viii mais do que palavras saiba mais sobre a comunicação ... escolher as brincadeiras...
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Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 1
Guilherme tem 3 anos de idade e parece não gostar de estar com outras pessoas. Prefere brincar sozinho,
fazendo seu trem de brinquedo ir para frente e para trás sobre os trilhos. Quando não está brincando com
seus trens, Guilherme está sempre se mexendo, correndo da sala para a cozinha e para a sala de novo.
Seus pais estão preocupados, porque ele ainda não fala e não responde quando o chamam pelo nome.
como escolher as brincadeiras participativas e como brincá-las com seu filho.
O Capítulo 6, “Ajude seu filho a entender o que você diz”, trata de como você
pode ajustar sua maneira de falar para que ele possa entender.
O Capítulo 7, “Use Ajudas Visuais”, apresenta o que você pode fazer com obje-
tos, figuras e escrita para ajudar seu filho a entender situações, organizar sua vida
e se expressar. Você pode reproduzir as figuras usadas nesse capítulo para fazer
AjudasVisuais para o seu filho.
No Capítulo 8, “R.O.D.A. nas suas Rotinas”, tratamos de como usar todas as
estratégias dos capítulos anteriores para incentivar interação, compreensão, inde-
pendência e conversação durante as rotinas diárias.
O Capítulo 9, “Aproveite a Música ao máximo”, se vale do amor do seu filho
pela música para melhorar sua interação e sua comunicação.
O Capítulo 10, “Que venham os livros!” sugerimos alguns e discutimos sobre
como usá-los de forma estruturada para ajudar seu filho entender mais palavras e
desenvolver novos pensamentos e maneiras de se comunicar sobre eles.
O Capítulo 11, “Traga os brinquedos”, descreve os tipos de brinquedos que aju-
darão seu filho a desenvolver habilidades para brincar e se comunicar.
Finalmente, no Capítulo 12, “Vamos fazer amigos”, há sugestões práticas
sobre como promover amizades nas quais seu filho continue a
usar suas novas habilidades de comunicação.
O glossário no final do livro é uma maneira mais fá-
cil de lembrar-se dos significados de termos usados ao
longo do livro.
Usando as estratégias apresentadas neste livro, você pode
proporcionar para seu filho um ambiente que promova a
aprendizagem e a comunicação e permita que toda a família
possa participar e se divertir! Com alguma paciência e
persistência, você pode ajudar seu filho a desenvolver
todo o seu potencial nos primeiros anos de vida.
viii Mais do que palavras
Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 3
Os pais de Guilherme não sabem como ajudá-lo a se comunicar. Nem mesmo sabem
se o filho os ouve quando falam com ele. Mas certamente sabem muitas coisas sobre
o filho. Sabem de que comida, brinquedos e atividades ele gosta. Os pais de Gui-
lherme podem não ter percebido, mas estas informações são importantes e podem
ser usadas para ajudá-lo.
Quando você sabe do que seu filho gosta, você sabe o que o motiva a se comunicar.
Observe do que seu filho gosta e do que ele não gosta
Com quais brinquedos
seu filho gosta mais de
brincar?
Qual é a comida
preferida de seu filho?
De que tipo de
atividade física seu
filho gosta?
Com quem seu filho
gosta mais de ficar?
Algumas crianças dão pistas claras sobre o que gostam e o que não gostam. Por
exemplo, pode ser que seu filho brinque sempre com o mesmo brinquedo ou puxe você
até a porta da frente repetidas vezes. Nessas situações, é fácil perceber do que ele gosta.
Mas, às vezes, é preciso observá-lo mais atentamente para descobrir as preferências
dele. Desta forma, pode ser que descubra que ele gosta de pular, correr de um lado para
o outro ou engatinhar por baixo dos móveis ainda mais do que você pensava.
As coisas das quais seu filho gosta podem ser difíceis de entender
4 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 5
As coisas das quais seu filho não gosta podem ser difíceis de entender Seu filho pode fazer outras coisas difíceis de entender
6 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 7
As ações de seu filho mostram como ele percebe o mundo – através de movimento, tato, visão, audição e olfato.
Muitas crianças com TEA, como as mostradas nas páginas anteriores, reagem de formas
incomuns ao mundo ao seu redor. Isto acontece porque elas podem não sentir as coisas
da mesma forma que você e eu. Seu filho pode ser hipersensível a certas sensações, o
que significa que uma pequena quantidade da sensação pode estimulá-lo intensamente.
Se o seu filho é hipersensível, ele pode se afligir e tentar evitar as sensações que o inco-
modam. Por exemplo: Lucas, uma das crianças descritas anteriormente, é hipersensível
ao som do aspirador de pó, por isso cobre os ouvidos para bloquear o barulho.
Ao mesmo tempo, seu filho pode ser hipossensível a certas sensações e bus-
cá-las, porque é necessária uma grande quantidade da sensação para estimulá-lo.
Crianças que são hipossensíveis ao movimento são particularmente ativas, porque
correm de um lado para o outro, balançam o tronco ou pulam buscando provocar
as sensações que precisam. Por outro lado, há crianças que são hipossensíveis às
sensações, e mesmo assim são passivas. Elas mal reagem ao mundo à sua volta,
porque não estão obtendo estímulos suficientes.
É possível que seu filho tenha reações contraditórias às sensações – ele pode ser
hipersensível a algumas e hipossensível a outras. Muitas crianças com TEA são hi-
possensíveis à fala e não respondem a ela, muito embora outros sons as incomodem.
Vai ser difícil que seu filho preste atenção ao que você diz, se ele tiver dificuldades
em ouvir sons da fala.
Os comportamentos das crianças nas páginas 3, 4 e 5, com exceção de Bruno,
podem ser explicados pelas situações às quais são hiper ou hipossensíveis.
Da mesma forma que muitas crianças com TEA, Bruno, o menino que não sabe
pedalar seu triciclo, tem dificuldades com planejamento motor, ou seja, para ele é
difícil planejar e executar movimentos.
Quando seu filho tem dificuldades de planejamento motor, pode trombar com as
coisas. Ou pode ser que brinque com os brinquedos de uma forma repetitiva, pois acha
mais fácil aprender um só conjunto de ações do que aprender muitos. Falar é difícil para
algumas crianças com TEA, em parte porque a fala requer muito
planejamento motor da boca, língua
e aparelho vocal.
Bruno tem dificuldades com o planejamento
motor. Ele não consegue planejar e executar
as ações necessárias para andar de triciclo.
MOVIMENTO
TATO
Associe as preferências e ações de seu filho à maneira como ele sente o mundo
Estas crianças são hipersensíveis a
algumas sensações e tentam evitá-las
Estas crianças são hipossensíveis a
algumas sensações e procuram senti-las
Miguel tenta evitar movimento e tem medo da
escada rolante.
Gui corre pela casa para buscar movimento.
João se incomoda quando seu pai
toca sua cabeça.
Luana gosta de sentir pressão
sobre seu corpo.
8 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 9
Pedro gosta do cheiro
do cabelo de sua mãe.
VISÃO
Jaqueline tenta evitar a luz em seus olhos. Gabriel gosta de observar seus
dedos movendo-se rapidamente
AUDIÇÃO
Alguns sons parecem ser altos demais
para Lucas.
Ao mesmo tempo, parece não ouvir quando
seu pai o chama.
OLFATO
Karen não come macarrão porque não gosta
do cheiro de molho condimentado.
O pai transforma o amor de
Guilherme por movimento
em uma brincadeira
interativa.
Estas crianças são hipersensíveis a
algumas sensações e tentam evitá-las.
Estas crianças são hipossensíveis a
algumas sensações e procuram senti-las.
Identifique as preferências sensoriais de seu filho
As visões, os sons, os cheiros, toques e movimentos de que seu filho gosta ou não
gosta são chamados de preferências sensoriais. Será mais fácil entender o compor-
tamento de seu filho se você identificar as preferências sensoriais dele.
Elas também mostrarão por
onde você começa para ajudar seu
filho a se comunicar. Se ele receber
a informação através de seu senti-
do preferido, pode ser que consiga
prestar atenção por mais tempo e
aprender mais. Ao identificar as
preferências sensoriais de seu fi-
lho, saberá quais atividades podem
ser motivadoras e prazerosas tanto
para ele quanto para você. Preencha
a lista de verificação sensorial nas
páginas 10 a 13 para registrar quais
sensações seu filho busca ou evita.
10 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 11
As preferências sensoriais do meu filho
Observe as preferências sensoriais de seu filho. Depois, marque os quadrados que se
aplicam ao seu caso.
MOVIMENTO
Meu filho é hipossensível ao movimento e busca o movimento assim:
pulando
balançando o corpo
girando
gostando de brincadeiras “brutas”, por exemplo,
ser jogado para o alto
correndo de um lado para o outro
de outras maneiras: _________________
Meu filho mostra que é hipersensível ao movimento assim:
mostrando medo em escadas e escadas rolantes
mostrando medos em balanços, gangorras e
escorregadores
irritando-se ou enjoando-se ao andar de carro
de outras maneiras: _________________
Meu filho tem dificuldades de planejamento motor: é desajeitado ou tromba com as coisas
não usa brinquedos de forma apropriada
brinca com o mesmo brinquedo horas a fio
não imita as coisas que eu faço
realiza uma atividade apenas uma vez (por
exemplo, ele desce pelo escorregador uma vez)
vaga sem objetivo
passa muito tempo deitado
tem dificuldades para assoprar velas
me entende mas não fala
tem dificuldades para “achar” uma palavra que já disse antes
não pronuncia corretamente as palavras que sabe dizer
tem uma voz incomum
outros: ___________________
Meu filho mostra que é hipersensível ao tato:não gosta de coisas pegajosas nas suas mãos (por exemplo:
massinhas, argila e tinta)
gosta ou detesta certas texturas de roupas
não gosta de vestir chapéus e luvas
não gosta de lavar ou cortar o cabelo
não gosta de comidas crocantes ou difíceis de mastigar
outros: ________________
TATO
Meu filho é hipossensível ao tato e busca essa sensação assim:
gostando de longos abraços
enrolando-se em cobertores
espremendo-se em locais apertados (por
exemplo, atrás do sofá)
insistindo em usar roupas justas
deitando esparramado no chão
esbarrando nas pessoas
batendo palmas
segurando objetos
pondo objetos na boca
rangendo os dentes
raramente chorando quando se machuca
de outras maneiras: ______________
12 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 13
SOM
Meu filho é hipossensível ao som:parece não ouvir o que as pessoas
dizem
gosta de música e certos sons
gosta de brinquedos que fazem
certos sons
gosta de quando eu falo com ele de
um jeito animado
outros: ___________________
VISÃO
Meu filho é hipossensível a coisas que vê e procura sensações visuais assim:
acendendo e apagando as luzes
observando movimentos repetitivos (por
exemplo: o virar de páginas de livro, o abrir
e fechar de portas, seus dedos se mexendo
diante de seu rosto)
enfileirando coisas
olhando para as coisas com o canto do olho
olhando para as coisas de ângulos incomuns
outros: ___________________
Meu filho é hipersensível ao som e pode evitá-lo: tapa os ouvidos
chora quando uso eletrodomésticos (lava-
louças, aspirador de pó, secador de cabelo)
gosta de quando uso uma voz macia
consegue ouvir os sons mais sutis
outros: ____________________
Meu filho é hipersensível a coisas que vê e às vezes evita algumas sensações visuais:
prefere o escuro
pisca frequentemente
evita o sol
outros: _______________
14 Capítulo 1
OLFATO E PALADAR
Meu filho é hipossensível a alguns cheiros e gostos e busca estas sensações:
explora coisas lambendo e cheirando-as
gosta de comidas muito condimentadas
outros: ____________
Diferentes tipos de aprendizes
Estilos de aprendizagem baseiam-se na for-
ma como assimilamos informação. Podemos
aprender através da visão, do toque e/ou da
audição. Também temos diferentes tipos de
memória – algumas pessoas têm mais facili-
dade de se lembrar de acontecimentos do que
outras. Algumas pessoas aprendem detalhes,
enquanto outras gostam de ver o todo. A
maioria das pessoas tem um estilo de aprendi-
zagem preferido – a maneira pela qual apren-
dem melhor. Seu filho também tem um estilo
de aprendizagem preferido.
Aprendizes de rotinasMuitas crianças com TEA, como Michele, obtêm informações memorizando coisas
sem pensar. Essas crianças memorizam uma enorme quantidade de informações – tais
como números e letras – quando pequenas, e muitos fatos sobre assuntos específicos
quando crescem. Se por um lado podem re-
citar a informação palavra por palavra, por
outro freqüentemente não entendem o que
estão dizendo.
Aprendizes GestaltMuitas crianças com TEA memorizam senten-
ças como um todo sem compreender o signi-
ficado de cada palavra. Crianças que proces-
sam a informação desta forma têm um estilo
de aprendizagem “gestalt”. Por exemplo, se
der ao seu filho um brinquedo de banheira e
disser “Ponha isso na água”, pode ser que ele
atenda. Contudo, se der a ele um brinquedo de
banheira e disser “Ponha isso na estante”, pode
ser que ele o ponha na água. Seu filho come-
te esse erro porque associa qualquer frase que
Meu filho é hipersensível a alguns cheiros ou gostos e evita estas sensações:
gosta de comidas suaves ou
insípidas
é sensível a certos cheiros (por
exemplo: perfume)
outros: ___________________
Entenda o Estilo de Aprendizagem do seu Filho
Michele sabe falar os números de um a dez,
mas não entende o conceito de quantidade.
Felipe usa o verso memorizado de uma música para
dizer ao pai que está triste. Ele pode não entender as
palavras, mas sabe que a frase fala de tristeza.
16 Capítulo 1
contenha a palavra “ponha” com uma ação
específica, independentemente das outras
palavras da frase.
Ao contrário de outras crianças que
aprendem a falar usando palavras isoladas
e depois gradualmente adquirem frases de
duas palavras e sentenças curtas, crianças
que são aprendizes gestalt começam a falar
repetindo sentenças inteiras. Crianças com
aprendizagem gestalt costumam lembrar de
tudo em uma situação, mas quase sempre
não conseguem discernir o que é importan-
te do que não é.
Na figura da pág. 15, por exemplo, Fe-
lipe não consegue dizer ao pai como está se
sentindo com as próprias palavras. Em vez
disso, repete um trecho que memorizou de
uma música que ele associa com tristeza.
Aprendizes VisuaisSe o seu filho gosta de olhar livros ou ver
TV, pode ser um aprendiz visual. A maio-
ria das crianças com qualquer dificuldade
de linguagem aprende melhor quando vê
coisas do que quando as ouve. Uma vez
que a visão é o sentido mais forte, muitas
dessas crianças ficam encantadas por li-
vros ilustrados e vídeos.
Aprendizes “mãos na massa”Se o seu filho gosta de apertar botões, abrir
e fechar portas e/ou consegue entender o
mais complicado dos brinquedos, o mais
provável é que ele seja um aprendiz “mãos
na massa”, que aprende melhor pegando
ou mexendo nas coisas.
Aprendizes AuditivosSe o seu filho gosta de conversar e ouvir
outros conversando, pode ser um aprendiz
auditivo, que gosta de obter informações
através da audição. Não é comum que uma
criança com TEA dependa primariamente
da aprendizagem auditiva.
Coloque suas observações em prática
Suas observações sobre o estilo de apren-
dizagem de seu filho dão informações adi-
cionais para ajudá-lo.
Se o seu filho tem boa memória de rotina,
aprenderá melhor em atividades realiza-
das sempre da mesma maneira. Dentre
elas, atividades com números e letras.
Se o seu filho é um aprendiz gestalt, pode
aprender a dizer uma sentença inteira
antes de uma palavra isolada. Sua tarefa
é ajudá-lo a entender as partes do todo.
Se o seu filho é um aprendiz visual, apre-
sente as informações através de coisas
que ele possa ver. Exemplo: quando dis-
ser uma palavra mostre-lhe o próprio ob-
jeto ou uma foto. Crie oportunidades para
aprender com livros ilustrados e vídeos.
Se o seu filho é um aprendiz “mãos na
massa”, deixe-o aprender manipulando e
pegando coisas. Escolha brinquedos que
ele possa movimentar usando as mãos.
Comunicação
A comunicação acontece quando uma pessoa envia uma mensagem para outra pes-
soa. Você pode enviar a mensagem de diversas maneiras: expressões faciais, gestos
e palavras. E pode enviar a mensagem por diferentes motivos, tais como pedir ajuda
ou compartilhar uma idéia. Às vezes, as formas com as quais alguém se comunica
são chamadas de “modos” de comunicação, e as razões pelas quais alguém se co-
munica são chamadas de “porquês”.
Interação
A interação ocorre sempre que você e seu filho fazem coisas juntos e respondem um
ao outro. É a base da comunicação de mão dupla ou recíproca. Toda vez que você e
seu filho interagem, fazem uma conexão que inicia a comunicação.
Devido ao estilo de aprendizagem e necessidades sensoriais, todas as crianças
com TEA têm algum grau de dificuldade para interagir com o outro.
Para estabelecer interações bem sucedidas, seu filho precisa reagir aos outros
quando é abordado e iniciar interações por conta própria. Para o seu filho, responder
pode ser mais fácil do que iniciar. Se ele entende o que você diz, pode responder aos
seus comandos e perguntas simples. Contudo, pode ser que ele tome a iniciativa apenas
para atender as necessidades dele ou para pedir algo. Pode demorar até que ele inicie a
interação simplesmente para mostrar algo ou para ser sociável.
Entenda o que é comunicação
O pai tem dificuldade de interagir com Caio, porque seu
filho está mais interessado em olhar para as rodas girando.
Embora Eduardo saiba falar, sem interação
ele e sua mãe não conseguem conversar.
18 Capítulo 1
Vítor responde ao comando de seu pai.
Andréa inicia uma interação para pedir ajuda.
Quando Juliana gira começa uma interação
com sua mãe simplesmente para ser
sociável. Isto é um grande avanço!
A capacidade que seu filho tem de interagir depende também da personalidade
dele, das pessoas com quem fica e das coisas que faz. Ao saber como seu filho in-
terage, você pode planejar melhor como ajudá-lo a participar em interações sociais
que sejam prazerosas para ele.
Algumas crianças interagem apenas com seus pais
e familiares adultos em alguns jogos e atividades.
Algumas crianças conseguem integrar-
se e brincar com outras crianças.
Saiba como e porque seu filho se comunica
Embora Rafael não fale, consegue mostrar ao pai
o que quer, sem palavras.
Seu filho pode não dizer nenhuma palavra, mas comunicação é mais do que
palavras. Quando seu filho leva você até a geladeira, está lhe dizendo que quer
beber suco. Quando chora ou bate o pé no chão, está contando que está bravo ou
frustrado. Quando lhe dá um largo sorriso, está mostrando que você é especial
para ele. Mesmo quando abana as mãos, está lhe dizendo alguma coisa a respeito
de como se sente.
Crianças se comunicam pelas ações, sons ou palavras. Perceber como seu filho
se comunica ajudará você a desenvolver seus talentos e ensinar-lhe outras formas
de comunicação, um passinho de cada vez. Por exemplo, se o seu filho não emite
som algum, pode ser que não esteja pronto para falar. Você deverá começar mos-
trando a ele uma forma mais fácil de se comunicar – talvez através de gestos.
A percepção a respeito de como seu filho se comunica, no entanto, é apenas
uma pequena peça do quebra-cabeça. Você não pode se preocupar com o modo
dele se comunicar sem saber também por que ele se comunica. Uma vez sabendo o
motivo da comunicação, se é para solicitar, comentar ou dizer como se sente, você
poderá ajudá-lo a encontrar mais maneiras e motivos para se comunicar.
20 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 21
Perceba como seu filho se comunica
Seu filho se comunica usando mais do que palavras!
Há muitas formas diferentes de se comuni-
car, e algumas são socialmente mais apropriadas
do que outras. Ainda assim, tudo o que seu fi-
lho faz, inclusive balançar o tronco, correr de um
lado para o outro e agitar os dedos na frente do
próprio rosto comunicam algo sobre ele.
Pode ser que seu filho se comunique de uma das seguintes maneiras:
Ecolalia
“Ecolalia” é um termo que descreve a repetição
de palavras ditas por outras pessoas. É um traço
comum na fala de crianças com TEA.
Primeiro, seu filho pode repetir palavras que
ouviu sem entender o que significam. Pode ser que
ele faça isso por diversas razões e não para comu-
nicar uma mensagem diretamente a você. De fato,
pode ser que você nem esteja quando ele fizer isso.
Ao repetir palavras ou frases, seu filho pode estar
tentando se acalmar, prestar atenção em uma ativi-
dade ou simplesmente praticar a fala.
Ecolalia é um bom sinal. Mostra que a co-
municação de seu filho está se desenvolvendo.
Logo ele pode querer começar a usar essas pala-
vras e frases repetidas para comunicar-lhe algo.
Por exemplo, depois de repetir o que você diz,
pode olhar para você ou chegar mais perto de
um objeto. Ou pode se lembrar das palavras que
você usou para perguntar se ele queria beber
alguma coisa, e depois usar as palavras memo-
rizadas para fazer uma pergunta. As palavras
que seu filho aprende com a ecolalia abrem a
porta para comunicação com significado.
A expressão facial e a linguagem corporal
de Karen dizem à mãe exatamente como se
sente na hora de comer macarrão.
Primeiro, seu filho aponta para algo
sem olhar de volta para você...
Chorando ou gritando
Movendo-se até ficar bem próximo
das pessoas e coisas de seu interesse,
ou virando-lhes as costas
Usando gestos ou expressões faciais
Tentando conseguir o que quer
indicando com a mão aberta
Levando sua mão para conseguir
que você faça coisas para ele
Olhando para as coisas que quer
Apontando para as coisas, sem olhar
para você.
Olhando ou apontando para coisas
que quer e então olhando para
você. Alternar o olhar entre você
e um objeto chama-se Atenção
Compartilhada. Significa que seu
filho consegue comunicar a você os
interesses dele.
Comunicando–se com figuras
Emitindo sons
Usando palavras
Usando sentenças
Usando ecolalia
...depois aponta e olha para você para ter certeza de
que você está olhando para a mesma coisa.
Seu filho pode dizer o que quer
apontando para uma figura...
Quando seu filho começa a falar,
pode ser que repita o que ouvir das
outras pessoas. Isto é chamado
de “ecolalia”, e muitas vezes é um
sinal de que a sua comunicação
está se desenvolvendo.
...ou ao dando-lhe uma figura do
que ele quer.
22 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 23
Seu filho pode mostrar comunicação pré-intencional para:
se acalmar durante alguma atividade
praticar alguma atividade
se concentrar ou se orientar
reagir a uma experiência prazerosa ou
desagradável
conseguir coisas que ele quer
protestar ou recusar. Os primeiros
protestos que seu filho faz são
normalmente respostas automáticas a
coisas que ele não gosta. Quando chora,
vira a cabeça ou empurra sua mão, está
evitando você, mais do que tentando dizer
como está se sentindo.
A comunicação de seu filho pode ser intencional. A comunicação será mais
fácil quando seu filho entender que o que ele faz tem efeito sobre outra pessoa.
Comunicar-se com o propósito de enviar uma mensagem chama-se comunicação
intencional, e representa um grande avanço para o seu filho.
Seu filho pode se comunicar intencionalmente por diferentes razões
Protestar ou recusarProtestos ou recusas não intencionais tor-
nam-se intencionais quando seu filho envia a
mensagem diretamente a você. Por exemplo,
em vez de simplesmente empurrar sua mão
ele pode primeiro olhar para você. Ou em vez
de chorar e dar as costas quando você oferece
algo que ele não quer, pode sacudir a cabeça
em sinal de “não”. Protestos ou recusas inten-
cionais revelam que seu filho:
não quer o que você está oferecendo
não quer começar uma atividade
quer parar uma atividade
Há diferentes tipos de ecolalia:
Seu filho repete palavras ou frases,
geralmente a última parte do que
foi dito, imediatamente depois de
ouvi-las. Esta é a chamada ecolalia
imediata.
Seu filho memoriza ou “recupera”
partes de palavras ou frases que
ouviu e então as usa um dia, uma
semana, um mês ou mesmo um ano
depois. Esta é a chamada ecolalia
tardia. Geralmente, uma criança
repete algo que ouviu em uma
situação emocional. Por exemplo,
um menino pequeno ouve sua mãe
gritar “Larga!” quando pega uma
tesoura, e então repete a expressão “Larga!” sempre que alguém parecer bravo
com ele. Nesta situação, o menino entende quando as palavras são usadas, mas
não entende o que as palavras realmente significam.
Seu filho muda as repetições dizendo-as num tom diferente ou mudando algumas
das palavras, na tentativa de adaptá-las aos diferentes contextos. Esta é a chamada
ecolalia branda, e é um sinal positivo de que seu filho entende como usar as
palavras com sentido.
Observe por que seu filho se comunica
A comunicação de seu filho pode ser pré-in-
tencional. Ele pode fazer ou dizer coisas sem ter
a intenção de provocar um efeito nas pessoas.
Por exemplo, ele pode repetir palavras que co-
nhece mesmo quando não há ninguém no re-
cinto, ou pode fazer o movimento de tentar al-
cançar um brinquedo quando ninguém estiver
olhando. Essas ações são chamadas de comuni-
cação pré-intencional, porque seu filho envia a
mensagem sem ter a intenção de fazê-lo. Con-
tudo, você pode interpretar essas ações como se
fossem comunicações dirigidas a você.
Lucas repete algumas das palavras de seu
pai para responder perguntas.
A mãe sabe o que Rubens quer, mesmo
que ele não esteja dirigindo a mensagem
diretamente a ela.
Michele está contando em voz alta para se concentrar
no livro. Ela não percebe que sua mãe está fazendo
uma pergunta.
Guilherme deve olhar para seu pai antes de empurrá-
lo para que o protesto seja intencional.
24 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 25
Pedir
Seu filho pode pedir para mostrar que ele quer:
comida ou bebida
um brinquedo, um objeto ou uma atividade
sua ajuda
permissão para fazer algo
Sara está mostrando à mãe que quer
alguma coisa que está na geladeira.
Quando seu filho começa a se comunicar por outros motivos além de atender às pró-
prias necessidades, está progredindo para se tornar um verdadeiro comunicador.
Por exemplo, seu filho pode pedir por razões sociais, tais como:
pedir para continuar com brincadeiras corporais, chamadas “Brincadeiras com
Gente”, como fazer cócegas ou andar de cavalinho
nas pernas do papai. Ele pode fazer isso puxando
suas mãos para o corpo dele ou sacudindo o corpo
para mostrar que quer mais.
(Para saber mais sobre “Brincadeiras com Gente”,
veja o Capítulo 5).
obter informação
mostrar às outras crianças que ele quer
brincar com elas
Paulo mexe o corpo para pedir
que a mãe continue a brincadeira,
um sinal claro de que está começando
a pedir com intenções sociais.
Conforme seu filho se torna mais sociável, ele se comunica por mais motivos.
Seu filho pode se comunicar para res-
ponder aos outros das seguintes for-
mas: seguindo instruções, fazendo uma
escolha ou respondendo perguntas.
Seu filho pode se comunicar para cum-
primentar ou dar tchau.
Seu filho pode se comunicar para cha-
mar sua atenção.
Seu filho pode se comunicar para mos-
trar-lhe algo ou fazer um comentário.
26 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 27
Seu filho pode se comunicar
para fazer perguntas.
Seu filho pode se comunicar
para falar do passado e do futuro.
Continuum da Comunicação Intencional
Enxergar a capacidade de comunicação intencional de cada criança dentro de um
continuum é de grande ajuda. Em um extremo do continuum, estão as crianças que
se comunicam principalmente para obter coisas que querem. No outro extremo, es-
tão as crianças que se comunicam por diversos motivos, tais como fazer perguntas,
comentar algo ou simplesmente para serem sociáveis.
Esta criança, puxando o braço do pai,
- comunica-se apenas para conseguir
as coisas que quer.
Esta criança usa a fala
para ser sociável.
Seu filho pode se comunicar para ex-
pressar sentimentos, para dizer que está
feliz, triste ou com medo.
Seu filho pode se comunicar para fazer
de conta ou imaginar.
Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 29
O estágio de comunicação de seu filho depende de quatro coisas:
Da capacidade de interagir com você
De como ele se comunica
Por que ele se comunica
Da compreensão dele
É importante identificar o estágio de comunicação de seu filho, para que você tenha
uma boa idéia do que ele consegue e do que não consegue fazer, bem como do que
você pode esperar que ele consiga a seguir. Saber disto ajudará a definir metas e dar
o tipo de ajuda que ele precisa.
As descrições das crianças nos quatro estágios de comunicação podem ajudá-lo
a identificar o estágio de comunicação de seu filho. Os quatro estágios são:
Estágio de Interesses Próprios
Estágio de Pedidos
Estágio de Comunicação Básica
Estágio de Parceria
Nem todas as crianças passam por todos esses estágios nessa ordem, mas muitas
começam no estágio de Interesses Próprios, progridem para os estágios de Pedidos
e Comunicação Básica e finalmente chegam ao estágio de Parceria com o passar
do tempo. Outras crianças podem ter características de diversos estágios. E, é claro,
crianças reagem de formas diferentes dependendo das pessoas com quem estão, das
situações em que se encontram e de suas personalidades próprias e únicas.
Após ler as descrições das crianças em todos os estágios, observe seu filho de
perto durante uma semana. Depois, preencha a lista de verificação “Como e Por quê”
no Capítulo 2 na página 84, para identificar o estágio de comunicação de seu filho.
O Estágio de Interesses Próprios
Renata, que tem 2 anos e meio, é bastante independente. Gosta de fazer sozinha a maioria
das coisas, embora não brinque com brinquedos. O que mais gosta de fazer é brincar
no parque. Sempre que vê sua mãe se preparando para sair, Renata começa a pular de
animação. Muitas vezes, tenta abrir a porta sozinha. Mas como não alcança a maçaneta,
sempre se frustra e chora. A mãe fica imaginando por que Renata nunca pede ajuda.
Renata nunca pede para a mãe ajudá-la a abrir a porta. Uma criança no estágio de Interesses Próprios
não dirige nenhuma mensagem diretamente a você.
Saiba qual o estágio de comunicação de seu filho
30 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 31
Uma criança no estágio de Interesses Próprios aparenta querer brincar sozinha
e mostra-se desinteressada pelas pessoas em torno dela. Ainda não entende que
pode afetar outras pessoas enviando uma mensagem diretamente a elas, de forma
que sua comunicação é primordialmente pré-intencional. Você sabe como ela está
se sentindo pela observação de seus movimentos corporais, gestos, gritos e sorrisos.
Muitas crianças pequenas estão no estágio de Interesses Próprios quando recebem
pela primeira vez o diagnóstico de TEA.
Uma criança no estágio de Interesses Próprios pode fazer algumas das coisas a seguir:
interagir com você muito brevemente e
quase nunca com outras crianças
querer fazer coisas sozinha
olhar ou tentar pegar as coisas que
quer
não se comunicar intencionalmente
com você
brincar de formas incomuns
fazer sons para se acalmar
chorar ou gritar para protestar
sorrir
gargalhar
não entender quase nenhuma palavra
Renata ainda não sabe
como brincar com sua bonequinha.
O Estágio de Pedidos
Rafael é uma criança de 3 anos de idade que está no estágio de Pedidos, e se comunica
principalmente puxando e conduzindo os outros para pedir coisas que ele quer. Durante o
banho, Rafael puxa a mão de seu pai para pedir mais cócegas; quando quer sair, conduz
sua mãe à porta da frente. Rafael também puxa quando quer que um de seus pais lhe
dê um biscoito do armário da cozinha. Seus pais estão frustrados porque é difícil obter e
manter a atenção dele.
Para mostrar que quer mais cócegas, Rafael olha para o pai e puxa sua mão em direção à própria barriga.
32 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 33
A criança no estágio de Pedidos está começando a entender que pode pedir coisas
a alguém, puxando ou conduzindo você.
O Estágio da Comunicação Básica
César brinca por horas a fio de brincadeiras corporais como Pega-pega e Cócegas com os
pais e seu irmão. A mãe segura seus ombros e diz “Pronto? Atenção: um, dois, três e...”
espera que ele olhe para ela antes de gritar “Já!”, mostrando que a brincadeira começou.
A mãe geralmente se cansa do jogo antes do César! Às vezes, César começa o jogo com
outras pessoas dizendo “Já!”. César também usa algumas outras palavras. Geralmente, faz
o sinal de “abrir” com a mão, que aprendeu na pré-escola, para pedir à mãe que abra a
caixa de uvas passas, mas às vezes ele diz “abrir”.
Rafael puxa sua mãe até a porta, pedindo para ir
ao parque.
Rafael também puxa seu pai para
pedir biscoitos.
Uma criança que está no estágio de Pedidos acaba de começar a perceber que as
ações dela podem ter efeito sobre você. Puxando e conduzindo as pessoas, é capaz
de pedir coisas que precisa ou que gosta. Gosta especialmente de Brincadeiras com
Gente do tipo físico, como “Cócegas” e “Achou!”. Quando você faz uma pausa du-
rante a brincadeira, olha para você ou mexe o corpo para continuar a brincadeira.
A criança no estágio de Pedidos pode fazer algumas das seguintes coisas: interagir brevemente com você
usar sons para se acalmar ou se concentrar
“ecoar” algumas palavras para se acalmar ou se concentrar
tentar pegar as coisas que ela quer
comunicar-se principalmente quando precisa de algo, conduzindo ou puxando a
sua mão para pedir coisas que ela quer.
pedir que você continue uma Brincadeira com Gente do tipo físico, como
Cócegas ou Pega-pega, através do contato ocular e/ou sorriso e/ou movimentos
de corpo e/ou sons.
seguir comandos conhecidos ocasionalmente, se conseguir entender o que
tem que fazer
entender as etapas de rotinas conhecidas
A criança que está no estágio de Comunicação Básica é capaz de usar o mesmo gesto,
som ou palavra de forma constante para pedir coisas que gosta ou para dizer que
quer continuar a brincadeira depois que ela começou.
34 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 35
A criança que está no estágio de Comunicação Básica começou a usar gestos,
sons, figuras ou palavras específicas para pedir coisas em situações muito motiva-
doras, como pedir brinquedos ou comidas preferidas.
Quando a criança que está no estágio de Comunicação Básica começa a com-
partilhar sues interesses, olhando para alguma coisa e em seguida olhando de volta
para você, ela desenvolveu atenção compartilhada, um grande avanço no aprendi-
zado da comunicação.
César compartilha com o pai seu interesse pelo porco de brinquedo.
O que esperar que uma criança no estágio de Comunicação Básica faça: interagir com você e com pessoas conhecidas em situações conhecidas
brincar Brincadeiras com Gente por mais rodadas e brincar com você por mais tempo
pedir que você continue algumas Brincadeiras com Gente corporais prediletas, tais
como Cócegas e Pega-pega, usando as mesmas ações, sons ou palavras toda vez que
vocês brincarem
em algumas situações, repetir o que você diz, para pedir ou responder (usar ecolalia
imediata)
fazer pedidos intencionais por coisas motivadoras (por exemplo, comida, brinquedos,
Brincadeiras com Gente do tipo corporal, ajuda) usando figuras, gestos ou palavras
começar a protestar ou recusar usando a mesma ação, som ou palavra
ocasionalmente usar movimentos de corpo, gestos, sons ou palavras para obter sua
atenção ou mostrar algo a você.
entender frases simples e familiares
entender os nomes de objetos e pessoas familiares sem dicas visuais
dizer “oi” e “tchau”
responder perguntas do tipo Sim ou Não, “O que é isto?” e fazer escolhas (veja o
Capítulo 4, páginas 124-125)
César faz o sinal com a mão e repete a
palavra “abrir”, para pedir uvas passas.
Marcos dá ao pai uma figura para pedir
bolinhas de sabão de verdade.
Quando seu filho está no estágio de Comunicação Básica, suas interações so-
ciais duram mais. Sua comunicação é mais intencional, embora ainda se comunique
principalmente para pedir que você faça coisas para ele. Nesta fase, entendeu que
pode usar a mesma forma de comunicação – gestos, sons, figuras ou palavras – em
certas situações. Por exemplo, ele sempre pode pedir por suco ou seu vídeo favorito
entregando uma figura ou dizendo uma palavra. Mas pode continuar a puxar ou
conduzir você para outras coisas, como passear.
Uma criança no estágio de Comunicação Básica pode começar a “ecoar” mui-
tas coisas que ouve, às vezes para comunicar algo. Entende muito do que você
diz, se tiver pistas visuais e se você usar frases simples e curtas. Quando por fim
ele iniciar as interações – chamando o seu nome, apontado para algo que quer
mostrar e alternando o olhar entre você e aquilo em que está interessado – a co-
municação de duas vias está começando!
36 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 37
O Estágio de Parceria
Fábio é um Parceiro de comunicação e brincadeira. Gosta de interações com outras
pessoas e é capaz de estabelecer conversas curtas sobre seus próprios interesses. Apesar
disso, suas conversas frequentemente são interrompidas porque ele não entende o que as
outras pessoas estão dizendo ou porque não consegue se lembrar das palavras que precisa
usar. Quando isto acontece, costuma se valer da repetição do que alguém acabou de dizer.
O Parceiro é um comunicador mais efetivo do que crianças em outros estágios.
A menos que tenha dificuldades na produção da fala, consegue falar e conduzir
conversas simples. Também consegue falar sobre o passado e o futuro, como o que
fez na escola ou o que quer no seu aniversário. Às vezes, crianças no estágio de
Parceria não conseguem produzir suas próprias palavras, mas utilizam palavras ou
frases memorizadas. Isto acontece mais freqüentemente em situações não familiares
e quando não entendem tudo o que está sendo dito.
Quando uma criança que está no estágio de Parceria se comunica sobre seus
próprios interesses, ela não tem dificuldades. Contudo, em situações não conheci-
das, geralmente acha difícil captar as regras da conversa. Por exemplo, pode não
considerar se o que diz faz sentido para o ouvinte. Pode começar uma conversa
com “Eu fui lá”, sem perceber que o ouvinte não tem idéia de onde é “lá”. Ou pode
começar uma conversa sempre com a mesma frase memorizada, por exemplo, “De
que cor é o seu carro?” ou um verso da sua música preferida.
Uma criança no estágio de Parceria gosta de brincar com você e com outras
crianças, mas às vezes brinca sozinha porque não tem certeza do que fazer e dizer,
principalmente em brincadeiras imaginativas. Ela se sai muito melhor em brinca-
deiras corporais, como correr ou balançar, ou em jogos estruturados nos quais possa
aprender as regras.
Uma criança no estágio de Parceria pode fazer algumas das coisas abaixo:
participar em interações mais longas com você
ser mais bem sucedida em participar com outras crianças nas brincadeiras com
rotinas conhecidas
usar palavras ou outro método de comunicação para:
. pedir
. protestar
. cumprimentar
. chamar sua atenção para algo
. fazer e responder perguntas
começar a usar palavras ou outro método de comunicação para:
. falar sobre o passado e o futuro
. expressar sentimentos
. fazer de conta
construir suas próprias frases
ter conversas breves
às vezes consertar ou corrigir o que ela diz quando alguém não a entende
entender os significados de uma série de palavras diferentes
A comunicação entre um Parceiro e outra pessoa pode se romper quando a
conversa for muito complicada para ele.
38 Capítulo 1
A criança no estágio de Parceria pode ainda mostrar dificuldades na comunicação. Ela pode:
resistir a brincar com outras crianças quando não souber o que fazer, como em
brincadeiras imaginativas, que dependem de linguagem e faz de conta
usar ecolalia quando não entende o que alguém está dizendo ou quando não
consegue construir suas próprias frases
ter dificuldade em participar de conversas. Ela pode:
. responder aos outros, mas não iniciar conversas por conta própria
. tentar manter a conversa dentro de seus assuntos preferidos
. cometer erros gramaticais, principalmente com pronomes, como “você”, “eu”,
“ele” e “ela”
. confundir-se quando a conversa fica complexa e as pessoas não falam
diretamente para ela
ter dificuldade com as regras de conversação. Ela pode:
. não saber como começar e terminar uma conversa
. não ouvir o que outra pessoa diz
. não permanecer dentro do assunto
. não acompanhar o que está sendo dito de forma apropriada (por exemplo, não
pedir que as pessoas esclareçam o que disseram quando não entender)
. dar informação demais ou insuficientes
não captar regras sociais sutis que a outra pessoa está enviando através de
expressões faciais e linguagem corporal
entender errado ironias
ou jogos de palavras,
porque interpreta
literalmente o que as
pessoas dizem
Um Parceiro freqüentemente
quer brincar com outras
crianças, mas não
sabe como pedir.
Embora a forma de você interagir com seu filho dependa da sua personalidade e da
dele, há alguns papéis comuns que todos os pais tendem a assumir. Vamos dar uma
conversada sobre esses papéis, quando eles são úteis para a aprendizagem do seu
filho e quando não são.
O Papel do “Ajudante/Professor”
Quando seu filho parece não saber como fazer coisas ou não consegue se comunicar, é
natural querer ajudá-lo. Mas se você fizer as coisas para seu filho sempre, ele não terá
a oportunidade de mostrar que consegue fazer mais do que você poderia esperar.
Perceba Como Você Afeta a Comunicação do Seu Filho
Seu filho pode ser capaz de
fazer mais do que você pensa.
40 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 41
Muitas vezes, contudo, principalmente se estiver no estágio de Interesses Pró-
prios, seu filho pode não entender o que você espera que ele faça. Nesses casos, vai
precisar que você seja o seu “Ajudante”.
A Regra do AjudanteA “Regra do Ajudante”, a seguir, vai ajudá-lo a identificar quando convém ser o
Ajudante de seu filho, e o que você pode fazer para dar a ajuda que ele precisa: Peça
uma vez e espere. Peça de novo, acrescentando ajuda.
Peça para seu filho fazer algo e espere a resposta. Se não responder, peça de
novo. Ao mesmo tempo, guie-o delicadamente para fazer o que você pediu. Veja
como a mãe de Érico usa a “Regra do Ajudante” para ajudá-lo a vestir a camisa.
Após uma semana, a mãe de Érico ainda precisa pedir-lhe para levantar os braços duas vezes,
mas não precisa mais dar tanta ajuda quanto antes. Agora, só precisa tocar o cotovelo dele
para lembrá-lo de levantar os braços acima da cabeça.
Érico precisa de um pouco de ajuda para
responder ao pedido da mãe.
A mãe pede uma vez e espera que Érico
responda. Quando ele não responde, ela pede
de novo, levantando os braços dele acima da
cabeça para ajudá-o a vestir a camisa.
Depois de um mês, Érico
já consegue levantar os
braços depois da primeira
vez que a mãe pede.
42 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 43
O Papel do “Não Perturbe”
Se o seu filho não se mostra interessado em interagir com você e raramente deman-
da sua atenção, é tentador acreditar que é o seu jeito de mostrar independência. Em-
bora todas as crianças precisem mesmo de tempo para elas mesmas, é importante
que seu filho aprenda a interagir, coisa que não poderá fazer sozinho.
Persista nas tentativas de se juntar ao seu filho no que ele estiver fazendo. Por
exemplo, se ele está assistindo televisão sozinho, sente bem ao lado no sofá. Ou se
ele está brincando com um barbante, tente puxar o barbante até obter sua atenção.
Ele pode ficar bravo e empurrar você; mesmo assim, isto é preferível a não haver
interação. Depois que começar a interagir mais com seu filho, pode ser que enfim
ele perceba que brincar pode ser mais divertido se você estiver junto. (Para mais
sugestões de como se juntar ao seu filho, veja o Capítulo 3).
O Papel do “Atarefado”
Às vezes a vida parece uma corrida contra o relógio. Pense em todas as coisas que
tem que fazer de manhã: levantar-se, tomar banho, vestir seu filho, fazer café da
manhã, fazer as camas, levar o cachorro para passear, etc. Você provavelmente vive
correndo para cumprir sua agenda. Todos esses momentos apressados são momen-
tos nas quais seu filho poderia estar aprendendo algo. Se, por um lado, nem sempre
é possível diminuir o ritmo, por outro, cinco minutos extras no café da manhã
ou quando estão se vestindo podem fazer a diferença. Lembre-se que
seu filho precisa de mais tempo para entender o que está acon-
tecendo à sua volta e para pensar sobre o que deve fazer
ou dizer. Ele aprenderá melhor quando você “parar
de apostar corrida e diminuir o ritmo”!
Em vez de deixar seu filho
“fazendo as coisas dele”...
...tente fazer coisas juntos. Diminua o ritmo e dê a
seu filho a chance de se
comunicar com você.
44 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 45
O Papel do “Parceiro” O Papel do “Animador”
Seu filho aprende muito quando você é parceiro dele na brincadeira.
Você e seu filho provavelmente brincam juntos, como de Cócegas ou Achou! Mes-
mo quando você não está ensinando habilidades específicas ao seu filho durante
essas brincadeiras, ele está aprendendo muito sobre comunicação por ter você como
“Parceiro” de brincadeira.
Conforme seu filho entende mais e se torna um comunicador mais capaz, pre-
cisará de menos orientações suas. Em outras palavras, quando ele consegue fazer
e falar mais, você pode fazer e falar menos! Se fizer perguntas e sugestões demais,
poderá inibir seu filho a iniciar suas próprias conversas. Quando você está no papel
do Parceiro, deixe seu filho conduzir e responda ao que ele fizer.
Como pai ou mãe, você geralmente é um bom animador.
Todas as crianças se beneficiam de um “oba!” e um abraço. Quando você recom-
pensa as tentativas de seu filho de entender e se comunicar, aumenta a chance de que
ele tente de novo. Mas a forma de fazer o elogio também é importante. Por exemplo,
quando seu filho bebe todo o leite, você pode dizer “Muito bem!”. Embora seu filho
perceba que você está feliz, pode não entender o que as palavras “muito bem” signifi-
cam. Faça um elogio descritivo que diga exatamente por que está fazendo festa para
ele. Depois que ele terminar o leite, diga algo como “Oba! Tomou todo o leite!”. Assim,
ele consegue fazer a conexão entre suas palavras e as ações dele.