web aula 1
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AULA HISTORIATRANSCRIPT
Visão geral
Apresentação da disciplina:
Bem vindo à História Contemporânea. Quero que você saiba que a História é apaixonante, ela nos seduz. E esse é um
amor complicado. Estamos sempre descobrindo coisas novas, olhando de diferentes lugares essa antiga paixão. Ela
está constantemente mudando, nos surpreendendo.
Nesta disciplina, em específico, estamos interessados nos acontecimentos do século XIX até o início do século XXI. E
como temos o que descobrir!!! Cerca de 200 anos, em que a humanidade conheceu as belas e também as mais terríveis
criações humanas. Descobrimos como multiplicar os alimentos e mantivemos milhões passando fome.
Inventamos a anestesia, mas não eliminamos a dor.
Na organização de nosso curso, preferi tratar das características gerais do período. O objetivo dessa
abordagem é fornecer ferramentas para que você, futuro professor de História, possa compreender os acontecimentos
históricos e não apenas repeti-los em sala de aula.
Objetivos:
Compreender o período histórico costumeiramente conhecido como História Contemporânea. Perceber as
permanências e as rupturas próprias do período estudado: expansão capitalista, hegemonia da ciência, emergência do
nacionalismo, as duas grandes guerras mundiais, guerra fria, descolonização, revolução cultural, crises econômicas
do século XX, ascensão e queda do mundo socialista, globalização, mundo pós-moderno.
Conteúdo Programático:
- Expansionismo e imperialismo;
- Os conflitos capital/trabalho e o advento do socialismo;
- Partilha da África e da Ásia;
- Formação dos estados nacionais (Itália e Alemanha);
- A crise do capitalismo;
- Os movimentos nazifascistas e as grandes guerras.
- Guerra Fria
- Conflitos originários da guerra fria
- Descolonização da África e da Ásia
- Revolução Cultural
- Crise do socialismo – fim da URSS
- Globalização
- Pós-modernidade
Metodologia:
Os conteúdos programáticos ofertados nesta disciplina serão desenvolvidos por meio das Teleaulas de forma expositiva e
interativa (chat - tira dúvidas em tempo real), Aula Atividade
por Chat para aprofundamento e reflexão e Web Aulas que estarão disponíveis no Ambiente Colaborar, compostas de
conteúdos de aprofundamento, reflexão e atividades de aplicação dos conteúdos e avaliação. Serão também
realizadas atividades de acompanhamento tutorial, participação em Fórum, atividades práticas e estudos
independentes (autoestudo) além do Material didático da disciplina.
Avaliação Prevista:
O sistema de avaliação da disciplina compreende assistir a teleaula, participação no fórum, produções textuais
interdisciplinares (Portfólio), realização de avaliações virtuais e avaliação presencial embasada no material
didático, teleaulas, web aula e material complementar.
HISTÓRIA CONTEMPORÃNEA
Unidade 1 – O Hambúrguer Nosso de Cada Dia
Web Aula 1 – A Comida entrou na Lata
Costumeiramente, consideramos que as chamadas grandes navegações deram início ao que se denomina globalização. Realmente, um dos
resultados dessas viagens foi a expansão comercial dos europeus pelo
mundo. Essa expansão corresponde à colonização da América realizada nos séculos XVI e XVII pelos europeus. Antes desses eventos, já havia contato
entre africanos, europeus e asiáticos. As famosas especiarias são bons exemplos desse intercâmbio comercial. Diversos tipos de produtos
alimentícios considerados exóticos chegavam às mesas daqueles que podiam pagar.
O processo de conquista de diversas regiões do mundo efetuado pelos europeus proporcionou grandes mudanças culturais e sociais em todo o
globo. Povos diversos passaram a manter contato, muitas vezes conflituoso. Paralelamente às idas e vindas dos comerciantes, militares e missionários,
ocorreu disseminação dos mais variados alimentos. O milho e a batata, nativos da América, passaram a fazer parte da alimentação de milhões de
pessoas no mundo todo. O mesmo podemos afirmar do arroz, planta vinda da Ásia que conquistou lugar na mesa de bilhões de pessoas. Outra grande
mudança ocorreu durante o período de constituição e consolidação da Revolução Industrial.
Sugestão de Leitura
Leia o seguinte artigo, que trata sobre a relação entre alimentação e
história:
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/historia/article/view/4643/3797
Época marcada pela Revolução Industrial, os séculos XVIII e XIX caracterizam-se pelo surgimento e o uso de máquinas para a produção de
bens de consumo. Mais do que isso, a Revolução Industrial correspondeu a grandes transformações nas comunicações e nos transportes. O
desenvolvimento científico igualmente foi característico da época. Em busca de mercados consumidores e fontes de matéria prima, os europeus partiram
para a conquista de extensas áreas da África e da Ásia. Convencidos da superioridade dos brancos cristãos, as potências europeias não hesitaram
em dominar civilizações inteiras, colonizando-as. É o processo que chamamos de neocolonialismo ou imperialismo (considerando não
exatamente a mesma coisa, pois imperialismo é um conceito mais amplo
que neocolonialismo).
O trem é um dos principais símbolos da Revolução Industrial.
Podemos, com segurança, afirmar que a Revolução Industrial foi também
uma Revolução Alimentar. Sabemos que a alimentação e as formas de consegui-la não se alteraram substancialmente até a metade do século XIX.
A base da alimentação da maioria dos europeus era formada pelos cereais, que são fáceis de armazenar por longos períodos e podem ser preparados
de diversas formas. Consumia-se também ervilha, feijão e lentilha.
Produtos de origem animal, como carne ou manteiga, eram caros e não eram consumidos diariamente. Mesmo os camponeses que moravam em
lugares onde havia criação de gado consumiam pouca carne, pois, em geral,
o gado abatido era vendido nos centros urbanos, para servirem à mesa dos mais abastados.
Frutas e verduras não eram muito consumidas, pois não saciavam a fome.
Temos de lembrar que ainda não se conheciam os elementos componentes dos alimentos e que são necessários à vida. Assim, a alimentação era
avaliada pela capacidade de matar a fome e não pelo seu valor nutricional. Além disso, esses alimentos não eram lavados e, portanto, eram
consumidos mesmo contaminados com micro-organismos patológicos ainda desconhecidos.
Os temperos também não eram muito comuns. Mesmo o açúcar, que teve
seu consumo aumentado a partir do século XVI – quando as imensas plantações na América passaram a alimentar o mercado europeu -, não era
acessível facilmente à maioria da população. Somente quando o açúcar de beterraba passou a ser produzido é que seu preço ficou mais barato.
A variedade de alimentos disponíveis, mesmo para as classes mais ricas, nos causaria estranheza pela pouca diversidade de opções. No campo, os
alimentos eram preparados em casa, a partir do que se produzia nas
propriedades rurais; nas cidades, consumia-se aquilo que se adquiria dos agricultores próximos.
[...] a alimentação anterior à era industrial era relativamente deficiente pelos padrões
modernos, de difícil digestão, com frequência malfeita, inadvertida ou deliberadamente
adulterada e sujeitava o consumidor a doenças que poderiam levar à morte. O alto índice
de mortalidade, em especial de crianças pequenas, devia-se em grande parte a alimentos
inadequados e anti-higiênicos. (TEUTEBERG, 2009, p. 234-235).
O nascimento da alimentação contemporânea ocorreu durante o final do século XVIII e o século XIX, devido ao processo de revolução agrícola e
industrial ocorrido nessa época. Além disso, a expansão comercial que acompanhou o neocolonialismo forneceu inúmeros produtos que alteraram
a dieta do europeu. A partir das décadas finais do século XVIII, o café, o chocolate e o chá passaram a ser cada vez mais populares.
Café, chocolate e chá. Novos produtos que ajudaram a constituir o mundo moderno.
O trigo e o centeio foram cada vez mais consumidos, impulsionando a
construção de moinhos a vapor. A batata desempenhou um grande papel nessa transformação. Apesar de ser conhecida há tempos, a batata era
desprezada e, geralmente, relegada a alimentação de animais. Somente períodos de muita fome, no final do século XVIII e outro no início do XIX,
levaram ao seu consumo. A partir daí, a batata entraria na lista dos alimentos mais consumidos pelo povo europeu. A batata tinha grandes
vantagens, pois não necessita de muito tempero para ser aproveitada e podia ser preparada de muitas formas. No meio do século XIX, a batata já
era a base da alimentação da população. Além disso, a batata fornecia uma bebida alcoólica de fácil fabricação, que inclusive ameaçou seriamente a
produção da cerveja.
A batata é um dos principais alimentos do mundo.
Há uma obra de Vincent van Gogh, de 1885, chamada “Os Comedores de Batata” na qual o artista retratou trabalhadores realizando uma refeição.
Os personagens aparecem de forma rude, sem a intensão de torna-los bonitos, suas mãos e rostos têm formas grosseiras, tal como o trabalho que
exerciam. A pobreza é realçada pela pouca luz vinda do candeeiro. Fácil é nos comovermos com a família de operários que tem pouco mais que
batatas para alimentá-la.
Link
Esta obra de Van Gogh está exposta no “Van Gogh Museum”, em Amsterdam, Holanda e você pode vê-la no site oficial do museu:
http://www.vangoghmuseum.nl/vgm/index.jsp?page=1303&collection=6
19&lang=nl
Mas apesar disso, as grandes mudanças na alimentação somente vieram realmente a aparecer após a metade do século XIX. A revolução agrícola,
por exemplo, foi fundamental. A mudança na estrutura agrária promovida pelas consequências do furacão napoleônico, que eliminou os restos do
feudalismo que ainda existiam na Europa, a fertilização artificial e novas máquinas agrícolas – por exemplo a máquina colheitadeira de McCormick,
mostrada na Grande Exposição de Londres, em 1851. Por sua vez, a criação de animais também aumentou. O porco era um deles, pois desse animal se
aproveita quase tudo.
Além disso, a revolução nos transportes também favoreceu a mudança nos padrões alimentares. O trem e o navio a vapor proporcionaram a
oportunidade do transporte de alimentos de regiões mais distantes de forma mais rápida. Novas formas de conservação e armazenamento, somadas às
descobertas da biologia e à propaganda, colaboraram para alterar para sempre os padrões alimentares europeus. Então, apesar das ideias
pessimistas de Thomas Maltuhs, a produção de alimentos acompanhou o crescimento populacional em quantidade e até mesmo em qualidade.
Questão para reflexão
Será que o aumento da população constatado em nossos dias pode fazer
valer a opinião de Maltuhs?
Thomas Robert Malthus nasceu em 1766, em Rookery, Inglaterra. Estudou no Jesus College, fundado em 1496 e que existe até hoje. Tornou-se
sacerdote da Igreja Anglicana em 1797 e foi lecionar em Haileybury, em um colégio da Companhia das Índias Orientais. Em 1798, publicou sua
grande obra “Um Ensaio Sobre o Princípio da População ou observação do seu passado e seus efeitos na felicidade humana no presente” na qual
afirma que a produção de alimentos cresceria em proporção aritmética e a
população em proporção geométrica, o que significava que mais cedo ou mais tarde haveria fome. Por enquanto, a história demonstrou que ele
estava equivocado.
É possível imaginar os inúmeros avanços tecnológicos que garantiram o
erro de Malthus. Durante muito tempo, desde a pré-história na verdade, os seres humanos conservaram seus alimentos de várias formas: secando,
defumando, salgando, colocando outras substâncias como vinagre ou gordura para evitar que estragassem. Em 1795, foi oferecido um prêmio de
12 mil francos a quem inventasse um meio de conservar melhor os
alimentos. Em 1809, um sujeito chamado Nicolas-François Appert desenvolveu um método para vedação a vácuo e levou o prêmio. Nasceu
em 1752 e, a partir de seu invento, abriu a primeira fábrica do mundo especializada em conservação de alimentos. Os frascos de vidro podiam
conservar compotas, frutas, hortaliças, laticínios entre outros produtos. As tropas de Napoleão Bonaparte utilizaram esses alimentos em suas
campanhas militares. Mas, como eram de vidro os recipientes tinham, é claro, a desvantagem de quebrarem com facilidade. Em 1810, o invento de
Nicolas-François foi melhorado com a introdução de latas revestidas de estanho, ideia de Peter Durand. Porém, incialmente, as latas apresentaram
outro problema: eram difíceis de serem abertas, os soldados tinham de “[...] atacar suas latas de ração com facas, baionetas e até com tiros de
rifle [...]” (PETROSKI, 2007, p.204). Foram necessários vários anos para
que os abridores de lata fossem desenvolvidos, bem como latas de espessura mais fina.
Outro produto, muito comum para nós, mas que era revolucionário no
século XIX, foi o extrato de carne. Em 1863, George Christian Giebert e dois sócios criaram a Liebig’s Extract of Meat Company, em Fray Bentos, no
Uruguai. O nome Liebig foi adotado por que Justus von Liebig foi o primeiro estudioso a pesquisar o extrato de carne de forma científica. O problema
de Liebig era o alto custo da carne de boi na Europa que inviabilizava a produção de extrato de forma comercial. Assim, George Christian Giebert
teve uma excelente ideia em abrir uma fábrica no Uruguai, onde a criação de gado era bastante grande. O extrato de carne era enlatado e vendido no
mundo inteiro. No mesmo ramo, o suíço Julius Maggi criou os cubos de caldo de carne e Carl Heinrich Knorr começou a fabricar sopas, produtos e
marcas que ainda encontramos em qualquer mercado.
A comida enlatada está cada vez mais comum desde então.
Julius Maggi nasceu em 1846, na Suíça, e assumiu o moinho de seu pai em 1869. A crise por que passava o empreendimento levou Julius a buscar
alternativas. Procurou, então, o médico também suíço Fridolin Schuler (1832 – 1903) que tinha a ideia de fazer alimentos baratos para a classe
trabalhadora. Essa preocupação veio de sua função, pois Fridolin era inspetor de fábricas, isto é, fiscalizava as condições de trabalho dos
operários e chegou a apontar a baixa qualidade da alimentação da classe
trabalhadora como causa de muitas doenças. Depois de intensas pesquisas, em 1884, a sopa Maggi foi colocada no mercado.
Em 1860, Hippolyte Mège-Mouriés desenvolveu um substituto para a
manteiga, feito de gordura de carne e leite e que foi chamado de margarina. Tendo vendido a patente de sua invenção, a primeira fábrica de margarina
do mundo foi fundada em 1871, em Brabant. Hippolyte nasceu em 1817, na França e trabalhou como farmacêutico em Paris. A partir de 1850, ele
começou a fazer pesquisas com alimentos. Fez diversas invenções, entre elas uma forma de deixar o pão mais branco, tendo inclusive recebido um
prêmio do próprio imperador Napoleão III por isso. Com a descoberta de como endurecer óleo, a produção de margarina cresceu muito, pois se podia
usar óleo de uma série de vegetais.
Um bom exemplo do uso dos conhecimentos científicos aplicados à indústria foi nos dado por August Oetker, nome também conhecido por nós. Em 1891,
começou a vender fermento químico, que substituiu a levedura, propiciando a utilização de fornos menores, mais adequados às residências urbanas. O
que nos leva à cozinha.
As casas urbanas do século XIX possuíam cozinhas em separado enquanto nas casas das classes mais baixas, essa separação evidentemente não
existia muito claramente, situação que perdurou até o século XX. Evidentemente que essas casas urbanas, mesmo as mais pobres exigiram
o desenvolvimento de novas tecnologias em equipamentos. Novos fornos em ferro fundido e bronze podiam usar carvão no lugar da lenha e podiam
ser utilizados para esquentar água além de cozinhar.O fogão a gás, tão comum em nossas cozinhas, foi substituindo os fogões a carvão ou lenha
durante as duas últimas décadas do século XIX e três primeiras do século XX. Umas das principais vantagens desse fogão era a possibilidade de
regulação da intensidade do fogo.
Web Aula 2 – Título – Comprar, Comer, Correr
Como dissemos na web aula anterior, nos séculos XVIII e XIX, tivemos o
início do processo de industrialização da produção. Chamamos esse
processo de Revolução Industrial, fenômeno que modificou para sempre o mundo e a sociedade, moldando a forma como vivemos. Portanto, a
industrialização é um processo que não se esgotou no século XIX e que passou por alterações substanciais.
Nos séculos XVIII e XIX, o país industrializado hegemônico era, evidentemente, a Inglaterra, que era o país pioneiro. A produção do algodão
foi uma das primeiras a receber os impactos da industrialização. Essa é a
época do uso do carvão e do surgimento do trem a vapor. Do ponto de vista das relações trabalhistas, não havia regulamentação do trabalho e as
empresas passaram a adotar os princípios da administração científica preconizados por Taylor. Os Estados Unidos e o Japão iniciam seus
processos de industrialização. A virada do século viu nascer uma nova potência industrial: os Estados Unidos. Novas formas de produção com o
fordismo e novas fontes de energia, como o petróleo e a eletricidade,
caracterizaram o mundo até a década de 70. As relações de trabalho foram regulamentadas e a política econômica capitalista oscilou entre o liberalismo
e o keynesianismo. No final do século XX, as novas condições políticas e econômicas produzidas pela crise do socialismo e da economia capitalista
proporcionaram mudanças na hegemonia mundial. O Japão e, depois, a China passaram a disputar o poder do globo. Somado a isso, tivemos o
grande incremento dos meios de comunicação, com o efetivo estabelecimento de uma rede mundial.
Uma das consequências disso foi o surgimento de uma sociedade do
consumo, ou seja, uma sociedade em que o consumo passou – de certa forma – a ser o objetivo da vida dos indivíduos. Mais do que isso, esse
consumo passou a ser em escala mundial por conta da globalização. No processo de globalização, a prática da terceirização tornou-se cada vez mais
comum. Tudo isso teve um impacto muito grande também nas formas de alimentação. A vida agitada contemporânea favoreceu ainda mais a
industrialização dos alimentos e o surgimento da fast food. Desde pequenos
carrinhos de lanches até gigantescas redes de restaurantes e lanchonetes surgiram para dar conta de alimentar um número cada vez maior de
pessoas com cada vez menos tempo para fazer suas refeições.
Nossas despensas cada vez mais cheias de produtos industrializados.
Durante a chamada “era de ouro”, período que corresponde às primeiras décadas depois do término da Segunda Guerra Mundial, surgiu a tendência
cada vez maior de as famílias e os indivíduos comerem fora de casa. Já havia restaurantes muito tempo antes disso, mas a onda de lanchonetes e
pequenos restaurantes que davam conta da necessidade de refeições rápidas somente pode acontecer em um momento de intenso crescimento
econômico. A popularização do automóvel e o surgimento do grupo social da juventude também contribuiu para esse fenômeno.
Neste sentido, não podemos deixar de citar a criação do McDonalds, que se
tornou o símbolo máximo deste tipo de alimentação; tanto quanto da própria cultura estadunidense. Representante de uma cultura cada vez mais
hegemônica, o hambúrguer passou a ser consumido no mundo todo.
Nos refeitórios das escolas norte-americanas também não é diferente:
[...] empresas como a McDonald’s e a Burger King agora montam quiosques nos refeitórios,
que eles divulgam em toda a escola. A Subway abastece 767 escolas com sanduíches; a
Pizza Hut monopoliza o mercado em aproximadamente 4000 escolas; e atordoantes 20000
escolas participam da linha de produtos burritos congelados da Taco Bell (KLEIN, 2003).
A guerra entre marcas alimentícias também chegou às escolas norte-americanas e canadenses. Em Toronto, no Canadá, por exemplo, a Pepsi-
Cola Company fornece máquinas de refrigerante para 560 escolas públicas para impedir a venda de Coca-Cola. Na estrada de acesso a uma cidade
canadense há uma placa que diz “Pepsi – refrigerante oficial da escola secundária Cayuga” (KLEIN, 2003). Em algumas escolas, o envelope com o
diploma vem recheado de panfletos e cupons de desconto. Isto, no entanto não está muito distante de nós. As escolas públicas brasileiras já
receberam, por exemplo, material para trabalhar as normas de trânsito fornecido por uma empresa montadora.
Em Nova York e Los Angeles, estudantes secundaristas criaram anúncios animados de 30
segundos para as balas Starburst, e estudantes em Colorado Springs elaboraram peças
publicitárias para a Burger King para pendurar em seu ônibus escolar [...] – tudo
subsidiado pelo sistema escolar financiado pelo contribuinte (KLEIN, 2003, p. 118).
Mas houve um caso, em 1998, que chegou ao extremo. A Coca-Cola promoveu uma competição para ver quem elaborava a melhor estratégia
de distribuição de seus cupons aos estudantes. O prêmio pelo melhor trabalho seria US$ 500. A Greenbiar High School parece ter levado a
competição a sério e proclamou, no final de março, o Dia da Coca-Cola. Nesse dia todos os estudantes foram com camisetas da Coca-Cola, houve
palestras sobre a empresa etc. Mas sempre há alguém para estragar a festa. Em meio às comemorações do Dia da Coca-Cola apareceu um aluno
vestindo uma camiseta da Pepsi!!!! Suprema heresia!!! Resultado, o aluno foi suspenso. Isso mesmo que você leu, o aluno foi suspenso por ter ido à
escola com a camiseta da marca errada. Espero que isso não ocorra por aqui.
Refrigerantes dominando o mundo.
Um produto que tira o sono dos ambientalistas – e que está ligado a esta
tendência da comida industrializada - é o poliestireno, um tipo de isopor. Acompanhe comigo o exemplo das embalagens utilizadas nas lanchonetes
McDonald’s a partir de 1975. Essa rede de lanchonetes, como dissemos antes, simboliza muito bem a sociedade estadunidense, ao ponto de
identificarmos imediatamente o seu símbolo com a cultura norte-americana. A empresa surgiu no interior dos Estados Unidos e os
proprietários perceberam que a maior parte do dinheiro que entrava, vinha
dos hambúrgueres que vendiam. Resolveram então inovar. Uma dessas inovações foi a eliminação de todos os talheres e pratos e a adoção de
embalagens descartáveis. Na década de 50, abriram as primeiras franquias da marca e em 1967 já havia cerca de mil unidades abertas nos Estados
Unidos. Aproveitando as mudanças implantadas na União Soviética, uma loja foi aberta em 1990. Mas voltemos à década de 70.
A opção pelas embalagens de isopor foi uma decisão lógica diante da
embalagem anterior. Segundo Petroski (2007), o hambúrguer vinha envolto em um aro de papelão, embrulhado em papel alumínio e servido em uma
caixa vermelha. Era tipo de embalagem difícil e demorada de ser feita e, depois, desfeita. Daí a escolha do isopor. Segundo esse autor, ainda, dez
anos depois de sua adoção, essa embalagem começou a ser criticada pelos ambientalistas, pois os clorofluorcarbonetos (CFCs) que fazem parte da
composição desse material são responsáveis pela destruição da camada de ozônio que protege a Terra. Em 1990, a empresa teve de ceder á pressão
e abandonou as embalagens de isopor e passou a adotar embalagens de papel.
Para saber mais
Recentemente a empresa foi obrigada a mudar a forma como eram feitos
os hambúrgueres devido a denúncias de que era utilizado produto químico prejudicial à saúde.
Voltando aos hambúrgueres, podemos afirmar com certeza que eles simbolizam o estilo de vida difundido pelos Estados Unidos. Tal é o vínculo
que dificilmente pensamos em fast food sem lembrar dos EUA. É claro que carne com pão é uma combinação bastante mais antiga que a existência do
país do Tio Sam. O pão já era utilizado como suporte para diversos alimentos, pelo menos, desde a Idade Média. É conhecida, também, a
versão que narra a história do nascimento do sanduíche pelas mãos de John Montagu, Conde de Sandwich, na década de 1770.
No entanto, deve-se atribuir aos estadunidenses o conceito de padronização
na produção e consumo dos alimentos. Muito antes do McDonald’s e da Starbucks, uma rede de restaurantes já moldava o “modo estadunidense
de viver”. Eram os restaurantes Fred Harvey, cujas atendentes eram tão conhecidas que, em 1946, a famosíssima atriz Judy Garland estrelou um
filme chamado “The Harvey Girls”, cujo enredo é protagonizado por tais funcionárias.
Cena do filme The Harvey Girls (1946).
Fonte: Harvey (2011)
Os restaurantes Fred Harvey aproveitaram a grande expansão ferroviária e urbana dos Estados Unidos rumo ao oeste, durante o período de
consolidação da industrialização do país. No final do século XIX e início do século XX, estes estabelecimentos eram uma excelente opção para alguém
obter uma boa refeição em muitas cidades do interior dos Estados Unidos. Uma das características desses restaurantes era a presença apenas de
mulheres como atendentes.
Podemos ter uma ideia do tamanho do empreendimento, podemos exemplificar com os seguintes dados: em 1905, os restaurantes Harvey
haviam servido mais de seis milhões de ovos e dois milhões de quilos de carne (FRIED, 2009). Desta forma, qualquer usuário de trens nos Estados
Unidos poderia ter certeza que, ao descer do trem, teria café quente e boa comida servidos por simpáticas atendentes; e o mais importante, a
agilidade do atendimento garantia que ele pudesse fazer sua refeição a tempo de embarcar novamente e continuar sua viagem. O império dos
restaurantes Fred Harvey somente começou a declinar quando outra
revolução começava: a era dos automóveis.
Para terminar esta unidade, assista esse excelente vídeo sobre a história
da alimentação:
https://www.youtube.com/watch?v=jbz1O6ITISI
FRIED, Stephen. Appetite for America: Fred Harvey and the business of
civilizing the Wild West. New York: Bantam, 2009.
KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2003.
PETROSKI, Henry. A Evolução das coisas úteis. Rio de Janeiro: Zahar,
2007.
TEUTEBERG, Hans J. O Nascimento da era de consumo moderna: inovações
culinárias após 1800. In: FREEDMAN, Paul (Org.). A História do sabor. São Paulo: Senac, 2009.