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Revista Reflexo e Ao, Santa Cruz do Sul, v.22, n.2, p.299-322, jul./dez.2014
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EDUCAO DO CAMPO OU EDUCAO DA CLASSE TRABALHADORA? A PERSPECTIVA DO EMPRESARIADO, DO ESTADO E DOS MOVIMENTOS
SOCIAIS ORGANIZADOS
Adriana DAgostini1 Clia Regina Vendramini2
Resumo
O artigo debate a Educao do Campo sob a perspectiva do empresariado, do Estado e dos
movimentos sociais. Demonstra que a relao entre as orientaes dos organismos multilaterais
para as polticas educacionais esto presentes na educao do campo. Uma via a interveno do
empresariado agrcola nas escolas por meio do trabalho voluntrio, projetos de ONGs,
oferecimento de vagas por iseno fiscal, alm do PRONATEC formado pelo sistema S,
evidenciando as parcerias pblico-privadas. Outra via so as polticas de educao do campo,
como o PROCAMPO, o PRONATEC e o Transporte Escolar, que ocorrem por programas e
editais de forma descontnua, fragmentada e pragmtica. A perspectiva dos movimentos sociais
de resistncia e de construo de uma educao diferenciada pelo corte de classe. Porm, a partir
das contradies vividas na sociedade capitalista, acabam por pactuar e consensuar pela
necessidade de acesso escola e formao de professores.
Palavras-chave: Educao do Campo; Empresariamento da Educao; Polticas de Educao do
Campo; Estado; Movimentos Sociais
1 Doutora em Educao e Pesquisadora e lder do grupo de pesquisa Ncleo de Estudos sobre as Transformaes do
Mundo do Trabalho - TMT. Atualmente professora do departamento EED/CED/UFSC. Endereo: Campus Reitor
Joo David Ferreira Lima, Trindade, 88040-970 - Florianpolis, SC Brasil. Telefone: (48) 37212902. E-mail: [email protected] 2 Ps-Doutorado pela Universidade de Lisboa (2005) e pela Cornell University (2013). professora associada IV da
Universidade Federal de Santa Catarina e membro do Grupo de pesquisa TMT - Ncleo de Estudos sobre as
Transformaes no Mundo do Trabalho. Endereo: Campus Reitor Joo David Ferreira Lima, Trindade, 88040-970 -
Florianpolis, SC Brasil. Telefone: (48) 37212902. E-mail: [email protected]
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1 INTRODUO
H 16 anos atrs, quando se constitua a Articulao Nacional por uma Educao do
Campo, no mbito da I Conferncia Nacional por uma Escola Bsica do Campo (1998), tiveram
incio aes que visavam romper com a formulao e as polticas e propostas denominadas de
educao rural. Ao mesmo tempo, buscava-se ampliar as formulaes em torno de uma educao
e escola vinculada s lutas dos movimentos sociais organizados, o que ficou expresso no I
Encontro Nacional de Educao da Reforma Agrria ENERA, em 1997.
O estabelecimento de um sistema pblico de ensino para o campo, passa a ser o objetivo
de luta de diversos movimentos e organizaes do campo, educadores e pesquisadores.
Destacam-se as aes educativas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST.
De l para c, avolumam-se lutas e reivindicaes em torno da educao e da escola no
campo; experincias em escolas e outros espaos educativos em reas de reforma agrria, de
assentamentos, em associaes e cooperativas, em vilas rurais; programas dirigidos formao
de educadores e s escolas do campo; regulamentao da educao do campo; encontros e
seminrios no mbito dos movimentos sociais e das universidades (encontros regionais, nacionais
e inclusive internacionais); pesquisas e publicaes; aes de formao e escolarizao como
fruto de parcerias entre universidades e movimentos sociais, entre muitas outras iniciativas.
Muito j foi dito e escrito sobre a educao do campo, seus avanos e recuos, suas
conquistas histricas para a populao do campo, seus limites no que diz respeito propagao
de saberes de uma realidade especfica, sua vinculao com o aparato do Estado e a
dependncia das polticas pblicas, entre outros temas e problemas. A perspectiva dos
movimentos sociais no que diz respeito educao do campo tem conquistado ateno, porm
pouco se refletiu sobre como o empresariado e o Estado tm se apropriado dessa bandeira de luta.
o que pretendemos perseguir neste artigo.
Nossa hiptese de que a formulao educao do campo, pelo carter geral e difuso,
permite a sua apropriao por diferentes grupos, instituies e interesses, ainda que divergentes.
Sabemos da sua origem vinculada s lutas dos movimentos sociais, bem como da necessidade de
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expanso da escola no campo, diante do ainda alto nmero de analfabetos e jovens e adultos com
baixa escolarizao, e do desafio de romper com uma escola ruralista que visa a subordinao ao
desenvolvimento capitalista no campo. Entretanto, observamos os riscos de uma proposio
generalista que no carrega em si a marca de classe, que no delimita a quem se dirige ou quais
finalidades formativas pretende alcanar.
Nesta direo, desenvolvemos trs sees que abordam a relao do empresariado, do
Estado e dos movimentos sociais com a educao do campo. Tomamos como base, cartilhas e
publicaes de empresas que atuam no campo, documentos que apresentam aes do Estado no
que se refere s polticas pblicas para a escola do campo, documentos e publicaes dos
movimentos sociais, particularmente do MST, bem como resultados de pesquisas j
desenvolvidas pelas autoras.
2 O EMPRESARIADO E A EDUCAO DO CAMPO
Nos ltimos anos, discursos de setores privados e empresariais juntaram-se a outras
organizaes, instituies e movimentos sociais em prol da educao do campo, da educao
ambiental e da educao para o desenvolvimento sustentvel. So iniciativas sociais e ambientais
de responsabilidade social do setor empresarial, por meio de institutos e fundaes de empresas
nacionais e multinacionais que atuam no setor agrcola.
O Instituto Souza Cruz, fundado e mantido pela empresa produtora de cigarros Souza
Cruz, integrante do grupo British American Tobacco, tem manifestado interesse pela educao do
campo, como pode ser observado na edio de julho de 2010, da sua revista Marco Social. No
ano em que o Instituto completa uma dcada de aes educacionais no campo, a revista
dedica-se a um balano crtico-reflexivo sobre os avanos e desafios da rea em que a
organizao escolheu atuar, segundo o diretor do Instituto. (LETTI, 2010)
O estatuto desta edio da revista Marco Social pode ser observado pelas suas matrias:
textos de pesquisadores de destacadas universidades brasileiras; entrevista com o ministro da
educao poca, Fernando Hadadd, e com o padre Humberto Pietrogrande, fundador do
Movimento de Educao Promocional do Esprito Santo - MEPES, que trouxe ao Brasil a
pedagogia da alternncia; relatos de experincias de cursos de licenciaturas em educao do
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campo nas universidades; alm da apresentao de duas iniciativas do prprio Instituto Souza
Cruz: a Rede Jovem Rural e o Programa Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR).
A Rede Jovem Rural tem propsitos ambiciosos, como o de mapear as organizaes que
trabalham com educao do campo no Brasil, por meios das relaes em rede, ou o de subsidiar
polticas pblicas, sistematizando e divulgando experincias. O gerente do Instituto Souza Cruz e
coordenador da Rede Jovem Rural apresenta na j citada revista Marco Social, o objetivo do
projeto de promover aes de cooperao e defesa conjunta da causa do jovem rural brasileiro,
constituindo um espao para troca de experincias, em especial aquelas focadas no
empreendedorismo do jovem e no desenvolvimento sustentvel dos territrios rurais. (2010, p.
76)
Em 2012, o Instituto Souza Cruz lanou o programa Novos Rurais3, com o objetivo de
fomentar estratgias de diversificao produtiva e comercial entre jovens que vivem no campo.
Uma das etapas do Programa a formao, com contedos complementares aos do Ensino
Mdio, voltados para a gesto de projetos rurais sustentveis.
Em linhas gerais, os programas desenvolvidos pelo Instituto visam a educao para a
sustentabilidade do campo, promovendo o empreendedorismo de jovens rurais, por meio de
projetos, alguns deles complementares e em articulao com o ensino formal, e em parceira com
diversas instituies. Como sabemos, a Souza Cruz uma das principais compradoras de fumo
no Brasil, dependendo de milhares de agricultores que produzem pelo sistema integrado de
produo. Portanto, seu interesse que o agricultor permanea no campo e que os jovens deem
seguimento produo de fumo, assim como seus pais. O objetivo de fato o da
sustentabilidade, entretanto a sustentabilidade da empresa e do sistema de integrao, com
iniciativas que visem aumentar a produtividade e competitividade tanto dos produtores rurais
quanto da Souza Cruz4.
Uma outra empresa com iniciativas sociais, ambientais e educativas nos pases onde atua
a Monsanto, uma indstria agroqumica multinacional de agricultura e biotecnologia, situada
nos Estados Unidos e lder mundial na produo de herbicida glifosato (marca Roundup).
Tambm lder na produo de sementes geneticamente modificadas, os chamados transgnicos.
3 Disponvel em: http://www.institutosouzacruz.org.br. Acesso em 16 de julho de 2014.
4 Disponvel em: http://www.souzacruz.com.br. Acesso em 16 de julho de 2014.
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No Relatrio de Aes da empresa desenvolvidas em 2013, so apresentadas as
iniciativas de investimentos sociais no Brasil. No que se refere educao, constam iniciativas
vinculadas ONG Inmed Brasil, Instituio Cidade dos Meninos, Instituio Ayrton Senna e
Associao Vida, alm do programa de voluntariado dos funcionrios da empresa. Os recursos
destinados a projetos so constitudos de investimento social privado e patrocnio e de doaes
incentivadas por iseno fiscal, beneficiando-se das leis de Incentivo Cultura (Lei Rouanet) e
do Esporte.
Entre as iniciativas da empresa, observamos aes voltadas diretamente s escolas e
professores da rede pblica de ensino, como a formao em biotecnologia a professores de
cincias e geografia da rede municipal de Petrolina, Pernambuco. Coincidentemente, a empresa
se instalou em Petrolina em 2013, com investimentos em tecnologias para a produo de milho,
soja, algodo, sorgo e cana-de-acar na regio. Segundo notcia no site da empresa, o encontro
com os professores foi uma oportunidade para o esclarecimento de dvidas sobre o projeto, seus
objetivos e, tambm, sobre as atividades que a unidade da Monsanto realiza em Petrolina.
Interessa Monsanto a formao de futuros profissionais para trabalhar na empresa, vendo a
escola e seus professores como canal para tal. Alm da qualificao dos professores para
incremento de sua capacidade pedaggica, em curto prazo, os parceiros do projeto Piloto de
Educao Continuada em Biotecnologia esperam que a iniciativa desperte o interesse dos alunos
nas oportunidades de trabalho cada vez mais comuns nesse setor.5
Uma outra iniciativa de parceira entre setor privado e pblico so as aes de educao
ambiental e revitalizao de reas de nascentes junto Secretaria do Meio Ambiente da cidade de
So Jos dos Campos, envolvendo alunos, professores e lideranas da Monsanto. Tambm neste
caso, a empresa tem uma unidade no municpio a preservar e ampliar. Segundo Lgia Izzo,
gerente da unidade Monsanto no municpio, a empresa comprometida com a sociedade onde
est inserida.6
Como mencionamos acima, a Monsanto apoia algumas iniciativas de Organizaes No
governamentais, como o Instituto Ayrton Senna, o qual atua especialmente na rea da educao,
visando interferir no potencial das novas geraes, com programas que chegam inclusive s redes
5 Disponvel em: http://www.monsanto.com/global/br/noticias. Acesso em 16 de julho de 2014.
6 Disponvel em: http://www.monsanto.com/global/br/noticias/pages/nascente-da-urbanova-recebera-acoes-de-
educacao-ambiental-e-revitalizacao-na-semana-do-meio-ambiente.aspx. Acesso em 16 de julho de 2014.
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pblicas de ensino para combater, segundo os propositores, os problemas que impedem o aluno
de ter sucesso na escola. Em reportagem sobre a parceria, o diretor de Assuntos Corporativos da
Monsanto afirmou: A rea da educao uma das prioritrias dentro do investimento social da
empresa. Isso porque acreditamos que uma educao de qualidade contribui para transformao
da realidade social, econmica e cultural da populao ao ampliar empregabilidade, renda e
incluso.7
Como vemos, o objetivo da Monsanto associar suas atividades comunitrias aos seus
princpios de negcios, por meio do investimento social corporativo, o qual est direcionado para:
agricultura sustentvel e biodiversidade, desenvolvimento local sustentvel e participao cidad.
Para manter e fazer crescer seus lucros exorbitantes, a empresa vem controlando a
cadeia alimentcia, desde a produo de sementes, impondo o fim da variedade de sementes
desenvolvidas pelos prprios agricultores, at a comercializao de pesticidas, inseticidas,
herbicidas, fungicidas, etc. Com o controle do mercado de soja e milho transgnico, alm dos
pesticidas, ela tem o poder quase absoluto de determinar o preo das sementes e de outros
produtos.
Com as inmeras iniciativas de condenao da produo, da comercializao, das aes
e das polticas da empresa em diversos pases do mundo, como a Jornada global de luta contra a
Monsanto iniciada em 2013, a empresa tem buscado fortalecer seus investimentos sociais. Visa,
assim, tentar encobrir os gravssimos prejuzos causados sade, ao meio ambiente, agricultura,
soberania alimentar e aos trabalhadores.
A Souza Cruz e a Monsanto podem ser consideradas dois casos exemplares da crescente
preocupao dos setores empresariais privados com a educao do campo, a educao
ambiental e a educao para o desenvolvimento sustentvel. Poderamos indicar outros
exemplos, tais como as aes vinculadas a bancos pblicos e privadas (Banco do Brasil, Ita,
Santander, Bradesco), ao Sistema S, como o SENAR, a cooperativas empresariais e outros.
A educao apresentada pelo setor empresarial como o remdio de todos os males, o
meio de corrigir os excessos e as consequncias nefastas do modo de produo capitalista. De
7 Disponvel em: http://ruralcentro.uol.com.br/noticias/monsanto-apoia-instituto-ayrton-senna-608. Acesso em 16 de
julho de 2014.
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educar as jovens geraes para cuidar do meio ambiente, enquanto o capital incapaz de se
impor limites, no importando as consequncias, nem mesmo a eliminao total da humanidade,
conforme anlise de Meszros (2002). No vemos aqui qualquer novidade. Os liberais, como
Adam Smith, j propunham solues moralizantes, vendo a educao como um importante
antdoto aos efeitos degradantes do sistema sobre os trabalhadores.
O interesse das empresas pela educao pode ser visto sob vrios aspectos. Um deles
refere-se oferta de treinamento, formao e oportunidades empreendedoras visando a
permanncia dos agricultores no campo, particularmente dos jovens, e sua vinculao no apenas
produtiva, mas tambm social com a empresa. No caso da Souza Cruz, preciso que os
agricultores continuem produzindo tabaco em regime de integrao com a empresa. No caso da
Monsanto, preciso que os agricultores continuem produzindo e consumindo seus venenosos e
lucrativos produtos.
A to propalada sustentabilidade, como j afirmado acima, refere-se sustentabilidade
das empresas e sua taxa de lucros, o que coloca como condio a permanncia da condio
subalterna dos agricultores e pequenos produtores rurais, seja como produtores ou como
consumidores. O que implica a subordinao do trabalho ao capital. O fetiche do discurso da
sustentabilidade se desvela diante do carter destrutivo do sistema do capital.
Considerando que nenhuma sociedade pode perdurar sem seu sistema prprio de
educao, segundo anlise de Meszros (2002), vemos o que h por trs da preocupao das
empresas com a educao, na medida em que esta se constitui em mecanismo fundamental para
garantir a interiorizao dos valores capitalistas e, portanto, do modo de produzir e reproduzir a
vida sob controle do capital.
As iniciativas educacionais das empresas se realizam por meio de parcerias com ONGs,
o chamado terceiro setor, e tambm de parcerias com setores pblicos, destacando-se aqui as
secretarias de educao, cultura e meio ambiente de governos municipais. Observa-se um regime
de colaborao entre entidades pblicas e privadas, as quais enfraquecem a presena do Estado
nas polticas pblicas sociais e fortalecem a presena do Estado no setor privado, por meio de
diversos mecanismos, como a iseno de impostos, incentivos fiscais, negociao de dvidas,
entre outros.
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Montao (2005) um autor que nos ajuda a compreender com profundidade o terceiro
setor e sua funo ideolgica e mistificadora do real, observando as transformaes do capital
que o conduzem a um novo padro de respostas questo social, segundo os valores da
solidariedade voluntria, da auto-ajuda e da ajuda mtua. Segundo o autor, o objetivo retirar o
Estado da responsabilidade de interveno social e transferi-la para a esfera do terceiro setor.
Por fim, a imagem da empresa e a sua aceitao social outro elemento que justifica o
seu interesse pela educao. Suas iniciativas sociais, ambientais e educacionais so louvadas pela
mdia, transformando de forma mgica, uma empresa que produz veneno em uma empresa do
bem. Como exemplo, apresentamos abaixo uma notcia publicada quando do estabelecimento da
parceria entre a Monsanto e o Instituto Ayrton Senna.
Em 2011, a Monsanto investiu mais de R$ 5 milhes em projetos socioambientais,
impactando cerca de 390 mil pessoas, em 90 municpios distribudos por 12 estados
brasileiros. Seu forte compromisso social e ambiental reconhecido em pesquisas como
a realizada pela revista Isto Dinheiro, que a elegeu uma das 50 Empresas do Bem. Por trs anos consecutivos, a companhia tambm listada entre as empresas mais sustentveis segundo a mdia, ranking elaborado pela revista Imprensa, a partir de levantamento que aponta as empresas mais presentes no noticirio nacional de maneira
positiva em temas como sustentabilidade, responsabilidade social, meio ambiente,
recursos humanos e transparncia. Alm disso, a Monsanto recebeu do Instituto Akatu
pelo Consumo Consciente e do Instituto Ethos o ndice AAA (o mais alto) de avaliao
do grau de responsabilidade social de empresas e organizaes.8
A preocupao do empresariado com a educao do campo e a sustentabilidade expressa
o seu interesse pela educao e escolarizao em geral, o qual no novo, segundo Rodrigues
(1998). Ele est presente no Brasil, desde a criao da Confederao Nacional da Indstria (CNI)
em 1938, quando os empresrios formulam diretrizes e aes para (con)formao da fora de
trabalho. A CNI torna-se, aps a dcada de 1980, um dos principais aparelhos privados de
hegemonia no Brasil, defendendo com maior nfase a ampliao da escolarizao como um
elemento indispensvel para o aumento da competividade da indstria.
8 Disponvel em: http://ruralcentro.uol.com.br/noticias/monsanto-apoia-instituto-ayrton-senna. Acesso em 16 de
julho de 2014.
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3 AS POLTICAS PBLICAS PARA A EDUCAO DO CAMPO
As polticas pblicas e seus documentos acerca da educao do campo esto orientados
pelo conjunto das polticas focais e fragmentrias prprias do Estado em sua fase neoliberal, cuja
funo bsica facilmente identificvel com as recomendaes dos organismos internacionais:
educao como segurana e alvio da pobreza.
Os estudos de D'Agostini (2009), Titton (2010) e Oliveira (2013) identificam que as
polticas de educao e, consequentemente, as especficas de educao do campo esto orientadas
pelas diretrizes e propostas das agncias multilaterais, tais como: Organizao das Naes Unidas
para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO); Comisso Econmica para a Amrica Latina
e o Caribe (CEPAL); Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao (FAO) e
Banco Mundial, destinadas educao e que se articulam s polticas de conteno da pobreza
como meio de regulao social no Brasil.
A formulao Educao do Campo foi construda juntamente com as polticas de
consenso, da dcada de 1990. Em 1998, os movimentos sociais do campo, principalmente o MST,
a partir da presso ao governo pelo direito educao, particularmente uma educao
diferenciada vinculada realidade das reas de reforma agrria, conquistaram a criao do
Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria PRONERA. Este programa de educao
se desenvolveu no interior do INCRA/MDA com forte influncia e dilogo com os movimentos
sociais do campo. No decorrer do processo, o PRONERA foi sendo enfraquecido politicamente e
o seu financiamento diminuiu. Ao mesmo tempo, ampliou-se a bandeira por educao para os
povos do campo, o que resultou na terminologia Educao do Campo, com apoio dos
Organismos Multilaterais como UNESCO e UNICEF, que apoiaram e fortaleceram o ento
Movimento Nacional pela Educao Bsica do Campo, relativizando o carter de classe e
construindo certo consenso para a implementao de polticas pblicas focais.
Neste contexto de discusses, disputas e construo de consenso, em 2002, foram
construdas e aprovadas as Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do
Campo (DOEBEC), Resoluo CNE/CEB n1, de abril de 2002. Uma legislao especfica e, ao
mesmo tempo, genrica que trata de princpios para uma educao no/do campo pensada a partir
de sua realidade e suas potencialidades, numa perspectiva desenvolvimentista e sustentvel.
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Num segundo momento, criou-se, em 2004, a Secretaria de Educao Continuada,
Alfabetizao e Diversidade - SECAD no MEC para tratar das polticas de Educao do Campo
no mbito deste ministrio e no mais no INCRA. Neste momento, observa-se uma consonncia
maior com as diretrizes do Banco Mundial para a educao em torno do slogan educao para
todos. Esta consonncia pode ser constatada em 2008, quando a SECAD/MEC assumiu o
programa Escola Ativa9 como a principal poltica de educao do campo e a tornou nacional. Este
programa oriundo do BM, que financiou e organizou as sries primrias, de forma multisseriada
nas regies mais pobres do pas, por mais de 10 anos.
As prprias Diretrizes para a educao do campo respeitam e correspondem s diretrizes
do BM, como uma ttica do Estado para atingir as metas de universalizao da educao e
demais questes pactuadas com estes organismos. J para os movimentos sociais, avalia-se que
foi necessria a produo de um consenso pela necessidade de acessarem a escola e a
possibilidade de investimento em formao de professores.
Percebe-se a consonncia entre as Diretrizes da educao do campo e as do BM, como
por exemplo no artigo que segue:
Art. 3 O Poder Pblico, considerando a magnitude da importncia da educao escolar
para o exerccio da cidadania plena e para o desenvolvimento de um pas cujo paradigma
tenha como referncias a justia social, a solidariedade e o dilogo entre todos,
independente de sua insero em reas urbanas ou rurais, dever garantir a
universalizao do acesso da populao do campo Educao Bsica e Educao
Profissional de Nvel Tcnico. (BRASIL, 2002).
Em 2010, outro passo a frente na legislao, auxilia na consolidao da educao do
campo como poltica pblica, o Decreto n 7.352, de 4 de novembro de 2010 - Poltica de
Educao do Campo e o Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria PRONERA. Este
decreto define o que uma escola do campo e os critrios para a sua identificao, ampliando a
abrangncia, pois alm dos critrios geopolticos, agora entram em questo, os sujeitos atendidos
pela escola e a construo do seu Projeto Poltico Pedaggico de acordo com as DOEBEC.
9 Ver: Verbete Escola Ativa do Dicionrio da Educao do campo em Caldart (In: CALDART, PEREIRA,
ALENTEJANO e FRIGOTTO, 2012, p. 313-323) e o artigo de Ribeiro (2011).
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Decorrente deste Decreto que regulamenta a Educao do Campo, criou-se um programa
guarda-chuva, o PRONACAMPO (Programa Nacional de Educao do Campo) que, de acordo
com a Portaria n 86, de 1 de fevereiro de 2013, tem como objetivo:
Apoiar tcnica e financeiramente os Estados, Distrito Federal e Municpios para a
implementao da poltica de educao do campo, visando a ampliao do acesso e a
qualificao da oferta da educao bsica e superior, por meio de aes para a melhoria
da infraestrutura das redes pblicas de ensino, a formao inicial e continuada de
professores, a produo e a disponibilizao de material especfico aos estudantes do
campo e quilombola, em todas as etapas e modalidades de ensino. (BRASIL, 2013).
O Programa est estruturado em quatro eixos, a saber: 1) Gesto e Prticas Pedaggicas;
2) Formao Inicial e Continuada de Professores; 3) Educao de Jovens e Adultos e Educao
Profissional e; 4) Infraestrutura Fsica e Tecnolgica. Estes eixos resultam em 16 aes de
educao do campo. Dentre elas, destacamos para o debate neste artigo, o PROCAMPO
(Licenciaturas em Educao do Campo), o PRONATEC e o Transporte Escolar.
O PROCAMPO o programa destinado a oferecer e apoiar cursos de formao inicial
em forma de licenciaturas para atuao nos anos finais do ensino fundamental e mdio. Ele
fomentado via editais, dos quais as Instituies de Ensino Superior submetem propostas de
acordo com a legislao e as normas do edital em questo. Estas licenciaturas esto organizadas
de forma flexvel, local, voltadas ao desenvolvimento sustentvel territorial. Para garantir acesso
e permanncia dos estudantes do campo, os cursos so organizados em regime de alternncia
entre tempo universidade e tempo comunidade e por reas de conhecimento, a saber: cincias da
natureza, matemtica, linguagens e cdigos, cincias humanas, cincias agrrias.
Com o discurso de modernizao e flexibilizao, de superao da educao tradicional
e de interdisciplinaridade por meio da organizao por reas de conhecimento, o Programa
iniciou com 4 projetos pilotos em 2008 e hoje abrange um universo de 43 cursos em andamento
no pas, alguns permanentes e muitos no formato de 'turmas especiais', alm de cursos pela
Universidade Aberta do Brasil - UAB.
Estudos de Arajo (2007), Machado e Vendramini (2013), Titton (2010), D'Agostini
(2009) e Oliveira (2013) demonstram a fragilidade e contradies destas propostas e polticas. As
crticas apontam que juntamente com a flexibilizao dos cursos e currculos, h um processo de
precarizao e aligeiramento da formao inicial, por exemplo, a rea de Cincias da Natureza
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corresponde s disciplinas de qumica, fsica e biologia para a educao bsica. Assim, em apenas
4 anos, forma-se um professor flexvel, pois na escola ele pode atuar em qualquer das disciplinas
correspondentes de sua rea.
O PRONATEC Campo (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Tcnico e Emprego)
foi criado em 2011 e hoje o principal programa do governo para formao dos jovens, sejam do
campo ou da cidade. As parcerias para esta formao tcnica profissional se do por meio da
oferta de cursos pela Rede Federal e Estaduais de Formadores e principalmente pelo Sistema 'S':
SENAC, SENAI, SENAR, SENAT. O programa apresenta 3 tipos de aes:
1) Expanso da oferta de cursos voltados ao desenvolvimento do campo na Rede Federal e Redes
Estaduais de Formadores, SENAC, SENAI, SENAR, SENAT, por meio de cursos tcnicos de
durao de um ano para quem concluiu o ensino mdio e necessita de formao profissional. Os
cursos ofertados podem ser de mecnico, pintura artesanal, cabeleireiro, vendedor, eletricista,
informtica, ingls, etc.
2) Expanso de cursos de qualificao profissional especficos para o campo, por meio do e-Tec,
destinado a quem ainda est cursando o ensino mdio ou trabalhadores em geral que necessitam
de uma qualificao tcnica. Estes cursos, em sua grande maioria, so cursos rpidos para,
minimamente, qualificar os sujeitos para um emprego, como por exemplo: manicure,
cabeleireiro, encanador, pedreiro, maquinista, padeiro, vendedor, eletricista, informtica, ingls,
etc. Em uma busca no catlogo10
de cursos do PRONATEC visvel que a maior oferta pela
parceria com o sistema 'S' e que mesmo nos municpios do interior, com alto ndice de
desenvolvimento agrcola, os cursos so de servios gerais e no necessariamente voltados ao
trabalho do campo. No catlogo, h a apresentao dos cursos para a rea da agricultura e
recursos naturais, porm estes no esto sendo ofertados pelas redes formadoras.
3) Bolsa-formao Pronatec para estudantes e trabalhadores rurais, como forma de incentivo
permanncia e concluso do ensino mdio e de formao profissional.
Analisamos que o PRONATEC e as aes de educao do campo por parte do
empresariado, tm incorporado o que Neves (2011) denomina de privatizao de novo tipo, ou
seja, atravs das parcerias pblico-privadas como uma via de mo dupla, pois ao mesmo tempo
10 Disponvel em: http://pronatec.mec.gov.br/cnct/eixos_tecnologicos.php. Acesso em 29 de julho de 2014.
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em que o Estado financia o privado atravs de isenes, o privado direciona e atua no pblico
atravs da venda de servios ou aes de responsabilidade social, como pode ser constatado nos
exemplos da atuao do empresariado, na educao do campo e ambiental no item anterior.
Neves11
ainda alerta para o significado da mudana de slogan de educao para todos para
todos pela educao, ou seja, no perodo do primeiro slogan foram elaboradas as DOEBEC e
houve certa ampliao da oferta educacional a fim de abarcar todos os povos do campo e
aumentar o ndice para a pretensa universalizao da educao. J no segundo slogan, so
visveis as parcerias pblico-privadas e a ampliao do empresariado sobre a educao, sendo
agora todos responsveis pela educao, no centralizando esta tarefa no Estado.
O fenmeno do empresariamento na educao do campo, tambm constatado nos
estudos de Lima (2012), a qual afirma que, no caso do PRONATEC, isto fica evidenciado quando
o governo destina:
parte do fundo pblico por meio de bolsas de estudo para o setor privado e o Sistema
S. [...] indica nos seus resultados que a expanso da rede federal de Educao Profissional e o acesso ao Ensino Mdio como direito social est ameaado por uma
estratgia privatizante e mercantil de atendimento s demandas econmicas e presses
sociais por mais vagas no Ensino Tcnico. (Lima p.73, 2012).
Outra contradio apontada por Lima (2012) diz respeito ao objetivo de integrar o
Ensino Mdio formao tcnico-profissional, porm h uma disparidade na carga horria
proposta, pois a maioria dos cursos tcnicos oferecidos correspondem a 160 horas, tornando-se
um apndice e no uma forma integrada de escolarizao e formao tcnica.
O PRONATEC Campo representa a perspectiva empreendedora e empresarial para os
jovens do campo, uma formao voltada para o mercado local. Com cursos rpidos, tcnicos e
currculos flexveis e pragmticos orientados pelo sistema 'S' para um emprego precarizado e no
necessariamente voltado ao trabalho no campo.
Outra poltica em evidncia o transporte escolar, um grande projeto para as escolas
rurais, segundo entrevista do ex-ministro do MEC Fernando Hadadd Revista Marco Social da
Souza Cruz. A poltica em desenvolvimento a da nucleao intracampo por meio do transporte
11 Debate realizado na Conferncia de Abertura do Seminrio Preparatrio para o Encontro Nacional de Educao
Regional Sul do ANDES-SN, em Florianpolis-SC, no dia 10 de julho de 2014.
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escolar, a Resoluo Complementar CNE/CEB n 2, de 28 de abril de 2008 em seus artigos 3 e
4 anuncia:
Art. 3 A Educao Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental sero sempre
oferecidos nas prprias comunidades rurais, evitando-se os processos de nucleao de
escolas e de deslocamento das crianas.
1 Os cincos anos iniciais do Ensino Fundamental, excepcionalmente, podero ser
oferecidos em escolas nucleadas, com deslocamento intracampo dos alunos, cabendo aos
sistemas estaduais e municipais estabelecer o tempo mximo dos alunos em
deslocamento a partir de suas realidades.
2 Em nenhuma hiptese sero agrupadas em uma mesma turma crianas de Educao
Infantil com crianas do Ensino Fundamental.
Art. 4 Quando os anos iniciais do Ensino Fundamental no puderem ser oferecidos nas
prprias comunidades das crianas, a nucleao rural levar em conta a participao das
comunidades interessadas na definio do local, bem como as possibilidades de percurso
a p pelos alunos na menor distncia a ser percorrida.
Pargrafo nico. Quando se fizer necessria a adoo do transporte escolar, devem ser
considerados o menor tempo possvel no percurso residncia-escola e que as crianas
sejam transportadas do campo para o campo. (BRASIL, 2008).
O Programa objetiva apoiar os sistemas de ensino atravs da garantia de transporte dos
estudantes do campo para o campo, com o menor tempo possvel no percurso residncia-escola,
respeitando as especificidades geogrficas e culturais e os limites de idade dos estudantes. As
metas do programa preveem a entrega de lanchas, bicicletas e capacetes e nibus escolar.
Nos locais em que temos visitado escolas do campo, podemos afirmar que tem ocorrido
um processo de nucleao intracampo, porm as distncias percorridas pelos estudantes so
imensas. As condies dos nibus e das estradas so de calamidade, as licitaes so de
responsabilidade das prefeituras municipais e comum encontrar nibus com pneus desgastados,
com pouco combustvel, sem bancos, sem cintos de segurana, em sua maioria esto lotados e
no garantem segurana aos estudantes transportados.
Consideramos contraditrio termos polticas que anunciam a ampliao e a
universalizao da educao, bem como o aumento de investimentos num contexto de
fechamento de escolas. O censo escolar de 2013, demonstra o fechamento de 103.328 escolas no
Brasil, a maioria no campo. Esse nmero um contrassenso com o que definem as polticas de
educao do campo.
Outra contradio visvel por parte do Estado, em pleno desenvolvimento da poltica de
consenso e na busca da legitimidade atravs das Conferncias Nacionais, foi adiar a Conferncia
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Nacional de Educao que aconteceria em 2014. Sobre estas contradies e posies polticas, o
MST publicou uma carta12
repudiando o adiamento da referida conferncia e tambm
posicionando-se contra a destinao dos recursos pblicos para o Sistema S via Pronatec.
Como podemos evidenciar acima, as polticas de educao do campo ocorrem na
perspectiva de polticas focais, por intermdio de programas e editais que no garantem
continuidade das atividades. A apresentao dos programas PROCAMPO, PRONATEC e
Transporte Escolar demonstram uma relao das polticas de educao do campo com as polticas
educacionais em geral e o direcionamento para o projeto educacional do capital por meio da
flexibilizao, fragmentao e precarizao da formao humana, tanto em nvel do ensino
superior, quanto tcnico profissionalizante.
Concordamos com Titton (2010, p. 208) quando evidencia que um dos limites centrais
impostos educao do campo decorre de seu aprisionamento na poltica, especialmente, via
polticas do Estado e de governo, distanciando-se cada vez mais, do carter de classe
evidenciado na luta dos movimentos sociais por educao.
4 AS LUTAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E A EDUCAO DO CAMPO: A EXPERINCIA DO MST
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra carrega em seu nome e em sua
origem, a marca de classe. um movimento de trabalhadores que expressa a histrica e atual
concentrao de terras, de riquezas, de conhecimentos e de tecnologias. Em suma, expressa a
voracidade da acumulao capitalista, num contexto de crise profunda do capital, que o leva a
sofisticar seus mecanismos de explorao do trabalho, de apropriao dos recursos naturais, de
grilagem, compra e arrendamento da terra, de financeirizao e transnacionalizao da economia,
por meio do agronegcio e de ruptura de barreiras territoriais para a produo e o consumo.
Nesse contexto, fica cada vez mais difcil e limitado compreender o MST e outras
organizaes de trabalhadores como movimentos localizados, rurais, delimitados
geograficamente, quando eles so produto de movimentos histricos e espaciais do capital. Nesta
12 Disponvel em: http://www.mst.org.br/node/15674. Acesso em 27de julho de 2014.
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direo, Silver (2005) desenvolve uma anlise de longo prazo e em perspectiva mundial,
observando a dinmica de recriao das contradies entre capital e trabalho. Tal dinmica
implica na expanso industrial do capital (por meio de realocao geogrfica da produo, de
criao de novas linhas de produo menos sujeitas competio e ao conflito, de deslocamento
do capital da produo para as finanas e especulao e de solues tecnolgicas e
organizacionais) seguida de movimentos trabalhistas fortes.
Neste contexto, a designao Novos Movimentos Socais insuficiente para compreender
a natureza no s do MST, mas tambm do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do
Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) e outros. Alain Touraine (1999) refere-se
formao de novos atores sociais autnomos, em relao aos partidos polticos, aos sindicatos,
organizaes que propem um projeto social de futuro e de articulao entre diferentes
movimentos.
Por um lado, importante e necessrio que os movimentos sociais mantenham a
autonomia e a independncia, especialmente em relao aos governos, que exercitem a
organizao democrtica e participativa. Por outro lado, no h qualquer possibilidade de sucesso
e conquistas fundamentais nas lutas localizadas, setorizadas, sem uma capacidade de articulao
com outras lutas e movimentos sociais. O capital cada vez mais globalizado e sua expanso
pressupe a superao de fronteiras. Desta forma, o seu enfrentamento implica lutas globais,
articuladas, que impliquem a associao de jovens, de mulheres, de trabalhadores de diferentes
nacionalidades e etnias, visando a criao de uma alternativa global.
O MST exemplo de um movimento social de massa, com formas de luta originais, que
mantm lideranas fortes e um projeto poltico de transformao social, aliado com experincias
de produo e de educao avanadas, nos limites desta sociedade. um movimento que
preserva a autonomia, mas que busca articular sua luta com movimentos em mbito mundial,
como o caso da Via Campesina.
importante e necessrio conhecer a natureza e as caractersticas especficas dos
trabalhadores ligados atividade agrcola, ao trabalho e vida no campo, seja como assalariados
rurais, permanentes e temporrios, arrendatrios, pequenos agricultores e outros. O desafio,
entretanto, compreender o que os une ao conjunto dos trabalhadores, o que h em comum entre
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eles, em termos de produo e reproduo da vida. Evita-se assim secundarizar ou at mesmo
retirar de cena, categorias como classe trabalhadora, luta de classes, trabalho e capital.
Para Miliband (1999), a noo de que a classe trabalhadora est diminuindo, repousa
sobre um grande equvoco quanto ao significado do termo. O componente industrial,
manufatureiro, da classe operria est de fato diminuindo, mas a classe operria como um todo,
as pessoas cuja fonte de renda exclusiva a venda da sua fora de trabalho (ou que dependem
sobretudo da folha de pagamento do Estado), cujo nvel de renda situa-os nos grupos de renda
baixa ou inferiores, cujo poder e responsabilidade individual no trabalho e fora dele baixo ou
virtualmente inexistente essa classe de pessoas tem aumentado, e no diminudo, com o passar
dos anos.
Na mesma direo, Silver (2005, p. 34) observa a transformao permanente da classe
operria e da forma de conflito trabalho-capital. A percepo de que o trabalho e os movimentos
operrios so feitos e refeitos, continuamente, nos fornece um antdoto importante contra a
tendncia comum de sermos rgidos demais ao especificarmos quem faz parte da classe
trabalhadora.
A autora sugere que fiquemos atentos para sinais emergentes de uma nova formao da
classe trabalhadora, assim como de um contra-ataque daquelas classes trabalhadoras que esto
sendo desfeitas.
Concepes tericas que dificultam compreender com radicalidade as foras em luta
nesta sociedade, aliadas com condies objetivas difceis que empurram os movimentos para
aes imediatas e pontuais, dada a necessidade de produo e reproduo da vida da base que os
compe, conduzem a um distanciamento entre os objetivos tticos e estratgicos de luta.
Isso traz como consequncia, propsitos educativos e escolares que, da mesma forma, se
desprendem de objetivos formativos humansticos, no sentido atribudo por Gramsci (1989), de
no ter finalidades prticas muito imediatas. As histricas polarizaes entre escola neutra e
escola de classe, entre os interesses individuais e os coletivos, entre o contedo da
universalizao e da particularizao, entre contedo e forma escolar, continuam atuais.
A educao do campo, como vem sendo apresentada, hegemonicamente, no abre
espao para problematizar os antagonismos e as polarizaes acima referidas, ao tender para uma
educao com contedo particularista (do campo), mas que, contraditoriamente, tende para um
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ensino geral e unificador (da populao ou dos povos do campo). Sabemos que os liberais
defendem, desde a Revoluo Francesa, a unificao do ensino, num contexto em que a produo
social e universal, mas em que a apropriao dos resultados da produo privada e controlada
politicamente. De acordo com Machado (1991), a unificao escolar s possvel, medida que
forem eliminadas as condies geradoras da diferenciao e da desigualdade social.
A to propalada unificao escolar, na perspectiva dos liberais, implica a unidade da
escola burguesa, ou melhor, a subordinao ao processo de diviso capitalista do trabalho. Ela
comporta a padronizao necessria integrao de todos ordem burguesa, seja pela difuso de
conhecimentos bsicos vida social, seja pela cooptao poltico-ideolgica. (MACHADO,
1991)
Alm disso, a burguesia tenta desarticular as diversas experincias autnomas de
educao desenvolvidas pela classe trabalhadora. o caso das experincias educativas do MST.
Alguns exemplos evidenciam isso, como o fechamento das escolas itinerantes pelo governo e
pelo ministrio pblico do estado do Rio Grande do Sul em 2008; a criao de mecanismos para
dificultar, retardar ou mesmo impedir o funcionamento de cursos voltados para os movimentos
sociais em universidades pblicas brasileiras; a criminalizao de escolas de formao poltica do
Movimento; entre muitos outros.
O MST, desde os seus primeiros acampamentos e assentamentos vem defendendo e
buscando materializar uma escola diferente para atender os filhos dos trabalhadores que se
juntam ao Movimento. Ainda que o termo diferente possa no ser preciso quanto educao
que se pretende, ele significa a negao da escola burguesa para todos e a afirmao de uma
educao e escola diferenciada. Sabemos que a educao no pode ser a mesma para todos, se
no forem suprimidas as causas da desigualdade social.
Nesta direo, justifica-se a defesa de uma educao diferenciada (diferenciada da
educao capitalista) para a classe trabalhadora, visando a sua elevao cultural e a vinculao
orgnica s lutas sociais. A trajetria de 30 anos do MST, revela os avanos e tambm as
dificuldades de conduzir experincias educativas e escolares no mbito de um projeto de
sociedade.
Entre as aes educacionais acumuladas pelo Movimento, neste perodo, podemos fazer
referncia s escolas itinerantes no interior dos acampamentos e quelas montadas nos
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congressos e encontros do MST, nos cursos de formao, em praas pblicas, em rodovias e
outros locais. Elas corajosamente esto presentes nos espaos de maior tenso e radicalidade da
luta do Movimento e, portanto, talvez sejam as mais sujeitas perseguio, criminalizao e
tentativas de descontinuidade.
Podemos mencionar algumas experincias: a Escola Nacional Florestan Fernandes,
construda e mantida por meio do trabalho voluntrio militante, como espao de formao
poltica de matriz internacionalista, ao agregar ativistas de movimentos sociais de diferentes
pases, predominantemente, da Amrica Latina; o Instituto de Educao Josu de Castro,
administrado de forma autogestionria, busca articular a formao escolar, tcnica e poltica nos
cursos de formao de professores, de agentes de sade e de administradores de cooperativas; as
escolas localizadas nos assentamentos e seu desafio de ensinar, a partir da articulao com o
trabalho e a vida dos assentados; os cursos de graduao e de ps-graduao em parceria com
universidades, os quais provocam o ingresso de jovens trabalhadores nas melhores universidades
pblicas do pas e favorecem importante troca de experincias com estudantes universitrios no
vinculados aos movimentos sociais.
Alm dos inmeros obstculos externos para dificultar ou impedir tais experincias, por
vias miditicas, burocrticas e legalistas, pela cooptao e pela coero, outros tantos obstculos
internos so observados. A iluso da educao como soluo para muitos problemas que no so
de natureza educacional muito comum, aproximando-se dos ideais utpicos e at mesmo
liberais. A escolha por uma formao especfica, tcnica, profissional, em detrimento de uma
formao geral e humanista outro risco, muito comum, diante de contextos de crise que
empurram a classe trabalhadora organizada para sadas imediatas e pontuais. A desvinculao das
pautas e reivindicaes de um projeto futuro de educao e de sociedade perde de vista a
necessidade da revoluo. Nesta direo, uma das questes levantadas por Pinassi (2014) no VI
Congresso do MST, fundamental: Para o MST, a luta pela terra constitui um fim ou uma
mediao, uma continuidade ou uma ruptura com a ordem estabelecida pelo capital?
Por fim, consideramos que a proposio educao do campo tambm pode se constituir
num obstculo para a radicalizao das lutas e experincias de formao no interior do MST. Ao
mesmo tempo que ela contribui para ampliar os debates, pesquisas, aes e polticas dirigidas
para a populao do campo, apresentando-a como um problema social, no cenrio poltico
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DO ESTADO E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ORGANIZADOS
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brasileiro, contribui tambm para que o MST se desprenda dos seus propsitos iniciais, de uma
educao diferente ou diferenciada para os trabalhadores e seus filhos.
5 CONCLUSES
A partir da anlise realizada acerca das proposies para a educao do campo, por parte
dos empresrios, do Estado e do MST, podemos afirmar que h o predomnio da perspectiva do
empresariamento e do Estado, para uma educao tcnica, frgil e fragmentada, formando um
trabalhador raso, flexvel e pragmtico. A contraposio a esta posio so de iniciativas de
formao por parte do MST e de outros movimentos sociais organizados, tendo como base um
projeto poltico com carter de classe e as lutas pela terra e pela reforma agrria.
Neste jogo de foras evidente que o capital, mesmo em crise, ainda hegemnico e
direciona a formao para o mercado de trabalho e para o empresariamento / mercadorizao da
educao em todos os nveis e modalidades. No mbito da educao do campo, que surge da
presso dos movimentos sociais, esta incorporada e aprisionada na poltica por meio da
formao do consenso. Programas como PROCAMPO, PONATEC e Transporte Escolar
demonstram estas foras em luta.
Constatamos que, apesar das polticas e programas aqui apresentados serem uma
tentativa para aumentar os anos de escolarizao dos brasileiros, diminuir o analfabetismo,
ampliar as vagas de ensino mdio e de cursos profissionalizantes e/ou superiores, os ndices de
desenvolvimento social permanecem alarmantes. um contrataste visto que, ao mesmo tempo,
em que se amplia o financiamento e o nmero de vagas nas escolas, tambm se avolumam os
problemas sociais e a pobreza que imperam no Brasil.
Por fim, avaliamos que a formulao e proposio educao do campo, em seu sentido
genrico, enfrenta limites diante dos desafios da formao e da escolarizao dos filhos dos
trabalhadores que vivem no campo. preciso perguntar: para qual campo e para qual populao a
formao est dirigida? E qual a finalidade formativa das escolas do campo? No nosso ponto de
vista, falta ao debate, o corte de classe. Defendemos a mobilizao, enquanto produo terica e
interveno poltica, em torno de uma educao do campo para a classe trabalhadora. Uma
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educao que seja, ao mesmo tempo, universal e clssica, mas tambm crtica e diferenciada em
relao educao capitalista.
FIELD OF EDUCATION EDUCATION OR WORKING CLASS? PERSPECTIVE OF ENTREPRENEURS, STATE AND SOCIAL MOVEMENTS ORGANIZED
Abstract
The paper discusses the rural education from the perspective of entrepreneurs, state and social
movements. It shows that the relationship between the guidelines multilateral agencies for
educational policies is present in rural education. One way is intervening the agricultural
entrepreneurship in schools through volunteering, NGO projects, jobs by offering tax exemption,
besides the PRONATEC formed by System S, demonstrating public-private partnerships. Another
way is rural education policies, like the PROCAMPO, PRONATEC and school transport, that
take place by programs and public notices that are discontinuous, fragmented and pragmatic. The
perspective of social movements is of resistance and building a differentiated education by
cutting off classes. However, from the contradictions of the capitalist society, they end up
agreeing about the need for access to education and training of teachers.
Keywords: Rural Education; Entrepreneurship of Education; Policies for Rural Education; State;
Social Movements
EDUCACIN CAMPESINA O EDUCACIN DE LA CLASE OBRERA? LA PERSPECTIVA DE LOS EMPRESARIOS, DEL ESTADO Y DE LOS MOVIMIENTOS
SOCIALES ORGANIZADOS
Resumen
El artculo aborda la educacin campesina desde la perspectiva empresarial, del Estado y los
movimientos sociales. Muestra que la relacin entre las directrices de los organismos
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DO ESTADO E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ORGANIZADOS
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multilaterales para las polticas educacionales estn presentes en la educacin campesina. Un
camino es la intervencin del sector de los empresarios de la industria de la agricultura a travs
de las escuelas, del trabajo voluntario, proyectos de las ONGs, ofreciendo exencin de impuestos,
ms all PRONATEC formado por el sistema S, destacando las relaciones pblico-privadas. Otro
camino es lo de las polticas de educacin campesina, como PROCAMPO, el PRONATEC y
Transporte Escolar, que ocurren a travs de programas y edtales pblicos pero de forma
discontinua, fragmentada y pragmtica. La perspectiva de los movimientos sociales es la
resistencia y la construccin de una educacin diferenciada clasista. Sin embargo, a partir de las
contradicciones de la sociedad capitalista, terminan acordando y consensuando debido a la
necesidad de acceso a la escuela y la formacin docente.
Palabras clave: Educacin Campesina; Mercantilizacin de la Educacin; Polticas Educacionales
Campesinas; Estado; Movimientos Sociales
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Data de recebimento: 17/09/2014 Data de aceite: 25/10/2014