viii reunión de economía mundial
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VIII Reunión de Economía Mundial Alicante, 20, 21 y 22 de Abril de 2006
FACTORES DE COMPETITIVIDADE E COMÉRCIO LUSO-ESPANHOL
NA VIRAGEM DO MILÉNIO: UMA ABORDAGEM INTRA-SECTORIAL
FACTORES DE COMPETITIVIDAD Y COMERCIO LUSO-ESPAÑOL EN
EL CÁMBIO DE MILÉNIO: UN ABORDAJE INTRASECTORIAL
Dina Maria Rocha Machado
Instituto Superior de Línguas e Administração (Lisboa)
2
FACTORES DE COMPETITIVIDADE E COMÉRCIO LUSO-ESPANHOL NA
VIRAGEM DO MILÉNIO: UMA ABORDAGEM INTRA-SECTORIAL
Este trabalho, analisa a evolução do perfil do comércio bilateral entre Espanha e Portugal, bem
como dos factores de competitividade que estão associados às exportações bilaterais das duas
economias.
A novidade desta abordagem, é a consideração simultânea de duas metodologias distintas para a
abordagem do fenómeno do comércio intra ramo, que representa a quase totalidade do comércio
bilateral luso-espanhol, bem como a consideração dos problemas de ajustamento que podem
ocorrer em virtude do seu aumento e dos factores de competitividade associados ao padrão de
especialização bilateral.
1. ASPECTOS GENÉRICOS SOBRE O COMÉRCIO BILATERAL LUSO-ESPANHOL
A balança comercial de Portugal com Espanha, no período analisado (1999-2004), apresenta
sistematicamente uma posição importadora líquida, que se tem vindo a agravar desde a adesão à
CEE (1986). Contudo, se entre 1999 e 2001, o défice da balança comercial cresce a taxas
positivas de 9% e 16%, o mesmo não acontece nos dois anos subsequentes, 2002 e 2003, os
quais, por força da maior intensidade da recessão económica na economia portuguesa,
contribuíram para o desagravamento do crescimento do défice comercial bilateral e para a sua
diminuição face aos anos precedentes. Aparentemente, esta retoma contribuiu para que no curto
prazo e nomeadamente em 2004, o défice voltasse a aumentar, crescendo à taxa positiva de 3%.
É de salientar, contudo, que, para o período analisado, as exportações para Espanha cresceram a
uma taxa média de 11,8%, enquanto as importações, apesar do permanente défice comercial da
economia portuguesa cresceram a uma taxa média de cerca de 6,3%, quase metade da das
exportações bilaterais.
A repartição sectorial das exportações e importações, indicia também um elevado nível de
comércio intra-ramo1 entre as duas economias.
1 Por conveniência, utiliza-se indistintamente neste estudo o conceito de CIR (comércio intra-ramo), comércio intra-sectorial ou comércio intra-indústria.
3
No que respeita à estrutura do comércio bilateral e às suas alterações no período analisado,
constata-se alguma alteração no padrão das exportações, nomeadamente devido à valorização do
sector de combustíveis, óleos e ceras minerais, dos sectores associados ao ferro fundido, aço e
suas obras e ao sector do plástico e à redução de alguns sectores tradicionalmente associados aos
recursos naturais, como é o caso do sector do papel e da madeira e também de alguns sectores
associados às economias de escala, como é o caso do sector de veículos automóveis, máquinas e
aparelhos eléctricos e mecânicos e ainda o sector piscícola.
O gráfico seguinte, visualiza a amplitude das exportações Portugal-Espanha em 1999 e 2004
Fig. 1 - Representatividade da estrutura das Exportações para Espanha em 1999 e 2004
87 Veí c. auto mó veis e o . veí c. terrestres, p. e
a .; 347.116
87 Veí c. auto mó veis e o . veí c. terrestres, p. e
a .; 800.318
84 React. nucleares e inst. mecânicos e partes; 256.031
3 9 Plást icos e suas o b ras; 18 8 .8 73
3 9 Plást ico s e suas o b ras; 4 75.52 6
72 Ferro fundido, ferro e aço; 187.898
72 Ferro fundido, ferro e aço; 489.951
62 Vestuário e ac. excepto malha; 184.381
62 Vestuário e ac. excepto malha; 253.579
61 Vestuário e ac. de malha; 189.105
61 Vestuário e ac. de malha; 351.954
44 M adeira, carvão vegetal e obras de madeira; 218.278
44 M adeira, carvão vegetal e obras de madeira; 255.860
76 Alumí nio e suas obras; 79.32076 Alumí nio e suas obras; 168.274
Outros; 914.589 Outros; 1.513.369
84 React. inst. mecânicos; 402.182
85 M áquinas, mat. eléctricos e suas partes; 310.404
85 M áquinas, mat. eléctricos e suas partes; 312.847
48 Papel e cartão (em obras ou pasta) 224.331
48 Papel e cartão (em obras ou pasta) 175.452
3 Peixes, crust ., moluscos, o.i.a.; 123.553
3 Peixes, crust., moluscos, o.i.a.; 177.136
73 Obras de ferro e aço; 100.802
73 Obras de ferro e aço; 222.494
94 M obiliário 95.219 94 M obiliário 190.230
69 Prod. cerâmicos; 61.994
70 Vidro e obras; 170.38170 Vidro e obras; 119.554
27 Combustíveis, óleos e ceras minerais; 225.917
29 Prod. químicos; 69.44029 Prod. Químicos; 114.2414 Lact icínios(…); 80.3124 Lact icínios(…); 122.337
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1999 2004A no
Fonte: elaboração própria a partir de dados do ICEP
4
Relativamente à estrutura das importações provenientes de Espanha, é possível constatar uma
maior representatividade no mesmo tipo de sectores e, da mesma forma, a valorização do sector
de combustíveis, óleos e ceras minerais, dos sectores associados ao ferro fundido, aço e suas
obras e do sector do plástico, verificando-se a redução do sector das madeiras, instrumentos
mecânicos e veículos automóveis.
Apesar disso, os sectores de veículos automóveis, material eléctrico e mecânico
representam cerca de 30% das importações e pouco mais de 20% das exportações.
Fig. 2 - Representatividade da estrutura das Importações de Espanha em 1999 e 2004
8 7 V eí c. aut o mó veis e o . veí c. t errest res, p . e a.;
1.512 .0 0 08 7 V eí c. aut o mó veis e o . veí c. t errest res, p . e a.;
1.713 .4 9 2
8 4 R eact . nucleares e inst . mecânico s e p art es;
1.18 2 .0 51 8 4 R eact . nucleares e inst . mecânicos e part es;
1.3 11.6 6 8
85 M áquinas, aparelhos, mat. eléctricos e suas partes;
1.030.480
39 Plást icos e suas obras; 420.933
39 Plást icos e suas obras; 698.136
72 Ferro fundido, ferro e aço; 288.250 72 Ferro fundido, ferro e aço;
589.037
62 Vestuário e ac. excepto malha; 263.422 62 Vestuário e ac. excepto
malha; 366.958
3 Peixes, crustáceos, moluscos, o.i.a.; 297.581 3 Peixes, crustáceos, moluscos,
o.i.a.; 424.845
73 Obras de ferro fund., ferro, aço; 269.784 73 Obras de ferro fund., ferro,
aço; 383.495
2 Carnes e miudezas comestíveis; 260.613 2 Carnes e miudezas
comestíveis; 357.274
69 Produtos cerâmicos; 176.819
70 Vidro e suas obras; 91.603
70 Vidro e suas obras; 122.609
Outros; 2.996.517Outros; 3.824.436
85 M áquinas, aparelhos, mat. eléctricos e suas partes;
700.444
48 Papel e cartão (em obra ou pasta) 332.790
48 Papel e cartão (em obra ou pasta) 511.649
61 Vestuário malha; 208.94061 Vestuário malha; 180.385
44 M adeira; 145.19144 M adeira; 169.284
94 M óveis; 258.10894 M óveis; 286.329
69 Prod. cerâmicos; 164.020
22 Bebidas; 194.01040 Borracha; 250.406
40 Borracha; 171.468 76 Alumí nio e suas obras; 180.015
76 Alumí nio e suas obras; 124.8498 Frutas; 178.101
27 Combust íveis, óleos e ceras minerais; 851.932
90 Inst . Ópt ica/medida 135.539
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1999 2004A no Fonte: elaboração própria a partir de dados do ICEP
5
Comparativamente com a economia espanhola, as exportações portuguesas incluem a
representatividade significativa de alguns sectores específicos como o sector do alumínio, do
vidro, das madeiras e do vestuário, dos produtos químicos e dos lacticínios, embora neste último
caso tenha havido uma perda de representatividade comparativamente à economia espanhola.
O maior crescimento das exportações no período 1999 a 2004, registou-se no sector de
“Combustíveis, óleos e ceras minerais”, “Ferro fundido, ferro e aço”, “Plásticos”, “Veículos
automóveis” e “Instrumentos de óptica, medida e precisão” e “Produtos comestíveis de origem
animal”, ainda que nestes dois últimos casos, a representatividade das exportações seja
relativamente diminuta.
No caso das importações provenientes de Espanha, destaca-se a representatividade significativa
do sector alimentar, materializado de uma forma específica nos produtos frutícolas, produtos de
origem animal, bebidas e do sector dos instrumentos de óptica, medida e precisão.
O maior crescimento das importações ficou a dever-se aos sectores de “Combustíveis, óleos e
ceras minerais”, “Ferro fundido, ferro e aço”, “Plásticos e suas obras”, “Máquinas, aparelhos
eléctricos e suas partes” e “Lacticínios e derivados” ainda que neste último caso a
representatividade total nas importações seja mais reduzida.
2. COMÉRCIO INTRA-RAMO: ABORDAGENS METODOLÓGICAS
Não obstante algumas alterações nas tendências sectoriais evidenciadas por 80% do comércio
bilateral, verificou-se de 1999 para 2004 um aumento do comércio intra-ramo e uma redução do
comércio inter-ramo. Segundo a análise tradicional, seríamos levados a concluir que este
aumento teria conduzido por si só à atenuação dos problemas de ajustamento e competitividade
entre as duas economias. Contudo, e é esta a particularidade deste estudo, procurou-se empregar
uma metodologia empírica em torno da análise do comércio intra-ramo que desse indícios sobre
a melhoria ou deterioração da competitividade da economia portuguesa face à economia
espanhola, bem como dos factores de competitividade associados à vantagem competitiva de
cada uma das economias. Para o efeito, recorreu-se à metodologia do CEPII (1987)
complementada com a abordagem tradicional de Grubel-Lloyd (1975).
6
No âmbito das teorias tradicionais do comércio não havia lugar para a existência simultânea de
fluxos de importação e exportação de um mesmo bem. Com efeito, sob os pressupostos do
modelo de Heckscher-Ohlin o comércio existia porque os países eram diferentes. As diferenças
ao nível das suas dotações factoriais tinham como resultado a comercialização de produtos
distintos2 (conforme ditava o conhecido teorema de Heckscher-Ohlin).
Nos anos 60 e 70, estudos pioneiros3 sobre o fenómeno do CIR vieram questionar estes
argumentos. De facto, comprovou-se que grande parte do comércio entre economias
desenvolvidas era comércio intra-ramo, tratando-se por isso de um comércio que ocorre dentro
do mesmo sector ou indústria (os países exportam e importam produtos da mesma indústria), o
que contrariava os princípios da teoria de Heckscher e Ohlin.
A metodologia tradicional de Grubel-Lloyd (1975) mede o grau de sobreposição do comércio e
surge associada aos modelos de concorrência monopolística com diferenciação horizontal i.e,
diferenciação dos produtos pelos seus atributos, que data do fim dos anos 70 (Krugman e
Lancaster, 1979). Assim sendo, esta abordagem pressupunha duas explicações diferentes para o
fluxo maioritário. A primeira, baseada na concorrência imperfeita (economias de escala e
diferenciação do produto) correspondente ao que era sobreposto – comércio intra-ramo – e a
segunda, baseada nos modelos de concorrência perfeita e nas teorias da vantagem comparativa,
que explicariam o restante (não sobreposto) i.e., o comércio inter-ramo.
Verdoorn (1960), Balassa (1965,1966) e Grubel e Lloyd4 (1975), foram os autores pioneiros no
que respeita a trabalhos empíricos5 de medição do comércio intra-ramo. O indicador de comércio
intra-ramo (CIR) mais conhecido e mais utilizado, é o indicador de Grubel e Lloyd (1975). Estes
dois autores definiram o comércio intra-ramo como a diferença entre a balança comercial do
sector ou produto i (Xi-Mi) e o comércio total desse sector ou produto (Xi+Mi), onde Xi e Mi
são respectivamente as exportações e importações da indústria i de um dado país, tendo-se então:
2 De acordo com o teorema H-O, cada país deveria especializar-se na produção do bem que utilizasse intensivamente o factor relativamente abundante. 3 Verdoorn(1960), Balassa (1965) e Grubel e Lloyd (1975). 4 Grubel e Lloyd (1975), num estudo para 10 países industrializados (entre os quais a CEE-6) para o ano de 1967, concluiu que quase metade de todo o volume de comércio entre eles, se dá entre produtos diferenciados da mesma indústria. 5 Um enquadramento teórico para o comércio intra-ramo surgiria apenas em 1979, com os modelos de concorrência monopolística de Krugman, desenvolvido posteriormente por Helpman e Krugman (1985) a fim de incluir também o comércio inter-ramo.
7
Ri = (Xi + Mi) - |Xi - Mi| A fim de se conseguir fazer comparações entre sectores ou países, os autores introduziram no
denominador o comércio total, ficando o indicador definido (em percentagem) por:
Bi = {[ (Xi + Mi) - |Xi - Mi|] / (Xi + Mi)}x 100
para cada sector ou ramo, que, para os diversos sectores de um país vem, n n n
GL = B = {[Σ (Xi + Mi) - Σ|Xi - Mi|] / Σ(Xi + Mi)}x 100 i=1 i=1 i=1
Este indicador varia, em percentagem, entre zero e 100. Assume o valor zero quando só há
exportações ou importações. Nesse caso, o comércio é totalmente inter-ramo. E assume o valor
100 quando as exportações de um sector são iguais às suas importações. Nessa circunstância, o
comércio é totalmente intra-ramo. Desta forma, quanto mais próximo estiver de 100 o valor de
GL, maior o nível de comércio intra-ramo.
A metodologia do CEPII6 (1987) rejeita aquela explicação argumentando que todo o comércio
deve ser considerado como intra-ramo ou inter-ramo, consoante o fluxo minoritário exceda ou
não 10% do fluxo maioritário. Contudo, o aspecto mais interessante desta teoria é retomar o
modelo das proporções factoriais na explicação do comércio. Com efeito, esta metodologia
permite distinguir comércio cruzado de bens horizontalmente diferenciados (diferenciação dos
produtos pelos atributos), associado às economias de escala e diferenciação do produto, de
comércio cruzado verticalmente diferenciado (diferenciação dos produtos pela qualidade
relativa), associado à divisão qualitativa do trabalho e à abundância factorial. Adicionalmente, no
caso do comércio cruzado ser verticalmente diferenciado, é ainda possível determinar a
qualidade relativa das exportações e aferir a partir daí, as diferenças que existem ao nível dos
factores de competitividade privilegiados na definição do padrão de especialização. Esta
abordagem surge associada aos modelos de CIR vertical dos anos 80 (Falvey, 1981; Falvey e
Kierzowski, 1985; Shaked e Sutton, 1984).
Por conveniência, utilizaremos indistintamente o termo “CIR” (comércio intra-ramo) associado
ao indicador de Grubel-Lloyd) e “comércio cruzado” ou “comércio de dois sentidos” (associado
6 A abordagem proposta pelos investigadores do CEPII, entre os quais Abd-El-Rahman (1987), Freudenberg e Müller (1991) e Fontagné (1996), insere-se num contexto de crítica ao indicador de Grubel-Lloyd. A terminologia proposta pelos investigadores do CEPII também é diferente. Ao invés de utilizar o conceito de comércio intra-ramo é usada a terminologia de “comércio cruzado de produtos semelhantes”
8
ao indicador do CEPII).
Apresenta-se em seguida o quadro resumo da metodologia do CEPII.
Quadro 1 – Tipologia de comércio segundo a metodologia de Abd-el-Rahman
Comércio intra-ramo (CIR) Similaridade dos produtos trocados
Se o fluxo minoritário é maior ou igual a 10% do fluxo maioritário
Diferença dos valores unitários das exportações e das importações < 15%
comércio cruzado ou comércio de dois sentidos
Sim Não
Diferenciação horizontal
Diferenciação vertical
Sim CIR
CIR horizontal CIR vertical
Comércio cruzado ou de dois sentidos
(comércio cruzado de produtos semelhantes ou
horizontalmente diferenciados)
(comércio cruzado de produtos verticalmente
diferenciados)
Não
(Comércio inter-ramo) Comércio unívoco ou de um sentido
O comércio intra-ramo, isto é, a exportação e importação simultânea de produtos do mesmo
ramo ou sector, tem vindo a aumentar. No período analisado, é possível constatar uma redução
do comércio inter-ramo e um aumento do comércio intra-ramo. Com efeito, uma análise dos
dados relativos aos 157 sectores mais transaccionados que representavam, em 1999,
respectivamente 59% das importações e 68% das exportações com Espanha e em 2004, 60% das
importações e 71% das exportações, permite concluir um aumento do comércio intra-ramo. O
indicador de Grubel-Lloyd assumiu respectivamente os valores de 0,51 e de 0,61 em 1999 e
2004.
Por outro lado, é possível que alguns sectores que em 1999 se caracterizavam por comércio
unívoco, tenham passado a distribuir-se ou pela gama de comércio de dois sentidos de cariz
horizontal, ou pela gama de comércio de dois sentidos de cariz vertical, diferenciado
positivamente. Isto porque, para além da redução dos sectores caracterizados por comércio
unívoco entre 1999 e 2004, se regista um aumento do indicador de CIR, medido de acordo com a
metodologia de CEPII, de 0,65 para 0,71. Este facto, apesar de teoricamente não deixar de
oo
9
considerar que as exportações portuguesas para Espanha assumem uma diferenciação vertical
negativa relativamente às importações provenientes daquele país, revela a possibilidade de um
esforço da economia portuguesa por incrementar a competitividade face ao país vizinho.
Em 1999, a abordagem de Abd-el-Rahman para a medição do comércio intra-ramo, permite
concluir que no conjunto dos 157 principais sectores do comércio bilateral, 131 produtos
evidenciavam comércio intra-ramo7, principalmente intenso no sector de veículos automóveis e
acessórios, máquinas e aparelhos eléctricos e mecânicos, plásticos, papel e cartão, vestuário,
ferro fundido, aço e alumínio e suas obras, sector de madeira e mobiliário e sector piscícola.
O mesmo tipo de análise para o ano de 2004, permite concluir que no conjunto dos 157
principais produtos do comércio bilateral, 147 produtos revelavam comércio intra-ramo8,
particularmente intenso no mesmo tipo de sectores, nomeadamente sector de veículos
automóveis e acessórios, máquinas e aparelhos eléctricos e mecânicos, o sector de combustíveis,
óleos e ceras minerais, o sector dos plásticos e os sectores de ferro fundido, aço, alumínio e suas
obras, todos eles com um aumento considerável face a 1999 e o sector de combustíveis e óleos
minerais, representando a grande viragem ao nível da representatividade do comércio intra-ramo
com Espanha. Por último, o sector do vestuário, piscícola e madeira e suas obras, que embora
mantenham elevados níveis de CIR, viram a sua representatividade diminuir entre 1999 e 2004.
Concentrou-se esta análise nos problemas de ajustamento e de competitividade, recorrendo à
metodologia do CEPII e em particular de Abd-el-Rahman, pioneiro neste tipo de abordagem, que
permite diferenciar o comércio intra-ramo pela qualidade ou atributos dos produtos trocados,
bem como aferir, no primeiro caso, o peso das variedades de qualidade relativamente inferior.
Através de um indicador de qualidade que recorre ao rácio do valor unitário das exportações e
importações, é possível determinar se o comércio intra-ramo (CIR) é diferenciado
horizontalmente ou verticalmente e, neste último caso, se se traduz numa maior qualidade
relativa dos produtos exportados ou, inversamente, numa maior qualidade relativa dos produtos
importados. O CIR é horizontal se o valor do rácio se situa entre 0.85 e 1.15; é vertical com
7 Os restantes sectores, que se caracterizam por comércio unívoco ou inter-ramo, de acordo com a metodologia de Grube-Lloyd, apresentam também níveis de CIR insignificantes, concretamente, inferiores a 0,20. 8 Idem.
10
maior qualidade relativa das exportações se o valor do rácio for superior a 1.15 e é vertical com
maior qualidade relativa das importações se o rácio for inferior a 0.85.
Da análise dos 157 principais sectores do comércio bilateral 9, conclui-se o que expressa o
seguinte quadro.
Fig. 3 – Tipologia do comércio bilateral ibérico em proporção do volume de comércio
9%15%
31%21%
29%26%
31%38%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1999 2004Ano
COM ÉRCIO DE DOIS SENTIDOS VERTICAL NEGATIVOCOM ÉRCIO DE DOIS SENTIDOS VERTICAL POSITIVOCOM ÉRCIO DE DOIS SENTIDOS HORIZONTALCOM ÉRCIO UNÍVOCO
Fonte: cálculos próprios com base em dados do ICEP
O aumento do Comércio intra-ramo de 85% em 1999, para 91% do comércio total analisado em
2004, poderá ter-se traduzido numa melhoria da competitividade face à economia espanhola,
uma vez que a redução do comércio intra-ramo vertical negativo e do comércio unívoco ou inter-
ramo, foi compensado por aumento do comércio intra-ramo horizontal e comércio de intra-ramo
vertical positivo, ie, daquele onde predominam variedades de maior qualidade relativa. Com
efeito, no volume de comércio total, registou-se uma redução do CIR diferenciado
negativamente, isto é, daquele em que a qualidade das importações é superior à qualidade das
9 Esta análise teve em conta os 157 principais produtos do comércio bilateral, que representavam em 1999, cerca de 68% das exportações e 59% das importações com Espanha e em 2004, 71% e 60% das exportações e das importações, respectivamente.
11
exportações, de 38% em 1999, para 31% em 2004 e um aumento do CIR vertical diferenciado
positivamente, de 26% em 1999, para 29% em 2004.
É também inequívoca a redução do comércio unívoco ou inter-ramo e o aumento do comércio
intra-ramo horizontal, em cerca de 10% (a tipologia onde ocorreu a maior variação percentual).
Apesar desta mudança positiva na estrutura do tipo de comércio bilateral devido ao aumento
relativo do peso das variedades exportadas de maior qualidade, continua a ser superior a
proporção das importações de maior qualidade relativa. Contudo, o aumento de 10% na
proporção do comércio horizontal em detrimento da redução de 6% no comércio unívoco, pode
ser representativo da consolidação de um mercado ibérico, quer em termos comerciais, quer em
termos produtivos.
É de sublinhar que o comércio intra-ramo pode estar associado ao comércio de partes ou
componentes de um produto, uma vez que, a fim de minimizar os custos de produção, as
multinacionais produzem frequentemente várias partes de um mesmo produto em diferentes
países, procurando localizar cada estágio de produção no país com maiores vantagens
comparativas na referida fase do processo produtivo10. Infelizmente, este tipo de comércio é
muito difícil de distinguir do mais “tradicional”, associado à troca de bens (variedades de bens)
nos dois sentidos com finalidades afins.
Por essa razão, este estudo não se limita à análise do indicador tradicional de medição do
comércio intra-ramo, complementando-o com outro que permita aferir sobre a qualidade das
variedades trocadas e ainda sobre os factores de competitividade associados às relações bilaterais
e aos custos de ajustamento do CIR.
A distinção na qualidade dos produtos trocados permite salientar a posição competitiva de um
país. Uma qualidade superior das exportações está geralmente associada a maiores valores das
despesas em I&D (Investigação e Desenvolvimento), mais inovação, trabalho qualificado, design
do produto e características organizacionais das firmas (vantagem competitiva). Inversamente,
uma baixa qualidade das exportações, denuncia um forte peso dos recursos naturais, do trabalho
10 Frequentemente, o comércio intra indústria surge associado ao comércio intra-firma.
12
não qualificado e de um fraco nível tecnológico (entre outros) – associados ao conceito de
vantagem comparativa.
Com efeito, os modelos de CIR tradicionais, baseados na diferenciação horizontal, admitiam
custos de ajustamento reduzidos, em resposta ao processo de integração económica. Contudo, no
caso de prevalecer a diferenciação vertical como prevalece no comércio luso-espanhol11, podem
ocorrer custos de ajustamento significativos por duas razões. A primeira, deriva da possibilidade
do conteúdo factorial das exportações e importações ser diferente - o que suscita custos de
ajustamento semelhantes aos que sucedem no caso do tipo de comércio preponderante ser inter-
ramo (comércio tipo Norte-Sul). A segunda razão, ocorre pelo facto das variedades de menor
qualidade (intensivas em trabalho) e produzidas no país relativamente mais pobre e mais
abundante em trabalho não qualificado (Portugal), serem facilmente substituídas por variedades
de qualidade relativamente mais elevada (intensivas em capital) produzidas no país mais rico e
relativamente mais abundante em capital e/ou trabalho mais qualificado (Espanha), conforme
sugeriu Shaked & Sutton (1984). Em última análise, isto pode conduzir ao encerramento de
empresas no país mais pobre (Portugal), e caso não sejam tomadas medidas no sentido de
promover a I&D e a formação de capital humano, conduzir ao empobrecimento do país
relativamente mais pobre.
Quadro 2 – Distribuição do tipo de comércio por sectores
1999 2004COMÉRCIO UNÍVOCO 26 8COMÉRCIO DE DOIS SENTIDOS HORIZONTAL 28 33COMÉRCIO DE DOIS SENTIDOS VERTICAL POSITIVO 38 45COMÉRCIO DE DOIS SENTIDOS VERTICAL NEGATIVO 65 71
ANOTIPOLOGIA DO COMÉRCIO
Fonte: elaboração própria, com base em dados do ICEP
Em termos sectoriais, em 1999, dos 157 sectores analisados, 17% caracterizava-se por comércio
unívoco ou inter-ramo, um valor que diminui para os 5% em 2004. Mantêm-se caracterizados
por comércio inter-ramo dois sectores associados ao material eléctrico e seus componentes, um 11 O CIR vertical representava em 2004, cerca de 60% do volume de comércio e 74% dos sectores analisados. É de salientar que em termos de volume de comércio, a proporção do CIR vertical diminuiu entre 1999 e 2004 mas em termos sectoriais, o número de sectores associados à diferenciação vertical do comércio, aumentou. Este facto, corrobora a ideia de que o aumento global do comércio intra-ramo com Espanha se tem materializado numa melhoria da competitividade relativa do padrão de exportação da economia portuguesa pelo aumento relativo do CIR vertical diferenciado positivamente.
13
sector associado ao material de cobre, um sector do ramo alimentar e um sector do ramo
agrícola, todos caracterizados por défice da balança comercial e passou a estar associado ao
comércio unívoco um outro sector associado ao material eléctrico e um sector associado aos
combustíveis, óleos e ceras minerais.
No que respeita aos sectores caracterizados por CIR com diferenciação horizontal, o quadro 3 é
ilustrativo da sua repartição.
Quadro 3 – Distribuição do CIR do tipo Horizontal em 2004
CÓDIGO DESCRITIVO DO SECTOR 2004 2004 1999 1999
M (% total) X (% total) CEPII Bi M (% total) X (% total) CEPII Bi8714 Partes e aces. dos veículos 8711 a 8713 0,12 0,19 0,99 0,91 0,07 0,22 0,47 0,898708 Partes e acessórios dos veículos automóveis 4,94 6,00 0,94 0,80 4,96 3,29 1,20 0,408704 Veículos automóveis p/ transporte de mercadorias 1,78 0,65 0,91 0,33 0,96 1,49 1,14 0,738480 Caixas fundição, placas e modelos p/ moldes e metais 0,14 0,57 0,93 0,62 0,06 0,24 0,90 0,798207 Ferramentas intercambiáveis p/ ferramentas manuais 0,15 0,22 1,08 0,91 0,21 0,31 0,31 0,727604 Barras e perfis, de alumínio 0,22 0,12 0,98 0,45 0,10 0,31 2,79 0,917601 Alumínio em formas brutas 0,37 2,20 1,03 0,47 0,12 0,55 1,42 0,767326 Outras obras de ferro ou aço 0,28 0,24 1,12 0,65 0,30 0,26 1,19 0,487214 Barras de ferro/aço, forjadas, laminadas 0,69 1,72 0,95 0,84 0,11 0,09 0,49 0,477210 Produtos laminados ferro/aço n/ ligado 0,68 1,91 1,10 0,78 0,35 1,17 1,02 0,887010 Garrafões, garrafas, frascos e afins de vidro 0,18 1,67 0,99 0,336206 Camiseiros, blusas, blusas-camiseiros, de uso feminino 0,16 0,27 0,87 0,98 0,14 0,14 0,53 0,566205 Camisas de uso masculino 0,18 0,40 1,05 0,91 0,19 0,60 0,55 0,906111 Vestuário e seus acessórios, de malha, para bébés 0,08 0,31 0,87 0,61 0,05 0,27 0,17 0,635210 Tecidos de algodão <85%, com fibras sintéticas ou artificiais, pe 0,05 0,05 1,01 0,76 0,09 0,11 4,69 0,634819 Caixas, sacos, bolsas e embalagens, de papel e cartão 0,20 0,44 1,01 0,91 0,25 0,31 0,78 0,634802 Papel e cartão usados p/ escrita ou fins gráficos 0,14 1,16 1,10 0,36 0,17 2,14 0,89 0,354408 Folhas p/ folheados, contraplacados ou compensados 0,14 0,12 0,86 0,63 0,07 0,11 1,17 0,734016 Outras obras de borracha vulcanizada não endurecida 0,18 0,13 1,02 0,58 0,18 0,20 0,68 0,593926 Outras obras de plástico 0,63 0,65 0,89 0,72 0,11 0,36 2,91 0,893924 Serviços mesa e out. artigos uso doméstico de plástico 0,09 0,20 0,93 0,91 0,09 0,15 0,64 0,773920 Outras chapas,folhas e lâminas, de plástico 0,53 0,50 0,93 0,68 0,43 0,54 0,93 0,643904 Polímeros de cloreto de vinilo,em formas primárias 0,36 0,95 0,97 0,82 0,30 0,76 1,01 0,973004 Medicamentos, em doses ou acondicionados para venda a reta 0,83 0,24 1,14 0,28 0,52 0,33 5,43 1,002902 Hidrocarbonetos cíclicos 0,11 0,82 0,97 0,411905 Produtos da indústria de bolachas e biscoitos 0,62 0,61 1,06 0,70 0,54 0,39 2,90 0,421512 Óleos de girassol, de cártamo ou algodão e fracções 0,15 0,17 0,90 0,76 0,28 0,25 1,01 0,491003 Cevada 0,08 0,14 1,04 0,991001 Trigo e mistura de trigo com centeio 0,17 0,12 0,96 0,53 0,17 0,35 0,65 0,870405 Manteiga e outras matérias gordas provenientes do leite; pastas 0,04 0,05 1,00 0,820401 Leite e nata não concentrados 0,34 1,17 0,91 0,69 0,16 1,48 0,90 0,460303 Peixes congelados excepto os filetes 0,99 0,45 0,88 0,40 1,12 0,73 1,05 0,390103 Animais vivos da espécie suína 0,61 0,14 1,09 0,22
16 25 12 17TOTAL
2004 1999
Fonte: elaboração própria com base em dados do ICEP Quantificação baseada nos sectores reveladores de CIR em 2004 Valores não identificados em 1999, reportam a sectores que não se caracterizaram por CIR nesse ano
14
Nos sectores que se caracterizam por comércio cruzado ou intra-ramo com diferenciação
Horizontal, que aumentaram em cerca de 18%, foi particularmente significativo pelo seu peso no
comércio bilateral, o sector 8704 (veículos automóveis) e a inclusão de outros dois sectores em
2004, nomeadamente do 8708 (partes e acessórios dos veíc. automóveis) que assumia em 1999
diferenciação vertical positiva e o 8714 (partes e acessórios de o. veículos) que assumia em 1999
diferenciação vertical negativa e que, sumariamente, representam produtos intermédios do sector
8708. Foram também relevantes nesta tipologia os sectores associados ao plástico e suas obras
sendo que, no produto 3904 (polímeros), a balança comercial passou a ser positiva; a crescente
importância de sectores associados ao alumínio, ferro e suas obras, destacando-se neste contexto
o produto 7601 (alumínio em formas brutas) e 7210 (produtos laminados de ferro e aço) com um
excedente comercial; o sector 7010 (garrafas, garrafões e boiões) do ramo vidreiro que, aliás, era
caracterizado por comércio inter-ramo em 1999; o sector 4802 (papel e cartão) também com
excedente comercial e sectores associados aos lacticínios e derivados, nomeadamente o sector
401 (leite e nata) e alguns produtos agrícolas e comestíveis de origem animal.
Relativamente aos sectores caracterizados por CIR vertical positivo i.e., aquele em que as
exportações bilaterais revelam qualidade superior às importações, o quadro 4 ilustra os
resultados.
15
Quadro 4 – Distribuição do CIR do tipo Vertical positivo, em 2004
CODIGO DESCRITIVO DO SECTOR 2004 2004 1999 1999M (% total) X (% total) CEPII Bi M (% total) X (% total) CEPII Bi
9503 Outros brinquedos 0,39 0,08 1,59 0,219403 Outros móveis e suas partes 0,72 0,76 1,15 0,73 0,93 0,74 1,18 0,459401 Assentos e suas partes 0,55 2,42 3,07 0,599032 Instrumentos e aparelhos para regulação 0,09 0,17 7,78 0,968703 Automóveis e out. veículos transporte passageiros 5,68 3,18 1,23 0,47 8,12 3,59 0,45 0,288544 Fios p/ usos eléctricos; cabos fibras ópticas 0,62 1,76 1,85 0,78 0,71 3,45 3,98 0,728542 Circuitos integrados e microconjuntos electrónicos 0,79 0,86 6,46 0,758527 Aparelhos rec. p/ radiotelefonia/radiotelegrafia/radiodifusão 0,14 1,88 3,22 0,24 0,21 1,90 5,13 0,468507 Acumuladores eléct. e seus separadores 0,17 0,09 1,86 0,46 0,17 0,13 1,19 0,448504 Transformadores eléctricos, conversores, bobinas 0,16 0,17 3,44 0,73 0,15 0,18 4,38 0,628501 Motores e geradores, eléctricos, exc. grupo electrogéneo 0,19 0,37 1,60 0,96 0,07 0,09 0,24 0,658481 Torneiras, válvulas e disp.sem. p/ canalizações, caldeiras 0,42 0,52 1,35 0,81 0,54 0,25 0,41 0,298473 Partes e acessórios para máquinas 0,88 0,57 1,37 0,528471 Máquinas automáticas p/ processamento dados/unidades 1,61 0,51 2,04 0,30 2,03 1,50 0,92 0,438428 Out. máq./ap. de elevação, carga, descarga ou movimento 0,32 0,06 2,34 0,18 0,36 0,39 1,19 0,578415 Máq./ap. ar condicionado c/ventilador/dispositivos 0,28 0,05 1,56 0,18 0,35 0,14 0,74 0,268414 Bombas de ar/vácuo, exaustores p/ extracção/reciclagem 0,26 0,50 1,89 0,97 0,36 0,57 2,64 0,748409 Partes reconhecíveis p/ motores 0,19 0,40 1,49 0,93 0,15 0,49 1,67 0,918301 Cadeados e afins de metais comuns 0,15 0,34 4,55 0,89 0,20 0,75 4,81 0,837007 Vidros de segurança, temperados/formados por folhas 0,19 0,31 1,26 0,94 0,16 0,27 1,87 0,786810 Obras de cimento, betão ou pedra artificial, mesmo armada 0,12 0,22 1,16 0,99 0,07 0,09 0,81 0,616212 Soutiens, cintas, suspensórios, etc 0,08 0,06 3,88 0,58 0,12 0,14 10,72 0,586203 Fatos, conjuntos, calças de uso masculino 0,62 1,73 1,16 0,80 0,66 2,01 0,60 0,946202 Casacos compridos, capas e semelhantes de uso feminino 0,15 0,09 1,25 0,52 0,17 0,15 0,87 0,516201 Sobretudos, anoraques e semelhantes, de uso masculino 0,12 0,12 1,39 0,68 0,17 0,33 0,98 0,845515 Outros tecidos de fibras sintéticas descontínuas 0,09 0,21 4,04 0,85 0,07 0,45 1,20 0,625402 Fios de filamentos sintéticos 0,12 0,06 1,35 0,45 0,16 0,11 0,85 0,395208 Tecidos de algodão >=85%, com peso <=200g/m2 0,15 0,22 1,16 0,91 0,08 0,37 0,66 0,735205 Fios de algodão 0,14 0,08 1,36 0,50 0,12 0,06 1,71 0,334803 Papel higiénico e de toucador,em rolos ou folhas 0,07 0,10 1,17 0,88 0,11 0,10 0,64 0,504504 Cortiça aglomerada e suas obras 0,04 0,36 1,38 0,33 0,04 0,17 0,81 0,754107 Peles depiladas de outros animais, preparadas 0,23 0,17 1,38 0,57 0,04 0,01 3,46 0,233921 Out. chapas, folhas, películas, tiras e lâminas de plástico 0,25 0,52 1,21 0,93 0,26 0,28 0,98 0,573919 Chapas, folhas, tiras, fitas, auto-adesivas de plástico 0,15 0,05 1,49 0,32 0,14 0,04 0,81 0,213824 Aglutinantes preparados para moldes 0,30 0,32 1,26 0,73 0,32 0,33 2,34 0,552713 Coque e betume e out. resíduos dos óleos de petróleo 0,25 0,26 1,26 0,73 0,19 0,33 0,96 0,772208 Aguardentes,licores e alc. etílico não desnaturado 0,09 0,05 2,54 0,43 0,42 0,15 0,60 0,242008 Frutas e partes comestíveis de plantas 0,12 0,15 1,44 0,82 0,12 0,08 1,93 0,382005 O. p. hortícolas preparados, conservados, n/congelados 0,11 0,21 1,29 0,99 0,13 0,41 2,52 0,930901 Café, mesmo torrado ou descafeinado 0,07 0,13 1,93 0,98 0,11 0,37 1,72 0,880713 Legumes de vagem, secos, ou em grão 0,04 0,06 1,96 0,88 0,03 0,06 1,59 0,930701 Batatas, frescas ou refrigeradas 0,09 0,04 2,120307 Moluscos e invertebrados aquáticos, etc; farinhas 0,47 0,47 1,22 0,71 0,54 0,50 1,09 0,510306 Crustáceos c/ ous/ casca, cozidos água/vapor 0,27 0,36 1,78 0,85 0,37 0,60 3,58 0,750304 Filetes e out. carne de peixe, frescos, refrig., congelados 0,17 0,38 1,33 0,89 0,16 0,17 1,23 0,56TOTAL 18 21 19 22
2004 1999
Fonte: elaboração própria com base em dados do ICEP Quantificação baseada nos sectores reveladores de CIR em 2004 Valores não identificados em 1999, reportam a sectores que não se caracterizaram por CIR nesse ano
Da análise do quadro 4 conclui-se que, de entre os produtos caracterizados por comércio intra-
ramo vertical com diferenciação positiva que aumentaram 19% entre 1999 e 2004, são
particularmente significativos os sectores associados aos instrumentos mecânicos e suas partes,
16
com particular destaque para o sector 8414 (bombas de ar/vácuo e compressores) e 8409 (partes
de motores) com excedente comercial e para os sectores 8471 e 8428 (máquinas), 8473 (partes e
acessórios para máquinas), 8481 (torneiras, válvulas e disp. sem.), 8415 (ap. ar condicionado),
estes sem excedente comercial; o sector têxtil e vestuário, onde se destaca o sector 6203 (Fatos,
conjuntos e afins de uso masculino) e 5515 (tecidos de fibras sintéticas) pelo seu excedente
comercial, o sector de máquinas e material eléctrico, destacando-se em particular pela sua
representatividade nas exportações e excedente comercial, o sector 8544 (fios e outros
condutores para uso eléctrico), 8527 (aparelhos receptores de
radiotelefonia/radiotelegrafia/radiodifusão) e 8501 (motores e geradores eléctricos).
Saliente-se ainda a entrada do sector 8703 (veículos automóveis de passageiros) e do sector 4504
(cortiça e suas obras) que em 1999 se caracterizavam por diferenciação vertical negativa, bem
como alguns sectores do têxtil e vestuário como o 5208 (tecidos de algodão) e 6203 (fatos de uso
masculino).
Alguns sectores associados à industria alimentar, evidenciam também diferenciação vertical
positiva, nomeadamente no sector piscícola.
O quadro 4, permite ainda constatar que, alguns sectores caracterizados por comércio inter-ramo
em 1999, passaram a revelar comércio intra-ramo com diferenciação vertical positiva em 2004.
Estão nestas circunstâncias os sectores 9401 (assentos e suas partes), 9032 (aparelhos para
regulação) e 8473 (partes e acessórios para máquinas), indiciadores da importância da fileira
automóvel e electrónica no padrão de especialização português.
É notória a quase ausência de diferenciação positiva em produtos finais do sector de plásticos e
do sector do papel e madeiras, revelando-se como excepção o sector 4803 (papel higiénico e de
toucador em rolos ou folhas), embora sem excedente comercial.
O quadro 5, reflecte a repartição sectorial do comércio intra ramo vertical que é diferenciado
negativamente, i.e., dos sectores em que as importações provenientes de Espanha, revelam um
qualidade relativamente superior à das exportações para aquele país.
17
Quadro 5 – Distribuição do CIR do tipo Vertical negativo, em 2004
CODIGO DESCRITIVO DO SECTOR 2004 2004 1999 1999M (% total) X (% total) CEPII Bi M (% total) X (% total) CEPII Bi
9506 Artigos/equipamentos p/ cultura física ginástica 0,10 0,13 0,78 0,83 0,13 0,07 0,77 0,339404 Suportes elásticos p/ camas; colchões, edredões, pufes 0,07 0,34 0,38 0,54 0,10 0,23 0,81 0,918716 Reboques/semi-reboques p/ qq veículos 0,29 0,13 0,71 0,398547 Peças de matérias isolantes c/ simples peças metálicas 0,17 0,06 0,19 0,30 0,12 0,06 0,27 0,318536 Aparelhos p/ interrupção, seccionamento, protecção 0,57 0,31 0,79 0,46 0,69 0,32 0,45 0,458529 Partes reconhecíveis p/ aparelhos 0,15 0,06 0,15 0,38 0,13 0,27 1,74 0,878516 Aparelhos eléct. p/ aquecimento ambientes 0,45 0,30 0,74 0,54 0,41 0,39 0,94 0,528474 Máq p/seleccionar terras, pedras; aglomerar combust. 0,07 0,17 0,25 0,87 0,20 0,05 0,60 0,188462 Máquinas-ferramentas p/ forjar/estampar/enrolar 0,04 0,08 0,75 0,97 0,08 0,15 0,49 0,828431 Partes destinadas às máquinas e aparelhos 0,29 0,14 0,66 0,41 0,40 0,12 0,83 0,218422 Máquinas de lavar louça; máquinas p/ limpar 0,20 0,23 0,43 0,778419 Aparelhos p/ trat. matérias por mudança temperatura 0,11 0,60 0,80 0,49 0,20 0,14 0,81 0,418418 Refrigeradores, congeladores, bombas de calor 0,47 0,37 0,70 0,60 0,48 0,63 0,66 0,668302 Guarnições e ferragens de metais comuns, etc 0,35 0,34 0,53 0,70 0,24 0,42 3,63 0,807616 Outras obras alumínio 0,12 0,12 0,85 0,74 0,08 0,09 0,83 0,557610 Construções e suas partes, de alumínio 0,09 0,16 0,48 0,99 0,11 0,05 0,45 0,287602 Desperdícios, resíduos e sucata, de alumínio 0,04 0,42 0,79 0,29 0,01 0,16 1,05 0,367324 Artefactos de higiene ou toucador e suas partes (ferro) 0,05 0,09 0,45 0,99 0,07 0,11 0,27 0,717318 Parafusos, pernos/pinos, roscados de ferro ou aço 0,14 0,05 0,49 0,367312 Cordas, cabos e semelhantes, ferro/aço p/uso eléctrico 0,13 0,26 0,56 0,94 0,13 0,10 0,98 0,447311 Recipientes p/gases comprimidos/liquefeitos (ferro/aço) 0,05 0,16 0,32 0,72 0,14 0,24 0,33 0,107310 Reservatórios, barris etc, de ferro fund, ferro 0,22 0,49 0,62 0,90 0,15 0,40 0,50 0,987308 Construções e partes de ferro/aço 0,46 0,66 0,84 0,89 0,46 0,30 0,51 0,407306 Outros tubos e perfis ocos de ferro/aço 0,39 0,77 0,78 0,96 0,37 0,61 0,83 0,767217 Fios de ferro ou aço não ligado 0,09 0,52 0,68 0,50 0,13 0,34 1,04 0,997213 Fio-máquina de ferro ou aço não ligado 0,37 1,63 0,79 0,59 0,19 0,33 1,00 0,797013 Objectos de vidro p/serviço de mesa, cozinha, toucador 0,07 0,13 0,62 0,98 0,18 0,20 0,53 0,596910 Sanitários e artefactos semelhantes, de cerâmica 0,12 0,71 0,48 0,48 0,13 1,16 0,64 0,476908 Ladrilhos e placas p/ pavimentação 0,57 0,13 0,73 0,226907 Ladrilhos e placas para pavimentação ou revestimento 0,04 0,10 0,66 0,876802 Pedras de cantaria/construção 0,25 0,27 0,52 0,74 0,29 0,22 0,49 0,446406 Partes calçado (palmilhas, reforços, polainas, etc) 0,08 0,08 0,78 0,70 0,11 0,09 1,43 0,466211 Fatos treino p/ desporto, biquinis, calções e slips 0,06 0,05 0,75 0,64 0,10 0,17 0,54 0,786204 Fatos saia-casaco, vestidos e afins de uso feminino 0,90 1,06 0,84 0,78 0,93 1,04 0,58 0,596115 Meias de qualquer espécie, incl. p/ varizes, de malha 0,05 0,26 0,24 0,52 0,06 0,12 0,15 0,846114 Outro vestuário, de malha 0,07 0,10 0,51 0,90 0,05 0,07 0,56 0,665903 Tecidos impregnados, revestidos, recobertos c/ plástico 0,18 0,10 0,40 0,46 0,16 0,18 0,49 0,585407 Tecidos de filamentos sintéticos 0,18 0,10 0,39 0,485209 Tecidos de algodão 0,15 0,05 0,77 0,325112 Tecidos de lã penteada ou de pêlos finos penteados 0,09 0,09 0,73 0,70 0,15 0,27 0,64 0,814823 Outros papéis, cartões e pastas de celulose cortados 0,07 0,08 0,47 0,78 0,07 0,19 0,41 0,964818 Papel higiénico,lenços, artigos p/ uso doméstico 1,04 0,43 0,61 0,37 1,09 0,37 0,63 0,234810 Papel e cartão revestidos de substâncias inorgânicas 0,40 0,12 0,79 0,27 0,38 0,11 0,51 0,204804 Papel e cartão kraft, n/ revestidos, em rolos ou folhas 0,09 0,62 0,65 0,43 0,07 1,05 0,67 0,304501 Cortiça natural em bruto, preparada e desperdícios 0,50 0,40 0,69 0,61 0,42 0,69 0,62 0,764418 Obras de carpintaria para construções 0,18 0,27 0,62 0,90 0,28 0,11 0,63 0,244411 Painéis de fibras de madeira, aglomerados, etc 0,15 0,83 0,73 0,51 0,19 1,34 0,92 0,554410 Painéis de madeira ou matérias aglomeradas 0,06 0,63 0,85 0,29 0,11 1,17 0,76 0,424409 Madeira (tacos, frisos p/ soalhos n/ montados) perfilada 0,10 0,06 0,67 0,50 0,39 0,79 1,85 0,874407 Madeira serrada longitudinalmente 0,09 0,67 0,26 0,39 0,08 0,99 0,37 0,364011 Pneumáticos novos, de borracha 1,07 0,91 0,68 0,64 1,02 0,80 0,87 0,454009 Tubos de borracha vulcanizada e seus acessórios 0,17 0,05 0,65 0,30 0,16 0,06 0,54 0,873925 Artefactos de apetrechamento, de plástico 0,11 0,05 0,70 0,393923 Art. de transporte/embalagem, rolhas e cápsulas, plástico 0,38 0,59 0,81 0,92 0,41 0,41 0,49 0,553922 Banheiras, lavatórios, bidés, sanitários e seus assentos 0,12 0,07 0,75 0,493917 Tubos e seus acessórios, de plástico 0,23 0,68 0,40 0,77 0,19 0,56 0,39 0,943909 Resinas e poliuretanos, em formas primárias 0,12 0,31 0,12 0,83 0,17 0,27 2,37 0,753907 Poliacetais, out. poliéteres e resinas, formas primárias 0,70 0,61 0,78 0,65 0,44 0,25 0,86 0,353901 Polímeros de etileno, em formas primárias 0,54 1,21 0,82 0,90 0,28 1,30 0,89 0,743402 Preparações para lavagem e limpeza 0,62 0,28 0,71 0,40 0,53 0,52 0,60 0,542712 Vaselina;parafina, ceras minerais 0,04 0,05 0,67 0,83 0,04 0,06 0,74 0,762710 Óleos de petróleo ou minerais betuminosos; prep. 1,07 0,49 0,64 0,40 1,04 0,53 0,89 0,322523 Cimentos hidráulicos 0,09 0,53 0,58 0,492516 Granito, pórfiro, basalto, arenito e out. pedras de cantaria 0,06 0,21 0,63 0,66 0,09 0,26 0,79 0,942309 Preparações da alimentação de animais 0,37 0,07 0,41 0,19 0,47 0,14 0,78 0,202204 Vinhos de uvas frescas 0,37 0,18 0,60 0,41 0,92 0,32 6,62 0,231006 Arroz 0,07 0,06 0,84 0,670802 Outras frutas de casca rija, frescas ou secas 0,09 0,10 0,49 0,71 0,06 0,24 0,33 0,840402 Leite e nata concentrados ou adicionados de açúcar 0,08 0,19 0,49 0,87 0,11 0,21 1,13 0,830302 Peixes frescos/refrigerados 0,62 0,68 0,83 0,75 0,64 1,10 1,19 0,78105 Galos, galinhas, patos e o. aves 0,04 0,10 0,85 0,88 0,08 0,03 1,60 0,22
18 23 17 23TOTAL
19992004
Fonte: elaboração própria com base em dados do ICEP Quantificação baseada nos sectores reveladores de CIR em 2004 Valores não identificados em 1999, reportam a sectores que não se caracterizaram por CIR nesse ano
18
Os sectores associados a uma tipologia de comércio intra-ramo vertical diferenciado
negativamente que aumentaram cerca de 9% entre 1999 e 2004, estão maioritariamente
concentrados em produtos finais do sector do ferro, aço e alumínio e do sector dos plásticos. São
também relevantes, alguns sectores de máquinas e aparelhos mecânicos e produtos finais do
sector têxtil e vestuário. A maior parte, caracteriza-se por défice comercial. No entanto, o sector
7306 (outros tubos e perfis ocos), 7310 (reservatórios e barris em ferro/aço), 8419 (ap. p/ trat.
matérias por mudança de temperatura), 6211 (fatos de treino para desporto e roupa interior) e
6115 (meias), apesar de estarem associados a uma diferenciação vertical negativa em ambos os
anos, caracterizam-se por excedente comercial. Na mesma circunstância estão alguns sectores do
papel e madeira como o 4804 (papel e cartão kraft) e o 4407 (madeira serrada), bem como alguns
sectores do plástico como o 3917 (tubos e seus acessórios), 3909 (resinas e poliuretanos, em
formas primárias) e 3901 (polímeros de etileno em formas primárias).
Na percepção da alteração das vantagens competitivas bilaterais e complementarmente à
dissecação do tipo de comércio bilateral e do tipo de comércio intra-ramo sectorial, empregou-se,
de acordo com a metodologia da OCDE, uma medida de aferição das variações dos factores de
competitividade associados ao comércio bilateral.
Dessa forma, foi possível perceber qual o tipo de factores de competitividade e sectores
associados ao padrão de especialização de cada uma das economias ibéricas e que tipo de
alteração se operou no período analisado.
Como variável pluridimensional que é, a competitividade depende certamente de muitas outras
variáveis que não foram aqui consideradas, por serem mais difíceis de quantificar (a capacidade
organizacional das firmas, a dotação de infraestruturas, a produtividade).
No seguimento da relação que se pretende averiguar entre o tipo de comércio existente, a
competitividade e os custos de ajustamento daí decorrentes, utilizou-se a classificação da OCDE.
Assim, classificaram-se 5 factores de competitividade: Trabalho, Recursos Naturais, Economias
de Escala, Diferenciação do Produto e I&D. Os dois primeiros factores, mais associados ao
conceito da vantagem comparativa, estão subjacentes aos pressupostos da teoria ricardiana
(associando a competitividade ao factor trabalho) e na teoria Heckscher-Ohlin (associando a
19
competitividade aos recursos naturais, capital e trabalho). Os três últimos factores, vieram a
assumir um peso cada vez maior desde os anos 70 e devido à impossibilidade dos primeiros, para
explicar o padrão de comércio que se tem vindo a desenvolver entre as economias desenvolvidas
desde então12, pesando, pelo contrário, factores como a I&D (associada ao capital humano), as
economias de escala e a diferenciação do produto, associados ao fenómeno do comércio intra-
ramo que emergiu na década de 70 e 80.
3. FACTORES DE COMPETITIVIDADE ASSOCIADOS À ESTRUTURA DO
COMÉRCIO BILATERAL
Fig. 4 – Representatividade dos factores de competitividade no padrão de especialização
25% 20% 20% 19%
26%
17%27%
18%
32%
37%
37%
37%
9%
11%
7%
11%
8%15%
9%15%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
PORTUGAL ESPANHA PORTUGAL ESPANHA
1999 2004A no vs P aí s
RECURSOS NATURAIS TRABALHO ECONOMIAS ESCALA DIFERENCIAÇÃO PRODUTO I&D
Fonte: cálculos próprios com base em dados do GEE-Ministério da Economia
Nas exportações portuguesas para Espanha a tendência no período 1999-2004 denota uma perda
de peso dos Recursos Naturais e uma redução ainda que menos significativa na
representatividade da Diferenciação do Produto. Pelo contrário, são de salientar o aumento da
12 O paradoxo de Leontieff, foi um contributo decisivo no desenvolvimento das teorias do comércio e do conteúdo factorial associados às exportações bilaterais de cada país.
20
representatividade das Economias de Escala e um ligeiro aumento da representatividade do
factor Trabalho e da Investigação & Desenvolvimento.
Nas exportações Espanholas para Portugal, para o mesmo período, as economias de escala
salientam-se como o factor de competitividade mais relevante, havendo também um aumento,
ainda que pouco significativo, da representatividade do trabalho e, à semelhança do que acontece
com o padrão de competitividade da economia portuguesa, uma redução do peso dos recursos
naturais. Contudo, a estrutura das exportações espanholas é semelhante nos dois anos, indiciando
por isso, um aumento da competitividade relativa das exportações portuguesas ao nível dos
factores de competitividade principais na definição do padrão de especialização bilateral.
Apesar disto, em termos comparativos, a economia espanhola apresenta uma maior
representatividade dos sectores baseados na I&D e na Diferenciação do Produto e uma menor
representatividade dos sectores baseados no factor Trabalho e nos Recursos Naturais, embora
neste ultimo caso as diferenças se tenham desvanecido.
Parece sobressair uma economia portuguesa com uma estrutura cada vez mais semelhante ao
nível da representatividade dos sectores baseados nos Recursos Naturais e nas Economias de
Escala, mas mais dependente do factor Trabalho no seu padrão de especialização, em detrimento
da I&D e da Diferenciação do produto.
Quadro 6 – Taxas de crescimento médias dos factores de competitividade associados ao
padrão de especialização bilateral, no período 1999-2004
PORTUGAL ESPANHA
RECURSOS NATURAIS 8% 8%TRABALHO 13% 8%
ECONOMIAS ESCALA 15% 7%DIFERENCIAÇÃO PRODUTO 8% 7%
I&D 15% 7%COMPETITIVIDADE TOTAL 12% 7%
Fonte: GEE-Ministério da Economia, elaboração própria
A taxa de crescimento dos factores de competitividade associados às exportações bilaterais
cresceu mais na economia portuguesa do que na economia espanhola, o que se ficou a dever, em
particular, a um crescimento superior das exportações para Espanha.
21
Os sectores baseados nos factores de competitividade Recursos Naturais e Diferenciação do
produto, crescem a um ritmo sensivelmente idêntico nas duas economias e os sectores baseados
no Trabalho, nas Economias de Escala e na I&D, crescem a um ritmo superior na economia
Portuguesa relativamente à sua congénere, podendo indiciar a melhoria da competitividade da
economia portuguesa face à economia espanhola, eventualmente a par da visão sincrética da
península ibérica por parte da Espanha, com consequências do ponto de vista da deslocalização
da actividade empresarial e produtiva, bem como da transferência tecnológica associada ao
comércio bilateral.
Feita a distinção entre CIR horizontal e CIR vertical pela qualidade relativa das variedades
trocadas e a caracterização do padrão de especialização inerente a cada uma das economias do
ponto de vista dos factores de competitividade associados ao comércio bilateral, torna-se
pertinente a avaliação dos problemas de ajustamento da estrutura produtiva.
4. COMÉRCIO INTRA-RAMO E CUSTOS DE AJUSTAMENTO
Para avaliar os custos de ajustamento, recorre-se à variação do indicador GL entre dois períodos,
mas tendo em consideração a importante sugestão de Brülhart13 sobre a necessidade de distinguir
as duas situações em termos de evolução da competitividade.
A representação gráfica utilizada, permite considerar simultâneamente a evolução do CIR e da
competitividade, distinguindo entre situações em que a taxa de crescimento das exportações é
maior que a taxa de crescimento das importações (aumenta a competitividade) ou, pelo contrário,
é menor (diminui a competitividade). Considerando um sistema de eixos com quatro quadrantes,
reservou-se para o eixo das abcissas a variação na competitividade (∆Competitividade) e para o
eixo das ordenadas, a variação no CIR (∆CIR).
A consideração simultânea da variação da competitividade e da variação do indicador de CIR,
conduz-nos a quatro situações diferentes:
13 Brülhart (1994) sugeriu que o comércio intra-ramo marginal estará mais directamente relacionado com o ajustamento estrutural do que a simples variação do indicador de GL entre dois períodos.
22
No quadrante I, registam-se os casos em que existe simultaneamente aumento do CIR e aumento
da competitividade, com as exportações a crescerem a uma taxa superior à das importações
(rX>rM).
No quadrante II, verifica-se uma subida do CIR mas uma diminuição da competitividade, com as
exportações a crescerem a uma taxa inferior à das importações (rX<rM).
Fig. 5 - Variação do CIR versus Variação da Competitividade
∆ CIR
II I
∆ Competitividade
III IV
No quadrante III, assiste-se a uma descida do CIR e a uma diminuição da competitividade
(rX<rM).
No quadrante IV, verifica-se uma descida do CIR mas um aumento da competitividade (rX>rM).
Considerando que os custos de ajustamento serão tanto maiores, não apenas quanto menor for o
nível de CIR, mas também consoante a performance sectorial, o melhor quadrante é o 1º (onde
há simultaneamente aumento do CIR e da competitividade) e o pior é o 3º (traduzindo uma
redução simultânea do CIR e da competitividade).
No conjunto dos 157 sectores estudados, a avaliação conjunta dos níveis de CIR e da
representatividade no comércio bilateral, permite identificar 70 principais sectores, distribuídos
pelos 4 quadrantes. A selecção dos 70 principais sectores, foi feita para facilitar a visualização da
sua distribuição pelos quadrantes e baseou-se no critério dos 70 principais sectores do comércio
bilateral e na existência de CIR, quer em 1999, quer em 2004. Estes sectores, concentraram em
média 40% das Importações e 53% das Exportações.
23
Fig. 6 – Variação do CIR e da competitividade no comércio bilateral entre 1999 e 2004
Fonte: elaboração própria , com base em dados do ICEP
Conclui-se assim que, ao 1º quadrante, onde houve simultaneamente aumento do CIR e da
competitividade, encontram-se afectos 35 sectores que representam 26% das exportações e
importações bilaterais. É efectivamente o quadrante mais representativo, o que associado à
análise anterior sobre os factores de competitividade e a evolução da tipologia do CIR, indicia
uma melhoria da competitividade da economia portuguesa face à economia espanhola.
Contudo, é de salientar que destes 35 sectores onde houve aumento do CIR e da competitividade,
apenas 11 sectores (8% do valor exportado) se diferenciam por uma maior qualidade das
Variação do CIR
Variação da Competitividade
24
exportações portuguesas14. Entre estes, é particularmente significativo o sector 8703 (automóveis
e outros veículos para transporte de passageiros), o sector 9403 (móveis e suas partes), o sector
8481 (dispositivos para canalizações) e 8414 (bombas de ar/vácuo), o sector 3921 (chapas, folhas
e lâminas, de plástico), 3824 (aglutinantes para moldes), os sectores 307, 306 e 304 de moluscos,
crustáceos e peixes, respectivamente; o sector 8501 (motores e geradores eléctricos) e o 7007
(vidros).
No 4º quadrante, onde também se regista uma variação positiva da competitividade, embora com
redução do CIR, podem ser encontrados 12 sectores que representam cerca de 14% das
exportações para Espanha e 3% das importações (valores que aumentaram face a 1999). São
maioritariamente sectores associados ao ferro, alumínio e madeira, que têm vindo a assumir
maior peso na estrutura das exportações portuguesas e evidenciam excedente comercial, mas que
se caracterizam pela diferenciação horizontal nos casos dos sectores 7210 (produtos laminados
de ferro/aço), 7601 (alumínio em formas brutas), 3904 (polímeros em formas primárias) e 8480
(caixas p/ moldes) e vertical negativa nos casos dos sectores 7213 e 7217 (fios de ferro), 4410 e
4411 (painéis/aglomerados de madeira e afins), 3917 (tubos e acessórios de plástico) e 7310
(reservatórios em ferro/aço), este último sem excedente comercial.
Apenas dois sectores deste quadrante assumem uma maior qualidade das exportações para
Espanha. É o caso do sector 6203 (fatos, conjuntos e calças de uso masculino) do sector têxtil e
do sector 8527 (aparelhos receptores de rádio), representativos de cerca de 4% das exportações.
Contudo, é de salientar que têm vindo a perder representatividade na totalidade das exportações e
importações bilaterais.
No 3º quadrante, onde existe simultaneamente redução do CIR e da competitividade, encontram-
se 13 sectores que representam cerca de 5% das exportações e 9% das importações, valores que
diminuíram face a 1999.
A maior parte destes sectores está associado aos instrumentos, máquinas e aparelhos mecânicos.
Alguns deles caracterizam-se pela diferenciação vertical positiva como é o caso do 8471
14 Em 1999, dos sectores que se encontram no 1º quadrante, eram nove os que se diferenciavam positivamente. Alguns mantiveram essa posição para 2004. É o caso dos sectores 9403, 8414, 3824, 7007 e 304. Outros deixaram de se diferenciar positivamente em detrimento da diferenciação horizontal como é o caso do 8708 (partes de veículos automóveis), 1905 (produtos de pastelaria e padaria) e 7326 (out. obras de ferro/aço) e o sector 2204 (vinho de uvas frescas), passou a caracterizar-se por diferenciação vertical negativa.
25
(máquinas p/ processamento de dados), 8415 (aparelhos de ar condicionado) e 8428 (outras
máquinas de carga/descarga) e 2713 (coque, betume e outros resíduos de óleos de petróleo).
Por último, no 2º quadrante, onde a variação da competitividade é negativa mas houve aumento
do CIR, encontram-se 10 sectores que representam 8% das exportações (valor que diminuiu face
a 1999) e 2% das importações.
Neste quadrante e com diferenciação positiva, observam-se os sectores 8544 (condutores p/ uso
eléctrico), 8409 (partes de motores) e 8301 (cadeados/fechaduras de metal). Com diferenciação
horizontal, os sectores 4802 (papel e cartão), 401 (leite e nata) e 6205 (camisas de uso
masculino) e os restantes sectores associados ao plástico, cerâmica, madeira e papel, assumem
diferenciação vertical negativa.
5. NOTAS CONCLUSIVAS
A consideração simultânea de duas metodologias na medição do comércio intra-ramo, bem como
dos custos de ajustamento que lhe estão associados e dos factores de competitividade mais
representativos nas exportações bilaterais permite concluir alguma alteração no padrão das
exportações e na competitividade relativa da economia portuguesa face a Espanha.
Pela consideração conjunta da representatividade dos factores de competitividade e do padrão do
comércio, conclui-se que o aumento do comércio intra-ramo poderá ter-se traduzido numa
melhoria da competitividade das exportações portuguesas para Espanha relativamente às
importações provenientes daquele país. Isto porque, para além da aproximação do padrão de
especialização no que respeita ao factor economias de escala e recursos naturais, o crescimento
mais acentuado do factor I&D e Trabalho nas exportações portuguesas para Espanha, associado
ao aumento mais que proporcional do comércio verticalmente diferenciado de forma positiva,
indicia uma melhoria da posição competitiva face a Espanha.
Uma análise sectorial considerando a repartição do comércio vertical que se diferencia
positivamente e negativamente, bem como dos custos de ajustamento relativos ao aumento do
comércio intra-ramo, evidencia, contudo, menores custos de ajustamento nos sectores associados
às máquinas e instrumentos mecânicos e eléctricos, ao sector automóvel e a alguns sectores a
26
montante daquele, como o de assentos e suas partes, onde houve simultaneamente aumento do
comércio intra-ramo e da competitividade. Esta análise é corroborada pelo aumento da
representatividade do factor economias de escala e da I&D nas exportações portuguesas,
associadas em particular ao sector automóvel e electrónico respectivamente.
No sector piscícola, os custos de ajustamento são relativamente reduzidos tendo-se registado na
maior parte deles aumento simultâneo do comércio intra-ramo e da competitividade.
Também a mesma leitura pode ser feita para a grande maioria dos sectores têxtil e vestuário,
onde a diferenciação é essencialmente positiva mas, neste caso, os custos de ajustamento são
significativos, com excepção de um sector que, no entanto, revelou redução do nível de comércio
intra-ramo. É de salientar que a representatividade destes sectores tem vido a diminuir, quer nas
exportações, quer nas importações e, pela tipologia dos factores de competitividade associados a
esta fileira, parece credível que a sua dependência do factor trabalho não qualificado continua a
ser preponderante.
Nos sectores do ferro, aço e alumínio e suas obras, onde a representatividade do comércio
bilateral tem vindo a aumentar, ocorre maioritariamente um comércio intra-ramo vertical,
caracterizado por diferenciação horizontal em produtos primários e diferenciação vertical
negativa em produtos finais. Os custos de ajustamento são também significativos, configurando-
se eventualmente uma deslocalização da actividade produtiva destes sectores à escala ibérica, em
prejuízo da competitividade nacional nestes sectores. Estas características também são sentidas
relativamente à grande maioria dos produtos do sector do plástico e suas obras, sendo que, num
produto primário associado ao sector, não se registaram custos de ajustamento.
Da mesma forma, a fileira da madeira, do florestal e de alguns sectores que lhe estão associados
a jusante, em particular o sector do papel, configuraram problemas de ajustamento. Esses
problemas foram sentidos de forma mais intensa no sector das madeiras onde, apesar da posição
exportadora líquida de alguns produtos, o comércio se caracterizou maioritariamente pela
diferenciação vertical negativa e revelou problemas de ajustamento.
27
BIBLIOGRAFIA
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Determinants of Trade Composition”, Weltwirtschaftliches Archiv, vol. 127(1), p. 83-97.
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