viajantes no brasil- josé de midlim

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Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 7, 1991, p.35-54. VIAJANTES NO BRASIL: viagem em torno de meus livros José E. Mindlin 'ri çarído estas notas, constatei desde logo que deve ser muito mais fácil escrever um livro do que um artigo sobre viajantes no Brasil. De fato, o número de obras de ou sobre viajantes é tão grande que mesmo se fosse para fazer apenas um resumo dos principais relatos, o volume seria certamente excessivo. Para começo de conversa, a noção de viajantes não é muito precisa. Serão só os estrangeiros, os brasileiros que percorreram o Brasil também se incluem nessa categoria? De meu lado, consideraria um absurdo excluir os brasileiros. Quanto aos estrangeiros, há muita variedade: alguns vieram ao Brasil por curiosidade, ou a negócio, descrevendo depois, em seus países de origem, o que encontraram de notável ou de exótico; há os que aqui viveram períodos mais ou menos longos - são viajantes, ou não? Há os cientistas, os piratas, os aventureiros, os artistas, os missionários, os políticos, os militares, os que apenas passaram pelo Brasil, a caminho do Oriente ou da África. Gente, como se vê, de todo tipo, o que complica bastante o tratamento do tema. Poderia haver dúvida sobre os missionários: são ou não viajantes? A meu ver, para os efeitos deste artigo, todos os relatos que deram à Europa uma visão do Novo Mundo através de uma experiência própria fazem parte dos livros de viagens. Vamos considerar que sim. A necessidade de algumas opções ficou evidente, pois seria obviamente impossível abranger num simples artigo os relatos realmente importantes. Pretendo, aliás, abordar apenas os viajantes dos séculos XVI a XIX. Nos séculos XVI a XVIII, as opções são um pouco mais fáceis, pois o número de viajantes não é tão grande, e alguns já são sobejamente conhecidos, como, por exemplo, Hans Staden, André Thevet ou Jean de Ury. Ainda assim, cabem sobre eles algumas referências, que virão daqui a pouco, como também, aliás, sobre alguns outros, igualmente bem conhecidos. As coisas se complicam no século XIX, pois a abertura dos portos, em 1808, atraiu desde logo para o Brasil a atenção do mundo exterior. Após a Independência, como cresceu nosso intercâmbio com o resto do mundo, o número de viajantes, por sua vez, cresceu quase geometricamente. Uma escolha criteriosa e ao mesmo tempo abrangente, na realidade, é muito difícil, se não impossível. O que vou procurar, por isso, é apontar meia dúzia de obras fundamentais e as curiosidades de alguns livros de cada século menos conhecidos do grande público, embora não tragam surpresas para os estudiosos do assunto. A idéia é tentar despertar o interesse de ao menos alguns leitores, que poderão encontrar na bibliografia adiante indicada fontes de informação para um conhecimento mais amplo e mais profundo. A escolha foi arbitrária, bem sei, e a omissão de muitos viajantes foi inevitável, mas não houve outro jeito. O capítulo de viagens sempre exerceu sobre mim, na formação da biblioteca aqui de casa, verdadeiro fascínio e mereceu, por isso, especial atenção e constante garimpagem. Com isso foi crescendo o número de obras, o que obviamente dificultou a seleção. Mas vamos adiante, com menos conversa fiada. Comecemos pelo século XVI.

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Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 7, 1991, p.35-54.

VIAJANTES NO BRASIL: viagem em torno de meus livros

José E. Mindlin

'ri çarído estas notas, constatei desde logo que deve ser muito mais fácil escrever um livro doque um artigo sobre viajantes no Brasil. De fato, o número de obras de ou sobre viajantes é tão grandeque mesmo se fosse para fazer apenas um resumo dos principais relatos, o volume seria certamenteexcessivo.

Para começo de conversa, a noção de viajantes não é muito precisa. Serão só os estrangeiros, osbrasileiros que percorreram o Brasil também se incluem nessa categoria? De meu lado, consideraria umabsurdo excluir os brasileiros. Quanto aos estrangeiros, há muita variedade: alguns vieram ao Brasil porcuriosidade, ou a negócio, descrevendo depois, em seus países de origem, o que encontraram de notávelou de exótico; há os que aqui viveram períodos mais ou menos longos - são viajantes, ou não? Há oscientistas, os piratas, os aventureiros, os artistas, os missionários, os políticos, os militares, os queapenas passaram pelo Brasil, a caminho do Oriente ou da África. Gente, como se vê, de todo tipo, o quecomplica bastante o tratamento do tema.

Poderia haver dúvida sobre os missionários: são ou não viajantes? A meu ver, para os efeitosdeste artigo, todos os relatos que deram à Europa uma visão do Novo Mundo através de umaexperiência própria fazem parte dos livros de viagens. Vamos considerar que sim.

A necessidade de algumas opções ficou evidente, pois seria obviamente impossível abrangernum simples artigo os relatos realmente importantes. Pretendo, aliás, abordar apenas os viajantes dosséculos XVI a XIX. Nos séculos XVI a XVIII, as opções são um pouco mais fáceis, pois o número deviajantes não é tão grande, e alguns já são sobejamente conhecidos, como, por exemplo, Hans Staden,André Thevet ou Jean de Ury. Ainda assim, cabem sobre eles algumas referências, que virão daqui apouco, como também, aliás, sobre alguns outros, igualmente bem conhecidos.

As coisas se complicam no século XIX, pois a abertura dos portos, em 1808, atraiu desde logopara o Brasil a atenção do mundo exterior. Após a Independência, como cresceu nosso intercâmbio como resto do mundo, o número de viajantes, por sua vez, cresceu quase geometricamente.Uma escolha criteriosa e ao mesmo tempo abrangente, na realidade, é muito difícil, se não impossível.O que vou procurar, por isso, é apontar meia dúzia de obras fundamentais e as curiosidades de algunslivros de cada século menos conhecidos do grande público, embora não tragam surpresas para osestudiosos do assunto. A idéia é tentar despertar o interesse de ao menos alguns leitores, que poderãoencontrar na bibliografia adiante indicada fontes de informação para um conhecimento mais amplo emais profundo. A escolha foi arbitrária, bem sei, e a omissão de muitos viajantes foi inevitável, masnão houve outro jeito. O capítulo de viagens sempre exerceu sobre mim, na formação da biblioteca aquide casa, verdadeiro fascínio e mereceu, por isso, especial atenção e constante garimpagem. Com issofoi crescendo o número de obras, o que obviamente dificultou a seleção. Mas vamos adiante, commenos conversa fiada. Comecemos pelo século XVI.

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A rigor, o primeiro viajante que escreveu sobre o Brasil foi Pero Vaz de Caminha, pois, emborasua carta só tenha sido publicada em 1817, na Corografia brasífica de Ayres do Cazal, editada pelaImprensa Régia, é relato do século XVI. A biblioteca não tem, no entanto, nenhum manuscrito da car-ta... O primeiro livro que menciona a viagem de Cabral, e que em forma de livro iniciou a série dosviajantes que mencionam o Brasil, é o Paesi nuovamente ritrovati (ver figura 1 no final do artigo),coletânea de viagens publicada por Fracanzano da Montalbodo em 1507. Seguiram-se, entre 1507 e1521, oito edições, em italiano, latim e alemão, além de sete em francês, o que demonstra o grandeinteresse despertado pela descoberta do Novo Mundo. A biblioteca, em tomo da qual estou fazendo estarápida "viagem", limitando-me aos livros que aqui se encontram, possui a primeira edição latina, de1508, e a última edição italiana, de 1521, que é, aliás, a mais completa. Além de Cabral, a obra, nocampo de nosso interesse, contém as viagens de Américo Vespúcio.

Depois do Montalbodo, têm de ser mencionadas diversas outras obras. Em primeiro lugar, adescrição das viagens de Hans Staden, que esteve no Brasil duas vezes, e escapou de ser devorado pelosíndios, o que foi sorte dele e nossa, pois lhe permitiu publicar seu relato em 1557, e a nós conhecê-lo.Dessa obra, cujo texto é bem conhecido, saíram, aliás, duas edições no mesmo ano, a original,publicada em Marburg, com saborosas ilustrações, provavelmente do próprio autor, e outra emFrancfort, possivelmente pirata, com ilustrações totalmente estranhas ao Brasil, tiradas da obra deLudovico Varthema sobre o Oriente Médio, publicada em 1548.

Depois vêm as obras de André Thevet e Jean de Léry, dois padres, um católico e um protestante,que acompanharam Villegagnori na primeira invasão francesa, em 1555. O livro do primeiro, Lessingularitez de Ia France Antarctique, foi publicado em Paris, em 1557, mas são pouquíssimos osexemplares conhecidos que trazem essa data. A maior parte é datada de 1558. A obra é lindamenteimpressa, com dez ilustrações de página inteira e trinta menores, e o texto descreve com bastantefidelidade os hábitos dos índios, mas tem em muitos aspectos boa dose de fantasia. No mesmo ano(1558) saiu outra edição em Antuérpia, publicada pelo famoso impressor Christophe Plantin, emformato menor, com texto em caracteres itálicos e as ilustrações regravadas em tamanho reduzido. Aobra deve ter tido sucesso, pois em 1561 saiu uma edição em italiano. Em 1575 Thevet publicou suaCosmographie universelle, um belo in-fofio com texto importante sobre o Brasil, quatro belos mapas eas ilustrações ampliadas pelo próprio autor.

Por sua vez, a obra de Jean de Léry (que teve brigas homéricas com Thevet e o criticaduramente) Histoire d'un voyage en Ia terre du Brési4 autrement nommée Amérique somente foipublicada em 1578, seguindo-se a essa primeira edição oito outras, ainda no século XVI. Léry, antes daHistoire d'un voyage, publicou uma Histoire memorable de Ia ville de Sancerre, em 1574, onde, pelaprimeira vez, se refere ao Brasil.

Em 1592 publica-se, na coleção de viagens de Theodoro De Bry, uma edição latina da obra deHans Staden e de Jean de Ury, com ilustrações contendo cenas de canibalismo, mas com aspersonagens pouco realistas - as índias, mesmo sem roupa, parecem respeitáveis senhoras européias...Outro viajante importante para o conhecimento de nossas coisas foi Ulrico Schmidel, cujo relato foipublicado pela primeira vez em 1567, juntamente com o texto de Hans; Staden, na coletânea de viagenspublicada por Sebastian Franck.

No século XVI deve, ainda, necessariamente ser incluída a obra de Gabriel Soares de Souza,embora só tenha sido publicada no século XIX. Trata-se do Roteiro geral com largas informações detoda a costa, quepretende ao estado do Brasil, e a discripção de muytos lugares della especialmente

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daBaya de todos osSanctos, seguido do Memorial e declaração das grandezas da Baya de todos osSanctos e das notáveis partes que te.

É obra de fundamental importância, com descrição de toda a costa do Brasil e uma informaçãopormenorizada da Bahia, tratando de seus habitantes, plantas, animais e minerais, detendo-se mais nostupinambás, mas descrevendo também outras tribos. Foi publicada pela primeira vez em 1825, naCollecção de notícias para a história e geografia das nações ultramarinas que vivem nos domíniosportuguezes, da Academia Real das Sciências de Lisboa, e em 1851 por Francisco Adolpho deVarnhagen, cuja primeira obra, em 1839, tinha sido Reflexões crüicas sobre o escripto do século XVIimpresso com o título de "Notícia do BrasiV. Na biblioteca existe uma cópia manuscrita do século XVI.Também do século XVI, embora só publicada em 1610, foi a viagem de circunavegação do globo deOlivier van Noort, iniciada em 1598, contendo duas gravuras do Rio de Janeiro, creio que as primeiraspublicadas.

Outro capítulo relevante do século XVI são as cartas dos missionários, principalmente jesuítas.Na Historia de las cosas de Ethippia, de Francisco Alvares, publicada em 1561, em Saragoça, naEspanha, constam cartas de Anchieta e Juan Aspilcueta, dando conta da terra, e de seus trabalhosmissionários no Brasil. Também se encontram cartas muito informativas de Nóbrega, Anchieta e váriosoutros missionários nos Diversi avisi e Nuovi avisi, publicados em Roma em 1558 e 1559, comreferências à Bahia, ao Espírito Santo e São Paulo.

As referências que faço não são muitas, mas a Bibliographia Brasiliana, de Rubens Borba deMoraes, publicada em 1983 pela Universidade da California e Livraria Kosmos, do Rio de Janeiro, éuma preciosa fonte de informação para quem queira se aprofundar no assunto.

O século XVII foi bem mais pródigo em viajantes do que o século anterior, mas aí terei de merestringir a alguns mais curiosos, para não estender por demais estas notas, que ainda vão exigirbastante espaçQ.Começarei por mencionar a obra de Richard Fleckno, publicada sem data, mas cerca de 1656. Trata-sede um padre católico irlandês que viajou pela Europa, Ásia, África e América, segundo refere RubensBorba de Moraes. Quando esteve em Portugal, depois de ter estado nos Países Baixos, Itália eConstantinoplai interessou-se pelo Brasil e pediu permissão para visitar o país, cujo acesso eradificílimo. Surpreendentemente, obteve a licença e até mesmo uma ajuda financeira. Chegou ao Rio deJaneiro, que o encantou, e escreveu com grande entusiasmo o primeiro livro de um viajante inglês aoBrasil. Descreve a terra, os índios e os escravos e dá informações sobre nossa flora e fauria,demonstrando sempre interesse fora do comum. A tiragem deve ter sido muito pequena, pois é um dosviajantes menos conhecidos.

Por falar em primeiro livro, o primeiro sobre o Amazonas foi publicado em Madri, em 1641. Éo Nuevo descobrimiento del gran rio de Ias Amazonas por el padre Christóval de AcuFia, edição muitorara, pois foi confiscada pelo governo espanhol logo após a restauração de Portugal. Foi reeditada, noentanto, em francês e inglês, respectivamente em 1682 e 1698. Dessa relação fez, aliás, um resumo ojesuíta Manuel Rodriguez, em sua obra El Maraflon y Amazonas - historia de los descubrimientos,entradas, y reduccion de naciones, trabajos malogrados de algunos conquistadores, y dichosos otros,assi temporales como espirituales, en Ias dilatadas montafias, y mayores ríos de Ia América, publicadaem Madri em 1684. É um livro fundamental que, além da importância de seu conteúdo, tem grandeinteresse gráfico - merece ser visto, mesmo que não seja lido... (Ver figuras 2 e 3 no final do artigo)

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Souchu de Rennefôrt é o autor de uma Histoire des Indes Orientales, de que saiu em 1688 umaedição em Paris, in-0, e outra em Leyde, in-8Q. É de grande interesse para nós por uma descrição dePernambuco, por onde passou a caminho da África. Narra um curioso episódio da prisão, em plena rua,do governador Jerônimo da Mendonça Furtado, que, levado para Lisboa, acabou reintegrado no cargo.Há detalhes curiosos sobre Recife e Olinda.

Outro viajante que correu mundo e esteve no sul do Brasil, descrevendo costumes dos índios (eachando as índias nuas menos provocantes que as européias vestidas ... ) foi Vincent Leblanc, cujosVoyagesfameur foram publicados em Paris em 1658.

Dentro do critério de que missionário também deve ser considerado viajante, não pode deixar deser incluída a obra de Claude d'Abbeville, Histoire de Ia mission despères capucins en Visle deMaragnan, etc., publicada em Paris em 1614, relatando a missão ligada à fundação de São Luís doMaranhão. Abbeville ficou fascinado pelos índios, dos quais levou seis consigo quando voltou para aFrança. Três morreram logo e os outros três voltaram para o Brasil, mas na obra figuram retratos detodos.Pernambuco e Bahia, por força da invasão holandesa, são objeto de muitos dos livros do século XVII.Um deles, curioso, mas também pouco conhecido, é a Historische beschreibung der kleinen wunderwelt (Descrição histórica do admirável pequeno mundo), publicado em Lubeck em 1652, por JacobJosten, que se qualifica de "pro'fessor de línguas em Anisterdam, em dez idiomas". A apresentação é defato feita em versos em holandês, inglês, polonês, russo, francês, espanhol, italiano, alto alemão, turco eliebraico. Segundo Rubens Borba de Moraes, Josten viveu em Pernambuco de 1638 a 1644, a serviçoda Companhia das índias Ocidentais e seu livro contém uma extensa e interessante descrição de Olinda.O exemplar da biblioteca é uma tradução alemã do holandês.

Também é importante, do ponto de vista documental, a obra de Ambrósio Richshofferpublicada em Estrasburgo em 1677 e que foi traduzida por Alfredo de Carvalho em 1897, com o títulode Diário de um soldado da Companhia das índias Ocidentais (1629-1632). Tem duas lindas pranchasde Olinda e Recife e seu interesse maior consiste na circunstância de Richshoffèr ter sido testemunhaocular dos fatos que narrou.

Iria muito longe se fosse detalhar todos os livros do século XVII referentes ao Brasil, como, porexemplo, as obras de Linschoten, Jean de Laet, Pierre Moreau, Brito Freyre, Commelyn, Montanus ouDuarte de Albuquerque Coelho. Mas há dois livros muito curiosos, que fico tentado a mencionar: um éRelation d'un voyage fait en 1695, 1696 et 1697, aux côtes dAfrique, Détroit de Magellan,Brezil, Cayenne et Isles Antilles, par une escadre des vaisseaux du Roy, commandèè par M. de Gennes,de autoria de Froger, publicada em Paris, em 1698. Outro é Voyages de François Coreal aux IndesOccidentales, contenant ce qu'il y a vil de plus remarquable pendant son séjour depuis 1666 jusqu'a1697. Essa obra foi publicada somente em 1722 (em duas edições do mesmo ano, uma em Paris,outra em Anisterdam), mas me parece dever ser enquadrada no século XVII, já que a viagem foi feitaentão e a ausência de Coreal durou 33 anos! Ambos os livros têm lindas gravuras de São Salvador e doRio de Janeiro, além de outras pranchas e mapas, e ambos descrevem em detalhe os costumes doshabitantes das duas cidades, a devassidão, a hipocrisia religi07 sa, a crueldade com que são tratados osescravos e a habilidade das mulheres em enganar os maridos, apesar do rigor com que são tratadas,impiedosamente mortas quando apanhadas em flagrante. Coreal entrou em detalhes curiosos, que vale apena traduzir: "As mulheres são menos visíveis do que o México, devido ao grande ciúme dos maridos,mas nem por isso são menos libertinas, e para satisfazer sua paixão, põem em prática todo tipo de

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estratagemas, ainda que pondo em risco sua honra e sua vida; pois se são descorbertas no crime, osmaridos as apunhalam, sem que nada aconteça, e seus pais ou irmãos as prostituem. Elas se tomamentão cortesãs públicas, a serviço tanto de Brancos, como de Negros. Se as precauções dos maridos nãoimpedem as intrigas de suas mulheres, as dos pais não impedem que as mães dispensem seus caridosossocorros às filhas logo que atinjam apuberdade. É comum que as mães indaguem das filhas o que elas são capazes de sentir aos doze outreze anos, e as convidem a fazer o que pode provocar os aguilhões da carne. As virgindades sãodisputadas em Salvador, e alcançam altos preços, porque são perdidas muito cedo,e porque a flor davirgindade, dizem elas, deve ser colliWanosprimeiros anos, a fim de não murchar." Mesmo com taiscostumes, diz Coreal, "ninguém deixa de ser religioso exteriormente"... O tema voltará nos séculosXVIII e XIX, tanto em Salvador quanto até em São Paulo. Fiquemos por aqui, em matéria de séculoXVII, e passemos ao século seguinte.

O primeiro nome que ocorre é a Cultura e opulência do Brasil, de André João Antonil,pseudônimo de João Antônio Andreoni, jesuita italiano que esteve anos no Brasil e publicou sua obra,impressa em Lisboa, em 1711. Na biblioteca só existe a edição de J837 e as que se seguiram, pois daedição original há pouquíssimos exemplares conhecidos - a obra foi proibida por ordem real, e a ediçãoconfiscada e destruída para evitar a divulgação das riquezas do Brasil. Trata-se, no entanto, de um livrofundamental, que não pode deixar de ser mencionado, embora Antonil não seja propriamente viajante -mas aqui segui o critério que logo no início destas notas procurei explicar. A edição original, aliás,infelizmente, não consta do acervo...

Isto posto, passemos a alguns viajantes propriamente ditos. Comecemos pelo Nouveau voyageau tour dá monde, de Le Gentil de La Barbinais (Ver figuras 4 e 5 no final do artigo), do qual saíramduas edições em 1728, uma em Paris, outra em Anisterdam. Foi uma viagem cheia de aventuras, quedurou de 1714 a 1718. A caminho inicialmente do Chile, La Barbinais parou na ilha Grande, poisconsiderou o Rio de Janeiro inconveniente, dada a hostilidade em relação aos franceses, ainda muitoviva depois da invasão de Duguay Trouin. Mesmo na ilha Grande teve dificuldades em se reabastecer,mas foi socorrido por um francês de nome La Borde, que morava em Parati e que, tendo tido notícia doproblema de seus compatriotas, mandou víveres e dinheiro, mas não se apresentou, por medo derepresálias dos portugueses. Parece-me que a referência a Parati é a primeira feita por viajantesestrangeiros, assim como a obra de La Barbinais, segundo Rubens Borba de Moraes, é o primeiro relatode viagem em volta do mundo publicada por um francês. Depois do Chile, Barbinais foi à China, e navolta foi obrigado a parar na Bahia, em 1717, para consertos no navio em que viajava. Foi bemrecebido em Salvador, e faz longa descrição da cidade e dos habitantes, detendo-se, como Coreal, nocapítulo dos costumes, que considerou escandalosos. Na noite de Natal esteve, a convite do vice-rei, noconvento de Santa Clara, onde, além da missa, houve um espetáculo de teatro e dança, com espantosaliberdade de movimentos e de linguagem. Também ele se refere à devassidão reinante. Rubens Borbade Moraes considera duas curiosas gravuras de danças do convento pura fantasia, mas La Barbinaisinsiste, no seu texto, sobre a absoluta veracidade de tudo quanto conta.

A rigor, deveriam ser mencionadas com detalhes muitas obras, como, por exemplo, as deFrezier, Pernetty, Dampier ou Bougainville, mas o problema das opções me obriga a referir apenas osnomes, passando logo para o livro de La Condamine, Relation abrégée Xiin voyage fait dans Pintérieurde l'Amerique Meridionale, publicado em Paris em 1745. O autor esteve antes no Equador, para mediros três primeiros graus do meridiano no hemisfério austral, e a relação da viagem, descendo o

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Amazonas, é de grande interesse. Especialmente fascinante, no entanto, é a carta que Godin desOdonais, membro da mesma expedição ao Equador, escreveu a La Condamine, em 1773. Essa cartaconsta apenas da segunda edição da Relation, publicada em 1778. Nela, o autor descreve uma aventuraespantosa de sua mulher. Godin des Odonais partiu de Quito em março de 1749 e chegou a Caiena emabril de 1750. Viajou sozinho, pois sua mulher estava grávida e deveria encontrá-lo em seguida.Sobrevieram, porém, muitas dificuldades, inclusive a morte de sua filha. Para chegar a Caiena, mme.des Odonais teve uma viagem extremamente acidentada, pois se perdeu na selva amazônica, depois dever morrer seus dois irmãos e todos os seus outros acompanhantes e ter perdido a esperança desobreviver! Ficou vinte anos separada do marido e ambos voltaram juntos à França em 1773. É umaverdadeira novela, que merece ser lida.

Em 1777 foi publicado em Londres outro livro que me pareceu interessante mencionar, emboraa parte que trata do Brasil seja pequena. São cartas de uma mrs. Kindersley, escritas de Tenerife, doBrasil, do cabo da Boa Esperança e das índias Orientais. Esteve em São Salvador, de onde escreveu setecartas, entre agosto e setembro de 1764, e suas observações são curiosas e informativas. Éespecialmente interessante a diferença do tratamento dispensado aos franceses e aos ingleses. EnquantoLe Barbinais mereceu todas as atenções, mrs. Kindersley foi objeto das maiores desconfianças erestrições. Aparentemente, o que imperava era o medo da Inquisição.

No apagar das luzes do século XVIU, em 1799, foi publicado em Londres um livro muitocurioso, a autobiografia de um aventureiro de alto bordo, o major Semple Lisle. Segundo o autor,contém "uma fiel narrativa das vicissitudes alternadas de esplendor e desgraça, tudo entremeado deinteressantes anedotas e relações autênticas de importantes negócios públicos". Material atraente, comose vê. Pois a leitura não decepciona. Semple Lísle, depois de passar dois anos na prisão de Newgate,por estelionato, foi mandado para a Austrália, numa leva de forçados, a bordo de um navio cujatripulação se rebelou em alto mar, matando o comandante e se dirigindo para o rio da Prata. EmMontevidéu, Semple conseguiu escapar para o Rio Grande do Sul e de lá seguiu, agora comoimportante personagem, para Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia, de onde voltou à Europa. Adescrição das honrarias recebidas, das cidades e dos usos e costumes brasileiros da época é uminteressante relato de viajante, com um misto de romance de capa-e-espada.

Esses são apenas alguns livros curiosos. Poderia mencionar também a História trá-gico-marítima, de Bernardo Gomes de Brito, publicada em Lisboa em 1735/6, com o relato de 18naufrágios, cada qual mais terrível que o outro. E ainda a Primazia seráfica, de frei Apolinário daConceição, que se ordenou padre em 1717 em São Paulo: foi publicada em 1732 e dá conta da históriados franciscarios no Brasil. Ou então o Diário da viagem que em visita, e correição das povoações dacapitania de S. Jozé do Rio Negro fez Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio no ano de 1774 e 1775.(Ver figura 6 no final do artigo) A obra só foi editada em 1825, em Lisboa, mas como na bibliotecaexistem dois manuscritos do século XVIII, pareceu-me que podia ser'iricluída, tanto mais que é degrande interesse para o conhecimento da região, com muita informação sobre índios, expedições, fauna,as lendárias amazonas, limites, plantas e muita coisa mais. É leitura bem interessante.Mas há no século XVIIII duas estrelas que devo mencionar antes de passar para o capítulo final destasnotas, que abrangerá o século XIX.

A primeira é a Viagem filosófica às capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso eCuiabá realizada por Alexandre Rodrigues Ferreira, dc 1783 a 1792. Como se sabe, trata-se do sábio

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baiano que percorreu a Amazônia recolhendo espécimes de plantas e animais, mandadas para Portugal(e depois em boa parte levadas para a França pelas tropas de Napoleão). Ele deixou,além de numerosas memórias científicas, quase mil desenhos, de autoria principalmente dos doisdesenhistas e botânicos que o acompanharam: Joaquim José Codina e José Joaquim Freire. A maiorparte desses desenhos é inédita e se encontra na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; outra parte estáno Porto. A obra de Alexandre Rodrigues Ferreira teve até agora duas edições, ambas parciais: uma deEdgar Cerqueira Falcão e outra do Conselho de Cultura. A maior parte, porém, ainda aguarda adivulgação que merece.

A outra estrela não é obra de viajantes, mas reúne uma das maiores, se não a maior coleção deilustrações de livros de viagens feita até hoje. Trata-se da Galeries agréables du monde, publicação doimpressor e editor holandês Pieter van der Aa, de cerca de 1729. Van derAa adquiriu, em princípios doséculo XVIII, as matrizes utilizadas pelos principais editores do século XVII, como Blaeu, de Wit eoutros. São 66 volumes, in-folio, que no exemplar da biblioteca estão encadernados em vinte, com maisde três mil gravuras, todas de excelente reprodução de todas as partes do mundo conhecido na ocasião.No volume sobre a América há belíssimo material brasileiro, constante de vinte pranchas desdobráveiscom vistas das cidades que estiveram sob domínio holandês, seis pranchas desdobrávt, com quatrogravuras cada uma, todas sobt~, 'tldios, e um mapa do Brasil. A declaração t, editor foi de que fezapenas cem exemplú, - de cada gravura, o que explica a raridade b, wleção.Com isso, espero ter dado idéia do que na Europa se escreveu sobre nós no terceiro século do Brasilcolonial. Vamos agora à parte final da "viagem".

O século XIX lembra o "inundo, mundo, vasto mundo" de Drummond. A profusão de viajantesé grande, e o Brasil foi explorado de Norte a Sul, de Leste a Oeste, sob todos os aspectos: científico,artístico, his-da em 1822, com 54 lindas gravuras. Ferdinand Denis foi, aliás, um grande estudioso dascoisas brasileiras, podendo ser considerado, creio eu, o primeiro brasilianista. Escreveu sobre aliteratura e a geografia do Brasil, publicou, além de muitos outros trabalhos, um romance de temaindígena (Scènes de Ia vie de Ia nature, suivi de Camoens et José índio, 1824), e descobriu a famosagravura Fête de Bresilians, publicada em 1551 na Entrée de Henrique II em Rouen em 1550, quereproduz o espetáculo de reconstituição de uma floresta tropical, com cinqüenta índios especialmentelevados para a França, que Montaigne menciona. Deve-se também lembrar Richard Burton, o famosotradutor das Mil e uma noites, que, em meio às suas muitas e incríveis aventuras no Oriente e na África,veio a ser cônsul em Santos e foi a Minas, onde conheceu a família de dona Alice Brant, a Helena Mor-ley de Minha vida de menina.Há uma série de outros viajantes que se lêem com prazer, como Charles Darwin, que passou pelo Brasilna viagem do Beagle, Raoul Walsh (Notices of Brazil), Am& ne Isabelle (Voyage d Buenos Ayres et auRio GrandedoSul) e Thomas Ewbank (Life in Brazil). HA, tamb6m, o Brazil and the Brazilians, deDaniel Kidder e James Fletcher, publicado em 1857, que se tomou um verdadeiro clássico. Os autoressão dois padres protestantes, mas pelo menos num deles, Fletcher, o sentimento religioso não impediuuma grande ciumeira de seu parceiro, pois sempre fez questão de proclamar sua qualidade de autorprincipal, apesar de K_idder aparecer em primeiro lugar. Isso se vê bem em dois exemplares dabiblioteca, com dedicatória autógrafa de Fletcher, uma ao conde d'Eu e outra a um Henry Beli, ambasassinalando essa qualidade de "principal author".

Foi mais longe, aliás. A primeira edição dá Kidder e Fletcher como autores, mas na edição de1879 os autores passaram a ser

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letchereKidder! Feira de _aidade

Falta uma palavra sobre viajantes brasileiros, que são muitos, mas dos quais vou destacarapenas uns poucos. O primeiro é Raimundo José da Cunha Mattos, cujo Iiinerário do Rio de Janeiro aoPará e Maranhão pelas Províncias de Minas Gerais i Goiaz, publicado em 1836, traz um preciosoconjunto de informações sobre unia região até então (e mesmo até hoje ... ) pouco conhecida (como,aliás, o livro também ... ).

É um texto excelente, cheio de observações sobre a vida, os usos e costumes da gente, a fauna, aflora e a história dos lugares por onde o autor passou. O próprio Cunha Matios acentua, aliás, que o"Itinerário não he duma simples carta de nomes, nem duma coleção fastidiosa de algarismos." E não émesmo. Só é pena que a obra não tenha sido reeditada e seja de tão grande raridade. Essa obra secomplementa com a Viagem ao Araguaya, de Couto de Maglhães, publicada em 1854, e com olivro..Áe menciono no final destas notas.Também é importante e igualmente rara e quase desconhecida a obra de Antônio Muniz de Souzapublicada em 1834, Viagens e observações de hum Brasileiro, Que, desejando ser útil à sua Pátria, sededicou a estudar os usos e costumes de seus Patrícios, e os tres reinos da Natureza, em vários lugarese sertões do Brasil, offérecidas à Nação Brasileira. O autor fala da Bahia, de Alagoas e Sergipe e narraas atrocidades dos poderosos que dominavam a região, "Catilinas em ponto pequeno, que por suaaudácia, ou riqueza, comglobão ao redor de si os faciriorosos, ladrões, e malvados de toda espécie, ecomettem a salvo quantos assassinios, estupros, roubos e crimes lhes passão pela cabeça, ora aterrandoa inteireza dos Magistrados ou Cidadãos, que os querem reprimir; ora peitando a venalidade ecorrupção dos Juizes e Desembargadores". Qualquer semelhança...

Antes de encerrar, devo mencionar ainda o Diário da viagem ao Norte do Brasil de dom PedroII - como se vê, um viajante ilustre. São notas que estiveram inéditas por um século e foram publicadasem 1959 pela Livraria Progresso Editora, da Bahia, com prefácio e notas de Lourenço Lacombe. Éobviamente um texto importante e de grande interesse.

Finalmente, para encerrar estas notas que já se alongaram demais, gostaria de mencionar osApontamentos de viagem de São Paulo à capital de Goyaz, desta à do Pará, pelos riosAraguaya eTocantins, e do Pará à Corte - Considerações administrativas epolfticas, pelo dr J. A. Leite Moraes,ex-presidente de Goyaz, obra publica da em 1882, provavelmente em tiragem muito pequena, pois é degrande raridade. O livro é muito interessante, mas, além disso, tem uma particularidade muito especial:seu autor é, nada mais, nada menos, avô de Mário de Andrade! - essa referência não é uma forma determinar este artigo?

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Figura 1:

Página de rosto da 1o edição latina da obraPaesi nuovamente ritrovati,

que contém a primeira referência à viagemde Cabral.

Figuras 2 e 3:

Página de rosto da obra de ManoelRodriguez sobre o Amazonas.

... e o colofón desse livro, extremamenteinovador.

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Figuras 4 e 5:

Página de rosto da obra de Le Gentilde La Barbinais.

Gravurada obra de Le Gentil de La Barbinais

Figura 6:

Manuscrito do século XVIII da obra deRibeiro de Sampaio sobre a Amazônia, que

somente foi impressa em 1825.

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Bibliografia

AA, Pieter van der, editor holandês de numerosos relatos de viagem, e da Galeries agréables du mondedescrita no texto.ABBEVILLE, Claude d'Capuchinho, francês que esteve no Maranhão em 1612, com os padres Yvesd'Evreux (autor da Suite à l’histoire de Ia Mission de d'Abbeville, publicada em 1614, e de cuja ediçãooriginal somente se conhecem dois exemplares), Arsène de Paris, e Amboise d'Amiens. Publicou aindaoito cartas e relatos breves da Missão, entre 1612 e 1614.ACURA, Christoval de, jesuíta espanhol, autor do primeiro livro sobre o Amazonas, descrevendo suaviagem a partir de Quito, em companhia de Pedro Teixeira.ALVAREZ, Francisco, autor da Verdadeira informação das terras de Prestes Juan, publicada emLisboa em 1540. O exemplar citado no texto é da tradução espanhola, que contém cartas jesuíticas doBrasil, do Japão e da China.ANTONIL, André João, pseudônimo do jesuíta italiano João Antonio Andreoni, autor da Cultura eopulência do Brasil, destacada no texto.ARAGO, Jacques, artista francês, desenhista da expedição de Freycinet à volta do mundo. Autor daPromenade autour du monde pendant les années 1817, 1818, 1819 et 1820, publicada em Paris em1822, com várias reedições. Em 1853 o autor publicou um resumo do Voyage sem a letra a. Deixouuma frase reveladora de seu entusiasmo: "Viva o Brasil, onde quero que me cavem um túmulo.ASPICULETA, Juan, jesuíta espanhol, cuja carta escrita do Brasil consta da obra de Francisco Alvarez.BOUGAINVILLE, Louis, matemático e filósofo francês, aluno e d'Alembert e ligado aosenciclopedistas. Autor do Voyage autour du Monde publicado em 1771. Fez parte de uma expediçãopara colonizar as ilhas Falkland,e esteve no Rii de Janeiro, que descreve, e de onde partiu para suaviagem de volta ao mundo.BOUGAINVILLE, Barão de, oficial de Marinha francês, autor do Journal de Ia navigation autour duglobe - pendant les années 1824, 1825 et 1826, publicado em Paris, em 1837. O Atlas contém seisvistas do Rio de Janeiro.BRACKENRIDGE, H.M., norte-americano, secretário da missão organizada pelo governo dos EstadosUnidos, que estudou em 1817 e 1818 o Brasil e as províncias do Rio da Prata. É o autor da Voyage toSouth America ... que publicou em Baltimore em 1819. Descreve muito bem o Rio de Janeiro, SãoPaulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.BRITO, Bernardo Gomes de, português, autor da coletânea conhecida como História Trágico-Marítimaem que se descrevem chronologicamente os Naufrágios que tiverão as Naus de Portugal depois que sepoz em exercício a Navegação da India, etc.BURTON, Richard E, sábio inglês, grande estudioso do Oriente e da África. Como cônsul em Santos,viajou do Rio para Minas, e esteve no Paraguai durante a guerra com o Brasil. É autor do TheHighlands of Brazil, publicado em 1869, e das Letters of the Battlefields of Paraguay, publicadas em1870, ambas em Londres.CAMINHA, Pero Vaz de, escrivão da frota de Pedro Alvares Cabral, cuja Carta pode ser considerada acertidão e nascimento do Brasil. Inédita por mais de trezentos anos, foi publicada em 1817, naCorografia Brasilica de Ayres do Cazal, e depois reeditada inúmeras vezes.

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CASTELNAU, Francis de, sábio francês que chefiou uma expedição científica à América do Sul de1843 a 1847. O relato monumental, publicado em Paris, de 1850 a 1857, compreende a Histoire duVoyage em seis volumes de texto e um Atlas, e mais oito volumes em 11 tomos, sobre geologia,geografia, botânica e zoologia, assim como de história.CHORIS, Louis de, pintor francês, nascido na Rússia, companheiro de Kotzebue em sua viagem à voltado mundo, autor de duas obras importantes: Voyage pittoresque autour du Monde, publicada em Parisem 1822, com uma gravura de interesse brasileiro, e Vues et paysages des régions equinoxiales, -pouvant servir de suite au Voyage Pittoresque autour du Monde, publicado em Paris, sem data, comquatro gravuras do Brasil.COELHO, Duarte de Albuquerque, quarto donatário de Pernambuco, participante das lutas contra osholandeses, autor das Memórias Diárias de la Guerra del Brasil, publicada em 1654.COREAL, François de, viajante do século XVII, autor da narrativa de viagem às índias Ocidentais, emdois volumes, o primeiro com texto de Coreal, e o segundo compilando textos de outros viajantes.DAMPIER, William, marinheiro inglês , que realizou uma viagem de volta ao mundo, de 1697 a 1699.DEBRET, Jean Baptiste, pintor francês que esteve no Brasil de 1816 a 1831, destacado no texto.DENIS, Ferdinand, esteve no Brasil muitos anos, e é autor de grande número de obras sobre o Brasil,todas relacionadas na Bibliographia Brasiliana, de Rubens Borba de Moraes.ESCHWEGE, W. L. von, sábio alemão, autor de dez obras sobre o Brasil, publicadas entre 1818 e1843.FERREIRA, Alexandre Rodrigues, sábio baiano, destacado no texto.FLECKNO, Richard, primeiro viajante inglês no Brasil a publicar um relato, destacado no texto.FLETCHER, James C., pastor americano, autor de Brazil and theBrazilians em parceria com Daniel P.Fletcher.FREZIER, Amédée François, cientista francês, autor da Relation du voyage de la mer du Sud aux cotesdu Chile, du Perou et du Brésil fait pendant les années 1712, 1713 et 1714, etc. publicada em 1717.Houve várias edições.FROGER, engenheiro francês que participou da viagem de M. de Gennes, mencionado no texto.FREYCENET, Louis Claude Desaulces de, oficial de marinha francês que comandou uma viagem aoredor do mundo de 1817 a 1820. Sua relação da viagem, com muitas informações sobre o Brasil evistas do Rio de Janeiro está descrita em detalhe na Bibliographia Brasiliana, de Rubens Borba deMoraes.GRAHAM, Maria, autora de dois livros fascinantes sobre o Brasil e o Chile. Foi preceptora de d. Mariada Glória, filha de Pedro I.JOSTEN, Jacob, holandês, destacado no texto.KIDDER, Daniel C., pastor protestante, autor de Brazil and the Brazilians em parceria com James C.Fletcher.KINDERSLEY, Mrs., viajante inglesa, referida no texto.KOSTER, Henry, autor de Travels in Brazil publicado em 1816, e reimpresso em 1817. Residiu emPernambuco.KOTZEBUE, Otto von, militar alemão a serviço da Rússia, participou e depois comandou uma viagemaos mares do Sul. Esteve no Brasil em 1816, e sua obra foi publicada em 1825.LABARBINAIS, le Gentil de, negociante francês, com a obra referida no texto.LA CONDAMINE, Charles Marie de, cientista francês, também detalhado no texto.

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LAET, Joannes de, holandês, autor de uma descrição do Novo Mundo, publicada em 1625 emholandês, e em francês, com dois capítulos importantes sobre o Brasil.LANGSDORFF, Barão Georg Henrich von, médico alemão, introduziu a vacina em Lisboa, participoucom Krusenstern de uma expedição russa à volta do mundo, e foi Cônsul Geral da Rússia no Rio deJaneiro. Publicou em 1812 a descrição da viagem, que fez com Hércules Florence e FélixTaunay, commuito material de interesse brasileiro.LAPLACE, oficial de marinha francês que comandou uma expedição de volta ao mundo de 1830 a 1832.A obra é monumental, com a participação de vários cientistas, muita informação e vistas do Brasil.LEBLANC, Vincent, viajante francês, cuja obra foi destacada no texto.LÉRY, Jean de, pastor protestante que esteve no Brasil com Villegagnon. A estada e suas obras constam do texto.LINSCHOTEN, Jan Huygen van, holandês, autor de uma viagem às Indias Orientais, de um roteiro dacosta do Brasil, e de uma descrição da América. A edição francesa foi publicada em 1610, 1619 e 1638, com belíssimas gravuras e mapas.LISLE, J. G. Semple, aventureiro inglês, detalhado no texto.LUCCOck John, comerciante inglês, que veio ao Brasil com d. João VI, em 1808, e aqui viveu dez anos.Publicou um excelente livro sobre o Rio e o sul do Brasil, em 18201 e é também autor de uma gramática evocabulário da língua tupi, que só foi publicada em 1882.MAGALHÃES, Geri. Couto de, brasileiro, autor da Viagem ao Araguaya, mencionada no texto, além de umromance, Os Guayanás, publicado em 1863, e de O selvagem, clássico sobre lendas indígenas, publicado em1876.MARTIUS, Carl Fried Phil von, sábio alemão, com uma obra imensa sobre o Brasil, detalhada por RubensBorba de Moraes. Viajou com Johann Baptist von Spix, e em parceria com ele publicou obras importantes.MATTOS, Raymundo José da Cunha, brasileiro, autor do Itinerário descrito no texto.MAWE, John, autor inglês de obra sobre uma viagem ao interior do Brasil, especialmente a Minas Gerais,publicada em 1o edição em 1812, além de várias obras sobre mineralogia.MÁXIMILIANO, imperador do México, esteve no Brasil em 1860, e publicou obras sobre a Bahia, alémde memórias, que contém informações sobre o Brasil.MAY, William Henry, comerciante inglês que viveu no Rio. de Janeiro. Sua obra, inédita, é descrita notexto.MONTALBODO, Fracarizano da, autor dePacsi nuovamente ritrovati, detalhado no texto.MORAES, J. A. Leite, autor de uma viagem a Goyaz, e avô de Mário de Andrade. Detalhado no texto.MOREAU, Pierre, autor das Relations veritables et curieuses de l’Isle de Madagascar, et du Bresil etc.Publicada em 1651, é obra importante sobre o Brasil holandês.MORICONI, Ubaldo A., autor italiano da obra Nel paese de Macacchi, mencionada no texto.NÓBREGA, Padre Manoel da, cartas suas enviadas do Brasil estão publicadas nas relações jesuíticas doséculo XVI.ODONAIS, Godin des, cientista francês, membro da expedição de La Condamine. Autor da cartamencionada no texto.PEDRO II, mencionado no texto como autor do Diário da viagem ao Norte do Brasil. Dispensa detalhes...PERNETTY, abade francês e cientista, autor da relação de viagem às ilhas Malvinas em 1763 e 1764, comBougainville. Esteve em Santa Catarina. Sua obra foi publicada em 1770.POHL ,Johann Emanuel, cientista austríaco, viajou pelas capitanias do Rio de Janeiro, Minas Gerais e

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Goiás, de 1818 a 1821. Publicou várias obras sobre o Brasil, com gravuras de Thomas Ender.RENNEFORT, Souchu de, francês, Secretário do Conselho das índias Orientais. Sua obra é mencionadano texto.RICHSHOFFER, Ambrocio, militar alemão, participou da invasão holandesa, obra mencionada no texto.RODRIGUEZ, Manuel, jesuíta espanhol, autor da obra El Maranon y Amazonas, mencionada no texto.RUGENDAS, Johann Moritz, pintor alemão, que participou da viagem de Langsdorff e depois viajou pelo Brasil, publicando em 1835 o famoso Voyage pittoresque dans lè Brésil, mencionado no texto.SAINT-HILAIRE, August de, naturalista francês que viajou pelo Brasil nas décadas de 1820 a 1950,publicando suas viagens pelas províncias do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Rio Grandedo Sul, Santa Catarina, e Bahia, além de importantes trabalhos de botânica.SCHLICHTHORST, G., militar alemão, cuja obra foi descrita no texto.SCHMIDEL, Uirich, viajante alemão, igualmente com sua obra mencionada no texto.SOUZA, A. Muniz de, brasileiro, cuja viagem é descrita no texto.SOUZA, Gabriel Soares de, autor brasileiro destacado no texto.SPIX, Johann Baptist von, sábio alemã, companheiro de Martius. Destacado no texto.STADEN, Hans, viajante alemão, o primeiro a publicar um relato, que se tomou clássico Destacado notexto.TAUNAY, Hyppolyte, autor francês, com Ferdinand Denis, da obra Le Bresíl ou historie, moeurs,usages et coutumes des habitans de ce royaume, destacado no texto.THEVET, André, padre francês, que veio ao Brasil com Villegagnon na 1o invasão francesa. Destacadono texto.URSEL, Charles d', autor francês de uma viagem à América do Sul publicada em 1879, com trêsreedições, em 1879, 80 e 89, além de uma edição em alemão.VARNHAGEN, Francisco Adolpho de, historiador brasileiro, verdadeiro patrono de nossahistoriografia. Publicou várias dezenas de obras e revelou inúmeros trabalhos inéditos. A bibliografiade Rubens Borba de Moraes contém uma relação.WALSH, Raoul, pastor e médico irlandês, autor de Notices of Brazil in 1828 and 1829, publicada em1830, obra importante para o conhecimento do Brasil da época.WIED-NEWIED, Príncipe Maximiliano de, sábio austríaco que publicou a famosa Viagem, em 1820em alemão, e em 1821 em francês, realizada nos anos de 1815 a 1817. Tem até hoje grande importânciacientífica, e o Atlas que acompanha o texto contém belíssimas gravuras.