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INSTITUTO DO EM PREGO E FORM AÇÃO PRO FISSIONAL Delegação Regional do Norte Centro de Em prego e Form ação Profissional do Porto VIVER EM PORTUGUÊS UFCD 1.5. A Literatura do nosso tempo AÇÃO: FORMADORA: Dra. Paula Carvalho

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INSTITUTO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Delegação Regional do Norte

Centro de Emprego e Formação Profissional do Porto

VIVER EM PORTUGUÊS

UFCD 1.5. A Literatura do nosso tempo

AÇÃO:

FORMADORA: Dra. Paula Carvalho

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Resultados da Aprendizagem• Identifica características genéricas do texto literário. • Caracteriza genericamente os diferentes géneros literários. • Distingue os vários géneros literários. • Estabelece relações entre a literatura portuguesa do século XX e outras formas de expressão artística. • Identifica fontes de influência de diferentes correntes ou autores nacionais e estrangeiros. • Reconhece um conjunto de autores representativos do século XX e relaciona-os com a sua forma de escrita e

principais obras. • Desenvolve capacidades de leitura, interpretação, análise crítica e de apreço pela arte.

Conteúdos

• Conceito de literatura ……………………………………………………………………………………………………..

• Conceito de texto literário ………………………………………………………………………………………………..

• A literatura portuguesa do século XX …………………………………………………………………………………

• A relação da literatura portuguesa do século XX com outras formas de expressão artística ……………..

• Os autores e a sua produção literária - que géneros literários e que temáticas ……………………………..

− Agustina Bessa Luís ……………………………………………………………………………………………….

− António Lobo Antunes ……………………………………………………………………………………………….

− David Mourão Ferreira ……………………………………………………………………………………………….

− Dinis Machado …………………………………………………………………………………………………………

− José Cardoso Pires ……………………………………………………………………………………………………

− José Saramago ………………………………………………………………………………………………………

− Lídia Jorge ………………………………………………………………………………………………………………

− Manuel Alegre …………………………………………………………………………………………………………

− Sophia de Mello Breyner Andersen ………………………………………………………………………………

− Vergílio Ferreira ………………………………………………………………………………………………………

Carga horária 50 hA Literatura do nosso tempoUFCD

1.5

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LEITURA

Texto literário

Texto AObra de Saramago esgota em livrarias espanholasPublicado em 2010-06-22

Algumas livrarias espanholas esgotaram os seus stocks de livros de José Saramago desde a morte do escritor, na sexta-feira, vendendo principalmente títulos como "Caim", "Ensaio sobre a cegueira" e "A Viagem do Elefante"."Esgotámos todos os livros que tínhamos em stock do José Saramago", disse à Lusa uma fonte da Loja do Livro na rua de Alcala, em Madrid."Houve muita procura nos últimos dias e estamos à espera de mais livros só na próxima semana", explicou.O mesmo ocorreu no caso da loja do mesmo grupo na Gran Via, uma das mais movimentadas da cidade, onde as vendas de livros do escritor português registaram aumentos importantes."Colocámos uma mesa em destaque com todos os livros que temos dele em oferta. Tem havido muito mais vendas", explicou um responsável da loja sem especificar números.A procura tem sido tanto em relação a livros mais recentes como a títulos que há muito não se procuravam, o que leva a antecipar que "Saramago vai voltar ao top 10 de livros mais vendidos, com um ou dois títulos", acrescentou a mesma fonte.

http://www.jn.pt/Dossies/dossie.aspx?content_id=1599912&dossier=Jos%E9%20Saramago%201922-2010&page=1

Texto B

Vida e obra de José Saramago1922 - Nasce a 16 de Novembro na Rua da Alagoa de Azinhaga (Ribatejo, Golegã, Portugal) no seio de uma família de camponeses. 1924 - Muda-se para Lisboa com a família, onde o pai irá trabalhar na Polícia de Segurança Pública.1944 - Casa-se com a pintora Ilda Reis.1947 - Publica Terra do Pecado, o seu primeiro romance, intitulado inicialmente A Viúva.1966 - É editado o seu primeiro livro de poesia, Os Poemas Possíveis.1969 - Filia-se no Partido Comunista Português.Continua a publicar crónicas jornalísticas n'A Capital, na secção «Deste Mundo e do Outro».1970 - Divorcia-se de Ilda Reis.Muda-se para Lisboa, depois de viver doze anos na Parede.Inicia uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega, que durará até 1986.Publica o livro de poemas Provavelmente Alegria.1982 - Publica Memorial do Convento, que o consagra internacionalmente.Dá à estampa a segunda edição, revista e corrigida, de Provavelmente Alegria.1983 - Atribuição a Memorial do Convento do Prémio Pen Club 1983 e do Prémio Literário Município de Lisboa.1988 - Casa-se com a jornalista Pilar del Río.

http://josesaramago.blogs.sapo.pt/95483.htmlAcedido em 10-05-2013

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Texto CO disco amarelo iluminou-se. Dois dos automóveis da frente acelerar amantes que o sinal

vermelho aparecesse. Na passadeira de peões surgiu o desenho do homem verde. A

gente que esperava começou a atravessar a rua pisando as faixas brancas pintadas na

capa negra do asfalto, não há nada que menos se pareça com uma zebra, porém assim

lhe chamam. Os automobilistas, impacientes, com o pé no pedal da embraiagem,

mantinham em tensão os carros, avançando, recuando, como cavalos nervosos que

sentissem vir no ar a chibata. Os peões já acabaram de passar, mas o sinal de caminho

livre para os carros vai tardar ainda alguns segundos, há quem sustente que esta demora,

aparentemente tão insignificante, se a multiplicarmos pelos milhares de semáforos

existentes na cidade e pelas mudanças sucessivas das três cores de cada um, é uma das

causas mais consideráveis dos engorgitamentos da circulação automóvel, ou

engarrafamentos, se quisermos usar o termo corrente.

http://rparquitectos.weebly.com/uploads/2/6/6/9/266950/jose_saramago_-_ensaio_sobre_a_cegueira.pdf

LEITURA/COMPREENSÃO

1.1. Lê os três textos e preenche o quadro seguinte.

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embro-me como se fosse hoje.

Após meses de aprendizagem,

associando primeiro sons e

letras, depois sílabas umas às

outras, depois palavras inteiras

(com a lentidão arrastada de

quem soletra), houve um

momento em que comecei a ler

de seguida, sem tropeços, sem

hesitações. Foi como se me

tivessem dado asas. Um

prodígio, uma epifania, uma

iluminação. Sem dúvida um dos

momentos mais felizes da minha

vida. De repente, uma parte do

mundo que me estava vedada

até aí, a parte do mundo feita de

páginas de texto compacto,

escancarava por fim as suas

portas. E eu entrei por elas adentro. E nunca mais quis sair.

João Mário Silva, www.casadaleitura.org(acedido em 17-05-2013)

UNIDADE 1

TEXTO NARRATIVO

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INFORMAÇÃO

Fonte: Língua Portuguesa - 9.º ano, de Mª Ascensão Teixeira e Mª Assunção Bettencourt, 2004,

Texto Editores.

O texto Narrativo é aquele através do qual um narrador conta uma «história» em que entram personagens que se envolvem numa ação, situada num determinado tempo e num determinado espaço. O Texto Narrativo pode ser em prosa ou em verso, escrito ou oral  (narrativa de tradição oral).

Categorias ou Elementos do Texto Narrativo

1. Ação – Conjunto dos acontecimentos que constituem a «história». Estes acontecimentos são considerados principais ou secundários, conforme o seu grau de importância.

1.1. Organização das açõesA Ação pode ser constituída por várias ações, sempre relacionadas entre si. A relação entre as ações pode fazer-se: por encadeamento (as ações organizam-se diacronicamente), por encaixe (uma ação insere-se dentro de outra) ou por alternância (as ações desenrolam-se alternadamente).

1.2. «Momentos» (ou Partes) da AçãoUma narrativa fechada organiza-se, em regra, em três «momentos» ou partes:

• Situação inicial (introdução);• Sucessão de acontecimentos (desenvolvimento);• Desenlace (conclusão).

2. Espaço – Lugar onde decorre a ação.

3. Tempo – Momento em que ocorre a ação.

4. Personagens – Agentes ou intervenientes na ação.

4.1. Relevância• Principal ou protagonista — Desempenha o papel de maior importância.• Secundária – Desempenha papéis de menor relevo.• Figurante – Não desempenha qualquer papel específico, embora a sua existência seja

importante para a compreensão da ação.

5. Narrador – Aquele que conta a «história».

• Narrador participante - o narrador pode estar presente na ação como personagem principal ou secundária. Neste caso, a narração é feita na 1.ª pessoa.

• Narrador não participante - o narrador pode estar ausente e não desempenhar qualquer papel na ação. Neste caso, a narração é feita na 3.ª pessoa.

• Narrador subjetivo - o narrador pode ser parcial. • Narrador objetivo - o narrador pode ser absolutamente imparcial.

6. Modos de «Apresentação»

6.1. Narração – Apresentação de ações e acontecimentos reais ou imaginários.6.2. Descrição – Apresentação das personagens, dos objetos, dos ambientes, etc. Integra-se na

narração.6.3. Diálogo – Conversa entre personagens. Dá à «história» mais vivacidade e autenticidade.6.4. Monólogo – A personagem «fala» consigo própria.

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PRÉ-LEITURA

http://www.youtube.com/watch?v=BrvDXCBtPlo

LEITURA

Vivíamos então em Esposende, numa pequena casa de praia que comprámos à senhoria, uma senhora não sei se dinamarquesa. Foram quatro anos em que escrevi muito e conheci dias bons com o mundo e comigo mesma. Minha filha estava no colégio interna, meu marido advogava no Porto e saía de tarde, voltando à noite, ficando eu e os gatos numa espécie de encantamento, a ouvir o suspiro do mar. Vinha à porta o carrinho da fruta, e a mulher que vendia dizia: "não sei como se dá nesta pasmaceira". Para ela toda a boa fruta era do Douro, inclusive as bananas. Não passava ninguém na rua, os tamarindos vergavam com o vento. A peixeira Cravelha ensinou-me a tirar a pele às azevias.

Sem ser de índole marítima, porque o mar não me parece um elemento leal como a terra, em Esposende conheci dias duma perfeita harmonia comigo mesma. As pessoas foram boas para mim, com essa bondade que não se interpreta, só se regista.

A família foi-se reduzindo, só meu pai casou entre os irmãos. Só minha mãe teve filhos, sem muita convicção no seu papel maternal. Dizia sempre que os seus deveres a impediam de sair de casa, mas a verdade é que ela gostava da casa, como eu gosto, e da cidade, e do mundo que considero a minha casa. O Torga escreveu que lhe bastava uma escova de dentes para se sentir em casa. Eu viajo com um saco de água quente, gosto de água quente como os leões. A água quente foi a primeira noção de conforto do mundo pré-histórico, a primeira aproximação à civilização.

Agustina Bessa-Luís, O Livro de Agustina Bessa-Luís, Três Sinais Ed.

1. Tendo como base a leitura e interpretação do texto, justifica cada uma destas afirmações. O tempo em que a autora destas notas biográficas viveu em Esposende foi:– um tempo de solidão e isolamento desejados;– um tempo de intensa atividade profissional;– um tempo de harmonia.

2. “Então” (l. 1) funciona neste contexto como um deíctico. Justifica.

3. Em qual destes tipos de texto autobiográficos inseres estas “Notas autobiográficas”?a) memóriasb) diárioc) autorretrato

4. Com base nas considerações feitas neste texto pela própria, apresenta aspetos que poderiam constar num autorretrato de Agustina.

AGUSTINA BESSA-LUÍS1922…

Psiquiatra. Autor de obras como:Memória de elefante (1979), Os cus de Judas (1979), A explicação dos pássaros (1981), Auto dos danados (1985), As naus (1988), Manual dos inquisidores (1996), Não entres tão depressa nessa noite escura (2000), Segundo livro de crónicas (2002), Comissão das lágrimas(2011), entre muitas outras.

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José Saramago (1922-2010)

Autobiografia

“ Já não existe a casa em que nasci, mas esse facto é-me indiferente porque não guardo qualquer lembrança de ter vivido nela. Também desapareceu num montão de escombros a outra, aquela que durante dez ou doze anos foi o lar supremo, o mais íntimo e profundo, a pobríssima morada dos meus avós maternos, Josefa e Jerónimo se chamavam, esse mágico casulo onde sei que se geraram as metamorfoses decisivas da criança e do adolescente. Essa perda, porém, há muito tempo que deixou de me causar sofrimento porque, pelo poder reconstrutor da memória, posso levantar em cada instante as suas paredes brancas, plantar a oliveira que dava sombra à entrada, abrir e fechar o postigo da porta e a cancela do quintal onde um dia vi uma pequena cobra enroscada, entrar nas pocilgas para ver mamar os bácoros, ir à cozinha e deitar do cântaro para o púcaro de esmalte esborcelado a água que pela milésima vez me matará a sede daquele Verão. Então digo à minha avó: «Avó, vou dar por aí uma volta.» Ela diz «Vai, vai», mas não me recomenda que tenha cuidado, nesse tempo os adultos tinham mais confiança nos pequenos a quem educavam. Meto um bocado de pão de milho e um punhado de azeitonas e figos secos no alforge, pego num pau para o caso de ter de me defender de um mau encontro canino, e saio para o campo. (…)”

José Saramago, As pequenas Memórias, Editorial Caminho, 2008

Compreensão:1- No excerto acima transcrito, o narrador faz referência a um espaço que o marcou na sua

infância. 1.1- Identifica esse espaço.

1.2- Descreve-o, retirando expressões textuais.

1.3- Indica as diferentes reações do narrador em relação ao desaparecimento desse espaço?

2- Centra-te na figura do narrador. Classifica-o quanto à presença e justifica a tua resposta com dados textuais.

Conhecimento Explícito da Língua:3- Transcreve do texto exemplos de deíticos pessoais, temporais e espaciais.

4- Constrói o campo lexical do vocábulo «casa».

Expressão Escrita:

5- Escreve a tua autobiografia com algumas memórias marcantes da tua infância.

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Oralidade:1- Observa as imagens seguintes:

1) 2)

3) 4) 5)

6) 7)

1.1- Estabelece uma relação entre as figuras 1 e 2;1.2- Descreve as imagens das diferentes edições da obra Todos os nomes e faz uma previsão sobre o

assunto da mesma (figuras 3,4 e 5);1.3- Identifica as formas de expressão artística presentes nas figuras 6 e 7.

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D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmura na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre seca, insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre íntimos se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes, e segundo, material prova, se necessária ela fosse, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça. Além disso, quem se extenua a implorar ao céu um filho não é o rei, mas a rainha, e também por duas razões. A primeira razão é que um rei, e ainda mais se de Portugal for, não pede o que unicamente está em seu poder dar, a segunda razão porque sendo a mulher, naturalmente, vaso de receber, há-de ser naturalmente suplicante, tanto em novenas organizadas como em orações ocasionais. Mas nem a persistência do rei, que, salvo dificultação canónica ou impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal, nem a paciência e humildade da rainha que, a mais das preces, se sacrifica a uma imobilidade total. Depois de retirar-se de si e da cama o esposo, para que se não perturbem em seu gerativo acomodamento os líquidos comuns, escassos os seus por falta de estímulo e tempo, e cristianíssima retenção moral, pródigos os do soberano, como se espera de um homem que ainda não fez vinte e dois anos, nem isto nem aquilo fizeram inchar até hoje a barriga de D. Maria Ana. Mas Deus é grande. Quase tão grande como Deus é a basílica de S. Pedro de Roma que el-rei está a levantar.

José Saramago, Memorial do Convento

1- O excerto acima transcrito faz referência a duas personagens do romance. 1.1- Identifica-as.1.2- Caracteriza-as.1.3- O que é que estas personagens desejam/anseiam?

2- Explica por palavras tuas as seguintes expressões retiradas do primeiro parágrafo do excerto:2.1- “D. João, quinto do nome na tabela real,”; 2.2- “…ainda não emprenhou”;2.3- “a rainha, provavelmente, tem a madre seca”;2.4- “abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça”;

3- Faz uma pesquisa sobre a vida destas personagens históricas para verificares até que ponto elas conseguiram alcançar os seus objectivos.

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A consequência dos semáforosOdeio semáforos. Em primeiro lugar porque estão sempre vermelhos quando tenho

pressa e verdes quando não tenho nenhuma, sem falar do amarelo que provoca em mim uma indecisão terrível: travo ou acelero? travo ou acelero? travo ou acelero? acelero, depois travo, volto a acelerar e ao travar de novo já me entrou uma furgoneta pela porta, já se juntou uma data de gente na esperança de sangue, já um tipo de chave-inglesa na mão saiu da furgoneta a chamar-me Seu camelo, já a companhia de seguros me propõe calorosamente que a troque por uma rival qualquer, já não tenho carro por uma semana, já me ponho na borda do passeio a fazer sinais de náufrago aos táxis, já pago um dinheirão por cada viagem e ainda por cima tenho de aturar o pirilampo mágico e a Nossa Senhora de alumínio do tablier, o esqueleto de plástico pendurado do retrovisor, o autocolante da menina de cabelos compridos e chapéu ao lado do aviso «Não fume que sou asmático», proximidade que me leva a supor que os problemas respiratórios se acentuaram devido a alguma perfídia secreta da menina que não consigo perceber qual seja.

A segunda e principal razão que me leva a odiar os semáforos é porque de cada vez que paro me surgem no vidro da janela criaturas inverosímeis1: vendedores de jornais, vendedores de pensos rápidos, as senhoras virtuosas com uma caixa de metal ao peito que nos colam autoritariamente sobre o coração o caranguejo do Cancro, os matulões da Liga dos Cegos João de Deus nas vizinhanças de um altifalante sobre uma camioneta com um espadalhão novo em folha em cima, o sujeito digno a quem roubaram a carteira e que precisa de dinheiro para o comboio do Porto, o tuberculoso com o seu atestado comprovativo, toda a casta de aleijões2 (microcefálicos3, macrocefálicos4, coxos, marrecos, estrábicos5 divergentes e convergentes, bócios6, braços mirrados, mãos com seis dedos, mãos sem dedo nenhum, mongoloides7, dirigentes de partidos políticos, etc.) sem contar o grupo de Bombeiros Voluntários que necessita de uma ambulância, os finalistas de Coimbra, de capa e batina, que decidiram fazer uma viagem de fim de curso à Birmânia e a rapaziada da heroína que não conseguiu roubar nenhum leitor de cassetes nesse dia.

Resultado: no primeiro semáforo já não tenho trocos. No segundo não tenho casaco. No terceiro não tenho sapatos. No quinto estou nu. No sexto dei o Volkswagen. No sétimo aguardo que a luz passe a encarnado para assaltar por meu turno, de mistura com uma multidão de bombeiros, de estudantes, de drogados e de microcefálicos o primeiro automóvel que aparece. Em média mudo cinco vezes de vestimenta e de carro até chegar ao meu destino, e quando chego, ao volante de um camião TIR, a dançar numas calças enormes, os meus amigos queixam-se de eu não ser pontual.

António Lobo Antunes, Livro de crónicas. 2.a ed., Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999, pp. 21-22.

ANTÓNIO LOBO ANTUNES1942…

Psiquiatra. Autor de obras como:Memória de elefante (1979), Os cus de Judas (1979), A explicação dos pássaros (1981), Auto dos danados (1985), As naus (1988), Manual dos inquisidores (1996), Não entres tão depressa nessa noite escura (2000), Segundo livro de crónicas (2002), Comissão das lágrimas(2011), entre muitas outras.

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VOCABULÁRIO1 Inverosímil: improvável, que não tem aparência de verdade.2 Aleijão: pessoa com grave deformação física.3 Microcefálico: pessoa com massa encefálica diminuta.4 Macrocefálico: pessoa com desenvolvimento excessivo da cabeça.5 Estrábico: pessoa que tem estrabismo, uma doença ocular em que os raios visuais se desviam de modo a impedir as pupilas de se moveremou verem simultânea e regularmente.6 Bócio: aumento patológico do volume da tiroide.7 Mongoloide: expressão popular referente a quem é portador de síndrome de Down.

LEITURA/COMPREENSÃO

1. Seleciona as opções que permitem obter uma afirmação correta, a partir do texto.

1.1 O ódio aos semáforos leva o cronista a apresentar

[A] uma razão que justifique este sentimento.

[B] duas razões que justifiquem este sentimento.

[C] uma consequência deste sentimento.

[D] duas consequências deste sentimento.

1.2 O advérbio “já” utilizado repetidamente no primeiro parágrafo poderia ser substituído por

[A] “ou”.

[B] “assim”.

[C] “porque”.

[D] “e depois”.

2. Após a introdução (“Odeio semáforos.” – l. 1), o texto divide-se em três partes. Delimita-as.

2.1.Explicita o sentido da expressão que introduz cada parte.

3. Apresenta, em duas frases, o que justifica a afirmação do cronista “Odeio semáforos” (l. 1).

4. Explica de que forma o parágrafo final justifica o título da crónica, sabendo que a situação aí descrita não é real.

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Gramática

1. Seleciona, para responderes a cada item, a única opção que permite obter uma afirmação correta. 1.1 A frase em que a palavra “meu” é um determinante possessivo é

[A] Vou assaltar por meu turno aquele automóvel.

[B] Aquele automóvel parado no semáforo é meu.

[C]O teu carro está como novo, mas o meu já teve vários acidentes.

1.2 A frase em que a palavra “aquele” é um determinante demonstrativo é

[A] Chegaram os táxis: vou chamar aquele acolá.

[B] Aquele táxi tinha um pirilampo e um autocolante.

[C]Este táxi é mais rápido do que aquele.

2. Identifica a classe e a subclasse das palavras sublinhadas no texto.

No final do primeiro semáforo já não tenho nem um euro. Na segunda pa-ragem levam-me dois casacos e no terceiro vermelho um qualquer mendigo rouba-me tudo.

3. Reescreve os textos, substituindo as expressões sublinhadas pelo pronome pessoal adequado. a. “(...) no primeiro semáforo já não tenho trocos. No segundo não tenho casa-co. No terceiro não tenho sapatos

(…). No sexto dei o Volkswagen.” (ll. 32-34)

b. Eu daria a vida para me deixarem em paz.

4. Completa as frases com a forma correta de infinitivo (pessoal ou impessoal). a. Os taxistas têm santinhos no carro para (“proteger”) das

dificuldades.b. Os pedintes rodearam o carro para (“pedir”) uma esmola.

Escrita

A vida quotidiana é vista por muitos como difícil. As razões são inúmeras: o trânsito, a falta de tempos livres, o tempo de descanso reduzido...

Produz um texto de opinião, tendo em conta os tópicos apresentados. O texto deverá ter uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.

• Apresentação do tema a discutir.

• Indicação da posição relativamente ao tema.

• Exposição de dois argumentos que reforcem a posição pessoal.

• Referência de exemplos da vida quotidiana que comprovem os argumentos.

• Retoma da posição defendida.

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LEITURAEITUR

Vergílio Ferreira

1916 – 1996

Professor e escritor, reconhecido como um dos mais importantes ficcionistas portugueses do séc. XX.Publicou contos, romances, diários e ensaios. Manhã submersa e Aparição são exemplos de obras suas.

A GalinhaMinha mãe e minha tia foram à feira. Minha mãe com o meu pai e minha

tia com o meu tio. Mas todos juntos. Na camioneta da carreira. Na feira compraram muitas coisas e a certa altura minha mãe viu uma galinha e disse:

- Olha que galinha engraçada.E comprou-a também. Estava agachada como se a pôr ovos ou a

chocá-los. Era castanha nas asas, menos castanha para o pescoço, e a crista e o bico tinham a cor de um bico e de uma crista. Nas costas levara um corte a toda a volta para se formar uma tampa e meterem coisas dentro, porque era uma galinha de barro. Minha tia, que se tinha afastado, veio ver, estava a minha mãe a pagar depois de discutir. E perguntou quanto custava. A mulher disse que vinte mil réis, minha tia começou aos berros, que aquilo só se o fosse roubar, e a mulher vendeu-lhe uma outra igual por sete mil e quinhentos. Minha mãe aí não se conformou, porque tinha regateado mas só conseguira baixar para doze e duzentos. A mulher disse:

- Foi por ser a última, minha senhora.Minha tia confrontou as duas galinhas, que eram iguais, achando que a de

minha mãe era diferente.- Só se foi por ser mais cara – disse minha mãe com a ironia que pôde.Minha tia aqui voltou a erguer a voz. Não se via que era diferente? Não se

via que tinha o bico mais perfeito? E o rabo?- Isto é lá rabo que se compare?E tais coisas disse e tantas, com gente já a chegar-se, que minha mãe pôs

fim ao sermão, por não gostar de trovoadas:- Mas se gostas mais desta, leva-a, mulher.Foi o que ela quis ouvir. Trocou logo as galinhas, mas ainda disse:- Mas sempre te digo que a minha é de mais dura, basta bater-lhe assim

(bateu) para se ver que é mais forte.- Então fica com ela outra vez – disse minha mãe.- Não, não. Trafulhices, não. Está trocada, está trocada.Meu tio estava a assistir mas não dizia nada, porque minha tia dizia tudo

por ele e, se dissesse alguma coisa de sua invenção, minha tia engolia-o. Meu pai também estava a assistir, mas também não dizia nada, por entender que aquilo era assunto de mulheres. Acabadas as compras, minha mãe voltou logo com o meu pai na carroça do António Capador, que tinha ido vender um porco. Mas a minha tia ficava ainda com o meu tio, porque precisavam de ir visitar a D. Aurélia, que era uma pessoa importante e merecia por isso uma visita para se ser também um pouco importante. E como ficavam e só voltavam na camioneta da carreira, a minha tia pediu a minha mãe que lhe trouxesse a galinha, para não andar com ela o dia inteiro num braçado, que até se podia partir. De modo que disse:

- Tu podias levar-me a galinha, para não andar com ela o dia inteiro num braçado, que até se pode partir.

Minha mãe trouxe, pois, as duas galinhas na carroça do António Capador, e a minha tia ficou. E quando à tarde ela voltou da feira, foi logo buscar a sua. Minha mãe já a tinha ali, embrulhada e tudo como minha tia a deixara, e deu-lha. Mas minha tia olhou a galinha de minha mãe, que já estava exposta no aparador, e ao dar meia volta, quando se ia embora, não resistiu:

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- Tu trocaste mas foi as galinhas.Disse isto de costas, mas com firmeza, como quem se atira de cabeça. E minha mãe pasmou, de mãos erguidas ao céu:

- Louvado e adorado seja o Santíssimo Nome de Jesus! Então eu toquei lá na galinha! Então a galinha não está ainda conforme tu ma entregaste? Então tu não vês ainda o papel dobrado? Então não estarás a ver o nó do fio...Estavam só as duas e puderam desabafar.

- Trocaste, trocaste. Mas fica lá com a galinha, que não fico mais pobre por isso.Minha mãe, cheia de compreensão cristã e de horror às trovoadas, ainda pensou em destrocar tudo outra vez. Mas aquilo já ia tão para além do que Cristo previra, que bateu o pé:

- Pois fico com ela, não a quisesses trocar. Só tens gosto naquilo que é dos outros.E daqui para a frente, disseram tudo. Minha tia saiu num vendaval, desceu as escadas ainda

aos berros, de modo que minha mãe teve de vir à janela dizer mais coisas. Minha tia foi indo pela rua adiante, sempre aos gritos, e de vez em quando parava, voltando-se para trás para dizer uma ou outra coisa em especial a minha mãe, que estava à janela e lhe ia também respondendo como podia. Até que a rua acabou e minha mãe fechou a janela. E aí começou o meu pai, quando lá longe minha tia lhe passou ao pé e meu pai lhe perguntou o que havia e ela lhe disse o que havia, chamando mentirosa a minha mãe. Meu pai então disse:

- Mentirosa é você.E começou a apresentar-lhe os factos comprovativos do que afirmara e que já tinha decerto

enaipados de outras ocasiões, porque não se engasgava:- Mentirosa é você e sempre o foi. Já quando você contou a história do Corneta, andou a dizer

que...- Mentiroso é você, como sua mulher. Uma vez na padaria a sua mulher disse queE daí foram recuando no tempo à procura das mentiras um do outro. Estavam já chegando à

infância, quando apareceu o meu tio. Minha tia passou-lhe a palavra e começou ele. Mas como a coisa agora era entre homens, meu tio cerrou os punhos e disse:

- Eu mato-o, eu mato-o.Meu pai, que já devia estar cansado, ficou quieto, à espera que ele o matasse, e como ficou

quieto, meu tio recuou uns passos, tapou os olhos com um braço e disse outra vez:- Foge da minha vista que eu mato-te.Entretanto olhou em volta à espera que o segurassem. E quando calculou que tudo estava a

postos para o segurarem, ergueu outra vez os punhos e avançou para o meu pai. Finalmente seguraram-no, e meu tio estrebuchou a querer libertar-se para matar o meu pai. Mas lá o foram arrastando, enquanto o meu tio se voltava ainda para trás, escabujando de raiva e de ameaça.

E chegada a coisa a este ponto, era a altura de se formarem partidos, como sempre que há uma razão para se formarem partidos. Velhos ódios, invejas e ciúmes vieram ao de cima para um ajuste de contas. No domingo seguinte, já com vinho a empurrar, houve mesmo facadas. O Cometa tinha com o Catrelha uma questão de águas de há séculos e aproveitou. Os partidos subdividiram-se assim em grupos pelo Catrelha e pelo Corneta. Foi quando o Bóia, que não gramava o Capador desde a história de um porco mal capado, adiantou na taberna que as galinhas possivelmente tinham sido trocadas por ele, que não gramava o meu tio desde uma história de mordomia do Mártir S. Sebastião. O Carapanta ouviu e foi dizer. Num outro domingo, e já entusiasmado de briol, o Capador pediu satisfações. Armou-se então um arraial cujo balanço deu três feridos com facadas, dois à paulada e um morto com um tiro de caçadeira. E desde então toda a aldeia ficou em pé de guerra. Metade da população foi metida na cadeia, mas depois de muitos interrogatórios não se passou daquilo que já se sabia e era quem tinha ficado ferido e quem tinha ficado morto. De modo que se reconstituiu a população com a libertação dos presos. E dado isso, recomeçou-se outra vez. No domingo seguinte, melhorou-se o saldo com dois mortos e vinte feridos. Veio a guarda e levou a outra metade da população com um ou outro elemento da primeira metade. Mas não se melhorando o resultado das investigações, uns dois ou três meses depois voltou tudo para casa, até porque a metade que ficara livre ia continuando o trabalho, com um saldo, aliás pouco brilhante, de cinco feridos e um moribundo. Trocadas as metades e recomeçadas as investigações sem resultado, houve quem propusesse meter tudo na cadeia. Mas havia o problema dos velhos e das crianças, que precisavam dos outros e talvez estivessem inocentes, e veio tudo outra vez para a rua. Mas agora, aos domingos, a aldeia ficava coalhada de guardas.

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A princípio deu resultado, porque nas discussões não se passou de palavras. Até que certa vez uma pedrada anónima acertou em cheio na cabeça de um agente e logo se armou uma sarrabulhada enorme, com gritos, gente a fugir e tiroteio para o ar. E como a dada altura as pedradas recomeçaram, o tiroteio recomeçou também, mas mais baixo. O saldo dessa vez foi francamente positivo, com cinco mortos e vinte feridos. E como a luta continuou, alguns habitantes, que não podiam estar à espera de que acabasse, foram morrendo de morte natural. E como havia intervalos na luta com a autoridade, alguns habitantes aproveitavam para irem entre si acertando contas em atraso.

Verificada a certa altura a insuficiência da guarda, veio a tropa. Primeiro a infantaria, depois a cavalaria, esperando-se depois a artilharia. Reduzida a população a metade, também as habitações, talvez por serem desnecessárias, ficaram reduzidas a metade. E quando finalmente os combatentes rarearam ou sucumbiram a uma imprevista cobardia, a luta cessou. E acabada a luta, recomeçou a paz. No meu balanço pessoal verifiquei a morte de meu tio com três facadas a uma esquina e a morte natural de meu pai, que aliás, cumprida a sua missão no barulho, se reformara logo a seguir. E alguns anos depois de se fazerem as pazes, morreu minha mãe.

Como eu era o único herdeiro, dispus-me a tomar posse do que era meu. Mas por isso mesmo, a primeira coisa que entendi necessária foi arrumar a cacaria com que minha mãe fora adornando a casa. Antes de mais, atirei-me aos santos de toda a hierarquia celeste, porque sou ateu. Havia-os em estampas, em louça, em metal. Dependurados em molduras, metidos em redomas, com ou sem lamparina. E em livros de missa, folha sim, folha não. E, escacada a santaria, dispus-me a atacar o resto. Irritavam-me sobretudo os vasinhos que se multiplicavam por todo o lado e umas andorinhas em louça pregadas na parede da sala de visitas. E estava eu nisto quando chegou a minha tia. Ela fora ao enterro de minha mãe, fora lá a casa dar os sentimentos, abraçando-se-me aos gritos antes de eu ter tempo de uma reação apropriada. Entrada que foi agora, estava eu na tarefa da limpeza, sentou-se compungida e disse:

- Olha, filho, o que lá vai lá vai e só Deus sabe o que tenho chorado e rezado pela tua mãe.Calou-se. Eu, como não tinha nada a objectar, também não disse nada. E minha tia,

aproveitando o silêncio, disse:- Ai!...Eu continuei calado, por não haver razão para falar. Mas qualquer coisa em mim se fora

preparando para o que viria, porque quando veio não me surpreendi. E o que veio foi:- Olha, meu filho.Minto. Antes disso, minha tia disse ainda:- Ai!...E só então, sim:- Olha, meu filho, eu tinha uma coisa a pedir-te. Tu sabes, enfim, como foi o caso da galinha. A

tua mãe, que Deus tenha...Interrompi-a:- Quer a galinha? Leve-a.Ela teve ainda um clarão de cólera:- Não a quero! Não quero o que é teu! Quero só, só o que é meu.E amansou. Baixou o tom:- Queria só que ma trocasses. Trago aqui esta.E tirou-a de um cabaz, pondo-a ao pé da outra no aparador. Eu sorri:- Leve as duas.- Não quero o que é teu! - disse ela outra vez, alçando o tom.Sorri outra vez também:- Deixe então essa e leve a outra.Ela agradeceu, já sossegada, de olhos baixos e virtuosos. Abri a tampa da galinha – estava

cheia de estampas, carros de linha, agulhas, amostras de fazenda. E comecei a tirar. Minha tia, então, de súbito, deitou as mãos ao ventre, ergueu para mim uns olhos necessitados.

- Ao fundo do corredor – disse eu. - Veja se há papel.Ela foi, eu continuei o despejo. No fundo da galinha havia uma estampa de Santa Bárbara.

Achei piada, deixei-a ficar. Especializada em trovoadas, a santa, tê-la-ia posto ali a minha mãe? Deixei-a ficar. Minha tia regressou, mais reconciliada com a vida. Fui dentro procurar papel para o embrulho, mas ela interrompeu-me:

- Não é preciso.

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LEITURA/COMPREENSÃO

1. De entre as seguintes afirmações, assinala com (V) aquelas que são verdadeiras e com (f) aquelas que são falsas.

a) Os pais e os tios do narrador encontraram-se para irem juntos a uma feira.

b)A mãe e a tia do narrador compraram objetos diferentes pelo mesmo preço.

c)No fim das compras, todos regressaram a casa na camioneta da carreira.

d) A suspeita de uma troca das galinhas foi a causa do desentendimento entre as duas mulheres.

e)As galinhas de barro eram mesmo diferentes uma da outra.

f)Os homens envolveram-se na discussão para acalmar os ânimos.

2.Indica a causa do desentendimento entre as duas irmãs.

3.Caracteriza a evolução da zanga iniciada pelas duas mulheres, referindo os espaços onde decorre.

4.Dá exemplos de fatores que agravam o desentendimento inicial.

5.Consideras que o narrador assume uma atitude imparcial relativamente à zanga da sua família? Justifica a tua resposta com exemplos do texto.

6.Enumera as consequências da zanga das duas irmãs até ao momento em que «acabada a luta começou a paz» (linha 151). Inicia a tua resposta da seguinte forma: Por causa da galinha de barro comprada na feira…

7.Explicita a intenção crítica do autor e a moralidade deste conto.

8.Escolhe a frase que melhor define a linguagem usada no conto.a) O conto «A galinha» apresenta de forma divertida, recorrendo à ironia, acontecimentos

exageradamente trágicos.b) O conto «A galinha» apresenta de forma séria acontecimentos trágicos.

Mal eu virara costas, empalmara logo a galinha, metera-a no cesto. Abraçou-me e chorou. Não percebi porquê – chorou. Acompanhei-a à porta, regressei à sala. Então, com um ódio reforçado, fui-me à galinha de martelo no ar. Os cacos voaram para todo o lado. Já não havia mais galinha, mas eu continuava a martelar. Até que, enfim, parei. E só então é que vi: entre a cacaria que se espalhara em volta, mesmo no meio dos destroços, estava a estampa de Santa Bárbara.

Vergílio Ferreira, Contos, Lisboa, Quetzal, 2009, pp.151-158

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ESCRITA

1. Resume o conto «A galinha» de Vergílio Ferreira em 200 a 250 palavras.

COMO FAZER

1. Lê o texto e tenta compreendê-lo bem. Identifica as ideias principais, parágrafo a parágrafo.

 podes sublinhá-las, durante a leitura. podes fazer um esquema, no fim da leitura, para organizar o texto e os parágrafos.

2. Começa a escrever o teu resumo, respeitando sempre o conteúdo do texto e o pensamento do autor.

 procura não incluir pormenores desnecessários. substitui ideias repetidas ou semelhantes por uma que as englobe. utiliza termos genéricos em vez de listas. utiliza uma linguagem pessoal.

3. Lê o teu resumo e avalia-o, corrigindo os aspetos que achares necessários.

 contém as ideias principais ? a ideia do autor está respeitada ? o texto percebe-se bem? não há pormenores nem repetições?

4. Faz outra leitura do teu resumo, preenche a lista de verificação e aperfeiçoa a linguagem do texto (ortografia, construção de frases, etc.) se for necessário.

 Lista de verificação do resumo

Aspetos a considerar Sim Não Não observado

1. Referi apenas as ideias ou factos principais do texto original.2. Omiti ou substituí as listas ou enumerações por uma designação mais geral.Evitei o recurso a expressões explicativas do tipo "isto é", "como se sabe", etc.4. Respeitei a ordem das ideias do texto original.

5. Transformei o discurso direto em discurso indireto.6. Excluí pormenores irrelevantes, exemplos, citações, pequenas histórias a propósito.7. Evitei copiar frases ou expressões do texto.

8. Articulei bem os parágrafos e as frases.9. O texto resumido não excede 1/3 do número de linhas do texto original.

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PRÉ-LEITURA

http://vimeo.com/44281081

LEITURA

Uma simples flor nos teus cabelos claros

«Mas a meio caminho voltou para trás, direita ao mar. Paulo ficou de pé no areal, a vê-la correr: primeiro chapinhando na escuma rasa e depois contra as ondas, às arrancadas, saltando e sacudindo os braços, como se o corpo, toda ela, risse.

Uma vaga mais forte desfez-se ao correr da praia, cobriu na areia os sinais das aves marinhas, arrastou alforrecas abandonadas pela maré. Eram muitas, tantas como Paulo não vira até então, espapaçadas e sem vida ao longo do areal. O vento áspero curtira-lhes os corpos, passara sobre elas, carregado de areia e de salitre, varrendo a costa contra as dunas, sem deixar por ali vestígios de pegada ou restos de alga seca que lhe resistissem.»

«Marcaste o despertador»«Hã?»«O despertador, Quim. Para que horas o puseste?»«...E tudo à volta era névoa, fumo do mar rolando ao lume das águas e

depois invadindo mansamente a costa deserta. Havia esse sudário fresco, quase matinal, embora, cravado no céu verde-ácido, despontasse já o brilho frio da primeira estrela do anoitecer...»

«Desculpa, mas não estou descansada. Importas-te de me passar o despertador?»

«O despertador?»«Sim, o despertador. Com certeza que não queres que eu me levante

para o ir buscar. És de força, caramba.»«Pronto. Estás satisfeita?»«Obrigada. Agora lê à vontade, que não te torno a incomodar. Eu não

dizia? Afinal não lhe tinhas dado corda... Que horas são no teu relógio? Deixa, não faz mal. Eu regulo-o pelo meu.»

«- Mais um mergulho - pedia a rapariga.A dois passos dele sorria-lhe e puxava-o pelo braço;- Só mais um, Paulo. Não imaginas como a água está estupenda.

Palavra, amor. Estupenda, estupenda, estupenda.Uma alegria tranquila iluminava-lhe o corpo. A neblina bailava em torno

dela, mas era como se a não tocasse. Bem ao contrário: era como se, com a sua frescura velada, apenas despertasse a morna suavidade que se libertava da pele da rapariga.

- Não, agora já começa a arrefecer - disse Paulo. - Vamo-nos vestir?Estavam de mãos dadas, vizinhos do mar e, na verdade, quase sem o

verem. Havia a memória das águas na pele cintilante da jovem ou no eco discreto das ondas através da névoa; ou ainda no rastro de uma vaga mais forte que se prolongava, terra adentro, e vinha morrer aos pés deles num distante fio de espuma. E isso era o mar, todo o oceano. Mar só presença. Traço de água a brilhar por instantes num rasgão do nevoeiro.

Paulo apertou mansamente a mão da companheira;- Embora?- Embora - respondeu ela.

José Cardoso Pires

1925 – 1998

José Cardoso Pires desenvolveu a sua carreira literária ao longo de quase cinquenta anos. Cultivou vários géneros, do romance à crónica, do conto à novela, passando pelo ensaio e pelo teatro.

Entre várias distinções, o escritor recebeu o Grande Prémio de Romance e Novela (em 1982, pelo romance Balada da Praia dos Cães) e o Prémio Vida Literária (em 1998) da Associação Portuguesa de Escritores.

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E os dois, numa arrancada, correram pelo areal, saltando poças de água, alforrecas mortas e tudo o mais, até tombarem de cansaço.»

«Quim... »«Outra vez?»«Desculpa, era só para baixares o candeeiro. Que maçada, estou a ver que tenho de tomar outro

comprimido.»«Lê um bocado, experimenta.»«Não vale de nada, filho. Tenho a impressão de que estes comprimidos já não fazem efeito. Talvez

mudando de droga... É isso, preciso de mudar de droga.»«- Tão bom, Paulo. Não está tão bom?- Está óptimo. Está um tempo espantoso.Maria continuava sentada na areia. Com os braços envolvendo as pernas e apertando as faces contra os

joelhos, fitava o nada, a brancura que havia entre ela e o mar, e os olhos iam-se-lhe carregando de brilho.- Tão bom - repetia. - Sim, mas temos que ir.Com o cair da tarde a névoa desmanchava-se pouco a pouco. Ficava unicamente a cobrir o mar, a

separá-lo de terra como uma muralha apagada, e, de surpresa, as dunas e o pinhal da costa surgiam numa claridade humilde e entristecida. Já de pé, Paulo avistava ao longe a janela iluminada do restaurante.

- O homem deve estar à nossa espera - disse ele. - Ainda não tens apetite?- E tu, tens?- Uma fome de tubarão.- Então também eu tenho, Paulo.- Ora essa?- Tenho, pois. Hoje sinto tudo o que tu sentes. Palavra.«Se isto tem algum jeito. Qualquer dia já não há comprimidos que me cheguem, meu Deus.»«Faço ideia, com essa mania de emagrecer... »«Não, filho. O emagrecer não é para aqui chamado. Se não consigo dormir, é por outras razões. Olha,

talvez seja por andar para aqui sozinha a moer arrelias, sem ter com quem desabafar. Isso, agora viras-me as costas. Nem calculas a inveja que me fazes.»

«Pois.»«Mas sim, fazes-me uma inveja danada. Contigo não há complicações que te toquem. Voltas as costas e

ficas positivamente nas calmas. Invejo-te, Quim. Não calculas como eu te invejo. Não acreditas?»«Acredito, que remédio tenho eu?»«Que remédio tenho eu... É espantoso. No fim de contas ainda ficas por mártir. E eu? Qual é o meu

remédio, já pensaste? Envelhecer estupidamente. Aí tens o meu remédio.»«Partiram às gargalhadas. À medida que se afastavam do mar, a areia, sempre mais seca e solta,

retardava-lhes o passo e, é curioso, sentiam as noite abater-se sobre eles. Sentiam-na vir, muito rápida, e entretanto distinguiam cada vez melhor, as piteiras encravadas nas dunas, a princípio pequenas como galhos secos e logo depois maiores do que lhes tinham parecido à chegada. E ainda as manchas esfarrapadas dos chorões rastejando pelas ribas arenosas, o restaurante ermo, as traves; de madeira roídas pela maresia e, cá fora, as cadeiras de verga, que o vento tombara, soterradas  na areia.

- O mar nunca aqui chega - tinha dito o dono da casa. - Quando é das águas vivas, berra lá fora como um danado. Mas aqui, não senhor. Aqui não tem ele licença de chegar.»

«A verdade é que são quase duas horas e amanhã não sei como vai ser para me levantar. Escuta...»«Que é?»«Não estás a ouvir passos?»«Passos?»

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«Sim. Parecia mesmo gente lá dentro, na sala. Se soubesses os sustos que apanho quando estou com insónias. A Nanda lá nisso é que tem razão. Noite em que não adormeça veste-se e vai dar uma volta com o marido, a qualquer lado.

Acho um exagero, eu nunca seria capaz de te acordar... mas, enfim, ela lá sabe. O que é certo é que se entendem à maravilha um com o outro. E isso, Quim, apesar de ser a tal tipa, que tu dizes. Também, ainda estou para ter uma amiga que na tua boca não seja uma tipa ou uma galinha.»

José Cardoso Pires, Jogos de Azar, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1999 (7ª ed.).

LEITURA/COMPREENSÃO

Seleciona a hipótese correta para completar a afirmação:

1. A história que conhecemos apenas pelo diálogo das personagens é protagonizada por um casalenvolvido em forte paixão.

separado.

recém-casado.

já casado há algum tempo.

2. As tentativas para manter a conversa sãoforçadas pela mulher, mas recusadas pelo homem.

iniciadas pelo homem, mas rejeitadas pela mulher.

forçadas pelo homem, mas bem acolhidas pela mulher.

bem acolhidas pelas duas personagens.

3. A troca de palavras entre as duas personagens deixa entreverum certo cansaço no seu relacionamento.

um clima de paixão entre ambas.

o interesse da mulher pelos assuntos do companheiro.

o interesse do homem pelo que se passa à sua volta.

4. As passagens em itálico correspondemaos pensamentos de Quim, que recorda a juventude.

aos pensamentos da companheira, que relembra um passeio na praia.

à história que Quim está a ler.

ao livro que Quim está a escrever.

5. O comportamento dos protagonistas da segunda história mostra-nos um casalem idílio amoroso.

cansado, depois de um dia na praia.

sem sonhos.

preocupado com as horas.

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O teatro é a poesia

que sai do livro e

se faz humana.

Federico García Lorca

UNIDADE 2

TEXTO DRAMÁTICO

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Sophia de Mello Breyner Andersen (1919-2004)

Biografia Nasceu no Porto a 6 de novembro de 1919. Foi nessa cidade e na praia da Granja que passou a sua infância e juventude. Antes de aprender a ler, já sabia de cor poemas de Camões e Antero de Quental, tendo escrito os seus primeiros poemas com apenas 12 anos. Frequentou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. Casou com o jornalista Francisco Sousa Tavares de quem teve cinco filhos, que a motivaram a escrever contos para crianças, como O Cavaleiro da Dinamarca e Contos Exemplares. Foi poetisa, contista e tradutora, tendo colaborado em jornais e revistas com poesias e alguns ensaios. Motivos concretos e símbolos excepcionais para cantar o amor e o trágico da vida foi buscá-los ao mar e aos pinhais que contemplou na praia da Granja; com a sua formação helenística, encontrou evocações do passado para sugerir transformações do futuro; pela sua constante atenção aos problemas do Homem e do mundo, criou uma literatura de empenhamento social e político, de compromisso com o seu tempo e de denúncia das injustiças e da opressão. Em 1968, muitos dos seus poemas foram reunidos em Antologia; em 1970, os poemas de intervenção permitiram a coletânea Grades; em 1990 começou uma edição, em três tomos, de toda a Obra Poética. A sua vasta obra foi agraciada com vários prémios destacando-se o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores e o Prémio Camões.

ALGUMAS OBRASPoesia: Poesia (1944), Dia do Mar (1947), Coral (1950), Tempo Dividido (1954), Mar Novo (1958), Livro Sexto (1962), Geografia (1967), Antologia (1968), Grades (1970), Dual (1972), Nome das Coisas (1977), Poemas Escolhidos (1981), Poemas Escolhidos (1981), Navegações (1983), Ilhas (1989), Obra Poética I a III (1990-1991), O Búzio de Cós e Outros Poemas (1997).Prosa: O Rapaz de Bronze (1956), A menina do Mar (1958), A Fada Oriana (1958), Contos Exemplares (1962), O Cavaleiro da Dinamarca (1964), A Floresta (1968), Histórias da Terra e do Mar (1984), A Árvore (1985).

1- Depois de uma leitura atenta do texto, completa o seguinte quadro:

Biografia de Sophia de Mello Breyner Andersondata de nascimento

naturalidade

formação académicainstituição de ensino

profissão

duas obras publicadas

temáticas abordadas

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Em todo o acaso

Remancha, poeta,

Remancha e desmancha

O teu belo plano

De escrever p’la certa.

Não há «p’la certa», poeta!

Mas em todo o acaso acerta

Nem que seja a um verso por ano…

Alexandre O´Neill, Poesias Completas.

UNIDADE 3

TEXTO POÉTICO

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LEITURA

LE LEITURA/COMPREENSÃO

1. “E por vezes”, o título do poema, repete-se onze vezes, tornando-se assim, na expressão-chave. Que ideia-chave procura transmitir?

2. Procura, no poema, as expressões que melhor correspondam às seguintes linhas de sentido: A dimensão psicológica do tempo; A impossibilidade de agarrar o tempo; A mutabilidade e permeabilidade do ser humano; O engano da memória; A mutabilidade dos afetos; A confusão emocional a que estamos sujeitos.

3. Explica de que forma é sugerido o fim de frase, neste texto sem pontuação.

4. Apesar do seu tom repetitivo, o poema apresenta uma construção lógica muito interessante. Mostra alguns mecanismos de progressão textual utilizados.4.1. Explica a solução encontrada para o remate do texto.

5. Faz a análise da estrutura formal do poema.

E por vezesE por vezes as noites duram mesesE por vezes os meses oceanosE por vezes os braços que apertamosnunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meseso que a noite nos fez em muitos anosE por vezes fingimos que lembramosE por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanossó o sarro das noites não dos meseslá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramosE por vezes por vezes ah por vezesnum segundo se envolam tantos anos.

Matura Idade (1972)

David Mourão-Ferreira

1927-1996

Foi professor da Faculdade de Letras de Lisboa.Da sua obra destacamos Os Amantes e outros Contos, o romance Um Amor Feliz e toda a poesia reunida em Obra Poética.

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Biografia

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Sophia Fundo do mar

No fundo do mar há brancos pavores,Onde as plantas são animaisE os animais são flores.

Mundo silencioso que não atingeA agitação das ondas.Abrem-se rindo conchas redondas,Baloiça 0 cavalo-marinho.Um polvo avançaNo desalinhoDos seus mil braços,Uma flor dança,Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisaLeve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisaTem um monstro em si suspenso.

Sophia de Mello Breyner Andersen, Obra Poética I Círculo de Leitores, 1992

Compreensão:1- Ao longo do poema, o sujeito poético faz uma descrição do fundo do mar. 1.1- Indica o que aí se encontra.1.2- Refere os sentimentos que desperta o fundo do mar no sujeito poético e justifica a

tua resposta com dados textuais.

2- A personificação surge como uma constante na segunda estrofe. Ilustra a afirmação com três exemplos.

3- Identifica a figura de estilo presente na terceira estrofe.

4- Relê o último dístico do poema e explica-o por palavras tuas.

Conhecimento Explícito da Língua:

5- Constrói o campo lexical de «mar», transcrevendo exemplos do poema.

6- Apresenta cinco vocábulos da família de «mar».

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Expressão Escrita:

7- É usual associar o mar às férias. Redige um texto pessoal recontando um episódio que tenhas vivido ou que tenhas assistido junto ao mar.

Aprender noutros contextos:

8- Lê o seguinte poema e relaciona-o com o poema analisado anteriormente.

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Continua….

http://www.youtube.com/watch?v=ZctBgCoZ2dg

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