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PROPOSTA DE PROTOCOLO DE VIA VERDE DA SÉPSIS PRÉHOSPITALAR NO CONTEXTO DE USF Dra. Sofia Pinto Correia | Dr. Luís Lopes Coutinho | Dezembro de 2014 1 PROPOSTA DE PROTOCOLO DE VIA VERDE DA SÉPSIS PRÉHOSPITALAR NO CONTEXTO DE USF 1. INTRODUÇÃO: 1.1 Conceitos O conceito de sépsis é, ainda hoje, impreciso e as definições actuais são fruto de consensos estabelecidos por peritos. Ciente desta imprecisão de definições e de conceitos, o American College of Chest Physicians (ACCP) e a Society of Critical Care Medicine (SCCM) organizaram em 1991 uma " Conferência de Consenso" com o objectivo de: "... criar uma estrutura conceptual, com aplicação prática que permita definir a resposta inflamatória à infecção. Esta resposta exprimese por um contínuo de manifestações clínicas que permitem identificar os doentes com sépsis e inclui disfunções de órgão associadas ...”. As novas definições, usadas internacionalmente desde então são importantes pelas diferentes taxas de mortalidade atribuídas a cada uma das entidades, e são fundamentalmente as seguintes: SIRS; Sépsis; Sépsis Grave; Choque Séptico; SIRS (Systemic Inflamatory Response Syndrome) Presença de dois ou mais dos seguintes sinais: 1. Temperatura corporal <36ºC ou >38ºC (adulto); 2. Frequência Cardiaca > 90 bpm; 3. Frequência Respiratória > 20 cpm ou PaCO2 < 32 mmHg; 4. Leucócitos > 12.000 cels/mm3 ou < 4.000 cels/mm3 ou presença de > 10% formas imaturas; Sépsis é o termo que designa o SIRS causado por infecção, que é definida como um processo patológico causado pela invasão de um tecido, fluido ou cavidade corporal normalmente estéril, por microorganismo patogénico ou potencialmente patogénico. A interacção entre SIRS, Infecção e Sépsis, está simbolizada na figura seguinte, que demonstra graficamente porque é que podemos ter infecção mas as suas manifestações não têm expressão sistémica ou porque é que poderemos ter sinais sistémicos de inflamação SIRS, sem que haja infecção. Quando as manifestações sistémicas de SIRS são causada por infecção temos a sépsis.

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PROPOSTA  DE  PROTOCOLO  DE  VIA  VERDE  DA  SÉPSIS  PRÉ-­‐HOSPITALAR  NO  CONTEXTO  DE  USF    

 

    Dra.  Sofia  Pinto  Correia  |  Dr.  Luís  Lopes  Coutinho  |  Dezembro  de  2014   1  

PROPOSTA  DE  PROTOCOLO  DE  VIA  VERDE  DA  SÉPSIS  PRÉ-­‐HOSPITALAR  NO  CONTEXTO  DE  USF  

 1.  INTRODUÇÃO:  

 1.1 Conceitos  

O  conceito  de  sépsis  é,  ainda  hoje,  impreciso  e  as  definições  actuais  são  fruto  de  consensos  estabelecidos  por  peritos.  Ciente  desta  imprecisão  de  definições  e  de  conceitos,  o  American  College  of  Chest  Physicians  (ACCP)  e  a  Society  of  Critical  Care  Medicine   (SCCM)   organizaram   em  1991   uma   "   Conferência   de   Consenso"  com  o  objectivo  de:  "...  criar  uma  estrutura  conceptual,  com  aplicação  prática  que  permita  definir  a  resposta  inflamatória  à  infecção.  Esta  resposta  exprime-­‐se  por  um  contínuo  de  manifestações  clínicas  que  permitem  identificar  os  doentes  com  sépsis  e  inclui  disfunções  de  órgão  associadas  ...”.  

As   novas   definições,   usadas   internacionalmente   desde   então   são   importantes  pelas  diferentes  taxas  de  mortalidade  atribuídas  a  cada  uma  das  entidades,  e  são  fundamentalmente  as  seguintes:  

-­‐ SIRS;  -­‐ Sépsis;  -­‐ Sépsis  Grave;  -­‐ Choque  Séptico;  

SIRS  (Systemic  Inflamatory  Response  Syndrome)  -­‐  Presença  de  dois  ou  mais  dos  seguintes  sinais:  

1. Temperatura  corporal  <36ºC  ou  >38ºC  (adulto);  2. Frequência  Cardiaca  >  90  bpm;  3. Frequência  Respiratória  >  20  cpm  ou  PaCO2  <  32  mmHg;  4. Leucócitos   >   12.000   cels/mm3   ou   <   4.000   cels/mm3   ou   presença   de   >  

10%  formas  imaturas;    

Sépsis  é  o  termo  que  designa  o  SIRS  causado  por  infecção,  que  é  definida  como  um  processo  patológico   causado  pela   invasão  de  um   tecido,   fluido  ou  cavidade  corporal   normalmente   estéril,   por   microorganismo   patogénico   ou  potencialmente  patogénico.    

A   interacção   entre   SIRS,   Infecção   e   Sépsis,   está   simbolizada  na   figura   seguinte,  que   demonstra   graficamente   porque   é   que   podemos   ter   infecção  mas   as   suas  manifestações   não   têm   expressão   sistémica   ou   porque   é   que   poderemos   ter  sinais   sistémicos   de   inflamação   SIRS,   sem   que   haja   infecção.   Quando   as  manifestações  sistémicas  de  SIRS  são  causada  por  infecção  temos  a  sépsis.    

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A  sépsis  grave  e  o  choque  séptico  compõem  um  espectro  de  severidade  crescente  da   resposta   à   infeção.   Sépsis   grave   refere-­‐se   a   hipotensão   induzida   por   �epsis,  hipoperfusão   e   disfunção   orgânica.   O   choque   séptico   surge   quando   ocorre   um  estado   de   hipoperfusão   com   insuficiência   circulatória   aguda,   caracterizada   por  hipotensão   persistente   apesar   de   reposição   volémica   adequada   (20-­‐40  mL/kg  cristalóides   em   bólus   durante   30-­‐60min)   ou   requer   recurso   a   agentes  vasoactivos,   na   ausência   de   outras   causas   para   a   hipotensão.   A   hipotensão  induzida  por  sépsis  é  definida  como  uma  PAS  <  90  mmHg,  MAP  <  70  mmHg  ou  redução  de  mais  de  40  mmHg  do  registado  como  normal  para  o  doente,  e  pode  estar   associada   a   outros   sinais   de   hipoperfusão,   como   oligúria   ou  marcadores  metabólicos  (tais  como  aumento  do  lactato  sérico).  

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Portanto:  

a. SIRS  =  Temp  >38ºC  ou  <36ºC;  FC  >  90bpm;  FR  >  20  cpm;  Leucocitose;  

b. Sépsis  =  SIRS  +  Suspeita  de  Infecção;  c. Sépsis  Grave  =  Sépsis  +  Disfunção  Orgânica;  d. Choque  Séptico  =  Sépsis  +  HipoTA  refractária;  e. Choque  Críptico  =  Sépsis  +  Hiperlactacidemia;  

 1.2 Epidemiologia    Apesar  dos  recentes  e  significativos  avanços  na  terapia,  a  sépsis  grave  e  o  choque  séptico   continuam   a   ser   um   problema   major   de   saúde   publica   e   um   enorme  desafio  médico,  sendo  causas  comuns  de  morbi-­‐mortalidade,  especialmente  nos  doentes  criticamente  doentes,  os  imunocomprometidos  e  os  idosos.  Em  2009,  o  National  Vital   Statistics  Reports   identificou   a   sépsis   como  a  9ª   causa  de  morte  nos  EUA  em  2009.  Dados  recentes  da  DGS   indicam  que  a  sépsis  representa  um  problema  comparável  ao  AVC  e  EAM.  Nos  EUA  isoladamente,  a  incidência  de  sépsis  grave  foi  de  3:1000  indivíduos,  ou  aproximadamente   751,000   casos   anuais,   com   um   aumento   anual   estimado   de  1.5%.   Dados   portugueses   indicam   que   22%   dos   internamentos   em   UCI   são  devidos   a   sépsis   adquirida   na   comunidade,   associados   a   uma   mortalidade  hospitalar  de  38%,  ou  seja,  quase  3  vezes  superior  à  mortalidade  dos  casos  de  AVC  internados  no  ano  de  2007.    É  no  entanto  de  notar  que  a   taxa  de  mortalidade   tem  diminuído  nas  últimas  2  décadas,   dedutivelmente   devido   a   melhorias   inespecíficas   no   tratamento   no  âmbito   da   medicina   intensiva,   independentemente   do   aumento   da   incidência,  que   provem   fundamentalmente   do   envelhecimento   da   população,   na   maior  longevidade   de   doentes   crónicos,   na   crescente   existência   de   imunossupressão  por   doença   ou   por   iatrogenia,   no   maior   recurso   a   técnicas   invasivas   e   pela  utilização   indiscriminada   de   antibióticos,   aumentando   a   taxa   de   resistências  antimicrobianas   e   comorbilidades   associadas.   Acresce   também   o   aumento   da  gravidade  dos   casos  de   sépsis,   sendo  maior  o  numero  de  doentes   com   falência  orgânica   associada   a   sépsis.   Todavia,   apesar   dos   avanços   na   compreensão   da  patofisiologia  da  sépsis  e  das   intervenções  progressivamente  mais  precoces,  as  taxas   de   mortalidade   permanecem   elevadíssimas,   cerca   de   30%   nos   EUA.   No  estudo  SOAP  europeu,  a  taxa  de  mortalidade  em  ICU  de  doentes  com  sépsis  grave  e  choque  séptico  foi  de  32.2%  e  54.1%,  respectivamente.        

2. Surviving  Sepsis  Campaign    A  elevada  mortalidade,  bem  como  o  aumento  da  prevalência  de  casos  de  choque  séptico   e   sépsis   grave   levou   à   criação   em  2004  da   SSC,   actualizada  no   final   de  2012,   de   forma   a   aumentar   a   consciencialização   e   melhorar   os   outcomes   e  fornecer  recomendações  de  forma  a  poder  criar  guidelines  para  os  clínicos,  quer  no  ambito  de  UCI  quer  fora  dele.  O  objectivo  da  criação  da  SSC  foi  promover  uma  mudança  na  abordagem  dos  doentes  sépticos,  de  forma  a  reduzir  a  mortalidade.  

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O   reconhecimento   precoce   e   o   tratamento   protocolizado   baseado  na   evidência  são   as   pedras   basilares   para   reduzir   a   morbilidade   e   mortalidade   da   sepsis.  Actualmente,  existe  evidência  de  que  a   identificação  e  estratificação  rápidas  de  doentes,  a  utilização  de  antibioterapia  apropriada  e  de  estratégias  de  reanimação  hemodinâmica   guiada   por   objectivos   são   componentes   major   da   redução   da  mortalidade   associada   a   disfunção   multiorgânica   induzida   pela   sepsis.   Assim  sendo,  é   importantíssima  a   implementação  de  mecanismos  organizacionais  que  permitam   a   rápida   identificação   destes   doentes   e   instituição   atempada   de  terapêutica  optimizada.      

   “Sepsis  Resuscitation  Bundle  (<  3h)”  

1. Reconhecer  Hipoperfusão  Tecidular;  2. Exames  Culturais  (e  de  imagem);  3. Antibioterapia  adequada  (e  controle  de  foco);  4. Iniciar  Fluidoterapia;  

   

3. A  PROPOSTA  DE  VVS  NO  CONTEXTO  DE  USF    3.1 PORQUÊ?  

 -­‐ Incidência  e  gravidade  crescentes;  -­‐ Mortalidade  elevada;  -­‐ Terapeutica  eficaz  mas  tempo-­‐dependente;  

 O  único  estudo  multicêntrico  português  realizado  revela  também  que  é  grande  a  margem  de  melhoria  na  resposta  que  os  serviços  de  urgência  nacionais  dão  aos  casos   de   Sépsis   grave   e   choque   séptico,   nomeadamente   no   que   diz   respeito   à  

Bundles

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realização   e   ao   timing   de   doseamento   de   lactato   sérico   e   ao   timing   de  administração  de  antibioterapia.  

     3.2 COMO?  

 Primeiramente,  dois  ou  mais  critérios  de  SIRS  têm  que  estar  presentes  e  tem  que  haver  uma  fonte  confirmada  ou  suspeita  de  infecção.  No  entanto,  a  apresentação  precoce  da   sépsis   pode   ser   extremamente   subtil   e   de  difícil   detecção,   uma  vez  que   muitos   doentes   não   têm   apresentações   clínicas   claras,   de   forma   a   que   o  diagnóstico  precoce  é  um  desafio.  De  facto,  a  falha  no  reconhecimento  da  sépsis  é  actualmente  o  maior  obstáculo  para  a  iniciação  do  tratamento  apropriado.    Para   activação   da   VVS,   perante   um   doente   que   apresente   história   clínica   de  infecção,  é  importante  a  presença  de:    Pelo  menos  dois  critérios  de  SIRS    +  Critérios  de  Activação  (um  dos  seguintes):  

-­‐ Tosse/Expectoração;  -­‐ Dispneia;  -­‐ Dor  pleurítica;  -­‐ Queixas  urinárias  (disúria,  polaquiúria)  e  dor  lombar;  -­‐ Dor  abdominal;  -­‐ Icterícia;  -­‐ Alteração  aguda  do  estado  de  consciência;  -­‐ Vómitos/cefaleias/meningismo;  -­‐ Sinais  inflamatórios  cutâneos  extensos;  -­‐ Febre  (>38ºC)  nas  últimas  24h;  -­‐ Critério  clínico  do  responsável  da  triagem;  

     

Cardoso et al. Critical Care 2010, 14:R83http://ccforum.com/content/14/3/R83

Open AccessR E S E A R C H

BioMed Central© 2010 Cardoso et al.; licensee BioMed Central Ltd. This is an open access article distributed under the terms of the Creative CommonsAttribution License (http://creativecommons.org/licenses/by/2.0), which permits unrestricted use, distribution, and reproduction inany medium, provided the original work is properly cited.

ResearchReducing mortality in severe sepsis with the implementation of a core 6-hour bundle: results from the Portuguese community-acquired sepsis study (SACiUCI study)Teresa Cardoso*1, António Henriques Carneiro1, Orquídea Ribeiro2, Armando Teixeira-Pinto2 and Altamiro Costa-Pereira2

AbstractIntroduction: To evaluate the impact of compliance with a core version of the Surviving Sepsis Campaign 6-hour bundle on 28 days mortality.

Methods: Cohort, multi-centre, prospective study on community-acquired sepsis (CAS).

Results: Seventeen intensive care units (ICU) entered the study. Over a one year period, 4,142 patients were enrolled in the study. Of the 897 (24%) admitted with CAS, 778 (87%) had severe sepsis or septic shock on ICU admission. In the first six hours of hospital admission: (1) 62% had serum lactate measured; (2) 69% fluids administered; (3) 77% specimens collected for microbiology before antibiotic administration; (4) 48% blood cultures obtained; (5) 52% antibiotics administered within the first hour of the diagnosis; (6) vasopressors were given in 78%; (7) 56% had central venous measurement (CVP) measurement; (8) 17% had a central venous oxygen saturation (ScvO2) measurement; (9) dobutamine was administered in 52%. Compliance with all actions 1 to 6 (core bundle) was associated with an odds ratio (OR) of 0.44 [95% confidence interval (CI) = 0.24-0.80] in severe sepsis and 0.49 (95% CI = 0.25-0.95) in septic shock, for 28 days mortality. This corresponded to a number needed to treat of 6 patients to save one life.

Conclusions: Compliance with this core bundle was associated with a significant reduction in the 28 days mortality. Urgent action should be taken in order to ensure that early sepsis diagnosis is followed by full completion of this "core bundle" followed by activation of expertise help in severe sepsis.

IntroductionDespite great advances in our understanding of itspathophysiology, sepsis remains a major reason for hospi-tal and ICU admission [1,2], associated with high mor-bidity, hospital resource use and mortality.

The escalating prevalence of severe sepsis and septicshock, combined with the devastating mortality, inspiredthe creation of an international effort to address theglobal consequences. The main goals of the SurvivingSepsis Campaign (SSC) are to increase awareness of sep-sis among clinicians and the public, to develop guidelines

for the management of severe sepsis and to foster achange in the management of septic patients with the aimof obtaining a 25% reduction in mortality over 5 years [3-5].

The implementation process of the SSC guidelines hasgone through a process of 'bundle' definition. A bundle isa group of interventions related to a disease process, thatwhen executed together, produce better outcomes thanwhen implemented individually [6].

The six-hour bundle, called the resuscitation bundle,focuses on early identification, early goal-directed ther-apy and early antibiotics and cultures. These interven-tions should be available to all doctors working withseverely ill patients and should be widely disseminated.

* Correspondence: [email protected] Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente - Hospital Geral de Santo António, University of Porto, Largo Prof. Abel Salazar, 4099-001 Porto, PortugalFull list of author information is available at the end of the article

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Critérios  de  Exclusão  (um  dos  seguintes):  -­‐ Gravidez;  -­‐ ICC  descompensada  -­‐  EAP;  -­‐ Síndrome  coronário  agudo  (SCA);  -­‐ Doença  vascular  cerebral  aguda;  -­‐ Estado  de  mal  asmático;  -­‐ Hemorragia  digestiva  alta  (HAD)  activa;  -­‐ Politraumatismo;  -­‐ Grandes  queimados;  -­‐ Doente  não  candidato  a  técnicas  de  suporte  orgânico;  

 Os   doentes   com   critérios   de   activação   e   sem   critérios   de   exclusão   avançam   –  deve-­‐se  avisar  o  médico  responsável.    

1. Reconhecer  hipoperfusão  tecidular    Sinais,  sintomas  e  disfunção  orgânica:  

-­‐ Pele:   Cianose,   Palidez;   Extremidades   quentes   (no   caso   da   sépsis);  Hipersudorese;    

-­‐ Pulmonar:   Hipóxia;   SpO2   <   92%   (apesar   de   oxigenoterapia);  Poli/Taquipneia;  TEP,  Edema  pulmonar;  PaO2/FiO2  <  300  (ALI);    

-­‐ Renais:   Oliguria   (output   <   0.5   mL/kg/h),   Creatininémia;   Edema  periférico,  Anomalias  hidroelectrolíticas;  

-­‐ Alerações  do  estado  de  consciência  (Encefalopatia):  ECG  <=11;  Agitação,  Confusão,  Coma;  

-­‐ Hepático:  Coagulopatia,   Icterícia;  Bilirubina  Total  >  4  mg/dL;  ALT  >=  2x  LSN;  

-­‐ Cardíaca:   Insuficiência   cardiaca   direita   ou   esquerda,   Vasodilatação  periférica;  Prolongamento  do  preenchimento  capilar  (>  5seg);  PAM  <  65  mmHg;  Alterações  da  temperature  axilar;  

-­‐ Hematológica:   Trompocitopenia   (<   80.000/uL),   INR   >   2;   Coagulação  intravascular  disseminada;  

-­‐ Metabólica:  Hiperglicemia;  Acidose  láctica;    

2. Exames  Culturais    A  SSC  recomenda  a  colheita  por  punção  venosa  de  pelo  menos  2  hemoculturas  (prévias   a   administração   de   antibioticos),   com   técnica   asséptica   adequada   e  volume  de  sangue  de  acordo  com  o  recomendado  pelo  fabricante  ou,  na  ausência  de  recomendação,  não  inferior  a  10mL  por  frasco,  obtidas  em  2  locais  diferentes.  A   colheita  de  outros  produtos  é  baseada  na   suspeição  clínica.  As  hemoculturas  colhidas   devem   ser   enviadas   com   o   doente   e   a   equipa   de   transporte   para   o  hospital.    

3. Antibioterapia  Adequada    A   iniciação   de   antibioterapia   empirica   de   largo   espectro   é   fundamental   e   uma  prioridade,  de  acordo  com  o  foco  suspeito  ou  confirmado  de  infecção  de  forma  a  poder   cobrir   todos   os   microorganismos   potencialmente   envolvidos.   A   SSC  

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recomenda   o   inicio   da   antibioterapia   o   mais   cedo   possível,   nomeadamente  dentro   de   uma   hora   após   o   reconhecimento   de   sepsis.   Um   estudo   de   Kumar  identificou  que  por  cada  hora  de  atraso  na  administração  de  antibioterapia  após  o  reconhecimento  de  hipotensão,  haveria  um  aumento  na  mortalidade  de  cerca  de  7.6%.  

 

Para  além  da   importância  da  antibioterapia,  é   fulcral  o  control  de  foco,  no  caso  da  USF,  se  identificável  (foco  cutâneo),  deverá  ser  tratado  como  possível.  

4. Iniciar  Fluidoterapia  

Naturalmente,   a   depleção   volémica   contribui   para   uma   perfusão   global  inadequada,   com   consequentes   disfunção   ventricular,   dilatação   arteriolar   e  obstrução   vascular,   todos   estes   mecanismos   contribuindo   para   a   disfunção  orgânica.   A   reposição   volémica   adequada   é   uma   das   pedras   basilares   na  abordagem  da   sépsis,   e   deve   ser   iniciada   rapidamente,   de   forma   a  melhorar   a  perfusão  tecidular  e  a  reversão  do  metabolismo  anaeróbio.  

A  SSC  recomenda  o  uso  de  soluções  cristalóides  na  reanimação  volémica  inicial  destes  doentes,  daí  ser  fundamental  a  canalização  de  largo  calibre  de  dois  vasos,  e  inicio  rápido  de  fluidoterapia  (lactato  de  ringer  ou  NaCl  0.9%)  

 5. Referênciação  e  Transporte  para  CHSJ  em  segurança  

         

not receive effective antimicrobials beforedeath and 558 were on antimicrobialtherapy that was either proven (definedpathogen) or adjudicated (undefinedpathogen) effective for the infectionthought to underlie septic shock beforethe onset of hypotension. Of the remain-ing 2,154 patients who received effectiveantimicrobials only after onset of hypo-tension, mortality rate was 58.0%.

Over the first 6 hrs after the onset ofrecurrent or persistent hypotension, eachhour of delay in initiation of effectiveantimicrobial therapy was associated withmean decrease in survival of 7.6% (range3.6–9.9%; Fig. 1). Survival was 82.7% ifeffective antimicrobials were adminis-tered within 30 mins of initial evidence ofhypotension, 77.2% in the second halfhour (79.9% aggregate in the first hour),and 42.0% in the sixth hour. The mediantime to implementation of effective anti-microbial therapy following the first on-set of recurrent/persistent hypotensionwas 6 hrs (25–75% interval, 2.0–15.0 hrs;Fig. 1). Average times were 13.51 ! 0.45(SE) hrs.

On univariate analysis, the delay frominitial recurrent or persistent hypoten-sion to administration of effective antimi-crobial therapy was a critical determinantof survival to ICU and hospital discharge(each p " .0001 by log rank analysis). Bythe second hour after onset of persistent/recurrent hypotension, in-hospital mor-tality rate was significantly increased rel-ative to receiving therapy within the firsthour (adjusted odds ratio 1.67; 95% con-fidence interval, 1.12 #2.48; Fig. 2). Theodds ratio of death continued to climbwith progressive delays to a maximumvalue of 92.54 (95% confidence interval,44.92–190.53) with delays $36 hrs afteronset of hypotension (Fig. 2). When delayto initiation of effective antimicrobialtherapy was assessed as a continuousvariable, the adjusted odds ratio was1.119 (per hour delay) (95% confidenceinterval 1.103–1.136, p " .0001); that is,every hour delay was associated with anapproximately 12% decreased probabilityof survival compared with the previoushour over the entire observation period(Fig. 3).

In multivariate analysis with othermanagement variables including effec-tiveness of initial antimicrobial therapy,choice and magnitude of early fluid re-suscitation, single vs. multiple drug classantimicrobial therapy, and choice and ra-pidity of initiation of initial vasopressor/inotropic support, time to effective anti-

Figure 1. Cumulative effective antimicrobial initiation following onset of septic shock-associatedhypotension and associated survival. The x-axis represents time (hrs) following first documentation ofseptic shock-associated hypotension. Black bars represent the fraction of patients surviving to hospitaldischarge for effective therapy initiated within the given time interval. The gray bars represent thecumulative fraction of patients having received effective antimicrobials at any given time point.

Table 3. Suspected primary microbiologic pathogens in septic shock

Pathogen No. of Patients % Total

Gram-negative organisms 930 47.9Escherichia coli 435 22.4Klebsiella species 131 6.7Pseudomonas aeruginosa 115 5.9Enterobacter species 80 4.1Haemophilus influenzae 44 2.2Proteus species 25 1.2Acinetobacter species 21 1.1Serratia species 20 1.0Stenotrophomonas maltophila 16 0.8Morganella morganii 14 0.7Citrobacter species 13 0.7Neisseria meningitidis 6 0.3Burkholderia cepacia 3 0.2Haemophilus parainfluenzae 3 0.2Other Gram-negative bacilli 8 0.4

Gram-positive organisms 731 38.3Staphylococcus aureus 302 15.6Streptococcus pneumoniae 170 8.8Streptococcus faecalis 77 4.0Group A Streptococcus species 69 3.6Other %-hemolytic streptococci 43 2.2Viridans streptococci 37 1.9Streptococcus faecium 29 1.5Bacillus species 5 0.3Corynebacterium jeijkeium 5 0.3Staphylococcus lugdunensis 1 0.3

Yeast/fungi 160 8.2Candida albicans 91 4.7Candida glabrata 18 0.9Aspergillus/Mucor species 14 0.7Blastomyces species 10 0.5Candida tropicalis 4 0.2Candida parapsilosis 4 0.2Candida krusei 3 0.2Cryptococcus neoformans 1 0.1Histoplasma species 1 0.1Other unidentified yeast 13 0.6

Anaerobes 69 3.6Clostridium difficile 46 2.4Bacteroides fragilis 15 0.8Other clostridia 8 0.4

Legionella species 8 0.4Mycobacterium tuberculosis 11 0.6

1592 Crit Care Med 2006 Vol. 34, No. 6

PROPOSTA  DE  PROTOCOLO  DE  VIA  VERDE  DA  SÉPSIS  PRÉ-­‐HOSPITALAR  NO  CONTEXTO  DE  USF    

 

    Dra.  Sofia  Pinto  Correia  |  Dr.  Luís  Lopes  Coutinho  |  Dezembro  de  2014   8  

3.2.1  ESTRATIFICAÇÃO  DE  RISCO    Uma  vez  que  exista  uma  suspeita,  é  importante  estratificar  os  doentes,  quer  no  âmbito  hospitalar,  quer  no  âmbito  pré-­‐hospitalar,  e  de  acordo  com  as  guidelines  da  SSC,  os  doentes  de  alto  risco  são  aqueles  que  apresentam  pelo  menos  um  dos  seguintes  parâmetros,  que  detectam  hipoperfusão  tecidular  induzida  por  sépsis:  

-­‐ PAS  <  90  mmHg  após  um  fluid  challenge  por  um  periodo  de  30  minutos;  -­‐ Lactato  sérico  >  4  mmol/L.  

 Como   dito   anteriormente,   a   unica   forma   de   reduzir   a   morbi-­‐mortalidade  atribuida   à   sépsis   consiste   num   diagnóstico   precoce,   estratificação   de   risco,   e  inicio  precoce  do  tratamento.    A   proposta   passará   sempre   pela   capacitação   dos   clínicos   de   uma   postura  diagnóstica  –  Sempre  que  um  doente  apresente  uma  história  clínica  sugestiva  de  infecção  (sinais  e  sintomas  de   infecção  respiratória,  abdominal,  urinária,  pele  e  tecidos  moles  e  meníngea),  deverão  ser  pesquisados  os  sinais  de  SIRS  (distermia,  taquicardia  e   taquipneia)  e   se  dois  deles  presentes,   considera-­‐se  o  doente   com  sépsis  provável.  Posteriormente   é   importante   avaliar   a   disfunção   orgânica   associada,  nomeadamente  dois  marcadores  de  difunção  CV  (HipoTA  e  Hiperlactacidemia).  A   se   confirmar   algum   destes,   o   doente   é   estratificado   como   tendo   uma   forma  grave  de  sépsis   (sépsis  grave,   choque  séptico  ou  críptico)  e   torna-­‐se   imperioso  adoptar   imediatamente   as   medidas   já   descritas   que   estão   provadas   reduzir   a  mortalidade   (antibioterapia   imediatamente   precedida   de   colheitas   para  microbiologia,  fluidoterapia  e  referênciação  para  um  centro  mais  diferenciado).    3.3.2  O  que  é  necessário?    Perante  isto,  para  aplicação  numa  USF  da  VVS,  é  necessário:  

1. Formação  dos  médicos,  enfermeiros  e  secretários;  2. Consulta   Aberta   organizada   de   forma   a   diminuir   o   tempo   Porta   >>  

Profissional   de   Saúde   (Enf.)   –   Triagem.   (ex.:   Porta   >>   Secretaria   >>  Gabinete   de  Enfermagem   (<20min)   >>  Médico  Assistente   >>   SE  VVS  >>  Iniciar  protocolo  +  contacto  INEM;  

3. Capacitação  em  recursos  humanos  e  de  equipamentos  para  medir  o  mais  precocemente  possível  a  FC,  FR,  Temperatura  e  TA  conforme  as  medidas  acima  mencionadas;  

4. Instalação  de  um  aparelho  de  gasimetria  para  avaliar  o  Lactato;  5. Equipamento  medico  para  canalização  venosa  e  inicio  de  fluidoterapia  (SF  

ou  Lactato  de  Ringer);  6. Frascos   para   colheitas   de   produtos   biológicos   para   exames  

bacteriológicos   (expectoração,   urina,   hemoculturas),   que   depois  acompanham  o  doente  para  o  CHSJ;  

7. Stock   de   antibióticos   endovenosos   limitados   e   de   largo   espectro   para  início  de  antibioterapia  (1ª  dose)  na  USF;  

8. Referenciação  e  encaminhamento  rápido  para  o  CHSJ.