Pagamos e entramos nesse pequeno motu que fica bem próximo aos grandes resorts. O complexo é muito simples, cercaram um lado da ilha com estacas e telas plásticas, formando um gran-de curral aquático de aproximadamente 6000 m2. Essa área está repleta de tubarões de to-dos e tamanhos, peixes, arraias e tartarugas. Na chegada dos turistas, um funcionário entra na área e alimenta os Squalus. Os visitantes, equipados com máscaras e pés de pato, en-tram juntos e acompanham o banquete. A água é cristalina e pode-se obervar os peixes com muita facilidade. O lagunário captura os pei-xes diretamente do mar para dentro do curral, não precisam trazer os peixes de outros locais.

Bangalôs dos resorts Montanha Otemanu - Bora Bora

Contraste da cor da água nos canais

Turistas mergulhando com tubarões, Lagoonarium

Fabiano e a Montanha Otemanu - Bora Bora

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Instalaram sangas ou alçapões ao longo das cercas externas. Os tubarões e peixes, muito abundantes na área, entram pelas sangas, ficam presos e viram artistas do aquário. Certamente uma mina de ouro!

Seguimos mais duas milhas para o Sul de Bora Bora e ancoramos na grande baia do Motu Piti Aau. Neste local, parte da tripulação: Bira, Fabiano , Sérgio e Kleber desembarcaram a procura de gelo na ilha. Não encontraram ba-res nem restaurantes, apenas casas de nativos e uma floresta de coqueiros. Próximo a uma casa fechada, bateram palmas e chamaram “ Ô de Casa...!” e nada “ Ô de Casa...!” Até parece que os Taitianos iriam compreender este chamado, mas tudo bem, vale a inten-ção. De repente, os desbravadores foram sur-preendidos por um javali selvagem ou era o guardião da casa. O animal investiu sobre a assustada tripulação que teve que correr para não serem mordidos. Segundo Bira, a cena foi cômica com uma debandada geral. Ninguém esperava um porco selvagem no Taiti! Recu-perados, os quatro velejadores, finalmente en-contram uma casa com nativos e depois com gestos e poucas palavras em Francês, já que os residentes só falavam taitiano, conseguiram o que procuravam. Uma senhora bem gorda ofe-receu cerveja quente e tirou gelo de um freezer desligado. Não existe energia elétrica na ilha, como poderia ter gelo? Este fato curioso ficou sem resposta. Compraram chapéus de folhas de coqueiros e colares. No final a mulher deu uma linda tigela de vidro com barras de gelo e não aceitou pagamento, apesar da insistência de Sérgio. A turma ficou sem palavras, sem ação, mas aceitaram o presente com admira-ção. Os nativos são pobres mas muito alegres, hospitaleiros e de coração aberto. No outro dia, devolvemos a tigela com guloseimas do Mana-vai, que foram muito bem recebidas, maururu roa...muito obrigado. Taitianos no Motu

Desembarque no Motu Piti Aau

Motu Piti Aau

Javali, guardião do Motu

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A falta de sorte nas nossas pescarias, nos indu-ziu a tomar uma decisão muito difícil, comprar peixe no mercado! Certamente uma frustração para nossa equipe de pesca, mas a vontade de comer era maior e compramos lombo de atum e postas de peixe meca. O resultado foi o melhor possível; sashimi e peixe grelhado ao curry, re-gado com vinho branco chardonnay.

No último dia em Bora Bora, realizamos tour num Land Rover 4x4 para conhecer o lado terrestre da ilha. Só existe uma rua principal pavimentada que circunda todas as praias. As principais atrações turísticas são as subidas íngremes dos morros, em estradas de chão, com muitas pedras. Só carros com tração nas quatro rodas conseguem subir. O visual no topo das montanhas é muito bonito. É possível ver todos os canais e bancos de corais. Visitamos um grande canhão da Segunda Guerra Mundial, instalado pelos americanos, que nunca foi usado. Segundo nosso guia Moana, existem mais três canhões na ilha. Os morros são cobertos por uma densa floresta tropical muito bem preservada. A estrutura turística na principal cidade de Bora Bora, Vaitape, é muito pequena. Um pequeno mercado e algumas lojas; esperávamos mais. Creio que a grande maioria dos turistas, não chegam nem a desembarcar na ilha principal. Os resorts recebem seus clientes no aeroporto e os transportam de lanchas diretamente para os bangalôs. No final da estadia, seguem direto para o avião e Bye, Bye Taiti.

Sashimi de atum e Meca grelhada ao Curry

Tour 4 x4 em Bora Bora

Canhão da segunda guerra mundial

Vaitape, capital de Bora BoraRicardo no topo de Bora Bora

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Pescaria no Atol Tupai

Após três dias em Bora Bora, decidimos co-nhecer a Ilha de Tupai, totalmente deserta, lo-calizada a 12 milhas náuticas ao Norte. Este Atol tem aproximadamente 8 km de diâme-tro, com uma grande laguna de cor esmeralda no seu interior. Toda orla é coberta com uma floresta de coqueiros, que formam um gran-de cinturão verde em torno do lago interior. Existe uma pequena pista de pouso abando-nada. Os arrecifes que circundam a ilha não permitem a entrada de veleiros; nem mesmo o bote inflável. Uma pena, desembarcar nes-se atol desabitado, deve ser uma experiência fantástica que mexe com a nossa imaginação. Talvez, com ajuda de nativos, este sonho po-derá ser realizado.

Partimos de Bora Bora, rumo a Tupai, logo com o nascer do Sol. Vento de 18 nós pela través de bombordo, vela mestra no segun-do riso para assegurar uma velocidade máxi-ma de 6 a 8 nós, ideal para nossa pescaria de corrico. Cinco linhas na água e muita espe-rança de pescar um peixe para o tão sonhado sashimi. Chegamos no atol e começamos a Rota da pescaria em Tupai

Ilha de Tupai - Vista dos motus com milhares de coqueiros e a laguna no interior do atol

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contornar os paredões de coral sempre por barlavento, melhor área de pesca, devido a ressur-gência das correntes marítimas. Havia muita ação de pássaros na área que indicavam a presença de cardumes de peixes. Depois de duas horas, finalmente a linha da carretilha de boreste, cantou, REEEEEEEEE... Um som que todo pescador esportivo sonha em ouvir e que libera muita adre-nalina. A gritaria a bordo foi geral. O Kleber estava bem posicionado junto a vara e começou a luta. O peixe era forte, mergulhava e levava muita linha. Botei o Manavai no vento, recolhemos a genoa e liguei os dois motores, para ter completo domínio sobre as manobras. Fabiano, Sérgio e Bira baixaram as velas. Ricardo e André estavam filmando. Nada poderia atrapalhar a luta. Depois de 30 minutos, o peixe bem fisgado, ainda brigava, mas aos poucos Kleber dominava a situação. A especulação sobre a espécie era grande, mas pela maneira que ele brigava na vertical, tínhamos quase certeza que se tratava de um atum. Já bem próximo ao cat, talvez uns 10 metros, a linha perdeu o peso e ficou fácil de recolher. Repentinamente a tripulação, antes eu-fórica e feliz, ficou em silêncio e triste. Um grande predador, possivelmente um tubarão comeu nosso tão sonhado atum. Era um yellowfin ou albacora laje de aproximadamente 12kg, que só restou a cabeça. A mordida foi tão violenta que decepou o atum instantaneamente, só deixou a cabeça e mais nada para ser aproveitado...nada. A tripulação, que acompanhava a luta na popa, relatou que viu uma silhueta e uma mancha de sangue. O ataque do predador foi muito rápido.

Partindo para TupaiPhilip no comando

Kleber e o resultado do ataque do tubarão Sérgio e a cabeça do atum

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Continuamos velejando e corricando contornando o Atol de Tupai na esperança de embarcar um peixe inteiro, mas não tivemos êxito. A nossa maior recompensa foi o visual fantástico dessa ilha. Completamos a circum-navegação de Tupai e rumamos de volta para Bora Bora. Gostaríamos muito de ter pernoitado no atol, mas não existia locais apropriados para fundeio. Ancorar no fun-do rochoso poderia acarretar grandes problemas; até a perda da âncora.

Retornamos a Marina Maiki, por volta das 16:00 horas e logo um inflável veio nos receber in-formando que não poderíamos pernoitar naquele local, já que todas a bóias estavam ocupadas. Voltamos para o Motu Toopua, próximo ao Hilton para fundeio e pernoite. Nossa última noite em Bora Bora e, como sempre, o nosso Chef, vestido a caráter, serviu a especialidade do dia; frango assado no forno com bacon, acompanhado de macarrão ao alho e óleo. Nota Dez!

Retorno para Raiatea

Acordamos bem cedo, tomamos nosso café e partimos para a Ilha de Tahaa, iniciando nosso re-gresso. Só faltavam dois dias para o final do charter. O vento de proa impedia uma boa velejada e o cat não é muito bom numa orça forçada. Resolvemos motorar quatro horas até Tahaa, onde chegamos antes das 12:00 horas. Ancoramos na Baia Apu, local indicado pela Sunsail para visitar uma fazenda de pérolas, mas havia uma regata em andamento nessa área e os organizadores nos solicitaram para ancorar em outro local. Assim fizemos e velejamos mais três milhas até o Motu Mahaea para pernoite.

Chef Ricardo, pratos de nível internacional

Catamarã de 62 pés na Baia Apu Canoagem, esporte nacional no Taiti

Alegria contagiante e sempre muito prestativo

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A nossa última noite a bordo no Manavai, foi um motivo de comemoração e congraçamento entre a tripulação. O nosso Chef preparou um jantar especial: Strogonoff de carne,com arroz e batata palha. André, sempre atento à seleção e ao estoque de vinhos, serviu os dois últimos Bordeaux que restavam. Certamente vamos sentir falta dessa mordomia!

Ao amanhecer, levantamos a âncora, abrimos apenas a genoa e rumamos direto para a Marina Apoiti em Raiatea para entregar o Manavai II. Próximo a marina, chamei a Sunsail pelo VHF, que logo enviou um prático para assumir o catamarã e fazer a atracação. Em dez dias, gastamos meio tanque de óleo diesel, aproximadamente 130 litros, mas não pagamos nada no final. O combustí-vel é cobrado antecipadamente junto com o contrato do charter. Ótima decisão, evita burocracias no final. Uma empresa de charter em Angra dos Reis deveria conhecer e adotar estes procedi-mentos e deixar de cobrar o aluguel de motor de popa e as horas do gerador. Isto é impensável no exterior! Entregamos o 444 em perfeitas condições operacionais, com tudo e todos bem a bordo. Estávamos muito felizes de completar nosso charter no Taiti.

Último jantar no Manavai

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Na volta para o Brasil, aproveitamos a escala na Ilha de Páscoa e ficamos dois dias conhecendo as histórias do Povo Rapanui e ver os Moais. Valeu cada momento!

Nesta viagem, passamos grandes momentos juntos, tiramos centenas de fotos, fil-mamos os melhores momentos e voltamos com as nossas amizades fortalecidas. No final, estávamos todos com muitas saudades das nossas esposas e filhos, a quem de-vemos toda nossa gratidão pelo incentivo e consentimento para a realização dessa aventura. Os sonhos continuam e certamente vamos começar a programar um novo cruzeiro a vela. Aguardem!

Bons ventos!

Os Sete Moais na Ilha de Páscoa Passeio de quadricíclos

Philip e André no Moana

Tripulção no Restaurante Moana

Ilha de Páscoa - Rapanui

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Passeio de quadricíclos

Philip e André no Moana

Por do Sol em Raiatea