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MOVIMENTO CARISMÁTICO Um Estudo Exegético e Teológico de Suas Principais Características WILSON H. ENDRUVEIT, Ph.D. FACULDADE ADVENTISTA DE TEOLOGIA INSTITUTO ADVENTISTA DE ENSINO SÃO PAULO 1977

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MMOOVVIIMMEENNTTOO CCAARRIISSMMÁÁTTIICCOO

Um Estudo Exegético e Teológico de Suas Principais Características

WILSON H. ENDRUVEIT, Ph.D. FACULDADE ADVENTISTA DE TEOLOGIA INSTITUTO ADVENTISTA DE ENSINO SÃO PAULO 1977

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Movimento Carismático 2

ÍNDICE

Prefácio ................................................................................................ 5 Introdução: A importância e lugar do Movimento Pentecostal ........... 6

PRIMEIRA PARTE: A ORIGEM E DESENVOLVIMENTO

DO PENTECOSTALISMO NO BRASIL I. DE ALÉM MAR A UM MOVIMENTO NACIONAL .............. 9

1. O Início do Movimento Pentecostal no Brasil ............................ 9 2. Expansão Pentecostal: 1911 – 1932 .......................................... 10 3. Progresso e Explosão Pentecostal: 1932 – 1975 ....................... 10 4. O Surgimento do Neo-Pentecostalismo .................................... 13

SEGUNDA PARTE: O ESPÍRITO SANTO E OS DONS ESPIRITUAIS

NO MOVIMENTO PENTECOSTAL II. O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO ..................................... 14

1. A doutrina da subseqüência do batismo no Espírito Santo

no Brasil .................................................................................... 15 2. A doutrina da evidência do batismo no Espírito Santo ............ 17 3. A doutrina das condições para o recebimento do batismo

no Espírito Santo ....................................................................... 19 III. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO NO MOVIMENTO

PENTECOSTAL ....................................................................... 21

TERCEIRA PARTE: O ESPÍRITO SANTO E OS DONS ESPIRITUAIS

NO NOVO TESTAMENTO

IV. A DOUTRINA DA SUBSEQÜÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO .............................................................. 22 1. A doutrina da subseqüência no livro de Atos ............................ 22 2. A doutrina da subseqüência no Novo Testamento .................... 23 3. As conseqüências para a doutrina pentecostal dos dois batismos ..... 27

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Movimento Carismático 3

4. Complemento à doutrina da subseqüência do batismo no Espírito Santo ....................................................................... 28

V. A DOUTRINA DA EVIDÊNCIA DO BATISMO

NO ESPÍRITO SANTO .............................................................. 35 1. A doutrina da evidência no livro de Atos .................................. 35 2. A doutrina da evidência no Novo Testamento .......................... 39 3. As conseqüências para a doutrina da evidência dos pentecostais ..... 43 4. Ser cheio do Espírito Santo ....................................................... 51 5. Coisas que entristecem o Espírito Santo.................................... 56

VI. A DOUTRINA DAS CONDIÇÕES PARA RECEBER

O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO ….................................... 60

VII. O DOM DE LÍNGUAS .......................................…………….. 62 1. A natureza das línguas em I Coríntios ...................................... 62 2. O que o fenômeno em Corinto não era ..................................... 64 3. O que o fenômeno em Corinto era ............................................ 64 4. A correção paulina .................................................................... 65 5. Uma análise de I Cor. 12 – 14 ................................................... 67 6. Uma análise das línguas ............................................................ 74 7. Avaliação das línguas: Possíveis Explicações .......................... 78 8. Avaliação das línguas: benefícios e perigos .............................. 86

VIII. O DOM DE CURAR ............................................................. 91 1. O ministério da cura ocupava um lugar central no ministério

de Jesus Cristo ........................................................................... 91 2. É o padrão de cura de Cristo seguido pelos modernos

carismáticos, no movimento pentecostal? ................................. 91 3. Por que são os líderes da cura divina tão bem sucedidos? ........ 95

APÊNDICE ...................................................................................... 98

1. Como os Adventistas do Sétimo dia devem relacionar-se

com o movimento carismático? ................................................ 98 2. O emergente papel profético do movimento carismático ....... 101

BIBLIOGRAFIA ........................................................................... 104

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Movimento Carismático 4

PREFÁCIO O objetivo deste trabalho é estudar a doutrina e experiência do "Espírito Santo"

num contexto Pentecostal. A Primeira Parte é uma breve introdução histórica ao pentecostalismo. A posição

do movimento pentecostal sobre o batismo no Espírito Santo é desenvolvida na Segunda Parte, antes da posição pentecostal ser examinada à luz das testemunhas do Novo Testamento na Terceira parte.

A Terceira Parte não somente examina os principais textos bíblicos reclamados pelos pentecostais para sustentar as suas conclusões como também sugere uma crítica teológica e uma definição bíblica adequada quanto ao batismo no Espírito Santo e os dons espirituais – Línguas e cura.

Este trabalho é derivado das aulas sobre "O Movimento Carismático", primeiramente ministradas no Curso de Extensão da Andrews University, realizado no Instituto Petropolitano Adventista de Ensino, em 28 de janeiro à 19 de fevereiro, 1976.

Pelo convite de ministrar as aulas e pela afetuosa hospitalidade, sou imensamente grato.

Agradeço ao Pastor José Bessa pelo incentivo e ajuda que me prestou, especialmente pela sua iniciativa e esforço de conseguir publicar este material. Entretanto, pelas falhas e lacunas, eu sou o único responsável.

Ao prezado leitor peço tolerar as deficiências e imperfeições deste trabalho que originalmente serviu como plano de aula e que não teve as necessárias revisões e preparo para ser publicado.

Que este trabalho exalte a Deus que nos escolheu, ao Filho que por nós morreu, e ao Espírito Santo que em nós habita.

Wilson H. Endruveit Instituto Adventista de Ensino, São Paulo, 1976.

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Movimento Carismático 5

INTRODUÇÃO:

A IMPORTÂNCIA E LUGAR DO MOVIMENTO PENTECOSTAL 1. Um movimento mundial em meio século.

a) Conta com mais de 12 milhões de membros e tem penetrado em quase todos os Países do mundo.

b) É o maior movimento não católico na França, Itália, Portugal (Europa Latina); e no Brasil, Chile, Salvador, México (América Latina)

c) É a igreja que mais cresce na Rússia e na China.

2. A terceira força. Na revista Life o Dr. Van Dusen, chama o movimento pentecostal a "3ª força no cristianismo" ao lado do catolicismo e protestantismo.

3. A razão do sucesso do ponto de vista pentecostal. a) Os pentecostais atribuem o sucesso histórico à doutrina ou experiência do

Espírito Santo. 4. Poder unificante.

a) Os ecumenistas; b) O Espírito de Profecia.

5. Pentecostais interpretam o movimento como sendo a "nova reforma" e a chuva serôdia. a) Pentecostais interpretam a história:

(1) Pentecostais olham para trás na história da igreja e vêem fracasso. Os pentecostais ensinam que depois de um início vitorioso a igreja primitiva

perdeu a fé, o Espírito Santo foi rejeitado e a sua posição de liderança foi usurpada pelo homem. Resultado: a apostasia devolveu-se e o movimento missionário parou.

Os pentecostais advogam que a ausência nas igrejas cristãs da experiência do Espírito Santo da igreja primitiva, é a causa da insignificância do cristianismo no mundo de hoje. Implicitamente os pentecostais afirmam que o sucesso é o sinal da bênção e mão de Deus no movimento. Declaram eles que se "o cristianismo fosse realmente de Deus, certamente faria rápido progresso na terra". A solução é voltar ao poder e experiência da igreja primitiva, insistem eles, via Pentecostes, isto é, pela experiência do batismo no Espírito Santo com suas manifestações. Esta experiência significa a redescoberta do cristianismo e sem ela a igreja será impotente na história. (2) Pentecostais olham para trás na sua própria história e vêem sucesso. Eles referem ao seu movimento como um sucessor superior da Reforma e a fiel

reprodução do movimento apostólico. Na 5ª Conferência Mundial dos Pentecostais realizada em Toronto, Canadá, em 1958, esta convicção histórica foi expressada:

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Movimento Carismático 6

"Eles dizem que o Pentecostalismo é a 3ª grande força do cristianismo. Mas ele é realmente o primeiro ... Quem pode negar que o 1º período da era cristã era realmente Pentecostal?... Mas a igreja não manteve a sua pureza... Por isso, surgiu a necessidade da Reforma... Mas esta por sua vez foi incompleta e caiu em formalismo e ritualismo morto que exigiu nova reforma. Daí o grande reavivamento de Wesley... Mas este também necessitou um novo poder dinâmico. Daí o reavivamento Pentecostal que veio amadurecer o grão e prepará-lo para a ceifa".

(3) Pentecostais olham para o futuro e vêem a consumação próxima de todas as

coisas. Eles advogam que o movimento é ou está sob "a chuva serôdia" mencionada em

Joel 2:23, 28 e 29; Jer. 5:24; Deut. 11:14; Atos 2:17-21; Tiago 5:7. Como a igreja apostólica representa a chuva temporã, trazendo primeiros frutos, assim os pentecostais acreditam que seu movimento é chuva serôdia de Deus para trazer os últimos frutos da grande colheita, o prelúdio da segunda vinda de Cristo.

CONCLUSÃO

Positiva ou negativamente o movimento pentecostal tem crescido importância. E

aceitar o movimento pentecostal somente pelo fato de importância, por ter crescido no mundo inteiro não é lógico. O que é importante não é por si mesmo correto. O teste para qualquer coisa que chama cristã não é sua importância, seu poder ou seu sucesso. O teste é a verdade. Como cristãos, portanto, o nosso dever é examinar o movimento pentecostal, à luz das testemunhas do Novo Testamento. E esta será a nossa tarefa na parte teológica que será desenvolvida após a análise histórica do movimento.

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Movimento Carismático 7

DE ALÉM MAR A UM MOVIMENTO NACIONAL

1 - O INÍCIO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL Emílio Conde, autor do livro A história das Assembléia de Deus no Brasil traça a

origem do movimento pentecostal do Brasil diretamente ao reavivamento de "Azusa Street", Los Angeles, via South Bend (Indiana) e Chicago.

(1) Em 1906 irrompeu a mais notável manifestação pentecostal em Angeles, na rua "Azusa nº 312", considerado por muitos a origem do movimento pentecostal no mundo.

(2) De Azusa a influência pentecostal se espalhou para todo o mundo. (3) A influência se estende para Chicago. Em Chicago, Gunnar Vingren, de

origem sueca e pastor batista, recebeu o batismo no Espírito Santo em 1909. Ainda como pastor batista começou a pregar o batismo Espírito Santo nas igrejas batistas de Menomonee (Michigan) e South Bend (Indiana).

Em South Bend, Gunnar Vingren encontrou-se com Daniel Berg, também de origem sueca.

Certo dia, reunidos em casa de Adolfo Uldin, o Espírito Santo falou-lhes por intermédio de Adolfo – Adolfo profetizou que Gunnar Vingren e Daniel Berg deveriam ir a um lugar chamado Pará. Eles não sabiam onde ficava Pará. Mas indo à biblioteca de South Bend descobriram de que se tratava de um estado do Brasil. Considerando ser isto uma indicação da vontade de Deus, Gunnar Vingren e Daniel Berg tomaram um navio cargueiro New York, em 05 de novembro de 1910, rumo a Belém do Pará, onde chegaram sem dinheiro algum.

(a) Hospedados no porão da igreja batista de Belém. (b) A febre amarela. (c) Reuniões de oração pelos enfermos. (d) Em 1911 vários batistas foram batizados pelo Espírito Santo (e) Em 13 de junho de 1911 a igreja batista desligava a maioria de seus

membros que diziam crer no batismo do Espírito Santo. Estes se reuniram em casa de um dos membros desligados e ali foi realizado o primeiro culto oficial das Assembléias de Deus no Brasil.

(4) Luis Francescon, o fundador da "Congregação Cristã do Brasil", um nativo da Itália e católico, foi convertido em Chicago em 1907, e , uniu-se à igreja presbiteriana italiana de Chicago. Em 1940 foi "selado pelo Espírito Santo" segundo ele afirma, e recebeu repetidas mensagens do Senhor que lhe sugeriu ser um missionário. Assim ele, juntamente com um outro italiano vieram à Argentina. Poucos meses mais tarde, em 1911, dirigidos pelo Espírito Santo, segundo eles declaram, chegaram e São Paulo. Em São Paulo, Francescon foi convidado a pregar na igreja Presbiteriana. A maioria rejeitou a mensagem de Luis Francescon e um dos anciãos violentamente ordenou que Francescon se retirasse. Ao se retirar, os que aceitaram as suas idéias saíram com ele e eventualmente deram início à Igreja Pentecostal "Congregação Cristã do Brasil" em 1911.

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2 - A EXPANSÃO PENTECOSTAL: 1911 – 1932.

(1) O crescimento numérico dos pentecostais não foi paralelo à sua rápida

expansão geográfica. (2) Erasmo Braga, no seu livro The Republic of Brazil, declara que em 1932

apenas 9,5% dos protestantes no Brasil eram pentecostais."

3 - PROGRESSO E EXPLOSÃO PENTECOSTAL: 1932 – 1975 (1) Na década de 1930 os pentecostais estabeleceram igrejas em todos os estados

do Brasil. (2) Na década de 1940 os Assembléias de Deus estabeleceram a sua Casa

Publicadora no Rio de Janeiro. (3) No início da década de 1950 Harold Williams, um missionário da "Four

Square Gospel Church" (Igreja do Evangelho Quadrangular ou Cruzada Nacional do Evangelização) dirigiu reuniões de cura em São Paulo. Deste reavivamento com ênfase na cura divina surgiram na década de 1951 muitas igrejas pentecostais independentes, entre elas, a mais importante é a igreja pentecostal "o Brasil para Cristo" iniciada por Manuel de Melo; na metade da década de 1950. As igrejas pentecostais independentes podem ser classificadas em 4 grupos: (1) Aquelas pertencentes à Confederação das Igrejas Pentecostais Independentes de São Paulo; (2) Aquelas que se separaram das igrejas-mães pentecostais e não desejam ser classificadas com sua denominação anterior (3) Aquelas que são completamente autóctonas, isto é, que se desenvolveram sem a ajuda de outras igrejas ou missões; (4) Aquelas que têm surgido de igrejas não pentecostais e não podem ser identificadas com as suas denominações anteriores.

(4) Crescimento do Movimento Pentecostal

Grupo Pentecostal Início *1932 **1955 ***1970 Assembléias de Deus 1911 255.954 746.400

13.511 Congregação Cristã 1911 123.195 357.800 Outros Pentecostais 1950 12.826 191.300 TOTAL 13.511 391.975 1.295.500

Fontes: *Braga e Grubb, The Republic of Brazil, pp. 71, 149.

**Reed e Ineson, Brazil 1980: The Protestant Handbook, pp. 68-74 ***Ibidem, p.78. (5) Hoje cerca de 70% de todos os protestantes no Brasil são pentecostais.

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(6) Distribuição dos pentecostais por regiões no Brasil: Regiões População

1970 % da

população total Nº de pentecostais

1970 % do Nº de pentecostais

Norte 3.651.000 3,8 % 70.950 5,4 % Nordeste 20.181.000 21,4 % 167.200 12,9 % Leste 30.868.000 32,7 % 265.800 20,6 % Sul 34.642.000 36,6 % 721.650 55,7 % Centro-Oeste 5.167.000 5,5 % 69.900 5,4 % Brasil 94.509.000 100 % 1.295.000 100 %

Fonte: Reed e Ineson, Brazil 1980: The Protestant Handbook, pp. 44, 81-92, 77-78. (7) Média anual de crescimento de membros por grupos denominacionais e

regiões no Brasil de 1960-1970. Grupo Denominacional

Norte %

Nordeste %

Sudeste %

Sul %

C. Oeste %

Brasil %

Adv. 7º Dia 9,5 15,6 8,4 % 12,3 14,6 10,9 Batista 10,4 5,8 5,2 8,4 9,5 5,9 Congregacional - 8,0 3,7 10,5 3,3 5,8 Episcopais 11,7 4,2 - 5,2 - 3,6 Luteranos - - 1,9 1,7 - 1,7 Metodistas - 14,9 0,7 2,1 3,7 1,1 Presbiterianos 2,5 1,1 1,0 2,1 5,5 1,5 Outros 9,5 7,4 5,3 7,5 15,7 7,3 Pentecostais Assembléias de Deus

6,7 5,3 6,8 9,4 12,6 7,1

Congregação Cristã

- 10,2 5,2 13,0 25,2 7,2

Outros 11,0 9,4 20,2 16,8 - 19,1 Fonte: Reed e Ineson, Brazil 1980: The Protestant Handbook, p. 80.

4 - O SURGIMENTO DO NEO-PENTECOSTALISMO Na metade do século vinte apareceu uma nova constelação de pentecostais. Estes,

por especialmente manifestarem a experiência do batismo do Espírito Santo, tornaram-se conhecidos como neo-pentecostais. Comumente os neo-pentecostais têm sido pessoas não integrantes das denominações pentecostais tradicionais. O neo-pentecostalismo tem ganho terreno entre protestantes e católicos. O movimento neo-pentecostal está gradualmente assumindo um nome "Carismático".

De 1953 para cá tem-se ouvido mais freqüentemente de protestantes e não cristãos; e de 1966 para cá, de católicos que têm recebido o batismo no Espírito Santo.

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Por que surgiu o neo-pentecostalismo? Igrejas protestantes e católicas desde o segundo Concílio do Vaticano têm criticado rigorosamente as suas próprias igrejas; sua irrelevância, institucionalismo, formalismo e letargia espiritual. O neo-pentecostalismo tem-se apresentado como a solução para estes problemas. Ambos, pentecostalismo e neo-pentecostalismo, advogam que o poder para a vida espiritual do indivíduo e da igreja se encontra na negligenciada mas agora redescoberta experiência do batismo no Espírito Santo com as suas manifestações. O Cristianismo carismático promete às igrejas protestantes e católicas a fonte de reavivamento.

O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO 1. A doutrina central e peculiar da teologia pentecostal. a) A doutrina do Espírito para os pentecostais é essencialmente experiência do

Espírito Santo. Pelo estudo da literatura pentecostal descobre-se logo que os pentecostais não enfatizam a doutrina geral Espírito Santo como é apresentada no Novo Testamento, mas a pneumatologia pentecostal está primariamente interessada com a experiência do batismo do Espírito santo com suas manifestações.

Esta experiência do batismo do Espírito Santo não é apenas central, como também peculiar, do movimento pentecostal.

b) Pentecostais estão convencidos de que o seu sucesso no Brasil é resultado do

batismo no Espírito Santo evidenciado sobrenaturalmente. Pentecostais referem-se ao batismo no Espírito Santo como o "segundo encontro", a "segunda bênção", ou o "recebimento pleno do Espírito Santo". "Este algo mais" é caracterizado de muitas maneiras pelos pentecostais... O "algo mais" é chamado de "novo amor", "poder", felicidade","redenção de hábitos maus", "paz" e "saúde". Estes aspectos associados com o batismo no Espírito Santo exercem uma grande atração de aceitação do pentecostalismo.

c) A definição pentecostal do batismo no Espírito Santo. "Nós cremos que o batismo no Espírito Santo é uma experiência distinta e subseqûente

da experiência do novo nascimento, aos que têm fé; todos os crentes têm o direito de receber e todos devem buscá-lo fervorosamente, pois, a promessa do Pai é para todos. Esta experiência era uma realidade diária da igreja primitiva. Com ela vem o revestimento do poder do alto, poder para a vida, o serviço diário; o batismo no Espírito Santo traz outros dons que repartidos nas igrejas formam o ministério completo que faz progredir a igreja.

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Nós cremos que o batismo no Espírito santo deve ser acompanhado da evidência do sinal que foi aceito pelos apóstolos – falar outras línguas segundo o Espírito dá a falar. Atos 10:46, 47; 11:15-17".

As características mais importantes da compreensão pentecostal acerca do batismo no Espírito Santo, discerníveis na definição acima, são:

(a) que a experiência comumente é distinta e subseqüente à conversão (b) que a ela é evidenciada pelo sinal de falar em línguas; (c) que ela precisa ser buscada fervorosamente. Iremos, pois, estudar a doutrina peculiar dos pentecostais salientando estas três

partes.

1 - A DOUTRINA DA SUBSEQUÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

A. A base exegética para a doutrina. A principal fonte para a doutrina pentecostal da subseqüência do batismo no

Espírito Santo é o livro de Atos. As principais explicações exegéticas para a doutrina da subseqüência no livro do batismo no Espírito Santo no livro de Atos são:

a) Atos 2:1-4: os 120 no Pentecostes. O verso 4 declara que os 120 "foram cheios do Espírito Santo" no dia do

Pentecostes. Mantendo, que estes 120 já eram cristãos ou pessoas convertidas antes do Pentecostes, os pentecostais vêem na recepção plena do Espírito Santo por ocasião do Pentecostes, um precedente para uma experiência igual e subseqüente para todos os cristãos.

b) Atos 2:38: Os conversos no Pentecostes. A ordem ou a seqüência das declarações de Pedro aos conversos de Pentecostes

leva a exegese pentecostal a ver nesta passagem a necessidade de uma seqüência de experiências espirituais na vida de todos os cristãos: (1) Arrependei-vos, e (2) sede batizados... e (3) recebereis o dom do Espírito Santo. Na conversão, afirmam os pentecostais, o cristão é batizado em Cristo. Subseqüente à sua conversão, o cristão recebe plenamente o Espírito Santo.

c) Atos 8:4-25: Os conversos de Samaria. Os conversos de Samaria apenas haviam sido batizados (Atos 8:14-17) e mais tarde

receberam o batismo no Espírito santo. O ser batizado água argumentam os pentecostais, não é ainda estar batizado no Espírito Santo. O batismo espiritual é algo diferente da experiência do batismo na água.

d) Atos 9:1-19: A experiência da conversão de Paulo. Saulo que se encontrou com o Senhor Jesus no caminho de Damasco se

converteu nessa ocasião foi "cheio do Espírito" três dias depois conversão. A experiência de Paulo, então, deve levar o crente a buscar dois encontros, declara o

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Movimento Carismático 12

pentecostal: com o Senhor na conversão; com o Espírito para receber o poder para a missão.

e) Atos 10-11: Na casa de Cornélio. É com mais dificuldade que os pentecostais sustentam o argumento da

subseqüência do batismo do Espírito Santo na experiência de Cornélio que foi convertido e batizado com o Espírito Santo a falou em línguas, tudo isso acontecendo praticamente ao mesmo tempo (Atos 10:43-48). Os pentecostais insistem que a experiência de Cornélio foi ideal e que todos os cristãos podem e deviam receber o batismo do Espírito Santo, na conversão como Cornélio, mas a fé dos cristãos é fraca para receber todas as bênçãos simultaneamente. Mas mesmo no caso ideal, onde a conversão e o batismo no Espírito Santo ocorrem juntos, uma distinção é feita. O pentecostal afirma que a conversão é conversão, e o batismo no Espírito é batismo no Espírito, mesmo que alguém os experimentem ao mesmo tempo.

f) Atos 19:1-7: Os discípulos em Éfeso. Os 12 foram primeiro discípulos e somente mais tarde receberam o Espírito

Santo. Assim pentecostal pensa achar a base para os cristãos de hoje: primeiro deve tornar-se um cristão; subseqüentemente, se for obediente, será um cristão cheio do Espírito.

Estes textos de Atos são os mais freqüentemente usados para sustentar a doutrina de que o batismo no Espírito Santo é distinto e subseqüente da conversão.

B. Base experimental da doutrina: (leia) a) Conde, Pentecoste para Todos, p. 81. b) Conde, O Testemunho dos Séculos, pp. 188-189, Da experiência para as Escrituras é o padrão pentecostal.

2. A DOUTRINA DA EVIDÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Novamente o livro de Atos serve como base aos pentecostais para justificar a sua

doutrina de que o falar em línguas é a evidencia do batismo no Espírito Santo. Entretanto, os pentecostais mesmos reconhecem que nem Atos e nem as Escrituras explicitamente declaram que o falar em línguas é a evidência do batismo no Espírito Santo. O fato de línguas não serem mencionadas em cada passagem de Atos que registra o batismo no Espírito não é embaraçante aos pentecostais.

1. As provas exegéticas dos pentecostais para manter a doutrina da evidência do

batismo no Espírito Santo, são: a) Atos 2:1-4. Se o falar em línguas foi a evidência dada por Deus da doação do

Seu Espírito no Pentecostes por que não pode continuar ser a evidência para a igreja

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Movimento Carismático 13

nos séculos posteriores ao Pentecostes? Embora os pentecostais reconheçam que o Pentecostes foi acompanhado de fenômenos únicos e não repetíveis (como o vento, visão de línguas como de fogo, e o fato das línguas serem entendidas pelos ouvintes), eles insistem que o Pentecostes é o único autêntico padrão para cada batismo no Espírito Santo.

b) Atos 10-11: Cornélio e sua casa. Os pentecostais argumentam que o conhecimento do dom do Espírito Santo dado

aos gentios foi obtido especificamente pela evidência do falar em línguas (Atos 10:45, 46). Não fora esta evidência os companheiros de Pedro dificilmente teriam sido convencidos do pleno recebimento do Espírito da parte os gentios.

c) Atos 19:1-71: O fato deste incidente ter ocorrido um pouco de tempo depois do

Pentecostes e da conversão de Cornélio impressiona aos pentecostais e traz-lhes uma confiança maior na doutrina de evidência que segundo eles é bíblica no conteúdo e universal na aplicação.

d) Atos 8 : (os samaritanos) e Atos 9: (a conversão de Paulo). Em nenhum desses incidentes o falar em línguas é mencionado, mas os pentecostais

acreditam que eles têm boas razões para pensar que o falar em línguas também ocorreu em ambos os casos, embora não fosse registrado.

2. O argumento da experiência: O Espírito Santo, declaram os pentecostais, deve ser recebido da mesma maneira

que os apóstolos e o igreja primitiva receberam o Espírito – com o falar em línguas. A única experiência que nos garante que recebemos o mesmo Espírito que os apóstolos receberam é a própria experiência dos apóstolos. "Onde iríamos nós para buscar o padrão do verdadeiro batismo no Espírito Santo?" perguntam os pentecostais.

3. O argumento da "necessidade": Os pentecostais não somente argumentam baseados nas Escrituras a experiência

mas também usam o argumento da"necessidade". O falar em línguas é necessário para atestar o batismo no Espírito removendo da igreja e dis membros qualquer incerteza, dúvida quanto à presença do Espírito Santo. Daí a razão dos pentecostais fazerem que as evidências externas de uma vida moral ou as evidências interiores da certeza espiritual, serem insuficientes, porque estas evidências levam tempo para se desenvolver e mesmo quando desenvolvidas elas são grandemente subjetivas, ambíguas e incertas. A evidência é o sinal capaz de guiar a igreja e preservá-la do engano.

3. A DOUTRINA DAS CONDIÇÕES PARA O RECEBIMENTO DO BATISMO

NO ESPÍRITO SANTO

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O batismo no Espírito Santo é subseqüente à conversão. Por que? O batismo no

Espírito é evidenciado pelo falar em línguas. Como pode isto ocorrer? A doutrina das condições para o batismo no Espírito Santo é a tentativa pentecostal de responder a ambas as perguntas. O batismo no Espírito Santo não é por ocasião da conversão porque há condições que o membro não preencheu naquela ocasião. E como vai conseguir o batismo no Espírito evidenciado pelo falar em línguas? O cumprimento das condições detalhadas pelos pentecostais leva a esta experiência. Logo, a doutrina das condições é um corolário da doutrina da subseqüência e uma premissa da doutrina da evidência. Por o isso a doutrina das condições não é apenas uma doutrina necessária como também ocupa uma posição central no edifício da doutrina peculiar dos pentecostais.

1. As provas exegéticas da doutrina das condições. a) O primeiro requisito para a preparação para o batismo no Espírito é a

conversão ou arrependimento (Atos 2:38; 5:32). Os pentecostais declaram que é impossível o inconverso receber o Espírito Santo. Esta declaração é forte porque pode implicar Me um homem pode ser convertido sem o Espírito.

b) Atos 1:12; 5:32. A obediência é uma condição para receber o Espírito. Como alguém pode

obedecer sem o Espírito? Não foi explicado ainda pelos pentecostais. c) S. Lucas 11:13. A oração é indispensável para a preparação do recebimento do Espírito. Orações

intensivas por horas feitas particularmente ou em reuniões são necessárias para o recebimento do Espírito.

d) Gálatas 3:14. A fé é uma importante condição para receber o batismo no Espírito. Há dis tipos

de fé. Fé para Cristo e fé para o Espírito Santo. O Espírito não é dado simplesmente pela fé em Cristo. Como pecadores recebemos a Cristo e como santos recebemos o Espírito, dizem os pentecostais. Por que a fé em Cristo não é suficiente para apropriar o Espírito Santo, não é explicado.

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OS DONS DO ESPÍRITO SANTO NO MOVIMENTO PENTECOSTAL 1. Os dons sensacionais são enfatizados: falar em línguas, interpretação, profecia

e cura. 2. O propósito da limitação é mais por razão missionária. Os dons sensacionais

atraem a atenção do povo e certificam a obra do movimento. 3. O dom de línguas.

a) Pentecostais fazem diferença entre o falar em línguas como evidência do batismo no Espírito Santo e o falar em línguas como dom.

(1) O falar em línguas como evidência é sustentado no livro de Atos, ao passo que o falar em línguas como dom está baseado em I Coríntios 12:14.

(2) O falar em línguas como evidência é para todos, e o falar em línguas como dom não é para todos. (3) O propósito do falar em línguas como evidência é confirmar o batismo no Espírito e não é necessário ser interpretado; o propósito do falar em línguas como dom é edificar os crentes, e neste caso geralmente deve ser interpretado.

b) O grande valor que os pentecostais atribuem ao dom de línguas 4. O dom de interpretar. 5. O dom de curar.

A DOUTRINA DA SUBSEQUÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

É o batismo no Espírito Santo distinto e subseqüente da conversão? Recebemos

Cristo na conversão e o Espírito no segundo batismo? Podemos separar Cristo e o Espírito um do outro?

1. A DOUTRINA DA SUBSEQUÊNCIA NO LIVRO DE ATOS

1. Atos 1:8.

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Quando o Espírito for recebido pele Seu povo haverá poder; mas poder não per se ou para nós, mas para uma tarefa mais elevada: "Vós sereis minhas testemunhas". Significantemente o objeto do testemunho espiritual não é o dom, o poder, ou o batismo no Espírito. Jesus é o objeto, mas mais do que o objeto; Ele é antes de tudo o sujeito do testemunho do Espírito. O poder do batismo no Espírito é primeiro e acima de tudo um poder que nos une a Cristo. O resultado do poder do batismo no Espírito de acordo com Atos 1:3 é antes de tudo o que o homem se torna e não o que ele faz. A grandeza do batismo no Espírito Santo consiste não no fato de levar o homem além de Cristo mas exatamente de levar a Cristo. Ser batizado no Espírito significa tornar-se de Cristo. A maior função do Espírito é unir o homem a Cristo para apresentá-lo. Não há maior bênção do que esta.

2. Atos 2:38. O batismo em nome de Jesus inclui o perdão dos pecados e a recepção do dom do

Espírito. O batismo cristão e o dom do Espírito Santo não são realidades contrastadas ou separadas.

3. Atos 8:38,19. Batismo e o dom do Espírito estão unidos. 4. Atos 10:44-48. O dom do Espírito aqui é a conversão e não uma experiência posterior à

conversão. O dom do Espírito, como sempre, não era uma experiência posterior ou subseqüente à conversão, mas uma experiência da salvação. Como era impossível para os apóstolos associar o dom do Espírito com qualquer outra coisa senão o batismo, os recém conversos foram imediatamente batizados (Atos 10:48). O batismo nas águas e o batismo no Espírito pertenciam juntos de tal maneira que formavam "um batismo" da igreja (Efés. 4:5; 1 Coríntios 12:13).

A unidade do dom do Espírito e da conversão (batismo) enfraquece a tese pentecostal de que o batismo no Espírito é posterior à conversão.

5. Atos 11:13-18. Pedro recapitulando o caso de Cornélio. No verso 17 Pedro declara: "...Se Deus

lhe deu o mesmo dom que o nós, quando havemos crido no Senhor Jesus Cristo..." Aqui temos o importante informação de que de acordo com o ponto de vista de Lucas a conversão de Pedro ocorreu no dia de Pentecostes. Foi somente quando eles receberam o Espírito que eles foram capazes de dizer que eles creram. Para Pedro então o ser cheio ou receber o Espírito era equivalente a crer.

Atos 2:4: "... eles foram cheios do Espírito". = Atos 11:17 "nós cremos". Os apóstolos tornaram-se cristãos da mesma maneira que os da casa de Cornélio:

pelo receber do Espírito Santo pela fé em Jesus Cristo. Para nenhum dos dois grupos o dom do Espírito foi uma segunda ou mais levada experiência recebida no final do cumprimento de longa lista requisitos.

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2. A DOUTRINA DA SUBSEQUÊNCIA DO BATISMO DO ESPÍRITO SANTO

NO NOVO TESTAMENTO 1. Marcos 1:10. A conexão de água com o dom do Espírito Santo é amplamente confirmado no

Novo Testamento. Esta união foi iniciada pelo próprio batismo Jesus (Marcos 1:10)). A conexão do batismo e a vinda do Espírito é particularmente vívida na descrição de Marcos: "imediatamente" (1:10).

2. S. João 3:5. Água e o dom do Espírito não pode ser mais unido do que em S. João 3:5: "da

água e Espírito". No original João não coloca um segundo "do" (ex) antes do Espírito corno sc estivesse escrevendo dois eventos diferentes. O único "ex" descreve um único evento. De acordo com o evangelho de João, há dois nascimentos: o natural e o espiritual (3:6); não há, entretanto, um nascimento natural seguido por um nascimento semi-espirital, seguido finalmente por um nascimento espiritual completo. O homem deve "nascer de novo" (3:3) mas não "de novo e de novo". Espiritualmente o homem é nascido uma vez e esta é "da água e do Espírito".

3. S. Mateus 28:19. A fórmula de Mateus de ser batizado em nome da Trindade, é por definição ser

batizado no Espírito Santo ao mesmo tempo ou na ocasião do batismo. Não há necessidade de batismos separados no nome de cada "Pessoa" da Trindade, pois o Espírito não vem separado de Jesus.

4. I Coríntios 12:13. "Todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo...", não se refere a

uma experiência posterior à conversão. Não se refere a um segundo batismo somente para alguns, mas a expressão descreve o ato soberano de Deus pelo qual todos os cristãos são incorporados no corpo de Cristo por ocasião de sua conversão. A unidade dos cristãos é conseguida e assegurada através do simples, mas profundo evento da iniciação (batismo), através do qual cada cristão passa e pelo qual a cada cristão é dado o mesmo dom espiritual. A compreensão de Paulo do batismo no Espírito é diferente da compreensão dos pentecostais. Enquanto eles dizem que o batismo no Espírito é uma experiência distinta e subseqüente da conversão. Paulo identifica o batismo no Espírito e a conversão ou regeneração.

5. Romanos 8:8, 9. Depois de declarar no verso 8 que "os que estão na carne" (isto é, os não

regenerados), não podem agradar a Deus, Paulo continua dizendo "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós...". As palavras "se é que" não pretendem sugerir que certos cristãos não têm o Espírito,

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habitando neles, pois, Paulo enfaticamente declara na frase seguinte "mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle". Paulo aqui está declarando que os cristãos romanos não estavam na carne mas no Espírito, e o estar no Espírito significa que o Espírito está habitando nele. Habitando significa residir permanentemente.

Sugerir, como os pentecostais, que o Espírito vem apenas em parte quando somos convencidos e vem na sua totalidade somente mais tarde por ocasião do segundo batismo, contradiz o ensino deste verso. Se sois cristãos, Paulo declara, o Espírito está habitando em vós. E onde o Espírito está, Ele está plenamente e não 2/3 ou 1/4. O mesmo quer dizer I Coríntios 3:16, onde Paulo diz a toda a igreja de Corinto "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que Espírito de Deus habito em vós?"

6. Colossenses 2:3-10; 1:19,20; Efés.1:13; Gál. 3:14; Rom. 5:5; 8:9 Na carta aos Colossenses Paulo está combatendo o ponto de vista daqueles que

diziam que para se atingir "uma vida cristã superior" o cristão necessita "algo adicional" à fé em Cristo. Os colossenses estavam sendo tentados a procurar "algo adicional" nos poderes celestiais acima de Cristo. Paulo admoesta este falso ensino nestas palavras: "Porque nEle (Cristo) habita corporalmente toda a plenitude da divindade; E nEle somos feitos plenos" (Col. 2:9, 10). Sendo que já fostes feitos plenos em Cristo, Paulo está dizendo, não necessitais buscar "algo adicional" à fé em Cristo a fim de conseguir a plenitude em Cristo. Se o cristão como Paulo ensina, tem sido feito pleno em Cristo pela fé, não precisa ele também ser feito pleno no Espírito Santo? Ou há separação entre as "Pessoas da trindade?" Pode alguém ter tudo de Cristo e somente parte do Espírito Santo? Não habita Cristo em nós pelo Espírito Santo? (cf. Rom. 8:9, 10).

Não há parte da divindade que não esteja colocada – plena e permanentemente – em Cristo Jesus. "Plenitude" está sitiado em Jesus Cristo. Repetidas vezes Paulo lembra aos colossenses sobre o "tudo" que eles têm em Cristo. Na oração inicial pelos colossenses o autor faz esta relevante declaração: "Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nEle habitasse, e que, havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio dEle reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus" (Col. 1:19,20). A "plenitude" está posta por Deus no Seu filho. Portanto, quem crer em Jesus Cristo tem toda bênção espiritual. O cristão pode dizer: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo" (Efésios 1:3). A "plenitude" habita em Cristo. Aquele que está "em Cristo" tem a "plenitude".

Em parte alguma do Novo Testamento nós encontramos cristãos pedindo o batismo no Espírito da maneira como é ensinada pelos pentecostais – uma experiência distinta e subseqüente da conversão na qual se recebe a total presença do Espírito que estava anteriormente apenas parcialmente presente. Em parte alguma encontramos os apóstolos ensinando o segundo batismo. Pelo contrário, nós encontramos Paulo dizendo aos Gálatas: "Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito" (Gál. 5:1) Se fomos regenerados pelo Espírito, Paulo ensina aqui, nós vivemos pelo Espírito, pois somente o Espírito pode levar-nos da morte para a vida. Se isto é assim, então

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andemos pelo mesmo Espírito para que possais andar nEle. Ele diz: andar no Espírito, o qual já tendes, no qual es tais vivendo!

3. AS CONSEQUÊNCIAS PARA A DOUTRINA PENTECOSTAL DOS DOIS

BATISMOS 1. Sugerir que o cristão, embora em Cristo, ainda necessita "algo adicional" ou

colocar uma "plenitude parcial" em Cristo oferecendo uma "plenitude" depois do cristão ser iniciado, é não compreender o trabalho de Cristo e do Espírito Santo. Exaltar o trabalho do Espírito Santo é louvável, mas exaltar o Espírito acima de Cristo é um erro comparável à subordinação de Cristo ao Pai do qual os Arianos eram culpados.

A teologia pentecostal tem macro-aumentado a doutrina do Espírito Santo... Em assim fazer o pentecostalismo tem rejeitado o testemunho das Escrituras. Pois de acordo com as Escrituras, o Crucificado e o Ressurreto é e permanece o ponto central que domina e penetra em tudo. E de acordo com as Escrituras, Cristo e o Espírito Santo não podem ser separados; a obra de um não pode ser distinguida do outro em qualidade e hierarquia. Não existe obra do Espírito Santo à parte da cruz; há penas a obra do Espírito sob a cruz.

2. Baseado nas passagens do batismo – Espírito no Novo Testamento, podemos

fazer as seguintes declarações: a) Quando o Espírito Santo opera como "agente" da salvação Ele não se afasta

para reaparecer mais tarde totalmente no cristão, mas o Espírito é dado como o dom da salvação desde o início (Tito 3:5, 6; I Cor. 12:13).

b) Quando o Espírito opera a regeneração e dá-se a si mesmo nesta ocasião como dom, Ele dá-se não anêmica ou parcialmente, mas em abundância ou ricamente (I Cor. 12:13; Tito 3:6; Rom. 5:5).

c) Então, como agente e dom, o pleno e rico dom da iniciação espiritual, o Espírito Santo não é apresentado no Novo Testamento como: (1) um agente independente de Cristo; (b) um dom separado ou (c) como uma riqueza particular e a uma classe privilegiada. Pelo contrário, (a) como agente o Espírito batiza em Cristo, e pelo fato de ser batizado em Cristo o cristão pode dizer ter sido batizado pelo Espírito, pois Cristo e o Espírito não estão divididos; (b) como dom, em adição, o Espírito no Novo Testamento vem habitar no cristão pelo nome de Jesus Cristo e nunca através de uma experiência discreta com Ele, como um dom separado, que a iniciação em Cristo foi impossível comunicar, como se o Espírito não fosse dado plenamente a Cristo e através de Cristo a todos nós; (c) como um rico dom de salvação em Cristo, a função nobre do Espírito não consiste em apontar a uma melhor, superior ou mais rica experiência em si mesmo (no Espírito), mas em conseguir a justificação do homem em Cristo, isto é, conduzir o homem a Cristo e não além de Cristo.

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3. Assim a conseqüência de um batismo no Novo Testamento para dois do pentecostalismo deve ser o desmoronamento do segundo batismo espiritual isolado e o retorno do único batismo na água e Espírito. O único batismo em Cristo deve ser revestido com todo o poder. O nome de Cristo não deve mais ser identificado com vida "menos poderosa", com fé "sem Espírito pleno", com regeneração que não é ao mesmo tempo renovação, com novo nascimento que não é também energia. Todos estes "predicados plenos" que são negados ao batismo em Cristo e são reservados pelo pentecostalismo para o momento do segundo batismo, não podem mais ser tratados na presença da doutrina do Novo Testamento.

4. COMPLEMENTO À DOUTRINA DA SUBSEQUÊNCIA DO BATISMO NO

ESPÍRITO SANTO No movimento carismático o ensino central é que cada cristão deve procurar uma

experiência do batismo no Espírito Santo após a conversão. Em primeiro lugar devia ser observado que a "expressão" batismo no "Espírito

Santo" não ocorre no Novo Testamento. O que ocorre vários vezes é uma expressão no qual o verbo "ser batizado" é usado em relação com o Espírito Santo. A expressão "ser batizado no Espírito Santo é encontrada sete vezes no Novo Testamento: 4 vezes nos Evangelhos, 2 vezes em Atos, e 1 vez em 1 Coríntios. Em todas as passagens, o original grego usa a preposição "em" antes da palavra "Espírito".

O que os escritores do Novo Testamento querem dizer com a expressão "ser batizado no Espírito?"

Nas 4 vezes que ela ocorre nos Evangelhos (S. Mateus 3:11; S. Mar. 1:8; S. Luc. 3:16; e S. João 1:33) e em Atos 1:5, a expressão descreve o evento histórico do derramamento no dia de Pentecostes. Nos evangelhos é João Batista que a declara e é usada para descrever o contraste entre o que João está fazendo e o que Jesus fará. Em Atos 1:5 a expressão é usada por Jesus. As palavras "não muito depois destes dias" tornam claro que Jesus está se referindo ao derramamento do Espírito no dia de Pentecostes. O fato de Jesus referir-se aqui a João Batista, fazendo o mesmo contraste entre o batismo com água e o batismo com Espírito, mostra que as palavras de João Batista acerca do batismo de Cristo apontavam também ao dia de Pentecostes.

Assim, o "ser batizado no Espírito", como é descrito nos Evangelho e em Atos 1:5, não significa uma experiência que cada cristão deve alcançar mas significa o evento histórico peculiar do Pentecostes.

Em Atos 11:16 a expressão também ocorre. Pedro descreve o batismo no Espírito mas não nos moldes como ele é descrito pelos carismáticos – apos a conversão. Na realidade esta experiência do batismo no Espírito aqui descrita ocorreu na conversão ou era uma parte integral da conversão. Quando Cornélio e sua casa foram batizados no Espírito, eles foram feitos cristãos pela primeira vez e não era uma experiência distinta e posterior à conversão. Esta passagem parece indicar que ninguém pode se tornar cristão sem o recebimento do Espírito para a salvação.

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Aqui o "batismo no Espírito" descreve a recepção do Espírito para a salvação por pessoas que não eram cristãs anteriormente. Neste "batismo no Espírito" pode ser repetido, mas não no sentido de ser uma experiência distinta e subseqüente do conversão, como querem os carismáticos. Mas, o batismo no Espírito aqui é simultâneo com a conversão ou é um aspecto integral da conversão.

Resta-nos ainda analisar a passagem de I Cor. 12:13 onde a mesma expressão "ser batizado no Espírito" ocorre. Porventura Paulo concorda aqui com os carismáticos? O que Paulo declara claramente é que todos os cristãos têm sido batizados no Espírito. O batismo no Espírito é aqui descrito como sendo idêntico à conversão – como o ato poderoso de Deus pelo qual nós somos feitos um com Cristo, incorporados no corpo de Cristo (igreja) por ocasião do batismo. "Você não precisa procurar o batismo no Espírito como uma experiência posterior à conversão", Paulo está dizendo aos Coríntios e a nós; "se vocês estão em Cristo, já têm sido batizados no Espírito". E nisto Paulo difere dos carismáticos.

Portanto, Atos 11:16 e 1 Cor. 12:13, descrevem uma mesma experiência. Concluímos que nunca no Novo Testamento a expressão "ser batizado no

Espírito" é usada para descrever uma experiência posterior à conversão pela qual todos os cristãos devem passar. Portanto, o ensino pentecostal e neo-pentecostal, é contrário às Escrituras.

O Novo Testamento suporta a idéia de que o batismo no Espírito não é uma experiência posterior à conversão.

Romanos 8:9 indica que há apenas dois grupos de pessoas: "os que estão na carne" e "os que estão no Espírito". As palavras "se é que Espírito habita em vós" não quer dizer que podem existir certos cristãos sem o Espírito, porque em seguida Paulo declara enfaticamente que se alguém não tem o Espírito, ele não é de Cristo, em outras palavras, "ele está na carne".

Paulo está dizendo: "Vocês são convertidos, logo não estão na carne mas no Espírito; e estar no Espírito significa que o Espírito habita em vocês."

O mesmo declara I Coríntios 3:16, onde Paulo declara à igreja inteira de Corinto "Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito habita em vós?"

O mesmo ponto é enfatizado, mas com palavras diferentes, em I Cor. 6:19: "Ou não sabeis vós que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?"

A bênção final de II Cor. 13:13, indica que todos os cristãos podem gozar de contínua presença e comunhão do Espírito Santo.

Gálatas 5:25 - Paulo diz aos cristãos: "Se vivemos pelo Espírito, andemos também em Espírito". Se fomos regenerados, Paulo ensina aqui, nós vivemos pelo Espírito, pois, apenas o Espírito pode nos levar da morte para a vida. Se isto é assim, então pelo mesmo Espírito em quem vivemos, também devemos andar nEle. Paulo não declarara: "esperai pelo Espírito para que possais andar plenamente nEle". Ele diz: "Andemos mais plenamente no Espírito, que já tendes, em quem já viveis".

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O mesmo indica Efésios 1:13. Aqui Paulo declara: Todos vocês que são cristãos, receberam o Espírito Santo quando creram e foram selados pelo Espírito - foi-lhes dado a certeza que todas as coisas prometidas por Deus são de vocês.

Posteriormente, em Efésios 5:18, Paulo escreve: "Sede cheios do Espírito". O verbo "sede cheios" é de continuidade. Podíamos traduzir assim: "Sede continuamente cheios do Espírito". A passagem não descreve uma experiência momentânea, mas um desafio para a vida inteira. Paulo não está dizendo que os cristãos deviam buscar uma experiência única após a conversão na qual receberiam a total presença do Espírito. Pelo contrário, Paulo declara: Vocês devem diariamente submeter-se completamente àquele Espírito que já está habitando em vocês.

Insistir pois que os cristãos necessitam andar mais plenamente no Espírito em quem já vivem, o que deve submeter-se mais completamente àquele Espírito pelo qual já foram selados, é ensino sadio com base nas Escrituras, ensino este que a igreja necessita grandemente.

O que dizer das outras passagens que os Pentecostais usam para sustentar a doutrina da subseqüência do batismo no Espírito?

Vejamos: 1. Atos 2:1-13 - Derramamento do Espírito no dia de Pentecostes. O batismo no Espírito aqui, como já dito anteriormente, não é uma experiência

para cada cristão, mas foi um evento único, peculiar, não repetível. 2. Atos 2:38 - Estas palavras foram dirigidas a pessoas não cristãs (não

convertidas), entretanto, religiosas (2:5-10). As palavras de Pedro não são um pedido de buscarem uma experiência ou batismo no Espírito posterior à conversão. Mas Pedro admoesta os não-cristãos para se arrependerem e serem batizados para receber o Espírito Santo cuja efusão sobre os discípulos haviam testemunhado. Notem, o dom do Espírito é recebido, não posteriormente à conversão e batismo, mas simultaneamente com o arrependimento e batismo. O Espírito Santo é o agente da conversão e ao a pessoa aceitar a Cristo (batismo), o Espírito dá-se a si mesmo como dom, para habitar no converso.

3. Atos 8:4-24 - Os pentecostais usam esta passagem para doutrina da subseqüência do batismo no Espírito por causa do período de tempo ocorrido entre o batismo e recepção do Espírito. Este aparente problema pode ser explicado da duas maneiras:

a) As expressões dos versos 15, 16 - "para que recebessem o Espírito" e "receberam o Espírito", pode referir-se ao que os samaritanos ainda não haviam recebido uma especial manifestação carismática do Espírito (como falar em línguas, cura, etc... ) e pode-se assumir que eles já haviam recebido o Espírito para a salvação.

b) A outra solução ao problema é considerar que os samaritanos não eram verdadeiros cristãos quando Felipe os batizou e por isso não receberam o Espírito. O verso 12 diz que eles "creram em Felipe" e não em Cristo. A construção grega aqui significa assentimento intelectual sem uma entrega. Além disso, o paralelo entre os

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samaritanos e Simão, o ex-mágico, é significativo. As mesmas coisas são ditas dos samaritanos e Simão, isto é, "creram" e foram "batizados". Contudo, está claro que a fé de Simão era falsa.

Diante da "falta de alguma coisa" na conversão dos samaritanos, Pedro e João foram enviados de Jerusalém a Samaria. Estes então levaram os samaritanos de uma mera aceitação nominal da verdade cristã para uma fé genuína.

4. Atos 9:1-18 - Os pentecostais argumentam que Saulo converteu-se na estrada de Damasco e três dias depois Saulo recebeu o Espírito Santo, A compreensão da experiência de Saulo é melhor compreendida se considerada à luz de Atos 2:21 e 22:16. Em Atos 2:21 Lucas usa as palavras de Joel citadas no discurso de Pedro: "Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo". Em Atos 22:16 as palavras de Ananias dirigidas a Saulo no fim dos três dias são os seguintes: "E agora por que te deténs? Levanta-te, batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor".

Colocando estas duas passagens juntas, nós ouvimos Lucas claramente dizendo-nos, primeiro, que o passo decisivo em ser salvo é invocar o nome do Senhor, e, segundo, que Saulo ainda não havia tomado este pagão quando Ananias o admoestou a tomá-lo. Concluímos que a conversão de Saulo não foi um acontecimento instantâneo mas uma experiência de três dias.

Considerando que Saulo foi cheio do Espírito no fim dos três dias, não podemos dizer que o batismo no Espírito é uma experiência posterior à conversão, mas é um aspecto integral do sua conversão.

5. Atos 10:1-48 - Já comentamos anteriormente que a experiência do batismo de Cornélio e outros foi uma experiência posterior à conversão, mas simultânea com a conversão ou parte integral do conversão.

6. Atos 19:1-7 - Paulo encontrou alguns discípulos em Éfeso e disse-lhes: "Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes?" A pergunta parece indicar ser isto estranho para Paulo (cristãos da Igreja primitiva) o não receber-se o Espírito por ocasião da conversão (ao a pessoa vir e crer). Os discípulos responderam: "Não, e nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo". "Em que sois batizados então?" perguntou Paulo. E eles disseram: "no batismo de João". Paulo agora explica que João havia de vir e instruiu-os em toda a verdade cristã. Depois disto, Paulo batizou-os e impondo-lhes as mãos receberam e Espírito Santo.

É óbvio que estes discípulos não eram cristãos instruídos em toda a verdade na ocasião quando Paulo os encontrou pela primeira vez, pois, eles nem sabiam que o Espírito Santo havia sido dado à igreja. É bem possível que aqueles discípulos haviam sido batizados por Apolo que é descrito como "conhecendo somente o batismo de João" (Atos 18:25).

Quando Paulo os batizou, portanto, isto não era um rebatismo, mas, antes, era o primeiro batismo cristão deles. A imposição das mãos sobre eles da parte de Paulo foi provavelmente o clímax da cerimônia do batismo. Assim o batismo, a imposição das mãos e a vinda do Espírito foram parte de uma só experiência.

O que ocorreu em Éfeso não foi o batismo no Espírito posterior à conversão mas foi a recepção do Espírito na conversão ou batismo cristão.

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Ao analisarmos as passagens acima chegamos à conclusão que os pentecostais e neo-pentecostais mantêm a sua doutrina de uma segunda "vinda do Espírito Santo" sobre textos que ensinam apenas uma "vinda do Espírito".

A DOUTRINA DA EVIDÊNCIA DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

1. A DOUTRINA DA EVIDÊNCIA NO LIVRO DE ATOS 1. Em primeiro lugar devemos salientar que para os pentecostais o padrão bíblico

que permanece para todos os batismos no Espírito Santo é baseado em Atos 2. Neste caso que dizer do forte vento e das línguas de fogo? Por que os pentecostais escolhem apenas o falar em línguas como a evidência do batismo no Espírito? Dizem eles que alguns aspectos do Pentecostes eram peculiares para aquele dia e não repetíveis e que outros aspectos foram estabelecidos como padrão para cristãos futuros. Entretanto, isto é muito subjetivo. Quem determina quais dos aspectos são permanentes ou temporários?

2. Há no livro de Atos, 4 recepções extraordinárias no Espírito Santo (Atos 2; 8:4-24; 10:44-46; 19:1-7), e em três delas o falar em línguas é mencionado. Elas tiveram lugar em quatro diferentes áreas – Jerusalém, Samaria, Cesaréia e Éfeso – e envolveram quatro diferentes classes de pessoas – Judeus, Samaritanos, Gentios e os discípulos de João Batista. O quadro abaixo revela que nenhum caso foi completamente igual ao outro:

Cap . 2 Cap. 8 Cap. 10 Cap. 19

Som de vento x Línguas de fogo x Falar em línguas x x x O pôr das mãos x x O Espírito recebido após a conversão

x x x

O Espírito recebido na conversão x

Devemos ainda salientar que nestas ocasiões o Espírito não foi solicitado, antes ao receberem o Espírito foi revelado surpresa. Os discípulos estavam orando ou ouvindo sermão quando o Espírito veio sobre eles (cap. 2). Pedro e João oravam pelos samaritanos (cap. 8). Cornélio estava ouvindo e Pedro pregando (cap. 10). Paulo terminara suas explicações (cap. 19). A que conclusões podemos chegar quando vemos tantas diferenças de um caso para outro?

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Em primeiro lugar, nenhum padrão ou modelo de receber o Espírito hoje pode ser desenvolvido destas passagens. Se um padrão fosse procurado, qual capítulo seria padrão?

Se Atos 2, então o imposição das mãos não seria necessária, mas o vento e as línguas de fogo deveriam estar incluídos.

Se Atos 8 (línguas não são mencionadas) então os apóstolos deveriam ser chamadas para a oração e a imposição das mãos. (Filipe e os samaritanos não puderam fazê-lo). Isto é impossível pois os apóstolos não estão em nosso meio.

Se Atos 10, então o Espírito é recebido no momento da conversão sem oração e a imposição das mãos.

Se Atos 19, então a oração é desnecessária. O que tudo isto significa? Significa que nós não devemos cometer o trágico

engano espiritual de ensinar a experiência dos apóstolos, mas, antes experimentar os ensinos dos apóstolos. A experiência dos apóstolos é encontrada em Atos, enquanto o ensino dos apóstolos é encontrado claramente nas Epístolas. (Logo iremos ver o ensino das Epístolas).

Em segundo lugar, devemos reconhecer o caráter especial e transitório do livro de Atos. Atos 2 constituiu uma dramática demonstração aos judeus, que Deus estava inaugurando uma nova era. O falar em línguas de Atos 2 era um sinal vertical de que o dom do Espírito tinha sido dado pelo ressurreto Jesus Cristo segundo a Sua promessa iniciando assim uma nova era. Atos 8 marca a vinda do Espírito Santo aos samaritanos, indicando a sua entrada na experiência da salvação da nova era inaugurada no dia de Pentecostes. Esta demonstração fez-se necessária porque a igreja estava agora penetrando em território anteriormente considerado hostil. Dado o preconceito dos judeus contra os samaritanos, é correto imaginar-se que seria necessário uma dramática demonstração do Espírito para convencer os judeus que era próprio levar o Evangelho aos samaritanos.

O que aconteceu em Cesaréia com Cornélio (Atos 10) é uma demonstração de que a nova era havia sido plenamente introduzida e estabelecida com o privilégio sendo estendida aos gentios. O dom de línguas era um sinal horizontal de expansão da salvação no sentido que outros além dos judeus e samaritanos estão incluídos, isto é, o resto da humanidade (os gentios). O que aconteceu em Éfeso (Atos 19) foi uma extensão do Pentecostes aos discípulos que nem sequer haviam ouvido falar do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes e cuja compreensão do cristianismo era inadequada.

Em cada caso houve circunstâncias especiais que fez necessário uma demonstração extraordinária. Eram situações únicas e não constituem um padrão permanente para uma experiência a ser procurada pelos cristãos. Para provar este ponto veja as seguintes passagens do livro de Atos de pessoas convertidas mas que não é dito terem falado em línguas: 2:41 (os 3.000 convertidos receberam o Espírito Santo mas não falaram em línguas); 3:3-7; 4:4; 5:14; 6:7; 8:36; 9:42; 11:21; 13:12; 13:43, 48; 14:21; 16:14; 16:34; 17:4; 17:11, 12; 17:34; 18:4; 18:8; 28:24. Deve, pois, ficar claro que a alegação pentecostal de que e dom de línguas como evidência do

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batismo no Espírito, é o padrão bíblico normal para todos os crentes, não é confirmado em Atos.

Ainda quanto ao propósito das manifestações do Espírito Santo, Heb. 2:3 e 4 lança luz sobre a questão. Destes versos aprendemos que o propósito e função especial das manifestações extraordinárias do Espírito eram para autenticar os apóstolos como verdadeiros mensageiros de Deus e assim para confirmar o Evangelho da salvação. Sendo isto o caso, podemos entender porque estas manifestações sobrenaturais estavam em evidência nos dias dos apóstolos. E, também podemos entender porque estas manifestações sobrenaturais, deviam desaparecer quando os apóstolos não existissem mais. Se as manifestações sobrenaturais visavam autenticar os apóstolos, então não seriam mais necessárias depois do trabalho dos apóstolos ter sido realizado.

3. Além das 3 passagens de Atos 2, 10 e 19, não existe outro verso em Atos que mencione o falar em !ínguas. Quando os pentecostais declaram que este é o padrão normal do livro de Atos eles estão lendo muito mais sobre o falar em línguas do que realmente existe! Há 9 passagens em Atos que descrevem alguém cheio do Espírito mas nenhuma fala do dom de línguas (4:8, 31; 6:3, 5; 7:55; 9:17; 11:24; 13:9, 52).

4. Como já foi demonstrado, a união da água (batismo) e do Espírito estabelecida no Novo Testamento e em Atos o batismo é a própria suficiente evidência de Espírito. Outras evidências do Espírito podem acompanhar o batismo, entretanto não existe uma regularidade em Atos sobre isto. Em Atos 2:42-47, por exemplo, além do batismo são mencionados amizade cristã (comunhão), o desejo pela Palavra, Santa Ceia, oração etc., como evidência do Espírito. Em alguns lugares em Atos o dom do gozo (júbilo) é enfatizado (8:39; 16:34; 13:52; 11:23,24) como evidência, e em outros, a ousadia (cf. 4:8 com 4:13 e 4:19 com 4:31). Entretanto como Lucas está escrevendo, não tanto uma história interior dos cristãos, uma história exterior da igreja apostólica, comumente apenas o evento fundamental é mencionado, o batismo. Como podemos saber que o Espírito Santo estava presente, ativo e sendo recebido? Nós sabemos que o Espírito estava presente, ativo e sendo recebido porque Jesus era aceito (crido) e o crente era batizado, e isto é a grande obra do Espírito (1:8; 4:31; 15:8; cf. I Cor. 12:3; Rom. 8:9). Nós podemos crer que o Espírito foi recebido quando simplesmente é dito que os ouvintes do evangelho foram batizados, pois, o batismo em Atos pressupõe que batismo e a obra que antecede ao batismo é a obra do Espírito Santo. Batismo em Atos é realmente a evidência do Espírito Santo pois o batismo evidencia a efetiva obra do evangelho e a fé do ouvinte, ambos resultados da operação do Espírito Santo (15:8;9; cf. 16:15,33; 18:18).

2. A DOUTRINA DA EVIDÊNCIA NO NOVO TESTAMENTO

E o resto do Novo Testamento diz alguma coisa sobre o falar em línguas como

sendo a evidência necessária para o batismo no Espírito? As únicas duas referências sobre o falar em línguas no Novo Testamento são: S. Marcos 16:17 e I Cor. 12:14. Entretanto não se encontra nada que sugira que o falar em línguas seja a evidência do batismo no Espírito ou o sinal de uma experiência espiritual superior. Concluímos

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dizendo que nem em Atos, nem em Marcos, nem em I Coríntios, nem em qualquer parte do Novo Testamento as Escrituras suportam a doutrina pentecostal de que o falar em línguas é a prova do batismo no Espírito subseqüente à conversão.

Fé, amor e esperança, são a evidência do Espírito Santo e não línguas. Leia as passagens seguintes: (Gál. 4:6,7; 5:5,6,22,23; Rom. 5:5; 8:11-25; I Cor. 2:2; II Cor. 1:22; 5:5; I João 3:24; 4:1-3,13-16; Efés. 1:13-14; 4:30; S. João 14:16-17, 26; 16:7-15; 15:26).

Pelos textos bíblicos acima, podemos concluir que a evidência do Espírito Santo é tão ampla quanto a sua obra. O centro desta obra se encontra na fé, o que corresponde dizer-se que se encontra em Cristo. Deste centro o Espírito Santo ilumina todo o grande plano de salvação de Deus. Resumidamente então podemos dizer que o Espírito Santo se evidencia pelo amplo ministério da fé, esperança e amor. Este fato é lembrado por Paulo em Gál. 5:5, 6. "Porque pelo Espírito, pela fé nós aguardamos a esperança da justiça. Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem virtude alguma; mas sim a fé que opera por amor."

O Espírito Santo, pela fé, opera na vida cristã, a esperança e o amor e desta maneira evidencia-se a Si mesmo. O Espírito desperta em primeiro lugar a certeza da fé. Então, através da certeza da fé o Espírito opera o propósito da esperança e a paciência do amor. Fé, esperança, amor, e não línguas, são as maiores evidências do Espírito Santo na vida dos cristãos. A evidência do Espírito é mais amplamente resumida na obra Cristocêntrica, a obra de trazer à lembrança do homem a pessoa e o significado de Cristo. Cristo mesmo é a clássica evidência do Espírito Santo.

1. Fé para crer (a certeza da fé): Em Gál. 1:6,7, e Rom. 8:15-17 Paulo desenvolve o argumento teológico fundamental: a função principal do Espírito Santo é despertar no homem a fé no Pai. Para Paulo, a habilidade do homem de dizer "Pai" era obra, e portanto evidência do Espírito. A obra principal do Espírito é tornar os homens, através de Jesus, os verdadeiros filhos de Deus. O dom do Espírito é assegurar ao homem o dom da adoção ou justificação. Em Rom. 5:5 a obra do Espírito Santo é descrita como sendo o constante derramar do amor de Deus no coração do homem. Ele portanto é o Comunicador do amor de Deus ao homem. Nas três passagens acima citadas, a essência bem como a evidência da presença do Espírito Santo, é o abrir do coração humano ao conhecimento do amor de Deus. Esta verdade também se encontra claramente em I Cor. 2:12: "Mas nós não recebemos o espírito do mundo; mas o Espírito que provém de Deus". O propósito do Espírito é para dar entendimento ao homem acerca da graça. Interessante que o foco da evidência do Espírito não é o Espírito mas a Graça.

Há um teste ou evidência pela qual a igreja pode saber a presença do Espírito: "... Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus". I S. João 4:2. A evidência do Espírito não é mística ou estática, é o claro testemunho de Jesus encarnado. O objetivo do Novo Testamento é ver o Espírito na mais íntima ligação com Jesus Cristo. Seria salutar os pentecostais lembrarem que a verdadeira evidência do Espírito é o Seu poder de ligar o homem a Jesus e de lembrar-lhe de Jesus (Atos 1:8; I Cor. 12:3).

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2. Esperança: O Espírito não somente dirige o homem ao conhecimento redenção passada (justificação em Cristo, mas o Espírito também dirige o homem no futuro: "Ele irá declarar-vos as coisas que sobrevirão" (S. João 16:13). A igreja precisa ser "lembrada" desta dimensão futura da obra do Espírito. Mas aqui de novo a obra do Espírito não é independente ou supra-cristológica (S. João 16:13). O Espírito irá lembrar a igreja a "Palavra de Cristo" nos momentos de necessidade ou crises que a igreja sofrer. Pelo Espírito o cristão não somente crê, mas também espera. "Porque pelo Espírito, pela fé, nós aguardamos a esperança da justiça" (Gál. 5:5). E o alvo da esperança no Novo Testamento não é o Espírito, o Espírito é o meio, a garantia. É porque Deus nos concedeu o Seu Espírito que a esperança do cristão tem fundamento (Rom. 5:5; Efés. 1:13, 14).

3. Amor: A fé, que é a obra do Espírito, evidencia-se pelo amor (Gál. 5:6). O amor cristão exige a energia ou o poder do Espírito. A obra do amor, operada no cristão pelo Espírito, é no Novo Testamento desenvolvida em duas direções: a) negativamente, contra a carne: b) e positivamente, para com o próximo.

a) Contra a carne: em primeiro lugar, "a fé que opera por amor" (Gálatas 5:6) é um poder em constante tensão com outro poder que Paulo chama "a carne". A vida no Espírito, se for real, é uma vida em guerra contra a carne. E esta guerra, de acordo com Rom. 8:13, não é um assunto do passado na experiência cristã ou que termina quando o Espírito é recebido. A guerra do cristão é a contínua responsabilidade de "crucificar" más inclinações precisamente porque o EspÍrito foi recebido e é Santo. O homem que luta com Cristo nesta guerra contra a carne, tem nesta guerra uma forte certeza de que está sendo dirigido pelo Espírito e conseqüentemente é filho de Deus (Rom. 8:13-14).

Assim andar em amor significa essencialmente andar de acordo com Espírito e contra a carne (Gál. 5; Rom. 8). Este andar é em si a evidência do Espírito. Mais uma vez, portanto, a evidência do Espírito não é estática mas ética. A evidência do Espírito não está na experiência estática, pois amor não é primariamente a explosão de emoções mas é o controle das emoções; não é tanto grandes emoções mas grande paciência (cf. I Cor. 13:4-7 e 13:1-3); e nos momentos de crise não é um assunto de falar em línguas, mas é um assunto de serviço das mãos (cf. João 3:18).

b) Amor ao próximo. Os gnósticos asseguravam possuir um conhecimento especial de Deus e usavam as suas experiências espirituais como critério de união com Deus. Em contraste à "piedade" dos gnósticos, João propõe o único legítimo critério da fé cristã do seu ponto de vista – a guarda dos mandamentos, isto é, o amor.

Assim as experiências espirituais dos gnósticos que eram consideradas como evidência especial de união com Deus, eram para João uma evidência decisiva da "mentira" gnóstica, pois a espiritualidade gnóstica levava-os a negligenciarem o próximo. A ausência de amor, e não falta de experiências espirituais, era para João uma evidência de que o homem não estava na verdade. O teste, a evidência da verdadeira espiritualidade, de acordo com João, era o amor e não uma experiência especial (falar em línguas). (Cf. I S. João 4:12,13,19,20; 4:7-8; 2:9,10).

Resumindo podemos dizer que aquele que está mais preocupado em revelar os dons do Espírito do que em mostrar os frutos do Espírito, ou o que alega que ter os

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dons do Espírito à parte das frutos do Espírito, não está em harmonia com a vontade de Deus. Todo aquele que recebe totalmente o Espírito revelará em sua vida os frutos do Espírito. Tomemos caso do eunuco de Atos 8:26-40. Como sabemos que o Espírito Santo esteve presente, ativo e fora-lhe dado? Sabemos que o Espírito Santo esteve presente e fora recebido pelo eunuco porque (1) o Espírito Santo arranjou a reunião (Atos 8:29); (2) Concluiu-a (Atos 8:39); (3) e o Espírito Santo foi a fonte de gozo do eunuco (Atos 8:39), pois em vario lugares no Novo Testamento o gozo é considerado como um fruto especial do Espírito (cf. Atos 11:23, 24; 13:52; 2:46; Gál. 5:22). (4) Além disso e conclusivamente nós podemos saber que o Espírito Santo estava presente e foi recebido pelo eunuco porque Jesus foi pregado e em resposta o eunuco foi batizado (Atos 8:38, 39).

No caso da conversão do eunuco e da conversão dos seis gregos relatadas em Atos 16:11 - 18:11, nós sabemos que o Espírito fora-lhes dado não porque está escrito, mas porque Jesus Cristo foi proclamado e aceito, e esta é a grande obra do Espírito Santo (Atos 1:8; 4:31; 15:8; I Cor. 12:3; Rom. 8:9). Nós podemos crer que o Espírito foi recebido pelos conversos acima mencionados porque eles foram batizados. Batismo é a evidência do Espírito Santo em Atos porque ele evidenciou a obra do Evangelho e a fé do ouvinte e ambos são obras do Espírito (Atos 1:8; 15:8, 9; cf. 16:15-33; 18.8).

Mas estas histórias de Atos 8:26-40; 16-18, não nos deixam de dar outros exemplos de importantes evidências do Espírito Santo, amor revelado na forma mais concreta – abrindo as portas de suas casas, amizade cristã (veja Atos 16:15, 33, 34; 17:5-9) para com os novos irmãos cristãos, e alegria ou gozo na fé (Atos 16:34, cf. I Tes. 1:6). Pois o fruto do Espírito é antes de tudo, amor e gozo (cf. Gál. 5:22). Lucas e Paulo apresentam como evidência do Espírito Santo na igreja apenas (1) o batismo que une o crente a Cristo ou à "nova humanidade" (Atos 17:4, cf. Gál. 3:27-28); (2) e o caráter que emana pelo Espírito na vida da igreja e no mundo (Atos 16:14-15, 33, 34; cf. 2:38-47; Gál. 5:22, 23). O poder da Espírito Santo no Novo Testamento é evidenciado não em primeiro lugar no fenômeno estático ou espetacular do falar um línguas, mas antes no poder transformador que o evangelho de Jesus Cristo tem operado na vida e culto da igreja. Isto é o que as Escrituras enfatizam.

3. AS CONSEQUÊNCIAS PARA A DOUTRINA DA EVIDÊNCIA DOS

PENTECOSTAIS Concluímos que o Novo Testamento não suporta a doutrina pentecostal que o

falar em línguas é uma evidência necessária ou prova desejável que alguém tenha recebido o batismo do Espírito Santo subseqüente à conversão.

1. Deve~se notar que o Pentecostes (Atos 2), e os casos de batismo no Espírito Santo relatadas em Atos 10:44-48; 11:13-18 (textos que os pentecostais usam para sustentar sua doutrina do falar em línguas como evidência), o falar em línguas veio não como uma evidência procurada pelos cristãos, mas veio como uma surpresa completa ("admirada") - Atos 10:45. O falar em línguas ocorre em Atos 2, 10, 11, mas

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não é procurado, nem é esperado, nem exigido como evidência do batismo no Espírito. Ele vem com surpresa. Este fato é chocante à doutrina pentecostal que exige e procura a evidência do batismo no Espírito Santo.

2. Uma segunda razão porque a posição pentecostal é incorreta é porque eles

enfatizam a experiência pessoal acima da doutrina bíblica. Eles fazem da experiência a base da fé e prática ao invés da Bíblia. Mesmo a experiência dos apóstolos não pode ser padrão como já foi demonstrado. A experiência dos a apóstolos em muitos aspectos é singular e com um propósito especial e daí não repetível na vida de cada cristão. A experiência dos apóstolos não é o que devemos procurar seguir mas os seus ensinos. A experiência não deve formular a doutrina, mas a doutrina deve formular o tipo da experiência para o cristão.

Há dois princípios que devem ser lembrados quando se fala de experiência: a) Primeiro, doutrina (racionalismo) e experiência (emocionalismo) devem ser

conservados em equilíbrio. Devemos lembrar que os demônios "que crêem" estão convencidos da verdade mas são carentes da experiência transformadora. No outro extremo temos o povo de Listra, que tendo experiência erraram doutrinariamente querendo adorar a Paulo e Barnabé como deuses. O teólogo Bernard Ram observa: "os demônios necessitam uma experiência transformadora, enquanto que os listranos necessitam um curso de teologia sistemática; nenhum dos dois tinha relacionado doutrina e experiência corretamente"'. (Bernard Ram, Let God Be Your Compass, His Magazine, junho de 1969, p. 6).

b) Segundo, embora as experiências emocionais possam ser poderosas elas

podem ser também enganosas. O falar em línguas, milagres, curas, não são sinais seguros da operação de Deus.

Leia o desapontamento e desilusão de muitos descrito em S. Mt. 7:13-23. Primeiro, no verso 13, somos advertidos por Jesus que não devemos avaliar homens ou movimentos na base de manifestações carismáticas, mas pelos "frutos". Segundo, nos versos 22 e 23 Jesus rejeita muitos dos que tiveram experiências sobrenaturais porque não fizeram a sua vontade. O teste não são as experiências mas a vontade de expressa na vida do cristão.

Os que se apegam às experiências emocionais erram em dois pontos: (1) Primeiro, eles não se apercebem de uma grande contradição. Se o processo é da experiência para a verdade então eles devam aceitar como válidas todas as experiências que as pessoas dizem ter. Mas estas experiências são contraditórias. Nós não podemos experimentar todas as experiências. Existe uma babilônia de experiências. Assim a argumento "da experiência para a verdade" não me liberta, mas pelo contrário, me paralisa porque eu não sei se devo seguir Mary Baker, ou a Sra Edy Macpherson. (2) Segundo, embora as experiências emocionais sejam poderosas e apelantes emocionalmente, elas são perigosamente enganosas. Não há certeza da verdade na Babilônia de experiências. Muitas pessoas que tiveram uma profunda experiência têm mais tarde reconhecido terem sido enganadas.

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A resposta ao dilema que as experiências emocionais estabelecem, é o padrão do Novo Testamento: da verdade para a experiência. É a verdade que nos liberta. Liberta-nos de transgredir a vontade de Deus. Liberta nos de sermos enganados (S. João 8:31, 32; Rm. 6:17). O argumento "de verdade para a experiência" não é contraditório porque a verdade não é contraditória. Aqui não há engano porque a verdade somente leva à realidade.

E. G. White escreveu advertindo-nos: (1) Sentimentos não são guias seguros; Satanás pode infundi-los: "As impressões e os sentimentos não são seguras provas de que uma pessoa esteja

sendo dirigida pelo Senhor. Se não estivermos apercebidos, Satanás dará sentimentos e impressões. Estes não são guias seguros." – E.G. White, Testemunhos Seletos, vol. I, p. 162.

(2) O cristão deve ser movido por princípios: "Vi que o cristão não deve dar valor demasiado ao entusiasmo dos seus sentimentos,

nem depender muito disso. Esses sentimentos nem sempre são guias seguros. Todo cristão deve cuidar de servir a Deus, movido por princípios; não ser regido por sentimentos." – E.G. White, Testemunhos Seletos, vol. I, p. 54.

(3) As pessoas que substituem a razão pelo sentimento influenciam: "Essas pessoas, professamente santificadas, estão, não somente enganando seu

coração por suas pretensões, como também, exercendo uma influência para desviar a muitos que desejam ardentemente conformar-se com a vontade de Deus." – E.G. White, Santificação, pág.10

(4) O equilíbrio é recomendado: "O pensamento racional os sentimentos corretos e a vida pura vêm da mesma fonte e são calmos, fortes e sensíveis em sua operação". – E. G. White, Carta 24, 1880.

(5) A Bíblia ou a verdade não pode ser substituída pelas manifestações carismáticas:

"A luz da Palavra está a resplandecer por entre a escuridão moral; e a Bíblia nunca será suplantada por manifestações miraculosas. A verdade precisa ser estudada, precisa ser pesquisada como tesouros escondidos. Não serão dadas maravilhosas iluminações à parte da Palavra, ou para tomar o lugar dela." – E. G. W., Mensagens Escolhidas, livro 2, p. 48.

(6) Há impressões que não são do Senhor: "Alguns saltam cantam 'glória, glória, glória, glória'. Algumas vezes eu permanecia

silenciosa até que eles paravam e então eu me levantava e dizia: Esta não é a maneira de Deus operar. Ele não dá impressões destas. Nós devemos dirigir a mente do povo para a Palavra como o fundamento de nossa fé." – E. G. W., Manuscrito 115, 1908.

"... Eu tenho sido instruída que quando alguém pretende exibir estas manifestações peculiares (falar em línguas, dançar, gritar, pular, etc.) isto é uma evidência decisiva que não é a obra de Deus". – E. G. W., Manuscrito 115, 1908. Publicado na Review and Herald, 24 d agosto de 1972, pp.7, 8.

"Fanatismo e ruído têm sido considerados como evidência especial de fé. Alguns não estão satisfeitos com reuniões a não ser que haja uma manifestação de poder e alegria. Eles procuram desenvolver isto e chegam a uma excitação das emoções. Mas a influência de tais reuniões não é benéfica. Quando as emoções passam eles imergem nu estado

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inferior ao anterior porque sua felicidade não veio da fonte verdadeira..." – E. G. White, Testimonies for the Church, v. 1, pp. 412, 413.

"Eu vi que a verdadeira religião não consiste em fazer ruído...Ser cristão é imitar a Cristo e o hábito de aclamações do irmão não é evidência de que ele é cristão, pois suas aclamações são consideradas por Deus como falsas. Metade do tempo ele mesmo não sabe o que está dizendo". – E. G. White, Carta 14, 1861.

(7) Há dons falsificados: "Algumas dessas pessoas têm formas de culto a que chamam dons, e dizem que o

Senhor os pôs na igreja. Têm uma algaravia sem sentido a que chamam língua desconhecida, desconhecida não só ao homem, mas ao Senhor e a todo o Céu. Tais dons são manufaturados por homens e mulheres ajudados pelo grande enganador. O fanatismo, a exaltação, o falso falar línguas e os cultos ruidosos, têm sido considerados dons postos na igreja por Deus. Alguns têm sido iludidos a esse respeito. Os frutos de tudo isto não têm sido bons." – E. G. White, Testemunhos Seletos, vol. I, p. 161.

"Alguns desses têm muito a dizer sobre os dons, e são muitas vezes especialmente agitados. Entregam-se a sentimentos desordenados e produzem sons ininteligíveis, a que chamam o dom de línguas, e certa classe parece encantada com essas estranhas manifestações. Reina entre essa classe um espírito estranho, que subjuga e passa por cima de quem quer que os reprove. O Espírito de Deus não está nessa obra e não acompanha a tais obreiros. Eles têm outro espírito." E. G. White, Testemunhos Seletos, vol. I, p. 163.

Leia ainda: Testemunhos Seletos, vol. I, pp. 161-171. (8) A verdadeira evidência do Espírito Santo: "Onde quer e quando quer que o Senhor opere no conceder genuína bênção, revela-

se sempre também uma falsificação, de modo a anular a obra verdadeira de Deus. Devemos, portanto, ser extremamente cuidadosos, e andar humildemente diante de Deus, para que possamos ter o colírio espiritual e distinguir a operação do Espírito Santo de Deus da manifestação daquele espírito que quer introduzir desenfreada licença e fanatismo. 'Pelos seus frutos os conhecereis.' Mat. 7:20. Os que estão realmente contemplando a Cristo serão transformados à Sua imagem, como pelo Espírito do Senhor, e crescerão à plena estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus. O Espírito Santo de Deus inspirará aos homens amor e pureza; e manifestar-se-á refinamento em seu caráter." – E. G. W., Mensagens Escolhidas, livro 1, p. 142.

"Mansa e silenciosamente o poder do divino Espírito executa sua obra, despertando os sentidos adormecidos, despertando a alma e estimulando as sensibilidades; até que cada membro da igreja seja na verdade a luz do mundo". – E.G.W., Carta 85, 1883.

Leia E.G.White, Mensagens Escolhidas, livro 2, pp. 13-60; 367-383; e, Testemunhos Seletos, vol. 1, pp. 161-171.

3. A terceira razão porque a doutrina da evidência dos pentecostais deve ser

rejeitada é porque as suas experiências são contrárias à experiência dos relatos bíblicos.

a) Atos 2 – O dom de línguas são línguas de nações outorgadas aos discípulos pelo Espírito Santo. Veja Atos dos Apóstolos, pp. 39-40.

b) Atos 10 – Pedro declara 4 vezes que o dom de línguas dado aos gentios é o mesmo dom que eles haviam recebido no Pentecostes – o dom de línguas de nações.

(1) Atos 10:47; (2) Atos 11:15;

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(3) Atos 11:17; (4) Atos 15:8.

c) Atos 19 – O dom recebido pelos crentes em Éfeso capacitou-os a falar em línguas de outras nações. Veja Atos dos Apóstolos, p. 283.

Que contraste pois é o dom de línguas de Atos da algaravia e sons ininteligíveis dos pentecostais? O dom de línguas foi dado aos discípulos para capacitá-los a vencer os obstáculos das línguas de outras nações que os apóstolos não haviam aprendido. E o dom de línguas dos pentecostais é usado para que propósito?

Assim a doutrina de falar em línguas como evidência do batismo do Espírito Santo deve ser considerada como sendo de origem não bíblica, e de prática contrária à Bíblia.

4. Uma quarta razão para rejeitarmos a doutrina pentecostal da evidência é que os

pentecostais confundem o batismo no Espírito Santo com o estar cheio do Espírito Santo. Ficou demonstrado anteriormente que os Escrituras não ensinam que os cristãos necessitam esperar pelo batismo no Espírito Santo" para gozar a plenitude do Espírito Santo. Pelo contrário, as Escrituras declaram que o Espírito Santo já habita na pessoa regenerada (cf. Rom. 8:9). Sendo assim, os cristãos não precisam esperar pela Espírito Santo para descer sobre eles depois da conversão, mas o Espírito Santo é que está esperando os cristãos se submeterem mais plenamente ao Espírito Santo.

Qual é o ensino de Paulo sobre o batismo no Espírito Santo? Quando Paulo diz em I Cor. 12:13 "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo", ele está explicando a expressão "batismo no Espírito" ao ato poderoso de Deus pelo qual nós somos feitos um com Cristo. Portanto nestas palavras em que Paulo identifica o batismo no Espírito com regeneração (conversão), Paulo está dizendo aos coríntios e a nós também: Se vocês são cristãos verdadeiros não precisam procurar o batismo no Espírito Santo; na verdade vocês já foram batizados no Espírito!

O fato, entretanto, de todos ns cristãos terem sido batizados no Espírito não quer dizer que todos os cristãos estão sempre inteiramente submissos ao Espírito Santo ou que eles estão sempre andando no (pelo) Espírito. É possível, cristãos em que o Espírito habita, entristecerem o Espírito (Efésios 4:30) ou de extinguirem o Espírito (I Tess. 5:19). Em outras palavras, podemos dizer que o Novo Testamento ensina que o Espírito Santo habita neles mas nem todos os cristãos continuam cheios do Espírito Santo ou inteiramente submissos ao Espírito.

Vejamos algumas passagens que bem ilustram este ponto. Em Romanos 8:9,

Paulo descreve os cristãos como aqueles em quem o Espírito habita; entretanto, no mesmo capítulo ele diz aos seus leitores que pelo Espírito eles devem mortificar as obras do corpo (v. 13) e que eles devem ser guiados pelo Espírito (v. 14). Embora em I Cor. 12:13 Paulo declara que todos os cristãos em Corinto foram batizados no Espírito Santo, em I Cor. 3:1 e 3, Paulo chama os mesmos cristãos coríntios de carnais pelo fato de haver entre eles inveja, contendas e dissensões. Aos gálatas Paulo declara que seus leitores procederam o Espírito Santo pela fé (Gál. 3:2, 14), que através do

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Espírito eles vieram a reconhecer que eram filhos de Deus (Gál. 4:6) e que veio Espírito Santo eles receberam vida espiritual (Gál. 5:25). Mas, no último verso mencionado, Gál.5:25, ele diz especificamente "Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito", dizendo implicitamente que é possível alguém estar vivendo no Espírito e contudo não andar plenamente no Espírito. Na epístola aos efésios Paulo afirma primeiramente que todos os cristãos foram selados com o Espírito Santo (Efés. 113; cf. 4:30), contudo mais tarde, na mesma carta, ele urge aos tais cristãos selados pelo Espírito que continuamente sejam cheios do Espírito (Efésios 5:18).

Esta distinção também parece ter fundamento no Espírito de Profecia: "Quando receberdes o batismo do Espírito Santo, então ireis compreender mais sobre as alegrias da salvação..." E.G. White, Carta 33, 1890. Entretanto um enchimento do Espírito para toda a vida não pe suficiente. A Sra. White fala da necessidade de um batismo diário, de uma diária submissão, e uma vitória diária sobre o pecado, através de um diário batismo do Espírito Santo.

"Cristo recebia constantemente do Pai, para que nos pudesse comunicar. ... Depois de passar horas com Deus, apresentava-Se manhã após manhã para comunicar aos homens a luz do Céu. Cotidianamente recebia novo batismo do Espírito Santo. Nas primeiras horas do novo dia o Senhor O despertava de Seu repouso, e Sua alma e lábios eram ungidos de graça para que a pudesse transmitir a outros. As palavras Lhe eram dadas diretamente das cortes celestes, palavras que pudesse falar oportunamente aos cansados e oprimidos. 'O Senhor Jeová', disse, 'Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado: Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem.' Isa. 50:4." – E.G.White, Parábolas de Jesus, p. 139.

Jesus foi ungido pelo Espírito Santo por ocasião do Seu batismo, entretanto, cotidianamente recebia novo batismo do Espírito Santo.

"Se todos estivessem dispostos, todos seriam cheios do Espírito. . . Cada obreiro devia fazer sua petição a Deus pelo batismo diário do Espírito." (Atos dos Apóstolos, pág. 50).

"Na grande e incomensurável dádiva do Espírito Santo estão contidos todos os recursos celestes. Não é por qualquer restrição da parte de Deus que as riquezas de Sua graça não afluem para os homens, neste mundo. Se todos recebessem de bom grado, todos seriam cheios de Seu Espírito". (Parábolas de Jesus, pág. 419).

O fato dos cristãos receberem o Espírito por ocasião da conversão, mas não permanecerem necessariamente cheios do Espírito é confirmado pela nossa própria experiência. Podemos afastar-nos de Deus, podemos entristecer o Espírito. Podemos tornar-nas orgulhosos, transigentes, contenciosos, sem amor. Em tais circunstâncias precisamos de nos submeter ao Espírito novamente. É possível que embora todos tenhamos o Espírito, o Espírito não possui a todos nós. Nós concluímos então que os cristãos devem procurar não uma experiência isolada do batismo no Espírito depois da conversão, mas antes devem permitir que o Espírito os guie cada dia mais completamente ou estar cheios dEle.

4. SER CHEIO DO ESPÍRITO

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O que as Escrituras ensinam sobre a questão de sermos cheios do Espírito? A expressão "estar cheios do Espírito" ocorre no Novo Testamento em três diferentes maneiras:

Primeiro, algumas vezes estar cheio do Espírito se refere a uma experiência momentânea que qualifica alguém a uma tarefa que ele deve desempenhar. Nestes casas o verbo "estar cheio" é usado na forma aoristo no original grego, forma verbal que descreve uma ação momentânea. Vejamos alguns exemplos: Em Atos 4:8, nós lemos: "Então Pedro, cheio do Espírito, lhes disse..."; o que agora segue é o discurso de Pedro perante o Sinédrio após a cura do paralítico. Parece claro que o "estar cheio do Espírito" aqui foi uma doação de poder a Pedro, capacitando-o a falar ousadamente sobre Jesus Cristo em cujo nome o paralítico fora curado.

Mais tarde neste quarto capítulo Lucas relata que Pedro e João voltaram aos seus e todo o grupo orou e "tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo e anunciavam com ousadia a Palavra de Deus" (Atos 4:31). Aqui deve ter havido um segundo "encher do Espírito" para alguns, pelo fato dos 120 (Ates 1:15) já haverem sido cheios do Espírito no Pentecostes (Atos 2:4). Ser cheio do Espírito à luz destas passagens é algo que não ocorre apenas uma vez por todas, mas pode ser repetido.

Uma outra passagem desta natureza se encontra em Atos 13:9 quando Paulo, cheio do Espírito Santo, repreendeu a Elimas que ficou cego (Atos 13:11). Aqui também houve um enchimento do Espírito específico e momentâneo que capacitou Paulo a fazer o que fez.

Em segundo lugar, a expressão "cheio do Espírito" é empregada para descrever certos tipos de pessoas. Neste caso um adjetivo é usado ao invés do verbo. Assim, por exemplo, nas é dito que Jesus estava cheio do Espírito (S. Lucas 4:1); os diáconos deviam ser "cheios do Espírito e sabedoria" (Atos 6:3); Estevão estava cheio do Espírito Santo (Atos 6:5; 7:55); em Atos 11:22-25, é dito que Barnabé estava "cheio do Espírito". Nestas passagens ser "cheio do Espírito" não é uma habilitação momentânea para um propósito específico, mas é uma permanente característica da vida de uma pessoa.

Em terceiro lugar, há dois lugares no Novo Testamento onde um verbo diferente é usado para "estar cheio" e cujos tempos do verbo descrevem ação continuada. Em Atos 13, o verbo grego está no imperfeito, dando a idéia que os discípulos continuavam ser cheios do Espírito. Em Efés. 5:18, o verbo está no presente, significando que nós devemos continuamente ser cheios do Espírito.

Destas passagens consideradas, resumindo podemos dizer que o ensino do Novo Testamento sobre o ser "cheio do Espírito" envolve três tipos de experiências: (1) Um cristão pode em certas ocasiões pedir por um específico revestir do Espírito para qualificá-lo para uma tarefa específica. (2) Nosso alvo deve ser levar uma vida tal que os que nos observam venham a nos descrever como homens e mulheres cheios do Espírito. (3) Nós todos devemos continuar e crescentemente ser enchidos com o Espírito.

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De acordo com Efésios 5:18-21, a evidência de alguém estar cheio do Espírito não é um dom sobrenatural tal como o falar em língua mas antes consiste no seguinte: (1) Falai entre vós em salmos e hinos... (v.19); (2) cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração (v. 19); (3) dando sempre graças por tudo ao nosso Deus (v. 20); (4) sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus (v. 21). A evidência de estarmos cheios do Espírito é vista na dimensão vertical e horizontal. O Espírito põe-nos numa relação correta para com Deus e os homens. Se estamos cheios do Espírito, nós louvaremos a Cristo e daremos graças a Deus e sujeitar-nos-emos uns aos outros. E nessas qualidades e atividades espirituais, e não nos fenômenos sobrenaturais que devemos olhar pela evidência da plenitude do Espírito.

Efésios 5:18 diz: "Enchei-vos do Espírito". Devemos notar três coisas nesta ordem:

Primeiro: O verbo "enchei-vos" está no plural. Sejam todos vocês cheios do Espírito, declara Paulo. Esta plenitude do Espírito não é um privilégio reservado para alguns poucos, mas todos os cristãos devem ser cheios do Espírito.

Segundo: O verbo "enchei-vos" está no tempo presente. Sendo que o tempo presente no grego descreve uma ação contínua, o verbo pode ser assim traduzido: "Sede continuamente cheios do Espírito Santo". O presente imperativo "enchei~vos do Espírito" indica não uma experiência decisiva ou dramática mas indica uma contínua apropriação. Ser continuamente cheio do Espírito é na verdade um desafio de uma vida inteira, o desafio de cada dia. Nada, a não ser uma contínua vida de oração, contínua disciplina espiritual e constante vigilância capacitará o cristão de continuar cheio do Espírito santo.

Terceiro: O verbo "enchei~vos" está na voz passiva no original. O pensamento é: Deixai o Espírito encher-vos. Como? Sendo que o Espírito Santo é uma Pessoa, a única maneira de sermos cheios do Espírito é submeter-nos inteiramente ao Espírito. Devemos remover os obstáculos que estão entre nós e o Espírito; devemos estar prontos a ouvir a voz do Espírito e de seguir a Sua orientação.

Outras passagens do Novo Testamento lança luz como podemos submeter-nos mais plenamente ao Espírito. Algumas passagens descrevem esta submissão negativamente. Em Efésios 4:30 Paulo diz: "E não entristeçais o Espírito". Esta passagem torna claro que o Espírito Santo é uma Pessoa. Ele Se entristece quando nós não seguimos Sua orientação; quando nós estamos mais preocupados com as coisas materiais do que com o crescimento espiritual; quando negligenciamos a leitura da Bíblia e a oração; quando nos tornamos ciumentos, sem amor; quando nos esquecemos das necessidades do nosso próximo; quando nos tornamos orgulhosos e farisaicos no tratamento com outros. Sendo que tudo o que engrandece a Cristo, engrandece o Espírito, a não ser uma vida cristocêntrica qualquer outra forma de vida entristecerá o Espírito.

Outras passagens dão descrições positivas da vida plena no Espírito. Em Romanos 8:14 Paulo diz: "Porque todos os que são guiados pelo Espírito esses são filhos de Deus". De acordo com este verso, ser submisso ao Espírito significa seguir sua orientação. Mas não podemos entender o que seja tal orientação a não ser que

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consideremos os dois versos anteriores especialmente a última parte do verso 13: "se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis".

Ser guiado pelo Espírito, Paulo está dizendo, não é apenas uma questão de experimentar e discernir a vontade do Espírito com relação às decisões que devemos tomar; mas é primariamente uma questão de "mortificar as obras do corpo" na força do Espírito.

Um verso anterior de Romanos 8 descreve aquele que vive uma vida cheia do Espírito como aquele que "anda não segundo a carne mas segundo o Espírito" (v. 4). Paulo aqui contrasta dois tipos de vida: o da carne e o do Espírito. O da carne é contrário à vontade de Deus e é egocêntrico. O do Espírito é a vida teocêntrica e que se esvazia pelos outros. Submeter-se ao Espírito, de acordo com esta passagem, é andar segundo o Espírito, é exemplificar a vida do Espírito, é viver primariamente por Cristo e pelos outros ao invés de uma vida egocêntrica.

Outra passagem na qual aparece a expressão "andar no Espírito" é Gál. 5:25. "Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito". A palavra grega aqui traduzida por "andar" é diferente daquela usada em Rom. 8:4. Aqui a palavra empregada significa "andar de acordo", ela é usada algumas vezes para descrever o andar nas pegadas de alguém (Rom. 4:12). O verbo está novamente presente, indicando continuação. Andar no Espírito não é algo que fazemos ocasionalmente, mas sempre.

Há, portanto, um duplo ministério do Espírito de acordo com Gál. 5:25. Ele denota um poder diverso que é concedido ao homem por ocasião da conversão, sendo a fonte da nova vida a ao mesmo tempo a norma do andar terreno. O Espírito é a norma do andar do cristão.

O que significa andar no Espírito? O andar no Espírito significa duas coisas: (1) viver pela direção do Espírito e (2) viver pelo poder do Espírito.

Primeiro: Viver pela direção do Espírito significa esperar pelo Espírito, pedindo ao Espírito o que Ele deseja que façamos, onde Ele quer que vamos. Isto exige diário estudo da Palavra de Deus, pois o Espírito não nos conduz à parte das Escrituras. Quanto melhor conhecermos as Escrituras tanto melhor andaremos no Espírito. Negativamente andar no Espírito significa silenciar as vozes carnais, restringir os impulsos naturais, até que eles provem ser de Deus. Positivamente andar no Espírito significa ser guiado por Ele, ouvi-Lo assim como Ele Se revela na Palavra, e submeter-se continuamente ao Espírito.

Segundo: Viver pelo poder do Espírito significa confiar nEle para o poder espiritual que necessitamos. Significa crer que o Espírito nos pode dar força necessária para cada necessidade, pedir por este poder em oração quando o necessitamos, e usar este poder pela fé para solucionar nossos problemas diários. A única maneira pela qual podemos andar no Espírito é manter-nos em contínua comunhão com Ele.

Se andarmos no Espírito, nós podemos reclamar a promessa de Gál. 5:16, "Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne." A segunda parte do verso não é uma ordem, mas é uma promessa.

De Gál. 5:16-25, portanto, nós aprendemos que ser cheio do Espírito é mais do que ter uma experiência temporária num determinado dia. É antes uma experiência ou

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andar com Deus durante a vida inteira, envolvendo uma vida de inteira dependência na direção e poder do Espírito. O Espírito significa o poder que quebra e pecado em nós na conversão e ao mesmo tempo o Espírito Se constitui a norma para nosso andar continuamente com Deus.

Resumindo, podemos dizer: o cristão não necessita procurar um batismo no Espírito subseqüente à sua conversão, mas ele necessita ser continuamente cheio do Espírito que habita nele. Entremos, pois, na plenitude do Espírito. Experimentemos o pleno gozo da união com Cristo. Apeguemo-nos pela fé aos recursos infinitos que temos em Cristo, e vivamos uma vida plena no Espírito

5. COISAS QUE ENTRISTECEM O ESPÍRITO SANTO:

1. Divertimentos que são impróprios. "Mais que qualquer outra coisa, estão os divertimentos contribuindo para anular a

operação do Espírito Santo, e o Senhor é ofendido." – Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, pág. 281.

2. Cristãos que não são sinceros de coração e não vivem a verdade. "O Espírito de Deus é entristecido porque muitos não são sinceros de coração e na

vida; sua fé professada não harmoniza com suas obras". – Testimonies for the Church, vol. 2, pág. 247.

3. A cobiça. "Depois, Ananias e Safira ofenderam o Espírito Santo cedendo a sentimentos de

cobiça... O mesmo pecado foi muitas vezes repetido na história posterior da igreja e é cometido por muitos em nosso tempo. Mas embora possa não manifestar-se visivelmente o desagrado de Deus, não é menos desprezível à Sua vista agora do que o foi no tempo dos apóstolos." – Atos dos Apóstolos, págs. 72 e 76.

4. Duvidando do Amor de Deus e desconfiando de Suas promessas. "Quando nos inclinamos a duvidar do amor de Deus, a desconfiar de Suas

promessas, nós O desonramos e ofendemos a Seu Santo Espírito." – Caminho a Cristo, pág. 118.

5. Não controlar a imaginação. "Vós tendes o poder da vontade e deveis usá-la para vosso auxílio. Não tendes feito

isto, mas deixais a vossa má imaginação controlar a mente. Nisto tendas entristecido o Espírito de Deus". – Testimonies, vol. 5, p. 310.

6. Temor. "Fazem eles bem em ser assim incrédulos? Jesus é seu amigo. Todo o Céu se acha

empenhado em seu bem-estar, e seu temor e queixas ofendem o Espírito Santo." – Obreiros Evangélicos, pág. 261.

7. Indolência. "Quando a ignomínia da indolência e preguiça tiver sido afastada da igreja, o Espírito

do Senhor Se manifestará graciosamente. Revelar-se-á o poder divino. A igreja verá a providencial operação do Senhor dos Exércitos. A luz da verdade brilhará em raios claros, fortes, e, como no tempo dos apóstolos, muitas almas volverão do erro para a verdade. A Terra será iluminada com a glória do Senhor." – Testemunhos Seletos, vol. III, p. 308.

8. Indulgentes com o egoísmo – amantes de si mesmos. "O Espírito de Deus não habitará onde há desunião e contendas entre os crentes.

Mesmo quando estes sentimentos não são expressos, eles tomam posse do coração e

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expulsam a paz e o amor que deviam caracterizar a igreja cristã. Isto é o resultado do egoísmo no seu mais amplo sentido... A indulgência com o egoísmo certamente entristecerá o Espírito Santo". – Testimonies, vol. 4, pág. 221.

9. A falta de cooperação entre obreiros de instituições. "Estas coisas entristecem o Espírito Santo. Deus deseja que aprenda mos um do

outro. Independência não santificada coloca-nos onde Ele não pode trabalhar conosco. Com tal estado de coisas Satanás se alegra". – Testimonies, vol. 7, pág. 197.

10. Relaxamento na observância do Sábado. "Quando vossas ocupações temporais requerem vossa atenção violais o quarto

mandamento sem escrúpulo. Fazeis da observância da lei de Deus um assunto de conveniência; obedecendo ou desobedecendo conforme vossos negócios ou inclinação requerem. Isto não é honrar o sábado como uma instituição sagrada. Entristeceis o Espírito Santo e desonrais vosso Redentor em seguir este curso negligente." – Testimonies, vol. 4, pág. 248.

11. A dureza de coração. "Enquanto estava ao lado da cama de meu esposo moribundo, eu compreendi que se

outros tivessem levado suas cargas, ele poderia ter vivido por mais tempo. Eu então implorei, com agonia de alma, que aqueles que estavam presentes não mais entristecessem o Espírito de Deus pela dureza de coração". – Testimonies, vol. 5, pág. 67.

12. Casamento dos filhos de Deus com os infiéis. "Ligar-se a um descrente é colocar-se em terreno de Satanás. O Espírito de Deus é

entristecido e perde-se sua proteção." – Testimonies, vol. 5, págs. 364 e 365. 13. A represália.

"Se surgem provações que parecem inexplicáveis, não devemos permitir que nossa paz nos seja roubada. Conquanto sejamos tratados injustamente, não demonstremos raiva. Alimentando o espírito de represália, prejudicamo-nos a nós mesmos. Destruímos nossa confiança em Deus e entristecemos o Espírito Santo." – Parábolas de Jesus, págs. 171 e 172.

14. Rivalidade entre as Instituições Adventistas. "Não deve haver rivalidade entre as nossas Instituições. Se este espírito é

tolerado, ele irá crescer e fortalecer-se e eliminará o espírito missionário. Isto entristecerá o Espírito de Deus e banirá da instituição os anjos ministradores enviados para serem co-obreiros daqueles que nutrem a graça de Deus". – Testimonies, vol. 7, págs 173, 174.

15. Observações Severas e Sarcásticas. "Quando o Salvador em nós habita, as palavras O revelam. Mas o Espírito Santo não

habita no coração daquele que se impacienta quando os outros não concordam com suas idéias e planos. Dos lábios de tal homem saem palavras fulminantes, que afugentam o Espírito e desenvolvem atributos satânicos, em vez de divinos." – Conselhos Sobre Mordomia, pág. 115.

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A DOUTRINA DAS CONDIÇÕES PARA RECEBER O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Como podemos receber o Espírito e Seus dons? Simplesmente em responder mos

ao convite: "Eis que estou ã porta e bato: se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, Eu entrarei e cearei com ele e ele comigo" (Apoc. 3:20). Devemos notar duas coisas nesta passagem:

Primeiro: O bater à porta do nosso coração revela que o iniciativa é divina. Não fora a iniciativa divina nós não poderíamos abrir o nosso coração. É verdade, o convite aqui é de Cristo, mas, receber a Cristo é receber o Espírito; e receber o Espírito é receber a Cristo. Não podemos dizer: Faça isto ou faça aquilo, e o Espírito, será dado. É Seu ato, Seu convite, Sua promessa (Atos 2:38-39). Mesmo antes de agirmos, Ele operou. Na verdade nós não poderíamos responder ao convite se Espírito não nos motivasse. A primeira evidência da presença do Espírito, como vimos anteriormente, é a simples consciência que estamos fora de Cristo e que Ele nos está convidando.

Segundo: Se por um lado não podemos dizer que devemos fazer isto ou a quilo para receber o Espírito, por outro lado também não podemos dizer que não precisamos fazer nada para receber o Espírito. Aqui nos deparamos com um paradoxo divino. A forma do convite – o bater à porta de nosso coração revela a ilegalidade de recusar a entrada do Espírito.

Ele nos convida e mesmo desperta o desejo, mas o Espírito não domina ou anula a nossa vontade. E nós devemos fazer algo em cooperação com Ele se quisermos que Ele continue habitando em nós.

As Escrituras dão algumas orientações para o recebimento do Espírito Santo que são classificadas sob os títulos seguintes: (1) Arrependimento (Atos 2:38-39); (2)

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Obediência, (S. João 14:15,16; Atos 5:32); (3 Oração (Atos 4:31; S. Luc. 11:13); (4) Fé (Gál. 3:14).

Ellen G. White escreveu: "Não pode haver limite à utilidade de uma pessoa que, pondo de parte o eu, oferece

margem à operação do Espírito Santo em seu coração, e vive uma vida inteiramente consagrada a Deus. Todos quantos consagram corpo, alma e espírito a Seu serviço estarão constantemente recebendo nova provisão de poder físico, mental e espiritual. Os inesgotáveis abastecimentos celestes se acham a sua disposição. Cristo lhes dá o alento de Seu próprio espírito, a vida de Sua vida. O Espírito Santo desenvolve suas mais altas energias para operar na mente e no coração." – A Ciência do Bom Viver, pág. 159.

"Se todos estivessem dispostos, todos seriam cheios do Espírito. ... Cada obreiro devia fazer sua petição a Deus pelo batismo diário do Espírito." – Atos dos Apóstolos, p. 50.

"Na grande e incomensurável dádiva do Espírito Santo estão contidos todos os recursos celestes. Não é por qualquer restrição da parte de Deus que as riquezas de Sua graça não afluem para os homens, neste mundo. Se todos recebessem de bom grado, todos seriam cheios de Seu Espírito." – Parábolas de Jesus, pág. 419.

"Todo o Céu está ansioso para conceder o poder de Pentecostes. Ele não veio ainda porque a promessa é discutida casualmente. Não há intensidade de Espírito e a audácia na oração. Mas o dom é para agora." – Testimonies to Ministers, p. 174.

A chave para a recepção do Espírito Santo é a renúncia do eu: "Mediante oração e confissão de pecado, devemos abrir o caminho do Rei. Ao

fazermos isso, o poder do Espírito nos sobrevirá. Necessitamos da energia pentecostal. Esta virá; pois o Senhor tem prometido enviar Seu Espírito como o poder que tudo vence." – Obreiros Evangélicos, pág. 308.

De todas as igrejas, a igreja Adventista do Sétimo Dia é a que tem menos escusas

por um ministério sem poder. Quão preocupado sinceramente cada membro devia estar "de maneira que nenhum dom lhe falte, esperando a manifestação do nosso Senhor Jesus Cristo." (I Cor. 1:7).

O DOM DE LÍNGUAS Os pentecostais fazem diferença entre dom-sinal e dom-dom. Dom-Sinal, é o falar em línguas como evidência do batismo do Espírito Santo.

Os pentecostais afirmam que as referências em Atos descrevem o dom-sinal (evidência).

Dom-Dom, é o falar em línguas como dom do Espírito. Afirmam os pentecostais que Coríntios refere-se a línguas como dom. De acordo com a própria admissão pentecostal a base bíblica para os altos reclamos do valor do dom de línguas advogado pelos pentecostais deverá ser testado em I Cor. 12:14. O que dizem estes capítulos sobre o valor das línguas?

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1. A NATUREZA DAS LÍNGUAS EM I CORÍNTIOS Qual é a natureza das línguas em I Coríntios? Em Atos vimos que o recipiente era

capacitado a falar em línguas reais que ele o havia aprendido antes. E as línguas de I Coríntios? O Comentário Bíblico Adventista esboça as duas posições geralmente tomadas

em relação ao dom de línguas na igreja dê Corinto (veja C.B.A. nota adicional sobre I Cor. 14, p. 795):

Primeiro: que o dom de línguas em Coríntios era o falar numa língua genuína sob a influência do Espírito e que podia subentendida por alguém que falava aquela língua; e que em falar uma língua estrangeira na igreja quando ninguém entendia a língua estrangeira era perverter a função do dom e era este mau uso que Paulo condenou.

Segundo: A outra posição defende que I Coríntios trata de línguas estáticas. Particularmente eu acho que 1 Cor. trata do mau uso de línguas estrangeiras

(verdadeiras), embora pudessem existir na igreja de Corinto também aqueles que falavam línguas estáticas.

As razões para se acreditar que as línguas de I Coríntios eram línguas verdadeiras são:

(1) Tem que ver com os princípios de hermenêutica: não devemos basear uma prática de ensino numa passagem bíblica especialmente quando ela é obscura; uma passagem obscura deve ser interpretada por outro texto claro; em Atos 2 o dom de línguas consiste em falar línguas verdadeiras, portanto, I Coríntios deve ser interpretado por Atos;

(2) Um estudo de linguagem no Novo Testamento não nos indica que o dom de línguas sofreu alguma modificação e foi mudado por Deus de uma língua verdadeira (Atos 2:1-4), para uma língua ininteligível no tempo de Coríntios;

(3) Deus opera através da inteligência do homem e se comunica por meio inteligível, assim para Ele inspirar uma língua estática através do Seu Espírito seria incompatível com a Sua própria natureza;

(4) I Cor. 14 mesmo indica que o dom era inteligível mas sendo usado erradamente. A histórica alusão de línguas antigas da Assíria e Babilônia em 14:21 estabelece o fato de serem línguas reais.

(5) Em 14:22, Paulo afirma que as línguas são para os infiéis e que os coríntios deviam usar o dom unicamente se os infiéis pudessem entendê-la, do contrário diriam que os cristãos estavam "loucos".

(6) Se I Coríntios trata de línguas estáticas, então como harmonizar os versos 14:5 e 39, onde Paulo proíbe o falar em línguas?

(7) Deve ser observado que a palavra "estranha", que ocorre nos versos 14:2, 4, 11, 19 e 27 não ocorre em nenhum manuscrito grego. Paulo não diz que a língua era estranha ou desconhecida. Conseqüentemente as línguas referidas eram línguas estrangeiras em uso por nações mas desconhecidas aos coríntios.

A distinção de propósito do dom de línguas que os pentecostais fazem entre Atos e I Coríntios é errada. O propósito do dom em Atos não é uma evidência do Espírito.

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2. O QUE O FENÔMENO EM CORINTO NÃO ERA: 1. I Coríntios não indica que o falar em línguas era errado ou que os coríntios

estavam praticando algo proibido (como línguas estáticas). Paulo não critica os seus leitores por falarem em línguas. Ele não diz o que eles estavam fazendo, não era um dom do Espírito. Ele não diz que o dom era irreal ou resultado de êxtase.

Em 1 Cor. 14:39 Paulo diz: "e não proibais falar em línguas". Ele apenas está regulando o uso do dom.

2. Em nenhuma parte Paulo declara que o dom era um sinal do batismo Espírito Santo. Paulo atribui ao dom de línguas um valor limitado.

3. O QUE O FENÔMENO EM CORINTO ERA:

O contexto indica que os coríntios permitiram que sua carnalidade invadisse a

área dos dons espirituais. Provavelmente havia entre eles orgulho e ciúmes na possessão do dom de línguas. O dom de línguas havia sido exaltado como o dom "par excellence" que atribuía ao seu possuidor um certo prestígio espiritual, e colocava os outros num nível espiritual inferior. O dom de línguas havia se tornado como a prova da verdadeira espiritualidade.

Isto pode ser deduzido da discussão de Paulo sobre os vários membros do corpo (I Cor. 12:12-30). Ele está combatendo a exaltação de um dom a custa da exclusão de outros. O corpo, diz Paulo, não é só olho, nem só ouvido (v.17); nem porque o pé não é mão deve ele assumir que não é do corpo (v.15); nem deve o olho pensar que a mão é inútil (v.21). Estas declarações sugerem uma condição de que somente um dom realmente era de valor e que cada um devia possuí-lo. Do contraste entre línguas e profecia no cap. 14, é aparente que o dom super-estimado era o de línguas. Era o dom desejado por todos.

Intimamente relacionado com a super-exaltação das línguas havia a falta de amor, especialmente em relação com o uso dos dons do Espírito. O desejo de exibir na congregação um dom prestigioso, mesmo que não beneficiasse a ninguém, estava em contradição ao princípio do amor entre irmãos.

A situação resultante era uma situação de confusão e desordem (I Cor. 14:40) em que muitos falavam em línguas e profetizavam ao mesmo tempo (14:27-32), não havia preocupação de serem entendidos pelos outros. Falava-se em línguas estrangeiras estivesse ou não presente um intérprete (14:13, 27-28).

Em tudo que Paulo diz com respeito ao uso incorreto de línguas em Corinto, ele não nega a validade nem a realidade do dom exercido por eles. Nem dá ele a entender que a dom não era sobrenatural e diferente de Atos 2. O problema em Corinto era simplesmente uma exaltação exagerada do dom de línguas destituída de amor, que resultou em confusão nos cultos e dividiu a igreja (12:25).

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4. A CORREÇÃO PAULINA O propósito de Paulo em I Cor. 12:14, não é de proibir dom de línguas, mas visa

corrigir o uso incorreto de um dom legítimo. Seu método de tratar o problema é uma discussão dos dons espirituais em geral para que o dom de línguas seja visto num contexto mais amplo de dons como um todo.

1. A doutrina dos dons espirituais (I Cor. 12). Os coríntios deviam compreender que havia uma variedade de dons,mas todos

foram dados pelo mesmo Espírito (12:4-11). Além disso, Paulo insiste que o Espírito é soberano em Sua distribuição dos dons (12:11). Conseqüentemente ninguém deve considerar-se inferior porque recebeu um outro dom menos sobrenatural que o de línguas. O tipo de dons que se recebe não é um termômetro de espiritualidade; é antes uma indicação de liberdade e independência do Espírito Santo.

Considerando que em Corinto a questão dos dons havia causado divisão na igreja, Paulo prossegue tornando claro que os dons são dados com a intenção não de dividir, mas de unificar a igreja (12:12-27). A unidade do corpo é conseguida pela diversidade dos dons (12:12-21). Nenhuma parte é dispensável.

Na conclusão do capítulo 12 Paulo indica por uma série de perguntas que nenhum dom é requisito exigido por cada membro (12:29-30). Nem todos devem falar em línguas.

2. O complemento indispensável de cada dom (I Cor. 13). Paulo declara que o amor deve temperar o uso dos dons espirituais, do contrária

serão sem valor. Sem amor, o mais exaltado dom de línguas é mero ruído. Os dons espirituais não devem ser usados egoisticamente. Não são um meio para alcançar prestígio espiritual. Não devem produzir uma atitude de discriminação para com aqueles que não possuem o mesmo dom. Aquele que tinha o dom de línguas não era melhor do que o que possuía o dom de sabedoria. Ambos os dons foram dados para beneficiar toda a igreja e o amor controlaria os recipientes para que os dons fossem empregados para a edificação da igreja e não para a exaltação própria.

3. O controle do dom de línguas (I Cor. 14). Havendo discutido sobre os dons em geral (I Cor. 12-13), Paulo focaliza o dom

específico que havia causado problemas na igreja. O capítulo 14 regulamenta o uso incorreto do dom de línguas.

a) Edificação (14:1-12): o propósito dos dons é para a edificação da igreja, e o dom de línguas deve cumprir o propósito.

b) Interpretação (11:13, 27-28): a fim de que haja edificação as línguas devem ser interpretadas. Se não houver intérprete o recipiente do dom de línguas deve permanecer calado (v.28). Este regulamento é violado pelos pentecostais.

c) Número e ordem (14:27-33, 40): não mais do que dois ou três devem falar em línguas numa ocasião (reunião), e assim mesmo não simultaneamente mas um após nutro. Aqui novamente os pentecostais violam o regulamento Paulino.

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d) Sinal aos infiéis (14:21, 22): o O dom de línguas era um sinal aos infiéis e não aos fiéis. Não demonstrem sua

habilidade de falar aos irmãos, Paulo aconselha aqui, mas reservem aos incrédulos para mostrar-lhes que Deus deu a vocês uma bênção especial que lhes habilita a pregar aos incrédulos na própria língua deles. Na igreja vocês devem profetizar pois é benéfico aos irmãos.

e) Proibição (14:39): Paulo proíbe a proibição de línguas. Numa situação confusa em Corinto alguns

talvez se sentiram tentados a proibir completamente o uso de línguas, mas a solução de Paulo não é exclusão. É controle do uso.

No controle do dom de línguas fica aparente que Paulo minimizou o dom. Certamente a razão era para reduzir o barulho e desordem na igreja. Mas também o dom foi desvalorizado por Paulo por causa de sua necessidade decadente por volta de 55 A.D., quando I Cor. foi escrito. No tempo dos apóstolos o dom era necessário mas nos séculos posteriores mais e mais o dom tornou-se desnecessário.

5. UMA ANÁLISE DE I COR. 12-14.

1. I Cor. – A obra da indivisível Trindade é a fonte dos dons espirituais.

12:1. – Havia certas indagações que estavam preocupando os coríntios, sabre os quais Paulo foi consultado: o que ou quem é verdadeiramente espiritual? Como podemos testar as coisas ou pessoas espirituais? E em particular, como a espiritualidade cristã deve ser expressa nas reuniões de culto?

12:2. – Paulo inicia, lembrando aos coríntios o que não era ser espiritual. A característica dos pagãos coríntios no passado, argumenta Paulo, era o senso de serem dominados e arrebatados pelas forças espirituais. "Vós sabeis agora, que nos dias quando éreis pagãos, éreis levados pelos tolos deuses pagãos (I Cor. 12:2 trad. New English Bible; na margem: "Vós éreis arrebatados por algum poder que vos levou aos tolos deuses pagãos)". A pessoa verdadeiramente espiritual não é aquela que é tomada de arrebatamento; isto era exatamente a característica do fanatismo religioso dos coríntios antes de serem cristãos. A importância disto para os pentecostais não necessita ser enfatizado.

12:3 – "... ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão pelo Espírito Santo". Paulo vê na simples e inteligível confissão que 'Jesus é o Senhor' a obra clássica do Espírito Santo. O homem que confessa Jesus como seu Senhor experimentou a obra profunda do Espírito. O Espírito não se manifesta para dominar ou arrebatar os sentimentos da pessoa, levando-a a um estado de transe; mas o Espírito se manifesta cristocentricamente na pessoa, isto é, leva-a a confessar que Jesus é o Senhor. A preocupação de Paulo é ver o Espírito em íntima relação com Cristo.

12:4-7 - A obra central do Espírito é honrar a Jesus e esta obra não é uniforme. Há várias maneiras honrar a Cristo porque o Espírito se manifesta de diversos modos. Aparentemente havia em Corinto a tendência de ver o Espírito operando de uma maneira – pelo arrebatamento culminando no falar em línguas. Os coríntios

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precisavam aprender que o Espírito não somente se manifestava falando racional e reverentemente de Jesus, mas também que havia muitas maneiras de honrar a Jesus. O ministério do Espírito não consiste na glorificação do exótico, do inútil, mas na iluminação do histórico, concreto, Senhor Jesus Cristo através de contínua e variada distribuição de dons na igreja. E o dom é definido como um "serviço; ministério ou auxílio" (Diakonia, 12:5). E o propósito dos vários ministérios (dons) é para a igreja e não para a edificação e distinção individual.

12:8-11 – Paulo agora fornece uma lista dos vários dons. O que me surpreende nas duas listas dos dons espirituais de I Cor, 12 (nos versos 8-10 e 28) é que línguas e interpretações são mencionadas em último lugar. A avaliação do dom de línguas por Paulo é diferente da avaliação dos coríntios que eram inclinados a colocar este dom em primeiro lugar, mas Paulo coloca-o em último lugar. O que é mais surpreendente ainda é que nas outras duas listas de dons – Ef. 4:11-12 e Rom. 12:6-8 – as línguas não são mencionadas.

Certamente a ordem destas listas tem uma mensagem aos faladores de línguas como se fosse o dom espiritual "par excellence".

Paulo olha aos dons da perspectiva da congregação e deste ponto de vista ele não avalia um dom simplesmente por sua existência mas pela sua comunicação inteligível aos outros com o fim de servir (edificar).

12:12 – Justamente como a variedade de membros de um só corpo não ameaça a unidade do corpo, assim também é com os dons espirituais, argumenta Paulo. A diversidade dos dons não é uma contradição de um único Senhor Jesus Cristo e nem deve ameaçar e sua unidade.

12:13 – Agora Paulo usa um evento – o batismo no Espírito como mais adequado meio de ilustrar aos coríntios e sua unidade em um corpo de Cristo. "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo" (12:13). Se este verso é explicado como referindo-se a um segundo, subseqüente e separado batismo no Espírito Santo, além do batismo em Cristo, somente para alguns cristãos, então violência é feita não somente às palavras do texto – "todos ... todos" – mas também ao propósito do texto no seu contexto corintiano. A idéia central da mensagem aos coríntios é a sua unidade de todos os batizados em Cristo. Paulo usa duas vezes neste verso o adjetivo "todos", que para Paulo significa, a igreja toda de Corinto e além deles "todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Cor. 1:2).

Em I Cor. 12:13, Paulo não está ensinando um batismo extraordinário, recebido apenas por alguns; ele está ensinando o rito do batismo cristão no Espírito dado a todos. A unidade dos cristãos é conseguida e assegurada pelo simples mas significativo evento de iniciação mas pelo qual cada cristão passa e pelo qual cada cristã recebe o mesmo dom espiritual (Espírito). O batismo espiritual não é um rito que apenas o individuo arrebatado pode receber.

Paulo insiste que todos os cristãos são batizados por um Espírito "em um corpo". Não existem dois corpos cristãos: um nominal formado pelos que são batizados "na água" e outro formado por aqueles que passaram pela mais profunda experiência do

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batismo no Espírito Santo. O segundo batismo no Espírito dos Pentecostais começa dividindo a Trindade (separa o Espírito de Jesus) e culmina dividindo os membros da igreja em dois tipos de cristãos. Foi Para evitar tais divisões, e não para introduzir, que Paulo escreveu I Cor. 12:13.

De acordo com o caráter e a missão cristológica do Espírito Santo, o batismo no Espírito Sento é o batismo do cristão em Cristo. E o batismo em Cristo não pode ser separado do batismo no Espírito numa proporção maior do que Cristo pode ser separado do Espírito, pois, no fundo, o nome no qual somos batizados é um (S. Mat. 28:19; I Cor. 6:17; 15:45; II Cor. 3:17,18). Cristo e o Espírito não estão divididos para que seja necessário um batismo separado e a um tempo apropriado. Batismo no corpo de Cristo não é um batismo sem o Espírito para ser completado posteriormente por um batismo espiritual no Espírito Santo, pois, de acordo com 1 Cor. 12:13, há um Espírito que batiza o cristão no corpo de Cristo e assim fazendo o Espírito dá-se a Si mesmo nesta ocasião. No batismo em Cristo, o batismo no Espírito ocorre.

O batismo único "da Água e do Espírito" (ver S. João 3:5) é a doutrina de Coríntios e Atos. Portanto, por causa do único batismo no único corpo pelo único Espírito, os coríntios e todos os cristãos devem conhecer e sua unidade.

12:14-30 – Com a unidade da igreja ilustrada pelo batismo nos versos precedentes, Paulo agora pode chamar a atenção para a outra verdade da unidade orgânica – a variedade. Num corpo existem os órgãos mais e menos proeminentes; mas estas diferenças verificadas num corpo, especialmente no corpo único de Cristo, são meramente funcionais e não qualitativas ou espirituais. As várias partes do corpo não estão em competição entre si, mas são uma rica complementação entre si para o bem de todos e conseqüentemente para a glória de Deus.

12:31 – Paulo conclui apoiando aos coríntios para procurarem com zelo os melhores dons. Suas palavras implicam que existem dons de um valor maior e menor. Quais são os melhores dons? Por colocar as línguas em último lugar nas duas listas de I Cor. 12, Paulo sugere que ele não considera o dom de línguas como um dos melhores dons, que ficará comprovado nos capítulos 13 e 14.

2. 1 Cor. 14 – A edificação é o alvo

14:1-4, 12 – Paulo coloca o dom de profetizar acima do dom de línguas. Por que? A razão dada é que "quem profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação... e edifica a igreja" (14:3-4). Esta frase importante define profecia como sendo um tipo de pregação "racional", "testemunho" ou "conselho". Edificação, então torna-se o tema deste capítulo (versos 3, 4, 5, 12, 17, 26). No pensamento de Paulo o principal critério para se avaliar um dom do Espírito é: este dom edifica a igreja?

14:5-19 - Nestes vemos Paulo continua mostrando que profecia é superior ao falar em línguas. Embora Paulo falasse em outras línguas (v.18), ele prefere "falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir a outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida" (v.19). Porque o que fala em línguas ininteligíveis está desperdiçando o ar (saliva) (v.9).

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14:20-25 – Nestes versos volta ao mesmo argumento: profecia é muito superior ao dom de línguas. Aqui é apresentada a mais forte consideração: a evangelística. Como dito antes, os pentecostais acreditam que o dom de línguas tem um grande poder de despertar os indiferentes, de atrair as pessoas ao evangelho e conduzi-las à conversão. Do verso 21 nós aprendemos que línguas estranhas não conseguiram levar os israelitas ao arrependimento no Velho Testamento. Do verso 23 nós aprendemos que as impressões de línguas estranhas feitas nos infiéis não podiam ser mais desfavoráveis: "dirão que estais loucos". Os versos 24 e 25 mostram que a impressão do dom de profetizar sobre os infiéis não podia ser mais favorável: eles são convertidos. De acordo com Paulo, o dom de profetizar é o que mais provavelmente irá levar o infiel ao arrependimento e não o de falar línguas.

14:26-33 – Paulo agora discute uma reunião na igreja. Ele reconhece que na igreja de Corinto há pessoas com vários dons (v. 26) e insiste para que tudo seja feito para a edificação dó igreja e não para prestígio próprio (v. 26).

Novamente Paulo não desclassifica o dom de línguas mas o permite sob restrições definidas (1) não mais do que três; (2) alternadamente; e (3) com um intérprete (v. 27). Se não houver um intérprete ninguém fale em línguas na reunião (v. 28). É importante que Paulo proíbe certos tipos de falar em línguas que é feito por motivos carnais; que é feito somente para promover o prestígio próprio, que é feito para causar confusão no culto, e o que é feito sem uma interpretação. Paulo apenas permite o falar em línguas que edificarão a igreja. Seguem os pentecostais estas restrições?

3. I Cor. 13 – Amor é a maneira:

No capítulo 13 Paulo ensina a maneira como as graças divinas discutidas nos capítulos 12 e 14 devem ser humanamente expressas. Não por uma linguagem estática ou sobrenatural (13:1), nem por uma linguagem profunda (13:2), e nem por sacrifício (13:3). Estes não são necessariamente em si mesmos substitutos ou componentes do amor cristão. Amor é uma graça básica e menos estática ou espetacular do que todas as outras graças. Sem o amor as graças cristãs são "desgraçadas".

Embora este capítulo 13 seja lido freqüentemente à parte dos capítulos 12 e 14, ele tem uma função muito importante no contexto corintiano. E o contexto do problema das dons espirituais na igreja de Corinto deve ser mantido em mente.

Paulo conclui o capítulo 12 admoestando os corintianos a buscar "com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho melhor ainda, mais excelente " (12:31). Aqui está o mais excelente – o amor. O capítulo 13, ensina que há alguma coisa mais importante, não somente do que o dom de profetizar como também mais importante do que qualquer outro dom es especial do Espírito. Assim, mais importante do que o dom e profetizar e o dom de línguas é o amor.

A primeira característica do amor dada no verso 4 não é tanto emocional, paixão, mas é sofredora. Em outras palavras, Paulo define o amor cristão não tanto na expressão do sentimento mas na suspensão ou controle das emoções. Este controle das emoções (sofrer) deve ser comparado com o capítulo 12. O emocionalismo dos pagãos

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(12:2) é contrastado com a sóbria e inteligível confissão da igreja (12:3). Paulo não deseja mostrar que a devoção cristã superior é idêntica a arrebatamento de sentimentos, nem no sentido vertical, para com Deus (12:2-3); e nem no sentido horizontal, para com os homens (13:4). Paulo vê a essência do Espírito Santo na simples palavra (confissão) para Cristo (12:3), ele vê os dons superiores do Espírito nas palavras mais sóbrias da sabedoria e conhecimento (12:8, 28); e ele vê a maior característica do amor cristão não tanto na expressão das emoções, como no controle das moções. Em português este predicado é chamado paciência.

No verso 5 nos é dito que o amor não "busca os seus interesses". Esta definição torna-se importante para a compreensão do capítulo 14, especialmente 14:1. É importante notar que o amor cristão não tem como alvo a promoção do eu ou prestígio próprio, mas é alterocêntrico. Isto novamente harmoniza com o capítulo 12 onde o dom é considerado um ministério ou "serviço" em beneficio de outros.

A descrição de Paulo sobre o amor no capítulo 13 não é simplesmente poesia; é uma tentativa de mostrar à igreja, o que significa ser um cristão verdadeiro e não "espetacular".

4. Conclusão.

a) Um exame de I Cor. 12-14 mostra que Paulo não atribui um valor ao dom de línguas como os pentecostais e neo-pentecostais reclamam;

b) Paulo ensina que o dom de profetizar é superior ao de línguas e amor muito mais excelente do que profetizar ou falar em línguas;

c) Enquanto os pentecostais afirmam que o falar em línguas é um sinal de que o crente recebeu o batismo no Espírito, Paulo declara enfaticamente que as "línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis ..." (14:22);

d) Além disso a idéie central da discussão sobre línguas indica que o amor mútuo é a mais segura prova de que os cristãos estão cheios do Espírito Santo;

e) Ao invés de sugerir que o falar em línguas é um sinal de cristãos "superiores" ou "amadurecidos", Paulo declara o contrário quando se dirige aos coríntios como "meninos em Cristo" e sendo "ainda carnais" (I Cor.3:1-3);

f) Nestes três capítulos Paulo deseja mostrar que como o Espírito está unido a Cristo assim os vários dons do Espírito são distribuídos para a edificação do corpo de Cristo. O triúno Deus é a fonte, o amor é a maneira e a edificação da igreja é o alvo dos dons espirituais. O impacto desses três capítulos deve ser tal, a ponto de dificultar qualquer igreja de buscar o verdadeiramente espiritual no mero arrebatamento ou nas manifestações espetaculares. E sobremodo deve-se ter a impressão que, de acordo com Paulo, o cristão espiritual é aquele que confessa a divindade de Jesus pela fé e que imbuído de um amor inteligente trabalha para a edificação do corpo de Cristo, a igreja

6. UMA ANÁLISE DAS LÍNGUAS

Nós apresentamos evidências para crermos que todas as línguas do Novo

Testamento foram de natureza sobrenatural, isto é, o recipiente sob a influência de

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Espírito falou uma língua estrangeira que ele não havia aprendido antes. Se o movimento pentecostal ou neo-pentecostalismo é uma volta ao padrão bíblico ou um reavivamento dos dons espirituais da igreja apostólica, então o movimento carismático de hoje deve provar que todo o seu falar em línguas é feito em línguas conhecidas. Embora muitos alegam haverem falado em línguas reais, os pentecostais admitem que muito do falar em línguas não consiste de línguas conhecidas. E as chamadas "línguas conhecidas" são autênticas? Dificilmente. Durante os últimos anos centenas de gravações de "línguas conhecidas" foram estudadas por lingüistas famosos internacionais, como: William J. Samarin, professor de antropologia e línguas da Universidade de Toronto; Dr. William Welmers, professor de línguas africanas na Universidade de Califórnia; Dr. Eugene Nida, renomado lingüista da Sociedade Bíblica Americana.

Dr. William Welmers fala francamente: "E eu devo declarar sem reserva que as gravações que examinei não se assemelham

estruturalmente a uma língua. Não há mais do que sons de vogais contrastantes, e poucos sons peculiares de consoantes; estes combinam para formar bem poucos conjuntos de sílabas que se repetem muitas vezes em ordem variada". – W. Welmers, Letter to The Editor Christianity Today, VIII (November 8, 1963), pp. 19-20.

A pesquisa do Dr. Samarin é baseada em estudos de línguas faladas nas reuniões pentecostais na Europa e América do Norte, entre pessoas de diferentes línguas. No seu livro Tongues of Men and Angels, o professor Samarin afirma: "Na construção bem como na função as "línguas" são fundamentalmente diferentes das línguas". – Samarin, op. cit., pág. 227.

Baseados nas investigações e análises feitas desde 1911 até hoje, podemos concluir que a evidência cumulativa indica que o falar em línguas não se trata de línguas conhecidas. Tal conclusão é baseada no seguinte: (1) As freqüentes repetições do falar em línguas; (2) A similaridade da "língua conhecida" com a linguagem do que fala línguas; (2) O uso excessivo de uma ou duas vogais apenas; (4) A ausência de qualquer estrutura; (5) A notável diferença a mais da interpretação de frases iguais comparada com a língua falada; (6) As inconsistências na interpretação de frases iguais.

A conclusão dos lingüistas indica que o falar em línguas hoje é composto de sons desconhecidos sem vocabulário e traços gramaticais distinguíveis, com traços estrangeiros simulados e ausência total de característica de uma língua. Daí a razão de muitos pentecostais e carismáticos dizerem que a língua falada por eles é a língua dos Céus, a língua dos anjos. Dr. Welmers responde:

"Mesmo uma língua celestial), deve mostrar algo dos características de uma língua que conhecemos. Deus não é irracional, e a linguagem humana existe simplesmente porque o homem foi criado à imagem de Deus". – William Welmers, The Baptism, Power, Gifts and Fruit of the Holy Spirit, pág. 19.

Dr. Welmers examinando as "línguas celestiais" ou "línguas dos anjos", achou nelas uma pobreza de características que tornam uma língua rica. Elas invariavelmente revelam uma estrutura silábica mais elementar e limitada do que o inglês. "Eu", diz Welmers "certamente esperaria muito mais de uma 'linguagem celestial' – mais

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variedade, originalidade e beleza; e pode-se facilmente encontrar muito mais em qualquer língua terrestre". – Dr. Welmers, op. cit., pág. 23.

Eugene Nida também estudou as "línguas dos anjos" e concluiu que faltaram elementos de uma verdadeira língua. E concluiu ele: "Se então, eles não são uma língua, o que são? Pode-se unicamente dizer que são uma forma de linguagem estática". – Citado por V. Raymond Edman, "Divine or Devilish?", Christian Herald, May, 1964, pá. 16.

É interessante e mesmo significativo que a maioria dos que falam em línguas hoje fazem-no somente depois de receberem instruções, as quais são dadas no contexto de dominantes pressões psicológicas.

Harold Bredesen, um dos líderes carismáticos, aconselhou os estudantes da Universidade de Yale a seguir as seguintes regras: (1) Pensar concretamente e visualizando a pessoa de Jesus; (2) Submeter conscienciosamente a voz e os órgãos vocais ao Espírito Santo; (3) Repetir certos sons elementares, tais como: bah - bah - bah - ou algo semelhante." – Citado por Stanley S. Walters, "Speaking in Tongues", Youth in Action, May, 1964.

O pastor luterano Christensen, possuidor do dom de línguas, aconselha o seguinte:

"Para falar em línguas você deve parar de orar em inglês... você simplesmente deve permanecer em silêncio e revolver a não falar nenhuma sílaba de qualquer língua que você conhece. Seus pensamentos devem estar centralizados em Cristo, e então você simplesmente alce a sua voz e fale confiantemente, tendo fé que o Senhor tomará o som que você lhe deu e transformá-lo-á numa linguagem real". – Citado por John Hiles, "Tongues", Voice, XLIV (February 1965), p. 6.

Aqui está a receita de como falar em línguas. Para receber o "Espírito Santo", os carismáticos dizem: esvazie a sua mente e pense em Jesus; centralize seus pensamentos em Jesus. Certo, mas até o diabo faz isto. Assim, isto em si mesmo não é garantia de um contato direto com Cristo. Outra instrução urge seus participantes a repetir as mesmas palavras muitas e muitas vezes por uns dez minutos. "Fale mais rápido do que você normalmente faz", exortam eles, "isto ajudará você a alcançar o ponto em que o Espírito Santo lhe sobrevirá."

Uma folha com instrução aos que aspiram o batismo no Espírito Santo, diz assim: "O batismo no Espírito Santo é geralmente recebido enquanto está se louvando repetidamente ao Senhor. Esta folha ... mostra como fazê-lo. Repita as palavras de louvor do primeiro verso durante 2 ou 3 minutos; então repita as palavras do segundo verso por mais 2 ou 3 minutos e assim sucessivamente, dando 2 ou 3 minutos para cada verso.

"Enquanto você está louvando desta maneira ao Senhor, você deve falar duas ou três vezes mais rápido do que normalmente. Pare quando estiver cansado, e pode recomeçar mais tarde após se sentir descansado."

"Depois de haver repetido bem depressa as palavras de louvor, você perceberá que está começando a gaguejar, entretanto você deve continuar, pois isto geralmente ocorre um pouco antes do Espírito Santo falar através dos cristãos. Você deve continuar falando em línguas por vários minutos até que o Espírito Santo esteja falando através de você, o

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que será a evidência de que você tem sido batizado no Espírito Santo". – Plunkert Rainbow Rerval, 1258 Radcliff St., Los Angeles, Califórnia 90039.

Certamente o princípio de dar instruções para se falar em línguas é estranho à

Bíblia. Homens falaram em línguas espontaneamente. Isto nos leva a concluir que é errôneo dizer-se que o dom de línguas de hoje é uma repetição da experiência apostólica. A habilidade dos carismáticos de falar línguas ininteligíveis e não traduzíveis é real, os lingüistas atestam isto; mas advogar que esta algaravia é o resultado do Espírito Santo e que é sinal de espiritualidade parece ser insustentável do ponto de vista bíblico.

7. AVALIAÇÃO DAS LÍNGUAS: POSSÍVEIS EXPLILAÇÕES

Divina? Satânica? Artificial? Psicológica? Todas as quatro alternativas têm sido sugeridas como avaliação adequada da

fonte ou origem do moderno fenômeno de línguas. Cremos que a origem das modernas línguas não pode ser limitada a uma única fonte, mas podem ser explicadas por 2 ou 3 causas acima mencionadas.

É possível serem as línguas modernas instigadas pelo demônio? Nós certamente não podemos eliminar esta alternativa. Satanás, como disse Lutero, é o "macaco de Jesus", que muitas vezes procura imitar as obras genuínas do Espírito Santo. Cristo mesmo predisse que milagres e profecias seriam feitos em Seu nome mas não por Sua sanção ou poder (S. Mat. 7:21-23). Sob a influência de Satanás os mágicos no Egito duplicaram alguns milagres de Cristo (Êxo. 7:10; 8:7).

Pentecostais mesmos admitem que muitas vezes o falar de línguas que ocorre nas igrejas pentecostais é uma algaravia fanática da carne não do Espírito.

Stegall acredita que há uma nítida conexão entre as fontes (origens) do comportamento nos modernos faladores línguas e os médiuns espíritas. Os efeitos físicos visíveis (o tremor do corpo e braços) causados pelas forças sobrenaturais são os mesmos. A respiração e a posição da pessoa são afetadas do mesmo modo. A descrição do que sentem como sob um poder (correntes elétricas passando pelo corpo) é o mesmo.

Raymond France, um missionário na China, corretamente admoesta: "Espíritos maus podem facilmente achar oportunidade de operar na vida emocional do crente – especialmente quando o crente é aconselhado a suspender toda a sua atividade intelectual e submeter a sua vontade a uma inteligência invisível (que o crente considera ser o Espírito Santo). Por esta razão o filho de Deus se preocupa com o menor dos dons, línguas, coloca-se numa posição particularmente vulnerável em relação ao perigo de depressão demoníaca, obsessão; ou possesso pelo demônio". – Raymond France, Something Unusual, His, December, 1963, pág. 26.

A esta idéia todo cristão concordará: Deus não força e nem subjuga a vontade do homem; mas, Satanás, vendo uma mente vazia ansiosamente pedindo por uma manifestação sobrenatural, sobrevirá alegremente e criará nele uma contrafação do que

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é atribuído ao Espírito. Seria presunçoso pensar que Satanás pode dirigir um poder tentador àqueles que ansiosamente tentam ir "além de Cristo" por um "atalho" da salvação.

O mundo humanista e secular que nega a existência do sobrenatural seja ele divino ou demoníaco, classifica todas as experiências do falar em línguas como de origem artificial e psicológica.

Já mencionamos que a própria E. G. White afirmou que o moderno falar em línguas é "manufaturado por homens e mulheres".

Um estudo do fenômeno de línguas feito pelos psiquiatras E. Mansell Pattison e Robert L. Casey suporta a idéia de "manufaturação" humana. Os dois conduziram estudos em voluntários, estudando sua linguagem em conversação normal e por ocasião de serem possuídos do fenômeno de línguas. A conclusão deles foi: "O fenômeno da língua é um fenômeno cultivado e pode ser reproduzido por recipientes incultos por imitação ou a pedido de criar uma língua estranha". O fenômeno de línguas, dizem eles, "apresenta falta de estrutura, que o distingue da verdadeira linguagem". – E. Mansell Pattison, M.D., and Robert L. Carey, "Glossolalia: A Contemporary Mystical Experience", International Psychiatry Clinics, vol. 5, n.º 4, pp. 133-148.

Pattison relata que vários faladores de línguas que ele entrevistou, disseram-lhe que um de seus passa-tempos favoritos era criar novas palavras para o seu vocabulário glossolálico. – E. Mansell Pattisson, M.D., "Behavioral Science Research on the Nature of Glossolalia", Journal of the American Scientific Affiliation, Sept., 1968, pág. 81.

Dr. Sanarin declara que qualquer um pode tornar-se um falador de línguas. "O único requisito necessário e talvez suficiente para tornar-se um 'glossologista', parece ser um profundo desejo da parte do indivíduo para uma nova ou melhor experiência religiosa". – Samarin, "Glossolalia as Learned Behavior" – Canadian Journal of Theology, 15, 1969, pp. 60-64.

A pessoa pode ter o desejo de experimentar uma verdadeira experiência com o Senhor mas atualmente não teve. Na atmosfera emocional intensa do culto pentecostal por ocasião do chamado ao altar, ele pode tentar fazer o que outros estão fazendo ou o que lhe é ordenado fazer. Ele pode ir à frente, cair sobre seus joelhos, levantar seus braços, e emitir alguns sons e gritos. Expectantes podem achar que é a evidência do batismo no Espírito santo e declaram que ele recebeu o batismo, sendo que ele desejava a experiência, ele é capaz de aceitar a opinião deles. Em outros casos a pessoa pode ter tido uma experiência verdadeira com o Senhor, mas o clímax ou a evidência física da experiência pode ter sido artificial. Aceitando como autoritárias as instruções do pastor ou conselheiro pentecostal como sendo a vontade de Deus, ele faz exatamente o que lhe dizem e experimenta a emoção. Ele pode repetir os sons e gestos.

A outros ainda que sabem que o falar em línguas é um símbolo de um status espiritual nas igrejas pentecostais e por isso eles simulam a experiência a fim de

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alcançar este status espiritual e louvores dos outros. Assim a simulação do fenômeno de línguas deve ser considerada como uma alternativa para muitos dos casos.

Entre todas as opiniões de eruditos e estudiosos do assunto do fenômeno de línguas, destaca-se um pensamento comum – de atribuir o fenômeno das línguas a uma origem psicológica.

O Padre Killan McDonall, um teólogo e cientista católico que tem estudado o movimento carismático durante quatro anos com antropólogos, diz: "Os pentecostais alegam que competentes lingüistas têm reconhecido línguas reais nas reuniões mas a maioria dos cientistas atribuem este reconhecimento a fatores psicológicos". – Killan McDonall, "Catholic Pentecostalism: problems in evolution", Theology Digest, XIX, no. 1, Spring, 1971, pág. 1971.

Esta é a posição de George B. Cutten, uma autoridade no assunto do fenômeno das línguas: "Tanto quanto eu entendo todos os casos de línguas, que tem sido investigados escrita e cientificamente, não há um só que não possa ser explicado por reconhecidas leis psicológicas". – G. B. Cutten, Speaking with Tongues Historically and Psychologically Considered, p. 181.

O psicanalista Stuart Bergsma, diretor do Pine Rest Christian Hospital em Grand Rapids Michigan, tem a mesma opinião de Cutten. Depois de mencionar um número de experiências que lhe tem ajudado na avaliação do fenômeno de línguas, ele declara: "Todas estas (experiências) têm me deixado com a convicção de que o fenômeno de línguas pode ser explicado psicologicamente, e não é em geral, um fenômeno espiritual". Ss. Bergsma, Speaking With Tongues, Part II, Torch and Trumpet, XVI, 10 (December, 1964), pág. 10.

Outro psiquiatra cristão faz uma declaração idêntica num artigo em que ele analisa o fenômeno das línguas: "O produto de nossa análise é a demonstração dos mecanismos muitos naturais que produzem o fenômeno de línguas. Como um fenômeno de línguas. Como um fenômeno psicológico, o fenômeno de línguas é fácil de ser produzido e prontamente compreensível". – E. Mansell Pattison, "Speaking in Tongues and about Tongues", Christian Standard, Feb. 15, 1964, p. 2 (Dr. Pattison, um membro da Associação Cristã dos Estudos Psicológicos, foi professor de psiquiatria na Universidade de Washington quando escreveu este artigo).

A análise acima levanta a pergunta: Quais são os mecanismos psicológicos operativos no fenômeno de línguas?

Com respeito aos mecanismos psicológicos, várias têm sido as sugestões: 1. Êxtase ou arrebatamento: Uma das explicações mais velhas e comuns descreve

o fenômeno de línguas como resultado de êxtase ou arrebatamento. De acordo com essa teoria o falar em línguas é o resultado de um estado emocional que eleva a possua acima da sua ordinária estrutura mental e causa-lhe emitir "alocuções emocionais".

Entretanto esta posição não explica o fenômeno de línguas entre os pentecostais e neo-pentecostais mais moderados.

2. Um escapismo dos conflitos: Outra explicação que surgiu em resposta ao reavivamento de línguas na década de 1960, é aquela sugerida por James N. Lapsley e

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John H. Simpson, que considerou o fenômeno de línguas, como um escapismo dos conflitos. Nas pesquisas que fizeram, eles notaram entre glossolistas a presença de "pessoas perturbadas incomuns", que exibiram "mais densidade e imitabilidade de personalidade do que os não pentecostais do mesmo background socioeconômico". – Speaking in Tongues, Princeton Seminary Bulletin, LXIII, 1965, pp. 3-18.

Robert R. Gustafson diz: "Na verdade, o fenômeno de línguas hoje apresenta não somente um alívio psíquico dos distúrbios emocionais, mas ele também provê um estado emocional pelo qual se é possível escapar temporariamente do problema e conflito íntimos." – Robert R. Gustafson, Authors of Confusion (Tampa, Fla: Grace Publishing Company, 1971), p.80.

L. M. van Ecteveld Vivier, numa dissertação doutoral sobre o fenômeno de línguas, relata que um grupo de pentecostais com o fenômeno de línguas a quem ele estudou, revela "psicologicamente um miserável início na vida caracterizada por insegurança, conflito e tensão". – Frank Farrell "Outburst of Tongues", Christianity Today, VII, n.º 24, Sept. 13, 1963, p. 6. (A dissertação intitulada apenas Glossolalia foi escrito para a Universidade de Vitwatersrand, África do sul).

Russel T. Hitt é da opinião que muitos dos que têm experimentado o "batismo no Espírito" têm estado a sofrer de greves problemas pessoais e familiares ou são emocionalmente preocupados com a sua própria vida espiritual." – Russel T. Hitt, "The New Pentecostalism", Eternity, July, 1963, p. 3.

Para tais indivíduos e falar em línguas pode prover um caminho de escape dos problemas, dos problemas angustiantes da época ou um modo de alcançar um status negado aos outros. Dr. Gordon B. Hamilton, psiquiatra em Washington D.C., acrescenta: "Na década passada e especialmente nos últimos 5 anos, o nível geral de sanidade tem decrescido. E ao contrário, casos de complexos da inferioridade, melancolia, neurastenia e psiconeurose têm aumentado grandemente" – Associated Press Dispatch as quoted in Speaking in Tongues, by H. J. Stolee, p. 81.

3. Uma reação à época: Certamente pode-se compreender o apelo ao misterioso

numa época em que predomina o racionalismo. Pode ser que muito do falar em línguas no neo-pentecostalismo hoje representa uma reação emocional ao tipo intelectual e frio da pregação ou uma reação contra a rigidez e formalidade da liturgia.

4. Hipnose: Outra explicação sugerida é a hipnose ou auto-hipnose. No primeiro

caso a pessoa dirige a sua atenção indivisa para algum objeto importante – Jesus. Então ele deixa sua mente tornar-se vazia e submete-se às sugestões dos hipnotistas e pode chegar a praticar o ato sugerido.

Embora hajam semelhanças entre os estados hipnóticos e do fenômeno de línguas, não é possível para a hipnose explicar todos os casos de falar em línguas. Por exemplo, há muitas pessoas que primeiro falaram em línguas em casa, quando estavam sozinhos. Por esta razão alguns têm explicado o fenômeno das línguas como um produto da auto-hipnose ou auto-sugestão.

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5. "Catarse Psíquica": Ira Jay Martin explica o fenômeno das línguas como uma catarse psíquica. (Veja I. J. Martin, Glossolalia in the Apostolic Church, pp. 50-52, 54-55, 61, 100). De acordo com esta opinião a pessoa procura maturidade e realização própria e não a encontra em nenhuma das avenidas naturais da vida. O resultado é frustração e conflito. Quando a pessoa vê a verdadeira maturidade pessoal vem pela fé e que a justiça é produto do perdão, o resultado é um sentimento de confiança (relaxamento) e purificação ou catarse. Em muitas pessoas este estado produz profundos sentimento de alegria interna que leva a pessoa a expressa-la em cânticos e testemunhos. Em outros, cujo temperamento é emocional, a alegria que não pode ser contido e nem expressa, resulta numa linguagem estática.

6. Memória Exaltada: Em vista dos reclamos feitos por alguns que em certas

ocasiões o fenômeno do línguas é real; torna-se necessário mencionar mais uma possível exaltação. Cutten sugeriu e citou exemplos de ocorrências de memória exaltada. (Veja obra citada anteriormente). Em tais casos a pessoa retém na sua memória elocuções numa linguagem estrangeiras as quais não podem ser lembradas sob circunstâncias normais. Entretanto, quando as necessárias condições psicológicas existam, as expressões estrangeiras vêm à tona e a pessoa fala fluentemente numa língua anteriormente conhecida. Alguns casos deste tipo de falar em línguas são relatados por Cutter. Num caso uma empregada iletrada num delírio falou em latim, hebraico e grego. Investigado o ser caso, descobriu-se que quando ela estava empregada no lar de um clérigo, ela tinha ouvido recitar longas passagens nestas línguas. (Cutten, op. cit., p. 176 em diante).

Olhando ao fenômeno das línguas com um olho clínico. Bergsma escreveu: "Obviamente nada pode sair de cada cérebro individual a não ser aquilo que lá foi armazenado anteriormente. O material armazenado pode ser alterado, fragmentado, confundido, distorcido, mas não pode ser humanamente criado. Também é óbvio que a linguagem... que vem como linguagem desconhecida (o fenômeno de línguas), deve ter sido introduzido de alguma maneira na vida daquela pessoa. Mesmo que aquela pessoa não esteve cônscia, ele ou ela deve ter ouvido aquelas palavras que ali foram gravadas. Isto explicará os poucos casos de modernos fenômenos de língua (línguas estrangeiras inteligíveis), se realmente elas existem". – Stuart Bergsma, "Speaking With Tongues", Torch and Trumpet, Nov. 1964, p. 10.

Sua primeira conclusão é certa. O simples fato dos pentecostais em vários países usarem entonações e inflexões comuns ou iguais às suas línguas nativas por ocasião do fenômeno de línguas, capacitando os estudiosos imparciais de identificar a sua língua nacional de origem, é uma prova contundente deste ponto de vista de Cutten. Eles tomam os sons que armazenaram no cérebro e reproduzem-nos de um modo desconexo enquanto sob a influência "do Espírito". Isto coloca o pentecostal em contraste com a interpretação bíblica do dom de línguas. A Bíblia declara que na época apostólica, o dom de línguas foi dado como uma manifestação do Espírito Santo e não para mostrar um acontecimento de renovação humana.

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7. Conclusão: Quatro possíveis alternativas quanto a origem do fenômeno moderno das línguas

foram dadas. Ambos os lados; pentecostais e não pentecostais admitem que o fenômeno pode ser produzido demoníaca, artificial e psicologicamente. Entretanto, os advogados do fenômeno reclamam que muito da fenômeno de línguas provém de Deus. Pessoalmente creio que o fenômeno de línguas não pode ser limitado a uma única fonte, mas todo o fenômeno moderno de línguas pode ser explicado pelas três primeiras fontes mencionadas acima. Que o fenômeno moderno de línguas não é de origem divina, isto já ficou comprovado anteriormente. Com isto não queremos limitar o Espírito Santo sugerindo que seria impossível para o Espírito conceder o dom de línguas hoje. Quem sabe o que o Espírito ainda tem reservado para a igreja verdadeira hoje? Quem sabe quais os dons que o Espírito irá conferir no futuro para capacitar a igreja a enfrentar novos e específicos desafios?

Certa vez Mackin, que dizia ter recebido o dom de línguas, perguntou a E.G. White: "Com respeito ao recebimento do poder do alto há uma pergunta: ... Qual é a evidência? Se nós o recebemos, não haverá o mesmo efeito que nos dias de Pentecostes? Pode-se esperar que nós falaremos línguas segundo o Espírito quiser". Ellen G. White respondeu: "No futuro nós teremos sinais especiais da influência do Espírito de Deus – especialmente nos dias quando os nosso inimigos serão mãos fortes contra nós. O tempo virá em que veremos coisas estranhas; mas exatamente de que maneira – se semelhante a algumas experiências dos discípulos depois deles terem recebido o Espírito Santo – eu não sei dizer". – E.G. White, Manuscrito, 115, 1908, publicado na Review and Herald, 17 de agosto, 1972.

A Sra. White não exclui a possibilidade da manifestação do dom de línguas no tempo do fim. Mas uma coisa é certa, a manifestação moderna das línguas não é de origem divina porque não satisfaz os padrões bíblicos que governam os dons do Espírito Santo.

8. AVALIAÇÃO DAS LÍNGUAS: OS BENEFÍCiOS E PERIGOS

1. Benefícios:

Aqueles que tiveram o fenômeno de línguas testificam que agora sua vida tem mudado. Problemas emocionais têm sido estabilizados e superados. Pecados individuais são descobertos, confessados e abandonados. A revista Time relatou que para os participantes o falar em línguas "é bom para acabar com o alcoolismo; reconstruir casamentos desfeitos e promover a causa de Cristo". (Against Glossolalia, Time LXXXI, May 17, 1963, p. 84). Há um novo interesse na freqüência à igreja, dízimo e trabalho missionário. Há um novo desejo de ler a Bíblia e estudá-la. Há um novo senso de amor divino, alegria que se manifesta no canto. Alguns têm experimentado "curas físicas mentais".

Estes reclamos são impressionantes. O que dizer sobre os benefícios? Como explicar os benefícios espirituais que o que o fenômeno de línguas tem produzido? Se

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o fenômeno de línguas é de origem artificial, psicológica ou demoníaca como explicar os benefícios que os que falam em línguas alegam receber?

Deve ser observado primeiro que o fenômeno de línguas nem sempre tem trazido uma bênção espiritual, pois em muitos casos o que inicialmente era considerado ser do Espírito, posteriormente foi atribuído à carne. Um pastor pentecostal por nove anos abandonou o movimento e deu o seguinte testemunho: "Eu não creio que línguas têm qualquer valor devocional, pois eu tenho experimentado em minha vida e minha devoção é mais espiritual desde que abandonei o falar em línguas. Meu ministério tem sido mais espiritual e fecundo desde que abandonei a igreja pentecostal e não tenho desejo de voltar". Ele também afirmou que ele não viu o dom de línguas ser usado legitimamente na igreja durante os anos que ele foi pastor pentecostal. "Houve ocasiões quando o povo falou em línguas na igreja, mas nunca contribuiu para a edificação do grupo". – Anthony A. Hoekema, What About Tongue Speaking?, pp.133-134.

Como explicar os benefícios reclamados? Creio que encontramos uma solução à pergunta nas duas declarações abaixo relacionadas:

"Glossolalia não tem nenhum valor espiritual extrínseco". Pode ser que o acompanhamento psicológico de uma real experiência produza algum benefício, mas isto deve ser considerado secundário na obtenção dos alvos espirituais." Citado por Anthony A. Hoekema, op. cit., p.134.

"Na minha avaliação de glossolalia baseado em minha vida, eu diria, ela é inteiramente da carne em última análise. Porém, as muitas horas honestamente gastas para buscar ao Senhor, trazem muitas bênçãos". Hoekema, op. cit., p. 135.

Nas duas declarações acima nós vimos que o benefício não advém do falar em línguas em si, mas a ênfase está no que prece (horas gastas para buscar ao Senhor) ou no acompanhamento (o psicológico). Assim, podemos dizer que o fenômeno das línguas não é a fonte das bênçãos espirituais, mas é o estado mental, o que é dito ser evidência do fenômeno de línguas. Se um cristão procura honestamente o poder do Espírito Santo mais do que nunca, e se submete mais completamente à influência do Espírito Santo, necessariamente isto trará recompensas espirituais. Se um cristão gasta mais tempo em oração do que antes, sinceramente procurando um enriquecimento espiritual, isto seguramente produzirá frutos. O falar em línguas é apenas a culminância de uma experiência cristã fraternal na igreja, de estudo da Bíblia e oração em grupos de amigos – esta experiência que precede o falar em línguas é proveitosa. Em outras palavras, nós podemos explicar as bênçãos espirituais experimentadas completamente à parte do falar em línguas.

2. Perigos: a) Um substituto psicológico pelo sobrenatural: O fenômeno de línguas hoje é iludível. Muitas vezes é uma tentativa psicológica

de recriar o dom sobrenatural da igreja apostólica. Por causa da complexidade da natureza humana, quando as próprias condições estão presentes, o homem é capaz de operar em si mesmo uma experiência que ele julga ser a mesma do Novo Testamento. Um exame cuidadoso indica que há visíveis diferença entre as experiências verificadas entre as do movimento carismático de hoje e as experiências do Novo Testamento.

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Isto devia alertar cada cristão para não permitir ser enganado por uma contrafação que não corresponde ao padrão bíblico.

b) Experiência, o critério da verdade: Para os carismáticos a verdade é determinada não pela Palavra de Deus mas pela

experiência. A experiência, importante como possa ser, nunca será o critério da verdade. A Bíblia não pode ser suplantada pelas experiências pessoais.

c) Um fenômeno próximo ao estado psicológico: Não queremos sugerir que o fenômeno de línguas é insanidade mental ou

necessariamente neurótica. Mas o que queremos dizer é que o fenômeno é anormal. É uma forma de dissociação dentro da mentalidade da pessoa. É na realidade uma separação que corta a função racional do cérebro com o resultado que a ação é produzida à parte do controle racional. Temporariamente o que fala em línguas entra numa condição patológica a qual é uma perversão da função do cérebro estabelecido por Deus. É transformar a sede do raciocínio numa máquina irracional. Fazendo isto a pessoa transgride o propósito de Deus para o homem como um ser racional.

d) Um mecanismo de escape: O fenômeno de línguas é dito ser um meio de redução de conflitos, um agente de

integração da personalidade resultando no senso de alegria, paz e bem-estar. Contudo, o que quer que haja de redução de conflito no fenômeno de línguas, ele não é uma cura, pois, ele somente trata com os sintomas, e não com as causas reais das tensões de homem. Como em todos os mecanismos de escape, o alívio é apenas temporário.

e) Um encorajamento ao orgulho espiritual: Considerando como o clímax da experiência espiritual o fenômeno de línguas

quando obtido facilmente produz a exaltação própria. O fenômeno de línguas divide a igreja em dois grupos: o dos santificados e dos formais.

f) Substituição da fé pela vista: A tendência é buscar as coisas que são vistas em vez das visíveis. Queremos ver a

tangíve1 evidência da presença de Deus em vez de aceitá-la pela fé. O desejo pelo fenômeno de língua move o cristão no nível inferior substituindo a fé pela vista.

g) Uma possível ferramenta de Satanás. O fato do fenômeno de línguas ocorrer entre os pagãos, sugere a possibilidade de

que em alguns casos mesmo entre os cristãos as línguas podem ser inspiradas por Satanás. A exigência de que a gente deve submeter completamente a mente à experiência das línguas abra a possibilidade da entrada e controle das forças demoníacas. Esta entrega da vontade é uma entrega perigosa que Satanás pode usar sem o cristã perceber. Nós nunca devemos entregar o nosso poder racional para "testar se os espíritos são de Deus". (I S João 4:1).

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O DOM DE CURAR

1. O MINISTÉRIO DA CURA OCUPAVA UM LUGAR CENTRAL NO MINISTÉRIO DE JESUS CRISTO

"Tomou sobre Si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças" (Mat. 8:17), a

fim de poder ajudar a todas as necessidades humanas. ... Era Sua missão restaurar inteiramente os homens; veio trazer-lhes saúde, paz e perfeição de caráter." – A Ciência do Bom Viver, p. 17.

"O evangelho por Ele pregado era uma mensagem de vida espiritual e de restauração física. O libertamento do pecado e a cura da doença estavam ligados entre si. " – A Ciência do Bom Viver, p. 111.

2. É O PADRÃO DE CURA DE CRISTO SEGUIDO PELOS MODERNOS

CARISMÁTICOS, NO MOVIMENTO PENTECOSTAL?

TRÊS CONTRADIÇÕES EVIDENTES:

1. Eles promovem um ensino não bíblico da vontade de Deus "Quando dois concordam em entregar qualquer perturbação e doença completamente

nas mãos do Pai, Ele sempre tirará a enfermidade". (Glenn Clark, How to Find Health Trough Prayer, p. 72).

"A maior barreira para a cura de muitos que hoje buscam a cura física é a incerteza em suas mentes de que é a vontade de Deus o curar todos." (F. F. Bosworth, Christ the Healer, p. 33).

"Se a salvação é para todos, a cura divina é para todos". (T.L. Osborn. Curai Enfermos e Expeli Demônios, p. 28).

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Nós os adventistas cremos que todas as bênçãos que gozamos vêm pela morte de Cristo.

"Mesmo esta vida terrestre devemos à morte de Cristo. O pão que comemos, é o preço de Seu corpo quebrantado. A água que bebemos é comprada com Seu derramado sangue. Nunca alguém, seja santo ou pecador, toma seu alimento diário, que não seja nutrido pelo corpo e o sangue de Cristo. A cruz do Calvário acha-se estampada em cada pão. Reflete-se em toda fonte de água. ... A mesa familiar torna-se como a mesa do Senhor, e cada refeição um sacramento." – O Desejado de Todas as Nações, p. 660.

Adventistas não hesitam em buscar a Deus pela fé, suplicando-Lhe as bênçãos da expiação. Mas qual é a nossa posição à insistência pentecostal que devido a expiação Deus cura a todos e Ele sempre curará a doença?

Primeiro: Ninguém deixará este mundo vivo até a Volta de Jesus (Rom. 6:23). Doença e sofrimento são comuns a todos e durarão até a Volta de Jesus (I Cor. 15:23-27).

Segundo: Embora o cristão no presente vive pela fé no mundo do porvir, eles ainda estão sujeitos à fragilidade e mortalidade deste mundo. As curas físicas e ressurreições operadas por Jesus eram sinais da presença do Reino de Deus bem como a garantia da libertação final. Contudo, estes eram sinais que não foram obedecidos universalmente, mas eram antecipações visíveis, dadas apenas em ocasiões específicas, da promessa da redenção final, mas continuamos sujeitos à doença e morte, mas isto, não quer dizer que Deus não possa operar milagres de cura em nossos dias; contudo, esta bênção, como livramento da morte, pertence ao mundo vindouro e não ao presente tempo.

Terceiro: Outra razão porque Deus não cura a todos é porque uma doença pode ser usada por Deus como um instrumento de correção para produzirmos frutos (S. João 15:2; I Cor. 3:15; II Cor. 4:17).

Paulo mesmo é um caso para ilustrar que embora Deus sempre responda a oração por cura, Ele nem sempre diz "sim". A Paulo Deus respondeu: "A minha graça te basta" (II Cor. 12:9).

2. O segundo desvio da vontade de Deus é a presunção na oração.

Nossa fé faz Deus agir", diz um líder carismático. (T.L. Osborn, op. cit., p. 79). Para sustentar a sua tese, os líderes da cura divina citam S. Mar. 11:24 "Tudo o

que pedirdes em oração, crede que o tendes recebido, e será vosso". O que ensinam as Escrituras e como orou o nosso Modelo? a) I S. João 5:14-15 = Deus nos ouve se pedirmos alguma coisa segundo a Sua

vontade. Algumas coisas que nós desejamos ardentemente, inclusive a cura, pode não ser de acordo com a vontade de Deus.

b) S. Mat. 26:39 = "Não seja feita a Minha Vontade mas sim a Tua". Em orações pelos doentes a Sra. E.G. White declarou: "Ao orar pelos doentes, cumpre lembrar que 'não sabemos o que havemos de pedir

como convém'. Rom. 8:26. Não sabemos se a bênção que desejamos será para o bem ou não. Portanto, nossas orações devem incluir este pensamento: 'Senhor, Tu conheces todo segredo da alma. Estás familiarizado com estas pessoas. Jesus, seu Advogado, deu a vida

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Movimento Carismático 62

por elas. Seu amor por elas é maior do que é possível ser o nosso. Se, portanto, for para Tua glória e o bem dos aflitos, pedimos, em nome de Jesus, que sejam restituídas à saúde. Se não for da Tua vontade que se restaurem, rogamos-Te que a Tua graça as conforte e a Tua presença as sustenha em seus sofrimentos." – E.G. White, A Ciência do Bom Viver, pp. 229, 230.

Recomendar que a qualificação "Se for de Tua vontade" seja excluída de nossas orações como sugerem os pentecostais, é voltar ao paganismo. O povo de Israel foi admoestado por colocarem Deus à prova (Êx.12:7).

3. Uma terceira condição na teologia e prática carismática é que Cristo uniu a cura à

educação e reforma. No início do século XX os adventistas enfrentaram a pergunta critica: Em vez de

construir hospitais, porque não curar apenas como Jesus fez? A igreja chegou a duas conclusões corretas:

(1) Deus viu que falsas curas através do poder do diabo podiam ser tão prevalecentes que Deus escolheu o ministério médico incluindo remédios naturais e o ensino da Bíblia (Mensagens Escolhidas, II, p. 54).

(2) Através dos hospitais muitos pacientes poderiam ser educados nos princípios corretos de um viver sadio.

A primeira razão de construirmos um hospital veio, paradoxalmente do estudo dos milagres de Cristo. Por que Ele os realizou? A resposta não se encontra unicamente por causa de Sua compaixão pelo doente, pois, Ele poderia tê-los curado por processos ou remédios naturais.

A razão parcialmente residia na brevidade de Seu ministério na Terra. O que Ele fez teve de faze-lo depressa. Mas uma razão mais forte é que os milagres certificavam a Sua divindade.

É interessante notar que no Novo Testamento Satanás raramente usou milagres para contrafazer a obra de Cristo. Mas, em tendo Cristo deixado a terra, Satanás imediatamente começou a contrafazer Suas obras. E a campanha de Satanás de imitar ou contrafazer milagres aumentará cada vez mais (veja II Tes. 2:8.9; S. Mat. 7:22; O Grande Conflito).

Foi sobre este "Insight" que Ellen G. White escreveu: "A maneira por que Cristo trabalhava era pregar a Palavra, e aliviar o sofrimento por

obras miraculosas de cura. Estou, porém, instruída de que não podemos agora trabalhar dessa maneira, pois Satanás exercerá seu poder pela operação de milagres. Os servos de Deus hoje não poderiam trabalhar mediante milagres, pois espúrias obras de cura, pretendendo ser divinas, serão operadas." – Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 54.

Confrontados coma a cruzada de Satanás de contrafazer, Cristo "destinou um meio pelo qual Seu povo deve executar uma obra de cura física, aliada ao ensino da Palavra. Devem estabelecer-se hospitais, e com essas instituições devem estar ligados obreiros que façam genuína obra médico-missionária. Estende-se assim protetora influência em torno dos que vão aos sanatórios em busca de cura." (Idem).

Além da razão já mencionada para se operar o ministério da cura através de hospitais, havia uma segunda razão para isso: Aliviar o doente pelo tratamento e

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ensinar-lhe os hábitos corretos de vida sadia e como evitar a doença (Testimonies for the Church, vol. 1, p. 561; Conselhos Sobre Saúde, p. 247).

E.G. White escreveu: "É trabalho perdido ensinar o povo a volver-se para Deus como Aquele que cura suas

enfermidades, a menos que seja também ensinado a renunciar aos hábitos nocivos. Para que recebam Sua bênção em resposta à oração, devem cessar de fazer o mal e aprender a fazer o bem. Seu ambiente deve ser higiênico, corretos os seus hábitos de vida. Devem viver em harmonia com a Lei de Deus, tanto a natural como a espiritual." (A Ciência do Bom Viver, pp. 227,228).

"Na obra do evangelho, o ensino e a cura nunca se devem separar. (Ibidem, p. 141). "O libertamento do pecado e a cura da doença estavam ligados entre si. O mesmo

ministério é confiado ao médico cristão." (A Ciência do Bom Viver, p. 111). Esta declaração afirma que nem todas as falsas curas ocorrem nas tendas divinas.

Não há algo para nós adventistas aprender?

3. PORQUE SÃO BEM SUCEDIDOS OS LÍDERES CARISMÁTICOS? Se os lideres carismáticos geralmente confundem a vontade de Deus,

presunçosamente insistem na cura e falham em unir a reforma e a cura , porque são eles tão bem sucedidos?

Eles na verdade não são tão bem sucedidos como suas revistas e rádios chamam e anunciam. Muitas curas vêm sobre a seguinte classificação:

a) "Curas" seletivas: nem todas entram nas filas das pessoas para serem curadas. Várias técnicas são usadas para selecionar os candidatos.

b) Curas não documentadas duvidosas, ou visivelmente falsas. Curas relatadas muitas vezes caem nestes três grupos.

c) Libertamento espontâneo de doenças. Libertamento espontâneo de doenças, mesmo do câncer, não são raridades médicas. Inexplicáveis, sim, mas elas ocorrem, com ou sem fé, e com ou sem a presença dos líderes da cura.

d) Curados a despeito do líder. Alguns suplicantes honestos podem ser curados, justamente como alguns são convertidos, a desperto da fonte. A cura verdadeira finalmente não vem do homem, mas de Deus.

"Eles (membros da igreja) confiaram os sentimentos a uma influência e poder que foi exercido sobre seus sentimentos. Eu vi que muitos, muitos mesmo tinham sido verdadeiramente convertidos através de influência de pessoas que estavam vivendo em aberta violação dos mandamentos de Deus..." (Ellen G. White, Letter 2, 1851).

e) Curados por Satanás. Nem todos são curados por Deus. Satanás tam bem tem poder para realizar milagres (Apoc. 13:14; Leia SDA Bible Commentary, comentário sobre S. Mat. 24:23, 24, p. 1099; Conflito dos Séculos, pp. 675, 676, 637-641; Mensagens Escolhidas, 2, p. 53).

A Bíblia esclarece claramente três pontos concernentes a Satanás e os milagres: 1) Satanás é capaz de operar milagres (veja referências dadas acima). Antes do

fim do tempo ele (Satanás) operará maiores maravilhas. Tanto quanto o seu poder

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permite, ele operará milagres verdadeiros. (E.G. White, Testimonies for the Church, vol. 5, p. 698).

Referindo-se a Apoc. 13:14, Ellen White diz: "Algo mais do que meras manifestações é apresentado nas Escrituras. (Ibidem).

2) Ele contrafaz os milagres que não pode realizar. Satanás é chamado de enganador. "Mas há um limite além do qual Satanás não pode ir: e aqui ele usa o engano para o seu auxílio, e contrafaz a obra que ele não tem poder atualmente de realizar." (Ibidem).

Ele é capaz de trazer uma doença sobre homens e mulheres pelo seu poder, e então soltando-os, fará aparecer que um milagre de cura foi realizado.

Particularmente no tempo do fim ele operará através do espiritualismo (veja Conflito dos Séculos, pp. 637-638).

"Satanás pode conduzir almas enganadas a longa distância. Ele pode perverter o seu julgamento, sua vista, e seu ouvido." (Testimonies for the Church, vol. 3, p. 351).

3) Satanás não pode dar a vida. Cristo apresenta-se como o doador da vida, o único que possui as chaves da sepultura. "O príncipe do mal, possuindo embora toda a sabedoria e poder de um anjo decaído, não tem o poder de criar ou dar a vida; isto é prerrogativa de Deus somente." (Patriarcas e Profetas, p. 264). Mas, através do espiritualismo, os agentes de Satanás irão personificar os mortos.

Concluindo, devemos dizer que os maiores reavivamentos na história não têm

visto outros milagres senão o de vidas transformadas. João Batista, uma "voz" que clamava no deserto, não realizou nenhum milagre (S. João 10:41), no entanto ele foi um dos maiores profetas. O povo de Deus nos últimos dias não será conhecido tanto pelos milagres que realiza, mas pela verdade pregada e vivida por ele. Uma comparação entre Apoc.12:17 e 14:12, mostram que eles possuem três características: eles guardam os mandamentos de Jesus, eles têm a fé de Jesus, e eles têm o testemunho de Jesus. Milagres não são mencionados.

Eu creio em milagres! Mas, eu também creio que a maior evidência que o trabalho foi realizado pelo Espírito de Deus, encontra-se na vida dos remidos. A Bíblia ensina que Satanás tem poder (limitado) sobre os elementos físicos e assim realiza "milagres". Mas somente Deus tem poder para transformar redentivamente vidas. Este, então, torna-se o teste rigoroso da presença de Deus num movimento. "E para um povo com uma fé madura que não precisa procurar um sinal, isto deve ser suficiente (W. Stanley, Mooneyeham, "Revival and Miracles. What About Indonesia?", An Associated Church Press Relieve).

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APÊNDICE

1 – COMO OS ADVENSTISTAS DO SÉTIMO DIA DEVEM SE RELACIONAR COM O MOVIMENTO CARISMÁTICO?

Em três editoriais Kenneth Wood, editor da Advent Review and Sabbath Herald,

forneceu alguma informação de como os Adventistas do Sétimo Dia devem se relacionar com o movimento neo-pentecostal. A seguir veremos 10 pontos sugeridos por ele:

1. Cristo prometeu derramar o Espírito Santo sobre Seus seguidores. a) "O tempo decorrido não operou nenhuma mudança na promessa dada por

Cristo ao partir, promessa esta de enviar o Espírito Santo como Seu representante." (Atos dos Apóstolos, p. 50). "A promessa do Espírito Santo não é limitada a algum século ou raça (Atos dos Apóstolos, p. 49).

b) O povo de Deus deve sinceramente desejar e orar pelo derramamento do Espírito Santo em Sua plenitude.

"Por que não sentimos fome e sede pelo dom do Espírito? Por que não falamos sobre Ele, não oramos por Ele, e não pregamos a Seu respeito?... Cada obreiro devia fazer sua petição a Deus pelo batismo diário do Espírito." (Atos dos Apóstolos, p. 50).

"Ao avizinhar-se o fim de ceifa da terra, uma feliz concessão de graça espiritual é prometida a fim de preparar a igreja para a vinda do Filho do Homem. Esse derradeiro derramamento do Espírito é comparado com a queda da chuva serôdia; e é por este poder adicional que os cristãos devem fazer as suas petições ao Senhor da Seara 'no tempo da chuva serôdia'. Em resposta Ele... fará descer a chuva, a temporã e a serôdia." (Atos dos Apóstolos, p. 55)

2. Nos últimos dias haverá um genuíno movimento carismático entre o povo de

Deus. "Antes de os juízos finais de Deus caírem sobre a Terra, haverá, entre o povo do

Senhor, tal avivamento da primitiva piedade como não fora testemunhado desde os tempos apostólicos. O Espírito e o poder de Deus serão derramados sobre Seus filhos." (O Grande Conflito, p. 464)

"Em visões da noite passaram perante mim representações de um grande movimento reformatório entre o povo de Deus. Muitos estavam louvando a Deus. Os enfermos eram curados, e outros milagres eram operados." (Testemunhos Seletos, Vol. 3, p. 345).

O propósito deste derramamento do poder será para reunir os fiéis. "Naquele tempo muitos se separarão das igrejas em que o amor deste mundo

suplantou o amor a Deus e à Sua Palavra. Muitos, tanto pastores como leigos, aceitarão alegremente as grandes verdades que Deus providenciou fossem proclamadas no tempo presente, a fim de preparar um povo para a segunda vinda do Senhor." (O Grande Conflito, p. 464)

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3. Antes do verdadeiro derramamento do Espírito, Satanás irá introduzir uma contrafação

"Nas igrejas que puder colocar sob seu poder sedutor, fará parecer que a bênção especial de Deus foi derramada; manifestar-se-á o que será considerado como grande interesse religioso. Multidões exultarão de que Deus esteja operando maravilhosamente por elas, quando a obra é de outro espírito." (Ibidem).

4. O mundo religioso dos últimos dias será caracterizado pelos milagres e

grandes sinais e maravilhas (Apoc. 13:13, 14; S. Mat. 24:23,24). a) O propósito de alguns dos fenômenos extraordinários será para enganar (Apoc.

13:14). b) Tão persuasivos serão os sinais e maravilhas que se possível enganariam

mesmo os escolhidos (S. Mat. 24:24). 5. Milagres e outros fenômenos sobrenaturais podem não ser de origem divina,

nem provam eles a verdadeira espiritualidade (S. Mat. 7:22, 23). "Satanás trabalha com todo aquele que não se encontra sob o domínio do Espírito de

Deus. São os prodígios de mentira do diabo que levarão o mundo cativo, e ele fará descer fogo do céu à vista dos homens. Ele operará milagres; esse maravilhoso poder operador de milagres abrangerá todo o mundo. (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 51).

6. O êxtase espiritual não prova que uma pessoa é cristã (Atos dos Apóstolos, p.

51; Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 26). 7. Alguns cristãos irão caracterizar como fanático o mesmo genuíno batismo do

Espírito Santo. "O batismo do Espírito Santo como no dia de Pentecostes levará a um reavivamento

da verdadeira religião e à operação de muitas obras maravilhosas. Seres celestes entrarão em nosso meio, e homens falarão segundo forem movidos a fazê-lo pelo Espírito de Deus. Operasse, porém, o Senhor sobre homens como fez no dia de Pentecostes e posteriormente, muitos que hoje professam crer na verdade conheceriam tão pouco da operação do Espírito Santo que haviam de clamar: 'Acautelai-vos do fanatismo'." (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 57).

8. Nem todos os "Espíritos" são de Deus, conseqüentemente os espíritos devem

ser testados (veja 1 S. João 4:1). a) Um teste é ver se o Espírito reconhece que Jesus Cristo veio em carne (1 S.

João 4:2). b) outro teste é ver se e Espírito se relaciona propriamente para com a lei de Deus

e a revelação (Isa. 8:20). (Veja Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 49). c) Um terceiro teste são os frutos (S. Mat. 7:15-20). Para onde dirige o Espírito?

Para e piedade ou ao mundanismo? Ele leva a pessoa a amar a Cristo ou ao mundo? Ele leva a pessoa e obedecer a Palavra ou a depender dos sentimentos?

"Se aqueles por quem são realizadas curas, acham-se dispostos, por causa dessas manifestações, a desculpar sua negligência da lei de Deus, e continuam em

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desobediência, ... não se segue que possuam o grande poder de Deus. Ao contrário, é o poder operador de milagres do grande enganador." (Ibidem, pp. 50-51).

9. O Espírito Santo é dado aos que obedecem, não aos que ignoram, rejeitam ou

se opõem à Lei de Deus" (Atos 5:32).

10. Há um dom de línguas genuíno (veja Atos 2:1-13). Este dom no Pentecostes habilitou os apóstolos de não somente quebrar as barreiras da língua na pregação do evangelho, mas "deste tempo em diante a linguagem dos discípulos era pura, simples e acurada, quer falassem eles no idioma materno ou na língua estrangeira" (Atos dos Apóstolos, p. 40).

a) Há também um falso dom de línguas. Quando este falso dom de línguas apareceu entre um grupo fanático de adventistas, E. G. White escreveu:

"Alguns... têm uma algaravia a qual eles chamam de língua estranha que é desconhecida não somente pelo homem, mas também pelo Senhor e todo o Céu. Tais dons são manufaturados pelos homens e mulheres ajudados pelo grande enganador. Fanatismo, falso excitamento, falso ensino de línguas e cultos ruidosos têm sido considerados dons que Deus colocou na igreja. Alguns têm sido enganados com isto" (Testimonies for Church, vol 1, p. 412).

b) O dom de línguas como todos os outros dons do Espírito, é dado à discrição do Espírito, não do indivíduo. Ele é apenas um dentre os vários dons, não superior aos outros e como os demais, ele é dado seletiva mente, e não para todos (veja I Cor. 12:28-31).

c) O amor é maior do que o dom de línguas e o dom de profetizar (I Cor. 13:1, 2 . d) Profetizar (dizer algo espiritualmente edificante) é mais desejável do que falar

em línguas (ver I Cor. 14:1-5,9). e) Ordem deve prevalecer (I Cor. 13:33, 40).

2 - O EMERGENTE PAPEL PROFÉTICO DO MOVIMENTO CARISMÁTICO:

O moderno movimento carismático é uma parte essencial da atmosfera

ecumênica. Um líder, Harold Bredesen, afirmou: "Hoje este vivo e incontrolável Espírito está operando soberanamente na Igreja

Católica Romana e entre os protestantes, liberais e conservativos" (Harold Bredesen, "Return to the Charismata", Trinity, II, 1962, p. 22).

Um ministro luterano e dotado do "dom de línguas" escreveu: "Eu tenho dialogado com católicos e protestantes, e tem sido uma bênção

maravilhosa. Em Brooklyn nós temos dois grupos de diálogo, composto de membros luteranos e jovens padres católicos. Nós nos reunimos e estudamos as Escrituras juntos, conversamos sobre os problemas da comunidade, e discutimos sobre a participação de nossas igrejas nos problemas sociais.

"Recentemente, eu atendi a um retiro de católicos, episcopais e luteranos. O Espírito Santo está operando na Igreja Católica Romana. E estou convencido de que o significado básico do reavivamento carismático é a reunião das igrejas." (Ervin Prage, "A New Ministry", Full Gospel Business Men's Voice, XIII, April 1965, p. 7).

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Os Ranaghans declaram: "Um dos mais ricos frutos deste movimento carismático contemporâneo é a união dos

cristãos de muitas denominações no Espírito de Deus. Episcopais, luteranos, presbiterianos, metodistas, batistas, discípulos, nazarenos, irmãos, bem como as denominações pentecostais têm se tornado nossos queridos irmãos em Cristo, unidos pelo batismo no Espírito Santo." (Kevin and Dorothy Ranaphan, Catholic Pentecostals, p. 225).

Que os líderes protestantes e católicos há muito têm sentido a necessidade de uma "força unificadora" é agora notório e muito raro além de ser contra esta força espiritual.

Os líderes pentecostais crêem que o movimento foi comissionado por Deus para quebrar as barreiras divisionais no mundo religioso e finalmente unir a humanidade sob o manto carismático do Espírito Santo. Para este propósito, diz David J. Du Pessis, um líder pentecostal internacional, o Espírito o enviou; ele caracteriza o papel do pentecostalismo com o "ecumenismo espiritual", em contraste com o "ecumenismo institucional" do Concílio Mundial de Igrejas.

Dr. Corn, um líder pentecostal mundial assim se expressa: "Ele (movimento carismático) está crescendo e efetuará uma união espiritual. Eu

tenho me encontrado e discutido estes assuntos com líderes católicos. Eu os tive em meus cultos ... Tenho estado no Vaticano e tenho discutido estes assuntos com eles lá ... Tenho discutido o assunto com os episcopais, os luteranos e há uma união que está crescendo. É uma união espiritual das igrejas, não uma união institucional ... Há um sentimento de uma união espiritual que irá se espalhar a todas as igrejas". (Rene Nooebergen, Glossolalia Sweet Sounds of Ecstasy, Book 2, pp. 47-48.

"O movimento carismático não cessaria. Isto apenas é o início. Ele crescerá até o tempo da vinda do Senhor quando terá proporções mundiais". (Ibidem, p. 48).

Tem este "poder espiritual" unido as pessoas em torno da verdade das Escrituras? Wilson Ervin deu a seguinte opinião:

"O movimento carismático dentro da igreja católica irá se expandir; o processo de enfraquecer as barreiras dentro de alguns grupos evangélicos irá crescer e intensificar-se. Sobre um fundamento composto de pedras de absoluta apostasia e da argamassa do ecumenismo, transigência e neutralidade fará emergir a igreja mundial'. (Wilson Ervin, "Sheer Spiritual Irresponsibility", Christian Heritage, vol. 33; n.º 3, March 1972, p. 32).

Que homens e mulheres de todas os denominações estão se unindo em torno de uma experiência em vez de serem munidos por doutrinas não pode ser negado. O movimento carismático (espiritualismo)está fornecendo cimento de união que o ecumenismo necessita.

E. G. White escreveu: "Satanás está resolvido a uni-los (romanistas, protestantes e mundanos) em um só

corpo, e assim fortalecer sua causa arrastando-os todos para as fileiras do espiritualismo" (The Great Controversy, p. 588).

Ellen G. White admoesta profeticamente: "Mediante a agência do espiritualismo, operar-se-ão milagres, os doentes serão

curados e se efetuarão muitas inegáveis maravilhas. E, como os espíritos professarão fé nas Escrituras Sagradas, demonstrarão respeito pelas instituições da igreja, sua obra será aceita como manifestação do poder divino". (Ibidem, p. 637).

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