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  • 7/31/2019 Victor Meirelles PDF

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    Plenrio da Cmara dos Deputados Sesso Extraordinria

    Discurso do Deputado Esperidio Amin (PP/SC)

    Data: 04/07/2012

    No sou um especialista em histria da arte e no pretendo aqui entrar no mrito dasqualidades da tela A Primeira Missa no Brasil que estamos tendo o privilgio decontemplar, desde ontem, no Salo Negro desta Casa.

    H quem diga que seja fruto do nacionalismo romntico cultivado pelas elites doImprio. E h quem diga que tal representao da primeira missa no Brasil forja umahistria de harmonia inverdica entre os primeiros colonizadores e a populao nativada ento Ilha de Vera Cruz.

    H controvrsias. No sentido contrrio, h quem veja no cenrio composto a fundao

    de uma narrativa de cordialidade entre nativos e estrangeiros, que a insero do Brasilno mundo contemporneo, com sua tradio pacifista, no desmente.

    Se a descoberta do Brasil foi ou no uma inveno do sculo XIX, resultante dassolicitaes de um projeto de construo da identidade nacional patrocinado peloImprio, no vou discutir.

    O fato que o quadro A Primeira Missa no Brasil fez com que o Descobrimentotomasse a forma definitiva com que instalou no imaginrio de nossa Gente.

    Tecnicamente, atestam os especialistas com unanimidade, a obra irretocvel.

    O que temos no Salo Negro, e disto no h quem discorde, o maior tesouro icnicobrasileiro, pela primeira vez exposto no Distrito Federal.

    A composio de A Primeira Missa no Brasil foi baseada nas descries da carta dePero Vaz de Caminha e fundamentada em estudos realizados em documentoshistricos que o prprio autor, Victor Meirelles, pesquisou na Biblioteca de Paris.

    Desde ento, a tela tem ilustrado notas de dinheiro, selos dos Correios, livros didticos

    e capas de cadernos escolares de vrias geraes de brasileiros.

    Restaurada recentemente, esta apenas a terceira vez que deixa o Museu Nacionalde Belas Artes, no Rio de Janeiro.

    Eu tenho imenso orgulho de ser este tesouro a contribuio de um catarinense para oengrandecimento da nao brasileira. E sobre este meu conterrneo, VictorMeirelles de Lima, nascido na cidade de Desterro, hoje Florianpolis, que gostaria defalar brevemente.

    Filho de pais humildes, desde a infncia, Victor Meirelles de Lima destacava-se napequena cidade por seu pendor ao desenho.

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    Em 1846, um ilustre catarinense, Jernimo Francisco Coelho, Conselheiro do Imprio,em visita a Desterro, teve oportunidade de conhecer os rabiscos do jovem. Toentusiasmado ficou, que lhe presenteou com tintas e papeis para que desenhasseuma vista da incipiente cidade.

    Ao retornar Corte, procurou a Academia Imperial de Belas Artes para mostrar otrabalho e obteve parecer favorvel ao talento do promissor artista. Coelho,juntamente com amigos como a famlia de outro ilustre catarinense, Manoel da SilvaMafra, mais tarde tambm Conselheiro, resolveu custear os estudos do desterrense noRio de Janeiro.

    Victor contava ento 14 anos de idade.

    Seguiu-se uma histria de sucesso, construdo com humildade, honradez, estudo e

    trabalho rduo. Aquelas caractersticas que at hoje fazem da Gente catarinense opovo admirvel que somos.

    Victor Meirelles conquistou a admirao de seus tutores e no tardou a desfrutar atmesmo da amizade do Imperador D. Pedro II.

    Obteve, do governo brasileiro, sucessivas bolsas de estudo que lhe permitiramaprimorar-se, ao longo dos anos, no continente europeu, com os melhores mestres dapoca.

    Tendo obtido reconhecimento internacional, foi condecorado pelo Imperador com aImperial Ordem da Rosa, ao lado de ningum menos do que o compositor CarlosGomes, outro de nossos geniais artistas nacionais.

    Segundo a historiadora da arte Elza Ramos Peixoto, autora de excelentes trabalhossobre Victor Meirelles, mesmo tendo sobre a cabea os louros da glria, o pintorjamais apagou de sua memria a cor e a luz de sua cidadezinha natal, que nuncadeixou de visitar com alguma frequncia.

    H mesmo quem afirme, e eu posso testemunhar positivamente, que um dos morros

    que aparecem ao fundo de A Primeira Missa no Brasil tem a mesma conformao donosso Morro do Anto, hoje, em Florianpolis, chamado de Morro da Cruz.

    Com o fim do regime monrquico, tem incio o amargo ostracismo do genial artista.Fiel ao apreo que Dom Pedro II lhe devotou, cai em desgraa. A Repblica nascentefoi implacvel com os amigos do imperador deposto.

    Depois de sofrer toda sorte de injustia, em 1891, viu-se levado a desligar-se daAcademia Nacional de Belas Artes. Abalado, desgostoso, mas sempre integro, oartista se recolheu sua casa na ento Rua do Sacramento, no Rio de Janeiro, onde,ao lado da esposa, Roslia, do enteado Eduardo e da nora, viveu seus ltimos anosde vida.

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    A Repblica havia encerrado sua carreira profissional.

    Victor Meirelles morreu pobre e esquecido em 22 de fevereiro de 1903, num domingode carnaval. Foi em meio indiferena do povo entregue folia de Momo, que o corpo

    do autor do quadro fundador do Brasil atravessou anonimamente a cidade do Rio deJaneiro.

    No enterro, nenhum representante da Academia. Apenas familiares e alguns poucosamigos. Victor Meirelles foi sepultado com as vestes de irmo da Ordem dos Mnimosde So Francisco de Paula e nunca mereceu sequer um mausolu que fizesse justia sua grandeza. beira do tmulo, as palavras do dramaturgo Arthur Azevedo. Nadamais houve na despedida do maior pintor histrico do Brasil.

    Estamos aqui, hoje, procurando corrigir, ou minimizar uma injustia. A exibio indita

    de A Primeira Missa no Brasil no Distrito Federal a maior homenagem que temospodido prestar, desde ento, a um dos filhos mais diletos da Nao.

    Ontem, tive a oportunidade de dizer senhora Mnica Xexo, diretora do MuseuNacional de Belas Artes, e ao senhor Jos do Nascimento Junior, presidente doInstituto Brasileiro de Museus, rgos vinculados ao Ministrio da Cultura, que estaexposio da grandiosa tela de Victor Meirelles, inaugurada agora no CongressoNacional, um gesto de reconciliao da Repblica brasileira com um de seusmaiores artistas.

    Suas obras, nos dias de hoje, podem ser admiradas em diversos museus, como oMuseu Nacional de Belas Artes e, notadamente, o Museu Victor Meirelles, situado narua de mesmo nome, em Florianpolis, no sobrado branco em que nasceu e viveu ata adolescncia.

    Outras diversas obras encontram-se espalhadas pelo Pas em colees particulares,ocultadas das vistas do pblico.

    Gostaria de aqui fazer um registro adicional de exemplo que poderia ser seguido, abem do interesse na memria nacional.

    Recentemente, a professora e historiadora Sara Regina Poyares do Reis, deFlorianpolis, sobrinho e filha coracional do grande historiador Osvaldo RodriguesCabral tomou a iniciativa de doar ao Museu Victor Meirelles, a partir de seu prprioacervo, duas obras do artista e mais seis telas produzidas por alguns de seus vriosdiscpulos. Acredito que tal gesto, inspirado e inspirador, merea nosso aplauso nestemomento.

    s vsperas da morte, Victor recebeu a visita de um dos muitos artistas que ajudou aformar, o pintor Antonio Parreiras. Segurando-lhe as mos, disse o gnio moribundo:Como vs, chegada a hora. Eu ta anunciei na ltima carta que te escrevi. Como triste e desolador o fim de minha vida de artista. Deus os perdoe.

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    Que Deus nos perdoe.